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| Seminários CRIA | 24 março 2014 | ISCTE-IUL | The subject and the state. Narratives of aliyah among Brazilian Jews in Israel/Palestine Miguel VALE DE ALMEIDA ISCTE – Lisbon University Institute CRIA – Center for Research in Anthropology, Portugal [email protected] |1| Israel, or the construction of the (inter)national subject by the State Um dos pilares fundamentais da formação e continuidade do Estado de Israel é a denominada Lei do Retorno, que define como elegível para a cidadania israelense toda a pessoa definida como judia. O processo de acesso a essa cidadania por parte de um judeu ou judia da Diáspora denomina-se aliá (ההההה)

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| Seminários CRIA | 24 março 2014 | ISCTE-IUL |

The subject and the state.

Narratives of aliyah among Brazilian Jews in Israel/Palestine

Miguel VALE DE ALMEIDA

ISCTE – Lisbon University InstituteCRIA – Center for Research in Anthropology, Portugal

[email protected]

|1| Israel, or the construction of the (inter)national subject by the State

Um dos pilares fundamentais da formação e continuidade do Estado de Israel é a

denominada Lei do Retorno, que define como elegível para a cidadania israelense

toda a pessoa definida como judia. O processo de acesso a essa cidadania por

parte de um judeu ou judia da Diáspora denomina-se aliá (עלייה)

À partida a eligibilidade não parece diferenciar-se substancialmente de

características semelhantes em outros estados-nação modernos quanto à famosa

distinção entre direito de solo e direito de sangue. Aqui estaríamos perante uma

instância do segundo. O que torna o caso israelense específico é o facto de a

definição da pertença não distinguir claramente o critério genealógico, de

pertença étnica, do critério religioso, normalmente visto como de afiliação (e não

de filiação). Se este é um “problema”, ou especificidade, da polity israelense, não

o é menos das subjetividades judias na Diáspora, quer em relação ao país onde

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vivam, quer em relação ao papel de Israel – a questão sionista – nessas mesmas

subjetividades.

Além da questão central da natureza, também ela única, do Estado de

Israel – enquanto substituição histórica (utilizemos termos o menos carregados

possível de posicionamentos) de uma realidade árabe-palestiniana no período

Otomano por uma realidade israelense após o Mandato Britânico – a questão da

natureza religiosa do Estado coloca sérios desafios. Israel estabelece-se como

estado-nação segundo o modelo europeu Moderno, com uma democracia liberal

de tipo ocidental (e mesmo com um processo socialista na organização

económica e corporativa, no seu início) mas estabeleceu-se simultaneamente

como estado étnico (os cidadãos israelenses não-judeus são, além dos drusos e

dos beduínos, apenas os árabes-palestinianos que permaneceram no território

em 1948, isto é, que não fugiram ou não foram expulsos pelo que a polity

palestiniana viria a definir como a naqba, ,النكبة)  a catástrofe). Como essa

etnicidade tem fronteiras muito fuzzy com a afiliação religiosa, e como a filiação

étnica é definida por leis religiosas (HaLakah, ,(הלכה a laicidade dos estados

modernos de matriz europeia não existe.

O próprio termo aliyah (doravante aliá) pode ser abordado sob diferentes

ângulos. Primeiro, no entendimento comum das interações quotidianas entre

judeus israelenses, ele significa simplesmente (i)migração de retorno; segundo,

entre eles e, sobretudo, entre eles e os judeus da Diáspora e os olim hadashim (

עולים חדשים ) ele significa uma escolha, uma performance e um status: fazer ou

não fazer aliá; e ser ou não ser ainda “novo”, “recente” (hadash), isto é, ainda

num processo que tem o seu início no que localmente se designa por absorção

(há mesmo um Ministério da Absorção); terceiro, no seu sentido literal, aliá

significa “ascensão”, o que lhe confere um caráter moral e mesmo de sonoridade

religiosa. Sobe-se do nível baixo da Diáspora para o nível superior de Eretz Israel,

a Terra de Israel. Como o hebraico moderno resulta da adaptação ao uso

quotidiano contemporâneo da língua que só estava fixada biblicamente, usada

em texto ou em contexto de sinagoga, o trânsito de conotações religiosas para o

domínio político da identidade pode ser relevante. Mas é, sobretudo, o

significado de retorno que tem as conotações políticas, identitárias e de

etnogénese mais complexas, como no fundo veremos ao longo do artigo.

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A fuzziness entre pertença étnica e pertença religiosa no estabelecimento

de critérios para a migração e cidadania, e, aliás, na própria constituição do

Estado, assenta numa série de “equívocos” tipicamente modernistas. Quando o

Sionismo é fundado no século 19 apresenta-se como movimento nacionalista que

corta radicalmente com as tentativas e esperanças de integração dos judeus

europeus nas respetivas sociedades, face à não diminuição dos incidentes

antissemitas, nomeadamente os pogroms na Rússia. Tratava-se, pois, segundo a

narrativa, de encontrar um território para uma nação sem território, mas por

isso mesmo tratava-se implicitamente de definir uma nação. Essa questão estava

à partida potencialmente resolvida pelos critérios exclusivistas de uma religião

étnica ou de uma etnicidade religiosa (é judeu quem nasce de mãe judia; não

estamos muito longe da noção antropológica de descendência na adscrição das

pessoas a grupos, pelo que a fuziness que me refiro é na realidade um mal-estar

sentido pelo processo categorizador moderno, não um “problema” dos agentes,

neste caso os judeus). Por esta razão se percebe como as tentativas de encontrar

territórios que não a Palestina para um estado judeu não vingaram.

Aqui entramos num segundo “equívoco”, relacionado com o zeitgeist

novecentista, marcado pelo colonialismo e pelo Orientalismo, e que fez com que

o que foi um projeto de emancipação nacional para uns tenha sido ocupação

colonial para outros. Ainda que o assunto tenha sido discutido com uma

diversidade de posicionamentos entre as lideranças, a verdade é que estas eram

constituídas por membros das classes média e alta, profissionais e letradas, que

acreditavam, de modo evolucionista, no papel civilizador do Ocidente. Para mais,

as lideranças sionistas eram muito secularizadas, depois do processo da

HaSkalah (השכלה) um movimento de pendor iluminista iniciado no século 18 em

comunidades judaicas da Europa e conducente à integração cultural e cívica dos

judeus nas sociedades europeias (a ortodoxia religiosa não aceitava – e parte

ainda não aceita – a ideia de um Estado em Eretz Israel antes do regresso do

Messias).

Um outro “equívoco” ainda complementa este: além dos complexos

colonialista e orientalista, algumas lideranças sionistas, sobretudo as russas,

viviam o complexo cultural do movimento comunista, pelo que o projeto do

Estado de Israel se configurava também como emancipatório do ponto de vista

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político-económico e não só do ponto de vista da identidade judia (a ideia da

criação de um judeu novo, marcado pelo trabalho braçal, um ideal de

masculinidade, o coletivismo e o igualitarismo, em contraposição à figura do

judeu letrado, dedicado ao estudo bíblico, com o sustento baseado no comércio

ou profissões liberais). Estes “equívocos”, ligados a estes “complexos”, levaram à

crença – aliás típica do sociologismo moderno – de que a secularização seria um

resultado inevitável da evolução social e do progresso. No estabelecimento do

Estado de Israel, Ben Gurion acabaria por deixar para as autoridades rabínicas o

poder de decisão em matéria de foro civil – casamento, divórcio e,

nomeadamente, definição da judeidade das pessoas. Como todos sabemos, não

foi assim que a História prosseguiu, em Israel/Palestina ou em qualquer outro

lugar, e o conflito secular/religioso tornou-se hoje numa das principais fraturas

na sociedade israelense (tal como, aliás, na sociedade palestiniana). Quem fez

aliá no passado ou a faz hoje fá-la, também, num largo espectro de sentidos, do

mais religioso ao totalmente secular, do mais politizado ao menos politizado e

numa variedade de posições.

A aliá também é um complexo cultural identitário importante na

formação nacional. A narrativa nacional refere “as aliot”, enquanto entidades

históricas. A 1ª, nos finais de séc 19, sobretudo da Rússia, a 2ª, também

sobretudo da Rússia e no início do séc 20 até à Primeira Grande Guerra Mundial,

a 3ª, de 1919 a 1923, também sobretudo da Rússia e já no Mandato Britânico, a

4ª, sobretudo da Polónia e da Hungria, entre 1924 e 1929, a 5ª, entre 1929 e

1939, devido à ascensão do nazismo, a aliá bet, ilegal perante as autoridades

britânicas, durante a ascensão do nazismo também, com a guerra e o Holocausto,

até 1948. Estas são as aliot que correspondem ao período antes da

independência em 1948 e são as que merecem esta consagração pela sua escala,

intensidade e massa mas, creio, sobretudo pelo caráter cultural europeu que

acabariam por dar ao sionismo e ao estado. São como que a mitificação de uma

narrativa pioneira. As aliot, já no sentido normal, que se seguiram, sobretudo dos

países árabes, e que acabariam por fazer dos mizrahi (מזרחים, judeus “orientais”,

de cultura árabe) metade da população do país, e tendo acontecido já depois da

independência (e por causa dela), não são mitificadas ou narradas do mesmo

modo, sendo esta população notoriamente subalterna do ponto de vista

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simbólico, político e sobretudo socioeconómico. Vagas mais tardias, como a de

russos no período da Perestroika e do fim do regime comunista, ou a de etíopes,

baseada numa operação de resgate (o que já havia acontecido com o resgate de

iemenitas) têm uma forte presença no imaginário contemporâneo mas como

acontecimentos que vieram alterar uma “estabilidade” prévia da constituição

sociocultural da sociedade. Mas paralelamente a estes eventos – com escala,

massa, e intensidade específicas – a aliá designa também o processo normal,

individual ou familiar – da pura e simples migração para Israel de alguém cuja

judeidade é confirmada.

Os “equívocos” – que constituem “complexos” e, mesmo, “contradições

dinâmicas” – acima expostos tornam-se claros com os casos dos meus

colaboradores de pesquisa. O mundo de hoje já não é o do século 19 do sionismo

inicial. Entretanto o Estado de Israel formou-se e consolidou-se, tendo-se nele

criado uma polity muito sui generis que, ao mesmo tempo, concentra em si todas

as contradições da modernidade e, portanto, todas as questões fulcrais da análise

sócio-antropológica. Aquelas dinâmicas modernas e modernistas já foram

transformadas e já foram sujeitas a fortes desconstruções e críticas pelas

ciências sociais, que passaram para o senso-comum, sobretudo o mais

progressista. Mas, mais do que tudo, a formação e consolidação do Estado de

Israel assentou na e resultou na catástrofe palestiniana e no conflito ainda hoje

longe de estar resolvido. Este conflito transformou-se mesmo num dos poucos

temas de dimensão verdadeiramente internacional e numa espécie de motif de

posicionamentos ideológicos sobre os mais diferentes assuntos. Era para mim

extremamente importante procurar uma rede de informantes que fossem

oriundos de contextos que normalmente definimos como Ocidentais e com

parâmetros culturais meus “familiares”; que tivessem uma subjetividade

identitária muito enraizada no seu país de origem; que tivessem identidades

tendencialmente secularizadas; e que tivessem perspetivas no mínimo liberais,

ou mesmo progressistas, de modo a coloca-los no quadro dos ideais e

expectativas de mobilidade, globalismo e cosmopolitismo, permitindo assim uma

análise onde se tornasse mais evidente o que é diacrítico no caso da aliá judaica.

O meu propósito aqui é tão simplesmente este: mostrar, através da

identificação dos principais topoi das narrativas que recolhi, como os sujeitos se

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reconfiguram de modo complexo e dinâmico, face a diferentes identificações

coletivas possíveis: a de brasileiros, a de judeus, a de judeus brasileiros da

Diáspora, e a de - em virtude da opção de fazer aliá - israelenses (e, portanto,

inescapavelmente sionistas – palavra que pode ela mesma conter diferentes

posicionamentos), membros de uma polity em que o Estado apresenta aos

sujeitos a possibilidade de se (re)subjetificarem. Em suma, como é que aquela

fuziness acima referida é também subject fuzziness e como esta é provavelmente

a condição humana, mais perceptível neste caso que é sempre apresentado como

excecional ou esdrúxulo.

|2| Motivations and evaluations of aliyah from Brazil to Israel

A comunidade judaica no Brasil conta com cerca de 80 a 100 mil pessoas,

concentrada sobretudo nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Todos os meus informantes, entre os 20 e poucos e os 60 anos, são oriundos de

famílias cujos antepassados migraram para o Brasil maioritariamente do Leste

da Europa, sobretudo da Ucrânia, da Rússia, da Lituânia e da Polónia, tratando-

se, pois, de famílias asquenazi (judeus do centro e leste europeu, por oposição à

tradição religiosa e cultural dos sefarditas oriundos da Península Ibérica e,

depois, do norte de África e do Médio Oriente, conhecidos aliás no Brasil como

“marroquinos” ou “turcos”). Num dos casos (e também no caso do marido de

uma das colaboradoras) um dos ramos da família é oriundo do Líbano, tendo

seguido os passos da migração cristã resultante da primeira guerra civil naquele

país. A data das migrações concentra-se no período antes da Primeira Grande

Guerra e mesmo nos finais do século XIX em alguns casos, tratando-se de

migrações motivadas sobretudo pelo antissemitismo ou receio da sua eminência

por razões políticas, nomeadamente pogroms nas áreas de influência da Rússia

Czarista e também Revolucionária. Ao contrário de outros contextos, não é a shoa

o Holocausto da Segunda Guerra Mundial, o marcador biográfico central ,(שואה)

para a migração. No caso de Porto Alegre há mesmo casos de famílias que podem

retraçar a sua chegada às tentativas goradas do Barão de Hirsch de estabelecer

colónias agrícolas judaicas no interior do Rio Grande do Sul. Mas, na maior parte

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dos casos estamos perante a narrativa já clássica no Brasil – e que curiosamente

une os judeus às narrativas da comunidade sírio-libanesa – de um avô que

reinicia a vida através do comércio ambulante e em condições económicas de

extrema dificuldade, acumulando capital que transita para a geração seguinte, e

resultando que todos os meus colaboradores de pesquisa pertencem agora ao

que se poderia designar como uma classe social média (em poucos casos média-

alta), com elevado capital cultural, sobretudo – e não necessariamente

económico. Estabelecendo o paralelo com o que se estaria passando em

Israel/Palestina à época desta migração, pode-se dizer que os antepassados, já

no Brasil, dos meus informantes, eram os “primos” dos leste-europeus que

participaram das primeiras aliot anteriores ao mandato britânico e subsequentes

à fundação do movimento sionista.

Se há característica das comunidades judaicas no Brasil que os meus

entrevistados reforçam é a da crescente “assimilação”. O significado emic do

termo, depois de comparadas as suas diversas iterações, parece focar-se em dois

tópicos: por um lado a secularização, com o afastamento da prática religiosa,

sobretudo nos seus aspetos públicos que, no caso do judaísmo, seriam

identificáveis na questão do vestuário, sendo o símbolo-chave o não uso de quipá

pelos homens; e, por outro, os casamentos “mistos” e uma consequente perda de

afiliação, sobretudo no caso de casamentos de homens judeus com mulheres

não-judias, o que conduziria ao não reconhecimento da prole enquanto judia. O

fenómeno de secularização estará, agora, a sofrer um revés, mas não através de

um “retorno” a práticas tradicionais (as que os avós teriam trazido do leste

europeu) mas sim a práticas hipertradicionais, na linha do movimento haredi (

(חרדי em Israel e nos Estados Unidos, isto é, uma forma de “fundamentalismo”

judeu ao qual se converteriam – sempre súbita e “inesperadamente” – alguns

membros da geração atual.

A velha questão de identidade cultural versus identidade religiosa está

sempre presente entre os meus entrevistados. Vivendo e partilhando os valores

de um mundo onde a etnicidade está ligada idealmente à forma-estado, por um

lado, e a religião à forma-crença da escolha individual de pertença a uma

confissão e congregação, ser judeu curto-circuita, problematiza e desafia os

próprios no que a estas categorias diz respeito. Esse foi, aliás, o problema que o

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sionismo procurou “resolver”, e o seu sucesso é patente nas narrativas dos meus

entrevistados. Como? Na sua maioria não tiveram nem têm uma vida religiosa

muito ativa, mas sim o cumprimento de tradições familiares identitárias que são

manifestadas na linguagem do que os nosso óculos sociológicos identificam

como o religioso: a frequência da sinagoga apenas nas datas festivas mais

importantes, como Rosh HaShaná (השנה ראש) ou Yom Kippur יום) (כיפור e a

realização do seder (סדר) do Pesah (פסח) como festa familiar. De resto são

múltiplas as escolhas e mudanças familiares, consoante geração, ramo da família

e até grupos domésticos específicos, quanto à obediência ou não da kashrut (

regras de pureza e poluição, sobretudo dietéticas) ou outras prescrições, para ,כשרות

não falar da pura e simples distinção entre pessoas e ramos assumidamente

religiosos e assumidamente seculares ou ateus.

Esta pluralidade caótica – e uso o termo propositadamente, e ela não se

restringe ao Brasil, é comum à experiência judaica moderna e contemporânea no

ocidente – é compensada por duas características que são unificadoras nos meus

informantes e recobrem desde pessoas cuja educação escolar inicial foi feita nos

anos 50 até àquelas em que foi terminada muito recentemente, nos anos 2000:

falo da frequência de “colégios judaicos” e da participação no “movimento

juvenil”. O primeiro aspeto pode estar relacionado, naturalmente, com as

desigualdades de acesso ao ensino características da sociedade brasileira, onde

as classes médias colocam os seus filhos em colégios particulares e estes, por sua

vez, tendem a estar nas mãos de entidades patrocinadas por confissões religiosas

ou agremiações étnicas. Os colégios judaicos referidos pelos meus entrevistados

não devem ser confundidos com yeshivot (ישיבות) escolas religiosas; são colégios

“judaicos” na medida em que, ao curriculum brasileiro geral acrescentam quer

matéria religiosa, quer matéria secular, como História de Israel, ensino de

tradição e cultura judaica e, antigamente, da língua ídiche (aliás, um factor de

distinção secularizante em relação a colégios de língua hebraica, mais religiosos).

Os colégios funcionaram, portanto, como meios de interação intraétnica mas

também como contextos de formação comunitária e sionista.

(Miguel) Uma escola judaica, não sendo religiosa, o que era judaico especificamente?

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(Cláudio) Eu me pergunto muito isso hoje em dia. Eu acho que... os feriados, não só porque a gente não estudava quando era feriado judaico, mas também por ter toda uma preparação para o feriado, você aprendia as histórias e costumes de cada festa e tudo... um foco em Israel e o ensino da língua, pelo menos até à 8ª série, os 15 anos, isso é bem presente, já no final era mera formalidade, mesmo os pais não fazem tanta questão porque acham que os filhos têm que aprender coisas pra entrar na faculdade, não existe um... no final do caminho acho que existe uma perda de foco, no último ano da escola a gente já não tinha nenhuma aula considerada judaica. A gente aprendia História geral, História do Brasil e História do Oriente Médio, era a única forma que eles tinham de manter alguma coisa ainda...

Esta função sionista tem estado a cargo do que eles designam como “o

movimento”. A expressão recobre um conjunto de organizações juvenis sionistas

cuja classificação ficaria algures entre a do escotismo e a de uma juventude

partidária. Os movimentos juvenis são organizações internacionais, cada uma

ligada a uma vertente da política sionista original e, portanto, a um partido

político em Israel e a uma vertente do movimento kibbutziano – pelo menos tal

como se apresentava a paisagem política até aos anos 70 ou 80. Os mais

destacados são o Bnei Akiva, religioso e ortodoxo, o Habonim Dror, marcado pela

ideia de “judaísmo cultural” e ligado ao sionismo socialista do trabalhismo, o

Hashomer Hatzair, também ligado ao socialismo numa vertente mais

esquerdizante. Paralelamente, e no caso de Porto Alegre, fui percebendo como

vários dos meus informantes passaram por grupos de dança folclórica judaica,

juntando formas criadas em Israel no período das primeiras aliot e nos

kibbutzim, com um leque de tradições de dança de diferentes comunidades da

Diáspora.

Um dos efeitos mais marcantes da participação nos movimentos é a

criação não só de uma identidade étnico-cultural judaica específica, dentro do

leque de diversidades congéneres no país, mas, e sobretudo, a identificação de

Israel como o lugar de origem e não, por exemplo, a Ucrânia, ou a Lituânia ou a

Polónia. Mas um lugar de origem do qual não se “veio” mas ao qual se poderá “ir”

ou “chegar” – ascender, um fim de projeto a almejar. (Esta é, aliás, a característica

antropologicamente mais interessante de uma análise do sionismo enquanto

realidade sociológica). Os movimentos juvenis, na sua função de estimular o

sionismo, demarcam-se muito claramente das funções religiosas da sinagoga e

ancoram-se na narrativa da formação do estado de Israel e na narrativa do

pioneirismo kibbutziano, partilhando, aí sim, os aspetos de uma “juventude

partidária”.

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(Miguel) A sua convicção sionista veio mais do movimento ou era de casa, dos pais?

(Gladys) Acho que veio do movimento, com... o meu pai transmitiu pra mim um judaísmo em silêncio, não havia uma obrigação dentro de casa de ser judeu, de ser sionista, mas ele aceitava tudo o que eu trazia pra dentro de casa. Tanto que meu irmão casou com uma não-judia. E não houve nenhum tipo de contrariedade por parte do meu pai, era tão liberal que eu, a rebelde dentro de casa fui eu, eu trouxe isso, através do movimento. O meu madrich, o meu guia dentro do movimento, ele mora aqui, eu disse pra ele vocês fizeram uma limpeza cerebral tão grande na minha cabeça que até hoje eu sou sionista (risos) e socialista.

Mas, como se “chega” ao lugar de “origem”? Os movimentos estimulam a

participação no Taglit, criado pela Taglit-Birthright Israel, uma ONG financiada

por fundações privadas, pelo governo de Israel, pela Agência Judaica e pelas

comunidades da Diáspora, e cuja função é promover viagens educacionais de

jovens da diáspora a Israel, para contacto com a realidade local. Praticamente

todos os meus informantes mais jovens “fizeram um Taglit” de 10 ou 15 dias.

Trata-se de uma viagem praticamente gratuita, em que os jovens fazem turismo

em Israel, com sessões de consciência coletiva, conversas com soldados da IDF

(Israel Defense Forces, as forças armadas), visitas a kibbutzim e lugares

históricos monumentalizados na história do estado, etc. Em todos os casos a

experiência do Taglit, equivalente a certos programas de intercâmbio noutros

contextos, ou campos ou colónias de férias promovidos por estados-nação junto

das suas diásporas, resultou numa epifania, num momento de reconhecimento

identitário e no surgimento da vontade de ou ficar mais tempo em Israel ou de

fazer mesmo aliá. Outros programas paralelos podem também cumprir uma

função semelhante ou complementar, como o voluntariado em kibbutzim ou

ONGs e programas de estudo universitário de duração limitada.

(Miguel) Como é que é o Taglit?

(Ilana) São 10 dias que a gente dormiu 2 horas por noite e viu todos os lugares de Israel. Tudo bem, não é tão grande assim... Tinha tipo uma guia de turismo israelense, brasileira que morava em Israel, tinha um monitor brasileiro, um monitor israelense, aí no meio da viagem tinha uns soldados, para a gente saber mais como era no exército e... tinha muito disso, como é que fala? ... fez uma lavagem cerebral, que morar em Israel é tudo (risos)

(Miguel) Há um certo convencimento para as pessoas fazerem aliyah?

(Ilana) Claro. Uma amiga minha hoje ela é uma das coordenadoras do movimento juvenil, trabalhava na Macabi, que faz vários programas para a América latina, ela fala que o processo para a cidadania é uma espiral – vem num programa curto, num programa médio, vem num programa um pouquinho maior e você muda pra cá

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A questão da construção de uma subjetividade nova prende-se com a

questão da reflexão sobre as motivações para fazer aliá. Nas discussões com

pessoas com algum nível de responsabilidade no processo – uma organização de

apoio a olim latino-americanos e um funcionário brasileiro da Agência Judaica

responsável pelas aliot de latino-americanos e ibéricos, o assunto é objetificado

na dicotomia motivação ideológica versus motivação económica. Simplista como

é, a dicotomia contém também um juízo de valor e estabelece uma diferenciação

entre gerações, as do espírito pioneiro e de uma época em que os kibbutzim

ainda funcionavam como coletivos versus os jovens de hoje que emigram como o

fariam para os EUA ou a Europa (note-se que muitos países europeus concedem

a nacionalidade a descendentes nas suas diásporas – termo, aliás, cooptado a um

uso anterior reservado aos judeus – e que aceder a isso é comum no Brasil, mas

no caso dos judeus é Israel que cumpre essa função). Entre os meus informantes

o quadro torna-se, naturalmente, mais complexo. Num extremo poderia colocar

pessoas que ainda vivem num kibbutz brasileiro (como o Bror Hail, fundado por

egípcios e depois tomado por brasileiros de uma facção dissidente do primeiro

kibbutz brasileiro (e americano), o Gezer), mesmo que já privatizado e com os

filhos, quando não eles próprios, trabalhando na hi-tech, por exemplo, e que

fizeram aliá nos finais dos anos 70, e uma jovem que, mesmo tendo participado

do movimento juvenil, viu em Israel apenas uma oportunidade e uma

circunstância, cujo envolvimento na sociedade local é tímido e pouco feliz, e que

fez tudo para escapar enquanto dentista ao recrutamento militar a que os olim

hadashim podem estar sujeitos consoante as profissões. No meio poderia colocar

os que participaram do movimento de forma ativa e em lugares de liderança, que

participaram de partidos da esquerda brasileira e se colocaram questões sobre a

relação entre sionismo e o socialismo e/ou sobre o conflito israelo-palestiniano,

que assumem a sua israelidade e que estão, sobretudo, prosseguindo os seus

estudos universitários sem planos definidos para o futuro e mantendo laços

afetivos e identitários com o Brasil ainda que já lidando com a ambiguidade das

duas pertenças e o efeito de cada uma quando presentes no outro contexto.

(Fábio) cada caso é um caso, as pessoas querem fazer aliyah por motivos económicos, por motivos ideológicos, e eu posso dizer que hoje talvez o motivo económico seja mais forte que o motivo ideológico, isso talvez possa ser bom para o senhor... até onde vai a ideologia? Pode dizer

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que a ideologia vai até ao prato de comida, até ao bolso, e hoje aproximadamente 50, 60% não só da aliyah do Brasil, da América do Sul, acho que do mundo todo é basicamente por economia, por melhoria da condição social (...)O movimento juvenil posso dizer que da ideologia dos que vêm são 80% por cento, a ideologia seja de terra de Israel, de kibutz e os outros 20% a ideologia... de, de um futuro melhor, um país desenvolvido, uma sociedade mais desenvolvida, ao contrário de nós brasileiros, onde eu acho que apesar de o Brasil... desde pequeno você escuta que é o país do futuro, acho que desde que Cabral chegou o Brasil é o país do futuro... o Brasil é desenvolvido economicamente mas tem uma taxa de violência alta, são duas realidades opostas, o desenvolvimento caminha junto com a baixa violência mas no Brasil acontece é ao contrário, então a ideologia de Israel eu posso colocar como 80% e a ideologia de cidadão, de uma vida melhor, de um futuro melhor, 20%

Pode-se dizer, todavia, que há, efetivamente, uma narrativa-tipo que

corresponde aproximadamente a um percurso-tipo: colégio judaico e movimento

juvenil num processo tendencialmente secular de identificação étnico-cultural,

de “judaísmo cultural” e sionista, seguido da experiência epifânica (ou

apresentadora de uma oportunidade/possibilidade) via Taglit ou similar,

seguido de decisão de fazer aliá. Mas: essa decisão, e agora independentemente

das motivações, é tomada em função de e tendo em atenção determinados

factores limitativos e mantendo certas linhas de fuga ou planos B.

Em primeiro lugar, as ligações familiares: a pressão familiar no sentido de

não fazer aliá é geralmente sentida, muito em função do desejo de ver os filhos

terminar a universidade no Brasil, de não ter eventuais ou reais netos crescendo

longe e, em alguns casos, receios pela segurança. Em segundo lugar, todos os

meus informantes mais jovens evitaram fazer aliá num período em que ainda

fosse possível serem obrigados a cumprir o serviço militar em Israel; em terceiro

lugar, a posse de dois passaportes e nacionalidades, a israelense e a brasileira,

permite o regresso ao Brasil ou a re-migração alhures (é o passaporte brasileiro

que ganha valor, não o israelense, que é aliás limitativo) – e esta estratégia é

discursada emocional e existencialmente, enquanto questões de dupla

identidade, de língua, de saudades do Brasil, mas também de cosmopolitismo, de

desejo e abertura para seguir para países terceiros, etc.

É nos discursos sobre desencaixe cultural e sobre língua que mais se

manifesta a subjetividade em negociação ou transformação. No caso dos que têm

filhos isso prende-se com a decisão sobre a língua a usar em casa. A insistência

no uso do português, manifestada emocionalmente na frase “já roubei os netos

aos meus pais, não vou também impedi-los de se falarem” denota uma realidade

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bem diferente da dos anos da formação do estado e até quase aos anos 80, em

que a decisão era pela hebreização completa.

(Tamara) A gente faz. Faz 3 semanas que as crianças começaram a falar entre elas em hebraico, oh, oh, vamo parando, aqui a gente só fala português, aí elas vão jogando umas palavras tipo assim que elas ouvem muito em hebraico, os yeledim da nossa escolinha, ah, as crianças da sua escolinha, a gente não corrige mas a gente repete pra eles a frase com a palavra certa, é um trabalho sem fim. E eles ainda não foram pro Brasil desde que eles falam. Eles têm que ir pro Brasil pra ver que tem um país que todo o mundo fala essa língua. A gente tem amigos que falam também português e tem só dois filhos de um casal de amigos que eles também são chatos iguais a nós, que eles só falam em português, eles não deixam as crianças falar em hebraico com eles, nem entre elas

Nas interações quotidianas, sobretudo na rua e no trabalho, não se trata

tanto de qualquer problema de estereotipização dos brasileiros, ao contrário de

outros estudos sobre migrantes brasileiros. É certo que a ideia da sensualidade

das mulheres, do samba e do futebol está presente mas, por um lado os

brasileiros são francamente minoritários por comparação com sul-americanos

hispanófonos, nomeadamente argentinos e, por outro, sendo judeus asquenazi,

os processos de racialização como acontece com mulatos e negros ou mesmo

“mediterrânicos” não é operativo – e poderia sê-lo em Israel, como é evidente

com o racismo face aos etíopes judeus e face a emigrantes não judeus de

contextos africanos.

(Mila) Eu recebo muito “você não parece brasileira”, porque eu sou muito branca, é isso que eles querem dizer, eu tinha uma amiga que ela é negra, trabalhava no hostel, de cabelo negro, cabelo enrolado e aí ela falava Mila todo mundo acha que eu sou latino-americana, todo o mundo

(Rachel) É, porque eles esperam as pessoas de pele mais escura, mas se você explicar somos judeus, os meus pais vieram talvez da Polónia, no final das contas nós somos brasileiros judeus, as origens são as mesmas das origens daqui

(Mila) Tem um estereótipo assim, eles não falam isso de cara pra gente mas rola uma mística sobre a mulher brasileira, de facto

Naquelas interações trata-se, sobretudo, de uma queixa sobre a rudeza e

frontalidade excessiva dos israelenses, queixas sobre o custo de vida, o esforço

no trabalho, por oposição a uma simpatia e sorriso brasileiros e uma saudade da

vida de classe média com casas amplas, empregadas e tempo de lazer. Mas estas

avaliações são, como acontece sempre com todos os migrantes, compensadas

pelas avaliações ambíguas sobre as visitas ocasionais ao Brasil: por um lado a

síndrome de férias, que idealiza o Brasil mas, por outro, uma avaliação negativa

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dos hábitos de atraso no cumprimento de horários, de pouco pragmatismo e

demasiada sociabilidade no trabalho, da hierarquia e cultura de corte, das

relações de classe demasiado extremadas, do choque com a pobreza visível e – o

que soa algo irónico para um europeu – a insegurança (a segurança em Israel é,

aliás, a primeira figura de espanto positivo nas narrativas de chegada; trata-se da

segurança “de rua”, claro).1

(Adriana) quando eu cheguei em Rehovot, eu chegava no supermercado, sorria prá mocinha da caixa, chega no banco, “bom dia” (seco), no começo ficava chocada, isso me incomodava muito, o que é que as pessoas têm what’s wrong with them? Dá um sorriso, não custa nada. No começo as pessoas falavam, ah, tem que entender, o povo israelense é muito sofrido, e eu falava, não, para, eu sei que o povo israelense sofreu muito, pelas guerras, mas favelado do Brasil, pô, empregada doméstica trabalha, trabalha e ela não tem o suficiente pra dar de comer pros filhos, motorista de táxi ele vai me tratar bem, vai me dar um sorriso. Isso, até hoje ainda é uma coisa que me choca. Como diz o meu marido, lá pelas tantas tu acaba encontrando, procurando, não é? tentando encontrar um nicho de pessoas que tu vai e tu consiga ficar confortável e por ali tu vai te movimentar, e assim é, assim é exatamente. Sei lá, se eu vou no Super Sol e recebo sorrisos, então tá, o caixa do Super Sol que eu mais gosto é um cara que é etíope e que ele fez ulpan junto com brasileiros, então no fim me dá um baita dum sorriso... em Talpiot. Isso é que é qualidade de vida, essas pequenas coisas.

1 Deixo de propósito para rodapé o que para alguns poderá ser o elefante na sala: então e os árabes, os palestinianos, e o conflito? Tenho algumas respostas tentativas para isso. Deixei o elefante quase não mencionado de propósito. Em primeiro lugar porque, no âmbito da minha pesquisa, ela incluirá palestinianos do Brasil que possam ter migrado para os Territórios Ocupados e sobretudo os que vivem o sonho diaspórico de voltar à terra de origem mas que estão impedidos de o fazer pela ocupação. Mas ainda não tenho esses informantes. Em segundo lugar, porque a evolução quer do conflito, quer das políticas internas de Israel e da Autoridade Palestiniana sofreram enormes alterações nos últimos anos, que conduziram a uma grande segregação entre israelenses judeus e israelenses árabes palestinianos, por um lado, e a uma efetiva separação entre quem está em Israel e quem está nos Territórios Ocupados, tornando improváveis as interações. Em terceiro lugar porque, mesmo quando não é tanto assim, como no caso de Jerusalém, as interações podem não ocorrer quando a distância social formata a nossa vida: “quantos amigos negros tenho no Brasil?”, perguntava-se uma jovem informante. “Comecei a pensar nisso aqui e vejo que nenhum”. E, finalmente, por isto, que é o que acho verdadeiramente interessante antropologicamente: porque os meus informantes praticamente não me falaram do assunto (a não ser aqueles cuja motivação migratória já estava marcada por isso, nomeadamente forte militância política no sionismo de esquerda e com ligações a movimentos de articulação com a Palestina, ou seja, pessoas cuja migração fez parte da sua necessidade de “resolver” um dilema político-identitário que sentiam). São muitas as possíveis razões para não me falarem do assunto, menos uma, a da censura política ou social sobre o mesmo, que não existe, bem pelo contrário, sendo a discussão sobre o tópico permanente. Questões como o facto de eu não ser local e acharem que não posso compreender a complexidade emocional do assunto, passando por acharem que o assunto me maçaria ou por acharem que eu o quereria mais do que tudo, são possíveis. Mas aquela que mais me “fascina” antropologicamente é de que se criou uma sociedade e uma cultura, em Israel e na Diáspora através do sionismo, em que Israel existe mesmo enquanto entidade nacional como.... Portugal, e que o resto é um assunto ou chato, ou desagradável, ou chocante ou mesmo revoltante (consoante as pessoas), mas inexorável e, portanto, independente desta realidade nacional minha. No fundo, esta nota final remete-me para o início e para a questão antropológica central que o caso da criação do estado de Israel suscita: as categorias modernas não aceitam a fuzziness da ambiguidade (Diáspora, ausência de território nacional, ambiguidade entre etnicidade e religião, etc); os judeus que aderiram ao sionismo fugiam também do mal-estar subjetivo dessa fuzziness. Fica a pergunta: e os contemporâneos, os meus informantes mais jovens, não estarão, no entanto e agora, a procurá-la? E justamente num contexto onde ela é híper-presente e híper-negada? E onde as escolhas morais, éticas e políticas são exigentíssimas e ao mesmo tempo simplesmente apagáveis pela ficção da normalidade quotidiana? Parece-me tudo “apenas” a condensação e exagero dos dilemas identitários e das categorias com que os analisamos.

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|3| Testimonies/Testimonials

Research was based on extensive open interviews and participant observation

with a network of 16 individuals of Brazilian descent. They are residents of

Jerusalem, Tel-Aviv, and the kibbutz Bror Hail, near the border with the Gaza

Strip. They are all Jews, citizens of both Israel and Brazil, and native speakers of

Portuguese although also fluent in Hebrew. The starting and core element of the

network is Mila. Doing her Master’s degree in Latin-American Studies, she was

my student when I taught courses on Portuguese society and culture at the

Hebrew University of Jerusalem in 2012 and again in 2013. Our first contact

occurred previously, in 2010, when I first visited Israel/Palestine for a

conference organized by James Green, an American historian and specialist in the

history of the LGBT movement in Brazil and whom I had met at yet another

conference in that South American country. Mila was helping him out with

several practical matters and we became friends. James Green’s and his

husband’s – the historian Moshe Sluhovsky – apartment in Jerusalem was to

become my home during my second stay and Mila was to become my research

assistant. Following a technique of random snowballing, I decided to “use” her as

my focal person.

The general characteristics of the aliyah process that I have analyzed

above – itinerary of socialization, plurality and juxtaposition of motivations, etc.

– apply to all of the research collaborators. Some differentiations can, however,

be established. What follows is not a typology but rather an attention to nuance

in biography, in types of mobility, in narratives, and how these have the state of

Israel as a more or less obvious or hidden interlocutor. I will simply highlight

some of the more iconic nuances, which in future work will each (and many

others more not included here) provide the basis for thematic analysis.

|a| The elders, the pioneers, the kibbutznikim and the official: Gladys, Fábio,

Brenda, Arthur, Marly, and André

This is the generation of people who did aliyah before the end of Labour policies,

the chenges in the kibbutz movement, the fall of the Berlin wall and the age of the

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internet. Ideological motivations are much greater and the age factor allows for

an evaluation of their and their countries’ itineraries, as well as for some value

judgmente about the younger generation’s motivations.

|a1|Mila first introduced me to Gladys, a woman in her fifties, originally from

Porto Alegre, who did aliyah 36 years ago. Her main occupation is heading the

Brazilian and Portuguese sector of Olei, the “Organización Latinomaericana,

España y Portugal en Israel” an organization that provides help to olim hadashim

from those geographical areas. The process of doing aliyah is organized by the

Jewish Agency. Upon arrival in Israel the Agency ceases its role and the care for

the olim is passed on to the Ministry of Absorption. NGOs like Olei provide

volunteer help and are not state agencies. Gladys’s story is marked by two main

motifs. The first is her adamant refusal of Brazil as her emotional home because

of the way her father was shunned by the community when he had financial

trouble and her family’s class position declined. The second is her incorporation

of Sabra (native Israeli, from the pioneering period) ideals as opposed to

Brazilian patriarchal and class hierarchies, leading her to great criticism of the

motivations and attitudes of more recent Brazilian aliyah seekers who

supposedly expect to be taken care of by the State and lack ideological beliefs,

acting as regular economic migrants. Gladys’ position is, however, much more

richly complex, since she invests great voluntary energy in helping the Brazilian

olim’s adaptation process.

Existe um fator, hã..., traumático, familiar, que faz com que um jovem saia pelo mundo a procurar outros horizontes. Pra nós, nesse momento, estava ligado à ideologia sionista, então viemos pra Israel. Pra mim foi uma experiência familiar: o meu pai era muito rico nos anos ’50 em Porto Alegre, ele tinha uma fábrica de móveis, era muito conhecido na comunidade, era muito valorizado, tinha uma posição socioeconómica muito boa em Porto Alegre, até ao dia em que ele faliu, e teve que fechar. E aí a comunidade judaica de Porto Alegre fechou as portas pra ele também, no momento em que ele não tinha dinheiro no bolso ele também não tinha o direito de pertencer à comunidade judaica. Isso tem um pouco na comunidade judaica até hoje, que eles valorizam a pessoa pela posição socioeconómica que ele tem. Isso foi na época que eu nasci, ’57, que o meu pai perdeu tudo, eu cheguei na segunda fase da família, na fase pobre da família, eu não vivi a fase do auge da família. Então eu senti no olhar do meu pai, na postura, passou a ser uma pessoa que olhava para o chão, humilhado pela comunidade, e eu cresci com esse trauma, com essa raiva, ou com essa revolta.

Porquê o movimento juvenil, socialista, exatamente por isso, lá eu era aceita por todos, me receberam como parte, dentro da sociedade, do clube, e o meu irmão, que já era 9 anos mais velho que eu, ele sofreu outro tipo de discriminação socioeconómica, ele já tinha 17 anos, eles

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não tinham dinheiro pra ser sócios do clube, ele não tinha carro aos 18 anos como a maioria dos judeus daquela época tinha, e ele foi segregado e procurou e foi prá comunidade católica, não-judia, e casou com uma não-judia. Ora eu tive outro caminho e aprendi que existem outros judeus, que existe outro tipo de ser judeu e trouxe isso pra dentro de casa e comecei a mostra pra eles que a gente pode ser judeu e não participar daquela sociedade capitalista, segregadora.

Tanto é que em 2007 quando fui pro Brasil a representante da AJ lá de PA me convidou pra dar uma palestra no B’nai B’rit lá de PA e a primeira coisa que eu pensei foi no meu pai e eu disse agora eu vou, na frente... - B’nai B’ri é a classe alta, classe média-alta de PA – agora eu vou parar na frente deles e dizer que sou filha..., eles não são da geração do meu pai, são mais novos, o meu pai hoje teria de ter 90 e poucos anos, mas chegar na frente deles e dizer eu sou a filha do Ruven Golanski, aquele que teve fábrica de móveis na Mariante e eu estou aqui na frente de vocês pra dar uma palestra. Mais do que vir falar de Olim Hadashim, de Olei, eu me posicionei ali como filha do meu pai, não adiantou vocês terem humilhado o meu pai como vocês humilharam, a filha dele chegou aqui numa posição pra dar uma palestra pra vocês.

|a2| Through Gladys I met Fabio who, at the time of fieldwork, was working at

the Jerusalem offices of the Jewish Agency and was in charge of Latin American

countries, Spain and Portugal. Gladys was able to provide me with rich insights

about the culture clashes between a Brazilian upbringing and the starting of a

new life in Israel, and Fabio corroborated them, albeit from a different

institutional angle. Fabio accepts and understands the wide spectrum of aliyah

motivations, especially the economic one as opposed to the ideological one.

|a3, a4, a5, a6| Finally at kibbutz Bror Hail I was able to engage in conversation

with two couples – Marly and Arthur, Brenda and André – all in their fifties and

who were part of an earlier migration. Their generation’s movement was also

part of the Jewish school-to-aliyah continuum, although infused by the kibbutzim

ideal to a much greater extent, and they personify the great changes that that

movement underwent, as well as Israeli society – namely the end of the socialist

framework and its replacement by privatization and individuation. The

interviewees are now engaged in private businesses – strating a pão de queijo

factory or a gaúcho churrasco catering business, all ethnic businesses. They look

at the pioneering, socialist, movement-led period as gone, and that past also

coincides with the end of contact with Palestinians – even if that contact was

clearly assymetrical, culturally distant and with an Orientalist-like outlook.

(Artur) A vida foi mudando, a gente foi mudando a concepção de vida que a gente tinha, o que a gente pensava mudou com o tempo, o kibbutz em si também mudou, hoje em dia não é mais kibbutz como antigamente, hoje em dia é um kibutz completamente privatizado – todos os meios de produção são do kibbutz mas qualquer membro, qualquer Haver do kibbutz pode ir trabalhar

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fora, pode ter o seu próprio negocio, eu tenho um negocio particular meu, assim como a Brenda e o André têm um negócio particular deles, a Marly tem um negócio particular dela, todos nós somos autónomos, temos os nossos negócios, pagamos nossas quotas e taxas que temos que pagar pro kibbutz e hoje vivemos num lugar bem diferente, mudou muito a população, no passado, até 88, teve uma crise muito grande, que caiu o pano e deu pra perceber, pra mostrar pra todo o público que o kibbutz estava numa situação caótica – financeira – e que estava prestes a fechar, a declarar falência e... vai a vaca pro brejo.

(Artur) Dos brasileiros que chegaram, é, queria comentar isso, é um flashback, no início foi resolvido no movimento mundial que ia se criar um kibutz sul-americano, esse kibutz chamava Mefalsim, a 10km ao sul daqui, e lá a maioria era argentinos e acho que 1, 2 anos depois que os grupos de brasileiros começaram a chegar entenderam a mesma situaçãoo que houve com os americanos lá e tinha muito cacique e pouco índio e todo o mundo queria ser o general, então teve que fazer a divisão. Daí então os brasileiros vieram pra BH, aqui tinha um grupo de egípcios, foi quem criou o kibutz, foi um grupo do movimento juvenil que veio do Egito, os brasileiros (palavra hebraica)... tomaram conta, dominaram, cada ano 20, 30 pessoas, começou a vir uma onda muito grande, acabou subjugando os egípcios, até hoje eles entendem português, alguns dizem que não entendem, mas quando precisam eles entendem e falam

(Artur) Em 1981, quando a filha do meu sogro casou – ele era haver kibbutz naquela época, não tinha dinheiro – o que é que ele podia dar?, era na piscina aqui do kibbutz e pediu pra mim se eu organizava um churrasco na festa. Pai do noivo, ele foi o governador militar da Faixa de Gaza durante alguns anos, então ele chamou alguns sheiks que vieram, eles tem o costume de convidar, depois reciprocidade, e então cada sheik que veio convidou, então uma vez eles levaram o pessoal, os amigos do noivo a uma festa de não sei quem e uma das casas foi só o pessoal do churrasco, a gente foi para um lugar que hoje em dia você só ouve o nome e já fica com o cabelo em pé, a gente entrou e foi comer aquele arroz com carne de... cabra, você pega no arroz faz assim com a mão e come. Naquela época a gente ia lá fazer compras no mercado, que era mais barato do que aqui... mas chegou a um ponto que infelizmente, prós dois lados, que eles também perderam muito, e a gente também, mas o problema é que os movimentos revolucionários deles...

|b| The in-betweeners: Tamara and Guila

Both Tamara and Guila live in Tel-Aviv and keep strong identity and linguistic

ties with Brazil, distancing themselves form ‘israelization’. They do it however,

from an internationalist or cosmopolitan point of view, acknowledging the

importance of accepting and cherishing one’s roots as part of it, and also

engaging in unproblematic criticism of Israeli politics, right-wing Zionism, the

growth in religious fundamentalism, the situation in the Occupied Territories

and so on.

|b1| In Tel-Aviv, besides Rachel, I met a friend of hers and Mila’s, Tamara, who is

a journalist, originally from Rio de Janeiro and did aliyah in 2001, together with

her husband, with whom she had 2 children since; Tamara adamantly portrays

herself as a ‘citizen of the world’ and as someone who can easily (and has done

so) go elsewhere if her profession or her adventurous spirit call her to do so. Her

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love for Israel is epitomized in her love for Tel-Aviv (which in contemporary

Israeli folklore is called The Bubble), where she found an atmosphere of

egalitarianism, frankness, and high levels of cultural capital.

E isso me atraiu também, essa coisa de você poder sentar em qualquer lugar, ou até com os garçons, e começar a conversar sobre política, sobre filosofia, sobre whatever, você tem esse espaço aqui. E achei que no final das contas o Brasil estava ficando meio que pequeno pra mim, eu não aguentava mais os mesmos papos, as mesmas preocupações fúteis das pessoas e mesmo hoje quando volto para o Brasil ainda tenho essa mesma questão, tanto que você vai filtrando mais as pessoas que você quer encontrar no Brasil, a maior parte das vezes amigos que encontro no Brasil são pessoas com cabeça aberta, que já viajaram muito, sabe?, as outras pessoas que são fúteis eu já não... encontro na rua, oi, tudo bem, tem o carinho, mas não existe aquela vontade de conversar, trocar ideias, seleção total... Existe a seleção natural também... no sentido de ‘vamo combinar, vamo combinar’, meio papo de carioca e não combina nunca, daí naturalmente já vai selecionando, não tá interessado, não tá interessado, não vou dar o meu pouco tempo pra essa pessoa também, é isso que eu chamo de seleção natural.... Aí morando aqui... aí você vai pra Nova Iorque, vai pra Londres, que são cidades também cosmopolitas, onde existe essa mentalidade mais aberta, mas o nível intelectual não é o mesmo, não sinto que seja o mesmo de uma forma geral, não tou falando de classes específicas. Eu não me considero nem israelense nem brasileira, eu me considero – é escroto falar isso, é até meio egocentrismo – cidadã do mundo. Porque eu peguei coisas boas do Brasil que continuam na minha essência, coisas boas daqui que continuam na minha essência, mas porém muitas pessoas aqui não entendem essas coisas boas brasileiras e muitas pessoas não entendem as coisas boas israelenses no Brasil, como por exemplo a sinceridade

|b2| And Guila Flint is also a journalist and did aliyah 44 years ago. She is a friend

os Tamara’s and Mila’s and has published two thought provoking books with a

very critical view of political and cultural developments in Israeli society, namely

regarding conservative Zionism and the growth of religious fundamentalism.

Her books were published only in Brazil and she doesn’t seem to be driven to

publish them in Israel – which confirms not only her strong identity as journalist

but also the sense that it is back in Brazilian society that she is supposed to

intervene.

Essa menina... ela tinha mais ou menos a mesma idade que eu, veio de SP também, eu já a conhecia de lá e ela, diferentemente.... eu nunca quis ser israelense, nunca quis ser outra coisa, sempre fui brasileira e continuei sendo. Nunca quis parecer que eu sou daqui. Meu sotaque não mudou, tenho um sotaque forte, brasileiro, apesar que eu já moro aqui há 44 anos, nunca fiz algum esforço pra mudar o sotaque, nunca fiz um esforço pra que alguém pense que eu sou daqui. Pra mim estava sempre muito claro que eu NÃO sou daqui. Agora, essa minha amiga, que é um caso muito mais comum, ela queria muito que as pessoas pensassem que ela é daqui. Ela queria ser uma sabra, então ela passava horas na frente do espelho fazendo “rrr”, “rrr”, pra conseguir fazer aquele r dos israelenses, que eu não sei fazer até hoje, mas ela pescou rapidamente

|c| The youngsters, the leftists, the cosmopolitans: Cláudio, Ilana, Rachel, Marcos

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These research collaborators belong to a post-liberalization period in Israeli

politics, to post-Intifada Palestine, post-Berlin wall world politics and are

naturally engaged in the world of the Internet and easy cosmopolitan travelling

for middle-class university students. However, their participation in the Zionist

Youth movements was crucial in building their aliyah motivations, even though

their presence in Israel is seen as potentially temporary or, rather, as probably

divided by an unproblematic double-belonging and a back and forth movement

between both countries.

|c1| Claudio was the first of a different type of research collaborator. He

personifies the younger graduate student who came to Israel through the Jewish

school > Zionist Youth Movement > Taglit > Aliyah process. Like Mila, Claudio is

from Rio de Janeiro, did aliyah in 2012 and is studying International Relations.

His political motivations and his dealing with Israeli society and politics, as well

as the connection with Brazil, are exemplified further down through Marcos’

example.

|c2| Also in this typology there was Ilana, Mila’s cousin. She is 26 years old, and

she did aliyah 4 years ago. She is from Rio de Janeiro and works as a cook, her

chosen profession already in Brazil and also underwent the Jewish school-to-

aliyah process. Maybe her youth – she is the youngest of the research

collaborators – accounts for her being a good example of the epiphany of Israel

that I have mentioned occurs during Taglit.

A primeira vez que vim pra Israel foi no Taglit, em 2007, tinha 19 anos. Estava na faculdade, a decidir o que queria fazer, tinha uma viagem de graça e tal, vim pra Israel e me apaixonei. Lembro de chegar aqui e a primeira noite que a gente dormiu, em Jerusalém, subi no telhado e pensei cara este é o melhor lugar do mundo, que tem uma segurança, de comparação com o Brasil, era um nível que eu não conhecia, fiquei muito impressionada. Na primeira noite do Taglit eles fizeram uma atividade com todo o mundo que estava viajando que era você escrever o seu maior sonho da vida num papel e guardar e depois eles queimaram isso, tipo, me concentrar e pensar em tudo o que queria da vida, pra você queimar e fazer a comparação entre isso e o Holocausto e tudo o que a gente passou pra chegar aqui, e tal. Então isso mega mexeu comigo, voltei pro Brasil, continuei a faculdade, seis meses depois eu vim num programa de voluntariado num colégio de educação especial no norte, era tipo logo depois da segunda guerra no Líbano, as crianças muito traumatizadas e morei numa casa com 11 pessoas, uma comuna, a gente dividia tudo... se eu fosse morar em Israel seria assim, muito mais prático do que só essa ideia... Aí voltei pro Brasil já ‘é isso que eu quero, vou voltar pra faculdade, juntar uma grana e vou’. E aí foi tipo

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eu voltei pro Brasil e acho que um mês, mês e meio depois o meu irmão morreu... foi mega traumático... demorou um tempo até eu perceber o que estava acontecendo... um ano meio conturbado... pensar se era o momento certo de fazer isso... Demorou um ano até eu conseguir resolver tudo, eu queria vir o mais rápido possível mas depois foi... demorou, e eu vim, 2009. Aí fui morar num kibutz, fiz o Ulpan no kibutz, trabalhava na cozinha – já trabalhava em cozinha no Brasil também

|c3| Rachel is Mila’s friend and shared the Ulpan and absorption center period

with her when they did aliyah 2 years ago. She is still trying to start her work as a

psychologist, with training in Rio de Janeiro, and in the meanwhile works has

been working as a hostess and a cook. My interactions with her were also the

closest I came to formally interview my core element, Mila. Their joint narratives

relate to the experience of adaptation or absorption, the process of literally

learning a new culture, besides a new language. Ass an iconic element of this I

have chosen the young women’s assessment of the difference in romantic and

sexual attachments.

(Mila) Porque de repente você se vê vivendo como adolescente

(Rachel) Aquela cena americana, de jovens, que todo o mundo fica com todo o mundo

(Mila) E as várias fofocas... A coisa da klitah, da absorção em outra cultura, você não sabe como essas coisas funcionam, como funciona o flirt, como funciona a pegação, tipo o primeiro cara que eu saí, lembra?, você não chegou a conhecer mas que eu conheci no Mia Bar, ele era amigo do X, saí, me levou pra jantar num restaurante

(Rachel) Um date!

(Mila) Mas eu não saio em dates!, você pega e acabou. Date aqui significa uma coisa séria... um restaurante foda, a gente comeu super-bem, encheu a cara, pagou tudo, aí a gente teve uma noite ótima, trepou e saio de novo e não sei quê e o cara sumiu! Eu não entendi, não faz parte, de repente fiquei o cara sumiu, o que é que aconteceu?

(Rachel) Até hoje a gente ainda fica meio assim, eu de vez em quando tem um cara que quer o date e eu, jantar e tal, ter que fazer todo esse processo cansa... Se bem que agora aqui em Tel Avi tem lugares...

(Mila) Mas é um aprendizado que a Agência Judaica não te explica (risos)

(Risos) Porque você também não pode transar logo de cara, se você fizer isso a probabilidade de a pessoa sumir aumenta... A gente não liga pra isso mas... As minhas amigas israelenses falam pra mim Raquel você é maluca... Mas eu vou esperar até ao 3º encontro pra saber que ele é ruim de cama e depois ter que lidar com o facto de que já tem uma conexão emocional e ter que desfazer?

(Mila) Tem que ser win-win situation. Não é eu estou dando pro cara como recompensa, não, eu gosto.

(Rachel) Foi um aprendizado... (risos)

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|c4| Marcos, a graduate student of International Relations, did aliyah 3 years ago,

although his itinerary is a bit different: he did study in a Jewish school, actually of

a religious orthodox kind, but was more involved with left-wing politics in Rio

than with the Zionist Youth Movement, and lived in Portugal and the UK for

many years before finally doing aliyah.

Isso sempre foi uma questão pessoal muito complicada (pausa, chamados para ir buscar comida) Sempre foi muito problemática para mim essa questão do sionismo, desde criança, eu me lembro, sempre tive um problema com o estado de Israel, aí foi ficando claro que era por conta da questão dos palestinos mas por outro lado eu nunca tinha feito um debate aprofundado, nunca tinha feito nada, demorou muitos anos, isso demorou muito a acontecer, então nessa época de militância eu realmente não discutia isso, então não era uma coisa que eu via sendo discutida, quando participava de um congresso estudantil aparecia a bandeira “pelo fim da ocupação sionista na Palestina” mas acho que nem eu nem os outros sabiam realmente o que isso significava. Hoje eu sei o que significa e acho que eles ainda não sabem. Nunca foi um assunto da militância, isso foi muito posterior, quando decidi encarar, e foi também uma questão sobre a minha identidade judaica, sobre a questão nacional e tudo o mais, porque eu acho que nessa época eu tinha... eu negava a minha identidade judaica, porque eu não sabia o que era a minha identidade judaica. Eu estudei 9 anos num colégio ultra-ortodoxo no Rio, ia à sinagoga todos os dias, estudava Torá, estudava livros religiosos e tudo o mais, mas depois que eu saí do colégio e depois que entrei na faculdade comecei a ver não, isso não tem nada a ver comigo e se isso é ser judeu tem algum problema aí, entendeu?, porque onde é que eu me encaixo nisso? E foi aí que comecei a entrar na discussão do conflito e a começar a entender a questão da identidade judaica como uma questão nacional, pelo outro lado, não pela questão religiosa...

Tá feito pra isso, né? Bom, essa é a impressão que eu tenho. Mas eu tinha sempre muito claro pra mim que o Taglit a gente viaja e vai só nos lugares legais de Israel, na cidade velha de Jerusalém, a gente fez aqui uma visita na universidade, vai a pontos de turismo, vai à praia, eram 15 dias de turismo mais legal. Só que naquele momento a questão do Oriente Médio estava muito forte pra mim, o conflito palestino-israelense e eu falei “pra que eu resolva isso internamente eu tinha de vir”. A minha aliyah foi muito... eu tinha claro pra mim, antes até de vir no Taglit, eu tinha claro pra mim que a única forma de eu entender a minha identidade judaica era vindo morar aqui, de outra forma nunca teria resolvido isso, até hoje estaria falando sou ou não sou judeu, o que é e o que não é ser judeu. Eu precisava vir pra cá pra entender isso de alguma forma. Foi uma questão muito de cabeça mesmo.

Eu no Yom Hazikaron, que é o dia da lembrança das vítimas... a gente em Israel... recorda os soldados mortos em guerra e vítimas de terrorismo, e aí eu fui numa atividade desse movimento em Tel Aviv, que era uma atividade palestino-israelense. Foi muito legal. Subiu uma menina israelense que contou a história dela, que vinha de uma família... eu até já conhecia essa menina antes, ela vinha de uma família iemenita, árabe, são judeus mas de origem árabe, e que sempre foi muito complicado pra ela, a visão política da família dela sempre foi muito de direita em relação aos árabes, e então ela foi mudando, entrou para o movimento e logo depois entrou uma mulher palestina e aí falando da história dela e em todo o momento entrava um israelense, entrava um palestino, ou seja a atividade foi em memória das vítimas dos dois lados, não foi em memória das vítimas israelenses ou palestinas, foram os dois... e inclusive o movimento conseguiu no dia, sobretudo por intermédio de deputados do Meretz, conseguiu a autorização para trazer 40 palestinos dos Territórios Ocupados, que não tem acesso a Israel, mas conseguiram a autorização pra vir e participaram do ato com a gente, foi muito legal, inclusive teve um cara que entrou, falou, a filha dele foi assassinada, se não me engano na explosão de um ônibus, a filha dele morreu, um judeu, e ele ali falando que a questão dele não era pessoal, que ele era a favor da criação do estado palestino e tudo o mais e logo depois dele entrou um cara palestino falando que a filha dele tomou um tiro, na nuca, a 10 metros de distância, ou seja foi assassinada, por um soldado e mesmo assim ele também não via os judeus, os israelenses como um todo, e foi uma atividade que tinha mais de 2,500 pessoas no auditório, quando cheguei fiquei surpreso. Foi o

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oitavo ano que eles organizaram. E do lado de fora... quando eu cheguei eu já vi mas como saiu... era um grupo mais direitistas israelenses gritando, chingando a gente, falando que a gente não tem lugar em Israel, mandando a esquerda israelense fora de Israel, vocês têm de ir, não pertencem a isso, enfim...

|d| Other itineraries of family, love, and work: Debi, Adriana, and Marina

These final cases relate to people with aliyah itineraries that have to do with

personal circumstances of family, work or love. Although they do fit the Jewish

school > Zionist movement > aliyah itinerary pattern, the decision to migrate was

not related to it.

|d1| Adriana, from Porto Alegre, is in her forties, did her graduate education in

Canada and came to Israel for a post-doc but ended up staying and doing aliyah

when she met her husband in Israel 14 years ago.

|d2| And Marina, although she did follow the Jewish school-to-aliyah process,

actually decided to do aliyah 2 and a half years ago because she met her husband

during an earlier visit to Israel.

|d3| Although Debi is a university colleague of Mila’s, she did aliyah in 1994

together with her parents and family from São Paulo when she was still very

young. Her earlier integration in Israeli society is noticeable, and part of that is

her interest in doing research on the Jewish community in São Paulo. Her case

allowed for introducing a different variable in my well-defined universe: a

certain longing for her roots, a nostalgic curiosity about the development of

Jewish identity in Brazil since her family left, and her academic interest in

language use (and, mostly, loss…) among Brazilian Jews in Israel.

(Debi) Ken, eu lembro. A minha mãe com o seu instinto... he, ela não era polaca mas... (risos), não, eu quero que as minhas filhas se casem com um judeu (risos), era a preocupação maior dela, não que faltasse em SP ou que a gente estivesse em idade de casar, mas em todo o caso... Eu não vou negar, uma das razões também foi a situação económica, meu pai estava desempregado e pensou que seria uma alternativa viver aqui(Miguel) 20 anos atrás, 1994... Ainda não tinha sido o plano Real?(Mila): Já tinha, o plano real é 91, 92. Collor 89, crise e confisco da poupança...(Debi) É, mas não foi isso... A causa da aliyah foi a ascensão da China (risos) porque o meu pai fabricava guarda-chuvas e no momento que eles deixaram de fabricar e comprar guarda-chuvas feitos na China não tinham mais trabalho para ele

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Sim, é uma das razões (risos) É uma pergunta sem resposta... O que acontece com o judaísmo hoje em dia na diáspora. Eu quando saí de SP em 94 para vir para cá tinha um processo muito grande de assimilação. É interessante para mim hoje saber o que o pessoal da minha idade faz com o judaísmo deles. Também isso me levou a pensar sobre memória, sobre outros assuntos referentes ao judaísmo e ao estado de Israel. Se o judaísmo deles é suficientemente forte para fazer aliyah ou como eles lidam com a questão do que é ser sionista, se sionista tem que vir para Israel ou não, coisas assim que quem mora aqui – você também deve se perguntar, se fez a coisa certa (para Mila)- são perguntas que eu me pergunto às vezes, que tipo de vida eu ia ter no Brasil hoje em dia, judaica, sionista?

|4| Conclusion: The subject and the state in the face of contemporary identities

and mobilities

A instituição da aliá é regulada por uma “economia-política cultural” que envolve

diferentes agentes. Por um lado, e principalmente, pela Agência Judaica, que é

prévia ao Estado de Israel e financiada pelas contribuições da  Jewish

Federations of North America, Keren Hayesod, pelas maiores comunidades e

dederações judaicas e pela International Fellowship of Christians and Jews.

Como ONG, a Agência ( ישראל לארץ היהודית הסוכנות , HaSochnut HaYehudit L'Eretz

Yisra'el) não recebe fundos do Estado. Este trata dos recém-chegados através do

Ministério da Absorção. Também programas de incentivo ao conhecimento de

Israel por parte dos jovens judeus da diáspora, como o Taglit, são organizados

por consórcios, estes sim envolvendo o Estado, a Agência e filantropos vários.

Esta economia-política dá conta de uma originalidade – o facto de a Agência pré-

existir ao estado, enquanto parte do movimento sionista, tal como, aliás, o Fundo

Nacional Judeu que promoveu a compra de terras e colonização logo no início do

século 20, sob Mandato britânico. Também os movimentos sionistas juvenis

internacionais, ligados aos movimentos políticos do socialismo kibbutziano, aos

partidos políticos e organizações sindicais e de segurança social (por sua vez

criadoras das maiores seguradoras e bancos) – e, depois, alguns ligados também

ao sionismo mais conservador e religioso, têm um papel na promoção da aliyah.

Em suma, trata-se de um processo de organização de um Estado antes do Estado,

a partir da identificação nacional sionista em situação transnacional e diaspórica.

Hoje, com a existência do Estado e a sua consolidação numa polity “normal”, a

participação do Estado na promoção da vontade emigrar é já mais notória.

Os judeus da diáspora constituem-se como cidadãos e membros

culturalmente competentes dos estados-nação onde nasceram ou cresceram. A

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sua constituição como sujeitos é marcada, todavia, não só, como antigamente,

pela pertença a uma minoria etno-religiosa sui generis (nem mero grupo

religioso, nem mero grupo étnico) mas agora também pelo efeito último do

Sionismo que é o Estado de Israel. Este, entretanto, completou o processo de

construção de uma sociedade e cultura próprias, detentora de uma israelidade

que é diferenciada da judeidade. No processo de aliá os olim são confrontados

justamente com este duplo quadro identitário, a que acresce não só uma terceira

identificação, a do país de origem, como o facto de a própria existência de Israel e

o conflito que despoletou ter acrescido o anti-sionismo ao antissemitismo, num

quadro complexo de relações. No momento e no processo da aliá, os meus

colaboradores de pesquisa são confrontados com desafios à sua constituição

como sujeitos – enquanto brasileiros, judeus, israelenses e, depois, enquanto

sionistas de vários matizes ou não-sionistas, para não falar da equação do papel e

do grau dos elementos religiosos ou dos elementos étnicos na construção

identitária. Através da retórica genealógica da origem e do retorno, o Estado é o

lugar e o agente da construção de sujeitos diaspóricos enquanto nacionais e

cidadãos, sendo que esse Estado foi ele mesmo o resultado da resubjectificação

dos judeus enquanto nação à procura de Estado.

Não haverá provavelmente exemplo mais excessivo (Vale de Almeida

2013) dos processos modernos da construção de entidades políticas nacionais –

ao ponto de ter criado um outro problema nacional, o palestiniano – , da

construção de subjetividades pelo Estado, e da construção das identidades

enquanto sujeitos de e a um Estado.

Nas condições globais contemporâneas, as mobilidades dos meus

colaboradores de pesquisa indiciam, porém, uma bem maior fluidez e

complexidade nas motivações, projetos e percursos do que ideologicamente

aparece apenas como “simples” retorno, colocando desafios não só ao projeto

sionista, ao estado de Israel, e à diáspora judaica, mas também às nossas

perceções sobre migrações e mobilidades – desde logo as identitárias e de

constituição dos sujeitos.

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