01 escola de espiãs garotas gallagher (1)

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Comunidade Traduções e Digitalizações de Livros - http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=65618057

Ally Carter – Gallagher Girls 01 – I’d tell you I love you, but then I’d have to kill you

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FEITO POR:

Kimberlly Santoro Letícia Bersot JÉssica Freitas

Ally Carter – Gallagher Girls 01 – I’d tell you I love you, but then I’d have to kill you

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I’d tell you I Love you, but then I’d have to kill you – Eu diria que te amo, Mas teria que matar você Gallagher Girls - Livro 1

Ally Carter

RESUMO A Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais é uma escola para garotas típica, isso é, se toda escola

ensinar artes marciais em Educação Física, e as últimas novidades da guerra química em ciências; e as estudantes

recebem crédito extra ao quebrarem os códigos da CIA em aula da computação. Então na verdade, a Academia

Gallagher pode dizer que é uma escola para gênios, mas é realmente uma escola para espiãs.

Cammie Morgan é da segunda geração de Garotas Gallagher, e no seu 2º ano ela já é fluente em 14 línguas e capaz

de matar um homem de 7 maneiras diferentes (3 das quais envolvem um pedaço não cozinhado de espaguete). Mas

a única coisa que a Academia Gallagher não a preparou é para se apaixonar por um garoto comum que pensa que

ela é uma garota comum. Claro, ela pode grampear seu telefone, hackear seu computador, e o seguir até um

shopping sem ele ter idéia, mas ela pode ter um relacionamento normal com um garoto normal que nunca poderá

saber a verdade sobre ela? Cammie pode ser uma espiã de elite em treinamento, mas em seu 2º ano, ela está

começando sua missão mais perigosa ao se apaixonar.

CONTEÚDOS Agradecimentos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezesseis

Capítulo Dezessete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezenove

Capítulo Vinte

Capítulo Vinte e Um

Capítulo Vinte e Dois

Capítulo Vinte e Três

Capítulo Vinte e Quatro

Capítulo Vinte e Cinco

Capítulo Vinte e Seis

Capítulo Vinte e Sete

Capítulo Vinte e Oito

Capítulo Vinte e Nove

Ally Carter – Gallagher Girls 01 – I’d tell you I love you, but then I’d have to kill you

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Agradecimentos

Esse livro não seria possível sem a ajuda e o encorajamento de muitas pessoas maravilhosas. Agradeço a

tremendamente talentosa Donna Bray e Arianne Lewin por toda sua bondade, profissionalismo e apoio. Eu devo

muito aos meus maravilhosos amigos e família, quem sempre estiveram por mim. Mas em grande parte, por esse

livro, eu agradeço Kristin Nelson, quem enviou o e-mail que começou tudo.

Text copyright © 2006 by Ally Carter

Em memória de Ellen Moore Balarzs, uma verdadeira garota Gallagher

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Capítulo Um

Suponho que muitas garotas adolescentes se sentem invisíveis às vezes, como se

tivessem desaparecido. Bem, essa sou eu — Cammie, a Camaleoa. Mas eu sou mais sortuda

que as outras porque, na minha escola, isso é considerado legal.

Eu estudo em uma escola para espiãs.

Claro, tecnicamente, a Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais é uma

escola para garotas gênios — não espiãs — e nós somos livres para seguir qualquer carreira que

beneficie nossa excepcional educação. Mas quando uma escola te diz isso, e então te ensina

coisas como criptografia avançada e catorze línguas diferentes, é como um grande tabaco

dizendo às crianças para não fumarem. Até minha mãe rola os olhos mas não me corrige quando

eu chamo de escola de espiãs, e ela é a diretora. Claro, ela também é uma aposentada da CIA, e

foi idéia dela eu escrever isso, meu primeiro Relatório de Operações Secretas, para resumir o que

aconteceu no último semestre. Ela está sempre nos dizendo que a pior parte na vida de espiã não

é o perigo — é a papelada. Afinal, quando você está em um avião de volta de Istambul com uma

ogiva nuclear em uma cartola, a última coisa que você quer fazer é escrever um relatório sobre

isso. Então, esse é o porquê de eu estar escrevendo isso — praticamente.

Se você está no Nível 4 de conhecimento ou superior a isso, você provavelmente sabe

sobre nós, Garotas Gallagher, já que estamos por aqui por mais de cem anos (a escola, não eu

— Eu farei dezesseis no mês que vem!). Mas se você não tem esse tipo de conhecimento, então

você provavelmente pense que somos apenas um mito urbano de espiãs — como mochilas a jato

e roupas invisíveis — e você passa por nossas paredes cobertas de trepadeiras, olha para nossa

linda mansão e pisos decorados, e assume, como todo mundo, que a Academia Gallagher para

Jovens Mulheres Excepcionais é apenas um pretensioso internato para herdeiras entediadas com

nenhum outro lugar para ir.

Bem, para falar a verdade, nós estamos totalmente bem com isso — é uma das razões

para que ninguém na cidade de Roseville, Virginia, pense duas vezes sobre a longa fila de

limusines que trouxeram minhas colegas de classes de volta para o campus no último Setembro.

Eu assisti de um assento numa das janelas do terceiro andar da mansão enquanto os carros se

materializaram fora do gramado e saíram pelos altos portões de ferro. O caminho de meio-milha

através das colinas, parecendo inocente como a estrada de tijolos amarelos de Dorothy, não

dando uma pista de estar equipado com raios lasers que detectam marcas de pneus e sensores

explosivos, e uma secção que poderia abrir e engolir um caminhão inteiro. (Se você acha isso

perigoso, nem queira que eu fale sobre o lago!)

Envolvi meus braços em volta dos joelhos e encarei pelo vidro ondulado da janela. As

cortinas de veludo vermelhas estavam desenhadas em torno do pequeno quarto, e eu estava

envolvida por uma estranha sensação de paz, sabendo que em vinte minutos, os corredores

estariam lotados; a música iria ser estrondosa; e eu iria ser apenas uma criança para todas as

cem irmãs, então eu sabia que deveria aproveitar o silêncio enquanto durasse. Então, como que

para provar o que eu pensava, uma forte explosão e o cheiro de cabelo queimando veio flutuando

da sala de História do segundo andar pelas escadas principais, seguido pela distinguida voz

chorosa da Professora Buckingham, ―Meninas! Eu disse para não tocarem naquilo!‖. O cheiro

ficou pior, e uma das alunas da sétima série continuava em chamas, porque a Professora

Buckingham gritou, ―Fique parada. Fique parada, eu disse!‖

Então a Professora Buckingham disse algumas juras que as alunas provavelmente não

entenderiam por três semestres, e eu me lembrei de como todos os anos durante a orientação

para novatas, uma delas quis se mostrar agarrando a espada Gillian Gallagher, usada para matar

o cara que ia assassinar Abraham Lincoln — o primeiro cara, é. O que você nunca ouve falar.

Mas o que as novatas não foram avisadas na sua visita ao campus é que a espada de Gilly

é carregada com eletricidade suficiente para... bem... deixar seu cabelo em chamas.

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Eu simplesmente amo o início das aulas.

Eu acho que nossos quartos costumavam ser um sótão, uma vez. Tinha essas vigas legais

e janelas curiosamente moldadas e vários pequenos cantos e rachaduras, onde uma menina

podia sentar-se de costas para a parede e ouvir pés trovejantes e gritos de ‗olá‘ que

provavelmente são muito comuns em escolas de qualquer lugar no primeiro dia depois das férias

de verão (mas provavelmente deixa de ser normal quando acontecem em Português e Farsi). Lá

fora, no corredor, Kim Lee estava falando de seu verão em Cingapura; e Tina Walters declarava

que ―Cairo era super legal. Johanesburgo — nem tanto,‖ que é exatamente o que minha mãe

disse, quando eu reclamei que os pais de Tina estavam a levando para a África por todo o verão

enquanto eu tinha que visitar meu pai na sua fazenda em Nebraska — uma experiência que, com

toda certeza, nunca irá me ajudar a sair de um interrogatório inimigo ou desarmar uma bomba.

―Ei, onde está Cammie?‖ Tina perguntou, mas eu não estava disposta a deixar meu quarto

antes de poder aparecer com uma história de peixe para poder competir com a exploração

internacional das minhas colegas de classe, setenta por cento das quais são filhas de atuais ou

antigos operários do governo—vulgo espiões. Até Courtney Bauer havia passado uma semana

em Paris, e seus pais ambos são optometristas, assim você pode ver por que eu não estava

particularmente ansiosa para admitir que eu passei três meses agachada no centro da América

do Norte, limpando peixe.

Eu finalmente decidi dizer a elas sobre a hora que eu estava experimentando itens

medianos familiares, que podem ser usados como armas, e decapitando acidentalmente um

espantalho (quem saberia que agulhas de tricô poderiam fazer aquele tipo de dano?), quando

ouvi o distinto baque de bagagens chocando-se com a parede e uma voz suave e sulista, ―Oh,

Cammie... saia, saia, de onde estiver.‖

Espreitei no canto e vi Liz parada em frente à porta, tentando parecer como Miss Alabama,

mas tendo melhor semelhança com um palito de calças capri e chinelos. Um palito muito

vermelho.

Ela sorriu e disse, ―Sentiu minha falta?‖

Bem, eu senti falta dela, mas eu estava completamente com medo de abraçá-la.

―O que aconteceu com você?‖

Liz revirou os olhos e apenas disse, ―Não adormeça em uma piscina no Alabama‖, como se

ela devesse saber antes — o que ela totalmente devia. Quero dizer, nós todas somos

tecnicamente gênios e tudo, mas com nove anos, Liz sempre tinha a maior pontuação nos testes

realizados da terceira série. O governo mantém o registro desse tipo de coisa, então no verão

antes da sétima série, seus pais receberam uma visita de alguns grandalhões em ternos escuros

e três meses mais tarde, Liz era uma Garota Gallagher — mas não a variedade matar-um-

homem-com-suas-próprias-mãos. Se eu estiver em uma missão, quero Bex ao meu lado e Liz

bem, bem longe, com cerca de uma dúzia de computadores e um tabuleiro de xadrez — um fato

que eu não podia esquecer quando Liz tentou arremessar sua mala sobre a cama, mas errou e

acabou batendo em uma estante de livros, destruindo meu estéreo e achatando uma réplica de

escala perfeita do DNA que eu tinha feito de papel maché na oitava série.

―Oopsy querida,‖ disse Liz, colocando a mão sobre a boca.

Claro, ela sabia palavras em catorze línguas diferentes, mas em frente a uma catástrofe

menor, Liz disse Oopsy querida. Naquele momento eu não ligava quão bronzeada ela estava—eu

tinha que abraçar minha amiga.

As seis e trinta em ponto, nós estávamos em nossos uniformes, deslizando as mãos sobre

o corrimão de mogno polido, e descendo as graciosas escadas em espiral graciosamente até o

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assoalho do primeiro piso. Todo mundo estava rindo (minha história da agulha de tricô acabou

sendo um grande sucesso), mas Liz e eu continuamos olhando para a porta no centro da sala.

―Talvez houve algum problema com o avião?‖ Liz sussurrou. ―Ou com a roupa? Ou... Eu

tenho certeza que ela está apenas atrasada.‖

Eu assenti e continuei de olhos para baixo, no saguão, como se, de repente, Bex ia

estourar através das portas. Mas elas continuaram fechadas, e a voz de Liz chiou quando ela

perguntou, ―Você soube dela? Eu não soube dela. Por que não soubemos dela?‖

Bem, eu teria ficado surpresa se tivéssemos ouvido falar dela, pra falar a verdade. Assim

que Bex nos disse que tanto a mãe dela quanto seu pai estavam tirando licença do cargo para

passar o verão com ela, eu soube que ela não seria muito amiga de uma caneta. Deixei Liz

chegar a uma conclusão completamente diferente.

―Oh meu Deus, e se ela foi abandonada?‖ Liz dobrou a preocupação em sua voz. ―Ela foi

expulsa?‖

―Por que você acha isso?‖

―Bem...‖ disse ela, tropeçando sobre o óbvio, ―Bex sempre foi o tipo regras são opcionais‖

Liz encolheu os ombros, e, infelizmente, eu não podia discordar. ―E por que ela estaria atrasada?

Garotas Gallagher nunca se atrasam! Cammie, você sabe de algo, não sabe? Você tem que

saber alguma coisa.‖

São horas como essa em que não é divertido ser a filha da diretora, porque A) é totalmente

irritante quando as pessoas pensam que eu estou em um nível que eu não estou, e B) as

pessoas sempre supõem que eu estou em parceira com a equipe, o que eu realmente não estou

— Claro, eu tenho jantares com a minha mãe nas noites de domingo, e as vezes ela me deixa

sozinha em seu escritório por cinco segundos, mas é isso. Sempre que a escola está em aula, eu

sou apenas mais uma Garota Gallagher (exceto por ser a garota a quem se referem e aplicam A

e B).

Olhei para trás para as portas da frente, em seguida, me virei para Liz. ―Eu aposto que ela

está só atrasada‖, disse, orando para que houvesse um teste surpresa durante o jantar (nada

distrai Liz mais rápido que um teste surpresa).

À medida que nos aproximamos das maciças e abertas portas do Grand Hall, onde Gilly

Gallagher supostamente envenenou um homem em seu próprio colo, eu involuntariamente dei

uma olhadela para o telão eletrônico que se lia ―Inglês—Americano‖ mesmo sabendo que nós

sempre falávamos nosso próprio idioma e sotaque para o jantar de boas vindas. Nossas

conversas durante as refeições não teriam lugares no ―Chinês—Mandarim‖ durante pelo menos

uma semana, eu esperava.

Estávamos estabelecidas na nossa mesa habitual no Grand Hall, e eu finalmente me senti

em casa. Claro, eu na verdade tinha voltado há três semanas, mas a minha única companhia

tinha sido novatas e funcionários. A única coisa pior que ser apenas a tutora superior em uma

mansão cheia de alunas da sétima série é sair da sala dos professores assistindo seu professor

de Idiomas Antigos colocar gotas nas orelhas da maior autoridade do mundo em criptografia de

dados, enquanto ele jura que nunca vai mergulhar de novo. (Ew, imagem mental do Sr.

Mosckowitz em uma roupa de mergulho! Nojento!)

Uma vez que uma garota só pode ler alguns problemas de Espionagem Hoje, eu

geralmente gasto os dias pré-semestres vagando pela mansão, descobrindo compartimentos

escondidos e passagens secretas que são, pelo menos, uma centena de anos mais velhas e

ainda não vi uma boa e interessante durante todo esse tempo. Principalmente, eu tentei passar

um tempo com a minha mãe, mas ela esteve super ocupada e totalmente distraída. Lembrando

disso agora, pensei na ausência misteriosa de Bex e de repente comecei a me preocupar que

talvez Liz estivesse certa. Então Anna Fetterman se espremeu no banco ao lado de Liz e

perguntou: ―Você já viu isso? Você viu?‖

Anna estava segurando um papel azul que dissolve instantaneamente quando você o põe

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na sua boca. (Mesmo que ele parecesse como se fosse ter gosto de algodão doce, não tinha –

confie em mim!) Eu não sei por que eles sempre colocam Papel-Evaporador em nossas aulas –

provavelmente para nós podermos consumir nossa idéia do mau-gosto e avançar para boas

coisas, como hortelã com chocolate.

Mas Anna não estava pensando sobre o Papel-Evaporador quando ela gritou: ―Nós temos

Operações Secretas!‖ Ela soou absolutamente assustada, e eu me lembrei que ela

provavelmente era a única Garota Gallagher que Liz poderia socar. Eu olhei para Liz, e até ela

revirou os olhos para a histeria de Anna. Afinal, todos sabem que no segundo ano é a primeira

vez que nós podemos fazer qualquer coisa de campo de abordagem real. É nossa primeira

exposição às verdadeiras coisas de espiãs, mas Anna parecia ter esquecido que a classe em si

era, infelizmente, uma espécie de concurso de passos de dança.

―Tenho certeza que podemos lidar com isso,‖ Liz consolou, erguendo o papel das mãos

frágeis de Anna. ―Tudo o que Buckingham fez foi contar histórias de terror sobre as coisas que ela

viu na Segunda Guerra Mundial e mostrar slides, lembra? Desde que ela quebrou sua perna

ela—‖

―Mas Buckingham está fora!‖ Anna exclamou, e isso chamou minha atenção.

Tenho certeza que a encarei por um segundo ou dois antes de dizer, ―A Professora

Buckingham ainda está aqui, Anna,‖ não adicionando que eu gastei metade da manhã adulando

Onyx, o gato dela, debaixo da prateleira da biblioteca. ―Isso deve ser apenas um boato do início

das aulas.‖ Sempre houve muitos — como uma garota foi sequestrada por terroristas, ou um dos

membros dos funcionários ganhou cem mil da Roda da Fortuna. (Embora, agora que eu penso

nisso, esse foi realmente verdadeiro.)

―Não,‖ disse Anna. ―Você não entende. Buckingham está fazendo algum tipo de semi-

aposentadoria. Ela vai dar orientação e aclimatação para as novatas — mas é isso. Ela não está

mais dando aulas.‖

Sem palavras, nossas cabeças se viraram, e nós contamos os lugares na mesa dos

funcionários. Claro, havia uma cadeira extra.

―Então quem está ensinando CoveOps?‖ Perguntei.

Só então um forte murmúrio agitou-se através da enorme sala enquanto minha mãe girou

através das portas no fundo do corredor, seguida por todos os suspeitos de costume — os vinte

professores que estive observando e aprendendo nos últimos três anos. Vinte professores. Vinte

e uma cadeiras. Eu sei que eu sou o gênio, mas você faz a conta.

Liz, Anna e eu, todas olhamos entre si e, em seguida, voltamos para a mesa dos

funcionários, enquanto corríamos pelos rostos, tentando compreender aquela cadeira extra.

Um rosto era novo, mas estávamos esperando isso, porque o Professor Smith sempre

retornava das férias de verão com uma nova aparência — literalmente. Seu nariz estava maior,

suas orelhas mais proeminentes, e uma pequena verruga tinha sido adicionada a sua têmpora

esquerda, disfarçando o que ele afirmou ter sido o rosto mais procurado em três continentes. Os

boatos diziam que ele era procurado por contrabandistas de armas do Oriente Médio, ex-KGB

bateu em homens no leste da Europa, e uma ex-esposa muito aborrecida em algum lugar no

Brasil. Claro, toda essa experiência fez dele um grande professor de Países do Mundo (PDM),

mas a melhor coisa que o professor Smith trouxe a Academia Gallagher é a antecipação anual de

adivinhar que rosto ele assumirá para passar suas férias de verão. Ele ainda não voltou como

mulher, mas é provavelmente apenas uma questão de tempo.

Os professores tomaram seus lugares, mas a cadeira continuou vazia enquanto minha

mãe tomou seu lugar no pódio no centro da longa mesa.

―Mulheres da Academia Gallagher, quem vem aqui?‖ ela perguntou.

Só então, cada garota em cada mesa (mesmo as novatas) levantaram-se e disseram em

uníssono, ―Nós somos as irmãs de Gillian.‖

―Por que vocês vieram?‖ minha mãe perguntou.

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―Para aprender suas habilidades. Honrar sua espada. E manter seus segredos.‖

―Para quê vocês trabalham?‖

―Para a causa da justiça e da luz.‖

―Quanto tempo vocês vão lutar?‖

―Por todos os dias de nossas vidas.‖ Nós terminamos, e eu senti um pouco como uma

personagem em uma das telenovelas da minha avó.

Nós nos sentamos, mas minha Mãe se manteve em pé. ―Bem vindas de volta, alunas‖,

disse ela, sorrindo. ―Este vai ser um ano maravilhoso aqui na Academia Gallagher. Para nossas

novas membros‖ —ela virou-se para a mesa da sétima série, que parecia tremer sob seu olhar

intenso— ―bem vindas. Está prestes a começar o mais desafiador ano de nossas jovens vidas.

Tenha certeza que vocês não teriam sido desafiadas se não pudessem fazê-lo. Para nossas

alunas retornantes, este ano irá marcar muitas mudanças.‖ Ela lançou um olhar para seus

colegas e parecia refletir algo antes de voltar a nos encarar. ―Chegamos a um momento que—―

Mas antes que ela pudesse terminar, as portas se abriram, e nem três anos de treinamento na

escola espiã me preparou para o que eu vi.

Antes que eu diga mais algo, devo provavelmente lhe lembrar que EU ESTUDO EM UMA

ESCOLA DE GAROTAS — todas garotas, todo o tempo, com algumas necessitadas de remédio

para orelhas, professores masculinos com cirurgia plástica para boas médias. Mas quando nos

viramos, vimos um homem andando em nosso meio, que teria feito James Bond se sentir

inseguro. Indiana Jones teria parecido um garotinho da mamãe comparado ao homem da jaqueta

de couro com dois dias de barba crescida, que caminhou para onde ficava minha mãe e então —

horror dos horrores— piscou para ela.

―Desculpe-me, estou atrasado‖, ele disse enquanto deslizava para a cadeira vazia.

Sua presença era tão sem precedentes, tão surreal, que eu nem sequer percebi que Bex

tinha se espremido no banco entre Liz e Anna, e eu teria que fazer uma dupla quando visse ela, e

me lembrei que cinco segundos antes ela tinha sido MIA.

―Problemas, senhoritas?‖ ela perguntou.

―Onde você estava?‖ Liz exigiu.

―Esqueça isso,‖ Anna a cortou. ―Quem é ele?‖

Mas Bex era naturalmente nascida espiã. Ela apenas levantou as sobrancelhas e disse,

―Você verá.‖

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Capitulo Dois

Bex tinha passado seis horas em um avião particular, mas seu cappuccino cor de pele

estava incandescente, e ela parecia como se tivesse acabado de sair de um comercial da

Noxzema, então eu realmente queria ser mesquinha e salientar que o sinal na sala de estar dizia

que nós deveríamos estar falando Inglês com sotaque Americano durante o Jantar de Boas

Vindas. Mas como a única Garota Gallagher não cidadã dos Estados Unidos na história, Bex

estava acostumada a ser uma exceção. Minha mãe tinha imposto algumas regras sérias quando

seus velhos amigos do MI6 da Inglaterra ligaram e perguntaram se sua filha poderia ser uma

Garota Gallagher. Admitir Bex foi o primeiro ato de controversa de minha Mãe como diretora (mas

não seu último).

―Você teve um bom feriado, então?‖ Por todo o salão, meninas estavam começando a

comer, mas Bex apenas estourou uma bolha com seu chiclete e sorriu, desafiando-nos a

perguntar-lhe sua história.

―Bex, se você sabe de alguma coisa, você tem que nos contar,‖ Liz exigiu, apesar de ter

sido totalmente inútil. Ninguém consegue fazer Bex fazer qualquer coisa que ela não queira. Eu

posso ser uma camaleoa, e Liz pode ser o próximo Einstein, mas quando se trata de teimosia

geral, Bex é a melhor espiã que já existiu!

Ela sorriu afetada, e eu sabia que ela provavelmente tinha planejado essa cena desde que

estava no meio do Oceano Atlântico (além de ser teimosa, Bex é também bastante teatral). Ela

esperou até que todos os olhares estivessem sobre ela —segurando o silêncio até que Liz estava

prestes à explodir, então ela pegou um pãozinho quente da cesta na mesa e disse indiferente,

―Novo professor.‖ Ela rasgou o pão na metade e amanteigou-o lentamente. ―Nós demos uma

carona a ele de Londres esta manhã. Ele é um velho amigo do meu pai.‖

―Nome?‖ Liz perguntou, provavelmente já planejando como ele iria hackear a sede da CIA

em Langley para detalhes assim que nós fossemos liberadas para voltar para nossos quartos.

―Solomon,‖ Bex disse, olhando-nos. ―Joe Solomon.‖ Ela soou misteriosa como uma

perversa, adolescente, James Bond feminina.

Nós todas nos viramos para olhar para Joe Solomon. Ele tinha a barba mal-feita e mãos

agitadas de um agente fora de uma missão. À minha volta, o corredor cheio de sussurros e

risadinhas —combustível que manteria a fábrica de rumor funcionando até a meia-noite— e eu

me lembrei que, mesmo que a Academia Gallagher seja uma escola para garotas gênios, as

vezes o ênfase deveria ser mantido nas garotas.

A manhã seguinte foi uma tortura. Tortura absoluta! E essa não é uma palavra que eu use

levemente, considerando o negócio da família. Então talvez eu deva reformular: o primeiro dia de

aula foi desafiador.

Nós não fomos exatamente para a cama mais cedo... ou mesmo um pouco tarde... ou

mesmo absolutamente, a menos que você conte mentir no tapete de pele falsa no quarto de

hóspedes com toda a turma do segundo ano espalhadas à minha volta como base para uma boa

noite de sono. Quando Liz nos acordou as sete, nós decidimos que poderíamos ataviar por uma

hora e pular o café-da-manhã, ou vestir nossos uniformes e comer como rainhas, antes da

palestra de PDM do Professor Smith às 8:05h.

A.S. (Antes de Solomon), waffles e bagels teriam vencido com certeza. Mas hoje, o

Professor Smith tinha um monte de meninas delineadas e com lábios brilhantes1 com estômagos

roncando ouvindo ele falar sobre a agitação civil nos Países Bálticos em torno das 8:30h. Eu olhei

para o meu relógio, o último gesto inútil na Academia Gallagher, porque as aulas corriam

1 n/t: lip-glossed – eu não sabia o que colocar em português

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precisamente no tempo, mas eu tinha que ver quantos segundos estavam entre mim e o almoço

(11.705, no caso de você estar curioso).

Quando PDM terminou, nós descemos as escadas correndo para o quarto andar para os

ensinamentos de Cultura e Assimilação da Madame Dabney que, infelizmente, esse dia não

incluía chá. Depois era a hora do terceiro período.

Eu tinha uma dor no pescoço por dormir esquisito, pelo menos cinco horas no valor de

casa, e uma recém descoberta de que mulher não pode viver de brilho labial com sabor de cereja

sozinha. Eu cavei no fundo da minha bolsa e encontrei uma bala de hortelã muito questionável, e

percebi que se eu ia morrer de fome, eu deveria pelo menos ter um hálito de hortelã-fresca para o

benefício de qualquer colega de classe ou professor forçado a me dar um CPR.

Liz teve que ir até o gabinete do Sr. Mosckowitz para deixar uma redação de crédito-extra

que tinha escrito durante o verão (sim, ela é essa garota), então eu estava sozinha com Bex

quando chegamos a base da grande escadaria e nos viramos no pequeno corredor que era um

dos três caminhos até os Subs, ou Sub-piso, onde nós nunca fomos permitidas antes.

Paradas na frente do espelho de parede toda, nós tentamos fortemente não piscar ou fazer

qualquer coisa que poderia confundir a leitura óptica, que estava verificando que nós éramos, de

fato, segundanistas e não novatas tentando esgueirar-se para os Subs em um desafio. Eu estudei

as nossas reflexões e percebi que eu, Cameron Morgan, a filha da diretora, que sabia mais sobre

a escola do que qualquer Garota Gallagher desde a própria Gilly, estava se preparando para ir

mais fundo no cofre dos segredos da Gallagher. Julgando pelos pêlos arrepiados no braço de

Bex, eu não era a única que tinha calafrios ao pensar nisso.

Uma luz verde lampejou nos olhos de uma pintura atrás de nós. O espelho deslizou de

lado, revelando um pequeno elevador que nos levaria um andar abaixo do porão para a sala de

aulas de Operações Secretas e — se você quer ser dramática sobre isso — nossos destinos.

―Cammie,‖ Bex disse devagar, ―estamos dentro.‖

Nós estávamos sentadas calmamente, checando nossos (sincronizados) relógios, e todas

pensando a mesma coisa: alguma coisa está definitivamente diferente.

A mansão Gallagher é feita de pedra e madeira. Tinha corrimãos esculpidos e lareiras

altas, onde uma garota poderia espiralar em frente em dias nevados e ler tudo sobre quem matou

JFK (a verdadeira história), mas de alguma maneira o elevador nos trouxe para um espaço que

não pertencia ao mesmo século, muito menos a mesma construção, como o resto da mansão. As

paredes eram de vidro fosco. As mesas eram de aço inoxidável. Mas a coisa mais estranha sobre

a sala de aula de Operações Secretas era que o nosso professor não estava na mesma.

Joe Solomon estava atrasado — tão atrasado, eu estava começando a ficar um pouco

irritada que eu não tinha tido o tempo de roubar alguns M&M‘s da mesa da minha mãe, porque,

francamente, um Tic Tac de dois anos de idade não satisfaz a fome de uma menina crescida.

Nós sentamos quietamente enquanto os segundos passavam, mas acho que o silêncio se

tornou demais para Tina Walters, porque ela inclinou-se sobre o corredor e disse, ―Cammie, o que

você sabe sobre ele?‖

Bem, eu só sabia o que Bex tinha me dito, mas a mãe de Tina escrevia uma coluna de

fofoca em um grande jornal metropolitano que deve permanecer anônimo (para sua proteção e

tudo), então não havia maneira de Tina não tentar chegar ao fundo dessa história. Logo eu estava

presa sobre uma avalanche de perguntas como: ―De onde ele é?‖ e ―Será que ele tem uma

namorada?‖ e ―É verdade que ele matou um embaixador turco com uma tanga?‖. Eu não tinha

certeza se ela estava falando sobre sandálias ou calcinhas, mas em qualquer caso, não tive a

resposta.

―Qual é,‖ Tina disse, ―Eu ouvi Madame Dabney dizer ao Chefe Louis que a sua mãe estava

trabalhando com ele todo o verão para fazê-lo aceitar o emprego. Você tem que ter ouvido

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alguma coisa!‖

Então o interrogatório de Tina tinha uma vantagem: eu finalmente entendi as ligações

quietas e portas trancadas que tinham mantido minha mãe distraída por semanas. Eu estava

somente começando a processar o que significava, quando Joe Solomon entrou na sala — cinco

minutos de atraso.

O cabelo dele estava levemente úmido, sua camisa branca apertada — e é também uma

homenagem ao seu devaneio ou nossa educação que me levou dois minutos inteiros para

perceber que ele estava falando em Japonês.

―Qual é a capital de Brunei?‖

―Bandar Seri Begawan,‖ nós respondemos.

―A raiz quadrada de 97,969 é...‖ ele perguntou em Swahili.

―Trezentos e treze,‖ Liz respondeu em matemática, porque, como ela gosta de nos lembrar,

matemática é a língua universal.

―Um ditador dominicano foi assassinado em 1961,‖ ele disse em Português. ―Qual era o

seu nome?‖

Em uníssono, nós todas dissemos ―Rafael Trujillo.‖

(Um ato, gostaria de salientar, que não foi cometido por uma Garota Gallagher, apesar de

rumores do contrário.)

Eu estava apenas começando a entrar no ritmo no nosso pequeno jogo, quando o Sr.

Solomon disse, ―Feche seus olhos,‖ em Árabe.

Nós fizemos o que foi dito.

―De que cor são meus sapatos?‖ Dessa vez ele falou em Inglês e, surpreendentemente,

treze Garotas Gallagher sentadas lá quietas sem uma resposta.

―Sou destro ou canhoto?‖ ele perguntou, mas não parou para uma resposta. ―Desde que eu

entrei nessa sala deixei impressões digitais em cinco locais diferentes. Nomeie-os!‖ ele exigiu,

mas continuou o mesmo silêncio vazio.

―Abram os olhos,‖ disse ele, e quando eu o fiz, o vi sentado no canto de sua mesa, um pé

no chão e o outro suspenso à vontade ao lado. ―Sim,‖ ele disse. ―Vocês são meninas bem

inteligentes. Mas também são um pouco estúpidas.‖

Se nós soubéssemos de um fato científico que a terra não pode simplesmente parar de se

mover, todas poderíamos ter jurado que tinha acabado de acontecer.

―Bem vindas a Operações Secretas. Sou Joe Solomon. Eu nunca tinha ensinado antes,

mas tenho feito essas coisas por dezoito anos, e eu ainda estou respirando, então isso significa

que sei do que estou falando. Isso não vai ser como suas outras aulas.‖

Meu estômago roncou, e Liz, que tinha optado por um café-da-manhã completo e um rabo

de cavalo, disse, ―Shhh,‖ como se eu pudesse fazê-lo parar.

―Senhoritas, vou deixá-las prontas para o que acontece.‖ Ele pausou e apontou para cima.

―Lá fora. Não é para todos, e é por isso que vou ser duro com vocês. Muito duro. Impressione-me,

e no próximo ano aqueles elevadores te levarão um andar abaixo. Mas se eu tiver a mínima

suspeita de que você não é extremamente talentosa na área do campo de batalha, ai eu vou

salvar sua vida agora mesmo e colocá-la na faixa de Operações e Investigação.‖

Ele parou e colocou as mãos nos bolsos. ―Todo mundo começa nesse negócio procurando

aventura, mas eu não ligo como suas fantasias se parecem, senhoritas. Se você não pode sair de

trás dessas mesas e me mostrar algo diferente de inteligência de livro, então nenhuma de vocês

jamais verá o Subnível Dois.‖

Pelo canto do meu olho, eu vi Mick Morrison seguindo cada palavra dele, quase salivando

ao som da mesma, porque Mick tem querido magoar alguém durante anos. Sem surpresa, sua

mão carnuda voou no ar. ―Isso quer dizer que você nos ensinará sobre armas de fogo, senhor?‖

ela gritou como se um sargento fosse fazê-la cair e fazer flexões.

Mas o Sr. Solomon apenas andou em volta da mesa e disse, ―Nesse negócio, se você

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precisar de uma arma, então é provavelmente tarde para fazer qualquer coisa boa.‖ Um pouco do

ar pareceu sair do corpo bem-atenuado de Mick. ―Mas no lado positivo,‖ ele disse a ela, ―talvez

eles sepultem você com isso — isso é assumir que você será enterrada.‖

Minha pele vermelha queimava. Lágrimas encheram meus olhos. Antes que eu sequer

soubesse o que estava acontecendo, minha garganta estava tão apertada que eu mal conseguia

respirar enquanto Joe Solomon me olhou espantado. Então, assim que meus olhos se trancaram

com os dele, ele afastou o olhar.

―Os sortudos voltam para casa, mesmo que numa caixa.‖

Embora ele não tenha mencionado pelo nome, eu senti minhas colegas de classe me

observando. Todas elas sabem o que aconteceu com meu pai — que ele foi em uma missão, que

ele não voltou para casa. Eu provavelmente nunca saberei mais que esses dois simples fatos,

mas esses dois fatos eram tudo que importava. As pessoas me chamam de A Camaleoa aqui —

se você frequenta uma escola de espiãs, eu imagino que é um bom apelido. Pergunto-me às

vezes o que me fez desse jeito, o que me mantém calada e parada quando Liz está tagarelando e

Bex está, bem, Bexando. Sou boa em passar despercebida por causa da minha genética espiã ou

por que sempre fui tímida? Ou sou só a garota que as pessoas preferem não ver —a fim de que

percebam quão fácil pode acontecer à eles.

O Sr. Solomon deu outro passo, e minhas colegas desviaram seus olhares rapidamente —

todas menos Bex, isso é. Ela estava movendo-se lentamente em direção à sua cadeira, pronta

para manter minhas lágrimas fora do alcance dos lindos olhos verdes do nosso novo quente

professor enquanto ele disse, ―Sejam boas, senhoritas. Ou sejam mortas.‖

Uma parte de mim queria correr direto para o gabinete da minha mãe e contar a ela o que

ele disse, que ele estava falando sobre o Papai, implicando que tinha sido culpa dele — que ele

não era bom o suficiente. Mas eu fiquei sentada, possivelmente fora da raiva paralisante, mas

mais provável porque eu temia, em algum lugar dentro de mim, que Sr. Solomon estava certo e

que eu não quisesse que minha mãe dissesse o mesmo.

Só então, Anna Fetterman entrou pelas portas de vidro fosco e arquejou em frente a turma.

―Sinto muito,‖ ela disse ao Sr. Solomon, ainda arquejando para respirar. ―O estúpido Scanner não

me reconheceu, então o elevador me trancou, e eu tive que escutar uma palestra de cinco

minutos pré-gravada sobre tentar esgueirar-se fora dos limites, e...‖ Sua voz falhou enquanto ela

estudava o professor e sua expressão não impressionada, o que achei um pouco hipócrita vindo

de um homem que esteve cinco minutos atrasado.

―Não se incomode em pegar um lugar,‖ Sr. Solomon disse enquanto Anna começou a se

aproximar da mesa no fundo da sala. ―Suas colegas já estavam saindo.‖

Nós todas olhamos para nossos recentemente sincronizados relógios, que mostrava

exatamente o mesmo — nós tínhamos ainda quarenta e cinco minutos de aula. Quarenta e cinco

valiosos e não-gastados minutos. Depois do que pareceu uma eternidade, a mão de Liz se

levantou.

―Sim?‖ Joe Solomon soava como alguém com coisas melhores à fazer.

―Tem algum dever de casa?‖ ela perguntou, e a classe tornou-se instantaneamente de

chocada para irritada. (Nunca pergunte essa questão em uma sala cheia de garotas que são faixa

preta em caratê.)

―Sim.‖ Solomon disse, segurando a porta no sinal universal para sair. ―Perceba coisas.‖

Enquanto eu comandava o corredor branco e lustroso até o elevador que me trouxe aqui,

ouvi minhas colegas andando na direção oposta, em direção ao elevador mais próximo dos

nossos quartos. Depois do que acabara de acontecer, eu estava feliz por ouvir suas pegadas indo

em outra direção. Eu não estava surpresa que Bex veio ao meu lado.

―Você está bem?‖ ela perguntou, porque isso é o trabalho de uma melhor amiga.

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―Yes,‖ eu menti, porque isso é o que espiãs fazem.

Nós descemos o elevador para o estreito corredor do primeiro andar, e enquanto as portas

se abriram, eu estava seriamente considerando ir ver minha mãe (e não só pelos M&M‘s), quando

eu entrei no corredor escuro e ouvi uma voz chorar, ―Cameron Morgan!‖

A Professora Buckingham estava correndo pelo corredor, e eu não pude imaginar o que

faria uma educada dama Britânica falar de tal maneira, quando, acima de nós, uma luz vermelha

começou a rodopiar, e uma buzina gritante perfurou nossas orelhas tanto que nós mal podíamos

ouvir os gritos da voz eletrônica que com a luz pulsava, ―CÓDIGO VERMELHO. CÓDIGO

VERMELHO. CÓDIGO VERMELHO.‖

―Cameron Morgan!‖ Buckingham gritou novamente, agarrando Bex e eu pelos braços. ―Sua

mãe precisa de você. AGORA!‖

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Capítulo Três

Instantaneamente, os corredores passaram de vazios para transbordantes conforme as

garotas corriam, funcionários apressaram-se e as luzes vermelhas continuavam a piscar.

Uma prateleira de troféus girou, mandando as placas e fitas de comemoração de

vencedoras do combate anual de mão-à-mão e da competição do time de quebradores de

códigos para o compartimento escondido atrás da parede, deixando uma linha de prêmios de

concursos de natação e debate em seu lugar.

Acima de nós, na parte alta do corredor, três banners dourados e cor-de-vinho Estude

Suas Habilidades, Honre Sua Espada, e Mantenha Seu Segredo milagrosamente se enrolaram e

foram substituídos por cartazes feitos à mão apoiando alguém chamada Emily para presidente do

conselho estudantil.

Buckingham arrastou Bex e eu até a extensa escadaria enquanto um bando de novatas

desceram, guinchando até o topo de seus pulmões. Eu me lembrei que aquelas sirenes soavam

como a primeira vez que eu as ouvi. Não era preciso perguntar porque as meninas estavam

agindo como se fosse o fim do mundo. Buckingham gritou, ―Garotas!‖ e então as calou. ―Sigam a

Madame Dabney. Ela irá lhes levar para os estábulos para a tarde. E Senhoritas‖ —ela bateu em

um par de gêmeas de cabelos escuros, que pareciam estar especialmente frenéticas—

―compostura!‖

E então Buckingham rodopiou e subiu a escada para o segundo andar, onde o Sr.

Mosckowitz e o Sr. Smith estavam tentando mover uma estátua de Eleanor Everett (a Garota

Gallagher que uma vez desarmou uma bomba na Casa Branca com seus dentes) para um

armário.

Nós atravessamos pelo Hall da História, onde a espada de Gillian deslizou suavemente na

cave sob seu estojo como a Excalibur retornando à Dama do Lago, e foi substituída por um busto

de um homem com enormes orelhas que supostamente era o primeiro diretor da escola.

Toda a escola estava em um estado de caos organizado. Bex e eu partilhamos um olhar

questionador, porque deveríamos estar no primeiro andar, ajudando as outras segundanistas a

verificar o nível principal para qualquer coisa relacionada com espionagem que alguém deve ter

deixado de mentir, mas Bunckingham se virou e gritou, ―Meninas, rápido!‖ Ela soou menos como

a suave e idosa professora que nós conhecíamos e mais como a mulher que tinha auto-

manuseado uma metralhadora nazista no dia D2. Eu ouvi uma batida atrás de nós, seguida de um

expletivo Polonês, e sabendo que a estátua de Eleanor Everett provavelmente estava em bilhões

de pedaços; mas no final do Hall de História, minha mãe estava encostada contra as portas

duplas do seu escritório, jogando um M&M em sua boca tão calmamente como se ela estivesse

esperando para me buscar do treino de futebol, agindo como se fosse apenas mais um dia

normal. Seu longo cabelo escuro caído sobre os ombros do seu terno preto. Uma franja escovada

através de sua testa perfeita que ela jurava que eu teria, também, assim que meus hormônios

parassem de guerrear com meus poros.

Às vezes, fico seriamente contente que vivemos noventa por cento de nossas vidas dentro

da mansão, porque sempre que saímos, eu tenho que ver homens babarem sobre minha mãe, ou

perguntar se somos irmãs, o que me enlouquece totalmente, embora eu saiba que eu deveria

estar lisonjeada que alguém pensasse que eu tinha mesmo algum parentesco com ela.

Resumindo, minha mãe é uma gata.

―Hey, Cam, Rebecca,‖ ela disse antes de se virar para Buckingham. ―Obrigada por trazê-

las, Patricia. Entre dentro de um segundo.‖

Dentro do seu escritório, graças às suas paredes à prova de som, o caos do resto da

escola desapareceu completamente. A luz fluía através das janelas chumbadas e reluziam sobre

2 n/t: No vocabulário militar, o Dia D é um termo usado para denotar o dia em que um ataque ou uma operação do combate devem ser iniciados.

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os painéis de mogno e as estantes do chão ao teto que estavam, até mesmo enquanto

falávamos, girando para esconder Poções Através das Idades e Um Guia Pretoriano para uma

Honorável Morte, substituindo eles com uma tampa lateral de volumes como Educando o Ensino

Superior e Educação Particular Mensal. Havia uma foto em sua mesa de duas de nós de férias na

Rússia, e eu observei aterrorizada como nos abraçamos e sorrimos na moldura enquanto, no

fundo, o Kremlin foi substituído pelo Castelo da Cinderela no Disney World.

―Holográfico e rádio-sintetizado papel fotográfico,‖ disse mamãe, quando ela viu minha

boca escancarada. ―Dr. Fibs bateu um lote em seu laboratório durante o verão. Faminta?‖ ela

segurou sua mão fechada perto de Bex e eu. Surpreendentemente, eu tinha esquecido sobre

meu estômago vazio, mas eu tirei um pedaço verde de boa sorte. Algo me disse que nós iríamos

precisar dela.

―Meninas, eu preciso que vocês façam uma excursão.‖

―Mas... nós somos segundanistas!‖ Bex exclamou, como se minha mãe tivesse

misteriosamente esquecido.

A boca da minha mãe estava cheia de chocolate, então Buckingham explicou, ―As calouras

estão começando seu semestre com táticas de interrogatório, então todas elas estão sobre a

influência de Sodium Pentothal3 no momento, e as veteranas estão sendo equipadas com suas

lentes de contato de visão noturna, e elas não vão diminuir durante pelos menos duas horas.

Esse momento é o mais infeliz, mas o Código Vermelho é assim. Nós não sabemos quando vão

acontecer e, bem, está acontecendo agora.‖

―O que você me diz?‖ Mamãe perguntou, sorrindo. ―Você pode nos ajudar?‖

Tem três coisas que uma pessoa tem que ser antes de aparecer não-convidada na soleira

da porta da Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais: persistente, poderosa e

completamente fora de outras opções. Afinal, as estudantes mais potenciais nunca deixaram

passar o discurso ―Nós não estamos aceitando pedidos nesse momento‖ sempre que ligam ou

escrevem; você tem que ser rejeitada por todas as outras escolas preparatórias do país antes de

ser verdadeiramente dirigida para Roseville, na esperança que uma visita mudará nossas mentes.

Mas nenhuma quantidade de persistência ou desespero te fará atravessar os portões. Não, para

isso, se leva poder real.

Era por isso que Bex e eu estávamos paradas na porta da frente, esperando a extensa

limusine preta que transportou a família McHenry (sim, aqueles McHenry da capa da última

December‘s Newsweek) para o curvo beco. Eles eram o tipo de pessoa que não desistiam

facilmente, e nós aprendemos há muito tempo que o melhor lugar para se esconder é em vista

óbvia, de modo que Bex e eu estávamos aqui para recebê-los na Academia Gallagher para

Jovens Mulheres Excepcionais. Nossa missão: certificar-se que eles nunca saibam quão

excepcionais nós realmente somos.

O homem que saiu da Limusine vestia um terno cinza e uma gravata; a mulher parecia a

herdeira de cosméticos — nenhum fio de cabelo fora do lugar — e eu me perguntei se meu brilho

labial de cereja a impressionaria. Julgando pela carranca no rosto dela, não.

―Senador,‖ disse Bex, estendendo sua mão próxima ao homem, soando tão Americana

quanto torta de maçã e amando a charada. ―Bem vindo à Academia Gallagher. É uma honra ter

você conosco hoje.‖

Achei que ela estava se colocando um pouco demais até que o Senador McHenry sorriu e

disse, ―Obrigado. É maravilhoso estar aqui,‖ como se ele não percebesse que ela não podia votar

ainda.

3 n/t: um tipo de anestesia de ação curta

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―Sou Rebecca,‖ Bex disse. ―Essa é Cameron.‖ O Senador lançou-me um olhar e

rapidamente voltou-o para Bex, quem parecia um modelo perfeito da educação de Elite. ―Estamos

felizes de te mostrar e...‖ E foi quando Bex e eu ambas percebemos que sua filha não havia

aparecido. ―Sua filha vai...‖

De repente, uma bota de combate preta emergiu da limusine.

―Querida,‖ o senador disse, apontando para os estábulos, ―venha ver. Elas têm cavalos.‖

―Oh, era daí o cheiro?‖ Sra. McHenry disse com um arrepio. (Para constar, nossa escola

cheirava muito bem, a não ser é claro que sua habilidade de cheiro tenha sido irremediavelmente

danificada por toda vida por cheirar amostras de perfumes.)

Mas o senador lançou um olhar para sua esposa e disse, ―Macey ama cavalos.‖

―Não, Macey odeia cavalos,‖ Sra. McHenry disse, estreitando os olhos e lançando-os para

Bex e eu como se para lembrar ao senador a não contradizê-la na frente da ajuda. ―Ela caiu de

um e quebrou o braço.‖

Eu estava pensando em quebrar essa pequena exibição de alegria doméstica para dizer a

eles dois que não havia nenhum cavalo nos estábulos — apenas alunas da sétima série piradas e

uma antiga espiã Francesa que inventara uma maneira de mandar mensagens codificadas em

queijos, quando uma voz disse, ―Sim, eles fazem uma ótima cola.‖

Agora, não sei isso por um fato, mas estou bem certa que Macey McHenry nunca tocou um

cavalo em toda sua vida. Suas pernas eram longas e atléticas; suas roupas, apesar de punk e

rebelde, eram definitivamente caras, e o diamante em seu nariz era pelo menos um quilate e

meio. Seu cabelo parecia rígido e sem corte, mas também espesso e brilhante, e emoldurava um

rosto que pertencia a uma capa de revista.

Eu assisti TV e filmes suficientemente pra saber que uma garota como Macey McHenry

não poderia sobreviver ao colegial, então alguém como eu provavelmente seria comida viva.

Contudo, algo a levou para nossos portões — tornando-nos seu último recurso. Ou era o que

seus pais pensavam.

―Nós...‖ gaguejei, porque eu poderia ser um gênio em inventar venenos, mas boa em falar

em público — Não sou! ―Estamos felizes em ter você aqui.‖

―Então por que nos deixou esperando‖ —a Sra. McHenry apontou sua cabeça em direção

aos portões de ferro— ―lá fora por mais de uma hora?‖

―Temo que seja o protocolo padrão para pessoas que vem sem nomeação,‖ Bex disse em

sua mais honrável voz de estudante. ―Segurança é uma das maiores preocupações aqui na

Academia Gallagher. Se sua filha estiver aqui, você pode esperar o mesmo nível de proteção.‖

Mas as mãos Sra. McHenry estavam em seus quadris quando ela estourou, ―Você não

sabe quem ele é? Você sabe—‖

―Nós estamos à caminho para D.C.,‖ o senador se aproximou, cortando sua esposa. ―E nós

não pudemos resistir de trazer Macey para uma visita.‖ Ele mandou para sua esposa um ‗essa é

nossa última chance, não estrague‘ conforme adicionou, ―E a segurança é o mais

impressionante.‖

Bex abriu as portas da frente e os recebeu para dentro, mas tudo o que eu pude fazer foi

assisti-los ir e pensar, Senador, você não faz idéia.

Bex e eu tivemos que sentar no escritório da minha mãe enquanto ela passava seu

discurso padrão sobre a ―história‖ da escola. Realmente, não era muito diferente da verdade,

apenas abreviada. Muito.

―Nós temos diplomadas trabalhando no mundo todo,‖ Mamãe disse, e eu pensei, Claro,

como espiãs. ―Nós focamos em idiomas, matemática, ciências e cultura. Essas são as coisas que

nossas formandas nos dizem que mais precisam em suas vidas.‖ Como espiãs. ―Por admitir

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somente jovens mulheres, nossas estudantes desenvolvem um senso de capacitação, o que as

torna capazes de serem altamente bem sucedidas.‖ Como espiãs.

Eu estava apenas começando a aproveitar do meu joguinho, quando Mamãe se virou para

Bex e disse, ―Rebecca, por que você e Cammie não levam Macey para dar uma volta?‖ e eu

sabia que era a hora do Show.

Bex brilhou, mas tudo que eu pude fazer era pensar sobre como mesmo nós tendo apenas

uma metade do curso de operações secretas, já tínhamos uma missão! Como eu saberia como

agir? Claro, se Macey queria conjugar verbos Chineses ou quebrar código da KGB, eu estava

perfeitamente treinada, mas nossa missão era agir normalmente, e era algo que eu não era

totalmente qualificada para fazer! Felizmente, Bex gostar de atuar.

―Senador,‖ disse Bex, agarrando sua mão, ―foi uma honra te conhecer, senhor. E você,

também, madame.‖ Ela sorriu para Sra. McHenry. ―Estou tão feliz que vocês dois—‖

―Obrigada, Rebecca,‖ Mamãe cortou Bex com sua voz de não exagere.

Macey se levantou e, com uma agitação em sua ultra-minissaia, saiu pela porta e foi para o

Saguão de História sem ao menos olhar para seus pais.

Macey estava se inclinando contra um gabinete que normalmente contava a história da

máscara de gás (uma invenção que a Academia Gallagher segurava a patente, muito obrigada),

acendendo um cigarro, quando a alcançamos.

Ela tomou uma longa e confiante tragada e então soprou a fumaça em direção ao teto que

provavelmente mantinha uma dúzia de diferentes tipos de sensores, pelo menos um deles era de

fumo.

―Você tem que jogar isso fora,‖ Bex disse, interando sua fase tenha-certeza-de-que-ela-

sabe-que-é-infeliz da operação. ―Na Academia Gallagher, nós apreciamos saúde pessoal e

segurança.‖

Macey olhou para Bex como se ela estivesse falando Chinês. Eu tive que pensar por um

momento para ter certeza que ela não estava.

―Nada de fumar,‖ eu traduzi enquanto puxei uma lata de alumínio vazia de uma lixeira de

reciclagem no topo das escadas e segurei em direção a ela.

Ela tomou outra tragada e então olhou para mim, como se para dizer que ela esmagaria

seu cigarro se eu a forçasse, o que eu poderia, é claro, mas ela não deveria saber disso. ―Ótimo,‖

eu disse, e me virei pra sair. ―Seus pulmões.‖

Mas Bex estava gritante à ela, diferente de mim, ela verdadeiramente parecia capaz de

jogar alguém fora do desembarque; então com a última tragada, nossa visitante deixou o cigarro

na lata vazia de Coca Diet e me seguiu pelas escadas enquanto uma onda de garotas

empurravam-se entre nós.

―É a hora do almoço,‖ e expliquei, percebendo que o M&M verde tinha se juntado com o Tic

Tac no meu estômago e estavam tentando me convencer que eles realmente gostariam de

alguma companhia. ―Nós podemos ir comer se você quiser—‖

―Eu acho que não!‖ Macey exclamou com um rolar de olhos.

Mas a estúpida eu saltou para dizer, ―Realmente, a comida aqui é ótima,‖ o que totalmente

não servia como nosso objetivo da missão, desde que comida grossa é geralmente um bom

desvio. Mas nosso chefe era incrível. Ele na verdade trabalhou na Casa Branca antes de seu

incidente envolvendo Fluffy (o Primeiro Poodle), um agente químico gastronômico, e algum muito

questionável queijo. Felizmente, uma Garota Gallagher salvou a vida do pobre Fluffy, então para

mostrar sua apreciação, Chefe Louis veio para nós e trouxe seu impressionante Creme Brûlée

com ele.

Eu comecei a mencionar o Creme Brûlée, mas então Macey exclamou, ―Eu como

oitocentas calorias por dia.‖

Bex e eu nos entreolhamos, maravilhadas. Nós provavelmente queimávamos muitas

calorias durante as sessões de aula de P&A (Proteção e Aplicação).

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Macey nos estudou, cética, então adicionou, ―Comida é tão ontem.‖

Infelizmente, essa foi a última vez que eu tive alguma.

Nós chegamos à sala de estar, e eu disse, ―Esse é o Grand Hall,‖ porque soava como uma

excursão escolar, mas Macey agiu como se eu não estivesse mesmo lá e se virou para Bex (seu

semelhante físico) e disse, ―Então, todo mundo usa aqueles uniformes?‖

Eu achei isso particularmente ofensivo, tendo estado no comitê de seleção do uniforme,

mas Bex apenas tocou sua saia azul-marinho xadrez até os joelhos combinando com a blusa

branca e disse, ―Nós até usamos eles durante a aula de ginástica.‖ Boa, eu pensei, observando o

horror no rosto de Macey enquanto Bex se aproximou em direção ao corredor leste e falou, ―Aqui

temos a biblioteca—‖

Mas Macey estava se posicionado para outro corredor. ―O que tem lá embaixo?‖ E logo ela

tinha sumido, passando pelas salas de aula e passagens escondidas por cada passo. Bex e eu

corremos para acompanhá-la, atirando pedaços de retóricos como ―Essa pintura foi um presente

de Duque de Edimburgo‖ ou ―Oh, sim, o Lustre Memorial de Wizenhouse,‖ ou meu favorito, ―Esse

é o Quadro Memorial de Washington.‖ (É realmente um bom quadro.)

Bex estava no meio de uma história bem convincente de como - se uma garota

conseguisse uma pontuação perfeita em um teste - ela seria permitida de assistir uma hora inteira

de televisão na semana, quando Macey sentou em um dos meus favoritos assentos de janela,

puxou um celular, e procedeu para fazer uma ligação bem em frente de nós sem pelo menos um

com licença. (Rude!) A piada era ela, embora, desde que, depois de discar o número, ela segurou

o aparelho em sua frente desnorteada.

Bex e eu nos entreolhamos, e então eu tentei soar toda simpática quando disse, ―Sim,

celulares não funcionam aqui.‖ VERDADE.

―Estamos longes demais de uma torre,‖ Bex adicionou. FALSO. Nós na verdade temos

ótima recepção de celular se não for o congestionamento monstruoso que bloqueia todas as

transmissões estrangeiras do campus, mas Macey McHenry e seu pai Capitol Hill certamente não

precisavam saber disso.

―Nada de celulares?‖ Macey disse como se nós acabássemos de dizer que todas as

estudantes tem que raspar a cabeça e viver de pão e água. ―É isso. Estou fora daqui.‖ Então ela

se virou e relampejou em direção ao escritório da minha mãe.

Pelo menos ela pensava que era o caminho para o escritório da minha mãe. Ela estava

perto das portas que levavam ao departamento de Pesquisa e Desenvolvimento no porão. Eu

estava bem certa que Dr. Fibs teria tudo na forma de Código Vermelho, mas com a tradição de

cientistas malucos por todo lado, Dr. Fibs tinha a tendência de ser um pouco, digamos, propenso

a acidentes. Suficientemente certa, enquanto dobramos o corredor, vimos Sr. Mosckowitz, que

acontecia de ser a maior autoridade do mundo em criptação de dados, mas ele não parecia um

mega-gênio. Não. Ele parecia mais um residente alcoólico. Seus olhos estavam injetados de

sangue e lacrimosos, seu rosto estava pálido, e ele estava totalmente tropeçando e censurando

suas palavras quando disse, ―Olá!‖

Macey o encarou com aversão, o que na verdade era uma coisa boa, porque dessa

maneira ela não perceberia a espessa névoa de fumo roxo que estava escorrendo abaixo das

portas da escada atrás dele. A Professora Buckingham estava empurrando toalhas nas frestas,

mas sempre que ela se aproximava da névoa roxa ela começava a espirrar incontrolavelmente.

Ela chutou a toalha com o pé. (Como é que isso é para tecnologia super espiã?)

Sr. Mosckowitz continuou bamboleando para frente e para trás, talvez porque a coisa roxa

tinha mexido com seu senso de balanço ou talvez porque ele estava tentando bloquear a vista de

Macey, o que teria sido suficiente, considerando que ele não poderia ser um centímetro mais alto

que cinco pés. Ele disse, ―Eu entendo que você é uma estudante potencial.‖

Mas então, o corpo alto e esguio do Dr. Fibs espatifou no chão. Ele estava frio, e a névoa

roxa estava crescendo mais espessa.

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Bex e eu nos entreolhamos. Isso seriamente NÃO É BOM!

Buckingham arrastou Dr. Fibs até uma cadeira de professor e começou a girá-lo, mas eu

não tinha uma pista do que fazer. Bex agarrou o braço de Macey. ―Vamos, Macey. Eu sei um

curto—‖

Mas Macey apenas puxou seu braço do aperto de Bex e disse, ―Não me toque, v——.‖ (É,

está certo, ela chamou Bex da palavra com V.)

Agora veja, aqui está toda a coisa da escola particular que põe uma garota em

desvantagem. A MTV vai nos levar a acreditar que a palavra com V se tornou um termo de afeto

ou gíria entre iguais, mas eu ainda sobretudo penso dela como o insulto de escolha para os

inarticulados. Então, quer Macey nos odiando ou nos respeitando, eu olhei para Bex e soube que

ela estava apostando na primeira.

Bex seguiu em frente, trocando sua personalidade de garota escolar feliz e colocando sua

expressão de super espiã.

Isso SERIAMENTE não é bom, eu pensei de novo, ao mesmo tempo em que uma camisa

branca e calças cáqui apareceram na minha visão perimetral.

Nunca mais eu me perguntaria se o único motivo de pensarmos que Sr. Solomon era

gostoso era porque nós estamos estudando em uma escola feminina; um olhar para Macey

McHenry deixava perfeitamente claro que mesmo além dos muros da Academia Gallagher, Joe

Solomon era deslumbrante. E ela nem mesmo sabia que ele era um espião (o que sempre fazia

um cara mais gostoso).

―Olá.‖ Era exatamente a mesma coisa que Sr. Mosckowitz tinha dito, mas, oh, era

diferente. ―Bem vinda a Academia Gallagher. Espero que esteja considerando em se juntar a

nós,‖ ele disse, mas tenho bastante certeza que Macey, Bex, e eu todas ouvimos, Acho que você

é a mulher mais linda do mundo, e eu ficaria honrado se você suportasse minhas crianças.

(Realmente, verdadeiramente, eu acho que ele disse isso.)

―Está gostando do passeio?‖ ele perguntou, mas Macey apenas bateu suas pestanas e foi

toda sedutora de um modo que totalmente não combinava com suas botas de combate.

Talvez seja a nuvem de fumaça roxa flutuando em minha direção, mas eu pensei que

vomitaria.

―Você tem um segundo?‖ Sr. Solomon perguntou, mas não esperou ela responder antes de

continuar, ―Tem algo no segundo andar que eu adoraria te mostrar.‖

Ele apontou para ela uma escada circular de pedra que uma vez fora uma peça na capela

da família Gallagher. Janelas de vidros coloridos refletiam na camisa branca do Sr. Solomon

enquanto subíamos. Quando alcançamos o segundo piso, ele apontou para o corredor grande e

de teto alto que estava inundado em um caleidoscópio de cores.

Era, em uma palavra, lindo, e eu nunca havia realmente o percebido até agora — sempre

tive aulas para ir, missões para terminar. Ouvi a palestra do Sr. Solomon de novo — perceba as

coisas — e não pude evitar de ter a sensação que havíamos tido nosso primeiro teste de

CoveOps. E nós falhamos.

Ele nos guiou por todo o caminho até o Corredor de História antes de desviar e passear de

volta em direção a magnífica parede de vitral. Conforme Macey o assistiu ir, ela murmurou,

―Quem era aquele?‖

Foi a primeira coisa entusiasmada que Macey tinha dito desde sair da limusine e talvez

muito antes disso — provavelmente desde que percebeu que seu pai venderia a alma dele por

um voto e sua mãe era a palavra com V usada em seu contexto tradicional.

―Ele é um novo professor,‖ Bex respondeu.

―Claro,‖ Macey zombou. ―Se você está dizendo.‖

Mas Bex, que não tinha esquecido o incidente com a palavra V, rodou e disse, ―Eu estou

mesmo dizendo.‖

Macey alcançou seu maço de cigarros, mas parou abruptamente quando o olhar de Bex

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endureceu.

―Permita-me jogá-los para você,‖ Macey disse como se fosse um grande favor. ―A melhor

das hipóteses: todas as garotas gaguejam por ele e perdem o foco, o que tenho certeza que é

muito importante na Academia Gallagher,‖ disse com uma falsa reverência. ―Pior das hipóteses:

ele é um caso de conduta inapropriada procurando um lugar para acontecer.‖ Eu tinha que admitir

que, até agora, Macey V estava fazendo algum sentido. ―As únicas pessoas que ensinam nesses

lugares são esquisitos e nerds. E quando vocês têm uma diretora com aquela aparência‖ — ela

apontou para minha mãe em toda sua beleza, quem se encontrava conversando com os McHenry

há uma distância de trinta pés— ―é fácil ver que o Sr. Atraente foi contratado.‖

―O que?‖ eu perguntei, não entendendo.

―Você é a Garota Gallagher,‖ ela ridicularizou de novo. ―Se você não pode descobrir isso,

então quem sou eu para te dizer.‖

Eu pensei sobre a minha mãe — minha linda mãe, quem recentemente havia recebido

piscadelas do meu professor sexy de CoveOps, e pensei que nunca iria comer novamente.

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Capítulo Quatro

Existiam muitas coisas excelentes sobre ter três garotas dividindo uma suíte de quatro. A

primeira, obviamente, é o espaço do armário — seguido pelo espaço da prateleira, seguido pelo

fato que nós tínhamos um canto inteiro do quarto dedicado a pufes. Era uma instalação muito

encantadora (se você perdoar o trocadilho), mas eu não acho que alguma de nós realmente

apreciou o que tínhamos até que dois caras do departamento de manutenção bateram em nossa

porta e perguntaram aonde queríamos a cama extra.

Agora, além de nossos professores e nosso chefe, a Academia Gallagher tem uma equipe

bem extensa, mas não é o tipo de lugar que publica em anúncios (bem... você sabe... exceto

pelas mensagens codificadas). Existem dois tipos de pessoas que vêm para cá — estudantes

procurando entrar no AlphaNet (CIA, FBI, NSA, etc.), e funcionários procurando dar o fora. Então

quando dois homens grandes como geladeiras aparecem com postes metálicos longos agarrados

à mão, é bem provável que esses foram seus instrumentos de sua atividade por algum tempo —

apenas em um contexto bem diferente.

Esse é o porquê de nós não termos feito perguntas naquela noite. Apenas apontamos para

um canto e então três de nós fizemos um caminho rápido para o segundo piso.

―Entre, garotas,‖ minha mãe gritou assim que entramos no Hall de História — antes de

sequer poder nos ver. Mesmo que eu tivesse crescido com ela, às vezes seus instintos de super

espiã me assustavam. Ela andou até a porta. ―Estava esperando vocês.‖

Eu vinha trabalhando bastante um discurso, me deixe te dizer, mas assim que vi a silhueta

da minha mãe na soleira da porta, esqueci dele. Felizmente, Bex nunca tinha esse problema.

―Com licença, madame,‖ ela disse, ―mas você sabe por que o departamento de

manutenção entregou uma cama extra no nosso quarto?‖

Qualquer outra pessoa que fizesse essa pergunta nesse tom veria a ira de Rachel Morgan,

mas tudo que minha mãe fez foi cruzar os braços competir com a sabedoria de Bex.

―Porque, sim, Rebecca. Eu sei.‖

―É uma informação que pode compartilhar conosco, madame? Ou é preciso que

saibamos?‖ (Se alguém tem uma necessidade — somos nós. Nós somos as que estão perdendo

nosso canto de pufes no acordo!)

Mas mamãe apenas deu um passo e gesticulou para nós a seguir. ―Vamos dar uma volta.‖

Algo estava errado, eu percebi. Tinha que estar, assim eu estava em seus calcanhares,

seguindo-a pela escada, dizendo, ―O que? É chantagem? O senador por acaso tem algo—‖

―Cameron,‖ Mamãe disse, tentando me cortar.

―Ele está no Comitê de Serviços Armados? É uma coisa financiada, porque nós podemos

começar a cobrar propinas, você—‖

Eu fiz como me disseram, mas ainda não me calei. ―Ela não vai durar. Nós podemos nos

livrar de—‖

―Cameron Ann Morgan,‖ Mamãe disse, jogando a carta do nome do meio que todas as

mães mantinham nos bolsos de trás para tal ocasião. ―Basta.‖ Eu congelei conforme ela entregou

o envelope grande que esteve carregando para Bex e disse, ―Essa é a pontuação do teste de sua

nova colega de quarto.‖

Certo, eu vou admitir — eram bons. Não bons como Liz, ou coisa assim, mas eram bem

melhores que o GPA4 2.0 de Macey McHenry poderia indicar.

Nós voltamos para baixo para um corredor antigo de pedra, nossos pés ecoando pelo

salão frio.

―Então seu teste é bom,‖ eu disse. ―Então—‖

Mamãe parou bruscamente, e nós três corremos até perto dela. ―Eu não executo decisões

4 n/t: Grade Point Average. Pontos de nota média, algo assim

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a partir de você, executo, Cammie?‖ A vergonha começou a crescer dentro de mim, mas Mamãe

já tinha deslocado sua atenção em direção à Bex. ―E eu faço decisões controversas ao longo do

tempo, não é, Rebecca?‖ Com isso, todas lembramos como Bex chegou a nós, e até ela se calou.

―E, Liz,‖ Mamãe desviou o olhar mais uma vez. ―Você acha que nós deveríamos somente admitir

garotas que vêm de famílias de espiões?‖

Era isso — ela tinha nos pegado.

Mamãe cruzou os braços e disse, ―Macey McHenry trará um nível muito necessitado de

diversidade para a Academia Gallagher. Ela tem conexões familiares que permitirão a entrada em

algumas sociedades fechadas. Ela tem um intelecto subutilizado. E...‖ Mamãe parecia estar

ponderando o próximo pedaço.

―...ela tem uma qualidade.‖

Qualidade? É, certo. Pretensão é uma qualidade, elitismo, fascismo, e anorexismo.

Comecei a dizer a minha mãe sobre as oitocentas calorias diárias, ou a coisa da palavra V, ou

salientar que o Código Vermelho eram entrevistas falsas, não verdadeiras. Mas então eu olhei

para a mulher que tinha me criado e quem, um rumor, uma vez coagido um dignitário Russo a se

vestir como mulher e carregar uma bola de praia cheia de nitrogênio líquido debaixo da camiseta,

como uma grávida, e soube que eu estava desarmada, mesmo com Bex e Liz ao meu lado.

―E se isso não é suficiente para vocês...‖ Mamãe se virou para olhar para uma tapeçaria de

veludo antigo que pendia no centro da parede de pedra.

Claro que eu vi isso antes. Se uma garota quisesse ficar lá por tempo suficiente, ela

poderia seguir o rastro da família Gallagher em toda a árvore ramificada pela tapeçaria de nove

gerações antes de Gilly, e duas gerações depois. Se uma garota tivesse coisas melhores para

fazer, ela poderia alcançar atrás do tapete, para a crista da família Gallagher incorporada na

parede, e virar a pequena espada, então escorregar pela porta secreta que parecia aberta.

(Vamos dizer que eu sou o segundo tipo de garota.)

―O que isso tem a ver com...‖ Eu comecei, mas o ‗Oh meu Deus‘ de Liz me cortou.

Segui os dedos finos das minhas amigas pela linha inferior do tapete. Eu nunca soube que

Gilly tinha se casado. Eu nunca soube que ela teve um filho. Eu nunca sonhei que o sobrenome

da criança era ―McHenry.‖

E todo esse tempo eu pensei que eu era uma herança Gallagher.

―Se Macey McHenry quer vir aqui,‖ Mamãe disse, ―nós acharemos um lugar para ela.‖

Ela se virou e começou a sair, mas Liz chamou atrás dela, ―Mas, madame, como ela...

você sabe... entrar?‖

Mamãe considerou ser uma pergunta justa, porque ela dobrou as mãos e disse, ―Eu

admito, academicamente, que a Srta. McHenry estará atrás do resto das classes do segundo ano.

Por essa razão, ela estará tomando muitos de seus cursos com nossas estudantes mais jovens.‖

Bex lançou-me um olhar, mas até o pensamento das pernas de supermodelo de Macey se

esticando em uma classe cheia de novatas não poderia mudar o fato que dois caras com cabeças

carecas (que podem ou não ter preços nelas) estavam nesse exato momento abrindo espaço

para ela no nosso quarto. A questão no rosto da minha mãe era se nós abriríamos espaço para

ela nas nossas vidas.

Eu olhei para minhas melhores amigas, sabendo de nossa missão, se escolhêssemos

aceitá-la, era ser amigas de Macey McHenry. A boa garota dentro de mim sabia que eu deveria

pelo menos tentar ajudá-la a se enturmar. A espiã em mim sabia que eu tinha recebido uma

missão, e se eu quisesse algum dia ver o Subnível Dois, eu deveria começar a sorrir e dizer ‗Sim,

madame.‘ A filha em mim sabia que não havia nenhuma escolha envolvida aqui.

―Quando ela começa?‖ Eu perguntei.

―Segunda-Feira.‖

Naquele domingo à noite, eu encontrei minha mãe em seu escritório para comermos Tater

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Tots5 e nuggets de frango. Nós tínhamos uma rígida e firme regra sobre os jantares de Domingo

à noite — Mamãe tinha que fazê-los ela mesma, o que é legal e tudo, mas não exatamente bom

pra minha digestão. (Papai sempre disse que a coisa mais letal sobre ela, era sua comida.)

Diretamente abaixo de nós, minhas amigas estavam jantando as melhores comidas que um chefe

cinco-estrelas podia oferecer, mas conforme minha mãe passeava em uma velha camisa do meu

pai, parecendo uma adolescente, eu não teria negociado lugares com elas nem por todo Creme

Brûlée do mundo.

Quando eu cheguei à Academia Gallagher, eu me senti culpada sobre ser capaz de ver

minha mãe todo dia quando minhas colegas de classe tinham que passar meses à fio sem ver

seus pais. Eventualmente, eu parei de me sentir mal sobre isso. Afinal, minha mãe e eu não

passamos verões juntas. Mas principalmente, nós não temos Papai.

―Então como está a escola?‖ Ela sempre perguntava como se não soubesse — e talvez

não soubesse mesmo. Talvez, assim como todo bom operário, ela queria ouvir todas as versões

da história antes de fazer sua cabeça.

Eu mergulhei uma batata em um molho de mostarda e disse, ―Boa.‖

―Como vai CoveOps?‖ a mãe perguntou, mas eu sabia que a diretora estava em algum

lugar, e ela queria saber se seu mais novo membro do pessoal estava cumprindo a grade.

―Ele sabe sobre Papai.‖

Eu não sei de onde a frase veio ou porquê eu a disse. Eu passei seis dias com receio da

chegada de Macey McHenry para nossa pequena sociedade, mas isso foi o que eu disse quando

finalmente estava sozinha com minha mãe? Eu a estudei, desejando que o Sr. Solomon

ensinasse Leitura de Linguagem Corporal essa semana em vez de Vigilância Básica.

―Existem pessoas nesse mundo, Cam — pessoas como Sr. Solomon — que saberão o que

aconteceu a ele. É seu trabalho saber o que aconteceu. Espero que algum dia você se acostume

com o olhar das pessoas enquanto elas põem dois mais dois juntos e tentem decidir se devem ou

não mencionar isso. Estou certa em assumir que o Sr. Solomon o mencionou?‖

―Um pouco.‖

―E como você lidou com isso?‖

Eu não gritei, e eu não chorei, então disse a minha mãe, ―Bem, eu acho.‖

―Bom.‖ Ela alisou meu cabelo, e eu me perguntei pela milésima vez se ela tinha um par de

mãos para trabalhar e outro para momentos como esse. A imaginei guardando em uma maleta e

os trocando, seda por aço. Dr. Fibs poderia ter feito eles — mas não fez.

―Estou orgulhosa de você, criança,‖ ela disse simplesmente. ―Vai ser fácil.‖

Minha mãe é a melhor espiã que eu conheço — então eu acreditei nela.

Quando acordamos na manhã seguinte, me lembrei que era segunda-feira. Esqueci que

era A Segunda-Feira. É o porquê de eu ter parado congelada no meu caminho para o café-da-

manhã quando ouvi o poderoso ‗Cameron Morgan!‘ da Buckingham ecoar pelo salão. ―Eu preciso

que você, Srta. Baxter e Srta. Sutton me sigam, por favor.‖ Bex e Liz pareciam tão perdidas

quanto eu, até que Buckingham explicou, ―Sua nova colega de quarto chegou.‖

Buckingham era bem velha, e nós tínhamos ela em desvantagem de três contra uma, mas

eu ainda não via muitas alternativas. Nós a seguimos para cima pelas escadas.

Eu pensei que seria apenas Mamãe e Macey em seu escritório — os pais de Macey já sido

mandados embora na limusine se incomodassem vindo de qualquer jeito (o que eles não foram)

— mas quando Buckingham abriu a porta, vi Sr. Solomon e Jessica Boden dividindo o sofá de

couro. Ele parecia tão completamente entediado que eu quase me senti sorrindo para ele, e

Jessica estava empoleirada na borda do sofá.

5 n/t: uma marca de batatas fritas

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A convidada de honra estava sentada perto da escrivaninha da minha mãe, vestindo um

uniforme oficial, mas parecendo com uma supermodelo. Ela nem ao menos se virou quando nós

entramos.

―Como eu dizia, Macey,‖ minha mãe disse, uma vez que Liz, Bex e eu nos posicionamos

no assento da janela no lado mais distante da sala e enquanto Buckingham permaneceu atenta

em frente à prateleira de livros, ―Eu espero que seja feliz aqui na Academia Gallagher.‖

―Humph!‖

Sim, eu sei que Herdeiras não é um dos idiomas que eu falo, mas estou bem certa que

isso se traduz a Diga isso a alguém que se importe porque eu já ouvi tudo isso antes, e você só

está dizendo isso porque meu pai te escreveu um enorme cheque. (Mas isso é apenas um

palpite.)

―Bem, Macey,‖ uma voz completamente repulsiva chiou. Eu não tenho certeza do por que

eu odiar Jessica Boden, mas estou bem certa que tem algo a ver com o fato de sua postura ser

muito acidentada, e não confio em alguém que não sabe como andar propriamente. ―Quando os

administradores ouviram sobre sua admissão, minha mãe—‖

―Obrigada, Jessica.‖ Quanto eu amo minha mãe? Muito. Mamãe abriu uma pasta grossa

que pousava em sua mesa. ―Macey, vejo aqui que você passou um semestre na Academia

Tríade?‖

―É,‖ Macey disse. (Agora, ai está uma garota que sabe como se portar.)

―E depois um ano inteiro na Wellington House. Dois meses na Ingalls. Oh, apenas uma

semana no Instituto Wilder.‖

―Você tem um objetivo?‖ Macey perguntou, seu tom tão afiado quanto a adaga abridora de

cartas que Joe Solomon dedilhava enquanto elas falavam.

―Você viu muitas escolas diferentes, Macey—‖

―Eu não diria que há alguma coisa diferente nelas,‖ ela rebateu.

Mas não antes que as palavras saíram de sua boca, a adaga abridora de cartas cortou

pelo ar, não mais de um pé de distância do cabelo liso dela, voando da mão do Sr. Solomon

diretamente em direção a cabeça de Buckingham. Tudo aconteceu tão rápido — rápido como

pisque-e-você-vai-perder. Em um segundo Macey estava falando sobre como todas as escolas

preparatórias eram iguais, e em seguida, Patricia Buckingham estava agarrando uma cópia de

Guerra e Paz da prateleira de livros atrás dela e segurando-a centímetros de seu rosto, tal como

a adaga perfurou sua capa de couro.

Por um bom tempo, o único som foi a sutil vibração do abridor de cartas quando o mesmo

emperrou no livro, sussurrante como um ressonador acústico procurando pelo Dó do meio6 Então

minha mãe se inclinou sobre a mesa e disse, ―Eu acho que você irá perceber que tem algumas

coisas que nós ensinamos que suas outras escolas não ofereceram.‖

―O que...‖ Macey balbuciou. ―O que... O que... Você é louca?‖

Foi quando minha mãe recontou toda a história da escola de novo — a versão completa —

começando com Gilly e depois destacando como foi dada a cada Garota Gallagher outras

manicures que descobriram todo o negócio de ‗nada de duas impressões digitais‘, e um pouco

das nossas criações altamente rentáveis. (Fita adesiva não se inventou sozinha, você sabe.)

Quando mamãe terminou, Bex disse, ―Bem vinda à escola de espiãs,‖ em seu verdadeiro

sotaque em vez da sua geograficamente neutra fala pausada, que era tudo o que Macey tinha

ouvido até agora, e eu poderia dizer que ela estava prestes a ter uma sobrecarga séria de

informações, o que, é claro, não foi ajudada por Jessica.

―Macey, eu sei que isso será um grande ajustamento para você, mas é o por isso que

minha mãe — ela é uma Administradora Gallagher — me encorajou a te ajudar a passar por

isso—‖

6 n/t: Middle C - Refere-se à nota "Dó", localizada exatamente entre as duas pautas da equipe grande e perto da parte superior e inferior,

respectivamente, do baixo e da voz soprano

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―Obrigada, Jessica,‖ Mamãe disse, a cortando de novo. ―Talvez eu possa clarear as

coisas.‖ Mamãe alcançou seu bolso e puxou o que parecia um pó compacto prata normal. Ela

sacudiu a tampa e tocou seu dedo indicador no espelho interior. Eu vi uma pequena luz escanear

sua impressão digital, e quando ela bateu o compacto pra fechar, o mundo em volta de Macey

McHenry deslocou-se conforme o processo do Código Vermelho correu ao contrário. As

prateleiras de livros estiveram com as faces erradas por uma semana, mas agora elas estavam

girando para mostrar seu verdadeiro lado. Disney World desapareceu na foto da mesa de

Mamãe; e Liz eclodiu seu Português o suficiente para dizer, ―Será que ela vai vomitar?‖ Mas eu

tive que chacoalhar minha cabeça em resposta porque eu honestamente não sabia se Macey ia

ou não vomitar.

Quando tudo parou de girar (literalmente), Macey estava cercada por mais de uma centena

de anos de segredos encobertos, mas ela não estava parando para digerir tudo isso. Em vez

disso, ela gritou ―Vocês são psicopatas!‖ e correu pela porta. Infelizmente, Joe Solomon estava a

um passo à frente dela. ―Saia do meu caminho!‖ ela vociferou.

―Sinto muito,‖ ele disse calmamente. ―Não acredito que a diretora tenha terminado ainda.‖

―Macey.‖ A voz de minha mãe estava calma e cheia de razão. ―Eu sei que isso deve ser um

choque para você. Mas nós realmente somos apenas uma escola para jovens mulheres

excepcionais. Nossas classes são rígidas. Nosso currículo único. Mas você pode usar o que

aprende aqui em qualquer lugar do mundo. De qualquer jeito que o ajuste.― Os olhos de mamãe

estreitaram. Sua voz endureceu conforme ela dizia, ―Se você ficar.‖

Quando mamãe se aproximou, eu soube que ela não estava mais falando como uma

administradora; ela estava falando como uma mãe. ―Se você quer partir, Macey, nós podemos

fazer que você esqueça que isso algum dia aconteceu. Quando acordar amanhã, isso será um

sonho que você não se lembrará, e você terá mais uma experiência escolar no seu registro. Mas

não importando sua decisão, há apenas uma coisa que você precisa entender.‖

Mamãe estava chegando perto, e Macey rompeu, ―O que?‖

―Ninguém nunca saberá o que você viu e ouviu aqui hoje.‖ Macey ainda estava encarando

a adaga, mas minha mãe não tinha uma cópia de Guerra e Paz em mãos, então ela pulou para a

próxima melhor coisa. ―Especialmente seus pais.‖

E justamente quando eu pensei que nunca veria o sorriso de Macey McHenry de novo...

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Capitulo Cinco

Na terceira semana de aula, minha mochila estava mais pesada do que eu (bem, talvez eu

não, mas provavelmente Liz), eu tinha uma montanha de dever de casa, e o sinal acima do Grand

Hall anunciava que nós tínhamos gastado todo nosso Francês, se pretendêssemos ter uma

pequena conversa durante o almoço. E mais, é quase um trabalho em tempo integral manter

boatos separados de fatos. (Não há grande surpresa sobre quem são os boatos.)

Macey McHenry tinha sido expulsa de sua última escola porque ela estava grávida com o

bebê da diretora. BOATO. Na primeira aula de P&A (Proteção e Aplicação), Macey chutou uma

aluna da sétima série tão forte que ela ficou fria por uma hora. FATO. (E também o motivo de

Macey estar tendo P&A com as alunas da oitava.) Macey disse a uma aluna da sétima que os

óculos dela faziam seu rosto parecer gordo, e a Professora Buckingham que ela realmente devia

tentar usar calças apertadas. FATO. FATO. FATO.

Enquanto caminhávamos entre a sala de chá de Madame Dabney e o elevador para o

Subnível Um, Tina Walters me disse pela vigésima vez, ―Cammie, você nem mesmo tem que

roubar o arquivo... Apenas pegue um pouco—‖

―Tina!‖ eu estourei, então suspirei porque um corredor lotado cheio de futuras espiãs não é

o melhor lugar para ter uma conversa secreta, ―Eu não vou roubar a ficha permanente apenas pra

ver se ela realmente botou fogo no ginásio na sua última escola.‖

―Pegar emprestado,‖ Tina me lembrou. ―Empreste a ficha permanente. Só uma olhadinha.‖

―Não!‖ eu disse de novo, assim quando viramos o pequeno e escuro corredor. Vi Liz

parada lá, encarando o espelho que ocultava o elevador, como se ela não reconhecesse o próprio

reflexo. ―O que há de errado com...‖ Então eu vi o pequeno papel amarelo. ―O que? Isso está fora

do lugar ou—‖

E então eu li o pequeno papel amarelo.

Classe de C.O. do Segundo Ano cancelada.

Me encontre lá fora hoje à noite, 19:00,

Não usem seus uniformes!

-Solomon

O reflexo de Bex apareceu atrás do meu, e nossos olhos bloquearam. Eu comecei a rasgar

a nota do espelho, para salvar como um pedaço da história da Academia Gallagher, porque duas

coisas eram extraodinárias sobre isso. Primeira, eu nunca sequer tinha ouvido sobre uma aula ser

cancelada, muito menos testemunhado isso. Segunda, Joe Solomon acabara de convidar catorze

garotas a um passeio ao luar.

As coisas estavam começando a ficar interessantes.

Eu já tinha visto Liz enlouquecer sobre missões antes, mas naquele dia no almoço, ela

estava tão branca quanto o sal no agitador como ela foi durante cada pequena e perfeitamente

pontuada linha de suas notas de CoveOps — parando ocasionalmente para olhar para cima como

se estivesse tentando ler as respostas no topo de sua cabeça. (Talvez ela pudesse. Com a

cabeça de Liz, qualquer coisa é possível.)

―Liz, est-ce qu-il-y-a une épreuve de CoveOps dont je ne connais pas?‖ Perguntei,

pensando que esse era um teste de CoveOps que sobre o qual eu não sabia, alguém realmente

deveria me trazer pro laço. Mas Liz pensou que eu estava tentando ser engraçada.

―Tu ne la considéras pas sérieuse?‖ ela quase gritou. ―Tu sais ques Ke qui se passe ce

soir!‖

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Claro que eu estava levando isso a sério, mas Liz não estava querendo acreditar nisso,

então abandonei nossa sessão de Francês e sussurrei, ―Não, Liz, eu não sei o que acontecerá

hoje à noite.‖

―Exactement!‖ ela exclamou, se aproximando. ―Qualquer coisa nesses livros podia estar lá

fora!‖ ela disse, como se nós estivéssemos caindo em uma zona de guerra e não no nosso

próprio quintal. ―Ou isso pode ser algo,‖ — ela olhou em volta e depois se aproximou — ―que não

está nos livros!‖

Eu seriamente pensei que ela vomitaria, especialmente quando Bex se inclinou e disse,

―Eu aposto que nós vamos golpear um quartel de drogas operando fora de uma boate.‖ (Porque

ela viu isso antes em um episódio de Alias.)

Liz engoliu, e seus dedos ficaram brancos enquanto agarrou com firmeza um cartão. ―Não

vai ser nada disso, Liz,‖ eu sussurrei. Mas dessa vez todas as segundanistas estavam encarando.

―Por quê?‖ Tina exigiu. ―O que você sabe? Sua mãe te disse alguma coisa?‖

―Não!‖ eu disse, desejando que não tivesse as feito começar. ―Eu não sei nada.‖

―Então Solomon não pediu a sua mãe dois helicópteros, três armas chocantes, e uma

dúzia de passaportes Brasileiros?‖

Mas antes que eu pudesse responder a pergunta ridícula de Tina, as portas principais

abriram, e a classe da sétima série entrou, soltando um monte de bon jours — ―olá‖ sendo uma

das novas frases que elas sabiam — e a classe segundanista esqueceu sobre mim e voltaram a

fazer o que estiveram fazendo por uma semana — assistindo Macey McHenry.

Ela foi a primeira pessoa a algum dia combinar esmalte preto com uma blusa branca de

colarinho estilo Peter Pan (o que não foi verificado nem nada — apenas um palpite), e seu anel

no nariz de diamante que parecia valer vinte mil dólares, mas para alguém de fora, Macey

McHenry deveria parecer como uma de nós. Ela andou pelo Grand Hall como se mandasse no

lugar (como de costume), pegou uma simples salada verde com nenhum molho (como de

costume, e andou para nossa mesa. Depois escorregou perto de Bex e disse, ―Os munchkins7

irritam,‖ o que era totalmente não de costume.

Até esse ponto, eu tinha principalmente ouvido Macey dizer coisas como ―Você está na

minha lista‖, e ―Se você vai fazer cirurgia plástica, deveria tentar o médico da minha mãe em Palm

Springs.‖ (Sem necessidade de dizer, Sr. Smith não anotara o número.) Mas ali ela estava,

sentada conosco, falando conosco. Agindo como uma de nós!

Liz disse, ―Je me demande pourquoi elk a décidé a parler à nous aujourd'hui. Comme c'est

bizarre!‖ Mas eu não sabia por que Macey estava se sentindo tão faladora, também.

Antes que eu pudesse responder, Macey se virou pra Liz e soltou, ―Eu não quero conversar

com você também, aberração.‖

Eu estava apenas começando a processar o fato que até herdeiras de cosméticos que

eram expulsas de várias escolas particulares falavam Francês muito bem, quando Macey se

inclinou a Liz, que se esquivou.

―Diga-me,‖ Macey falou na pior imitação de sotaque Sulista que eu já ouvira, ―como pode

alguém que deveria ser tão inteligente soar tão estúpida?‖

O rosto pálido de Liz instantaneamente avermelhou enquanto lágrimas vieram do canto

dos olhos. Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Bex tinha voado de sua cadeira,

prendido o braço direito de Macey atrás de suas costas com uma mão, e agarrado o anel de

diamante do nariz com a mão tão rápido que eu fiz uma rápida oração de agradecimento que os

britânicos estavam do nosso lado (bem, supondo que nós nunca visitemos de novo a Guerra

Revolucionária).

―Eu sei que você está três anos atrasada, mas me deixe te dar uma rápida e importante

lição,‖ Bex disse em Inglês (provavelmente porque é mais difícil soar assustadora em Francês).

7 n/t: munchkins – personagens de O Mágico de Oz

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Mas a coisa mais estranha estava acontecendo — Macey estava sorrindo — quase gargalhando,

e Bex totalmente não sabia o que fazer.

O resto do salão estava ficando vagarosamente quieto, como se alguém em algum lugar

estava abaixando o volume. Até o momento os professores pararam de falar, Bex ainda segurava

Macey, eu tinha inclinado sobre a mesa para agarrar Bex, e Liz tinha um controle mortal em um

flash que listava os cinco melhores lugares que você deveria procurar por explosivos no mercado

negro de St. Peterburg.

―Rebecca,‖ disse uma voz masculina. Eu me afastei do inarticulado sorriso afetado que se

espalhava no rosto de Macey para ver Joe Solomon parado atrás de mim, falando através da

mesa para Bex, quem foi lentamente deixando fluir o sangue do braço de Macey. ―Entendo que

você poderia entrar em problemas por isso,‖ ele disse.

É verdade. Garotas Gallagher nunca brigam nos corredores. Nós não damos bofetadas

nem empurrões. Mas principalmente, nós não usamos as habilidades da irmandade contra as

irmãs. Nunca. É um testamente de como desprezada universalmente e vista como estranha

Macey era que Bex não imediatamente saltou dez direções. Mas o Sr. Solomon era um estranho,

também. Talvez foi por isso que ele disse, ―Se está tão ansiosa para se mostrar, você e suas

amigas pode tomar o ponto essa noite.‖ Ele olhou para Liz e para mim. ―Boa sorte.‖

Eu não tinha um pensamento de ―boa sorte‖ alegre ou quebre a perna. Eu tinha um boa

sorte ‗fique atento ou terá suas pernas quebradas‘.

Liz voltou de seus devaneios, mas Bex e eu nos encaramos sobre a mesa enquanto

nossos rosto se transformaram de completo terror pra excitação incontrolável. Para Garotas

Gallagher, comandar uma missão não é uma punição — é a estrela de ouro! Apenas um pouco

de medo hesitou na parte de trás da minha mente conforme eu percebi que nós estávamos

prestes a brincar com munição viva — talvez em ambos o literal e figurativo sentido da palavra.

Macey retorno a salada dela enquanto Sr. Solomon adicionou, ―Et n'oubliez pas,

mesdemoiselles, ce soir vous êtes des civils— ressemblez-y.‖

Oh, claro, justamente o que eu precisava — conselho de moda do próprio Joe Solomon. O

Grand Hall voltou ao normal, mas eu duvidava que alguma das segundanistas, além de Macey,

deu outra mordida. Como se não soubéssemos antes, Joe Solomon acabara de nos lembrar que

em breve nós nos aventuraríamos detrás de nossas paredes confortáveis, operando por conta

própria pela primeira vez em nossas vidas de super espiãs. Quatro anos de treinamento chegara

a isso, e eu não tinha uma coisa para usar.

Eu não tenho certeza como isso aconteceu, mas em algum ponto entre uma da manhã e

seis e quarenta e cinco, a classe segundanista da Academia Gallagher para Jovens Mulheres

Excepcionais mudou de um grupo de espiãs em treinamento para uma cambada de garotas

adolescentes. Era bem assustador.

Liz passou sua tarde se tornando a versão livro de como uma operária infiltrada deveria se

parecer, copiando tudo da patente bolsa de couro para o chapéu. (Era um livro bem velho.) Então

os corredores começaram a ecoar com os gritos apavorados de ―Você viu minhas botas pretas?‖

e ―Alguém viu meu spray de cabelo?‖

Eu estava seriamente começando a me preocupar sobre o fato da segurança nacional. Em

nossa suíte, Bex parecia impressionante (como de costume), Liz parecia ridícula (mas tente lhe

dizer isso), e Macey estava olhando uma velha Cosmo como se determinar se verde é o novo

preto fosse uma questão de vida ou morte. Tudo que eu pude fazer era me sentar na minha cama

nos meus velhos jeans e um velho top de tricô preto que minha mãe uma vez usara para saltar de

pára-quedas no topo da Embaixada Iraniana, e assistir o relógio passar.

Mas então Tina veio arrebentando em nosso quarto. ―Qual deles?‖ ela perguntou,

segurando um par de calças de couro pretas e uma saia curta na frente dela. Eu estava a beira

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de dizer, nenhum, quando Eva Alvarez correu para dentro.

―Esses combinam? Eu não sei se esses combinam!‖ Eva segurava um par de botas de

salto-alto que fez meus pés doerem só de olhar para elas.

―Hum, Eva, você pode correr nelas?‖ eu perguntei.

Mas antes que Eva pudesse responder, eu ouvi alguém dizer, ―Elas estão todas em fúria

em Milão.‖ Eu olhei em volta. Contei as cabeças. E então despontou em mim quem estava

falando. Macey nos encarava sobre o topo de sua revista, e adicionou, ―Se você quer saber.‖

Dentro de minutos, metade da classe segundanista estava na nossa pequena suíte, e

Macey estava contando a Tina, ―Você sabe, delineador labial deve ser passado nos lábios,‖ e

Tina estava realmente ouvindo! Digo, essa é a mesma garota que sozinha tinha começado o

boato de Macey ser a filha ilegítima do Sr. Smith. Pouco sabíamos que ela estava a uma

emergência de moda de distância de se juntar ao inimigo!

Courtney estava emprestando brincos; Anna experimentando jaquetas; e eu não tinha

certeza se algum dia me sentiria segura indo a um território hostil com elas de novo.

―Você sabe, Eva, o que combina em Milão está fora em Roseville,‖ eu tentei, mas ela não

se importou. ―Vocês sabem, gente, se esconder em vista óbvia requere busca simples!‖ disse,

mas Kim Lee estava se enfiando em uma blusa de gola alta e quase bateu em minha cabeça com

seus braços malhados.

―Vocês sabem, eu realmente não acho que ele está nos levando ao baile!‖ berrei, e Anna

colocou a beca grandiosa de Macey de volta no closet.

Eu sou a camaleoa! Eu queria chorar. Sou a herdeira CoveOps! Estive me preparando

para essa noite toda minha vida — fazendo treinos com meu pai, pedindo a minha mãe contar

histórias, se tornando a garota que ninguém vê. Mas agora eu estava mergulhando profundo e

profundo nas sombras até que estivesse em pé no meio do meu próprio quarto, assistindo minhas

amigas mais próximas fazer um enxame acerca do nosso deslumbrante novo convidado, e eu

estava completamente invisível.

―Tire os brincos,‖ Macey disse, apontando para Eva. ―Arregace a camiseta,‖ disse a Anna,

então se virou para Courtney Bauer e falou, ―O que morreu no seu cabelo?‖ (Courtney tinha uma

tendência a exagerar no gel algumas vezes.)

Bex estava sentada com Liz em sua cama, e elas também pareciam tão atônitas quanto

eu.

―Hey!‖ eu chamei de novo, em vão, então chamei a minha herança super espiã, e

segundos depois eu estava assobiando alto o suficiente para fazer as vacas voltarem para casa

(literalmente — é por isso que Vovó Morgan me ensinou a fazer).

Minhas colegas de classe finalmente se afastaram de Macey, e eu disse, ―Está na hora.‖

Um silêncio tinha caído sobre o quarto, uma longa e profunda calma se esticou.

Estávamos jogando vestir, e todas sabiam disso.

―Olá, senhoritas.‖

As palavras estavam certas, mas a voz que veio à nós pelas sombras estava errada em

tantas maneiras que eu não poderia descrever aqui. Realmente, seria cruel para todas as árvores

que teriam que dar suas vidas para me explicar como é estar esperando Joe Solomon e receber o

Sr. Mosckowitz.

―Vocês não parecem muito...‖ Ele estava encarando, a boca escancarada, como se ele

nunca tivesse visto sutiãs de puxar ou delineadores antes. ―...bonitas,‖ ele finalmente disse, então

bateu as mãos juntas, imagino que para parar o agito nervoso. Mas ele ainda não conseguia

firmar sua voz quando disse, ―Bem, grande noite. Muito grande. Para...‖ Ele hesitou. ―...todas

vocês.‖

Sr. Mosckowitz empurrou seus óculos para a ponte sobre seu nariz e encarou além da

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entrada da garagem iluminada da mansão. Mesmo que eu não soubesse exatamente o que se

colocasse naquele abismo escuro. Claro, existia um bosque, trilha de caminhada e um campo de

lacrosse que é conveniente durante o Código Vermelho (e dobra como a grande habilidade

subterrânea de armazenar helicópteros), mas todos sabiam que as Matas Gallagher eram um

campo minado — talvez literalmente — e eu comecei a tremer nos meus sapatos sensíveis.

Se tivessem atiradores especiais? Ou cães de ataque... ou... Mas antes que eu pudesse

terminar esse pensamento, ouvi o pedregulho triturar-se e pneus guincharem, e me virei para ver

um caminhão Overnight Express berrando em nossa direção. Caramba, qual é a emergência com

os pacotes? Me perguntei. Mas quando a porta do lado do motorista voou aberta e o Sr. Solomon

pulou e gritou, ―Entrem!‖ eu percebi que nós éramos o pacote.

Instantaneamente, minha mente voltou para um dos cartões de anotação de Liz.

OPERAÇÕES SECRETAS REGRA #1: NÃO HESITE. Sr. Mosckowitz abriu as portas de carga e

eu escalei pra dentro, imaginando que o caminhão era como nossos professores — levou uma

vida fascinante e perigosa antes de se aposentar e chegar à nós. Mas não vi uma parede de

monitores e telefones — nenhuma das coisas que caminhões têm em filmes — apenas grades e

grades de embalagens. Foi quando o caminhão ficou ainda mais legal, porque tenho certeza que

o Sr. Solomon havia o roubado!

―Primeira regra,‖ ele nos alertou conforme nos estabelecemos adentro, ―não toque em

nenhuma das embalagens.‖

Então o Sr. Solomon arrastou-se atrás de nós, levando Sr. Mosckowitz para fora olhando

para ele como um garoto-da-àgua que apenas foi solicitado a segurar o capacete da estrela

quarterback.

―Harvey?‖ Sr. Solomon disse impacientemente, porém ainda suave o suficiente que

pareceu como um cara bem bonzinho, ―o relógio está passando.‖ Ele jogou as chaves para o Sr.

Mosckowitz.

―Oh!‖ Isso pareceu o acordar. ―Sim. Claro. Eu vejo você‖ — ele aprontou em direção à

todas nós — ―lá.‖

―Não, você não verá, Harvey,‖ Sr. Solomon disse. ―Essa é a idéia.‖

Me chame de louca, mas isso não é como eu sempre imaginei a primeira vez que estaria

no escuro com um garoto que se parecia com Joe Solomon. (E estou bem certa que eu poderia

falar por toda a turma segundanista nesse quesito.)

―Operárias em disfarces secretos receberão falsas histórias,‖ ele atirou para nós através do

escuto. ―Essas histórias, incluindo nomes, datas de nascimentos, e professores de jardim-de-

infância favoritos, são chamados...‖

―Lendas!‖ Liz disse abruptamente. Um teste em um teste, na mente de Liz, e enquanto

houvesse um Q&A, ela poderia manejar o negócio das missões.

―Muito bom, Srta. Sutton,‖ ele disse, e mesmo no escuro eu sabia que Liz tinha um lápis

número dois levado para o céu. ―Para essa missão, senhoritas, vocês estarão se colocando como

garotas adolescentes normais. Acham que conseguem aguentar isso?‖

Eu não tenho certeza, mas pensei que poderia ter sido a idéia de Joe Solomon de uma

piada — mas isso era tãããão sem graça porque, se tem uma coisa que nós não somos, é

normais. Mas ele obviamente não ligava para nada disso, porque ele apenas continuou. ―Ao

conduzir o manual de vigilância num sujeito em uma rotação de três homens, a pessoa com o

contato visual é o...‖

―Globo Ocular!‖

―Correto. A pessoa vista dentro do globo ocular é o...‖

―Substituto.‖

―E a pessoa final...‖

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―O reserva.‖

―Muito bom. Agora se lembrem, rodem frequentemente, mas não muito frequentemente.

Varie seu passo e espaço, e acima de tudo...‖

Eu senti o caminhão dar uma parada. O motor se desligou.

Acima de tudo, o que? Eu queria chorar. A mais importante noite da minha vida, e ele

esquece o remate! Uma pequena luz veio do teto do caminhão, nos banhando em um brilho

misterioso e amarelo-alaranjado, e eu ouvi música, o tipo de música de carrossel, e me perguntei

se minha vida toda até aquele ponto seria uma casa de espelhos.

Sr. Solomon moveu um monitor de televisão para uma das prateleiras e preencheu com

alguns fios. Eu estava esperando uma visão do mundo afora (ou pelo menos algo da WB8), mas

em vez disso eu vi o que havia visto por anos — os catorze rostos da classe segundanistas.

―No campo, senhoritas, vocês nunca podem esperar ter as coisas conforme planejaram. Eu

espero completamente que vocês dominem a capacidade de improvisar. Por exemplo, a missão

de hoje à noite requer um veículo que não pertencente a Academia Gallagher. Então‖ —ele

gesticulou em nossa volta— ―Eu fiz arranjos alternativos.‖

(Sim. Ele definitivamente o roubou!)

Ele passou os receptores para Bex, Liz e eu, e disse ―Unidades básicas comuns. Não

tenham medo de usá-los.‖ Então ele nos mostrou um par de óculos estampados de casca de

tartarugas, um button ‗Eu [CORAÇÃO] Roseville‘, e um colar com uma cruz de prata. ―Há

câmeras contidas nesses três itens, o que nos permitirão seguir e criticar seu progresso.‖ A cruz

estava colocada em seu dedo indicador e, na tela, a imagem das minhas colegas de classe

balançou para frente e para trás. ―Esse é para o nosso benefício hoje à noite — não o seu. É

apenas um exercício docente, senhoritas, mas não esperem que nós iremos ao seu resgate.‖

Ok, eu vou admitir. Eu estava começando a ficar um pouco assustada naquele ponto, mas

seriamente, quem poderia me culpar? Nós todas estávamos sentindo — eu posso dizer pela

maneira que a perna de Bex se contorceu e Liz continuava a espremer suas mãos. Todas as

garotas na parte de trás daquele caminhão estavam na ponta (e não apenas porque nós

estávamos perto e sozinhas com o Sr. Solomon, também). Apesar de Liz, Bex e eu sermos as

únicas a sair, nós éramos mais que todas as Garotas Gallagher nesse momento — nós éramos

operárias em uma missão, e nós sabíamos que viria um dia quando, mais que notas, estaríamos

cavalgando no que estávamos prestes a aprender.

A música carnavalesca de repente ficou mais alta conforme a porta traseira se abriu, e a

primeira coisa que eu vi foi um boné laranja brilhante quando Sr. Mosckowitz espiou. ―Eles estão

perto,‖ ele disse.

Sr. Solomon plugou um arame em um alto-falante, e no segundo seguinte eu ouvi a voz da

minha mãe se juntando a música do carnaval. ―Está um ótimo clima para correr.‖

―Meu sangue congelou. Qualquer um menos minha mãe, eu rezei. Qualquer um menos

minha mãe.

Você conhece a frase Tome cuidado com o que deseja! Oh sim, eu agora sou uma grande

crente nela, porque não mais cedo as palavras atravessaram na minha mente, Sr. Solomon virou-

se para nós e disse, ―Existem três tipos de sujeitos que sempre serão os mis difíceis de vigiar.‖

Ele os marcou em seus dedos. ―Pessoas que são treinadas. Pessoas que suspeitam que podem

estar sendo seguidas. E pessoas que você conhece.‖ Ele pausou. ―Senhoritas, essa é sua noite

de sorte.‖ Ele puxou uma foto em preto-e-branco do bolso de sua jaqueta e segurou acima. O

rosto era novo para nós, mas a voz que veio retumbando do alto-falante dizendo, ―Sim. Eu

provavelmente deveria voltar ao hábito eu mesmo,‖ era uma que nós conhecíamos bem.

―Oh, culhões!‖ Bex exclamou, e Liz derrubou seus cartões de anotações.

―Smith!‖ Eu exclamei. ―Você espera que nós sigamos o Professor Smith?‖

8 n/t: não sei o que seria ai, Warner Bros, World Bank...

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Eu não podia acreditar nisso! Não apenas era nossa primeira missão, mas ele

honestamente esperava que nós seguíssemos um homem que tinha trinta anos de experiência,

quem tinha nos visto todo dia escolar desde a sétima série, e quem, o pior de tudo, era o único

ser humano mais paranóico do planeta! (Sério. Quero dizer, ele tem as contas das cirurgias

plásticas para comprovar isso.)

Uma equipe de estrelas da CIA poderia dar um jeito nisso em vinte minutos. Três Garotas

Gallagher não tinham nenhuma chance. Afinal, uma vez que um cara ouve você apresentar um

relatório sobre as rotas comerciais do Norte da África, ele provavelmente vai se perguntar por que

você está sentada atrás dele no carrossel!

―Mas... mas... mas... ele nunca deixa a área,‖ protestei, finalmente achando minhas

palavras. ―Ele nunca entraria numa área não-segura por um capricho.‖ Ah, boa, eu pensei,

enquanto lutei para recordar as lembranças de Liz. ―Isso vai contra o padrão de comportamento

do sujeito!‖

Mas o Sr. Solomon apenas sorriu. Ele sabia que era uma missão impossível — por isso

tinha dado para nós. ―Confiem em mim, senhoritas,‖ ele disse com um respeito sombrio, ―ninguém

sabe o padrão de comportamento do Sr. Smith.‖ Ele jogou um espesso dossiê em nossa direção.

―A única coisa que sabemos é que hoje a noite é o carnaval de Roseville, e o Sr. Smith, para o

bem ou mal, é um homem que ama seus funnel cakes9.‖

―Bem, se divirtam!‖ A voz da minha mãe veio retumbando pelos alto-falantes. Eu a imaginei

acenando para seu colega conforme ele se virava na beira da cidade. Ouvi a respiração dela se

aprofundar, quase senti sua cruz formadora quando atingiram o pavimento escuro.

―Sua missão,‖ Sr. Solomon disse, ―é descobrir o que ele bebe com aqueles funnel cakes.‖

Eu estive esperando minha vida toda por minha primeira missão e tudo desceu a isto?

Bebidas carbonatadas?!

―O sujeito está no posto de bombeiros, Cara Esperto,‖ Mamãe sussurrou. ―Ele é todo seu.‖

E então, assim, minha mãe e seus olhos vigilantes se foram, nos deixando sozinhas no escuro

com Joe ―Cara Esperto‖ Solomon e um matemático com um boné alaranjado brilhante.

Sr. Solomon empurrou o colar em minha direção e disse, ―Dentro ou fora?‖

Eu agarrei a cruz, sabendo que precisaria dela.

9 n/t: Bolo chaminé, funil, algo assim, um tipo de bolo

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Capítulo Seis

Eu amo Bex e Liz. Sério, eu amo. Mas quando sua missão é ir despercebida no carnaval

de Roseville enquanto segue um operário que é tão bom como Sr. Smith, uma garota gênio em

tonalidade Jackie O e uma que poderia totalmente ser a Miss América (mesmo que seja Britânica)

não é exatamente o que eu chamaria de substituto ideal.

―Eu tenho globo-ocular,‖ disse Bex, enquanto me empreitei na praça pela cabine de tortura.

A cada minuto, eu ouvia salpicos e aplausos atrás de mim. As pessoas continuavam a andar com

cachorros-quentes em palitos e maçãs carameladas — muitas calorias em palitos— e eu de

repente me lembrei que o nosso chefe faz um impressionante creme brûlée, os cachorros-

quentes em palitos deles realmente deixavam a desejar.

Então eu comprei um — um cachorro-quente, digo. Agora, é quando você começa a

pensar — Ei, quem é ela pra comer durante uma missão? Ou, Não é descuidado parar

espalhando mostarda por toda a salsicha frita quando existem operários a seguir? Mas essa é a

coisa sobre ser uma artista pavimentar (um termo primeiro usado para me descrever quando

tinha nove anos e segui com sucesso meu pai pelo shopping para descobrir o que ele iria me

comprar de Natal), você não pode estar atrás de lixeiras e escapando pela soleira da porta o

tempo todo. Sério, quão secreto isso é? Artistas pavimentares reais não se esconde — eles se

misturam. Então quando você começar desejar um cachorro-quente no palito porque cada pessoa

que você vê está comendo um, então traga a mostarda! (Além disso, até espiãs precisam comer.)

Bex estava no lado mais distante da praça, milhando em torno da saída da biblioteca

enquanto a banda de marcha ‗Orgulho de Roseville‘ aquecia-se. Liz deveria estar atrás de mim,

mas eu não conseguia vê-la. (Por favor me diga que ela não trouxe o dever de casa regenerador

molecular...) Sr. Smith estava provavelmente trinta pés a frente de Bex, sendo um João Normal, o

que totalmente estava me assustando. A cada momento eu captava um relampejo de sua jaqueta

preta enquanto ele passeava pelas ruas, parecendo um pai preocupado com a hipoteca, e me

lembrei que de todas as fachadas falsas da Academia Gallagher, o melhor pertencia a seu povo.

―Como você está aí em cima, Duquesa?‖ Eu perguntei, e Bex atirou de volta, ―Eu odeio

esse codinome cruel.‖

―Ok, Princesa,‖ eu disse.

―Cam—‖ Bex começou, mas antes que ela pudesse terminar sua ameaça, ouvi a voz de Liz

no meu ouvido.

―Camaleoa, onde você está?‖ Liz se queixou. ―Eu perdi você de novo.‖

―Estou perto do tanque d‘água, Rato de Biblioteca. (n/t: Bookworm)‖

―Levante seus braços ou alguma coisa.‖ Eu quase podia ouvir Liz se posicionando na ponta

dos pés, se espreitando pela multidão.

―Isso meio que anula o propósito agora, não é?‖ Bex notou.

―Mas como eu posso te seguir, seguir Smith se eu não— Ah, não importa,‖ Liz disse. ―Eu te

vi.‖

Eu olhei em volta e pensei, Oh, claro, posso ver porque eu estava difícil de detectar. Eu

estava sentada em um banco em plena vista. Sério. Eu não poderia ter sido mais aberta se

tivesse um grande neon sobre a minha cabeça. Mas essa é a coisa que a maioria das pessoas

não entendem sobre vigilância. Ninguém — nem mesmo nenhuma das minhas melhores amigas

— iria olhar duas vezes para uma garota de aparência normal em roupas do ano passado

sentada em um banco de parque comendo um cachorro-quente no palito. Se você pode ser

quieto o suficiente, e comum o suficiente, então é realmente fácil ser invisível.

―Ele está se virando,‖ Bex disse suavemente, e eu soube que era a hora do show.

Roseville podia se parecer com Mayberry, mas o Professor Smith não tinha qualquer chance. Ele

estava voltando de novo, então sai do meu banco e desci em direção à calçada, sabendo que

Smith estava dirigindo-se na minha direção no lado oposto da praça, passado Bex, que conseguiu

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enganar sua cabeça e agir indiferente. Era quando um monte de pessoas teria perdido isso. Uma

amadora teria olhado seu relógio e girado em torno como se tivesse acabado de se lembrar de

algum lugar que precisasse estar, mas não Bex — ela simplesmente continuou andando.

Metade da cidade deve ter vindo para o carnaval, assim havia muitos pedestres na calçada

entre o Sr. Smith e eu (uma coisa muito boa). As pessoas não veem as coisas tão rápido quanto

veem movimento, então quando o Professor Smith se virou, eu permaneci perfeitamente parada.

Quando ele se moveu, esperei cinco segundos, então o segui. Mas principalmente, me lembrei o

que meu pai sempre disse sobre como uma cauda não é uma corda — é um elástico, se

alongando para frente e para trás, dentro e fora, se movendo independentemente do Sujeito.

Quando algo me interessava, eu parava. Quando alguém disse algo engraçado, eu ri. Quando eu

passei por uma barraca de sorvetes, comprei um, todo o tempo mantendo o Sr. Smith na beira da

minha visão.

Mas isso não é dizer que era fácil. De jeito nenhum. Em todas as vezes que imaginei

minha primeira missão, eu sempre pensei que estaria recuperando arquivos super secretos ou

algo assim. Nunca imaginei que seria solicitada a seguir meu professor de Países Do Mundo

durante um carnaval e descobrir o que ele bebe com seus funnel cakes. A parte louca era que

isso era MUITO MAIS DIFÍCIL! O Professor Smith estava agindo como se aqueles batedores do

KGB já estivessem a caminho de Roseville — usando todas as técnicas de contra vigilância do

livro (ou pelo menos nos livros que eu já vi), e percebi quão exaustivo deve ser ser ele. Ele não

podia nem mesmo sair para comer funnel cakes sem ficar ―se virando‖ e ―acossando‖ e se

―esmigalhando‖ o tempo todo.

Uma vez, as coisas ficaram realmente quentes, e pensei com certeza que ele iria me

pegar, mas cai atrás de um grupo de pequenas idosas. Mas então uma das mulheres tropeçou no

meio-fio, e, instintivamente, eu alcancei para ajudá-la. Atrás de nós, o Professor Smith parou em

frente a uma loja escurecida, encarando o reflexo no vidro, mas eu estava trinta pés atrás dele e

envolta por um mar de cabelos grisalhos e poliéster — o que era uma coisa boa. Mas então todas

as mulheres se viraram para me encarar — o que era uma coisa ruim.

―Obrigada, mocinha,‖ a mais velha disse. Ela olhou furtivamente para mim. ―Eu te

conheço?‖

Mas aí, uma voz retumbou no meu ouvido. ―Nós rodamos?‖ Liz soou à beira do pânico.

―Nós rodamos o globo-ocular?‖

Professor Smith estava fugindo, voltando na direção de Bex, então eu respondi, ―Sim‖, mas

isso só fez a mulher erguer a sobrancelha e olhar fixamente.

―Eu não me lembro de ter visto você antes,‖ a idosa disse.

―Claro que você viu, Betty,‖ uma das outras mulheres disse, afagando sua amiga no braço.

―Ela é aquela garota dos Jackson.‖

E é por isso que eu sou a camaleoa. Eu sou a garota da porta ao lado (só que as nossas

portas têm sensores leitores de digitais e são a prova de bala e tudo...).

―Oh! Sua avó já saiu do hospital?‖ a mais frágil das mulheres perguntou.

Ok, então eu não conhecia os Jackson, muito menos como Vovó estava se sentindo, mas

a Vovó Morgan tinha me ensinado que Tortura Aquática Chinesa não é nada comparada a uma

avó que realmente quer algo. Eu vi o Professor Smith se aproximando de Bex, mas pelas minhas

unidades básicas, Bex estava rindo, dizendo, ―É, cara. Vá, Piratas!‖ como se ela vivesse por

futebol de Sexta à noite. Claro, a definição de Bex de futebol seria outra, mas garotos são sempre

garotos, e uma multidão de testosterona de Jersey estava montada do outro lado da rua. Eu não

precisava de fotos da vigilância para saber quem estava no centro dela.

As idosas estavam me encarando como se eu fosse uma agulha em que estivessem

tentando passar o fio, e eu disse a única coisa que pude pensar. ―Dr. Smith diz que ela precisa ir

ao sul — que ela precisa se esquentar.‖ Eu olhei para a multidão à minha volta e em direção à

que cercava Bex, esperando que ela escutasse e entendesse que o problema estava voltando no

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seu caminho.

Minhas esperanças diminuíram, embora, quando ouvi ela dizer, ―É, eu amo finais

apertadas.‖

―Isso não é bom?‖ a idosa disse. ―Ela sabe para onde vai?‖

Eu vi a jaqueta escura do Sr. Smith desaparecer pelos pilares da principal entrada da

biblioteca e então fora de vista.

―Você sabe que ela é como um rato de biblioteca,‖ eu disse, esperando que Liz estivesse

escutando. ―Ela não pode esperar para estar perto da biblioteca, bem em volta do canto da

biblioteca, na verdade,‖ eu disse através dos dentes rangidos, tão estática e o caos preencheu

meus ouvidos.

Ouvi Bex murmurar, ―Oh, não!‖

À minha frente, os garotos do futebol estavam dirigindo-se em conjunto descendo a rua,

mas Bex não estava com eles. Tão longe quanto pude ver, Bex não estava em nenhum lugar, e

nem Smith.

―Desculpem-me, senhoritas. Tenho que ir,‖ rompi e me afastei apressada. ―Rato de

Biblioteca,‖ eu disse, ―você os tem? Eu perdi a visão do Sujeito e do globo-ocular. Repito. Perdi a

visão do Sujeito e do...‖

Alcancei a biblioteca e olhei na direção onde havia visto o Sr. Smith pela última vez, mas

tudo que vi foi uma longa linha de postes amarelos. Entrelacei-me de volta pela multidão,

circulando toda a praça, até acabar direto aonde comecei, em um lote vago entre uma loja de

sapatos e a Câmara Municipal, bem atrás do tanque d‘água.

Eu deveria ter sido mais consciente do meu meio, eu sei — Espiã 101 e tudo aquilo — mas

era tarde demais. Nós estivemos tão perto... Tão perto. Eu não queria admitir a mim mesma, mas

todo o tempo em que devorei aquela casquinha de sorvete, honestamente comecei a imaginar

como seria a sensação de ouvir Joe Solomon dizer, ―Bom trabalho.‖

Mas agora eles tinham desaparecido — todos — Smith, Bex e Liz. Eu não poderia parar de

seguir e correr de volta para a escola — não agora. Nós chegamos tão perto. Então me lancei em

direção a barraca de funnel cake, o único lugar que tínhamos certeza que Smith teria que visitar

antes da noite terminar, mas não prestei atenção para onde estava indo ou quão completamente

o Chefe Adjunto da Polícia preencheu o pequeno assento acima do tanque d‘água. Ouvi o estalo

de uma bola de baseball atingindo metal, movimento detectado pelo canto do meu olho, mas todo

o treinamento de Proteção e Aplicação no mundo era suficiente para me ajudar a fugir da onde

que bateu nos meus ombros.

É, está certo. Minha primeira missão de operações secretas foi também meu primeiro

concurso de camiseta molhada, e enquanto eu parei lá tremendo, soube que provavelmente seria

meu último dos dois. As pessoas estavam correndo em minha direção, me oferecendo toalhas,

perguntando se poderiam me dar uma carona para casa.

É, estou escondida, eu pensei, enquanto agradecia eles tão imemorável quanto possível e

me lancei fora. No meio da calçada, puxei uma encharcada nota de vinte dólares do meu bolso,

comprei um moletom Go Pirates!, e coloquei.

No meu ouvido, as unidades básicas tinham ido de estalante estático para denso nada, e

eu percebi com um baque que minha pequena cruz prateada, embora feita de arte, não era a

edição à prova de água.

O bando de Bex de jogadores de futebol passou, mas nem um único olho virou na minha

direção. Como uma garota, não teria me importado com uma olhada de canto de olho checando,

mas como uma espiã, eu estava totalmente aliviada que todo o visual ensopada-chique não

enfraqueceu meu disfarce muito. Andei em direção a barraca de funnel cakes, sabendo que a

qualquer momento eu poderia virar a situação em desastre — e eu acho que de um jeito, o fiz.

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Bex e Liz estavam sentadas juntas em um banco enquanto o Sr. Smith passou antes delas,

e cara, só então ele estava assustado. Seu novo rosto sempre pareceu forte, mas eu não tinha

apreciado as suas linhas rígidas até que ele se inclinou sobre Liz e gritou, ―Srta. Sutton!‖

Liz começou a se encolher, mas Bex cruzou os braços e pareceu totalmente entediada.

―Eu quero saber o que vocês estão fazendo aqui!‖ Smith exigiu.

―Srta. Baxter‖ — ele se virou para Bex — ―você vai me dizer porque você e a Srta. Sutton

deixaram o campus. Vão explicar porque estiveram me seguindo por trinta minutos, e...‖ Eu

assisti sua expressão mudar conforme algo despontou nele. ―E vão me dizer onde Joe Solomon

está agora.‖

Bex e Liz se entreolharam por um longo tempo antes de Bex se virar para o Sr. Smith. ―Eu

tive um desejo por cachorro-quente.‖

Bem, eu já apontei a inadequação do cachorro-quente no palito, comparado à equipe de

comida da Academia Gallagher, mas o Sr. Smith não comprou o argumento dela, o que foi tão

bom. Ele não deveria. Ele ouviu a mensagem dela alto e claro — Bex e Liz não estavam

conversando.

Essas são as minhas garotas.

Então me lembrei que eu provavelmente deveria estar fazendo alguma coisa! Afinal, a

missão não tinha acabado ainda — não realmente. Ainda tinha esperança. Certamente eu

poderia salvar algo. Certamente...

Eu estava realmente começando a odiar Joe Solomon. Primeiro ele nos manda seguir um

cara que pegaria pelo menos uma de nós, e então não nos ensina o que fazer quando sermos

pegas! Eu deveria causar um desvio e esperar que Bex e Liz pudessem escapar? Deveria achar

uma arma e pular nas costas de Smith? Ou deveria simplesmente passear do outro lado da rua e

pegar o meu lugar de direito ao lado delas no banco da vergonha?

Pelo canto de olho, vi o caminhão do Overnight Express cruzar. Ele poderia ter parado e

um exército poderia ter saído e salvado o dia, mas isso não aconteceu; e eu instantaneamente

soube por quê. A rua estava cheia de pessoas que não poderiam nunca saber o poder das

garotas no banco. Eu poderia ter salvado as irmãs, mas não arriscar a irmandade.

―Se levantem,‖ Sr. Smith disse a Liz. Ele jogou uma garrafa de Dr. Pepper numa lixeira

próxima. ―Nós terminaremos essa discussão na escola.‖

Eu fiquei nas sombras e assisti Bex e Liz irem. Você sabe que está escondida se suas

duas melhores amigas do universo possam passar dentro de vinte pés por você e não terem a

menor idéia que você está lá. Mas isso era para o melhor, descobri. Afinal, eu ainda era uma

garota em uma missão.

Esperei até que eles virassem a esquina, então atravessei a rua. Ninguém olhou duas

vezes para mim. Nenhuma alma parou para me perguntar meu nome ou me dizer o quanto eu

parecia minha mãe. Eu não tive que ver o olhar de tristeza instantâneo e inconfortável nos olhos

de ninguém conforme eles percebiam que eu era Cammie Morgan — uma dos Morgan — que eu

era a garota com o pai morto. Nas ruas de Roseville eu era apenas uma garota regular, e

sensação era tão boa que eu quase não quis puxar um Kleenex10 (n/t: marca de guardanapos

descartáveis) do meu bolso, alcançar a lixeira, e cuidadosamente recuperar a garrafa que o Sr.

Smith havia jogado fora — mas eu o fiz de qualquer jeito.

―Missão cumprida,‖ eu sussurrei. Então me virei, sabendo que era hora de voltar ao mundo

onde eu poderia ser invisível, mas nunca desconhecida.

E foi quando eu o vi — um garoto do outro lado da rua — olhando para mim.

10

n/t: marca de guardanapos descartáveis

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Capítulo Sete

Em choque, derrubei a garrafa na rua, mas não quebrou. Conforme ela rolou em direção

ao meio-fio, corri adiante e tentei pegá-la, mas outra mão me impediu — uma mão que era bem

grande e decididamente como uma de garoto, e eu estaria mentindo se dissesse que não houve

uma coração nas minhas bochechas, o que leva a estranha sensação similar a que eu tenho

quando usamos o creme modificador de impressões digitais do Dr. Fibs (só que muito melhor).

Eu me levantei, e o garoto estendeu a garrafa na minha direção. Eu peguei.

―Olá.‖ Ele tinha uma mão no bolso de seus jeans largos, pressionando para baixo, como se

desafiando as calças a escorregar de suas pernas e reunir-se em volta de seus Nikes, que tinham

sobre eles um ar de primeiro dia de aula e branco demais. ―Então, você vem aqui

frequentemente?‖ ele perguntou de uma maneira superficial. Eu não pude evitar — sorri. ―Olhe,

você não precisa nem mesmo responder essa, porque conheço todas as lixeiras da cidade, e

embora essa seja uma lixeira muito agradável, não parece ser do tipo de lixeira que uma garota

como você normalmente escavaria.‖ Eu abri minha boca para protestar, mas ele continuou.

―Agora, as lixeiras na Sétima Rua, aquelas são lixeiras muito boas.‖

A lição do Sr. Solomon do primeiro dia de aula voltou a mim, então eu notei os detalhes: o

garoto tinha cerca de cinco pés e dez polegadas11 e ele tinha cabelos castanhos ondulados, e

olhos que colocariam até os do Sr. Solomon no chinelo. Mas a coisa que eu percebi

principalmente era quão facilmente ele sorria. Eu não teria mencionado isso, se não parecesse

definir seu rosto inteiro — olhos, lábios, bochechas. E não era especialmente dentado ou algo

assim. Era apenas fácil e suave, como manteiga derretida. Mas então de novo, eu não era a mais

imparcial juíza dessas coisas. Afinal, ele estava sorrindo para mim.

―Essa não deve ser uma garrafa normal,‖ ele disse (enquanto sorria, é claro)

Percebi quão ridículo isso deveria ter parecido. Sob o calor daquele sorriso, esqueci minha

lenda, minha missão — tudo — e proferi a primeira coisa que estalou na minha cabeça, ―Eu tenho

um gato!‖

Ele levantou as sobrancelhas, e imaginei ele arrancando um celular para notificar a

instituição mental mais próxima que eu estava à solta em Roseville.

―Ela gosta de brincar com garrafas,‖ continuei, falando a noventa milhas por hora. ―Mas a

última dela quebrou, e então entrou vidro na sua pata. Suzie! É o nome da minha gata — a com

vidro na pata — não que eu tenha outros — gatos, quero dizer, não garrafas. É por isso que eu

precisava dessa garrafa. Eu não tenho certeza se ela vai querer outra garrafa, o que com o—‖

―Trauma de ter vidro na pata dela,‖ ele terminou para mim.

Exalei, agradecida pela chance de tomar um ar. ―Exatamente.‖

É, é assim que uma operária do governo altamente treinada se comporta quando é

interceptada em uma missão. De alguma maneira, eu acho que o fato do interceptor parecer uma

mistura de George Clooney e Orlando Bloom poderia ter ajudado um pouco. (Se ele se parecesse

como uma mistura entre o Sr. Clooney e, digo, um dos hobbits, eu provavelmente teria sido de

longe mais capaz de pensar coerentemente.)

Pelo canto do meu olho vi o caminhão do Overnight Express virar em uma ruela. Eu podia

sentir ele em marcha lenta lá — me esperando — então me virei e comecei a descer a rua, mas

não antes do garoto dizer, ―Então, você é nova em Roseville, hein?‖ Me virei para ele. Sr.

Solomon provavelmente não deitaria na buzina para dizer a uma garota para se apressar, mas

mesmo através das minhas unidades básicas flagradas, podia sentir sua frustração, ouvir o

relógio passar.

―Eu... hum, como você sabe disso?‖

Ele levantou os ombros para cima e para baixo um centímetro ou dois conforme meteu

11

n/t: equivalente a 1m e 77 cm

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suas mãos nos bolsos. ―Eu morei em Roseville toda minha vida. Todo mundo que conheço morou

em Roseville toda suas vidas. Mas nunca te vi antes.‖

Talvez seja porque sou a garota que ninguém vê, eu queria dizer. Mas ele tinha me visto,

percebi, e esse pensamento tomou meu fôlego tão certo quanto se eu tivesse sido chutada no

estômago (uma comparação que eu estou perfeitamente qualificada para fazer).

―Mas... Ei...‖ ele disse, como se um pensamento acabasse de ocorrer a ele. ―Acho que

verei você na escola.‖

Anh? Eu pensei por um segundo, me perguntando como um garoto poderia algum dia ser

aceito na Academia Gallagher (especialmente quando Tina Walters jura que há uma escola de

garotos super secreta no Maine, e todo ano ela pede a minha mãe para nos deixar fazer uma

viagem de campo).

Então me lembrei da minha lenda — eu era uma adolescente normal — uma que ele não

iria ver nos corredores da Roseville High, então balancei minha cabeça. ―Eu não estou no sistema

público escolar.‖

Ele pareceu um tanto surpreso com isso, mas então olhou pra baixo para meu peito. (Não

NESSE sentido — eu estava usando um moletom, se lembra? E mais, me deixe te dizer, não há

muito que olhar ali.) Lancei um olhar para baixo para ver a cruz prata brilhando contra meu novo

moletom preto.

―O que... você é ensinada em casa ou algo assim?‖ ele perguntou, e eu assenti. ―Para quê,

tipo, motivos religiosos?‖

―Sim,‖ eu disse, pensando que soava tão bom quanto qualquer coisa. ―Algo assim.‖ Eu

tomei um passo para trás em direção ao caminhão, em direção às minhas colegas, em direção a

minha casa. ―Eu tenho que ir.‖

―Ei!‖ ele chamou atrás de mim. ―Está escuro. Deixe-me te levar para casa — você sabe —

por proteção.‖

Estou bem certa que poderia ter matado ele com aquela garrafa, então eu deveria ter rido

se sua oferta não fosse tão doce. ―Eu ficarei bem,‖ respondi a ele enquanto descia a calçada.

―Então pela minha proteção.‖

Eu não pude evitar — eu ri enquanto gritei, ―Volte para o carnaval!‖

Mais dez passos, e eu teria virado a esquina, teria ficado livre, mas então o garoto gritou,

―Ei, qual o seu nome?‖

―Cammie!‖ Eu não sei o que me fez dizer isso, mas a palavra já estava lá, e não podia mais

pegá-la de volta, então disse de novo, ―Meu nome é Cammie,‖ como se testasse a verdade.

―Ei, Cammie...‖ Ele estava tomando longos e preguiçosos passos, para trás de mim, em

direção as luzes e sons do festival. ―...diga à Suzie que ela é uma gata sortuda.‖

Algum dia palavras mais sexy foram ditas? Eu seriamente acho que não!

―Eu sou Josh, a propósito.‖

Comecei a correr enquanto gritei, ―Adeus, Josh.‖ Mas antes que as palavras o

alcançassem, eu tinha desaparecido.

O caminhão da Overnight Express estava esperando no fim da ruela quando cheguei lá, as

luzes desligadas. Senti a garrafa do Sr. Smith na minha mão, e por um segundo eu não podia me

lembrar porque estaria carregando tal coisa. Eu sei. Eu quase estou envergonhada disso agora —

o fato de que dez segundos com um garoto tenha tirado a missão da minha mente. Mas olhei

para ela, e ela me lembrou de quem eu era — por que estava aqui — e eu soube que era hora de

esquecer sobre garotos, lixeiras e gatas chamadas Suzie; me lembrei do que era real e o que era

lenda.

Conforme puxei a porta traseira do caminhão, esperei ver minhas colegas sentadas lá,

enviando meu cumprimento da missão super espiã, mas tudo que eu vi lá eram embalagens e

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embalagens — até a televisão tinha desaparecido. E em vez de choros de parabéns, ouvi as

palavras Diga à Suzie que ela é uma gata sortuda ecoando na minha cabeça silenciando-se

conforme percebi que algo estava errado.

Eu desci na rua. Olhei na cabine do caminhão, onde um boné laranja brilhante deitava no

painel, provavelmente onde o legítimo dono tinha o deixado. Nós tínhamos vindo e ido sem deixar

rastro, e agora tudo que sobrava era aquela garrafa e uma longa caminhada pra casa.

Eu disse a mim mesma que ter que correr duas milhas em jeans molhados era apenas

vingança cármica por ter desejado tanto o cachorro-quente quanto o sorvete, mas quando

alcancei a beira da cidade, não tinha tanta certeza. Enquanto corri, minha mente estava livre. Eu

estava de volta a rua com Josh. Estava assistindo Liz e Bex desaparecerem pela esquina com o

Sr. Smith. Eu estava falando com uma idosa sobre uma avó que não conhecia. Eu era apenas

outra garota na festa.

As luzes da escola cortaram através das folhas das árvores na distância enquanto minhas

botas batiam um ritmo pesado na calçada. O brim úmido esfregava contra minhas pernas. Suor

derramava nas minhas costas. Mamãe está sempre dizendo que uma espiã deve confiar em seu

intestino, e nesse exato momento meu intestino estava me dizendo que eu não queria voltar para

a mansão, que não queria estar em nenhum lugar perto de Joe Solomon e Sr. Smith, e pelo

tempo que alcancei os portões principais, eu teria dado qualquer coisa para não ter que passar

por eles.

―Grande noite, Cam?‖ um homem atarracado com um corte e uma boca perpétua cheia de

chiclete apareceu na guarita. Ele sabia meu nome, mas eu nunca fui apresentada a ele. Se eu fui,

provavelmente o chamei de alguma outra coisa e não Guarda do Chiclete. Mas como era, ele era

apenas outro cara do pessoal que trabalhava para minha mãe, quem provavelmente ia em

missões com meu pai, que sabia todos os detalhes da minha vida, enquanto eu sabia nada sobre

a dele.

De repente senti falta do meu banco em Roseville. Ansiei pelo caos barulhento e anônimo

da praça.

Eu comecei a descer pela entrada da garagem, mas o Guarda do Chiclete me chamou, ―Ei,

Cam, você quer uma carona?‖ Ele gesticulou em direção a um carro de golfe vermelho-rubi que

estava parado atrás da guarita.

―Não, obrigada.‖ balancei minha cabeça. ―Boa Noite.‖

Me desculpe, eu não sei seu nome.

Quando cheguei ao salão principal, comecei pelas escadas. Eu queria um banho. Queria

minha cama. Eu queria me livrar da sensação inquieta que se estabeleceu no meu intestino do

momento que eu vi aquele boné laranja no painel — abandonado. Eu tinha a garrafa em minhas

mãos, mas de alguma maneira eu sabia que ela não era realmente o ponto.

Então eu ouvi pegadas e um chamado de ―Espere!‖ enquanto o S. Mosckowitz correu atrás

de mim.

―Oi, Sr. M. Grande condução essa noite,‖ eu disse. Lembrei-me que tinha sido sua primeira

missão, também. Alguma coisa importante deve ter feito-o me perseguir, mas por um segundo

suas feições mudaram. Ele na verdade brilhou (mas não como a vez que ele testou o gel de pele

retardador de chamas para o Dr. Fibs).

―Você acha?‖ ele perguntou. ―Porque, bem, na segunda placa de pare, eu acho que devo

ter hesitado um pouco demais. Quarenta e oito horas ou menos,‖ ele disse, com um soco no ar,

―esse é o lema do Overnight Express; eu só não penso que um motorista real teria esperado

tanto.‖

―Oh.‖ Eu lhe dei um aceno com a cabeça. ―Eu pensei que estava certo— nada provoca

atrasos como um acidente, você sabe.‖

Seu rosto brilhou de novo. ―Você acha?‖

―Foi perfeito.‖

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Eu me virei de novo e comecei a subir as escadas, mas o Sr. Mosckowitz disse, ―Oh,

caramba, espere. Eu deveria te dizer...‖ Ele pausou, e eu o imaginei batendo pelos gigabytes do

seu cérebro. ―... que você deve ir a classe de CoveOps para interrogatório.‖

Claro que eu deveria, eu pensei enquanto agarrei a garrafa. Claro que não tinha acabado.

Enquanto os scanners ópticos varreram sobre meu rosto, eu ouvi o Sr. Mosckowitz

perguntar, ―Então, ei, Cammie, foi divertido. Não foi?‖ E eu percebi que um dos mais brilhantes

homens do mundo precisava que eu comprovasse que ele se divertira.

Esse lugar nunca deixa de me surpreender.

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Capítulo Oito

O Subnível Um estava escuro quando saí do elevador. Segui o labirinto de vidro fosco pela

luz dos sinais de saída de emergência e das telas oscilantes de computadores. Passei uma

biblioteca cheia de fatos muito sensíveis para uma aluna da sétima série saber. Caminhei por

uma sacada que parecia uma sala maciça de três andares, assim Bex e eu a chamávamos de

casa de bonecas — é onde espiãs vem para brincar.

Conforme me aproximava da sala de aula, o corredor ficava mais brilhante, e logo eu

estava olhando por uma parede de vidro iluminado para as silhuetas das minhas colegas de

classe. Ninguém estava conversando. Nem o Sr. Solomon. Nenhuma das garotas. Penetrei em

direção da porta aberta — vi minhas colegas em seus assentos de costume e Sr. Solomon

empoleirou uma pequena estante de livros no fundo da sala, suas mãos agarravam a madeira

escura enquanto ele se inclinava casualmente para trás.

Eu fiquei lá por um longo tempo, não sabendo o que fazer. Finalmente, disse, ―Eu peguei a

garrafa.‖

Mas Joe Solomon não sorriu. Ele não disse ―bem feito.‖ Ele nem mesmo olhou para mim

quando se inclinou contra a estante de livros, encarando os azulejos brancos no chão.

―Entre, Srta. Morgan,‖ ele disse suavemente. ―Nós estivemos esperando você.‖

Eu fui para minha mesa no lado mais longe da sala, e então eu as vi — as duas cadeiras

vazias. Eu procurei pelos olhos das minhas colegas, mas nenhuma delas olhou de volta.

―Elas deveriam ter voltado...‖ eu comecei, mas só então o Sr. Solomon pegou um controle

remoto e pressionou um botão, a sala ficou escura exceto por uma longa luz cinza que brilhou de

um projetor atrás dele. Eu estava parada no meio do caminho, silhuetando contra a imagem

resplandecendo em uma tela.

Na imagem, Bex estava sentada em uma parede em frente à biblioteca de Roseville. Então

eu ouvi um clique e a imagem mudou. Vi Liz se espreitando em volta de uma árvore, o que era

uma forma ruim, mas o Sr. Solomon não comentou. Seu silêncio pareceu totalmente pior. Outro

clique. Bex estava olhando por seu ombro, atravessando uma rua. Clique. Liz estava próxima a

uma barraca de funnel cakes.

―Pergunte a questão, Srta. Morgan,‖ ele disse, sua voz carregando uma ameaça pela sala

escura. ―Você quer saber onde elas estão?‖

Eu não queria saber, mas estava quase com medo de ouvir a resposta. Mais imagens

apareceram na tela, fotos vigilantes tiradas por um time bem-treinado e bem-posicionado. Bex e

Liz não sabiam que eles estavam lá — eu não sabia que eles estavam lá — e ainda alguém havia

perseguido cada passo nosso. Eu me senti como uma presa.

―Pergunte-me por que elas não estão aqui,‖ Sr. Solomon exigiu. Eu vi seu perfil sombrio.

Seus braços estavam cruzados. ―Você quer ser uma espiã, não quer, Camaleoa?‖ Meu codinome

não era nada mais que uma chacota nos seus lábios. ―Agora me diga o que acontece com espiãs

que são pegas.‖

Não, eu pensei.

Outro clique.

Aquela é Bex? É claro que não era — elas estavam com o Sr. Smith; ela estava segura,

mas eu não pude evitar encarar a imagem escura e saibrosa na tela — o rosto sangrento e

inchado que me encarou de volta — e estremeci por minha amiga.

―Eles não vão começar com Bex, você sabe,‖ ele continuou. ―Eles começarão com Liz.‖

Outro clique e então eu estava olhando para um par de braços magros amarrados atrás de

uma cadeira e uma cascada de cabelos louros ensanguentados. ―Essas pessoas são muito boas

no que fazem. Eles sabem que Bex pode aguentar socos; o que mais machuca Bex é ouvir sua

amiga gritar.‖

A luz do projetor estava quente quando dançou pela minha pele. Ele estava chegando

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perto. Eu vi sua sombra se juntar a minha na tela.

―E ela está gritando — estará por cerca de seis horas, até que fique tão desidratada que

não consiga fazer sons.‖ Meu olhar estava embaçado; meus joelhos estavam fracos. O terror

estava batendo nos meus ouvidos tão alto que eu mal o ouvi quando sussurrou, ―E então eles

começarão com a Bex.‖ Outro clique. ―Eles têm coisas especiais em mente para ela.‖

Eu vou ficar doente, pensei, incapaz de olhar ele nos olhos.

―É para isso que você está se inscrevendo.‖ Ele me forçou a enfrentar a imagem. ―Olhe o

que está acontecendo com as suas amigas!‖

―Pare!‖ eu gritei. ―Pare!‖ E então eu derrubei a garrafa. A gola bateu, estilhaçando,

enviando cacos de vidro por todo o chão.

―Você perdeu dois terços do seu time. Suas amigas desapareceram.‖

―Não,‖ eu disse de novo. ―Pare.‖

―Não, Srta. Morgan, uma vez que isso começa — não para.‖ Meu rosto estava quente e

meus olhos estavam inchados. ―Isso nunca para.‖

E não para. Ele estava certo e eu soube tudo muito bem.

Eu senti, mais do que vi, o Sr. Solomon se virar para a classe e perguntar, ―Quem quer ser

uma espiã agora?‖

Ninguém levantou uma mão. Ninguém falou. Nós não deveríamos fazê-lo.

―No próximo semestre, senhoritas, Operações Secretas será um campo de estudo

opcional, mas neste semestre, é obrigatório. Ninguém fica para trás agora porque está assustada.

Mas vocês nunca estarão tão assustadas como estão nesse momento — não nesse semestre.

Nisso vocês tem minha palavra.‖

As luzes do alto acenderam, e doze garotas piscaram contra o brilho súbito. Sr. Solomon

se moveu em direção a porta, mas parou. ―E senhoritas, se vocês não estão assustadas agora,

nós não queremos vocês, de qualquer jeito.‖

Ele deslizou ao lado de uma partição de vidro, revelando Bex e Liz, que permaneciam atrás

dela, ilesas. Então ele saiu.

Nós permanecemos em silêncio por um longo tempo, escutando os passos dele

desaparecerem.

No nosso quarto, fomos saudadas por uma pilha de roupas e acessórios que pareceram

tão importantes no início da noite — mas pareciam tão insignificantes agora.

Macey estava dormindo — ou fingia estar — Eu não me importei. Ela tinha um par

daqueles realmente caros fones Bose eliminadores de som (provavelmente para que ela não se

mantesse acordada pelo som do ar zumbindo passando pelo seu anel no nariz), então Bex, Liz e

eu poderíamos ter conversado ou gritado. Mas nós não o fizemos.

Até Bex tinha perdido sua presunção, e isso era talvez a coisa mais assustadora de todas.

Eu queria que ela fizesse uma piada. Queria que ela representasse tudo que o Smith tinha dito no

longo caminho deles para casa. Queria que Bex chamasse um holofote para que nosso quarto

não ficasse tão escuro. Mas em vez disso, nós permanecemos em silêncio até que eu não

aguentei mais.

―Gente, eu—‖ comecei, precisando dizer que eu sentia muito, mas Bex me parou.

―Você fez o que eu teria feito,‖ ela disse, então olhou para Liz.

―Eu também,‖ Liz concordou.

―Sim, mas...‖ Eu queria dizer mais alguma coisa, mas o quê, eu não sabia.

Em sua cama, Macey rolou, mas não abriu os olhos. Fitei o relógio e percebi que era quase

uma da manhã.

―Smith estava zangado?‖ perguntei depois de um longo tempo.

Liz estava no banheiro escovando os dentes, então Bex foi quem respondeu, ―Eu acho que

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não. Ele provavelmente está rindo bastante disso agora, não acha?‖

―Talvez,‖ eu disse.

Eu vesti meu pijama.

―Ele disse que não viu você nenhuma vez, entretanto,‖ Bex disse, como se tivesse acabado

de se lembrar.

Liz veio e adicionou, ―É, Cammie, ele estava realmente impressionado quando ouviu que

você estava lá. Tipo, muito impressionado.‖

Senti algo frio contra o meu peito, então senti a pequena cruz prata ainda pendendo em

volta do meu pescoço, e me lembrei que alguém tinha me visto. Até agora, o garoto na rua tinha

desaparecido completamente da minha mente.

―Então,‖ Liz perguntou, ―o que aconteceu com você depois que nós saímos?‖

Eu dedilhei a cruz, mas disse, ―Nada.‖

Eu não sei por que eu não disse a elas sobre Josh. Digo, isso deveria ser significante —

um contato aleatório civil inicial durante uma operação — esse é o tipo de coisa que você

totalmente conta aos seus superiores, muito mais a suas melhores amigas. Mas eu manti para

mim mesma — talvez porque eu pensasse que isso não importava, mas provavelmente porque,

em um lugar onde todo mundo sabe da minha história, era legal saber que havia um capítulo que

somente eu tinha lido.

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Capítulo Nove

Cultura e Assimilação não é como nossas outras aulas, então acho que é por isso que a

sala de chá da Madame Dabney não é como nossas outras salas. Linhas de seda francesa nas

paredes. As lâmpadas são de cristal. Tudo naquela sala é bonito, refinado e nos lembra que nós

não temos apenas que ser espiãs — temos que ser damas.

Às vezes eu odeio isso e passo horas pensando que desperdício é nos ensinar coisas

como caligrafia e costura (além dos óbvios usos de mensagens codificadas, é claro). Mas outras

vezes, amo ouvir Madame Dabney enquanto ela flutua pela sala com um lenço monogramado em

sua mão, falando sobre qual flores estavam na estação ou a história da valsa.

O dia após a nossa primeira missão era um daqueles dias. Eu podia ter estragado a

missão, mas ainda era um gênio em sentar em mesas, então na verdade eu estava triste em ouvir

Madame Dabney dizer, ―Oh, queridas, garotas, olhem a hora.‖ Eu não queria pôr de lado a boa

porcelana. Não queria descer lá embaixo e encarar o Sr. Solomon de novo.

―Mas antes que vocês vão hoje, garotas,‖ Madame Dabney disse em um tom excitado e

expectante que captou minha atenção, ―Eu tenho um aviso a dar!‖ Os sons da porcelana se

movendo todos cessaram enquanto todas tiveram a Madame Dabney. ―É hora de vocês

expandirem sua educação aqui na Academia Gallagher, então...‖ Ela ajustou seus óculos. ―...

começando hoje após a aula, eu estarei ensinando Educação no Trânsito!‖

Oh meu Deus! Eu esqueci completamente de Educação no Trânsito! Claro, nós estávamos

permitidas a atirar uma nas outras sobre nossos ombros ou planejar antídotos para venenos raros

para pontos extras, mas quando se trata de coisas delicadas como ajustar espelhos retrovisores e

saber quem tinha o direito de passagem numa estrada, os Administradores Gallagher não davam

nenhuma chance. E mais, tinha toda aquela coisa de desconto-no-seguro-do-seu-carro pra

considerar.

Madame Dabney disse, ―Nós sairemos em grupos de quatro — por quarto.‖ Ela consultou

um pedaço de papel e depois olhou diretamente em direção a Liz, Bex e eu. ―Começando com as

quatro de vocês.‖

Liz olhou para Bex e eu, não entendendo. ―Quatro?‖ ela sussurrou, no momento em que

uma luz pareceu descer, e no fundo da sala nós ouvimos Macey dizer, ―Parece divertido.‖

(Eu realmente preciso dizer que ela estava sendo sarcástica?)

Naquela tarde, nós descemos para o pórtico traseiro e em direção a Motor Poo12 onde um

velho Ford Taurus estava esperando por nós, seu triângulo amarelo ESTUDANTE MOTORISTA

cintilando no sol.

Mamãe me disse que Madame Dabney passou a maior parte da carreira dela em profundo

disfarce, trabalhando em celas subterrâneas Nazistas que permaneceram ativas na França após

a Segunda Guerra Mundial, mas em momentos como esse eu tenho dificuldade em acreditar nela

— especialmente quando a mulher em questão aparece usando uma camiseta Dê a Segurança

um Freio!.

―Oh, meninas! Isso vai ser tão prazeroso!‖ ela disse, e em seguida procedeu a fazer coisas

como apontar o freio e dizer, ―Aquilo faz o carro parar,‖ e o acelerador, ―Aquilo faz o carro andar.‖

Mas a coisa mais louca de tudo era que Liz estava fazendo anotações.

Ela tem uma memória fotográfica! Ela se juntou a Mensa13 com oito anos! E ainda se sentia

obrigada a desenhar um diagrama da coluna de direção e anotar exatamente qual botão ligava os

limpadores de pára-brisa.

―Certifique-se de anotar que o volante é redondo,‖ eu disse, e ela realmente tinha o V-O-L

de volante escrito em seu pequeno bloco de notas antes de perceber que eu estava apenas

brincando.

12

n/t: Um grupo de veículos mantidos, em uma instalação militar, para utilização quando necessária por parte do pessoal 13

n/t: Mensa é uma sociedade formada por pessoas de alto QI, no mínimo 2% superior a população

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―Cammie, não faça graça,‖ Liz disse, do jeito que ela sempre diz. Mas então, Macey

zombou, ―É, Cammie, não faça graça.‖ Até Liz quis acertá-la.

―Agora, meninas,‖ Madame Dabney disse, ―vamos nos focar.‖ Ela levou as mãos em uma

posição de oração conforme se virou para Bex. ―Rebecca, querida, como você se sente sobre

começar conosco?‖

Eu arquejei. Não me entenda errado; eu amo Bex. Ela é minha melhor amiga. Mas eu

tenho dirigido desde que pude ver sobre o volante e alcançar os pedais ao mesmo tempo (algo

que a Vovó Morgan jura ser um marco na vida de cada menina de fazenda), então porque deveria

Bex, uma nativa Londrina que passou seus anos formativos andando de Metrô e acenando para

Táxis, ser a primeira a pegar a Rodovia 10?

Eu me consolei pensando que Bex é minha melhor amiga, e ela é boa em tudo, ou eu o

pensava até que ela partiu para a rodovia NO LADO ERRADO DA ESTRADA! Agora tudo isso

poderia ter sido engraçado exceto que havia uma colina lá — eu mencionei isso? Uma colina

grande do tipo não-veja-nada-até-que-algo-esteja-prestes-a-acertar-sua-cabeça. Mas eu era a

única que tinha percebido, porque Madame Dabney estava escrevendo em sua prancheta, Liz

estava fazendo seu dever de casa bioquímico, e Macey estava tendo uma emergência na unha.

Eu tentei dizer, mas devo ter perdido temporariamente o poder da fala, e Bex era a única

outra pessoa prestando atenção na estrada, e ela pensava que estava no lado direito — ou lado

esquerdo — ou tanto faz (você entendeu o que eu quis dizer).

Minha voz retornou em tempo para eu dizer ―BEX!‖ e ela falou, ―O que?‖ se virando e nos

mandando em outra travessa, o que sob circunstâncias normais teria sido desastroso, mas nesse

caso realmente salvou nossas vidas. O destino é astuto assim — algo que eu imagino que toda

espiã descobre eventualmente.

Então Bex calmamente corrigiu o carro e dirigiu para a cidade, completamente interessada.

Quando Bex pendurou à esquerda do Piggly Wiggly e quase arrancou um guarda de

cruzamento da Escola Elementária Roseville, Madame Dabney a fez encostar no estacionamento

da mercearia e trocar de lugar com Macey. Mas Bex não pareceu zangada, o que é um pouco

assustador. Em vez disso, ela tinha um olhar satisfeito no rosto conforme abriu a minha porta e

me fez empurrar Liz ao banco onde Macey tinha abandonado, o que era mais difícil do que

parece, desde que Liz tinha se tornado um tanto quanto... Oh, qual é a palavra? ...petrificada.

Madame Dabney havia obviamente aprendido sua lição com Bex, porque houve vários

Suave no acelerador, queridas e Ok, tem uma placa de pare logo ali, queridas vindo do banco da

frente enquanto Macey saiu pelas ruas.

As coisas estavam começando a ficar bem calmas. Digo, realmente, era quase legal,

sendo conduzida por aí, sentada entre minhas duas melhores amigas no mundo, sentindo o feixe

de sol através das janelas. Era quase normal — ou tão perto do normal quanto três gênios, uma

herdeira de cosméticos e filha do senador, e uma agente secreta em um Ford Taurus pode algum

dia ser.

Aninhada no banco traseiro entre Liz e Bex, eu comecei a pensar se teria sido muito pedir

para nós fazermos uma excursão pela cidade antes de sermos supostas a seguir um dos mais

procurados homens do mundo através dela. Oh, claro, isso teria sido uma vantagem totalmente

injusta. Na luz do dia, eu podia ver milhares de lugares escondidos onde uma garota poderia

permanecer invisível. Eu reconheci becos e ruas laterais que poderiam ter sido grandes atalhos.

Eu comecei, apesar de tudo, a querer jogar de novo com Sr. Smith. Mas principalmente, me

perguntei sobre o garoto que eu tinha visto. Ele era real? Ele realmente andou por essas ruas?

Então, tive minha resposta.

―O que raios você está fazendo ai embaixo?‖ Bex perguntou.

―Procurando por minhas lentes de contato,‖ rebati.

―Você tem visão vinte-vinte (n/t: visão nítida),‖ Liz me lembrou.

―É só... Eu só... Eu não posso olhar para cima nesse momento.‖

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Eu soube que o carro estava parado, provavelmente em um semáforo — um dos apenas

dois na cidade, então Josh tinha que estar chegando perto.

―O que?‖ Bex perguntou em um sussurro. ―O que está acontecendo?‖ Ela se alterou para o

modo-espiã, postura ereta, e olhou em volta. ―Não há nada aqui. Oh, bem, você está perdendo

um verdadeiro gato à direita.‖

Liz ergueu seu pescoço para olhar. ―Oh, claro, ele é bem magro mas vale a pena olhar.‖

Então ela encolheu os ombros e disse, ―Ah. Não tem importância. Ele está nos dando o Olhar

Gallagher.‖

Eu não fazia idéia de quem apareceu com esse nome, mas é o que nós sempre chamamos

o olhar que as pessoas da cidade nos dão sempre que percebem onde estudamos. É a única vez

onde odeio nossa história secreta — quando as pessoas olham para mim como se eu fosse

privilegiada, como se eu fosse mimada. Como se eu fosse como Macey McHenry. Eu queria dizer

a eles que passei meu verão limpando peixe e conservando legumes — mas essa é apenas uma

das milhares de coisas que o bom povo de Roseville jamais saberá sobre mim. Então, quando

pessoas como Josh te olham como se você fosse uma mistura de Charles Manson e Paris Hilton,

machuca um pouco — mesmo para uma espiã.

―É, mas ele continua sendo um garoto,‖ Bex disse ansiosa. ―Ei, Cam, venha dar uma

olhada.‖

―Eu não vou olhar para nenhum garoto!‖ soltei. ―Não me importo quão ondulado o cabelo

dele é.‖

―Quem disse alguma coisa sobre cabelo?‖ Oh, Bex é boa.

―Eu não posso acreditar nisso!‖ Liz disse, estimulando. Ela não tinha se sentado uma vez

desde que tínhamos voltado a mansão — ela simplesmente continuou indo para frente e para trás

— tentando fazer sentido de tudo. Eu não podia realmente culpá-la. A crença de Liz é bastante

natural para gênios científicos. Ela quer que a vida seja algo que possa ser testada em um

laboratório ou referenciada em um livro. Ela pensava que me conhecia. Eu pensava que me

conhecia. Agora ambas das nossas hipóteses tinham sido jogadas pela janela, e nós odiamos

começar do rascunho.

Eu não podia deixá-la perceber quão abalada eu estava, então fiz a próxima melhor coisa a

se fazer: fiquei irritada.

―Exatamente o que é tão inacreditável?‖ perguntei. ―Que um garoto olhou para mim?‖

Claro, eu nunca fui uma beleza exótica como Bex ou uma fada como Liz, mas não tinha ainda

furúnculos por todo meu corpo. Os espelhos não quebravam quando eu passava por eles. Meu

Avô me chama de Anjo. Eu era tão indigna de ser percebida?

―Cam!‖ Bex ordenou. ―Claro que não é isso.‖

Liz jogou as mãos para o ar e disse, ―Eu não posso acreditar que você não nos contou!

Não posso acreditar que você não contou para ninguém.‖

A definição de Liz de ninguém não significava ninguém. O ninguém de Liz quis dizer um

professor.

―E daí?‖ Eu disse, tentando varrer a coisa para o lado.

―E daí? E daí, que ele viu você! Cammie, ninguém te vê quando você não quer ser vista.‖

Ela escorregou para a cama ao meu lado. ―Quando estávamos seguindo Smith e eu tive que

manter você em vista, foi quase impossível, e eu não podia ouvir você pelas unidades básicas. E

sabia que você estava usando. E...‖ Ela jogou as mãos para o ar. ―E daí?‖

Eu me virei para olhar para Bex, minhas sobrancelhas levantadas como se perguntasse

Você está pirada, também?

―Você é realmente incrível, Cam,‖ Bex disse em um tom perfeitamente sério, então eu

soube que deveria ser verdade.

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―Algo não está certo, aqui,‖ Liz disse conforme eu fui para o banheiro e comecei a escovar

meus dentes.

(É difícil dizer coisas que irá causar danos duradouros em uma amizade de longa-vida

quando você está espumando pela boca como um cachorro raivoso.) ―Sr. Solomon quer resumos

sobre nossa missão, de modo que nós devemos incluir o garoto. Ele pode muito bem estar

tentando infiltrar na escola através de Cammie. Ele pode ser um pote de mel!‖

Eu quase engoli minha própria escova de dentes. A definição técnica de um pote de mel é

uma agente feminina usando romance para comprometer um alvo. A definição prática é qualquer

pessoa com decote. (Rumores dizem que o gênero de Gilly inspirou o termo.) O pensamento que

Josh podia ser o equivalente masculino fez meu estômago sacudir.

―Não!‖ eu exclamei. ―Não. Não. Não. Ele não é um pote de mel.‖

―Como você sabe?‖ Bex perguntou, interpretando o advogado do diabo.

―Eu simplesmente sei!‖ repliquei.

Mas Liz estava encolhendo os ombros, dizendo, ―Nós temos que incluir ele nos relatórios,

Cam.‖

Mas relatórios levam a revisões. Revisões levam a protocolos. Protocolos levariam duas

semanas do departamento de segurança seguindo ele pela cidade enquanto eles rastreiam sua

certidão de nascimento e descobrem que a mãe dele bebe ou que seu pai aposta — eles fazem

muito mais por poucos motivos. Afinal, a Academia Gallagher não tinha mantido um segredo bem

guardado por mais de uma centena de anos por dar chances.

Pensei sobre Josh, quão doce e normal ele parecia. Eu não queria estranhos procurando

por ele através de um microscópio. Não queria que existisse um arquivo em Langley com seu

nome nele. Mas principalmente, eu não queria sentar em uma sala e explicar porque ele se

aproximaria de mim, quando a praça da cidade estava cheia de garotas mais bonitas.

Fitei o chão, agitando o pensamento fora. ―Não, Liz, eu não posso fazer isso. É um preço

muito alto a pagar por conversar com uma garota.‖

Então Bex cruzou seus braços e sorriu ironicamente em minha direção. ―Eu acho que há

algo mais nessa história,‖ ela disse com seu faro de costume. A agitação do sangue nas minhas

bochechas devem ter sido o suficiente para me trair, porque ela se inclinou para baixo e disse,

―Fala.‖

Então contei a elas sobre a lixeira e a garrafa caída de Dr Pepper e, finalmente, Diga à

Suzie que ela é uma gata sortuda, o que, mesmo não tendo sido por toda a coisa de gênio, eu

ainda seria capaz de lembrar literalmente, porque frases como essa são como manteiga de

amendoim na mente de uma garota.

Quando eu terminei, Bex estava me encarando como se ela se perguntasse eu tinha ou

não sido substituída por um clone geneticamente engenhado, e Liz tinha um olhar sonhador muito

similar com o da Branca de Neve quando aqueles pássaros flutuaram sobre a cabeça dela.

―O que?‖ eu perguntei, precisando que elas dissessem alguma coisa — qualquer coisa.

―Soa como eu pudesse arrebentar o pescoço dele com uma mão,‖ Bex disse, e ela estava

provavelmente certa. ―Mas se você gosta desse tipo de coisa...‖

―... ele é incrível,‖ Liz terminou para ela.

―Não importa o que ele é ou não é. Ele...‖ eu lutei.

Liz atirou e terminou por mim. ―... ainda tem que ir para os relatórios!‖

―Liz!‖ eu exclamei, mas a mão de Bex estava no meu braço.

―Por que nós não fazemos isso?‖ Sua expressão mais divergente atravessou seu rosto.

―Nós vamos checar ele, e se ele é um garoto normal, nós esquecemos sobre isso. Se tiver algo

estranho, nós o entregamos.‖

Eu soube instantaneamente quais argumentos contra isso teria: nós estávamos muito

ocupadas; era contra milhões de regras; se fossemos pegas, podíamos estar arriscando nossas

carreiras para sempre. Mas no silêncio do quarto, nós nos entreolhamos, nosso acordo mútuo se

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assentou sobre nós do jeito de pessoas que se conheciam muito bem e há muito tempo.

―Ok,‖ eu disse finalmente. ―Nós faremos o básico, e ninguém tem que saber.‖

Bex sorriu. ―Fechado.‖

Ambas olhamos para Liz, quem lutou. ―Vamos encarar isso — ou ele é um agente inimigo

tentando infiltrar nas Garotas Gallagher através de Cammie...‖

Liz parou a frase, me instigando a dizer, ―Ou...?‖

O rosto dela se iluminou. ―Ele é a sua alma gêmea.‖

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Capítulo Dez

Ok, a partir desse ponto, se você está relacionado a mim ou em uma posição para

adicionar coisas ao meu ―relatório permanente‖ (o qual eu suponho que na Academia Gallagher é

um pouco mais detalhado do qual eles mantêm na Roseville High), você talvez queira parar de

ler. Sério. Vá em frente e pule as próximas cem páginas. Não vai machucar meus sentimentos de

modo algum.

Em outras palavras, eu não estou orgulhosa do que vem a seguir, mas não estou

exatamente envergonhada também, se isso faz algum sentido. Às vezes eu penso que toda

minha vida tem sido aquele tipo de contradição. Digo, tudo que ouvi pelos últimos três anos foi

Não Hesite, mas seja paciente. Seja lógica — confie em seus instintos. Siga o protocolo —

improvise. Nunca abaixe a guarda — sempre pareça facilitar.

Então, veja, se você dá a um punhado de garotas adolescentes esses tipos de mensagens,

então, sim, eventualmente, as coisas vão ficar interessantes.

O resto da semana passou, nossa missão não-mencionada escondida no fundo de nossas

mentes como uma acusação silenciosa, porém sempre-presente que preenchia o ar, de modo

que toda vez que uma de nós alcançávamos a maçaneta, eu meio que esperava ver faíscas.

Nós acordamos cedo na manhã de Sábado, o que definitivamente não foi minha idéia.

Graças a extravagância anual de Dirty Dancing de Tina Walters, onde nós assistimos a cena do

―ninguém põe Baby no canto‖ uma dúzia de vezes, eu estava realmente precisando de um bom

―repouso‖, como Bex chama. Mas apesar de Liz ter estado no fundo da nossa classe de P&A, ela

é a melhor pessoa que eu já vi em conseguir me tirar da cama, o que é muito, considerando a

mulher que me criou.

Macey estava adormecida em seus fones de ouvido, então Liz se sentiu livre para gritar,

―Nós estamos fazendo isso por você!‖ enquanto puxou minha perna esquerda e Bex foi em busca

pelo café-da-manhã. Liz colocou seu pé contra o colchão como uma alavanca e puxou. ―Vamos,

Cam. SE. LEVANTE.‖

―Não!‖ eu disse, me enterrando nos lençóis. ―Mais cinco minutos.‖

Então ela agarrou meu cabelo, o que é totalmente golpe baixo, desde que todo mundo

sabe que é a minha fraqueza. ―Ele é um pote de mel.‖

―Ele ainda vai ser um em uma hora,‖ eu pretextei.

Então Liz se jogou do meu lado. Inclinou-se próximo. Ela sussurrou, ―Diga a Suzie que ela

é uma gata sortuda.‖

Eu joguei os lençóis de lado. ―Estou em pé!‖

Dez minutos depois Bex estava ao meu lado, entregando um Pop-Tart, enquanto Liz

liderava o caminho para o porão. Os corredores estavam vazios; a mansão em silêncio. Era

quase como verão, exceto pelo frio que havia se assentado nas paredes de pedra, e minhas

melhores amigas estavam ao meu lado. Quando alcançamos as máquinas de venda fora do

escritório do Dr. Fibs, eu dei uma mordida no meu café-da-manhã e senti o açúcar fazer efeito.

―Prontas, então?‖ Bex perguntou, e Liz assentiu com a cabeça.

Ambas olharam pra mim. Eu dei outra mordida e descobri que se chegamos até aqui (e

desde que eu já estava fora da minha cama), nós poderíamos ir muito bem todo o caminho.

Eu puxei uma moeda de 25 centavos do meu bolso e segurei em direção a abertura, mas

Liz me parou.

―Espere.‖ Ela alcançou a moeda. ―Se alguém olhar para os troncos, meu nome vai mandar

pequenas bandeirinhas vermelhas,‖ ela disse, mesmo que nada do que estávamos fazendo era

contra as regras da escola. (Eu sei — eu chequei.) Na verdade, nós éramos encorajadas a fazer

tantos ―projetos especiais‖ para ―estudo independente‖ quanto quisermos, e ninguém nunca disse

que não poderíamos fazer um projeto de estudar garotos especiais independentemente. Ainda,

pareceu uma boa idéia entregar a moeda pra Liz e ter ela sendo a que pressionasse suas digitais

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na cabeça do George Washington, deixá-la na máquina de venda, e pedir o item A-19.

Dois segundos depois, a máquina de venda se abriu, revelando um corredor para o

principal estado da arte laboratório forense fora da CIA. (Se Liz tivesse pedido B-14, uma escara

teria caído dos painéis de mogno atrás de nós.

Enquanto andei para o laboratório forense, Liz já estava puxando a garrafa do Sr. Smith de

sua bolsa e a colocando no centro da mesa. Os cacos quebrados estavam reunidos, e pude

quase esquecer por que eu havia a derrubado — quase.

―Nós vamos apenas executá-la pelo sistema e ver o que conseguimos,‖ Liz disse, soando

muito oficial e acordada demais para SETE HORAS em uma MANHÃ DE SABÁDO! Além disso,

eu poderia ter dito a ela o que nós iríamos encontrar — nada. Nada mesmo. Aquela garrafa de Dr

Pepper iria fornecer as impressões digitais de uma estudante da Academia Gallagher (eu); uma

de um instrutor da Academia Gallagher inexistente-tanto-quanto-a-tecnologia-está-interessada-

porque-todo-ano-ele-consegue-novas-digitais-junto-com-seu-rosto (Smith), e um espectador

perfeitamente inocente cujo único crime foi ficar preocupado com garotas adolescentes que eram

forçadas a furtar de lixeiras (Josh).

Eu comecei a partilhar tudo isso com Liz, mas ela já tinha posto seu casaco branco de

laboratório, e nada dava a Liz mais alegria que usar um casaco branco de laboratório, então colei

meus lábios e tentei descansar minha cabeça na mesa.

Uma hora mais tarde, Liz estava me chacoalhando, me dizendo que as digitais de Josh

não estavam em nenhum lugar do sistema (chocante, eu sei). Isso significa muito bem que ele

nunca tinha estado na cadeia ou no exército. Ele não era um advogado ou membro da CIA. Ele

nunca tentou comprar uma arma ou correr para o escritório (o que, por alguma razão, era um tipo

de alívio).

―Vê?‖ Eu disse a Liz, pensando que ela abandonaria a caça e me permitisse a voltar para

minha boa cama, mas ela me olhou como se eu fosse louca.

―Essa é a Fase Um,‖ ela disse, soando magoada.

―Eu quero saber qual é a Fase Dois?‖ perguntei.

Liz apenas me fitou por um longo momento e depois respondeu, ―Volte a dormir.‖

―Eu não posso acreditar que deixei você me convencer a isso,‖ eu disse conforme nós nos

agachamos nos arbustos fora da casa de Josh. Outro carro passou e a música ficou mais alta, e

tudo que eu pude dizer foi, ―Eu não posso acreditar que deixei você me convencer a isso.‖

―Você não pode acreditar?‖ Bex soltou e então se virou. ―Liz, eu pensei que você tinha dito

que aquela casa iria ficar vazia às oito.‖

―Bem, tecnicamente, a casa dos Abrams está vazia.‖

Eu não podia culpar Liz por ser defensiva. Afinal, ela levou três horas para ela quebrar

firewalls (nossas, não deles) e entrar no sistema do computador das escolas públicas de

Roseville para descobrir que o ―meu‖ Josh, era Josh Abrams da Rua North Bellis, 601. Levou

outra hora para acessar todas as contas da família Abrams e interceptar o e-mail no qual Joan

Abrams (também conhecida como mãe do Josh) prometeu a alguém chamada Dorothy que ―Nós

não perderíamos a festa surpresa de Keith por nada no mundo! Estaremos aí as oito em ponto!‖

Então imagine nossa surpresa quando nós nos agachamos nas azaléias e assistimos

metade da cidade de Roseville caminhar pra fora e para dentro numa casa branca com

venezianas azuis no fim do quarteirão de Josh. Eu puxei um par de óculos que só funcionavam se

você está míope (na verdade são binóculos) e olhei a casa onde a festa estava em pleno

andamento.

―Keith quem?‖ eu perguntei, forçando Liz a repensar no e-mail que imprimimos em papel-

evaporador e escondido embaixo da minha cama.

―Jones,‖ Liz disse. ―Por quê?‖

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Eu entreguei a ela os óculos para que ela também pudesse olhar para a casa no fim da rua

e ver o Mantendo-se com a assinatura dos Jones que estava pendurado sobre a porta da frente.

―Oh,‖ Liz murmurou, e nós todas soubemos que a família Abrams não tinha ido longe.

Eu tinha imaginado onde Josh vivia, mas meus sonhos eram empalideceram em

comparação ao que eu vi na verdade. Não era um bairro real — era um bairro de TV, onde os

gramados eram cuidados e os alpendres eram feitos pra balanços e limonada. Antes de eu vir

para a Academia Gallagher, nós vivíamos em uma casa pequena em D.C. Eu passei meus

verões em uma fazenda empoeirada. Eu nunca tinha visto tanta perfeição suburbana em um lugar

enquanto eu olhei pelo poste em direção as longas filas de estacas brancas da cerca.

De alguma maneira, eu soube que uma espiã nunca pertenceria aquele lugar.

Ainda assim, três estavam ali — agachadas no escuro — até que Bex puxou seu kit de

abertura de fechaduras e correu em direção à porta dos fundos. Liz estava bem atrás dela até

que ela bateu seu pé em um anão de jardim e se enterrou em um arbusto de azevinho com um

choro silencioso de ―Estou bem!‖

Eu ajudei Liz com seus pés, e segundos depois nós estávamos bem atrás de Bex quando

ela usou sua mágica na fechadura da porta dos fundos.

―Quase lá,‖ Bex disse firme, confiante.

Eu conhecia aquele tom de voz. Aquele tom de voz era perigoso.

Eu ouvi a música da festa do fim da rua, vi nossos arredores pitorescos, e um pensamento

desceu a mim. ―Hum, gente, talvez nós devêssemos tentar—‖ alcancei a maçaneta. Ela se virou

levemente sobre a minha palma.

―É,‖ Bex disse. ―Isso funciona, também.‖

Andar dentro da casa de Josh era como andar dentro de uma revista. Havia flores frescas

na mesa. Uma torta de maçã estava esfriando em uma prateleira sobre o fogão. O boletim da

irmã de Josh estava prendido sob um imã na geladeira — seguidos A‘s.

Bex e Liz se lançaram pela sala de estar e para o andar de cima, e eu reuni meus

pensamentos juntos o suficiente para dizer, ―Cinco minutos!‖ Mas eu não podia seguir. Eu não

podia me mexer.

Eu soube uma hora que não deveria estar ali — por um monte de razões. Eu estava

violando não apenas uma casa, mas também um estilo de vida. Encontrei uma cesta de costura

em um assento na janela, onde alguém estava fazendo uma fantasia para o Dia das Bruxas. Um

livro sobre como fazer seu próprio estofamento colocado na mesa de café, e quatro amostras de

tecido pendurados no braço do sofá.

―Cam!‖ Bex me chamou e jogou um transmissor na minha direção. ―Liz diz que isso tem

que ir para fora. Por que você não tenta aquela árvore olmo?‖

Eu estava feliz em ter um trabalho. Estava feliz de sair daquela casa. Claro, fazer

reconhecimento básico era uma parte essencial da detecção de potes de mel. Afinal, se Josh

estava recebendo instruções de um celular macabro ou governos desonestos ou algo assim,

implantar um Cavalo de Tróia em seu computador e escavar pela gaveta de roupas íntimas dele

era provavelmente a melhor maneira de descobrir sobre isso. Ainda assim, era um alívio ir para

fora e escalar a árvore.

Eu estava no terceiro galho da árvore, prendendo o transmissor, quando eu olhei para o

fim da rua e vi uma figura cortando pelos quintais. Ele era alto. Ele era jovem. E tinha as mãos

nos bolsos, puxando para baixo de uma maneira que eu só tinha visto uma vez antes!

―Rato de Biblioteca, está me ouvindo?‖ Eu tentei; mas mesmo que Liz tenha feito seu

melhor tentando consertar minhas unidades básicas curto-circuidadas, o estalo estático no meu

ouvido me disse que o conserto apressado dela não tinha funcionado. Eu fiquei agachada contra

os galhos enquanto as folhas do fim do verão se agitavam à minha volta.

―Duquesa,‖ eu sussurrei, rezando que Bex respondesse — ou melhor ainda — me bater no

ombro e me xingar por não ter um pouco de fé. ―Bex, eu deixarei você escolher qualquer

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codinome que você quiser, se você apenas me responder,‖ eu sussurrei no escuro.

Josh estava cruzando a varanda.

Josh estava abrindo a porta da frente.

―Gente, se vocês podem me ouvir, apenas se escondam, Ok? O Sujeito está entrando na

casa. Repito. O Sujeito está entrando na casa.‖

A porta se fechou atrás dele, então eu pulei da árvore e corri para me esconder nos

arbustos, constantemente mantendo um olho na porta da frente, o que soava ótimo em teoria,

exceto que significava que eu totalmente perdi de ver Liz e Bex arrastarem-se fora de uma janela

do segundo andar e se refugiarem no telhado.

―Camaleoa!‖ Bex me chamou pelo escuro, me assustando até a morte enquanto eu enfiei

minha cabeça nos arbustos e depois espreitei para ver Bex espiando sobre as calhas da casa.

Elas devem ter pensado que Josh estava em casa para a noite toda porque começaram a

anexar cabos de rapel na chaminé, e estavam prestes a pular do telhado, quando Josh saiu pela

porta da frente!

Eu assisti dos arbustos, congelada de terror, enquanto percebi que minhas duas melhores

amigas estavam prestes a aterrissar na cabeça do garoto mais fofo que eu já vi — e a da torta de

maçã que ele estava carregando.

Elas não podiam ver ele. Ele não podia vê-las. Mas eu podia ver tudo.

Ele deu um passo. Elas deram um passo.

Nós estávamos a segundos de distância de um desastre, e honestamente, eu nem mesmo

sabia o que estava fazendo até que as palavras, ―Oh, oi,‖ estavam fora da minha boca e eu

estava parada do meio do jardim da família Abrams.

Pelo canto do meu olho, vi o terror registrado no rosto de Bex sobre mim enquanto ela

agarrou Liz e tentando puxá-la longe da beirada, mas eu não estava realmente prestando atenção

nelas. Como eu podia, quando um garoto tão sonhador quanto Josh Abrams estava andando na

minha direção, parecendo totalmente surpreso em me ver — o que era perfeitamente

compreensível.

―Oi. Eu não esperava te encontrar aqui,‖ disse ele, e imediatamente eu pirei. Isso

significava que ele andou pensando em mim? Ou ele apenas estava tentando descobrir como e

por que uma garota vestida totalmente de preto aparecera em seu jardim? (Graças a Deus eu

derrubei meu chapéu e cinto de utilidades nos arbustos.)

―Oh, você conhece os Jones,‖ eu disse, ainda que eu não conhecesse, mas julgando pela

fila de pessoas entrando e saindo da casa do fim do quarteirão, era provavelmente uma coisa

bem segura a dizer.

Felizmente, Josh sorriu e adicionou, ―É, essas festas ficam mais estranhas a cada ano.‖

―Aham,‖ eu disse, todo o tempo assistindo enquanto Bex lutava para arrastar Liz através do

telhado — para os fundos da casa— mas Liz escorregou e começou a deslizar para baixo. Ela

tentou segurar em uma calha, mas escorregou, e logo ela estava descendo do lado da casa dos

Abrams, e meu coração estava batendo mais e mais (por várias razões).

Josh pareceu tão embaraçado quanto eu me senti, enquanto apontou em direção a torta

em suas mãos e disse, ―Minha mãe esqueceu isso.‖ Ele pausou, como se debatesse se dizia

mais ou não. ―Exceto que ela nunca simplesmente esquece suas tortas.‖ Ele rolou os olhos. ―Vê,

ela é meio que famosa por suas tortas, então sempre que ela vai a qualquer lugar, ela gosta que

as pessoas perguntem sobre sua torta dez vezes antes de ela revelá-las, ou algo assim.‖ Sua

mão livre estava de volta ao bolso. Ele pareceu embaraçado por nunca ter dividido aquele

profundo e escuro segredo de família. ―Mancada, hein?‖

Na verdade, a torta parecia realmente boa, mas eu totalmente não podia dizer isso a ele.

―Não,‖ eu disse. ―Eu acho que é bem legal.‖ E achava. Minha mãe não é famosa por suas

tortas. Não, ela é famosa por neutralizar um dispositivo nuclear em Bruxelas com apenas um par

de tesoura de cutículas e um rabicó. De alguma maneira, naquele momento, tortas pareciam mais

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legais.

Josh começou a se virar, mas Liz ainda estava pendendo do telhado, então eu proferi a

primeira coisa que veio a minha cabeça, ―Keith estava surpreso?‖

Bem, eu não sabia quem Keith era ou por que os Jones estavam lhe dando uma festa

surpresa, mas isso foi bom o suficiente para parar Josh e o fazer dizer, ―Não, ele nunca está

surpreso; Mas ele finge muito bem.‖

Eu era algo como uma especialista em fingir — especialmente quando vi Bex se abaixar

para o nível de Liz— as duas oscilando no ar enquanto Bex lutou para ajustar os cabos

emaranhados de Liz— mas Bex ainda controlada para me mostrar os grandes polegares e mexer

a boca, Ele é bonitinho!

―Você quer tomar uma Coca?‖ ele perguntou, e eu pensei, Sim! Não havia nada no mundo

que eu queria mais. Mas atrás dele, Bex estava indo em direção ao calcanhar do tênis dele,

disparando um dispositivo de rastreamento atrás do Nike.

Eu ouvi um som súbito enquanto o dispositivo se enterrou na sola de borracha, mas Josh

nem mesmo bateu o olho. Bex pareceu totalmente orgulhosa de si mesma, apesar do fato de Liz

ainda estar girando como uma piñata14 sem controle.

―Então é aqui onde você vive?‖ perguntei, como se eu não soubesse.

―É. Toda minha vida,‖ disse Josh, mas ele não soou orgulhoso disso — não como o Vovô

Morgan quando diz que viveu em uma fazenda toda sua vida — como se ele tivesse raízes.

Quando Josh o disse, ele soou como se tivesse correntes. Eu passei tempo suficiente estudando

idiomas para saber que quase qualquer frase pode ter dois significados.

Atrás de Josh, Bex deve ter ajustado o cabo de Liz, porque eu ouvi o zumbido de duas

pessoas em quase queda livre e depois a agitação tinida de alguém aterrissando em uma pilha de

lixeiras metálicas.

Eu estava pronta para derrubar Josh inconsciente e correr para lá, mas ele virou o nariz e

disse, ―Esse bairro tem todos os tipos de cachorros.‖

―Oh.‖ Eu suspirei com alívio. Houve mais agitação, então eu disse, ―Grandes, eu acho.‖

Eu não respirei de novo até que vi Bex segurar sua mão na boca de Liz e a levar aos

arbustos no lado mais distante do jardim.

―Oh, um, eu disse a minha mãe que iria pegar a jaqueta dela no carro,‖ eu falei, andando

em direção as dúzias de veículos que forravam a rua.

―Eu vou com—‖ ele começou, mas no exato momento um garoto apareceu na rua e gritou,

―Josh!‖

Josh olhou para o garoto e acenou para ele.

―Você pode ir,‖ eu disse.

―Não, isso—‖

―Josh!‖ o garoto chamou de novo, se aproximando.

―De verdade,‖ eu falei, ―Eu converso com você lá.‖

E então, pela segunda vez, eu me encontrei correndo dele, tentando evitar a festa.

Eu me escondi atrás de um SUV, reposicionei o espelho retrovisor, e assisti enquanto o

garoto encontrou Josh no meio da rua. Ele tentou pegar a torta de Josh, e disse, ―Você fez isso

para mim? Você não deveria!‖ Josh o acertou forte no ombro. ―Ai,‖ o garoto disse, esfregando seu

braço. Então ele gesticulou em direção a onde eu tinha desaparecido no escuro. ―Quem era

aquela? Ela era bem bonitinha.‖

Eu segurei meu fôlego enquanto Josh seguiu o olhar do amigo e depois disse, ―Oh,

ninguém. Apenas uma garota.‖

14

n/t: Aquele negócio que colocam em festas, recheado de doces e suspenso no ar onde o participante vendado, tenta quebrar e liberar os doces

de dentro

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Capítulo Onze

Resumo das Operárias de Vigilância: Cameron Morgan, Rebecca Baxter e Elizabeth

Sutton (a seguir referidas como ―As operárias‖)

Depois de observar uma Operária da Academia Gallagher (Cameron Morgan) em duas

tarefas rotineiras, As Operárias concluíram que um jovem homem (conhecido no momento

apenas como ―Josh‖, também conhecido pelo garoto Diga-a-Suzie-que-ela-é-uma-gata-de-sorte,

foi um PDI (Pessoa de interesse).

As Operárias então começaram uma série de operações informais durante a qual elas

observaram o seguinte:

O indivíduo, Josh Adamson Abrams, reside em North Bellis 601, Roseville, Virginia.

Conhecimentos associados: Um exame da atividade online do indivíduo revelou que ele

rotineiramente manda e-mails para Dillon Jones, pseudônimo D‘Man (também da rua North Bellis)

— normalmente se refere a vídeo-games ―realmente impressionantes‖, filmes ―defeituosos‖, meu

pai ―idiota‖ e tarefas escolares.

Ocupação: Segundanista na escola Roseville High – lar dos Fighting Pirates. (mas

evidentemente, sem lutas muito duras, uma vez que uma nova pesquisa revelou que o recorde

deles é 0-3)

MDP (média de pontos): 3.75. O indivíduo exibe dificuldade em cálculo e marcenaria

(tirando a carreira de quebrador de códigos da Agência de Segurança Nacional e/ou o

―Carpinteiro Sexy‖ da reforma de casa. NÃO eliminando a possibilidade de o indivíduo parecer

quente com um cinto de ferramentas.)

O indivíduo parece se sobressair em Inglês, Geografia e Cívica15 (O que é ótimo porque

Cammie fala inglês e é muito cívica!)

Família:

Mãe, Joan Ellen Abrams, 46 anos, dona de casa e muito experiente com tortas.

Pai, Jacob Whitney Abrams, 47 anos, farmacêutico e único proprietário da farmácia

Abrams & filho.

Irmã, Joy Marjorie Abrams, 10 anos, estudante.

Atividade financeira incomum: nenhuma, a menos que você conte o fato de que alguém da

família é muito dentro de Biografias da Guerra Civil. (Isto pode ser uma possível indicação da

Confederação de insurgentes ainda vivendo e trabalhando em Roseville? Necessário uma

investigação a mais.)

Respeitosamente apresentadas, Cammie, Bex e Liz.

―Estou te dizendo que isso não quer dizer nada!‖ disse Bex, enquanto estávamos juntas

em frente ao espelho, esperando o scanner deslizar através de nossos rostos, e a luz nos olhos

do quadro se tornar verde. Eu não tinha mencionado Josh, mas sabia o que ela estava falando.

Bex viu meu reflexo no espelho e eu percebi que o scanner não era a única coisa que podia ver

dentro de mim.

As portas se abriram, e nós subimos. ―Nós temos a conexão do computador‖ Liz propôs.

―Registros financeiros, por exemplo, pode ilustrar muitos...‖

―Liz!‖ Eu vociferei. Olhei para as luzes e assisti nossa descida. ―Isso simplesmente não

vale a pena o risco ok?‖ Minha voz se rompeu conforme eu pensava na forma que ele tinha dito

que eu era apenas uma garota – eu era ninguém. Não era muito agir como espiã ficar tão triste

com uma coisa tão boba, mas principalmente, eu não queria que minhas amigas ouvissem isso.

―Gente, está tudo bem. Josh não está interessado em mim. Está tudo bem. Eu não sou o tipo de

garota que os garotos gostam. Não é um problema.‖

15

n/t: Ciência social de assuntos municipais

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Eu não estava procurando por elogios, como quando garotas magras dizem que parecem

gordas, ou quando garotas com um cabelo encaracolado maravilhoso dizem como odeiam a

umidade. Claro, existem poucas pessoas que sempre me dizem ―Não diga que você não é bonita‖

e ―É claro que você parece com sua mãe‖, mas eu juro, eu não estava silenciosamente

implorando pra Bex rolar os olhos e dizer, ―Tanto faz! Esse garoto deve ser tão sortudo.‖ Mas ela

fez, e eu estaria mentindo se eu dissesse que isso não melhorou.

―Vamos lá, gente,‖ eu disse, rindo. ―O que? Você acha que ele estava indo me convidar pra

um baile?‖ eu gracejei. ―Ou, ei, minha mãe vai queimar macarrão e queijo para o jantar domingo a

noite, talvez ele possa vir, e ela pode contar a ele sobre a vez que ela pulou de uma varanda de

noventa andares em Hong Kong com um pára-quedas que ela fez com almofadas.‖

Eu olhei para elas. Tentei rir, mas Bex e Liz se entreolharam. Reconheci a expressão que

atravessou seus rostos. Por dias, elas tinham a passado entre ambas como um bilhete sobre a

mesa.

―Vamos lá.‖ Nós caminhamos passando pela casa de bonecas. ―Caso vocês tenham se

esquecido, nós temos coisas melhores pra fazer.‖

Foi quando nós virávamos a esquina, e nós três demos uma parada brusca. Meu maxilar

se tencionou, e meu coração começou a bater forte quando fomos para o domínio do Sr.

Solomon. A sala de aula no Subnível Um não parecia com uma sala de aula — não mais. Ao

invés de escrivaninhas, havia três longas mesas. Ao invés de giz e papel havia caixas de luvas de

borracha. Com as divisórias de vidro fosco e o reluzente chão branco, parecia que tínhamos sido

raptadas por alienígenas e levadas a nave mãe para procedimentos invasivos. (Pessoalmente, eu

estava esperando por uma plástica no nariz.)

Nós estávamos todas juntas, Garotas Gallagher, em fileiras, preparadas para qualquer

desafio que possa passar por aquela porta.

Pouco nós sabíamos que o desafio era o Sr. Solomon carregando três sacos de plásticos

pretos. A visão daquelas dobras monstruosas fez todo o lance do extraterrestre parecer muito

bom. Ele largou um saco em cada uma das três mesas com um pensamento doentio. Então ele

jogou a caixa de luvas em nossa direção.

―Espionagem é um negócio sujo, senhoritas.‖ Ele bateu suas mãos juntas como se

estivesse varrendo fora a poeira da sua antiga vida. ―A maioria das pessoas não quer que vocês

saibam o que elas mandam com o lixo semanal.‖ Ele começou desatando o nó em cima dos

sacos. ―Como elas gastam seu dinheiro? Aonde e o que elas comem? Que tipo de remédios

tomam? Quanto eles amam seus animais?"

Ele agarrou os cantos no fundo do plástico e em seguida puxou, erguendo a sacola em um

movimento fluido que era parte mágico de festas de aniversário e parte executador. O lixo estava

em todo o lugar, irrompendo livremente, ficando em cada centímetro da longa mesa. O cheiro

podre era esmagador, e pela segunda vez em duas semanas, eu pensei que poderia vomitar

dentro dessa sala de aula, mas não Joe Solomon — ele se inclinou mais próximo, ticando a

sujeira.

―Ele é o tipo de pessoa que faz palavras cruzadas com uma caneta?‖ Largou o papel e

pegou um velho envelope que estava coberto com pedaços de casca de ovo. ―O que ela rabisca

quando está no telefone?‖ Finalmente, ele alcançou fundo na pilha de lixo e encontrou um velho

Band-Aid. Ele o segurou em direção à luz, estudando o semicírculo de sangue seco que coloriu o

quadrado da gaze. ―Todas as coisas que uma pessoa toca nos indica algo — peças de quebra-

cabeças da sua vida.‖ Ele largou o curativo de volta pra a pilha e bateu suas mãos juntas.

―Bem vindas à ciência da Garbologia16‖ ele disse com um sorriso.

16

n/t: Garbology - o estudo do material descartado por uma sociedade para saber o que revela sobre os padrões sociais ou culturais

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Quinta de manhã estava chovendo. Todo o dia, as paredes de pedra pareciam infiltrar a

umidade. A pesada tapeçaria e a grande lareira de pedras não parecia à altura de combater o

desafio de combater a pimenta. Dr. Fibs tinha precisado de Liz, Bex e eu para ajudá-lo depois da

escola na Segunda, e nós tínhamos barganhado os dias de Educação no Trânsito com Tina,

Courtney e Eva. Então, ao invés de uma ensolarada tarde Indiana, nós estávamos indo dirigir sob

um céu que combinava com o meu humor. Eu fiquei esperando por Bex e Liz no andar de baixo

nas portas francesas que conduziam ao pórtico. Eu delineei minhas iniciais para a condensação,

mas a água só respingou e correu para baixo do painel.

Nem todo mundo se sentia tão sombrio quanto o dia parecia, contudo, porque quando Liz

apareceu do meu lado ela guinchou, ―Isso é ótimo! Não acredito que nós vamos usar os

limpadores de pára-brisas!‖ Eu acho que quando você é publicada no Scientific American17

quando se tem nove anos, você tem uma idéia distorcida de diversão.

Nossos pés afundaram na grama ensopada conforme atravessamos o gramado em

direção a onde Madame Dabney estava sentada esperando no carro, os faróis já cortando o

cinza, conforme os limpadores de pára-brisas iam de um lado pro outro.

Quinze minutos depois, Madame Dabney estava dizendo, ―Um, Rebecca querida, talvez

você devesse...‖ A voz dela se arrastou, embora, enquanto Bex fez outra curva e acabou no lado

errado da estrada. Poderíamos ter esperado que uma espiã pressionasse o freio de emergência e

derrubar Bex inconsciente com um bem-posicionado baque atrás da cabeça dela, mas Madame

Dabney meramente disse, ―Sim, um direito até aqui, querida… Oh, meu…‖ e agarrou o painel

enquanto Bex atravessou o trânsito.

―Desculpa,‖ Bex gritou, provavelmente para o motorista de caminhão que ela tinha cortado.

―Continuo esquecendo que eles estão ali, não é?‖

A chuva havia parado, mas as rodas faziam um úmido e escorregadio som enquanto

jogavam água no fundo do carro. A janela estava coberta de névoa, e eu não pude ver pra onde

nós estávamos indo, que era uma espécie de benção porque cada vez que eu dava uma olhada

pra o mundo ao nosso redor, eu via outro ano da minha vida passar diante dos meus olhos.

―Talvez devêssemos deixar uma de suas colegas terem a vez?‖ Madame Dabney

finalmente conseguiu dizer enquanto Bex se afastou rapidamente de um caminhão de cimento,

balançou a roda, pulou o freio, e voou através do canto de um parque lotado e para outra rua.

Mas foi quando que eu notei uma coisa estranha. Não somente Bex não estava prestando

atenção aos angustiados gritos de Madame Dabney e as leis que regem o funcionamento de

veículos a motor no país, mas — e aqui está a coisa estranha — Liz não estava pirando!

Liz, que odeia aranhas e se recusa a ir descalça em qualquer lugar. Liz que é

perfeitamente uma boa nadadora, ainda possui seis diferentes tipos de dispositivos de flotação.

Liz, quem uma vez foi para cama sem passar fio-dental e não pôde dormir a noite inteira, estava

sentada calmamente no banco de trás enquanto Bex quase tirou uma lixeira do meio-fio.

―Rebecca, aquilo poderia ter sido um pedestre,‖ Madame Dabney avisou, mas não usou

seu freio de emergência, então agora eu sempre vou me perguntar o que Madame Dabney viu na

França para tornar sua definição de ―emergência‖ tão selvagemmente distorcida.

Foi também quando eu percebi as placas da rua.

―Oh meu Deus!‖ Eu murmurei através dos dentes. Liz estava sorrindo conforme o sinal

anunciava que nós estávamos na North Bellis avançando rapidamente.

―Shhh,‖ disse Liz conforme ela alcançou o bolso da sua bolsa e puxou o controle remoto do

stereo que ela destruiu no seu primeiro dia de volta. ―O que você está fazendo com –―

―Shhh!‖ Ela cortou um olhar preventivo em direção a Madame Dabney. ―Isso vai ser só

uma pequena explosão.‖

Explosão!

17

n/t: Uma revista científica

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Segundos depois um forte estrondo passou como um foguete através do carro. Bex lutou

pelo controle do volante. Eu inalei fumaça e ouvi o barulho lento e sem vida da borracha batendo

contra a calçada.

―Oh, não, Madame Dabney," exclamou Bex em sua voz mais teatral. ―Eu pensei que nós

tínhamos um plano!‖

―Oh, nós temos agora?‖ Eu disse conforme olhei fixamente para Liz, que somente deu de

ombros. Talvez eu devesse pegar de volta minha declaração de apoio por ter amigas gênios.

Amigas normais provavelmente não vão por aí explodindo carros de Educação no Trânsito —

nem, não intencionalmente, de qualquer maneira.

Quando o carro finalmente chegou a parar —você adivinhou— nós estávamos em frente a

casa do Josh.

―Oh, garotas,‖ Madame Dabney abrandou, se virando para ter certeza que Liz e eu ainda

estávamos em nossos corpos originais. ―Estão todas bem?‖ Nós acenamos com a cabeça.

‖Bem,‖ disse Madame Dabney, compondo-se, ―Eu suponho que nós iremos ter que

aprender como mudar um pneu.‖

Claro que Bex e Liz sabiam o que estava por vir. Esse era o todo ponto. Mas Bex ainda

soava surpresa conforme ela gritava, ―Eu vou pegar o reserva!‖

Num flash de velocidade cega ela estava fora do carro e disparando para o porta malas,

enquanto Liz interceptou Madame Dabney.

―Conte-me, madame, o que você acha que causa a maioria dos pneus lisos?‖ Enquanto Liz

arrastava nossa instrutora para inspecionar os danos na parte da frente do carro, eu me encontrei

com Bex na parte de trás.

―O que você está fazendo?‖ Eu exigi.

Mas Bex só sorriu e abriu com esforço o porta malas, revelando uma sacola de lixo

dobrada, igual aquelas que estavam na rua.

―Não podia deixar o meio-fio vazio, agora, podemos?‖

E então eu percebi; por toda a rua Bellis, latas de lixo e sacos plásticos cobriam o meio-fio,

esperando como soldados em permanente atenção.

―Você trocou os dias,‖ eu disse, consternada. ―Você explodiu os pneus. Você...‖ eu parei,

provavelmente porque as próximas palavras da minha boca seriam essas ―Você se importa o

suficiente para fazer isso?‖ ou ―Você está destinada a uma vida de crime.‖ Era uma incerteza, de

qualquer forma.

―Não podemos desistir agora, podemos?‖ disse Bex soando muito Bex. Dramaticamente,

ela puxou a ficha pra fora do porta-malas e levantou uma sobrancelha ―Nós devemos isso para o

seu país.‖

Não, elas achavam que deviam isso pra mim. Eu estou realmente feliz dela não ter dito

isso.

Dentro de segundos, Bex e eu tínhamos tirado o pneu reserva do porta-malas, e Madame

Dabney estava ilustrando os melhores pontos de afrouxamento e arrancamento de porca, mas

tudo que eu podia olhar era pra cima e pra baixo da rua Bellis. E se ele me viu e reconheceu o

carro e os uniformes? Como eu poderia explicar? Deveria ele querer que eu explique? Deveria

ele me ver ou eu deveria ser simplesmente ser ―alguma garota‖? Ou somente ser ―ninguém‖?

―Viajem escolar para D.C.,‖ ela cochichou no meu ouvido, quando ela viu quão tensa eu

estava ―Ele não vai estar de volta até depois das nove.‖

Eu senti soltar meu próprio ar.

"Vocês tem alguma dúvida?" Madame Dabney perguntou enquanto deslizou o macaco

debaixo do carro, e Bex foi colocar o pneu arruinado no porta-malas. Liz e eu sacudimos nossas

cabeças. ―Bem, isso deve funcionar,‖ Madame Dabney disse, batendo suas mãos juntas,

obviamente orgulhosa do seu trabalho manual.

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É, eu pensei, enquanto roubei um último olhar para o bairro à minha volta e vi Bex mandar-

me um rápido polegar. Isso deve funcionar.

Resumo das Operárias de Vigilância: Cameron Morgan, Rebecca Baxter e Elizabeth

Sutton.

Relatório do lixo retirado da casa de Josh Abrams:

Número de rolos de papel toalha vazios: 2.

Preferência da variedade de sopa de conserva: tomate (seguida perto do Creme de

cogumelos Campbell)

Número de potes de Ben & Jerry18 vazios: 3 – dois de biscoito menta e chocolate, um

simples de baunilha. (Quem compra um sorvete simples de baunilha da Ben & Jerry afinal? Existe

desperdício maior?)

Números de catálogos da Pottery Barn19 :14 (Nenhum item marcado ou identificado,

apesar dos travesseiros laváveis Windsor estarem a venda e parecerem uma pechincha.)

―Aonde nós vamos botar o papel toalha de novo?‖ Bex perguntou, olhando ao redor do

nossos pequenos montes. ―São família ou comida?‖

―Depende,‖ disse Liz, se inclinando em direção a ela. ―O que tem nele?‖

Bex deu uma lufada no papel toalha usado na sua mão e disse, ―Molho de espaguete... eu

acho. Ou sangue?‖

―Então, ou eles amam massa ou são uma família de assassinos?‖ eu satirizei.

Bex virou-se e colocou o papel toalha numa das meia dúzias de pilhas que estavam

crescendo em torno de nós, enquanto a pilha original no centro começou lentamente a encolher.

Nós abrimos todas as janelas da suíte, e uma fria e úmida brisa soprou, diminuindo o cheiro do

lixo (um pouco) conforme nós sentamos em uma lona plástica, examinando todas as coisas,

desde tecidos usados até latas de atum vazias.

Se você já se perguntou se alguém é bom para você, eu aconselho a passar por seu lixo.

Realmente. Ninguém parece superior depois disso. Além disso, se o Sr. Solomon estiver certo,

tem respostas aqui – respostas que eu procuro desesperadamente.

Porque ele se ofereceu para caminhar comigo para eu (supostamente) pegar a jaqueta da

minha mãe, e depois se vira e diz pro amigo dele que eu não era ninguém? Ele tem namorada?

Ele teve aquela conversa comigo na rua, então poderia ganhar alguma aposta horrenda com seus

amigos, como eles sempre fazer em filmes adolescentes? Quero dizer, eu sei que passei meus

invernos em uma mansão com um bando de garotas, e meus verões em um rancho em

Nebraska, mas ambos os locais tem filmes, e um monte deles envolvem apostas em que garotas

normais (como eu), são abordadas por garotos realmente fofos (como Josh).

Mas esses garotos não são como Josh, não realmente, ou então eu percebi o quão

profundo nós fomos no seu lixo. Os garotos desses filmes não ajudam suas irmãs com o hino da

quarta série à Amelia Earhart (Academia Gallagher, Classe de 1915). Aqueles garotos não

escrevem notas como uma que tomei a liberdade de colar abaixo:

Mãe, Dillon disse que sua mãe pode me deixar depois da viagem de campo. Então não

espere por minha ligação. Te amo. J

Ele disse para a mãe dele que a ama. Quão bom é isso? Quero dizer, os garotos no

cinema que apostam e as meninas normais (que nunca são realmente normais, só pobremente

assessoradas) e a grande, dramática cena de bailes —aqueles garotos nunca deixariam a suas

mães gentis e delicados bilhetes. E, garotos que deixam bilhetes gentis e delicados se tornam

18

n/t: Marca de sorvete 19

n/t: Uma loja

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homens que deixam bilhetes gentis e delicados. Eu não poderia evitar: eu instantaneamente

imaginei como seria ter um bilhete como esse pra mim algum dia.

Querida, eu posso ter de trabalhar até tarde, então eu posso não estar aí quando você

voltar. Eu espero que tenha tido um grande momento na Coréia do Norte e desarmado bastantes

armas nucleares. Com todo meu amor, Josh.

(Mas isso é só um projeto.)

Eu olhei pra uma embalagem vazia de chicletes – o tipo que deixa os dentes brancos – e

eu tentei lembrar se os dentes dele são extra brancos, ou só branco regular. Branco regular, eu

pensei, então joguei a embalagem em uma pilha do lado de Liz e cavei a pilha de novo. Não

sabendo o que, eu puxei pra fora.

Encontrei um envelope, pequeno e quadrado, com uma caligrafia bonita na frente. Foi

endereçada a família Abrams. Eu nunca vi nada na minha vida endereçada a família Morgan. Nós

nunca fomos convidados para festas. Claro, eu lembro uma vez ou duas quando minha mãe e

meu pai vestiram-se e me deixaram com a babá, mas até naquele momento eu sabia que ela

tinha um minúsculo gravador na imitação de diamante dela e os botões da camisa dele continham

cabos que poderiam atravessar por cinquenta jardas e deixar uma pessoa descer de rapel de um

lado de uma construção se ele realmente quisesse. (Quando você pensa sobre isso, não é uma

surpresa nós não sermos mais convidados muito.)

Eu estava apenas começando a imaginar como seria ter um outro tipo de família, quando

ouvi um sinistro, ―Oh-oh.‖

Me virei pra olhar para Liz, que estava segurando um pedaço de papel em direção a Bex.

Ela teve que passar para Bex primeiro, eu percebi em terror. Josh tinha apenas seis meses

de vida! Ele está tomando drogas que vão prepará-lo para uma operação de mudança de sexo!

Sua família inteira está se mudando para o Alasca!

Foi pior.

―Cam‖, Bex disse, sua voz me preparando para o pior. ―Liz encontrou uma coisa que você

provavelmente deveria ver.‖

―Provavelmente não é nada,‖ Liz adicionou, forçando um sorriso enquanto Bex segurava

um pedaço de papel rosa dobrado. Alguém tinha escrito ―JOSH‖ numa tinta azul com floreios,

ornando um tipo de caligrafia que ninguém na Academia Gallagher nunca pareceu capaz de

dominar — afinal, se você tem química orgânica, criptografia avançada, e conversação Swahili20

como dever de casa toda noite, você não vai gastar muito tempo aprendendo como fazer pingos

nos I's com pequenos corações.

―Lê pra mim,‖ eu disse.

―Não...‖ Liz começou. ―É provavelmente—―

―Liz!‖ Eu guinchei.

Mas Bex já tinha começado. ―Querido Josh. Foi ótimo te ver no carnaval. Eu me diverti

também. Deveríamos fazer isso de novo outras vezes. Com amor, DeeDee.‖

Bex tinha feito seu melhor para o bilhete soar sem sentido, adicionando muitas pausas

desnecessárias e inflexões aborrecidas. Mas não houve qualquer dúvida de que essa DeeDee

era uma pessoa que tinha muito sentido. Afinal, eu não escrevo notas num papel rosa com a letra

fantasiosa. Eu nem sequer tenho meu próprio papel rosa. Papel comestível sim — mas papel

rosa lindo— sem chances! Então lá estava ele, a prova em preto-e-branco (oh, bem...rosa e azul,

mas você sabe o que eu quero dizer), que eu estava oficialmente fora da minha liga. Que eu

realmente não era ninguém.

Liz deve ter lido minha expressão, porque ela pulou para dizer, ―Isso não significa nada,

Cam. Isso está no lixo!‖ Ela virou-se para Bex. ―Isso tem que significar alguma coisa, certo?‖

20

n/t: língua indígena

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E foi quando eu não pude ignorar isso mais: a verdade universal que, apesar da nossa

educação de elite e QI de gênio, nós não conhecíamos garotos. DeeDee, com seu papel rosa e

sua habilidade de fazer um grande e esbaforido J, poderia saber o significado de um garoto como

Josh colocar seu perfeito bilhete rosa no lixo, mas não tínhamos certeza. O garoto dos meus

sonhos pode ter estado tão perto quanto a cidade de Roseville — somente a duas milhas, oitenta

câmeras de segurança, e uma grande cerca de pedra de distância, mas ele e eu nunca iríamos

falar a mesma língua (O que é totalmente irônico, já que ―garoto‖ era uma linguagem na minha

escola que nunca tentaram me ensinar.)

―Tudo bem, Liz,‖ eu disse suavemente. ―Nós sabíamos que era um risco. É—‖

―Espere!‖ Eu senti a mão de Bex agarrar meu punho. ―Conte-me o que você disse a ele de

novo.‖ Ela leu minha expressão vazia. ―Naquela noite?‖ solicitou. ―Quando você disse pra ele que

tinha aulas em casa.‖

―Ele perguntou se eu tinha aulas em casa, e eu disse que sim.‖

―E qual razão você deu?‖

―Para...‖ Eu comecei, mas minha voz parou conforme eu olhava pra pilha de papéis que

tinha ficado entre nós ―Motivos religiosos.‖

Havia um programa da Assembléia Batista de Livre Arbítrio de Roseville, um folheto da

Igreja Metodista Unida de Roseville, e um punhado de outras. Ou Josh estava colecionando

folhetos de igrejas para algum tipo de caça bizarra a Igreja Batista de Livre Arbítrio de Roseville,

ou ele esteve ocupado ido para escolas dominicais e reuniões jovens de Terça à noite por uma

razão inteiramente diferente.

―Ele está procurando por você, Cam,‖ disse Bex, irradiando alegria, como se ela tivesse

feito o primeiro passo para a quebra de um código definitivo.

Silêncio caiu sob nós. Meu coração começou a bater forte no meu peito. Bex e Liz

estavam olhando pra mim, mas eu não poderia colocar meu olhar longe do que tínhamos

encontrado – da esperança que tinha se espalhado pelo nosso chão. Acho que foi por isso que

não notamos a porta se abrindo, acho que foi por isso que nós pulamos quando ouvimos Macey

McHenry dizer ―Então, qual o nome dele?‖

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Capítulo Doze

―Eu não sei do que você está falando,‖ rebati, rápido demais para a mentira fazer algum

bem. Aqui está uma coisa sobre mentir: uma parte de você tem que querer dizer isso — mesmo

que seja um sinistro pedacinho que viva na parte mais escura e negra da sua mente. Você tem

que querer que seja verdadeira.

Eu acho que eu não o fiz.

―Oh, qual é,‖ Macey disse com um rolar de olhos. ―Faz... o que? Duas semanas?‖ Eu

estava chocada. Macey ergueu a cabeça e perguntou, ―Você está na segunda fase já?‖

Existiam livros inteiros na biblioteca da Academia Gallagher sobre independência feminina

e como nós não devíamos deixar homens nos distrair de nossas missões, mas tudo que eu pude

fazer era olhar para Macey McHenry e dizer, ―Você acha que eu poderia chegar a segunda fase?‖

Eu odiava admitir, mas era provavelmente um dos maiores cumprimentos que eu recebi

em toda minha inteira vida.

Mas Macey apenas rolou os olhos e disse, ―Esqueça o que perguntei,‖ enquanto se ela se

voltou para a pilha de lixo e, sem surpresa, desviou seu nariz perfeito e disse, ―Isso é

repugnante!‖ Depois ela olhou para mim. ―Isso é ruim.‖

Deixei para Bex manter sua calma e dizer, ―Nós temos tido dever de casa de CoveOps,

Macey.‖

Até eu quase acreditei que o que nós estávamos fazendo era perfeitamente inocente.

Macey olhou para baixo para nossos montes, examinando a cena como se fosse a coisa

mais excitante que ela tenha visto por meses, o que absolutamente, possivelmente não podia ser

verdade, desde que eu sabia por um fato que a classe dela estava no laboratório de física,

quando o Sr. Fibs foi atacado pelas abelhas que ele pensara ter modificado geneticamente para

obedecer comandos de uma voz. (Acontece que elas só respondem a voz de James Earl Jones.)

―O nome dele é Josh,‖ eu disse finalmente.

―Cammie!‖ Liz exclamou, como se ela não conseguisse acreditar que eu estava dando tal

sensiva informação ao inimigo.

Mas Macey apenas repetiu ―Josh,‖ como se testasse a verdade.

―É,‖ eu disse. ―Eu conheci ele quando nós tivemos uma missão na cidade, e... bem...‖

―Agora você não consegue parar de pensar nele... Você sempre quer saber o que ele está

fazendo... Você mataria para saber se ele está pensando em você...‖ Macey falou, como um

doutor citando sintomas.

―Sim!‖ eu exclamei. ―É exaaaaaatamente isso!‖

Ela encolheu os ombros. ―Isso é ruim, criança.‖

Ela era apenas três meses mais velha do que eu, então eu totalmente poderia ter ficado

zangada sobre o lance da ―criança‖, mas eu não podia ficar zangada com ela — não agora. Eu

não estava exatamente certa do que estava acontecendo, mas uma coisa estava ficando óbvia:

Macey McHenry tinha informações que eu desesperadamente precisava.

―Ele me disse que eu tinha uma gata sortuda,‖ eu disse. ―O que isso significa?‖

―Você não tem um gato.‖

―Tecnicamente.‖ Eu varri aquele fato para longe. ―Então, o que isso significa?‖

―Soa como se ele quisesse ir com calma... Que ele pode gostar de você, e quer manter as

opções dele abertas em caso que você decida que não gosta dele, ou ele decida que não goste

de você.‖

―Mas depois eu o vi na rua, e o ouvi por acaso ele dizer a um amigo que eu era ‗ninguém‘.

Porém ele tinha sido muito legal e—‖

―Oh, você tem estado ocupada.‖

―Ele age muito bem, mas baseado no que ele disse ao amigo—‖

―Espere.‖ Macey me parou. ―Ele disse isso a um amigo? Outro garoto?‖

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―Sim.‖

―E você acreditou nele?‖ Ela rolou os olhos. ―Rumor total. Pode ser postura, pode ser

marcação de território, pode ser vergonha por gostar da nova garota estranha — estou

assumindo que ele pensa que você é uma garota estranha?‖

―Ele acha que eu sou ensinada em casa por motivos religiosos.‖

―É,‖ ela disse, acenando como se fosse a resposta suficiente. ―Eu diria que você ainda tem

uma chance.‖

OH. MEU. DEUS. Era como se as nuvens cinza da tempestade tivessem se partido e

Macey McHenry fosse o sol, trazendo sabedoria e verdade para escuridão eterna. (Ou algo muito

menos melodramático.)

Apenas no caso de você ter perdido meu ponto: Macey McHenry sabe sobre garotos!!

Claro, isso não deveria ter sido uma enorme e colossal surpresa, mas eu não pude evitar; eu

estava rastejando aos pés dela, adorando o altar do delineador, sutiãs de enchimento, e festas de

garotos e garotas sem supervisão paterna.

Até Liz disse, ―Isso é incrível.‖

―Você tem que me ajudar,‖ eu declarei.

―Ooooh, sinto muito. Não é o meu setor.‖

Claro que não era. Estava claro que Macey McHenry era quem fazia esperar, não quem

esperava. Ela não podia entender a vida lá fora, olhando pela janela em um lugar que ela nunca

conheceu. Então eu pensei sobre as horas que ela gastou olhando para o longe no silêncio

daqueles fones de ouvido e se perguntou, ou poderia?

Diante de mim estava ali uma pessoa que era capaz de quebrar o código do cromossomo

Y, e eu não iria deixar ela se safar assim tão fácil.

―Vamos lá!‖ eu falei.

―É, bem diga a isso a alguém que não é a mascote esquisita da sétima-esquisita-série!‖ Ela

deslizou para sua cama e cruzou as pernas. ―Então há apenas uma maneira de eu vir a me

importar sobre seus problemas com garotos.‖

Funcione cérebro, funcione, eu apressei minha mente, mas era como um carro preso na

lama.

―Eu irei sair da classe de novatas,‖ disse Macey. ―E você irá me ajudar.‖

Eu realmente não gostei do som disso, mas eu continuei controlada para perguntar, ―O que

há para mim?‖

―Para começar, eu não tenho um conversa com nossa amiga Jessica Borden sobre uma

viagem de manhã cedo ao laboratório com uma velha garrafa de Dr Pepper, ou uma viagem de

tarde da noite fora do terreno, onde alguém voltou para casa com folhas no cabelo.‖ Ela sorriu

para Liz. ―Um certo incidente na Educação no Trânsito.‖

Pela primeira vez, eu não duvidei que Macey McHenry era uma Garota Gallagher também.

Os olhares que Liz e Bex estavam me dando diziam que elas concordavam.

―Você sabia que a mãe de Jessica é uma administradora?‖ Macey falou, sua voz gotejando

com sarcasmo. ―Veja, Jessica mencionou esse fato para mim aproximadamente cento e

cinquenta vezes até agora e—‖

―Ok, basta,‖ eu disse, parando ela. ―O que mais eu ganho?‖

―Uma alma gêmea.‖

―Senhoritas, esse é um negócio de alianças,‖ Sr. Solomon disse conforme parou em frente

da nossa classe na manhã seguinte. ―Você pode não gostar dessas pessoas. Você pode odiar

essas pessoas. Essas pessoas podem representar tudo que você odeia, mas tudo que importa é

uma coisa, senhoritas — um fio de comunalidade para formar um vínculo em nossas vidas.‖ Ele

girou de volta para sua mesa. ―Para fazer um aliado.‖

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Então era isso que eu tinha com Macey —uma aliança. Nós não éramos amigas; não

éramos inimigas. Eu não estava exatamente planejando passar o fim de semana de Quatro de

Julho na casa dela no Hamptons, mas eu estava sendo legal assim mesmo.

Quando a hora do almoço chegou, Macey deslizou na nossa mesa, e eu me apertei para o

que iria acontecer. Se os Comunistas e Capitalistas podiam lutar juntos para derrubar os

Nazistas... eu disse a mim mesma. Se Spike podia lutar lado a lado com Buffy para livrar o mundo

de demônios... Se limão podia juntar as forças com o cal para criar algo tão delicioso e

refrescante quanto Sprite, então eu certamente poderia trabalhar ao lado de Macey McHenry pela

causa do amor verdadeiro!

Ela estava sentada ao meu lado. Ela estava comendo torta. Eu tive que olhar de novo.

Macey estava comendo torta?! E então ela falou, mas eu não pude ouvir sobre ruído de um

debate próximo (em Coreano) sobre se Jason Bourne poderia interpretar James Bond, e se

importava se ou era Sean Connery Bond ou Pierce Brosnan Bond.

―Você disse alguma coisa, Macey?‖ eu perguntei, mas ela me lançou um olhar que poderia

matar. Ela alcançou em sua bolsa, abriu um pedaço de Papel-evaporador, e escreveu:

Podemos estudar hoje à noite? (Diga a alguém, e eu vou te matar enquanto dorme!)

―Sete horas?‖ eu perguntei. Ela assentiu. Nós tínhamos um encontro.

A torta tinha parecido muito boa, então eu me levantei para pegar uma, e quando o fiz,

lancei um olhar para a Vogue que Macey esteve lendo, mas eu não poderia aprender muito sobre

moda, porque as notas de química orgânica de Macey estavam pregadas dentro, cobrindo a

saudação a seda desse mês.

Sentada no chão de nossa suíte naquela noite com o dever de Macey disperso a nossa

volta, eu não estava realmente certa sobre como essa aliança de negócios deveria funcionar.

Felizmente, Liz tinha dado a ela alguma atenção.

―Você pode começar por explicar o que isso significa.‖ Ela segurou o bilhete de DeeDee no

rosto de Macey.

―Eca!‖ Macey exclamou, virando sua cabeça e segurando o nariz conforme empurrou o

papel longe.

Mas o que faltava de força em Liz, ela compensava com persistência. Ela empurrou o

bilhete de volta na direção de Macey apesar da reclamação dela, ―Eu pensei que você tinha se

livrado de todo aquele lixo!‖

―Bem, não isso. Isso é uma prova,‖ disse Liz, declarando o que, na cabeça dela, era o

óbvio.

―Ugh! Grossa.‖

Eu vi Bex mudar de posição. Ela esteve fazendo um trabalho melhor que o normal de nos

ignorar, mas eu soube que todos os sensores dela estavam em alerta máximo. Seus olhos nunca

deixavam o caderno, mas ela viu tudo. (Bex é super detetive nesse sentido.)

―O que isso significa?‖ Liz perguntou de novo, se movendo mais perto e perto de Macey

McHenry, nossa nova professora de garotos.

Macey olhou de volta para seu caderno, e deve ter chegado a conclusão que tinha

estudado o suficiente por uma noite, porque ela jogou suas notas de lado. Marchou para sua

cama, lançou um olhar para o fragmento de papel mais uma vez, depois deixou cair no chão.

―Significa que ele está sendo buscado.‖ Ela acenou com a cabeça para mim. ―Boa

escolha.‖

―Mas ele gosta dela também?‖ Liz quis saber. ―Essa garota DeeDee?‖

Macey deu de ombros e se espalho em sua cama. ―É difícil de dizer.‖

Foi quando Liz puxou um caderno que eu vira ela carregando por aí na semana passada.

Pensei que era para um projeto extra — pouco eu sabia que era o nosso projeto extra. Ela jogou

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a capa aberta com baque, e uma centena de pedaços de papel amarrotaram com o repentino

sopro do ar. Eu olhei para o cabeçalho de cada pedaço enquanto Liz saqueava por eles. ―Veja...‖

Ela apontou para uma porção destacada de uma página. ―... nesse e-mail ele usou a palavra

‗mano‘ em referência ao seu amigo Dillon. Como em, eu cito, ‗calma, mano. Tudo vai ficar bem. ‘

Ele não tem um irmão. O que é essa coisa dos garotos que os fazem se referir entre eles dessa

maneira? Eu não chamo Cam ou Bex de mana. Por quê?‖ ela exigiu, como se a vida dela

dependesse do entendimento desse fato. ―POR QUÊ?‖

É, foi quando Macey McHenry olhou para Liz como se ela fosse retardada. De todas as

coisas loucas que eu vi nesse negócio, essa foi a maior.

Macey ergueu sua cabeça e disse, ―Você é o gênio?‖

Logo, Bex estava em pé da cama e se movendo em direção de Macey. As coisas estavam

prestes a ficar ruins — realmente ruins. Mas a pobre Liz não estava magoada pelo que Macey

tinha dito. Na verdade, apenas olhou para ela e disse, ―Eu sei — certo!‖ como se ela também

estivesse indignada.

Bex parou. Eu exalei. E eventualmente Liz balançou sua cabeça espantando as questões

não-respondidas da cabeça dela — algo que eu devo ter visto ela fazer milhões de vezes. Foi

quando eu soube que garotos eram apenas outro assunto para Liz — outro código que ela tinha

que quebrar. Eventualmente, ela abaixou no chão e disse, ―Eu tenho que fazer um mapa.‖

―Veja.‖ Macey pareceu desistir enquanto ela se ajeitou na cama. ―Se ele é do tipo

sentimental, então isso significa que ele não se importa com ela. Se ele não é, ele pode gostar

dela — ou não pode.‖ Ela se inclinou mais perto, precisando que nós entendêssemos. ―Você pode

analisar ou teorizar — ou seja lá o que for — mas sério, que bem você acha que irá fazer? Você

está aqui. Ele está lá fora. E não há nada que eu possa fazer sobre isso.‖

―Oh,‖ disse Bex, falando pela primeira vez. ―Não é a sua área de especialização, de

qualquer jeito.‖ Eu vi a mente dela agitada. Ela parecia com uma garota em uma missão enquanto

ela andou adiante. ―É nossa.‖

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Capítulo Treze

Espiãs são sábias. Espiãs são fortes. Mas, acima de tudo, espiãs são pacientes.

Nós esperamos duas semanas. DUAS SEMANAS! Você sabe quanto é isso no tempo de

uma garota de quinze anos? Muito. MUITO, muito. Eu estava realmente começando a simpatizar

com todas aquelas mulheres que falam de relógios biológicos. Quero dizer, eu sei que o meu

ainda tem um monte de ticks21 ainda, mas ainda consigo pensar e me preocupar com a Operação

Josh, a cada minuto disponível — e isso porque estávamos em uma escola de espiãs gênios,

onde minutos disponíveis não são exatamente comuns. Só posso imaginar o sofrimento de uma

garota indo para uma escola normal. Já que ela provavelmente não vai gastar suas noites de

sábado ajudando a melhor amiga dela a quebrar os códigos que protegem os satélites espiões do

Estados Unidos. (Liz sempre divide o crédito extra que recebe do Sr. Mosckowitz comigo — o

prêmio em dinheiro oferecido pela ASN, ela guarda).

Nós estávamos na exploração padrão clássica, recolhendo informação, construindo seu

perfil e minha lenda, passando nosso tempo, até que tínhamos o que precisávamos para ir.

Duas semanas disso. DUAS SEMANAS! (Só no caso de você ter perdido isso antes)

Então, como com todos os bons operários disfarçados, nós captamos uma falha.

Terça feira, 1 de Outubro. O Sujeito recebeu um e-mail de Dillon, pseudônimo ―D‘man‖

perguntando se O Sujeito gostaria de uma carona para o treino. O Sujeito respondeu, dizendo

que iria andando pra casa —que ele precisava devolver alguns vídeos no ―Aj‘s‖ (estabelecimento

localizado na praça que é especializado em aluguel de filmes e vídeo games).

Eu olhei pra o e-mail, enquanto Bex o deslizou na mesa de café da manhã, na minha

frente.

―Esta noite,‖ ela sussurrou ―Nós estamos dentro.‖

Durante a classe de CoveOps eu honestamente não podia escrever rápido o suficiente.

Joe Solomon é um gênio, eu pensei, me perguntando por que eu nunca percebi isso antes.

―Aprendam suas lendas cedo. Aprendam-nas bem.‖ Ele advertiu conforme se inclinava

mais, pegando a parte de trás da cadeira do professor que eu nunca o vi sentar. ―A segunda

divisão leva você a recordar algumas coisas que sua identidade disfarçada saberia, é na segunda

divisão que pessoas muito más podem fazer coisas muito más.‖

Minha mão estava tremendo. As marcas de lápis estavam em todos os lugares da página

— tipo como no tempo que eu peguei um lápis para usar na classe do Dr. Fibs, só que ele acabou

não sendo um simples lápis, mas sim um protótipo de um novo auto-tradutor de código Morse.

(Desnecessário dizer, eu ainda não me recuperei totalmente da culpa de apontar aquilo.)

―Acima de tudo, se lembrem que entrar em disfarce secreto não significa se aproximar do

sujeito.‖ Sr Solomon olhou para nós. ―Significa colocar-se numa posição onde o sujeito aproxima-

se de você.‖

Eu não sei sobre garotas normais, mas quando você é uma espiã, se vestir para sair pode

ser algo de uma produção. (Posso apenas dizer graças a Deus pelo velcro — sério — não me

admira que a Academia Gallagher tenha inventado essa coisa).

21

n/t: Ticks, você sabe, o barulhinho do ponteiro

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"Eu ainda acho que devíamos ter colocado o cabelo para cima," disse Liz. ―Parece

glamoroso.‖

―Sim‖, Macey zombou. ―Porque muitas garotas vão por glamour quando saem na Praça de

Roseville.‖

Ela tinha um ponto.

Pessoalmente, eu não ligava que era ironia, uma vez que fosse meu cabelo e tudo. Mas eu

tinha muitas outras coisas na minha cabeça — não a menor delas era o arsenal de itens que Bex

tinha espalhando na cama em minha frente — não que eu pudesse realmente ver tudo muito bem

— porque Macey estava fazendo minha maquiagem e ficava me dizendo para ―olhar para cima‖

ou ―olhar para baixo‖ ou ―segure perfeitamente imóvel.‖

Quando ela não estava latindo exigências, estava falando coisas como, ―Fale, mas não

muito. Ria, mas não muito alto.‖ E, o meu favorito ―Se ele é mais baixo que você, curve-se.‖

Então Bex assumiu. ―Vamos falar sobre os papéis de bolso22.‖ (Não é uma frase que você

ouve todos os dias a menos que você seja... bem... nós.)

―Você não tem dezesseis, então RG não é um problema. Mas ainda temos que sustentar

sua identidade falsa.‖ Ela virou-se e começou a explorar os itens sobre a cama. ―Tome isso‖,

disse ela, arremessando uma embalagem de chiclete em minha direção. Era a mesma marca que

nós pegamos do lixo de Josh. ―Para exibir gostos comuns e ajudar com toda a coisa de hálito.‖

Bex explorou a cama de novo. ―O que me dizem, com bolsa ou sem bolsa?‖ ela perguntou,

voltando-se novamente para o grupo.

―Ela deveria definitivamente levar uma bolsa,‖ disse Macey, e Bex concordou. Eu não podia

acreditar! Macey e Bex estavam se unindo... Sobre acessórios! Milagres nunca cessam?

Bex puxou uma bolsa fora da cama e abriu. ―Recibo de ingresso de cinema — se ele

perguntar quanto você gostou, basta dizer que sim, mas você não comprou o final.‖ Ela largou o

minúsculo pedaço de papel na bolsa e pegou outro item. ―Binóculos. Você não precisa deles para

hoje à noite, claro, mas não vai machucar ter eles.‖ Ela soltou mais um item dentro de nosso

pacote de mentiras, então terminou com uma caneta O Que Jesus Faria?, e depois fechou a

bolsa com um sorriso auto-satisfatório.

Eu não tinha idéia de como Bex tinha encontrado todas essas coisas, e para dizer a

verdade, eu não queria saber. Mas enquanto eu olhava pra todas as coisas que eu estava

supostamente levando e pensando sobre coisas que eu supostamente sabia, eu tinha de

perguntar: Será que todas as garotas passam por isso? Toda garota vai em um encontro em um

disfarce secreto?

―E, não se esqueça…‖

Olhei para cima para ver uma cruz prata balançando para frente e para trás em sua

corrente.

―Está quebrada,‖ eu disse a Bex. ―Não tem funcionado desde que a água do tanque a

molhou; e você ainda não consegue pegar o sinal por causa dos jammers23.‖

―Cammie,‖ Bex disse, suspirando. ―Cammie, Cammie, Cammie... esta é a sua lenda.‖ A

cruz continuava batendo ―É como você é acessorizada.‖

Eu sabia que ela estava certa. Assim que eu atravessei a cerca, eu tinha que parar de ser

eu e começar a ser outra pessoa —a garota ensinada em casa que usou aquele colar e...

―Você tem que estar brincando!‖ Eu soltei, mas era tarde demais, Liz tinha aparecido na

porta, segurando Onyx.

E eu pensei que esse negócio de garoto era difícil antes de eu ter que esfregar um gato

pelo meu corpo par dar a ilusão ‗coberta de pêlo‘ de uma amante de felinos.

22

n/t: Pocket litter - materiais, incluindo notas de recados, rascunhos no papel, que se acumula em um indivíduo do bolso. Cartões de identidade

etc. 23

n/t: Um dispositivo que é usado é para bloquear a recepção ou efetuamento de ligações de celulares. Quando usado, ele efetivamente desativa

o celular. É usado em certos locais que não querem a utilização de celular, que exigem silêncio e tal

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Todos estes anos eu pensava que ser uma espiã era desafiador. Acontece que, ser uma

garota é a parte difícil.

Elas andaram comigo até o andar de baixo até as mais distantes passagens secretas.

―Você checou sua lanterna?‖ Liz perguntou do jeito como Vovó Morgan sempre diz ―Você tem o

seu bilhete?‖ sempre que me levava ao aeroporto. Era gentil. Eu queria que elas pudessem ir

comigo, mas isso é algo que cada espiã aprende no início do jogo — não importa o modo como o

seu time é qualificado, chegará um momento em que você tem que ir sozinha.

Conforme nós andamos, Macey disse, ―Eu ainda não entendo como você vai sair e voltar

sem ser pega.‖

Ela pareceu genuinamente confusa, mas eu não estava. Algum dia, eu devia escrever um

livro sobre a mansão. Provavelmente poderia fazer uma fortuna vendendo cópias a novatas,

partilhando truques de como você pode agitar levemente a porta do armário do zelador, a oeste

escadas e, em seguida, deslizar pra baixo, para todo o caminho para a copa. (Como você volta é

com você.) Outro bom é o painel de madeira no patamar da escada de pedra na antiga capela.

Se você apertar três vezes, ele irá abrir, e a partir daí, você tem acesso a todos os quartos no Hall

Norte. (Eu só não recomendo isso, se você estiver qualquer medo de aranhas.)

―Você verá, Macey,‖ eu disse a ela enquanto viramos para descer um longo corredor de

pedra, em direção a antiga tapeçaria de cor de rubi que pendia na fria parede de pedra. Eu olhei

para a árvore da família Gallagher, e então para Macey. Ela não estudou as gerações, não

encontrou o seu próprio nome lá ou fez perguntas, ela disse ―Você parece bem,‖ e eu quase

desmaiei pelo choque de um elogio tão grande.

Eu puxei o tapete de lado e comecei a escorregar, quando Bex disse, ―Arrebente!‖

Eu já estava dentro quando Liz gritou atrás de mim, ―Mas não literalmente!‖

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Capítulo Catorze

Eu não sei como eu as deixei me convencer a isso. Bem, eu sei, mas você nunca vai me

ouvir admitir isso em voz alta. Esgueirar-se afora pelo terreno do colégio era uma coisa — isso

era meramente uma questão de memorizar as áreas de varredura das câmeras, saber dos pontos

cegos dos guardas, e se evadir dos detectores de movimentos nos muros do lado sul. Mas usar

sapatos que faziam a escapada infinitamente mais difícil era algo de que eu nunca ficaria

orgulhosa. Claro, as botas pretas de Macey alongaram minhas pernas e me deram um ar das As

Três Espiãs, mas no momento eu estava em posição em um banco na esquina da praça, meus

pés estavam doloridos, meus tornozelos tinham se torcido, e meus nervos estavam à toda.

Para minha sorte, eu tinha algum tempo para me recompor. Muito. Tempo.

Aqui está o que você precisa saber sobre vigilância: é entediante. Claro, às vezes nós

explodimos coisas e pulamos de construções e/ou trens em movimento. Porém na maior parte do

tempo nós apenas vagamos por aí, esperando que algo aconteça (um fato que quase nunca

funciona como nos filmes); então eu poderia ter me sentido bem boba se fosse uma garota

normal e não uma agente alta e secretamente treinada enquanto me sentei naquele banco,

tentando agir normalmente quando, por definição, eu sou qualquer coisa menos isso.

17:35 horas (isso é cinco e trinta e cinco da tarde): A Operária se moveu em posição.

18:00 horas: A Operária estava desejando que tenha trazido algo para comer porque ela

não poderia deixar sua posição para comprar um chocolate, muito menos ir ao banheiro.

18:30 horas: A Operária percebe que é quase impossível parecer bonita e/ou sedutora se

você precisa SERIAMENTE ir fazer xixi.

Meu dever de casa para aquela noite consistia em cinquenta páginas de A Arte da Guerra,

cujo precisava de tradução para Árabe, um cartão de crédito — modificador de impressões

digitais que exigiam perfeição para o Dr. Fibs, e Madame Dabney tem deixado pegadas de testes

no fim de Cultura e Assimilação. Ainda, ali eu estava esfregando meu tornozelo inchado e

pensando que eu realmente deveria estar ganhando crédito extra em CoveOps por isso.

Eu olhei para o meu relógio novamente: sete e quarenta e cinco. Ok, eu pensei, eu darei a

ele até as oito e depois...

―Oi,‖ eu ouvi de atrás de mim.

Oh, Jesus- Oh, Jesus. Eu não podia me virar. Oh cara, eu tinha que me virar.

―Cammie?‖ ele disse de novo como se fosse uma pergunta.

Eu podia ter dito oi de volta em catorze idiomas diferentes (e isso não inclui Latim). E ainda

assim eu estava sem palavras enquanto ele veio e parou na minha frente.

―Hum... Oh... Hum...‖

―Josh,‖ ele disse, apontando para si mesmo como se pensasse que eu tinha esquecido.

Quão encantador é isso? Eu sei que não sou nenhum expert em garotos, mas ouvi

palestras inteiras sobre leitura de língua corporal, e tenho que dizer que assumir que uma pessoa

tenha esquecido seu nome é bem alto na minha lista de ―indicadores de humildade‖. (não que eu

tenha uma, mas eu totalmente tenho um ponto inicial agora).

―Oi.‖

Eu disse em Inglês, não é? Não foi Árabe ou Francês? Oh, por favor, Deus no céu, não o

deixe pensar que eu sou uma estudante de intercâmbio... ou pior, uma garota que sabe, tipo, três

palavras em um idioma estrangeiro e sai por aí usando-as todo o tempo para provar quão

inteligente/culta/geralmente melhor que qualquer outra pessoa.

―Eu vi você sentada aqui,‖ ele disse. Ok parece que nós estávamos bem no negócio do

Inglês. ―Eu não tenho visto você muito ultimamente.‖

―Ah.‖ Eu atirei. ―Eu estava na Mongólia.‖

Nota para si mesma: aprender a ser menos extremamente mentirosa.

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―Com o Corpo da Paz,‖ eu disse devagar. ―Meus pais são grandes nisso. Foi quando eles

começaram o negócio do ensino em casa,‖ eu falei, relembrando minha lenda, sentindo o

momento.

―Wow. Isso é tão legal,‖ ele disse.

―É?‖ eu perguntei, pensando se ele estava falando sério. Mas ele estava sorrindo, então eu

falei, ―Ah, claro. É sim.‖

Ele deslizou no banco ao meu lado. ―Então você viveu, tipo, em muitos lugares?‖

Eu viajei um pouco, mas eu na verdade apenas vivi em três lugares: um rancho em

Nebraska, uma escola pra gênios, e uma casa em D.C. Felizmente, eu sou uma mentirosa

excelente com uma lenda bem meticulosa. Quatro anos de aulas de PDM inundaram na minha

cabeça, e eu fui para algum dos destaques.

―Tailândia é realmente bonita.‖

―Wow.‖

Então eu me lembrei do conselho de Macey de não ser mais legal do que ele. ―Foi há muito

tempo,‖ eu disse. ―Não foi grande coisa.‖

―Mas você vive aqui agora?‖

O Sujeito gosta de declarar o óbvio, o que pode significar um defeito nas habilidades de

observação e/ou memória de curto prazo?

―Sim.‖ Eu assenti. E então tudo ficou silencioso — dolorosamente silencioso. ―Estou

esperando minha mãe,‖ eu proferi, me lembrando na minha história secreta. ―Ela faz um curso à

noite... na biblioteca.‖ Eu gesticulei para a construção de tijolos vermelhos do outro lado da rua.

―E eu gosto de vir à cidade com ela porque eu não saio muito, graças a minha educação não-

tradicional.‖

O Sujeito tem olhos realmente azuis que cintilam quando ele olha para alguém como se

ela fosse um pouco louca.

Depois de um longo espaço de silêncio bem estranho, ele se levantou e disse, ―Eu tenho

que ir.‖ Eu quis implorar a ele pra não ir, mas até eu soube que pareceria um pouco desespero

demais. Ele foi embora, e eu não soube como pará-lo (bem, eu sabia, mas vários dos

movimentos que eu tinha em mente eram realmente apenas legal durante os tempos de guerra).

―Ei,‖ ele disse, ―qual é o seu sobrenome?‖

―Solomon,‖ eu soltei.

Eca! Uma grande parcela do meu salário governante futuro irá algum dia ser gasto

tentando entender porque eu escolhi aquele nome nesse momento, mas já estava lá e eu não

podia retirar.

―Você está, tipo, na lista?‖

Lista? Que lista?

Ele riu e se aproximou. ―Posso te ligar?‖ ele perguntou, lendo a confusão no meu rosto.

Josh estava perguntando se ele podia me ligar! Ele queria meu número de telefone! O que isso

significava — verdadeira e irrevogavelmente significava — eu não sabia. Mas senti muito segura

em descartar a possibilidade de que ele pensava que eu era ―ninguém.‖ Ainda assim, isso não

mudava o fato que o último telefone que eu usei se dobrava em uma arma (então por motivos

óbvios eu provavelmente não deveria dar a ele o número desse).

Eu disse, ―Não.‖ Mas a coisa mais impressionante aconteceu: Josh pareceu totalmente

desapontado! Era como se eu tivesse atropelado o cachorrinho dele (contudo nenhum

cachorrinho de verdade foi prejudicado na formação dessa metáfora).

Eu estava chocada. Estava impressionada. Estava embriagada de poder!

―Não!‖ eu disse de novo. ―Não, ‗não você não pode me ligar.‘ Digo, ‗não, você não pode me

ligar.‘‖ Então, vendo a confusão dele, eu adicionei, ―Existem regras rígidas na minha casa.‖ Não

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era mentira.

Ele assentiu, fingindo entendimento, então perguntou, ―E que tal e-mail?‖

Eu neguei com a cabeça.

―Entendo.‖

―Eu voltarei aqui amanhã,‖ soltei, parando a trajetória dele. ―Minha mãe, ela tem curso de

novo. Eu...‖

―Ok.‖ Ele assentiu depois se virou para ir. ―Talvez eu te veja por aí.‖

―O que isso deve significar?‖ eu gritei para Macey, embora não fosse culpa dela. Digo, se

um garoto fica todo pretensioso e desapontado porque você não deu a ele seu número de

telefone e depois você diz a ele que você estará em um lugar designado em uma hora designada

- portanto eliminando a necessidade do número do telefone - e ele diz ―talvez‖ ele te encontra lá?

Isso é motivo pra gritar — não é?

―Talvez?‖ Eu gritei novamente, o que pode ter sido repetitivo desde que eu tinha todo o

caminho de volta para a escola para chiar nas palavras dele, e minhas colegas de quarto estavam

ouvindo pela primeira vez.

Liz estava usando a mesma expressão que ela usa sempre que Dr. Fibs nos diz que nós

precisaremos de nossas máscaras de gás para a aula — partes iguais de medo e euforia. Macey

estava fazendo suas unhas, e Bex estava fazendo ioga no canto do quarto.

A maioria das pessoas se acalmam com uma respiração profunda e reflexão interior — Bex

não. ―Eu poderia levá-lo,‖ ela ofereceu, e ela não estava se torcendo como um pretzel nessa hora,

eu poderia ter me preocupado mais sobre isso. Afinal, ela sabia onde ele morava.

―Bem...‖ Liz gaguejou. ―Eu suponho que você terá apenas que ir, e se ele aparecer,

significa que ele gosta de você.‖

―Errado,‖ Macey disse, fazendo um zumbido conforme deslizou um livro. ―Se ele for,

significa que ele está curioso —ou entediado— mas provavelmente curioso.‖

―Mas quando nós vamos saber se ele gosta dela?‖ Liz pretextou.

Macey rolou seus grandes, azuis e lindos olhos. ―Essa não é a questão,‖ ela disse, como

se fosse a coisa mais óbvia no mundo. ―A questão é — quanto?‖

Não há fim para as coisas que temos que aprender?

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Capítulo Quinze

Treinamento espião não é algo que você pode ligar e desligar. Nós comemos, dormimos, e

respiramos essa coisa. Isso tem se tornado tanto parte do meu DNA quanto cabelos brilhantes e

uma fraqueza por M&M‘s. Eu sabia que provavelmente vai sem dizer, mas antes que eu te conte

o que vem em seguida, eu pensei que era melhor eu recordar.

Afinal, imagine que você é uma garota de quinze anos parada sozinha em uma rua deserta

em uma noite escura, se preparando para um encontro clandestino, quando, de repente, você

não pode ver nada porque um par de mãos está cobrindo seus olhos. Um segundo você está

parada ali, sendo grata que você se lembrou de pegar um chocolate, e depois... POW... tudo fica

preto.

Bem, foi o que aconteceu. Mas eu entrei em pânico? De jeito nenhum. Eu fiz o que eu fui

treinada para fazer — eu agarrei o braço molestador, desloquei meu peso, e usei a força do meu

momento de ataque contra ele.

Foi rápido. Realmente rápido. Assustador, mãos letais e rápidas.

Eu sou tão boa, eu pensei, até o ponto quando olhei para baixo e vi Josh deitado nos meus

pés, o fôlego fora dele.

―Oh meu Deus! Eu sinto muito!‖ Eu exclamei e me agachei. ―Eu sinto muito. Você está

bem? Por favor, esteja bem.‖

―Cammie?‖ ele resmungou. Sua voz soou fraca, e eu pensei, É isso. Eu matei o único

homem que eu poderia algum dia amar, e agora eu estou prestes a ver sua confissão de leito de

morte. Eu me inclinei próximo a ele. Meu cabelo caiu em sua boca aberta. Ele engasgou.

Então... É... No meu primeiro pseudo-encontro, eu não apenas ataquei fisicamente minha

possível alma gêmea, mas também o fiz engasgar — literalmente.

Eu empurrei meu cabelo atrás das orelhas e ajoelhei ao lado dele. (A propósito, se você

algum dia quis sentir o abdômen de um garoto, essa é uma técnica bem boa — porque pareceu

perfeitamente natural para eu colocar minhas mãos no estômago e no peito dele.) ―Oh. O que é

isso?‖

―Faz uma coisa por mim?‖

―Qualquer coisa!‖ Eu me agachei mais, não querendo perder uma única e preciosa palavra.

―Por favor, nunca conte a nenhum dos meus amigos sobre isso.‖

Ele sorriu, e o alívio inundou meu corpo.

Ele acha que eu conhecerei os amigos dele! Eu pensei — depois me perguntei O que isso

significa?

O Sujeito demonstra incrível força física, e foi exibida pela sua habilidade de se recuperar

rapidamente depois de uma queda dura no asfalto. O Sujeito é também espantosamente pesado.

Eu ajudei Josh se levantar e se limpar.

―Wow!‖ ele disse. ―Aonde você aprendeu a fazer isso?‖

Eu dei de ombros, tentando imaginar como Cammie, a garota ensinada em casa que tinha

uma gata chamada Suzie responderia. ―Minha mãe disse que uma garota precisa saber como se

cuidar.‖ O que não é mentira.

Ele esfregou a nuca. ―Eu sinto pelo seu pai.‖

Balas não podiam ter me atingido mais. Mas então eu percebi que ele não estava

retirando, se esquivando, tentando meter o pé pela boca. Ele apenas olhou para mim e sorriu.

Pela primeira vez em muito tempo, quando pensei sobre meu pai, eu me senti sorrindo, também.

―Ele diz ser bem durão, mas acho que ela pode derrubá-lo.‖

―Tal mãe, tal filha, hein?‖

Ele não fazia idéia do incrível elogio que ele acabara de me dar — e o negócio era: ele

nunca saberia.

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―Você pode... tipo...‖ Ele estava gesticulando a cidade à nossa volta. ―... dar uma volta ou

algo assim?‖

―Claro.‖

Nós descemos a rua. Para uma garota que tenha sido descrita como uma artista

pavimentar, eu estava um pouco surpresa em quão difícil era andar quando você na verdade está

tentando ser vista.

Após alguns minutos de ouvir nossos pés na rua, eu percebi algo. Conversa. Não devia

haver conversa? Eu procurei pela minha mente por algo — qualquer coisa — para dizer, mas

continuavam vindo coisas como ―Então, e aqueles detonadores controlados por satélite com

alcance de vinte milhas?‖ Ou, ―Você já leu a nova tradução de A Arte da Guerra? Porque eu

prefiro o dialeto original...‖ Eu meio que desejei que ele me acusasse de novo, ou puxasse uma

faca ou começasse a falar em Japonês ou alguma coisa... Contudo ele não o fez, então eu não

sabia o que fazer. Ele andou. Então eu andei. Ele sorriu, eu sorri de volta. Ele virou uma esquina

(sem usar a técnica Strembesky de detectar um alvo, o que foi um desleixo dele), e eu segui.

Nós viramos outra esquina, e eu soube da minha aula de Educação no Trânsito que havia

um parquinho logo acima.

―Eu quebrei meu braço ali,‖ ele disse, apontando para as barras24 .Depois ele corou. ―Foi

um verdadeiro estrondo — corpos por toda parte — você devia ter visto o outro garoto.‖

Eu sorri. ―Oh, parece selvagem.‖

―Tão selvagem quanto qualquer coisa em Roseville algum dia pode ser.‖ Ele riu, e depois

chutou uma pedra com a ponta do sapato. Ela quicou pela rua vaga até uma sarjeta vazia. ―Minha

mãe pirou totalmente. Ela estava gritando e tentando me arrastar para o carro.‖ Ele riu alto,

depois correu uma mão pelo cabelo ondulado. ―Ela é um pouco protetora.‖

―É,‖ eu disse, sorrindo. ―Eu conheço o tipo.‖

―Não,‖ ele falou. ―Sua mãe deve ser legal. Digo, eu não posso imaginar vendo os lugares

que você já viu. Tudo que minha mãe faz é cozinhar o tempo todo, sabe? Como se um tipo de

torta não fosse suficiente. Não. Ela tem que fazer três tipos diferentes, e...‖ A voz dele falhou

enquanto ele olhou pra mim. ―Aposto que sua mãe não faz isso.‖

―Ah, sim ela faz!‖ Eu disse rapidamente. ―Ela é realmente boa nessa coisa toda.‖

―Você quer dizer, que eu não sou o único filho que tem que sentar entre oito tipos de

comida?‖

―Ah, você ta brincando?‖ Eu disse. ―Nós fazemos isso o tempo todo!‖ (Se oito tipos pode

ser definido como cinco Cocas Diet e três Twinkles.)

―Sério? Eu pensei que com o Corpo da Paz e...‖

―Ah, não, você ta brincando? Eles fazem grande parte da hora da família e‖ —eu pensei de

volta na enorme pilha de catálogos da Pottery Barn— ―decoração.‖

―Sim!‖ ele disse. ―Eu sei. Você sabe como eles decidem na véspera, que você precisa de

cortinas novas no seu quarto... Como cortinas lisas não estão recebendo bem, e agora você

precisa de cortinas listradas?‖

Cortinas lisas? Cortinas listradas? Que tipo de sociedade eu me meti? Eu deveria estar

ganhando crédito extra em PDM por isso! Nós andamos mais, descendo uma curva com

gramados tratados e canteiros de flores perfeitas que não podiam possivelmente estar

meramente a milhas dos muros Gallagher. Eu estava tendo uma excursão infiltrada atrás da

cerca de estacas. Eu estava indo onde nenhuma Garota Gallagher (bem, pelos menos essa

Garota Gallagher) esteve antes — em uma família Americana normal.

―Isso é legal. É uma noite... agradável.‖ E era. O ar estava fresco, mas não frio, e apenas

uma leve poeira de nuvens difundia-se no céu estrelado.

―Então como era?‖ ele intrometeu-se. Como era o quê? ―Mongólia? Tailândia? Deve ser 24

n/t: Monkey Bars. Aquele brinquedo de se pendurar,

http://www.forparkaust.com.au/images/210507/FitnessTrack/large/FT34%20%20Arched%20Monkey%20Bars.jpg

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como...‖

―Outro mundo,‖ eu disse. E era verdade —era de outro mundo— um que estava

espantadoramente perto do dele.

Então ele fez a coisa mais legal. Nós estávamos parados debaixo de um poste, e ele disse,

―Espere. Você tem um...‖ E então ele alcançou e limpou minha bochecha com seu dedo. ―Cílio.‖

Ele o segurou em frente de mim. ―Faça um desejo.‖

Mas naquele momento, não havia nada que eu quisesse.

Eu não sei o quanto nós vagamos pelas ruas de Roseville, porque, pela primeira vez em

anos, eu perdi a noção do tempo.

―Mas eu acho que você não tem professores malucos,‖ ele falou, depois de terminar uma

história sobre seu treinador psicopata.

―Oh, você ficaria surpreso.‖

―Me conte algo sobre você,‖ Josh estava me instigando. ―Eu te contei tudo sobre minha

mãe querer ser Martha Stewart, minha irmã infantil e meu pai.‖

―Como o que?‖ perguntei, pirando, como se fosse provavelmente evidente o silêncio da

minha mente.

―Qualquer coisa. Qual é sua cor favorita? Qual a sua banda favorita?‖ Ele apontou para

mim conforme pulou o meio-fio e virou a rua. ―Qual é sua coisa preferida para comer quando está

doente?‖

Quão grande é essa pergunta? Digo, minha vida toda eu passei respondendo perguntas —

umas difíceis, também— mas aquela parecia especialmente reveladora.

―Waffles,‖ eu disse, subitamente atônita quando percebi que era verdade.

―Eu também!‖ Josh disse. ―Elas são muito melhores que panquecas, o que minha mãe diz

ser loucura porque é a mesma batida, mas eu digo a ela que é uma—‖

―Textura diferente,‖ nós dissemos exatamente no mesmo momento.

AH MEU DEUS! Ele entende o lance das panquecas versos waffles! Ele entende!

Ele estava sorrindo. Eu estava derretendo.

―Quando é o seu aniversário?‖ Ele me atirou a questão como um dardo.

―Um...‖ O segundo que você leva para lembrar algo que deve saber sobre seu disfarce, é o

segundo que leva para pessoas más fazerem coisas más. ―Dezenove de Novembro,‖ soltei por

nenhum razão aparente; a data apenas aterrissou na minha cabeça como uma pedra.

―Qual é o seu sorvete favorito?‖

―Biscoito de Chocolate e Menta,‖ eu disse, me lembrando que era o que nós encontramos

no lixo dele.

A expressão dele se iluminou. ―Eu também!‖ Fantasia. ―Você tem irmãos e irmãs?‖

―Irmãs,‖ eu respondi instintivamente. ―Eu tenho irmãs.‖

―O que o seu pai faz? Quando ele não está por aí salvando o mundo?‖

―Ele é um engenheiro. Ele é maravilhoso.‖

Eu nem mesmo pausei antes de dizer isso. As palavras estavam fora, e eu não queria

retirá-las. De todas as mentiras que eu contei nessa noite, essa era a única coisa que eu soube

que não teria que tentar de me lembrar. Meu pai é severo, mas ele me ama. Ele cuida de mim e

de minha mãe. Quando eu chegar em casa — ele vai estar lá.

E ele realmente salvou o mundo — muitas vezes.

Eu olhei para Josh, quem não duvidou de mim. E eu soube que naquele momento, naquele

lugar, de alguma maneira, tudo isso era verdade. Eu soube daquele ponto em diante, a lenda

viveria.

―Mas não é um negócio de família, contudo. Certo?‖ Josh perguntou.

Eu balancei minha cabeça, sabendo que era uma mentira.

―Bom,‖ falou Josh. ―Fique feliz que você não tem alguém fungando no seu pescoço para

seguir os passos do seu velho.‖ Ele chutou uma pedra. ―O que é aquilo que eles chamam —você

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sabe, na Bíblia— sobre como nós podemos fazer qualquer coisa que queremos?‖

―Livre arbítrio,‖ eu disse.

―É.‖ Josh assentiu. ―Fique feliz por ter livre arbítrio.‖

―Por quê? O que você tem?‖

Nós alcançamos a esquina de uma quadra em que eu nunca muita tinha prestado atenção

antes. Josh apontou para a placa acima de uma fileira de janelas escuras — FARMÁCIA

ABRAMS E FILHO, PROPRIEDADE DA FAMÍLIA DESDE 1938.

E então eu soube por que nós fazíamos campo de trabalho. Claro que eu sabia que o pai

de Josh era o farmacêutico da cidade. Mas os arquivos do computador e os registros de impostos

não nos disse como Josh reagiria àquele lugar. Eles não me prepararam para fitar seus olhos

quando disse, ―Eu não tenho realmente uma escapatória. Eu só... Isso me mantém longe daqui

depois da escola.‖

Algo na maneira que ele falou isso me disse que era algo que ele não tinha contado a mais

ninguém, mas eu não era alguém que os amigos dele conheciam. Eu não era alguém que

deixaria isso escapar para os pais dele. Eu era ninguém.

―Eu acho que há alguma pressão para eu seguir os passos do meu pai também,‖ eu admiti.

―Sério?‖

Eu assenti incapaz de dizer algo mais, porque a verdade era, eu não sabia aonde esses

passos levavam. Eu não tinha esse tipo de informação.

O relógio na torre sobre a biblioteca bateu dez horas, e eu soube que bem podia ser meia-

noite, e eu bem podia ter sido Cinderela.

―Eu tenho que...‖ eu me movi em direção a biblioteca (e, além dela, os muros altos da

minha casa). ―Eu não posso... Eu tenho que... Eu sinto muito.‖

―Espere.‖ Ele agarrou meu braço (mas no sentido bom). ―Você tem uma identidade secreta,

não tem?‖ Ele riu. ―Qual é. Você pode me contar. Você é filha ilegítima da Mulher Maravilha?

Sério, está tudo bem. Eu não ligo — desde que seu pai não seja o Aquaman, porque, para te

dizer a verdade, eu sempre senti uma vibração de superioridade vinda dele.‖

―É sério,‖ eu disse entre risos. ―Eu tenho que ir.‖

―Mas quem irá ter certeza que eu chegarei em casa a salvo? Essas ruas são escuras e

perigosas.‖ Do outro lado da quadra, um grupo de idosas estava deixando o cinema. ―Veja, eu

não estou seguro aqui fora sozinho.‖

―Ah, eu acho que você sobreviverá.‖

―Eu te verei amanhã?‖ O tom brincalhão tinha ido embora. Se ele não tivesse me

segurando eu poderia ter desmaiado — sério. Ele era tão gentil, forte e sexy.

Sim, meu coração chorou, mas meu cérebro falou de um meio-termo bioquímico, a leitura

de sete capítulos de PDM, e duas semanas de aula de relatórios laboratoriais para o Dr. Fibs.

Às vezes eu realmente odeio meu cérebro.

Mas acima de tudo, eu ouvi a voz do Sr. Solomon, e ela me dizia que uma boa espiã

sempre varia suas rotinas. O pessoal na Academia Gallagher podia não perceber uma garota

desviada duas noites de uma fila — mas três já seria abusar da minha sorte, e eu sabia disso.

―Eu sinto muito.‖ Eu me esquivei dele. ―Eu nunca sei quando minha mãe tem aulas ou

quando eu virei. Nós vivemos por aí no país, e eu não posso dirigir ainda, então... Eu sinto muito.‖

―Eu verei você por aí, então? Você sabe, por dicas de auto-defesa e coisas assim?‖

―Eu...‖ gaguejei, sabendo que eu finalmente cheguei a beira do precipício, e teria que

decidir se a queda valia a pena.

Eu frequento a melhor escola do país. Eu posso falar em catorze idiomas, mas eu não

consigo falar com esse garoto? Quão bom é um gênio? Por que se incomodam em nos ensinar

coisas que sabemos? Qual é o uso em...

E então eu vi.

Me virei para Josh. ―Você gosta de filmes de espiões?‖

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Ele olhou para mim, depois murmurou, ―Hum... claro.‖

―Bem...‖ Eu me movi lentamente pra um gazebo, que era muito Americana. Muito A Noviça

Rebelde. Muito Gilmore Girls. Mas a coisa realmente importante sobre o gazebo de Roseville não

era que ele tinha lindas luzes brilhantes. Não, muito melhor — era as pedras soltas saltando da

base dele. (PSI (para sua informação, na maior parte, espiãs adoram pedras soltas.)

―Eu vi um filme,‖ eu disse, estimulando-me. ―Era um filme antigo... em preto-e-branco... e

uma garota queria se comunicar com um garoto, mas eles não podiam, porque era perigoso

demais.‖

―Por que? Porque ele era um espião?‖

Ele? Às vezes o sexismo nesse país me surpreende, mas então eu me lembrei que a

tendência da sociedade a subestimar mulheres é uma das maiores arma das Garotas Gallagher,

e eu me consolei por me lembrar em como levou menos de dois segundos para eu deixar Josh

achatado e duro no asfalto.

―Sim,‖ eu disse. ―Ele era um espião.‖

―Legal.‖ Ele assentiu.

―Você pode me deixar bilhetes ali.‖ Eu removi uma pedra, revelando uma pequena abertura

na argamassa. ―E apenas recoloque a pedra para trás, assim eu saberei que há um bilhete.‖ Eu

deslizei a pedra de maneira que o lado pintado ficou para dentro. O efeito era de um pedaço cinza

de lousa em uma jazida cor de neve. ―E quando eu deixar um bilhete, eu irei virar do outro jeito.

Entende?‖ eu disse, sentindo talvez um pouco orgulhosa demais de mim mesma. ―Nós

costumávamos fazer isso o tempo todo... na Mongólia.‖

Ela não sabe que tem uma coisinha chamada e-mail? Eu o imaginei se perguntando.

Mensagem Instantânea? Celulares? Até latas de sardinhas amarradas com barbante

provavelmente pareciam alta-tecnologia comparada ao que eu estava propondo. Ou ele pensou

que eu estava louca ou vim de um experimento muito bizarro onde eles congelam pessoas por

décadas, mesmo que eu saiba de fato que essa tecnologia não saiu da fase prototípica ainda.

Ele me fitou como se eu fosse louca, então eu disse, ―Você está certo. É idiota.‖ Me virei.

―Eu tenho que ir. Foi...‖

―Cammie.‖ A palavra me parou. ―Você não é uma garota normal, é?‖

Ok, então talvez Josh seja bem esperto também.

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Capítulo Dezesseis

Resumo de Comunicação Em 18 de Outubro, durante um exercício de rotinha de

Educação no Trânsito, As Operárias perceberam que o ―sinal de cheio‖ estava marcado (em

outras palavras, a pedra estava virada) no lugar designado a carta. Então a Agente Morgan fingiu

uma dor de estômago quando todas as outras estavam envolvidas em uma maratona de Gilmore

Girls e foi adquirir o seguinte:

Ok, então se o seu pai não é o Aquaman, ele é o Flash?

Tradução: Por favor, pense que eu sou engraçado, porque minha auto-estima está

bastante baixa, e o humor pode ser tudo que eu tenho. (Tradução feita por Macey McHenry.)

Depois de uma breve resposta da Operária, O Sujeito escreveu de volta na semana

seguinte: Hoje minha professora lojista me deu detenção por não lixar propriamente uma casa de

passarinhos. Depois meu pai me disse que eu deveria começar a ajudá-lo na farmácia duas

noites por semana, e eu tive que provar cada um. Foi uma tortura. Como foi seu dia?

Tradução: Eu me sinto muito confortável em dividir coisas contigo porque você está

separada da minha normal e mundana vida. Deixar esses bilhetes e ter encontros clandestinos é

emocionante. Ter um relacionamento contigo é novo e único, e eu estou aproveitando isso.

(Tradução feita por Macey McHenry, com assistência de Elizabeth Sutton.)

As Operárias tomaram essa mensagem como um sinal positivo e totalmente esperam que

O Sujeito continue a comunicação. Um nível de confiança pareceu ser construído, e As Operárias

sentem como se O Sujeito possa estar pronto para ser chamado para agir. O Sujeito está fazendo

um excelente progresso.

Depois elas receberam o seguinte:

Isso é loucura. Você sabe disso, certo?

Tradução: Enquanto eu aproveito a liberação temporária da normalidade que esse

relacionamento fornece, eu posso ver que isso é impraticável a longo prazo. Contudo, eu estou

disposto a ver aonde chega. (Tradução feita por Macey McHenry.)

Seguindo essa comunicação, As Operárias sabiam que era importante avançar lentamente

na condição para trazer O Sujeito para um ritmo manejável. Elas concordam que qualquer

referência a datas, ações, e qualquer tipo de eventos formais devem ser adiados indefinidamente.

Outra semana se passou antes das Operárias receberem seu mais significante pedaço de

comunicação até a data:

Existe alguma qualquer chance de você poder vir ao cinema nesta Sexta? Eu sei que você

pode não ser permitida, mas eu estarei aqui (no seu lugar) às sete se você puder.

Tradução: NÓS ESTAMOS DENTRO!! (Tradução feita por Cameron Morgan e verificada

por Macey McHenry.)

Nós tínhamos um lugar! Nós tínhamos um encontro — para o cinema!

Minha euforia durou da hora que eu peguei o bilhete e todo o caminho através do nossa

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reunião habitual na suíte. Pela manhã seguinte, contudo, eu não estava pensando como uma

garota—eu estava pensando como uma espiã.

E se filmes fosse o passatempo favorito dos caras no Departamento de Manutenção

Gallagher? Ou, e se o filme fosse bruto e eu ficasse com náusea e vomitasse Milk Duds25 por

toda parte?

MILK DUDS! E se eu ficasse com caramelo nos meus dentes e tivesse que ir caçar em

volta algo para tirar? Simplesmente não há nenhuma maneira atraente de fazer isso! O que eu

vou fazer — só comer pipoca? Mas então a mesma coisa pode acontecer com os pequenos

miolos!

Oh meu Deus! Eu tive um teste de Química Orgânica e um exame de Suaíli Conversional,

mas ambos pareciam com brincadeira de criança, comparado ao dilema em mãos — direto até

que Macey se juntou a nós na nossa mesa do almoço e disse, ―Junior Mints.‖

Junior Mints — é claro! Diversão de menta e chocolate sem nenhum perigoso efeito

colateral. Eu retiro tudo o que eu algum dia disse sobre ela em minha vida. MACEY McHENRY É

UM GÊNIO!

Liz estava fitando o bilhete, comparando-o contra os outros que ela já tinha passado pelo

laboratório para ver se a composição química do papel ou da tinta poderia nos dizer alguma

coisa. (E disse—ele faz compras no Wal-Mart.)

―Perceba como ele inclina o C em cinema,‖ Liz disse, segurando o bilhete em nossa

direção. ―Eu acho que me lembro de ter lido que isso mostra uma tendência de...‖

Mas uma tendência ao que, nós nunca descobrimos, porque no exato momento as mesas

de almoço do segundo ano ficaram quietas de um jeito que só poderia significar uma coisa.

―Olá, senhoritas,‖ disse Joe Solomon, mas não antes de eu agarrar subitamente o pedaço

de papel e abarrotá-lo na minha boca, o que normalmente teria sido realmente uma boa manobra

espiã exceto que Josh não usa Papel-evaporador.

―Como está a lasanha?‖ Sr. Solomon perguntou, e eu comecei a dizer algo antes de me

lembrar que minha boca estava... bem... diferentemente ocupada.

―A feira de carreiras da Academia Gallagher é nessa Sexta à noite,‖ falou Sr. Solomon.

Minhas colegas de quarto e eu nos entreolhamos — a exata mesma coisa atravessando nossas

mentes — essa Sexta à noite! ―Aqui está uma lista de agências e firmas que serão

representadas.‖ Ele jogou uma pilha de folhetos na longa mesa. ―Uma grande chance para ver o

que tem por aí — especialmente para aquelas que não irão comigo ao Subnível Dois.‖

Ok, eu admitirei. Essa parte me fez engolir um pouco de papel.

Depois que o Sr. Solomon saiu, eu cuspi o que havia sobrado do bilhete de Josh (o que

felizmente incluiu toda a escrita) e o encarei e o brilhante panfleto, que anunciava uma chance

para eu projetar o andamento do resto da minha vida. Eu não estava com fome mais.

O dia da carreira na escola espiã é provavelmente como os dias da carreira em escolas

normais exceto... bem... nós provavelmente temos muito mais convidados que chegam de

descendo rapel de helicópteros pretos. (Os caras do Álcool Tabaco e Armas de Fogo sempre

foram meio que metidos.)

Os corredores estavam cheios de mesas dobráveis e cartazes extravagantes, (percorra

TODO O CAMINHO COM ANS — quem pensa nessa coisa?) Toda sala de aula tinha um

escoteiro empoleirado em uma mesa preta, assistindo em admiração enquanto nós passávamos

por nossas rotinas. Até Proteção e Aplicação estava rastreada com espiãs —literalmente—

enquanto nós nos espalhamos no celeiro e mostramos nossa letalidade total para os recrutas.

―Não arranque minha cabeça!‖ Liz gritou.

25

n/t: Milk Duds é um doce do Hershey‘s, de chocolate e caramelo

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Eu não estava certa se ela estava falando sobre o chute circular que tinha acabado de

passar a polegadas do nariz dela ou do fato que Bex estava se recusando a considerar a adiação

do meu grande encontro. Em todo caso, eu estava bem certa que nós provavelmente não

deveríamos estar tendo aquela conversa em um palheiro cheio de atuais e futuros agentes

governamentais.

A luz cascateava através das clarabóias. Andorinhas aninhadas nos caibros acima. E a um

metro de distância, Tina Walters estava mostrando a um agente do FBI como nós aprendemos a

matar um homem com um pedaço de espaguete cru.

―Gente!‖ eu soltei.

Um apito soou, nos dizendo que era hora de deslocar de posição, então Bex veio parar

atrás de mim. Enquanto ela envolveu seus braços em volta do meu pescoço, ela sussurrou em

meu ouvido, ―Corredores lotados. Toneladas de pessoas. Ninguém sentirá sua falta — não A

Camaleoa.‖

Eu a arremessei sobre minhas costas e lancei-lhe um olhar enquanto ela caiu espalhada

no tapete sob mim.

―Eu acho que você tem que cancelar,‖ Liz disse enquanto me atacava. Eu deslizei de lado

e a larguei com gosto no tapete perto de Bex. Ela se escorou nos cotovelos e sussurrou, ―Essa é

uma oportunidade para as Garotas Gallagher de hoje de decidir como elas se tornarão as

Mulheres Gallagher de amanhã.‖ (Ou então foi o que lemos no panfleto.)

Eu estava começando a me sentir no controle da situação, quando a perna de Bex se

colocou rapidamente em volta, me pegando de guarda baixa, e me derrubando no topo da pilha.

―É, como se Cammie não soubesse o que ela será quando crescer.‖

Antes que eu pudesse responder, nós vimos um homem andando em nossa direção, então

nós nos colocamos sobre nossos pés. Ele não era alto ou baixo; ele não era bonito ou feio. Ele

era o tipo de pessoa que você pode ver uma dúzia de vezes e nunca se lembrar, e com apenas

uma lançada de olhar eu soube que ele era um artista pavimentar—eu soube que ele era como

eu.

―Muito bom,‖ o homem disse. Não houve fala de quanto tempo ele esteve naquele celeiro

lotado, assistindo. ―Vocês são segundanistas, está certo?‖

Havia um exagero extra no passo de Bex enquanto ela se aproximou em direção dele.

―Sim, senhor,‖ ela disse, sua voz cheia de insolência.

―E vocês todas estão estudando Operações Secretas?‖ ele perguntou com um lance de

olhar para Liz, quem tinha de alguma maneira que tinha de algum modo pegado seu cabelo

emaranhado no cadarço dos meus sapatos.

―Só neste semestre‖, disse Liz, soando totalmente aliviada.

―No próximo semestre podemos nos especializar, se quisermos,‖ Bex se tornou mais claro.

―Mas muitas de nós continuam o treinamento para trabalho de campo.‖

Eu tinha certeza que ela estava ficando pronta sair da conversa para como ela teve que ser

a vigia de seu pai uma vez, quando ele tirou umas armas de um vendedor em um mercado ao ar

livre, no Cairo, mas o homem não deu chance a ela.

―Bem‖, disse ele. ―Eu vou deixar vocês voltarem para a sua prática.‖ Ele colocou as mãos

nos seus bolsos e sorriu. Quando ele se virou para ir embora, eu não acho que ele tinha me visto

de qualquer modo, até que ele lançou um olhar na minha direção e balançou a cabeça. ―Sra.

Morgan.‖ Se ele tivesse um chapéu teria o tirado.

Do outro lado da sala, a Sra. Hancock explodiu novamente seu apito e gritou, "Circulando,

garotas. Vamos mostrar para nossos convidados como jogamos pedra, papel e tesoura. ―

Bex piscou os olhos pra mim e enrolou uma cópia da Vogue de outubro que ela tinha pegado

emprestado de Macey.

Eu senti pena de quem quer que fosse chamasse pedras e tesouras.

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Operação Divide e Conquista A operação, que aconteceu na sexta-feira à noite, 29 de

outubro era uma base de quatro homens com três agentes de exploração em uma segura

varredura padrão em toda Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais. As Operárias

reservas estavam atribuídas a uma porção do campus principal, e quando perguntadas onde

estava a Agente Morgan, As Operárias responderiam ―Eu não sei‖ ou ―Eu só a vi ali na frente‖

muito embora apontando para uma direção generalizada.

Se fossem perguntadas mais diretamente sobre a localização da Agente Morgan, As

Operárias iriam exclamar: ―Você só a perdeu!‖ e então andar rapidamente para longe.

Eu segui Bex e Macey através dos corredores. Sons ressaltaram do piso de madeira e

paredes de pedra conforme as novatas babavam pelo Sr. Solomon - como recrutas da CIA, e um

bando da sétima série faziam ―Ooh‖ e ―Aah‖ sobre o último satélite alimentador da Segurança

Nacional. (Então é assim o que o quarto do Brad Pitt parece...)

Bex estava totalmente certa. Eu já vi a Academia Gallagher em estado de caos organizado

antes, mas nunca a tinha visto tão viva. O ar estava cheio de alguma coisa (e não apenas os

gases que tinham escapado dos laboratórios quando alguém da Interpol fica muito perto de um

dos projetos classificados do Dr. Fibs).

―Ok,‖ Bex disse-me sob o seu hálito. ―Arrebente.‖

Eu olhei fixamente pra Macey. ―Você vai ficar bem,‖ disse ela, e eu comecei a sentir muito

bem. Então ela terminou. ―Só não seja uma idiota.‖

Eu me virei para um corredor vazio, deixando os sons do nosso futuro atrás de mim, e senti

algo diferente se aproximar. Eu alcancei a tapeçaria e gatilho atrás dela, quando eu parei

congelada ao som do meu nome.

―Você deve ser Cameron Morgan.‖

O homem passeou por mim, tinha um terno escuro, cabelo escuro, e os olhos tão negros

que poderiam ficar completamente perdidos na noite.

―E para onde você está correndo?‖ o homem perguntou.

―Ah, eles precisavam de mais guardanapos na mesa de refrescos.‖ (Se você concorda ou

discorda das minhas ações, você tem que admitir que a minha habilidade de mentir estava

totalmente ficando melhor)

Ele riu. ―Oh, criança, não sabe que alguém com o seu pedigree nunca deveria ter de ir

buscar os guardanapos?‖ Eu o encarei sem expressão, incapaz de sorrir, até que ele estendeu

sua mão. ―Sou Max Edwards. Eu conhecia seu pai.‖

Claro que ele conhecia. Eu conheci uma meia dúzia de homens como Max Edwards já

nesse dia – homens com histórias, homens com segredos – todos querendo querer puxar-me de

lado e pegar um pedacinho do meu pai de mim. Mesmo sem Josh esperando por mim no fim do

túnel, eu acho que posso ter tido sensação de ir para o outro lado.

―Estou com a Interpol agora.‖ disse Max Edwards, me examinando. ―Sei que você é um

legado da CIA e tudo, mas isso não é motivo para não dar ao resto de nós um tiro, hein?‖

―Não, senhor.‖

―Já começou o treinamento de CoveOps?‖

―Sim, senhor, com a classe de introdução.‖

―Bom. Bom. Estou certo que Joe Solomon está muito satisfeito em ensinar você,‖ disse ele,

dando pancadinhas sobre meus ombros, enfatizando a palavra de uma forma que eu não entendi.

Então ele inclinou-se mais perto e sussurrou: ―Eu vou dar-lhe alguns conselhos, Cammie. Nem

todos podem viver esta vida, você sabe. Nem todo mundo tem isso no seu sangue, o estresse, o

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risco, o sacrifício.‖ Ele chegou em seu bolso e puxou um cartão com um número de telefone e no

centro e sozinho em um plano de fundo branco. ―Me ligue a qualquer hora. Você vai sempre ter

um lugar com a gente.‖

Ele me bateu de novo no ombro e saiu, seus passos ecoando embaixo do corredor de

pedra vazio. Eu o assisti virando a esquina; então contei até dez e escorreguei por trás da

tapeçaria. Na metade do caminho debaixo do túnel, eu parei e mudei minhas roupas. Eu nunca vi

aquele cartão de novo.

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Capítulo Dezessete

Eu sei que em filmes de espiãs é bem legal quando a operária troca de um uniforme de

camareira para um vestido rodado sexy e colado no tempo decorrente que leva para um elevador

subir três andares. Bem, eu não sei como é isso pra espiãs da TV, mas eu posso te dizer que

mesmo com Velcro, a arte da troca rápida é uma que deve se ter muita prática (sem mencionar

iluminação melhor do que uma que é como tentar achar um túnel que uma vez foi parte de uma

ferrovia subterrânea).

É provavelmente por isso que eu entrei em pânico quando vi o estranho olhar do rosto de

Josh quando ele me viu fora do gazebo. Ou minha blusa estava aberta, minha saia estava

emperrada em minha roupa de baixo, ou algo ainda mais mortificante. Eu congelei.

―Você está...‖

Eu tenho batom nos meus dentes. Meu cabelo está cheio de teias de aranha. Estou

usando dois tipos diferentes de sapato e meus reservas estavam a duas milhas inteiras de

distância!

―...incrível.‖

Eu nunca tinha me sentido menos invisível em minha vida. Eu esqueci sobre Bex e Macey

e seus corpos lindos, Liz e seus maravilhosos cabelos louros. Até minha mãe tinha sumido da

minha mente enquanto eu me vi pelos olhos de Josh. Pela primeira vez em muito tempo eu não

queria desaparecer.

Então eu me lembrei que era minha vez de dizer alguma coisa. Ele usava uma jaqueta de

couro e calças cáqui que tinham um tipo de abarrotamento que me fez pensar sobre os homens

da Marinha, que estavam provavelmente fazendo uma demonstração na piscina da Academia

Gallagher a qualquer momento, então eu disse, ―Você está bem... limpo.‖

―È.‖ Ele arregaçou seu colarinho. ―Minha mãe descobriu e... bem... vamos apenas dizer

que você esteve perto de ter que usar uma flor no punho26.‖ Ele segurou dois dedos separados, e

eu me lembrei de uma vez quando meu pai deu a minha mãe um buquê — é claro que ele veio

equipado com um scanner de retina e unidades básicas, mas ainda assim, a idéia era legal.

Eu comecei a falar, mas no exato momento Josh disse, ―Eu sinto muito, mas nós meio que

perdemos o filme. Eu deveria ter olhado os horários antes de te convidar. Começou às seis.‖

A missão foi comprometida às 19:00 horas quando A Operária e O Sujeito perceberam que

eles tinham perdido sua janela de oportunidade —o que, na opinião da Operária, foi um

desperdício de sua melhor roupa.

―Ah,‖ eu disse, tentando não soar muito de coração partido. Eu deixei Liz arrumar meu

cabelo. Eu andei duas milhas no escuro. Eu estive esperando por isso toda a semana, mas tudo

que eu pude fazer foi colocar minha melhor expressão de espiã e dizer, ―Está tudo bem. Eu acho

que vou só...‖

―Você quer comer um hambúrguer?‖ Josh proferiu antes que eu pudesse terminar meu

pensamento.

Comer um hambúrguer? Eu tinha acabado de comer filé mignon com o Deputado Diretor

da CIA, mas me encontrei dizendo, ―Eu adoraria!‖

Do outro lado da quadra, luzes brilhantes irradiavam por uma fila de janelas. Nós andamos

em direção a luz, e Josh segurou a porta aberta para mim e gesticulou para eu passar (quão fofo

é isso!). A lanchonete tinha um piso xadrez preto-e-branco com cabines de vinil vermelho e

muitos discos antigos e fotos de Elvis pregadas nas paredes. O lugar todo era um pouco doo-

woppy27 demais para o meu gosto, mas isso não me impediu de sentar em uma cabine —

26

n/t: Aquele buquezinho amarrado com fita que os garotos costumam dar as garotas quando vão ao baile de formatura e tal 27

n/t: Estilo musical baseado no R&B

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infelizmente no lado virado contra a janela desde que Josh tinha já pegado a melhor posição para

ele. (Sr. Smith teria ficado muito desapontado comigo.) Mas pelo menos do outro lado da cabine

ele não poderia sentir minha perna tremendo.

A Operária tentando implementar a técnica de respiração distraída, o que tinha sido

provada efetiva em enganar polígrafos. Não há evidências conclusivas se é efetiva em disfarçar

contra detectores de mentiras internos de garotos de quinze anos.

A garçonete veio e pegou nossos pedidos, e Josh se inclinou para trás em seu assento. Eu

soube das notas de Liz de linguagem corporal que isso significava que ele estava se sentindo

bem confiante (ou isso ou eu cheirava como o túnel e ele queria se afastar mais longe quanto

fosse possível). ―Eu sinto muito por termos perdido o filme,‖ Josh disse enquanto reorganizava

seus picles.

―Tudo bem,‖ eu disse. ―Isso é divertido, também.‖

Então a coisa mais estranha aconteceu — ambos paramos de falar. Era como naquele

episódio de Buffy A Caça Vampiros quando todo mundo na cidade tiveram suas vozes roubadas.

Eu estava começando a me perguntar se aquilo tinha mesmo acontecido — como se talvez, de

volta a escola, a CIA estivesse vadiando por aí com um dos experimentos do Dr. Fibs e algo tinha

dado horrivelmente errado. Eu comecei a abrir minha boca e testar minha teoria, quando ouvi um

chamado abafado de ―Josh!‖ e alguns golpes na janela da lanchonete, e percebi que o silêncio

não tinha afetado ninguém mais do que nós.

Quando ouvi o sino da porta da lanchonete, eu vi um grupo de adolescentes se dirigindo na

nossa direção, e me deixe te dizer, para uma garota que tem ido a escolas particulares de

meninas desde a sétima série, essa é uma visão meio assustadora.

Eu nunca estive tão atrás das linhas inimigas em minha vida! Pensei, me lembrando do

nosso treinamento P&A sobre como lidar com ataques múltiplos. Normalmente, eu poderia ter

contado com Josh — meu guia naquela terra desconhecida e estrangeira— mas ele estava em

pânico, também. Eu podia dizer pelo jeito que sua mandíbula estava dura e uma batata-frita

estava posicionada, parada, a caminho de sua boca.

Eu mentalmente cambaleei pelas coisas a meu favor: ninguém me conhecia. Eu não

estava usando um uniforme. E se a situação ficar crítica eu poderia... bem... empurrar e entrar.

(Dois dos garotos pareciam bastante jogadores de futebol, mas eu fiz um projeto inteiro uma vez

sobre a filosofia de que ―quanto maiores eles forem mas difíceis são de derrubar‖ no combate

mão-a-mão, e isso é totalmente algo a considerar.) Eu estava segura, por enquanto.

Meu disfarce pode não ter sido destruído, mas eu não podia dizer o mesmo d minha

confiança—especialmente quando uma das garotas, uma loura bem bonita, disse, ―Oi, Josh,‖ e

ele disse ―Oi, DeeDee.‖

A Operária percebeu que o bando de insurgentes eram guiados pela suspeita conhecida

como DeeDee (mesmo que ela não parecesse possuir nenhum papel rosa em sua posse).

A maioria do grupo passou por nós com apenas o ocasional ―Ei, Josh‖ enquanto

passavam, mas DeeDee e outro garoto sentaram na cabine conosco, e é claro, advinha quem

acabou sendo pressionada contra Josh? DEE DEE! (Tãããão não acidente!) Posso apenas dizer

que é uma coisa ótima ter uma lanchonete cheia de testemunhas, porque eu tenho plena certeza

que eu poderia ter matado ela com uma garrafa de ketchup.

―Oi, eu sou DeeDee,‖ ela disse enquanto pegava uma das batatas de Josh (grossa!). ―Nós

nos conhecemos?‖ Eu sou a filha de dois agentes secretos, tenho um QI de gênio e a habilidade

de te matar enquanto dorme e fazer parecer um acidente sua estúpida, monótona, com dois

neurônios...

―Cammie é nova na cidade.‖

Ok, esse é o porquê é sempre bom ter um reforço. Josh totalmente me salvou, porque eu

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estava seriamente começando a dedilhar a garrafa de ketchup naquele momento.

―Ah,‖ ela disse. Mesmo que a própria Macey McHenry tenha feito minha maquiagem, eu

me senti completamente coberta com furúnculos enquanto me sentava lá. Ela alcançou outra

batata-frita, mas não olhou para mim quando disse, ―Oi.‖

―DeeDee e eu nos conhecemos desde sempre,‖ disse Josh, e DeeDee corou.

Duas das garotas do grupo colocaram dinheiro na juke box e logo uma música que eu

nunca tinha ouvido estava ecoando pela lanchonete, fazendo o garoto que estava na cabine perto

de mim gritar dizendo, ―É, ela é apenas um dos garotos.‖ Ele jogou uma mão na minha direção.

―Ei, eu sou Dillon.‖

ESSE é Dillon? Meus instintos de super espiã ficaram surpreendidos enquanto eu estudei

o pequeno garoto que era supostamente o ―D‘Man.‖ (Nota para si mesma: não acreditar em tudo

que lê quando está invadindo o Departamento de Veículos Motores, porque garotos baixos irão

totalmente mentir sobre sua altura quando solicitados por suas permissões de estudantes.)

Demorou um segundo para eu reconhecê-lo e perceber que ele era o garoto com Josh na rua —

o que para quem eu tinha sido ninguém.

De alguma maneira eu me controlei para dizer, ―Oi. Eu sou Cammie.‖

Dillon estava assentindo sua cabeça lentamente enquanto me fitava e dizia, ―Então essa é

a garota misteriosa.‖ DeeDee instantaneamente parou de mastigar sua batata. ―Então ela existe!‖

Dillon exclamou. ―Você tem que perdoar meu amigo aqui,‖ Dillon disse enquanto escorregou um

dos braços sobre meus ombros. ―Ele não é o mais extrovertido dos anfitriões, então se eu puder

fazer alguma coisa para te ajudar a se sentir em casa aqui, me considere à sua disposição.‖

O braço de Dillan ainda estava à minha volta, de modo que eu estava me sentindo bem

grata por todas aquelas aulas de P&A quando Josh alcançou através da mesa e socou Dillon no

ombro.

―O que?‖ Dillon chorou. ―Eu só estou sendo hospitaleiro.‖

Se isso era hospitaleiro então Madame Dabney realmente precisava atualizar seu

currículo.

―Bem, Cammie,‖ Dillon continuou, interessado, ―por favor, me permita dizer que eu posso

ver porquê o idiota aqui tem mantido você para ele mesmo.‖

Dillon alcançou uma batata-frita, mas nesse momento Josh moveu o prato para longe e

disse, ―Bem, obrigado pela visita. Não nos deixe te atrapalhar.‖ E então Josh tentou chutar Dillon

sob a mesa, mas ele errou e me acertou, mas não é como se eu tivesse gritado ou algo assim.

(Eu totalmente já fui chutada mais forte.)

―Você está brincando?‖ Dillon perguntou, com os cotovelos sobre a mesa enquanto ele

abaixou a voz, nos forçando a nos amontoar em volta de sua intriga. ―Nós vamos ir escalar o

muro e observar algumas garotas ricas mais tarde. Você quer vir?‖

O muro? NOSSO muro? Eu me perguntei em descrença. É possível que eu tenha sido

rotinamente observada pelos últimos três anos e não saiba? O traseiro de Josh foi exposto (e

possivelmente fotografado pelo departamento de segurança) sem o meu conhecimento?

(Nota para si mesma: encontrar aquelas fotografias.)

Eu devo ter parecido tão confusa quanto me senti, porque Josh se inclinou mais perto e

disse, ―A Academia Gallagher?‖ como se perguntasse se eu tinha ou não ouvido falar do lugar. ―É

um internato realmente pretensioso. As garotas lá são todas deliquentes ricas ou algo assim.‖

Eu queria pular em nossa defesa. Eu queria proclamar que você não deveria julgar uma

pessoa até que você andasse uma milha dentro de um túnel subterrâneo com os sapatos

desconfortáveis dela. Eu queria dizer a eles tudo que deviam às Garotas Gallagher que foram

antes de mim, mas eu não podia. Algumas vezes espiãs podem apenas assentir e dizer, ―Ah,

sério?‖

―O que?‖ Dillon disse. ―Você não, tipo, estuda lá?‖ ele perguntou, depois riu tão alto que

todo mundo na lanchonete se virou para encarar.

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Eu estudei Dillon e me perguntei quanto tempo me tomaria para invadir o Serviço Interno

de Renda — eu aposto, até Dezembro, que o Tio Sam poderia estar tomando tudo que a família

dele possuía. ―Eu sou ensinada em casa,‖ disse, enquanto o silêncio se apossava, E eu tenho

uma gata chamada Suzie, meu pai é um engenheiro, e amo sorvete de menta-chocolate.

―É,‖ Dillon falou. ―Eu esqueci. Você sabe que isso é bem estranho, não sabe?‖

Mas antes que eu pudesse me defender, DeeDee disse, ―Eu acho que é bem legal.‖

Fazendo infinitamente mais difícil odiá-la.

―Então, o que você diz?‖ Dillon perguntou, se virando para Josh. Ele soou quase tonto, e

eu posso dizer, tonto não é uma expressão que muitos garotos usam bem. ―Quer encher o

terreno de papel higiênico ou algo?‖

Mas Josh não respondeu. Em vez disso, ele estava empurrando DeeDee para fora da

cabine e puxando dinheiro de sua carteira. Ele derrubou as notas na mesa, então alcançou minha

mão. ―Você quer sair, também. Certo?‖ ele perguntou.

Sim! Eu queria chorar. Eu li seu rosto. Soube o que ele estava sentindo, e eu estava

sentido isso também. Eu peguei a mão dele, e isso era como se ele estivesse me levando para

outro mundo em vez de apenas me tirando de uma cabine de vinil vermelho. Os dois

hambúrgueres repousavam mal tocados, na mesa atrás de nós, mas eu não ligava.

Dillon se levantou e me deixou sair, mas Josh não largou minha mão.

NÓS ESTÁVAMOS DE MÃOS DADAS!

Ele começou a me puxar em direção à porta, mas uma garota não esquece de três anos de

treinamento cultural desse jeito, então eu me virei para Dillon e DeeDee e murmurei, ―Tchau. Foi

legal conhecer vocês.‖ Mentira total, mas até não-espiões o fazem nessa educada sociedade,

então isso provavelmente não contava.

Dillon gritou, ―Whoa,‖ do jeito de alguém que tenha visto muitos filmes de Keanu Reeves.

―Você está perdendo, mano. Nós iremos mexer com algumas garotas ricas!‖

É, D‘Man, eu pensei, enquanto Josh abria a porta. Por que você não vai em frente e tenta?

Agora, normalmente, eu não sou uma grande fã de mãos-dadas, mas isso é apenas em

filmes quando o herói e a heroína têm que correr dos vilões, e eles fazem isso enquanto seguram

as mãos, o que é totalmente louco. Ninguém nunca consegue correr tão rápido enquanto segura

a mão de outra pessoa. (Um fato que eu verifiquei em um experimento de P&A.)

Mas Josh e eu não estávamos correndo. Ah, não. Nós estávamos passeando. Nossas

mãos juntas meio que balançavam para frente e para trás.

Depois de um longo tempo, ele olhou para baixo na rua e disse, ―Eu sinto muito.‖

―Pelo que?‖ eu honestamente não podia pensar em alguma coisa que ele tenha feito

errado. Nem uma coisa.

Ele apontou sua cabeça para trás em direção a lanchonete. ―Dillon. Ele realmente não é

tão mal,‖ ele disse. ―Nós temos tido essa mesma conversa desde o jardim de infância. Ele é bom

na fala — mas nem tanto na ação.‖

―Então nós não precisamos ir avisar a Academia Gallagher, então?‖ eu brinquei.

―Não,‖ ele disse sorrindo. ―Acho que elas estão à salvo.‖

―É, elas provavelmente estão.‖ Eu pensei nos nossos muros—nosso mundo. ―E DeeDee?‖

eu perguntei e senti minha respiração capturada. ―Ela parece encantadora.‖ Infelizmente, não é

mentira.

―Ela é, mas‖ — mão dele cerrou em volta da minha— ―Não quero falar sobre DeeDee.‖

Talvez fossem as luzes fracas do gazebo, ou a sensação que a mão de Josh causava na

minha, ou quem sabe a exposição ao gás roxo do Dr. Fibs que eu tive mais cedo desse dia... Mas

quando nós paramos de andar, tudo ficou muito, muito rodopiante, como se o mundo todo fosse

um carrossel e Josh e eu estivéssemos parados no meio. Deve ter havido todos os tipos de força

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centrípeta, porque nós estávamos chegando mais perto e perto um do outro, e antes que eu

soubesse, algo que estive sonhando minha vida toda estava acontecendo. Mas eu não vou

escrever sobre isso aqui, por que — minha mãe irá ler isso! E mais, todos os tipos de VIP‘s irão

provavelmente para a comissão esse relatório, e eles seriamente não precisam ouvir sobre meu

primeiro beijo. (Oh, Jesus! Eu não planejava dizer isso...) Então, ta, Josh me beijou. Eu sei que

alguns de vocês possam querer detalhes — sobre quão macios eram os lábios dele, e como,

enquanto eu exalava o ar, ele inalava e vice-versa, de modo que parecia que nós estávamos

permanentemente juntos em alma ou algo assim... Mas não vou contar-lhes sobre essas partes.

De jeito nenhum. Elas são particulares.

Mas vou dizer que foi tudo que deveria ser — quente e doce, e o começo de... bem...

apenas o começo.

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Capítulo Dezoito

Prós e contras de ser uma garota-gênio-e-espiã-em-treinamento-e-namorada do garoto

mais fofo-legal-e-gentil do mundo:

PRÓ: habilidade de dizer ao garoto como você se sente em catorze idiomas diferentes.

CON: o garoto não pode compreender nenhum dos idiomas (bem, exceto Inglês, é claro,

mas mesmo assim ele fala com o altamente especializado e frequentemente não traduzível

dialeto ―masculino‖).

PRÓ: quando o garoto está tendo problema com seu projeto de química, você pode

encontrá-lo na biblioteca e o ajudar a estudar.

CON: você não pode ajudar muito porque é meio que difícil explicar como você está tendo

aulas de química de nível PhD no segundo ano.

PRÒ: o olhar no rosto de seu namorado quando ele te surpreende com um monte de

brinquedos de gatos e pergunta, ―Você acha que Suzie gostará deles?‖

CON: saiba que não há nenhuma Suzie, e você nunca poderá dizer isso a ele.

Três semanas depois eu estava sentada no Grand Hall, ouvindo minhas colegas de classe

falarem sobre como elas iriam usar seu Sábado à noite para pegar uns filmes (ou deveres de

casa... mas na maioria filmes), quando Liz veio e derrubou cerca de uma dúzia de livros na mesa

tão forte que meu garfo pulou fora do meu prato.

―Você está pronta para isso?‖ ela falou, sua voz resplandecendo de alegria. ―Nós temos um

pouco de Chang, um pouco de Mulvaney, muito Stredesky, algum—‖

―Liz,‖ eu disse, realmente odiando o que viria em seguida. ―Oh, Jesus, Liz, eu pensei que

você soubesse... Eu tenho planos com—‖

―Josh,‖ ela terminou por mim. Ela pegou uma cópia de Um Guia Maia para a Regeneração

Molecular que tinha caído no chão e o colocou no topo da pilha. ―Esse projeto é para Quarta-

Feira, Cam.‖

―Eu sei.‖

―É trinta por cento de nossa média.‖

―Eu sei. Eu vou trabalhar nisso...‖ Mas eu não sei quando. Eu não tinha pensado sobre isso

nenhuma vez desde que o Dr. Fibs o deu há três semanas —na Segunda-feira depois do meu

primeiro encontro com Josh. Eu estava levando a vida um dia, uma roupa, um encontro por vez.

O Grand Hall estava começando a se esvaziar enquanto algumas garotas foram pegar

sobremesa e outras se dirigiram para o andar de cima ou para fora. Eu lancei um olhar para meu

relógio e me levantei. ―Olha, Josh tem algo planejado, Ok? É toda essa surpresa sobre que ele

tem falado e... Eu acho que é alguma coisa grande. Tudo vai ficar bem. Eu farei o projeto

amanhã.‖ Isso foi o que eu disse ontem.

Mas Liz não me lembrou disso. Ela apenas assentiu e me disse para ser cuidadosa

enquanto eu corri do Grand Hall e em direção a biblioteca, onde, se você empurrasse contra a

prateleira D-F enquanto puxasse uma cópia de Usos Modernos para Armas Antigas, você pode

escorregar para minha segunda passagem secreta favorita.

Isso é, a menos que o Sr. Solomon esteja na biblioteca.

―Olá, Srta. Morgan,‖ disse Sr. Solomon, me parando no meu caminho. Estou bem certa que

ele não sabia sobre nenhuma das passagens secretas — especialmente aquela, desde que me

levou dois anos inteiros para achá-la— mas ainda assim isso me assustou quando eu me virei e o

vi parado lá.

―E o que pretende fazer nesta manhã?‖ Ele guardou ambas as mãos nos bolsos, depois se

inclinou mais perto. ―Encontro marcado?‖

Estou certa que essa foi a tentativa de Joe Solomon de um humor exemplar, mas ainda

assim isso não me evitou fazer um barulho que soou como hahahahahaha. É. Eu sei. Quão

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disfarçada eu sou?

―Ah, eu estava só... Hum...‖

―Ei, filha,‖ eu ouvi atrás de mim. ―Você estava me procurando?‖

A biblioteca é provavelmente meu lugar favorito na mansão. Tinha uma enorme lareira de

pedra no meio de um espaço circular que era cheio de mesas de estudo e grandes poltronas

confortáveis. Mais acima, uma sacada que dava para ver tudo, e foi aonde eu vi minha mãe.

Ela começou a descer as escadas, um livro de poesia em suas mãos, e pensei que ela

parecia a coisa mais bonita que eu já tinha visto. Ela alcançou o piso e escorregou seu braço à

minha volta. ―Eu estava indo encontrar você.‖

―Hum, você estava?‖

E então eu me lembrei de Joe Solomon que estava parado lá, olhando.

―Bem então,‖ ele disse, dando um passo em direção a porta. ―Eu deixarei as garotas

sozinhas.‖

Ok, eu não tenho certeza, mas eu acho que minha mãe podia totalmente bater em Joe

Solomon, e assim que ele a chamou de ―garota‖ eu tive certeza que veria a prova. Mas minha

mãe não disse nada. Ela não prendeu seu braço atrás das costas dele ou pulou no ar e golpeou

ele no rosto com uma de suas botas pretas de salto alto (um movimento que eu totalmente queria

aperfeiçoar algum dia—apenas quando eu puder comprar umas botas dessas). Ah, não, ela

apenas sorriu para ele. Como um sorriso de Obrigado, eu tomo conta a partir de agora.

Eu me senti doente. Ela me puxou no corredor e andou comigo em direção a capela. Atrás

de mim, eu ouvi o barulho de garfos nos pratos e conversas de jantar (em Farsi) enquanto

passávamos no Grand Hall. Ela entrelaçou seu braço com o meu e disse, ―Eu estava me

perguntando se você queria fazer alguma coisa essa noite.‖

Ok, então eu sabia que tinha muitos idiomas no meu depósito e tudo, mas eu

honestamente não entendi o que minha mãe estava perguntando. Era estranho— não estranho

como o submarino nazista no lago, mas estranho como alguém tem assistido muitos filmes feitos

para TV.

―Ou não,‖ ela pulou para dizer quando leu minha expressão embaraçada. ―Eu apenas

pensei que você poderia querer ir à cidade ou algo assim.‖

Bem, na verdade, eu queria ir à cidade—só que não com ela. Na verdade, eu já estava

usando brilho labial, e uma roupa estava posta no túnel. Josh tinha soado tão empolgado quando

disse, ―Agora, você vem no sábado à noite, certo? Você não tem que fazer algo com seus pais,

tem?‖

Eu disse não, mas agora minha mãe estava me chamando para fazer exatamente isso. Eu

olhei nos olhos dela — seus olhos bonitos que tinham visto horrores e milagres e todas as coisas

entre isso, e depois disse, ―Estou bem cansada.‖ Tecnicamente não é uma mentira.

―Alguma coisa calma, então,‖ ela disse com sua persistência super espiã. ―Talvez um

filme?‖

―Eu...‖ Sou uma pessoa terrível. ―Eu... Olha, eu tenho que...‖

Então eu ouvi uma voz atrás de mim. ―Cammie prometeu me ajudar com meu papel de

química orgânica.‖

Me virei para ver Macey McHenry no meu caminho. Seu rosto estava vazio, seu tom

perfeitamente normal. Macey pode ter estado atrás da linha academicamente, mas quando se

tratava do lado mentiroso da espionagem, a garota era natural. (E o fato de Tina Walters jurar ter

seqüestrado um iate de um empresário no Mediterrâneo provavelmente contribuiu um pouco para

isso.)

Mamãe olhou para Macey e depois para mim. ―Ah,‖ ela disse, mas seu sorriso pareceu um

pouco forçado e seu tom um pouco triste enquanto ergueu a voz e esfregou meus braços. ―Ok. Eu

só não queria que você ficasse sozinha essa noite.‖

Sozinha? Quando eu estou sozinha? Eu vivo em uma mansão com cerca de cem garotas,

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e exceto por quando eu estou no meu quarto secreto, em um dos assentos de janela ou sozinha

no sótão do celeiro de P&A ou... Ok, então às vezes eu estou sozinha.

Macey deu um passo, e Mamãe a assistiu sair. ―Eu sei que não tem sido fácil... com ela.

Mas eu estou orgulhosa de você, filha.‖ Ela me abraçou de novo. Foi um abraço que durou, como

se não fosse haver outro por muito, muito tempo, e eu desejei por um segundo que eu não

tivesse que sair dele tão cedo. Ou nunca. Mas eu saí, de qualquer maneira. Josh estava

esperando.

―Jantar?‖ Perguntei. ―Amanhã à noite?‖

―Com certeza, filha,‖ Mamãe disse enquanto escondeu uma mecha de cabelo atrás da

minha orelha. Eu me virei e fui para o corredor, meus passos agradecidamente mais altos que

meus pensamentos. Isso é, até que eu me virei a esquina no longo corredor de pedra e corri até

Macey.

Ela estava inclinada contra a parede, as mãos nos quadris enquanto olhava para mim. ―Eu

não gosto que minta para sua mãe,‖ disse ela. ―Eu mentirei para a minha, mas não a sua. Isso

está errado.‖ Então Macey soltou uma baixa e suave risada, desencostou-se da parede e me

estudou. ―Eu espero que ele valha à pena.‖

―Ele vale,‖ eu sussurrei.

Ela parou antes de passar por mim. ―É sério? Ele vale? Porque eu não vejo o que tem de

tão especial nele para você arriscar perder o que tem.‖

Era uma boa questão. Uma grande questão, especialmente se você e Macey McHenry e

tudo na vida foi dado a você mas nada foi adquirido. Se o mundo olha para sua aparência de

plástica lustrosa e espera não haver nada além de doce dentro. Se essa é sua única chance de

ser parte de uma família—apesar de seu sobrenome famoso. É. Então essa é realmente uma boa

questão.

―Ele é...‖ eu tentei, querendo dizer ―gentil‖, ―carinhoso‖ ou ―engraçado‖ —porque isso é

totalmente verdade. Mas em vez disso, eu disse, ―Ele é apenas um garoto normal.‖

―Humpf,‖ Macey zombou. ―Eu conheço um monte de garotos normais.‖

Eu olhei para ela. ―Eu não.‖

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Capítulo Dezenove

Josh deveria me encontrar no caramanchão, mas ele não estava à vista. De fato, ninguém

estava à vista. Eu dei uma olhada em direção ao cinema — nada. As luzes estavam desligadas

em todas as lojas, e enquanto um pedaço de papel laranja voava pela praça deserta, eu me

lembrei de uma cena que quase todos os filmes de apocalipse alguma vez fizeram (e, pelo

menos, três episódios de Buffy).

Eu estava um pouco assustada.

A Operária fiscalizou a área, avaliando possíveis ameaças e rotas de saída e se aquela

bolsa realmente fofa na vitrine do Anderson's Accessories estaria à venda ou não.

Então uma minivan virou a rua. Eu acho que estava muito ocupada, encarando o adesivo

no pára-choque MEU FILHO É UM ALUNO DE HONRA NA ESCOLA ELEMENTAR DE

ROSEVILLE para notar quem estava dirigindo, porque eu não percebi que era Josh até que ele

tinha estacionado, saído e ficado ali, no meio da rua vazia, segurando uma daquelas flores de

pulso.

Isso mesmo. Você leu corretamente — flores em palito. (ou, bem, flores em uma coisa

esticada).

Ele andou na minha direção lentamente, enquanto eu dizia, ―Isso é um wrist corsage.‖

―Sim,‖ disse, corando. ―Bem, é uma ocasião especial.‖

―Então, isso é alguma piada interna ou sua mãe te fez comprar?‖

Ele se inclinou baixo para me beijar, mas parou na metade do caminho. ―Você quer saber a

verdade?‖ ele sussurrou.

―Sim.‖

Eu senti uma rápida bicada, depois ele disse ―Os dois.‖

Em aproximadamente 18:07 horas O Sujeito presenteou A Operária com uma peça vital

(floral) de evidência. Macey McHenry posteriormente determinou que isto é um oito no total

―escala de não-original‖. A Operária, no entanto, pensou que essa era um doce e gentil tipo de

piada, e decidiu usá-la com orgulho.

―Você está ótima,‖ disse ele, mas eu totalmente não estava. Digo, eu parecia um mais ou

menos para o cinema ou para um boliche. Eu não estava ótima para usar um wrist corsage.

Eu puxei com força minha saia. ―Então, qual é esta ocasião especial?‖

E então ele riu. ―Você não achou que eu fosse me lembrar, achou?‖ ele provocou.

Lembrar o quê? A garota dentro de mim queria gritar, mas a espiã em mim apenas sorriu e

disse: ―Claro que eu sabia que você se lembraria.‖ Mentira total.

―Então‖—Josh correu para abrir a porta—―Vamos?‖

De acordo com o protocolo, uma Operária nunca deve permitir ser transportada para um

lugar secundário. No entanto, por causa da sua história com O Sujeito e o fato de que uma vez

ela o jogou na rua como um saco de batatas, A Operária pensou que era provavelmente seguro.

Eu nunca estive em uma minivan antes. Foi como uma experiência de viagem na estrada

na minha grande pequena cidade — com porta copos. Tome isso de alguém que está altamente

interessada em geringonças, tanto a nível pessoal quanto profissional — a espionagem mundial

dos dias modernos não tem nada para o bom povo na General Motors quando se trata de porta

copos.

―Gostei da sua minivan.‖

―Estou poupando para um carro, você sabe?‖ disse ele, como se ele tivesse pensado que

eu estava sendo sarcástica.

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―Não, é sério,‖ eu me apressei a dizer. ―É ...espaçosa, e tem estes grandes... eu apenas

gostei dela.‖

Talvez wrist corsages cortam a circulação para o cérebro? Quero dizer, é por isso que

tantas garotas fazem coisas estúpidas em noites de baile? Eu iria ter que investigar mais isso, eu

decidi. Então peguei um vislumbre de Josh nas luzes do painel, e ele estava, em uma palavra,

lindo. Seu cabelo estava maior agora, e eu podia ver a sombra de seus longos cílios em seus

ossos malares. Quanto mais eu ficava em volta dele, mais eu via as coisas pequenas — como

suas mãos ou a pequena cicatriz na borda de sua mandíbula onde (diz ele), cortou com uma faca

de briga, mas onde (de acordo com o seus arquivos médicos), ele caiu com sua bicicleta quando

tinha sete anos.

Eu tenho cicatrizes, também, é claro. Mas Josh nunca poderá ouvir as histórias. ―Josh?‖ Eu disse, e ele olhou rapidamente pra mim. Estávamos quase fora da cidade, e as

árvores estavam crescendo com maior sobrecarga conforme as curvas da estrada.

―O quê?‖ ele perguntou suavemente, como se secretamente temesse que alguma coisa

estivesse errada. Ele saiu da rodovia em uma curva com um pouco de asfalto.

―Obrigada.‖

―Pelo quê?‖

―Por tudo.‖

Ok, então há duas coisas básicas que eu sei de fato sobre os bons cidadãos de Roseville.

Uma: eles honestamente não têm idéia sobre o que realmente se passa na Academia Gallagher.

Nada. Você acharia que haja alguma teoria da conspiração governamental flutuando sobre o que

se passa nas nossas paredes cobertas de hera, mas eu nunca ouvi uma única (e eu tinha razão

para ouvir).

A segunda coisa sobre Roseville é que ela leva sua coisa de cidade pequena a sério.

Como se o gazebo e o carnaval não tivesse sido o suficiente para me alertar, eu vi um homem

com um colete refletor e uma lanterna direcionando o tráfego enquanto Josh ia para uma

pastagem. Sim, isso mesmo, um enorme controle de pastagens é fundamental para a vida das

pequenas cidades.

Nós estacionamos no final de uma linha de carros, e eu olhei para Josh. ―O que está—―

―Você verá.‖ Então ele andou em volta para abrir minha porta. (Eu sei — totalmente gentil!)

Seguimos a gentil batida de música que flutuou através de nós, cavalgando sobre uma

onda de luz que se filtrou entre as frestas e através das portas deslizantes de um enorme e velho

celeiro.

―Ei,‖ eu falei ―Parece com o nosso celeiro—‖ Ele olhou pra mim, questionando ―—na

Mongólia.‖

―É a dança da estação da colheita,‖ Josh explicou. ―É uma tradição de Roseville, desde que

quase todo mundo é fazendeiro. Mas agora é só uma desculpa para todo mundo ficar bêbado e

dançar com as pessoas com quem não estão casadas.‖ Ele parou e olhou para mim. ―Podemos

fazer tudo o que você quer fazer, mas quando ouvi que era esta noite, meio que pensei que você

iria querer vir," disse ele. ―Quero dizer ... tudo bem se você quiser ir fazer outra coisa. Nós

poderíamos...‖

Eu o calei com um beijo (uma técnica básica que, tenho dito, toda garota não-espiã têm

usado com grande sucesso). ―Vamos dançar.‖

Posso apenas dizer que fazer tango com a Madame Dabney totalmente não tinha me

preparado para danças como esta? Claro, se eu tive que me infiltrar em uma festa da embaixada,

provavelmente eu estaria feliz em saber C&A (Cultura e Assimilação), mas eu pude dizer, logo

que nós andamos para o celeiro que totalmente eu não tive treinamento para isso. Serpentinas

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estavam penduradas nas vigas acima de nós. Luzes bruxuleavam formado uma abóbada. Um

trailer de base plana estava parado, ao longo da parede sul, e uma banda estava tocando uma

velha canção country, enquanto o que parecia ser a população inteira de Roseville dançava ao

redor em círculos. Eu vi um sobrado acima de nós na extremidade final do celeiro, mas onde nós

estávamos não havia nada acima de nós, só vigas e luzes. Mulheres velhas sentavam em fardos

de palha, batendo palmas, mantendo ritmo conforme o vice-chefe de polícia (eu o reconheci do

tanque de água) pegou um violino e começou a tocar.

Garotinhas dançavam, em pé em cima dos pés de seus pais, e Josh me levou a uma mesa

dobrável que foi drapejada com papel crepom. ―Bem, olá, querida,‖ disse a mulher sentada por

trás dela. ―Olá, Shirley,‖ Josh respondeu enquanto alcançou sua carteira. ―Dois, por favor,‖ disse ele.

―Oh, querido,‖ disse ela, ―a sua mãe já cuidou disso.‖

Josh olhou para mim, pânico nos olhos dele, como cada grama de sangue no meu corpo

ficou frio.

―Eles já estão aqui?‖ Josh perguntou, mas antes que Shirley pudesse responder, eu ouvi

alguém gritar, ―Josh! Cammie!‖

O vice-chefe da polícia guardou seu violino, e todos aplaudiram conforme o rapaz que

trabalha no estande do bilhete de cinema pegou um saxofone. Todos na pista pegaram o ritmo—

especialmente a mulher magra e imaculada que estava correndo na nossa direção com seus

braços abertos.

"Josh! Cammie!" Seu suéter marfim justo e sua calça cor pastel estava apenas implorando

por uma mancha no poeirento celeiro, mas ela não agiu como se fosse cuidadosa enquanto ela

se empurrou através da maré de casais dançando — um homem alto e magro lealmente logo

atrás dela.

―Me desculpe,‖ sussurrou como Josh enquanto ele me puxava para longe de Shirley e em

direção a um casal frenético. ―Sinto Muito. Me desculpe. Temos apenas que dizer oi para eles. Eu

pensei que ia ter tempo para avisar—‖ ―Cammie, querida!‖ a mulher exclamou. ―Bem, olha se você não é a coisa mais fofa?‖ E

então ela me abraçou. Ah, é, uma completa estranha realmente me abraçou — algo que a

Academia Gallagher não tinha totalmente preparado para mim. Ela me agarrou pelos ombros e

olhou nos meus olhos. ―Eu sou a Sra. Abrams. É tão legal para finalmente te conhecer!‖

E então ela me abraçou de novo!

Uma vez no interior profundo do território inimigo, A Operária se reuniu com altos

funcionários da organização. Ela NÃO estava preparada para esta evolução, mas qualquer tática

para desviar a atenção poderia SERIAMENTE comprometer toda a operação!

―Oh,‖ Sra. Abrams disse, ―Eu vejo que você está usando sua flor.‖ E então ela dedilhou as

flores. ―Não é adorável?‖

Eu olhei para Josh na sua calça cáqui ordenadamente pressionada e sua camisa de botão-

baixo, e eu de repente compreendi por que ele sempre está vestido menos como um garoto de

escola e mais como um... Farmacêutico.

―Olá, jovem dama,‖ disse o homem, uma vez que sua esposa tinha me liberado. ―Eu sou o

pai de Joshua, Sr. Abrams. E o que você está achando da nossa feira da cidade?‖

Isto não é bom, eu pensei, percebendo que eu estava cercada. Eu não pertenço aqui, e

não levou muito tempo para os pais de Josh perceberem isso.

Eu pensei sobre minhas opções: A) fingir uma condição médica e correr para fora, B)

pegar a caneta que Shirley estava escrevendo recibos e fazer algum estrago antes de ser

abordada por uma gangue de cidadãos bem-intencionados, ou C) pensar nisso como minha

missão de disfarce mais secreta e realizá-la por tudo que valia a pena..

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―É uma cidade muito bonita,‖ eu disse, estendendo a mão para o homem. ―Sr. Abrams,

prazer em conhecê-lo.‖

Ele era alto e tinha cabelo ondulado como o de Josh. Usava óculos de armação fina e

acenava prazerosamente para as pessoas que por ali passava. ―Oi, Carl, Betty,‖ disse ele para

um casal. ―Tenho aquelas novas almofadas de remoção de joanetes que você gosta, Pat.‖ ―Nossa família conduz a farmácia da cidade desde 1938,‖ Sra. Abrams me disse com

orgulho.

Em seguida, o Sr. Abrams perguntou: ―Josh já te disse sobre nossos pequenos negócios?‖

―Sim,‖ eu disse. ―Ele já disse.‖

―Não tem uma pessoa nesta sala que eu não tenha medicado,‖ disse o Sr. Abrams, e ao

meu lado, eu senti Josh engasgar no ponche que sua mãe tinha entregado a ele.

―Isso é...‖ Eu lutava por palavras. ―... Impressionante.‖

Ele apertou a mão no ombro do seu filho. ―E algum dia, tudo isso pertencerá a esse

garoto.‖

―Oh, Jacob,‖ disse a Sra. Abrams, ―dê ao pobre garoto uma pausa.‖ Um ar de perfeição

flutuou tudo ao seu redor, mesmo naquele celeiro poeirento, e eu sabia que ela nunca havia sido

manchada, enrugada, ou sem acessórios na vida dela.

Eu puxei a barra da minha saia e dedilhei a minha flor, me sentindo nua desde que eu não

tinha tido a sabedoria de usar as pérolas da minha mãe. (Mesmo as sem leitores de microfilme

poderia ter vindo a calhar.) Havia um monte de coisas que eu queria perguntar, tipo Como é que

você fica tão limpa? Como essa goma de branqueamento dental realmente funciona? Mas eu não

podia dizer nada disso, assim que eu só ficava ali como um idiota, sorrindo para ela, agarrada ao

meu disfarce.

―Os seus pais estão aqui, querida?‖ Ela perguntou, em seguida começou a vasculhar a

multidão.

―Não,‖ eu disse. ―Eles estão... ocupados.‖

―Ai, que vergonha,‖ ela disse, com uma inclinação de sua cabeça. Mas ela não me deu

tempo para responder, dizendo abruptamente, ―Cammie, eu quero que você se sinta tão bem-

vinda em nossa casa quanto você se sente na sua.‖

Imediatamente, eu comecei a fantasiar sobre o reconhecimento que poderíamos criar com

esse tipo de acesso, mas tudo que eu pude administrar pra dizer foi, ―Ah... Hum... Obrigada.‖

A banda mudou as canções, e Sra. Abrams inclinou-se perto para gritar através do ruído,

―Qual é o seu tipo favorito de torta?‖

Eu mal a ouvi, e estava à beira de gritar, ―Eu não sou um espiã!‖ quando eu vi Dillon em pé

sobre um monte de palha, acenando ferozmente em nossa direção.

Josh lançou um olhar pra sua mãe, mas não teve que dizer uma palavra antes de ela dizer,

―Ok, querida. Vocês crianças, vão se divertir.‖ E então ela me deu outro abraço. TRÊS

ABRAÇOS! Isto estava seriamente me fazendo pirar

"Cammie, querida, você pode vir a qualquer hora, ok? E quando você tiver uma

oportunidade, dê nosso número para os seus pais. Talvez eles estivessem interessados em

participar do nosso clube de Bridge28.‖

O último jogo em que meus pais tiveram a ver envolvia a Província Gansu, dinamites, e um

iaque, mas eu só sorri e disse ―Obrigada.‖

Enquanto Josh me puxava pra longe, eu arrisquei um olhar para trás. Sr. Abrams tinha seu

braço em volta dos ombros de sua mulher, e a Sr Abrams levantou sua mão em uma triste meia-

onda, como se ela estivesse congelando aquele pouco de Josh no espaço e tempo. Então esses

são pais normais. Eu estudei o garoto do meu lado, que deseja uma vida na Mongólia e não foi

28

n/t: é um jogo de cartas

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autorizado a deixar qualquer coisa amassada ou manchada, e outro pedaço de seu código caiu

no lugar — ele era um pouco menos codificado.

Comecei a caminhar em direção a Dillon e a multidão de jovens da nossa idade (se você

vai fazer a coisa do disfarce, você deve fazê-lo bem de todo jeito), mas Josh deu um puxão na

minha mão, me parando.

―Vamos lá, vamos dançar.‖

―Mas,‖ —eu apontei para o grupo de adolescentes—―não são os seus amigos?"

Josh olhou para eles. ―É, esses são os caras da minha escola.‖

―Se você quiser ir dizer oi ou algo assim...‖

―Deixe-me pensar,‖ disse ele, provocando. ―Eu poderia dançar com a garota mais bonita na

festa ou sair com um bando de idiotas que eu vejo todos os dias. O que você acha?‖

Achei que ele estava conseguindo sérios pontos bônus pela frase A garota mais bonita na

festa, foi o que pensei, mas isso não me impediu de olhar para ele de um jeito novo quando ele

olhou para o lado oposto do celeiro, longe de seus amigos, longe de seus pais. Pela primeira vez,

eu percebi que eu poderia não ser a única em um disfarce.

Nós dançamos por um longo tempo antes de Josh dizer, ―Obrigado por conhecer meus

pais. Eles são grandes nisso.‖

―É,‖ eu disse. ―Eles são realmente legais.‖

―Eles são psicopatas,‖ ele me corrigiu. ―Você ouviu o que ele disse? Sobre a loja? Ele

pensa seriamente que todo mundo nesta cidade morreria se não fosse por ele.‖ Ele balançou sua

cabeça. ―Você é tão sortuda, ninguém se importa com o que você faz. Quero dizer, pode ser

qualquer coisa que você quer ser. Ninguém espera que você seja algum tipo de escolhido.‖

―Não,‖ eu disse. ―Eu acho que ninguém está.‖ Mentira—absoluta, total e completamente

mentira.

Ele me puxou mais apertado, o que foi uma coisa boa por dois motivos, porque A) o evitou

de ver as lágrimas que estavam se formando nos cantos dos meus olhos, ameaçando o teste do

novo rímel de Macey a prova d‘água e B) me deu uma muito boa cobertura, o que eu estava

totalmente precisando. Na verdade, nenhum espião da história do universo conhecido jamais

precisou se cobrir mais.

―Oh meu Deus!‖ eu arquejei e abaixei, escondendo minha cabeça atrás do ombro de Josh.

―O quê?‖ ele disse.

―Oh, hum, eu acabei de bater meu pé,‖ menti, porque era difícil o momento para dizer, Ei

Josh, falando em pais, MINHA MÃE ACABOU DE ENTRAR COM MEU PROFESSOR DE

OPERAÇÕES SECRETAS!

Do outro lado da pista de dança, minha mãe estava nos braços do Sr. Solomon. Ambos

estavam totalmente gargalhando, e ele estava rodopiando ela, e seu cabelo estava voando em

volta como se ela estivesse em um comercial de xampu. Sério. Ela poderia ter vendido

condicionador para um homem careca do jeito que parecia.

Eu comecei a me contorcer em direção as sombras, longe das portas principais, me

amaldiçoando por não marcar todas as saídas mais cedo. Eu fui idiota. IDIOTA. IDIOTA. IDIOTA.

―Acho que eu quero me sentar por um tempo.‖ Achei um trecho de espaço com sombra na

parte de trás do celeiro, abaixo do sobrado, longe de minha mãe e do Sr. Solomon.

―Você quer algum ponche?‖ ele perguntou.

―SIM! Ponche soa ótimo!‖

Eu assisti Josh desaparecer na multidão, e por um segundo o pânico parou e senti outra

sensação no meu intestino, como se o chão tivesse sido varrido de baixo de mim. Mas não foi

apenas nervos. Eu estava voando, indo rapidamente através do céu. Literalmente.

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Capítulo Vinte

Oh meu Deus! Eu pensei, mas não gritei — em parte porque todo o ar tinha sido arrancado

dos meus pulmões, e parte porque Bex tinha uma mão sobre minha boca. Liz estava me olhando

através da luz pálida que flutuava no palheiro na parte inferior, o barulho abafado por fardos de

palha do ano passado.

―Cammie,‖ Liz disse pacientemente, como se tentasse me acordar de um sono profundo.

―Nós temos que tirar você daqui. Sua mãe e Solomon — eles estão aqui!‖

Foi quando eu olhei em volta do palheiro e vi as series de moitas que as garotas tinham

construído—três arames estavam amarrados em Bex e em mim — e eu repentinamente entendi

porque eu me senti como um peixe que a Vovó Morgan tinha acabado de puxar fora da água.

Até Macey estava lá, deitada da barriga para baixo, espiando além da moita do celeiro.

―Fomos bem.‖ Ela rolou de lado para nos encarar. ―As sombras estão tão densas aqui atrás; eu

não acho que alguém viu.‖

―Oh meu Deus,‖ eu finalmente disse.

Para alguém que estava tecnicamente envolvida em seu primeiro ato de espionagem,

Macey estava reagindo bem calmamente sobre isso — como talvez a teoria de Tina sobre ela ter

chantageado editor da Vogue para trazer as calças boca-de-sino de volta fosse realmente

verdade.

Liz, diferentemente, estava pirando. ―Cammie, você me ouviu?‖ ela quase gritou. ―Sua mãe

e Solomon estão aqui! Eles estão aqui! Podem ter visto você! Você sabe o que aconteceria se

eles te vissem?‖

―Eu sei,‖ eu disse enquanto afundava no chão do celeiro. Eu respirei no doce cheiro do

feno e esperei que meu coração parasse de saltitar. Então eu percebi uma coisa. ―Eles não me

viram,‖ eu disse.

―Mas como você pode ter certeza?‖

Dessa vez, Bex respondeu. ―Porque ela não está morta ainda.‖

O celeiro estava escuro e pelo menos a trinta pés de altura do coração da festa, então Bex

e Liz fundaram no chão juntas e nós nos rastejamos em direção a Macey e a moita. Luzes turvas

cintilaram abaixo de nós, e a banda tocou uma música lenta. Eu assisti minha mãe dançar com

Sr. Solomon. Ela descansou sua cabeça no ombro dele, e de repente, tê-los me esfolando viva

parecia como uma opção melhor do que assistir aquilo.

―Wow,‖ Macey murmurou. ―Casal assassino.‖ Mas eu não sei se ela quis dizer isso

literalmente.

―Oh, Cammie,‖ disse Liz, ―Tenho certeza que eles estão aqui apenas como amigos. Certo,

Bex?‖

Bex estava sem palavras.

Oh meu Deus!

―Digo, tenho certeza que eles só—‖ Liz tentou melhorar as coisas, mas foi Macey quem

disse, ―Não se preocupe, eles não estão se encontrando, apaixonados ou algo assim.‖

Ela soou tão decisiva—tão certa. Eu a fitei, me perguntando Como ela pode possivelmente

saber sobre isso! Então eu me lembrei — ela era Macey McHenry! Claro que sabia! Eu estava

totalmente começando a me sentir melhor até que ela adicionou fatídica, ―Ainda,‖ e eu pensei que

ficaria doente.

Eu não podia mais assistir aquilo, então me virei e perguntei ―Como isso aconteceu?‖

―Depois que você rejeitou sua mãe, eu a vi conversando com o gostosão ali,‖ Macey disse.

―E então eles decidiram fazer algo juntos.‖

―E nós sabíamos que algo como isso aconteceria, então deixamos um rastreador na bolsa

da sua mãe,‖ Bex disse presunçosa, amando a situação um pouco demais, se quer saber.

―E nós ativamos um rastreador no sapato de Josh.‖ Liz segurou seu pulso na minha

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direção, e de repente eu vi dois pontos vermelhos piscando lado a lado, e abaixo de nós, Josh

carregava dois copos de ponche pela festa, passando centímetros de distância de minha mãe.

―E então decidimos que você poderia precisar de uma operação de extração de

emergência,‖ disse Liz, se divertindo na chance de citar uma de suas anotações.

Eu lancei meus braços sobre minha cabeça, enterrando meu rosto no feno cheiroso,

desejando que tudo fosse um sonho, e eu tinha quase conseguido quando ouvi, ―Belo corsage.‖

Olhei para cima e lancei um olhar para Macey, quem deu de ombros de disse, ―O que? Como se

você não pensasse o mesmo.‖

Mas era dificilmente a hora de explicar. Ah, não, nós totalmente tínhamos coisas melhores

a fazer, e Bex estava consciente, porque ela já estava se distanciando nas sombras, dizendo,

―Vamos. Uma operação de extração chegando.‖

Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Bex estava me puxando pelos pés e

me enganchando no cabo, e Macey estava empurrando a porta do celeiro para a noite calma de

outono, ficando pronta para me baixar para fora como um grande fardo de feno.

―Não,‖ eu disse, mas Liz me empurrou para fora da porta.

―Eu não posso,‖ chorei, mas eu estava rodando e rodando no ar. Antes que percebesse,

Liz já estava ao meu lado no chão, seguida por Macey, quem disparou para as árvores que

revestiam as cercas do pasto.

―Liz, eu não posso fazer isso,‖ eu disse enquanto agarrava os ombros magros da minha

amiga. ―Eu tenho que voltar lá dentro, de algum jeito.‖

―Você ficou completamente louca?‖ Bex disse enquanto se juntava a nós no chão.

―Mas Josh está lá,‖ eu protestei.

―Assim como sua mãe e o Sr. Solomon,‖ Bex assinalou. Ela agarrou o pedaço de cabo que

eu segurava, e ele voou das minhas mãos.

―Bex, eu não posso simplesmente deixá-lo! Ele vai ficar preocupado. Começará a procurar

e perguntar e...‖

―Ela está certa,‖ ouvi Liz dizer. ―É uma violação direta da regra de Operações Secretas

número—‖

Mas eu nunca iria saber qual regra de Operações Secretas violava, porque no exato

momento um grande flash vermelho se aproximou correndo da floresta.

―Entrem!‖ Macey exclamou do banco do motorista. Por um momento, eu não soube o que

era mais surpreendente, o fato que minhas colegas de classe tinham vindo me resgatar em um

carrinho de golfe da Academia Gallagher, ou que Bex tinha deixado Macey dirigir (apesar de que,

se você pensar nisso, Macey provavelmente tinha bem mais experiência com carrinhos de golfe

do que o resto de nós).

Quando Liz viu o olhar espantado no meu rosto, ela corou e disse, ―Vamos apenas dizer

que o guarda do Chiclete acordará em algumas horas, espantado que seu remédio para o peito o

deixara tão sonolento.‖

Eu ouvi a música parar e um aplauso feroz, mas senti como se nós estivéssemos a uma

milha de distância da festa. Josh estava lá. Claro, assim como duas pessoas que poderiam me

punir de maneiras que têm sido ilegais desde a Convenção de Genebra. Mas ainda assim, eu

olhei para Bex e disse, ―Eu não posso ir.‖

Liz já estava subindo no carro de golfe, deixando Bex e eu sozinhas no escuro.

―Eu ficarei bem,‖ disse a Bex. ―Eu pegarei Josh e nós sairemos.‖ Ela não disse nada.

Estávamos no lado escuro da festa, mas eu poderia ler seu rosto na luz da lua cheia. Eu não vi

medo; eu vi desapontamento. Pareceu muito pior.

―Eles podem te pegar, sabe?‖ Bex perguntou.

―Ei,‖ eu tentei, forçando uma risada, confiando em meu sorriso para derreter ela, ―Eu sou A

Camaleoa, certo?‖

Mas Bex já estava deslizando no assento de trás. ―Te vejo em casa.‖

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A Operária decidiu realizar uma exploração padrão esperando extrair O Sujeito e salvar a

missão. Pelo menos dois agentes hostis estavam lá dentro (e eles iriam ficar muito mais hostis se

as coisas não saírem bem), então era um movimento de risco, mas um que ela estava desejando

conseguir, mesmo enquanto assistia seu reforço ir embora.

Mamãe e Sr. Solomon devem ter tido vantagem quando se tratava de treinamento e

experiência, mas eu tinha uma posição superior e muito mais informação. Enquanto eu me

agachei atrás do capô de um grande e preto Buick, observando as portas, eu passei minhas

opções: A) causar uma distração e esperar puxar Josh para longe do caos, B) esperar que ou

Josh ou Mamãe e Solomon saiam, e torcer para que eles não decidam sair ao mesmo tempo, ou

C) pensar em mais opções.

Afinal, eu tinha acesso a gasolina, pedras, e lixeiras de alumínio, mas aquele velho celeiro

parecia muito, muito inflamável, e eu não estava exatamente no estado de espírito para arriscar.

Eu estava apenas começando a me perguntar se uma das picapes estacionadas ao meu

lado teria uma corda, quando ouvi alguém dizer, ―Cammie?‖ eu me virei para ver DeeDee se

dirigindo na minha direção. ―Oi. Eu pensei que você fosse.‖

Ela usava um vestido rosa realmente bonito que combinava com ela. Seu cabelo louro

estava empurrado longe do rosto. Ela parecia quase como uma boneca enquanto flutuou na

minha direção no escuro.

―Oi, DeeDee,‖ disse eu. ―Você parece muito bonita.‖

―Obrigada,‖ ela respondeu, mas não soou como se acreditasse. ―Você também.‖

Nervosamente, eu dedilhei a flor no meu pulso. As pétalas de orquídea como seda contra

minha mão.

―Vejo que ele foi em frente e comprou uma para você.‖

Eu fitei meu pulso. ―É.‖ Eu não sabia como me sentir sobre o fato que Josh tinha discutido

sobre o plano da flor com outra garota, mas depois eu a olhei para e percebi que não me sentia

nem um pouco tão estranha quanto ela se sentia.

DeeDee apontou em direção às luzes e casais dançantes na distância e disse, ―Eu

descobri que se eu chego tarde não tenho que vagar por muito tempo.‖

Imaginei-a se misturando com as ripas de madeira e fardos de feno, desaparecendo entre

o mar de casais, ninguém percebendo uma garota parada sozinha, sem fazer parte da festa. Foi

quando eu soube que DeeDee era uma camaleoa, também.

―Então, o que está fazendo aqui fora sozinha?‖ DeeDee perguntou.

Era uma boa pergunta. Felizmente, uma que eu estava pronta para responder.

Esfreguei minhas têmporas e disse, ―Está tão barulhento lá dentro, minha cabeça está me

matando. Eu tinha que tomar um ar.‖

―Ah,‖ ela disse, e começou a vasculhar pela pequena bolsa rosa. ―Você quer alguma

aspirina ou algo assim?‖

―Não. Mas obrigada, mesmo assim.‖

DeeDee parou de procurar, mas ainda olhava para mim quando disse, ―Ele realmente

gosta de você, sabe? Conheço ele desde sempre, e posso dizer que ele realmente gosta de

você.‖

Mesmo que eu não tivesse lido o bilhete dela, eu teria percebido o quanto ela gostava de

Josh, quão profundamente ela desejava que ele algum dia comprasse um corsage para ela. E ela

usaria—não porque era parte de alguma piada interna mas porque Josh tinha dado a ela.

―Eu realmente gosto dele, também,‖ eu disse, não sabendo o que mais dizer.

Ela sorriu. ―Eu sei.‖

E então eu pensei que ela iria embora. Eu realmente precisava que ela fosse, porque eu

absolutamente tinha que arranjar uma maneira de tirar Josh daqui! ―Bem, não me deixe atrapalhar

você, DeeDee,‖ eu disse, correndo pelas possíveis distrações na minha mente: pequena

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explosão, incêndio florestal facilmente contido, a possibilidade de haver alguma mulher grávida lá

dentro que poderia entrar em trabalho de parto na próxima meia hora...

―Cammie?‖ DeeDee perguntou, e eu não pude evitar, eu soltei, ―O que?‖

―Quer que eu diga a Josh que você precisa ir para casa?‖

Ou isso poderia funcionar também.

Enquanto DeeDee caminhou em direção a festa, eu me encontrei a invejando. Ela via Josh

na escola. Sabia o que ele comia no refeitório e onde ele se sentava na aula. Não havia nenhuma

parte da vida dela que ela não pudesse compartilhar com ele — nada que ele já não sabia de

uma vida de danças, carnavais e dias normais. Me encontrei pensando: se todas as coisas

fossem iguais, ele ainda gostaria de mim?

Mas eu nunca saberia, porque as coisas para nós nunca seriam iguais. DeeDee sempre

seria carne e sangue com ele, e eu sempre seria uma lenda.

―Tem certeza que não posso te levar em casa?‖ Josh perguntou enquanto virava a van na

Rua Principal e nos dirigimos a praça. ―Qual é. Eu sei que você não está se sentindo bem. Me

deixe—‖

―Não, está tudo bem,‖ eu disse. ―Minha cabeça não está doendo agora.‖ Não era mentira.

―Tem certeza?‖

―Sim.‖

Ele estacionou na praça, e nós saímos e andamos até o gazebo. Josh segurou minha mão,

e foi um momento muito Querido Diário, se você sabe o que eu quero dizer, porque as luzes no

gazebo estavam ligadas, mas a cidade estava deserta e a mão dele estava macia e quente, e

depois... ele me entregou um presente!

A caixa era pequena e azul (mas não o azul da Tiffany como Macey apontaria mais tarde)

e envolta em uma fita rosa.

Ele disse, ―Espero que você goste.‖

Eu estava estonteante. Completamente. Já tinha ganhado presente antes, claro, mas

geralmente eram coisas como sapatos de corrida ou primeira edição assinada de Um Guia

Espião para o Subsolo Russo. Nunca vinha com bonitas fitas rosa.

―Minha mãe me ajudou a embrulhar,‖ Josh admitiu, depois apontou para o presente em

minhas mãos. ―Vá em frente,‖ ele me disse, mas eu não queria abrir. Quão triste é isso — a idéia

de um presente é mais precioso para mim do que o presente em si?

―Vamos!‖ disse Josh, ficando impaciente. ―Eu não tinha certeza do que você queria, mas...

ah, bem...‖ ele começou a dilacerar o papel. ―Feliz aniversário!‖

É, no caso de você não ter percebido ainda: totalmente não era meu aniversário.

O presente nas minhas mãos soava estranho e pesado. Geralmente não demora 365 dias

para se ganhar um presente de aniversário? Eu me perguntei. Digo, eu sei que tive uma vida

protegida e tudo, mas estou bem certa do padrão de que essas coisas funcionam.

―Aposto que você pensou que eu tinha esquecido,‖ ele provocou, me puxando em um

abraço quebrador de ossos.

―Ah, hum... é?‖ eu tentei.

―DeeDee me ajudou a escolher.‖ Ele tinha tirado a tampa fora da caixa e estava puxando o

mais delicado par de brincos que eu já tinha visto. (Nota para si mesma: fazer furos nas orelhas.)

―Pensei que eles combinariam com seu colar—sabe, o prata, com a cruz?‖

―É,‖ eu disse, consternada. ―Eu sei qual é.‖

Os brincos reluziram na noite, e tudo que eu pude fazer foi olhar para eles, hipnotizada,

pensando que nenhuma garota algum dia teve um namorado melhor, e nenhuma garota nunca foi

menos merecedora dele.

Eu senti como se estivesse fora de mim e olhando para baixo. Quem é essa garota, eu me

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perguntei. Ela não sabe quão sortuda é? Não percebe que tem brincos muito bonitos que

combinam com seu colar e um garoto que pensa nisso? Quem é ela para se preocupar com física

quântica, agentes químicos ou códigos da NSA? Ela não sabe que esse é um dos raros

momentos na vida onde tudo está tão certo, bom e maravilhoso?

Ela não sabe que esses momentos sempre acabam?

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Capítulo Vinte e Um

Enquanto eu me aproximava das passagens secretas, meus pensamentos pareciam ecoar

no espaço limitado: Mas não é meu aniversário.

Eu desejava que a dúvida enervante fosse embora. Eu tinha brincos, não tinha? Realmente

importava o porquê ele tinha me dado? Afinal, garotas normais ficam bravas quando seus

namorados esquecem-se de seus aniversários, então se lembrar de um aniversário errado não

deveria valer pontos bônus ou algo assim? Eu deveria estar creditando a conta de Josh no caso

de ele algum dia ele esquecer outra coisa—como vinte anos daqui ele poderia esquecer nosso

aniversário de casamento e eu poderia dizer, Não se preocupe, querido; se lembra quando você

me deu brincos quando não era meu aniversário? Agora estamos quites.

Mas não era meu aniversário.

Eu pensei sobre a data: Dezenove de novembro. Eu me lembrei de dizer a Josh que esse

era meu aniversário durante essa interrogação rápida no parque, e não tinha certeza do que era

mais sóbrio — que ele tenha lembrado ou eu tenha esquecido.

Os corredores vazios pareciam uma espiral na minha frente. Eu estava cansada. Estava

com fome. Queria tomar um banho e conversar com minhas amigas, de modo que eu já estava

meio adormecida enquanto me inclinei na parte de trás da antiga pedra que emoldurava a grande

lareira no salão estudantil do segundo andar.

Em apenas um par de semanas a lareira iria ser inútil para mim como passagem a menos

que eu quisesse usar uma das roupas a prova de fogo do Dr. Fibs nos meus encontros com Josh

(mas eles fazem até Bex parecer gorda), então eu puxei a alavanca uma última vez, esperando

que as pedras se partissem, mas quando eu o fiz, acidentalmente bati em um antigo suporte de

tocha que deslizou para baixo, abrindo ainda outra porta escondida, e revelando um caminho na

passagem secreta que eu não acho que tenha algum dia visto antes.

Eu não sei porquê eu o segui — genética espiã ou curiosidade adolescente — mas logo eu

estava perambulando abaixo pelo corredor, não sabendo aonde estava até que passei por finas

rodelas de luz e parei para espiar pelas frestas do Hall de História, onde a espada de Gilly

permanecia reluzindo sob seu holofote perpétuo.

Foi também quando eu ouvi o choro.

Mais abaixo na passagem, eu encontrei o escritório da minha mãe e as estantes que eu

assistira se virar para revelar a memorabília de uma diretora de um internato de elite. Me inclinei

contra elas, espiando pela fresta no gesso, e vi minha mãe chorar. Alguém poderia ter apertado o

interruptor, e a estante teria se virado, me levando junto com ela, mas enquanto eu permaneci no

espaço apertado eu não pude me afastar.

Ela estava sozinha em seu escritório, enrolada em sua cadeira. A última vez que eu tinha a

visto, ela estava dançando e rindo, mas agora ela sentava sozinha, e lágrimas corriam no rosto

dela. Eu queria dizer a ela que nós podíamos chorar juntas. Queria sentir as lágrimas salgadas

dela na minha bochecha. Queria alisar o cabelo dela e dizer que eu estava cansada também. Mas

eu permaneci aonde estava—observando, sabendo as razões pelas quais não fui confortá-la: eu

não podia explicar o que estava usando; não podia dizer a ela porquê estava ali; mas

principalmente, eu sabia que isso era algo que ela não queria que eu visse.

Quando ela alcançou um tecido em sua prateleira atrás de sua mesa, seus olhos estavam

fechados, e ainda assim ela encontrou a caixa com o movimento certo e firme de alguém que

sabia que estaria ali. Era um gesto praticado, um hábito. E eu sabia que a aflição da minha mãe,

como sua vida, era cheia de segredos. Então senti os brincos no meu bolso, e soube porque as

lágrimas tinham escolhido aquela noite para virem.

―Oh meu Deus,‖ eu disse, mais uma vez naquela noite — dessa vez por um motivo bem

diferente.

Eu desci mais abaixo na passagem e eventualmente deslizei para um assento na janela

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em uma sala de aula abandonada. Eu não chorei. Algo me disse que o universo não podia lidar

com ambas as mulheres Morgan lacrimejando ao mesmo tempo, então eu me sentei ali

estoicamente, deixando minha mãe ser a fraca por um momento, tomando minha vez na

obrigação.

Eu não me mexi; apenas esperei na noite. A escola estava silenciosa a minha volta, e eu

deixei o silêncio acalmar meu desgosto, aquietar-me em uma insônia enquanto eu encarei meu

reflexo no vidro escuro, e sussurrei, ―Feliz aniversário, Papai.‖

Eu fiquei longe tanto tempo quanto pude naquele domingo de manhã, mas ao meio-dia, eu

tinha que ver minha mãe; eu tinha que saber se ela estava bem e me desculpar de alguma

maneira por esquecer meu pai daquele jeito. Eu precisava saber se era o começo do fim das

minhas memórias.

Eu entrei abruptamente pelo escritório dela, armada com uma dúzia de desculpas, mas

elas todas voaram da minha mente quando vi minha mãe, Sr. Solomon e Buckingham me

encarando como seu tivesse acabado de chegar do espaço. Eles se calaram rapidamente — algo

que você acha que espiões saberiam fazer melhor. Eu não sei o que era mais perturbador — o

fato de que algo estava obviamente errado, ou que aqueles três membros do corpo docente da

escola mundial de espiões tenham se esquecido de trancar a porta.

Depois do que pareceu uma eternidade, Buckingham disse, ―Cameron, estou feliz que

esteja aqui. Você tem experiência em primeira-mão em um problema que estamos discutindo.‖

Naquele momento não importava que Patricia Buckingham tivesse dois quadris e dedos artríticos,

eu ainda teria jurado que ela era feita de aço. ―Claro, Rachel, você é a mãe de Cameron, sem

mencionar diretora dessa escola, então eu respeitaria sua opinião se escolhesse pedir que

Cameron saísse.‖

―Não,‖ minha mãe disse. ―Ela está dentro agora. Ela vai querer ajudar.‖

Toda a vibração do cômodo estava começando seriamente a me apavorar, então eu disse,

―O que é? Qual é—‖

―Feche a porta, Cameron,‖ Buckingham instruiu. Eu fiz o que foi dito.

―Abe Baxter perder uma chamada,‖ Sr. Solomon disse, cruzando seus braços enquanto se

inclinava no canto da mesa da minha mãe, do mesmo jeito que eu o vira fazer uma centena de

vezes durante a aula de Operações Secretas. E ainda, não soava como uma palestra.

―Na verdade, ele perdeu três chamadas.‖

Eu não percebi que as palavras dele tinham me atingido meu pé até que senti minha

mochila pressionar contra minha espinha enquanto tentava me inclinar no sofá. Bex sabe?, eu me

perguntei por meio segundo antes da resposta óbvia desceu sobre mim: é claro que não.

―Ele pode ter somente se atrasado, é claro,‖ Buckingham ofereceu. ―Essas coisas

acontecem — dificuldades de comunicação, mudanças na operadora do celular… Não significa

necessariamente que o disfarce dele foi comprometido. Ainda, três chamadas perdidas são...

inquietante.‖

―A mãe de Bex está…‖ eu tropecei sobre minhas palavras. ―Ela está com ele?‖

Sr. Solomon olhou para Buckingham, que balançou a cabeça. ―Nossos amigos no Seis

dizem que não.‖

E então que percebi porque Buckingham estava no comando daquela discussão—ela tinha

estado no MI629, assim como os pais de Bex. Ela tinha sido a que recebeu a chamada. Ela seria a

que teria decidir o que, se qualquer coisa, para contar a Bex.

―Isso não significa nada,‖ minha mãe disse, mas eu ouvi traços da mulher que vira na noite

anterior — traços que eu provavelmente não teria ouvido vinte e quatro horas antes, mas eu

29

n/t: serviço secreto britânico

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soube que eles estavam ali agora, e eu os ouviria pelo resto da minha vida.

―Bex...‖ eu murmurei.

―Nós estávamos falando sobre ela, Cam,‖ minha mãe disse. ―Não sabemos o que fazer.‖

Diga o que quiser sobre espiões, mas eles não fazem nada ao meio. Nossas mentiras vêm

completas com números de Segurança Social e RGs falsos, e nossas verdades cortam como aço

Espanhol. Eu sabia o que minha mãe estava dizendo. Eu sabia o porquê ela arriscara dizendo a

mim. A Academia Gallagher era feita de pedra, mas notícias como essa poderiam queimar tão

rápido como se fosse construída de jornais e pintadas com gasolina.

―Cam‖ — minha mãe sentou na beira da mesa de café à minha frente—―isso aconteceu

antes, é claro, mas cada caso é diferente, e você conhece Bex melhor do que ninguém—‖

―Não conte a ela.‖ As palavras surpreenderam até a mim. Eu sabia que nós deveríamos ser

valentes e endurecidas e no processo de estar preparadas para qualquer coisa, mas eu não

queria que ela soubesse só porque éramos fracos demais para carregar o segredo por conta

própria. Eu olhei para minha mãe de novo, me lembrei o quanto demora para algumas feridas

cicatrizarem, e percebi que haveria bastante tempo de luto.

O pai de Bex estava a milhas de distância, mas ela ainda tinha a promessa dele. Quem era

eu para tomar isso tão cedo? O que eu teria dado por um pouco de horas extras disso?

―Ei,‖ Macey McHenry disse atrás de mim, e eu instantaneamente me arrependi de mostrar

a ela o pequeno e antigo corredor e dizer que era um ótimo lugar para estudar. ―É bom que isso

não seja por causa de um garoto.‖

Ela derrubou sua pilha de livros ao meu lado, mas eu não pude olhar para ela. Em vez

disso, apenas permanecia ali limpando as lágrimas que tinha chorado quietamente pelo pai de

Bex — engolindo as que eu chorava por mim mesma. Um longo tempo passou. Eu não sei —

talvez um milênio ou algo assim — antes que Macey me cutucou com seu joelho e disse, ―Fala.‖

Diga o que quiser sobre Macey McHenry, mas ela realmente não rodeava o arbusto. Uma

super espiã teria mentido para ela — boas mentiras. Mas eu não pude. Talvez fosse estresse.

Talvez fosse aflição. Talvez fosse TPM, mas algo me fez olhar para cima e dizer, ―O pai de Bex

está desaparecido. Ele pode estar morto.‖

Macey deslizou para sentar ao meu lado. ―Você não pode dizer a ela.‖

―Eu sei,‖ eu disse, e depois assuei meu nariz.

―Quando eles terão certeza?‖

―Eu não sei.‖ E não sabia. ―Pode ser dias. Pode ser meses. Ele não ligou para seu

superior. Se ele ligar, então...‖

―Nós não podemos contar a ela.‖

Claro que não podíamos, mas algo naquela declaração me fez parar e olhar para ela. Eu

pensei de volta, e pela primeira vez, ouvi o ‗nós‘. Havia coisas que eu não podia dizer a minha

mãe, coisas que não podia contar a meu namorado, e coisas que não podia dizer a minhas

amigas. Mas sentada ali com Macey McHenry, eu percebi pela primeira vez alguém que sabia

todos os meus segredos — que eu não estava totalmente sozinha.

Macey ficou de pé e começou a ir embora. ―Cammie, sem ofensa...‖ Quando alguém como

Macey McHenry diz ‗sem ofensa‘ é quase impossível para alguém como eu não ficar ofendida

pelo que ela diz em seguida, mas eu tentei. ―...mas não suba para lá agora. Você parece um lixo,

e ela verá isso.‖

Eu não estava ofendida. Na verdade estava feliz que ela o disse, porque era verdade e eu

poderia não ter percebido se Macey não tivesse dito.

Macey saiu, e eu permaneci lá por um longo tempo — pensando. Me lembrei da vez em

que meu pai me levou ao circo. Por duas horas nós sentamos lado a lado, assistindo os palhaços

e aplaudindo o domador de leões. Mas a parte que eu mais me lembro é quando um homem

andou sobre a corda fina, a cinquenta pés do chão. No momento que ele alcançou o outro lado,

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cinco outras pessoas tinham subido em seus ombros, mas eu não estava observando ele —

estava ocupada demais encarando meu pai, que olhava o outro homem como se soubesse a

sensação, de estar lá em cima sem uma rede.

Sentada lá naquele dia, eu soube que a única coisa que eu podia fazer era continuar

colocando um pé na frente do outro, esperando que nenhum dos segredos nos meus ombros me

façam perder o equilíbrio.

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Capítulo Vinte e dois

―Olhos fechados,‖ o Sr. Solomon comandou novamente, e nós seguimos suas instruções.

O projetor rosnou atrás de mim. Senti a luz branca cortando através da sala, quando nós

apertamos nossos olhos juntas, e treinamos nossas mentes para recordar os detalhes mais

insignificantes das coisas que tínhamos visto. Eu pensei sobre a foto de uma área de

estacionamento do supermercado quando Sr. Solomon disse, ―Senhorita Alvarez, o que há de

errado com esta foto?‖

―A van azul tem placas para deficientes,‖ Eva disse. ―Mas está estacionada na parte de trás

do estacionamento.‖

―Correto. Próxima foto.‖ O projetor clicou, a imagem mudou, e nós tivemos dois segundos

para estudar a foto que passou em um flash diante de nossos olhos.

―Senhorita Baxter?‖ Sr. Solomon pediu. ―O que há de errado aqui?‖

―O guarda-chuva,‖ disse Bex. ―Tem chuva na janela e o avental no gancho está úmido, mas

o guarda-chuva está fechado. A maioria das pessoas deixa aberto para secar.‖

―Muito bom.‖

Quando nós abrimos os nossos olhos, eu não olhei para a tela, eu olhei para o nosso

professor e mais uma vez me perguntei como é que ele podia falar com Bex, desafiá-la como se

nada no mundo estivesse errado. Eu não sabia se o invejava ou o odiava, mas eu não tive tempo

nada, porque ele estava dizendo, ―Olhos fechados.‖ Eu o ouvi dar um passo, e eu queria saber

como ele podia ficar lá quando tudo que eu queria fazer era fugir. ―Senhorita Morgan, o que há de

errado com esta foto?‖

―Hum... Eu não... Quer dizer, eu estou...‖

O que estava errado era que eu não tinha sido capaz de olhar para a minha melhor amiga

nos olhos durante dias. O que estava errado era que as pessoas como Abe Baxter vivem e

morrem, e que o mundo continua — nunca sabendo o que eles sacrificaram. Isto estava tão

errado que eu não sabia por onde começar.

―Certo. E você, Srta. Bauer?‖

―A xícara de chá na cabeça da mesa,‖ disse Courtney.

―O que tem ela?‖

―A sua alça está virada para o lado errado.‖

―Então é isso,‖ disse o Sr. Solomon quando as luzes na sala de aula vieram à vida e todas

nós ficamos com os olhos meio fechados contra o reflexo.

Nossos relógios internos estavam dizendo a mesma coisa — a aula ainda não acabou.

―Eu tenho algo para vocês, hoje, damas,‖ disse o Sr. Solomon quando ele entregou uma

pilha de papéis para cada menina na primeira fila.

A mão de Liz foi instantaneamente ao ar.

―Não, Srta. Sutton,‖ Sr. Solomon disse antes der Liz poder ao menos fazer a pergunta. ―Isto

não é um teste, e não é para a nota. Sua escola só precisa que vocês digam em preto e branco

se vocês vão estudar CoveOps no próximo semestre.‖

Em toda minha volta, minha colegas de classe começaram a preencher o formulário —uma

marca de verificação aqui, uma assinatura ali, até o Sr. Solomon ir para frente e falar, ―Damas‖ —

ele pausou quando todas olharam—―Meu colega, Sr Smith gosta de dizer, 'É um grande mundo

cheio de cantos escuros e longas memórias.‘ Não é‖ —ele pausou, olhando para nós, e eu podia

jurar que seu olhar estava demorando em mim —―tome esta decisão levianamente.‖

Bex me puxou no ombro. Quando me virei, ela colocou seus polegares para cima e fez

com a boca as palavras ―Isto é incrível!‖

Eu olhei para baixo na forma em minhas mãos, esfregando entre os meus dedos, e tentei

cheirar pra checar se tinha veneno na tinta.

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É só papel, disse a mim mesmo. Papel comum. Mas depois que o próprio fato enviou

arrepios em minha espinha que eu percebi que o formulário não era em papel-evaporador. Não

foi criado para dissolver e ser lavado. Capturei o olhar de Joe Solomon, e tenho certeza que ele

me viu notar aquilo — a permanência do que significava. E mesmo que aquilo não fosse para ser

comido, eu ainda tinha um mau gosto na boca.

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Capítulo Vinte e Três

Agora, você pode pensar que ser uma Garota Gallagher namorando um garoto de

Roseville e que a melhor coisa no mundo seria ter Tina Walters vindo correndo até você no café

da manhã, gritando, ―Cammie, eu falei com a sua mãe, e ela disse que podemos ir a cidade

nesse Sábado!‖

Você pode pensar isso — mas está errada.

Cada momento que passei na cidade enquanto estava cheia, com as Garotas Gallagher foi

um momento que elas podiam me ver com Josh, ou Josh podia me ver com elas. Ainda assim, eu

olhei para Bex do outro lado da mesa, senti a tristeza que eu carregaria por dias, e mesmo que

Liz tivesse sussurrado, ―Cam, é um grande risco,‖ eu sabia que tinha de ir. Eu precisava de

algumas horas para espairecer.

No sábado de manhã, os quartos estavam barulhentos enquanto as garotas coletavam

suas listas de compras para o Natal e checavam que filmes estavam em cartaz. (Eu já tinha visto

os dois com Josh, é claro.) Algumas de nós fomos para a cidade em vans da Academia

Gallagher, mas eu escolhi andar pela rua com o resto das segundanistas — maravilhadas por

como aquele terreno familiar parecia na luz do dia.

Quando alcançamos a beira da cidade, comecei a esfregar minhas têmporas. ―Ah,‖ eu

disse, ―minha cabeça está me matando. Alguém tem alguma aspirina?‖ Minhas colegas checaram

seus bolsos e bolsas, mas nenhuma conseguiu encontrar qualquer frasco de pílulas

(provavelmente porque eu os havia roubado na noite anterior).

―Vocês vão sem mim,‖ eu disse, quando alcançamos a praça. ―Vou correr até a farmácia.‖

Não era mentira.

―O filme vai começar em dez minutos,‖ Bex me lembrou, mas eu já estava indo embora,

gritando atrás delas, ―Encontro você lá.‖

Conforme o plano se executava, era um dos bons. Eu podia passar duas horas com Josh,

depois me espreitar para o fundo do cinema, dizer algo sobre o filme no caminho de casa, e elas

nunca saberiam que eu não estivera lá o tempo todo.

A porta soou quanto eu empurrei para dentro. Eu nunca tinha estado na farmácia com

Josh. Sempre pareceu melhor não vê-lo lá. Mas ele me dissera que seu pai o fazia trabalhar nos

sábados, e ter permissão para estar na cidade era uma oportunidade boa demais para

desperdiçar.

Andei até o balcão e falei com a mulher atrás do mesmo. ―Olá. Josh está aqui?‖

―Bem, olá, Cammie,‖ um homem disse atrás de mim. Me virei para ver o Sr. Abrams vindo

em minha direção. Ele usava um jaleco branco com seu nome bordado sobre o bolso. Senti como

se estivesse me preparando para ter uma limpeza bucal. ―É bom ver você aqui.‖

―Ah, oi, Sr. Abrams.‖

―Esse é seu primeiro passeio por nossa pequena loja?‖

―Sim, é sim. É...‖ olhei em volta para as longas filas de xaropes para tosse, cartões de

felicitações e curativos para toda ocasião. ―...bem legal.‖

Sr. Abrams sorriu. ―Bem, Josh acabou de sair para fazer uma entrega. Deve voltar logo,

porém. Enquanto isso quero que você vá até o balcão e peça qualquer sabor de sorvete que

quiser — pela conta da casa. O que acha?‖

Lancei um olhar atrás de mim para ver uma fonte de refrigerante antiquada posicionada

contra a parede mais distante. ―Parece ótimo!‖ Totalmente verdade.

O Sr. Abrams sorriu para mim e começou a ir em direção a uma escada estreita, mas antes

de escalar, se virou e disse, ―Cammie, você pode voltar a qualquer hora.‖

Ele desapareceu atrás da parede. Eu estava quase triste em ver ele partir.

O balcão do sorvete era plano contra minhas mãos conforme eu passava em frente a um

enorme espelho que pendia atrás dele. A mulher do balcão me seguiu e vestiu um avental,

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conforme eu subi em um dos bancos de metal.

Uma placa sobre o bar dizia ―Orgulho servindo Coca-Cola desde 1942.‖ Havia uma jarra

alta de vidro cheia de canudos. A mulher não piscou um olho quando eu pedi um sundae de

chocolate duplo, e pela primeira vez em semanas eu me senti quase normal. Lá fora era

Novembro e frio, mas o sol estava brilhando além da frente da loja, esquentando minha pele

enquanto chupava meu sorvete e caia em um transe sonhador e induzido ao açúcar.

Então, eu ouvi o tinir dos sinos de bronze sobre a porta.

Eu não me virei. Não tinha que fazê-lo. A mulher que esteve me ajudando puxou seu

avental fora e se dirigiu até o balcão, enquanto eu parei com a colher a meio caminho da boca e

vi o reflexo de Anna Fetterman no espelho atrás do bar.

―Você pode me ajudar?‖ disse Anna, uma vez que a funcionária se aproximou. ―Preciso de

um refil para meu inalador.‖

―Claro, querida.‖ A mulher pegou o pedaço de papel da mão de Anna. ―Me deixe checar

isso. Estarei de volta em um minuto.‖

Eu já estava fora do meu banco e me agachando atrás de uma prateleira com fraldas

adultas, quando percebi que tudo que eu era realmente culpada era de estar comendo um

sundae com calda de chocolate quente logo após o almoço, e me deixe te dizer — Anna havia me

visto comer bem mais do que isso (um certo incidente envolvendo Doritos, queixo em bisnaga, e

as Olimpíadas de inverno vem a minha mente), então eu estava quase pronta para dizer oi,

quando ouvi algo que me fez congelar.

Os sinos tiniram novamente, e eu lancei um olhar através das prateleiras para ver Dillon e

um bando de garotos da festa do celeiro entrarem. Mas eles não desceram até os corredores.

Não. Eles já haviam achado o que procuravam.

―Hey, eu não te conheço?‖ Dillon perguntou, mas não falava comigo. Muito pior. Ele falava

com Anna, e ele não estava simplesmente fazendo uma pergunta. As palavras dele eram afiadas.

Seu tom predador demais enquanto ele se aproximava da pequena Anna Fetterman e dizia, ―Não,

espere, você não estuda na minha escola.‖ No espelho sobre o bar eu vi ele amontoar Anna

contra as prateleiras. ―Aposto que você estuda na Academia Gallagher.‖

Anna apertou a bolsa contra o peito, como se ele fosse agarrar a bolsa e sair correndo.

―Que bolsa bonita,‖ disse Dillon. ―Seu pai a comprou para você?‖

O pai de Anna é um professor de biologia da oitava série em Dayton, Ohio, mas Dillon não

sabia disso e Anna não podia dizer a ele. Ela estava se agarrando a seu disfarce tanto quanto eu

me agarrava ao meu.

Os garotos em volta de Dillon começaram a rir. E logo eu lembrei porque as Garotas

Gallagher e os garotos da cidade não podiam se misturar.

Anna tropeçou para trás, porque, apesar dos quase três anos e meio de treinamento de

Proteção e Aplicação, ela dificilmente podia golpear uma mosca. A cidade estava cheia de

Garotas Gallagher naquela tarde, mas Dillon e seus amigos tinham encontrado Anna. Não era um

acidente. Anna estava sozinha e fraca, tão óbvio alguém como Dillon estar lá para tentar diluir ela

do rebanho.

―Eu só estou aqui para...‖ Anna tentou falar, mas sua voz era um pouco mais que um

sussurro.

―O que?‖ Dillon perguntou. ―Eu não ouvi você.‖

―Eu…‖ Anna gaguejou.

Eu queria ir até ela, mas estava congelada de alguma maneira — no meio do caminho

entre ser amiga dela e ser uma garota ensinada em casa com uma gata chamada Suzie. Se eu

fosse uma e não a outra, eu poderia ter parado isso, mas em vez disso eu disse a mim mesma de

novo e de novo, Ela vai ficar bem; ela vai ficar bem; ela vai—

―Qual é o problema? Eles não te ensinaram a falar na Academia Gallagher?‖ falou Dillon, e

eu teria dado qualquer coisa para Anna ter respondido em Árabe, ou Japonês, ou Farsi, mas ela

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deu mais um passo para trás. O cotovelo dela bateu em uma caixa de Band-Aids, que balançou

na beira da prateleira.

Anna se aproximou em direção a porta e murmurou, ―Eu vou voltar para—‖

Mas uma dupla de amigos do Dillon parou em frente a ela, a cercando com uma parede

moletons de time da escola, e eu não podia vê-la mais.

Ela vai ficar bem, eu disse de novo, torcendo para ser verdade. De certa forma foi, porque

no exato momento os sinos da porta soaram, e Macey McHenry entrou.

―Ei, Anna.‖ Para o meu conhecimento, Macey nunca tinha dito mais de duas palavras para

Anna Fetterman, mas quando ela entrou pela porta, sua voz era leve e livre, e soava como se

fosse a melhor amiga da baixinha no mundo. ―O que está acontecendo?‖

Os quatro garotos se apartaram de volta de Anna, se afastando; talvez pelo jeito como

Macey mastigou seu chiclete e estourou uma bola que estourou na cara de Dillon; talvez porque

eles nunca tinham visto uma garota tão bonita pessoalmente antes. Mas Dillon não recuou.

―Oh,‖ ele disse presunçosamente, olhando a figura de Macey de cima a baixo. ―Ela tem

uma amiga.‖

Anna olhou para Macey como se ela meio esperasse que sua colega de classe dissesse,

Quem, eu? Eu não sou amiga dela. Mas Macey apenas dedilhou os frascos nas prateleiras,

entregando a Anna um de vitamina C. ―Você devia levar esses.‖

Macey desceu até o corredor, examinando as prateleiras, ignorando Dillon e o bando, que

continuavam esperando de seu líder indicações.

―Eu deveria saber que a Academia Gallagher não deixaria suas queridas preciosas fora por

conta própria,‖ Dillon zombou. Mas Macey apenas sorriu um de seus sorrisos notoriamente

bonitos.

―É,‖ disse ela, de olho nos amigos dele. ―Não somos corajosas como vocês.‖

―Há algum problema aqui?‖ Eu conhecia a voz, mas o sotaque era um que Bex só usava

em ocasiões raras. Até hoje, eu não sei como ela passou pela porta sem soar os sinos, mas ali

estava ela, passando pela sessão de Resfriados, indo até o outro lado de Anna. Eu não sabia

porque ela não estava no cinema. Eu não ligava.

Era três contra quatro agora, e Dillon não gostou dessa possibilidade. Ainda assim, ele

olhou para Bex e disse, ―Qual é o problema? Seu iate está quebrado ou algo assim?‖

Dillon riu. Seus amigos riram. Era um bando de risadas idiotas até que Macey disse, ―Não

que eu tenha ouvido.‖

―Vocês vieram até aqui para paquerar a Anna?‖ disse Bex, usando seu falso encanto. Ela

empurrou uma Anna petrificada em direção ao grupo. ―Anna, diga aos garotos alguma coisa sobre

você.‖

―Eu tenho um namorado!‖ ela proferiu de um jeito que me diz que não era uma mentira. Eu

estava atônita. Bex estava atônita. Até Macey demorou um segundo para se recuperar. Anna tem

um namorado?

Todo esse tempo, eu nunca tinha pensado que uma das minhas colegas poderia ter um

namorado—especialmente Anna. ―O nome dele é Carl,‖ ela adicionou.

―Sinto muito, garotos,‖ disse Bex, deslizando seu braço em volta do ombro de Anna. ―Carl

ganhou dessa vez.‖

―Oh, então elas têm namorados. Me digam, Carl é um cidadão daqui?‖ Dillon perguntou,

como se quisesse que deixasse de ser um segredo. ―Vocês garotas gostam de favelados?‖

―Provavelmente é Carl Rockefeller,‖ Macey adicionou, e Bex apertou Anna mais forte até

que ela disse, ―É. Carl Rockefeller. Nós nos conhecemos da físi‖ — e outro aperto — dessa vez

com unhas—―hum, iate,‖ Anna corrigiu, ―clube de iate.‖

Duas palmadas no ombro de Anna disseram a ela que tinha feito bem.

―Ei,‖ disse Dillon, se aproximando como se estivesse cansado de rodeios. ―Eu estava me

perguntando se vocês conhecem alguém que eu conheço...‖ A voz dele falhou. Ele se inclinou

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mais perto, e eu apenas soube — digo, SOUBE — que ele perguntaria de mim, mas então ele

disse, ―A Rainha da Inglaterra.‖

Bem, na verdade Bex tinha conhecido a rainha, mas obviamente ela não iria dizer isso. Ela

apenas permaneceu calada enquanto Dillon e seus amigos riam tanto da piada, a fazendo ainda

mais sem graça.

―Querida, eu peguei o seu—‖ A mulher atrás do balcão parou abruptamente quando viu os

quatro garotos perto das três garotas. O único som do cômodo foi o do papel branco da

prescrição de Anna enquanto ele dobrava em suas mãos.

―Obrigada,‖ disse Bex, pegando o pacote. ―É isso tudo o que você precisava?‖ ela

perguntou a Anna, quem assentiu, e a cor lentamente retornou a suas bochechas.

―E quanto a você?‖ Macey perguntou a Dillon. ―Conseguiu o que te trouxe aqui?‖

Mas elas não esperaram pela resposta dele. Em vez disso, andaram juntas passando por

uma longa prateleira de revistas, onde o rosto de Macey estava na capa da Newsweek,

juntamente com o resto da família McHenry, sob uma legenda que dizia A Família Mais Poderosa

da América?

Dillon olhei para a revista, depois para ela. Macey endireitou o quadril. ―Nós apreciamos o

seu voto.‖

Muito tempo depois de elas terem ido embora, eu ainda não podia me livrar dos sinos que

continuavam soando. Eu assisti Anna sair pela rua com suas salvadoras — suas amigas. Uma

mão pegou meu pulso, e Josh disse, ―Ei.‖ Vi seu reflexo no espelho pelo canto do olho, mas havia

algo além da janela que eu não podia deixar.

Liz estava parada na calçada, me encarando através do vidro como se ela não me

conhecesse. Como se ela não quisesse conhecer.

―Ei, o que há de errado?‖ Josh perguntou, finalmente me virando para encará-lo. ―O que

você está fazendo com isso?‖ Ele gesticulou para a meia dúzia de frascos de aspirina que eu

devo ter subconscientemente recolhido nos meus braços para jogá-los como bolas de neve em

Dillon e seus compadres se a ajuda não tivesse chegado.

―Ah.‖ Eu olhei para baixo. ―Eu as derrubei quanto pegava uma.‖

―Está tudo bem,‖ disse ele, e empurrou os frascos de volta na prateleira.

Eu me virei para a janela, mas Liz já tinha ido.

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Capítulo Vinte e Quatro Uma frente fria soprava naquela noite - em muitas maneiras. Fogo queimava em todos os salões. Nós trocamos nossas meias três quartos por meias

calças. Cada janela que passamos estava coberta de geada, bloqueando nossa visão do mundo

exterior. Mas nada me fez tremer tanto quanto o olhar no rosto de Liz. Por dias, era como se

ainda estivéssemos separadas pelas janelas da farmácia. Era como se ela nem me conhecesse.

Quando eu fui para o laboratório de química, após da ceia na terça à noite, Liz já estava lá.

"Bem, ótimo ver você aqui", eu disse, tentando soar vigorosa quanto eu juntei minhas

coisas e me movi para a mesa de laboratório em frente à dela.

Seus olhos estavam protegidos atrás de seus óculos de proteção. Ela nem sequer olhou

para cima.

"Terra para Liz" Eu tentei de novo, mas ela se virou.

"Eu não tenho tempo para ajudar você com seu dever de casa, Cammie", ela disse, e

poderia ter sido minha imaginação, mas eu podia jurar que todos os béqueres congelaram.

"Tudo bem", eu disse. "Acho que temos tudo sob controle".

Nós trabalhamos em silêncio por um longo tempo antes de Liz dizer: "Ele era amigo de

Josh – não era?"

Eu não precisava perguntar de quem ela estava falando. "Sim, eles são vizinhos. Eu o

conheci antes, por isso que eu não podia me comprometer-"

"Belo amigo‖ Liz se alterou.

"Ele é só conversa", eu disse, repetindo as palavras de Josh para mim. "Ele é inofensivo".

Mas a voz de Liz estava tremendo quando ela disse: "Vá perguntar a Anna como ele é

inofensivo." Claro, o encontro de Anna na farmácia se espalhou como um louco, e Anna era agora

uma espécie de heroína- graças ao fato de que Bex e Macey insistiram que Anna tinha a situação

sob controle, quando chegaram lá.

Mas eu não poderia compartilhar isso com Liz. Nós duas sabíamos a verdade. "Se as

coisas tivessem chegado fora de controle eu poderia ter-"

"Poderia ter ou deveria ter?" Liz perguntou.

A diferença entre essas duas palavras que nunca pareceu tão grande. "Deveria", eu disse.

"Eu deveria ter parado."

"Mesmo que isso significasse perder o Josh?" Liz disse, não perguntando o que ela

realmente queria saber. Que se tivesse sido ela ao invés de Anna na mira de Dillon, eu teria

salvado ela? Se tivesse uma briga entre o meu verdadeiro eu e minha lenda, qual eu teria que

escolher?

As portas de vidro na parte de trás do laboratório se abriram, e Macey entrou "Ei, eu pensei

que poderia encontrar vocês duas –‖

"Foi longe demais, Cammie", disse Liz, agitando descontroladamente os ingredientes na

mistura até que a coisa começou a borbulhar e mudar de cores como algo em um caldeirão de

uma bruxa. "Você foi longe demais."

"Eu tenho ido longe demais?" Eu disse. "Eu não sou a única explodindo carros de

educação no trânsito!"

"Ei", Liz falou. "Nós pensamos que era um pote de mel!"

"Não." Eu balancei minha cabeça. ―Nós pensamos que ele era um garoto." Juntei minhas

coisas. "Nós pensamos que valia a pena. E, você sabe o quê? Ele vale."

"Sim", Liz me chamou. "Bem, eu nunca pensei que você era alguém que escolhe um

garoto acima de suas amigas!"

"Ei, legal isso", disse Macey.

"Bem, eu nunca pensei que tinha amigas que me fariam escolher!"

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Ao me aproximar da porta, ouvi Liz começa a falar, mas Macey a cortou, dizendo: "Ei,

menina gênio, você não tem idéia de que tipos de sacrifícios que ela está disposta a fazer por

suas amigas‖

"O que você-" Liz começou, então a sua voz suavizou um pouco quando ela perguntou:

"Por quê? O que você sabe?"

Quando Macey falou, ela não deixou margem para dúvidas. "O bastante pra dizer: caia

fora".

As portas de vidro se abriram e eu me lancei através delas apenas quando Liz disse, "Ok",

mas não conseguia parar de me mover, não me atrevi quebrar meu ritmo até chegar ao armário

de suprimentos no corredor leste, onde escorreguei de lado uma pilha de lâmpadas florescentes,

segurei uma lanterna da prateleira de cima, e encontrei a pedra solta que eu tinha descoberto um

dia, durante meu primeiro dia na sétima série, enquanto procura por Onyx, o gato de Buckingham.

A pedra estava fria debaixo da minha mão quando eu empurrei e senti um sopro de ar

quando a parede deslizou de lado. Uma pequena lasca de luz deslizou por baixo da porta atrás

de mim, mas ela desapareceu no nada, na imensidão profunda de preto.

Uma hora depois, eu estava de pé nas sombras da Rua Bellis, tremendo no escuro.

O que eu pretendia realizar por me esgueirar através de um túnel secreto, subir em uma

barreira e, literalmente, escorar por fora da casa de Josh no escuro? Eu não tinha a menor idéia.

Em vez disso, eu só estava lá como uma idiota (e até mesmo um idiota que é muito bom

em não se visto enquanto fica ao redor pode se sentir muito idiota ao fazendo isso).

Isto provavelmente é um momento muito bom ressaltar que, embora possa parecer que eu estava

à espreita - eu não estava. Espreitar é o que caras assustadores com barbas e manchas em suas

camisas fazem. Gênios, com três anos de formação em espionagem não espreitam – vigiam.

(Ok, eu poderia estar à espreita, um pouco.)

Cortinas de ilhós Branco foram empurradas para trás de uma janela da cozinha onde a

mãe de Josh estava lavando pratos. Quando Josh entrou pela cozinha, sua mãe jogou água com

sabão nele, e ele riu. Eu pensei sobre Bex, que estava provavelmente rindo agora, também.

Pensei na minha mãe, cujas lágrimas só vieram em segredo. Pensei na minha vida - aquele que

eu tinha e a que eu queria, então tudo que eu fiz foi ficar tremendo de frio, assistindo Josh ri, que

eu comecei a chorar.

Mas isso é um direito da menina - não é? Chorar, às vezes por motivo nenhum?

Realmente, quando você pensa sobre isso, deveria estar na Constituição. Talvez eu vá entrar nos

Arquivos Nacionais em algum momento e escrever isso nele. Bex ia totalmente me ajudar. De

alguma maneira, eu não acho que os Pais Fundadores tinham isso em mente

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Capítulo Vinte e Cinco

Com as provas finais e todo o estresse que vem com elas, eu não vi Liz de novo até o

jantar da noite seguinte quando ela trouxe sua fatia de pizza e veio se sentar ao meu lado.

―Então, aonde você foi na noite passada?‖ perguntou ela. Mas antes que eu pudesse responder,

ela continuou, ―Ver Josh?‖

Eu assenti.

―Você não terminou com ele, terminou?‖ ela soou genuinamente preocupada.

―Não,‖ eu falei, chocada.

―Bom.‖ Depois ela deve ter sentido minha confusão porque disse, ―Ele é bom para você, e

você merece isso.‖ Ela olhou em volta no Grand Hall para as centenas de outras garotas que

eram como nós. ―Nós todas merecemos isso.‖

É, eu percebi, acho que merecemos.

Eu dei um olhar para Bex que sentara ao meu lado, rindo. Nós todas merecemos risadas,

amor e o tipo de amigas que eu tinha ao meu lado, mas enquanto eu observava ela, não pude

evitar de me perguntar se ela ainda acharia a vida tão divertida se soubesse o que eu sei. Me

perguntei se os destinos de nossos pais tinham sido invertidos, nossas personalidades tinham

sido trocadas, também? Seria eu a garota que ficaria parada no Grand Hall permitindo Anna

Fetterman demonstrar como ela se defendera contra uma máfia de vinte cidadãos zangados

(porque, até aquele momento, a máfia tinha crescido consideravelmente)? Seria Bex, a linda Bex,

ser a camaleoa, então?

―Srta. Baxter!‖ Eu me virei para ver a professora Buckingham começando a vir em nossa

direção. Senti meu coração parar — literalmente. Ela estava andando em nossa direção, rolando

como a força da natureza que ela era.

Macey estava do outro lado da mesa, e nós trocamos um olhar — um medo silencioso

permaneceu entre nós como o cheiro de óleo de oliva e queijo derretido, mas ao meu lado, Bex

estava na boa, e eu me lembrei do poder de um segredo.

Enquanto ela chegava mais perto, eu tentei ler algo nos olhos de Buckingham, mas eles

eram tão frios e vagos como pedra.

―Senhorita Baxter, eu acabei de receber um telefonema...‖ Buckingham começou e então,

sempre tão ligeiramente, virou seu olhar na minha direção. ―...de seu pai.‖ O ar voltou para meus

pulmões. O sangue começou a se mover nas minhas veias, e estou bem certa que Buckingham

deu algo que se assemelhava a uma piscada na minha direção. ―Ele falou para dizer oi a você.‖

Meus cotovelos caíram na mesa, e na minha frente, Macey espelhou meu alívio. Estava

acabado.

―Oh,‖ disse Bex, mas ela nem ao menos parou de mastigar. ―Legal.‖

Ela nunca saberia quão legal.

Lancei um olhar para a mesa principal, e minha mãe levantou um copo na minha direção.

Ao meu lado, Bex não suspirou de alívio. Não fez uma oração. Não fez nenhuma das coisas que

eu me senti fazer, mas está tudo bem, eu acho. O pai dela ainda estava em seu fio de altura. Foi

tão bom que ela nunca olharia para cima.

Quase todo mundo tinha desaparecido escadas acima vinte minutos depois quando Bex e

eu começamos a ir.

―Então, o que você quer fazer agora?‖ Perguntou Bex.

―Acho que podemos fazer qualquer coisa,‖ eu disse, e era verdade. Nós estávamos

deixando o corredor, e não importava onde estávamos indo. Nós éramos treinadas, jovens, e

tínhamos o resto de nossas vidas para carregar as preocupações de adultos. Naquele momento,

eu só queria celebrar com minha melhor amiga—mesmo que ela não soubesse o porquê.

―Vamos pegar todo o sorvete que pudermos carregar e...‖

Mas então eu vi Liz descer correndo a escada espiral, gritando, ―Cammie!‖ como se eu já

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não tivesse parado. Liz sussurrou, ou pelo menos tentou sussurrar, mas juro que todo mundo na

mansão inteira devia ter ouvido ela quando disse, ―É Josh!‖

Guerras foram ganhas e perdidas, tentativas de assassinatos tinham sido interrompidas, e

mulheres têm evitado aparecer no mesmo evento com vestidos repetidos — e tudo por causa da

boa inteligência. É por isso que temos aulas inteiras devotadas a esse tipo de coisa. Mas

enquanto Liz me arrastou até nosso quarto, eu realmente não apreciei a importância disso tudo

até ver a tela. ―Estavam aqui quando eu voltei do jantar.‖ Pobre Liz. Tinha feito esse trabalho

incrível se nos enfiar no sistema de Josh, e eu podia dizer por fitá-la que ela teria dado qualquer

coisa para refazer tudo de novo naquele momento. Ignorância é felicidade, afinal. Mas o problema

era, para espiãs, ignorância é normalmente uma vida bem curta.

De D’Man

Para Jabrams

Você voltou para seus sentidos já? Estou te dizendo — eu vi ela COM MEUS PRÓPRIOS

OLHOS. Você tem que acreditar em mim. ELA ESTUDA NA ACADEMIA GALLAGHER! Ela

esteve mentindo para você! Como pode acreditar nela e não em MIM?

De Jabrams

Para D’Man

Eu confio na Cammie. Acredito nela. Você provavelmente só pensou ter visto ela andar com um

bando daquelas garotas no sábado. Ela nem ao menos conhece elas. Confie em mim. Dê um

tempo.

A resposta de Dillon foi uma única linha.

De D‘Man Para Jabrams Hoje à noite. 9:00. TEREMOS A PROVA!

Agora, a esse ponto, eu estava começando a entrar em pânico, o que não é uma coisa de

espiã, mas uma coisa de garotas, então percebi que estava bem dentro de meus direitos

femininos. A ―prova‖ que eu vi garotos adolescentes se referirem em filmes geralmente envolviam

equipamento de vídeo e/ou roupas femininas, então eu gritei, ―Ah meu Deus!‖ e comecei a

procurar em volta pelas anotações de Liz. Certamente, em algum lugar em todo aquele tanque de

conhecimento tinha de haver instruções para o que fazer quando seu disfarce está

completamente e irrevogavelmente estragado.

Ao passo do conhecimento de que a operação tinha sido severamente comprometida, As

Operárias formaram uma lista de alternativas, que incluía o (mas não era limitada ao) seguinte:

A. Desorientação: em uma variação do abordamento ―você deve ter visto alguém

que se parece exatamente comigo‖, uma das Operárias poderia personificar Cammie e

escalar o muro enquanto Cammie cruzava com Josh e Dillon e dizia, ―É aquela que você

viu?‖ (o que é especialmente efetivo quando O Sujeito é de vista curta.)

B. Compaixão: essa técnica não apenas foi usada com sucesso por espiãs há

muitos séculos, mas também é um grampo de garotas adolescentes. A conversação seria

provavelmente semelhante a seguinte:

JOSH: Cammie, é verdade que você frequenta a Academia Gallagher, lar de herdeiras

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podres fúteis, e não é ensinada em casa, como me disse inicialmente?

CAMMIE: (instantaneamente explode em lágrimas—nota: lágrimas são muito

importantes!) Sim. É verdade. Eu estudo na Academia Gallagher, mas ninguém me entende

lá. Não é uma escola; (pausa dramática) é uma prisão. Eu entenderei se você nunca querer

me ver novamente.

JOSH: Como eu poderia algum dia te odiar, Cammie? Eu te amo. E, se possível, agora

eu amo até mais.

C. Eliminação: Dillon, vulgo D‘Man, poderia ser ―descartado.‖ (Essa alternativa

falhou ao não obter apoio universal.)

Eram todas opções muito boas (bem, não a C, mas eu senti que devia a Bex pelo menos a

incluir), mas enquanto elas pesavam na minha mente, e nove horas se aproximava, eu soube que

havia outra opção. Uma que nós não havíamos posto no papel.

Josh e Dillon estavam vindo para ter uma prova, e mesmo apesar de o rumor que a divisão

de segurança tinha recentemente investido em dardos venenosos provavelmente não era

verdade, eu ainda não queria pensar no que aconteceria se Josh viesse procurar por mim —

agora ou algum dia. E quanto eu pensei nisso nesse sentido, eu realmente só tinha uma opção.

―Eu voltarei logo,‖ disse enquanto meti os brincos de Josh no meu bolso e alcancei minha

cruz de prata, me apegando a minha lenda até o fim.

Andei em direção a porta conforme Bex gritou, ―O que você vai dizer a ele?‖

Eu não parei enquanto disse, ―A verdade.‖

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Capítulo Vinte e Seis

Bem, obviamente eu não quis dizer "a verdade, toda a verdade e nada mais que a

verdade". Mais como a verdade do código vermelho - do tipo abreviada. A verdade espiã.

Sim, eu vou para a Academia Gallagher.

Sim, eu tive que mentir para você.

Sim, você não pode acreditar em qualquer coisa que eu tenha dito ou feito.

Mas aqui está a coisa sobre a verdade espiã: às vezes não é suficiente para atingir seus

objetivos. Às vezes você precisa de mais, e mesmo que eu não queira fazer isso, talvez seja

apropriado que um relacionamento que começou com uma mentira que terminasse com uma.

Não, eu nunca realmente te amei.

Não, eu não me importo que você esteja machucado.

Não, eu nunca quero ver você de novo.

A mansão parecia especialmente silenciosa e vazia tão cedo em uma noite de segunda-

feira. Meus passos ecoavam nos corredores escuros, mas eu não tinha medo do barulho. Os

túneis estavam esperando por mim, e Josh, e o fim de algo que eu tinha amado.

Ainda assim, antes que eu escalasse o muro pela última vez, havia algo que eu não

poderia ficar carregando.

O escritório do Sr. Solomon não era exatamente do meu jeito - mas estava perto o

suficiente. Alcancei o bolso de trás do meu jeans e peguei o formulário dobrado que o Sr.

Solomon tinha nos dado – o de todo mundo tinha durado menos o meu, que estava ali desde que

eu tinha colocado. Estava vincado e esmagado, e eu percebi que eu tinha levado comigo em

quase todos os lugares que eu tinha ido por semanas - não assinado, inacabado.

Vinte e quatro horas antes, eu tinha medo até de olhar para isso, mas tanta coisa pode

acontecer na vida de um espião naquele espaço de tempo - um pai pode ter renascido, uma

amizade pode viver e morrer, um verdadeiro amor pode dissolver-se como o papel que suas

notas de amor são escritas. Vinte e quatro horas antes, eu estava sentada no topo de nossas

paredes, mas agora eu sabia de que lado eu pertencia.

Os dois quadrados estavam no final da página, como uma bifurcação na estrada que eu

tinha crescido cansada de escolher. Para além das nossas paredes estava um garoto que eu só

poderia machucar, e dentro delas estavam pessoas que eu poderia ajudar. Foi provavelmente a

decisão mais difícil da minha vida, e eu fiz isso marcando um X. Essa é uma das regras de ouro

de CoveOps: não faça nada mais difícil do que tem que ser.

Era verdade, as coisas já estavam difíceis o suficiente.

―Olá, Josh. Olá, Dillon, tão bom ver vocês novamente‖, eu pratiquei conforme andava nas

sombras da calçada - esperando, não realmente pensando sobre o que eu tinha ido fazer, mas ao

invés disso, tentando descobrir uma maneira acidentalmente-de-propósito de chutar Dillon na

cabeça – Com força.

Beep. Bip bip. Beepbeepbeep.

Eu olhei para meu relógio e vi o ponteiro vermelho na tela se aproximar da minha posição

enquanto a batida se tornou uma constante bip-bip-bip-bip-beeeeeeeeeeeep.

Eu temporariamente desativei isso só quando eu ouvi Dillon repetindo: "Eu estou lhe dizendo,

esta vai ser –―

―Oi, caras.‖ Ok, então minha camuflagem não tinha totalmente ido embora, porque era

óbvio que eles não tinham a menor idéia que eu estava lá. Dillon sequer largou sua corda. (A

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propósito, que tipo de covarde precisa de uma corda para escalar uma parede de doze metros de

pedra? Eu estava totalmente fazendo isso desde a segunda série!)

Mas o fato de eu ter apanhado ele fora de guarda, não parou Dillon de ser super arrogante

(uma vez que ele tinha conseguido enrolar sua corda e tudo mais). "Bem, bem, bem." Ele

caminhou em minha direção. "Lá está ela. Como foi a escola hoje?" perguntou ele, como se ele

estivesse sendo realmente inteligente e me fazendo pisar em falso.

―Ótima.‖ Eu engoli. Eu não queria olhar para Josh. Se eu olhasse, eu temia que meus

nervos iriam desmoronar. Mais do que qualquer coisa, eu queria Dillon para uma briga. Eu

poderia berrar para Dillon, eu poderia gritar, eu poderia ganhar meu brilho Gallagher dele. Josh

era outra história.

―Nós só estávamos vindo para ver você‖, disse Dillon, se aproximando.

―Sério?‖ Eu disse, acrescentando um nervosismo artificial na minha voz.‖Mas ...‖ Eu olhei

entre os dois. "Você não sabe onde eu moro".

―Ah, claro que nós sabemos‖, disse Dillon. ―Eu vi você sábado. Caminhando de volta para a

escola. Com as suas amigas.‖

―Mas ... eu estou estudando em casa.‖ E o Oscar de Melhor Atriz em drama adolescente

vai para- Cammie Morgan! "Eu não sei do que você está falando".

O poste acima de nós ficou piscando, e naquele milésimo de segundo de escuridão, Dillon

aproximou.

―Confessa, menina rica. Eu vi você!‖

Atrás dele, Josh sussurrou, ―Dillon ...‖

―Sim, você não é o dono desta cidade, você sabe. Eu não me importo com o que seu pai...‖

"Dillon," Josh disse novamente, cada vez mais alto.

Agora eu não podia deixar de olhar para Josh. Eu não conseguia parar de olhar para ele.

"Eu sinto muito, eu sussurrei. Isso era a confissão de culpa que Dillon estava esperando.

Ele só não sabia que era para o crime errado. "Eu sinto muito. Eu sinto- ‖

"Cammie?" Josh perguntou, como se tentasse me reconhecer. "Cammie, isso é-"

Eu concordei, incapaz de encontrar o olhar dele através da minha visão turva pelas lágrimas.

"Viu!" Dillon disse, zombando de mim. "Eu te disse-"

"Dillon!" Josh o cortou. "Só... saia daqui."

"Mas" Dillon começou, e Josh entrou na minha frente. Ele estava tentando me proteger de

Dillon, mas realmente ele só tinha levado a melhor chance que eu teria de arrancar os olhos

daquele pequeno idiota. (Literalmente, arrancar-olhos ia ser no final de C&A).

"Dillon, só saia", disse Josh, forçando o seu amigo a se afastar. Mas isso não impediu

D'Man de dizer presunçosamente: "A gente se vê."

Eu queria dar um soco, pontapés e fazê-lo sentir tanta dor quanto possível, mas eu lembrei

que nenhuma quantidade de treinamento de C&A iria me ajudar a machucar ele da maneira que

eu me machuquei. Mesmo na Academia Gallagher eles não ensinam você como quebrar o

coração de alguém.

Quando Dillon foi embora, pensei nas mentiras que eu tinha planejado contar a Josh, e por

um segundo eu pensei que não poderia fazer isso. Eu não poderia machucá-lo – nem agora, nem

nunca. Mas tão logo Dillon desapareceu, Josh girou e gritou: "É verdade?"

"Josh, Eu-"

Ele chegou mais perto. Sua voz estava firme. "Você é uma delas?"

Uma delas?

"Josh-"

"Uma Garota Gallagher." Em toda a minha vida, esse termo foi reverenciado, quase

adorado, mas nos lábios de Josh era um insulto e, nesse instante, ele parou de ser o garoto dos

meus sonhos e passou a ser um dos arruaceiros de Dillon na farmácia, ele era agarrando Anna,

ele estava me julgando, então eu disse ―Então, e se eu for uma?"

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"Humph!" Josh disse então balançou a cabeça, olhando para a noite escura. "Eu deveria

saber isso". Ele chutou o chão como eu tinha visto ele fazer umas mil vezes, e quando falou, foi

quase pra si mesmo. "Ensinada em casa". Então ele olhou para mim. "Então o que eu era? Algum

tipo de piada? Era assim, ei, quem pode fazer de tolo um cara da cidade? Foi-"

"Josh-"

"Não, eu realmente quero saber. Era o caso de caridade da semana? Ou o mês de se

encontrar com o garoto local? Ou-"

"Josh!"

"Ou você estava só entediada?"

"SIM!" Eu gritei, finalmente, querendo que isso parasse. "Sim, tudo bem. Eu estava

entediada, e eu queria ver se eu poderia começar com isso, ok?"

O Sr. Solomon estava certo - o pior tipo de tortura é assistir alguém que você ama se

machucar.

Josh recuou, e sua voz era quase um sussurro quando ele disse "Ok". Nós dois tínhamos

ido longe demais - falado demais - mas nós dois sabíamos então os motivos que as Garotas

Gallagher não sair com os garotos de Roseville. Ele só não sabia que os motivos estavam

classificados.

"Olha, eu vou embora amanhã", eu disse, sabendo que eu não poderia ter Josh escalando

o muro naquela noite, ou em qualquer outra. "Eu tenho que dizer adeus." Enfiei a mão no bolso e

peguei os brincos. Eles brilharam na minha mão como estrelas caídas. "Você deveria

provavelmente levar isso de volta."

"Não", ele disse, deixando-os longe. "Eles são seus."

"Não." Eu forcei eles nas suas mãos. "Fique com eles. Dê para DeeDee". Ele olhou

chocado. "Eu acho que ela realmente gosta deles."

"Sim, tudo bem." Ele empurrou os brincos no bolso conforme eu forçava um sorriso.

"Ei, tome cuidado, ok?" Dei um passo, então me lembrei de como ele se sentia acorrentado

a um tipo de vida enquanto eu me sentia acorrentada em outra. "E você conhece livre arbítrio?"

"Sim?" ele disse, parecendo surpreso que eu me lembrava.

"Boa sorte com isso."

Livre arbítrio. Eu usei o meu para ir embora - de volta para a vida que tinha sido

acorrentada, a vida que tinha escolhido - e longe do garoto que me mostrou exatamente o que eu

estava perdendo. Eu esperava que ele não estivesse me olhando ir. Em minha mente, ele já tinha

virado uma esquina – me odiando um pouco, permitindo que construísse uma ponte sobre o seu

sofrimento. Eu andava através das trevas, mas eu não olhei para trás.

Se eu tivesse olhado, provavelmente eu teria visto a van.

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Capítulo Vinte e Sete

Pneus gritaram na calçada. Senti o cheiro de borracha queimada, ouvi um grito e o som de

metal contra metal — uma porta, eu acho. Havia mãos sobre meus olhos, cobrindo minha boca,

assim como na outra noite, em outra rua, quando outro par de mãos vieram do nada. O piloto

automático se ativou, e segundos depois meu atacador deitou nos meus pés — mas não era Josh

— não naquele momento.

Outro par de mãos estava em mim. Punhos por toda parte. Eu chutei — fiz contato — ouvi

um familiar, ―Ah, isso dói.‖

Mas antes que eu pudesse processar o que ouvi, eu estava na van, e alguém estava

comandando, ―Dirija!‖

Eu permaneci ali, imóvel, realmente incomodada, porque, mesmo que o Sr. Solomon

tivesse deixado pistas há semanas que nossa prova final do semestre de CoveOps seria um

exame prático, eu não percebi quão literalmente ele tinha querido dizer até que o Sr. Smith me

cegou e amarrou minhas mãos.

―Desculpe, Sr. Mosckowitz,‖ eu murmurei me sentindo culpada por chutá-lo tão forte. Afinal,

era apenas a segunda missão que ele esteve, e eu o chutei no intestino. E mais, tenho certeza

que ele é um pugilista30.

Ele arquejou um pouco antes de dizer, ―Tudo bem. Eu ficarei... bem.‖

―Harvey...‖ Sr. Solomon avisou.

―Certo. Fique quieto,‖ disse o Sr. Mosckowitz, me batendo suavemente na costela, soando

como se ele estivesse tendo o melhor momento de sua vida.

Já que era um teste e tudo, eu soube que seria melhor eu agir como fui treinada. Deitei no

chão da van, contando os segundos (novecentos e oitenta e sete, a propósito), notando conforme

fizemos uma volta na mão certa, duas esquerdas, um U, e passamos sobre algumas lombadas

redutoras de velocidade que me deixou com uma nítida impressão que tínhamos desviado pelo

estacionamento do Piggly Wiggly.

Conforme a van virava a sul, eu estava disposta a apostar minha nota semestral em

CoveOps (o que, tecnicamente, era exatamente o que eu estava apostando) no que fomos em

direção ao complexo industrial na parte sul da cidade.

Portas abriram e bateram. Pessoas saíram. Alguém me puxou pelos pés em um

estacionamento de cascalho, então dois pares de mãos fortes me arrastaram para um piso de

concreto e depois para uma luz artificial em um vazio espaço grande.

―Sente-a. Amarre-a,‖ comandou Sr. Solomon.

Eu luto agora? Luto depois? Eu me perguntei, depois arrisquei—chutei e fiz contato.

―Sabe, Srta. Morgan, que foi sua mãe que você acabou de acertar,‖ disse Sr. Solomon.

―Ah, sinto muito!‖ eu exclamei, me virando, como se pudesse ver minha mãe através da

venda nos olhos.

―Boa, jovem.‖

Alguém me empurrou em uma cadeira, e ouvi Sr. Solomon dizer, ―Ok, Srta. Morgan, você

conhece o exercício: não há regras. Pode bater tão forte quanto quiser bater. Pode correr tão

rápido quanto quiser correr.‖ Seu hálito cheirava a chiclete de hortelã.

―Sim, senhor.‖

―Sua equipe foi incumbida de recuperar um cd com informações pertinentes. Você foi

capturada e mantida para interrogatório. O time de recuperação terá dois pacotes. Cuidado para

adivinhar o que são?‖

―O cd e eu?‖

―Bingo.‖

30

n/t: Lutador, um tipo de boxe

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―Você não pode ter certeza que eles podem te seguir até esse local.‖ Eu o ouvi se afastar,

seus pés raspando contra o piso de concreto.

―São Garotas Gallagher?‖ perguntei.

―Sim.‖

―Então estarão aqui.‖

Quinze minutos depois, eu estava trancada em um quarto. Estava de olhos vendados,

amarrada em uma cadeira e agradecendo a minhas estrelas da sorte que eles tenham facilitado

para mim.

Eles me deixaram com o Sr. Mosckowitz.

―Eu sinto muito, Sr. M,‖ eu disse. ―Mesmo.‖

―Hum, Cammie, tenho certeza que nós não deveríamos estar conversando.‖

―Ah, certo. Desculpe.‖ Eu fiquei quieta por cerca de vinte segundos. ―É que se eu soubesse

que era um teste antes, eu nunca teria usado um dos movimentos proibidos — eu juro!‖

―Ah.‖ Um silêncio pesado preencheu o quarto enquanto eu esperava pelo inevitável,

―Proibido?‖

―Não se preocupe. Tenho certeza que você está bem. Não é como se você estivesse tonto,

com manchas ou algo assim.‖

―Oh, querida.‖

Para a maior autoridade do mundo em criptografia de dados, Harvey Mosckowitz era um

livro aberto e tanto.

―Ei, Sr. M, não se preocupe,‖ eu disse, tentando soar toda calma. ―É apenas um problema

se manchas vermelhas aparecerem nas suas costas. Você não tem manchas vermelhas. Tem?‖

Foi quando eu ouvi os sons de um gênio certificado girando em círculos como um cão

procurando seu rabo.

―Eu não... Oh, a dor está piorando.‖ (Eu não duvidava disso — ele tinha girado bem

rápido.) ―Aqui.‖ Ele tirou a venda. ―Você olhe.‖

Tristemente, foi fácil assim, e teria sido mais fácil se eu não tivesse medo de usar qualquer

um dos movimentos proibidos (sobretudo porque eu gostava do Sr. Mosckowitz, e eu não tinha

escrito uma permissão da Secretaria de Defesa e tudo). Ainda assim, Sr. Mosckowitz era bem

esportivo sobre isso.

―Ah, vocês garotas,‖ ele disse de um jeito retraído, uma vez que eu o tinha amarrado na

cadeira.

―Apenas fique sentado, Sr. M. Tudo vai acabar logo.‖

―Hum, Cammie?‖ ele perguntou enquanto eu me dirigi à porta. ―Eu não fui tão ruim, fui?‖

―Você foi ótimo.‖

A primeira coisa que eu tinha que fazer era sair daquele quarto. O cd não estava ali — se

estivesse, de jeito nenhum o Sr. Solomon teria deixado apenas o Sr. Mosckowitz para guardá-lo,

então eu corri pelo armazém vazio até a porta de saída, chequei por sensores e alarmes, depois

corri para as sombras do complexo.

Lá fora, senti meus olhos se ajustarem a escuridão. Uma pequena luz escapou do prédio

que eu acabara de deixar, mas por outro lado eu estava cercada de nada além de aço

enferrujado e janelas escuras e quebradas. Uma brisa fria soprou, assobiando entre os edifícios,

soprando folhas secas e poeira sobre o cascalho. Me apertei entre a noite, tentando sentir

qualquer movimento, mas se não fosse pelo arame brilhante novo de uma cerca alta e algumas

câmeras de vigilância bem escondidas, eu teria jurado que aquele lugar era uma cidade

fantasma.

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Então eu ouvi alguns estalos e uma voz familiar.

―Rato de Biblioteca para Camaleoa. Camaleoa está me ouvindo?‖

―Liz?‖ eu me virei.

―Camaleoa, é Rato de Biblioteca, se lembra? Usamos codinomes quando estamos em

atividade?‖

Mas não era atividade! Eu estava numa missão de terminar com meu namorado secreto.

Eu não estava exatamente preparada para a ativa. Mas então me lembrei da coroa de prata

balançando no meu pescoço.

Antes que eu pudesse mesmo perguntar, Liz explicou. ―Eu fiquei entediada em um fim de

semana e resolvi consertar seu colar. E atualizá-lo. O que você acha?‖

Eu achava que minhas amigas eram tanto brilhantes quanto um pouco assustadoras, isso

era o que eu achava. Mas é claro que eu não poderia dizer isso a ela.

―Então, como está indo com o seu projeto?‖ perguntou Liz, e eu me lembrei que

provavelmente metade da escola estava ouvindo. ―Digo, houve complicações ou—‖

―Liz,‖ eu rompi, não querendo pensar sobre Josh ou o que acabara de fazer. A hora de

chorar com suas amigas sobre um coração partido é em cima de sorvete de chocolate e

romances adolescentes — não armas de choque e coletes a prova de balas. ―Onde está o Cd?‖

perguntei.

Dessa vez, foi a voz de Bex que respondeu, ―Nós achamos que ele está no edifício grande

no lado norte do complexo. Tina e Mick foram para a reconstrução, e nós estamos segurando

aqui.‖

―Aonde é aqui?‖

―Olhe para cima.‖

Dois dias depois do funeral do meu pai, minha mãe foi para uma missão. Eu nunca

entendera até agora — que às vezes uma espiã não precisa de um disfarce tanto quanto precisa

de um escudo. Agachada no telhado entre Bex e Liz, eu não era a garota que tinha acabado de

terminar com o namorado; olhei para meu relógio e verifiquei meu equipamento em vez de chorar.

Eu tinha uma missão e não um coração partido.

―Ok,‖ disse Liz, conforme a maioria das segundanistas circularam em volta dela. ―Meu

palpite é que a escola na verdade possui esse lugar, porque alguém tem escondido muito

dinheiro aqui.‖ Ela apontou para um diagrama de petróleo bruto, no que meus instintos de super

espiã me diziam que era feito de papel-evaporador e delineador. ―Não há movimento de gatilhos

no perímetro. As janelas estão equipadas com um alarme.‖ Bex se iluminou com o som disso,

mas Liz interrompeu o entusiasmo dela friamente. ―Um original do Dr. Fibs. De jeito nenhum

vamos desarmá-lo no meio da noite com equipamento fraco.‖

―Ah.‖ Bex murchou como se nós não fossemos a deixarela ter diversão alguma.

Eva apontou um dispositivo que parecia uma arma radar normal, mas era na verdade um

detector de calor humano na direção do edifício na nossa frente e olhou para todos os lados antes

de dizer, ―Bingo. Temos uma atividade.‖

Pelo menos doze figuras vermelhas andaram para frente e para trás na tela, mas a maioria

das figuras estavam amontoadas no centro.

―É o nosso pacote,‖ disse Bex.

―Portas são problemáticas,‖ disse Liz, descartando opções. ―Janelas estão fora. Pode

acreditar que eles estão observando os dutos de ar e—‖

―Você sabe o que resta,‖ disse Bex, sua voz desafiadora.

Liz olhou para nós uma por uma, percebendo o que todas estávamos pensando — qual era

a única opção da nossa missão — e nós tínhamos vinte pontos de vantagem sobre ela.

―Não!‖ rompeu Liz. ―Eu serei estrangulada, decapitada ou—‖

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―Eu farei.‖ E foi quando eu me virei para olhar para Anna Fetterman — Anna, quem tinha

segurado seu deslize na missão apenas meses antes de CoveOps ter sido a morte dela, estava

se aproximando, dizendo, ―Sou do tamanho certo, não sou?‖

E foi quando eu soube que Dillon iria ver Anna de novo algum dia, e então ele seria quem

precisasse de salvação.

Beep.

O que era isso? Eu me perguntei.

Beep-Beep.

―Isso é um míssil?‖ Anna soltou, olhando para o céu.

Beep-beep-beep-beep-beep.

―Estamos presas como alvos de um dardo buscador de calor de tranquilizante!‖ gritou Eva.

Beeeeeeeeeeeeep.

―Ok, todo mundo, parados!‖ uma voz masculina atrás de nós gritou.

Algumas das minhas colegas fizeram o que foi dito. Eu fiz também, mas por uma razão

inteiramente diferente. Eu nunca tinha pensado que ouviria aquela voz de novo, mas ali estava

ela, dizendo, ―Eu... Eu... já chamei a polícia. Eles chegaram aqui em qualquer—‖

Mas as Garotas Gallagher não o deixaram terminar. O negócio da polícia tinha sido

totalmente a coisa errada a se dizer, porque em um segundo, eu tive que gritar, ―Eva, Courtney,

não!‖

Todo mundo estava me encarando — Josh, que estava surpreso por eu não estar

amarrada ou morta; e todas as segundanistas (menos Bex e Liz), que não podiam imaginar

porque eu teria impedido-as de neutralizar alguém que era obviamente um pote de mel.

―Josh!‖ eu rompi um sussurro áspero enquanto me livrei do poder do dispositivo de

rastreamento e me fui em direção a ele. ―O que está fazendo aqui?‖

―Estou aqui para resgatar você.‖ Então ele lançou um olhar para minhas colegas vestidas

de preto. ―Quem são elas?‖ ele sussurrou?

―Estamos aqui para resgatá-la, também,‖ disse Bex.

―Ah,‖ ele falou, e depois assentiu sem expressão. ―Tinha uma van... Eu vi você... Eu…‖

―Aquilo?‖ eu disse com um aceno de mão. ―É uma coisa da escola.‖ Tentei soar tão casual

quanto possível quando disse, ―Tipo... um trote.‖

Josh poderia ter acreditado em mim se todas as segundanistas não estivessem paradas

em no telhado de um armazém, vestidas de preto e usando cintos de equipamentos.

―Cammie,‖ disse ele, se aproximando, ―primeiro eu descubro que você estuda naquela

escola, e depois você me diz que está indo embora, depois vejo você chutar como uma louca e

ser sequestrada ou algo assim.‖ Ele deu outro passo, acidentalmente derrubando um velho

pedaço de metal que caiu do telhado e chocou contra o piso abaixo.

Sirenes começaram a soar. Luzes riscavam o chão abaixo de nós. Liz olhou para baixo,

depois gritou, ―Ele acionou o alarme!‖

Mas isso não importava mais, porque eu não podia ver qualquer coisa além de Josh. Não

podia ouvir qualquer coisa além do medo na voz dele quando disse, ―Cammie, me diga a

verdade.‖

A verdade. Eu dificilmente me lembrar qual era. Eu tinha me iludido por tanto tempo que

demorei um momento para me lembrar o que tinha me trazido até aquele telhado.

―Eu estudo na Academia Gallagher. Essas são minhas amigas.‖ Atrás de mim, minhas

colegas estavam se movendo, preparando-se para a próxima fase da missão. ―E nós temos que ir

agora.‖

―Eu não acredito em você.‖ Ele não soou magoado nesse momento — suas palavras eram

um desafio.

―O que eu tenho que dizer?‖ eu rompi. ―Tenho que dizer que meu pai está morto, e minha

mãe não sabe cozinhar, e essas garotas são a coisa mais próxima que eu tenho de irmãs?‖ Ele

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olho através de mim para as meninas de todo tamanho, forma e raça. ―Tenho que dizer que você

e eu nunca poderemos nos ver de novo? Porque é verdade. É tudo verdade.‖ Ele se aproximou

para me tocar, mas eu me esquivei, dizendo, ―Não venha me procurar, Josh. Eu nunca mais

posso te ver novamente.‖ E então eu olhei nos olhos dele pela primeira vez. ―E você ficará melhor

por isso.‖

Bex me entregou um equipamento, mas antes que eu pegasse me virei para encará-lo pela

última vez. ―Ah,‖ eu disse, ―e eu não tenho uma gata.‖

Me virei para esconder minhas lágrimas e encarei a expansidão profunda da noite diante

de mim. Não parei para pensar no que tinha ficado para trás. Liberta dos meus segredos, das

minhas mentiras, eu disse a mim mesma que estava fazendo o que fui posta na terra para fazer.

Eu corri. Pulei. Estendi meus braços, e por dez segundos felizes, eu podia voar.

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Capítulo Vinte e Oito

Certo, eu não estava voando tanto enquanto contornava entre dois edifícios em uma corda

de rapel, mas ainda assim, era boa a sensação de estar leve.

Josh estava atrás de mim. Me aproximei na direção do que estava por vir, e àquela altura e

velocidade, eu não tive chance de olhar para trás. Aterrissei no chão, e pareceu natural ouvir Eva

dizer a Tina, ―Estamos indo até as caixas de disjuntores.‖

Era tão certo que Courtney deveria dizer, ―Observe isso,‖ e arrastar Mick em direção a

escada de incêndio no lado oeste. Éramos Garotas Gallagher em uma missão — fazendo o que

fazemos melhor. Então eu não pensei sobre o que tinha acontecido, nem mesmo quando Bex

perguntou, ―Você está bem?‖

―Estou bem,‖ eu disse a ela e, nesse momento, cheia de adrenalina, era verdade.

Corremos para o lado sul, e Bex usou um pequeno tubo que se parece com um batom,

mas na verdade é um creme ácido super intenso. Eu totalmente não recomendo fazer com que

eles se misturem, a propósito, porque, assim que Bex desenhou um círculo grande no teto, o

ácido começou a corroer, e trinta segundos depois eu estava descendo no depósito abaixo.

O edifício era um labirinto de prateleiras altas de metal empilhadas com páletes. Imaginei o

bip das empilhadeiras conforme Bex e eu penetramos pelo lado sul do edifício, acreditando que

as nossas colegas estavam simultaneamente rastejando através do lado norte.

―Ele é mais alto do que eu esperava,‖ Bex sussurrou conforme esperava por mim para

limpar silenciosamente uma esquina.

―É, tanto faz—‖

Mas naquele momento, um cara que eu reconheci no departamento de manutenção saltou

de uma prateleira alta. Ele desceu pelo ar como um corvo grande e preto, mas Bex e eu tínhamos

sentido ele, sentimos sua sombra. Eu saí de lado, e ele caiu com um baque contra uma das

prateleiras. Ele nem sequer hesitou antes de se virar para chutar, mas Bex estava pronta e bateu

um certo Napotine no meio da testa dele. (Estou realmente contente que Dr. Fibs parou de fumar,

a propósito, porque, além dos óbvios benefícios para a saúde, a idéia de colocar tranqüilizantes

em autocolantes é impressionante.)

Bex e eu estávamos nos movimentando de novo através do labirinto escuro quando ela

disse, ―Você vai encontrar alguém. Ainda mais quente. Com o cabelo ainda melhor!‖ Mentira. Mas

era uma das boas.

Nós penetramos mais para baixo no corredor, ouvindo atentamente, sentindo nosso

ambiente (afinal, se o Sr. Solomon tinha pedidos favores para o departamento de manutenção,

então ele estava levando a sério essa coisa de teste final.)

―Equipe Beta, como está indo?‖ Eu perguntei, mas fui recebida com um silêncio estático.

Bex e eu dividimos um olhar preocupado. Isso não é bom. ―Equipe Charlie?‖ Nada na outra linha

também.

Eu me sentia como um rato preso em um labirinto, procurando um bloco de queijo. Cada

canto era perigoso. Cada passo podia ser uma armadilha. Então, Bex e eu olhamos uma para a

outra, o reconhecimento apareceu, e nós fizemos o que os grandes espiões sempre fazem: nós

olhamos para cima.

Depois de subir vinte pés para o topo das prateleiras, podemos ver homens patrulhando os

caminhos abaixo de nós conforme Bex e eu nos movemos furtivamente para cima, nos

aproximando do pequeno escritório no centro do edifício.

O escritório tinha paredes interiores que provavelmente estavam a vinte pés de altura,

porém muito menor do que o telhado do armazém que assomava, escuro e frio, acima de nós.

Paramos e Bex levou seus binóculos aos olhos, em seguida, entregou para mim. ―Adivinha quem

está sentado em cima do pacote?‖

Olhei para a pequena sala e disse, ―Solomon.‖

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Bex colocou a mão na orelha e falou, ―Equipe Beta e equipe Charlie. Estamos em posição.

Repito, equipe Alfa está—‖

Mas antes que Bex pudesse terminar, senti algo agarrar meu pé. Eu chutei, tentando me

libertar e me virei para Bex, mas ela tinha desaparecido. Havia briga no terreno. Eu me virei, vi a

mão musculosa que segurou meu tornozelo e ouvi caixas caindo no andar de baixo.

Eu poderia me segurar, e logo estava caindo, passando pelas prateleiras de metal pesado,

por isso estendi a mão e agarrei uma, e fiquei pendurada lá por um momento, tentando me puxar

de volta. Mas era tarde demais.

Algo me puxou novamente, e desta vez eu bati no chão, senti o concreto, o árido concreto

entre minhas mãos, e vi um par de botas de trabalho tamanho catorze olhando para o meu rosto.

Isso não é bom.

Eu tentei rolar, chutar, virar para cima e acertar o meu adversário no queixo com meus pés,

mas antes que pudesse me mover, percebi que meus braços tinham parado de funcionar.

―Vamos lá, Cam,‖ o Guarda do Chiclete disse. ―Acabou garota, eu peguei você.‖ Ele me

endireitou e me conduziu ao virar a esquina, onde Bex estava sendo segurada por dois caras da

manutenção (ambos os quais estavam sangrando).

―Belo feito, aliás,‖ o Guarda do Chiclete sussurrou quando me arrastou para a porta do

escritório. De alguma forma, eu não acho autêntico bandidos internacionais serem legais. Mas eu

posso esperar.

Eu pensei em minhas opções: donzela em apuros, tornozelo torcido, falsa apreensão,

cabeçada no nariz? Algo me disse que o Guarda do Chiclete não ia ser derrubado por qualquer

uma delas. Ele tinha pelo menos cinqüenta quilos e 15 anos a mais do que eu, e como minha

mãe diz, sempre fui uma criança que nunca podia ficar parada.

―Sinto muito, Srta. Morgan,‖ Solomon disse, passeando fora do escritório em minha

direção. ―Mas acabou. Você não tem o cd. Você falhou ao cumprir sua missão—‖

Parecia que tudo estava acabado. Ele soava como se estivesse tudo acabado. Mas, na deixa, Liz

cortou a energia e as luzes.

Silhuetas escuras voaram de lugar nenhum. Quase parecia estar chovendo Garotas

Gallagher. Eu gostaria de poder incluir algum golpe, mas tudo aconteceu muito rápido. Socos

voaram. Chutes atingiram o escritório. Ouvi corpos pesados caindo no chão conforme Napotines

faziam contato com a pele.

O edifício deve ter sido equipado com luzes de emergência, porque, depois de um minuto

no escuro, um brilho amarelo estranho cresceu dentro do espaço enorme, e tudo parecia

continuar até que as luzes se acenderam. Eu vi Bex no nível dos guardas, em seguida, se

arremessar para o escritório, mas quando ela chegou à entrada, ela deve ter disparado um

detector de movimento, porque o alarme soou, e transformou a sala do escritório em prisão

conforme barras dispararam para o chão, construindo uma gaiola em torno da coisa que mais

precisávamos.

Bex bateu contra as grades, quando por trás dela, Joe Solomon disse, ―Desculpe,

senhorita, mas receio que esse é o fim de sua missão.‖ Ele balançou a cabeça. Em vez de

parecer triunfante, parecia triste, quase inconsolável. ―Tentei dizer para vocês quão importante

isso é. Tentei fazer vocês ficarem preparadas, e agora olhem só pra vocês.‖ Estávamos

sangrentas e doloridas, mas ainda estávamos de pé. Agora o Sr. Solomon soava culpado e

decepcionado. ―Como vocês vão sair daqui? Qual era o plano de retirada? Vocês realmente estão

dispostas a sacrificar três quartos de sua equipe para nada?‖ Ele balançou a cabeça novamente e

se afastou de nós. ―Eu não quero ver nenhuma de vocês no próximo semestre. Eu não quero isso

na minha consciência.‖

―Desculpe-me, senhor,‖ eu disse. ―Mas isso se aplica mesmo se tivermos o cd?‖

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Ele deu uma rápida, cansada, e quase inaudível risada, nos lembrando de tudo o que

nossas irmãs têm conhecido há séculos — que os homens vão sempre subestimar as garotas.

Mesmo as Garotas Gallagher.

―Esse cd,‖ eu disse, apontando atrás dele na gaiola que cercava completamente o pequeno

escritório, exceto pelas finas aberturas, onde o chão abria para permitir as barras a se atirarem

por ele. O espaço era muito pequeno para um homem adulto passar. Não, por isso que deveria

ser uma garota — de preferência um do tamanho de Anna Fetterman.

Chocado, Sr. Solomon e o resto de sua equipe encararam como a pequena Anna acenou

então deslizou para trás, através da abertura no chão e fora da vista. Alguns dos homens fugiram

atrás dela, mas Joe Solomon ficou olhando.

―Bem,‖ ele disse. ―Eu acho que—‖

Mas antes que ele pudesse terminar, um barulho estrondoso encheu o ar. O lugar parecia

cheio de poeira, fumaça e madeira serrada. O Guarda do Chiclete me atirou contra a parede,

colocando seu corpo entre mim e os danos conforme uma chapa de aço derrubava as prateleiras,

uma após a outra, caindo como dominós empilhados em linha.

Parecia que passou um tempão até que o Guarda do Chiclete me deixou ir. Acho que ele

estava atordoado—eu sei que eu definitivamente estava. Afinal, não é todo dia que você A)

rompe com seu namorado secreto, B) é sequestrada por (de certa forma) ex-agentes do governo,

e C) tem o namorado secreto previamente mencionado tentando resgatar você, dirigindo uma

empilhadeira através de uma parede.

―Cammie!‖ Eu ouvi o grito de Josh através da poeira, mas eu não podia responder ele —

não ainda. Sr. Solomon estava no chão. Ele tinha planos para cada contingência, menos uma - a

persistência de um garoto normal que tem a infelicidade de amar uma menina excepcional.

―Cammie!‖ Josh disse através da poeira que fervilhava em torno da empilhadeira quando

ele desceu para estar no topo da pilha de entulho. ―Nós. Precisamos. Conversar.‖

―Sim,‖ disse uma voz atrás de mim. Eu virei para ver a minha mãe de pé lá. Minha forte,

bela, e brilhante mãe. ―Nós vamos.‖

Sr. Solomon estava agitado. O Guarda do Chiclete estava abanando o pó fora do ar, e Bex

estava sorrindo como se este fosse o dia mais divertido que ela teve em toda sua vida. Estava

acabado — o teste, as mentiras, tudo. Estava acabado, então eu fiz a única coisa que eu podia.

―Josh,‖ eu disse, ―Eu gostaria que você conhecesse minha mãe.‖

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Capítulo Vinte e Nove

Depois de eu saber a verdade sobre meus pais, e antes de vir para a Academia Gallagher,

a única vez que eu não estava preocupada era quando ambos estavam à minha vista. Acho que

foi ai quando comecei a ser A Camaleoa. Eu me espreitava para o quarto deles para vê-los

dormirem. Deitava silenciosamente atrás do sofá, ouvindo os sons da TV enquanto eles

relaxavam a noite. Mas até para mim, a noite da prova final de CoveOps tinha sido uma das

longas.

23:00 horas: As Operárias retornam a sede e são instruídas para subir escadas acima e ir

dormir.

23:40 horas: Tina Walters relata que a Diretora Morgan tinha se trancado em seu escritório

com O Sujeito.

01:19 horas: A Operária tem sucesso em tirar toda a serragem e lama de seu cabelo.

02:30 horas: A maioria das segundanistas param de estudar para a prova final de PDM

(Países do Mundo) e vão dormir.

04:00 horas: A Operária ainda não consegue dormir. A Operária percebe que o melhor

caso envolveria um copo de chá de ―modificador de memória‖ e O Sujeito acordar em sua própria

cama em algumas horas com nenhuma única memória do que tinha acontecido na noite anterior.

A Operária não se deixou pensar no pior caso.

Às sete da manhã seguinte, eu tinha cansado de esperar, então bati na porta do escritório

da minha mãe. Pensei que estava preparada para qualquer coisa—que depois do dia que tinha

tido ontem, nada poderia me abaixar a guarda novamente.

Eu estava errada.

―Oi,‖ disse Josh.

―O que... Hum… Como…‖ eu podia dizer pelo olhar no seu rosto que ele estava

começando seriamente a duvidar do meu status de gênio recém-revelado, mas não pude evitar —

ele já deveria ter ido embora. Eu não deveria ter que encará-lo. Não deveríamos ter um momento

incômodo de permanecer aglomerados juntos na soleira da porta do escritório da minha mãe. As

duas metades da minha vida não deveriam colidir.

―Você esteve aqui a noite toda?‖ perguntei quando finalmente recuperei minha habilidade

de pensar coerentemente.

Seus olhos estavam vermelhos e pesados, mas ele não parecia alguém que estava

ansioso para ir dormir. Na verdade, ele parecia com alguém que nunca iria dormir de novo.

Ele esfregou os olhos. ―É, eu liguei e disse a minha mãe que ficaria no Dillon. Eles… eles

não sabem nada sobre… eles estavam felizes com isso.‖

―É,‖ eu disse. ―Nosso número não aparece na lista de ligações recebidas.‖

Não era para ser engraçado, mas o ―Velho Josh‖ teria rido ou sorrido aquele sorriso lento e

derretido. O ―Novo Josh‖ apenas permaneceu ali — olhando para mim.

―Cammie.‖ A voz da minha mãe entrou claramente pela soleira da porta e ecoou pelo Hall

de História. ―Entre aqui, por favor.‖

Eu entrei, roçando contra ele por um momento que não durou nem de longe o suficiente.

―Eu vou...‖ ele aprontou para os bancos no topo da escada. ―Sua mãe e aquele cara —

eles disseram que eu podia esperar.‖

Mas eu não queria que Josh esperasse. Se ele o fizesse, eu teria que olhar nos olhos dele;

teria que dizer coisas que só faziam sentido em um idioma que nem eu conhecia. Queria que ele

fosse embora e não olhasse para trás. Mas antes que eu pudesse dizer isso, minha mãe falou,

―Cameron, agora!‖ e eu soube que nós estávamos fora do tempo. De várias maneiras.

Ela não me abraçou ou me beijou—o que era estranho. Não esperado, mas deu uma

sensação de inacabado, como se eu devesse esperar parada na porta, esperando por seu ―Como

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vai, filha?‖ antes que eu tomasse um lugar no sofá e perguntasse o que tinha para jantar. Lancei

um olhar a minha volta e vi Sr. Solomon no canto do cômodo. ―Dormiu bem?‖ perguntou ele.

―Na verdade, não.‖ O que não era mentira.

―Eu gostei de conhecer Josh,‖ disse minha mãe. ―Ele parece legal.‖ Ele é. ―Foi legal

conhecê-lo finalmente.‖

―É, eu…‖ então eu percebi que algo estava errado. ―Espere!‖

Minha mãe sorriu para Solomon e — pode acreditar nisso? — ele sorriu de volta. Com os

dentes e tudo! (Ok, então eu posso ter pensado que ele era gostoso nesse momento. Mas

apenas por um segundo ou dois.)

―Querida, você é boa,‖ minha mãe respondeu ao meu olhar de descrença absoluta. ―Mas

nos dê algum crédito.‖

Oh meu Deus! Eu afundei no sofá de couro. ―Como...‖ Haviam tantas maneiras de terminar

aquela frase: há quanto tempo eles se conhecem? Até que ponto eles me deixariam ir? Como

eles descobriram?

―Você esteve muito ocupada,‖ disse Mamãe. Ela sentou-se em uma das bonitas cadeiras

de couro na minha frente e cruzou uma das pernas perfeitas sobre a outra.

―Você quer dizer que não se perguntou como nós achamos você na noite passada?‖

perguntou Sr. Solomon.

Não, eu não tinha me perguntado. Tudo tinha acontecido tão rápido, e horas depois eu

ainda estava navegando naquela mesma onda de emoção. Eu me senti como uma idiota — uma

tola enorme, grande e pega-com-a-mão-no-pote-de-biscoitos.

―Cammie, essa não é uma escola normal—não pode ser, com tais estudantes

excepcionais. O que você fez foi imprudente e descuidado, e se você tentou um golpe como esse

na batalha, vidas seriam postas em risco e operações poderiam falhar. Você sabe disso. Não

sabe?‖

―Sim, madame.‖

―Dito isso, por alguém com uma boa dose de experiência‖ — ela lançou um olhar para o Sr.

Solomon, quem assentiu—―foi uma exibição bastante impressionante.‖

―Foi?‖ olhei os dois, esperando um alçapão se abrir e me mandar para um calabouço. ―Não

estou... em problemas?‖

Mamãe inclinou sua cabeça, pesando suas palavras. ―Vamos apenas dizer que você teve

um dos exercícios de Operações Secretas mais extenso do que essa escola jamais permitiu.‖

―Ah,‖ eu falei, e a palavra soou pesada.

―Mas, Cam,‖ minha mãe disse, se inclinando para frente, ―por que você não me procurou?‖

Ela soou magoada. Era tortura — do tipo forte.

―Eu não sei.‖ Não chore. Não chore. Não chore. ―Eu só...‖ Era tarde demais; minha voz

estava falhando. ―Eu não queria que se envergonhasse de mim.‖

―Ela se envergonhar?‖ disse Solomon, e me levou meio segundo para me lembrar que ele

também estava no cômodo. ―Você acha que ela teria conseguido escapar tanto quanto você

escapou, na sua idade?‖ Ele riu, depois sorriu. ―Isso não foi sua mãe em você — foi seu pai.‖

Ele levantou e caminhou até a janela. Vi seu reflexo no vidro ensolarado enquanto ele

falou. ―Ele sempre disse que você seria boa.‖ Ok, talvez ele ainda era um pouco gostoso…

―Cammie, acho que fui muito duro com você nesse semestre,‖ disse Joe Solomon, como se me

confinasse um segredo. ―Sabe por que?‖

Porque você me odeia era uma das respostas que saltaram na minha mente, embora eu

soubesse que não era a certa. ―Eu já perdi um membro da família Morgan de quem eu me

importava.‖ Ele olhou entre mim e minha mãe. ―Então eu daria qualquer coisa para você nunca

mais entrar na minha classe novamente.‖ Chocada e magoada, eu não pude fazer mais nada a

não ser fitá-lo. Ele alcançou seu bolso e puxou meu formulário onde tinha marcado a caixa de

Operações Secretas. ―Tem certeza que não quer encontrar uma mesa legal e segura ou um

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laboratório em algum lugar?‖ Eu não respondi, então depois de um momento ele redobrou o

formulário e pôs de volta no bolso. ―Bem, se você vai estar no campo de batalha — você estará

pronta. Eu devo ao seu pai isso.‖ Tristeza escoou pela voz dele, e pela primeira vez vi Joe

Solomon como um ser humano. ―Eu devo a ele mais do que isso.‖

Olhei para minha mãe, quem deu a ele um sorriso sábio e triste.

―Tenha um bom recesso de aulas, Cammie,‖ disse Sr. Solomon, soando como seu velho

ser conforme alcançou a porta. ―Descanse. No próximo semestre não será a mesma moleza que

você teve.‖

Isso foi moleza?! Eu queria gritar, mas Joe Solomon já tinha ido. Queria respostas dele.

Quanto ele conhecia meu pai? Por que ele veio para a Academia Gallagher agora? Por que eu

tinha a sensação que havia mais nessa história?

Mas então minha mãe falou, e percebi que estávamos sozinhas. Minhas defesas caíram, e

senti como se pudesse me enroscar ao lado dela e dormir até o Natal.

―Cammie,‖ disse ela, se movendo para sentar ao meu lado. ―Não estou contente que tenha

mentido para mim. Não estou contente que tenha quebrado as regras, mas há uma parte disso

que me deixou muito orgulhosa.‖

―A coisa do computador?‖ eu chutei. ―Porque, na verdade, foi tudo a Liz. Eu não—‖

―Não, filha. Não é isso.‖ Ela se abaixou e pegou minha mão. ―Você sabe que seu pai e eu

não estávamos certos se queríamos estudar aqui?‖

Eu já tinha ouvido um monte de maluquices na minha vida, mas essa me deixou sem

fôlego. ―Mas... você era uma Garota Gallagher… eu sou um legado… é...‖

―Querida,‖ mamãe me parou. ―Quando chegamos aqui, eu soube que estaria perdendo

tudo que não estivesse dentro desses muros. Eu não quero que essa seja a única vida que você

conheça.‖ Ela alisou meu cabelo. ―Seu pai e eu costumávamos conversar sobre se esse era o

melhor lugar para você.‖

―Mas o que... como você decidiu?‖ Perguntei, mas assim que disse as palavras, soube que

era uma pergunta idiota.

―É, filha, quando perdemos seu pai eu sabia que tinha que sair do campo de batalha...‖

―E você precisava de um emprego?‖ tentei terminar para ela.

Ela negou. ―Eu precisava voltar para casa.‖

Quando eu comecei a chorar? Eu não sabia. Eu não ligava.

Ela alisou meu cabelo e disse, ―Mas a coisa com que eu mais me preocupava era que você

passaria sua infância aprendendo a ser rígida e forte, e nunca aprenderia que estava tudo bem

em ser suave e doce.‖

Ela se ajeitou ao meu lado, me forçando a olhá-la nos olhos. ―Fazer o que fazemos, não

significa desligar a sua parte que você ama, Cam. Eu amei seu pai... Eu amo seu pai. E você. Se

eu pensasse que você teria que desistir disso… eu levaria você tão longe desse lugar quanto

pudéssemos ir.‖

―Eu sei,‖ disse. Não era mentira.

―Bom. Estou contente que é esperta o suficiente para saber disso,‖ disse ela, me

empurrando. ―Agora vamos lá. Você tem testes para fazer.‖

Corri minhas mãos contra o meu rosto, procurando por alguma lágrima vagando, depois

levantei e me dirigi até a porta. Mas antes que pudesse sair, ela me parou.

―Teria ficado tudo bem, sabe, filha? Em marcar a outra caixa.‖

Olhei de volta para ela, e vi não a diretora, a espiã ou mesmo a mãe, mas a mulher que eu

vira chorando.

E naquele momento eu pensei que não podia amá-la mais.

―Eu não tocaria nisso se fosse você.‖

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Josh se virou para o som das minhas palavras. Seus dedos estavam perigosamente perto

da espada de Gilly. ―Somos bem boas em manter as coisas protegidas por aqui,‖ eu disse, me

aproximando.

Ele botou as mãos nos bolsos. Era provavelmente o lugar mais seguro para elas, mas o

gesto me lembrou da primeira noite que nos conhecemos. Eu ansiava por aquela rua escura, pela

chance de fazer de novo.

―Então,‖ ele disse. ―Uma espiã, hein?‖ Seus olhos nunca deixavam a espada. Não podia

culpá-lo. Nem eu não iria querer olhar para mim.

―É.‖

―Isso explica muita coisa.‖

―Eles contaram para você?‖ perguntei.

Ele assentiu. ―É, eu tive um grande tour.‖

De alguma maneira, achei aquilo difícil de acreditar, mas eu não estava exatamente na

posição de dizer, Você viu aero barco com poder nuclear que guardamos no porão, então eu

apenas assenti também.

―Josh, você sabe que não pode nunca—‖

―Contar a alguém?‖ ele me olhou. ―É, eles me falaram.‖

―Quero dizer, nunca, Josh. Nunca.‖

―Eu sei,‖ disse ele. ―Eu posso guardar um segredo.‖

As palavras me atingiram. Elas deviam atingir.

Ali estávamos nós, em uma sala dedicada a vidas secretas e triunfos secretos. Ele podia

ver tudo de onde estava parado. Minha irmandade estava nu para ele. Eu estava exposta, mas

havia mais entre nós do que nunca houve antes.

―Sinto muito por ter mentido. Desculpe, eu não sou... normal.‖

―Não, Cammie, eu entendi o negócio de espiã,‖ disse ele, se virando para mim. ―Mas você

não apenas mentiu sobre aonde estudava.‖ Sua voz era áspera, mas ferida. Seus olhos pareciam

quase esmagados. ―Eu nem sei quem você é.‖

―Sim, você sabe,‖ eu falei. ―Você sabe tudo o que importa.‖

―Seu pai?‖ ele perguntou.

Eu congelei. ―É confidencial —o que aconteceu— eu não podia contar a você. Eu queria,

mas—‖

―Então apenas me diga que ele morreu. Me diga que sua mãe não sabe cozinhar e você é

filha única. Não... invente uma família. Não invente outra vida.‖ Josh olhou sobre as grades ao

longo do Hall de História, para o vestíbulo enorme da Mansão Gallagher, e disse, ―O que tem

demais em ser normal?‖

Eu podia ser o gênio, mas Josh era quem via a verdade. Por um momento ali, eu tinha

precisado de outra vida, uma vida experimental—normal em uma base temporária. O problema

era encarar os olhos feridos de alguém com quem eu me importava, e dizer que eu nunca seria

livre para amar ele, por que... bem... Aí eu teria que matá-lo.

Então, eu percebi onde estávamos — o que ele estava encarando. JOSH SABIA! Eu

mentalmente gritei. Não teria que haver mais mentiras. Ele estava dentro. Ele era um de nós

(mais ou menos). Ele…

Mas Josh já estava descendo as escadas. Eu corri atrás, gritando, ―Espere, Josh. Espere!

Está tudo bem agora. Está…‖

Quando alcançamos o chão, ele parou e puxou a mão do bolso. ―Você os quer?‖ Eu vi os

brincos deitados sobre sua palma.

―Sim,‖ eu disse, assentindo, engolindo as lágrimas. Desci o resto das escadas, e ele os

colocou em minha mão tão rápido que nem pude sentir seu toque. ―Eu amei. Não quero—‖

―Claro.‖ Ele se afastou de mim. Eu provavelmente conhecia uma dúzia de maneiras

diferentes de vencer um cara do tamanho de Josh — não que eu tenha usado alguma delas. (Ok,

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eu já pensei nisso...)

Oh meu Deus, ele está indo embora, eu pensei — não sabendo se me sentia triste por

perder ele ou assustada com o fato de nós o deixarmosele passar por aquela porta — sua

memória intacta de nossos segredos. Claro que não deixaram isso acontecer, eu me perguntei, a

não ser que confiassem nele... a não ser que ele tenha sido inocentado... ou que alguém decidiu

que eu não precisava tomar o chá, ir dormir e acordar sentindo que teve um sonho maluco na

noite anterior que não conseguia se lembrar.

A não ser que me permitissem amar ele.

Ele alcançou a porta, então eu rompi, ―Josh,‖ sabendo que se a Academia Gallagher iria

dar uma chance para ele, eu tinha que pelo menos tentar consertar as coisas. ―Eu... Eu vou para

Nebraska durante o recesso de inverno. Meus avós vivem lá — os pais do meu pai. Mas eu

voltarei.‖

―Ok,‖ ele disse conforme ia em direção a porta. ―Acho que vejo você por aí.‖

Foi rápido—rápido como pisque o olho e perca — mas Josh sorriu para mim —

rapidamente, gentilmente, e isso era suficiente para me dizer que ele disse a verdade sobre me

ver. Mais importante, provava que ele estaria procurando.

Eu estava apenas começando a imaginar como seria — um novo ano, um novo semestre,

um novo começo sem segredos entre nós, mas então ele parou e disse, ―Ah, diga a sua mãe

obrigado pelo chá.‖

Ele abriu a porta e saiu. Eu parei no meio do vestíbulo vazio por um longo tempo. Afinal,

nos filmes, o dramático adeus é frequentemente seguido da resposta rebatendo na porta,

transformando o adeus em um dramático e sexy beijo. E se houvesse qualquer chance de beijo

dramático e sexy no meu futuro, eu não iria sair daquele lugar.

Senti algo suave e quente esfregar-se contra minha perna e olhei para baixo para ver Onyx

envolver seu rabo em volta do meu tornozelo. Ela ronronou, me consolando, soando como uma

gata muito sortuda, e eu soube que as coisas tinham se tornado um círculo completo.

Atrás de mim, garotas começaram a descer pelas escadas em direção ao Grand Hall e

sessões de estudo de última hora antes do primeiro dia das provas finais, mas enquanto elas

passaram por mim, eu soube que o principal tema da conversa seria no café-da-manhã. (Você

acha que garotas normais gostam de fofoca — imagina Garotas Gallagher!)

Ainda assim, eu não me importava com seus olhares. Em vez disso, fiquei parada entre a

corrente de corpos voando para começar o dia, mas não me mexi até que Bex apareceu ao meu

lado.

―Ei.‖ Ela jogou um livro e um bagel nas minhas mãos. ―Vamos lá,‖ disse, com um puxão no

meu braço. ―Temos nossa prova final de PDM (Países do Mundo), você sabe. Liz fez notas.‖

Segui minha amiga escadas acima, e me perdi num mar de garotas vestidas como eu,

treinadas como eu era treinada, e impregnadas no mesmo mundo que eu.

É esse o mundo que eu escolheria se pudesse voltar atrás —ser ignorante, bem-

aventurada e feliz— se eu pudesse viver uma vida de cerquinhas de madeira branca em uma rua

de cerquinhas de madeira branca e não saber dos fatos desagradáveis, isso teria que ser feito em

lugares que a maioria das pessoas não podia encontrar em um mapa? Eu não sabia. Talvez eu

pudesse se minha mente fosse como aquele quadros de traço mágico31 e eu pudesse chacoalhar

e apagar tudo que sabia. Mas eu estou muito dentro agora. Eu sei o que acontece na noite, e sei

como combater.

Bex e eu subimos as escadas. Depois Liz se juntou aos nossos passos, e Macey. Eu não

sei o que vai acontecer no próximo semestre. Não sei se Josh vai algum dia falar comigo de novo.

Não sei do que ele vai se lembrar, ou o que vamos encarar em CoveOps, ou mesmo qual vai ser

a aparência do Sr. Smith quando voltar. Mas eu sabia quem estaria ao meu lado, e como todo

31

n/t: aqueles quadrinhos que você desenha com uma caneta e depois chacoalha e o que foi feito com a caneta some –ou em alguns tem que

arrastar um pino para apagar... tipo esses aqui: http://danielhilfling.com/index/image/menu%20bar/studio/etch_a_sketch.jpg

Ally Carter – Gallagher Girls 01 – I’d tell you I love you, but then I’d have to kill you

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bom espião sabe — às vezes isso é suficiente.

FIM!

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FEITO POR: Kimberlly Santoro Letícia Bersot JÉssica Freitas

Comunidade Gallagher Girls Oficial – Participe!

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