14648147-stuart-hall
TRANSCRIPT
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
1/11
UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM TECNOLOGIA
STUART HALL
Eliane Abel de Oliveira
Disciplina: Fundamentos em Interao
Professora Doutora Luciana Martha Silveira
Professor Doutor Luis Ernesto Merkle
Curitiba
Abril/2009
1 INTRODUO
O presente ensaio tem a inteno de relacionar as questes de
identidade cultural apontadas por Stuart Hall com as questes de identidade
cultural de professores de escolas pblicas. Para isso buscou nos livros A
identidade cultural da ps- modernidade e Da Dispora: Identidades e
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
2/11
mediaes culturais de Stuart Hall; Identidade e diferena de Tomaz Tadeu
da Silva e nos artigos Os professores e a fabricao de identidades de Martin
Law e Uma escola com muitas culturas: Educao e identidade, um desafio
global de Moacir Gadotti um embasamento terico a respeito do assunto.
2 BREVE BIOGRAFIA DE STUART HALL
Nascido em Kingston, na Jamaica em 3 de fevereiro de 1932, Hall viveu
sua infncia e adolescncia cercado pelas contradies impostas pela
condio de pertencer a um pas colonizado. Outro aspecto marcante em sua
formao foi o fato de pertencer a uma famlia de classe mdia, uma vez que a
posio social e o estilo de vida de sua famlia estavam condicionados pelas
diferentes formas de classificao e de reconhecimento existentes entre as
fraes de classe e de cor das quais seus pais vieram (Hall, 2003: 407).
O pai de Hall pertencia a uma famlia de classe mdia baixa e mista
etnicamente, composta por africanos, indianos, portugueses e judeus.J sua
me tinha origem familiar na classe mdia mais prxima culturalmente e
economicamente dos colonizadores, tanto a pele clara quanto as origens
ligadas aos antigos engenhos e valores culturais a aproximavam mais de uma
cultura inglesa. Hall era o mais escuro entre seus irmos, sendo que no seu
ambiente social a pele escura estava associada a pessoas que ocupavam
posies subalternas, inferiores socialmente. Hall foi sempre identificado em
sua famlia como o patinho feio. Em um de seus livros, Hall afirma: que seus
amigos da escola, muitos dos quais oriundos de famlias de classe mdia
respeitveis, porm mais escuros que ele, no eram aceitos em sua casa.
(Hall, 2003: 408).
Nos anos 1950, aps ter trabalhado na Universities and Left Review, Hall
juntou-se a E. P. Thompson, Raymond Williams e outros para fundar a revista
New Left Review. Sua carreira deslanchou aps co-autorar com Paddy
Whannel The popular arts em 1964. O convite feito por Richard Hoggart para
que Hall entrasse no Birmingham Center for Cultural Studies foi um resultado
direto dessa publicao.
Em 1951 Hall mudou-se para Bristol, aonde viveu antes de ir paraOxford. Estudou como bolsista na Universidade de Oxford, onde obteve o seu
http://pt.wikipedia.org/wiki/E._P._Thompsonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Raymond_Williamshttp://pt.wikipedia.org/wiki/E._P._Thompsonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/E._P._Thompsonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Raymond_Williamshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Raymond_Williamshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Raymond_Williamshttp://pt.wikipedia.org/wiki/E._P._Thompson -
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
3/11
mestrado. Trabalhou na Universidade de Birmingham e entre 1979 e 1997, Hall
foi professor na Open University.
Em 1968 Hall tornou-se o diretor dessa unidade situada na Universidade
de Birmingham. Ele escreveu muitos artigos influentes nos anos que seguiram,
incluindo: Situating Marx: Evaluations and Departures (1972), Encoding and
Decoding in the Television Discourse (1973). Ele contribuiu tambm para o livro
Policing the Crisis (1978).
Aps ser nomeado professor de Sociologia na Open University em 1979,
Hall publicou uma srie de livros influentes, incluindo: The Hard Road to
Renewal (1988), Resistance Through Rituals (1989), The Formation of
Modernity (1992), Questions of Cultural Identity
O trabalho de Hall centrado principalmente nas questes de
hegemonia e de estudos culturais. Hall concebe o uso da linguagem como
determinado por uma moldura de poderes, instituies, poltica e economia.
Essa viso apresenta as pessoas como produtores e consumidores de
cultura ao mesmo tempo.
Seus trabalhos como os estudos sobre preconceito racial e mdia
so considerados muito influentes e fundadores dos contemporneos estudos
culturais como no livro A identidade cultural da ps modernidade, em que Hall
busca avaliar se estaria havendo uma crise de identidade cultural, o que
consiste tal crise e quais as consequncias da mesma no mundo ps moderno.
3 CONCEPES DE IDENTIDADE
Para o estudo das identidades, Hall aponta 3 concepes muito
diferentes de identidades:
a) Sujeito do Iluminismo: esta concepo est baseada no sujeito como
sendo totalmente centrado, cujo centro consiste num centro interior que
surge no nascimento e se desenvolve ao longo de sua vida, porm sua
essncia permanece a mesma. O sujeito do Iluminismo era descrito
como masculino.
b) Sujeito Sociolgico: com a crescente complexidade do mundo moderno,
cresce tambm a conscincia de que o ncleo interior do sujeito no
autnomo e auto-suficiente, mas formado pela interao com outras
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hegemoniahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Estudos_culturais&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/M?dia_de_massahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hegemoniahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hegemoniahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hegemoniahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Estudos_culturais&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Estudos_culturais&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Estudos_culturais&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/M?dia_de_massahttp://pt.wikipedia.org/wiki/M?dia_de_massahttp://pt.wikipedia.org/wiki/M?dia_de_massa -
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
4/11
pessoas, mediando seus valores, sentidos e smbolos. Nesta
concepo, j aparece a noo masculino e feminino. Nesta concepo
a identidade formada pela interao entre o eu e a sociedade onde o
eu modificado a partir dos mundos culturais exteriores.
c) Sujeito ps-moderno: com o processo de mudana dos mundos
culturais, surge o sujeito ps-moderno conceituado como no tendo uma
identidade fixa. Sua identidade transformada continuamente em
relao aos sistemas culturais que nos rodeiam.
4 MODERNIDADE TARDIA
Hall utiliza o termo modernidade tardia para se referenciar ao perodo
ps anos 60. Para ele, este um marco na mudana estrutural da sociedade e,
por conseguinte, uma mudana na identidade cultural das sociedades. Para
isso aponta cinco grandes avanos ou descentramentos na teoria social:
O primeiro avano foi o pensamento marxista: nos escritos de Karl Marx
encontramos afirmaes que nos levam a interpretar que os indivduos no
poderiam de nenhuma forma ser os autores ou os agentes da histria, uma vez
que eles podiam agir apenas com base em condies histricas criadas por
outros e sob as quais eles nasceram, utilizando os recursos materiais e decultura que lhes foram fornecidos por geraes anteriores (Hall, 2002: 34-5).
O segundo grande avano foi a descoberta do inconsciente por Freud,
onde ele afirma que a identidade formada ao longo do tempo atravs de
processos inconscientes e no algo inato. Para Freud a identidade sempre
incompleta e por isso est sempre em processo, sendo formada
constantemente. O termo mais correto seria identificao ao invs de
identidade, pois um processo em andamento.O terceiro descentramento associado ao trabalho de Ferdinand de
Saussure. Para este autor, ns no somos autores de nossas afirmaes uma
vez que a lngua um sistema social e no um sistema individual. Para
Saussure, a lngua pr-existe a ns.
O quarto descentramento ocorre no trabalho do filsofo e historiador
Michel Foucault. Em seus estudos, Foucault produziu uma espcie de
genealogia do sujeito moderno, atribuindo ao poder disciplinar uma identidadecultural onde o sujeito torna-se dcil e malevel. O filsofo tambm aponta um
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
5/11
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
6/11
Para o autor Martin Law (2001: 119), a identidade do professor deve ser
gerida porque esta deve se ajustar imagem do prprio projeto educativo da
nao e tambm porque uma das formas mais eficientes de gerir eficazmente
os professores e criar sua identidade atravs do discurso oficial.
Geralmente, os professores aparecem invisveis nas descries dos
sistemas educacionais, e quando aparecem, surgem como elementos neutros,
sendo destacados somente quando h umpnico moralacerca da sociedade e
das suas crianas. Neste caso, o professor aparece como responsvel pelo
pnico moral, sendo ento reprovados pela sociedade. Sua identidade aparece
como inadequada devendo sofrer alterao.
Ora, o professor sendo parte de uma nao, com seus saberes e
experincias, nada mais que um smbolo do sistema e nao que o criou.
Reflete a comunidade imaginada da nao que para Hall, constituda por:
memrias do passado, o desejo de viver em conjunto e a perpetuao da
herana (Hall, 2002: 58).
Segundo Law (2001: 120), a identidade do professor tem no s o poder
de refletir o sistema como tambm pode ser manipulada para arquitetar
mudanas. Esta tentativa de manipular a identidade do docente um sinal de
reestruturao do sistema de ensino, pois as identidades nacionais no esto
livres do jogo de poder, de divises e contradies internas (Hall, 2002: 64).
6 GLOBALIZAO E IDENTIDADE DO PROFESSOR
Em seu sentido literal professorquer dizeraquele que professa, isto ,
aquele que diz a verdade publicamente, que expe corretamente. Assim, o
professor aquele que torna pblico, que socializa algum conhecimento. Assim
como toda profisso, o professor passou por uma construo identitria.
Com o avano das sociedades modernas, as velhas identidades,
inclusive a do professor, esto em declnio, fazendo surgir novas identidades e
fragmentando o indivduo moderno (Hall, 2002: 7). Isso traz uma crise de
identidade. O professor, at ento visto como o detentor da verdade, como
fonte de informao (muitas vezes a nica fonte de informao do aluno),
agora divide espao com a tecnologia, com o mundo da comunicao e
informao e este talvez seja um dos fatores para a crise de identidade daprofisso.
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
7/11
Crise de identidade no sentido de que as sociedades ps-modernas
esto descentradas e fragmentadas. Essa descentrao dos indivduos tanto
de seu lugar no mundo social e cultural, quanto de si mesmos, constitui uma
crise de identidade (Hall, 2002: 9).
Nas ltimas dcadas do sculo XX assistimos grandes mudanas, tanto
no campo scio-econmico e poltico, quanto no campo da cultura, da cincia e
da tecnologia e, por conseguinte tambm no campo da Educao. Vimos
grandes movimentos sociais, como o feminismo. Para Hall (2002: 44) o ano de
1968 foi um marco na construo das identidades culturais, nas mudanas
polticas e sociais, considerado por ele o grande marco da modernidade
tardia, pois esse ano foi marcado por movimentos estudantis e juvenis de
contracultura, por lutas pelos direitos civis alm de movimentos pela paz.
Com a expectativa da chegada de um novo milnio, criou-se um tempo
de expectativas, de perplexidade e da crise de concepes e paradigmas, no
apenas pelo incio de um novo milnio, poca de balano e de reflexo, poca
em que o imaginrio parece ter um peso maior, mas tambm pelas
expectativas de um mundo ps-moderno. E dentro desse cenrio da ps-
modernidade que a escola precisa atuar, um cenrio que coloca novos desafios
para os educadores (Gadotti, 1995: 13).
Toda essa acelerao de mudanas sociais e culturais culminou com a
globalizao e, por conseguinte, algumas conseqncias para as identidades
culturais como a desintegrao das identidades culturais nacionais e novas
identidades hbridas tomando seu lugar (Hall, 2002: 69). E por isso, segundo
Gadotti (1995: 14-6)
A escola precisa preparar o cidado para participar desta sociedade
planetria. A escola tem que ser local como ponto de partida, mas tem
que ser internacional e intercultural como ponto de chegada. Avaliar a
identidade cultural, sobretudo para as camadas populares, pode
representar a grande diferena na extenso ou no da educao para
todos e de qualidade, nos prximos anos. S uma educao multicultural
pode dar conta dessa tarefa. A educao multicultural se prope a
analisar criticamente os "curricula" monoculturais atuais e procura formar
criticamente os professores, para que mudem suas atitudes diante dos
alunos mais pobres e elaborem estratgias instrucionais prprias para a
educao das camadas populares, procurando, antes de mais nada,compreend-las na totalidade de sua cultura e de sua viso de
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
8/11
mundo(...) A diversidade cultural a riqueza da humanidade. Para
cumprir sua tarefa humanista, a escola precisa mostrar aos alunos que
existem outras culturas alm da sua. A autonomia da escola no significa
isolamento, fechamento numa cultura particular. Escola autnoma
significa escola curiosa, ousada, buscando dialogar com todas asculturas e concepes de mundo.
Negar o desenvolvimento cientfico tecnolgico em tempos de
globalizao impensvel, seus avanos so sentidos at mesmo nas aes
mais corriqueiras do nosso cotidiano, como por exemplo, na utilizao de um
caixa eletrnico de banco. Os impactos da tecnologia avanam em ambientes
formais e grupos sociais diversos perpassando por todos os aspectos, em
especial no ambiente escolar, enquanto processo formador de cultura, fazendo-se necessrio discutir a presena ou ausncia da tecnologia no mundo escolar.
Com o avano da cincia e da tecnologia, as informaes nos chegam
cada vez com mais velocidade, o currculo escolar torna-se descabido diante
desta realidade. preciso repensar a estrutura curricular que molda a estrutura
de ensino, qui uma ressignificao nos estudos identitrios do professor.
7 O GLOBAL E O LOCAL
O processo de globalizao difundiu o consumismo contribuindo para o
que Hall denomina supermercado cultural e formando uma homogeneizao
cultural. O que nos leva a refletir: as identidades culturais esto sendo
homogeneizadas? Responder afirmativamente esta pergunta nos leva a um
resultado simplista e unilateral.
Em relao a este assunto, Hall (2002: 77-8) aponta para trs contra-tendncias principais:
a) Juntamente com o impacto global um novo interesse pelo local:
improvvel que a globalizao acabe com o local, o mais correto
afirmar que a partir dela, se construam novas identidades globais e
novas identidades locais;
b) A globalizao desigualmente distribuda ao redor do mundo: a
chamada geometria do poder;
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
9/11
c) Para se criticar a homogeneizao cultural deve-se saber o que
afetado por ela: apesar de se chamar globalizao ainda h uma
diferena entre as relaes de poder oriental e ocidental, podendo-se
inclusive afirmar que a globalizao essencialmente um fenmeno
ocidental.
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
10/11
8 CONCLUSO
Conhecer os estudos de Stuart Hall faz-se necessrio para quem se
aventure a estudar o campo dos estudos culturais. Por sua experincia tantoacadmica quanto de vida, a contribuio do autor para os estudos neste
campo, imprime sua marca nos campos terico e poltico. Hall se mostra
relevante a partir de seu engajamento com a sociedade contempornea
promovendo debates como a globalizao, o multiculturalismo, a participao
negra e sua insero na sociedade.
-
8/2/2019 14648147-Stuart-Hall
11/11
9 REFERNCIAS
GADOTTI, Moacir. Uma escola com muitas culturas: Educao e identidade,
um desafio global. In: Revista FAEEBA, Salvador, n. 4, p. 15-21, jul./dez. 1995.
HALL, Stuart. A identidade cultural da ps-modernidade. Rio de Janeiro:
DP&A, 2002.
__________. Da Dispora: Identidades e mediaes culturais. BeloHorizonte: UFMG: Representaes da UNESCO no Brasil, 2003.
LAW, Martin. Os professores e a fabricao de identidades. In: RevistaCurrculo sem Fronteiras, vol. 1, n.2, p. 117-130, jul./dez. 2001.
SILVA, Tomaz Tadeu da (org); HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn.Identidade e diferena: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrpolis,RJ: Vozes, 2007.