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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS DO ADENSAMENTO URBANO EM VIÇOSA (MG) Saulo Henrique de Faria Pereira 1 Denise Espínola Morais 2 Tiago Pinto Assis 3 Leonardo Vaz de Melo 4 André Luiz Lopes de Faria 5 1. INTRODUÇÃO No ambiente urbano, as habitações têm uma função de abrigo, porém acrescida de uma outra função econômica que é a de propiciar a reprodução da força de trabalho. Isto significa, em outras palavras, que a habitação é o espaço ocupado pela população após e antes do enfrentamento de uma nova jornada de trabalho, desempenhando ali algumas tarefas primárias como alimentação, descanso, atividades fisiológicas, convívio social. Além do desenvolvimento destas tarefas, a habitação é o espaço no qual muitas vezes ocorrem em determinadas situações, atividades de trabalho. Para que a habitação cumpra as suas funções, é necessário que, além de conter um espaço confortável, seguro e salubre, esteja integrado de forma adequada ao entorno, ao ambiente que a cerca. Isto significa que o conceito de habitação não se restringe apenas à unidade habitacional, mas necessariamente deve ser considerado de forma mais abrangente envolvendo também o seu entorno. No entanto, a partir da década de 50, as cidades brasileiras apresentaram um aumento populacional. Na dedada de 1980 mais de 60% da população brasileira se localizava nas áreas urbanas. Muda-se também o modo de vida com um novo padrão de consumo. Têm-se novas exigências no mercado de trabalho, em relação serviços urbanos como saúde e educação. As cidades têm que suprir o aumento da exigência dessas necessidades. Como as cidades brasileiras não estavam preparadas legalmente e nem estruturalmente para esses, têm-se vários problemas comprometendo a habitação e a qualidade de vida do cidadão. Esse crescimento também gera uma degradação ambiental nas cidades como a ocupação de encostas, topos de morro, margens de rio, diminuição das áreas verdes. 1 Graduando - UFV - [email protected] 2 Graduando - UFV 3 Graduando - UFV 4 Graduando - UFV 5 Orientador - UFV - [email protected] 11794

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  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    IMPACTOS SCIO-AMBIENTAIS DO ADENSAMENTO URBANO EM VIOSA (MG)

    Saulo Henrique de Faria Pereira1Denise Espnola Morais2

    Tiago Pinto Assis3Leonardo Vaz de Melo4

    Andr Luiz Lopes de Faria5

    1. INTRODUO

    No ambiente urbano, as habitaes tm uma funo de abrigo, porm acrescida de

    uma outra funo econmica que a de propiciar a reproduo da fora de trabalho. Isto

    significa, em outras palavras, que a habitao o espao ocupado pela populao aps e

    antes do enfrentamento de uma nova jornada de trabalho, desempenhando ali algumas

    tarefas primrias como alimentao, descanso, atividades fisiolgicas, convvio social. Alm

    do desenvolvimento destas tarefas, a habitao o espao no qual muitas vezes ocorrem

    em determinadas situaes, atividades de trabalho.

    Para que a habitao cumpra as suas funes, necessrio que, alm de conter um

    espao confortvel, seguro e salubre, esteja integrado de forma adequada ao entorno, ao

    ambiente que a cerca. Isto significa que o conceito de habitao no se restringe apenas

    unidade habitacional, mas necessariamente deve ser considerado de forma mais

    abrangente envolvendo tambm o seu entorno.

    No entanto, a partir da dcada de 50, as cidades brasileiras apresentaram um

    aumento populacional. Na dedada de 1980 mais de 60% da populao brasileira se

    localizava nas reas urbanas. Muda-se tambm o modo de vida com um novo padro de

    consumo. Tm-se novas exigncias no mercado de trabalho, em relao servios urbanos

    como sade e educao. As cidades tm que suprir o aumento da exigncia dessas

    necessidades.

    Como as cidades brasileiras no estavam preparadas legalmente e nem

    estruturalmente para esses, tm-se vrios problemas comprometendo a habitao e a

    qualidade de vida do cidado. Esse crescimento tambm gera uma degradao ambiental

    nas cidades como a ocupao de encostas, topos de morro, margens de rio, diminuio das

    reas verdes.

    1 Graduando - UFV - [email protected] 2 Graduando - UFV 3 Graduando - UFV 4 Graduando - UFV 5 Orientador - UFV - [email protected]

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  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    O que se observa que o problema habitacional constitui-se em um dos principais

    problemas urbanos afetos principalmente para as comunidades de baixa renda. Estas

    causas esto relacionadas com um conjunto de fatores que dificultam ainda mais o acesso

    das famlias de baixa renda a uma habitao adequada como a falta de terrenos adequados

    tanto fsica como financeiramente; crise econmica e social com desemprego e diminuio

    da renda; polticas pblicas voltadas para a habitao social inexistente ou pouco explcita;

    entre outras.

    Um dos problemas gerados pelo crescimento populacional espontneo o

    adensamento urbano nas cidades, principalmente as de grande e mdio porte, a partir da

    dcada de 70. Em funo disto favoreceu a especulao imobiliria nesses locais, gerando

    uma segregao social espacial.

    A cidade de Viosa (Minas Gerais), tambm se insere nesse contexto de crescimento

    desordenado e sem planejamento. Um dos principais dos fatores desse crescimento

    populacionais esta ligada expanso no nmero de vagas oferecidas pela Universidade

    federal de Viosa (UFV) na dcada de 70 e tambm pelo fato da cidade concentrar servios

    urbanos e administrativos dentro do novo contexto nacional de diviso social do trabalho.

    De acordo como Mello (2002), a cidade de Viosa vem tendo um crescimento

    predatrio desde a dcada de 70, como a maioria das cidades brasileiras, onde visvel o

    processo de segregao espacial.

    Atualmente, possvel falar em adensamento urbano no centro de Viosa

    influenciado pela especulao imobiliria, o que vem comprometendo as reas de

    preservao ambiental e formando reas de risco, desrespeitando as leis orgnicas e at

    mesmo a leis federais.

    Nesse sentido, nosso trabalho tem como objetivo principal analisar as causas do

    adensamento urbano no Brasil e mais aprofundado em Viosa enfatizando os problemas

    sociais e ambientais causados pelo adensamento urbano e a ineficcia dos dispositivos

    legais diante o problema.

    Para tanto iremos utilizar como ferramentas o ArcView que nos ajudar a delimitar a

    ocupao de as reas de preservao permanente, no centro da cidade; resgate

    bibliogrfico do crescimento urbano de viosa em livros, teses e Internet; levantamento e

    tabulao de dados; e trabalho de campo.

    2. DESENVOLVIMENTO

    2.1 CARACTERIZAO DA REA

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  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    O municpio de Viosa est localizado na mesorregio da Zona da Mata, no estado

    de Minas Gerais (Figura 01). Possui uma rea de 300,2 km2, a sua altitude de 648,74 m, a

    temperatura mdia anual de 19,4 C. Est situada entre as Serras da Mantiqueira, Serra do

    Capara e Serra da Piedade, portanto uma cidade de relevo montanhoso.

    Figura 01. Localizao de Viosa MG

    Est na rea da Bacia do Rio Doce, sendo os principais cursos dgua o Rio Turvo

    Sujo e o Rio Turvo Limpo.

    O municpio de Viosa surgiu com a ocupao de reas ligadas minerao.

    Inicialmente foi denominada de Santa Rita do Turvo. Em 1876 passa a ser denominada de

    Viosa de Santa Rita e em 1911 recebe o nome de Viosa. O caf representou o principal

    impulso econmico at a dcada de 30. Com a instalao da Escola Superior de Agricultura

    e Veterinria (ESAV) no municpio a cidade se destaca em relao a demais da regio.

    Viosa, cidade universitria, possui 67 mil habitantes residentes, que somando-se a

    mais 12 mil pessoas da populao flutuante, constituda de estudantes universitrios de

    graduao e ps-graduao, tcnicos em treinamento na UFV, participantes de congressos

    e eventos tcnico-cientficos e culturais e outros, proporcionam uma populao de quase 80

    mil pessoas.

    O relevo denominado de Mar de Morros caracterstico de regies soerguidas do

    leste Atlntico sobre rochas predominantemente grantico/gnissicas do Pr-Cambriano

    (Complexo Cristalino).

    11796

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    As elevaes e os fundos dos vales formam dois conjuntos pedolgicos diferentes.

    Nas elevaes dominam os Latossolos Vermelho-Amarelos, Cambissolos Hplicos e

    tambm Cambissolos distrficos latosslicos, enquanto que os fundos de vale apresentam,

    nos terraos, Argissolos de textura muito argilosa, sendo os leitos maiores constitudos por

    solos aluviais de textura geralmente fina, algumas vezes em associao com Neossolos

    Flvicos, Neossolos distrficos gleicos, Gleissolos Hplicos e Gleissolos distrficos tpicos

    (Corra, 1984).

    A cidade tem dois hospitais com 159 leitos e dois CTIs, Centro de Quimioterapia,

    Hemodilise e outros servios. considerado como um dos mais importantes municpios da

    Zona da Mata.

    O trnsito de pessoas e veculos do Viosa um estilo de vida diferente das outras

    cidades de seu porte na Zona da Mata mineira. Muito movimento, agito, juventude, pessoas

    de diferentes partes do pas e do mundo e um trnsito intenso de quase 20 mil veculos

    Viosa pode ser considerada o municpio do conhecimento, devido presena da

    Universidade Federal de Viosa e de mais trs outras instituies de ensino superior: ESUV,

    Faculdade de Viosa e UNIVIOSA. Toda a vida da cidade gira em torno da educao.

    Viosa, tem poucas indstrias e ter indstrias no a vocao desta cidade

    incrustada entre montanhas. A partir da figura 02 podemos visualizar melhor a rea urbana

    de Viosa dentro do seu municpio.

    A ocupao das pessoas esta distribuda nos seguintes setores da economia: uma

    maior parte no setor de servios e o restante distribudo nos setores Agropecurio, extrao

    vegetal e pesca; Industrial e Comrcio de Mercadorias.

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    Figura 02

    2.2 RESULTADOS E DISCUSSO DO PROBLEMA

    Em 1940, aproximadamente 2/3 da populao brasileira vivia no meio rural e 1/3

    vivia nas cidades. A partir da dcada de 50, o Brasil passa por um grande desenvolvimento

    industrial e uma modernizao no modo de produo agrcola, o que gerou a expulso de

    grande parte de trabalhadores rurais para as cidades em busca de uma vida melhor.

    Em 1965, a metade da populao vivia no campo e a outra metade nas cidades. Em

    1980, 82 milhes de pessoas (2/3) morava nas cidades e 39 milhes (1/3) morava no meio

    rural. Este incremento da populao urbana resultante do crescimento vegetativo da

    populao como um todo e da migrao para os centros urbanos. A populao urbana

    tambm tem crescido devido ao aumento daquilo que cada municpio tem considerado como

    rea urbana, caracterizando uma expanso urbana.

    A expanso das reas urbanas pode ser verificada tanto atravs do aumento da rea

    urbana dos municpios, quanto tambm do aumento do nmero de municpios. Este nmero

    cresceu de 1.899 em 1950 para 3.952 em 1970, para 3.991 em 1980 e para 4.491 em 1990.

    Em 1994 este nmero j de 4.974 municpios.

    A populao urbana em 1991 era de 146 milhes de habitantes, 75,5% (3/4) do total,

    caracterizando um pas com taxas de urbanizao semelhantes s dos pases

    desenvolvidos. No entanto o crescimento urbano se deu de forma heterognea: as maiores

    taxas na dcada de 80-91 foram observadas na regio norte (5,34%) e centro-oeste

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    (4,36%), em contraposio com as taxas observadas nas regies nordeste (3,53%), sul

    (2,97%) e sudeste (2,32%).

    A concentrao de atividades econmicas nos grandes centros urbanos, ao mesmo

    tempo em que facilita a vida do cidado em termos de oferta de servios, pode trazer-lhe,

    seno houver um monitoramento adequado, srios problemas.

    A formao e o crescimento das cidades brasileiras se deu de forma acelerada e

    desordenada, de acordo como os interesses polticos e econmicos da poca.

    Conseqentemente, esse aumento populacional nas cidades gerou vrios problemas

    sociais, ambientais e econmicos nos centros urbanos comprometendo reas que hoje so

    consideradas como de preservao ambiental; e a qualidade de vida ambiental (MELLO,

    2002).

    Dessa forma, assiste-se, atualmente, a um conjunto de eventos trgicos a cada

    perodo de chuvas, que se reproduzem em acidentes de caractersticas semelhantes em

    reas urbanas de risco em todo pas - vales inundveis e encostas erodveis - eventos

    esses que so tratados essencialmente em nvel emergencial pelos sistemas de defesa civil,

    inexistindo, na quase totalidade de municpios brasileiros, qualquer poltica pblica para

    equacionamento prvio do problema.

    No entanto, esse processo de urbanizao desordenado no ficou restrito as

    metrpoles. Nas dcadas de 1970 a 1980, h um aumento populacional nos centros

    urbanos menores devido principalmente ao processo migratrio, tanto rural-urbano como

    cidade-cidade, causados pelas transformaes ocorridas na diviso social do trabalho e nas

    relaes sociais de produo, tanto no campo como na cidade. Isso ocorreu mesmo nos

    centros onde no apresentavam diversidade econmica.

    Para Mello (2002), a partir de 1980 com o crescimento de outras atividades

    econmicas, como construo civil e comrcio, que absorvem mo-de-obra sem

    necessariamente ter uma qualificao profissional, e tambm com o intuito de fugir da crise

    econmica, as pessoas preferem residir ou trabalhar em cidades de mdio porte, com

    populao entre 20 e 50 mil habitantes. Ocorre assim uma diminuio no ritmo de

    crescimento urbano nas metrpoles.

    As cidades do interior da Zona da Mata de Minas Gerais permaneceram como

    ncleos inexpressivos at o final da dcada de 1960, quando a pequena produo foi

    favorecida pela nova diviso social do trabalho e com a expanso do regime de colonato

    das fazendas e a constituio de mercados de trabalho nos centros urbanos. Mas o

    processo de urbanizao nessas cidades, como na maioria das cidades brasileiras, foi

    intensificado na dcada de 80.

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  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    Na Zona da Mata o processo de urbanizao no se deu de forma homognea, pois

    os principais fatores capazes de gerar uma urbanizao com base na acumulao industrial

    eram diferenciados.

    A cidade de Viosa tambm se enquadra nesse contexto, mas a Universidade

    exerceu o papel da industria no sentido de impulsionar o crescimento urbano em Viosa.

    Nesse sentido a partir da dcada de 70 que o processo de urbanizao do municpio

    intensificado. A intensificao desse processo est vinculado ao processo de expanso da

    Universidade Federal de Viosa (UFV), antiga Escola Superior de Agricultura e Veterinria.

    Em 1970 possua 19 cursos de graduao e ps-graduao, j em 1975 oferecia 39 cursos.

    Aumentando tambm numero de empregos burocrticos e de funcionrios para a

    construo civil. J na dcada de 80, o total de habitantes no municpio de Viosa chega a

    38.626 com 31.110 habitantes na rea urbana e 7.516 na rea rural. Como nos mostra o

    Grafico 01.

    Com a federalizao da Universidade, aumentaram-se os investimentos na economia

    da cidade revigorando as atividades urbanas de suporte.

    Mas segundo Santos (1991), esse crescimento populacional, no se deve

    simplesmente a expanso da UFV, mas tambm pelo fato de Viosa sofrer os efeitos das

    mudanas na estrutura de emprego, resultante do processo de acumulao de emprego nos

    centros urbanos em todo pas. Logo, a fora de trabalho de Viosa que estava concentrada

    no campo passa, a partir da dcada de sessenta, a se deslocar para a cidade em busca de

    emprego urbano. No Grfico 02 temos o nmero da Populao economicamente Ativa

    (PEA) entre 1950 e 1980. Podemos perceber a reverso na concentrao na PEA do setor

    rural para o urbano a partir de 1960. Em 1950, aproximadamente 74% da PEA do municpio

    estava concentrado no setor rural, j em 1980 o setor rural concentrava apenas 16%

    enquanto o setor urbano 84% do total da PEA.

    Grfico 01. Crescimento da Populao Residente no municpio de Viosa de

    1970 a 2000.

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    0

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.000

    70.000

    Urbana Rural Total

    Habi

    tant

    es1970198019912000

    Fonte: IBGE

    Grfico 02. Populao Economicamente Ativa por Atividade Rural e Urbana em

    Viosa, 1950 a 1960.

    0

    2.000

    4.000

    6.000

    8.000

    10.000

    12.000

    14.000

    16.000

    Setor rural SetorUrbano

    total

    PEA

    1950196019701980

    Fonte: FIBGE, Censos demogrficos de Minas, 1950/60/70/80;

    In: Santos 1991 apud Alem et al. ( 1985).

    De acordo com Mello (2002), por Viosa concentrar atividades comerciais e

    administrativas, servios e lazer, atraiu a populao da regio para o seu ncleo urbano pelo

    xodo rural.

    Mas na dcada de 80 a crise econmica e social que afetava o pas foi caracterizada

    pela reduo dos gastos do Estado o que diminuiu a capacidade de absoro de trabalho da

    Universidade, desestabilizando a estrutura econmica daqueles que nela investiam direta ou

    11801

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    indiretamente. Essas oscilaes fizeram com que a cidade buscasse alternativas de

    investimentos em outras atividades.

    No entanto, a cidade continua servindo como plo de convergncia de migrantes da

    regio que iro engrossar a mo-de-obra reserva, sendo o mercado formal de trabalho na

    poca insuficiente para gerar emprego. Conseqentemente esses migrantes se vem

    forados a buscar formas de sobrevivncia.

    Conseqentemente tem-se um quadro de subemprego e explorao do excedente

    produtivo, em atividades em empreiteiras volantes bias frias. Outra forma alternativa de

    sobrevivncia para esses trabalhadores de caractersticas heterogneas encontradas por

    esses trabalhadores foi o setor informal da economia urbana, pois esses no exigem uma

    qualificao de mo-de-obra (MELLO, 1991). Portanto, medida que a cidade vai se

    expandindo, os impactos causados pelo crescimento desordenado se materializam no

    desemprego, no sobretrabaho, na misria e na violncia.

    Desta forma, a soluo imediata encontrada pelos migrantes era a ocupao de

    reas perifricas, mas com o objetivo de posteriormente se localizarem prximos ao centro

    que nem sempre so reas adequadas para a ocupao.

    Esses problemas de ocupao esto sendo agravados se associados aos problemas

    sociais como a especulao imobiliria no centro da cidade e nas reas de acesso a

    Universidade que oferecem a melhor infra-estrutura em relao a emprego e ofertas de

    servios urbanos. Isso desde a dcada de 70, onde vem ocorrendo o adensamento dessas

    reas com a construo de prdios em reas de encostas e margens de rio por no haver

    mais espao. Esses condomnios verticais so destinados a classe mdia e alta, mas

    modificam toda a paisagem da cidade, figura 03, enquanto a populao de baixa renda

    ocupa reas perifricas e de baixa qualidade fsico-espacial (MELLO,2002), figura 09.

    Figura 03

    11802

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    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    A prpria geomorfologia do municpio contribui para esse processo, por ser uma rea

    de mares de morro com vales em forma de U, e at mesmo pelo fato da UFV ocupa o

    principal vale contguo que ira funcionar como uma barreira para o crescimento urbano

    neste sentido da cidade fazendo com que ela cresa no contrrio a Universidade.

    Interesses polticos e econmicos foram beneficiados atravs de atitudes do poder

    pbico como a Lei n609 de 31 de dezembro de 1971, que foi instituda pela Prefeitura

    Municipal de Viosa e que proibia a construo de casebres no centro urbano de Viosa,

    com o objetivo de no sujar a imagem de uma cidade universitria escondendo a realidade

    da cidade presenteando os pobres com um bairro afastado, o Nova Viosa. Este foi um ato

    poltico paternalista e ao mesmo tempo para favorecer a especulao imobiliria no centro

    da cidade.

    2.3. ADENSAMENTO URBANO X LEGISLAO URBANA

    Somente na dcada de 80, num contexto onde passa-se a ter maior preocupao

    com a s questes ambientais pr parte de rgos internacionais, Onge poder publico, que

    inicia o processo de institucionalizao da questo ambiental no Brasil com a lei que criava

    a Poltica Nacional do Meio Ambiente. Nela foi associado o conceito de desenvolvimento

    econmico, preservao ambiental, prev o zoneamento ambiental, a avaliao de impactos

    ambientais e o cadastro tcnico de atividades e instrumentos de defesa ambiental. Para

    funcionamento dessa poltica foi criado o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), o

    Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONAMA), com carter consultivo e deliberativo, e

    os Conselhos Estaduais e os Municipais.

    11803

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    Mas apenas no final da dcada 1990 de que o poder pblico de Viosa em parceria

    com a comunidade acadmica e outros segmentos da sociedade, elaboram um novo Plano

    Diretor, mais especifico para o municpio, a Lei de Ocupao, Uso do Solo e Zoneamento do

    Municpio de Viosa e a do Parcelamento do Solo do Municpio de Viosa, mas que no

    esto sendo respeitadas.

    O Plano Diretor de Viosa serve como instrumento orientador e normativo dos

    processos de transformao do Municpio nos aspectos polticos, scio-econmicos, fsico-

    ambientais e administrativos. O Plano Diretor de Viosa tem por finalidade principal orientar

    a atuao do poder pblico e da iniciativa privada, prevendo polticas, diretrizes e

    instrumentos para assegurar o adequado ordenamento territorial, a contnua melhoria das

    polticas sociais e o desenvolvimento sustentvel do Municpio, tendo em vista as

    aspiraes da populao sendo que uma de suas diretrizes gerais de Gesto Urbana

    garantir a recuperao, para a coletividade, da valorizao imobiliria resultante da ao do

    poder pblico.

    O Plano Diretor considera o adensamento urbano no centro urbano como sendo um

    fator restritivo ao desenvolvimento do municpio, mas dentro de suas polticas de gesto

    est a promoo da ocupao dos vazios urbanos, preferencialmente com habitaes ou

    equipamentos comunitrios;

    Em 2000 foi instituda a Lei de Ocupao, Uso do Solo e Zoneamento do Municpio

    de Viosa, LEI N 1420/2000, que tem como objetivo orientar e estimular um

    desenvolvimento racional urbano que preserve as caractersticas urbanas de Viosa,

    assegurando o equilbrio na concentrao urbana, controlando o uso e o aproveitamento

    adequado do solo e reservando reas necessrias expanso, de acordo com o

    planejamento fsico-territorial urbano. Tem como objetivo tambm dividir o territrio

    municipal em zonas diferenciadas, em funo das diretrizes do Plano Diretor e minimizar

    conflitos entre reas residenciais e reas de outras atividades.

    Essa lei define como sendo reas no edificantes no Art. 5:

    I nas reas urbanas, as faixas de terrenos situadas ao longo das guas correntes

    e dormentes, a distncias laterais nunca inferiores a 10m (dez metros) dos eixos;

    II nas reas rurais, as faixas sero de, no mnimo, 30m (trinta metros) de cada

    lado das margens;

    III ao longo de redes de adutoras de guas, emissrios de esgotos sanitrios e

    galerias de guas pluviais, as faixas sero de, no mnimo, 4m (quatro metros) a partir do

    eixo das tubulaes e galerias.

    11804

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    No entanto, ser mantido o uso das edificaes j licenciadas pela Prefeitura

    Municipal at a data da vigncia desta Lei, vedando-se as ampliaes e alteraes que

    contrariem as disposies estabelecidas nela.

    J os Empreendimentos considerados de Impacto Urbano:

    I projetos exclusivamente residenciais com rea superior a 3.000m2 (trs mil

    metros quadrados), excludas deste valor todas as reas relacionadas no artigo 13;

    II projetos mistos, com rea mxima de 3.000m2 (trs mil metros quadrados), nos

    quais a rea destinada a uso comercial no exceda de (um quarto) da rea edificada,

    excludas deste valor todas as reas relacionadas no artigo 13;

    III qualquer outro tipo de projeto (uso misto, comercial, institucional e industrial)

    com rea construda superior a 2.000m2 (dois mil metros quadrados), excludas deste valor

    todas as reas relacionadas no artigo 13;

    IV aqueles com capacidade de aglomerao ou de uso educacional que renam

    mais de 400 (quatrocentas) pessoas simultaneamente;

    V os postos de servios para veculos automotores. (LEI N 1420/2000, Art. 6 4)

    Sendo considerados Empreendimentos de Impacto Ambiental:

    I os empreendimentos sujeitos a apresentao de RIMA Relatrio de Impacto

    Ambiental -, nos termos da legislao federal, estadual ou municipal em vigor;

    II projetos exclusivamente residenciais e/ou mistos, desde que tenham 80%

    (oitenta por cento) de sua rea construda destinada a uso residencial, com rea igual ou

    maior que 10.000m2 (dez mil metros quadrados);

    III qualquer outro tipo de projeto (uso misto, comercial, institucional, industrial)

    com rea construdo igual ou maior que 5.000m2. (LEI N 1420/2000, Art. 6, 5)

    Segundo a lei de Ocupao, Uso do Solo e Zoneamento do Municpio de Viosa

    esses empreendimentos esto sujeitos ao licenciamento especifico devendo ser realizado

    um estudo que deve ter um licenciamento.

    Est definida nessa lei tambm taxa de asfaltamento, taxa de permeabilizao,

    coeficiente de aproveitamento, percentual da rea do lote que pode ser ocupado pr

    construo e afastamentos frontais mnimos estabelecidos.

    J em 2001, Institui a lei n 1.469/2001 do Parcelamento do Solo do Municpio de

    Viosa que define que qualquer modalidade de parcelamento do solo para fins urbanos fica

    11805

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    sujeita aprovao prvia da Prefeitura, nos termos desta Lei. De acordo com essa,

    nenhuma modalidade de parcelamento do solo ser permitida em :

    I - em terrenos alagadios e sujeitos a inundaes, antes de executados as obras e

    os servios que assegurem o escoamento adequado das guas;

    II - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo sade pblica,

    sem que sejam prvia e completamente saneados;

    III - em terrenos com declividade superior a 40% (quarenta por cento);

    IV - em terrenos onde as condies geolgicas sejam desfavorveis ocupao

    antrpica;

    V - em reas de preservao ambiental;

    VI - em reas contendo matas ou florestas, sem prvia manifestao favorvel das

    autoridades competentes;

    VII - em reas de reservas naturais, nas quais o Poder Pblico tenha interesse em

    sua preservao por motivo paisagstico;

    VIII - em reas contguas a mananciais, cursos d'gua, represas e demais recursos

    hdricos, sem a prvia manifestao dos rgos competentes;

    IX - em reas de proteo ambiental;

    X - em reas em que a poluio impea a existncia de condies sanitrias

    suportveis, aps estudo de impacto ambiental at a correo do problema.

    XI em reas onde a demanda adicional de gua provocada pelo parcelamento

    possa comprometer a oferta dos mananciais de abastecimento e o suprimento dos usos da

    gua j existentes na rea. (LEI N 1.469/2001, Art. 5).

    No entanto, o processo de ocupao de Viosa os vales foram os primeiros a serem

    ocupados. Mas com o crescimento da cidade, a partir da dcada de 70, inicia-se um

    processo de adensamento dessas reas e conseqentemente a ocupao das encostas

    prximas ao centro, figura 04.

    Figura 04

    11806

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    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    A prpria topografia da cidade de Viosa, como podemos observar no mapa 01,

    caracterizada por morros e vales estreitos, serve como um obstculo para o crescimento da

    cidade e contribui para o processo de adensamento nos vales.

    Outro impacto ambiental causado pelo adensamento urbano a ocupao de reas

    ao longo dos cursos hdricos, mas desde o incio da formao da cidade, a ocupao da

    rea j conflitava com a preservao de seus recursos hdricos, pois as primeiras

    construes da cidade situadas no terreno que se limitavam com o ribeiro, tinham os

    fundos voltados para ele, situao que facilita o lanamento do lixo produzido nos quintais e

    do esgoto sanitrio diretamente no curso dgua.

    11807

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    Mapa 01

    No entanto, com o aumento populacional e conseqente processo de urbanizao o

    processo de degradao dos cursos hdricos acelerado como um aumento, significativo,

    da quantidade de esgotos lanados nos cursos hdricos e ocupao de reas de

    preservao ambiental. No centro da cidade e ao longo dos cursos dgua, h um grande

    adensamento em torno dos cursos hdricos, ou seja, mesmo aps a formulao de

    dispositivos legais do governo federal e municipal h uma proibindo construes nessas

    reas o processo de ocupao dessas reas ainda continua. Como podemos ver na figura

    05, a construo de um edifcio, que passou pela aprovao do rgos ambientais

    responsveis pela legalizao desse tipo de empreendimento, e mesmo assim o prdio esta

    sendo construdo em cima do Ribeiro So Bartolomeu, que o principal curso hdrico da

    cidade.

    Outro problema do adensamento urbano que tanto o abastecimento de gua

    quanto canalizao do esgoto nunca estiveram de acordo com o crescimento da cidade, e

    assim foram tomadas medidas que no atendiam todas as regies da cidade, segregando

    as regies perifricas, que eram as que mais precisavam, sem estrutura adequada

    conseqentemente esses locais sofrem com a falta dgua em determinadas pocas do ano.

    Figura 05

    11808

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    A impermeabilizao do solo em reas densamente ocupadas, tambm contribui

    para degradao dos cursos hdricos que correm na cidade, sendo que em reas

    densamente ocupadas, onde o solo se encontra impermeabilizado em quase sua totalidade,

    esse ndice cresce para um valor que pode variar de 90 a 100%. Isso acarreta a conduo

    de impurezas para os cursos dgua, e a natureza dessas impurezas carreadas variam de

    acordo com a atividade desenvolvida pelo homem na rea, com a durao e quantidade da

    gua precipitada e com as caractersticas do meio fsico. (MELLO, 2002).

    A figura 06 demonstra principais conseqncias dessas ocupaes irregulares na

    rea de adensamento urbano em Viosa que so a excessiva poluio, turbidez da gua e

    assoreamento.

    A retirada da vegetao do fundo de vale e a diminuio de reas verdes no centro

    da cidade, tambm so conseqncias do adensamento urbano de Viosa.Uma das poucas

    excees dentro do municpio a rea onde esta localizada o campus da Universidade

    Federal de Viosa, onde alguns recursos naturais foram razoavelmente preservados, figura

    07.

    11809

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    Figura 06

    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    A ocupao desordenada do municpio compromete o controle ambiental bem como

    a oferta de reas verdes de lazer para a populao. Ficando assim evidente, a grande

    dependncia da Universidade como rea de lazer, figura 07.

    Segundo MOTA (1981), a remoo da cobertura vegetal do solo acarreta os

    seguintes impactos:

    Perda da estabilidade do solo.

    Eroso, pois aumenta o escoamento da gua superficial.

    Diminuio da quantidade de gua nos cursos d gua, uma vez que 60% da gua

    da chuva devolvida atmosfera pela transpirao das plantas.

    Alterao do microclima, aumentando a insolao, a velocidade dos ventos e a

    poluio do ar.

    Disperso da fauna.

    Extino das espcies vegetais nativas.

    Comprometimento do aspecto esttico da paisagem.

    Outro impacto causado pelo adensamento urbano em Viosa o aumento de

    resduos slidos, trazendo um outro problema da disposio final desses resduos. O aterro

    11810

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    controlado, figura 08, tem sido a alternativa que vem sendo utilizada pela Prefeitura de

    Viosa, que podem entre outras coisas contaminar o lenol fretico e solo.

    Figura 07

    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    Figura 08

    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    Impactos sociais tambm so causados pelo adensamento urbano em Viosa tais

    11811

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    como a segregao scio-espacial da cidade, figura 09, bairro So Sebastio, com

    formao de algumas reas perifricas cidade que no oferecem uma boa infra-estrutura

    como capitao de gua e esgoto, ruas sem calamento, falta de atendimento mdico mais

    prximo e que abrigam a maior parte da populao pobre de Viosa, o que compromete

    uma boa qualidade habitacional para essas pessoas.Isso se deve a conseqente

    especulao imobiliria no centro da cidade e em reas prximas ao centro.

    Figura 09

    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    Como podemos analisar no quadro 03. Bairros mais afastados do centro tem seus

    lotes desvalorizados como o caso do Bairro Novo Era, com o metro quadrado do lote

    podendo ter o valor de apenas R$ 2,89, no Bairro Novo Silvestre R$ 13,51/m2. J no Centro

    esse valor pode chegar a R$ 230,00/m2.

    Portanto considerando apenas a varivel da distncia do centro, mapa 02, podemos

    dizer que o preo do lote proporcional sua proximidade do centro, ou seja, os lote m,ais

    prximo ao centro so valorizados podendo o seu valor ser 100 vezes do que um lote em

    bairros afastados.

    11812

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    Quadro 03.Tabela com o valor em m por lote em diferentes bairros de Viosa

    Fonte: Imobiliria Habitat,2004

    Mapa 02.

    Bairro Valor do m

    Ramos R$ 241,93

    Centro R$ 230,00

    Cllia Bernardes R$ 219,70

    Liberdade R$ 80,00

    Morada do Sol R$ 65,00

    Ftima R$ 46,15

    Santa Clara R$ 42,66

    Inconfidentes R$ 32,59

    Nova Era R$ 2,89

    A especulao imobiliria agente ativo e passivo do adensamento urbano, ou seja,

    ao mesmo tempo em que a especulao imobiliria conseqncia do adensamento

    urbano, o que leva a populao de baixa renda a ocupar reas perifricas sem infra-

    estrutura, ela promove tambm o adensamento urbano no centro de Viosa promovendo a

    ocupao de reas de preservao permanente e o processo de verticalizao, figura 10.

    Figura 10

    11813

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    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    Essa especulao imobiliria e a degradao do ambiente urbano demonstram

    tambm, uma negligencia do poder pblico e falta de organizao da sociedade viosense

    diante a degradao ambiental do espao urbano.

    3. POSSVEIS SOLUES

    Por conta das limitaes dos instrumentos tradicionais de regulao do uso e

    ocupao do solo, tm surgido nos ltimos anos novas abordagens de regulao da

    ocupao e do prprio adensamento. Estas novas vises apresentam trs pontos centrais:

    a) Rompimento da viso tradicional da cidade fragmentada em zonas especializadas:

    Trata-se de abandonar a concepo da cidade enquanto mquina de morar e

    produzir, onde cada rea tem usos claramente diferenciados, exigindo uma nfase na infra-

    estrutura de transporte que suporte o deslocamento dos cidados das reas residenciais

    para as reas de trabalho. Esse conceito substitudo pela valorizao dos aspectos

    humanos, dando lugar especial s relaes de vizinhana, entendendo a cidade enquanto

    espao de prtica da cidadania e convvio social. Em termos concretos, significa adotar uma

    regulamentao do espao urbano, que garanta a qualidade de vida e permita que a

    legislao acompanhe o processo de transformao contnuo vivido pela cidade, que

    normalmente valoriza a multicentralidade e a mistura de usos.

    b) Regulamentao e simplificao da legislao:

    11814

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    Tem-se buscado construir instrumentos de controle do uso e ocupao do solo. A

    tnica desses novos instrumentos que a legislao explicite seus objetivos e que o acesso

    terra urbano seja democratizado. Assim, procura-se evitar o excesso de regulamentao

    em itens mais relevantes, especialmente quanto s normas de construo.

    c) Mecanismos de apropriao social dos benefcios da urbanizao:

    Ao mesmo tempo em que se abandona o detalhamento excessivo da legislao (por

    exemplo, o zoneamento de uma quadra, a altura do batente de uma porta ou da caixa de

    correio), procura-se incorporar ferramentas que assegurem a preservao dos direitos

    coletivos e o interesse da cidade. Em termos prticos, isto significa adotar mecanismos nos

    quais o empreendedor assuma os nus dos impactos gerados pelo empreendimento.

    Exemplos desses mecanismos so a cobrana pelo direito de construir rea adicional do

    terreno (compensando a sobrecarga gerada pelo empreendimento sobre a infra-estrutura

    urbana), responsabilizao do empreendedor pela soluo dos transtornos gerados pelo

    empreendimento (por exemplo, construo de vias de acesso ou passarelas, isolamento

    acstico) e definio de reas passveis, ou no, de adensamento (para otimizao do uso

    da infra-estrutura urbana). evidente que as construes populares e certas atividades

    geradoras de emprego e renda podem ser isentadas deste nus.

    A reviso da legislao urbanstica deve ser entendida como um processo complexo,

    exigindo planejamento e gerenciamento especficos. A experincia tem mostrado que

    importante envolver todos os setores sociais interessados: um plano diretor ou outras peas

    da legislao urbanstica que no so debatidas com a sociedade dificilmente encontram

    apoio poltico para sua aprovao e implementao.

    Assim, aconselhvel envolver a sociedade desde a etapa de diagnstico e

    avaliao da legislao existente. Nessa etapa, interessante fazer um levantamento do

    que incomoda na cidade: prdios, enchentes, desmoronamentos, contaminao, poluio

    sonora, etc. Uma vez realizada essa etapa, define-se a abrangncia da reviso da

    legislao. Quase sempre ela comea com a elaborao do Plano Diretor (ou sua reviso),

    definindo as diretrizes urbansticas para o desenvolvimento do municpio. Trata-se, portanto,

    de um instrumento de poltica urbana geral. A reviso do Plano Diretor deve, no campo da

    poltica imobiliria, incentivar a oferta de residncias de padro mdio e padro popular.

    Deve incorporar uma poltica fundiria, que combata a reteno de terrenos em reas de

    adensamento desejvel e desestimule a ocupao em outras reas (seja por restries

    ambientais, seja para evitar demanda por expanso da infra- estrutura). Para muitas

    cidades, necessrio promover a regularizao legal de reas de ocupao de baixa renda.

    Baseado nos objetivos e macro-diretrizes urbansticas propostas no Plano Diretor,

    deve-se fazer o detalhamento da legislao de uso e ocupao do solo. Do ponto de vista

    11815

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    formal, o Plano Diretor pode conter a prpria legislao de uso e ocupao do solo. Dessa

    forma, o plano j fica autoaplicvel.

    Algumas Possveis solues podem ser simplificadas como:

    Desburocratizao e simplificao das normas de construir,

    Organizao da populao, escolhendo movimentos populares locais,

    Urbanizao de periferias, priorizando as com risco ambiental,

    Planejamento Urbanstico,

    Continuao da parceria com o setor privado (operaes interligadas),

    Programas como o de Reabilitao do Centro,

    Ampliao do projeto de reciclagem entre prefeitura e UFV. (figura 09, usina de

    reciclagem)

    Zoneamento urbano,

    Melhoria da infra-estrutura habitacional,

    Disciplinamento do uso do solo,

    Reflorestamento de potenciais reas a serem ocupadas,

    Preservao de alguns espaos livres dentro da cidade,

    Sistematizao de dados fornecidos pelos atores sociais envolvidos,

    Figura 09

    11816

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    Fonte: Arquivo pessoal, 18/06/2004

    Deve-se ressaltar que no basta ter programas ou polticas municipais. Seria

    necessrio possuir polticas privadas que ajudem a orientar os investimentos em habitao e

    as atuaes dos diversos nveis de governo.

    Mas as solues devem ser baseadas em as aes efetivamente realizadas

    respondendo aos problemas e s teorias. Reaes referem-se a novos problemas

    detectados, que vo redefinir novas teorias e aes. Contudo, podemos apenas apresentar

    possveis solues j que, na maior parte das vezes, essas diretrizes no so

    implementadas. E tudo isso tem o propsito centrado de adequao da ocupao urbana.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Portanto o crescimento urbano rpido e sem planejamento da cidade de Viosa

    trouxe vrios problemas ambientais e sociais para seus habitantes. Sendo que aps a

    dcada de 1970 h o adensamento de reas centrais acelerando o processo de degradao

    dos recursos naturais na rea urbana.

    H dispositivos legais para que o poder pblico possa minimizar os problemas

    causados por esse adensamento urbano, que possibilitariam o desadensamento no centro

    da cidade no sentido de tentar organizar o territrio municipal para que a cidade possa se

    especializar socialmente de forma mais justa.

    No entanto, percebemos na pratica as das leis ambientais no so respeitadas por,

    grandes construtoras de imveis no centro da cidade estarem construindo reas de

    preservao ambiental comprometendo a qualidade ambiental do centro urbano,

    11817

  • Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    promovendo o processo de verticalizao e a segregao scio-espacial. O interessante,

    que algumas dessas construes so realizadas com a aprovao do rgo ambiental

    responsvel..

    REFERNCIAS MELLO, F.A.O Anlise do Processo de Formao da Paisagem Urbana do Municpio de Viosa, Minas Gerais. Dissertao (Mestrado em Engenharia Florestal) - Departamento de Engenharia Florestal. Viosa: UFV,2002.

    MOTA, S. Planejamento Urbano e Preservao Ambiental. Fortaleza: Universidade Federal do Cear, 1981.

    PANIAGO, M.C.T. Viosa - Mudanas Socioculturais; Evoluo Histrica e Tendncias. Viosa: UFV, 1990.

    GOMES, R.A.C. Delimitao da pobreza e estimativa da divida social urbana do municpio de Viosa MG. Dissertao (mestrado em extenso rural) - Departamento de Economia Rural, Universidade Federal de Viosa, Viosa. 1993

    SANTOS, A.M.C do. Sociabilidade e ajuda mutua na periferia urbana de Viosa (MG). Dissertao (mestrado em extenso rural) - Departamento de Economia Rural, Universidade Federal de Viosa, Viosa. 1991

    SCARLATO, F.C. Populao e urbanizao brasileira. In: ROSS, S.J. Geografia do Brasil. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2001.

    RIBEIRO FILHO, G. B. A Formao do espao construdo: cidade e legislao urbanstica em Viosa, MG. Dissertao (mestrado em Urbanismo)- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 1997.

    Sites consultados

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA (IBGE). . Acessado em 10 jun 2004.

    CMARA MUNICIPAL DE VIOSA (MG). acessado em 10 jun 2004

    Legislao Consultada.

    Prefeitura de Viosa. Lei n1.420/2000- Ocupao, uso do solo e zoneamento de Viosa. Viosa-MG, 2000

    Prefeitura de Viosa. Lei n 1.469/2001 - Parcelamento do Solo do Municpio de Viosa, Viosa-MG, 2001

    11818

    IMPACTOS SCIO-AMBIENTAIS DO ADENSAMENTO URBANO EM VIOSA (MG) Figura 02 Mapa 01

    Figura 06 Impactos sociais tambm so causados pelo adensamento urbano em Viosa tais como a segregao scio-espacial da cidade, figura 09, bairro So Sebastio, com formao de algumas reas perifricas cidade que no oferecem uma boa infra-estrutura como capitao de gua e esgoto, ruas sem calamento, falta de atendimento mdico mais prximo e que abrigam a maior parte da populao pobre de Viosa, o que compromete uma boa qualidade habitacional para essas pessoas.Isso se deve a conseqente especulao imobiliria no centro da cidade e em reas prximas ao centro. Quadro 03.Tabela com o valor em m por lote em diferentes bairros de Viosa Valor do m