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    BOURDIEU,CRiTICO DE FOUCAULT*

    Duran te 0 tem po em que ambos leccionaram no College de F rance, M ichelFoucau lt e P ierre Bourdieu encon traoam -se regularm en te vista que eramam igos e , para alem disso , partilhavam alguns in teresses tanto acerca dosprob lem as do . cam po em que traba lbaoam com a sabre questoes de in ieroen -(aO politica N o. en ianto , F oucau lt e B ourd ieu eram com pletam en te d iferen-tes em term os de background, da posit;ao . que ocupaoam no. c am po, do. es tilode vida in te lec tua l, do . posic ionam en to epistem al6g ico , etc F oucau lt nuncaescreteu acerca do traba lbo de Bourd ieu , ao passe que este u lumo ieio gra -dua lm en te a produzir com eniarios acerca da obra do prim eiroE ste artigo . constitu i um a tenuuiua de com preensdo de.sta re lacdo assim e-trica e de especifica(ao porm enorizada das questoes em Jogo na attica efec-tuada por Bourd ieu a traues de um a Ieitura a tenta dos seus textos A sua cri~tica consiste essencia lm en te num a ana lise da atitude pouco clara deFoucau lt e de ou tros fil6s% s da sua genJ(aO , que pretend iam iniennr nocam po das ciencias socia is a partir de uma posi(ao filosofica pura , ruiocon tam inada Para Bourd ieu , estes aspectos pouco clam s na a titude deFoucau lt re la tioam erue as questiies do poder e do saber contribu iram para aem ergencia da actua l m oda da ana lise de discurso socio-construaonista eidea lisia , que no seu en iender pretende substitu ir a socio logia pela analisedo d isc uno, procedendo como se 0. 5 fenom enos socia is [ossem a mesma

    I raducao de I iago N evesU n iv er sid ad e d e Co pe nh ag a

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    ~1)UCA

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    ~t lUCA(: ; foSOCIEDADE & CU c I U RAS

    tivos trabalhos Tanto quanta sabemos, Foucau lt nunca discutiu a obra deBourdieu J i Bourdieu, particularmente depois da motte da Foucault, pO lexemplo na segunda edicao do Homo Academicus , d isc utiu e xp lic itame nte a sposicoes que ambos ocupavam no campo em 1967 Nos ultirnos anos da suav ida activa , d igam os que entre 1992 e 20 02, Bourd ieu criticou m ais trequente eagudamente 0 trabalho de Foucault ju lgo que isto se deveu ao facto de, talcomo Bourd ieu tinha receado , alguns aspectos da obra de Foucau lt terem sidoutilizado s para a prorn ocao de urn relativ ism o radica l idealista e su bjectiv ista ,con trario ao espirito do proprio Foucault Para alern d isso , e cre io que este e 0aspecto m ais im portante, B ou rdieu u tiliza a su a critica a Fo ucau lt para expres-sar uma v ez rn ais a sua profu nd a desconfianca face a filosofia qu e d ese nv olv eurn jogo duplo com a ciencia emp iric a, sem te r sequer de pagar 0 pre~o daaprendizagem d o o fic io

    J i no que se refere a Foucault, nao encontre i uma iin ica referencia it obrade Bourd ieu em nenhum dos seus dez classicos, nem nas35 0 0 paginas dosDits e t E a its , vo lumes I e II (Paris: G allimard, 20 0 1), nem em nenhuma ou trapublicacao No que diz respeito ao material escrito , a relacao en tre ambos osa uto re s faz-se n um se ntid o u nic o

    Alguns aspectos da re lacao en tre eles podem ser exp licados a luz de umadiferenca de idades pequena mas significa tiva Foucault era a lguns anos maisvelho que Bourdieu, nasc ido em 1930 Isto sign itica que, quando se conhece-ram na E co le N orm ale S up erieu re , B ourd ieu era aIun o e Fou cault assisten te , 0que nesse con texto taz uma grande diferenca Am bos terrn inaram as suas car-re ira s n o C olle ge d e France , o nd e Fou cault se to rn ou professo r rela tiv am en tejov em , em 1970 , e B ou rdieu em 1980 V erificam os assim que as suas tra jec toriass6 se cruzaram no Co lle ge d e F ra nc e duran te 4 anos

    Ao longo deste texto tentare i re lacionar ambos os au tores a partir do meupon to de vista por forma a to rnar claro 0 quadro no qual os confronto; tenta-re i tambe rn e sc 1a re ce r 0 quadro no qual as dois au tores se confrontam urn aooutro , isto se pensarmos, ta l como ambos fazem, em termos de campos rela-c ionais que nao pressupoem necessariamente con tactos in teractivos ou face aface Ao longo do texto desccbrir-se-a igualmen te que temos de iidar comduas pessoas, duas vidas e duas obras rad ica lmen te diferentes, e a te mesmoan tag6n icas Aqu ilo que elas partilham sao alguns elem entos do cam po cienti-

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    "DUCA~40SOCIEDADE & CUl IURAS

    fico , in te lec tual e po litico em que operaram Para provar isto desde i a , assi-nale-se que em The N ob ility o j S ta te (996), urn liv ro de quase qu inhen tasp ig inas sobre os p roblem as estudados par Foucau lt du ran te os u ltimos dezanos da sua v ida - 0 poder , 0 governo, 0 Estado, 0 d iscu rso - Bourd ieu nempOI urn momento sen tiu que pod ia recarrer a Foucau lt, que! como apo io ,quer como adversa rio O s pro jectos in te lectua is de ambos susten tam -se a s ip r6prios m as sao incomunicaveis, desenvo lvendo-se para le lamen te u rn aoou tro 0 mesmo se poderia d izer do u ltimo trabalho monumenta l deBourdieu, The W eigh t o j th e W orld (1999) Ou, o lhando mais para tras, de tra-balhos com o Dist inct ion (1986), T he IO glC o j P ra ctice (1990) , Outlin e o j aT he ory o j P ra ctic e (1977) e Reproduct ion in E d uc atio n, Culture and Society(977) Em nenhurna destas obras fundamenta is de Bourd ieu ha sina is c lawsde Foucau lt, mesmo considerando que ele e , objectivam ente , pa rte da d iscus-sao enquan to posicao no campo

    En co ntrarn -se tres e xcepco es in teressan tes e ntre o s tra balh os m ais im po r-tan tes de Bourd ieu : em H om o A ca de m ic us (traducao ing lesa datada de 1987),no qual nao se Iim ita a descrever 0 campo mas tambern aloca nomes de au to -re s a s posicoes que eIes ocupam nesse mesmo campo Da mesma form a, nosse us d ois livtos sobre soc io log ia da arte , designadam en te em The R ule s o j A rt(996) e em The F ie ld o j C ultu ra l P rod uction (1993), onde apon ta Foucau ltcomo 0 rep resen tan te m ais in teressan te de uma das posicoes que 0 propr ioBourd ieu recusa: a posicao estru tu ra lista e in tem alista ap resen tada em TheO rd er o j T hin gs (1966)1 Esta analise pode tarnbem ser encon trada em RaisonsPratiques (994) Par fim , nos seus u ltirnos trabalhos , Bourd ieu situa e criticaF ou ca ult d e fo rm a m ais e xp lic itaA abstencao de d iscussao nas esleras publica e pro fiss ional com academ i-cos com os quais se partilha 0 campo , ou com as quais se man tem relacoesp esso ais, n ao e nov idade na com unidade cien tifica POt exem plo , era destafo rm a que Lev i-Strauss se re lac ionava com m uitas ou tras estre las da cena pari-siense , como lacan , po r exemplo De certo modo , fo i ta rnbem par causa destetipo de funcionamento que Habermas e Bourd ieu teceram tao poucos comen-

    IOs m esm os aspectos da obra de Foucau lt sao objecto de um a critica m uito sem elhan te aa longo deRa i son s Pra ti que , (994)

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    ~DUCAC; : JOSOCIEDADE & CU I I URAS

    tarios urn ao ou tro ao longo dos anos E possivel que a sensacao de fazer parted a m esm a fam ilia in te lectu al, p ossu in do -se sim ultan eamen te uma c on sc ie nc iac la ra d a e xiste nc ia d e d iv erg en cia s p ro fu nd as, te nh a e fe ito s p ara lis an te s E tam-bern p ossiv el seja m ap en as circu nsta nc ia s e xterio res a c au sa! ignorance pu ra esimples, como se verifica quando Foucault con fessa ter igno rado , semnenhum a razao espec ia l, a irnpo rtancia da Esco la de Frankfurt (en trev ista aT r ombado ri , 1978 )

    E dific il pe rceber exactamente a razao desses silencios Foucault,H aberm as e Bourd ieu ana lisam , d iscu tem e criticam quase toda a gen te, m asrararnen te ou nunea se pronunciam uns sobre os outro s Talvez 0 facto deestarem muito p r6ximos em diversos aspec to s mas, ao mesm o tempo , sen ti-rem que as suas posicoes sao inco rnpa tive is em elem en to s fundam en ta is , Ihestenha tirado a von tade de investir na enorm e quantidade de trabalho necessa-ria a uma discussao publica que se afigu rava longa , complicada e poueo gra-tificante

    Ialvez seja uma questao de re lacoes de poder soc ia l e simb6lico : numdado momento , s6 pode haver uma Prima Donna em cima palco Po r vezes,no en tan to , pode su rg ir u rn sen tim ento forte de necessidade de in tervencao ,como urn a taque defin itivo de H aberm as a Foucault numa ten tativa dedem onstrar que a sua obra padeee de contrad icao in terna Estes silencios naosao in sign ifican tes , po is contrad izem as assuncoes destes au tores aeerea dana tu reza d o trabalho cientifico, design ad am ente a sua carac terizacao a trav esde um a incessan te troca de argum entos entre pares com peten tes nas m ateriasem questao , v is ta que a c ienc ia e concebida como produ to de urn esforcoco lectivo realizado ao longo da h ist6ria , nao possu indo ou tra ancora paraalem deste d ialogo con tingen te O s nossos tres pro tagon istas defenderam fre-quente e alargadamen te este princ ip io , mas e n itido que nao 0 puseram emp ra tic a n es te c as o p artic ula r

    Ia lvez tenham os de aceitar que , quando a lguem sente gue esta a cam inhode criar urn novo parad igm a, nao discu te esse parad igm a com os ou tros gen iesque encontra no percurso . Sao as file iras inferio res da ciencia que escrevemaeerca do -estado da arte- de um a dada disc ip iina e d iscu tem com os -so ldadosrasos- qu e seg uem 0 gen ic do lado

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    ~DUCACAoSOCIEDADE & CUI rURAS

    C om o p od em set tao semelhantes e s im u lta ne am e n te ta o d ife re nte s?B ou rd ieu e Fou cau lt tin ham o rig en s soc iais e cu ltu ra is bem div ersas, assim

    com o tiveram hist6rias de v ida bem d ife ren tes Ao contra rio de Foucault, umherde iro , Bou rd ieu in ic iava um a tra jec to ria de ascensao soc ia l F ilho de um afam ilia cam ponesa do Su I, 0 seu pai Io i 0 p rirn eiro a to rn ar-se fu nc io na riop ublic o, d esem pe nh an do fu nc oe s p ou co q ua lific ad as Pot su a v ez, tan to 0 paicomo a mae de Foucault erarn descenden tes de varias geracoes de m ed ico sApesar das suas o rigens d ife renciadas, o s do is chegam a Paris para ompar am e sm a p osic ao : 0 estudo das H um anidades num a esco la secundaria de e lite enas au las p repara to rias da E co le N orm ale Su perieu re Bourd ieu e um lutado rh iperactivo , engajado e che io de saude, que cedo comeca a desp rezar 0 sis-tem a academ ico v isto que nao lhe ofe re c ia 0 que havia prometido ; pO l seutu rn o , F ou ca ult e um alu no frag il e com plicad o, co m dificu ldad es d e en quadra-m ento , que co m a aju da do s su rrealis tas acaba p Ol encon trar 0 seu espaco numis olamen to a ris to cr atic o E Foucau lt e nao Bourd ieu quem duran te a lgumtem po p erten ce a o Pa rtid o C om un istao p onto em que estes fu tu ro s academ icos m ais co in cidem e no tipo de filo -so fia que cultivam e n a trad icao que partilh am ap os as au las p rep ara torias: pa raale rn de um grande in te resse no legado de H usserl, e de aco rdo com uma reac-< ; : 1 0 contra Sartre , no segu im ento de auto res com o Bachelard e C anguilhem ,en ten dem a filo so fia como se nd o, fu nd am en talm en te , uma reflex iv id ad e e piste -m ol6g ica so bre a s cie nc ias; re ag em , p orta nto , co ntra 0 n eo -k an tismo, a filo so fiado esp irito e 0 e sp iritu alis rn o fra nc es tra dic io na l C o ntu do , e nq ua nto B o urd ie use d em arca rap idam ente d a filo sofia en qu anto institu icao , d iscip lin a e po sicaoso cio -in te lec tu al h eg ern on ic a, Fo uc au lt p ro sse gu ira como filo so fo e , d e a co rd ocom 0 proprio B ourd ieu , ence ta ra u rn jogo duplo com a relacao en tre a filo so-fia e as c ienc ias soc iais Bourd ieu , por seu tU InO , dernarcou -se de ta l proced i-m en to e to rn ou -se um cie ntis ta so cial em pirico

    A d ireren ca e cruc ial, en tre o utras co isas p orqu e, d os princ ipa is soc io lo go sda segunda metade do secu lo passado , Bourd ieu fo i 0 u nic o g ra nd e c ie ntistaem pirico - is to para a lem d a su a reco nhec id a co mp eten cia ep iste rno log ica , teo -rica e m etodo log ica H aberm as, Luhm ann e G iddens estao a d es ern pe nh ar 0p ape l de filo sofo s o u ensa istas, re flec tin do sobre p esquisa em pirica realizad a

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    ' i :Ul jCA~AoSOCIEDADE & CUL I URAS

    por ou trem Este aspecto e fundamenta l na med ida em que Bourd ieu defendeque a critica p6s-m odern ista das ciencias socia is, vasta, sofisticada e devasta-dora , e tambem expressao da au to -defesa de um a disc ip lina anteriorm en tehegem6nica que se sen te agora arneacada

    A influencia d e N ie tzs ch e sobre Bou rd ieu e Fou cault per m ite-nos pereebera razao pela qual os escrito s de ambos sao en tend idos como p6s-modernos,isto apesar de as suas p rincipais obras terern side produzidas an tes da vagapos-modernista Ambos consideram que Deus esta morto e que a existenciahumana se encon tra marcada pela fin itude e por uma h is to ric id ad e ra dic al 0suje ito humano surge descen trado, mais su je ito a cam pos do que criador sobe-ran o d a sua propria existencia

    C on tu do , fo i apenas Foucau lt que, contra sua von tade , adqu iriu a reputacaode ser urn dos cinco pais fundadores da chamada vaga -estruturalista- dos anossessenta (em conjun to com Lev i-Strauss, 0 u nic o v erd ad eiro e stru tu ra lista ,Iacan, Althusser e Barthes) 0 proprio Bourd ieu se inspirou no estru tu ra lism o,chegando a escrever alg un s artig os n essa l inha, mas ra pid am en te d ese nv olv eua su a altern ativ a critics ao e str utu ra li smo Bourdieu d esig nou a su a altern ativ ade constru tiv ism o sociologico, isto num a epoca em que 0 co nc erto d e co nstru -c ;:aoera quase com pletam ente desconhecido na socio logia; au se ja, an tes de teralcancado 0 estatu ta de categoria universal, u tilizada em todos os contextos esem nenhum poder exp licativo Actualmente, a term ino logia construtiv istapouco reservada de Bourdieu pareee inocente face a su a p ro pria n ece ssid ad ede rejeitar o s exag ero s co nstru cio nistas d o p ie se nte

    In ic ialm en te , Bo urdieu in teressou -se p ela biologia, tencionando estudarmedicina e p laneando uma tese de doutorarnento em epistemolog ia, a desen-volver sob a orientacao de Canguilhem N o en tanto , em resultado da experien-cia da guerra de lib er ta cao a rg e lin a , cedo trocou a filo so fia profissional pelain ve stig acio e docencia n as areas da an trop ologia e da so ciolog ia da ed ucacaoe d a c ultu ra

    Por seu tu rno, Foucault da continu idade a sua educacao filos6fica cominvestigacao e docencia em psicolog ia , sendo que issa nao e visto como umaquebra com a filosofia , mas antes como algo que conduz a urn tratamento his-to rico -Iilo so fico das iencias humanas- Esta nova concepcao das cienciashumanas nao e coincid ente com as H um anidades (as -L etras-: h istoria , lingu a-

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    ou 56 mu ito c au te lo s amen te e que a lgum deles sugeriu recom endacoes sobremed idas concre tas 0 seu argumen to era 0 de que essa ta re fa co rnpetia aosp ro fis sio na is d as q ue sto es praticas Ambos reconheciam , contudo , a necessi-dade de 0 inv estigado r se r tam bern um m ilitan te qu e traba lhasse em con ju ntocom outros m ilitan tes, submetendo -se is impurezas da p ra tica quo tid ian a eman tendo um minima de honestidade pessoal no tra tamen to das questoes dodestino d as po pu laco es, pa ra dessa fo rm a co ntraba lancar 0 erro da opcao potuma vida exclusivamente esco lastica N enhum deles ju lgava no en tan to ser ap esso a in dic ad a p ara re tirar c on clu so es praticas das ana lises te6ricas que pro-duzia Ambos dese javam que 0 in ve stig ad or p artilh as se a c on dic ao d e rn ilita nte ,oferecendo 0 seu contribu te espec iflco na qua lidade de fornecedor de contra --saber contra as m en tiras ofic ia is , m antendo a sua capacidade de objectivacaoa traves de um a p artic ip acao real N ao se tra ta d e m ilitan tism o, p ra tica , activ ida-des de consultado ria ou tea ria p ra tica baseada em investigacao , mas sim dec ienc ia e pratica de pleno dire ito C omo se pode consta ta r nos D its et E cnts en a bio grafia d e rea liza da d e E ribo n (M ich el F ou cau lt, 19 89 ), o s reg isto s re velamurn Foucault activ ista , pa rticu la r m en te a te 1981, epoca em que Bourd ieu eram ais cau te lo so nas in tervencoes na estera p olitic a (c f Pierre Bourd ieu , 2002 ;I nte rv en tio ns P o litiq ue s, 1 9 61 -2 0 01 , Agone)

    Em M aio d e 1981, Fran co is M iterrand , candida to pe lo Partid o Socia lista , fo ie le ito Presiden te frances Esta eleicao e v ista com o um a nova possibilidadepara a soc ialismo Porem , logo em Dezembio desse mesmo ana, Bourd ieu eF ou ca ult e nc on tram -se p ara o rg an iz ar .a lg um a ie siste nc ia a s p olitic as reacdona-ria s do Governo , en tre as quais a recusa de apo io ao movimento po laco doSo li da ri ed a de contr a 0 P artid o C om un ista e 0 c on tro lo ru sso F ou cau lt aban do -nou 0 m ilitan tism o p ou co tem po depo is , m as para B ourd ieu este ep is6d io m ar-cou um ponto de v iragem que culm inou com 0 apoio is greves de N ovem brode 1995 , t endo side acom panhado par um fluxo crescents e incessan te de acti-v idades d e m ilitanc ia , design adam en te em colaboracao com 0 movim en to a nti-g lobalizacao Fo i com am argura que Bourd ieu acabou pO I descobrir que eraconsiderave lrnente menos popu la r enquanto m ilitan te do que ve io a se ten qu an to in vestig ad or, p elo m en os e ntre a c om un id ad e cien tific a

    Bou rd ieu e Foucault tiveram v idas privadas bern d ife ren tes Foucault e rahom ossexua l, m as s6 ta rd iam en te aceitou a sua hom ossexua lidade , e so freu

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    veicu lo para as suas ideias M ais im portan te a inda: considerava a escrita , a cria-~ao de uma obra, a unica forma de erial a sua propria v ida D ito de uma formaradical: lidar com um problema dentifico tinha de resultar nao so numa novaexplicacao do problema, mas tambem n um a fo rm a radicalmente nova de exis-te nc ia p ara 0 se u a uto r 0 tra ba lh o in te le ctu al-a rtistic o e , n este c aso , e nte nd id ocomo uma experiencia lim ite , tao proxima quan ta possive! do que -nao podeser vivido-

    "Sou um exp erim en tador e ndo um teorico Sou um exp erim en tador nosentido em que escreuo p ara m e tran so rm ar e para ndo pensar 0 mesmoque pensava anseriormente/ 'Esta form a artistica e individualista de o lhar para a sua propria existencia ,

    u tilizando a ciencia nao so para ganhar a v ida mas tambem para fazer da vidauma obra em vez de v iver para a ciencia , encon tra-se nos an tipodas da posi-~3.0 de Bourdieu, que se lim itou a ocupar 0 seu espa~o tal com o delim itadopelos parametres da accao cien tifica O s livros de Bourd ieu utilizam todos osreeU ISOSoferec idos pela re to rica , m as n inguem dira que possuem algum valo rliterario

    A principal diferenca, q u e acabara p o r provocar a critica p u b lica aBourdieu

    A pr incipal diferenca en tre os dois autores encon tra-se nas areas as quaisdedicam a rnaior parte da sua activ idade in te lectual Do seu primeiro livro,sobre a historia da loucma, ate a sua u ltima obra , ded icada aos cu idados de 5 i,Foucaul t esforcou-se por criar uma nova fo rma de fazer a h ist6ria d as cienciase dos saberes hum anos/sociais, com base num m etodo fundam entalm ente filo-s 6fic o e h is to ric o

    Afir rnacao reti rada c ia belissim a en trev ista com D Irombad ori, em 1978, o rien ta da p ara a c on stru -~ao da biografla intelectual de Foucault Iraducao inglesa publkada em Jam es D Fau bion (coo rd )(2 00 0) M icb ei F oucauit. V ol 3 Powe r . N ova Iorque Th e N ew Y ork Press, p p 239-297)

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    ~\)UCAC,{OSOCIEDADE & CUIIURAS

    A obra de Foucau lt con firm a a famosa tese do seu mestre C angu ilhem ,segundo a qua l a h ist6 ria da denc ia e a ep istem olog ia tendem a converte r-senum un ico d iscu rso , is to na m ed ida em que as ide ias te rn um a h is to ria cons ti-tu ida m ais par a rticu lacoes in te lec tua is d o que par cu rso s de accao au sequen -c ia s d e a eo n te cime n to s

    Foucau lt passou toda a sua v ida a I e r liv ro s na B iblio teca N ac iona l au emcasa Ien tava descobrir se h averia a lguma nova fo rm a de os le r. D esig -n ad am en te , se se ria p ossiv ei le -lo s co mo traba lh os escrito s n ao p or u rn su je itom as par u rn cam po con cep tua l, ou m elhar, po r cam pos descon tinuos subse-quen tes em vez de criaco es de u rn su je ito ou de um a equ ipa avancando con ti-n uam en te n o sen tid o d e m aio res e m elh ores esc la rec im en to s qu an ta i t verdadeu ltim a, traba lh os co nd ic io nad os m as n ao d ete rm in ad os p or fac to res exte rn osEstes saberes e estas c ienc ias nao sao apenas ide ias m sp irado ras, m as sao e lesp r op r io s p r ati ca s d i sc u rs iv a s, 0 que desde lo go m arca um a d ife renca em term osde poder

    E ste a sp e cto e extrem am en te im portan te po rque , a m eu ver, 0 contr ibuteinovado r de Foucau lt te rn sido bastan te d isto rc ido , en tre ou tras co isas pe loaco lh im en to de que fo i a lvo no s EU A e no Reina U nido , fo i ta rnbem m uito d is-to rc ido po r num erosas public acoes sobre a poder e a d iscu rso que invad iramm uitas das c ien c ias soc ia ls , nom eadam en te a educacao e a p sico log ia soc ia lF o uc au lt n a o e u rn so cio lo go n em u rn h isto riad or d as in stitu ico es: tam bem n aoe u rn espec ia lis ta em educacao o u traba lho soc ia l M uito embora te n ha e sc ritom ilh ares d e p ag in as co m co ntribu to s m uito in ov ad ores p ara a an alise d o p od er,n un ea escrev eu so bre 0 poder enquan to rea lidade soc ia l em accao Para a lemd isso , o s seu s escrito s sabre fo rm as de exe rc ic io d e poder ou sobre 0 pode renquan to e lem en to do d iscu rso sao m eram en te residu a ls E screveu sem pre eap enas sobre a fo rm a com o 0 e xe rc ic io d o p od er e pen sa do , c on cep tu a ii za doe exp resso , rep resen tado e m il vezes nom eado po r diferentes tip os d e d is cu rs o,d a an alise c ien tifica a p an fle to s c om d irec trizes p ara a su a irn plem en taca o p ra-tiea A cre scen te -se que Foucau lt nunca teve a p re ten sao de que a partir dessesd iscu rso s se pudesse condu it a que as pessoas, as c lasses p ro fiss iona is , as c las-ses soc ia is ou os govern os fazern , 0 que e posto em accao ou 0 que se m ate-ria liza no m undo rea l Foucau lt nao d escreve n em exp lica a h ist6ria soc ia l nemmesm o quando se refe re ao bio -poder , as tecn icas de d isc ip lin am en to do

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    ~U\lCA~JOSOCIEDADE & CUI JURAS

    corpo , a governamentalidade; esti a referir-se, isso sim , a hist6ria do saber 0seu contribu to consiste em afirrnar que 0 modo pelo qual as co isas sao postasem palco constitu i, em si mesmo , uma realid ade que faz a d iferenca em terrnosda concepcao de poder, se bem que nao em termos do poder em si mesmoFoucau lt nao afirm a que esses d iscu rsos, proced imentos e tecnolog ias dom i-nantes conduzem curso s reais de accao ou que se materializarao no mundosocial 0 que ele d iz e que os d iscurso s sao influenciados, na sua form a, con-teudo e eflc ienda, pelas conste lacoes de poder que deles emanam ; que os d is-cursos ja sao , em S I mesmos, urn tipo de in tervencao pra tica , po r fim , que osd iscursos aco mpanham , m as n ao causam , 0 curso de accao real o bservav el

    Temos, assim , duas questoes im portan tes em jogo A primeira consiste emapreender e explora r em pro fundidade 0 contribu to inovado r de Foucault Asua analise do poder e do discu rso abre novas portas para uma compreensaodos dois lados do processo soc ial Este contribu to e m enos ev iden te nas obrasp ublica das em Pranca a inda du ran te a sua v ida do que nas en trev istas e pales-tras dadas du ran te a sua permanencia nos EU A - frequentemente publicadasnos EUA - enos sem inaries do Colle ge d e F ra nc e, em Paris , s6 p ublicado s pos-tum amente As tres publicacoes em lingua ing lesa que assina lam 0 in icio dasegunda vaga de acolh imen to a Foucau lt sao as obras de Gordon (1980 ),Dreyfus e Rabinow (1982) e Burchell e t a l (1991)3 Estou segu ro de que estea co lh im en to d eslo co u 0 cen tro de grav idade do trabalho de Foucau lt, naotan to pelo que fo i d ito mas espec ialmente pelo que nao fo i tido em linha deconta Um outro passo neste sen tido Io i dado quando se exploraram novaspotencia lidades em dete rm inados dom inios, com o por exem plo nos traba lhosd e T homa s Po pke witz (W isco nsin ) e Sv erke r L in dblad (U pp sala), qu e ten ta ram ,numa abordagem ainda equilibrada , explicar a reestru turacao neo -liberal daeducacao a partir de e lem entos tornados de em prestim o de Foucault4

    ) C Gordon (coord) (980) P ou er/K no ule dg e se lec ted in te ru ieu s a nd o tb er w ritin gs, 1 97 2-1 97 7,N ova Iorque: Pan theon Books H I Dreyfus & P R abin ow (1 982) M ic he l F ou ca ult - b ry on d s tr uc tu -r alis m a nd h e rm e ne utic s. C hicag o; I h e U niversity of C hicago Press G B urch ell, C G ordon & PMi l le r ( co rd s) (991) Ib e F ou ca ult E ffec t - stu die s in g ove mm en la lity Ch ic ag o; T he U n iv ersity o fC hic ag o Press (qu e co n tern c on tn bu to s d e d iv ers os irv es tig ad ore s q ue p artic pa ram n os s emmario sd ad os p or F ou ca ult e m P aris, b ern c omo um a in tro du ca o irn po rta nte d a autoria d e C G ordon)

    4 V er I Popkew itz & M B ren nan (coords ) (1998) P ou ra ult's C ba l/e ng e D isc cu rse -: k no wle de ge a nd

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    ~UUCA{:AoSOCIEDADE & CUIIURAS

    o aspec to positiv e deste acolh im en to de Foucault na esfe ra da educacao eque, ta l com o 0 proprio Foucau lt, Popkew itz e L indblad nao reduzem as rees-truturacoes c i a e sfe ra ed uc ativ a o co rrid as n a u ltim a d ec a d a a p o litic a e a econo-m ia neoliberal de d ire ita , m as an tes exp loram 0 papel desem penhado pelosd iscurso s libera ls sobre as fo rm as de governo '' 0 aspee to nega tive reside noperigo de se assum ir que estes d iscu rsos o fic ia is sao as causas e as instru rnen -tos da accao Contudo , no que toea a rna ior parte da ana lise de d iscurso dep e nd o r c on stru cio n is ta , ji nao se tra ta de uma tendenc ia lige ira au de urnp en go rn en or. F ou ca ult to rn ou -se 0 pa i d e u rn cultu ralism o id ea lis ta e rad ical-me nte r ela tiv is ta Ir ata -s e j a nao de uma hist6ria das ideias , m as de ideias quefazem a h isto ria (cf N Rose [1989l G overn ing th e S o u l , Lond re s: Rou tle dg e)T al com o Steensen , po dem os p ergu ntar: ac red itam os realm ente que aqu ilo qu eo governo , os medico s, o s media , os partic ipan tes nos d izem corresponde av erd ad eira explicacao do fu nc ion am ento d o m und o? E a r eto ri ca d e se nvolv id ap eIo s co nselh os d e inv estig acao , pe lo M iniste rio da E du cacao , pe los p artid osp olitic os, p elo s sin dic ato s, p ela s F ac uld ad es d e E du ca cao , p ela s esco las d e fo r-m acao de p rofesso res, pelo s sind ica tos de pro fesso res, pe los g rupos de peda-g og ia critica , p elas asso ciaco es d e p ais , pe l o s media , qu e d ev em os 0 sis temaesco la r que tivem os na u ltim a decada? H a algum socio logo que tenha provadoque estes d iscurso s fo ram a causa do que acon teceu na educacao ao longo dosu ltim os 10 anos e possam exp lica-lo dessa fo rm a? N inguem se a treveria a d izertal co isa , p ais aqu ilo que suced eu fo i m uito d iferen te do po stu lado pe las re to ri-cas e deveu-se , na sua maier parte , a outras razoes E ev id en te, c on tu do , q ueos d iscu rso s acompanharam os acontecimentos reais , e v iveram a sua v idapara le larnente aos cu rsos reais de accao D iscurso s e acontec im entos sao duasfaces da mesma rea lidade que desejamos exp licar, mas nao sao os d iscurso sq ue e xp lic am o s a co nte cim e nto s

    Io dav ia , a in sis tenc ia fou caultiana na necessidade d e in vestig acao sobre o sm odos m odernos e pos-m odernos de governacao em re lacao com os discu rso s

    po wer in e du catio n; S Lindblad & I Popkewitz (cords) (2001) listen ing to education actors ong overna nce a nd so cia l in te gra tio n a nd ex dusio n, U ppsala Reports on Education, n O 37-39 C f tam-bern J Steensen, Te ac h er Edu ca ti on D i ve rs if ie d (no prelo)

    5 Governance no original inglcs - N do I

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    ~UllCA~,.foSOCIEDADE & CUI IURAS

    produzidos no se io do mov imento libera l que vai de M aqu iavel a H ayek fo ifrequen tem en te en tend ida co mo um apelo a restau ra cao d a id eia h um an ista d ag ov ernacao a traves d o d iscu rso , d a accao p elo sig nificad o e pe la com unicacaoe , po r f im, da accao com o nada m ais do que sign ificado e cornun icacao , istoem virtude daqu ilo a que Bourd ieu cham ou de erro esco listico , con firrn adop ela trad icao ra cio nalista o cid en ta l e refo rca do p or su cessiv as o rien ta co es, n asc ie nc ia s so cia is , d os fa cto s p ara 0 sig nific ad o, d o s ig nific ad o p ara a lin gu ag eme para a com un icacao , do d iscu rso para a construcao

    A lgun s deste s mal-en tend idos tern na sua origem a prop ria fo rma comoFoucau lt ap resen ta a sua investig acao Por exem plo , e le anunc ia ao m undo queo s seu s liv ros sao sobre a loucu ra , as p ris6es e as esco las, a m ed ic ina clin ica , asexua lid ade e a governacao quando , em boa verdade , sao acerca de co isasbem d is tin ta s Foucau lt nunca adqu itiu o s in strum en tos necessaries para 0es tudo da h ist6ria d as pra ticas soc ia is rea is E le estuda aqu ilo que aparen te -m ente pode ser analisado atraves do recurso ao s instrum entos da filo so fia e dah ist6ria das ide ias O s seu s liv ros sao acerca de fo rm as de alocar tem as ao con-texto in te lec tu al, d e con cep tu alizar, en un ciar e pen sar a lo ucu ra , as p risoes, agovernacao , e tc Sabemos, con tudo , p ar in te rm ed io da h isto ria so c ia l e daso cio log ia , qu e n ao exis tem razoes p ara crer que as co isas sao im plem entad asta l com o expressas nos d iscu rso s Pelo con tra rio : a experienc ia d iz-nos que ea co nse lh av el p artir m o s d a h ip 6te se o po sta

    U m do s aspecto s in tere ssan tes da socio log ia reflex iva de B ou rd ieu e que,pa ra co rnp reender e suprir a lacuna existen te en tre 0 quad ro de referendadeclarado , o s m otivos e as in tencoes e 0 c ompo rtamen to o bs erv av el c on cre ti-zado , teve de con to rnar a exp licacao in ic ia lm en te oferec id a pO I M arx, queassen tava nas n oco es de a lien acao , m ercadoria fe tiche , ideo log ia e fa lsa con s-c ienc ia N a teo ria da pra tica de Bourd ieu , 0 sen tido pra tico do agen te con-Ironta urn campo de operacao , m as nao e a concepcao pessoal que 0 agentepo ssu i da situacao que gu ia a sua accao - na med ida em que exp lessa a suare lacao im ag inaria com a situacao rea l - m as sim 0 s en tid o p ra tic o in c or po ra d odo agen te , en ra izado num a acum ulacao de h isto ria rea l 0 p roprio agen te naos ab e e xa c tamente 0 que esta a fazer nem po rque, quando m uito , pode-se d izerque 0 agen te ac tu a sobre a s itu acao N o en tan to , no m om en ta da sua ac tu acaopodem os co lo car a h ipo te se da existenc ia de um a harm onia p re-estabe lec ida

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    ~1)UCAC:_40SOC lED A D E & CU I I U R A S

    en tre a accao e a situacao na med ida em que 0 s en tid o p ra tic o e a s itu ac aoin eo rp orad a, p elo m en os em co nd ico es re la tiv am en te estaveisN os textos que segu idam en te ana lisa re i, Bourd ieu in sis te em que a princ i-

    pal d ife renca en tre e le e Foucau lt reside nos eonceitos de campo e habi tusPrecisam os, assim , d e no s debrucar m ais a ten tam en te so bre a sua teoria da p ra-tica e sobre os seus conee ito s de habituslsentido p ra tico Bourd ieu sem preargum entou que a accao soc ia l hum ana eonsiste tan to num a d im ensao de re la-< ;6es objec tivas com o num a dim ensao de envolv im ento subjectivo A accaoso cia l h um an a e en tao en tend ida como sendo guiada por uma orien tacaoob je c ti va qu e e mais -verdadeira- e -adequada- do que aquilo que e -conhecido-pelas in tencoes subjec tivas do agen te A accao soc ia l hum ana asserne lha-se aum a orquestra que toca sem m aestro O s adepto s de Bourd ieu tendem a subes-tim ar este asp eeto p otque e1e faz recordar 0 marx ism o o u 0 e str utu ra li smo , oumesmo ambos N o meu entender, con tudo , este e precisamente 0 e1ementom ais inovador da teo ria da pratica de Bourd ieu ExpJica par que e que , na suav id a quo tid ian a, as pessoas no rm ais ac tuam d e form a razoave lm en te adequadais situ acoes em que se encon tram , independentem en te das ide ias loucas quefre qu en tem en te d emo nstram p os su ir a ee rc a d ess as situ ac oe s: 0 se u se ntid o p ra-tico n ao presta a tencao ao seu discu rso

    Foucault ap resen ta um a ideia de a lgum a form a sem elhante , ta l com o suge-rem Dreyfus e Rabinow (1982: 187) refe rindo -se ao p rimeiro vo lume daH ist6 ria d a S e.x ua lid ad e Para conclu ir os seus com en tario s aeerea dos textosd e Fo uc au lt, n os qu ais rec on em ifo rmu la "C omo fa la r d e in te ne io na lid ad e semu rn su je ito , d e estrateg ia sem esna teg o- as au tores u tilizam um a comu nicacaopessoa l de Foucault, n a qual e le afirma

    ,~ s p ess oa s sa bem 0 q ue [a zem , Ii fr eq u en te s ab er em pot que razdo [azemaqu ii o que fa z em ; 0 que nao sabem e a s c o ns eq u en cia s d a qu ilo q u efa zem -Existe no entan to um a d ife renca subtil: B ou rd ieu nao esta p rop riam en te a

    con sid erar os efeitos co la te rais in esp erad os ou perversos, e nao afirm an a, semn ad a a cre sc en ta r, q ue 0 a ge nte sa be 0 que faz D iria an tes que, na realidade , 0agen te nao conheee to ta lm en te 0 con teudo daquilo que resu lta das suasaccoes A afirmacao ac ima constitu i assim um resumo bastan te prec ise do

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    tUUCA

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    "t ) )UCA~A:OSOCIEDADE & CV I I VRAS

    entre B ourd ieu e F ouca ult, alguns d os quais podem os rem onta i a formacaoem hist6ria da ciencia e da medic ina que ambo s pa rtilharam sob a orien ta-~ao de C angu ilh em A s princ ipa is d iferencas encon tram -se na b iuoric iza -~ao da ra zd o d ese no olu id a por B ourd ieu a traoes da noo io de cam po(Bou rd ieu e W acquan t, 1999: 94, no ta de rodape 41)o p r6prio B ourd ieu rem ete para as d ife ren tes condicoes soc ia is de v ida e

    p ara a s d iferen tes bio grafias a exp lica ca o d e a lg um as diferen ca s en tre 0 se u tra -balho e 0 d e F o uc au lt:

    -Existe, na ie rd a de , uma parte do trabalbo d e Fou ca ult (q ue, euideruemente ,ndo 5e pode resum ir a i s s o ) que teoriza a revolta do adolescenie em colisdocom a fam ilia e com as in stitu i( oe s que t ransmi tem a pedagcg ia fam iliar eim poem 'disc iplinas' (a escola , a clinica, 0 manicomio, 0 ho sp ita l, e nt reouiras), isto e, com fo rm as de conirolo que claram enie e xie tio te s A s retoltasa do lesce ntes tra du zem fre qu en tem en te negaroes s itnb6 li cas, respostas ut6pi-cas aos corurolos sociais gerais quefazem com que se evite desenvolver um aan alise exaustiua das form as bisioricas esp ecfica s, esp ecia lm en ie d as d ife-ren tes fo rm as a ssumid as p elo s constrangimenios que incidem sa bre agen tesde diferentes m eios, bem com o deform as de controlo social bem m ais subtisdo que aquelas que operam atrave.s d o exercicio dos c011Jo.s.S e o lh arm os 0 con junto dos traba lhos e da v ida de Foucau lt ve rilicamos

    que exis te , sem duv ida, u rn sen tim ento anarquista de revo lta na base de tudoC reio que Bourd ieu nao te rn po r in tencao dim inuir a fo rca desta posicao suge-rindo que se trata da a titude im atura de um ete rno ado lescen te Pe lo contra rio :a sua in tencao e to rnar c laro que pode exis tir u rn pad rao de pensamen to asso -dado a uma determ inada posicao , padrao esse que po de ser encon trado nosa d ole sc en te s bu rg u es es o cid en ta is

    Ia rnbem e verdade que , enquanto socio logo da educacao , B ourd ieu sentiu--se segu ramen te questionado por uma obra como V ig ia r e Punir, q ue ra pid a-men te se to rnou uma especie de B iblia em circu lus in fluenc iados pe la Ieo riaC ritica em pedagog ia Essa obra de certa fo rma eon traria a tese de Bourd ieusegundo a qual a Pedagogia C ritica , ta l com o toda a pedagog ia , envo lve v io len -

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    1.UUCAC,{OSOCIEDADE & CUi I URAS

    c ia sim bolica 0 liv ro de Foucau lt pode fac ilm en te ser confund ido , e fo i-o m ui-tas vezes, com um a denuncia da v io lencia sim b6lica com o algo que pode ser es er a ev ita do

    A dtacao ac im a co nstitu i ig ualm en te uma critica it ten den cia d e Fo ucau ltpara descrever as ep istem es apenas com base nas suas carac teristicas fo rm als,sem olhar isua genese e con teudo Quando mudam , mudam como as cama-das geo log icas reo rgan izadas por u rn trem or de terra , e nao com o a h isto ria deurn campo de saber e accao : E in eg av elm en te c orre cto d ize r-se qu e F ou ca ultte rn tendencia a co locar tudo no m esm o nivel: a c ienc ia e as saberes, a im pli-cito e 0 exp lic ito , as expressoes, as p roposicoes e as afirrnacoes, as p ra ticasd iscu rsivas e nao d iscu rsivas M esm o quando d istingue analiticam ente essesconceitos, e les referem -se sem pre a en tidades que, se jam teoricas se jam con-c re ta s, h abi tam 0 m esmo territo rio e d ispu tam as m esm as co isas M ais do queanal isar 0 modo com o as co isas funcionam , Foucau lt assina la que elas funcio -nam de uma determ inada fo rma M ais do que exp licar a d ialec tica en tre estru -tu ra e agencia , Foucau lt ag lu tina-as Talvez se ja isso que pre tendeu d izerquando uma vez afirmou que dese java ser considerado urn -positiv ista re la-xado-: 0 que vale e 0 que e d ito com o facto e nao todos as sen tidos subiacen-res, usos, funcoes e origens possive is daqu ilo que e d ito

    A q ue sta o e en tao a de saber se 0 que Foucau lt d iz acerca deste tem a e 0mesmo que Bourd ieu ou , pelo con trario , e precisamente 0 oposto Ambosapon tam para 0 mesmo aspecto e apresen tam a so lucao num quadro sim ilarC on tudo , os argumentos de cada urn sao expressos de fo rma bern d istin taPessoalm ente , p refiro a abordagem de Bourd ieu po tque abarca tan to 0 agentecomo a estru tu ra , 0 d iscu rso com o a accao , respe itando as suas log icas nao sod iferen tes com o tam bem antagon istas; esta abordagem nao esta assim expostaao perigo que actua lmente devasta u rna boa parte das c iencias soc ia ls e que,fru to de um a constan te deprec iacao do positiv ism o e do behav io rism o, condu-ziu a ide ia absu rd a de que a accao socia l se reduz a sign ificadoHi urn ou tro aspecto re la tivam ente ao qual Bourd ieu e Foucau lt estao paf-

    c ia lm en te de acardo : a questao da rac ionalidade Se por M odern idade en tende-m os a posicao de Descartes e dos seus segu idores duran te 0 se cu lo XV II, pOIIlum in ismo a posicao de Kant e daqueles que 0 apo iaram em finals do secu loX VIII, e por Filosofia do E sp irito H egel e as seus segu idores, estam os a apon tar

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    ~UUCA(.:40SOCIEDADE & CUIIURAS

    para a conviccao fundamenta l e basica de que a su jeito hurnano possu i umaeapac idade au t6nom a de conhecim ento rae ional e de actuacao liv re em benefi-cio proprio Darw in , M arx e Freud demonstraram que esta filo sofia da identi-dade e indefen savel na m edida em que 0 d ito su jeito au ton om o n ao e identicoa si proprio , mas POSSu!um a identidade desloeada, d ita racional quando assu as base s re s id em irra cio na l, e tc Foi N i etz sc he q uem forrnulou as conclusoesaparen tem en te n ih ilis tas desta perspec tiva Tanto Bou rd ieu como Foucau ltfo ram mfluenciados por N ie tzsche Em S cience de Ie Sc ien ce e t R tjle .x iv ite ,Bourd ieu cita a afirmacao d e N i etz sc he : -Receio que nunea nos libertemos deDeus enquanto con tinuarmos a acred ita r na gramatica- (20 01: 11 A citacao eretirada do C re pu sc ulo d os id olo s)

    Po deriam os assim ser ten tado s a jun tar Bo urd ieu e Fou cault, p os-m od ern is-ta s, c on tra H ab erm a s, 0 ultimo dos modern istas Veremos em seguida que issoseria urn eno Bourd ieu ten tou sistematicam ente dem onstrar que existe u rnaposicao no in te rio r desta d ico tom ia ou , d ito de outra form a, u rna posicao que atranscende U ma posicao que recusa qua lquer tipo de rac ionalism o tran scen-den tal, m as na qua l 0 emp ree nd im en to cien tific o, p ro teg id o p elas su as co nd i-co es exte rnas e p el a s su as carac te risticas in te rnas, co nstitu i u rn cam po especi-fico n o espaco so cial

    H abermas escreveu uma vez u rn texto po lem ico e famoso acerca deFoucau lt, no qual a rgumenta que a posicao de Foucault e a uto de stru tiv a s eana lisada em teim os Iog ico s: se ap licarm os a teo ria da cienc ia de Foucau lt aose u p ro prio tra ba lh o, a te oria re ve la -s e a uto co ntra dito ria (d Hab erm as , 19 85 )Ju lg o qu e, n este a sp ecto , H aberrn as se e qu iv oco u

    Tan to Foucault com o Bourd ieu aceitam a aplicacao da sua teoria ao s seusproprio s traba lhos 0 resu ltado nao e uma auto -contrad icao , mas mais umpasso nu ma in te rm in ave l v iagem na reflexiv id ad e A quilo qu e negam e precisa-mente aquilo que Habermas procu ra fazer: apon ta r para uma base ultim a doargum ento N este ponto , Bourd ieu concorda , con tra H aberm as, com Foucau ltC ritica Fou cault, no en tan to , p or este traba lhar com teses filo so ficas gerais emvez de p roceder a uma verificacao caso a casu dos resu ltados e dos metodosu tiliza do s p ara o s o bter

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    ~DUCAt;:JOSOCIEDADE & CUI I URAS

    Bourdieu e a cr itica m e to do l6 gica a F ou ca ult:The Rules oj Art (1996) eTheField oj CulturalProduction (1993)

    Bourd ieu semple teve muita vontade de afirmar daramente , contra toda agente se necessirio fosse, que nao e verdade que aquilo que as pessoas pen-sam acerca das suas pr6p rias accoes constitu i a verdadeira explicacao dessasaccoes, po is que a in tencao nao e a sua unica causa ou motivo Para alemdisto , Bourd ieu desejava tam bem esclarecer algo acerca da producao cultu ra l,das ideias, dos d iscu rsos, dos motivos e da sua o rquestracao na ciencia e naarte D esignadamente, desejava assinalar que 0 diseurso nao s6 nao provoca aaccao , e portan to nao a explica , como nem sequer se exp lica a si p roprio Ialcomo refere num belissimo texto do preficio a segunda ed icao do HomoA ca dem icus (1 98 7)6 :

    dconstruciio do cam po da produ fao (cu ltu ra l) im p lica um a rupturacom object i f icafoes ingenuas e i ndu lgerues, de sconhecedoras da s suas oli-gens E um a abstraccao inJust i f icavel procurar a [on te do entendimenioda producao cu ltu ra l nessa s propria : produa ies, considerada s iso lada-m en te , a fastadas da s su as condide: de produdu: e u tiliza fa o, c om o p reten -deria a ana lise do ducur que, s ituada na fron te ira da soc io log ia e da lin -guistica, ca iu actua lm en te em form as indefensaoeis d e ana lise intema-(Bo ur die u, 1 987: XVI -XVI I)A prop6sito , podemos constatar que Bourd ieu antecipou em pelo menos

    dua s decadas in ovaco es produ tivas com o 0 e str u tu ra li smo cons tr uti vi sta , a ss imcomo a denuncia de enos que alastraram rapidamente em nome do constru ti-v ismo e da analise do disC UISO

    Em The R ules o j A rt, Bourd ieu demonstra a produtiv idade da sua teo riaacerea da autonom ia relativa dos cam pos cultu rais em relacao ao espaco socia l,da sua teoria da genese e estru tura dos campos cultu ra is e da sua resposta aquestoes de metodo relativas ao estudo da producao e dos produtos cultu rais

    6 Devemos aqui recorda! que a famosa palestra de Foucault sobreA Ordem do Discurso- data de:1971, e a sua obra A O rdem das Coisas de 1972

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    r_1)UCACA"oSOCIEDADE & CUI IURAS

    N este u ltim o a sp ecto , B ou rd ieu fa z refe ren da a p osica o gu e Fo uca ult assu miuc la ram en te n o d eba te a cerca d a se rn io lo gia fo rm alis ta e estru tu ra lis ta , g ue aca -bou po r se to rnar a teo ria dom inan te na cienc ia da lite ra tu ra ou critica lite raria :

    -N a o erd ad e, e em M ichel Foucau lt que encon tramos a form ulacdo m aisrigorosa da analise estru iural de traba lbos culiurais Conscien te de que ostrabalbos culturais ruio existem por si, (ora de relacoes de interdependenciaque a s lig am a outros tr ab alh os , d es ig na por 'cam po de po ssib ilid ades estra-tegicas' 0 's is tema r egula do de dijerencas e dispersoes' no seio do qual cadatraba lbo se define a si m esm o No en tanto , recusa claram ente procurarfo ra do 'campo do discurso ' 0 princip io que elucidaria eada um dos discur-ms no seu interior. R eje ita a teniatiua de enam trar no 'campo da pole-m ica ' ou nas 'd ivergencias de interesses ou hdbito s m en ta is entre o . s indioi-duos ' (0 que enquadro, m ats ou m enos sim ultaneam ente, nas nocoes dehab itus e de cam po) 0princip io explicaiioo daquilo que acontece no 'cam podas p o ss ib il id a de s e str ate gi ca ' Desta forma transfere para 0 dominio dasideias oposifoes e antagonismos que tem as suas raizes nas relacoes entre 0 .5produ tores (em bora ru io se reduzam a isso), re je itando qualquer relacdoen tre os trabalhos e as cond id ies socia ls da sua produo (Posir;ao que p o s -teriorm ente m anterd num discurso o iiico sobre 0poder e 0 saber e que, pornao fe r em co nia o s agentes e os seus interesses, e especialmente a oiolenciana sua dim ensao sim bo lica , permanecera a bstra aa e idealista)Emden iem enie que nao se trata de negar as determ inao ies exercidas peloe sp ac o d os p ossio eis ou a 16gica especfica das sequencia: airaoes das quaisas nooidades sao engendradas, p o t s que uma das {unr;6es da no~ao de umcampo rela tioam en ie autonomo , que possu! a sua propria bisto ria , e p reci-s amen te e xp lic a- Ia s.7

    Para B ourd ieu , a posicao de Foucau lt e semelh an te a do s to rm alis ta s ru sso sou dos lingu istas estru tura lis ta s com o Saussu re , na m ed ida em que sugere um a

    7 A I; r ef er en c ia s a Foucault fo ra rn r etir ad as d e ,Rep on se au c e rc 'e d ep is temo log ie -, in Cahi er s p o urI 'Aanalyse, n O 9 1968, pp 9-40 Os textos de Bourdieu estao in du id os em A s R egras da Arte, 19 92,pp 195-206

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    "DUCA(:: ,{OSOCIEDADE & CU I I URAS

    separacao to ta l en tre a linguagem e 0 discurso e, co locada peran te a questaode saber se os facto res externos podem desempenhar a lgum pape l no desen -vo lv im en to de p rodu to s cu ltu ra is como , po r exem plo , a ciencia , op ta po r um aposicao rad ica lm en te in te rna lista U rna vez mais, ta l como em todas as suasobras , Bou rd ieu defende um a abo rdagem bifaseada que tran scenda a d ico to -m ia e ntre 0 in te rno e 0 e xte rn o, e ntre 0 saber e 0 poder E ass im que recusauma independencia comple ta en tre o s campos cu ltu ra l e soc ia l, a firm andosimu ltaneamen te que as posicoes no espaco soc ial nao podem inte r v ir nocampo a menos que sejam transform adas de acordo com a logica do campo 0cap ita l nao pode in te rv ir no campo da educacao moderna a menos que as seusin te resses se jam m oldados nos term os c i a educacao Bourd ieu afirm a igual-m en te que , no in te rio r de u rn cam po re lativam en te au t6nom o, os desenvo lv i-m en tos nao tern exclu s ivam ente a ver com a log ica in te rna A in te raccao en trelog ica e poder social oco rre novam en te no cam po, operando atraves da v io len -c ia sim b6lic a So bre e ste u ltim o a sp ecto , B ou rd ieu afirm a 0 seguin te:

    -E m resum e, a s estra teg ias d os a gen tes e das institu ir/ jes envo lv idas em lu tasluera rias e artisiicas ndo sa o d efin idas a ira ses de um a sim ples con fron tar-a ocom puras po ssib ilidades P elo con trario , dependem da posicdo que essesagen tes ocupam na estru tura do cam po ( ou seja, na es tru tura de distri-bu ia io de cap ita l especifico ) Ao m esm o tem po , no en tan io , 0 am bito dalu ta en tre o s dom inan ies e aqueles que dese jam 0 seu luga r: d epende doestado da proo lem auca [eg itim a, isto e , do espa co de p ossib ilid ades leg adopar lu ta s ante rio re s-Em ultim a in stanc ia , a exp licacao reside na hom olog ia en tre a estru tu ra do

    espa

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    tDUCACA:oSOCIEDADE & CU I I URAS

    diferencas cruciais, mas que peca po r om issao se p re tend ia dar conta de todosas aspec to s da posicao de Foucault

    O s tilthnos trabalhos de Bourdieu e a sua critlca a F o u ca u ltS cie nc e d e fa SC ie nc e e t R ifle .x iv ileSe ana lisarrnos a questao avancada por Bourd ieu na sua in troducao a

    Science de fa Science et R (flex iv ite (20 0 1), fie amos com a impressao de quetoda a obta consiste num a d iscussao com Foucau lt:

    sera que a sodologia e a bistoriografta, que reuelam a rela tio idade deto do a c on he cim en to ao reponarem esses saberes a s suas c on dic oe s b is to ri-cas, n do e su io co nd en ad as a reconbecer a sua propria relauoidade, e assimforcadas a co ndenar-se a s i p rop rta s a um relatio ism o n ib ilis ia? pessoa l-m en te , cre io que e possioe: com binar um a visaa rea lista do . m u ndo cien tificacom um a teoria rea lista do . conhecim en to 0. 5 a rg um e nto s r ela tio is ta s 5 6te m fo rc a 5e re fe ridos a um a ep istem olog ia ind iv idua tista e dogmauca, ouseja , a um conhecim en to produzido por urn cien tista isolado, m unida ape-nas dos seus insirum en ios no . c on jrcnto cam a na tureza (em apasi~ iio a urnconhec im ento produzido par urn cam po cien tifica a trave .s do . d illlaga e daa rg um e nta ~iio ) (2 00 1 13)Por ou tras pa lavras, a socio log ia da ciencia consistiu du ran te Iongos anos

    n um a raiv a ico no cla sta d esav erg on ha da , p reo cu pad a em tra ze r ilu z a tre men dacon tusao nao c ien tifica que se encon tra pO I t r a s da produ cao de con hecim en tocientifico, p ara a ss im c on tr ad iz er a s re iv in d ic ac oe s ofidais d a cien cia , a go ra, c on -tu do , c he go u 0 momento de se perceber em que condicoes e que 0 conhec i -mento que rea lmente faz a d iferenca fo i e pode ser p roduzido N o fundo, eim portan te saber, pa r exem plo , se se pode dizer algum a coisa va lida acerca deos EVA serern ou nao um a soc iedade de c lasses Por ou tras palavras. tem os deescrever a h isto ria soc ial da propria soc io log ia da c ienc ia para poderm os saberse e possivel localiza r um a dete rm inada posicao no cam po de posicoes e posi-c io nam en to s p ossive is T ererno s, co ntud o, d e d eterm inar co m exac tid ao a po si-

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    yaO ocupada por Foucau lt N o u ltim o cap itu lo d 'A O rdem das C otsas, a q ue sta oque e le co loca nao e tan to a do re lativ ism o e do po tencia l de d ia logo exis ten tepara a sua u ltrapassagem A questao e que as cienc ias humanas, que te rn com oo bjec to a a ge nc ia q ue a s p ro du z, sa o m uitissim o en fra qu ecid as en qu an ro in icia ti-vas puram en te raciona is par que nem 0 objecto nem a agenda sao su jeitos nose ntid o d a filo so fia d o espirjto, mas antes um -inconsciente- especifico do qu alem erg e u rn d iscu rso d escen trado Fo ucau lt ca loca entao a questa o: 0 que sign i -flea falar de cam po como objec to da c ienda? (N esta epoca, a an tropolog ia deL evi-Stra uss, a psica na lise d e lacan , a ling uistica de Sa ussu re) O nde e que estaoa sua arqueo log ia e a sua gene alog ia , a sua log ica in terna e as suas cond icoesex te rn a s? Quando e que surg iu e quando e que desapareceur Esta ide ia nao eestranha a Bourd ieu , que uma vez defendeu que a ideia de que a cienc ia e urnfen 6m en o hist6rico qu e p ossu i a m esm a d ig nida de d as certezas m ed ica s

    V ejamo s p rim eiro c om o e que Bourd ieu , neste novo liv ro , define 0 campodo s po ssive is N o p rim eiro cap itu lo , B ou rd ieu ap resen ta e d iscu te as p rin cip alspo sico es n o camp o: 0 e str utu ro -fu n ci on a li sr no d e Me rto n , q ue e uma defesa dac ienc ia , a ideia de revo lucoes c ien tificas de K uhn; a cham ado prog ram a fortede B loor e Barnes, que afirm a a to ta l dependenc ia do desenvolv im ento cien ti-fico rela tivam en te aos poderes econom ico , social e politico Po r fim, apresentaa posicao de Karen Knorr-C etina, que e uma versao da posicao , mais bernfam osa, de L atou r e W oo igar Estes au to res rea lizaram observacao e tnograficaem labo ra tories e produziram um a descricao do processo de producao cien ti-fica que salien ta com o pon to p rincipa l a m an ipu lacao consc ien te em funcao dein teresses nao cien tifico s Bourd ieu an iqu ila serenam ente 0 argumen to deLatour e W oo lgar atraves da apresen tacao ir6n ica que dele faz, tecn ica quea lia s dom ina bastan te bem N ao the e muito d ific il mostrar que, a inda que am an ipulacao conscien te em funcao de in teresses nao c ien tificos Fosse u rn ele-mento fundamental, isso nao seria mu ito relevante na medida em que 0 pro-blema reside em perceber par que e que sur g em disto rcoes sem elhantesquando todos as envolv idos no plOcesso actuam com seriedade E , para minhagrande alegria , Bourd ieu cam para L atour e W oolgar a do is dos m ais im portan -tes an tropologos do ultimo quarto de seculo - Geertz e M arcus - chamando--lhes rep resen ta ntes da -visao se rn io lo gic a d a mundo-, que faz dos mundosn atu ra l e so cia l u rn tex to a in terp reta r

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    t.Ul.JCA{:,{OSOCIEDADE & CUi JURAS

    .0 ausor, a teoria, a propria natureza e o . s le ito res, todo s sao efeitos d o. textoA visao semio16gica do mundo canstitu i a rea l idade social coma umtexto (ao jeita dos etnologos, com o M arcus (1986) ou m esmo Geertz, ou d o sbistoriadores que, nessa m esma epoca e com a injlexiio lingufstica verift-cada , com ecaram a dizer que tudo e texto) A ciencia resum ir-se-ia en tdo aurn discurso ou a uma fic~ao entre ou iras, capaz no entaruo de pro iocarum efeito de u erd ad e a tra te s das suas caraaeris t icas texiuais- (pag 59)A pos esta ap resen tacao do quad ro das investigacoes, B ou rd ieu ap resenta a

    sua propria concepcao de conhecim ento c ien tiflco (e nao , com o Foucault, detodo 0 conhec imen to possive l) p roduzido par um campo espec ifico e pelohabitus dos seus partic ipan tes, com um determ inado resu ltado h isto rico U mad a s c o nd ic o es e a de que 0 d ir eito a p a rtic ip ar e e sp e cific ad o , e 0 c amp o re la ti-vam ente au tonorno U ma outra cond icao refere -se ao m odo a traves do qual 0c apita l c ien tific o se c on stitu i e d istribu i Par fim , e necessario que a lu ta en treposicoes existen tes no cam po seja regu lada Bourd ieu procu ra m ostrar em quem edida e que esta abordagem oferece so lucoes para problem as nao reso lv idosp elo s o utro s p ara digma s em c on flitoo terceiro capitu lo da obra reitera a re iv ind icacao de que nao se pode fazerciencia social sem fazer uma socio log ia dessa c ienc ia soc ial Aquila a queBourd ieu se dese ja referir com science de fa science e a uma soc io log ia dasocio log ia , m ais do que a uma ep is temolog ia para a socio log ia E e tarnbemisto que Bourd ieu quer d ize r quando , no titu lo do liv ro , m enciona a re flexiv i-dade das ciencias socia is Isto nao sign ifica , com o d iz Schon , que 0 invest iga-do r deva se r reflec tido , m as exactam ente 0 contra rio : a investigadar tern dev irar as suas arrnas con tra s i m e smo, tern de virar do avesso a sua -perspectivade investigacao- E a isto que, nou tros contexto s, Bou rd ieu chamou de soc io-analise do em preend im ento c ien tifico , m ais do que socioana lise da pessoa doinvestigado r N este cap itu lo , Bou rd ieu p rocura novam en te realizar a sua p ro-pria socio -analise , aqui de um a fo rm a m uito m ais deta lhada, clara e m odestado que em ensaio s an terio res, nalgum as en trev is tas, na in troducao a The L o gico j Pract ic e e num capitu lo de Med ita~oe s Pa sca li ana s

    E nesta pa rte da obra que B ourd ieu se refe re par d iversas vezes a FoucaultRefere-se-lhe na sua propria socio-ana lise , quando ten ta situar a sua posicao

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    r_))UCAC;foSOCIEDADE & CU I I URAS

    em antagonism o as posicoes dom inan tes nos cam pos das d iferen tes d iscip linasnos anos sessen ta , em Paris Refere especificamente a sua oposicao nao so acertas p osicoes filo soficas, m as a p ro pria filo so fia en gu an to ta l Fa-Io dirig ind o-se a do is a lvos: aos fil6sofos instituc ionais gue ocupam posicoes em institu tosde filoso fia arcaicos e aos filo sofos aristo cra tic os g ue trabalham fora do qu ad roinstituc ional e que se consider am uma casta superior A sua oposicao a todosos filosolos foi accionada pelo desprezo de casta que estes vo tavam as cienciassociais Ate m esmo Althusser e Foucau lt, que partilhavam uma certa menta li-dade an ti-instituc ional e expressaram publicamente a sua rup tu ra com as -filo-sofas do suje ito -, desprezavam as ciencias socia ls D iz-se que Foucault consi-derava que as ciencias socia is pertenciam a um estrato inferio r dos saberesBourd ie u d es ap ro v a 0 facto de estes filo sofos jogarem um jogo duplo que con-siste numa apropriacao do objecto das c iencias socia is com 0 in tu ito de des-tru ir as suas bases Estranhamente, nao da grande importancia ao facto de tra-balharem com o cien tistas sociais sem terem pago 0 ple~o da aprend izagem dooficio Insiste a inda que nao tem nada con tra a filoso fia enquanto discip linaAfirm a que tentou con tribuir para um a -sociologia da filosofia- que libertasse ad iscip lin a d os c on stra ng im en to s im po sto s p or uma -filo so fia d a filo so fia que selim ita a rep rod uzir a doxa f il o s6 fi ca dominante

    Nos anos setenta houve uma ten tativa de subverter a establishment filoso-fico , baseado na presenca obrigato ria da d isc iplina de filo so fia nos curriculados u ltimos anos do ensino lkeal e na ide ia de que a filo sofia era, na h ierar-quia acadern ica , a p rincipal d isc iplina Essa reaccao fo i extraord inatiam en tefo rte , isto porque encontrou a oposicao de uma posicao extracrdinariam enteforte Esta subversao era no en tan to arnbigua , po is era simultaneamente anti-academica e an ticientifica No momenta em que as suas caneiras se dev iammateria lizar, uma nova geracao de fil6sofos deparou-se com uma institu icaotradic ional, extremamente rig ida e incapaz de responder a crise Esta geracaorespondeu a situacao atraves da subversao dessa institu icao rig ida Feyerabendem Bedim , Kuhn nos EU A, Deleuze , A lthusser e Foucault em Paris Iodos elessu bv erte ram a filo so fia trad icio na l, c on tribu in do ig ua lm en te p ara u rn qu estio na -mento radical das ciencias; conservararn , contudo , a posicao hegemonica dafilo so fia Os filo so tos na oposicao receavam que as novas ciencias socia is, taiscom o a antropologia estrutu ra lista e a linguistica , se substitu issem a filoso fia

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    a choque de 1968" para que as fil6so fos forrnados nas aula s prep aratorias definais da decada de 40 (designadarnen te Deleuze e Foucault) passassem a telem c on sid er ac ao 0 problema do poder e da po lirica , a inda que de urn modoaltamente sublimado-

    Bourdieu j a tinha desenvo lv ido essa ideia no seu trabalho de 1984 acercada universidade, da sua reestru tu racao e do M aio de 1968 em Fra nca , 0 HomoAcademicus N a prim eira ed icao do liv ro ev itou designar os acto res em questaopelos seus nomes de forma a que os leito res estivessem m ais inclinados a escu-tar a mensagem do que a p rocura r ap licar 0 seu conhecim ento in tu itiv o dassituacoes J a na segunda edicao , datada de 1987, Bourd ieu inclu iu todos asnomes e d iscu tiu as questoes muito mais claramen te num prefacio 0 que had e assinalavel nesta obra e 0 fac to de nao ser apenas um livro escrito po r urnautor, m as tambern um livro acerca do auto r enquanto parte do un iverse aca-dem ico analisado Ap6s a colocacao na -maquina- dos dados sobre si p roprio esobre centenas de p rofesso res parisienses de hum anidades e ciencias socia ls,B ourd ieu surge precisam ente jun to a Foucault, D eleuze , D errida e B arthes , nom esm o ponto da represen tacao grafica da analise de correspondencia A distri-bu icao das posicoes e posic ionamentos no campo fazia-se em dois eixos: 0v er tic al, q ue d iv id ia 0 cam po entre su jeitos m ais ido sos, co m g rande influenciae prestig io in telectua l, e su je itos m ais novos, pouco influen tes, 0 horizontal,q ue d iv id ia 0 cam po em suje itos m uito proximos do po der a cadem ico politico--adm inistra tivo e su jeitos que dep endiam do seu capita l c ien tifico e/o u in telec-tual O s dados ham recolh idos em 1967, 01.1 seja , v in te anos antes da escritad o d ito p retacio A epoca, Bourd ieu era D irecto r da Ecole P r ati qu e des Haute sEtudes; A lth usser, B arth es e D errid a esta vam n a Ecole Norma le S up er ie ur e, ocu-pando posicoes poueo impoitan tes; Foucau lt era assisten te no novo CentroU niversita rio Experim ental de N anterre Para que se perceba a log ica do g ra-fico , d ig a-se que L evi-Strauss, A ron e B rau de! estavam situad os no canto sup e-rio r esquerdo e que, natura lmente , todos os nossos jovens pro tagon istas sur-gem juntos no canto in ferio r esquerdo , desapossados de ambas as formas depoder un iversitario e contando apenas com capita l c ien tifico e in telectualrecentem ente adquirido N o prefac io B ourd ieu ap resen ta m ais subdiv isoes , pre-cisamente em relacao a Foucau lt e aos seus colegas Assinala que no campo dafilo so fia s ao c omo :

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    -bereges religiosos ou, por ou tras pa iaoras, in ie leaua is free-lance instaladosno seio do proprio sistem a unioersitario M ais ou m en os to ta lm en te prioa-dos, ou libettados, dos poderes e privitegios, m as tambem das tarejas e res-ponsab ilidade: dos prcfessores com uns possuem fortes liga~ i5 es ao mundoinielectual, particular m ente com reuistas avant-garde e com 0 / o rna&moM ich el F oucault e inegavelm ente 0 suje ito m ais represeniatiuo desta p osi~ aona m edida em que, a te ao jim dos seus dias, m e s m o quando s e t omou pro-fessor no C olleg e de France, perm aneceu quase totalm enie desapossado depoderes academ icos m esmo que deuido d sua [ama possuisse um poderassina laoel sobre a im prensa e, a tl'aves dela , sobre todo 0 campo da produ-~ iio c ult ur al 0 cardcter marginal desta posicao, a inda mais gritan te no.scasos de A libusser e D errida, tem e o i d e n t e m e t u e a ver com 0 facto de todosestes berege: partilbarem um a especie de atitude anii- instuucional-N este texto , B ourdieu segu e 0 exem plo de Foucault, descrevendo urn eixo

    do campo da producao cultura l a partir do sub-campo da filo so fia : os filo so foscon tra a institu icao da filo sofia, contra a Sorbonne Simultaneamente , noentanto , estes fil6so fos sao apanhados pO l uma outra deslocacao no campo: afiloso fia e desvalo rizada enquan to d isc iplina Iider pela nova cien tific idade dealgumas das c iencias sociais, isto a traves da interaccao entre a h isto ria (osAnnales i , a lin gu istic s (Sa ussu re , etc ), a a ntro po lo gia (L ev i-S tra uss), a p sica na-lise (Iacan) e a tenomenologia nas ciencias humanas (Mer ieau-Ponty); todosestes au to res eram possu ido res de personalidades fortes e trabalhos consisten-tes, e apo iavam -se em institu icoes e rev istas cred ive is O s nossos fil6sofos an ti--in stitu cio n ais , in c lu siv e 0 proprio Bourd ieu , tern assim de encon trar urnespaco nou tra d imensao do campo A maioria deles partilha de uma opcaopela reflexao sobre as ciencias ta l como desenvolv ida por Bachelard eCangu ilhem no seio do parad igma da epistemologia hist6rica M uito emboraBo urd ieu nao 0 a firm e e xp lic itame nte n es te p re fa cio , e e vid en te qu e, rela tiv a-men te ao passo segu inte , se afastou deste gmpo Bourd ieu passou para 0 ladodo in im igo , tendo en tao de comecar do zero , ap rendendo 0 o fic io , fa ze nd oglandes investim entos sem nunca recuperar 0 prestig io de fil6sofo Quan to aFoucault e a todos os ou tros:

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    a reconbecim en io das ciencias socia ls ndo im pliea um a rendicao incon-dic ional 0 .5 filo sofos assina lam continuam ente a sua d iferenr;a de esta-tu to rela tuam en te aos vulgares pra ticantes das 'd itas ciencias socia is' Eempregam todos as recursos da sua cu ltura de modo a transfigurarem ,acim ade tudo aos seus proprio .s o lbos, a filosofia 'h istoricista ' que tom am deem prestim o da ciencia socia l, em conjun to com muuos dos seus temas, dosseus prob lemas e do seu modo de pensam ento E e assim que Foucaultencontra em N ietzsche um apo io filos6 fico adequado it co mb in acdo social-m ente im plO vavel de transgressdo artistica e inoencao cienufica que pro-cura, bem como para as conceitos panordm icos que, ta l com o 0 con ceito degenealogia , ajudam a [ornecer um a cobertura para a sua am biciosa inicia-tiua no quadro da bistoria socia l ou socio logia genetica (Bo uid ieu , 1988:XXIII-XXIV)

    " aqueles que haviam lido consagrados p o t um a institu ir;a o falid a [cramobrigados a rom per com os papeis rid icules e , desde logo, in susten taveis,que ela lhes a tribu ia e foram conduz idos a criar novas [orm as de desem pe-nbar 0papel de pro fessor (todas elas baseadas na adopcao de uma distdn-c ia reflex io a em rela r;iio i t prd tica e i t d efin ir;iio co mum da s sua s fu nr;o es),con ferindo -lbe a estra nb a caraaeristica de inteleetua l, de m estre da refle-xilo que reflec te sabre si m esmo e que, aofaze-lo , a juda a destru ir-se a sip ro pr io e nq ua nto mestre- (Bourdieu, 1988: XXV)Foi isto que realmen te to rnou Bourd ieu famoso , e que constitu i 0 motivo

    pelo qual a m aio r parte dos filo so fos e dos hum anistas 0 detesta: 0 fac to de terp ro du zid o uma so cio lo gia c i a filo so fia qu e exp lic a tra nqu ilamen te c om o e que,a partir de u rn pon to de v ista socio log ico , aqu ilo que re iv ind ica ser uma novah ist6ria /ep istem olog ia da ciencia , a te m esm o um a form a rad icalm en te nova defazer c iencia socia l, pode ser igualmen te en tend ido como produ to de umam udanca dem ografica e socia l no esta tu to da filo so fia Isto acon teceu quandouma geracao nova e numerosa ten tou salvar a sua posicao socia l v irando-seco ntra a filo so fia acad em ic a qu e barrav a 0 d ese nv olv im en to d a d isc ip lin a, p ro -cu rando sim ultaneam ente preservar a sua posicao in telec tual de fil6so fos dafilo so fia a trav es d e um a tenta tiv a d e d esestabilizar a re iv in dicacao d as c ien cias

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    sociais a serem consideradas c iencias, uma vez que estas su rg iam como con-eonen tes da posicao hegem 6nica ate en tao ocupada pela filo so fia

    Devem os reco rdar que esta exp licacao e avancada pOI alguem que, par for-m acao , era fil6so fo e agora e socio logo , e que consciente e exp lieitam en te pro -duz a sua socioanalise: ou seja , po r alguem que produz uma socio log ia da suasociolog ia e , de certo m odo , uma socio logia da filoso fia 0 que Bourd ieu nosd iz e que a arqueolog ia e a gene alog ia das c iencias humanas de nada valemenquan to tiverem com o horizon te um a filoso lia da filoso fia , ou seja , enquan tonao questionarem a in fluencia das cond icoes socia is de uma dada activ idadeso bre 0 esta tuto dessa aetiv id ad e

    Bourd ieu sen te que a sua sa ida da filo so fia enquan to institu icao e d iscip linapara abracar seriam ente as c iencias socia is enquan to ciencias exp lica a sua per-manente sensacao de desloeamento em relacao ao p6s-modern ismo das un i-versidades e em relacao ao aco lh imen to que 0 seu trabalho teve nos EUAC onstatou que, face ao h isto ric ism o rela tiv ista , tinha de se apegar a t radicaoracionalista ; que , face aos filoso fos que faziam dencia so cia l sem 0 afirmarexp licitamente e sem terem aprend ido 0 ofic io , tinha de se apegar a invest iga-

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    p ostu ras h ero icas, rev olu cio narias o u rad icais, esp ecialm en te as v arian tes ch i-ques dessas posturas Tais d isposicoes revelam-se na sua recusa da extrem a--esquerda (aceite por Foucault) e do Partido C om unista (aceite par A lthusser),traduzindo-se num a tendencia para preferir aqueles que trabalham arduam entepara encontrar provas aos autores de beIos textos de tipo literario

    Bourd ieu nao exclu i a possibilidade de essas recusas que lim itavam 0 seucampo de posicoes possiveis se relacionarem com a in tu icao de que posicoesextrem as poderiam facilm ente se r v iradas do avesso , conduzindo a defesa doextrem e oposto ; as posicoes rad ica is extrernas surgem com o 0 oposto de posi-~6es autoritarias, conservad oias, c in icas ou opartun istas, m as podem tam bemconduzir a elas Um exemplo de tal inver s ao e a passagem , em poucos anos,de uma posicao em que tudo e considerado uma questao politics para um aposicao que afirma que a politica e su ja e que tudo se tornou uma questaoe tic a; o u a tra nsfo rm ac ao d o u ltra bo lc he vismo em u ltra libe ra lismo

    N ao podemos esquecer que Bourd ieu escreve no final do seculo , duran teos u ltim os anos da sua v ida aetiva, debaixo de fogo par parte da enorrne maio-ria dos media e do sta tu s q uo cientifico frances em virtu de das suas in terven-coes politicas duran te e ap6s a greve de 1995 A maioria dos pro tagonistas aque Bourd ieu se referiu ja falecerarn , as vozes dos in telectuais de esquerdafranceses raramente sao ouvidas, em Franca e em todo 0 m undo a politica esistema tic am en te re ac cio na ria a u rn p on to in irn ag in iv el hi dez anos arras N aspa lestras que proferiu no C olleg e d e F ra nce em 20 00 /20 01, as suas afirrnacoesdesapaixonadas soam a um derrade iro esforco de analise lucida, m ais do que auma disputa pessoal ou a urn ajuste de contas com a sua geracao

    B ou rd ieu afirrn a qu e g ostaria d e se an alisar m ais p ro fu nd am en te, bern como asua equip a de colaboradores, em term os ind iv iduais e co lectivos, articu lando aprogressao das suas carre iras com as transtorrnacoes no campo das cienciasso ciais em g eral e d a so cio lo gia em p articu lar A so cio lo gia c on qu isto u uma p osi-~ao muito mais forte en tre as ciencias soc iais e a estru tura in te rna do campos oc io l6 gic o s ofr eu uma tr an sfo rrn ac ao Is to s ig nifie a q ue 0 p ro je cto d e tr an sf or rn a ra estru tura do cam po nao era absurdo , po is a d inam ica transform ativa estava jaem accao Sign ifiea igualrnente que a grupo nao era uma seita m as sim urn con-jun to de pessoas que procurava trabalhar co lectivam ente num projecto cum ula-tiv o, in teg ran do as resu ltad os d a d iscip lin a d e aco rd o com uma lo gica semelh an te

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    a que se pode encontrar numa equipa da area das ciencias natu rals I al procedi-mento imp lic a, po rem , um con jun to de po sicoe s fi lo so fic as c omu ns, d es ig na da -men te no que se refere as assuncoes an tropo log ica s das ciencias humanas

    Cur io sam ente , Bourd ieu assinala que a sua equipa conseguiu impor uma-revolucao- ao nivel s im b6lico na estru tura in te rna dos cam pos da ciencia sociale da so cio lo gia Por o utra s p ala vra s, c on se gu iu impor u rn novo paradigms queto do s Io ram obrigados a reconhecer como um dos mais importan tes, pelomenos no plano in temacional Ja no plano institu cional 0 falhanco fo i to ta l,pa is as m em bros da equ ipa encon tram -se espalhados por todo 0 camp o, q ua sesem pre em p osicoes secun darias ou in ferio res

    Esta analise encontra a sua con flrmacao num breve com entario escond idonuma nota de pe de p :ig ina Uma das obras menores mais in te ressan tes deBourd ieu consis te numa serie de artigos, publicados ao longo de 30 anos,acerca da fam ilia e das estru tu ras de casamen to tan to do su i de Franca ag r:irioco mo da soc ied ade K abila arg elin a Estes artigo s sao extrem am en te irn po rta ntesna medida em que reve1am 0 metodo de traba lho de Bourd ieu 0 tema dain ve stig ac ao e 0 facto de, em Beam , cada vez mais o s herde iro s mascu linos deuma -casa- terem dificu ldades em encontrar um a esposa, perm anecendo assimso lte iro s, co nstitu ind o este urn do s m uitos fac tores explicativo s do s obsta cu loscom que as -casas- e os pa triarcas se deparam para pro ssegu ir a sua linhagemo ultim o desses artigos in titu la-se R eproduction in terd ite la d im ensionsymbolique de la dom ina tion symbolique- (in Eu ide : Rurales, Ian /lun 89, nQ113-114, pp . 15-36) Este a rtigo procu ra dem onstrar a produ tiv idade c ien tificado conceito de v io lencia/poder sim bo lico ate m esm o para a ana lise de proble-mas que, aparen temente , sao do fo ro exclu sivam en te econ6mico N a parte finaldo artigo , e quase sem ligacao concreta ao artigo , Bourd ieu escreve seguintenum a nota de rodape:

    -Gostaria de sub linhar a d iferen r;a que separa a teoria da v io !enc ia sim b6 -lica enquan to en tend im en to equuoco , baseada num aju stam en to incons-c ie nte d as e str utu ra s subjeaiuas as estru tu ra s ob jec tivas, da teo ria da dom i-na~ao de F oucau lt, conceb tda com o d iscip lina e dressage ou , nou tro dom i-n io , a d iferenca que separa as m etd fo ra s [oucau ltianas de rede aberta ecap ila r do conce ito de cam po"

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    Po dem os comp reen der m elh or e sta n otl se reco rrerrn os a u rn co rn en tario qu econsta da pag ina 10 2 d e Pa sca lia n Med ita tio n s, o nd e B ou rd ieu d iz 0 seguinte :

    -D eixando de encarnar em pessoas au institu ifoes, a poder d ife1encia~ se ed ispersa-se (em pro taoeim ente isto que Foucault pretend ia ind icar a ira iesda sua m eta fora bastan te vaga de 'cap iia ridade ', inegaoe lm ente em oposi-faO i t visaa marxista d o a pa re lb o c en tra liza do e monol iuco) .Em si m esm o, a com entario Iimita-se a in sistir n as d ife re nc as d e c on ce ptu a-

    Iizacao, adve rtindo con tra uma poss ivel ten tacao de as ver como mais aumenos semelhan tes N o en tan to , como pelo m enos para 0 co nh eced or a s d ife-rencas sao obv ias, e rna is razoavel le-lo como um a reje icao curta mas claratan to dos term os com uns com o das sofisticadas m etafo ras que Foucau lt u tilizaem vez de reco rrer a conceitos te6ricos A critica e sem pre a rn esm a: nao dev iaser perm itido a alguem reiv ind ica r a c riacao de um a fo rma revo luc ionariade fazer c iencia socia l se esse a lgue rn nao se submete as reg ras do ofic ioEm defesa de Foucau lt poderiamos re to rqu ir que ele nao esta a produzirc iencia socia l e que, na med ida em que parte do seu trabalho consiste emfazer Historia, respeita as reg ras do ofie io e aceita a critica p ro fissionalSimultaneamente , par em , como se pode con sta tar na en trev ista comIro rnbado ti, Foucau lt in siste , em defesa do seu m etodo , no fac to de a H ist6riap roduzid a da fo rma norm al nao tocar nem in terferir no seu trabalho Ialvezse ja p rec isamente es ta re iv ind icacao de produzir uma co isa un ica , ac ima dateo ria e do m etoda cien tifico , que Bourd ieu cham a de jogo dup lo , com paravelao jogo dup lo que He idegger desenvo lve com a experiencia quo tid ian a dopequeno burgues, os valo res co nservadores burgueses e um a sofisticacao alta-m en te elabo rada da filo so fla academ ica , p ro duzindo algo que n ao pode ser ju l-gada par nenhum enteric especifico mas que resu lta eficaz na transm issao deuma m en sa gem 0 problem a de H eideg ger nao e que, ta l como a maio ria dosin te lec tu ais a lem aes, fo sse sim patizan te d o n azism o o u qu e a su a filo so fia fo ssec on tamin ad a pOI id eia s n azis 0 problema e que fo i 0 prim eiro a sa lvar a filo -so fia a traves da invencao de urn jogo dup lo Bourd ieu sen te que a Deleuze ,Foucau lt, e tc se pode ap licar um a critica sem elhan te no caso de, con tra as h ie-rarqu ias socia is academ icas, re iv ind icarern para si 0 acto revo lucionario de

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