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  • A atualizao de Eumnides, de squilo, em A benfazeja,

    de Guimares Rosa

    The updating of The Eumenides, by Aeschylus, in A benfazeja,

    by Guimares Rosa

    Adilson dos Santos1

    Resumo: Este estudo objetiva demonstrar que o conto A benfazeja, de Guimares Rosa,

    uma retomada do mito das Ernias/Eumnides, tal como este aparece registrado na trilogia

    Orstia, de squilo. Adaptando o mito de acordo com a realidade do serto, o escritor mineiro,

    ao figurar sua protagonista (Mula-Marmela), d vida a uma personagem que mantm na

    essncia as caractersticas peculiares das antigas titulares do panteo helnico.

    Palavras-chave: Mitologia Grega; Conto; Guimares Rosa; Tragdia Grega; squilo.

    Abstract: This study aims at demonstrating that the short story A benfazeja, by Guimares

    Rosa, is a revival of the myth of the Erinyes/Eumenides, as it appears registered in The

    Oresteia, a trilogy of Greek tragedies written by Aeschylus. Adapting the myth according to the

    reality of the backlands, the writer, when drawing the figure of his protagonist (Mula-Marmela),

    brings to life a character who keeps in essence the peculiar characteristics of the ancient

    holders of the Hellenic pantheon.

    Key-words: Greek Mythology; Short Story; Guimares Rosa; Greek Tragedy; Aeschylus.

    A fbula presente na tragdia, da mesma forma que na epopia sua

    antecessora na cronologia da literatura grega dizia respeito ao mito, idade

    herica das grandes famlias reais, como a dos tridas e a dos Labdcidas.

    No cabia aos autores trgicos e picos criarem personagens, nem sequer

    aes possveis, mas sim fazer uso do material existente na memria do

    homem grego, daquilo que acreditava ser o seu passado. Todavia, o mito

    tomado em seu estado puro no assinalava um efeito trgico, cumprindo, pois,

    ao dramaturgo reinterpret-lo tragicamente.

    Na Orstia (458 a.C.), trilogia constituda pelo Agammnon, pelas

    Coforas (Portadoras das Oferendas) e pelas Eumnides (Deusas

    1 Doutor em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Nesta instituio, leciona as

    disciplinas de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira.

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    Benvolas), squilo (525-456 a.C.) retrata o drama de uma maldio familiar

    que se abateu sobre a casa dos tridas. Nesta trilogia, especialmente na ltima

    pea, tem o leitor, sua disposio, um importante registro acerca do mito das

    Ernias, deusas virgens, violentas e de aspecto disforme que tinham por

    funo punir os crimes cometidos entre consangneos. Titulares muito antigas

    do panteo helnico, da poca em que figuras femininas dominavam a cpula

    celeste (matriarcado), tais divindades, com o advento da teogonia olmpica

    representada, em sua grande maioria, por figuras masculinas (patriarcado) ,

    perdem o poder senhorial que as caracterizavam, porm, passam a incorporar

    novas funes, como a de castigar toda espcie de hybris, o descomedimento

    dos homens. Em funo de tais atributos, deixam de ser as deusas ctonianas

    do dio e tornam-se as deusas benfazejas (Eumnides).

    Como se fosse um tragedigrafo, Joo Guimares Rosa (1908-1967),

    em pleno sculo XX, retoma o mito das Ernias/Eumnides, tal como este

    aparece configurado na verso de squilo, e escreve A benfazeja (Primeiras

    Estrias, 1962). O prprio ttulo atribudo ao conto revela sua aproximao com

    a obra esquiliana. Eumnides e A benfazeja so aquelas que praticam o

    bem, as benevolentes. Assim sendo, este estudo tem por objetivo tornar

    evidente a presena deste vnculo e demonstrar que, ao revisitar o mito grego,

    Guimares Rosa reveste-o de contornos trgicos atravs da criao de uma

    personagem (Mula-Marmela) marcada pela hybris, vtima de um cruel e terrvel

    destino que lhe nega o livre arbtrio do ego e que assume, num pequeno

    povoado, a condio de bode expiatrio (pharmaks).

    Orstia, de squilo

    Primeiramente, cumpre apresentar algumas consideraes sobre a

    Orstia, de squilo. A primeira pea que compe a trilogia, Agammnon, tem

    por assunto o assassnio de Agammnon, rei de Micenas. A causa de tamanha

    desgraa encontra-se no sacrifcio de sua prpria filha. A fim de que a

    expedio vingadora contra Tria obtivesse ventos favorveis e assim

    prosseguisse, a deusa rtemis exigiu que Agammnon sacrificasse o sangue

    virginal de Ifignia. Atendendo aos desejos dos guerreiros gregos e, ao mesmo

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    tempo, satisfazendo sua hybris de comandante supremo, o heri acata o

    pedido da deusa e a expedio blica que estava sob seu comando sai

    vitoriosa. Clitemnestra, ferida em sua condio de me e no aceitando o fato

    da jovem princesa ter sido assassinada em nome do Estado, jura vingar seu

    sangue e, juntamente com Egisto - primo e inimigo mortal de Agammnon -,

    trama a sua morte. Para isso, ela exila o filho varo, Orestes, nico que poderia

    vingar o sangue paterno quando este fosse derramado. Assim que o rei

    regressa de sua batalha, Clitemnestra o conduz at o interior do palcio, onde,

    com a ajuda do amante, fere-o mortalmente.

    A segunda pea, intitulada Coforas, constitui-se como uma pea de

    vingana. Orestes, impelido pelas ameaas de Apolo, retorna de seu exlio e

    sai em busca dos assassinos do seu pai. Fingindo passar-se por um

    estrangeiro, cuja nova seria a morte de Orestes (sua prpria morte), o heri

    apresenta-se sua me que, de imediato, manda chamar Egisto para inteir-lo

    dos acontecimentos. De regresso, seu amante o primeiro a tombar pelas

    mos de Orestes. Em seguida, ele se confronta com a prpria me. Ela o

    adverte sobre a mancha que carregar em virtude desse crime e suas

    conseqncias. Porm, pautando-se, ao mesmo tempo, na justia antiga, a lei

    de talio, e na ordem de Apolo, defensor da dik, o direito novo da plis que

    caracteriza o assassinato de um pai como crime hediondo, ele a degola. Nesse

    momento, surgem as Ernias despertadas pelo matricdio. Invisveis a todos,

    exceto aos olhos desvairados de Orestes, elas o levam loucura, torturando-o

    pelo temor e pelo remorso.

    Na terceira pea, Eumnides, o n que se estabeleceu nas peas

    anteriores se desfaz. Por diversos anos, Orestes, atravs do sofrimento expiou

    o seu erro. Enviado por Apolo a Atenas, o heri enfrenta, em julgamento

    aberto, as Ernias ante o Arepago, a Suprema Corte de Atenas, criada

    especialmente para esse propsito. Atena presidir ao grande jri. Apolo,

    representante do patriarcado e suas novas leis, ser o advogado do ru. As

    Ernias, representantes do matriarcado e seus preceitos, sero as acusadoras.

    No tribunal, a votao termina empatada e Atena decide o resultado a favor de

    Orestes.

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    O feliz desfecho do protagonista desperta a ira das Ernias que,

    inconformadas com a profanao de suas leis, maldizem os novos deuses e

    querem provocar desgraas sobre Atenas. Para elas, o crime de Orestes feriu

    a fertilidade da Terra e esta, ultrajada, no produzir mais frutos. Atena

    reconhece a gravidade dos malefcios que cairo sobre sua cidade se a ira de

    tais divindades tomar forma. As Ernias, tristes descendentes da negra Noite,

    so as foras geradoras da terra e de toda espcie de vida.

    Diplomaticamente, Atena apazigua as Ernias e as transformam em

    Eumnides, as protetoras dos habitantes de Atenas. Seu posicionamento no

    deixa de reconhecer os valores de tais deusas e sua proposta retoma as

    frmulas que elas empregavam ao reivindicar, em nome da ordem, o direito de

    punir os culpados. Nesse sentido, pode-se dizer que a transformao das

    Ernias no mudar a natureza das mesmas. Da subterrnea profundeza, sua

    morada, continuaro a perseguir e punir todos os criminosos e mantero as

    medidas estabelecidas pelos deuses, a justia divina: Seu sentimento, porm,

    mudou. No mais enquanto fria, mas como beno que elas faro parte da

    lei da cidade (MEICHES, 2000, p. 23-24). A atuao delas no se pautar pela

    doura e razo, mas pela coero e terror, ensinando aos homens a mansido

    pelo temor:

    Levada pelo amor a este povo, deixo com ele as deusas poderosas mas de trato difcil; seu encargo dirigir a vida dos mortais. Quem no pautar a conduta na vida pelos ditames destas divindades temveis por seu poder inconteste, no poder compreender a origem dos golpes que recebe em sua vida. (SQUILO, 1999, p. 184-185)

    Nos domnios do demasiado

    Resumidamente, A benfazeja trata da histria de Mula-Marmela,

    mulher de Mumbumgo, homem de gostar do sabor de sangue, monstro de

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    perversias (ROSA, 1996, p. 115)2. Apesar de am-lo e de ser correspondida,

    ela o mata para o bem da coletividade. A partir de ento, passa a se dedicar

    exclusivamente a Retrup, o enteado cego que conduz pela cidade a esmolar.

    Este, igualmente temido e odiado, to pronto para ser sanguinaz e cruel-

    perverso quanto o pai (118), tambm tivera seus instintos refreados pela

    protagonista. Segundo boatos, para tirar a viso de olhos que no devem ver

    (118), Mula-Marmela fizera uso de leites e ps de plantas venenosas. Nele, a

    personagem repete a mesma influncia que exercera sobre o companheiro.

    somente ela quem o controla. No decorrer da narrativa, procurando abreviar-

    lhe a agonia, tambm o mata, por meio de estrangulamento. Em virtude dessas

    atitudes, ela se transforma em objeto de escrnio e repulsa num pequeno

    povoado.

    Neste conto, h trs passagens que, de imediato, apontam para a

    presena do trgico. Logo no primeiro pargrafo, o narrador, ao se dirigir ao

    seu interlocutor, os moradores da pequena comunidade que a rechaam, num

    tom exortativo, questiona: Vocs todos nunca suspeitaram que ela pudesse

    arcar-se no mais fechado extremo, nos domnios do demasiado? (113).

    Nas tragdias gregas, estar nos domnios do demasiado era o mesmo

    que incorrer na hybris. De acordo com Nicola Abbagnano, em seu Dicionrio de

    filosofia,

    com este termo, intraduzvel para as lnguas modernas, os gregos entenderam qualquer violao da norma da medida, ou seja, dos limites que o homem deve encontrar em suas relaes com os outros homens, com a divindade e com a ordem das coisas (2003, p. 520).

    Infringir qualquer ponto desta norma significava atrair desgraas.

    Dessa forma, explicam-se os vrios avisos instigando a ordem e a

    moderao, conforme se verificava no Prtico de Delfos: Conhece-te a ti

    mesmo e Nada em demasia.

    O pecado original do heri trgico ser o produto de uma hybris. Assim

    sendo, ao figurar Mula-Marmela como algum situado nos domnios do

    2 As demais citaes referentes ao conto A benfazeja limitar-se-o ao nmero da pgina

    desta edio.

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    demasiado, o narrador a insere na ordem das antigas personagens trgicas.

    Tal qual os heris gregos que crem cegamente em seus valores e por eles

    despendem todas as suas foras, Mula-Marmela assume uma mesma postura

    e a mantm ao longo do conto. por conservar-se dessa maneira que ser

    eliminada. Segundo as normas civilizadas que determinam o equilbrio social

    do lugarejo, a protagonista um ser caracterizado pela hybris, pois, ao

    concretizar desejos alheios e inconfessos, transgrediu a lei. Cristalizar pulses

    agressivas como matar o marido, cegar o enteado e, posteriormente,

    estrangul-lo, coloca-a fora da vida exemplar de todos.

    Destino, o terrvel

    A segunda passagem que nos permite aproximar a narrativa rosiana do

    universo trgico encontra-se no terceiro pargrafo, quando o narrador afirma:

    Rica, outromodo, sim, pelo que do destino, o terrvel (113). Permeando a

    maioria das tragdias gregas, o destino pode ser considerado como um dos

    elementos trgicos por excelncia. atravs do encadeamento de fatos

    fatdicos que o heri, um ser sem escolha, d-se conta de sua impotncia e

    vulnerabilidade. No h como fazer frente fora do decurso dos

    acontecimentos.

    No que tange ao conto A benfazeja, h uma constante aluso

    determinao prvia dos atos de Mula-Marmela. L-se no conto que uma sina

    forosa demais apartou-a de todos, soltou-a (117). Independentemente de sua

    vontade, a protagonista fora escolhida para ser a executora da obra altssima,

    que todos nem ousavam conceber (116). Ela

    tinha de matar, tinha de cumprir por suas prprias mos o necessrio bem de todos [...]. S ela mesma, a Marmela, que viera ao mundo com a sina presa de amar aquele homem, e de ser amada dele; e, juntos, enviados. [...] Se no cumprisse assim se se recusasse a satisfazer o que todos, a ss, a todos os instantes, suplicavam enormemente ela enlouqueceria? (116-117).

    Como aos heris trgicos, Mula-Marmela somente resta a no-

    escolha da escolha. Atribui-se a todos a lei do livre arbtrio, exceto para a

    protagonista, cuja arbitrariedade anulada. Sua sina permite-lhe trilhar apenas

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    um nico caminho, ou seja, seu fardo limpar o vilarejo da pestilncia

    daqueles que ultrapassam os limites do bom convvio social, os representantes

    da desordem, independentemente de fazerem parte dos que lhe so estimados

    ou no. Mesmo sabendo que os far sofrer, est consciente de que este o

    seu papel. No h qualquer possibilidade de fuga.

    A expedio do bode seu expiar

    A terceira passagem que revela a presena do trgico em A

    benfazeja encontra-se no pargrafo que encerra a narrativa. Mula-Marmela, ao

    sair do vilarejo, comparada ao bode expiatrio: Sem lhe oferecer ao menos

    qualquer espontnea esmola, vocs a viram partir: o que figurava a expedio

    do bode seu expiar (121).

    Na Grcia Antiga, o bode expiatrio (pharmaks) era fruto de um

    mecanismo de transferncia a um outro da responsabilidade de um crime ou

    anormalidade que perturbava a ordem social. Segundo Tzetzes,

    o (ritual do) pharmaks era uma dessas antigas prticas de purificao. Se uma calamidade se abatia sobre a cidade, exprimindo a clera de deus fome, peste ou qualquer outra catstrofe -, o homem mais feio de todos era conduzido como que a um sacrifcio como forma de purificao e remdio para os sofrimentos da cidade. Procediam ao sacrifcio num local conveniado e davam (ao pharmaks), com suas mos, queijo, bolo de cevada e figos, depois, por sete vezes, batia-se nele com pras e figos silvestres e outras plantas silvestres. Finalmente, eles o queimavam com ramos de rvores silvestres e esparramavam suas cinzas no mar e ao vento como forma de purificao [...] dos sofrimentos da cidade (apud DERRIDA, 1997, p. 80).

    Considerando-se tais aspectos, pode-se comparar a figura do

    pharmaks aos heris presentes nas tragdias gregas. Sobre eles o destino faz

    recair a culpa de ancestrais. A eles so imputados todos os reveses e

    desgraas. por isso que devem vivenciar os piores sofrimentos, ou, at

    mesmo, serem imolados.

    No conto de Guimares Rosa, pode-se constatar que a comunidade

    que acompanhava Mula-Marmela estava praticando um ritual no qual a

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    protagonista, ao ser expulsa do logradouro, ou melhor, de seus decretantes

    coraes, era sacrificada. Mula-Marmela concentra em si todos os requisitos

    configuradores do pharmaks, a comear por sua feio desagradvel.

    Descrita diversas vezes como a abominada e reles, a personagem feia,

    furtiva, lupina, to magra (121), com um se sumir de sanguexuga (113). Suas

    sombras carecem de qualquer conta ou relevo (113). Alm disso, deficiente

    fisicamente. Com dores nas cadeiras, andava meio se agachando; com os

    joelhos para diante (113). Para a comunidade, ela um ser que no vale a

    pena rever, intil tal qual os indivduos que o Estado grego sustentava para o

    ritual de purificao. Pertence a uma famlia que no produz, no se sustenta e

    no gera qualquer fora de trabalho. No a desatendendo, juntamente com

    Retrup, em seus pedidos de esmola, o lugarejo, como o Estado grego, a toma

    e a sustenta para, depois de agir a seu favor, expuls-la friamente.

    Considerada como catalizadora do mal, retirada do seio da comunidade.

    Acrescente-se ainda que, como um pharmaks, Mula-Marmela deve ser vista

    em sua duplicidade. Por um lado, mesmo matando, ela cura. Porque cura,

    um ser venerado e benfico. Por outro lado, porque mata, temvel e malfica,

    encarnando, desse modo, as potncias demonacas.

    Mula-Marmela: Ernia/Eumnide

    Se o conto de Guimares Rosa fosse intitulado Eumnides, o leitor

    mais vido no se surpreenderia, visto que a obra do autor sertanejo e a

    terceira tragdia que compe a trilogia Orstia, de squilo, tm muito a

    dialogar. Benfazeja e Eumnides significam benignas, aquelas que praticam o

    bem.

    Nas linhas iniciais de A benfazeja, Mula-Marmela caracterizada com

    traos fsicos abominveis: reles, feia, furibunda de magra, de esticado

    esqueleto, e o se sumir de sanguexuga, fugidos os olhos, lobunos cabelos...

    (113). Alm disso, inominada e deficiente fsica. Verificam-se, por tais

    aspectos, os primeiros indcios delineadores de sua semelhana com as

    Ernias. Desprivilegiadas tambm no aspecto fsico, tais deusas eram horrveis

    para serem contempladas. Segundo a mitologia grega, eram trs: Aleto, que

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    persegue ininterruptamente os criminosos com tochas acesas, tornando-os

    visveis; Tisfone, que os aoita com seu chicote; e Megera, responsvel por

    gritar incessantemente em seus ouvidos os crimes que cometeram. Descritas

    como cavalos alados, tinham cobras se retorcendo em vez de cabelos e olhos

    injetados de sangue. Como Mula-Marmela, inspiram averso e animosidade.

    No conto de Rosa, Mula-Marmela, Mumbungo e Retrup, formam uma

    sinistra trade. Conforme os padres ticos, econmicos e estticos valorizados

    socialmente, a protagonista encontra-se margem. Todavia, enquanto o

    lugarejo a rejeita, Mula-Marmela cuida de sua tranqilidade. ela quem

    preserva as leis que regem o bom convvio social e diz no aos excessos

    criminosos de seu marido e enteado, livrando-o, assim, de suas presenas

    nefastas. Incapacitada de compreender a dimenso de sua obra, a comunidade

    no percebe que suas atitudes visam ao bem-estar geral e que sua vida fora

    sacrificada em prol de todos. Assim como as Eumnides, Mula-Marmela se

    caracteriza como uma lei externa, uma ministra da justia que, atravs do

    temor e mansido, contm nos limites os indivduos que os queiram

    ultrapassar. Como tais deusas, sua presena infunde medo:

    O Mumbungo queria sua mulher, a Mula-Marmela, e, contudo, incertamente, ela o amedrontava. Do temor que no se sabe. Talvez pressentisse que s ela seria capaz de destru-lo, de cortar, com um ato de no, sua existncia doidamente celerada. Talvez adivinhasse que em suas mos, dela, estivesse j decretado e pronto seu fim. Queria-lhe, e temia-a de um temor igual ao que agora incessantemente sente o cego Retrup (115).

    De modo semelhante s deusas ctonianas, em Mula-Marmela coexiste

    tanto o elemento benfico quanto o malfico. No que diz respeito s

    personagens mticas, estas, enquanto Frias, representam o esprito vingativo,

    o gosto pela tortura e pelo tormento aplicados como castigo por toda violao

    da ordem (CHEVALIER, 1997, p. 409). Como Eumnides, encarnam o

    esprito de compreenso, de perdo, de superao e de sublimao

    (CHEVALIER, 1997, p. 409). As primeiras so impiedosas, as segundas,

    apesar de implacveis, benvolas, protetoras da ordem social e, em especial,

    da ordem familiar. Separar os traos que as distinguem enquanto benfazejas

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    ou malditas no fcil, uma vez que, para promover o bem, fazem uso da

    violncia.

    No que tange ao conto rosiano, a duplicidade benigno/malfico

    impregna toda a tessitura narrativa e est presente tanto na maneira como a

    protagonista denominada quanto nas comparaes s quais submetida.

    Seu apelido carrega as marcas de seu destino. Como a Mula, pode ser

    analisada tanto no que se refere idia de carga, ou seja, a misso de suporta

    pesos que no so os seus, quanto sua esterilidade, embora, mesmo no

    sendo me, incorpore a maternidade. No tocante Marmela, podemos

    associ-la ao marmelo, fruto cido e adstringente, empregado no preparo de

    doces. Acre e doce so duas propriedades que caracterizam um mesmo

    elemento, tal qual Mula-Marmela. Tais atributos atestam, uma vez mais, sua

    condio de pharmaks, ou seja, de bode expiatrio.

    L-se em A benfazeja que Mula-Marmela tinha faces de jejuadora e

    modos contidos de ensalmeira. Envolvendo a idia de superstio e magia,

    tem-se a cura pelo ensalmo, ou seja, por encantamentos uma prtica

    anticrist. Assim, dentre as mltiplas faces que a protagonista assume no conto

    mula, gua e loba , acrescenta-se agora a de feiticeira. Esta,

    amedrontando o homem desde os primrdios de sua histria, encontra-se entre

    os seres pertencentes s hierarquias demonacas. Como as bruxas, Mula-

    Marmela velha e desprovida de beleza. Suas caractersticas fsicas e os

    segredos que cercam sua vida assemelham-se bastante com a imagem que se

    cristalizou da bruxa m. No de se estranhar que um dos indcios de

    malignidade das bruxas encontra-se em sua feio desagradvel.

    Em contraposio condio de ensalmeira, Mula-Marmela tambm

    uma jejuadora, aquela que pratica o jejum. sabido que tal prtica dentre os

    cristos constitui-se como uma das formas de se aumentar a f, penitenciar-se

    ou seguir um preceito eclesistico. Para isso, os fiis devem abster-se de

    alimentos ou de alguma coisa que lhes seja muito penoso privar-se. No que se

    refere Mula-Marmela, pode-se consider-la uma jejuadora na medida em que

    se abstm de sua subjetividade. Ela abre mo da felicidade de estar ao lado de

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    quem amava para alcanar a graa de promover o bem a uma quantidade

    maior de pessoas.

    Mula-Marmela nunca fora me: Ela no tinha filhos. Ela nunca

    pariu... (118). Todavia, mesmo nunca tendo parido, corporifica a experincia

    materna ao assumir o enteado como seu prprio filho: Desde que morreu o

    homem-marido, o Mumbungo, ela tomou conta deste. Passou a cuid-lo, na

    reobriga, sem buscar sossego (118). Alm disso, como me, protege a

    comunidade que a repele, apesar de lhe estarem em grande dvida pelo

    desaparecimento de Mumbungo e pela neutralizao dos atos de Retrup. Este

    ltimo, predestinado a cumprir pelas prprias mos os atos brutais do pai,

    impedido de agir e deixa de ser o sujeito de seus prprios desejos. Cegado

    pela madrasta, sofre uma espcie de morte que reintroduz o equilbrio na

    comunidade. Anulando seus atos, ela lhe d a possibilidade de permanecer

    junto ao vilarejo. Vale lembrar que uma das nicas coisas que Mula-Marmela

    diz em todo o conto Meu filho... (121), ao responder ao enteado quando

    este tentara mat-la. No de se surpreender tambm que, no interior da

    combinao de seu nome, podem-se formar as palavras: amar, me e mame.

    Partilhando situao anloga, as Ernias no tinham filhos. Eram

    virgens malditas [...]; nunca as possuram quaisquer dos deuses, homens e

    nem mesmo feras (SQUILO, 1999, p. 145-146). Do mesmo modo que Mula-

    Marmela, assumem a maternidade na medida em que adotam os seres como

    seus filhos e so responsveis pela gerao da vida. Tanto a morte quanto a

    vida so obras de suas mos.

    O discurso persuasivo de Atena na voz do narrador rosiano

    Em A benfazeja, toma-se conhecimento da especificidade de Mula-

    Marmela atravs do narrador. Trata-se de algum que no pertence

    comunidade da qual a protagonista faz parte: Mas, eu, indaguei. Sou de fora

    (115). Tudo o que sabe acerca da personagem obteve atravs do relato dos

    habitantes do vilarejo. Sua condio de estrangeiro lhe garante uma viso

    menos comprometida dos fatos. No entanto, mesmo no pertencendo

    populao local, demonstra estar por dentro da conscincia coletiva.

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    Pela maneira como efetiva a narrao, verifica-se que este assume o

    papel de um tragedigrafo. Vale ressaltar que a histria de Mula-Marmela

    comporta algumas das situaes das quais se nutriam as tragdias: um

    suposto e desmentido incesto com o enteado, filcidio, alm do assassinato do

    prprio marido. sabido que os assuntos familiares eram os que mais atraam

    a ateno e emocionavam os expectadores do teatro grego, principalmente

    quando apareciam crimes e transgresses. Todavia, tais fatos no aconteciam

    em cena, mas eram expressos pelas palavras. Segundo as normas que

    determinavam as tragdias, aes chocantes eram inconvenientes em cena.

    Da mesma forma, em A benfazeja, a palavra, mais do que os atos de Mula-

    Marmela, o que assinala sua verso trgica, uma vez que a partir dela que

    estes so legitimados como benficos para a comunidade que a escarnece por

    no reconhec-la como uma Eumnide.

    No incio da narrativa, Mula-Marmela apresentada como um ser

    caracterizado pela hybris e marcada por um destino que lhe reserva como fim a

    condio de pharmaks. Tudo o que se passou com a protagonista narrado

    num tempo presente. no agora que o narrador relata a sua histria; uma

    histria baseada em fatos rememorados numa ordem por ele estabelecida.

    Constata-se, de antemo, que se trata de algum que tem os domnios da

    argumentao, sabe narrar e julgar convenientemente o que deve ser relatado

    e qual o melhor momento, mostrando-se, alm disso, um profundo conhecedor

    dos valores reinantes nas tragdias, em particular, nas Eumnides.

    Toda a narrativa transcorre como se fosse uma conversa em que o

    narrador, indignado diante da maneira como Mula-Marmela tratada neste

    pequeno povoado, procura convencer seus habitantes a rever seu julgamento.

    Num jogo de argumentos e contra-argumentos, ele expe e, ao mesmo tempo,

    contesta aquilo que estes julgam ser verdadeiro:

    Diziam que, em outro tempo, ao menos, entre eles teria havido alguma concubinagem. Cambonda? Vocs sabem que isso falso; e como a gente gosta de aceitar essas simples, apaziguadoras suposies. Sabem que o cego Retrup, canhim e discordioso, ela mesma o conduz, paciente, s mulheres, e espera-o c fora, zela para que no o maltratem (119-120).

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    A populao local que a escarnece por no saber e no querer

    saber deixa-se levar pelas aparncias e impresses, ignorando a sua

    verdadeira essncia. precisamente o narrador quem desmascara a sua

    hipocrisia ante seus prprios olhos:

    Seu antigo crime? Mas sempre escutei que o assassinado por ela era um hediondo, o co de homem, calamidade horribilssima, perigo e castigo para os habitantes deste lugar. Do que ouvi, a vocs mesmos, entendo que, por aquilo, todos lhes estariam em grande dvida, se bem que de tanto no tomando tento, nem essa gratido externassem (114).

    Para a preconceituosa comunidade, o simples fato de Mula-Marmela

    estar ligada a Mumbundo e Retrup, seres to repugnantes, a torna to

    culpada quanto eles. Seu aspecto demonaco, alm de estar presente em seus

    traos fsicos, evidencia-se, tambm, em seus atos. Como que por um

    processo de transferncia, as maldades e a natureza criminosa de seus

    companheiros lhes so atribudas, sendo, por isso, no reconhecida entre os

    moradores. Em oposio a todos esses aspectos negativos, o narrador intitula

    a sua histria de A benfazeja. Uma vez mais, seu interlocutor instigado a

    pensar. Se Mula-Marmela a benfazeja, deve-se procurar e descobrir o que

    que est por detrs das aparncias. Sendo aquela que pratica o bem, no se

    pode consider-la apenas como uma criminosa, um miasma que infecta e

    corrompe a sociedade da qual faz parte.

    como se estivssemos num tribunal em que o narrador, assumindo a

    posio de advogado de defesa, procura legitimar os atos de Mula-Marmela.

    Ironicamente, introduz, atravs de perguntas reiteradamente feitas

    comunidade, a dvida em relao concretude do seu saber, um saber

    pautado apenas em simples e apaziguadoras suposies, em petas [que]

    escondem a coisa singular (115). Para o vilarejo, os atos de Mula-Marmela

    so violaes de interditos. J, para o narrador, no violar o interdito que se

    caracteriza como um crime. O crime de no cumprir por suas mos o

    necessrio bem de todos (116), de no levar a efeito a obra altssima, que

    todos nem ousavam conceber, mas que, em seus escondidos coraes,

    imploravam (116). De acordo com o sistema de conceitos do narrador, aquilo

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    que a populao toma por sentena, constitui-se como uma sano. Para se

    fazer digno de f, ele chega a se colocar dentre os membros da comunidade,

    assumindo tambm a condio de vtima das atrocidades de Mumbungo e

    Retrup:

    Mas, se ela tambm se tivesse matado, que seria de vocs, de ns, s muitas mos do Retrup, que ainda no estava cegado, nos tempos; e que seria to pronto para ser sanginaz e cruel perverso quanto o pai e o que renega de Deus da pele de Judas, de to desumana e tremenda estirpe, de apavor? (118).

    De r, Mula-Marmela passa a ocupar o lugar de vtima. Uma vez

    legitimados os seus atos, ela assume a posio de uma benfeitora, ou melhor,

    de uma Eumnide. Tal como acontece na terceira tragdia que compe a

    Orstia, a imagem da personagem reabilitada atravs de um discurso

    marcadamente persuasivo. Atena, na obra esquiliana, ao dirigir-se s Ernias,

    afirma:

    Aqui est o que podeis obter de mim: fazer e receber o bem e ser benditas e veneradas numa terra mais que todas querida pelos deuses, da qual vs sereis desde este dia distinguidas cidads. (SQUILO, 1999, p. 182).

    graas s palavras que profere que consegue convenc-las e

    transfigurar-lhes a funo. De foras selvagens do mal, transformam-se em

    defensoras da paz em Atenas.

    As Ernias fazem parte de uma poca anterior ao tempo dos deuses

    olmpicos. Um perodo em que o matriarcado dominava o universo. Todavia,

    com o desenrolar dos tempos, o poder senhorial feminino enfraqueceu-se e o

    homem passou a ocupar um lugar proeminente, instaurando-se, assim, o

    patriarcado. Nesse novo momento, a cpula celeste grega passa a ser

    comandada, quase que totalmente, por figuras masculinas. Concomitante a

    essa transformao, tem-se o surgimento da democracia, cujos preceitos - que

    visam uma nova forma de sociabilidade entre os cidados gregos - vm ao

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    encontro com as regras estabelecidas pelos novos deuses. Ao homem que

    incorrer na hybris, tanto o direito humano quanto o divino o puniro.

    Estando concorde com o mundo poltico recm fundado e intimidada

    pelas ameaas de tais deusas de trazer malefcios para sua terra, Atena tece

    todo um discurso visando a induo. Promete-lhes honraria em sua nova

    condio de Eumnides e um lugar proeminente ao lado dos deuses olmpicos.

    Com isso, a deusa garante a presena amedrontadora de tais divindades, que

    passam, ento, a assumir uma funo de extrema importncia dentro do novo

    direito da plis. Uma nova cidade no pode mais comportar crimes de sangue

    ou mesmo a desordem.

    Inserindo as Ernias numa ordem temporal contempornea s

    mudanas ocorridas pelo advento da democracia e da entrada dos novos

    deuses na religio grega, o poeta trgico da Orstia, ao contrrio do narrador

    de A benfazeja, no resgata atravs de rememoraes a verdadeira face de

    tais deusas para que esta seja de conhecimento de todos. As Ernias, embora

    destitudas de seu carter de fria e revestidas de contornos benignos,

    apresentam, ainda, na sua essncia, a mesma natureza que as configurou

    enquanto representantes de um tempo glorioso anterior ao patriarcado. O que

    mudou, porm, em sua conduta, que no apenas se encarregaro de punir

    os crimes entre consangneos, mas zelaro tambm pela proteo da

    vegetao, pela conduta dos homens e pela criao dos animais. J no conto

    rosiano, o narrador tece todo o seu discurso num tempo presente, o agora,

    tomando como suporte um tempo anterior, cujo conhecimento lhe foi

    possibilitado atravs dos relatos dos membros da comunidade. atravs da

    evocao voluntria dessas lembranas que toma, no presente, a defesa de

    Mula-Marmela e a revela benfazeja, qualidade primordial que fora esquecida

    por todos. Atribuindo narrao um tom convincente, ressalta o negativo no

    positivo. Para ele, Mula-Marmela deve ser vista na totalidade do seu ser e no

    a partir dos seus traos fsicos. Ela possui feies ocultas a serem reveladas.

    Todavia, reconhece que este saber transcende a nossa capacidade, foge a

    nossa razo, pois em volta de ns, o que h, a sombra mais fechada

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    coisas gerais (116); ou, como se l mais adiante: A cor do carvo um

    mistrio; a gente pensa que ele preto, ou branco (117).

    Em virtude de tais atributos, o narrador transforma a histria de Mula-

    Marmela em causo exemplar que dever ser transmitido s futuras geraes:

    E, nunca se esqueam, tomem na lembrana, narrem aos seus filhos, havidos

    ou vindouros, o que vocs viram com esses olhos terrivorosos, e no souberam

    impedir, nem compreender, nem agraciar (121-122). somente estando na

    conscincia coletiva que Mula-Marmela, ento, ocupar o lugar que sempre foi

    e ser seu, ou seja, de uma Eumnide, uma serva responsvel pela

    observncia da justia, cuidando, com antecedncia, de evitar o crime.

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    ROSSI FILHO, Alcio. Ver e re(viver) A benfazeja, de Guimares Rosa.

    Revista de Letras, So Paulo, n. 28, p. 53-61, 1988.

    Recebido em: 09-mai Aprovado em: 30-jun