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1 UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Terapia Ocupacional Ana Carla Albuquerque Novaes Vinícius Boschetto Melo A CLÍNICA DA TERAPIA OCUPACIONAL COM DEPENDENTES DE ALCOOL E DROGAS QUE FREQUENTAM O CAPS DE ALCOOLISMO E DROGAS DE LINS/SP LINS SP 2008

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Terapia Ocupacional

Ana Carla Albuquerque Novaes

Vinícius Boschetto Melo

A CLÍNICA DA TERAPIA OCUPACIONAL COM

DEPENDENTES DE ALCOOL E DROGAS QUE

FREQUENTAM O CAPS DE ALCOOLISMO E

DROGAS DE LINS/SP

LINS SP

2008

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Novaes, Ana Cala Albuquerque; Melo, Vinícius Boschetto A clínica da Terapia Ocupacional com dependentes de álcool e

drogas que freqüentam o CAPS de Alcoolismo e Drogas de Lins/SP / Ana Carla Albuquerque Novaes; Vinícius Boschetto Melo.

Lins, 2008.

124p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Terapia Ocupacional, 2008

Orientadores: Jovira Maria Sarraceni; Genicley Márcia Costa de Oliveira

1. Dependência Química. 2. Terapia Ocupacional. 3. Grupos Terapêuticos. I Título.

CDU 615.851.3

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ANA CARLA ALBUQUERQUE NOVAES

VINÍCIUS BOSCHETTO MELO

A CLÍNICA DA TERAPIA OCUPACIONAL COM DEPENDENTES DE ÁLCOOL

E DROGAS QUE FREQUENTAM O CAPS DE ALCOOLISMO E DROGAS DE

LINS/SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Terapia Ocupacional sob a orientação da Profª M. Sc. Genicley Márcia Costa de Almeida e orientação técnica da Profª Especialista Jovira Maria Sarraceni.

LINS SP

2008

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ANA CARLA ALBUQUERQUE NOVAES

VINÍCIUS BOSCHETTO MELO

A CLÍNICA DA TERAPIA OCUPACIONAL COM DEPENDENTES DE ÁLCOOL

E DROGAS QUE FREQUENTAM O CAPS DE ALCOOLISMO E DROGAS DE

LINS/SP

Monografia Apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de bacharel em Terapia Ocupacional.

Aprovada em: ___/___/___

Banca Examinadora:

Profª Orientadora M. Sc. Genicley Márcia Costa de Oliveira

Mestre em Terapia Ocupacional uma Visão Dinâmica Aplicada em Neurologia

Assinatura ________________________________.

1º Prof. (a) ______________________________________________________

Titulação _______________________________________________________

Assinatura ________________________________.

2º Prof. (a) ______________________________________________________

Titulação _______________________________________________________

Assinatura ________________________________.

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DEDICATÓRIA

Dedico todo este trabalho à minha mãe Carla

e, meus avós Shirley e Walcenir, pois são os

responsáveis por eu estar onde estou, sempre

me incentivando, dando forças em todas as

circunstancias, e principalmente pelo amor

incondicional que me dedicaram todos esses

anos. Mãe, agradeço por tudo, pela educação

que me deu, pela dedicação, e por viver

exclusivamente para mim e por mim. Vô e Vó,

obrigada por terem me criado como sua filha,

serei eternamente grata a tudo que fizeram

por mim. Meus queridos só estou aqui hoje

pela força que me deram, nunca me deixando

desistir....AMO VOCÊS PRA SEMPRE!!!!

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todas as pessoas que

amo e que se fizeram presentes nesse momento

de extrema importância de minha trajetória,

meus pais Suzilei e Elézio, meu irmão Rubens,

minha noiva Lia e a minha mestre e

orientadora Jane (Genicley), pois sem sua

sabedoria não chegaria aonde cheguei.

Agradeço a todas estas pessoas por me

apoiarem e orientarem. Agradeço ainda aos

funcionários e clientes do CAPS-AD de Lins,

pois sem eles não seria possível à conclusão

desse projeto. E finalmente agradeço a Deus

por ter me oferecido à oportunidade de

conquistar minha subjetividade e

singularidade durante estes anos de

amadurecimento.

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Agradecimentos

A Deus Por ter me dado a dádiva de nascer e crescer em uma família tão maravilhosa quanto a

minha, pela vida repleta de sonhos, desejos e conquistas como esta. Espero estar sempre à altura de tudo que conquistei.

A minha mãe Carla, meus avós Shirley e Walcenir, ao meu pai Adilson, ao meu segundo pai número dois Reinaldo, aos tios, tias, primas e primos

Obrigada, por serem simplesmente tudo na minha vida, sem vocês tenho certeza de que não conseguiria nem começar essa caminhada. Só nós para sabemos o que passamos. Amo vocês eternamente.

Da sua Florzinha de Estufa Ana

A Jane Pela paciência incondicional, pela sabedoria e extrema competência com que nos orientou

durante este trabalho. Obrigada por ter compartilhado este desafio conosco, essa conquista também é sua.

Ana .

A Jovira Obrigada, pela receptividade e atenção com que nos recebeu, sempre nos orientando e

indicando o melhor caminho. Obrigada!! Ana

Aos pacientes/clientes e funcionários do CAPS/AD de Lins Obrigada pela confiança, amizade, companheirismo e carinho durante esses meses que

passamos juntos. Sorte e sucesso a todos, vocês são grandiosos. Ana

Aos amigos da sala Nossa!! Chegamos ao final de mais uma trajetória, cheia de alegrias, esperamos tanto por esse

dia e agora que finalmente chegou, desejamos voltar e começar tudo de novo. Hoje tenho a certeza de que Lins me trouxe uma coisa mágica,, a amizade eterna de vocês. Sucesso para nós. Saudades...

Ana

As meninas do oásis Obrigada, pelo apoio, amizade, jantares, conversas e risadas, com vocês aprendi a ser menos

exigente e mais amiga. Obrigada às Irmãs, Joyce e Luzinete, adoro vocês. Ana

Aninha, Renata, Gorda, Thaysa, Má, Ana Paula. Obrigada pela amizade, Ana e Má pra sempre sermos as jardineiras , e pra Gorda e Thá nós

somos mais que vencedoras, nós somos AS SOBREVIVENTES!!! Ana

Vinícius Mesmo com nossas brigas, conseguimos concluir esta etapa da nossa vida, Obrigada e

sucesso!!! Ana

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Agradecimentos

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RESUMO

O aumento do consumo do álcool e drogas, constatado em todas as camadas sociais da população mundial, tem levado a um crescente interesse no conhecimento do uso e do abuso dessas substâncias, das suas razões, preferências e distribuições. Os indivíduos dependentes de drogas ilícitas e lícitas apresentam características de não conseguir resistir a impulsão do uso, praticamente todos os dias, sem interrupções, a ponto de apresentar um estado de intoxicação caracterizado por distúrbios psíquicos ou somáticos. Quando essa incapacidade de se abster estiver instalada, as conseqüências repercutem no próprio indivíduo trazendo danos psíquicos intelectuais, orgânicos, profissionais, sociais e familiares. A Terapia Ocupacional, através das abordagens terapêuticas poderá atuar como agente facilitador das relações interpessoais dos pacientes em processos de dependência química que freqüentam o CAPS alcoolismo e drogas de Lins e que apresentam alterações psíquicas e/ou físicas; visando sobretudo, a uma melhora na qualidade de vida dos mesmos. Na clínica da Terapia Ocupacional, o terapeuta ocupacional tem o privilégio de vivenciar com seu cliente o seu dia-a-dia, suas reações, seus medos, seus progressos e fracassos no difícil processo de se tornar um indivíduo independente. Além disso, o terapeuta ocupacional tem condições de mediar não só seu processo de adaptação, mas também o seu progresso de se apropriar de um conhecimento maior sobre si e sobre as atividades cotidianas de seu interesse, de modo a tornar-se capaz de descobrir e desenvolver novas habilidades e, dentro do possível dirigir seu destino.

Palavras-chave: Dependência química. Terapia Ocupacional. Grupos terapêuticos.

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ABSTRACT

The increase of the consumption of the alcohol and drugs, evidenced in all the social classes of the world-wide population, has led to an increasing interest in the knowledge of the use and the abuse of these substances, of its reasons, preferences and distributions. The dependent individuals of illicit and allowed drugs present characteristics not to obtain to resist the impulse of the use, practically every day, without interruptions, the point to present a state of poisoning characterized for psychic or somatic riots. When this incapacity of if abstaining will be installed, the consequences reverberate in the proper individual bringing intellectual, organic, professional, social and familiar damages psychic. The Occupational Therapy, through the therapeutical boardings will be able to act as facilitador agent of the interpersonal relations of the patients in processes of chemical dependence that frequent the CAPS alcoholism and drugs of Lins and that they present psychic and/or physical alterations; aiming at over all, to an improvement in the quality of life of the same ones. In the clinic of the Occupational Therapy, the occupational therapist has the privilege to live deeply with its customer its day-by-day, its reactions, its fears, its progressos and failures in the difficult process of if becoming an independent individual. Moreover, the occupational therapist has conditions to not only mediate its process of adaptation, but also its progress of if appropriating of a major knowledge on itself and the daily activities of its interest, in order to become capable to discover and to develop new abilities and, inside of the possible one to direct its destination.

Key words: Chemical dependence. Occupational therapy. Groups therapeutics.

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LISTA DE SIGLAS

AA Alcoólicos Anônimos

AD Alcoolismo e Drogas

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CNH Carteira Nacional de Habilitação

NA Narcóticos Anônimos

SAA Síndrome de Abstinência do Álcool

SDA Síndrome de Dependência do Álcool

SNC Sistema Nervoso Central

THC Tetrahidrocanabinol

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................14

CAPÍTULO I DROGAS ..................................................................................16

A HISTÓRIA E CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS ..........................................16

1.1 Classificação das principais drogas que causam dependência............16

1.1.1 Drogas psicoestimulantes.......................................................................17

1.1.1.1Cocaína...................................................................................................17

1.1.1.2 Anfetaminas e Análogos.......................................................................18

1.1.1.3 Cafeína.................................................................................................19

1.1.2 Drogas depressoras do SNC................................................................19

1.1.2.1 Álcool etílico.........................................................................................19

1.1.2.2 Hipnóticos.............................................................................................21

1.1.2.3 Analgésicos opióides............................................................................21

1.1.3 Drogas que atuam predominantemente sobre a percepção................2

1.1.3.1 Canabióides

1.1.3.1.1Efeitos e Dependência da Maconha

1.1.3.2 Alucinógenos

1.1.3.3 Inalantes ou Solventes

1.2 As drogas: seu destino no presente e futuro

1.3 A violência e o tráfico

1.4 Saúde e doença dos dependentes

1.5 As relações na clínica da terapia ocupacional

1.6 Tratamentos

1.6.1 Diagnóstico

1.6.2 Prognóstico

1.6.3 Tratamento medicamentoso

1.6.4 Estratégias de tratamento

1.6.5 A importância do tratamento grupal

1.6.5.1Histórico

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1.7 Introduzindo o quinto elemento: o grupo

1.7.1 Classificação Geral dos Grupos

1.7.1.1Grupos Operativos

1.7.1.2Grupos Psicoterápicos

1.8 Prognóstico

CAPÍTULO II

A CLÍNICA DA TERAPIA OCUPACIONAL

2 O PAPEL DO TERAPEUTA OCUPACIONAL

2.1 A importância das Atividades

2.2 A Análise da atividade

2.3 Atividade X Produto

2.3.1 Atividade

2.3.2 Produto

2.4 A importância de atender em grupos de Terapia Ocupacional

2.4.1 Grupos de Terapia Ocupacional

2.5 O Papel do Terapeuta Ocupacional

CAPÍTULO III A PESQUISA

3 INTRODUÇÃO: DESCREVENDO O LOCAL PESQUISADO

3.1 O trabalho realizado no CAPS AD

3.2 A opinião dos profissionais

3.2.1 A opinião do Psiquiatra

3.2.2 A opinião do clínico geral

3.2.3 A opinião do Enfermeiro

3.2.4 A opinião da Professora da sala de alfabetização

3.2.5 A opinião do Assistente social

3.2.6 A opinião do Psicólogo

3.2.7 A opinião do terapeuta ocupacional

3.3 A opinião dos familiares

3.3.1 M. S., mãe de W. L. S.

3.3.2 M. A. A. S., mãe do cliente P. R.S

3.3.3 L. H. S. S, irmã do cliente P. R. S, e tia do cliente W. L. S

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3.3.4 V. P. D. G., mãe do cliente R. W. D. G

3.4 A opinião dos Clientes

3.4.1 Cliente R. W. D. G.

3.4.2 Cliente: L.

3.4.3 Cliente: P. R. S.

3.4.4 Cliente W. L. S.

3.4.5 Cliente A. B.

3.5 Discussão

3.6 Parecer sobre a pesquisa

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

APÊNDICES

ANEXOS

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INTRODUÇÃO

O Centro de Atenção Psicossocial alcoolismo e drogas de Lins/SP, é um

serviço público para atendimento de pacientes com transtornos decorrentes do

uso e dependência de substancias psicoativas.

O tema em estudo após aprovado pelo Comitê de Ética vem abordar a

contribuição do terapeuta ocupacional no favorecimento da ressocialização e

reinserção familiar dos clientes do CAPS/AD em estudo.

Para isto foi realizado atendimentos semanais no CAPS/AD para o

acompanhamento, descrição e análise da clínica da terapia ocupacional e

também verificar a importância do CAPS/AD para a desintoxicação dos clientes

deste serviço, já que os mesmos são usuários de alcoolismo e drogas há

tempos, e verificar a reestruturação da práxis produtiva.

Desta forma o estudo procura resposta factível para a seguinte

pergunta-problema que o presente trabalho indaga: A atuação da terapia

ocupacional é eficaz no tratamento de dependentes químicos; a fim de se

tornar capaz de descobrir e desenvolver novas habilidades e, dentro do

possível dirigir seu destino?

A análise da clínica de terapia ocupacional com os clientes foi descrita e

analisada através do método de observação sistemática e de estudo de caso,

com a contribuição da atuação da terapia ocupacional, a partir do uso de

atividades, que pudessem promover reestruturação psíquica e social destes

clientes.

O tema se desenvolve a partir da hipótese de que o CAPS/AD de Lins

com a intervenção da Terapia Ocupacional através de suas atividades,

promove reestruturação psíquica e social para os usuários de drogas.

Para que se pudesse atingir os objetivos, dividiu-se o trabalho em três

capítulos.

O capítulo I é composto de um corpo teórico, partindo da história mais

antiga das drogas até os dias atuais com uso descontrolado e, inicio cada vez

mais precoce.

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O capítulo II apresenta o papel e o perfil do terapeuta ocupacional neste

serviço, assim como a descrição dos elementos básicos da terapia ocupacional

para que o estudo de caso acontecesse, sendo estes, as atividades, o produto,

a análise de atividade, os grupos terapêuticos, e o papel do terapeuta

ocupacional.

O capítulo III descreve o estudo de caso por relatórios dos atendimentos

e das atividades realizadas no CAPS/AD, além da palavra dos profissionais

envolvidos no caso. Para o fechamento do trabalho tem-se a conclusão do

estudo, seguida da proposta de intervenção.

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CAPÍTULO I

DROGAS

1 A HISTÓRIA E CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

O homem desde tempos imemoriais, e independentes do lugar que

habitasse, grau, gênero ou cultura, utilizou substâncias, geralmente provindas

de plantas, que lhe proporcionassem sensação de prazer e bem estar físico,

acostumando-se aos mesmos. O clássico destes acontecimentos é o episódio

bíblico da embriaguez de Noé, revelando o abuso do álcool e do ópio (RAMOS

apud SILVA 2006).

Os tempos evoluíram, multiplicaram-se as drogas que têm a propriedade de modificar o psiquismo. Várias delas tornaram-se importantes em medicina, porque podiam, muitas vezes, corrigir estados patológicos mentais, ou eram úteis devido às propriedades benéficas sobre diversos sistemas do organismo (RAMOS apud SILVA, 2006, p.204).

Entretanto, alguns indivíduos, utilizam drogas de forma abusiva,

geralmente por auto-administração, para buscar sensações especiais, não

sendo essas de finalidade terapêutica, frente aos padrões médicos e sociais

aceitos atualmente. O uso indevido dessas drogas caracteriza-se abusivo,

assim como o uso indevido substâncias que não alteram o psiquismo, tais

como os analgésicos (RAMOS apud SILVA, 2006).

O conceito de abuso é relativo e varia com a ocasião, época histórica e regiões consideradas. Assim, a morfina administrada para aliviar a dor não é abuso, mas o é o uso para causar euforia. Fumar ópio, no Oriente antigo, era socialmente aceito, e não um abuso. Atualmente, as sociedades orientais têm atitude semelhante para com o álcool etílico. Nos planaltos andinos, a maioria da população usa folhas de coca sem restrição pelas sociedades locais. O abuso de droga pode ser ocasional e, passada a experiência, o indivíduo sente pouco ou

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nenhum interesse em continuar a usá-la (RAMOS apud SILVA, 2006, p.204).

1.1 Classificação das principais drogas que causam dependência

As drogas que podem causar dependência apresentam um efeito

proeminente sobre a mente, causando sensações caracterizadas agradáveis.

Todas as substâncias que atuam sobre a mente são denominadas

genericamente de psicotrópicos. Supõe-se que todas as drogas psicotrópicas

causem vício (RAMOS apud SILVA, 2006).

As drogas viciantes têm sido comumente denominadas tóxicos , narcóticos , entorpecentes , ou simplesmente drogas . Esses

termos são inadequados, porque não correspondem realmente às propriedades de grande parte dessas substâncias, ou abrangem um sentido muito mais amplo (RAMOS apud SILVA, 2006, p.204).

1.1.1 Drogas psicoestimulantes

1.1.1.1 Cocaína

Erythroxylon coca também conhecido como khoka. De suas folhas

retira-se uma substância natural: a cocaína. A cocaína é um alcalóide, que

pode ser introduzido no organismo por aspiração, ingestão ou injeção. Para ser

usada como fumo, deve ser misturado o cloridrato de cocaína com bicarbonato

de sódio e hidróxido de amônio, tratamento também conhecido como

freebasing (JOHANSON, 1988).

Os Incas tinham clara noção do perigo que havia no consumo da coca.

Em 1884, Sigmund Freud e Karl Koller comprovaram a ação anestésica da

cocaína sendo introduzida na prática médica em oftalmologia. No mesmo ano

descobriu-se a partir de uma experiência que o uso da droga sobre a córnea do

olho poderia causar danos e efeitos colaterais indesejáveis. Então, pesquisou-

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se e sintetizou-se outros anestésicos, evitando os seus efeitos tóxicos e o seu

potencial de uso (BONIFÁCIO, 2000; JOHANSON, 1988).

Na Europa e nos Estados Unidos foi empregado o uso da cocaína no

preparo de remédios e na fabricação de gomas de mascar, cigarros, doces e

bebidas como coca-cola. No entanto, em 1903 a cocaína foi retirada da fórmula

da coca-cola. Em 1914, o governo norte-americano classificou a cocaína como

droga extremamente perigosa e decretou sua proibição (BONIFÁCIO, 2000).

A Formas de Uso

A cocaína pode ser consumida na forma de pó, que é absorvido pelas

membranas mucosas da boca, pelo trato gastrointestinal e pelos canais nasais

(JOHANSON, 1988), sob a forma de injeção, fumo e inalação.

A via intra-nasal ou cafungada é o meio mais consumido da cocaína.

Faz-se carreiras com o pó para o usuário aspirá-lo através de um tubo e em

poucos segundos a pessoa experimenta uma sensação crescente de alegria,

euforia e energia, durante aproximadamente de 20 a 40 minutos (JOHANSON,

1988).

A reputação da cocaína como intensificador da interação social, sua ação de início quase que instantâneo, sua breve duração, a noção de que possui muito pouco efeito colateral e o fato de que pode ser usada sem chamar a atenção contribuem, indubitavelmente, para isso (LAPATE; TUMA, 1994, p. 48).

Já na via intravenosa, o usuário usa uma dose de 10 miligramas (mg).

Ao entrar na corrente sangüínea, o usuário experimenta um baque

(aceleração) por apenas 2 minutos (JOHANSON, 1988).

Nos países onde se encontra maior plantação de cocaína, é freqüente o

hábito de fumar pasta de coca. É quase imediata a euforia causada pela rápida

absorção nos pulmões (JOHANSON, 1988).

Outra maneira de fumar cocaína dá-se por meio do processo de

freebasing, que pode ser fumado em um narguilé e requer aproximadamente

100 mg de cocaína. No entanto, somente de 5 a 6% passa pelo tubo do

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cachimbo, pois a maior parte se perde pela fumaça que escapa (JOHANSON,

1988).

1.1.1.2 Anfetaminas e Análogos

No sistema nervoso central (SNC), as anfetaminas liberam dopamina

de síntese recente, liberam outros neurotransmissores e inibem a reentrada na

terminação nervosa. Causa efeitos marcantes sobre o aparelho cardiovascular,

como taquicardia, arritmias cardíacas e elevação da pressão arterial (RAMOS

apud SILVA, 2006).

Apesar de serem ilegais, as anfetaminas são utilizadas por via oral e

venosa. Seus efeitos duram cerca de 5 a 10 horas, seu uso médico é limitado e

alguns correlatos são usados como auxiliar no tratamento da obesidade. Seus

derivados mais potentes, como metanfetamina e dexanfetamina, prolongam o

estado de vigília, com elevação da resistência e do ânimo, ocorrência de

irritabilidade, insônia, aumento do ânimo, anorexia, euforia, nervosismo.

Depressão e sonolência compõem o estágio final dos efeitos (RAMOS apud

SILVA, 2006).

1.1.1.3 Cafeína

Psicoestimulante, causador de hábito, a cafeína não causa

dependência franca. No entanto, grandes bebedores de café podem

experimentar uma crise de abstinência com sua retirada brusca (RAMOS apud

SILVA, 2006).

Doses elevadas ou muito elevadas, por exemplo, 600 mg, causam

confusão mental, sensação de angústia, agitação, nervosismo, entre outros.

Bebidas como mate, guaraná, café e chá contêm cafeína (RAMOS apud

SILVA, 2006).

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1.1.2 Drogas depressoras do SNC

1.1.2.1 Álcool etílico

O alcoolismo é uma das maiores causas de morte em clínica em muitos

países e um dos maiores problemas mundiais. É muito difícil detectar a origem

desse problema, pois não é um fator único, o que faz o tratamento alcoólico ser

um problema ainda mais difícil (MASCARENHAS, 1990).

A psicanálise vem estudando o alcoolismo há muitos anos, porém,

advertiu sobre a resistência à transformação de certos sintomas. Assim,

consegue-se entender seu funcionamento, mas não transformá-los em desejos

passíveis de controle espontâneo pela vontade. Não se pode sustentar a idéia

de que o álcool é o único responsável pelo alcoolismo. Neste sendito, não é o

álcool que leva ao alcoolismo, mas sim, o contrário (MASCARENHAS, 1990).

Segundo Twerski, quando qualquer função normal se torna dependente do álcool, não importando a quantidade consumida

comer dormir, sociabilizar-se, ter relações sexuais etc. são funções normais. Quando qualquer uma destas funções ou mais de uma se torna dependente do consumo do álcool para sua execução, pode-se dizer que existe alcoolismo (ALFARO, 1993).

Comprovou-se que há uma vulnerabilidade quatro vezes maior de

síndrome de dependência do álcool (SDA) em parentes de primeiro grau de

dependentes. O tratamento de SDA melhora quando, por exemplo, o início do

uso de álcool ocorre tardiamente, o tratamento inicia-se o mais rápido possível,

a família participa ativamente do tratamento, o paciente apresenta bom

relacionamento com a equipe (ABREU; CORDAS; CANGUELLI FILHO, 2006).

O tratamento para consumistas do álcool deve ser iniciado com

orientações para que o mesmo abandone o consumo. No entanto, não existe

nenhum tratamento que seja totalmente eficaz, devendo levar-se em conta as

características de cada paciente, para dar início às abordagens escolhidas, e,

mesmo assim, pode ocorrer o insucesso e tornar-se necessário adotar outro

método. Durante o processo sem consumo de álcool, muitos apresentarão

síndrome de abstinência do álcool (SAA), a qual, dependendo da gravidade,

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deve ser tratada exclusivamente em hospitais (ABREU; CORDAS; CANGUELLI

FIHO, 2006).

Pode-se considerar que uma pessoa torna-se alcoólatra por ter alguma

tragédia amorosa na vida, ou então, por perder seu patrimônio financeiro.

Tantas outras, acham que se tornaram alcoólatras por serem sexualmente

tímidas. no entanto, se o álcool a princípio favorece o sexo e o amor, em

etapas avançadas de alcoolismo os pacientes passam a apresentar disfunções

sexuais que interferem de forma negativa na vida a dois (MASCARENHAS,

1990).

O álcool tem alto teor calórico, além de propriedades que abrem o

apetite e relaxam a força de vontade. Mesmo assim, os bebedores convictos

são magros, na maioria, pois deixam de comer para beber cada vez mais.

1.1.2.4 Hipnóticos

Os hipnóticos são substâncias que determinam graus variados de

depressão do SNC. Tal depressão depende de fatores ligados à via de

administração, dose da substância hipnótica e à sensibilidade do paciente à

droga (CORREIA, ALVES, 2006).

A dependência física ou psíquica pelo uso desses medicamentos, não é

tão freqüente como se observa com barbitúricos e morfínicos. Contudo, pode-

se desenvolver de forma lenta, principalmente quando este uso é feito em

associação com outras drogas, de forma regular e por tempo prolongado

(CORREIA, ALVES, 2006).

A Hipnóticos Barbitúricos

Foram os fármacos hipnóticos mais utilizados na medicina, até que

surgiram os benzodiazepínicos. Em 1903, Von Mering utilizou pela primeira vez

em clínica o barbital, conhecido como Veronal. Em 1912, começou a ser usado

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o fenobarbital (Luminal, Gardenal) e em nossos dias existem cerca de 50

especialidades comercializadas e grande parte delas de uso freqüente

(CORREIA, ALVES, 2006).

A intoxicação crônica surge naqueles indivíduos que usam barbitúricos

por tem prolongado, seja por necessidade orgânica ou psíquica (CORREIA,

ALVES, 2006).

Um aspecto interessante da dependência ao barbitúrico e que o torna grave problema social é que o dependente dos barbitúricos não consegue exercer suas atividades normais, pela sonolência e adinamia produzida pela droga (CORREIA, ALVES, 2006, p.376).

B Ansiolíticos

Os ansiolíticos são fármacos utilizados no combate a sintomas causados

pela ansiedade, disfunção que é um mal característico do século atual

(SILVEIRA, 2006).

São numerosos os casos de abuso e dependência correlacionados ao

uso tanto terapêutico quanto irracional (SILVEIRA, 2006 p.333).

Os principais sintomas da abstinência são: ansiedade, agitação,

irritabilidade, tremores, insônia, diarréia, fotofobia, despersonalização e

depressão. Tais sintomas podem aparecer uma semana após a retirada do

medicamento, a depender da meia-vida, da conversão de metabólitos ativos e

respectivas meias-vidas (SILVEIRA, 2006).

1.1.2.3 Analgésicos opióides

Algumas referências descrevem que o ópio era conhecido pelos

primitivos médicos. Os povos antigos conheciam as características que as

plantas tinham de curar, dentre elas a papoula, planta por meio da qual,

através de seu sulco, obtém-se o ópio (ROCHA, 1993).

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Sabe-se que por mais de dois milênios, o ópio era um medicamento

muito importante por possuir propriedades analgésicas, antidiarréicas,

antitussígenas e euforizantes. A morfina extraída do ópio bruto, tomada por via

oral, tornou-se um medicamento de extrema importância em meados de 1805,

tanto que se introduziu um tratamento endovenoso, melhorando ainda mais a

qualidade de vida dos usuários, mas marcado pelo surgimento de vários

problemas de farmacodependência destes medicamentos (ROCHA, 1993).

Existe uma diferença entre o termo opióides e opiáceos. Opióides são

drogas naturais e sintéticas, com propriedades semelhantes a da morfina.

Opiáceos são substâncias alcalóides derivadas do ópio, como a morfina e as

semi-sintéticas, como a codeína (ROCHA, 1993).

A Morfina

A morfina é um alcalóide do ópio que já foi muito usado como analgésico

para aliviar dores. A morfina é conhecida pelos dependentes químicos como

white stuff, M, hard stuff, morpho, unkie e Miss Emma, normalmente utilizada

quando a heroína está em falta (ROCHA, 1993).

A euforia pode ser obtida com pequenas doses e a tolerância se forma rapidamente. Apresenta-se em pó, que é diluído e injetado, sendo dez a vinte vezes mais forte do que o ópio ingerido (ROCHA, 1993, p.13).

B História da Heroína

A heroína é uma droga derivada do ópio, cuja substância é extraída da

papoula. O ópio possui propriedades calmantes, soníferas e anestésicas sendo

que ainda hoje é muito utilizada para fins medicinais (ZACKON, 1988).

A heroína foi sintetizada em 1898, a partir da morfina, e era indicada

para aliviar o vício por esta última. A empresa de medicamentos Bayer foi

quem deu início à sua produção industrial dando-lhe o nome de Heroína . A

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substância começou a constituir xaropes para tosse entre outros

medicamentos, e, nessa época, seus efeitos negativos ainda não eram levados

em consideração (ZACKON, 1988).

A papoula é uma planta originária da região mediterrânea oriental. Há

mais de 5000 anos, sumérios, assírios, babilônios, egípcios, gregos, turcos,

árabes, indianos e chineses já utilizavam o ópio para fins medicinais. Na

Europa, o uso era restrito devido à influência da Igreja Católica medieval que

controlava o uso dos medicamentos (ZACKON, 1988).

No começo do século XVI, Paracelso, médico e alquimista suíço, elaborou um concentrado sulco de papoula, conhecido como láudano . Paracelso afirmava que a droga tinha o poder de curar

muitas doenças, sendo capaz até de rejuvenescer. As teorias de Paracelso e de seus seguidores acabaram por disseminar o uso do láudano em todo mundo ocidental, tornando-o popular (ZACKON, 1988, p.15).

B.b Efeitos da Heroína

Após a heroína entrar em contato com a corrente sangüínea, pela ação

do fígado ela se transformará em morfina produzindo efeito analgésico. A

administração endovenosa da droga produz efeito mais intenso e rápido, razão

pela qual o indivíduo pode vir a sentir uma agradável sensação física,

iniciando-se no abdome e espalhando-se por todo corpo. A sensação de prazer

físico é curta e precedida de relativo bem-estar, letargia e sono. A heroína não

provoca alucinações ou alterações da percepção, mas dependendo da

quantidade administrada pode ocorrer a morte (ZACKON, 1988).

Os usuários regulares de heroína afirmam que a droga os faz sentirem-se em paz , sem dor , sem sofrimento , livres de quaisquer problemas e preocupações , mas em geral perdem a capacidade de concentrar o raciocínio e de manter fixa a atenção (ZACKON, 1988, p.49 e 50).

A heroína ainda produz reações alérgicas que podem gerar feridas

cutâneas, já que os usuários coçam-se muito após a utilização. A primeira

aplicação da droga ainda pode provocar vômitos, vertigem, perda da orientação

e mal-estar (ZACKON, 1988).

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A principal característica dos opiáceos é que logo os usuários adquirem

tolerância e passam a administrar quantidades cada vez maiores da substância

(ZACKON, 1988).

Como a heroína é um tipo de tranqüilizante, desacelera muitas funções

fisiológicas normais do sistema nervoso central, como ritmo da pulsação e

movimentos respiratórios, causando queda da pressão arterial. A heroína ainda

pode deprimir a atividade da musculatura involuntária, tais como diafragma e

os músculos responsáveis pelos movimentos peristálticos intestinais. A pessoa

que está sob o efeito da droga ainda tem déficit de coordenação psicomotora e

diminuição dos reflexos (ZACKON, 1988).

Nos anos 70 descobriu-se que as moléculas dos opiáceos afetam os terminais receptores dos neurônios, mas os cientistas ainda queriam saber de que forma as moléculas dos opiáceos se encaixam nesses terminais, como chaves em fechaduras (ZACKON, 1988, p.50).

1.1.3 Drogas que atuam predominantemente sobre a percepção

1.1.3.2 Canabióides

Nos tempos coloniais a maconha foi introduzida no Brasil, juntamente

com o tráfico de negros. Passou a ser cultivada nos estados do nordeste e

usada como substância tóxica. Foi proibida a plantação de maconha e

considerada entorpecente a partir de 1937 (BONIFÁCIO, 2000).

Nos anos 50, a maconha era considerada costume de pobre . Hoje, o

uso dessa droga alcançou todas as idades e classes sociais, tanto que alguns

defendem a legalização da maconha, sob o argumento de não ser prejudicial.

Contrariamente, pesquisas comprovam que a maconha é prejudicial e seu uso

constante provoca dependência (COHEN, 1988).

Antigamente a maconha era usada por antigos persas, gregos, romanos,

indianos e assírios para controle de espasmos musculares no tratamento da

indigestão e controle da dor. Também usavam-na, como incenso ou defumador

de ambiente (COHEN, 1988).

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A Cannabis sativa cresce em várias regiões do mundo. A substância

delta-9 tetrahidrocanabinol, ou THC, é um dos 60 canabinóides presentes e o

principal responsável por seus efeitos psicoativos. É a concentração do THC

que determina a potência dos efeitos, sendo na flor da planta que se encontra a

maior concentração de THC. Essa concentração de THC também varia entre

as três formas mais comuns da Cannabis sativa: a maconha, o haxixe e o óleo

de hash. A maconha é a forma mais utilizada no Brasil, conhecida também

como marijuana, erva, fumo, back, etc (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

O I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado em 2001, indicou que há cerca de 1% dependentes de maconha nas 107 cidades pesquisadas, o que corresponde a uma população estimada de 451.000 pessoas, sendo 5 vezes mais prevalente no sexo masculino(FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004, p. 109).

O princípio ativo puro da maconha - tetrahidrocanabinol (THC) - pode ser

útil no alívio de náuseas e vômitos e na estimulação do apetite. Porém, existem

outros medicamentos que podem ser utilizados no alívio, além de serem mais

seguros e eficazes, tirando a razão para o uso de uma droga que pode causar

dependência (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

Fumar é o método mais comum de utilização da droga, em que o

produto final tem aspecto de cigarro e é conhecido como baseado . O THC é

absorvido dos pulmões para a corrente sangüínea, onde atinge o nível mais

alto de concentração dez minutos após ter sido inalado (FIGLIE; BORDIN;

LARANJEIRA, 2004).

1.1.3.1.1 Efeitos e Dependência da Maconha

Entre os efeitos psicoativos encontramos a sensação de barato que os

usuários experimentam. Trata-se de um estado alterado de consciência

caracterizado por mudanças emocionais, como euforia moderada e

relaxamento; alterações perceptuais, como distorção do tempo; e intensificação

das experiências sensoriais simples, como comer, assistir a filmes, ouvir

música e ter relações sexuais (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

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Nem todos os efeitos da cannabis são agradáveis. Ansiedade, disforia,

pânico e paranóia são os efeitos indesejáveis mais comumente relatados.

Sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, também podem ocorrer com

o uso de altas doses (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

Há um número razoável de casos que se referem a uma psicose de

cannabis , em que os indivíduos desenvolvem sintomas psicóticos após o uso.

Os mais comuns são: confusão, alucinações, delírios, labilidade emocional,

amnésia, desorientação, despersonalização e sintomas paranóides. São

reações raras e podem ocorrer após uso eventual (FIGLIE; BORDIN;

LARANJEIRA, 2004).

Existem poucas evidências de que o uso de cannabis provoque uma psicose que persista além do período de intoxicação. Isso se deve à relativa raridade desse fenômeno e à dificuldade de distinguir esse tipo de psicose da esquizofrenia e de quadros afetivos que ocorrem em usuários de cannabis. Existe uma associação entre o uso da cannabis e a esquizofrenia: o uso crônico da cannabis pode precipitar a esquizofrenia em indivíduos vulneráveis; os portadores de esquizofrenia podem fazer o uso de cannabis como uma forma de medicar os sintomas desagradáveis associados ou os efeitos colaterais dos neurolépticos utilizados no tratamento, tais como depressão, ansiedade, letargia e anedonia; o uso de cannabis pode exacerbar os sintomas da esquizofrenia (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004, p. 109).

Existe uma polêmica entre a relação do consumo da maconha e o início

do uso de outras drogas ilícitas. Pesquisas indicam o desenvolvimento de uma

seqüência iniciada pelos comportamentos delinqüentes que progridem para o

uso descontrolado de drogas lícitas como álcool e tabaco, sendo finalizado com

o uso de drogas pesadas. A melhor explicação não é o efeito psicoativo que a

maconha fornece e sim fatores sociais aos quais qualquer usuário de drogas

ilícitas fica exposto (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

Existem evidências de que o uso crônico de maconha produza

deficiências leves nas funções cognitivas de memória podendo afetar tarefas

do dia-a-dia. Não se sabe se tais deficiências são reversíveis (FIGLIE;

BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

Há muita preocupação quanto aos efeitos da maconha no

comportamento e na motivação. Uma síndrome motivacional foi identificada em

1971 por alguns psiquiatras, a qual se caracteriza por falta de motivação e

redução da produtividade do usuário e tais comportamentos estão mais

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relacionados à intoxicação do que às mudanças de personalidade ou do

funcionamento cerebral, tendendo a melhorar com a interrupção do uso e

aconselhamento (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

Estudos apontam sujeitos que haviam cessado bruscamente o uso de

doses diárias de cannabis e relataram certo desassossego interno , horas

após a última dose de THC. Irritabilidade, calores repentinos, insônia, suores,

inquietude, coriza, soluços, diminuição do apetite, náuseas, dores musculares,

ansiedade, sensação de frio, diarréia, sensibilidade à luz, vontade intensa de

usar a droga, depressão, perda de peso e tremores discretos podem

caracterizar a síndrome de abstinência (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA,

2004).

A toxidade aguda da maconha é extremamente baixa. Não existe caso

de morte por intoxicação confirmado na literatura médica mundial, ao passo

que complicações agudas são relatadas com freqüência (FIGLIE; BORDIN;

LARANJEIRA, 2004).

Quadros psicóticos agudos têm sido descritos tanto em usuários

crônicos como em principiantes, e os sinais e sintomas freqüentes são

inquietação motora, insônia, fuga de idéias e leves alterações de pensamento

(FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

O reasseguramento psicológico e a orientação para a realidade, feita por

amigos e familiares, costumam ser suficientes. Os benzodiazepínicos podem

ser úteis nos quadros ansiosos agudos, assim como nos psicóticos, se

associados a algum neuroléptico (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004).

1.1.3.3 Alucinógenos

Os alucinógenos formam um grupo complexo de substâncias, não-

causadoras de dependência, embora muitos usuários usem-no habitualmente.

As alucinações são causadas por substâncias obtidas da síntese ou extração

de plantas. Essas substâncias são: LSD-25, mescalina, harmina, DOM, DMP,

MDA, psilocibina, DMT, DMA (RAMOS apud SILVA, 2006).

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Segundo Ramos (apud Silva, 2006), LSD-25 é a dietilamida do ácido

lisérgico. Essa droga, considerada o protótipo do grupo, foi sintetizada a partir

de derivados do esporão do centeio (ergot). Seus efeitos alucinogênicos foram

descobertos casualmente pelo químico Hoffman, quando ingeriu diminuta

quantidade e descreveu: Ficando de olhos fechados, figuras fantásticas, de

extraordinária plasticidade e cor intensa, pareciam assomar em minha

direção... (RAMOS apud SILVA, 2006).

Seu uso é feito em cápsulas, comprimidos e ampolas, podendo ser

facilmente dissimulado em bolachas, selos, cartões, lenços ou cubinhos de

açúcar, por serem inodoros e insípidos (RAMOS apud SILVA, 2006).

1.1.3.3 Inalantes ou Solventes

Substâncias como óxido nitroso, éter etílico, solventes industriais,

anticongelantes e colas têm sido utilizadas em aerosol e inaladas em saco

plástico (prática mais comum). Os indivíduos dedicados ao seu uso estão

predispostos ao abuso de outros tóxicos e ligados a grupos marginais,

tornando difícil o enquadramento ao conceito de vício, toxicomania ou

dependência (RAMOS apud SILVA, 2006).

1.2 As drogas: seu destino no presente e futuro

Segundo dados da UNODC as drogas ilícitas são responsáveis hoje por

uma mínima parcela da mortalidade da população mundial. Já as drogas

lícitas, como o álcool e o tabaco apresentam alta taxa de mortalidade.

Conter o problema das drogas ilícitas em uma pequena parcela da

população, com idade entre 15 e 64 anos de idade, parece uma realização

mais importante quando é considerada sob a perspectivas de outras 3

estimativas (UNODC, 2008):

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Primeiro, o uso considerado problemático de drogas (dependência química) tem sido restrito a uma parcela mínima da população (0,6%) em idade entre 15 a 64 anos. Segundo, o consumo de tabaco

outra droga psicoativa que também causa dependência química e

que é amplamente vendida em mercados

afeta até 25% da

população adulta do mundo. Terceiro, as estatísticas de mortalidade mostram que drogas ilícitas correspondem a uma parcela pequena em relação àquelas vidas que o tabaco tomou, em média 200 mil mortes por ano causadas por drogas ilícitas comparadas a uma média de 5 milhões de mortes ao ano causadas pelo tabaco (UNODC, 2008, p. 5).

No Brasil, seria difícil ocorrer alguma mudança principalmente no

tratamento da maconha. Caso houvesse uma legalização da droga, haveria

dois modelos possíveis: o primeiro seria o monopólio estatal, no caso o

governo plantando e vendendo as drogas para que pudesse ter controle sobre

tais; a outra possibilidade, seria o estabelecimento de regras também pelo

governo, tais como composição química exigida, proibição para menores,

proibição do fumo combinado com a direção de veículos, cobrança de altas

taxas (MICHELINI, 2002).

Este ano, foi validada a lei onde o condutor que for flagrado dirigindo sob

a influência de álcool ou de qualquer substância psicoativa terá a Carteira

Nacional de Habilitação (CNH) suspensa por doze meses, e ainda receberá

multa de R$ 957,70, além da retenção do veículo até a apresentação de

condutor habilitado e o recolhimento do documento de habilitação (DETRAN,

2008).

1.3 A violência e o tráfico

Nos grandes centros urbanos, não só no Brasil, mas em todo o mundo, o

desemprego, a educação precária, a delinqüência, dentre outros fatores geram

conseqüentemente a violência, devido à contradição existente entre o

desenvolvimento tecnológico e a desigualdade social (FEFFERMANN, 2007).

O tráfico de drogas é uma atividade imprescindível, já que inserido em

uma espécie de comércio e finanças internacionais (FEFFERMANN, 2007). Na

sociedade moderna, o jovem ocupa um espaço problemático e some-se ainda

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o fato de a sociedade encarar tudo que emerge do mundo dos jovens como

impertinência, delinqüência ou mesmo doença (FEFFERMANN, 2007).

O deslocamento da produção social da delinqüência para a hereditariedade, para a família e para a estrutura psíquica oculta suas origens históricas e sociopolíticas. Condenam-se essa prática e seus agentes, antes de se tentar entender o que acontece para que esses jovens, inseridos num contexto de perda de valores, de frustrações, de falta de expectativas, de violência, se voltem para a droga como fonte do prazer que lhes é negado no dia-a-dia. (FEFFERMANN, 2007).

No Brasil a miséria e a falta de oportunidades tornam-se fatores

responsáveis pelo tráfico de drogas, e pode-se observar que a violência se

espalha rapidamente nesse meio. Os jovens de baixa renda, alguma maneira

envolvidos com o trafico, são rotulados de preguiçosos, perigosos e intratáveis

(FEFFERMANN, 2007).

Os estereótipos desfiguram a realidade, encobrindo o que gera a desigualdade, e servindo, assim, como justificativa para a dominação. Dessa forma, a situação de opressão é naturalizada. Os estereótipos delimitam campos, são categorias que impedem nossa identificação com eles. (FEFFERMANN, 2007).

Jovens que passam por tal situação, costumam olhar a sociedade com

os mesmos olhos pelos quais são vistos: discriminam, classificam, rotulam e

excluem. Os jovens, assim, agrupam-se na busca de uma identidade. Mas, se

num primeiro momento, essa é a finalidade, percebe-se que muitos desses

grupos transformam-se em grupos que têm como propósito, implícito ou

explícito, a manutenção das condições sociais (FEFFERMANN, 2007).

Julgados como possuidores de um caráter irracional, os jovens

discriminados tentam demonstrar para a sociedade que a responsável de toda

essa irracionalidade é ela mesma. O preconceito passa a ser uma das

grandes conseqüências. Pode-se observar que, o tráfico é uma atividade

extremamente arriscada, começando pela ilegalidade. A perspectiva de morte

faz desses jovens reféns de uma sobrevivência sofrida e angustiada.

(FEFFERMANN, 2007).

De certa forma estes jovens possuem o mesmo pensamento de uma

sociedade ávida pelo consumo, já que se demonstram atraídos por dinheiro,

astúcia, armas, carros e competição, principalmente.

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A falta de perspectiva quanto ao futuro desta sociedade que contribuiu para a sua posição de marginal é uma das razões que o motiva a ter um lugar, no qual pode ser respeitado, e obter dinheiro; nas relações do tráfico, o jovem busca a aquisição de bens reconhecidos e socialmente valorizados. (FEFFERMANN, 2007).

Estes indivíduos são de uma forma geral, dependentes do crack, que

tem como principal característica impulsionar o usuário a tomar qualquer

atitude, por mais arriscada que seja para obter a droga. A polícia muitas vezes

cumpre seu papel de forma cruel. Neste passo, alguns jovens descontam em

outros a agressividade em troca da humilhação sofrida (FEFFERMANN, 2007).

O sentimento de humilhação ainda pode gerar revoltas com o sistema

social, impulsionando os jovens à prática de atos de crueldade. A violência, no

tráfico de drogas, institui-se como um dos fundamentos para sua manutenção e

expansão. (FEFFERMANN, 2007).

Devemos nos considerar em estado de total alerta, já que tais indivíduos

sentem-se excluídos e criam mecanismos desconhecidos para lidar com a

discriminação (FEFFERMANN, 2007).

Ou seja, diante da recusa do reconhecimento simbólico desses jovens, diante do desprezo e da indiferença a que estão submetidos (mais acentuados ainda perante as desigualdades sociais do cenário brasileiro), espera-se que a instância da lei se faça valer pela força bruta. (FEFFERMANN, 2007).

Em síntese, a violência seria a resposta encontrada pelos jovens ligados

ao tráfico de drogas, em devolver à sociedade tudo aquilo que a mesma lhe

proporciona (FEFFERMANN, 2007).

1.4 Saúde e doença dos dependentes

Existem algumas diferenças entre dependência física e vício e

dependência psíquica e vício. A dependência física é desencadeia no indivíduo

a continuidade ao uso de uma droga, no sentido de que o usuário procura

evitar a crise de abstinência. Este fator não é indubitavelmente o determinante

do vício. Alguns medicamentos como os neurolépticos, por exemplo, causam

dependência física, porém, sem induzir abuso ou vício. A dependência psíquica

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é a verdadeira determinante para o vício. As sensações causadas pela

utilização da droga satisfazem certas necessidades, induzindo o indivíduo a

usá-la mais vezes (RAMOS apud SILVA, 2006).

Por outro lado, está bem demonstrado que os arcabouços da personalidade e psíquicos do usuário têm grande influência na instalação do vício: enquanto alguns sentem pelas drogas euforizantes indiferença tranqüila, outros têm por elas atração especial (RAMOS apud SILVA, 2006)., p. 205)

Cada droga causa um efeito diferente no organismo, por possuírem

mecanismos de ação também diferentes. A cocaína atua no SNC, diminuindo a

reentrada de dopamina, já que se liga aos locais transportadores aumentando

o contato do neurotransmissor com receptores sinápticos. Sabe-se também

que a cocaína interage com sistemas neuroquímicos que podem causar efeitos

comportamentais. As anfetaminas diferentemente da cocaína, causam

liberação e inibem reentrada nas terminações nervosas de dopamina de

síntese recente entre outros neurotransmissores, o que pode explicar seus

efeitos de toxidade além dos efeitos farmacológicos (RAMOS apud SILVA,

2006).

Os efeitos da cafeína são tão fisiológicos, que são imperceptíveis.

Estudos demonstram que uma xícara e meia de café forte levam a um aumento

do rendimento físico e intelectual. Doses mais altas podem causar sinais

perceptíveis de confusão mental e indução de erros em tarefas intelectuais.

Pode-se observar ainda agitação, nervosismo, sensação de angústia e até

delírio (RAMOS apud SILVA, 2006).

O álcool etílico pode causar danos a diversos sistemas e dentre eles os

mais importantes a serem citados são o sistema nervoso e o hepático (fígado).

Níveis altamente elevados de etanol são responsáveis por causar lesões no

sistema nervoso, seja através da toxidade ou ainda pelas deficiências

vitamínicas e nutricionais que seu uso crônico pode acarretar. No sistema

hepático a lesão mais comum seria a esteatose. Existe, ainda, a hepatite

alcoólica que pode se agravar e levar a uma cirrose (RAMOS apud SILVA,

2006).

A morfina e a heroína são responsáveis pelo vício mais profundo que existe, podendo levar o indivíduo ao grau máximo de dependência e escravidão absoluta. Além da dependência psíquica profunda, a dependência física pode ser tal que o viciado persiste no uso da

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droga por temer o quadro dramático da crise de abstinência [...] (RAMOS apud SILVA 2006 p.207)

A nicotina estimula o SNC através de sua absorção nos pulmões, causa

dependência profunda, com o uso continuado, aparece tolerância e efeitos

como náusea e vômito. As doenças mais claramente relacionadas ao

tabagismo são as das vias respiratórias: 80% dos casos de bronquite e

enfisema e entre 85 e 90% dos de câncer de pulmão são causados pelo tabaco

(FERREIRA, 2006).

Os efeitos tóxicos e farmacológicos da maconha são muitos. Observa-se

taquicardia, aumento ou queda brusca de pressão arterial, depressão do

sistema imunológico além de bronquite e asma causadas pelo uso prolongado

(RAMOS apud SILVA, 2006).

1.5 As relações na clínica da terapia ocupacional

O método de Terapia Ocupacional Dinâmica tem como característica a

observação, elaboração e intervenção sobre a dinâmica que se estabelece

entre realidade externa e interna, numa relação composta pelos elementos

terapeuta paciente atividades (BENETTON apud PESSUTO et al., 2004, p.

06).

No tratamento de Terapia Ocupacional, quando o paciente é colocado

frente a um material a ser transformado, o aspecto essencial é um pensar

específico sobre um fazer concreto (OSTROWER apud PESSUTO ET al.,

2004, p. 17).

As atividades, enquanto termo médio da relação triádica no contexto do setting terapêutico, possibilitam ao paciente uma ampliação do seu conhecimento e contato com o mundo, ajudando-o a fazer escolhas, explorar técnicas e materiais diferentes, falar da sua história e transpor para seu cotidiano experiências vivenciadas no setting, processo que possibilita a experimentação de um novo modo de ser, fazer e estar social (PESSUTO et al., 2004, p. 25).

1.6 Tratamentos

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36

1.6.1 Diagnóstico

Durante anos, a dependência de álcool e drogas era vista como um

desvio de caráter, passando nesse século a ser considerada uma doença,

avaliada não apenas sob a ótica da moral, mas também a da Medicina

(FORMIGONI; CASTEL, 1999).

Uma avaliação adequada e abrangente é fundamental tanto para o

desenvolvimento do tratamento apropriado, como na pesquisa de problemas

relacionados ao uso de substâncias e da efetividade das intervenções. No

entanto, a utilização de escalas pode ter objetivos diferentes (FORMIGONI;

CASTEL, 1999).

Todas substâncias consideradas pelo DSM-IV-TR na categoria de

transtornos relacionados a substâncias associadas a estado patológico de

intoxicação, variam quanto ao estado patológico estar relacionado à

abstinência ou persistir após sua eliminação (SADOCK; SADOCK, 2007).

Os pacientes que experimentam intoxicação ou abstinência de

substâncias acompanhadas de sintomas psiquiátricos, mas que não satisfazem

os critérios para padrão sindrômico de sintoma específico recebem o

diagnóstico de intoxicação por substância, ou abstinência de substância,

possivelmente em associação com dependência ou abuso (SADOCK;

SADOCK, 2007).

Em 1954, a OMS concluiu que o termo adição não era científico e

recomendou sua substituição pelo termo dependência de drogas.

O diagnóstico não só do uso de álcool assim como a avaliação rápida e

eficiente dos problemas associados ao uso de álcool e outras drogas por

adolescentes pode ser feita pelo DUSI (Drug Use Screening Inventory) entre

outros. No Brasil, ele foi adaptado e validado por pesquisadoras da

Universidade Federal de São Paulo, Denise De Micheli e Maira Lucia Formigoni

(OBID, 2007).

1.6.2 Tratamento medicamentoso

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37

Há dois fatos que precisam ser considerados: nas últimas décadas

houve um incontestável avanço das ciências que estudam os fenômenos

mentais, com descobertas de vários psicofármacos e comprovação da eficácia

de inúmeras técnicas terapêuticas psico-sociais; outrossim, quando se pensa

no tratamento das dependências químicas é necessário e útil estabelecer seus

princípios gerais, podendo ao mesmo tempo, afastar preconceitos

marginalizantes, proporcionar eficácia baseada em evidências científicas e

obter avanços na assistência àqueles que sofrem com este problema. Não há

um tratamento único que seja apropriado. É importante que haja uma

combinação adequada entre tipo de ambiente, intervenções e serviços para

cada problema e necessidade do indivíduo, contribuindo para o sucesso do

tratamento e para o retorno a uma vida produtiva na família, trabalho e

sociedade (OBID, 2007).

Para ser efetivo, o tratamento deve ser dirigido ao uso de drogas, mas

também a qualquer outro problema médico, psicológico, social, profissional e

jurídico da pessoa.

No Brasil, as seguintes medicações podem ser utilizadas na prática

clínica como adjuvantes no tratamento específico da dependência de

substâncias psicoativas:

A para álcool: dissulfiram, naltrexone e acamprosato

B para nicotina: bupropiona e reposição de nicotina

C para opióides: naltrexone e clinidina. A metadona (um opióide

sintético, quem tem seu uso preconizado em nosso meio como

analgésico), embora efetiva como fármaco de reposição em

dependência à opióides, não tem seu uso liberado oficialmente

para este fim no Brasil (OBID, 2007).

No caso de indivíduos com problemas de dependência de drogas que ao

mesmo tempo apresentam outros transtornos mentais, devem-se tratar os dois

problemas concomitantemente. Os pacientes que apresentam as duas

condições devem ser avaliados e tratados conforme ambos os transtornos

(OBID, 2007).

A desintoxicação é apenas a primeira etapa do tratamento para a

dependência e, por si só, pouco faz para modificar o uso de drogas em longo

prazo.

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O tratamento pode ser facilitado pela forte motivação do cliente,

entretanto, medidas compulsórias ou recompensas dentro da família, do

ambiente de trabalho ou do próprio sistema judiciário podem aumentar

significativamente a porcentagem de indivíduos que entram e se mantém no

processo, assim como o sucesso do tratamento da dependência de drogas

(OBID, 2007).

O dissulfiram é utilizado para se garantir a abstinência no tratamento da dependência de álcool. Seu principal efeito é produzir uma reação rápida e desagradável na pessoa que ingere mesmo uma pequena quantidade de álcool quando tomado o dissulfiram. Devido ao risco de reações graves e mesmo fatais da combinação álcool-dissufiram, esse tratamento é utilizado com menos freqüência hoje em dia do que o foi no passado (Sadock; Sadock, 2007, p. 1113).

1.6.3 Estratégias de tratamento

Os usuários de substâncias psicoativas atualmente podem se beneficiar

de várias abordagens terapêuticas, recebendo assistência em clínicas

particulares, ambulatórios de saúde mental, unidades básicas de saúde e

centros de atenção psicossocial.

De modo geral tanto os pacientes como seus familiares devem ser

assistidos nestes programas, recebendo orientações e esclarecimentos e caso

haja indicação, o familiar poderá ser tomado em tratamento individual ou

grupal, dependendo de suas necessidades. (SILVA, 2003, p.153)

Quanto à escolha do programa de tratamento, os pacientes menos

graves são psiquicamente menos comprometidos e teoricamente se

beneficiariam de psicoterapia compreensiva voltada para o insight . Os

pacientes crônicos freqüentemente manifestam uma deterioração intelectual e

outros graves prejuízos físicos e sociais. Um acompanhamento clínico e um

trabalho conjunto com uma equipe multiprofissional são necessárias.

O tratamento preconizado para esses pacientes caracteriza-se por se

desenvolver num nível mais objetivo e pela determinação no início das metas a

serem cumpridas. A estratégia desta abordagem reside na tentativa de

mobilizar usuário a utilizar seus próprios processos naturais de cura. São

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estimulados a procurarem outras formas de ajuda existentes na própria

comunidade, bem como substitutos para sua dependência, são os casos dês

Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, novos relacionamentos sociais,

trabalho, religião, etc.

1.6.4 A importância do tratamento grupal

1.6.4.1 Histórico

A história da terapia grupal começou nos Estados Unidos onde, em

1905, organizaram-se cursos para tratamento a tuberculosos. A partir de 1920,

apareceram trabalhos em grupos para diversas doenças físicas e/ou mentais.

Na década de 40, surgiu a expressão dinâmica de grupo

e a seguir a

chamada psicoterapia de grupo . Ficou então proposto o grupo psicológico,

onde a pluralidade de pessoas, em um dado momento, estabelece interação

precisa e sistemática entre si, fazendo do fenômeno grupal seu campo de

investigação e de operações terapêuticas.

Esse método mostrou excelentes resultados com relação a recuperação

física dos pacientes, pois compõe uma estrutura familiar-fraternal e exerce o

que hoje conhecemos por função continente do grupo.

O ser humano é gregário por natureza e somente existe, ou subsiste, em função de seus inter-relacionamentos grupais. Sempre, desde o nascimento, o indivíduo participa de diferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social. Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um conjunto de grupos constitui uma comunidade e um conjunto interativo das comunidades configura uma sociedade (ZIMERMAN, 1997, p. 26).

A psicologia grupal é de extrema importância, pois sabe-se que todo

indivíduo passa a maior parte do tempo de sua vida convivendo com grupos

distintos.

A essência de qualquer indivíduo consiste no fato dele ser portador de

um conjunto de vários sistemas, tais como: desejos, valores, capacidades e,

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sobretudo, necessidades básicas na qual se destaca a dependência de ser

reconhecido por pessoas nas quais ele convive.

[...] É legítimo afirmar que todo indivíduo é um grupo (na medida em que, no seu mundo interno, um grupo de personagens introjetados, como os pais, irmãos, etc., convive e interage entre si), da mesma maneira como todo grupo pode comportar-se como uma individualidade [...] (ZIMERMAN, 1997, p. 27).

Existem grupos de diversos tipos, e uma primeira subdivisão é a que

diferencia os grandes grupos dos pequenos. Os microgrupos, como no caso de

um grupo terapêutico, costumam reproduzir, as características sócio-

econômico-políticas e dinâmica psicológica dos grandes grupos.

Por agrupamento entendemos um conjunto de pessoas que convive partilhando de um mesmo espaço e que guardam entre si uma certa valência de inter-relacionamento e uma potencialidade em virem a se constituir como um grupo propriamente dito (ZIMERMAN, 1997, p. 27).

Um grupo possui leis e mecanismos próprios e específicos, onde os

indivíduos se reúnem para discutir assuntos de interesse em comum. O

tamanho do grupo não pode exceder o limite que ponha em risco a

comunicação.

O grupo é uma unidade que se comporta como uma totalidade, e vice-

versa, de modo que, tão importante quanto o fato de ele se organizar a serviço

de seus membros, é também a recíproca disso. (ZIMERMAN, 1997).

Em qualquer grupo constituído se forma um campo grupal dinâmico o

qual é composto por vários fenômenos e elementos do psiquismo. Sendo

assim, o campo grupal representa um enorme potencial energético psíquico.

O campo grupal se constitui como uma galeria de espelhos, onde cada um pode refletir e ser refletido nos, e pelos outros. Particularmente nos grupos psicoterapêuticos, essa oportunidade de encontro do self de um indivíduo com o de outros configura uma possibilidade de discriminar, afirmar e consolidar a própria identidade (ZIMERMAN, 1997, p. 30).

O recurso grupoterápico começou com J. Pratt, que em 1905 em uma

enfermaria para tuberculosos, criou o método de classes coletivas , o qual

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consistia em uma aula ministrada por Pratt, sobre higiene e os problemas da

tuberculose, seguidas pela livre participação dos pacientes.

1.7 Classificação geral dos grupos

A essência dos fenômenos grupais é a mesma em qualquer tipo de

grupo, e o que os diferencia é a finalidade para a qual eles foram criados. Em

algumas circunstâncias, os fenômenos psíquicos de um campo grupal estão

em estado latente, subjacente, e, em outras situações, é inerente à natureza do

grupo em questão haja a emergência de ansiedades, resistências,

transferências, etc., e que as mesmas sejam interpretadas e trabalhadas

(ZIMERMAN, 1997).

O leque de aplicações da dinâmica grupal é amplo, possibilitando

arranjos combinatórios criativos entre seus recursos técnicos e táticos

(ZIMERMAN, 1997).

A classificação dos grupos fundamentada no critério das finalidades a

que se destina o grupo, parte de uma divisão genérica nos dois seguintes

grandes ramos: operativos e psicoterápicos (ZIMERMAN, 1997).

1.7.1 Grupos Operativos

A conceituação da expressão grupo operativo é tão abrangente quanto

à extensa gama de suas aplicações práticas, que muitos preferem considerá-lo

sendo, genericamente, um continente de todos os demais grupos, inclusive os

terapêuticos, mesmo os especificamente psicanalíticos (ZIMERMAN, 1997).

Deve ser enfatizado que a atividade que a atividade do coordenador

dos grupos operativos deve ficar centralizada unicamente na tarefa

proposta, sendo que, somente nas situações em que os fatores

inconscientes inter-relacionais ameaçarem a integração ou evolução

exitosa do grupo, é que caberão eventuais intervenções de orem

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interpretativa, por vezes dirigida ao plano do inconsciente

(ZIMERMAN, 1997, p. 76).

Os grupos operativos propriamente ditos cobrem os seguintes quatro

campos: ensino-aprendizagem, institucionais, comunitários e terapêuticos

(ZIMERMAN, 1997).

1.7.2 Grupos Psicoterápicos

A terminologia de grupos psicoterápicos deve ser reservada para formas

de psicoterapia que se destinam prioritariamente à aquisição de insight,

notadamente, dos aspectos inconscientes dos indivíduos e da totalidade

grupal.

Não há um específico e acabado corpo teórico-técnico que dê uma sólida fundamentação a todas as formas de grupoterapias. Enquanto isso, elas vão se utilizando de outras fontes, das quais merecem um registro à parte as quatro a seguir indicadas: a psicodramática, a da teoria sistêmica, a da corrente cognitivo-comportamentalista e, naturalmente, a de inspiração psicanalítica (ZIMERMAN, 1997, p. 78).

A abordagem grupal em alcoolismo e drogadição traz consigo um

aspecto valioso. Na medida em que vêem suas dificuldades relativas à bebida

ou ao uso de drogas psicoativas manifestadas pelos outros companheiros do

grupo, as pessoas se acalmam, diminuindo a angústia e a culpa. A situação

grupal também é valiosa no início do tratamento quando os mecanismos de

defesa típicos desses usuários são intensos, e os próprios companheiros do

grupo, melhor do que o terapeuta, se incumbem de desfazê-lo (NOTO, 2000).

O tratamento grupal é um meio de tornar possível o atendimento de um

maior número de dependentes, situação comumente encontrada nos

ambulatórios públicos, CAPS/AD, onde a demanda é sempre grande

(AMARANTE, 2007).

1.8 Prognóstico

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As drogas de abuso promovem alterações em algumas partes cerebrais,

dentre elas destacando-se o circuito de recompensa, predominantemente

dopaminérgico (UNODC, 2008).

Estas alterações não se extinguem rapidamente, assim o indivíduo

passa a possuir fissura por consumir a droga por muitos anos (MALBERGIER,

2006).

O consumo de algumas drogas segundo o UNODC tem aumentado

progressivamente. O aumento mais importante no consumo de maconha na

América Latina foi registrado no maior país da região, o Brasil, o que reflete

aumento na disponibilidade de derivados de cannabis do vizinho Paraguai. A

prevalência anual do uso de maconha aumentou de 1% em 2001 para 2,6% em

2005 (UNODC, 2008).

De acordo com pesquisas domiciliares [CEBRID 2005], o maior mercado de opiáceosna América do Sul é o Brasil, com cerca de 600 mil usuários, ou 0,5% da populaçãoentre 12-65 anos. A maior parte dessas pessoas faz uso de opiáceos sintéticos. A prevalência anual de heroína é baixa, menor que 0,05% da população entre 12-65 anos (UNODC, 2008, p. 56).

A tendência mundial do uso de drogas está estável pelo quarto ano

consecutivo. Sabe-se que quase 5% da população utilizaram algum tipo de

droga nos últimos 12 meses. A dependência de drogas permanece entre 0,6%

da população mundial entre 15 e 64 anos de idade (UNODC, 2008).

Segundo Sadock & Sadock (2007) alguns sinais prognósticos são

favoráveis: o primeiro é a ausência de transtornos da personalidade anti-social

preexistente e do diagnóstico de abuso ou dependência de outras substâncias;

em segundo, evidências de estabilidade geral na vida; e terceiro, se o cliente

permanecer por todo o curso da reabilitação inicial, as chances de manter a

abstinência são boas, onde a combinação destes atributos prevê uma chance

de pelo menos 60% de ter um ou mais anos de abstinência.

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CAPÍTULO II

A CLÍNICA DA TERAPIA OCUPACIONAL

2 O PAPEL DO TERAPEUTA OCUPACIONAL

A definição de Terapia Ocupacional, para Benetton (1994), é a arte de

aplicar conhecimentos científicos e empíricos e certas habilidades específicas,

decorrente do uso de atividades, à criação de estruturas, dispositivos e

processos que são utilizados para converter recursos físicos, psicológicos e

sociais em formas adequadas à prevenção, manutenção e tratamento em

Saúde, Educação, na área Social e outras correlatas.

É o campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia das pessoas que, por razões ligadas a problemática específica, físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e/ou sociais, apresentam, temporariamente ou definitivamente, dificuldade na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso da atividade, elemento centralizador e orientador, na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico (Universidade de São Paulo USP, p.70).

Segundo Benetton (1994), os elementos que caracterizam essa terapia

ocupacional são as atividades e a entrada do sujeito no sistema terapêutico. É

justamente o uso de atividades pelo sujeito alvo da intervenção que define uma

atuação específica para uma área de interação localizada entre o físico e o

psíquico, entre o objetivo e o subjetivo, entre o material e o imaterial.

2.1 A importância das atividades

As atividades são muito importantes para o parcial direcionamento do

tratamento, pois é a partir delas que se coleta informações do paciente. Com

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tais informações o terapeuta ocupacional passa a ter uma previsão do que será

realizado com o paciente, visando suas habilidades e conseqüentemente

experiências que já foram vividas e já apresentaram respostas (BENETTON,

1994).

Os processos e procedimentos das atividades são também importantes

para que possa ser trilhada a manutenção dos pacientes nas atividades.

Durante o fazer, a terapeuta ocupacional pode abandonar ou mudar de

atividade dependendo das habilidades, dificuldades e interesses do paciente

com a mesma (BENETTON, 1994)

A atividade também é importante quando termina. Assim, o paciente é

capaz de tocar em algo útil construído por ele mesmo. Além da utilidade, a

estética das atividades é um ponto que agrada o paciente (BENETTON, 1994).

2.2 A análise da atividade

A análise de atividades é o meio pelo qual o terapeuta ocupacional

compreende as atividades, os componentes e os significados que cada

paciente atribui a elas. O uso da análise é um aspecto tão automático que

muitas vezes passa despercebido ou não é observado (CREPEAU. 2002).

Psiquiatria é uma das capacidades chaves do Terapeuta ocupacional, são suas habilidades de analisar as partes que compõem uma atividade visando usá-las em benefício do paciente, dando ênfase ao seu crescimento e desempenho. Dessa forma, numa análise passo a passo, pode-se sentir o processo laborial o que é essencial, até que o terapeuta se sinta familiarizado com ambos: a natureza da atividade e sua potencialidade como meio de tratamento (FINLAY, 1988 apud BENETTON, 1994, p. 56).

Para Crepeau (2002), a análise de atividade ocorre em três níveis,

ênfases da tarefa, que aborda: (1) os métodos e o contexto típico do

desempenho da atividade, (2) a variedade de habilidades envolvidas neste

desempenho, e (3) os vários significados culturais que poderiam ser atribuídos

à atividade; ênfase da teoria, que examina as propriedades de uma atividade

em uma perspectiva teórica, e provavelmente será atividade de adaptação e

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graduação; ênfase individual, que será voltada para os interesses objetivos,

particulares, limitações funcionais e capacidades de cada pessoa, tendo estas

como primeiro plano.

Segundo Benetton (1994) em Terapia Ocupacional a atividade é o

terceiro termo de uma relação que ocorre a partir do pressuposto de que existe

uma terapeuta ocupacional e um segundo indivíduo que apresenta qualquer

tipo de motivo, necessidade ou vontade de se encontrar para fazer terapia

ocupacional. De maneira geral, esse encontro é considerado já como uma

atividade, assim, como falar, gesticular, fazer ginástica, jogar, estudar, pensar,

que também integram o arsenal da Terapia Ocupacional.

Diálogos determinados pela quantidade e qualidade podem ser

considerados elementos centralizadores e orientadores da prática clínica em

Terapia Ocupacional. A análise de atividades é um procedimento que visa

mostrar o significado e o sentido das atividades.

Segundo Mc Garry as atividades constituem a particularidade e o

essencial de nossa competência. A Terapia Ocupacional é uma arte e uma

ciência, e seu desafio consiste em fazer uma ligação entre as duas,

reconhecendo a independência dos pontos de vista teórico e prático, e de

integrar o antigo e o novo.

Para a análise de atividade sai a pessoa de mil e uma atividades para

ingressar o terapeuta ocupacional culto, inteligente que sabe desenvolver

atividades e transformá-las em instrumento. Enfim, a análise de atividades é

uma técnica subjetiva.

2.3 Atividade X Produto

2.3.1 Atividade

A base fundamental para o trabalho da Terapia Ocupacional é a

atividade, que deve ser adaptada ao paciente para que seu uso seja definido

como mediador da relação terapêutica. De maneira geral, não tem o mesmo

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significado sócio-econômico-cultural do trabalho, da mesma forma que não é

carregada do não fazer, do vazio (BENETTON, 1994).

A atividade por si só não basta para curar. A atividade só pode ser concebida como terapêutica se for portadora de sentido para a pessoa, independentemente da patologia que ela tiver. Todos já puderam fazer a experiência de uma mudança na reeducação, ou numa relação, contanto que a pessoa tratada se aproprie de uma forma ou de outra das técnicas ou dos cuidados propostos. O significado íntimo do que foi encontrado freqüentemente escapa ao terapeuta. Porém, o importante é que o terapeuta tenha permitido ao paciente que ele se aproprie do seu trabalho e que abra o seu apetite de vida. (PIBAROT, p. 6)

As atividades direcionam o ato, a ação dos terapeutas e, não ficam

aprisionadas pela história nos hospitais psiquiátricos de ocupação e trabalho,

nos asilos e manicômios. É a especificidade do trabalho da Terapia

Ocupacional (BENETTON, 1994).

As atividades expressivas, desenvolvidas num setting terapêutico que

inclui a tríade terapêutica (terapeuta-paciente-atvidade), podem ser usadas

como caminho para demonstrar a correlação entre fatos, objetos e pessoas

(BENETTON, 1994).

2.3.2 Produto

Em Terapia Ocupacional o produto está associado à utilidade, no

entanto, o paciente e a família pensam na questão econômica. Esse produto é

visto com desaponto, como feio, esquisito, bonitinho, infantil, ou ainda

reconhecem a loucura nele (BENETTON, 1994).

Nos produtos vem sempre a importância da estética e da técnica, é o tratamento a ser dado a qualquer produto. Esses dois fatores são importantes subsídios instrumentais. O produto de um trabalho seja ele qual for é antes de tudo uma aquisição absolutamente particular daquele que assim se dispôs a proceder. A aquisição é exatamente o resultado de um processo que, se inicia justamente com o propósito de fazer. As expectativas, motivos e/ou desejos que levam a obtenção de um produto sem dúvida alguma, estarão contidos nele, depois de concluídos (BENETTON,1994, p.48).

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2.4 A importância de atender em grupos de Terapia Ocupacional

Há dois tipos de grupos terapêuticos, os verbais e não verbais. Os

verbais seriam os grupos de psicoterapia, e os não verbais seriam grupos

expressivos que incluem grupos de terapia ocupacional, a culinária, a

assembléia, a rádio, entre outros. A diversidade dos grupos proporciona ao

paciente expressar, vivenciar e descobrir conteúdos novos, necessário ao seu

tratamento.

Os grupos têm como objetivo principal a construção de um eixo

ordenador, a re-significação da história particular e subjetiva vivida por cada um

e a reorganização do psiquismo. Permitem aos pacientes uma convivência com

o outro, suportando e agüentando-o, assim, trabalha quase que

constantemente a entrada de um terceiro a partir da experimentação

permanente de vivência apoiadas nas diferentes transferências.

2.4.1 Grupos de Terapia Ocupacional

A construção de um grupo de terapia ocupacional se dá a partir de cada

paciente, expondo suas particularidades sem que exista alguma troca entre

eles.

O setting terapêutico é estabelecido por três elementos. São eles:

terapeuta-paciente-atividades, e, normalmente, são introduzidos elementos

externos como materiais, atividades, fragmentos da história do paciente,

questões mundiais, que podem ser fundamentais no estabelecimento de

transferência abrindo caminhos para uma possível construção de sentido.

A relação triádica acrescida do acontecer grupal tem por objetivo a

expressão de conflitos inconscientes, estimular a ampliação das possibilidades

de comunicação, permitindo ao paciente e/ou grupo a criação e a vivência de

cenas e imagens. Os grupos de terapia ocupacional também têm como

objetivos incentivar a experimentação de novas formas do fazer, de criar, de

captar o mundo, trocar, relacionar-se com a sua produção e com os outros.

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Segundo Benetton (2006, p.42), os grupos de terapia ocupacional

ocorrem em duas dinâmicas de funcionamento: grupo de atividades e atividade

grupal.

O grupo de atividades, no qual cada paciente realiza sua atividade,

privilegia a leitura do processo de cada paciente no grupo intensificando o foco

na relação triádica, embora tendo sempre o grupo como referência. Já a

atividade grupal que pressupõe a realização de uma atividade conjunta por

todos os integrantes do grupo, tem outros objetivos como a importância do

exercício da sociabilização, participação e cooperação, vivências inéditas para

a maior parte dos pacientes (FERRARI, 2006).

2.5 O Papel do Terapeuta Ocupacional

Benetton (2007), o terapeuta ocupacional numa ação grupal tem o papel

de facilitador, ou seja, facilitar para que o grupo entre em ação grupal

participando das trocas de experiências entre os participantes.

De acordo com Santamaría, 2004, existem algumas características

peculiares e necessárias no trabalho do Terapeuta Ocupacional com grupos.

De maneira geral, os usuários de substâncias psicoativas apresentam pouca

condição de suportar altos níveis de tensão. Por isso o Terapeuta Ocupacional

deve:

a) ser ativo e monitorar o ambiente do grupo;

b) modular a expressão dos afetos para controlar o nível de ansiedade;

c) encontrar temas, estimular a conversação, perguntar aos pacientes

sua opinião, organizar a conversa, ou seja, coordenar o grupo;

d) oferecer suporte e proteção propiciando um ambiente seguro e

agradável;

e) criar um clima de compreensão, respeito e empatia, favorecendo a

coesão;

f) facilitar para que o grupo entre em ação grupal.

Esses pacientes podem fazer projeção no terapeuta e distorcer a realidade. Um terapeuta menos neutro ajudará o paciente a

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discriminar o que é fantasia do que não é. O terapeuta pode, por exemplo, trabalhar no concreto, no aqui e agora. Fazer pouca investigação ou alusão do passado é mais adequado. Sua fala deve ser concreta e simples, sabendo-se que esse tipo de paciente é muito sensível a rejeição do tratamento. O terapeuta deve ser habilidoso ao colocar suas intervenções para não confrontar ou desautorizar esses pacientes em grupos. É necessário que o grupo seja observado como um todo, incluindo a percepção de todos os seus aspectos nos variados níveis

individual, interpessoal e grupal. Só assim, o

Terapeuta Ocupacional, terá uma maior chance de executar a intervenção com a atividade mais adequada para cada momento grupal. Por exemplo, diante de um paciente aborrecido, hostil, ou raivoso, tolerar esse sentimento sem questioná-lo, a princípio, para manter o nível de tensão suportável para o grupo, reconhecer suas colocações como pertinentes (se de fato forem) e, só depois de alcançada uma tranquilização do paciente, investigar o que se passava com ele no grupo (SANTAMARIA, 2004)

É conhecido que usuários de substâncias psicoativas, apresentam

causas múltiplas de relacionamentos com quase todas as áreas do

conhecimento e práticas do homem contemporâneo.

Porém, diante da limitação de pensamento encontrado inicialmente

nesses dependentes, suas manifestações plásticas e verbais serão sempre

relacionadas às substâncias, produtos ou qualquer outra situação que explicite

os modos de consumo, ou seja, tais indivíduos apresentam uma conduta

estereotipada, facilmente percebida no olhar, no deambular, no pensar, no

desejar e agir. Esses dependentes transitam entre as sensações e alterações

advindas deste consumo, substituindo as regras e limites gerais, obrigando-os

a vivenciarem uma relação estagnada entre o vazio que delata a imperfeição e

a realização que se cumpre no uso dessas substâncias. Ficam alheios ao

processo de individualização e apresentam dificuldades ao manifestar outros

conteúdos, tais como os afetivos, sociais, recreativos, religiosos e profissionais.

A droga funciona como uma garantia permanente de que o indivíduo não

se confrontará com seu desamparo, pela exaltação e grandiosidade do ego que

seu uso produz (ZIMERMAN, 2000, p.78).

Baseado nestas afirmativas, um dos benefícios em se atender em

grupos de terapia ocupacional está relacionado a esta dificuldade de

reestruturação psicossocial, e, conseqüentemente, na manutenção da

qualidade de vida dos mesmos. A terapia ocupacional torna-se um instrumento

de eleição, exatamente porque a sua natureza dinâmica vai de encontro às

limitações e/ou comprometimentos desses indivíduos, ou seja, o dependente

de substâncias psicoativas não consegue realizar e organizar suas idéias, ou

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seja, relacionar-se concreta e adequadamente com o mundo, e na terapia

ocupacional, o princípio básico é a inscrição de qualquer idéia no mundo

concreto, constituindo assim, um instrumento que contribui para o rompimento

destas dificuldades. (SANTAMARIA, 2004).

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CAPÍTULO III

A PESQUISA

3 INTRODUÇÃO

Para demonstrar a eficácia da clínica de Terapia Ocupacional na

abordagem grupal com dependentes químicos após aprovação de pesquisa

pelo Comitê de Ética e Pesquisa do UNISALESIANO de Lins, foi realizada uma

pesquisa de campo no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de

Lins/SP, situado na Rodovia David Eid km 1

Rua das Camélias S/N, na

cidade de Lins, no período de julho a outubro de 2008.

Os métodos utilizados foram:

Método de estudo de caso com clientes que freqüentam o CAPS/AD de

Lins, em grupo aberto heterogêneo masculino, na faixa etária de 22 a 50 anos,

servindo em atendimentos como meio de observação, análise e intervenção.

As técnicas utilizadas foram as seguintes:

Roteiro de Estudo de Caso (Apêndice A)

Roteiro de Observação Sistemática (Apêndice B)

Roteiro de Entrevista com os familiares (Apêndice C)

Roteiro de Entrevista com Médico Psiquiatra (Apêndice D)

Roteiro de Entrevista com Médico Clínico Geral (Apêndice E)

Roteiro de Entrevista com Enfermeiro (Apêndice F)

Roteiro de Entrevista com Professor de Alfabetização (Apêndice G)

Roteiro de Entrevista com Assistente Social (Apêndice H)

Roteiro de Entrevista com Psicóloga (Apêndice I)

Roteiro de Entrevista com Terapeuta Ocupacional (Apêndice J)

Roteiro de Entrevista com os Clientes (Apêndice K)

3.1 DESCREVENDO O LOCAL

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O CAPS/AD funciona em uma chácara localizada à Rodovia David Eid

km 1

Rua das Camélias S/N

Lins SP. O prédio é alugado pela prefeitura e

tem uma área de 5.000 m divididos em três prédios.

O primeiro prédio esta dividido da seguinte forma: recepção, cozinha,

sala de atendimento individual, sala de atendimento em grupo, sala de

alfabetização para alunos, banheiros feminino e masculino (equipe), lavanderia,

depósito para material de limpeza, administração. No segundo prédio a divisão

ocorre, assim: salão para refeitório e atividades recreativas, cozinha,

almoxarifado, banheiros feminino e masculino (clientes), depósito para horta e

jardinagem. Já o terceiro prédio tem: salão de espera dos clientes, consultório

médico, posto de enfermagem, sala da equipe interdisciplinar, leitos de

observação, banheiro para clientes em observação.

O CAPS/AD atende a oito municípios entre eles Promissão, Getulina,

Guaiçara, Sabino, Cafelândia, Pongaí, Uru e por fim, Lins. A equipe é formada

por um terapeuta ocupacional, um enfermeiro, uma psicóloga, um assistente

social, uma professora de alfabetização de adultos, uma nutricionista, um

educador físico, um técnico em enfermagem, um médico psiquiatra, um médico

clínico geral.

3.1 O trabalho realizado no CAPS/AD

Realizou-se acompanhamento com atendimentos no CAPS/AD de Lins,

duas vezes por semana, de segunda e quarta-feira, das 14:00 às 16:00 horas.

Os pacientes, aqui serão chamados de clientes, seguindo a dinâmica do

próprio CAPS/AD.

14/07/2008

A princípio, foi realizada palestra sobre crack pelo cliente Leandro, com

a colaboração do enfermeiro e terapeuta ocupacional (TO), juntamente com

demais clientes. Em seguida, foram escolhidos os clientes aos quais se faria a

proposta de participação no projeto. Estes foram convidados e explicou-se

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como ocorreria a pesquisa, bem como se havia concordância em participar ou

não. Combinou-se que os atendimentos ocorreriam todas as segundas e

quartas-feiras a partir das 14horas (hs) 00minutos (min).

Objetivos: Estimular verbalização;

Estimular relação interpessoal e intergrupal;

Estimular interesse e iniciativa;

Estimular capacidade pragmática e volitiva.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos parcialmente coerentes, com presença de

fabulações, acreditando em coisas irreais criadas em computador. Durante o

grupo de múltiplas drogas, o cliente apresentou-se participativo, comentou

fatos que segundo ele aconteceram com ele mesmo e com alguns amigos que

fizeram uso da droga citada. Em entrevista com estagiários, falou menos e

desde o princípio concordou em participar do projeto, colocando-se à

disposição para maiores detalhes sobre sua trajetória.

Cliente V.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes, não espontâneos, falando somente

quando questionado. Durante o grupo de múltiplas drogas o cliente apresento-

se calado, não se manifestou, nem opinou. Já em entrevista com os estagiários

contou sua história sem receio, com riqueza de detalhes, porém somente

quando era perguntado.

Cliente Leandro: Apresentou-se com higiene e vestuário adequados,

humor eutínico, fala e pensamentos coerentes, não espontâneos. Durante o

grupo de múltiplas drogas, apresentou o tema crack. Foi quem pesquisou e

preparou uma aula e responsabilizou-se em apresentá-la. Ao falar sobre os

sinais mais comuns que apresenta uma pessoa que usou crack, relatou que

muitos destes sinais ele apresentou, como é ruim o uso de tal droga e os

malefícios que a mesma causa. Após o grupo, os estagiários reuniram os

clientes, indicados pela T.O e enfermeiro, e explicaram o que estavam fazendo

ali, e perguntou-se se havia concordância na participação como clientes do

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projeto. O cliente aderiu à idéia e fez algumas brincadeiras como: Vocês vão

fazer um trabalho com os noiados ?

Cliente P. S.: Apresentou-se com higiene e vestuário adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes, não espontâneos. Durante o grupo de

múltiplas drogas não falou muita coisa, apenas concordou com o que era

falado pelos demais usuários. Após o grupo durante anamnese, o cliente

estava um pouco incomodado com a situação, porém no decorrer da

anamnese teve fala um pouco mais espontânea. Relatou que a princípio só iria

participar do grupo às segundas-feiras, por causa de seu trabalho, mas tentaria

sair às quartas e quando conseguisse, participaria do atendimento.

Cliente R. C.: Apresentou-se com higiene e vestuário adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes e espontâneos. Durante o grupo de

múltiplas drogas o cliente falou de sua experiência com o crack, e contou

algumas histórias de sua vida com as drogas. Sempre muito curioso, desde

que os estagiários entraram na sala já queria saber quem eram, porque

estavam ali, etc.

16/07/2008

Palestra com o Grupo Educação em Saúde

Houve a participação dos clientes L., R., V., R., neste grupo. Houve

participação no grupo de Educação em Saúde direcionado por TO e

enfermeiro, a fim de ensinar um pouco de saúde para todos os clientes, como é

feito todas as quartas-feiras.

Objetivos: Estimular verbalização; estimular relação interpessoal e

intergrupal; estimular tolerância e interesse; estimular iniciativa; estimular

capacidade pragmática e volitiva.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos com fabulações, relatou ser hacker, e entender

tudo de computador. Participou do grupo, porém manteve-se calado, não

verbalizou em nenhum momento. Em seguida foi realizada anamnese, o cliente

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ficou muito à vontade para contar sua história, não recusou responder

nenhuma questão, e ainda relatou mais fatos de sua vida.

Cliente L.: Apresentou-se com higiene e vestuário adequados, humor

eutínico para rebaixado. Estava desconfortável com o efeito dos medicamentos

que tomara, fala e pensamentos lentificados e diminuídos. Durante o grupo fez

alguns comentários, a respeito do tema abordado. Quando os estagiários

informaram que fariam anamnese, logo se prontificou e foi o primeiro a relatar

sua história. Ficou um pouco envergonhado, mas relatou sua história com

riqueza de detalhes.

Cliente V.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes, não espontâneos. Durante o grupo não

falou nada, ficou calado, apenas ouviu o que estava sendo passado. No início

da anamnese ficou um pouco incomodado com a situação. No decorrer, ficou

mais à vontade relatando suas experiências com as drogas.

Cliente R. C.: Apresentou-se com higiene e vestuário adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Durante o grupo não falou nada,

apenas ouviu o que era dito pelos demais. Pediu para ser o último na

anamnese, e durante a mesma, se emocionou ao relatar a história de seu

irmão que foi usuário e traficante de drogas. Relatou sua história e a de seu

irmão bem detalhadamente.

21/07/2008

Palestra

Participação dos clientes R. W., V., L., P. S. e entrada de W. L. S. Houve

participação no grupo de múltiplas drogas, onde foi discutido sobre heroína e

seus efeitos.

Objetivos: Estimular verbalização;

Estimular relação interpessoal e intergrupal;

Estimular interesse e tolerância;

Estimular iniciativa;

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Estimular capacidade pragmática e volitiva.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Durante o grupo verbalizou bastante,

dizendo que nunca havia usado essa droga; comentou a respeito de uma

reportagem noticiada em um programa de televisão (TV), que mostrava a vida

de uma família com o filho dependente de drogas.

Cliente V.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Durante o grupo verbalizou muito

pouco. Nem quando surgiu a discussão de um programa de TV, manifestou

sua opinião.

Cliente L.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Durante o grupo verbalizou bastante,

quando surgiu a discussão sobre o programa de TV. Disse não acreditar que

fosse verdade, que devia ser alguma coisa comprada, pois ninguém mostraria

sua vida dessa forma na TV.

Cliente P. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Durante o grupo verbalizou algumas

coisas, sobre o programa de TV. Disse achar que a situação chegou a tal ponto

por falta de pulso da mãe, e que não via a necessidade de mostrar na TV, já

que esta fantasia ainda mais a história.

Cliente W. L. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados,

humor eutínico, fala e pensamentos coerentes. Verbalizou bastante durante o

grupo, e se opôs à exposição da vida de um adolescente usuário de drogas,

em um programa de TV.

Cliente R. C.: Falta Injustificada.

23/07/2008

Atividade: Grupo Educação em Saúde

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Participaram os clientes W. L. S.; P. S.; R. W.; V.; R. C., houve um

problema com o computador, e muitos clientes ficaram ansiosos e sem

paciência para esperar o início da apresentação do tema Convulsão.

Objetivos: Estimular verbalização;

Estimular relação interpessoal e intergrupal;

Estimular tolerância e interesse;

Estimular capacidade pragmática e volitiva.

Cliente W. L. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados,

humor eutínico, fala e pensamentos coerentes. Participou do grupo

verbalizando a respeito do tema, relatou algumas experiências e fez várias

perguntas querendo saber como agir quando alguém tiver convulsão na sua

frente.

Cliente P. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Participou do grupo, no entanto, não

verbalizou em nenhum momento, apenas ouviu os relatos dos demais clientes.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos com fabulação. Quando o enfermeiro informou

que os clientes teriam que esperar, pois o computador estava com problema,

R. W. começou a dizer o que deveria fazer, fugindo um pouco do real

problema. Ao trocar o computador, pediu ao enfermeiro que presenteasse-o

com a máquina que havia dado problema, o enfermeiro disse que não podia

fazer isso, pois é propriedade do governo.

Cliente V.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Ficou um pouco incomodado com o

problema do computador, saiu algumas vezes da sala para tomar água.

Durante o grupo não verbalizou, somente ouviu o que disse os demais clientes

e enfermeiro e TO.

Cliente R. C.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerente. Teve verbalização com usuário que

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estava ao seu lado enquanto esperava o conserto do computador. No entanto,

ao discutirem o tema, não verbalizou.

Cliente L.: Falta injustificada

28/07/2008

Atividade: Porta-retrato de jornal; fotografia

Os clientes R. W.; L.; P. S.; W. S. confeccionaram um porta-retrato de

jornal, atividade que foi desenvolvida em grupo. Todos cortaram o jornal,

fizeram canudos com as partes do jornal, seguindo modelo e instruções dos

estagiários. De maneira geral todos os usuários verbalizaram sobre o

tratamento medicamentoso, quais os medicamentos ingeridos, seus efeitos etc.

Na hora da foto todos fizeram pose e riram muito.

Objetivos: Exteriorização de sentimentos;

Estimular auto-estima e auto-valorização;

Estimular relação interpessoal e intergrupal;

Favorecer contato com a realidade;

Estimular orientação auto e alopsíquica;

Trabalhar coordenação motora fina e óculo-manual;

Estimular capacidade pragmática e volitiva.

Cliente L.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico para rebaixado, fala e pensamentos adequados. Durante a atividade,

apresentou dificuldade em fazer os canudos de jornal, momento em que os

estagiários foram instruindo como deveria ser feito e mostrando que não era

preciso fazer da maneira mais correta na primeira vez. Foi explicado que podia

haver erro, pois com o tempo e a prática o cliente teria habilidade para fazer

bem melhor. Verbalizou pouco, mas relatou estar com muito sono, desanimado

e com muita fome por causa dos remédios que havia tomado.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Realizou a atividade de forma

brilhante, teve muito sucesso em todas as etapas da atividade. Verbalizou

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muito com os estagiários e com os demais clientes, contou alguns fatos sobre

sua vida, como começou a usar drogas e por que iniciou o tratamento no

CAPS/AD.

Cliente P. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. No início, teve um pouco de

dificuldade em fazer os canudos com o jornal, mas no final já estava fazendo

da maneira como fora instruído. Verbalizou com os demais usuários e

estagiários, assuntos relacionados à atividade, contudo, em nenhum momento

falou de si.

Cliente W. L. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados,

humor eutínico, fala e pensamentos coerentes. Apresentou um pouco de

dificuldade em fazer os canudos, quando conseguiu ficaram grossos e

pequenos, ficou um pouco cabisbaixo, mas os estagiários mostraram que nem

eles conseguiam fazer da forma correta, bastante fino e comprido. Verbalizou

bastante com os usuários e com os estagiários. Não falou nada de sua vida, ao

passo que questionou bastante os outros usuários.

Cliente R. C.: Falta Justificada. Cliente acompanhando a esposa no

CAPS III.

Cliente V.: Falta Injustificada. Feito buscativa por telefone, sem sucesso.

30/07/2008

Atividade: Porta-retrato de jornal

Os clientes R. W., L., deram continuidade à confecção dos canudos de

jornal.

Objetivos: Exteriorização de sentimentos;

Estimular auto-estima e auto-valorização;

Estimular relação interpessoal e intergrupal;

Favorecer contato com a realidade;

Estimular orientação auto e alopsíquica;

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Trabalhar coordenação motora fina e óculo-manual;

Estimular capacidade pragmática e volitiva.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos parcialmente coerentes, com fabulação. Realizou

a atividade sozinho, sem a necessidade de orientação. Verbalizou sobre sua

relação com as drogas e os motivos que o levaram a procurar tratamento.

Relatou fatos confusos relacionados à computação e informática. Afirmou ser

hacker e entender tudo de computadores.

Cliente L.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico para rebaixado, fala e pensamentos coerentes. Durante a realização

da atividade o cliente relatou não se sentir muito bem. Observou que se sentia

melhor quando fazia tratamento em uma clínica de recuperação para

dependentes químicos, na cidade de Penápolis. Ainda relatou que se sentia um

pouco inútil e desvalorizado, já que a medicação prescrita o deixa apático e

desmotivado. Foi orientado a procurar atividades que ofereçam prazer e

advindo cansaço, respeitar seus limites, interrompendo e descansando um

pouco, para depois retomá-las.

Cliente P. S.: Falta Justificada. Cliente não pôde sair de seu emprego.

Cliente R. C.: Falta Justificada. Cliente acompanhando esposa no CAPS

III.

Cliente W. L. S.: Falta Injustificada.

Cliente V.: Falta Injustificada.

04/08/2008

Atividade: Porta-retrato de jornal

Os clientes R. W., P. S. participaram do grupo, confeccionando a base

do porta-retrato. Os estagiários mediram o tamanho mais adequado e

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passaram as medidas para os clientes. Em seguida, os estagiários mostraram

como deveriam ser colados os canudos de jornal, devendo a maioria deveria

ser cortado. Foram orientados a medir corretamente para economizar canudos,

assim seria possível um canudo ser cortado em duas partes.

Objetivos: Exteriorização de sentimentos;

Estimular auto-estima e auto-valorização;

Estimular relação interpessoal e intergrupal;

Favorecer contato com a realidade;

Estimular orientação auto e alopsíquica;

Trabalhar coordenação motora fina e óculo-manual;

Estimular capacidade pragmática e volitiva.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Verbalizou bastante sobre a namorada

e os amigos da cidade dela. Relatou fatos sobre sua prisão, bem como a ajuda

que obteve da namorada em um momento difícil.

Cliente P. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Verbalizou bastante sobre sua esposa,

o tratamento que realiza no CAPS/AD, o incentivo dela recebido para iniciar o

tratamento. Relatou sobre sua decadência social, causada pelas drogas, os

bens materiais perdidos. Afirmou que atualmente trabalha na sorveteria de

seus pais, como responsável pela fabricação de um tipo de picolé. Contou

sobre seus filhos e netos.

Cliente L.: Falta Justificada.

Cliente V.: Falta Justificada. Feito buscativa por telefone, mas cliente

não foi encontrado.

Cliente R. C.: Falta Injustificada.

Cliente W. L. S.: Falta Injustificada.

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06/08/2008

Atividade: Término do porta-retrato de jornal

Os clientes R. W., P. S., L., W. L. S., concluíram a confecção do porta-

retrato. Colaram os canudos, pintaram e aplicaram verniz em alguns. Por fim,

colaram a fotografia tirada e revelada pelos estagiários no primeiro atendimento

da confecção do porta-retrato. Foi entregue uma para cada cliente. No final, os

clientes puderam levar para casa o seu porta-retrato.

Objetivos: Exteriorização de sentimentos;

Estimular auto-estima e auto-valorização;

Estimular relação interpessoal e intergrupal;

Favorecer contato com a realidade;

Estimular orientação auto e alopsíquica;

Trabalhar coordenação motora fina e óculo-manual;

Estimular capacidade pragmática e volitiva.

Cliente R. W.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Durante a atividade, o cliente

conversou com os clientes W. L. S. e L. a respeito de pessoas que usavam

drogas e eram conhecidos de todos. Os estagiários interromperam e sugeriram

que fosse falado sobre atualidades.

Cliente P. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. O cliente contou sobre sua esposa,

como se conheceram, sobre seus filhos e netos. Pouco comentou sobre

usuários de comum conhecimento, ficando mais à vontade quando houve

mudança de assunto.

Cliente W. L. S.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados,

humor eutínico, fala e pensamentos coerentes. Comentou sobre um projeto de

lava-car que está iniciando em sociedade com o irmão e outros amigos, falou

sobre o estado do prédio, pintura, iluminação, entre outros. Aparentou muita

empolgação e entusiasmo. Estava em ritmo um pouco acelerado . Perguntado

sobre o porquê de tanta agitação, respondeu que sempre foi assim e mudava

de assunto.

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Cliente L.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e pensamentos coerentes. Cliente falou bastante sobre usuários

conhecidos e lugares que freqüentava para usar a droga. Foi orientado pelos

estagiários a mudar de assunto, como boas recordações. Houve concordância

e o cliente passou a comentar sobre o momento em que esteve em tratamento

em uma clínica na cidade de Penápolis.

11/08/08

Atividade:Abajur de palito de sorvete

Objetivos: Estimular práxis produtiva, exteriorização de sentimentos,

responsabilidade e senso crítico; estimular a relação interpessoal e intergrupal;

estimular auto-estima e auto-valorização, tolerância perante a atividade;

favorecer relação triádica.

Clientes: W., P., R., Rogério

Iniciada a terapia com os clientes em volta da mesa, o cliente W. foi

orientado a dar início à atividade a qual era de responsabilidade do mesmo. W.

apresentou-se com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsíquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes.

Lembrou-se de trazer os palitos que conseguira com o avô. Enquanto realizava

a atividade, explicava passo a passo aos outros clientes e estagiários. Todos

se demonstraram interessados na atividade onde R. e W. verbalizaram sobre

épocas anteriores ao tratamento e sobre drogas. Foram orientados a trocar de

assunto.

R. apresentou-se com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsíquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes.

Verbalizou sobre sua namorada demonstrando insegurança quanto ao

relacionamento. Perguntado se trabalhava, respondeu negativamente, mas que

estava à procura emprego.

P. apresentou-se com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsíquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes.

Participou da atividade. Foi solicitado por sua mulher para conversar

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reservadamente com o mesmo. P. foi autorizado a sair por 15 minutos.

Retornou com sorvetes de fabricação própria e distribuiu para clientes e

funcionários do CAPS/AD. Afirmou que trabalha na sorveteria dos pais e é o

responsável pela produção dos ituzinhos que hoje é o carro-chefe da

empresa.

Rogério apresentou-se com higiene e vestuário adequados, orientação

auto e alopsíquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes.

Participou da atividade, verbalizou bastante sobre já ter feito esse tipo de

atividade com palitos de sorvete e falou que além do abajur sabe fazer outros

objetos. Brincou com P. perguntando se havia emprego na sorveteria.

A terapia foi encerrada e ficou combinado que o abajur seria terminado

na próxima terapia, ocasião em que todos trariam a fiação, lâmpada, soquete e

interruptor.

13/08/08

Atividade: Abajur de palito de sorvete

Objetivos: Estimular práxis produtiva, exteriorização de sentimentos,

responsabilidade e senso critico; estimular a relação interpessoal e intergrupal;

estimular auto-estima e auto-valorização, tolerância perante a atividade;

favorecer relação triádica.

Clientes: R., W.

P(falta justificada)

Iniciada a terapia com pacientes em volta da mesa junto com

estagiários, W. explicou como seria feita a fiação do abajur, e continuou com a

confecção do mesmo. Apresentou-se com higiene e vestuário adequados,

orientação auto e alopsíquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva

presentes. Aparentava ansiedade para o término da atividade. Solicitou fazer

um teste no abajur da estagiária antes da mesma terminar. Montou a fiação e

ligou na tomada queimando a lâmpada por motivos de divergência na

voltagem. W. ficou constrangido, contudo, deu continuidade à atividade. R.

apresentou-se com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsíquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes. Voltou

a verbalizar sobre a namorada e os problemas enfrentados no relacionamento.

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Foi orientado a ter calma, a tentar preocupar-se mais com ele mesmo e com

sua saúde. Verbalizou com estagiário sobre jogos de computador relatando

não ter mais tanta vontade de ficar no computador. Participou da atividade e

terminou o abajur faltando apenas a parte elétrica que relatou não possuir em

casa.

Os clientes pintaram o abajur com spray de tinta e com verniz.

Ficou a critério dos mesmos a seleção de cor ou preferência em aplicar verniz

ou não. Foi solicitado aos clientes que conseguissem caixas de papelão para a

próxima atividade, finalizando-se a terapia.

18/08/08

Atividade: Televisão de papelão

Objetivos: Estimular práxis produtiva, exteriorização de sentimentos,

responsabilidade e senso crítico; estimular a relação interpessoal e intergrupal;

estimular auto-estima e auto-valorização; favorecer relação triádica, resgate da

história singular dos clientes e reestruturação do cotidiano.

Clientes: Rogério, R., P.

Iniciada a terapia com pacientes em volta da mesa. Foi explicado sobre

a perda da rotina e cotidiano bem como a relação familiar que os clientes

tiveram durante a fase de abuso das drogas, que pode ser encarada como uma

destruição ou auto-agressão. O objetivo da atividade era a reconstrução mútua

na atividade proposta que era construir uma TV e ensaiar uma propaganda ou

outro tipo de apresentação. Rogério apresentou-se com higiene e vestuário

adequados, orientação auto e alopsíquica, humor eutínico, capacidade

pragmática e volitiva presentes. Fez sugestões, colaborando durante toda a

atividade. R. apresentou-se com higiene e vestuário adequados, orientação

auto e alopsíquica, humor eutínico para rebaixado, capacidade pragmática e

volitiva presentes. Verbalizou não ter nenhuma sugestão de como construir a

TV, mas comentou que iria apresentar um pedido de emprego. Colaborou na

confecção da TV e pintou com spray.

P. apresentou-se com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsíquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes.

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Verbalizou bastante durante toda a terapia, colaborou na confecção da TV.

Comentou que iria apresentar uma propaganda sobre os sorvetes Ituzinho . A

terapia foi satisfatória do ponto de vista da colaboração e interação entre

clientes e estagiários na realização da atividade.

20/08/08

Atividade: Televisão de papelão

Objetivos: Estimular práxis produtiva, exteriorização de sentimentos,

responsabilidade e senso critico; estimular a relação interpessoal e intergrupal;

estimular auto-estima e auto-valorização; favorecer relação triádica, resgate da

história singular dos clientes e reestruturação do cotidiano.

Cliente: R. (L., Rogério e P. falta justificada)

Iniciada terapia com R. de frente à mesa onde o mesmo se apresentou

com higiene e vestuário adequados, orientação auto e alopsíquica, humor

eutínico para rebaixado, capacidade pragmática e volitiva presentes. Contou

sobre a resolução dos problemas com a namorada e sobre a pretensão de

trabalhar com o pai, todavia, o mesmo já possuía ajuda do irmão mais velho.

Foi incentivado pelos estagiários ao que respondeu que iria pensar a respeito

do que fora orientado. Ajudou a terminar a TV, embora tenha apresentado

resistência em ensaiar sua fala, sob argumentos de que a atividade não daria

certo. A conclusão da atividade deu fim à terapia.

25/08/08

Atividade: Pintura de Tela

Objetivos: Estimular Práxis produtiva, estimular exteriorização de sentimentos,

estimular relação interpessoal e intergrupal, favorecer relação triádica,

estimular auto-estima e auto-valorizaçao, reforçar relação auto e alopsiquica.

Clientes:R. W. D. G., R, P. R. S, A. B.

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Iniciada terapia com clientes em volta da mesa, foi proposta a atividade de

pintura de tela, os clientes concordaram dando inicia a atividade.

R se apresentou com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsiquica, humor rebaixado, capacidade pragmática e volitiva presentes.

Durante a terapia o cliente relatou que teria que retornar a São Paulo para

fazer uma avaliação com psiquiatra e conversar com a Juíza sobre seu

processo, o mesmo apresentou fala diminuída verbalizando somente quando

solicitado e na maioria das vezes com um conteúdo monosilabico, desenhou na

tela e se manteve a maior parte da terapia apático.

Rogério se apresentou com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsiquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes. Sua

mulher o acompanhou durante a terapia a mesma faz acompanhamento no

CAP S III, a mulher o ajudou a desenhar na tela, o cliente interagiu com os

estagiários e com o grupo verbalizando bastante sobre o desenho e seu

significado.

P se apresentou com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsiquica, humor eutínico, capacidade pragmática e volitiva presentes. O

cliente participou da atividade fazendo parte o desenho, relatou ter dificuldade

para desenhar e pediu orientação pois não sabia o que desenhar, interagiu

com grupo e com estagiários, fez brincadeiras com R tentando anima-lo.

A se apresentou com higiene e vestuário adequados, orientação auto e

alopsiquica, humor eutínico para rebaixado, capacidade pragmática e volitiva

presentes. Durante a terapia apresentou fala diminuída, falou com estagiários e

com componentes do grupo somente quando solicitado, demonstrou ter

facilidade para desenhar, quando questionado o mesmo relatou desenhar em

casa com o primo.

22/09/2008

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Realizada entrevista com os pais do cliente W. L. S., o mesmo fora

encaminhado a uma clínica em Jaú, para um período de desintoxicação.

Confessou que estava um pouco perdido com a situação, embora confiante.

Falou bastante sobre sua filha e que precisa ficar curado para cuidar dela.

24/09/2008

Realizada entrevista com a mãe do cliente R. W. D. G. Logo em seguida foi

realizada entrevista com a mãe e irmã do cliente P.R.S. em sua casa, onde os

estagiários foram recebidos muito carinhosamente. Comentou que tentaria ir ao

CAPS/AD na segunda-feira seguinte, mas não era garantido, devido a uma

viagem ao estado do Paraná, em comemoração ao aniversário de um ano de

seu neto.

29/09/2008

Atividade: Término do enfeite para vaso

Estavam presentes os clientes R. W. D. G. e P. R. S. que terminaram a

atividade e decidiram o que seria feito no último atendimento. Decidiram-se

pela realização de cozinha terapêutica, com a confecção um bolo.

Objetivos:

Cliente R. W. D. G.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados,

fala e pensamentos coerentes, não espontâneos, respondendo somente

quando era perguntado e humor eutínico para rebaixado. O cliente estava

monossilábico, falou pouco, interagiu pouco, apresentava sonolência. Não

concordou em refazer a borboleta que dera início, preferindo deixá-la do

mesmo jeito. Colou as asas e quando informado que a levaria para sua casa,

colocou-a em um vaso próximo a ele. Permaneceu muito resistente em levar

para sua casa. Por fim, acabou por concordar e levar.

01/10/2008

Atividade: Bolo

Objetivos:

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Cliente R. W. D. G.: Apresentou-se com vestuário e higiene adequados, humor

eutínico, fala e humor coerentes, não espontâneos, respondendo somente

quando perguntado. Não apresentou dificuldade para quebrar os ovos e

separar a gema da clara. Recusou-se a bater o bolo e a lavar a louça,

afirmando ser coisas de mulher .

3.2 A opinião dos profissionais

3.2.1 A opinião do Psiquiatra

Do sexo masculino, 37 anos,

Não conheço o trabalho da terapia ocupacional no

CAPS/AD de Lins, pois é a segunda semana que estou

atendendo aqui, mas conheço o trabalho que a terapia

ocupacional realiza. Acho fundamental, pois a terapia

ocupacional faz com que o paciente tenha função, ajuda o

indivíduo a descobrir suas habilidades e as melhora. É

fundamental a presença e participação da família, sem ela

se faz pouca coisa. A família é um co-dependente do

usuário e deve participar e receber tratamento. No

entanto, as famílias da maioria dos clientes do CAPS/AD

não são muito participativas e tampouco preocupadas

com o tratamento de seu familiar. Cada pessoa tem uma

história de vida, assim é impossível dizer que todos os

dependentes químicos responderão da mesma maneira e

no mesmo tempo. Dessa forma, as recaídas acabam se

tornando regra, já que cada um apresenta uma

problemática e ninguém sabe o porquê se tornou

dependente. É provável que a cada recaída aja abandono

do tratamento, por isso, é fundamental que toda a equipe

e família se empenhem em não deixá-lo desistir. O papel

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do médico psiquiatra no CAPS/AD é de orientação ao

paciente, à família, administração medicamentosa,

contato humano, entre outros, pois quem passa a maior

parte do tempo com o cliente é o restante da equipe. A

dependência química é uma doença crônica que não tem

cura. O cliente ao fazer o tratamento ficará controlado, por

isso, deve evitar o contato com qualquer outro tipo de

droga, já que o consumo de um cigarro, por exemplo,

pode desencadear o uso desenfreado e de drogas mais

pesadas em comparação às que usava antes, tornando o

consumo ainda mais prejudicial. O prognóstico do

tratamento de um dependente químico varia caso a caso.

No entanto, quanto maior a aderência, melhor o

prognóstico (PSIQUIATRA, 37 anos).

3.2.2 A opinião do clínico geral M. L. G.

Do sexo masculino, 34 anos.

Conheço pouco do trabalho da terapia ocupacional no

CAPS/AD de Lins, pois faz aproximadamente um mês que

atuo no local. A terapia ocupacional é fundamental em

muitos tratamentos de medicina. Ela ocupa o tempo do

indivíduo não deixando que fique com o tempo ocioso,

ajuda na reinserção e redescoberta de cada um, entre

outras coisas. A presença e participação da família são

fundamentais no tratamento de dependentes químicos,

sem dúvida. No entanto, mais da metade dos clientes vêm

sozinho, a família está pouco presente e acompanha de

longe o tratamento. Com adolescentes a companhia da

mãe é mais freqüente. Mesmo assim, é difícil que a

família participe e/ou incentive o tratamento. A

dependência química (física) é muito forte. O indivíduo,

sem dúvida, fica sem expectativas, sentindo-se derrotado

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e encontra como único recurso a droga. A dificuldade na

aderência ao tratamento é mais dificultada pela força da

droga, a falta de estrutura social e profissional. Quando

um usuário de drogas sabe que a droga não lhe faz bem,

tenta cessar seu uso. No entanto, não consegue se

controlar e acaba usando mais uma vez, podendo ser

considerado um dependente químico. Os sintomas de

abstinência podem variar muito de droga para droga e de

maneira geral são: tremor, taquicardia, irritação, nervoso,

alucinação, disforia (semelhante ao quadro de

esquizofrenia). O papel do clínico geral é acompanhar o

tratamento (clínico), tratar as intercorrências clínicas,

como por exemplo, se um cliente estiver com gripe

administra o melhor medicamento para tal problema,

considerando a medicação que já receitada. Atuo

juntamente com o médico psiquiatra colaborando com as

doses dos medicamentos para cada paciente de acordo

com sua evolução ou recaída. Não existe cura para

dependentes químicos. Eles têm que ficar atentos quanto

ao uso e tomar cuidado com qualquer droga. Se

conseguirem cessar o uso poderão ter uma vida

praticamente normal. O prognóstico varia muito na

questão familiar e social. Se a família ajudar e participar

ativamente do tratamento, o prognóstico será melhor. Se

não o prognostico será o pior possível (CLÍNICO GERAL,

34 anos).

3.2.3 A opinião do Enfermeiro W. L. N. V. P.

Do sexo masculino, 32 anos, formado há sete anos pela Universidade

Sagrado Coração, Pós-Graduado em Saúde Mental pelo Hospital de Base de

Bauru, experiência

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O cliente recebe uma abordagem psicossocial em que é

marcada uma avaliação médica. Se o médico achar

necessário, faz a prescrição medicamentosa e passa para

o enfermeiro (se não tem o medicamento no CAPS/AD

este é requisitado à Secretária de Saúde de Lins). O

enfermeiro administra a medicação nos pacientes, que

por sua vez, não levam o medicamento para casa, tendo

que ir até o CAPS/AD para tomá-lo. Realizo todas as

tarefas da parte de enfermagem, desde administração

medicamentosa. Participo de grupos terapêuticos, da

sistematização da assistência de enfermagem, avalio

casos graves da dependência, entre outros. Se um cliente

entra em crise de abstinência, e esta for leve e/ou

moderada, é controlada no próprio CAPS/AD. Se for

abstinência grave o cliente é encaminhado para o

hospital. Realizo atendimentos familiares, no entanto, uns

40% das famílias não participam do tratamento. Neste

casos, se a família não comparecer por vontade própria é

feita convocação. A família participa como olheiro do

cliente. Pode ser realizado atendimento com a família e o

paciente ou somente com a família. É muito comum o

paciente procurar o tratamento por vontade própria. No

caso de abandono do tratamento é feito buscativa por

telefone, convocação da família e do paciente para saber

o porquê não está freqüentando o CAPS/AD. É importante

que sejam realizadas intervenções de acordo com a fase

em que o paciente se encontra. Na fase inicial de

desintoxicação são administrados medicamentos sob

observação no CAPS/AD. Em seguida, o medicamento é

diminuído aos poucos. O indivíduo começa a participar

dos grupos e a realizar atividades. A terapia ocupacional é

fundamental no tratamento de dependentes químicos,

pois irá ocupar o tempo e aos poucos retomar as

habilidades de cada cliente, vendo o que eles podem

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reaprender e serem reinseridos. Nunca sofri agressão

física. No entanto, os profissionais correm muitos riscos

no CAPS/AD, tanto de agressões verbais como físicas

(ENFERMEIRO, 32 anos).

3.2.4 A opinião da Professora da sala de alfabetização

Do sexo feminino, 34 anos,

Como professora, oriento os alunos quanto ao seu

tratamento, apoio os demais profissionais da instituição

dando continuidade no trabalho através de leitura e

círculos de cultura. O dependente é muito sensível e

precisa sentir-se amado. Da mesma forma, a família

precisa de orientação e apoio sempre. Desse modo, o

apoio da família é indispensável no tratamento, assim

como o acompanhamento dos profissionais

especializados e a fé. Conheço o trabalho da terapia

ocupacional superficialmente. Realmente, os clientes são

muito diferentes enquanto seres humanos, todos somos

diferentes e temos o direito de ser diferente; ao

respeitarmos esse direito, daremos continuidade com

facilidade. Constantemente me coloco no lugar dos meus

alunos. Só assim poderei ajudá-los e aprender com eles.

Sou sincera em dizer que tenho muito a me capacitar e

entender, porém, o que tenho feito é ter sempre um olhar

amigo e dar liberdade de expressão para os alunos

(quando o aluno está em crise não participa das aulas).

Quando algum cliente abandona o tratamento, converso

com os demais profissionais e eles realizam os

procedimentos necessários. Nunca sofri nenhum tipo de

agressão física.

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75

3.2.5 A opinião da assistente social

Do sexo feminino, 27 anos, formada há quatro anos pela UNILINS

(Universidade de Lins), com experiência no Centro de Estudos do Menor da

Integração na Comunidade (CEMIC). Iniciou no CAPS/AD em agosto de 2006.

Conheço o trabalho da terapia ocupacional dentro do

CAPS/AD de Lins e acho imprescindível. Assim, como os

demais profissionais que trabalham no CAPS/AD é feito

um trabalho em equipe. Sempre são dois profissionais

atuando diretamente com todos os outros profissionais,

sendo muito parecido. De maneira geral todos fazem o

mesmo trabalho, fazendo o que é específico de cada

área. Durante o tratamento tudo é fundamental, não

priorizo nenhum ponto. Quando um cliente abandona o

seu tratamento é realizado buscativa através de telefone

ou visita (esta última priorizando os casos encaminhados

pelo fórum ou os de maiores necessidades). Todos os

pacientes sabem que o CAPS/AD é um lugar ao qual

podem voltar a hora que quiserem ou precisarem.

Quando comecei a trabalhar no CAPS/AD tive a noção da

realidade . Vi que meus problemas são pequenos,

entendi a problemática de cada cliente e dos dependentes

em geral; os adolescentes merecem uma atenção maior,

no entanto, é dado o mesmo tratamento a todos, sempre

priorizando os casos mais graves. A família é fundamental

no tratamento de dependentes químicos; sem a família é

quase impossível, ela tem que participar ativamente do

tratamento. Nos adolescentes é uma obrigação os pais

e/ou responsáveis acompanharem o tratamento. Já

realizei atendimento grupal e individual com as famílias.

Hoje priorizo atendimentos individuais, pois percebi que

as famílias minimizam ou omitem o problema do cliente,

talvez por vergonha ou por não aceitar que alguém esteja

melhor que o seu ente. Não posso obrigar ninguém a se

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tratar. Tento conscientizar o cliente da gravidade do seu

caso. Normalmente ele não se recusa a fazer o

tratamento, mas se não quer se tratar não dá

continuidade e abandona o tratamento. É um pouco

complexa a questão dos materiais e do transporte, pois

demoram certo tempo, já que os materiais passam por

licitação e o transporte é único para toda a cidade. Há

ainda certa resistência e dificuldade nos municípios

vizinhos que fazem uso do serviço do CAPS/AD em

entender o trabalho realizado pela instituição

(ASSISTENTE SOCAIL, 27 anos).

3.2.6 A opinião da psicóloga

Do sexo feminino, 26 anos, formada há cinco anos pela Universidade

Paulista (UNIP) de Bauru, Pós-Graduada em Psicologia Clínica pelo Hospital

Lauro de Souza Lima; experiência no Centro de Referência da Assistente

Social (CRAS) de Lins, na Casa da Criança e do Adolescente de Lins (CACAL);

lecionou em cursos técnicos no Colégio Zeta Objetivo de Promissão; ingressou

no CAPS/AD em agosto de 2006.

Conheço o trabalho realizado pela terapia ocupacional e

acho indispensável. Juntamente com outros profissionais

sou responsável pelas primeiras entrevistas, grupos

terapêuticos (psicoterápicos), atendimento psicológico

individual (em casos que a equipe julgar necessário),

visitas com a Assistente Social, encaminhamentos,

relatórios, trocas de informações com outros serviços

(conselho, fórum, etc.) discussão de caso com toda a

equipe, orientação e acompanhamento às famílias. A

participação da equipe é indispensável. O tratamento só

surte efeitos se for multidisciplinar. Ao contrário, se for de

acordo com o modelo médico não resolve. Normalmente

os jovens vêm encaminhados pelo Juizado de Menores.

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Neste contexto, a família já esta desestruturada e

acompanha muito pouco o tratamento. Sem a

participação da família é quase impossível realizar o

tratamento. A família tem que participar ativamente do

tratamento, principalmente em relação aos adolescentes,

pois os pais têm a obrigação de acompanhar o

tratamento. Prefiro realizar atendimentos individuais com

os familiares, apesar de já ter realizado atendimentos

grupais com as famílias, onde percebi que, às vezes, elas

minimizam o problema do paciente, talvez por vergonha,

ou não aceitarem que outra pessoa conseguiu um

avanço melhor que seu filho. Em caso de abandono, faço

buscativa através de telefone, ou visita domiciliar. No

entanto, os clientes sabem que se precisarem podem

voltar ao CAPS/AD. Para visitas domiciliares são

priorizados os casos encaminhados pelo fórum ou de

necessidade extrema, com a equipe de comum acordo.

Tenho boas expectativas para o tratamento, mesmo os

clientes sendo oscilantes quando procuram ajuda ou

querem uma melhor qualidade de vida, mesmo não

abandonando de vez a droga só diminuindo e tentando

melhorar. Não acredito em cura, mas penso que

dependência química pode e deve ser controlada. Nunca

tive nenhum problema com os clientes (PSICÓLOGO, 26

anos.

3.2.7 A opinião da terapeuta ocupacional

Do sexo feminino, 29 anos, formada em 2001 pela Faculdade Salesiano

de Lins. Pós-graduada em Terapia Ocupacional uma Visão Dinâmica Aplicada

em Neurologia

pela Faculdade Salesiano de Lins. Aprimoramento no Hospital

de Base de Rio Preto. Hospital Psiquiátrico Instituto Americano Bairral ,

Itapira/São Paulo. Ingressou no CAPS/AD em agosto de 2006.

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Através do fazer atividades, desta maneira surge a

possibilidade do profissional tornar-se um facilitador e

mediador do contexto vivenciado pelos pacientes no

setting terapêutico, observando, portanto, os fenômenos

intrapsíquicos, ali ocorridos, investigando e intervindo; o

fazer atividades ainda auxilia o paciente na estruturação

do seu dia-a-dia, permitindo-lhe também organizar-se em

seu cotidiano, bem como, em ampliar seus contatos

interpessoais. Procuro levar os casos para discussão

junto aos demais componentes da equipe para poder,

desta forma, colher mais informações com os demais

colegas, somando-se assim o meu olhar com os olhares

dos profissionais das outras especificidades;

posteriormente, assumo a buscativa e/ou a realização de

visitas domiciliares dos clientes em que eu sou a

profissional de referência. Sim, os contratos terapêuticos

são imprescindíveis, sendo realizados por mim de forma

individual e/ou no contexto grupal conforme o primeiro

contato com o paciente; o contrato terapêutico por si só,

define e esclarece ao paciente; o papel do terapeuta

ocupacional e da terapia ocupacional, bem como,

favorecer ao paciente a possibilidade em o mesmo

perceber e entender com maior clareza as normas

trabalhadas pelas áreas correlatas. O contrato ainda

facilita o estabelecimento do vínculo terapêutico e auxilia

o paciente a ter percepção da importância do tratamento,

sentindo a contenção de regras e limites por ele a ser

vivenciada. O ponto de sua contribuição está justamente

em o instrumental ser o diferencial da terapia ocupacional;

as atividades são as molas propulsoras deste nosso

instrumento de trabalho, adentramos com maior facilidade

no universo biopsicossocial dos pacientes, através das

possibilidades intrínsecas do fazer atividades

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estabelecidas nas dinâmicas processuais. Sim, os grupos

os quais realizo no contexto do CAPS/AD são: Grupo de

Múltiplas Drogas, Grupo de Orientações e Acolhimento,

Grupo de Educação em Saúde, Cozinha Terapêutica,

Grupo de Estimulação Cognitiva, Grupo com as famílias

dos pacientes do Grupo de Múltiplas Drogas, em

andamento a implantação da Oficina de Mosaico. O papel

do terapeuta ocupacional em um CAPS/AD é o de auxiliar

o dependente químico a aprender ou reaprender a

funcionar de forma diferente conseguindo alterar os

comportamentos disfuncionais para comportamentos

sadios conseguindo deste modo, melhorar as suas

relações interpessoais; através do fazer atividades,

instrumental da nossa profissão, surge a corroboração

das mesmas aos dependentes químicos em seu

cotidiano, propiciando na vivência dos diversos materiais

experimentados através do fazer (na relação triádica) a

(re)estruturação psíquica e também no dia-a-dia do

indivíduo. Não realizo análise de atividades dentro de uma

estética a ser seguida, pratico-a, entretanto, conforme

surjam os contatos com os clientes que vão compor os

respectivos Grupos Terapêuticos os quais realizo em

minha prática clínica. Em função da demanda ser

crescente, isto exige por parte do terapeuta ocupacional

que sejamos ágeis no momento das escolhas das

atividades a serem trabalhadas; porém dentro de um

contexto que ficam evidenciadas as necessidades

individuais mesmo que a tônica seja o grupo, permito-me

aguçar as habilidades intrínsecas como terapeuta

ocupacional lançando, portanto, um olhar de observação,

explorando a minha intuição na elaboração do

experimentar, explorar o desejo de conhecer para

desenvolver novas aptidões para fazer atividades, desta

forma, consigo visualizar de modo mais claro os

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potenciais terapêuticos de cada atividade, uma vez, que

busco conhecer várias técnicas para me organizar com os

materiais utilizados no setting terapêutico podendo me

tornar no momento da realização das atividades a

mediadora e facilitadora para que os pacientes possam

experimentar, explorar e vivenciar o arsenal dos materiais

escolhidos por eles e por mim, digo por mim, quando os

auxilio nas escolhas junto com eles quando houver

necessidade. No tratamento com dependentes químicos

tudo o é trabalhado pela equipe multiprofissional é de

extrema importância, mas talvez o que seja determinante

para que o indivíduo caminhe no tratamento, seja o ponto

referente aos aspectos motivacionais, os quais oscilam

muito de indivíduo para indivíduo, o que é observado

pelos profissionais nos estágios motivacionais

apresentados por cada paciente. Sim até por que com o

passar do tempo os membros das famílias tornam-se co-

dependentes no processo da dependência. As famílias

são solicitadas a comparecer ao CAPS/AD para serem

orientadas sobre a importância do seu engajamento ao

tratamento do seu familiar; são realizados, portanto,

grupos com as famílias objetivando fornecer informações

sobre as substancias psicoativas, como também, auxiliar

os membros em que a fissura se fizer presente alterando

significativamente os comportamentos dos indivíduos. O

abandono do tratamento na área da dependência química

acontece com muita freqüência em função das recaídas

serem a regra e não a exceção. Os indivíduos

dependentes passam por estágios motivacionais, sendo:

pré-contemplação; contemplação; determinação; ação;

manutenção; recaída (TERAPEUTA OCUPACIONAL, 29

anos)

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3.3 A opinião dos familiares

3.3.1 M. S., mãe de W. L. S., 54 anos, dona de casa.

O CAPS/AD realiza atendimentos com os familiares.

Acho muito importante essa ajuda já que toda a família

precisa de respaldo. Não posso avaliar o atendimento do

CAPS com nenhum cliente, nem com o meu filho, já que

de certa forma fomos (eu e meu marido) negligentes e

não participamos ativamente do tratamento. O W. L. S.,

não melhorou nada, acho que como continuou usando

droga e fazendo uso dos medicamentos, houve um atrito

que não fez bem para ele. Como tive um Acidente

Vascular Cerebral (AVC), conheço o trabalho da Terapia

Ocupacional, mas aqui no CAPS/AD, não sei como é

desenvolvido o trabalho realizado com meu filho. Descobri

que meu filho usava droga quando um rapaz, muito

conhecido na vizinhança por ser usuário de drogas, veio

buscar uma égua que tínhamos como pagamento das

drogas que meu filho usava. Fiquei sabendo pela minha

cunhada que faz tratamento no CAPS/AD e me informou

que seria bom para o W. L. S. iniciar o tratamento. Ele foi

trazido por uma tia. Já fez tratamento em uma clínica de

reabilitação em Marília por aproximadamente cinco ou

seis meses e participou dos Alcoólatras Anônimos. Em

outros tratamentos, o W. L. S. e seu irmão (que também é

usuário de drogas) relataram que sofreram muito por seu

pai ser mulherengo

e ter filhos fora do casamento. Meu

marido é muito bravo, autoritário e já tentou matar meus

filhos várias vezes por causa das drogas.

3.3.2 M. A. A. S., mãe do cliente P. R.S., 78 anos, dona de casa.

Segundo comentários de pessoas próximas, o CAPS/AD

de Lins é um lugar muito bom que dá atenção à todas as

pessoas que precisam de tratamento, tanto para quem

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usa drogas como para sua família, no entanto, nunca fui

até lá conhecer, devido à minha dificuldade de

locomoção. Meu filho teve uma grande melhora, ele está

mais paciente, brincalhão, tem saído menos de casa à

noite, está indo à igreja comigo e voltou a ser o que era

antes de usar drogas. A família ajuda e apóia muito o

tratamento do P. R. S., mas não temos o hábito de ir até o

CAPS/AD. Sua esposa é mais presente nesta questão,

ela também faz tratamento para parar de beber, mas

incentivamos para que ele vá e se trate. O P. R. S., é

muito fechado, não fala do seu vício, tanto que algumas

pessoas da nossa família nem sabem que ele usa drogas,

mas também não esconde que freqüenta o CAPS/AD, e

nos mostra todos os trabalhos que são feitos. Depois

que a primeira mulher dele faleceu, senti que estava

mudado, estava sempre nervoso, sem paciência,

começou a perder bens, diminuiu dedicação a seus filhos

e comércio. Ele nunca aceitou outro tratamento, quando

descobrimos há quatro anos, sempre dizia que conseguia

parar a hora que quisesse. Fiquei muito feliz por ele ter

iniciado o tratamento no CAPS/AD e ter apresentado

melhora. Acho que nem usa mais nenhum tipo de droga.

Espero que ele melhore cada vez mais e continue

seguindo o que vocês ensinam.

3.3.3 L. H. S. S, irmã do cliente P. R. S, e tia do cliente W. L. S., 44 anos,

sócia do pai na sorveteria.

Desconfiei que o P. R. S., estava usando drogas depois

que sua esposa faleceu. Ele parou de trabalhar na

padaria que tinha, estava sempre impaciente até com os

filhos, e tinha amizade com usuários de drogas. Ele veio

morar na casa dos meus pais e meu pai perguntou por

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que ele não dormia à noite. Ele respondeu com alguma

mentira que não me lembro e quando perguntei se usava

drogas ele disse que sim. Sempre o incentivei a procurar

um tratamento. Os irmãos pagariam e o ajudariam a sair

desse vício. Ele, no entanto, sempre se recusou. Quando

veio me dizer que iniciaria tratamento no CAPS/AS e não

poderia trabalhar na segunda-feira, fiquei surpresa e

muito feliz, assim pude perceber que ele havia mudado, já

que estava procurando tratamento. Ele melhorou muito

depois que iniciou o tratamento no CAPS/AD, está mais

brincalhão, responsável, não tem nem comparação. Já

com o W. L. S., acho que sempre desconfiamos que ele

usava drogas, mas não me lembro quando nem como

descobrimos. Ele já fez alguns outros tratamentos. Até há

melhora, ele fica alguns anos sem usar drogas e depois

volta a usá-las. Sempre apóio todo tratamento, mas ele

não consegue dar continuidade.

3.3.4 V. P. D. G., mãe do cliente R. W. D. G., 52 anos, dona de casa.

O CAPS/AD realiza atendimentos com as famílias, eu já

recebi atendimento da T.O., do médico psiquiatra, do

clínico, e acho que é muito importante, pois eles dão um

suporte a mais para o usuário de drogas. Meu filho depois

que iniciou o tratamento diminuiu o uso do computador e

fica mais tempo em casa. Nós participamos ativamente do

tratamento dele. Meu marido veio poucas vezes no

CAPS/AD porque ele trabalha, mas sempre que estamos

em casa, ele apóia muito o R. W. D. G. Não sei o que a

T.O. faz, mas sei tudo o que meu filho fez nas terapias

com vocês, como o abajur, o porta-retrato. Descobri que o

R. W. D. G., usava drogas quando ele me mostrou um e-

mail que tinha recebido da Polícia Federal dizendo que

seria preso pelo uso das drogas. Meu marido mandou ele

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pra São Paulo na casa da minha filha mais velha. Foi

quando ele teve uma crise por falta da droga, roubou um

carro e acabou sendo preso. Fiquei sabendo por uma ex-

vereadora que lhe indicou uma clínica em Araçatuba

chamada Refúgio Cristão, onde ele iniciou tratamento e

ficou por duas semanas, mas não se adaptou e voltou

para casa. Essa mesma pessoa me indicou, mais tarde, o

CAPS/AD. Foi quando ele começou a fazer tratamento.

Espero que meu filho saia daqui bem, curado, com a

cabeça em ordem, curado do vício.

3.5 A opinião dos Clientes

3.4.1 Cliente R. W. D. G.

O Cliente R. relata que a primeira droga que teve contato

foi o álcool com 17 anos de idade, sendo que fez seu uso

por curiosidade. Diz ter apoio da família no tratamento,

mas que inicialmente a família não entendia seu

problema. Faz tratamento por vontade própria, além de

ser obrigado por um mandado judicial, pois o cliente foi

preso em São Paulo por roubo à mão armada. Segundo

R. estava em São Paulo e sem usar e precisava arrumar

dinheiro para voltar para minha casa e para usar, acabei

roubando um carro e forjando uma arma. Fui preso por

assalto à mão armada, fiquei 2 anos e meio preso e agora

estou em prisão domiciliar . R. tem consciência de que a

dependência química é uma doença, ao falar sobre o

tratamento anterior em uma clínica de Araçatuba, diz que

não deu certo pois lá havia muitas brigas e não há um

atendimento como o do CAPS-AD de Lins onde há

suporte e ajuda para todos os clientes. Comenta que o

uso de uma droga nunca foi incentivo para o uso de outra,

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85

sua droga de preferência era a cocaína. Afirma estar em

abstinência desde que foi preso.

3.4.2 Cliente: L.

Começou a beber com 15 anos e usou cocaína aos 20

anos de idade por curiosidade. A família não o recrimina

pelo uso, finge não saber e diz que o mesmo não precisa

de tratamento. Relata estar fazendo tratamento no

CAPS/AD por vontade própria e que ficou sabendo sobre

o atendimento quando foi procurar ajuda no pronto-

socorro, sendo orientado pela assistente social. Relata já

ter desistido do tratamento no CAPS-AD, pois havia

começado um tratamento particular com psiquiatra mas

que acabou perdendo o emprego. Perdi bens materiais,

minha vida mudou para pior . Fica em casa e quando

precisa ajuda nos afazeres domésticos.

3.4.3 Cliente: P. R. S.:

Relata que a primeira droga que teve contato foi

Epofagim (remédio para emagrecer) e álcool quando tinha

11 anos. O álcool, meu irmão e meus amigos usavam e

eu queria saber qual era a sensação. O Epofagim foi

porque eu era gordo e meus amigos me recomendaram

usar, pois ajudava emagrecer . Conheceu o trabalho no

CAPS através de amigos que se tratavam lá e porque sua

mulher faz tratamento de álcool e depressão. Em relação

à família, o cliente relata: A minha família finge que não

vê. Fui casado por 12 anos e acabei ficando viúvo. Depois

de 15 anos me casei novamente, minha mulher é

dependente de álcool e também faz tratamento no

CAPS/AD; ela me ajuda muito e eu a ajudo . Diz que toda

parte do tratamento é importante, mas o ponto chave é a

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86

conversa com os profissionais e outros clientes. Comenta

que já foi preso há quatro anos quando saia de uma boca

de fumo com algumas pedras de crack, ao que pagou

fiança e saiu. Não conhece o trabalho de TO pois faz uma

semana que freqüenta o CAPS. A cocaína foi um

incentivo para o uso de crack e segundo ele, quando

comecei a usar crack perdi bens materiais como casa,

terrenos, carros, e perdi meus objetivos de vida. Tive uma

lanchonete e depois uma padaria, acabei me endividando

e passei a padaria para minha irmã tocar. Quando meus

filhos completaram a maioridade foi passada a eles. Hoje,

trabalho na sorveteria do meu pai.

3.4.4 Cliente W. L. S.

A primeira droga que usei foi lança-perfume. Tinha por

volta de quinze anos. Alguns amigos bebiam, outros

fumavam maconha e eu não sabia a sensação que dava

nenhuma droga. Acabei usando lança-perfume por

curiosidade, ninguém me incentivou. Minha família

sempre me ajudou, me apoiou nos tratamentos e

entendeu que eu preciso de ajuda. Quando comecei o

tratamento aqui no CAPS/AD, foi por insistência de uma

tia. Eu vejo a dependência química como uma doença

que não tem cura, a gente tem que aprender viver sem

ela e com as tentações. Nunca pensei em desistir do

tratamento, eu faltei algumas vezes, mas foi por causa do

lava - car. Por enquanto, não tive contato com os outros

atendimentos oferecidos pelo CAPS/AD, só com este

grupo, mas acho que tudo é importante, não dá pra ficar

sem nada. Nunca fui preso, mas fui detido e meu pai

pagou a fiança. Depois que comecei a usar drogas eu

mudei muito, mudei pra pior, tudo ficou ruim, o convívio

com meus pais, desempenho físico, força de vontade,

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falta de criatividade, perdi o emprego, perdi amizades,

meus pais e amigos perderam a confiança em mim, e

principalmente perdi o amor-próprio. Acho que a Terapia

Ocupacional é muito importante pra todos nós que

estamos aqui, pois ela mexe com o desenvolvimento da

mente e capacidade.

3.4.5 Cliente A. B.:

A primeira droga que usei foi a maconha. Eu tinha uns 17

anos, comecei por curiosidade, para saber o que fazia

com a pessoa, qual a reação que causava. Minha família

me ajuda muito, me apóia bastante no tratamento.

Quando eu vi que minha vida estava sem sentido, resolvi

procurar ajuda, e iniciei o tratamento aqui no CAPS/AD

por vontade própria. Acho sim, que a dependência

química é uma doença. Nunca desisti, faltei em alguns

atendimentos, mas não desisti, porque eu sei que se

desistir eu não vou conseguir me recuperar. Acho que

tudo aqui no CAPS/AD é muito importante para o

tratamento. Nunca fui preso, mas depois que comecei a

usar drogas o convívio com minha família ficou muito

conturbado, ficava o tempo todo fora de casa, comecei a

matar serviço até ser mandado embora.

3.5 Discussão

O presente estudo procurou demonstrar a intervenção da Terapia

Ocupacional através do método dinâmico, ao atuar na reabilitação de

dependentes químicos, com um grupo aberto heterogêneo formado por

homens entre 22 e 50 anos, freqüentadores do CAPS/AD de Lins.

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88

Alfaro apud Twerski (1993), diz que quando qualquer função normal se

torna dependente do álcool, não importando a quantidade consumida

comer,

dormir, sociabilizar-se, ter relações sexuais etc, são funções normais. Quando

qualquer uma destas funções ou mais se torna dependente do consumo do

álcool para sua execução, pode-se dizer que existe alcoolismo.

Segundo Formigoni, Castel (1999) durante anos, a dependência de

álcool e drogas era vista como um desvio de caráter, passando neste século a

ser considerada uma doença, avaliada não apenas pela ótica da moral, mas

também da medicina. Uma avaliação adequada e abrangente é fundamental

para o desenvolvimento do tratamento apropriado, como na pesquisa de

problemas relacionados ao uso de substâncias e da efetividade das

intervenções.

Os pacientes que apresentam intoxicação ou abstinência de substâncias

acompanhadas de sintomas psiquiátricos, mas que não satisfazem os critérios

para padrão sindrômico de sintoma específico recebem o diagnóstico de

intoxicação por substância ou abstinência de substância, possivelmente em

associação com dependência ou abuso (SADOCK; SADOCK, 2007).

As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso da

atividade, elemento centralizador e orientador, na construção complexa e

contextualizada do processo terapêutico. (USP, p.70).

Segundo Benetton (1994), os elementos que caracterizam essa terapia

ocupacional são as atividades e a entrada do sujeito no sistema terapêutico. É

justamente o uso de atividades pelo sujeito alvo da intervenção que define uma

atuação específica para uma área de interação localizada entre o físico e o

psíquico, entre o objetivo e o subjetivo, entre o material e o imaterial.

As atividades direcionam o ato, a ação das terapeutas e não ficam

aprisionadas pela história nos hospitais psiquiátricos de ocupação e trabalho,

nos asilos e manicômios. É a especificidade do trabalho da Terapia

Ocupacional. As atividades expressivas, desenvolvidas num setting terapêutico

que inclui a tríade terapêutica (terapeuta-paciente-atvidade), podem ser usadas

como caminho para demonstrar a correlação entre fatos, objetos e pessoas

(BENETTON, 1994).

Para favorecer tal processo, a pesquisa enfocou uma abordagem

dinâmica no processo de intervenção, sendo norteado pela relação que se

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89

estabelece entre paciente-terapeuta-atividade para favorecer o resgate da

subjetividade e singularidade dos clientes freqüentadores do CAPS/AD de Lins.

A pesquisa realizada demonstrou que a clínica da Terapia Ocupacional ao

se utilizar da abordagem dinâmica, favorece uma reconstrução do cotidiano

saudável do indivíduo através da atividade onde aprender a fazer coisas se

torna algo muito maior que apenas uma atitude condicionada, dando condições

ao cliente de reestabelecer vínculos perdidos pelo abuso de múltiplas drogas.

3.6 Resultados

Pôde-se observar através dos relatórios de evolução dos atendimentos

prestados no CAPS/AD de Lins, que através das atividades utilizadas no

contexto terapêutico, foi possível estimular a capacidade pragmática e volitiva

dos clientes. Estes tiveram contato com a produção e a concretização de um

produto final.

O interesse pelas atividades aumentou quando os clientes perceberam

que eram capazes de construir coisas que além de úteis, eram também bonitas

e decorativas.

Foi possível concluir, após este estudo de caso, que a terapia

ocupacional é de fundamental importância, para a reestruturação da práxis

produtiva, assim como proporcionar a auto-valorização e o maior contato com a

realidade.

O cliente P. R. S. obteve melhora significativa, diminuindo o uso de

crack, melhorando o relacionamento familiar e principalmente seu desempenho

laborativo.

O cliente W. L. S. obteve melhora significativa na aceitação do

tratamento, tendo iniciativa em pedir ajuda,

O cliente R. W. D. G. obteve melhora significativa

O cliente L J. completou parcialmente o tratamento, pois o mesmo

ingressou em uma atividade profissional, não sendo possível obter conclusão

de um diagnóstico situacional.

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90

O cliente A.B. participou apenas em duas terapias, não sendo possível

analisar e descrever uma provável melhora.

O cliente R. C. participou esporadicamente do tratamento, apresentando

muitos problemas familiares , o que resultou no abandono do tratamento.

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91

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Realizada a pesquisa e o levantamento bibliográfico referente ao

assunto proposto, foi possível verificar que o Centro de Atendimento

Psicossocial de Álcool e Drogas de Lins, com a intervenção da Terapia

Ocupacional por meio de suas atividades, promove um maior contato com a

realidade para os clientes que são usuários de drogas há mais tempo.

Diante disso, propõe-se:

a) que o CAPS/AD de Lins divulgue seu trabalho realizado a outras

instituições de saúde estadual e municipal afim de facilitar o

ingresso de usuários de álcool e drogas para o tratamento

especializado;

b) que os profissionais envolvidos neste serviço possam sempre estar

se aperfeiçoando, fazendo cursos e tudo que for para melhorar o

estado dos clientes;

c) que o setor de terapia ocupacional do local seja organizado a partir

dos desejos do cliente em relação ao fazer ampliado que tecem a

clínica da terapia ocupacional;

d) que os dirigentes do CAPS/AD juntamente com a coordenadoria

municipal da saúde busquem subsídios financeiros municipais e/ou

estaduais afim de que os profissionais do local possam desenvolver

uma assistência com qualidade e dignidade;

e) que o CAPS/AD de Lins possa ser implantado mais próximo do

centro da cidade, facilitando assim a inserção social de seus

clientes

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CONCLUSÃO

Diante das teorias explanadas e dos resultados obtidos, demonstrou-se

a importância da clínica de Terapia Ocupacional com clientes do CAPS/AD de

Lins, contribuindo para melhora de vida dos mesmos a partir da utilização de

atividades.

Os objetivos levantados para a realização do estudo de caso foram

alcançados, uma vez que ficou demonstrada, por meio das observações, a

reestruturação psíquica e social dos clientes, tornando-se capazes de

reescrever suas histórias. Tal fenômeno ocorreu através dos atendimentos

realizados no local pesquisado.

A pergunta-problema e a hipótese levantada no início da pesquisa

evidenciam que a clínica de Terapia Ocupacional é eficaz no tratamento de

dependentes químicos, a fim de se tornarem capazes de descobrir e

desenvolver novas habilidades e dirigir seu destino, na medida do possível.

Propõe-se que dêem continuidade e aprofundamento nesta pesquisa

para que haja maiores benefícios aos clientes dos CAPS/AD em geral.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A Roteiro de Estudo de Caso

1 INTRODUÇÃO

1.1 Anamnese

2 OS ATENDIMENTOS REALIZADOS

2.1 Materiais Utilizados: serão específicos para cada atendimento

2.2 Métodos terapêuticos utilizados

2.3 Técnicas utilizadas

2.4 Entrevistas como os cliente e equipe multiprofissional

3 Discussão

Análise das intervenções realizadas junto aos clientes que freqüentam o

Centro de Atenção Psicossocial de Alcoolismo e Drogas de Lins/SP sob a ótica da

clínica da Terapia Ocupacional.

4 RESULTADOS

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Descrição dos resultados obtidos pela intervenção de terapia ocupacional.

APÊNDICE B Roteiro de Observação Sistemática

1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Sexo:

Idade:

Residência: Cidade: Estado

2 ASPECTOS A SEREM OBSERVADOS

2.1

2.2 Relacionamento familiar

2.3 Capacidade pragmática e volitiva

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APÊNDICE C - Roteiro de entrevista com Médico Psiquiatra

I Dados de identificação

Sexo:..............................................................................................................................

Idade:..............................................................................................................................

Residência: Cidade:..................................................................Estado:.........................

II Perguntas

1- Você conhece o trabalho da terapia ocupacional no CAPS/AD?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

2- Você acha importante a presença da família no tratamento com dependentes

químicos?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

3- No seu ponto de vista, quais as problemáticas mais aparentes que leva o

dependente a abandonar o tratamento?

R:..............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

4- Quando o individuo e considerado dependente químico?

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99

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

5- Em sua opinião qual a importância da Terapia Ocupacional no tratamento de

dependentes?

R:................................................................................................................................

...................................................................................................................................

...................................................................................................................................

6- Na maioria dos casos atendidos no CAPS/AD de Lins, a família do usuário é

presente no tratamento?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

7- Qual o papel do psiquiatra no CAPS/AD?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

8- Você acredita em uma cura, ou seja, que o dependente químico não voltará a

fazer uso de drogas como fazia antes?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

9- Os principais sintomas na abstinência as drogas?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

10- Como é o prognostico do dependente químico?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

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100

APÊNDICE D Roteiro de Entrevista com Médico Clínico Geral

I Dados de identificação

Sexo:..............................................................................................................................

Idade:..............................................................................................................................

Patologia:........................................................................................................................

Residência: Cidade:..................................................................Estado:.........................

II Perguntas

1

Você conhece o trabalho da terapia ocupacional no CAPS/AD de Lins?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

4

Você acha importante a presença da família no tratamento com dependentes

químicos?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

5

No seu ponto de vista, quais as problemáticas mais aparentes que leva o

dependente a abandonar o tratamento?

R:..............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

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101

6

Quando o individuo e considerado dependente químico?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

7

Em sua opinião qual a importância da Terapia Ocupacional no tratamento de

dependentes?

R:................................................................................................................................

...................................................................................................................................

...................................................................................................................................

8

Na maioria dos casos atendidos no CAPS/AD de Lins, a família do usuário é

presente no tratamento?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

9

Qual o papel do clínico geral no CAPS/AD?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

10

Você acredita em uma cura, ou seja, que o dependente químico não voltará

a fazer uso de drogas como fazia antes?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

11

Os principais sintomas na abstinência as drogas?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

12

Como é o prognostico do dependente químico?

R:...............................................................................................................................

..................................................................................................................................

..................................................................................................................................

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102

APÊNDICE E Roteiro de Entrevista com Enfermeiro

I Dados de identificação

Sexo:..............................................................................................................................

Idade:..............................................................................................................................

Patologia:........................................................................................................................

Residência: Cidade:..................................................................Estado:.........................

II Perguntas

1 Como é feito a orientação e administração medicamentosa no CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2

Qual o papel do enfermeiro no CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

3

Na crise de abstinência de drogas, qual o papel do enfermeiro?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

4

Você realiza atendimentos familiares?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

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103

5

Na maioria dos casos atendidos no CAPS/AD de Lins, a família do usuário é

participante no tratamento?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

6

No caso de abandono ao tratamento qual sua conduta terapêutica?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

7

O que você acha de mais importante no tratamento de dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

8

Em sua opinião, qual o papel da terapia ocupacional, no tratamento de

dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

9

Na crise de abstinência você já sofreu agressão física de algum paciente do

CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

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104

APÊNDICE F Roteiro de Entrevista com Professor de Alfabetização

I Dados de identificação

Sexo:..............................................................................................................................

Idade:..............................................................................................................................

Patologia:........................................................................................................................

Residência: Cidade:..................................................................Estado:.........................

II Perguntas

1

Qual o seu papel no tratamento de dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2

O que você acha de mais importante no tratamento de dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

3

Você conhece o trabalho da terapia ocupacional no CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

4

Você acha importante a presença da família no tratamento de dependentes

químicos?

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105

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

5

Em sua opinião, qual o fator desencadeante para o aumento de dependentes

químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

6

Como desenvolver um trabalho diversificado, diante de tantas diferenças entre

pacientes?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

7

Alguma vez você já se sensibilizou com a história de algum paciente e pensou:

E se fosse meu filho? .

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

8

Qual o papel do educador quando um paciente entra em crise de abstinência das

drogas?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

9

No caso de abandono do tratamento, qual a sua conduta terapêutica?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

10 Você já sofreu violência física por algum paciente do CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

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106

APÊNDICE G Roteiro de Entrevista com Assistente Social

I Dados de identificação

Sexo:..............................................................................................................................

Idade:..............................................................................................................................

Patologia:........................................................................................................................

Residência: Cidade:..................................................................Estado:.........................

II Perguntas

1 Você conhece o trabalho da terapia ocupacional dentro do CASP/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2

Como você desenvolve o seu trabalho juntamente com os outros profissionais

dessa instituição?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

3

O que você acha de mais importante no tratamento de dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

4

Qual sua conduta terapêutica quando um paciente abandona o tratamento?

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107

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

5

Houve casos em que você sofreu ou emocionou-se junto com o paciente? Como

foi? Qual conduta adotar quando isso acontecer?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

6

Para você qual a importância da família durante o tratamento de dependentes

químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

7

Você realiza atendimentos familiares?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

8

Qual sua conduta terapêutica quando o paciente abandona o tratamento?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

9

Qual a sua conduta com dependentes que se recusam a fazer o tratamento?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

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108

APÊNDICE H Roteiro de Entrevista com Psicóloga

I Dados de identificação

Sexo:..............................................................................................................................

Idade:..............................................................................................................................

Patologia:........................................................................................................................

Residência: Cidade:..................................................................Estado:.........................

II Perguntas

1

Você conhece o trabalho da terapia ocupacional dentro do CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2

Qual o seu trabalho dentro do CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

3

Você acha importante o trabalho dos outros profissionais pra a recuperação dos

dependentes químicos? Por quê?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

4

O que você acha de mais importante no tratamento de dependentes químicos?

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109

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

5

Você acha importante a presença da família durante o tratamento de

dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

6

Você realiza atendimentos familiares?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

7

No caso de abandono ao tratamento qual sua conduta terapêutica?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

8

Quais suas expectativas em relação ao prognostico dos pacientes do CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

9

Você acredita na cura de dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

10 Você já sofreu agressão física por parte de seus pacientes?

R:....................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

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110

APÊNDICE I Roteiro de Entrevista com Terapeuta Ocupacional

I Dados de identificação

Sexo:..............................................................................................................................

Idade:..............................................................................................................................

Patologia:........................................................................................................................

Residência: Cidade:..................................................................Estado:.........................

II Perguntas

1

Como o Terapeuta Ocupacional pode contribuir no tratamento dos dependentes

químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2

Quando o dependente químico abandona o tratamento qual a sua conduta?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2

Em relação aos contratos terapêuticos na Terapia Ocupacional, você costuma

realizá-los?.....................................................................................................................

3.1- Acha Importante?

( )Sim ( )Não

Por quê?

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111

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

3

Até que ponto o instrumental do Terapeuta Ocupacional pode contribuir no

processo terapêutico?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

4

Você faz grupos de atendimentos com dependentes químicos?

( )Sim ( )Não

Quais:.............................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

5

Qual o papel do Terapeuta Ocupacional em um CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

6

Você costuma realizar análises das atividades na terapia ocupacional? Por quê?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

7

O que você acha mais importante no tratamento de dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

8

As famílias costumam fazer parte do tratamento de dependentes químicos?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

10 Em sua opinião, o que leva o dependente químico abandonar o tratamento?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

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112

APÊNDICE K Roteiro de entrevista com os usuários

I Dados de identificação

Sexo:......................................................................................................................

Idade:.....................................................................................................................

Residência: Cidade:..........................................................Estado:.........................

II Perguntas

1

Qual foi a primeira droga que você teve contato?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2

Quantos anos você tinha quando fez uso pela primeira vez?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

3

Você fez uso por insistência de seus amigos, por familiares também fazer uso?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

4

Sua família entende as suas dificuldades diante as drogas e o ajuda?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

5

Você começou o tratamento no CAPS/AD por vontade própria?

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113

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

6

Você tem consciência de que a dependência química é uma doença?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

7

Você já desistiu do tratamento? Por qual motivo?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

8

Porque resolveu voltar?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

9

O que você acha de mais importante no seu tratamento no CAPS/AD?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

10

Você já foi preso por conta das drogas?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

11

O que mais mudou na sua vida depois que começou a usar drogas?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

12

Qual a importância da terapia ocupacional no seu tratamento?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

13

Como é sua vida quando sai do CAPS/AD?

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114

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

14

Alguma droga foi incentivo para o uso de outras drogas?

R:....................................................................................................................................

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

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115

Anexos

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116

Anexo A

Fotos das Atividades

Confecção de porta-retrato de jornal

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117

Abajur de palito de sorvete

Tv de papelão

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118

Pintura em tela

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119

Bolo de chocolate

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120

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