a continuidade tÓpica na linguagem dos...

15
1366 A CONTINUIDADE TÓPICA NA LINGUAGEM DOS QUADRINHOS Maria da Penha Pereira LINS (Universidade Federal do Espírito Santo) ABSTRACT: This study focuses on the management of the discoursive topic in sequences of comic strips and it is inscribed within the research area dedicated to continuum oral/ written. Taking a funcionalist perspective, in special that od Textual Linguistics, the study considers the topic not a simple, discrete function, but a complex functional domain, a scaling notion thar characterizes itself by the properties of central concern and relevance. Supported by research models of oral texts, mainly Koch et al (1992), a sequence of daily comic strips produced by Brazilian author are analyzed in a research type both qualitative and interpretative. The textual organization is detected in observing both linear and hierarchical levels, identifying topic introduction, maintenance and change strategies. This study shows that thematic continuity is guaranteed by the combination of linguistic and visual elements and it is made by similar strategies used both oral and written texts, in addition to those specific of comic strips sequences. KEYWORDS: Comic strips; Topic; Continuity. 1. Introdução Os textos de quadrinhos apresentam uma modalidade própria de linguagem. Operam com dois elementos gráficos: o verbal e o não-verbal, havendo uma relação de complementaridade entre o visual e o lingüístico. Dos elementos que compõem os quadrinhos. O que dá mais dinamicidade ao texto são os balões. Eles ampliam o nível de significação, além de caracterizar a fala dos participantes da conversação. Também as onomatopéias complementam a linguagem dos quadrinhos e lhes trazem um efeito de natureza sonora. Elas aparecem associadas a algum participante ou situação e facilitam a contextualização dos fatos e as relações de sentido. A conjunção do visual com o lingüístico torna o texto de quadrinhos objeto ideal para pesquisas lingüísticas centradas na conversação. O visual supre lacunas que, por acaso, possam ser deixadas pelo elemento lingüístico e vice-versa. A imagem contida no interior dos quadros geralmente apresenta uma cena (cenário), complementada por textos verbais, nos balões e legendas, que compõem o enquadramento: o cenário é arranjado no espaço interior dos quadrinhos para que, associado ao verbal, transmita a sensação de movimento, de ação e, assim organizados, permitam o desenvolvimento da história. Assim, pode-se considerar que, no que diz respeito às tiras de quadrinhos, uma história se passa no espaço de uma só tira, perpassando os quadros que a constituem; mas, também, que de tira para tira, um assunto se desenvolva atinja ampliações consideráveis. Por se constituírem em textos escritos com pretensão de se mostrarem orais, já que são produzidos na modalidade oral da língua, pode-se afirmar que os textos de quadrinhos são textos escritos, mas que querem se fazer escutar. Tanto o texto escrito quanto o falado têm sido estudados exaustivamente por especialistas: ora analisam-se textos escritos, em estudos que centram seus interesses sobre processos cognitivos no fluxo da fala e da escrita Chafe, 1984), sobre a organização tanto de uma quanto de outra (van Dijk, 1982, 1992; Sacks et al, 1974; Schifrin, 1987; Tannen, 1985, 1989), ora sobre a descrição de gêneros mistos em que índices da fala aparecem na escrita e vice versa (Paredes e Silva, 1997).

Upload: vanquynh

Post on 01-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1366

A CONTINUIDADE TÓPICA NA LINGUAGEM DOS QUADRINHOS

Maria da Penha Pereira LINS (Universidade Federal do Espírito Santo)

ABSTRACT: This study focuses on the management of the discoursive topic in sequences of comic strips and it is inscribed within the research area dedicated to continuum oral/ written. Taking a funcionalist perspective, in special that od Textual Linguistics, the study considers the topic not a simple, discrete function, but a complex functional domain, a scaling notion thar characterizes itself by the properties of central concern and relevance. Supported by research models of oral texts, mainly Koch et al (1992), a sequence of daily comic strips produced by Brazilian author are analyzed in a research type both qualitative and interpretative. The textual organization is detected in observing both linear and hierarchical levels, identifying topic introduction, maintenance and change strategies. This study shows that thematic continuity is guaranteed by the combination of linguistic and visual elements and it is made by similar strategies used both oral and written texts, in addition to those specific of comic strips sequences. KEYWORDS: Comic strips; Topic; Continuity. 1. Introdução

Os textos de quadrinhos apresentam uma modalidade própria de linguagem. Operam

com dois elementos gráficos: o verbal e o não-verbal, havendo uma relação de complementaridade entre o visual e o lingüístico. Dos elementos que compõem os quadrinhos. O que dá mais dinamicidade ao texto são os balões. Eles ampliam o nível de significação, além de caracterizar a fala dos participantes da conversação. Também as onomatopéias complementam a linguagem dos quadrinhos e lhes trazem um efeito de natureza sonora. Elas aparecem associadas a algum participante ou situação e facilitam a contextualização dos fatos e as relações de sentido.

A conjunção do visual com o lingüístico torna o texto de quadrinhos objeto ideal para pesquisas lingüísticas centradas na conversação. O visual supre lacunas que, por acaso, possam ser deixadas pelo elemento lingüístico e vice-versa. A imagem contida no interior dos quadros geralmente apresenta uma cena (cenário), complementada por textos verbais, nos balões e legendas, que compõem o enquadramento: o cenário é arranjado no espaço interior dos quadrinhos para que, associado ao verbal, transmita a sensação de movimento, de ação e, assim organizados, permitam o desenvolvimento da história.

Assim, pode-se considerar que, no que diz respeito às tiras de quadrinhos, uma história se passa no espaço de uma só tira, perpassando os quadros que a constituem; mas, também, que de tira para tira, um assunto se desenvolva atinja ampliações consideráveis.

Por se constituírem em textos escritos com pretensão de se mostrarem orais, já que são produzidos na modalidade oral da língua, pode-se afirmar que os textos de quadrinhos são textos escritos, mas que querem se fazer escutar.

Tanto o texto escrito quanto o falado têm sido estudados exaustivamente por especialistas: ora analisam-se textos escritos, em estudos que centram seus interesses sobre processos cognitivos no fluxo da fala e da escrita Chafe, 1984), sobre a organização tanto de uma quanto de outra (van Dijk, 1982, 1992; Sacks et al, 1974; Schifrin, 1987; Tannen, 1985, 1989), ora sobre a descrição de gêneros mistos em que índices da fala aparecem na escrita e vice versa (Paredes e Silva, 1997).

1367

Em moldes extremos, poder-se-ia classificar o discurso oral da conversa espontânea como um discurso sem organização prévia, isto é, não preparado antes de ser expresso, ou melhor dizendo, como um discurso relativamente não planejável de antemão (“locally menaged”), o que tornaria difícil predizer a forma e a direção do assunto para a seqüência inteira (Koch, 1991). Já o discurso escrito leva a pensar numa organização prévia da idéia ou conjunto de idéias a serem transmitidas pelo comunicador (Ochs, 1979). Afirma-se haver mais envolvimento entre os participantes da interação na fala e mais distanciamento na escrita (Tannen, 1985). Na interação face-a-face, a preocupação dos interlocutores parece estar centrada no desenvolvimento da interação em si; já na escrita, o foco parece estar no assunto discutido.

Koch (1992) explica que, entre as características distintivas mais freqüentemente apontadas entre as modalidades falada e escrita, estão as seguintes: a fala é não-planejada, fragmentária, incompleta, pouco elaborada, tem predominância de frases curtas, simples ou coordenadas e apresenta pouco uso de passivas; a escrita é planejada, completa, elaborada, tem predominância de frases complexas, com subordinação abundante e mostra emprego freqüente de passivas. No entanto, previne a autora, estas diferenças nem sempre distinguem as duas modalidades, até porque existe uma escrita informal que se aproxima da fala e uma fala formal que se aproxima da escrita, de acordo com determinadas situações comunicativas. Desse modo, define Koch (1992), a escrita formal e a fla informal constituem os pólos opostos de um contínuo, ao longo do qual se situam diversos tipos de interação verbal.

No entanto, não se tem conhecimento de que haja alguma descrição do gênero “quadrinhos”, no que se refere à especificidade de combinação de componentes visuais e verbais. Os textos dos diálogos, uma mistura de oral com escrito, constituem um gênero de texto que é planejado para parecer não-planejado, ou seja, parece haver a preocupação de se construir uma espontaneidade verbal, como um “parecer ser”, que é minuciosamente planejado anteriormente. O texto de quadrinhos reflete bem a questão do oral/ escrito, representa um gênero discursivo que não é oral, mas é oral, porém se atualiza na escrita e se completa com o visual. É um texto para ser lido, mas com o objetivo de se fazer escutar.

Esse caráter de informalidade dos textos de quadrinhos e sua elaboração fragmentada, principalmente no que se refere a tiras diárias, faz a aproximação deste tipo de texto com o texto falado, uma vez que a tira é constituída de quadros e os tópicos são desenvolvidos dia-a-dia, de tira para tira, numa seqüência em que inserções e mudanças de assuntos promovem continuidades e descontinuidades em sua organização global.

Parece haver o uso de estratégias no gerenciamento do tópico discursivo em seqüências de tiras diárias de quadrinhos, bem como uma coerência mantida pela continuidade tópica, que se faz a partir da combinação do componente lingüístico com o visual. Apesar de haver uma descontinuidade temporal no que diz respeito à publicação das tiras de quadrinhos, há, no entanto, uma continuidade tópica, que apresenta semelhanças com a forma de organização tópica de textos falados, principalmente quanto às estratégias referentes ao componente lingüístico. Além disso, as tiras de quadrinhos apresentam, ainda, estratégias visuais de manutenção do tópico, recurso característico especificamente desse gênero discursivo.

1368

2. O tópico discursivo Há um consenso entre estudiosos do discurso sobre o fato de que cada enunciado,

numa seqüência conversacional, é tópica, semântica ou pragmaticamente relevante para o enunciado diretamente seguinte ou precedente, a conversa como um todo será percebida como coerente, ou seja, apresenta uma continuidade que lhe dá caráter de logicidade. O que não significa, necessariamente, que a ausência dessa relação acarrete incoerência. As rupturas, entre elas e principalmente as digressões, que poderiam ser vistas como rupturas dentro da conversação, são tratadas, por exemplo, por Dascal e Katriel (1979) como a substituição de um conjunto de relevâncias tópicas corrente por outro, o que não implicaria necessariamente uma descontinuidade textual, uma vez que o foco inicial pode voltar à tona. O tópico é gerenciado na conversação dentro de uma relação de organicidade, que se manifesta pela interdependência nos planos horizontal e vertical.

A depreensão de tópicos em textos implica a necessidade de estabelecer o uso dos termos “assunto” e “tema”. Goutsos (1996) afirma que o tópico representa um “fio unificado” que transpassa o texto como um todo e, assim, é expandido, ou seja, o tópico é visto como uma estrutura ou como um frame unificado. Nesse caso, a análise centra-se menos sobre “o que” se fala e mais sobre “o como” se fala de determinado tema. Dentro dessa perspectiva, a focalização é feita na organização do discurso como um todo na busca da definição do tópico, isto é, aquilo de que se fala provém necessariamente do modo como se fala. Assim, teoricamente, tópico pode ser representado como uma estrutura organizada que opera tanto no interior quanto fora das fronteiras das sentenças. E não é definido e identificado como uma unidade a priori, mas como resultado de marcação de fronteiras. Desse modo, a aplicação desse modelo deve enfatizar a seqüencialidade e a identificação de traços lingüísticos, e a segmentação por fronteiras é que leva à percepção da coerência dentro da seqüencialidade.

Koch et al (1992: 361) previnem que a fixação de critérios para a depreensão de unidades discursivas é dificultada por fatores como a interferência de pressuposições e conhecimentos partilhados pelos falantes, cuja inferência depende, em grande parte, da sensibilidade dos analistas; a fluidez com que muitas das vezes se desenvolve a conversa, nem sempre apresentando marcas formais que delimitem nitidamente as unidades; e a atuação de elementos não-verbais, como gestos, olhares, expressões fisionômicas, aos quais o analista nem sempre tem acesso. Por isso, a necessidade de se definir a categoria “tópico discursivo” com segurança e objetividade. Desse modo, Koch et al tomam a categoria “tópico” no sentido de “acerca de” (aboutness), afirmando que ele se manifesta mediante enunciados formulados pelos interlocutores, a respeito de um conjunto de referentes explícitos ou inferíveis, concernentes entre si e em relevância num determinado ponto da mensagem. Assim, as propriedades definidoras da categoria tópico são as de centração e organicidade. A propriedade da centração abrange três traços:1) concernência, 2) relevância e 3) pontualização. A organicidade compreende relações de interdependência nos planos hierárquico e seqüencial, englobando as dependências de super-ordenação e sub-ordenação entre tópicos que se implicam pelo grau de abrangência do assunto e pelas articulações intertópicas relativas a adjacências ou interposições na linha discursiva.

Koch (1992), ao analisar textos falados, define tópico como “aquilo sobre que se fala” e previne que a noção de tópico discursivo é mais complexa e abstrata. Não representa uma função simples, discreta, mas um domínio funcional complexo, uma noção escalar que, abrangendo vários aspectos, manifesta-se num continuum.

1369

A autora postula que um texto conversacional é constituído de fragmentos recobertos por um mesmo tópico. Cada conjunto de fragmentos constitui uma unidade de nível mais alto, sucessivamente, sendo que a cada uma dessas unidades, em seu próprio nível, representa um tópico. Níveis hierárquicos são distinguidos, com a finalidade de classificar o tópico dentro da seguinte classificação: 1) Segmento tópico – fragmento de nível mais baixo; 2) Subtópico – conjunto de segmentos tópicos; 3)Quadro tópico – conjunto de subtópicos; 4. Supertópico – um tópico superior

Koch exemplifica a noção acima descrita com o estudo de um fragmento de conversa do Projeto NURC, exaustivamente estudado pela equipe responsável pela análise da organização textual-interativa do Projeto “Gramática do Português Falado”, em que se podem distinguir dois supertópicos: FAMÌLIA e PROFISSÂO. O supertópico FAMÌLIA divide-se em quatro quadros tópicos (QT): 1) tamanho da família; 2) papel da mulher casada; 3) relacionamento entre os filhos e 4) os filhos e a escola. Esses quadros tópicos, por sua vez, se subdividem em vários subtópicos. O QT “Papel da mulher casada”, por exemplo, contém subtópicos tais quais “trabalho com os filhos”, “acúmulo de tarefas dentro e fora de casa” e “abandono da vida profissional por causa dos filhos”. Esses subtópicos são constituídos por segmentos tópicos, que nem sempre se apresentam em ordem linear, podendo segmentos tópicos pertencentes a subtópicos diferentes se apresentarem intercaladamente.

Quanto a isso, Koch (1992) afirma que as descontinuidades no seqüenciamento tópico constituem dois grandes grupos: 1) processos de inserção e 2) processos de reconstrução.

As inserções são definidas como segmentos discursivos de extensão variável que provocam uma espécie de suspensão temporária do tópico em curso. As inseções desempenham funções interativas relevantes, como explicar, ilustrar, atenuar, fazer ressalvas, introduzir avaliações ou atitudes do locutor, etc., e podem ser realizadas por vontade do próprio locutor, ou podem ser, também, hetero-condicionadas, isso acontece quando o interlocutor assalta o turno e faz uma pergunta e/ou pede um esclarecimento, o que leva o locutor a ser obrigado a interromper sua elocução e responder ao interlocutor.

A autora avisa que há um tipo de inserção que, pelo menos aparentemente, não desempenha qualquer função relativamente ao tópico em curso, é sentida como uma quebra no fio discursivo; é a digressão. Koch informa, ainda, que alguns autores consideram que as digressões causam um afrouxamento da coerência textual, a não ser quando vêm introduzidas por marcadores de digressão (a propósito,, por falar nisso, abrindo um parênteses, antes que eu me esqueça, desculpe interromper, etc). O uso desses marcadores revela que o falante tem consciência de que está provocando uma ruptura no desenvolvimento do tópico. As digressões, além de poder ser introduzidas por marcadores que alertam o interlocutor quanto à suspensão temporária do tópico, podem, também, ser encerradas por meio de marcadores (voltando ao assunto, mas onde é que estávamos mesmo?), que mostram claramente a intenção de apenas fazer um parêntese no fluxo do discurso. Segundo a autora, as inserções e as digressões não só não prejudicam a coerência, mas, pelo contrário, muitas vezes ajudam a construí-la.

A reconstrução é definida como a reelaboração da seqüência discursiva, que provoca também uma diminuição de ritmo no fluxo informacional, com a volta de conteúdos já veiculados, é uma espécie de “patinação” na progressão discursiva. A função da reconstrução é formular melhor ou reformular um segmento maior ou menor do texto já

1370

produzido, com o objetivo de sanar problemas, detectados pelo próprio locutor, ou pelo parceiro. São as correções ou reparos, as repetições, os parafraseamentos e adjunções. Mentis (1988) esclarece que o tópico de uma seqüência de discurso deve fazer uma descrição do “o quê” os falantes estão falando, além de identificar o interesse central do assunto. A autora introduz as noções de seqüência tópica e de subtópico. A primeira constitui uma seqüência de enunciados que podem ser reunidos sob o rótulo de um tópico determinado; o segundo é definido como uma seqüência tópica relevante encaixada na seqüência tópica principal. As seqüências de subtópicos devem ser subordinadas às seqüências tópicas principais, uma vez que correspondem à elaboração ou à expansão de algum aspecto ou dimensão do tópico principal. Como exemplo, Mentis explica que sob o tópico principal “Halloween”, podem ser incluídos subtópicos tais quais “a festa do Halloween”, “distribuição de doces às crianças”, “esculpindo lanternas em abóboras”. As duas noções de organização tópica se combinam e estabelecem escalas hierárquicas de desenvolvimento de tópico, e concordam que a mudança de tópico se dá quando o tópico sob discussão termina e o conteúdo da seqüência seguinte não se deriva da seqüência tópica imediatamente precedente.

Van Dijk(1992), ao tratar da noção de tópico, o faz partindo de duas outras noções, a de micro e macroestrutura semântica. Assim, os discursos, usados em contextos sociais, são realizados como seqüências de atos de fala e como um ato de fala global. Em nível micro, pressupõe-se a dicotomia tópico/comentário, com funções textualmente dependentes, atribuídas a fragmentos de estrutura semântica das sentenças num discurso. Em nível macro, global, uma macroestrutura é que define o coerência do discurso e sinaliza a questão central ou tópico, que pode ser expressa pelo resumo do discurso. Para o autor, operacionalmente falando, os discursos que não se prestam a resumos não têm macroestrutura ou a têm muito fragmentariamente. Desse modo, as macroestruturas representam apenas abstrações relativas às operações e representações cognitivas mais concretas.

Koch et al. (1992), num refinamento maior desse estudo, levando em consideração os planos linear e hierárquico, definem que a descontinuidade na organização tópica se caracteriza pela inserção de tópicos constitutivos de um quadro tópico entre tópicos de um outro quadro tópico, mas que a organização seqüencial, perturbada na linearidade, tende a se restabelecer, à medida que se atenta para níveis hierárquicos mais elevados, isto é, a continuidade postulada em termos de só se abrir um novo tópico após o fechamento de outro, reaparece nos níveis mais altos da organização tópica. A partir disso, os autores caracterizam o fenômeno da inserção, em sentido amplo, como a ocorrência de um segmento tópico no interior de outro segmento tópico em desenvolvimento, num esquema do tipo A-B-A, o que significa que as inserções implicam a retomada do tópico anterior, que pode acontecer imediatamente ou em outro ponto da conversação, podendo, ainda, expandir-se por vários outros segmentos tópicos. Pode ocorrer de um tópico apenas colocado de passagem ser desenvolvido de modo pleno em momento posterior da conversação. 3. A continuidade tópica em tiras de quadrinhos

A mesma constatação em relação à organização tópica de texto falado se faz em

relação a textos formados por seqüência de tiras de quadrinhos. Numa seqüência de trinta e três tiras de Marly, de Milson Henriques, publicadas diariamente, no período compreendido

1371

entre o dia 11 de abril a 13 de maio de 2001, um período de aproximadamente um mês de publicação, já permite detectar níveis hierárquicos de desenvolvimento de tópico semelhantes aos vistos nos textos falados. As tiras intituladas Marly contemplam tópicos relacionados com uma solteirona solitária (Marly), que atua em situações diversas, mas sempre à procura de um namorado. Todas as suas ações são feitas para alcançar este objetivo.

O desenvolvimento do tópico “Ser Marly é...” se faz em torna da personagem Marly, que na maior quantidade das tiras, aparece conversando ao telefone; é ele o seu amigo na solidão em que vive. Mesmo nas tiras em que a personagem está em aula no curso para tirar carteira de motorista, está sempre devaneando em torno da possibilidade de conquistar o professor, ou de conseguir um namorado nas futuras situações de trânsito nas quais haverá de se envolver. Se está ao telefone, também o assunto será na maior parte do tempo em torno de como arranjar e manter um namorado. A questão sexual é tão presente na viada da personagem, que ela deu a seu papagaio o nome de Prepúcio.

Esquematizando um frame da personagem, poderíamos vê-la assim: Identificação: solteirona (50 anos aproximadamente), feia, magra, seios caídos,

roupas moderninhas; Cenário em que atua: principalmente em casa, sempre ao telefone, na escola de motorista, outros ambientes; Características atitudinais: limitada a um pequeno mundo, solitárioa, só tem uma amiga (Creuzodete), carente, vive à procura de um homem, ousada, aborda homens, obcecada por sexo.

Nessa seqüência de tiras um tópico em especial é expandido, Carteira de Motorista. O desenvolvimento desse tópico é particularmente interessante, pois constitui uma espécie de narrativa, que se passa através de vinte e nove segmentos, em que Marly aparece tentando responder a perguntas de teste oral sobre leis e sinais de trãnsito, mas sempre misturando as respostas, fazendo devaneio sem torno de sua fixação por homens. Deste modo, ela assiste às aulas, faz prova, bate com o carro, retorna às aulas, bate com o carro de novo.

Esquematizado a partir do modelo utilizado por Koch et al., o quadro tópico Carteira de Motorista pode ser elaborado como a seguir:

1. Supertópico: Marly 2. Quadro tópico: Carteira de Motorista 3. Subtópicos: 3.1. Teste Oral: Leis do Trânsito 3.2. Teste Oral: Sinais de Trânsito 3.3. Retorno às Aulas 4. Segmentos Tópicos 1.1. Teste Oral: Leis do Trânsito Ultrapassagem [tira 2] Infração [tira 3] Resposta errada [tira 4] Preferência [tira 5] Sinais [tira 6] Passagem [tira 7] Defeito [tira 8] Celular [tira 9] Prioridade [tira 10] 1.2. Teste Oral: Sinais de Trânsito

1372

Siga em frente [tira 11] Lombada [tira 12] Lombada [tira 13] Homem na pista [tira 14] Bonde [tira 15] Hotel [tira 16] Proibido retorno [tira 17] Telefone [tira 18] Sirene [tira 19] Acidente [tira 20] Acidente [tira 28] 1.3. Retorno às aulas Nervosismo [tira 21] Dispersão [tira 22] Dispersão [tira 23] Acessórios [tira 24] Instrutor [tira 25] Viagem [tira 26] Instrutor [tira 27] Acidente [tira 28] Nervosismo [tira 31] Resposta errada [tira 32]

Visualizando o esquema acima, pode-se constatar uma seqüência tópica coerente, com abordagem de assuntos afins, que aparecem, na maior parte das vezes, em segmentos contíguos uns aos outros. Esse procedimento, num plano geral, mostra que a intenção do autor do texto parece ser a introdução de outro quadro tópico após o esgotamento do anterior. Essa mudança tópica não se faz de modo gradativo, com transição feita a partir do esvaziamento paulatino de um subtópico e introdução de outro. Simplesmente há o abandono do anterior e o início de outro. Na verdade, o que há é um corte no subtópico em pauta e início de outro.

Assim, verifica-se que a organização tópica de seqüência de tiras de quadrinhos assemelha-se à organização tópica de textos falados, na medida em que se podem detectar tópicos que se expandem e se organizam de modo a deixar depreender uma estrutura hierárquica bem definida e uma estrutura linear em que assuntos se interligam através de recursos de combinação, seja estes índices lingüísticos, seja visuais.

Para se compreender o funcionamento da categoria tópico na seqüência de tiras de quadrinhos, foi necessário observar sua movimentação dentro da seqüência, levando em conta, ainda, o contexto pragmático em que esse tipo de texto está inserido. Ficou claro que a interdependência temática não se estabelece apenas entre enunciados que se seguem. O que acontece é que a combinação de recursos lingüísticos e visuais com informações partilhadas levam a acionar frames, o que propicia efeitos contextuais e faz manifestar domínios de relevância.

A descontinuidade observada na veiculação das tiras não caracteriza necessariamente descontinuidade textual, já que índices de continuidade (verbais e não verbais) presentes nos segmentos tópicos vão indicando, no decorrer da seqüência, a que subtópico cada segmento pertence e mostrando o subtópico, cada vez mais expandido, a

1373

partir de novas abordagens ou perspectivas. Uma observação mais atenta permite perceber uma organização bem próxima a de um texto falado. Alguns tópicos ganham maior proeminência, expandindo-se em diferentes abordagens; tópicos em foco sofrem rupturas, causadas por inserções, e são posteriormente retomados, aparentando um certo “relaxamento”, uma provável fragmentação em relação à construção estrutural do texto. No que concerne ao texto falado, esse “relaxamento” é justificado pelo fato de os interlocutores estarem em situação face-a-face, o que caracteriza condição diferente de produção de texto escrito, uma vez que a presença física de locutores no ato de produção da fala oportuniza esclarecimentos e explicações, além de contar com o auxílio do contexto pragmático no qual se dá a interação verbal. Na progressão tópica do texto falado conjugam-se fatores diversos, associados ao contorno pragmático do discurso oral, que se manifestam na organização do fluxo informacional e na apresentação formal da unidade discursiva (Koch et al, 1991).

O texto de quadrinhos, um texto escrito, mas que se propõe apresentar-se na modalidade oral, tem, na sua constituição, um elemento que parece ser o responsável pelo alcance desse objetivo, É o componente visual que, assim como nas interações face-a-face, influencia na produção discursiva, no sentido de que o texto se constrói dentro de um determinado cenário, acontece num tempo aqui e agora e conta com as reações imediatas dos participantes. Desse modo, a linguagem tende a se aproximar da oral, pelo caráter de informalidade, e o texto, como um todo, apresenta características típicas de um texto falado.

O leitor de tiras de quadrinhos percebe, às vezes, por um detalhe apenas visual, seja do cenário, seja das expressões fisionômicas dos participantes da interação, que o tópico da tira do dia anterior, ou de dias anteriores, vai te continuidade na tira do dia posterior. Isto é, as marcas de continuidade do tópico discursivo em desenvolvimento não são apenas lingüísticas, como ocorre em textos escritos; são também visuais.

Se levarmos em conta que a impressão primeira que se tem de tiras de quadrinos é que a cada dia um tópico diferente é enfocado e exaurido e que não há nenhuma ligação de umas com outras, pode-se afirmar, a partir da observação das seqüências, que, assim como em conversações espontâneas, tópicos são desenvolvidos, contínua e descontinuamente, de forma coerente e em camadas, na direção de um tema mais amplo, abordando, em seus segmentos, assuntos relacionados a um mesmo frame, o que é marcado lingüística e visualmente.

Isso significa uma ampliação razoável de um tópico, que se expande em termos de temática, abrangendo, no que diz respeito à escala hierárquica, subtópicos e quadros tópicos. No que se refere a quadrinhos, considerando-se que a cada dia somente uma tira é publicada, observa-se que muitos quadros tópicos estendem-se por até um mês de publicação. Como acontece numa conversa informal, verifica-se que uma abordagem tópica, às vezes, é desenvolvida, expandindo-se por um longo conjunto de segmentos contíguos ou não, e que outras não vão muito adiante, abrangendo poucos segmentos. Isso revela que um tópico esteve em proeminência por grande extensão, chegando a compor um quadro tópico, considerando-se as descontinuidades.

A introdução de tópicos em tiras de quadrinhos é feita a partir de marcas verbais e não-verbais. No plano lingüístico, normalmente o tópico é introduzido através de enunciados tais quais pergunta, afirmação, exclamação e reflexão, atualizados nas falas dos personagens. Na seqüência Carteira de Motorista, mostrada anteriormente, a maioria dos segmentos que constituem os subtópicos é marcada por um item não-verbal. No primeiro

1374

quadro de cada tira aparece a figura da personagem Marly, sentada, numa postura de aluna que presta atenção à aula, vista às vezes de frente, às vezes de perfil, como pode ser observado nas tiras mostrada as seguir:

1375

A manutenção/ progressão tópica é realizada principalmente através de cadeias

semântico-lexicais que parecem organizar-se de dois modos particulares. Ou sugerindo uma seqüência cronológica de um fato em especial, ou mediante um conjunto de assuntos relacionados, sem nenhuma marcação que possa indicar a passagem de uma abordagem para outra dos assuntos que compõem a ampliação tópica.

O quadro tópico Carteira de Motorista, integrante do supertópico “Ser Marly é...” é introduzido pelo referente Exame de Motorista, em seu primeiro segmento. Esse item situa o leitor no quadro de referentes que vai ser explorado com o desenvolvimento do tópico. Na tira seguinte, a personagem é mostrada como aluna de um curso de direção, que focaliza o assunto Teste Oral e trata sobre Leis de Trânsito. A seguir a cadeia léxico semântica refere-se a Sinais de Trânsito e, depois, a retomada do tópico é evidenciada pelo termo “retornando”, que indica que o assunto vai ter continuidade. Assim a narrativa se reinicia até ganhar um novo final. O esquema mostrado abaixo ilustra essa progressão linear:

1376

Uma outra forma de progressão / continuidade temática pode ser vista na seqüência em estudo: a repetição como retomada, no sentido de possibilitar a continuidade tópica. O instrutor retoma a resposta de Marly, no segmento seguinte, para avaliar a fala da aluna e dar continuidade ao curso, o que proporciona progressão do assunto, como se pode conferir observando as tiras a seguir:

1377

Com a função de estabelecer interdependência entre segmentos tópicos e garantir

manutenção/ progressão temática, verifica-se na seqüência a ocorrência do indefinido “outra” com função aditiva, dando início a enunciado de segmento tópico. A ocorrência de indefinido assinala que o autor acrescenta um novo elemento dentro do mesmo espaço conceitual. Esse tipo de expansão temática é abordado por Koch (2002), que afirma ser o encadeamento por conexão de segmentos textuais de qualquer extensão realizado por meio de articuladores textuais, os quais podem não só relacionar elementos de conteúdo ou ter funções de organização textual, como também exercer papel meta- enunciativo. No conjunto de tiras estudado, pode-se verificar esse tipo de manutenção/ progressão do tópico:

1378

Uma outra forma de assinalar a progressão temática é encontrada na seqüência. É a marcação do tempo cronológico, como exemplificado abaixo:

“6.15 da manhã e Creuzô ainda não ligou...” “7.30 da manhã! A cidade já acordou!...” O fechamento de tópico é feito por enunciados conclusivos. No que diz respeito ao

quadro tópico Carteira de Motorista, por exemplo, o fechamento de segmentos tópicos refere-se ao caráter didático do assunto tratado na série de tiras:

“Última pergunta do curso de motorista” “Eis o resultado do seu exame... Aprovada!” Ainda, na seqüência, verifica-se o emprego diferenciado de um enunciado

conclusivo com função de fechamento de tópico. Considerando que em todo o desenvolvimento do tópico predomina o tempo presente, o uso do pretérito perfeito para fechar o último segmento assinala a conclusão da narrativa e gera para o leitor um movimento de retroação, na medida em que propicia uma “amarração” com a primeira tira, na qual Marly é apresentada informando à amiga Creuzô que vai fazer exame de motorista, utilizando o verbo no tempo futuro, como se pode observar nas tiras inicial e final do quadro tópico.

1379

4. Considerações finais Dado o caráter particular das seqüências de tiras de quadrinhos, que constituem

textos híbridos, apresentando características tanto da fala quanto da escrita e conjugando componentes lingüísticos e visuais, a análise trouxe à tona, também, estratégias de organização tópica típicas do texto de quadrinhos que o distinguem do texto puramente oral ou escrito.

Seguindo o modelo de Koch et al. (1992), constatou-se que as semelhanças das seqüências com textos falados são mais evidentes no que se refere à organização hierárquica. Na organização linear, observou-se que as especificidades das tiras de quadrinhos apresentam, além da utilização de recursos que são recorrentes na fala, a exploração do componente visual como estratégia para ligar subtópicos ou demarcar fronteiras.

Para se compreender o funcionamento da categoria tópico nos textos de tiras de quadrinhos, foi necessário verificar sua movimentação dentro da seqüência, levando em conta, ainda, o contexto pragmático em que esse tipo de texto está inserido. Ficou claro que a interdependência temática não se estabelece apenas entre enunciados que se seguem. O que acontece é que a combinação de recursos lingüísticos e visuais com informações partilhadas levam a acionar determinados frames, o que propicia efeitos contextuais e permite observar domínios de relevância.

Além disso, na linguagem específica de tiras de quadrinhos há outras estratégias de introdução e manutenção de tópico: a combinação de índices lingüísticos e visuais. Há uma complementaridade entre esses dois tipos de índices, cada um com função diferente na estruturação tópica. Enquanto os índices lingüísticos parecem operar principalmente no nível dos segmentos tópicos, os visuais parecem atuar em nível de subtópicos.

No que diz respeito ao continuum falacrita, observou-se que o texto de quadrinhos, que é previamente construído, atende às características de texto escrito, no que se refere a seu planejamento, mas, por outro lado, atende, também, às características de texto falado, no que se refere a seu produto final. Isto é, a pretensão de se apresentar como texto falado, como resultado de seu formato dialogado e uso de estratégias interacionais, permite situá-lo entre os dois pólos desse continuum. Essa constatação pôde ser feita a partir da análise da organização tópica, pois, consideramos que, de outro modo, poderíamos explicar apenas o caráter informal da modalidade lingüística, que caracteriza esse gênero textual.

Referências

CHAFE, W. Cognitive constraints on information flow. In: TOMLIN, R. Coherence and grounding discourse. Amsterdam. John Benjamins. 1984. DASCAL, Marcelo & KATRIEL, Tamar. Topic shifts in couples conversations. In: CRAIG, R. T. & TRACY, K. Conversational coherence. Bervelly Hills. California. Sage Publications. 1983. DIJK, Teun A van. Cognição, discurso e interação. (org. Ingedore V. Koch) São Paulo, contexto. 1996 ______. Text and context. Explorations in the semantics and pragmatics of discourse. Cambridge. Cambridge University Press. 1996. GOUTSOS, Dionysis. Modeling discourse topic: sequential relations and strategies in expository text. Norwood. New Jersey. Ablex Publising corporation. 1996.

1380

HENRIQUES, Milson. Marly. Jornal A Gazeta. Vitória 20/08 a 21/10/2001. KOCH, Ingedore V. Organização tópica da conversação. In: A inter-ação pela linguagem. 6 ed. São Paulo, Contexto. 1992 _______. Organização tópica da conversação. In: ILARI, R. (org) Gramática do português falado. 2 ed. Campinas, UNICAMP. 1992. _______. A progressão textual. In: Desvendando os segredos do texto. São Paulo. Cortez. 2002. ______. Interferências da oralidade na aquisição da escrita. In: Trabalhos de lingüística aplicada. Campinas. (30): 31-38. Jul/ Dez. 1997. ______. Organização tópica da conversação. In: ILARI, R. (org). Gramática do português falado. Campinas. Ed da UNICAMP. 1992. v.2. _____. Aspectos do processamento do fluxo da informação no discurso oral dialogado. In: CASTILHO, Ataliba (org). Gramática do português falado. 2ed, Campinas. Ed. da UNICAMP/ FAPESP. 1991. v.1. _____. Coerência e manutenção temática no hipertexto. ABRALIN. 2000. _____. Digressão e relevância conversacional. In: Cadernos de estudos lingüísticos. Campinas. Nº 37. Jul/ Dez. 1999. LINS, Maria da Penha Pereira. O humor em tiras de quadrinhos. Uma análise de alinhamentos e enquadres em Mafalda.Vitória.-ES. Grafer. 2000. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Aspectos da progressão referencial na fala e na escrita no português brasileiro. Texto apresentado no Colóquio Internacional – a investigação do português na África, Ásia, América e Europa: balanços e perspectivas. Berlim. 1998. (23-25/ março) _____. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo. Cortez. 2001. MAYNARD, Douglas. Placement of topic changes in conversation. Semiotica. 1980. 30: 263-290. MENTIS, Michelle. Topic mangement in the discourse of one normal and one head injured adult. Univ. of California. 1988. SIGNORINI, I. (org). Investigando a relação oral /escrito. Campinas. Mercado de Letras. 2001. TANNEN, D. Relative focus on involvement in oral and written discourse. In: OSLON, D.; TORRANCE, N. & HUDYARD, A. (eds). Literacy, language and learning. Cambridge. Cambridge University Press. 1985.