a economia de salvador e a formação de sua região metropolitana

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros CARVALHO, IMM., and PEREIRA, GC., orgs. Como anda Salvador e sua região metropolitana [online]. 2nd. ed. rev. and enl. Salvador: EDUFBA, 2008. 228 p. ISBN 85-232-0393-1. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. A economia de Salvador e a formação de sua Região Metropolitana Paulo Henrique de Almeida

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros

CARVALHO, IMM., and PEREIRA, GC., orgs. Como anda Salvador e sua região metropolitana

[online]. 2nd. ed. rev. and enl. Salvador: EDUFBA, 2008. 228 p. ISBN 85-232-0393-1. Available

from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons

Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative

Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de

la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

A economia de Salvador e a formação de sua Região

Metropolitana

Paulo Henrique de Almeida

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A ECA ECA ECA ECA ECONOMONOMONOMONOMONOMIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALVVVVVADOR E AADOR E AADOR E AADOR E AADOR E AFORFORFORFORFORMAÇÃO DE SUMAÇÃO DE SUMAÇÃO DE SUMAÇÃO DE SUMAÇÃO DE SUA REA REA REA REA REGIÃOGIÃOGIÃOGIÃOGIÃO

MEMEMEMEMETROPOLITTROPOLITTROPOLITTROPOLITTROPOLITANAANAANAANAANA

Paulo Henrique de Almeida*

Este capítulo resume a evolução da economia de Salvador, de meados doséculo XX ao início dos anos 2000. Uma questão o guia: por que a economia dessametrópole apresenta um ritmo de crescimento tão baixo na passagem do século, aponto de convertê-la em recordista brasileira do desemprego? As respostas aquiensaiadas se baseiam em dois pressupostos: primeiro, para compreender a evoluçãoeconômica recente da capital da Bahia é necessário resgatá-la de um passado maisremoto, de uma perspectiva de “longa duração”; segundo, é preciso ainda pensá-laem um contexto mais amplo, que vá além do seu arrière-pays, o Recôncavo Baiano eo estado da Bahia, de modo a enxergar os laços que sempre manteve com a economiamundial.

BOOMBOOMBOOMBOOMBOOM E LI E LI E LI E LI E LIMMMMMITES DITES DITES DITES DITES DA CA CA CA CA CAAAAACCCCCAUICULAUICULAUICULAUICULAUICULTURTURTURTURTURAAAAA

Até o final dos anos de 1940, a economia de Salvador, e de seu tradicionalhinterland, o Recôncavo Baiano, permaneceu atrelada à evolução de alguns complexosestaduais exportadores de commodities minerais e agrícolas. A pauta baiana deexportação incluía cerca de uma dezena de itens, mas somente três produtos sedestacavam: cacau, açúcar e fumo. A dependência em relação a essas trêscommodities definia um estreito horizonte de expansão para a economia da região,pois a Bahia, além de sofrer de modo intenso com as bruscas variações da demanda

* Professor do Mestrado em Economia da Universidade Federal da Bahia, Doutor em Economia pelaUniversidade de Paris X, Nanterre.

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e dos preços dos bens primários no mercado mundial, especializou-se em produtoscuja oferta aumentava rapidamente, com o aparecimento de novos concorrentes. Àsflutuações e crises cíclicas, típicas dos mercados de matérias-primas, somou-se umatendência secular à diminuição da fatia dos complexos baianos nos mercados nacionaise estrangeiros.

Essa particularidade dos complexos baianos de exportação marcou maisintensamente a evolução das atividades canavieiro-açucareira e fumageira noRecôncavo, que não conseguiram se modernizar e foram ultrapassadas pela produçãode São Paulo (açúcar) e do sul do país (tabaco). Mas caracterizou, também, a evoluçãoda oferta dos outros bens presentes na pauta: borracha vegetal, café, couros e peles,piaçava, ouro, manganês e outros minérios. Algumas dessas matérias-primas tiveramimportância efêmera. Outras, tiveram uma presença mais constante na pauta, mascom valor pouco significativo e declinante. A única a se destacar foi o cacau, principalproduto de exportação da Bahia até os anos 60.

As exportações de cacau passaram de 13%, do total das exportaçõesbaianas em 1890, para mais de 40%, no final da década de 1920. Durante essemesmo intervalo, o cacau respondeu por cerca de 20% a 25% das receitas públicasestaduais (CPE, 1980, p. 77). Mas as dificuldades para a cacauicultura baianacomeçaram a surgir ainda nas primeiras décadas do século XX: com o aumento doconsumo mundial de chocolate, os ingleses passaram a estimular a produção africanade cacau, o que acabou deslocando a cacauicultura baiana para uma posiçãosecundária no mercado externo (Prado Jr., 1970, id., p. 248). É importante, de qualquermodo, não superestimar as dimensões da economia cacaueira e do volume de seuexcedente. Na verdade, a massa de excedente criada pelo cacau na Bahia nuncaalcançou o tamanho da produzida pelo café em São Paulo, ou pelo algodão e açúcarno Nordeste. Em 1929, no final do auge das exportações de cacau, as vendas desseproduto no exterior representavam apenas 6% das exportações totais do país (CPE,1980, p. 20).

Assim, a cacauicultura, diferentemente da lavoura do café em São Paulo,não pôde acelerar o crescimento urbano-industrial na Bahia. As dimensões da atividadecacaueira eram insuficientes para gerar uma das condições básicas dessa aceleração:a disponibilidade de uma “massa crítica” de excedente, concentrada sob a forma decapital-dinheiro num momento de boom, que pudesse ser transformada em capitalindustrial numa escala considerável. Além disso, a extrema concentração do excedentegerado pela cacauicultura – principal atividade econômica do estado, entre as décadasde 1910 e 1950 – limitou as possibilidades de expansão do mercado regional paraprodutos industriais e serviços.

O próprio beneficiamento do cacau permaneceu quase sempre restrito àsecagem das amêndoas em condições rudimentares, o que gerou possibilidades deinvestimento agroindustrial limitadas, até mesmo inferiores às existentes nos casosdo tabaco e da atividade canavieiro-açucareira. Isso não excluiu o surgimento de umpequeno setor industrial de produção de derivados do cacau, concentrado em Salvador,

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setor que, no entanto, só conheceu alguma expansão a partir dos anos 40.Além disso, é necessário lembrar que uma parcela não desprezível do

excedente criado pela cacauicultura acabou sendo deslocada para outras regiões dopaís, especialmente para o Rio de Janeiro, atraída pelas melhores oportunidades deinvestimento em outras praças ou absorvida pelo comércio de outros centros. A regiãocacaueira – o eixo Ilhéus-Itabuna – deslocou seu abastecimento, em bens de consumo,da capital para o centro e sul do país, estabelecendo laços comerciais diretos com ascidades de Vitória, do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Teófilo Otoni e outras cidadesmineiras (ver Santos, 1954).1

Em suma, apesar da cacauicultura, não surgiu na economia baiana umnovo front de acumulação capaz de garantir a expansão acelerada do conjunto daeconomia regional, levando-a a dar o salto de qualidade que caracterizou a evoluçãoda economia cafeeira paulista. Concretamente: uma fronteira de acumulação capazde criar as condições iniciais para o desenvolvimento de um processo dedesenvolvimento centrado na expansão industrial (e na imigração estrangeira). Acacauicultura não pôde cumprir esse papel: ela permaneceu isolada no sul do estado,região que conheceu algum desenvolvimento, mas sem que, com isso, fosse alteradoo quadro de crise do Recôncavo, isso é, da Bahia propriamente dita.

Nesse hinterland imediato de Salvador, e no mesmo período, a agriculturacanavieira e fumageira de longa história colonial conheciam, em contraste com orelativo vigor da economia do cacau, um acelerado declínio.

Pressionado pela queda dos preços internacionais e atingido pelaconcorrência externa, o complexo canavieiro-açucareiro ainda manteve um certo pesona economia baiana até as primeiras décadas do século e, isso, graças à modernizaçãode seu segmento industrial e à expansão do consumo nacional de açúcar. Ele respondeu,inicialmente, à crise com a introdução do trabalho assalariado e da máquina a vapor noseu segmento industrial, o que se fez com concentração do capital e aumento da escalade produção. Desde o final do século XIX, os antigos engenhos haviam começado aceder lugar aos engenhos-centrais. Esse processo de modernização das unidadesprodutoras de açúcar continuou nas décadas seguintes com o aparecimento das usinas:cerca de duas dezenas de usinas absorviam a produção de cana-de-açúcar do Recôncavono início dos anos de 1920 (CONDER, 1973, p. 46).

Mas, por volta de 1930, o quadro da agroindústria açucareira baiana já erade franca decadência. No que concerne às exportações, a situação do complexobaiano foi agravada pela modernização mais rápida da agroindústria açucareira dePernambuco, que acabou por ocupar o pequeno espaço existente para o açúcar1 Reconhecer a importância dessa “fuga” de parte do excedente não implica aceitar a tese de que em sua

maior parte ela tenha sido provocada pela política cambial dos anos de 1950, que teria prejudicado asexportações agrícolas do Nordeste em benefício da importação de bens de capital para as indústrias deSão Paulo. Essa tese, de “confisco cambial”, proposta por Mariani (1958) e retomada por várioshistoriadores da economia baiana, já foi suficientemente relativizada, sobretudo por Wilson Cano (1977,1981). Cano enxerga aí uma tentativa de representantes das elites baianas de passar para o “imperialismopaulista” uma parte de suas próprias responsabilidades com relação ao atraso econômico da Bahia.

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nordestino no exterior. No que se refere ao mercado interno, a situação se complicoucom a crise de 1929. Como lembrou Szmrcsányi (1979 e 1988), os empresários deSão Paulo abandonaram parcialmente a cafeicultura a partir de 1930, diversificaramseus negócios e se interessaram inclusive pelo açúcar. Quando a produção açucareirapaulista começou a crescer, as usinas baianas não puderam resistir à pressão dessanova concorrência, baseada em uma tecnologia agronômica superior. Isso,basicamente, como resultado de uma persistente “dualidade técnica” – lavouraatrasada versus usinagem moderna – e dos baixos níveis de produtividade total deladerivados. O mercado para o açúcar baiano, no interior do país, ficou ainda maisrestrito, continuando a existir apenas como resultado da proteção garantida pelo regimede cotas, nos marcos do antigo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).

Quanto ao fumo, deve-se lembrar que o complexo fumageiro baiano eraformado de três segmentos: uma fumicultura baseada no minifúndio, “armazéns” debeneficiamento vinculados a casas comerciais de exportação (com participaçãohegemônica de capital germânico) e algumas manufaturas de charutos e cigarrilhas.Ocupando dezenas de milhares de agricultores e operários manuais, esse conjuntode atividades, fundamental para a economia de Salvador, também conheceu seuauge entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Com isso nãose quer dizer que as exportações da folha tenham crescido aceleradamente no período:na verdade, elas permaneceram estabilizadas depois de 1900, ainda que no patamar,historicamente alto, de pouco mais de 25 mil toneladas por ano. O que se quer afirmaré que, nesse período, consolidou-se o complexo do fumo na Bahia. O número deempresas baianas exportadoras de fumo passou de 6, em 1870, para 26, em 1890, echegou a 40, em 1930 (Borba, 1975). O número de manufaturas de charutos tambémcresceu entre 1890 e 1930, ocorrendo ainda um intenso processo de concentraçãodo capital nesse segmento. Abriu-se, assim, a possibilidade da transformação dessecomplexo “agro-manufatureiro-exportador” em uma moderna agroindústria do fumo,voltada para o mercado interno.

Entretanto, e mais uma vez, o salto qualitativo não se materializou e,basicamente, por quatro razões: 1ª) a especialização da fumicultura baiana em tabacoescuro, destinado a charutos fortes, no momento em que a indústria mundial sedeslocava para os fumos claros, matéria-prima para cigarros; 2ª) a concentração docrescimento urbano no Rio de Janeiro e em São Paulo, dificultando o acesso dasempresas instaladas na Bahia aos principais mercados nacionais para artigos defumo; 3ª) a vitória do truste anglo-americano do fumo (British American Tobacco),produtor de cigarros, na luta pelo mercado brasileiro, entre os primeiros anos doséculo XX e a década de 1930, truste que optou por desenvolver a fumicultura no suldo país, a partir da compra da Souza Cruz; e, 4ª) as derrotas alemãs nos dois conflitosmundiais, que reduziram a importância da colônia germânica em Salvador e a fortepresença das empresas alemãs e de suas redes de relações internacionais naeconomia baiana.

A capital da Bahia se ressentiria da reduzida escala e do baixo dinamismo

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das atividades agropecuárias do estado até o final do século XX. Esse quadro só semodificou, parcialmente, com a expansão, a partir dos anos de 1980, da soja no Oestebaiano (Barreiras), da cafeicultura no Sudoeste (Vitória da Conquista) e também noscerrados, da fruticultura irrigada no vale do São Francisco e de algumas outras lavourasmercantis, como o algodão no planalto de Guanambi. Parcialmente, de fato, porque, seessas novas atividades foram capazes de ampliar o mercado de consumo estadual,permitindo, inclusive, o desenvolvimento de uma nova classe média rural ou “rururbana”,elas não foram mais suficientes para alavancar, a jusante ou a montante de suas cadeias,a produção regional de insumos e o desenvolvimento de novas atividades agroindustriais.Primeiro, e outra vez, por razões de escala. Mas também por timing: as oportunidadeshaviam sido perdidas e a localização dos principais pólos industriais do país já estavadefinida há mais de meio século; por conseguinte, uma fração considerável dos efeitosmultiplicadores da nova agroindústria baiana não alcançou Salvador, mas serviu, principale novamente, para irrigar a economia de outras regiões.

Numa perspectiva de longo prazo chega-se, assim, a uma primeira forteexplicação para os elevados níveis de desemprego e pobreza na Salvador metropolitanada virada do século XX para o XXI. Faltaram, historicamente, à capital da Bahia, asredes econômicas e sociais que derivam de uma agropecuária capitalista stricto sensu

e de uma agroindústria dinâmica, com participação crescente nos mercados nacional e/ou internacional; faltou a conseqüente malha de cidades médias que se desenvolve apartir de uma agricultura diversificada, que opera para mercados extra-regionais; faltaram,enfim, os mercados derivados da formação de classes médias rurais e da generalizaçãodo trabalho assalariado no campo, que garantiram o vigor da economia industrial eterciária de cidades como Porto Alegre ou São Paulo desde meados do século XIX, oude Belo Horizonte e Curitiba na segunda metade do século XX.

A ESA ESA ESA ESA ESTTTTTAAAAAGNAÇÃO DE SALGNAÇÃO DE SALGNAÇÃO DE SALGNAÇÃO DE SALGNAÇÃO DE SALVVVVVADOR NOS ANOS 1ADOR NOS ANOS 1ADOR NOS ANOS 1ADOR NOS ANOS 1ADOR NOS ANOS 199999222220-10-10-10-10-1940940940940940

Sem mercados no campo, em virtude da lenta implantação de relaçõescapitalistas de produção e da extrema concentração da propriedade fundiária e darenda gerada por uma produção agropecuária estagnada tecnologicamente, aincipiente indústria baiana permaneceu, durante a primeira metade do século XX,sem poder contar, também, com a expansão dos mercados urbanos regionais.

Os poucos centros urbanos existentes na Bahia, até a primeira metade doséculo XX, encontravam, a exemplo de Salvador, nas atividades de comércio eadministração pública, seus principais suportes econômicos. Boa parte da populaçãoeconomicamente ativa era formada por descendentes analfabetos de escravos. Amaior parcela das ocupações era encontrada na prestação de serviços pessoais, noartesanato, na burocracia estatal, na construção civil e no pequeno comércio varejista.O movimento comercial era limitado, basicamente, ao fluxo de mercadorias entreSalvador e as cidades menores, por via marítima, concentrando-se no interior do

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Recôncavo. Não existindo meios de transporte adequados, o comércio entre as cidadesde menor porte tinha pouca expressão. Comércio, construção civil pesada (portos eestradas), transporte, crédito e serviços públicos cresciam em função da expansãodas atividades agroexportadoras estaduais. Como a expansão dessas atividades eradébil, além de cíclica, as cidades baianas não atraíam novos investimentos, nem, porconseqüência, imigrantes em busca de trabalho. Assim, pouco cresceram no período.

Mesmo no caso de Salvador, a urbanização se deu de forma muito lentaentre fins do século XIX e primeiras décadas do século XX. A população da capital,que atingiu a marca dos 170 mil habitantes em 1890, cresceu vegetativamente emtodo o período 1890-1920. Nesse último ano, a cidade alcançou a marca, já entãomodesta para os padrões do eixo Rio-São Paulo, dos 280 mil habitantes. Mais grave:suas taxas de expansão demográfica anual, que haviam se situado entre 1,6% e1,7%, entre 1872 e 1920, despencaram para apenas 0,2%, entre 1920 e 1940, doque resultou uma população praticamente estável, de 290 mil habitantes em 1940.2

Poder-se-ia insistir: mas o excedente gerado pelo cacau não levou,indiretamente, a qualquer aceleração da acumulação de capital e do grau deurbanização na Bahia? De fato, a apropriação de parte desse excedente, pelo Estado,abriu a possibilidade de maiores investimentos em setores como transporte e obraspúblicas. Não se pode negar a existência desses investimentos, mas deve ser levadoem conta, como já se sublinhou, o volume reduzido das novas inversões. O tamanhoabsoluto do excedente produzido pela cacauicultura e pelas outras atividades deexportação na Bahia, estas ainda menos importantes que a atividade cacaueira, e omodo concentrador pelo qual esse excedente era gerado e apropriado, barraram aexpansão de segmentos fundamentais da economia baiana.

Em Salvador, o bairro comercial foi reformado, a elite ocupou novas áreasresidenciais e desenvolveram-se os serviços, inclusive com a expansão das linhasde bondes. Contudo, a indispensável modernização do porto atrasou-se e só foirealizada, finalmente, graças ao financiamento estrangeiro. A oferta de energia elétricaera limitada, sendo seu fornecimento um dos principais pontos de estrangulamentoda economia baiana. Também não se podia falar numa verdadeira rede de rodoviasno estado. O caminhão, que começava a se firmar como importante meio de transporte,tinha alcance limitado. No interior ainda se convivia com as tropas de burros e oscarros de boi. As estradas de ferro, é verdade, tiveram sua quilometragem duplicadaentre 1890 e 1930, passando de 1.057 km para 2.669 km. Mas esse crescimento nãopodia ser comparado à expansão da rede ferroviária no sul do país e foi, além disso,comandado por “companhias de segunda e terceira categorias” (CPE, 1980, p. 31;118). Em resumo, como afirmou Vieira Lins, a capital se distanciava do seu interior,“[...] que passava a ser assistido comercialmente pelos estados vizinhos e Salvadorse reduzia, cada vez mais, à condição de metrópole do Recôncavo” (Azevedo, T;Lins, V., 1969, p. 228).

2 Sobre este ponto, ver Cano (1977) e Souza (1980).

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Embora a Bahia não tenha conhecido, até a segunda metade do séculoXX, um intenso processo de expansão maquinofatureira, acabou se implantando noestado uma indústria de alguma importância regional. Desde o final do século XIX aindústria baiana contava com estabelecimentos produtores de açúcar e outrosalimentos, fumo beneficiado e charutos, cigarros, sabão, óleos, velas, fósforos,chapéus, tecidos, bebidas alcoólicas, embarcações, ferramentas e peças metálicas,além de outros produtos diversos.

Reconhecer a relativa importância dessa indústria não significa incorrer noerro de superestimar o parque industrial baiano anterior a 1950. Alguns autoresexageram o peso dessa indústria, apontando uma suposta expansão “fabril” e“vigorosa”, entre o final do século passado e os anos de 1920, e imaginando um falso“retrocesso” industrial após esse período. Tais autores não têm razão: em primeirolugar, trabalhando exclusivamente com a categoria “estabelecimentos”, confundemartesanato e manufatura com verdadeiras fábricas; em segundo, equiparando“crescimento industrial” a “industrialização”, omitem o fato de que a indústria baianatinha um reduzido grau de diversificação e articulação interna, e que se limitava,basicamente, ao processamento de matérias-primas regionais e à produção de algunspoucos bens de consumo corrente; finalmente, desconhecem o fato de que a indústriaexistente ainda não havia alcançado um tamanho mínimo a partir do qual se poderiafalar, propriamente, de acumulação autônoma do capital industrial.3

Nos principais segmentos dessa indústria (usinas de açúcar, fábricas têxteis,manufaturas de charutos) eram estreitos os laços que uniam o capital industrial àsgrandes casas do comércio de exportação e importação. Na Bahia, entretanto, atransformação do capital comercial em capital de indústria, com a diversificação dosinvestimentos realizados pelas grandes casas comerciais, ocorreu numa escala bemmenor que em outras regiões do país. A debilidade das atividades exportadoras baianase o processo específico de desenvolvimento das relações capitalistas de produção naBahia, com transição lenta e indireta para o assalariamento no campo, implicaram limitadamercantilização da economia estadual e barraram a intensificação daquela metamorfose.A debilidade das atividades de exportação limitou a expansão do mercado regional erestringiu o próprio crescimento do capital comercial, o que, por sua vez, reduziu ovolume de excedente passível de transformação em capital de indústria.4

Deve-se considerar, ainda, que a inexistência de um sistema de créditobancário desenvolvido, que pudesse potencializar a referida transformação, criou

3 O que não desmerece em nenhum momento a qualidade da pesquisa desses grandes historiadores.Trata-se, em todo caso, de um discurso muito presente nos anos 1950-1970, que vai da “decadênciabaiana”, de Mariani (1958), à “dependência baiana”, de Ritz (1972), passando pelo famoso “enigmabaiano”, de Pinto de Aguiar (1958), e pela “involução industrial da Bahia”, de Tavares (1966).

4 Na Bahia, como em geral no Nordeste, a passagem do trabalho escravo para o trabalho assalariadopleno levará várias décadas, graças à manutenção de formas de parceria, como a meia na agriculturae a quarta na pecuária, somada à persistência do minifúndio, da agricultura de subsistência e desistemas arcaicos de abastecimento, como o “barracão”, que também bloqueavam a monetarizaçãoda economia rural.

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dificuldades adicionais para a ampliação do parque industrial instalado na Bahia. Nãoque o sistema bancário não tivesse se expandido desde o século XIX: ele realmentese expandiu, com a abertura de agências de bancos estrangeiros na praça de Salvadore com a consolidação de pelo menos dois bancos regionais (ver Azevedo e Lins,1969; Oliveira, 1993). No entanto, o desenvolvimento desse sistema foi estranguladopela hegemonia das grandes casas comerciais na oferta e na intermediação do créditode custeio para a agropecuária, sem dúvida, o principal e quase exclusivo espaçopara a valorização do capital de empréstimo na economia baiana do período.Financiamentos de longo prazo e baixa rentabilidade, indispensáveis para a expansãoindustrial, não estavam entre os principais interesses dos bancos na Bahia,preocupados, sobretudo, em ofertar crédito – ainda que, às vezes, indiretamente,através das casas de comércio – à agricultura de exportação.

As condições desfavoráveis que marcaram a gênese da indústria baianaforam responsáveis pela consolidação de uma estrutura industrial caracterizada,fundamentalmente, pela predominância de minúsculas empresas, mais próximas doartesanato e da manufatura que de verdadeiras unidades fabris. É verdade que aimplantação da indústria têxtil e a modernização da atividade açucareira exigiramgrandes concentrações iniciais de capital, assim como níveis tecnológicos equivalentesaos então dominantes no país e, mesmo, no mundo. Também é certo que, no ramofumageiro, grandes firmas puderam surgir a partir da iniciativa de pequenos capitalistas– Suerdieck e Dannemann são os melhores exemplos. No entanto, esses ramos, queproduziam para mercados externos e que se beneficiavam de vantagens locacionaissignificativas, foram exceções que apenas confirmaram a regra geral. Embora o númerode estabelecimentos “industriais” tivesse crescido no período entre o final do séculoXIX e os anos 1930-40, a indústria localizada em Salvador e no seu entorno –abstraídos os três setores destacados – manteve características atrasadas, quer noque diz respeito ao tamanho médio dos estabelecimentos, quer no que se refere aopadrão tecnológico predominante. A realidade é que, até os anos de 1940, existiammuito poucas fábricas na Bahia. A maioria dos estabelecimentos da indústria baianaera constituída por unidades de artesanato e manufaturas em sentido estrito, isso é,que “faziam à mão”. Em 1930, como lembram Borba e Santos (1978), das 2.204empresas “industriais” do estado “[...] apenas 61 tinham mais de 12 operários, 158 tinhamde 7 a 12, 600 tinham de 1 a 6 e nada menos que 1.325 (60,1%) tinham apenas umtrabalhador [...]”.

Pode-se resumir afirmando que a economia baiana conheceu, do final doséculo XIX aos anos 1930-1940, um período de lento crescimento, marcado pelodébil dinamismo ou pela instabilidade de suas atividades agroexportadoras, peladominação quase absoluta do capital comercial sobre o conjunto das atividadeseconômicas regionais e, ainda, por baixas taxas de expansão urbana e industrial.5

5 Pressionada no mercado nacional pela concorrência da indústria paulista, estrangulada no mercadoregional pelo débil dinamismo das atividades agroexportadoras estaduais e pela reduzida penetraçãodas relações capitalistas de produção no campo, a indústria baiana de bens não-duráveis conheceu

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Isso não significa dizer que a economia baiana tenha atravessado um período degeneralizada “estagnação” ou “involução”. A lentidão do desenvolvimento da economiaestadual deve ser vista como um fato relativo: ela não deixou de crescer; apenas nãoacompanhou a vigorosa expansão da economia cafeeira e acabou por perder a posiçãoprivilegiada que detinha na economia brasileira, pelo menos até meados do séculoXIX. A perda dessa posição, visível desde a consolidação da cafeicultura em SãoPaulo, acelerou-se com o desenvolvimento mais rápido das forças capitalistas deprodução e com a concentração do crescimento industrial naquele estado.

No que diz respeito à indústria, a passagem da economia baiana para umaposição secundária no plano nacional tornou-se evidente já nas primeiras décadasdo século XX. De acordo com os dados do Censo de 1920, a indústria baiana já era“insignificante” em relação ao Centro-Sul, como lembra Azevedo (1975, p. 35): suaparticipação no valor da produção nacional era, então, de 2,8%. Ademais, ocupavaapenas 5,7% do total dos operários do Brasil, com 3,5% do valor total do capital,utilizando apenas 4,0% da força motriz instalada. Tais números, lembra o mesmoautor, “[...] vão se reduzir no Censo de 1940, quando a participação da produção caipara 1,8%, a força de trabalho industrial baiana passa a ser 3,0% do total brasileiro,enquanto a participação no capital nacional e na força motriz instalada cai para 1,9%e 2,3% respectivamente”.

Ainda na perspectiva de longo prazo, chega-se, assim, a uma segundacausa histórica para o baixo dinamismo da economia de Salvador e para os seusconseqüentes níveis de desemprego e pobreza na virada do século XX para o XXI.Faltou a Salvador uma verdadeira base industrial, a exemplo daquela que pôde sedesenvolver em capitais como São Paulo e Porto Alegre e, mesmo, em cidades deporte médio do interior dos estados brasileiros mais ricos. Uma base que fossediversificada e complexa, reunindo empresas de diversos ramos e tamanhos, eoperando com rendimentos crescentes, a partir de externalidades positivas geradaspor sua própria expansão: mercado regional de mão-de-obra qualificada, difusão deconhecimento tácito, fortes redes de distribuição etc. Vale ressaltar que essa ausênciateve desdobramentos político-sociais de grande significado econômico: de um lado,a preservação da hegemonia política de uma oligarquia agrária conservadora, decultura patrimonialista; de outro, a inexistência de uma forte classe operária industrialque, organizada em sindicatos e partidos políticos, pudesse impor melhores condiçõesde habitação, trabalho e remuneração na capital.

uma taxa média de crescimento anual de apenas 0,2%, nas décadas de 1920 e 1930. Embora outrossetores da indústria baiana – bens intermediários, duráveis e de capital – tenham apresentado taxasde crescimento bem mais elevadas, em torno de 8,0% ao ano, esse fato teve pouco significado: taissetores praticamente nada representavam no contexto da indústria regional da época. Em 1941, osramos têxteis, fumageiro e de produção de alimentos (inclusive açúcar), ainda concentravam quase 80%do valor da produção industrial no estado (Azevedo, 1975, p. 39).

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A EA EA EA EA ECCCCCONOMONOMONOMONOMONOMIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALVVVVVADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRE 1E 1E 1E 1E 195959595950 E 10 E 10 E 10 E 10 E 1980 – A NO980 – A NO980 – A NO980 – A NO980 – A NOVVVVVAAAAAIIIIINNNNNDÚSDÚSDÚSDÚSDÚSTRTRTRTRTRIAIAIAIAIA

A situação econômica da Bahia e de Salvador começou a mudar entre osúltimos anos da década de 1940 e o final dos anos de 1950. Algumas iniciativasestatais abriram caminho para rápidas transformações, entre elas a construção dausina hidroelétrica de Paulo Afonso, a implantação das atividades de extração e refinodo petróleo no Recôncavo, a construção da ligação rodoviária Rio-Bahia (BR-116) ea criação do Banco do Nordeste do Brasil e da Superintendência do Desenvolvimentodo Nordeste.

Paulo Afonso ampliou a oferta de energia elétrica para o consumo industrialno estado, eliminando um dos principais pontos de estrangulamento da economiaregional. As obras da primeira usina do complexo hidrelétrico foram iniciadas em1949, após a criação efetiva da CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco,em 1948, e a entrada em operação das primeiras turbinas ocorreu em 1954,assegurando-se, a partir de então, mediante sucessivas ampliações, o abastecimentode Recife e Salvador.

A BR-116 começou a ser construída em 1939 e foi concluída, mas nãoasfaltada, em 1949. Foi a primeira estrada brasileira de longo percurso e a primeiragrande via terrestre de integração nacional, permitindo o rápido desenvolvimento docomércio interestadual e acelerando o processo de conexão entre a economia regionale o centro industrial do país. Essa conexão, é importante sublinhar, consolidou-setambém em um outro sentido, na medida em que permitiu a transferência massiva demão-de-obra excedente da Bahia para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Com a entrada em operação do BNB, em 1954, e a criação da SUDENE,em 1959, expandiu-se a oferta de financiamentos públicos de baixo custo, amortizáveisem longo prazo, capazes de garantir novos investimentos industriais, a modernizaçãodas plantas já existentes e a implantação de infra-estrutura urbana (água potável,saneamento, energia, telecomunicações e transporte). Tais financiamentos semultiplicaram nos anos 60 e 70, com base em duas fontes de recursos: de um lado, orepasse de empréstimos externos, principalmente, do BID – Banco Interamericanode Desenvolvimento, e, de outro, os depósitos oriundos dos sistemas de incentivosfiscais (desde 1962, através do dispositivo 34/18, que permitia a dedução do Impostode Renda de pessoas jurídicas para aplicação em projetos industriais nordestinos) e,a partir de 1974, via FINOR – Fundo de Investimentos do Nordeste (que, também pormeio de deduções do IR, abriu maior espaço para empresas nordestinas no mercadonacional de capitais) (BNB, 2005). Esses novos sistemas de incentivos fiscais,centralizados pelo BNB e pela SUDENE, teriam uma importância vital nodesenvolvimento econômico de Salvador e sua região periférica, na medida em queestas viriam a ser as principais beneficiárias dos recursos mobilizados parainvestimentos no Nordeste.

O mais importante dos eventos econômicos do período foi, todavia, a

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implantação da Petrobrás, que se traduziu na exploração do petróleo no Recôncavo,na construção do terminal marítimo de Madre de Deus e na implantação da refinariaLandulpho Alves em Mataripe (RLAM). Além de transformações imediatas na economiado Recôncavo (redefinição do uso de terras antes destinadas à agropecuária, crescimentode algumas cidades de pequeno porte, surgimento de uma importante malha rodoviária),os investimentos da empresa estatal provocaram um incremento considerável da rendagerada no estado. No ano de pico para as inversões (1959), os investimentos da Petrobrásna exploração e refino do petróleo foram equivalentes a 59,9% do PIB industrial daBahia e a 7,9% do seu PIB total (CEPLAB, 1978, p. 14). Além disso, os investimentosdiretos, somados aos investimentos nas atividades de suporte para a implantação efuncionamento da indústria petrolífera, permitiram a constituição de um mercado deforça de trabalho especializada, passível de recrutamento para as novas atividadesimplantadas na esteira da estatal (Azevedo, 1998).

Nas duas décadas seguintes à implantação da empresa, a economia doentorno de Salvador continuou transformando-se aceleradamente, sobretudo com aexpansão de uma nova indústria centrada na petroquímica e na metalurgia. A RLAMestimulou, ainda no final dos anos de 1950, o investimento em fábricas de produtosquímicos, que visavam ao aproveitamento das matérias-primas disponibilizadas pelarefinaria. As inversões da Petrobrás também levaram ao desenvolvimento de algumasindústrias metal-mecânica, associadas ao fornecimento de equipamentos para aestatal. O grande salto de qualidade na evolução da indústria baiana dar-se-ia,entretanto, com os investimentos nas fábricas do Centro Industrial de Aratu (CIA) edo Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC).

O CIA, criado em 1967, viria a ser o mais destacado exemplo baiano deuma concepção de industrialização, baseada na apropriação, por policy makers

brasileiros, de algumas teorias de desenvolvimento regional, em voga nos anos 50.Essa concepção, já presente no documento fundador do planejamento baiano – oPLANDEB, Plano de Desenvolvimento da Bahia, de 1959 – estava assentada emversões vulgarizadas de três idéias-chave: o “distrito industrial”, de Marshall (1900, 1919),o “pólo” de “indústrias motrizes” ou “propulsoras” de Perroux (1950, 1955) e os“encadeamentos a jusante e a montante”, de Hirschman (1958).

No caso do CIA, e de inúmeras outras zonas ou distritos industriais criadosartificialmente no Brasil e em outros países, os ricos modelos europeus estudadospor Marshall, caracterizados pela auto-organização e sustentados numa lentaacumulação de capital social e conhecimento tácito, foram traduzidos em umaintervenção estatal que se resumiu, na prática, a somar incentivos fiscais à preparaçãode áreas (terraplenagem, ruas, pistas de acesso), onde se implantou infra-estruturabásica (abastecimento de água, energia elétrica, telecomunicações e saneamento) ese garantiu o fornecimento de alguns serviços essenciais (transporte, segurança). Apartir desses investimentos, alguns terrenos foram oferecidos, para compra,arrendamento ou uso gratuito, às empresas porventura interessadas na implantaçãode fábricas. Esse tipo de ação, difundida internacionalmente, mostrou-se arriscada

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também na Bahia: de fato, se o uso intensivo dos incentivos fiscais e creditícios, queno CIA foram, basicamente, os do dispositivo 34/18, via SUDENE, e os do créditorelativo ao Imposto de Circulação de Mercadorias através do governo estadual,permitiram atrair pouco mais de uma centena de plantas, o Distrito assim criado semostrou desconectado da economia local, pouco integrado setorialmente e, o que foipior, efêmero.

Os dois primeiros problemas foram sublinhados, inicialmente, por autorescomo Azevedo (1975) e Canuto (1976), a partir das análises de Castro (1971) e Oliveira;Reichstul (1973). Mais recentemente, pesquisadores da indústria baiana, como Guerrae Teixeira (2000) e Menezes (2001), continuaram insistindo na “falta de identidadesetorial clara” de investimentos subordinados à lógica de expansão da indústria doCentro-Sul do país e marcados pela concentração na produção de bens intermediárioscom base em tecnologias intensivas em capital.6 A efemeridade, por sua vez, seriaconfirmada entre a segunda metade dos anos 80 e a primeira dos de 1990. Oesgotamento da industrialização, por substituição de importações com base noendividamento externo e interno, a crise fiscal e a virada neoliberal dos policy makers

nacionais, levaram ao esvaziamento das políticas regionais de desenvolvimento e,antes de tudo, ao fechamento da torneira dos incentivos fiscais bancadosnacionalmente. Isso liquidou com empresas que não tinham escala e fôlego financeiropara suportar as novas condições de concorrência. “No contexto de abertura comerciale desregulamentação econômica” que caracterizou o período seguinte, como afirmaainda Cavalcante (2004, p. 131), não houve mais espaço para uma política de atraçãode indústrias baseada em uma estratégia de “complementaridade com a economiada região Sudeste do país”. O CIA se esvaziou, sendo caracterizado, no início dosanos 2000, pela imprensa baiana, como um “cemitério de empresas” ou, maisprecisamente, nos termos de Spinola (2001, p. 42), como “uma sombra do grandeempreendimento sonhado na década de 60 e que, segundo os seus idealizadores,iria transformar a face da Bahia, projetando-a como um estado moderno, industrializadoe, conseqüentemente, desenvolvido”.7

No caso da RLAM e da sua extensão a jusante, o COPEC, implantadoentre 1972 e 1978, o modelo de intervenção estatal foi inspirado diretamente nosconceitos de Perroux e Hirschman, como os textos de Rômulo de Almeida deixamexplícitos (ver, por exemplo, Almeida, 1986). Para Perroux, o desenvolvimento nãoocorreria de forma uniforme numa economia, mas tenderia a se concentrar num número

6 Como lembra Cavalcante (2004), ainda que o CIA seja freqüentemente associado à indústria de bensde consumo final, ele abrigou, na realidade, uma proporção considerável de indústrias produtoras debens intermediários, particularmente na siderurgia, metalurgia e mecânica. Não foi por acaso que aUsina Siderúrgica da Bahia, do grupo Gerdau, foi a primeira grande indústria

7 Na verdade, o CIA conheceria alguma recuperação a partir de 1995, com novas empresas ocupandoantigas plantas desativadas. Essa “revitalização” se daria, é importante frisar, em momentocompletamente distinto: o da migração de indústrias footloose, em busca de incentivos fiscais e saláriosbaixos, nos anos da “guerra fiscal” interestadual, da virada do séculos XX para o XXI. Voltar-se-á aesse ponto mais adiante.

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limitado de núcleos ou focos industriais. Ele era visto como a mudança estruturalprovocada no espaço econômico pela expansão desses núcleos de indústriasdinâmicas. Os pólos de crescimento industrial iniciariam o processo que seria, emseguida, difundido ao resto da economia por efeitos multiplicadores e de aglomeraçãosobre o investimento, a renda e o emprego, incluindo a multiplicação de pequenasempresas. A teoria de Perroux se completava, assim, com a idéia de encadeamentospara frente e para trás de Hirschman (1958). Diga-se, ainda, que as indústrias “motrizes”eram associadas à indústria pesada (siderurgia, metal-mecânica, química),evidenciando as relações entre a teoria dos “pólos de crescimento” e o modelo soviéticode desenvolvimento adotado a partir dos anos de 1930 (Almeida, 2002c).

Com o COPEC, esse tipo de concepção de desenvolvimento daria suportea um novo e gigantesco pacote de investimentos na periferia de Salvador, que, nobojo dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (1972-1979), seria bancado, sobretudo,pelo Governo Federal. Como nota Guerra (2001), entre outros autores, três razõesexplicariam esse novo ciclo de investimento industrial. Em primeiro lugar, o fato deque a Bahia se transformara no principal estado produtor de petróleo do país e abrigavauma grande refinaria, passível de ampliação; em segundo, e como conseqüência,porque a Bahia era a localização ideal para um novo pólo petroquímico, capaz deatender à crescente demanda de insumos básicos da indústria brasileira concentradaem São Paulo; e, finalmente, porque o governo central ainda defendia, na época,uma política de integração nacional baseada, em tese, no objetivo de diminuição dosdesequilíbrios regionais. Essa política conduziria, de forma planejada, isso é, sob aorientação da SUDENE e dos Planos Nacionais de Desenvolvimento, a grandesinversões de capital público, estrangeiro e privado, também no entorno de Salvador.

Operando em grande escala, e com tecnologia de ponta, as novas fábricasdo Pólo Petroquímico, implantadas entre os anos de 1970 e 1980, alteraramcompletamente o perfil da indústria baiana, no que foram ajudadas por outros grandesempreendimentos isolados, como aqueles centrados na siderurgia (SIBRA, FERBASAe USIBA) e na mineração-metalurgia do cobre (Caraíba Metais, inaugurada em 1984).O que seria mais importante para a economia estadual é que, diferentemente dasfábricas de bens finais do CIA, essas grandes empresas teriam consideráveis custospotenciais de saída, o que asseguraria a perenidade das suas plantas.

Em 1981, os investimentos no Pólo Petroquímico de Camaçari somavamalgo em torno de US$ 3,7 bilhões. No mesmo ano, o PIB da Bahia poderia ser estimadoem, mais ou menos, US$ 12 bilhões, ou 4,4% de um PIB brasileiro da ordem de US$267,5 bilhões. Assim, os investimentos do Pólo representavam o equivalente a 30%do PIB estadual, uma proporção quatro vezes superior à registrada para a implantaçãoda Petrobrás, pouco mais de vinte anos antes (Almeida, 1999). Tratava-se, portanto,de um evento de inegável importância para a dinâmica econômica do estado: osegundo de maior significado, na história da Bahia do século XX, e que só não podeser considerado como o mais relevante, porque foi uma conseqüência quase diretada RLAM.

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Mudando o perfil da indústria regional, os investimentos na RLAM, no CIAe no COPEC, modificaram também a macroestrutura da economia baiana e causaramimpacto intenso na economia de Salvador e do seu hinterland imediato. A participaçãoda indústria no PIB estadual saltou de 12,0%, em 1960, para 31,6%, em 1980, e38,1%, em 1990 (Menezes, 2001, p. 50). O investimento industrial e a entrada emoperação das fábricas do Pólo Petroquímico e de outras grandes unidades acelerarama expansão do PIB baiano, que cresceu a taxas superiores às verificadas para oBrasil e Nordeste, entre meados da década de 70 e a primeira metade da década de1980. A expansão da nova indústria teve importantes conseqüências, também, paraa tributação estadual, com o ICM industrial passando de 30%, do total desse imposto,para 55%, no mesmo período. De um ponto de vista muito estrito, levando-se emconta apenas o produto e a estrutura setorial da sua economia, poder-se-ia dizer quea economia baiana, e principalmente a de Salvador e sua periferia, havia se“industrializado”.

Contudo, esse não era o quadro real a partir do ângulo da ocupação e doemprego. A opção por uma indústria de bens intermediários, centrada em grandesplantas automatizadas de produção contínua, resultou em limitada criação deempregos diretos. Toda a nova indústria baiana havia gerado, ao final dos anos de1980, cerca de 50 mil novos postos de trabalho, distribuídos quase meio a meio entreCIA e COPEC. Se isso significava cerca de metade da força de trabalho formal daindústria de transformação da Bahia – 94 mil postos em 1991, segundo a SEI (2002,p. 36) – continuava sendo uma quantidade pouco expressiva em face da demandacrescente por empregos que resultava da retomada da expansão urbana no estado.No Pólo Petroquímico, no início dos anos 90, US$ 8 bilhões de investimentosignificavam 24 mil trabalhadores empregados diretamente. Vale dizer: 3 postos paracada milhão de dólares investido (Guerra, 2001, p. 15).

Não haveria, ademais, a compensação, sempre alardeada pelos policy

makers baianos, da multiplicação de empregos industriais indiretos, uma vez quenão ocorreram os “encadeamentos a jusante e a montante”, previstos pela teoriaadaptada de Perroux e Hirschman. Como sublinharam Spinola e vários outroseconomistas baianos, “o complexo petroquímico não produziu os efeitos multiplicadores (depolarização) esperados e que responderiam pelo desenvolvimento de um parque deindústrias de transformação, produtoras de bens finais, a jusante das suas centrais.Por outro lado, reduziu a capacidade de financiamentos de vários segmentos industriaisalternativos, ao monopolizar a captação dos escassos recursos regionais para ofinanciamento da indústria” (2001, p. 36).

Houve, certamente, importantes efeitos induzidos sobre a construção civile a produção de serviços, especialmente em Salvador e nos municípios em que seimplantaram as novas fábricas, como será visto em outra seção. Quanto à limitadageração de empregos diretos industriais, isso revelava, todavia, apenas uma parte daquestão. Uma análise mais fina da “industrialização” baiana mostraria uma estruturaindustrial hiperconcentrada na química e na petroquímica, desde os anos 60. A

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Petrobrás, e algumas poucas outras empresas do ramo, responderam por cerca de30% do valor gerado pela indústria da Bahia até a implantação do Pólo: a partir daí,essa proporção saltou para mais de 50% (ver Almeida; Damasceno, 2005b).

Avena (1983) definiu essa composição setorial como a de um “estadomonoindustrial”. Na realidade, a situação era mais inquietante, porque, à concentraçãoem um ramo, se somavam as centralizações espacial e empresarial. Menezes (2001, p.50) descreveu a realidade industrial baiana mais precisamente, ao falar de “trípliceconcentração” na nova indústria e, por conseguinte, na nova economia da Bahia: emprimeiro lugar, a convergência setorial, citada por Avena, com o gênero químicarespondendo por cerca de metade do valor de transformação industrial, ou seja, por15% a 20% do PIB baiano; em segundo, a centralização empresarial, dado o carátercapital-intensivo da produção de bens intermediários, seu reduzido grau de relaçõesintersetoriais e a presença pouco expressiva de empresas de médio ou pequeno porte.Do ponto de vista do capital, isso se traduziu em uma indústria estruturada em cerca decinco dezenas de grandes empresas que, por sua vez, eram hegemonizadas por meiadúzia de grandes grupos empresariais associados aos governos federal e estadual;8 e,em terceiro lugar, a concentração espacial, haja vista que as novas fábricas se instalaramna Região Metropolitana de Salvador (RMS, criada em 1973), ou em sua área deinfluência mais imediata, o município de Feira de Santana, onde outro “distrito industrial”foi implantado (o Centro Industrial de Subaé, também em 73).9

O presente texto já chamou a atenção para o fato de que a ausência deuma base industrial diversificada e complexa, reunindo empresas de diversos ramose tamanhos e operando com externalidades positivas geradas por sua própriaexpansão, explica, em grande parte, a relativa estagnação econômica de Salvadornos anos 1990-2000 e, por conseguinte, seus recordes de desemprego. Como se viu,a “industrialização”, dos anos 1950-1980, apesar dos efeitos multiplicadores dos seusinvestimentos, não criou essa base. É importante sublinhar que isso não se deveuexclusivamente ao caráter capital-intensivo da nova indústria, caso se entenda, porisso, de um modo simplista, uma elevada relação técnica capital/trabalho. É precisolembrar que a hiperconcentração setorial e da propriedade do capital, nessa indústria,reduziu também seus efeitos indiretos e induzidos. Primeiro, porque sua natureza de“quase enclave” implicou “vazamento” extra-regional da sua própria demanda deinsumos; segundo, porque a concentração dos rendimentos do capital reforçou aconcentração da renda do trabalho implícita na limitada geração de empregos diretos,com postos inicialmente bem remunerados, mas acessíveis apenas a uma minoriade trabalhadores qualificados; e, terceiro, porque implicou “fugas” e “vazamentos”extra-regionais do excedente, na medida em que os grandes grupos econômicos

8 A retomada da centralização do capital no COPEC, nos anos 2000, fez da indústria química na Bahiaum ramo praticamente subordinado a apenas duas grandes empresas – a Petrobrás e a Braskem,esta última controlada por dois grupos familiares baianos, o Odebrecht e o Mariani.

9 O significado da criação da RMS será discutido mais adiante.

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envolvidos usaram seus lucros locais para impulsionar seus investimentos em outrosestados e países. Todos esses elementos ficaram mais evidentes nos anos entre1990-2000, quando a ampliação da indústria petroquímica regional (expansão daRLAM e do COPEC) se fez em paralelo à redução do já limitado emprego direto, douso intensivo do outsourcing, da reconcentração do capital e de seu controle e damudança das sedes de empresas locais para o Sudeste.

Diga-se, ainda, que tais efeitos multiplicadores só não foram menores namedida em que a tributação sobre a nova indústria incrementou os gastos públicosestaduais com custeio e investimento. Coube, em princípio, ao governo estadual,através desses novos recursos ou do endividamento que eles permitiram, ampliar osefeitos indiretos e induzidos da nova indústria, não apenas na RMS, mas, também,em outras regiões do estado. O problema é que esse processo também foi limitadopelo fato de o executivo estadual ter de bancar o grosso dos incentivos fiscais noperíodo seguinte, marcado não apenas pelo colapso dos antigos mecanismosnacionais de financiamento (FINOR, SFH etc.), mas, sobretudo, pela omissão federalem relação aos programas regionais de industrialização.

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Em contraste com a nova indústria, a produção agrícola baiana cresceulentamente após 1950, compensando, parcialmente, a queda da fertilidade naturaldos solos, secularmente utilizados, com a expansão mais acelerada da área cultivada.A fronteira agrícola foi ampliada, estendendo-se em direção às regiões do vale doSão Francisco, Extremo-Sul e Oeste do estado. É fato ainda que, na década de 1970,acelerou-se a transformação das relações de produção no campo, com a expansãoda força de trabalho assalariada e volante, residente na periferia de cidades do interior– os “bóias-frias”. Mas a modernização da produção ocorreu vagarosamente na maiorparte das lavouras e, esse atraso tecnológico, só seria revertido a partir da década de1980, com a expansão da sojicultura mecanizada nos cerrados da região de Barreiras,no Além-São Francisco, da fruticultura irrigada (melão, manga, uvas) no norte do valedo mesmo rio e da produção de celulose no sul do estado.

Entre 1950 e 1980, os principais produtos agrícolas exportados pela Bahiaforam cacau (amêndoas, manteiga e torta), sisal e algodão (fibras), mamona (óleo) efumo. Foi somente por volta de 1985 que a pauta de exportações agrícolas começoua se expandir, com o café, a soja e algumas frutas (mamão e laranja). Os principaisalimentos cultivados foram mandioca, feijão, milho e cana-de-açúcar. No setorpecuário, destacou-se somente a criação de gado bovino para corte e, apenas comoatividade subsidiária, para leite.

A Bahia continuou concentrando cerca de 90% da produção brasileira decacau, destinando-o, principalmente, à exportação (idem, p. 138). Em 1962, o governo

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federal criou a CEPLAC – Comissão Executiva do Plano de Recuperação Econômico-Rural da Lavoura Cacaueira, órgão de pesquisa, desenvolvimento e financiamentoda produção, que introduziu, em vinte anos, novas espécies, de maior produtividade,forneceu fertilizantes e defensivos e apoiou a renovação dos cacauais antigos,conseguindo, através dessas medidas, elevar a produtividade por hectare nacacauicultura baiana. A produção voltou a crescer a partir da segunda metade dadécada de 1960, depois de ter permanecido estagnada entre o imediato pós-guerra e1965. A cacauicultura baiana, entretanto, não recuperou jamais a posição privilegiadaque detinha no mercado internacional até os anos de 1930. Na segunda metade dosanos 80, após vários anos de boom, puxado por uma extraordinária alta dos preçosinternacionais, seria quase dizimada por uma praga oriunda da Amazônia, a vassoura-de-bruxa, provocada por um fungo, o Crinipellis perniciosa.

A produção estadual de cana-de-açúcar, ainda concentrada no Recôncavo,cresceu lentamente no pós-guerra. Foram necessários cerca de 20 anos (1950-1970)para que dobrasse. Áreas tradicionalmente produtoras do Recôncavo foramabandonadas, em razão da extração do petróleo e da implantação das novas indústrias,ou como conseqüência da fragmentada estrutura fundiária regional, que retardou amecanização da lavoura ao exigir prévia concentração da propriedade da terra. Aexpansão da área cultivada total, bastante apreciável entre o início dos anos 60 e aprimeira metade da década de 1970, ocorreu graças à difusão da cana em outrasregiões do estado, que não objetivava, necessariamente, o crescimento da produçãousineira de álcool ou açúcar, mas a elaboração artesanal ou semi-artesanal deaguardente, rapadura e forragem para o rebanho bovino. A produtividade média porhectare, que já era baixa, continuou caindo, e isso apesar do uso mais intenso defertilizantes e defensivos nas poucas fazendas controladas por usinas. Praticamenteaté meados dos anos 70, não havia ocorrido introdução de novas variedades maisrentáveis, nem progresso técnico considerável nas atividades de plantio e colheita(idem, p. 143).

O número de usinas de açúcar decresceu consideravelmente. Das 20 usinasem funcionamento em 1920, no Recôncavo, restavam 10, em 1965, e apenas 5, noinício da década de 70 (CONDER, 1973, p. 81). E só duas sobreviveram até a viradado século. A Bahia, um dos maiores centros açucareiros do mundo durante o períodocolonial, tornou-se importadora de açúcar refinado. Alguns poucos projetos canavieiro-açucareiros, desenvolvidos no estado a partir dos anos de 1970, optaram pelas regiõesde fronteira no vale do São Francisco. Mais grave: a produção de álcool-combustívelnão se viabilizou como alternativa real para a recuperação da atividade, pois as novasusinas de álcool-cana se concentraram em outras regiões do país, dotadas de umalavoura canavieira mais avançada tecnicamente e próxima dos principais mercadospara o produto.

Outras atividades agropecuárias floresceram na Bahia entre 1960 e 1980,sendo que algumas delas foram, inicialmente, consideradas muito promissoras.Todavia, após algum crescimento, perderam quase todo o dinamismo inicial, exceção

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feita à cafeicultura, beneficiada pela política federal de descentralização dos cafezaise protegida pelo crédito subsidiado. Na região de Guanambi, o algodão sofreu com apraga do “bicudo” e a instabilidade de preços. No Recôncavo, a citricultura e a aviculturaforam esmagadas pela concorrência nordestina (laranja) ou paulista e mineira (laranjae aves). Nas áreas de horticultura (principalmente tomate e cebola), o grande entravefoi o lento crescimento da indispensável irrigação e do sistema estadual decomercialização e crédito. A Bahia, e Salvador particularmente, continuaramimportando de outras regiões do país uma parcela relevante dos alimentos consumidos,fato que as estiagens, isoladamente, não podiam explicar.

Como a utilização de matérias-primas regionais foi limitada, basicamente,ao aproveitamento de parte das reservas minerais do estado, especialmente o petróleo,a nova indústria estabeleceu conexões pontuais com a agropecuária baiana. É verdadeque o processamento da produção agropecuária regional avançou entre 1950 e 1980,pois surgiram novas empresas agroindustriais exportadoras, voltadas para oprocessamento do cacau, de óleos vegetais (dendê e mamona), celulose e papel,fibra de sisal e frutas (sucos e concentrados). Além disso, modernizou-se a produçãode alimentos destinados aos mercados locais, com a implantação de matadourosindustriais e frigoríficos, granjas modernas e fábricas de leite pasteurizado e em pó.Mas o processamento agroindustrial continuou sendo realizado de forma limitada,esbarrando sempre nos baixos níveis de produtividade e de volume de produçãoalcançados pela produção baiana de matérias-primas agrícolas, pouco capitalizada esujeita, ciclicamente, aos efeitos das secas.

É necessário lembrar, ainda, que os focos e surtos de desenvolvimentoagroindustrial se desenvolveram em regiões do estado cada vez mais distantes deSalvador. No hinterland metropolitano, o quadro, no período, foi de rápido esvaziamentoda economia rural, e isso apesar de uma ou outra atividade agropecuária ter sedesenvolvido pontual e temporariamente.

No Litoral Norte da capital, uma região marcada pela concentração fundiária,a decadência da produção açucareira levou a tentativas efêmeras de exploração dacitricultura para suco, do coco e da madeira (primeiro para carvão vegetal e, depois,para celulose). Mas nenhuma dessas atividades tem relevância econômica, no iníciodeste século XXI, voltando-se essa microrregião para uma relativamente bem sucedidacombinação de indústria, serviços e veraneio (Camaçari) e de veraneio e turismo emdestinos como Praia do Forte e Sauípe, no município de Mata de São João,beneficiados pela implantação de uma rodovia litorânea unindo Salvador à fronteirade Sergipe – a Estrada do Coco, aberta na metade dos anos 70, e sua extensão, aLinha Verde, ou BA-099, inaugurada em 1993.

Nas microrregiões do Paraguaçu (Feira de Santana), nos tabuleiros doRecôncavo e no Recôncavo Sul, a evolução da agricultura foi definida pelo declíniocontinuado dos complexos da cana-de-açúcar, baseado na grande propriedade, e dofumo, assentado no minifúndio, cujos eventos símbolos foram o fechamento detradicionais usinas e manufaturas de charutos. Houve ensaios localizados de

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substituição dessas lavouras, com maior ou menor sucesso, como nos casos daexploração do dendê (Cachoeira), da celulose do bambu (Santo Amaro), da citricultura(Cruz das Almas) e da avicultura (Conceição de Feira). No entanto, a única atividaderural, praticada em larga escala, que sustentou um dinamismo moderado no períodofoi a pecuária bovina de corte, centrada em Feira de Santana e voltada para oabastecimento de Salvador.

Nessas três últimas microrregiões, isso é, no tradicional arrière-pays deSalvador, a transição do século XX para o XXI seria marcada, assim, pelo esvaziamentodo campo e pela aposta em combinações restritas de investimentos industriais eatividades de serviços. Na indústria de transformação, vale a pena lembrar aimplantação do já citado distrito de Feira de Santana, o Centro Industrial de Subaé,extensão do CIA, e, no período seguinte (entre os anos de 1990-2000), de algumasfábricas de calçados dispersas em pelo menos cinco municípios do Recôncavo. Nocaso dos serviços, é necessário notar a permanência do tradicional pequeno centrode varejo de Santo Antônio de Jesus, a expansão do ensino superior em Feira deSantana e outras cidades, com uma universidade estadual (UEFS), campi da UNEBe faculdades privadas e o crescimento dos serviços de saúde (em Feira). Além disso,desde o início dos anos 80, acreditou-se no estímulo ao turismo (Cachoeira e váriosoutros municípios), ainda que isso tenha mostrado uma performance sempre aquémda esperada e bem distante do movimento alcançado pelos destinos turísticos daRMS e do Litoral Norte.

Feitas todas essas ressalvas, é possível admitir que o aparecimento, naBahia, de uma nova agroindústria, ainda que muito dispersa e também fortementesubsidiada, não deixou de repercutir positivamente sobre a economia de Salvador.De fato, as exportações agroindustriais ajudaram a sustentar o movimento do portoda capital e das atividades de serviços relacionadas ao comércio de exportação.Além da sustentação da atividade de exportação na capital, é importante ressaltarque o comércio de Salvador absorveu parte da demanda indireta e induzida por essesnúcleos agroindustriais, o que também foi facilitado pela expansão e asfaltamento darede rodoviária estadual, notadamente com a construção das BRs 101 e 242 – aprimeira acompanhando o litoral e religando o estado ao Centro-Sul e ao Nordeste dopaís e, a segunda, unindo Salvador à Chapada Diamantina, aos cerrados do AlémSão Francisco e à Brasília. No entanto, esses efeitos foram limitados pelo caráterquase sempre pontual dos novos empreendimentos agroindustriais.

A opção por uma indústria de processo contínuo, automatizado, como apetroquímica, extremamente concentrada, não apenas do ponto de vista espacial,mas também no que diz respeito à propriedade do capital e à geração de renda,combinou com o relativo atraso, quase conseqüente, haja vista a escassez de recursos,da transformação agroindustrial do campo baiano. A Bahia, que não conseguiu construiruma agropecuária capitalista moderna na primeira metade do século XX, tambémnão o fez nas três décadas que se seguiram ao pós-guerra. Na medida em que aagroindústria foi a principal atividade industrial criadora de empregos, no final do

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século XX, esse atraso cobrou seu preço em termos de êxodo rural e taxas elevadasde desemprego rural e urbano.

Vale a pena lembrar, ainda, que o declínio das duas principais lavouras deexportação do hinterland de Salvador não levou ao esperado desenvolvimento de umverdadeiro “cinturão verde”, que melhorasse as condições de abastecimento da cidadee, ao mesmo tempo, permitisse o fortalecimento de uma nova classe média rural. Ascausas foram várias, a começar pela permanência de uma estrutura agrária polarizadaentre a grande propriedade e o minifúndio. Além disso, corroboraram a falta de políticasgovernamentais consistentes e permanentes de financiamento e apoio tecnológico,as prioridades dadas ao uso do solo e da água (industrialização e abastecimentourbano), o incremento do preço da terra, a ausência de tradição cultural, tanto para aprodução quanto para o consumo de hortícolas e, last but not least, a opção pelaconstrução de um sistema público de abastecimento alimentar (Cesta do Povo, 1979;Empresa Baiana de Alimentos, 1980), fundado em uma estratégia de comprasnacionais, exceção feita da farinha de mandioca adquirida localmente (ver, porexemplo, Maluf, 1999).

A EA EA EA EA ECCCCCONOMONOMONOMONOMONOMIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALVVVVVADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRE 1E 1E 1E 1E 195959595950 E 10 E 10 E 10 E 10 E 1980 – UR980 – UR980 – UR980 – UR980 – URBANBANBANBANBANIZAÇÃOIZAÇÃOIZAÇÃOIZAÇÃOIZAÇÃOCCCCCONCENTRONCENTRONCENTRONCENTRONCENTRADADADADADA E EXPA E EXPA E EXPA E EXPA E EXPANANANANANSÃO DOS NOSÃO DOS NOSÃO DOS NOSÃO DOS NOSÃO DOS NOVVVVVOS SERVIÇOSOS SERVIÇOSOS SERVIÇOSOS SERVIÇOSOS SERVIÇOS

Acompanhando a implantação da nova indústria, a urbanização na Bahiaganhou novo ritmo após 1950. Essa aceleração do crescimento urbano, um processoconcentrado em Salvador e seu entorno, se deu simultaneamente ao desenvolvimentode um “terciário moderno”, para adotar a terminologia da época. A visão convencionaldescreve essa retomada da expansão urbana, e o conseqüente desenvolvimentodos serviços na capital, como resultado exclusivo da “industrialização”, que se traduznuma determinada representação do funcionamento da economia regional, dominantedesde os anos de 1960 e, ainda hoje, entre técnicos e policy makers baianos, asaber: o modelo de “base exportadora”. Segundo essa representação, a grandeindústria, sempre dinâmica porque voltada para a exportação, leva a reboque um“terciário” de crescimento derivado e sempre dependente da demanda local.

Os efeitos multiplicadores dos investimentos industriais no CIA e no COPECforam mais que significativos, como se viu, e não podem ser negados. Contudo, paraexplicar o ritmo da urbanização e o avanço da terciarização na RMS deve-se levarem conta, além dos novos investimentos industriais, as transferências federais e osinvestimentos estatais e privados em outros segmentos da economia baiana, bemcomo as dinâmicas próprias, autônomas, de várias atividades dos novos serviços,algumas das quais – o melhor exemplo é o turismo – desde sempre voltadas tambémpara o mercado extra-regional.

Na segunda metade do século XX, a Bahia permaneceu um dos estadosmenos urbanizados do país – tinha, em 1980, segundo os elásticos critérios do IBGE,

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um grau de urbanização ainda muito inferior à média do Brasil, com 49,25% da suapopulação residindo em cidades, enquanto 67,57% da população brasileira já seencontrava nessa situação (IBGE, 1983). Esse fato refletia, de um lado, a peculiarestrutura agrária e agrícola da Bahia, com forte presença da pequena propriedade elento progresso da produtividade, e, de outro, a inexistência de uma rede de cidadesmédias no estado, dado o baixo dinamismo das atividades econômicas em boa partede suas microrregiões. Esse baixo dinamismo desviou parte do fluxo migratório oriundodo campo baiano para outros pólos do país, notadamente São Paulo, reduzindo astaxas de crescimento das cidades de porte intermediário na Bahia (Borges, 1993). Oatraso da urbanização no interior não impediu, contudo, o avanço da “metropolização”de Salvador nas décadas de 1960 e 1970, um fenômeno, então, comum a várias dascapitais brasileiras.

A população da Região Metropolitana de Salvador atingiu a marca dos 1,8milhão de habitantes, em 1980, dos quais quase 1,5 milhão na capital. No resto doestado existiam, no mesmo ano, apenas oito centros urbanos com população superiora 60 mil habitantes e, desses, só três com mais de 100 mil (Almeida; Damasceno,2005b). Essa situação se confirmou nos anos de 1980 e 1990. Das 10 cidades dointerior do estado com população superior a 100 mil habitantes, em 2000, duas –Feira de Santana e Vitória da Conquista – cresceram a taxas semelhantes à verificadana capital na última década do século XX e apenas quatro se expandiram maisrapidamente – Barreiras, Camaçari, Lauro de Freitas e Juazeiro. Mas, desse conjuntode seis cidades médias que apresentaram algum dinamismo demográfico, duas delas,Camaçari e Lauro de Freitas, pertenciam a RMS e uma, Feira de Santana, a segundacidade do estado, com cerca de 430 mil habitantes, era quase satélite de Salvador,sobretudo no que diz respeito à dependência da oferta de serviços superiores: serviçosempresariais, ensino de pós-graduação, transporte aéreo etc. Além disso, é necessáriofrisar que a terceira cidade baiana em termos demográficos, Vitória da Conquista,tinha, em 2000, apenas 225 mil habitantes. Em síntese, num estado que praticamentenão contava com aglomerações urbanas de porte médio, a capital, que havia crescidoa taxas anuais de 3% a 5%, entre os anos de 1950-1990, começaria o século XXI nacondição de metrópole absoluta.

A RMS, que alcançaria o patamar de pouco mais de 3,0 milhões dehabitantes em 2000, 80% dos quais residindo na capital, constituiu-se num dos maioresmercados urbanos do país. Algumas razões para isso serão listadas a seguir; partedelas guarda relação longínqua com os efeitos indiretos ou induzidos pela novaindústria.

Salvador era a sede política e administrativa do estado, abrigando, alémdisso, instituições do governo federal e uma grande prefeitura, logo, um númeroconsiderável de funcionários públicos – cerca de 10% da população ocupada da cidadeno final dos anos de 1980 (8,1% apenas na administração pública, segurança e defesa)(ver Almeida; Damasceno, 2005b). O desequilíbrio da malha urbana do estado nãodeixaria de reforçar esse efeito “capital” sobre a economia soteropolitana, que se traduziria,

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de saída, na presença de uma importante classe média empregada, integral ou parcialmente,pelo Estado.

Apesar da pobreza da maioria de sua população, e de uma elevadaconcentração de renda, mesmo para os altos padrões nacionais, o tamanho deSalvador permitiu, por si só, o desenvolvimento de uma pequena indústria urbana(alimentos, materiais de construção, construção residencial, mobiliário, gráficas) eassegurou a expansão de serviços pessoais, atraindo, inclusive, grupos econômicosnão-industriais já instalados no eixo Rio-São Paulo. Esses grupos avançaram sobresetores até então controlados pelo capital de origem regional, como comércio varejista,serviços financeiros e entretenimento, impulsionando sua já iniciada modernização.Destaque-se, nesse movimento, a rápida transformação do varejo, impulsionada pelaconcorrência e materializada na expansão das lojas de departamento, supermercadose shopping centers, entre os anos de 1960 e 1970. Ainda que parte desse processodeva ser associada aos efeitos multiplicadores do CIA e do COPEC, é precisoreconhecer que se tratava de inovações organizacionais difundidas nos EUA a partirdos anos de 1920, as quais, mais cedo ou mais tarde, acabariam por chegar tambémà capital da Bahia.10

Os investimentos da Petrobrás e a montagem de plantas industriais naBahia e em outros estados do Nordeste permitiram a expansão de empresas baianasde construção civil pesada. Essas empresas, das quais o exemplo paradigmático foia Odebrecht, cresceram, ainda, com o incremento do gasto público com obras deinfra-estrutura – estradas, pontes, barragens, abastecimento de água, saneamento eavenidas –, entre o final dos anos 60 e a década de 80. No mesmo período, emSalvador, ocorreram a expansão da construção civil residencial e a valorização daterra urbana nos novos bairros de classe média (Pituba, Caminho das Árvores e outros),ambas impulsionadas pela criação do Sistema Financeiro de Habitação. A expansãoresidencial, por sua vez, incentivou o desenvolvimento dos serviços imobiliários, dosserviços pessoais e do varejo de bairro, bem como da pequena indústria e do comérciode materiais de construção.

O desenvolvimento do transporte aeroviário no país e o asfaltamento daestrada Rio-Bahia (1963) colocaram Salvador no mapa do turismo nacional: em 1968,foi criada a estatal Bahiatursa – Empresa de Turismo da Bahia. Nos anos seguintes,

10 É necessário evitar, assim, uma concepção excessivamente simplista da modernização dos serviçossoteropolitanos na segunda metade do século XX. Dito de forma direta: o Shopping Center Iguatemi,maior shopping do Norte e Nordeste do país, inaugurado em Salvador no ano de 1975, não “resultou”apenas da nova indústria da RMS, como alguns economistas locais pretendem afirmar. O varejo,como outros segmentos dos serviços, tem também dinâmica própria, e é por isso, por exemplo, queum shopping como o Jequitibá Plaza pode surgir, no ano 2000, em Itabuna, principal pólo comercialda região cacaueira, em plena crise econômica provocada pela vassoura-de-bruxa. A visão convencionalmistura uma interpretação mecanicista, do “modelo de base exportadora”, com um forte preconceitoem relação aos serviços, que supostamente não criariam “valor” e teriam crescimento dependente darenda gerada pela indústria ou pela agricultura (ver, sobre essa questão, Almeida, 1997). Na verdade,isso é desconhecer a própria origem de inovações como o shopping e o supermercado, que sedifundiram nos Estados Unidos durante a Grande Depressão de 1929-1938.

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a implantação de unidades de cadeias hoteleiras, nacionais e internacionais, eliminariao gargalo que era a falta de grandes hotéis na cidade, ressalvada a existência doHotel da Bahia, construído pelo governo baiano e inaugurado em 1949. Assim, emmeados dos anos 70, estavam dadas as condições para o primeiro grande boom doturismo soteropolitano (1974-1979), que resultaria em novos investimentos, comdestaque para a construção do Centro de Convenções da Bahia, em 1979, e naconsolidação do marketing turístico local, assentado no mix praia/música/carnaval(ver Spinola, 2000).

A educação superior – outro setor vital para a futura economia soteropolitana– também começaria a se desenvolver desde os anos de 1950-70. Em 1946 foi criadaa Universidade Federal da Bahia, que cresceu até o final da década de 1970; nosanos 50, surgiram as primeiras faculdades privadas, inclusive a importante EscolaBaiana de Medicina; em 1961, implantou-se a Universidade Católica de Salvador; e,em 1972, a FACS, que daria origem, nos anos 90, à UNIFACS, primeira universidadeprivada e laica do estado. A partir daí, inauguraram-se novas unidades privadasisoladas e, pouco mais tarde, entre 1983 e 1986, uma universidade pública estadual,a UNEB, com campi em várias cidades baianas, inclusive na capital, onde também selocaliza sua reitoria. Tais empreendimentos tiveram um múltiplo papel para a economiasoteropolitana, qualificando a força de trabalho local, incrementando sua capacidadeempreendedora e atraindo recursos públicos federais e estaduais. Além disso, Salvadorpôde dar continuidade a uma de suas mais tradicionais vocações: a acolhida deestudantes de outras regiões, que contribuíam para dinamizar não apenas a vidaeconômica da cidade, mas, também, sua vida cultural. No final dos anos de 1980, aBahia contava com quase 50 mil estudantes matriculados no 3º grau, a esmagadoramaioria dos quais concentrados em Salvador (ver Almeida, 2002a, 2002b).

É necessário lembrar ainda que, num estado monocêntrico como a Bahia,a capital tendeu a concentrar quase todas as sedes de médias e grandes empresasoperando regionalmente. Esse fato teve grande importância para a economia local,na medida em que os centros administrativos empresariais favorecem a expansãodos serviços superiores, criando empregos diretos para trabalhadores altamentequalificados, consumindo serviços empresariais terceirizados e sustentando o turismode negócios e as viagens profissionais. Ainda que Salvador viesse a perder sedes deimportantes organizações no período seguinte (Banco Econômico, Banco do Estadoda Bahia, Supermercados Paes Mendonça, Odebrecht), como conseqüência daprivatização de empresas públicas estaduais, da globalização e da reconcentraçãoterciária em São Paulo, ela ainda manteria, nesse campo, a primeira posição emrelação ao Norte e Nordeste, disputando corpo a corpo com Recife. Em 1990, abrigava234 sedes empresariais entre as 6.250 mais importantes do país, número que passariapara 264, em um total de 9.131, em 2001, vale dizer, 3% dos quartéis-generais deempresas do país e 20% do Norte e Nordeste (ver Almeida; Britto; Mendonça, 2004).

Na virada do século XX para o século XXI, esse amplo conjunto deatividades industriais e “terciárias” – e não exclusivamente a nova indústria – criou as

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condições para a rápida expansão e diversificação dos serviços empresariais. Comoem toda metrópole contemporânea, são esses serviços – business services ou, maisprecisamente, business-to-business services (B2B) – que constituirão a colunavertebral da economia soteropolitana a partir dos anos de 1990. Esse tema será,todavia, desdobrado em outra seção. Por enquanto, o foco será deslocado para oimpacto das transformações aqui tratadas sobre a inserção espacial de Salvador.

DEDEDEDEDECLÍNCLÍNCLÍNCLÍNCLÍNIO DO REIO DO REIO DO REIO DO REIO DO RECÔNCCÔNCCÔNCCÔNCCÔNCAAAAAVVVVVO E FORO E FORO E FORO E FORO E FORMAÇÃO DMAÇÃO DMAÇÃO DMAÇÃO DMAÇÃO DA RA RA RA RA RMMMMMSSSSS

Houve, primeiramente, uma mudança qualitativa nas relações de Salvadorcom o Recôncavo Baiano – seu arrière-pays imediato. A conclusão e o asfaltamentoda BR-116 (1949-63), ligando Salvador às regiões industriais do Centro-Sul do país,e a implantação de uma malha rodoviária no Recôncavo, a partir dos investimentosda Petrobrás, desarticularam as antigas redes de transporte regionais, de baseferroviária e flúvio-marítima. Os investimentos nas fábricas do CIA e do COPECcompletaram essa desarticulação, na medida em que reduziram a importância da jádeclinante economia agroexportadora regional. A decadência do açúcar e do fumo,contemporânea da ascensão do caminhão como principal meio de transporte de carga,marcou também o declínio – emblemático – dos saveiros, dos “vapores” da CompanhiaBaiana de Navegação e das feiras, que faziam da capital um duplo mercado, dedemanda e oferta, para o entorno da Baía de Todos os Santos (BTS). Foram morrendoà míngua os antigos portos dessa orla: Cachoeira, Nazaré, Santo Amaro, Maragogipe.O tiro de misericórdia na navegação tradicional da BTS foi dado pela construção daPonte do Funil e pela implantação de sistema de ferry-boat, ligando a Ilha de Itaparicaao continente por via rodoviária, no início dos anos 70. Cresceram, em contrapartida,as cidades que conseguiram passar de entroncamentos ferroviários para cruzamentosrodoviários – Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus e, sobretudo, fora do Recôncavo,mas ancorada na BR-116 e, mais tarde, também na BR-101, Feira de Santana (verSEI, 2003).

Abstraindo-se o caso de Feira de Santana, pode-se falar de umdeslocamento do centro de gravidade econômico e, conseqüentemente, da hierarquiaurbana regional do Recôncavo Sul (cana-de-açúcar) e dos tabuleiros do Paraguaçu(fumo), para os municípios que abrigaram a nova indústria. No Recôncavo Norte, SãoFrancisco do Conde, Candeias, Simões Filho; no Litoral Norte, atlântico, Lauro deFreitas e Camaçari. Como se viu, o deslocamento neste último sentido foi reforçadopela implantação da Estrada do Coco (1975) e da Linha Verde (1993), que assegurarama multiplicação dos imóveis de veraneio e dos equipamentos turísticos, inclusivegrandes resorts internacionais, ao longo da costa.

Decorreu, dessas mudanças, na estruturação do espaço econômicoregional, a criação, em 1973, da Região Metropolitana de Salvador, reunindo, emprincípio, uma dezena de municípios, mas, de fato, apenas a capital e sua periferia

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industrial (São Francisco do Conde, Candeias, Simões Filho, Camaçari, Dias D’Ávilae Lauro de Freitas).11 A RMS passou a ser o lugar privilegiado da intervençãogovernamental, com o Conselho de Desenvolvimento do Recôncavo, criado em 1967,transformado em Companhia de Desenvolvimento da RMS, com a mesma sigla –CONDER – não antes de produzir o primeiro Plano de Desenvolvimento Integrado danova região. Conseqüência simétrica e indesejada desse processo foi o abandono doRecôncavo e da BTS como espaços de planejamento e de investimento público eprivado. A capital da Bahia “deu as costas” ao seu litoral tradicional e seus governantessó se deram conta do erro quando, a partir dos anos de 1990, a necessidade decombater a poluição da baía e a importância da Bahia de Todos os Santos para anáutica de lazer e para o turismo de base ecológica e cultural ficaram evidentes.12

Ocorreu, nas mesmas décadas, uma mudança na qualidade dos laços deSalvador com seu hinterland em sentido amplo, as regiões do interior do estado daBahia. A redução do peso econômico das atividades agropecuárias, que passaram arepresentar pouco mais de 10% , em média, do PIB estadual, foi um primeiro fator aenfraquecer as relações entre a capital e as regiões mais distantes do estado. Outroelemento de grande significado foi o desvio de parte da emigração rural do estadopara as cidades situadas nas suas fronteiras econômicas e geográficas – Barreiras,Juazeiro, Porto Seguro e Teixeira de Freitas, principalmente. Além disso, odesenvolvimento de uma malha rodoviária nacional, o fortalecimento relativo dogoverno federal e o maior dinamismo econômico de algumas metrópoles situadas emestados vizinhos, contribuíram para reforçar as forças centrífugas exercidas,principalmente, nessas mesmas regiões limítrofes. O caso mais evidente foi o doscerrados do Além São Francisco, ocupados pela soja e pela colonização gaúcha,com vínculos crescentes com o pólo agroindustrial e de serviços do eixo Brasília-Goiânia. Mas esse tipo de força esteve também presente no São Francisco (Juazeiro/Petrolina), no Sul e no Extremo-Sul, com seus tradicionais laços com o Espírito Santoe o Rio de Janeiro, bem como no Sudoeste, com suas também tradicionais ligaçõescom a economia mineira.13

É necessário levar em conta, ainda, os efeitos espaciais diretos da nova

11 Os outros municípios da RMS são Vera Cruz e Itaparica, situados na ilha de mesmo nome. Comeconomia assentada no turismo e no veraneio, responderam, em 2002, por apenas 0,5% do PIB daregião.

12 Daí o mega projeto Bahia Azul, voltado para a construção de um sistema de saneamento urbano epara o controle da poluição industrial em Salvador e no entorno da BTS, com investimentos de cercade US$ 600 milhões, bancados pelo BID, Banco Mundial, BNDES e governo estadual, entre outrosfinanciadores. Para mais informações, consultar o site da EMBASA – Empresa Baiana de Águas eSaneamento S.A., em: http://www.embasa.ba.gov.br/a_empresa/bazul.htm.

13 Um efeito paralelo dessas forças centrífugas é o esvaziamento econômico e populacional de áreascentrais do estado, prejudicadas pelo clima do semi-árido, e dependentes, portanto, de umaagropecuária de baixo dinamismo (e.g. sisal, caprinocultura). O turismo, estimulado principalmentena Chapada Diamantina, não se mostrou capaz de assegurar a geração de emprego e renda necessáriapara reverter esse quadro. Daí a continuidade da probreza e da emigração líquida, que leva, emalguns casos (municípios do Piemonte da Diamantina), à redução absoluta da população.

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indústria e da terciarização na RMS. Como se observou, a indústria baiana sedesenvolveu, até os anos de 1990, com base em políticas nacionais de“desconcentração industrial”. Tais políticas criaram uma indústria produtora de bensintermediários mais que dependente dos capitais e mercados do Centro-Sul e doexterior do país. Fortes laços econômicos se desenvolveram, a partir disso, com outrasgrandes cidades e, particularmente, com São Paulo. A chegada de grandes firmas deorigem nacional ou estrangeira, a modernização, a desnacionalização e a expansãode empresas locais em vários setores (supermercados, construção civil,telecomunicações, publicidade e outros) reforçaram e aprofundaram os vínculos comoutras metrópoles. O desenvolvimento do turismo, nacional e internacional, comSalvador se consolidando não apenas como pólo receptivo, mas também emissor,completou esse novo quadro.

Tais mudanças colocam um duplo desafio para a Salvador do século XXI:para a capital da Bahia, como para toda metrópole contemporânea, as relaçõeseconômicas e culturais com outras grandes cidades tendem a se tornar maisimportantes do que a preservação dos vínculos tradicionais que a ligam com seupróprio hinterland. A evidência mais material desse fato é a crescente importância doaeroporto (de vocação internacional) da cidade diante dos que eram seus portões deentrada tradicionais para carga e pessoas – o porto e o terminal rodoviário.14 Mas, poroutro lado, a afirmação de Salvador como metrópole regional passa, antes de tudo,pela hegemonia sobre o seu próprio “interior”. Ainda que a posição de pólo da capitalseja fortalecida pela inexistência de uma rede estadual de cidades de tamanho médio,a relativa perda de importância dos vínculos sociais e econômicos estabelecidos entrea capital e seu hinterland e as forças centrífugas exercidas por metrópoles vizinhassobre as fronteiras baianas exigem um novo tipo de soldagem, que vá além daquelacriada pelo êxodo rural, o seu comércio e o porto. É possível que a solução venha aestar na exportação intra-estadual de serviços superiores, vale dizer, serviçosintensivos em conhecimento, em serviços sociais (saúde, educação superior) ouprestados a empresas.

As transformações que redefiniram a inserção nacional e regional deSalvador na geografia econômica brasileira, na virada do século XX para o XXI, tambémforam responsáveis por mudanças no espaço econômico interno dessa metrópole.Em Salvador, do mesmo modo que em qualquer grande cidade das últimas décadasdo século XX, o processo de diversificação, expansão e modernização dos serviçosse materializou espacialmente sob a forma de um novo Central Business District (CDB).Na capital baiana, o abandono do antigo centro e a migração de organizações públicase privadas para o novo pólo intra-urbano de serviços foi o resultado de uma intervençãoorquestrada pelo governo estadual e pelo grande capital imobiliário local. A açãocomeçou entre o final dos anos 60 e o início da década seguinte. Primeiro, novas

14 É importante sublinhar que o aeroporto de Salvador era, em 2001, o sexto do país em termos demovimentação de passageiros e o terceiro em carga aérea doméstica movimentada (Almeida, 2003)

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avenidas foram abertas para criar um novo eixo Sul-Norte, que ligasse espaços aindavazios – mas já apropriados por empresas imobiliárias – ao aeroporto e aos novosbairros residenciais destinados às novas classes médias, assalariadas, da cidade.Em seguida, o governo implantou seu novo núcleo administrativo (o CAB, CentroAdministrativo da Bahia) sobre o corredor principal do novo eixo (a Avenida Paralela),a meio caminho entre o aeroporto e o antigo centro comercial, situado no entorno doporto. Enfim, o Estado e o capital imobiliário instalaram alguns equipamentosestratégicos no coração do futuro CDB: a nova estação rodoviária, um grande shoppingcenter regional, o primeiro hipermercado da capital e alguns dos primeiros prédios deescritórios (ver Scheinowitz, 1998). Começa, então, a migração das empresas docentro histórico. O êxodo, que se inicia na segunda metade dos anos 70, se aceleranos anos 80 e se completa na década de 90: uma pesquisa, realizada em 2001,revelou que 36% das firmas do novo CDB tinham começado aí suas atividades, 43%eram originárias do velho centro e, as outras, na maior parte, eram filiais de empresasoriundas de outras metrópoles brasileiras (Almeida e Norberto, 2001).

Ainda que a implantação do novo CDB tenha sido planejada pelo Estado epelo grande capital, é importante evitar uma certa visão “conspiratória” desse processo.O fato é que havia se esgotado as possibilidades de expansão para os imóveisempresariais no antigo centro. No início dos anos de 1970, o problema mais citadoeram os engarrafamentos nas ruas e avenidas muito estreitas, herdadas do séculoXIX, quando não do período colonial. Além desse, os empresários locais listavamoutros problemas: falta de acessibilidade (estacionamentos), ausência de hotéis,serviços de alimentação e opções de lazer para executivos, distância do aeroporto e,sobretudo, inexistência de espaço disponível para novos prédios de escritórios, nãoapenas em razão da escassez de grandes terrenos livres, mas, também, em funçãoda presença de áreas de preservação arquitetônica, submetidas à legislação deproteção do patrimônio histórico. Que a transferência dos serviços empresariais tenhase dado por uma linha Sul-Norte atlântica – e não pela alternativa de contornar aBTS, acompanhando a BR-324, que liga Salvador a Feira de Santana, e as BR-116 e101, no eixo industrial da RMS – parece, nesse contexto, uma solução bastante lógica,haja vista a dependência dos novos serviços em relação ao aeroporto, as ambiçõesturísticas da cidade e a maior valorização imobiliária dos bairros do litoral oceânicoda cidade, fator fundamental para empresas dependentes de status e imagem.

Completa-se, assim, a conformação espacial da cidade, sua integração aoseu novo hinterland – a RMS – e sua abertura para novas relações nacionais einternacionais.

Tratou-se, em resumo, como destaca a SEI (2003, p. 157-158), dastransformações da rede viária, sobretudo a construção das “avenidas de vale” e davia Paralela, que permitiram a criação de novos bairros residenciais e do novo CDB,deslocando o coração econômico e cultural da cidade, primeiro, para o pólo Iguatemi-Pituba e, mais tarde, na sua extensão norte, também para o eixo Avenida TancredoNeves-Paralela, sempre em direção ao aeroporto. Acompanhando esse movimento,

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ocorreu a priorização da orla atlântica para os empreendimentos turísticos, a infra-estrutura (telecomunicações, iluminação, saneamento) e os investimentos sociais(esporte, lazer, cultura), com “fortalezas de moradia” e “ilhas de excelência” (Porto;Carvalho, 2001), agrupando hotéis, condomínios fechados e shopping centers, entremanchas sempre presentes de bairros proletários, favelas e “invasões”. Tratou-se,ainda, da ocupação da orla suburbana da Baía de Todos os Santos, do eixo da BR-324 e do “miolo” (os bairros proletários entre os dois vetores de expansão, a BR e aAvenida Paralela), por uma imensa massa de “habitações construídas sem licençaoficial”, em vales insalubres, encostas e palafitas.

Nesse contexto, resta lembrar que o encarecimento da terra em Salvadorlevou os novos emigrantes pobres a procurar moradia nas favelas fronteiriças de doismunicípios vizinhos – Lauro de Feitas e Simões Filho. O encontro de habitaçõesproletárias daí resultante confirma, de modo perturbador, a conurbação metropolitana.

A EA EA EA EA ECCCCCONOMONOMONOMONOMONOMIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALIA DE SALVVVVVADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRADOR ENTRE 1E 1E 1E 1E 1980 E 2980 E 2980 E 2980 E 2980 E 2005 – I005 – I005 – I005 – I005 – IMMMMMPPPPPAAAAACTCTCTCTCTO DO DO DO DO DAAAAAGLGLGLGLGLOBALIZAÇÃO E DOBALIZAÇÃO E DOBALIZAÇÃO E DOBALIZAÇÃO E DOBALIZAÇÃO E DA RA RA RA RA REESEESEESEESEESTRUTURTRUTURTRUTURTRUTURTRUTURAÇÃO PAÇÃO PAÇÃO PAÇÃO PAÇÃO PRODUTIVRODUTIVRODUTIVRODUTIVRODUTIVAAAAA

Pode-se dizer que, no período entre 1950-1980, a Bahia não seindustrializou, apesar de ter se tornado o principal pólo industrial do Nordeste e dissoter implicado o fim da hegemonia do capital mercantil regional sobre o processo deacumulação no estado. Vale dizer: não se formou, no estado, um setor industrial commovimento próprio, diversificado e integrado, capaz de acelerar a urbanização, alterara distribuição do emprego em favor do setor secundário, elevar significativamente onível da renda regional e redefinir o papel e os métodos de produção da agriculturaregional. O desenvolvimento da agroindústria e da produção industrial de bens finaisfoi limitado: a nova indústria era, basicamente, produtora de insumos e divisas,sustentando-se nas exportações intra-regionais e internacionais de produtosintermediários petroquímicos. Sua evolução estava, desse modo, subordinada àdinâmica da acumulação do grande capital financeiro e industrial concentrado nopólo econômico do país. A nova indústria não eliminou, portanto, o atraso relativo daeconomia regional diante da economia do “pólo” nacional; ela apenas o repôs numpatamar mais elevado. E, como se viu, ela tampouco criou a massa de empregosprometida.

Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, a taxa dedesemprego aberto em Salvador saltou de 8,9%, nos anos de 1987-88, para 12,6%,em 1997-98, e 15,2%, em 2003-04 (Almeida; Damasceno, 2005a). No conceito dedesemprego aberto, que inclui os que não procuram emprego em razão do “desalento”,tais porcentagens foram, respectivamente, 15,7%, 21,8% e 26,0%. Isso significa que,no início do século XXI, após meio século de “industrialização”, um em cada quatrosoteropolitanos estava sem ocupação (ver Almeida; Damasceno, 2005a). Tais taxasfizeram de Salvador a metrópole brasileira recordista em desemprego na virada do

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século e, isso, não apenas segundo a PED, mas também segundo a Pesquisa Mensalde Emprego – PME, do IBGE (ver Almeida, 2002d).

Por que a capital da Bahia, principal pólo industrial do Norte e Nordeste, nãoconseguia ocupar 1/4 da sua População Economicamente Ativa no início dos anos 2000?

Para responder a essa questão é necessário – mas não suficiente – levarem conta a conjuntura nacional após 1980. No novo contexto mundial, aberto pelascrises do petróleo (1973-1979), o esgotamento do chamado “modelo de substituiçãode importações” ficou evidenciado com o fracasso parcial do segundo Plano Nacionalde Desenvolvimento (1975-1979). A substituição de importações, financiadas peloendividamento externo e interno, levou a uma crise que combinou inflação edesaquecimento da economia brasileira. Como a nova indústria baiana dependia,essencialmente, dos capitais e mercados do pólo industrial do país, essedesaquecimento nacional se traduziu em queda significativa das taxas de crescimentodos PIBs da Bahia, da RMS e de Salvador. De fato, a economia baiana, que haviacrescido, em média, 8,8% a.a., no intervalo 1975-1980, cresceu apenas 2,4% anuais,na década de 1980, e 2,5% no decênio seguinte.15 Estimativas do IPEA confirmam adesaceleração paralela da economia de Salvador a partir de 1985. Entre 1970 e 1985,Salvador esteve entre as metrópoles mais dinâmicas do país, ao lado de BeloHorizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Belém. Contudo, o crescimentodo PIB da capital da Bahia e da sua região metropolitana se desacelerou, em relaçãoaos produtos das capitais mais ativas do país, entre 1985 e 1996, perdendo terrenoem relação a Curitiba, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza. Concretamente, e aindasegundo o IPEA, o PIB de Salvador teria crescido, em média, 9,1% a.a. entre 1970 e1975, 11,3%, em 1975-80, 3,3%, em 1980-85, 5,7%, em 1985-90, e apenas 1%,entre 1990 e 1996 (Almeida; Damasceno, 2005b).

Como se sabe, a resposta brasileira ao esgotamento da substituição deimportações foi a abertura da economia nacional, a partir de 1990. Isso se traduziuem maior penetração no mercado nacional de produtos e capitais estrangeiros, comas empresas, no Brasil, sendo obrigadas a competir com o produto importado (econtrabandeado), em condições difíceis, haja vista a política de valorização cambialque se radicalizou entre 1994 e 1998. Essa política, além disso, favoreceu a entradade novas empresas internacionais portadoras de novas tecnologias, inclusiveorganizacionais, e prejudicou, ao mesmo tempo, as exportações nacionais, como nocaso das empresas petroquímicas da Bahia.

O resultado foi a quebra de muitas empresas brasileiras em váriossegmentos. Ramos inteiros, a exemplo da indústria de brinquedos e do complexotêxtil-confecções, estiveram próximos do colapso. Eis uma primeira razão para adestruição do emprego formal: a crise dos setores prejudicados pelas políticas tarifárias

15 Dados da SEI, ver: http://www.sei.ba.gov.br/. Ver também Carvalho JR; Pessoti; Pereira, que registramtaxas de crescimento médio anual do PIB baiano de 6,5% em 1975/86, 0,1% em 1986/92 e 2,6% em1992/00.

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e cambiais dos anos 1990-1998. A concorrência externa e o desemprego atingiramtanto os ramos exportadores, quanto os segmentos voltados para o mercado interno,que sobreviviam, até 1990, graças aos subsídios e tarifas protetoras.

Em segundo lugar, ocorreu significativa desnacionalização. A penetraçãodo capital estrangeiro com base na aquisição de empresas nacionais privadas ouestatais resultou também em mais desemprego, pois esse capital trouxe consigo novastecnologias e novos formatos organizacionais, implicando reengenharia e downsizing

das estruturas herdadas. Na Bahia, como no resto do país, a nova onda de investimentoestrangeiro se concentrou em alguns ramos de serviços: telefonia, bancos,supermercados, distribuição de energia elétrica, com impacto negativo sobre aocupação em alguns desses setores. Note-se, por exemplo, a redução do peso, emSalvador, da ocupação nos serviços financeiros e serviços de utilidade pública (verAlmeida; Damasceno, 2005b).

Em terceiro lugar, a abertura da economia implicou rápida penetração, noBrasil, das novas tecnologias, especialmente das tecnologias da informação ecomunicação (TICs), que alteraram tanto as condições de trabalho, quanto alocalização do próprio trabalho. Seu impacto sobre a economia local se deu em pelomenos três planos.

Primeiro: empresas e outras organizações modificaram suas estruturas eprocessos, enxugando seus quadros superdimensionados face às novas tecnologias.Isso provocou grande desemprego, tanto na indústria quanto em segmentos terciáriosimportantes, como serviços financeiros ou grande varejo. Na Bahia, o casoemblemático foi a redução da mão-de-obra direta, empregada no COPEC, para cercade 1/3 do máximo alcançado nos anos de 1980, com larga utilização de trabalhoterceirizado e temporário. Almeida e Damasceno (2005a) confirmam o avanço daterceirização não apenas na petroquímica, mas, também, na indústria metal-mecânicae em alguns importantes ramos de serviços da economia soteropolitana, comofinanceiros e de utilidade pública. A contrapartida dessa rápida expansão dooutsourcing, na economia da RMS, foi a criação de um importante pólo de serviçosempresariais em Camaçari e a expansão da oferta desses serviços em Salvador,conforme indica o crescimento dos segmentos de serviços auxiliares e especializados.

Segundo: as novas tecnologias permitiram que empresas e outrasinstituições se organizassem em redes de fornecedores e clientes operando online ecom base no just-in-time, o que implicou elevação da produtividade, redução de custos eeconomia de força de trabalho. Esse tipo de movimento se processou aceleradamenteem diversos setores e segmentos, como no caso das relações entre o grande comérciovarejista (supermercados e outros ramos) com seus fornecedores de bens e de serviços(e.g. sistema bancário). A conseqüência mais direta foi a destruição do emprego nosdepartamentos de retaguarda (back-office) das empresas, com a extinção de postosem áreas como contabilidade, armazenagem etc. Esse processo foi aprofundado,nos anos 2000, com a introdução de unidades de “serviços compartilhados” em grandesorganizações, permitindo maiores ganhos de escala nas atividades de retaguarda.

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Finalmente, o uso das TICs, o barateamento das telecomunicações e dotransporte, particularmente do aéreo, possibilitaram a relocalização de empresas e amontagem de redes inter-regionais e internacionais de suprimento (global sourcing).Estes últimos movimentos tiveram efeitos contraditórios sobre o mercado de trabalholocal. Houve desaparecimento de postos de trabalho, por exemplo, em segmentos dosetor financeiro e dos serviços de informática locais. Mas ocorreu, também, a atraçãode unidades produtivas, sobretudo quando empresas footloose puderam se beneficiarcom custos mais baixos de mão-de-obra e incentivos fiscais.16

Estima-se que a revolução tecnológica e organizacional tenha eliminado,entre 1990 e 2001, quase 11 milhões de postos de trabalho no Brasil. A abertura àsimportações, no mesmo intervalo, teria sido responsável por outro 1,5 milhão (verFreitas; Kupfer; Young, 2004). Ainda que o crescimento (lento) do mercado domésticoe o avanço das exportações (somente a partir de 1999) tenham assegurado um saldolíquido positivo de pouco mais de 3 milhões de postos, esse crescimento não foi, até2003, suficiente para reduzir as taxas de desemprego no país.

De qualquer modo, no Brasil ou em Salvador, a alta do desemprego sópode ser totalmente explicada quando são também considerados alguns fatorespresentes no lado da oferta metropolitana de trabalho. Não se trata, principalmente,como no passado, do êxodo rural. Em Salvador, a proporção de recém-imigrados naPEA (imigrantes com menos de 3 anos de moradia na cidade) vem diminuindo. A PEDrevela uma proporção de recém-imigrados de 7,2%, na amostra de 1997-98, e de6,1%, na de 2003-04 (ver Almeida; Damasceno, 2005). Trata-se, no entanto, doincremento da participação das mulheres na força de trabalho: em Salvador, aindasegundo a PED, de 44,6%, em 1987-88, para 48%, em 2003-04. E, sobretudo, domomento particular da demografia, que corresponde às décadas da virada do século,caracterizadas pelo rápido crescimento da quantidade de jovens e adultos jovens embusca de trabalho. Em Salvador, ainda segundo a mesma fonte, as faixas modais deidade da população total estavam entre 10 e 24 anos, em 1997-98, e entre 15 e 29anos, em 2003-04, reunindo, respectivamente, 33,5% e 32% da população local emcada um dos períodos (2005).

Note-se que tais fatores ajudam a explicar os níveis de desemprego nacapital da Bahia, mas não explicam o por quê do seu recorde negativo entre asprincipais metrópoles do país, em boa parte dos últimos quinze anos. Com efeito,todas as causas listadas acima também são válidas para as outras regiõesmetropolitanas e grandes cidades do país.

16 O termo “footloose” (livre para ir para onde se quer) tem servido para caracterizar a indústria e ossegmentos dos serviços que se deslocam em busca de menores custos salariais e incentivos fiscais.Essas empresas têm maior liberdade de localização graças ao avanço da terceirização e subcontrataçãode serviços, à redução do valor imobilizado em capital fixo e ao uso de mão-de-obra pouco qualificada,num contexto de queda dos custos de transporte e telecomunicação. É o caso típico da indústriacalçadista, que abandona o Rio Grande do Sul e São Paulo para se reinstalar na Bahia e no Ceará, ouainda dos call-centers de telemarketing.

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Viu-se que as deformações históricas da estrutura econômica da Bahia eda RMS podem ajudar a compreender o problema: 1°) a lenta expansão da agriculturacapitalista stricto sensu no estado e a ausência de uma agroindústria dinâmica nohinterland imediato da capital; 2°) a ausência de uma base industrial diversificada euma indústria produtora de bens intermediários, intensiva em capital e pouco integradaà economia local; e 3°) a renda pessoal hiperconcentrada (ver Almeida; Damasceno,2005a, 2005b). É indispensável, contudo, agregar a essas causas dois outros fatoresfundamentais: a ausência de uma política local de desenvolvimento e uma políticaestadual desenvolvimentista descolada da realidade econômica da cidade.

Em resposta ao esgotamento do modelo de substituição de importações,que havia permitido a implantação do COPEC, e ao fim das políticas nacionais dedesenvolvimento industrial – um subproduto da crise fiscal brasileira e da hegemonianeoliberal a partir de 1985-90 – o governo baiano limitou-se, praticamente, a aderir àchamada “guerra fiscal”. Como em outros estados, essa política obteve algum sucesso,pois ia ao encontro dos interesses de certos ramos industriais, que vinham se tornandocada vez mais footloose, graças à redução de suas necessidades de capital fixo e degiro (novas tecnologias, terceirização) e ao avanço da logística e das telecomunicaçõesno país. Várias empresas industriais, atraídas pelos incentivos fiscais estaduais epelos baixos salários pagos no Nordeste e, ao mesmo tempo, fugindo de deseconomiasde aglomeração presentes no Centro-Sul, notadamente dos sindicatos fortes presentesnos pólos industriais dessa região, deslocaram fábricas para a Bahia. O caso maisevidente foi o da indústria calçadista; o mais espetacular, a atração do novo complexoautomobilístico da Ford para Camaçari. Mas essa política atraiu também investimentosem ramos diversos, como montagem eletrônica (as “maquiladoras” do pólo de“informática” de Ilhéus), confecções, metalurgia, plásticos (com o programa Bahiaplast),celulose e química (inclusive o mega investimento da Monsanto, na produção dedefensivos agrícolas em Camaçari).

Embora seja obrigatório reconhecer o relativo sucesso dessa estratégia, éindispensável destacar três pontos: primeiro, a localização dessa nova indústriafootloose é descentralizada e/ou interiorizada, salvo exceções. Isso significa que elaimpacta indiretamente sobre a economia de Salvador e o faz, sobretudo, reforçandoo peso dos business services na capital17; segundo, essa política tende a ter resultadosdeclinantes, na medida em que é imitada por todos os estados brasileiros e se tornauma ameaça ao equilíbrio fiscal, haja vista que a “guerra” só pode ser vencida comincentivos e concessões cada vez maiores; e, terceiro, até por conseqüência, ela nãosoluciona o problema, que é definir uma nova política de desenvolvimento econômicopara uma metrópole de 3 milhões de habitantes, com a economia centrada em serviços.

17 A desconcentração espacial da indústria talvez possa explicar a participação declinante das capitaisbrasileiras no PIB nacional, bem como o caso excepcional de Manaus, que continua concentrando amontagem eletrônica da sua Zona Franca. Com efeito, muito se falou do dinamismo de pólos nointerior dos estados na virada do século, que teriam sido alavancados pelo boom do agronegócio epela indústria footloose.

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Da Cruz e Menezes (2000) calcularam que, em 1998, 82% do PIB deSalvador era gerado por atividades terciárias, sendo o comércio responsável por cercade 12% e, os serviços, em sentido estrito, por 70%. Os mesmos autores descobriramainda que, em Salvador, o crescimento do peso dos serviços no produto local ocorria,principalmente, em quatro segmentos: (a) hotelaria e serviços de alimentação; (b)transporte, armazenagem e comunicações; (c) serviços financeiros; e (d) serviçosempresariais, vale dizer, business services. Dados mais recentes do IBGE e da PEDconfirmam, a grosso modo, essa distribuição. Segundo o IBGE (2005), os serviços járespondiam por mais de 75% do PIB de Salvador, em 2002 (Almeida; Damasceno,2005b). De acordo com a PED, serviços e comércio seriam responsáveis por 87,4%da ocupação na capital da Bahia, em 2003/04 (2005b).18

Apesar da evidente terciarização da economia soteropolitana, a visãoindustrialista tradicional, ainda hegemônica na Bahia, continuou a ver, nessa expansãodos serviços, uma evidência do atraso econômico da cidade. Loiola (1997, p. 23)lembra que, em razão da “longa hegemonia do paradigma industrializante, que fez daindústria o único vetor de desenvolvimento e modernidade, firmou-se, nos meiosintelectuais e políticos [baianos], um acentuado ceticismo quanto ao futuro [deSalvador]”. A especialização da cidade na produção de serviços era vista como fontede problemas e não de oportunidades. O próprio Poder Público Municipal teria sidoinfluenciado por esse tipo de visão. “A sua omissão quanto aos rumos dodesenvolvimento econômico da cidade sempre foi justificada com base no argumentode que os fatores que poderiam estimular a economia, isto é, o setor secundário, nãoestavam sob seu controle.”

É indiscutível o papel dos novos investimentos industriais para o incrementodo produto da RMS. Somente o Complexo Amazon, da Ford, e seus desdobramentosdevem implicar um impacto equivalente a algo entre 5% a 13% do PIB baiano, porvolta de 2006 (Alban, 2000). Dito isso, é necessário reafirmar que o foco de umaestratégia de desenvolvimento para Salvador não pode ser o crescimento industrial.Os dados de estudos, como os de Da Cruz e Menezes, comprovam o que seria de seesperar para uma metrópole regional – a economia de Salvador é uma economia deserviços em transição de atividades de consumo corrente e local para atividadessuperiores exportáveis: serviços prestados às empresas, serviços sociais (saúde eeducação), produção de conhecimento, cultura e turismo.

Felizmente, com o acúmulo das evidências, políticos e estudiosos deSalvador começaram a se convencer, ainda que lentamente, de que é possível pensaro desenvolvimento da cidade de forma relativamente autônoma, em relação ao parqueindustrial da RMS. A tradicional intervenção do governo estadual nos segmentos doturismo e entretenimento (reforçada pelo recente apoio ao seu clustering) e sua políticade incentivos fiscais para a atração de empresas de telemarketing (call centers) foram

18 Os trechos seguintes deste texto estão largamente baseados em três dos nossos mais recentestrabalhos sobre a terciarização de Salvador. Ver Almeida (2002d, 2004a) e Almeida; Damasceno (2004).

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dois exemplos de políticas alternativas, baseadas em vetores de serviços. Trata-sede seguir adiante nessa direção e, tendo em vista seu papel essencial, propor umapolítica específica para os segmentos de serviços prestados às empresas e,notadamente, para os serviços empresariais intensivos em conhecimento.

A opção por um enfoque em serviços superiores é uma decisão vital para ofuturo da cidade. Do ponto de vista econômico e cultural, Salvador já é uma das duasprincipais metrópoles do Nordeste. Tem condições de manter e consolidar essa posiçãoe, mesmo, ultrapassar Recife. Se não pode ambicionar o posto de cidade global dopaís, dividido entre São Paulo e Rio de Janeiro, pode se tornar a terceira metrópolegateway brasileira, sobretudo, se consolida sua vocação de centro turístico e cultural,firmando-se como portão (e portal) de entrada para o Norte e Nordeste do país.

No entanto, uma política de sustentação, ao desenvolvimento local, deserviços superiores ou estratégicos não pode ficar limitada aos instrumentostradicionais utilizados na chamada guerra fiscal, até aqui voltada basicamente para aatração de indústrias. Philippe, Léo e Boulianne (1998) e Philippe e Léo (1999), entreoutros, chamaram a atenção para as dificuldades de construir uma política de“descentralização terciária”.

De fato, em primeiro lugar, é necessário reconhecer que o relativo sucessodas políticas de atração de indústrias com base em incentivos fiscais se deveu,também, a um fato objetivo: empresas de alguns ramos industriais (e.g. calçados,montagem eletrônica) tendiam, de fato, à migração, pois pretendiam fugir dasdeseconomias de aglomeração e dos custos presentes em suas regiões de origem.Isso não ocorre com os serviços, particularmente com os superiores. Ao contrário,eles são, em geral, muito mais dependentes de economias de aglomeração e de umainfra-estrutura sofisticada, que só encontram nas maiores cidades. A idéia de que odesenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação permitiria amigração de organizações produtoras de serviços para cidades de porte médio aindaestá para ser comprovada. Há exceções e casos isolados, é claro. De qualquer modo,os parâmetros de decisão locacional de organizações produtoras de serviçossuperiores vão muito além do custo direto stricto sensu. O mesmo pode-se dizer,ainda com mais razão, no que diz respeito às sedes de grandes empresas. E, aliás,como se mostrou acima, a implantação do novo CDB de Salvador é uma forte evidênciada importância desses outros fatores locacionais, que vão da proximidade de umgrande aeroporto à imagem internacional da cidade.

Em segundo lugar, nos casos em que a atração é possível, por exemplo,nas operações de back-office, como telemarketing e processamento de dados, ocaráter footloose dos serviços estandardizados aumenta o risco de políticasexclusivamente centradas em vantagens fiscais. Como lembram os autores citados,“[...] a extrema mobilidade dos serviços empresariais condena antecipadamente estetipo de política ao fracasso: a entrega de prêmios para [a localização no] território nãogarantiria em nada implantações estáveis” (Philippe; Léo; Boulianne, 1998).

Levando em conta esses obstáculos, a literatura internacional tem procurado

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desenhar uma estratégia alternativa para cidades de “segundo nível”, baseada emdois ou três vetores e um foco bem determinado, que é a ênfase na expansão ediversificação da base de serviços empresariais já existentes. No caso de Salvador,vetores de grande potencial podem vir a ser serviços sociais exportáveis, como saúdede maior complexidade e ensino superior, além da expansão das atividades do seucomplexo cultura/turismo/entretenimento, de dinamismo comprovado.

O FUTURO DO FUTURO DO FUTURO DO FUTURO DO FUTURO DA EA EA EA EA ECCCCCONOMONOMONOMONOMONOMIA SOIA SOIA SOIA SOIA SOTEROPOLITTEROPOLITTEROPOLITTEROPOLITTEROPOLITANA: ANA: ANA: ANA: ANA: serserserserserviços superviços superviços superviços superviços superiores,iores,iores,iores,iores,conhecimento e culturconhecimento e culturconhecimento e culturconhecimento e culturconhecimento e culturaaaaa

Segundo o IBGE, com pouco mais de 2,6 milhões de habitantes, em 2004,Salvador é a terceira cidade mais populosa do país. Cresce à taxa de 1,9% ao ano:mais rápido que Recife e Belo Horizonte, mas a uma velocidade inferior a de Fortalezae Brasília. A capital da Bahia comanda a sétima mais populosa região metropolitanado Brasil, a RMS, com quase 3,3 milhões de habitantes (Almeida; Damasceno, 2005b).

A RMS era, de acordo com o IBGE, em 2002, a quinta região metropolitanado país e a primeira do Nordeste em termos de criação de valor, com um PIB de cercade R$ 31 bilhões, a preços do ano, vale dizer US$ 11,5 bilhões, à taxa de câmbio deUS$ 1 para R$ 2,70. Salvador, segundo a mesma fonte, era o nono PIB entre ascapitais do país no mesmo ano, com R$ 9,3 bilhões ou US$ 3,4 bilhões (idem).

Note-se que todas essas estimativas, que confirmam Salvador e sua regiãometropolitana como um dos principais pólos econômicos do país e a mais importanteeconomia metropolitana do Nordeste, estão significativamente subestimadas,principalmente porque ainda não incorporam o impacto direto e indireto sobre o PIBregional da Ford em Camaçari.

É claro que a importância do produto da RMS, em termos nacionais (poucomais de 2% do PIB brasileiro) e, sobretudo, em termos regionais (maior PIBmetropolitano do Nordeste), deve ser relativizada em face da pobreza da maioria dapopulação e da extrema desigualdade socioeconômica que caracterizam Salvador esua região metropolitana. A RMS apresentava, em 1999, um dos piores índices dedesigualdade entre dez das mais importantes regiões metropolitanas do país. Alémdisso, o rendimento médio da população era bem inferior ao verificado nas capitaisdo Sudeste e Sul do país (idem). Essa situação não se alterou nos primeiros anos doséculo XXI: pelo contrário, como mostra a PED, os rendimentos médio e medianomensais da população soteropolitana voltaram a cair, entre o final dos anos 1990 e oinício da década seguinte, quando atingiram, respectivamente, os níveis de R$ 798,5e R$ 401,00 (Almeida, Damasceno, 2005a).

Além disso, se a taxa de informalidade, da população ocupada em Salvador,parece ter se estabilizado, com o crescimento recente da proporção de trabalhadoresassalariados com carteira assinada, ela o fez no patamar elevado que a precarizaçãodo trabalho impôs nas duas últimas décadas (2005a). Na RMS e em Salvador, 45%

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da força de trabalho estava na informalidade, no intervalo de 2003-04 (ou seja, eraassalariada, sem carteira, ou autônoma, sem previdência social).

Apesar da informalidade, da desigualdade e independente dos níveis derenda médios per capita, que são baixos numa capital nordestina como Salvador, otamanho absoluto da população, sua densidade e sua velocidade de crescimento –em torno de 1% ao ano nas próximas duas décadas, conforme prevê o novo PlanoDiretor da cidade (ver PMS/SEPLAM, 2004) –, constituem, por si só, um indicador doseu potencial econômico. Como já se enfatizou neste texto, grandes cidades constituemgrandes mercados, porque concentram população e criam, assim, condições para odesenvolvimento da chamada economia de urbanização: pequenas indústrias dealimentos, vestuário ou mobiliário residencial, comércio varejista, prestação de serviçospessoais, serviços de alimentação etc. A análise da estrutura econômica da RMSparece indicar um déficit considerável, particularmente no que concerne às indústriasde bens de consumo finais leves, embora seja possível que existam possibilidadesinexploradas de substituição de importações regionais desses bens (e.g. confecções,mobiliário doméstico). Além disso, a economia de urbanização local continua a serum poderoso fator de atração para investimentos de empresas de serviços nacionaise internacionais: cadeias de supermercados, franquias de varejo, redes de restaurantesfast-food etc. (ver Almeida, 2002d).

Porém, quando se trata de serviços estratégicos, os que importam não sãoos serviços de urbanização, destinados ao consumo final e à demanda local. Énecessário insistir nesse ponto: o que interessa, estrategicamente, para a metrópolesoteropolitana são três tipos de serviços:

· Business services, isso é, serviços de consumo intermediário, que asseguram umainfra-estrutura capacitada a atrair e manter investimentos, entre os quais se destacamos serviços empresariais, intensivos em conhecimento;

· Turismo de lazer e de negócios, incluindo dois dos seus segmentos mais dinâmicos– o turismo cultural e o de eventos;

· Serviços sociais de consumo coletivo, que podem ser crescentemente exportadospara outras regiões da Bahia e, mesmo, para outros estados, notadamente nasáreas de educação (ensino superior) e saúde (pólo médico).

São esses os setores da nova economia de serviços que podem levar Salvador,que já é uma das duas maiores metrópoles do Nordeste, da condição de centro terciáriopara a situação de centro nacional exportador de serviços superiores, cultura econhecimento; para a condição de uma economia metropolitana quaternária ou quinária,baseada na gestão e difusão da informação e na geração de conhecimento, que podeexpandir sua área de hegemonia no Nordeste e, até, sobre outras regiões do país.19

19 No sentido dado por Foote e Hatt (1953): atividades quaternárias são entendidas como aquelas quese referem à produção e ao tratamento da informação ou, como se diz atualmente, fundadas nasTICs; e, as quinárias, como aquelas que se dedicam à produção de conhecimento e são englobadas,hoje, nas chamadas “indústrias criativas”.

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Metrópoles regionais, como Salvador, são centros de produção de serviçosdiversificados. São pólos de poder político regional, abrigando organizaçõesgovernamentais e centros de decisão de grandes e médias empresas. São centrosde comércio nacional e internacional e de atividades de serviços de diversos tipos,tanto daquelas que produzem para o consumo pessoal, quanto daquelas que forneceminsumos intangíveis para empresas. São, também, pólos de educação superior e deprodução de arte, cultura e entretenimento. Dessa forma, são ainda centros turísticose, particularmente, de turismo de negócios – business tourism.

Para Salvador, metrópole regional no século XXI, uma política dedesenvolvimento baseada nos serviços superiores é necessária por razões de ordemestratégica. A expansão dos serviços e suas novas relações com a indústria tendema redefinir a hierarquia das regiões, com os territórios que concentram os serviçossuperiores – financeiros, empresariais e sociais – dominando aqueles especializadosem funções industriais e serviços tradicionais (Ughetto; Du Tertre, 2000). Se Salvadorpretende continuar mantendo o seu posto de metrópole regional, será preciso insistirnesse caminho.

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