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A GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: AS PRÁTICAS
INOVADORAS DO PARQUE DA CIÊNCIA NEWTON FREIRE MAIA
TANGERINA, Rafael – PNFM/SEED
UHLMANN, Eduardo– PNFM/SEED [email protected]
VEIGA, Aline– PNFM/SEED [email protected]
LASIEVICZ, Anisio – PNFM/SEED [email protected]
Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo O Parque da Ciência Newton Freire Maia (PNFM) é um museu interativo de ciência e tecnologia localizado no município de Pinhais-PR. Tem como missão despertar o interesse do público visitante para os processos que permeiam o desenvolvimento científico e tecnológico em uma perspectiva histórica. Estudantes de vários níveis de escolaridade visitam o museu e são acompanhados por monitores com formação em áreas diversas, que conduzem o público pelos pavilhões temáticos da instituição. Uma das modalidades de atendimento são as visitas temáticas, que possibilitam através dos diferentes recursos pedagógicos do acervo a devida associação entre teoria e prática. No âmbito da Geografia, atividades que contemplam temas relevantes como Espaço Urbano, Globalização e Cartografia são executadas de forma contextualizada, interdisciplinar, interativa e lúdica fortalecendo a ação do museu como um espaço complementar à educação formal e, portanto, corroborando para a construção do processo ensino-aprendizagem desencadeado pela escola.
Palavras-chave: Educação, Geografia, Museu de Ciência.
Introdução
Para que a educação geográfica cumpra o seu papel de ampliar a capacidade crítica do
indivíduo em relação ao espaço, é necessária uma prática de ensino que possibilite ao
educando criar, dialogar e interagir com o objeto de estudo em questão. Neste contexto, o
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Parque da Ciência Newton Freire Maia1 tem disponibilizado ao público atividades que
contemplam temas relevantes para a ciência geográfica como Espaço Urbano, Globalização e
Cartografia. Tais atividades são ministradas por professores e estagiários que objetivam
aproximar os conceitos fundamentais da disciplina com o cotidiano dos participantes.
Antes de relatarmos com detalhes essas atividades, cabe aqui salientarmos que à
educação geográfica cabem muitos objetivos. Dentre eles, destaca-se o de perceber a
importância da transformação do espaço e seu impacto no cotidiano dos cidadãos. Para Matias
(2006, p.250), perceber essa dinâmica de mudança do espaço geográfico é extremamente
complexo, diante das múltiplas relações e áreas de conhecimento envolvidas nesse processo.
Assim, o grande desafio da Geografia numa sociedade dinâmica é fazer com que o
conhecimento geográfico seja um significativo instrumento para a transformação social, e o
educando, o agente central desse processo que transformará o conhecimento em ferramenta do
seu dia-a-dia.
Especialistas em educação concordam que o conhecimento geográfico deve estar
presente na sociedade como elemento emancipatório do indivíduo, pois as reflexões espaciais
são essenciais ao exercício da cidadania e ao viver bem em comunidade. Conforme descrito
nos parâmetros curriculares nacionais de 1998, a Geografia deve possibilitar o conhecimento
do espaço geográfico na sua totalidade envolvendo as relações do homem com a natureza, o
progresso científico, a produção industrial e agrícola, o desenvolvimento social, etc.
(BRASIL, 1998, p.1/156). Apesar das funções da ciência geográfica serem muito amplas, a
Geografia, segundo Damiani (1999, p.58), “tem como função desvendar os significados do
espaço na vida privada e pública, na vida social e oferecê-los à sociedade civil”.
Sabemos que muitos são os estudos existentes sobre a relevância da geografia e a
definição de seu objeto de estudo, já que ao longo da história dessa ciência, várias
considerações sobre o conceito de espaço geográfico lhe foram atribuídas. Salienta-se que não
basta adjetivar “Espaço” com a palavra Geográfico para definir o que a Geografia estuda. Na
verdade, esta expressão – Espaço Geográfico – não se auto-explica, mas exige
esclarecimentos, pois, dependendo da perspectiva teórica à qual se vincula, assume
significados políticos distintos. Assim, para as Diretrizes Curriculares de Geografia do Estado
1 Como em outros centros de ciência espalhados pelo Brasil, o Parque da Ciência Newton Freire Maia, pode ser classificado como um museu de ciência e tecnologia que utiliza o modelo interativo de relação entre o público e o seu acervo; está vinculado a Secretaria de Estado da Educação do Paraná e localiza-se na Área de Proteção Ambiental do Irai, no município de Pinhais - PR.
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do Paraná, o Espaço Geográfico é concebido como o espaço "produzido, apropriado pela
sociedade, composto por objetos (naturais, culturais e técnicos) e ações (relações sociais,
culturais, políticas e econômicas) inter-relacionados."(PARANÁ, 2008, p.51-2).
Este embasamento conceitual vai ao encontro do pensamento do Prof. Milton
Santos, que canalizou boa parte de sua energia intelectual para discutir, analisar e apresentar
uma “definição” para o objeto de estudo da Geografia.
Então, como aplicar este embasamento conceitual em museus de ciência e tecnologia?
Especialistas em museologia e educação como Cazelli (1999, p.03), e Marandino (2008, p.16)
concordam que as tendências da educação e das propostas pedagógicas presentes em museus
de ciência enfatizam o papel da ação do sujeito na aprendizagem, pois a ideia do aprender
fazendo, bastante difundida no ensino, encontra nos museus interativos um meio de
divulgação.
Esclarecemos que os museus são considerados espaços de educação não-formal. Para
Marandino, a educação não-formal “é qualquer atividade organizada fora do sistema formal
de educação, operando separadamente ou como parte de uma atividade mais ampla, que
pretende servir a clientes previamente identificados como aprendizes e que possui objetivos
de aprendizagem” (MARANDINO, 2008, p.13).
Diante deste quadro, até onde podemos afirmar que os projetos de Geografia
executados no Parque da Ciência contribuem de forma devida para a construção do raciocínio
geográfico no público que visita o museu? E ainda, um museu de ciência, além de despertar o
interesse pelo conhecimento científico pode corroborar com o processo ensino-aprendizagem
desencadeado pela escola? Como?
Projetos e Atividades em desenvolvimento no Parque da Ciência
Nas próximas páginas faremos um breve relato a respeito de dois projetos que estão
sendo executados no Parque da Ciência no âmbito da Geografia: “Sala 3D Milton Santos” e
atividade de Cartografia “Entre Trilhas e Rumos”.
Uma volta ao mundo na Sala Milton Santos
“Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
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Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena...”
(Gilberto Gil – Parabolicamará)
Os alicerces conceituais para a concepção da Sala Milton Santos2 encontram-se nos
princípios básicos no que concerne à Geografia enquanto ciência e disciplina escolar no
mundo pós-moderno. Procuramos evidenciar que a Geografia transita pelas diversas áreas do
conhecimento e seu dinamismo científico serve como componente para a construção da
identidade do ser social, sujeito de sua própria história, autor de seu próprio tempo e espaço.
Este projeto buscou entender o espaço geográfico como objeto de estudo da Geografia
inspirada na realidade contemporânea, permitindo ao público visitante (estudantil ou não),
entender o mundo por meio das diversas apropriações dos lugares, suas interações e
contradições, compreendendo as forças econômicas e valores socioculturais construídos
historicamente.
Para Santos (1996b, p.51) o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário
e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados
isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá.
Salientamos que os objetos que interessam à Geografia não são apenas objetos móveis,
mas também imóveis, tal uma cidade, uma barragem, uma estrada de rodagem, um porto, uma
floresta, uma plantação, um lago, uma montanha. Todos são objetos geográficos. Esses
objetos são do domínio tanto do que se chama a Geografia Física como do que se chama
Geografia Humana e através da história desses objetos, isto é, da forma como foram
produzidos e mudam, a Geografia Física e a Geografia Humana se encontram. Para os
geógrafos, os objetos são tudo o que existe na superfície da Terra, toda herança da história
natural e todo resultado da ação humana que se objetivou.
Com o intuito de aproximarmos o público desta base conceitual, assim como da vida e
obra de Milton Santos, utilizamos diferentes recursos educacionais, como softwares didáticos,
painéis temáticos, imagens de satélite e músicas3.
Para Oliveira et all (2005) aliar a facilidade de assimilação encontrada nos mais
2 Sala ambiente de Geografia, localizada no Pavilhão Cidade do Parque da Ciência que homenageia um dos ícones da Geografia brasileira e mundial. 3 As músicas utilizadas durante a apresentação da Sala Milton Santos são: “Parabolicamará” (Gilberto Gil), “Aquarela Brasileira” (Martinho da Vila) e “Dias Melhores” (J. Quest).
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diversos gêneros musicais às propostas metodológicas e curriculares da Geografia pode gerar
bons resultados”. De acordo com o autor,
Dificilmente se encontrará algo mais atrativo, entre crianças e jovens, do que o compartilhar suas preferências, sua reprovação ou aprovação às obras musicais, com seus colegas e professores. Quando a proposta de utilização da música é apresentada aos alunos, a tendência que se observa é a de serem tomados pela curiosidade e ansiedade. A receptividade é quase sempre satisfatória(...) o uso da música contribui para que o ensino de Geografia cumpra seu papel enquanto instrumento de libertação social, na medida em que permite discutir temas do cotidiano (OLIVEIRA et all, 2005. p.80).
Outro recurso utilizado é o software Google Earth©4 que permite a visualização em
três dimensões de elementos naturais e artificiais que compõem a paisagem. Masetto (2001)
enfatiza a contribuição dos aparatos tecnológicos no processo ensino-aprendizagem:
“As novas tecnologias” são recursos do nosso tempo que podem ser empregados de forma inovadora na mediação entre ensino e aprendizagem. Esses recursos são: a televisão, o computador, o vídeo, o datashow, a simulação, a realidade virtual, etc. Na sociedade do conhecimento, os novos recursos tecnológicos exigem do sujeito capacidade de adaptação e flexibilidade para que ele possa extrair os pontos positivos dessas inovações (MASETTO, 2001. p.152).
Behrens (2001, p.74) nos esclarece que o reconhecimento da era digital como uma
nova forma de categorizar o conhecimento não implica descartar todo o caminho trilhada pela
linguagem oral e escrita, nem mistificar o uso indiscriminado de computadores no ensino,
mas sim, enfrentar com critério os recursos eletrônicos como ferramentas para construir
processos metodológicos mais significativos para aprender.
4 Software que disponibiliza ao usuário imagens de satélite de qualquer ponto da superfície terrestre. Este recurso é projetado em um telão, associado ao uso do software TriDef© e de óculos anaglíficos, que geram a sensação de visão em 3 dimensões.
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Figura 1 - Utilização do Google Earth© com estudantes de Ensino Médio.
Fonte: Parque da Ciência.
Destacamos que a comparação de fotografias em painéis temáticos propicia ao público
familiarizar-se com conceitos do Prof. Milton Santos, como o “meio-técnico-científico-
informacional” e os espaços “luminosos e opacos”.
Figura 2 - Painéis Temáticos “Contradições sócio-espaciais” no Pavilhão “Cidade”- Sala Milton Santos
Fonte: Parque da Ciência.
Na visão de Milton Santos, a globalização leva a afirmação de um novo meio
geográfico, cuja produção é deliberada e que é tanto mais produtivo quanto maior for o seu
conteúdo em ciência, tecnologia e informação. Esse meio técnico-científico-informacional dá-
se em muitos lugares de forma extensa e contínua (Europa, Estados Unidos, Japão, parte da
América Latina), enquanto em outros (África,Ásia,parte da América Latina) apenas pode se
manifestar como manchas ou pontos. Cria-se deste modo, uma oposição entre espaços
adaptados às exigências das ações econômicas, políticas e culturais, características da
globalização, e outras áreas não dotadas dessas virtualidades, formando o que,
imaginativamente podemos chamar de “espaços luminosos e espaços opacos”
(SANTOS,1996a, p.39).
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Salientamos que com estes recursos, mais que trabalhar a questão meramente
locacional, a apresentação da Sala Milton Santos corrobora para a compreensão de fatores que
estão envolvidos na produção espacial promovida pelos mais variados agentes que se
apropriam e transformam o espaço geográfico.
“Entre Trilhas e Rumos”: A Geografia se faz com os pés!
Desde épocas bastante remotas, o homem vem utilizando a confecção de mapas como
meio de armazenamento de conhecimentos sobre a superfície terrestre, tendo como finalidade
principal não só conhecer, mas administrar e racionalizar o uso do espaço geográfico
envolvente (DUARTE, 1994, p.16).
O mapa é o inicio de uma aventura. Viagens, caça de tesouros, guerras e explorações, tornam-se visíveis com o abrir de um mapa. (...) Mapas com a indicação de estradas, em nossos dias, são distribuídos grátis. Em tempos passados, no entanto, eram guardados em segredo e aqueles que ousassem revelá-los expunham-se a torturas ou à morte. Para um corsário a captura de uma carta geográfica era presa mais rica do que ouro e prata. Por ela, no pequeno mundo conhecido antigamente, se podia indicar os caminhos da fortuna. Os marinheiros de Tiro tinham que ocultar suas rotas comerciais do Mediterrâneo; os árabes suas fontes de gengibre, cânfora, goma-laca e seda; aos espanhóis cabia esconder o ouro saqueado do Novo Mundo e os holandeses zelavam pelo seu monopólio das especiarias das Índias Orientais. (THRALLS, 1967, p.18 – in DUARTE, 1994, p.16-17)
Para Oliveira (1993, p.14) de todas as ciências ligadas à Cartografia, nenhuma é tão
importante como a Geografia, pois é inviável a confecção de mapas sem o prévio
conhecimento geográfico do espaço a ser representado.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, as Diretrizes Curriculares para a Educação
Básica do Estado do Paraná, consideram a cartografia um instrumento fundamental para a
compreensão do espaço geográfico. “Ao apropriar-se da linguagem cartográfica, o aluno
estará apto a reconhecer representações de realidades mais complexas, que exigem maior
nível de abstração” (PARANÁ, 2008, p.83).
Diante deste contexto, estudantes de várias faixas etárias participam da atividade de
Cartografia do Parque da Ciência. O projeto intitulado “Entre Trilhas e Rumos” promove
momentos de aprendizagem onde teoria e prática dialogam com atividades que envolvem
reflexão científica e ludicidade. Através de pinturas rupestres, da projeção anaglífica do
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modelado terrestre, passando por antigos mapas, pelo mito da Terra plana, buscando orientar-
se em um labirinto ou ao andar sobre uma metrópole, ao estudante é solicitado relacionar
diferentes formas de representação do espaço e seus usos. Dinâmicas em grupo são realizadas
juntamente com o trabalho em campo utilizando bússola e GPS (Sistema de Posicionamento
Global), oportunizando aos participantes aplicarem em situações cotidianas aquilo que
apreenderam.
Figura 3 - Projeto de Cartografia – “Entre Trilhas e Rumos” - Atividade prática com bússola”
Fonte: Parque da Ciência
Além de resgatar os avanços da Cartografia em uma perspectiva histórica através de
maquetes e mapas de diferentes épocas, são trabalhados outros conteúdos escolares, como
identificação de pontos cardeais e colaterais, observação do céu noturno como técnica de
orientação através de sessões de planetário, noções básicas de escala, coordenadas geográficas
e vivência de aplicações de instrumentos de orientação e localização em atividades práticas.
Salientamos que latitude a longitude são trabalhadas de forma interativa por meio de jogos
didáticos no estilo “Batalha Naval”, permitindo, por meio de dinâmicas de grupo, a
identificação de referenciais fundamentais como a Linha do Equador e o Meridiano de
Greenwich.
A atividade em campo é realizada nas dependências da APA – Área de Proteção
Ambiental da represa do Iraí. Os participantes são divididos em dois grupos, sendo que cada
um é acompanhado por um ou mais mediadores (professores e estagiários de geografia) e
recebem ferramentas como bússola, GPS, croquis, régua, lápis e papel. Os grupos percorrem
trajetos diferentes, devendo encontrar determinados pontos que foram escondidos
estrategicamente pelos organizadores da atividade. Seguindo o estilo “caça ao tesouro”, em
cada ponto encontrado há uma dica com noções básicas de cartografia que indica a
localização do local seguinte e assim sucessivamente. Salientamos que ao percorrer o trajeto
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em busca das novas dicas é preciso utilizar a bússola, fazer cálculos de escala, usar o GPS
para conferir as coordenadas e trabalhar em equipe. Neste caminho os participantes podem
observar alguns locais específicos, como um lago artificial e a área onde se localiza a mata
ciliar do Rio Canguiri – pertencente à bacia do Rio Iraí.
A última tarefa da atividade em campo é montar uma frase com as letras encontradas
em cada ponto que foi percorrido. Porém a frase só terá sentido juntando as letras encontradas
pelos dois grupos, o que destaca a importância da atuação em grupo, sem que haja rivalidade,
desta forma destacamos que para a finalização do desafio é necessário o trabalho em equipe.
Maquetes com diferentes escalas também são utilizadas durante as atividades de
Cartografia do Parque da Ciência. Através deste recurso, o estudante confronta a experiência
que possui do caminhar pelo seu bairro, das viagens feitas e do que foi estudado em sala de
aula, com um acervo que permite a comparação de escalas movendo elementos dentro de uma
maquete ou caminhando sobre o Palco Paraná5.
Após perceber, por exemplo, a Serra do Mar como o grande divisor de águas do
Paraná e acompanhar o curso dos rios rumo ao oceano Atlântico ou ao Rio Paraná em uma
maquete manuseável, o estudante é levado a caminhar sobre o Palco Paraná seguindo o
declive dos planaltos paranaenses ou da Serra do Mar. Uma leve desorientação costuma
aparecer no semblante dos jovens ao se perceber dentro de uma maquete de escala muitas
vezes maior que a anterior e tendo que reencontrar elementos como um rio, uma cidade ou
mesmo o norte geográfico.
Para Kozel, (1999),
Com essa pratica a realidade pode ser vivenciada como algo concreto, criado e recriado no cotidiano, tornando significativo o estudo geográfico. Através da compreensão do espaço local/regional, torna-se muito mais fácil o estudo de qualquer área do planeta, pois permite estabelecer analogias a partir de uma experiência vivida, além de aguçar o grau de reflexão. O “fazer geográfico” já não pode reproduzir sem pensar, aceitar sem discutir, trabalhar sem questionar e educar sem criar tendo em vista a realidade vigente neste momento histórico em que estamos inseridos (KOZEL1999, p.28).
5 Maquete do Estado do Paraná com área estimada em 5mil m2 onde estão representados os principais rios, rodovias, relevo em curvas de nível e sede dos municípios.
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Figura 4- Maquetes do Paraná em diferentes escalas. Da esquerda para direita: 1/6.600,1/255.000,1/1.000.000
Fonte: Parque da Ciência
A apresentação das formas de representar o espaço é sempre acompanhada de questões
acerca das necessidades que as motivaram. A cartografia é apresentada como um recurso
técnico que permite pensar os sistemas de ações e de objetos que tecem o nosso espaço
geográfico e determinam inúmeros aspectos de nossa vida.
Figura 5 – Contraste de escalas: à esquerda objetos reais e a direita maquete de um quarteirão.
Fonte: Parque da Ciência
Os usos do solo e a apropriação de uma técnica mundial para interagir com o meio é
focada através das experiências disponíveis no acervo geral do Parque, que permitem uma
abordagem sempre transdisciplinar ora salientando a técnica e seus efeitos, ora o meio em si e
a sua representação, abstração e planejamento.
O público alvo da atividade constitui-se de estudantes do Ensino Fundamental e
Médio, porém, em 2010 e 2011, o projeto foi realizado com professores das séries iniciais e
estudantes de escolas técnicas do Paraná e Santa Catarina, em especial dos cursos de
agricultura e meio ambiente.
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Considerações Finais
Acredita-se que o objetivo das atividades de Geografia do Parque da Ciência Newton
Freire Maia é alcançado por meio da fundamentação teórica e dos recursos ora utilizados, pois
podemos presenciar in loco as reações dos visitantes, os quais expressam emoções diversas ao
conjugar reflexão científica e ludicidade. Tal resultado é reforçado pelos dados obtidos
mediante a implantação recente de um sistema de avaliação da visita, onde a “Sala Milton
Santos” é uma das atrações mais lembradas pelo público estudantil, inclusive aqueles que
afirmaram não gostar da disciplina de Geografia.
Podemos ensinar uma Geografia interessante, dinâmica e útil. Para tanto, acreditamos
que é importante aproximar o discurso geográfico do dia-a-dia dos estudantes e incorporar ao
nosso instrumental as novas tecnologias que têm surgido com a revolução técnico-científica.
Salientamos que a criação, a experiência de poder participar e a permanência destas atividades
no Parque da Ciência nos motivou a escrever este trabalho. O referido espaço atendeu cerca
de setenta mil pessoas em 2010, na maioria estudantes de variadas faixas etárias e níveis de
escolarização que puderam participar não somente das atividades de Geografia como também
dos projetos de outras áreas do conhecimento. Acreditamos que o Parque da Ciência Newton
Freire Maia, enquanto um espaço de divulgação científica que busca o incentivo para a
discussão a respeito do caráter humano presente nesta atividade alcança seus objetivos na
linha de ação das “visitas temáticas” a partir do momento em que propicia ao público um
diálogo bem dosado entre teoria e prática, possibilitando a aplicação do conhecimento
adquirido em situações diversas do cotidiano.
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