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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017) 409-435 ISSN: 0874-5498
A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade
Clssica, em a Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
The idea of sacrifice based on the sources of Classical Antiquity in
Arte de Ser Portugus by Teixeira de Pascoaes
ANTNIO MARIA MARTINS MELO1 (UCP, Braga Portugal)
Abstract: We first situate Arte de Ser Portugus, a work of maturity, in the context of its
time. Afterwards, we identify some thematic strands of Hellenic inspiration which seem
to underlie the definition of the idea of sacrifice presented by Teixeira de Pascoaes in this
short manual for civic education. We recognize a movement driven by the notion of
literature of reuse and ultimately of intertextuality.
Keywords: idea of sacrifice; Classical Antiquity; Portuguese Literature; Teixeira de
Pascoaes; Arte de Ser Portugus.
Joo Maia, numa reflexo em torno do que Preparar para a Vida,
relata que o filsofo espanhol Ortega y Gasset (1883-1955), j no seu tempo,
afrontou o velho dilema do assincronismo de vida e cultura: partiu do
facto inslito de os ingleses enviarem, em cada gerao, para Oxford e Cam-
bridge, os mais dotados moos () e os formarem em latim e grego, para
concluir que assim formados, vinham a ser dos mais sagazes adminis-
tradores, dos que mais se adaptavam vida2. Por outro lado, so conhe-
cidos de todos os laos de estreita amizade, vertidos em extenso epistolrio,
que aproximavam o homem e o pensamento de Miguel Unamuno do
habitante do solar de Pascoaes e que foram objeto de estudo aprofundado
1 [email protected]. Este trabalho foi produzido no mbito da
UID/FIL/00683/2013, Centro de Estudos Filosficos e Humansticos 2015-2017, financiado
pela FCT Fundao para a Cincia e a Tecnologia. Este texto agora publicado corres-
ponde, em parte, a uma comunicao apresentada por mim no mbito do 2. Congresso
Internacional do Trinio Pascoalino intitulado Arte de Ser Portugus no centenrio da sua
publicao, promovido pelo CLEPUL da Faculdade de Letras da Univiversidade de
Lisboa, nos dias 13, 14 e 15 de outubro de 2015, que teve lugar na Academia das Cincias
de Lisboa, na Faculdade de Letras da Univiversidade de Lisboa e na BN de Portugal.
URL: http://congressobiografias-trieniopascoalino.blogspot.pt/p/programa2015.html.
O ttulo foi sugerido pela Comisso Organizadora, na pessoa da Doutora Sofia A.
Carvalho, a quem estou muito grato. 2 MAIA (2012) 4.
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por Barros Dias, em dois grossos volumes3. Alis, o pensador basco viria
mesmo a anuir ao pedido que Pascoaes lhe dirigiu para integrar o elenco de
colaboradores da revista A guia, como havia de ser anunciado na pgina
dezasseis do terceiro nmero da I. Srie, editado a 1 de janeiro de 19114. Por
isso, resultam compreensveis, nesta mundividncia, as palavras do poeta
amarantino, insertas num texto publicado na revista A guia, II Srie, n. 2,
em fevereiro de 1912, numa altura em que ele prprio tinha assumido a sua
direo. Depois de afirmar que as nicas foras invencveis so as foras do
Esprito e de atirar contra o acinte da ingenuidade dos que se julgam
prticos, modernos, logo identifica o mal do seu tempo:
O preconceito do senso prtico, no sentido vulgar e universal, um dos maiores
males modernos, porque esteriliza o homem, redu-lo a um pobre autmato, a uma
pequena mquina banal que pratica aces mortas, inertes, como as outras, as de ferro,
fazem calado ou alfinetes5.
E acrescenta, ainda neste seu artigo intitulado Renascena (O esprito
da nossa raa), que esta a origem da morte que h na vida de hoje; que
este preconceito o inimigo de toda a audcia fecunda, de todo o mpeto
heroico, de todo o gesto criador. E isto, continua o poeta, diminui o
homem () f-lo retrogradar, baixar sombra originria e simiesca6.
O mesmo dizer, o homem perde a sua caracterstica identitria de ser
humano, com os seus sonhos e a sua capacidade nica de comunicar, que o
individualiza no seio da natureza. A soluo apresenta-a o poeta de Gato no
artigo Mais palavras ao homem da espada de pau, publicado nesta mesma
revista7 em resposta ao artigo de Antnio Srgio, intitulado Explicaes
necessrias do homem da espada de pau ao arcanjo da espada dum relm-
pago e publicado no nmero anterior8. Ali pode ler-se:
3 DIAS (2002). 4 DIAS (2002) I, 157. A informao pode ser conferida na BND, A guia: revista
quinzenal ilustrada de literatura e crtica, Porto, 1910-1932 (http://purl.pt/12152), con-sultada em 10 de outubro de 2016.
5 PASCOAES (1912b); rep. SAMUEL (2004) 157-158. 6 PASCOAES (1912b); rep. SAMUEL (2004) 158. 7 PASCOAES (1914a) 1-5. 8 SRGIO (1914) 170-175.
http://purl.pt/12152
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A educao tem de ser sentimental e prtica, preparando o homem para viver pela
alma uma vida superior e, ao mesmo tempo, de trabalho fecundo e livre. O homem
carne e osso, sentimento e inteligncia.
E, no nosso caso nacional, a educao verdadeira ser aquela que tornar os por-
tugueses conscientes da sua Ptria e aptos para o trabalho que produz riqueza material
e espiritual9.
A harmonia entre estes dois princpios, entre a alma que sonha e
o corpo que trabalha traduz-se pelo Saudosismo, que tem por alma a
saudade10.
Estas palavras de Teixeira de Pascoaes, de seu nome de batismo
Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, tm de ser situadas no mbito da
Renascena Portuguesa, uma associao de cariz cultural, da segunda dcada
do sculo XX, com sede no Porto, e de que ele foi um dos principais mentores.
Segundo ele, o objeto desta Sociedade criar um novo Portugal, ou melhor,
ressuscitar a Ptria Portuguesa11, o que explica a sua designao:
Mas no imagine o leitor que a palavra Renascena significa simples regresso ao
Passado. No! Renascer regressar s fontes originais da vida, mas para criar uma
nova vida.
Renascer dar a um antigo corpo uma nova alma fraterna, em harmonia com ele12.
Dois anos mais tarde, Teixeira de Pascoaes retoma esta ideia, em confe-
rncia realizada na Associao de Estudantes do Porto, intitulada A era
lusada e de que se publicou um excerto no rgo oficial da Renascena Portu-
guesa13. Diz ele, em citao a partir da coletnea de Paulo Samuel, intitulada
Teixeira de Pascoaes na Revista A guia, e que me tem servido de guia:
Ns, os portugueses, queremos renascer e no apenas progredir. Queremos vida e
no movimento inanimado, esprito e no retrica ().
Mas ns, os portugueses, devemos amar alguma coisa mais do que o progresso.
Ns queremos renascer. Portugal j viveu, j foi algum. Pois que esse algum
readquira a sua velha fisionomia, animado, muito embora, de nova vida; que esse
algum ressuscite e venha cumprir ainda, sobre a terra, um alto destino14.
9 PASCOAES (1914b) 5. 10 PASCOAES (1914b) 5. 11 PASCOAES (1912a) 1. 12 PASCOAES (1912a) 1. 13 PASCOAES (1914a) 97-101. 14 PASCOAES (1914a) 99.
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O idealismo espiritualista pascoalino, para usar uma expresso de
Lusa de Castro Soares15, leva o poeta a identificar o princpio vital desta por-
tugalidade renascida na alma portuguesa: Sim: a alma portuguesa existe,
e o seu perfil eterno e original16, como desassombradamente confessa em
1912, na revista A guia, em texto h pouco mencionado. Era esta ideia que
lhe alimentava o sonho de novo Portugal, mas portugus, ideia essa que ele
vai retomar insistentemente na sua conferncia A era lusada, j atrs
referida:
Queremos um Portugal portugus e, ao mesmo tempo, humano. Queremos a
nossa Ptria de acordo com o Passado e o Futuro, mergulhando as razes na noite da
Recordao para florescer luz da Esperana e criar a sua obra espiritual, religiosa,
obra de amor e sacrifcio17.
Pascoaes, sentindo a brisa dominante do seu tempo, fechado meta-
fsica, e focando a sua ateno no pobre autmato em que se transformou o
homem, perscruta nele uma alma humana que sofre, que sofre no ntimo do
corpo e j se inquieta e sonha com uma nova esperana18: O sonho do
homem libertar-se do que , ligando-se ao que foi e ao que h de ser ().
O sonho do homem despir o seu hbito carnal, matar o instante presente,
expiar a pena de viver, como se pode ler num artigo seu, intitulado
O tempo (1914-1915), editado na revista A guia19.
Com efeito, a existncia humana, enquanto reflexo da pessoa mate-
rial, revela-se no instante presente, na conscincia dolorosa da sua vida, da
sua vida que e no da que foi ou que h-de ser20. Uma existncia subordinada
a um ideal, que representa a mais alta realidade. E acrescenta Pascoaes no
seu artigo Portugal e a Guerra e a Orientao das Novas Naes: o homem
s d a vida pelo ideal, ou esse ideal seja ptria, a alma dum povo, uma crena
religiosa, a liberdade, a justia, o direito (). Da o seu trgico destino de
15 SOARES (2010) 611. 16 PASCOAES (1912a) 3. 17 PASCOAES (1914a) 99. 18 PASCOAES (1914a) 100. 19 PASCOAES (1915) 2. 20 PASCOAES (1915) 1.
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sacrifi-cado21. Uns pargrafos mais adiante, de forma lapidar, bem se pode
dizer, define assim o poeta amarantino a natureza da educao do gnio
portugus, da alma lusada: Abnegao, amor, sacrifcio, eis o mrmore
divino em que precisamos de esculpir a prpria alma22.
Assim se anuncia o aparecimento da Arte de Ser Portugus, pequeno
volume sado a lume em 1915, escrito em quinze dias e que organiza, nas
palavras de Pascoaes, as ideias que tenho espalhado em conferncias e ar-
tigos publicados n A guia23. No mesmo ano em que Antnio Srgio publicou
a sua Educao Cvica24. Nesta altura, pois, parece natural que se coloque a
questo que at aqui nos trouxe: qual a natureza desta ideia de sacrifcio que
Pascoaes eleva a lei suprema, A lei suprema da Vida a lei do sacrifcio25,
como escreveu o poeta na Arte de Ser Portugus? Como conjugar a resposta a
esta questo com o desejo do poeta que sonha com um Portugal portugus
e incentiva a mocidade a cultivar o original carcter portugus? Trata-se
da vexata quaestio das influncias e da irredutibilidade da sua obra a uma
classificao clssica, de que exemplo o artigo de Lusa Malato Borralho26
que discorre justificadamente em torno da questo Teixeira Pascoaes: um
clssico romntico? Curiosamente, com exceo deste estudo, no mais se
encontra a expresso de cultura greco-latina ou de influncias clssicas para
caracterizar o pensamento do poeta de Gato. E no foram poucos os estudos
compulsados para este trabalho. Segundo Joaquim de Carvalho, em Pas-
coaes, as influncias que sofreu produziram-se, no por imitao (), mas
por sugerncia e pelo choque emocional que as leituras lhe provocaram,
umas vezes alentando e nutrindo o desenvolvimento de coincidncias, outras
vezes gerando, por contraste, a ecloso do prprio pensamento27. O prprio
21 PASCOAES (1914c) 165. 22 PASCOAES (1914c) 166. 23 PASCOAES (1991) 9. 24 SRGIO (1984). A primeira edio data de 1915, com a chancela da Renascena
Portuguesa, no Porto. Trata-se de um compndio que recolhe os artigos publicados pelo
seu autor na revista A guia. 25 PASCOAES (1991) 28. 26 BORRALHO (2004). 27 CARVALHO (1987) 75.
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reclama a sua originalidade, a sua marca telrica de um autctone que vive
desassombradamente este ditame vital e espiritual, confessando em
Homem Universal, em versos j citados por Jorge Coutinho28: O meu pensa-
mento sou eu prprio (). O meu pensamento sou eu, a minha dor em aco
ou feita verbo, por um processo misterioso, como a onda invisvel que se faz
luz29. A sinceridade destas palavras j h muito o reconhecera Lcio Cra-
veiro da Silva, para quem seria caminho perdido ou menos indicado querer
defini-lo, nas suas atitudes fundamentais, por influncias de autores ou
leituras de livros30.
Pois bem. Este pensamento parece ser contrariado, ou talvez no, por
Leonardo Coimbra, filsofo portuense contemporneo e confrade do poeta
amarantino. Com efeito, no segundo livro de O Criacionismo, intitulado
Sntese Filosfica e que havia de ser publicado em 1912, trs anos antes da
edio da Arte de Ser Portugus, quando caracteriza a gerao dos poetas
novos, dizendo que neles h a confirmao e o exemplo da natureza
dialtica da arte, a certa altura fala de Pascoaes nestes termos:
Pascoaes precipitou-se, a cabeleira empoada de astros, os olhos acesos em
relmpagos, dos confins sidrios. Atravessou o corpo arrefecido da terra, para de novo
surgir do outro lado, entre as constelaes.
O seu helenismo o rasto da Terra incendiada31.
Deste pequeno trecho, fica para reflexo, essencialmente, a referncia
ao helenismo. Impe-se, assim, a busca do rasto desta centelha espiritual,
perscrutar algumas dessas manifestaes plausveis neste seu pequeno ma-
nual de educao cvica, a Arte de Ser Portugus. E, paulatinamente, se h de
concluir acerca da natureza do Sacrifcio, ou melhor, se h de discorrer acerca
das eventuais marcas identitrias da teoria do sacrifcio aqui vertida.
28 COUTINHO (1995) 40. 29 PASCOAES (1993) 14-15. 30 SILVA (1994) 222. 31 COIMBRA (1958) 66.
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Diz Teixeira de Pascoaes que ser portugus tambm uma arte, e uma
arte de grande alcance nacional32, e, por isso, bem digna de cultura33. Dois
pargrafos depois, ele vai identificar o seu objetivo: o fim desta Arte a
renascena de Portugal34. Ora a Arte, como alguns crticos a concebem,
nomeadamente Joo Mendes, revela-se-nos sempre como alguma coisa de
intencional e reflexo35. Resulta, pois, daqui, que o poeta opta consciente-
mente pela repetio da palavra arte e opta por uma conceo de arte
prpria da mundividncia helnica. Com efeito, o segundo pargrafo aponta
para a etimologia da palavra (do latim ars), no sentido de a considerar uma
habilidade, natural ou adquirida, que tem por objetivo a execuo de uma
finalidade, prtica ou terica. Por isso, a arte pode ser ensinada, mas tambm
aprendida: O mestre" diz Pascoaes36 no seu manual que ensinar aos
seus alunos, trabalhar como se fora um escultor, modelando as almas
juvenis para lhes imprimir os traos fisionmicos da Raa lusada. E, a pro-
psito, no se deixe passar em vo esta metfora de inspirao platnica,
do tratado A Repblica (377c). Diz Plato, ao falar da educao das crianas,
quando recomenda que se lhes ensinem apenas as fbulas que forem boas:
,
, isto , persuadiremos as amas e as mes a cont-las s
crianas, e a moldar as suas almas por meio das fbulas, com muito mais
cuidado do que os corpos com as mos37. Nesta primeira pgina da Arte de
Ser Portugus, qual portada premonitria, se assim se pode dizer, quando o
poeta do Gato fala em reconduzir, reintegrar a juventude no carcter da
tradio do ser-se portugus, a fim de ali colherem uma renovada energia
moral e social, remata que toda esta atividade deve ser subordinada a um
32 Diz PASCOAES (1991) 9, em nota: E julgmo-la to urgente, que apressmos a
publicao deste livro escrito em quinze dias. Nele tentei somente organizar as ideias que
tenho espalhado em conferncias e artigos publicados n A guia. 33 PASCOAES (1991) 9. 34 PASCOAES (1991) 9. 35 MENDES (1982) 49. 36 PASCOAES (1991) 9. 37 PLATO (2008) 87.
http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;959;8058;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=948;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=7952;947;954;961;953;952;8051;957;964;945;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=960;949;8055;963;959;956;949;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;8048;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;961;959;966;959;8059;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;949;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=954;945;8054;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=956;951;964;8051;961;945;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=955;8051;947;949;953;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;959;8150;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=960;945;953;963;8055;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=954;945;8054;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=960;955;8049;964;964;949;953;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;8048;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=968;965;967;8048;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=945;8016;964;8182;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;959;8150;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=956;8059;952;959;953;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=960;959;955;8058;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=956;8118;955;955;959;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=7970;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;8048;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=963;8061;956;945;964;945;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=964;945;8150;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/platon_republique_02/precise.cfm?txt=967;949;961;963;8055;957;
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objectivo comum supe-rior, que o ressurgimento da Ptria. Bem prximo
destas palavras est este passo do dilogo platnico Crton38, citado por
Antnio Freire39, quando S-crates declara que
, isto , a Ptria mais digna de honra, mais respeitvel,
mais sagrada e tida em mais alto apreo pelos deuses e pelos homens
sensatos, do que o pai, a me e todos os antepassados. A edio que estamos
a citar da Arte de Ser Portugus encerra esta sua primeira pgina com a palavra
Destino colocar a nossa Ptria ressurgida em frente do seu Destino40
que, com a veemncia que aqui se pressupe, pode considerar-se uma
aluso41 terrvel moira grega, fixa e inamovvel, ao jugo da qual o prprio
Zeus parecia curvar-se42. Tradi-cionalmente, este o passo dos Poemas
Homricos citado em abono daquela afirmao. Zeus, vendo o perigo que
espreitava o seu filho Sarpdon na batalha empreendida pelos Aqueus nas
praias de Troia, tem vontade de o retirar, mas logo Hera lhe replica:
.
.
,
Crnida terribilssimo, que palavra foste tu dizer!
A homem mortal, h muito fadado pelo destino,
Queres tu salvar de novo de morte funesta?
F-lo. Mas todos ns, demais deuses, te no louvaremos43.
Uma conceo que no estranha ao universo espiritual de Teixeira de
Pascoaes, a que ele prprio d expresso em texto publicado na revista
38 PLAT. Crit. 51a-51b. 39 FREIRE (1967) 246. 40 PASCOAES (1991) 9. 41 No sentido de uma evocao. No mbito das relaes de intertextualidade,
tradio de discursos de uso repetido [LAUSBERG (1972) 81], vamos seguir a nomen-
clatura da tipologia formal da citao estabelecida por DAZ LAVADO (1999). 42 HOM. Il.16.440-443. 43 HOMERO (2005) 332.
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fti&la=greek&can=o%28%2Fti0&prior=sehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mhtro%2Fs&la=greek&can=mhtro%2Fs0&prior=o%28/tihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=te&la=greek&can=te0&prior=mhtro/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C4&prior=tehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=patro%5Cs&la=greek&can=patro%5Cs0&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C5&prior=patro%5Cshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&can=tw%3Dn0&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Fllwn&la=greek&can=a%29%2Fllwn0&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=progo%2Fnwn&la=greek&can=progo%2Fnwn0&prior=a%29/llwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28pa%2Fntwn&la=greek&can=a%28pa%2Fntwn0&prior=progo/nwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=timiw%2Ftero%2Fn&la=greek&can=timiw%2Ftero%2Fn0&prior=a%28pa/ntwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29stin&la=greek&can=e%29stin0&prior=timiw/tero/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=patri%5Cs&la=greek&can=patri%5Cs0&prior=e%29stinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C6&prior=patri%5Cshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=semno%2Fteron&la=greek&can=semno%2Fteron0&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C7&prior=semno/teronhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28giw%2Fteron&la=greek&can=a%28giw%2Fteron0&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n0&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mei%2Fzoni&la=greek&can=mei%2Fzoni0&prior=e%29nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=moi%2Fra%7C&la=greek&can=moi%2Fra%7C0&prior=mei/zonihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C1&prior=moi/ra%7Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=para%5C&la=greek&can=para%5C0&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=qeoi%3Ds&la=greek&can=qeoi%3Ds0&prior=para%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C2&prior=qeoi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=par%27&la=greek&can=par%270&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29nqrw%2Fpois&la=greek&can=a%29nqrw%2Fpois0&prior=par%27http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Ds&la=greek&can=toi%3Ds0&prior=a%29nqrw/poishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=nou%3Dn&la=greek&can=nou%3Dn0&prior=toi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fxousi&la=greek&can=e%29%2Fxousi0&prior=nou=nhttp://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=945;7984;957;8057;964;945;964;949;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=922;961;959;957;8055;948;951;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=960;959;8150;959;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=964;8056;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=956;8166;952;959;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7956;949;953;960;949;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7940;957;948;961;945;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=952;957;951;964;8056;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7952;8057;957;964;945;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=960;8049;955;945;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=960;949;960;961;969;956;8051;957;959;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=945;7988;963;8131;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7938;968;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7952;952;8051;955;949;953;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=952;945;957;8049;964;959;953;959;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=948;965;963;951;967;8051;959;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7952;958;945;957;945;955;8166;963;945;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7956;961;948;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7936;964;8048;961;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=959;8020;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=964;959;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=960;8049;957;964;949;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7952;960;945;953;957;8051;959;956;949;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=952;949;959;8054;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7940;955;955;959;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7940;955;955;959;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=948;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=964;959;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7952;961;8051;969;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=963;8058;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=948;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=7952;957;8054;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=966;961;949;963;8054;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=946;8049;955;955;949;959;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad16/precise.cfm?txt=963;8135;963;953;957;
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Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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A guia, intitulado Uma carta a dois filsofos. O espectro do destino,
o mistrio trgico do Fatum, esse limite de treva impenetrvel a quem
nem a Cruz do Calvrio e o Rochedo do Cucaso destroem: O Destino a
quem o prprio Jpiter obedece, dizia um poeta grego. E o mais trgico e miste-
rioso do Destino esta sua majestade infinita reinando sobre os homens e os
Deuses 44, numa referncia genrica Ilada de Homero. Noutro stio, ainda
a propsito, podemos ler este testemunho da proximidade e admirao de
Pascoaes aos gigantes que aos ombros ainda hoje impulsionam esta nossa
civilizao ocidental: Sim: eu sofro o vosso orgulho crucificado, velhos Fil-
sofos da Grcia, que passeastes, no tmulo vitorioso e estpido de Roma,
toda a tragdia da vossa ptria submetida45. Neste texto em que discorre
acerca Da guerra, em pargrafo anterior, j ele tinha manifestado igual
inclinao, sob a forma de testemunho, ao defender os aliados, isto , a Raa
latina, a Civilizao greco-judaica firmada no culto enternecido da Beleza e
da Justia, num sentimento de humanitarismo e destino evanglico que
motivo transcendente da nossa inadaptao vida prtica46. Deste modo,
uma nova luz ganham as palavras de Lcio Craveiro ao vaticinar que nele
encontramos um Bergson ou um Plato, por exemplo, como deparamos com
outros pensadores, escritores ou poetas; mas no se pode dizer que Pascoaes
seja da escola de Bergson ou de Plato47. Isso explica, por exemplo, que
Pascoaes se afaste da doutrina platnica, ao considerar que a ideia vai-se
formando atravs do conhecimento da realidade que nos fornecem as
sensaes48.
Mas o poder, a fora deste estmulo espiritual helnico pode vislum-
brar-se, desde logo, no ttulo, Arte de Ser Portugus. Com efeito, a etimologia
do vocbulo portugus Arte, do latim Ars, leva-nos at tkhne () grega
que, na poca, designava um tratado que oferecia um conjunto de princpios
tericos e normas prticas (regulae), elaboradas a partir da experincia, que
compreendiam a forma de realizar uma ao tendente ao seu aperfeioa-
44 PASCOAES (1915a) 13. 45 PASCOAES (1915b) 59. 46 PASCOAES (1915b) 58. 47 SILVA (1994) 222. 48 BATELLI (1953) 35.
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mento, ao essa que suscetvel de ser ensinada e aprendida. Desta ao
pode resultar uma obra (opus), a qual h de implicar certamente uma prtica
repetida (exercitatio) e a referncia a modelos (exempla) que sero objeto de
imitao pelo aprendiz49.
assim que a Arte se configura como um tratado terico-prtico em
que, maneira de Aristteles, comea por aplicar a sua filosofia prtica,
isto , a sua filosofia platnico-emprica aos princpios tradicionais para da
inferir normas, regras e, em consonncia, fazer as suas recomendaes ou dar
os seus conselhos. Como escreve Lpez Eire50
, Aristteles filosofa sobre todas
as coisas:
esas filosofas prcticas aristotlicas () versan bien sobre el arte de la poesa,
bien sobre el arte de persuadir, e incluso sobre la manera de conseguir la felicidad del
individuo y del estado... dieron lugar, respectivamente, a la Potica, la Retrica, la
tica y la Poltica, artes todas ellas que al pasar por el tamiz de la filosofa platnico-
emprica del Estagirita se convirtieron en filosofas prcticas
Ora, tendo em conta esta reflexo do professor que foi da Universidade
de Salamanca, talvez se possa avanar, agora, com alguma segurana, para o
estudo da conceo de Sacrifcio para Teixeira de Pascoaes, na Arte de Ser
Portugus, o mesmo dizer, conhecer mais aprofundadamente a sua teori-
zao do sacrifcio. E falamos em concepo pois deste modo que Teixeira de
Pascoaes h-de vir a definir o seu pensamento em O Homem Universal, um
pensamento que, sendo sincero, natural e implica uma concepo, no
conceito, mais ou menos lgica do homem51. Por aqui se levado para um
certo dinamismo que se insinua na etimologia do vocbulo conceo e define
o modo de ser intrnseco alma humana, que obedece a um movimento
rtmico de ascenso e queda, enquanto vive, como escreve Pascoaes52 no seu
artigo Uma carta a dois filsofos j acima referido.
Esta dinmica de ascenso e queda, continua o poeta Teixeira de
Pascoaes, em que o ser humano se sente arrastado, ora para o Bem atravs de
uma divina mo de luz, ora para o Mal, pela mo das trevas, no se equi-
49 MUOZ MARTN (2006) 221-222. 50 EIRE (2004) 12-13. 51 PASCOAES (1993) 113. 52 PASCOAES (1915a) 13.
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A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade Clssica, em a
Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
valem; porm, o campo tenebroso () poder acaso ser reduzido pelas
almas hericas, nesta caminhada em que a dor salvadora nos eleva para o
cu, o sonho da Redeno, pelo sacrifcio do individual ao espiritual, como
j se pode ler na Arte de Ser Portugus53.
Nesta obra, a palavra sacrifcio aparece dezassete vezes e ganha uma
centralidade renovada com os captulos IV e V. Depois de tratar do entendi-
mento que tem do ser-se portugus, de herana e tradio, do carcter que
faz a raa e da raa que origina a Ptria, Pascoaes vai concluir que Portugal
tambm uma Ptria, porque uma Raa politicamente independente,
senhora do seu destino54. Logo a seguir, no captulo III55, o seu pensamento,
em crescendo, situa a Ptria numa esfera que transcende as vidas individuais
dos portu-gueses, enquanto seres animais e humanos, e ao ser espiritual, a
Ptria, deve ser sacrificada essa vida animal e transitria, isto , o sacrifcio
um meio para alcanar um fim, a ptria espiritual.
Ora isto traduz-se numa conceo hierarquizada da vivncia humana,
que implica uma ascenso do indivduo ao plano mais elevado da espirituali-
dade. Por outras palavras, vemos que os (seres) imperfeitos diz Pascoaes
representam transies para os mais perfeitos56. Com efeito, a Vida desen-
volve-se segundo esta Lei Suprema, curiosamente o ttulo do captulo IV,
lei suprema essa que a lei do sacrifcio das formas inferiores s superiores.
a lei do sacrifcio o meio posto ao servio do indivduo para que ele cumpra
sumamente o seu destino, tornando-se Famlia, Ptria, Humanidade que,
enquanto seres espirituais que so, so pessoas de Deus57, como se l em
nota; isto , o indivduo sobe da sua natureza individual e animal perfeita
natureza do Esprito58. E d como exemplo Nuno lvares Pereira, que
morreu como homem para viver como Portugal, donde a necessidade de
incutir aos portugueses este esprito heroico, que efetivamente a verda-
deira finalidade deste manual cvico, como confessa, ainda nesta pgina,
53 PASCOAES (1991) 57. 54 PASCOAES (1991) 20. 55 PASCOAES (1991) 23-24. 56 PASCOAES (1991) 27. 57 PASCOAES (1991) 28. 58 PASCOAES (1991) 28.
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o poeta de Gato. E atravs deste herosmo que a alma dos portugueses
empresta Ptria novas energias e virtudes de que aquela est carecida:
sem aco moral pode haver existncia, mas no h vida59. Daqui se pode
inferir, como observa Ferreira Patrcio60, que o humanismo de Pascoaes
inclui e transcende o seu patriotismo. Com efeito, diz Pascoaes61: A Ptria,
ser espiritual, est intimamente ligada Humanidade. Est para a Huma-
nidade, como o indivduo para a sociedade.
maneira de uma arte de cariz helnico, primeiro, estabelece os princ-
pios, generaliza, d o conjunto de normas, maneira de um filsofo62, para,
de seguida, estabelecer normas prticas de ao. A esta luz se deve compre-
ender o ttulo do captulo V, Como cultivar o sentimento de sacrifcio.
Teixeira de Pascoaes, a partir da noo de complexidade, em biologia, sin-
nimo de perfeio, isto , quanto mais complexo o ser vivo, mais perfeito ele
, vai retomar o seu pensamento, desenvolvendo-o no sentido ascendente, di-
zendo que o ser supremo Deus: Famlia, Ptria, Humanidade representam
seres espirituais, cada vez mais complexos, que findam no supremo ser espi-
ritual63. O homem que ocupa o lugar mais elevado entre os seres espirituais
o homem sublime, o santo, vive ainda a vida da Humanidade e mesmo
a do Universo. Elevar o homem do plano individual ao coletivo, diz
Pascoaes, implica que ele cultive o sentimento de sacrifcio, a voluntria e
consciente obedincia Lei suprema. Trata-se de um sentimento de sacri-
fcio que, para o ser, exige aquele excesso de vida que nos leva a desprezar
a morte e a trabalhar alegremente64. E assim que, pelo sacrifcio, a Lei su-
prema da Vida, o Indivduo cultiva a sade, em ordem a ser um bom Pai
o casamento deve ser, portanto, um acto religioso e de sacrifcio aos
filhos65 pilar de uma Famlia que existe politicamente atravs da vida
municipal e, em si, contm potencialmente a natureza de uma Ptria: O bom
59 PASCOAES (1991) 29. 60 PATRCIO (1996) 30. 61 PASCOAES (1991) 29. 62 PASCOAES (1993) 19. 63 PASCOAES (1991) 33. 64 PASCOAES (1991) 34. 65 PASCOAES (1991) 41.
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A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade Clssica, em a
Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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portugus deve cultivar em si o patriota, que abrange o indivduo, o pai e o
muncipe e os excede66.
Esta pequena smula da teoria do sacrifcio a partir da Arte de Ser
Portugus vem plasmada de uma aura otimista que decorre de uma essncia
ontolgica que define o pensamento potico de Teixeira de Pascoaes:
o destino do homem ser conscincia do universo em ascenso perptua
para Deus, como se l em O Homem Universal67. No foi indiferente ao poeta,
por esta poca, o pessimismo de um humanismo fechado ao Absoluto ins-
crito na Nova Teoria do Sacrifcio do seu confrade e filsofo portuense, Jos Tei-
xeira Rego, de quem cita estas trgicas palavras, na Carta a dois filsofos:
o homem uma aberrao, um verdadeiro escndalo da Natureza. Mais
adiante refora a sua condenao desta estranha teoria, afirmando que ela
desintegra o homem da Natureza e, com ele, todo o seu extraordinrio
sonho de Divindade, e o abandona, frgil e casual, condio patolgica de
monstro!68. A conceo do Sobre-humano de Pascoaes afasta-se, assim, do
Super-homem teorizado por Nietszche em Assim falava Zaratustra.
O primeiro representa a esperana num mundo melhor, ao invs do segundo
que o pessimismo do niilismo ou a inutilidade de se viver para nada69.
Recorde-se que a teoria de Teixeira Rego foi uma resposta s teses de Roberto
Guilherme Woodhouse (1828-1876), catlico fervoroso que, em 1872,
tentava adequar as teorias evolucionistas com o livro dos Gnesis70.
Esta evoluo dinmica, condio da existncia superior71 do ser
humano, tem por centro vital o sacrifcio, enquanto processo por que o
imperfeito material se torna perfeio espiritual. que o ser humano ()
no realiza em si, o seu destino, mas nos seres espirituais: Famlia, Ptria,
66 PASCOAES (1991) 48. 67 PASCOAES (1993) 5. 68 PASCOAES (1915a) 16. 69 TAVARES (2012) 46. 70 CARVALHO (2015a) 125. 71 PASCOAES (1915a) 18.
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Humanidade, Deus72. Da que o sacrifcio se desvele ao esprito humano com
uma aura sagrada. Diz Pascoaes em Uma carta a dois filosofos73:
O espiritual comeou a viver do animal. esta a lei do sacrifcio a lei suprema
da Natura:
E assim, a Vida o grande sacrifcio
Que a Deus faz a sensvel Natureza,
Para que Deus exista em dor e amor
(As Sombras)
O Esprito no traduz, portanto, uma aberrao da Natureza, mas a sua virtude
sobrenatural, o seu poder infinito de excedncia, de autotransfigurao ideal.
A dimenso sagrada do sacrifcio algo que j se encontra inscrito no
prprio vocbulo, se atentarmos na sua etimologia (sacer, que no pode ser
tocado, sem ser manchado, sagrado); por outro lado, diz-se sagrado porque
se trata de uma oferenda ritual feita a uma divindade (facere, fazer). sagrado
(sacrum) e, por isso, designa aquilo que prprio do mundo divino, dos
deuses, por oposio ao profano (profanum), prprio da vida corrente dos
homens. E impossvel nesta altura deter o nosso esprito, que rapidamente
se satisfaz em rememorar as tradies religiosas entre os Gregos da Antigui-
dade, onde o sacrifcio cruento ocupava uma inusitada centralidade na vida
da polis, uma vivncia estranha mentalidade contempornea, dando um
carcter sagrado ordem humana e social, como nos relata Jean-Pierre
Vernant: Na guerra ou na paz, antes de travar batalha ou na abertura de
uma assembleia, ou ainda na posse dos magistrados, a execuo de um sacri-
fcio no menos necessria que durante as grandes festas religiosas do
calendrio sacro74. O sacrifcio lendrio de Ifignia, ordenado pelo prprio
pai, Agammnon, a fim de propiciar a vontade de rtemis e, assim, libertar
a armada aqueia que se encontrava prisioneira de uma prolongada calmaria
em ulis, bem o smbolo disso mesmo. Mas a deusa, como se sabe, no derra-
deiro momento, substituiu a jovem por uma cora.
A par deste culto pblico, a mentalidade grega tambm acolheu outras
formas de expresso da religiosidade popular, mais identificadas com as as-
72 PASCOAES (1991) 123. 73 PASCOAES (1915a) 18. 74 VERNANT (2009) 60.
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A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade Clssica, em a
Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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piraes individuais, que nasceram de um desejo de contacto pessoal com a
divindade; todas estas manifestaes integraram o denominado misticismo
grego, olhado, em alguns casos, com alguma suspeio pela plis. aqui que
se situa o orfismo, corrente que rejeita o sacrifcio cruento e busca uma unio
com o divino mediada por uma vida pura, baseada num regime vegetariano,
o que levar os seus seguidores a escapar finitude e morte, desde que
observem uma certa disciplina nos seus exerccios espirituais. E Pascoaes
testemunha esta eterna aspirao humana, j celebrada nos Mistrios de
Elusis, entrevista nas clogas de Virglio75. Porm, a religio grega no
conheceu a personagem do renunciante. Foi a filosofia que, ao transpor para
seu prprio registo os temas da ascese, da purificao da alma, da imortali-
dade desta, assumiu esta tarefa76.
Na verdade, Plato, no seu tratado A Repblica77, fala desta ascese, as-
censo, e da sua natureza, ao caracteriz-la como um conjunto de exerccios,
no s espirituais, atravs da msica, que compreende a literatura, mas
tambm a ginstica para o corpo, que ocupa o segundo lugar, o que nos apro-
xima do conceito de paideia ou instruo. Ora isto remete-nos, como j o
demonstrou Jos Rosa78, para uma proximidade com o Liber Sapientiae, do
Vetus Testamentum. Tambm aqui o carcter deste desejo de ascenso se re-
vela de forma idntica, como, por exemplo, neste passo: initium enim illius
verissima est disciplinae concupiscentia, cura vero disciplinae dilectio est, isto ,
o princpio da sabedoria o desejo sincero de se instruir, e desejar instruir-
se j am-la79. O prprio processo que aqui se descreve de ascese mstica
em tudo se parece com a via ascensional ao supremo Bem no Banquete de
Plato80. Esta referncia Bblia parece-nos fator relevante pelo lugar que ela
ocupa nas suas leituras, a par de outras de alguns poetas da sua preferncia:
Lucrcio, Virglio, Dante, Cames, Frei Agostinho de Santa Cruz81.
75 PASCOAES (1991) 107. 76 VERNANT (2009) 88. 77 PLAT. Rsp. 376e. 78 ROSA (1997) 52. 79 Vulg. Sap. 6.17. 80 PLAT. Conv. 210a-212. 81 COUTINHO (1995) 53.
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
eloquente, a respeito do que se est a dizer, este passo do artigo
Da guerra, inserto na revista A guia: O portugus profunda e lastima-
velmente partidarista. Trocou Os Lusadas e a Bblia pelo Sculo e pela
Carta82.
Neste momento, uma questo pertinente: por que razo Pascoaes
nunca usa a palavra ascese, no contexto do sacrifcio, enquanto meio para
atingir o Ser espiritual, a Perfeio? Sabendo ns que se trata de um conceito
fundamental da cultura grega e que passou mundividncia judaico-cristo,
ser que isso pode denunciar aquilo que Ferreira Patrcio83 j afirmou,
dizendo que Pascoaes est fora da tradio judaico-crist? Explicar esta
atitude do poeta do Maro a sua defesa de uma Igreja lusitana, como se pode
ler na Arte de Ser Portugus? Diz ele:
to vivo em ns o esprito de independncia religiosa, que os nossos melhores
telogos sempre defenderam princpios de acordo com a autonomia da nossa Igreja.
Assim Diogo Paiva de Andrade, Frei Bartolomeu dos Mrtires e o clebre telogo
Antnio Pereira, num tempo em que era absorvente o poder papal e o jesutico,
defenderam todos os princpios libertadores e nacionalizadores da Igreja lusitana84.
Retomando o fio condutor da nossa reflexo em torno da natureza do
sacrifcio luz das fontes da Antiguidade Clssica, vai ficando clara a impor-
tncia da cultura grega e, de forma mais abrangente, do helenismo que sabia-
mente harmonizou a filosofia grega com a tradio judaico-crist, como
bem visvel na obra de Flon de Alexandria (20/13 a.C. c. 50 d.C.) e, mais
tarde, na de Flvio Josefo (37/38 c. 100).
O carcter deste sacrifcio, na linha da tradio platnica acima refe-
rida, aponta na direo da paideia grega, com um sentido de instruo, edu-
cao. Por outro lado, este sacrifcio mediador entre o humano e o divino,
entre o material e o espiritual e, por isso, transformou-se em Lei Suprema, lei
essa que s existe no Universo, intermdio entre um princpio e um fim, como
se pode concluir a partir da leitura de Santo Agostinho do poeta amarantino85.
82 PASCOAES (1915b) 60. 83 PATRCIO (1963) 53. 84 PASCOAES (1991) 83. 85 TAVARES (2012) 43.
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A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade Clssica, em a
Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
Mas esta educao h de cumprir-se sob o signo da dialtica, na tenso
contnua entre a ascenso e a queda, entre a luz e as trevas. Tudo isto nos
remete para uma aluso alegoria dos cavalos e corcis descrita no Fedro de
Plato e que ilustra bem esta afirmao, um mito de que j nos aparece notcia
em Pndaro. Diz Plato: ,
,
, isto , quanto a ns, somos os cocheiros de uma atrelagem puxada
por dois cavalos, sendo um belo e bom, de boa raa, e sendo o outro precisa-
mente o contrrio, de natureza oposta, de onde provm a dificuldade que h
em conduzirmos o nosso prprio carro86 (passo traduzido por P. Gomes87).
Deste af resulta que ao cocheiro humano torna-se vital a harmonia da
parelha.
na riqussima tradio da arte do dilogo entre os gregos que a dia-
ltica ganha expresso enquanto caminho ou mtodo88 que procede se-
gundo um duplo movimento de subida e descida89:
, ,
(533d) ,
,
O mtodo da dialctica o nico que procede, por meio da destruio de hipteses,
a caminho do autntico princpio, a fim de tornar seguros os seus resultados, e que
arrasta aos poucos os olhos da alma da espcie do lodo brbaro em que est atolada e
eleva-os s alturas, utilizando como auxiliares para ajudar a conduzi-los as artes que
analismos90.
A mesma simbologia se encontra no mito de Glauco, no Livro X de
A Repblica91. Mas mais importante que este mtodo dialtico que Plato
considera a cpula das cincias92, talvez seja surpreender na obra deste poeta
86 Plat. Phaedr. 246a-b. 87 GOMES (1989) 56. 88 PLAT. Rsp. 533b. 89 PLAT. Rsp. 533d. 90 PLATO (2008). 91 PLAT. Rsp. 611-612a. 92 PLAT. Rsp. 534e.
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
uma das caractersticas mais identitrias do esprito grego, a sua predispo-
sio agonstica, isto , o seu esprito de competio, com largas repercusses
na cultura ocidental, a que j se referiu Joo Beato93:
Uma das bases fundamentais da cultura ocidental a forma de espiritualidade
ritualizada no Drama dionisaco e no gon olmpico, os dois plos de um culto que
explora as noes de dualidade e oposio como meios para atingir a unidade, ou seja,
o estado de conscincia representado pelo heri, um ser humano com atributos divinos.
Esta dualidade est bem presente na Arte de Ser Portugus, em expres-
ses como imperfeito e perfeito, formas inferiores e superiores94, vida
animal e vida espiritual, homem rudimentar e homem superior95, in-
divduo belo e saudvel e indivduo doente e feio96, Esprito e Matria97
que nos remetem para a dicotomia fundamental de paganismo-cristianismo,
que deve ser lida luz das condies da poca em que viveu Pascoaes e que
havia de traduzir-se, de forma singular, no seu poemeto Jesus e P, de 1903,
em que se vislumbra a forma mentis do poeta que busca uma espcie de coin-
cidentia oppositorum 98, conforme se l na Terceira Fala do seu Jesus e P99:
preciso ligar, fundir na mesma luz
A vida deste mundo e uma existncia ideal;
A alegria da Flora e a paixo de Jesus,
O beijo criador e a prece virginal!
preciso reunir na mesma comunho
A aspereza do mundo doura do cu,
A leveza do lrio ao peso do alvio,
E ao canto do trabalho a tua lira, Orfeu!
()
preciso amar tudo e compreender tudo,
S neste sbio amor a Perfeio existe!
93 BEATO (2007) 97. 94 PASCOAES (1991) 27. 95 PASCOAES (1991) 33. 96 PASCOAES (1991) 121. 97 PASCOAES (1991) 83. 98 ALVES (1996) 591. 99 PASCOAES (1966) 48.
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A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade Clssica, em a
Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
Na Arte de Ser Portugus, Pascoaes vai diz-lo de forma insofismvel,
primeiro, quando diz que a alma ptria , portanto, caracterizada pela fuso
que se realizou, na nossa Raa, do princpio naturalista ou ariano e do prin-
cpio espiritualista ou semita100. Depois, quando fala do carcter do gnio
lusada que idealmente se completa pela feio religiosa que, absorvendo a
ideia crist e a pag, deste dualismo extrai a sua unidade sentimental, aquele
sentimento saudoso das Coisas, da Vida e de Deus, que anima de original e mstica
beleza a nossa Arte, Poesia, Literatura e Cristianismo101. E mais frente, l
reaparece o deus P a pr o povo em convivncia com o outro Mundo102.
O ideal de Pascoaes transmutar o demonaco em divino103, isto ,
consiste em elevar o portugus, enquanto indivduo, condio de patriota,
sacrificando tudo, a sua prpria vida Ptria, ser espiritual e divino104. Fala
mesmo em destino de sacrifcio e redeno105, a que ningum se pode
furtar. A falta de persistncia e a imitao conduzem a uma queda do esp-
rito de sacrifcio, a quebra da relao entre o indivduo e o seu destino de
chefe de famlia e patriota106.
E so as almas heroicas que, por excelncia, podem manter vivo este
esprito de sacrifcio e apressar a transmutao do material para o divino, do
individual para o coletivo, sobrelevando-se a Ptria espiritual. E, por isso, o
poeta amarantino deseja impulsionar o culto religioso dos nossos antepas-
sados, apresentando como primeiro ldimo representante de uma Alma que
se ergueu bem alto por entre a confuso das raas da Ibria a figura hom-
rica de Viriato107, em que a referncia geral avocada ao adjetivo homrica
d figura de Viriato uma colorao mais augusta e de maior universalidade.
Por isso, o adjetivo homrica no aparece aqui em vo, com toda a
certeza. em Homero que se manifesta uma das mais importantes idiossin-
100 PASCOAES (1991) 61-62. 101 PASCOAES (1991) 62. 102 PASCOAES (1991) 70. 103 PASCOAES (1991) 120. 104 PASCOAES (1991) 28. 105 PASCOAES (1991) 123. 106 PASCOAES (1991) 104. 107 PASCOAES (1991) 83.
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
crasias do esprito grego na sociedade da poca arcaica, que o esprito de
competio, o mesmo dizer, o esprito agnico dos gregos. O costume de
concursos desportivos est documentado em Homero, na Ilada, quando se
descrevem os jogos fnebres em honra de Ptroclo, no Canto XXIII, no m-
bito dos quais essas provas se tornam dominantes; mas tambm se encontram
no Canto VIII da Odisseia, quando se relata a receo que os Feaces fizeram
ao heri Ulisses, organizando jogos em sua honra. E quando se pensa na
Ilada, est desde logo presente o antagonismo entre Aquiles e Heitor, exacer-
bado com a morte de Ptroclo. Para o heri grego era bem prefervel a morte
heroica a uma vida longa e sem honra (IX.410-416), como Ttis anuncia ao
seu filho Ulisses108:
.
,
,
,
,
, .
Na verdade, me disse minha me, Ttis de ps prateados,
Que um dual destino me leva at ao termo da morte:
Se eu aqui ficar a combater em torno da cidade de Tria,
Perece o meu regresso, mas terei uma vida longa,
E o termo da morte no vir depressa ao meu encontro109.
Ora este esprito agnico, a partir do exerccio prtico e disciplinado,
o sentido original de ascese, traduzia-se na procura constante da superao
dos limites humanos, rumo a um modelo humano de excelncia, que se iden-
tificava com o heri. Este heri olmpico, para os espectadores, era algum
divinizado, era um ser humano mais prximo da divindade, simultanea-
mente expoente da beleza fsica, mas tambm exemplo da tica da tradio
pica, isto , belo e bom, que se exprime pela palavra , o grande
ideal humano da poca arcaica da Grcia Antiga. nas competies atlticas
que se manifesta o princpio de Apolo, em que o ser humano se eleva, assim,
contemplao do absoluto, da totalidade, que se manifesta em Zeus, sinal
108 HOM. Il.9.410-416. 109 HOMERO (2005) 191.
http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;8053;964;951;961;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=947;8049;961;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=964;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=966;951;963;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=952;949;8048;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=920;8051;964;953;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7936;961;947;965;961;8057;960;949;950;945;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=948;953;967;952;945;948;8055;945;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=954;8134;961;945;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=966;949;961;8051;956;949;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=952;945;957;8049;964;959;953;959;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=964;8051;955;959;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=948;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=949;7984;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;8051;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=954;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=945;8022;952;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;8051;957;969;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=932;961;8061;969;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=960;8057;955;953;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7936;956;966;953;956;8049;967;969;956;945;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=8036;955;949;964;959;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;8051;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;959;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=957;8057;963;964;959;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7936;964;8048;961;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=954;955;8051;959;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7940;966;952;953;964;959;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7956;963;964;945;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=949;7984;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=948;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=954;949;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=959;7988;954;945;948;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7989;954;969;956;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=966;8055;955;951;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7952;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=960;945;964;961;8055;948;945;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=947;945;8150;945;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=8036;955;949;964;8057;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;959;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=954;955;8051;959;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7952;963;952;955;8057;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7952;960;8054;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=948;951;961;8056;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=948;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;959;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=945;7984;8060;957;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=7956;963;963;949;964;945;953;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=959;8016;948;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=954;8051;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=956;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=8038;954;945;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=964;8051;955;959;962;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=952;945;957;8049;964;959;953;959;http://mercure.fltr.ucl.ac.be/Hodoi/concordances/homere_iliad09/precise.cfm?txt=954;953;967;949;8055;951;
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A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade Clssica, em a
Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
de transcendncia. Com efeito, as divindades so consideradas manifestaes
parcelares da unidade da manifestao, que Zeus. Mas a par desta manifes-
tao prpria do universo pago, perfila-se o culto do Drama, que aflora
pena do poeta do Maro, na Arte de Ser Portugus, a propsito do deus P,
numa referncia geral a um dos autores mais importantes da tragdia grega:
Este medo, esta Dor fantasma, terrvel por indefinida, e ansiosa por inatin-
gvel, no encontrou ainda o seu squilo110.
Da mesma ndole a natureza do sacrifcio, do heri na Arte de ser Por-
tugus: O sentimento de ser sacrifcio, para ser, exige aquele excesso de vida
que nos leva a desprezar a morte e a trabalhar alegremente111.
Teixeira de Pascoaes vive num tempo profundamente influenciado
pela obra de Nietzsche e de Freud, que promovem a recuperao e a revalo-
rizao do universo dionisaco, fazendo-o regressar superfcie da Terra,
isto , conscincia112, como j escreveu Joo Beato113. Jorge Coutinho, a este
propsito, claro ao definir a forma mentis de Pascoaes, mais prxima da
sugesto simblica e metafrica, no o do conceito rigoroso e cientfico.
Pascoaes muito mais filho de Dionsio que de Apolo. O seu reino o do luar
nocturno no o da claridade diurna. A fora anmica que traz o pensamento
linguagem no a da razo clara e distinta, mas a do sentimento arracional
e obscuro114.
A esta influncia do autor alemo, Nietzsche, se refere ele no Santo
Agostinho (1945: 101): A obra de Nietzsche foi, na verdade, um deslumbra-
mento. E chegou a ser embriaguez, tal a virtude bquica do seu estilo!115. Na
Arte de Ser Portugus, pode ler-se, a propsito de uma quadra popular em que
se v o nosso Cristianismo colorido de vivas tintas pags: na primeira
quadra, a embriaguez dionisaca tinge de alvoroo alegre a celeste figura da
Virgem que vai colher o negro fruto da Alegria116. Por outro lado, foi
110 PASCOAES (1991) 70. 111 PASCOAES (1991) 34. 112 PASCOAES (1991) 34. 113 BEATO (2007) 100. 114 COUTINHO (1995) 429. 115 PASCOAES (1945) 101. 116 PASCOAES (1945) 85-86.
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Antnio Maria Martins Melo
gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
aquela educao homrica, fundada no esprito agonstico, que influenciou
este autor alemo em diversos momentos da criao da sua obra, como o
demonstra Nunes Bittencourt117 citando, nomeadamente, A Disputa de
Homero, A Viso Dionisaca do Mundo, A Filosofia na Idade Trgica dos Gregos,
Ecce homo como algum se torna o que se , O nascimento da Tragdia ou o
helenismo e o pessimismo.
Teixeira de Pascoaes viveu num tempo em que se assistiu a um revigo-
rado interesse pela cultura grega antiga e que via nela uma porta para a
soluo dos seus problemas. Nesta cultura se parece inspirar o poeta do
Maro quando faz o diagnstico da atualidade da sua Ptria, deixando
entrever uma soluo apolnea, em luta com a tendncia dionisaca: A antiga
concrdia entre a Unidade disciplinadora e a livre iniciativa quebrou-se,
estabelecendo-se a confuso do Caos, no qual os elementos dissolvidos
procuram animar-se de uma nova Simpatia que os organize118.
Era impossvel Pascoaes no ter vivido com renovado interesse a aven-
tura do rico comerciante alemo Heinrich Schliemann que, de Ilada na mo,
havia de descobrir a majestosa civilizao de Micenas e identificar a famosa
Troia clssica na localidade de Hissarlik, situada nas colinas da Anatlia,
atual Turquia. Que no se deixasse contagiar pelo heri Ulisses que, encar-
nao da curiosidade e do esprito agnico caractersticos da mentalidade
grega e, por extenso, do ser humano em geral , comporta de igual modo
uma sujeio ao perigo, pois a aventura do conhecimento pressupe sempre
uma exposio aos riscos da incerteza, experincia do sofrimento vivido119.
A atitude deste heri do sacrifcio, que muito sofreu, mas que no virou a
cara a novos desafios, permitiu, assim, diz Delfim Leo no mesmo stio, que
a odisseia do progresso civilizacional continuasse a compor novos captulos
da histria da humanidade. Outro heri tambm se distinguiu pela sua
capacidade de persuaso no uso da palavra em plena Assembleia, o que d
oportunidade a Pascoaes para fazer mais uma referncia geral Cultura
Grega e que, eventualmente, pode explicar a deciso do poeta do Maro para
117 BITTENCOURT (2010) 1-5. 118 PASCOAES (1991) 99. 119 LEO (2013) 23.
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A ideia de sacrifcio, a partir das fontes da Antiguidade Clssica, em a
Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
a escrita deste seu manual de pendor cvico, em ambiente de esprito blicos:
Disse Filipe da Macednia em outros tempos (belos tempos!) que temia mais
o verbo de Demosthenes que os exrcitos de Darius120.
Como resulta do que foi dito, a ideia de sacrifcio na Arte de Ser Por-
tugus identifica-se muito com este esprito agnico dos primeiros gregos: en-
quanto sinnimo de ascese, aproxima-se da paideia grega, que implica a
formao, a educao do heri do sacrifcio a partir de textos fundacionais da
cultura portuguesa onde mais se manifesta o gnio da alma patria, donde
resulta um evidente carter didtico deste manual pascoalino. Tambm ele,
semelhana dos gnios que o precederam, se mostrou um esprito inquieto,
com a mania de investigar a alma das coisas, ou essa apario simbolizada
nas aparncias121, procurando transmitir posteridade a sua conceo de ser
humano, enquanto arauto de uma nova era, consciente, porm, da sua
finitude122:
Os artistas possuindo o culto da existncia, ambicionavam dignific-la e embelez-
la conforme o prottipo idealizado. Se no temos ainda o homem, temos a sua esttua.
Os artistas da Grcia realizaram o indivduo eleito, deram-lhe uma forma, que sendo
humana atinge a Divindade. Fdias esculpindo corpos, foi o precursor de Paulo o
escultor de almas.
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Arte de Ser Portugus de Teixeira de Pascoaes
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gora. Estudos Clssicos em Debate 19 (2017)
* * * * * * * * *
Resumo: O Autor situa o aparecimento da Arte de Ser Portugus, uma obra de maturidade,
no contexto da sua poca. Depois, identifica algumas linhas temticas de inspirao
predominantemente helnica que parecem estar presentes na definio da ideia de
sacrifcio apresentada por Teixeira de Pascoaes, neste seu pequeno manual de natureza
cvica. Uma dinmica impulsionada pela noo de literatura de reuso e, na sequncia,
de intertualidade.
Palavras-chave: Ideia de sacrifcio; Antiguidade Clssica; Literatura Portuguesa; Teixeira
de Pascoaes; Arte de Ser Portugus.
Resumen: El autor sita el Arte de Ser Portugus, una obra de madurez, en el contexto de
su poca. Tras esto, identifica algunas lneas temticas de inspiracin predominantemente
helnica que parecen estar presentes en la definicin de la idea de sacrificio presentada
por Teixeira de Pascoaes en este pequeo manual suyo de naturaleza cvica. Una dinmica
impulsada por la nocin de literatura de reutilizacin y, en consecuencia, de
intertextualidad,
Palabras clave: idea de sacrificio; Antigedad Clsica; Literatura Portuguesa; Teixeira de
Pascoaes; Arte de Ser Portugus.
Rsum: Lauteur situe lapparition de LArt dtre Portugais, une uvre de maturit, dans
le contexte de son poque. Ensuite, il identifie certaines lignes thmatiques dinspiration
essentiellement hellnique qui semblent tre prsentes dans la dfinition de lide de
sacrifice prsente par Teixeira de Pascoaes, dans son petit manuel de nature civique. Une
dynamique renforce par la notion de littrature de remploi et, dans la foule,
dintertextualit.
Mots-cls : ide de sacrifice ; Antiquit Classique ; Littrature portugaise ; Teixeira de
Pascoaes ; LArt dtre Portugais.
Antnio Maria Martins Melo (UCP, Braga Portugal)Abstract: We first situate Arte de Ser Portugus, a work of maturity, in the context of its time. Afterwards, we identify some thematic strands of Hellenic inspiration which seem to underlie the definition of the idea of sacrifice presented by Teixeir...Keywords: idea of sacrifice; Classical Antiquity; Portuguese Literature; Teixeira de Pascoaes; Arte de Ser Portugus.Resumo: O Autor situa o aparecimento da Arte de Ser Portugus, uma obra de maturidade, no contexto da sua poca. Depois, identifica algumas linhas temticas de inspirao predominantemente helnica que parecem estar presentes na definio da ideia de ...Palavras-chave: Ideia de sacrifcio; Antiguidade Clssica; Literatura Portuguesa; Teixeira de Pascoaes; Arte de Ser Portugus.Resumen: El autor sita el Arte de Ser Portugus, una obra de madurez, en el contexto de su poca. Tras esto, identifica algunas lneas temticas de inspiracin predominantemente helnica que parecen estar presentes en la definicin de la idea de sacr...Palabras clave: idea de sacrificio; Antigedad Clsica; Literatura Portuguesa; Teixeira de Pascoaes; Arte de Ser Portugus.Rsum: Lauteur situe lapparition de LArt dtre Portugais, une uvre de maturit, dans le contexte de son poque. Ensuite, il identifie certaines lignes thmatiques dinspiration essentiellement hellnique qui semblent tre prsentes dans la dfin...Mots-cls : ide de sacrifice ; Antiquit Classique ; Littrature portugaise ; Teixeira de Pascoaes ; LArt dtre Portugais.