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Universidade de Brasília JOSÉ EDSON RODRIGUES FERREIRA A IMPORTÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO DA PRÁTICA DO JUDÔ, POR SEUS PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS, NO PROJETO SEGUNDO TEMPO Maceió 2007

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Universidade de Brasília

JOSÉ EDSON RODRIGUES FERREIRA

A IMPORTÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO DA PRÁTICA DO JUDÔ, POR SEUS PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS,

NO PROJETO SEGUNDO TEMPO

Maceió

2007

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JOSÉ EDSON RODRIGUES FERREIRA

A IMPORTÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO DA PRÁTICA DO JUDÔ, POR SEUS PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS, NO PROJETO SEGUNDO TEMPO

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Prof. Ms. Eriberto Lessa de Moura

Maceió-AL. 2007

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FERREIRA, José Edson Rodrigues

A importância da implantação da prática do judô no Projeto Segundo Tempo por seus

pressupostos pedagógicos. Maceió-AL., 2007.

54 p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância,

2007.

Educação. Pedagogia. Judô.

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JOSÉ EDSON RODRIGUES FERREIRA

A IMPORTÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO DA PRÁTICA DO JUDÔ, POR SEUS PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS, NO PROJETO SEGUNDO TEMPO

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente:

Professor Mestre ERIBERTO LESSA DE MOURA

Universidade Federal de Alagoas

Membro: Professora Mestra MARTA MOURA ROCHA Universidade de Federal de Alagoas

Maceió (AL), 01 de agosto de 2007.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os meus alunos, minha grande motivação, que direta e

indiretamente contribuíram e contribuem para a minha caminhada na seara da educação. Sem

eles não teria inspiração e resistência para mantermos dedicados na constante busca por

mudanças no campo da formação do ser humano para o bem-conviver social.

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AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço ao Grande Arquiteto do Universo por nos ter concedido a

nossa forma de vida terrena e a plenitude de estarmos sempre buscando o nosso conhecimento

e sabedoria para uma convivência coletiva.

Aos meus pais Edson Ferreira da Trindade (In memória) e Benedita Rodrigues

Ferreira (In memória) por ter nos concebido como filho e pela educação dada para a nossa

vida como ser social.

A minha esposa Egildia, minhas filhas Ana Paula e Ana Carolina e, meu filho Paulo

Eduardo pela paciência em aturar os amontoados de livros espalhados pelos cômodos da casa.

Ao Prof. Ms. André Cabral, meu tutor, que durante todo o transcorrer do curso estava

sempre (on-line) cobrando o andamento dos trabalhos avaliativos dos módulos.

Ao meu orientador Prof. Ms. Eriberto Lessa de Moura pela colaboração dada para a

realização e conclusão deste trabalho.

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EPÍGRAFE

“A educação é a prática mais humana, considerando-se a

profundidade e a amplitude de sua influência na existência

dos homens. Desde o surgimento do homem, é prática

fundamental da espécie, distinguindo o modo de ser cultural

dos homens do modo natural de existir dos demais seres

vivos.”

Antonio Joaquim Severino

“Os únicos conhecimentos que podem influenciar o

comportamento de um individuo, são aqueles que descobre

por si mesmo, e que fazem seus.”

Carl Rogers

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RESUMO

Esse trabalho propôs-se investigar a importância da implantação da prática do judô, devido aos seus pressupostos pedagógicos, no Projeto Segundo Tempo. Para isso buscamos informações sobre quais pressupostos pedagógicos fundamentam a prática do judô nos estabelecimentos de ensino da Rede Privada e Pública da Cidade de Maceió tendo como clientela alunos numa faixa etária de 07 a 12 anos. Realizamos uma análise desses pressupostos, assim como, identificamos os aspectos referentes aos valores trabalhados e que contribuem no processo ensino-aprendizagem do judô. Outro aspecto pesquisado foi à verificação da existência do ensino dos princípios filosóficos desta modalidade esportiva se estão correspondendo aos princípios que fundamentam o Projeto Político Pedagógico da Escola. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica fundamentada nas obras de Paulo Freire, João Batista freire, Monteiro, Nalda e Ghiraldelli Jr., dentre outros. Este estudo propõe-se, portanto, a contribuir na prática pedagógica dos professores de educação física que trabalham com o conteúdo judô nos estabelecimentos de ensino da Cidade de Maceió, bem como, a sua implantação como atividade esportiva nas atividades realizadas no Projeto Segundo Tempo, visando à formação integral do indivíduo e o seu convívio social estabelecido por valores e atitudes.

PALAVRAS CHAVES: Educação, Pedagogia e Judô.

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ABSTRACT

That work intended to investigate the importance of the implantation of the practice of the judo, due to its pedagogic presuppositions, in the Project Second Time. For that we looked for information on which presupposed pedagogic they base the practice of the judo in the establishments of teaching of the Private and Public Net of the City of Maceió tends as clientele students in an age group of 07 to 12 years. We accomplished an analysis of those presuppositions, as well as, we identified the referring aspects to the worked values and that contribute in the process teaching-learning of the judo. Another researched aspect went to the verification of the existence of the teaching of the philosophical beginnings of this sporting modality he/she/it is corresponding to the beginnings that base the Pedagogic Political Project of the School. For so much, we accomplished a bibliographical research based in Paulo Freire's works, João Batista Freire, Monteiro, Nalda and Ghiraldelli Jr., and others. This study intends, therefore, to contribute in the teachers' of physical education pedagogic practice that you/they work with the content judo in the establishments of teaching of the City of Maceió, as well as, its implantation as sporting activity in the activities accomplished in the Project Second Time, seeking to the individual's integral formation and its social conviviality established by values and attitudes.

WORDS KEYS: Education, Pedagogy, Judo.

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SUMÁRIO

Página Dedicatória.................................................................................................................. iii Agradecimentos.......................................................................................................... iv Epígrafe ..................................................................................................................... v Resumo ...................................................................................................................... vi Abstract ..................................................................................................................... vii

1 Introdução ............................................................................................................. 09

2 DESENVOLVIMENTO 13 2.1 Marcos históricos das lutas como prática esportiva.................................... 13 2.2 A prática do judô nas escolas...................................................................... 14 2.3 A pedagogia no campo das práticas esportivas........................................... 16

2.4 Ensinando esporte na escola numa perspectiva de iniciação esportiva....... 19 2.5 A prática esportiva como elemento que contribui na formação e

integração do indivíduo no meio social.......................................................

20 2.6 O ensino do judô fundamentado numa educação em valores e atitudes...... 23

3 MÉTODOS .......................................................................................................... 26

3.1 População Alvo........................................................................................... 26 3.2 Instrumento de Coleta de Dados................................................................. 26 3.3 Sujeitos do Estudo....................................................................................... 27 3.4 Análise e Interpretação dos Dados.............................................................. 27

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 28

5 CONCLUSÃO....................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 57 APÊNDICE............................................................................................................... 62 Roteiro de perguntas usado nas entrevistas com professores............................ 62

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1. INTRODUÇÃO

Por praticarmos judô desde 1975 e lecionar esta modalidade esportiva há 28 anos,

sentimos a necessidade, a partir do momento que participamos do Curso de Especialização em

Esporte Escolar, promovido pelo Ministério do Esporte em parceria com a Universidade de

Brasília, através da Secretaria de Ensino à Distância, em efetivar estudos referentes às

questões pertinentes aos pressupostos pedagógicos e a participação de crianças na iniciação

esportiva do judô nos estabelecimentos de ensino na Cidade de Maceió. Pois, percebemos

uma escassez desta abordagem no âmbito da pesquisa em nosso Estado.

As informações que serviram para a elaboração conceitual deste estudo foram

levantadas de forma qualitativa, e obtidas a partir de entrevistas com professores, visitas a

instituições educacionais para efetuarmos observações de aulas, pesquisa na Internet e

consultas bibliográficas. Esta pesquisa fundamentou-se nas obras de Paulo Freire (1997;

2002), Monteiro (1998), João Batista Freire (2003), Nalda (2006) e Ghiraldelli Jr. (1994).��

O Judô é praticado nas Escolas da Rede Privada e Pública na Cidade de Maceió por

alunos de diversas faixas etárias e com diferentes objetivos. Este processo de iniciação se dá a

partir da educação infantil até o ensino médio, sendo na sua maioria praticado por crianças

entre 07 e 12 anos, conforme constatação realizada através de observações, registros de

inscrições de atletas em campeonatos e outras informações cedidas pela Federação Alagoana

de Judô - FAJU.

Para Maekawa; Hasegawa (1963, p. 2), Jigoro Kano acreditava firmemente que a

educação física não deve ser realizada só pelo enfoque da cultura física, mas como um dos

meios para guiar corretamente os alunos, como também, a construção do seu caráter. Kano

dava duas conotações para o judô, a primeira, apresentada com um sentido mais estreito,

antiquado, voltado para o lado militar, para a defesa pessoal, buscando o desenvolvimento

harmonioso dos grupos musculares, recebendo um enfoque da cultura física; a segunda

abrange um sentido mais amplo, o da cultura moral, da melhoria de vida diária, ou seja, um

“meio de usar o corpo e espírito eficazmente”, ele considerava como “o princípio de

humanidade” 1 . Dessa forma, o judô praticado com estes valores pode ser aplicado em

1A prática do jiu-jitsu era com a finalidade de lesionar o oponente e provocar muitas contusões, e Jigoro Kano então questionou: como uma atividade física organizada para trazer benefício ao ser humano, pode provocar um alto nível de lesões, podendo levar ate à morte? E foi na busca de alternativas para eliminar a possibilidade de contusões que Jigoro Kano criou o Judô. E, aproveitando os valores positivos do jiu-jitsu, foi possível criar uma nova forma de vida, introduzindo valores de qualidade, como respeito e a preservação do oponente, o desenvolvimento total do participante, enfim, foi possível a introdução do prazer no desenvolvimento de uma luta. E foi assim que o Judô passou a se preocupar não apenas com o

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qualquer momento na vida de seu praticante, pois saber usar o corpo e espírito de forma eficaz

é uma doutrina fundamental para os princípios morais e éticos necessários aos seres humanos

– um ato de cidadania.

A partir do exposto e, evidenciando a segunda conotação dada por Kano ao judô, se

faz necessário ao profissional da educação física que trabalha com o conteúdo judô em suas

aulas de educação física, como também nas escolinhas de iniciação esportiva, uma

fundamentação teórica-prática quanto ao nível de desenvolvimento biológico, psicológico, e

social2; e as qualidades físicas específicas3. Quanto ao problema da especialização precoce,

pois é grande a quantidade de crianças, de acordo com os dados coletados na Federação

Alagoana de Judô – FAJU, participando de treinamentos e competições oficiais no Estado de

Alagoas, para o mesmo, se fazendo necessário um embasamento referente às questões das

individualidades, como também, conhecer os princípios e condutas pedagógicas4, tais como:

inclusão; reflexão; adaptação; ludicidade; motivação; diversificação; normas e regras; e

avaliação, caso contrário, influências negativas intervirão na vida dessas crianças.

Que prevaleça, nessa fase de iniciação esportiva, o enfoque da participação e do

desenvolvimento através de atividades com características lúdicas, de cooperação e

competição vivenciadas de forma conciliatória 5 . Para que isso ocorra, devemos ter a

consciência de que ao planejarmos uma atividade esta deverá estar bem elaborada, pois, ela

irá conduzir uma ação, confirmar ou corrigir os resultados com criticidade e, numa

fundamentação científica.

Várias são as escolas da rede privada e pública que propiciam a seus alunos essa

formação no Judô. No entanto, pouco se sabe sobre a orientação da prática pedagógica desse

esporte. Assim, busca-se resposta ao seguinte questionamento: Até onde os valores que

orientam os pressupostos pedagógicos da prática de Judô na escola estão coerentes com o

Projeto Político Pedagógico?

físico, mas com os componentes de ordem filosófica, cultural e psicológica e também política, pois ele objetivou reunir pessoas interessadas no desenvolvimento humano (DELIBERADOR, 1996, p.19). 2 FARINATTI, P. de T. V. Crianças e Atividade Física. Rio de Janeiro. Sprint Editora, 1995. 3 FARIA JUNIOR, A. Gomes de. Fundamentos Pedagógicos – Educação Física. Rio de Janeiro. Ao Livro Técnico. 1986. 4 FREIRE, João Batista. Pedagogia do Futebol. Campinas-SP. Autores Associados. 2003. 5LOVISOLO, Hugo. O princípio da cooperação. In: Reflexões – Conferência Brasileira de Esporte Educacional. Rio de Janeiro. Gama Filho/INDESP. 1996. pág.53-74. Num sentido mais preciso e também mais correto, jogar com fair-play significa que a ambição pelo resultado não pode fazer esquecer as regras nem as atitudes de respeito, físico e psicológico, com os praticantes que são apenas adversários, jamais inimigos, e dos quais precisamos para poder continuar exercitando-nos e recreando-nos com os esportes que praticamos (pág.72). O esporte, assim, torna-se uma atividade onde os homens devem e podem aprender que os fins devem ser atingidos utilizando-se meio legítimos. Nesse sentido, pode ser entendido como formador de cidadania e, também, como regulador da violência que emerge quando os atores pretendem atingir seus objetivos sem respeitar as regras de sociabilidade, convivência e relacionamento entre os homens (pág.73).

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Para obter resposta a este anseio, elaboramos outro questionamento – problema de

pesquisa, pelo qual utilizamos para verificar se a presente investigação atende os nossos

objetivos: Quais os pressupostos pedagógicos que fundamentam a Prática de Judô nas Escolas

da Rede Privada e Pública na Cidade de Maceió?

Este estudo tem como objetivo geral à análise dos pressupostos pedagógicos das

práticas do judô oferecidas nas escolas da rede particular e pública da cidade de Maceió. Os

objetivos específicos são: a) Identificar os aspectos referentes aos valores que são trabalhados

e que contribuirão no processo ensino-aprendizagem do judô; b) Verificar se os princípios

filosóficos desta prática esportiva são enfocados de acordo com a filosofia proposta pelo

Projeto Político Pedagógico da escola, que na sua maioria estão voltados aos princípios da

educação, dentre eles a formação para a cidadania.

Acreditamos que este trabalho será de grande valia para referenciar estudos

relacionados aos pressupostos pedagógicos que a escola utiliza quando em aulas do judô.

Entendendo que o trabalho de iniciação esportiva escolar ou mesmo a prática de educação

física necessitam de uma fundamentação teórica-prática apresentamos como interesse do

estudo diagnosticar, então como ocorre o ensino do judô na escola.

A partir da observação desses fatos que serão pesquisados, teremos um conhecimento

da situação acerca da prática de Judô nas escolas da rede privada e pública da cidade de

Maceió. Constataremos se há um embasamento, por parte dos professores que trabalham

nessa área, sobre os princípios filosóficos6 do judô proposto por Jigoro Kano, o criador do

judô.

Tem-se como intenção revelar se a prática do Judô nas escolas está voltada para a

educação e se o princípio da transdisciplinaridade entre educação, filosofia e cultura (arte,

tradição da sabedoria e pensamento oriental) trilham um caminho com os mesmos objetivos

de formação do indivíduo para cidadania. Espera-se que a prática do judô nas escolas não

esteja só como uma “prática esportiva”, mas sim como uma ação formadora, reflexiva, que

busca trabalhar os valores morais. Acredita-se que o judô através dos seus princípios

filosóficos pode contribuir para a educação de nossos jovens alunos.

Este trabalho recebeu a seguinte característica estrutural: Capítulo I - Marcos

históricos das lutas no campo da educação física e do esporte, onde fazemos uma

6 OIMATSU, S. The way of seiryoko zenyo – jita kyoei and its instructions. The Bulletin for the Scientific Study of Kodokan Judo, v. VI, p.3-8, 1984;

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retrospectiva da história da educação física e as práticas esportivas no ambiente escolar. A

prática do judô nas escolas. A pedagogia no campo das práticas esportivas. Ensinando esporte

na escola numa perspectiva de iniciação esportiva. A prática esportiva como elemento que

contribui na formação e integração do indivíduo no meio social. O ensino do judô

fundamentado numa educação em valores e atitudes.

Capítulo II – Procedimentos metodológicos, onde caracterizamos a natureza da

pesquisa, determinamos a população alvo e os instrumentos para a coleta de dados, e os

sujeitos do estudo.

Já no Capítulo III, efetuamos a Análise e Interpretação dos Dados Coletados.

E, por fim, a Conclusão do trabalho de pesquisa onde fazemos as nossas considerações

finais.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Marcos históricos das lutas como prática esportiva

Há várias décadas, a prática da Educação Física está voltada para o esporte,

valorizando-o culturalmente, principalmente quando no sentido de solidarizar ou mesmo

como integrador das pessoas que os pratica. E, ultimamente, esta afirmação vem se dando

como um fenômeno social de massa, se apresentando de formas multifacetadas como um

produto de promoção e de mercado, um verdadeiro produto de consumo. A prática esportiva

chegou a ponto de se tornar num verdadeiro instrumento de poder que muitas vezes tem o

controle das massas, ou seja, um sistema de práticas sociais e culturais, chegando mesmo a ser

objeto de estudos no campo da Antropologia, Sociologia, Psicologia, Filosofia e da

Pedagogia. Para Monteiro (1998), a evolução da prática esportiva deve ser vista como

indispensável para a compreensão de sua integração e das suas dimensões políticas.

As lutas são consideradas com uma das formas mais antiga de prática corporal do ser

humano, pois há evidências arqueológicas em grande escala demonstrando a existência dessas

atividades em vários países da Antiguidade, dentre elas as representações de combate em

duplas, localizada no Egito, datando a mais de 2000 anos a.C., fora os diversos sítios

arqueológicos encontrados na China, Japão, Irã, Pérsia, Mesopotâmia e Índia, temos também,

registros escritos tais como o Bagavad Gita, o Mahabharatta, Odisséia, Eneida e tantos outros

contos épicos que relatam a existência da prática de combates com fins voltados à formação

do indivíduo (SEVERINO, 1988).

Nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, combates de boxe, pankratium e lutas era

considerado de grande prestígio, chegando ao ponto, de serem realizados no último dia dos

jogos. Nos primórdios da humanidade estas práticas tinham uma característica mais utilitária

voltada ao bélico e tinha o aprendizado da luta como parte da educação do indivíduo (Índia,

China, Esparta e Atenas). Mas, com o passar dos tempos estas atividades perderam suas

características de guerra motivadas pelo crescimento do fabrico das armas de fogo nos séculos

XIX e XX. Tornando-se, assim, as lutas um processo de conservação do patrimônio da cultura

de cada nação guerreira, recebendo a partir daí uma maior atenção, pois, começaram a utilizá-

las no processo formador e educacional das sociedades, logrando-se, dessa forma um caráter

esportivo e ao mesmo tempo registrando na história a cultura das práticas guerreiras, não no

sentido de abater o adversário, mais sim de autodescobrimento, de superação dos próprios

erros.

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O Judô, introduzido no Ocidente pelos japoneses, ganha a partir da década de 50 um

número muito grande de adeptos, sendo a sua maioria influenciada pelas numerosas

competições nacionais e internacionais, onde grandes atletas se destacam reforçando assim o

seu aspecto esportivo, ou seja, a sedução pela competição. Entre outras modalidades de Artes

Marciais, o Judô recebe um maior destaque e aos poucos, os setores tradicionalistas começam

a valorizar a função educativa do Judô e os seus princípios pedagógicos simbólicos e

ritualizados sob a ótica da etiqueta, fazendo assim uma distinção entre o verdadeiro Judô e o

Judô esportivo. Pociello et al (In: MONTEIRO, 1998, p. 15), defende a idéia que “O judô

esportivo, se não for rigorosamente circunscrito, limitado, enquadrado e controlado, pode

constituir um perigo mortal para o verdadeiro judô”.

2.2 A prática do judô nas escolas

Monteiro (1998), ilustra em sua obra mencionando que o ensino-aprendizagem do

Judô pode ser caracterizado sob três referenciais que estão fundamentados para uma prática

educativa voltada à cultura física e a dimensão moral do indivíduo7, propósitos de Jigoro

Kano. São eles:

a)O emprego mais complexo e eficaz da energia ao mesmo tempo física e intelectual; b) Solidariedade pelo maior bem individual e universal; c) Elasticidade (fluidez e doçura) que, embora físico, para fazer maior bem deveria se estender, transportando-se ao plano intelectual. (MONTEIRO, 1998, p.38).

Pociello citado por Monteiro (1998), diz que a prática esportiva no mundo, após a

década de 70, apresenta em sua estrutura quatro principais funções sociais, assegurando a

prática esportiva como um produto na sociedade de maneira conjunta e concorrente. São

elas: a) uma função integrativa e federativa; b) uma função educativa e escolar; c) uma

função de espetáculo e de mídia; d) uma função lúdica e transgressiva.

O sentido moral da prática esportiva tradicional constituía como um exemplo de uma

verdadeira organização dessas práticas, onde cooperação e solidariedade eram os princípios

fundamentados e vigentes. Com o decorrer dos tempos, as práticas esportivas tomaram um

sentido imediatista para os praticantes que buscam o prazer, a autonomia, a solidão, a

7 TSUNEO (1994), diz que Jigoro Kano conceituava o judô em três maneiras: como um sistema de educação física (taiikuho judo), um sistema intelectual e moral (shushinho judo), e um sistema de arte marcial (sobuho judo). Os dois primeiros sistemas foram inspirados a partir da leitura da obra "Educação: Intelectual, Moral, e Física" de Herbert Spencer, publicado em 1861 que abordava sobre as teorias educacionais.

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cooperação mais limitada. Mas, graças aos avanços nos estudos e pesquisas feitas por uma

grande parte dos profissionais da área, a prática esportiva vem tomando um novo rumo e

sentido no meio educacional, e a função quatro classificada por Pociello (apud MONTEIRO,

1998), a função educativa e escolar é a que realmente vem crescendo.

A introdução da prática do Judô nas escolas ganhou foros curriculares na Educação

Física e conseqüentemente, a intensificação de troca entre o velho Mestre empírico, com uma

formação natural adquirida pela prática constante, pela presença de um professor com uma

formação acadêmica, especialista em Judô e em Educação.

Atualmente, na maioria dos países asiáticos, europeus e alguns países americanos, faz-

se necessário, além da graduação de faixa preta, o diploma de professor de Educação Física,

ou seja, bacharelado ou a licenciatura plena em Educação Física, recebendo estes

profissionais uma formação nas áreas biomédica, pedagógico-humanista, técnico-esportiva,

etc.

Monteiro (1998), dá-nos uma valiosa contribuição citando em seu texto o seguinte:

Para tanto não evoluímos apenas no sentido de sairmos do empirismo para uma visão científica no sentido puramente técnico-esportivo, preocupados apenas na formação de atletas, tendendo ao elitismo, passamos a adotar uma postura pedagógica adequada a um educador, onde enxergamos o homem como ser total, não só corpo, mas um corpo indissociado de uma mente.(MONTEIRO, 1998, p.49).

Até a primeira metade do século XX, a prática da educação física na escola era

caracterizada com fins para uma assepsia social, mas a partir desse período ela toma um novo

sentido, quando entra em evidência a Ginástica Desportiva Generalizada. Recebendo, assim,

as aulas de educação física um enfoque para as práticas esportivas, sobrepondo as demais

atividades como a ginástica, o jogo, a dança e as lutas.

Na década de 70, há a preocupação em trabalhar a metodologia e o enfoque é que a

educação física tenha como conteúdo as condutas motoras: lateralidade, coordenação,

equilíbrio, percepção sonora, tátil e visual. É nesse período que as práticas esportivas recebe

um grande incentivo por parte do governo federal, instituindo assim, os Jogos Estudantis

Brasileiros – JEB’s.

Fazendo uma retrospectiva conceitual do fenômeno esportivo e dando ênfase ao

desporto educacional, vemos que um processo de teorização foi lentamente desenvolvido.

Tubino (1993, p. 131; 1996, p. 9), cita Thomas Arnold (Inglaterra, 1828) como o primeiro

registro da concepção do esporte moderno quando aquele educador, ao codificar os jogos

existentes, institucionalizando-os, evidenciou toda uma função pedagógica nas práticas

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esportivas. Percebe-se, assim, que as práticas do esporte tende a seguir uma perspectiva do

campo pedagógico.

No Brasil, na década de 80, a Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro é

instituída com o objetivo de dar um novo conceito ao esporte praticado aqui no Brasil,

principalmente no âmbito educacional.

Em 1995, é criado o Ministério Extraordinário do Esporte e, o Instituto Nacional de

Desenvolvimento do Esporte – INDESP, pelos quais a política esportiva dá uma maior

atenção ao desporto educacional, estabelecendo os princípios fundamentais8 do esporte

educacional brasileiro: princípio da totalidade; princípio da co-educação; princípio da

cooperação; princípio da emancipação; e o princípio do regionalismo. Assim, o esporte

educacional é visto como fonte de formação para a cidadania dos jovens brasileiros.

2.3 A pedagogia no campo das práticas esportivas

Fundamentados em Bento (1991), Freire (2003), Sérgio (1985) e Medina (1983), mais

especificamente da área da educação física e, outros grandes autores que escrevem a respeito

da pedagogia, tal como, Gadotti (1997), Saviani (1996), Paulo Freire (1997; 2002), Libâneo

(1994; 2002), Morais (1986), dentre outros, podemos dizer que o ensino da educação física na

concepção da Pedagogia do Esporte deve estar fundamentado e deve ser ensinada visando

uma construção efetiva, tendo como prioridade a intervenção comprometida com as

responsabilidades da educação do indivíduo.

Nessa perspectiva, cabe ao professor o papel de conhecer as concepções

metodológicas, para a partir daí, saber o porque do como ensinar, o que ensinar, para que

ensinar e por que ensinar. Deve, então, o professor exercer a função de mediador/facilitador

nesse processo educativo. Não cabe ao professor ensinar apenas técnicas, mas sim, promover

uma integração dos participantes.

Atualmente, no campo da função pedagógica, deparamos com o surgimento de vários

manifestos, que também são chamados de documentos filosóficos, elaborados por entidades

internacionais referentes às práticas e as questões esportivas tidas como fenômeno social e

cultural, tais como: Manifesto do Esporte – CIEPs/UNESCO; Manifesto do Fair Play; Carta

Européia de Esporte para Todos; Carta Internacional de Educação Física e Esportes –

8 TUBINO, M.J.Gomes. O esporte educacional como dimensão social do fenômeno esportivo no Brasil. In: Memórias – Conferência Brasileira de Esporte Educacional. Rio de Janeiro. Gama Filho. 1996.

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UNESCO; e Manifesto da Educação Física – FIEP. A Carta Internacional de Educação Física

e Esportes em seu Artigo I, diz que a prática esportiva deve ser entendida como um direito a

todos os indivíduos. Isso veio a contribuir para que essas práticas não permanecessem apenas

em uma categoria, a do rendimento, mas abrangendo novas dimensões sociais como a do lazer

e da educação.

Ficando, assim, evidenciado que a prática esportiva do judô e demais modalidades

esportivas têm o seu valor educativo, mas cabe a quem vai trabalhar nessa área, no caso o

professor de educação física, a repensar a cidadania, a discutir a formação de “novos

cidadãos”, que são os atores sociais9 que lutam pelo cumprimento do que presumem ser o

fundamento da cidadania: o direito de viver à luz de suas próprias especificidades. Enfim, o

esporte educacional com objetivo de formação, fundamentado para os princípios sócio-

educativos, voltados ao lazer e a cidadania. Uma cidadania permeada de direitos e deveres

individuais e coletivos.

Por muito tempo o esporte apresentou para o mundo três atributos considerados como

principais: a regra, a competição e a institucionalização. Nos dias atuais, os esportes em suas

práticas institucionalizados enveredam no campo da Sociologia, e em muitas ocasiões as

inspirações institucionais destas práticas esportivas, não dão conta das características

antropológicas que elas comportam: a interação social que é o seu objeto; o envolvimento

desta interação, que é a forma como se situa; sua temporalidade e finalmente, os mecanismos

desta interação.

Nas práticas do judô, uma modalidade esportiva de origem asiática (Japão), percebe-se

claramente a mesclagem e a intervenção de diferentes culturas, oriental e ocidental,

produzindo um fenômeno sociológico de integração entre povos distintos. A aceitação e

respeito pelas diferenças étnicas, culturais, sociais e políticas, onde os princípios, regras e

fundamentos do judô, tornados universalizados, permitem essa união. E esse era o grande

ideal de Jigoro Kano, o criador do judô que coincidentemente eram os mesmos do Barão

Pierre de Cubertin, o encontro e união dos povos celebrados através dos Jogos Olímpicos10.

A prática esportiva juntamente com o cidadão é resultado de todo um processo

histórico-cultural das transformações sociais que ocorreram. Para alguns estudiosos, é no

plano dos valores, dos interesses, dos problemas e das necessidades que essas mutações

ocorrem.

9 FERREIRA, Nilda Teves. O esporte na formação do cidadão. In: Memórias – Conferência Brasileira de Esporte Educacional. Rio de Janeiro. Gama Filho. 1996. 10 Del VECCHIO, Fabrício Boscolo Jigoro Kano e Barão de Coubertin: nuances de um pré olimpismo no Oriente. http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 68 - Enero de 2004

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Monteiro (1998), que de uma forma clara e sucinta faz a complementação desta idéia:

Não estamos mais presos a modelos, aos poucos passamos a ver o homem como um ser uno, nos afastando da uniformidade, mesmo no que diz respeito aos gestos desportivos, respeitando o estilo de cada um. Nossa preocupação maior se encontra no indivíduo que tem a liberdade de escolha, indivíduos críticos e conscientes, que nos questionam constantemente e nos obrigam a crescer sempre, não tememos mais os questionamentos, mas evoluímos com estes, não aceitando a mesmice, a estagnação (MONTEIRO, 1998, p. 49). A prática pedagógica está articulada com uma concepção filosófica da Educação, que é uma pedagogia, segundo Luckesi a filosofia da educação é a aplicação dos princípios fundamentais de uma filosofia de vida à tarefa da educação, estabelecendo, o modo, o objetivo e o fim da educação. Se nós não escolhermos qual é a nossa filosofia, qual é o sentido que vamos dar à nossa existência? A sociedade na qual vivemos nos dará, melhor dizendo, nos imporá a sua filosofia. (MONTEIRO, 1998, p. 67).

Portanto, se faz necessário a definição de uma proposta pedagógica para a prática do

Judô fundamentada numa teoria onde os princípios metodológicos estejam concatenados as

propostas filosóficas da educação, trilhando assim, o processo ensino-aprendizagem, onde a

preocupação maior será a escala dos valores educativos, como também a definição de

objetivos. Agindo dessa maneira, os alunos reagirão de forma diferenciada a cada tipo de

prática executada pelo professor, pois estes alunos terão um desenvolvimento de suas visões

de mundo, de sociedade e das relações sociais mantidas em seu meio, onde Elias (1994, p. 63)

explicita como seres humanos como indivíduos e como sociedade. Aí sim, poderemos dizer

que educar é um ato de transmissão não só de um conhecimento instrucional, mas

principalmente na transferência de uma escala de valores que deve ser bastante refletida e

conscientemente aceita11. Uma educação com finalidades e sentido libertário e não opressor,

através de uma comunhão dos homens12 . Definido por Gebara (2002, p. 19) como um

processo participativo, crítico e socializante.

Em síntese, tudo o que vimos até o presente momento condiz com o conceito que

Libâneo (2002) dá para o termo pedagogia. Eis:

[...] é o campo de conhecimento sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos sóciopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa. (LIBÂNEO, 2002, p. 30).

11 WERNECK, Vera Rudje. O eu educado: uma teoria da educação fundamentada na fenomenologia. Rio de Janeiro. Rio Fundo. 1991. p. 47. 12 “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. In: FREIRE (2002, p. 52), A Pedagogia do Oprimido.

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2.4 Ensinando esporte na escola numa perspectiva de iniciação esportiva

Em toda sociedade é a escola o lugar onde o homem é tornado humano – é educado

e formado para o convívio social. Indivíduo construtor e transformador de sua realidade.

É a escola onde os seres convivem com seus pares, formam seus primeiros grupos

sociais. Mas, isso não é tão fácil assim, irá depender das perspectivas didático-pedagógicas,

dos métodos e metodologias que os educadores se agregam e propõem em trabalhar. E são

várias as tendências pedagógicas pelas quais os educadores trilham.

Focalizando a pedagogia numa perspectiva crítico-emancipatória 13 , podemos

abordar o enfoque da inclusão social. Sejam os ditos “iguais” que precisam estar juntos aos

demais ou os “diferentes” que necessitam conviver com os “iguais” para, assim, viver e

compartilhar dos mesmos direitos e benefícios. Serem iguais.

Para essa concepção – da inclusão social, é fundamental para os educadores ter uma

concreta noção de uma concepção de homem, mundo e sociedade. É tarefa, portanto, na

escola, dos educadores fundamentados na diversidade humana trabalhar as questões das

desigualdades humanas e sociais.

Re-significar a diversidade humana necessita de políticas sociais para efetivar

modificações em nossa sociedade. Assim, estaria de acordo com a Declaração dos Direitos

Humanos, que desde 1789, já pregava que “todos os homens nascem livres e iguais perante a

lei”.

E a escola vem tentando realizar essas modificações de forma conscientizadora

quando, através de uma prática da cultura corporal, leva os alunos a perceberem de forma

consciente as suas realizações cotidianas. Uma grande contribuição vem sendo dada pela

educação física escolar quando nas aulas os alunos vivenciam as práticas dos jogos e dos

esportes – partes do acervo da cultura corporal.

Na concepção de Kunz (apud LOVISOLO, 199-), estas práticas “é um bom lugar

para os estudantes desenvolverem sua capacidade de agir, de fazer, sentir, de praticar, de

acertar e também de errar”.

E Escobar (2005, p.11), alega que através dessas práticas (na perspectiva da cultura

corporal) os alunos são levados a sintetizar, analisar, comparar, abstrair, generalizar, pensar

criticamente e conceituar. Tudo isso os oportuniza a transformarem a si mesmo e o seu mundo.

13 Busca a reflexão crítica emancipatória dos alunos, tendo como áreas de base a Filosofia, Sociologia e a Política. Um dos principais autores no campo da educação física nesta perspectiva é Elenor Kunz com a publicação do livro “Transformações didático-pedagógicas do esporte”, inspirado nos pressupostos da Escola de Frankfurt.

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Especificamente em nossa prática nas aulas de iniciação ao judô no âmbito escolar,

enfrentamos algumas barreiras quando realizamos na forma do possível algumas atividades,

constadas no planejamento anual, na perspectiva da cultura corporal. É um trabalho lento,

pois, temos que dialogar com os alunos, e isso requer tempo. Minimiza um pouco o tempo de

duração da aula, mas, traz o grande benefício para eles - a oportunidade de construir, refletir,

agir, reconstruir suas ações.

Em algumas aulas, na parte de aquecimento e na parte final, resgatamos as práticas

de atividades/brincadeiras tradicionais que eles às vezes não conhecem. Jogos e brincadeiras

que seus familiares mais velhos vivenciaram. É muito gratificante saber que estamos

resgatando a nossa cultura. Um resgate não pelo modismo, mas, pelo prazer de vivenciarmos

novas ações, conhecer um pouco de história de outras épocas, povos, culturas. Tentamos,

assim, integrar todos na nossa história de vida através das atividades dos jogos e esportes, por

sua dinâmica sócio-motriz. Para Parlebas (1988, p.25), os jogos são fenômenos de

comunicação insólita, não observada em nenhuma outra parte.

Não é à toa que as práticas de jogos e esportes são realizadas no âmbito educacional,

pois, como práticas corporais são enfocadas por nada menos que: Marcel Mauss (técnicas do

corpo), Johan Huizinga e Roger Caillois (dimensão antropológica), Nobert Elias e Philippe

Áries (perspectiva sócio-antropológica), Joffre Dumazedier (sociologia do ócio) e outros

tantos.

2.5 A prática esportiva como elemento que contribui na formação e integração do

indivíduo no meio social

Do que foi exposto até o presente momento, dá-nos segurança dizer que a prática

esportiva com características e perspectivas humanísticas, onde através de suas diversidades

das realidades vivenciais permitindo fazer uma distinção entre esporte-espetáculo e esporte

práxis é a melhor forma para aplicarmos no contexto escolar. É no esporte práxis que

situamos o esporte educacional com princípios próprios e objetivos específicos, de acordo

com as ações educativas propostas, sendo ele um meio a mais de formação para a cidadania,

como também, para o lazer.

Para Freire (1997), ensinar exige responsabilidades, obrigações e princípios.

Portanto, cabe ao professor utilizar-se de uma metodologia que leve o aluno a ser crítico,

autônomo, possuidor de uma liberdade de expressão, reflexivo, enfim, que ele seja fazedor de

sua história no mundo. Tudo isso leva ao autor Jacguard (1989), a fazer a conceituação de que

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a educação deve ser uma construção da humanidade. Isso nos categoriza em afirmar que as

nossas aulas devem ter uma característica de possibilidades que permita a troca, o diálogo, a

interação, e não a estereotipação de gestos técnicos e a automação de movimentos.

O texto “Jogo e esporte na cultura corporal” cuja autora é Escobar, escritora

renomada nacionalmente no campo da educação física, contido no Módulo 3 - Manifestações

dos jogos, do Curso de Especialização de Esporte Escolar, publicado em 2005, é uma

confirmação da existência de um movimento ideológico que luta há quase três décadas

buscando uma conscientização de que a cultura corporal é uma das mais viáveis práticas de

educação física, onde o indivíduo deixa de ser um mero instrumento de reprodução de ações

para um ser construtor de movimentos enriquecedores para a vida cotidiana. Seja como um

formador de idéias e ações, seja como um transformador de opiniões e movimentos que faz e

registra a sua história de vida.

É óbvio que as práticas da educação física tem que deixar de ser uma prática

alienada e alienante das massas, onde os alunos se vêem como futuros campeões,

representantes da nação brasileira, vestindo uma camisa verde-amarela em busca da glória,

fama e sucesso. Indivíduos estes que são negados aos saberes reais e necessários a uma

sociedade. Sociedade amalgamada nos princípios de um capitalismo selvagem onde todos

devem superar a tudo em busca de um engrandecimento ilusório, passageiro. Um sistema que

privilegia a competição exacerbada, a reprodução de um consumismo desenfreado, onde “só

se dá bem quem investe mais”.

A autora, fundamentada numa práxis própria e nos princípios pedagógicos de uma

tendência transformadora crítico-reflexiva, faz uma abordagem a respeito das práticas dos

jogos e esportes na perspectiva da cultura corporal. Coisa não muito fácil, pois, é uma busca

que tenta/enfrenta de testa a desleal forma de informar a população de que as práticas

esportivas devem se dá de forma competitiva, fundamentada na competição capitalista. Onde

a primazia da superação se dá a partir da parte física, tão endeusada e glorificada pela mídia.

O destaque é um corpo forte e ágil regido pela estética do belo, a sobrepujança ao outro.

E isso tudo, é passado para os jovens como a forma ideal e correta, pois, é um

bombardeamento diário e constante da mídia para nós.

A ênfase é “praticar esportes”. Mas, o que se prima é a prática esportiva excludente

– vence o mais forte (patrocínio aqui é fundamental). Nunca foi tão fácil nesse país ganhar

dinheiro praticando algumas modalidades esportivas. Empresas estão aí proliferando

patrocínios, utilizando os jovens como objetos comerciais, objetos para uma boa campanha

publicitária, marketing das empresas.

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No âmbito escolar, os alunos querem reproduzir estes feitos, querem ser atletas,

querem praticar esportes, querem competir, ser vencedores. Os professores, alicerçados no

conhecimento científico, querem realizar uma prática de atividades que leve os seus alunos a

serem reflexivos, questionadores, transformadores, construtores. Que saibam contar suas

histórias sem ressentimentos, viverem socialmente integrados, enfim, seres prevalecidos de

valores socialmente construídos e vivenciados para uma melhor relação e seu meio social.

Como também, há os que primam por treinamento precoce, performance e as competições.

Com o intuito de minimizar estes conflitos, o governo federal implanta o Projeto

Segundo Tempo – no sentido de transformar as práticas dos jogos/esportes para o lado do

lúdico, da formação do indivíduo através da própria história dos alunos - a sua capacidade.

Mas também, enfatiza as práticas esportivas com caráter de performance, realizando jogos dos

escolares. Jogos estes que recebem altas verbas para as suas realizações. Isso torna um

processo complicador para nós educadores, pois, os alunos sabem dessas competições/jogos

nacionais, e todos eles almejam participar dessas competições.

O próprio sistema local em nosso Estado, através da Secretaria Executiva de

Educação, enfatiza as práticas dos jogos estudantis, pois é a sua seletiva para a versão

nacional, mas, no entanto, não prioriza uma educação física na perspectiva transformadora da

cultura corporal.

Para a questão em tela, faço a citação de quatro princípios pedagógicos propostos

por João Batista Freire, em sua obra “A Pedagogia do Futebol”, publicado em 2003, onde ele

faz referência para nortear o ensino dos esportes. São eles:

1) Ensinar esportes a todos

A proposta do autor é que todos participem da prática pedagógica. Que não só os

privilegiados que possuem um bom/excelente domínio motor jogue futebol ao nível dos

privilegiados, também joguem a aprendam a jogar o futebol.

Sabemos das dificuldades de colocarmos os não aptos para jogar justamente com os

chamados aptos. Mas, cabe a nós professores, utilizarmos o bom senso de que todos devem

participar da aula e, conscientizar e responsabilizar os mais aptos à ajudarem os menos aptos.

Devemos correlacionar as atividades esportivas escolares com o nosso dia-a-dia na vida

social, onde devemos ajudar uns aos outros. A partir daí, nos treinos técnicos faremos com os

mais aptos passem seus conhecimentos para os demais e, assim, poderemos fazer uma

atividade onde “todos” poderão participar.

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2) Ensinar bem esportes a todos

Para o autor “não basta ensinar; é preciso ensinar bem”14. Essa busca pela excelência

deve-se dar de maneira com que o professor não se apressa em querer que seus alunos

avancem rapidamente no processo de aprendizagem, mas que tenha a devida paciência para

que isso se dê de forma individualizada. Pois, há alunos que requer um maior tempo, outros

um menor tempo para aprenderem a praticar uma modalidade esportiva de boa qualidade.

3) Ensinar mais que esporte a todos

Nesse principio Freire, focaliza a importância do professor trabalhar com o aluno

respeitando a sua condição humana. Mais do que habilidades técnicas se devem dar

importância as questões relevantes às regras e normas, a convivência em grupos, a reflexão, o

dialogo, enfim, preocupar-se com a formação do ser cidadão.

4) Ensinar a gostar de esporte

O autor reforça a idéia de que devemos trabalhar fundamentados numa metodologia

voltada ao lúdico, com brincadeiras, ter uma relação afetuosa com os alunos, dar a liberdade

de expressão aos alunos. Enfim, fazer com que os alunos gostem do que fazem e, façam com

prazer.

Portanto, por que insistirmos em ficarmos trabalhando com uma metodologia

enfadonha, onde o autoritarismo impera?

2.6 O ensino do judô fundamentado numa educação em valores e atitudes

Quando Jigoro Kano elabora os princípios15 que norteiam a prática do judô como

modalidade esportiva na verdade ele estava preocupado com bem-estar social do indivíduo e

para isso almejava uma educação integral, ou seja, que através de suas ações físicas, mentais

e sociais o ser conviveria melhor no ambiente social. Bem-estar estar social para Habermas

apud Ghiraldelli Jr. (1994) são “formas de vida estruturadas igualitariamente, garantindo

liberdade de movimentos para a auto-realização e a espontaneidade individuais”. E a cultura

oriental prima por isto, pois, há uma preservação e uma ritualidade no aprendizado dos

14 Freire (2003, p.9) 15 KANO, Jigoro. Kodokan Judo. Kodansha International. New York. 1986. Bem-estar e prosperidade mútua (Jita Kyo Ei) – onde o ideal da existência humana se realiza, pois “benefício e bem-estar mútuo” transforma-se em “coexistência”. O bem-estar aqui citado não se refere no sentido de egoísmo, mas sim de altruísmo. Um modo de administrar a vida social humana, ao refinamento mental, a moralidade; Máximo de eficácia e mínimo de força (Sei Ryoko Zen’yo) – considerado como o princípio da gentileza. O ser humano visto como pessoa possuída de valores – determinação, julgamento, virtudes, esforço. Ser efetivo do meio social que necessita de uma relação cortês. Um ser que busca sua auto-realização como base da prosperidade humana; Etiqueta (Rei) – um dos princípios básicos do confucionismo que influenciou a cultura japonesa e que perdura até hoje, enfatiza a consideração para com os demais seres de uma relação.

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saberes pelos jovens através dos seus familiares com idades mais avançadas, preservam-se os

conhecimentos e sabedorias de seus ancestrais, além do mais, existe uma forte ligação dos

processos pedagógicos com as doutrinas filosóficas e religiosas como o taoismo, o budismo,

o confucionismo, o shintoismo e o zen-budismo.

Isto é confirmado na definição de educação constituída por Ghiraldelli Jr. (1994) após

a leitura das obras de Durkheim, Dilthey e Dewey. Eis: educação é o “fator social” pelo qual

a sociedade transmite seu patrimônio cultural e experiências de uma geração mais velha

para uma geração mais nova, garantindo assim sua continuidade histórica.

Entretanto, é perfeitamente comprovado que estamos vivendo numa sociedade

necessitada de valores, valores éticos e morais. Uma sociedade onde os indivíduos usam de

artifícios tais que de tudo é possível (permitido) para a obtenção do êxito, da glória, do cargo,

da função social, do dinheiro, etc.

Nas escolas percebe-se a preocupação dos professores, cada vez mais, sobre as

relações de conflitos que vivem rotineiramente geradas pela ausência ou esquecimento dos

valores morais necessários ao comportamento dos alunos. Isso ocorre nos ambientes

escolares. A partir daí indago: aonde os jovens devem aprender a comportar-se educado e

socialmente, a resolver os seus conflitos sem agredir os seus pares e demais, a ter um domínio

de si mesmo, a colocar-se adequadamente nos diálogos, a compreender, respeitar e ajudar ao

próximo?

Por exercermos a profissão de educador há três décadas e tendo como fundamento as

leituras pertinentes ao tema, dizemos com maior segurança que o local mais apropriado para

esta aprendizagem é o ambiente escolar (mesmo sabendo que educar é um dever de todos),

mas se o mesmo tiver como objetivo a transformação do indivíduo no que se refere ao

aspecto histórico-político-social. O indivíduo construtor de sua história.

Nesta perspectiva temos correntes pedagógicas que sedimentam a prática da educação

física escolar e das atividades esportivas no contexto escolar, tais como: construtivista,

crítico-superadora, crítico-emancipatória e os PCNs, pelas quais embasamos o argumento de

que a introdução e aplicação do judô como modalidade esportiva contribui na obtenção e

resgate dos valores anteriormente questionados, pois, um dos objetivos de Kano, quando na

criação do judô, era que a educação do indivíduo se desse de forma integral (uma escola de

vida contendo a formação física, técnica, mental, anímica, moral e espiritual).

Desde a sua criação até a momento atual, o ensino do judô se dá objetivando os ideais

do seu criador. Nalda (2006) diz que para o judoca perseverante em suas práticas aprendem a:

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-conhecer suas possibilidades e limitações, assim como as dos outros. -fazer o melhor uso de sua energia e de todas as faculdades e recursos. -conviver em paz com todos, desde a solidariedade, o respeito e o entretenimento. -ser pessoas autênticas, com idéias e critérios próprios, disposta a ser útil a sociedade em que vive. -se auto-proteger das agressões físicas. -ser mais forte e se adaptar as dificuldades ou contratempos. (NALDA, 2006, p.13-14).

Os valores humanos, éticos, espirituais, etc., são formas de conduta objetivando o

próprio bem-estar e o do próximo. Ou seja, ter um comportamento que não cause dano a

ninguém e, buscar um maior bem-comum. Estes valores são intemporais e universais, útil

para todo tempo e para todas as pessoas. Valores como honradez, constância, sinceridade,

otimismo, generosidade, etc., são importantes, pois, cada indivíduo cria uma valoração

diferenciada para cada um deles. Onde cada indivíduo, diferentemente, se identifica com uma

escala própria de valores.

O desejo de Kano em patrocinar uma educação integral para as pessoas mostra-se,

hoje em dia, ser bastante necessário, pois, se faz urgente implantar no contexto educacional

projetos de ensino visando uma educação emocional (emoções e sentimentos), corporal

(cuidados com o corpo), técnica ou física (racionalidade da força), psicológica (atitudes) e

moral (valores éticos), onde, a partir desta formação dependerá a qualidade de vida dos

indivíduos da sociedade em geral. Estes valores deverão ser ensinados conjugando a parte

teórica com a parte vivencial, através dos exemplos pessoais. Deve o professor expor e

vivenciar os valores de uma maneira tal que seus alunos aceite-os como próprios e incorpore-

os nas atitudes diárias de sua vida. Quando, como, aonde, com quem aplicar cada valor é

primordial para o aprendizado de cada indivíduo e, esta tarefa cabe a nós educadores.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Inicialmente, para realizarmos este trabalho efetuamos uma leitura bibliográfica e

documental referente ao tema, recolhendo e selecionando conhecimentos e informações a

respeito de um problema proposto por outros autores, colocando-nos mais a par da questão

ora a estudar. Posteriormente, este estudo ficou caracterizado como uma pesquisa do tipo

direta e para sua coleta de dados foi efetuada uma pesquisa exploratória de campo.

A característica metodológica deste projeto de pesquisa é de natureza descritiva,

pois há o interesse nas ações, nos significados, nas relações e situações das proposições

fundamentais teórico-práticas do ensino do judô nas escolas da rede privada e pública na

cidade de Maceió, tendo uma abordagem qualitativa, pois tenta focalizar os significados da

realidade em questão. Adotamos o tipo descritivo porque efetuamos observações, registros,

análises das respostas coletadas das entrevistas efetuadas, descrições e correlações de fatos ou

fenômenos sem interferir, descobrindo com precisão a freqüência em que os fenômenos

ocorriam e, conseqüentemente, sua relação com outros fatores.

População Alvo:

Professores16 de Judô das Escolas da Rede Privada e Pública da Cidade de Maceió,

que trabalham em um ou mais níveis de ensino (educação infantil, ensino fundamental).

Instrumento de Coleta de Dados:

Como ferramenta de busca ao material utilizado para este estudo foi escolhida a forma

de entrevista, pela qual utilizamos um roteiro de perguntas. Recorremos a entrevista porque a

mesma permite uma maior espontaneidade e dá mais flexibilidade a comunicação,

possibilitando intervenções e até mudanças na forma utilizada para se fazer as entrevistas e,

observações de aulas para detectar se existe a coerência entre a fala e a prática das atividades

propostas.

Para as entrevistas foram utilizados os seguintes recursos:

a) Roteiro de Perguntas, composto de 17 perguntas;

b) Gravador de Fita Magnética de áudio.

Quanto às observações de aulas, utilizamos:

16 Todos os professores entrevistados possuem o curso de licenciatura plena em Educação Física e têm graduação de faixa preta em judô outorgada pela Federação Alagoana de Judô – FAJU, e reconhecida pela Confederação Brasileira de Judô- CBJ.

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a) Roteiro de Observação;

b) Câmara VHS, para edição das gravações das aulas em fitas magnéticas de áudio e vídeo.

Sujeitos do Estudo:

10 Professores de Judô. Sendo que estes 10 professores trabalham em escolas da rede

pública e privada do Estado. Dentre estes 04 trabalham no Projeto Alagoas de Kimono,

patrocinado pela Secretaria Executiva de Educação do Estado de Alagoas atendendo 10

escolas públicas.

03 Aulas por Escola foram, a princípio, observadas.

Análise e Interpretação dos Dados:

A análise e a interpretação das falas nas entrevistas e dos registros de aula foi realizada

pela análise do conteúdo de Bardin (1979). A opção de escolha desta técnica foi devido à

abrangência de técnicas para executar a análise dos conteúdos e das mensagens coletadas de

forma quantitativa e qualitativa.

Dentro de nossa análise o fenômeno estudado (proposições fundamentais teórico-

práticas do ensino do judô), foi relacionado como o judô é praticado nas escolas da rede

privada e pública na cidade de Maceió por alunos de diversas faixas etárias e, sua coerência

com os ideais e princípios propostos por Kano, criador do Judô e com os pressupostos

pedagógicos da educação física.

A apresentação dos dados oriundos de nossa coleta ocorreu através do procedimento

da representação escrita, que segundo OLIVEIRA (2002, p. 228), “consiste em apresentar os

dados coletados em forma de texto”, os mesmos serão analisados dentro de uma perspectiva

qualitativa.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Numa tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e

outros fatores, apresentaremos neste capítulo uma análise discussão a respeito dos dados

coletados, através de questionário aplicado aos dez (10) professores de judô que foram

entrevistados e, as aulas observadas. O referido questionário é composto de dezessete (17)

perguntas. O objetivo da aplicação deste questionário foi de averiguar quais os pressupostos

pedagógicos que fundamentam a Prática de Judô nas Escolas da Rede Privada e Pública na

Cidade de Maceió.

Os professores entrevistados serão identificados, respectivamente, pelas letras “A”,

“B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “G”, “H”, “I” e “J”. E para melhor identificação destes professores

elaboramos o seguinte quadro:

Quadro 1. Identificação dos Professores

Vínculo

Professor

Tempo de Magistério Escola

Pública Escola

Privada

Projeto

Alagoas de Kimono

A 0 a 5 anos 01 01 01

B 10 a 15 anos ---- 01 ----

C 0 a 5 anos ---- 01 ----

D 15 a 20 anos 01 02 ----

E 5 a 10 anos ---- 01 ----

F 25 a 30 anos 02 ---- 03

G 10 a 15 anos ---- ---- 02

H 0 a 5 anos ---- 01 02

I 20 a 25 anos 01 01 01

J 0 a 5 anos ---- 02 01

Total 05 10 10

3.1 Respostas do questionário aplicado ao professores

1. O que é judô?

a) É um trabalho disciplinar que é feito na escola.

b) É uma filosofia de vida. É um esporte altamente educacional e, é uma autodefesa.

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c) É um estilo de vida, uma filosofia que foi muito importante na minha vida.

d) É uma filosofia de vida que podemos trabalhar como desporto como voltado para a

cidadania.

e) Judô é tudo. É disciplina, ele educa, faz com que controle suas energias. ele lhe dá

controle.

f) Judô é minha vida, todo o meu tempo de criança até agora foi o judô.

g) É minha vida. Faz parte do meu cotidiano, do meu ser.

h) Pra mim é uma lição de vida. Para o aluno é um meio para integrá-lo no meio social, isso

vai depender do professor.

i) É o caminho da suavidade.

j) É um meio educacional.

Para esta pergunta tivemos concomitantemente uma coesão de respostas onde os

entrevistados respondem que judô é: “uma filosofia de vida, disciplina, meio educacional,

caminho da suavidade e autodefesa”.

Podemos analisar as respostas dadas como uma filosofia de vida como uma forma

subjetiva/indireta de dizer que o mesmo propicia uma forma de viver equilibrada voltada para

o bem-comum dos indivíduos, pois, a busca Kano quando da criação do Judô era a formação,

a consciência do indivíduo de forma integral (judô como educação física dando o enfoque nos

treinos mental, ético e estético)17 – corpo, mente, espírito, social, político, cultural, enfim, o

ser humano como um todo e não fragmentado. Pois, ele via o judô como:

[...] o caminho para o uso ideal da força espiritual e física. Esse treino, através da prática da defesa e do ataque, aperfeiçoa não só o corpo e o espírito, mas também, a moral. Assim, pelo aperfeiçoamento próprio, tornar-se útil à humanidade é o objetivo principal do judô. (KANO, 1994, apud SHINOHARA, 2000, p. 35).

Tomando como referência este conceito, dois professores foram felizes em ter

respondido que é um “meio educacional” e, mais um professor que respondeu que o mesmo

está “voltado para a cidadania”. Outra resposta afirma que é um “meio para integrá-lo (o

aluno) no meio social”. Em síntese, todos eles afirmam que o processo ensino aprendizagem

do judô no meio educacional é um fim almejando o crescimento e integração dos indivíduos.

2. O que levou a trabalhar com o judô?

17 KANO, 1994, p. 22-24.

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a) Eu era atleta e me interessei pela educação física.

b) Meu “apaixonamento” deve a filosofia, a didática, a formação de caráter que ele permite

ao ser humano.

c) Os anos de participação no judô nos eventos, fez com que o judô fizesse parte da minha

vida como um todo e isso fez com que eu tivesse interesse em ensinar o que eu aprendi.

d) A disciplina.

e) Uns colegas lutavam, e me convidaram.

f) Gostar muito, como esporte, ação de formação de caráter, filosofia de vida.

g) Eu comecei a pegar gosto, comecei a gostar do judô.

h) Foi eu ter sido atleta e tentar passar aquilo que eu não tive pedagogicamente.

i) A perda do meu pai. De precisar me agarrar a algum norte na vida.

j) A minha experiência esportiva.

É interessante a predominância de atletas competidores de judô que seguem a carreira

do magistério. Todos os entrevistados foram atletas competidores estimulados a participarem

de forma excludente de competições que eram realizadas em épocas atrás, mas, que

absorveram os ensinamentos pregados pelos propósitos do judô como uma modalidade

esportiva – a formação do caráter e a disciplina.

Há um depoimento de um dos professores entrevistado de não ter recebido os devidos

ensinamentos pedagógicos adequados, por isso, trilhou o caminho do magistério do judô. Este

professor iniciou seus treinos no judô na década de 1990, recentemente, mas, que o seu

professor manteve uma linha pedagógica caracterizada pelo lado técnico-esportivo, tendo

como foco a performance, resquícios das décadas anteriores, 80 e 70 onde prevalecia o

ensinamento das técnicas, a competição e a superação.

Outro entrevistado cita a perda do pai e recorre ao judô para suprir a carência afetiva.

Temos aí, o judô propiciando um ambiente de integração, de autosuperação e de superação de

obstáculos diários, dentro e fora do tatame. Contribuindo decisivamente na formação do

indivíduo, pois, o mesmo é calcado de valores humanos (respeito ao próximo, autodomínio,

respeito às regras e normas, paciência, efetividade nas ações, dentre outros). O judô

trabalhado adequadamente e voltado à formação do ser social torna-se um grande

contribuidor, pois, estimula a reflexão dos fazeres de cada indivíduo quando no exercício

efetivo de uma ação, onde estes poderão trazer-lhes benefícios. Bem como, dependendo da

forma como é trabalhado e como é objetivado, causar-lhes malefícios.

A título de informação, todos os entrevistados têm a formação acadêmica superior,

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onde dois deles possui o título de pós-graduado em nível de especialização, assim como,

outros dois estão cursando.

3. Quais os princípios que norteiam a prática do judô?

a) Os fundamentos do judô – cair, desequilíbrio.

b) Individualidade biológica, respeito ao próximo, respeito as diferenças.

c) Respeito ao próximo; aprender a perder e vencer com a mesma dignidade, amor ao ser

humano como um tudo e o trabalho em grupo que é muito importante.

d) A ética, a moral, o respeito mútuo, a integração, a compreensão.

e) A disciplina. Faz com que você respeite os mais velhos e os mais novos, faz com que você

aprenda até a se respeitar também.

f) A disciplina.

g) O respeito, a humildade, saber ouvir os mais velhos.

h) Formar o homem de uma forma integral; físico, intelecto, moral.

i) Humildade, determinação, honestidade, disciplina.

j) O educacional.

Neste bloco de respostas há uma coerência com os ideais de Kano – formação integral

do homem através dos ensinamentos morais (humildade, honestidade, disciplina, respeito e

amor ao próximo), físicos (aprendizagem de técnicas para o domínio do corpo – os

fundamentos do judô), estéticos (cuidados com o corpo) e mental (disposição e determinação

para a aprendizagem dos ensinamentos). Portanto, o judô e apresenta como um meio

educacional do indivíduo para o convívio social fundamentado em princípios filosóficos.

Situando numa dimensão socioantropológica da relação homem-sociedade, podemos

afirmar que cabe ao homem ser sujeito construtor de idéias, valores e sentidos para a

efetivação das ações sociais e, para isso, deve estar alicerçado nos ideais filosóficos e

sociológicos de Marx, Weber e Hegel que nos dá um grande referencial para a compreensão

dos significados do viver humano no meio social (AZEVEDO, 2004)18. E o judô como prática

esportiva produz este fenômeno sociológico de integração dos indivíduos, uma das grandes

metas do criador do judô quando objetivou a introdução do mesmo nos Jogos Olímpicos.

18 Unidade 2 – Aspectos sócioantropológicos do esporte. Módulo I – Sociedade e esporte. Capacitação continuada – Curso de Especialização. Brasília: Ministério do Esporte/UNB, 2004.

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4. Quais os objetivos do judô na escola?

a) Não só formar atleta, mas fazer um trabalho interdisciplinar. Um trabalho educacional

voltado para a coordenação motora, noção de espaço, disciplina.

b) A formação do aluno, da criança, do jovem em si.

c) Socialização dos alunos; o judô aumenta a auto-estima, a confiança pra vida em geral,

não só pro tatame do judô, mas pra o tatame da vida.

d) Uma linha mais educativa ou de cobrança de resultado.

e) Objetivo lúdico, não o trabalho com judô competitivo.

f) A formação de caráter.

g) A socialização. Interagir com os alunos, passar seus conhecimentos.

h) Depende da visão da escola; como professor o meu objetivo é a formação integral,

respeitando as individualidades de cada um.

i) Educação global, através do judô; a formação integral do ser humano.

j) Ele pode auxiliar na parte educacional, na parte esportiva, orientando os alunos.

A formação do aluno, eis a grande síntese das respostas obtidas nas entrevistas.

Quando Freire (1997) diz que ensinar exige responsabilidade, obrigações e princípios,

podemos dizer também que para aprender se faz necessário este itens, pois, deve o aluno em

suas práticas (judô) assumir a responsabilidade de preservar a integridade física de seus

companheiros de treino; obrigações da higiene corporal; e exige que utilize dois princípios

humanos da boa convivência, recorrendo aos valores morais e éticos para a preservação do

bem estar comum.

Portanto, não é só formar atletas, formar campeões, mas atletas para a vida, campeões

em respeitar e conviver com as diferenças que cada indivíduo possui.

Seguindo estes parâmetros, abordamos a respeito do Projeto Segundo Tempo que

objetiva realizar uma conscientização e, conseqüentemente, uma transformação no agir dos

profissionais da educação física que exercem o seu papel de educador nas escolas públicas

brasileiras, onde o princípio da inclusão, socialização, participação, ludicidade, cidadania,

dentre outros, são os seus pilares e, fundamentado nesta perspectiva, como também,

alicerçado nos ideais de Kano – a formação integral do indivíduo, sugerimos a inclusão das

práticas do judô as atividades integrantes/vivenciadas no Projeto Segundo Tempo nas escolas

da rede pública dna cidade Maceió. Pois, com a nossa vivencia no magistério nesta prática e

nos fundamentos teóricos pesquisados, conclui-se que será de grande importância para os

alunos participantes vivenciarem a modalidade judô no meio escolar.

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5. De que forma é trabalhado o judô na escola?

a) É trabalhado de forma lúdica.

b) Em cima da formação do aluno. Da formação global e não só física. A intelectual,

moral e o caráter da criança.

c) Como eu trabalho com crianças, a faixa etária d 4 a 8 anos de idade, eu trabalho de

forma lúdica aprimorando as habilidades naturais.

d) Uma forma direcionada a interiorização da criança, do respeito com o próximo.

e) No lúdico, de você mostrar técnicas.

f) Das melhores formas de metodologia.

g) Na parte lúdica. Do desenvolvimento da criança.

h) Depende do corpo docente da escola, depende do professor.

i) Paralelo aos conteúdos da educação física e seguindo os períodos de formação da

criança, do adolescente.

j) Na escola se tem uma visão diferente, eles têm os resultados das competições utilizados

como marketing.

Tivemos a predominância da resposta “ludicidade”. Realmente se trabalha a

ludicidade, mas nos deparamos com ações contraditórias às respostas obtidas, pois

presenciamos o enfoque do fator/elemento competição quando executamos as nossas

observações às aulas propiciadas por esses professores. Falava-se muito em ganhar, ser

campeão, em festivais e competições. Dá-nos a impressão que o trabalho lúdico é um meio de

conquistar o aluno e fazer com que ele permaneça na prática do judô, onde na verdade seria

um elemento essencial na fase da vida de cada criança. Onde o jogo e as brincadeiras se

fazem necessários para o processo de descoberta através das riquezas no campo do simbólico

que essas atividades proporcionam. As mesmas permitem aos alunos conviverem como

dialogo, com a descoberta e não só com a estereotipo dos gestos técnicos e as formas

automatizadas de realizarem os movimentos.

A ludicidade é uma das estratégias utilizadas para motivar o processo da

aprendizagem quando trabalhamos com crianças. Para Rizzo Pinto (1997), “não há o

aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer”. Ludicidade como um meio facilitador

para a aprendizagem.

Podemos dizer que os jogos e as brincadeiras são formas mimetizadas e com bastante

humor das nossas ações diárias, sejam elas as já vivenciadas ou as que iremos vivenciar.

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Como também, a forma mais simples de conscientizarmos nossos alunos de que nossas ações

necessitam de certas normas e regras para serem efetivadas como ações sociais que permitem

a interação dos indivíduos. Onde não impomos regras, mas que aos poucos vamos mostrando

a necessidade da existência destas normas para que o processo de integração se formalize.

Se, realmente, trabalharmos nesse enfoque estaremos confirmando uma das respostas

que foi “a formação do aluno” como também, realço a “aprimorando as habilidades naturais”.

Devemos, pois, ensinar as crianças pela compreensão das ações e não pela ordenação de

execuções de tarefas.

Infelizmente, tivemos uma resposta alegando que a escola utiliza os resultados obtidos

pelos alunos para fazer marketing do estabelecimento, ou seja, o aluno como veículo de

propaganda e não como elemento numa fase de aprendizagem e desenvolvimento num

espaço/local onde deveria contribuir para a formação e não na exploração desse indivíduo.

É notória a cobrança efetuada as crianças que competem numa fase de vida

inadequada, de forma precoce, onde as mesmas são exigidas a galgar resultados, a realizar

ações que a sua idade ainda não permite, portanto, onde etapas de seu desenvolvimento são

queimadas. Contudo, que crianças teremos no futuro? Traumatizadas, revoltadas, afastadas do

convívio social por frustrações promovidas pelo seu meio educacional pelas glórias não

obtidas nos eventos esportivos competitivos? Enfim, que crianças queremos formar no meio

escolar?

6. Quais os elementos/fundamentos que são trabalhados como conteúdos pedagógicos?

a) É trabalhado de acordo com a proposta pedagógica da escola e com os fundamentos

técnicos do judô.

b) Os princípios que norteiam o judô. Na primeira infância a prática motora, correr,

saltar, etc. e um pouco da filosofia do judô.

c) A questão da prática do judô da teoria, as formas de saudação, como se comportar na

sala de judô, as técnicas mais elementares, e as habilidades naturais que podem ser

utilizadas.

d) O desequilíbrio, o agachar, as habilidades básicas da criança.

e) A brincadeira, onde você trabalha o desenvolvimento da criança.

f) Todos os fundamentos.

g) Instruir a criança, enfocando o lado da educação, trabalhando de forma simples pra

que ela não encare o judô como obstáculo.

h) Desenvolvimento, trabalhar com as habilidades motoras do indivíduo.

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i) Lateralidade, aguçar as partes básicas do indivíduo.

j) A questão do relacionamento, do respeito.

A perspectiva pedagógica mais recente e que efetivamente é trabalhada nas escolas

públicas, por uma recomendação do Governo Federal através do Ministério da Educação e,

que se efetiva nas escolas privadas é a dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais. Na

área da educação física recomenda-se para o ensino fundamental três blocos de conteúdos a

serem trabalhados não em etapismo, mas, de forma axial, interligados, numa convergência

onde todos servem de elemento complementar um ao outro. Ou seja, a prática esportiva

recorrendo aos jogos como um meio para alcançar os objetivos e facilitar o processo ensino-

aprendizagem; assim como, a ginástica como um elemento que contribui no desempenho

físico do aluno a estar apto a praticar o esporte que necessita dos elementos rítmicos e da

expressão corporal para dar uma estética aos movimentos. Para isso, o aluno necessita

conhecer o seu corpo para efetuar as ações desejadas ou propostas.

Figura 1

Fonte: Dimensões pedagógicas do esporte – Caderno 2. Brasília:

Ministério do Esporte/UNB. 2004. p.76.

Atrelado as propostas dos PCNs, as escolas fundamentam suas ações pedagógicas a

partir do Projeto Político Pedagógico - PPP, que é elaborado pela comunidade escolar

servindo como diretriz para a caminhada de um determinado período letivo. Na elaboração do

PPP discutem-se questões relacionadas aos problemas da realidade vigente e os meios

possíveis para as resoluções dos mesmos; questiona-se o aluno tal qual como ele é e traça

objetivos para o aluno que queremos; enfim, constrói-se um documento norteador objetivando

uma transformação no processo/meio escolar.

Voltando as respostas coletadas, apenas um professor responde que segue o PPP,

embora, um outro respondeu “instruir a criança, enfocando o lado da educação”, permitindo

assim que façamos uma suposição de que esse lado da educação esteja voltado e embasado no

projeto político pedagógico da escola. Outro professor respondeu que são os “princípios que

atividades rítmicas e

expressivas esportes,

jogos, lutas e ginásticas

conhecimentos sobre o corpo

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norteiam o judô” e, estes princípios são os filosóficos que na verdade busca uma melhor

relação social entre os indivíduos, o bem-estar comum.

Seis professores responderam que trabalham os fundamentos técnicos do judô e que

dão um enfoque as habilidades físicas motoras das crianças. Um respondeu que trabalha com

as questões referentes ao relacionamento e as questões do respeito, portanto, estes professores

se encaixam com a resposta do professor que respondeu que dava um enfoque a parte

filosófica que na verdade é um meio de educar o indivíduo através de reflexões e análises das

ações individuais e coletivas.

Outro professor respondeu que utilizava os recursos lúdicos para realizar suas aulas, só

que esta resposta se dá melhor na questão de número cinco, quando perguntamos: De que

forma é trabalhada o judô na escola?

7. E quais as suas relações com o processo ensino-aprendizagem?

a) Como esporte objetivo a formação do aluno e não só a competição. Mas a parte social.

b) Relação mútua entre professor e aluno. Onde respeitamos as experiências do aluno.

c) Esse processo é bastante agradável porque ao mesmo tempo em que a gente ensina a

gente aprende com a criança.

d) O processo em que a criança sente dificuldade e o professor interagindo com ela,

repetindo o movimento para a criança observar.

e) Se um dia você vai cobrar da sua criança, você vai lembrar da brincadeira que você fez.

f) É tudo voltado para a formação psicomotora da criança.

g) Colaborador, passando o que eu sei.

h) Oportunizá-lo com maior facilidade no dia-a-dia

i) Excepcional, é excelente pelo judô ter uma linha oriental e uma certa marcialidade.

j) Eu me sinto bem realizando isso, porque eu encontro resultado dos progressos.

Vale salientar que nesse bloco de respostas as mesmas não atingiram os objetivos

esperados, pois, a nossa intenção quando formulamos a pergunta era associando os conteúdos

trabalhados com o processo ensino-aprendizagem do judô. Só que, na sua maioria, os

professores responderam sobre a sua (pessoal) ação como professor na convivência com os

alunos em aula.

Em alguns momentos tentamos reformular a pergunta, repetindo em outras palavras e

pausadamente a pergunta, para que houvesse uma melhor compreensão por parte do

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entrevistado no que queríamos indagar. Eles relutaram, permaneceram respondendo ao

entendimento deles (talvez por comodidade ou mesmo por uma não coerência entre os

conteúdos e o processo ensino aprendizagem).

No entanto, quatro professores nos deram respostas como: uma relação social que

objetiva a formação do aluno, não só enfatizando a perspectiva tecnicista voltada à

competição. Tivemos uma outra muito parecida com a anterior, pois, o mesmo respondeu que

a relação é de formação da parte psicomotora do aluno. Outro professor respondeu que os

conteúdos propiciam uma maior oportunidade para as suas ações no dia-a-dia do educando. Já

outro alega que devido à disciplina que se é trabalhada no ensino do judô, pelo fato do mesmo

ter resquícios dos ensinamentos características das artes marciais oriental. Haver, portanto,

uma excepcional relação.

8. Qual a tendência pedagógica que você mais se identifica? Por quê?

a) Progressiva libertadora. Tem uma ligação com a ligação com a formação do aluno como

um todo.

b) Transformadora. Professor como agente transformador juntamente com os alunos.

c) A tendência do judô lúdico, pra vida, pra formar o cidadão de amanhã, o cidadão crítico,

responsável, corajoso, não o lutador, não o competidor.

d) O construtivismo. Onde a criança constrói, o professor trabalha apenas como mediador.

e) O cuidado, tipo pai, porque a criança está em desenvolvimento. Respeitando as etapas da

criança.

f) Na parte psicológica.

g) O social. Procuro trabalhar a parte social da criança.

h) A desenvolvimentista, porque o ser humano tem que estar sempre em desenvolvimento.

i) A tendência do educar através do amor.

j) O construtivismo, o lúdico.

Progressiva libertadora, Construtivismo, Desenvolvimentista, Crítico-social dos

conteúdos como tendências pedagógicas inovadoras e, Humanista como tendência tradicional.

Tendências que têm como objetivo não efetivar o paradigma tecnicista, mas, paradigmas

pedagógicos que levam a motivar as transformações dos indivíduos para o seu crescimento

como cidadãos construtores de suas histórias. Pois, uma perspectiva crítica tem e concebe o

aluno como sujeito de sua educação, onde o mesmo é um ser participativo do processo e não

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produto final (MEDEIROS, 2004).

Mas, para que esta perspectiva pedagógica se efetive, faz-se necessário ao professor

possuir qualidades necessárias para a sua práxis: compreensão da realidade com a qual

trabalha, comprometimento político e competência técnico-profissional. Complementando,

afirmamos o argumento da autora acima citada que qualidades/competências são necessárias

ao profissional da educação física. São elas:

• Conhecimento da Educação Física no contexto da educação e da sociedade; • Conhecimento técnico-teórico-filosófico a respeito da pessoa humana; • Capacidade reflexiva para analisar os diversos fenômenos que compõem a prática cotidiana; • Capacidade de realizar sua formação continuada; • Capacidade de produzir conhecimento; e • Capacidade de comunicar-se com seus interlocutores. (MEDEIROS, 2004, p. 62-63).

Podemos dizer que, embasado em Souza (2004), o professor fundamentado em uma

das tendências pedagógicas inovadoras tende a efetivar um trabalho voltado a educação

integral do indivíduo, pois, sai do prisma tecnicista e foca o aluno como um todo. Não

reproduzindo os gestos técnicos, mas, elaborando a partir da necessidade da ação.

Embora os PCNs estejam presentes em todas as escolas do Brasil, pois, todos seguem

as diretrizes do MEC e, este Ministério normatiza e fiscaliza a educação nacional através das

Secretarias Executivas de Educação dos Estados brasileiros, nenhum dos professores

entrevistados citou os PCNs.

Sentimos a necessidade de mais leituras por parte dos entrevistados a respeito do

processo educacional, como também a necessidade agregar e vivenciar a educação física

como uma disciplina integrada com as outras disciplinas. Ocorrendo o mesmo com o judô

como um conteúdo da educação física, onde na maioria das vezes é visto como uma prática

isolada no contexto escolar.

Contudo, além de todas essas fundamentações, se faz necessário que do lado do aluno,

o mesmo esteja disponível a participar do processo de transformação, senão, ficará difícil

agilizar/progredir essa mudança. Neste ponto, é de fundamental importância o papel do

professor em exercer com preponderância a função de motivador.

9. Quais as expectativas de seus alunos quanto à prática do judô?

a) Competir. Quando chega na adolescência ele muda o pensamento.

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b) A princípio é saber lutar, ser campeão. Mas cabe ao professor dá mais alternativas de ser

um bom aluno, bom colega, boa pessoa.

c) Eles fantasiam muito, porque a luta em si ela já nasce com a criança do sexo masculino;

eles fantasiam os heróis da televisão, dos desenhos e isso faz com que eles queiram

homenagear o pai, a mãe.

d) O judô está embutido no processo, não só na parte prática e técnica. Ele está na sua vida,

no cotidiano.

e) É a melhor forma possível.

f) Que eu possa passar para eles o lado bom da coisa, o lado filosófico, histórico e lúdico

do judô.

g) O aluno vê a prática do judô pensando na agressividade, na luta, porque é o que ele está

vivenciando.

h) Cada um tem uma expectativa diferente. Uns entram por amizade, por afinidade.

i) Eles acham que vão dar pulos e chutes, influenciados pela televisão. Eles têm uma idéia

errada do judô.

A partir das respostas obtidas e com a nossa vivência no judô, fica quase que explícito

que o judô recebe uma conotação errônea, ainda, em nossa sociedade, pois, visa-se uma

prática puramente esportiva voltada às competições. Na verdade e, apesar de ser realmente

uma prática/modalidade esportiva o mesmo, também, oferece oportunidades de efetivas

transformações, sejam elas, físicas, psíquicas, morais e sociais a seus praticantes, desde que

seja elaborado um programa de ensino voltado ao benefício, a transformação e a formação do

aprendiz praticante.

Sete professores responderam que as expectativas que eles fazem dos seus alunos é de

serem competidores. Justifica-se por um lado esta expectativa, pois, a mídia (escrita e

televisiva) dá um enfoque a parte esportiva no seu contexto competição. Com pouca

freqüência vemos e ouvimos reportagens abordando os benefícios e os

elementos/pressupostos pedagógicos que as modalidades esportivas podem propiciar na

formação e educação das crianças.

Num mundo capitalista não poderíamos esperar outra coisa senão essa tendência, pois,

através dos esportes (e é nas competições) que o mundo da publicidade e realiza num curto

espaço de tempo. Os atletas são endeusados e ao mesmo tempo coisificados em detrimento

aos anseios do mundo da venda de imagens. Promovem de maneira muito rápida, assim como

encerram com a maior facilidade possível a carreira esportiva de qualquer atleta. Um

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verdadeiro jogo de toma lá dá cá. Se houver espetáculo haverá estrelato e fama, caso

contrário, críticas e o esquecimento. Legítima exploração.

Havendo um projeto promovido por uma instituição/empresa com um cunho social e,

que a mesma seja conceituada nacionalmente, com certeza, teremos publicidade a respeito da

prática esportiva com fins educativos, de massificação da modalidade. Pois, é de praxe, nesses

casos, aparecerem os parceiros (mídia) como organizadores e realizadores e/ou mesmo co-

irmãos que se propõem a realizar um determinado evento.

Voltando as respostas colhidas, tivemos, também, como resposta que há uma fantasia

das crianças em relação da prática do judô (artes marciais) com os desenhos animados e os

heróis mostrados pelas TVs. Sempre o embate corporal acontece e movimentos, gestos

técnicas das artes marciais são corriqueiros nesses divertimentos.

Saltos, socos, chutes são reproduções que a mídia televisiva passa para os

telespectadores, mas, cabendo a nós, educadores mudar esse paradigma. Temos o poder de

conscientizar, formar nossas crianças numa perspectiva humanística, fundamentada no amor e

respeito ao próximo; a busca pela paz no mundo; os valores morais como elementos

fundamentes na educação do indivíduo.

Também, foi alegado que o espírito de luta já nasce com o ser humano do sexo

masculino. Puro engano, todos nós nascemos iguais, seja do sexo masculino ou do sexo

feminino, só que com o decorrer do tempo e da nossa formação incorporamos valores, ações,

conceitos (cultura) que vão aos poucos nos dando uma característica própria. Mas, tudo isso

influenciado pelo nosso dia-a-dia no meio ambiente social.

A agressividade pode ser observada no ser humano desde os primeiros anos de vida,

no momento em que disputam um objeto, brinquedo, mamadeira, etc., pode-se encontrar

indícios e características agressivas. À medida que adquirem meios para lutar passam a ser

abertamente agressivo com outras crianças e até com os adultos, é daí que começam a se

formarem as tendências agressivas que poderão aparecer mais tarde de acordo com o estímulo

que lhe for dado.

A agressividade é a expressão espontânea de um instinto inato. Essa teoria fala que

agressividade já é uma característica inata do ser humano e que ela será liberada ou exaltada

cedo ou tarde. Lorenz (apud RODRIGUES, 1991) postula que o instinto agressivo é uma

condição indispensável para o próprio progresso, para a autoproteção, e precisa ser

descarregado para o benefício da própria pessoa e da humanidade. O esporte e o exercício

físico surgem aqui como um meio, socialmente aceito, de descarregar essa energia negativa

que se acumula naturalmente no corpo. E o judô, aqui, é uma boa proposta para que as

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crianças descarreguem as suas energias negativas.

É importante que ao detectar as causas e formas da agressão referentes a um grupo de

atletas, a intervenção do técnico para a melhora do comportamento do seu grupo. A indicação

da prática esportiva adequada se torna evidente no que diz respeito à boa conduta dos seus

praticantes, que pode ser passado através de estratégias de condicionamento dessas situações

comportamentais. O professor deve deixar evidente o que é adequado e inadequado no

momento da prática, podendo com isso fazer total distinção do que é certo e errado.

Embora o meu foco não seja o de Relações de Gênero, essas tipificações são

interessantes no sentido de verificar o quanto de hierarquia (ou de uma suposta superioridade)

está presente no campo das convenções sociais a respeito da sexualidade masculina. Em

outras palavras, nota-se que através dos termos “atividade” e “passividade” encontramos

atribuições de dominação e submissão, instaurando uma relação hierárquica: a atividade

sempre é “apresentada como uma forma positiva de auto-afirmação masculina e significa

poder em relação à passividade”. A nossa sociedade criou um estereotipo masculino onde o

mesmo deve ser o dominador e, a mulher ficando relegada ao papel de frágil, passiva e

dominada.

De acordo com Cecchetto (2004),

Diversos estudos etnográficos dedicam-se a mostrar a recorrência, nas mais variadas sociedades, de uma espécie de característica intrínseca à aquisição da identidade masculina: algo a ser conquistado por meio de competições ou provas, Gilmore, destaca em seu texto, que será seguido por muitos pesquisadores, os aspectos sociais da masculinidade em cariais culturas, assinalando que socialmente nenhum menino “nasce homem”, mas “torna-se homem”, isto é, a identidade masculina não está assegurada somente por atributos anatômicos, como a posse de um pênis ou uma musculatura desenvolvida, mas sim pela filiação do individuo a um grupo e a determinados valores e condutas considerados masculinos. (CECCHETTO, 2004, p. 76).

Elias (1994) dá-nos uma grande contribuição teórica quando associa três elementos:

civilização, violência e masculinidade. Os significados atribuídos às funções corporais,

segundo o autor, são específicos de um habitus19, entendido como uma estrutura psíquica, que

se foi constituindo no Ocidente e em certos períodos da história. Ele mostra como as

19BOURDIEU (2003, p. 61) em sua obra O Poder Simbólico, ressalta a questão do habitus como uma forma pré-reflexiva de o corpo introjetar os padrões culturais, a experiência do mundo, transmutando-se em uma “política corporificada”. Ele demonstra como as formas de socialização mais cotidianas, na educação e no aprendizado, ocorre a incorporação das estruturas objetivas na construção da subjetividade, consolidando-se tanto nas categorias mentais quanto nas posturas corporais.

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transformações nas emoções corporais, em determinadas sociedades européias, desde o século

XVI, ajudam a entender a pacificação dos costumes ao mesmo tempo em que revelam uma

mudança de valor de masculinidade representado naquele contexto.

A Busca da Excitação, escrito em colaboração com Eric Dunning, Elias (1997)

observa que, as disputas com os punhos, o pugilato e pancrácio, na Grécia Antiga, sempre

eram encerrados com a morte de um dos participantes. Todos os tipos de golpes para

eliminação física eram permitidos pelas regras nos Jogos Olímpicos da Antigüidade. O

lema para os contendores era: violência e eliminação dos adversários. Contudo, em O

Processo Civilizador, Norbert Elias mostra como as emoções vão se modificando de acordo

com a contextualização histórica e, essas transformações devem ser articuladas com os

processos civilizadores.

10. O que você espera de seus alunos?

a) Crescer não só no judô, mas como cidadão.

b) Que ele absorva a filosofia do judô, as técnicas dentro das faixas etárias, ter sucesso.

Levar o judô para a sua vida.

c) Eu espero que eles realmente sigam o que eu passo pra eles, a questão da humildade, da

disciplina do corpo, da alma e do espírito.

d) Espero que num futuro bem próximo eles sejam crianças críticas, conscientes e

participativas.

e) Que eles sejam bons cidadãos, que mais na frente o judô toque eles; que eles sigam um

bom caminho.

f) Cidadãos de bem.

g) Que eles possam ser cidadãos de bem, que possam interagir em sociedade.

h) Que através do judô eles desenvolvam as habilidades, desenvolvam o caráter.

i) Que pelo menos eu passe para eles não só a parte do judô, mas a parte de formação de

vida integral.

j) Que ele leve para a vida dele uma coisa que não seja temporária.

O judô contribuindo na formação do aluno para a cidadania. Eis quatro respostas que

obtivemos. E, o judô formando para a vida (caráter, disciplina, habilidades, filosofia,

consciência), para a formação integral.

Em uma das respostas, um professor inclui as faixas etárias do educando, que devemos

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trabalhar respeitando as etapas que as crianças perpassam em sua vida. Principalmente quando

trabalhamos as questões das habilidades motoras, onde não devemos queimar etapas, como

também, as questões da formação do caráter do individuo, pois é nessa etapa, na infância,

onde as aprendizagens dever se dar de forma lúdica, espontânea, com descobertas,

construções de idéias e ações. Uma formação, enfim, fundamentada em valores, pois como a

maioria respondeu “o judô para a vida” e a nossa vida deve ser pautada no respeito e amor ao

próximo, em fazer o bem e conviver com as diferenças.

11. Como você avalia o processo ensino-aprendizagem do judô?

a) Deve ser refeito. Formar um conselho como tem a educação física. Falta um consenso no

que é ensinado nas escolas, pois quando chegam em campeonatos vemos crianças

executando técnicas inadequadas para a sua idade.

b) Através de observações no dia-a-dia.

c) A gente utiliza salas, a sala de judô, utilizamos também aulas teóricas, palestras lúdicas,

teatro, brincadeiras infantis.

d) A avaliação é um processo bastante complexo, porque se o indivíduo for avaliado no fim

do semestre pra mim isso não é avaliação. Eu acredito na avaliação que é feita

diariamente.

e) É bastante complicado. Têm muitos educadores, que se dizem educadores que vêem a

criança como um adulto em miniatura.

f) Pelo comportamento, pelo modo como ele está se apresentando na sala de aula, na

comunidade, em casa.

g) Da melhor forma possível. O judô está no seu dia-a-dia.

h) O ensino-aprendizagem tem que ser avaliado individualmente, respeitando a

individualidade de cada um.

i) Um processo contínuo buscando a correção visual, a relação aluno-professor, aluno-pai.

j) Quanto ao esporte de forma técnica é fácil de ser observado, mas quanto à construção do

cidadão você vai observar com o “olho clínico”.

Não podemos dar ao processo avaliativo o sentido punitivo e seletivo que

tradicionalmente (e que ainda hoje muitos professores utilizam) recorriam. Temos que

absorver o processo avaliativo como um meio pedagógico que diagnostica e dar um controle

qualitativo a vivencia do educando o meio escolar.

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Para Libâneo (1994), avaliação é um

[...] componente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes. (LIBÂNEO, 1994, p. 196).

Seguindo esta perspectiva, três professores responderam que utiliza observações

diárias dos alunos, tendo, assim, um maior controle do processo ensino-aprendizagem. Cinco

professores responderam que realizam observações a respeito dos comportamentos dos alunos

no se refere às relações dos mesmos com os outros, com os pais e com os professores, e que

se mantém um diálogo.

Diferentes das posições acima colocadas, dois professore responderam que se sentem

um pouco chocados com a atual situação em que passa e se dá o processo avaliativo aos

alunos praticantes de judô nos estabelecimentos de ensino da cidade de Maceió. Pois, o

processo se dá de forma quantitativa e não qualitativa, onde o aluno é mensurado por seus

resultados/desempenhos quando participam de eventos esportivos competitivos – os

chamados campeonatos. Para estes professores o processo tem que ser refeito o mais rápido

possível, pois, acarreta danos irreparáveis nas crianças (traumas psicológicos e,

conseqüentemente, sociais – insegurança, medo desigualdade, exclusão). Portanto, o

aluno/criança não deve ser visto, nem mesmo ser utilizado como um adulto em miniatura.

12. Qual a sua opinião a respeito da participação de crianças, na faixa etária de 07 a 12 anos,

em competições?

a) Deveria ser só torneio. Medalha para todo mundo.

b) Competição é uma palavra muito forte, fora da realidade nesta faixa idade.

c) Eu sou totalmente contra, eu vivenciei isso quando criança, isso me traumatizou muito,

porque quer queira quer não ela se torna desleal. Nunca se pode avaliar a parte técnica

de uma criança.

d) Se for a participação de um festival, onde todos são agraciados com a medalha eu

concordo, mas se for numa competição eu descordo plenamente.

e) Desde que essa participação não tenha caráter competitivo é excelente, mas se a partir do

momento que a criança começa a competir, para mim não é válido.

f) Eu não aprovo, aprovo somente em festival, onde não tem vencedor nem perdedor.

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g) Sou completamente contra, porque a gente não está fazendo atletas, está formando

cidadãos. Eu prefiro que seja feito um festival, uma brincadeira.

h) Eu não acho viável de 7 a 10 anos, mas com 11, 12 eu já acho legal.

i) É polêmico. O aluno tem que ser conduzido.

j) Eu não sou a favor da competição nessa faixa etária.

Dentre os dez, nove respondem que é contra o processo excludente colocar crianças

em campeonatos onde, no ideal, a participação em eventos lúdicos – os chamados festivais

esportivos, onde as crianças convivem com seus pares, sem o compromisso de mostrar que

pode e deve superar o outro, perante uma luta. Nessa faixa etária privilegia-se a participação

das crianças em eventos com características lúdicas, sócio-integrativas que contribuem na

formação das crianças como cidadão.

Dentre este grupo de professores que reprova as práticas competitivas numa faixa

etária tão precoce, um fica no meio termo, pois, respondeu que de 07 a 10 anos ele não

aprova, mas, na faixa de 11 a 12 anos acha viável. Outro responde que é complicado, o que

deixa transparecer que o mesmo está duvidoso e que absorve os dois segmentos. Na verdade o

mesmo se posiciona de forma dúbia, pois na prática, o mesmo está com seus alunos na faixa

etária em questão sempre participando de todos os eventos realizados em nossa cidade de

Maceió com características competitivas.

Infelizmente, sabemos que um grande número de estabelecimento de ensino privilegia

a participação de seus alunos em eventos esportivos competitivos como uma forma de

marketing com o nome de sua escola. Portanto, cobram-se resultados e participações de seus

alunos nos referidos eventos.

Isso vem de encontro aos estudos efetuados na área do crescimento e desenvolvimento

humano (Vygotsky, Wallon e Piaget)20 onde preconiza o respeito às etapas que o indivíduo

humano possui na sua história de vida.

Crescimento e desenvolvimento são processos complementares essenciais à função

humana. E, aqui se encaixam algumas colocações efetuadas por alguns professores quando

responderam que se deveriam respeitar as faixas etárias dos alunos. Na verdade, nesse período

é onde enfatizamos as questões voltadas às aquisições das habilidades/coordenações motoras

das crianças, requisitadas para a locomoção, manipulação e a estabilização corporal. A

evolução dessas coordenações motoras se dá através da interação e relação do sujeito com o

20 La TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M.K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1993.

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seu meio ambiente.

Citamos, ainda, as coordenações intelectuais que permitem aos indivíduos realizarem

correspondências, comparações, seriações e classificações do seu agir.

Podemos concluir que, coordenações motoras e intelectuais são preponderantes ao

indivíduo e que, juntamente a elas se fazem necessários os pensamentos e as imaginações,

pois, os mesmos levarão aos simbolismos de nossa vida. É, neste simbolismo que as

atividades físicas nesse período deve receber o caráter lúdico. Jogos e brincadeiras são

primordiais essa etapa. Por isso os professores responderam que deveríamos dar mais ênfase

aos eventos esportivos com características lúdicas.

Huizinga (2004), diz que “enquanto função cultural, a luta pressupõe sempre a

existência de regras limitativas, e exige, pelo menos em certa medida, o reconhecimento de

sua qualidade lúdica”.

13. O que é necessário para que uma pessoa possa ensinar judô em uma escola?

a) Formação acadêmica que dará um suporte na parte pedagógica e psicológica. Ter uma

formação continuada, fazer pesquisas.

b) Formação acadêmica que vai dar suporte pedagógico e psicológico.

c) Eu acredito que ele tem que procurar ser formado em educação física, porque muda

totalmente a formação tecnicista.

d) Isso é primordial, o professor tem que está qualificado não só com a parte técnica, mas

tem que está com seu.

e) Tem que gostar. Tem que amar o que faz e respeitar os limites do ser humano.

f) A formação acadêmica, através da federação, e deveria passar por uma banca

examinadora.

g) Cursar educação física, estudar, aprender o que é educação física.

h) Tem que ter pelo menos o conhecimento do que é a criança, do que é o corpo.

i) Formação profissional, estar graduado de preferência.

j) Além de ser uma pessoa que tenha vivenciado o esporte, ser formado, ser graduado na

arte e ser uma pessoa equilibrada psicologicamente.

Neste bloco de respostas tivemos por unanimidade que se faz necessário à pessoa que

almeja trabalhar no ambiente escolar exercendo a função de professor e, com isso, lecionar

conteúdos que a modalidade esportiva – judô, proporcione como contribuidora a formação do

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individuo, ter uma formação acadêmica. E, tivemos mais, manter uma formação continuada,

pesquisar, cursar educação física.

Nas respostas obtidas reproduz o conceito de que se necessita uma formação calcada

nos fundamentos da psicologia e da pedagogia. Gostar do que faz. Amar e respeitar os limites

dos alunos, como também, ter vivenciado a prática do judô.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 9394/96, exige-se que

o profissional da educação detenha a formação acadêmica 21 inerente à educação – a

licenciatura. E nesta determinação, quatro dos professores pesquisados que exerciam a função

de magistério sem possuir um curso acadêmico, resolveram agregar o curso de educação

física para a sua formação e qualificação ao seu exercício profissional. Isso foi um ganho

enorme para o meio esportivo onde temos o judô em evidencia nas escolas da capital

alagoana. Consideravelmente houve uma mudança na concepção de ver e ensinar o judô nas

escolas, pois, exercendo a função de coordenador de eventos estudantis esportivos, como

também, convivendo no meio federativo da modalidade, percebemos esta grande mudança

profissional pra melhor.

14. Qual mensagem você deixaria para os pais das crianças que ainda não praticam judô?

a) Possam juntamente com o professor passar para o aluno que o judô não é só esporte, só

técnica, mas que tem uma parte social.

b) Um esporte muito bonito e completo. Que se estiver em boas mãos o aluno irá progredir.

c) Recomendo o judô, eu acho que o judô é diferente de qualquer outro esporte pela seguinte

forma, o judô... dele pode participar uma pessoa de qualquer idade.

d) Quando verificares com tristeza de que nada sabes terás dado o primeiro passo no ensino

da aprendizagem.

e) Que conheçam o esporte, pois, conhecendo-o não deixarão de praticar o judô nunca. Que

procurem um bom profissional.

f) O judô como forma de vida é completo em todos os sentidos.

g) Que eles levem as crianças, que visitem escolas que tenham judô com pessoas

qualificadas.

h) Que ele tem que incentivar o filho a praticar atividade física, e para acriança seria

21LDB 9394 de 20 de dezembro de 1996 - Título VI – Dos Profissionais da Educação Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (http://grad.unifesp.br/alunos/cg/ldb/LDB.pdf. Acesso em 05/01/2007)

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interessante praticar o judô.

i) Conhecer não só o judô, mas qual o profissional que está ensinando a disciplina.

j) Não só o judô, mas as outras práticas esportivas. Eu sugiro que os pais incentivem os

seus filhos a passarem por algumas delas e decidir o que querem.

Para estas respostas poderíamos ordená-las da seguinte maneira: incentivar os filhos a

praticarem atividades esportivas; permitir aos filhos que os mesmos possam vivenciar

diferentes modalidades e, depois, deixá-los fazer a opção pelo esporte que deverá praticar.

Saber escolher o profissional que exercerá o papel de formador para o seu filho, pois, no

ensino do judô, o aluno não só vivenciará técnicas, mas, por ser uma modalidade completa

que objetiva a formação integral do aluno, o mesmo passará por momentos de auto-percepçao

e descobrimentos para o seu convívio social.

Neste sentido, podemos afirmar que temos o esporte da escola e não o esporte na

escola, pois, fins e objetivos são traçados visando à transformação do aluno como um ser

social.

15. Faça uma relação a respeito do trinômio judô-educação-sociedade.

a) Judô faz parte da educação, hoje em dia quase todas as escolas têm, é o esporte que mais

praticante tem. Os pais interagem com os seus filhos e os demais nas competições.

b) O judô está inserido como ferramenta na sociedade para formar o cidadão. A nossa

sociedade é muito individualista. No judô ele precisa do outro para treinar, e não treina

sozinho.

c) Judô ta ligado a educação porque foi criado por um educador, sociedade porque o judô

motiva o ser humano a conviver em sociedade.

d) Educar para crer, sem educação ninguém chega lá.

e) Está complicado, porque a sociedade quer ver resultado e a escola também, e gera

dificuldade para a criança e para o profissional, o que não é bom. Para mim está muito

difícil.

f) Judô, forma de vida para sociedade. Educa, forma.

g) Juntar o judô, a sociedade e a educação para que os três juntos posam formar o ser de

amanhã.

h) Esses três elementos têm que ser trabalhados em conjunto, a sociedade é o meio em que o

indivíduo vive.

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i) Um não funciona independente do outro.

j) Eu vejo cada um como um pilar de sustentação do indivíduo, há uma ligação entre eles

para o desenvolvimento social.

Tentamos nesta pergunta chegar ao entendimento de como os professores concebiam o

judô como uma forma de levar o indivíduo a um crescimento social, e uma cidadania plena

onde os ideais de Kano realmente fossem realizados – a formação integral do indivíduo

(físico, moral e social). Obtivemos respostas que foram positivas. Todos têm a visão almejada

pelo criador do judô.

Podemos neste bloco de respostas perceber que a importância das práticas esportivas

(judô) no ambiente escolar, onde o mesmo exerce o papel de contribuir na preparação do

indivíduo para o convívio social. Que os três se interligam, não há individualismo e sim, uma

unidade/coesão de propósitos que têm como produto final o bem-estar e desenvolvimento do

aluno.

16. O que é brincar?

a) É fazer parte de atividades que tenham fundamentos, uma parte pedagógica, o aluno deve

aprender brincando.

b) Existe a brincadeira sem nenhum objetivo, o brincar por brincar. E a brincadeira

direcionada pelo professor que leva a um objetivo: socialização, coordenação motora, vai

de acordo com o objetivo do professor.

c) Brincar é fazer as coisas de forma espontânea, livre, sem obrigação; leveza de

movimento.

d) É externar a sua maneira de ser, a sua maneira de interagir; soltar sua liberdade.

e) É ter prazer, é se satisfazer no que você está fazendo.

f) É recrear, recrear é educar, e educar é formar.

g) Se divertir, participar.

h) É aquilo que a gente faz com prazer.

i) É lúdico, é natural do ser humano, é externar a felicidade.

j) É manifestar o lúdico através da brincadeira.

Percebemos que um determinado grupo de professores segue a linha educacional que

prevalece a criança no ambiente escolar, na sua fase inicial de vida (educação infantil às

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primeiras séries do ensino fundamenta) uma convivência o processo ensino-aprendizagem de

forma lúdica. Onde se realizam as atividades de forma espontânea, interagindo com liberdade,

prazer, satisfação e felicidade. Essa é uma visão mais recreativa onde se objetiva o brincar por

brincar.

Obtivemos, também, outro segmento onde está mais identificado com a pedagogia,

tendo como objetivo o processo de socialização e o desenvolvimento da coordenação motora.

Um professor dá-nos a resposta que “brincar é recrear, recrear é educar e, educar é formar”

(formar para a cidadania).

17. E competir?

a) É, cientificamente falando, só a partir dos treze anos. Rendimento.

b) Diz respeito a faixa etária de adolescente para cima. O aluno tem que saber ganhar e

perder. Tem que ser com responsabilidade. O aluno preparado para competir.

c) É uma competição que não é externa, é interna; a pessoa só deve competir quando ela

estiver preparada.

d) É mais complicado. Você vai competir em nível de cobrança.

e) É complicado. Competir não é pra todo mundo.

f) É estabelecer regras, para que essas regras sejam cumpridas.

g) Desafio. Você vai mostrar o que você aprendeu.

h) É um pouco mais complexo. Ela não se atrela as escolas.

i) É uma conseqüência natural do brincar.

j) É um processo embutido na vida do ser humano.

Para este bloco de respostas podemos fazer uma análise de que a criança, por causa de

uma necessidade natural de movimento e de comprovar seus limites, mostra interessada pela

sua condição física, utilizando-a como medida para destacar sobre os demais (competição

social). Aproveitando-se deste interesse, cabe aos professores, adequar paulatinamente essas

necessidades com o desenvolvimento das qualidades físicas, sendo as mais convenientes a

capacidade aeróbica, a amplitude de movimento, a força dinâmica, a resistência muscular, as

capacidades psicomotoras ou coordenativas, o tempo de reação e a velocidade gestual.

O desenvolvimento da condição física na idade escolar é de fundamental importância

para os benefícios concretos que trarão para a saúde do indivíduo, pois o capacitará para uma

boa execução de tarefas esportivas e as destrezas motoras.

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As práticas esportivas competitivas qualificadas como de alto nível, tornou-se uma

manifestação universal e uma realidade de grande impacto social que, de forma alguma, não

nos passa despercebida. E isso, tem levado a exigências crescentes para a obtenção de

resultados excelentes conduzindo, assim, a uma busca e descoberta de talentos para esta

desenfreada necessidade – a competição. Diante destes fatos, surge a polêmica sobre a

conveniência do treinamento esportivo na infância, a magnitude e o grau de especialização de

uma criança numa prática esportiva. Hahn (1988), indica as seguintes objeções que incidem como riscos numa

especialização precoce:

1. Fisiológico – perigo da sobrecarga de treinamento para o desenvolvimento físico da

criança, afetando fundamentalmente ao:

• Sistema metabólico: transtornos menstruais nas meninas, desequilíbrios hormonais,

diminuição do peso corporal, etc.

• Sistema imunológico: redução das defesas do organismo frente às infecções, etc.

• Sistema locomotor: alterações no processo de crescimento, microtraumatismos

repetidos, que podem causar lesões ósseas (fraturas por stress).

• Sistema cardiovascular: diminuição da quantidade de hemoglobina, hipertrofias

cardíacas, etc.

2. Psicológico: no sentido que uma excessiva solicitação do psiquismo infantil frente a um

resultado, influi negativamente em sua personalidade.

3. Sociológico: já que pode ser anti-educativo e anti-social premiar a criança sobre a

afirmação dos demais.

Podemos também atrelar os riscos conseqüentes de um inadequado treinamento

esportivo numa fase precoce da criança. Tais como:

• sobrecarga;

• defeitos físicos derivados da prática esportiva de forma inadequada;

• mudanças no metabolismo;

• prática do treinamento facilmente manipulada;

• múltiplos abandonos entre os começam muito cedo;

• inadaptação social;

• excesso de sistemas autoritários;

• excessiva repetição e emprego de métodos analíticos;

• utilização excessiva do reforço;

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• desequilíbrios psicofísicos;

• limitação do desenvolvimento posterior e anulação de outros campos de ação;

• aumento da agressividade infantil; e

• excesso de responsabilidade.

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5. CONCLUSÃO

Nas práticas das artes marciais, mais especificamente o judô, propicia aos alunos

atitudes comportamentais que contribuem na sua formação como indivíduo social que

necessita de valores e atitudes para um bom relacionamento e convivência com seus pares.

Fundamentado nesta perspectiva, a do indivíduo como elemento que contribui, forma e

constrói sua história, e tendo a educação física como um dos principais parceiros para essa

formação, onde as práticas esportivas servem como um dos meios para atingir os objetivos

propostos no processo educacional, a formação do indivíduo, nos propusemos a realizar esta

pesquisa para descobrir se há uma efetividade nas questões pertinentes aos pressupostos

pedagógicos que devemos exercer no processo ensino-aprendizagem no ambiente

educacional.

Quais os pressupostos pedagógicos que fundamentam a Prática de Judô nas Escolas da

Rede Privada e Pública na Cidade de Maceió? Eis o nosso questionamento, pois, com a nossa

vivência no magistério, percebíamos que existe uma grande quantidade de alunos numa faixa

etária entre os 07 e 12 anos praticando e participando de competições de judô promovidas por

instituições de ensino e, mesmo federativa. A nossa hipótese era que estes alunos não

recebiam as devidas atenções que deveriam receber nas suas faixas etárias, tais como as

questões relacionadas ao processo de crescimento e desenvolvimento humano, a ludicidade,

as questões da formação do aluno voltado para valores humanos, morais e éticos, os

princípios filosóficos elaborados por Jigoro Kano para que o judô fosse uma prática

pedagógica voltada à formação integral do individuo, enfim, questões pertinentes à formação

do indivíduo humano como ser social.

Nosso principal objetivo era fazer uma análise dos pressupostos pedagógicos das

práticas do judô oferecidas nas escolas da rede particular e pública da cidade de Maceió,

como também, identificar os aspectos referentes aos valores que eram trabalhados e que

contribuem no processo ensino-aprendizagem do judô e, verificar se os princípios filosóficos

desta prática esportiva são enfocados de acordo com a filosofia proposta pelo Projeto Político

Pedagógico da escola, onde o tema cidadania é o seu principal foco.

Para a nossa grande surpresa foi nos depararmos com um projeto mantido pela

Secretaria Executiva de Educação onde tem como foco a integração e participação de alunos

das escolas situadas nas periferias da cidade de Maceió na prática do judô, o Projeto Alagoas

de Kimono, onde no ano letivo de 2006, tivemos uma participação efetiva de 700 alunos da

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rede pública estadual. O principal objetivo do projeto, segundo um de seus coordenadores é

que a prática do judô seja socializada e que todos tenham o direito de praticar uma

modalidade esportiva. Para isso a Secretaria efetuou a doação de kimonos para todos os

alunos participantes das 06 (seis) escolas integrantes do projeto22.

Dentre as escolas visitadas para efetuarmos as observações, presenciamos a vivência

dos alunos num clima descontraído, onde prevalece a ludicidade, respeito ao professor e aos

demais colegas, cuidados com o ambiente de aula (dojô), mas, também presenciamos o

enfoque dentre alguns professores para com os seus alunos o fator competir. Fala-se muito em

participar de competições, os meninos sendo tratados como campeões, o ensino efetivo de

técnicas não adequadas para a idade do aluno, pois presenciamos alunos/crianças executando

técnicas de quadril onde requer uma boa base (estabilidade) do aluno, assim como, uma

grande contração da região lombar e dorsal, e a sobrecarga que aluno tem que suportar para

tirar o seu adversário/oponente do solo. Na verdade deveríamos era presenciar os alunos

executando técnicas de pernas, pois as mesmas facilitam ao equilíbrio e minimiza o impacto

do colega que estará caindo, diminuindo o impacto com o solo (tatame).

Ouvimos algumas alegações de que os alunos executavam as técnicas não apropriadas

para determinadas faixas etárias devido os mesmos presenciarem os maiores, os judocas mais

velhos, executando-as. Mas, cabe ao professor orientar os pequenos sobre os riscos que as

técnicas indevidas poderão ocasionar-lhes. Embora as crianças se apresentem aptas a

aprenderem gestos motores como movimentos determinados culturalmente, não devemos as

mesmas vivenciem, pois não é o momento adequado em especializá-las em movimentos e

gestos especificamente esportivos. Mas, desenvolver as capacidades coordenativas e

promover o desenvolvimento de novos elementos, e a consistência e aumento da

complexidade dos movimentos básicos.

As questões pertinentes à formação do aluno voltada aos valores foram presenciadas

durante as visitas ocorridas, como também, nas respostas obtidas durante as entrevistas

realizadas com os professores. Há uma preocupação dos professores em efetivar uma

consciência nos alunos da necessidade de vivenciar sempre as questões do respeito ao

próximo, do coleguismo, da cooperação, da responsabilidade, dos deveres, dentre outros. O

22 Projeto Judô na Escola (Benício Dantas, Eunice Campos, Theonilo Gama, Alfredo Gaspar, Élio Lemos e Bom Conselho). O projeto é uma iniciativa do Programa de Educação e Desporto Educacional da Secretaria Executiva de Educação de Alagoas e tem o gerenciamento do professor Catarina, no qual acompanhou todo o evento juntamente com o presidente da Federação Alagoana de Judô (professor Nilson Gama). <http://www.federacaoalagoanadejudo.kit.net/noticias/exame02.htm>

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sentido de coletividade é enfatizado por todos os professores entrevistados. Regras são

estabelecidas e na maioria das vezes todas são cumpridas.

Há uma grande necessidade de se dá uma ênfase a parte histórica e filosófica do judô,

pois se torna essencial ao aluno/criança conviver com estes elementos formadores da nossa

história, pois, os mesmos despertam para as questões do bom relacionar e conviver perante os

demais.

A partir das leituras efetuadas para fundamentar e consolidar esse trabalho de

pesquisa, como também, as análises dos dados coletados, consideramos válida a nossa

intenção de que seja implantada a prática do judô no Projeto Segundo Tempo que atua nas

escolas de educação básica da Cidade de Maceió, pois, esta prática atende aos objetivos

propostos pelo Projeto – o esporte como elemento de integração entre crianças e adolescentes,

e como ferramenta pedagógica no ambiente escolar. Uma prática na perspectiva dialética,

onde o esporte não deve ser visto e praticado objetivando rendimento, mas, elemento

transformador do indivíduo social. Onde a prática da competição deve receber uma

característica conciliatória e não a da sobrepujança.

Percebemos uma coerência entre a prática da modalidade esportiva judô com a

intencionalidade do projeto que é a democratização das práticas esportivas nos

estabelecimentos de ensino com fins da massificação dos esportes como uma forma

socializadora, integradora, lúdica e formadora. E, não só como uma prática competitiva

excludente, onde os indivíduos se confrontam puramente com o intuito de vencer o

adversário. Onde as questões voltadas a relações pessoais, o respeito as diferenças, o amor ao

próximo, a cooperação, os valores humanos e morais não são enfatizadas e exercidas pelos

praticantes das modalidades esportivas competitivas.

O judô por sua riqueza de princípios fundamentados na filosofia, religião e cultura

oriental, onde há a valorização do indivíduo como ser social que necessita do outro para um

bem viver social, é regado de uma disciplina fundamentada na cortesia, no respeito aos mais

velhos, na ética, e na observância e cumprimento das normas estabelecidas para as atividades

diárias dentro e fora do espaço onde se exercita a prática do judô. O judô como prática

esportiva com finalidades educacionais pode trazer benefícios consideráveis aos seus

praticantes tais como: contribuir para o desenvolvimento das características motoras,

intelectuais, sensoriais, morais, sociais e afetivas; conhecimento do próprio corpo e do meio

ambiente; como também, autonomia e tomada de consciência.

Enfim, o judô como um jogo social, segundo Freire; Scaglia (2003), onde os

indivíduos disponibilizam as suas habilidades à disposição de um bem comum, ou seja,

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através dos contatos corporais efetuados nas práticas do judô, os alunos fazem descobertas do

seu corpo como também de seus parceiros de treinos/aulas e, a partir destas novas descobertas

realizam novas conceitos para as suas ações, sejam elas individuais ou mesmo coletivas. Portanto, conclui

estabelecimentos, onde privilegia os princípios da inclusão, adaptação, motivação,

diversificação, normas e regras, reflexão e ludicidade. Onde o desenvolvimento do aluno se

dá por inteiro (biológico, psicológico e social), mas que isto poderia ser melhorado, pois,

carece aos professores um maior embasamento, discussão e reflexão das questões

pedagógicas. Percebe-se ainda uma evidência às questões da aprendizagem técnica da

modalidade como uma forma esportiva, e isso é reconhecido por eles, que já é um grande

passo para uma futura mudança. Quanto às questões referentes aos valores que são

trabalhados, há uma preocupação em trabalhar a cooperação, respeito ao próximo, as atitudes

tomadas no dia-a-dia, enfim, existe o interesse em favorecer uma mudança nos

comportamentos sociais das crianças quanto aos problemas de convivência com seus pares e

grupos sociais.

Para Freire (1997, p.52-55-65), ensinar não é transferir conhecimento, ensinar exige

consciência do inacabamento e ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando e para

isso, deverá estar a prática do Judô nas escolas como um meio de levar as crianças à formação

da sua personalidade, onde os ensinamentos terão como principal objetivo à educação e não

com fins excludentes de competição – a performance esportiva, e para isso se fará necessário

uma boa qualificação e consciência profissional, onde não só o conhecimento técnico

específico aprofundado se faz necessário, mas, uma maior habilidade no trabalho com os

objetivos educacionais determinados.

Acreditamos, assim, que este estudo venha contribuir no campo pedagógico do ensino

do judô nos estabelecimentos de ensino da nossa cidade, como também, a necessidade da

implantação da prática do judô como modalidade esportiva nesses espaços quando e onde o

Projeto Segundo Tempo se faz presente objetivando contribuir no processo de formação dos

educandos. Portanto, servindo de elemento para reflexão e, para outros futuros estudos

acadêmicos.

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APÊNDICE

ROTEIRO DE PERGUNTAS USADO NAS ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES

1. O que é Judô para você?

2. O que o levou a trabalhar com Judô?

3. Quais os princípios que norteiam a prática do Judô?

4. Quais os objetivos do Judô na Escola?

5. De que forma é trabalhada o Judô na Escola?

6. Quais os elementos/fundamentos que são trabalhados como conteúdos pedagógicos?

7. E quais as suas relações com processo ensino-aprendizagem?

8. Qual a tendência pedagógica que você mais se identifica? Por quê?

9. Quais as expectativas dos alunos quanto a prática do Judô?

10. O que você espera de seus alunos?

11. Como você avalia o processo ensino-aprendizagem do judô?

12. Qual a sua opinião a respeito da participação de crianças, na faixa etária de 7 a 12 anos,

participando em competições?

13. O que é necessário para que uma pessoa possa ensinar Judô em uma escola?

14. Qual mensagem você deixaria para os pais das crianças que ainda não praticam judô?

15. Faça uma relação a respeito do trinômio judô-educação-sociedade.

16. O que é brincar para você?

17. E competir?