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A VIDA REAL DE MAOMÉ

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Page 1: A vida real de Maomé

A VIDA REAL DE MAOMÉ

W.H.T. Gairdner

Page 2: A vida real de Maomé

A Vida Real de Maomé

Ecce Homo......Arabicus

Por W.H.T. Gairdner

A ISLAMIC REVIEW (‘REVISTA ISLÂMICA’) — publicação semanal desta crescente religião – em sua 1917ª edição, traz o que ela mesma chama de ‘A EDIÇÃO DO ANIVERSÁRIO DE NOSSO PROFETA’ (1). Seu conteúdo, de capa a capa, é uma verdadeira exposição a respeito do fundador do islã, a partir da perspectiva de vários personagens, nem todos eles (aparentemente) pertencentes à congregação islâmica, que igualmente atribuem toda excelência a Maomé, repudiando, imediatamente, quaisquer faltas a ele imputadas, por menores que estas sejam. Os autores maometanos vão além e reivindicam para o profeta a posição de ser humano perfeito , exemplar e padrão ético supremo.

Meditamos por algum tempo sobre o conteúdo desta notável edição da mencionada revista; o artigo a seguir representa parte das conclusões a que chegamos após termos pensado um pouco sobre o assunto abordado.

Antes de mais nada, gostaríamos de protestar, com toda veemência, contra a maneira pela qual nossos amigos muçulmanos nos colocam, praticamente à força, em uma posição na qual somos nada mais do que algo miserável, o advocatus diaboli. Se o ponto em questão fosse simplesmente a apreciação ao caráter de um grande personagem histórico, um grande reformador, entusiasta, estadista, seja lá mais o que for, então, poderíamos até conceber tais argumentos e permitir que seus arautos cantassem sua grandeza e seus méritos, mencionando eventuais ‘manchas’, sem qualquer ênfase particular, como fatores pertencentes a seu tempo e contexto. Entretanto, já fizemos isso por tempo suficiente. Pois, ainda que nossos detratores tagarelem loucamente a respeito (como eles, supostamente, o farão), nós cremos e ousamos afirmar que as histórias e biografias a respeito de Maomé, que demonstram mais seriedade, contêm os comentários mais sóbrios e simpáticos e mais veracidade em todos os aspectos concernentes à pessoa do profeta, são algumas escritas por missionários cristãos ou por cooperadores destes missionários. Os autores cristãos seculares são muito mundanos ou, na maioria das vezes, extremamente desrespeitosos: erram o alvo ao tentar tratar secularmente o que é fundamentalmente religioso. Por outro lado, as obras de maometanos e islamitas modernos são incorrigíveis em seu estilo dissimulador a respeito de simples, mas desagradáveis fatos e, invariavelmente, tropeçam em extravagante luxúria. Mas, Muir estaria em busca de simpatia ou verdade religiosa? Quem o convenceu a respeito das inverdades ou mesmo da imprecisão de tais relatos? Ele nada mais faz senão reproduzir o conteúdo das fontes exatamente da maneira que sempre foram e a base de seus veredictos são afirmadas com perfeita clareza e imparcialidade.

Assim sendo, grandemente nos ressentimos de termos sido exibidos como meros detratores ou sido forçados a assim parecermos. Pois duas coisas parecem nos forçar, contrária ou voluntariamente, a, aparentemente, tomarmos esta posição: primeiro, a total desonestidade revelada na camuflagem e prevaricação dos fatos; e, em segundo lugar, o fato de que, a Maomé, seja atribuído muito mais do que o simples direito de ser chamado um grande e bom homem. Não, isso não bastaria: ele tem de ser o melhor, o perfeito fruto da Humanidade, o homem por excelência, o exemplo imaculado! E, em contrapartida, a figura de Jesus nos Evangelhos deve (nas respeitosas produções da imprensa islâmica) carregar consigo uma delicada insinuação de inferioridade (2), além de uma bizarra condescendência, dificilmente conciliando seu total desejo de simpatia; ou (segundo os autores do nível mais indecente) da mais grotesca forma de ataques auto-difamatórios. Resumidamente, Ecce Homo deve ser transferido do Nazareno ao Árabe.

Obviamente, aqueles que fazem tais reivindicações e estabelecem tais comparações acabam por tornar o silêncio impossível e, infelizmente, fazem com que o trabalho crítico a respeito da figura de Maomé se faça, pelo bem da verdade, inevitável. Entretanto, quando não há escolha, o trabalho não é mais o de um advocatus diaboli, mas, sim, o de um advocatus Dei. Tal intromissão inconseqüente nos valores éticos deve ser evitada a qualquer custo. As críticas, então, provenientes de nossa parte, baseadas diretamente nos fatos cujas fontes são as próprias autoridades árabes, não devem ser e não serão tidas como ‘intolerância’, nem tampouco depreciadas pelo fato de serem ofensivas ao perigoso elemento do público muçulmano. O apelo final, aliás, seria particularmente covarde se proviesse da serenidade protegida da área privada de uma mesquita na Inglaterra. A visão que devemos substanciar, sugerimos, é que, ‘A EDIÇÃO DO ANIVERSÁRIO DE NOSSO PROFETA’ nos dá uma bem-cheirosa versão o Profeta: que o verdadeiro Maomé era realmente um árabe do século VII, com (talvez) todas as virtudes de seu tempo e algumas que estavam além de seu tempo; também com muito da violência e pecados de seu tempo e contexto: e que, portanto, a reivindicação feita a respeito dele (e não por ele), de ser o ideal de humanidade e exemplo consumadamente eterno, seja, na verdade, perniciosa e, em nome do Deus da Verdade, deva ser rejeitada e resistida - wa la mu'akhadha fi dhalik.

Os comentários sobre a vida do Fundador do islã que pensamos ser requeridos pela verdade e justos, não devem provir de nós mesmos. Estes devem ser retirados diretamente dos registros feitos pelos próprios cronistas muçulmanos. Além disso, tais comentários não serão simples e vagas generalidades e, ainda menos, abusos vulgares: eles devem consistir da citação de exemplos específicos retirados das (ditas) crônicas que (de acordo com o editorial do exemplar em questão) são plenamente confiáveis: ‘os registros dos atos e palavras do profeta Maomé são excepcionalmente

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completos, fiéis e corretos’ (pg.3). Então, assim seja. Esperamos que, após esta análise, não tenhamos intentado nos livrar de incidentes embaraçosos através de uma ‘crítica’ absolutamente arbitrária. Não desejamos, entretanto, ouvir de tais pessoas que um tradicionalista como al-Bukhari, um historiador como Ibn Hisham ou um biógrafo altamente conceituado como al Halbi são incompletos, infiéis ou incorretos. A propósito, os incidentes em questão são exatamente do tipo que a crítica de al-Bukhari, Ibn Hisham e al-Halabi – e desnecessário é dizer que tais críticas são inevitáveis – permaneceriam intactos, pois incorrem naquilo que pode ser chamado de ‘partes prosaicas da biografia’; tratam-se dos incidentes mais completos, mais apuradamente definidos e mais fáceis de serem relembrados e, portanto, os mais fielmente registrados e transmitidos – o conteúdo histórico ordinário que, na vida de qualquer homem, é, intencionalmente ou ocasionalmente distorcido. Além disso, que proveito haveria no fato de abordarmos a questão a partir de uma crítica frágil, arbitrária e subjetiva das fontes destes três livros? Dois deles (al-Bukhari e al-Halabi) se encontram entre os dois escritores universais e mais populares em Dar-al-Islã. Os incidentes, portanto, foram aceitos em geral pelas mentes de milhões de maometanos por mais de mil anos – moldando seus pensamentos e ideais em uma opinião pública que é absolutamente perdurável e permanente. Por um milênio, a consciência universal do islã aprovou as crônicas de tais livros, nada encontrou neles que fosse censurável mas, ao contrário, achou em seu conteúdo tudo a ser estimado e admirado. Portanto, a partir do ponto de vista de ‘Maomé como o Ideal Moral’, tais incidentes são de igual importância e, a possibilidade de que um maometano levante, ‘a esta altura do campeonato’, a questão da atualidade histórica deste ou daquele incidente, se mostrará absolutamente irrelevante. Apesar de tudo isto, como já dito, a questão não pode ser levantada por maometanos em virtude de qualquer aparato crítico genuíno possuído por eles. O fato é que tal questão só pode e só é levantada, a priori, por aqueles que, ao se encontrarem entre cristãos e em meio a uma atmosfera cristã, recorrem a elementos das siras que não causaram (e que não causam) tantas dúvidas em um ambiente verdadeiramente maometano. Tais ‘escrúpulos históricos’ são, portanto, um simples e convincente tributo à superioridade moral e espiritual do ideal católico-cristão e à séria e decaída incompetência do ideal católico-islâmico. Nós lhes damos as boas-vindas como um sinal de que a verdade certamente triunfará e nós, transmitiremos a mensagem (3). Maomé e a “Ética da Guerra”.

Por um pleito especial e assumida superioridade, seria difícil derrotar o seguinte: "Se Deus viesse à Terra como o ‘representante ideal e guia da Humanidade’, como é dito a respeito da pessoa de Jesus, poderíamos ser mais beneficiados se Deus tivesse aparecido como um rei ou estadista. Ele poderia haver deixado melhores regras para a orientação de reis e estadistas cristãos da Europa e o mundo teria sido salvo deste verdadeiro pesadelo ao qual tem sido submetido por causa da ambição e da insolência de seus governantes. A Cristandade queria um Deus na pessoa de um general e um imperador ao invés de um ‘Príncipe da Paz’, para guiar as nações cristãs através do recente massacre da Humanidade. Ele poderia, então, ter-lhes ensinado ‘A Ética da Guerra’’ (4). Talvez, Seus preceitos e ações a esse respeito houvessem se mostrado uma melhor manobra nesta Guerra e em tudo o que gerou uma longa e sombria procissão de crueldade e sofrimento e um trágico e deplorável espetáculo de derramemento de sangue e afilção pela Europa. Isso, como se o espírito do cristianismo não houvesse firmemente evoluído e se transformado em um código internacional de decência e humanidade praticável na guerra, o qual foi vítima de deliberadas agressões por parte de alguns e justamente o que está levantando o mundo em sua defesa! Como se ‘reinar em prol da ordem’ pudesse triunfar onde o espírito e os princípios foram negados! Como se tanto os princípios como as regras tivessem impedido um só conquistador Otomano na Hungria, ou evitado que um Mahmoud ou Timur na Índia cometessem assassínios e atrocidades! Como se, desde os dias dos pais do islã até hoje, o Corão ou as Sunnas houvessem eliminado a ‘ambição e a indolência’, responsáveis por inúmeras guerras entre maometanos dos dias de Utman como dos de Mulai Hafiz! Como se o próprio Maomé, em todos os tempos em todas as ocasiões houvesse ensinado, por seu próprio exemplo, as mais nobres ‘éticas de guerra’! Só nos resta prosseguir. Convenções Hague do Século VII

A passagem em questão, bem como outras na mesma edição, parecem censurar métodos Prússios. Mas não há uma analogia real entre a maneira pela qual a Prússia eliminou os antigos tratados e convenções Cristão-Europeus e a resoluta maneira pela qual Maomé ignorou e destruiu algumas das mais sagradas convenções que davam identidade à consciência pública da Arábia naquela época e representava o melhor e mais nobre que os árabe possuíam até então? Por exemplo, um dos mais sagrados artigos da moralidade ‘internacional’, ou seja, ‘inter-tribal’ das Arábia era que, em todas as guerras e ataques, as tamareiras deveriam ser preservadas. No ataque ao Bani Nadir, entretanto, em A.H. 4, Maomé ‘ou queimou ou cortou’ as tamareiras dos Nadiritas – seu orgulho, sua glória e principal meio de sobrevivência. A narrativa é de Ibn Ishaq, o mais antigo biógrafo de Maomé (5), que continua: “Então, clamaram: ‘Oh, Maomé, não puniste atos proibidos de destruição e não censuraste quem quer que os tenha cometido? Como, então, podes tu cortar e queimar estas tamareiras?” (6). Nenhuma resposta foi dada a esta pergunta. E, que outra resposta haveria, senão ‘necessidade militar!’?

Esta não foi a única vez em que as consciências de seus próprios seguidores causaram desaprovação explícita a respeito de algum aspecto para o qual Maomé deu sua permissão (rakhkhas, ver Muslim, vol 2, pg. 20). Ainda assim, nada mudou. Doutra feita, ‘ele ficou tão irado que sua raiva podia ser vista em sua face!’. E os escrúpulos foram postos de lado pelo argumento de que ele era o mais temente a Deus dentre todos.Uma lei ainda mais santa do que a lei de proibição da destruição de tamareiras, era o tratado divino que proibia toda e qualquer batalha durante os ‘quatro meses sagrados’ – uma lei que tornou possível a vida social na Arábia daquela época. Somente anarquistas ou homens fora-da-lei sonhariam em infringir tal pacto. Ainda assim, em um dos primeiros

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ataques conduzidos a partir de Medina e lançados contra os Quraishitas, esta lei foi flagrantemente quebrada. A história pode ser encontrada em qualquer das biografias no capítulo sobre o ataque aos Kinana, no monte sagrado de Rajab. Um fato ainda mais interessante, acrescentado a este relato, foi descoberto nas tradições coletadas por Ahmed B. Hanbal. Segundo o relato, o comandante-em-chefe da operação era Sa’d B. Waqqas. O relato do próprio Sa’d pode ser encontrado traduzido em ‘A vida de Margoliouth’, pg. 243 (8). Nem todos os detalhes estão claros – de fato, deixar alguns deles em situação relativamente obscura, se fez necessário. Além disso, o incidente, em sua inteireza, foi assunto de não pouca controvérsia e muito sofismo. Entretanto, nenhuma obscuridade e nenhum sofismo podem explicar os seguintes fatos: (1) Maomé enviou Sa’d em uma operação bélica durante o Rajab. (2) O recentemente islamizado Junaiha ficou escandalizado. (3) Sa’d e seus próprios homens criam que haviam sido enviados para lutar durante aquele mês – e não esperar até o próximo. (4) Quando, ainda assim, eles retornaram de mãos vazias, o profeta tornou-se ‘vermelho de raiva’. (5) Ele imediatamente selecionou o inescrupuloso Abdallah B. Jahsh, que partiu com ordens confidenciais, cujo texto continha instruções bem específicas e definidas sobre atacar uma diligência que seguia sem escoltas sob a guarda do mês sagrado, mesmo que as ordens de fazê-lo durante aquele mês fossem reprováveis e inadequadas (litera scripta Manet!). (6) As ordens foram cumpridas e sangue foi derramado durante a trégua estabelecida. (7) O ato foi, ao final, propositadamente justificado por Maomé, em nome de Allah, e o escândalo causado pela manobra (9) foi convenientemente silenciado.

O desejo manifesto por parte de alguns apologistas de mostrar que Maomé não ordenou que a trégua fosse quebrada é valiosa no sentido de manifestar sua opinião com relação ao ato. Infelizmente para eles, os fatos lhes são contrários, bem como contra seu profeta.

Estupros cometidos por tropas muçulmanasTantas repercussões por causa das violações das convenções declaradas sagradas pela consciência social daquele tempo! Mas haviam outras violências e essas contra a própria Lei da Humanidade. Ouvimos aterrorizados os relatos de estupros que vão além dos limites do imaginável, durante a referida campanha: o que pensaria o público (e o que diria Woking), quando souberem que as tropas compostas pelos primeiros santos e mártires maometanos, comandadas por Maomé em pessoa, cometeram estupros no campo de batalha em, pelo menos, uma ocasião e sob circunstâncias peculiarmente chocantes? A ocasião foi logo após a derrubada de Bani Mustaliq junto aos poços de Marasi, quando muitas das duzentas mulheres capturadas da tribo (propositalmente chamadas de mulhers ‘ livres’ e não ‘escravas’, ‘Kara’im al Arab Halabi II, pg, 296) foram estupradas pelos homens de Maomé, com seu pleno consentimento (10)! Não pode haver dúvidas quanto aos fatos; eles são narrados por todos os mais reputados tradicionalistas e por, pelo menos, dois dos historiadores (11): tão verdadeiros são os relatos, que, em certo ponto da própria Shari’a, esta é estabelecida como referência para o incidente (12). As esposas estupradas tinham, em realidade, que ser trazidas de volta a seus maridos. Nos restringimos a não traduzir a passagem na íntegra pelo fato de esta ser, verdadeiramente, chocantemente imprópria. O preconceituoso Muir e outros historiadores cristãos (até mesmo Caetini!)... mantiveram-se em silêncio a respeito do incidente! Que sua generosidade, entretanto, não seja considerada como um veredicto silencioso de sua parte, como se declarassem o veredicto como espúrio. A autoridade é infinitamente mais forte, como vimos. Assim, quem poderia ter inventado tais coisas? E, mesmo supondo que o incidente é espúrio, foi e é aceito pelo islã como sendo a pura verdade – exceto, é claro, quando cristãos estão por perto!

Tampouco se tratou de incidente isolado. O próprio fato de, em pelo menos duas ocasiões, Khaybar (13), Hunain (14), Maomé ter de regulamentar o que poderia ser ou não ser feito com mulheres capturadas em batalhas, mostra suficientemente tal paradoxo. Foi em Hunain que ele, definitivamente, sancionou, contra os escrúpulos (ou a falta deles) de alguns de seus seguidores, que a captura durante uma batalha ipso facto dissolvia matrimônios (pagãos) anteriores (ver ‘Koran’ IV 22) e que mulheres casadas (e não somente virgens e escravas), cujos maridos se encontrassem vivos (e, na maioria das vezes, presentes), poderiam passar a ser de uso imediato (15) de seus conquistadores, contanto que certas precauções fossem tomadas contra gravidez. Deveríamos nós acrescentar tais prescrições à universal ‘ética de guerra’? Deportação e execuções em massaMais uma vez, abusivas deportações de pessoas indefesas incitaram, mais tarde, a indignação da Humanidade. Mas esta deportação foi feita sem quaisquer escrúpulos e em uma larga escala durante as guerras conduzidas a partir da Cidade de Maomé. Não devemos julgar a prática e as condições daquele tempo a partir do ponto de vista dos dias atuais? Mas… pensamos que o cerne do argumento da ‘Edição do Aniversário’ era mostrar que o exemplo e a prática do ‘Nosso Profeta’ servem para padronizar a moralidade (e, especialmente, ‘a ética da guerra’) para todas as eras!?

A rica e próspera tribo judia dos Qainuqas foi obrigada a pagar pela própria vida, submetendo-se a esta infame deportação. Eles foram levados em direção à Síria, onde simplesmente desapareceram da História. Pelo que podemos saber, ou pelo que dizem os muçulmanos, os judeus pereceram da mesma maneira que os Armênios deportados. Seus bens foram confiscados. É absolutamente impossível afirmar que aquela ocasião específica justificaria tamanha e assustadora severidade, já que o fato foi ocasionado por um desentendimento de ordem pessoal. A causa real deste incidente foi a incapacidade dos muçulmanos em ganhar os membros daquela tribo judia para a causa emergente, a Nova Ordem das coisas (16). O veemente argumento por parte dos apologistas é que Maomé era o de facto governante de Medina e que ele, em concordância com os líderes destas tribos judias, havia, virtualmente, entrado em acordo com estas tribos, de maneira que sua oposição foi, na verdade, uma trapaça por parte das tribos. Bem, não apenas ressaltamos que (a) o ‘Kitab’ de

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A.H. foi uma prescrição e não um acordo; (b) uma das tribos veementemente negou a existência de qualquer acordo com Maomé (la a 'qda bainana wa baina Muhammadin wala 'ahd) e os dois Sa'ds nada responderam em apelo ao Kitab (Hisham p. 675); e, (c) os Qainuqas, confessadamente, admitiram que sua reação não foi além de respostas irônicas e sonoras vaias (Hisham p. 545). Será que a perfeita ética humana aprovaria o assassínio premeditado de todos os homens de uma tribo por causa disso?

Aliás, estes Qainuqas somente escaparam de um massacre de dimensões catastróficas por causa da persistência do estrategista Abdullah Ibn Ubayy, e não à humanidade de Maomé. Tabari relata explicitamente que ‘os soldados vieram no intuito de cumprir a sentença do profeta contra os judeus que, então, foram amarrados sob a determinação pessoal do profeta para que fossem exterminados (17)’. Foi aí que Abdullah interveio; mas, como resultado de seu ato, seus ‘700 guerreiros’ teriam compartilhado o mesmo e horrível fim que sobreveio aos homens do Bani Quraiza (18), já que foi a persistência desesperada de Abdallah que fez com que o profeta se irasse e que a expressão de seu rosto se tornasse muito obscura’. O profeta ficou extremamente furioso ao ser obrigado a poupar aquelas centenas de vidas humanas.

Exatamente da mesma maneira, os Bani Nadir foram expulsos de seu país e tiveram praticamente todos os seus bens pilhados. As justificativas para este procedimento (na verdade, para toda a campanha contra os Bani Nadir), foram as mais ridículas e inconsistentes e, por isso, não suportariam a duas linhas de análise crítica. A acusação de trapaça, por exemplo, que ostensivamente justificava o ataque original, foi silenciosamente retirada. Não é, entretanto, como diz o relato do Corão (sura 58). Estes maus negócios de deportação foram, mais tarde, abolidos das práticas dos maometanos, já que representavam ‘maus investimentos econômicos’ e a ‘prática muito mais proveitosa de constituir o pagamento de um tributo por parte das tribos conquistadas, ‘dhimmis’, foi instituída’. Portanto, a tribo de Khaybar não foi deportada, mas passou a ser obrigada a pagar tributo.

Um destino ainda mais obscuro sobreveio aos Bani Quraiza, destino do qual os Qainuqas escaparam por pouco. Este povo havia certamente declarado Guerra aos maometanos e haviam ajudado a colocar Medina em grande perigo. Mas eles haviam visto o fim dos Qainuqas e dos Bani Nadir! A punição que recaiu sobre suas vidas foi indescritivelmente horrível, ainda que se agarrassem à esperança aparentemente satisfatória. É perfeitamente claro, entretanto, que, desta vez, nenhum Abdallah intrometido impediria o jorrar do sangue (20), ainda que, provido de um falso senso de honestidade, o profeta empregou uma estratégia ‘transparente’, pela qual a decisão fatal pareceria não ter sido a sua própria, mas a de um mediador aceito por ele e pelos próprios judeus. Entre 600 e 900 homens foram decapitados sobre uma vala em apenas uma noite! As mulheres e crianças foram tratadas como despojo. ‘A Edição do Aniversário de Nosso Profeta’ deveria ter adotado também estes valores, presumimos, como um exemplo das perfeita ética de guerra e como um elemento o perfeito ideal humano.

O mediador que tomou a fatal decisão (Sa’d) foi extravagantemente louvado por Maomé (21). Entretanto, sua ação foi, reconhecidamente, motivada por seu desejo ardente e incontido de vingança pessoal contra uma tribo que lhe havia causado um doloroso ferimento quando de determinada batalha. Na agonia de seu tratamento, ele clamara: ‘Oh, Deus, não permita que minha alma deixe este mundo antes que eu tenha me vingado dos Bani Quraiza’ (22). Este foi o mediador a quem foi dada a última palavra quanto ao destino dos Bani Quraiza. Seus sentimentos eram conhecidos por Maomé, que o selecionou como mediador da questão. É perfeitamente claro, a partir das evidências, que o morticínio havia sido pré-consumado. O que torna esta verdade ainda mais clara é a afirmação de um outro biografo (23) de que Maomé havia se negado, completamente, a tratar ou dialogar com os Bani Quraiza até que estes houvessem ‘se prostrado para receber o julgamento do Apóstolo de Deus’. Verdadeiramente, os Bani Quraiza se ‘prostratam’; em outras palavras, se colocaram sob seu poder. E só então a arbitrariedade de Sa’d foi proposta e aceita – mas não antes que o próprio Sa’d fosse forçado a aceitar tal arbitrariedade, pois este, primeiramente, havia recusado a tomar parte na questão e tentou desviar a responsabilidade para Maomé, mas recebeu a seguinte sentença como resposta: ‘ qad amarak Allahu na tahkuma fihim’ ou seja, ‘Allah te ordena que profiras esta sentença a respeito deles’ (24).

A partir de todo e qualquer ponto de vista, portanto, a evidência é simplesmente esmagadora que Maomé foi o autor supremo deste massacre. Sua própria tentativa de conciliar tal fato (e os neo-muçulmanos tentam transferir a responsabilidade para Sa’d) prova, meramente, que nem sua consciência, nem a consciência de Sa’d conseguiram descansar a respeito do trágico e obscuro incidente.O destino menos trágico dos Khaybaritas já foi mencionado. Entretanto, a campanha contra eles foi marcada por dois incidentes específicos de caráter peculiarmente chocante.

(1) Um dos judeus que se renderam, Kinana, era suspeito de possuir um certo tesouro que não entregara a seus conquistadores. Ele negou a existência de tal pecúlio, mas Maomé lhe perguntou se poderia matá-lo, caso o tesouro fosse encontrado, ao que Kinana assentiu. Um renegado, então, revelou o esconderijo no qual parte do tesouro estava escondida e, então, mediante ordem de Maomé, o pobre judeu foi torturado ‘até que entregasse todo o restante de seu tesouro’. Ele então teve seu peito marcado a ferro incandescente por diversas vezes, até que estivesse bem próximo à morte, quando Maomé o entregou a Ibn Maslama, que o sacrificou em vingança por seu irmão Mahmoud (25). Tudo isso, note-se, após a total rendição por parte da tribo de judeus e, simplesmente, por causa de uma questão de despojo. Esta foi apenas mais uma porção de hediondez e atrocidade às quais os primeiros santos do islã foram apresentados por seu líder. Devemos nós também adotar estes métodos como sendo um artigo de ‘a ética da guerra’, e, conseqüentemente, adicionar tais traços ao ‘perfeito ideal de caráter humano’?

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(2) A esposa do homem então torturado até a morte, a bela Safiyya (cujo pai e irmão igualmente pereceram entre as mãos de Maomé) tornou-se, a despeito de tudo, esposa do profeta apenas alguns dias mais tarde! O fato de que ela tenha desejado se dar como esposa a Maomé (e ela realmente o fez), apenas desperta surpresa e desgosto em relação a ela (26). Mas isto tudo não tem nada a ver como veredicto atraído pelo incidente. A coisa aconteceu porque Maomé concebeu uma paixão pela mulher. Já é passada a hora de que estas declarações ignorantes ou hipócritas por parte dos escritores neo-Maometanos (que dizem que todos as conexões de matrimônios e semi-matrimônios de Maomé ocorreram em função de razões humanitárias, políticas, etc., etc., e que as mulheres em questão eram idosas ou, por alguma outra razão, não eram nada atraentes) têm que chegar a um fim. Tais afirmações têm se tornado estereótipos entre os escritores apologistas, tanto do ocidente como do oriente. Mas elas são falsas e são produto de ignorância ou de falsidade. Examinemos soemente o caso em questão – e, a partir dele, os casos de Raihana e Zainab podem, por conseqüência, ser também julgados (27): os registros históricos trazem o caso às claras. A beleza da mulher envolvida na trama era largamente reputada e isso, com certeza, causava uma impressão imediata. Quando foi anunciado ‘Oh, Apóstolo de Deus, uma bela dama caiu entre as mãos dos Dahyas’, o apóstolo de Deus imediatamente (segundo o relato) ‘a comprou’ (28). O casamento foi celebrado com tal prontidão que chegou a desafiar mesmo a decente (e sagrada) lei de idda (29) e, finalmente, diversas circunstâncias especiais demonstraram a extrema complacência do noivo – que, como sempre, levou o harém às lágrimas. Em vista destes fatos (além do caso de Juwairiyya) (ver rodapé), os comentários do Sr. S.H. Leeder em B.N. pg. alcança as profundezas da inaptidão e da sutil mentira.

Ataques não-provocados“Maomé foi compelido a declarar Guerra, mas jamais uma espada foi desembainhada senão como último recurso para defender a vida humana e garantir sua segurança”, diz o Sr. Sadr ud Din, na “Birthday Number" (Edição do Aniversário), p. 23.

Seria essa, finalmente, a verdade? Os biógrafos (30) deixam bem claro que objetivo primário dos ataguqes planejados por Maomé era interceptar e capturar caravanas Makkans. Não há o menor indício nestes relatos a respeito de qualquer outro objetivo, nem tampouco de qualquer necessidade da instituição de operações defensivas. Ibn Sa’d, por exemplo, encabeça sua narrativa a respeito das Guerras do Profeta (al maghazi) com as palavas kharaga Hamza ya’iarid li’ir quraish, ou seja, “Hamza partiu a interceptar a caravana dos Quraish que viera da Síria rumo a Meca (31)’. Ibn Ishaq é igualmente explícito. De acordo com ele (32), a primeira expedição foi tão bem planejada (tanto militar, como estrategicamente) que tinha em vista não somente os Quraish, mas a completamente neutra Bani Damra, cujo território encontrava-se em ponto estrategicamente importante com relação a Meca. O documento promulgado por Maomé logo após sua chegada em Medina deixa claro, em seu artigo vigésimo, que ele via a si mesmo e a todo o seu povo em uma situação de franca hostilidade em relação aos Quraish de Meca (33). O envio de expedições interceptadoras foi apenas o resultado dos planos de batalha, e as espadas de tais expedições, geralmente, não permaneciam em suas bainhas. Assim, muito sangue jorrou, inevitavelmente. Mais tarde, à medida que o sucesso crescia, o bem mais valioso obtido pela participação na Guerra Santa era o direito de poder adorar ao redor da Kaaba, à maneira islâmica e, claro, finalmente, a Guerra Santa tornou-se o meio de conquista da Arábia (e, posteriormente, de todo o mundo) para o islã. Não há a menor evidência concreta de que o povo de Meca planejava hostilidades contra os muçulmanos após terem livrado Meca de sua desagradável presença. Com o pleno conhecimento de todas as fontes árabes (34) Caetani, em nota sobre este assunto (vol. I, pg. 423), é esmagadoramente conclusivo: "Qui (i.e. na primeira expedição) abbiamo vera e propria aggressione meditata: nessuna attenuante per necessità di difese: i Qurays non si davano alcun pensiero di molestare il Profeta in Medina." (“Aqui, vemos claramente uma agressão premeditada; não há atenuantes como ‘necessidade de defesa’: os Quraish nem sequer pensavam em incomodar o profeta em Medina’).

Compare estes fatos claros e lógicos com o fugaz comentário do Sr. Sadr ad Din, citada há pouco. Os Neo-Muçulmanos não dizem a verdade: este é o problema (35). Tanto alarde por causa dos primeiros ataques, nos quais, os registros fazem questão de mencionar (Ibn Sa’d i.3), ‘a primeira flecha foi sempre atirada por um muçulmano (As’s Ibn Waqqas) e a primeira gota de sangue derramado era sempre derramado por um muçulmano (no ataque do Mês Sagrado, ver no início desta seção). A partir deste ponto, tornou-se inútil tentarmos chegar à conclusão de quem foi o provocador e quem foi o provocado em cada conflito. Quando o todo de uma História é escrita unilateralmente pelos conquistadores, torna-se fácil pintar o conquistado, invariavelmente, como o culpado. Imagine a história da invasão da Sérvia escrita por historiadores austríacos em 2050 d.C., quando todos os sérvios tiverem sido destruídos ou absorvidos! Ainda assim, é freqüentemente possível ver que não houve provocações e, por isso, ninguém foi responsável por quaisquer provocações; portanto, a casus belli é indiferente para os historiadores muçulmanos em tais situações, uma vez que são treinados para pensar como se o mundo inteiro fosse Dar ul Harb e todos os habitantes não-muçulmanos de todos os países do planeta fossem uma real e suficiente casus belli. Vimos anteriormente que uma mera rixa pessoal ocasionou a extradição, que quase causou a dizimação dos Bani Qainuqa e que os Bani nadir também foram atacados por razões que, mesmo que sejam apresentadas, não resistirão ante a três linhas de investigação crítica. Mas, em outros casos, um só ato de violência tornou-se a causa, e mesmo a justificativa, do próximo ato violento, pois, os mais fracos são, sempre (e assim deve ser sempre), os culpados pela desgraça.

Tome, por exemplo, o caso de Khaybar. Caetani, a quem o Sr, S. Khuda Bukhsh nos indicaria para mais esclarecimentos, declara firme e explicitamente, que este ataque não teve, efetivamente, qualquer razão ou motivação justa, o que caracteriza a mais pura agressão arbitrária (36). Isto é moralmente correto, mas seria ainda mais acurado

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dizer que isto é uma clara evidência de que uma agressão foi o resultado natural e inevitável de outras anteriores. Observe a cadeia de circunstâncias que precederam o fato em questão:

1) os Bani Nadir são atacados e exilados, como vimos, sem causa;2) alguns deles, sob a direção de um homem declarado rebelde de nome Abu Rafi, se estabelecem entre alguns

de seus parentes, a tribo de Khaybar, uma localidade relativamente distante, na direção oposta a Meca. Perceba que os Nadiritas não foram impedidos ou constrangidos a não se estabelecerem ali ou em qualquer outro lugar. Eles eram perfeitamente livres quanto a isso

3) a presença de Abu Rafi entre eles, agora ‘justifica’ uma expedição, conduzida por Ali e sem qualquer aviso, contra a tribo de Khybar, sem qualquer resultado.

4) Maomé logra o assassinato repentino de Abu Rafi. O assassino é Abdallah Ibn Unais.5) Waqidi relata que os imigrantes Nadiritas começam a arquitetar uma coalizão com os Quraish em prol de uma

subversão contra o islã. Supondo que tal relato seja verdade, parece-nos um tanto ‘ingênuo’ da parte de Waqidi não fazer qualquer menção, por menor que seja, que uma expedição sem motivos e um assassinato de um hóspede no seio da tribo anfitriã, possa, com razão, ter algo a ver com a hostilidade dos Khaybaritas! Mas, até então, somente os exilados Nadiritas são mencionados nesta conexão. O despertar dos Kaybaritas se deu após o massacre dos Quraiza.

6) Waqidi (37) relata (ainda que, mais uma vez, nenhum historiador ou biógrafo esteja de acordo) que as notícias estarrecedoras a respeito do massacre dos Bani Quraiza alcançou Khaybar, onde uma indescritível consternação foi criada. Em uma reunião entre os Bani Nadiritas e os Khaybaritas foi proposto que, ‘já que é certo que Maomé atacará Khaybar em seguida, antecipemo-lo’. E, assim, tal proposta foi aceita (38).

7) O successor de Abu Rafi, Usair, também se torna suspeito e o plano de assassiná-lo é arquitetado, mas se revela impossível de ser realizado. Ainda assim, ele e seus seguidores são subseqüentemente destruídos, desarmados e sob salvo-conduto, sob as mais obscuras circunstâncias (ver a seguir) e pelo assassino praticamente profissional, Abdallah Ibn Unais.

8) Nada mais é relatado sobre Khaybar, mas os Khaybaritas são atacados em seguida, repentinamente e com força total, seis meses mais tarde. São totalmente despojados e suas preciosas possessões são divididas entre seus conquistadores.

Entendemos que uma clara investigação da cadeia circunstâncias que acabamos de citar (reunidas pela primeira vez aqui), mostrarão, claramente, quão desesperada era a situação de uma tribo como Khaybar que, originalmente, sem dúvida alguma, simplesmente desejara ser deixada em paz. Até o final do capítulo, não se encontra qualquer indício de que uma negociação com os Khaybaritas sequer tenha sido proposta. O ataque caiu sobre a tribo, como um raio, sem qualquer declaração de guerra ou mesmo sem qualquer atrito entre os dois lados. Ainda assim, ‘nunca’ uma espada foi desembainhada, a não ser ‘como um último recurso’ blá, blá, blá…(Sr. Sadr um Din) e, além de tudo, devemos enxergar nisso “um exemplo de ética de guerra” – e, presumo, também de diplomacia! O fato é que a teoria “eu te destruirei por temer (ou fingir temer) que me atacarás”, com a qual temos sido familiarizados também em nossos dias, é catastroficamente perigosa nas mãos de qualquer um que, desde o princípio, está determinado a ser o vencedor. É ainda válido ressaltar que, quando o mais fraco começa a pensar em agir segundo a mesma teoria (se é que o relato de Waqidi pode ser considerado fiável) suas ações devem ser consideradas como sendo uma agressão não-qualificada e o ‘contra-ataque’ torna-se um ato de mera defesa! Assim, é impossível que o mais fraco, sob tais circunstâncias, esteja com a razão ou que o mais forte esteja errado. Além disso, é válido notar que os Khaybaritas não tinham a menor dúvida a respeito dos princípios e práticas de Maomé em tais assuntos e, por isso, seu complô, se realmente houve um, foi o simples resultado do desespero gerado pelo conhecimento. Nem mesmo Waqidi afirma a existência de quaisquer más intenções anteriores por parte dos derrotados (39).

Inútil seria prosseguir na investigação a respeito do caráter (se justificáveis ou não) das muitas campanhas daquele período ou estudá-las a partir do ponto de vista da ‘ética da guerra’. Entretanto, apenas para demonstrar o quanto os muçulmanos nem sequer se importaram nem mesmo com a simulação de ‘estarem em paz até serem provocados’, mencionaremos as expedições contra cristãos de Duma e contra Mídia, ambos no extremo norte da Arábia, distantes muitos dias de jornada. As autoridades não têm muita dificuldade em mencionar a causa da ofensa. Em verdade, não houve qualquer causa. No caso do último ataque (40), totalmente desprovido de qualquer causa, muitas mulheres e crianças foram capturadas e deportadas para Meca, onde foram vendidas como escravas. (os santos maometanos estavam a ponto de vender as mães separadamente de seus filhos, mas o profeta interveio). Agora, perguntamos, existe sequer um único aspecto em que este procedimento seja distinguível de um vulgar ataque escravista? Devemos também incluir isto em nosso conjunto de ‘ética de guerra’? E onde está agora o homem que “jamais puxou da espada a não sem como último recurso para defender a vida humana e garantir sua segurança”? O que teriam dito os maridos destas mulheres midianitas a respeito deste argumento insípido e vergonhoso? Gostaríamos que Woking pudesse tê-lo ouvido. Governo através de assassinatoKipling, de modo relativamente sábio, comenta a respeito de um certo Ameer que, como outros chefes de estado, governa, não como deveria, mas como pode. De acordo com tal axioma, as várias atrocidades ligadas ao governo de Maomé são geralmente justificadas. Merece ser lembrado o fato de que não havia um governo estabelecido na Arábia, nenhuma constituição, nenhum código internacional, nenhuma legislatura e nenhum poder judiciário. Um homem que se tornasse suficientemente poderoso em qualquer distrito, se tornava também o regente de facto e, portanto, de jure, e, doravante, seus conterrâneos lhe seriam submissos ou sofreriam as conseqüências. Hostilidade, mesmo da parte

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daqueles que jamais desejaram seu domínio, era considerado crime de alta-traição e poderiam ser punidos da maneira que melhor parecesse ao, agora, soberano. Em outras palavras, Maomé era um filho de seu tempo e, por seu tempo, suas ações deveriam ser justificadas. Feito. Tal fato, como dissemos no início, pode e nos faria excusar qualquer homem comum, cuja história de vida esteja sendo contada no contexto e para inspiração de seu próprio tempo e, caso os maometanos se houvessem limitado a esta métrica, pouco teríamos a criticar. Mas, como se aplicaria tal parâmetro à posição da Edição do Aniversário, que afirma que a vida do profeta é de total beleza, não relativamente, mas absolutamente, que ele é o ideal humano pelos séculos dos séculos e que a partir de sua vida, podemos construir a ética, não somente a da guerra, mas a ética verdadeira e universal para todos os âmbitos da sociedade?

É, portanto, justamente quando somos solicitados a atribuir a este Makkan o perfeito modelo humano, que seu governo através de assassinato se mostra hediondo. Seu uso de tal método para propósitos governamentais (41) é claro suficiente – na verdade, este fato não é negado. Mas... governo através de assassinato! Quando damos nome ao método, recebemos a permissão de lamentar que o ideal humano viveu na Arábia. Desconsideramos os primeiros das séries – o assassinato da mulher adormecida (42) amamentando seu bebê e o comentário brutal do profeta sobre a maneira pela qual ele, entusiasticamente felicitou o assassino. Desconsideramos também o assassínio do noivo desarmado, traiçoeiramente retirado da presença de sua noiva e desconsideramos, finalmente, um vasto número de ‘execuções’.

É compreensível que o procedimento legal, da maneira que era conduzido na Arábia, era necessariamente deficiente e que a Justiça, sem a venda nos olhos e a balança nas mãos, tinha que ceder, a um único homem, os excepcionais direitos de ser o responsável, o conselho supremo, o juiz e (por meio de seus seguidores) o executor, tudo isso, ao mesmo tempo. O método foi certamente feito por delegações de tarefas. Mas é permissível sussurrar mais uma palavra aos entusiastas Woking: Justiça?

Mas, mesmo assim, há certas coisas que fazem com que se perca o fôlego: o que se deve pensar, por exemplo, da ‘execução’ de Usair (citado anteriormente), juntamente com seus trinta homens, todos desarmados, rumo a Medina, sob a proteção de um salvo-conduto, cada qual escoltado por um embaixador maometano? Estes embaixadores vieram sob bandeira branca e sob esta mesma bandeira retornavam. Seu líder, reputado assassino, já havia ‘executado’ o antigo chefe da tribo, Ibn Rafi, mas, a despeito disso, teve a insolência de dizer que o assassínio total do bando desarmado foi cometido por pelo fato de ter tido a impressão de que Usair teria esboçado, furtivamente, um movimento para tomar sua espada (a espada de Abdallah), enquanto este cavalgava atrás de Abdallah através da noite. Ora, isto parece um tanto improvável, já que: 1) Waqidi e Ibn Sa’d (43) afirmam, explicitamente, que Maomé havia recentemente oferecido paz e o controle pacífico da tribo ao homem, e que o próprio homem desejava a paz; 2) supondo que ele houvesse subjugado Abdallah, o que dizer dos outros trinta muçulmanos armados?! E 3) para concluir, Waqidi nos conta que o próprio Abdallah disse a seu filho: ‘Eu estava consertando meu arco, quando voltei e vi que meus camaradas haviam sido incitados a investir contra Usair. O profeta disse “Que eu jamais volte a ver Usair”. Ele queria dizer que eu devia matar o homem!

Waqidi simplesmente torna explícito o que está claramente escrito nas entrelinhas desta infame hisstória e, de fato, a biografia popular de Halabi (III pgs. 207, 208) deixa patente que Maomé arquitetava a morte de Usair desde o início dos acontecimentos que culminaram com o extermínio. Governo através de assassinato! Trinta outros caíram, além do suposto ofensor e tudo isso sob a proteção de uma bandeira branca: que tal isto? Como o profeta disse, logo após, eles estavam definitivamente livres – por Allah, é claro – ‘de homens injustos’ (45). Bem, isto pode ter sido bom o suficiente para Arábia do sétimo século, mas estávamos falando (ou, pelo menos, pensamos que estávamos falando) do modelo de humanidade para todas as eras!

Mesmo os estômagos árabes mais resistentes ‘viraram’ quando seus registros mais vis tiveram seu nível ainda mais rebaixado pelos inovadores. Muitos anos após o evento, a morte de Ka’b foi discutida em Medina, e um convertido Nadirita, um Judeu-Muçulmano chamado Benjamin, afirmou abertamente que Ka’b havia sido traiçoeiramente assassinado. O assassino (Mohammed B. Muslima, na ocasião, um homem muito idoso) estava presente e, furioso, bradou: “Ousas atribuir traição ao Apóstolo de Deus? Pois somente mediante sua ordem é que procedemos à execução de Ka’b”. E, então, o velho ameaçou Benjamin, dizendo que o mataria em breve, ameaça que, por pouco, não se cumpriu. Esta attitude do herói original do acontecido é a que deveríamos esperar. É essa atitude de Benjamin que dá asas aos pensamentos. Muitos devem possuir escrúpulos semelhantes que jamais foram expressados, ou que, se expressados, não perduraram através dos anos de tradição. Os santos não eram lentos em seguir as instruções de seu líder. Um deles, ao encontrar sua irmã na praia, matou-a – suponho que deveríamos dizer ‘executou-a‘ – na mesma hora por esta ter feito sátira com respeito ao profeta. O islã, naquela época, obliterou todos e quaisquer vínculos naturais. Por vezes havia, de fato, uma sanguinária competição para demonstrar sinceridade e lealdade ao profeta, por meio do assassinato do pai (46), do parente (47) ou do amigo (48).

Mas a palavra ‘executou’ deveria ser estendida a uma conotação de impossível tenuidade para descrever o seguinte ocorrido. Após o assassínio de Ka’b (citado há pouco) – na verdade, no dia seguinte – Maomé deu a estarrecedora ordem de matar todos os judeus, onde quer que estes se encontrassem! (50) (é importante lembrar que estes eram dias ainda muito primórdios. A Batalha de Badr havia acabado de ser ganha pelos muçulmanos e somente a primeira das tribos judias, al Quainuqa havia ofendido o islã e recebido o devido castigo). De acordo com os registros, um dos maometanos sacrificou um comerciante judeu (na verdade, um homem com o qual ele possuía as mais amistosas

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relações comerciais, as quais lhe haviam sido extremamente lucrativas). A motivação do ato foi puramente mercenária: obter os bens do homem assassinado. Assassinato mais descarado que este (por amor a Deus, vamos chamar, ocasionalmente, as coisas por seu nome verdadeiro) jamais foi cometido. O acontecido foi demasiado inescrupuloso aos olhos do irmão do assassino (que ainda não era muçulmano). Ele amaldiçoou seu irmão, dizendo: “Tu, inimigo de Deus, assassinaste um homem de cujos bens veio a maior parte da gordura em tua carcaça? (51)”. Desnecessário é dizer que o ato jamais foi reprovado ou sequer criticado por Maomé, ato que, aliás, foi causado pela própria fatal proscrição do profeta. Que Woking apele à consciência universal da humanidade para julgar qual instinto foi o mais sano: o do irmão não-convertido ou o do assassino muçulmano. O Céu viria a baixo – literalmente – se o veredicto fosse favorável a este ao último.

Perdão de Inimigos “’Ame seu inimigo’ não ultrapassou o modesto limite dos sonhos, mas Maomé – que a paz seja sobre ele – nos mostrou como o amor pelos inimigos deve ser mostrado na prática.”

A Edição do Aniversário anuncia mudanças com relação a este tema. É um das grandes descobertas do Neo-islamismo: o pobre Sayyida ‘Isa era um homem bom (veja a estória na íntegra neste artigo), mas nunca teve a chance de de mostrar real perdão em um momento de real triunfo. Isso foi o que Maomé fez. Eis o tema da discussão.

Longe de nós afirmar que Maomé era um homem radicalmente desumano ou radicalmente vingativo, ainda que, certa vez, ele puniu alguns de seus inimigos decepando seus pés e mãos, perfurando seus olhos e, então, empalando os, agora, miseráveis cegos, até que a vida se derramasse completamente de seus corpos. Mas este foi um incidente excepcional e isolado, e os homens castigados eram, eles mesmos, assassinos e mutiladores, e, por isso, receberam tal tipo de punição (52).

Se, até então, podemos dizer que Maomé tem sido especialmente cruel ou especialmente vingativo, ao confinarmos nossa análise à Arábia, veremos que o parecer será totalmente contrário. Ele era magnânimo e, juntamente com esta magnanimidade, possuía a serenidade que lhe mostrava, claramente, onde e quando a magnanimidade se mostrava adequada, especialmente quando da captura de Meca, quando o curso planejado das circunstâncias se alterara de maneira que sua causa vencedora poderia ter sido arruinada por atos de vingança, que, naquela ocasião, causaria a mais absurda das trapalhadas. Além disso, outros conquistadores possuíam a reputação de serem, alegremente acrescentamos, magnânimos. Mas o desafio presente na ‘Edição do Aniversário’ não pode passar tão despercebido. Vimos o intenso instinto de vingança concernente a determinado tipo de ofensa, a sátira contra ele; vimos que os assassinatos que se seguiram a este incidente, dotados de todos os requintes do horror, pelos quais, para satisfazer-lhe o senso de justiça e para apaziguar seu latente ego ferido, não fizeram com que nem sequer uma lágrima de crocodilo fosse derramada, pois tais mortes lhe causaram o mais deleitoso prazer. Se, às escondidas, Abu Lahab tiver acesso à ‘Edição do Aniversário’, estas partes poderão diverti-lo consideravelmente. O feroz desejo de vingança do profeta nesta situação não pôde nem sequer ser mantida for a do Corão. Um outro ancião, Abu Jahl, juntamente com outros do morticínio de Badr, foram atirados em um poço, fato acompanhado de vergonhosos comentários por parte do profeta. Um Nawfal estava entre os prisioneiros que foram cortados em pedaços depois da batalha de Badr e o ardente deleite por parte de Maomé por causa do acontecido é especialmente comentado (53). O olhar que o profeta lançou sobre Al Nadir foi tão tenebroso que um espectador sussurrou que a morte fazia sentir seu cheiro naquele olhar. A ira e a impiedade demonstradas após a rendição completa dos Bani Quraiza (leia a história de Thabit e o comentário de Maomé a respeito do julgamento de Sa’d) puderam ser vistas há pouco, bem como a maneira desalmada e destituída de misericórdia pela qual a sentença de misericórdia a respeito dos Qainuqas soi proferida pelos lábios do profeta. Mas,

"Maomé foi o último da raça, e todos os atributos morais divinos que se achavam ainda subdesenvolvidos nos humanos encontraram, nele, sua sublime e inigualável manifestação. Dentre tais atributos, encontrava-se o perdão, que teve sua própria oportunidade de ser colocado em prática. Não houve ocasião, em toda a vida de Jesus, em que o perdão pudesse ser usado; caso outros vultos da história tenham tido oportunidade de praticar o perdão, certamente, não o fizeram. Mas Maomé obteve a rara oportunidade e não falhou em aproveitá-la. Seus inimigos, cabalmente derrotados, suplicaram-lhe que o profeta os tratasse da maneira que uma pessoa de mente nobre o faria. O apelo foi oportuníssimo e, tendo sido feito ao homem certo, foi prontamente aceito”. (B.N. pg. 23).

Vimos a considerável qualificação que palavras tão extravagantes merecem; o que dizer, então, a respeito das linhas a seguir, que comentam tais palavras? Ao ser condenado à morte logo após a batalha de Badr, Uqba questionou por que ele seria tratado com tamanho rigor. “Por causa de tua inimizade com Allah e seu profeta”, respondeu Maomé. Então, um facho de miséria e desgraça humanas ilumina o obscuro relato, quando o condenado clama “Oh, Maomé, quem cuidará de meus filhos?”, pergunta que teve como resposta, “O inferno!!!” e o homem cai, decapitado (54). Outro historiador acrescenta que o profeta foi além: “Miserável homem eras e perseguidor... Dou graças ao Senhor que te matou e, assim, confortou meus olhos”. A ‘Epifania dos atributos morais divinos’ tinha algo a aprender com o Sermão do Monte, afinal – e mesmo com os detestáveis pagãos Quraish que, de acordo com a ‘Edição do Aniversário’, “mereceram todo e qualquer castigo imaginável pela ingênua mente humana!” . Pois, ao ser levado para ser executado – ainda que sua fiança tenha sido recebida por seus captores – al-Nadir (citado anteriormente) disse a Mus’ab: “Se os Quraish te houvessem capturado, jamais te matariam” ao que lhe foi respondido (de maneira um pouco desastrosa nesta

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passagem), “Não sou como tu: o islã quebrou todos os pactos”. E, neste exato momento, a ordem para que lhe decepassem a cabeça foi dada por Maomé, que tinha estado a observar o que se passara. E, no mesmo momento, a ordem foi cumprida por Ali (55).

A verdade é que Maomé, ainda que colocado acima dos homens de seu tempo e contexto em muitos aspectos estava, para não dizer outra coisa, no mesmo nível que todos os outros em outros domínios da vida. Não é para tradições caquéticas produzidas por escritores Sírios e Persas, nem para raquíticas ideologias (como encontradas nesta ‘Edição de Aniversário’) que devemos olhar, mas para os registros que são, evidentemente, contemporâneos. A real intenção deste árabe quanto ao tema vingança e perdão é admiravelmente demonstrada - com inconsciente ingenuidade, acima de tudo – pelo poeta contemporâneo Ka’b B. Zuhair, um ‘árabe de árabes’. Tal intenção atraía Ka’b, mas não conseguimos entender por que despertaria o entusiasmo de um gentil cavalheiro, o responsável pela ‘Edição do Aniversário’. Ela foi expressa pelo já mencionado poeta em seu famoso poema, o Banat Su’ad. Devemos salientar que ele também se aventurou no perigoso jogo da sátira e que ele chegou a ser advertido que a sina do outro Ka’b e dos vários membros da profissão satírica, tanto homens como mulheres, seria, inevitavelmente, a sua também. Ele, portanto, tratou de externar sua submissão com as seguintes palavras:

“Caluniadores se dirigiram a Su’ad e repetiram, outra vez, “Tu és homem morto, oh K’ab!”. E todo amigo com quem eu contava me disse “Não me intrometerei contigo, pois, para ti, não tenho tempo” (56). Até que penhorei minha lealdade ao Homem de Vinganças, cuja palavra é lei. Verdadeiramente, quando foi-me dito “Tu és acusado e estás sendo procurado”, ele me foi mais terrível do que um leão da floresta”.

Eis aí uma boa manobra de Araby, mas não muito valioso para o Woking, em tudo isso. Morticínio de PrisioneirosOs redatores da ‘Edição de Aniversário’ não dizem que o morticínio de prisioneiros é bárbaro quaisquer que sejam as circunstâncias, mas é de se imaginar que eles o diriam sem serem econômicos nos termos, especialmente se se deparassem com um incidente semelhante em guerras ‘cristãs’. Mas tais barbáries ocorreram após algumas batalhas de Maomé. Após Badr, especialmente, a maior das vinganças e o mais abundante derramamento de sangue foram levados a cabo. Muitos prisioneiros foram sacrificados a sangue frio, sendo que, pelo menos dois deles, na presença de Maomé, que nutria especial rancor contra os dois. Seus comparsas mais famosos (exceto Abu Bakr) foram também os mais truculentos nesta ocasião. Um deles queimou prisioneiros vivos, em massa (57). O profeta repreendeu os excessos, mas as próprias palavras por ele utilizadas para faze-lo mostram claramente que prisioneiros indefesos podem, de qualquer maneira, ser assassinados a sangue frio, caso não haja ninguém para redimi-los (58). A sura produzida logo após o evento (VIII 68) explicitamente ordena o assassínio de prisioneiros em ocasiões onde é prudente causar uma forte impressão através do ‘horror’: em tais ocasiões, o pecado seria tornar-se rico por meio de pagamentos de resgate! Há ainda uma série inteira de tradições (citadas por Muir, Life pg. 231) que reconhece que as ‘gentilezas’ demonstradas em Badr foram um pecado, que Maomé havia sido contra tal pecado, que o humano Abu Bakr era, na verdade, o ofensor-mor e que, caso o pecado tivesse sido punido, somente os dois ‘porcos’ que apressaram o assassínio de todos os prisioneiros (Umar e Sa’d) teriam escapado ilesos.

A mesma sura, entretanto, dá a entender que Maomé reconhecera que a política adotada em Badr não era de aplicação universal. À medida que o islã se desenvolvia, a terrível alternativa Badriana foi modificada. Como já vimos, a prática de vender prisioneiros de guerra tornou-se comum (A propósito, deveríamos nós regulamentar nossa prática atual de acordo com este conceito, exatamente quando os governantes do mundo voltam sua atenção para os prisioneiros da presente guerra?): e, como diz a ‘Edição de Aniversário’, o próprio Corão recomentda o pagamento de resgate por prisioneiros de guerra como uma forma de caridade aplicável aos muçulmanos ricos. Mas a alternativa de Badr está sempre lá, ao fundo, e, em ocasiões convenientes, pode sempre ser trazida ao primeiro plano. O prisioneiro de Guerra é mubah damuhu. Sua vida é essencialmente perdida. Deveríamos nós pedir à Convenção de Hague para o Novo Mundo que adote este conceito em seu código de ética sobre guerras internacionais?

Conversões ForçadasO assunto da ‘execução’ de prisioneiros de Guerra, conduz insensivelmente a conversões forçadas, sobre o que algumas imbecilidades foram escritas por crisãos e, outras ainda maiores, foram escritas por apologistas muçulmanos. É bem verdade que alguns escritores cristãos escreveram como se toda a propaganda muçulmana devesse trazer, exclusivamente, um muçulmano com uma espada em uma mão e um Corão na outra, ao lado de um não-muçulmano. No que concerne Cristãos e Judeus, esta idéia é absolutamente absurda e falsa, já que a lei, desde o princípio – ou, pelo menos, desde Khaybar – diz que Cristãos e Judeus (o Povo do Livro) são livres para rejeitar o islã e apegar-se a sua própria fé sob a condição de que paguem tributo (59) Zimmiyyun. Ressaltamos que as guerras mais famosas do islã foram travadas contra povos de um Livro, pois mesmo os Persas foram, desde o início, abrangidos pelo termo. Conseqüentemente, o apelo para que o islã seja visto como uma religião excepcionalmente tolerante ganhou, mais tarde, mais e mais reconhecimento e há quem reconheça a religião do profeta exatamente desta forma.

Isto, entretanto, não é assim para todos. Parece ter sido esquecido, e podemos estar seguros de que a ‘Edição do Aniversário’ não nos ajudará a lembrar que os árabes pagãos, por lei, não possuíam qualquer benefício de proteção contra a islamização. Para eles e os para os ‘apóstatas’, a lei era islã ou a morte. E foi justamente no princípio que tal lei foi mais rigorosamente aplicada. Os muçulmanos são deveras ingênuos e o que os impediu de ver que tal fato é constitutivo de conversão forçada foi sua idéia de que a presença deliberada de ‘conversão’ ante a morte, não implica

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em conversão forçada (é notório que nem Maomé, nem tampouco qualquer outro que o sucedeu jamais tenha se preocupado quanto aos motivos da profissão da fé e, assim, toda conversão é uma conversão wis salam)! Eles esquecem que a única alternativa real era a morte. Verdade, a maioria desejava escapara da morte, mas isto prova, e não desaprova, nosso argumento. O que seria daqueles que se recusassem a ‘aceitar a fé’? a sura IX é, sem dúvida, o locus classicus para os fatos relatados acima. Após a peregrinação de A.H. 9, não haveria lugar para os pagãos. Sua opção tinha que ser entre o islã ou a morte. E eles eram forçados a fazer uma escolha. Note que o texto propõe uma alternativa mais explícita: “Quando os meses sagrados houverem passado (viz, o tempo da graça concedida durante a peregrinação de A.H. 9), matai os politeístas, onde quer que os encontrardes... mas, se eles se arrependerem, fazerem as orações e trazerem as esmolas, deixai-os ir em paz”. Não, nenhum destes conformistas eram produtos de ‘conversões forçadas’! Todos eles, é claro, ‘se arrependeram’! Não, não poderemos aceitar isso! O que dizer de sua apostasia quase coletiva (ridda), no momento em que os Quraishitas saíam de cena? Não devemos nos aprofundar na questão sobre se tais prescrições se referiam somente a árabes contemporâneos ou também a pagãos de todos os séculos (60), pois nosso assunto é Maomé, além do que, mostrar que, sob o comando de Maomé, muitos milhares foram claramente convertidos á força, já é resposta suficiente para o seguinte desafio:

Se a espada for desembainhada para forçar a estes a se converterem, por que os prisioneiros eram libertados, ao fim de cada Guerra, e enviados a seus lares sem se converterem ao islã? Pode alguém se referir a uma conversão que foi assegurada pela compulsão? (B.N. 24).

Com toda certeza, qualquer um pode. Podemos pensar que um Ka’b que prefere o islã à contínua ameaça da espada de um assassino teria sido exemplo suficiente para a maioria das pessoas. Mas aqui, os apologistas são, de certa forma, ajudados pela incurável ingenuidade da mente árabe, a qual enxergava tais argumentos como sinais visível de que esta religião tão lasciva, provinha realmente de Allah – ou que, pelo menos, tal religião merecia submissão; no fim das contas, na prática, as duas coisas se tornaram uma única: somente Allah conhece os corações. Mas o assunto não pode ser tão banalmente posto de lado.

Seria do conhecimento dos Woking que qualquer um dentre as centenas de judeus ‘executados’ poderiam ter comprado sua vida pela ‘conversão’? Um deles, Jabal, conseguiu realizar tal feito (61). Seria este o caso, ou talvez não, de uma conversão assegurada pela compulsão? E as centenas restantes? Não é fato que eles somente escapavam da ‘conversão’ se resistissem à ‘compulsão’ e, conseqüentemente, pagando por sua firmeza com sua própria vida?

Semelhantemente, o rebelde capturado na expedição Marasi. Ele foi, primeiramente, questionado, mas se recusou a dar qualquer resposta. Maomé, então, lhe ofereceu o islã. Ele recusou. O profeta, então, ordenou a Umar que este decepasse a cabeça do homem, o que aquele vibrante capanga fez sem pestanejar (62). Se aquele homem houvesse preferido o islã e, por conseqüência, salvo sua pele, não se trataria, ainda assim, pelo que nos parece, uma conversão forçada! Pode-se objetar que, neste exemplo, o homem era um espião e que a vida de um mero espião foi desperdiçada e que, ao lhe oferecer o islã, foi, em verdade, um ato de grandiosa misericórdia. Os Bani Quraiza possuem uma situação histórica bem semelhante, mas isso vai além de nossos alvos de análise. Nosso assunto é conversões forçadas e, se a conversão de um homem sob o fio de uma espada não deve ser chamada de uma ‘conversão forçada’, sejam quais forem as circunstancias, então, as palavras perderam seu significado.

Mas todas as dúvidas são sanadas pelo incidente a seguir (63). Um outro espião fora capturado em Khaybar, mas, nesta ocasião, o homem foi induzido a falar, e a segurança de sua vida foi assegurada mediante a palavra expressa de Maomé. Em consideração a esta promessa (ressalta o historiador) impediu que Umar cortasse sua cabeça (64). Mais tarde, no entanto, “Ele o trouxe diante de si em Khaybar e ofereceu-lhe o islã, com o aviso de que, se recusasse por três vezes a oferta, poderia ter por certo de que a corda da forca seria imediatamente colocada em volta de seu pescoço (65). Tal aviso mostrou-se muito eficaz’. Sem dúvida, funcionou. Não mais questionaremos a respeito da honradez ou da moralidade motivadora da ameaça (66), principalmente depois dos incidentes que precederam este episódio. A questão aqui é que temos o mais claro exemplo possível de uma conversão forçada – o islã ou a forca.

Então, vemos as palavras de Maomé a Ali antes de Khaybar (67): “Combate-os até que confessem que não há Deus senão Allah e que Maomé é o apostolo de Allah, pois, caso eles o façam, terão seu sangue e seus bens poupados por ti – unicamente pelo preço dos mesmos, e sua dívida será entre eles e Deus”. Somos convidados a acreditar que uma ‘testemunha’ sob tais condições não foi uma testemunha forçada!?

E os ‘Apóstolos’? Se sua apostasia foi fruto de convicções honestas e sinceramente motivadas ou ainda, se foi fruto do fato de que sua islamização original não passava de uma farsa hipócrita (e realmente o era), isto pouco, agora, importava. A alternativa que lhes restava tinha de ser ‘islã ou morte’. Se optassem pelo islã, isto seria ou não seria uma conversão forçada?

E de que outro comentário carece a cândida narrativa de Ibn Hisham que se seguiu? Após os atos pavorosos perpetrados contra os Judeus (vistos anteriormente) grande número destes [judeus] ‘fingiram ter abraçado o islã. Eles adotaram a nova religião para escaparem da morte’ (68). Os fatos falam por si mesmos.

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Conclusão

Devemos agora conduzir esta investigação a um fim e, ao fazê-lo, repetiríamos o que foi dito no início, ou seja, que quando e se os admiradores de Maomé se alegram em reconhecê-lo, historicamente, como um grande árabe, dotado de um real e estranho senso de chamado profético, e que, através disto e de seu admirável gênio, dons singulares e muitas outras virtudes, realizou uma estupenda obra durante anos de sua vida, então, nos juntaremos aos admiradores. Aliás, quem, dotado de um mísero grão de senso histórico e crítico não o faria? O pior dos inimigos de Maomé não são seus oponentes, mas seus amigos, que deverão se contentar com o fato de que o caráter deste gigante árabe é o impecável modelo de humanidade perfeita; que todas as suas ações, excetuando-se alguns deslizes, foram absolutamente perfeitas; que nenhum erro significativo lhe pode ser atribuído; que seu esplendor moral obscurece drasticamente o de Jesus e que seu exemplo e preceito constroem a melhor fundação, não somente para os códigos de ética, mas também para as leis nacionais e internacionais! Os piores de todos os ofensores são os neo-muçulmanos, que assumiram a responsabilidade de ‘lavar’ a biografia para que esta seja agradável ao paladar cristão-ocidental, omitindo um pouco aqui, explicando um pouco ali, desafiando isto (contradizendo as fontes) e dissimulando aquilo. Não é da nossa conta o grau de sinceridade destes homens, nem o de seus cooperadores cristãos. Alguns deles (cristãos) têm sido inspirados a realizar sua tarefa voluntária pela indignação de uma reação legítima contra antigos exageros, más interpretações ou ainda menosprezos cometidos contra o islã, alguns dos quais são meramente informais e palidamente divulgados. Não temos nada a ver com isso. Tudo o que sabemos é que estes homens, todos eles, estão causando imenso prejuízo à verdade e a seu próprio ídolo, pois têm dado ao mundo o mesmo tipo de verdade que deram os caluniadores inescrupulosos do passado, além de simplesmente forçarem aqueles que vêem, em suas afirmações, uma grosseira ofensa ao fato real e um ataque proposital à perfeição e à universalidade do Homem Jesus Cristo, a se levantar e mostrar com bases nas fontes, que o verdadeiro Maomé, o Maomé das fontes e do Tratado do Islã, o único Maomé que realmente conta, pois o Maomé de treze séculos mortos e trezentos milhões de muçulmanos, não se encaixará no papel em virtude do qual a raça humana é convidada a viajar de Belém a Meca, do Monte das Bem-Aventuranças ao Monte de Arafat.

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Edições Citadas

A seguir estão listadas as edições citadas neste artigo:

Tabari, Leyden (Primeira Edição)

Ibn Hisham, edição de Wüstenfeld (Leipzig.)

Halabi, Cairo, 1320.

Sira Nabawiyya, na margem de Halabi.

Waqidi, tradução de Wellhausen.

Ibn Sa'd ed. Sachan (Leyden.)

Apêndice

Que Maomé foi o responsável pela ofensiva contra Medina, é claramente afirmado pelo autor da Sira Nabawiyya. A tímida omissão de tais fatos por parte destes autores modernos teria parecido incompreensível, ou, talvez, um pouco vergonhosa para ele, que relata: “A primeira coisa determinada pelo profeta foi a interceptação da caravana dos Quraish, para apreender seus bens, de modo que a ocasião fosse abrisse uma porta para o início das hostilidades, e para que os corações de seus companheiros pudessem ser motivados pelas hostilidades pouco a pouco e para que pudessem tomar proveito do que lhes seria acrescentado pelos despojos que saqueavam por ocasião destas caravanas e, assim, serem apaziguados”. (69). Quid plura? O autor desta Sura meramente revela, claramente, que a tinta com a qual tais procedimentos foram escritos não era tão invisível como se imaginara.W.H.T. Gairner

Notas 1 Vol. V, No. 1. 2 Ver B.N. (i.e. "Birthday Number" – ‘Edição do Aniversário) pg. 9, 14-16, etc. 3 Alguns escritores neste número são um pouco infelizes em suas colocações ao tentarem manejar recursos críticos modernos. Assim, o Sr. Khuda Bukhsh cita ‘Bosworth, Snmith’ e outros. Entretanto, pergunto: Bukhsh nos fornece todo o veredito dados por estes (dois!) cavalheiros? Ele também se refere a cristãos preconceituosos ligados à “monumental obra de Caetani”, em italiano. Fica obvio que ele jamais leu sequer uma linha de ‘Caetani’. Não se poderiam imaginar julgamentos mais pesados e severos do que alguns que Caetani transmitiu quanto a diversas oportunidades registradas a respeito da vida de Maomé, ainda que seu trabalho seja feito a partir de uma perspectiva histórica e objetiva. 4 Itálico do autor. 5 Ibn Hisham, sub loco; ver a edição de Wüstenfeld's, p. 653. 6 Um dos escritores da Edição do Aniversário (na página 25) congratula a humanidade de Abu Bakr como um guerreiro ao comandar, explicitamente, seus homens a ‘não cortar tamareiras!’. Algumas vezes, o discípulo é maior que seu mestre, portanto. 7 A indenização correspondente ao ato, Segundo o decreto corânico está longe de ser satisfatória. 8 Traduzido a partir do Musnad de Ahmed ibn Hanbal i 178. 9 Arnold (Preaching of Islam p. 30) afirma que Maomé “desaprovou o ato” quando do retorno do triunfante Abdallah. Se isso realmente aconteceu, em face da afirmação anterior, desaprovação é clara hipocrisia, e a questão permanece, pois Maomé efetivamente sancionou a violação da Trégua Sagrada. Arnold suprime totalmente este fato cardinal, ou seja, que Maomé finalmente desconsidera o ato e sanciona a prática. Ele também omite a maioria dos fatos ligados ao caso mencionado. 10 O fato de que meios efetivos tenham sido recomendados pelo Profeta (em pelo menos um caso, não muito bem-sucedido) para evitar gravidezes indesejadas conseqüentes do episódio apenas aumenta o aspecto desagradável e reprovável do acontecido. 11 Halabi ii 296,7; Waqidi (Kitab el Maghazi, traduzido por Wellhausen pag.179). Na antologia dos Hadis, Mishkat al Masabih, a tradição é marcada comomuttafaq 'alaih, i.e. encontrada em todas as grandes coleções.12 Halabi loc. cit.. 13 Hisham p. 759, Waqidi (ed. Wellhausen) p. 282. 14 Muslim em Mishkat al Masabih, Kitab an nikah, v. i. 9; Waqidi p. 366. 15 Isto é perfeitamente claro, tanto se analisarmos o palavreado da tradição de Muslim como a analogia do caso de Bani Mustaliq. O limite de três meses (idda) era válido apenas em caso de gravidez não-artificialmente-evitada e não atrapalhava violações imediatas. Em verdade, Waqidi torna isto explícito (op. cit. p. 366), mas, mesmo assim, não há margem de erro quanto ao assunto.16 Caso o relato de al-Bukhari ou o de Ibn Hisham forem considerados, é absolutamente impossível dizer que qualquer coisa neles justifique o desenrolar e a conclusão dos fatos. Ainda deve-se lembrar que em nenhum dos casos de ofensa declarada seria possível audire alteram partem.

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17 Vol. i, 1360 "wahuwa yuridu qatlahum" 18 Ibn Hisham p. 546 torna isto absolutamente claro.19 Não obstante, o Califa Omar baniu da península o remanescente deste pobre povo. 20 O aviso de Abu Lubaba (Hisham pg. 686) deixa isto claro. Teme-se que esta história prove que Abu Lubaba tenha sido enviado para ludibriar a guarnição quanto à rendição que salvaria suas vidas, que, ainda assim, foram sumariamente destruídas. Os homens lhe perguntaram se deveriam se render, ao que ele respondeu que ‘sim’, mas com um sugestivo gesto, levando sua mão espalmada ao pescoço, dando a entender que seu destino seria, certamente, sangrento) Ibn Hisham, pg. 688). A narrativa continua e diz que, logo após Abu Lubaba ‘sentiu que havia traído Deus e o Apóstolo’. É óbvio que ele os havia encorajado a se renderem e, igualmente óbvio, seu trágico destino já havia sido selado, mais uma prova de que a arbitrariedade de Sa’d era mero subterfúgio. 21 Musnad, de ibn Hanbal vi 55, iii 207. 22 ib. iii 350. 23 Sira Nabawiyya em uma margem de al-Halabi ii p. 150. 24 ib. ii p. 154. 25 Hisham p. 763, 4. 26 Os historiadores alegam que seu marido a havia usado doentiamente. Ela é caracterizada como alguém que jamais nutriu ou mostrou qualquer amor por ele, tanto em vida, como após sua morte. Ver Hisham p. 763. 27 No caso de Juwairiyya, os antigos historiadores afirmam, com total liberdade, que o profeta ficara obcecado pela beleza da mulher assim que pôs os olhos sobre ela. Ver Halabi ii, pg. 291 e 292, onde a ciumenta Aisha conta a história:”Juwuairiyya era uma bela mulher (hilwa) por quem os homens se apaixonavam assim que a viam... ela chegou e, por Allah, tão logo eu a vi, me senti incomodamente irritada e sabia que o Apóstolo de Deus veria nela exatamente o que eu vi”. O significado de tal afirmação é óbvio e é ainda mais explícito mediante o seguinte: “Eu estava certa que, assim que o Apóstolo a visse, certamente, ele a admiraria” (‘pois ela sabia’, acrescenta o historiador, ‘a influência que a beleza possuía sobre ele’). “Bem, então, ela falou com ele e ele lhe respondeu: ‘Melhor ainda: pagarei teu resgate e eu mesmo me casarei contigo’”. Ver também Hisham pg. 729. O casamento foi consumado naquele mesmo dia – o mesmo dia, aliás, em que as outras mulheres da tribo de Juwairiyya estavam sendo estupradas pelos companheiros do noivo, nos poços de Marasi (relatado anteriormente). Esperamos que não mais ouviremos as pretensões neo-muçulmanas mencionadas neste artigo. 28 Musnad, de Ibn Hanbal, iii p. 123. 29 Isto é, que antes de se casar com uma viúva, um homem deve esperar, pelo menos, três meses para ter certeza de que ela não está grávida de seu falecido marido. Quando, em ‘A Censura do Islã’, eu erroneamente afirmei que Raihana – mais uma vez, uma celebrada beldade que acabara de perder seu marido por causa de Maomé – foi colocada em seus braços imediatamente após a execução de seu marido, eu fui severamente desafiado por um famoso apologista neo-muçulmano do Cairo, ao qual respondi, por mera ignorância. Não sabia eu que a lei de idda teria, por si mesma, tornado tal coisa impossível? Lastimei-me profundamente por causa de meu erro. Mas este cavalheiro não parecia mencionar este caso de Safiyya! Estaria ele tentando me ludibriar? Ou havia minha grosseira ignorância sido balanceada pela sua? – veja, neste mesmo artigo, o trecho que mostra que, sob certas circunstâncias, a lei de idda era irrelevante. 30 e.g. Hisham pgs. 415-6, Waqidi p. 33; Tab. i. p. 1265. 31 op. cit. i. p. 2 e duas vezes na pg. 3. 32 Hisham p. 415. 33 Caetani vol i, pp. 358-9. 34 Para algumas delas, veja a nota anterior. 35 Arnold (Preaching of Islam, pg. 30) é igualmente indigno de confiança. Ele contra-argumenta fatos com débeis teorias. É extraordinário, e uma grande pena, como este livro tão útil torna-se tão desfigurado por ser uma síntese. Tivemos um exemplo disto na maneira pela qual aborda as batalhas durante o mês sagrado. Eis aqui um outro exemplo. Analise o ponto crucial da motivação da primeira expedição contra os Quraish. Arnold: - “Encontramos menções de várias expedições investigativas enviadas em pequenos números para espiar os movimentos dos Quraish’ (pg.30). Agora, os historiadores – (durante o primeiro ataque, não acompanhado por Maome) “...deviam interceptar os camelos dos Quraish”., Ibn Sa'd i. p. 3, Hal. ii, p. 134:— (na primeira expedição acompanhada pelo próprio Maomé, ‘...deviam interceptar os camelos dos Quraish, Ibn Sa'd i. p. 4! Outro comentário referente a grotesca trapaça é encontrado em uma nota de rodapé sobre a p.30, onde o ataque dos Quraishite Kurz (ver Muir p. 207) é mostrado com o único propósito de mostrar que os Quraish praticaram as primeiras hostilidades. Entretanto, e antes de mais nada, não há a menor prova de que esta investida tenha sido lançada pelos Quraish e, além disso, o que podemos dizer ao averiguarmos que este ataque aconteceu depois que Maomé e seus oficiais já haviam atacado por quatro vezes? (Hisham p. 423, Tabari I, pp 1269). 36 Annali II pp 9, 10; Dedicamos esta passagem ao sr. Bukhsh e a seus amigos, mas no intuito de evitar que seus sentimentos os impeçam de traduzí-la. 37 Ed. Wellhausen, p. 190. 38 Ed. Wellhausen p. 224. Considerando que Waqidi menciona que, poucos meses mais tarde, o líder da tribo desejava paz com Maomé, pode-se concluir que nada importante ocorrera neste intervalo e, portanto, não se pode levar muito a sério estas afirmações infundadas do complô Khaybarita. 39 Uma significativa tradição é registrada por Muslim(ii p. 237). “O Profeta deu o modelo a Ali e disse ‘Avante! E não olhes para trás até que Allah te tenha dado a vitória!’ Ali deu alguns passos à frente, parou e, sem olhar para trás, perguntou “Oh, Apóstolo de Allah, até quando combaterei aquela gente?’, ao que o profeta respondeu: ‘Combata-os até que testifiquem que não há deus, senão Allah e que Maomé é Seu Apóstolo. Caso eles o façam, terão salvo suas vidas de ti: ou pagarão com a morte o preço de suas próprias vidas’”.

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40 Hal. III, 206. 41 É notório que, por respeito aos muçulmanos, rejeitamos a noção de animosidade pessoal. Que estes assassinatos sejam ‘execuções’, concebidas e executadas sem motivos passionais, mas por firmeza judicial.42 Ela era uma poetiza e autora de sátiras e satirizou Maomé. Não nos esquecemos que pesquisas modernas (ver Abhandlungen de Goldziherand) deixam claro que estes poetas hija possuíam estranhos poderes naqueles dias e que suas sátiras eram muito mais temidas por governos do que aquelas do sr. Punch. Desta forma, que a sátira feita por ela seja considerada alta-traição! Este, aliás, é o homem que ‘tornou o sexo feminino quase sagrado’. O contentamento da parte de Maomé pelo ‘sexo feminino’ é claramente provado pelas tradições. 43 Halabi I 67. 44 op. cit. pp. 239, 240. 45 Próximo à narrativa de Ibn Hisham p. 980 f. 46 Como no caso do filho de Abdallah ibn Ubayy, Hisham p. 727. 47 Como aqui.48 Ver o incidente seguinte. 49 Hisham p. 553. 50 loc. cit. Quando ele ouviu que seu irmão não teria qualquer hesitação em matá-lo, teria exclamado ‘Por Allah, esta é realmente uma maravilhosa religião!’ E, incontinentemente, abraçou o islã doravante. Me pergunto o que se pensa a respeito deste argumento como recurso de islamização.51 Ainda assim, a mesma sura que, logo após este horrível incidente, humanamente proibiu punições por tortura ou crucificação, ordenou que ladrões, tanto homens como mulheres, tivessem suas mãos cortadas, como também seus pés, um após o outro, caso o crime fosse repetido. Aliás, devemos nós praticar isto também como nosso código penal ideal? 53 Muir p. 227 note. 54 Hisham p. 458. 55 Waqidi p. 68. 56 Sobre o que o comentarista diz: ‘Eles lavaram suas mãos em seu desespero pela vida dele e por seu medo quanto à ira do Profeta.57 Musnad I 383. 58 Loc. cit. la yanfalitanna ahadun minkum illa bifida'in aw dar-bati 'unq: "Que ninguém te escape, a não ser que a ti seja pago o devido resgate; caso não o façam, corte sua cabeça".59 Os horrores Armênios, nos quais a opção ‘islã ou morte’ foi muitas vezes apresentada, foi justamente representada por muçulmanos como contrária à lei do islã. Suspeita-se, entretanto, que os mesmos muçulmanos justificaram suas consciências quanto a isso pela perda dos direitos dos sezimimmis por causa de rebelião – um pretexto que pode se estender para encaixar-se a qualquer outro caso [sezmimmis = dhimmis] 60 Suspeita-se que o fato de que as primeiras grandes campanhas foram feitas contra o Povo de um Livro – pois a expressão fora estendida para englobar até mesmo os persas – atenuou o reigor da Sura IX. Os árabes partiram, primeiramente, da influência sensitive, para a humanista e para a influência humanizadora. Fato digno de nota é que, quando a Índia foi alcançada, os politeístas lucraram com o privilégio do tributo, razão pela qual continuaram a ter suas cabeças e seu politeísmo. Ainda assim, quando Timur ‘transformou o norte da Índia em um tremendo caos’, imagina-se que ele tenha sido capaz de fabricar uma causa relativamente boa para si mesmo. 61 Isaba I 453. 62 Halabi II p. 294. 63 Waqidi pp. 266, 7. 64 'Umar parece ter sido algo como um dirigente voluntário da corte, sendo devoto do argumento pró-espada, em todas as situações (ver sua conduta após Badr). Com o passar do tempo, as responsabilidades que recebeu parecem ter elevado e melhorado, significativamente, seu caráter. 65 Lam yakhrug il hablu min 'unqika illa su'udan, Waqidi, p. 267. 66 O incidente de Abu Lubaba, enviado por Maomé a uma conferência com os Bani Quraiza, oferece um indício similar de duvidosa má fé.67 Muslim II 237. 68 Zaharu bil 'islam wa ttakhadhuhu hannatan min al qatl. 69 Li yakun dhalik sababan l iftitah il qital wa li taqwa gulubu ashabihi 'ala l qitali shai'an fa shai'an, etc. vol. I. p. 417.

Este artigo foi retirado de um panfleto, publicado em caráter privado, em 1918. Mais tarde, ele apareceu também em The Moslem World, vol. ix, 1919, pp 25-57.

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