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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS FCH – 600 CIDADES(S), CULTURA E MODERNIDADE Cursos: Graduação e Pós-graduação em Ciências Sociais Profa. Maria Gabriela Hita - 2015.1 12/03/2015 Aluna. Joselinda Maria Rodrigues FICHAMENTO 1 HANNERZ, UIf. The Education of an Urban Anthropologist. In: In: ____. Exploring the city. New York: Columbia University Press, 1980. Cap. 1. A gênese da Antropologia Urbana decorre do êxodo do campo para a cidade. [...] “There were several reasons for this […] the fact.” (p. 1). Novo desafio para a Antropologia – fazer campo no espaço urbano, talvez na própria vizinhança. [...] “There was a search […] the track.” (p. 1). Dificuldades para estabelecer a disciplina. [...] “To these developments […] Robin Fox.” (p. 2, paragraph 1).

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

FCH – 600 CIDADES(S), CULTURA E MODERNIDADE

Cursos: Graduação e Pós-graduação em Ciências Sociais

Profa. Maria Gabriela Hita - 2015.1 12/03/2015

Aluna. Joselinda Maria Rodrigues

FICHAMENTO 1

HANNERZ, UIf. The Education of an Urban Anthropologist. In: In: ____. Exploring the city. New York: Columbia University Press, 1980. Cap. 1.

A gênese da Antropologia Urbana decorre do êxodo do campo para a cidade.

[...] “There were several reasons for this […] the fact.” (p. 1).

Novo desafio para a Antropologia – fazer campo no espaço urbano, talvez na própria vizinhança.

[...] “There was a search […] the track.” (p. 1).

Dificuldades para estabelecer a disciplina.

[...] “To these developments […] Robin Fox.” (p. 2, paragraph 1).

Hannerz defende a ideia de que a Antropologia Urbana deva exceder aspectos culturais, sociais, etc. O método deve ser diferente do utilizado pela Antropologia Social.

[...] “Such characteristics of method and perspective […] and its changes.” (p. 2, paragraph 3).

Escopo de ideias necessárias à Antropologia Urbana.

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[...] “Urban anthropology needs its own history of ideas […] in many times and places.” (p. 4, paragraph 1).

Contribuições da Antropologia Urbana aos estudos urbanos.

(p. 2, paragraphs 1, 2).

Relevância da Antropologia Urbana como ciência.

[...] “The relevance of anthropology lies […] particular situation.” (p. 7, paragraph 2).

O limiar difícil entre Antropologia Urbana e Sociologia Urban.

[...] “This is possibly useful […] of value in urban studies.” (p. 9, paragraph 1).

Diferença entre sociólogos e antropólogos.

[...] “What difference there is between […] conspicuous as it may be as a symptom.” (p. 9, paragraph 3).

Debates entre Antropologia Urbana e Sociologia Urbana.

[...] “Those who are not so emphatically […] is already well under way.” (p. 11, paragraph 1).

Três importantes experiências de campo para o autor.

[...] “In the late 1960s […] take on new configurations.” (p. 13, paragraph 3 to 15 paragraph 1).

FICHAMENTO 2

SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio. O fenômeno urbano

(org. e introd.). RJ: 1967 (p. 13-28).

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Objetivo do autor: “tentar responder à pergunta de como a personalidade se acomoda nos

ajustamentos às forças externas”. (Simmel, 1967. p.12)

“As cidades segundo o autor são sede da mais alta divisão econômica do trabalho”,

(Simmel, 1967. p.21), portanto um dos grandes paradoxos criados pela industrialização

foi/é de como o indivíduo conseguiria preservar sua autonomia e individualidade num

mundo tecnicamente compartimentado pela especialização do trabalho, porém

tecnicamente dependente do trabalho de outros indivíduos. O autor diz:

“Juntamente com maior liberdade, o século XVIII exigiu a especialização

funcional do homem e seu trabalho: essa especialização torna um indivíduo

incomparável a outro e cada um deles indispensável na medida mais alta

possível.” (Simmel, 1967. p.11).

O ritmo de vida na metrópole exige ações e reações rápidas e objetivas que se opõe ao

ritmo lento da vida rural, o qual desenvolve no indivíduo a intelectualidade, cuja função

segundo o autor, é a de preservar “a vida subjetiva” do frenesi da metrópole. Simmel diz

que o nível de consciência do homem rural e do homem da metrópole difere em função do

grau de sofisticação das relações pessoais e interpessoais estabelecidas. De que forma? Diz

que a diferença está nas reações do intelecto e da mente! O indivíduo metropolitano (como

se vivesse em um estado de stand by) desenvolve mais o intelecto (objetivo, calculista) que

se adapta a mudanças bruscas típicas da metrópole, “ele reage com a cabeça”, tendo em

vista segundo Simmel que: “A metrópole extrai do homem, enquanto criatura que procede a

discriminações (diferenciações?), uma quantidade de consciência diferente da que a vida

rural requer”. (Simmel, 1967. p.12). A rápida convergência de imagens afeta o estado de

consciência do indivíduo da metrópole aguçando seu intelecto e percepção do mundo que o

cerca. Esta exigência de adaptações rápidas concorre para a atitude blasé que poderíamos

chamar também de apatia. Por outro lado o indivíduo rural resguardado de mudanças

bruscas desenvolve mais a mente, que é conservadora, inflexível, “ele reage com o

coração”. Para o autor, “A intelectualidade, assim, se destina a preservar a vida subjetiva

contra o poder avassalador da vida metropolitana”. (Simmel, 1967. p.13). Falando sobre o

homem rural o autor acrescenta:

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“Sua mente é estimulada pela diferença entre a impressão de um dado

momento e a que a precedeu. Impressões duradouras, impressões que

diferem apenas ligeiramente uma da outra, impressões que assumem um

curso regular e habitual e exibem contrastes regulares e habituais – todas

essas formas de impressão gastam, por assim dizer, menos consciência do

que a rápida convergência de imagens em mudança, a descontinuidade

aguada contida na apreensão com uma única vista de olhos e o inesperado de

impressões súbitas”. (Simmel, 1967. p.12).

A metrópole apresenta o caráter mais rude do capitalismo, as relações são travadas a partir

do valor das coisas, o homem urbano é desencantado, “os relacionamentos profundamente

sentidos e emocionais” dão lugar ao objetivismo da função dos indivíduos e coisas na

cidade. O autor faz um paralelo do modo de produção rural e metropolitano ao dizer:

“Na esfera da psicologia econômica do pequeno grupo, é importante que,

sob condições primitivas, a mercadoria sirva ao cliente que solicita a

mercadoria, de modo que o produtor e o consumidor se conheçam. Na

economia moderna, entretanto, é provida quase que inteiramente pela

produção para o mercado, isto é, para compradores inteiramente

desconhecidos, que nunca entram pessoalmente no campo de visão

propriamente dito do produtor. [...] A economia do dinheiro domina a

metrópole”. (Simmel, 1967. p.14).

O fetiche da mercadoria identificado por Marx, somado às contingências da cidade do tipo,

agenda apertada e relacionamentos rápidos criou relações estéreis entre os habitantes da

metrópole e em relação à metrópole. A atitude blasé segundo Simmel é o reflexo rápido do

intelecto às rápidas mudanças que operam na cidade, portanto: “[...] as pessoas estúpidas,

que não têm existência intelectual, não são exatamente blasé”. (Simmel, 1967. p.16). No

parágrafo seguinte o autor traz considerações que indicam a atitude blasé como estado de

apatia ao mundo circundante, provocada pelo excesso de estímulos que o mundo do

dinheiro oferece. A oferta de todas as coisas produz sensaboria e: “[...] promove a

diferenciação, o refinamento e o enriquecimento das necessidades do público, o que

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obviamente deve conduzir ao crescimento das diferenças pessoais no interior desse

público”. (Simmel, 1967. p.22).

A metrópole produz estados mentais e psíquicos exclusivos de seus habitantes, necessários

para a sobrevivência. A mente moderna funciona a partir da lógica tempo = dinheiro sendo

que esta lógica terá sucesso se as ações forem precisas e cronometradas. (Isto me remete à

virada do milênio e o pânico generalizado de que o bug do milênio causaria os mais

variados transtornos financeiros). Simmel diz que “a mente moderna se tornou mais e mais

calculista”.

O autor acrescenta que na metrópole acontece “um retrocesso na cultura do indivíduo com

relação à espiritualidade, delicadeza e idealismo”. O motivo? Na metrópole tudo já está

construído, o autor diz: “oferece-se uma tão esmagadora inteireza do espírito cristalizado

que a personalidade [...] não se pode manter sob seu impacto”. (Simmel, 1967. p.23-24).

Desvanece! “Como a personalidade se acomoda nos ajustamentos às forças externas?”, ao

que tudo indica por criar mecanismos intelectuais que lhe permitam recolher-se ao mundo

interior resguardando sua individualidade e privacidade, administrando quaisquer conflitos

(morais, religiosos, políticos) que este recolher-se possa provocar.

“O declínio do homem público” para Simmel é uma das defesas do intelecto contra o

excesso de relações que poderiam ser travados nas grandes cidades. Se o indivíduo não se

precavesse de tantos relacionamentos, ele diz, “a pessoa ficaria completamente atomizada”,

entretanto, o autor completa que esse isolar-se, essa precariedade de relações típica da vida

metropolitana traz solidão no seu bojo.

Fichamento 3

FRUGOLI JR, Heitor. Sociabilidade urbana. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2007.

Logo na introdução, o autor esclarece o objetivo do livro: “A proposta do livro é aprofundar a compreensão do caráter relacional e situacional de atores e grupos sociais na cidade ou da cidade [...]”.

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Conceitos

O citadino. (p.7)

Sociedade em Simmel. (p.8 &3)

Sociabilidade a partir da Escola de Chicago. (p.17:2)

Ecologia humana. (p. 21)

Diversidade urbana. (p. 26:2)

Gentrification. (p.29)

Pessoa e indivíduo. (p.52:2)

Socialidade. (p.54:1)

Desenvolvimento

Como nasce a cidade. (p.8:4)

Modernidade = economia do dinheiro. ((p.14:2)

Características cotidianas da vida social. (p. 15:1,2)

Caráter de relações sociais que se dão na cidade moderna. (p. 16)

Park concretizou a teoria Simmeliana. (p.18:1)

Tipologia das sociologias em Simmel e Park. (p. 18:2)

O desenho de Chicago como um mosaico por Park expressava bem a falta de sociabilidade dos habitantes. (p. 19:1, 20)

Segregação socioespacial – Wacquant e as etnografias de guetos nos EUA e Paris. (p.31 a 35)

Hannerz e o que vem a ser a cidade. (p.46:1)

Sociabilidade: (re)leituras e desdobramentos possíveis.

Duas tipologias básicas:1º (p.23:3) /2º (p. 30:1)

Trajetórias no conceito de situação

Escola de Chicago e Escola de Manchester. (p. 36:1,2)

O tribalismo. (p.37)

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Reconfigurações do nós e eles a partir de situações urbanas. (p.38:1)

A dança kalela. (p.40)

A solidariedade étnica situacional/etnicidade urbana. (p.41:2)

Etnografia de Barth nas fronteiras do Paquistão e Afeganistão. (p.43)

Segundo Barth, a sociedade é resultado de ações. (p.43)

Acidade favorece a polietnicidade. (p.44:1)

Temas centrais na experiência urbana

O trânsito, o estrangeiro e a conversa – Simmel e Agier (p.48,49)

Sociabilidades alargadas. (p.50)

FICHAMENTO 4

HANNERZ, Ulf. Exploración de la ciudad. Hacia una antropologia urbana. México: Fondo de Cultura Económica, 1986. Cap. II “Etnógrafos de Chicago”.

No final do século XIX e início do século XX a cidade de Chicago experimentou grande

crescimento econômico movido pela indústria alimentícia dentre outras, atraindo grandes

levas de migrantes e imigrantes (notadamente do leste europeu). Neste canário multi étnico

a principal atividade dos sociólogos da Escola de Chicago foi descrever para distinguir

‘mundos sociais’ e ‘regiões morais’, buscando possíveis relações entre eles. O urbanismo

praticado em Chicago se tornou o objeto de estudo da escola.

Por volta da criação da Universidade de Chicago (1892), a sociologia praticada nos Estados

Unidos, embora buscasse melhorar a condição humana, concentrava-se em filosofia social

especulativa – que teorizava sobre as bases da sociedade humana e o progresso social e um

movimento de integração social – que se preocupava em reunir dados sobre as tendências

indesejáveis da sociedade industrial em expansão. A Escola de Chicago legaria ao

urbanismo e a antropologia urbana rico material adquirido a partir dos estudos de

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populações pobres, de imigrantes e contraventores. Segundo o autor, Howard Becker

(1966) referindo-se aos estudos conduzidos pela escola, disse que eles formavam um

mosaico, no qual cada um de seus pedaços contribuía com uma peça que no contexto servia

para o encaixe dos demais. (p. 67)

Os mais expressivos etnógrafos de Chicago.

William Isaac Thomas (1863-1947): seu método de trabalho consistia em entender o ponto

de vista do participante. Chamou este método de “definição da situação”. Para definir a

situação utilizava cartas, diário e autobiografias do participante além de relatórios de

psiquiatras e assistentes sociais. O conceito thomasiano da “desorganização social”,

caracterizada pelo decréscimo da influência das regras sociais de comportamento existentes

entre os membros individuais de um grupo teve um lugar de destaque nos estudos urbanos

de Chicago.

Robert Ezra Park (1867-1944): ao assumir uma cadeira na Escola de Chicago trazia a

experiência de jornalismo investigativo, o qual utilizaria na condução de suas pesquisas a

respeito da vida urbana. Seus campos de pesquisa foram os problemas de minorias étnicas e

o urbanismo, percebendo-os como campos interligados. Segundo Hannerez, muitos dos

estudos de Park se aproximam do que é feito pela moderna antropologia urbana na escolha

dos métodos de pesquisa, temas e modos de apresentar os resultados. Fruto da experiência

como discípulo de Simmel na Alemanha, via que “a cidade era na história universal, uma

força capaz de formar e libertar a natureza humana de uma maneira nova”. Desta

experiência Park passou a entender a formação do espaço urbano como social e

etnicamente estratificado. A espacialização do espaço urbano estava diretamente ligada à

especialização do trabalho, que concorreu para a “desorganização social”, ao desmantelar

as antigas formas de organização social (parentesco, casta e vínculos locais). Segundo

Hannerez, “[...] A divisão do trabalho criava um novo tipo de homem racional e

especializado [...] cada ocupação punha um selo nas pessoas”. (HANNERZ, 1986. p. 35)

Park dizia que o homem especializado era produto da vida urbana, cujas relações eram

pautadas no custo das mercadorias, “o dinheiro, mais que o civismo, se converte em um

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meio de intercâmbio”. Percebe-se assim que as teorias de Park foram cinzeladas por

Simmel.

Processos culturais urbanos:

- “mundos sociais” identificados por Park: superficialidade das relações, anonimato,

permissividade, “tribos”. Descrever os diferentes “mundos sociais” ou “regiões morais”

(que apesar de hostis favoreciam relacionamentos humanos) se tornou o principal objeto de

estudo dos sociólogos de Chicago.

- o “homem marginal” é culturalmente híbrido por não puder assumir sua cultura de origem

e não ser aceito na nova cultura exatamente por não ser originário dela. Ele é fruto da

segregação étnico e social que marginalizava negros e imigrantes, sendo o judeu a

caracterização absoluta deste homem marginal. A constatação, não apenas de Park, mas

também de outros sociólogos da escola, de que Chicago era subjetivamente dividida em

espaços sociais delimitados pela situação socioeconômica corroborou a tese de Park do

“homem marginal”.

- ecologia humana: segundo Park, assim como outros seres vivos, humanos também

lutavam pela sobrevivência, pelo espaço que habitavam e os grupos se sucediam. Os mais

aptos assumiam posições mais privilegiadas na sociedade. Segundo o autor é a partir deste

conceito que Burgess descreveu Chicago como uma cidade de círculos concêntricos e

chamou de cinturão negro o espaço ocupado por negros, imigrantes e pobres.

Já em 1915 Thomas percebia a antropologia como uma fonte de inspiração para os futuros

estudos urbanos. As novas gerações da escola de Chicago detiveram suas investigações em

tipos humanos caracterizados pelos espaços urbanos. Segundo Hannerez, a Escola de

Chicago teve precursores em todos os tipos de antropologia típica de cidades modernas:

estudos sobre fronteiras étnicas, gangues, ocupações temporárias, comportamento e

diversão em lugares públicos e sobre bairros mistos.

- Nels Anderson (1923), publicou estudo sobre o trabalhador migratório que viajava pelo

país e se detinha por longo tempo em Chicago, mas que não possuía vínculos. Ele próprio

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havia sido um hobo na juventude e conhecia in loco a vida outsider daquelas pessoas, a

pesquisa foi assim uma observação participante para o sociólogo, segundo o autor.

Anderson verificou que a exclusão social daqueles indivíduos (maioria esmagadora de

homens) os deixava em uma ciranda de pequenos serviços que jamais lhes proporcionariam

estabilidade social. Considera-se The Hobo como uma das melhores monografias de

Chicago em termos de detalhes etnográficos. (HANNERZ, 1986. p. 45).

- Frederic Trasher (1927), publicou um extenso trabalho sobre as gangues de Chicago. Foi

precursor dos estudos sobre a delinquência na vida urbana. Nas pesquisas descobriu que a

grande maioria dos membros de gangues era adolescente e que a formação das gangues

tinha aspecto territorial cujas fronteiras eram morais e culturais.

- William F. Whyte (1943) publicou A Sociedade da Esquina, no qual entendeu que um

bairro tem uma organização social própria e que as gangues não eram desorganizadas, eram

na verdade adaptações a um meio ambiente diferente.

- Louis Wirth (1928) ao publicar o livro O Gueto ofereceu um “trabalho de história social”.

Wirth trouxe à luz o funcionamento de comunidades judaicas e de como suas relações entre

si solidificavam a coesão social e de como a vida no gueto apesar da carga negativa do

substantivo reforçava o pertencimento. Os vínculos sociais eram bastante arraigados.

Segundo o autor, o livro O Gueto: “pode considerar-se como uma expressão da influência

do pensamento de Park acerca das relações raciais, É o típico “ciclo de relações raciais”,

indo do isolamento, passando pela competência, o conflito, a adaptação e a assimilação. O

gueto representava a adaptação e a saída dele era o princípio de assimilação.” O gueto

transformava-se em uma espécie de vestíbulo ao modo de vida americano.

- Harvey W. Zorbaugh (1929) no livro A Costa do Ouro e a Favela encontrou

representantes de vinte e oito comunidades dentre as quais os italianos da Sicília que

contrariaram suas suposições iniciais de que o bairro de baixo erra uma zona de

desorganização social. O autor verificou que na Pequena Sicilia imperava “um código de

moral mediterrâneo de intensa lealdade familiar, um estrito controle sobre as mulheres e a

ideia de honra e vingança”.

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- Paul G. Cressey (1932) publicou The Taxi Dance Hall, que foi uma das últimas

etnografias famosas associadas à primeira escola de sociologia de Chicago. Nele o autor

descrevia um salão de dança no qual dançarinas “alugavam” seu tempo para homens

“estigmatizados” que de outra forma não encontrariam companhia. Os orientais eram os

principais habitués destas casas de dança. O autor traz variados tipos de frequentadores e

trabalhadoras destes salões de dança, e conforme Hannerez: “The Taxi Dance Hall foi um

estudo pioneiro de uma dessas instituições em que muitos mundos se encontram”.

(HANNERZ, 1986. p. 67).

FICHAMENTO 5

WIRTH, Louis. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, Otávio (org.) O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1976 (p. 90- 113).

Concentrar-se em grande aglomerados urbanos tornou-se a marca registrada do homem moderno. Talvez Wirth antevendo o futuro tenha imaginado uma cidade satélite, ao continuar sua exposição de que o homem moderno se concentra “em agregados gigantescos em torno dos quais está aglomerado um número menor de centros e de onde irradiam as ideias e práticas que chamamos de civilização”. Constata que a industrialização é a grande divisora de água entre o modo de vida rural e o cosmopolita, modo de vida reificado pelo urbanismo.

Objetivo do artigo: “expor em número limitado de características que identifiquem a cidade. Dadas essas características, [...] indicar que consequências ou outras características delas se originam a luz da teoria sociológica geral e da pesquisa empírica.” (p. 97).

Conceito de cidade: “[...] um núcleo relativamente grande, denso e permanente, de indivíduos socialmente heterogêneos.” (p. 96).

Teoria sobre urbanismo: “[...] formas de ação e organização social que emergem em grupamentos compactos, relativamente permanentes, de grande número de indivíduos heterogêneos.” (p. 97). “É um modo de vida caracterísitico”. (p. 107).

A cidade é ambiente utilitarista por agregar indivíduos heterogêneos que a procuram para suprir suas carências. Esta agregação de “híbridos biológicos e culturais” pode adquirir diferentes características, segundo o autor, em função da “quantidade e densidade da população, e heterogeneidade dos habitantes e da vida grupal”.

Tamanho do agregado populacional

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Grandes aglomerações são por natureza atomizadas, com relações sociais superficiais inerentes à compartimentalização das atividades econômicas as quais influenciam tam- bém as relações interpessoais. Nas grandes aglomerações as relações secundárias preponderam sob as primárias, o urbanita recorre a máscaras para evitar contatos. Segundo Wirth: “A reserva, a indiferença e o ar blasé que os habitantes da cidade manifestam em suas relações podem, pois, ser encarados como instrumentos para se imunizarem contra exigências pessoais e expectativas de outros.”. Será por isso que cidade é para o homem civilizado?1

Densidade

Diz respeito à quantidade de indivíduos que ocupam uma mesma área. A ocupação de um mesmo espaço é explicada por fatores tais como: “local, natureza do trabalho, a renda, as características raciais, étnicas, o status social, os costumes, hábitos, gostos, preferências e preconceitos.” (p. 103) Estes elementos são aglutinadores no uso que os indivíduos fazem do espaço urbano. O autor não cita, porém fica subentendido o conceito de zonas concêntricas2.

Até o momento é o primeiro pesquisador que traz a solidão como uma das consequências do parco contato físico e acentuada reserva entre os habitantes das cidades, provocados pelas grandes distâncias (concretas e abstratas) que a vida urbana criou.

Heterogeneidade

O autor diz que a “dessemelhança é uma das principais características do habitante urbano.” (p.108). E que linhas raciais e étnicas podem assinalar a heterogeneidade da população. Traz o termo mobilidade como a possibilidade do indivíduo mover-se em diferentes setores da malha urbana sem necessariamente pertencer ao grupo para o qual migrou. É o que ele qualifica como status flutuante. O indivíduo pode pertencer temporariamente a determinado grupo ou grupos a depender do papel que esteja desempenhando; ele (sujeito utilitário e utilizável) circula pelas diversas zonas concêntricas apropriando-se do lugar que lhe cabe (em um conjunto de iguais) na cidade.

O urbanismo sob três perspectivas inter-relacionadas:

1. Ecológica: “A composição da população urbana mostra a atuação de fatores seletivos e diferenciadores”. (p.107)

2. Organização social: “[...] o habitante urbano esforça-se para fazer parte de grupos organizados de interesses semelhantes para obter seus fins”. (p.110)

3. A personalidade urbana e o comportamento coletivo: “[...] por meio de atividades de grupos voluntários, sejam seus objetivos econômicos, políticos, educacionais, religiosos, recreativos ou

1 PARK, Robert. “A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano”. In: VELHO, Otávio (org.) O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1976 (p. 26)2 HANNERZ, Ulf. Exploración de la ciudad. Hacia una antropologia urbana. México: Fondo de Cultura Económica, 1986.

Cap. II “Etnógrafos de Chicago”.

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culturais, que o habitante da cidade exprime e desenvolve sua personalidade, adquire status e consegue desempenhar a quantidade de atividades que constitui sua carreira na vida”. (p.111)

FICHAMENTO 6

PARK, Robert. “A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no

meio urbano”. In: VELHO, Otávio (org.) O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1976

(p. 26-67).

O autor inicia o capítulo descrevendo a cidade como um estado de espírito, um corpo de

costumes e tradições e dos sentimentos e atitudes organizados, inerentes a esses costumes e

transmitidos por essa tradição (cultura?); a cidade não é meramente um mecanismo físico e

uma construção artificial (não é coisa, não é apenas cimento e aço); é um produto da

natureza, e particularmente da natureza humana (é poesia?); a cidade é o habitat natural do

homem civilizado. (PARK, 1976).

À luz da ciência da ecologia humana constata-se que na cidade acontecem agrupamentos

ordenados por sua população e instituições, e que alguns fatores, equipamentos e situações

favorecem estas concentrações. Transportes e comunicações, linhas de bonde e telefones,

jornais e publicidade, construções de aço e elevadores e a própria divisão do trabalho com

inúmeras especializações e possibilidades de ocupação são fatores de concentração de

populações na cidade que além da mobilidade oportuniza emprego.

Segundo Park para a “investigação do comportamento humano no meio urbano” deve-se

atentar à:

Planta da cidade e a organização local. (PARK, 1976, p. 29).

A questão da segregação. “Gostos e conveniências pessoais, interesses vocacionais

e econômicos tendem infalivelmente a segregar [...]”. (P. 31).

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Como organização local deve-se observar a vizinhança porque é o conjunto

proximidade e contato com vizinhos que proporcionarão as bases da organização da

vida citadina. (P. 32 :5-9).

As colônias e área segregadas que são decorrentes da facilidade dos meios de

comunicação e transporte que facultam aos indivíduos o trânsito em mundos

diferentes enfraquecendo as relações com vizinhos e a existência de populações

sedentárias. (P.35 : 3-9).

A organização industrial e a ordem moral

A revolução industrial trouxe no seu bojo a divisão do trabalho e diversas formas de

gerenciá-la cientificamente; assim a organização industrial e a ordem moral decorrentes da

divisão do trabalho produziu:

Classes vocacionais que dizem respeito a diferentes ofícios e profissões, isto é, “classes

profissionais artesanais e de negócios” e tipos vocacionais que moldam o caráter do

indivíduo e dentre estes os tipicamente citadinos. (P. 38 : 4-13).

As notícias e a mobilidade do grupo social fazem parte da ordem moral. (Pag. 43:2- 9).

A bolsa de valores e a multidão levanta a questão das relações em cidades grandes estarem

pautadas principalmente em valores econômicos. (P. 45:4 -16).

Relações secundárias e controle social.

Relações primarias são as que o indivíduo trava na igreja, na escola e na família; estas

instituições têm o caráter de controle social. A vida moderna enfraqueceu estas instituições

e consequentemente o controle primário sobre os indivíduos quase desapareceu. Igreja,

escola e família podem ser estudadas sob o ponto de vista da vida citadina. As relações

secundárias que poderiam ser apontadas como causas do descontrole social, por terem

substituído as relações primárias na associação de indivíduos na cidade. (P. 48 : 1-12).

A crise e os tribunais trata do isolamento que as classes vocacionais impingiram á vida

urbana causando problemas como o vício comercializado e tráfico de bebidas, com

consequentes propaganda e controle social. O autor diz que devido as mudanças de relações

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a “propaganda social” passou a ser uma forma de controle social. A opinião pública torna-

se importante como uma forma de controle social. (grifo nosso). (P. 53-59).

O controle social apresenta ao citadino as regiões morais que são devidas às restrições que

a própria vida urbana impõe e às vezes à própria permissividade que as condições da vida

urbana proporcionam. (P. 66)

Ponto chave: A mobilização do homem individual refere-se a todas as possibilidades de

movimento que a cidade oferece ao seu habitante. Além do transporte e a comunicação, a

segregação urbana também favorece a mobilização do homem individual ao criar espaços

que podem ser transpostos ou que permitem o habitar em mundos diferentes. (P. 66-67).

FICHAMENTO 7 IMPRIMIR PARA ENTREGAR A HITA

VALLADARES, Licia do Prado. A visita de Robert Park ao Brasil, o homem marginal e a Bahia como laboratório.

“A viagem de Robert Park ao Brasil é pouquíssima conhecida dos autores americanos que escreveram sobre ele e sua obra. [...] Neste artigo, procuro mostrar a importância da viagem de Park ao Brasil no final dos anos 30, sugerindo que foi a partir de então que a ciência social internacional descobriu a Bahia, transformada desde então em um “laboratório social””. (P. 36: 2)

Ideia principal de Valladares na escrita do artigo.

“Eu quis mostrar, em primeiro lugar, que, na história das ciências sociais no Brasil, a visita do Robert Park a Salvador, na Bahia, muito embora pouquíssimo conhecida, foi importante. [...] Eu pretendi mostrar também que Salvador foi transformada num laboratório social a partir da chegada de Donald Pierson, o que foi reforçado com a visita de seu orientador. [...] A construção social da Bahia (Salvador) como laboratório estava dada...”. (P. 46: 1,4)

Duas noções clássicas de Park:

Melting Pot: “[...] usada por Park e discípulos, ao se referirem à convivência, mas que não se misturavam”. (P. 40: 2)

Homem marginal: Segundo Valladares, Park entendia que havia dois diferentes tipos de homem marginal.

“A noção de homem marginal, quando primeiramente cunhada, não é negativa, como poderia parecer. [...]. A partir da tese de seu aluno Stonequist (1937), Park dará mais tarde

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outro sentido à expressão homem marginal, [...] O homem marginal será tipicamente um imigrante da segunda geração, que sofre os efeitos da desorganização do grupo familiar, como a delinquência juvenil, a criminalidade, o divórcio. Para Park, portanto, o homem marginal é um híbrido cultural, que se encontra entre duas culturas distintas, não sendo plenamente aceito por nenhuma delas”. (P. 39: 3-5).

Valladares responde quem era o Robert Park que visitou o Brasil e o que o trouxe até aqui.

“Robert Park veio ao Brasil em 1937, quando já estava com 73 anos (nascera em 1864, na Pensilvânia) e já conhecia boa parte do mundo,[...]”. (P. 37:1)

“Muito embora uma “obrigação universitária” (acompanhar o trabalho que Pierson estava desenvolvendo) teria sido a causa primeira da viagem de Park ao Brasil, em 1937, o que parece tê-lo trazido até aqui foi, com efeito, o seu interesse pelas relações raciais. [...] querendo ver com os próprios olhos uma situação onde o melting pot de raças e culturas acabavam por desembocar na miscigenação, que planejou com sua esposa uma longa estadia na Bahia em 1937”. (P. 37:1, 7,9).

Um Melting Pot baiano?

A Salvador que Park encontrou em 1937 não correspondia ao modelo ideal de cidade inspirado pelo caso de Chicago. [...] Homem marginal? Melting pot? (P. 41:2)

Onde estava, portanto, o melting pot?

O caso baiano era de miscigenação, [...]. A cidade do Salvador se encontrava dividida em diferentes espaços étnicos, mas a divisão da cidade estava também marcada por espaços ricos e espaços pobres. [...]”.(P. 41:5) As divisões sociais eram mais fortes que as raciais. “O que chamou a atenção de Park foi, portanto, a divisão de classes existente na sociedade baiana, que se expressava também por uma divisão étnica e de ocupação do espaço urbano”. (P. 41:6)

O caso brasileiro alterou o significado do conceito de melting pot para Park:

“Park não ficou, porém, imune à miscigenação que constatou na sua visita a Salvador e que lhe foi mostrada por Donald Pierson ao percorrerem as ruas da cidade, ao visitarem pessoas da sociedade baiana, ao assistirem a várias cerimônias em terreiros de candomblé. [...] O que a miscigenação representava no Brasil e na Bahia? Park chegou mesmo a repensar o significado do melting-pot [...]. A visita de Park a Bahia teve, ao que parece, consequências na sua maneira de pensar a questão racial...”. (P. 41:7-10)

A hipótese de Valladares para a Bahia como um laboratório social e:

Defenderemos aqui a hipótese de que foi somente após a estadia do Donald Pierson e da visita de Robert Park a Salvador que essa cidade seria “transformada” em um verdadeiro laboratório social. [...] Não interessava simplesmente o estudo da cidade, mas a compreensão científica de seus problemas que, em consequência do rápido crescimento

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demográfico, da forte presença de imigrantes europeus, da intensificação do conflito entre capital e trabalho, eram inúmeros. (P. 42: 4,5)

A metáfora do laboratório: A cidade não seria como um laboratório na medida em que ela constituiria um dispositivo de controle das condições sociais de reprodução do comportamento humano? (P. 42: 6)

O trabalho de campo de Pierson

Salvador foi, então, “transformada” (como o fizera com Chicago, Park e seus discípulos) em um laboratório social. [...]. Enfim, aproveitou-se da rede de relações que estabeleceu, utilizando a técnica hoje conhecida como a de “bola de neve”. (P. 42: 7)

A experiência de Park em Salvador o fez repensar o conceito de homem marginal.

“[...] A organização da sociedade, a ascensão social dos mestiços, a ruptura da antiga ordem baseada na escravidão, tudo isso o impressionou e o fez se perguntar se o mestiço baiano, brasileiro, correspondia ou não ao homem marginal que definira a partir dos Estados Unidos”. (P. 42: 8)

A continuação da historia

“Logo após a viagem de Park ao Brasil, dirigiram-se à Bahia uma série de pesquisadores americanos, seguidos de franceses. Fora descoberta a Bahia pela ciência social internacional![...] O Brasil, visto por meio da Bahia, apresentaria o país ao mundo mediante relações raciais harmoniosas. Como contraponto, o Sudeste do Brasil se fazia necessário: na região mais urbanizada e industrializada, as tensões raciais se faziam presentes”. (P. 44: 1- 45:5)

FICHAMENTO 8 (16-04-2015)

HANNERZ, UIf. The Search for the City. In: ____. Exploring the City. New York: Columbia University Press, 1980. Cap. 3.

Objetivo do capítulo:

“In this chapter we will take our point til departure in Wirth's city, as illuminated by the contrast with Redfield's folk, in trying to come to grips with the idea of urbanism.” (P. 59)

Hannerz quer observar as relacões entre o urbanismo e tradicões culturais e de que forma a economia e tecnologia impactam a forma de viver na cidade: “[…] Thus we will go on to note the relationships between urbanism and particular cultural traditions; the impact of different economy and technologies on the form of city life […].” (P.59)

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Wirth e Redfield investigam a vida na cidade sob diferentes prismas. Wirth em Chicago e Redfield em cidades no interior do México. O segundo quer entender como se processa o urbanismo em cidades interioranas de outro país. (P.59)

Redfield faz trabalho de campo em quatro cidades diferentes na península de Yucatan, no México: um vilarejo Maia, uma vila de camponeses, uma cidadezinha comercial e outra com características cosmopolitas. (P. 60)

Tusik, o vilarejo Maia seria o tipo ideal por se apresentar como a de menor contato com o exterior, “The typical folk society [...]”. P. 60 (1-4)

Conforme Redfield, o inverso do tipo que se apresenta na vilarejo Maia e o que pode se considerar urbano: “As he noted, invert the qualities of that society and you get urbanism [...]”. P. 61(3)

Segundo Hannerz, Wirth no livro “O urbanismo como modo de vida”, descreve o urbanita como indivíduo que depende muito mais dos contatos secundários que dos primários e diferentemente do homem do interior tem maior dependência das redes que se formam na cidade para a satisfação de suas necessidades. A atitude blasé é usada como instrumento de imunização contra o excesso de contatos possíveis na cidade grande. “The reserve, the indifference, and the blasé outlook which urbanites manifest in their relationships may thus be regarded as devices for immunizing themselves against the personal claims and expectations of others”. (Wirth 1938:12) (P.62)

A vida urbana pode ser caracterizada pela alta individualização e especialização das atividades, as quais podem contribuir para a anomia - característica das sociedades fragmentadas, segregadas. Segundo Wirtht, códigos de conduta e ética não são as formas de convivência possíveis para os urbanitas. (P.62-63)

A dicotomia entre o urbano (Wirth) e o rural (Redfield) pode ser mais apreciada nos estudos dos sociólogos e antropólogos, nesta ordem, entretanto, como ressalta Hannerz a dicotomia intercambia tendo em vista que os modos de vida às vezes se mesclam. (P. 64, 2-3)

Pontos fracos do urbanismo de Wirth.

A cidade é um sistema fechado. Hannerz contesta: “The city is necessarily an open system, or a part system, unlike the folk society. In this way the two are not comparable.” (P.66)

Entre as páginas 66 a 72 Hannerz elenca os diversos pontos fracos na caracterização do espaço urbano em Wirth.

Etnocentrismo, tradições culturais e a unidade do urbanismo.

Hannerz diz que a caracterização do urbano e rural são variáveis e dependem do lugar. Traz o exemplo de uma cidade na Dinamarca cujas características de vida urbana

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assemelhava-se mais com as da vida rural de cidades americanas. “There are rural people who do not farm and urban people who do.”(P. 72, 1).

Cidades e sociedade: perspectivas históricas.

Hannerz defende a necessidade de se entender como se deu o urbanismo nas sociedades pré-industriais. Traz Sjoberg (1960), que historicia as sociedades feudais, e pré-industriais. (P. 77-79) Hannerz conclui o tópico defendendo a tese de Redfield de que pode haver diferentes tipos de urbanismo, os quais não são excludentes. “The essay by Redfield and Singer may have its main value in its suggestions concerning the cultural processes of different urbanisms, complementing the rather static and institutional view of many other writers”. (P. 89, 1)

Lugares centrais e lugares especiais: perspectivas geográficas.

O ponto de vista da antropologia difere da geografia quanto a centralidade do lugar. Segundo Hannerz: “If our concern here, […], with other centers.” (P. 93, 3)

Conclusão

Hannerz conclui o capítulo dizendo que a natureza do urbanismo é a serendipitade (serendipity), isto é, a possibilidade de descobrimos uma coisa quando na verdade estávamos procurando por outra. (P. 118)

FICHAMENTO 9 (16-04-2015)

MAGNANI. José Guilherme Cantor. DE PERTO E DE DENTRO: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 17, n. 49 – SciELO.

Logo na introdução Magnani esclarece o objetivo do artigo: “Neste artigo pretendo articular duas linhas de reflexão: uma sobre cidade e outra sobre etnografia. [...] Em primeiro lugar exponho, de forma sumarizada, alguns dos enfoques mais correntes sobre a questão da cidade e, em contraste com estas abordagens, que classifico como um olhar de fora e de longe, apresento outra de cunho etnográfico, a que denomino de olhar de perto e de dentro. [...] sinalizo com a perspectiva de um olhar distanciado, indispensável para ampliar o horizonte da análise e complementar a perspectiva de perto e de dentro defendida ao longo do artigo.”

Abordagens sobre a cidade

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Magnani diz que no artigo abordará problemas recorrentes em cidades de países periféricos causados pela desestrutura dessas cidades e de cidades de países do primeiro mundo com problemas causados por outras contingências. “[...] No primeiro caso, apresenta-se uma linha de continuidade onde fatores desordenados de crescimento acabam por produzir inevitavelmente o caos urbano; no segundo, enfatiza-se a ruptura, consequência de saltos tecnológicos que tornam obsoletas não só as estruturas urbanas anteriores como as formas de comunicação e sociabilidade a elas correspondentes; [...] (P.12,3)

Independentemente da localização geográfica das cidades e de seus problemas inerentes, todas as cidades modernas têm características comuns, equipamentos que podem ser encontrados em qualquer cidade do mundo, tais como os providos principalmente a partir do advento da globalização. Esta é a perspectiva, por exemplo, de Jordi Borja, que utiliza o conceito de “cidade mundial”; outros como Saskia Sassen (1998, 1999) preferem a expressão “cidades globais”. (P. 12, 6). Autores como Otília Arantes tem uma visão mais critica acerca da globalização, destacando aspectos segregadores. “[...] Essa mundialização do capital, para chamar a coisa pelo seu verdadeiro nome, que é econômica, tecnológica, midiática, gera descompassos, segregações, guetos multiculturais e multirraciais, ao mesmo tempo em que desterritorializações anárquicas, crescimentos anômalos e transgressivos. (P. 13, 5).

O olhar etnográfico: de perto e de dentro

A cidade é formada não apenas pela vontade política de uns poucos, mas principalmente pela afluência de atores anônimos que imprimem um modus à cidade. “[...] Sem ignorar a contribuição da ação engajada e organizada, no entanto, há uma gama de práticas que não são visíveis na chave de leitura da política (ao menos de uma certa visão de política): é justamente essa dimensão que a etnografia ajuda a resgatar [...]”. (P. 15, 3)

A proposta de uma etnografia urbana

Magnani propõe uma etnografia urbana por entender que na cidade existem diferentes teias de relações que são travadas pelos indivíduos: “[...] É neste plano que entra a perspectiva de perto e de dentro, capaz de apreender os padrões de comportamento, não de indivíduos atomizados, mas dos múltiplos, variados e heterogêneos conjuntos de atores sociais cuja vida cotidiana transcorre na paisagem da cidade e depende de seus equipamentos.” (P. 17,8).

O pressuposto da totalidade

O autor propõe estudar o espaço urbano a partir dos atores que o compõe que não são apenas pacientes, mas agentes nestes espaços. “[...] a maioria dos estudos que classifico como olhar de fora e de longe dá pouca relevância àqueles atores sociais responsáveis pela trama que sustenta a dinâmica urbana; quando aparecem, são vistos através do prisma da fragmentação, individualizados e atomizados no cenário impessoal da metrópole”. (P. 18, 6)

São dois os pressupostos da totalidade segundo o autor. (p. 19, 1-7)

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A família de categorias

Surgem a partir dos diversos reconhecimentos que os atores fazem do espaço: “[...] pedaço, trajeto, mancha, pórtico, circuito [...]”, o uso dos espaços traduzem significados de pertencimento dos atores ao lugar. O uso do espaço em relação ao tempo: “[...] o uso do tempo livre por intermédio dessas formas de lazer, verificou-se que sua dinâmica ia muito além da mera necessidade de reposição das forças despendidas durante a jornada de trabalho: representava, antes, uma oportunidade, por meio de antigas e novas formas de entretenimento e encontro, de estabelecer, revigorar e exercitar aquelas regras de reconhecimento e lealdade que garantem uma rede básica de sociabilidade”. (P. 20, 6)

Significados: em casa, fora de casa, pedaço, mancha, trajeto, circuito. (P. 21-25) “A noção de pedaço evoca laços de pertencimento e estabelecimentos de fronteiras, mas pode estar inserida em alguma mancha, de maior consolidação e visibilidade na paisagem; esta, por sua vez, comporta vários trajetos como resultados das escolhas que propicia a seus frequentadores. Já circuito, que aparece como uma categoria capaz de dar conta de um regime de trocas e encontros no contexto mais amplo e diversificado da cidade (e até para fora dela), pode englobar pedaços e trajetos particularizados.” (P. 25, 5). (Grifos nossos)

Conclusão

O autor diz que sua proposta de escrita é de uma antropologia NA cidade e não DA cidade. A estratégia foi a de olhar de perto e de dentro. Para quê? A fim de que o recorte fizesse sentido para todas as pessoas envolvidas no estudo, pesquisador e pesquisandos.

FICHAMENTO 10 (30-04-2015)

GLUCKMAN, Max. Analise de uma situação social na Zululândia moderna. In: A Antropologia das sociedades contemporâneas / organização e introdução Bela Feldman-Bianco. — São Paulo: Global, 1987. P. 227-344.

A organização social da Zululândia moderna.

Objetivo: “Neste ensaio, analisarei as relações entre africanos e brancos do norte da Zululândia, baseando-me em dados coletados durante dezesseis meses de pesquisa de campo, realizada entre 1936 e 1938.” Diz que não fara estudo comparativo. (P. 227). “analisei o equilíbrio (ou seja, as relações interdependentes entre as partes) da estrutura social da Zululândia no momento atual.” (P. 269).

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Gluckman divide o ensaio em duas partes e esclarece o método de escrita: “Na segunda parte deste ensaio, examinarei a validade desta abordagem para o estudo da mudança social na África; aqui, quero somente salientar que a existência de uma única comunidade branco-africana na Zululândia deve necessariamente ser o ponto de partida, da minha análise.” (P. 239).

Critério: “A comunidade de africanos de cada reserva mantém estreitas relações econômicas, políticas, bem como outros tipos de relações com o restante da comunidade africana branca do país. Por isso, ao explicitar os problemas estruturais em qualquer reserva, é preciso analisar amplamente como e em que profundidade a reserva está inserida no sistema social do país, quais relações dentro da reserva envolvem africanos brancos e como estas relações são afetadas e afetam a estrutura de cada grupo racial.” (P. 227).

Relevância da analise das situações sociais: “A partir das situações sociais e de suas inter-relações numa sociedade particular, podem-se abstrair a estrutura social, as relações sociais, as instituições, etc. daquela sociedade.” (P. 229,2).

As situações sociais: Diário de campo de Gluckman onde ele explica a importância daquela ponte: “A cerimonia de inauguração da ponte tornou-se relevante por ser a primeira construída na Zululândia do Norte pelo Departamento de Assuntos Nativos, após a implementação dos novos planos de desenvolvimento nativo”; além de satisfazer necessidades politicas e sociais. Conforme o autor: “[...] O principal objetivo da construção dessa ponte, nível baixo (cinco pés), foi o de permitir a comunicação do magistrado [...]. As mulheres zulus frequentemente viajam até setenta milhas para serem internadas nesse hospital.” (P. 231, 1,2). Entre as paginas 229 a 237 Gluckman, informa que fez amostra típica dos próprios dados de pesquisa de campo. (P. 237, 2).

Análise da situação social – O autor esclarece o porquê de situações sociais: “Denomino estes eventos de situações sociais, pois procuro analisá-los em suas relações com outras situações no sistema social da Zululândia”. (P. 238/2).

“O fato dos zulus e dos europeus poderem cooperar na inauguração da ponte mostra que formam conjuntamente uma única comunidade com modos específicos de comportamento”. [...] Essas relações podem ser estudadas enquanto normas sociais, como pode ser demonstrado pela maneira em que zulus e brancos adaptam, sem coerção, seu comportamento uns aos outros. Por isso posso empregar os termos Zululândia e zululandeses para abranger brancos e zulus conjuntamente, enquanto o termo zulu designa africanos somente.

“Modos específicos de comportamento”.

A segregação racial se mantem apesar da cooperação vista entre zulus e europeus: “Pretos e brancos são duas categorias que não devem se misturar, como é o caso das castas na índia ou as categorias de homens e mulheres em muitas comunidades.” (Pag. 242). A coesão não e social, a formação comunitária acontece em função dos interesses econômicos, ficando bem delineadas as diferenças étnicas. (Pag. 242).

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A segregação na divisão do trabalho acontece na especialização. Os zulus executam tarefas braçais enquanto os europeus dedicam-se a atividades que requerem especialização. “A ascendência política e econômica dos europeus sobre os zulus, como capitalistas e trabalhadores qualificados de um lado e camponeses e trabalhadores não qualificados de outro, pode ser em alguns aspectos comparada com outros países”. (Pag. 249).

A segregação religiosa. “Passo agora a considerar uma relação particular entre os zulus e os europeus, que também constitui uma divisão social dentro do grupo africano, a divisão entre pagãos e cristãos.” (P.253).

Gluckman revela também divisões sociais entre os zulus em função de classes, ocupação, etc.: “Poderíamos classificar os zulus entre aqueles que trabalham e aqueles que não trabalham para os europeus mas, como quase todos os zulus fisicamente capacitados o fazem durante uma, parte do ano, tomariam parte, em diferentes períodos, de grupos diferentes.” (P. 254) “Outras divisões que apareceram dentro do grupo zulu durante o dia, [...] Nesta nova organização política, há uma hierarquia definida de príncipes do clã real zulu e de plebeus, de regente e chefe induna da nação, chefe Mandlakazi, além de outros chefes indunas.” (P. 255).

A união dos zulus como povo se da através da organização politica que se opõe a dominação europeia: “É parcialmente através de sua organização política que os zulus têm reagido à dominação européia, pois as autoridades políticas zulus recebem lealdade de seus súditos, não somente como burocratas do governo ou devido a sentimentalismo e conservadorismo, mas também porque parte da tensão política contra o governo é expressa nessa lealdade.” (P. 255.2). O clã, composto de agnatas – parentes por linhagem paterna, segundo o autor funciona também como fator de coesão: “Grande parte da vida de uni zulu é dispendida nesses agrupamentos de parentes e vizinhos”. Se possível, um zulu associasse às mesmas pessoas nas cidades, como nas reservas. Os agrupamentos de parentes constituem particularmente fortes unidades cooperativas, seus membros ajudando-se mutuamente e dependendo uns dos outros. Possuem terras em proximidade umas das outras, arrebanham seu gado conjuntamente, dividem as atividades agrícolas, freqüentemente trabalham juntos em áreas européias, e ajudam-se em conflitos e em outras atividades. Estão sujeitos às suas próprias tensões, tensões essas que explodem em brigas e culminam em processos judiciais e acusações de bruxaria, resultando às vezes na divisão dos sítios e de seus grupos de residência. Entretanto, nos grupos onde existem fortes ligações sentimentais, as tensões causadas por conflitos de filiação a outras divisões no grupo zulu são parcialmente resolvidas. (P. 257)

O significado da inauguração da ponte: “Para resumir a situação na ponte, pode-se dizer que o comportamento dos grupos e indivíduos presentes expressava o fato da ponte, que era o centro de seus interesses, tê-los unido numa cerimônia comum. Como resultado de seu interesse comum, agiram segundo os costumes de cooperação e comunicação, apesar dos dois grupos raciais estarem divididos de acordo com o padrão da estrutura social. Igualmente, a celebração uniu os participantes dentre cada grupo racial, apesar deles terem se separado de acordo com as relações sociais existentes no interior do grupo. Nesta

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situação de cooperação, o poder do governo e a base cultural dos seus representantes organizam as ações dos grupos e indivíduos dentro de um padrão que exclui o conflito.” (P.260).

II

Mudança social na Zululândia

O desenvolvimento da nação zulu

Ao concluir a primeira parte do ensaio Gluckman apresenta a tese de que através do estudo comparativo nos diferentes períodos de relativa estabilidade na Zululândia ele poderá indicar como os conflitos provocaram desenvolvimentos necessários: “São exatamente estes conflitos imanentes no interior da estrutura da Zululândia que irão desencadear seu futuro desenvolvimento. [...] Analisarei a alteração e o ajustamento da estabilidade dos grupos (a mudança no equilíbrio) envolvidos, durante os últimos 120 anos, na constituição da comunidade da Zululândia em grupos raciais de culturas relativamente diferentes.” (P. 262).

Inicia a segunda parte do ensaio dizendo: “Pretendo agora examinar alguns dos processos históricos que produziram esse equilíbrio.” (P. 269).

A formação da nação Zulu: “Os povos de língua bantu, que têm uma cultura comum (conhecidos como Nguni), e que mais tarde formaram a nação Zulu, saíram do norte e do oeste, antes do século XV, em várias migrações, instalando-se nas províncias atuais de Natal, Zululândia e Transvaal Sudeste. Perambularam durante os séculos seguintes em migrações maiores e menores até se fixarem esparsamente por toda a região fértil.” (P. 270).

A linhagem era predominantemente, embora não exclusivamente, patrilinear: “Cada propriedade rural era habitada por um grupo de homens relacionados agnaticamente, juntamente com suas esposas, filhos e outros dependentes. [...]. As propriedades rurais vizinhas estavam relacionadas umas às outras agnaticamente, embora pudessem também ser encontrados parentes matrilineares ou por afinidade, ou mesmo algum estranho.” (P. 270).

Sistema politico: “O chefe era o centro da unidade tribal. Desempenhava o papel de juiz nas disputas, era o líder em guerras e migrações, o parente mais poderoso de quem se podia obter ajuda, bem como o arqui-sacerdote do clã que constituía o eixo central da tribo.” (P. 271)

À medida que a Zululândia adquire contornos de nação o poder se centraliza na figura do rei: “A coesão social do Estado zulu centrava-se no rei, em todos os níveis. Seu governo era sancionado pela força que representava, [...] O rei defendia os valores morais zulus não apenas como símbolo da coesão social, mas também como seu artífice”. (P.278).

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Gluckman verifica que economia e meio ambiente são um dos pontos de equilíbrio, os quais configuraram a Zululândia: “O equilíbrio da estrutura dependia de certa relação entre a população e o meio-ambiente. [...] Tribos e reinos alteravam-se rapidamente, porém sempre dentro de um padrão de aumento crescente das unidades políticas.” (P. 273)

O desenvolvimento da comunidade branco-zulu na Zululândia

A partir de eventos exteriores ao povo zulu, o povo branco que migrou da Europa afetou o equilíbrio presente, prevalecendo a colonização inglesa. (P. 279-285) Exemplos: “A Zululândia foi também arrastada para dentro de todo o sistema industrial e agrícola da Europa, [...]”. (P. 285). O chefe deixa o centro da unidade tribal, tendo em vista o aparecimento do sistema judiciário inglês (magistratura): “O desenvolvimento da estrutura social da Zululândia reflete-se nos anais magistráticos de Nangoma de 1887”. (P. 285).

O desenvolvimento do equilíbrio moderno da Zululândia

Gluckman aponta alguns fatores de equilíbrio: Primeiro, “uma tentativa de superar a distância entre cristãos e pagãos, [...] e a sua aversão à cultura à qual não ousam aspirar. Segundo, [...] dar igualdade aos negros. Terceiro como resultado de novas situações econômicas, [...] serem abandonados pelos seus povos. Quarto esta oposição aumentou a submissão aos chefes e especialmente ao reinado zulu. [...] Esta situação pode resolver esses conflitos somente até certo ponto, já que rupturas flagrantes são mais prováveis quando a cooperação e ã oposição são representadas por indivíduos diferentes”. (P. 293).

Na conclusão do ensaio Gluckamn esclarece os motivos para a escolha metodológica: “[...] usei dados históricos obtidos em diferentes fontes para reconstruir equilíbrios passados. O propósito dessas reconstruções, que são prejudicadas pelo material sociológico deficiente, foi o de proporcionar análises semelhantes àquelas que realizei com os dados coletados no campo moderno e não o de construir, algum "março zero da cultura", a partir do qual as mudanças teriam ocorrido”. (P. 301)

Alguns processos de mudança social

Plano deste ensaio

Na terceira parte do ensaio, o autor dialoga com o leitor explicando a condução da pesquisa a qual permitiu sua escrita: “Este ensaio constitui um experimento. Ao invés de analisar quaisquer mudanças reais que ocorreram na Zululândia, tento formular de forma abstrata processos de mudança social, isto é, certas relações invariáveis entre os eventos em sistemas sociais em mudança.” (P. 307)

Sistemas repetitivos e em mudança

O autor verificou a existência de duas classes sociais: “sistemas repetitivos e sistemas em mudança”. Segue: “Um sistema social repetitivo é aquele onde os conflitos podem ser inteiramente resolvidos e a cooperação inteiramente obtida dentro do padrão do sistema. [...] Por exemplo, na história zulu antiga, dois reis assumiram o trono usando a violência, mas as rebeliões não mudaram o padrão do sistema político zulu. 2 — Por outro lado, um

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sistema social em transformação é aquele onde, os conflitos podem ser apenas resolvidos parcial ou inteiramente, e, a cooperação é também parcial ou inteiramente atingida”. (P.309)

Cultura e relações sociológicas

Gluckman diz: ”Devo definir o que entendo por cultura e grupos de cultura. [...]”. Cultura “[...] eventos sociais que são considerados como representativos da comunidade que está estudando. Estes eventos típicos constituem o que proponho chamar de cultura da comunidade”. “Grupos de culturas [...] são grupos cujos modos padronizados de comportamento, crenças, leis, posses materiais, etc., não são similares”. (P. 310, 311).

Movimentos sociológicos são expressos em termos culturais

Segundo o autor, “as mudanças nas relações sociológicas devem ser expressas — e são expressas — em termos de cultura.” [...] As mudanças ocorrem nos sistemas de grupos de cultura tanto homogêneos quanto heterogêneos somente quando há conflitos que não podem ser resolvidos e a cooperação indispensável não pode ser alcançada dentro do padrão original. [...] Pois unidades sociais devem agir em termos de cultura, exatamente como um indivíduo pode agir apenas através de seus hábitos mentais e comportamentais. (P. 317)

Clivagem, conflito social e inércia social.

O ensaio apresentou a gênese da clivagem que se estabeleceu na Zululândia a partir da colonização britânica, informando inclusive a presença de uma clivagem subsidiaria: “Em qualquer sistema social há, uma clivagem dominante nos grupos, [...]. Esta clivagem dominante tem suas raízes no conflito fundamental do sistema (na Zululândia, a clivagem dominante expressa-se em grupos brancos e africanos). Em qualquer parte do sistema, pode existir uma clivagem subsidiária, operando nessa parte do sistema de modo similar à clivagem dominante no sistema total. Porém, a clivagem subsidiária será afetada pela clivagem dominante. Este é o princípio da clivagem dominante”. (P. 321,322)

A EXPRESSÃO CULTURAL DE CONFLITOS E CLIVAGENS EMERGENTES

Gluckman relaciona “os princípios gerais de expressão cultural* de movimentos sociológicos ao princípio de que, em todos os sistemas sociais, há uma tendência para que as disputas individuais que emergem dos conflitos sejam expressas em formas socialmente reconhecidas”. (P. 327).

CLIVAGEM SOCIAL E COOPERAÇÃO SOCIAL

Em qualquer sistema social existe uma tendência à cooperação atravessando todas as direções de clivagem. Por isso, num sistema social em mudança, até que a clivagem dominante seja radicalmente resolvida em um novo padrão, existe cooperação através dessa clivagem, sendo que cada clivagem nova tende a ser compensada por uma forma nova de cooperação. (P. 330).

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Comportamento individual e mudança social

Gluckman acrescenta: “A partir deste pano de fundo, proponho formular aquilo que considero como sendo processos sociais típicos, através dos quais o comportamento individual causa mudança social”. (P. 334)

Conclusão: algumas ilustrações da Zululândia sobre a aplicação destes processos

Diz-se do comportamento individual que causa mudança social. “Gluckman diz:” Meu argumento é que, formulando processos nestas direções e relacionando-os ao funcionamento das forças fundamentais numa situação de mudança total, o sociólogo pode ser capaz de explicar, e mesmo de predizer, a obsolescência, a revitalização e a adoção de cultura numa sociedade em mudança composta por grupos culturais heterogêneos. Isto pode ser feito através da determinação do equilíbrio entre os processos de obsolescência, “persistência, revitalização e a adoção de cultura”. (P. 337).

FICHAMENTO 11(30-04-2015)

BARNES, A. Redes sociais e processo político. In: A Antropologia das sociedades contemporâneas / organização e introdução Bela Feldman-Bianco. — São Paulo: Global, 1987. P. 159-189.

Objetivo do artigo: “Neste artigo, estou principalmente interessado na política neste nível não-especializado, bem como nos processos políticos em (sua manifestação do tipo trans-institucional. Tendo estas limitações em mente, concentrei minhas atenções no conceito de rede social, um instrumento analítico considerado útil por muitos antropólogos que estudam política local”. (P. 160).

Processo político conforme Barnes: [...] “processos através dos quais indivíduos e grupos tentam mobilizar apoio para seus vários objetivos e, nesse sentido, influenciar as atitudes e ações dos seus seguidores”. (P. 160).

Redes sociais: “A noção de rede social está sendo desenvolvida na Antropologia Social tendo em vista a análise e descrição daqueles processos sociais que envolvem conexões que transpassam os limites de grupos e categorias. As conexões interpessoais que surgem a partir da afiliação a um grupo fazem parte da rede social total tanto quanto aquelas que vinculam pessoas de grupos diferentes. [...] O conceito de rede social é apropriado em situações em que grupos persistentes, como partidos e facções, não estão formados, bem como em situações em que indivíduos são continuamente requisitados a escolher sobre

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quem procurar para obter liderança, ajuda, informação e orientação. Deste modo, o emprego da rede social nos ajuda a identificar quem são os líderes e quem são os seguidores, ou a demonstrar que não há padrão persistente de liderança”. (P. 163).

A rede social total

“[...] Neste artigo, estou somente interessado em relações simétricas, isto é, se A impinge em B, então B sempre impinge em A; mas, caso necessário, os conceitos que aqui discuto podem ser elaborados para a análise de relações não-simétricas (Cf. Luce, 1950:169-70)”. (P. 164).

Explicação do conceito rede social total e rede parcial: “[...] a rede é uma abstração de primeiro grau da realidade, e contém a maior parte possível da informação sobre a totalidade da vida social da comunidade à qual corresponde. Por "rede parcial" entendo qualquer extração de uma rede total, com base em-algum critério que seja aplicável à rede total. Deste modo, por exemplo, a "rede" cognática de parentesco forma uma rede parcial facilmente identificável. As redes de casamento, as redes políticas e religiosas [...]”. (P.166).

Estrelas e zonas

“[...] As conexões na rede total são relações diádicas entre pessoas, e uma maneira óbvia de se isolar uma posição ou localidade social na rede, para um estudo detalhado, é tomar qualquer pessoa Alfa e examinar a rede a partir de seu ponto de vista. [...] Manterei o termo "rede" para um conjunto de relações interpessoais concretas que vinculam indivíduos a outros indivíduos [...]”. (P.167).

Limites e finitudes

“[...] Uma rede finita é a que contém um número finito ou limitado de pessoas, enquanto que uma rede infinita contém um número indefinidamente grande de pessoas”. (P.177).

Densidade

“A maior parte dos escritores que utilizam a rede como instrumental analítico interessa-se pelo fato de que alguns dos contatos de qualquer Alfa são adjacentes entre si. É aqui que a noção de densidade aparece”. (P.168). “Definimos esta medida, a densidade da zona, como sendo a proporção das linhas diretas, teoricamente possíveis, que de fato existem.” (P.178).

Agrupamentos

“[...] a utilização original do termo pode ser ligeiramente ampliada para designar um conjunto de pessoas cujas conexões entre si são comparativamente densas, sem que, necessariamente, se constituam numa clique no seu sentido estrito.” (P.175).

Limites e finitudes

“[...] Uma rede finita é a que contém um número finito ou limitado de pessoas, enquanto que uma rede infinita contém um número indefinidamente grande de pessoas”. (P. 177) Há

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desta maneira, duas características distintas que são inerentes a qualquer rede total ou parcial: a rede é finita ou infinita. Há um número limitado de pessoas numa rede finita, e este fato é significativo para o fluxo de interações que existe na rede. [...] Assim, por exemplo, se tomarmos a rede parcial formada pelas relações entre pessoas da mesma geração de uma comunidade, haverá limites ou descontinuidades entre um indivíduo qualquer e seus pais, e entre ele e seus filhos”. (P. 179)

Conjuntos-de-ação (action-sets) e seqüências-de-acão (action sequences)

“A distinção que ele estabelece é entre a rede de relações sociais — que persiste, como se fora, em forma latente através do tempo — e o "çonjunto-de-ação" — que emerge num contexto específico para desempenhar uma tarefa específica. Um conjunto-de-ação tem um Alfa originador que toma a decisão de agir para atingir um objetivo específico. Seqüências-de-acão: Alfa ativa algumas ou todas as relações sociais em sua estrela primária, e aqueles contatos de primeira ordem por ele ativados respondem e, por sua vez, ativam algumas ou todas as relações em suas estrelas primárias. Aqueles contatos de segunda ordem de Alfa que são, desta forma, postos em funcionamento, respondem ativando algumas das relações em suas estrelas primárias, e assim por diante. Este processo continua até que os objetivos de Alfa sejam alcançados. É desta maneira que entendo o conceito elaborado por Mayer, embora ele não o descreva nestes termos. (P. 180, 181). Grifo meu.

Redes parciais

“Poderíamos, talvez, observar todas as relações na rede total que são "pessoais", ou seja, que derivam do status de uma pessoa, como uma amiga, patrono ou algo semelhante, ao invés da sua filiação a qualquer grupo. [...] sugiro que o termo "rede pessoal" deixe de ser empregado. Uma rede parcial, consistindo de relações que não são derivadas de filiação a grupos, pode ser designada como uma rede "idiossincrática". (P. 186).

Sociedades tribais e sociedades industriais

“Enquanto nas sociedades tribais as redes são tipicamente densas, nas sociedades industriais são tipicamente esparsas”. (P. 188).

FICHAMENTO 12- IMPRIMIR PARA ENTREGAR A HITA

ACCIOLI, Sonia. Redes Sociais e Teorias Social: revendo os fundamentos do conceito. Em: Ver. Inf. Londrina, vol. 12, n. Esp. 2007.

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Logo no resumo a autora diz: “[...] É um estudo conceitual que pretende situar

historicamente a noção de redes, buscando ainda identificar as formas as quais a expressão

redes sociais tem sido articulada e as abordagens empreendidas”.

Objetivo do artigo

“O presente trabalho tem por objetivo desnaturalizar a noção de redes, situando-a

historicamente, buscando ainda identificar os usos aos quais a expressão redes sociais tem

sido articulada e as várias abordagens empreendidas”. (P. 1)

Noção de redes em Ciências Sociais

“Em Ciências Sociais, rede seria o conjunto de relações sociais entre um conjunto de atores

e também entre os próprios atores. Designa ainda os movimentos pouco institucionalizados,

reunindo indivíduos ou grupos numa associação cujos limites são variáveis e sujeitos a

reinterpretações (COLONOMOS, 1995)”. “Para a Antropologia Social a noção de redes

sociais busca apoiar ‘a análise e descrição daqueles processos sociais que envolvem

conexões que transpassam os limites de grupos e categorias’ (BARNES, 1987, p.163)”.

(P.2: 1)

“Três possíveis abordagens inspiradas na leitura de Barnes, Mitchell e Clyde

buscando pensar as possibilidades de análise utilizando a noção de rede. São elas: uma

abordagem metafórica, que estaria voltada à filosofia de rede ou ainda a uma aproximação

conceitual; uma analítica centrada na metodologia de análise de redes, e, uma tecnológica,

cuja preocupação está voltada para as redes de conexões, para as possibilidades que se

colocam em relação às interações possíveis na sociedade através de redes eletrônicas, de

informações, interorganizacionais”. (P.2: 6).

Para Aciolli: “trabalhar com a idéia de redes significa trabalhar de forma articulada com a

idéia de informação”. (P.3: 2).

“Ao buscarmos retomar as raízes históricas da noção de redes trabalharemos com duas

abordagens - a metafórica e a analítica”: (P.3: 3).

“Para Barnes (1972), não existe uma teoria de redes sociais, sendo possível a adaptação da

noção de rede à diversas teorias. A concepção básica de redes - tanto para uso metafórico,

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quanto para o uso analítico - seria a de que a configuração de vínculos interpessoais

entrecruzados são de forma inespecífica conectados às ações dessas pessoas e às

instituições da sociedade. A idéia que permeia a metáfora de redes, é a de indivíduos em

sociedade, ligados por laços sociais, os quais podem ser reforçados ou entrarem em conflito

entre si”. (P.3: 5).

“Mitchell (1969) nos indica que como metáfora a noção de rede não permite a percepção de

vários aspectos das relações sociais tais como - ausência de ligação, intensidade, status,

papel social. A preocupação de Mitchel parece ser a de tensionar as duas possibilidades de

uso - o metafórico e o analítico, na medida em que também sugere os limites colocados

para o uso analítico de redes que limitaria a representação de pessoas em "nós" de uma

rede, e os relacionamentos entre eles em "linhas" ou "elos". Nesse sentido, o mesmo autor

lembra que a noção de redes sociais como método de análise deve ser usada de modo

complementar a outros métodos da Sociologia e da Antropologia”. (P.3: 5).

“RadcliffeBrown numa abordagem sociocêntrica percebe a rede social como uma rede na

qual todos os membros da sociedade ou parte da sociedade estão imersos (BARNES,

1972)”. “Radcliffe refere-se à uma rede total - que contém todos os laços sociais existentes

- no entanto, a maior parte dos estudos lidam com redes parciais - que contém apenas elos

sociais de um tipo específico”. “Na metáfora de Radcliffe, a rede social envolve todos os

membros da sociedade, que existem independentemente de qualquer investigador”. (P.4:1).

“Para Barnes teria sido Elizabeth Bott (1971) uma das primeiras antropólogas a usar a idéia

de rede enquanto uma ferramenta de análise dos relacionamentos entre pessoas, seus elos

pessoais e entre as organizações do contexto em que se inserem”. (P.4:1).

Do Uso Analítico ao Metafórico

“Em redes que tem um grande número de membros, utiliza-se como estratégia começar a

análise por um indivíduo e seus contatos mais diretos. O tamanho da rede é, portanto

importante para definirmos a análise, como também a multiplicidade de links, ou seja, de

relações existentes, e a qualidade das relações - descontínuas, a importância dos papéis que

os indivíduos definem para si mesmos nas relações, sua intensidade, durabilidade,

freqüência. Como membro de uma rede, o indivíduo é percebido como uma pluralidade de

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relações. Para captar essa pluralidade, o estudo de redes tem que se debruçar em

entrevistas e observação participante”. (P. 6:6) (Itálico nosso).

Pensar em redes: os usos metafórico, analítico e tecnológico

METAFÓRICO

“Ao refletir a relação indivíduo / sociedade Norbert Elias entende o social, o todo, enquanto

um conjunto de relações [...] Sociedade para Elias se constituiria a partir dessa rede de

funções / relações desempenhadas pelas pessoas. O autor usa a metáfora da rede para

explicitar sua concepção relacional de sociedade”. (P. 7: 2,3).

Para “Milton Santos, através das redes podemos reconhecer três níveis que articulam o

global, o regional e o local. São eles: o nível mundial; o território, país ou Estado; e o lugar

– ‘onde fragmentos de rede ganham uma dimensão única e socialmente

concreta’(SANTOS, 1996, p.215)”. (P. 7: 4,5).

ANALÍTICO

“O uso analítico de rede ou ainda a metodologia de análise de redes tem sido utilizada

especialmente na análise das chamadas redes de movimentos, redes de solidariedade, que

são expressões vinculadas à estudos do campo dos movimentos sociais. Esses trabalhos

partem da análise de redes utilizada pela Antropologia Social, articulando conhecimentos

das Ciências Sociais e da Geografia, como caminho metodológico que facilite a apreensão

das interações sociais, espaciais, informais e/ou institucionalizadas e temporais, que se

estabelecem nesse campo. (P. 8: 1).

TECNOLÓGICO

“[...] nesse campo estamos englobando o núcleo de tecnologias da informação - redes de

informações, redes de conexões ou redes temáticas, redes interorganizacionais, ou seja,

grupos que utilizam o termo rede no sentido de meio de acesso a informações, contato com

grupos ou pessoas através de redes de computadores’.” (P. 9: 1).

Algumas considerações finais

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“Como aponta Colonomos (1995), o debate sobre redes no campo das ciências sociais ao

iniciar-se traz em seu bojo a oposição entre estruturalismo e individualismo metodológico.

[...] Esse autor aponta que os estudos de rede ressaltam as alianças e coligações que os

atores constroem com o objetivo de consolidação do seu poder.

As redes nascem num espaço informal de relações sociais, mas seus efeitos são visíveis

para além desse espaço através das relações com o Estado, a sociedade e de outras

instituições representativas. A partir de interações estratégicas se dariam novas perspectivas

de análise, ou um novo individualismo metodológico (COLONOMOS, 1995). [...] Giddens

(1991) nos confronta com a questão da modernidade e suas descontinuidades. Ele ressalta

na modernidade a reivindicação de que o conhecimento é circular, ou seja, circula dentro e

fora do ambiente que descreve. [...] As tendências globalizantes da modernidade são

simultaneamente extensionais e intencionais - elas vinculam os indivíduos a sistemas de

grande escala como parte da dialética complexa de mudança nos pólos local e global.

Muitos dos fenômenos freqüentemente rotulados como pós-modernos na verdade dizem

respeito à experiência de viver num mundo em que a presença e ausência se combinam de

maneiras historicamente novas (GIDDENS, 1991, p.175-176). [...] Nesse sentido, o

entrelaçamento entre o local e o global torna-se uma reorganização do tempo e do espaço

que pode como diria Giddens, dissolver o sujeito num mundo de signos sem centro. Daí a

necessidade de pensar o local e o global de modo articulado, com também as várias formas

de valorização dos espaços internos - entendidos como os espaços locais”. (P. 10:2-5).

FICHAMENTO 13- IMPRIMIR PARA ENTREGAR A HITA

VELSEN, Van. “A analise situacional e o método do estudo do caso detalhado”. Em: Bianco, Bela Feldman (Org.) Antropologia das sociedades contemporâneas. Global Universitária, 1987, p. 345-375.

Velsen explica que no ensaio sugeriu formas de coletas etnográficas.

“Neste ensaio esbocei métodos de análise e pesquisa de campo desde a composição de costumes coletados ao acaso, passando pelo método estrutural — mais modesto, mas também mais frutífero com sua ênfase na morfologia social —, e chegando a um método que visa analisar as inter-relações das regularidades estruturais ("universal") de um lado, e o comportamento real ("único") de indivíduos, de outro.[...], apresentei algumas sugestões com referência à coleta do tipo de material que mais provavelmente satisfará as

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necessidades de algumas das teorias atuais. Estas necessidades tendem para uma análise sincrônica de princípios estruturais gerais que está intimamente ligada com uma análise diacrônica da operação destes princípios por atores específicos em situações específicas”. (p. 371:2,3).

A constituição do “presente etnográfico”.

“À medida que a pesquisa de campo tornou-se aceita como método de coleta de material antropológico, a ênfase, que antes se concentrava no estudo das sociedades como um todo, foi gradualmente deslocada para comunidades específicas ou segmentos de sociedades. [...] Daí o termo "presente etnográfico". Infelizmente esta mistura de material relativa ao passado e ao presente não é sempre adequadamente controlada, desembocando muitas vezes numa combinação feita ao acaso de informações vindas de diferentes períodos e consequentemente de diferentes condições sociais, políticas e econômicas. (p.347).

Aspectos do enfoque estruturalista.

P. 348 (1 e 2)

Critica a Evans-Pritchard, Fortes e Firth.

P. 350 (2)

Reconhecimento ao trabalho de Richards.

P. 351 (1)

O papel do informante em Velsen.

P. 352 (1,2)

Variação, mudança e o conflito de normas.

“[...] O enfoque estrutural de referência não é adequado à análise de conflito das normas e da resultante escolha da ação disponível aos indivíduos. [...] Este enfoque nos leva à "história" conjectural ou à "reconstrução" do sistema de normas tradicional (ver, p. ex., Hammond Took, 1962, e também Van Velsen, 1965).”. (p. 356:1)

Antropologia compreensiva.

P. 359, 360

Velsen diz que não houve ruptura na antropologia apesar da existência das correntes estruturalista e pós-estruturalista. P. 361.

Analise situacional e pesquisa de campo.

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“[...] A meu ver, a análise situacional pode ser muito útil para se lidar com este processo de opção, isto é, a seleção feita pelo indivíduo, em qualquer situação, de uma variedade de relações possíveis — que podem ser elas mesmas governadas por diferentes normas —, daqueles comportamentos que consideram que melhor servirão a seus objetivos. As relações e normas selecionadas podem provavelmente variar com referência aos mesmos indivíduos de uma situação a outra, bem como com referência a situações similares de um indivíduo ao outro”. (p. 363:2).

“Um problema relacionado de significação sociológica, pára b qual a análise situacional parece ser relevante, refere-se à discrepância entre, por um lado, as crenças das pessoas e a aceitação declarada de certas normas, e, por outro lado, o seu comportamento real”. (p. 364:1).

“Para que se possa apreender e, mais tarde, descrever o processo da opção, é necessário registrar, em detalhes meticulosos, as ações de determinados indivíduos específicos durante um período de tempo. [...]. O pesquisador terá que enfrentar certos problemas para dar ao seu material de caso uma perspectiva histórica”. (p. 364:2),

Continua discorrendo sobre a analise situacional detalhadamente nas paginas 367 (1,2) e 368 (2), especialmente.

FICHAMENTO 14 07/05/2015 IMPRIMIR PARA ENTREGAR A HITA

CAIAFA, Janice. Aventura das cidades. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007, 184 p.

Na introdução do ensaio (Algum tipo de viagem), Caiafa faz breve retrospecto sobre o nascimento da etnografia. Diz que a disciplina se tornou uma atividade do antropólogo nos finais do XIX e que Malinowski teve um papel importantíssimo na instituição da etnografia como ciência, afinal foi a partir de Malinowski que entramos em contato com o METODO ETNOGRAFICO. Caiafa diz que a característica central do estilo de trabalho de campo legitimada por Malinowski e: “colocar-se numa situação em que se poderá ter um certo tipo de experiência”. (P. 136:1).

Um método pensamento.

“[...] a etnografia e uma pesquisa qualitativa que lida com dados diversos, [...] e informações que espocam nos encontros de campo. [...] O etnógrafo, na situação [...] desse método pensamento”. (P. 138:3 e 139: 3).

Problemas de uma atividade vigorosa.

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“Talvez um dos mais [...] interpretativa”. (P. 142:1).

“Na etnografia da briga de galos, [...] interprete”. (P. 143:1).

“[...] antropologia dialógica [...] ‘proferidos pela multidão’”. (P. 144:1).

Um momento muito fértil

“O que chamo aqui de momento fértil, [...] ou uma abordagem definitiva”.(P. 145:2), marcados com ROSA

O trabalho de campo.

Segundo a autora este pode ser o aspecto mais desafiador da etnografia porque o etnógrafo deve exercitar o processo de estranhamento e ainda assim agir com empatia e solidariedade: os agenciamentos operam por co-funcionamento ou solidariedade/empatia; e um sentimento de sentir com... o outro. (P. 147(3) a 157).

O texto etnográfico:

O discurso misto (direto e indireto) e o ideal: “[...] A expressividade do [...] narrativo”. (P. 163:3, 164:2, 165:1, 168:2, 3, 169:4, 171:1).

Possibilidades de aplicação do método etnográfico em outros campos da ciência:

P. 173: 2.

FICHAMENTO 1521 /05/2015 IMPRIMIR PARA ENTREGAR A HITA

LEFEVBRE, Heenry. O direito a cidade/ Perspectivas e prospectiva/ Teses sobre a cidade, o urbano e o urbanismo. Em Henri LEFEVBRE. O direito a cidade. Centauro: São Paulo, 2006. 5 ed. P. 102-145.

O direito a cidade

Conceito de direito a cidade para o autor

“O direito a cidade so pode ser formulado como um direito a vida urbana [...]”. (P. 116:3) Neste paragrafo L. continua discorrendo sobre o papel do trabalhador em imprimir urbanidade a cidade pelo valor de uso que faz de seu espaço.

Necessidades sociais inerentes a sociedade urbana

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“As necessidade sociais tem um fundamento antropológico; [...] compreendem necessidades [...]. Enfim, a necessidade da cidade e da vida urbana so se exprime livremente nas perspectivas qu tentam aqui se isolar e abrir os horizontes. [...] não seria tomada pelo valor de troca, pelo comercio e pelo lucro?”. (P.103).

A ciência da cidade tem a cidade por objeto, dai a necessidade premente de uma ciência analítica da cidade. A terefa e difícil porque o objeto da cidade esta emaranhado no passado,no presente e no possível, que não se separam. “ A ciência da cidade exige um período histórico para se construir e para orientar a pratiaca social”. (P. 104:1, 2 e 110:2).

O fim do humanismo

Henri Lefevbre associa a desumanização causada pelas duas grandes guerras mundiais e o fim do humanismo como caracterizadores do urbanismo que passou a existir desde então, criado para o novo homem (novo?). Conforme o autor, “ a vida urbana ainda não começou”. Essa vida urbana depende de relações sociais que foram desmanteladas pelas duas grandes guerras. (P. 105: 1-6).

Demarches mentais

Mudancas de pensamento, reflexão, enfim démarches “parecem indispensáveis”. Sugestoes de démarches (providencias para conseguir alguam coisa, diligencia): transduccao, utopia experimental, a estrutura, a função, a forma e o sistema de significacoes. (P. 108:1 -109:5).

“A estratégia urbana [...] não agae por si mesma”. Para funcionar a estratégia urbana carece de redes de apoio obtidos na historia, sociologia e na própria sociedade consumidora do urbanismo, segundo o autor, a classe operaria. A estratégia urbana com “um programa politico de reforma urbana e projetos urbanísticos bem desenvolvidos devera ser pensada “a curto, médio e longo prazo”.(P. 111:2).

Como surgem os direitos.

“No seio dos efeitos sociais, devidos a pressão das massas,o individual não morre se afirma. Surgem direitos [...].Os urbanos transportam o campo consigo, ainda que não carreguem a urbanidade!” (P. 115:1 – 116:1).

Perspectiva e prospectiva

Perspectiva:“Panorama; tudo o que se consegue ver ao longe; aquilo que os olhos alcançam desde um certo lugar”.

Prospectiva : “Estudo das causas técnicas, científicas, econômicas e sociais que aceleram a

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 evolução do mundo moderno e previsão das situações que poderiam derivar das suas influências conjugadas”.

Crescimento orientado (prospectar/antever as novas necessidades). (P. 125:1,2)

A perspectiva

“A cidade futura [...]. Seria a cidade efêmera, perpetua obra aos seus habitantes [...]”. (P. 134:1

A cidade para o cidadão“Que a realidade urbana esteja destinada aos “usuários” [...], e uma versão justa poremenfraquecida desta verdade”. (P. 127:4). O autor historicia a pendulacao da balanca a favor dos interesses do capital e dos grandes conglomerados a qual tem desenhado os projetos urbanísticos da cidade. (P. 126:1-128:2).

A cidade que existe

Lefevbre não cala a pergunta insurgente: a cidade que existe, Nova Iorque, Paris ou outra megalópole, existe a serviço de quem e para quem? Estas cidades e seus ocupantes (proletários e ate mesmo intelectuais) são colocadas analogamente na mesma perspectiva das cidades feudais.Os cidadãos são vassalos das elites econômicas. (P. 120:1).

Os modos de produção e os tipos de cidades. (P. 129:1-131:1).

A prospectiva

A arte ao serviço do urbano – significados

“ [...] Isso querr dizer que os tempos-espacos tornam-se obra de arte e que a arte passada e considerada como fonte e modelo de apropriação do espaço e tempo. [...] Sem que sejam rompidas, nem rejeitadas, essas categorias recebem alguma outra coisa,algo novo: um outro sentido”. (P. 134:2)

O novo sentido do direito a cidade

“[...] direito a liberdade, a individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. [...] estão implicados no direito a cidade”. (P. 135:1)

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Teses sobre a cidade, o urbano e o urbanismo.

São doze as teses de Lefevbre: (P. 141-145)

1. “Dois grupos de questões [...]: as questões da moradia e do habitat [...], as questões da organização industrial e da planificação global”.

2. “Esses dois grupos de problemas foram e são colocados pelo crescimento econômico, pela produção industrial”.

3. “O duplo processo de industrialização e de urbanização [...] ao crescimento industrial. So uma teoria permite utilizar os dados práticos e realizar efetivamente a sociedade urbana”.

4. “Para esta realização não bastam nem a organização da empresa, nem a planificação global, ainda que necessárias. [...] Nem o Estado nem a Empresa fornecem os modelos indispensáveis de racionalidade e de realidade.”

5. “A realização da sociedaded urbna exige [...] igualmente indispensável”.6. “A classe operaria sofre as consequências da explosão das antigas morfologias. [...]

a miserai de seu “habitar” designam-na pratica a classe operaria”.7. ”Em condições difíceis, [...] e por conseguinte se inscrevem nas perspectivas da

revolução sob a hegemonia da classe operaria”.8. “Para a classe operaria, rejeitada dos centros para a periferia, [...] e tornar eficazes

essas obsessões”.9. “A transformação revolucionaria da sociedade tem por campo e alavanca a

produção industrial. [...] revolucionaria. Ela da lugar a uma estratégia que se opõe a estratégia da classe dominante”.

10. “So o proletariado pode investir sua atividade social e politica na relizacao da sociedade urbana. [...]. so ele também pode [...] sobre a naureza material”.

11. “Entretanto, persiste a diferença entre produto e obra. Ao [...] contem o sentido da obra”.

12. “Isso exige, ao lado da revolução econômica [...] uma revolução cultural permanente”.

FICHAMENTO 1621 /05/2015 IMPRIMIR PARA ENTREGAR A HITA

URIARTE, Urpi M. A rebelião do vivido. Henry Lefebvre no Centro de Salvador. Apresentado na URBI C 3: III Seminario internacional Urbicentros. Salvador, 22 a 24 de outubro de 2012.

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Breve biografia de Henri Lefevbre. “[...]Apesar de ser um homem de partido (membro do Partido Comunista Francês durante trinta anos, de 1928 a 1958), Lefebvre nunca foi um marxista ortodoxo, fechado no dogma, conformado com interpretações prontas. Do marxismo, bebeu principalmente duas ideias: a teoria da alienação e a crítica do Estado (DEULCEUX; HESS, 2009)”. (P. 2:4)

Conceito de revolução urbana para Lefevbre: “Em A revolução urbana definiu a mesma como o “conjunto das transformações que a sociedade contemporânea atravessa para passar do período em que predominam as questões de crescimento e de industrialização (...) ao período em que a problemática urbana prevalecerá decisivamente” (2002: 18). Acreditava ser a cidade o lugar da revolução e as questões urbanas os motivos desta: “as contradições não se situam mais entre a cidade e o campo. A contradição principal se desloca e se situa no interior do fenômeno urbano: entre a centralidade do poder e as outras formas de centralidade, entre o centro „riqueza-poder‟ e as periferias, entre a integração e a segregação” (2002: 155)”. (P. 17:3)

Objetivo do artigo: “Este artigo pretende trazer Henri Lefebvre para o centro de Salvador: usar suas ideias e categorias para interpretar alguns discursos e cenas na capital baiana, demonstrando como o que ele chamou de direito à cidade está sendo exigido hoje no Pelourinho e como o que ele denominou de a rebelião do vivido está acontecendo em espaços centrais, tais como a Avenida Sete de Setembro”. (Resumo)

A rebelião do vivido e o espaço abstrato: “Lefebvre se refere à rebelião do vivido para falar da importância do cotidiano e da práxis como condições e arenas essenciais para enfrentar a suposta racionalidade, enfim, o espaço abstrato [...] Por espaço abstrato,[..] Lefebvre entendia, um espaço onde primavam os pactos de não-agressão, as distâncias respeitosas, o consenso e, no entanto, a violência permanecia latente. [...] No caso do centro de Salvador, reconhecemos esta rebelião nas queixas e propostas da Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico (AMACH) em relação ao espaço que desejam para si e nos espaços praticados pelos vendedores informais de rua”.(P. 2:3)

A escolha da autora ao escrever sobre o Centro de Salvador a partir de Lefevbre:

“O que mais admiramos na obra de Lefebvre é sua confiança no possível, que não deve confundir-se com um simples otimismo. Lefebvre era um visionário, um homem de possibilidades, interessado em descobrir as virtualidades contidas no presente. [...] Ele acreditava que a imaginação só podia emergir do que já existe, conclamando para que as

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virtualidades do presente sejam vistas, para que sejam captadas as possibilidades alternativas contidas nas práticas efetiva”. (P. 3).

Marxista, Lefevbre critica Marx que não se ocupou dos problemas urbanos, porem ele próprio ousou ao “abordar aspectos da realidade tidos como secundários para os marxistas: a vida cotidiana, a produção do espaço, a conjuntura”. (P. 4:3)

O DIREITO À CIDADE NO PELOURINHO

O que e o direito a cidade: “[...] é necessário não confundir o direito à cidade com o direito a alguma ou algumas coisas, como a rua asfaltada, um teto, eletricidade ou água encanada. [...], mas algo mais vago, porém, essencial: a vida cotidiana na cidade, uma cidade feita de satisfação e prazer, de encontros, ludicidade e imprevisibilidade; o direito a habitá-la, a praticá-la, a moldá-la em função dos valores de uso, o direito à obra. Assim, a meu ver, o que Lefebvre chamou de o direito à cidade não é o direito a uma casa, ou uma praça (isto é, espaços), mas o direito ao valor de uso primar sobre o valor de troca (isto é, os usos dos espaços)”. (P. 6:1).

Habitar ou habitat?

“Em O direito à cidade, o autor propôs uma distinção conceitual entre habitar e habitat. [...] Habitar é participar, se apropriar [...]Já o habitat é uma imposição, uma “soma de coações”, algo “instaurado pelo alto”; [...]”. (P. 6:2).

A autora historicia o processo de gentrificacao ocorrido no CHS e de como se verificou na pratica a negação do direto a cidade aqueles oradores originais. (P. 7-9:1)

A troca dos valor de uso pelo valor de troca e perniciosa por roubar do lugar o sentimento de pertencimento que apenas os que valorizam o lugar pelo uso que fazem dele tem: “Segundo Lefebvre, o urbano, a vida urbana, se baseia no valor de uso, que não se confunde com o valor de troca, que é a equivalência no mundo da mercadoria”. [...] É o valor de uso privilegiado pelo morador que nos ajuda a entender por que muitos invasores se negam a abandonar seus chamados barracos para morar em bairros distantes: a facilidade de transporte e proximidade do trabalho, a recusa da alta densidade populacional, mas, principalmente, a vizinhança conhecida, tornam-se mais importantes do que os valores materiais da infraestrutura urbana (ruas retilíneas, meios fios, escoamento pluvial, iluminação pública) (OLIVIERI, 1999: 68)”. (P. 9:2 – 10:1).

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Perda de significado ao se impor o habitat ao habitar: “ Ao contrário dos assentamentos ilegais,[...]. Os espaços pequenos não foram pensados para ampliações e, assim, toda adequação da unidade supõe necessariamente a transgressão do espaço comum. [...] Todavia, o maior problema apontado pelos moradores é a ausência de vida social, de coletividade e vizinhança: “Para aqueles habitantes que provêm de acampamentos e que trazem uma história de participação e pobreza, não é a estreiteza de suas moradias o que mais lhes incomoda. É a ausência de gestos de solidariedade e de uma vida comunitária que eles mais sentem falta” (MÁRQUEZ, 2005: 171)” (P.10:2-11:1).

‘A AMACH reivindica o valor de uso’: “Chegamos assim à relação entre habitar, valor de uso e direito à cidade: ‘ Habitar é criar, é produzir mediante apropriações do espaço (e do tempo), mediante relações. [...] (LEFEBVRE, 1969: 108)”. (P. 11:2,3)

OS BURACOS DO POSSÍVEL NA AVENIDA SETE DE SETEMBRO

A sobrevivencia do urbano na anti-cidade: “Segundo Lefebvre, isso se dava porque a realidade urbana era produzida por duas forças: de um lado, os processos globais (econômicos, sociais, políticos) que modelaram o espaço urbano e a cidade, generalizando as trocas comerciais e a industrialização; de outro, a ação criadora, a apropriação, inventando, esculpindo o espaço, atribuindo ritmos, transformando a vida quotidiana (1969: 52)”. (P. 13:2).

“É importante salientar que o conceito de vida urbana (em singular) representava, na prática, várias formas de vida urbana: ‘[não] negligenciar as singularidades da vida urbana, os modos de viver da cidade, o habitar propriamente dito. Donde uma outra definição, pela pluralidade, pela coexistência e simultaneidade no urbano de padrões, de maneiras de viver a vida urbana (o pavilhão, o grande conjunto, a copropriedade, a locação, a vida quotidiana e suas modalidades entre os intelectuais, os artesãos, os comerciantes, os operários etc.) (LEFEBVRE, 1969: 57)’”. (P. 14:1). (Negritos nossos).

A prática da apropriação. “Diante da passividade dos espaços absolutos, espaços abstratos da sociedade em transição, Lefebvre opõe a prática social nova, a da sociedade urbana, que é a “prática da apropriação, pelo ser humano, do tempo e do espaço, modalidade superior de liberdade” (2000: 131). A apropriação é um conceito-chave para entender como, no meio de uma anti-cidade, a vida urbana pode não só sobreviver como se intensificar. Apropriar-se de espaços (e tempos) é não aceitar o imposto, é metamorfosear o imposto em obra (1969: 106), é a capacidade de transformar a realidade, logo, é a apropriação que restitui à cidade o seu sentido de obra e não apenas produto.” (P. 14:4). (Grifos nossos).

Etnografia na rua do Forte de São Pedro

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“As ideias e conceitos de Lefebvre expostos até aqui nos ajudam a interpretar alguns personagens, lugares e práticas que encontramos na Avenida Sete de Setembro, no centro de Salvador.[...] Na Rua do Forte, os becos são os lugares do possível”. (P. 15:2 – 17:1)

À GUISA DE CONCLUSÃO: SAINDO DOS CAMPOS CEGOS

“Em A revolução urbana, ele (Lefevbre) designava o seu momento atual como um estágio entre duas épocas, no meio, no corte, nas dobras delas. Entre elas, existiam campos cegos, na medida em que não conseguíamos enxergar: ‘Em que consiste tal cegueira? No fato de olharmos atentamente o campo novo – o urbano – vendo-o, porém, com os olhos, com os conceitos, formados pela prática e teoria da industrialização, com um pensamento analítico fragmentário e especializado no curso desse período industrial, logo, redutor da realidade em formação’ (LEFEBVRE, 2002: 38). Para sair da cegueira, é preciso se despojar de velhos conceitos ou ideias fixas, e ver nas novas práticas, novos atores e novos lugares, embriões de uma nova realidade urbana. A luta não se reduz a um discurso articulado, a uma prática organizada, a um movimento centralizado. Lefebvre abriu um caminho ao nos lembrar que é preciso enxergar com novos olhos o campo novo que surge”. (P. 17:4-18:1).

FICHAMENTO 17 21 /05/2015 IMPRIMIR PARA ENTREGAR A HITA

HARVEY, David. A criação dos bens comuns urbanos. Cidades Rebeldes: Do direito a cidade a revolução urbana.São Paulo: Martins Fontes, 2014. 3 ed. p. 134-170.

Tese central: A plasticidade do comum. “Portanto, o comum [...] o aspecto do ambiente tratado como um comum sera tanto coletiva quanto não mercantilizada – para além dos limites da logica das trocas e avaliações de mercado. [...] Desse modo [...] comercializada”. (P. 145:1).

Os bens comuns urbanos são criados a partir do surgimento das cidades e dizem respeito a tudo que as pessoas partilham em comum nas cidades; “são os recursos de propriedade comum”. Possiveis causas da perda da comiunalidade nos dias atuais: “privatizações, cercamentos, controles espaciais, policiamento e vigilância”. (P. 134).

Na metafora do gado critica a argumentação de que a privatização dos bens comuns seja a solução para o uso perdulário dos recursos naturais. (P. 135).

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Blocos antagônicos: dos que defendem a propriedade privada e os que defendem a intervenção estatal autoritária. (P. 136: 1).

Harvey traz a autora Elinor Ostrom, defensora da não intervenção estatal na administração de recursos comuns, criticando a tese de Ostrom pela amostra mínima que a autora apresenta. Harvey cre que sob certas circunstanacias a intervenção estatal e indispensável. (P. 136: 2,3).

Especificidades hao de ser observadas. Segundo Harvey, o cercamento de comuns ocasionalmente pode se revelar a única maneira de protege-los. (P. 139: 2).

Tendencia nas cidades modernas – comuns excludentes. (P. 141:1).

Os vários tipos de comuns – tangíveis e intangíveis. (P. 142:1-3).

O uso do espaço na cidade: espaço publico, bem publico e bens comuns. (P. 143:2-3).

Alienacao do comum (?) “ O comum,[...], pode ser vendido, mesmo não sndo uma mercadoria em si”. O ambiente [...]. Esse tipo de rua não e um comunm”. Capitalizacao de comuns urbanos e seu impacto na comunalizacao. [...] Contudo este tipo de comum [...] a não ser os muito ricos”. (P. 146:1).

Os efeitos da gentrificacao em alguns setores nos EUA e Europa. (P. 152).

O capital exclui o trabalhador que agrega valor ao comum.“A luta pelo direitos a cidade e contra os poderes do capital que se alimenta impiedosamente e extraem renda da vida comunal que outros produziram”. (P. 153:2- 154:1).

Urbanizacao em Harvey. “A urbanização nada mais e [...] por interesses privados”. (P. 1526:2).

Harvey prevê a escalada das desigualdades sociais entre comunidades. Ex: Nova Iorque. (P. 162: 1 e depois, nesta ordem 161: 2)

O urbanismo foi afetado pela crise econômica global (P. 166).

Alternativas a perdas dos bens comuns apresentadas por Harvey. (P. 168: 1,2)

FICHAMENTO 17 apresentação 5

WACQUANT, Loic. Ressituando a gentrificação: a classe popular, a ciência e o estado na pesquisa urbana recente.

Logo no resumo, segundo Wacquant o artigo tem por objetivo ampliar “o diagnóstico de Tom Slater sobre as causas da gentrificação da pesquisa recente sobre gentrificação” Na nota 2 sobre a gentrificacao da pesquisa, o autor esclarece que o termo indica: "[...] que a

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análise do processo de gentrificação resulta também de um deslocamento da perspectiva analítica dos estudos urbanos e da ação política sobre as cidades no contexto contemporâneo, que desconsidera as relações de classe na esfera pública e na investigação social”.Ele argumenta que o deslocamento de denúncia para celebração da gentrificação, a elisão do deslocamento dos residentes estabelecidos e o foco eufemístico em "mesclagem social" participam de um padrão de invisibilidade da classe operária na esfera pública e na investigação social”. (P. 51).

Diz que Slater denuncia o mascaremento da gentrificacao por setores empresariais e pelo governo: “Ele aponta para uma guinada surpreendente e uma tendência perturbadora nos estudos recentes sobre gentrificação, [...]que equipara a reforma da metrópole neoliberal com o advento de um paraíso social de diversidade, energia e oportunidade”. (P. 51: 1).

Critica a Slater por não aprofundar o debate: “Mas o diagnóstico de Slater [...]não aprofunda o bastante e, como resultado, seu apelo para "resgatarmos o termo daqueles que edulcoraram o que há nem tanto tempo era `um mundo sórdido'" (Slater, 2006, p. 737) corre o risco de não ser suficiente para seus objetivos tanto na frente científica como na política”. (P. 51: 1).

O autor denuncia que a atual pesquisa urabana e dirigida a gentrificadores e que o estado se preocupa em fornecer urbanismo para as classes media e alta: “ Essa obliteração literal e figurada do proletariado na cidade é reforçada pela heteronomia crescente da pesquisa urbana,[...]. E, por sua vez, ambas as tendências revelam, confirmam e incitam o papel em transformação do Estado, de provedor de[...] bem-estar social, de modo a renovar a cidade como local aprazível de e para o consumo burguês (Wacquant, 2009). (P. 51: 3).

A classe operária desvanecente na esfera pública e na pesquisa urbana

A pesquisa seria sobre gentrificacao deveria obedecer a metodologia sugerido pelo autor: “Qualquer estudo rigoroso de gentrificação pareceria, ex definitionis, agrupar as trajetórias dos membros estabelecidos das classes mais baixas e dos recém chegados de classes mais altas, disputando o destino da área reformada, pois esse nexo de classe forma o próprio coração do fenômeno (Glass, 1964; Lees et al., 2007)”. Critica a declaração de Slater: “ a razão por que o deslocamento foi deslocado `é essencialmente metodológica”.Wacquant rebate Slater ao dizer que: “ a ausência física daqueles desalojados do bairro[...]para documentar a turbulência habitacional que fermenta a base da estrutura urbana”. Para o autor o afastamento dos gentrificados do escopo da pesquisa e ato consciente: “Certamente, esses obstáculos "metodológicos" não embaraçaram a geração fundadora dos estudiosos da gentrificação! A evaporação empírica dos exilados da classe operária da literatura sobre áreas renovadas não resulta de técnicas inadequadas de pesquisa: ela espelha a fragmentação objetiva da classe operária industrial,[...]“. (P. 52: 1).

A desvanecenca da classe operária

Com a desindustrialização e o deslocamento para empregos de serviço desregulados, a expansão do desemprego em massa e da instabilidade do trabalho, e a universalização da escolaridade como meio de acesso até para empregos desqualificados, a classe operária

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unificada e compacta, que ocupava a boca de cena da história até a década de 1970, se contraiu, fragmentou e dispersou.[...] Existem operários, com certeza, mas a classe operária como tal é antiquada, inescrutável e despercebida, senão invisível”. (P. 52:2 ).

O atual foco dos estudos urbanos

“[...] os estudos clássicos sobre "bairros tradicionais de classe operária" dissecados por Topalov (2003) desapareceram, sendo substituídos por [...] investigações sobre etnicidade e segregação, por um lado, e pobreza urbana e criminalidade de rua, por outro. Para cada livro sobre áreas de classe mais baixa, focalizando a estrutura social e a vida cotidiana entre trabalhadores [...] violência e economia informal (Bourgois, 1995; Lepoutre, 2005; Smith, 2005; Venkatesh, 2006). (P. 53:1 ).

A crescente heteronomia da investigação urbana

Conforme o autor a crescente heteronomia da investigação urbana se da por três questões básicas: Primeiro, “o colapso da classe operária industrial; segundo, “a subserviência crescente da pesquisa urbana aos interesses, categorias e disposições dos fazedores de políticas e de opinião” e finalmente “a pesquisa urbana é orientada principalmente pelas prioridades dos gestores do Estado e pelas preocupações da mídia dominante”. (P. 53:3, 4 ).

Wacquant denuncia que a agenda intelectual e feita a partir de diferentes politicas publicas e interesses financeiros, tanto na America do Norte quanto na Europa: "A reforma da Previdência Social chamou a atenção": esse trecho é eloquente sobre como os desenvolvimentos políticos e as carreatas de financiamento que eles criam conduzem a agenda intelectual. [...]como cortina de fumaça para obscurecer a dessocialização do trabalho assalariado e seu impacto nas estratégias de vida e nos espaços do proletariado emergente (Wacquant, 2006). Chama este mal da “heteronomia que aflige, com virulência crescente, amplos setores da pesquisa social em geral e da pesquisa urbana em particular”. (P. 54:1, 2 ). (Negrito nosso)

O Estado como dono de casa e agência de purificação das ruas

“É mais que tempo de os estudiosos da gentrificação reconhecerem que o principal motor por trás da (re)alocação de pessoas, recursos e instituições na cidade é o Estado”. (P. 55:2 ). O que ocorre? “ [...] a pesquisa em gentrificação, é problemática pelo que deixa de fora: política, programas de ação e o Estado”.“ A tese do "diferencial de renda", [...] a tese da globalização inspirada por Saskia Sassen, todas deixam de fora o papel crucial do Estado na produção não só do espaço, mas do espaço de consumidores e produtores de habitação.[...] Pierre Bourdieu ([2000] 2005, p. 30-1) mostrou, em As estruturas sociais da economia, que a habitação é "o produto de uma dupla construção social, para a qual o Estado contribui crucialmente", modelando o universo de construtores e vendedores mediante políticas fiscais, bancárias e regulatórias, no lado econômico, e moldando as disposições e capacidades dos compradores de casa (inclusive a propensão para alugar ou comprar), no lado social.mas do espaço de consumidores e produtores de habitação. [...]”.(P. 55:2.3).

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APRESENTACAO

Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

FCH 600 CIDADES, CULTURA E MODERNIDADE – 2015.1

Profa. Maria Gabriela Hita

Aluna: Joselinda M. Rodrigues

VALLADARES, LICIA DO PRADO. A VISITA DO ROBERT PARK AO BRASIL, O “HOMEM MARGINAL” E A BAHIA COMO LABORATÓRIO.

1.Qual e a ideia principal de Valladares na escrita do artigo? Ela destaca dois pontos principais:

1.Eu quis mostrar, em primeiro lugar, que, na história das ciências sociais no Brasil, a visita do Robert Park a Salvador, na Bahia, muito embora pouquíssimo conhecida, foi importante. Tudo nos conduz a concluir que essa visita lhe deixou marcas e indagações. Não que se tenha fascinado pelo ritual do candomblé, como soe acontecer com inúmeros estrangeiros. O grande impacto deve ter sido o de constatar uma realidade diferente da americana, fato que suscitou provavelmente inúmeras questões e interpretações teóricas, que, de imediato, não pôde

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“resolver”.

2. Eu pretendi mostrar também que Salvador foi transformada num laboratório social a partir da chegada de Donald Pierson, o que foi reforçado com a visita de seu orientador. Os pesquisadores americanos que vieram logo depois se dirigiram à cidade já seguros e legitimados: estavam diante de uma “realidade” que valia a pena ser desvendada, estudada, conhecida, pesquisada com afinco. Donald Pierson havia começado uma discussão que se prolongaria num terreno fértil... A construção social da Bahia (Salvador) como laboratório estava dada...

2.Duas noções clássicas de Park:

1.Melting Pot: Melting pot, usada por Park e discípulos, ao se referirem à convivência, em Chicago, de comunidades com nacionalidades diferentes, que não se misturavam. Chicago havia sido caracterizada por Park e seus discípulos como um melting pot, onde conviviam diferentes comunidades pertencentes a diversas nacionalidades, mas que não se misturavam.

2.Homem marginal: Segundo Valladares, Park entendia que havia dois diferentes tipos de homem marginal.

a) A noção de homem marginal, quando primeiramente cunhada, não é negativa, como poderia parecer. No artigo em questão, Park desenvolve as ideias de Simmel, baseando-se na figura do “estrangeiro” [The Stranger]. O estrangeiro é aquele que, vindo de fora, fica amanhã. Ele se instala na comunidade, mas fica à sua margem, permanecendo, de alguma maneira, exterior ao grupo social. Desenvolve uma personalidade marginal na medida em que é um homem à margem de duas culturas e duas sociedades. Segundo Simmel, o judeu emancipado é tipicamente um homem marginal. Ele é, por excelência, um “estrangeiro”, um cosmopolita. Park, baseando-se em Simmel, mas também em autobiografias de imigrantes judeus publicadas nos Estados Unidos, nos diz que todas são versões de uma mesma história: a história do homem marginal, daquele que migrou para os Estados Unidos e está buscando um lugar numa cidade que é mais livre, mais complexa e mais cosmopolita do que o seu local de origem. Nessas autobiografias, o conflito de culturas é o conflito do self dividido [divided self], do velho e do novo self. Para Park, portanto, o homem marginal é o produto de conflitos interculturais.

b) A partir da tese de seu aluno Stonequist (1937), Park dará mais tarde outro sentido à expressão homem marginal, que passará a ter uma conotação mais negativa, incluindo a situação dos negros do Sul dos Estados Unidos, que vivem à margem da cultura branca. O homem marginal será tipicamente um imigrante da segunda geração, que sofre os efeitos da desorganização do grupo familiar, como

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a delinquência juvenil, a criminalidade, o divórcio. Livre de seus antigos valores e tradições, ele tem sua antiga identidade afetada, mas encontra-se ainda sem orientação diante dos novos valores da sociedade que o acolhe… Nessa sua nova concepção, o homem marginal continua sendo um migrante, porém ele pode ser representado por um europeu ou um negro do Sul dos Estados Unidos que veio à cidade em busca de trabalho, ou ainda um camponês americano que sofreu os efeitos do êxodo rural. O homem marginal é alguém que, ao separar-se de sua cultura de origem, constrói, no processo de aculturação, uma nova identidade. Para Park, portanto, o homem marginal é um híbrido cultural, que se encontra entre duas culturas distintas, não sendo plenamente aceito por nenhuma delas.

3.Introducao

A viagem de Robert Park ao Brasil é pouquíssima conhecida dos autores americanos que escreveram sobre ele e sua obra. Somente Matthews (1977),

Raushenbush (1979) e Coser (1971) a mencionam, mas sem lhe atribuir qualquer importância.7 É como se, para a trajetória intelectual de Park, a viagem ao Brasil importasse pouco. Neste artigo, procuro mostrar a importância da viagem de Park ao Brasil no final dos anos 30, sugerindo que foi a partir de então que a ciência social internacional descobriu a Bahia, transformada desde então em um “laboratório social”. Trata-se de uma pequena contribuição à história das ciências sociais no Brasil, pois me interesso pela circulação das ideias e pela recepção da “Escola de Chicago” entre nós.

Curiosidade: De volta aos Estados Unidos, em fins de agosto de 1937, Park regressou à Universidade de Fisk, onde ofereceu, juntamente com Donald Pierson, um seminário sobre Raça e Cultura em que (supomos) apresentou boa parte da bibliografia da tese do Donald Pierson, baseada em grande parte em autores brasileiros. Valladares diz, na nota 41 que não encontrou nos arquivos da Fisk nenhum traço do seminário.

4. Valladares responde a duas perguntas sobre Park:

1. QUEM ERA O ROBERT PARK QUE VISITOU O BRASIL?

Robert Park veio ao Brasil em 1937, quando já estava com 73 anos (nascera em 1864, na Pensilvânia) e já conhecia boa parte do mundo, sendo um autêntico world wide traveler [homem do mundo]. Como estudante, em Berlim (onde frequentou cursos dados por Simmel), em Strasburgo( Alsacia/Franca) e em Heildelberg (Alemanha), onde defendeu sua tese de doutorado em 1903. Na qualidade de professor, esteve por bastante tempo em Honolulu e Havaí (onde coordenou o Survey of Race relations in the Pacific Coast), na China (onde foi professor convidado durante três meses em Peiping), no Japão, nas Philipinas, na

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Indonésia, na África do Sul.

2. O QUE O TROUXE ATÉ AQUI?

Muito embora uma “obrigação universitária” (acompanhar o trabalho que Pierson estava desenvolvendo) teria sido a causa primeira da viagem de Park ao Brasil, em 1937, o que parece tê-lo trazido até aqui foi, com efeito, o seu interesse pelas relações raciais.

As relações raciais e culturais no brasil eram diferentes do que Park havia visto nos EUA. Por que isso era relevante? Porque para Park o contato entre raças e culturas era de fato o que o interessava. Valladares diz: Robert Park conheceu, entrevistou e conversou com centenas de negros americanos, a maioria dos quais vivia no campo. Entre 1906 e 1912, acompanhara Booker T. Washington em várias viagens tanto ao Sul dos Estados Unidos quanto à Europa. Chegara à conclusão de que os negros eram diferentes dos migrantes europeus que viviam nos Estados Unidos, apesar de ambos terem migrado para o novo continente. Enquanto a condição de chegada dos negros aos Estados Unidos tinha feito desaparecer todo traço da sua cultura africana de origem, os europeus a mantinham no seu novo habitat. Assim sendo, a noção de assimilação19 seria diferente entre os dois grupos. Os negros tiveram de reinterpretar a cultura anglo-saxã (apesar de serem isolados do mundo dos brancos), enquanto que os europeus trouxeram consigo a sua cultura e os seus valores. O Brasil seria, portanto, mais um ponto de referência no contexto internacional, embora dotado de uma dimensão própria. Com efeito, o Brasil era conhecido dos acadêmicos estrangeiros por ser uma região que diferia do modelo americano de relações raciais e culturais. O Brasil era, sem dúvida, um caso interessante sobre essa temática, que merecia ser estudado e mais conhecido, diferenciando-se substancialmente do caso norte-americano por basear-se na miscigenação. Foi certamente sabendo que o Brasil apresentava uma configuração particular de difícil reconciliação com as ideias sobre as relações raciais nos Estados Unidos que Robert Park sugeriu a Donald Pierson que viesse aqui estudar a “situação racial”. E foi, sem dúvida, querendo ver com os próprios olhos uma situação onde o melting pot de raças e culturas acabava por desembocar na miscigenação, que planejou com sua esposa uma longa estadia na Bahia em 1937.

5. Um Melting Pot baiano?

A Salvador que Park encontrou em 1937 não correspondia ao modelo ideal de cidade inspirado pelo caso de Chicago. Havia apenas 290.443 habitantes no município de Salvador em 1940, não sendo, portanto, Salvador, àquela época, uma metrópole. Por outro lado, o Censo de 1940 nos informa que Salvador não tinha uma população estrangeira substancial. Em 1940, os estrangeiros totalizavam apenas 5.439 habitantes (quase 2% da população total). E, dentre os estrangeiros,

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a colônia espanhola era a mais numerosa, não havendo, no entanto, uma concentração deles em uma só zona da cidade. Os espanhóis se encontravam dispersos nos diferentes bairros de classe média. Por outro lado, a migração para Salvador era, sobretudo, de baianos que se deslocavam do interior para a capital. A população não era, portanto, composta de estrangeiros, mas de baianos e de todos os matizes, fruto da sua composição inter-racial. Homem marginal? Melting pot?

Onde estava, portanto, o melting pot?

O caso baiano era de miscigenação, como mostravam os dados de 1940 (38% da população se declarou parda) JO:VC PODE LER A TABELA DA P. 41) e como reconheceu Donald Pierson (1971): ... a miscigenação se tem processado na Bahia ininterruptamente e sem provocar atenção sobre si durante longo período de tempo. Talvez em poucos lugares do mundo o cruzamento inter-racial se tenha dado de maneira tão contínua e em escala tão extensiva em tempos recentes.

A cidade do Salvador se encontrava dividida em diferentes espaços étnicos, mas a divisão da cidade estava também marcada por espaços ricos e espaços pobres. – As divisões sociais eram mais fortes que as raciais. Nas palavras do próprio Park (Pierson, 1971, p. p.84): … para o estrangeiro que na Bahia percorra uma das elevações onde moram os ricos, é uma experiência um tanto bizarra, ouvir, vindo dentre as palmeiras dos vales vizinhos, onde os pobres moram, o insistente rufar dos tambores africanos. Tão estreitas são as distâncias espaciais que separam a Europa, situada nas elevações, da África, situada nos vales, que é difícil perceber a amplitude das distâncias sociais que as separam. O que chamou a atenção de Park foi, portanto, a divisão de classes existente na sociedade baiana, que se expressava também por uma divisão étnica e de ocupação do espaço urbano.

O caso brasileiro alterou o significado do conceito de melting pot para Park:

Park não ficou, porém, imune à miscigenação que constatou na sua visita a Salvador e que lhe foi mostrada por Donald Pierson ao percorrerem as ruas da cidade, ao visitarem pessoas da sociedade baiana, ao assistirem a várias cerimônias em terreiros de candomblé. A miscigenação, uma característica do Brasil, não era nada frequente nos Estados Unidos de então, onde a ideologia racial tendia a se perpetuar, impossibilitando a mistura racial. Park reconhecia as dificuldades de um pesquisador estrangeiro (americano) diante de tal situação. São palavras do próprio Park: Mais difícil ainda para nós, cuja concepção do problema do negro e das ‘relações raciais’ se formou nos Estados Unidos, é compreender em todas as suas minúcias a ‘situação racial’ num país de história e tradição diferentes. (Pierson, 1971, p . 84-85).

O que a miscigenação representava no Brasil e na Bahia? Park chegou mesmo a repensar o significado do melting-pot e escreveu, na Introdução do livro de Pierson (1971, p. 82): Ao sugerir a possibilidade de estudos futuros em seguida a

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este, estou levando em conta o seguinte: 1) que o Brasil é um dos mais importantes “melting-pots” de raças e culturas em todo o mundo, onde a miscigenação e aculturação estão se processando; e 2) que o estudo comparativo dos problemas de raça e cultura provavelmente assumirá uma importância especial nesta época, em que a estrutura de ordem mundial parece estar se desintegrando devido à dissolução das distâncias físicas e sociais, sobre as quais esta ordem parece repousar. A visita de Park a Bahia teve, ao que parece, consequências na sua maneira de pensar a questão racial...

6. Bahia: um laboratório social. A hipótese de Valladares e:

Defenderemos aqui a hipótese de que foi somente após a estadia do Donald Pierson e da visita de Robert Park a Salvador que essa cidade seria “transformada” em um verdadeiro laboratório social. A cidade como laboratório foi uma das principais contribuições de Robert Park à sociologia urbana ou à ciência da cidade. Não interessava simplesmente o estudo da cidade, mas a compreensão científica de seus problemas que, em consequência do rápido crescimento demográfico, da forte presença de imigrantes europeus, da intensificação do conflito entre capital e trabalho, eram inúmeros.

A metáfora do laboratório: A cidade não seria como um laboratório na medida em que ela constituiria um dispositivo de controle das condições sociais de reprodução do comportamento humano?

7. O trabalho de campo de Pierson

Salvador foi, então, “transformada” (como o fizera com Chicago, Park e seus discípulos) em um laboratório social. Iniciando-se pela estadia de Pierson entre 1935 e 1937. Durante 16 meses, o casal Pierson residiu na Vitória, na Barra e nas Mercês (bairros à época de classe alta e média) e no Rio Vermelho (que, segundo Pierson, na época, era um bairro pobre, onde se encontravam os principais candomblés da Bahia).35 Pierson fez trabalho de campo em toda a cidade. Seguindo os ensinamentos do Park, “vasculhou” tudo o que existia à época: bibliografia cientifica em português, francês, inglês, alemão, notícias em jornais, material existente nas repartições públicas e no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e em outros arquivos (documentos históricos). Frequentou as festas populares de Salvador, seus clubes sociais, seus inúmeros candomblés. Anotou tudo que lhe parecia importante. Empregou a técnica do questionário, mas fez também entrevistas formais e informais, pediu a algumas pessoas que elaborassem listas. Enfim, aproveitou-se da rede de relações que estabeleceu, utilizando a técnica hoje conhecida como a de “bola de neve”.

8. A experiência de Park em Salvador o fez repensar o conceito de homem marginal.

A organização da sociedade, a ascensão social dos mestiços, a ruptura da antiga

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ordem baseada na escravidão, tudo isso o impressionou e o fez se perguntar se o mestiço baiano, brasileiro, correspondia ou não ao homem marginal que definira a partir dos Estados Unidos.

9. A continuação da historia

Logo após a viagem de Park ao Brasil, dirigiram-se à Bahia uma série de pesquisadores americanos, seguidos de franceses. Fora descoberta a Bahia pela ciência social internacional! Mas, sociólogos e etnólogos não estavam interessados nas mesmas questões: enquanto os sociólogos se perguntavam sobre as mudanças e as formas de interação que apontavam para o futuro (a mobilidade social, a “carreira” dos negros), os etnólogos interessavam-se pela permanência das formas sociais e pelas culturas tradicionais (a herança africana através do candomblé). Logo em seguida a Donald Pierson e a Park, veio a antropóloga Ruth Landes, em 1938- 1939. Sua “saga” baiana está descrita em The city of women, publicado pela primeira vez nos Estados Unidos em 1947, quando Park já havia falecido, e republicado recentemente no Brasil (2002) com prefácio de Mariza Corrêa e apresentação de Peter Fry. Nas notas que aparecem na p. 44 informa-se dos contatos que aconteceram entre Park, Pierson e Landes e de como Park tutoreou/assessorou Landes com sugestões e contatos para ela tivesse uma estadia produtiva no Brasil.

A Bahia, nos anos 1940, tornara-se, com efeito, um terreno privilegiado para pesquisadores estrangeiros. Depois da Ruth Landes, foi a vez de Melville Herskovits, antropólogo famoso que também passou vários meses em Salvador fazendo pesquisas e que manteve uma longa correspondência com Arthur Ramos (Guimarães, 2004b). Franklin Frazier, sociólogo e ex-aluno de Park em Chicago, que aqui esteve em 1941, na mesma época em que Herskovits passava seus seis meses em Salvador. Seguindo os passos de Pierson, “Frazier acreditava que o Brasil era um exemplo singular de uma sociedade multirracial de classes com reduzida taxa de tensões étnicas se comparado com a experiência norte-americana”. Para Frazier, que entrevistara famílias negras, a nova dinâmica urbano-industrial fez com que a tradição do candomblé viesse a se transformar em folclore, sendo “as práticas culturais baianas”, na verdade, parte da cultura nacional brasileira. Roger Bastide, por exemplo, antropólogo francês que residia em São Paulo, fascinou-se pela descoberta da África em território brasileiro, estudando as religiões negras, o transe e a possessão do ritual do candomblé (Bastide, 1958).

No final dos anos 1940, sociólogos da Universidade de Columbia juntaram-se com antropólogos e sociólogos brasileiros (Wagley, Charles; Azevedo, Thales de; Costa Pinto, Luiz, 1950) e desenvolveram, no estado da Bahia, o Projeto UNESCO. Originalmente sob a direção de Arthur Ramos (que faleceu quando o projeto estava prestes a iniciar-se), o estudo se voltava para as questões levantadas pela convivência de raças na formação e história do país. O Brasil, visto por meio

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da Bahia, apresentaria o país ao mundo mediante relações raciais harmoniosas. Como contraponto, o Sudeste do Brasil se fazia necessário: na região mais urbanizada e industrializada, as tensões raciais se faziam presentes.

Conclusão

Valladares disse:

1.Eu quis mostrar, em primeiro lugar, que, na história das ciências sociais no Brasil, a visita do Robert Park a Salvador, na Bahia, muito embora pouquíssimo conhecida, foi importante. Tudo nos conduz a concluir que essa visita lhe deixou marcas e indagações. Não que se tenha fascinado pelo ritual do candomblé, como soe acontecer com inúmeros estrangeiros. O grande impacto deve ter sido o de constatar uma realidade diferente da americana, fato que suscitou provavelmente inúmeras questões e interpretações teóricas, que, de imediato, não pôde “resolver”.

2. Eu pretendi mostrar também que Salvador foi transformada num laboratório social a partir da chegada de Donald Pierson, o que foi reforçado com a visita de seu orientador. Os pesquisadores americanos que vieram logo depois se dirigiram à cidade já seguros e legitimados: estavam diante de uma “realidade” que valia a pena ser desvendada, estudada, conhecida, pesquisada com afinco. Donald Pierson havia começado uma discussão que se prolongaria num terreno fértil... A construção social da Bahia (Salvador) como laboratório estava dada...

O que vocês acham, ela cumpriu o objetivo?