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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
A representação da informação audiovisual da
Rádio e Televisão de Portugal (RTP)
Marta Sofia Saraiva Martins
Relatório de Estágio orientado pela Professora Doutora Maria
Teresa Ferreira da Costa, especialmente elaborado para a obtenção
do grau de Mestre em Ciências da Documentação e Informação
2018
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
A representação da informação audiovisual da
Rádio e Televisão de Portugal (RTP)
Marta Sofia Saraiva Martins
Relatório de Estágio orientado pela Professora Doutora Maria
Teresa Ferreira da Costa, especialmente elaborado para a obtenção
do grau de Mestre em Ciências da Documentação e Informação
2018
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Agradecimentos
Cabe agora agradecer a todos aqueles que contribuíram para a concretização do
presente trabalho final.
Em primeiro lugar, agradecer à Dr.ª Maria Teresa Ferreira da Costa, professora
orientadora do presente relatório, pela sua disponibilidade e compreensão nas minhas
dúvidas e receios.
Agradecer especialmente a Elsa Ramos, orientadora no arquivo audiovisual da
RTP, pelo seu acompanhamento e supervisão.
Agradecer também a toda a equipa de arquivistas e documentalistas no arquivo
audiovisual, pela sua disponibilidade para ajudar e pelo ótimo ambiente de trabalho que
proporcionaram.
À minha mãe, pelo apoio incondicional e pelas suas palavras de encorajamento e
de incentivo.
À minha família, amigos próximos e colegas que sempre me apoiaram.
A todos, o meu sincero obrigado!
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Resumo
Os arquivos audiovisuais e em particular, os arquivos de televisão, produzem e
emitem diariamente um grande volume de conteúdos que constituem um marco na
memória histórica de cada país e por isso, a sua salvaguarda e preservação é de extrema
importância para garantir o seu acesso a longo prazo.
O arquivo da RTP representa sem dúvida o mais importante testemunho da
evolução política, social e cultural de Portugal e constitui-se como o maior repositório
audiovisual da memória coletiva nacional.
O presente relatório de estágio1 resulta do estágio curricular realizado no arquivo
audiovisual da RTP, no âmbito do trabalho de investigação final do 2.º Ciclo de Estudos
em Ciências da Documentação e Informação, cujo tema principal é a representação da
informação audiovisual da RTP. Divide-se em duas partes, uma das quais compreende o
enquadramento teórico (revisão de literatura) do tema do trabalho e outra componente
mais prática, em que se aborda a experiencia do estágio em si e as tarefas realizadas.
A realização deste estudo pretende proporcionar uma visão geral das várias
funções e tarefas arquivísticas realizadas diariamente no arquivo, o ciclo documental pela
qual passam os conteúdos do arquivo, desde a entrada da documentação até à sua
disponibilização aos utilizadores e em particular, o seu modo de representação, isto é,
como se procede ao tratamento técnico dos documentos audiovisuais, em particular, a
descrição arquivística e indexação. Como tal, este relatório inclui uma componente muito
prática, centrando-se na experiência de estágio e dando a conhecer as diferentes atividades
arquivísticas desempenhadas diariamente pelos arquivistas.
Em suma, este relatório de estágio dá a conhecer a experiência vivida no arquivo
audiovisual da RTP, em Lisboa, com o exercício real da profissão, evidenciando o modo
como se representam e se faz uso dos conteúdos.
Palavras-chave:
Arquivo audiovisual, RTP, descrição, indexação, seleção, pesquisa.
1 O presente relatório segue o acordo ortográfico.
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Abstract
Audiovisual archives and, in particular, television archives, produce and broadcast
on a daily basis a large volume of content that constitutes a milestone in the historical
memory of each country and for that reason, its safeguarding and preservation is of the
utmost importance to guarantee its access to long term.
The archive of RTP is undoubtedly the most important testimony of the political,
social and cultural evolution of Portugal and constitutes the largest audiovisual repository
of the national collective memory.
This internship report is the result of the curriculum internship held in the RTP
audiovisual archive, within the framework of the final research work of the 2nd Cycle of
Studies in Documentation and Information Sciences, whose main theme is the
representation of RTP audiovisual information. It is divided into two parts, one of which
comprises the theoretical framework (literature review) of the work theme and another
more practical component, which addresses the experience of the internship itself and the
tasks performed.
The purpose of this study is to provide an overview of the various archival
functions and tasks performed daily in the archive, the documentary cycle through which
the contents of the archive pass, from the entry of the documentation to its availability to
the users and in particular, their way of representation, that is, how to handle audiovisual
documents, in particular the archival description and indexing. As such, this report
includes a very practical component, focusing on the internship experience and revealing
the different archival activities performed daily by the archivists.
In short, this internship report shows the experience lived in the RTP audiovisual
archive in Lisbon, with the actual exercise of the profession, evidencing how the content
is represented and used.
Keywords: audiovisual archive, RTP, description, indexing, selection, research
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Lista de siglas e acrónimos
ANIM - Arquino Nacional das Imagens em Movimento
APTN – Associated Press Television News
AVAPIN - Grupo da Rede de Interesse na Filosofia de Arquivos Audiovisuais
CCAAA - Conselho Coordenador das Associações de Arquivos Audiovisuais
DAM - Digital Asset Management
EDL – Edit Decision List
ENPS – Electronic News Production System
ESCORT - Ebu System of Classification Of RTv programmes
FIAT - Federação Internacional de Arquivos de Televisão
IAAR - Arquivo de Imagens da Assembleia da República
IASA - Associação Internacional de Arquivos Sonoros e Audiovisuais
ICCROM - Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens
Culturais
IFLA- Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias
ISAD (G) – Norma Internacional de Descrição Arquivística
ISAAR (CPF) - Norma Internacional sobre os Registos de Autoridade Arquivísticos de
Instituições, Pessoas Singulares e Famílias
MAM – Media Asset Management
RDP - Rádio Difusão Portuguesa
RTP – Rádio e Televisão de Portugal, S.A.
SIC – Sociedade Independente de Comunicação
UER - União Europeia de Radiofusão
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
8
Índice de figuras
Figura 1 – Interface de Pesquisa no Interplay ................................................................ 54
Figura 2 - Descrição do nível série ................................................................................. 60
Figura 3 - Descrição do nível programa ......................................................................... 62
Figura 4 - Descrição do nível clip................................................................................... 63
Figura 5 - Descrição do clip do programa "Horas Extraordinárias" ............................... 64
Figura 6 - Pesquisa e descrição de peça.......................................................................... 65
Figura 7-Descritores do thesaurus .................................................................................. 67
Figura 8 - Direitos de transmissão .................................................................................. 69
Figura 9 - Pesquisa de originais de informação .............................................................. 70
Figura 10 - Descrição de original de informação ........................................................... 71
Figura 11 - Alinhamento do Telejornal .......................................................................... 73
Figura 12 - Descrição do Telejornal ............................................................................... 75
Figura 13 - Descrição de peça do Telejornal .................................................................. 77
Figura 14 - Estado de envio de pedido de pesquisa ........................................................ 80
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Índice de tabelas
Tabela 1 - Canais televisivos da RTP ............................................................................. 42
Tabela 2 - Canais radiofónicos da RTP .......................................................................... 43
Tabela 3 - Campos de metainformação .......................................................................... 52
Tabela 4 - Graus de descrição......................................................................................... 52
10
Glossário
Avid Interplay MAM – Sistema de gestão de conteúdos da RTP que permite o
visionamento, pesquisa e descrição em simultâneo de conteúdos.
Brutos – Imagens não editadas.
Back up – Cópia de segurança.
Clip – Imagem rápida de curta duração.
Digitalização – Transformação de um sinal analógico no seu equivalente digital.
Edit Decision List (EDL) – Lista de decisão de edição. Junção estruturada de informação
de time code, definindo cada ponto de edição numa dada sequência, podendo esta ser
usada, ou não, num sistema de edição computorizado.
ENPS – Programa informático utilizado pelos jornalistas, que contem os alinhamentos
dos programas com os textos lidos pelo apresentador e os textos das peças elaboradas
pelos jornalistas.
Formato – Relação de aspeto. Relação entre a largura e a altura de uma imagem num
ecrã de cinema ou televisão. Em televisão, norma BG, a relação de aspeto é de 4:3 (diz-
se quatro por três). Na televisão de alta definição a relação de aspeto é de 16:9.
Fotograma (Frame) – Imagem de televisão formada por dois quadros, podendo
apresentar 525 linhas (continente Americano e Japão), 625 (Europa), 1125 (HDTV –
Japão) ou 1250 (HDTV – Europa). Fotograma de película cinematográfica.
Imagem – Em televisão, utiliza-se o termo “imagem” para fazer referência a um vídeo
composto por imagens com ou sem movimento e com áudio associado.
Off – Abreviatura de “off screen” (fora do quadro) ou de “voice off” (refere-se ao som de
uma pessoa que não se vê na imagem).
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Original - Termo utilizado para descrever o primeiro suporte utilizado para registar a
imagem e/ou o som. Também utilizado para descrever o suporte a partir do qual se obtém
as cópias.
Plano(Shot) – Unidade de registo entre dois cortes.
Sq view – Software utilizado para realizar a seleção.
Suporte - Material contendo a informação audiovisual, por exemplo: filme, fita, vídeo,
fita sonora. Para um filme ou uma fita, o suporte flexível no qual foi depositada uma
camada de emulsão fotográfica ou uma camada magnética.
Time Code (Código de Tempo) - Sistema numérico codificado, que identifica as imagens
registadas em termos de horas, minutos, segundos e imagens, com grande aplicação em
sistemas de edição online e offline.
Titulo MOS – É o título atribuído ao documento e que é composto por várias letras e
números com a indicação da descrição/assunto, autor, dia, mês e estado.
Visionamento - Operação que consiste em ver uma ação gravada em filme ou em fita
vídeo, por meio de um aparelho adequado.
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Sumário
Agradecimentos ................................................................................................................ 4
Resumo ............................................................................................................................. 5
Abstract ............................................................................................................................. 6
Lista de siglas e acrónimos ............................................................................................... 7
Índice de figuras ............................................................................................................... 8
Índice de tabelas ............................................................................................................... 9
Glossário ......................................................................................................................... 10
Introdução ....................................................................................................................... 13
Capítulo 1 – Enquadramento teórico .............................................................................. 15
1.1. Arquivo e documento audiovisual: conceitos e tipologias .............................. 15
1.2. Sistemas de gestão de conteúdos audiovisuais digitais (MAM/DAM) ........... 19
1.3. Instituições custeadoras no âmbito nacional e internacional ........................... 22
1.4. A televisão e os arquivos audiovisuais das estações de televisão .................... 24
1.4.1. Documentação audiovisual das estações de televisão .................................. 26
1.5. Gestão dos conteúdos audiovisuais.................................................................. 27
1.6. Representação e tratamento documental do material audiovisual em televisão 32
Capítulo 2 - Metodologia ................................................................................................ 38
Capítulo 3 – O caso de estudo ........................................................................................ 41
3.1. Apresentação da organização de acolhimento: Rádio e Televisão de Portugal (RTP)
..................................................................................................................................... 41
3.1.1. Universo RTP .................................................................................................. 42
3.2. O arquivo audiovisual da RTP ............................................................................. 44
3.2.1. O sistema de gestão de ativos digitais: Avid Interplay MAM.......................... 46
3.2.2. O serviço prestado e a gestão documental....................................................... 47
3.3. O estágio e experiência do estágio...................................................................... 56
Conclusões ...................................................................................................................... 81
Referências bibliográficas .............................................................................................. 85
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Introdução
Enquanto aluna do último ano do Mestrado em Ciências da Documentação e
Informação, coube tomar a decisão de escolher entre as três modalidades de trabalho final
- dissertação, estágio ou projeto para obtenção do título de mestre.
Optamos pelo estágio curricular porque pretendíamos adquirir experiência
profissional e pareceu-nos que o estágio iria proporcionar um maior nível de
aprendizagem daquilo que é lecionado no Mestrado e a realidade num arquivo, neste caso
um arquivo audiovisual de uma estação de televisão.
A experiência que fomos adquirindo ao longo do percurso académico,
nomeadamente a realização de um estágio curricular no Arquivo Distrital do Porto,
permitiu ter uma noção daquilo que é o funcionamento de um arquivo e das áreas de
serviço e funções que aqui são desempenhadas.
No entanto, não tínhamos qualquer experiência com o tratamento de documentos
audiovisuais e portanto tínhamos presente que haveria certamente diferenças, pois os
documentos presentes num arquivo audiovisual, apresentam caraterísticas diferentes do
documento impresso, englobando dois elementos - som e imagem que trazem consigo
desafios associados à tecnologia utilizada para a reprodução dos documentos.
Após o contacto com a empresa de acolhimento, a RTP, surgiu a hipótese de
realizar um estágio curricular, orientado para a representação do seu espólio documental.
O tema foi escolhido tendo em conta o interesse da autora pela área de estudo e a
curiosidade de perceber como funcionam e que tarefas são desempenhadas nos arquivos
audiovisuais inseridos nas estações de televisão.
A pergunta de partida do presente relatório de estágio prende-se sobretudo com a
questão da representação e tratamento da informação audiovisual e nesse sentido,
pretende-se perceber como é realizada a descrição e indexação da informação e o impacto
da digitalização presente no quotidiano dos arquivistas e documentalistas na pesquisa e
recuperação documental.
De forma a delimitar o estudo, foram definidos objetivos gerais e específicos que
se pretende cumprir.
Os objetivos gerais de investigação passam por perceber a missão, objetivos,
valores e o sistema de organização do arquivo RTP; contactar com as várias áreas
funcionais do arquivo, adquirindo uma visão geral da cadeia documental pela qual passam
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os documentos até estarem disponíveis para os utilizadores; perceber como funciona o
sistema documental da RTP, nomeadamente entender como realizar pesquisas, descrever
e recuperar os documentos e por último, compreender como se procede ao tratamento
documental, nomeadamente a descrição arquivística e indexação de diferentes tipos de
documentos audiovisuais.
Os objetivos específicos passam por compreender e aplicar o vocabulário, regras
e práticas da descrição arquivística aos documentos audiovisuais; perceber e realizar
exercícios práticos de descrição arquivística, ao nível de resumos e indexação;
compreender em que critérios ou regras se baseiam para proceder à seleção e como se
procede aos pedidos de pesquisa dos utilizadores.
De acordo com os objetivos elaborados para o trabalho, o relatório de estágio
divide-se em duas partes. A primeira parte diz respeito à revisão da literatura, que
constitui o enquadramento teórico do trabalho e na segunda parte é apresentada a
realidade vivida no estágio, onde se confronta a revisão bibliográfica com a observação
direta no arquivo.
O primeiro capítulo compreende o enquadramento teórico do tema do trabalho
onde são definidos alguns conceitos importantes, de forma a permitir responder a algumas
questões iniciais e a delimitar o campo de estudo.
O segundo capítulo está reservado para a abordagem à metodologia, em que se
refere o modo como se procedeu à pesquisa e as técnicas de análise documental utilizadas.
O terceiro capítulo refere-se ao caso de estudo em si, em que se começa por
contextualizar a organização de acolhimento, a RTP e o próprio arquivo audiovisual,
abordando o seu funcionamento e gestão documental, com destaque para a representação
dos conteúdos. Aqui, relata-se com mais detalhe todas as tarefas arquivísticas
desempenhadas e apresentam-se alguns comentários sobre as dificuldades encontradas
durante o estágio.
Por último, apresentam-se as conclusões, em que se confronta a teoria assimilada
através da revisão de literatura com a prática profissional, tendo em consideração a
pergunta de partida e os objetivos definidos, referindo-se quais os contributos deste
estudo e apresenta-se ainda as possíveis sugestões de estudos futuros e as referências
bibliográficas.
15
Capítulo 1 – Enquadramento teórico
A enorme variedade e diversidade dos arquivos audiovisuais e em particular dos
arquivos audiovisuais das estações de televisão, exigiu o levantamento da revisão de
literatura em relação a conceitos (arquivo audiovisual, documento audiovisual, asset,
digital asset management), tipologias, procedimentos e práticas de gestão documental no
contexto audiovisual.
1.1. Arquivo e documento audiovisual: conceitos e tipologias
Segundo EDMONSON et al. (2016, p.3-12), o aparecimento e consolidação dos
arquivos audiovisuais deu-se de forma lenta, sendo que apenas a partir de 1930, este tipo
de arquivos começou a ganhar visibilidade e identidade, tendo sido reconhecidos por
organizações internacionais de arquivos, bibliotecas e museus.
Este autor destaca a ausência de um corpo teórico de valores, ética e princípios, a
escassez de normas, de recursos humanos e financeiros especializados e a falta de uma
qualificação formal internacionalmente aceite devido à ausência de cursos de formação
especializada.
Neste aspeto, cabe referir que a Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO) desempenhou um papel importante, na medida em que,
redigiu publicações, nomeadamente a “Recomendação para a salvaguarda e conservação
de imagens em movimento” sobre o valor do documento audiovisual como parte
integrante da herança cultural de cada nação, evidenciando a responsabilidade dos
governos em garantir a sua preservação e acesso a longo prazo.
Os arquivos audiovisuais englobam uma pluralidade de instituições, modelos,
tipos e interesses que perseguem objetivos diferentes e portanto cumprem funções
distintas.
Segundo EDMONDSON et al. (2016, p.37-39), podem ser subdivididos em
diversas categorias ou tipologias de especialização sendo elas: os arquivos de emissoras
ou televisivos, os arquivos de programação, os museus audiovisuais, os arquivos
audiovisuais nacionais, os arquivos académicos e universitários, os arquivos temáticos e
especializados, os arquivos de estúdio, os arquivos regionais, municipais e locais e as
instituições de memória.
16
O conceito de arquivo audiovisual não tem uma definição consensual e varia
bastante consoante o autor, mas como qualquer outro arquivo pressupõem o
armazenamento e gestão da sua documentação, neste caso, audiovisual, em vários
formatos.
Segundo EDMONDSON et al. (2016, p.28) um arquivo audiovisual é uma
organização ou departamento de uma organização que se foca no desenvolvimento,
gestão, preservação e acesso de uma coleção de materiais audiovisuais e da herança
audiovisual.
HARRISON (1997, p.1) sublinha a importância da preservação deste tipo de
arquivos pelo seu património cultural que é feito de uma variedade de culturas e de
civilizações passadas e futuras.
Segundo a mesma autora, os objetivos principais destes arquivos são: reunir,
preservar, conservar e catalogar para permitir o acesso, a consulta e a reutilização dos
documentos audiovisuais que contém em si um valor histórico e cultural do património
de uma nação, instituição ou região. Destaca-se aqui o papel cultural e social na
salvaguarda do património audiovisual destes arquivos, que são constituídos por
documentos que testemunham a memória do mundo.
Relativamente ao conceito de documento audiovisual, apesar de também não
existir uma definição consensual, podemo-nos referir a ele como: aquele que diz respeito
a dois sentidos: o visual (imagens em movimento) e sonoro (gravações sonoras de todos
os tipos) e o respetivo suporte que vai permitir ler e transmitir a informação. É muitas
vezes utilizado em substituição dos conceitos audiovisual media e material audiovisual.
Para melhor esclarecer o conceito, o grupo da Rede de Interesse na Filosofia de
Arquivo de Audiovisuais (AVAPIN) e EDMONDSON definem documento audiovisual
como “obras que incluem imagens e/ou sons reproduzíveis incorporados num suporte,
cujo registo, transmissão, perceção e compreensão normalmente requerem um dispositivo
tecnológico, o conteúdo visual/sonoro tem duração linear e cujo objetivo é a comunicação
do dito conteúdo mais do que a utilização da tecnologia para outros propósitos” (2016, p.
27).
Segundo RODRÍGUEZ-BRAVO (2004, p.30), é “aquele que num mesmo suporte
contém imagens em movimento - informação visual e sonora, sem distinção do suporte
físico nem da forma de gravação e que requer um dispositivo tecnológico para a sua
gravação, transmissão, percepção e compreensão.”
17
Para esta autora, a documentação audiovisual é constituída tanto pela imagem
como o som e portanto devemos abordá-la por uma dimensão dupla: considerando cada
um dos níveis separadamente ou conjuntamente, podendo ser recuperado como um todo
ou como uma parte. Isto depende do objetivo do tratamento dos documentos, quer seja, a
recuperação unitária ou fracionada em microunidades informativas (sequências, cenas,
planos).
Possui uma série de valores e especificidades próprios que os distingue da
documentação textual, mas o seu tratamento arquivístico não difere do documento
textual.
Para CIRNE & FERREIRA (2002, p.117), a documentação audiovisual possui
algumas particularidades que a diferenciam da documentação textual, sendo elas, a
multiplicidade, multiformidade, incompatibilidade, dependência, opacidade,
ambiguidade e instabilidade.
A autora HIDALGO-GOYANES (2005, p.163), sublinha a importância do
conteúdo estético e o suporte material em que estes documentos estão gravados, visto
que, estes têm um suporte material especialmente instável que necessita de condições
rígidas de armazenamento e conservação apropriadas, como por exemplo a manutenção
da temperatura e humidade relativa e o controlo de pragas biológicas.
Segundo LOPEZ (2000, p.196) o documento imagético (aquele que contém
imagens em movimento ou não) não é distinto de um documento textual e está sujeito às
mesmas necessidades metodológicas de organização e classificação dos demais géneros
documentais. Ambos devem respeitar os princípios arquivísticos que lhe são impostos
com a finalidade de fornecer ao utilizador toda a informação possível contida naquele
documento.
Como podemos constatar, a diferença está nas questões técnicas, ou seja, na
conservação, acondicionamento, linguagem e equipamentos de exibição, no entanto, o
caráter arquivístico e os procedimentos metodológicos de organização arquivística
mantém-se tal como nos demais documentos de arquivo.
Atualmente, os arquivos audiovisuais encontram-se numa fase de eliminação dos
suportes como as cassetes e a sua migração para suportes em formato digital. No entanto,
o documento digital revela ter uma menor estabilidade e tem elevados custos.
Em finais do século XX, o aparecimento da World Wide Web, provocou o
aparecimento de estratégias de preservação digital e de sistemas de gestão de conteúdos
18
audiovisuais num ambiente digital, em que surgem conceitos como assets e digital asset
management.
Os documentos passam a ser vistos como conteúdos que são considerados bens
ou ativos digitais (assets) com valor, passando a realizar toda a gestão dos conteúdos
audiovisuais em sistemas informáticos.
O termo asset é definido como a combinação estreita de dados de conteúdo
(imagens, sons, textos, gráficos, etc), com metadados (dados que acompanham e
caraterizam os dados do conteúdo), elementos fundamentais para o intercâmbio e
utilização de dados digitais (AGIRREAZALDEGI-BERRIOZABAL, 2007, p.436).
Para FRANQUEIRA (2016, p.129; 2014, p.52) o asset é um bem, recurso ou ativo
que tem valor para as organizações e que integra em si conteúdos e direitos, destacando-
se aqui a importância do conhecimento dos direitos sobre os conteúdos, pois estes
regulam a utilização sobre determinado conteúdo, podendo ser explorados
comercialmente e/ou acrescentar valor às novas produções, mas por outro lado podem
também condicionar a sua utilização e rentabilidade.
A junção destes dois conceitos vai dar origem aos sistemas informáticos de
produção e gestão documental, designados por Digital Asset Managemet ou Media Asset
Management, sistemas de gestão dos conteúdos audiovisuais que serão posteriormente
abordados com mais detalhe.
19
1.2. Sistemas de gestão de conteúdos audiovisuais digitais
O desenvolvimento tecnológico e a emergência da Era da Informação permitiu às
empresas televisivas, iniciarem o processo de digitalização e migração dos seus conteúdos
e por consequência, a implementação de sistemas informáticos para a gestão de conteúdos
audiovisuais digitais – DAM (Digital Asset Management) ou MAM (Media Asset
Management).
Para JIMÉNEZ (2003, p.453), a gestão de ativos digitais define-se como a
atividade orientada para facilitar a criação, captura, catalogação, recuperação, exportação,
transformação distribuição de tais ativos através de diversos canais: internet, meios
impressos, rádio, televisão, PCs, etc.
Segundo DÍAZ, CRESPO & MIRÓN (2017, p.1000), o primeiro sistema testado
numa televisão foi o Sony/EDS, na estação televisiva norte americana CNN, iniciando-
se o projeto em junho de 1998. Para além disso, destaca-se ainda o canal de televisão
privado espanhol Telecinco, o primeiro na Europa a empreender um processo de
digitalização em 1998 que culminou no ano de 2005.
Alguns arquivos audiovisuais portugueses, como por exemplo os arquivos da
Sociedade Independente de Comunicação (SIC) e da RTP já utilizam sistemas de gestão
de conteúdos digitais como uma estratégia global de preservação digital do seu vasto
espólio documental.
Segundo AGIRREAZALDEGI-BERRIOZABAL (2007, p.434) são sistemas que
permitem a gestão dos ativos audiovisuais (assets) para a sua transmissão em várias redes
e são constituídas por “hardware de armazenamento que compõe o servidor de vídeo de
alta e baixa resolução, servidor web, robô de fitas e o servidor de bases de dados”.
Têm como funções a reutilização de conteúdos, distribuição, emissão, arquivo e
suporte a atividades de produção, sendo necessário a integração de diferentes tecnologias
para a edição, arquivo, pesquisa, transmissão em diferentes formatos e resolução de sinal
diferente. Destaca-se a orientação destes sistemas para a distribuição e criação de
conteúdos, contando com ferramentas de soluções de gestão, armazenamento e
recuperação documental.
Segundo FRANQUEIRA (2016, p.125-133), são constituídos pela área da
produção, que compreende todos os passos desde a ingestão até à emissão e pela área do
arquivo e são compostos por vários componentes sendo eles, a aquisição/ingestão de
20
conteúdos, a base de dados e metadados, o armazenamento, a pesquisa, a recuperação de
conteúdos, a distribuição e a infraestrutura de suporte.
Trata-se de sistemas de arquivo digital que gerem de forma mais rápida e eficaz a
aquisição, o armazenamento, a pesquisa, a recuperação, distribuição e acesso dos
documentos audiovisuais e também a gestão de diferentes formatos, acrescidos do
conhecimento dos direitos que condicionam a sua utilização.
A aquisição refere-se à integração ou ingestão dos conteúdos no sistema digital e
corresponde à digitalização dos suportes físicos das cassetes ou à transferência de
ficheiros enviados por rede ou transferidos de suportes como discos, cartões ou outros
dispositivos.
É essencial que o sistema possua uma base de dados que reúna toda a informação
respeitante aos conteúdos do sistema e que suporte metadados de identificação e de
descrição dos conteúdos neles representados, para facilitar a recuperação dos conteúdos.
Relativamente à questão dos metadados, destaca-se as iniciativas da Federação
Internacional de Arquivos de Televisão (FIAT/IFTA) com uma lista de elementos de
informação essenciais, “FIAT Minimum data list”.
Os conteúdos são armazenados em alta e baixa resolução em vídeo servidores com
conteúdo online, em discos rígidos e robôs de armazenamento dos conteúdos em fita
magnética.
A pesquisa e ferramentas de indexação e a construção de índices são essenciais
para uma recuperação mais precisa e rápida da informação e portanto o sistema digital
deve permitir fazer pesquisas em texto livre, em campos indexados e com recurso ou não
à utilização de thesaurus.
A distribuição, isto é, a capacidade de o sistema enviar de um ponto a outro os
conteúdos, deve ser controlada e deve ainda possuir uma infraestrutura de suporte em
termos de redes informáticas e climatização de salas de equipamentos e sistemas de
prevenção de catástrofes.
Uma das principais características que estes sistemas devem possuir é a
articulação ou integração com sistemas de produção e pós-produção, sistemas de emissão,
produção de notícias e ainda a segurança e preservação a longo prazo, em que o sistema
deve ter a capacidade de se manter funcional sem falhas ou interrupções, recorrendo por
exemplo a planos de migração e auditoria constantes.
Estes sistemas promoveram o aparecimento e desenvolvimento de novos modos
de trabalho, modificando as formas tradicionais de gestão a novos métodos digitais,
21
surgindo necessidade de contratar recursos humanos com capacidade para se adaptarem
a novos métodos e hábitos.
A sua implementação trouxe várias vantagens como o aumento dos lucros e a
redução dos custos e do tempo de trabalho ao proporcionar maior rapidez no acesso e
difusão por vários canais. Permitiu ainda a extinção das cassetes analógicas em todo o
circuito de produção, emissão e arquivamento dos conteúdos a possibilidade de melhorar
a qualidade de produção e emissão dos conteúdos (RAYO, 2007, p.35-37).
A digitalização dos conteúdos audiovisuais e o seu acesso causou mudanças ao
nível da seleção, permitindo selecionar os conteúdos em menos tempo e ao nível da
análise documental, na qual se simplificou por não ser necessário descrever
pormenorizadamente a imagem, fornecendo apenas informação para a sua localização
(RAYO, 2012, p.89).
De facto, passou-se de uma recuperação lenta, que requeria uma descrição
detalhada e a disponibilidade de equipamentos para o visionamento para uma recuperação
imediata por parte do utilizador final (LÓPEZ-DE-QUINTANA, 2007, p.397-408).
Para além disso, os jornalistas tornaram-se autónomos na pesquisa e recuperação
da informação, passando eles próprios a desempenhar essa tarefa para desenhar as suas
notícias e desse modo, os arquivistas passaram a centrar as suas tarefas na criação e
representação em vez da pesquisa e a disponibilização dos conteúdos (RAYO, 2012,
p.91).
Em contraste, existem várias condicionantes que podem limitar a sua
implementação, nomeadamente, o investimento em tecnologia que se revela muito caro
e a escassez de recursos humanos com competências para desempenhar as suas tarefas
neste novo ambiente tecnológico.
22
1.3. Instituições custodiadoras no âmbito nacional e internacional
Dentro do contexto da salvaguarda e proteção da documentação audiovisual,
existem algumas instituições tanto a nível nacional, como internacional que
desempenham um papel cultural e social na gestão e salvaguarda do património
audiovisual e que vão ser aqui destacadas.
Em relação à situação legal, cabe aqui mencionar que a Constituição Portuguesa
e a Lei da Televisão, preveem um conjunto de obrigações legais que têm de ser cumpridas
pelos operadores de televisão, públicos e privados, no decorrer da sua atividade, sendo
uma delas a existência de um serviço de arquivo que conserve os conteúdos audiovisuais
produzidos pela estação.
Segundo EPIFÂNIO (2012, p.16), em Portugal os arquivos audiovisuais inserem-
se dentro dos órgãos de comunicação social, como por exemplo a Sociedade Independente
de Comunicação (SIC) e a Rádio e Televisão de Portugal (RTP), mas também em
instituições públicas como bibliotecas, centros de documentação, instituições de ensino,
museus e ainda instituições culturais, nomeadamente, o Arquivo de Imagens da
Assembleia da República (IAAR) e o Arquivo Nacional das Imagens em Movimento
(ANIM) que está integrado na Cinemateca Portuguesa, ao qual lhe cabe funções de
depósito legal, pois alberga o espólio das obras cinematográficas produzidas em Portugal.
No entanto, as limitações financeiras fazem com que muitas destas instituições
não disponham das melhores condições para salvaguardar os documentos audiovisuais,
sendo que, a maioria não tem sequer um arquivo organizado e portanto, muitos dos
documentos correm o risco de desaparecer por falta de meios técnicos para a sua
preservação.
Apenas as principais estações de rádio e televisão estão organizadas em serviços
de arquivo estruturados, tendo sido a Rádio Difusão Portuguesa (RDP), atualmente RTP,
a primeira empresa a criar um arquivo histórico.
No âmbito internacional destaca-se o papel que tem vindo a ser desenvolvido por
instituições como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO), a Associação Internacional de Arquivos Sonoros e Audiovisuais
(IASA), a Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA),
o Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais
23
(ICCROM), o Conselho Coordenador das Associações de Arquivos Audiovisuais
(CCAAA) e a Federação Internacional de Arquivos de Televisão (FIAT).
A UNESCO é uma das instituições internacionais que mais demonstrou a sua
preocupação com a preservação e salvaguarda dos documentos e do património
audiovisual quando publicou em 1980, as “Recomendações para a preservação e
conservação de imagens em movimento”.
Esta organização criou também, em 2002 uma iniciativa chamada “Preserving Our
Digital Heritage”, unida ao programa Memória do Mundo, na qual forneceu algumas
recomendações relativamente a estratégias de preservação digital, nomeadamente,
programas de preservação envolvendo produtores, distribuidores e entidades de proteção
patrimonial; investigação sobre suportes e preservação digita l.
A par da UNESCO, é de destacar ainda a Federação Internacional de Associações
e Instituições Bibliotecárias (IFLA) que redigiu e disseminou diretrizes para materiais
audiovisuais e multimédia em bibliotecas e outras instituições acerca dos variados
assuntos com que os arquivistas audiovisuais se devem deparar, nomeadamente a
aquisição e depósito legal, os direitos de autor, a catalogação e acesso bibliográfico, o
arquivo e armazenamento e a questão premente da digitalização e preservação.
24
1.4. A televisão e os arquivos audiovisuais das estações de televisão
Segundo HIDALGO-GOYANES (2005, p.160-161), o termo “televisão”
começou a ser utilizado pela primeira vez em 1900 e em 1929 começaram as primeiras
emissões regulares de televisão, como por exemplo as emissões da British Broadcasting
Corporation (BBC).
O aparecimento da televisão como um novo meio de comunicação e o aumento
das estações de televisão na década de 1950, acompanhado de um grande volume de
conteúdos produzidos pelas próprias ou adquiridos noutras fontes, evidenciou a
importância de se preservar as imagens em movimento, constituindo-se centros/ serviços
para controlar e gerir de forma racional a produção e conservação da documentação.
Estes fazem parte de uma estrutura empresarial previamente estabelecida e o seu
funcionamento costuma ser autónomo mas não independente. Estabelecem relações com
outros departamentos como a redação, produção, emissão, gestão comercial, etc, que
estão ligados à gestão, conservação, utilização ou comercialização da documentação
produzida ou utilizada pela estação de televisão.
Para LÓPEZ DE QUINTANA (2000, p. 169-177) a organização nas diferentes
televisões estatais, autónomas ou locais é muito diversa e atende a quatro fatores: o tipo
de atividade, o tipo de fundo, os tipos de programas e a especialização temática e técnicas
documentais.
No início, a sua finalidade não era armazenar, gerir e conservar a documentação
mas sim produzir, emitir e comercializar os conteúdos produzidos (HIDALGO-
GOYANES, 2005, p. 160). Percebe-se que havia pouca preocupação com a preservação,
conservação e a definição de políticas de gestão documental apropriadas e mais em
produzir e disseminar conteúdos da forma mais rápida possível.
Mais tarde, as estações de televisão começaram a dar-se conta da necessidade de
se conservar e gerir com vista à recuperação dos documentos para serem reutilizados
noutras produções ou emissões televisivas.
Segundo HIDALGO-GOYANES (2005, p.161), os seus objetivos são: assegurar
a conservação de todo o fundo documental e facilitar a localização e recuperação de toda
a informação contida neles através da aquisição (reunião), seleção, armazenamento e
gestão da documentação gerada ou emitida pela empresa televisiva.
25
Para RAYO (2012, p.81), o serviço de arquivo das estações de televisão passa
pelo apoio dado às redações de informação na produção de notícias, desempenhando um
papel importante para complementar ou ilustrar as peças dos noticiários.
RODRIGUEZ-BRAVO (2004, p.31), aponta duas principais funções deste tipo de
arquivos: a conservação, constituindo um arquivo que assegure a sua conservação e
tratamento documental e a exploração, proporcionando a informação documental
necessária, de diferentes origens e suportes, para enriquecer o produto informativo de
forma a torná-lo passível de ser reutilizado.
Portanto, considera-se que tem várias finalidades entre elas, gerir a documentação
pertencente à empresa, proporcionar ou dar acesso a essa documentação aos utilizadores
e conservar o património histórico da estação de televisão.
Atualmente, os arquivos audiovisuais encontram-se num processo de passagem
dos conteúdos em suporte analógico para o digital, sendo que algumas estações de
televisão em Portugal já dispõem de sistemas de conteúdos audiovisuais digitais que lhes
permite gerir os seus recursos com mais agilidade e eficácia.
Segundo RAMOS (2012, p.45), a digitalização dos fundos documentais adveio da
necessidade de “(…) acompanharem as mudanças de métodos de trabalho na área da
Televisão, com a obsolescência tecnológica e com a rápida deterioração dos suportes em
que se armazenam as imagens em movimento.”
26
1.4.1. Documentação audiovisual das estações de televisão
Segundo LÓPEZ-DE-QUINTANA (2000, p.90), as estações de televisão
produzem quatro grandes tipologias documentais, designadamente, a documentação
escrita/textual, sonora, gráfica e audiovisual/imagens em movimento que podem gerar
políticas de arquivo e modos de gestão diferenciados.
De todos estes tipos de documentos, as imagens em movimento são as que
possuem uma maior riqueza de conteúdo e um nível de complexidade maior em relação
à gestão documental, ao incorporarem não só o elemento visual mas também o áudio ou
sonoro.
Para além disso, pode-se ainda subdividir esta tipologia documental em
documentação jornalística, que serve um determinado meio de comunicação e
documentação audiovisual, que é sujeita a tratamento documental de documentos com
imagens em movimento e som (RODRÍGUEZ-BRAVO, 2004, p.31).
A documentação em meios audiovisuais tem várias finalidades nomeadamente
gerir a documentação pertencente à empresa televisiva, proporcionar a informação
documental aos utilizadores e conservar o seu património histórico (SERRANO &
MORAL, 2004, p.38).
Para além da documentação produzida, emitida e acumulada pela própria, as
estações de televisão recebem outros conteúdos de fontes externas para produção e
emissão, nomeadamente, imagens procedentes de outras estações de televisão, agências
nacionais, produtoras audiovisuais e agências internacionais, como por exemplo a
Reuters2, que são muito úteis como fontes de imagens para complementar os noticiários
(LOPÉZ-DE-QUINTANA, 2000, p.87).
Têm um importante valor económico pois podem ser exploradas em contextos
bastante diversificados, como por exemplo a reemissão de programas, a reutilização de
imagens em novas produções, a comercialização de programas para ser emitidos noutras
estações de televisão e a venda de imagens de arquivo para ser utilizadas em novas
produções (cit. por RODRÍGUEZ BRAVO, 2004, p.32).
2 A Reuters é a maior agência internacional de notícias do mundo.
27
1.5. Gestão dos conteúdos audiovisuais
A gestão da informação compreende, em qualquer sistema de informação,
operações de seleção, avaliação, organização, representação, armazenamento e
recuperação da informação.
É necessário que os responsáveis pelo arquivo planifiquem o seu crescimento
mediante a adoção de políticas de gestão documental desde a aquisição e criação das
coleções até à sua disseminação ou acesso aos utilizadores e por normas para a descrição
do material documental, para a seleção da informação documental, a conservação e
preservação e o uso e acesso à informação (CALDERA-SERRANO; FREIRE-ANDINO,
2015, p.118-123).
Nos arquivos audiovisuais, os documentos passam por um fluxo documental
desde que chegam ao centro de documentação até ao seu destino final, nomeadamente, as
seguintes atividades arquivísticas: registo, seleção, análise e tratamento documental,
recuperação da informação, empréstimo e conservação (RAYO, 2007, p.26) .
De entre estas fases, será dada mais destaque à seleção, análise e tratamento
documental e conservação.
A aquisição e receção de documentos audiovisuais pode ser feita através de
depósito legal, compra, doação ou mediante contratos de atribuição de direitos
(temporal/definitiva) ou através de produção própria do arquivo e implica o acordo sobre
os direitos patrimoniais desses documentos (EDMONDSON et al., 2016, p.45).
Depois dessa aquisição, deve-se proceder ao registo e aos processos de seleção e
análise documental, para que estes possam ser tratados e recuperados.
Após a gravação e transmissão do programa, este é enviado e registado no centro
de documentação, sendo que, deve ter presente alguns dados que facilitem o seu
tratamento, nomeadamente, o número do suporte, características técnicas do suporte, tipo
de gravação, ficha de emissão, título do programa e número do episódio (RAYO, 2007,
p.29).
Para garantir a incorporação de documentos pertinentes no fundo documental e
evitar gastos desnecessários de armazenamento, gestão e conservação, é fundamental que
se proceda à seleção, realizada tendo em conta uma política implementada no serviço de
documentação.
28
A seleção é considerada a fase chave do tratamento documental pois incide
diretamente na criação do arquivo, em que se avalia e decide que documentos devem
passam ao fundo do arquivo. É realizada tendo em conta um conjunto de critérios ou
normas estabelecidos pelo centro de documentação (HIDALGO-GOYANES, 2003,
p.238).
Relativamente ao procedimento desta tarefa, verifica-se a ausência de normas
internacionais, pelo que, cada empresa televisiva adapta-se às recomendações e estudos
existentes, nomeadamente as recomendações elaboradas pela FIAT “Recommended
Standards and Procedures for Selection and Preservation of Television Programme
Material”, que recomendam que se conserve tudo o que foi emitido e gravado pelo menos
durante cinco anos e se selecione “gente e acontecimentos de interesse histórico e material
de interesse sociológico entre os que se incluem personagens e acontecimentos
desportivos” (HIDALGO-GOYANES, 2003, p.238).
Segundo RODRÍGUEZ-BRAVO (2004a,p. 32), a política de seleção delineada deve
responder a dois tipos diferentes de critérios: os critérios operacionais, de valor
económico em função das possibilidades de exploração e os critérios culturais de valor
patrimonial em função do valor histórico, social e cultural.
Para CALDERA-SERRANO (2004, p.54), os critérios de seleção podem classificar-
se em critérios periodísticos (atualidade, relevância ou importância, interesse, novidade,
acessibilidade, etc), critérios documentais (qualidade das imagens, potencial de
reutilização, etc) e critérios físicos (estado de conservação do suporte e de gravação de
imagens e som).
Geralmente, os arquivos audiovisuais implementam critérios baseados nas escassas
recomendações existentes sobre políticas e normas de seleção ou elaboram procedimentos
de uso interno. Esses critérios baseiam-se geralmente no conteúdo informativo, por serem
gravações de um acontecimento cultural, desportivo, político ou educativo, uso
administrativo e/ou legal, o seu valor para a investigação e a sua relação com as outras
gravações (HIDALGO-GOYANES, 2003, p.245).
Depois de selecionados, os documentos audiovisuais devem passar por algum tipo de
tratamento e para isso, procede-se à sua análise e tratamento documental.
A análise permite-nos perceber de que trata o documento em questão, identificando e
descrevendo claramente os seus assuntos principais, obtendo uma representação que
permita ao utilizador localizar tal documento.
29
É crucial realizar uma análise mais ou menos detalhada daqueles documentos
considerados ou selecionados para conservação, pois um documento não analisado é
como se não existisse, pois não tem potencial de recuperação e utilização (HIDALGO-
GOYANES, 2005, p.163).
O seu tratamento apresenta diferenças em função da sua proveniência
(informativos ou programas) e do tipo de gravação (original ou emitido) (RAYO, 2007,
p.27).
Segundo RODRÍGUEZ-BRAVO (2004a, p.35), o nível de exaustividade da
análise depende do grau de reutilização do material audiovisual, sendo que, um
documento que tenha um grande potencial de reutilização será alvo de uma descrição
mais detalhada para facilitar a sua recuperação.
Para além disso, é importante ter em consideração que a informação é transmitida
por duas vias, a imagem e o som, e por isso deve-se ter muita atenção e distinguir entre o
que se vê e o que se ouve, pois muitas vezes, existe uma certa incoerência e até
dessincronização temporal entre o que é visionado nos dois elementos.
Depois desta análise, os documentos serão descritos numa base de dados que
contém campos de controlo, descrição física, título, descritores onomásticos, geográficos,
temáticos, cronológicos, de localização, produção, emissão e responsabilidade.
Para além do tratamento e da análise documental, existem outros aspetos como a
preservação e o acesso aos documentos audiovisuais que nos cabe abordar.
A preocupação com a preservação, conservação e o acesso a longo prazo dos
documentos audiovisuais é uma questão recorrente na literatura, em que se aborda a
obsolescência dos formatos e suportes e o aparecimento de progressos tecnológicos que
fizeram emergir estratégias de preservação como a digitalização/migração.
Atualmente, os arquivos audiovisuais deparam-se com o curto ciclo de vida dos
formatos e suportes analógicos das cassetes magnéticas de áudio e vídeo e a sua
vulnerabilidade face às condições ambientais, que aumenta o risco de deterioração ou
mesmo a sua perda e por sua vez, limitam o seu acesso.
A sobrevivência e acessibilidade dos suportes depende da gestão da preservação
ao longo do tempo. A sujidade, o pó, a poluição do ar e humidade e temperatura podem
danificar os documentos como os CDs e cassetes, pois estes dependem diretamente das
condições de temperatura e humidade em que são mantidos, sendo necessário que se
estabeleçam condições adequadas de armazenamento.
30
No entanto é importante referir que para além da deterioração física do suporte,
as evoluções tecnológicas trouxeram desafios ao nível da obsolescência tecnológica,
nomeadamente a dependência e incapacidade para ler a informação e que pode ser a maior
ameaça e vulnerabilidade dos documentos digitais.
EDMONDSON et al. (2016, p.24) referia-se à preservação como a “totalidade dos
passos necessários para assegurar a acessibilidade permanente de um documento
audiovisual com a máxima integridade, isto é, manter a qualidade total do áudio e do
vídeo”. Envolve muitos processos, princípios e atividades que podem incluir a
conservação e restauração, a cópia e o processamento do conteúdo visual e/ou sonoro, a
digitalização para criar um substituto para acesso ou preservação, manutenção das
condições apropriadas de ambiente, entre outros.
Para preservar a informação deve-se garantir a integridade física e química dos
documentos originais de forma a assegurar que, ao ser reexecutado, digitalizado ou
transferido, o sinal desses conteúdos pode ser recuperado com o mesmo, ou melhor, nível
de qualidade e integridade que os documentos apresentavam quando foram gravados.
Em 2003, os representantes dos arquivos das televisões membros da União
Europeia de Radiofusão (UER) reuniram-se para aprovar o informe UER que abordava
uma mudança importante – a digitalização e o que esta implicava para os arquivos
audiovisuais (HIDALGO-GOYANES, 2005, p.166).
Atualmente, com a emergência da digitalização, garante-se não só que, o conteúdo
esteja sempre disponível para qualquer utilizador mas também que possa ser acedido por
diferentes utilizadores em simultâneo e não sofra danos ou mesmo o risco de ser
modificado por algum utilizador (HIDALGO GOYANES, 2005, p.168).
No entanto, os projetos de digitalização requerem elevados investimentos
económicos e de recursos humanos que muitas instituições não conseguem obter.
Para além da questão da preservação, é importante mencionar também a questão
do acesso aos conteúdos, que pode ser limitado não só pela deterioração dos documentos
mas também ao nível dos direitos de cópia, distribuição e emissão, e neste sentido, é
necessário um equilíbrio entre os direitos legítimos e o direito universal de acesso ao
património audiovisual (EDMONDSON et al., 2016, p.9).
Assim, devido à necessidade de se garantir o acesso continuado aos conteúdos
armazenados, procede-se a estratégias como a digitalização, que é vista como a única
forma de assegurar a preservação e o acesso aos fundos documentais e também a
migração dos documentos audiovisuais analógicos para conteúdos digitais, passando a
31
ser acedidos apenas através de meios tecnológicos informáticos (AGIRREAZALDEGI-
BERRIOZABAL, 2007, p.433).
Contudo, a transferência de formatos analógicos para formatos digitais não é um
processo fácil e pode provocar a perda de qualidade da informação, pelo que, pode não
ser a solução mais adequada.
Segundo EDMONDSON et al. (2016, p.56) a migração do conteúdo analógico de
suportes magnéticos de vídeo e áudio obsoletos para o digital pode ser necessário ou
conveniente, mas a informação e o significado contextual pode-se perder.
Além disso, é importante compreender o impacto da gestão de materiais
audiovisuais criados digitalmente – born digital – pois estes pressupõem mais riscos do
que a digitalização de suportes analógicos, uma vez que, não é possível voltar ao suporte
original para repetir o processo e se se não conseguir encontrar podem-se perder
rapidamente.
32
1.6. Representação e tratamento documental do material audiovisual
em televisão
A organização e representação da informação é umas das áreas de estudo que a
Ciência da Informação investiga e que tem uma relação muito próxima com a
recuperação.
Mas de que falamos quando nos referimos à representação da informação “ em
arquivística? Como se processa essa representação no ambiente audiovisual?”
Segundo RIBEIRO (2005, p.93), “representar informação significa criar
“imagens” não exatas e integrais mas suficientemente rigorosas para tornar possível uma
identificação inequívoca dos objetos apresentados. Essa representação vai ser elaborada
através da descrição ou “representação descritiva”, que começa a ser designada como
meta-informação, ou seja, informação sobre a própria informação”.
Corresponde à utilização de elementos simbólicos, que podem ser palavras,
figuras, imagens, desenhos, mímicas, esquemas, entre outros, para substituir um objeto,
uma ideia ou um facto referente ao documento original.
Os catálogos, repertórios, inventários, listas de referência ordenadas, índices são
exemplos de alguns dos instrumentos de acesso utilizados para representar a informação,
na qual servem de intermediários entre quem pesquisa a informação e o produto
informacional que é procurado.
Na generalidade dos arquivos, esta representação é alcançada mediante a adoção
da Norma Internacional de Descrição Arquivística – ISAD (G) e da Norma Internacional
sobre os Registos de Autoridade Arquivísticos de Instituições, Pessoas Singulares e
Famílias - ISAAR (CPF), que apresentam um conjunto de unidades de descrição
arquivísticas ou zonas de produção e que por sua vez, irão permitir a representação e o
acesso dos conteúdos.
É comum também a utilização das Orientações para a Descrição Arquivística
(ODA), criadas com o objetivo de dotar a comunidade arquivística portuguesa de um
instrumento de trabalho em consonância com as normas de descrição internacionais ISAD
(G) e ISAAR (CPF).
De acordo com a ISAD (G), a descrição é:"a elaboração de uma precisa
representação de uma unidade de descrição e das partes que a compõem, caso existam,
através da recolha, análise, organização e registo de informação que sirva para identificar,
gerir, localizar e explicar documentos de arquivo, o contexto e sistema de arquivo que os
33
produziu". Tem como objetivo “identificar e explicar o contexto e o conteúdo da
documentação de arquivo, a fim de promover a sua acessibilidade” (2002, p. 13).
Em linhas gerais, a descrição consiste numa apresentação das caraterísticas físicas
de um ou vários documentos, através da análise do seu conteúdo e da identificação do
contexto de criação e utilização dos arquivos, com o objetivo de facilitar o acesso e
recuperação da forma mais rápida e eficiente e também de fazer o controlo intelectual do
fundo documental.
Segundo esta norma, a descrição é multinível, encontrando-se subdivido por
vários níveis, neste caso, o fundo, a série e subsérie, que devem seguir as seguintes regras:
a descrição deve ser realizada do geral para o particular, contendo informação relevante
e não repetida para o nível de descrição e deve haver uma ligação entre as descrições.
As informações devem ser distribuídas em 7 zonas de descrição:
Zona de identificação: campo onde são registadas as informações essenciais para
identificar a unidade de descrição (fundo, série, subsérie, dossiê, processo, item
documental)
Zona do contexto: campo onde se regista a origem e custódia da unidade de
descrição.
Zona de conteúdo e estrutura: campo onde se registam informações sobre o
assunto, a organização arquivística, avaliação e incorporações.
Zona de condições de acesso e de uso: o campo onde se registam informações
sobre a acessibilidade (física, intelectual e legal) da unidade de descrição.
Zona da documentação associada: campo onde se registam informações acerca de
outros documentos que mantenham alguma identidade com a unidade de descrição como
originais e cópias; outras unidades de descrição relacionadas; publicações baseadas no
uso de documentos da unidade de descrição
Zona de notas: campo onde se registam qualquer tipo de informações que se julgue
pertinentes, mas que não podem ser incluídas nas outras zonas.
Zona de controlo da descrição: campo onde se registam anotações sobre a
atividade de descrição: como, quando e quem realizou a descrição.
Através da leitura da norma percebeu-se que esta se foca especialmente na
descrição de documentos textuais. Apesar disso, prevê-se a sua articulação com normas
34
de descrição de documentos especiais (cartográficos, audiovisuais, iconográficos ou
digitais).
De facto, as diferenças de descrição entre os documentos textuais e os especiais,
em particular, os documentos audiovisuais não são assim tão acentuadas, na medida em
que se seguem os mesmos princípios e regras, sendo também realizada uma descrição
multinível com as seguintes unidades arquivísticas: série, programa e clip que serão
abordadas nos próximos capítulos. É claro que tem de se adaptar as orientações das
normas às especificidades ou caraterísticas do documento audiovisual.
Geralmente, os arquivos das estações de televisão utilizam as normas arquivísticas
ISAD (G) e regras de catalogação para a descrição documental. Para além destas, existe
ainda o “Minimum Data List”, estabelecida em 1992 pela FIAF/FIAT, que é uma lista de
22 campos agrupados em 3 áreas – área de identificação, técnica e de direitos para definir
um sistema de descrição dos materiais de televisão. No entanto, a metodologia
implementada no tratamento da informação dos arquivos audiovisuais é adaptada à
realidade funcional de cada organização.
A representação dos documentos audiovisuais envolve o processo de análise de
conteúdo sobre toda a documentação selecionada para ser conservada e de descrição
arquivística numa série de etapas que serão abordadas de seguida e que vão permitir a sua
representação e recuperação.
Esta descrição é realizada do geral para o particular, fornecendo-se as
caraterísticas formais, técnicas e administrativas do conteúdo informativo que veicula o
conjunto de informação existente na imagem e no som.
Segundo RODRÍGUEZ-BRAVO (2004b, p.150), os elementos básicos de
identificação e representação dos documentos audiovisuais conservado nos arquivos de
televisão são:
1. Dados de identificação ou elementos de catalogação
a. Título
2. Menções de responsabilidade
a. Dados de produção (produtora, distribuidora, data de produção)
b. Dados de emissão (datas de emissão, estação televisiva, âmbito de difusão
c. Duração
d. Número de produção, número de arquivo.
3. Análise de conteúdo
35
a. Tipificação do tipo de documento (género, forma).
b. Resumo conceptual ou temático
c. Descrição de imagens e/ou sons.
d. Classificação e/ou indexação
4. Descrição técnica e relação de suportes
a. Caraterísticas técnicas: formato, tipo, suporte
b. Referências a assinaturas de localização no arquivo dos suportes que
contém o documento
5. Dados relativos às condições de utilização
a. Identificação dos direitos (copyright) de que dispõem o arquivo sobre o
documento
A representação é levada a cabo mediante um conjunto de fases de tratamento,
que foram apontadas com base no trabalho apresentado por Catherine Fournial “Análisis
documental de imágenes en movimiento” en Panorama de los Archivos Audiovisuales”.
Este trabalho considera que os conteúdos devem passar pelas seguintes fases:
visionamento na totalidade, a descrição das diferentes sequências e planos (também
apontado como o resumo) e a indexação de elementos onomásticos, temáticos,
cronológicos, geográficos e também outros elementos como dados relativos à produção,
de controlo, emissão e direitos de imagens. Pretende-se deste modo identificar de forma
inequívoca o documento e obter uma representação do documento audiovisual que possa
ser armazenada e recuperada (CALDERA-SERRANO, 2003, p.8).
Este processo inicia-se sempre por uma análise documental que vai permitir
caraterizar o conteúdo. Mas como se analisa um documento?
Segundo SERRANO & MORAL (2004, p.45), começa-se por visualizar o
documento audiovisual na sua totalidade, tanto o elemento imagético como o sonoro,
tendo em atenção todos os planos de rodagem e montagem, textos realizados e tomam-se
notas que se considere oportunas para a análise posterior. As anotações devem indicar o
nível de relevância do documento e o nível de análise e da unidade documental que
depende do tipo de programa e do potencial de reutilização.
Após o visionamento, procede-se a uma análise mais detalhada dos planos e
sequências, em que se anota sequência a sequência os elementos visionados,
nomeadamente, pessoas, temas e lugares e o que é transmitido através do som e imagem.
36
Para facilitar a localização de imagens é necessário indicar o ponto do documento
(time code ou código de tempo3) em que se localiza cada plano ou sequência.
Na descrição de imagens deve ter-se presente o paradigma de Lasswell, na qual
se indica as pessoas (quem?), temas ou conceitos (o quê?), lugares (onde?), o tempo de
ação (quando?) e o meio da ação (como?). Devem indicar-se os nomes completos das
pessoas físicas ou jurídicas (descritores onomásticos), ações, lugares (descritores
geográficos), temas (descritores temáticos), objetos, planos primários e secundários,
sequências, movimentos de câmara, contraste, brilho, composição, luminosidade e
caraterísticas atmosféricas nomeadamente imagens que sejam defeituosas pelo plano ou
defeitos técnicos do suporte (CALDERA-SERRANO E MORAL, 2004, p.52,53).
A elaboração de um resumo é fundamental não só para identificar o assunto ou
assuntos que caraterizam um documento sem necessidade de o ler ou visionar, mas
também porque é com base neste que se realiza a indexação.
O resumo corresponde a uma representação abreviada, precisa e objetiva do
conteúdo de um documento original e elaborado com uma dupla finalidade: representar
o documento e permitir avaliar a pertinência e interesse do mesmo para o utilizador. Serve
como elemento de recuperação nas bases de dados documentais.
Segundo SERRANO & MORAL (2004, p.47), os resumos têm de ser sintéticos e
atuar como um substituto do documento, devendo apresentar os principais temas e
informações de interesse para uso posterior.
Segundo CALDERA-SERRANO (2003, p.8), a elaboração do resumo pode ser
dificultada pelo reconhecimento de certos lugares, pessoas e temas e ainda em referenciar
essas imagens de forma acertada e coerente. Por outro lado, as referências culturais e os
conhecimentos adquiridos dos arquivistas pode facilitar bastante a tarefa.
Em relação à linguagem utilizada, recomenda-se a utilização de frases curtas e
claras, objetivas, sem conceitos ambíguos e sem tecnicismos, pois ajudam a uma maior
compreensão do texto documental.
Por último, procede-se à indexação, que é um processo de extração ou seleção dos
termos mais relevantes dos temas tratados no documento, através das ferramentas
documentais elaboradas pelos serviços das televisões, nomeadamente, linguagens ou
3O time code é um sistema numérico codificado, que identifica as imagens registadas em termos de horas,
minutos, segundos e imagens, sendo que o time code in utiliza-se para demarcar o início e o time code out
utiliza-se para indicar /localizar o fim do plano.
37
instrumentos de indexação, como por exemplo os tesauros, com vista à representação de
temas, pessoas e lugares (CALDERA-SERRANO, 2003, p.9).
CALDERA-SERRANO & MORAL (2002, p.392), destacam a importância da
implementação e desenvolvimento de ferramentas documentais como os tesauros e
normas de construção de bases de dados muito mais ágeis e intuitivas, reiterando a
necessidade de disponibilizar informação de uma forma muito mais rápida.
O recurso às linguagens de indexação são uma necessidade que decorre das
caraterísticas da própria linguagem natural, que é marcada por situações de sinonímia ou
quase sinonímia, polissemia, ambiguidade. No entanto, nem todos os arquivos utilizam
uma linguagem controlada, utilizando junto à linguagem documental, palavras-chave em
linguagem livre.
Ora, ao utilizar uma linguagem de indexação, seremos capazes de controlar essa
ambiguidade, pois a linguagem de indexação é controlada e funciona como um elemento
intermediário entre o documento e o utilizador, destinado a facilitar a pesquisa e
recuperação da informação.
Em suma, os arquivos audiovisuais devem elaborar uma descrição detalhada da
informação visual e sonora, um resumo temático ou concetual do conteúdo total do
documento e introduzir palavras-chave ou descritores que facilitem a recuperação da
informação (SERRANO & MORAL, 2004, p.50).
Depois de tratados e representados, procede-se ao armazenamento do registo
documental informatizado na qual se inclui estas informações na base de dados e se fazem
correções sobre os metadados e descrição de planos. Posteriormente, realiza-se a
validação e controlo de qualidade em que são revistos aspetos como a correta utilização
dos descritores do tesauro, o controlo de autoridades de pessoas físicas e jurídicas e a
correção da descrição dos planos e sequências (CALDERA-SERRANO E MORAL,
2004, p.56-57).
38
Capítulo 2 - Metodologia
O estabelecimento de uma metodologia é um ponto importante para qualquer
investigação científica e assim, tornou-se fundamental a definição de uma metodologia
para a realização do estágio e do presente relatório de estágio.
Assim, a metodologia seguida é o estudo de caso na qual se vão definir os
objetivos de investigação, objeto de estudo e a constituição de um corpo documental para
mais tarde retirar conclusões.
Segundo YIN (2001, p. 32), a metodologia do estudo de caso é entendida como
uma estratégia de pesquisa empírica que investiga um fenómeno contemporâneo dentro
do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenómeno e o
contexto não estão claramente definidos. Os fenómenos a analisar podem ser pessoas,
programas, organizações, projetos, grupos de pessoas ou processos de tomada de decisão
e podem incidir em casos únicos ou múltiplos.
Trata-se de uma abordagem metodológica de investigação especialmente
adequada para compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos
complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores. O objetivo é
descrever e analisar o fenómeno de uma forma profunda e global.
No caso do presente trabalho, o estudo de caso tem como objeto de estudo o
arquivo audiovisual da RTP, visando analisar os procedimentos de tratamento
arquivístico e em consequência a representação da informação audiovisual, através da
observação direta.
O estudo de caso requer uma preparação teórica que implica a familiarização do
investigador com o universo a ser investigado e que consiste essencialmente na
elaboração da revisão da literatura. Para isso, recorreu-se a métodos de recolha de
informação, nomeadamente, a pesquisa documental em bases de dados científicas e
posteriormente a leitura e análise dos documentos recolhidos.
A pesquisa e consulta da bibliografia sobre a temática do audiovisual no contexto
dos arquivos é fulcral para se perceber o que foi investigado, os principais conceitos, os
problemas e aspetos a estudar futuramente.
A referida pesquisa foi realizada em livros da especialidade e também em bases
de dados como a Web of Science, a Biblioteca do Conhecimento Online, o Repositório
Científico de Acesso Aberto em Portugal, a Academia.edu, o ResearchGate e ainda o
39
motor de pesquisa Google Académico, recorrendo a operadores booleanos, aspas,
truncatura e a alguns filtros como o assunto, a língua e a limitação do período de
publicação. Para simplificar, apenas será descrito o processo de pesquisa em algumas das
fontes de informação referidas.
Iniciou-se a pesquisa no dia 20 de setembro de 2017 na base de dados de referência
bibliográfica Web of Science com o objetivo de recuperar de forma mais abrangente tudo
o que existe sobre a temática em questão. Introduziu-se o termo de pesquisa na língua
inglesa, com aspas, “audiovisual archives”, tendo obtido 185 resultados.
De forma a diminuir os resultados e encontrar a informação mais pertinente,
recorreu-se a algumas estratégias de pesquisa tais como a utilização das aspas, truncatura,
definiu-se o resultado a aparecer pelo título e delimitou-se o período de 10 anos de
publicação.
Para além disso, limitou-se às áreas de pesquisa ciência da informação e
biblioteconomia, telecomunicações, televisão filme e rádio e comunicação. Desta
filtragem obtive um total de 9 resultados.
Para além da Web of Science também se realizou pesquisas na Biblioteca do
Conhecimento Online, introduzindo-se o termo de pesquisa "arquivos audiovisuais" OR
"audiovisual archiv*".
Delimitou-se os resultados aos idiomas portugueses e inglês, utilizaram-se as
aspas, a truncatura, o operador booleano OR e definiu-se a recuperação destes termos pelo
título, nos últimos 10 anos e a aparecer segundo a relevância. Obtiveram-se 80 resultados
no total.
Houve a necessidade de recorrer a alguns métodos de filtragem, mantendo os
termos de pesquisa iguais, nomeadamente a definição da área ou disciplina como
Biblioteconomia e Ciência da Informação e a definição dos seguintes assuntos:
audiovisual archives, audiovisual materials, archivos audiovisuales, sound archives,
audiovisual documentation, video archives, audio-visual equipment industry e
documentacion audiovisual. Depois desta filtragem, obteve-se um total de 7 resultados,
com informação mais pertinente e relevante do que os que se tinha obtido anteriormente.
Mais tarde, houve a necessidade de inserir outro termo de pesquisa com maior
orientação para a representação dos documentos audiovisuais. Assim, inseriu-se na
Biblioteca do Conhecimento Online “representação arquivística” e foram recuperados
153 resultados. Delimitou-se o período em 10 anos, a língua inglesa, espanhola e
portuguesa, o assunto em descrição arquivística e obtiveram-se 7 resultados.
40
Para além deste, introduziu-se também o mesmo termo de pesquisa no Google
Académico, delimitando ao mesmo período de publicação e a recuperar pelo título, tendo
sido encontrados 17 resultados.
Posteriormente, procedeu-se à análise do conteúdo mediante um conjunto de
técnicas para o tratamento e análise da informação recolhida. Desta análise foram
selecionados os textos científicos considerados mais pertinentes ou relevantes, extraindo
e comparando com outros textos as suas ideias principais.
Após a pesquisa, deparámo-nos com a existência de alguns estudos sobre os
arquivos audiovisuais das estações de televisão, principalmente de autores espanhóis,
designadamente, CALDERA-SERRANO, SERRANO E MORAL, RAYO, LÓPEZ-DE-
QUINTANA, RODRÍGUEZ-BRAVO, AGIRREAZALDEGI-BERRIOZABAL,
HIDALGO-GOYANES, entre outros.
Em Portugal, esta área ainda se encontra pouco estudada a nível científico e
académico, existindo apenas algumas dissertações como as de RAMOS e
FRANQUEIRA, sobre os arquivos de televisão da RTP e da SIC.
Destaca-se de seguida outras publicações que se considera importantes para se
adquirir uma visão geral sobre o funcionamento e procedimentos de gestão dos arquivos
audiovisuais.
As publicações de EDMONDSON et al. “Uma filosofia de arquivos audiovisuais”
(2016) e de HARRISON “Arquivos audiovisuais: um guia prático” (1998) são exemplos
de guias práticos que demonstram a preocupação em estabelecer práticas e normas mais
uniformizadas de gestão documental. Estas duas publicações em particular surgem no
sentido de consolidar a base teórica dos arquivos audiovisuais que se revelava ausente.
O “Diagnóstico ao Estado do Património Audiovisual Nacional”, difundido em
2012 pelo grupo de Trabalho dos Arquivos Audiovisuais da Associação Portuguesa de
Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, é considerado pelos profissionais da área
do audiovisual, como essencial e prioritário para um maior conhecimento acerca do
estado arquivístico nacional ao nível da informação audiovisual.
Para além disso, destaca-se também, a “Recomendação para a salvaguarda e
conservação de imagens em movimento”, divulgada pela UNESCO em 1980, que
demonstrava a preocupação em reconhecer o valor do documento audiovisual como parte
integrante da herança cultural e identidade de cada nação e a responsabilidade dos
governos em tratá-la e conservá-la.
41
Capítulo 3 – O caso de estudo
3.1. Apresentação da organização de acolhimento: Rádio e Televisão de
Portugal (RTP)
A RTP é uma empresa estatal portuguesa que presta um serviço público de rádio e
televisão, em concordância com os termos da Lei da Rádio, da Lei da Televisão e do
contrato de concessão do serviço público de rádio e televisão, doravante designado por
contrato de concessão.
Foi em 1935 que a então Emissora Nacional, também conhecida como Radiodifusão
Portuguesa (RDP) deu início às transmissões de rádio, seguindo-se em 1957, o início das
emissões televisivas pela Radiotelevisão Portuguesa (RTP).
Em 2004, a RDP e RTP foram reestruturadas e fundidas numa única empresa pública,
prestadora do serviço público, a Rádio e Televisão de Portugal.
Esta empresa televisiva tem dois centros de produção, em Lisboa e no Porto e várias
delegações regionais espalhadas pelos vários distritos do país.
“A estratégia da RTP passa por uma aposta séria na comunicação das nossas marcas
e produtos. O principal objetivo é aproximar a RTP dos Portugueses. “Sempre ligados” é
a assinatura da RTP e traduz a sua essência. A RTP liga Portugal e os portugueses a si,
entre si e ao mundo” (RTP, 2018a).
“É nossa missão ser de todos e para todos. Chegamos à maioria, às minorias, ao
público com necessidades especiais e estamos próximos de todos os portugueses, onde
quer que estejam. Somos únicos no reforço da coesão e identidade nacional, afirmando a
língua, os valores e costumes de forma transversal” (RTP, 2018a).
A sua permanente salvaguarda, valorização e acesso público têm sido objetivos
estratégicos da RTP, no cumprimento da sua missão de serviço público de rádio e
televisão (RTP, 2018b).
42
3.1.1. Universo RTP
A RTP presta um serviço público de televisão e rádio, integrando um vasto universo
de canais de televisão, rádio e serviços online.
Procura oferecer aos telespetadores uma programação variada que explora vários
géneros de conteúdos, desde a informação até ao entretenimento e ficção, garantindo uma
oferta que garante o acesso universal e é um fator de coesão e integração de todos os
indivíduos, grupos e comunidades sociais.
Tabela 1 - Canais televisivos da RTP 4
4 RTP (2013c, p.25-27) “ Relatório de Sustentabilidade”
Canal geralista que privilegia a ficção nacional, informação, desporto e
entretenimento, com o objetivo de proporcionar uma escolha variada.
Alternativa e de perfil cultural, com programação temática e
particularmente aberta à inovação, faz também a cobertura do desporto amador, e comtempla de forma criativa o cumprimento das obrigações
com minorias, etnias e religiões.
Canal de informação com notícias, reportagens e espaços de debate.
Canal que tem como principal componente da sua emissão a informação, mas o entretenimento, os programas documentais e infanto-juvenis marcam presença nesta emissão.
Canal de caraterísticas regional com enfoque para a informação e a realidade regional.
Serviço de programas com o melhor da produção audiovisual portuguesa, quer na informação, nos programas, documentários, séries,
filmes e, particularmente, na promoção e difusão da cultura portuguesa.
Serviço de programas internacional, vocacionado obviamente para o continente africano, com uma componente informativa relevante e
articulação com as delegações da RTP em países língua portuguesa.
Canal temático, que para além da retransmissão de programas
disponíveis no vasto arquivo RTP, tem também produção própria sobre temas da atualidade.
43
Tabela 2- Canais radiofónicos da RTP5
Plataformas Online
Para além dos canais de televisão e rádio, cabe referir algumas plataformas online,
nomeadamente a RTP Play, plataforma digital da RTP criada em 2011 que disponibiliza
gratuitamente toda a oferta televisiva, onde é possível rever e ver em direto os programas
de canais e antenas RTP, quer no site quer na App; a RTP Ensina, plataforma educativa
da RTP onde se encontram conteúdos de rádio e de televisão organizados pelos grandes
temas dos currículos académicos do ensino Básico e Secundário; a RTP Arena Sports,
plataforma de eSports oficial da RTP, onde se transmitem campeonatos e se encontram
as notícias nacionais e internacionais sobre desportos eletrónicos e a RTP Arquivos,
5 RTP (2013c, p.25-27) “ Relatório de Sustentabilidade”
Rádio generalista com enfoque para a informação nacional e
internacional, entretenimento, com predominância para a música portuguesa, a divulgação de temas de relevância sociocultural e de atualidade desportiva.
Com um âmbito cultural esta rádio tem programação baseada na música clássica e programas culturais com música tradicional portuguesa.
Baseada em música alternativa e na divulgação de novos grupos
musicais portugueses. É a rádio jovem do grupo da rádio pública.
Rádio generalista de caráter regional, que também produz
programas para as comunidades dos Estados Unidos da América, Canadá e Brasil, emitidos através da RDP Internacional.
Rádio com uma emissão musical vocacionada para a juventude com diversas temáticas no âmbito da música, cinema, internet, desporto e tempos livres.
Com programação baseada na música, na informação, na cultura
e no desporto. O objetivo é promover a integração dos países africanos de língua oficial portuguesa.
Com programação destinada aos lusófonos residentes fora de
Portugal, em particular as comunidades de emigrantes portugueses. Informação, entretenimento, desporto, divulgação cultural, promoção das iniciativas das comunidades são os
princípios orientadores da sua programação.
44
plataforma lançada em 2017, de acesso público online a um vasto conjunto de conteúdos
desde a década de 30 do século passado até à atualidade (RTP, 2018a).
Esta plataforma visa facilitar o acesso público e universal ao património audiovisual
da rádio e televisão portuguesa a todos os cidadãos e instituições (independentemente da
região do país onde se encontram), contribuindo efetivamente para o reforço da coesão e
identidade nacional.
Além da pesquisa transversal, em opção simples ou avançada sobre um acervo rico
composto por vídeos, áudios, fotografias e textos, disponiliza a pesquisa das suas coleções
os temas e personalidades mais representativos a nível nacional (RTP, 2018b).
3.2. O arquivo audiovisual da RTP
O arquivo audiovisual da RTP integra conteúdos desde a década de 1930 até à
atualidade, constituindo-se como um verdadeiro repositório da memória coletiva
nacional, com um património composto por documentos em diversos formatos e suportes
(imagem em movimento, áudio, fotografia, textos) e uma grande diversidade de
conteúdos desde a ficção ao documentário, a informação ao entretenimento, o
institucional ao desporto (RTP, 2018b).
Em relação à sua organização, encontra-se dividido em dois pisos, sendo um deles
dedicado quase exclusivamente ao armazenamento de suportes, na sua maioria cassetes e
o outro à própria gestão e tratamento dos conteúdos, nomeadamente, as tarefas seleção,
descrição, pesquisa e restauro digital. Neste espaço encontra-se ainda um arquivo
fotográfico, cujo conteúdo se encontra armazenado em suporte CD.
Está dividido entre o arquivo fílmico (arquivo em película), nos suportes 16mm e
35mm e o arquivo videográfico (arquivo em vídeo) em suportes de 2” (Quadruplex), 1”
(BCN), U-Matic (high e low band), Betacam (analógico e digital), sendo que, Betacam
SP, Betacam Digital, Betacam SX e DVCAM, são os que ainda continuam a ser utilizados
por terem equipamentos que possibilitam a sua reprodução (RAMOS, 2012, p.20-21).
Para além do arquivo audiovisual localizado no edifício da RTP, existe ainda um
outro depósito, localizado no Prior Velho, Lisboa, o qual tivemos a oportunidade de
visitar e observar os conteúdos mais antigos numa grande quantidade de cassetes de vídeo
e bobines de filme.
45
Segundo RAMOS (2012, p.12-13), os conteúdos a ser exibidos podem ser emitidos,
ou seja, exibidos em antena pelo menos uma vez num dos vários canais RTP, ou não
emitidos, ou seja, não são do domínio público e nunca foram exibidos em qualquer canal
ou plataforma.
Em relação ao seu formato/conteúdo, podem ser editados (conteúdos criados a partir
de uma seleção de materiais em bruto por decisão editorial criativa, como por exemplo
os programas/peças de noticiário) e não editados (materiais em bruto resultantes da
captura de imagens/sons para produção de programas ou de noticias, como por exemplo,
originais de programa ou reportagem).
A missão do arquivo é salvaguardar o património audiovisual português através
da conservação, valorização e divulgação do vasto acervo, competindo-lhe arquivá-lo,
conservá-lo e tratá-lo documentalmente de acordo com as normativas nacionais e
internacionais.
Compete-lhe não só o tratamento dos conteúdos produzidos pela estação televisiva
mas também a conservação e a difusão do seu acervo, garantindo o acesso permanente e
a preservação dos conteúdos. Para isso, tem realizado migrações dos conteúdos em
suportes obsoletos para novos suportes digitais.
Em 2004, a RTP iniciou a implementação do projeto de digitalização dos seus
conteúdos com o objetivo de garantir a conservação, salvaguarda e preservação digital do
acervo a longo prazo e em 2009, implementou efetivamente o Avid Interplay MAM,
sistema informático que veio facilitar o acesso, tratamento e recuperação dos conteúdos.
Segundo RAMOS (2012, p.22), este sistema digital tem “como principal objetivo
assegurar que todos os processos de trabalho sejam efetuados em ficheiros digitais, não
recorrendo a cassetes/fitas (desde a captação da imagem, registo e pós-produção na área
da produção, arquivo e sua transferência através de redes de alto débito para os servidores
de transmissão que os emitem) ”.
Diariamente, os arquivistas e documentalistas acedem ao Avid Interplay e procedem
à descrição e indexação dos conteúdos, podendo visionar não só o conteúdo em si,
clicando no clip, mas também os próprios metadados inseridos nas zonas de descrição.
Para além disso, realizam a pesquisa e seleção das imagens que consideram
pertinentes guardar, mediante critérios que foram definidos e que geralmente, têm em
vista o seu uso ou reutilização no futuro. Estas imagens tornar-se-ão disponíveis e
pesquisáveis no Interplay, mediante a atribuição de um título e serão sujeitas
posteriormente à respetiva descrição.
46
A descrição e atribuição de metadados permite que os arquivistas e jornalistas
consigam pesquisar e encontrar as imagens que necessitam de forma mais rápida e
eficiente, porque todas as palavras utilizadas na descrição e indexação são passíveis de
ser pesquisadas.
3.2.1. O sistema de gestão de ativos digitais: Avid Interplay MAM
Nos capítulos anteriores, compreendeu-se que estes sistemas de gestão
constituem-se como ferramentas de trabalho indispensáveis para o registo,
armazenamento, tratamento, representação e recuperação dos conteúdos audiovisuais e
que são compostos pela essência, isto é, a própria imagem, vídeo ou som e os metadados,
que não são mais do que, dados formais, técnicos e administrativos existentes no som e
imagem e que correspondem à descrição arquivística.
Ao conjunto essência e metadados, junta-se outro elemento fundamental na gestão
dos conteúdos audiovisuais, que são os direitos de utilização e que por sua vez, constituem
os denominados assets ou ativos. É de salientar a importância da meta-informação em
cada asset, pois esta permite o acesso e preservação da informação.
O Avid Interplay MAM, é uma ferramenta bastante vantajosa para o tratamento
documental, permitindo que vários utilizadores possam ver, editar, guardar, selecionar na
íntegra ou em partes e pesquisar os metadados inseridos nos campos de informação.
Para além disso, possui várias funcionalidades, permitindo aumentar o ecrã,
regressar ao menu principal, navegar entre os documentos na sua estrutura hierárquica -
série, programa e clip, permitindo visionar o clip ao mesmo tempo que são inseridos os
metadados.
Através da funcionalidade Mesa de Luz é possível visionar o conjunto de frames
6do clip, que ajuda a detetar rapidamente o seu conteúdo, sendo bastante útil para a
necessidade de ter de se acionar os direitos caso apareçam imagens externas à RTP.
Deste modo, não é necessário selecionar a parte que nos interessa para a frente ou
para trás ou mesmo visionar na totalidade o conteúdo, podendo simplesmente selecionar
o frame que se pretende analisar.
6 Em produção audiovisual, frame é a unidade de tempo, a divisão dos segundos que varia em função do
sistema tecnológico utilizado, é a imagem individual de um filme.
47
Os conteúdos estão organizados segundo uma estrutura hierárquica composta por
três níveis, correspondendo cada nível a uma entidade: série, programa e clip. Estas
entidades serão objeto de uma descrição multinível com campos específicos e com
suporte concetual na Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística – ISAD (G)
do Conselho Internacional de Arquivos.
A série é o primeiro nível de informação e o mais amplo, constituída por um ou mais
programas; o programa é constituído por um ou mais clips e o clip, constitui a unidade
documental de referência, onde se visiona e descreve.
3.2.2. O serviço prestado e a gestão documental
O arquivo procura fazer uma correta gestão do ciclo de vida da informação
produzida, desde a sua criação até à atribuição de um destino final, de forma a obter maior
eficácia e economia na exploração dos documentos e para isso, cumpre um conjunto de
tarefas ou atividades arquivísticas, nomeadamente: o registo, avaliação e seleção
criteriosa da documentação que deve ser integrada no arquivo, a análise e tratamento
documental (classificação, catalogação, descrição, indexação, direitos de utilização) e a
recuperação, uso e difusão do seu património documental.
O registo do conteúdo informacional para dar entrada no arquivo é um
procedimento bastante simples na qual “a área de aquisição de conteúdos (ingest)
converte as cassetes de arquivo em ficheiros, arquivando-os na unidade robotizada, e cria,
em simultâneo, uma cópia desse mesmo ficheiro (em baixa resolução) numa unidade de
discos que vai permitir a sua pesquisa e visionamento a um vasto número de utilizadores”.
RAMOS (2012, p.22).
De seguida destacamos as principais tarefas arquivísticas desempenhadas
diariamente pelos arquivistas e documentalistas.
48
SELEÇÃO
A seleção é uma operação complexa, mas absolutamente necessária para garantir
uma correta gestão da informação audiovisual, com vista a um crescimento racional e
harmonioso, evitando assim formar uma coleção com um volume excessivo de conteúdos
que provoque um elevado ruído documental na recuperação.
Mas como são selecionados os conteúdos a preservar? Esta é uma tarefa pouca
normalizada, sendo que, a generalidade dos arquivos audiovisuais à semelhança da RTP,
baseiam-se nas recomendações da FIAT, nomeadamente, as normas e procedimentos
recomendados para a seleção e conservação de material de programas de televisão.
O arquivo estabeleceu uma política de avaliação, seleção e eliminação de
documentos, em que se avalia e seleciona de forma sistemática os documentos à medida
que vão entrando em arquivo, a fim de transitarem para arquivo definitivo ou intermédio
ou serem eliminados.
Esta política é apoiada pela PORTARIA Nº111/91, que declara que a RTP tem o
dever de “conservar em arquivo e nas melhores condições de utilização, os registos
classificados como de interesse público em virtude do seu valor histórico, sociológico,
científico ou artístico, tendo em vista a preservação, a valorização e a difusão de obras e
de documentos que constituam marcos na produção televisiva e um testemunho da época
e da evolução da própria sociedade”.
O arquivo RTP delineou alguns critérios para a avaliação e seleção de conteúdos
a preservar, que vão de encontro a estes princípios, nomeadamente, o valor em termos
informativos, históricos, culturais, sociológicos ou políticos, a elegibilidade para futuras
emissões nos diversos canais e plataformas de distribuição, o potencial de reutilização,
por extratos ou na íntegra, na produção de novos programas e o valor para
comercialização para o exterior.
A seleção efetua-se num primeiro momento (geralmente quando entre em arquivo)
de forma ampla e abrangente, sendo selecionada: toda a produção nacional emitida nos
diferentes canais RTP; informação diária e não diária e ainda originais e reportagens, quer
tenham sido ou não exibidos nos diferentes canais RTP; notícias recebidas via Eurovisão;
material de montagem de programas de ficção, talkshows, etc; gravações de eventos
desportivos internacionais e salvaguarda-se ainda documentação escrita relevante sobre
os materiais selecionados.
49
De forma geral, se se chegar à conclusão que o documento em questão cumpre os
critérios mencionados acima, leva-se para o arquivo permanente e procede-se à descrição
e indexação ou ainda para o arquivo de transição. Caso contrário, se não tem interesse
guardar os conteúdos, procede-se ao seu apagamento ou eliminação.
ANÁLISE E TRATAMENTO DOCUMENTAL
À semelhança de outros arquivos audiovisuais, a representação do espólio
documental da RTP, toma forma num ambiente digital e implica a execução de várias
tarefas de análise e tratamento, nomeadamente, a catalogação, a classificação, a descrição
multinível, o controlo de direitos e a indexação (RAMOS, 2012, p.24). O modo de
tratamento dos conteúdos será abordado nos próximos parágrafos.
É uma tarefa fundamental para garantir a recuperação e o uso dos conteúdos de
qualquer arquivo audiovisual e foi a tarefa que ganhou um maior destaque durante o
estágio e o presente relatório.
A análise é realizada sobre dois elementos: o som e a imagem, por isso é
importante perceber que o conteúdo visionado pode não corresponder a estes dois
elementos, pois por vezes, existe uma dicotomia ou dessincronização entre o conteúdo
informacional e a forma como este é expressado. Para além disso, a imagem pode conter
significados diferentes pelo seu caráter polissémico, o que pode causar dificuldade na
descrição e indexação, pois pode conter assuntos diferentes.
Assim, deve-se tentar analisar o que é transmitido pela imagem e pelo som por
separado e depois, tentar perceber o significado do conjunto, ou seja, o seu tema.
O processo de tratamento divide-se sempre em três fases: visionamento, descrição
e indexação e é realizado no Avid Interplay MAM.
Inicia-se com o visionamento total ou parcial do conteúdo e depois, por norma,
inicia-se o tratamento, que envolve uma descrição formal, isto é, uma identificação básica
dos documentos, que irá permitir recuperar o documento e que envolve as tarefas da
catalogação e classificação e ainda uma descrição mais substancial, em que se procede à
descrição arquivística e indexação.
Segundo RAMOS (2012, p.24-25), a catalogação é a descrição bibliográfica de
um documento efetuada numa ficha bibliográfica, de modo a que este seja identificado
com precisão. Os campos de catalogação são específicos e autónomos por entidade (série,
50
programa e clip), como por exemplo: título, título original, local de produção, que
permitem a identificação do documento.
Depois, segue-se a classificação que é realizada em consonância com as tabelas
de classificação da União Europeia de Radiodifusão (UER) para as séries e Ebu System
of Classification Of RTv programmes (ESCORT) para os programas, em que se atribui
um tema principal. Consiste em categorizar em termos globais os conteúdos das séries e
programas através de um sistema de codificação, considerando as principais
caraterísticas: género, intenção, formato, conteúdo e população alvo.
Posteriormente, inicia-se a descrição multinível (série, programa e clip) dos vários
campos de meta informação a inserir nas várias zonas de produção: identificação,
contexto, conteúdo e estrutura, condições de acesso e de utilização, notas e última
atualização. Cabe mencionar que os direitos de utilização e a indexação, serão
preenchidas nas zonas de condições de acesso e de conteúdo e estrutura respetivamente.
Esta descrição é realizada do genérico para o particular, fornecendo informação
apropriada, consistente, autoexplicativa e relevante a cada nível de descrição, evitando a
redundância da informação.
Os níveis de descrição não incluem os mesmos campos de metainformação, nos
três níveis de descrição por isso, houve a necessidade de expô-los de forma mais clara na
seguinte tabela.
Níveis de descrição
Zonas/campos de
metainformação
Série Programa Clip
Identificação
-
destinada à
informação essencial para
identificar a unidade de descrição.
Código de referencia, Número do
processo, número de episódios,
título e ano de produção. Menções de
responsabilidade, nomeadamente, o
produtor, jornalista, iluminação,
apresentador, realizador, editor
de som, operador de câmara, etc. As ditas menções
Número do processo, episódio, data de produção,
título, menções de responsabilidade.
Nome do ficheiro, título, Data de criação e de
arquivo, duração.
51
serão iguais no
programa.
Contexto -
destinada à
informação sobre a origem e custódia
da unidade de descrição
Local , origem e país de produção.
Local de produção, país e data de
emissão.
Data, canal, versão e estado.
Conteúdo e
estrutura-
destinada à
informação sobre o assunto e
organização da
unidade de descrição
Resumo sintético
Classificação
(género)
Resumo sintético,
Classificação (intenção, formato,
conteúdo e população-alvo.)
Título, resumo
sintético e analítico, indexação com a
lista de termos e infraconceitos.
Condições de
acesso e de
utilização-
destinada à informação sobre a
acessibilidade da unidade de descrição.
Direitos com ou sem restrições e fundamentar a
razão, indicando as condições que
afetam o acesso e reutilização dos materiais.
Caraterísticas físicas
e técnicas, nomeadamente o formato da imagem.
Notas
destinada à informação
especializada ou a qualquer outra
informação que não
possa ser incluída em nenhuma das
outras áreas
Observações a
registar.
Observações a
registar.
Observações a
registar.
Última
atualização
Nome do
documentalista e data e hora da
Nome do
documentalista e data e hora
Data e hora e nome
do documentalista
52
Tabela 3-Campos de metainformação
A exaustividade da descrição varia segundo a instituição e os seus objetivos, sendo
que a RTP definiu quatro graus de descrição, mediante a sua tipologia, potencial e direitos
de utilização (consultar tabela 4).
Tabela 4-Graus de descrição
- destinada à
informação sobre quando e por quem
a descrição
arquivística foi elaborada
última alteração
registada (aparece automaticamente).
(aparecem
automaticamente)
(aparecem
automaticamente).
Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4
Catalogação
básica de todos
os documentos
registados no
arquivo -
elementos de
identificação
que permitem a
recuperação
(título, processo,
suporte).
Dispensa o
visionamento do
documento.
Catalogação e
classificação
integral do
documento ao
nível da série,
programa e clip
Resumo
sintético
Não se efetua
indexação
O visionamento
apenas se
justifica em
casos
excecionais
(nunca em
tempo real).
Catalogação e
classificação
integral do
documento ao
nível da série,
programa e clip
Resumo
sintético e
analítico (ao
nível do clip)
A descrição de
conteúdo não
deve ser
exaustiva.
Indexação
(locais, pessoas,
assuntos)
Pressupõe o
visionamento.
Catalogação e
classificação
integral do
documento ao
nível da série,
programa e clip
Resumo sintético
e analítico (ao
nível do clip)
A descrição e
indexação são
mais exaustivas
Pressupõe o
visionamento
integral do
documento (em
tempo real).
53
PESQUISA E RECUPERAÇÃO
A tarefa da pesquisa e recuperação corresponde à criação e envio dos pedidos dos
utilizadores, neste caso os jornalistas da RTP e compreende a recuperação e reutilização
de EDL´s (Edit Decision Lists).7
A pesquisa é uma tarefa muito importante, na medida em que permite recuperar a
informação e assim, fazer uso ou não do que foi encontrado. O seu objetivo é recuperar
documentos pertinentes, isto é, devolver exatamente o que se pretende encontrar e
evitando deste modo, a recuperação de um volume elevado de documentos- ruído ou pelo
contrário a ausência de recuperação –silêncio.
A tarefa da pesquisa na RTP é executada pelos arquivistas, que são os
intermediários entre os jornalistas, principal utilizador do arquivo e o processo de
pesquisa de imagens. Os jornalistas comunicam ao arquivo que tipo de imagens
necessitam e os arquivistas selecionam as imagens que consideram relevantes dentro dos
parâmetros que os jornalistas pediram, enviando-lhes posteriormente essas imagens.
Destaca-se aqui a importância da comunicação com o utilizador, função
primordial do serviço de um arquivo, devendo os arquivistas ser capazes de prever ou
antecipar as necessidades informativas dos utilizadores para satisfazer os seus pedidos da
forma mais eficiente possível.
No entanto, a pesquisa pode também ser realizada pelo jornalista, pois este está
suficientemente dotado de formação a nível de pesquisa autónoma, não necessitando da
ajuda dos arquivistas para fazerem pesquisa.
Hoje em dia, os jornalistas acedem eles mesmos ao Avid Interplay MAM, obtendo
a informação necessária para montar a própria notícia. Apenas se não conseguiram
encontrar o que pretendem é que contatam o arquivo.
Apesar disso, as dificuldades de pesquisa dos jornalistas, que advém muitas vezes
do desconhecimento do fundo documental e da carência de formação para a utilização
correta do sistema do arquivo, acabam por limitar uma recuperação rápida e eficiente.
Geralmente, a generalidade das pesquisas são realizadas no Avid Interplay MAM,
onde se pesquisa, visualiza, descreve e se faz uso dos conteúdos. O Interplay permite
editar com duas janelas abertas, visionando o documento na íntegra e selecionando os
segmentos selecionados em simultâneo.
7 Lista de decisão de edição. Junção estruturada de informação de time code, definindo cada ponto de edição
numa dada sequência.
54
Nesta tarefa, os arquivistas e documentalistas procedem à pesquisa das imagens,
marcando os time codes in e time codes out, para selecionar os segmentos que
correspondem ao que foi pedido e gravam a EDL com o nome convencionado com o
jornalista na pasta pretendida.
Podem ser realizadas pesquisas simples, em linguagem natural; pesquisas
avançadas ou combinadas, o que pressupõe a utilização de filtros/campos específicos e
(ver figura 1). É permitida a utilização de algumas estratégias de pesquisa como os
operadores booleanos (AND/E, OR/OU, NOT/NÃO), truncatura/asterisco (*), como
espaço reservado para qualquer caráter ou termo desconhecido e aspas (“”), para
pesquisar uma palavra exata ou um conjunto de palavras.
Figura 1 – Interface de Pesquisa no Interplay
A utilização da linguagem natural pode não ser a melhor opção, na medida em que
poderá causar muito ruído (recuperação de documentos não pertinentes) ou silêncio
55
(ausência de documentos pertinentes). Além disso, destaca-se o seu caráter ambíguo, pois
podem existir vários termos para descrever a mesma realidade.
Por outro lado, a utilização de uma linguagem controlada em que cada conceito
corresponde a um termo único e a utilização de operadores booleanos, como por exemplo
o “AND/E” recupera resultados com grande precisão, eficácia e pertinência e ajuda a
controlar ou suprimir a ambiguidade, mas em contrapartida, pressupõem o conhecimento
e domínio da estrutura do vocabulário controlado por parte do utilizador.
Além desta ferramenta de pesquisa, a RTP tem outros instrumentos de pesquisa,
nomeadamente livros de registo (filme e vídeo), fichas de manuais (filme e vídeo), régis,
knosys, ENPS, anuários, G-Media.
No início, a familiarização com todas estas fontes de pesquisa pode revelar-se um
pouco confusa, pois implica o contacto com um software que nem sempre é muito
intuitivo ou fácil de trabalhar, contudo revelam-se fundamentais e acabam por se
complementar umas às outras.
RESTAURO DIGITAL
Apesar de ser realizada apenas por uma pessoa, é uma tarefa que merece destaque.
O restauro é uma ação que deve ser evitada ao máximo e apenas levada a cabo se
se verificar a sua necessidade tendo em conta a qualidade do conteúdo.
É importante ter em conta a conservação documental tomando medidas no sentido
de atenuar a degradação física e química a que os suportes estão sujeitos, nomeadamente,
a regulação da temperatura, humidade e luz.
Destaca-se aqui o trabalho levado a cabo na sala do restauro digital que tivemos a
oportunidade de visitar durante o período de estágio.
Nesta sala, o trabalhador dispõe de um equipamento tecnológico com dois ecrãs,
em que no lado esquerdo vemos o conteúdo original e no lado direito o conteúdo sujeito
a restauro. É importante referir que se tem um respeito máximo pelo documento original.
As intervenções de restauro são realizadas plano a plano, ao nível da intensidade
do grão, das manchas de sujidade, dos riscos, dos excessos de vídeo e de luz, com o
objetivo de corrigir as imperfeições e minimizar a deterioração causada pelo tempo e
condições ambientais.
56
Em relação à correção dos riscos, procura-se um frame (fotograma) sem a
existência de um risco e executa-se a funcionalidade freeze (congelar/bloquear). No
entanto, é preciso ter cuidado com a questão do movimento da imagem, que pode perder
o seu caráter dinâmico ou estático.
Para além disso, recorre-se também à funcionalidade designada “enterrar os
negros”, para que a imagem ganhe mais profundidade e percetividade.
Depois do restauro, preenche-se uma ficha com nº do programa, nº da cassete, nº
filme original, nº da cassete XD com a cassete restaurada.
3.3. O estágio e experiência do estágio
Nesta parte do estudo, descreve-se com detalhe e sempre que possível com uma
visão crítica, as tarefas em que estivemos envolvidos durante o estágio e as reflexões
retiradas.
Abordamos as tarefas desenvolvidas durante o estágio, dando um ênfase maior à
tarefa da descrição, por estar diretamente relacionada com a representação da informação
audiovisual que é o tema do presente relatório.
Os primeiros dias do estágio destinaram-se a uma formação teórica no centro de
formação RTP, sobre os arquivos audiovisuais e o processo de tratamento dos
documentos, o que nos permitiu compreender de uma forma mais aprofundada as tarefas
que iriamos realizar. Pudemos ainda ter o primeiro contato com o software Interplay
MAM, onde se visualiza, descreve e pesquisa os conteúdos.
Depois de conhecer os vários espaços e trabalhadores do arquivo, continuamos a
aprofundar os conhecimentos teóricos, mediante a leitura do manual de descrição
arquivística e outras instruções de trabalho que nos foram entregues no arquivo.
Posteriormente, passamos para a prática e iniciamos o tratamento e representação
de vários programas de informação e entretenimento, passando de forma breve pelas
tarefas da seleção e pesquisa.
Durante o estágio, realizou-se o tratamento de programas de entretenimento e de
informação, nomeadamente originais de informação e peças do Telejornal.
57
Contudo, o tratamento dos programas de entretenimento foi a atividade
desempenhada com maior regularidade ao longo do estágio e sobre o qual conseguimos
obter um maior conhecimento do processo arquivístico de tratamento dos conteúdos.
Inicialmente, foi-nos concedido um documento onde constava o nome do
utilizador e a palavra passe associados ao respetivo email, que nos permitiu não só aceder
ao software Interplay MAM como também ter acesso à Intranet partilhada pelos vários
trabalhadores do arquivo.
De forma a começar a proceder à descrição, foi-nos entregue um outro documento
com o alinhamento dos programas, onde se encontrava a listagem de episódios associados
com a indicação do número do processo, do episódio, o canal de transmissão e a data.
Após abrir o Avid Interplay MAM, começou-se por pesquisar o número do
processo associado à série seguido de asterisco de forma a recuperar todos os programas
da série.
Também é possível recuperar de imediato o programa, introduzindo no campo de
pesquisa o número exato do seu processo, que por sua vez, devolve dois documentos, a
versão de emissão, que é aquela que vai para o “ar” e é visionada pelo telespetador e na
qual aparecem os oráculos (legendas) e o outro é a versão de final limpo, na qual não
aparecem os oráculos (legendas), nem logótipos ou outras informações do género e sobre
a qual se realiza o tratamento arquivístico.
Depois procedeu-se ao preenchimento dos campos de metainformação e nos
vários níveis: série, programa e clip, tendo especial atenção às datas, canal e à versão.
Em relação às ferramentas utilizadas, cabe referir que para além do Avid Interplay
MAM, foram utilizadas outras ferramentas, nomeadamente o Electronic News Production
System (ENPS8), e a World Wide Web que ajudaram a suprir dúvidas sobre a correção de
certos nomes e lugares.
O ENPS é uma ferramenta essencial para consultar os alinhamentos dos
programas e outras informações relevantes que nem sempre se encontra no documento
visionado, nomeadamente, o local onde o programa é gravado, que muitas vezes não é
percetível ou os nomes e profissões das pessoas.
8 O ENPS é um programa informático utilizado pelos jornalistas, que contem os alinhamentos dos
programas com os textos lidos pelo apresentador e os textos das peças elaboradas pelos jornalistas.
58
Quando não se encontra a informação no ENPS, recorre-se à World Wide Web, no
entanto, aquilo que procuramos pode não ser encontrado de forma tão rápida.
Todas as peças descritas foram sujeitas a um processo de verificação e controlo e
nesse sentido, a comunicação com a orientadora na RTP, Elsa Silveira Ramos, foi
bastante importante não só para esclarecimento de dúvidas como também para
supervisionar as tarefas que foram atribuídas e proceder às devidas correções.
O TRATAMENTO DOS PROGRAMAS DE ENTRETENIMENTO
Os programas de entretenimento sujeitos a tratamento foram os seguintes:
Curso de Cultura Geral - Programa transmitido na RTP2 e apresentado por
Anabela Mota Ribeiro, que se carateriza por ser um curso de entrada livre e
acessível a todos, propondo uma interrogação sobre a noção de cultura geral com
a presença de três convidados de proveniências culturais, sociais e etárias
distintas.
Mar de Letras - Magazine temático, transmitido na RTP África e apresentado
por Mário Carneiro que entrevista um convidado sobre literatura lusófona e que,
de forma dinâmica inclui referências cruzadas sobre todos os aspetos da cultura
lusófona. Geralmente inclui imagens em que um indivíduo lê um excerto do livro
do autor convidado.
Viva Saúde - Programa transmitido na RTP África e apresentado por Abigail Tiny
Cosme, com foco na temática dos cuidados de saúde, adequado aos países
africanos de língua oficial portuguesa. Conta sempre com a presença de um
convidado que aborda um determinado tema e inclui uma rubrica dedicada à saúde
materno-infantil com uma médica ou enfermeira especialista.
Network Negócios - Programa transmitido na RTP Internacional, em que a
apresentadora Marta Leite Castro entrevista um convidado que vem apresentar o
seu negócio. A entrevista é geralmente acompanhada por reportagens com
imagens das instalações da empresa e com os trabalhadores.
59
Horas Extraordinárias – programa semanal e compactos - Programa
transmitido na RTP3 com destaque para a área da cultura. É geralmente
constituído por várias peças/ clips, o excerto de um teledisco, a apresentação de
um livro e uma entrevista realizada ao artista responsável pela exposição, no local
onde as suas obras são expostas. Por vezes, o programa é ocupado integralmente
com uma entrevista.
A descrição dos programas atribuídos durante o estágio iniciou-se sempre pelo
visionamento completo ou parcial dos três níveis de descrição (série, programa, clip) no
Avid Interplay MAM e posteriormente, passou-se ao preenchimento dos campos de
metainformação das várias zonas de produção (identificação, contexto, conteúdo e
estrutura, condições de acesso e de utilização, notas).
O visionamento é de extrema importância para se analisar o documento e a partir
do qual se extraem informações para preencher os campos de metainformação,
especialmente os resumos (sintético e analítico) e a indexação.
Nos primeiros programas, procedeu-se ao visionamento na totalidade do
documento em causa, tendo atenção aos dois elementos – imagem e som – em que se
distinguiu entre o que se viu e ouviu, anotando dados cronológicos, onomásticos,
geográficos e temáticos.
A decisão de visualizar total ou parcialmente o documento em causa, depende do
grau de descrição e da experiência e conhecimento com o conjunto documental.
Durante o estágio, rapidamente nos apercebemos que muitas vezes não se
justificava a visualização na totalidade porque as informações que necessitávamos para
preencher os campos de metainformação já eram mencionadas no início do clip. Noutros
casos, em que, os documentos são acompanhados de reportagens com uma vasta
quantidade de imagens, tornou-se necessário analisar com muita atenção todas as
personalidades, lugares e assuntos e ainda acionar os direitos caso as imagens em questão
não pertençam à RTP.
Se não se pretende visualizar totalmente pode-se selecionar a parte ou sequência
que se pretende analisar, pois a representação do tempo apresenta-se em horas, minutos,
segundos e frames (hh:mm:ss:ff), bastando desse modo clicar no minuto a partir do qual
se pretende visualizar.
60
Esta representação é designada por Time-Code, onde surgem ainda as designações
Time Code In e Time Code Out, que serão utilizadas no resumo analítico para indicar o
início e fim do conteúdo respetivamente.
Depois do visionamento, passou-se à descrição dos três níveis: programa, série e
clip.
Em relação ao nível série, a descrição consiste em preencher os campos de
metainformação da zona de identificação, nomeadamente as menções de
responsabilidade, que corresponde ao conjunto de todos os programas, como por
exemplo, iluminação, editor de som, apresentador, realizador, operadores de câmara,
entre outros e ainda, elaborar o resumo sintético na zona do conteúdo e estrutura (ver
figura 2).
Para o preenchimento das menções de responsabilidade, clica-se na versão de
emissão do respetivo episódio, para se ter acesso ao genérico ou ficha técnica e coloca-se
essas informações na versão final limpo.
Figura 2 - Descrição do nível série
61
Segundo Orlando Gonçalves, “o resumo sintético consiste na caracterização
global da unidade de descrição respetiva, devendo nele constar o assunto, o local e a
estrutura da série ou programa. A sua informação deve ser autossuficiente para que o
resumo seja entendido como uma descrição autónoma, que vale por si só e pode ser
utilizado na elaboração de catálogos explícitos e de qualidade, ou para troca de
informação com outras entidades” (GONÇALVES, 2004, p.29).
Trata-se de indicar da forma mais objetiva e breve possível os aspetos mais
relevantes para uso posterior (vai remeter o utilizador para todo o documento e deve
funcionar como seu substituto).
Um aspeto a ter em consideração é a própria linguagem a utilizar, devendo esta
ser simples, objetiva e imparcial, optando-se por frases curtas e concretas, o uso de verbos
no presente do indicativo, se possível usar o substantivo em substituição do verbo, evitar
a adjetivação e a valoração do que se escreve e evitar o uso de abreviaturas, siglas e
acrónimos, escrevendo primeiro em extenso (GONÇALVES, 2004, p.28).
De forma geral, a redação deste tipo de resumos rege-se pelo Paradigma de
Lasswell, que corresponde às cinco perguntas – quem (pessoas), o quê (temas ou
conceitos), onde (lugares), como (meio da ação), quando (tempo de ação) e está presente
nos três níveis - programa, série e clip.
Relativamente ao nível programa, o processo é semelhante, na qual se preenche
as menções de responsabilidade do programa e se elabora o resumo sintético. Em relação
aos restantes campos, não foi necessário inserir informação, pois já tinham sido
previamente preenchidos, sendo apenas necessário verificar se a informação estava
correta.
Geralmente, o resumo sintético do programa segue a seguinte fórmula: Programa
conduzido/apresentado por … (nome do apresentador (a)) com nome do convidado (s) e
cargo profissional, sobre… (tema principal), no….(local – em estúdio ou exterior) (ver
figura 3).
62
O clip é o nível mais exaustivo e que obedece a um maior detalhe, por ser aqui que se
visiona o episódio associado ao respetivo programa e onde se vai descrever tudo o que se
vê e ouve.
Neste nível preenche-se o resumo sintético, que é igual ao resumo do programa e
elabora-se o resumo analítico, a indexação, os direitos e acrescenta-se nas observações o
nome do jornalista.
O resumo analítico compreende uma descrição muito mais detalhada e minuciosa dos
acontecimentos do programa visionado e como podemos observar na tabela 3, apenas
existe ao nível do clip.
O primeiro passo consiste em demarcar o início e fim dos conteúdos - ordem
cronológica - mediante a introdução do respetivo Time Code (hh:mm:ss:ff). É muito
importante pois permite localizar uma parte ou sequência do documento, por isso deve
Figura 3 - Descrição do nível programa
63
ser verificado para não induzir o utilizador para outra parte do documento que pode não
lhe interessar.
De facto, este tipo de resumo é fundamental para o utilizador perceber com mais
detalhe se o documento que encontrou lhe interessa ou não. No entanto, revela-se também
uma tarefa com um nível de execução muito elevado, pela complexidade de análise da
imagem e do som que ao conter muita informação pode levar o arquivista a realizar uma
descrição demasiado detalhista ou pelo contrário, a sobrevalorizar tanta quantidade de
informação e descrever de forma pobre o conteúdo visionado.
É necessário colocar aquilo que se vê em cada plano (grande, pequeno, médio),
inserindo o time code para indicar o início dos acontecimentos, indicando o nome e
cargo/ocupação das pessoas, temas, lugares e organizações reconhecidos na imagem ou
assinalados no som, fazer referência a imagens de arquivo ou imagens externas à RTP e
em algos casos até as condições atmosféricas devem ser descritas, tendo em conta a futura
recuperação da informação.
Deve-se ainda destacar declarações que se considere importante e se, estas forem
legendadas deve também ser mencionado. De forma geral, corresponde à indicação de
forma sistemática de datas, nomes de pessoas, lugares e temas que melhor caraterizam o
que foi visionado.
O programa Network Negócios em particular, foi aquele que mais atenção e detalhe
exigiu, uma vez que incluía várias reportagens nas empresas convidadas, onde surgiam
várias pessoas, temas e anúncios publicitários, logótipos e imagens que não pertenciam à
RTP.
Assim, houve a necessidade de identificar a empresa e o setor laboral onde se
inseriam, indicar os planos do exterior e interior das instalações das empresas convidadas,
planos dos trabalhadores, planos dos processos de trabalho e fabrico, produtos
Figura 4 - Descrição do nível clip
64
comercializados, projetos, reconhecimentos e prémios atribuídos e ainda fazer referência
a anúncios publicitários e vídeos promocionais externos à RTP.
Este programa foi aquele em que surgiram mais dificuldades, que se prenderam com
a colocação dos time codes, a descrição por vezes pouco detalhada porque as peças das
reportagens incluíam muitos pormenores sobre a empresa e processos de trabalho que
durante o primeiro visionamento passaram despercebidos e portanto foi necessário
visionar mais do que uma vez. No entanto, com a ajuda, correção e explicação dos
arquivistas fomos melhorando estes aspetos.
Cabe aqui destacar o resumo analítico elaborado para o programa Horas
Extraordinárias, que apresenta algumas diferenças. Neste programa realizou-se a
descrição de cada episódio e também dos compactos, emitidos ao sábado, que são uma
espécie de compilação dos episódios transmitidos de 2 a 5ª feira e que também podem
conter peças que não foram emitidas.
O tratamento deste clip não é realizado na mesma página do clip principal, onde está
o programa na íntegra, indicando-se apenas o time code onde se inicia a peça com a
indicação do título MOS9 da peça tratada, cuja descrição será realizada à parte (ver figura
5).
Para tratar cada peça à parte, introduz-se no campo de pesquisa do Interplay MAM, o
título MOS da peça e após a sua recuperação procede-se então à descrição (resumo
sintético e analítico, a indexação, os direitos de transmissão) (ver figura 6).
9 O título MOS, é um título atribuído ao documento e que é composto por várias letras e números com a
indicação da descrição/assunto, autor, dia, mês e estado.
Figura 5 - Descrição do clip do programa "Horas Extraordinárias"
65
Figura 6 - Pesquisa e descrição de peça
66
Em relação à descrição dos compactos do programa, geralmente os títulos MOS das
peças já se encontravam inseridos no resumo analítico, o que facilitava bastante o nosso
trabalho. Mas quando tal não era possível, tínhamos de consultar o alinhamento com as
peças e tentar pesquisá-las com o fim de recuperá-las e proceder à sua descrição.
Nestas situações, a maioria das peças foi relativamente fácil de encontrar através da
pesquisa avançada e através de palavra-chave e do cruzamento de datas, mas houve
algumas peças na qual se demorou bastante tempo a pesquisar, dificultando a sua
recuperação.
Para além disso, algumas destas peças já estavam descritas e desse modo apenas se
indicou os time codes no resumo analítico e não foram feitas alterações à descrição, exceto
nos casos em que se considerou que esta era insuficiente e nessa situação, comunicou-se
à supervisora. As alterações feitas foram sempre verificadas e supervisionadas.
Para além dos resumos, o processo de representação ao nível do clip compreende
também outro processo, o da indexação, que se elabora a partir dos resumos e que requer
um trabalho intelectual de análise e síntese para determinar os assuntos relevantes
contidos no documento.
A indexação corresponde à representação dos principais conceitos do documento, na
qual, os arquivistas procuram fazer uma escolha pertinente de pessoas, lugares e temas,
identificados nos clips. Procura-se evitar a ambiguidade, embora as referências culturais
dos arquivistas tenham alguma influência na descrição das imagens.
Na RTP, o processo de indexação é realizado através do thesaurus, ferramenta com
uma linguagem controlada que está diretamente ligada ao Avid Interplay MAM e que foi
desenvolvido tendo em conta as políticas e necessidades do arquivo, com vista à
recuperação dos conteúdos.
É composto por descritores (termos eleitos para representar os distintos conceitos)
e não descritores (sinónimos ou quase sinónimos dos descritores) temáticos, geográficos,
e onomásticos, a partir do qual se selecionam os termos mais pertinentes e que vai permitir
a recuperação e facilitar o acesso ao utilizador (ver figura 7).
Além de permitir selecionar os conceitos, apresenta termos relacionados com o
que foi pesquisado e notas de âmbito para orientar o utilizador numa indexação mais
precisa.
É constituído ainda por uma lista de “infra-conceitos” com termos que são
associados a determinados descritores, sejam eles temáticos, onomásticos ou geográficos,
67
que pretendem ajudar a qualificar ou a descrever com mais profundidade o que foi
visionado, permitindo uma recuperação mais eficiente.
Os descritores temáticos dizem respeito aos assuntos que é possível identificar,
estando organizados em vários subdomínios temáticos de acordo com a sua natureza.
Durante o estágio, utilizou-se essencialmente os descritores temáticos inseridos
na área arte e cultura, pelo facto, de muitos dos programas tratados se enquadrarem nesta
temática.
Os descritores geográficos dizem respeito aos lugares reconhecidos no
documento, estando divididos em “geografia política” (continentes, países, cidades, etc.)
e “geografia física” (regiões, montanhas, rios, etc.).
Um dos descritores que se indexou sempre foi o próprio país, neste caso, Portugal,
de modo a circunscrever geograficamente o local onde se reporta a notícia, não
necessitando de o colocar no resumo sintético.
Figura 7-Descritores do thesaurus
68
Para além do descritor país, foram ainda utilizados outros descritores como
cidade, vila ou aldeia, com o infraconceito vistas, apenas quando a imagem mostrava de
de facto imagens de tal local.
Os descritores onomásticos referem-se às pessoas singulares e coletivas presentes
no documento, sendo que, todas as personalidades de maior relevância e organizações
(coletividades) devem ter entrada pelo respetivo nome.
No caso de Portugal, deve-se indexar sempre o Presidente da República, o
primeiro-ministro, ministros com maior notoriedade e personalidades relevantes). Os
apresentadores apesar de poderem aparecer também, como já tem um campo específico
(menções de responsabilidade) não são alvos de indexação.
Durante o estágio teve-se a oportunidade de realizar indexação e verificou-se que
existem situações em que não se procede à indexação, designadamente, documentos que
contenham grafismos, imagens de arquivo, documentos de cariz internacional e
documentos que contenham apenas direitos, isto é, excertos de telediscos, filmes.
Denotou-se claramente que existe a necessidade de atualizar constantemente os
descritores, pois faltam alguns descritores importantes para a representação do conteúdo
de certos documentos. Muitas vezes, verificou-se a ausência de descritores de
personalidades ou assuntos de extrema relevância e neste caso, a forma como se procedeu
foi sugerir mediante o envio de email a inserção de determinados descritores e justificar
devidamente a razão.
De facto, o tesauro é uma ferramenta que necessita uma manutenção e atualização
constantes e isso depende, não só do seu gestor como também dos próprios trabalhadores,
que podem propor novos descritores, explicando a necessidade e pertinência da inserção
de determinado descritor no tesauro.
Por último, e não menos importante, surgem os direitos que as estações de
televisão detém ou não sobre os conteúdos.
Em relação aos direitos, o Avid Interplay MAM tem um sistema de controlo de
direitos que alerta para a existência de restrições relativamente aos tipos de direitos
existentes - “Direitos de Autor” “Direitos Conexos”, “Direitos de Transmissão” e
“Diversos” e à sua utilização e ainda fornece justificações em relação à restrição de
utilização.
Assim, é fundamental fazer referência a imagens que pertencem ou não ao arquivo
da RTP e mencionar, se os houver, excertos de telediscos, documentário, filme,
69
gala/cerimónia, vídeo promocional, anúncio publicitário e acionar os direitos no respetivo
campo de informação.
É necessário acionar os direitos sempre que se detete que a origem das imagens
do documento é exterior à RTP, selecionando-se direitos com restrições, restringindo
desse modo o acesso e a utilização dos conteúdos.
Se pelo contrário, não é possível identificar com certeza absoluta as restrições dos
direitos, seleciona-se direitos limitados (ver figura 8).
Ao não se acionar os direitos pressupõem-se que a RTP detém direitos sobre
determinada imagem, não existindo portanto nenhuma restrição de utilização, quer seja
para emissão na íntegra ou apenas um extrato (RAMOS, 2012, p.27).
Figura 8 - Direitos de transmissão Figura 8 - Direitos de transmissão
70
TRATAMENTO DOS PROGRAMAS DE INFORMAÇÃO
o ORIGINAIS DE INFORMAÇÃO
Durante o estágio, procedemos à descrição de originais após a respetiva seleção já
mencionada anteriormente.
Os originais são sujeitos a uma descrição que geralmente se carateriza por ser mais
breve e precisa do que os programas de entretenimento porque geralmente são peças de
reduzida duração, em que a imagem vale por si, não sendo necessário um grande
enquadramento ou contextualização.
Para ter acesso aos originais selecionados, basta inserir no campo de pesquisa simples
OR*, colocando a data e selecionando junto aos originais a opção sim (ver figura 9).
A sua descrição é fundamental porque permite poupar tempo ao arquivista na
realização da descrição dos Telejornais, na medida em que muitas destas peças
encontram-se também nos noticiários.
Figura 9 - Pesquisa de originais de informação
71
Em relação à inserção dos campos de metainformação, o processo é semelhante aos
outros programas, devendo-se conferir a data e selecionar a versão como original;
elabora-se o resumo sintético, analítico, a indexação e se necessário, acionam-se os
direitos. O resumo analítico pode ou não recorrer aos time codes, porque geralmente são
peças com uma duração muito reduzida, como por exemplo os offs10, em que não existe
a necessidade de indicar o início e fim das peças.
Segue um exemplo de descrição de um original:
Figura 10 - Descrição de original de informação
10 O off é uma peça muito curta, geralmente imagens de arquivo inferiores a dois minutos, lançadas pelo
pivot.
72
73
o TELEJORNAIS DIÁRIOS
Prioriza-se a descrição deste tipo de programa sobre os restantes, devido à elevada
probabilidade da reutilização das suas peças noutros programas.
De facto, é urgente tratar o telejornal no dia seguinte à sua exibição, algo que não
acontece com os programas de entretenimento, que se encontram muitos deles sem
descrição arquivística.
Para a realização desta tarefa, o visionamento do telejornal no dia anterior facilitou a
descrição das peças, pelo facto de já se ter noção dos assuntos abordados e dos
intervenientes das peças.
Para iniciar a descrição, foi-nos entregue um documento que continha o alinhamento
do telejornal (ver figura 11) com o título das peças e a respetiva duração. O alinhamento
é importante para nos apercebermos de todas as peças a descrever e também pode ser
consultado no ENPS.
Figura 11 - Alinhamento do Telejornal
74
O telejornal é um programa de informação diária, composto por várias peças, algumas
delas em off e diretos e o seu processo de tratamento é muito semelhante aos programas
de entretenimento.
Ao nível da série, inserem-se as menções de responsabilidade e elabora-se o resumo
sintético.
Ao nível do programa, preenche-se as menções de responsabilidade, nomeadamente
a produtora e o apresentador e elabora-se o resumo sintético, que geralmente segue a
seguinte forma: Programa de informação diária apresentado por: (nome do apresentador
(a)), devendo-se verificar a data e local de produção.
Ao nível do clip, preenche-se o resumo sintético, que é igual ao resumo do programa
e elabora-se o resumo analítico, que geralmente faz referência aos diretos, seguindo a
seguinte fórmula: país, cidade, instituição/organização, direto com … (nome do
jornalista).sobre….com…(nome do indivíduo/coletividade).
Apenas resta verificar a data, o canal e a versão (ver figura 12).
75
Figura 12 - Descrição do Telejornal
À semelhança do programa Horas Extraordinárias, as peças que compõem o
Telejornal também serão tratadas à parte, na qual, através do alinhamento pesquisamos o
título MOS de cada peça e começamos a descrever sempre na versão final limpo ̧
preenchendo o resumo sintético, analítico, indexação, direitos e observações, em que se
insere o nome do jornalista.
Relativamente ao resumo sintético, destaca-se a importância de se seguir o modelo
Lasswell já anteriormente mencionado, pois tenta-se que todos os arquivistas descrevem
com uma certa normalização e assim deve-se indicar o local, os intervenientes e o tema
ou conceitos presentes no clip.
76
Para além disso, geralmente, os telejornais têm peças com direitos que não pertencem
à RTP, como por exemplo, imagens da Assembleia da República (AR TV) e nesse caso
é necessário alertar os utilizadores, limitando esses direitos com a devida fundamentação.
Segue um exemplo para demonstrar a descrição de uma peça do Telejornal (ver figura
13).
77
Figura 13 - Descrição de peça do Telejornal
A SELEÇÃO
Durante o período de estágio, desenvolvemos esta tarefa durante dois dias, tendo
em primeira instância interagido com as várias fontes de pesquisa do arquivo e só depois
iniciado a seleção no software Sq View.
Os documentalistas e arquivistas realizam diariamente uma seleção dos originais
de informação diária e não diária - imagens em bruto – com o objetivo de servirem o dia-
a-dia da redação de informação na produção de notícias, ficando para arquivo permanente
o que o documentalista achar mais relevante para a memória futura.
Esta seleção é de extrema importância, uma vez que, não é possível armazenar
todas as imagens que são captadas e nem todas as imagens são interessantes para
armazenar.
É realizada a seleção diária em servidor tanto no horário da manhã como da noite,
em que se verifica se os clips publicados no dia anterior ou no horário da manhã (envios
internacionais e originais) estão disponíveis no Avid Interplay MAM.
78
Em relação às imagens selecionadas, tem-se em consideração, o valor histórico do
material, a singularidade de certas imagens insubstituíveis; a qualidade excecional de
certas imagens e o potencial de reutilização e desse modo, selecionam-se planos onde
entram e saem individualidades com relevância a nível nacional e não se guardam
entrevistas, discursos, conferências de imprensa, “vivos” dos jornalistas (declarações do
jornalista em frente à câmara), planos sem qualidade técnica e planos repetidos.
Em relação ao procedimento desta tarefa, esta implica a elaboração de um
documento Word para verificação e a sua colocação na respetiva pasta. Se o jornalista dá
indicações para arquivar, deve-se colocar essa informação no campo observações.
A publicação do nome para o arquivo de originais segue uma convenção, na qual,
se tem de indicar que é um original, indicar o nome do documentalista, o ano, separando
estes elementos dos restantes - dia, mês e seleção efetuada por documentalistas. Para
exemplificar, apresenta-se da seguinte maneira: OR---Iss18 1103AQ.
Para além da seleção de originais, procede-se ainda à seleção de imagens da Lusa
Tv, sendo estes publicados na totalidade, e colocado a sua origem - OR---Iss18 1103AQ
no campo observações e ainda dos originais FD (conteúdos em live feed -direto) das
seguintes fontes: fibra (FOR), satélites (SNG), Mochilas (WMT), Internet pelos
correspondentes (NET) e por envio das várias delegações espalhadas pelo país – Açores
(Aco), Bragança (Bra), Castelo Branco (CBr), Coimbra (Coi), Évora (Evo), Faro (Far),
Guarda (Gua), Madeira (Mad), Viana do Castelo (Vca), Viseu (Vis) e Vila Real (Vre).
A seleção dos eventos internacionais é feita das 14 às 24 horas do dia anterior,
mediante consulta dos conteúdos dos envios do site da Eurovisão EBU iPop e não se
arquiva conteúdos da Associated Press Television News (APTN) e da Reuters (RTV).
O envio selecionado segue a seguinte nomenclatura: EBU, nº da história
selecionada, ano, espaço, dia, mês e TP. Exemplo: EBU1400557817 1103TP e publica-
se segundo a convenção de nome para arquivo de originais: ORI---Iss18 1103 AQ.
Depois dessa seleção, procede-se à descrição, para que os conteúdos sejam
pesquisáveis e eficazmente encontrados quando procurados pelos jornalistas.
A tarefa não se revelou simples, pelo facto de ser um pouco subjetiva, na medida
em que é realizada por pessoas com princípios e culturas diferentes, o que pode levar a
um juízo diferenciado em relação à qualidade e importância das imagens para guardar em
arquivo.
79
Para além disso, é uma tarefa que exige o conhecimento do funcionamento do
material do arquivo e os seus utilizadores, nomeadamente as suas necessidades e a forma
como os jornalistas produzem e pesquisam as suas peças.
De facto, o conhecimento acerca do material do arquivo é uma mais-valia para
levar a cabo a tarefa da seleção, pois assim somos conscientes das imagens que são mais
pertinentes guardar.
A PESQUISA E RECUPERAÇÃO
À semelhança da seleção, o tempo despendido nesta tarefa também foi bastante
reduzido, havendo também um fraco fluxo de pedidos dos jornalistas.
Depois do contacto com o jornalista, em que se reuniu informações acerca do
nome do jornalista, que imagens procurava em concreto e o código a atribuir para que o
jornalista pudesse pesquisar e aceder facilmente, colocaram-se essas informações na folha
do pedido.
De seguida, iniciou-se a pesquisa e selecionaram-se as partes consideradas
pertinentes, cortando-as com um TimeCode In e um TimeCode Out.
Após a pesquisa, criou-se uma EDL (Edit Decision List), com o nome
convencionado e acordado com o jornalista na pasta de destino pretendida, para onde vão
ser inseridas as peças selecionadas. O nome acordado com o jornalista, geralmente
começa pela letra “k”, sendo depois seguido pelas iniciais do nome do jornalista e por
algumas letras que remetam para o conteúdo das imagens.
Depois de se selecionar as peças (geralmente bastam 2/3 peças), estas são
arrastadas ou copiadas para a pasta pretendida, sendo compiladas num ficheiro, que não
pode ultrapassar os 15 minutos e enviadas em formato 16:9 para o utilizador. O estado do
envio do pedido pode ser consultado na pasta de destino (ver figura 14).
Por último, é colocado na folha do respetivo pedido o tempo total do material
selecionado e enviado, bem como o tempo que demorou a pesquisa do mesmo para efeitos
estatísticos.
O tempo total do material enviado irá, naturalmente, variar em função do pedido
realizado. Tenta-se enviar material suficiente para que o jornalista possa escolher as
imagens que mais lhe agradam, tentando ao mesmo tempo não enviar um excesso de
material, algo que não facilitará o trabalho do jornalista.
80
Juntamente com o tratamento dos jornais, esta foi a tarefa do arquivo que nos deu
uma melhor perceção e conhecimento do trabalho realizado pelos arquivistas e pelos
jornalistas ao nível da reutilização dos conteúdos de informação na produção diária de
notícias.
Figura 14 - Estado de envio do pedido de pesquisa Figura 14 - Estado de envio de pedido de pesquisa
81
Conclusões
Os arquivos audiovisuais detém um vasto fundo documental que representa um
património com uma grande importância histórica e cultural, que deve ser conservado e
preservado de modo a garantir o acesso e recuperação no futuro.
O arquivo da RTP preza-se por salvaguardar e difundir o seu fundo documental,
porque é consciente da importância histórica e nacional que os seus documentos
constituem para os cidadãos portugueses. Guarda e preserva um elevado volume
documental que resulta da produção televisiva da estação de televisão, realizando
diariamente a seleção, descrição e pesquisa documental, com o objetivo de preservar e
fornecer acesso ao seu património documental.
De facto, o papel do arquivo passa por gerir o seu fundo de forma a garantir a sua
memória e património, até porque são um serviço público de rádio e televisão, mas
também passa por atender diariamente as necessidades dos jornalistas e público em geral
dando apoio à redação de informação na pesquisa e envio de certas imagens, realizando
diariamente a seleção e descrição.
O desenvolvimento tecnológico e crescimento das emissoras de televisão
conduziram a um aumento significativo dos conteúdos produzidos pelas mesmas e
atualmente, a gestão da informação audiovisual é realizada num ambiente digital, que
veio alterar o modo de interação entre os media e o público.
Ora, se antes era necessário visionar os documentos em cassete, agora é possível
ter um acesso mais rápido aos conteúdos mediante um ficheiro digital que permite o
acesso simultâneo de vários utilizadores, tanto dos arquivistas e documentalistas como
dos jornalistas. De facto, os sistemas de ativos digitais, conhecidos como MAM/DAM,
trouxeram melhorias significativas para as tarefas levadas a cabo no arquivo,
nomeadamente a descrição de metadados e a indexação, permitindo uma maior rapidez e
eficácia na recuperação dos conteúdos.
A digitalização dos documentos e a sua integração nos sistemas de gestão de
ativos digitais, trouxeram melhorias significativas para as tarefas levadas a cabo no
arquivo, permitindo uma gestão integrada de toda a informação audiovisual e uma maior
rapidez e eficácia na recuperação dos conteúdos
Em relação ao sistema digital onde se representa a informação audiovisual da
RTP, o Interplay MAM, consideramos que é bastante intuitivo e fácil de trabalhar, no
82
entanto, as suas falhas de funcionamento podem comprometer o trabalho que estava a ser
desenvolvido. Durante o estágio, ocorreram alguns problemas técnicos como bloqueios e
falhas de funcionamento que facilmente poderiam ter provocado a perda da informação
se as alterações não tivessem sido guardadas.
Apesar dessa possível perda, é de destacar que o arquivo RTP tem um sistema de
back-ups que permite recuperar o que foi perdido.
O estágio no arquivo audiovisual da Rádio e Televisão de Portugal, em Lisboa,
foi um período bastante gratificante e proveitoso da qual se retirou uma experiência
positiva.
Permitiu-nos ter uma noção da experiência real de trabalho e a adquirir novos
conhecimentos ao nível da descrição e indexação, permitindo também compreender de
uma forma mais profunda o funcionamento geral de um arquivo audiovisual e em
particular o modo de tratamento e representação dos conteúdos.
O tratamento consiste essencialmente na inserção de vários campos de
metainformação, especialmente, os resumos sintéticos e analíticos e a indexação, que vão
permitir recuperar o que foi pesquisado. A nível do tratamento a literatura que foi sendo
assimilada corresponde à prática de tratamento levado a cabo no arquivo.
Olhando para o estágio e para as tarefas nele realizadas, podemos concluir que a
descrição arquivística desempenha um papel muito importante para o acesso, uso e a
recuperação dos conteúdos.
O tratamento dos programas de entretenimento foi a atividade desempenhada com
maior regularidade ao longo do estágio e como tal, foi a atividade à qual dedicámos mais
tempo de observação e experimentação e sobre a qual desenvolvemos capacidades
técnicas ao nível da descrição arquivística e indexação de um tipo de documento que
congrega dois elementos: o som e a imagem, no mesmo suporte e que por isso trouxe
desafios e dificuldades na hora de serem tratados.
A elaboração dos resumos sintéticos e analíticos, a par da indexação, são
fundamentais para a representação e o acesso aos conceitos que caraterizam o tema dos
documentos e constituem-se como uma referência importante para o utilizador
compreender o conteúdo de que trata o documento e avaliar a sua pertinência de
utilização.
No início, a etapa da descrição e atribuição dos metadados, parecia bastante
complexa, porque apesar de se procurar uma certa normalização, os arquivistas têm uma
forma muito própria de descrever, acrescentando uma certa subjetividade. A
83
normalização do trabalho realizado é extremamente importante, pois se todos seguirem
uma forma única, a recuperação será também mais precisa e eficaz.
Para além disso, a identificação de pessoas e lugares nem sempre foi uma tarefa
fácil, havendo algumas situações em que o processo de descrição se tornou complicado,
porque se desconhecia as pessoas e os lugares que estavam presentes nas imagens e o
contexto da reportagem.
Ora ao não ter conhecimento ou um referencial cultural que permitisse essa
identificação imediata, teve-se de dispensar algum tempo à procura dessa informação. Por
essa razão, o conhecimento que os arquivistas tem sobre determinadas pessoas, lugares e
sobre os próprios programas é uma mais-valia para a descrição arquivística.
Durante o tratamento, a etapa em que tive mais dificuldade foi a elaboração do
resumo analítico, nomeadamente a indicação dos time codes e o nível de detalhe
necessário para realizar uma descrição que não fosse nem muito pobre nem demasiado
extensa. Relativamente à indexação, cabe dizer que o thesaurus, ferramenta utilizada para
selecionar os conceitos que caraterizam o documento, carece de descritores que seriam
importante indexar, sendo necessário uma atualização constante desta ferramenta.
A utilização de linguagem controlada, nomeadamente a utilização de operadores
booleanos em vez da linguagem natural, permite recuperar de forma mais rápida e eficaz
os documentos que procuramos.
Apesar do reduzido contacto com o tratamento dos programas de informação,
como as peças dos Telejornais, podemos concluir que estas desempenham um papel
importante na produção televisiva, pois auxiliam os jornalistas na elaboração das suas
notícias, tendo um grande potencial de utilização.
De facto, constatou-se que existe uma atividade muito intensa entre o arquivo e a
redação de informação, pela intensidade de pedidos de imagens dos jornalistas para
ilustrarem as notícias e por isso se prioriza o seu tratamento sobre os programas de
entretenimento.
Existe uma forte relação entre o arquivo e os seus principais utilizadores – os
jornalistas, destacando-se a importância da comunicação entre o arquivo e os jornalistas,
pois os arquivistas devem ter em consideração as suas necessidades e dificuldades,
tentando perceber de forma inequívoca o que estes procuram.
A elevada produção de conteúdos televisivos produzidos ou adquiridos por outras
estações de televisão e a impossibilidade de guardar tudo leva à necessidade de selecionar
84
os documentos segundo critérios que se prendem com o potencial de reutilização e os
objetivos da empresa.
Em relação à tarefa da seleção, consideramos que é uma função que exige um
elevado conhecimento cultural e que necessitava de ter mais colaboradores para que fosse
possível desempenhar o tratamento de forma mais rápida.
Apesar de termos passado pouco tempo nesta tarefa, conseguimos ter uma
perceção do modo como se procede e que é muito importante para a pesquisa e
recuperação, pois é com base na seleção destas imagens e no seu tratamento que seremos
capazes de pesquisá-las e recuperá-las.
De todas as funções que desempenhei, a mais gratificante foi talvez a pesquisa e
recuperação da informação, por ser nesta etapa, que obtivemos uma visão geral do ciclo
documental e pudemos fazer uso do produto final que tínhamos selecionado e descrito.
O contacto com os jornalistas foi um exercício prático muito importante, na qual
atendemos e enviamos os seus pedidos de pesquisa, visualizando depois as imagens que
selecionamos nas notícias por eles montadas.
Apesar das dificuldades encontradas ao longo do estágio, consideramos que
conseguimos ultrapassá-las e cumprir os objetivos a que nos tínhamos proposto.
Relativamente a estudos futuros, consideramos que seria importante a elaboração
de normas focadas nos arquivos audiovisuais, no sentido de uma teorização e práticas
arquivísticas mais sólidas, visto que, estes ainda se baseiam bastante nas normas seguidas
pelos arquivos ditos tradicionais.
Já vimos que a normalização do tratamento arquivístico é um aspeto muito
importante e nesse sentido, seria pertinente desenvolver estudos focados essencialmente
no modo de análise e tratamento documental dos documentos audiovisuais. A nível da
literatura, revelou-se bastante escassa relativamente a normas sobre descrição arquivística
com foco neste tipo de arquivos, havendo apenas alguns autores a mencionar as fases de
tratamento e os campos de metainformação a inserir.
Com este relatório de estágio, pensamos que podemos ter dado um pequeno
contributo ao abordar de forma mais profunda, o tratamento da informação audiovisual
não só de programas de entretenimento como também de programas de informação, ao
invés de outras teses e relatórios, que na sua maioria apenas abordam a seleção e
tratamento de brutos, privilegiando o tratamento das peças de informação.
85
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