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AH F 15 l 1 SUPLEMENTO REVISTA DA DO ó R G Ã O D O I N S T I T U T ·o N A C I O N A L D O L I V R O ANTüKIO HOUAISS INTRODUÇÃO A. TEXTO CRíTICO DAS MEMóRIAS PóSTUMAS D E B R Á S C U B A S, D E MACHADO DE ASSIS MINIST'eRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA

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AH F 15

l

1

SUPLEMENTO REVISTA

DA DO

ó R G Ã O D O I N S T I T U T ·o N A C I O N A L D O L I V R O

ANTüKIO HOUAISS

INTRODUÇÃO A .

TEXTO CRíTICO DAS

MEMóRIAS PóSTUMAS

D E B R Á S C U B A S, D E

MACHADO DE ASSIS

MINIST'eRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA

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INTRODUÇÃO AO TEXTO CRíTICO DAS

MEM-óRIAS PóSTUMAS DE BRÁS CUBAS,

DE MACHADO DE ASSIS

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SUPLEMENTO REVISTA

DA DO

óRGÃO DO INSTITUTO l'JACIONAL DO LIVRO

ANTôNIO HouAiss

INTRODUÇÃO AO

TEXTO CRíTICO DAS

MEMóRIAS PóSTUMAS

D E B R A S C U B A S, D E

MACHADO DE ASSIS

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA

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4.1.1 cada uma

O texto das Memórias Póstumas de Brás Cubas"' lecido do cotejo das edições a seguir referidas, da sigla remissiva que para ela se adota:

foi estabe­antecedida

A - Memorias Pasthumas de Braz Cubas, folhetim, na Revista Brn­sileira, Rio de Janeiro, tomo III, 15 de março de 1880, pp. 353-372; tomo IV, 1.0 de abril de 1880, pp. 5-20; tomo IV, 15 de abril de 1880, pp. 95-114; tomo IV, 1.0 de maio de 1880, pp. 165-176; tomo IV, 15 de maio de 1880, pp. 233-242; tomo IV, 1.0 de junho de 1880, pp. 295-305; tomo V, 1.0 de julho de 1880, pp. fí-20; tomo V, 15 de julho de 1880, pp. 125-138; tomo V, 1.0 de agôsto de 1880, pp. 195-210; tomo V, 15 de agôsto de 1880, pp. 253-272; tomo V, 1.0 de setembro de 1880, pp. 391-401, tomo V, 15 de setembro de 1880, pp. 451-462; tomo VI, 1.0 de outubro de 1880, .pp. 5-17; tomo VI, 15 de outubro de 1880, pp. 89-107; tomo VI, 1.0 de novembro de 1880, pp. 193-207; tomo VI, 1.0 de dezembro de 1880, pp. 357-370; tomo .VI, 15 de dezembro de 1880, pp. 429-439;

B - Memarias Posthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis, Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1881;

C - Memarias Posthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis, Terceira Edição, Rio de Janeiro, H. Garnier, Livreiro Editor, 71, Rua do Ouvidor, 71 e 6, Rua dos Saints-Peres, 6, Paris;

D - Memorias Posthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis, da Academia Brasileira, Quarta Edição, H. Garnier, Livreiro Editor, 71, Rue Moreira-Cezar, 71, Rio de Janeiro, 6, Rue des Saints-Peres, 6, Pariz;

F - Colleeção dos Autores Celebres da Litteratura Brasileira, Me­marias Pasthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis, da Academia Brasileira, Livraria Garnier, 109, Rua do Ouvidor, 109, Rio de Janeiro, 6, Rue des Saints-Peres, 6, Paris;

G - Collecção dos Autores Celebres da Litteratura Brasileira, Me­marias Pasthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis, da Academia Brasileira, Livraria Garnier, 109, Rua do Ouvidor, 109, Rio de Janeiro, 6, Rue des Saints-Peres, 6, Paris;

( 0 ) Anteprojeto apresentado por Antônio Houaiss, como membro da subcomissão integrada por êle mesmo, Antônio José Chediak, Celso Ferreira da Cunha e José Galante de Sousa, à Comissão de Machado de Assis, instituída por portaria do Mi­nistro da Educação e Cultura, de n• 483, de 19 de setembro de 1958, e composta de Austregésilo de Ataíde, José Renato Santos Pereira, Antônio Cândido de Melo e Sousa, Antôrrio Houaiss, Antônio José Chediak, Augusto Meyer, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Barreto Filho, Brito Broca, Celso Ferreira da Cunha, Ciro dos Anjos, Eugênio Gomes, J. Galante de Sousa, José Simeão Leal, Lúcia Miguel Pereira, Marco Aurélio de Moura Matos, Mário Gonçalves de Matos e Peregrino Júnior.

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

O - Obras de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, W. M. Jackson Inc. Editôres, Rio de Janeiro, São Paulo, Pôrto Alegre.

4 .1. 2 A é, incontroversamente, a primeira edição absoluta, mas não em livro, sim na Revista Brasileira, do Rio de Janeiro, tomos referidos supra, de 15 de março a 15 de dezembro de 1880, em dezessete folhetins.

4.1.2.1 A impressão é em corpo 10 pequeno, linhas de 222 pontos aproximativamente, .cada coluna de mancha completa com 37 linhas -o que dá um predomínio do sentido vertical na mancha, dito geralmente formato inglês. Nos cabeçotes há, nas páginas pares, "Revista Brasi­leira", nas páginas ímpares, "Memórias Posthumas", sendo a numeração nos cantos superiores externos de cada página. Cada folhetim foi -como se pode depreender da numeração citada supra - cuidadosamente iniciado em página nobre, vale dizer, ímpar, com abertura de branco amplo, o que tudo revela a preocupação de permitir que os leitores vies­sem a fazer, eventualmente, separatas, que, reunidas e encadernadas, dariam um volume íntegro. Como, porém, alguns folhetins não termi­naram em página par, a reunião das separatas obriga à presença de matéria impressa estranha. Cada folhetim termina com a menção de "continua", a seguir ao nome do autor em versal-versalete; mas no início de cada folhetim não há menção de enlace, que fica à conta da refe­rência do capítulo. Não há erratas em parte nenhuma da revista, relacionadas com o texto do romance. A composição e impressão é da Tipografia Nacional, o atual Departamento de Imprensa Nacional, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores - compos1çao e impressão que, embora de periódico, honram as oficinas daquele estabelecimento oficial e a direção da revista.

4 .1. 2. 2 Trata-se - como já foi dito - da primeira redação tornada pública do romance, redação que, depois, virá a sofrer alterações rele­vantes, embora de modo nenhum substanciais. Cumpre ressaltar, de uma vez por tôdas, que a composição é cuidadosa, com erros de revisão muito episódicos, se se leva em conta que a matéria era para uma revista quinzenal. A presumir, pelo que se sabe do autor como revisor de si mesmo, parece que êsse trabalho, se não foi cometido a outrem, deve ter tido criteriosa colaboração.

4 .1. 2. 3 Os folhetins de que nos servimos para o trabalho de colação são propriedade do Senhor Augusto Meyer; e, separados da Revista Brasileira, formam um volume bem encadernado. Trazem duas notas manuscritas, do mesmo punho, nas guardas, uma de 1930 e outra de 1932, pelas quais o então proprietário do volume declara que o mesmo pertencera a alguém que o anotara. Êsse alguém deve ser "G. Campista", cuja assinatura está ao alto da segunda guarda, recto, letra e tinta que se reiteram freqüentes vêzes no corpo do volume, em anotações geral­mente de cotejo com a quarta edição, que é de 1899: o manuscrito dêsse anotador deve ser de pouco depois, em tôrno da primeira década do século.

4 .1 . 3 B é, incontroversamente, a primeira edição em livro, embora a segunda como publicação.

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

4 .1. 3.1 É a mesma compos1çao de A, com apresentação diferente no geral e modificações no particular, o que autoriza a reputá-la segunda redação pública - embora convenha relembrar que sem alterações ou modificações substanciais. As características tipográficas são as apon­tadas supra, 4 .1. 2 .1, visto tratar-se da mesma composição. Entre­tanto, a mancha difer.e, pois a coluna vertical é de 30 linhas, o que aproxima o volume do formato francês, embora não se trate de um típico carré, dada a curteza da linha. Enquanto na impressão de A os capítulos não abriam necessàriamente página, nesta abrem, par ou ímpar, conforme o término do anterior. O cabeçote é "Memorias Posthumas de Braz Cubas", mas não ocorre nas páginas capitulares. O volume tem um índice in fine, em corpo 8, cujas páginas são numeradas à romana; a última destas é destinada a uma errata, que acusa êrro igual ao de A, no mesmo local da composição. Além do índice e do cabeçote, há também, como composição nova, os títulos dos capítulos e a numeração das páginas, que se faz, ainda, como em A, nos cantos superiores externos.

4 .1. 3. 2 Embora mesma composição que a de A, a impressão foi objeto de maiores cuidados, precedida, como dissemos, de retoques na redação. As principais alterações são as seguintes, em relação a A:

1) introduz a dedicatória (1) * 2) elimina a epígrafe (7) ; 3) altera a composição ou a redação em: 9, 14, 18, 21, 30, 75, 78,

87, 88, 91, 102, 103', 104, 160', 246, 248, 272, 274, 276, 295, 316, 318, 319, 320, 322, 324, 327, 352, 435, 459, 478, 485, 487, 490, 491, 492, 493, .500, 569, 601, 604, 625, 638, 654, 684, 702, 706, 714, 723, 725, 726, 781, 808, 814, 819, 893, 897, 899, 900, 901, 940, 942, 943, 945, 946, 951, 952, 961, 971, 975, 991, 992, 995, 1002, 1006, 1018, 1019, 1022, 1025, 1033, 1041, 1042, 1047, 1048 - alterações essas que são de extensão e impor­tância diversas**. Dentre elas, porém, há inclusive cortes de capítulos inteiros, tudo consignado no rodapé.

4 .1. 3 . 3 O exemplar de B de que S·e lançou mão para o cotejo é do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, à qual é oferecido autõgrafamente pelo autor. O papel, infelizmente, é de qualidade

(*) As remissivas em números inteiros da série natural são para os parágrafos do t exto crítico do romance, bem como para a parte correspondente do aparato, estampado em rodapé.

(**) 1!: dispensável, em princípio, compulsar um exemplar de A e outro de B para estabelecer, a posteriori, o cotejo em causa. Basta consultar o aparato nos ~úmeros indicados e examinar as inscrições de variantes que estiverem sob a sigla A, única e tão-somente - isto é, pela lição que B alterou, a qual lição A, já não constando do t exto crítico, consta, por isso mesmo, do aparato.

Analogicamente, a sigla B sozinha ou as combinações de siglas que tiverem B, mas não edições posteriores - isto é, B , ou A, B - dão os t extos inovados por C. A sigla C sozinha ou as combinações de siglas que tiverem C, mas não edições posteriores - isto é, C ou A, B , C, ou A, C, ou B , C - dão os textos inovados por D. A sigla D sozi~ha ou a.s combinações de siglas que tiverem D , mas não edições posteriores - isto é, D , ou A, B, C, D , ou A , B , D , ou A, C, D , ou B , C, D , ou A, D , ou C, D , - dão os textos que seriam inovados por E,· não constituindo E, porém, elemento de nossa colação, supomos [E] -+ F.

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

inferior ao de A, está amarelecendo e tende a partir-se com faci:idade a qualquer dobra.

4 .1. 4 C traz impressa a declaração de terceira edição, computando, pois, como primeira a da Revista Brasileira. É que o próprio autor define a situação desta edição no prólogo a ela destinado e que, por circunstâncias ainda não esclarecidas, nela não figurou, mas sim na quarta, com uma contradição ostensiva, lá. ~sse prólogo diz:

A primeira edição destas Memórias póstumas de Brás Cubas foi feita aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos de 1880. Postas mais tarde em livro, corrigi o texto em vários Jogares. Agora que tive de o rever para a terceira edição, emendei ainda alguma cousa e suprimi duas ou três dúzias de linhas. Assim composto, sai novamente à luz esta obra que alguma benevolência parece ter encontrado no público.

Trata-se, com efeito, a) da segunda composição tipográfica, b) da terceira redação pública, c) da terceira impressão, d) da terceira edição e publicação. A composição e impressão, já agora, são de Paris, como se vê do colofão a páginas 387: "Paris. - Typ. Garnier Irmãos, 6, rua dos Saints-Peres. - 447.7 .96", sendo os dois últimos números, como é sabido, os indicativos do mês e ano da impressão, isto é, julho de 1896. Trata-se, também, de um corpo 10, mas de ôlho maior que o de A -+ B, razão por que a entrelinha é mais fechada. O compri­mento da linha é ligeirissimamente menor, pois é de cêrca de 220 pontos, e a coluna é de 31 linhas. Com margens menores em todos os sentidos que B, inclusive com brancos reduzidos nas páginas capitulares, é um típico exemplar econômico do tempo. O cabeçote é, salvo nas páginas capitulares, onde não aparece, o mesmo - "Memorias Posthumas de Braz Cubas" - e a numeração é no canto superior externo. O volume não contém errata.

4 .1. 4.1 Enquanto entre A e B há um número ponderável de retoques na redação, mas sobretudo de cortes, entre B e C há modificações que, não sendo quantitativamente iguais, são superiores qualitativamente, no fundo e na forma - até onde se pode falar nesses têrmos dicotômicos. Essas modificações, devemos antecipá-lo, já aqui, são também definitivas, visto como D, que é a última edição em vida do autor, as encampará quase totalmente, com um mínimo de alterações. Mais de quinze anos eram passados da primeira redação, o autor pudera aferir criticamente o mérito do romance, a edição ne varietur poderia ser pensada - é o que explica o prólogo para ela, que historia externamente o livro, em poucas palavras, prólogo de que citamos, supra, uma passagem. O título dêsse prólogo, aparecendo como vai aparecer apenas. na quarta edição, vai ser modificado nessa conformidade, mas só aí, guardando, no corpo, a íntegra da redação original, em que o autor explícita -"Agora que tive de o rever para a terceira edição ... " - terceira edição a cujo respeito não cabe especular, pois as duas a11teriores estão bem claramente referidas no mesmo prólogo. Enviada, quiçá, com a última prova, a recomendação de inseri-lo na edição que se revia terá escapado, ou a urgência comercial terá determinado deixá-lo para depois, visto

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

como já então deveria estar no ânimo dos editôres guardar a composição dessa edição para as futuras - o que efetivamente aconteceu.

4 .1. 4. 2 Essa hipótese - essa certeza, digamos - é corroborada veementemente pelo fato de que C, no seu índice, a páginas 383, diz, logo no início: "Prólogo da terceira edição ........ . ......... VII". E a página VII - melhor, a fôlha VII/ VLII - das partes preliminares da edição em causa até hoje não foi vista ou localizada em nenhum exem­plar de C.

4 .1. 4. 3 Nova composição, pois, e com retoques importantes, porque exprimem a maturidade literária do autor, convém relacionar aqui os parágrafos em que se verificaram: 5, 6, 9, 11, 13, 14, 19, 21, 24, 25, 26, 28, 29, 30, 43, 45, 47, 52, 58, 64, 70, 74, 75, 87, 88, 89, 92, 95, 96, 98, 100, 103, 103', 104, 112, 115, ll7, 129, 131, 132, 133, 135, 141, 144, 147, 161, 169, 172, 177, 189, 200, 201, .202, 203, 207, 211, 212, 215, 220, 221, 222, 224, 233, 238, 239, 241, 242, 245, 2.50, 261, 278, 280, 281, 289, 290, 291, 293, 301, 310, 311, 312, 313, 315, 318, 321, 322, 326, 327, 328, 332, 334, 337, 338, 339, 346, 349, 352, 356, 372, 373, 376, 378, 382, 386, 395, 399, 400, 401, 402, 403, 407, 415, 423, 424, 428, 431, 432, 433, 434, 437, 439, 441, 448, 449, 452, 453, 454, 457, 461, 466, 468, 470, 471, 472, 479, 490, 493, 495, 500, 502, 504, 522, 525, '533, .535, 537, 541, 544, 548, 552, 562, 565, 566, 577, 594, 601, 606, 607, 609, 611, 614, 625, 630, 631, 633, 635, 637, 639, 640, 644, 648, 6.50, 651, 6'53, 654, 655, 657, 661, 669, 672, 684, 685, 686, 695, 697, 698, 703, 706, 711, 712, 714, 718, 719, 724, 733, 734, 737, 738, 739, 745, 746, 747, 749, 750, 751, 753, 754, 757, 759, 762, 764, 770, 776, 778, 781, "786, 787, 792, 794, 79'5, 797, 799, 801, 806, 807, 809, 810, 816, 820, '824, 832', 844 845, 848, 850, 8.54, 855, 856, 857, 859, 868, 869, 887, 883, 889, 891, 893, 896, 897, 898, 900, 901, 902, 903, 909, 911, 912, 913, 914, 918, 919, 927, 928, 929, 931, 932, 934, 936, 938, 940, 941, 942, 943, 951, 952, 954, 95'5, 957, 962, 965, 968, 969, 971, 972, 974, 975, ~78, 988.989,991, 99~ 997,998,999,1000,1009, 1014,1016,1017,1018, 1019, 1023, 1027, 1031, 1033, 1035, 1037, 1039, 1045. Nova composição, se de um lado o trabalho estilístico pôde fazer-se, sendo respeitado pelos compositores, de outro - fatalidade da tradição manuscrita ou impressa -, novos erros e erros novos aparece:m_. Nos lugares acima referidos vão, de um modo geral, as diferenças - voluntárias ou não - que aparecem em C em face de A~ B.

4 .1. 4. 4 O exemplar de C de que se lançou mão para o trabalho de cotejo é do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. De mau papel, amarelece e é quebrável nas dobras.

4 .1. '5 D também traz explícita a sua edição, quarta. Como C, sua -datação está no colofão da página 387: "Paris. - Typ. Garnier Irmãos, 6, rue des Saints-Peres. - 379.7. 99", sendo, como se disse acima, os dois últimos números indicativos do mês e ano da impressão, isto é, julho de 1899. Nesta é que vem impresso o "Prólogo da quarta edição", que, em verdade, se destinaria à terceira, conforme consideramos em 4 .1. 4 a 4 .1. 2, supra. Trata-se de a) uma reimpressão da segunda

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

composição tipográfica, b) da quarta redação pública, c) da quarta impressão, e d) da quarta edição e publicação. Tôdas as características tipográficas da sua composição original, consideradas em 4. 1. 4, cabem para esta, inclusive no não contar com errata.

4. 1. 5 .1 Os retoques de C -+ D são, tipográfica e lingüisticamente, em número muito reduzido, confirmando a asserção de que o ânimo autoral definitivo já estava atingido em C - ver 4 .1. 4 .1, supra.

4 .1. 5. 2 Importa, isso não obstante, consignar as principais poucas modificações trazidas a D em relação a C: 5, 112, 282, 399, 599, 778, 871, 889, 913. Escolhida, que foi, D como texto de base, por ter sido o último em vida do autor, mas caracterizado, como foi, o ânimo autoral definitivo em C, cumpre examinar se a tradição C -+ D não deteriorou o texto, de modo que devamos, agora, lamentar a escolha de D como texto de base. Sendo D mera reimpressão da composição de C, importa ver que tipos variantes se verificam entre ambas; e estas, acima loca­lizadas, são as seguintes :

1) no parágrafo 5, C diz "achar nêle", êrro tipográfico que D corrige para "achará nêle" ;

2) no parágrafo 112, C diz "minha família en ter", êrro tipográ­fico que D corrige;

3) no título do capítulo XXVIII, cujo prjmeiro parágrafo é o 282, C diz "Contanto que" (sem reticências), que D corrige para "Con­tanto que ... ";

4) no parágrafo 285, C (seguindo A e B) põe "O Conselheiro Dutra; não conheces", que D passa para "O Conselheiro Dutra, não conheces", lição esta que não parece constituir correção deliberada;

5) no parágrafo 399, C (seguindo A e B) põe "e o colocam em cima, e o traspassam", que D passa, corrigindo fundamentalmente, para "e o colocam em cima e traspassam";

6) no parágrafo 599, C (seguindo a boa lição de A e B) tem "de ter saído. A baronesa", lição que, por acidente de manipulação dos -paquês tipográficos, passa, com perda do ponto, a "de ter saído A baronesa" ;

7) no parágrafo 778, C diz "em diálogo como o embrião", que D corrige para "em diálogo com o embrião" ;

8) no parágrafo 871, C divide a palavra "super-/ fina" em fim da linha, tal como é indicado pela barra oblíqua; mas a sílaba fi inicial de linha está de pernas para o ar, o que D corrige;

9) no parágrafo 889, C adultera lição característica de A -+ B e do vocabulário do romance, alterando uma táctil e gustativa "tenrura de carnes!" para uma eufêmica "tenrura de carnes!", adulteração que D corrige;

10) no parágrafo 913, C adultera (caindo involuntàriamente num precioso caso dialectal que aqui não pode, de modo nenhum, ser assim considerado) A e B, pondo "logo adiente cinco", que D corrige devida­mente para "adiante"; e

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

11) no parágrafo 954, C, adulterando a tradição A -+ B, deforma o texto, pondo "ou, por outra, explicou-o", que D, coerentemente. cor­rige para "explico-o".

Vê-se, assim, que das onze variantes entre C e D, há, pelo menos, nove correções necessárias, contra uma duvidosa, a do parágrafo 285, e uma lição adulterante, a do parágrafo 599, felizmente, esta, do tipo de êrro tipográfico óbvio.

A crítica interna confirma, no caso do romance em aprêço, a exatidão do critério de se haver, por motivos de história externa, escolhido a última edição em vida do autor, D, como a do texto de base.

Tratando-se de composição manual de tipos soltos, ou de composição em monotipo, as duas únicas que comportam o êrro consignado no parágrafo 871 de C, o uso dos paquês de página permitiu, na reimpressão de D - o que irá ocorrer, antecipemos, com F e G -, a queda de um ou outro sinal, que geralmente deixa pequenos brancos característicos do vazio, sobretudo em fins de linha e/ ou fim de página. Em certos casos, houve - como nos exemplos acima aduzidos - nova composição de linha ou, pelo menos, nova ajustagem de página, para a boa imposição, o que se vê, por exemplo, com mais clareza nas páginas 385 a 387, do índice. Além da substituição do colofão, na página 387, há um aper­tamento no título do capítulo XC, na página 385, em D, contra C, do mesmo modo que o número do caderno - 22 - fica mais junto da mancha.

4 .1. 5. 3 O exemplar usado na colação pertence ao acervo da Biblioteca N acionai do Rio de Janeiro.

4 .1. 6 F e G são a composição de C, através da versão por esta assumida em D. Se E* efetivamente existe, não tendo sido tomada em linha de conta, aqui, pode, entretanto, explicar alguma adulteração

(•) D e fato, existe. 1!: o que se verificou, tão pronto terminado o trabalho presente. Trata-se de um exemplar da propriedade do Senhor José Simeão Leal, cuja fôlha de rosto é absolutamente igua l à de F e de G, ver 4.1.1, supra. O colofão, entretanto, como é natural, é diferente: "Paris. - Typ. Garnier Irmãos, 6, rue des Saints-Peres. - 301.1.1914" isto é, janeiro de 1914 (e "1914" por extenso) ; com­parar com 4.1.6.1 e 4.1.6.2, supra. As características da impressão foram coteja­das, nos pontos principais, com os dois elos em que se insere êste E , a saber, o anterior, D, e o posterior, F. E se depreende que E continua a tradição de D -herdando as correções e os defeitos de sua origem. isto é, os apontados em 4 .1 . 5 . 2, supra, nos parágrafos 5, 112, 282, 285, 399, 599, 778, 871, 889, 913 e 954. Ao mesmo. tempo - no que se refere aos caracteres adulterantes de pequena monta que até então reputáramos específicos de F -+ G nesta introdução - E fica entre ambos os elos em que se insere, isto é, ora apresenta 3{ igualdade E = F em algumas lições, ora apresenta a igualdade D = E em outras lições. Com efeito, E é igual a D , formando a continuidade C -+ D -+ E , no parágrafo 762 (referido supra em 4.1.8.1), enquanto é igual a F , formando a continuidade divergente de D seguinte: E -+ F -+ G, no parágrafo 850 (referido, também, em 4.1.8.1 supra), b em como no parágrafo 90, referido em 4.3.2.1.

Seja como fôr, porém, a situação de E , é ela intermediária, o que a faz estar, inapelàvelmente, ou em D (e, eventualmente, também em C) ou em F (e, eventual­mente, também em G). E , sendo, como é, assim, o seu achamento posterior à colação não altera a validade desta no mais mínimo pormenor, salvo por absurdo - de que aqui não se cogita.

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

- vej'a-se bem, adulteração- de F, que as explica de G. A importância de E, entretanto, não é grande, já que representa um elo da tradição de C, mas um elo post mortem auctoris, para o qual, sabidamente, não ficou recomendações de errata (que aliás teriam repercutido em F-+ G).

4.1.6.1 F traz em seu colofão, a pagmas 387, "Imp. A. Dersé, 9, rue Edouard-Jacques, Paris, 5-21", isto é, maio de 1921. Trata-se, ·como se vê, de nova tipografia, mas que terá tido apenas função estric­tamente impressora (e os trabalhos subseqüentes), pois a composição é, sem remota sombra da mais longínqua dúvida, a de C-+ D.

4 .1. 6. 2 G traz em seu colofão, a páginas 387, "Imp. d'Editions, 9, r. Edouard-Jacques. Paris France. 9-24", isto é, setembro de 1924. A mesma observação feita supra cabe aqui, com relação à função da -tipografia.

-4 .1. 6. 3 Concordantes entre si pràticamente em tudo - salvo aci­qente de manejo dos paquês -, discordam muito ligeiramente do elo .anterior, D. Um dos traços diferenciais mais ostensivos - porém externos - é que F e G têm nova fôlha de rosto, bem como nova numeração dos cadernos, no canto inferior esquerdo, quando ocorre.

4 .1. 6. 4 Os exemplares de F e G usados na colação pertencem ao Senhor J. Galante de Sousa.

4.1. 7 No que se refere às Memórias Póstumas de Brás Cubas, por conseguinte, a suspeição de infidelidade que eiva certas edições Garnier - suspeição por vêzes apriorística, porque a composição foi feita em Paris - não tem cabimento, pois que tôdas as edições em

·causa são de uma e única composição, C, feita com alterações funda­mentais da redação, reiteradas, em menor quantidade, sobretudo do ponto de vista da revisão, em D, vale dizer, em duas oportunidades da ·vida amadurecida de Machado de Assis, em 1896, cêrca de quinze anos depois da primeira publicação, e em 1899, cêrca de dezoito anos depois. As edições F, de 1921, e G, de 1924, são, pois, tão valiosas quanto .aquelas, salvo pormenores de pequena monta, que aparecem sempre no aparato crítico e que não são, aqui e agora. indicados, por irrelevantes.

·4 .1. 8 O é, como vimos, uma das edições de W. M. J ackson Inc. -Editôres. Trata-se, explicitamente, de composição e impressão novas, a fiar-nos de declaração no rodapé do verso da fôlha de rosto:

Composto e impresso na Gráfica Editora Brasileira Ltda., à rua Luís Gama, 185 - São Paulo, Brasil, em 1955.

Mas também pode ser que, em verdade, se trate, malgrado aquela declaração, de reimpressão de uma edição anterior, de 1953, adiante

·referida como 1'{. Tanto no verso da fôlha de rosto de O, quanto no de :N, consta o seguinte :

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

Tanto a fidelidade do texto do presente livro como a sua forma vernácula, fixada pelo cotejo das mais autorizadas edições, são da responsabilidade de

ARY DE MESQUITA.

declaração que não isenta a edição - referimo-nos particularmente a O - de falhas substanciais tanto de concepção do que seja o trabalho de cotejo das "mais autorizadas edições", quanto do que seja "forma vernácula". Além disso, há falhas outras, umas de revisão pura e simples, outras decorrentes de uma fixação de critério lingüístico essen­cialmente errônea para os nossos tempos - em que o princípio mais grave foi o de ter procurado a "melhor" lição, às vêzes no autor, às vêzes na língua ( ! ) , o que empresta à edição uma fisionomia imobilista, ialseando a essência da historicidade da linguagem de Machado de Assis, como fenômeno cambiante, vacilante às vêzes, flutuante quase sempre, da expressão de uma personalidade. Nem didàticamente se justificaria- se por didático se quer coqnestar a falsificação deliberada dos fatos - o critério ou os critérios indicados. Essa edição, não obstante, na qualidade de instrumento de trabalho, foi também obj:eto da colação, como não podia deixar de o ser, porque oferecia a obra em causa pela primeira vez na ortografia vigente entre nós.

4 .1. 8.1 O aparato crítico que se estampa no rodapé desta edição não consigna senão uns poucos pontos - e, isso mesmo, assistemàti­camente - em que O diverge das edições anteriores. Não foi, nem devia ser, nosso intuito evidenciar as deficiências dos elos da tradição do romance depois da morte do seu autor, noutros têrmos, não podia interessar-nos maiormente uma edição que não explicitava sua origem - sobretudo quando esta não era complexa - nem indicava seus crité­rios. O cotejo, nesta, mesmo, a ter sido feito, foi episódico, incidente, para casos concretos e determinados. A origem de O, aliás, se pode ,estabelecer como sem cotejo segundo o estema seguinte:

F o - ou

G

isto é, O provém de um exemplar de F ou G*, apenas, por dois erros diretivos comuns que excluem a consulta a A, B, C, e D. ~sses erros são os seguintes :

(*) A localização de E - como dito na nota de rodapé anterior - torna in­concussa esta asserção. Com efeito, enquanto no parágrafo 850 a distribuição das siglas, com o achamento de E , passa a ser:

A~ "oferecia trinta contos, o Viegas exigia" O ..D "oferecia trinta contos, Viegas exigia"

E.,F,G "oferecia trinta contos Viegas exigia" O "oferecia trinta contos. Viegas exigia"

podendo O, por conseguinte, ter sido feita sôbre ou E, ou F , ou G, já no parágrafo 762 a distribuição passa a ser:

A..D "por que tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas ?" O;D:.E "porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas ?"

F ,G "porque tem de resolver-se na lama ou no sangue, ou nas lágrimas ?" O "porque tem de resolver-se na lama ou no sangue, ou nas lágrimas ?"

'O que mostra, já agora, a exclusão de E também, deixando-nos, sem apêlo, como -origem de O. ou .ll1 ou G.

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

1) no parágrafo 762:

A,B "oferecia trinta contos, o Viegas exigia" C, D "oferecia trinta contos, Viegas exigia" F, G "oferecia trinta contos Viegas exigia" o "oferecia trinta contos. Viegas exigia"

2) no parágrafo 850:

A, B "por que tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas ? "

C, D "porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas ? "

F, G "porque tem de de resolver-se na lama ou no sangue, ou nas. lágrimas ? "

O "porque tem de resolver-se na lama ou no sangue, ou nas lágrimas?"

enquanto há um terceiro êrro que, filiando aparentemente O em C, se revela, entretanto, de tipo autônomo, pela possibilidade interna de coin­cidir, autônomamente, com a lição de C, deformando acidentalmente a boa lição que estava restaurada em D e daí em F e G, mas que, pela associação com os dois exemplos anteriores, temos de supor em F ou G apenas; é no parágrafo 889:

A, B "Que requinte de temperos! que tenrura de carnes!" C "Que requinte de temperos! que ternura de carnes!" D, F, G "Que requinte de temperos! que tenrura de carnes!" O "Que requinte de temperos! que ternura de carnes!"

4 .1. 8. 2 Em O praticaram-se sistemáticas deformações lingüísticas : além da inesperável deliberação de grafar oi quanto sincretismo houvesse do tipo ou I oi na língua, no tempo, no autor ou na obra; além de modernizar e fixar a flutuação das pretônicas e I i, o I u, em I im, om I um; além de fazer desaparecer certos grupos consonânticos de possível pronúncia ao tempo, enquanto mantinha outros porque hoje pronun­ciados (não necessàriamente por todos, no Brasil; e muitíssimo menos em Portugal), incide em deslizes outros, dois dos quais já verberados de público, o do parágrafo 9, em que "cláusula" se transforma em "clausura", e o do parágrafo 980, mais grave ainda, em que uma reflexividade se transforma em ação transitiva, com alterar um "Quis arrancar-me" - algo egoístico, se se quiser - num "Quis arrancá-lo" - muito altruístico, se se quiser, de Brás Cubas para com Quincas Borba.

4 .1. 8. 3 Precisamente porque O é edição post mortem; e sem maior idoneidade, o aparato crítico desta edição não podia, sob pena de ficar muito atravancado, dar senão uma pequena amostragem das alterações sofridas pelo texto. E adotou um critério misto de amostragem: a) foi sistemático, não omitindo nenhuma alteração, no que se refere ao sincretismo do ditongo ou 1 oi, em que, por exemplo, a palavra cousa(s), que ocorre como tal muitas dezenas de vêzes, ocorre como coisas apenas

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

duas vêzes interjectivamente, o que lhe é a explicação estilística imediata - mas é em O sistemàticamente coisa( s); em que, por exem­plo, a palavra dous, que ocorre como tal muitas dezenas de vêzes, ocorre como dois apenas uma vez, mas em O é sistemàticamente dois; b) foi assistemático, omitindo freqüentíssimas vêzes os fatos, para outras alterações.

4 .1. 9 Ordenando cronologicamente as edições do romance segundo o levantamento de J. Galante de Sousa, na sua Bibliografia de Machado de Assis, até uma edição mais, a aqui designada como O, indicamos, lateralmente, as siglas que lhes correspondem, pondo, entretanto, em grifo aquelas que entraram na colação para esta edição crítica:

1880 A 1881 B 1896 c 1899 D 1914 E 1921 F 1924 G 1937 H 1943 I 1944 J 1946 K 1946 L 1950 M 1953 N 1955 o

4 .1. 9 .1 Importa, antes do mais, considerar o conceito de redação, para os fins ·Críticos presentes. Além de significar a operação de pôr em linguagem, por escrito, determinada substância mentada, significa, ademais, cada fase por que um texto passa, com solução de continuidade temporal, até atingir a demão final com que se apresenta à posteridade; essas fases representam, na intenção do autor, aperfeiçoamentos ou aprimoramentos, de conjunto ou de pormenor. Assim, a primeira fase, de elaboração, bem como cada uma fase de aperfeiçoamento ou aprimo­ramento, em relação à anterior, com solução de continuidade temporal, constitui o que é, aqui, chamada uma redação. E esta é redação pública quando foi impressa. As Memórias Póstumas de Brás Cubas tiveram, destarte, além da redação constituída pelo manuscrito, não pública, as seguintes redações públicas:

ms-A -+-B-+- C -+-D

4 .1. 9. 2 Essas redações bem como as edições do romance foram, entretanto, objeto de apenas algumas composições tipográficas, a saber, A, C, H, I, L, N*. A já foi objeto de descrição, bem como C, ambas em 4. 1.1, supra. H é a primeira composição, impressão e edição de W. M. Jackson Inc., Editôres. I é um edição dos Cem Bibliófilos. L é uma edição do Clube do Livro e N é a primeira edição de W. M. Jackson Inc., Editôres, em ortografia ora vigente entre nós, conforme já foi

( •) Para N e O, ver as r essalvas de 4 .1. 8, su pr a .

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

dito, no lugar devido, em 4 .1. 8, supra. As edições referidas estão devidamente descritas na parte competente dêste volume (3 .1.1 e se­guintes). Há, pois, seis tradições de composição, própria ao que tudo deixa crer, seja:

1) primeira tradição :A-+ B 2) segunda tradição :C-+ D - (E) + F-+ G 3) terceira tradição :H-+ J - K - M 4) quarta tradição : I * 5) quinta tradição :L 6) sexta tradição : N-+ o

Entre essas tradições, pode-se - porque estudadas aqui - estabelecer algumas conexões (marcadas .--+ em horizontal ou vertical) :

A -+ B +- -+ C -+ D -+ (E) -+ F -+ G

-+­+

I

mas ficando sem conexões: 1) a terceira tradição: ? + _.. H -+ J ~ K _.... M; 2) a quinta ·tradição: ? -+ L.

4 .1. 9. 3 É fácil de compreender que esta edicão crítica continua o estema linear da primeira tradiçao, de modo que" a poderíamos estabe­lecer, chamando a esta P; da seguinte conformidade:

ms -+ A -+ B +--+ C -+ D [ -+ (E) -+ F -+ G] -+ P

:ti'::sse estema linear poderia ser compreendido, entretanto, como um somatório em que em P se acumulassem, ao arbítrio dos editores-de­-texto, as lições dos elos anteriores, ou (quando não se acumulassem) se excluíssem ou se contaminassem também a êsse arbítrio. Na verdade, com êsse estema linear, quer-se dizer que em A se acham as caracterís­ticas do manuscrito, com mais ou com menos as características supe­rimpostas pelo autor e com mais. ou com menos as características decor­rentes dos acidentes da composição; em B se acham as de A, com mais ou com menos as superimpostas pelo autor e com mais ou com menos as decorrentes dos acidentes de reimpressão; em C se acham as de B, com mais ou com menos as superimpostas pelo autor e com mais ou com menos as decorrentes dos acidentes da nova composição; em D as de C, nas condições observadas, e assim sucessivamente. Para, entretanto, ficar definido o caráter não contaminado do texto crítico estabelecido, melhor seria figurar seu estema simplesmente assim:

A-+ B +--+C-+D +--+ P

isto é, a primeira tradição (A -+ B) serviu, pelo seu elo aperfeiçoado (B), à segunda tradição, aperfeiçoada no seu conjunto (C-+ D), a qual, também pelo seu elo aperfeiçoado (D), serviu de base à atual edição.

(*) Segundo se declara no seu prefácio, foi baseada em D .

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

4. 2.1 A base geral estabelecida para o tratamento crítico do texto dêste romance é a mesma que se adotou para os nove romances de Machado de Assis. Essa base crítica geral é a seguir estampada, entre 4.2.2 e 4.2.14.

4. 2. 2 No fundamental, tôdas as obras do autor publicadas em vida têm seu perfil estemático perfeitamente caracterizado, segundo um estema linear do tipo:

ms-+ P -+ S -+ T -+ ...

em que o primeiro membro - o manuscrito - em grande número de casos está perdido. A adoção do texto de base para o estabelecimento crítico será a mera eleição de um dos membros supérstites, qualquer,. que apresente razões de prioridade:

a) já por fatos de cronologia externa incontroversos, aliados a circunstâncias de história interna que provem ter sido o membro aquêle que melhor corresponde ao ânimo autoral;

b) já pelo cotejo interno das lições textuais, caso a cronologia não possa ser seguramente estabelecida, de par com a caracterização· do melhor ânimo autoral.

4 o 2 o 2 .1 Obtido, naquelas condições, o texto de base, será êle, neces-sàriamente, cotejado:

a) com o manuscrito ou os manuscritos, se os houver;

b) com tôdas as demais edições em vida ;

c) com algumas edições póstumas, totais ou parciais, que parti-. cularmente se recomendaram pelo tratamento textual, se as houver;

d) com as traduções mais idôneas, nos casos de dúvidas de inter­pretatio, caso as haja dêsse tipo.

4. 2. 2. 2 Com relação às obras publicadas em vida mas não estrutu-radas em livro, o estema linear se repete:

ms-+ P -+ .••

em que o primeiro membro - o manuscrito -, como no caso anterior,. em grande número de casos, senão que na quase totalidade, está perdido. A adoção do texto de base para o estabelecimento crítico será a mera eleição de um dos membros supérstites, nas condições anteriores, cum­prindo, entretanto, desde o início, ponderar quando à possibilidade de não haver senão P.

4.2.2.3 Nestas condições, e resumindo, o texto de base, em princípio, tanto poderá ser um manuscrito quanto uma das edições em vida, importando que a eleição seja fundada:

a) já em fatos da história externa que habilitem a certeza de que, a tradição, o membro em causa, era a preferida do autor ou foi aquêle em que melhor sentiu a forma melhor de süa comunicação;

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

b) já, nos casos em que tôdas as tradições mereceram os cuidados pessoais do autor, do cotejo interno das variantes e diferenças das lições textuais.

4.2.3 Uma vez eleito o texto de base:

a) êste será o da edição crítica, observadas as normas preconizadas nestas instruções ;

b) seu aparato consignará tôdas as variantes textuais em cotejo; c) o aparato consignará os pontos efetivamente obscuros ou duvi­

dosos quanto à intelecção, tentando elucidá-los, por abonações internas abundantes e cronologicamente estabelecidas, ou por conjecturas forte­mente verossímeis, ou por interpretatio. A elucidação fica a critério do editor-crítico, mas .conjectura ou interpretatio será discutida em comis­são. Em qualquer caso, a modificação textual básica só poderá ser lncorporada, ao texto estabelecido definitivamente, por aprovação da eomissão, devendo o aparato conter minuciosa, ainda que concisa, expli­cação do fato e suas circunstâncias;

d) tôdas as interpretações de caráter luxuoso, erudito, tautológico, sinonímico, remissivo ou ilustrativo que não forem imperativamente determinadas ou motivadas por variante, falha, omissão, lacuna, dife­rença, êrro tipográfico ou lapsus calami óbvios, incoerência ostensiva não estética, serão excluídas da edição crítica e seu aparato - devendo, .se tanto, poder constar do glossário, da gramática e do esbôço de esti­lística objetiva que da obra se fizerem;

e) as formas inusitadas, arcaizantes, inovantes, pessoais mais freqüentes, de época, contrárias aos cânones vocabulares, morfológicos ou sintácticos mais consabidos não serão objeto de nenhuma referência no aparato crítico, nem mesmo a de sic, já que tôdas deverão ser dis­<mtidas ou no glossário, e/ ou na gramática, e/ ou no esbôço de estilís­tica objetiva que da obra se fizerem - estudos à parte que a comissão recomendará a membros seus ou a especialistas convidados;

f) tratando-se, pois, do autor que é, a "atualização" lingüística não terá acolhida nem no texto nem será discutida no aparato.

4. 2. 4 O texto estabelecido deverá, destarte, respeitar nodal, funda­mental, essencial e ativamente a realidade lingüística - e tudo o que dela decorre na comunicação - criada pelo autor, de tal modo que em nada seja ela desnaturada. A versão textual estabelecida deverá neces­sàriamente :

a) simplificar o revestimento gráfico, da ortografia, do texto de base, mas de tal arte que não se traia nenhum fato lingüístico propria­mente dito, subjacente na ortografia que se simplifica; dêsse modo, todos os valores realmente diferenciais, bem como todos os valores poten­cialmente diferenciais de fatos lingüísticos que existam por baixo da -ortografia original devem ser respeitados e, por conseguinte, nos casos duvidosos, ainda insanáveis ou não superáveis, também;

b) corrigir os chamados erros óbvios, isto é, aquêles que, numa paráfrase da fórmula do crítico verbal Louis Havet, são erros em que

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

o leitor mediano não atenta, numa leitura espontânea, tão óbvia é a lição verdadeira que não está impressa;

c) conservar tôdas as formas duvidosas, desde que passíveis de uma interpretação satisfatória, ainda que algo inverossímil.

4.2.4.1 Tudo isso de tal modo que o texto crítico estabelecido : a) seja uno e verdadeiro, isto é, não decorra da combinação de

duas ou mais tradições, de um lado; e corresponda, efetivamente, ao ânimo final do autor, de outro lado; ·

b) seja histórico, isto é, fiel ao fato de que, embora de autor moderno, é um documentário de uma fase de uma evolução lingüística, com peculiaridades de um lapso de vida e de lapsos de tempo dentro dessa vida;

c) seja, em suma, textualmente, fidedigno e fiel, para todos os fins - lingüísticos, estilísticos, estéticos; morais, históricos.

4. 2. 4. 2 O editor-crítico deverá, por conseguinte, dentre outros, ter sempre presentes alguns princípios de base, tais como:

a) qualquer simplificação não deve, a título nenhum, trair forma, valor ou função lingüística, seja esta evidente ou potencial;

b) em casos duvidosos, deve optar pela lição conservadora, isto é, aquela que permita duas interpretações ou mais e não apenas uma, que o editor-crítico supuser, subjetivamente, a verdadeira ou melhor;

c) o conceito de êrro óbvio (fundamentalmente tipográfico, na tradição impressa, e de lapsus calami, na tradição manuscrita) só será acolhido quando outro não couber, incontroversamente, caso em que o texto crítico estabelecido terá em seu aparato, sempre, a constância do fato e suas circunstâncias.

4. 2. 5 A seccionação do texto base será respeitada, nos seus capítulos, parágrafos e quaisquer outras divisões; nas suas estrofes e disposições de versos.

4. 2. 6 Embora em tradições manuscritas antigas a pontuação possa ser, legitimamente, reputada um problema de interpretatio, cabendo, assim, ao editor-crítico adotar a que possa fundamentar melhor, no caso do autor em aprêço se está em pólo oposto. Destarte, se a pon­tuação é interpretatio, nenhuma interpretatio pode ser melhor do que a do próprio autor. Seguir-se-á, assim, a sua, embora, com menção do fato e suas circunstâncias no aparato, possam ocorrer casos de erro óbvio, o principal dos quais, em textos de jornais e revistas, é a perda, por queda, da vírgula em fim de linha composta em caixa móvel.

4. 2. 7 A separação vocabular do autor é, no essencial, atualíssima. Nos pontos em que discrepar, será respeitada. Não entra neste par­ticular a divisão silábica de fim de linha tipográfica, que será atualizada segundo os cânones ortográficos vigentes, ao sabor das circunstâncias da composição.

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

4. 2. 8 A ortografia será simplificada, em harmonia com o sistema vigente entre nós. Trata-se, porém, de simplificação ativa, em que devem prevalecer os princípios e não as averbações do vocabulário oficial, averbações notOriamente tendentes a um fixismo e imobilismo vocabu­lares, válidos, talvez, como preceptiva presente, mas de todo em todo infundados para uma vivência histórica dos textos do passado, ainda que de passado recente.

4. 2. 8 .1 Não comportarão, por conseguinte, vacilação, simplificações ortográficas em que se procure distinguir :

a) emprêgo do j e do g; b) emprêgo do ch e do x; c) emprêgo do ss, c e ç; d) emprêgo do h- e nos derivados prefixais; e) emprêgo do s e z.

4. 2. 8. 2 Deverão, entretanto, ser obj·eto de respeito: a) emprêgo da pretônica e/ i (tipo degladiar/ digladiar, denegrir/

denigrir, previlégio/ privilégio); b) emprêgo da pretônica em(en) / im(in) (tipo informar/ enfor­

mar, emperador/ imperador); c) emprêgo do o/ u pretônicos (tipo jaboti/jabuti, sinusite/ iino­

site) ; d) emprêgo de om(on) / um(un) pretônicos (tipo comprimento/

cumprimento) ; e) emprêgo de ejei (bandeija j bandeja, caranguejo j carangueijo,

inteires/ interes); f) emprêgo de o/ ou (espocar/espoucar, espocojespouco, pôde/

poude); g) h)

emprêgo de e/ i postônicos (crâneo /crânio ); emprêgo de o/ u postônicos (discóbulo / discóbolo).

4. 2. 8. 3 Podem, sem risco, ser simplicadas : a) as letras consonânticas dobradas, salvo, entretanto, 1) os nn

e mm, os c·c e cç, e 2) os rr e ss. No primeiro caso, porque podem representar fonemas ou segmentos fônicos distintos, e no segundo, por­que representam fonemas distintos de r e s; são, pois, simplificáveis sem vacilação bb, dd, ff, gg, ll, pp, tt. Para os nn há a possibilidade de o primeiro n ser índice de nasalidade da vogal anterior, tal o caso, v. g., de ennastrar; para os mm, mesma circunstância, v. g., emrnalar; para os cc e os cç, ocorre a possibilidade de o primeiro c ser pronunciado. Enquanto, em casos tais, o complexo problema de saber a realidade da pronúncia de semelhantes letras consonânticas dobradas não fôr resolvido, é de tôda a prudência não proceder à simplificação, salvo fundamento concreto que a justifique numa dada palabra;

b) os chamados dígrafos helenizantes - ph, th, r h -, que nunca representaram na língua fonemas distintivos dos representantes por f, t e r (ou r1·), respectivamente; quanto ao ch (como dígrafo heleni-

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zante), podem, eventualmente, ocorrer dúvidas - por exemplo, schisto (xisto ou quisto ou cisto ou esquis to) ;

c) o k, que sem receio pode ser substituído por c ou qu, conforme ·O caso, em não se tratando de vocábulos que mereça o tratamento de realce material de estrangeirismo;

d) o y, que sem receio pode ser substituído por i, salvo em estran­geirismo que mereça o tratamento de realce material correspondente;

e) o w, que pode, conforme o caso, ser substituído por v ou u -·o que, por isso mesmo, já postula certa reserva crítica, embora a sua <Ocorrência seja moderna e de valor quase incontroverso.

4. 2. 8. 4 Os estrangeirismos - que não devem ser confundidos com ·citações ou alusões em língua estrangeira, citações ou alusões que, consoante os casos, merecerão tão-somente o realce material do jôgo de .aspas - os estrangeirismos aparecerão, como recurso vocabular, ou sucedâneo de deficiência vocabular da língua, ou matização semântica, ·em grifo, mesmo que assim não estejam no texto de base, não devendo, a título nenhum, ser aportuguesados, se razões ponderáveis em con­trário não ocorrerem. Se os estrangeirismos estiverem impropriamente grafados, segundo a ortografia do tempo da língua estrangeira em eausa, poderão ser corrigidos, de tudo havendo menção no aparato -crítico.

4.2.9 ·de base.

O emprêgo das letras maiúsculas conformar-se-á com o texto Ressalve-se a observação concernente às reduções .

. 4. 2.10 As reduções serão desdobradas, salvo quando o texto tiver caráter tecnicista. Neste caso, serão elas conformadas às convenções universais, se dêsse caráter, ou às convenções nacionais, se as houver.

4.2 .11 Atentar-se-á particularmente no respeito passivo do emprêgo da chàmada crase. · Fenômeno particularmente significativo de certos matizes ortoépicos brasileiros, em que lavram preconceitos gramaticais inúmeros, melhor será assumir, em face dêle, uma atitude conservadora, em lugar de procurar uma uniformidade e coerência que nenhum autor brasileiro do período do autor parece consignar.

4. 2.12 O editor-crítico será particularissimamente atento às formas vocabulares sincréticas, não as alterando, no seu substrato formal, a nenhum título, ainda quando os dicionários e vocabulários sejam omissos. Não se procurará, de modo nenhum, coerência ou sistemática no par­-ticular, ainda que em locais muito próximos (tipo cousaj coisa, bacatuaia/ abacatuia, aberém/ abarém, absenteísta/ absentista, gastroalgia/ gas­tralgia, absinto I absíntio, acessível/ accessível, acepção I aceção I accepção / ,acceção, apoftegma/apotegma/ apoftema, adaga/ daga, afleumado/afleug­mado, faríngeo/faringeu, ruptura/ rutura, aspecto j aspeto).

4. 2 .13 A acentuação gráfica conformar-se-á ao sistema ortográfico vigente entre nós, proscritos, entretanto, todos os acentos que, já indi­cativos da sílaba acentuada, já de seu timbre, possam ser objeto de

.eontrovérsias com relação ao tempo ou ao autor.

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4. 2.14 Estas bases gerais, estabelecidas a priori, deverão ser objeto de periódicas alterações, no sentido de serem progressivamente particula­rizadas, ao sabor do desenvolvimento da tarefa de estabelecimento do texto crítico, em face das ocorrências concretas. As subcomissões de trabalho de tal estabelecimento deverão periodicamente reunir-se, por motivação de uma delas, nesse sentido. Atingido um certo número de alterações, a critério dessas subcomissões, a comissão deverá ser convo­cada para tomar conhecimento das alterações convencionadas, a fim de aprová-las ou impugná-las.

4. 3 . 1 Nas precárias condições em que se acham, ainda, os estudos históricos da língua portuguêsa, de um modo geral, no seu período moderno e ·contemporâneo, e da língua portuguêsa no Brasil, a partir do século XVI; nas precárias condições em que, também, se acham os estudos da língua literária, sobretudo no Brasil, não havia - como vimos - o que decidir, quanto a certos fatos. A realidade mesma é que serão as edições como esta que irão carrear, pouco a pouco, os elementos factuais necessários a estudos mais. ou menos conclusivos, mormente para o período da língua que vai do século XVI aos nossos dias, num crescendo de obscuridade, quanto aos séculos XVIII e XIX. Destarte, a comissão achou de imperativa necessidade lançar mão das soluções suspensivas propiciadas pela lição chamada conservadora, em inúmeras situações do texto crítico ora estabelecido. Com isto, o cânon machadiano que se inicia poderá vir a assumir uma afeição diferente da que tem agora, neste primeiro volume. É que a lição conservadora só se justifica- é mesmo imperativa - enquanto não se obtém inter­namente a opção crítica, distintiva, preferencial. Essa opção poderá vir a ser propiciada, na medida em que se aprofundar a pesquisa analítica da obra, inclusive na sua historicidade. Algumas observações, entre­tanto, devem ser feitas para a melhor compreensão do conceito de lição conservadora.

4. 3 .1.1 As seguintes ordens de fatos principais de dificuldades parecem dever ser vencidas para que se consiga a resolução de uma série de dúvidas suscitadas pelo . problema do estabelecimento do texto­do autor: a) sua linguagem não apresenta, de modo nenhum, uma fisio­nomia uniforme, estável ou coerente; decorrência do seu caráter emi­nentemente criador, decorrência de ser expressão, veículo e instrumento de um psiquismo solicitado por múltiplas camadas sociais, culturais, profissionais, decorrência de seu convívio com tôdas as fases literárias. da língua, decorrência de sua convivência com indivíduos de áreas as mais diferenciadas do português do Brasil, e de Portugal - de onde· provinha uma das maís prestigiosas criaturas do seu cotidiano, a partir de certo momento de sua vida, Dona Carolina -, essa linguagem é flutuante num mesmo tempo, é diferenciada através dos tempos, modi­fica-se, varia; seria insensato procurar, destarte, uma forma preferencial, ainda que existente, para adotá-la com a proscrição das formas con­correntes : procurar - repitamos sempre - uniformidade em situação assim configurada é dar uma visão imobilista, estática, parada, de uma linguagem que, por certo, se diversificou consideràvelmente; b)

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grande criador literário, quantitativa e qualitativamente, grande esmiu­çador do seu instrumento de expressão, grande estudioso do mesmo, é natural que êsse instrumento, ao longo de mais de quarenta anos de aperfeiçoamento e perfectibilização, tenha encerrado tendências que se entrechocavam violentamente num tempo e através dos. tempos - ten­dências arcaizantes contra tendências inovadoras, tendências lusitani­zantes contra tendências brasileirizantes, tendências eruditas contra tendências populares, tendências à observância passiva das regras puristas contra tendências da libertação dessas regras; de novo, tudo isso milita contra a posse, vivência e domínio de expressão e de linguagem com feição uniforme, incontroversa, definida, optada, razão por que nada mais natural é do que admitir que no autor conviviam elementos lin­güísticos sincréticos e formas díspares concomitantes, sobretudo quando o conceito da norma e do cânon gramatical se fazia mais e mais purista, exigente e peador das possibilidades lingüísticas, mormente para fins

· de criação literária ; c) escrevendo a partir de um momento em que o romantismo ainda florescia até um momento em que o regionalismo repontava, atravessando, pois, um período de realismo-parnasianismo, Machado de Assis sai de um período de características lingüísticas algo indisciplinadas para um período em que a gramaticalização da língua chega a atingir o bizantino e o cerebrino; nesse longo período há urna larga tarefa de pesquisa da língua literária por fazer, em relação aos padrões praticados e os teõricamente admitidos, prática e teoria que se vão gradativamente mudando no interregno da vida útil do autor: o conhecimento dêsses padrões. está por fazer, ainda, de forma satisfatória, de modo que certas características de época, do autor, de lapso de tempo na vida do autor, só poderão ser mais bem percebidas e apreen­didas e compreendidas na medida em que tais padrões forem sendo estudados.

4. 3 .1. 2 Numa conjuntura lingüística e literária como a delineada assim, o estabelecimento de um texto crítico do autor, com absoluta idoneidade, exigiria condições que só gradualmente serão preenchidas: a) em lugar de se estabelecer o cânon cronologicamente, com tôdas as variantes. válidas, desde o primeiro trabalho literàriamente conside­rável até sua última produção - foi-se obrigado a aceitar a divisão da tarefa, e sofrer os riscos de sua publicação parcelar, o que significa que, ao meio ou ao cabo dos trabalhos, a comissão venha a reconhecer que outras soluções poderiam ter sido tomadas para as dúvidas pen­dentes ou perdurantes; b) em lugar, de outro lado, de procurar esta­belecer o cânon poético antes do da prosa, cânon aquêle que deveria presumivelmente dar a chave para um sem-número de dúvidas vocabu­lares quanto aos aspectos fonéticos e fonológicos. - foi imperatvo adotar um planejamento de trabalho em que, também, se ensejasse uma fase de adestramento dos colaboradores nas tarefas da edição crítica dêste tipo; c) em lugar, por fim, de principiar a editoração propriamente dita ao cabo de tôda a tarefa feita - foi-se obrigado a aceitar os riscos da publicação gradual, à medida que fôssem sendo aprontados os volumes, o que os eiva, inevitàvelmente, de uma forte dose de perfectibilidade, não apenas a perfectibilidade intrínseca a tôda

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obra de homem, senão que a perfectibilidade que a própria comissão poderia imprimir aos seus próprios trabalhos, se acumulados os elemento3 de convicção para, apenas ao fim, estabelecer as soluções.

4. 3. 1. 3 A êste último respeito, entender-se-á bem o alegado se se considerar que está nos planos da comissão dicionarizar exaustivamente tôda a obra de Machado de Assis; que está nos seus planos levantar sua gramática, em tôdas as particularidades possíveis; que está no sÉm plano, inclusive, proceder a alguns, pelo menos, estudos estilísticos relativamente exaustivos, na base do material carreado naquela con­formidade. É claro, de outro lado, que se estas Memórias Póstumas de B1·ás Cubas viessem, no estado em que se acham, ante os leitores, neste volume, a entrar em quarentena, para que, ao cabo do trabalho conjunto, se voltassa e elas, a fim de dirimir as dúvidas com que são ora oferecidas ao público - é claro que, nestas condições, seriam e~as estampadas com as características melhores que a comissão lhes poderia imprimir. Mas isso seria, também, diferir, no tempo, o lançamento dos volumes, com os riscos que tal decisão encerra. Ademais, um ponto importante milita em favor da publicação parcelar imediata. É que, assim, serão propiciadas as melhores oportunidades para que se exerça uma crítica fecunda aos trabalhos da comissão, crítica que, em última análise, só poderá ter repercussão benéfica sôbre o conjunto da tarefa. Esta razão é, destarte, tão ponderável, que ela só por. si bastaria a sobrelevar às demais em contrário. Só assim, repitamos, tôda a eru­dição crítica brasileira e estrangeira poderá ir trazendo suas luzes, permitindo, assim, que a obra venha a beneficiar-se do esfôrço não apenas dos integrantes da comissão.

4. 3 .1. 4 Tais, em conjunto, as razões que determinaram a adoção consciente, por parte da comissão, da chamada lição conservadora, em todos os casos em que a crítica textual fôsse controversa, _duvidosa, equívoca, insegura, optativa, ambígua. Uma versão textual conserva­dora não é um texto diplomático, que supõe a reprodução ipsis verbis litterisque, com as mesmas palavras e letras, ou quase, da edição de base (na tradição impressa) ou dos autógrafos - os escritos do próprio punho ou os escritos aprovados com os próprios olhos do autor - ou dos apógrafos - as cópias alheias dos autógrafos. Uma versão textual conservadora deve, necessàriamente, a) ·simplificar o revestimento grá­fico, a ortografia, do texto-fonte, mas de tal arte que não se traia nenhum fato lingüístico propriamente dito, subjacente ou superjacente na orto­grafia que se simplifica; dêsse modo, todos os valores realmente dife­renciais, bem como todos os valores potencialmente diferenciais de fatos lingüísticos que existiam por baixo e por cima da ortografia original devem ser respeitados e, por conseguinte, nos casos duvidosos, o mesmo critério se seguirá, e com maior razão; b) corrigir os chamados erros óbvios, isto é, aquêles que, como já o lembramos acima, numa paráfrase da fórmula de Louis Havet, são erros em que o leitor não atenta, numa leitura espontânea, tão óbvia é a lição verdadeira que não está impressa; c) conservar tôdas as formas duvidosas, desde que passíveis de uma interpretação satisfatória, ainda que algo inverossível.

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4. 3 .1. 5 O presente texto crítico beneficia-se, por conseguinte, dos recursos da lição conservadora. O critério é triplicamente justo, parece-o à comissão: a) a lição conservadora, encerrando a potencialidade de <luas ou mais interpretações para os valores lingüísticos nela conservados, sugere também a disputa e discussão crítica em tôrno da necessidade de ser ela seguida, a cada caso concreto ; isso promoverá, espera-o a comis­são, uma intensificação de certas pesquisas em certas direções e sôbre certos assuntos concretamente sugeridos pelos textos de certos autores que inserem sua atividade criadora precisamente numa fase importante de nossa formação e evolução literárias, que, exatamente, encerram certas obscuridades, do ponto de vista de sua história; b) a lição con­servadora constitui, por si mesma, uma dir~ão para a coleta sistemática de todos os dados que, a respeito, puderem ser respigados no autor, sendo, por isso, um momento de solução suspensiva nos trabalhos da comissão, solução que, ao cabo, poderá ser no sentido de confirmar a forma da lição conservadora, ou infirmá-la; confirmando-a, a lição con­servadora deixará de ser conservadora, ipso facto, pois a confirmação deverá ser excludente de tôdas as potencialidades lingüísticas menos uma; infirmando-a, a infirmação levará a outra lição crítica, com outra forma; c) a lição conservadora, sendo aquela que corresponde a um revesti­mento gráfico cumulativo de diferentes potencialidades, é também a lição definitiva quando o cumulativo é intrínseco ao valor lingüístico usado no texto.

- :· - .. ~ ';)t! :~~:~~ 4. 3 .1. 6 Duas palavras finais sôbre êsse conceito crítico-textual tão necessar10 aos trabalhos, nesta altura de seu desenvolvimento. A lição conservadora é, essencialmente, a versão textual original, atualizada ou modificada criticamente apenas naqueles particulares cuj:as atualização ou modificação externas, gráficas, extrínsecas sejam incontroversas e - tanto quanto se possa antecipar -, incontroversíveis como lição conservadora. Controvérsia - e controvérsia desejável, no caso -será a de que tal lição conservadora concretamente não tenha razão de ser, porque tais e quais fat os militam por uma solução determinada não conservadora. Onde puder haver dúvida quanto aos valores lingüísticos propriamente ditos de um revestimento gráfico, nesse caso o revesti­mento gráfico deverá ficar respeitado. Êste, precisamente, não quer definir uma opção, pelo contrário, define a ausência - provisória -de opção. Por exemplo, mantida a versão textual de producção, com essa lição conservadora quer-se, precisamente, dizer que não se opta entre a) produção sem o grupo consonântico [ks] ou b) p1·oducção (com o grupo consonântico em aprêço) . O que se quer, com isso, é reconhecer o princípio essencial da historicidade, da individualidade e da persona­lidade que existe no fenômeno social da linguagem - e das línguas, e de uma língua -, cuja norma, com isto, não se quer impugnar, desco­nhecer, invalidar, menosprezar. A norma, ao contrário, emerge, nessas condições, como necessidade da própria luta da individualidade e perso­nalidade dentro da historicidade. A norma passa, também, a ser o ponto de referência implícito para a aferição do funcionamento do fenômeno lingüístico no plano literário, por seu sistema, que se equilibra e concretiza como língua e como fala, como língua e como discurso, como

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língua e como estilo. Todos os casos de lição conservadora são, por conseguinte, dúvidas não dirimidas pela comissão neste estágio dos seus trabalhos, dúvidas perdurantes, em suma. A comissão nutre a espe­rança de que, se não tôdas, pelo menos a grande maioria dessas dúvidas serão dirimidas no correr dos seus trabalhos - para o que apela, inclusive, para os estudiosos que não a integram. Por essa razão, acha imperativo relacionar todos os casos dessa natureza existentes no texto crítico que ora apresenta, a fim de que, de futuro, qualquer solução de qualquer dúvida aqui consignada possa ser adotada, sem maiores tropeços para a sua localização, por parte de quantos quiserem benefi­ciar-se do presente texto crítico - eruditos, críticos, estilistas, profes­sôres, editôres, lexicógrafos, estudiosos e leitores em geral.

4. 3. 2 Com relação à pontuação, seguiu-se, fielmente, a prescrição do critério geral, enunciada em 4. 2. 6. E seguiu-se porque aquela recomendação se revelou absolutamente procedente. Matéria que merece ser estudada longamente, para fins de aprofundamento do sistema rítmico da prosa de Machado . de Assis, a sua pontuação, entretanto, é atualíssima, no sentido de que se exerce onde o cânon geral da pontuação hoje vigente o autoriza, ao mesmo tempo que deixa de exercer-se onde também o cânon em causa lhe faculta a opção. No jôgo dêsse equilíbrio entre o obrigatório e o facultativo e o optativo, a pontuação do autor assume aquela feição pessoal que todos os observadores lhe reconhecem. Mas esta edição propicia a vantagem aos estudiosos de lhes oferecer tôdas as variantes entre as diversas edições válidas das Memórias pós­tumas de Brás Cubas, variantes que revelam, numa primeira aproximação, notável evolução de hábitos entre a tradição A -+ B e a tradição C -+ D, evolução que, suspectivamente, pode dar a chave de certos aspectos do sistema rítmico-melódico pessoal do autor. Aqui nos per­mitimos chamar atenção para os seguintes lugares do texto crítico relacionados com o problema da pontuação, lugares que, por excepcionais, representam precisamente pontos de fratura da regularidade:

1) § 190: "olhando para a porta, vi na calçada, três dos correeiros"; normalmente, o autor observa a não separação por vírgula do objeto direto posposto ao verbo: observa, também, facultativamente, a interca­lação entre verbo e objeto direto por dupla vírgula; destarte, dentro do sistema que segue, seria de esperar "vi, na calçada, três dos cor­reeiros" ou, como corrigiu O, "vi na calçada três dos correeiros"; não se tratando de ocorrência única do tipo, achou-se prudente seguir a lição conservadora, pois alterá-la seria optar por uma solução das pos­síveis soluções rítmicas;

2) 194: "o capitão, que junto à amurada, tinha os olhos fitos"; a lição é sem variantes e mesmo O a respeitou; a separação do sujeito do verbo, mesmo havendo intercalação, por uma só vírgula é episódica no texto, mas ocorre, razão por que se respeitaram os exemplos, em lição conservadora ;

3) 23·5: "soluçava a pobre senhora apertando-me ao peito"; as orações reduzidas de gerúndio funcionam, ao que parece, no seu sistema de pontuação, como verdadeiros advérbios, ficando-lhe, destarte, aberta a possibilidade rítmica e melódica de inserir uma paus~!- com entonação

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ascendente - "soluçava a pobre senhora, apertando-me ao peito" -ou não fazê-lo; o autor, quando não o faz, é que, de regra, a oração reduzida de gerúndio é de ação concomitante com o da oração a que se refere;

4) 249: "e se não chegares a entendê-la, podes concluir que"; a interpretação canônica é de que a conjunção e é o conectivo pertencente à oração "podes concluir''; destarte, a inclusão da oração condicional deveria aparecer marcada por dupla vírgula, a final, lá posta, e uma anterior, após o e; a omissão parece ser do autor, numa tendência a observar o fato rítmico e melódico mais do que a convenção lógico-gra­matical;

5) 321: "logo que esgotámos, o último gole"; A e B não trazem a vírgula, o mesmo acontecendo em O, mas por resol_!Ição autônoma, é de supor; trata-se da separação do verbo do objeto direto, mas sem elemento intercalado; a vírgula é tão ostensiva e clara na tradição C -+ D -+ F -+- G, que sua continuidade não foi, pelo menos, obj'eto de sanção negativa do autor, que se exerceu nessa tradição nuns poucos casos;

6) 335: "Ora aconteceu, que, oito dias depois": a vírgula entre o verbo e a conjunção integrante, sem elemento intercalado, não se enquadra na generalidade do sistema do autor; importa, entretanto, lembrar que o capítulo "O caminho de Damasco" é, pelo menos no início, de sabor bíblico, o que explica aquela pontuação não diremos arcaizante, mas arcadizante;

7) 349 : "mas a doença e uma velhice precoce, destruíram-lhe a flor das graças"; está-se, aparentemente, em face de caso comparável ao (2) supra; importaria, entretanto, considerar aqui o valor incontrover­samente expressivo desta pontuação;

8) 378: "stigmada pelo mesmo flagelo, que devastara o rosto da espanhola" geralmente o autor observa a distinção melódica e lógico­-gramatical entre as orações adjetivas explicativas, que põe entre vír­gulas, e as restritivas, em que nij.o o faz - isso como enunciação gené­rica; há episódicas inobservâncias. mas sensivelmente não acidentais, senão que expressivamente deliberadas:

9) 436: "mas veio um dia, em que, estando a ruminar êsses e -outros pontos obscuros de filosofia, atinei"; ver o caso ( 8) supra;

10) 458: "Mas se fôsse rico, o meu dever ficara o mesmo"; ver -o caso (4) supra;

11) 642 : "exclamou a boa dama alçando as mãos para o tecto" ; ver o caso (3) supra;

12) 646: "e, depois de o despedir, chorou _muito"; é a lição de C-+- D, proveniente de uma de A -+- B "e depois de o despedir chorou muito", que, corroboram ambas o mecanismo, quando regular, apontado em ( 4) supra;

13) 664: "depois veio a mim, que estava sentado, deu-me panca­dinhas na testa, com um só dedo, a repetir ; - Isto, isto ; - e eu não tive remédio senão rir também"; é a lição de A, B, C,D, F, G,· O inter­preta, mais verossimelmente, pondo dois pontos depois de "repetir";

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14) 708: "replicou êle daí a um instante - E depois de outro silêncio: - Seja como fôr"; o primeiro travessão é inusitado, nessa função no autor; talvez chegue a ser, no respeito, um caso único no romance, hápax de pontuação no romance; nada impediria, pois, que fôsse trocado por ponto (pois tal troca, em qualquer caso, não redun­daria em modificação do valor da pausa nem da entonação aí existente) ; ver, também, o número (14) em 4.3.2.1, infra;

15) 733: "por motivo que só lhe disse, a ela, pedindo-lhe"; ''mas em suma, é motivo poderoso para mim"; o primeiro exemplo tem como. variante, em A ~ B, "por motivo que só disse a ela", variante que explica a forma enfática do texto definitivo (expressão talvez de um diálogo interior do autor, respondendo a objeção de si mesmo) ; o se­gundo exemplo é comparável ao caso (10), supra;

16) 738: "1l:ste era o caso do Lôbo Neves com o acréscimo da dúvida e do terror de haver sido ridículo", exemplo que provém de uma lição anterior, de A ~ B, em que havia ponto e vírgula depois do­nome próprio; como ficou, é segmento fônico-visual inusitadamente longo no autor, pelo menos nesse romance; a razão provável é que tivesse trocado o ponto e vírgula por vírgula, tendo esta ido de cambulhada; a vírgula, aí, satisfazendo o lado visual, satisfaria também a marcação da entonação ascendente no trecho final da prótase, inicial da apódose;

17) 753: "Ela era menos ecsrupulosa que o marido: manifestava claramente as esperanças que trazia no legado, cumulava"; é lição que, provém de A ~ B, em que, em lugar dos dois pontos, ocorre ponto e vírgula; a mudança da pontuação . no caso serve para mostrar - a mero título de ilustração em meio a vários outros - a equivalência rítmico-melódica dos dois sinais, mas a diferença de valor psicológico entre os dois, do ponto de vista visual;

18) 753: "a palavra doce, a mesma fraqueza física dão à acção lisonjeira da mulher, uma côr local, um aspecto legítimo"; a pontuação aí, do ponto de vista do cânon lógicÔ-gramatical, é violentada pelo menos no não incluir a primeira vírgula do elemento intercalado entre "dão" e "uma côr local"; mas, _se se admitir a entonação ascendente depois do sujeito, normal dada a sua extensão, nesse caso a pontuação é, aí, predominantemente, senão que exclusivamente, rítmico-melódica~ "a palavra doce I a mesma fraqueza física I I dão à acção lisonjeira da mulher I uma côr local I um aspecto legítimo ""- ";

19) 809: "eu fujo ao Damasceno que me espreita ali da porta do camarote" ; seria o caso apontado em ( 8) e ( 9) , supra; aqui, no entanto, ou a função explicativa é óbvia ou a função restritiva é deliberadamente suscitada para fins de humor ou ironia;

20) 845: "Mas depois? que ia acontecer em casa de Virgília? matá-la-ia o marido? espancá-la-ia? encerrá-la-ia? expulsá-la-ia?"; o exemplo é perfeita amostragem de um traço muito do autor, no regime do uso das letr.as maiúsculas, depois do ponto de interrogação, mormente se se leva em conta a variante de A ~ B em que a pergunta depois de "Virgília" é formulada com uma inicial maiúscula; é, assim, claro que o autor pode distinguir três níveis de interrogação extensa: a) "Mas depois, que ia acontecer em casa de Virgília, matá-la-ia o marido, espan-

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cá-la-ia, encerrá-la-ia, expulsá-la-ia?"; b) é o do exemplo do caso ver-­tente; c) "Mas depois? Que ia acontecer em casa de Virgília? Matá-la-ia o marido? Espancá-la-ia? Encerrá-la-ia? Expulsá-la-ia?"; o veio expressivo potencialmente distintivo é evidente, embora o poder expres­sivo decorra de textos e contextos;

21) 847: "Se êle estiver em casa não entro"; é associável ao­caso (3), supra, no sentido mais amplo de que as orações adverbiais são potencialmente tratadas como advérbios, cuja separação fica, assim, optativa, condicionada a fatos expressivos;

22) 855: ":Êsse puxar e empuxar de cousas opostas, desequili­brava-me"; é, também, fato associável ao caso (7), supra, por seme­lhança, e ao caso ( 18), supra, por contraste;

23) 897: "todos os sentimentos belicosos, são os mais adequados à sua felicidade"; é lição que tem variante, de A -+ B, sem vírgula; é associável ao caso (22), supra;

24) 900: "essa predisposição, é. que constitui a base da ilusão, humana"; enquanto o caso (23) supra ocorre em discurso direto de Quincas Borba, êste, em situação comparável, é de discurso indireto, ou, melhor, de discurso indireto aparente, também de Quincas Borba -em situação demonstrativa dos méritos do Humanitismo, com certo calor e certa ênfase magistral ;

25) 1001: "O Ministério, não só lhe parecia excelente"; discurso indireto em que a argumentação sôfrega do personagem - o Cotrim -é expressa com ênfase; é o caso (24) supra, que remete ao (22) e (23) supra;

26) 1012: "Não esqueças que, sendo tudo uma simples irradiação· de Humanitas, o benefício e seus efeitos, são fenômenos perfeitamente iguais"; é discurso direto de Quincas Borba, nas mesmas condições de (24) supra.

4. 3. 2.1 Porque conexo principalmente com os fatos de transmissão tipográfica da pontuação, nas condições do trabalho em caixa móvel ou em monotipo, e porque antecipados em 4. 2. 6, in fine, são a seguir refe­ridos, como ilustração, os casos consignados de acidente de fim de linha, já na tradição A--+ B, já na tradição C- D + (E) --+F - G:

1) § 5: C traz "achar nêle", contra a lição de A -+ B e do con­texto; D corrige para a boa lição "achará nêle", correção que consiste em inserir o á no branco vazio de fim de linha; não se trata de questão de pontuação, é claro, mas de fim de linha em geral;

2) 19: A e B trazem "bom caráter I meu pai", indicando a barra oblíqua fim de linha onde falta a vírgula; a boa lição, entretanto, não foi restaurada conjecturalmente, mas na base da de C -+ D;

3) 90: em F -+ G, "a um bispado ... verdade, um bispado"; contra a lição "a um bispado. . . É verdade, um bispado"; o É caiu pl·ecisa­mente em fim de linha e de página, deixando o branco que lhe corres­ponde vazio;

4) 135: "os rapazes. Era filha" ; em C._ D--+ F--+ G o ponto não aparece, em fim de linha;

5) 272: A -+ B "Mata-cavalos" (em meio de linha); C ---+ D --+ F -+ G "Mata-/cavalos" (em fim de linha, que se marca com a barra

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

oblíqua) ; O "Matacavalos" (presumível má leitura tipográfica daquela divisão; a boa leitura adviria de uma divisão do tipo "Mata-l-cavalos");

6) 318: A, B "imediatamente desço I ainda que"; no local bar­rado, fim de linha, falta a vírgula, restaurada a partir de C;

7) 324 :"para não lhe pergunl tar"; o local barrado é fim de linha, onde falta o traço de união;

8) 424 : "ficar com a prata; eu ia dizer" ; F e G não têm o ponto e vírgula, que caiu em fim de linha;

9) 435 : "alguma co usa, corria"; A, B não trazem a vírgula, em f im de linha ;

10) 435: "algum trabalho novo, e eu dizia-lhe"; A não traz a vírgula, que coincide com o fim de linha, mas note-se que B, embora reimpressão de A, corrige a omissão; a êste respeito, ver 439;

11) 599: "o que era, falavam, olhavam"; na tradição iniciada em C, a segunda vírgula falta, mas em fim de linha;

12) 609: na tradição A -+ B, A traz "fugirmos, insinuei", contra B "fugirmos, insinue"; mas o i falta em fim de linha, com o branco correspondente vazio; .

13) 706: A -+ B "interrupção, por que eu andava"; lição diver­gente da tradição de C, com "porque"; esta é J.lreferível, porque naquela a palavra está dividida em "por I que" em fim de linha, fim em que teria, eventualmente, caído o traço de união, como em (7) supra;

14) 708: A, B, C, D, F, G "replicou êle daí a um instante - E depois de outro"; apesar de tratar-se de duas composições tipográficas, iniciadas em A e C, respectivamente, coincidem em terminar, apertada, a linha em "instante -", podendo, assim, a falta de ponto correr à -conta, aí, dêsse fim de linha ; o que explicaria o caso anômalo comentado no número '(14) de 4.3.2, supra,·

15) 806: em A as três primeiras linhas dêsse parágrafo terminam por "com I aventu- I afinal"; em B, o Z que termina a terceira se des­locou para a primeira, de modo que as três primeiras linhas passaram a terminar por "comi I aventu- I afina";

16) 991: A "espirituais; e I conquanto a minha"; no lugar indicado por barra, fim de linha, falta a vírgula; B pôde incluí-la (não -esquecer que A -+ B), porque a linha em causa era folgada;

17) nesse mesmo parágrafo 991, há uma l~ção da tradição iniciada em C - "E, chapéu, na cabeça, bengala, sobraçada" - que tem uma vírgula visivelmente louca; adiante há outra lição - "Porquanto o facto da morte limita" - com falta, em face de A, B, de vírgula depois de "Porquanto", falta em fim de linha; o tipo móvel, caindo, foi pôsto sôbre o paquê a que pertencia, algo folgado, para depois ser devidamente localizado; e entrou onde não devia ... ;

18) o leitor é convidado a ver, também, as observações que, sôbre fim de linha, ocorrem em 812, 871, 900 e 998.

4 . 3 . 3 Como previra o critério geral, em 4. 2. 7, a separação voca­bular do autor é, no essencial, atualíssima, havendo, entretanto, _ a reco­mendação de que fôsse respeitada onde discrepasse. A comissão acha

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

procedente o critério porque está convencida de que ainda não se tiraram as ilações que podem decorrer de um estudo sistemático da separação vocabular, do ponto de vista histórico, comparativo e estilístico, para .o aprofudamento dos problemas rítmicos e, eventualmente, melódicos na língua. Modernizar os pontos em que Machado de Assis não é atual pode significar, por acaso, a escamoteação de elementos factuais para aquêles tipos de estudo, no autor. Seguiu-se, portanto, a lição conser­vadora, salvo observação em contrário, o que se verifica com as palavras abaixo relacionadas, acompanhadas dos locais em que ocorrem:

1) afim (conjunção): 713, 825; 2) amor-próprio: 861; 3) amor-paixão: 951; 4) anjo-cantor: 479; 5) anti-asmáticas: 758; 6) anti-gregos: 858; 7) anti-higiênicos: 963; 8) beija-flor: 334; 9) bem-aventurança: 340 (ver, ·entretanto, a explicação no aparato);

10) bem-estar: 532; 11) bom tom: 919; 12) capitão-mor: 786; 13) castelo-feudal: 24; 14) côr de rosa: 604, 912; 15) de certo: 49, 66, 334, 927; 16) de mais: 233, 842; 17) de vagar: 639, 963; 18) embaixo: 622; 19) em quanto: 57, 220, 496, 622, 898; 20) enquanto: 74, 167, 187 (não se esgota a exemplificação); 21) guarda-sol: 917; 22) hade: 478, 821, 822: (adotamos "há-de"); 23) heide: 826: (adotamos "hei-de"); 24) há de: 910, 1011; 25) juiz de fora: 113; 26) logar-comum: 2392; 27) meio dia: 695, 814; 28) mil réis: 466; 29) obra-prima: 998; 30) papa-fina: 786; 31) pé-rapado: 786; 32) porque (= por que): 66, 72, 110, 120, 121, 166, 197, 233, 315,

327, 356, 432, 458, 494, 4952, 594, 659, 660, 670, 706, 720, 721, 729, 816, 848, 850, 8562, 982, 1012;

33) por que: 324, 355, 487, 942, 943 (não se esgota a exemplificação); 34) sargento-mor: 225; 35) segunda-feira: 335; 36) semi-demência: 1042, 1048; 37) se não ( = senão) : 72 (não se esgota a exemplificação) ; 38) senão: 133, 811, 8442 (não se esgota a exemplificação) ; 39) sexta feira: 8; 40) sub-gregos: 858; 41) têrça feira: 93; 42) Ursa-Maior: 269; 43) ventríloco-cerebral: 946; 44) vira-volta: 814.

4. 3. 4 A parte relativa à ortografia propriamente dita - para con­tinuarmos a glosa das seções do critério geral, que no caso são as de 4.2.8, 4.2.8.1, 4.2.8.2, 4.2.8.3, 4.2.8.4, 4.2.9, 4.2.10, 4.2.13 oferece alguns aspectos que merecem referência aqui.

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

4.3 .4.1 Com relação ao tópico 4. 2'. 8 .1, notemos alguns exemplos: a) 489: "tachava", que provém de um "taxava", em A, B, C, D,

F, G; trata-se de distinção sabidamente semi-histórica, a rigor distinção de homófonos para fins semânticos; essa distinção parece não ser de Machado de Assis; esclareçamos: o vocabulário de Machado de Assis comportava, com uma só forma, as duas noções semânticas básicas de "manchava" e de "impunha [cobrava] taxas, emolumentos";

b ) xícara: 8'52, 972 (no original "chícara") ; c) "musulmano": 938 e 1037; não foi, logicamente, grafado

"muçulmano"; no primeiro exemplo, tanto a tradição de A -+ B quanto a de C -+ D traziam a mesma forma, a adotada no texto crítico; no segundo exemplo, a tradição de A -+ B trazia "mussulmano", que C e derivados corrigiram para "musulmano"; nada autoriza a supor gra­tuidade nessa preferência; cêrca de quarenta anos antes e cêrca de quarenta anos depois, Gonçalves Dias e Lima Barreto grafavam -quando não sistemàticamente, pelo menos preferentemente - "musul­mano", que cremos ser grafia e pronúncia galicista, com o -s- intervo­cálico sonoro * ;

d) o grupo intervocálico -se- bem como o grupo -xc- merecem extremo cuidado no tratamento crítico porque parecem, ambos, essen­cialmente dois latinismos gráficos; como seqüências fônicas, a linguagem popular talvez não possua, em nenhuma situação (nem mesmo intervo­cabular), em nenhuma parte e em nenhum nível, uma sibilante surda seguida de outra sibilante surda, salvo, com relativa modernidade, no português padrão de Portugal, em que formas como nascer, descer são pronunciadas, figurativamente, nas-cer, des-cer (com decorrências ':!Onhecidas do tipo, figurativamente, nax-cer, dex-cer, bem como naxer, dexer) ; no Brasil, tanto quanto até agora se saiba, êstes últimos fatos não existem; no plano da linguagem culta tampouco, sendo de regra reputados hiperurbanismos, ou, se quiserem, ultracorreções formas como, figurativamente, nas-cer, des-cer (que, entre nós, na área carioca, pelo menos, assumem, pe(a determinação "cultista", formas como naís­-cer, deís-cer). Presuntivamente, o padrão português é um refazimento, uma restauração por influência gráfica, podendo o fenômeno vir a ter curso também no Brasil; exatamente por êsse motivo, é da maior neces­sidade observar a grafia adotada pelos autores. Gonçalves Dias grafa, por exemplo, freqüentemente nacer, em que se deve, está claro, ver uma indicação inconcussa de pronúncia. Machado de Assis, entretanto, neste romance, desde A (1881), observa fielmente a grafia latinizante (sem que se possa, nem remotamente, daí supor que sua pronúncia marcasse duas sibilantes surdas sucessivas). Ponto importante para a história da pronúncia padrão do Brasil e de Portugal, a fiel observância da grafia originária, nesses casos, é achega que poderá contribuir para o esclarecimento dessa particularidade; vão, em conseqüência, exemplos, em cópia relativamente abundante, embora não exaustiva, da prática de Machado de Assis com os grupos gráficos intervocálicos em causa (os

(•) Grafamos, entretanto, "muçulmano" em 897, porque provém, sem variante de A, B, C, D) F, G "mussulmano", sintoma de provável flutuação de pronúncia.

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verbos vão no infinitivo; os nomes vão, quando possível, no masculino singular) :

1) desvanecer: 183; 2) acrescer: 233, 963, 992; 3) acrescentar: 113, 236, 332, 452, 554, 577, 654, 746, 749, 798, 913,

930, 960, 967, 969, 1000, 1025; 4) acréscimo: 7382, 802; 5) adolescência: 104; 6) ascetismo: 852; 7) crescer: 992, 472, 820, 870, 899; 8) crescimento: 4 72; 9) Damasceno: 914 et passim;

10) descer: 140, 169, 187, 294 295, 296, 313, 3182, 329, 331, 332: , 335, 338, 399, 712, 7443, 759, 787, 855, 858, 901, 916, 9552;

11) descida: 318, 328, 335; 12) discernir: 280, 851; 13) efervescência: 995; 14) excelente: 452, 1039; 15) excelso: 437; 16) excêntricos: 172; 17) excepção: 848, 957; 18) excepcional: 614, 981; 19) excepto: 786, 787; 20) excitado: 536, 565', 587; 21) excitar: 106, 897; 22) fascinação: 270, 613, 654; 23) fascinar: 68, 1742, 569; 24) florescer: 18 (mas A - B "floreceu"); 25) lascivo: 69, 340, 487; 26) nascença: 323; 27) nascer: 89, 103, 109, 145, 472, 855, 896, 899; 28) obscenidade: 104; 29) rejuvenescência: 956; 30) renascença: 238; 31) rescendente: 236; 32) víscera: 899.

4 . 3. 4. 2 Com referência ao tópico 4. 2. 8. 2, notemos, também, alguns exemplos, o primeiro dos quais o fato de não se ter achado de modo llenhum relevante lingülsticamente, na fase da língua, na área e no autor, a distinção gráfica entre -o e -u átonos finais, entre -e e -i átonos finais donde havermos desconsiderado casos como "tribu", tornado ·"tribo" (438), e "quasi", tornado "quase" (passim):

a) com relação à flutuação da pretônica e/i, malgrado certa ten­dência a ver nela apenas um sintoma de instabilidade gráfica que tradu­zisse, essencialmente, luta de convenções ortográficas, há razões para .supor que, quando não na totalidade dos casos, por certo em um grande número dêstes a flutuação em causa tem raízes mais profundas, embe­-bendo-se em um ou mais dos seguintes motivantes: a) oposição entre a convenção ortográfica tradicional, praxista, consuetudinária, e a pronúncia real; b) concomitância de dois tipos de pronúncia, uma inovante e outra arcaizante; c) concomitância de dois tipos de pro­núncia, a tradicional transmitida oralmente e a "restaurada" sob a ·influência da representação gráfica; d) concomitância de uma pronúncia culta contra uma pronúncia popular, aquela quase sempre mais próxima da representação literal, sobretudo porque nela prevalecem feixes de opo­·sição baseados, fonolõgicamente, na distinção do tipo "emigrar/imigrar",

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"deferir/diferir"; tais concomitâncias, que se manifestam num indivíduo, podem, entretanto, ser expressão de convicções ou tendências de grupos dentro da deriva fonética popular da área ou da língua; destarte, apesar de que, do ponto de vista da história da língua no seu aspecto macros­cópico, muitas das flutuações consignadas tenham tido sua opção j:á no século XVI, quando não antes, aqui são mantidas, pois pode tratar-se de arcaísmos populares de pronúncia da área ou inovações eruditas por restauração gráfica, ou concomitâncias dêsse ou dos outros tipos acima referidos. Eis os principais casos e sua exemplificação:

1) se (conjunção condicional ou integrante) : 734, 897, 955, 1039 ~ 2) adeante: 3, 108, 221, 233, 312, 464, 781; 3) adeantar: 133; 4) adiante: 400, 751, 913, 914; 5) adiantar: 352, 424; 6) antecipado: 986; 7) anticipação: 372; 8) anticipar: 20, 794; 9) ceremônias: 209, 1017, 1045;

10) creação: 142, 278, 895; 11) creado: 436; 12) creador: 316; 13) creadora: 901; 14) crear: 77, 737; 15) creatura: 103, 145, 278, 328, 343 (creaturinha) , 472, 655, 801,.

875, 980, 1012, 1048; 16) criado: 192, 695, 1030, 10332; 17) criança: 115, 147, 625 ; 18) desegual: 23, 988, 1013; 19) deante: 825, 842, 848; 20) diante: 94, 514, 802; 21) edade: 43, 77, 220, 303, 430, 644, 753, 778, 914, 929, 943, 961,

1013; 22) egreja: 93, 106, 489, 896, 975; 23) egual: 4, 30, 57, 77, 439, 452, 611, 684, 746, 781, 869, 887, 1006; 24) egualar: 28; 25) egualdade: 45; 26) egualmente: 812, 869, 897; 27) igualmente: 855, 932, 941; 28) peor: 25; 118, 134, 327, 3732, 594, 639, 687, 845, 961, 982, 1036,

1039; 29) procreação: 440; 30) sequer: 58, 191,

sem contar casos como "Virgília" (passim), "Virgílio", que jamais flutuam no autor (e quiçá no tempo, parecendo a forma divergente um eruditismo latinista recente) ;

b) as considerações feitas em (a) supra quanto à flutuação e/ i pretônica podem também ser feitas quanto à flutuação e?n(en)/im(in) pretônica, embora, neste caso, só se consigne o exemplo de "imperti­gados" ( 1033), divergente da norma atual;

c) as considerações feitas em (a) supra podem, também, ser feitas, mutatis mutandis, à flutuação das pretônicas o/u, cujo exemplário­é o seguinte no texto do romance:

1) borborinhar: 811; 2) borborinho: 115; 941; 3) engolir: 335, 472;

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

4) engulidas: 490; 5) engulir: 992; 6) jocundo: 73; 7) logar(es): 2, 7, 102, 234, 238, 2392, 264, 265, 313, 395. 489, 786,_

819, 991, 1012, 1047; 8) lugares: 768; 9) supitado: 954.

d) as considerações feitas em (a) supra podem, também, ser feitas, mutatis mutandis, para com a flutuação om(on)/um(un) pretô­nica, embora neste caso os exemplos sejam em número reduzido:

1) comprimento (= cumprimento): 312, 376, 869; 2) comprimentar: 835;

3) cumprimentos: 452 (ver também o aparato), 648;

e) com relação ao tópico 4. 2. 8. 2 do critério geral supra, importa, aqui, considerar um caso, lá consignado sob a alínea (f) ; é o da alter­nância, às vêzes documentada, de ou/o já pretônicos, já tônicos; no romance que nos ocupa, não há casos dessa natureza, nem mesmo do verbo "poder", cuja terceira pessoa do singular no pretérito perfeito é· sempre "pôde", sem discrepância: 28, 89, 113, 143, 155, 310, 395, 669, 1008. Conexo com êsse exemplo - embora foneticamente subordinado aos considerados em (c) supra, -há um caso de "Podera não!" (518) ;

f) com relação ao mesmo tópico supra referido, alínea (g), que se refere à flutuação de e/i postônicos, os exemplos consignados no romance são a seguir citados; essa flutuação só deve representar distinção de pronúncia entre bem falantes, mas é de convir que, embora não observada freqüentemente pelos poetas do parnasianismo, era, ainda assim, considerada por alguns rima imperfeita; essa simples conside­ração já atesta a necessidade de preservar as formas em que se verifique· aquela flutuação:

1) crâneo: 768; 2) escárneo: 74, 190, 327,

convindo, entretanto, ressaltar que num ponto Machado de Assis não encampou, no romance, a flutuação, então (e ainda) muito encontradiça, nos casos do sufixo -ia no I -e ano :

1) cesariano: 143, 386 2) horaciano: 197, para cotejo;

g) com relação ao mesmo tópico supra referido, alínea (h), há um único exemplo que consignar: "mágua" (383).

4.3.4.3 Nas observações relacionadas com o vocalismo do romance, conviria acrescentar, aqui, as que incidem sôbre o -u- nas seqüências gráficas que, qui, gue, gui. Prudencialmente, são elas grafadas sem o trema, embora tudo faça crer que algumas delas teriam êsse -u- pro­nunciado:

1) arguir: 5772, 927; 2) consequência: 174, 813, 848, 898; 3) consequentemente: 963;

35-

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

4) eloquência: 88; 5) eloquente: 964; 6) ensanguentada: 9.18; 7) frequência: 810, 927; 8) frequentar: 467: 9) frequente: 614, 963;

10) redarguir: 56, 104, 419; 11) tranquilamente: 11, 57, 541, 853; 12) tranquilo: 77, 326, 394, 657, 744, 809; ] 3) tranquilizar: 536; 14) tranquilidade: 802, 1014.

4. 3. 4 . 4. Com relação ao consonantismo, a que se refere o tópico -4.2. 8. 3 e alíneas, do critério geral supra, poucas observações há, aqui, por fazer:

a) apesar de o critério geral recomendar especial cuidado na simplificação dos -mm- e dos -nn-, não se achou, subseqüentemente. indispensável respeitar tal preceito, visto como, nos casos vertentes, .abaixo relacionados. o m ou o n comportam ou não a nasalização da vogal anterior; por êsse motivo, os quatro vocábulos dêste texto crítico, sôbre os quais poderia haver dúvida, vão a seguir indicados com os lugares correspondentes:

.. "l ' · ~ '"'f~ ·~ .. -, \1; ~f5'tlt"O--..~rt'~

1) comigo: 8, 25, 28, 77, 110, 143, 144, 152, 165, 1722, 176, 182, 193, 200, 207, 224, 255, 264, 294, 312, 315, 3162, 325, 335, 359, 373, 431, 432, 453, 454, 467, 469, 487, 493, 526, 545, 593, 645, 6522, 693, 708, 712, 725, 754, 786, 845, 869, 920, 943, 1032, 1047;

2) emagrecer: 648, 853; 3) conosco: 562, 672, 708; 4) enegrecer: 629;

b) no que se refere ao consonantismo há que acrescentar ainda 'Uma lista de interpretações :

1) prorromper: 683: 2) regímen: 220; 3) verosímil; 316 (aparato)

c) o mesmo ocorrendo com o chamado s- impuro:

1) Smirna: 334; 2) Spinoza: 718; 3) stática: 895; 4) stigmada: 378; 5) stoicismo : 782;

d) o mesmo ocorrendo com consoantes finais:

1) Bagdad: 190; 2) Jacob; 7475, 7492, 7513; 3) Job: 76; 4) Madrid: 135.

-4.3. 4. 5 Com relação ao tópico 4. 2. 8. 4 do critério geral supra, que se refere ao realce material dos estrangeirismos, observemos que a prática seguida pelo autor no romance em causa é de dar-lhes grifo -

-tratamento consentâneo, aliás, com as recomendações preferíveis, hoje

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

em dia. Note-se, porém, que seguindo a norma do próprio autor, pre­ferimos não dar a marca de estrangeirismos a certos axionímicos, quando .acompanhados do antropônico a que se referem, tal o caso com "lady" (942). Sôbre o grifo, de um modo geral, notar-se-á que Machado de Assis lhe dá os valores usuais de caracterizador do estrangeirismo, de .enfatizador e de caracterizador de carga emotiva muito forte sôbre o conceito (472, 482, 508, 561, 584, 638, 640, 753, 848, 854, 895, 900, 927, '942, 954, 971, 1033, 1047). Todos os casos em aprêço coincidem com os usos atuais, de um modo geral.

4. 3. 5 As reduções não merecem considerações maiores, aqui, em :atenção ao tópico 4. 2.10 supra. As de vocábulos portuguêses foram desdobradas, conforme o preceito, mantido o regime original das letras maiúsculas, o que determinou formas como "Dona", "Dom", "Senhor", "Senhora", "Doutor" e afins. Sôbre uma abreviação francesa, houve vacilação original, que foi uniformizada - M e Mr (887, 888), de monsieur. Acrescentemos o desdobramento de "São", "Santo", salvo num caso, em que se hesitaria quanto a se "São Tomás" ou "Santo 'Tomás". A localização de tais fatos é muito expedita, consultando-se o aparato, que os põe em evidência.

4. 3. 6 Com relação ao tópico 4. 2 .11 do critério geral supra, reconhe­cer-se-á, com efeito, que no romance em aprêço o regime da chamada crase atinge tal equilíbrio que é, pràticamente, atual em tudo, salvo pormenor de monta secundária. Destarte, por exemplo, enquanto "a sós" é ortodoxo em dois casos (684, 747), não o é num, "à sós" (.544), que foi por isso considerado despiciendo. Irrelevantes são, também, certos usos episódicos ( 653) .

4. 3. 7 Capital para caracterizar o texto crítico ora oferecido ao público é o critério que se adota para com os chamados grupos conso­nânticos impróprios. Sua pronúncia, ao influxo da ortografia, foi restaurada em um sem-número de casos, enquanto em outros terá sofrido simplificação, do tempo do autor ao atual. Nessa conformidade, é efetivamente arbitrária, por ora, qualquer atitude que não seja mais ou menos sistemática - com base em lição conservadora. A própria chave proporcionada pelas rimas, em poeta como Machado ne Assis, não esgota a matéria, por duas razões principais: primeiro, porque as palavras em rima são em número muito reduzido, comparadas com aquelas sôbre as quais pode pender dúvida; segundo, porque nada im­pede que em certos casos, mesmo de rima perfeita, se esteja em face de um sincretismo potencial. A metodologia para a caracterização da pronúncia de tais grupos consonânticos em cada período da língua literária ainda não está firmada. Mas nada impede que o venha a ser, sobretudo se se considerar que há certas tendências organizadoras, além da geral, ou seja a de proscrever tais grupos, na medida em que a palavra que o encerrava penetra no uso popular intensivo ou correntio. Uma dessas tendências organizadoras é a do tratamento uniforme, em princípio, dos mesmos elementos mórficos; outra, a dos mesmos grupos eonsonânticos. Enquanto, por exemplo, o radical dign se estabiliza na

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

língua nessa forma erudita refeita, o grupo consonântico -mn- tende a confinar-se a umas poucas palavras de curso restrito de origem grega (mnemônica, amnésia); nas latinas, como coluna, solene, e mesmo latinizadas, como hino, não há porque vacilar na simplificação, salvo se se tratasse de neologismo recentíssimo ao tempo do autor, tal o caso de ômnibus, que se fortalece proque o radical-prefixo omn- continua sincrético ainda hoj'e (onipotente/ omnipotente, onisciente/ omnisciente). Vão, pois, relacionados, a seguir, com os lugares de ocorrência, os prin­cipais, senão que todos os casos. Notar-se-á que em não poucos se verifica uma coincidência com o padrão ortográfico preconizado pelo chamado acôrdo de 1945; mas, ao passo que por êsse acôrdo, pelo menos na pronúncia padrão portuguêsa, se quer indicar timbre da vogal anterior ao grupo consonântico, na notação aqui adotada se tem em mira resguardar a eventualidade de duas pronúncias sincréticas, com o grupo consonântico ou sem êle, ou de uma delas :

1) abjecção: 431, 513; 2) abjecto: 528; 3) absorpção: 1037; 4) acção: 169, 242, 469, 546, 602, 753, 812, 817, 927, 980, 1012i 5) acceitar: 851; 6) accender: 1017; 7) accentuar: 219, 971; 8) accesso: 7602, 762, 775; 9) aceitar: 759 (com um só c em A, B, C, D, F, G) i

10) activar: 807; 11) actividade: 870; 12) acto: 233, 4612, 810, 8132, 10102; 13) actor: 810; 14) actual: 958, 967, 998, 1006 i 15) adjectivo: 1152, 7462; 16) adoptar: 3, 5, 7, 823; 17) adoptado: 964; 18) afectação: 383, 734, 1001; 19) afecto: 110, 147, 281, 870; 20) afectuosamente: 493; 21) afectuosa: 712; 22) aflicção: 544, 969, 1025; 23) aflicta: 726, 820, 1004, 1015; 24) aflictivo: 71, 681; . 25) ajuntamento: 615; 26) anecdota: 23, 1042, 467 (notar, ai, a divisão silábica tipográfica),

770, 819, 941; 27) anti-asmáticas (de "anti-asthmaticas ") : 758; 28) asma (de "asthma"): 600, 746, 756; 29) aspecto: 45, 71, 541, 753, 845; 30) assignar: 143, 900; 31) assignatura: 988; 32) assunto: 903, 919, 965; 33) atracção: 495; 34) augmentar: 52, 932i 35) baptismo: 597; 36) baptizado: 93; 37) baptizar: 93; 38) calúnia: 946, 951 i 39) caluniosa: 964; 40) captar: 940; 41) captiveiro: 133, 496; 42) captivar: 1352; 43) carácter: 19, 46S, 747, 927i

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44) 45) 46) 47) 48) 49) 50) 51) 52) 53) 54) 55) 56) 57) 58) 59) 60) 61) 62) 63) 64) 65) 66) 67) 68) 69) 70) 71) 72) 73) 74) 75) 76) 77) 78) 79) 80) 81) 82) 83) 84) 85) 86) 87) 88) 89) 90)

91) 92) 93) 94) 95) 96) 97) 98) 99)

100) 101) 102) 103) 104) 105) 106) 107)

COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

característico: 854; circunspecto: 318; colector: 10185; coluna: 5, 759; concepção: 794, 901, 1037; condigna: 807; conducção: 57; conflicto: 734, 777; conjectura: 625; conjuncção: 653; conjuncto: 382; conjunto: 490; construcção: 764; contracção: 805; contractiva: 895, 1037; contacto: 115, 805; contemptor: 101; contracção: 634; contricto: 169; convicção: 392, 785, 1012, 1019; correcção: 161; correcta : 988; correctamente: 463; danoso: 928; deducção; 274, 869; deductivamente: l 012; defuncto: 3, 246, 256, 776, 804; defunto: 4, 72, 31, 49; delicto: 118; desconjuntados: 7 46; diccionário: 638; direcção: 236, 238, 479; directo: 1006, 1047; directamente: 858; distincção: 482, 938; distracção: 818, 819; dito: 8, 19, 104, 112, 224, 261, 671, 813, 917, 943, 953, 1018; efectiva: 234; efectivamente: 77, 209, 222, 529, 686, 868, 941, 965; E gipto: 23; enigmática: 1007; erecta: 310, 963; escripto: 5, 7, 23, 131, 221, 4522, 869, 952, 1042; Escriptura: 335, 828; escripturar: 491; esculptura: 713; espectáculo: 9, 25, 71, 742, 76, 201, 207, 242, 349, 852, 916, 931, 958, 9802, 982; estructura: 768; estupefacção: 129, 242, 662; estupefacto: 58, 898; exacta : 4 78; exactamente: 320; excepção: 848, 957; excepcional: 614, 981; excepto: 786, 787; extincção: 9, 991; facto: 812, 813, 870, 927, 938, 963, 978, 1010, 1031; fictício: 753; fluctuar: 24, 496; fructas: 115, 640; fructo : 782 ; funcção: 639, 897; funccionário: 113; ignaro: 892;

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

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108) 109) 110) 111) 112) 113) 114) 115) 116) 117) 118) 119) 120) 121) 122) 123) 124) 125) 126) 127) 128) 129) 130) 131) 132) 133) 134) 135) 136) 137) 138) 139) 140) 141) 142) 143) 144) 145) 146) 147) 148) 149) 150) 151) 152) 153) 154) 155) 156) 157) 158) 159) 160) 161) 162) 163) 164) 165) 166) 167) 168) 169) 170) 171)

impugnar: 965; inaccessível: 811; incógnito: 794; indignação: 798, 801, 816, 974; indigno: 963; indirecto: 1006; inducção: 869, 969; infracção: 106, 897, 951; ininterrupto: 640; inspector: 88; insecto : 828 ; instincto: 350; instinctiva: 855, 954; intacto: 117; interrupção: 706, 971; jactanciosa : 785 ; juntinhas: 808; junto: 43, 261, 839; juntura: 88; lucta: 855; luta: 8972, 940; lutar: 977, 980; manuscripto: 901, 1042; nocturno: 137; objecção: 726, 898, 981, 10192; objecto: 77, 608, 779, 940, 963, 971, 980; objectar: 710; practicar: 19, 1010; producção: 435; producto: 14, 18, 871; projectar: 794; projecto: 193, 2642, 669, 675; prontamente: 113, 325; pronto: 178, 31 ól, 823, 843, 869; protecção: 358; recepção: 467; rectificar: 24, 782, 951; r educção: 74, 897; reflectir: 41, 183, 245, 270, 355, 751, 845, 912; reproducção: 896; respectivo: 870, 918; restricção: 965; retrospectivo: 870, 943; sancção : 434; seducção : 644; selecto: 113; sétimo : 932 ; signal: 770, 801, 916; solene: 580; sono: 71; sonolento: 175; subjectivo: 1039; subscripção: 648; subtil: 2492; 745, 807, 897; subtileza: 625, 813, 967; subtilmente: 916: succeder: 117, 746; successivamente: 569; successão: 961; successo : 20, 133, 432, 848, 1047; táctica: 601 ; tecto: 113, 189, 405, 642, 770; trajecto: 1017; transacção: 569;

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

172) uncção: 490; 173) víctima: 135; 174) victória: 24; 175) voluptuoso: 811.

4. 3. 8 O tópico 4 . 2 .13, do critério geral, preceitua que a acentuação gráfica se conformará ao sistema vigente entre nós, proscritos os acentos que possam ser objeto de controvérsia quanto ao tempo ou ao autor.

4 . 3 . 8 . 1 Em verdade, a com1ssao acolhe, assim, uma das reservas que se vêm levantando contra êsse sistema.

4. 3. 8. 2 Essa reserva consiste essencialmente em três objeções: 1.0

) todo o sistema gráfico, inclusive na acentuação, é fundamen­talmente mecânico, salvo no que se refere a certas letras cujo uso é dito etimológico - j e g, z e s, ch e x, etc., em certas situações - e salvo também para com a acentuação gráfica diferencial de homógrafos que na vogal tônica tenham timbre diferente; enquanto a restrição feita ao emprêgo das letras etimológicas é de importância relativa - porque a ortografia das palavras escritas com elas, uma vez estabelecida, fica inalterável, quaisquer que venham a ser os novos vocábulos da língua -, é, entretanto, de grande monta a restrição que se faz para com a acentuação diferencial - porque a ortografia de um sem-número de palavras fica instável, pois tão pronto apareça novo vocábulo que seja homógrafo de um anterior da língua, poderá impor-se a alteração dêsse P.nterior, como se, para exemplificar, parede e paredes passagem a ser parêde e parêdes desde que se verificasse a existência do verbo paredar;

2.0 ) do ponto de vista histórico, a distinção homográfica é, muitas vêzes, anacrônica, porque procura distinguir duas (ou, raro, mais) existências vocabulares, que, ao tempo, talvez não coexistissem, coexis­tência ou não coexistência de dificílima configuração em nossa língua, dada a pobreza de datação do aparecimento e curso dos seus elementos léxicos;

3.0 ) finalmente, a acentuação diferencial em causa tem sido, também, um escolho para a desejável unificação ortográfica entre o Brasil e Portugal, porque nesse país, reconhecendo-se a infelicidade do princípio, procurou-se-lhe dar uma interpretação prática, isto é, res­tringir o emprêgo do acento gráfico diferencial a uns poucos vocábulos de uso muito freqüente. No Brasil, porém, êsse tipo de dü;tinção se requintou a tal ponto que veio a criar uma "especialização", domínio exclusivo de uns poucos iniciados. Essas três razões, e sobretudo a inserta no item 2.0 , supra, militariam no sentido de que, na presente edição crítica, se fizesse uso parcimonioso da distinção homográfica que vimos apreciando. Não se querendo, entretanto, deixar mais caracte­rizado do que já está o presente texto crítico quanto às reservas que lhe vimos fazendo de atualização ou modernização, preferiu-se observar pura e simplesmente a distinção homográfica, com deixar aqui manifesta a reserva - como estímulo a uma futura melhor interpretação do problema, por parte de quem de direito. São a seguir relacionadas as palavras em que ocorre a distinção no presente texto:

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

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1) acêrca: 452, 869; 2) acêrto: 468; 3) acôrdo: 897; 4) agôsto: 8; 5) alamêda: 1902; 6) alfinête: 317, 394; 7) almôço: 129, 204, 3722, 393, 394, 851, 8522; 995; 8) alvorôço: 102, 258, 296, 593, 911; 9) amôres: 43, 45, 135, 145, 161, 207, 220, 632, 655, 698, 7182, 810,

852, 868, 889, 953, 954, 995; 10) apêlo: 998; 11) aprêço: 270, 434; 12) aquêle: passim; 13) bêsta: 100, 373, 618; 14) bôca: 100, 110, 3202, 327, 541, 561, 579, 583, 618, 625, 661, 758,

760, 796, 801, 8053, 816, 889; 15) bôlsa: 67; 16) bôlso: 197, 230, 233, 457; 17) cêrca: 8, 115, 453; 18) chôcha: 88, 871; 19) côche: 272, 3992; 20) côco: 100, 115, 644; 21) colête: 230, 233, 431, 4962, 527; 22) colhêr: 648; 23) comêço: 386, 868, 895; 24) concêrto: 706; 25) confôrto: 207; 26) côr: 317, 4962, 604, 612, 753, 831, 9122; 914, 1015; 27) cotovêlo: 177; 28) dêle: passim; 29) desacôrdo: 786; 30) desafôro: 5942; 31) desespêro: 169, 172, 8042, 850, 887, 930, 969; 32) desfôrço: 869; 33) desgôsto: 242, 723; 34) despôjo: 209, 861; 35) desprêzo: 328, 819; 36) dêsse: passim; 37) dêste: passim; 38) destempêro: 1007; 39) dôbro: 383; 40) êle: passim; 41) emprêgo: 133, 949; 42) emprêsa: 1013; 43) enfêrmo: 27, 52, 57, 204, 241; 752, 754, 757, 763, 772; 44) enlêvo: 328; 45) entêrro: 257, 930, 10152, 1017; 46) êrmo: 811; 47) êrro: 77, 718, 10012; 48) esbôço: 17; 49) esfôrço: 88, 158, 222, 681, 703, 823, 919; 50) espêsso: 58, 939; 51) espôsa: 242, 270, 332, 1041; 52) êsse : passim; 53) êste: passim; 54) estêve: 169, 248, 258, 544, 594, 725; 55) estrêla: 343, 662, 737, 901; 56) fêz: passim; 57) flôres: 117, 317, 325, 734, 7964, 820, 956; 58) fôlhas: 11, 26, 57, 255, 317, 432, 635, 726, 890, 892, 957, 1006,

1007; 59) fôra: passim (mas notar que se trata de distinção do autor e

do tempo); 60) fôrca: 64;

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

61) fôrça: 77, 106, 109, 1732, 199, 242, 246, 248, 312, 384, 434, 440, 453, 454, 601, 628, 684, 685, 762, 764, 812, 894, 902, 927, 952, 965, 9692, 1007, 1042;

62) fôsse (m) : 45, et passim; 63) fôsso: 246; 64) fôste: 131, 142, 341, 734; 65) garôto: 466; 66) gôsto: 14, 328, 491, 759, 781, 7862, 816, 850, 902, 906; 67) gôta: 29; 68) govêrno: 14, 143, 786, 816, 935, 961, 962, 963; 69) gôzo: 340, 719, 1010, 1039; 70) impôsto: 24; 71) inglêses : 24, 7862 : 72) jôgo: 163, 468, 848; 73) lavôres : 4; 74) Lôbo (Neves) : passim; 75) lôdo: 11; 76) malôgro: 776; 77) mêdo: 50, 131, 145, 200, 2012, 2782, 3122, 316, 472, 489, 600, 650,

770, 8512, 861, H693, 1019; 78) modêlo: 490, 927; 79) morcêgo: 956; 80) môrno: 373; 81) môsca: 8242; 8282, 8912, 992; 82) muxôxo: 31; 83) namôro: 368, 596; 84) nêle: passim; 85) ôlho: 21, 639, 801, 916; 86) ôvo: 220, 852; 87) paquête: 807; 88) pêca: 472 (oposição, ao tempo, "peca/pecca"); 89) pêga: 718 (sem <:posição, ao tempo); 90) pêlo: 496 ;· 91) pêso: 670, 927, 931, 963, 1015; 92) planêta: 828, 958; 93) pôde: passim; 94) podêres: 143; 95) pôsto: 113, 298, 395, 869, 901, 980, 1006; 96) prêso: 149, 222, 242, 394, 533, 744; 97) prêto: 28, 131, 238, 296, 399, 424, 615, 619; 98) professôres: 242; 99) rêde: 175, 431, 463, 639, 891;

100) refrêsco: 169; 101) relêvo: 219, 919; 102) rôto: 496; 103) sêcamente: 354; 104) sêco: 429, 473, 845, 927; 105) sêda: 113, 144, 175, 496, 569, 604, 956; 106) segrêdo: 137, 733; 107) sêres: 64, 71, 74; 108) sôbre: passim; 109) sôlta: 88, 104, 311; 110) sonêto: 199; 111) surprêsa: 714; 112) tapête: 614, 1030, 1031; 113) têrça: 93, 355; 114) têrço: 161; 115) têrmos: 640, 644, 724; 116) têsa: 88; 117) tôda: passim; 118) tôla: 651; 119) tôlamente: 468; 120) tôrno: 60, 313, 316; 121) tôrre: 238;

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

122) tôrvo: 625; 123) transtôrno: 75, 224; 124) travêsso: 133, 304, 305, 703; 125) trôco: 911; 126) vapôres: 961; 127) vêzes: passim; 128) zêlo : 224;

4. 3. 8. 3 No que se refere a uma questão conexa com a da acentuação-diferencial, notem-se os casos seguintes:

a) avôs: 991; b) consolo: 400, 681 (móvel) ; c) decoro (substantivo): 614 (originalmente com acento agudo,

sôbre a sílaba tônica, o que não impediu que O pusesse "decôro"); d) de envolta: 104; e) dezoito: 142; f) estroina: 221, 248; g) féretro: 1015; h) interesse(s): 115, 201, 246, 418, 490, 491, 706, 721., 828, 921,

9544, 957 (trata-se do substantivo; não se pôs nunca o acento circunflexo pois é probabilíssimo que a pronúncia do tempo e a do autor fôssem. com e tônico aberto) ;

i) Leda: 141; j) Modena: 245 (é o topônimo italiano) ; k) Nhã-lóló: 787, 807, 894 (no texto pôs-se "Nhã-loló'') (é pro­

vável que a notação original de Machado de Assis visasse a caracterizar a um tempo a linguagem infantilizante e a nordestina, de onde é origi­nária a personagem e sua família) .

4. 3. 8. 4 Sôbre o timbre, ainda, há uma observação de ordem geral :· usa-se, nos textos atuais, de forma pacífica, o acento circunflexo, quando se impõe um acento gráfico antes das vogais antenasais a, e e 'o;· merece, entretanto, verificação e estudo êsse fato. ao tempo do autor· e no autor. A mero título de exemplo, lembremos algumas ocorrências ao acaso:

1) Sêneca: 782; 2) ânimo: 694 (ape~ar de ocorrer numa edição "ánimo ", em que se•

admitiu que o acento agudo representasse apenas a vogal tônica) ;· 3) anônima: 797, 1016; 4) Antônio: 110; 5) atônito: 249, 392, 448; 6) bibliômano: 638; 7) botânica: 718; 8) cômica: 382; 9) êmulo: 1037;

10) gênero: 897; 11) trêmula: 797.

4. 3. 8. 5 Ainda conexo com o timbre, mas de valor lingüístico indis-­putável, embora de padrão presumivelmente artificial já ao tempo na área, respeitou-se a notação com á da primeira pessoa do plural do· pretérito perfeito:

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

1) acabámos : 450 ; 2) achámos: 914; 3) acordámos: 200; 4) almoçámos: 261; 5) amámos: 27; 6) assentámos: 997; 7) chamámoâ: 6532; 8) chegámos: 23, 44!>; 9) começámos: 744;

10) convencionámos: 613; 11) conversámos: 449; 12) cortejámos: 448, 493; 13) divisámos: 744; 14) encarámos: 797; 15) encontrámos: 809; 16) entrámos: 983; 17) esgotárnos: 321; 18) falámos: 261, 8092, 869, 943; 19) familiarizámos: 310; 20) ficámos: 30, 797; 21) ganhámos: 164; 22) jantámos: 426; 23) levantámos: 565; 24) reatámos: 744; 25) respirámos: 751; 26) separámos: 452, 525; 27) tornámos: 739; 28) tratámos: 481; 29) travámos: 644; 30) valsámos: 4492, 458.

4. 3. 8. 6 Mero lembrete para o problema da sílaba tônica, são a­seguir relacionadas algumas palavras sôbre as quais a questão pode­ser suscitada :

1) antíf ona : 1045; 2) bênção: 92, 235, 363, 619; 3) bibliômano: 6382; 4) Cleópatra: 334; 5) Dânae: 141; 6) Ésquilo: 811; 7) florida: 379; 8) Hélade: 1026; 9) ~odena: 245;

10) Príamo: 942: 11) sótão: 80, 812.

4. 3. '9 Porque particular em que se vem verificando rápida consoli-­dação de preferência, entre a época do autor e a atualidade, são a seguir referidos, em pormenor e com tôdas as ocorrências, os casos de flutuação do ditongo ou/ oi e aquêles que, não acusando tal flutuação no texto, discrepam da opção preferencial hoje em dia no Brasil:

1) afouto: 858; 2) coisa: 786Z; 3) cousa : 2, 5, 6, 9, 11, 15, 232, 522, 57, 60, 66, 743, 76, 863, 88, .

892, 92, 93, 100, 103, 1182, 133, 136, 137, 138, 140, 141, 143, 144,.. 145, 147, 158, 161, 1632, 193, 197, 207, 234, 238, 245, 2492, 255, 270, 286, 289, 320, 325, 328, 3342, 343, 351, 365, 369, 373, 3822, 3842, 391, 392, 407, 413, 424, 431, 435, 437, 443, 449, 456, 462, 468, 469, 470, 479, 487, 490, 492, 495, 503, 5042, 533, 535, 537, .

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

543, 561, 577, 6112, 6143, 621, 637, 638, 640, 648, 661, 662, 669, 6942, 697, 712, 719, 733, 734, 737, 738, 7392, 745, 7532, 759, 770, 773, 7762, 778, 7E12, 7822, 785, 7863, 805, 806, 810, 8112, 812, 814, 819, 824, 828, 832, 836, 845, 847, 849, 851, 852, 855, 870, 887, 8953, 900, 9023, 9383, 942, 943, 954, 957, 960, 962, 969, 970, 971, 975, 9812, 982, 985, 998, 1003, 10123, 1019, 1025, 1039, 1048;

4) doido: 1019; 5) dois: 439; 6) doudo: 22, 25, 179, 192, 200, 515, 587, 626, 673, 873, 10193; 7) dous: 17, 21, 28, 302, 43, 84, 107, 133, 136, 141, 147, 185, 1927.,

197, 199, 222, 245, 264, 293, 317, 473, 479, 482, 504, 533, 611, 632, 644, 669, 696, 703, 762, 768, 778, 828, 844, 879, 891, 901, 913, 9162, 941, 978, 1014, 1018, 1026, 1040.

4. 3 .lO A seqüência vocálica -ea-, segundo seja a posição do acento tônico - e o mesmo se diria de -eo-, -ee- - é representada por forte flutuação. Se, no plano da história da língua vista macroscopicamente, o hiato em causa, quando a tônica está na primeira vogal, recebe desde o início do século XVI a interposição da vogal i - na realidade um iode -, nas condições da língua literária o fenômeno apresenta caracteres mais complexos, ou pelo menos diferentes, para os quais cabem as considerações feitas em 4.3.4.2 (a). Por êsse motivo, foram seus casos respeitados no corpo do texto crítico, os quais são a seguir rela­cionados, com tôdas as ocorrências:

1) aldêa: 77; 2) alheia: 80, 197; 3) alheia do: 811; 4) alteando: 770; 5) apeei: 141; 6) apeou: 590, 591; 7) apeadas: 958; 8) apeando: 1017; 9) arêa: 746;

10) arearam: 112: 11) arreios: 224; 12) asseiadinho: 466; 13) asseia do: 133; 14) boleeiro: 3732, 374, 407, 408, 423; 15) cadeia: 811; 16) candieiro: 648; 17) contrabandeado: 927; 18) corrêa: 399; 19) correeiro: 1902; 20) creiam : 29 ; 21) derreava: 579; 22) despentear: 569; 23) encadear: 811; 24) folheia: 639; 25) golpear: 72; 26) hasteiam: 24; 27) lisonjeei: 312; 28) nomeação: 813; 29) passeiava: 74; 30) passeava: 183; 31) passear: 759; 32) passeia: 9422; 33) passeiar: 400, 679; 34) receies: 63; 35) receiaram: 823; 36) receioso : 684, 718;

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,

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

37) recreio: 317; 38) relanceei: 463; 39) saborear: 197, 473, 961; 40) saboreava: 117; 41) saboreias: 1010; 42) veias: 93.

4. 3 .10 .1 Problema afim do anterior, e por isso tratado logo aqui, é o da terminação -éa, hoje -éia; aparece a mesma com absoluta regu­laridade no texto original, isto é, sempre -éa, sem exemplo da flutuação correspondente à de -ê-a/ -eia vista supra, regularidade que deve, cremos, ser interpretada como sintoma de estabilidade de pronúncia no autor (pelo menos). Os exemplos do texto são os seguintes:

1) assembléa: 115; 2) boléa: 190; 3) idéa: 8, 12, 13, 142, 215, 222, 23, 24, 25, 33, 49, 77, 110, 124,

146, 165, 172, 174, 188, 1912, 220, 242, 2502, 264, 312, 316, 3172, 320, 332, 340, 346, 446, 454, 464, 4952, 529, 536, 544, 569, 577, 578, 640, 691, 7062, 782, 785, 786, 792, 861, 902, 911, 963, 9642, 976, 998, 1001, 1ú04, 1005, 1006, 1018, 1033, 1039;

4) Iduméa: 897; 5) Nicéa: 106; 6) panacéa: 935; 7) platéa: 246, 491, 8092.

4. 3 .11 Algumas formas características do presente texto são, aqui, objeto de rápidos comentários:

a) a terceira pessoa do plural do presente do indicativo de "ter" ocorre, como é de esperar no tempo e no autor, já como "tem" (81, 871), já como "têm" (951, 969); a presumível interpretação lingüística é que, sob "tem", se encerra uma equivalência fônica [tey], enquanto sob o "têm", [tééy]; contrapartida esperável é "dêm" (958), o atual "dêem"; •

b) no parágrafo 63 ocorre "contra Holanda", em que tanto pode verificar-se o emprêgo histórico de "Holanda" sem artigo como o pro­longamento fonético do final de "contra", o que equivale a "contra (a) Holanda";

c) o emprêgo de "todo o", "tôda a" (distintivo na canônica gra­matical moderna de "todo", "tôda ") é, esperàvelmente, flutuante no autor, como o é até hoje em dia; o fato é que o preceito gramatical esbarra ante a realídade fonética, já que existe uma igualdade potencial entre "todo/todo o", "tôda/ tôda a", pois foneticamente podem ser equi­valentes apenas a [tç>du] e [t9da]. Alguns casos apenas são a seguir referidos:

1) "chamava-me pa1·a tôda a parte" (193); 2) "tôda a resistência era inútil" ( 190) ; 3) "meteu mêdo a tôda a gente" (200); 4) "todo o homem público deve ser casado" (289); 5) "vimos tôda a ;:hárara" ( 325) ; 6) vejam-se, também, entre outros, os parágrafos 340 ("tôda a

sabedoria"), 680 (" tôda a minha"), 895 (" tôda a criação") ;

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

d) uma forma não foi alterada, já que, dentre outroR motivos, o grifo lhe realçava o caráter onomatopaico: "tic-tac·• (473); aliás, também o critério adotado para com as consoantes finais militava em favor da conservação, bem como a pronúncia viva, que ainda comporta aquela representação; é que, em fatos de onomatopéia, mesmo convencio­nais, como nos de interjeições, o fonetismo de uma língua, área ou indivíduo pode apresentar caracteres particulares;

e) pelas razões aduzidas no fim da alínea anterior, convém con­signar duas interjeições, conservadas na forma original: "Am? ... •• (772) e "hem?" (461);

f) características ainda dêste texto são as seguintes formas :

1)

• 2) 3) 4)

5) 6) 7) 8) 9)

10) 11) 12) 13) 14) 15)

bêbado: 616, 622, 624 (tôdas em bôca de Prudêncio, o ex-moleque de Brás Cubas, mas já adulto, ao espancar um escravo seu); borbismo: '/81 (de Quincas Borba); calafrio: 651 (embora em A _.. B " calefrio"); cancro: 239 (cor respondente à forma hoj e em dia mais em uso no Brasil 'câncer') ; choramigas: 961; cincoenta: 5, 9552, 956, 957, 961, 967; cócaras: 914; emplastro (no aparato): 9022; êxtasis: 978; godemes: 786; (de goddam! +- God clamn (you) !) ; lentejoulas: 246; mau estar: 7 45; ministro d'Estado: 968; o que ?: 990; preguntava: 432 (contra . " perguntar " e flexões em 435, 458, 745, 799, 809, 848, 863, 931, 963, 972,' 1043);

g) o romance, como é sabido, encerra uma pequena contradição de Machado de Assis, que O ousou corrigir; trata-se do emprêgo do topônimo "Gamboa" no parágrafo 988, por "Botafogo"; do ponto de vista crítico, a contradição é um elem~nto indicativo de psicologia do autor e também de estrutura, razão por que se respeita.

4. 3. 12 Perduram - além dos problemas de ordem geral e particular suscitados nesta introdução - algumas pequenas questões dubitativas, a saber:

1) A lição do parágrafo 70, parágrafo que se insere· no capítulo do delírio, diz, na tradição de C_. D ._ (E)._ F._ G:

Quando esta pala·Ha ecoou, como um trovão, naquele imenso vale, afigurou-se-me que era o último som que chegava aos meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição súbita do mim mesmo. Então, en­carei-a com olhos súplices, e pedi mais alguns anos (o grifo k nosso).

f!ontra ·a tradição de A _.. B, encampada autônomamente por O, "pare­ceu-me sentir a decomposição de mim mesmo". óbvia a construção de A, B, é ela, entretanto, incomparàvelmente menos eficaz do que a da segunda tradição; importa, em verdade, admitir que o aprofundamento do mundo subjetivo que é feito por Machado de Assis tivesse necessi­dade de substantivar êsse mundo subjetivo íntimo, o eu, o mim mesmo, aobretudo na situação de contemplador de si mesmo em que se coloca

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

no delírio visto de além-tumba e sobretudo quando a psicologia da introspecção ainda não havia divulgado a substantivação do eu e do ego, popularizada depois da psicanálise;

2) "Digam o quiserem" (712), que, embora da tradição de C, foi interpretada, em favor da tradição de A, como um salta-bordão tipo­gráfico, uma haplologia tipográfica;

3) no parágrafo 403, do diálogo sôbre a herança do velho CubM, ocorre:

Olhe, se esta vale os cincoenta contos, quantos não vale a que você deseja para si, a do Campo?

que interpretamos, acreditamos com pouca probabilidade, como "de campo", referindo-se a "casa" do contexto;

4) no parágrafo 765, a tradição iniciada em A diz:

Veja, é de graça, concluiu êle depois de lida a última conta

contra a tradição iniciada em C, que diz "e de graça'\ lição esta seguida no texto crítico;

5) no parágrafo 88, há:

E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior transição dêste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença de Virgília; Virgília foi o m eu grão pecado da juventude; não há juven­tude sem meninice (o grifo é nosso)

parágrafo em que é presumível um grão de suspeição para com o lugar grifado : é que, em verdade, não parece ser da linguagem de Machado de Assis o adjetivo "grão", enquanto o é, caracteristicamente, o subs­tantivo "grão", sobretudo com a noção de quantum: "grão de arêa" (26, em A, B), mas "grão de sandice" (626), "grãozinho de sandice" (1025).

4. 3. 13 Damos a seguir uma relação dos mais característicos nomes próprios que ocorrem no romance, nas formas com que ficaram no texto crítico: Aquiles (942'), Bagdad (190), Bakbarah (190), Buda (1037), Casino (888), Cleópatra (334), Dânae (141) , Diógenes (1026), Ésquilo ( 811) , EsteJa ( 806, de "Estella"), Otelo ( 807), Fígaro ( 781), Filopêmen (963), Gulliver (811), Hélade (1026), Herakles (896), Hércules (896), Hipócrates (963), Iduméa (897), Jacob (745S, 7492,

750, 75P), J ob (76), Leda (141), Madrid (135), Modena (245), Muhammed (940, 998), Pangloss (901, 1046), Príamo (942), Prudhon (887), Scheherazade (744), Sêneca (782), Shakespeare (249) e Shaks­peare (145, 850), Smirna (334), Spinoza (718), Tróia (942), Virgília (passim), Virgílio (245, 274, 275, 277), Zenon (782).

4. 4.1 O sistema remissivo dêste volume é o que, de um modo geral, será usado nos volumes de romances desta coleção. É sistema planejado de tal forma que preencha os seguintes requisitos: a) cria um padrão de apresentação para, pelo menos, nove volumes, os dos romances de Machado de Assis; b) impõe uma numeração progressiva cuj·as seções

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SUPLEMENTO DA REVISTA DO LIVRO

passam a ser iguais nos nove volumes; c) atribui a tôdas as partes impressas nos nove volumes em causa- tanto as de autoria de Machado de Assis, quanto as da comissão - um número que passa a ser de referência constante para a remissão recíproca, dentro de cada volume, ou de volume para volume, ou dos índices gerais finais da coleção para cada volume da mesma.

4. 4. 2 O padrão de apresentação dos nove romances de Machado de Assis presume, para cada volume correspondente, uma relativa auto­-suficiência. Essa auto-suficiência relativa - no sentido de que ministra sôbre o autor e sua obra um mínimo de dados que bastem para a leitura autônoma do volume - é conseguida graças às seguintes partes: l.a) um prefácio conciso que se relaciona essencialmente com o romance e o período particular da vida do autor durante a sua ela­boração; 2.a) uma ficha biobibliográfica de Machado de Assis comum a todos os livros da coleção e igual em todos êles; 3. a) uma bibliografia particular ao livro em causa, dividida em duas partes, uma do livro, outra sôbre o livro; 4.a) uma introdução crítico-filológica explicativa do critério crítico-textual, geral e particular, de cada livro, e, por fim, 5.a) a obra que se edita de Machado de Assis, interpretada esta com todos os seus componentes preliminares (prefácios, prólogos, dedicató­rias, introduções) e a sua parte substancial.

4. 4. 3 Adotado êsse padrão de apresentação, a numeração progres-siva dêsses nove volumes terá as seguintes correspondências:

1. a) para o prefácio conciso - 1.1. 1 e números subseqüentes (subseções: 1.1.1.1, 1.1. 1. 2, 1.1.1. 3, etc.; seções: 1.1. 2, 1. 1. 3, 1.1.4, cada uma delas com subseções semelhantes às referidas antes; tópicos: 1.2.1, 1.3.1, 1.4.1, etc.);

2. a) para a ficha biobibliográfica - 2 .1.1 e números subse­qüentes;

3.a) para a bibliografia particular ao livro - 3 .1.1 e números subseqüentes;

4. a) para a introdução crítico-filológica - 4 .1.1 e números sub­seqüentes, como é, in concreto, a exemplificação aqui proporcionada;

5.a) para a obra de Machado de Assis que se edita- 1, 2, 3, 4 ... n, isto é, os números inteiros da série natural.

4. 4. 3 .1 Entender-se-ão por parágrafo, na obra de Machado de Assis: a) os parágrafos comuns, caracterizados pelo ponto parágrafo e,

na línha seguinte, pelo recorrido para a direita; b) as citações que forem objeto de recorrido tipográfico com

mudança de linha, merecendo um só número uma série de versos ou de estrofes que constituam citação contínua;

c) os parágrafos de citações em prosa, bem como as citações de citações que fiquem na situação configurada em (b) sup1·a;

d) cada intervenção coloquial caracterizada por mudança de linha e travessão dialogal e/ou aspas dialogais.

4. 4. 3. 2 O sistema remissivo aqui configurado, dentro de cada volume, passa a ser fàcilmente remissivo, também, dentro da coleção,

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COMISSÃO MACHADO DE ASSIS

porque cada remissivo, nesse caso, será antecedido do número romano correspondente ao volume da coleção ou, em caso mais adequado, de uma sigla.

4. 4. 3. 3 Num ponto, apenas, o sistema remissivo é ambíguo, delibe­radamente: é o que remete, em números inteiros da série natural, para os parágrafos de obra de Machado de Assis, porque remete também -para a parte correspondente do aparato crítico. Com efeito, a) notar--se-á que o aparato se localiza na base ou rodapé do texto crítico; b) notar-se-á que a conexão entre o parágrafo e as notas, em cada página, se fará pela reiteração no rodapé do número do parágrafo; c) notar-se-á que depois dêste número seguir-se-ão as siglas das diversas edições, com as variantes respectivas; d) notar-se-á que essas variantes são ordenadas segundo sua ocorrência paralela ao texto do parágrafo a que se referem; e) notar-se-á, por fim, que a variante fica, de regra, entre dois extremos invariantes, isto é, a variante é iniciada por um trecho do parágrafo a que se refere em concordância com êsse trecho, seguin­do-se-lhe, discordante, a variante propriamente dita e depois novo trecho concordante.

4.4.4 O aparato crítico não deve ser objeto de compreensão equi­vocada por parte dos leitores menos avisados quanto à técnica do esta­belecimento crítico de texto de autor moderno, quase contemporâneo. Visa-se, com êsse texto, a fornecer a quem quer que dêle necessite a versão mais próxima do que teria desejado e realizado o autor - com suas contradições de pessoa que, vivendo num ambiente lingüístico, o assimilou em contactos culturais ou mais vários, de classes, de profis­sões, de instruções, de idades, de sexos, de meios, ademais de tentar, até certo ponto, intemporalizar-se, com encampar característica!'! lingüís­ticas de épocas literárias pregressas, sem falar na provável eventualidade de que terá tido contacto com indivíduos falantes de outras áreas dia­lectais da língua, e de outras línguas. Essa versão textual, se obtida . - como o espera a comissão -, é fonte sôbre a qual, legltimamente, se podem exercer tôdas as pesquisas e estudos - lingüísticos, estilísticos, estéticos, éticos, históricos, sociais, e o que mais fôr -. Não se trata, numa edição como esta, de resolver todos os prob1emas que um texto, e um contexto, e uma obra encerram - coisa, aliás, que não se esgota nunca, pelas potencialidades de atualização (isto é, de eficácia para a ação presente) que se aninham em obras tais. Trata-se, isto sim, de ministrar a base mínima fundamental - mas sólida - que tôda comu­nicação lingüística exige para sôbre ela poder tomar-se alguma conclusão válida: a fidedignidade e a fidelidade ao seu criador, nas condições essencialmente contraditórias de sua contingência humana.

4. 4. 4.1 Assim, o aparato crítico é fiel ao critério geral e a esta introdução, cuja consulta pedimos ao leitor fazer sempre, antes de julgar, lembrando-1he, ao fim, mais reverentemente do que o fêz Brás Cubas, mas com Machado de Assis ainda, que "a obra em si mesma é tudo" e glosando que- se te agradar, fino leitor, pagamo-nos da tarefa; se te não agradar, pagamos-te com o nosso desconsôlo, pois o piparote de uma comissão seria excessivo - e adeus.

Rio, 2 a 20 de julho de 1959.

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