araujo, paulo h f - comentarios sobre algumas teorias de ondas longas

Upload: thiago-de-mattos

Post on 14-Jan-2016

6 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Araujo, Paulo H F - Comentarios Sobre Algumas Teorias de Ondas Longas

TRANSCRIPT

  • P. H. F. Arajo 169

    ' Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro Rev. Univ. Rural, Sr. Cinc. HumanasVol. 23(2): 169-182, jul./dez. 2001.

    NOTA-DE-PESQUISA

    COMENT`RIOS SOBRE ALGUMAS TEORIAS DE ONDAS LONGAS

    Paulo Henrique Furtado de Arajo

    ABSTRACT: ARAJO, P. H. F. Some notes about long waves pioneer theories. Rev. Univ. Rural,sr. cinc. hum., v.23, n.2, p.169-182. - This paper briefly describes the pioneer contributions to thestudy of long waves. A special attention is given to the contribution of Kondratieff and Trotski, andits influence on Schumpeter, Freeman, Perez and E. Mandel. A description of the strong and weakpoints of these pioneer contributions to the knowledge on long waves will follow. This work concludesfor the necessity to integrate the E. Mandels pluricausal approach and the neo-schumpeterians richstudy of introdution and diffusion of innovations and its implication on the understanding of longwaves.

    KEYWORDS: long waves - Mandel - Schumpeter - Trotski - Neo-Schumpeterians - innovation - rateof profit - economic cycle - plus-value - technological change - capital organic composition

    Universidade Federal Rural do Rio de JaneiroAceito em 31/dez/2001

    INTRODUO

    O presente artigo pretende apontar ascaractersticas principais de algumas teorias deondas longas ou ciclos de Kondratieff, partindodos autores pioneiros, enfatizando, em particular,as contribuies do prprio Kondratieff e aposio critica do revolucionrio soviticoTrotski. Passa pela contribuio de Schumpetere dos Neo-Schumpeterianos Freeman e Perez,chegando proposta de uma teoria marxista feitapor Ernest Mandel. Destaca os eventuais limitesde cada uma e as possveis reas de integrao ecomplementaridade.

    OS PIONEIROS

    J no sculo XIX, alguns economistas inturamque a economia capitalista se movimentava de

    forma cclica e a longo prazo. Conforme Reijnders(apud Veiga, 1997, p.451) Hyde Clark j haviasugerido, em 1847, a possvel existncia deondas de 54 anos. E segundo o mesmo autor,Jevons chegou a examinar esta hiptese.(ibid.), sendo que, na virada do sculo, Tugan-Baranowsky apresentou os ciclos industriaiscomo partes de um padro de longo prazo. Eeste autor, segundo Reijnders, influenciou ostrabalhos de Van Gelderen e Kondratieff.

    Cabe ressaltar que Mandel (1985, p.85-6)destaca o marxista russo Parvus (AlexanderHelphand) como o primeiro autor a ter percebidoe tentado explicar as ondas longas, atravs dahistria do capitalismo, num artigo de 1896, que,posteriormente, foi retomado e ampliado em19011 , tendo Parvus recebido aprovao deKautsky e a ele influenciado. Complementa,inferindo que se passaram dez anos at que asidias de Parvus fossem retomadas pelo marxistaholands Van Gelderen.

    Kondratieff, que havia sido vice-ministro daAlimentao do Governo de Kerensky, fundou,em 1920, o Instituto de Moscou para Pesquisa

  • Comentrios sobre algumas teorias de ondas longas170

    Conjuntural e passou a se dedicar construode sua prpria teoria das ondas longas (Mandel,1985, p.87).

    N. D. Kondratieff

    Kondratieff, no seu primeiro estudo sobreciclos longos,2 buscou provar a existncia dosmesmos com base em material puramenteestatstico e fazendo analogia formal com o cicloindustrial estudado por Marx3 . E, por partir detal analogia, tentou mostrar que o ciclo longotem a mesma necessidade natural deaparecimento que o ciclo industrial e pode serexplicado unicamente por variveis endgenas economia capitalista e sua dinmica. Essapostura foi criticada duramente por seuscontemporneos, em particular por Trotski,conforme veremos a seguir.

    Frente s crticas, Kondratieff apresenta umsegundo estudo intitulado Os Grandes Ciclosda Vida Econmica, no qual reafirma que adinmica econmica e social do capitalismo notem um carter simples e linear, mas bem complexoe cclico (Kondratieff, 1956, p.3 5). Trabalhandocom a existncia de ciclos mdios, com duraode sete a onze anos, com ciclos curtos, cujadurao seria de trs anos e meio,aproximadamente, supe a existncia de grandesoscilaes, como de 50 anos de durao ()(ibid.). O texto tem por objetivo investigar estasgrandes oscilaes. Para tanto, ele inicia com umlevantamento estatstico do nvel de preos, dataxa de juros, da evoluo dos salrios semanaisdos trabalhadores da indstria txtil de algodoinglesa, do comrcio exterior da Frana, doconsumo e da produo de carvo na Frana ena Inglaterra, respectivamente, da produo deferro e chumbo nos Estados Unidos da Amrica,etc.4

    As concluses a que chega com base no seulevantamento estatstico podem ser resumidasda seguinte forma (Kondratieff, 1956, p.45):

    (1) Os movimentos das sries estatsticasmostram grandes ciclos e estas oscilaes cclicasse manifestaram em perodos quase iguais emtodas as sries examinadas.

    (2) Nas sries de preos, os grandes ciclossurgem como um movimento ao redor do nvelmdio. E para as sries cujo movimento assinala

    uma tendncia secular, os ciclos aceleram ouretardam a velocidade do crescimento. (ibid.).

    (3) Os pontos de mximo e mnimo das sriesexaminadas correspondem mais ou menos comexatido.

    (4) Deduz trs grandes ciclos: Primeiro fasede ascenso, entre 1780-90 at 1810-17; fase dedescenso, entre 1810-17 at 1844-51. Segundo fase de ascenso, entre 1844-51 at 1870-75;fase de descenso, entre 1870-75 at 1890-96.Terceiro fase de ascenso, entre 1890-96 at 1914-20; a fase de descenso, comeando entre1914-21.

    (5) Algumas sries estatsticas noevidenciaram as oscilaes longas, sendo quepara Kondratieff no era essencial que os grandesciclos compreendessem todas as sries (ibid., p.48)

    (6) As grandes oscilaes so internacionaise os perodos dos ciclos tm grandecorrespondncia para os pases europeus (ibid.).

    Em seguida, Kondratieff indica algumasproposies gerais a que chegou, tendo por basea pesquisa do material histrico relativo aodesenvolvimento da vida social e econmica emseu conjunto (ibid.)5 , ressaltando que estas stm carter emprico e no constituem em si aexplicao dos ciclos longos.

    Por fim, Kondratieff tenta responder aoscrticos6 que diziam que as grandes oscilaesso devidas s circunstncias e sucessoscasuais e extraeconmicos. Assim ele toma cadaum dos fatores levantados pelos crticos7 comoexgenos, na explicao da onda longa, e invertea relao de causalidade, pois, para ele, os crticosestavam tomando o resultado como causa, oupior, estavam vendo um acidente onde h umalei econmica. O problema que oreconhecimento desses fatores como resultadodas flutuaes de longo prazo no garantem aconstituio de uma explicao terica das ondaslongas.

    Conforme Mandel (1985, p.91) ressalta, essaexplicao apareceria dois anos depois, com oartigo Die Preisdynamik der industriellen undIandwirtschaftlichen Waren (Zum Problem derrelativen Dynamik und Konjunktur). Esta erabaseada na longevidade dos grandesinvestimentos, nas flutuaes da atividade depoupana, na ociosidade do capital monetrio(capital de emprstimo) e nas conseqncias da

  • P. H. F. Arajo 171

    ' Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro Rev. Univ. Rural, Sr. Cinc. HumanasVol. 23(2): 169-182, jul./dez. 2001.

    continuidade de um baixo nvel de preos durantelongo perodo (ibid.). Alm desses quatropontos, acrescenta que o aumento do poder decompra da agricultura devido ao retardo dodesenvolvimento da agricultura frente indstriaimpulsiona as ondas longas, pois facilita oaumento da demanda de todas as mercadorias.(ibid.)

    Mas para cada um desses pontos, conformeadverte Mandel (ibid.), podemos usar o mesmoargumento que Kondratiefl usou para refutarseus crticos. Podemos considerar cada umdesses fatores no como causa, mas como efeito,conseqncia da onda longa8 . Para Mandel,Kondratieff no consegue dar respostas para asquestes que levanta, por desconsiderar doisfatores decisivos para a teoria das ondas longas:as flutuaes a longo prazo da taxa mdia delucros e a influncia das revolues tecnolgicassobre o volume e o valor do capital fixorenovado. (1985, p.95) Esta desconsideraoocorre, ainda segundo Mandel, porque elepreocupa-se em demasia com a flutuao depreos e d pouca importncia anlise dasflutuaes da produo industrial e aocrescimento da produtividade, o que poderiaestar ligado rejeio ou reviso da teoria dovalor e do dinheiro, de Marx. (ibid.)

    L. Trotski

    Trotski, no ano de 19219 , j estavapreocupado em comparar o desenvolvimento docapitalismo antes de 1914 com o perodo posterior Guerra. Assim, depara-se com os mesmos tiposde questes que Kondrafieff10 . Na famosa carta(A Curva do Desenvolvimento Capitalista)enviada ao conselho editorial do peridicoVestinik Sotsialisticheskoi Akademii, datada de21 de abril de 1923, ele polemiza diretamente comKondratieff, pois entende que todos os fatos quepoderiam explicar as ondas longas so exgenosao capitalismo. Ou seja, ao contrrio dos ciclosmdios, que tm seu ritmo e recorrncia ligadosa fatos intrnsecos ao modo de produocapitalista, as ondas longas se devem a fatoscasuais, aleatrios11 . Nesse sentido, ele trata datendncia do desenvolvimento do capitalismocomo uma tendncia no cclica, revelada pelo

    que ele chama de curva do desenvolvimentocapitalista. E as inflexes ocorridas nesta curva,que determinam as pocas ascendentes edescendentes do desenvolvimento capitalistadevem-se a estes fatores exgenos (integraode novos pases e continentes ao mercadomundial, a descoberta de novos recursos naturais,guerras e revolues)12 . Mas o sentido geral datendncia dado pelas sucesses de ciclosmdios, de tal forma que, nas fases ascendentesda curva do desenvolvimento, ocorrem augesfortes e crises curtas no ciclo industrial,indicando o desenvolvimento das forasprodutivas. E vice-versa.

    Trotski prope um esboo da curva dedesenvolvimento13 no qual integra osmovimentos cclicos de mdio prazo, que daroo sentido da curva de desenvolvimento com fatosda superestrutura como revolues, reformassociais, guerras, modificaes polticas no campoideolgico-cultural-filosfico, etc. SegundoMandel, ele estaria propondo uma abordagempluricausal para a explicao da onda longa,abordagem esta que envolveria un estudio msconcreto de la curva capitalista y de lainterrelacin entre ella y todos los aspectos de lavida social (Trotski, 1977, p.12).

    Richard B. Day (1977) diverge destainterpretao. Argumenta que a real divergnciaentre Trotski e Kondratieff est na noo deequilbrio econmico. Kondratieff partiria de umanoo de equilbrio que interrompida pelasondas longas14 , sendo este equilbrio recorrenteno capitalismo. Por outro lado, Trotski estariadesafiando esta noo com uma noo deequilbrio dinmico15 do funcionamento daeconomia. Esta noo estaria articulada com ade desenvolvimento desigual, pois os segmentosda curva de desenvolvimento, com inclinaesdiferentes, seriam a expresso do mesmo. Por fim,conclui que qualquer tentativa de retomar aconcepo de ondas longas de Kondratieffsignifica aceitar a existncia de equilbrio nocapitalismo.

    No que diz respeito integrao propostapor Mandel, que trataremos em seguida, tal crtica improcedente. No h trao de equilibrismo emO Capitalismo Tardio, por exemplo, conformenota o autor16 .

  • Comentrios sobre algumas teorias de ondas longas172

    J. A. SCHUMPETER

    Schumpeter, antes de abordar a questo dasondas longas em The Analysis of EconomicChange, e, posteriormente, em Bussiness Cycles A Theoretical, Historical and StatisticalAnalysis of the Capitalist Process, dedicouateno especial explicao dodesenvolvimento econmico, que ocorreria deforma cclica.

    Em Teoria do Desenvolvimento Econmico,ele parte de uma situao esttica, semdesenvolvimento (fluxo circular da renda) eidentifica os fatores (inovaes)17 capazes delev-la para uma situao dinmica, comdesenvolvimento, iniciando, assim, o processocclico de desenvolvimento econmico. Nestelivro, ele descreve o ciclo mdio18 comodecorrente da introduo de invenes einovaes por parte de um agente especial nosistema econmico o empresrio, responsvelpela inovao, O empresrio simplesmente oagente da inovao19 no sendonecessariamente o capitalista; logo, fundamental a presena de crdito para viabilizara inovao. Toda inovao introduzida tendoem vista a obteno de lucro extraordinrio viareduo da curva de custo da firma inovadora(empresa). Cada (nova) inovao materializadana forma de novas plantas produtivas. Aps ainovao inicial, um bloco de novosinvestimentos realizado, copiando a inovaooriginal e aperfeioando-a. Isso explica osurgimento da aglomerao de inovaes, que algo fundamental na explicao do cicloschumpeteriano, pois elas rompem com oequilbrio geral e impulsionam a economia rumoao desenvolvimento.

    Com a difuso da inovao atravs dosimitadores, h uma reduo e desaparecimentodo lucro do inovador e dos ganhos (lucros)temporrios obtidos pelos imitadores. Os preoscaem devido aos aumentos da produo,reduzem-se as oportunidades de ganhos e areverso cclica (...) agravada pelaautodeflao de crdito, medida que os lucrosgerados vo ressarcindo as dvidas contradas ea procura de novos crditos vai esmorecendo.(Possas. 1987, p.185) Para completar o quadro,h um aumento do risco de introduzir inovaesnuma situao de reajuste recessivo. O resultado

    final a volta a uma nova situao de equilbriogeral, na qual todos j tenham ajustados suasposies.

    O processo de concorrncia a pressuposto o que se d entre produtos diferenciados viainovaes. No a concorrncia do tipo supostonos modelos de equilbrio neoclssico. E a essaconcorrncia devida s inovaes, Schumpeterd o nome de destruio criativa.

    Assim, temos a fase ascendente do cicloeconmico, e o posterior esgotamento desseimpulso original explica a fase descendente dociclo20 . Cada ciclo tem a sua prpria histria, que iniciada pela prosperidade decorrente dainovao original. Entre um ciclo e outro,Schumpeter supe a volta situao de equilbriogeral, ou a uma vizinhana de equilbrio, de talforma que h uma continuidade entre os ciclos.

    Grosso modo, Schumpeter parte dessemecanismo para explicar o ciclo longo21 . E adiferena entre o ciclo mdio e o longo deve serbuscada nas diferenas entre as inovaes queesto na origem dos mesmos22 . Por exemplo,quanto a inovaes que estariam na base do ciclolongo, Schumpeter diz:

    Por el contrario, es razonable pensar quealgunos de los procesos comprendidos ennuestro concepto de innovacin toman mstiempo que otros para ejercer todo su efecto.La construccin de ferrocarriles o laelectrificacin de un pas pueden tomarentre cincuenta aos y un siglo y entraartransformaciones fundamentales en la vidaeconmica y cultural del pas, modificandotoda la vida econmica y cultural del pas.modificando toda la vida econmica de sushabitantes as como sus ambicionesespirituales (...). (Schumpeter, 1956:28)

    A contribuio de Schumpeter para aconstruo de uma teoria do ciclo em geral (e dociclo longo em particular) no isenta de pontosquestionveis. Conforme Possas (1987) observa,h dois tipos de objees a ela. A primeira lembraque todo o mecanismo do ciclo repousa naocorrncia de inovaes capazes de romper coma rotina do equilbrio geral, logo fundamentaldemonstrar a ocorrncia de cluster deinovaes no incio da fase de prosperidade dociclo e demonstrar que as inovaes realizadas

  • P. H. F. Arajo 173

    ' Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro Rev. Univ. Rural, Sr. Cinc. HumanasVol. 23(2): 169-182, jul./dez. 2001.

    tenham um impacto suficiente para gerar reaesno adaptativas e, portanto, prosperidade(Possas, 1987, p.190).

    Schumpeter d um tratamento escasso paraa questo do impacto gerado por cada inovaoincorrendo num raciocnio circular ao diferenciarentre major innovations e minor ones (ibid.).Inovaes que efetivamente provocam rupturasno equilbrio geral, e outras que provocamreaes adaptativas. Esta mais uma distinofactual do que terica. Mas, do ponto de vistaprtico, essa distino relevante, pois umainovao que implique em novos investimentose englobe atividades econmicas com grandesencadeamentos a jusante e a montante induzira realizao de inovaes adaptativas. Assim,na esteira das inovaes primrias e induzidas,[haver] uma onda secundria capaz de manter,durante algum tempo, efeitos de desajuste, aomesmo tempo abrangente e significativos, e,assim (...), provocar uma flutuao (...) que possaser chamada de ciclo (ibid., p. 192)

    Quanto ocorrncia de cluster, Schumpeterdedicou um pouco mais de ateno a essaquesto. Mas argumentar que, durante as fasesde prosperidade e recesso, a introduo deinovaes desestimulada pela incerteza noclculo dos negcios insuficiente, selembramos que ao longo da onda secundria ho surgimento e ampla difuso de lucros naeconomia (ibid.). Alm disso, esse argumentono explica o timing das inovaes, o quedetermina a introduo das inovaes, naqueledado momento concentrado no tempo.

    Por fim, a idia pouco desenvolvida deSchumpeter que Possas (1987) aponta como emessncia verdadeira23 , aplica-se bem explicaodo ciclo longo (ou aos surtos de expansocapitalista), mas no explicao do ciclo mdio.A tal ponto que Possas conclui que Schumpeterintura para o risco que tal idia representavapara a explicao do ciclo mdio.

    O segundo tipo de objeo levantado dizrespeito ao tratamento insuficiente queSchumpeter d para a reverso cclica. Aqui,segundo Possas, deve-se considerar doisargumentos: o esgotamento do flegoexpansivo das inovaes, em si mesmo, e asuposio de que os seus efeitos secundriosdevam necessariamente cessar, convertendo-senuma onda secundria (ibid., p. 195)

    Quanto ao primeiro, Possas argumenta que ofato de serem em bloco e irreversveis impe sinovaes originrias e induzidas limites ao seuimpacto econmico primrio (ibid.).

    Quanto ao segundo, Possas aponta queSchumpeter no vai alm do argumentolevantado na primeira aproximao da questodo ciclo, que se baseia no reajuste do sistemapara o equilbrio geral, superando osdesequilbrios induzidos pela onda de inovaoprimria (e secundria). Logo, s pelacontinuidade das inovaes, ou por inovaesadicionais, poderia a economia evitar a reverso,o que, para Schumpeter, no possvel, pelosargumentos vistos acima.

    A posio de Schumpeter fragiliza-se medida que no integra na sua teoria os efeitosmultiplicador e acelerador, tal como proposto porKalecki e por alguns modelos neokeynesianos.Estes efeitos podem explicar a reverso para almda questo do esgotamento da inovao original.E sua fragilidade mais clara ao percebermos aimportncia que o equilbrio geral adquire naexplicao do ciclo.

    FREEMAN E PEREZ

    A teoria do ciclo longo de Schumpeter ,acima de tudo, baseada em determinantestecnolgicos. Os autores neo-schumpeterianos,que assumem a validade de tal teoria, necessitamdemonstrar a satisfao de algumas condies24

    que garantam que o fluxo de inovaes originaflutuaes cclicas de longo prazo. Veremos aseguir como Freeman e Perez respondem a estedesafio.

    Freeman e Perez (1988) propem umataxonomia para as inovaes25 . A partir delas,percebe-se que a base explicativa dos cicloslongos so as mudanas nos paradigmas tecno-econmicos.

    Em cada um destes paradigmas, elesidentificam um fator chave26 (um input particularou um grupo de inputs) que, ao satisfazerem atrs condies prprias27 , permitiro que umnovo paradigma tecnolgico desloque um antigo.Isto porque o novo paradigma emerge nummundo ainda dominado pelo antigo, e s se tornadominante na medida em que o seu fator chaveatenda quelas trs condies. O novo fator

  • Comentrios sobre algumas teorias de ondas longas174

    chave o centro de um crescimento rpido dosistema de inovaes tcnicas, sociais egerenciais. Algumas dessas inovaes estaroligadas produo em si do fator chave e outras sua utilizao.

    Para os autores, um novo paradigma tcnico-estrutural dentre outras coisas leva a uma:

    () tendency for large firms to concentrate,whether by growth or diversification, in thosebranches of the economy there the key factor isproduced and most intensively used, whichresults in there being distinctly differentbranches acting as the engines of growth ineach successive Kondratieff upswing; (...) (ibid..p. 59). Temos aqui uma indicao do mecanismode periodicidade dos ciclos longos Alm disso,para eles, o perodo de transio (a fase deretrao e a depresso da onda longa) caracterizado por uma profunda mudanaestrutural na economia, e tal mudana requer umaigualmente profunda transformao da estruturasocial e institucional. E exige uma reacomodaodo comportamento social e institucional emtodos os nveis que seja compatvel com asmodificaes que estejam ocorrendo na esferatecno-poltica (ibid.). This reaccommodationoccurs as a result of a process of political search,experimentation and adaptation, but when ithas been achieved, by a variety of social andpolitical changes at the national andinternational level, the resulting good matchfacilitates the upswing phase of the longwave.(ibid.)

    Com o pleno estabelecimento do novoparadigma, ocorrem novos investimentosfacilitados pelo clima de confiana quepredomina na economia. Mas como a obtenoda boa competio um processo conflituosoe ocorre de forma desigual nos diferentescontextos nacionais, polticos e culturais, thismay exert a considerable influence ou thechanging pattern of international techologicalleadership and international patterns ofdiffusion . (ibid., p. 60).

    Freeman e Perez tratam de forma geral e nosistemtica as quatro condies (sugeridas porRosenberg e Frischtak)28 , que garantem que oprocesso de inovaes tecnolgicas d origemao ciclo longo. Vejamos, a partir dos trabalhosde Freeman e Perez, que tipos de argumentospodem ser levantados para garantir esta origem

    do ciclo longo.Eles tomam como dada a existncia da

    causalidade que parte do agrupamento dasinovaes, explicando os gastos de investimentoe os movimentos agregados da economia, masno so especficos e claros na abordagem dessaquesto. Assinalam a relao causal existenteentre as inovaes e incrementais, a lucratividadee expectativas econmicas e da para a difusodessas inovaes na forma de novos produtos eprocessos.

    No que diz respeito exigncia de timing,sua ocorrncia poderia ser identificada no fatorchave que comea a desenvolver-se no velhoparadigma, preenchendo as trs condiessupracitadas, concentrando, assim, as inovaesem certas fases do ciclo, e garantindo a fase deascenso atravs da implantao do novoparadigma tecnolgico.

    Podemos identificar na figura, na funo eno desempenho do fator chave a possvelresposta para a exigncia relacionada srepercusses macroeconmicas, ou seja, sformas como os padres de difuso tecnolgicae ligao intersetorial levam a variaes nas taxasde crescimento agregado, ocasionando umasuficiente amplitude dos ciclos longos, pois alocalizao estratgica que ocupam na economia,em termos de gerao de investimento epotencial para impulsionar mudanastecnolgicas posteriores, levaria a um tipo decrescimento que estaria de acordo com o ciclolongo.

    Para que uma onda longa siga outra necessria a existncia de periodicidade.Rosenberg e Frischtak listam outras quatrocondies que devem ser atendidas para averificao da periodicidade. A primeira quehaja disponibilidade de oferta elstica deinvenes num dado momento em que ascombinaes risco-retomo aparecem propciaspara inovaes (Rosenberg e Frischtak, 1983,p.696). Tal condio, em Freeman e Perez, estariagarantida em parte pelos grupos de inovaesradicais que, apesar de serem eventosdescontnuos, e desigualmente distribudosentre os setores, so impulsionados pelo P&Dde Universidades e laboratrios Governamentais,o que caracteriza uma oferta de inveneselstica.

    A segunda condio que ocorra a

  • P. H. F. Arajo 175

    ' Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro Rev. Univ. Rural, Sr. Cinc. HumanasVol. 23(2): 169-182, jul./dez. 2001.

    formao de um grupo de inovaes ao incio dafase de expanso do ciclo, isto um conjuntotecnologicamente denso que passa por umrpido processo de difuso sobre condiesmacroeconmicas favorveis (ibid.). EmFreeman e Perez, esta condio parece estarpresente na idia de que o novo paradigmatcnico-cientfico, uma vez estabelecido, acarretauma tendncia concentrao de grandes firmasnos setores econmicos onde o fator chave produzido e utilizado mais intensamente. Deforma que se constituem ramos econmicos queatuaro como motores do crescimento em cadafase de expanso dos sucessivos Kondratieffs.(Freeman e Perez, p. 59)

    A terceira condio levantada : a chegadaa um ponto de inflexo superior do ciclo, tantodevido crescente instabilidademacroeconmica como a foras que impedem aintroduo de tecnologias substitutas (op. cit.).

    Freeman e Perez no abordam diretamenteessa condio. Entretanto, noutro texto, Freeman(1983) tece algumas consideraes que astangenciam.

    Em resumo, ele argumenta que a faseascendente de uma onda longa relaciona-se comum substancial crescimento de novas indstriase tecnologias. Esse crescimento s possvelporque houve inovaes bsicas prvias, queacionaro o efeito demonstrao em larga escala.Este por sua vez, inserido num clima socialfavorvel, facilitar o processo de disseminao(com a advertncia de Rosenberg de que adifuso no uma simples duplicao, masenvolve um conjunto adicional de melhorias eoutras inovaes relacionadas.) (Freeman, 1983,p.12). Inovaes de processo ligadas aeconomias de escala sero geradas pelocrescimento das novas indstrias.

    A continuidade do crescimento leva aaumentos dos custos do trabalho e dos custosde outros insumos. Estes aumentos associadosao processo de concorrncia aceleram a reduodas margens de lucro. O resultado que osempresrios passam a fazer investimentosvoltados para a racionalizao e conteno decustos (ibid., p. 13).

    A alterao do nvel de rentabilidade noponto de inflexo superior do ciclo longo leva busca de inovaes poupadoras de mo-de-obras e outros custos. Porm as defasagens

    temporais envolvidas significam que pode passarum perodo de cinco a 20 anos antes que osefeitos completos de tais mudanas tcnicas sefaam sentir. (Freeman, 1983, p.13) Estasdefasagens esto presentes tanto em P&Dquanto na implementao dessas inovaes29 .

    A Quarta e ltima condio apontada porRosenberg e Frischtak o retomo da economiaa um perodo tecnologicamente frtil, depois deum perodo de tempo apropriadamente longo,durante o qual as antigas trajetrias foramlongamente exauridas e as novas no utilizadas(op. cit.).

    Esta ltima condio nos leva de volta para aquesto dos paradigmas tecnolgicos e dadescrio da existncia de um fluxo contnuo deinovaes que sero introduzidas na economiade acordo com as condies levantadas para osfatores-chave.

    A formulao de Freeman e Perez, nos textosanalisados, demonstra que a onda longa tem porexplicao ltima um ciclo tecnolgico. Ela temcomo determinantes principais as inovaestecnolgicas. Mas a formulao poderia serenriquecida, se considerasse a varivel chavede toda a evoluo econmica capitalista ataxa de lucro. Ernest Mandel o autor que enfocaa questo da taxa de lucro como variveldeterminante na explicao da onda longa, massem ir alm de uma abordagem tradicional, aoexplorar a questo das inovaes tecnolgicas.

    E. MANDEL

    Mandel tem a peculiaridade de situar-se deum ponto de vista da totalidade, ao abordar einterpretar as formas de desenvolvimento domodo de produo capitalista. Ele se insere numatradio de estudiosos marxistas que realizamuma abordagem ontolgica do ser social, talcomo indicado por Lukacs.30

    Sua teoria sobre as ondas longas fruto destaabordagem. Por isso, ele recorre a uma explicaopluricausal do fenmeno, englobando aspectoshistricos, polticos, etc; alm das questesestritamente econmicas.

    Reconhecendo a relevncia doacompanhamento de indicadores estatsticosquanto produo fsica de dados produtos e variao do nvel geral de preos (tal como fazia

  • Comentrios sobre algumas teorias de ondas longas176

    Kondratieff), Mandel ressalta que, para umateoria marxista das ondas longas, esses no soos indicadores fundamentais, pois as ondaslongas so fruto da alternncia entre fases deacumulao acelerada de capital com fases deacumulao desacelerada. E estas alternnciass so inteligveis, se percebermos que, nas fasesde crescimento da onda longa, h o aumento darealizao da mais-valia e da acumulao docapital. Ou seja, h um aumento na taxa e na massade lucro e uma elevao do ritmo da acumulaode capital. Quando ocorrer o inverso, haverreduo da taxa e da massa de lucro e reduodo ritmo de acumulao de capital; com isso,entraremos na fase descendente da onda longa.Em resumo: o descompasso entre a produo demais-valia e sua realizao e entre esta e aacumulao capitalista que explica o movimentocclico de longo prazo da economia.

    Este descompasso explicaria tambm o cicloindustrial, de tal forma que a descrio que elefaz em O Capitalismo Tardio, para o ciclo, vlido para os ciclos mdio e longo. Mas h umadistino fundamental entre eles, que impede umaanalogia formal, tal qual incorrera Kondratieff naquesto das revolues tecnolgicasdeterminadas pela evoluo da taxa mdia delucro em geral, e do setor inovador em particular.

    Antes de abordarmos esta questo, vejamos,resumidamente, a descrio dos ciclos: na faseascendente, a acumulao de capital acelera-seat o ponto em que no mais possvel acontinuidade da valorizao da massa do capital.Ou seja, a mercadoria no realizada taxa delucro pr-existente. Temos superproduo demercadorias e superacumulao de capital.Qualquer fato conjuntural pode deflagrar a crise;esta ratifica o declnio da taxa de lucro, e a faseseguinte de depresso leva a uma destruio decapital, em termos fsicos e de valor. Esta fase marcada pelo subinvestimento31 . As fases dedestruio de capital e de subinvestimento levama uma recomposio da taxa mdia de lucro daeconomia, o que vai permitir uma nova fase deaumento na produo de mercadorias e daacumulao de capital. Portanto: O aumento,queda e revitalizao da taxa de lucros tantocorrespondem a movimentos sucessivos deacumulao de capital como os comandam (ibid.p 76)32 .

    Mandel, aps expor as linhas gerais da

    evoluo cclica da economia, mostra que, almdo ciclo industrial estudado por Marx, h umadinmica intrnseca ao modo de produocapitalista que d origem a um ciclo de maiordurao.

    A periodicidade do ciclo industrial determinada pela renovao do capital fixo. E,justamente, a renovao do capital fixo determinaa inflexo para cima, ascendente, do cicloindustrial. O momento exato desta renovao,que ocorre em bloco e no de forma esparsa pelotempo, est associado ao aumento repentino dataxa mdia de lucro.

    Mas a concorrncia capitalista faz com queesta renovao ocorra com ganhos de tecnologia,com tecnologias mais aperfeioadas. Isto, numsentido trplice, segundo Mandel (1985, p.77):(1) a aquisio de mquinas novas leva a umaelevao na composio orgnica do capital; (2)as mquinas mais novas s sero compradas sea poupana em trabalho vivo pago exceder oscustos adicionais do capital fixo, ou, maisprecisamente, do capital constante (ibid.); (3)as mquinas novas s sero compradas, sepossibilitarem a obteno de superlucros, at quea produtividade mdia do ramo de produo emquesto seja determinada por estas novasmquinas.

    Aumentos na composio orgnica do capitalassociam-se reproduo ampliada do capital,de tal forma que possvel distinguir duas formasde reproduo ampliada: (1) h aumento da escalade produo, aumenta o dispndio de capitalconstante e varivel, aumenta a composioorgnica do capital, mas no h revoluotecnolgica, (2) ocorre tudo como no primeirocaso, mas com revoluo tecnolgica,modificando-se qualitativamente a produtividadedo trabalho.

    Uma revoluo tecnolgica radical implicanuma repentina acelerao da acumulao decapital, pois se materializam em gastos adicionaisde capital fixo, na forma de novas plantasprodutivas e novas mquina e ferramentas. (ibid.,p. 78-9)

    Aqui se torna clara a importncia da fase dosubinvestimento, para a teoria mandeliana, poisesta fase, alm de expressar a queda peridica dataxa mdia de lucros e contrarrestar esta queda,cria um histrico fundo de reserva do capital,de onde podem ser retirados os meios para a

  • P. H. F. Arajo 177

    ' Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro Rev. Univ. Rural, Sr. Cinc. HumanasVol. 23(2): 169-182, jul./dez. 2001.

    acumulao adicional, (...) [que permitiro] umarenovao fundamental na tecnologia produtiva(ibid., p. 79). E, como as fases de subinvestimentodos ciclos industriais liberam capitais suficientespara a aquisio de mais mquinas mais caras,elas viabilizam a dinmica do ciclo mdio. Mas aaquisio de mquinas inovadoras, (fruto danova revoluo tecnolgica, que exige novasplantas produtivas, em especial, noDepartamento 1 (produtor de meios de produo)da economia) s ser possvel com os valoresliberados por vrias fases de subinvestimento,ocorridas em vrios ciclos mdios sucessivos. a existncia de vrios perodos desubinvestimento que viabiliza o fantstico saltoqualitativo do processo de acumulao docapital, que estar na base das fases ascendentesdas ondas longas.

    Mas isto no resolve todo o problema deexplicar o mecanismo das ondas longas. Mandeltem que explicar por que, num dado momento dotempo, este capital, que era subinvestido, voltaa ser investido maciamente. A resposta so ossbitos aumentos da taxa mdia de lucros. Maso que explicaria estes sbitos aumentos? Almda desvalorizao de capital devido crise,Mandel enumera quatro fatores explicativos33 ,que podem ser resumidos como: reduo dacomposio orgnica do capital, aumentos dataxa de mais-valia e reduo do tempo de rotaodo capital. Note-se que em cada um destesfatores entram determinaes extra-econmicas,seja a luta de classes, seja a abertura de novosmercados, introduo de novas tecnologias, etc.

    Mandel ressalta que o aumento sbito da taxamdia de lucros que leva ao investimento maciode capitais, antes ociosos, pode ser detido, casoos fatores desencadeantes forem tais, por suanatureza e volume, que seus efeitos possam serneutralizados com rapidez, pelo aumento namassa de capital acumulado.(ibid., p. 80) Nestecaso, o aumento da taxa de lucros ser breve, elogo teremos reduo no ritmo de acumulaodo capital e, em seguida, subinvestimento. Mas,se isto no ocorrer, se os fatores desencadeantesno forem detidos pelo aumento da massa decapital acumulado, ento todo o capitalsubinvestido anteriormente ser utilizado,acelerando o ritmo da acumulao. E ser justo,neste contexto, que teremos uma revoluomacia e universal na produo de tecnologia e

    no apenas uma renovao particular emoderada. (ibid.) Portanto, isto exige a atuaosimultnea e cumulativa de todos os fatoresantes descritos.

    Em que consistem essas revoluestecnolgicas para Mandel? Utilizando adistino, feita por Marx (este, baseado nosestudos de Ure e Babbage), das partes diversase constitutivas de toda a maquinariadesenvolvida maquinaria motriz, maquinariade transmisso e mquinas-ferramentas, Mandelsublinha que as mquinas motrizes so, at certoponto, o elemento dinmico do conjunto34 .Assim, ele relaciona trs revolues tecnolgicasocorridas aps a revoluo industrial original,de meados do sculo XVIII:

    A produo mecnica de motores a vapordesde 1848; a produo mecnica de motoreseltricos e a combusto desde os anos 90 dosculo XIX; a produo por meio de mquinasde aparelhagem eletrnica e da que utiliza energiaatmica desde os anos 40 do sculo XX. (ibid.p 82)

    Estas revolues na produo de energia emquinas motrizes, modificam toda a tecnologiaprodutiva da economia, incluindo a dos sistemasde transporte e comunicaes, levando a umanova valorizao do excesso de capitais que sevm acumulando, de ciclo em ciclo (...).E, emseguida, levando a uma fase igualmenteprolongada de produo desacelerada (...) [com]subinvestimento e (...) capital ocioso (ibid., p.83). Somente capitais reduzidos e afoitos,dispostos ao alto risco, aceitaro investir nessesempreendimentos inovadores. O superlucro quea auferirem ser o chamariz para novosfabricantes e para a generalizao dos novosmotores, o que vai reduzir a taxa de valorizao etodo o mpeto inicial.

    A transformao geral da tecnologiaprodutiva engendra uma elevao dacomposio orgnica do capital, que, de suainterao com a taxa de explorao da fora detrabalho e com o tempo de rotao do capital,conduzir, ao longo do tempo, reduo da taxamdia de lucro, o que vai dificultar a revoluotecnolgica seguinte. A fase de descenso daonda longa marcada pelo subinvestimentocrescente e ampliao do capital ocioso,existente. S um aumento sbito da taxa mdiade lucro viabilizar a utilizao deste capital

  • Comentrios sobre algumas teorias de ondas longas178

    ocioso na produo de novas fontes de energiae de mquinas motrizes inovadoras.

    Em sua teoria Mandel, identifica quatro ondaslongas iniciando em 1793 e devendo a ltimaterminar no incio da dcada de 1990, dividas emuma fase ascendente e uma descendente35 .0destaque fica para a forma como ele integra, nadescrio das fases da onda longa, as variveisextra-econmicas, pois as leis de movimento docapitalismo podem explicar a naturezaacumulativa de cada onda longa, uma vez estainiciada. E podem explicar a transio entre umafase expansionista, ascendente, e uma fasedescendente, estagnacionista. Mas no podemexplicar a passagem da fase descendente para aascendente. Aqui entram os outros fatorescapazes de relanar a taxa mdia de lucro quecitamos acima. (Mandel, 1980, p.21)

    A teoria das ondas longas de Mandelapresenta pontos que so questionados poralguns autores. O primeiro ponto que destacamosaqui diz respeito necessidade de um fundo decapitais ociosos, para serem reinvestidos apssucessivos perodos de subinvestimento. BobRowthorn (1982, p.94) assinala que os nicosmomentos em que seria necessria a presenade um fundo de reserva de capitais para financiaros investimentos seriam os estgios iniciais daexpanso. Assim que os lucros comeassem afluir em escala ampliada, o financiamento viacrdito bancrio cumpriria sua parte. E os bancos,ao operarem com dinheiro de crdito, no estosimplesmente utilizando um fundo de reservahistrico, mas criando dinheiro. Parece-nos que,neste ponto, Mandel ficou estranhamente presoaos argumentos de Kondratieff

    O segundo ponto diz respeito elevao dacomposio orgnica do capital. H todo umdebate a esse respeito e a respeito da lei detendncia queda da taxa mdia de lucro, de talforma que seria interessante um estudo terico eemprico que reforasse a tese defendida porMandel, de que a lei de tendncia queda semanifesta e contrarrestada pelas flutuaescclicas de mdio e de longo prazo (Mandel, 1985a,p.204).

    O terceiro ponto a identificao da energianuclear como a nova energia e a microeletrnicacomo base de novas mquinas motrizes,caracterizando-se, assim, a quarta onda longa.Paul Singer, na apresentao de O Capitalismo

    Tardio (1985 :XLX), destaca queo que dominoua dinmica do perodo 1945/67 no foi nem umanem outra dessas inovaes tecnolgicas[energia nuclear e microeletrnica] (...), mas odesdobramento de inovaes e tcnicas daSegunda Revoluo Tecnolgica. Antes de amicroeletrnica permitir, historicamente, a efetivaautomao do processo produtivo, Mandel j aidentifica como fato explicativo de uma nova ondalonga. Portanto, as relaes postuladas porMandel entre as revolues tecnolgicas e asondas longas com tonalidade expansionista nemsempre coincidem com os fatos histricos(Singer. in Mandel, 1985, vol. XX).

    Este ltimo ponto o que mostra anecessidade de uma aproximao entre osdesenvolvimentos obtidos pelos neo-schumpeterianos, no estudo do processo deintroduo e disseminao de inovaes, e ateoria das ondas longas de Mandel. Esta ltimaganharia uma melhor base para a compreensodas revolues tecnolgicas e aquela selibertaria dos limites impostos pela noo de umciclo empresarial, subjetivo, pois, em Mandel, ainovao s introduzida e se disseminaobedecendo ao estmulo da taxa de lucro.

    CONSIDERAES FINAIS

    Do resumo da polmica ocorrida entreKondratieff e Trotski, em tomo da existncia defatores endgenos explicativos dos cicloslongos, identificamos, nas elaboraesposteriores de Schumpeter e dos Neo-Schumpeterianos, um desdobramento dasposies do primeiro, mas com forte nfase noaspecto subjetivo, na ocorrncia de um cicloempresarial. Em particular, no caso de Freemane Perez, a noo de revoluo do paradigmatecnolgico, alm de muito ambiciosa, noapresenta uma ligao forte com os imperativosda busca do lucro extraordinrio.

    Na teoria marxista das ondas longas de E.Mandel, a taxa de lucro apresenta-se como osismgrafo, como a varivel que concentra emsi as mltiplas determinaes contraditrias doser social. Desta forma, ele realiza a integraodas vises de Kondratieff e Trotski, da existnciade fatores endgenos e exgenos nadeterminao das ondas longas, tendo a taxa

  • P. H. F. Arajo 179

    ' Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro Rev. Univ. Rural, Sr. Cinc. HumanasVol. 23(2): 169-182, jul./dez. 2001.

    mdia de lucro como varivel chave. Entretanto,seu tratamento para a questo da introduo edifuso de inovaes tradicional, poucodesenvolvido.

    Portanto, o caminho mais interessante para oaprofundamento do estudo das ondas longaspassa pela integrao da teoria marxista propostapor E. Mandel e da teoria Neo-Schumpeteriana,tal como proposta por Freeman e Perez.

    REFERNCIAS BIBLIOGR`FICAS

    ALTVATER, Elmar. O Capitalismo em Vias deRecuperao? Sobre teorias da ondalonga e dos estgios. Ensaios FEE, PortoAlegre, 3(2), p. 5-30, 1983.

    ARAUJO, Paulo Henrique Furtado de. ACategoria Marxiana de Crise Econmica Uma Abordagem Ontolgica. Niteri,1994. 292p. Dessertao de Mestrado.Universidade Federal Fluminense.

    ARAUJO, Paulo Henrique Furtado de. EsbooCrtico de uma Interpretao Marxista dasCrises Econmicas: a abordagem de EMandel. ENCONTRO NACIONAL DEECONOMIA CL`SSICA E POLTICA. Anaisdo Encontro Niteri, mimeo, 1996. 17v., v. 14,p. 2-11.

    BEHRING, Elaine Rossetti. Poltica Social noCapitalismo Tardio. So Paulo : CortezEditora, 1998. p. 111-162.

    DAY, Richard B.. La Teoria dei Ciclo Prolongadode Kondratiev, Trotsky y Mandel. Criticasde la Economia Politica EdicinLatinoamericana, Mxico, n. 4, p. 54-74, 1977.

    DELBEKE, Jos. Teorias Recentes sobre os CiclosLongos: Uma Resenha Crtica. Ensaios FEE.Porto Alegre, 5(1), p. 21-35, 1984.

    DOS SANTOS, Theotonio. Crises Econmicase Ondas Longas na Economia Mundial. UFF,Niteri, 1996. 58 p. Texto para Discusso 5. Grupo de Pesquisa sobre EconomiaMundial, Integrao Regional e Mercado deTrabalho (GREMIMT).

    FREEMAN, Christopher. Inovao e CiclosLongos de Desenvolvimento Econmico.Ensaios FEE. Porto Alegre, 5(1), p. 5-20, 1984.

    FREEMAN, Cristopher; CLARK John e SOETE,Luc. Unemployment and TechnicalInnovation a Study of Long Waves andEconomic Development. London: FrancisPinter Publishers, 1982. Cap.2,3 e 4,p. 18-81.

    FREEMAN, Christopher e PEREZ, Carlotta.Structural Crisis of Adjustment, BusinessCycles and Investment Behaviour; in. Dosi,Freeman, Nelson, Silverberg e Soete.Techical Change and Economic Theorv.Londres : Francis Pinter Publishers, 1988. Cap.3, p. 3 8-66.

    KONDRATIEFF, Nikolai D. Los Grandes Ciclosde La Vida Econmica. HABERLER, Gottfried.Ensayos sobre el Ciclo Econmico. Mexico: Fondo de Cultura Econmica, 1956. Cap. 2,p.135-56.

    LUK`CS, Georgy. Ontologia do Ser Social Os Princpios Ontolgicos Fundamentais deMarx. So Paulo: LECH, 1979.

    MANDEL, Emest. La Recesin Generalizada de1974-1976 en la Economia CapitalistaInternacional. Criticas de la EconomiaPolitica Edicin Latinoamericana, Mxico,n. 3, p. 46-65, 1977.

    MANDEL, Ernest. Long Waves of CapitalistDevelopment The Marxist Interpretation.New York: Cambridge University Press, 1980.

    MANDEL, Ernest. O Capitalismo Tardio. SoPaulo : Nova Cultural, (Coleo OsEconomistas), 1985.

    MANDEL, Emest. El Capital Cien Afios deControversias en Tomo a la Obra de KarlMarx. Mxico : Siglo Veintiuno Editores.Cap. 3, p. 163-242, 1985a.

    POSSAS, Mrio Luiz. Dinmica da EconomiaCapitalista: Uma Abordagem Terica. SoPaulo: Brasiliense, 1987.

  • Comentrios sobre algumas teorias de ondas longas180

    ROSENBERG, Nathan e FRISCHTAK, ClaudioR. Inovao Tecnolgica e Ciclos deKondratiev. Pesquisa e PlanejamentoEconmico, Rio de Janeiro, 13(3), p. 675-706,1983.

    ROWTHORN, Bob. Capitalismo. Conflito eInflao Ensaios de Economia Poltica.Rio de Janeiro : Zahar Editores. Cap. 4, p.89-118, 1982.

    SCHUMPETER, Joseph A. Anlisis del CambioEconmico; in. Haberler, Gottfried. Ensayossobre el Ciclo Econmico. Mxico : Fondode Cultura Econmica. Cap. 1, p. 17-34, 1956.

    SCHUMPETER, Joseph A. A Teoria doDesenvolvimento Econmico. So Paulo :Nova Cultural (Coleo Os Economistas),1985.

    TROTSKY, Leon. Una Escuela de EstrategiaRevolucionaria. Mxico : Juan Pablo Editor,1974.

    TROTSKY, Leon. La Curva del DesarrolloCapitalista. Criticas de la Economia Politica Edicin Latinoamericana, Mxico, n. 3, p. -13, 1977.

    VEIGA, Jos Eli da. As Ondas Longas doCapitalismo Industrial. 2o. EncontroNacional de Economia Poltica, PUC/SP,1997, So Paulo. Anais do Encontro, 1997, 3v., v. 1, p. 439-452.

    NOTAS

    1 Mandel (1985:85), em nota de p-de-pgina (30)ressalta que isso pode no ser correto em sentido estrito.[Pois] Schumpeter registra que Jevons cita um artigo deHyde Clark (...), o qual menciona a existncia de ondaslongas no desenvolvimento cclico. (...), mas [o artigo]no exerceu influncia na discusso posterior doproblema.

    2 Segundo Mandel (1985:89) o trabalho DieWeltwirtschaft und ihre Bedinguegen und nach demKrieg, publicado cm 1922.

    3 No nosso texto Esboo Crtico de umaInterpretao Marxista das Crises Econmicas: aabordagem de E. Mandel, apresentado no 1o. EncontroNacional de Economia Clssica e Poltica - UFF, Niteriem junho de 1 996, apontamos uma forma de

    interpretao do ciclo industrial a partir de Marx.4 Ele lana mo do material estatstico mais

    completo, que o referente s economias da Inglaterra,Frana e EUA. Abstemos-nos de comentar o tratamentoestatstico-matemtico que d ao mesmo, porentendermos que sairamos por demais do enfoqueprincipal que o presente trabalho pretende ter.

    5 O Resumidamente so elas (Kondratieff, 1956:48-9):

    (1 )as grandes oscilaes pertencem ao mesmoprocesso dinmico e complexo em que se desenvolvemos ciclos mdios da economia capitalista. E h umainterao entre eles, de tal forma que nas fases deascenso do ciclo longo so mais numerosos os anos deprosperidade, enquanto que durante o descensopredominam os anos de depresso.

    (2) Durante o descenso das grandes oscilaes, aagricultura sofre regularmente uma depresso grande eprolongada.

    (3) Durante o descenso das grandes oscilaes. sefaz um nmero especialmente grande de descobertas einvenes na tcnica produtiva e de comunicaes queem geral so aplicados em grande escala s at o comeodo ascenso seguinte.

    (4) Ao iniciar-se um grande ascenso, aumenta (...)a produo de ouro, e o mercado mundial (...) geralmentecresce pela assimilao de pases novos e especialmentede paises coloniais.

    (5) Guerras e revolues tendem a ocorrer no perodode crescimento das grandes oscilaes.

    6 Trotski em particular, conforme veremos a seguir.7 So eles: (1) mudanas da tcnica produtiva, (2)

    guerras e revolues, (3) assimilao de novos pasespela economia mundial, (4) flutuaes na produo deouro.

    8 No caso do aumento da demanda de produtosagrcolas frente a sua oferta, Mandel argumenta que onvel crescente de emprego e produo industrial aumentaa demanda por produtos agrcolas e a oferta destes inelstica. Mas o problema a ser enfrentado porKondrafieff no do aumento da demanda, mas dos seusefeitos sobre a taxa de lucro. Ou seja, por que a reduodo poder de compra das mercadorias industriais nosufoca rapidamente a expanso. (1985, p.94)

    No que toca ao capital de emprstimo ocioso, Mandellembra que ele est presente em todas as crises. E sublinhaque Kondratieff no responde por que esse capitalpermanece ocioso por longos perodos de tempo apesar da reduzida taxa de juros em lugar de serinvestido produtivamente? E a mesma pergunta elelevanta para o aumento da atividade de poupana e oaumento da concentrao de capital, pois poderiam serdescritos como constantes e no variveis dodesenvolvimento capitalista (lembrando que no auge dasfases de prosperidades temos interrupes destecomportamento). Por fim argumenta que bens de capitalde longa vida, que teriam uma vida produtiva de 40 a 50anos, desempenham uma funo marginal nocapitalismo. [Logol se os meios de produo () tiveremuma vida mais curta do que esta, um ciclo de 40 ou 50anos no poder provocar nenhum efeito eco . (ibid.,p. 95)

    9 Vide, por exemplo, o discurso de Trotski no TerceiroCongresso da Internacional Comunista intitulado A

  • P. H. F. Arajo 181

    ' Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro Rev. Univ. Rural, Sr. Cinc. HumanasVol. 23(2): 169-182, jul./dez. 2001.

    Situao Econmica Mundial e a Tarefas da Internacional(1917-1921). (Trotski, 1974).

    10 Conforme Mandel (1985:87-90) e Richard B. Day(1977:56-61)

    11 Nas palavras dele: En lo que se refiere a lossegmentos mayores de la curva capitalista (50 aos), alos que el profesor sin precaucin llama tambim deciclos, su carter y duracin estn determinados no porla interrelacin interna de las fuerzas capitalistas, sinopor las condiciones externas a travs de cuyo canalfluye el desarrollo capitalista. La adquisicin delcapitalismo de nuevos pases y continentes. Eldescubrimiento de nuevos recursos naturales y, comoconsecuencia de estos ltimos hechos, esos momentoshistricos mayores como las guerras y las revolucionesen el orden superestructural, determinan el carcter y elcambio de Ias pocas ascendentes, estancadas vdecadentes del desarrollo capitalista. (Trotski, 1977:9).

    12 Conforme vimos acima, Kondratieff tentamostrar que esses fatores so explicados pelofuncionamento do prprio modo de produo capitalista.

    13 Segundo Richard B. Day (1977:61), Trotskiprovavelmente partiu dos dados do comrcio exteriorda Inglaterra para o perodo 1800-19 10, para construireste esboo. O que facilita uma comparao direta coma onda longa de Kondratieff que utiliza a mesma base dedados.

    14 O que pode explicar a simpatia que Schumpeterdemonstra pelos escritos de Kondratieff a respeito dasondas longas conforme veremos a seguir.

    15 El capitalismo posee as un equilibrio dinmico,un equilibrio que siempre se encuentra en proceso dedisrupcin o de restauracin. (Trotski, apud., Day. R.B.,1977, p.56).

    16 Mandel. 1980. p.l2617, nota 18.17 Segundo Schumpeter, o conceito de inovao

    engloba os seguintes casos: (1) Introduo de um novobem ou seja, um bem com que os consumidores aindano estiverem familiarizados ou de uma nova qualidadede um bem. 2) Introduo de um novo mtodo deproduo, ou seja um mtodo que ainda no tenha sidotestado pela experincia no ramo prprio da indstria detransformao que de modo algum precisa ser baseadanuma descoberta cientificamente nova, e pode consistirtambm em nova maneira de manejar comercialmenteurna mercadoria. 3) Abertura de um novo mercado, ouseja, de um mercado em que o ramo particular da indstriade transformao do pas em questo no tenha aindaentrado, quer esse mercado tenha existido antes ou no.4) Conquista de uma nova fonte de oferta de matrias-primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vezindependentemente do fato de que essa fonte j existiaou teve que ser criada. 5) Estabelecimento de uma novaorganizao de qualquer indstria, como a criao deuma posio de monoplio (por exemplo, pelatrustificao) ou a fragmentao de uma posio demonoplio. (1985:48-49)

    18 Posteriormente Schumpeter vai esboar ummodelo econmico de trs ciclos: ciclo longo ou deKondratieff, com durao entre 50 e 60 anos; ciclo mdioou de Juglar, com durao entre 9 e 10 anos; ciclo deKiitchin com durao de 40 meses. (Schumpeter,1956:27-31). Schumpeter informa que podem seridentificados outros ciclos na economia capitalista, mas

    que ele vai trabalhar com um modelo tricclico. E Possas(1987:188-189) observa que O nmero 3 no essencial, mas uma convenincia: o maior nmerotratvel analtica e estatisticamente e o menor aceitvelcomo explicao dos fenmenos reais. Schumpetersupe que cada Kondratieff contenha seis Juglar e cadaJuglar trs Kitchin.

    19 Na fase do capitalismo trustificado, segundoSchumpeter, h uma poltica especifica das grandescorporaes para a introduo de inovaes na forma deum fluxo contnuo.

    20 Mas, para Schumpeter, o ciclo completo tem quatrofases - prosperidade, recesso, depresso e recuperaao.Sendo que as duas primeiras so logicamente necessriaspara a existncia do ciclo. (Possas, 1987:188)

    21 O ciclo curto ou de Kitchin devido s flutuaesde estoque sendo originado por movimentos adaptativose no por inovaes.

    22 Segundo Possas essas so as justificativas para aocorrncia de ciclos com diferenas de periodicidade emSchumpeter:em primeiro lugar, inovaes diferentes emprincipio devem gerar flutuaes de perodos diferentes,associados ao tempo de gestao da inovao, sua difusoe reao do sistema econmico. Em segundo lugar,determinadas inovaes podem produzir ciclos de umamesma famlia, que configuram um ciclo maiordefinido por essa mesma famlia e no por si mesmo.Por ltimo, o ciclo maior pode ser uma entidadeautnoma, que se desdobra em ciclos menoresinterdependentes e sucessivos (1987:189).

    23 Trata-se da idia de que uma ou mais inovaesimportantes inibem o aparecimento subconseqentede outras, em razo direta da sua importncia, com oque tais inovaes tenderiam a ser intrinsicamenteaglomerativas.(ibid., p. 193)

    24 Segundo Rosenberg e Frishtak (1983) so quatroestas condies, que so logicamente interdependentes:(1) Causalidade que parte das inovaes bsicas, [para]o nvel geral de lucratividade e expectativas econmicase a difuso destas inovaes sob a forma de uma grandequantidade de produtos e processos (p. 682). (2)sincronizao no tempo (timing) a adoo de novastecnologias e a excluso de outras so feitas emconsonncia com a durao das fases do ciclo deKondratieff. (3) repercusses macroeconmicas ospadres de difuso tecnolgica e ligao intersetoriallevariam a variaes nas taxas de crescimento agregado,acarretando suficiente amplitude aos ciclos longos. (4)periodicidade os movimentos do ciclo longo devemter uma natureza recorrente, seja pelo carter cclico daintroduo de grupos de inovaes, seja pela existnciade algum mecanismo endgeno ao sistema econmico.

    25 De forma resumida (Freeman e Perez. 1988:4647):

    Inovaes incrementais - ocorrem de formaaproximadamente contnua em algumas atividadesindustriais e de servios. No so devidas a pesquisa edesenvolvimento (P&D), mas resultado de melhoriassugeridas por engenheiros e/ou usurios. Tm pequenosefeitos macroeconmicos.

    Inovaes radicais eventos descontnuos e emtemos recentes so resultado de P&D em Universidadese Laboratrios do Governo. So desigualmente distribudasno tempo. So importantes para impulsionar o

  • Comentrios sobre algumas teorias de ondas longas182

    crescimento de novos mercados e novos investimentosassociados com o boom. Envolvem combinaes deinovaes em produto, processo e organizao. Seusimpactos agregados so relativamente pequenos elocalizados. Podem ter relevantes efeitosmacroeconmicos se (...) um grupo de inovaes radicaisest ligado ao surgimento de novas indstrias e servios,tais como a indstria de materiais sintticos ou a desemicondutores (ibid.. p. 46)

    Mudanas no Sistema Tecnolgico mudanasna tecnologia de grande alcance, afetando vrios setoresda economia e impulsionando o aparecimento de novossetores (ibid.) Baseiam-se numa combinao deinovaes incremental e radical, junto com inovaesgerenciais e organizacionais, afetando vrias firmas.

    Mudanas no Paradigma Tcnico-econmico(Revolues tecnolgicas) Caracterizados pormudanas nos sistemas tecnolgicos que alteram ocomportamento de toda a economia. Uma mudanadeste tipo leva consigo muitos grupos de inovaes radicaise incrementais. e pode eventualmente personificar umgrande nmero de novos sistemas tecnolgicos (ibid.. p.47). Portanto, o aspecto essencial que possui efeitospenetrantes por toda a economia, no somente comandao surgimento de um novo espao de produtos, servios,sistemas e indstrias em sua prpria rea de infuncia,Imasl tambm afeta direta ou indiretamente quase queigualmente todos os setores da economia (ibid.)

    26 Como exemplo de fator chave indicam amicroeletrnica, que estaria na base do quintoKondratieff (1980/90 -?) ou os baixos custos do ao queestaria na base do terceiro Kondratieff (1880/90 1930/40).

    27 So elas: (1) custos relativos decrescentes levando a alterar as decises guias e o senso-comumde engenheiros e gerentes (2) rpido incremento da oferta de forma a no prejudicar a confiana dos empresriosao tomarem decises de investir que implicamdisponibilidades de longo prazo; (3) aplicaespenetrantes existncia de um potencial no fator chave,de que ele seja usado ou incorporado em muitos produtosou processos por toda a economia. (ibid.. p. 48)

    28 At porque o texto aqui analisado de Freeman ePerez no tem por objetivo responder s questeslevantadas por Rosenberg e Frischtak. As quatrocondies, conforme nota 25, so: (1) causalidade, (2)timing, (3) repercusses macroeconmicas. (4)periodicidade.

    29 A virada do ponto de inflexo inferior rumo auma nova fase de crescimento tem como base explicativaa presena de inovaes sociais, de polticasgovernamentais que apiam a implantao de novasinovaes tecnolgicas, alm disso outras mudanassociais e polticas podem ser importantes para fornecero estmulo necessrio para apoiar a expanso em gestao.(...) por exemplo, medidas para enfraquecer o poder dossindicatos, rearmamento ou protecionismo,estabelecimento de polticas mais brandas destinadas arestaurar a nveis compatveis a renda e a lucratividade,(...) (ibid.)

    30 Vide Lukcs (1979), e os comentrios em Araujo(1994) e Behring (1998). E, ainda, as indicaes doprprio Mandel, no capitulo 1 de O Capitalismo Tardio

    (1985), ao mostrar como as leis bsicas dedesenvolvimento do modo de produo capitalista,expressas em seis variveis bsicas (composioorgnica do capital em geral e nos mais importantessetores em particular) o que tambm inclui, entre outrosaspectos, o volume de capital e sua distribuio entreos setores); a distribuio do capital constante entrecapital fixo e circulante (novamente em geral e emcada um dos principais setores; a partir de agoraomitiremos esse acrescimo auto-evidente formulao);o desenvolvimento da taxa de mais-valia; odesenvolvimento da taxa de acumulao (a relaoentre a mais-valia produtiva e a mais-valia consumidaimprodutivamente); o desenvolvimento do tempo derotao do capital; e as relaes de troca entre os doisdepartamentos (as quais so basicamente, mas noexclusivamente, uma funo da composio orgnicado capital dada nesses departamentos p. 26 e 27)que se tomam parciais e, periodicamente, autnomas,tm suas interaes registradas pela evoluo da taxa delucro que se apresenta como o sismgrafo desta histria.

    31 Conforme Mandel: (...) investe-se menos capitalque o montante apto a se expandir ao nvel dado deproduo de mais-valia e taxa mdia de lucro dada (emasceno) (1985:86).

    32 No inicio desta citao, Mandel define o ciclocomo contendo quatro fases assim descritas: acumulaoacelerada de capital, superacumulao, acumulaodesacelerada de capital e subinvestimento.

    33 So eles:11) Uma queda sbita na composio orgnica mdia

    do capital, em resultado, por exemplo, de uma penetraomacia do capital em esferas (ou pases) com umacomposio orgnica bastante baixa. (2) Um aumentorepentino na taxa de mais-valia, em resultado, porexemplo, de um aumento na intensidade do trabalhodecorrente de uma derrota radical e da atomizao daclasse operria (...). (3) Uma queda sbita no preo doscomponentes do capital constante [fixo e circulante](...). (4) Uma diminuio repentina do tempo de rotaodo capital circulante, em decorrncia do desenvolvimentopleno de novos sistemas de transporte e comunicaes,mtodos de aperfeioados de distribuio, rotaoacelerada de estoque, e assim por diante. (ibid., p. 79-80)

    34 As revolues fundamentais na tecnologiamoderna a tecnologia da produo de mquinasmotrizes por mquinas aparecem, assim como omomento determinante nas revolues da tecnologiacomo um todo (ibid. p.82)

    35 Em seu livro O Capitalismo Tardio. Mandelconstri uma tabela na qual mostra as quatro ondas longas,a tonalidade principal do perodo, o movimento doscomponentes do valor das mercadorias industriais e asorigens do movimento. As fases ali expostas so: PrimeiraOnda Longa: 1793-1825 fase ascendente; 1826-47 fase descendente. Segunda Onda Longa: 1848-73 fase ascendente; 1874-93 fase descendente; TerceiraOnda Longa: 1894-1913- fase ascendente; 1914-39 fase descendente. Quarta Onda Longa: 1940/45-66 fase ascendente; 1967- fase descendente (1985:92-

    93)