as flores do mal

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Edição 03 – C.L.A.E POEMAS POEMAS POEMAS POEMAS CONTOS CONTOS CONTOS CONTOS CRÔNICAS CRÔNICAS CRÔNICAS CRÔNICAS CRÍTICAS & AFINS CRÍTICAS & AFINS CRÍTICAS & AFINS CRÍTICAS & AFINS

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As flores do mal terceira edicao

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Page 1: As flores do mal

Edição 03 – C.L.A.E

POEMASPOEMASPOEMASPOEMAS

CONTOS CONTOS CONTOS CONTOS CRÔNICASCRÔNICASCRÔNICASCRÔNICAS CRÍTICAS & AFINSCRÍTICAS & AFINSCRÍTICAS & AFINSCRÍTICAS & AFINS

Page 2: As flores do mal

Editorial Nesta presente edição, logo na primeira etapa de montagem e seleção dos trabalhos aqui expostos, primamos não pela forma ou pela estética, mas antes e em primeiro plano, pela coragem de continuar produzindo literatura em meio ao caos, às coisas complicadas que nos brinda o mundo, ao mundo complicado que nos oferece em primeira mão as coisas da vida. Não obstante, levamos em consideração (e muito) a difícil tarefa de se auto-lapidar. Aqui deixo um breve espaço para as considerações finais. Voltando ao princípio, eis que este “As flores do mal”, mesmo que tentando manter-se à margem e com uma proposta consolidada, apresenta uma intuição que vem se fazendo presente desde o primeiro número, e se faz ainda mais visível nesta edição: a de que não estamos sós. E de fato, fizemos contato, bem, não exatamente nós, foi John que me apareceu aqui com um tal de Sttigger, e qual não foi o meu espanto, depois fotos, um do bom... genial. Há ainda velhos amigos com novos delírios e versos e brigas. Assim sendo, quedei-me incrédulo ante tal harmonização, ainda que de improviso, no que diz respeito ao instrumental, pois que momentos antes éramos apenas convulsões as mais violentas. Zé Araújo poeta, Alecrim Simões delator do mundo, enquanto João Gilberto vai de saudosista e Heron Jordan muito grato. Todos originalíssimos em suas propostas. Novidade: Felipe Johnson, ao meu ver, além de poeta um bom filósofo. John Williams todos já conhecem e confiam. E eu, bem, estou aí, do jeito que Deus quer. A todos um final feliz.

Rildon Alves.

Esta edição é dedicada à pequena Alice, nova vida, nova poesia

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A Primeira Lamentação Queria voltar a escrever como antes – quando não me importava –, cheio de veneno e sedento por novidades – lascivez pura –, ainda assim, sei que estas memórias não retornarão e precisarei guardar tudo em letras minhas, buscando registrar todos os gozos, toda a euforia que segredei de todos, por tantas vezes. As várias musas que tive foram definhando em minha mente, hoje me resta apenas quem soube me acorrentar bem os órgãos e agora não há fuga possível. Talvez por isso minhas palavras vem soando repetitivas há tempos. Minhas mãos permanecem empapadas em versos novos, preciso usá-los com maior frequência e deixar esta comodidade de lado. Os pensamentos bons vem com facilidade, eu é que venho dificultando tudo isso, tanto. Sinto falta das horas sujas, onde nosso descaso imperava e dominávamos toda a noite perversa. Meus velhos amigos fazem imensa falta. Precisamos de um revival – e logo! –, onde não haverá qualquer empecílio para nossos desmantelos, sem rubor qualquer. – Minha querida amada, perdoe por todo este sarcasmo meu! Não tenho poder para controlá-lo... Ela não me entenderia, nem quero isso, mas não aceito que me recrimine, jamais imaginei perdê-la, não suportaria mais tanta monotonia nestas noites. Precisamos mudar o amor! – Aceita meu corpo onde o quero! – Solta essa língua traquina em mim! Já! Ainda preciso de meus discursos mentirosos para conquistar boas carícias, mesmo não sendo como sonho, ainda assim, sei que tudo é apenas para mim. E isso é o que me reconforta. Ela toda minha, sempre. Não há como recusar esta prisão, seu calabouço acalma meu desejo pervertido. O marasmo brutal não mais incomoda. Esta paixão é o meu ponto fraco. Sou puro mar de lamentações.

John Williams B.

Page 4: As flores do mal

O PROCESSO O Processo O Processo O Processo O Processo ---- pt. 1pt. 1pt. 1pt. 1 Ah, eu vivo a poesia do acaso... Das palavras borboletas azuis Assassinas do disfarce! Eu sou a poesia do acaso Do confronto embriagado de silêncio livre E cantante. Eu sou O confronto só. O Processo O Processo O Processo O Processo ---- pt. 2pt. 2pt. 2pt. 2 A liberdade é ser A liberdade é a vida Vida contida de ser Escolhida Um corpo A fadiga, A ferida Torta. Definhavam Cristais da galáxia Em seu êxtase inacabado De uma epifania À revelação, Até o processo transformar-se Comum. O labirinto Prisma do instinto Amo das estrelas Brincava de criador Enquanto era criado.

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A linguagem sexual Além da anti-normalidade - Um elo perdido. A praga das estações - A regência humana Da frágil sabedoria Pansexual. Me absorve todo, glória da manhã Sou lobo, Sou vasto, Sou nativo dos céus. O Processo, pt. 3 Cicatrizes da irrealidade Fantasmagóricas, Reais. Escama e a fotografia Cicatrizes da imobilidade De uma recordação. As escadas da ponte Contornam os frascos tempestuosos Do fracasso – Assim é a dúvida. Assim se fragmentam Os deuses inválidos do extemporâneo. Que consiga o verso Tornar breve o universo, Instrumentos declamam Seus lamentos desesperados.

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Filosofia do Processo, pt.1a A árvore desprende da inclinação de um morro de terra, como ponte entre a elevação e a linearidade do solo. Suas raízes porém, desenraizadas, permanecem selecionadas meticulosamente em seus resquícios de conexão com o barro, desterritorializando-se então enquanto acaso. Acaso este, espelhado como uma das "moiras", que no entanto, tece um corpo de cobra a ser regido por uma linha condutora da própria existência da serpente, posicionada como isca no oceano do caos. Filosofia do Processo, pt.1b A impossibilidade do ser de deificar-se deriva da consciência de sua própria existência, o que é externo à idéia de individualização, é o encontro com o divino interior; desse modo, deveríamos a partir da imoralidade desconstrutiva, observar como seres selvagens, animais, para que o outro (sujeito ou objeto de referência) torne-se um único, porém, condicionalmente livre em sua individualização. O acaso é o único deus, e tal conclusão justifica a incapacidade e incompletude do ser humano quando tenta temporalmente lidar com o espanto diante da própria existência. O Processo, pt. 5 Caminhos maternos. O pianista no deserto Toca Onde nunca eu fui antes A areia que sai do pó, do corpo do pó A mim mesmo entregue Perdido No sonho, indício início, incita Onde nunca eu fui antes O campo de violetas cinzas - OS PRIMÓRDIOS DO DESCONHECIDO - Se convertendo no próximo

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Absurdos! Na explosão própria dos halos que multiplicam dos halos que frutificam Tudo ao redor Penetra tudo ao redor E enxerga O mundo Os núcleos Circundantes. O Processo: FIMO Processo: FIMO Processo: FIMO Processo: FIM O caminho materno precede O aborto. Temo encontrar apenas no fim do limite dos buracos negros A nova idéia genuína O caminho materno precede o aborto Expulsos do útero, da catatonia Tornam-se precoces subversões revisitadas Rememoradas, Reafirmadas Em sua própria transpiração torrencial de sangue colorido Manchantes infantes dos redemoinhos formados do caos Subverter o drama em desejo Subverto o drama em desejo Fendas dispersam o alcansável da nudez inocente Tornado de colapsos Tornam-se o sêmen na correnteza, a gota no oceano O oceano na gota faminta e improvável Que percebe no erro nada mais Além da normalidade.

Felipe Johnson, Porto Alegre/RS, Brasil

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O tempo, a morte, o amor.

A existência é uma piada, certamente... Que é de mau gosto eu não preciso falar - cada um sabe onde lhe aperta o sapato. Se fosse para reclamar de algo, se fosse para ter um vilão eleito na ode da consciência, para mim, seria o tempo. É nele que me aperta o sapato. O tempo, lento e curto, articulando desconstruções e abandonos. Quem eu quero enganar? Sinto, sim, medo da morte - a morte, que é o maior dos abandonos - e ela anda sempre com ele. Medo da impotência da morte, da frieza da morte, do horizontalismo da morte, que devolve tudo aquilo que respira - um dia - ao mesmo chão úmido que pariu as formas. A morte e o consorte, o tempo, amarrados um ao outro apesar de se odiarem... silenciosos, ardilosos, espreitando pelos buracos de nossas fechaduras como se não conseguíssemos ver as sombras de seus pés imundos e indesejados por debaixo das portas, amargando nossos corações como uma canção alta que diz que não podemos fugir... Mentira! Há, obviamente, a possibilidade de umas ou outras fugas momentâneas, claro, sendo o amor a maior delas. Quem poderia pensar em morte enquanto experimenta o amor verdadeiro, banhado por peles quentes de desejo, aninhado em abraços que sejam fortalezas, em meio a um beijo que nunca acabe? Não existe tempo quando se ama. O tempo é covarde, tem medo do amor, tem ciúme do amor - talvez porque ame o amor sem ser correspondido. É, é bem provável que seja esta a resposta! O tempo - velho amargo que carrega a morte nas costas, tenhamos pena dele - não gosta do trabalho mesquinho que exerce, não gosta da esposa cadavérica que sustenta, não gosta da casa escura e distorcida que habita. O tempo é tão frustrado quanto qualquer um de nós, homens que nos frustramos com o tempo, porém, no fundo da sua inteligência, a única ganância que o deforma é a vontade de ter seus braços nos braços do amor, a ânsia de cultivar em si a simplicidade dos afagos do amor. Quem o poderia culpar? Talvez ele tenha mais em comum conosco do que imaginamos - porque é pobre e seco como nós, deficientemente parido de nossas rotas concepções, apesar de tudo. Bem sei que o que ele mais queria era se desatar do espectro amortalhado que o segue de perto, se soltar, fugir e viver as manhãs de sol o quanto quisesse - ou as noites de lua, ou as tardes de vento e nostalgia, ou a madrugada e o coral de grilos do campo... O tempo queria era estar deitado no ventre amplo do amor, tomando a boca os seios buliçosos do amor, observando a relva, em silêncio (porque mesmo que se amassem, nunca dialogariam entre si, tempo e amor; viveriam o êxtase profundo dos lábios sem palavras, das chamas ardentes e

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sem cor, do entendimento que só se encontra quando encostamos pele contra pele, suspiro contra nuca, beijo contra pescoço), pensando que nunca precisaria passar. A passagem é dolorida... por que não a inércia da perfeição amorosa, do completamento do ser em outro ser? Por que - e esta pergunta eu também me faço, oh, tempo - não poder fugir de si mesmo? Passar é secar de dentro pra fora, como uma fruta amadurecendo esquecida no pomar, a quem nem mesmo os pássaros cortejassem, uma fruta que depois tombasse e se deixasse devorar pela desilusão do Outono. Eu sou a fruta no pomar, tempo, e me enegreço aos poucos por não perceberem minhas cores vivas de agora... Há, obviamente, a possibilidade de umas ou outras fugas momentâneas, claro, sendo o amor a maior delas... É que quando o tempo vê o amor - cabelos soltos, corpos lânguidos, êxtase do suor como perfume - o tempo, pobrezinho, cai de joelhos, desarmado, abalado, desconcertado. São estas as oportunidades nas quais devemos nos agarrar para a concepção da fuga, como quem aproveite a chuva para lavar a alma, pois dizem que ele não ama a mulher que o ama - a mulher que, apesar de não ser amada de volta, o ama - dizem que ele ama o amor, mas também não é correspondido. "Quem eu quero não me quer, quem me quer eu não quero", diria o dito. O amor só sabe ignorar o tempo, a morte só sabe ser apática e o tempo só sabe ser sofrível, oh, triângulo amoroso existencial! O tempo, sabendo que o amor não tem tempo para o tempo, não o julga mau, contudo: ele o ama - da forma mais pura e arbitrária que se pode amar, da forma mais incondicional que exista. O tempo entende a grandeza do amor, porque apesar de tudo é sábio a sua maneira (até mesmo o tempo foge do tempo quando ama)... O amor não tem tempo para o tempo e - por um capricho? - nós não temos tempo (suficiente) para o amor... A espectativa é o caminho para a agonia. O próprio tempo, que queria a vida - fresca e selvagem no Verão do mundo - em seu colo, só consegue carregar a morte enfadonha na garupa. Como um último suspiro, ainda assim, mesmo a fruta que se desfaz nos desamores mais brutos deixa ao chão as sementes de suas lágrimas, que se consomem no parto dos brotos ofegantes do porvir. Qualquer tempo é pouco tempo, qualquer amor é pouco amor - a morte, por sua vez, é sempre um abuso, um excesso. Mal amada por ser a incógnita mais profunda de nossos olhos e, por fim, eternamente inocente: na amargura incomparável de ser ignorada pelo tempo - como o tempo é ignorado pelo amor - seu único crime foi ser ela mesma, mãe biológica do descomeço, assassina dos sonhos mais fervorosos, acalentadora dos corações mais perdidos.

Stigger

Page 10: As flores do mal

POEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPES

A distância é cúmplice da saudade

Quando o tempo separa o inevitável une

Nada nos completa na falta que tudo em nós incitaA frase descora quando a estrofe dáO verso morre quando a poesia nasce

Um miserável Pela dor imensurável que a ilusão em vão recita

-

Não cobre coerência e sensatezPorque a vida por si só é embriaguezO ópio da emoção rejuvenesceMas envelhece o ócio da razão O abismo que a vida nos revelaRevela o abismo que há em nósCiclo de finitudes no próprioInfinito

POEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPES

No poente dos meus olhosE na nascente suave da minha boca

Com as melhores maldades possíveis

Na cabeça de um poeta sem juízo

A distância é cúmplice da saudade Que em nós habita

Quando o tempo separa o inevitável une

Nada nos completa na falta que tudo em nós incitaA frase descora quando a estrofe dá-se O verso morre quando a poesia nasce

Um miserável decora a sua própria angústia

Pela dor imensurável que a ilusão em vão recita

Lavou o mundo nos olhos

Não cobre coerência e sensatez Porque a vida por si só é embriaguez O ópio da emoção rejuvenesce Mas envelhece o ócio da razão

os revela Revela o abismo que há em nós Ciclo de finitudes no próprio

POEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPESPOEMAS DE JOSÉ ARAÚJO LOPES Guardo um poema

No poente dos meus olhos E na nascente suave da minha boca

Um saliente beijo Com as melhores maldades possíveis

E cabíveis de um poeta sem juízo

Nada nos completa na falta que tudo em nós incita

decora a sua própria angústia Pela dor imensurável que a ilusão em vão recita

Page 11: As flores do mal

De que adianta a cova rasa Se a dor que mata é tão profunda?A mágoa cujo enterro aflora Aflora o enterro cuja mágoa incita O coração apenas ressuscita Os olhos velam E o destino destila as diferenças Se é pra enterrar o amor Enterremos primeiro as mágoasPra que o amor descanse em paz

A madrugada inflamada de tristezaCompõe em mim orvalho e solidãoOs olhos que não choram maisPelos ventos errantes se vão

Se vão como sSem culpa Sem medo e sem razãoEm mim a vida vai como quem sonha

Como quem sonha em mim os sonhos vão

Se a madrugada é triste e friaAlegre e quente sou quando poesiaO poema não envelhece A eternidade é a alma do poeta

Se a dor que mata é tão profunda?

Aflora o enterro cuja mágoa incita

destino destila as diferenças

Enterremos primeiro as mágoas Pra que o amor descanse em paz

A madrugada inflamada de tristeza Compõe em mim orvalho e solidão Os olhos que não choram mais Pelos ventos errantes se vão

Se vão como se vai o tempo

Sem culpa Sem medo e sem razão Em mim a vida vai como quem sonha

Como quem sonha em mim os sonhos vão

Se a madrugada é triste e fria Alegre e quente sou quando poesia O poema não envelhece – eterniza A eternidade é a alma do poeta

O tempo é

Não sei ao certo o que sou

Como quem sonha em mim os sonhos vão

O tempo é um detalhe

Não sei ao certo o que sou – quem me diria –

Em vez de o que sou O que seria?

Page 12: As flores do mal

João Gilberto Guimarães Sobrinho

Ânsia Tenho me esforçado Completamente Em apenas sobreviverAos maremotos insanosQue me arrastam Para uma nova vivênciaInesperada Onde tudo parece fácilQuando queria ser hostilE eu sei (absolutamente)Que existem novas armadilhasA cada passo que eu seiQue ouso dar para não morrerDe novo, inóspito eSobrecarregado de escombrosDa minha torpe existência normal

Do que meu próprio pensamento venoso

Não consigo nada mais do que ficar nervoso

Nos dias em que penso acordar sensato

João Gilberto Guimarães Sobrinho

Em apenas sobreviver Aos maremotos insanos

Para uma nova vivência

Onde tudo parece fácil Quando queria ser hostil E eu sei (absolutamente) Que existem novas armadilhas A cada passo que eu sei Que ouso dar para não morrer De novo, inóspito e Sobrecarregado de escombros Da minha torpe existência normal

Não sei mais dizer o que seriaSe dessa forma vil não fosse

Nem arrisco moedas novasEm idéias um pouco mais velhas

Do que meu próprio pensamento venosoE se me ataca em lapso a grosseria

Não consigo nada mais do que ficar nervosoE entregue as questões infindasDa minha ligeira natureza morta

Nos dias em que penso acordar sensatoE cheio de novas inocências

João Gilberto Guimarães Sobrinho

mais dizer o que seria Se dessa forma vil não fosse

Nem arrisco moedas novas Em idéias um pouco mais velhas

Do que meu próprio pensamento venoso E se me ataca em lapso a grosseria

Não consigo nada mais do que ficar nervoso E entregue as questões infindas Da minha ligeira natureza morta

Nos dias em que penso acordar sensato E cheio de novas inocências

Page 13: As flores do mal

Flores Quem me ama quer somenteMeu corpo Para amar nas horas vagasDe um espírito mornoQuem eu quero me ignoraMesmo sabendo que existoE insisto Em mandar flores Cobertas de ressentimentoE desejo

À uma mulher perdida

Teus olhos tão castosMe sorriam radiantes

Enquanto meus pequenosDedos nocivos

Passeavam por todo caisDo teu lindo corpo

E tudo isto se perdiaNas margens de tuasBelas coxas rosadasOnde eu me esqueciaDos beijos largados

Que hoje parecem perdidos

Das nossas melhores lembrançasPlenamente amortizadas

Quem me ama quer somente

horas vagas De um espírito morno Quem eu quero me ignora Mesmo sabendo que existo

Cobertas de ressentimento

Nocivo

À uma mulher perdida

Teus olhos tão castos Me sorriam radiantes

Enquanto meus pequenos Dedos nocivos

Passeavam por todo cais Do teu lindo corpo caótico

E tudo isto se perdia Nas margens de tuas Belas coxas rosadas Onde eu me esquecia Dos beijos largados

Que hoje parecem perdidos No caos

Das nossas melhores lembranças Plenamente amortizadas

Page 14: As flores do mal

Não sou viado sou fruto de um meio escarrado pela angustia de ser sombra, por recusar a luz, e que há dez anos me atormenta... sou amadurecido e independente Fui abençoado nasci príncipe, minha mãe me fez assim, e meu pai financiou sou acolhido e dependente Não sou tapado venho de lugares onde as amizades têm um valor real, lá o amigo não é um quadro negro, lá a amizade é fundamental! que pena, depois de quase dez anos, meus amigos daqui descobrirem só agora esse fundamento, que se fodam então! saindo da rima, e fazendo analises concretas: Juazeiro é uma cidade fechada, mas destribalizada, Petrolina é aberta e agrupada. Sou um mau amigo por ser verdadeiro e amar somente meus amigos verdadeiros e os que sei que me amariam se tudo não tivesse acontecido... Sou um troglodita de óculos por usar armadura e acoplado a ela uma flor... E sim, eu posso desmistificar o imaginado, se eu sou Deus! *Ao meu amigo John Williams, e àquelas noitadas que passamos juntos, eu, ele, sorriso e alguns litros de vodka! The Graveyard Gosto de me sentir cemitério, de sentir a areia fértil do cemitério o seu cheiro de flor, gosto de me sentir transflor e o Sol quando aquece essa superfície poeiriça umedece o centro incomodando-o e reagindo-o e fertilizando-o mas não gosto de ouvir o choro de perca de mãe minha santa mãe que Deus a tenha sempre... Ao Brother que ouvi seus lamentos no Hospital Regional, lamentos incomentáveis...

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Satã é inconveniência dizer que uma pessoa é inconveniente as pessoas não são porcos, não são o mal... o mal, os porcos é o sistema que acopla a psiquê humana de tal forma a não permitir o desenvolvimento dessa gloriosa espécie... Satã é as trevas da inconsciência Satã é o sistema, mas esse não forma é formado, por isso pode ser desformado! Satã é a consciência humana formada nas trevas, sem a luz de um passeio despreocupado de fim de tarde..ah!ha!ah!... sem a luz dos olhos de uma linda namorada! A mim, que sou o próprio Lúcifer! Sou Luz e Fé Me sinto leve e lindo como uma menina que perde a virgindade me sinto virtuoso como uma flor ao desabrochar me sinto uma flor com toda sua beleza e vigor... e tenho já o fruto! A todos, e que descubram isso!

ALECRIM SIMÕES

*Obs.: Todos os textos são de total responsabilidade de quem os assina

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EXPEDIENTE “As Flores do Mal” nº 03 – Abril de 2011 Informativo Crítico-cultural Contatos: João Gilberto Guimarães Sobrinho e/ou John Williams B. e/ou Rildon Alves. http://clae-literatura.blogspot.com [email protected]

Juazeiro / Petrolina / Brasil – 2011

Quando tudo “acabar” que reste apenas palavras, amigos e cervejas

Dedicado à João Gilberto Guimarães Sobrinho

Enquanto o mundo gira Aqui estamos nós Ínfimos desgraçados A beber no covil dos desatentos. Enquanto o mundo ri Cada um se compraz Em sua própria tragédia E entre letras, contos e sonhos, A virilidade das tuas palavras Me faz acreditar em poesia [de novo] Enquanto o mundo nos lança anátema, A insistência instigante de nos manter ébrios Nos depara com o sepulcro inevitável da noite. E antes que amanheça e comece o ignoto ciclo De giros, risos e anátemas, Voltamos camabaleantes para casa, Por entre a madrugada, perigos e poemas.

Heron Jordan Batista de Macêdo