as ppp no sector das energias r - ana isabel craveiro martins

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As Parcerias Público-Privadas no Sector das Energias Renováveis O caso da Energia Eólica Ana Isabel Cravinho Martins Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Professor Doutor José Álvaro Pereira Antunes Ferreira Orientador: Professor Doutor Rui Domingos Ribeiro da Cunha Marques Vogal: Dr. Tiago Manuel Caetano Rodrigues Henriques Jorge Rodrigues Janeiro de 2010

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Page 1: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

As Parcerias Público-Privadas no Sector das Energias

Renováveis

O caso da Energia Eólica

Ana Isabel Cravinho Martins

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri

Presidente: Professor Doutor José Álvaro Pereira Antunes Ferreira

Orientador: Professor Doutor Rui Domingos Ribeiro da Cunha Marques

Vogal: Dr. Tiago Manuel Caetano Rodrigues Henriques Jorge Rodrigues

Janeiro de 2010

Page 2: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

Agradecimentos Esta dissertação não poderia ter sido possível sem a ajuda de todos os que, de uma forma ou de

outra, me incentivaram, motivaram e acompanharam durante toda a sua elaboração.

Ao Professor Rui Cunha Marques, o meu obrigado por toda a orientação, conhecimentos e incentivo,

que me transmitiu a longo de todos estes meses, assim como a sua permanente disponibilidade e

empenho demonstrado nas sugestões que trouxe para a melhoria do desenvolvimento desta

dissertação.

Ao Doutor Tiago Rodrigues, da empresa IberWind, pela prontidão com que me recebeu e total boa-

vontade em facultar-me elementos preciosos, quer por seu intermédio, quer através de colaboradores

seus, para o desenvolvimento deste trabalho.

Ao Engenheiro João Hormigo, da empresa EDP, que sempre demonstrou grande disponibilidade e

boa-vontade na cedência de muita informação sobre toda a temática eólica, compartilhando comigo a

sua vasta experiência profissional a nível internacional neste sector.

À Doutora Manuela Parreira e ao Doutor João Marques de Almeida, agradeço o envolvimento que

demonstraram na ajuda que me prestaram relativamente ao artigo científico, na revisão da sua

tradução para inglês.

Aos meus colegas do Técnico, Anderson Freitas (Doshi), Ana Raposo (Fox), Zés, Pinto e Ângela,

pelo companheirismo e grande amizade sempre demonstrada desde que nos conhecemos. Ao meu

amigo Doshi, em especial, agradeço o grande incentivo que me deu em todas as fases importantes

no meu percurso académico, nomeadamente na decisão que envolveu a minha mudança de curso.

Ao meu colega Diogo, agradeço a companhia nos muitos dias de trabalho na biblioteca na realização

das nossas dissertações e pela ajuda nas formatações.

Ao André por toda a paciência e apoio que me deu durante toda a fase de desenvolvimento deste

trabalho, especialmente nos últimos meses.

Aos meus pais e irmã, agradeço especialmente pelo permanente estímulo que me deram ao longo de

toda a minha vida e a segurança que me transmitem, acreditando sempre em mim.

Page 3: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

Resumo

A presente dissertação tem como principal objectivo analisar um concurso eólico, estabelecido por

meio de uma parceria-público-privada (PPP), ao nível de acesso ao negócio, análise de riscos

associados e gestão do contrato celebrado.

O trabalho foi dividido em cinco partes fundamentais. Na primeira, efectuou-se uma pesquisa

bibliográfica e da documentação relacionada com as PPP, tentando esclarecer quais os pontos

fundamentais a considerar neste tipo de modelo de contratação pública e sempre que possível

estabelecer comparações com o modelo tradicional.

Na segunda parte realizou-se uma caracterização do sector eléctrico em Portugal, bem como a

caracterização do sector das energias renováveis, quer a nível mundial, quer a nível de Portugal,

dando especial atenção à energia eólica.

Na terceira parte, é feita uma abordagem ao acesso ao negócio de um empreendimento eólico, em

que se procura analisar quais as fases de um projecto eólico, quais os factores que possibilitam e

dificultam o desenvolvimento de projectos eólicos, os aspectos concorrenciais, a análise económica e

financeira e a análise de um concurso eólico. Na análise da fase concursal do projecto eólico, é dado

especial atenção aos critérios de avaliação das propostas apresentadas a concurso, bem como às

fases de pré-qualificação e de negociação com os concorrentes.

Na quarta parte, para além de alguma pesquisa bibliográfica relacionada com os riscos em PPP´s e

em projectos de energia renovável, foi proposta uma lista orientadora de riscos associados a

projectos eólicos, tentando-se realizar uma análise comparativa do que seria de esperar e o que foi

realmente estabelecido no contrato analisado.

Na quinta e última parte, é realizada uma análise da estrutura contratual de projectos eólicos, bem

como a sua gestão. É efectuada uma detalhada comparação entre parâmetros susceptíveis de serem

analisados em projectos PPP e os dispostos no contrato do caso de estudo.

Palavras-Chave: Parceria Público-Privada (PPP); energias renováveis; energia eólica; concurso

público; partilha de risco; gestão de contrato.

.

Page 4: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

Abstract

The main purpose of this dissertation consists on reviewing the procurement process on a public-

private partnership (PPP) established for the construction and operation of a wind power plant (WPP),

namely in respect to i) the business analysis, ii) risks associated to the contract and iii) contract

management.

This work was divided into five major parts: First, we aimed to clarify the key points to consider in this

type of public procurement and, where possible, to compare it with the traditional public procurement

model. For this effect, a detailed bibliographic research of relevant books, articles and other

documentation related to PPP was carried out;

Subsequently, the electricity and renewable energy sectors were characterized. The first one was

reviewed on a local perspective while the latter one was analysed both from a local and global point of

view. Notwithstanding the broad scope of the subject matter, particular attention was dedicated to

wind power;

In the third part, we sought to review all main phases of a public procurement for the construction and

operation of a wind power plant, including the facilitating and hindering factors for the development of

such type of projects, as well as the financial, economic and competitive issues. Special attention was

given to the criteria for evaluation of the tenders, as well as to the pre-qualification stage and the

negotiations with competitors;

In the next chapter, we reviewed some literature on the general risks inherent to PPP's, and, in

particular, to PPP’s for renewable energy projects. In addition, a guiding list of risks associated to wind

projects was proposed, trying to make a comparative analysis of what is theoritically expected and the

risks actually covered in this specific contract;

Finally, an analysis of the contractual structure of wind projects and of its respective management was

conducted. A detailed comparison was made between the parameters that are usually introduced in

PPP projects and the ones actually used in the contract under review.

Key-Words: Public-Private Partnerships (PPP); renewable energy; wind power plant; public tender;

risk sharing; contract management.

Page 5: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

i

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1.1. As Parcerias Público-Privadas no Sector das Energias Renováveis ............................... 1

1.2. Objectivos e Metodologia ...................................................................................................... 1

1.3. Estrutura .................................................................................................................................. 3

2. PPP´S – MODALIDADE DE CONTRATAÇÃO PÚBLICA .................................... 5

2.1. Enquadramento ...................................................................................................................... 5

2.2. Conceito de Parceria Público-Privada ................................................................................. 5

2.2.1 Tipos de Parceria Público-Privada ................................................................................... 6

2.3. Contratação Pública Tradicional VS Contratação por via PPP ......................................... 7

2.4. Value for Money (VfM) e Comparador do Sector Público (PSC) ........................................ 9

2.5. O Risco .................................................................................................................................. 12

2.6. Financiamento PPP .............................................................................................................. 13

2.7. As Fases de um Concurso de uma PPP ............................................................................ 14

2.8. Monitorização do Contrato de uma PPP ............................................................................ 15

3. O SECTOR ENERGÉTICO ................................................................................. 17

3.1. O Sistema Eléctrico Português ........................................................................................... 17

3.1.1 Produção ........................................................................................................................ 18

3.1.2 Transporte ...................................................................................................................... 18

3.1.3 Distribuição ..................................................................................................................... 19

3.1.4 Comercialização ............................................................................................................. 19

3.2. A situação Portuguesa e Internacional das Energias Renováveis ................................. 19

3.3. A Energia Eólica ................................................................................................................... 22

3.3.1 Aspectos Gerais ............................................................................................................. 22

3.3.2 Vantagens e Desvantagens ........................................................................................... 24

3.3.3 Tipos de energia eólica .................................................................................................. 25

3.3.4 Panorama Mundial .......................................................................................................... 26

3.3.5 Panorama Português ...................................................................................................... 28

Page 6: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

ii

4. ACESSO AO NEGÓCIO – CONCURSO EÓLICO .............................................. 30

4.1. Fases de um Projecto Eólico ............................................................................................... 30

4.2. Factores determinantes para o desenvolvimento de projectos eólicos ........................ 31

4.3. Barreiras ao desenvolvimento de projectos eólicos ........................................................ 31

4.4. Concorrência......................................................................................................................... 33

4.5. Análise Económica de um Parque Eólico .......................................................................... 34

4.5.1 Vendas ............................................................................................................................ 35

4.5.2 OPEX .............................................................................................................................. 37

4.5.3 Investimento ................................................................................................................... 37

4.6. Concurso eólico – Caso de Estudo .................................................................................... 39

4.6.1 Aspectos gerais .............................................................................................................. 39

4.6.2 Análise dos Critérios e Subcritérios ................................................................................ 40

4.6.2.1 Critério A. Impacte Económico .............................................................................. 41

4.6.2.2 Critério B. Criação de um Cluster Industrial de apoio ao sector ........................... 41

4.6.2.3 Critério C. Gestão Técnica do Sistema ................................................................. 42

4.6.2.4 Critério D. Apoio à Inovação .................................................................................. 43

4.6.3 Análise de propostas nas fases de pré-qualificação e de negociação .......................... 43

5. RISCOS ............................................................................................................... 47

5.1. O Risco nas Parcerias Público-Privadas ........................................................................... 47

5.2. O Risco em Projectos de Energias Renováveis ................................................................ 49

5.2.1 Principais Riscos envolvidos em Projectos de Energias Renováveis ............................ 49

5.2.2 Risco em projectos de ER na óptica dos Stakeholders ................................................. 51

5.3. A Partilha de Riscos analisada no Contrato Eólico .......................................................... 54

5.3.1 Riscos de Planeamento e Concepção ........................................................................... 55

5.3.2 Riscos de construção ..................................................................................................... 56

5.3.3 Risco de Ligação ............................................................................................................ 56

5.3.4 Acessibilidade ................................................................................................................. 57

5.3.5 Licenças, Expropriação .................................................................................................. 58

5.3.6 Risco Ambiental .............................................................................................................. 58

5.3.7 Risco de Operação e Manutenção ................................................................................. 58

5.3.8 Risco Tecnológico .......................................................................................................... 59

5.3.9 Risco de Performance .................................................................................................... 59

5.3.10 Risco de Procura e Concorrência ................................................................................... 60

5.3.11 Risco Financeiro ............................................................................................................. 60

5.3.12 Força Maior ..................................................................................................................... 61

5.3.13 Matriz síntese de alocação de riscos ............................................................................. 61

Page 7: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

iii

6. GESTÃO DO CONTRATO .................................................................................. 62

6.1. Estrutura contratual de um projecto eólico ....................................................................... 62

6.2. Monitorização do contrato Estado – Empresa Privada (PPP) ......................................... 62

6.2.1 Desenvolvimento do Plano Estratégico .......................................................................... 63

6.2.2 Desenvolvimento e Implementação do Processo de Monitorização .............................. 63

6.2.3 Revisão Sistemática ....................................................................................................... 64

6.2.4 Aspectos fundamentais na Monitorização do Contrato PPP VS Análise

do Caso de Estudo ......................................................................................................... 64

6.2.4.1 Gestão do Contrato ............................................................................................... 64

6.2.4.2 Monitorização do Desempenho ............................................................................. 64

6.2.4.3 Monitorização do relacionamento entre as Partes e Gestão de Conflitos ............ 69

6.2.4.4 Flexibilidade do Contrato ....................................................................................... 71

6.2.4.5 Plano de Contingência .......................................................................................... 73

6.3. Contrato entre Empresa Promotora do Parque Eólico – Fornecedores ......................... 74

6.4. Licenças de propriedade ..................................................................................................... 76

6.5. Contrato de compra de energia - PPA ................................................................................ 76

6.6. Contratos com seguradoras ................................................................................................ 77

7. CONCLUSÕES ................................................................................................... 78

7.1. Síntese Conclusiva ............................................................................................................... 78

7.2. Desenvolvimentos futuros .................................................................................................. 79

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 81

ANEXOS

A. ENERGIAS RENOVÁVEIS ............................................................................... A.1

A.1. Energia Hídrica ................................................................................................................... A.1

A.2. Energia Solar....................................................................................................................... A.6

A.3. Energia das Ondas ............................................................................................................. A.9

A.4. Energia das Marés ............................................................................................................ A.12

A.5. Energia Geotérmica .......................................................................................................... A.13

A.6. Biomassa ........................................................................................................................... A.16

Page 8: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

iv

B. CONCURSO EÓLICO ..................................................................................... A.20

B.1. Valorizações dos Critérios .............................................................................................. A.20

B.2. Obrigações Específicas da Sociedade Promotora (ENEOP) dispostas

no Contrato ....................................................................................................................... A.25

Page 9: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

v

Índice de Figuras

Figura 2.1: Tipos de Parceria Público-Privada ................................................................................... 7

Figura 2.2: Processo de contratação pública tradicional (Fonte: Budina, et al, 2007) ...................... 7

Figura 2.3: Processo de contratação por via PPP (Fonte: Budina, et al, 2007) ................................ 8

Figura 2.4: Comparador do Sector Público e método de avaliação das propostas

(Fonte: adaptado de Partnerships Victoria, 2001) ......................................................... 11

Figura 2.5: Fases da vida de um Projecto PPP ................................................................................ 15

Figura 3.1: Organização do Sistema Eléctrico Nacional (SEN) (Fonte: REN) ................................. 17

Figura 3.2: Distribuição em Portugal dos vários tipos de PRE´s (2008) (Fonte: ERSE) ................. 18

Figura 3.3: Distribuição por tipo de Energia Renovável dos Investimentos, Criação de Emprego

e Redução de CO2 (Fonte: Adaptado de MEI, 2007) .................................................... 20

Figura 3.4: Metas a atingir em 2010 (Fonte: Berliant, 2008) ............................................................ 21

Figura 3.5: Evolução da Energia produzida a partir de fontes renováveis - Portugal (TWh)

(Fonte: DGEG, Estatísticas Rápidas – Maio 2009) ....................................................... 22

Figura 3.6: Turbina de eixo horizontal (HAWT). ............................................................................... 23

Figura 3.7: Turbina de eixo vertical (VAWT). .................................................................................... 23

Figura 3.8: Parque Eólico On-Shore ................................................................................................. 25

Figura 3.9: Parque Eólico Off-Shore ................................................................................................. 25

Figura 3.10: Distribuição mundial do potencial de energia eólica (W/m2) em 2006.

(Fonte: Lua, et al, 2009) ................................................................................................ 26

Figura 3.11: Capacidade instalada em 2008 (Fonte: GWEC, 2008) .................................................. 26

Figura 3.12: Top 10 nova capacidade em 2008 (Fonte: GWEC, 2008) ............................................. 26

Figura 3.13: Distribuição das velocidades do vento na Europa (m/s) (Fonte: Anemos) .................... 27

Figura 3.14: Potência eólica instalada mundial (MW) (Fonte: Emerging Energy Research) ............. 27

Figura 3.15: Eólica Off-Shore na UE (Fonte: EWEA, 2008) .............................................................. 28

Figura 3.16: Localização dos parques eólicos em Dezembro de 2008. (Fonte: INEGI, 2008) .......... 29

Figura 4.1: Fases de um projecto eólico. .......................................................................................... 30

Figura 4.2: Principais promotores do mercado eólico em Portugal no final de 2008

Fonte: INEGI, 2008) ....................................................................................................... 33

Figura 4.3: Principais fabricantes de aerogeradores presentes em Portugal no final de 2008

(Fonte: INEGI, 2008) ...................................................................................................... 34

Figura 4.4: Estrutura de geração de valor de um projecto eólico ..................................................... 34

Figura 4.5: Evolução das tarifas de energia eólica no período 1998-2007

(Fonte: IEA Wind Energy, 2008) .................................................................................... 35

Figura 4.6: O mercado da energia eléctrica e o mercado dos certificados verdes

(Fonte: Sousa, 2007) ...................................................................................................... 36

Figura 4.7: Distribuição dos custos de operação e de manutenção.

(Fonte: adaptado de EWEA, 2009) ................................................................................ 37

Figura 4.8: Estrutura típica de investimento num parque eólico (Fonte: Moura e Filipe, 2003) ...... 38

Figura 4.9: Estrutura típica de um custo de um aerogerador (Fonte: Moura e Filipe, 2003) ........... 38

Page 10: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

vi

Figura 4.10: Custo total de investimento, incluindo aerogeradores, fundações e ligação à rede,

para diferentes tamanhos de turbinas e países de instalação

(Fonte: EWEA, 2009 a) .................................................................................................. 38

Figura 4.11: Impactes esperados em Portugal com o lançamento do concurso eólico ..................... 39

Figura 4.12: Concorrentes à fase A e B do concurso eólico .............................................................. 40

Figura 5.1: Gestão do Risco ............................................................................................................. 47

Figura 5.2: Exemplo de alocação de riscos em PPP (Fonte: Marques, 2009) ................................ 48

Figura 5.3: Recursos de Energia Renovável mais sujeitas a Risco (Fonte: adaptado

Cleijne e Ruijgrok, 2004)................................................................................................. 51

Figura 5.4: Ranking dos riscos que afectam os investimentos em energias renováveis na

Europa (a) frequência dos riscos; b) média de importância atribuída aos riscos na

escala 0-10) (Fonte: adaptado de Cleijne e Ruijgrok, 2004) ......................................... 52

Figura 5.5: Classificação das estratégias de mitigação de risco (Fonte: adaptado de

Ragwitz, et al, 2007) ....................................................................................................... 52

Figura 6.1: Estrutura contratual de um projecto eólico ..................................................................... 62

Figura 6.2: Passos para o desenvolvimento e implementação do processo de Monitorização de

um Contrato (Fonte: adaptado de Partnerships Victoria, 2003) .................................... 62

Figura 6.3: Tipos de fornecedores de um parque eólico .................................................................. 74

Figura 6.4: Exemplo de recompensas e penalidades a impor aos fornecedores ............................. 75

Anexos

Figura A.1: Distribuição da capacidade instalada das grandes Centrais hidroeléctricas em

Portugal em 2008 (Fonte: DGEG) ................................................................................ A.3

Figura A.2: Potencial hídrico não aproveitado e capacidade instalada desde 1975

(Fonte: Palma, 2009; PNBEPH) ................................................................................... A.4

Figura A.3: Perspectiva de Evolução da capacidade instalada hídrica em Portugal

(Fonte: MEI, 2007) ........................................................................................................ A.4

Figura A.4: Capacidade cumulativa instalada de energia fotovoltaica mundial, por ano,

em MW (Fonte: Greenchipstocks, 2009) ...................................................................... A.7

Figura A.5: Irradiação Solar horizontal anual em Portugal e na Europa (Fonte: PVGIS) .............. A.8

Figura A.6: Evolução da área de colectores solares instalados em Portugal (Fonte: DGEG) ....... A.8

Figura A.7: Distribuição mundial do recurso da energia das Ondas em kW/m ou MW/km

(Fonte: Wave energy Centre, 2004) ........................................................................... A.10

Figura A.8: Localização das zonas de possível aproveitamento da energia das Ondas em

Portugal (Fonte: adaptado de EDP Renováveis, 2009) ............................................. A.11

Figura A.9: Produção Mundial de Electricidade de origem Geotérmica (Fonte: DGEG) ............. A.14

Figura A.10: Produção Mundial de Calor de origem Geotérmica (Fonte: DGEG) ......................... A.14

Figura A.11: Previsão de potência instalada cumulativa de energia Geotérmica no mundo até

2020. (Fonte: Greenchipstocks, 2009) ....................................................................... A.14

Page 11: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

vii

Figura A.12: Ocorrências termais em Portugal Continental (Fonte: DGEG) .................................. A.15

Figura A.13: Áreas com potencialidades geotérmicas e gradiente geotérmico médio em

Portugal (Fonte: INETI) .............................................................................................. A.15

Figura A.14: Utilização de biomassa na Europa (Fonte: Teixeira, 2009) ....................................... A.17

Figura A.15: Mapa da localização das centrais existentes e futuras (Fonte: DGEG) .................... A.19

Page 12: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

viii

Índice de Quadros

Quadro 3.1: Metas portuguesas a atingir na produção de energias renováveis. [Fonte: PNBEPH] . 21

Quadro 3.2: Evolução histórica da potência instalada em renováveis (MW) – Portugal

Continental (Fonte: DGEG, Estatísticas Rápidas – Maio 2009) .................................... 21

Quadro 3.3: Caracterização da potência eólica instalada em Portugal (Fonte: DGEG –

Estatísticas rápidas – Maio 2009) ................................................................................... 28

Quadro 3.4: Potência Eólica em Portugal ligada à rede pública (Fonte: REN, 2009) ....................... 29

Quadro 4.1: Processo de licenciamento de um projecto eólico (Fonte: Filipe, 2003) ....................... 32

Quadro 4.2: Critérios e Subcritérios de avaliação das propostas do concurso eólico

(Fonte: PCC – Programa e Condições do Concurso) .................................................... 40

Quadro 4.3: Pontuação das propostas dos quatro concorrentes ao concurso eólico na fase de

pré-qualificação ............................................................................................................... 43

Quadro 4.4: Pontuações das propostas iniciais dos quatro concorrentes ......................................... 43

Quadro 4.5: Pontuações finais das propostas dos concorrentes na fase inicial e na BAFO ............. 44

Quadro 4.6: Pontuações finais das BAFO da Ventinveste e da ENEOP ........................................... 44

Quadro 5.1: Riscos Chave associados a projectos de Energias Renováveis

(Fonte: adaptado de UNEP, 2008) ................................................................................. 53

Quadro 5.2: Principais riscos na exploração de um parque eólico .................................................... 55

Quadro 5.3: Matriz de alocação de riscos para o contrato analisado ................................................ 61

Quadro 6.1: Datas-Chave do Contrato eólico ..................................................................................... 68

Anexos

Quadro A.1: Principais características dos aproveitamentos seleccionados para o PNBEPH

(Fonte: PNBEPH) ......................................................................................................... A.5

Quadro A.2: Listagem das 10 barragens integrantes do PNBEPH .................................................. A.5

Quadro A.3: Lista das Centrais de Biomassa a concurso e respectivas empresas vencedoras.... A.19

Quadro A.4: Funcionalidades do centro de despacho (Fonte: PCC) ............................................. A.22

Page 13: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

ix

Índice de Abreviaturas

ADENE – Agência para a Energia

AIA – Avaliação de Impacte Ambiental

APREN – Associação portuguesa de energia renováveis

BAFO – Best and Final Offer

CMH – Central Mini Hídrica

COGEN – Associação Portuguesa para a Eficiência Energética e Promoção da Cogeração

CUR – Comercializadores de Ultimo Recurso

CO2 – Dióxido de Carbono

DGEG – Direcção Geral de Energia e Geologia

EDP – Energias de Portugal

ENEOP – Consórcio Eólicas de Portugal

ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos

EWEA – European Wind Energy Association

ER – Energia Renovável

E – FER – Produção de energia com base em fontes renováveis de energia

FER – Fontes de Energia Renovável

GEE – Gases com Efeitos de Estufa

GWEC – Global Wind Energy Council

INEGI – Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial

JOUE – Jornal Oficial da União Europeia

KPI – Key Performance Indicator

LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil

MCOTA – Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente

PCC – Programa e Condições do Concurso

PFI – Private Finance Initiative

PPP – Parceria Público-Privada

PPA – Power Purchase Agreement (Contrato de compra de energia)

PSC – Public Sector Comparator (Comparador do Sector Público)

PRE – Produção em Regime Especial

PRO – Produção em Regime Ordinário

INEGI – Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial

MW – Megawatt

MWh – Megawatt-hora

OBC – Outline Business Case

O&M – Operação e Manutenção

REN – Rede Energética Nacional

Page 14: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

x

RNT – Rede Nacional de Transporte

RND – Rede Nacional de Distribuição

SEI – Sistema Eléctrico Independente

SEP – Sistema Eléctrico de Serviço Público

SEN – Sector Eléctrico Nacional

SENV – Sistema Eléctrico Não Vinculado

SPV – Sociedade Promotora de Veículo

TWh – Terawatt-hora

VfM – Value for Money

Page 15: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. As Parcerias Público-Privadas no Sector das Energias Renováveis

O sector energético, especialmente no que se refere às energias renováveis, tem vindo a sofrer um

grande desenvolvimento nos últimos anos devido sobretudo à crescente procura de energia que se

tem feito sentir.

Com efeito, os combustíveis fósseis, ao promoverem a emissão de gases com efeito de estufa –

GEE, para além de representarem custos bastante elevados, estão na origem de grandes catástrofes

ambientais e alterações climáticas, levando à necessidade da sua substituição, motivo que está na

origem da evolução do sector da energia renovável. Torna-se, portanto, indispensável a promoção da

produção de energia eléctrica com base em fontes de energia renovável. Contudo, a maioria das

fontes renováveis de energia são ainda economicamente desvantajosas, não conseguindo concorrer

com as tecnologias convencionais segundo o paradigma de mercado tradicional.

O Estado, na sua missão de assegurar a prestação de serviços públicos, utiliza, cada vez mais,

modelos de contratação pública que assentam essencialmente na colaboração entre o sector público

e o sector privado, com a ideia subjacente do provimento de serviços com benefício da colectividade,

tendo como princípio elementar a partilha de riscos entre os parceiros. Este modelo, designado por

Parceria Público–Privada (PPP), assume-se como uma forma contratual privilegiada para o Estado

assegurar a prestação desses serviços.

A principal razão que faz com que o sector público se vire para projectos de energia renovável, por

meio de uma PPP, é o facto de o Estado não poder suportar os custos de um projecto desta

envergadura, e como tal, opta por tirar partido da inovação, do know-how, da flexibilidade do

financiamento do sector privado, fazendo com que a prestação de serviços se desenvolva de uma

forma mais rentável, relativamente aos modelos tradicionais.

Neste sentido, o Estado como catalisador para tornar os atributos relacionados com a energia mais

atraentes para os fornecedores, consumidores e investidores, tem vindo a lançar a concurso vários

projectos que têm por base o investimento em energias renováveis, nomeadamente no que se refere

à energia eólica e à biomassa. Resultante da promoção de projectos, com base em energia

renovável, por parte do Governo e da forte aposta do sector privado neste tipo de projectos, tomando

por base as condições de contratação impostas pelo Estado, tem-se vindo a contribuir não só para o

desenvolvimento sustentável, como também para o crescimento económico, criação de novos

empregos, maior competitividade da indústria, desenvolvimento rural e redução de importações.

1.2. Objectivos e Metodologia

A presente dissertação intitulada “parcerias público-privadas no sector das energias renováveis”

surge da necessidade de se analisar uma PPP num sector bastante actual e completamente novo em

Portugal, que é o das energias renováveis, designadamente tendo como objectivo o sector eólico.

Page 16: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

2

Torna-se então imprescindível a criação de três objectivos essenciais subjacentes a este tipo de

modalidade de contratação pública desde a fase de apresentação das propostas até ao momento de

assinatura do contrato e respectiva monitorização.

O primeiro objectivo prende-se com a compreensão do acesso ao negócio de um projecto eólico,

nomeadamente as condições de acesso para poder participar num concurso público nesta área, e

seus aspectos concorrenciais e económicos. O segundo objectivo refere-se à definição dos riscos

associados a projectos de energias renováveis, especificamente eólicos, sua análise e respectiva

alocação, quer ao parceiro público, quer ao parceiro privado, quer ainda partilhados por ambos. O

terceiro objectivo diz respeito à análise das condições previstas num contrato tipo PPP celebrado

entre dois parceiros - público e privado, e sua comparação com o contrato eólico que foi estabelecido

em 2006 entre a DGGE e o consórcio Eólicas de Portugal.

Para o desenvolvimento desta dissertação foi realizada uma vasta pesquisa bibliográfica, sobre

Parcerias Público-Privadas nos seus variados domínios, de modo a obter-se todo o tipo de

informação que possibilitasse o conhecimento sobre as condições inerentes a este modelo de

contratação pública e suas vantagens e desvantagens relativamente ao modelo de contratação

tradicional. Foi também objecto de pesquisa bibliográfica, toda a espécie de informação relacionada

com várias formas de energia renovável, com especial incidência no que se refere à energia eólica, e

respectivos modelos contratuais utilizados.

Também, para além de toda a pesquisa bibliográfica realizada com base em riscos inerentes a

Parcerias Público-Privadas e a projectos renováveis, na especificação dos riscos relacionados com

projectos eólicos, foram também realizadas entrevistas a empresas especializadas do sector que

disponibilizaram alguma informação bastante útil para o desenvolvimento deste ponto.

Foi ainda efectuada uma pesquisa bibliográfica relativamente às boas práticas de gestão utilizadas

em Parcerias Público-Privadas noutros países. Ainda para a obtenção de informação relativa a outro

tipo de contratações (privadas-privadas) em projectos de energias renováveis, embora se tenha

realizado alguma pesquisa bibliográfica, foram essencialmente utilizados dados e informações

verbais fornecidas por empresas especializadas do ramo.

Para o cumprimento do primeiro objectivo é realizada, em primeira instância, uma análise detalhada

dos pontos fundamentais a considerar por todos os actores interessados, na entrada de um projecto

eólico, nomeadamente tentando-se responder, da melhor forma, a questões relacionadas com os

pontos fortes e fracos inerentes ao sector, bem como o processo de criação de valor em projectos

desta natureza. Sobre estes aspectos, foi realizada uma vasta pesquisa bibliográfica sobre o sector

eólico e foram também estabelecidos contactos com técnicos responsáveis de algumas empresas

líderes no sector das energias renováveis, que possibilitaram as respostas a questões que se

consideraram pertinentes, as quais foram abordadas ao longo deste trabalho.

Em segundo lugar realiza-se um estudo de um concurso público, lançado pela DGGE em 2005, a

nível internacional, para a atribuição de potência eólica, procurando-se principalemente conhecer os

critérios de avaliação utilizados, analisar as ponderações afectas aos vários critérios considerados

Page 17: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

3

por forma a compreender as preocupações da entidade contratante, assim como analisar

comparativamente as propostas dos vários concorrentes, tanto na fase de pré-qualificação como na

de negociação. Para o cumprimento destes pontos, tomou-se como base a informação fornecida pela

DGEG acerca do referido concurso eólico, nomeadamente, o Programa das Condições de Concurso,

os relatórios de avaliação das propostas nas fases inicial e de negociação, assim como as

respectivas pronuncias dos concorrentes e o contrato que foi estabelecido com o concorrente

vencedor.

Para dar cumprimento ao segundo objectivo, é efectuado um estudo ao factor “risco” inerente a

projectos PPP, bem como ao desenvolvimento da melhor forma de se conseguir a sua mitigação.

Paralelamente, será também elaborada uma apreciação dos riscos expectáveis especificamente em

projectos de energia renovável, nomeadamente em termos de percepção de quais as fontes

renováveis que proporcionam mais riscos, quais os riscos mais passíveis de ocorrer e quais as

formas de mitigação dos mesmos. Seguidamente, pretende-se realizar uma análise comparativa

entre os riscos passíveis de ocorrer em projectos de energia eólica e o disposto no contrato PPP

referente ao concurso público de energia eólica referido.

Para cumprir o terceiro e último objectivo, realiza-se um estudo acerca da estrutura contratual-tipo de

projectos eólicos, utilizando por base vários modelos, com análise em relação a todos os aspectos

que se consideraram relevantes, nomeadamente os que se prendem com todo o processo de

monitorização e gestão do contrato.

Uma análise mais detalhada é feita especialmente no que se refere ao contrato-tipo entre o parceiro

público e o parceiro privado num contrato PPP, estabelecendo-se, sempre que possível, a

comparação com o que foi estabelecido no contrato eólico celebrado entre a DGGE e as Eólicas de

Portugal, dando-se especial atenção aos vários aspectos presentes no contrato eólico analisado

relacionados com as cláusulas referentes ao seu processo de monitorização e referência aos

aspectos que não se encontram contemplados, comparativamente com o que seria de esperar em

projectos tipo PPP.

1.3. Estrutura

Este trabalho encontra-se dividido em sete capítulos, sendo o primeiro e o sétimo correspondentes à

introdução e conclusão, respectivamente, estando ainda incluído neste último uma breve referência a

desenvolvimentos futuros.

No segundo capítulo são apresentados os aspectos essenciais de uma parceria público-privada

(PPP), tentando sempre que possível estabelecer comparações com o modelo de contratação pública

tradicional.

No terceiro capítulo é realizada uma caracterização do sector eléctrico em Portugal e feito o ponto de

situação das energias renováveis, tanto em Portugal como no mundo, dando especial atenção à

energia eólica.

Page 18: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

4

No quarto capítulo é abordada a questão do acesso ao negócio de um projecto eólico, em que se

procura analisar quais as fases de um projecto eólico, quais os factores que possibilitam e dificultam

o desenvolvimento de projectos eólicos, os aspectos concorrenciais e a análise económica e

financeira. Por fim analisa-se especificamente um concurso eólico.

No quinto capítulo, é feita uma análise dos riscos, especificando quais os aspectos essenciais a

considerar em projectos PPP e seguidamente em projectos de energia renovável. Ainda neste

capítulo, é realizada uma análise de todos os riscos associados ao contrato celebrado entre a

ENEOP (promotor eólico) e a DGEG.

No sexto capítulo pretende-se clarificar a estrutura contratual do concurso eólico em estudo, quer a

nível de PPP, quer a níveis de parcerias privadas-privadas, realizando uma análise à gestão global do

contrato.

Page 19: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

5

2. PPP´S – MODALIDADE DE CONTRATAÇÃO PÚBLICA

2.1. Enquadramento

As Parcerias Público-Privadas1 são um modelo de contratação pública relativamente recente em

Portugal, que surgiu como alternativa ao financiamento tradicional do sector público. Estas parcerias

tomaram como base para a sua criação, o conceito de Private Finance Initiative (PFI) criado no Reino

Unido pelo governo de Margaret Thatcher, datado da década de noventa. São parcerias marcadas

pela desintervenção da Administração Pública2 na economia, uma vez que esta deixou de ter meios

próprios para poder implementar serviços destinados à satisfação de necessidades colectivas. Tal

acontecimento deu-se principalmente porque as despesas públicas cresceram para níveis tais, que

nas últimas décadas se revelaram insustentáveis.

Para alguns autores, as PFI surgiram como forma de emagrecimento, melhoria de eficiência e

fortalecimento da administração do Estado. Este processo, segundo Pombeiro (2003) englobou

quatro fases distintas, sendo elas a privatização, a exteriorização, o contracting out e as PPP/PFI.

Esta última fase desenvolveu-se sobretudo devido ao facto de não existir oferta disponível no

mercado para a provisão de serviços, no que toca ao contracting out para determinados sectores

como o hospitalar, prisional, infra-estruturas de transportes, entre outros.

Dada esta retirada do Estado, com o intuito de aumentar a contenção orçamental e sem prejudicar a

qualidade dos serviços prestados, houve a necessidade de recorrer ao sector privado, passando este

a ser o novo operador económico da parceria. Basicamente, incorporou-se capital privado nos

investimentos, o que tradicionalmente sempre foi visto como investimento público, principalmente em

projectos de grande envergadura física e financeira, envolvendo infra-estruturas essenciais, em

especial nos sectores da saúde e dos transportes.

2.2. Conceito de Parceria Público-Privada

Apesar da existência de uma grande variedade de definições acerca das Parcerias Público-Privadas

e de não haver consenso relativamente a este conceito, existem, no entanto, ideias básicas comuns a

todas as definições, no que se refere ao contrato em si, à alocação de riscos e aos aspectos de

gestão. Segundo a legislação portuguesa3 em vigor, uma parceria público-privada é definida como “O

contrato ou a união de contratos, por via dos quais entidades privadas, designadas por parceiros

privados, se obrigam, de forma duradoura, perante um parceiro público, a assegurar o

desenvolvimento de uma actividade tendente à satisfação de uma necessidade colectiva, e em que o

financiamento e a responsabilidade pelo investimento e pela exploração incumbem, no todo ou em

parte, ao parceiro privado.”

1 Ao longo do presente trabalho, as Parcerias Público-Privadas irão ser designadas pela sigla PPP.

2 Por motivos de simplificação, ao longo do documento, adoptar-se-á para a definição de Administração Pública

a palavra “Estado”. 3 Decreto-Lei n.º 86/2003, de 26 de Abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 144/2008, de 28 de Julho e pelo Decreto-

Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro, que aprova o Código dos Contratos Públicos (CCP).

Page 20: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

6

Conforme o explicitado na legislação atrás referida, uma PPP corresponde a um enfoque de longo

prazo (25 anos ou mais), sendo a sua duração muitas vezes correspondente ao ciclo de vida da infra-

estrutura.

Um contrato PPP refere-se a um contrato celebrado entre um parceiro privado e um parceiro público,

podendo este último assumir formas diferenciadas. O parceiro público pode ser o Estado

(Administração Central), outras entidades públicas de população e território ou até mesmo pessoas

jurídicas autónomas integradas no Estado ou na Administração Regional ou Local (Cabral, 2008).

Outro elemento caracterizador das PPP é o facto de a principal responsabilidade pela construção,

financiamento e funcionamento das infra-estruturas pertencer, por regra, ao parceiro privado. Neste

caso, o Estado passa de um papel de provedor a um papel regulador, apenas ficando encarregue de

delimitar, caracterizar e quantificar as necessidades públicas essenciais, contratando esse

provimento em parceria com o sector privado. Isto surge com o objectivo de maximizar o Value for

Money (VfM)4 e minimizar o risco do envolvimento do parceiro Público (Pombeiro, 2003).

2.2.1 Tipos de Parceria Público-Privada

O Livro Verde sobre as Parcerias Público-Privadas e o Direito Comunitário em matéria de Contratos

Públicos e Concessões5 distingue dois tipos de PPP: as PPP de tipo puramente contratual e as de

tipo institucionalizado.

As PPP do tipo puramente contratual assentam em relações unicamente contratuais entre o parceiro

público e o privado e abrangem diversas configurações que atribuem uma ou várias tarefas ao

parceiro privado. Estas tarefas podem incluir a concepção, o financiamento, a realização, a

renovação ou a exploração de uma obra ou de um serviço. Como maior exemplo deste tipo de PPP

nomeiam-se os modelos de concessão em que todo o risco comercial é alocado ao privado e cujo

contrato de concessão tem normalmente uma duração de 20 a 35 anos. Outros exemplos de PPP

puramente contratual são também os contratos de arrendamento, contratos de gestão e outsourcing.

As PPP do tipo institucionalizado implicam a cooperação entre os sectores público e privado numa

entidade distinta. Esta entidade comum aos dois sectores tem como principal tarefa garantir a entrega

de uma obra ou a prestação de um serviço em benefício público. Segundo JOUE (2007), o Comité

das Regiões considera ser um conceito válido, a definição de PPP institucionalizada, como “parceria

que tem por objecto a exploração de uma instalação ou a prestação de serviços aos cidadãos em

troco de uma remuneração paga em todo ou em parte pelos utilizadores”.

Na figura 2.1 ilustra-se as variantes de cada tipo de parceria público-privada.

4 A definição de Value for Money (VfM) será referida mais à frente neste documento.

5 COM (2004), 327 final, de 30 de Abril de 2004.

Page 21: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

7

Figura 2.1: Tipos de Parceria Público-Privada

2.3. Contratação Pública Tradicional VS Contratação por via PPP

Na contratação pública tradicional, o Estado envolve-se directamente no activo que pretende adquirir,

quer se trate de um serviço, quer se trate de uma obra, ou seja, segue um modelo de contratação de

inputs. Para este efeito, o Estado não só especifica o que pretende ver construído, produzido ou

fornecido, mas também especifica a forma “como” deseja ver produzido, construído ou fornecido,

definindo a técnica a utilizar e os materiais que quer ver aplicados. Nestes casos, o Estado celebra

contratos com o sector privado para a construção dos activos públicos, assumindo o controlo e a

operação do empreendimento após a sua construção, ficando a seu cargo quer o projecto, quer o seu

financiamento.

Definida uma necessidade pública, cabe ao Estado responder pela economia, eficiência e eficácia de

todo o empreendimento necessário ao grau de satisfação que lhe é exigido. No entanto, tal como

afirma Pombeiro (2003), existem frequentemente vários decisores públicos, nem sempre em sinergia

no que se refere à contratação dos diversos activos (inputs) para o provimento de bens e serviços

necessários à satisfação da necessidade pública. Este processo de contratação traduz-se na simples

aquisição de bens, na prestação dos serviços e realização de empreitadas de obras com o sector

privado, segundo as especificações fixadas, sem qualquer co-responsabilização dos intervenientes

no processo (fornecedor, produtor ou prestador de serviços) pela economia, eficiência, eficácia e

impacte do empreendimento na satisfação da necessidade pública. O ”procurement” tradicional

implica o pagamento dos activos assim que concluídos, não havendo forma de prover o serviço final

sem a sua aquisição.

Neste processo tradicional poder-se-á considerar que é o próprio Estado que promove as

contratações necessárias ao total provimento dos serviços necessários ao fim em causa, quer a nível

de financiamento, de construção e de manutenção.

Na figura 2.2 representa-se o modelo tipo de uma contratação púbica tradicional.

Figura 2.2: Processo de contratação pública tradicional (Fonte: Budina, et al, 2007)

PPP puramente Contratual PPP Institucionalizada

Contratos de Concessão Contratos de Arrendamento Contratos de Gestão/ Outsourcing

Empresa Mista (Público + Privado)

Administração

Contrato de financiamento

Contrato de manutenção

Empresa de provisão/manutenção

Financiadores Empresa de Construção

Contrato de construção

Page 22: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

8

No que respeita à modalidade de contratação via PPP, pode-se afirmar que representa um processo

muito mais complexo que o processo tradicional, com objectivos focados essencialmente nas

especificações do output que orientará todo o processo de contratação. Neste processo, o Estado

adjudica um serviço a fornecer à população e o sector privado encarrega-se de construir e gerir a

infra-estrutura para garantir esse fornecimento.

Para a avaliação dos benefícios esperados, e consequente tomada de decisão sobre as diversas

opções, terão de ser estabelecidos critérios de medição baseados nos resultados dos objectivos, os

quais terão de ser mensuráveis.

Com este processo de contratação consegue-se unir vantagens para ambas as partes envolvidas na

parceria:

Da parte do Estado, a garantia de poder definir com rigor a qualidade do serviço público a

prestar, minimizando o seu envolvimento, os activos, os riscos e o custo global da contratação;

Da parte do sector privado, a possibilidade de utilização da sua capacidade de agilidade e

flexibilidade para atrair capitais e gerir as obras, viabilizando, desta forma, projectos que, tanto

económica como financeiramente, não teriam possibilidade de ser realizados.

Em resultado desta união, surge ainda um valor acrescentado mútuo, uma vez que o parceiro privado

beneficia de lucro e o parceiro público consegue reduzir os custos na prestação do serviço (Value for

Money).

De facto, trata-se de dois interesses diversos. O interesse privado é essencialmente o lucro, orientado

para o retorno do investimento, para a assunção de riscos e realização de objectivos empresariais. O

interesse público é mais complexo, orientado por legislação, regulação e autoridades, opinião política,

processo de decisão democrático, minimização de riscos e realização de objectivos sociais (Santos,

2007).

A figura 2.3 representa o modelo tipo de contratação por via de uma PPP.

Figura 2.3: Processo de contratação por via PPP (Fonte: Budina, et al, 2007)

Administração

Empresa PPP

Empresa de Construção

Empresa de provisão/manutenção

Financiadores

Contrato de financiamento

Contrato de construção

Contrato de manutenção

Page 23: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

9

2.4. Value for Money (VfM) e Comparador do Sector Público (PSC)

O conceito de Value for Money (VfM) é definido por OGC (2001) como a combinação óptima do custo

e da qualidade “whole-life”, com vista a satisfazer os requisitos impostos pelo Estado e

consequentemente a satisfazer das necessidades dos utilizadores. No âmbito dos contratos PPP, o

objectivo estabelecido é que se alcance sempre o máximo VfM tanto para o sector público como para

o sector privado, ou seja, poupança para o parceiro público (Estado) e lucro para o parceiro privado.

A avaliação VfM contribui tanto para a tomada de decisões racionais na escolha de procedimentos

alternativos de contratação com vista à realização de projectos particulares como para uma melhor

compreensão das forças e das fraquezas inerentes a essas alternativas visando sempre a melhoria

futura das estratégias de contratação (Beckers e Klatt, 2007). No entanto, esta avaliação apresenta

alguns condicionalismos que, por se tratar de uma avaliação de longo prazo, pode apresentar

subjectividades e, por conseguinte, algumas dificuldades no cálculo da poupança num período de

tempo tão longo. Como factores que influenciam a avaliação do VfM podem destacar-se

principalmente a clareza na definição dos objectivos, a focalização nos custos em todo o período de

vida da infra-estrutura, a utilização de uma abordagem focalizada nos outputs, a distribuição

optimizada dos riscos entre os sectores intervenientes na parceria, a identificação, transferência e

gestão rigorosas dos riscos, a garantia de existência de concorrência forte e a flexibilidade.

O Value for Money, como já referido, deve ser estabelecido em todas as etapas de uma PPP, com

especial atenção para as fases de decisão de investimento, de decisão relativamente ao modelo de

provisão e de adjudicação do projecto. Esta análise de custo-benefício, implica uma apreciação global

de todos os custos, riscos e benefícios do projecto. Para tal, são utilizados elementos, tanto

qualitativos como quantitativos, para se proceder ao cálculo do VfM. No que se refere aos elementos

qualitativos a ter em conta neste cálculo, recorre-se aos benefícios de eficiência e inovação, dando

especial atenção aos aspectos socioeconómicos. Quanto aos elementos quantitativos, é utilizada

uma ferramenta denominada por Comparador do Sector Público6 que basicamente analisa a

viabilidade de uma PPP comparando os custos de uma aquisição/operação tradicional exercida pelo

poder público com os custos de uma aquisição/operação por via de uma PPP. A decisão a tomar

entre estes dois tipos de contratação será levada pelo lançamento de procedimento que demonstrar

maior probabilidade de Value for Money para o cliente do sector público.

Tomando como referência os compromissos a assumir pelo Estado, a criação do Comparador do

Sector Público constitui elemento essencial para fazer a avaliação das condições financeiras das

propostas e validar a consistência do projecto. Para efeitos orçamentais, é fundamental que durante

todas as fases do processo de comparação, seja justificada a opção tomada, atendendo sempre aos

factores economia, eficiência e eficácia.

Campos (2005) refere que o comparador do sector público (PSC), na prática, apenas se usa após o

lançamento do concurso para a realização do projecto de investimento em PPP para decidir

efectivamente se se assinará o contrato com o concorrente que apresente a melhor proposta

6 Na literatura internacional o “Comparador do Sector Público” é conhecido pela expressão anglo-saxónica

“Public Sector Comparator ” (PSC).

Page 24: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

10

economicamente mais vantajosa ou se, pelo contrário, se anulará o procedimento com a justificação

de que as propostas apresentadas não atingem o nível esperado de Value for Money em relação à

opção de contratação pública tradicional. O autor aponta também que seria importante fazer uma

análise técnica7 a priori com a finalidade de, por um lado, prosseguir para o lançamento de um

concurso em regime PPP ou, por outro lado, de minimizar o risco de não adjudicação no final de um

procedimento concursal para uma PPP, optando assim por um lançamento de concurso por via

tradicional em detrimento desta.

Segundo Grimsey e Lewis (2004), para o cálculo do comparador do sector púbico, devem ser

considerados aspectos como:

Os resultados devem ser expressos em termos de valor líquido actual;

As estimativas são feitas com base nos outputs previstos com o processo PPP;

As estimativas devem levar em conta todos os riscos que podem ser encontrados.

Segundo Cabral (2008) o comparador do sector público consiste no “custo hipotético, ajustado pelo

risco, do projecto, caso o mesmo fosse realizado e financiado directamente pela Administração (em

“procurement” tradicional), e visando efectivar, com todos os requisitos específicos, a provisão do

serviço e alcançar os mesmo objectivos que o processo de PPP”.

De acordo com Partnerships Victoria (2001), o comparador do sector público é calculado com base

nos seguintes factores:

Risco a transferir para o sector privado (Transferable Risk)

Como já foi referido, uma eficiente alocação de riscos é essencial para o sucesso de uma PPP. Como

tal, o valor do risco transferido deve constar no cálculo do PSC. Antes de alocar os riscos a cada

parceiro é imperativo que seja realizado um registo detalhado dos riscos, analisando-os em termos de

impacte e em termos de probabilidade de ocorrência.

Sendo o risco transferido um ponto determinante no que toca à avaliação do Value for Money do

projecto, é conveniente que este seja sempre actualizado ao longo do procedimento de negociações

a fim de proporcionar uma perspectiva mais realista do custo final do projecto e de permitir possíveis

variações na alocação dos riscos.

Neutralidade concorrencial (Competitive Neutrality)

A Neutralidade Concorrencial é um mecanismo que serve de base para garantir a equidade da

avaliação das propostas dos concorrentes, através de uma justa comparação entre o PSC e as

propostas. Este ponto deve esclarecer quaisquer vantagens ou desvantagens associadas aos

projectos, tendo sempre em conta os intervenientes da parceria.

7 Segundo o mesmo autor, justifica-se a criação de um instrumento analítico de suporte a esta decisão,

conhecido por Comparador Público-Privado (“Public Private Comparator” - PPC).

Page 25: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

11

Custos Base (Raw PSC (base costing))

Neste factor de cálculo do PSC, são incluídos todos os custos base (todo o capital e custos

operacionais), directos e indirectos, associados às fases de construção, operação e manutenção por

todo o ciclo de vida do projecto e tomando por base os padrões de desempenho requeridos para a

especificação dos outputs.

Riscos a reter pelo sector público (Retained Risk)

Qualquer risco não transferido para o sector privado no âmbito de contrato de uma PPP, constitui um

“risco retido”. À semelhança dos riscos transferidos, os riscos retidos devem constar também no

cálculo do PSC, seguindo a mesma metodologia que os primeiros.

Para uma melhor compreensão da selecção que deve ser feita relativamente ao comparador do

sector público, a figura 2.4 ilustra de uma forma clara as decisões que devem ser tomadas.

Figura 2.4: Comparador do Sector Público e método de avaliação das propostas (Fonte: adaptado de Partnerships Victoria, 2001)

Fazendo uma comparação sistemática da proposta um com as propostas dois, três e quatro, conclui-

se em primeira instância que a proposta um deve ser preferida relativamente à proposta dois, uma

vez que representa maior Value for Money, devendo, deste modo, a proposta dois ser excluída. Caso

apenas existisse a proposta dois ou não existissem propostas com valor inferior, a decisão a tomar

seria seleccionar o método de contratação pública tradicional.

A proposta três apresenta um nível de risco transferido para o sector privado inferior relativamente à

proposta um, provocando assim um aumento considerável no custo da proposta três representado

pelo ajuste A, para se ter uma transferência de risco standard. Não tendo sido considerado o ajuste, a

decisão na escolha da proposta poderia induzir em erro, optando pela proposta três em detrimento da

Page 26: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

12

proposta um. Uma vez efectuado o ajuste, ficaria claro que a opção a tomar seria a proposta um,

como sendo a que potencia maior Value for Money.

Confrontando as propostas um e quatro, verifica-se um nível de transferência de risco superior ao da

proposta um, exigindo assim uma redução do custo da proposta quatro representado pelo ajuste B.

Não havendo ajuste, o Estado poderia escolher incorrectamente a proposta um em vez da proposta

quatro. Caso o ajuste tenha sido considerado, a proposta quatro seria escolhida representando a

melhor alternativa, conferido o maior Value for Money.

Contratos de longo prazo, como é o caso das PPP, estão sujeitos a uma inevitável incerteza, dado

que não é possível prever o futuro, o que em termos de comparador do sector público, se traduz num

estudo algo subjectivo. Para aumentar a fiabilidade da comparação é essencial que sejam feitas

actualizações ao longo de toda a vida do projecto.

Como referem Marques e Silva (2008), na construção do comparador do sector público, deve-se

determinar o custo público comparável de implementação do projecto, considerando já também a

integração de custos de natureza não financeira como sejam sociais e ambientais, entre outros. Esta

ferramenta de comparação em casos PPP, na maioria das vezes, não tem sido utilizada em Portugal,

e mesmo aquando da sua utilização, o seu cálculo é pouco rigoroso, não atendendo aos benefícios

de ordem não financeira, conduzindo a resultados pouco favoráveis e traduzindo ganhos de eficiência

pessimistas.

Este instrumento possui, no entanto, algumas lacunas como sendo a falta de rigor, quer na sua

definição, quer nas suas regras de aplicação. Acresce ainda o facto de não ser aplicado em todos os

sectores em Portugal, embora constituísse vantagem o seu uso sistematizado. É preciso ter sempre

presente que o PSC não é para ser considerado como um teste de passar/falhar, mas sim como uma

forma quantitativa de informação sobre o tipo de contratação a escolher.8

2.5. O Risco

Um dos aspectos de maior importância nos contratos PPP é a distribuição de responsabilidades e de

riscos entre o parceiro público e o parceiro privado. No âmbito das PPP, um risco pode ser entendido

como qualquer acontecimento incerto com impacte relevante e quantificável ao nível dos cash flows

do projecto.

É necessário ter presente que “risco” não tem o mesmo significado de “incerteza”. A incerteza do

valor financeiro de um projecto pode ser positiva ou negativa comparativamente com o valor

esperado, ao passo que o risco diz respeito exclusivamente aos acontecimentos que possam ocorrer

de uma forma negativa e que consequentemente tragam uma redução do valor financeiro esperado.

O risco é medido em termos de valor esperado, calculado em função da probabilidade de ocorrência

de um erro, falha ou acontecimento desfavorável e pelo seu valor de prejuízo potencial que causará:

8 Tradução livre parcial do ponto 4.2.3 da publicação TREASURY TASKFORCE Private Finance (1999),

Technical Note No.4 – How to appoint and work with a preferred bidder, Treasury´s Ministry, Londres, Reino Unido.

Page 27: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

13

Perante as várias alternativas de investimento, o cálculo do valor esperado de risco constitui uma

ferramenta fundamental para a escolha da opção a tomar, devendo esta incidir no projecto que

apresentar o menor valor.

O processo de gestão do risco envolve quatro fases principais: identificação, avaliação, afectação e

mitigação. É essencial que este processo se desenvolva desde uma fase inicial do projecto e durante

todo o ciclo de vida da PPP, dado que os riscos têm impacte directo nos custos do projecto, no

financiamento e na avaliação dos ganhos de eficiência. Um aspecto importante a ter presente no

processo de gestão do risco, é o facto de este não conseguir ser eliminado por completo, qualquer

que seja o projecto em causa, sendo expectável que, quanto maior for o projecto, maiores serão os

riscos a ele associados. Assim, é fundamental que o risco seja encarado não como forma de poder

ser evitado, mas como um acontecimento natural, sempre presente nas várias actividades e decisões

diárias. Desta forma, as empresas deverão apenas focar-se na optimização da sua gestão.

O factor risco e a sua partilha será analisado e discutido mais detalhadamente no capítulo 5.

2.6. Financiamento PPP

Quando se fala no modo de financiamento das PPP, existe uma técnica financeira que está

normalmente directamente associada: o Project Finance.

O Project Finance, enquanto técnica de financiamento, está particularmente vocacionado para a

implementação de infra-estruturas, e caracteriza-se, sobretudo, por ser um financiamento de longo

prazo, possibilitando desta forma, a diminuição da dívida na fase inicial do projecto. Esta técnica

financeira não se limita apenas a financiar os projectos, pelo contrário, constitui também um meio de

partilha dos riscos, entre os diversos participantes, encontrando formas de os mitigar. Tendo

presentes as características das PPP, o Project Finance revela-se como instrumento essencial no

que diz respeito à modelação dos riscos envolvidos nos projectos.

É caracterizado também por ter uma forte alavancagem financeira, ou seja, uma vez que as dívidas

são menores na fase inicial, tal permite às empresas manterem um nível de endividamento saudável,

potenciando assim a possibilidade de poderem investir noutros projectos em simultâneo. A dívida a

terceiros e os fundos accionistas usados como garantias do projecto são saldados apenas ou

parcialmente pelo cash-flow gerado pela empresa na operacionalização do projecto, ao invés de

serem liquidados pelos bens (capitais próprios) da própria empresa. De uma forma mais abrangente,

o negócio flui apenas com os recursos do próprio negócio (negócio auto-financiado).

O Project Finance, enquanto forma financiadora de projectos de grande escala, assume como

essencial a criação de uma Sociedade Promotora de Veículo (SPV)9. A SPV é uma sociedade

anónima ou de responsabilidade limitada e tem como sócios todas as entidades que actuam para a

9 Tradução directa da expressão anglo-saxónica Special Purpose Vehicle (SPV).

Page 28: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

14

implementação do projecto. O principal objectivo de recorrer a uma sociedade de veículo assenta

essencialmente na redução do risco financeiro. O parceiro privado pode deliberar dois tipos de

funções à sociedade de veículo: O parceiro privado transfere os activos para a SPV para esta poder

gerir o projecto ou usa a SPV para financiar um grande projecto, com a finalidade de alcançar um

conjunto de metas sem pôr em risco a empresa privada. No entanto, se os projectos forem de

pequena dimensão, pode-se assumir que o projecto seja levado a cabo pelo próprio parceiro privado

dispensando-se nesse caso a SPV.

O modelo de financiamento subjacente a uma PPP envolve, por parte do parceiro privado um maior

esforço financeiro na fase de construção, podendo recorrer a financiamentos bancários e beneficiar,

nesta fase, de apoios públicos através de fundos comunitários ou até mesmo de subsídios do próprio

Estado. Por outro lado, no que toca às responsabilidades financeiras do parceiro público, este deve

garantir os pagamentos de disponibilidade.

A remuneração do parceiro privado pode ser feita pelo Estado e/ou e pelos consumidores/

utilizadores finais do serviço, tomando sempre por base o critério de pagamento apenas após a

entrada em funcionamento do serviço e os padrões de serviço pré-acordados.

2.7. As Fases de um Concurso de uma PPP

Após já terem sido desenvolvidos alguns aspectos essenciais para a criação de um concurso por via

PPP, é agora vez de abordar alguns dos pontos mais importantes relativamente às fases seguintes

até ao momento de assinatura do contrato.

Numa primeira fase, há que desenvolver uma estratégia para a fase de concurso. Esta estratégia,

que se revela da maior importância para a obtenção do melhor VfM, deve ter presente não só

aspectos financeiros e não financeiros como também a garantia de capacidade de cumprimento de

obrigações, por parte do adjudicatário, e a garantia de uma boa relação contratual entre as partes

envolvidas. Nesta fase, o Parceiro Privado debate-se com dois desafios, pois, por um lado necessita

garantir a competição efectiva dos concorrentes ao longo de todo o concurso até à assinatura do

contrato, e por outro, deve garantir a confiança do mercado e dos concorrentes na viabilidade e

rendibilidade do projecto (Pombeiro, 2003).

Para uma visão mais clara do processo global de uma Parceria Público-Privada, apresenta-se na

figura 2.5 um resumo dos acontecimentos mais importantes em cada etapa desde uma fase

preliminar até à fase de assinatura do contrato.

Page 29: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

15

Figura 2.5: Fases da vida de um Projecto PPP

2.8. Monitorização do Contrato de uma PPP

A monitorização do contrato é o processo de gestão e administração de um contrato PPP, desde o

momento em que este é acordado até ao fim do ciclo de vida do projecto. A implementação da

monitorização do contrato é um ponto crucial a considerar, pois, independentemente da dimensão do

contrato, este não conseguirá atingir os seus objectivos se não estiver sob uma monitorização

cuidadosa ao longo de toda a vida do projecto. É também de salientar a importância da pro-actividade

Fase

Preliminar

Selecção da Equipa de Projecto e desenvolvimento do Caso Base (OBC –

Outline Business Case)

Consulta do Mercado

Elaboração de um Plano temporal detalhado

Preparação das especificações dos “outputs” e do VfM

Esboço do Plano de Negócios

Definição do

Projecto

Lançamento e Publicação do Projecto

Preparação do memorando de informações (IM – Information Memorandum)

incluindo o questionário de pré qualificação (PQQ - Pre Qualification

Questionaire )

Determinação dos critérios para a “Short List”, incluindo critério técnico,

financeiro e jurídico

Selecção dos candidatos para a “Short List”

Caso hajam mais de 5 candidatos seleccionados para a “Short List”, requer-se

outra ronda de pré-qualificação (em termos práticos o número de concorrentes

não deve exceder os 3 na “Short List”)

Análise, identificação e alocação do Risco

Preparação do modelo de Avaliação (revisão de opções, investimentos, eficiência

do financiamento, modelagem financeira)

Cálculo da capacidade financeira do Projecto (VfM)

Pré-

Qualificação

Convite para

Negociar

Sessões de esclarecimento das propostas com concorrentes finalistas

Revisão das propostas, incluindo análise de financiamento, modelos financeiros,

revisão técnica e sobre as melhores propostas iniciais

Determinação dos pontos críticos susceptíveis de negociação para refinamento

das propostas na fase negocial subsequente

Relatório de Avaliação das propostas

Decisão entre os concorrentes seleccionados para a “Short List”

BAFO

A BAFO (best and final offers) é tomada como a oferta mais economicamente

vantajosa (VfM)

Negociação com concorrentes seleccionados para a “Short List”

Revisão da escolha da BAFO, incluindo análise de fonte de financiamento,

modelos financeiros e revisão técnica

Relatório de avaliação da BAFO

Decisão sobre a selecção do concorrente preferencial - convite final para

negociar

Finalização

dos Contratos

Negociação final com o concorrente escolhido como preferencial

Análise final dos benefícios (VfM) e viabilidade económica, financeira e

operacional

Elaboração do Plano de Negócios final

Assinatura do Contrato

Page 30: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

16

neste processo, pois não só antecipa necessidades futuras, como também garante a capacidade de

reacção a situações inesperadas que possam surgir.

A questão essencial da implementação da monitorização do contrato centra-se principalmente na

garantia de que os serviços são obtidos de acordo com o estabelecido no contrato, alcançando

sempre o máximo VfM para as partes intervenientes na parceria. Porém, este ponto é apenas o

primeiro de muitos outros, pois uma boa gestão do contrato vai muito além de apenas garantir o

acordado nos termos do contrato.

Qualquer que seja o âmbito do contrato, existem sempre controvérsias entre as diferentes

perspectivas do público e do privado. A monitorização do contrato assenta exactamente na resolução

dessas controvérsias, bem como na forma de construir uma relação de entendimento e confiança

mútua entre as partes, de maneira a alcançar benefícios para ambas.

A gestão dos riscos representa também uma consideração-chave na monitorização do contrato. Os

riscos reais e potenciais e os seus respectivos efeitos associados ao projecto devem ser

quantificados de modo a identificar quais os riscos prioritários na monitorização durante toda a

vigência do contrato. Após identificados os riscos, devem ser desenvolvidas estratégias de mitigação

ou eliminação dos mesmos. É de referir que o mecanismo de pagamento num projecto PPP é a

ferramenta mais importante, no que toca ao modelo de alocação de risco do projecto,

recompensando o bom desempenho e impedindo o pagamento se o desempenho não for o desejado.

Nos termos do contrato devem constar também os níveis de serviço acordados, mecanismos de

pagamento, calendário do contrato, meios para medir o desempenho, procedimentos de controlo de

mudanças, estratégias de acordo entre partes no caso de fracasso do contrato e todos os

mecanismos formais que permitem um contrato funcionar.

A análise da monitorização e a gestão do contrato será mais detalhada no capítulo 6.

Page 31: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

17

3. O SECTOR ENERGÉTICO

3.1. O Sistema Eléctrico Português

A organização do sistema eléctrico nacional (SEN) assenta na coexistência de um sistema eléctrico

de serviço público (SEP) e de um sistema eléctrico independente (SEI), de acordo com a figura 3.1.

Figura 3.1: Organização do Sistema Eléctrico Nacional (SEN) (Fonte: REN)

O SEP é responsável por assegurar o fornecimento de energia eléctrica em Portugal, tendo em conta

um quadro de serviço público que obrigue o fornecimento de energia eléctrica com adequados

padrões de qualidade de serviço.

O SEI, constituído pelo sistema eléctrico não vinculativo (SENV) e pelos produtores em regime

especial (PRE´s), por sua vez, tem como dever fazer entregas às redes do SEP ao abrigo de

legislação específica. Desta forma, os agentes económicos podem optar por estabelecer relações

contratuais com os comercializadores de último recurso (CUR) ao abrigo das condições aprovadas

pela ERSE ou negociar outras condições directamente com as comercializadoras que actuam no

mercado liberalizado.10

De acordo com o quadro legislativo11

que define a organização do SEN, é estabelecido um sistema

eléctrico nacional integrado em que as actividades de produção e comercialização de energia são

exercidas em regime de livre concorrência mediante a atribuição de licença, ao passo que as

actividades de transporte e distribuição são desenvolvidas de acordo com a atribuição de concessões

de serviço público.

O sector eléctrico em Portugal está fundamentalmente subdividido em quatro actividades principais:

Produção, Transporte, Distribuição e Comercialização.

10

A EDP Comercial é o principal operador no mercado liberalizado, tanto em termos de clientes (99% do número

total de clientes), com em termos de consumos (cerca de 92% dos fornecimentos). 11

DL 29/2006 de 15 de Fevereiro.

Page 32: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

18

Cabe à ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) regular as actividades de transporte,

distribuição e comercialização de electricidade de último recurso, bem como a operação logística de

mudança de comercializador.

3.1.1 Produção

A produção de electricidade integra duas vertentes, a saber:

PRO – Produção em regime ordinário (com base em fontes tradicionais não renováveis e em

grandes centros hídricos);

PRE – Produção em regime especial (relativa à cogeração e à produção eléctrica a partir da

utilização de fontes de energia renováveis).

Na figura 3.2 representa-se a distribuição, no ano de 2008, dos vários tipos de PRE´s em Portugal.

Figura 3.2: Distribuição em Portugal dos vários tipos de PRE´s (2008) (Fonte: ERSE)

Os produtores de electricidade em regime ordinário podem vender a electricidade produzida, quer a

clientes finais, quer a comercializadores de electricidade através da celebração de contratos

bilaterais. Os produtores de electricidade em regime especial têm a obrigatoriedade de vender a

electricidade ao CUR, sendo a EDP Produção a sua principal representante12

.

Cabe ao Estado criar as condições adequadas ao desenvolvimento do mercado da electricidade,

garantindo o seu abastecimento e assegurando as capacidades de produção necessárias. A

segurança do abastecimento da energia é também garantida pelo Estado através da DGEG a quem

compete a respectiva monitorização.

3.1.2 Transporte

A actividade de transporte de electricidade é exercida mediante a exploração da rede nacional de

transporte (RNT) a que corresponde uma única concessão exercida em exclusivo e em regime de

serviço público. A concessionária da RNT é a REN – Redes Energéticas Nacionais.

A REN relaciona-se comercialmente com os utilizadores das respectivas redes (PRO´s e PRE´s) e

recebe, pela utilização destas e pela prestação dos serviços inerentes, a respectiva retribuição por

aplicação de tarifas reguladas.

12

Outros exemplos de produtores de energia em Portugal são também a Turbogás e a Tejo Energia.

6%

49%26%

19%

Hídrica em regime especial

Eólica

Cogeração e microprodução PRE

Outras

Page 33: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

19

3.1.3 Distribuição

A distribuição de electricidade é exercida mediante a exploração da rede nacional de distribuição

(RND) a que corresponde uma única concessão exercida em exclusivo e em regime de serviço

público com a concessionária EDP Distribuição.

A EDP Distribuição relaciona-se comercialmente com os utilizadores das respectivas redes e recebe

uma retribuição por aplicação de tarifas reguladas. Esta concessionária tem como principais

competências assegurar a exploração e manutenção da rede de distribuição em condições de

segurança, fiabilidade e qualidade de serviço, bem como gerir os fluxos de electricidade nas redes

garantindo a sua ligação com as redes a que esteja ligada e com as instalações dos clientes.

3.1.4 Comercialização

A actividade de comercialização é livre, ficando contudo, sujeita a atribuição de licença. O exercício

da actividade de comercialização consiste na compra e venda de electricidade para comercialização

a clientes finais ou outros agentes através da celebração de contratos bilaterais ou da participação

em outros mercados, sendo também responsáveis pela gestão das relações com os consumidores

finais, incluindo facturação e serviço ao cliente. No exercício da sua actividade, os comercializadores

(por exemplo EDP Comercial, Endesa Energia, Iberdrola) podem livremente comprar e vender

electricidade. Para o efeito, mediante o pagamento de tarifas reguladoras, têm acesso às redes de

transporte e de distribuição. A EDP Serviço Universal, que actua como Comercializador de Último

Recurso do SEN, é actualmente o maior comercializador em Portugal.

Os consumidores podem escolher livremente o seu comercializador.

3.2. A situação Portuguesa e Internacional das Energias Renováveis

Com a crescente procura de energia, a subida dos preços do petróleo, o receio do aquecimento

global e a incerteza do aprovisionamento energético, acrescido ainda do facto de a energia já não

poder ser considerada como um dado adquirido, houve a necessidade de se assumirem

compromissos de aumentar a utilização das energias renováveis com vista a substituir os

combustíveis fósseis e a reduzir as emissões de C02.

A promoção do investimento em energias renováveis veio contribuir não só para um desenvolvimento

sustentável, como também para um crescimento económico, criação de novos empregos, maior

competitividade da indústria, desenvolvimento rural e redução de importações. Nesta sequência,

ilustra-se na figura 3.3 os investimentos, a criação de emprego e a redução de C02 que cada uma das

energias renováveis possibilita.

Page 34: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

20

Figura 3.3: Distribuição por tipo de Energia Renovável dos Investimentos, Criação de Emprego e Redução de CO2 (Fonte: Adaptado de MEI, 2007)

Torna-se, no entanto, necessária a criação de nova legislação abrangente que vise a promoção e

utilização das energias renováveis. Com este intuito, a Comissão Europeia aprovou a Directiva

2001/77/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Setembro de 200113

relativa à

promoção da electricidade produzida a partir de fontes renováveis de energia no mercado interno da

electricidade, constituindo esta ”uma parte substancial do pacote de medidas necessárias ao

cumprimento do Protocolo de Quioto e à Convenção Quadro das Nações Unidas relativa às

alterações climáticas”.

Em alguns países, incluindo Portugal, a criação de regulamentação específica e a assinatura do

Protocolo de Quioto foram decisivos no que toca à estimulação da vaga de lançamentos de projectos

com base em energias renováveis. 14

Com vista a atingir os seus objectivos, a comissão europeia estabeleceu, relativamente ao consumo

total de energia na UE, até 2010, a meta de 12% de energias obtidas a partir de fontes renováveis,

objectivo esse que, com base nas tendências actuais, se prevê não dever ultrapassar os 10%.

Igualmente, foi estabelecida a meta de 20% até 2020.

Da mesma forma, a referida directiva propôs metas nacionais para o consumo de electricidade

produzida a partir de fontes renováveis de energia em percentagem do consumo bruto total de

electricidade15

para os Estados-Membros no ano de 2010. Portugal assumiu então o compromisso

ambicioso de atingir uma meta de 39% de energia eléctrica gerada a partir de fontes renováveis,

representando a terceira maior contribuição da UE15. No entanto, com a apresentação da Estratégia

Nacional para a Energia aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros nº169/2005, de 24 de

Outubro, as metas foram revistas, uma vez já atingida a meta de 39% antes do ano de 2010,

passando a nova meta a ser de 45%.

13

Esta Directiva é também conhecida como Directiva das Renováveis. 14

Nos termos do Protocolo de Quioto, Portugal assumiu a responsabilidade de limitar em 27% o aumento das

emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) no período de 2008 a 2012, relativamente ao valor de 1990. 15

O consumo bruto de energia é definido como “a produção doméstica de electricidade, mais as importações,

menos as exportações” (Castro, 2008).

Redução CO2 (2010 Total Renováveis)

5,8 Mt

6,7 Mt

0,7 Mt

0,1 Mt

0,03 Mt

2,3 Mt 0,15 Mt

0,03 Mt

~13,7 Mt

Criação de emprego directo

2.500

500 – 1.000

100 a)

n.d

300 b)

n.d

750

9.700

Investimento (2005 a 2012)

€ 1,0 b

€ 0,5 b

€ 0,5 b

€ 0,5 b

€ 0,15 b € 0,3 b

€ 0,25 b

€ 8,1 b

Eólica

Hídrica

Biomassa

Ondas Biocombustíveis

Micro-geração

Biogás

Total

€ 5,1 b

4.500 (construção)

Solar

a) Considerando unicamente a central de Moura b) Aplicável às unidades fabris de transformação

Page 35: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

21

O quadro 3.1, apresenta as metas portuguesas a atingir para os diversos tipos de energia renovável:

Quadro 3.1: Metas portuguesas a atingir na produção de energias renováveis. [Fonte: PNBEPH]

As metas mais ambiciosas para o ano de 2010 propostas pela comissão europeia relativamente aos

Estados-Membros estão apresentadas na figura 3.4.

Figura 3.4: Metas a atingir em 2010 (Fonte: Berliant, 2008)

Segundo a DGEG, no final de Maio de 2009, Portugal atingiu os 8618 MW de capacidade instalada

para produção de energia eléctrica a partir de fontes de energia renováveis (FER), como se

demonstra no quadro 3.2.

Quadro 3.2: Evolução histórica da potência instalada em renováveis (MW) – Portugal Continental (Fonte: DGEG, Estatísticas Rápidas – Maio 2009)

78%60%

45%31,5% 29,4% 29% 25% 21%

Page 36: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

22

Com efeito, o negócio das energias renováveis tem beneficiado de um rápido crescimento, com

grande potencial de desenvolvimento futuro, através de oportunidades em novos mercados e da

evolução das tecnologias.

Ao longo desta década, tem vindo progressivamente a registar-se um aumento de produção de

energia eléctrica a partir de fontes de energia renováveis, a par da evolução da sua componente

hídrica (figura 3.5).

Figura 3.5: Evolução da Energia produzida a partir de fontes renováveis - Portugal (TWh) (Fonte: DGEG, Estatísticas Rápidas – Maio 2009)

A Natureza dotou cada região com um número diferente de opções energéticas. De facto, em

Portugal verifica-se uma concentração no Norte do País (distritos de Bragança, Viana do Castelo,

Viseu, Coimbra, Vila Real e Braga) relativamente à produção de energia eléctrica a partir de fontes de

energia renováveis. Em termos de centrais solares a concentração dá-se sobretudo na zona quente

do Alentejo, nomeadamente nos Concelhos de Moura, Ferreira do Alentejo, Mértola e Almodôvar.

Actualmente Portugal ainda importa cerca de um quarto da electricidade que consome. Porém, e com

o objectivo de tornar Portugal mais independente em relação ao exterior, o Governo Português

apostou fortemente nas energias renováveis, quer em termos de energia eólica e biomassa

promovendo concursos para atribuição de potência na rede, e em termos de desenvolvimento das

barragens mini-hídricas (aumentando a sua capacidade actual em cerca de 50%), quer ainda na área

da geotermia. Deu igualmente grande ênfase ao projecto-piloto referente à energia das ondas e a

centrais fotovoltaicas, onde a expectativa em termos de energia solar é bastante ambiciosa.

3.3. A Energia Eólica

3.3.1 Aspectos Gerais

A energia eólica é a energia produzida pelo vento. O vento tem origem nas diferenças de pressão

causadas pelo aquecimento diferencial da superfície terrestre, sendo influenciado por efeitos locais,

como a orografia e a rugosidade do solo.

Page 37: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

23

A energia do vento constitui uma imensa fonte de energia natural a partir da qual é possível produzir

grandes quantidades de energia eléctrica, o que aumentou o seu interesse, dado que os preços dos

combustíveis fósseis utilizados para o mesmo fim aumentaram largamente nos últimos anos.

A conversão de energia é feita com o auxílio de turbinas eólicas, ou aerogeradores, que transformam

a energia cinética do vento em energia mecânica e consequentemente em energia eléctrica. Existem

essencialmente dois tipos de turbinas eólicas: turbinas de eixo horizontal e turbinas de eixo vertical.

Para além disto, as turbinas diferem também entre si na forma e número de pás que constituem o

rotor.

Nas figuras 3.6 e 3.7 mostram-se as turbinas de eixo horizontal e vertical, respectivamente.

Figura 3.6: Turbina de eixo horizontal (HAWT)

Figura 3.7: Turbina de eixo vertical (VAWT)

As turbinas de eixo horizontal, mais conhecidas por turbinas HAWT (Horizontal Axis Wind Turbines),

são as mais correntes na aplicação da maior parte dos parques de produção de energia eléctrica.

Este tipo de sistema na maioria dos casos incorpora três pás aerodinâmicas, no entanto, também

existem casos de turbinas com uma ou duas pás. É de salientar que o número de pás não é o mais

importante, mas sim a superfície varrida por estas, o que se deduz, por exemplo, que uma turbina

eólica de duas pás pode ter a mesma eficiência que uma turbina de três pás. Estas turbinas eólicas

consistem em estruturas sólidas, tipo torre, em que as pás são orientáveis de acordo com a direcção

do vento, com o auxílio de dispositivos mecânicos de orientação, tendo como finalidade aumentar a

sua eficiência. Esta torre eleva os componentes da turbina a uma altura ideal para a velocidade do

vento e ocupa muito pouco espaço no solo, o que se traduz numa vantagem. Como principal

desvantagem destas turbinas aponta-se a instabilidade que estas podem sofrer se apenas forem

constituídas por uma ou duas pás.

As turbinas de eixo vertical ou turbinas VAWT (Vertical Axis Wind Turbines) são claramente menos

comuns, no entanto, têm como grande vantagem o facto de o gerador se encontrar na base e poder

captar os ventos sem necessidade de um mecanismo de orientação, uma vez que consegue captar

vento de qualquer direcção. O facto de o gerador se encontrar ao nível do solo, facilita também a sua

inspecção e manutenção.

Page 38: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

24

Normalmente, a velocidade do vento junto à base é de mais fraca intensidade, implicando assim que

a turbina não tenha meios próprios para entrar em funcionamento, sendo, por isso, necessário

recorrer a um sistema de accionamento, o que representa uma desvantagem deste tipo de turbinas.

Este factor implica também um menor rendimento do aerogerador e uma elevada probabilidade de

sujeitar a torre a esforços mecânicos. Para além deste inconveniente, as turbinas de eixo vertical

podem apresentar uma boa alternativa às turbinas de eixo horizontal quando se trate de aplicações

de pequena escala.

3.3.2 Vantagens e Desvantagens

A energia eólica, de todas as energias renováveis, é talvez a mais limpa, dado que não causa

poluição, pois não origina a libertação de gases para a atmosfera e não produz nem utiliza qualquer

material radioactivo. Considerando estes factores e sabendo que nenhuma das fontes renováveis de

energia consegue satisfazer 100% as necessidades de consumo, pode-se afirmar que a energia

eólica é a que deverá ser melhor aproveitada até ao máximo do seu potencial.

Uma grande vantagem relativamente às energias tradicionais e até mesmo a outros tipos de energia

renovável é o facto de ocupar uma reduzida superfície de solo, condicionando muito pouco, caso

existam actividades a decorrer nas imediações. Aquando do final da vida útil dos aerogeradores, é

possível remover com facilidade todas as estruturas, passando o local a ter de novo as suas

características originais.

Apesar de não queimarem combustíveis fósseis e não emitirem poluentes, os parques eólicos não

são totalmente isentos de impactes ambientais. O efeito visual e paisagístico propiciado pelas

elevadas dimensões das torres e das pás dos aerogeradores é um impacte claramente visível que

origina muitos conflitos. Este aspecto poderá ser atenuado se houver algum cuidado na fase de

planeamento e na escolha do local mais favorável para a implantação do projecto. Os parques eólicos

são muitas vezes localizados em áreas protegidas, e quando é necessário a manutenção dos

aerogeradores, requer-se a abertura de caminhos e a instalação de infra-estruturas em locais até aí

inacessíveis, podendo originar perturbações em zonas ecologicamente sensíveis. O ruído provocado

pelo movimento das hélices, embora não seja muito elevado, pode também representar uma causa

de impacte ambiental. A este respeito, refere-se por exemplo, a emissão de ultra-sons pelas turbinas.

Outro problema que se coloca é a morte das aves. Por vezes, os parques eólicos são implantados em

rotas preferenciais de migração o que faz com que as aves colidam com as hélices em movimento.

Se os parques forem de grande dimensão, podem também representar barreiras para algumas

espécies.

Regiões onde o vento não é constante, ou de intensidade muito fraca, originam inconvenientes na

produção de energia eléctrica em grande escala, pois obtém-se pouca energia e quando ocorrem

chuvas fortes com ventos cujas velocidades são superiores ao máximo permitido, há a possibilidade

de desperdício da mesma.

Page 39: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

25

Devido à evolução das técnicas, os custos relacionados com o investimento em energia eólica, são

cada vez menores. Apesar disto, esta tecnologia ainda apresenta um elevado custo inicial, o que faz

com que não haja tanta adesão ao sector. Contudo, tal como noutros tipos de energia renovável, este

investimento a médio-longo prazo acaba por ser compensado.

3.3.3 Tipos de energia eólica

Os aerogeradores podem ser usados isoladamente ou agrupados. Os parques eólicos, nome que se

denomina para grandes concentrações de aerogeradores, são concebidos para tornar a produção de

energia mais rentável e para que possa ser utilizada em larga escala. As instalações destes parques

são normalmente feitas em terra (On-Shore), embora seja cada vez mais frequente instalá-los

também no mar (Off-Shore). Nas figuras 3.8 e 3.9 ilustram-se parques eólicos On-Shore e Off-Shore,

respectivamente.

Figura 3.8: Parque Eólico On-Shore

Figura 3.9: Parque Eólico Off-Shore

Os parques eólicos Off-Shore têm representado algumas vantagens face aos parques eólicos On-

Shore, dado que as velocidades do vento no mar são mais estáveis, o que faz com que haja mais

rendimento na produção de energia. O facto de haver uma maior área de exploração disponível neste

tipo de parque eólico (Off-Shore), faz com que esta seja uma escolha preferencial, em detrimento de

parques em terra. Por outro lado, apresentam custos de implementação (essencialmente os sistemas

de fundação das torres) e manutenção bastante elevados, dado que estão situados num ambiente

altamente corrosivo. O processo de transmissão da potência para a costa, pode também originar

perdas de energia. As instalações Off-Shore são limitadas pela profundidade da água, pelas

actividades marítimas, paisagens protegidas e rotas migratórias.

Quando o objectivo é satisfazer pequenas necessidades energéticas, a solução é criar um espaço

para a implantação de um aerogerador individual. Esta técnica, mais conhecida por microgeração,

tem como principal vantagem o facto de o sistema de microprodução poder ser integrado no local de

consumo.

Page 40: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

26

3.3.4 Panorama Mundial

De acordo com o Global Wind Energy Council (GWEC), a capacidade de energia eólica instalada a

nível mundial, no final do ano de 2008, era de 120.791 MW. Ilustra-se na figura 3.10 o potencial eólico

à escala mundial.

Figura 3.10: Distribuição mundial do potencial de energia eólica (W/m2) em 2006 (Fonte: Lua, et al, 2009)

A Europa tem sido e continua a ser o mercado mundial mais forte no desenvolvimento de energia

eólica, quer a nível de capacidade instalada, quer a nível de produção e consumo de energia.

Segundo dados estatísticos relativos ao ano de 2008 recolhidos na mesma fonte, a Europa ocupava a

liderança mundial com um total de potência instalada de 65.946 MW. Por outro lado, apesar da

predominância europeia neste sector, há que dar especial atenção a países que têm vindo a alargar a

sua capacidade eólica instalada com um crescimento notável, como é o caso dos EUA, da China e da

Índia (ver figuras 3.11 e 3.12).

Figura 3.11: Capacidade instalada em 2008 (Fonte: GWEC, 2008)

Figura 3.12: Top 10 nova capacidade em 2008 (Fonte: GWEC, 2008)

Page 41: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

27

Como se verifica através da figura 3.11, a nível europeu, a Alemanha liderava em 2008 com uma

capacidade instalada de 23.903 MW, seguindo-se a Espanha com 16.754 MW, a Itália com 3736 MW,

a França com 3404 MW, o Reino Unido com 3241 MW, a Dinamarca com 3180 MW e Portugal com

2862 MW. Da análise da distribuição de velocidades do vento em toda a Europa (figura 3.13), aponta-

se que curiosamente, para além de França apresentar melhores condições que Espanha, esta

ultrapassa largamente a capacidade eólica instalada de França. Ainda a considerar é o facto de o

Reino Unido se posicionar bastante abaixo de, por exemplo a Alemanha, facto que pouco seria de

esperar uma vez que é uma região bastante abundante no recurso vento.

Figura 3.13: Distribuição das velocidades do vento na Europa (m/s) (Fonte: Anemos)

Na figura 3.14 apresenta-se as perspectivas de potência eólica instalada por continente no horizonte

de 2020:

Figura 3.14: Potência eólica instalada mundial (MW) (Fonte: Emerging Energy Research)

Constata-se que a tendência eólica futura é de crescimento, tanto para eólicas on-shore como para

eólicas off-shore. Estas últimas seguem cada vez mais uma orientação de crescimento

conjuntamente com o conhecimento da sua tecnologia de fundações e das condições de vento no

local, contribuindo para que seja uma tecnologia cada vez mais competitiva. A Dinamarca, com cerca

Page 42: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

28

de 409 MW, tem a maior capacidade eólica off-shore instalada da Europa, não ficando o Reino Unido

muito atrás com uma potência muito próxima de 404 MW devido à instalação de 100 MW em 2007.

Segundo a EWEA, com 1080 MW até ao final de 2007, o mercado off-shore representava 1,9% da

capacidade instalada da UE e 3,5% da produção de electricidade a partir da energia eólica na UE. A

figura 3.15 ilustra a evolução da capacidade eólica off-shore na Europa

Figura 3.15: Eólica Off-Shore na UE (Fonte: EWEA, 2008)

3.3.5 Panorama Português

Devido à sua geografia e geomorfologia, Portugal é um dos países com maior capacidade de

aproveitamento de energia eólica na Europa. O desenvolvimento deste tipo de energia em Portugal

começou lentamente, com os primeiros projectos comerciais no princípio dos anos noventa, mas foi

no ano de 2001 que sofreu o maior impulso, quando o Governo fixou uma tarifa mais favorável à

venda de electricidade produzida pelo vento, e perfez um total de capacidade instalada de cerca de

1000 MW. Desde então, a produção de electricidade com origem na energia eólica não parou de

aumentar, totalizando, como mostra o quadro 3.3, uma potência instalada no final de Maio de 2009 de

3193 MW, distribuída por 182 parques, com um total de 1720 aerogeradores ao longo de todo o

território continental.

Quadro 3.3: Caracterização da potência eólica instalada em Portugal (Fonte: DGEG – Estatísticas rápidas – Maio 2009)

De acordo com REN (2009), no primeiro semestre de 2009 as instalações ligadas à rede pública

totalizaram 487 MW, passando a estar ligada à rede uma potência eólica total de 3148 MW.

Page 43: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

29

Quadro 3.4: Potência Eólica em Portugal ligada à rede pública (Fonte: REN, 2009)

Apresentam-se na figura 3.16, os parques eólicos existentes em Portugal bem como as respectivas

potências e também a quantidade de potência instalada e em construção por distrito:

Figura 3.16: Localização dos parques eólicos em Dezembro de 2008. (Fonte: INEGI, 2008)

Page 44: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

30

4. ACESSO AO NEGÓCIO – CONCURSO EÓLICO

4.1. Fases de um Projecto Eólico

Desde a fase de escolha do local de implantação até ao desmantelamento do parque eólico existem

sete fases distintas, como demonstrado na figura 4.1.

Figura 4.1: Fases de um projecto eólico.

A primeira fase de um projecto eólico incide na escolha do local de implantação do parque. Nesta

fase são analisados vários locais potenciais para a localização dos parques eólicos, dando especial

atenção a factores, como a velocidade do vento, características paisagísticas, questões ambientais, a

distância às habitações mais próximas e a proximidade aos pontos de ligação à rede eléctrica

nacional. Para além da análise de viabilidade do local, constitui também factor importantíssimo a

análise de viabilidade financeira do projecto.

Após confirmados estes pontos, procede-se então à fase de negociações. Nesta fase há que obter

todas as licenças e aprovações necessárias à implementação de um parque eólico, passando pelas

negociações com o dono do terreno, com vista a obter a licença de exploração durante toda a fase do

projecto, negociações de financiamento, seguros, construção e exploração.

Já na fase de planeamento do projecto, um dos passos fundamentais a dar, é certificar que a

avaliação da velocidade do vento realizada inicialmente continua a corresponder às expectativas,

colocando para tal, torres meteorológicas equipadas com anemómetros. Para além deste ponto, outro

factor importante são os estudos ambientais (avaliação de impacte ambiental - AIA), que dependem

das características de cada local, incluindo normalmente aspectos ecológicos, de enquadramento

paisagístico, arqueológicos, de condições do solo e hidrologia, de acessos, de ruído e impacte sócio-

económico.

Uma vez concluída a fase de planeamento, dá-se então inicio à fase de construção do parque –

caminhos de acesso, instalação de equipamentos, ligação à rede, etc.

Quanto à operação e manutenção (O&M) do parque, dado que a vida útil de um parque eólico é

tipicamente de 20 anos, é necessário que se tenha algum cuidado no planeamento desta fase, dando

Page 45: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

31

especial atenção a rigorosas previsões das condições do vento, à localização de armazéns de peças

de recurso, logística em geral, contratação de pessoal devidamente qualificado, etc.

No fim da vida útil do parque procede-se ao seu desmantelamento de forma a restabelecer as

condições inicias do local em conformidade com o definido com o proprietário do local e com as

autoridades relevantes (por exemplo, municípios).

4.2. Factores determinantes para o desenvolvimento de projectos eólicos

Há que reconhecer que o sector eólico é um sector com bastante potencialidade de desenvolvimento

futuro, não só pelas metas europeias estabelecidas, mas também pelo interesse que desperta nas

entidades e empresas de desenvolvimento de projectos de grande escala. Posto isto, enumeram-se

de seguida alguns factores que desempenham papéis fundamentais no desenvolvimento de projectos

eólicos:

Promotores dos projectos que, para além de considerarem ser um sector bastante atractivo no

que se refere ao retorno financeiro, representam os principais impulsionadores deste tipo de

projectos, formando um grupo activo de investidores privados com planos ambiciosos para o

sucessivo desenvolvimento deste sector;

Instituições financeiras que ao considerar a atractividade deste sector, apoiam e disponibilizam

os fundos necessários para o seu desenvolvimento;

A opinião favorável dos municípios que, de acordo com Decreto-Lei n.º 339-C/2001 de 29 de

Dezembro, passaram a receber 2,5% do preço mensal pago pela entidade receptora da energia

eléctrica produzida nos parques eólicos. Sempre que os parques eólicos se localizem em mais do

que um município, o pagamento é dividido proporcionalmente à potência instalada em cada um

deles.

4.3. Barreiras ao desenvolvimento de projectos eólicos

A energia eólica tem sido o segmento de mercado de energias renováveis que mais interesse tem

despertado nos últimos anos em Portugal. Contudo, existem certos factores que representam

entraves ao seu desenvolvimento, tais como:

Os processos de licenciamento constituem os principais pontos fracos do mercado eólico, pois

são processos bastante complexos, burocráticos e morosos que envolvem diversos organismos

administrativos. Solução para estes constrangimentos seria implementar processos de

licenciamento centralizados apenas num organismo, delegado para realizar todos os

procedimentos administrativos, diminuindo-se, desta forma, os prazos de implementação dos

projectos.

O processo de licenciamento, sistematizado no quadro 4.1, implica a obtenção do prévio pedido

de informação camarário, ter um ponto de recepção atribuído, o licenciamento do projecto pela

DGEG, a licença ambiental, a realização do concurso público, entre outros processos.

Page 46: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

32

Quadro 4.1: Processo de licenciamento de um projecto eólico (Fonte: Filipe, 2003)

Como se verifica, o licenciamento de um projecto eólico é um processo bastante moroso e

burocrático que tem uma duração mínima de 290 dias úteis, embora na prática o tempo de

licenciamento raramente seja inferior a 2 anos. Este processo deve ser optimizado mantendo

todas as garantias necessárias à exploração de um recurso público.

O processo de licenciamento dos parques eólicos é da responsabilidade tanto da DGEG como do

promotor, ainda que a REN desempenhe também um papel importante, já que é esta que produz

os planos de investimento na rede que serão usados pela DGEG para analisar o pedido preliminar

para a instalação do parque.

A ligação à rede eléctrica pública para o escoamento da electricidade produzida por via eólica

apresenta algumas dificuldades, o que se traduz em atrasos no desenvolvimento destes projectos.

A questão da ligação à rede constitui neste momento um factor crítico, pois, sendo os locais com

maior potencial eólico localizados em grande parte em sítios remotos ou servidos por redes

insuficientes, a solução passa pela criação de investimentos de melhoria da interligação à rede

para que se possa apoiar a expansão da produção de energia eólica. Estes investimentos elevam

bastante os custos e podem até inviabilizar as operações. O processo de ligação à rede eléctrica

pública é da responsabilidade do promotor dos parques eólicos.

O impacte ambiental dos parques eólicos que incide especialmente no impacte visual, no ruído e

na influência na fauna avícola. No entanto, este impacte tende a diminuir com a evolução das

tecnologias que, cada vez mais, produzem aerogeradores com características que atenuam os

principais factores de impacte.

Page 47: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

33

4.4. Concorrência

A energia eólica, para além de ser a energia renovável com maior potencial de desenvolvimento, é

também a mais competitiva. De acordo com a American Wind Energy Association (AWEA), o custo de

produção da electricidade a partir da energia eólica diminuiu mais de 80% nos últimos vinte anos, o

que, em termos concorrenciais, faz com que seja uma fonte bastante competitiva relativamente às

fontes convencionais.

Outro tipo de concorrência é a concorrência de promotores. À medida que a procura por energias

renováveis aumenta, há uma consequente procura por estes projectos, nomeadamente eólicos. Em

Portugal o mercado de energia eólica é bastante activo e existem vários promotores, embora a maior

parte (cerca de 60%) esteja concentrada em três grandes grupos: a Iberwind, a Enernova (EDP) e a

Generg. Veja-se a figura 4.2.

Figura 4.2: Principais promotores do mercado eólico em Portugal no final de 2008 (Fonte: INEGI, 2008)

No decorrer da promoção de projectos eólicos, realizada pelo Estado, e da consequente aposta por

parte do sector privado, o número de players no sector tem aumentado bastante nos últimos anos,

embora estes acabem por formar consórcios entre si, fazendo com que a produção de electricidade

através de energia eólica se concentre bastante num grupo reduzido de entidades, ainda que se

considere constante o risco de entrada de novos promotores.

Relativamente à concorrência entre os produtores de aerogeradores, o factor mais relevante neste

caso é a qualidade do aerogerador, que está directamente relacionada à sua produtividade e

fiabilidade, e a experiência (know-how) demonstrada. Relativamente à ameaça de entrada de novos

produtores, em termos competitivos não é um factor muito relevante, tanto devido ao factor confiança

como ao factor experiência. Estes dois factores garantem uma certa vantagem aos produtores já

existentes sobre nos novos concorrentes. Outro motivo que confere alguma segurança aos

produtores já implementados no mercado são as economias de escala, que têm um papel bastante

relevante nos custos de produção dos aerogeradores e nos custos de pesquisa e desenvolvimento.

Um problema que se coloca relativamente aos fabricantes é o facto de nenhum ser nacional. Para

resolver esta problemática, o Estado lançou os concursos eólicos em 2005 com vista, por um lado, a

incentivar a construção de unidades de fabrico locais de aerogeradores e dos seus componentes e

criar um cluster de fabricação local, e por outro, a diminuir tanto a sua importação como a instalação.

Page 48: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

34

Na figura 4.3 representam-se os principais fabricantes de aerogeradores presentes actualmente em

Portugal.

Figura 4.3: Principais fabricantes de aerogeradores presentes em Portugal no final de 2008 (Fonte: INEGI, 2008)

4.5. Análise Económica de um Parque Eólico

Sendo o sector eólico bastante complexo e com vários pormenores que merecem consideração,

recorreu-se ao diagrama da figura 4.4 para uma melhor compreensão da estrutura de geração de

valor de um projecto eólico. Este diagrama está decomposto em dois grandes grupos influenciadores

no cash-flow do projecto: EBITDA16

(com as suas componentes principais: Vendas e OPEX17

) e

Investimento.

Figura 4.4: Estrutura de geração de valor de um projecto eólico

16

EBITDA significa “Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization”, o que em português pode ser traduzido directamente como “Resultados Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortizações”. 17

OPEX é uma sigla derivada da expressão “Operational Expenditure”, o que em português pode ser traduzido

como as despesas operacionais.

Page 49: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

35

4.5.1 Vendas

a) Preço - Sistema de Remuneração

O sistema de remuneração referente à energia eólica em Portugal segue o sistema de tarifas “feed-in”

que surgiu como um incentivo à adopção de projectos com base em energias renováveis. O princípio

base deste sistema de remuneração visa essencialmente o estabelecimento de uma tarifa fixa

imposta pela entidade reguladora (ERSE) e/ou de um prémio a acrescer ao preço de mercado

recebido por cada MWh de electricidade gerado, de forma a garantir um retorno razoável de

investimento ao produtor de energia renovável.

Estas tarifas foram criadas em 1999 (DL 168/99) e, posteriormente revistas pela ERSE, e alteradas

em 2001 (DL 339-C/2001), 2005 (DL 33-A/2005) e 2008 (DL n.º 165/2008). As tarifas aumentam com

a inflação, ao longo do tempo e variam com base em perfis temporais para evitar perdas de

distribuição. No regulamento de 2005, a inflação deixa de ser considerada a partir da data em que a

licença de instalação é concedida, passando a ser considerada a partir do momento em que o

projecto fica operacional, de modo a minimizar os atrasos no arranque do processo (Innovation

Norway, 2008). Foi também no Decreto-lei nº 33-A/2005 que se introduziu a limitação da

remuneração pelas tarifas feed-in por um período máximo de 15 anos a contar a partir da data de

fornecimento de energia à rede. O prazo de garantia das novas tarifas, para além dos 15 anos, pode

também ser contabilizado até aos primeiros 33 GWh entregues à rede por cada MW de capacidade,

sendo utilizado o que ocorrer em primeiro lugar. Durante este período, a entidade reguladora garante

ao produtor a compra de toda a sua produção de energia pela REN, não havendo risco de procura

para o produtor. Contudo, embora os regimes tarifários assegurem a sua aplicação durante estes 15

anos, a entidade reguladora pode decidir aumentar ou diminuir a tarifa ou o elemento fixo da tarifa

para a electricidade produzida a partir de fontes renováveis (EDP Renováveis, 2008).

Relativamente à geração de energia eólica, como demonstra a figura 4.5, o preço médio pago em

2006 era de 92,8 €/MWh, em 2007 era de 90 €/MWh e actualmente é de cerca de 75 €/MWh. Estas

tarifas tendem a diminuir à medida que o recurso do vento se torna mais competitivo com as fontes

convencionais de energia.

Figura 4.5: Evolução das tarifas de energia eólica no período 1998-2007 (Fonte: IEA Wind Energy, 2008)

Page 50: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

36

Para além disso, ao fim do período de 15 anos a tarifa irá tendencialmente aproximar-se do preço de

mercado da electricidade (40 €/MWh) acrescido de um prémio pela venda de certificados verdes.

O sistema de certificados verdes pode ser considerado como um sistema de incentivos à utilização de

fontes de energia renovável (FER) para a produção de energia eléctrica em que os seus produtores

recebem um certificado verde por cada MWh de energia que produzirem. O mercado de certificados

verdes baseia-se no princípio de que a energia eléctrica produzida a partir de fontes de energia

renováveis proporciona dois produtos diferentes ao consumidor de energia eléctrica, sendo um a

própria energia eléctrica, que poderá ser vendida no mercado de energia eléctrica e o outro um

conjunto de benefícios ambientais e sociais que tomam a forma de certificados verdes, os quais

poderão ser transaccionados em mercado próprio, gerando assim receitas adicionais à da venda de

energia eléctrica para os produtores de E-FER (Sousa, 2007). O mercado de certificados verdes pode

ser ilustrado pela figura 4.6:

Figura 4.6: O mercado da energia eléctrica e o mercado dos certificados verdes (Fonte: Sousa, 2007)

b) Quantidade:

A quantidade das vendas depende directamente da capacidade instalada, do load factor, do contrato

de compra de energia (PPA) e da política governamental.

Em primeiro lugar, a capacidade instalada depende directamente de um período entre os processos

de licenciamento, passando pela fase de fornecimento do equipamento, até à sua montagem final.

Após os complexos e morosos processos de licenciamento e acessibilidade do espaço de

implementação dos parques eólicos, são realizados contratos com os fornecedores de equipamentos

e de manutenção em que é dada especial atenção à qualidade dos equipamentos. Por fim, de modo

a disponibilizar a capacidade instalada, são então instalados os equipamentos para dar início ao

processo de exploração.

Outro factor determinante na quantidade de energia produzida é, sem dúvida, a disponibilidade do

recurso do vento. É essencial que na fase de escolha do local se realizem estudos que comprovem

as boas características do local de implantação do parque eólico, de modo a garantir razoáveis

tempos de produção. Em situações imprevisíveis de escassez de vento em que a produção de

energia é menor que a desejada ou em situações que sejam impostas paragens ao sistema, torna-se

importante a existência de sistemas de gestão que possam cobrir os prejuízos causados.

Page 51: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

37

O contrato de compra de energia (PPA) é um elemento essencial a ter em consideração, pois, depois

de já ter os processos de licenciamento terminados e estar sob a posse do direito de explorar o

parque, o promotor tem garantida a venda da produção de energia.

Como seria de esperar, é fundamental que a política governamental seja considerada também neste

ponto, no sentido conhecedor da dependência energética do país e as consequentes perspectivas

futuras de procura.

4.5.2 OPEX

Nesta parcela são contabilizados todas as despesas operacionais que o promotor do parque eólico

tem, ou seja, podem ser traduzidas como todos os custos contínuos e necessários para dirigir o

projecto. Segundo EWEA (2009), o total dos custos de O&M no período entre 1997 e 2001 eram os

apresentados na figura 4.7.

Figura 4.7: Distribuição dos custos de operação e de manutenção (Fonte: adaptado de EWEA, 2009)

Os custos relacionados com os seguros e com a manutenção regular são de fácil previsão, uma vez

que facilmente se obtêm modelos contratuais por um período de tempo bastante considerável da vida

de um aerogerador. Relativamente aos custos correspondentes à reparação e substituição de peças,

o mesmo não se pode afirmar, dependendo estes fortemente da idade e dimensão do aerogerador e

aumentam ao longo do tempo. Como o sector eólico é relativamente recente, ainda não existem

turbinas com mais de 20 anos (vida útil de uma turbina eólica), o que faz com que nem sempre

existam dados suficientes para efectuar uma correcta análise dos custos associados à O&M.

4.5.3 Investimento

O investimento realizado num parque eólico é um caso especial de investimento, dado que os

aerogeradores representam o aspecto fundamental de todo o processo, tanto no que diz respeito à

escolha do modelo e respectiva potência, à definição dos grupos que garantam uma boa eficiência, à

sua manutenção e até à substituição de componentes. Este investimento justifica os maiores custos

quer na fase inicial, quer na fase de exploração, especialmente no que diz respeito às fases de

Page 52: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

38

transporte e instalação. Na figura 4.8 está representada uma estrutura típica de investimento de um

parque eólico, onde se confirma que os custos de capital são dominados pelos aerogeradores com

75% do total do investimento e os restantes 25% dizem respeito ao sistema eléctrico (10%), obra civil

(10%) e engenharia de gestão do projecto (5%). Por curiosidade, indicam-se também na figura 4.9 a

estrutura típica de custos de um aerogerador.

Figura 4.8: Estrutura típica de investimento num parque eólico (Fonte: Moura e Filipe, 2003)

Figura 4.9: Estrutura típica de um custo de um aerogerador (Fonte: Moura e Filipe, 2003)

O custo por kW de capacidade instalada de energia eólica varia normalmente entre 1,0 €/kW e 1,35

€/kW. Estes custos variam significativamente de país para país, como se mostra na figura 4.10.

Verifica-se, em termos europeus, os custos de investimentos menores na Dinamarca, Grécia e

Holanda, enquanto o Reino Unido, Espanha e a Alemanha apresentam os maiores investimentos. No

entanto, deve-se observar que a figura é baseada em dados limitados, pelo que os resultados podem

não ser totalmente representativos (EWEA, 2009).

Figura 4.10: Custo total de investimento, incluindo aerogeradores, fundações e ligação à rede, para diferentes tamanhos de turbinas e países de instalação (Fonte: EWEA, 2009 a)

5%10%

10%

75%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Investimento

Aerogerador

Sistema eléctrico

Obra civil

Engenharia e Gestão do projecto

40%

15%

15%

11,5%

8%

3%3%

2,5%Pás

Torre

Caixa Velocidades

Outros

Instalação local

Gerador

Page 53: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

39

4.6. Concurso eólico – Caso de Estudo

4.6.1 Aspectos gerais

O Ministério da Economia e Inovação, no âmbito da competência legalmente fixada no artigo 14º do

Decreto-Lei n.º 312/2001, de 10 de Dezembro, que define o regime de gestão de capacidade de

recepção de energia eléctrica nas redes do Sistema Eléctrico de Serviço Público (SEP) proveniente

de centros electroprodutores do Sistema Eléctrico Independente (SEI), lançou um concurso em Julho

de 2005 para a atribuição de potência eólica, com o objectivo de promover a diminuição da

dependência que Portugal tem da importação de combustíveis fósseis, considerando as metas

europeias estabelecidas.

O “concurso para atribuição de capacidade de injecção de potência na rede do sistema eléctrico de

serviço público e pontos de recepção associados para energia eléctrica produzida em centrais

eólicas” foi lançado em regime de concurso público internacional pela DGEG e divide-se em três

fases distintas:

Fase A – atribuição de um lote de potência entre 800 e 1000 MW

Fase B – atribuição de um lote de potência entre os 400 e 500 MW

Fase C – atribuição de uma licença de 200 MW, distribuídos em treze pequenos lotes, podendo

incluir outras fontes de energia renovável, para além da eólica. Esta fase apresenta uma vertente

direccionada principalmente para o desenvolvimento regional.

Os impactes esperados em Portugal com a criação deste concurso são os apresentados na figura

4.11:

Figura 4.11: Impactes esperados em Portugal com o lançamento do concurso eólico

O PCC18

possibilita que todos os concorrentes poderiam apresentar propostas tanto à fase A, como à

fase B do concurso, ou apenas uma delas. No entanto, a cada concorrente não poderia ser atribuído

mais do que um Lote de Potência, valendo a aceitação da adjudicação do Lote de Potência da fase A

como desistência relativamente à eventual proposta apresentada pelo concorrente à fase B. Nesta

sequência, houve três concorrentes que apresentaram a sua proposta, tanto à fase A, como à fase B,

e apenas um que apresentou unicamente proposta à fase A.

18

Designar-se-á ao longo do trabalho PCC como sigla definidora de “Programa e Condições do Concurso”.

ENERGÉTICOS

AMBIENTAIS

INDUSTRIAIS

REGIONAIS

Reduzir a dependência energética externa

Reduzir as emissões nacionais de C02

Aumentar a riqueza promovendo a criação de um Cluster Industrial

Implementar novas tecnologias no sector eólico INOVAÇÃO

Promover o desenvolvimento regional e a criação de emprego em regiões menos favorecidas

Page 54: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

40

Na figura 4.12 apresentam-se os concorrentes que apresentaram propostas às fases A e B do

concurso:

Figura 4.12: Concorrentes à fase A e B do concurso eólico

Para efeitos desta dissertação, apenas se analisará a fase A do concurso, uma vez que este modelo

é equivalente ao adoptado para a fase B. Relativamente à fase C, esta encontra-se actualmente

ainda a decorrer.

4.6.2 Análise dos Critérios e Subcritérios

Para a avaliação das propostas apresentadas à fase A, os critérios e os subcritérios com as

respectivas ponderações foram os apresentados no quadro 4.2:

Quadro 4.2: Critérios e Subcritérios de avaliação das propostas do concurso eólico (Fonte: PCC – Programa e Condições do Concurso)

Critério Ponderação Subcritério ou factor Ponderação

A. Impacte Económico

20% A1. Desconto à remuneração da energia entregue à rede dos Parques

Eólicos 20%

B. Criação de um Cluster Industrial de apoio ao sector

45%

B1. Volume de Investimento Directo do Projecto Industrial 11%

B2. Volume de Investimento Indirecto gerado pelo Projecto Industrial 8%

B3. Emprego Directo gerado pelo Projecto Industrial 11%

B4. Emprego Indirecto gerado no Cluster Industrial 8%

B5. Valor Acrescentado Bruto do Cluster Industrial 7%

B6. Grau de coerência e solidez de Projecto Industrial -

C. Gestão técnica do Sistema

25%

C1. Capacidade de gestão técnica de agrupamentos de Parques Eólicos

10%

C2. Gestão de produção de energia 2,5%

C3. Soluções de armazenamento de energia 7,5%

C4. Controlo adicional da potência reactiva 2,5%

C5. Participação da regulação primária de frequência 2,5%

D. Apoio à Inovação

10% D1. Apoio à Inovação 10%

Da análise do quadro acima, constata-se que os critérios para a avaliação das propostas são

eminentemente económico/financeiros, pesando cerca de 65% (20% correspondente ao critério A +

45% correspondente ao critério B). De facto, o concurso valoriza o impacte económico e a criação de

um cluster industrial, em detrimento, por exemplo, da qualidade técnica das soluções propostas.

“Novas Energias Ibéricas” (NEI)

“Ventinveste”

“Eólicas de Portugal” (ENEOP)

“Ventonorte”

Iberdrola; Gamesa; Alberto Martins Mesquita & Filhos; Meci; Viatel

Galp Power; Martifer; Enersis; Efacec e Repower

Enernova (EDP); Generg; Finerge e TP

Enel; Union Fenosa; WPD GmbH & CO.KG; Suzlon Energy A/S

Fase A e B

Fase A e B

Fase A

Fase A e B

Page 55: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

41

Nos pontos que se seguem, pretende-se realizar uma análise critério a critério, mais ou menos

detalhada consoante a importância que cada um representa, remetendo-se para o anexo B.1 a

definição dos respectivos factores de valorização estabelecidos.

4.6.2.1 Critério A. Impacte Económico

Este critério diz respeito ao impacte económico, mais propriamente no que se refere à forma como se

deverá proceder relativamente à remuneração da energia, produzida nos parques eólicos, vendida à

rede pública, em vigor à data da emissão da licença de exploração dos parques eólicos. Este é um

critério que se reveste de extrema importância, dado que, através desta remuneração será possível

assegurar a sustentabilidade financeira na fase de laboração do projecto eólico.

4.6.2.2 Critério B. Criação de um Cluster Industrial de apoio ao sector

No que se refere à produção de componentes e equipamentos de geração de energia eléctrica

através da energia eólica, Portugal era completamente dependente dos recursos exteriores. De modo

a optimizar o aproveitamento do recurso eólico, foi lançado o presente concurso, tendo como maior

critério de avaliação das propostas a criação de um Cluster Industrial de apoio ao sector. O novo

sector industrial visou essencialmente a criação de investimento e de emprego em zonas

desfavorecidas e a transferência de tecnologia para o país, podendo com isto, realizar exportações

em vez de importações. Neste seguimento, aponta-se para a avaliação da criação de Valor

Acrescentado Bruto (VAB), que representa em termos gerais, o diferencial entre as importações e as

exportações.

O subcritério B1 é valorizado em duas vertentes: relativamente ao investimento efectuado para a

criação de unidades fabris para a montagem de aerogeradores e para a criação de unidades de

produção de componentes.

O subcritério B2 tem em vista a valorização do investimento realizado, quer em regiões menos

favorecidas, quer em regiões limítrofes.

Os subcritérios B3 e B4 apontam para a criação de emprego directo e indirecto gerados,

respectivamente, pelo e no, Cluster Industrial. São valorizados os empregos criados a vários níveis:

indiferenciado, especializado, técnico e de incentivo à inovação. A localização do emprego também

tem influência no critério B4.

O subcritério B5 diz respeito ao Valor Acrescentado Bruto (VAB) directo e indirecto associado ao

projecto industrial. Este critério apenas é valorizado para razões entre VAB e vendas directas

(VAB/Vendas) que sejam superiores a 20%. Tanto os indicadores relativos ao VAB como aos

montantes de vendas utilizados respeitam ao ano cruzeiro do projecto industrial considerado por cada

um dos concorrentes.

O último subcritério diz respeito ao grau de coerência e solidez dos compromissos em que são

avaliadas questões relacionadas com o cronograma de execução de todo o projecto industrial e do

Page 56: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

42

projecto eólico, em que é dada especial atenção a prazos de implementação tanto dos investimentos

directos como dos indirectos, a postos de trabalho a criar, volumes de produção e a sua evolução.

Nesta sequência, também a sustentabilidade do investimento é avaliada, tomando por base três

critérios: o horizonte temporal dos investimentos, a Carteira Firme de Encomendas e o Rácio de

Exportações/vendas.

Por fim, são também analisados o grau de coerência e de solidez dos vínculos contratuais, tomando

como aspectos relevantes as garantias de localização, financiamento, cumprimentos de prazos,

capacidade de atracção de investimento e desenvolvimento de negócios, bem como o vínculo das

diversas entidades envolvidas no projecto industrial e respectivo grau de compromisso, incluindo a

vinculação por parte dos fornecedores.

4.6.2.3 Critério C. Gestão Técnica do Sistema

Este critério, representado por uma fatia de 25%, é dividido em cinco subcritérios, sendo o primeiro

(C1), respeitante à capacidade de gestão técnica dos parques eólicos. Este subcritério reporta-se à

gestão da produção dos parques com especial atenção às necessidades do país e tem em

consideração a montagem dos parques, a limitação de cada parque a determinada potência, entre

outros factores determinantes em todo um processo de gestão. Para a valorização do subcritério C1,

prevê-se a criação de um centro de despacho de produção eólica com capacidade de comunicação

electrónica com os operadores de Rede, que abranjam todos os parques eólicos que vierem a ser

licenciados.

O subcritério C2, refere-se à gestão de produção de energia e tem como principio base quantificar a

disponibilidade para aceitar (valorização a partir de 20 horas), em horário de super vazio, a redução

da produção de energia eólica em prioridade dentro da produção renovável.

Uma questão a ter sempre presente, é o facto de que a capacidade instalada deve ser sempre

superior à consumida, de modo a poder cobrir as necessidades totais de um país. É neste ponto que

entra a importância da criação de soluções de armazenamento de energia (subcritério C3). A energia

eólica, ao contrário de, por exemplo, a energia hídrica, não se consegue armazenar, pelo que é

essencial que esta se associe a outras tecnologias. Uma solução bastante viável e com elevado nível

de eficiência (cerca de 80%) é o sistema híbrido eólica + hídrica, em que se utiliza toda a energia

eólica “desperdiçada” para activar a bombagem das barragens. Outra solução, não tão utilizada, é

também o uso de pilhas.

Os subcritérios C4 e C5, referentes ao controlo adicional da reactiva e à participação na regulação

primária da frequência, respectivamente, são critérios bastante técnicos e referem-se essencialmente

à qualidade da energia produzida, nomeadamente às flutuações.

Page 57: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

43

4.6.2.4 Critério D. Apoio à Inovação

Este critério refere-se à criação de um Fundo de Apoio à Inovação (FAI) para o financiamento do

sistema científico nacional, projectos de investigação e desenvolvimento tecnológico (IDT) e

concessão de bolsas de mestrado e doutoramento, com particular enfoque no domínio das energias

renováveis (designadamente da energia eólica) e eficiência energética.

A DGEG, sendo o serviço central do Ministério da Economia e da Inovação com responsabilidade

para assegurar a concretização da política energética definida pelo Governo, nomeadamente ao nível

das energias renováveis e da eficiência energética, é a ela quem cabe o papel de supervisão do FAI

por forma a atingir os objectivos preconizados.

4.6.3 Análise de propostas nas fases de pré-qualificação e de negociação

Na fase A do concurso eólico, apresentaram-se a concurso quatro concorrentes: o consórcio Eólicas

de Portugal, liderado pela EDP, o consórcio Ventinveste, liderado pela Galp, o consórcio Novas

Energias Ibéricas liderado pela empresa espanhola Iberdrola e o consórcio Ventonorte liderado pela

espanhola Unión Fenosa e pela italiana Enel. Para efeitos de avaliação, todas as propostas

apresentadas foram admitidas, tendo-se obtidos os resultados, conforme evidenciado no quadro 4.3.

Quadro 4.3: Pontuação das propostas dos quatro concorrentes ao concurso eólico na fase de pré-qualificação

Proposta A1 B1 B2 B3 B4 B5 B6 C1 C2 C3 C4 C5 D1 Pontuação

Final

NEI 0 21,6 4,4 74,9 23,7 10,8 0,87 88,3 100 1,6 100 100 100 38,3

Ventinveste 100 11,0 10,8 100 26,6 28,8 0,72 100 100 100 100 100 100 67,4

Eólicas de Portugal

100 26,9 10,7 100 22,2 9,0 0,85 100 100 100 100 100 100 69,6

Ventonorte 0 20,5 4,2 100 47,5 38,2 0,30 80 100 100 100 100 85,6 37,5

A pontuação final apresentada obteve-se através da aplicação da seguinte fórmula, de acordo com o

disposto no PCC: =

P

Sintetiza-se no quadro 4.4 o resultado das propostas iniciais, evidenciando-se as pontuações obtidas

nos vários critérios pelos quatro concorrentes:

Quadro 4.4: Pontuações das propostas iniciais dos quatro concorrentes

Proposta Inicial A B C D Pontuação Final

NEI 0 11,8 16,5 10 38,3

Ventinveste 20 12,4 25 10 67,4

Eólicas de Portugal 20 14,6 25 10 69,6

Ventonorte 0 6,0 23,0 8,6 37,5

Page 58: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

44

Da observação do quadro anterior, realça, de imediato, que os consórcios Ventinveste e Eólicas de

Portugal atingiram, logo nas propostas iniciais, as pontuações máximas relativamente à valorização

dos critérios A, C e D, colocando-se desde o início, em grande vantagem perante os outros dois

concorrentes. Em contrapartida, os consórcios NEI e Ventonorte não foram pontuados no critério A,

além de terem tido classificação inferior à dos outros concorrentes no critério C, tendo-se criado um

grande distanciamento entre estes dois grupos.

Quanto ao critério D, para além de ser o menos valorizado pelo júri, é o que apresenta resultados

mais aproximados em todos os concorrentes, pelo que a escolha dos correntes a seleccionar para a

fase de negociação não esteve dependente das pontuações aí obtidas na fase inicial.

No que concerne ao critério B, os resultados obtidos por todos os concorrentes estão longe de atingir

as metas propostas no PCC, verificando-se, também aqui, que são os concorrentes Ventinveste e

Eólicas de Portugal, que se posicionam melhor, não deixando ao júri margem para dúvida sobre

quem deveria prosseguir para a fase de negociação.

Com base nos elementos disponibilizados pela DGEG referentes à avaliação da proposta inicial de

cada concorrente e das respectivas pronunciações relativamente à decisão final do júri do concurso,

não foram alteradas as posições dos concorrentes NEI e Ventonorte. Assim, tendo em vista a

melhoria global das condições apresentadas, a concretização da Proposta e a definição das garantias

prestadas para a sua concretização, em presença dos resultados, o júri deliberou que os

concorrentes aptos a passarem à fase de negociação seriam os consórcios Eólicas de Portugal e

Ventinveste.

Posteriormente, o júri procedeu à fase de negociações com os dois concorrentes admitidos a esta

fase tendo, cada um deles, apresentado as suas melhores propostas finais (BAFO), evidenciando-se

no quadro 4.5 os resultados obtidos nas fases inicial e BAFO:

Quadro 4.5: Pontuações finais das propostas dos concorrentes na fase inicial e na BAFO

Proposta A1 B1 B2 B3 B4 B5 B6 C1 C2 C3 C4 C5 D1 Pontuação Final

Ventinveste Inicial 100 11,0 10,8 100 26,6 28,8 0,72 100 100 100 100 100 100 67,4

BAFO 100 11,2 15,7 100 70,5 26,5 0,88 100 100 100 100 100 100 73,4

Eólicas de Portugal

Inicial 100 26,9 10,7 100 22,2 9,0 0,85 100 100 100 100 100 100 69,6

BAFO 100 26,9 30,5 100 100 29,4 0,97 100 100 100 100 100 100 80,6

Sintetiza-se no quadro 4.6 o resultado das BAFO, evidenciando-se as pontuações obtidas nos vários

critérios pelos dois concorrentes em negociação:

Quadro 4.6: Pontuações finais das BAFO da Ventinveste e da ENEOP

BAFO A B C D Pontuação Final

Ventinveste 20 18,4 25 10 73,4

Eólicas de Portugal 20 25,6 25 10 80,6

Page 59: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

45

Nesta fase, à excepção da valorização referente ao subcritério B3 em que ambos já tinham obtido a

pontuação máxima, e ao subcritério B1, que apenas foi ligeiramente melhorado pela Ventisveste,

cada um dos dois concorrentes melhorou substancialmente os restantes parâmetros que valorizam o

critério B, dando ênfase aos seguintes aspectos:

Relativamente ao subcritério B2, refere-se que, quanto às regiões menos favorecidas, ambos os

concorrentes apresentaram investimentos, não se podendo afirmar o mesmo relativamente às

zonas limítrofes, em que apenas a ENEOP mostrou interesse em investir. Este subcritério foi

ganho pela ENEOP, não só por ter apresentado um maior investimento, mas também por ter

apresentado investimento nas regiões limítrofes.

O subcritério B4 para além de valorizar os empregos propostos a cada nível, dá especial

importância à localização destes, consoante se encontrem em regiões menos favorecidas ou

regiões limítrofes. No caso do consórcio Ventinveste, uma vez que a criação do emprego indirecto

é gerado apenas pelo investimento indirecto e esta não apresentou investimento indirecto para as

regiões limítrofes, não houve quaisquer propostas de emprego para estas regiões, posicionando-

se desde início em desvantagem relativamente à ENEOP. Não obstante, ambos os consórcios

apresentaram evidentes revisões às suas propostas iniciais, aumentando em grande escala o

número de empregos propostos. Estas revisões deram-se, em grande parte, devido ao facto de

alguns empregos propostos inicialmente não terem sido considerados resultantes de

investimentos admitidos para efeito de valorização da proposta. Esta revisão fez com que a

proposta da Ventinveste passasse de 372 para 987 empregos indirectos equivalentes e ENEOP

de 282 para 1473.

No que concerne ao valorizado no subcritério B5, ambos os consórcios apresentaram alterações à

sua proposta inicial: a Ventinveste aumentou o VAB directo em cerca de € 8,5 milhões e o VAB

indirecto em cerca de € 25,4 milhões. Já a ENEOP, aumentou apenas o seu VAB indirecto em

cerca de € 43,5 milhões. Em termos de avaliação das propostas iniciais, a Ventinveste liderou com

um VAB total/ Vendas de cerca de 43%, enquanto que a ENEOP apenas pontuava cerca de 27%.

Contudo, em termos de avaliação da BAFO, ao aumentar o VAB e mantendo as Vendas, a

ENEOP ascendeu para os 44%, enquanto que a Ventinveste, para além de ter aumentado o VAB,

aumentou também as exportações, o que fez com que não superasse a ENEOP.

O valor final do grau de coerência e solidez do projecto industrial a que se refere o subcritério B6,

resultante da aplicação da expressão , foi de 0,88 para a

Ventinveste e 0,97 para as Eólicas de Portugal.

Relativamente ao cronograma de execução do projecto industrial e do projecto eólico, ambos os

consórcios apresentaram desde o início, globalmente, um elevado grau de adequação em todos

os aspectos relevantes, evidenciando, no entanto, folgas reduzidas na interacção entre o projecto

industrial e o projecto eólico – cerca de 4 meses (Ventinveste) e de 7 meses (ENEOP). Um factor

que colocou a ENEOP em vantagem, é o facto de todas as unidades do projecto industrial serem

construídas no mesmo local (Unidade integrada em Viana do Castelo), ao passo que a proposta

da Ventinveste aponta para a sua construção em locais diferentes. Neste sentido, esta última

Page 60: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

46

aparenta ter uma menor robustez no que diz respeito à concretização do projecto industrial, uma

vez que o resultado final depende de outras unidades que fazem parte do Cluster. Este aspecto foi

ultrapassado na BAFO por introdução das fases respeitantes ao licenciamento do projecto

industrial, o que lhe veio conferir maior credibilidade à execução do projecto. No que se refere ao

plano de negócios dos parques eólicos, apenas a ENEOP apresentou proposta, que foi

considerada bastante detalhada. Estes motivos justificaram a pontuação destes aspectos em 90

pontos para o Ventinveste e 95 pontos para as Eólicas de Portugal.

Quanto à sustentabilidade do investimento, as propostas foram analisadas tendo em consideração

horizonte temporal, a carteira firma de encomendas e o rácio exportações/ vendas. Ambos

consideram um horizonte temporal mínimo de 17 anos. Relativamente ao segundo factor, e em

termos de BAFO, a Ventinveste propôs uma contratação de uma carteira firma de encomendas

durante o prazo de 4,1 anos e a ENEOP durante um prazo de 9 anos. Relativamente ao terceiro

factor, apesar de nenhum destes dois concorrentes ter atingido 60% de rácio na proposta inicial,

este valor foi por ambos ultrapassado na BAFO. As pontuações obtidas para a Ventinveste e a

ENEOP foram, respectivamente, 83,1 e 100 pontos.

Relativamente aos vínculos contratuais, o consórcio Ventinveste mostrou um elevado grau de

vinculação e concretização quanto ao projecto Industrial, elevado grau de vinculação dos

fornecedores integrados no cluster industrial, um grau médio quanto à vinculação da estrutura

societária, um elevado grau relativamente à solidez e concretização dos financiamentos e também

um elevado grau de concretização e vinculação no que concerne à transferência de tecnologia. O

consórcio Eólicas de Portugal apresenta grau elevado em todas as vertentes referidas, contudo,

evidenciou uma pequena parcela do investimento indirecto que não se encontra integralmente

contratualizada pelo respectivo promotor. Pelos motivos referidos, o júri pontuou os consórcios

Ventinveste e ENEOP, respectivamente, com 90 e 95 pontos.

Após a etapa de negociações, o agrupamento Eólicas de Portugal (ENEOP) foi quem saiu vencedor

da primeira fase do concurso e celebrou o contrato com a DGEG em 27 de Outubro de 2006, por um

prazo mínimo de 17 anos (vida útil mínima do Projecto Industrial). Uma vez que a proposta

apresentada pelo consórcio liderado pela EDP apresentou qualidade e solidez contratual, foi digna de

“mérito excepcional” e a potência adjudicada não foi apenas de 800 MW como seria se fosse

vencedora com uma proposta normal, mas sim de 1000 MW. A somar ao valor da potência total

adjudicada, o consórcio teve direito a mais 200 MW que são resultado de 20% de sobre-equipamento

por cada parque eólico a construir, o que perfaz um total de cerca de 1200 MW de capacidade eólica

a instalar.

Junta-se no anexo B.2 as obrigações específicas da sociedade promotora (ENEOP), que estão

dispostas no contrato.

Page 61: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

47

5. RISCOS

5.1. O Risco nas Parcerias Público-Privadas

Como já referido no capítulo 2, o risco em parcerias público-privadas é um factor da maior

importância e é essencial que seja bem gerido, para alcançar o sucesso nesta modalidade de

contratação pública. A gestão do risco engloba as etapas apresentadas na figura 5.1:

Figura 5.1: Gestão do Risco

A distribuição de responsabilidades e de riscos entre o parceiro privado e o parceiro público é uma

questão de grande relevância para uma PPP. Para além do parceiro privado estar encarregue das

responsabilidades das fracções mais importantes da operação, tal não implica necessariamente que

este assuma todos os riscos. Com este modelo de contratação pública, pretende-se que cada

parceiro faça aquilo para que está melhor vocacionado e preparado, no sentido de certificar que os

serviços e as infra-estruturas sejam assegurados da forma mais eficiente possível.

Segundo Grimsey e Lewis (2002) existem pelo menos os seguintes riscos associados a qualquer

projecto de uma infra-estrutura:

Riscos Técnicos que envolvem as falhas de engenharia e de desenho;

Riscos de Construção, devido a falhas técnicas, atrasos na construção e consequentes custos

acrescidos;

Riscos Operacionais, devido a elevados custos de operação e manutenção;

Riscos de Procura, associados com o consumo em excesso ou em défice;

Riscos Financeiros decorrentes de alterações de taxas de juro, taxas de câmbio ou taxas de

inflação;

Riscos Políticos resultantes da possível oposição política ao projecto ou de eventuais

alterações legislativas;

Riscos Ambientais devidos a impactes ambientais;

Força maior que provém de factores que saem do controlo do prestador de serviço (como por

exemplo, referem-se serviços inacessíveis devido a catástrofes naturais, vandalismo e actos de

guerra);

Falhas de Projecto, devido à falha do projecto resultante da combinação de qualquer uma das

situações atrás referidas.

Page 62: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

48

Sendo as PPP uma modalidade de contratação pública extremamente complexa, para uma

distribuição rigorosa e equilibrada dos riscos entre cada parceiro, é essencial que seja feita uma

análise cuidada e eficiente caso a caso. O nível óptimo de transferência é caracterizado por uma

situação de “win-win” onde, tanto o parceiro público como o parceiro privado maximizam/optimizam o

seu retorno relativamente aos custos assumidos. Contudo, é certo que na grande parte dos casos, os

riscos associados ao projecto são alocados maioritariamente ao sector privado, mas há que ter

presente que o sector público não deixa de ter uma parte de responsabilidade, mais ou menos

significativa, pela provisão do serviço e pela satisfação da necessidade colectiva adjacente (Cabral,

2008). Os riscos poderão ser alocados apenas a uma só das partes intervenientes na parceria, ou

partilhados entre ambos. Na figura 5.2 apresenta-se um exemplo de alocação dos riscos de um

projecto PPP:

Figura 5.2: Exemplo de alocação de riscos em PPP (Fonte: Marques, 2009)

A transferência de riscos do Estado para o parceiro privado terá de ter sempre em atenção alguns

aspectos como:

O Estado não deve transferir para o privado riscos que estão sob o seu controlo, não devendo

também assumir riscos que não esteja em condições de controlar;

Deverá sempre assegurar-se que, em caso de transferência de riscos para o sector privado, que

o benefício público de tal transferência supera o agravamento de custos que irá ocorrer;

Para uma melhor análise da viabilidade técnica e financeira dos projectos, revela-se importante que

seja criada uma matriz de riscos, permitindo uma melhor identificação, avaliação, alocação e

mitigação dos riscos, sintetizando os resultados obtidos. Assim, para cada risco identificado, far-se-á

uma distribuição probabilística da ocorrência desse risco, quer a afectar apenas o parceiro público ou

somente o parceiro privado, quer ainda a partilha entre os dois sectores. A correspondente alocação

Page 63: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

49

dos riscos será feita em presença dos resultados obtidos. Independentemente de a quem é alocado o

risco, deve procurar-se sempre a sua mitigação.

O facto de o parceiro privado estar encarregue tanto da construção como da manutenção da infra-

estrutura em regime PPP, faz com que haja, da sua parte, uma maior preocupação no controlo dos

riscos relativamente à qualidade do serviço prestado, recorrendo a processos de construção

duradoura e de qualidade, já que na fase de operação do activo, é quem suportará os custos de

conservação e manutenção. A transferência de riscos para o privado acarreta, em geral, aumentos no

custo do projecto, associados ao prémio de risco. No entanto, este aspecto traduz-se numa vantagem

relativamente ao processo tradicional, em que só a responsabilidade da construção é, por regra,

transferida para o parceiro privado, arcando o Estado com a responsabilidade da conservação e

manutenção, não havendo incentivo para o privado desenvolver uma construção de qualidade.

Para a análise do risco poderão ser utilizadas técnicas qualitativas ou técnicas quantitativas,

nomeadamente o cálculo do comparador do sector público (PSC), apresentando, no entanto,

dificuldades na medição dos riscos, seja porque o conceito de risco é muito subjectivo, seja pela

inexistência de uma base de dados credível.

A identificação das estratégias de mitigação de riscos permite o desenvolvimento de planos de custos

mais realistas e a utilização da forma contratual mais adequada. Após a correcta distribuição dos

riscos, espera-se que estes sejam bem geridos, minimizando assim, quer o risco, quer o custo global

do projecto.

5.2. O Risco em Projectos de Energias Renováveis

O risco em projectos de investimento em energias renováveis pode ser descrito como o impacte

negativo que os acontecimentos futuros imprevistos poderão causar sobre o valor financeiro de um

projecto ou investimento. Um dos principais problemas no desenvolvimento de projectos de energias

renováveis é exactamente como os eventos futuros afectam o valor do projecto e quais os riscos

envolvidos para o investimento previsto.

5.2.1 Principais Riscos envolvidos em Projectos de Energias Renováveis

Segundo Cleijne e Ruijgrok (2004), quando se trata de riscos de investimento para projectos de

energia renovável, existem três categorias de risco que parecem desempenhar um papel dominante:

Riscos Regulatórios – relacionados com possíveis mudanças no apoio financeiro para as

energias renováveis, devido a mudanças das políticas do Governo, durante toda a fase de

desenvolvimento do projecto;

Riscos Operacionais e de Mercado – relativos ao aumento dos custos na fase de operação ou

na aquisição de matérias-primas, como no caso da Biomassa;

Page 64: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

50

Riscos Tecnológicos – decorrentes do mau funcionamento da tecnologia utilizada. Este risco

pode ser acrescido nos casos em que a maturidade da tecnologia da energia renovável em

questão esteja ainda numa fase inicial.

Apesar de um dos principais objectivos de um projecto de energia eólica ser assegurar a sua

viabilidade financeira, existem outros riscos envolvidos que não podem ser resolvidos apenas com a

adopção de ferramentas habitualmente utilizadas na monitorização dos riscos financeiros.

Existem várias fontes de risco em todas as fases de um projecto. Os riscos de projecto englobam os

seguintes:

Desenvolvimento e construção do projecto;

Operação e manutenção;

Riscos financeiros;

Força maior.

As fases de desenvolvimento e de construção de um projecto de energia renovável envolvem

grandes riscos. Na maioria das situações, os riscos para o privado têm sido assegurados por

contratos “Chave-na-Mão” e por outros tipos de modalidade de contratação pública, onde estão

estabelecidas multas contratuais para incumprimentos de prazos e falhas de níveis de desempenho

pré-acordados. No caso de um parque eólico off-shore, não é óbvio quem deve assegurar os riscos

associados. Em vez de utilizar os contratos atrás referidos, pondera-se a possibilidade da existência

de novos tipos de contratos em que cada parte interveniente na parceria assuma os seus próprios

riscos, mas interligados entre si por uma forte relação contratual (Cleijne e Ruijgrok, 2004).

A avaliação dos riscos na fase de operação e manutenção é fundamental, dado que afecta a

viabilidade do projecto em todo o seu ciclo de vida e determina o nível de retorno de investimento

para as partes envolvidas. Os critérios de qualidade e desempenho deverão ser bem definidos em

toda a fase do processo, devendo os riscos associados ser imputados ao adjudicatário, o qual é

responsável pela manutenção da instalação durante o período de garantia. Antes do início dos

trabalhos, o adjudicatário obriga-se a entregar uma garantia bancária a favor do adjudicante no valor

previamente estabelecido em contrato, a qual só poderá ser levantada após o referido período. No

sector eólico, os fabricantes têm vindo a oferecer contratos de serviços completos de manutenção

para o primeiro período de funcionamento da instalação, e também para o período de 5 a 10 anos por

facilidade de negociação com os bancos.

Como é de esperar, o principal risco de um projecto é o risco financeiro. Este risco prende-se

essencialmente com a capacidade de serem geradas as receitas previstas em determinadas datas,

para poder fazer face às correspondentes obrigações financeiras. É essencial que em projectos desta

natureza, seja feita uma avaliação detalhada de todas as autorizações e consentimentos necessários

à viabilidade do projecto, de modo a não correr o risco de avançar sem as garantias necessárias para

a sua conclusão. A adequada avaliação dos recursos do vento pode diminuir consideravelmente a

Page 65: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

51

incerteza do rendimento da energia eólica, dando maior confiança aos investidores e entidades

financiadoras, reduzindo o risco de baixo desempenho.

O problema do financiamento no sector das energias renováveis, é um ponto bastante importante no

desenvolvimento destes projectos, pois diz respeito à forma como o recurso é quantificável, em

termos de preço no mercado, em comparação com a energia gerada através de combustíveis fósseis.

Os modelos de preços do mercado convencional não reflectem as externalidades ambientais,

incluindo as emissões de CO2 produzidas a partir da geração de energia via combustíveis fósseis. Da

mesma forma, os benefícios do desenvolvimento sustentável e ambientais associados aos projectos

de energia renovável não se reflectem no preço da energia renovável vendida aos consumidores. É

de salientar que apenas politicas de longo-prazo poderão alterar o padrão de investimento comercial,

investindo especialmente em fontes de energia limpa em detrimento das energias convencionais.

5.2.2 Risco em projectos de ER na óptica dos Stakeholders

É possível desenvolver uma medida quantitativa do risco envolvido no desenvolvimento de um

projecto, apesar de se tratar de matéria algo subjectiva no que toca às decisões tomadas por pessoas

que têm a sua própria percepção do risco. Segundo Cleijne e Ruijgrok (2004), foi efectuada uma

pesquisa a um grupo superior a 650 stakeholders 19

envolvidos em projectos de investimento em

energias renováveis na UE, de modo a obter os seus pontos de vista relativamente a riscos e

barreiras associados. Nesta pesquisa pôde-se aferir quais os recursos renováveis mais ou menos

sujeitos a riscos, destacando-se largamente o vento e a biomassa relativamente às outras fontes,

conforme se evidencia na figura 5.3.

Figura 5.3: Recursos de Energia Renovável mais sujeitas a Risco (Fonte: adaptado Cleijne e Ruijgrok, 2004)

O resultado da pesquisa demonstra também que os maiores riscos afectos a investimentos em

projectos de energia renovável são fundamentalmente os associados aos riscos regulatórios e

políticos de apoio financeiro às fontes de energia renovável (FER), disponibilidade de recursos e à

tecnologia de equipamentos e planeamento. Este resultado encontra-se resumido na figura 5.4,

19

Por stakeholders entende-se todas as partes (interessadas) envolvidas nos projectos.

Page 66: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

52

atendendo a dois parâmetros, a saber: frequência do tipo de risco e atribuição do valor do risco numa

escala de zero a dez.

Figura 5.4: Ranking dos riscos que afectam os investimentos em energias renováveis na Europa (a) frequência dos riscos; b) média de importância atribuída aos riscos na escala 0-10) (Fonte: adaptado de Cleijne

e Ruijgrok, 2004)

Outra pesquisa realizada no mesmo âmbito (Ragwitz, et al, 2007), visou classificar estratégias de

mitigação dos riscos de acordo com a sua importância (1 – alta; 8 – muito baixa). De acordo com o

exposto na figura 5.5, a cuidadosa selecção dos projectos parece ser a mais importante. É de referir

que tanto as exigências quanto ao retorno de investimento como os contratos de longo prazo não

constituem opções relevantes para sistemas que utilizem sistemas de preço fixo (tarifas feed-in).

Figura 5.5: Classificação das estratégias de mitigação de risco (Fonte: adaptado de Ragwitz, et al, 2007)

De um modo sintetizado destacam-se no quadro 5.1 os riscos mais representativos de cada uma das

energias renováveis e as respectivas estratégias de gestão:

Page 67: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

53

Quadro 5.1: Riscos Chave associados a projectos de Energias Renováveis (Fonte: adaptado de UNEP, 2008)

Tipo de Energia Renovável

Principais Riscos Considerações sobre gestão dos

Riscos

Geotérmica

Risco de grandes despesas de perfuração Risco de exploração

20 (e.g. temperaturas

inesperadas e explosões) Falhas de componentes críticas (e.g. avaria de

bombas) Longos tempos de espera (e.g. permissão de

planeamento)

Falta de experiência dos operadores Variedade da tecnologia consoante a

localização Falta de dados acerca da disponibilidade dos

recursos Dificuldade de aprovação do planeamento Falta de aprovação de “tecnologias de

simulação”21

que permitam reduzir o risco de exploração

Fotovoltaica

Avaria de componentes (e.g. curto-circuito) Risco de equipamento exposto a intempéries Roubo / vandalismo

Disponibilidade de garantia de execução (e.g. por mais de 25 anos)

Utilização de componentes normalizadas de fácil substituição

Negligência na manutenção

Solar Térmica

Riscos de protótipo e de tecnologia proporcionais ao tamanho do projecto e combinados com outros tipos de tecnologia de energia renovável (e.g. torres solares)

Negligência na manutenção

Pequenas Hídricas

Inundações Variabilidade sazonal/anual do recurso hídrico Avarias prolongadas devido a controlo

externo (elevado tempo de resposta) e falta de peças suplentes

Tecnologias de longo prazo com baixos riscos operacionais e reduzidas despesas de manutenção

Energia Eólica

Longos períodos na obtenção de licenças (e.g. licença de construção)

Elevados custos iniciais (e.g. custos de construção)

Falhas de componentes críticas (e.g. peças do aerogerador)

Variabilidade do recurso eólico Difícil ligação de cabos em eólicas off-shore Dificuldade de intervenção em operação de

manutenção correctiva de emergência em

parques eólicos off-shore.22

Novos modelos de turbinas Garantias de fabricação por parte dos

fabricantes dos componentes Dados acerca do recurso eólico Controlo de perdas (e.g. difícil combate a

incêndio numa eólica off-shore devido à sua localização)

Desenvolvimento de um manual de boas práticas

Biomassa

Disponibilidade/ variabilidade do fornecimento de combustível

Variabilidade dos preços dos recursos Obrigações ambientais associadas à

movimentação e armazenagem de combustível

Contratos de longo prazo podem resolver o problema dos recursos

Custos de movimentação de combustível Controlo de emissões

Energias das Ondas / Marés

Sobrevivência em ambientes marinhos agressivos (sistemas de amarração)

Riscos de protótipo e de tecnologia Projectos de pequena escala com longos

prazos

Protótipos e projectos de demonstração tecnológica

Dados acerca da medição de recursos

20

Probabilidade de sucesso na obtenção de níveis (economicamente viáveis) mínimos de produção de água

termal (vazões mínimas) e temperaturas de reservatório. 21

Tecnologias de simulação dizem respeito a tentativas de melhoria de produtividade ou de recuperar a perda

de produtividade de poços geotérmicos através de várias técnicas, entre as quais, produtos químicos e explosivos de simulação. 22

Para além dos pontos referidos, considera-se este também de grande importância.

Page 68: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

54

De todas as energias renováveis apresentadas, apenas se analisará os riscos associados à energia

eólica, por se tratar do recurso que mais riscos envolve e também por ser o tema principal da

presente dissertação.

No que se refere à eólica off-shore, as tecnologias ainda se encontram em fase de desenvolvimento,

pelo que este recurso, para além de ter grande potencial, ainda se encontra um pouco limitado. O

facto de as turbinas off-shore apresentarem tamanhos bastante maiores em comparação com as on-

shore e também o facto de haver pouca experiência logística tanto na instalação como na operação e

manutenção (O&M) dos parques off-shore, faz com que os agentes financeiros exijam fortes apoios

financeiros por parte dos investidores do projecto. Dado isto, tanto os riscos de construção como os

riscos tecnológicos devem ser suportados pelo adjudicatário do projecto. As economias de escala

parecem conduzir o sector eólico off-shore para projectos de grande escala. Isto refere-se

essencialmente à fabricação de novas turbinas, logística de instalação e operação e manutenção e

ligação à rede eléctrica.

Quanto à energia eólica on-shore, a sua proliferação tem sido acompanhada pelo aumento da

confiança nos investidores dos projectos e nas tecnologias. O maior risco de desenvolvimento de

energia eólica on-shore é o associado à fase de planeamento, pois o pedido de aprovação financeira

é, em muitos casos, a primeira barreira a ultrapassar. Embora as tecnologias para obter uma

estimativa do recurso “vento” sejam já bastante desenvolvidas, este recurso continua a representar a

maior fonte de risco financeiro. Como maiores fontes de incerteza de recurso eólico apontam-se a

falta de dados de referência confiáveis que permitam estimar o recurso eólico a longo prazo, a

modelação do terreno (plana ou montanhosa) e as variações anuais na produção de energia devido a

bons e maus anos de vento.

Em locais planos, é possível realizar uma estimativa do recurso eólico a partir, tanto de medições

meteorológicas, como de comparações com parques eólicos semelhantes nas imediações. Nos locais

com terrenos mais montanhosos, devido à sua complexidade em estimar o recurso eólico, é

indispensável que sejam efectuadas medições de velocidade do vento com maior precisão e durante

um horizonte temporal de no mínimo 6 meses (preferencialmente 1 ano).

A incerteza na previsão de rendimento de energia eólica varia de 8 a 10% para estimativas mais

precisas e de 20 a 30% em circunstâncias difíceis, a qual é certamente tida em consideração pelos

agentes financeiros (Cleijne e Ruijgrok, 2004).

5.3. A Partilha de Riscos analisada no Contrato Eólico

Como já mencionado, a gestão dos riscos é uma análise essencial a ter em conta a montante da

escolha do modelo de contratação mais adequado. Embora o contrato eólico analisado não disponha

de uma matriz de riscos nem de um estudo discriminado de todos os riscos passíveis de acontecer

num projecto eólico, procurou-se da melhor maneira identificá-los, avaliá-los e imputá-los ao parceiro

que melhor os gere. Os riscos identificados como mais relevantes de um projecto eólico são

apresentados no quadro 5.2.

Page 69: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

55

Quadro 5.2: Principais riscos na exploração de um parque eólico

Tipo de Risco Descrição dos Riscos

Planeamento e Concepção

Definição dos outputs do projecto Adequação dos projectos de construção às especificidades definidas na concepção

Construção

Atrasos na entrada em funcionamento do parque eólico Risco de falha dos recursos endógenos Incerteza quanto às condições geológicas e ambientais Danos no equipamento durante o funcionamento ou durante a instalação (lacunas na qualidade) Acessibilidades à zona de construção Dificuldade de fornecimento do material

Segurança Acidentes durante as fases de construção e operação

Risco de Ligação

Risco de não geração da potência pré-acordada Perda do direito à potência não disponibilizada

Acessibilidade Risco de danificação de vias existentes Risco de ocupação de propriedades particulares

Licenças e Expropriações

Aceitação de expropriações Obtenção de licenças de construção e de exploração

Ambientais

Problemas ambientais imprevistos Obtenção das DIA, em caso de necessidade Localização dos parques eólicos em rotas migratórias (barreiras a certas espécies de aves e

risco de morte)

Operação e Manutenção

Incerteza da disponibilidade do vento (perdas causadas pela intermitência do vento, falhas de rendimento)

Estado das instalações Fiabilidade do sistema Disponibilidade do equipamento Incerteza sobre a qualidade dos serviços de manutenção Risco de disponibilidade das infra-estruturas Risco de colisão de algumas espécies com os aerogeradores

Risco Tecnológico

Incerteza sobre as tecnologias utilizadas Obsolescência dos equipamentos

Risco de Performance

Incerteza quanto à qualidade do serviço prestado na manutenção Crescente exigência na qualidade de serviço

Procura e Concorrência

Localização e deslocalização de empreendimentos Ameaça de entrada de novos concorrentes no mercado

Risco Financeiro

Risco de insolvência dos financiadores Incerteza acerca do crescimento da inflação Evolução dos encargos financeiros Alteração das condições dos tarifários pelas entidades reguladoras

Risco Legal Probabilidade de nova legislação com impacte na estrutura de custos Regulamentação mais exigente

Força Maior Catástrofes naturais, vandalismo, guerra, epidemias

5.3.1 Riscos de Planeamento e Concepção

A decisão de lançar a concurso teve como base a concretização da política energética definida pelo

Governo ao nível das energias renováveis. A Direcção-geral de Energia e Geologia (DGEG) foi a

entidade responsabilizadora de assegurar este plano, dado que representa o serviço central do

Ministério da Economia e da Inovação.

São da responsabilidade da entidade adjudicante (DGEG), os riscos associados ao planeamento do

projecto, sendo esta quem define a localização das Zonas de Rede (pontos de recepção) e respectiva

atribuição de capacidade de injecção de potências associadas, atendendo aos planos de expansão

Page 70: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

56

da REN. De acordo com o estipulado no ponto 2 da Cláusula 6ª., ”a disponibilização de capacidade

de injecção de potência nas Zonas de Rede terá lugar em função da efectivação dos planos de

expansão da REN nas Zonas de Rede (…) não tendo a DGEG (…) conhecimento de qualquer

elemento que possa prejudicar a compatibilidade daqueles planos com o objectivo de concretização

do Cronograma de Execução (…) para a entrada em exploração dos Parques Eólicos”.

Poderá, no decurso da execução do projecto, surgir a necessidade de poderem vir a ser

estabelecidos novos pontos de ligação à Rede, estando esta possibilidade prevista no contrato: “a

localização dos Pontos de Recepção associados à potência atribuída poderá ser revista, mediante

acordo entre as Partes, tendo em vista a minimização de impactes negativos e a optimização dos

investimentos associados à execução dos Parques Eólicos e a sua interligação à rede eléctrica

receptora”.

5.3.2 Riscos de construção

No contrato analisado, o adjudicatário (ENEOP) compromete-se ao cumprimento das obrigações

referentes à construção dos Parques Eólicos, do Projecto Industrial e das Unidades Industriais

Acessórias, garantindo os correspondentes investimentos, estando definidas penalidades para

eventuais incumprimentos associados. Estes incumprimentos referem-se à falta de compromissos

assumidos pela Sociedade Promotora e dizem respeito fundamentalmente a atrasos no cumprimento

das datas-chave no cronograma de execução do contrato. Estas datas-chave referem-se a datas de

requerimento várias, relacionadas com cada Parque Eólico, cada Unidade Industrial e a cada

Unidade Industrial Acessória, e às datas limite para a criação dos Postos de Trabalho, Postos de

Trabalho Induzido e para a implementação da Gestão Técnica do Sistema.

Adicionalmente, a um processo de construção está associado um plano de investimento, pelo que

atrasos na construção, acarretam obrigatoriamente incumprimentos no referido plano. A assumpção

dos riscos associados a esta fase é da inteira responsabilidade da Sociedade Promotora.

5.3.3 Risco de Ligação

A ligação entre a subestação do parque eólico e a rede pública é, em geral, da responsabilidade do

adjudicatário, contudo, tudo depende da negociação efectuada entre a entidade adjudicante e a

entidade adjudicatária. Por vezes, a entidade de transporte de energia, chama a si o processo de

construção da linha, imputando o seu custo à entidade que explora o parque. 23

A linha de ligação entre o parque e a rede pública é, em algumas situações, de custo reduzido face

ao investimento global, devido à curta distância ou a outros factores, no entanto, em geral trata-se de

um investimento avultado que pode representar cerca de 30% do valor do BOP (Balance of Plant24

).

23

Na maioria das situações, a entidade de transporte de energia considerada é a REN (Rede Eléctrica

Nacional), podendo, eventualmente em alguns casos, tratar-se da EDP Distribuição. 24

É usual utilizar a expressão Balance of Plant (BOP), no caso do sector eólico, para denominar as

infraestruturas do parque.

Page 71: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

57

A potência a injectar na rede pública é limitada a priori, pela entidade com poder para concessão de

licenças e depende da capacidade de cada Parque (espaço físico, número de aerogeradores e

licença obtida).

Em geral, a entidade exploradora compromete-se a gerar “X” potência e a vendê-la por uma valor

“Y/MW”. Este contrato, prevê um desconto de 5% à remuneração da energia eléctrica produzida nos

parques eólicos, de acordo com o tarifário que se encontre em vigor à data da emissão da licença de

exploração dos Parques Eólicos. A ENEOP toma a responsabilidade pelo risco afecto a esta

actividade, comprometendo-se a tomar as medidas necessárias para garantir que a Sociedade

Promotora dos Parques Eólicos cumpra o estipulado. O risco de não conseguir gerar os valores pré-

acordados de potência está normalmente ligado a penalidades, embora dependa das condições em

que o concurso às licenças foi lançado. Nas condições do contrato analisado, estas são bem visíveis:

“A ENEOP reconhece que o incumprimento (…) poderá levar à rescisão do Contrato (…) e poderá

impedir a atribuição de capacidade de injecção de potência na rede do sistema eléctrico de serviço

público (…) e o consequente licenciamento do Parque Eólico em causa”. Acrescenta-se ainda, como

atesta a cláusula 6.ª que no caso de “a capacidade de injecção de potência prevista não poder ser

disponibilizada até 31 de Dezembro de 2013, verificar-se-á a perda do direito relativamente à

potência não disponibilizada até essa data, sem que tal constitua a ENEOP (…) no direito de ser

indemnizados ou compensados pela sua não atribuição ”.

Em última análise, prevê-se que o risco do Estado (entidade adjudicante) seja praticamente nulo, pois

sendo a energia eólica uma energia de ponta no diagrama de cargas, é pouco expectável que a

entidade adjudicante faça depender o abastecimento de um local apenas da geração eólica. Conclui-

se portanto, que os riscos de ligação são maioritariamente alocados ao parceiro privado (ENEOP).

5.3.4 Acessibilidade

Grande relevância assume o cuidado a ter na escolha dos acessos que irão permitir o transporte de

cargas pesadas e de grandes dimensões, como sendo os componentes dos aerogeradores. Este

assunto assume igual importância em qualquer fase da vida do projecto, desde a construção à

exploração, na medida em que o referido transporte respeita quer à própria instalação do

equipamento, quer à sua eventual substituição, em caso de avaria. Para o efeito, há que garantir a

manutenção da acessibilidade, durante todo o período previsto para o funcionamento da instalação.

Associado ao transporte destas cargas pesadas, está o risco de se danificar o pavimento dos

acessos existentes, pela actuação de sobrecargas, cabendo ao adjudicatário garantir a reposição das

condições iniciais, sempre que estas fiquem deterioradas.

Poderá ainda correr-se o risco de ocupação de áreas que excedam as estritamente afectas aos

pavimentos dos acessos, podendo porventura vir a ocupar-se parte de terrenos privados, devendo

também nestes casos, o adjudicatário garantir as autorizações da parte dos donos das propriedades

particulares que estejam previstas ocupar para o efeito do transporte, e respectiva reposição de

condições iniciais sempre que estas vierem a ser afectadas.

Page 72: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

58

5.3.5 Licenças, Expropriação

No que se refere às licenças necessárias à construção (Licenças de Autorização de

Instalação/Licenças de Obras) e à exploração (Licenças de Exploração Industrial/Licenças de

Utilização), compete ao adjudicatário assumir todas as responsabilidades pelas suas emissões.

Como refere o contrato: “compete à ENEOP (…) requerer, custear e diligenciar na obtenção de todas

as licenças e autorizações necessárias à construção e exploração dos Parques Eólicos e das

Unidades Industriais bem como ao exercício das actividades a que se encontra obrigada”.

É obrigação do adjudicatário garantir a posse dos títulos de propriedade ou vínculos obrigacionais

escritos que garantam disponibilidade dos terrenos para os fins previstos no concurso, na fase de

apresentação de propostas. As licenças de obra emitidas para a construção de centrais eólicas são

emitidas pelas respectivas câmaras municipais, não dispensando licenças e aprovações de outras

entidades competentes como, por exemplo, de um parque natural.

5.3.6 Risco Ambiental

De acordo com o Decreto-Lei n.º 197/2005, de 8 de Novembro, prevê-se que o aproveitamento de

energia eólica para produção de electricidade, em parques eólicos com um número de torres superior

a vinte (caso geral) ou a dez (áreas sensíveis) ou localizados a uma distância inferior a 2 km de

outros parques similares, sejam sujeitos a uma Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) e

consequentemente de uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA).

Um aspecto importante a ter em consideração é a localização dos parques eólicos. A sua localização

tem que ser precedida de um estudo que avalie se a sua implantação se insere em áreas protegidas

ou rotas migratórias. Embora não esteja disposto no contrato, é espectável que maioritariamente o

risco ambiental seja suportando pelo privado, dado que é este quem elege os locais de implantação

dos parques eólicos. No entanto, dado a imposição da localização dos pontos de ligação à Rede

serem definidos pelo público, é natural que a própria escolha dos locais fique por eles condicionada,

originando a que uma parte do risco possa, em alguns casos, ser alocada ao sector público.

5.3.7 Risco de Operação e Manutenção

A ENEOP “terá como objecto social exclusivo a construção e exploração do Projecto Industrial e dos

Parques Eólicos”, sendo da sua inteira responsabilidade os riscos associados a estas fases do

processo.

É da responsabilidade da ENEOP “assegurar mediante recurso a dois Centros de Controlo,

Despacho e Supervisão, (…) a gestão técnica dos agrupamentos dos parques eólicos”. O

adjudicatário é ainda detentor de soluções técnicas que permitem assegurar a capacidade de gestão

dos agrupamentos dos Parques Eólicos, como seja soluções de monitorização e controlo, soluções

metodológicas para a gestão dos parques incluindo previsão da energia eólica, forma de gestão de

produção de potência reactiva e formas de gestão de interrupção de serviço.

Page 73: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

59

5.3.8 Risco Tecnológico

Aos riscos tecnológicos estão associadas situações em que haja incertezas sobre a tecnologia

utilizada no parque eólico. Sendo o sector eólico já bastante desenvolvido relativamente a outro tipo

de energias renováveis, tal não significa que todas as tecnologias estejam já em fase de grande

maturidade. Existe sempre o risco associado à obsolescência dos equipamentos e à falha de

componentes críticas nos parques eólicos, por exemplo, falhas em peças dos aerogeradores que

fazem com que se interrompa o processo e consequentemente acabem por provocar atrasos no

desenvolvimento do projecto.

Poderá, para efeitos de melhoria de eficiência operacional, surgir a necessidade de reestruturar o

processo de operação pela eventual introdução de nova tecnologia, o que se traduzirá num risco

tecnológico que será apenas suportado pelo adjudicatário. O contrato refere que “a ENEOP garante a

transferência de tecnologia necessária para que as Unidades Industriais desenvolvam as suas

actividades em condições óptimas de laboração e actualização tecnológica”. Está também estipulado

que, caso haja necessidade de actualização tecnológica ou a evolução do mercado o justifique, o

adjudicatário poderá apresentar à DGGE os planos que pretenda promover na dependência do

contrato e que impliquem a realização de novos investimentos no Projecto Industrial ou a substituição

dos investimentos previstos.

Um exemplo bem visível no contrato é a criação de dois Centros de Controlo, Despacho e Supervisão

que visam a “gestão técnica dos Agrupamentos de Parques Eólicos a construir”. Paralelamente e com

recurso aos centros de despacho, a ENEOP obriga-se ainda a executar as “funções de supervisão,

comando e controlo e a análise estatística dos parâmetros de exploração dando resposta a diferentes

solicitações externas de controlo de modo a assegurar a gestão técnica da globalidade dos Parques

Eólicos”.

5.3.9 Risco de Performance

Os riscos de performance estão associados à crescente exigência da qualidade de serviço e à

incerteza quanto à qualidade de serviço prestado na manutenção. Uma vez que a construção e a

exploração de todo o empreendimento são da responsabilidade do adjudicatário, todo risco associado

à performance também lhe será alocado.

Para a execução do Projecto Industrial e do Projecto Eólico, o contrato prevê a elaboração de um

Cronograma detalhado de Execução dos diversos compromissos assumidos pelo adjudicatário, onde

se encontram estipuladas todas as datas-chave do contrato e referidas as penalidades em caso de

atraso no seu cumprimento.

É da responsabilidade do adjudicatário instalar, relativamente aos Parques Eólicos, sistemas de

conversão de energia eólica com capacidade para permanecerem em operação, perante cavas de

tensão resultantes de defeitos na rede e capacidade para fornecer, durante as cavas de tensão,

potência reactiva, proporcionando suporte para a tensão na Rede de uma forma adequada.

Page 74: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

60

5.3.10 Risco de Procura e Concorrência

Aspecto que claramente constitui um factor concorrencial presente no contrato, é a não obrigação de

venda da energia produzida nos parques eólicos, sob a tarifa regulada e com o desconto de 5%, por

parte da ENEOP à rede pública. Como refere o n.º 5 da Cláusula 16.ª, “o disposto na presente

cláusula não prejudica a possibilidade de a electricidade produzida nos Parques Eólicos a construir e

a explorar em execução deste contrato ser remunerada em regime de mercado nos termos e

condições legalmente fixados”. Ainda falando do aspecto da remuneração da energia eléctrica

produzida nos parques eólicos, há que dar especial atenção ao período fixo de regulação das tarifas

(15 anos) em que é garantida a venda de toda a energia produzida. A questão que se coloca é “o que

irá acontecer após os 15 anos de garantia?”. A resposta a esta pergunta baseia-se nas perspectivas

futuras de que as tarifas irão tender a baixar até atingir o preço de mercado, o que, em termos

concorrenciais pode representar um risco bastante elevado para o promotor dos parques.

Outro aspecto patente no contrato, é a “contratação de uma Carteira Firme de Encomendas durante o

prazo de 9 anos a contar da data de Entrada em Exploração do Projecto Industrial”, para o Projecto

Industrial, por parte da ENEOP. Este aspecto constitui um risco para o adjudicatário na medida em

que, não estando garantida a exclusividade por todo o período de vida útil do projecto industrial

(mínimo de 17 anos), abre espaço à entrada da concorrência.

5.3.11 Risco Financeiro

O financiamento necessário ao desenvolvimento de todas as actividades é da responsabilidade do

adjudicatário. Como refere a Cláusula 32.ª, “A ENEOP e as Sociedades Instrumentais no que se

refere às obrigações que se encontrem a seu cargo são os únicos responsáveis, de forma solidária,

pela obtenção do financiamento necessário ao desenvolvimento de todas as actividades que integram

o objecto do presente contrato”. O cumprimento das obrigações assumidas no contrato pela ENEOP

é assegurado “através de garantia bancária autónoma” no valor de 10% do valor do investimento

directo25

e através de “fianças emitidas pelas Sociedades [EDP, LUSENERG, ECYR-ENDESA,

SONAE, ENERCON]”. “A DGGE poderá utilizar a garantia bancária ou as fianças sempre que existem

qualquer situação de incumprimento do contrato e em especial, sempre que, sendo a ENEOP

devedora de multa contratuais, as não pagar no prazo devido”.

Outro risco assumido pelo adjudicatário é a alteração das condições dos tarifários pelas entidades

reguladoras. Este aspecto, melhor detalhado na a) do ponto 4.5.1 (Sistema de remuneração), aponta

para que após o período de 15 anos, as tarifas deixam de ser reguladas, passando a convergir para o

preço de mercado, o que a nível financeiro, pode criar grandes danos.

25

Investimento a realizar pela Sociedade Promotora (ENEOP) e/ou respectivas Sociedades Instrumentais no

Projecto Industrial.

Page 75: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

61

5.3.12 Força Maior

O risco de força maior é assumido por ambas as partes envolvidas no projecto, pois nenhuma delas é

responsável pelo “não cumprimento de qualquer das obrigações por elas assumidas no presente

Contrato se demonstrarem que essa foi causada por um impedimento externo, insusceptível de ser

por ela controlado e que não poderia ter sito razoavelmente levado em conta antecipadamente na

data de celebração deste contrato ou cujos efeitos não poderiam ter sido razoavelmente evitados ou

ultrapassados”. Em complemento, o contrato refere ainda que se houver lugar a incumprimentos das

obrigações de qualquer uma das Partes, devido a falta cometida por terceiros e aos quais tenham de

recorrer para cumprir essas obrigações, a Parte em causa apenas fica liberta de responsabilidade se

não lhe puderem ser atribuídas, de forma nenhuma, nem a si nem ao terceiro, as causas da

responsabilidade. Esta exoneração de responsabilidade durará apenas enquanto se mantiver o

impedimento em causa.

A ocorrência destas situações de força maior, acarreta inevitáveis prejuízos não contabilizados no

plano financeiro do projecto, conduzindo obrigatoriamente à reposição do seu equilíbrio, tendo em

vista minimizar os correspondentes impactes negativos e optimizar os investimentos previstos no

contrato.

5.3.13 Matriz síntese de alocação de riscos

Depois de analisados, ponderados e valorizados individualmente, pode-se aferir qual o parceiro mais

apto a gerir cada risco, tendo naturalmente sempre em consideração o VfM do projecto. No sentido

de sintetizar toda a informação atrás apresentada, criou-se uma matriz de risco que visa a alocação

dos riscos ao parceiro que melhor os sabe gerir, a probabilidade de ocorrência e o nível de impacte

de cada um deles (quadro 5.3).

Quadro 5.3: Matriz de alocação de riscos para o contrato analisado

Alocação de Risco Probabilidade de Ocorrência

Nível de Impacte

Público Privado

Planeamento e Concepção X

Construção

X

Segurança

X

Risco de Ligação

X

Acessibilidades

X

Licenças e Expropriações

X

Ambientais X X

Operação e Manutenção

X

Risco Tecnológico

X

Risco de Performance

X

Risco de Procura (1) e Concorrência (2) X (1) e X (2) X (2)

Risco Financeiro

X

Risco Legal X

Força Maior X X

Baixo Médio Alto

Page 76: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

62

6. GESTÃO DO CONTRATO

6.1. Estrutura contratual de um projecto eólico

Na estrutura contratual de um projecto eólico existem vários agentes, sendo os principais, o Estado, a

empresa privada e promotora dos parques eólicos e os fornecedores dos equipamentos. O Estado,

através da Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), aparece neste contexto como entidade

promotora de concursos públicos com base em energia renovável com o intuito de desenvolver um

serviço de bem público. Na sequência do concurso, é escolhido o promotor eólico que melhor se

adeqúe às exigências, sendo então realizada uma parceria público-privada (PPP). Por sua vez, a

empresa privada procede então à contratação dos fornecedores, quer de serviços, quer de

equipamentos. A figura 6.1 ilustra a estrutura contratual de um projecto eólico.

Figura 6.1: Estrutura contratual de um projecto eólico

6.2. Monitorização do contrato Estado – Empresa Privada (PPP)

No contrato entre o Estado e a empresa privada há certos aspectos que são fundamentais e devem

ser considerados. De acordo com Partnerships Victoria (2003), para a implementação de um

processo de monitorização de um contrato PPP são necessários três passos, como se indica na

figura 6.2.

Figura 6.2: Passos para o desenvolvimento e implementação do processo de Monitorização de um Contrato (Fonte: adaptado de Partnerships Victoria, 2003)

Desenvolvimento e Implementação do Processo de

Monitorização

Desenvolvimento do Plano

Estratégico

Revisão Sistemática

Estado Empresa Privada Fornecedores

Parceria Público-Privada (PPP) Parceria Privada-Privada

Instituições Financeiras

Seguradoras Licenças de

Propriedade

Contrato de Compra de

Energia (PPA)

Page 77: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

63

6.2.1 Desenvolvimento do Plano Estratégico

O primeiro passo corresponde ao desenvolvimento de um plano cuidadoso com vista à definição da

estratégia de monitorização do contrato. Este plano tem de ser capaz de dar resposta a questões

sobre ferramentas e processos, que devam ser requeridos para o projecto, conhecimento sobre os

recursos humanos, financeiros e tecnológicos disponíveis e sobre o prazo estipulado para o

desenvolvimento do contrato. Um adequado planeamento do processo de monitorização do contrato,

a recolha de informação e a sua análise constituem um instrumento bastante importante na

compreensão dos riscos envolvidos do projecto, assim como no desenvolvimento de estratégias

eficazes para a monitorização do contrato.

Como às PPP estão associados projectos de longa duração, é natural que o perfil de risco mude ao

longo de toda a vigência do contrato. Esta mudança está associada a factores como alteração do tipo

de relacionamento entre as Partes, mudança de legislação específica do projecto, mudanças

tecnológicas e também à própria evolução natural do projecto em todas as suas fases.

Embora na fase de procurement seja dada especial importância aos riscos alocados à parte privada,

no planeamento da monitorização do contrato assumem especial relevância os risco retidos pelo

sector público. É essencial que o sector público se posicione de maneira a que consiga gerir de uma

forma eficaz os riscos-chave associados ao projecto, no sentido de garantir a prestação contínua dos

serviços, tendo sempre em atenção as suas necessidades. Uma estratégia a implementar é por

exemplo a gestão das mudanças a nível do projecto e consequentes ajustes de prestação de

serviços. É, portanto, imprescindível que um contrato PPP inclua disposições de protecção de modo a

salvaguardar o sector público e uma futura eventual necessidade de flexibilidade do contrato.

Ao longo de todo o processo é essencial que seja realizada uma matriz de riscos que tenha por base

questões importantes tais como a alocação óptima dos riscos, o conhecimento dos seus impactes

mais significativos e respectiva quantificação e percepção da fase onde residem os riscos. Esta

matriz de riscos deve ser regularmente actualizada e monitorizada.

6.2.2 Desenvolvimento e Implementação do Processo de Monitorização

O segundo passo refere-se ao próprio processo de monitorização de contrato, o qual, com base na

informação já recolhida e analisada, tem por base a implementação das ferramentas e processos

chave para o seu desenvolvimento. Também como define Partnerships Victoria (2003), há pontos

imprescindíveis a ser considerados tais como:

Gestão do contrato;

Monitorização do desempenho;

Monitorização do relacionamento entre as Partes e gestão de conflitos;

Flexibilidade do contrato;

Plano de contingência.

Page 78: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

64

Mais à frente realizar-se-á uma análise detalhada de cada um destes pontos complementando com o

exemplo do caso de estudo de um contrato de energia eólica em Portugal.

6.2.3 Revisão Sistemática

O terceiro e último passo estabelece, ao longo de toda a vida do projecto, uma revisão sistemática da

estratégia de monitorização do contrato, com vista à actualização e melhoria contínua do modelo

utilizado.

6.2.4 Aspectos fundamentais na Monitorização do Contrato PPP VS Análise do Caso de

Estudo

6.2.4.1 Gestão do Contrato

A gestão de contratos constitui um ponto fundamental na monitorização de projectos, uma vez que

estabelece procedimentos diversos, quer em termos de garantia de fortes relações entre os parceiros

em todas as fases do projecto, incluindo situações de conflito, quer em termos de garantia de

conformidades em todas as fases de monitorização. Requer um conhecimento profundo da

documentação legal do projecto, assim como do interesse comercial das partes, questões de

funcionamento relacionadas com prestação de serviços e o contexto legislativo e regulamentar

associado ao projecto. Contudo, é de salientar que a gestão do contrato não se define apenas por

assegurar o cumprimento das obrigações e responsabilidades dispostas no contrato, mas também

por garantir a monitorização efectiva de questões relacionadas com o desempenho, riscos,

pagamentos, apresentação de relatórios e mudanças.

Os procedimentos administrativos devem ser suficientemente claros por forma a assegurar o total

entendimento do contrato sobre quem faz o quê, quando e como. Estes incluem referências a

monitorização de custo e procedimentos de pagamento, monitorização de relatórios, procedimentos

que envolvam flexibilidade do contrato, melhoria de desempenho utilizando comparação de práticas

semelhantes no mercado (“benchmarking”), tendo sempre subjacente a obtenção do VfM. Para o

efeito, têm de ser identificadas as obrigações e responsabilidades dos parceiros, a mitigação e

controlo dos riscos, a identificação dos planos de contingência e estabelecidos procedimentos para a

resolução de conflitos. Deve também ser monitorizada a performance do parceiro privado, em todas

as suas vertentes, identificados os recursos, as delegações e as autorizações necessárias ao

cumprimento das obrigações.

6.2.4.2 Monitorização do Desempenho

Depois de especificados os níveis de serviço26

requeridos pelo parceiro público, o prestador de

serviço (parceiro privado) compromete-se a cumpri-los sob a forma de contrato. A principal questão

26

Os indicadores de níveis de serviço são usualmente denominados por Service Level Ajustments (SLA).

Page 79: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

65

chave na monitorização de um contrato PPP é exactamente a monitorização da performance do

parceiro privado relativamente à conformidade dos resultados obtidos com os outputs previstos e

estabelecidos pelo parceiro público no contrato.

Para além deste ponto, é necessário garantir que tanto os riscos, como as mudanças são

monitorizados, tendo sempre subjacente a ideia de que o VfM é alcançado. Acima de tudo, é

essencial uma forte aposta na melhoria contínua dos serviços, sendo estabelecidas para o efeito

desde uma fase inicial, regras de boa comunicação entre as partes.

De uma forma geral, o objectivo da monitorização da performance do parceiro privado é permitir ao

parceiro público uma melhor compreensão da sustentabilidade do contrato. Esta envolve a

monitorização do alcance dos outputs especificados no contrato, a garantia de que os pagamentos

são feitos, de forma apropriada, e de que os níveis de desempenho pré-acordados (KPI´s27

) são

cumpridos. Com este intuito, é importante que se efectuem reuniões regulares, por forma a

acompanhar as realizações e o desempenho em todas as fases do cronograma de execução dos

trabalhos e se implementem acções correctivas que reponham as condições inicialmente

estabelecidas, perante eventuais falhas do parceiro privado. Em resumo, a monitorização do

desempenho faz-se através do desenvolvimento do usualmente denominado modelo de “governance”

do contrato, em que se desenham os perfis de responsabilidade e de interdependência, tais como:

Steering Committee, General Program Manager e Project Managers.

Nos casos em que os objectivos não são atingidos pelo parceiro privado, duas situações podem estar

na base deste tipo de ocorrências, a saber: ou o nível de desempenho do privado está muito abaixo

da qualidade de serviço que se pretende oferecer aos clientes/utilizadores finais e nesta circunstância

há que manter o objectivo previamente estabelecido e implementar novas acções de controlo por

parte do parceiro público, ou as circunstâncias modificaram-se justificando uma alteração das

próprias condições originais, desde que não sejam prejudicados os serviços para os

clientes/utilizadores finais.

A monitorização do desempenho é um ponto crucial a estabelecer no contrato, dado que é através

deste ponto que se avaliam os pagamentos e as deduções a efectuar ao privado, caso este não

apresente um bom desempenho. É, portanto, necessário que haja uma grande compreensão da

relação entre os requisitos dos outputs, o sistema de medição de desempenho e o método de realizar

as deduções no mecanismo de pagamento. De acordo com a literatura, a monitorização da

performance pode ser estruturada atendendo aos seguintes parâmetros:

a) Conhecimento do projecto do parceiro privado

É fundamental haver um bom entendimento sobre toda a abrangência do contrato do projecto, por

forma a que sejam perfeitamente identificados todos os parâmetros que necessitam ser

medidos.Cada projecto tem o seu objectivo estratégico e os seus próprios outputs.

Em particular é necessário conhecer todos os custos de estrutura (custos de operação, de

manutenção e de aumentos de capital, prémios de seguros, custos fiscais) e obrigações (despesas

27

Os indicadores de desempenho-chave são usualmente denominados por Key Performance Indicator (KPI).

Page 80: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

66

com todo o tipo de encargos), bem como ter o perfeito conhecimento da matriz de riscos envolvida e

eventuais alterações a ter em consideração ao longo da vida do projecto. Relativamente a este ponto,

o contrato salienta, de uma forma geral, os custos de estrutura e obrigações que o privado (ENEOP)

tem a cargo, apontando por exemplo, para as obrigações específicas relacionadas com a valorização

do investimento a efectuar na execução do Projecto Industrial e nas Unidades Industriais Acessórias,

bem como a valorização da criação de emprego directo e induzido e da gestão técnica do sistema.

Salienta também que todos os custos relativos à construção e manutenção são da incumbência da

ENEOP.

b) Análise da qualidade subjacente do projecto

A qualidade do projecto deve ser monitorizada sob vários aspectos, entre os quais os relacionados

com a estrutura organizacional do parceiro privado e a sua situação financeira, a qualidade das

equipas de gestão e técnicas, a performance do serviço e a monitorização entre as partes.

A estrutura organizacional do parceiro privado e a sua situação financeira assumem uma importância

fundamental. É importante que a entidade pública seja conhecedora de toda a estrutura

organizacional do parceiro privado, de modo a perceber se este possui um modelo de organização

regularmente actualizado, se tem uma cultura de redução de custos e de implementação da

qualidade, sendo também essencial conhecer se todas as suas unidades organizacionais trabalham

em sinergia para o objectivo proposto.

Relativamente à posição financeira do parceiro privado é necessário, através da análise dos seus

valores financeiros, que o parceiro público conheça os seus pontos fortes e fracos (por exemplo

estabelecendo uma matriz de SWOT28

), se estão em posição de fazer frente a futuras necessidades

operacionais em função do capital existente e se a situação financeira da organização suporta

qualquer alteração ao projecto. De modo a salvaguardar a qualidade e integridade financeira do

projecto, é mencionado no contrato que “ (…) qualquer alteração das participações relativas dos

accionistas no capital da ENEOP carece de uma autorização prévia por parte da DGEG (…) ”. É

também referido no contrato a autorização, por parte da DGEG, “a constituição de Special Purpose

Vehicles (SPV´s) especificamente para a exploração dos Parques Eólicos a construir e explorar no

âmbito do contrato”, desde que “o respectivo capital social seja integralmente detido pela Sociedade

Promotora ou por umas das Sociedades Instrumentais” e que “da sua constituição não resulte a

alteração do regime de responsabilidade ou diminuição das garantias prestadas ao abrigo do

presente Contrato”.

Não é habitual que o parceiro público se envolva nas relações com os empreiteiros ou com os sub-

empreiteiros, no entanto, pode procurar obter garantias quanto à capacidade financeira e experiência

profissional de cada um dos sub-empreiteiros ligados ao projecto.

28

O termo SWOT representa um acrónimo de Forças (Strenghts), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades

(Opportunities) e Ameaças (Threats).

Page 81: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

67

A qualidade da monitorização do desempenho a realizar às equipas de gestão e técnica do parceiro

privado, está directamente ligada ao acompanhamento que deve ser feito pelo parceiro público,

permitindo-lhe obter um conhecimento antecipado dos pontos fracos e eventuais problemas que

possam surgir no futuro. Assim, é fundamental que relativamente à parte privada, seja conhecida a

equipa de gestão, o tipo de gestão a ser utilizada, as suas capacidades e as suas relações com sub-

empreiteiros, nomeadamente com os fornecedores de aerogeradores.

Relativamente à equipa técnica, é necessário conhecer as suas competências e adequações às

necessidades do contrato, capacidade de resposta em termos de cumprimento de prazos e garantia

da quantidade suficiente de trabalhadores qualificados para atingir os objectivos. Neste sentido, o

contrato refere que a ENEOP se responsabiliza “perante a DGEG por que apenas sejam contratadas

para desenvolver actividades integradas no Contrato entidades que se encontrem devidamente

licenciadas e autorizadas e que detenham capacidade técnica e profissional adequadas para o

efeito”.

A performance do parceiro privado deve ser regularmente revista através da comparação com os

valores dos indicadores (KPI´s) definidos previamente para cada especificação de output. Porém, há

que ter presente a possível mudança de circunstâncias ao longo de todo o tempo de vida útil do

projecto, sendo importante, neste sentido, que os KPI´s sejam permanentemente objecto de revisão.

Em termos de monitorização dos serviços, há que proceder a reuniões de acompanhamento

periódicas (reuniões do Steering Committee, por exemplo), aos vários registos da medição física de

elementos quantitativos dentro dos padrões definidos, a inspecções de actividades operacionais para

determinar a qualidade do desempenho do serviço, à identificação de falhas e consequente proposta

de medidas de correcção e realização de auditorias regulares. Relativamente a este aspecto, o

contrato confere à DGEG os poderes de fiscalização, necessários à verificação do cumprimento das

obrigações da ENEOP, relativamente às actividades de construção e exploração dos Parques Eólicos

e dos Centros de Despacho, bem como às actividades de construção e exploração do Projecto

Industrial. Como define o número 4 da cláusula 39ª, “a ENEOP facultará à DGEG, ou a outra entidade

por esta nomeada, desde que devidamente credenciada, acesso a todos os Parques Eólicos,

Unidades Industriais, Centros de Despacho e outras instalações associadas à execução dos

compromissos contratuais da Sociedade Promotora, bem como a todos os livros de actas relativos à

ENEOP, livros, registos e documentos relativos às instalações e actividades objecto do Contrato (…)

”. É clarificado também que quaisquer técnicos que integrem os quadros da DGEG possam “visitar

todos os Parques Eólicos, Unidades Industriais, Centros de Despacho e outras instalações

associadas à execução dos compromissos contratuais da Sociedade Promotora que não sejam

susceptíveis de ser certificados por auditores, de modo a aferir a efectiva execução dos mesmos”.

O contrato aponta também aspectos referentes à medição física de elementos quantitativos,

nomeadamente a execução de ensaios que permitam avaliar as condições de funcionamento e

características do equipamento, sistemas e instalações às mesmas respeitantes, acompanhados por

representantes da DGEG e da ENEOP.

Page 82: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

68

Outro aspecto a que se deve dar especial atenção é o cumprimento do cronograma de trabalhos

estabelecido, quer em termos de realização propriamente dita, e em termos de qualidade dos

serviços, quer em termos do cumprimento dos prazos. Todas as datas e prazos estabelecidos no

contrato em estudo, foram fixados no pressuposto de que todas as licenças necessárias tanto à

construção como à operação foram obtidas. Estas datas e os prazos “podem ser ajustados caso (…)

se venham a verificar atrasos nas Datas de Entrada em Exploração de Parques Eólicos que afectem

substancialmente a relação temporal, subjacente à Proposta Inicial e ao Cronograma de Execução

(…), entre a Data de Entrada em Exploração do Projecto Industrial e as Datas de Entrada em

Exploração dos parques eólicos”. As datas-chave especificadas no contrato foram as apresentadas

no quadro 6.1:

Quadro 6.1: Datas-Chave do Contrato eólico

Requisitos Datas-Chave

Parques Eólicos Datas de requerimento de atribuição de ponto de recepção Datas de requerimento de atribuição de autorização de instalação Datas de requerimento de licença de exploração

Projecto Industrial Datas de requerimento de instalação das unidades industriais Datas de requerimento de entrada em exploração das unidades industriais

Unidades Industriais Acessórias Datas de requerimento de instalação das unidades industriais Acessórias Datas de requerimento de entrada em exploração das unidades industriais

acessórias

Postos de Trabalho Directos Datas-limite para criação de postos de trabalho directos

Postos de Trabalho Induzidos Datas-limite para criação de postos de trabalho induzidos

Gestão Técnica do Sistema Datas-limite para implementação da gestão técnica do sistema

c) Relatórios de informação

Os relatórios de avaliação de desempenho têm como objectivo avaliar se os serviços são entregues

de acordo com os parâmetros exigidos e avaliar as medidas correctivas tomadas pelo parceiro

privado, sempre que os padrões de desempenho não são cumpridos.

Os sistemas de monitorização impostos pelo parceiro público devem ser sujeitos a auditorias

periódicas com realização de controlos aleatórios no local de modo a garantir que os relatórios

apresentados traduzem fielmente o executado no local. Relativamente a este ponto, é parte

integrante do contrato a obrigatoriedade da verificação e certificação, por empresas de auditoria ou

de revisores oficiais de contas que cumpram os requisitos legais e regulamentares, dos seguintes

elementos:

a) Demonstração da realização de investimento directo (Projecto Industrial) e indirecto (Unidades

Industriais Acessórias);

b) Demonstração de que, a partir do quarto ano a contar da data de entrada em exploração do

Projecto Industrial, o volume médio ponderado de produção do Projecto Industrial não seja

inferior, durante dois anos consecutivos, a 75% do nível médio de produção em Ano Cruzeiro29

;

29

O ano cruzeiro corresponde ao ano de exploração em que os efeitos associados ao arranque de uma iniciativa

já não se fazem sentir, desenvolvendo-se a actividade com um nível de produção nunca inferior a 75% dos

Page 83: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

69

c) Demonstração de que a ENEOP assegura a contratação de uma Carteira Firme de Encomendas

durante o prazo de 9 anos a contar da data de entrada em exploração do Projecto Industrial;

d) Verificação de um Rácio Exportações/Vendas superior a 60%, para um horizonte temporal

correspondente à vida útil mínima do Projecto Industrial (17 anos) e;

e) Demonstração da criação de postos de trabalho directos e induzidos.

Como estipulado no contrato, a ENEOP, até à conclusão do investimento Directo, deve demonstrar a

realização desse investimento mediante prestação de informação semestral. Já na demonstração da

execução do investimento indirecto, a ENEOP apenas tem que prestar informação anual.

Relativamente ao referido nos pontos b), c) e d) é obrigatória a sua verificação, mediante prestação

de informação anual, a apresentar até 30 de Junho de cada ano, por parte da ENEOP.

No que concerne ao ponto e), a ENEOP obriga-se a demonstrar a criação de postos de trabalho

directos e induzidos mediante prestação de informação anual, devidamente documentada.

De uma forma geral, como estipula a cláusula 30ª do contrato, a ENEOP é obrigada a remeter

trimestralmente à DGEG, “o cronograma de execução do contrato, contendo toda a informação

relevante e necessárias para avaliar o grau de cumprimento do mesmo.” Neste cronograma “devem

constar devidamente identificados, os desvios da execução planeada, os previsíveis desvios para o

trimestre seguinte ao que respeite bem como (i) a expectativa fundamentada da ENEOP quanto à

correcção de qualquer eventual atraso ocorrido ou que se preveja vir a ocorrer e (ii) as medidas que,

não dependendo de um know-how específico, estão previstas para aquele efeito”. Paralelamente, a

ENEOP é também obrigada a remeter à DGEG até ao dia 30 de Junho de cada ano, o relatório de

contas consolidado e individual do exercício anterior da ENEOP e das Sociedades Instrumentais,

contendo o relatório de gestão, o balanço, a conta de exploração, a demonstração de fluxos de caixa

e os respectivos anexos, devidamente auditados.

6.2.4.3 Monitorização do relacionamento entre as Partes e Gestão de Conflitos

Dada a longa duração dos projectos PPP, é imprescindível que haja um bom relacionamento entre

parceiro público e o parceiro privado durante todo o ciclo de vida do projecto. Ao existir uma

comunicação clara e aberta entre as partes, a probabilidade de se obter uma eficaz monitorização do

contrato e se atingir uma boa entrega dos serviços, é cada vez maior. É importante ter presente que,

subjacente à questão de um bom relacionamento, estão também associados aspectos essenciais

como a compreensão da existência de benefício mútuo na parceria e a compreensão dos objectivos

de cada uma das partes e dos objectivos comuns. Uma comunicação aberta promove o espírito de

cooperação e o alinhamento de interesses comuns entre as partes.

referidos valores, e de uma forma mais estável, com níveis de investimento e taxas de crescimento inferiores aos da fase de arranque.

Page 84: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

70

É mencionado no contrato que ambos os parceiros se comprometem “reciprocamente a cooperar e a

prestar o auxilio que razoavelmente lhes possa ser exigido com vista ao bom desenvolvimento das

actividades integradas no Contrato, nomeadamente no acompanhamento e na colaboração mútua

tendente à resolução expedita de quaisquer questões com entidades públicas cuja actuação seja

necessária ao cumprimento das obrigações assumidas pela Sociedade Promotora”.

Esta é uma “parceria” no sentido em que as partes entendem a importância uma da outra no

desempenho do projecto, não comprometendo os seus respectivos direitos e obrigações contratuais.

Nesta sequência, refere o contrato que “as sociedades [EDP, LUSENERG, ECYR-ENDESA, SONAE,

ENERCON] emitiram cartas-conforto dirigidas à DGEG, respeitantes ao cumprimento, pelos

Accionistas, e nos termos e condições previstos nas mesmas cartas, das obrigações por estas

assumidas no âmbito deste concurso”.

Contudo, há que atender ao facto de que a existência de uma boa relação entre o parceiro público e o

parceiro privado não significa directamente que todas as informações relativas ao projecto sejam

partilhadas. Cada parte, tendo como principal objectivo o reforço do relacionamento com a outra

parte, deve desenvolver uma cultura de partilha da informação que detém, desde que não haja

interesse, de bem público, comercial ou razão jurídica, para não partilhá-la. Relativamente a este

aspecto, salienta-se que o contrato analisado apresenta alguns pontos referentes à troca de

informação, nomeadamente, na sequência da análise dos modelos de demonstração da realização

do Investimento Directo, o contrato refere que “caso a DGEG pretenda ver clarificada qualquer

questão relativa à informação disponibilizada, deverá solicitar à ENEOP o esclarecimento de tal

questão, obrigando-se esta a prestar os esclarecimentos adicionais que lhe sejam razoável e

fundamentalmente solicitados e o acesso aos respectivos documentos de suporte, ficando a DGEG

sujeita à obrigação de confidencialidade (…) ” (nº10, cláusula 17.ª).

O parceiro privado deve reconhecer a importância do conjunto de interesses envolvidos num projecto

PPP. No entanto deve também ter especial atenção à sua garantia de cumprimento contratual e aos

mecanismos de penalização por fraco desempenho ou incumprimento, de modo a assegurar que as

especificações de desempenho permanecem inalteradas e os direitos contratuais não sejam

prejudicados ou inadvertidamente dispensados.

É de primordial importância reconhecer que conflitos e problemas de prestação de serviços possam

surgir. O principal objectivo a ter em consideração nestes casos é o de assegurar que estes sejam

reconhecidos e resolvidos de uma forma rápida e eficaz. Regra geral, devem constar do contrato do

projecto os procedimentos que levam à monitorização destes problemas, porém, nem sempre são

contemplados e nem sempre são os mais adequados. Nestes casos, é importante que ambas as

partes cheguem a um acordo, tendo sempre em vista o benefício mútuo. Caso estes conflitos não

sejam adequadamente geridos, poderá levar a que, no limite, se dê o fracasso do projecto. Este

aspecto é claramente abordado no contrato em análise, constando uma cláusula exclusivamente para

a resolução de diferendos. Esta cláusula refere que as “Partes manifestam o seu empenho no bom

relacionamento entre si, e acordam que, constatada por qualquer uma delas a existência de um litígio

ou diferendo relativo à interpretação, integração, aplicação, execução ou cumprimento do presente

Page 85: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

71

contrato, bem como relativamente à respectiva validade, ou à necessidade de precisar, completar ou

actualizar o seu conteúdo, ou ainda relativamente a actos administrativos referentes à execução do

contrato, (…), será o mesmo, em primeiro lugar, objecto de uma tentativa de resolução amigável”.

A boa gestão do projecto resulta na minimização dos conflitos. É sempre preferível que estes sejam

resolvidos de forma informal, todavia, isto nem sempre é possível, tendo que se recorrer ao processo

formal. Este aspecto é bastante explícito no contrato, que refere que caso o diferendo não seja

resolvido de forma consensual, a questão será conduzida para um Tribunal Arbitral.

Ainda abordando o tema de conflitos, que possam surgir, no que se refere a situações de força maior,

o contrato refere que as Partes se comprometem “a negociar em boa-fé quaisquer solicitações que

lhe sejam razoavelmente apresentadas pela outra parte tendo em vista a minimização de impactes

negativos e a optimização dos investimentos associados à execução e à exploração dos

investimentos previstos neste contrato”.

No que concerne à existência de problemas de prestação de serviços, sempre que estes sejam

detectados, tanto pelo parceiro público ou pelos usuários finais dos serviços, estes devem ser

imediatamente notificados ao parceiro privado e registados de forma clara e precisa, no sentido de

ajudarem numa eficaz avaliação da performance do contrato e do VfM. Os registos devem incluir o

número e a gravidade dos problemas, bem como a forma como foram resolvidos, durante toda a

vigência do contrato. Em casos extremos, em que os problemas de prestação de serviço sejam já de

gravidade, pode levar a que o parceiro público rescinda o contrato.

Nos termos da cláusula referente à rescisão do contrato, é conferido à DGEG o direito de rescindir o

contrato, caso haja a “violação grave, não sanada ou não sanável das obrigações contratuais e/ou

legais por parte da ENEOP e/ou Sociedades Instrumentais”, que pode ser verificada pelo

incumprimento grave ou cumprimento defeituoso das obrigações específicas da Sociedade

Promotora ou do Compromisso dos Accionistas.

Em última análise, é essencial que seja implementado um adequado processo de resolução dos

conflitos, pois o contrário poderá levar ao agravamento do relacionamento entre os parceiros.

6.2.4.4 Flexibilidade do Contrato

Sendo a longa duração, uma das características principais num contrato PPP, é natural que o número

de variáveis possa mudar ao longo de todo o período de vida útil do projecto sendo, por isso,

inevitável que a mudança seja prevista nos contratos. Estas mudanças podem ser impostas por

questões específicas levantadas pelo parceiro público ou até mesmo por mudanças de legislação que

causem impacte sobre o contrato. O contrato analisado refere que este “está sujeito à lei portuguesa

e à lei comunitária relevante, com expressa renúncia à aplicação de qualquer outra” e que “as

referências a diplomas legislativos ou comunitários devem também ser entendidas como referências

à legislação que os substitua ou modifique após a entrada em vigor do contrato e que ao mesmo

sejam aplicáveis”.

Page 86: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

72

A questão da flexibilidade de um contrato PPP é um ponto muito importante, pois é o parâmetro que

assegura a capacidade do privado para responder de uma forma eficaz às mudanças propostas pelo

parceiro público (Australian Government, 2006). Uma vez que essas mudanças podem originar

impacte no perfil de risco do projecto e eventuais variações significativas de custos, é importante que

previamente sejam acordados procedimentos para as variações do contrato de modo a que a

mudança seja controlada de uma forma eficaz, mantendo uma boa comunicação entre as partes e

evitando, portanto, divergências. Relativamente ao contrato analisado estão referidos os seguintes

aspectos:

De acordo com o estipulado na cláusula 28.ª, a ENEOP “obriga-se a celebrar e a cumprir

pontualmente os contratos de projecto e a não proceder a alterações dos mesmos que possam

pôr em causa o cumprimento deste contrato, sem prévia autorização da DGEG, até que as

mesmas obrigações se encontrem integralmente cumpridas”;

Em conformidade com a mesma cláusula, é referido que “as alterações aos contratos de projecto

que não ponham em causa o cumprimento deste contrato, não estão sujeitas a autorização da

DGEG mas devem ser comunicadas à mesma no prazo máximo de 15 dias a contar da celebração

dos acordos modificativos em causa”;

De acordo com o estipulado na cláusula 51.ª, “as Partes comprometem-se a ponderar, em boa fé,

as solicitações de ajustamento das obrigações assumidas pelas mesmas no presente contrato,

objectivamente fundamentadas no objectivo de aumento de eficiência ou de optimização dos

investimentos realizados ou a realizar, sempre que de tais alterações não resulte a alteração dos

equilíbrios acordados no mesmo”.

É também referido na cláusula 17.ª que “os planos que impliquem a realização de novos

investimentos no Projectos industrial, ou o ajustamento ou a substituição dos investimentos

inicialmente previstos, são dependentes de autorização por parte da DGEG”.

No caso específico das mudanças causarem impacte directo no VfM do projecto, estas têm de ser

sujeitas a uma revisão rigorosa no sentido de se examinar cuidadosamente as implicações sobre os

elementos essenciais do contrato do projecto, nomeadamente no que se refere aos mecanismos de

pagamento ou de desempenho. Situações em que haja divergências motivadas por pedido de

mudanças, por parte da entidade pública, e esta se mostre insatisfeita devido à incapacidade do

parceiro privado para suportar essa mudança, o parceiro público pode voluntariamente rescindir o

contrato. Estes aspectos não se encontram contemplados no contrato analisado.

Outro aspecto que consta do contrato analisado e que visa essencialmente a flexibilidade do contrato

para situações que possam ocorrer a qualquer momento da vida útil do empreendimento é, por

exemplo, a questão da actualização tecnológica: “A ENEOP poderá, quando a necessidade de

actualização tecnológica ou a evolução do mercado o justifiquem, apresentar à DGEG os planos que

pretenda promover na pendência deste Contrato e que impliquem a realização de novos

investimentos no Projecto Industrial, ou o ajustamento ou a substituição dos investimentos agora

Page 87: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

73

previstos”. Também patente está a possibilidade de substituição de “Unidades Industriais Acessórias,

por outra ou outras Unidades Industrias Equivalentes, não podendo, em qualquer caso, o valor do

investimento a realizar ser inferior ao inicialmente estipulado”.

6.2.4.5 Plano de Contingência

Os imprevistos são passíveis de acontecer em qualquer projecto, no entanto, é essencial que sejam

identificadas todas as potenciais situações de ocorrência dos mesmos, de modo a poderem ser

tomadas medidas correctivas previamente acordadas entre as partes.

De acordo com o descrito no Partnerships Victoria (2003), os imprevistos dividem-se habitualmente

em três tipos de situações:

Situações que envolvem interrupção de serviços, mas que não envolvem incumprimento por parte

do parceiro privado (força maior);

Situações que envolvem a interrupção da prestação de serviços por incumprimento da parte do

parceiro privado, caso em que os serviços entregues não cumprem as especificações de output e;

Negligências, por parte da entidade privada, que não resultem numa interrupção da entrega do

serviço.

Pode não ser possível transferir integralmente para o parceiro privado a responsabilidade pelo risco

da insuficiência da prestação de serviços em situações de imprevistos podendo, nestes casos, o

privado ver diminuída a sua obrigação de prestação de serviços, enquanto o parceiro público pode

ser obrigado ou sujeito a fortes pressões para garantir que terceiros não sejam incomodados. De

acordo com a mesma fonte, em contratos PPP devem ser considerados três tipos de processos de

contingência:

a) Plano de continuidade de negócios

A elaboração de um plano de continuidade de negócios tem como finalidade a preparação para

qualquer eventualidade que faça com que se dê a interrupção do fornecimento dos serviços

especificados no contrato. Este planeamento visa a mitigação do impacte essencialmente sobre o

parceiro público.

No desenvolvimento e manutenção deste plano devem ser conhecidas as situações potenciais que

podem desencadear a sua activação e quais as acções imediatas que devem ser tomadas para

responder a uma interrupção no fornecimento de serviços.

b) Plano de step-in

O step-in right (direito de entrada) refere-se ao direito de uma entidade (por exemplo o Estado)

avançar ou tomar conta das funções de outrem (por exemplo uma empresa privada) se este outrem

quebrar as suas obrigações contratuais. É como que uma espécie de "garantia adicional". Ou seja, o

"Direito de Entrada do Financiador - step-in right” permite a uma das Partes com interesse financeiro

Page 88: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

74

num projecto (por ex. Banca) passar por cima da entidade que beneficiou de um empréstimo para um

projecto (caso esta entidade falhe as suas obrigações contratuais) e controlar directamente as

diversas entidades envolvidas (por exemplo os empreiteiros contratados pelo beneficiário do

empréstimo), garantindo assim que o projecto é executado.

No caso de uma PPP, este planeamento deve ser bastante cuidadoso pois deve conter disposições

que coloquem o parceiro público na posição de exercer eficazmente o direito de “step-in” em caso de

necessidade, mas não deve descuidar também o planeamento do “step-out”. É essencial que as

condições contratuais sejam bem definidas, para que se possa conhecer quais as situações

potenciais que podem desencadear o direito do parceiro público ao step-in. Da mesma forma, há que

estabelecer com precisão as obrigações e responsabilidades ligadas ao direito de step-in e as

implicações para o parceiro privado.

c) Plano de negligências

O plano de negligências deve ser preparado de acordo com a possibilidade do parceiro privado não

cumprir as suas obrigações contratuais. É necessário conhecer a resposta a determinadas questões

tais como quais as situações potenciais que podem desencadear este plano, até que ponto uma

negligência afecta a prestação dos serviços, se imediatamente, se a longo prazo, se existem

soluções disponíveis no âmbito do contrato e quais as consequências potenciais para cada

“correcção”.

No desenvolvimento deste plano, o parceiro público deve ter em mente que pode ter que activar o

plano num curto prazo em casos em que o pessoal responsável pela implementação do plano esteja

sob pressão significativa, devendo por isso ser curto, claro, compreensível e facilmente disponível.

Especificamente, o contrato não prevê a elaboração de um plano de contingência. Porém, como já

anteriormente referido, são abordados aspectos referentes às necessidades de mudança e forma de

atingir a solução ideal com o envolvimento das duas partes.

6.3. Contrato entre Empresa Promotora do Parque Eólico – Fornecedores

Na figura 6.3 apresentam-se os tipos de fornecedores-tipo de um parque eólico, conforme se trate de

contratos de construção ou de operação e manutenção.

Figura 6.3: Tipos de fornecedores de um parque eólico

Fornecedores

Contratos de Construção Contratos de O&M

Fornecedores de Aerogeradores

Empreiteiro Civil

Empreiteiro Eléctrico

Fornecedores de Aerogeradores

Outros Prestadores de Serviços

Page 89: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

75

Em muitas situações a empresa promotora dos parques eólicos tem à partida um contrato de

operação e manutenção (O&M) com os fornecedores dos aerogeradores, que usualmente apenas

abrangem o período inicial do parque. Estes contratos, com duração habitual de 5 anos, podendo

estender-se até aos 15 anos, são geralmente contratos de empreitada chave-na-mão. O contrato de

O&M para reposição de peças e trabalhos de manutenção associados, pode estender-se desde o

final do período de garantia até ao final da vida útil do parque.

No prazo de garantia, os fornecedores comprometem-se a disponibilizar uma certa quantidade de

energia, geralmente cerca de 95 a 97% do total, garantindo que o tempo de paragem do parque não

excederá o número de horas previamente acordado. O incumprimento do estabelecido poderá levar a

penalidades que levam a indemnizações ao promotor do parque eólico. Estas indemnizações são

calculadas com recurso a um factor que corresponde à diferença entre a disponibilidade efectiva e a

disponibilidade garantida. Por outro lado, se o fornecedor conseguir exceder os limites acordados, a

partir de um patamar pré-definido (free-zone) pode também receber recompensas (ver figura 6.4).

Figura 6.4: Exemplo de recompensas e penalidades a impor aos fornecedores

Na escolha dos fornecedores, há alguns critérios-chave a ter em consideração, tais como:

Preço – na medida em que é importante realizar uma análise da proposta mais compensatória,

como seja o que se refere à disponibilidade oferecida pelo fornecedor ao operador em

comparação com o preço a acordar. Por exemplo, por um lado, pode-se ter um aerogerador

menos dispendioso que oferece uma disponibilidade de 95%, e por outro, ter um aerogerador

bastante mais dispendioso, mas oferecendo uma disponibilidade de 98%;

Garantias de O&M – quando o fornecedor opta por fazer uma garantia de toda a turbina ou

apenas de algumas componentes. Neste caso, há que realizar um estudo de análise da proposta

mais compensatória, como seja, por exemplo, uma garantia de 10 anos e 50% das peças

garantidas versus uma garantia de 5 anos, mas com a totalidade da turbina garantida;

Qualidade e segurança – Este critério é bastante qualitativo e deve ter em consideração

aspectos como prazos a serem cumpridos, confiança no fornecedor, entre outros.

Um modelo habitual de contratos com fornecedores no domínio dos parques eólicos consiste na

empresa promotora que detém as licenças de ligação à rede e implementação de uma determinada

potência num local vender as licenças a outra empresa, a qual, por sua vez, é quem constrói os

Disponibilidade

100%

0%

97%

Recompensas

Penalidades

Free-Zone

Page 90: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

76

parques eólicos, faz as ligações à rede e explora-os, sendo da sua responsabilidade toda a

construção e a escolha dos fornecedores dos aerogeradores, promovendo o concurso para o efeito.

O período de garantia destes equipamentos é de 2 anos (caso geral) + 3 anos, nalguns casos. Os

contratos de O&M relativos à manutenção preventiva e à correctiva de emergência, habitualmente

ficam a cargo de outras entidades diferentes dos fornecedores dos aerogeradores, ficando a cargo

destes últimos a parte correspondente à grande manutenção correctiva.

6.4. Licenças de propriedade

A instalação e operação de um parque eólico requerem um título de uso (ou um título de propriedade)

para que se possa prosseguir com a construção e operação do parque eólico. As figuras habituais do

direito de propriedade são as seguintes:

Regime de plena propriedade – Trata-se de uma compra e venda em que a propriedade imóvel

só pode ser transmitida entre pessoas, singulares ou colectivas, por escritura pública.

Regimes Parcelares, onde se incluem:

Contrato de arrendamento

Um contrato de arrendamento permite ao arrendatário usar a propriedade durante um certo período

de tempo, assim como estabelece a autorização para que este dê seguimento à construção e

operação do parque eólico. O prazo do contrato de arrendamento é normalmente correspondente

ao tempo de vida útil dos equipamentos a instalar, podendo também ser renovável. Tem como

contrapartida um pagamento de renda mensal ou anual, conforme o estabelecido.

Contrato de direito de superfície

Este tipo de contrato permite à empresa privada utilizar, realizar as obras de construção e operação

do parque eólico na propriedade comum. O direito de superfície pode ser vitalício, mas tem uma

utilização praticamente nula, já que esta situação quase equivale a uma compra e venda. No caso

de instalações industriais, o prazo do contrato do direito de superfície equivale ao período de vida

útil dos equipamentos a instalar (normalmente, de 20 anos).

É ainda de referir a especial atenção que deve ser dada à utilização de solos rústicos para fins

industriais não agrícolas, pois estes devem ser sujeitos a licenciamentos camarários e/ou de outras

entidades de nível superior, como é o caso das CCDR´s (Comissões de Coordenação do

Desenvolvimento Regional), parques naturais, reservas ecológicas, entre outras.

6.5. Contrato de compra de energia - PPA

Os agentes de um contrato de compra de energia, ou de um PPA (Power Purchase Agreement) como

são mais conhecidos, são o promotor do parque eólico e a empresa concessionária da rede nacional

de transporte, a REN ou a empresa nacional de distribuição de energia, EDP distribuição.

Page 91: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

77

Todo o titular de uma licença de operação de um parque eólico tem o direito à aquisição, por parte da

rede nacional, de toda a energia produzida, a qual é realizada sob um PPA. É portanto, crucial que a

licença de operação seja emitida para que o PPA seja oficialmente autorizado.

Estes contratos são regidos pelo modelo PPA aprovado pelo governo na Portaria nº 416/1990, de 6

de Junho.

Relativamente à tarifa de energia implementada nestes contratos, esta segue o modelo já

mencionado e explicado anteriormente no capítulo 4.5.1.

6.6. Contratos com seguradoras

O adjudicatário deve efectuar e manter um seguro com seguradoras, a expensas próprias, durante a

construção, montagem e entrada em serviço do parque eólico, até à sua recepção provisória. É

obrigado a colocar à disposição do dono de obra documentação comprovando a existência dos

seguros referentes a Acidentes Pessoais, Responsabilidade Civil do Empregador, Transporte de

pessoas e de equipamentos e Construção e Montagem.

A existência de apólices de seguro não deve, sob quaisquer circunstâncias, limitar as

responsabilidades aceites pelo adjudicatário ao abrigo do acordo celebrado. Além disso, qualquer

cobertura adicional decorrente de novas situações, será sempre da responsabilidade do adjudicatário,

bem como todos os prémios adicionais, multas e outras quantias devidas. Estas situações devem

segurar o adjudicatário, seus subcontratados e quaisquer outros participantes na obra. Após a

assinatura das apólices de seguro, o adjudicatário deve apresentar, ao dono de obra, os certificados

dos seguros contratados e fazer prova correspondente do pagamento dos prémios.

Quaisquer adicionais que sejam objecto de seguro, o dono de obra reserva-se no direito de impôr um

único seguro cobrindo todos os riscos, de forma a ganhar economia de escala e prevenir possíveis

debilidades de cobertura de seguros, se assim o entender.

O adjudicatário deverá indemnizar e proteger o dono de obra contra quaisquer perdas ou danos que

este possa sofrer em consequência de qualquer desrespeito pela política de seguros, falsas

declarações prestadas, ou falta de pagamento de prémios, quer da parte do adjudicatário, quer da

parte dos seus consultores.

O adjudicatário deve renunciar ao direito de reembolso perante o dono de obra, relativamente aos

limites inapropriados ou excessivos das coberturas das apólices relacionadas com a obra ou

mantidas pelo adjudicatário.

O dono de obra deve reservar-se no direito de nomear um Consultor de Seguros reputado para

verificar a suficiência da cobertura assumida pelo adjudicatário. Caso o relatório do consultor de

Seguros determinar que as apólices não são suficientes para cobrir os riscos que devem ser

segurados ou se forem detectados riscos que não foram segurados, o adjudicatário deve

comprometer-se a assumir as exigências complementares necessárias para deixar o dono de obra

protegido em caso de sinistro.

Page 92: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

78

7. CONCLUSÕES

7.1. Síntese Conclusiva

A presente dissertação, intitulada “parcerias público-privadas no sector das energias renováveis”,

visou cumprir essencialmente três objectivos. O primeiro objectivo referiu-se à análise de um

concurso PPP referente a um projecto de energia eólica, com enfoque na compreensão dos factores

de acesso e dos aspectos de concorrência ligados a um negócio desta natureza. Na sequência da

análise mencionada, impõe-se também a análise dos riscos associados a este sector, constituindo o

segundo objectivo a atingir. O terceiro objectivo, diz respeito à análise das condições previstas no

contrato celebrado entre a entidade promotora dos parques eólicos Eólicas de Portugal e a entidade

pública (Estado, neste caso, a DGEG) e sua comparação com um contrato tipo PPP.

Para dar cumprimento ao primeiro objectivo, tomaram-se por base alguns documentos, entre os quais

se destacam o Programa e Condições de Concurso (PCC), os relatórios finais de avaliação das

propostas inicial e BAFO e respectivas pronunciações dos concorrentes. Foi realizada uma análise

comparativa dos resultados obtidos pelos vários concorrentes, critério a critério, em presença das

pontuações que lhes foram atribuídas pelo júri, quer na fase de pré-qualificação, quer na fase de

negociação. Este estudo teve em atenção as funções de valor definidas no PCC e que caracterizam

cada critério, tendo-se constatado, caso a caso, quais os factores-chave constituintes das diversas

propostas que mereceram a máxima valorização, por irem de encontro ao estipulado no Programa e

Condições de Concurso.

Foi ainda efectuada uma apreciação sumária das ponderações atribuídas no concurso relativamente

aos quatro critérios considerados, e suas implicações para a criação de valor. Em presença das

ponderações atribuídas aos critérios deste concurso, em que surge valorizado o factor

económico/financeiro (65%) em detrimento, quer da gestão técnica do sistema (25%), quer do apoio à

inovação (10%), entende-se que o Estado, através da DGEG, privilegiou fortemente a criação de um

cluster de apoio ao sector eólico, tentando atrair investimentos para o país.

Em presença das características da proposta apresentada pelo consórcio Eólicas de Portugal, em

que foram evidenciadas várias vantagens, comparativamente à sua concorrente na fase de

negociação, nomeadamente a localização de todo o complexo industrial numa única zona, para além

da sua óbvia preocupação de investimento em zonas limítrofes às regiões menos favorecidas, entre

outros que caracterizaram a sua solidez, entende-se ser de justiça ter-lhes sido atribuída a

adjudicação neste concurso.

Para cumprir o segundo objectivo, foi realizada uma lista de riscos passíveis de ocorrer em projectos

de energia eólica, em relação aos quais foi efectuada uma análise sobre a sua devida alocação, ao

parceiro público, ou ao parceiro privado, ou a ambos.

Da análise sistemática dos riscos, em comparação com o disposto no contrato eólico analisado,

esboçou-se uma matriz de risco com as alocações dos mesmos ao parceiro que melhor os consegue

Page 93: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

79

gerir. Pode-se aferir também, em primeira instância, que de todas as fontes de energia renovável, o

vento é dos que envolve mais riscos, especialmente relacionados com apoios financeiros, com a

disponibilidade do recurso, com a tecnologia dos equipamentos utilizados e com o planeamento e

dificuldade de conclusão dos processos de licenciamento.

No que se refere ao estudo da partilha de riscos no contrato eólico analisado, conclui-se que a grande

maioria dos riscos estudados, passíveis de ocorrer neste tipo de projectos, são parte integrante do

contrato. Como seria de esperar, num contrato tipo PPP, os riscos são maioritariamente transferidos

para o sector privado, exceptuando-se, por um lado, os riscos de planeamento e concepção, pois é o

parceiro público quem está encarregue desta função, e por outro, os riscos ambientais, legais, de

força maior e de procura e concorrência. Refere-se também que os riscos com maior probabilidade

de ocorrência são os relativos ao factor segurança (dos trabalhadores), às acessibilidades aos

parques, à operação e manutenção, à tecnologia, à performance do parceiro privado e, subjacente a

todos os referidos, riscos relativos ao factor financeiro.

Para a obtenção do terceiro objectivo, efectuou-se uma análise aprofundada do que seria expectável

na monitorização e gestão de um contrato tipo PPP em comparação com o disposto no contrato

analisado.

Destacam-se alguns aspectos no âmbito da monitorização e gestão de contratos que, integrando a

maior parte dos modelos de PPP objecto de pesquisa, não tiveram eco no modelo português do

concurso eólico analisado. Refere-se, como exemplo, a inexistência de plano de step-in e plano de

contingência. No entanto, a questão da flexibilidade do contrato está largamente demonstrada em

variadíssimas cláusulas, podendo-se garantir que não foram deixadas lacunas, considerando-se que

situações imprevistas à data do contrato poderão vir a ser integradas à posteriori, caso se entenda vir

a justificar-se.

Considera-se ainda que o contrato eólico analisado contempla todos os pontos que interessa

analisar, nomeadamente os referentes à monitorização do desempenho e à monitorização do

relacionamento entre as partes e gestão de conflitos.

7.2. Desenvolvimentos futuros

Apesar da energia eólica ser, actualmente, uma das principais apostas de entre as opções

disponíveis de energias renováveis, é, só por si, claramente insuficiente para fazer face às

necessidades crescentes de energia no país. Com isto, entende-se que a opção eólica deve ser

sempre uma entre as demais fontes de energia renovável e sempre numa perspectiva de

complementaridade. Nesta sequência, seria interessante desenvolver estudos futuros acerca dos

processos concursais utilizados nos vários tipos de energia renovável, dando especialmente ênfase a

aspectos relacionados com as condições de acesso ao negócio, riscos associados e avaliação das

condições de contrato.

Ainda referindo o aspecto das condições de acesso ao negócio de cada renovável, a realização de

uma análise comparativa dos sistemas de remuneração, constitui também um estudo de cariz

Page 94: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

80

bastante atraente. A par desta sugestão, menciona-se também o interesse na realização de análises

comparativas das condições de concurso das diversas fontes renováveis, nomeadamente no que se

refere à comparação dos critérios e subcritérios e respectivas ponderações.

Seria também atractiva a realização de um estudo comparativo dos riscos associados às várias

fontes renováveis, bastante mais aprofundado do que o apresentado nesta dissertação, identificando

as suas causas mais prováveis e definindo as respectivas estratégias de mitigação.

No aspecto da monitorização e gestão dos contratos PPP, seria vantajoso perceber quais as várias

relações contratuais em jogo, consoante se tratem de projectos de energia eólica, biomassa, solar, ou

outras. Ainda sobre este aspecto, teria interesse comparar as práticas de monitorização e gestão de

contratos tipo PPP utilizadas nos vários tipos de projectos de energia renovável, inferindo sobre quais

os que apresentam um modelo mais adequado.

Um outro tópico bastante interessante e actual para a discussão e desenvolvimentos futuros assenta

na comparação dos modelos de PPP utilizados em concursos de energia eólica, entre o caso

português e o caso de países pioneiros neste sector, como são os casos, por exemplo, dos Estados

Unidos da América e Alemanha.

Apesar de estes aspectos, pela sua importância, terem sido objecto de alguma reflexão durante a

elaboração desta dissertação, não puderam ser, de alguma forma, abordados, dada a extensão de

informação inerente ao seu desenvolvimento e a correspondente dificuldade na sua inclusão neste

trabalho.

Page 95: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

81

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Page 99: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.1

ANEXOS

A. Energias Renováveis

A.1. Energia Hídrica

A.1.1 Enquadramento

A energia hídrica tira partido dos cursos de água nos rios para produzir electricidade. São utilizados

desníveis naturais ou artificiais para o aproveitamento da queda de água que contém energia cinética

e que por conseguinte poderá ser convertida em energia eléctrica. Este tipo de energia pode ser

aproveitado por via de dois sistemas de aproveitamento: Grande Hídrica e Mini-Hídrica com uma

potência geralmente inferior a 10kW.

O sistema de uma grande hídrica é formado por um reservatório, uma barragem, uma conduta de

admissão de água, uma turbina e um gerador. A água proveniente dos rios é armazenada no

reservatório, acumulando uma certa quantidade de energia potencial; à medida que as portas da

barragem de abrem, a água flui através da conduta até à turbina, originando energia cinética; a

turbina (por exemplo do tipo Francis) com a chegada da água, entra em movimento transformando a

energia cinética em energia mecânica; esta energia é transmitida pelo veio da turbina ao gerador,

transformando-a em energia eléctrica; por fim, as linhas de alta tensão fazem o transporte da energia

eléctrica.

No que diz respeito ao sistema de aproveitamento por via de uma mini-hídrica, este é composto por

um dique (ou canal), uma conduta, uma turbina e um gerador. A água dos rios é armazenada em

pequenos reservatórios ou parcialmente desviada através de canais; à medida que as condutas se

abem, a água avança até à turbina, transformando a energia potencial contida no reservatório em

energia cinética; a turbina (por exemplo do tipo Pelton) entra em movimento transformando a energia

cinética em energia mecânica; esta energia é transmitida pelo veio da turbina ao gerador,

transformando-a em energia eléctrica; por fim, as linhas de alta tensão fazem o transporte da energia

eléctrica.

Para além de ser uma fonte de energia limpa, renovável e bastante rentável, a energia hídrica tem

algumas desvantagens, acima de tudo ambientais. A grande hídrica comparativamente com as

centrais mini-hídricas apresentam claramente mais inconvenientes, uma vez que estas ultimas

apenas demonstram problemas na fase de construção, o que comparativamente com os benefícios

depois da entrada em funcionamento da central, pouco significado têm os em impactes negativos.

Para além de muito dispendiosa em termos de construção, a grande hídrica tem necessidade de

grandes quantidades de água para poder funcionar. No que diz respeito ao impacte ambiental, a

construção deste tipo de barragem pode provocar perdas e alteração de vegetação e fauna no rio,

alterações de migração dos peixes e até mesmo interferência no transporte de sedimentos. Aspecto

ainda a ter em conta é o facto deste tipo de aproveitamento depender directamente da pluviosidade.

Page 100: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.2

A.1.2 Mini-Hídrica

A.1.2.1 Internacional

Segundo ESHA (2004), em todo o mundo, a hidroelectricidade fornece cerca de 17% da produção

total de energia eléctrica, com uma capacidade instalada de cerca de 720 GW, correspondendo de

longe à mais importante fonte renovável para produção de energia. Relativamente à contribuição

mundial das CMH, estas assemelham-se às restantes energias renováveis com uma capacidade

eléctrica de cerca de 1%-2% da capacidade total, totalizando cerca de 61GW. A Europa com um total

de 13 GW de capacidade instalada constitui a segunda maior contribuição para a capacidade

instalada mundial, perdendo apenas o continente Asiático.

A.1.2.2 Situação em Portugal

Em 1988, a publicação do Decreto-Lei nº.189/88, de 27 de Maio, deu inicio à actividade de produção

independente de energia eléctrica de pessoas singulares ou colectivas públicas ou privadas, com o

limite de 10 MW de potência instalada. Este quadro legal originou um grande impulso no que se

refere à instalação de pequenas centrais hidroeléctricas (PCH), pois, com todas as vantagens e os

incentivos financeiros associados, houve uma nova vaga de pedidos de licenciamento principalmente

nas regiões Norte e Centro do país.

Segundo dados do Relatório Síntese (ADENE/ INETI, 2001)), até ao ano de 2001, em Portugal

existiam 98 centrais de aproveitamentos mini-hídricos, das quais 78 (correspondente a 200 MW de

potência instalada) eram centrais de Produção em Regime Especial (PRE) e 20 (correspondente a 56

MW de potência instalada), centrais do Sistema Eléctrico Não Vinculado (SENV). Estas 98 centrais

perfaziam um total de 256 MW de potência instalada e uma produção de 815 GWh/ano.

Segundo a DGEG, dados estatísticos relativos a Maio de 2009 apontam que a potência total instalada

em aproveitamentos hidroeléctricos até 10 MW é de 309 MW, com uma produção estimada de 454

GWh. Em perspectivas futuras, as previsões apontam para uma potência instalada entre os 500 e

600 MW e uma produção estimada anual de 1500 a 1800 GWh (ADENE/ INETI (2001))

Embora Portugal apresente boas condições para a concretização das CMH, a sua taxa de realização

é muito baixa, devido a um conjunto de situações que impede o processo de licenciamento, dos quais

se destacam:

Dificuldades nos processos de licenciamento, onde intervêm uma série de entidades sem

coordenação entre elas;

Problemas na ligação à rede eléctrica por insuficiências da mesma;

Falta de critérios objectivos para a emissão de pareceres das diversas entidades;

Page 101: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.3

Restrições ambientais. Em certos locais com potencial exploratório, o impacte ambiental ou a

legislação podem inviabilizar estes processos;

Falta de recursos humanos face ao número de pedidos, leva a que os processos se tornem

morosos.

A.1.3 Grande Hídrica

A.1.3.1 Situação Internacional

O maior aproveitamento hidroeléctrico mundial encontra-se na China, no Rio Yangtzé e foi concluído

no fim de 2008. Dados referentes a essa altura, apontam que em 2009, com a instalação de 26

turbinas, a capacidade da barragem será de 18,2 GW.

Contudo, anteriormente à construção desta barragem de grande porte, a barragem de Itaipu, no

Brasil, consistia na maior do mundo, com 20 unidades geradoras que perfazia um total de 14 GW de

potência instalada. Porém, para além de já não ser considerada a maior barragem do mundo em

termos de capacidade instalada, a nível de produção continua a liderar com cerca de 93 428 GWh

(produção histórica no ano 2000), ao passo que a barragem chinesa tem uma previsão de produção

anual de 84,7 GWh.

A.1.3.2 Situação em Portugal

A energia hídrica representa o melhor exemplo de êxito de produção eléctrica recorrendo a energias

renováveis em Portugal. O potencial de aproveitamento desta energia está distribuído por todo o país

com maior concentração sobretudo nas zonas Norte e Centro, como se pode verificar na figura A.1.

Figura A.1: Distribuição da capacidade instalada das grandes Centrais hidroeléctricas em Portugal em 2008 (Fonte: DGEG)

Page 102: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.4

No entanto, sendo um dos países com mais atributos para o aproveitamento de energia hídrica,

Portugal apenas aproveita 46% do seu potencial hídrico.

No sentido de optimizar a utilização do potencial hídrico existente foi elaborado um plano estratégico

nacional em 2007 para a energia hídrica. Este plano denominado por plano Nacional de Barragens de

Elevado Potencial Hídrico (PNBEPH), previa a construção de 10 barragens com o objectivo de

totalizar 7000 MW de potência instalada no ano de 2020, evoluindo assim de um aproveitamento

hídrico de 46% para 70% (figura A.2). Esta meta coloca Portugal na média dos países europeus.

Figura A.2: Potencial hídrico não aproveitado e capacidade instalada desde 1975 (Fonte: Palma, 2009; PNBEPH)

A figura A.3 ilustra a perspectiva de evolução da capacidade instalada hídrica em Portugal.

Figura A.3: Perspectiva de Evolução da capacidade instalada hídrica em Portugal (Fonte: MEI, 2007)

De 25 aproveitamentos hidroeléctricos pré-determinados, foram escolhidas as referidas 10 barragens

integrantes do PNBEPH, que em conjunto permitissem o cumprimento do objectivo estratégico acima

referido. Esta selecção foi feita após se realizarem estudos que visassem definir a configuração a

adoptar para cada aproveitamento, bem como avaliar a capacidade de aproveitamento de energia e

estimar os respectivos custos de execução. Todos os aproveitamentos em questão foram objecto de

uma avaliação técnica, económica, social e ambiental comparativa.

Page 103: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.5

No quadro A.1 encontram-se as características técnicas definidas para os diferentes aproveitamentos

seleccionados, correspondendo estas a uma fase preliminar, visando apenas e essencialmente a

comparação e selecção dos aproveitamentos.

Quadro A.1: Principais características dos aproveitamentos seleccionados para o PNBEPH (Fonte: PNBEPH)

Conforme enunciado no documento “Parcerias Público-Privadas e Concessões - Relatório de 2009”

publicado pela Direcção Geral do Tesouro e Finanças (DGTF (2009)), “a Lei da Água (Lei n.º

58/2005, de 29 de Dezembro) determinou a reformulação do regime de utilização de recursos

hídricos criando, por um lado, um novo quadro de relacionamento entre o Estado e os utilizadores

dos recursos hídricos, baseado no reconhecimento da garantia dos direitos do uso privativo de um

bem público e, por outro, a introdução da figura da concessão para a utilização de recursos hídricos

por particulares”.

Os empreendimentos hidroeléctricos abrangidos pelo PNBEPH foram realizados em regime de

concessão, cabendo ao privado o financiamento da construção, exploração e manutenção das infra-

estruturas das novas barragens, mediante o pagamento ao Estado concedente dos direitos de uso da

água.

No quadro A.2 sintetizam-se algumas características dos contratos subjacentes a cada barragem

integrante do Plano Nacional de Barragens:

Quadro A.2: Listagem das 10 barragens integrantes do PNBEPH

Concessionário Prazo de Concessão Produção hidroeléctrica Investimento

Foz Tua EDP 75 anos 324 MW 340 milhões €

Fridão EDP 65 anos - 161 milhões €

Alvito

Padroselos

Iberdrola 65 anos 424 MW > 1.000 milhão € Gouvães

Daivões

Vidago (Alto Tâmega)

Almourol Sem propostas

Pinhosão

Girabolhos Endesa 65 anos 355 MW 360 milhões €

Page 104: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.6

A.2. Energia Solar

A.2.1 Enquadramento

A energia solar representa um dos maiores potenciais a nível de energias renováveis. A energia solar

é cada vez mais economicamente vantajosa para os consumidores de energia, pois os sistemas de

aproveitamento desta energia, além de serem pouco poluentes, necessitam de pouca manutenção

periódica. Estes sistemas têm cada vez mais potência em virtude do avanço da tecnologia e

apresentam cada vez menores custos. Porém, uma vez que as condições climatéricas são muito

variáveis e só existe sol apenas durante o dia, nem sempre as quantidades de energia são

produzidas de forma constante, o que por si só constitui uma desvantagem.

Desvantagem é também a forma de armazenamento deste tipo de energia renovável relativamente a

outras formas de energia como os combustíveis fósseis, a energia hídrica ou a biomassa, uma vez

que apresenta níveis de eficiência muito inferiores.

A conversão da energia solar pode ser feita por via activa ou passiva. A forma activa de converter

energia solar assenta directamente na transformação dos raios solares em energia térmica ou

eléctrica, enquanto que a forma passiva visa as opções construtivas com vista a aproveitar a energia

solar para o aquecimento dos edifícios.

Para a conversão de energia solar em energia térmica, são utilizados sistemas solares térmicos. As

aplicações mais correntes deste tipo de sistema são o sector doméstico, a produção de águas

quentes sanitárias e climatização de piscinas, entre outras. Como maior desvantagem destes

sistemas destaca-se o seu elevado investimento inicial, sendo no entanto esta forma de conversão de

energia a mais frequente.

No que diz respeito à conversão de energia solar em energia eléctrica, são usados sistemas

fotovoltaicos compostos por material semicondutor que ao receber a radiação solar, produz corrente

eléctrica. Estes sistemas comparativamente aos anteriormente citados, são claramente menos

empregues, pois para além de também terem um custo inicial elevado, apresentam baixo rendimento

de conversão de energia e em situações de grande necessidade de energia não são rentáveis. Como

vantagens dos sistemas fotovoltaicos salienta-se a sua alta fiabilidade, fácil portatibilidade, custos de

operação reduzidos e custos de manutenção praticamente inexistentes.

Estes sistemas de conversão de energia solar, apesar de terem custos iniciais bastante elevados,

após a instalação das unidades de captação e armazenamento, poderão tornar-se, a longo prazo,

bastante vantajosos permitindo a obtenção de uma energia limpa e gratuita.

A.2.2 Situação Internacional

Embora se tenha verificado, nos últimos anos, um significativo crescimento da produção mundial de

electricidade com base no recurso solar fotovoltaico, a capacidade instalada para produção de

Page 105: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.7

energia eléctrica, com base em energia solar fotovoltaica, representa actualmente apenas cerca de

0,25% da capacidade de produção eléctrica mundial.

A Alemanha representa actualmente cerca de 45% do total da capacidade instalada mundial,

enquanto que o Japão, os Estados Unidos e a Espanha representam um peso na capacidade mundial

de cerca de 30%, 10% e 6%, respectivamente. A figura A.4 representa a perspectiva de evolução de

capacidade instalada de energia fotovoltaica, mundialmente, até ao ano de 2020.

Figura A.4: Capacidade cumulativa instalada de energia fotovoltaica mundial, por ano, em MW (Fonte: Greenchipstocks, 2009)

A.2.3 Situação em Portugal

Portugal é um dos países europeus com maior disponibilidade e capacidades de aproveitamento

solar. Com a inauguração da maior central de energia solar do mundo em 2008 no concelho de

Moura, Portugal posicionou-se na linha da frente no que toca a este tipo de energia renovável. A

central fotovoltaica da Amareleja (Moura) distribuída por 250 hectares totaliza uma capacidade

instalada de 46,41 MW e deverá produzir, durante os próximos 25 anos, 93 GWh de energia por ano,

uma produção suficiente para abastecer uma população de 35 mil habitações da região e para

poupar cerca de 90 mil toneladas de emissões de gases com efeito de estufa.

Sendo a Amareleja conhecida como a cidade mais quente e com mais horas de céu aberto de

Portugal, detendo os recordes de temperatura máxima no verão, tratou-se de um aproveitamento

excelente das condições climatéricas da região, em perfeita sintonia com o meio ambiente. O sistema

conta com 2.520 seguidores solares, com 104 painéis fotovoltaicos cada. É de notar que a área

necessária para a central é bastante elevada, o que em comparação com a área necessária para

uma central eólica, se traduz numa desvantagem. É também de salientar os elevados custos

associados à execução e montagem das centrais fotovoltaicas, bem como a importância do seu

policiamento.

Para além da Central propriamente dita, o projecto engloba ainda uma fábrica de painéis

fotovoltaicos, o que originará mais cerca de 100 a 110 postos de trabalho, a juntar aos cerca de 220

Page 106: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.8

postos de trabalho temporário na fase de instalação da central e dos cerca de 15 postos de trabalho

permanentes para serviços de manutenção.

Em Portugal, para além da central da Amareleja, existem outras sete centrais, sendo três no

Concelho de Ferreira do Alentejo, duas no Concelho de Mértola e uma no Concelho de Almodôvar.

A figura A.5 ilustra a potencialidade, de Portugal e da Europa, em termos de aproveitamento solar.

Figura A.5: Irradiação Solar horizontal anual em Portugal e na Europa (Fonte: PVGIS)

Para uma melhor percepção do estado de evolução da energia solar em Portugal, apresenta-se na

figura A.6 a evolução até ao ano de 2004 e a perspectiva de evolução da área de colectores solares

instalados em Portugal até ao ano de 2010. Em 2004 apuraram-se 16.088 m2 de colectores solares

instalados, dos quais 44% representavam pequenos sistemas domésticos e 56% grandes sistemas.

Figura A.6: Evolução da área de colectores solares instalados em Portugal (Fonte: DGEG)

Page 107: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.9

A.3. Energia das Ondas

A.3.1 Enquadramento

O aproveitamento da energia das ondas é também uma forma de produzir energia eléctrica. A

energia captada pelo movimento oscilatório das ondas do mar é certamente uma das energias que

apresenta maior potencial de exploração, pois a quantidade de água dos oceanos cobre cerca de ¾

da superfície da terra.

Para este aproveitamento é necessário escolher estrategicamente os locais de implantação dos

sistemas apontando sempre para onde as ondas são continuamente altas. Tal facto pressupõe que a

central seja suficientemente resistente de modo a suportar as condições adversas a que está

exposta.

Existem diversos tipos de ondas no oceano, sendo as ondas originadas pelo vento as que mais

parecem apresentar maior potencialidade de aproveitamento, pois uma vez formadas, percorrem

grandes distâncias dissipando pouca energia.

Para além de haver uma grande extensão desta fonte renovável, tal não significa que este tipo de

energia esteja já em grande evolução. Pelo contrário, existem diversas dificuldades que acompanham

o nível de exploração deste sector, tendo por isso, relativamente a outras energias renováveis,

tecnologias pouco desenvolvidas.

Como barreiras à exploração e utilização da energia das ondas destacam-se o facto de ser uma

técnica dependente das variações sazonais, de abarcar elevados estudos de preparação e

tecnologias bastante dispendiosas e também o facto de existir uma certa irregularidade da amplitude

de onda, fase e direcção, acarretando pouca eficiência energética.

O maior obstáculo encontrado neste tipo de energia renovável reside principalmente na dificuldade de

transformação da totalidade da energia proveniente das ondas em energia eléctrica.

Relativamente às tecnologias já desenvolvidas, estas são classificadas de acordo com a distância e a

localização da instalação à costa salientando-se as estruturas On-shore (ou Shoreline) e as

estruturas Off-shore.

No que diz respeito às estruturas on-shore (na costa ou relativamente perto desta), estas localizam-

se habitualmente em águas pouco profundas, geralmente entre os 8 e os 20 metros de profundidade.

O sistema on-shore com maior êxito designa-se por sistema de coluna de água oscilante30

e consiste

na existência de colunas de água que se encontram parcialmente cheias e têm um canal aberto para

o exterior por onde sai o ar. Ao aproximar-se e afastar-se a onda, a água localizada no interior da

coluna, respectivamente, sobe e desce. No canal de comunicação de entrada e saída de ar está

fixada uma turbina ligada ao gerador eléctrico e que se move conforme o movimento de ar na coluna.

As estruturas Offshore (fora da costa) estão situadas em águas profundas, frequentemente a cerca

de 25 a 50 metros de profundidade.

30

Tradução directa do termo anglo-saxónico Oscillating Water Column (OWC)

Page 108: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.10

A.3.2 Situação Internacional

A energia das ondas é um recurso que tem grandes potencialidades a nível mundial. O European

Marine Energy Centre (EMEC) enumerou cerca de 100 projectos de energia das ondas, muitos dos quais

ainda se encontram em fase de pesquisa e de desenvolvimento. Para além de já haver tecnologia neste

sector, é necessário muito tempo até que as tecnologias ganhem maturidade e para que os projectos

andem para a frente.

Ilustra-se na figura A.7 a potencialidade do recurso da energia das ondas, em termos mundiais.

Figura A.7: Distribuição mundial do recurso da energia das Ondas em kW/m ou MW/km (Fonte: Wave energy Centre, 2004)

Os modelos de protótipo estão em fase de teste em todo o mundo, contudo, existem dois países que se

posicionam na linha da frente: Portugal e o Reino Unido.

A.3.3 Situação em Portugal

Portugal, sendo um país com uma faixa costeira muito extensa e uma ondulação de excelentes

características (densidade de energia bastante elevada e batimetria adequada), apresenta condições

bastante favoráveis à exploração da energia das ondas. É também um dos países mais empenhados

na investigação a nível mundial.

Portugal tem uma posição de liderança e de prestígio no que toca a conhecimento técnico-científico

acerca da energia das ondas, sendo bom exemplo disso a central On-shore da Ilha do Pico nos

Açores. Esta central com 400 KW de potência instalada e que permite fornecer cerca de 10% do

consumo de energia da ilha, foi a primeira central no mundo a produzir electricidade a partir das

ondas, de uma forma regular.

Em funcionamento desde o ano de 2004, esta unidade nunca funcionou em pleno, devido às

inundações ocorridas nas fases de testes da central, correndo-se mesmo o risco de se verificar o seu

encerramento, caso não surjam novos financiadores.

Como país pioneiro nesta área, Portugal inaugurou em 2008 o primeiro parque mundial de

aproveitamento de energia das ondas, o parque de Ondas de Aguçadoura ao largo da Póvoa do

Page 109: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.11

Varzim. Esta central com uma potência instalada de 2,25 MW, embora se trate de um modelo

orientado para testes e ajustamento, está actualmente a produzir e a injectar potência na rede.

Este parque, conforme explícito no Decreto-Lei nº 5/2008, de 8 de Janeiro, pretende fomentar o

desenvolvimento tecnológico e a instalação de equipamentos de aproveitamento de energia das

ondas, atraindo para o País empresas promotoras e produtores de tecnologia.

Outro projecto a decorrer é na zona piloto ao largo de São Pedro de Moel, que contará com uma

potência instalada total de 80 MW, com a previsão futura de chegar aos 250 MW. Prevê-se que o

módulo seja abrangido numa área de 320 Km2, entre os 30 metros e os 90 metros de profundidade.

Com a preparação de uma zona marítima para a instalação de projectos-piloto visa-se o

desenvolvimento de novas tecnologias, que possibilitem, simultaneamente, o aproveitamento deste

potencial energético e a criação de um “cluster” industrial ligado à energia das ondas.

A costa Portuguesa, dada a sua grande extensão, apresenta um potencial de utilização estimado em

mais de 250 km, havendo condições que torna viável a instalação de futuros parques off-shore.

Estimando-se em 20 MW o valor da potência instalada por quilómetro, admite-se que ao longo de 250

km a potência instalada poderá atingir os 5 GW. A figura A.8 ilustra a localização das zonas costeiras

portuguesas onde é viável o aproveitamento da energia das ondas.

Figura A.8: Localização das zonas de possível aproveitamento da energia das Ondas em Portugal (Fonte: adaptado de EDP Renováveis, 2009)

A rede eléctrica na faixa litoral de Portugal, onde a densidade populacional é mais elevada e onde se

verificam os maiores consumos de energia eléctrica, oferece as condições necessárias à interligação.

O desenvolvimento da energia das ondas constitui uma grande oportunidade de desenvolvimento

para vários sectores da actividade económica e científica, admitindo-se a possibilidade de criação de

muitos postos de trabalho.

Page 110: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.12

Prevê-se que em 2025 cerca de 20% da electricidade consumida em Portugal tenha origem em

centrais off-shore. No entanto, este valor foi estimado com base no pressuposto do constante

aperfeiçoamento das diferentes tecnologias.

A.4. Energia das Marés

A.4.1 Enquadramento

O aproveitamento da energia das marés para a produção de energia eléctrica é feito através dos

desníveis de água que resultam das subidas e descidas do nível da água (maré cheia e maré vazia) e

pode ser realizado através de barragens ou através de turbinas.

Quanto ao sistema de barragem, o aproveitamento é feito quando os níveis da água são

suficientemente diferentes em ambos os lados da barragem, procedendo-se à abertura das portas,

permitindo que a água flua e active as turbinas. Estas barragens devem ser bastante resistentes

devido às condições adversas em que se encontram.

Quando se usa o sistema composto por turbinas, há a preocupação de as posicionar

estrategicamente nas entradas de baías e rios onde as correntes são mais rápidas. Estas turbinas

são semelhantes às turbinas utilizadas para a energia eólica, com a única diferença que estas se

encontram submersas. Fazendo uma comparação deste sistema relativamente à energia eólica, é de

salientar que, como a água presente nos oceanos é muito mais densa que o ar, uma turbina

submersa consegue produzir significativamente mais energia que uma turbina eólica do mesmo

tamanho.

Embora ambos os sistemas sejam de complexa implantação, o método de aproveitamento por via de

barragens apresenta maiores implicações ambientais relativamente ao método de aproveitamento por

turbinas, dado que ocupam uma maior área de implantação, o que pode constituir barreiras nas rotas

de migração dos peixes assim como provocar problemas na renovação dos leitos dos rios.

Para que a energia das marés seja rentável, são necessárias amplitudes de marés superiores a cinco

metros, o que é pouco frequente. Contudo, se for utilizada em larga escala, é capaz de produzir uma

boa quantidade de energia eléctrica, embora não esteja muito desenvolvida e não apresentar preços

competitivos relativamente a outras formas de energia renovável.

A.4.2 Situação Internacional

A maior central e pioneira em energia das marés localiza-se no estuário de La Rance, no norte de

França com um total de potência instalada de 240 MW. Também na Nova Escócia se encontra em

funcionamento uma central deste tipo, com cerca de 20 MW de potência instalada.

Para além dos países mencionados, este tipo de energia já se encontra desenvolvida, gerando

electricidade, em países tais como o Japão e a Inglaterra.

Page 111: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.13

A.4.3 Situação em Portugal

Em Portugal as condições das marés para a produção de energia não são as mais favoráveis dado

que a diferença de nível entre a maré cheia e a baixa-mar não é suficiente para o fim em causa,

originando a que, em termos de aproveitamento destas energias renováveis, pouco haja a salientar.

Referem-se apenas os conhecidos moinhos de maré, na margem sul do estuário do Tejo, que se

encontram em funcionamento desde o século XIV. Também ao largo de Viana do Castelo, existe uma

barragem que aproveita a energia das marés.

A.5. Energia Geotérmica

A.5.1 Enquadramento

A energia geotérmica provém do calor interno da terra, calor esse que é transmitido para a crosta

terrestre essencialmente por condução.

Este recurso natural pode ser aproveitado em locais que haja actividade vulcânica, radioactividade

das rochas ou ainda em locais onde seja possível atingir estratos magmáticos.

A produção de energia geotérmica pode ter duas vertentes, pois tanto se dá a altas temperaturas (T

º> 150ºC) como a baixas temperaturas (Tº <150ºC).

No que se refere a altas temperaturas, a produção é feita em locais dotados de actividade vulcânica,

sísmica ou magmática, com o objectivo de produzir electricidade. Esta electricidade é produzida

através de uma turbina movida a vapor de água resultante do aquecimento interior da terra.

A produção a baixa temperatura é principalmente situada em locais onde se deram acidentes

tectónicos e está directamente relacionada com as águas termais. Pode ainda estar relacionada com

aplicações terapêuticas, aquecimento de piscinas, agricultura, entre outros sectores.

Este potencial de energia é muitas vezes utilizado como fonte de calor em estufas ou em bombas de

calor para aquecimento ou arrefecimento de edifícios. O aproveitamento do calor do subsolo pode ser

feito com captadores horizontais, verticais e com aproveitamento de lençóis freáticos.

A geotermia para além de apresentar elevada eficiência energética em locais de elevado potencial

geotérmico, reduzidos custos de exploração e não estar condicionada pelas condições

meteorológicas, é um recurso que se esgota com certa facilidade quando usado exaustivamente.

Aquando da sua utilização, poderá causar poluição atmosférica, sonora ou até mesmo a nível de

odores desagradáveis provenientes de gases sulfurosos que são nocivos à saúde humana. Requer

também elevados custos de investimento.

Existem três formas de produzir energia geotérmica: pedra seca quente, vapor seco e vapor húmido

misto. Estas formas de produção são directamente dependentes da temperatura e pressão localizada

no interior do reservatório.

Page 112: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.14

A.5.2 Situação Internacional

Como a distância ao centro da terra depende de sítio para sítio, a utilização de energia geotérmica

varia também consoante o local. Os locais com maior instabilidade geológica são os mais dotados

desta fonte natural de energia, como é o caso da Islândia, Estados Unidos da América e a ilha dos

Açores, representando os dois primeiros os maiores produtores de energia geotérmica.

Segundo a DGEG, os Estados Unidos representam actualmente no mundo, a maior produtividade de

energia geotérmica, com cerca de 47% da produção mundial. As figuras A.9 e A.10 representam a

produção mundial de electricidade e de calor, com origem geotérmica, respectivamente.

Figura A.9: Produção Mundial de Electricidade de origem Geotérmica (Fonte: DGEG)

Figura A.10: Produção Mundial de Calor de origem Geotérmica (Fonte: DGEG)

Da observação da figura A.11, destaca-se um ligeiro aumento anual na produção de energia

Geotérmica até 2008, verificando-se um aumento de apenas 28% na capacidade geotérmica

instalada cumulativa, desde 7972 MW em 2000 até 10.200 MW em 2008. Porém, para o ano de 2020

as expectativas são bastante elevadas, esperando-se um aumento de potência instalada de cerca de

219%, alcançando o valor de 32.592 MW.

Figura A.11: Previsão de potência instalada cumulativa de energia Geotérmica no mundo até 2020. (Fonte: Greenchipstocks, 2009)

A.5.3 Situação em Portugal

Em Portugal continental existem essencialmente aproveitamentos de baixa temperatura ou termais.

Page 113: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.15

Os aproveitamentos termais são normalmente divididos em aproveitamentos de pólos termais já

existentes em que as temperaturas rondam dos 20ºC aos 76ºC e aproveitamentos de aquíferos

profundos de bacias sedimentares. Exemplos destes dois aproveitamentos são nomeadamente os

existentes em Chaves e o hospital da força aérea do Lumiar respectivamente.

As figuras A.12 e A.13 representam os locais com maior potencialidade em termos de aproveitamento

geotérmico em Portugal.

Figura A.12: Ocorrências termais em Portugal Continental (Fonte: DGEG)

Figura A.13: Áreas com potencialidades geotérmicas e gradiente geotérmico médio em Portugal

(Fonte: INETI)

º

Por outro lado, é possível afirmar que, considerando tecnologias disponíveis, existe potencial para a

realização de outras instalações praticamente em todo o país. Uma dessas tecnologias seria a

aplicação de bombas de calor geotérmicas (BCG) que visa o aproveitamento do potencial térmico da

água subterrânea à temperatura normal. Este tipo de procedimento irá permitir o aquecimento e

climatização dos espaços e poderá representar um potencial de 12 MWt.

No que se refere à produção de energia eléctrica por via geotérmica, a ilha de São Miguel, nos

Açores, é o território português onde se pode verificar em maior quantidade este tipo de

aproveitamento, pois em virtude das suas características vulcânicas, os seus reservatórios

geotérmicos com interesse têm temperaturas que ultrapassam os 200ºC. Nesta ilha existem dois

aproveitamentos no campo Geotérmico: a Central da Ribeira Grande com uma potência de 13 MW

(de 1994) e a Central do Pico Vermelho, com uma capacidade produtiva de 10 MW (de 2006), cuja

produção combinada contribuiu, no ano de 2008, com cerca de 40% na estrutura de produção da ilha.

Para além da ilha de S. Miguel, a ilha Terceira apresenta também actualmente potencialidade para a

exploração deste tipo de recurso, sendo prevista a entrada em exploração da nova central geotérmica

Page 114: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.16

(Geoterceira) para o final de 2011 com uma potência de 12 MW. Estima-se que após a sua

inauguração, esta central contribua em 38% na estrutura de produção da ilha.

A produção geotérmica no arquipélago dos Açores constitui uma ferramenta de elevada importância

na sua economia, pois, só esta fonte renovável contribui com 21% na estrutura de produção, o que

somado à produção hídrica e eólica, proporciona uma autonomia energética de cerca de 27%.

Estudos de avaliação do potencial geotérmico já efectuados apontam para a possibilidade técnico-

económica de instalação de aproveitamentos geotérmicos noutras ilhas, como sejam o Faial com

7.500 kW e o Pico com 5 MW.

Existe também um potencial de aproveitamento a baixa temperatura no Funchal, ilha da Madeira.

A.6. Biomassa

A.6.1 Enquadramento

A Biomassa é provavelmente uma das mais antigas formas de energia renovável e tem origem no

processo da fotossíntese que faz com que as plantas transformem a energia solar em energia

química, podendo esta depois ser convertida em energia eléctrica, combustível ou calor.

Esta fonte de energia renovável pode assumir as formas sólida, gasosa e líquida.

A biomassa sólida provém de produtos e resíduos de actividade agrícola (tanto vegetal como animal),

florestal e industrial e de elementos biodegradáveis dos resíduos industriais e urbanos. A biomassa

gasosa (biocombustíveis gasosos) resulta dos efluentes agro-pecuários e dos resíduos sólidos

urbanos ao passo que a biomassa líquida tem origem nos biocombustíveis líquidos que apresentam

maior potencial de utilização, sendo os mais utilizados o biodiesel, o etanol e o metanol.

Do ponto de vista técnico, a biomassa constitui um grande potencial de transformação de energia,

tanto para fins eléctricos (produção dedicada) como para fins térmicos (cogeração).

Do ponto de vista ambiental, a biomassa contribui não só para a redução dos níveis de emissão de

gases com efeito de estufa uma vez que contém, em geral, menor quantidade de agentes poluentes à

atmosfera comparativamente com os combustíveis fósseis, mas também para minimizar os riscos de

incêndio florestal, reduzindo combustíveis que possam agravar a propagação de incêndios aquando

da limpeza da floresta. Como principais obstáculos ao aproveitamento da floresta destacam-se a falta

de equipamentos para sistemas de recolha apropriada, ausência de uma estrutura do sector e uma

grande agressividade dos sectores concorrentes como é o caso do sector do gás.

Contudo, este tipo de energia renovável apresenta também aspectos negativos, como o facto de a

produção dos biocombustíveis promover a poluição atmosférica (embora seja uma poluição inferior à

causada pelos combustíveis fósseis) e também por estar associada, na maioria dos casos, a

intensivas explorações agrícolas que utilizam fertilizantes e pesticidas bastante poluentes e à

desflorestação de áreas muito vastas.

Page 115: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.17

A.6.2 Situação Internacional

A utilização de biomassa na Europa distribui-se de acordo com a figura A.14:

Figura A.14: Utilização de biomassa na Europa (Fonte: Teixeira, 2009)

Salienta-se o caso da Finlândia, onde se situa a maior central de biomassa da Europa e do Mundo.

Trata-se da central de Alholmens Kraft, a qual emprega 400 pessoas, para além de outras 200

ligadas directamente à actividade da central.

Esta unidade só por si fornece 240 MW relativamente à vertente electricidade.

A.6.3 Situação em Portugal

Com o início da construção de um novo Sistema Eléctrico Nacional (SEN) em 1998, a produção de

energia eléctrica com biomassa passou a poder ser feito em dois regimes (ambos PRE) – regime da

cogeração com fontes renováveis e regime das “Energias Renováveis” – respectivamente com as

associações profissionais COGEN e APREN (ver figura 3.1).

O aproveitamento de energia provinda da Biomassa teve início em Portugal há relativamente pouco

tempo, sendo que a primeira central a ser inaugurada teve lugar em Mortágua no ano de 1999. Esta

central de biomassa florestal apresenta uma potência instalada de 9 MW.

Portugal definiu, em 2003, os seus objectivos para as energias renováveis, sendo de 150 MW a

contribuição para a biomassa. Esta meta foi mais tarde alterada para 250 MW, correspondente a 5%

da produção de electricidade.

Page 116: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.18

Esta meta dificilmente será cumprida em 2010, um vez que, ao nível das centrais dedicadas31

, dos 12

MW instalados em 2005, passou-se para uma potência de 24 MW, distribuídos pelas centrais de

Mortágua, RodãoPower e Centroliva. Isto representa apenas cerca de 10% dos 250 MW planeados.

Acresce ainda referir que para colocar uma central em funcionamento são necessários cerca de dois

anos e meio.

Atendendo a que a principal fonte de biomassa em Portugal é a floresta, e que esta cobre cerca de

38% da área total do território nacional, podendo ser aumentada até 60%, faz todo o sentido uma

forte aposta na biomassa florestal. O aproveitamento da biomassa para fins energéticos representa

não só a dinamização do sector e a criação de empregos em zonas rurais, como também promove a

redução dos riscos de fogos florestais.

Na sequência da meta imposta para Portugal, foram lançadas a concurso em 2006, 15 novas centrais

termoeléctricas de biomassa florestal para atribuição de capacidade de injecção de potência na rede

do Sistema Eléctrico de Serviço Público (SEP), totalizando um valor de 100 MW.

As referidas centrais são de dois tipos, diferindo apenas na potência instalada de cada uma. Umas

inserem-se no intervalo de potência entre os 2 MW e os 6 MW, tendo como principal objectivo a

instalação de unidades locais de pequena dimensão, tomando como ideia base o desenvolvimento

local. O outro tipo de centrais insere-se no intervalo de potências entre 10 MW e 12 MW, orientadas

essencialmente para grupos industriais, garantindo um maior raio de recolha de biomassa florestal.

A escolha da distribuição geográfica das centrais teve em conta aspectos que visassem privilegiar

zonas com elevada fitomassa, elevado risco estrutural de incêndio e potência disponível.

Para o concurso dessas centrais, os critérios de avaliação das propostas, assentaram basicamente

nos seguintes pontos:

Caracterização do combustível da central (30%)

Solidez e sustentabilidade do fornecimento à central (45%)

Tecnologia e eficiência energética (20%)

Inovação e dinamização do sector (5%)

Das 15 centrais lançadas a concurso, apenas 13 obtiveram propostas, sendo que uma delas ainda se

encontra em fase de decisão no que diz respeito à escolha da empresa a adjudicar e as outras 12 já

se encontram adjudicadas. As duas restantes, não obtiveram qualquer proposta, o que, segundo a

edição de 1 de Abril de 2009 do Jornal de Negócios, se deveu principalmente à alteração das

condições de mercado. A mesma fonte refere também que “a escalada do preço dos combustíveis e

a crise financeira tornaram menos interessantes os projectos das centrais de biomassa”.

Neste momento, apenas duas das centrais adjudicadas se encontram em construção, as

correspondentes aos lotes 6 e 10. Em vias de avançar estão as centrais correspondentes aos lotes 9,

14 e 15.

31

Por centrais dedicadas entende-se centrais sem cogeração.

Page 117: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.19

No quadro A.3 e na figura A.15 representa-se a lista das centrais de biomassa a concurso e as

respectivas localizações.

Quadro A.3: Lista das Centrais de Biomassa a concurso e respectivas empresas vencedoras

Nº Lote

Distrito Potência

[MW] Empresa

1 Vila Real 11 PROBIOMASSA (PROEF/ EHATB/ ESCAPITAL)

2 Vila Real 2 Sem Propostas

3 Viana do

Castelo e Braga 10

MIESE (Alberto Mesquita/ ISOLUX/ EGF)

4 Viana do

Castelo e Braga 5

OBRECOL/ San Miguel/ Forestland/ LOGISTICA FLORESTA

5 Vila Real 11 MIESE (Alberto Mesquita/ ISOLUX/ EGF)

6 Castelo Branco e Guarda

2 TAVENERGIA (CIMA/ INSPECENTRO)

7 Bragança 2 Sem Propostas

8 Viseu e Guarda 10 Júri ainda não publicou

9 Viseu 5 Nutroton/JVC/TECNEIRA/NORMAIO/ Forestland

10 Castelo Branco e Coimbra

3 PALSER

11 Castelo Branco 10 BIOMASSAS COVILHÃ (HIDURBE/ Fomentinvest/ SOBION/ ESCAPITAL)

12 Castelo Branco 10 BIOMASSAS SERTÃ (HIDURBE/ Fomentinvest/ SOBION/ ESCAPITAL)

13 Portalegre 10 BIOMASSAS PORTALEGRE (HIDURBE/ Fomentinvest/ SOBION/ ESCAPITAL)

14 Santarém 6 TECNEIRA/ FORESTECH

15 Beja e Faro 3 TECNEIRA/ FORESTECH

Figura A.15: Mapa da localização das centrais existentes e futuras (Fonte: DGEG)

Page 118: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.20

B. Concurso Eólico

B.1. Valorizações dos Critérios

B.1.1 Critério A. Impacte económico

Critério A1

Foi estipulado no PCC que na valorização do desconto seriam atribuídos 100 pontos aos descontos

iguais ou superiores a 5% e 0 pontos aos concorrentes que não apresentassem desconto, sendo a

pontuação dos descontos intermédios obtida por interpolação linear.

B.1.2 Critério B. Criação de um cluster industrial de apoio ao sector

Critério B1

O subcritério B1 é valorizado em função do investimento directo “equivalente” ( )

definido com base em duas vertentes: investimento em unidades fabris para a montagem de

aerogeradores (B1.1) e investimento em unidades de produção de componentes (B1.2).

Critério B2

O subcritério B2 tem em vista a valorização do investimento indirecto realizado, quer em regiões

menos favorecidas (B2.1), quer em regiões limítrofes (B2.2). É valorizado em função do investimento

indirecto “equivalente” ( ), sendo atribuído 1 ponto por cada € 5 milhões de

investimento equivalente até ao máximo de 100 pontos.

Critério B3 e B4

Os subcritérios B3 e B4 apontam para a criação de emprego directo e indirecto gerados,

respectivamente, pelo e no, Cluster Industrial, por um horizonte temporal superior a 5 anos. São

valorizados os empregos criados a vários níveis: indiferenciado (B3.1 e B4.1), especializado (B3.2 e

B4.2), técnico (B3.3 e B4.3) e de incentivo à inovação (B3.4 e B4.4).

A valorização do emprego directo é dada através da fórmula:

Por cada 7 empregos directos “equivalentes” é valorizado 1 ponto na proposta, com o limite de 100.

A valorização do emprego indirecto é dada através da fórmula:

Page 119: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.21

, em que B4.5 depende da localização do emprego (1,5 para regiões menos favorecidas, 1,0 para

regiões limítrofes das regiões menos favorecidas e 0 para outras regiões).

Por cada 14 empregos indirectos “equivalentes” é valorizado 1 ponto na proposta, com o limite de

100.

Critério B5

O VAB directo e indirecto do Projecto Industrial é valorizado linearmente, cabendo 0 pontos aos

Projectos Industriais com VAB sobre vendas directas igual ou inferior a 20% e acrescentando-se 5

pontos na valorização por cada 4 pontos percentuais de VAB/ Vendas directas acima de 20%, até ao

máximo de 100 pontos.

Critério B6

O grau de coerência e solidez dos compromissos é um factor multiplicativo, não superior à unidade,

que afecta a pontuação global dos subcritérios B1 a B5, de acordo com a seguinte fórmula:

Este subcritério é valorizado tomando por base três aspectos essenciais: cronograma de execução

(B6.1), sustentabilidade do investimento (B6.2) e vínculos contratuais (B6.3) e é calculado pela

fórmula:

No que concerne ao cronograma de execução, é avaliado o detalhe do cronograma de execução do

projecto industrial e do projecto eólico (com as respectivas análises temporais PERT e diagrama de

GANTT), sendo dada especial atenção aos prazos de implementação dos investimentos directos e

dos investimentos induzidos, os postos de trabalho a criar, os volumes de produção e sua evolução,

no sentido de ser avaliada a credibilidade e coerência com que se processam esses investimentos.

É ainda de referir o prazo limite de 24 meses a partir da data de celebração do contrato, para a

concretização do investimento proposto no projecto industrial. Este prazo procura promover o

desenvolvimento e consolidação de uma fileira industrial durante o período de concretização do

protocolo de Quioto.

As propostas são avaliadas com uma valorização de 0 a 100, de acordo com a decisão do júri.

Relativamente à sustentabilidade do investimento directo associado à produção de bens e serviços

necessários ao aproveitamento de energia eólica, são considerados factores como o horizonte

Page 120: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.22

temporal (B6.2.1), o rácio carteira firme de encomendas/ vendas anuais (B6.2.2) e o rácio exportações/

vendas (B6.2.3).

O horizonte temporal é valorizado com 6 pontos por cada ano de actividade previsto até ao máximo

de 100 pontos.

O rácio carteira firme de encomendas/ vendas anuais é valorizado com 12 pontos por cada ano de

vendas até ao máximo de 100 pontos.

O rácio exportações/ vendas é valorizado da seguinte forma:

Rácio <15% - 0 pontos;

15% Rácio 60% - 20 pontos, adicionados de 1,8 pontos por cada ponto percentual em

excesso de 15%

Rácio > 60% - 100 pontos

A sustentabilidade do investimento é então calculada pela seguinte expressão:

A solidez e coerência dos vínculos contratuais tem em conta as garantias de localização, o

financiamento, o cumprimento de prazos, a capacidade de atracção de investimento e

desenvolvimento de negócio constantes nas propostas, bem como o grau de vínculo das diversas

entidades envolvidas no projecto industrial e respectivo grau de compromisso, incluindo a vinculação

por parte dos diversos fornecedores.

As propostas são avaliadas com uma valorização de 0 a 100, de acordo com a decisão do júri.

B.1.3 Critério C. Gestão técnica do sistema

Critério C1

A demonstração da capacidade de gestão técnica dos agrupamentos de parques eólicos tem uma

valorização base de 30 pontos, correspondente à constituição de um centro de despacho do

agrupamento, a que se adicionam as pontuações decorrentes das funcionalidades demonstradas, de

acordo com o quadro A.4:

Quadro A.4: Funcionalidades do centro de despacho (Fonte: PCC)

Funcionalidade Pontuação Final

Gestão de controlabilidade 10

Gestão integrada de reactiva 10

Disponibilização de previsão de produção eólica 15

Capacidade de agregação para mercados 5 (a)

Ajuste de parâmetros por tele-controlo 10

(a) Apenas é valorizado em conjunto com a anterior

Page 121: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.23

A esta pontuação é adicionada ainda uma parcela, com o valor máximo de 20 pontos, proporcional à

relação entre a potência adicional acolhida no centro de despacho e a potência do lote, de acordo

com a expressão:

Critério C2

A gestão de produção de energia é quantificada a partir da disponibilidade para aceitar, em horário de

super vazio, a redução da produção de energia eólica em prioridade dentro da produção renovável. A

valorização da disponibilidade é feita linearmente em termos de número de horas oferecidas pelo

concorrente a partir de 20 horas, para a capacidade de recepção a disponibilizar na rede do SEP, em

base anual, no horário de super vazio, de acordo com a seguinte função:

Critério C3

A valorização das soluções de armazenamento de energia eléctrica é quantificada em termos de

energia E, em MWh, que cada concorrente é capaz de transferir (em períodos diários) e o valor de

referência Eref (MWh), energia correspondente a 1 hora de funcionamento à potência à qual o

concorrente se candidata, de acordo com a seguinte função:

Critério C4

O controlo adicional da reactiva é valorizado da seguinte forma:

a) Controlo realizado com recurso ao sistema de conversão de energia eólica ou a dispositivos

FACTS – 100 pontos;

b) Ausência de controlo adicional – 0 pontos.

Critério C5

Este critério aponta para a disponibilização, por parte dos concorrentes, de pelo menos 5% de

“deload” relativamente à curva de extracção máxima de potência, oferecida para regulação primária

de frequência.

v(h)=

v(E)=

Page 122: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.24

A participação na regulação primária de frequência é valorizada de acordo com a percentagem de

potência atribuída para a qual o concorrente se compromete a instalar essa capacidade,

correspondendo 100 pontos à situação em que essa percentagem é 100%

B.1.4 Critério D. Apoio à inovação

Critério D1

A valorização deste critério pontua o valor actual do montante total dos recursos financeiros a

disponibilizar pelo concorrente nos 6 anos seguintes à data de assinatura do contrato, cabendo a

cada proposta 1 ponto por cada € 350 milhares de incentivo, com um limite superior de 100 pontos.

Page 123: As PPP No Sector Das Energias R - Ana Isabel Craveiro Martins

A.25

B.2. Obrigações Específicas da Sociedade Promotora (ENEOP) dispostas no Contrato

Obrigações Específicas da ENEOP

Descrição

Construção e Exploração de

Parques Eólicos

Os parques eólicos devem dispor de sistemas de conversão de

energia eólica

Desconto à remuneração de

energia eléctrica

Desconto à remuneração de 5% de acordo com o tarifário que se

encontre em vigor à data da emissão da Licença de Exploração

dos Parques Eólicos

Execução do Projecto

Industrial

O Projecto Industrial corresponde ao conjunto das seguintes

Unidades Industriais: Fábrica de Pás de Rotor; Fábrica

Mecatrónica (Nacelle e módulo eléctrico); Fábrica de Geradores e

Centro Administrativo e de Formação.

Investimento Directo de 56.140.000 €

Execução de Unidades

Industrias Acessórias

As Unidades Industriais Acessórias são as seguintes: Fábricas de

Torres de Betão, de Torres e Segmentos de Aço, de Fibra de

Vidro, de Transformadores de Distribuição e Potência, de Quadros

de Média Tensão e de Armações Metálicas; Unidades de

Experimentação e Ensaio, de Serviços de Transporte, de Serviços

de Aluguer de Gruas, de Fornecimento de Instalações, de Serviços

de Construção Civil e de Equipamentos para Serviços de

Instalação eléctrica; Centros de Logística e Transporte e Centro de

Serviço.

Investimento Indirecto de 105.480.245€

Criação de Postos de

Trabalho Directos

Os Postos de Trabalhos Directos dizem respeito ao Projecto

Industrial

Criação de 700 Postos de Trabalho Directos por um período consecutivo superior a 5 anos

Criação de Postos de

Trabalho Induzidos

Os Postos de Trabalhos Induzidos dizem respeito às Unidades

Industrias Acessórias

Criação de 1.009 Postos de Trabalho Induzidos por um período consecutivo superior a 5 anos

Gestão Técnica do Sistema

Criação de dois Centros de Controlo, Despacho e Supervisão com

vista a atender aos seguintes parâmetros: Gestão da

Controlabilidade; Gestão Integrada da Reactiva; Disponibilização

da Previsão da Produção Eólica; Capacidade de Agregação de

Mercados; Ajuste de Parâmetros por Telecontrolo; Controlabilidade

Adicional; Gestão da produção (interruptibilidade); Armazenamento

de energia; Controlo Adicional de Reactiva e; Participação no

Controlo primário de frequência.

Fundo de Incentivo à

Inovação 35.000.000 € destinados ao financiamento de investigação