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Aspectos A performance no campo do indizível Ilustração: Antonio Rodrigues Performance Arte na Campo Expandido. PGEHA-USP - Programa de Pós-graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo ECA-USP - Segundo semestre de 2014 Professor: Dr. Artur Matuck Professora convidada: Dra. Naira Ciotti Professor convidado: Vanderlei Lucentini Por Antonio Herci

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Aspectos

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Page 1: Aspectos_Seminário

AspectosA performance no campo do

indizível

Ilustração

: Antonio

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s

Performance Arte na Campo Expandido. PGEHA-USP - Programa de Pós-graduação Interunidadesem Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo ECA-USP - Segundo semestre de 2014

Professor: Dr. Artur MatuckProfessora convidada: Dra. Naira CiottiProfessor convidado: Vanderlei Lucentini

Por Antonio Herci

Page 2: Aspectos_Seminário

À evidência imponderável pertencem as sutilezas do olhar, dos gestos, do tom.

Posso reconhecer o autêntico olhar de amor, distingui- lo do olhar fingido (e, naturalmente, pode haver aqui um fortalecimento ‘ponderável’ de meu juízo.)

Mas posso ser completamente incapaz de descrever a diferença.

(Wittgenstein. IF p. 294)

Foto:FabiMitsue

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Subjetividade

O outro como ser completo

A minha atitude em relação a ele (ao outro) é uma atitude em relação a uma alma. Eu não sou da opinião que ele tenha uma alma.

Humanidade como clausura suportada

O que deve ser aceito (suportado), o dado são formas de vida.

(Wittgenstein. IF p. 292)

Page 4: Aspectos_Seminário

Subjetividdee clausura

Não é uma mão que sente a dor de um corte, e nem é uma mão que responde à dor, mas ‘uma alma que sofre por inteiro. Assim também o outro do discurso da performance é um outro por inteiro e os aspectos acabarão marcando também aspectos inusitadas na relação ou campo inicial do discurso. Podemos interpretar isso como uma bivalência no conceito de forma de vida, isto é, por um lado uma relação segura e necessária da ‘valorização de uma irredutível subjetividade do outro como detentor de uma mente, mas ao mesmo tempo, uma subjetividade não completamente exteriorizável.

por outro lado esse interior não deixa de possuir uma certa clausura relativamente ao outro.

por um lado a subjetividade é completa e tem um interior consistente em si mesmo,

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Sentido e inconsciente

A indizível diversidade de todos os jogos de linguagem do dia-a-dia não nos chega ao consciente, porque as vestimentas de nossa linguagem tomam tudo igual. (IF p.290)

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Aspecto e interação

Um sistema complexo, segundo o bio-filósofofrancês Henri Atlan(2009), é composto por certo número de indivíduos conectados uns aos outros de diferentes maneiras.

Quanto maior o número de indivíduos e o número de interações, mais complexo é encontrar o ASPECTO de conexão entre eles. (CIOTTI, Naira. 2011)

LINGUAGENS:• Naturais• Artificiais• Artes• Signos e

convenções• Movimentos e

corpo

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Linguagem e expressividade

Se uma criança cai, sente uma dor e exprime essa sensação através do choro. Os adultos o consolam e ensinam-lhe a usar a palavra ‘dor’ como substituição linguística da expressão natural da dor.

O que nos interessa do ponto de vista da vivência estética e determinação dos valores, não são experiências internas em si, como imagens ou fatos psicológicos, mas sim expressões de vivências, compartilhadas a partir do modo de vida, de forma que reconhecer o valor ou a beleza possa ser compartilhado ou generalizado como certeza.

Isso parece remeter a expressão e o reconhecimento desses aspectos expressivosdiretamente à experiência de seu uso, de forma que não se poderia concluir ‘em geral’ a partir de algumas sensações provocadas a partir do reconhecimento de alguns aspectos em uma composição específica, seja uma pintura ou uma configuração sonora, harmônica ou rítmica.

Page 8: Aspectos_Seminário

Pato-coelho

A questão é: o que realiza a evidência imponderável? “Trata-se de uma vivência visual autêntica? ” A questão é: até que ponto é uma tal vivência?

(IF p. 267)

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PragmáticaO reconhecimento dos ASPECTOS EXPRESSIVOS portanto é diretamente ligado a duas questões:

1. Ao USO concreto que se faz da linguagem

2. À forma relacional com que os sentidos significam, enlaçados por semelhanças de famílias de significados e por semelhanças de aspectos de sensações que evocam.

• Como é possível, porém, ver-se uma coisa segundo uma interpretação? (...) Se parece que não haveria um lugar para uma tal forma entre outras formas, então você deve procura-la em uma outra dimensão. Se aqui não há lugar, por certo o haverá em uma outra dimensão. (IF p. 263)

Essa mudança para outra dimensão, que permite uma ‘forma’ dentro de outra pode ser considerada no entencimento estético como o

raiar do aspecto.

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Humanidade como suporte e contexto de compreensão

O fundamento da performance epistemológica pode ser visto como um jogo de linguagem que pode prescindir, quase que por completo, da parte descritiva das coisas do mundo e concentrar-se na remissão a aspectos de uma expressividade que materializa-se sem significados dessa esfera descritiva ou referencial, mas com um sentido relacional ligado a sensações, modos de ser, lembranças e, fundamentalmente, a construção de si como um ser dotado de algo que é incomunicável pelo discurso em seu aspecto descritivo, mas que pode ser compreendido a partir de aspectos de si como sensação de vivências.

O que se compartilha e serve de fundamento é o que é suportado por todos, a forma de vida.

O que deve ser aceito (suportado), o dado — poder-se-ia dizer — são formas de vida. (Wittgenstein. IF p. 292)

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Fetichismo

A performance epistemológica transita no campo da construção de sentido onde negociamos parte de um resíduo interno de cada um —indescritível pela linguagem, mas plenamente expressivo— ao avivar e tornar presentes determinadas referências a vivências.

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Espaço de experimentação

a performancenão pode ser considerada como uma expressão isolada e, sim, como uma manifestação dentro de um movimento maior que à falta de um nome mais consagrado estamos chamando de live art. (Cohen. Performance como linguagem. 158)

Espaço de experimentação

Page 13: Aspectos_Seminário

Trabalhando com os elementos básicos do homem, reportando-se sempre ao que o homem tem de mais primitivoe essencial, rompendo sempre que possível com a representação e não correndo por isto risco de aniquilação, ao contrário de outras "modas" inventadas pelo sistema.

Performance e representação

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IdeologiaPara Althusser, existe um papel no enfrentamento da ideologia, mas este não está relacionado com uma possível “iluminação”, ou algum tipo de “tomada de consciência”. Tais efeitos NÃO LIBERAM MENTES, como supõe grande parte da crítica contemporânea:

LIBERAM O CORPO!

[…] não têm nada de uma iluminação ou de um simples esforço intelectual, como queriam os pobres teóricos das luzes, mas ao contrario, tem a ver totalmente com o desenvolvimento dos movimentos do corpo –sua livre agilidade e disposição de si no Conatus , suas reflexões e suas “invenções”. (Althusser, 2007, p. 148)

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Expressão de resistência

A linguagem performance favorece, enquanto collage, a externação dessa ideologia, na medida em que o artista tem total liberdade de manipulação (ao contrário de outras linguagens teatrais em que essa possibilidade é limitada). Nesse sentido, o criador da performance, enquanto "colador", dispõe de poder de estabelecer uma expressão de resistência. (Cohen, experimentação. 154)

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O aparato do corpo

Quem melhor se sai é quem melhor sabe valer-se das qualidades da raposa. (Maquiavel)

A raposa é então por excelência o corpo, sua potência liberada. (Althusser)

Segundo afirma Althusser, é fato que as ideologias são Materiais. Não porque existam como objetos no mundo, mas porque se EXPRESSAM e ORGANIZAM materialmente a vida das pessoas. Manifestam-se materialmente através de aparatos: relações sociais explicitamente ordenadas como as leis, a igreja, a educação etc.; mas também através de hábitos, códigos e linguagens e relações de diversos tipos que compõem a forma de vida desordenadamente, sem que “sintamos o seu peso. (2007, p. 154s, 2008, p. 210s)

Page 17: Aspectos_Seminário

O aparato do corpo

• Os aparatos não são apenas aparatos, no sentido de meros artefatos. São necessários nas formas de significação, pois materialmente delimitam o espaço e o limite das expressões dos indivíduos em sujeitos históricos; mas ao mesmo tempo em que são limites e bloqueios, efetivamente, são também instrumentos de tais expressões. Lembrando-se que, para Althusser o espaço do Logos e o espaço da ideologia são equivalentes: é o espaço do “ser do movimento e da vida” (Althusser, 2008, p. 210s, capVI).

• Que é a raposa? […] É em realidade uma terceira instância que governa as outras duas. Dito de outro modo, é o instinto (uma espécie de intuição semi-conscientesemi-inconsciente) da raposa que

indica que atitude tomar... (Althusser, 2007, p. 142)

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Muito do que se tem tido por estética — ou seja, por fundamento necessário do belo —, não está sempre alicerçado na essência das coisas. É a imperfeição de nossos sentidos o que nos obriga a compromissos graças aos quais alcançamos uma ordem. Porque a ordem não vem exigida pelo objeto, mas pelo sujeito. (SCHOENBERG 2001, pág. 72)

A harmonia - equilíbrio (Ausgeglichenheit)! -não é a imobilidade de fatores inertes, porém a ponderação de forças numa tensão máxima deve ser conduzido à vida, na qual existem tais forças e semelhantes batalhas. (Schoenberg, idem, pág. 74).

Harmonia e formas de vida

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Objetos relacionaisDe Lygia Clarck

Fotos de Gilbert Garci

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ESQUIZOFRENIAIntegração com a música, onde os objetos relacionais propriamente ditos, cordar, máscara etc., relacionam-se com OBJETOS MUSICAIS e suas relações ideológicas e de remissão semântica.

cardo St

uani

(percussão), Ail

aRe

gina (pe

rformance)

Page 21: Aspectos_Seminário

Banco de conceitos

•Aspectos•Aparato dos corpos•Crença estética•Ideologia

Page 22: Aspectos_Seminário

Bibliografia

ADORNO, Theodor. Fragmento sobre música e linguagem. Trans/Form/Ação, v. 31, n. 2, p. 167–171, 2008.

ALTHUSSER, Louis. L’unique tradition matérialiste (1985). Lignes [Paris[, n. 8, p. 72–119, 1993.

AUSLANDER, Philip. Music as performance: living in theimaterial world. Teheatre Survey 47:2. November 2006.

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BACHORIK, Justin Pierre; BANGERT, Marc e outros. Emotion in Motion: investigationg the time-course of emotionaljudgments of musical stimuli. In: Music Perception, volume 26, issue 4, pp. 355-364. Uniersity os california, 2009.

CLARK, Lygia (com a colaboração de Suely Rolnik), “Objeto Relacional”. In: Lygia Clark (Rio de Janeiro: FUNARTE, coleção ABC, 1980. P.51).

CIOTTI, Naira. Performance dois ponto zero. Moringa. João Pessoa., v. 2, n. 1, p. 141–151, 2011.

COHEN, Renato. Work in progress na cena contemporanea: criacao, encenacao e recepcao. Sao Paulo, SP, Brasil: Editora Perspectiva, 1998.

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FERREIRA JR, Antonio Herci. A música e seus aspectos. In: Colóquio Internacional Wittgenstein. Campinas: UNICAMP, 2014.

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GODLOVITCH. Stan. Musical performance: a philosophicalstudy. London: Routledge, 2008.

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MATUCK, Artur. O Potencial Dialógico da Televisão. São Paulo, Anna Blume, 1995.

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ROLNIK, Suely. Artista se move na fronteira da arte. Folha de São Paulo, 4o caderno, , n. 13/06, p. 13, 1997.

SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. [Harmonielehre[. Trad. MardenMaluf. São Paulo: UNESP, 2001.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. Tradução de M. G. Montagnoli. Petrópolis: Vozes, 1996.