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1 www.mindyourelephant.org ATENÇÃO AO SEU ELEFANTE COMO SE LIVRAR DO SEU EGO, RELACIONARSE COM OS OUTROS E SALVAR O MUNDO Introdução Este é o resumo em português do Livro ”Mind Your Elephant – How to get rid of your ego, connect with others and save the world”. O livro está disponível para download no website (www.mindyourelephant.org). Apesar de testemunharmos actualmente desenvolvimentos tecnológicos a um ritmo sem precedentes e apesar do nível de vida ter melhorado para muitos de nós, é muito difícil quantificar a felicidade em dinheiro. Em resumo três coisas são disfuncionais: as pessoas, as relações e a sociedade. Pessoas disfuncionais: Actualmente vivemos o dia a dia a tentar sobreviver, competindo uns com os outros, guiados unicamente pelos próprios interesses. Mesmo que o dinheiro não seja o centro das nossas atenções, como é para muitos, ainda assim temos que pagar os nossos empréstimos, cartões de crédito, hipotecas e despesas mensais. Isto forçanos a entrar numa corrida desenfreada que ganha velocidade constantemente. Corremos de casa para o trabalho, ficamos exaustos com trabalhos rotineiros e aborrecidos e voltamos a casa horas antes de ir dormir para acordar na manha seguinte e fazer tudo de novo. A maior parte das pessoas tem três pensamentos quando está no trabalho: qual o dia em que irá receber o próximo salário, quando irá conseguir o seu próximo aumento e quando serão as próximas férias. Fomos designados como consumidores e agimos de acordo com tal rótulo. Pensamos que ao comprar algo estamos a adquirir um pouco de felicidade. No entanto, frequentemente este sentimento de satisfação tem uma curta duração. Muitas pessoas sentem a falta de algo mais profundo nas suas vidas. Todos são guiados pelo seu próprio ego. Relações disfuncionais A nossa relação com os outros seres humanos – tanto os que nos são familiares como os estranhos – está cada vez mais a deteriorarse. A solidão afecta jovens e idosos; não são somente os jovens a ser marginalizados mas também os idosos. No trabalho, as relações são muitas das vezes impessoais, o fenómeno de marginalização acontece frequentemente entre adultos e estamos insatisfeitos com os nossos empregos. Muitas vezes nem os nossos vizinhos conhecemos e temos dificuldade em lidar com a diferença. Mesmo numa escala global, o entendimento entre os indivíduos parece ser inexistente: abuso, exploração, violência, corrupção e outros comportamentos aberrantes são resultado de um individualismo extremo que prolifera na nossa sociedade. Quando estamos tão focados no nosso próprio ego, não podemos sentir a ligação com os nossos semelhantes. Sociedade disfuncional Crise financeira, crise de alimentos, degradação ambiental, pandemias, guerras... Parece que todo os sistema está em crise. 2% Da população controla 50% da riqueza a nível mundial. 20% Da população mundial está a consumir 80% dos recursos disponíveis a nível global. A maioria da população pobre vive em países ricos em recursos naturais mas em que o sistema lhes nega o acesso aos mesmos. O aumento do desemprego e pobreza começam a afectar fortemente as sociedades ocidentais. O sistema político, gerido por uma pequena elite, encontrase muito distante do cidadão comum cuja única forma de ter impacto é através do seu voto nas eleições que ocorrem de anos em anos. As pessoas falam sobre o capitalismo explorador. Sentem as consequências de um sistema monetário baseado em dívidas, mas não sabem como Versão Portuguesa Sofia Correia www.mindyourelephant.org Na introduçao do livro Tomi Astikainen explica: Como ele compreendeu o seu próprio ego; Como acabou por escrever o livro enquanto escalava pela Europa. O que significa o despertar da consciência Como diferenciar a verdade ouvida da verdade sensata da dd i id

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ATENÇÃO AO SEU ELEFANTE 

COMO SE LIVRAR DO SEU EGO, RELACIONAR‐SE COM OS OUTROS E SALVAR O MUNDO 

Introdução Este é o resumo em português do Livro ”Mind Your Elephant – How to get rid of your ego, connect with others and save the world”. O livro está disponível para download no website (www.mindyourelephant.org).  Apesar de testemunharmos actualmente desenvolvimentos tecnológicos a um ritmo sem precedentes e apesar do nível de vida ter melhorado para muitos de nós, é muito difícil quantificar a  felicidade em dinheiro. Em  resumo  três coisas são disfuncionais: as pessoas, as relações e a sociedade.  

Pessoas disfuncionais: Actualmente vivemos o dia a dia a tentar sobreviver, competindo uns com os outros, guiados unicamente pelos próprios interesses. Mesmo que o dinheiro não  seja  o  centro  das  nossas  atenções,  como  é  para muitos,  ainda  assim temos  que  pagar  os  nossos  empréstimos,  cartões  de  crédito,  hipotecas  e despesas  mensais.  Isto  força‐nos  a  entrar  numa  corrida  desenfreada  que ganha velocidade constantemente. Corremos de casa para o trabalho, ficamos exaustos  com  trabalhos  rotineiros  e  aborrecidos  e  voltamos  a  casa  horas antes de  ir dormir para acordar na manha seguinte e fazer tudo de novo. A maior parte das pessoas tem três pensamentos quando está no  trabalho: qual o dia em que  irá receber o próximo salário, quando  irá conseguir  o  seu  próximo  aumento  e  quando  serão  as  próximas  férias.  Fomos  designados  como consumidores e agimos de acordo com tal rótulo. Pensamos que ao comprar algo estamos a adquirir um pouco de  felicidade. No entanto,  frequentemente este sentimento de satisfação tem uma curta duração. Muitas pessoas sentem a falta de algo mais profundo nas suas vidas. Todos são guiados pelo seu próprio ego. 

Relações disfuncionais A nossa relação com os outros seres humanos – tanto os que nos são familiares como os estranhos – está cada  vez  mais  a  deteriorar‐se.  A  solidão  afecta  jovens  e  idosos;  não  são  somente  os  jovens  a  ser marginalizados  mas  também  os  idosos.  No  trabalho,  as  relações  são  muitas  das  vezes  impessoais,  o fenómeno  de  marginalização  acontece  frequentemente  entre  adultos  e  estamos  insatisfeitos  com  os nossos empregos. Muitas vezes nem os nossos vizinhos conhecemos e  temos dificuldade em  lidar com a diferença. Mesmo numa escala global, o entendimento entre os  indivíduos parece ser  inexistente: abuso, exploração, violência, corrupção e outros comportamentos aberrantes são resultado de um individualismo extremo  que  prolifera  na  nossa  sociedade.  Quando  estamos  tão  focados  no  nosso  próprio  ego,  não podemos sentir a ligação com os nossos semelhantes. 

Sociedade disfuncional Crise  financeira,  crise  de  alimentos,  degradação  ambiental,  pandemias,  guerras...  Parece  que  todo  os sistema  está  em  crise.  2%  Da  população  controla  50%  da  riqueza  a  nível mundial.  20%  Da  população mundial está a consumir 80% dos recursos disponíveis a nível global. A maioria da população pobre vive em países ricos em recursos naturais mas em que o sistema  lhes nega o acesso aos mesmos. O aumento do desemprego e pobreza começam a afectar fortemente as sociedades ocidentais. O sistema político, gerido por uma pequena elite, encontra‐se muito distante do cidadão comum cuja única forma de ter  impacto é através do  seu  voto nas  eleições que ocorrem de  anos  em  anos. As pessoas  falam  sobre o  capitalismo explorador. Sentem as consequências de um sistema monetário baseado em dívidas, mas não sabem como 

Versão PortuguesaSofia Correia

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Na introduçao do livro Tomi Astikainen explica: − Como ele compreendeu o seu próprio ego; − Como acabou por escrever o livro enquanto escalava pela Europa. − O que significa o despertar da consciência − Como diferenciar a verdade ouvida da verdade sensata da 

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este  funciona.  Indivíduos egocêntricos  sempre  foram bons  a oprimir os outros  sem  se  importar  com  as consequências. É sustentável que a situação continue assim?  

E então? Veja se algumas destas questões chama a sua atenção: 

• Sente‐se frequentemente cansado, frustrado ou ansioso? • A sua cabeça está repleta de preocupações com o futuro; com o que deve fazer? • Tem angústias com o passado; o que deveria ou não ter feito?  • Sente‐se por vezes sozinho, vazio ou distante dos outros?  • Existem pessoas na sua vida que o tiram do sério; pessoas que simplesmente não o entendem?  • Sente‐se tomado pela pressão crescente imposta pela sociedade?  • Pensa que deveria existir algo mais na vida do que somente trabalhar com vista à sua reforma?  • Gostaria de ajudar a melhorar a sua comunidade (família, local de trabalho, cidade, país…)? • Gostaria de deixar para as futuras gerações um mundo melhor?   

Estamos inquestionavelmente a viver tempos tumultuosos na história da humanidade. As pessoas sentem‐se mal. As relações estão em degradação. Todo o planeta parece estar em crise. Novamente, e apesar de só alguns verem a crise, um mundo novo e melhor está em construção. Mais e mais pessoas estão a despertar para o que realmente interessa na vida.  

Ubuntu Com vista à criação de uma sociedade melhor temos de começar um processo de mudança interno. É por isso que este texto está organizado segundo a filosofia Africana Ubuntu : “Eu sou porque tu és porque nós somos”.  Antes de podermos salvar o mundo precisamos ter uma humanidade que entenda a ligação ente todos os seres  e  que  todos  estamos  do  mesmo  lado.  Necessitamos  de  relações  fortes.  Para  permitir  este entendimento  e  estas  relações  temos  que  deixar  o  nosso  ego  de  parte  e  os  interesses  meramente individuais. A mudança tem que começar em cada indivíduo.   O primeiro capítulo concentra‐se no  indivíduo: ”Eu sou”. É sobre o encontrar “o eu real” debaixo da falsa percepção egocêntrica de cada um. Pretende‐se responder a questões como “Como posso entender o meu ego”, “como posso ver se estou a controlar a situação”, e “Quem sou eu senão o meu ego?”. No segundo capítulo, a filosofia Ubuntu é expandida para o campo das relações: ”Eu sou porque tu és ”. Nega a separação artificial entre as pessoas e conduz‐nos à compreensão das ligações existentes. Explica‐se como se relacionar com o outro sem o ego como entrave. Responde a questões como “Porque me devo importar  com os outros”,  “Como posso melhorar as minhas  relações”, e  “Como  ir da  separação à  inter‐relação”.  O  terceiro  capítulo  olha  para  a  sociedade  como  um  todo:  ”Eu  sou  porque  tu  és  porque  nós  somos”. Proporciona‐se uma abordagem sobre como construir um mundo melhor através de um sentido maior de comunidade. Proporciona‐nos pistas  sobre o porquê do mau  funcionamento da nossa  sociedade, o que está a acontecer e o que podemos fazer hoje para que o amanha seja melhor para todos.   Estas  não  são  ideias  de  uma  única  pessoa.  A  sabedoria  foi  retirada  do  budismo,  taoismo,  hinduísmo, cristianismo, a cabala, Baháí, agnosticismo e livres‐pensadores, assim como a ciência moderna, o design e a tecnologia. É  incrível como as mesmas  ideias existem no mundo  inteiro.  Isto é de alguma forma parte da consciência colectiva da humanidade que a ciência não consegue ainda explicar.  A história desenvolve‐se em torno do encontro entre Anna Were e um professor místico que nos conduz até ao mundo dos elefantes.  

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             “Chegou  o momento  para  acordarmos  da  nossa  inércia  e  para  isto  a mensagem  certa  tem que  chegar aos nossos  corações  e  elevar o nosso espírito.” Ervin Laszlo no prefácio do livro             

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Capítulo 1: Atenção ao seu elefante ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Apesar de muito  sociável por natureza, Anna Were  sempre  se  sentiu como um  lobo  solitário – que  lá no fundo estava sozinha no mundo. Ela tomou o próprio destino nas mãos, formou‐se com as melhores notas numa universidade de prestígio  e no  final … acabou desempregada. Estava  confusa mas  sabia que algo mais a esperava do que somente um emprego numa multinacional.    Um  dia  em  que  o  sol  estava  radiante,  Anna  decidiu  fazer  um  passeio  de  barco  para  clarificar  os  seus pensamentos. Aí, deparou‐se como uma figura delicada envolta numa túnica azul brilhante que preferia ser chamado  de  professor.  Logo  depois  das  apresentações  o  professor  fez  uma  questão  a  Anna:  “Como conseguiu que o seu elefante crescesse tanto?” Esta foi a forma como a conversa entre ambos começou. A: Como? De que é que está a falar? 

‐ O seu elefante… Como é que ele se ficou assim? A: Qual elefante? 

‐ O que viaja consigo. A: Hmm… Eu não tenho um elefante. 

‐ Tem sim. Parece é que não tinha reparado até agora. Não tinha consciência da sua presença. A: Porque é que eu haveria de ter um elefante? 

‐ Diga‐me você. Essa é sem dúvida uma boa questão: porque é que continua a andar com ele?    Anna não conseguia ainda entender onde queria chegar o professor. Pensou que este era simplesmente um velho idiota. Enquanto permaneceu calada, o professor decidiu esclarecê‐la.  

‐ É verdade que a sua vida tem tido bastante drama?  A: Penso que sim. Passei por muita coisa. 

‐ Eu chamar‐lhe‐ia estrume de elefante. A: O quê? 

‐ Voltaremos a isso mais tarde. Você teve muitas preocupações, as pessoas foram injustas consigo e acabou  por  se  deixar  mergulhar  em  todos  os  tipos  de  negativismo.  Mas  agora  finalmente conseguiu, não é verdade?  

A: Bem, não sei se consegui mas estou sem dúvida muito melhor do que antes.  ‐ Está orgulhosa pelo que conseguiu alcançar, não é? 

A: Sim… ‐ Ainda assim parece confusa. 

A: E estou. Não sei qual a direcção a tomar. ‐ Que tal virar‐se para dentro? Está preparada para conhecer o seu elefante?   

Tudo ficava cada vez mais estranho. “Será que existe um elefante dentro de mim? ¨ Anna pensou. Talvez estivesse a pensar em voz alta porque o professor respondeu. 

‐ Sim,  há.  Algumas  pessoas  chamam‐lhe  ego;  alguns  chamam‐lhe  o  seu  eu,  e  o  resto  chama‐lhe consciência reflectiva. Eu chamo‐lhe elefante. É uma expressão muito mais precisa do que os outros termos profissionais ambíguos.  

A: Estou a ver. ‐ Mesmo? 

A: De facto não. Diga‐me mais. ‐ Desde o momento que nasceu foi  influenciada pela cultura predominante. O seu condicionamento 

cultural começou. E qual é que pensa que é a cultura predominante?  A: A cultura ocidental? 

‐ É verdade, mas não é onde quero chegar. Há uma pista na pergunta: o que é que você pensa? A: A cultura do eu? A cultura de ser independente? 

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‐ Também é verdade. Estamos a chegar lá. Mais uma hipótese. Repare na pergunta: o que é que você pensa?   

A: O que é que penso? ‐ Sim. 

A: Como? ‐ Você nasceu na era do pensamento. 

 Por uns instantes, Anna pensou que iria chegar a alguma conclusão mas agora estava mais perplexa. O que é que isto tem a ver com elefantes? 

‐ Portanto, aí está você, uma criança em crescimento e a aprender novas coisas  todos os dias…. A progredir e a afastar‐se cada vez mais da fonte. De repente, os seus pais lançam a questão: o que queres ser quando fores grande?  

A: Sim. ‐ E então, o que é que respondeu? 

A: Disse que queria ser uma mulher multi‐facetada. Queria tornar‐me numa mulher ¨multi – funções. Não tinha um emprego ideal. Queria fazer muitas coisas diferentes.  

‐ Então e qual foi o efeito dessa pergunta? A: O  efeito? Acho  que me  tornei mais  consciente  das  exigências  do  futuro;  deveria  transformar‐me  em alguém.  

‐ Exacto. Eu diria que se  tornou menos consciente porque os condicionalismos culturais diziam que deveria começar a preocupar‐se com o futuro.  

A: Não estou segura se o consigo acompanhar. ‐ Quão orientada ao futuro é agora?  

A: Sou bastante. Tenho grandes ambições. Defino objectivos e dou o meu melhor para atingi‐los. ‐ Ok. Isso é pensamento a longo prazo. Provavelmente alguém lhe disse que ia ser bom para si. E é, se 

não se deixar consumir pelo futuro constantemente. A: Mas deixo. Sinto‐me muito desgastada. Até com o futuro a curto – prazo me preocupo bastante. Muitas vezes  penso  que  não  basta  focar‐me  no  hoje,  já  estou  a  pensar  no  que  devo  fazer  amanha.  Acho  que consigo entender o seu ponto. Deveria viver mais o momento presente.   

‐ Muito sensato. Mas não diga que deve ser alguma coisa. Limite‐se a sê‐lo.  A: Ok. Mas e o que tem isto a ver com o elefante? 

‐ Boa pergunta. O elefante adora criar problemas para resolver. E assim que resolve um, cria outro. Você alimenta incessantemente o seu elefante com preocupações.   

A: Entendo. Acontece o mesmo com o passado? ‐ Sim. Vejo que é uma pessoa bastante aberta. É fácil conhecê‐la no plano pessoal. Estou correcto? 

A: Sem dúvida. ‐ Bom,  e  como  é  que  se  apresenta  a  pessoas  desconhecidas,  quando  vai  trabalhar  com  elas  por 

exemplo?  A: Abro o meu coração, todos os altos e baixos. Acho que é uma boa forma de dar exemplos aos outros para que os sigam; cria‐se uma atmosfera mais leve e um ambiente propício à abertura e confiança.  

‐ Pode ser. Mas ao mesmo tempo identifica‐se com esses altos e baixos. Você pensa que é isso que é. Sem essa história de vida, não seria ninguém, certo? 

 A: Claro. ‐ Não.  Esse  é  o  seu  elefante  a  pôr‐se  à  frente. Você  só  está  aqui  e  agora. Não  é  as  histórias  do 

passado. Nem o futuro que imagina.   

Anna perdeu‐se nos  seus pensamentos por alguns momentos mas admitiu que era  verdade: O professor estava certo. Pensou para ela mesma ¨cheguei  lá! Completamente… Todo este tempo pensei que eu era a minha consciência, o meu ego, o meu elefante.¨ E prosseguiu:  

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A: Uma  vez  passei  por  uma  situação  como  a  que  descreveu,  em  que  toda  a  gente  falou  sobre  as  suas histórias  de  vida. Depois  disso  alguém me  disse  ¨É  espantoso  saber  que  todos  tiveram  vidas  difíceis,  à excepção de si que não teve assim tantos obstáculos. 

‐ E? Como é que se sentiu com isso? A: Fiquei muito chateada. Não podia dizê‐lo em voz alta mas  tinha vontade que a minha história de vida fosse tão dramática como a dos outros ou ainda pior.  

‐ Consegue perceber agora que foi o seu elefante que ficou ofendido?  A: Sim, tem razão. Não faz qualquer sentido pensar dessa forma. 

‐ Não faz qualquer sentido, de facto. A: Então, o que você quer dizer é que o meu elefante quer que a minha vida não corra bem?         ‐    Sim, ele alimenta‐se com os problemas e preocupações que você cria. No seu caso isto é ainda mais alimentado  pelo  facto  de  ser  tão  emocional.  Provavelmente,  algo  aconteceu  no  seu  passado  que  a  faz desejar muito que os outros tenham empatia consigo.   A: É verdade. Mas não vamos por aí. 

‐ Ok. Pode então  responder à minha primeira pergunta: Como é que conseguiu que o seu elefante ficasse tão grande?  

A: Claro. O meu elefante cresceu e cresceu porque  inconscientemente sempre o alimentei com as minhas preocupações  sobre o passado e o  futuro. Desliguei‐me da vida  real a partir desse momento. Como não tinha consciência disso não tinha consciência de quem era de verdade.  

‐ Muito bem. Estou orgulhoso de si.  O barco chegou ao cais e o professor ficou em silêncio. Anna esperou que ele dissesse algo. Saíram do barco em completo silêncio. Assim que chegaram ao porto, o professor finalmente falou:  

‐ Esta identificação com a sua consciência teve por certo efeitos nas suas relações com os outros.  A: Ah sim! Muito drama nesse aspecto. 

‐ Muito bem. E quanto a atingir os seus objectivos na vida? Tem tido sucesso nisso? A: Nem por isso. Queria que as coisas mudassem para melhor. Mas não tive sucesso. Culpei os outros, culpei a sociedade. Culpei o mundo inteiro, menos a mim. Acho que foi novamente o elefante.  

‐ Estou feliz que agora se aperceba disso. A: Eu também. 

‐ Preciso de ir agora.  Anna ficou chocada ao ver que o professor se virou e começou  lentamente a  ir‐se embora sem dizer uma palavra.  Anna  ainda  tinha  tantas  perguntas  por  responder  sobre  o  elefante,  o  elefante  dos  outros  e  o mundo inteiro dos elefantes. ¨O que é que devo fazer? ¨, Gritou ela quando o professor se afastava.  

‐ Atenção ao seu elefante.  

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Você não é o seu elefante  

As  pessoas  sofrem  frequentemente  de  pensamentos  dispersos  e  nem  se apercebem  disso.  O  fluxo  constante  de  pensamentos,  preocupações  sem fundamento  e  distracções  triviais  causam  um  estado  de  desgaste  que  vai piorando diariamente. Geralmente, pensa‐se que estes pensamentos são delas ou que elas são os seus próprios pensamentos. Mas é possível dizer que estes são os meus pensamentos? Se assim é, quem é o eu que tem estes pensamentos?   Ego é uma palavra que pode induzir em erro, por isso vamos usar a metáfora do elefante. O elefante é a  imagem mental de quem você é. Foi formada com base nos  seus  condicionalismos  culturais  e pessoais  – que  começam desde  crianças. Quando perguntamos a alguém “quem é você?” a resposta geralmente é o nome, idade, interesses, profissão, títulos ou uma combinação destes.  Nada disto define quem somos realmente: são só etiquetas que se ligam a nós ao longo do  tempo. É muito  comum que nos  identifiquemos  com esta  imagem de nós mesmos. Se é guiado pelo seu elefante, então não é uma excepção.   Se sente neste momento que isso não é verdade, é uma reacção defensiva do seu elefante. Todas as vezes que ele se sente ameaçado, começa a defender‐se. Em qualquer dos casos, você não é o seu elefante. Você é a sua consciência em permanente mudança, a que está por detrás do elefante. Somos  capazes  de  observar  o  elefante  e  guiar  o  seu  comportamento. Depois  de  um  esforço  grande,  é possível livrar‐se dele por completo.  

 

 

“Eu sou aquilo pelo qual sei quem sou.”  

‐Nisargadatta Maharaj‐ 

No capítulo 1 do livro Tomi Astikainen explica: − O seu conceito de Deus. − A cultura prevalecente  − A diferença e importância dos hemisférios esquerdo e direito do cérebro. − Ser sem abrigo como uma experiência de aprendizagem. − Como controlar o comportamento do elefante. − Como lidar com o amor. − O amor. 

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O sofrimento é o alimento do elefante O elefante gosta de preocupações,  lamentos e problemas. Quanto mais em baixo estamos, maior está o nosso  elefante.  E  se  está  bem,  o  elefante  vem  na  nossa  direcção  com  novos  problemas  para  poder sobreviver.  

A geração obsessivo – compulsiva Possessão,  prazer, medo, manter‐se  ocupado  e  incerto  quanto  ao  futuro  é  um  caminho  abundante  na sociedade  dos  tempos  modernos.  Sentimos  que  temos  que  sobreviver,  somos  obrigados  a  ser  bem sucedidos e que temos que vencer. Mas todos estes sentimentos são provenientes do elefante. Lembre‐se que o seu elefante não teve a oportunidade de relaxar dentro da sua cabeça mas ao invés disso enfrentou anos de condicionamento. O que o seu elefante pensa pode estar muito  longe do que é melhor para si, para quem você é e o que o faz feliz.  

A busca pela felicidade causa sofrimento Todos os  tipos de  luta e desejo conduzem ao sofrimento,  incluindo o  facto de que estamos a  tentar ser felizes no  futuro.  Isto chama‐se ¨vou  fazer algo quando¨. Vou tirar  férias quando receber um bónus, vou viajar pelo mundo quando os meus filhos forem independentes, vou fazer o trabalho voluntário que gosto quando...  

Aceitação é a chave De  acordo  com  Buddha  o  único  caminho  para  não  sofrer  é  aceitar  que  tudo  é  insatisfatório,  não permanente e não  tem  soluções  ideais. Se aceitar que algumas  coisas não  têm  solução, que nada pode trazer a  felicidade  real, podemos começar a aceitar  tudo o que surge pelo caminho  tal como é. Quando aceitamos o que acontece como um presente, o impacto do sofrimento diminui ou desaparece.       

“ Porque é que é infeliz? Porque 99,9% de tudo o que pensa e do que faz é por si mesmo. E não existe um. ¨  

‐Wei wu Wei‐ 

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O elefante levantou voo Para  a maior  parte  de  nós  é  normal  sermos  controlados  pelos  nossos  elefantes.  Se  queremos  voltar  a ganhar esse controlo é importante saber como monitorizar e controlar o elefante. 

O discurso do elefante Diferentes  necessidades  e  desejos  provêem  do  elefante.  Quantas  vezes  damos  por  nós  a  pensar:  ¨Eu preciso¨,  ¨Eu  quero¨,  ¨Eu  desejo¨  ou  ¨Eu  devia¨,  ¨Eu  podia¨,  ¨Eu  iria¨?  Não  precisamos,  queremos  ou desejamos. Se  ficarmos atentos à  linguagem que utilizamos, estaremos muito mais próximos do elefante assim que ele entra em acção. Geralmente, quase tudo o que pensamos vem do elefante e o que sentimos interiormente é o nosso eu real.  

Silenciar a voz interior do cérebro O elefante vive no passado e no futuro. Se nos concentrarmos no agora, o elefante fica sem muito espaço para se mexer. Se tem estado sob o domino do seu elefante desde há muito tempo, apressando‐se a viver e a preocupar‐se com o passado e o  futuro, poderá resultar difícil aceitar que a vida é o aqui e o agora. A nossa vida acontece somente agora, não à 15 minutos atrás ou no próximo ano. Alguns truques para nos concentrarmos no presente  incluem por exemplo  focarmo‐nos na nossa  respiração ou na circulação dos pés e mãos. Podemos também observar as estrelas ou os movimentos da natureza sem tentar dar nomes a tudo  –  e  depois,  é  uma  árvore  –  se  não  deixarmos  o  cepticismo  tomar  conta  de  nós,  poderemos percepcionar uma variedade enorme de cores e de harmonia assim que saímos cá para fora.  

Substituir medo por amor Todos os nossos sentimentos são provenientes de dois sentimentos  fundamentais: medo e amor. Os  tão conhecidos sentimentos negativos são somente variações do medo e consequentemente os positivos são provenientes do amor. Aceite que o seu elefante tem medo. Assim, um caminho fácil para se livrar do seu elefante é concentrar‐se no amor. Este hábito  leva o seu  tempo e  requer prática, mas  todos o podemos fazer.   

 

    

“Para alguns de nós, o diálogo que existe no nosso cérebro é tao 

rápido que é difícil acompanharmos os nossos 

pensamentos¨  ‐Jill Bolte Taylor‐ 

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Capítulo 2: O dentista crocodilo ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  Anna  estava  deitada  na  relva  a  olhar  para  as  nuvens  à medida  que  estas  passavam  pelo  sol.  Sorriu  e respirou profundamente. Alguns meses tinham passado desde que conheceu o professor. Conseguia agora perceber  como  era  o  seu  elefante:  tinha  encontrado  paz  de  espírito.  Este momento  de  serenidade  foi interrompido de repente. Anna reparou que havia alguém deitado ao  lado dela a olhar para o céu. Era o professor.  A: Deus, assustou‐me. Como apareceu aqui sem eu dar por nada? 

‐ Não estou com o meu elefante e como tal não incomodo os outros.  A: Claro.  Anna sorriu apesar de pensar que o professor tinha um sentido de humor bastante seco. Estava feliz por ver que ele tinha voltado. O professor fez outra questão profunda: “O crocodilo precisa de ir ao dentista?” A:  Como?  Pare  com  os  seus  enigmas.  Esperava  que  quisesse  ouvir  como  usei  o  conhecimento  que me transmitiu. Pensei na minha história pessoal e nos efeitos que o elefante teve.  

‐ Vá em frente. Sou todo ouvidos. A: Ok. À alguns anos atrás pensava que tudo tinha de ser à minha maneira. Era super confiante e arrogante. O  sucesso  parecia  conduzir  a mais  sucesso  e  o meu  ego  –  que  posteriormente  designou  de  elefante  – cresceu mais e mais. 

‐ E como é que isso afectou o seu comportamento? A: O meu comportamento social era próximo do inaceitável por causa da auto‐imagem distorcida que tinha. De facto, nem sequer era uma auto – imagem, mas sim o reflexo do meu elefante. Mas estava cega porque me sentia bem como era. Correcto?        ‐     Parece que fez o trabalho de casa. Continue.   A: Depois enfrentei desilusões. Comecei a falhar – o que era estranho para mim. Como  lhe disse antes, eu não aceitava responsabilidades pelos meus falhanços mas optava por culpar os outros. Se não podia culpar indivíduos,  culpava  instituições  ou mesmo  o mundo  inteiro.  Aconteceram muitas  desilusões  e  também conheci um  indivíduo muito corajoso que me  fez ver que a culpa era minha – era eu quem precisava de mudar.   O professor estava entusiasmado com o rumo da história. 

‐ E o que aconteceu então? A: Fiquei grata a esta pessoa – ainda estou – e  comecei a  construir um novo eu  com uma atitude mais humilde.  

‐ O que é que fez? A: Estabeleci objectivos pessoais, recolhi feedback sobre o meu comportamento, fiz testes de personalidade, li  imensos  livros de auto – ajuda, clarifiquei o meu propósito nesta vida, os meus valores e todo o tipo de coisas que só um elefante muito mau pode imaginar.  

‐ Usa a metáfora do elefante de uma forma muito eloquente. A: Sim, gosto dela. De qualquer  forma,  tentei pensar em mim de uma  forma miserável. Pensei, pensei e pensei. E finalmente, pensei, novamente, que tinha mudado porque assim sentia que estava a ter sucesso novamente.  

‐ Mas não estava, pois não? A: Talvez tenha aprendido algo, mas ainda assim o meu elefante continuava à minha frente.  

‐ Pode dar‐me um exemplo? A: Por exemplo, estava sempre obcecada por ter razão. Recusava‐me a ouvir o ponto de vista dos outros. Podia  ter a mesma opinião que  eles mas mesmo  assim  iria argumentar, porque  estava  somente a  usar palavras diferentes para expressar o mesmo. 

‐ Então, tinha que ganhar sempre, estou certo? 

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A: Não. O meu elefante é que tinha de ganhar.   Anna virou‐se para tirar algo da sua mochila. Deu ao professor um livro chamado ¨Profecia celestina¨. 

‐ Hmm… James Redfield. Soa‐me familiar. O que é que aprendeu com ele? A: Ainda não acabei de o ler mas já aprendi o conceito de ¨controlar os dramas¨. Reparei que repito sempre o drama do ¨pobre de mim¨, algo que aprendi bem cedo na minha infância com os meus pais e familiares.        ‐      E o que é que isto tem a ver com o que lhe disse antes? A: Este estilo de drama do pobre de mim  foi a razão pela qual eu agia daquela  forma – tentar chamar a atenção,  contar  a minha  história  triste  e  culpar  o mundo  inteiro  se  as  coisas  não  corressem  à minha maneira. Mas apesar de reparar nisso em mim própria, sentia‐me desesperada… não sabia como mudar, até que me apercebi que quem transportava esta carga não era eu mas o meu elefante.  

‐ Claro que sim. Então reparar que carrega um elefante consigo foi útil.  A: Sim. Criar a distinção entre eu e o ego criado pela minha consciência ajudou‐me imenso.   O professor não parecia satisfeito. Anna pensava porque é que o professor não parecia muito feliz que ela tivesse aprendido tanto.  

‐ Ainda não respondeu à minha pergunta.  A: Qual pergunta? 

‐ Um crocodilo precisa de ir ao dentista?  Anna estava desnorteada: “O que é que isso tem a ver com este assunto?” Depois percebeu que estava a ser testada num nível avançado e estava feliz por responder à questão.  A: Não. Não acho que um crocodilo precise de ir ao dentista. 

‐ E porquê? A: Porque os dentes deles não têm problemas. 

‐ Porquê? A: Não sei porquê… talvez escovem os dentes as vezes necessárias. 

‐ Correcto. Mas quem lhes escova os dentes? Não o podem fazer sozinhos, pois não?  Anna sabia que  isto tinha algo a ver com o que ela tinha aprendido. Deixou o professor à espera de uma resposta.  Sabia  que  ficar  a  pensar  não  a  ajudaria  em muito,  então mirou  o  horizonte… Deixou  o  olhar vaguear entre as árvores e o céu… ¨um pássaro¨? Pensou para ela de repente.  A: É o pássaro! O pássaro é o dentista! 

‐ Excelente. O pássaro chama‐se um plover egípcio. Sabia disso?  A: Não…. 

‐ Porquê? A: Só sabia que era o pássaro crocodilo. 

‐ Exacto. Porque é que as pessoas associam o crocodilo ao pássaro? A: Porque eles passam muito tempo juntos. 

‐ Sim. E porquê que acha que o crocodilo deixa o pássaro estar na boca dele e não o come?   A: Porque o pássaro lhe é útil. 

‐ Exacto. E para o pássaro? Há alguma vantagem ou só está a fazer um favor ao crocodilo?   A: Não. Acho que gosta de comer o que está entre os dentes do crocodilo.  

‐ Precisamente. Então que nome dá a este tipo de relação?  A: O pássaro e o crocodilo estão numa relação cooperativa? Não sei…         ‐     Vá lá. Pense novamente. Como se chama ao fenómeno da coexistência pacífica entre espécies que por principio não poderiam viver em paz e harmonia e ao invés disso que se ajudam? Que tipo de relação é esta? A: Simbiose? 

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‐ Sim. É uma relação mutualista. No século XIX a simbiose era definida como a vivência em conjunto de organismos improváveis. 

 Anna  congratulou‐se  em  silêncio  por  conseguir  somar  dois mais  dois  tão  facilmente. Mas  ainda  estava perplexa. A: Mas novamente, o que é que isto tem a ver com os elefantes? 

‐ Pode nomear organismos improváveis? A: Como? 

‐ Numa coexistência de simbiose e mutualismo, ambos os organismos beneficiam um do outro – na verdade, não sobreviveriam um sem o outro.  

A: Sim, e? ‐ Além dos pássaros e  crocodilos, as  relações de  simbiose  comuns  incluem por exemplo abelhas e 

flores  do  pólen,  o  camarão  e  o  peixe  cabeça,  o  peixe  palhaço  e  a  anémona,  os  humanos  e  os cavalos. Pode nomear grupos de pessoas que tenham este tipo de coexistência?  

A: Por acaso não. ‐ Bom, vamos então fazer o oposto. Conhece grupos de pessoas que não se dão bem?  

A: Claro. Como os policias e ladroes? ‐ Sim. Quem mais? 

A:  Israelitas e palestinianos… Novos e  velhos… Homens e mulheres… Hutus e Tutsis… Esta  lista pode  ser infindável. 

‐ E é. Como é que acha que todos se poderiam tolerar melhor? A: Deixando os nossos elefantes  ir embora! Compreendendo o valor da cooperação. Perceber que a nossa vida depende dos outros… acho eu. 

‐ Sim, sim e sim. Estou orgulhoso com o seu progresso.  O Sorriso de Anna era  radiante apesar que  tinha começado a chover. O professor  tirou o seu chapéu‐de‐chuva e foi‐se embora da maneira habitual, sem sequer avisar.  A: Não o volte a fazer! Diga‐me mais coisas! Hey… Qual é o meu trabalho de casa? 

‐ Vá ao dentista.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A regra de ouro 2.0 Hillel diz ”Não faça ao seu semelhante aquilo que não quer que lhe façam a si; este  é  o  essencial  e  o  resto  acessório¨.  Esta mensagem  de  compaixão  é  o fundamento da maior parte das  religiões  e  filosofias.  Talvez desperdicemos muito  tempo  a  discutir  o  acessório  em  vez  de  aproveitar  esse  tempo  para viver a mensagem principal. Talvez o mundo fosse hoje um lugar melhor se o tivéssemos feito. Esta mesma frase é a segunda parte da filosofia de Ubuntu: ¨Eu sou porque tu és¨. Apesar de este não ser um comportamento natural na sociedade  contemporânea,  podemos  começar  a  pô‐lo  em  prática  quando quisermos. Ainda que o pensamento direccione o nosso comportamento, às vezes este pode  levar‐nos a pensar de uma  forma diferente. Podemos  fingir ter  compaixão  para  passar  a  senti‐la  verdadeiramente.  Não  podemos continuar  a  tratar‐nos  como  seres  independentes.  A  ciência  finalmente provou que  todos  temos  origem no  continente  africano. Ao  nível do  nosso ADN estamos ligados aos pássaros, répteis, anfíbios, outros mamíferos e até a seres  vegetais. É  tempo de entender que estamos  todos do mesmo  lado. É tempo de nos concentrarmos no amor em vez do medo. Todo o sofrimento que temos testemunhado é um apelo à mudança.   

A geração Nokia Quando se olha para a terra a partir do espaço não vimos fronteiras. O mesmo acontece no ciber espaço. O  slogan da Nokia  ¨Connecting People¨  retrata que chegámos uns aos outros com  a  ajuda  da  tecnologia.  Especialmente  as  camadas mais  jovens  vêem‐se  como  cidadãos  do mundo. Começamos a ver a Terra como um sistema e a compreender as relações entre os seus subsistemas.  

Dar por dar Temos que começar a por de parte a questão ”em que é que  isso é bom para mim?”. Por muito  tempo fomos guiados pelos nossos egos e tentámos acumular tanta riqueza quanto possível. Mesmo parecendo altamente altruísta os heróis foram guiados pelos seus egos: ajudando os outros sentimo‐nos satisfeitos. É tempo de  sermos generosos e  servirmos os outros pelo acto de dar. Numa  relação não baseada no ego podemos ver‐nos a nós mesmos noutro ser humano e porque em último caso tudo e todos somos um só, é irracional magoar os outros porque estamos a magoar‐nos a nós mesmos. As relações da nova era atingem o seu melhor quando se baseiam na sinergia; o todo fica mais forte do que a soma das partes.  

“Vivemos numa época de caos, com um potencial tão grande de 

oportunidades como de catástrofes. Como iremos viver este tempo? 

A resposta é, juntos.” ‐Margaret Wheatley‐ 

No capítulo 2 do livro Tomi Astikainen explica: − Porquê c como aprender que depender é importante. − Como é que a intenção de receber afecta o nosso comportamento. − Qual o nosso estilo de comunicação pessoal? − O que é a investigação apreciativa. − Como ser melhor parceiro, pai, filho e líder sem o ego.  − Entender estilos próprios de trabalho. − Transição entre o velho fazer¨e o ¨novo ser¨. 

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O elefante na boca do crocodilo A relação de sinergia é difícil de construir porque são precisos dois para dançar o tango. Não é suficiente que você desperte e que a sua consciência tenha atingido um novo nível.  

Controlar o elefante de ambos Precisamos  estar  aptos  a  comunicar mesmo  com  aqueles  que  não  passaram  por  esta  transformação. Lembre‐se de se observar a si mesmo: seja consciente nas suas relações e veja se o que está na boca do crocodilo é mesmo um pássaro plover, ou se é um elefante disfarçado de pássaro. É desnecessário referir que  o  ultimo  é  demasiado  para  aguentar.  Os  estilos  de  comunicação  agressivos,  passivo  e  passivo  – agressivo são típicos do elefante.  

Assertividade apreciativa Só os modelos de comunicação assertiva são equilibrados e produzem uma mensagem efectiva. Significa que  falamos  com  a  nossa  cabeça mas  que  também  tomamos  os  outros  em  consideração  e  fazemo‐los sentirem‐se  valorizados  e  respeitados.  Apreciar  significa  que  nos  concentramos  no  que  funciona  e trabalhamos o lado bom das pessoas e das situações. Utilize perguntas mais do que opiniões rígidas. Este é o estilo do crocodilo e do pássaro.   

A lei do caixote do lixo Preste especial atenção aos encontros com pessoas egoístas. Elas têm acumulado uma série de lixo dentro de si mesmas: frustrações, raiva e desilusões. Quando o recipiente começa a ficar muito cheio tem que ser despejado de alguma forma. Se acontece ser despejado em cima de si, saiba como actuar: não o veja como algo pessoal ou contra si. Sorria, acene, deseje‐lhes tudo de bom e siga em frente.  

 

“Só as atitudes que não provocam reacções opostas são destinadas ao bem de todos.” 

‐Eckhart Tolle‐ 

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Relações Elefantásticas Quando a relação é baseada no respeito mútuo as pessoas podem contar umas com as outras e conseguir uma  relação  de  ganho  para  ambas  as  partes  sem  intencionalmente  diminuir  ou  deitar  abaixo  a  outra pessoa.  

Direccione­se a uma sinergia sem ego As  relações  mutuamente  benéficas  são  formadas  quando  nos  baseamos  na  empatia.  É  importante entender  a  diferença  entre  empatia  e  simpatia.  Simpatia  é uma  emoção  enquanto  que  empatia  é uma competência. Empatia significa a capacidade para se pôr no  lugar da outra pessoa. Lembre‐se que antes disto, tem que tirar os seus próprios sapatos e sair do seu lugar.   

Compreensão prática A compreensão é compaixão num estado mais avançado. Isto significa que nos podemos sentir felizes pelo sucesso e prazer dos que amamos, mesmo que não sejamos a causa de tal. Isto aplica‐se aos pais que têm dúvidas se os filhos estão preparados para sair de casa assim como às relações amorosas  liberais em que ambos permitem ao outro que ame outras pessoas. 

Comunique tudo e seja radicalmente honesto Quando o elefante está fora do caminho não é necessário levar as coisas pessoalmente e mesmo as coisas complicadas podem ser resolvidas de forma respeitosa. Há um entendimento comum que quando as frustrações e os sentimentos negativos de raiva, tristeza, medo e dor são exprimidos, não são tratadas como um ataque aos outros. É uma escolha a ser feita por ambas as partes. Falar é importante porque não podemos ler a mente dos outros… ainda. Quando discutimos sem o nosso elefante presente podemos falar de forma aberta e honesta e mesmo assim considerar os sentimentos dos outros.   

“Quando alguém fala, ouça com atenção. 

A maior parte das pessoas nunca ouvem.” 

‐Ernest Hemingway‐ 

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A cultura de deixar ir Para que possamos  caminhar  em direcção  a um mundo melhor,  a humanidade precisa  em primeiro de abandonar certos conceitos, antigos valores e hábitos obsoletos. A realidade é muito mais do que aquilo que  percepcionamos  com  os  nossos  sentidos  limitados  e  com  a  nossa  consciência  fragmentada  em pensamentos.  

Conhecer os factos Entender significa dominar e compreender os factos. Entender a realidade  implica sairmos da nossa zona de conforto. Rapidamente o amor destrona o medo e ser torna‐se mais importante do que fazer.   

Faz menos, sê mais Se se quer focar no seu desenvolvimento espiritual, é bom que se dê algum espaço a si mesmo para tal. Na vida apressada que temos há tanto que fazer que a  ideia pode parecer algo descabida. Em todo o caso, é necessário ter tempo livre se nos queremos ver livres da ganância, ilusão e ligação a coisas desnecessárias.   

Livrar­se de coisas inúteis Para que deixemos o nosso elefante para  trás – a essência de quem pensávamos  ser, podemos praticar deixando para trás coisas menos importantes. Podemos começar por fazer uma lista de todas as coisas que temos e pô‐las numa ordem de prioridade. Depois deixar algumas para trás, desistir delas ou vendê‐las – uma  por  uma,  começando  pela  que  tem menos  significado.  Rapidamente  se  irá  aperceber  que  o  seu elefante se  identifica com essas mesmas coisas. Podemos estar conscientes deste processo e sempre que nos  livrarmos de algo classificarmos o mal que nos sentimos numa escala de um a dez. Nesse momento saberemos  o  quão  identificados  nos  sentimos  com  essa  coisa  na  nossa  vida.  Quanto  mais  coisas eliminarmos da nossa  lista, mais espaço  livre  iremos conquistar – física e mentalmente – para coisas mais significantes na vida.  

É possível sentirmo­nos como que a morrer Deixar objectos para  trás pode  ser doloroso, um pouco como  se estivéssemos a morrer.  Isto deve‐se ao facto de que tudo aquilo que nos é familiar e seguro é substituído por algo novo e imprevisível. E de certa forma, este é um tipo de morte. Quando o nosso elefante recua podemos renascer e crescer.  

   

“Quando deixo ir aquilo que sou, atinjo o que talvez seja.” 

‐Lao Tzu‐ 

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Capítulo 3: A sociedade das formigas ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Anna acordou numa manhã triste e nublada de domingo. Achou que tinha ouvido a campainha tocar mas não queria  sair da cama. Ainda  sentia uma  ligeira dor de cabeça graças à decisão pouco pensada de  se embebedar na noite anterior. A campainha voltou a soar. ¨Quem será a esta hora¨? pensou, forçando‐se a sair da cama e abrir a porta. Ficou surpresa ao ver o professor à porta.          ‐       Olá Ana. A: Olá. Entre… Desculpe a desarrumação.  Anna acendeu a chaleira e foi  lavar a cara. Nem se preocupou em perguntar ao professor como é que ele sabia onde ela vivia. Sentaram‐se no sofá cada um com a sua chávena de chá. O momento de silêncio foi quebrado pelo professor: ¨As formigas têm um líder¨?   A: Oh Deus,  lá vamos nós outra vez. Por  favor não me apresente mais animais. A visita ao dentista não correu muito bem. 

‐ São insectos. A: Como? Claro, insectos, que seja… Tenho más notícias para si. 

‐ Diga‐me. A:  Acho  que  falhei  no  trabalho  de  casa.  Logo  depois  de  nos  termos  encontrado  da  última  vez,  o meu namorado  largou  uma  bomba. Disse‐me  que  embora me  amasse,  gostaria  de  conhecer  outras  pessoas também.  

‐ E como é que reagiu? A: Claro que fiquei chateada. Saí a correr e desatei a chorar. Sei o que vai dizer em seguida: que deveria ter controlado o meu elefante. Mas era demasiado para aguentar. 

‐ Não, isso é óptimo. Teve um desafio real na sua vida para testar as duas primeiras lições. Vejo que neste momento não consegue falar sobre isso. Volto dentro de uma semana. Lembre‐se quem é de verdade e  como  se pode  relacionar  com os outros. O que quer que aconteça, aceite‐o  como um presente. 

 *** 

 O professor só voltou uma semana depois, tal como o prometido. Agora Anna estava mais preparada. A: Bem‐vindo. Desculpe mas não conseguia digerir mais lições na semana passada. 

‐ Tudo bem. Agora conte‐me o que aconteceu. A:  Passei  alguns  dias  sozinha  a  pensar  nos meus  sentimentos.  Percebi  que  não  era  eu mas  sim  o meu elefante que estava magoado. Aceitei‐o como uma bênção.   

‐ Excelente. Voltou a falar com o seu namorado?  A: Sim. Percebi que ele nunca me quis deixar. Foi muito honesto. Não me enganou. Queria ficar comigo e amar‐me mas não se sentia completo só comigo. Explicou‐me que eu preenchia 90% das necessidades dele mas 10% estavam em falta.  

‐ A sério? E o que é que decidiu? A: Pode existir alguém a entrar na nossa relação… uma amiga comum. Pode parecer estranho mas os três estamos bem com isso. Ela é como uma irmã para mim e parece realmente amar o meu namorado. Se fosse qualquer outra pessoa eu  teria dúvidas, mas ela é óptima. Não  sei o que  irá acontecer mas pelo menos conhecemos  os  sentimentos  um  do  outro. De  facto,  sinto  que  o  afecto  e  o  amor  que  ele  tem  por mim cresceram desde que lhe permiti ser ele próprio. Ao deixá‐lo ser livre também me libertei a mim… para ser honesta.. 

‐ Óptimo. Não lhe irei pedir mais detalhes sobre a sua vida pessoal. Podemos avançar?  A: Sim.  

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Anna preparou papel e caneta. Estava ansiosa pela sua próxima  lição de vida. Na realidade, sentia‐se um pouco aldrabona: tinha devorado informação sobre as formigas desde sábado.  A: Então, qual é a nova pergunta sobre as formigas? 

‐ As formigas têm um líder? A: Existe a rainha. Mas de acordo com Deborah Gordon a rainha só guarda os ovos. 

‐ Muito bem. Parece que fez o trabalho de casa novamente. Quem é Deborah Gordon?  A:  Ela  e  os  seus  assistentes  em  Stanford  investiram  mais  de  duas  décadas  na  investigação  sobre  as formigas.  

‐ Ok. Então provavelmente já sabe mais do que eu sobre elas. A: Sim. Não imaginava como o mundo das formigas pode ser fascinante. Elas não necessitam de um líder.  

‐ Qual é a razão para isso? A: As colónias de formigas são referidas como super organismos porque as formigas parecem operar como uma única entidade,  trabalhando  colectivamente para apoiar a  colónia. É um  sistema em que as partes utilizam  unicamente  a  informação  local  e  tudo  se  gere  por  si  só.  Não  existe  a  necessidade  de  uma hierarquia.  

‐ Uau.  Estou  impressionado.  É  exactamente  esse  o  ponto  onde  quero  chegar.  Não  é  uma  ideia formidável: agir colectivamente para um bem comum? 

A: Sim. Isso é o que me entusiasmou tanto! Apesar de ser um pouco frustrante que os humanos não tenham ainda  reparado no potencial desse exemplo e  iniciado uma  investigação  sobre as  implicações para áreas como a gestão e o exército.    Anna apercebeu‐se do que disse. Perdeu‐se nos seus pensamentos por um instante.  A: Espere um minuto. O ponto onde quer chegar é que somos capazes de aprender com as formigas mas até agora temos usado essa sabedoria no sentido errado?  

‐ Bem, é o que disse. Está em direcção a algo magnífico. Pode dizer‐me mais coisas sobre a forma de gestão das formigas? 

A:  Claro.  Como  disse,  as  formigas  coordenam  o  comportamento  umas  das  outras.  Apesar  de  que  o comportamento  coordenado  das  colónias  surge  das  formas  como  os  trabalhadores  usam  a  informação local.  

‐ O que é que quer dizer? A: Bem, repare na forma como procuram alimentos diariamente: um pequeno número delas fica no ninho para comunicar com as que vão em busca sobre a segurança e direcção da rota. E se os que saiem em busca de  alimento  regressam  com  comida  isso  encoraja  outras  formigas  para  deixar  o  ninho  e  ir  também  à procura. Não existe necessidade de avaliações ou de dar coordenadas. É um sistema descentralizado.   

‐ Ok. Agora de facto está a ensinar‐me.   Anna sentia‐se orgulhosa do bem que se tinha preparado. Avançou porque queria contar mais.  A: Aparte dos que patrulham e dos que vão em busca, as formigas podem ter outro tipo de tarefas como a manutenção  do  ninho.  Como  as  condições  ambientais  se  alteram  com  frequência  as  formigas  podem rapidamente assumir um novo papel. 

‐ Como é que isso acontece? A: Quando as formigas deixam o ninho comunicam com as que estão a regressar e decidem que trabalho necessita  ser  feito  de  imediato.  Se  existe mais  comida  disponível mais  formigas  assumem  o  papel  de procurar a comida. Se o ninho precisa de ser limpo podem voltar imediatamente e cuidar dele. 

‐ Ok. Dê‐me um exemplo de como isso funciona na prática? A: Claro. À Alguns anos atrás estava de férias em Espanha e deixei um pedaço de bolo em cima da mesa durante a noite; de manha, vi que existia um auto – estrada de  formigas e observei por alguns  instantes como é que estavam estruturadas. A seguir preguei‐lhes uma partida e perturbei a ordem ao despejar água no ¨auto – estrada¨.       ‐     O que é que aconteceu? 

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A: Criou‐se um caos inesperado e a maioria delas começou a correr de forma desorientada. A questão é que num minuto  criaram  uma  volta  no  sentido  inverso  o  que  significa  que  não  entraram  em  pânico mas alteraram temporariamente o papel de patrulha e comunicaram com as outras o novo caminho.  

‐ Impressionante.  Pensa  que  as  organizações  constituídas  por  humanos  poderiam  funcionar  como eles? 

A: Nem num milhão de anos. ‐ A sério? Está‐me a dizer que as formigas são mais inteligentes que nós? 

A: Bem… sim.  Anna  corou  um  pouco  quando  se  apercebeu  do  quanto  isto  era  absurdo.  ¨Os  seres  humanos  como  o culminar da evolução…pois claro…¨ pensou.  Só havia mais uma coisa que Anna queria discutir.  A: Há uma coisa que não entendo. 

‐ O quê? A: Uma das maiores revelações do estudo de Gordon foi de que metade das formigas estão simplesmente a descansar no ninho, sem fazer nada.  

‐ É mesmo? A: Sim. Afinal não são assim tão trabalhadoras! 

‐ Qual é que pensa que é o papel delas? A: Não têm um papel. Talvez sejam reservas para o caso de alguma coisa acontecer. 

‐ É possível que mesmo as formigas que estão sem fazer nada tenham um objectivo? Caso contrário porque é que metade delas estaria envolvida numa tarefa tão aborrecida como não fazer nada?  

A: Essa é exactamente a minha questão. ‐ Bem, e tem uma resposta? 

A: Sim, pensei numa coisa mas é meio idiota. ‐ O que é? 

A: Pode ser que… numa forma muito própria de ser formiga – meditar seja uma forma de contribuir para o sucesso de todo o super organismo? Pode ser este o segredo para o facto de que elas têm sobrevivido entre 110 e 130 milhões de anos e agora estão em quase todos os cantos da terra?  

‐ Pode ser. Já leu o livro de Mark Twain’s “O que é o Homem”? A: Não. Porquê? 

‐ Há uma frase que diz: “Como pensador e planeador a formiga é  igual a qualquer raça de homens selvagens; como uma auto didacta em diversas áreas, ela é superior a qualquer raça de homem; e em uma ou duas qualidades mentais está acima de qualquer homem, selvagem ou civilizado!¨ 

 

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Não necessitamos de controlo Até agora temos elogiado a hierarquia em nome do controlo e da gestão. Claro que  um  determinado  tipo  de  liderança  é  necessário  por  parte  de  qualquer membro de uma comunidade, mas, e de acordo com o que aprendemos com as formigas,  o  controlo  deve  ser  substituído  pelo  desenvolvimento  ágil  da comunidade.  Deve  existir  um  enfoque  no  acesso  aberto  à  informação,  à mudança de papéis, à constante comunicação com os outros e a existência de um objectivo  comum. As pessoas  sabem  como  se auto – organizar. Um bom exemplo é a existência de diversas comunidades com  fontes abertas que têm vindo a gerar um novo tipo de economia liberal.   

50 % Das formigas não fazem nada. Temos ouvido que as formigas são muito trabalhadoras mas a pesquisa revela que não é bem assim. Também as pessoas podem aprender a  simplesmente existir e não estar constantemente a fazer algo. Devido à evolução tecnológica não é viável manter as pessoas em rotinas de trabalho entediantes dado que as máquinas são capazes de realizar as tarefas de forma mais eficiente e melhor. É possível que o potencial humano seja direccionado para tarefas mais holísticas que exijam maior capacidade mental? Deve o sistema mudar? Devemos aceitar que a vida não é só trabalho?  

Competir não é suficiente.  Se as  formigas vivessem numa  competição  constante umas  contra as outras a  sociedade delas  seria um caos. A competição  tem o seu  tempo e  lugar mas em  todos os sistemas naturais de cooperação é muito mais  crítica  para  a  saúde  e  sobrevivência  do  sistema.  Seria  o  seu  corpo  capaz  de  funcionar  se  os  seus intestinos, bactérias e células estivessem em competição?  

Já estamos ligados Não necessitamos de aumentar o  sentido de comunidade e cooperação mas  sim  remover obstáculos.  Já estamos  ligados. Só não nos apercebemos disso pela  competição e ganância existentes na  sociedade. A verdade é que não podemos continuar assim se desejamos sobreviver enquanto espécie.    

No capítulo 3 do livro Tomi Astikainen explica: − 3 visões para a sociedade do futuro.  − Os momentos baixos do sistema monetário. − Exemplos de alternativas ao sistema actual ao nível individual e comunitário.  − A importância do desenvolvimento tecnológico.  − Pontos de aprendizagem do empreendedorismo social e comunidades em regime aberto.  − A necessidade de mudança em diferentes áreas da sociedade. − Como encontrar uma nova direcção para a nossa vida. 

“O sistema monetário pode ser considerado estruturalmente 

obsoleto, servindo somente como um bloqueio.” ‐Peter Joseph‐ 

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O sistema monetário está doente O  ego  conduziu  o  sistema monetário  a  uma  crise.  O  elefante  está  a  pisar  as  formigas  trabalhadoras. Indivíduos,  empresas  e  até  nações  estão  a  desintegrar‐se  devido  ao  peso  das  suas  dívidas.  De  forma intencional ou não, a elite  com poder económico está melhor que nunca, enquanto que a  classe média encolhe constantemente e um maior número de pessoas enfrentam uma situação de pobreza.  

Valores criados no sistema Mesmo que se defenda é um  facto; ganância,  interesses próprios, desonestidade e elitismo não são algo inerente à natureza humana. São valores  criados  com base no  sistema, que não estavam presentes nas comunidades primitivas anteriores ao surgimento do sistema monetário.  

Quem cria o dinheiro? Donde vem o dinheiro? Quem distribui o dinheiro? Mais e mais pessoas começam a reparar na natureza disfuncional  do  sistema  monetário  mas  só  algumas  estão  de  facto  interessadas  nestas  questões fundamentais. A verdade é que o sistema bancário de  reservas parciais permite aos bancos a criação de moeda sempre que alguém contrai um empréstimo. Na União Europeia o rácio mínimo de reservas é de 2%. Para simplificar o banco necessita de ter 2/100 do empréstimo real em reservas na reserva central do banco. Novo dinheiro é  criado – algarismos novos numa  conta  sem  valor  real. E o  juro? Quem paga os juros? Para  fazer a  relação entre o montante do empréstimo existe a  criação de um princípio na oferta monetária, mas o dono do empréstimo também paga juros. Esta quantidade de dinheiro não é criado por ninguém. Devido  a  este  facto  nunca  existe  dinheiro  suficiente  para  pagar  as  dívidas  e  é  inevitável  que alguém  falhe. No caso de  falências os bancos  recebem os bens de capital como casas, carros, empresas, máquinas e bens colaterais. O pobre fica mais pobre e o rico mais rico.  

Natureza e sofrimento Vivemos  em  liberdade ou  somos  escravos das dívidas?  Aparte  dos  infortúnios  das  perdas individuais e da divida externa dos países existe mais uma  causa – efeito nefasto dos  sistemas baseados no lucro. A procura pelo crescimento contínuo  força  os  produtores  a  criarem produtos  fáceis  de  se  destruírem  ou  que  se tornam obsoletos no final da garantia, para que possam  vender  um  novo  no  final  desse período.  Isto  leva  a  um  gasto  intolerante  de recursos e níveis nunca  vistos de poluição. Os meios de  comunicação  social  são  incentivados a  motivar  os  indivíduos  a  comprar  produtos desnecessários para que o  sistema  continue  a funcionar.   Não existe uma solução para a crise  financeira do sistema actual. O sistema  tem que permitir capital sem juros criado pelas próprias pessoas. Existem  bons  exemplos  de  sistemas  locais  de trocas  que  não  garantem  somente  uma economia  funcional  mas  que  também aumentam  a  confiança  entre  as  pessoas  e incentivam  a  cooperação.  Este  sistema  pode ser  um mero  período  de  transição  para  uma humanidade com novos valores.  

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Rumo a uma nova sociedade  Aparte  do  socialismo  e  do  comunismo  as  pessoas  acham  difícil  encontrar  alternativas  para  o  sistema capitalista. Mesmo compreendendo os altos e baixos (e por vezes o horror) deste sistema tomam‐no como dado. No entanto, começamos a testemunhar uma nova onda de conceitos livres e abertos (Economia livre, Economia da oferta, Produção  individual) que  se criaram devido à evolução  tecnológica. Além disso não temos que pensar que a única alternativa ao capitalismo seria voltar às origens – para a economia primitiva ou até para um estilo de vida  selvagem. Podemos  construir uma nova  sociedade baseada no avanço da ciência, tecnologia e da própria humanidade.  

Oportunidades iguais são a chave para a abundância Igualdade absoluta é um mito pelo qual não vale a pena lutar, mas assegurar uma base de igualdade para todos é fundamental para uma sociedade mais justa e humana. Mesmo com a tecnologia contemporânea e a automatização de funções básicas, podemos assegurar que todos tenham acesso a comida, água, abrigo, saúde e o que  for necessário para viver.  Já é possível; só necessitamos da vontade para  fazer acontecer. Não deveríamos competir por direitos humanos. Tal competição só conduz a uma fricção na sociedade, e stress psicológico conduzindo a sociedade à sua destruição. Alguns poderão defender que a mudança para algo melhor não acontecerá porque a  sociedade actual não é  igualitária e uma pequena elite controla a classe trabalhadora. No entanto, é também benéfico para esta mesma elite que a humanidade passe a um novo nível.  Isso requer uma mudança de valores: elitismo,  interesses próprios, ganância e desonestidade têm que dar lugar a uma nova cultura.  

É necessária uma nova cultura Quando  as  necessidades  básicas  do  ser  humano  são  satisfeitas,  quando  sentimos  a  ligação  e  harmonia entre as diferentes componentes da nossa vida e quando o ego não está no caminho, o enfoque muda de preservar  o  status  quo  para  o  desenvolvimento  real  da  sociedade.  Dignidade,  justiça,  generosidade, abundância e criação significativa tornam‐se nos novos valores. 

• Criação  com  significado  e  desenvolvimento  ágil:  As pessoas contribuem para projectos com significado que as  preencham.  Criam  soluções  em  conjunto  quando  é necessário.  Estruturas  rígidas  e  hierarquias  abrem  o caminho  para  o  desenvolvimento  de  tudo  com  uma forma de pensar ágil e funcional.  

• Generosidade  e  abundância:  As  pessoas  ajudam‐se umas  às  outras  e  partilham  recursos  para  o  benefício mútuo. Não existe cinismo, mas as melhores práticas são divulgadas livremente no mundo inteiro.  

• Autenticidade, consciência e diálogo: Pessoas sem o seu ego à  frente estão actualizadas  sobre os assuntos mais relevantes.  O  diálogo  é  baseado  em  honestidade  e verdade. Ninguém precisa de ter receio de ser enganado porque  já não existe um motivo para  comportamentos desonestos.  

 

Que mundo gostaria de ver?  

 

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Sê o despertar Não  tem  necessariamente  que  concordar  com  tudo  o  que  leu  até  agora,  mas  se  chegou  até  aqui provavelmente algo no seu interior lhe diz que a mudança é inevitável.  

À margem dos credos Despertar para a ligação existente entre os indivíduos conduz a uma melhoria nas relações que por sua vez leva  ao  desenvolvimento  de  comunidades mais  fortes  e  sociedades mais  consolidadas.  Não  podemos assegurar o que irá acontecer no futuro mas podemos contribuir para um amanha melhor. Para isto temos que abandonar as nossas visões pré – definidas e adoptar um novo tipo de cultura. Temos que fazer o que é certo mas não da forma como sempre foi feito.  

À margem da ganância O sistema monetário que temos está obsoleto. É baseado em valores distorcidos e hipocrisia. Aumenta as desigualdades e  limita as possibilidades de uma vida confortável. Perpetua o status quo e não  incentiva o desenvolvimento. Podemos escolher um futuro diferente e caminhar em direcção a ele. Se a nossa escolha é baseada na filosofia de Ubuntu começamos a criar um futuro onde a  liberdade  individual, altruísmo e o poder  da  comunidade  são  enfatizados:  ¨Eu  sou  porque  tu  és  porque  nós  somos¨.  Ao  nível  individual, podemos abandonar a nossa ganância e dar espaço para a criação de um novo sistema de valores.  

À margem da sociedade O  sistema  tradicional  não  está  a  funcionar  bem  e  actualmente  vivemos  em  sofrimento  por  causa  do mesmo. A boa notícia é que a transição para um nova sociedade já começou. Necessitamos de uma visão de  futuro  mas  mais  que  isso  devemos  alinhar  o  nosso  comportamento  nesta  nova  direcção. Independentemente  do  sector  da  sociedade  em  que  trabalhamos  ou mesmo  estando  desempregados, todos temos alguma força que podemos desenvolver.   Para mais informação: www.mindyourelephant.org  

    

“Tudo o que existe na sua vida é um veículo para a sua 

transformação. Use isso!” ‐Ram Dass‐ 

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Epilogo: Visão do futuro ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 

Anna entrou numa empresa que auxilia  jovens a encontrar a  sua direcção. Adorava o  seu  trabalho mas concordou  em  trabalhar  somente  20  horas  por  semana.  Queria  ter  espaço  para  o  seu  próprio desenvolvimento e passar tempo com as pessoas mais próximas.  Anna não via o professor à bastante tempo. Estava com o seu cartão de apresentação na mão onde o seu nome aparecia como: “A. Were”. Estava prestes a dá‐lo ao professor que concordou em encontrar‐se com ela mais uma vez. Anna queria saber onde o professor tinha ganho toda aquela sabedoria. A resposta foi confusa: ¨do futuro¨. Mas Anna sabia que de alguma forma  isso fazia sentido. Havia algo mais do que as palavras na sabedoria do professor.   No seu  iPod  tocavam os Beatles: “Imagina que não existe céu. É  fácil se tentares. Não existe  inferno. Por cima de nós só o céu. Imagina todas as pessoas, que vivem no presente… Imagina que não existem países. Não é difícil de o fazer. Nada pelo qual morrer ou matar, sem credos ou religiões. Imagina todas as pessoas. Vivendo a vida em paz… Podes dizer que  sou um  sonhador, mas não  sou o único. Espero que um dia  te juntes  a  nós  e  o mundo  será  um  só.  Imagina  que  não  existem  possessões.  Penso  se  serás  capaz.  Sem necessidade de ganância ou fome; uma irmandade de homens. Imagina todas as pessoas, a partilhar todo o mundo… Podes dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Espero que um dia  te  juntes a nós e o mundo viverá como um só.¨   Anna viu o professor escalar a rocha onde era suposto encontrarem‐se. Anna nunca tinha estado neste local tão grandioso apesar de ser só a meia hora de sua casa. O sol de fim de tarde iluminava as árvores.  

‐ Olá  Anna.  Receio  que  o meu  tempo  seja  limitado.  Vou  dar‐lhe  20 minutos  para  que me  faça perguntas mas depois tenho de ir. Esta será a última vez que estaremos juntos. 

A: Ok. Estou muito contente por vê‐lo de novo mas claro que triste porque se vai embora. Mas dado que não tem muito tempo não vale a pena estar com rodeios ou discutir se vem do futuro ou não. Acredito em si. Deixe‐me  começar  por  lhe  perguntar  algo muito  pessoal  que me  tem  incomodado  um  pouco.  É  um homem ou uma mulher?  

‐ Isto pode  ser potencialmente confuso para  si, dado que existe uma  importância dos géneros  tão grande na sua sociedade. Desde muito cedo somos levados a assumir o papel de homem ou mulher. Isto limita‐a e você identifica‐se com o papel. Aprendemos a alcançar um equilíbrio entre o feminino e o masculino. Em meros termos físicos, pode ver mais de uma mulher do que de um homem. Esta questão no entanto, já não tem importância.  

‐  A: Ok. Tem  razão. Foi algo confuso. Mas acho que entendo o  seu ponto de vista. Vamos para uma mais fácil: É casado?   

‐ O estabelecimento do casamento como tal foi abandonado à muito na sociedade em que vivemos. Era sobretudo um acordo legal e à medida que nos livrámos da maioria das leis deixou de existir a necessidade do mesmo. No geral, o amor já não é restrito a nenhum ser humano. Temos tendência para amar  tudo e  todos os que nos  rodeiam. No entanto, ainda existem  relações  fortes  com um número limitado de companheiros e que tentamos ter sempre por perto. Algumas pessoas preferem ter  somente um parceiro. No nosso  círculo actual de parceiros, existem  sete adultos ao  todo em conjunto.  

 A: Certo, deixe‐me ver se compreendo. Quem existe na sua família? Tem filhos? 

‐ Todos  são  família. Não existem  fronteiras, não há  separação. Tomamos conta dos  filhos uns dos outros e isso dá‐nos muita alegria e felicidade.  

 

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A: Isso soa‐me bem… estranho, mas bom. Então, e o que faz para viver?  ‐  Fico surpreso que só me pergunte  isso agora. Não é a pergunta mais comum na sua sociedade? 

Sem ofensa, mas achamos engraçado como as pessoas no vosso tempo se  identificam através da profissão,  educação  ou  título.  Na  nossa  sociedade,  tudo  acontece  através  da  participação voluntária. Não temos empregos na concepção tradicional; fazemos aquilo em que somos bons e o que gostamos de fazer. A sua próxima questão seria ¨qual o objectivo¨ ou ¨qual o incentivo¨, certo? Isto  pode  ser  difícil  de  entender  porque  ainda  vivemos muito  separados  uns  dos  outros  e  não entendemos a  ligação com todas as coisas e seres. Na nossa sociedade o  incentivo para participar vem  do  simples  facto  que  somos  todos  um  único:  não  existe  competição,  excepto  no  campo  de futebol e em competições de ideias. As boas notícias para si é que começou a substituir competição por  cooperação.  Começou  a  despertar  para  o  facto  de  que  a  competição  está  em  processo  de desaceleração; é como usar o seu pé direito para virar para o lado esquerdo e correr mais rápido.    

 Neste momento  Anna  deu  ao  professor  o  cartão  dela  que  dizia  “A. Were  –  Parceira”.  O  professor examinou o cartão, sorriu gentilmente e esperou calmamente pela próxima questão.   

A:  Gosto  dessa  analogia.  Consigo  entender  o  seu  ponto.  Tento  imaginar  se  precisa  de  dinheiro  numa sociedade como a sua. Não há necessidade de se ser melhor ou tão bom como seu vizinho, certo? O que tem então? Quais são as suas posses?   

‐ Tem razão. O dinheiro era uma ferramenta obsoleta que  irá brevemente descobrir. No seu tempo muitas pessoas ainda se apegam a ele sem dar conta que é um conceito imaginário. Os números da sua conta bancária no  final não  têm valor nenhum. Não  temos o conceito de possessão. A nossa primeira  prioridade  depois  da  grande mudança  foi  assegurar  as  necessidades  básicas  de  todos. Apercebemo‐nos que é um benefício para todos promover a  igualdade. Somos uma espécie muito mais forte devido a isso. Tal como para a propriedade, seria estúpido ter, por exemplo, um carro. Na sociedade  de  participação  o  desenvolvimento  da  sociedade  ocorre  tão  rápido  que  se  tivesse  um carro rapidamente este seria obsoleto. Ninguém  iria  fazer melhorias no mesmo e  todos os outros iriam  partilhar  carros muito melhores  que  o  seu.  É  espantoso  o  espaço  que  criámos  devido  à partilha; não existe mais a necessidade de lugares de estacionamento estipulados.    

 A: Isso faz sentido. Mas ainda não sei se quero deixar  ir o BMW que o meu pai me comprou. De qualquer forma, mencionou  que  asseguram  as  necessidades  básicas  para  todos. No  caso  em  que  não  tenha  que trabalhar  no  sentido  tradicional,  quem  cozinha?  Quem  limpa  o  chão?  Quem  faz  todas  as  coisas aborrecidas?  

‐ A maior parte das  tarefas repetitivas estão automatizadas. Os edifícios  têm sistemas  integrais de limpeza. A produção básica de  comida  é automática e a entrega é executada de  forma a que a comida e água  limpa estejam disponíveis em todo o  lado. No entanto, muitas pessoas gostam de cozinhar  por  isso  existem  algumas  cozinhas  comuns  onde  nos  juntamos  para  refeições  mais especiais.  

 A:  Então,  você  não  trabalha  e  uma  infra‐estrutura  automatizada  cobre  as  suas  necessidades  essenciais. Como passa o seu tempo? Não se aborrece?  

‐ Em primeiro  lugar, há uma diferença entre  ¨não  trabalhar¨ e  ¨não  ter um emprego¨. É  como as formigas, recorda‐se? Envolvemo‐nos em projectos comuns de desenvolvimento de acordo com as nossas competências e interesses. Não lhe chamamos trabalho mas sim participação. É verdade que não  temos que participar diariamente e a  todas as horas.  Investimos 5 a 10% do que  chama de tempo nesses projectos. Assim existe  liberdade para desfrutar. Existe uma grande ênfase em  ser mais do que em fazer. É muito comum as pessoas sentarem‐se e observar a natureza ou fazer algo. E isso não é aborrecido. Essa palavra à muito que foi extinta. Não temos tempo nesse sentido. Em breve irá notar que o tempo tem sido um obstáculo. Vai‐se tornar irrelevante muito em breve. Por 

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isso não se preocupe se o seu relógio ficar sem bateria. Ah, sim! Aparte de nos concentrarmos em ser e desfrutar, muitos concentram‐se na educação.  

 A: E o sistema educativo, como é? O que é que estudavam?  

‐ Atenção  à  linguagem  utilizada, Anna.  Tente  falar mais  no  presente. Nós  não  estudávamos,  nos ainda estamos a estudar: astrologia, viagens ao espaço, meditação, antropologia histórica, música, oceanos,  engenharia,  futebol,  cibernética,  jogos,  biologia molecular, design,  tecnologia genética, informática, robótica, media e formação são alguns dos meus tópicos preferidos. Isso depende dos interesses de  cada um  sobre o quê e quanto querem  saber. Mas  toda a  sabedoria  tem  lugar na nossa sociedade. É mais do que conhecimento, mais do que mera inteligência. Apesar de existir um itinerário  pedagógico  que  as  pessoas  respeitam  dos  5  aos  10  anos,  além  disso,  a  educação  é voluntária tanto do  lado dos alunos como dos professores e esses papéis acabam por se misturar. Existem  imensas  coisas  que  se  podem  aprender  com  as  crianças.  Estão  sempre mais  perto  da natureza e ainda carregam consigo alguma sabedoria adquirida em outras vidas. 

 A: Wow,  isso  já  é  demais  para mim.  Para  ser  sincera,  não  estava  atenta  ao  que  disse  porque  estava  a ponderar  sobre dois pontos…  primeiro o  futebol, mas não quero desperdiçar  uma pergunta  com  isso. A segunda era sobre a minha linguagem. Apercebi‐me que a linguagem utilizada cria uma realidade. Como é que comunicam? O inglês é comum a todos?  

‐ Ok, da próxima vez que estiver  imersa nos seus pensamentos  iremos assegurar‐nos de que existe silêncio. Nós damos maior ênfase a ouvir do que a falar. Apercebemo‐nos que existem tantos mal ‐entendidos no mundo porque não tínhamos uma  linguagem comum. O  inglês não era apropriado para  ser  uma  linguagem  universal  auxiliar  devido  às  suas  limitações.  Estudámos  outros  idiomas como Pali, Sanskrit, Arabico e chinês e criámos uma linguagem mundial que não deixa espaço para a  interpretação.  Na  nossa  linguagem,  os  sons  –  os  comprimentos  de  onda  –  transportam  o significado muito mais do que as palavras. No formato escrito reflectem fórmulas científicas. Depois de eliminarmos toda esta confusão, notámos que as nossas espécies também tinham capacidades telepáticas.  Isso  ajuda  imenso. Uma  outra  coisa  sobre  a  comunicação  é  que  nós  exercitamos  a colecção  de  sabedoria.  Centralizamos  todo  o  conhecimento  no  que  designamos  de  internet.  É automaticamente traduzido para todos os idiomas.  

 A: Ainda têm internet? Para que é que a utilizam? 

‐ Tem  um  propósito  duplo.  Por  um  lado  repõe  o  conhecimento,  aberto  a  todos.  Por  outro  lado, recolhe a informação que é necessária para a sociedade funcionar.  

 A: Um minuto… A internet gere a sociedade? A sério, quem comanda? 

‐ Logo depois do despertar colectivo, que designamos de grande mudança, desmantelámos o sistema político  obsoleto.  Apercebemo‐nos  de  que  com  o  nosso  novo  conjunto  de  valores  e  um entendimento verdadeiro do mundo, não necessitávamos de gestores de decisões. Leis, restrições e punições deram lugar ao senso comum e a comunidades compassivas. O que permaneceu foram as operações base: construção, produção de alimentos, transportes, remoção da poluição, reciclagem e afins. Isto não necessita de uma estrutura politica mas pode ser transferido para um sistema de tomada  de  decisão  computorizado.  Isso  removeu  muitos  erros.  Ficámos  livres  para  nos concentrarmos em desenvolvimento em vez de aguentar as cordas.  

 A: Uau!  Isso  faz muito  sentido.  Ao  princípio  estava  com  receio  de  perguntar  se  não  têm medo  que  as máquinas passem a dominar, mas depois apercebi‐me como a minha pergunta era estúpida. As pessoas têm sido a nossa maior ameaça até agora. Tantas guerras tiveram inicio porque não conseguimos chegar a um acordo. Isso lembra‐me de outra coisa… Qual é a vossa religião?  

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‐ Bom,  chegámos  a  um  acordo.  Pessoas  do  mundo  inteiro  começaram  a  perceber  que  os ensinamentos das diferentes  religiões  vinham de uma  só  fonte. Quando  começaram a  ver o que estava por  trás das palavras – na sabedoria real – deixaram de pensar que a religião deles era a única verdade. Depois de algum tempo deixou de existir a necessidade de uma religião como tal. O conhecimento tornou‐se mais  importante do que as crenças. As pessoas já não têm divindades. Se algo é venerado é a vida no planeta terra. Amamos a natureza. 

 A: Ok, já chega de política e religião. Conte‐me mais sobre si: por exemplo, onde vive?  

‐ Vivemos em  todo o  lado. Quando nos apercebemos que a detenção de uma propriedade se tinha tornado  obsoleta  isso  libertou  as  pessoas  para  se  movimentarem,  conhecer  outras  pessoas  e ficarem onde queriam. Não temos casas ou terrenos. Algumas pessoas preferem ficar mais tempo num  sítio  e algumas  têm mais mobilidade. Não  temos  fechaduras nas portas.  Só um  código  em forma de cor que nos diz se o local está disponível agora ou não: vermelho significa reservado e que as pessoas querem estar em privado; amarelo significa que existe alguém mas que nos podemos juntar; verde significa que está disponível.  

 A: Soa‐me bem. Então e como é que se deslocam? 

‐ Sobretudo  andamos  ou  usamos  as  bicicletas,  patins,  skates  ou  cavalos.  Na  cidade  temos transportáveis  e monorails.  Carros  também  podem  ser  pedidos.  Para  distâncias maiores  temos comboios magnéticos ou barcos. Não existe tempo de espera nos aeroportos.  

 A: Skateboards e cavalos? Não era de facto o que eu esperava. Como são as cidades então? 

‐ Algumas das melhores  tecnologias  já  foram  inventadas. Apercebemo‐nos de que skates e cavalos não só existem em grande quantidade mas são também uma forma de focarmos a nossa mente no momento presente à medida que nos movimentamos. De outra forma cairíamos e magoávamo‐nos. Perguntou  como  são as  cidades. Apesar das  cidades estarem  ligadas umas às outras,  são muito diversas e diferentes umas das outras. Mas há alguns traços comuns. As cidades estão optimizadas em termos do uso de espaço, energia e infra‐estruturas. São muito verdes, silenciosas e tranquilas. Os animais co‐habitam nas cidades connosco. Geralmente as cidades são circulares e consistem em diferentes anéis  com objectivos diferentes. Em  todo o  lado  existe uma boa  energia  – as  cidades estão muito mais integradas na natureza do que no seu tempo. 

 A: Está sempre a dizer ‘o seu tempo’. Quantos anos tem, já agora? 

‐ Esta encarnação no seu tempo seria de 118 anos. Sei que lhe parece imenso. Quando os poluentes foram  removidos  e a natureza  voltou a  estar  em harmonia  isso aumentou a  esperança de  vida. Exercitar a mente e o corpo também ajudou. Ë incrível como a sua condição física melhora quando tem  amor  e  energia  positiva  em  todo  o  lado.  Conservámos  as melhores  práticas  da medicina ocidental,  introduzindo  nano‐robôs  de  cura  e  novas  tecnologias  de  transplante, mas  sobretudo usamos a medicina natural. Os cuidados de saúde finalmente atingiram o seu significado real; não tratamos simplesmente os sintomas mas pró activamente  identificamos a sua origem – manter a saúde mais do que tratar a doença. 

 A: Interessante. É tentador. E como é que chegamos ao futuro?   

‐ Vamos deixar passar essa questão. Se tiver sucesso já tem a resposta para essa questão.   Anna reparou que estava a ficar sem questões. Tinha usado um pau para desenhar uma linha no chão por cada questão que colocasse. Por um cálculo rápido apercebeu‐se que só lhe restavam 3. Por algum tempo pensou porque é que o professor se tinha recusado a responder à sua questão anterior. Depois apercebeu‐se. Com um sorriso  forçado no seu semblante, Anna colocou a Terceira questão: “Como é que está o seu elefante?” O professor regozijou‐se e respondeu: 

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‐ É  bom  ouvir  essa  pergunta.  Percorreu  um  longo  caminho  no  seu  despertar.  Pode  não  ser  uma surpresa para  si que as pessoas no  futuro  já não  serão dominadas pelo próprio ego. São menos vulneráveis, mais fáceis de abordar e menos condicionadas em termos da cultura donde vêm.  

 A: Você é como o crocodilo e o pássaro? Dê‐me um exemplo de sinergia no futuro. 

‐ Hmm… essa é difícil, porque a sinergia está em toda a parte. Muito bem… No nosso distrito  local todas as 150 pessoas se reuniram para reprogramar os robots construtores da nova cidade sobre o mar. Estávamos muito entusiasmados com  isso e  toda a gente deu o  seu melhor durante meses. Mas  todas as vezes que pedíamos ao computador para nos dar uma maqueta da cidade,  faltava algo. Não conseguíamos ver o que era. Não batia certo. Os nossos filhos ouviram rumores do dilema e os 28  juntaram‐se para nos ajudar. Organizaram um  jogo de  imaginação que  introduziram no computador em  tempo  real. Tirámos uma nova maqueta do  sistema e  ficámos perplexos. Agora existiam  slides,  cores  e  estruturas  criativas.  Todos  os  tipos  de  peixes,  corais  e  vida  aquática circulavam em harmonia mesmo dentro das estruturas. Parecia um parque de diversões debaixo de água. Adorámos a maqueta e os robots construtores começaram o seu trabalho. Isso é sinergia!   

 A: Uau! Posso  imaginar. A propósito, reparei que hoje não utilizou a palavra ¨eu¨ou ¨meu¨. Em vez disso utilizou ¨nós¨. Acho que me está a dizer que no  futuro não existe um ¨Eu¨. Sendo assim, vocês são como formigas. A minha pergunta  final é: Se  fôssemos  como  formigas,  como planearíamos e  construiríamos a sociedade do futuro?  

‐ Uma das figures históricas do futuro é Ajahn Brahm – um monge budista que vive na sua era. Ele partilhou uma história em que estava a andar numas montanhas e foi de repente rodeado por uma névoa. Não sabia mais que caminho seguir por  isso voltou para  trás.  Infelizmente nem os braços conseguia  ver por  isso perdeu‐se e quase  caiu de uma  falésia.  Se não estivesse por  completo no momento presente  teria morrido. Apesar de não  saber para onde  ir,  sabia que  tinha que  ir para baixo para ter uma visão clara. Saiu da névoa e finalmente encontrou o caminho para casa. Anna, lembre‐se: o futuro é emergente e surpreendente. É tempo de abandonar o pensamento analítico. Deixar  o  egoísmo. Não  a  vai  fazer  ir  longe.  Saia  da  névoa. Não  precisa  planear  uma  sociedade espiritualmente perfeita e harmoniosa até ao último detalhe por agora, mas pode começar a dar passos em direcção a isso. Lembre‐se que não é o destino mas sim a caminhada que interessa; não existe uma sociedade ideal.   

 Anna  ouviu muito  atentamente,  absorvendo  o  brilho  do  sol. Apercebeu‐se  que  o  professor  se  tinha  ido. Lágrimas correram pela sua cara abaixo;  lágrimas de alegria, paz e amor. A névoa estava a começar. Ela levantou‐se e deu o primeiro passo.