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Atlas de Portugal

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  • 1. ATLAS DE PORTUGAL WWW.PIRATATUGA.NET

2. APRESENTAO 17 UM PAS DE REA REPARTIDA 19 A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS 20 O MAR QUE NOS ENVOLVE 25 A MORFOLOGIA DOS FUNDOS 25 CORRENTES OCENICAS 26 O MAR E A ATMOSFERA 28 VARIAES DE TEMPERATURA 29 A TERRA QUE HABITAMOS 36 UNIDADES MORFOESTRUTURAIS 38 EVOLUO GEOLGICA DO OESTE PENINSULAR 38 O RELEVO DO CONTINENTE 43 FISIONOMIA DAS REGIES AUTNOMAS 43 CLIMA E SUAS INFLUNCIAS 50 ELEMENTOS CLIMTICOS 50 A IRREGULARIDADE DO TEMPO NO CONTINENTE 54 AS ONDAS DE CALOR 59 O CLIMA DAS ILHAS 59 A REDE HIDROGRFICA 61 OS SOLOS 64 A VEGETAO NATURAL 65 TIPOS DE PAISAGEM 66 DIVERSIDADE E GRUPOS DE PAISAGEM 66 REAS PROTEGIDAS 70 AS ILHAS 73 REDE NATURA 2000 77 REAS DE PROTECO DE AVIFAUNA 77 OS HOMENS E O MEIO 80 TERRITRIO, SUPORTE DAS GENTES 82 A POPULAO 86 EVOLUO RECENTE 86 UMA DISTRIBUIO DESIGUAL 86 BAIXOS NVEIS DE NATALIDADE E FORTES SALDOS MIGRATRIOS 93 UM ENVELHECIMENTO PROGRESSIVO 93 A EMERGNCIA DE NOVOS COMPORTAMENTOS 93 EDUCAO 94 TERRA DE MIGRAES 98 A EMIGRAO 98 O REGRESSO 100 A IMIGRAO 102 UMA POPULAO QUE SE URBANIZA 104 UMA LEITURA CLSSICA DO SISTEMA URBANO NACIONAL 104 UMA AVALIAO RECENTE 106 MUDANAS RECENTES 110 LISBOA E PORTO COMO REFERNCIAS 110 PRODUZIR CIDADE 111 COMUNICAES E MOBILIDADE DA POPULAO 120 REDES DE COMUNICAO 120 SISTEMA DE TRANSPORTES 123 NDICE 3. O PAS SOCIOECONMICO 130 ECONOMIA PORTUGUESA: ARTICULAO DIFCIL ENTRE MUDANAS INTERNAS E AS EXIGNCIAS COMPETITIVAS 132 ACTIVIDADES DA TERRA 138 A AGRICULTURA 139 AGRICULTURA EM MODO DE PRODUO BIOLGICO145 PECURIA 145 ORGANIZAO DO TRABALHO 149 PRODUTOS TRADICIONAIS 150 A FLORESTA 154 A CAA 162 A EXPLORAO DOS RECURSOS EXTRACTVEIS 164 RECURSOS VIVOS MARINHOS 168 UM SECTOR ESTRATGICO 168 O SECTOR DAS PESCAS 172 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL 176 CRESCIMENTO ECONMICO 176 OS SECTORES DE ACTIVIDADE E A DIFERENCIAO REGIONAL 177 MERCADO EXTERNO E COMPETITIVIDADE 183 A COESO SOCIAL 186 O DESENVOLVIMENTO HUMANO 189 TEMPO DE TURISMO 190 O TURISMO BALNEAR 191 NOVOS PRODUTOS 192 UM SECTOR ESTRATGICO DE FUTURO 195 POLTICAS DO TERRITRIO 198 A ADMINISTRAO 198 O PLANEAMENTO 202 A QUALIFICAO E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL 204 PORTUGAL NUM MUNDO DE RELAO 210 A LNGUA PORTUGUESA: UM TRAO DE UNIO RODA DO MUNDO 212 COMUNIDADES PORTUGUESAS 216 TESTEMUNHOS DE UM PASSADO LONGNQUO 216 EVIDNCIAS CULTURAIS DE HOJE 217 IDENTIDADE E CULTURA EM TEMPOS DE MUDANA 222 RIQUEZA E DIVERSIDADE DE CULTURAS 222 FRONTEIRAS DE UM PORTUGAL CULTURAL 223 ACTUAL SUPORTE CULTURA 223 PORTUGAL NA UNIO EUROPEIA 228 PORTUGAL NA EUROPA 229 A INTEGRAO DA EUROPA 229 TRANSFORMAES NA UE-15 230 PRIORIDADES SOCIAIS DA UE 230 DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO E NVEL DE VIDA 231 ENERGIA: A MAIOR FRAGILIDADE DA UE 232 PRESIDNCIA PORTUGUESA NA UE 233 O ALARGAMENTO DA UE 234 UMA CONSTITUIO PARA A EUROPA 235 O ATLAS E O POSICIONAMENTO ESTRATGICO DE PORTUGAL 236 ANEXOS 239 PLANTAS ESPONTNEAS, SUBESPONTNEAS E ORNAMENTAIS MAIS COMUNS EM PORTUGAL 240 CARTA DE PORTUGAL CONTINENTAL ESCALA 1: 550 000 CARTA DAS REGIES AUTNOMAS DOS AORES E DA MADEIRA ESCALA 1: 200 000 242 NDICE ONOMSTICO 260 DIVISO ADMINISTRATIVA POR CONCELHOS 268 NOTAS BIOGRFICAS DOS AUTORES 272 BIBLIOGRAFIA 273 CRDITOS 274 4. 16 ATLAS DE PORTUGAL IGP Editor Instituto Geogrfico Portugus Coordenao Cientfica Raquel Soeiro de Brito Coordenao Geral Rui Pedro Julio Jos Norberto Fernandes Assistente de Coordenao Carlos Alberto Simes Autores dos textos introdutrios Augusto Mateus Ernni Rodrigues Lopes Nuno Vieira Matias Raquel Soeiro de Brito Vasco Graa Moura Textos e preparao dos temas Carlos Pereira da Silva Dulce Pimentel Ftima Azevedo Fernando Ribeiro Martins Henrique Souto Joo Carlos Silva Lourdes Poeira Maria Assuno Gato Nuno Pires Soares Raquel Soeiro de Brito Rui Pedro Julio Reviso dos textos Cristina Sousa Meneses Mapas Municpia Criao e concepo Paz Comunicao Estratgica Design Interact Grafismo e paginao Jorge Silva Infografia Joaquim Guerreiro Capa Interact Impresso Editorial do Ministrio da Educao Parceiros Institucionais ACIME Alto Comissariado para a Integrao das Minorias tnicas AGROBIO Associao Portuguesa de Agricultura Biolgica ANACOM Autoridade Nacional de Comunicaes CCDRA Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Alentejo CCDRAlg Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Algarve CCDRC Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Centro CCDRLVT Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo CCDRN Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Norte CP Caminhos de Ferro Portugueses CTT Correios de Portugal DGAL Direco-Geral das Autarquias Locais DGEEP Direco-Geral de Estudos, Estatstica e Planeamento DGEMN Direco-Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais DGGE Direco-Geral de Geologia e Energia DGOTDU Direco-Geral de Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento Urbano DGRF Direco-Geral dos Recursos Florestais DGT Direco-Geral do Turismo DGTT Direco-Geral dos Transportes Terrestres IA Instituto do Ambiente IC Instituto Cames ICN Instituto da Conservao da Natureza IDRHa Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidrulica EP Estradas de Portugal IGeoE Instituto Geogrfico do Exrcito IH Instituto Hidrogrfico IM Instituto de Meteorologia INAG Instituto da gua INE Instituto Nacional de Estatstica INETI Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovao INIAP Instituto Nacional de Investigao Agrria e das Pescas ME Ministrio da Educao MS Ministrio da Sade POS_Conhecimento Programa Operacional Sociedade do Conhecimento SEF Servio de Estrangeiros e Fronteiras SREA Servio Regional de Estatstica dos Aores SREM Servio Regional de Estatstica da Madeira Parceiros Financeiros Caixa Geral de Depsitos Agradecimentos Academia de Marinha ISBN 972-8867-14-X Ttulo: ATLAS DE PORTUGAL Tipo de encadernao: B Data: 2005 Editor: Instituto Geogrfico Portugus Morada: R. Artilharia Um, 107 Localidade: Lisboa Cdigo Postal: 1099-052 Correio Electrnico: [email protected] Telefone: 213 819 600 Fax: 213 819 699 Depsito Legal 235 667/05 Tiragem da 1. Edio: 15 000 Exemplares Projecto co-financiado pelo FEDER 5. ATLAS DE PORTUGAL IGP 17 Portugal sofreu nos ltimos anos grandes transformaes sociais e econmicas e uma profunda evoluo das suas estruturas territoriais. At data, este grande dinamismo no foi acompanhado de um registo geogrfico de sntese e anlise do passado recente que perspectivasse uma viso do futuro da realidade nacional. Foi esta lacuna que nos propusemos preencher com este projecto. Os atlas so hoje obras que extravasam, completamente, a parca definio de coleco de mapas ou cartas geogrficas. O Atlas de Portugal uma excelente sinopse que, por traduzir a realidade do nosso espao geogrfico, se constitui num valioso e indispensvel veculo de transmisso de informao de suporte e apoio deciso. O Instituto Geogrfico Portugus promoveu e acarinhou este projecto em conjunto com uma equipa cientfica de renome nacional e internacional coordenada pela Professora Catedrtica Raquel Soeiro de Brito. Do resultado desse af nasceu uma obra mpar e de referncia que integra informao geogrfica existente no Sistema Nacional de Informao Geogrfica e em vrios organismos da Administrao Pblica Portuguesa, e que, em conjunto, representa uma viso coerente do Portugal de hoje, simultaneamente numa perspectiva multi-sectorial e territorial. A reflexo sobre a realidade social, sobre a forma como as populaes se organizam e se relacionam com o meio ambiente, sobre o seu posicionamento no sistema econmico nacional e internacional, assim como o seu modo de vida e trajectrias culturais, constitui um importante instrumento para a definio de polticas e estratgias adequadas ao nosso tempo. A anlise cientfica destes temas permite encontrar novas solues e potencialidades, identificando e/ou localizando fenmenos perturbadores susceptveis de estrangular o desenvolvimento do Pas. Este documento, ao traar de forma isenta e inequvoca um perfil de Portugal, constitui uma referncia para analisar, hierarquizar e justificar intenes de investimento bem como servir de base investigao das transformaes ocorridas. O Atlas de Portugal, sendo um documento nico no panorama nacional, ir servir tambm de suporte s actividades de vrias Instituies Pblicas e de Privados, dos estabelecimentos de ensino, do processo de avaliao dos programas comunitrios e, naturalmente, do cidado em geral. APRESENTAO ARMNIO DOS SANTOS CASTANHEIRA PRESIDENTE DO IGP 6. Portugal Continental 7. 0 25 50 km 8. Regio Autnoma dos Aores, Grupo Oriental So Miguel 0 5 10 km 9. Santa Maria 10. Faial Pico Regio Autnoma dos Aores, Grupo Central 0 5 10 km 11. So Jorge 12. Regio Autnoma dos Aores, Grupo Central Graciosa Terceira 0 5 10 km 13. Regio Autnoma dos Aores, Grupo Ocidental Corvo Flores 14. Regio Autnoma da Madeira Ilhas Selvagens Madeira 0 5 10 km 15. Ilhas Desertas Porto Santo 16. 18 ATLAS DE PORTUGAL IGP A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS O MAR QUE NOS ENVOLVE A MORFOLOGIA DOS FUNDOS CORRENTES OCENICAS O MAR E A ATMOSFERA VARIAES DE TEMPERATURA A TERRA QUE HABITAMOS UNIDADES MORFOESTRUTURAIS EVOLUO GEOLGICA DO OESTE PENINSULAR O RELEVO DO CONTINENTE FISIONOMIA DAS REGIES AUTNOMAS CLIMA E SUAS INFLUNCIAS ELEMENTOS CLIMTICOS A IRREGULARIDADE DO TEMPO NO CONTINENTE AS ONDAS DE CALOR O CLIMA DAS ILHAS A REDE HIDROGRFICA OS SOLOS A VEGETAO NATURAL TIPOS DE PAISAGEM DIVERSIDADE E GRUPOS DE PAISAGEM REAS PROTEGIDAS AS ILHAS REDE NATURA 2000 REAS DE PROTECO DE AVIFAUNA 17. ATLAS DE PORTUGAL IGP 19 UM PAS DE REA REPARTIDA 18. 20 ATLAS DE PORTUGAL IGP A Nao portuguesa encontrou no mar a causa primeira da sua consolidao, deve aos oceanos o motivo da sua expanso universalista e vai ter de continuar a retirar deles a fora e a identidade que a forjou e temperou, ao longo de quase nove sculos de existncia. O mar poder ser tambm um potenciador pujante da economia portuguesa, mas , igualmente, merecedor de atenes de segurana colectiva, incluindo a da populao, dos bens e do ambiente. Estes pontos constituem um conjunto de razes, historicamente concatenadas, em que vale a pena reflectir. uma reflexo que merece seguramente dimenses vastas, profundidade e abertura, pelo interesse prospectivo de que se reveste. Contudo, por motivos evidentes, apenas sero aqui afloradas com o intuito de estimular o seu estudo. Na fase de formao de Portugal, no sculo XII, a populao do reino em nascimento apontada, normalmente, como essencialmente agrria, com franjas dedicadas pesca e ao comrcio e, como tal, sem distino do seu vizinho que justificasse o traado da fronteira a Leste. Trata-se de um conceito que, sem suscitar uma oposio frontal, merece uma interpretao clarificadora. A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS NUNO VIEIRA MATIAS 19. ATLAS DE PORTUGAL IGP 21 De facto, o mar comeou, mesmo antes dessa altura, a exercer os seus efeitos sobre as gentes do futuro Condado Portucalense. As que se dedicavam agricultura perceberam que perto da costa e dos rios que se encontram as melhores condies de clima para essa actividade, devido s temperaturas amenas que o mar propicia e humidade e chuva transportadas pelos ventos martimos que sopram quase todo o ano. Na verdade, a superfcie do mar mantm uma temperatura normalmente acima dos 15C, o que evita frios intensos na faixa costeira, inibidores de muitas culturas. So factos que mesmo para a populao do arado constituram motivo de atraco pela proximidade do mar. Este deu tambm origem a uma comunidade de pescadores que cedo descobriu a importncia do alimento que podia retirar das guas, assim como motivou os mercadores a instalarem-se perto dele e, sobretudo, nas reas dos portos mais abrigados. No incio, o pequeno territrio apenas dispunha na Foz do Douro de um porto frequentado por embarcaes provenientes de paragens distantes, mas depois, com o avano da reconquista crist, as fozes do Tejo e do Sado e a baa de Lagos juntaram-se ao Douro, na mltipla funo de locais de refgio do mau tempo, fontes de apoio logstico e entrepostos de trocas comerciais. Isto , o territrio que viria a ser Portugal e que fora referido em 561 por Lucrcio, Bispo de Braga, no conclio realizado nessa cidade, como no prprio extremo do mundo e nas regies mais longnquas da provncia da Hispnia, teve o seu isolamento de finisterra quebrado pelo contacto com marinheiros de outros povos que por aqui iam passando, tais como os Fencios, sobretudo no Sul, Gregos, Romanos, Normandos, rabes, Genoveses, etc. Apesar destes factores que influenciaram positivamente o tropismo das populaes pela faixa costeira, outra circunstncia houve que teve sinal negativo. Foi a insegurana provocada pelas incurses de navios das mais diversas origens, que praticavam actos violentos, aproveitando as sempre abertas portas da fachada atlntica. A atenuao desta dificuldade comeou a ser conseguida com a reconquista crist, pela utilizao, de D. Afonso Henriques a D. Afonso III, dos navios dos Cruzados que acompanharam a progresso militar portuguesa para Sul e apoiaram as conquistas de Lisboa, Alccer, Silves, etc., at ao final da tomada do Algarve, em 1249. Curiosamente, esta conjuno de esforos, no mar e em terra, facilitou o avano mais rpido dos Cristos na faixa costeira do que no interior da Pennsula, onde o ltimo baluarte muulmano, Crdova, s cairia 242 anos depois daquela data. Pode-se, assim, atribuir valor ao mar na gnese da Nao portuguesa pela forte atraco que exerceu sobre as populaes agrcolas, concentradas junto costa, pelas actividades de pesca e de comrcio que possibilitou, pela quebra de isolamento que originou, pelo desenvolvimento cultural que induziu e pelo favorecimento que fez ao avano da reconquista crist. O mar ficou, pois, como marca original, gentica, indelvel, no pas acabado de criar, Portugal, referido, na expresso feliz de Oliveira Martins, como um anfiteatro levantado em frente do Atlntico, que uma arena. A vastido do circo desafia e provoca tentaes nos espectadores, arrastando-os afinal laboriosa empresa das navegaes Para essa empresa muitas causas podero ter contribudo, mas nenhuma ter sido, certamente, to forte como a localizao geogrfica, directamente apoiada na curiosidade cientfica e na coragem dos Portugueses de ento. O anfiteatro portugus, isolado no finisterra da Euro-sia, dispunha de um horizonte difcil no seu lado tardoz. Difcil pela distncia agreste a percorrer at aos principais centros urbanos do Continente e, mais difcil ainda, quando Europa humilhada o castelhano impe a lei com a espada e o mosquete, repetindo Oliveira Martins. Aparentemente entalados entre a espada castelhana e a parede do mar, os Portugueses no se furtaram a enfrentar com coragem bem sucedida o ao toledano, quando necessrio, mas, por opo estratgica, decidiram derrubar os obstculos do mar, provenientes de lendas de caudal crescente, desde a fonte bblica at aos fantasmas medievais, mas formados igualmente pelas barreiras da ignorncia tcnica e cientfica e pelo desconhecimento do que estaria para alm do mar de que havia notcia. A parede que nos separava do mar foi tambm ajudada a demolir pelas condies meteorolgicas do nosso territrio, com realce para o regime de ventos, assim como pela caracterstica morfologia da costa. Sem dvida que os ventos de Noroeste que na Primavera e no Vero sopram bonanosos, durante a manh, e, por vezes fortes, tarde, em toda a costa continental, a conhecida nortada, so como 20. 22 ATLAS DE PORTUGAL IGP que um convite para velejar com proa nos quadrantes de Sul. como, sadas as barras dos portos, deixar-se ir na corrente do vento. Se percorrermos as listas de datas de largada das expedies martimas dos nossos antepassados, ser evidente que era a partir de Maro que os navios saam em faina, barra fora. Por outro lado, a costa continental portuguesa limpa de baixios, batida por uma gua mexida, s vezes dura, prpria para marinheiros viris, mas tem carcter leal porque no esconde escolhos ou recifes traioeiros. Os portos e abrigos do lado Oeste no so muito numerosos, mas a qualidade nutica do esturio do Tejo e o abrigo da baa de Lagos compensam o reduzido recorte da costa. Podemos dizer, hoje, que a orientao da costa e a dos ventos, em metade do ano, as guas de fundos irrestritos e a vontade corajosa e curiosa de conquistar a distncia formaram a rampa de lanamento da nossa expanso multi-continental. Porm, a coragem de partir implicava tambm a ousadia de ser capaz de voltar. Mas, como voltar, se vinda o vento soprava quase sempre contrrio e, quando pudesse ser a favor, no Inverno, crescia frequentemente a tempestuoso, capaz de ensacar os navios e de os atirar para cima de terra? A curiosidade tcnica e a estrutura cientfica criada pelos Portugueses deram a resposta. Entenda-se que o marinheiro de qualquer poca , por adaptao profissional, muito curioso. A curiosidade bem marcada quando procura nos navios e embarcaes dos outros aquilo que diferente no seu. Ciumento do que v melhor em navio estranho, mas orgulhoso daquilo em que o seu possa ser superior, procura apreender tanto as diferenas de material, como as tcnicas e os procedimentos. No admira, por isso, que a frequncia dos nossos portos por navios estrangeiros nos tenha trazido as novidades que iam aparecendo na construo naval, como, por exemplo, o leme central montado no cadaste, usado muito cedo no Bltico e na China em substituio do leme de esparrela (steering oar), ou as velas triangulares (hoje chamadas de latinas), empregues no Mediterrneo e que permitiam aos navios de casco de boa finura, ou boa relao comprimento / boca, navegar at um ngulo limite de 40 a 50 entre o eixo do navio e a linha do vento. Eram os caravos ou caravelas (do rabe qarib). A posio de Portugal favoreceu esses contactos com regularidade por ser quase o promontrio finisterra da Europa, que era preciso dobrar entre o Norte e o Sul. Por outro lado, uma situao que lhe confere um clima de influncia atlntica e mediterrnea, capaz de proporcionar muitas noites de cu limpo convidativas ao estudo dos astros e que tem um regime de ventos que, sabiamente aproveitados, permitiu, mesmo s grandes naus de pano redondo, ir e voltar sempre a favor do vento. De facto, uma das grandes descobertas dos Portugueses foi a circulao do vento em torno dos anticiclones do Atlntico Norte e do Atlntico Sul. A Norte, era como se, por altura dos Aores, se situasse o centro de uma enorme corrente circulatria de vento no sentido dos ponteiros do relgio que, uma vez apanhada a Norte do Equador, permitia, descrevendo uma enorme rota, quase circunferncia, chegar a Portugal, navegando sempre com o vento nos sectores da popa dos navios. Os vastos conhecimentos cientficos e as tcnicas desenvolvidas em vrias reas do saber, a organizao estabelecida, ligando cientistas, financeiros, comerciantes, marinheiros, militares, populao e elites dirigentes, bem como a posio geogrfica lanaram-nos mar a dentro a descobrir os caminhos para juntar oceanos, culturas e gentes. O mar da nossa geografia marcou-nos com um carcter prprio, granjeou-nos prestgio em todo o mundo, deu-nos grandeza e algum ouro e levou o Portugus, raa e lngua, a mais trs continentes fora do de bero. Curiosamente, Portugal sentiu e viveu a importncia do mar de forma muito mais marcante entre duas revolues, a de 1383 e a de 1974, que claramente assinalaram as fases de ascenso e de declnio da maritimidade portuguesa. Esta, a de profunda queda, pode encontrar uma explicao, apenas muito parcial, na independncia dos territrios ultramarinos de expresso portuguesa e na necessria adeso Unio Europeia (UE). De facto, outros factores de grande importncia deveriam ter impedido uma to brusca e gravosa recesso. que, embora por motivos diferentes dos de ontem, o mar tem hoje e ter seguramente amanh um valor de dimenso vital para o Pas, se for convenientemente utilizado. uma mais valia assinalvel em trs aspectos: na afirmao da identidade nacional, capaz de distinguir marcadamente a Nao portuguesa no seio de uma Europa sem fronteiras e de um generalizado processo de descaracterizao de A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS 21. ATLAS DE PORTUGAL IGP 23 culturas; na contribuio para a economia nacional como um dos seus pilares fundamentais; e na segurana e defesa nacional, correlacionada com a dos nossos aliados. Sobre a primeira questo, interessa ter presente que a soberania tradicional do Estado-Nao portugus, tal como de outros estados-naes, est a sofrer um acelerado processo de mudana, devido transferncia para a UE de poderes de deciso, legislativos, judiciais e monetrios e tambm por fora da inevitvel globalizao, para a qual, de resto, os Portugueses deram forte contributo ao ligarem, no sculo XVI, pela primeira vez, os oceanos. Acresce ainda a estes processos o facto de a enorme fora da informao global simultnea, do turismo e das migraes, entre outros factores, poderem ser descaracterizadores da cultura nacional. A compensao para estes processos tem de ser encontrada na valorizao dos factores de identidade nacional, com realce para a Histria, a Lngua, a Cultura e a Geografia. Em todos, note-se, est omnipresente o mar. Ele , realmente, uma presena constante para todos os Portugueses que em esmagadora maioria o tm perto de casa, na faixa litoral do Continente e nas onze ilhas atlnticas e ainda o podem ver, mais a Sul, a partir do paraso ecolgico das Ilhas Selvagens. tambm o meio fsico que constitui o elo de ligao do nosso territrio, profundamente disperso num amplo tringulo atlntico. Ao mesmo tempo, confere-nos centralidade atlntica capaz de compensar a posio de periferia continental e estabelece uma via de comunicao com o resto do Mundo onde se encontram muitos dos amigos e aliados, incluindo 190 milhes de pessoas que falam o Portugus. O mar deve, por isso, funcionar como marcador indelvel do nosso carcter, como aglutinante da nossa identidade colectiva e como potenciador do amor prprio e do orgulho dos Portugueses. Esta importncia, geoestratgica para o Estado e moral para a Nao, continua-se no campo econmico pelo valor actual e potencial das riquezas que o mar contm em si e pelas actividades que viabiliza, directamente, no seu espao fsico tridimensional e, indirectamente, nas proximidades das suas margens. Em termos genricos, o mar forma as grandes vias de comunicao usadas pelos transportes martimos; acolhe, nos portos, actividades comerciais, industriais e de servios muito diversificadas; origina a necessidade de indstrias de reparao e de construo naval e outras de tecnologia ocenica; produz, dentro de si, animais marinhos, de forma natural ou forada, usados na alimentao; tem um fundo de onde se podem extrair combustveis fsseis e minrios de metais, como o mangans, o zinco, o cobre, o cobalto, etc.; disponibiliza a sua gua salgada para a produo de gua potvel e de sais minerais, sobretudo o cloreto de sdio; contm uma vasta diversidade de produtos genticos para uso comercial e industrial, incluindo o farmacutico; uma fonte de energias renovveis, atravs das ondas, das correntes, das mars, do vento e da massa trmica que transporta; propicia inmeras actividades de lazer aquticas, razo de ser do turismo martimo; atrai, pela sua beleza, fluxos tursticos para a zona costeira e constitui, por fim, elemento de inesgotvel interesse cientfico e cultural. Portugal, Continental e Insular, porque exerce soberania e jurisdio sobre trs enorme reas de mar que totalizam 1 830 milhares de quilmetros quadrados, ou seja, vinte vezes a superfcie da sua componente terrestre, tem a possibilidade de desenvolver todas essas actividades econmicas e cientficas, embora com potenciais diversos e com prazos diferenciados. De entre elas, o turismo, nas suas duas componentes de linha de costa e ocenico, apresenta, simultaneamente, o maior valor econmico actual e encerra a capacidade de crescimento mais significativa. De facto, o da faixa litoral corresponde a 90% do total nacional e , s por si, responsvel por 10% do PIB. O turismo ocenico tem ainda reduzido peso, mas pode desenvolver se fortemente, pelo aproveitamento mais intenso das condies naturais e das crescentes infra-estruturas, nas actividades de cruzeiros, vela de recreio, regatas, surf, windsurf e kite-surf, remo, canoagem, pesca desportiva, observao de mamferos, peixes e aves marinhas em santurios, mergulho, pesca submarina, arqueologia turstica martima, etc. A posio geogrfica de Portugal, junto s principais rotas de navegao, entre o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste, a caracterstica profundidade das suas guas e a ausncia de obstculos navegao nas zonas costeiras so factores que podem contribuir para o desenvolvimento do transporte martimo e dos servios porturios, sobretudo no Continente. So, contudo, actividades que tm estado em declnio nas ltimas dcadas, em contra-ciclo com o que se 22. 24 ATLAS DE PORTUGAL IGP passa no mundo, apesar de a nossa costa dispor de portos magnficos, como o de Sines, com condies para poder ser um dos maiores, seno o maior da Europa, capaz de acolher os maiores navios de transporte de mercadorias. Para passageiros, existem, nas trs parcelas do territrio, infra-estruturas porturias e pontos de interesse turstico, no mar e em terra, capazes de justificarem uma forte actividade de visitas. Os navios de cruzeiro frequentam cada vez mais os nossos portos e correspondem a um mercado em forte expanso. Mais uma vez a posio geogrfica foi prdiga em boas condies. Outro sector capaz de gerar riqueza o da construo e da reparao naval, tambm ele beneficiando da proximidade das rotas de navegao e da existncia do melhor estaleiro de reparaes da Europa, em Setbal, e de um bom estaleiro de construo em Viana do Castelo, para alm de outras infra-estruturas tcnicas de menor dimenso. Estas so parte de um todo a exigir reformas de redimensionamento, de renovao tcnica e de inovao tecnolgica e cientfica. Os hbitos ancestrais de convivncia com o mar fizeram dos Portugueses grandes apreciadores de peixe, de tal forma que o seu consumo cerca de o triplo da mdia, per capita, na UE. Contudo, o excesso de capturas praticado nas nossa guas, sobretudo num passado recente, levou diminuio das populaes pisccolas e consequente reduo das capturas. Por isso, Portugal importa mais de metade do peixe que consome. previsvel que as medidas restritivas da pesca possam ajudar a recuperar a fauna martima, nalguma medida. No entanto, no campo da aquacultura que reside a possibilidade de um aumento sustentado da produo de peixe. O fundo dos mares portugueses no parece ser rico em hidrocarbonetos, pelo menos a fazer f na prospeco e pesquisa petrolferas feitas at hoje. Estas investigaes confirmam a existncia de petrleo, mas nunca foram identificadas quantidades que justificassem a sua explorao. No entanto, as condies naturais do nosso mar fazem admitir a probabilidade de se encontrarem significativas quantidades de hidratos de metano, sobretudo a partir dos 1 000 metros de profundidade. Entre as energias renovveis susceptveis de serem aproveitadas por ns, a das ondas a de maior potencial, face contnua agitao na costa ocidental do Continente e da generalidade do mar das Ilhas. um recurso prospectivo da ordem dos 15GW/ano, no Continente e de cerca de 6GW/ano, nos Arquiplagos, com interesse crescente, que est a ser objecto de investigao cientfica com boas esperanas. Os oceanos, incluindo a parte que nos respeita, tm uma enorme potencialidade para a biotecnologia, ou seja, a utilizao de organismos vivos para produzir ou modificar produtos, nomeadamente, microorganismos para fins especficos. Trata-se de um vasto acervo de substncias e produtos para uso em medicina, agricultura, aquacultura, saneamento, etc., que encontram nas fontes termais de profundidade locais privilegiados para a sua obteno. Assim, tambm na rea da produo de riqueza, o mar constitui uma impressionante fonte de recursos naturais para o Pas, certamente a mais importante de todas. A sua explorao requer uma viso integradora que percorra transversalmente todas as actividades, a articular num verdadeiro cluster. um forte desafio para o futuro, a encarar como as Novas Descobertas, pelas geraes de hoje. Trata-se, contudo, de um repto que exige, desde o incio, a satisfao de um pressuposto essencial, traduzido na imperativa gesto integrada do Oceano de forma ecologicamente sustentvel. , de facto, uma condio que a no ser convenientemente entendida e praticada com rigor por todos os agentes, pblicos e privados, com capacidade de interveno no sistema martimo, conduziria no s impossibilidade de desenvolvimento da economia martima, como tornaria invivel a que j existe. Na verdade, no imaginvel incrementar, nem sequer manter, o turismo de cariz martimo, a produo pisccola, a extraco de produtos de biotecnologia e a qualidade de vida nas zonas costeiras, se o ecossistema marinho no for bem preservado. E h at que contar, neste aspecto, com o vcio adquirido pela nossa populao, ao longo de geraes, de lanar no mar os subprodutos da sua actividade, habituada grande capacidade de assimilao das profundas e dinmicas guas do Oceano que a posio geogrfica de Portugal nos ps porta. Este mau hbito, a presso urbana, o desenvolvimento das infra-estruturas da orla costeira e o funcionamento das indstrias martimas colocam cada vez mais exigncias e dificuldades manuteno da linha de costa e do Oceano, A IMPORTNCIA DO MAR E A LOCALIZAO DO ESPAO PORTUGUS 23. ATLAS DE PORTUGAL IGP 25 que j vtima, em termos de sade e de produtividade, de prticas passadas pouco cuidadosas, no planeadas, no integradas, nem cientificamente investigadas. Estas so precaues a tomar para no seguirmos o exemplo negativo de muitas partes do mundo, envolvidas numa espiral descendente de degradao do mar. A investigao e as cincias do mar so essenciais proteco ambiental do oceano e tornam-se igualmente indispensveis explorao econmica e ao seu uso para fins de segurana e de defesa. uma necessidade evidente, se atentarmos na circunstncia de o oceano continuar a ser razoavelmente desconhecido, apesar de usado desde longa data. Faz-se mesmo a comparao dos 5% a 7% do fundo dos oceanos cobertos por imagens pticas ou acsticas com o disponvel conhecimento integral da superfcie da Lua Hoje, tal como no passado histrico, no pode haver investigao cientfica nem desenvolvimento das economias baseadas no ambiente marinho sem liberdade do uso do mar e sem a interdio desse espao a actividades condenadas pela lei internacional. Para isso, cada estado costeiro de per si estende a autoridade soberana, ou apenas a jurisdio, as reas da sua competncia, da mesma forma que os estados, enquanto comunidade global, procuram velar pelo cumprimento da lei internacional no alto mar, ou seja, no grande espao no sujeito a qualquer vnculo de um s estado. Alm disso, o mar pode tambm ser palco de conflitos violentos entre estados, originados por disputas de interesses cujo objecto tanto pode radicar nele como em terra. Existe, pois, a necessidade de os estados costeiros preservarem a sua segurana e defesa contra riscos e ameaas configurveis no mar. Aqueles e estas tm, com os tempos, vindo a tornar-se mais amplos, imprevisveis e intensos, mesmo fora dos quadros de conflito, como, por exemplo, o terrorismo, a pirataria, o trfico de armas, de drogas e de pessoas, a imigrao clandestina, o derrame acidental ou intencional de substncias perigosas, etc. Tambm as ameaas clssicas impem a necessidade de serem dissuadidas ou contrariadas pela fora, o que leva os estados a considerarem, isoladamente ou em alianas, o estabelecimento de uma componente martima da sua defesa. Portugal no pode constituir excepo, por ser um estado soberano, quase arquipelgico, detentor de vastas reas martimas de grande importncia geoestratgica e econmica e ainda por ter a responsabilidade de uma longa linha de fronteira martima da UE. Precisa, por isso, de exercer autoridade no mar, em misses de paz dirias, fazendo cumprir a sua lei e tambm a internacional, e de proteger os utilizadores do mar dos efeitos agressivos do ambiente marinho, assim como tem necessidade de estar preparado para, isoladamente, ou como membro das alianas que integra, defender os interesses que lhe so prprios, dentro das suas alargadas fronteiras de defesa. Ao seguir-se, assim, o percurso histrico de Portugal, desenhado a partir da posio geogrfica de finisterra, verificamos que o mar esteve presente, de forma marcante, na estruturao inicial do pas, como elemento aglutinante das suas gentes, como meio de rotura do isolamento comercial e tcnico-cientfico a que a geografia continental o obrigava e como factor de mais valias estratgicas da reconquista crist. Depois, a posio de frente atlntica do territrio, a morfologia da costa, a opo estratgica do mar, a sabedoria, a organizao e a coragem das suas gentes constituram a plataforma de lanamento para a gesta dos descobrimentos. O Mar, transformado por ns em Oceano, foi caminho de expanso, de encontro de culturas e de engrandecimento do Povo que no quis caber no bero em que nasceu. Hoje, o Mar-Oceano assume nova importncia vital para a Nao ao oferecer-lhe a marca de identidade que a distingue numa regio e num mundo em homogeneizao e ao proporcionar-lhe recursos econmicos inesgotveis. O Mar foi, e ser generoso para os Portugueses, mas exige deles uma contrapartida importante. A de ser protegido contra novas e velhas ameaas, provenientes quer de prevaricadores compulsivos, quer de cidados ignorantes do ambiente. Foi nessa linha de rumo que o Mar da nossa geografia ligou o passado de Portugal ao seu presente e vai, se ns quisermos, ser a ponte ocenica para um futuro de boa esperana. 24. 26 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA Portugal, finisterra a sudoeste do continente euro-asitico, deve sua posio os traos que mais o distinguem na Pennsula Ibrica, onde est inserido e de que parte integrante, pelas suas estruturas geolgica e oro-hidrogrfica. O mar, que o enfrenta a Oeste e a Sul, serviu-lhe sempre de via de ligao humana e de comrcio, primeiro com o ocidente europeu, sculos depois na sua expanso pelos Novos Mundos, aventura em que foi pioneiro e de que restam, ainda, na sua soberania, os arquiplagos dos Aores e da Madeira. A grande parcela do territrio portugus, no canto sudoeste da Europa, bem, como dizia Orlando Ribeiro, mediterrnea por natureza, atlntica por posio. Mas o Pas no se confina a estes escassos 89 000km2: prolonga-se por cerca de 1 100 milhas para ocidente e um total de mais de 3 000km2, diferentemente repartidos pelas nove ilhas aorianas e pelas duas principais madeirenses (nicas habitadas), o que confere toda a legitimidade expresso de Adriano Moreira ao falar da maritimidade e continentalidade de Portugal. 25. 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:20 Pgina 27 26. 28 ATLAS DE PORTUGAL IGP Henrique Souto O MAR QUE NOS ENVOLVE D M MC A Morfologia dos fundos do Oceano Atlntico Norte A AORES M MADEIRA MC MARGEM CONTINENTAL PORTUGUESA D DORSAL MDIO-ATLNTICA A morfologia dos fundos As dorsais mdio-ocenicas (como a Atlntica) correspon- dem aos locais a partir dos quais os fundos ocenicos se propa- gam, pela injeco de material magmtico (da serem ssmica e vulcanicamente activas), resultando elevaes baslticas que ori- ginaram ilhas. Atravessadas por falhas transversais, ditas trans- formantes, estas regies so, do ponto de vista geolgico, extre- mamente complexas. Na imagem que configura o fundo do oceano Atlntico Norte destaca-se a dorsal mdio-atlntica (D) e respectivas falhas; na rea que interessa a Portugal, o arquiplago dos Aores (A) na microplaca homnima, que se localiza na juno das placas Norte-Americana, Euroasitica e Africana, o arquip- lago da Madeira (M) na placa Africana e a Margem Continental Portuguesa (MC). So igualmente visveis vrias formas subma- rinas, como bacias (plancies abissais) e montes (bancos). As ilhas que constituem os arquiplagos dos Aores e da Madeira, de origem vulcnica, mas formadas em diferentes pocas, sofre- ram aos longo dos tempos (e os Aores ainda sofrem) vrios fenmenos de sismicidade e de vulcanismo; foram formadas e erodidas, passaram por perodos de transgresso e de regresso marinha... A batimetria junto aos arquiplagos vigorosa, pas- sando-se rapidamente para grandes profundidades. A topografia do fundo do Arquiplago dos Aores extre- mamente complexa. Assente num planalto com uma profundi- 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:21 Pgina 28 27. ATLAS DE PORTUGAL IGP 29 UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve dade mdia de -1 500m, sobre o qual se formaram as ilhas, possvel encontrar nesta rea fossas profundas e montes (bancos) a pouca profundidade. Entre as primeiras merece destaque a fossa Hirondelle, com mais de 3 000m de profundidade; de entre os segundos, merecem destaque o Banco D. Joo de Castro, entre as ilhas de So Miguel e da Terceira, e os Bancos Aor e Princesa Alice, a sudoeste da Ilha do Pico. Ao invs, os fundos ocenicos junto ao continente portugus revelam a sua origem continental, pois que o contacto entre as crostas de origem ocenica e continental se faz ao largo e no junto linha de costa, num domnio designado por margem continental; no caso portugus, esta margem de tipo passivo. Apresenta a configurao normal, ou seja, uma plataforma continental de declive suave (at aos 200m de profundidade), seguindo-se-lhe a vertente continental, de declive mais acentuado, que liga a primeira aos grandes fundos ocenicos. A plataforma continental portuguesa estreita e cindida por diversos vales e canhes submarinos, dos quais se destacam os canhes da Nazar, do Tejo (Lisboa) e do Sado (Setbal). O talude continental, que liga a plataforma s plancies abissais apresenta declives variveis, sendo mais vigorosos entre o Vale de Aveiro e o Canho da Nazar e mais suaves no esporo da Estremadura. O sop do talude continental corresponde a uma rea de acumulao de sedimentos, essencialmente de origem terrgena, que faz a ligao s grandes plancies abissais, localizadas a mais de 2 000m de profundidade, ou a sistemas mais complexos, como o do Banco Gorringe. Correntes ocenicas A circulao das massas de gua superficiais no Oceano Atlntico Norte dominada por um largo giro (com aproxima- damente 1 000km de dimetro e que roda no sentido dos ponteiros do relgio). Para os territrios nacionais a circulao a norte do referido giro a mais importante. Nela esto contidos: A Corrente do Golfo (CG) A CG uma das mais fortes correntes ocenicas (atinge velo- cidades da ordem dos 2,5m/s, transporta at 150Sv e tem uma largura superior a 200km); transfere calor das regies tropicais, mais quentes, para as latitudes mais altas. Esta corrente tem incio no Golfo do Mxico, desloca-se ao longo da costa leste dos Estados Unidos at Baa de Chesapeake, de onde parte para o interior do Atlntico at atingir as ilhas britnicas. Embora perca naturalmente calor na sua viagem, ainda conserva o suficiente para moderar o clima do Norte da Europa (razo por que, mesma latitude, a costa norte-americana apresenta sem- pre valores da temperatura do ar inferiores s registadas nas regies europeias mais prximas do oceano). A CG vai-se divi- dindo em vrios ramos, dando origem, entre outras, Corrente do Atlntico Norte, deriva do Atlntico Norte (que se dis- tribui entre as latitudes 50 e 64N e que no tem nenhum influncia nos territrios portugueses) e Corrente dos Aores. Correntes de superfcie no Oceano Atlntico Norte CG SCP CC CA 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:21 Pgina 29 28. 30 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve 1. Afloramentos rochosos na costa Norte da ilha da Madeira Sonografia (imagem acstica) obtida com um sonar de varrimento lateral, a 400kHz, na costa Norte da ilha da Madeira, na qual possvel observar afloramentos rochosos com vrios metros de altura, tpicos de zonas de origem vulcnica. 2. Sedimentos na costa Norte da ilha da Madeira Sonografia (imagem acstica) obtida com um sonar de varrimento lateral, a 400kHz, na costa Norte da ilha da Madeira. A imagem corresponde a uma zona aplanada onde se observam manchas mais escuras, correspondentes a depsitos de sedimento fino, que cobrem parcialmente o fundo de areia grosseira. A areia apresenta fissuras sedimentares que se desenvolvem transversalmente corrente, indicadoras de transporte pelo fundo, designadas ripples. 3. Perfil da costa Sul da ilha da Madeira Perfil de reflexo ssmica de elevada resoluo obtido na costa Sul da ilha da Madeira com um sistema tipo sparker. A cobertura sedimentar, onde se pode observar uma sequncia progadante, assenta sobre uma superfcie rochosa, aplanada durante a subida do nvel do mar. 1 2 3 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:21 Pgina 30 29. ATLAS DE PORTUGAL IGP 31 UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve Batimetria do Oceano Atlntico Norte na zona do mar portugus Corrente dos Aores (CA) A CA tem origem num ramo da Corrente do Golfo, na rea dos Grandes Bancos (40N, 45W). Supe-se que no Inverno esta corrente consiste num fluxo nico, enquanto no Vero se subdivide em dois ramos: o mais setentrional desloca-se directa- mente para a regio dos Aores enquanto o mais meridional contorna o arquiplago pelo sudoeste, vindo a juntar-se, a sul deste, com o ramo norte. Muito complexa e varivel, a CA tem uma largura de cerca de 150km e 1 000m de profundidade. Caracteriza-se tambm por possuir grandes gradientes termohalinos (isto , bruscas variaes da temperatura e da salinidade). Calcula-se que o fluxo da corrente principal seja da ordem dos 10 a 12Sv. Corrente das Canrias (CC) A CC flui ao longo da costa africana de Norte para Sul entre 30 e 10 de latitude Norte e, para o largo, at 20 de longitude Oeste, influenciando as guas do arquiplago da Madeira. uma corrente larga (cerca de 1 000km), lenta (10 a 30cm/s), de guas relativamente frias e com uma profundidade de cerca de 500m. A CC d origem a uma corrente de ressurgncia (upwelling) costeira. Sistema de Correntes de Portugal (SCP) O SCP caracterizado, genericamente, por um fluxo de sentido Norte-Sul, desde os 46 e os 36 de latitude Norte e, para o largo, at aos 24 de longitude Oeste. um sistema com- plexo e de difcil definio espacial, devido s interaces entre correntes costeiras e do largo, batimetria e massas de gua. Constitudo por vrias correntes (a Corrente de Portugal, a Corrente Costeira de Portugal e a Contracorrente Costeira de Portugal), o SCP dominado pelo giro do Atlntico Norte, que se caracteriza por ser uma regio de circulao lenta entre a Corrente do Atlntico Norte e a Corrente dos Aores. A Corrente de Portugal propriamente dita marca, grosseiramente, o limite norte da Corrente das Canrias e tem uma largura estimada de 300km. Transporta cerca de 2Sv a uma velocidade mdia de 1,6cm/s. O mar e a atmosfera Dada a sua posio em latitude, o territrio portugus influenciado no Inverno pelas massas de ar hmidas que atra- vessam o Atlntico em conformidade com a circulao geral da atmosfera, de oeste para leste; no Vero, a subida para norte do anticiclone dos Aores funciona como obstculo penetrao das referidas massas de ar no territrio nacional, tornando o tempo quente e seco; as estaes de transio (Primavera e Outono) alternam os estados de tempo, ora com dias quentes 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:21 Pgina 31 30. 32 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve Batimetria do Canho da Nazar A imagem do Canho da Nazar foi obtida atravs de um sistema multifeixes de modo a mostrar a morfologia detalhada do canho nos seus primeiros 5km at uma profundidade de 330m. A imagem foi obtida pelo Instituto Hidrogrfico no mbito do Projecto SECNA (Estudo Morfo- dinmico da Cabea do Canho da Nazar) com uma ecosonda de feixes mltiplos SIMRAD EM 950 instalada no UAM Coral. O sistema possui uma largura de feixe de 3.3x 3.3 e um total de 60 feixes, com um ngulo de cobertura de 130. A rea coberta de aproximadamente 15km2. Cdigo colorido de 0 a 330m. Grelha de resoluo de 3m. Escala vertical exagerada 3 vezes. Corrente do Golfo A imagem, obtida por infravermelhos num dia sem nuvens, mostra a temperatura das guas, sendo as de cor prpura as mais frias (cerca de 7C), seguindo-se-lhe, por ordem de temperatura, o azul, o verde, o amarelo e o vermelho (representando esta cor temperaturas da ordem dos 22C). Na imagem so visveis movimentos giratrios de guas quentes (eddies) no sentido dos ponteiros do relgio. Estes movimentos aumentam as trocas de calor e de gua entre as zonas costeiras e o largo. e secos ora com dias chuvosos e com muito vento. O estado do mar acompanha de perto o estado da atmosfera, mas com nuances locais e regionais importantes. Na costa ocidental (entre o rio Minho e o Cabo de So Vicente) ocorrem, em cerca de 80% do ano, situaes com vaga associada aos ventos de norte e de noroeste, o que no Vero ocasiona o regime de nortada, com importante variao diurna (maiores alturas e perodos para o fim da tarde) enquanto todas as reas abrigadas de noroeste tm estados de mar muito calmos, razo por que todos os portos da costa ocidental esto protegidos deste quadrante. No Inverno e nas estaes de transio so, porm, comuns situaes de mar de sudoeste associadas a depresses ou superfcies frontais que originam reas de gerao de sudoeste, o que torna a entrada e a sada dos portos difcil, por vezes durante vrios dias. Todavia, para a navegao a maior limitao a ocorrncia de temporais de oeste, no Inverno, o que ocasiona o encerramento da maioria dos portos: associada descida em latitude de frentes polares, origina ondulao forte de oeste (at 8m de altura) e persiste durante 8 ou mais dias. Na costa sul (do Cabo de So Vicente ao rio Guadiana), dada a sua orientao Oeste/Este e a sua menor latitude, o mar mais calmo e apresenta em mais de 70% do ano ondas de altura inferior a 1m. Na maior parte do ano, a costa algarvia apresenta o designado mar de brisa, gerado localmente e com marcada periodicidade diurna: de manh o mar apresenta-se encrespado de sudoeste e pequena vaga (0,5m), rodando com o vento para norte e tornando-se para o fim da tarde de cerca de 1m de altura, para depois cair at de madrugada. Na costa algarvia, as situaes mais problemticas para a navegao prendem-se com o mar de levante, quando o vento sopra de sudeste e a altura das ondas chega a ultrapassar os 3m; o vento e a vaga associados a esta situao aparecem em poucas horas e so provenientes do estreito de Gibraltar. Para alm das situaes de Levante, tambm a ocorrncia de nortadas origina problemas navegao pois d origem a alturas de onda crescentes com a distncia a terra (0,5m a 5 milhas da costa e 1,5m a 20 milhas). As situaes associadas a temporal de oeste, na costa ocidental, originam na costa sul agitao martima de sudoeste, com 2 a 3m de altura, a qual diminui para sotavento. Variaes de temperatura A temperatura da gua de superfcie apresenta uma variao latitudinal normal, isto , com a diminuio da temperatura de sul para norte: no Inverno, entre os 15-16C na costa sul e os 12-13 nas guas mais setentrionais; no Vero, entre os 20-21 do sul e os 17-18 C do norte. Este padro geral , no entanto, complicado quando ocorrem ventos de nortada, situao em que a temperatura das guas junto costa diminui, como consequncia do ressurgimento (upwelling) de guas mais profundas, e mais frias, que compensam o deslocamento para oeste das guas superficiais. Pode esperar-se uma diminuio de 2 a 3C na temperatura das guas. 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:21 Pgina 32 31. ATLAS DE PORTUGAL IGP 33 UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve Perfis orobatimtricos da costa portuguesa Este ressurgimento de guas, por trazer para a superfcie guas mais ricas em nutrientes, potencia a produtividade primria das guas (aumenta a biomassa de fitoplncton), com reflexos em toda a cadeia alimentar. Inversamente, pode ocorrer um aumento de 1 a 2C quando ocorrem ventos fortes dos quadrantes de sudoeste, com a consequente deriva para a zona costeira de guas mais quentes. As caractersticas das guas marinhas condicionam a ocorrn- cia da vida no oceano, nomeadamente os nveis de luminosidade (e respectivo fotoperodo), a temperatura e a disponibilidade de nutrientes nas guas superficiais. Dependente da fotossntese, como sobre os continentes, a elaborao de matria orgnica pelos organismos produtores (no caso dos oceanos, essencialmente o fitoplncton) tem caractersticas marcadamente estacionais, com um pico na Primavera. A uma maior biomassa destes organismos corresponder mais zooplncton, e, consequentemente, maior quantidade de peixes planctfagos, como os pequenos pelgicos como a sardinha (Sardina pilchardus), repercutindo-se, assim, na maior ou menor biomassa passvel de ser explorada pela pesca. 500 0 -500 -1 000 -1 500 10 00020 00030 00040 00050 00060 000 Perfil NE-SW m 50 000100 000150 000 1 000 0 -1 000 -2 000 -3 000 -4 000 200 000250 000300 000 Perfil NE-SW m Perfil E-W 500 0 -500 -1 000 -1 500 -2 000 -2 500 -3 000 20 00040 00060 00080 000100 000 m Costa alentejana Banco Gorringe Serra da Arrbida Canho de Setbal Nazar Canho da Nazar 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:34 Pgina 33 32. 34 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA O mar que nos envolve DezNovOutSetAgoJulJunMaiAbrMarFevJan % 1,49 0,36 2,13 16,16 9,00 15,79 39,79 38,73 21,11 5,40 6,55 2,55 DezNovOutSetAgoJulJunMaiAbrMarFevJan 10,41 2,35 11,34 31,84 24,76 42,66 49,67 52,98 37,46 21,64 23,04 14,38 % DezNovOutSetAgoJulJunMaiAbrMarFevJan % 40,00 33,88 57,81 69,01 81,56 89,19 92,64 95,82 85,50 64,48 69,43 34,93 10o 15o 20o Leixes 10o 15o 20o Peniche 10o 20o 15o 25o Praia da Rocha 10o 15o 20o Cabo de S.Maria Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Maro Fevereiro Janeiro 10o 15o 20o Santa Marta 10o 15o 20o Sines Leixes Peniche Santa Marta Sines Praia da Rocha Cabo de Santa Maria Temperatura mdia mensal da gua do mar superfcie, s 09h00 TU Altura das ondas inferior a 1m Costa Ocidental Zona da foz do rio Minho ao Cabo Raso Ocorrncia nos diferentes meses; registos: Cabo da Roca, 1976/1980 Costa Ocidental Zona do Cabo Espichel ao Cabo de So Vicente Ocorrncia nos diferentes meses; registos: Sines, 1974/1980 Costa Sul Zona do Cabo de Sagres foz do Rio Guadiana Ocorrncia nos diferentes meses; registos: Faro, 1976/1980 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:34 Pgina 34 33. Florao de fitoplncton ao largo de Portugal Na imagem visvel uma florao fitoplanctnica (bloom) ao largo da costa de Portugal; estas floraes ocorrem com mais frequncia no incio da Primavera. Observao no dia 23 de Abril 2002. 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:34 Pgina 35 34. UM PAS DE REA REPARTIDA Raquel Soeiro de Brito A TERRA QUE HABITAMOS Portugal Continental forma um rectngulo muito alongado no sentido Norte-Sul (848km de comprimento por uns escassos 250km de largura, entre 429' e 3657' de latitude Norte e 611' e 930' de longitude Oeste). As Regies Autnomas dispem-se em dois grupos em pleno Atlntico: o arquiplago dos Aores (2 333km2) formado por nove ilhas situadas, grosso modo, latitude de Sines, entre 1 400km e 2 000km a oeste desta costa alentejana; o da Madeira, no seu conjunto abrange 793km2, composto por duas ilhas principais Madeira e Porto Santo localizadas a pouco mais de 1 000km a sudoeste de Lisboa, latitude do Cabo Branco, na costa africana, da qual dista uns 800km, e tambm pelos ilhus das Desertas e pelo grupo das Selvagens, localizados mais a sul, pela latitude de Agadir. A posio de fachada atlntica da Pennsula Ibrica influencia decisivamente a fisionomia de Portugal Continen- tal pelas condies naturais que lhe imprime: a persistncia de um clima mais hmido que no resto do Pas, solos mais profundos, possibilidade de existncia de maior variedade de espcies cultivadas, presena de uma estreita faixa plana que desde cedo foi aproveitada como eixo de comunicao Norte- -Sul por uma populao densa e dispersa e que, medida da sua cultura, soube aproveitar estes recursos naturais; mas, tambm, o favorecimento de uma larga sada para o mar que, sendo muitas vezes traioeiro, foi um elemento de primordial importncia ao longo da nossa Histria. Contudo, o cariz atlntico que domina todo o ocidente do pas vai-se esvaindo medida que se caminha para leste: o clima torna-se mais seco e menos temperado, os campos tornam-se dourados no incio do Vero, quente e seco, a populao diminui e agrupa-se: o Portugal quase continental, a norte, e mediterrnico, a sul. A posio insular das Regies Autnomas, aliada sua natureza vulcnica, confere aos arquiplagos aspectos especficos, dos quais, para j, se salientam as acessibilidades e a ocupao do espao. Portugal Continental, fachada atlntica da Pennsula Ibrica 36 ATLAS DE PORTUGAL IGP 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:35 Pgina 36 35. UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:35 Pgina 37 36. 38 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos Unidades morfoestruturais Portugal faz parte da maior unidade morfoestrutural da Pennsula, o Macio Antigo que, de Espanha, entra largamente no nosso pas, onde ocupa todo o Minho e Trs- -os-Montes e a maior parte das Beiras e do Alentejo, formando um conjunto de troos aplanados. A sua altitude mdia ronda os 800-900m a norte da Serra da Estrela, a maior elevao em Portugal (1 990m), no horst que forma a Cordilheira Central e faz a separao entre os troos da Meseta Norte e a do Sul, a qual no ultrapassa os 300-200m, descaindo para sudoeste. So cerca de sete dcimos do territrio continental cons- titudos por um conjunto de rochas pr-cmbricas e paleozicas, com predomnio de xistos, granitos e quartzitos, enrugados ou deslocados por vrios ciclos orognicos, de entre os quais os movimentos hercnicos imprimiriam a orientao de conjunto a afloramentos primrios das cristas quartzticas, especialmente no Norte, mais fortemente afectado por estes movimentos orognicos. Nas suas bordaduras, centro-oeste e sul, encontram-se as Orlas Sedimentares, cujos sedimentos variados, sobretudo calcrios e margas, assentam num substrato pouco profundo e sofreram vrias fases sucessivas de enrugamentos e eroso. O limite da Meseta com a Orla Sedimentar de Oeste, grosso modo, de Aveiro at Tomar, segue a direco Norte- -Noroeste da linha de costa, em contacto abrupto, rectilneo; a partir da rea de Tomar, e sempre para ocidente, o contacto passa a fazer-se de forma muito irregular e recortada, atingindo, a Meseta, de dois a trs quintos da largura de Portugal ao longo do Alentejo com as Bacias Cenozicas do Tejo e Sado, grandes reas de abatimento, cuja subsidncia foi sendo gradualmente compensada pelo preenchimento com materiais detrticos; estes so essencialmente continentais (arenosos, cascalhentos, argilosos, calcrios lacustres, aluvies fluviais e fluvio-marinhos...) pouco deslocados e trans- bordando sobre as rochas do Macio Antigo. A partir de Sines e at Orla Sedimentar do sul do Algarve, o Macio Antigo estende-se de novo quase at ao mar, separado deste por estreita fmbria de areias; e no Algarve alarga-se de ls a ls, tendo como limite o sop sul da Serra Algarvia, onde entra, de novo, em contacto com calcrios e margas mesozicas. Evoluo geolgica do Oeste Peninsular As rochas mais antigas de Portugal formam grupos litolgicos muito heterogneos, profundamente transformados devido aos sucessivos agentes tectnicos e erosivos que os afectaram; so de idade pr-cmbrica, quer seja designada por srie negra, como alguns gneisses, quartzitos e vulcanitos do Nordeste Alentejano, ou complexo xisto-grauvquico com grandes extenses de xisto na Beira e no leste do Douro. Fa Ca Mo o C d em tan co Ba do Or Ma Esquema morfoestrutural Esquema das principais falhas activas Bacias cenozicas do Tejo e Sado (Tercirio-Quaternrio) Orlas Sedimentares (Secundrio) Macio Antigo Falhas Cavalgamento Morfoestruturalmente, o Continente portugus foi dividido pelos especialistas nestas trs reas bem diferentes, tanto quanto natureza litolgica como quanto estrutura. Falha comprovada Falha provvel Consideram-se activas as falhas que tenham sofrido movimentaes nos ltimos 2 milhes de anos. 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:35 Pgina 38 37. Carta geolgica de Portugal continental UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos ATLAS DE PORTUGAL IGP 39 Uma das caractersticas fsicas do Continente a grande variedade litolgica e as inmeras falhas que o atravessam. N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:35 Pgina 39 38. Esturios do Tejo e Sado Setembro 1998 40 ATLAS DE PORTUGAL IGP 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:35 Pgina 40 39. UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:35 Pgina 41 40. 42 ATLAS DE PORTUGAL IGP Carta hipsomtrica UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos m 2 000 1 100 600 400 200 100 50 N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:36 Pgina 42 41. ATLAS DE PORTUGAL IGP 43 Ria de Faro, Setembro 1998 No decurso do Paleozico ocorreram prolongados e com- plexos ciclos orognicos, de entre os quais se dever salientar a orognese hercnica. Ao longo do Mesozico, inicia-se o ciclo da orogenia alpina, embora os principais impulsos compressivos ocorressem no Cenozico, sendo muito atenuado nesta rea da Pennsula Ib- rica (devido ao afastamento do centro de actividade); apenas so caractersticos nos relevos da Arrbida, essencialmente pela sua direco Este Nordeste-Oeste Sudoeste e pelo intenso dobra- mento dos seus materiais. ainda no decurso do Mesozico que se sucedem avanos e recuos do nvel marinho, dos quais resultaram vrias fases de transgresso e regresso, originando diferentes tipos de calcrios, margas e argilas, materiais das orlas sedimentares. Na passagem do Mesozico para o Cenozico, d-se uma acentuada actividade magmtica originando os macios de Sin- tra, Sines e Monchique e, um pouco posteriormente, na regio de Lisboa, derrames de lava basltica e episdios de fases explo- sivas. Este final de perodo foi ainda marcado por uma emerso generalizada do territrio, que continuaria a ser retocado por agentes vrios, entre os quais os paleoclimticos Quaternrios so de grande importncia pelas marcas ainda hoje visveis: praias levantadas e terraos fluviais, vales em U e depsitos grosseiros (raas)... enquanto, ainda no Pliocnico se estabe- leciam a plataforma litoral e a actual rede hidrogrfica. O Miocnico foi caracterizado por vrias incurses marinhas que atingiram bacias litorais, nomeadamente a do Tejo e a do Sado, atingindo reas hoje to longe do mar como Vendas Novas e Ferreira do Alentejo. A partir do final deste perodo, as tenses tectnicas, resultam do choque entre a placa euro-asitica e a afri- cana, originando o basculamento da Pennsula para sudoeste. A energia libertada pelas numerosas falhas activas que atra- vessam o territrio ou se encontram na sua vizinhana podem originar sismos de intensidade varivel, sendo Portugal consi- derado como rea de risco ssmico moderado, embora tenha havido alguns de elevada intensidade. O mais catastrfico, foi o histrico de 1 de Novembro de 1755; o ltimo importante, ocorreu a 28 de Fevereiro de 1969, com uma magnitude de 7,2 na escala de Richter, e foi sentido em todo o Continente, em especial na costa atlntica e no ocidente do Algarve. Embora o risco ssmico a que a rea continental do pas est sujeita seja moderado, numerosos so os abalos de pequena e mdia intensidade. Nos Aores a sismicidade muito elevada, seja de origem tectnica ou vulcnica. Pelo contrrio, na Madeira, situada numa rea de baixa intensidade ssmica, estes fenmenos so raros. O relevo do Continente Todo o relevo o resultado, num dado momento geol- gico, da eroso sobre as estruturas. A Pennsula Ibrica , no seu conjunto, uma rea de terras altas, fendidas pelas bacias dos rios mais importantes; em Portugal, no Norte monta- nhoso concentram-se 95% das reas de altitude superior a 400m e todos os altos cimos para alm dos 1000m, que pela maior parte das vezes se erguem bruscamente apenas a uns escassos 50km da costa actual; no Sul predominam as terras baixas e aplanadas onde, acima de 500m, s persistem alguns relevos mais resistentes eroso os sinclinais de So Mamede e as cristas de quartzite de Marvo, no Nordeste alentejano, as corneanas de vora e o macio eruptivo de Monchique-Fia, no Sudoeste algarvio. Fisionomia das Regies Autnomas As ilhas que formam as Regies Autnomas dos Aores e da Madeira so todas de origem vulcnica, diferindo umas das outras pelo tipo de vulcanismo que as originou, pelo tempo de exposio aos elementos erosivos a que esto sujeitas e pela sua UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:36 Pgina 43 42. 44 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos Carta de declives % 25 15 8 3 N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:36 Pgina 44 43. ATLAS DE PORTUGAL IGP 45 posio em latitude, responsvel pela variao da quantidade de chuva e sua distribuio ao longo do ano. Nos Aores, a estrutura mais simples pode ser exemplificada pela ilha do Corvo, a mais complexa pela ilha de So Miguel. O Corvo apresenta-se, hoje, como um cone dissimtrico que se eleva do mar sempre bordejado por arribas que atingem a oeste, alturas superiores a 400m, truncado por uma caldeira, no fundo da qual se encontram pequenos cones secundrios A ilha mais complexa a de So Miguel, formada por qua- tro macios eruptivos sucessivamente mais jovens de leste para oeste: Povoao, Furnas, Fogo e Sete Cidades, separados uns dos outros por plataformas de superfcies e alturas dife- rentes, todas crivadas por grande nmero de cones secund- rios; a de Ponta Delgada a mais extensa e mais baixa. O lito- ral todo de arriba, encontrando-se os troos mais elevados (300-400m) no macio de leste e os mais baixos na plataforma de Ponta Delgada. A ltima erupo no arquiplago ocorreu em 1957/58, ao largo da ilha do Faial. Na madrugada do dia 27 de Setembro nascia um vulco, quilmetro e meio a Oeste dos Ilhus dos Capelinhos (da o seu nome); comeou como uma erupo submarina, com a projeco de jactos de gua e gases, a que se seguiu a de outros materiais com predominncia de cinzas, e finos lapilli, em jactos pontiagudos normalmente acompanhados por altssimas nuvens brancas, de vapor de gua. A acumulao deste material rapidamente originou uma clssica ilha em ferradura, bem visvel j a 5 de Outubro; aps uma sucesso de episdios no Outono de 1958, a erupo foi dada como extinta. No arquiplago da Madeira h muito que terminaram as manifestaes eruptivas. A ilha principal muito complexa e as formas vulcnicas provenientes dos grandes focos eruptivos do interior foram totalmente desmanteladas pela eroso (tal como acontece no macio da Tronqueira, na ilha aoriana de So Miguel); restam alguns cones no contorno da ilha e os dois arcos da Calheta e de So Jorge que sero o que resta de velhas caldeiras demolidas pela abraso. So Jorge Planalto vulcnico crivado de cones e utilizado para pastagens Santa Maria Interior de uma velha caldeira aberta para o mar, ocupada por vinhas e casas de veraneio Desertas Barreira de basalto levantando-se do mar Selvagens Baixas plataformas baslticas Intensidade ssmica (escala de Richter) Compilao de dados ssmicos, do ano 63 aC a 1989 dC, na margem Oeste da Pennsula Ibrica, segundo a teoria de Keilis-Borola X IX VIII VII VI V IV Magnitudes 4 5 6 7 UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:36 Pgina 45 44. 46 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos Sismos sentidos nos Aores com intensidade mxima superior a V na escala de Mercalli, 1974/2001 2001 1999 1998 1997 1996 1993 1990 1989 1988 1984 1983 1981 1980 1977 1974 Arriba inferior a 200m Arriba entre 200 e 400m Arriba superior a 400m Cones secundrios Caldeira Plataforma meridional Lagoa Arriba fssil 50 500 500 350 200 650 500 Esboo morfolgico da ilha do Corvo Curvas envolventes do relevo, equidistantes de 100m Plataformas subestruturais Caldeira fresca Caldeiras erodidas Conjuntos eruptivos erodidos Cones eruptivos Cornija de lava Plataformas de abraso provveis Arriba com mais de 100m de altura Arriba inferior a 100m Cursos de gua muito encaixados BretanhaMosteiros Ferraria Relva Lagoa gua de Pau Caloura Povoao Vila Franca Faial Faj do Calhau Nordeste Achada Ribeira Grande MaiaCapelas Sete Cidades L. do Fogo Furnas Rosto do Co Pta da Ajuda Pta Formosa Pta do Cintro Fteiras Ponta Delgada Esboo morfolgico da ilha de So Miguel V VI VII VIII IX 0 5 10 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:36 Pgina 46 45. ATLAS DE PORTUGAL IGP 47 10 20 30 40 50 50 FarolFarolFarol 100 152 50 50100 124 12 207 127 151 100 110 50 30 30 20 50 50 50 90 80 7060 137 40 Farol Farol Farol57 Farol 57 Farol 57 Farol 57 56 181 35 71 85 86 38 65 65 35 59 35 181 181 98 76 96 50 84 39 78 71 79 Evoluo do vulco dos Capelinhos 28 de Setembro 1957 10 de Outubro 1957 15 de Novembro 1957 18 de Dezembro 1957 28 de Janeiro 1958 21 de Fevereiro 1958 18 de Maro 1958 15 de Abril 1958 UM PAS DE REA REPARTIDA A terra que habitamos 22 de Maio/12, 14 de Junho 1958 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:36 Pgina 47 46. 48 ATLAS DE PORTUGAL IGP Janeiro 1958 6 de Outubro 1957, 16h00 15 de Outubro, 14h50 18 de Outubro, 10h00 11 de Outubro, 07h30 Evoluo do vulco dos Capelinhos 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 12:36 Pgina 48 47. ATLAS DE PORTUGAL IGP 49 2000 1979 1997 1971 1979 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:43 Pgina 49 48. 50 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA Raquel Soeiro de Brito CLIMA E SUAS INFLUNCIAS O clima, ou filme do tempo, definido por sries de valores mdios ou normais da atmosfera, num dado lugar, durante um perodo relativamente longo (fixado em 30 anos no primeiro Congresso Internacional de Meteorologia, comeando a primeira srie em 1901); o tempo a sntese do estado e dos fenmenos atmosfricos num lugar, num dado momento; s combinaes meteorolgicas mais frequentes d-se o nome de tipos de tempo. O clima um dos mais importantes factores que contribuem para a formao das paisagens, determinando o comportamento dos rios, ajudando a fazer o solo e, consequentemente preparando os mosaicos de vegetao e, ainda hoje, de maneira muito activa, influenciando os tipos de agricultura. Os elementos mais determinantes do clima so a precipitao, a temperatura, a humidade, a presso atmosfrica e o vento; as suas variadas combinaes originam as diferentes situaes de tempo, sentidas pelo Homem e pelos seres vivos. Precipitao >=1mm N de dias 150 140 130 120 110 100 90 80 70 Temperatura mdia do ar anual C 18 16 14 12 10 8 6 Insolao anual N de horas de sol 3 100 2 900 2 800 2 700 2 600 2 500 2 400 2 300 2 200 Notar a influncia da latitude, altitude e afastamento do mar na distribuio dos elementos climticos Elementos climticos O tempo de uma regio varia no s ao longo do ano, em consequncia do movimento de translao da Terra em torno do Sol, como ao longo do dia, devido ao seu movimento de rotao; para alm desta variabilidade cclica, h que contar com variaes no peridicas, por vezes de origem muito com- plexa. S dois exemplos: a variao de intensidade da radiao solar e a da transparncia da atmosfera terrestre, a qual pode ser provocada por grandes erupes vulcnicas e, numa escala menor, pela latitude, distncia ao mar, posio nos relevos, exposio aos ventos dominantes e, at, embora com um peso N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:43 Pgina 50 49. ATLAS DE PORTUGAL IGP 51 Precipitao total anual Nota: os ltimos apuramentos estatsticos disponveis referem-se ainda aos valores normais de 1961/1990. UM PAS DE REA REPARTIDA Clima e suas influncias mm 3 300 2 800 2 400 2 000 1 800 1 600 1 400 1 200 1 000 800 600 N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:44 Pgina 51 50. 52 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA Clima e suas influncias Total Max. diria N dias/ Mdia Amplitude Mdia dos Mdia dos Mxima do Mnima do anual (ms) ano anual md. anual mx. mensais mn. mensais ms mais quente ms mais frio (ms) (ms) (ms) (ms) Precipitao (mm) Estaes Temperatura (C) 1149,6 102,2 (Nov) 155 Porto 14,4 10,8 25,0 (Ago) 4,7 (Jan) 40,1 (Jul) -4,1 (Jan) 505,7 63,0 (Set) 79 Moncorvo 15,2 18,0 30,9 (Ago) 3,4 (Jan) 41,8 (Jul) -5,7 (Fev) 1916,3 243,5 (Fev) 144 Penhas Douradas 8,9 14,8 21,7 (Jun) -0,4 (Jan) 32,8 (Jul) -13,3 (Fev) (+34 neve) 707,5 87,5 (Nov) 113 Lisboa 16,6 11,7 27,7 (Ago) 7,8 (Jan) 40,3 (Ago) -1,2 ( Fev) 518,8 93,0 (Nov) 84 Campo Maior 16,5 16,4 33,8 (Jul) 4,4 (Jan) 45,6 (Jul) -5,0 ( Fev) 452,6 129,0 (Nov) 62 Faro 17,8 11,8 28,2 (Jul/Ago) 9,0 (Jan) 41,3 (Jul) -0,8 ( Fev) Precipitao e temperaturas bem menor, pela interferncia do homem, como o caso do chamado efeito de ilha urbana provocado pelas grandes cidades. Num mundo em que o turismo atinge foros de importante actividade econmica, o conhecimento do clima torna-se cada vez mais necessrio tanto para a obteno de informao o mais precisa possvel do estado mdio e valores extremos do tempo numa dada poca do ano, como para a escolha da loca- lizao das estaes tursticas. As condies gerais da circulao atmosfrica provocam uma sensvel diminuio da precipitao anual de norte para sul do Continente, reforada pela assimetria orogrfica; a barreira de relevos no Norte e o afastamento do litoral pro- vocam menor queda de chuva no interior, notoriamente na rede hidrogrfica, muito encaixada, do Douro. Em paralelo com a distribuio da chuva encontra-se a dis- tribuio do nmero de dias com precipitao igual ou superior a 1 mm e, em sua oposio, os valores da insolao nmero de horas de sol descoberto acima do horizonte que atingem, no Algarve, 3 100 horas, dos maiores valores da Europa. A temperatura mdia do ar evolui em sentido contrrio ao das chuvas, ou seja, aumentando de norte para sul onde as amplitudes trmicas so maiores; evoluo idntica se nota entre as temperaturas ao longo do litoral sempre mais amenas e as do interior com muito maiores amplitudes trmicas. As reas montanhosas do Norte mantm-se como ilhas de frescura ao longo dos meses de Vero e no Inverno atingem as tempe- raturas mais baixas sendo relativamente alto o risco de geada, praticamente desconhecido a sul do Tejo e em todo o litoral. A humidade relativa tem uma distribuio regional pouco marcada de Inverno e uma diminuio acentuada, paralela ao litoral, nos meses de Vero. O vento, ou movimentos horizontais de massas de ar, outro elemento de clima que interfere muito directamente com o sentimento de conforto sentido pelo Homem; e nele, tambm, se encontra uma diferenciao entre o interior do Pas, onde as direces e intensidades so variveis, em correlao importante com o relevo e seus alinhamentos; e o litoral, onde so bem marcadas as direces norte e noroeste. As frentes separam massas de ar de densidades diferentes; pela sua posio, em especial o Continente e o arquiplago dos Aores esto mais sujeitos passagem de frentes no Inverno do que no Vero; ainda devido posio, esporadicamente, o Continente e a Ilha da Madeira podem ser atingidos por poeiras oriundas do Sara. Da relao entre os vrios elementos de clima obtm-se os ndices de conforto bioclimtico, atravs dos quais, uma vez mais se nota, de uma maneira geral, o contraste entre o Norte e o Sul. Outra medio menos frequente, mas essencial pela repercusso em duas actividades importantes a pesca e o turismo a da temperatura da gua do mar superfcie, junto costa que, tal como em terra, aumenta de norte para sul e cuja mdia varia entre 12,3C, no ms de Janeiro, em Leixes, e 21,4C, nos meses mais quentes (Julho e Agosto), no Cabo de Santa Maria; mas, tal como noutros indicadores, notam-se algumas diferenas ao longo dos anos; por exemplo, em Leixes, entre 1956 e 1999 registou-se uma significativa tendncia crescente de cerca de 0,04C/ano. Para alm desta distribuio normal dos elementos climticos bsicos, verificou-se, pelo estudo de sries longas de valores registados nas estaes meteorolgicas mais significativas do Continente, que o aumento [actual] da temperatura mdia do ar ocorre em todas as estaes [do ano], sendo maior no Outono/Inverno do que na Primavera/Vero... e que a [tendncia] da taxa de aumento da temperatura mdia anual do ar, 0,0074C/ano, semelhante da mdia global calculada para todo o planeta. 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:44 Pgina 52 51. ATLAS DE PORTUGAL IGP 53 UM PAS DE REA REPARTIDA Clima e suas influncias Temperatura mdia do ar nos meses de Vero C 24 22 20 18 16 14 Mdia da temperatura mxima do ar nos meses de Vero C 32 30 28 26 24 22 20 Temperatura mdia do ar nos meses de Inverno C 14 12 10 8 6 4 2 Mdia da temperatura mnima do ar nos meses de Inverno C 10 8 6 4 2 0 Risco de geada Muito elevado Elevado Mdio Baixo Fraco ou inexistente Humidade relativa nos meses de Vero (s 09h00 TU) % 90 85 80 75 70 65 60 55 50 N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:44 Pgina 53 52. 54 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA Clima e suas influncias Situao da frente fria de 6 de Fevereiro 2001, s 14h00 Imagem de radar mostrando a mancha nublosa associada a um sistema frontal A irregularidade do tempo no Continente A irregularidade do tempo uma caracterstica do clima do Continente, tanto na temperatura como na pluviosidade: ocorrem anos de secas intensas (que tanto podem ser genera- lizadas a todo o territrio, como afectar uma ou outra regio) e, com muita frequncia, principalmente no Outono, crises de elevada percentagem de precipitao, provocadas pela pas- sagem de frentes frias; se estes episdios chuvosos intensos so por vezes localizados e de curta durao, outro so mais prolongados. Como episdios prolongados de precipitao intensa e generalizada que originaram cheias e inundaes, destacam-se os Outonos/Invernos de 1978/79, 1989/90 e 1995 /96. O perodo Outono/Inverno de 2000/2001 caracterizou-se por valores muito altos de precipitao, no Norte e no Centro: relativamente s mdias normais de 1961/1990 os valores varia- ram entre 44% em Faro e 272% nas Penhas Douradas, no ms de Novembro, enquanto Dezembro foi, para a maioria das esta- es do Continente, o ms mais chuvoso da dcada 1991/2000: a variao de pluviosidade, neste ms, atingiu os 157% em Faro e 357% em Bragana e Castelo Branco. No ms de Maro de 2001 foram ultrapassados os valores mximos da quantidade de Intensidade do vento m/s > 8 8 7,5 7 6,5 6 5,5 5 4,5 4 3,5 3 < 3 Rosas de vento Altitude de 80m Resultados de simulao numrica Mdia anual de 1999 corrigida pela variabilidade de longo termo Altitude de 80m Resultados de simulao numrica c=calma em % Sistema Hayford-Gauss, Datum Lx (m) % 50 100 C N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:44 Pgina 54 53. Situao meteorolgica no dia 5 de Novembro 1997 As regies do Norte e Centro estiveram sob a aco de uma massa de ar sub-tropical martimo, que passou gradualmente a ar polar modificado com a passagem de uma superfcie frontal fria; as regies do Sul estiveram inicialmente sob a aco de uma massa de ar tropical martimo, passando rapidamente a ar sub-tropical e a ar polar modificado. A juno destes dois sistemas acompanhada por cavamento generalizado do campo da presso em toda a Pennsula, atravessou o territrio do Continente de Sagres a Elvas. Na imagem observa-se a massa nebulosa, de grande actividade, que se deslocava de sudoeste para nordeste (as cores branca e azul so indicativas das zonas mais frias, isto , de maior actividade). Imagem de satlite meteorolgico METEOSAT do dia 5 de Novembro 1997 s 20h30. ATLAS DE PORTUGAL IGP 55 UM PAS DE REA REPARTIDA Clima e suas influncias Situao de frentes em 29 de Dezembro 1998 Frente fria Frente quente Frente oclusa Depresso Anticiclone B A 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:44 Pgina 55 54. 56 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA Clima e suas influncias Variao das temperaturas anuais Mdia C ndice de conforto bioclimtico, 1941/2000 Julho Janeiro kcal/kg Muito quente Quente Confortvel (quente) Confortvel Confortvel (fresco) Frio moderado fresco Frio moderado Frio Variao dos valores da precipitao de Outubro a Maro Ano Valores 2002/03 normais 1961/1990 Viana do Castelo 15,9 14,6 Bragana 13,4 12,2 Vila Real 14,0 13,4 Porto Serra do Pilar 14,5 Penhas Douradas 9,9 9,0 Castelo Branco 16,2 15,7 Portalegre 15,9 15,1 Lisboa Geofsico 17,8 16,8 vora 15,7 Beja 17,2 16,2 Faro 18,3 17,2 Ano 2002/03 Valores normais 1961/1990 Mdia Mxima Mdia Mxima anual diria anual anual Viana do Castelo 20,6 39,5 19,7 21,1 Bragana 18,9 39,5 17,6 19,1 Vila Real 18,7 38,3 18,6 19,7 Porto Serra do Pilar 39,5 19,1 20,2 Penhas Douradas 13,3 32,9 12,6 13,9 Castelo Branco 21,3 41,6 20,9 22,5 Portalegre 20,3 41,3 19,5 20,8 Lisboa Geofsico 21,4 40,6 20,8 21,9 vora 43,0 20,6 21,8 Beja 22,9 45,4 22,2 23,5 Faro 22,2 39,6 21,9 22,5 Ano 2002/03 Valores normais 1961/1990 Mdia Mnima Mdia Mnima anual diria anual anual Viana do Castelo 11,2 -2,5 9,6 8,7 Bragana 8,0 -7,1 6,7 5,8 Vila Real 9,2 -2,9 8,1 7,4 Porto Serra do Pilar 11,9 -0,2 9,9 9,1 Penhas Douradas 6,6 -8,6 5,4 4,1 Castelo Branco 11,1 -2,3 10,5 9,6 Portalegre 11,6 -1,0 10,8 9,3 Lisboa Geofsico 14,2 2,4 12,8 11,9 vora -1,2 10,9 9,9 Beja 11,5 -1,6 10,1 9,3 Faro 14,4 1,4 12,5 11,4 1978/79 1989/90 1995/96 2000/01 mm mm mm mm Viana do Castelo 1430 1106 1528 2094 Bragana 908 780 931 1237 Vila Real 1308 788 1147 1629 Viseu 1474 1125 1209 1900 Penhas Douradas 1503 898 1626 1925 Porto Serra do Pilar 2024 1532 1349 2164 Coimbra 999 775 964 1216 Castelo Branco 990 1063 984 963 Portalegre 1073 761 1173 1124 Lisboa Geofsico 987 801 1050 887 vora 691 638 899 763 Beja 617 718 763 657 Faro 526 1029 895 411 Notar a grande variabilidade, embora mantendo sempre um mximo na Serra do Pilar (Porto) e uma diminuio de norte para sul Mxima C Mnima C N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:44 Pgina 56 55. Propagao das poeiras do deserto do Sara pelo Atlntico at ao arquiplago da Madeira Excepcionalmente vem-se nuvens de fumo de um grande incndio na serra de Monchique. Imagem obtida no dia 13 de Setembro 2003 871_05_Miolo_Pags1a80 06/02/01 15:44 Pgina 57 56. 58 ATLAS DE PORTUGAL IGP UM PAS DE REA REPARTIDA Clima e suas influncias Onda de calor 1 a 14 de Agosto 2003 N de dias 15 a 17 12 a 14 9 a 11 6 a 8 No existiu Mdia da temperatura mxima do ar 1 a 14 de Agosto 2003 C 40 38 36 34 32 Mdia da temperatura mnima do ar 1 a 14 de Agosto 2003 C 23 22 21 20 19 18 17 Anomalias de temperaturas mnimas do ar, 2002 C >3,6 2,7 3,6 1,7 2,6 1,2 1,6 0,7 1,1 -0,3 0,6 -0,8 -0,4 -1,3 -0,9 -2,3 -1,4 -3,4 -2,4 18 5 4 3 2 1 O peso da populao estrangeira residente em cada cidade revela um padro de distribuio particularmente interessan- te do qual se destaca a Faixa Litoral Oeste Atlntica e, nesta em particular, algumas cidades da rea Metropolitana de Lis- boa, a par da rede de cidades algarvias. As cidades do interior e de pequena dimenso demogrfica contm um baixo nmero de estrangeiros, visto possurem diminuta oferta de emprego. Esta distribuio no s releva um facto recente da nossa realidade demogrfica e urbana a imigrao como revela as cidades onde existem maior nmero de oportunida- des de vida e de acolhimento, seja de cariz institucional ou meramente informal de tipo familiar. Produzir cidade Vivemos hoje num quadro de profundas transformaes urbanas, do qual o conhecimento escasso e pouco sistema- tizado, mas j possvel constatar que muitas das tradicionais metodologias acadmicas e prticas de planeamento no se adequam aos actuais e reais cenrios urbanos. Os novos espa- os urbanos atingiram em muitos casos uma desqualificao e um grau de desarticulao que promovem o inverso de muito daquilo que a vida urbana deveria ter. Por exemplo, far pouco sentido continuar a investir no centro antigo das nossas pequenas e mdias cidades, com o intuito de preservar N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:28 Pgina 111 110. OS HOMENS E O MEIO Uma populao que se urbaniza 112 ATLAS DE PORTUGAL IGP e recriar a noo da cidade antiga, onde a inovao est arre- dada de qualquer tipo de interveno o centro da cidade meramente para ser visto e reconhecido como um museu a cu aberto, e simultaneamente desenvolver a grande e difusa periferia em torno da cidade antiga, onde possvel realizar quase tudo o que probido no centro. Mas assim se vo organizando muitas das nossas cidades: um centro de cidade preservado, cuidado, mas morto em termos de residentes e actividades criadoras de riqueza e uma periferia que ainda essencialmente residencial j conta com novas centralidades geradoras de emprego, apoiadas essencialmente no transpor- te privado e num urbanismo produtor de paisagens urbanas desqualificadas. Os tradicionais conceitos, por exemplo, de centro e peri- ferias, patrimnio e modernidade, inovao e tradio, conti- nuam ainda a modelar a viso e a aco de todos ns que, consciente ou inconscientemente, fazemos a cidade. A cidade feita por todos. Todos os dias, nas nossas mais pequenas decises do quotidiano de utilizao deste grande espao, par- ticipamos nesse grande acto colectivo de produzir cidade. Grandes edifcios, com 4 ou mais pavimentos, 2001 % 41 25 12 6 3 N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:28 Pgina 112 111. OS HOMENS E O MEIO Uma populao que se urbaniza ATLAS DE PORTUGAL IGP 113 Edifcios por poca de construo 1961/1980 1981/2001 Antes de 1945 1946/1960 % 100 80 60 40 20 10 N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:33 Pgina 113 112. Edifcios com necessidades de reparao, 2001 % 58 45 30 OS HOMENS E O MEIO Uma populao que se urbaniza 114 ATLAS DE PORTUGAL IGP Edifcios construdos depois de 1990 ndice de envelhecimento dos edifcios, 2001 % 31 24 12 % Alto (150 a 370) Mdio (50 a 150) Baixo (0 a 50) Alojamentos ocupados pelos proprietrios, 2001 % 70 60 50 40 Mdia das cidades: 53,51% 53 387 10 000 523 A dimenso dos crculos proporcional ao n total de edifcios nas respectivas cidades 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:33 Pgina 114 113. Populao estrangeira residente nas cidades, 2001 % 16 8 4 2 Mdia das cidades: 2% OS HOMENS E O MEIO Uma populao que se urbaniza ATLAS DE PORTUGAL IGP 115 Principal meio de transporte utilizado, 2001 Transporte pblico Automvel particular A p / motorizada / bicicleta Profisses de nvel intermdio Profisses administrativas e similares Pessoal dos servios e vendedores Agricultores e pescadores Operrios, artfices e similares Trabalhadores no qualificados Nota: o grupo constitudo por quadros superiores e dirigentes; profisses intelectuais e cientficas; membros das foras armadas, no predomina em nenhuma cidade Na pgina 114, a dimenso dos crculos proporcional ao nmero total de edifcios; nesta pgina, populao residente Profisso principal da populao residente, 2001 565 000 270 000 50 000 1 336 N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:33 Pgina 115 114. Entroncamento, 2002 vora e a sua envolvente, 2002 So Joo da Talha, Loures, 2002 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:33 Pgina 116 115. vora, 2002 Quinta do Conde, Sesimbra, 2002 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:34 Pgina 117 116. 118 ATLAS DE PORTUGAL IGP Coimbra, 2002 Guimares, 2002 Viseu, 2002 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:35 Pgina 118 117. 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:35 Pgina 119 118. OS HOMENS E O MEIO 120 ATLAS DE PORTUGAL IGP Rui Pedro Julio COMUNICAES E MOBILIDADE DA POPULAO Os elevados ritmos de transformao so uma caracterstica da sociedade moderna, onde os aspectos que tm permanecido como uma preocupao central so os da valorizao da informao e do conhecimento; ao longo do desenvolvimento recente da sociedade um dos aspectos estruturantes tem sido o do aperfeioamento das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC): a era da Sociedade de Informao ou da Sociedade de Inovao e do Conhecimento. Esta caracteriza-se por uma estrutura de desenvolvimento social e econmico onde os processos e tecnologias relativos aquisio, armazenamento, tratamento, explorao, distribuio e disseminao de informao assumem um papel preponderante. Em paralelo registaram-se nas ltimas dcadas fortes investimentos no domnio das infra-estruturas que transfiguraram o territrio nacional. Redes de comunicao O impulso tecnolgico dos ltimos trinta anos, sobretudo sentido a partir da segunda metade da dcada de 90, com a crescente integrao dos sectores da informtica e das teleco- municaes no dia-a-dia de todos ns, consolidou um novo modelo de organizao e funcionamento da sociedade, com um enfoque primordial na informao e conhecimento, uti- lizando as Tecnologias para agir sobre a Informao e no o contrrio com at aqui, construindo uma lgica de rede no funcionamento dos processos com a partilha de recursos, aumentando a flexibilidade das organizaes e dos processos baseada no emprego dos recursos tecnolgicos e na conecti- vidade e com uma crescente integrao das tecnologias con- vergindo para um sistema de informao global e eficaz. Portugal tem efectuado um forte investimento no desen- volvimento das suas infra-estruturas de suporte Sociedade de Informao. Neste aspecto tem sido um pas inovador e tem prosseguido uma poltica de incentivo e suporte s iniciativas orientadas para a promoo e valorizao do conhecimento. A importncia estratgica que os sucessivos governos vm conferindo a esta temtica tem sido manifestada como prioridade nacional, apostando-se de forma clara na genera- lizao do acesso aos meios de informao e de transmisso do conhecimento atravs de programas especficos de que hoje exemplo o Programa Operacional para a Sociedade da Infor- mao (POSI). Esta orientao poltica surgiu, de forma mais evidente, a partir de 1996 com a Iniciativa Nacional para a Sociedade da Informao e a criao, pelo Conselho de Ministros, da Mis- so para a Sociedade da Informao (MSI). No ano seguinte a MSI lana o Livro Verde para a Sociedade da Informao, documento estratgico com as principais linhas de orientao e de inter- veno necessrias ao desenvolvimento da Sociedade de Informao e do Conhecimento em Portugal. A anlise e o enquadramento das questes relativas Socie- dade da Informao passaram, a partir dessa data, a figurar nos instrumentos chave de governao como as Grandes Opes do Plano e o Plano Nacional de Emprego, nos documentos de orien- tao produzidos por instncias consultivas (como o Conselho Econmico e Social e o Conselho Nacional de Educao) e nos instrumentos de concertao social (POSI, 2004). No Plano Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (PNDES), elaborado em finais dos anos 90 para suporte pro- gramao do III Quadro Comunitrio de Apoio (QCAIII) dedica- do um espao de destaque ao desafio das economias baseadas no conhecimento e ao da sociedade de informao. Neste contexto, foram definidos como objectivos mobilizadores para promover o desenvolvimento da Sociedade de Informao em Portugal: Desenvolver um Estado Aberto aos cidados e empresas; Criar condies para o acesso de todos os cidados aos benefcios da Sociedade de Informao; Facilitar o acesso ao conhecimento, ao saber, cincia e cultura; Promover o desenvolvimento da economia digital. Sob a emblemtica designao de Portugal Digital tm vindo a ser financiados uma srie de projectos com base em iniciativas locais e regionais. Numa primeira fase, estas iniciativas condu- ziram s chamadas Cidades Digitais, mas hoje a tnica centra-se mais no conceito de Regio Digital onde se exploram as siner- gias das vrias entidades signatrias dos projectos. Estes 29 projectos representam uma cobertura quase inte- gral do territrio nacional; todos tm como objectivos 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:35 Pgina 120 119. ATLAS DE PORTUGAL IGP 121 OS HOMENS E O MEIO Comunicaes e mobilidade da populao comuns o acesso informao digital, a melhoria dos servios da administrao pblica e a criao de acessos a servios e informao teis ao cidado. Estes projectos contribuem para a aproximao das insti- tuies pblicas aos cidados atravs da modernizao e agili- zao do funcionamento das estruturas administrativas aos mais variados nveis. Aps algumas experincias pioneiras como a Montra Digi- tal de Aveiro ou o Cib@rcaf do Pavilho do Conhecimento, em Lisboa, hoje so j 182 concelhos (cerca de 60% do total) a disponibilizar espaos Internet aos seus cidados. o resultado de cerca de 200 projectos que proporcionam mais de 1 600 computadores com ligao Internet em espaos que vo des- de os 3 at aos 35 postos de trabalho. A quase totalidade dos projectos desenvolve-se no Conti- nente; nos Aores, apenas no concelho de Nordeste, na Ilha de So Miguel, e na Ilha da Madeira, nos concelhos de Ponta do Sol e de Porto Moniz. Para alm das infra-estruturas de acesso pblico, tambm se verificou nos ltimos anos um considervel esforo no sentido de ampliar as potencialidades de acesso privado a contedos atra- vs de redes de grande capacidade, de tal forma que Portugal regista a segunda maior taxa de penetrao neste mercado com 50%, logo a seguir Alemanha (53%) e Finlndia (50,9%). A ligao por cabo uma das formas paradigmticas para garan- tir esse acesso a baixo custo. Entre 2000 e 2002 a extenso das redes de cabo de fibra ptica duplicou a sua extenso, passando de um pouco mais de 5 000km para quase 11 000km, assumin- do-se hoje como um dos principais meios para acesso Internet, embora a maioria dos clientes (95%) ainda utilize as ligaes telefnicas normais para aceder Internet. Apesar do valor se encontrar sobre-estimado com a existn- cia de clientes registados em mais do que um servio de dial-up Iniciativas no mbito do POSI, 2004 Candidaturas Cidades/Regies digitais Espaos Internet, 2004 N de terminais 50 35 15 10 A branco quando no existem valores Lezria Vale do Ave Beira Baixa Litoral Alentejano Vale do Minho Oeste Digital Gaia Digital Lisboa Beja Vale do Lima Leiria Digital TMD Algarve Serra da Estrela Vale do Sousa vora Mdio Tejo Maia Viseu Digital ALO Digital Setbal Braga Coimbra Entre Douro e Vouga Seixal Portalegre Digital Primus Aveiro Digital Porto Almada N 0 25 50 km N 0 25 50 km 871_05_Miolo_Pags81a130 06/02/01 17:35 Pgina 121 120. OS HOMENS E O MEIO Comunicaes e mobilidade da populao 122 ATLAS DE PORTUGAL IGP (utilizando uma linha telefnica), verifica-se uma crescente per- da de importncia para os servios de acesso por cabo (utilizan- do a infra-estrutura de cabo de fibra ptica do sinal de televiso) e ADSL (Asymmetric Digital Subscriber Line) que registaram um forte crescimento no dois ltimos anos: multiplicando, respec- tivamente por 10 e 25, os clientes existentes em 2001. Outro indicador im