b01j 13/02 fascÍculo de patente de invenÇÃo

28
(11) Número de Publicação: PT 105489 (51) Classificação Internacional: B01J 13/02 (2006) (12) FASCÍCULO DE PATENTE DE INVENÇÃO (22) Data de pedido: 2011.01.18 (30) Prioridade(s): (43) Data de publicação do pedido: 2012.07.18 (73) Titular(es): ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT OF TISSUE ENGINEERING AND CELL BASED TECHNOLOGIES & THERAPIES (A4TEC) UNIVERSIDADE DO MINHO, DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE POLÍMEROS, 3B'S RESEARCH GROUP CAMPUS DE GUALTAR 4710-057 BRAGA PT (72) Inventor(es): ERKAN TURKER BARAN TR ANA CARINA LOUREIRO MENDES PT HELENA PAULA DE SOUSA SEPÚLVEDA AZEVEDO PT RUI LUÍS GONÇALVES DOS REIS PT (74) Mandatário: JOSÉ RAUL DE MAGALHÃES SIMÕES RUA CASTILHO, 167 - 2.º LISBOA 1070-050 LISBOA PT (54) Epígrafe: DISPOSITIVO, MÉTODO E SISTEMA DE FABRICO DE MICROCÁPSULAS (57) Resumo: A PRESENTE INVENÇÃO DESCREVE UM NOVO DISPOSITIVO PARA A FORMAÇÃO DE MICROCÁPSULAS, SENDO BASEADO NA FORMAÇÃO DE MICROGOTAS NO INTERIOR DE UM TUBO DE SILICONE QUE É PERFURADO COM UMA AGULHA NÃO AFIADA COLOCADA NA POSIÇÃO VERTICAL (1). O DISPOSITIVO PRODUZ GOTAS ATRAVÉS DA INJECÇÃO VERTICAL DE UMA MISTURA HIDROFÍLICA POLÍMERO/ CÉLULAS NUM FLUXO DE ÓLEO HIDROFÓBICO QUE É MANTIDO HORIZONTALMENTE NUM TUBO DE SILICONE. A INJECÇÃO DA MISTURA POLÍMERO/CÉLULAS NUM FLUXO DE ÓLEO MINERAL RESULTA NA GERAÇÃO DE GOTAS ESFÉRICAS E NA FORMAÇÃO DE UMA EMULSÃO ÁGUA EM ÓLEO DEVIDA À IMISCIBILIDADE DAS DUAS FASES. POSTERIORMENTE, AS MICROGOTAS NA FASE DE ÓLEO SÃO CONVERTIDAS EM MICROCÁPSULAS ESTÁVEIS POR GELIFICAÇÃO NUMA CÂMARA SEPARADA CONTENDO UMA SOLUÇÃO RETICULANTE IÓNICA COM FORÇA IÓNICA E PH FISIOLÓGICOS.A UTILIDADE DAS MICROCÁPSULAS GERADAS PELO DISPOSITIVO DA PRESENTE INVENÇÃO É VIRTUALMENTE ILIMITADA NAS ÁREAS DE MEDICINA REGENERATIVA, LIBERTAÇÃO CONTROLADA DE FACTORES DE CRESCIMENTO OU DE FÁRMACOS.

Upload: others

Post on 02-Dec-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

(11) Número de Publicação: PT 105489(51) Classificação Internacional:

B01J 13/02 (2006)

(12) FASCÍCULO DE PATENTE DE INVENÇÃO

(22) Data de pedido: 2011.01.18

(30) Prioridade(s):

(43) Data de publicação do pedido: 2012.07.18

(73) Titular(es):

ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT OF TISSUE ENGINEERING AND CELL BASED TECHNOLOGIES & THERAPIES (A4TEC)UNIVERSIDADE DO MINHO, DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE POLÍMEROS, 3B'S RESEARCH GROUP   CAMPUS DE GUALTAR4710-057 BRAGA PT

(72) Inventor(es):

ERKAN TURKER BARAN TR

ANA CARINA LOUREIRO MENDES PT

HELENA PAULA DE SOUSA SEPÚLVEDA AZEVEDO PT

RUI LUÍS GONÇALVES DOS REIS PT

(74) Mandatário:

JOSÉ RAUL DE MAGALHÃES SIMÕESRUA CASTILHO, 167 - 2.º   LISBOA1070-050 LISBOA PT

(54) Epígrafe: DISPOSITIVO, MÉTODO E SISTEMA DE FABRICO DE MICROCÁPSULAS

(57) Resumo: A PRESENTE INVENÇÃO DESCREVE UM NOVO DISPOSITIVO PARA A FORMAÇÃO DE MICROCÁPSULAS, SENDO BASEADO NA FORMAÇÃO DE MICROGOTAS NO INTERIOR DE UM TUBO DE SILICONE QUE É PERFURADO COM UMA AGULHA NÃO AFIADA COLOCADA NA POSIÇÃO VERTICAL (1). O DISPOSITIVO PRODUZ GOTAS ATRAVÉS DA INJECÇÃO VERTICAL DE UMA MISTURA HIDROFÍLICA POLÍMERO/CÉLULAS NUM FLUXO DE ÓLEO HIDROFÓBICO QUE É MANTIDO HORIZONTALMENTE NUM TUBO DE SILICONE. A INJECÇÃO DA MISTURA POLÍMERO/CÉLULAS NUM FLUXO DE ÓLEO MINERAL RESULTA NA GERAÇÃO DE GOTAS ESFÉRICAS E NA FORMAÇÃO DE UMA EMULSÃO ÁGUA EM ÓLEO DEVIDA À IMISCIBILIDADE DAS DUAS FASES. POSTERIORMENTE, AS MICROGOTAS NA FASE DE ÓLEO SÃO CONVERTIDAS EM MICROCÁPSULAS ESTÁVEIS POR GELIFICAÇÃO NUMA CÂMARA SEPARADA CONTENDO UMA SOLUÇÃO RETICULANTE IÓNICA COM FORÇA IÓNICA E PH FISIOLÓGICOS.A UTILIDADE DAS MICROCÁPSULAS GERADAS PELO DISPOSITIVO DA PRESENTE INVENÇÃO É VIRTUALMENTE ILIMITADA NAS ÁREAS DE MEDICINA REGENERATIVA, LIBERTAÇÃO CONTROLADA DE FACTORES DE CRESCIMENTO OU DE FÁRMACOS.

1

RESUMO

DISPOSITIVO, MÉTODO E SISTEMA DE FABRICO DE MICROCÁPSULAS

A presente invenção descreve um novo dispositivo

para a formação de microcápsulas, sendo baseado na

formação de microgotas no interior de um tubo de silicone

que é perfurado com uma agulha não afiada colocada na

posição vertical (1). O dispositivo produz gotas através

da injecção vertical de uma mistura hidrofílica

polímero/células num fluxo de óleo hidrofóbico que é

mantido horizontalmente num tubo de silicone. A injecção

da mistura polímero/células num fluxo de óleo mineral

resulta na geração de gotas esféricas e na formação de

uma emulsão água em óleo devida à imiscibilidade das duas

fases. Posteriormente, as microgotas na fase de óleo são

convertidas em microcápsulas estáveis por gelificação

numa câmara separada contendo uma solução reticulante

iónica com força iónica e pH fisiológicos.

A utilidade das microcápsulas geradas pelo

dispositivo da presente invenção é virtualmente ilimitada

nas áreas de medicina regenerativa, libertação controlada

de factores de crescimento ou de fármacos.

1

DESCRIÇÃO

DISPOSITIVO, MÉTODO E SISTEMA DE FABRICO DE MICROCÁPSULAS

CAMPO DA INVENÇÃO

A presente invenção refere-se ao encapsulamento de

agentes bioactivos e células em microcápsulas de

hidrogéis com uma distribuição de tamanhos uniforme. Mais

especificamente, a invenção refere-se à produção de

microgotas constituídas por misturas de polímero/células

com tamanho homogéneo, quando injectadas num fluxo de

óleo no interior de tubos elásticos.

ESTADO DA TÉCNICA

O encapsulamento de células vivas no interior de

microcápsulas é de grande relevância em cultura celular,

terapia celular e aplicações em engenharia de tecidos. A

tecnologia de microencapsulamento de células baseia-se na

imobilização de células dentro de uma matriz polimérica,

geralmente de alginato, envolvida por uma camada de poli-

lisina. As microcápsulas de hidrogel protegem as células

encapsuladas das células do sistema imunológico, formando

uma barreira que bloqueia a interacção com imunoglobina e

glóbulos brancos. As microcápsulas, produzidas com

distribuição de tamanho uniforme e forma esférica, podem

ser utilizadas como transportadores celulares e podem

facilitar a sua administração através de uma injecção com

uma seringa. Acresce ainda que as microcápsulas podem

proporcionar um ambiente tridimensional adequado para a

2

cultura de células in vitro. Microcápsulas com diâmetro

médio compreendido entre 300 e 600 µm são geralmente

consideradas óptimas para o encapsulamento de células.

Diferentes métodos de fabrico de microcápsulas têm

sido descritos na literatura. Estes métodos incluem a

utilização de diferentes sistemas capazes de gerar gotas,

tais como a técnica de formação de gotas por extrusão

(manual ou com ajuda de uma bomba de seringa) (K. Ohkawa,

T. Kitagawa, H. Yamamoto, Preparation and

characterization of chitosan-gellan hybrid capsules

formed by self-assembly at an aqueous solution interface,

Macromol. Mater. Eng., 2004, 289:33–40) processos de

“electrospray” - pulverização eléctrica (Y. Fukuia, T.

Maruyama, Y. Iwamatsua, A. Fujiia, T. Tanakaa, Y.

Ohmukaia, H. Matsuyam, Preparation of monodispersed

polyelectrolyte microcapsules with high encapsulation

efficiency by an electrospray technique, Coll. Surf. A,

2010, 370(1-3):28-34); técnicas de co-extrusão (ponta de

co-extrusão) (M. V. Sefton, J.R. Hwang, J. E. Babensee,

Selected aspects of microencapsulation of mammalian cells

in HEMA-MMA. Bioartif. Organs, 1997, 831: 260-270) ou

ainda dispositivos com maior grau de sofisticação como os

dispositvos de microfluídicos (S.-K. Hsiung, C.-T. Chen,

G.-B. Lee, Micro-droplet formation utilizing microfluidic

flow focusing and controllable moving-wall chopping

techniques. J. Micromec. Microeng., 2006, 16:2403–2410).

Embora possam ser preparadas cápsulas com algum grau

de sucesso usando os métodos acima referidos, a maioria

apresenta diversos problemas e limitações, tais como

3

dificuldade em controlar o diâmetro da microcápsula e em

gerar cápsulas com óptima combinação de propriedades em

termos de estabilidade, permeabilidade,

biocompatibilidade, entre outras. Os dispositivos de

microfluídicos surgiram recentemente como novo método de

encapsulamento. Estes dispositivos têm sido aplicados na

formação de regimes de fluxo em sistemas multi-fásicos de

água em óleo contendo gotas monodispersas. (S. Abraham,

Y. H. Park, J. K. Lee, C. S. Ha, I. Kim, Microfluidic

synthesis of reversibly swelling porous polymeric

microcapsules with controlled morphology. Adv. Mater.,

2008, 20:2177-2182). Recentemente, a tecnologia de

microfluídicos tem sido aplicada no encapsulamento de

células animais em microcápsulas de polissacarídeos. (L.

Capretto, S. Mazzitelli, G. Luca, C. Nastruzzi,

Preparation and characterization of polysaccharidic

microbeads by a microfluidic technique: Application to

the encapsulation of Sertoli cells. Acta Biomater., 2010,

6:429-435).

O fabrico de dispositivos de microfluídicos é, por

outro lado, bastante laborioso e requer técnicas de

microfabricação sofisticadas. Nestas técnicas, usa-se

tipicamente um substrato de silício cristalino, ou lâmina

de vidro, que é revestido com um polímero fotosensível

(fotoresistência). Aplica-se uma máscara, contendo um

determinado padrão desenhado na micro-escala, sobre a

fotoresistência seguido de uma exposição de feixe de

electrões ou radiação UV. Finalmente, procede-se a uma

processo de decapagem do substrato para obter micro-

canais com uma profundidade reprodutível. O substrato

4

decapado deverá ser perfurado de modo a permitir a

entrada e saída de fluidos, sendo os tubos conectores

montados nas perfurações feitas no substrato. Tem havido

enorme interesse no desenvolvimento de métodos de

encapsulamento que sejam rápidos, fáceis de manusear,

reprodutíveis e que permitam simultaneamente um controlo

sobre as propriedades das microcápsulas.

O dispositivo de tubos da presente invenção não

requer todas as etapas de microfabricação e perfuração

descritas para obtenção dos dispositivos de

microfluídicos. O tubo elástico usado na presente

invenção, disponível comercialmente numa ampla gama de

diâmetros internos, garante regimes de escoamento

convenientes. Este dispositivo de tubos exige apenas a

montagem de uma parte central e uma agulha com ponta não

afiada apoiada num suporte colocado na posição vertical.

O dispositivo quando montado é bastante flexível e pode

ser ligado a bombas peristálticas e de seringa por tubos

conectores. A presente invenção é bastante adequada para

aplicações à escala laboratorial e piloto.

O transplante de células encapsuladas em

microesferas ou microcápsulas é uma abordagem promissora

para o tratamento de doenças metabólicas e endócrinas (F.

Lim, A. M. Sun, Microencapsulated Islets as bioartificial

endocrine pancreas, Science, 1980, 210:908-910; M. V.

Sefton, W. T. K. Stevenson, Microencapsulation of live

animal cells using Polyacrylates, Adv. Polym. Sci., 1993,

107:143-197).

5

Microcápsulas para encapsulamento de células vivas

têm também aplicações nas áreas de cultura de células in

vitro e engenharia de tecidos. Existe um interesse

considerável na produção de microcápsulas ou microesferas

de tamanho uniforme para encapsular células vivas. Para

uma utilização clínica ou de laboratório bem sucedida, a

microcápsula deverá ser produzida com uma distribuição de

tamanho estreita e morfologia esférica. Preferivelmente,

os dispositivos de produção de microcápsulas deverão ser

reutilizáveis, de fácil limpeza e esterilizáveis por

técnicas convenientes, tais como autoclavagem.

Recentemente, a tecnologia de microfluídicos tem

providenciado métodos alternativos para preparar

microcápsulas com morfologia controlada e tamanho

uniforme. A maioria dos sistemas de micofluídicos foi

concebida para aplicação em encapsulamento de fármacos.

Nos últimos anos tem havido diversos estudos referindo

esta técnica para encapsulamento de células. Contudo, a

complexidade dos procedimentos de microfabricação usados

na preparação destes sistemas poderá limitar a sua

utilização prática em aplicações de microencapsulamento

celular.

O objectivo da presente invenção é o desenvolvimento

de um dispositivo para encapsulamento de células baseado

na formação de microgotas constituídas por misturas de

polímero/células quando injectadas num fluxo cruzado de

óleo que circula num tubo estreito. O dispositivo é

autoclavável e produzido com materiais biocompatíveis; a

sua configuração permite uma fácil conexão a bombas de

6

seringa e peristáltica, seringa adequada e respectivos

conectores/adaptadores.

SUMÁRIO DA INVENÇÃO

A presente invenção refere-se a um dispositivo para

microencapsulamento baseado na geração de microgotas

dentro de um tubo através da injecção de uma mistura de

polímero-hidrogel num fluxo de óleo. O dispositivo pode

produzir microgotas com uma distribuição de tamanhos

estreita em condições de injecção constante de misturas

de polímero/células ou polímero/agente bioactivo num

fluxo de óleo, mantidos por uma bomba de seringa e

peristáltica, respectivamente.

O gerador de microgotas descrito é capaz de

dispensar uma solução de polímero num fluxo de óleo

através de uma agulha hipodérmica com ponta não afiada

posicionada verticalmente no centro do tubo. A junção

estável da agulha no local de punção do tubo é assegurada

por um suporte da agulha elástico que pode fixar a agulha

na posição vertical e fixá-la ao tubo de forma firme.

O gerador de microcápsulas para encapsulamento de

agentes bioactivos é composto por uma plataforma, tubos

elásticos, agulha hipodérmica com ponta não afiada,

suporte da agulha e adaptadores para a seringa e

extremidades dos tubos. A plataforma, de preferência

feita de poli-(tetrafluoretileno) (PTFE), possui um

espaço aberto de forma semi-circular na posição

7

horizontal para segurar e orientar o tubo numa posição

recta e duas pinças ajustáveis para fixar o tubo no

local. A agulha hipodérmica é inserida até metade do

diâmetro do tubo em profundidade, através de um pequeno

furo, e a junção agulha/tubo é estabilizada e assegurada

pelo suporte da agulha. O mencionado suporte da agulha

tem uma parte cilíndrica oca que permite a passagem da

agulha através do canal e suporta o encaixe plástico da

agulha na parte superior. A parte cilíndrica do suporte

da agulha é côncava na parte inferior para permitir um

melhor ajuste ao tubo, segurar firmemente o tubo, e assim

vedar eficientemente o orifício. Adicionalmente, o

suporte da agulha estabiliza o tubo e a agulha, através

das suas abas semi-circulares, que podem ser coladas na

superfície do tubo.

A injecção da solução de polímero na agulha

hipodérmica é efectuada pela bomba de seringa através de

um tubo extensor que é conectado à agulha e seringa

através de adaptadores canhão seringa-tubo e tubo-

seringa, respectivamente.

A perfusão de óleo para a entrada do tubo, que é

fixado numa plataforma horizontal, é feita através de uma

bomba peristáltica. A saída do tubo é conectada a um vaso

colector que contém uma solução de gelificação com um

agente emulsificante para a formação de microcápsulas. A

solução no recipiente colector pode ser agitada durante o

processo de gelificação usando um agitador magnético

convencional.

8

Agentes superficiais activos biocompatíveis, como o

Tween-80®, podem ser utilizados na solução gelificante

para impedir a agregação das microgotas da mistura

polímero/células quando saem da parte terminal do tubo e

entram em contacto com a solução gelificante. De acordo

com a presente invenção, uma solução de polímero com

capacidade de formar um gel é utilizado para formar

microcápsulas que podem encapsular vários materiais. O

material deverá ter um tamanho suficientemente pequeno

para ser adequado no encapsulamento através do método de

formação de gotas descrito na presente invenção, mas cujo

diâmetro poderá variar desde menos de 100 micrómetros até

vários milímetros. Um dos aspectos mais relevantes da

presente invenção é a possibilidade do dispositivo gerar

microgotas com distribuição de tamanho uniforme e

controlado. O presente processo permite que células

viáveis sejam encapsuladas em microcápsulas. Deste modo,

será reconhecido que o processo desta invenção é

particularmente adequado para uso em encapsulamento de

materiais biológicos. Por conseguinte, uma das

modalidades preferidas da presente invenção enquadra-se

no contexto do encapsulamento de materiais biológicos. Os

materiais biológicos a serem encapsulados poderão ser

tecidos, organelos, células vegetais ou animais,

bactérias, entre outros. A presente invenção utiliza uma

linha celular de condrócitos de rato (células ATDC5) nas

experiências de encapsulamento de células. As células a

encapsular não se limitam apenas a células condrocíticas,

mas poderão incluir outro tipo de células, como culturas

primárias (ilhéus pancreáticos, hepatócitos,

fibroblastos, osteoblastos, condrócitos articulares,

9

células estaminais mesenquimais) bem como outras linhas

celulares estabelecidas.

O polímero formador de gel pode ser qualquer

polímero não tóxico, solúvel em água que deverá gelificar

quando em contacto com uma solução indutora de

gelificação (solução de iões multivalentes ou polímeros

carregados - polímeros polielectrólitos). O polímero

formador de gel poderá ser um polissacarídeo solúvel em

água. Polissacarídeos adequados incluem alginato de

sódio, goma de guar, goma arábica, carragenina, pectina,

goma xantana, goma gelana, quitosano. Após o contacto com

a solução indutora de gelificação, as moléculas de

polissacarídeo formam uma membrana de gel insolúvel em

água com forma de microcápsula. Outros polissacarídeos

incluem, por exemplo, ácido hialurónico, sulfato de

condroitina, sulfato de dextrano, heparina, sulfato de

heparina, heparan-sulfato. Estes polímeros podem formar

cápsulas por complexação entre polímeros

polielectrólitos. Os polímeros com capacidade de formar

géis que podem ser usados com a presente invenção não se

limitam apenas a soluções aquosas de polímeros

hidrofílicos, mas também podem ser utilizados polímeros

anfifílicos com propriedades de auto-organização

molecular em soluções fisiológicas. Além disso, polímeros

hidrofóbicos solúveis em solventes orgânicos podem ser

usados no dispositivo da presente invenção, bastando ter

uma solução aquosa imiscível na fase contínua nos tubos

de modo a obter uma emulsão do tipo óleo em água.

10

BREVE DESCRIÇÃO DAS FIGURAS

Figura 1 ilustra uma projeção isométrica do

dispositivo de tubos para formação de microgotas

mostrando o dispositivo com as suas partes montadas e

separadas.

Figura 2 ilustra o corte de secção da parte central do

dispositivo numa vista frontal, onde a agulha é

inserida no tubo e vedada pelo suporte da agulha.

Figura 3 ilustra o dispostitivo de encapsulamento,

incluindo o sistema de tubos que geram as

microcápsulas, conjuntamente com os dispositivos de

perfusão de óleo por uma bomba peristáltica e injecção

da mistura polímero/células através de uma bomba de

seringa.

Figura 4 apresenta uma fotografia de microscopia de

fluorescência de células (linha celular de condrócitos

de rato ATDC5) encapsuladas em microcápsulas de

carboximetilxantana mostrando que as células

encapsuladas se mantêm viáveis após 21 dias de

cultura.

11

DESCRIÇÃO DETALHADA DA INVENÇÃO

O aparelho microencapsulador (1) é composto

principalmente por um tubo horizontal (5) e uma agulha

vertical (7) suportados por uma plataforma de tubos (2) e

suporte da agulha (6), respectivamente.

A parte vertical do presente dispositivo consiste

num suporte da agulha (6), agulha com ponta não afiada

(7) e um adaptador (8) que conecta o canhão da agulha

(parte plástica colorida com sistema de encaixe

universal) e um tubo extensor (9). Na extremidade do tubo

extensor, o adaptador tubo-seringa (10) faz a conexão com

a seringa (11) que é montada numa bomba de seringa (12).

O tubo horizontal, no qual a agulha é inserida, é

suportado por uma plataforma (2). A plataforma contém um

canal aberto semi-circular (3) e pinças ajustáveis (4)

para fixação do tubo na forma extendida e horizontal.

Para esterilização do dispositivo por procedimentos

convenientes de autoclavagem, podem ser seleccionados

materiais de tetrafluoroetileno (PTFE) para a plataforma

e elastómero de silicone resistente ao calor (Novosil®)

para o tubo. O diâmetro do tubo e o calibre da agulha

podem variar de acordo com as necessidades específicas do

processo de encapsulamento. Os exemplos descritos

utilizam tubos de 1 mm de diâmetro interno e seringa de

calibre 21G para produzir microgotas de soluções viscosas

de polissacarídeos com diâmetros próximos de 400 µm,

proporcionando um encapsulamento de células estável. O

tamanho das microgotas poderá ser reduzido usando uma

12

agulha de menor calibre e tubo com menor diâmetro

interno. Por outro lado, o tamanho das microgotas poderá

ser aumentado pelo processo reverso.

A agulha de ponta não afiada é inserida no tubo

horizontal através do suporte da agulha. A inserção da

agulha pode ser facilitada fazendo um orifício estreito

(menor que o diâmetro da agulha) através de punção do

tubo antes de inserida. A agulha pode-se mover facilmente

no centro do tubo, através do alargamento do orifício no

suporte da agulha e parede do tubo, dado que são usados

materiais elásticos. Este método de inserção veda

fisicamente a agulha no local de inserção. Após inserção,

o suporte da agulha pode ser colocado à volta do tubo

para melhor fixação. O suporte da agulha tem dupla

função: fixa a agulha em posição vertical, evitando o seu

deslocamento do local de punção e proporciona uma vedação

eficaz no tubo, evitando fuga de líquidos. A vedação é

mais eficiente se for aplicada uma camada de cola de

silicone nas abas do suporte da agulha previamente à

inserção da agulha no tubo. Por conseguinte, a disposição

das abas em torno do tubo e a cura da cola de silicone

permite uma vedação permanente em torno do local de

punção.

O tubo extensor (9) permite uma conexão flexível

entre a seringa (11) que é montada numa bomba de seringa

(12) e a agulha (7), usando adaptadores “Luer” macho (8)

e fêmea (10). Ao permitir uma operação fácil de conexão

da seringa ao encaixe plástico da agulha, serão evitados

possíveis deslocamentos e danos da montagem.

13

O óleo mineral bioinerte, que pode ser autoclavado,

é guardado estéril num frasco de vidro (13) que é montado

com uma agulha de pipetagem com um encaixe do tipo “Luer”

e uma membrana de filtro (0.22 µm) na sua tampa para

manter a pressão atmosférica no frasco em condições

estéreis. O óleo é bombeado para fora do reservatório e

levado para o dispositivo de tubos através de uma bomba

peristáltica com batentes ajustáveis usando tubos

estéreis (15). As tensões de corte geradas dentro do

dispositivo de tubos actuam na extremidade da agulha,

formando as microgotas compostas por polímero/células. As

microgotas em óleo podem ser transportadas até ao frasco

colector (17) com a solução indutora de gelificação

usando um tubo largo e inerte (de preferência PTFE) (16)

que garante uma interacção mínima da micro-gota com a

superfície. As microgotas gelificam quando saem do tubo e

entram na solução indutora de gelificação. A agitação

deverá ser suficiente mas moderada de modo a evitar a

agregação das microcápsulas gelificadas. Nesta etapa, uma

agitação mais drástica poderá danificar as paredes

prematuras das microcápsulas formadas, em particular

quando são utilizadas barras magnéticas para agitar. O

uso de agentes biocompatíveis emulsificadores, como Tween

80®, a baixas concentrações, impede a agregação das

microcápsulas na solução indutora de gelificação. A

composição da solução indutora de gelificação poderá

variar, dependendo do método de gelificação pretendido

(como por exemplo técnicas de reticulação iónica,

complexação iónica ou gelificação por auto-organização

molecular). A solução de gelificação pode ser preparada

14

numa concentração adequada usando sais divalentes, como o

CaCl2, para polímeros aniónicos. É essencial que a força

iónica da solução reticulante seja mantida à concentração

iónica fisiológica (NaCl 0.9%) e pH 7.4 para assegurar a

viabilidade das células encapsuladas.

A solução poli-iónica deverá ser constituída por um

electrólito de carga oposta à do polielectrólito das

microcápsulas. A reacção de complexação ocorre quando os

polímeros de cargas opostas reagem (com por exemplo

interacções polissacarídeo-polissacarídeo, polissacrídeo-

proteínas/péptidos). No caso de complexação de

péptidos/proteínas com polissacarídeos, o pH deverá ser

ligeiramente inferior ao ponto isoeléctrico, enquanto o

pH do polissacarídeo deverá ser mantido a pH fisiológico.

A solução indutora de gelificação para biopolímeros com

propriedades de auto-organização molecular poderá ser

qualquer tipo de solução fisiológica (como por exemplo,

solução tampão fosfatada salina ou meio de cultura

celular), que deverá induzir a formação de gel por

processos de auto-organização molecular.

A descrição desta invenção é complementada com os

seguintes exemplos que visam proporcionar uma melhor

compreensão da mesma. Contudo, estes exemplos não deverão

ser tratados com uma natureza restritiva.

Exemplo 1 - Este exemplo demonstra a preparação de

microcápsulas por reticulação iónica do biopolímero poli-

aniónico (carboximetilxantana - derivado da goma xantana)

na presença de contra-iões. Neste método, a mistura de

15

material bioactivo (suspensão de células ATDC5 em meio de

cultura contendo 5% de carboximetilxantana) é extrudida

através do dispositivo de formação de gotas para uma

solução gelificante contendo 1.5% CaCl2 e 0.9% NaCl. Os

catiões Ca2+ reticulam a matriz de carboximetilxantana

formando quase instantaneamente um gel na forma de

esfera. As esferas são depois tratadas com poli-L-lisina

para reforçar a superfície externa das microcápsulas. As

microcápsulas apresentam forma esférica com um diâmetro

médio de 500 µm (Figura 4). Um teste de viabilidade

celular “Live/Dead assay” das células encapsuladas mostra

que as células permanecem viáveis nas microcápsulas até

21 dias em cultura.

Exemplo 2 - Este exemplo demonstra um método moderado de

encapsulamento de células desencadeado pela auto-

organização molecular de um polímero anfifílico composto

por um polissacarídeo aniónico (goma xantana) conjugado

com um grupo hidrofóbico de ácido palmítico. Neste

método, a mistura de material bioactivo (suspensão de

células ATDC5 em meio de cultura contendo 1% de

palmitoil-xantana) é extrudida através do dispositivo de

formação de gotas para uma solução tampão fosfatada

salina. Nesta solução, as gotas de palmitoil-xantana

auto-organizam-se na forma de cápsula. As microcápsulas

formadas são ocas sendo depois tratadas com poli-L-lisina

para reforçar a sua superfície externa. As microcápsulas

apresentam forma esférica com um diâmetro médio de 450

µm. A capacidade das microcápsulas de palmitoil-xantana

para manter a viabilidade e proliferação das células

encapsuladas foi confirmada pelos testes de AlamarBlue® e

16

quantificação do ácido desoxirribonucleico (ADN) das

células.

Lisboa, 18 de Janeiro de 2011

  1

REIVINDICAÇÕES

1. Dispositivo de micro-encapsulamento caracterizado

por compreender um tubo elástico horizontal (5) suportado

por uma plataforma de tubos (2) e uma parte vertical

contendo um suporte da agulha (6), uma agulha não afiada

na extremidade (7) e um adaptador (8) que deverá estar

conectado entre o canhão (encaixe plástico) da agulha e o

tubo extensor (9), estando a dita agulha (7) inserida no

tubo horizontal através do mencionado suporte da agulha

(6) que permite uma vedação estanque entre o tubo

perfurado e a agulha através das suas abas fixadas com

cola de silicone contendo um agente de cura.

2. Dispositivo de micro-encapsulamento de acordo com a

reivindicação 1, caracterizado por ter uma plataforma (2)

para alinhar o tubo na posição horizontal com um canal

semi-aberto (3) e fixação por duas pinças (4) em cada

lado da mencionada plataforma para manter o tubo esticado

e na posição horizontal.

3. Dispositivo de micro-encapsulamento de acordo com as

reivindicações 1 e 2, caracterizado por compreender um

tubo extensor (9) que permite uma operação fácil e a

ligação entre a seringa (11) montada numa bomba de

seringa (12) e uma agulha inserida no tubo horizontal

através de um suporte da agulha (6) sendo a conexão do

  2

tubo extensor à agulha e seringa realizada com o

adaptador canhão seringa-tubo (8) e adaptador de tubo-

seringa (10), respectivamente, permitindo um mínimo de

distorção no dispositivo montado (1) que necessita da

agulha em posição vertical e sem problemas de vedação

entre o tubo e o suporte da agulha.

4. Dispositivo de micro-encapsulamento de acordo com as

reivindicações anteriores, caracterizado por gerar

microgotas no dispositivo de tubos que são transportadas

em tubos de PTFE e libertadas numa solução gelificante

com agente emulsificante sob agitação moderada em

condições fisiológicas.

5. Dispositivo de micro-encapsulamento, de acordo com

as reivindicações anteriores, caracterizado pelo facto

dos seus principais componentes serem fabricados com

materias inertes, biocompatíveis e autoclaváveis,

permitindo um fácil e rápido processo de esterilização.

6. Método de preparação de microcápsulas, caracterizado

por formação de gotas obtidas através da injecção

vertical de uma mistura hidrofílica de polímero-

hidrogel/células num fluxo hidrofóbico de óleo, mantido

horizontalmente no tubo de silicone do dispositivo

descrito na reivindicação 1, em que a injecção da mistura

polímero/célula numa corrente de óleo mineral resulta na

formação de gotas esféricas e de emulsões de água em

  3

óleo, sendo as ditas gotas numa fase de óleo convertidas

em microcápsulas estáveis por gelificação numa câmara

separada contendo uma solução reticulante iónica com

força iónica e pH fisiológicos.

Lisboa, 18 de Março de 2011

1/4

Figura 1

2/4

Figura 2

3/4

Figura 3

4/4

Figura 4

M0343.04 2

Relatório de Pesquisa PORTUGAL

Refª do pedido:

105489

A. CLASSIFICAÇÃO DA MATÉRIA

B01J 13/02 De acordo com a Classificação Internacional de Patentes

B. DOMÍNIOS PESQUISADOS Documentação e bases de dados electrónicas pesquisada

WPI, EPODOC, EMBASE, MEDLINE, NPL, XPESP, ESPACENET, GOOGLE, SI-INPI C. DOCUMENTOS CONSIDERADOS RELEVANTES

Categoria* Citação do documento, com indicação, sempre que apropriado, das passagens relevantes

Relevante para a reivindicação nº

A

WO 9959715 (A1) (NASA) Todo o documento

Todas

A

EP 1702675 (A1) (GAT FORMULATION) Todo o documento

Todas

A

WO 2010111347 (A2) (ADVANCED BIONUTRITION CORP; HAREL MOTI) Todo o documento

Todas

� Mais documentos na continuação da caixa C. �Ver a família de docs. de patente em anexo. * Categorias especiais dos documentos citados: “A” “E” “L” “O” “P” “D”

Documento que define o estado da técnica em geral e que não se considera ser de particular relevância; Pedido de patente anterior mas que é publicado na mesma data ou em data posterior à do pedido; Documento que pode lançar dúvidas sobre a reivindicação de prioridade, ou que é citado para estabelecer a data de publicação de outra citação ou qualquer outra razão (como especificado); Documento que se refere a uma divulgação oral, uso, exibição ou qualquer outro meio; Documento publicado antes da data de pedido mas depois da data de prioridade. Documento citado no pedido

“T “ “X” “Y” “&”

Documento publicado depois da data de pedido ou prioridade e que não está em conflito com o pedido mas que é citado para compreender o princípio ou teoria subjacente à invenção; Documento de particular relevância; a invenção reivindicada não pode ser considerada nova nem implicar actividade inventiva quando o documento é considerado isoladamente; Documento de particular relevância; a invenção reivindicada não pode ser considerada como tendo implicado actividade inventiva quando o documento é combinado com um ou mais deste tipo de documentos, dado que a combinação é evidente para um perito na especialidade; Documento membro da mesma família de documentos de patente;

Data do termo da pesquisa

16/05/2011

Data de expedição do relatório de pesquisa

16/05/2011

INPI, Campo das Cebolas 1149-035 LISBOA Fax: 21 886 98 59

Técnico examinador:

Isaura Monteiro

Telefone: 218818110

M0343.04 3

Relatório de Pesquisa PORTUGAL

Refª do pedido:

105489

C (Continuação). DOCUMENTOS CONSIDERADOS RELEVANTES

Categoria* Citação do documento, com indicação, sempre que apropriado, das passagens relevantes

Relevante para a reivindicação nº

M0343.04 5

Relatório de Pesquisa PORTUGAL

Informação sobre os membros da família de documentos de patente

Refª do pedido:

105489

Documento de patente citado no relatório

Data de publicação Membro(s) da família Data de publicação

WO 9959715 A1 1999-11-25 AT 256497 T 2004-01-15

DE 69913685 T2 2004-10-07

EP 1079918 A1 2001-03-07

EP 1079918 B1 2003-12-17

ES 2214028 T3 2004-09-01

WO 9959554 A1 1999-11-25

WO 9959555 A1 1999-11-25

WO 9959714 A1 1999-11-25

EP 1702675 A1 2006-09-20 AU 2004298792 A1 2005-06-30

AU 2004298792 B2 2010-07-15

BR PI0417767 A 2007-04-17

CA 2550615 A1 2005-06-30

CN 1917946 A 2007-02-21

CN 100566812 C 2009-12-09

ECSP 066708 A 2006-10-31

EP 1702675 A1 2006-09-20

ES 2235642 A1 2005-07-01

ES 2235642 B2 2006-03-01

JP 2007521135 T 2007-08-02

MX PA06006735 A 2007-02-16

US 2007077308 A1 2007-04-05

US 2008102132 A2 2008-05-01

US 2011064778 A1 2011-03-17

US 2011064817 A1 2011-03-17

WO 2005058476 A1 2005-06-30

WO 2010111347 A2 2010-09-30 WO 2010111347 A3 2011-01-13