bboying - dif magazine (pt)

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7/23/2019 Bboying - Dif Magazine (PT) http://slidepdf.com/reader/full/bboying-dif-magazine-pt 1/4 Portugal Dança Enquanto Dorme Bboying - Urban Street Dance texto Hugo Israel The same world dressed with new clothes Se pensamos que o breakdance desapareceu nos anos 80, o Clash Festival, no passado mês de Outubro, mostrou-nos que esta expressão artís- tica está bem presente no mundo actual e reco- menda-se... Milhares de pessoas deram entrada num universo cheio de influências americanas, onde os chapéus são quase de uso obrigatório, o dress code é ir “kitado”, num rigor cumprido à risca para assistir à competição europeia de Bboying. O tema de James Brown ‘Good foot’ de 1972 foi o ponto de partida para o breakdance, termo criado pelos media nos anos 80, quando houve a necessidade de dar reconhecimento a uma cultura de rua que se mediatizou mundialmente através dos filmes FLASHDANCE e BEAT STREET. O Bboying é um exemplo genuíno da cultura urba- na contemporânea, baseada numa estética própria onde a música, a dança, a atitude, a maneira de vestir e o comportamento são pilares inte- grantes. O elenco é heterodoxo e criativo, esta modalidade tipicamente americana usava os mo- vimentos do Hip Hop para manifestarem de forma artística as suas raízes. Nas ruas dos centros das cidades, os gangs, em vez de luta, decidiam as batalhas na pista de dança, combatiam de forma não violenta e mostravam a sua superio- ridade ao nível da dança. Hoje em dia, já não disputam a supremacia, mas o orgulho continua em jogo. A Crew Feminina ButterflieSoulFlow participou no Clash Festival onde desempenhou uma prova excelente. Estas raparigas, que nada são de “shopping”, são: Pinypon e a sua crew que é composta pela Bgirl Leo e a Bgirl Baronesa. Nasceram as 3 em Lisboa. A Pinypon tem 27 anos e é arquitecta. A Baronesa tem 20 anos, é es- tudante e a Leo tem 29 anos e é professora de Educação Física e estuda Osteopatia. Qual foi motor que serviu de ignição à tua motivação? A dança é uma paixão, assim como a arte, a música e a cidade. O Hip Hop reúne tudo isso. Durante muito tempo, ouvi a música, via os gra- ffiti e observei vídeos, tentando entender onde tudo aquilo nascia dentro de Lisboa. Conheci a Leo e a Baronesa, e começámos a tentar fa- zer as coisas que víamos os outros fazer. Como movimento o Bboying é incrível, o desafio é

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7/23/2019 Bboying - Dif Magazine (PT)

http://slidepdf.com/reader/full/bboying-dif-magazine-pt 1/4

Portugal DançaEnquanto DormeBboying - Urban Street Dancetexto Hugo Israel

The same world dressed with new clothes

Se pensamos que o breakdance desapareceu nos

anos 80, o Clash Festival, no passado mês de

Outubro, mostrou-nos que esta expressão artís-

tica está bem presente no mundo actual e reco-

menda-se... Milhares de pessoas deram entrada

num universo cheio de influências americanas,

onde os chapéus são quase de uso obrigatório,

o dress code é ir “kitado”, num rigor cumprido

à risca para assistir à competição europeia de

Bboying. O tema de James Brown ‘Good foot’ de

1972 foi o ponto de partida para o breakdance,

termo criado pelos media nos anos 80, quando

houve a necessidade de dar reconhecimento a uma

cultura de rua que se mediatizou mundialmente

através dos filmes FLASHDANCE e BEAT STREET.

O Bboying é um exemplo genuíno da cultura urba-

na contemporânea, baseada numa estética própria

onde a música, a dança, a atitude, a maneira

de vestir e o comportamento são pilares inte-

grantes. O elenco é heterodoxo e criativo, esta

modalidade tipicamente americana usava os mo-

vimentos do Hip Hop para manifestarem de forma

artística as suas raízes. Nas ruas dos centros

das cidades, os gangs, em vez de luta, decidiam

as batalhas na pista de dança, combatiam de

forma não violenta e mostravam a sua superio-

ridade ao nível da dança. Hoje em dia, já não

disputam a supremacia, mas o orgulho continua

em jogo.

A Crew Feminina ButterflieSoulFlow participou

no Clash Festival onde desempenhou uma prova

excelente. Estas raparigas, que nada são de

“shopping”, são: Pinypon e a sua crew que é

composta pela Bgirl Leo e a Bgirl Baronesa.

Nasceram as 3 em Lisboa. A Pinypon tem 27 anos

e é arquitecta. A Baronesa tem 20 anos, é es-

tudante e a Leo tem 29 anos e é professora de

Educação Física e estuda Osteopatia.

Qual foi motor que serviu de ignição à tua

motivação?

A dança é uma paixão, assim como a arte, a

música e a cidade. O Hip Hop reúne tudo isso.

Durante muito tempo, ouvi a música, via os gra-

ffiti e observei vídeos, tentando entender onde

tudo aquilo nascia dentro de Lisboa. Conheci

a Leo e a Baronesa, e começámos a tentar fa-

zer as coisas que víamos os outros fazer. Como

movimento o Bboying é incrível, o desafio é

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constante e a liberdade imensa. É uma dança que

vive no espaço, através do contacto com o chão

e da liberdade do corpo. Não distingue idades

ou sexo, e existe praticamente em qualquer

cidade no mundo. Não é preciso pagar para ter

aulas, basta ter vontade. Às vezes, a partilha

de informação faz-me lembrar as artes marciais,

tens de merecer para ser passada. Treinas onde

queres e quando queres, procuras afinidades

de estilo e de estar. As crews são as nossas

pequenas companhias de dança, onde não existem

audições para entrar.

No contexto socio-cultural qual a importância

do Bboying:

Esta pergunta dá para horas... lol. O Bboying

é uma expressão artística e de comunicação. Há

pessoas que treinam diariamente sem retorno

maior do que o evoluir todos os dias um pouco.

Há todo o tipo de pessoas dentro do Bboying.

Culturalmente é dança. Dança criada a partir da

música, de movimentos tirados das mais diversas

influências como a salsa, a capoeira, as artes

marciais. O interessante é ter surgido do nada,

da rua, de um grupo de miúdos a quem pouco

futuro era dado. Na origem não existia escola

ou academismo, apenas criatividade. Acho que a

realidade hoje é diferente de país para país,

de cidade para cidade e até de crew para crew.

Já não existe só nos bairros pobres, já não é

só praticada na rua... Há formas de estar dife-

rentes dentro do Bboying.

A diferença entre o Bboying e o breakdance:

O breakdance é uma das 4 vertentes do Hip Hop

(graffiti, mcing, djing e breakdance). Sendo

que o breakdance é a vertente de dança, engloba

vários estilos, como o Locking, o Popping, o

New Style e o Bboying. E ser um Bboy/ Bgirl não

é só fazer uns movimentos, é um lifestyle. Não

se deixa de ser Bboy fora do treino, das bat-

tles ou do palco. Existe uma forma de estar e

de respeito pela cultura.

Onde ensaiam:

Esse é um problema constante, o espaço. Em

Lisboa, já se treinou na Praça da Figueira, na

Praça do Comércio, no metro do Marquês e no me-

tro da Alameda. Hoje em dia, os treinos passam

de boca em boca, alguém tem uma sala disponível

e avisa os outros. Falta uma sala em que se

possa estar sem tempo limite e todos os dias.

Nos ginásios “tem de se ser aluno”, no metro

“não é permitido”, na rua, para além do tempo,

a policia gosta bastante de incomodar. É uma

pena mas os nossos espaços públicos são pouco

públicos. E a calçada portuguesa muito pouco

prática para qualquer actividade (como todo o

espaço em torno do Campo Pequeno). Cada crew

vai tendo o seu espaço e convida os outros para

irem aparecendo. Isto em Lisboa. No Porto, o

movimento está mais institucionalizado, existem

escolas e aulas.

Com que coreógrafo/a nacional gostarias de

trabalhar:

Eu pessoalmente adoraria ver em palco o

Bboying, no mesmo pé de igualdade do que a

dança clássica ou a dança contemporânea. A

partilharem o mesmo espaço, a mesma música. O

potencial é enorme :). No Festival Alkantara

já aconteceu, no palco do CCB, mas são sempre

companhias estrangeiras. Sinceramente, não

tenho um nome nacional para dar, não vou dizer

um nome à toa. Mas, temos coreógrafos que opoderiam fazer.

Por que não há mais iniciativas integradas com

a sociedade do Bboying:

No Porto, existem já muitas iniciativas. Em

Lisboa, tem-se mantido tudo mais underground e

amador (não no sentido do treino, mas no sen-

tido financeiro). Dentro do Hip Hop, existem

convites para dançar em concertos e fazer vide-

oclips, mas nunca há dinheiro. Espectáculos de

palco são quase inexistentes (houve um no CCB

fora de portas, coreografado pelo Drive, os 12

Makakos e ButterflieSoulFlow), ninguém investe

e nós para nos lançarmos por nós num projecto

desses é complicado. Quem nos dera poder trei-

nar, praticar, ensaiar e ser pagos por isso.

Era um sonho.

A profissionalização desta categoria de dança

está ainda longe de ser uma realidade prática e

imediata na sociedade portuguesa, no entanto os

campeonatos não deixam de acontecer e percor-

rem os 5 continentes. Este ano directamente da

Europa, Paris, que tem desenvolvido um trabalho

impressionante na área da dança Hip Hop, foi

também palco de alguns dos melhores talentos

a nível mundial desta modalidade. Não há outro

país que tenha conquistado tantos títulos nesta

disciplina, incluindo os de campeão mundial a

nível de B-Boy Crew na Battle of the Year em

1995, 2001, 2003 e 2006, assim como o segundo

lugar na mesma competição nos anos de 1997,

2002 e 2004. Nas suas 4 edições, a Red Bull

BC One já teve Lilou, de Lyon, a conquistar o

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título mundial para a França em 2005, e com

Júnior, o terceiro lugar para o mesmo país em

2004.O Hip Hop encontra-se presente por todo o

lado em França, e a dança é o desporto nacional

mais popular a seguir ao futebol. O “estilo

francês” de B-Boying é mundialmente conhecido –

é forte, competitivo e com uma dose de humor. O

público francês tem-se mostrado muito interes-

sado na dança Hip Hop e no B-Boying. Mais de 10

000 espectadores assistiram em Março à competi-

ção de dança Juste Debout, no Palais Omnisports

de Paris-Bercy. A edição francesa do evento

Battle of the Year, tem atraído 7 000 pessoas a

Montpellier todos os anos.

Os B-boys foram seleccionados por uma equipa

internacional de especialistas. Os bailarinos

não só são escolhidos pelas suas extraordiná-rias habilidades artísticas, mas também pelo

seu excelente carácter e reputação na comunida-

de da dança.

B-boys a partir de 12 nações dançaram num desa-

fio competitivo. Eles lutaram um contra um, 3

voltas cada e foram julgados por um júri com-

posto por cinco B-boys de renome internacional.

Aqueles que ficaram de fora não perderam uma

segunda oportunidade! O vencedor foi o melhor

na dança, demonstrou uma notável variedade de

passos, poder do movimento e transições, mas

também carisma e confiança, fez parte deste

duelo responder ao seu adversário e mostrar-

lhe que esteve ali para ganhar. Os dezasseis

melhores B-boys do mundo lutaram uns contra os

outros como gladiadores na arena.

B-boy Wing da Coréia prevaleceu ao longo de 15

concorrentes para ganhar o 2008 Red Bull BC

One. A luta com os melhores B-boys de todo o

mundo no novo centro cultural de Paris, o 104,

para uma ousada combinação de acrobacia elegan-

te e muito técnica.

Wing encantou rapidamente a plateia com seu

estilo deslumbrante e combinações luminosas. Naprimeira rodada, ele derrotou o sul-africano

B-boy Benny, nos quartos-de-final o francês B-

boy Mounir com 4 votos contra 1. Em seguida, no

fervor das semi-finais, Wing mostrou a Kolobok

que haviam combinações para tirar da cartola

acompanhado de Dj Tee.

Juiz Ivan dos E.U. declarou «Ao longo de toda

a competição, Wing mostrou uma variedade de

jogadas criativas, enquanto seguem a batida e

mantendo a batalha interessante. Wing tem uma

atitude nas orgulhosas batalhas».

Segundo o juiz lilou, campeão de França de

2005, «A determinação de Wing manifestava-se

pelo seu olhar.»

Wing exulta: «Ganhar Red Bull BC é apenas o

começo, agora o meu objectivo é tornar-me o

primeiro B-boy em todo o mundo a ganhar este

evento dois anos consecutivos.»

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