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Bibliografia anotada
19 Artigos chave
10-05-14
S. Beltman; with thanks to Bich Nguyen
539590-LLP-1-2013-1-DE-COMENIUS-CMP
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Beltman, S., Mansfield, C., & Price, A. (2011). Thriving not just surviving: A review of
research on teacher resilience. Educational Research Review, 6, 185–207. DOI:
10.1016/j.edurev.2011.09.001
Este artigo apresenta uma revisão de estudos empíricos sobre resiliência em professores. Nesta
revisão, é apresentada uma visão global das metodologias utilizadas para avaliar a resiliência,
destacando-se as entrevistas como metodologia mais frequentemente utilizada para a recolha de
dados e o principal grupo de participantes compreende os professores em início de carreira. O
artigo pretende também clarificar a forma como o constructo da resiliência é conceptualizado na
literatura, verificando-se que na maioria dos estudos a resiliência em professores é definida como
“um processo dinâmico ou efeito que resulta da interação entre a pessoa e o ambiente ao longo
do tempo” (p.188). Em particular, a autoeficácia, a confiança e as estratégias de coping são
frequentemente consideradas as maiores componentes da resiliência em professores. É ainda
apresentada uma revisão sobre os fatores de risco e de proteção encontrados na literatura sobre
resiliência, mostrando que as crenças negativas e a gestão de sala de aula/alunos disruptivos são
os fatores de risco pessoais e ambientais mais comuns. Relativamente aos fatores de proteção,
são identificados a autoeficácia, as estratégias de coping, as competências de ensino, o
desenvolvimento profissional e a autoproteção, bem como o suporte por parte da administração
escolar, colegas, estudantes, tutores, família e amigos. Os autores apresentam algumas
implicações desta revisão para os programas de formação de professores, tendo-se verificado
através deste estudo que os vários desafios encontrados referem-se à definição da resiliência de
uma forma clara, única e abrangente, à sua metodologia de investigação e ao contexto que a
influencia. São recomendadas futuras investigações para avaliar a implementação de estratégias
de intervenção para promover a resiliência em professores e para entender o papel dos
programas de formação de professores na promoção da resiliência. É também sugerido que a
resiliência em professores deve ser analisada através de uma perspetiva intercultural.
Cefai, C., & Cavioni, V. (2014). From neurasthenia to eudaimonia: Teachers’ well-being and
resilience. In Social and emotional education in primary school: Integrating theory and
research into practice (Chapter 8, pp. 133-148). New York: Springer Science + Business
Media. DOI 10.1007/978-1-4614-8752-4.
A docência é uma profissão por natureza vulnerável e o stress emocional pode surgir de fatores
organizacionais, bem como dos amplos aspetos interpessoais relacionados com o trabalho, pelo
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que é provável que estes fatores tenham impacto negativo no trabalho dos professores e no seu
bem-estar. Este capítulo aborda a as temáticas da saúde e bem-estar dos professores através de
uma perspetiva “interaccionista”. Os autores salientam a importância da promoção da resiliência
individual através do desenvolvimento de competências sociais e emocionais, bem como da
formação de comunidades de suporte de professores, concedendo apoio ao seu bem-estar. O
desenvolvimento destas áreas terá também um impacto positivo no bem-estar, comportamento e
aprendizagem dos alunos. As competências pessoais podem ser desenvolvidas pelo professor em
início de carreira na formação contínua, através de estratégias como a aquisição de
conhecimentos sobre desenvolvimento infantil e gestão de sala-de-aula, desenvolvimento de
competências de formação sobre educação social e emocional, formação sobre mindfulness e a
promoção da autoeficácia. As comunidades de suporte podem ser desenvolvidas através do uso
de estratégias como proporcionar formação profissional apropriada, criação de estruturas que
promovam a colaboração entre colegas e uma participação ativa nas tomadas de decisão,
valorização dos pontos fortes e do desempenho e tutorias. Os autores apresentam exemplos de
programas e de estratégias bem-sucedidos e é também apresentada, neste capítulo, uma tabela
com indicadores de bem-estar, funcionando como uma checklist, com o intuito de identificar
grupos de intervenção, planificar e monitorizar a intervenção.
Day, C., & Gu, Q. (2010). Resilience counts. In The new lives of teachers (Chapter 9, pp. 156-
176). London: Routledge.
Neste capítulo a resiliência é definida como “a capacidade para reagir e recuperar forças ou
estado de espírito rapidamente e eficazmente perante situações adversas” (p.156). A resiliência é
conceptualizada como um constructo psicológico, multidimensional e construído socialmente.
Através da análise de três estudos de caso envolvendo três professores, os autores constataram
que a resiliência é promovida pelo sentido de vocação, o apelo para o ensino, o sentimento de
recompensa perante o progresso dos alunos, o apoio dos colegas e dos líderes escolares, o apoio
pessoal, e gestão eficaz do trabalho e da vida pessoal. Com base nestes resultados, são
recomendados dois conceitos de resiliência: Resiliência relacional e resiliência organizacional,
onde a primeira enfatiza o papel importante das relações de suporte entre colegas na construção
de resiliência e a segunda remete para a importância dos líderes escolares na promoção da
resiliência em professores.
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Day, C., & Gu, Q. (2014). Resilient teachers, resilient schools. New York, NY: Routledge.
Este livro analisa a forma como os professores e as escolas mantêm a qualidade no ensino, a
paixão e o compromisso, no decurso dos bons e dos maus momentos, bem como analisa os
fatores que podem impedi-los de o fazer. Os nove capítulos do livro estão organizados em três
secções principais: natureza da resiliência, como construir a resiliência em professores e a
importância da resiliência em professores. Baseado nas investigações internacionais e nos
conhecimentos provenientes da prática, estes autores abordam algumas questões importantes: os
professores aprendem a reagir perante a adversidade; a sua resiliência é formada ao longo do
tempo, tornando-se mais competentes para resolver problemas; quando se sentem competentes e
apoiados no local de trabalho, a sua resiliência é reforçada. O livro identifica também uma relação
positiva entre a autoeficácia dos professores, o bem-estar, o compromisso, a energia emocional e
a resiliência. Como proposta para estudos futuros, Day e Gu (2014) afirmam que, mais do que se
centrar nos fatores de stress, as investigações devem procurar entender o papel dos professores,
das escolas e das organizações na construção de competências de resiliência.
Ebersöhn, L. (2012). Adding ‘flock’ to ‘fight and flight’: A honeycomb of resilience where
supply of relationships meets demand for support. Journal of Psychology in Africa, 27(2),
29–42. Retrieved from http://repository.up.ac.za/handle/2263/32120?show=full
Neste artigo, os autores analisam o papel das relações interpessoais na promoção da resiliência
em professores. O artigo baseou-se num estudo longitudinal de 8 anos que recorreu a diversas
metodologias de recolha de dados como: grupos de discussão, entrevistas, observações,
fotografias, vídeos e transcrições de apresentações em colóquios. Os dados recolhidos, junto de
74 professores de 12 escolas, demonstraram que as relações estabelecidas na escola e na família
são fatores de proteção fundamentais, constituindo-se como estratégia para atenuar os efeitos da
adversidade. Os relacionamentos profissionais podem reconfigurar o risco ecológico e predizer
uma adaptação positiva, ajudando os professores a evitar o desânimo, angústia, burnout,
depressão, agressão e o isolamento. Os resultados do estudo demonstram ter implicações
importantes para uma reconstrução da ecologia da adversidade, sendo proposto um modelo de
resiliência baseado nas relações (Relationship Resourced Resilience).
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Ee, J., & Chang, A. (2010). How resilient are our graduate trainee teachers in Singapore?
The Asia-Pacific Education Researcher, 19(2), 321-331.
Na realidade escolar de Singapura, os professores enfrentam grandes índices de burnout e de
abandono da profissão devido às várias diretivas do Ministério da Educação e às exigências dos
pais dos alunos. Neste artigo, a resiliência é caracterizada pela “capacidade de correr riscos e de
adaptação mesmo quando a pessoa enfrenta condições de vida negativas ou adversas” (p. 321).
Com o objetivo de identificar os traços da resiliência em professores estagiários de Singapura, 109
estagiários completaram um questionário de resiliência, com as seguintes subescalas: controlo de
impulsos, empatia, regulação de emoções, otimismo, autoeficácia, análise causal e a procura de
novas experiências. As análises estatísticas indicaram que a autoeficácia, a regulação emocional,
a empatia e o otimismo são preditores de resiliência. Este artigo apresenta duas implicações
importantes para futuros estudos e para a prática: primeiro, os professores em início de carreira
devem ter apoio, no sentido de reconhecer e discutir tipos de respostas resilientes face aos
eventos stressantes com vista a desenvolver a sua perceção de eficácia; em segundo lugar, os
novos professores devem ser encorajados a trabalhar com cenários, vídeos ou a realizar
observações de sala de aula que ilustrem situações desafiantes que irão encontrar, para que haja
progressos no seu pensamento resiliente e nas suas estratégias de coping.
Fleming, J. L., Mackrain, M., & LeBuffe, P. A. (2013). Caring for the caregiver: Promoting the
resilience of teachers. In S. Goldstein & R. B. Brooks (Eds.), Handbook of Resilience in
Children (pp. 387-397). New York: Springer Science+Business Media.
Este capítulo apresenta os diversos fatores de risco que afetam a saúde e o bem-estar dos
professores, bem como propõe medidas para promover a resiliência em professores. A revisão de
literatura realizada demonstra que os fatores de stress mais comuns sentidos pelos professores
são: instabilidade no trabalho, salário, sérias restrições de tempo, problemas de comportamento
dos alunos, baixa motivação, privação do sono, reformas educativas, suporte administrativo
inadequado, fracas condições de trabalho, falta de participação nas decisões escolares, trabalho
burocrático, falta de recursos, responsabilidade familiar e as relações. Estes múltiplos stressores
levam à experiência de burnout, à fraca qualidade das interações com os alunos e à falta de
disponibilidade emocional para os mesmos. Os autores sugerem alguns programas de formação
para desenvolver o bem-estar e a resiliência nos professores, como o Programa de Resiliência
Interior (Inner Resilience Program), o Programa de Inteligência Emocional para Professores
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(Emotional Intelligence Teacher Program), o programa de Resiliência Pessoal e Relações
Resilientes (Personal Resilience and Resilient Relationships –PRRR), sendo que todos estes
programas estão disponíveis nos Estados Unidos. Para concluir, os autores afirmam que apoiar os
professores a construir a sua capacidade de resiliência é fundamental no planeamento educativo
quer a nível nacional, estadual e local.
Gu, Q., & Day, C. (2013). Challenges to teacher resilience: Conditions count. British
Educational Research Journal, 39(1), 22-44. DOI: 10.1080/01411926.2011.623152
Este estudo apresenta os resultados de uma parte do projeto VITAE (Variations in Teachers’
Work, Lives and their Effects on Pupils). Neste estudo a resiliência é conceptualizada com um
constructo instável que pode ser aprendido, adquirido ou passível de mudança ao longo do tempo.
Os dados foram recolhidos através de entrevistas a 300 professores do ensino primário e
secundário, de 100 escolas do Reino Unido. Os resultados demonstraram que a perceção de
resiliência dos professores depende não só da sua experiência e valores educativos, como
também das condições pessoais, relacionais e organizacionais, quer no trabalho quer na vida
pessoal. Os participantes referiram como desafiantes para a resiliência fatores como a fraca
relação com a direção e os colegas, o comportamento dos alunos, falta de apoio dos pais dos
alunos, mudanças das políticas educativas e eventos inesperados na sua vida pessoal. Para além
destes resultados, a resiliência dos professores é também afetada pelo estatuto socioeconómico
da escola e pela cultura escolar definida pela direção. Comparando grupos de professores
consoante os anos de experiência docente – início de carreira (0-3 e 4-7 anos de experiência),
meio da carreira (8-15 e 16-23 anos de experiência) e fim de carreira (20-30 e 30 – anos de
experiência) – o estudo revelou que os professores em início e meio da carreira são mais
resilientes do que os professores em fim de carreira.
Gu, Q., & Li, Q. (2013). Sustaining resilience in times of change: Stories from Chinese teachers. Asia-Pacific Journal of Teacher Education, 41(3), 288-303. http://dx.doi.org/10.1080/1359866X.2013.809056
Neste artigo, os autores analisam a capacidade em para manter a resiliência e o compromisso de
568 professores chineses do ensino primário, num contexto governamental onde foram
implementadas várias políticas educativas do género “top-down”. Os dados recolhidos através de
questionários e entrevistas semiestruturadas demonstraram que a conceção atual de resiliência,
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entendida pela capacidade dos professores para reagir face à adversidade, é inadequada para
definir a resiliência em professores. Segundo estes autores, a resiliência em professores deve
sofrer uma reconceptualização de forma a incluir fatores como o sentimento de compromisso
vocacional dos professores, o bem-estar, a eficácia e a realização no trabalho. São ainda referidos
outros fatores que se relacionam com a resiliência, tais como: condições de trabalho (horas de
trabalho, volume de trabalho, pressão, responsabilidade e salário) e relações no local de trabalho
(e.g., confiança na direção, nos colegas, alunos e pais). O artigo termina frisando que a “natureza
e a sustentabilidade da resiliência em professores não é inata, mas influenciada por qualidades
individuais em interação com fatores contextuais que abrangem o trabalho e a vida dos
professores” (p. 300).
Hong, J. Y. (2012). Why do some beginning teachers leave the school, and others stay?
Understanding teacher resilience through psychological lenses. Teachers and Teaching, 1-
24. DOI:10.1080/13540602.2012.696044
Neste artigo a resiliência é definida como “o processo de, capacidade para, ou resultado de uma
adaptação positiva apesar das circunstâncias desafiantes” (p. 419). Foram entrevistados sete
professores no ativo e sete professores que abandonaram a profissão, com o objetivo de analisar
os fatores que permitem a alguns professores manterem-se ligados à carreira e ser mais
competentes, por oposição a outros professores que abandonam a profissão. Pese embora
ambos os grupos de professores manifestarem um elevado interesse intrínseco em ensinar e
ajudar os alunos a aprender, os professores que abandonaram a profissão revelaram crenças de
eficácia mais baixas para lidar com problemas de comportamento e apresentaram crenças fortes
no que diz respeito ao seu papel de transmissores de conhecimento, o que levou à experiência de
stress e de burnout. Os professores que se mantiveram na profissão, por outro lado, acreditam
que a responsabilidade para aprender é dos próprios alunos e estabelecem com estes limites
emocionais claros, pelo que não se sentem afetados pelos seus problemas. O estudo faz também
referência aos diferentes níveis de orientação e suporte, concedidos aos dois grupos de
professores por parte da administração escolar, que se relacionam também com o aumento ou
diminuição da resiliência. No final, o artigo apresenta algumas implicações e sugestões:
disponibilização de oportunidades sistemáticas para os professores refletirem sobre o seu
funcionamento interno; feedback adequado e oportuno e programas de tutoria promovidos por
professores experientes; contribuição para o desenvolvimento profissional relacionado com a
gestão de comportamentos disruptivos; contribuição para o desenvolvimento profissional
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questionando as crenças inadequadas que os professores têm; e apoio dos professores no
estabelecimento de limites emocionais com os alunos.
Jennings, P. A., Snowberg, K. E., Coccia, M. A., & Greenberg, M. T. (2011). Improving
classroom learning environments by Cultivating Awareness and Resilience in Education
(CARE ): Results of two pilot studies. Journal of Classroom Interaction, 46(1), 37-48.
Este estudo tem como objetivo avaliar o desenvolvimento de competências socioemocionais dos
professores e o seu bem-estar através do programa CARE (Cultivating Awareness and Resilience
in Education) e averiguar se este potencia as suas capacidades de resiliência. O artigo apresenta
resultados de dois estudos: um primeiro estudo onde participaram 31 professores de uma área
urbana de nível socioeconómico baixo e um segundo estudo que envolveu 33 estudantes de
educação dos subúrbios e de áreas semirrurais e 10 tutores. Os participantes responderam a
questionários antes e depois da implementação do programa, para avaliar as mudanças ao nível
do bem-estar, das orientações motivacionais, eficácia e mindfulness. Ainda no primeiro estudo
foram realizados grupos de discussão com os participantes, enquanto no segundo estudo foram
recolhidos dados adicionais através de observações e autorrelatos. Os resultados indicaram que
os professores no primeiro estudo melhoraram o seu bem-estar após o programa e que o
consideraram interessante e com benefícios para a sua profissão. De forma geral, os professores
do primeiro estudo mostraram-se satisfeitos relativamente ao programa, devido à melhoria das
suas competências de gestão de sala de aula e na relação com os alunos. Especificamente, os
professores de meio urbano demonstraram-se capazes de se autorregularem na procura de um
equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, enquanto os professores dos meios suburbanos e
semirrurais não consideraram que o programa tenha sido envolvente ou vantajoso para si. A
discrepância obtida nestes resultados sugere que o programa CARE deverá ser mais eficaz no
apoio aos professores que se encontram em contextos de risco elevado.
Johnson, B., & Down, B. (2013). Critically re-conceptualising early career teacher resilience.
Discourse: Studies in the Cultural Politics of Education, 34(5), 703-715.
Este artigo apresenta uma posição crítica face à literatura sobre resiliência em professores,
considerando-a reducionista, híper-individualista e padronizada. Em relação ao reducionismo,
Johnson e Down (2013) questionam a compreensão da resiliência através dos fatores de risco e
proteção, afirmando que esta conceção reduz a complexidade do constructo em análises isoladas
dos vários aspetos de vida. Os autores sugerem que, em alternativa, a subjetividade humana e a
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sua vida mental devem ser encaradas como um todo, enquanto a resiliência deve ser analisada
tendo também em conta os contextos políticos, sociais e económicos da profissão docente.
Relativamente ao hiperindividualismo, os autores criticam os estudos que apresentam problemas
individualizados e as estratégias adaptativas relacionadas com estes. Os autores sugerem que os
investigadores devem analisar a forma como os professores em início de carreira ultrapassam a
adversidade, através de uma perspetiva ecológica e sociocultural. Em relação à padronização, os
autores afirmam que a atual conceção de resiliência é regulada pelas normas estabelecidas pela
classe média e pelos valores da cultura ocidental. É sugerido que se realize uma mudança na
conceptualização da resiliência em professores, afastando-a de constructos como fatores de risco,
traços e personalidade, colocando o professor num contexto mais alargado que agrega as suas
condições institucionais e culturais e considerando os “problemas individuais” como “assuntos
públicos”.
Le Cornu, R. (2013). Building early career teacher resilience: The role of relationships.
Australian Journal of Teacher Education, 38(4), 1-16.
Este estudo, inserido numa investigação mais ampla, baseia-se no referencial teórico sobre
resiliência relacional, no qual a resiliência é entendida na relação, não se formando
individualmente e isoladamente mas sim no estabelecimento de relações com os alunos, colegas,
pares, família, professores, pessoal não-docente e com os pais dos alunos. Desta forma, a
resiliência é discutida relativamente à reciprocidade, empowerment e desenvolvimento de ânimo.
Através de entrevistas a 60 professores em início de carreira e aos seus diretores, foi identificado
que as relações positivas promovem, nos professores em início de carreira, paixão, entusiasmo e
satisfação pela sua profissão, concedendo-lhes as ferramentas para se manterem na profissão e
consolidarem a sua autoestima e o sentimento de vínculo e pertença. Por outro lado, o
estabelecimento de relações negativas potencia o stress, insegurança, confusão e incerteza. Este
artigo enfatiza o papel relevante das relações pessoais e profissionais na promoção da resiliência
dos professores em início de carreira.
Mansfield, C. F., Beltman, S., Price, A., & McConney, A. (2012). "Don’t sweat the small stuff:"
Understanding teacher resilience at the chalkface. Teaching and Teacher Education, 28,
357-367.
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Este estudo analisa a perceção de resiliência de estudantes finalistas de educação e de
professores em início de carreira. A resiliência neste estudo é entendida como um “processo
dinâmico resultante da interação ao longo do tempo entre a pessoa e o ambiente e é evidenciada
pela forma como os sujeitos respondem a situações desafiantes e adversas” (p. 358). Os dados
foram recolhidos através de uma questão aberta sobre o que é ser um professor resiliente. As
respostas obtidas e as temáticas referidas nas mesmas demonstraram a natureza
multidimensional e complexa da resiliência. Os participantes percecionam a resiliência como um
processo que se desenvolve ao longo do tempo e como uma combinação de fatores
motivacionais, profissionais, emocionais e sociais. Através destes resultados, os autores propõem
um modelo de resiliência de quatro dimensões (motivacional, emocional, social e profissional),
tendo-se também verificado a importância dos fatores individuais e contextuais na promoção da
resiliência em professores. Por fim, os autores apresentam algumas implicações destes resultados
na formação de professores, como por exemplo, o desenvolvimento emocional, o
desenvolvimento de materiais que promovam a resiliência e o recurso a uma abordagem
multidimensional.
Morgan, M. (2011). Resilience and recurring adverse events: Testing an assets-based model
of beginning teachers’ experiences. The Irish Journal of Psychology, 32(3-4), 92-104.
Neste artigo, os autores apresentam dois estudos empíricos que analisam os fatores que
fomentam a resiliência em professores em início de carreira. No primeiro estudo, foram analisadas
respostas de 80 professores em início de carreira a um questionário, tendo-se verificado três
fatores que promovem a resiliência: fatores internos (compromisso para ensinar), suporte social
(apoio dos colegas e apoio fora da escola) e estratégias de coping, sendo que as estratégias de
coping foram as mais mencionadas. Os resultados deste primeiro estudo serviram de suporte para
a elaboração do questionário do segundo estudo, ao qual responderam 408 professores e onde se
verificou a validade de um modelo de resiliência baseado nestes fatores. Através destes
resultados, os autores sugerem que estes fatores têm implicações importantes para delinear
programas de intervenção que visam a promoção de competências nos professores para enfrentar
situações adversas e que, em vez de tentarem reduzir os níveis de stress no trabalho, uma
abordagem baseada nestes fatores poderá ser mais útil para os professores em início de carreira.
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Papatraianou, L. H., & Le Cornu, R. (2014). Problematising the role of personal and
professional relationships in early career teacher resilience. Australian Journal of Teacher
Education, 39(1), 100-116.
Tendo por base dois estudos qualitativos, um dos quais financiado pelo Australian Research
Council, este artigo avalia as diferentes contribuições do apoio formal e informal, concedido aos
professores através das suas relações pessoais e profissionais, na promoção da sua resiliência.
Os dados foram recolhidos com recurso a entrevista, questionário online e ao desenvolvimento de
uma rede social para obter informação sobre as reflexões dos professores relativamente às suas
experiências diárias. Os resultados obtidos revelaram que as relações informais significativas com
os colegas, a direção, o pessoal não-docente, os alunos e os seus pais e com a família e amigos,
parecem desempenhar um papel importante na manutenção da sua resiliência. Foram
encontrados sete tipos de suporte concedidos por estas relações: 1. Escuta ativa; 2. Apoio
emocional; 3. Assistência concreta; 4. Crítica da tarefa; 5.Confirmação da realidade; 6. Desafio
emocional e 7. Desafio da tarefa. O artigo termina com várias sugestões para futuras investigação
e intervenção: a necessidade de explorar o papel dos diferentes tipos de apoio na promoção da
resiliência; a necessidade de promover interações informais entre os funcionários; a prestação de
apoio informal e de oportunidades de aprendizagem aos professores em início de carreira; e o
desenvolvimento de recursos nos programas de formação de professores que ajudem os
estudantes de educação a desenvolver fortes redes de suporte.
Pearce, J., & Morrison, C. (2011). Teacher identity and early career resilience: Exploring the
links. Australian Journal of Teacher Education, 36(1), 48-59.
Este artigo insere-se num projeto colaborativo que envolve três universidades australianas. Neste
artigo, a resiliência é definida como um processo e não com um resultado, inserida nos contextos
social, cultural, político e relacional da profissão docente. Os dados recolhidos de 60 entrevistas
realizadas com professores em início de carreira demonstraram que um envolvimento consciente
na construção da identidade profissional pode ter um impacto positivo no desenvolvimento da
resiliência. Através do envolvimento em conversas sobre a profissão com colegas e pessoal não
docente, das interações com os pares e outros sobre o ensino e do intercâmbio com os alunos e
os seus pais, a identidade dos professores em início de carreira é formada e fortalecida, o que por
sua vez promove a sua capacidade para lidar com as experiências negativas e tornar-se mais
resiliente.
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Peters, J., & Pearce, J. (2012). Relationships and early career teacher resilience: A role for
school principals. Teachers and Teaching: Theory and Practice, 18(2), 249-262.
O artigo apresenta os resultados de uma parte de um estudo longitudinal (2008-2012)
desenvolvido na Austrália. O artigo analisa o papel dos diretores na promoção da resiliência de
professores em início de carreira, sendo que aqui a resiliência é conceptualizada em relação aos
contextos social, cultural, político e relacional da profissão docente. Os dados, recolhidos junto de
líderes escolares e de professores no primeiro ano de experiência, de 59 escolas primárias e
secundárias de dois estados australianos, demonstraram que, com o apoio dos líderes escolares,
os professores em início de carreira encaram a sua profissão como agradável e gratificante. Por
outro lado, a falta de apoio apropriado demonstrou provocar nos professores um sentimento de
incompetência, bem como o despertar de sentimentos de isolamento e de alienação, o que pode
levar a que os professores decidam abandonar a escola após um período curto de trabalho. Os
resultados consolidam o papel crucial da direção da escola na promoção da resiliência dos
professores.
Price, A., Mansfield, C., & McConney, A. (2012). Considering ‘teacher resilience’ from critical
discourse and labour process theory perspectives. British Journal of Sociology of
Education, 33(1), 81-95.
Neste artigo, o desenvolvimento da resiliência de professores em início de carreira é discutido
como uma medida para abordar a questão dos elevados níveis de desgaste emocional dos
professores nas escolas australianas. As observações apresentadas neste artigo derivam de
discussões entre os autores no decurso da sua revisão de literatura sobre resiliência em
professores para o projeto Keeping Cool (2009). São mencionados fatores constituintes da
resiliência, como o altruísmo, a autoeficácia, a confiança e as estratégias de coping, bem como é
também discutida a relação entre a identidade do professor e a resiliência. Uma parte significativa
do artigo dedica-se à análise dos fatores contextuais que afetam a resiliência, como os fatores de
risco e de proteção. Por fim, o artigo termina com uma discussão sobre as implicações da
resiliência na formação de professores, onde se afirma “que constructos complexos como a
resiliência em professores devem ser analisados com cuidado, na medida em que são
fundamentais para desenvolvimento da identidade dos professores e da natureza do seu trabalho,
particularmente se forem implementados de forma simplista nos currículos de formação e nas
diretivas da prática docente”.