bronckart, jean-paul - a problemática das interações entre linguagem e operações cognitivas

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    Revista NUPEM, Campo Mouro, v. 5, n. 9, jul./dez. 2013

    A PROBLEMTICA DAS INTERAES ENTRE LINGUAGEM E OPERAES COGNITIVAS

    THE PROBLEM ON THE INTERACTIONS BETWEEN LANGUAGE AND COGNITIVE OPERATIONS

    LA PROBLEMTICA DE LAS INTERACCIONES ENTRE EL LENGUAJE Y LAS OPERACIONES COGNITIVAS

    Jean-Paul Bronckart*

    Resumo: Este artigo prope uma reformulao da antiga problemtica das relaes entre linguagem e operaes cognitivas, com base os princpios tericos do interacionismo scio-discursivo. Em uma primeira parte, aps um resumo da concepo vygotskiana do desenvolvimento psicolgico, foi feito um exame das condies de constituio das unidades de pensamento e das condies de desenvolvimento das operaes cognitivas, com base nos escritos de Saussure e de Piaget. A segunda parte inicia-se por uma anlise das diversas concepes tericas do raciocnio, e seguida de proposies referentes distino de trs tipos de fenmenos qualificados de raciocnios, bem como referentes aos processos implicados no desenvolvimento de cada um destes tipos.Palavras-Chave: Desenvolvimento, interacionismo, linguagem, raciocnio.

    Abstract: This article aims at reformulating the old problem on the relations between language and cognitive operations based on social discourse interactionism theoretical principles. Firstly, after a brief Vygostsky conception on psychological development, we will exam the conditions of building thoughts units and the conditions of cognitive operation development based on Saussure and Piaget studies. The second part introduces an analysis of several theoretical reasoning concepts followed by propositions related to the difference among three types of reasoning qualified phenomenon as well as to the processes in the development of each one of those typologies. Keywords: Development, interactionism, language, reasoning.

    Como sabido, a problemtica do estatuto da linguagem permanece extremamente aberta, ou ainda constitui um tema sobre o qual continua a enfrentar mltiplas posies, baseadas em opes epistemolgicas distintas entre si, realmente opostas.

    De maneira sinttica, podemos identificar um tipo de posio que dominante desde a antiguidade grega e que resulta da adoo do princpio segundo o qual as estruturas da linguagem se apoiariam necessariamente nas formas de organizao outras, as quais constituiriam reflexos mais ou menos fiis. A ttulo de exemplo, em Aristteles (cf. 1994), as estruturas do logos humano constituiriam os fiis mensageiros da lgica, que organiza os elementos do mundo exterior; para os tericos de Port-Royal (ARNAULD; LANCELOT, 1660/1973), as estruturas comuns s diferentes linguagens

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    humanas constituiriam o modo de expresso direta das operaes cognitivas de julgamento; e na maioria das correntes cognitivistas contemporneas, a linguagem concebida como um instrumento que d visibilidade de noes e estruturas j existentes, deste mesmo domnio propriamente cognitivo, com uma verso inatista (CHOMSkY, 1970; CHANGEUX, 1983) e uma verso construtivista (decorrente dos trabalhos de PIAGET; cf. 1970). No entanto, esta posio predominante foi contestada por diversos autores com uma com maior preocupao sobre os dados lingusticos, e que analisam, consequentemente, as propriedades efetivas dos mltiplos sistemas diferentes que constituem as lnguas naturais, assim como as condies de uso destas mesmas lnguas nos textos e/ou discursos. No mbito destas correntes, necessrio frisar a diversidade das lnguas naturais, porm, tambm levando-se em considerao e sobretudo o carter arbitrrio dos signos, assim como das propriedades fundamentalmente dinmicas do conjunto das entidades lingusticas.

    O quadro terico que desenvolvemos sob a denominao de interacionismo scio-discursivo (BRONCkART; BAIN; SCHNEUWLY; DAVAUD; PASQUIER, 1985; BRONCkART, 1997, 2008), se inscreve claramente na corrente contestadora mencionada anteriormente, e enumera as proposies do ISD que se inspiram mais especificamente nos trabalhos de dois autores relativamente desconhecidos, Ferdinand Saussure e Valentin Volochinov. Ns qualificamos Saussure como um autor desconhecido porque sua verdadeira posio terica e, em especial, sua semiologia, no aquela que podemos extrair do Curso de Lingustica Geral (SAUSSURE, 1916), e sim aquela que podemos reconstruir a partir de suas anotaes, bem como as de seus alunos, o que tentamos realizar com diversos pesquisadores (BRONCkART; BULEA; BOTA, 2010). Volochinov desconhecido pelas razes mais evidentes, neste caso, porque Bakhtin tentou se apropriar de sua obra, o que tem gerado uma srie de graves confuses que ns denunciamos em outro lugar (BRONCkART; BOTA, 2011). especialmente na obra de Volochinov (sobretudo em Marxismo e Filosofia da Linguagem, 1929/2010) que foram formuladas: uma abordagem decisiva das relaes entre atividade em geral e atividade verbal; uma abordagem moderna do estatuto e da organizao dos gneros de textos; as primeiras conceitualizaes do dialogismo, da atitude responsiva ativa, da intertextualidade, etc.

    Os trabalhos tericos e metodolgicos do ISD visam, alm disso, a prolongar e a revitalizar as orientaes do interacionismo social, quadro epistemolgico cuja figura simblica o psiclogo Vygotski (1934/1997), mas que tambm foi amplamente difundido pelos autores do primeiro tero do sculo XX, como Mead (1934), Dewey (1925), Wallon (1938), entre outros. Estas orientaes do interacionismo social podem ser resumidas pelos quatro princpios a seguir.

    a) A emergncia da linguagem e da histria social humana so os dois fatores determinantes da constituio e do desenvolvimento das

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    capacidades psicolgicas individuais por um lado e, por outro, os mundos coletivos de obras e de cultura (segundo DILTHEY, 1883/1992).

    b) S deveria existir uma nica cincia do humano, porque as capacidades propriamente humanas so os produtos das interaes entre dimenses biolgicas, psicolgicas, sociolgicas e linguageiras; em outras palavras, so estas interaes, e no as dimenses particulares que so constitutivas do humano.

    c) Esta cincia do humano deve ter uma ancoragem filosfica profunda e segura [para o interacionismo social, trata-se de um posicionamento filosfico herdado de Spinoza (1977/1954), tal como ele se desenvolveu nas obras de Hegel (1807/1947), Marx e Engels (1845/1951)].

    d) Esta cincia do humano deve visar utilidade social e, consequentemente, as problemticas da educao/formao so as partes integrantes de seu objeto.

    No que se refere a este artigo, ns proporemos primeiramente uma anlise do papel que a linguagem desempenha na emergncia e no desenvolvimento das operaes cognitivas, em seguida, examinaremos alguns aspectos das relaes entre produes verbais e raciocnios.

    As relaes entre linguagem e pensamento

    A natureza das relaes entre pensamento e linguagem constitui sem dvida o mais antigo (e o mais debatido) dos problemas da filosofia do esprito, em seguida das cincias humanas; ns a reexaminaremos abaixo na perspectiva do ISD, recordando, primeiramente, as teses que foram desenvolvidas a este respeito por Vygotski, em seguida, mostrando como a solicitao das obras de Saussure (ainda) e de Piaget especialmente, assim como aquelas de alguns resultados de nossas prprias pesquisas, permitem lanar as bases para uma validao destas teses vygotsquianas.

    1. O esquema de desenvolvimento de Vygotski

    O maior objetivo de Vygotski foi o de demonstrar que a abordagem da hominizao proveniente de uma corrente de pensamento desde Spinoza a Engels poderia ser aplicada problemtica da ontognese do pensamento consciente, o que o levou a propor o seguinte esquema de desenvolvimento.

    a) Como todo organismo vivo, o beb humano se insere em uma linha natural da evoluo das espcies, e dispe de um lado de um equipamento bio-comportamental especfico e observvel, de outro as capacidades psquicas herdadas que organizam as interaes funcionais com o ambiente.

    b) Desde o seu nascimento, no entanto, o beb se depara no somente com o meio no que diz respeito ao seu aspecto fsico, mas tambm aos mundos das construes econmicas, semiticas e culturais elaboradas pelas

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    geraes precedentes. Estas construes possuem dimenses objetivas e dimenses representativas codificadas especialmente nas lnguas naturais, o conjunto de aspectos destes mundos humanos esto cheios de significaes ou de valores funcionais contextualizados.

    c) Desde o nascimento igualmente, o ambiente humano empreende uma abordagem ativa de integrao do beb nestas formas pr-construdas: apresentao de atividades conjuntas, apresentaes de padres comportamentais e relacionais, apresentao das palavras da lngua e regulao de suas condies de uso, etc. Este trabalho formativo (que se prolongar por toda a vida, especialmente no contexto de educao formal ou escolar) consiste, na realidade, em fazer com que o jovem humano entre em um segundo nvel de desenvolvimento, que aquele da aquisio, da reproduo e da transformao das significaes sociais construdas na histria de um grupo.

    d) O jovem humano se apropria progressivamente das regras de ao e de comunicao em uso no seu ambiente (ele as pe em prtica em sua atividade e em produes verbais iniciais), em seguida ele as interioriza, ou seja, ele elabora uma linguagem interior que se encarrega de e reorganiza as formas psquicas oriundas do nvel natural do desenvolvimento, o que se traduz pela elaborao de um funcionamento psquico, sistemtico e operacional (o pensamento), cada vez mais acessvel para o autoconhecimento (ou consciente).

    A validao destas teses implica que sejam distinguidos trs nveis de anlise da linguagem, pois espera-se exercer os efeitos especficos na elaborao do domnio do pensamento: o nvel dos signos, o das estruturas predicativas e o dos tipos de discurso. A seguir, ns nos concentraremos nos dois primeiros nveis, sendo o ltimo o objeto de um tratamento especfico sob 2, infra.

    2. Dos signos s unidades de pensamento1

    Em seu manuscrito intitulado A essncia dupla da linguagem (2002, p. 17-88), Saussure props uma anlise especialmente esclarecedora das condies de constituio dos signos, partindo de seu verdadeiro estatuto. Primeiramente, ele sustentou que as duas vertentes do signo no so constitudas por elementos materiais (respectivamente de sons e objetos), mas por imagens mentais, ou por representaes construdas pelos sujeitos em suas interaes com estes elementos materiais. Em seguida, ele mostrou que estes dois tipos de imagens no se constituem em sua associao ou em seu acoplamento: elas se instauram ao mesmo tempo em que se unem em um signo. Ele ressaltou enfim que esta constituio-delimitao de imagens depende tambm de outras imagens coexistentes, sobre as duas vertentes, na esfera associativa: a delimitao e a extenso de cada imagem so

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    condicionadas pelo lugar j ocupado por outras imagens. Saussure assim demonstrou que os signos foram criados pela apresentao dos processos psquicos interdependentes que se organizam em uma sistemtica de relaes:

    Ns somos sempre conduzidos aos quatro termos irredutveis e s trs relaes irredutveis entre si, formando um nico todo do esprito: (um signo/sua significao) = (um signo/e um outro signo) e alm disso = (uma significao/uma outra significao). [...] Mas, na realidade, no h na lngua nenhuma determinao nem de ideia nem de forma; no h outra determinao que aquela da ideia pela forma e aquela da forma pela ideia. [...] Isso o que chamamos de quaternio final e, considerando os quatro termos em suas relaes: a tripla relao irredutvel. (SAUSSURE, 2002, p. 39).

    Em que medida a interiorizao destes signos constitutiva das unidades de pensamento?

    Os signos no tm nenhum fundamento substancial, ou no procedem do estabelecimento de relao social-contingente de imagens sonoras e imagens referenciais, sua interiorizao leva constituio de entidades internas que, diferentemente das imagens mentais do psiquismo animal, no so mais dependentes das condies de fortalecimento do meio objetivo; e esta autonomia lhe confere uma primeira caracterstica, de permanncia e de estabilidade (as representaes humanas persistem mesmo quando se extinguem os reforos mundanos correspondentes).

    Visto que a face significante do signo constituda por uma imagem acstica finita ou delimitada, o significado que lhe corresponde apresenta-se como uma entidade mental finita e delimitada; o significado , como o enfatizou De Mauro (1975, p. 438, nota 128), um analisador ou ainda, um organizador que rene em uma unidade estvel um conjunto de imagens referenciais de carter at ento idiossincrtico. E a existncia de tais unidades constitui a condio sine qua non do desdobramento das operaes de pensamento que constituem a segunda propriedade do psiquismo propriamente humano (os processos cognitivos, de classificao, de seriao, de conservao, etc., requerem a existncia de termos estveis aos quais se aplicam).

    Devido s prprias condies de sua elaborao, os signos so entidades desdobradas: eles so constitudos por envelopes sociais (segundo a frmula de SAPIR, 1921/1953, p. 20) que remetem aos conjuntos de imagens individuais ao mesmo tempo em que eles as agrupam, envelopes cuja superfcie sonora perceptvel e tratvel por outros lugares; e esta acessibilidade de entidades ao poder desdobrar torna possvel o retorno do pensamento sobre si mesmo, ou ainda, a

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    capacidade de conscincia como terceira propriedade do psiquismo propriamente humano.

    Todavia, como Piaget o tem demonstrado, o sistema cognitivo humano se constri pela utilizao dos processos de abstrao e de generalizao; estes processos provocam a transformao dos signos (cujo valor relativo ao sistema da lngua natural utilizada) em noes ou em conceitos, ou seja, em entidades psquicas que tendem a adquirir um valor universal, independente da semntica de uma lngua especfica. Estes processos geram a constituio de um domnio de pensamento independente das lnguas especficas, constitudas de representaes ancoradas por um lado nos indivduos e, por outro, na coletividade (ou seja, representaes individuais e representaes coletivas, tais como definidas em DURkHEIM, 1898). Alm disso, quer sejam coletivas ou individuais, estas representaes possuem os estatutos e os modos de organizao diferentes daqueles que Habermas (1987) justamente qualificou de mundos formais: o mundo objetivo, que organiza os conhecimentos relativos ao universo (ou ao meio) em suas dimenses fsicas; o mundo social, que organiza os conhecimentos relativos s relaes interpessoais (a maneira pela qual os humanos devem viver em conjunto); o mundo subjetivo, que organiza os conhecimentos relativos interioridade psquica das pessoas.

    3. Das relaes predicativas s operaes de pensamento

    As condies de emergncia das operaes de pensamento foram analisadas com uma clareza especial em um dos ltimos textos de Piaget, mais especificamente, no ltimo captulo da Explicao na psicologia e o paralelismo psicofisiolgico. O autor argumenta primeiro que os mecanismos fisiolgicos humanos, assim como todos os fenmenos psquicos, funcionam segundo uma lgica causal: Em poucas palavras, o corpo atuaria causalmente independente da conscincia, como o mundo fsico que obedece s leis, independentemente dos indivduos, artistas ou mesmo dos estudiosos que o contemplam (PIAGET, 1989, p. 175). Ele acrescenta, em seguida, que este funcionamento causal se aplica tambm aos esquemas, como regularidades observveis do exterior, mas que ele no pode caracterizar os mecanismos do pensamento consciente.

    [O movimento de construo] no apresenta problemas, no que diz respeito s relaes entre o organismo enquanto fisiolgico e o comportamento enquanto observvel do exterior e, por assim dizer, materialmente. Por outro lado, as questes se apresentam em outros termos, ou melhor, se complicam pela adjuno de uma nova dimenso, desde que interfira a conscincia. (PIAGET, 1989, p. 169).

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    De acordo com Piaget, os fenmenos conscientes possuem um funcionamento radicalmente diferente, que surge de uma lgica de implicao ou, mais precisamente, que se caracteriza pelos encadeamentos de implicaes significantes, regidas pelas regras no estritamente necessrias, ou ainda, por uma ordem normativa:

    No campo da inteligncia, o modelo essencial da ligao prpria conscincia lgica a implicao [...] segundo a qual uma ou mais afirmaes originam necessariamente uma outra. Por exemplo, a verdade de 2 + 2 = 4 no a causa da verdade de 4 - 2 = 2 [...] a verdade [...] de 2 + 2 = 4 implica aquela de que 4 - 2 = 2 o que outra coisa. Com efeito, esta implicao se caracteriza por um sentimento de necessidade que bem diferente de uma determinao causal, pois esta ltima no sofre exceo, ao passo que a necessidade constitui uma obrigao que devemos respeitar: ou, no sempre que fazemos, se bem que o lgico Lalande enunciou a implicao ao dizer que p implica q para o homem honesto de modo a evidenciar seu carter normativo. (PIAGET, 1989, p. 177).

    Esta distino permite, portanto, a Piaget estabelecer uma formulao precisa ao problema das relaes que sustentam no homem, a srie fsica e a srie psquica:

    Ns somos capazes pela espcie na medida em que voltamos ao problema do paralelismo psicofisiolgico, levantar a hiptese de que o paralelismo entre os estados de conscincia e os processos materiais so concomitantes retomam um isomorfismo entre os sistemas de implicaes significantes e alguns sistemas da casualidade. (PIAGET, 1989, p. 178).

    Surge ento a questo de saber como um sistema causal pode, no curso do desenvolvimento, se transpor diretamente em um sistema de implicaes significantes. Em resposta a esta questo, Piaget declara primeiro que esta transferncia se realiza progressivamente, mas termina por confessar que no plano emprico, o problema permanece absolutamente sem soluo:

    ns nos encontramos aqui na presena de uma srie de incgnitas, de tal modo que sentimos, em 1974, um mal-estar real [...] quando falamos da conscincia ou de seus estados, etc. [...] O que no sabemos com efeito se, anteriormente a este mecanismo formador, poderia haver estados momentneos e locais de conscincia no integrados em um sistema. O problema central, levando-

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    se isso em considerao, do qual felizmente ns no trataremos neste captulo, pois no h soluo possvel atualmente, aquele dos estgios iniciais de conscincia, anteriores toda linguagem. (PIAGET, 1989, p. 181).

    Esta anlise de Piaget coloca especialmente em evidncia o carter no naturalmente necessrio, ou ainda, o carter normativo-social dos encadeamentos mentais: p implica q para o homem honesto e esta relao ressalta assim o poder ser ou o dever ser, bem como as regras sociais. Ou este tipo de relao probabilstica e/ou dentica no pode obviamente derivar da lgica da necessidade dos encadeamentos causais, o que explica a dificuldade em que se encontra Piaget. Mas podemos, por outro lado, encontrar uma origem confivel se levarmos em conta os mecanismos em jogo na atividade significativa comentando o agir humano. As estruturas predicativas das lnguas naturais compreendem as atividades e/ou aes humanas que apresentam, tambm, este carter probabilstico: como o sustentou corretamente a Gramtica de Port-Royal, elas exprimem um julgamento focado na relao acional e, ao faz-lo, desdobram de algum modo a apresentao da relao probabilstica entre a origem do agir e o do agir em si mesmo. Nos parece, portanto, que para superar a aporia piagetiana, convm admitir que da interiorizao das estruturas predicativas da linguagem humana e, somente dela, que pode emergir a lgica de implicao das significaes que caracterizam o pensamento consciente humano.

    Desenvolvimento da linguagem e dos raciocnios

    1. Os raciocnios, entre lgica formal e lgica natural2

    Como para o estatuto da linguagem, ns podemos identificar uma concepo dominante do estatuto dos raciocnios formulada inicialmente na Lgica de Port-Royal (ARNAULD; NICOLE, 1662/1998), que em seguida foi retomada e desenvolvida em diferentes correntes da psicologia cognitiva.

    A Lgica de Port-Royal apresenta a existncia de quatro conjuntos de operaes da mente: conceber, julgar, raciocinar e ordenar, e ela define o raciocnio da seguinte maneira:

    Denominamos raciocinar, a ao de nosso esprito pela qual se forma um julgamento de vrios outros; como quando, ao julgar que a verdadeira virtude deve ser relatada a Deus, e que a virtude dos Pagos no deve ser relatada, conclui-se que a virtude dos Pagos no uma verdadeira virtude. (ARNAULD; NICOLE, 1662/1998, p. 59).

    Segundo os autores supracitados, esta operao de raciocnio exigida pelas insuficincias das operaes cognitivas infra-ordenadas, a saber, a

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    a necessidade do raciocnio somente fundamentada nos limites estreitos do esprito humano que, ao julgar a verdade ou a falsidade de uma proposio [...] no pode sempre fazer isso considerando-se as duas ideias que a compem [...] necessrio recorrer a uma terceira ideia (ARNAULD; NICOLE, 1662/1998, p. 233).

    Para estes autores, o silogismo constitui o prottipo do raciocnio, ainda que existam raciocnios mais curtos (enthymmes) ou mais extensos (sorites) do que aqueles que possuem as trs proposies cannicas. Mas, mesmo neste caso, (ou seja qual for sua forma discursiva aparente), o raciocnio permanece sustentado por um verdadeiro silogismo na mente:

    quando eles so extensos, o esprito encontra mais dificuldade para lhe seguir, & [...] o nmero de trs suficientemente proporcional extenso de nosso esprito [...] todos os raciocnios compostos por vrias proposies [...] podem ser reduzidos em silogismos, caso sejam bons. (ARNAULD; NICOLE, 1662/1998, p. 235).

    No campo da psicologia cognitiva, algumas pesquisas da Escola de Piaget se centraram nas propriedades das operaes que poderiam colocar as crianas e os adolescentes diante dos problemas lgicos, e elas foram colocadas em evidncia emergncia, entre os adolescentes, das operaes formais dos raciocnios hipottico-dedutivos (PIAGET; INHELDER, 1955). No entanto, estas formas de raciocnio so comprovveis em situaes experimentais isoladas e, a partir dos trabalhos fundadores de Wason (1966), as pesquisas em psicologia cognitiva evidenciaram sobretudo os diferentes vieses suscetveis para intervir na aplicao concreta dos mecanismos inferenciais; elas visavam a explicar mais precisamente os erros do raciocnio resultantes, seja dos fatores do contexto ou do contedo das tarefas, seja dos fatores linguageiros (de ordem semntica ou pragmtica cf. POLITZER, 1991).

    A maioria dos trabalhos que acabam de ser mencionados baseia-se em uma concepo a priori de que este deveria ser um raciocnio, admitem que o prottipo desta operao o silogismo, e visam globalmente a identificar tanto os mecanismos que conduzem aplicao desta capacidade mental, quanto aqueles que impedem esta aplicao. Eles se distinguem deste modo dos trabalhos mais diretamente centrados nas manifestaes empricas dos raciocnios, que visam a descrever as propriedades dos discursos argumentativos e a analisar as condies de desenvolvimento e de aplicao. A Nova retrica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1958) se inscreve nesta

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    mesma perspectiva, ao renovar explicitamente a abordagem aristotlica da estrutura e das funes dos tipos de discurso. A tentativa mais original neste sentido aquela de Grize (1974; 1982; 1997), cuja obra visava a identificar, a analisar e a formalizar a lgica natural que se manifesta nas produes discursivas. O projeto inicial deste autor era identificar as estruturas de inteligncia na ao discursiva (1974, p. 185), ou ainda, esclarecer as relaes entre as modalidades de organizao propriamente cognitivas e aquelas da organizao discursiva, bem como explorar para isso o conceito de esquematizao, introduzida pelo matemtico Gonseth (1936). Conforme este ltimo autor, o conceito de esquematizao visa a traduzir o carter incompleto (e portanto aberto, porm, adequado) das relaes entre os conceitos geomtricos e a realidade; para Grize, a esquematizao discursiva visa a exprimir um mesmo tipo de relao, aberta porm adequada, entre os raciocnios naturais que se manifestam nas estruturas de uma lngua natural, e os raciocnios propriamente cognitivos, ou seja, as operaes mentais desverbalizadas e descontextualizadas. Apesar da pertinncia de seus objetivos e de sua orientao, a abordagem de Grize no resultou porm em uma real conceitualizao dos diferentes tipos de raciocnio que se manifestam nos discursos, em funo sem dvida de uma sub-anlise das regras de organizao dos textos e de suas unidades infra-ordenadas, e por consequncia, como o enfatizou Duval, a questo da aprendizagem das abordagens de raciocnio relacionadas utilizao da linguagem permanece intacta (1995, p. 211).

    2. Trs proposies para seguir a reflexo

    Sem subestimar a complexidade do problema, ou de maneira tambm modesta como queremos, parece-nos que trs direes poderiam ser consideradas para avanar sobre a questo do estatuto prprio dos raciocnios e sobre aquele das condies de seu desenvolvimento e de seu controle.

    De carter propriamente terico, a primeira proposio a de distinguir claramente os trs lugares de ancoragem dos raciocnios. Os raciocnios podem primeiramente ser evidenciados enquanto entidades empricas (ou lingusticas) diretamente observveis nos textos; isto o que habitualmente qualificamos de discursos argumentativos ou sequncias argumentativas. A partir destas construes verbais, e/ou a partir de outros tipos de condutas individuais, podemos inferir a existncia de operaes mentais de raciocnio no diretamente observveis e ancoradas no aparelho psquico das pessoas singulares. Com base nestas mesmas produes verbais, assim como em diversos tipos de condutas humanas, os estudiosos elaboram os quadros tericos que incluem esquemas idealizados do que podem (ou deveriam) ser as operaes intelectuais de raciocnio, esquemas que so ancorados nos corpus de saberes sociohistricos.

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    Estes trs lugares de ancoragem so independentes, e possuem as formas de organizao especficas que convm analisar como tais, e ns formularemos neste domnio as seguintes hipteses.

    Primeiramente sustentaremos a ideia de que os silogismos, como outros modelos formais de raciocnio, constituem os esquemas idealizados ancorados nos corpus de saberes sociohistricos; estas entidades no constituem, portanto, as primeiras realidades psicocognitivas, ainda que elas possam, evidentemente, ser objeto de pesquisas de conhecimento, e ser reconstrudas no plano das representaes individuais. Em seguida, ns defenderemos que as operaes mentais individuais de raciocnio, porque se inscrevem em uma arquitetura psicolgica cujo estado e desenvolvimento so submetidos a uma srie de fatores heterogneos, no podem ser avaliadas a partir de sua relao com os esquemas idealizados, como desvios a estas normas. Por fim, enfatizaremos igualmente que o erro de Grize foi o de tentar, como ele o formulou explicitamente, identificar as estruturas da inteligncia na ao discursiva. Por um lado, os textos/discursos no podem constituir os reflexos ldiretos das estruturas de inteligncia em funo de suas diferenas fundamentais de estatuto. Por outro lado, este tipo de orientao leva a negligenciar um questionamento central (at agora dramaticamente abordado como o demonstrou BOTA, 2012), para saber a identificao dos modos de organizao e o desdobramento das argumentaes no cerne da estrutura sinttico-semntica global dos textos.

    A segunda proposio refere-se s orientaes de pesquisas empricas. De um lado, como demonstrado de maneira mais que convincente por Habermas (1987), os saberes acumulados no curso da histria humana se distribuem em trs mundos formais, que organizam as representaes coletivas cujos referentes (aos quais eles se direcionam) so de naturezas significativamente diferentes, e cujos critrios de validao tambm o so: - o mundo objetivo enquanto sistema de representaes direcionadas a um universo de carter essencialmente fsico, avalivel em termos de verdade/eficcia; o mundo social enquanto sistema de representaes direcionadas aos valores e aos modos aceitveis de interao entre os humanos, avalivel em relao s normas sociais; o mundo subjetivo enquanto sistema de representaes direcionadas interioridade psquica das pessoas, avalivel em relao sinceridade/autenticidade. Pareceria instrutivo comparar as propriedades dos esquemas argumentativos baseados nos corpus de saberes referentes a estes trs mundos e medir especialmente, ao faz-lo, o espao de validade deste prottipo que constitui o silogismo. De outro lado, como ns demonstramos em outros estudos (cf. BRONCkART, 2004; BULEA; BRONCkART, 2008), os diferentes tipos de discursos (cf. BRONCkART, 1997) constituem evidncias dos contextos privilegiados para o desdobramento de formas especficas de argumentao: os raciocnios causais-prticos aparecem regularmente no contexto dos discursos interativos; os raciocnios, a partir do exemplo aparecem de maneira privilegiada no

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    contexto do relato interativo; os raciocnios lgicos e semi-lgicos aparecem de um modo privilegiado no contexto dos discursos tericos. Com base nestas constataes, seria til analisar as condies sob as quais as formas de raciocnio podem superar o seu contexto discursivo natural, serem reformuladas em um contexto de um outro tipo de discurso, e serem com isso uma parte de sua determinao propriamente lingustica.

    Nossa ltima proposio de ordem didtica. Se as entidades do raciocnio so ancoradas em trs lugares distintos e independentes, elas esto, no entanto e bem evidentemente em interao permanente. Parece-nos ento que a reflexo didtica relativa neste domnio deveria se centrar, por um lado, na utilidade e na amplitude possvel de uma explicitao dos nveis de ancoragem dos processos do raciocnio; por outro e sobretudo sob a aplicao de atividades que favoream a transferncia, ou a transposio entre estes processos. Esta ltima proposio, no entanto, continua bem geral e programtica, e ns pedimos aos nossos colegas didticos da matemtica para analisar e avaliar.

    Notas

    * Professor Doutor da Faculdade de Filosofia e Cincias Sociais da Educao, Universidade de Genebra. E-mail: [email protected]. A traduo do texto do francs foi revisada pela professora Maria Izabel Rodrigues Tognato, membro do Conselho Editorial da Revista NUPEM.1 A anlise desenvolvida sob este ttulo serve-se em grande medida dos trabalhos realizados nesta rea por Ecaterina Bulea (cf. 2005, 2006 e 2010).2 A anlise introduzida por este ttulo serve-se em grande medida do trabalho de tese de Cristian Bota (2011), realizada sob nossa orientao.

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