camilo cavalcanti y camillo cavalcanti. gênesis de cecília meireles, hologramas do panteísmo

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Gênesis de Cecília Meireles: hologramas do panteísmo Author(s): Camillo Cavalcanti and Camilo Cavalcanti Source: Revista de Letras, Vol. 44, No. 2, Literatura de Autoria Feminina (Jul. - Dec., 2004), pp. 47-67 Published by: UNESP Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho Stable URL: http://www.jstor.org/stable/27666798  . Accessed: 20/03/2013 16:59 Your use of the JSTOR archive indicates your acceptance of the Terms & Conditions of Use, available at  . http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp  . JSTOR is a not-for-profit service that helps scholars, researchers, and students discover, use, and build upon a wide range of content in a trusted digital archive. We use information technology and tools to increase productivity and facilitate new forms of scholarship. For more information about JSTOR, please contact [email protected].  . UNESP Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho  is collaborating with JSTOR to digitize, preserve and extend access to Revista de Letras. http://www.jstor.org

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Estudio crítico. Camilo Cavalcanti y Camillo Cavalcanti. Gênesis de Cecília Meireles, hologramas do panteísmo.

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Page 1: Camilo Cavalcanti y Camillo Cavalcanti. Gênesis de Cecília Meireles, Hologramas Do Panteísmo

7/21/2019 Camilo Cavalcanti y Camillo Cavalcanti. Gênesis de Cecília Meireles, Hologramas Do Panteísmo.

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Gênesis de Cecília Meireles: hologramas do panteísmoAuthor(s): Camillo Cavalcanti and Camilo CavalcantiSource: Revista de Letras, Vol. 44, No. 2, Literatura de Autoria Feminina (Jul. - Dec., 2004),pp. 47-67Published by: UNESP Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho

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Accessed: 20/03/2013 16:59

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para si,

a

funda??o do modernismo, utilizando-se, para tanto, de

insultos

e

grosserias

que,

freqiientemente,

extrapolavam

os

limites

literarios:

Mas

o

que

sobretudo

comprometeu

a

campanha

de

"Festa"

e,

em

particular,

os

escritos antimode mistas de

Tasso

da

Silveira,

foi

a

falta

de

respeito

intelectual.

Encarar,

mesmo em

1927,

Mario

de

Andrade

c?mo

um

"maluco de talento"

ou

tudo

o

que

se

fazia

em

S?o

Paulo

como uma

"enxurrada"

a

passar

pela

esta??o

de

tratamento

de

"Festa"

revelava

urna

pobreza

de

sensibilidade

literaria

e urna

carencia

de

liberalismo de

espirito que explicam,

com

efeito,

muita

coisa

(MARTINS,

1973,

p.

107).

Outrossim,

o

papel

de

Cecilia

era

determinante

para

a

formula??o

e

exposi??o

da

ideolog?a

do

grupo,

pois

foi

a

"revista

Festa,

criada

em casa

de

Cecilia

Meireles"

(MARTINS,

1978,

v.

6,

p.

406).

S?o

episodios

da

vida

literaria

que

n?o

interessam

ao exame

cr?tico

da obra ceciliana.

A

posi?ao

de

Cecilia

Meireles

extrapola

as

f?rmulas

de

historiograf?a

literaria.

Antes

mesmo

da

Semana de Arte Moderna

de

1922, a poetisa estr?ia, em 1919, com a publica?ao de Espectros, livro

"jamais

reeditado

e

que

desapareceu

discretamente

das

suas

poemas

chamadas

'completas"' (MARTINS,

1978,

v.

6,

p.

139).

Mesma

supress?o,

na

edi??o

de

1967,

sofreram

Nunca

mais... e

Poema dos

poemas,

de

1923,

e

Baladas

para

el-7ei,

de

1925,

livras

publicados

em

pleno

fervor

dos

reflexos

da

Semana

de

22,

antes,

mesmo,

do her?i

m?rio-andradiano

Macuna?ma

e

do

Manifesto antrop?fago

oswaldiano

(ambos,

de

1928).

Essa

atitude,

al?m de

ignorar

a

produ?ao

ceciliana mais

afinada

com o

simbolismo

e

com o

esplritualismo, pretende

empurrar,

para

1939,

a

presen?a

e

a

participa??o

da

poetisa

na

vida

literaria,

afastando,

definitivamente,

mas

sem um

resultado

satisfat?rio,

a

problem?tica

que

circunda

a

Festa. Mas

ser?

a

mentalidade

"pr?

modernista"

que

dominar?

toda

a

produ?ao

po?tica

de

Cecilia

Meireles,

deflagrada

desde

Espectros

e

Nunca

mais,

e

consubstanciada

nos

livros ulteriores.

Adem?is,

a

distancia

entre

as

Baladas

e

Viagem,

correspondente

a

catorze

anos,

era

outro

pretexto

para

a

elimina??o

dos

tres

primeiros

livros.

No

intuito de

se

situar

a

poetisa

no

momento

p?s-her?ico

do

modernismo,

Viagpm

ganha

ares

de

primeira

obra

(apoiando-se,

tamb?m, na

consagra??o

na Academia).

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Revista

de

Letras,

Sao

Paulo,

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A

t?o estudada

nota

espiritual, que percorre toda

a

poesia de

Cecilia

Meireles,

tem

sua

g?nese

nos

livros

"esquecidos",

que

reclama,

muito

justamente,

uma

an?lise

mais

detida, infelizmente,

desconsiderada

nos

estudos

sobre

a

autora,

e

que

explica,

com

enorme

propriedade,

a

espiritualidade

concernente

?

sua

poesia.

Quanto

a seu

livro de

estr?ia,

nada

se

pode

achar,

nem

na

Academia

Brasileira de

Letras,

nem no

Real Gabinete

Portugu?s

de

Leitura,

sequer

na

Biblioteca Nacional:

nao

houve meios de

se

encontrar

um

s?

verso

de

Espectros,

de

1919

-

?

muito

lament?vel.

A

cr?tica da

?poca

nao se

manifestou

a

respeito

do

livro-estr?ia.

Felizmente,

a Poesia

completa,

organizada,

h?

pouco, por

Antonio

Carlos

Secchin,

recuperou

esse

registro

quase

espectral,

cujos

versos

ser?o

examinados

num

estudo mais

ampio

e

vindouro.

Nao

obstante,

antes,

ainda,

de

Viagem

(portanto,

dentre

os

tres

primeiros

livros),

Agrippino

Grieco

dep?e

sobre Nunca mais

e

Poema

dos

poemas...,

de

1923:

(...)

surgiu,

a

vacillar

entre

o

parnasianismo

e

o

symbolismo,

a

sra.

Cecilia

Meirelles.

Mas

a

sra.

Cecilia Meirelles

?

pouco

original,

por

isso

que

imitadora

dos

que

aqui

imitam

Leopardi

e

Anthero

de

Quental:

?

uma

copia

de

copia,

e

j?

enfraquecida,

como

as

reproduc??es

de

agua-forte

do

numero

dez

em

deante.

Para

empregar

a

linguagem

do

seu

livro "Nunca

mais...",

a

"chuva

chove"

constantemente

em

seus versos.

D?

a

impressao

de

estar

mettida

num

hypogeu, longe

do azul

e

da belleza

das coisas.

Suas

traduc??es

da

natureza

quasi

n?o

tomam

corpo,

s?o

pouco

pl?sticas.

Faltam-lhe

essas

palavras

cantantes

que parecem

conduzir-nos

por

um

caminho

florido;

falta-lhe

certa

fluidez,

certa

inconsistencia,

certa

flexibilidade,

que

d?o

?

estrophe

o

encanto

supremo.

Ignora

a

sedu??o

do

sorriso. ?

uma

artista

que

parece

ter

abdicado de toda

alegr?a,

de toda

esperan?a

de felicidade.

Alias,

no

que

concerne

?

express?o

das

suas

amarguras,

ha nella

uma

vontade visivel

de

emocionar-se

po?ticamente,

mais talvez

que

emo?ao espontanea.

?

elegiaca

atrav?s

de

uma

disciplina

judiciosa.

N?o

possue

o

dorn

de

inflammar

os

assumptos

em

que

toca:

a

falta

de

sinceridade verbal

paralysa-lhe

qualquer

tentativa

de

alto

lyrismo.

N?o

consegue

animar

os

fantasmas desconexos

do

seu

espirito.

Nem

nos

int?ressa

a

sua

apparente

desordem,

desordem

calculada,

labyrinto

com

guarda

(...).

Al?m do

mais,

seus

cacoetes

de

repeti?ao

acabam

fatigando.

Ainda

ere a sra. Cecilia Meirelles no effeito de certas assonancias e

onomatop?as

que

s?

podem

dar

em

resultado

dissonancias

e

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de

Letras,

S?o

Paulo,

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desafina??es insupportaveis,

fazendo

com

que

se

oi?a,

ao

inv?s

de

Bach

ou

Schumann,

um

tan-tan

seivagem

(GRIECO,

1932,

p.

201

203).

H?

muitas verdades

emaranhadas

com uma

enxurrada

de

cr?ticas

desacertadas,

que,

logo, ganham

um

torn

de

disforia,

por

se

alinharem

a

certa

pressa

em

desvendar

o

fundo

po?tico

que,

t?o

somente,

permanece

impenetr?vel,

para

o

desgosto

dos

olhos

do

analista.

A

poes?a

de

Cecilia

Meireles

nao

aceita

an?lise

ligeira.

A

primeira problem?tica, levantada por, Grieco diz respeito ?

originalidade

da

poes?a

ceciliana,

numa

afirmativa muito

infeliz,

a

mais

insensata

porque

a

mais

ligeira.

Nao

se

far?

oposi??o

?

autoridade de

um

Otto

Maria

Garpeaux:

A

sra.

Cecilia

Meireles ?

poeta

inconfundivelmente

brasileiro.

Mas

parece-me

muito dif?cil

enquadrar

sua

arte

na

evolu?ao

hist?rica

da

poesia

brasileira.

Sua

arte

nao

?

parnasiana

nem

pertence

ao

ciclo

da

revolu?ao

modernista

nem se

enquadra

em

qualquer

conceito

poss?vel

de

p?s-modernismo.

E

poesia

que

ocupa

lugar

certo

dentro

da poesia brasileira sem ter participado da evolu?ao d?la. Eis o grao

de

verdade

naquele

erro

("j?.ouvi

a

afirma??o

de

que

a

poesia

da

sra.

Cecilia Meireles

nao

seria

bastante

'brasileira'"),

-que

de?iniu

de

maneira

negativa

a

mais

alta

qualidade

da

poesia

da

sra.

Cecilia

Meireles

(...).

A

posi?ao

hist?rica

daquela

poesia

nao

pode

ser

determinada

pela

demonstra??o

de

"fontes",

que

sempre

?

hipot?tica

(CARPEAUX,

1960,

p.

205).

Talvez,

o

erro,

constatado

por

Garpeaux,

fa?a

referencia

a

um

julgamento

de

Jos?

Os?rio

de

Oliveira,

de

consider?vel

repercuss?o

na ?poca, a ponto de, ainda, figurar no estudo cr?tico de Darcy

Damasceno

as

edi?oes

Aguilan

"Cecilia

Meireles ?

das

ilhas

[de

Acores],

t?o

di?fana

e serena

que

se

faz

angustiosa,

[por

causa

de]

aquele

clima

temperado

e

t?o

di?fano

que

acaba

por

constituir

uma

inquieta??o permanente"

pAMASCENO,^wrfMILLIET,

1952,

p.

74).

Portanto,

a

substancia

primacial

de

sua

poesia

nao

est?,

como

quer

a

cr?tica,

na

angustia

insular

nem

na

imita??o

de

Leopardi

ou

Quental,

e,

sim,

na

metaf?sica,

cujo

casamento

com

a

po?tica

acentuou

a

sondagem

do

territorio

?ntimo

-

heran?a

do

simbolismo

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Revista de

Letras,

Sao

Paulo,

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-

e

deu

o

tonus

das

obras

po?ticas

anteriores

?

Semana

de

22,

como

?

o

caso

de

Mario

Pederneiras:

Desola??o

Pela estrada da Vida

ampia

-

coberta

De

um

longo

velo

pesaroso

e

ba?o,

Has

de encontra-la

muita

vez

alerta

Na

longa

rota

do

teu

longo

passo.

Por

caminhos de

pedras

e

sarga?o

H? de levar-te pela m?o incerta,

At?

exausto

em

M?goas

e

cansa?o

Te

seja

a

Vida

int?rmina

e

deserta.

Ver?s

em

tudo Solid?o

e

Escolhos

E

da

Tristeza,

a

t?trica

figura,

Estampada

trar?s

nos

pr?prios

Olhos.

E

ent?o,

em

M?goas

e

Pavor

clamando,

Has

de ve-la

passar,

na

Noite

escura,

A

mortalha

dos sonhos arrastando

(PEDERNEIRAS,

1958,

p.

27).

Esta

tendencia,

que

se

combina

com

uma

nota

pessimista,

permanece,

inclusive,

em

1922,

por

meio

da

voz

de Raul de

Leoni:

P?rtico

Na

orla

do

mar,

seguindo

a curva

ondeante

Do

velho cais

esguio

e

deslumbrante,

Quando

o

horizonte

e

o

c?u,

em

lusco-fusco,

Somem

na

porcelana

dos

ocasos.

Silhuetas

fugitivas

De

lindas

cortesas

de

Agrigento

e

de

Chipre,

Como

a

sonhar,

olham,

perdidamente,

A

volta das

trirremes

e

das

naves,

Que

lhes

trazem

o

espirito

do

Oriente,

Em

pedrarias,

lendas

e

perfumes...

Ent?o,

ondulant

no

ar

di?fano

e

?luente

Suavidades

id?licas,

acordes

De

avenas,

cornamusas

e

ocarinas

Que

v?m

de

longe,

da alma branca dos

pastores,

Revista de

Letras,

Sao

Paulo,

44

(2):

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67,

2004

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Trazidas

pelos

ventos transmontanos

E

espiritualizados

em

surdinas

(LEONI,

2002,

p.

17).

N?o

obstante,

um

dos

m?ritos

de Grieco foi

perceber,

n?o

menos

do

que

pelo

exposto

a

seguir,

uma

"desafina??o

formal".

As

palavras

cantantes

faltam ?

poesia

de

Cecilia

Meireles,

cujo

ritmo

?

pesado

como a nuvem

negra que

intoxica

os

amargurados;

afinal,

"a

chuva

chove".

Exempio

disso

sao as extensas

enumera?oes

(Odio?

Amor?

Ele? Tu? Sim?

N?o?

Riso?

Lamento?),

que

traduzem

o

esfor?o

em

extravasar

a

resigna??o

que

corro?

a

alma,

na

conturba??o

sentimental

t?pica

do melanc?lico. Mario de Andrade,

tamb?m,

identifica tal deficiencia

na

poesia

de

Cecilia,

quando

fala

de

"um

poema

duro,

rijo,

em

que

certas

frases muito

secas

batem

com uma

firmeza

cl?ssica

de

pedra,

entre

frases

emolientes,

cheias

dessa sensibilidade

sensual,

que

faz

nascer

o

adjetivo" (ANDRADE,

1972,

p.

72).

Mas

as

enumera?oes,

realmente,

n?o

s?o ocasion?is

em

Nunca

mais...:

Agitato

Sombras. A c?mara apagada...

Sombras...

Meu

vulto

?

longe...

ausente...

Silencio... Calma... Sonho...

Nada...

Vago,

leve,

indecisamente...

(MEIRELES,

1973).

Panorama al?m..

Silencio.

Eternidade.

Infinito.

Segredo

Onde,

as

almas irm?s?

Onde,

Deus?

Que

degredo

Ningu?m...

O

ermo

atr?s

do

ermo:

-

?

a

paisagem daqui.

Tudo

opaco...

E

sem

luz...

E

sem

treva...

O

ar

absorto...

Tudo

em

paz...

Tudo s?...

Tudo

irreal... Tudo

morto...

Por

que

foi

que

eu

moni?

Quando

foi

que

eu

moni?

(MEIRELES,

1973).

Noturno

de

amor

Sugere,

mas

nao

laies...

Porque

a

frase

?

v?,

no

amor...

Misterio...

So?olencia...

O

esquecimento,

quase...

A

morte,

quase...

Intui??es...

Irrealismos... Inconsciencia...

(MEIRELES,

1973).

52 Revista

de

Letras.

S?o

Paulo,

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A

irw?r?id

Leve...

-

Pluma... Surdina...

Aroma...

Gra?a...

Qualquer

coisa

infinita.?. Amor...

Pureza...

C?belo

em

sombra,

olhar

ausente,

passa

como

a

bruma

que

vai

na

aragem

presa...

Silenciosa.

Imprecisa.

Et?rea

taca

em

que

adormece

o

luar... Delicadeza...

Nao

se

diz... Nao

se

exprime...

Nao

se

tra?a...

Fluido... Poesia...

N?voa...

Flor...

Beleza...

(MEIRELES,

1973).

A

contribuir

com

o

prosa?smo

descririvo

dos

poemas

cecilianos,

encontram-se,

ao

lado das

enumera??es

prolixas,

os

paralelismos,

que,

na

tentativa de

provocar

algum

efeito

estil?stico

(pr?ximo

ao

refri?

ou ao

bord?o),

cansam

o

poema

pelo

excesso.

Tal

fen?meno

?

patente,

ainda,

no mesmo

Nunca

nuis...:

Beatitude

Sobre

o

meu

grande

desalent?,

tudo,

mas

tudo,

passa

breve,

breve,

alto

e

longe

como o

vento...

Tudo,

mas

tudo,

passa

leve,

numa

sombra

muito

fugace

-

sombra

de

nev?

sobre

nev?...

-

(MEIRELES,

1973).

A

dega

do

fantasma

Por

que

eu te

quero

tanto,

tanto,

depois

de

tanto

desencanto,

depois de tanto, tanto pranto?

(...)

Na

grave

treva

que

amedronta,

rninha

alma

tonta, tonta,

tonta,

os

sonhos

mortos, morros,

conta...

(MEIRELES,

1973).

O

que,

tamb?m,

confirmam,

em

in?meros

poemas,

as

Baladas

para

d-rei; contudo, basta,

para

demonstrar

como

a

poesia

de

Cecilia

Meireles

se

deixa,

por

vezes,

sobrecarregar

numa

linguagem

pesada

(como

bem

disse Mario

de

Andrade),

o

poema

"Inicial"

(que,

evidentemente,

contrasta com o

"Finar,

analisado neste

artigo):

Revista de

Letras,

S?o

Paulo,

44

(2):

47

-

67,

2004

53

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L?

na

distancia,

no

fugir das perspectivas,

por que

vagueiam,

como o

sonho

sobre

o

son?,

aquelas

formas

de neblinas

fugitivas?

L?

na

distancia,

no

fugir

das

perspectivas,

l?

no

infinito,

l?

no

extremo...

no

abandono...

Aquelas

sombras,

na

vagueza

da

paisagem,

que

tem

brancuras

de

crep?sculos

do

Norte,

d?o-me

a

impress?o

de

vir

de

outrora...

de

uma

viagem...

Aquelas

sombras, na

vagueza

da

paisagem,

d?o-me

a

impress?o

do

que

se

ve

depois

da

morte...

L?

muito

longe,

muito

longe,

muito

longe,

anda

um

fantasma

(sic)

espiritual

de

um

peregrino...

Lembra

um

rei-mago,

lembra

um

santo,

lembra

um

monge...

L?

muito

longe,

muito

longe,

muito

longe

anda

o

fantasma

espiritual

do

meu

destino...

Anda

em

silencio: alma do

luar...

forma do

aroma...

Lembran?a

morta

de

uma

historia

reticente

que

nos

contaram

noutra

vida

e

noutro

idioma...

Anda

em

silencio:

alma do

luar...

forma do

aroma...

L?

na

distancia...

O

meu

destino...

Vagamente...

Sentei-me

?

porta

do

meu

sonho,

h?

muito,

nessa

d?vida

triste de

um

infante

pequenino,

a

quem

fizeram,

certa

vez,

uma

promessa...

?ue

?

que

trazes

de

t?o

longe?

Vem

depressa

? meu destino ? meu destino O meu destino ... (MEIRELES,

1973).

Bem

se

v?

que

se

juntam,

ainda,

ao

paralelismo

abusivo,

constru??es

anaf?ricas

e/ou

epistr?ficas.

Essas

t?cnicas

po?ticas

n?o

constam,

parece,

das obras

ap?s

Viagem;

como

se

v?,

h?

um

salto de

qualidade

dos

tres

primeiros

livros

para

os

livros

da dita

"obra

po?tica"

de

Cecilia,

mas,

de

forma

alguma,

um

deslocamento

de

temas

e

aspira??es:

tudo

o

que

respeita

?

espinha

dorsal

de

sua

poesia

-

mentalidade,

universo

po?tico,

utopias,

territorio ?ntimo

-,

54 Revista de

Letras. S?o

Paulo.

44

(2):

47

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67,

2004

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apenas,

cresce e

evolui, pois

o

eu-l?rico ganha maturidade e,

a

partir

de

Viagem,

expressa

melhor

os seus

sentimentos.

Um

segundo

apontamento

de

Grieco

que,

de

fato,

conf?re ?

a

falta

de

plasticidade

da

natureza

que

constitu?

o

universo

po?tico

ceciliano,

mas,

nunca,

pelas

raz?es

evocadas.

Enfraquecida

como

as

reprodu??es

de

?gua-forte,

a

poesia

de

Cecilia Meireles

traz,

ao

contrario

da

inconsistencia

que pensa

Grieco,

um

universo

lacrimejado

pela

melancol?a:

preso

a um

amor

do

passado,

o

eu

l?rico

transborda

em

tristeza

s?lida

e

insistente

-

eis

o

motivo do

destom.

As

experiencias

com o

objeto

amado

pairam

na

ordern do

sonho

e

da

imagina?ao,

e a escolha

por

se fixar em um ente

querido

irrealizavel,

com

quern

o

sujeito

estabelece

uma

rela?ao

problem?tica,

j?

se

firma

em

A

hora

emque

os

sinos

cantan,

de

Nunca

mais...

e

Poema dos

poemas-.

Nem

palavras.

Nem

choro.

A

mudez. Pensativas

Abstra??es.

V?o

temor

(sic)

de saber.

Lento,

lento

Volver de

olhos,

em

torno,

augurais

e

espectrais...

Todas

as

nega??es.

Todas

as

negativas.

Odio? Amor? Ele? Tu? Sim?N?o? Riso? Lamento?

-

Nenhum

mais.

Ningu?m

mais. Nada mais. Nunca

mais...

(MEIRELES,1973).

Note-se,

por

exemplo,

que

as

indaga??es

permanecem,

ao

longo

de toda

a

obra,

como

deflagradoras

da ansia

por

entender

a

vida,

que

se

confunde

com o

pr?prio

sofrimento

melanc?lico

(envolvendo

quest?es

tanto amorosas

quanto

existenciais),

transmitindo

uma enorme

incerteza

perante

tudo,

na

qual

o

eu-l?rico

j?

n?o

sabe

se ama

ou

se

odeia,

e

n?o

consegue

determinar

se

o

amante

pertence

ao

passado

(ele)

ou

se

permanece

como

objeto

de

desejo

(tu),

alimentando

mais

e

mais

a

melancol?a.

Tamb?m,

quando

busca

uma

introspec??o

que

rememore o

que

se

passou

para

melhor

compreender

o

presente

e se

posicionar

quanto

ao

futuro,

toda

essa

quest?o

metaf?sica

se

Ihe estabelece

por

meio

de

imagens

como um

ermo,

um

pa?o

abandonado,

cujo

?nico

sinal

de

vida

paira

sobre

as

chuvas

e

por

entre

os

ventos.

Se

a

chuva

chove,

constantemente,

neste

pa?o,

n?o

?

porque

falte,

?

poetisa,

a

paleta

de

cores,

como,

talvez,

pensasse

Grieco,

mas

por optar pela diafanidade das imagens que vivem, exclusivamente,

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de

Letras.

S?o

Paulo,

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-

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na lembran?a do eu-l?rico, destonadas pelo sofrimento melanc?lico

plangente:

A

chuza

choie

A

chuva chove

mansamente...

como

um sono

Que

tranq?ilize,

pacifique,

resserene...

A

chuva

chove

mansamente...

Que

abandono

A

chuva ?

a

m?sica

de

um

poema

de Verlaine...

E

vem-me o

sonho de

uma

v?spera

sole

ne,

Em certo pa?o, j? sem data e j? sem dono...

V?spera

triste

como a

noite,

que

envenene

A

alma,

evocando coisas

l?ricas de

outono...

...

Num

velho

pa?o,

muito

longe,

em

terra

estranha,

Com

muita

n?voa

pelos

ombros da montanha...

Pa?o

de

imensos

corredores

espectrais,

Onde

murmurem,

velhos

?rgaos,

arias

mortas,

Enquanto

o

vento,

estrepidando pelas

portas,

Revira

in-folios,

cancioneiros

e

missais...

(MEIRELES, 1973).

Esse

pa?o

abandonado,

que

o

sonho

resgata,

sustenta-se

na

tristeza de

v?spera,

que

cobre

os

arredores de

um

outono

pardacento.

O

apego

aos

fen?menos

naturais

come?a,

tamb?m,

nesta

primeira

fase da

poesia

cec?iana,

concedendo,

?

chuva,

a

?nica

ternura,

ainda

que

?nfima,

do universo

po?tico

-

e

a

homenagem

a

Verlaine

?,

ent?o,

das

mais

espetaculares.

A

influencia

da

metaf?sica

?

patente.

A

meta-referencia

ao

precursor

do simbolismo

explica

grande

parte da est?tica que se entreve nos poemas de Cecilia Meireles, mas

n?o

chega

a

lhe revelar

a

face,

sen?o,

que

esbo?a,

apenas,

na

incompletude

de todos

os

rascunhos,

alguns

tra?os

marcantes,

mas

n?o,

ainda,

derradeiros.

A

tendencia

?

?materialidade,

observada, claramente,

na

carencia

de

detalhes,

ou,

mesmo,

de

contornos,

aproxima

nossa

poetisa

dos

simbolistas

finesseculares,

mas

?

a

pr?pria

servent?a

desse

recurso

que

autonomiza

a

escritora:

enquanto

o

simbolismo

sugestionava

o

Absoluto-Inexor?vel

por

meio do

car?ter

et?reo,

Cecilia

Meireles

domina

essa

ferramenta de modo

que opere

no

territorio

?ntimo,

mais

precisamente,

na

confiss?o

amorosa

e

na

rela?ao

entre

o

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S?o

Paulo.

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2004

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intang?vel

e a

materia. Por isso,

a

compara?ao usual

com

os

menestr?is,

cuja

l?rica,

se

t?o

magoada

e

respeitosa

quanto

a

ceciliana,

carece

das

imagens

que,

de maneira

complexa

mas

harm?nica,

enriquecem

o

lirismo da

poetisa

e

o

diferencian

do

trovadorismo

tout court.

H?

quem

diga,

a

respeito

desse

aspecto

da

poesia

ceciliana,

que

o

car?ter abstrato

de

suas

imagens respeitam

menos

? est?tica

simbolista do

que

?

impregna??o

de

um

espirituahsmo

universal,

i.e.,

atemporal.

Resta

saber

o

quanto

dessa

concep??o

espiritualista,

realmente,

foge

as

tendencias

simbolistas,

principalmente,

em

se

tratando

de

uma obra

que

se

inicia sob

forte influencia

do

simbolismo,

n?o

esgotada

por

completo

at?

a

Semana

de

Arte

Moderna

Talvez,

seja

mais

coneto

dizer

que

Cecilia

Meireles sofre

influencia dos

modelos

simbolistas,

mas,

a

partir

de

uma

variante

pessoal,

reformula

os

conceitos

e

recha?a

os

padr?es

da

escola,

confundindo-se,

portanto,

com

o

espiritualismo

puro,

cujo

credo,

n?o

obstante, ela,

tamb?m,

n?o

reza

inteiramente.

Sao,

exatamente,

os

Elementais

alqu?micos

que

subsistent

na

express?o

primaria

e,

ao mesmo

tempo,

colossal

da

vida,

pois,

antes

deles, s? h? o vazio. A Terra ("montanha") guarda, no cimo, toda a

Agua

-

rar?ssima

-,

suspensa

em

part?culas

a?reas

("n?voa").

Por

dentro,

o

palacio

?

fluido

("corredores

espectrais"),

mesclando-se

as

correntes

do

Ar.

Nesse

edificio

des?rtico,

abandonado,

a

Poesia

("cancioneiros")

e a

M?sica

("missais"),

somente,

sob

revive

ram

como

lementais,

ou

seja,

no

mais

puro

conceito

que

as

autonomize

do

contato

humano

-

afinal,

s?o

produzidas

pelos

"velhos

?rgaos"

independentes

da

a?ao

humana.

A

for?a

criadora

ou o

car?ter

m?gico

emanam

das

substancias

cosmog?nicas

que,

sendo

um

primeiro

recorte

do

mundo,

abrangem,

gen?ricamente,

todas

as

partes

da

M?e Natureza Essa

profunda

rela?ao

com

a natureza

bruta

e

primitiva,

na

obra

ceciliana,

deflagra

um

pante?smo,

?e,

a

identifica??o

da

energ?a

de

theos

no

mundo

inanimado,

que passa,

por

conseguinte,

da

materia bruta

?

viva,

j?

que

forma

o

corpo

de theos.

Desse

modo,

colocando,

lado

a

lado,

esse

pante?smo

da

reitera?ao

de

imagens

fluidas,

abstra?as

e

imateriais,

pode-se

verificar

que

as

figuras

se

comportam

como

hologramas pairando

nesse

universo

pante?sta

Eis

o

motivo

da autonomia

da

po?tica

ceciliana

frente ? est?tica simbolista tout court: a identifica??o de theos no nosso

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Letras.

S?o

Paulo,

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mundo sens?vel (pante?smo) rejeita

o

pensamento do simbolismo

sobre

a

inexorabilidade de theos

(transcendentalismo).

Como

caracter?stica

marcante

da

poesia

de

Cecilia

Meireles,

os

hologramas

e

o

pante?smo podem

ser

observados, tamb?m,

em

Baladas

para

d-rei:

P?rtico

-

Lembram

planicies

desertas...

Ao

longe,

distancias

ermas...

Em tudo

quanto

se

abarca,

h?

ligeirezas

enfermas

de l?as da Dinamarca...

-

Ao

longe,

distancias

ermas...

E

sob

olhares

em

pranto

de estrelas

alucinadas,

vais,

c

coroa,

cetro

e

manto,

? Rei

das

minhas baladas

(MEIRELES,

1973).

"Dos

pobrezinhos"

?as

tardes

momas e

sombr?as,

de

c?us

pesados,

mares

ermos,

e

horas

mon?tonas

e

iguais,

eu

pens?

nos

enfermos,

na

escuridao

das

enfermar?as

tristes

e

mudas de

hospitals...

(MEIRELES,

1973).

Suadssinu

E

silenciosas,

como

algu?m

que

se

acostuma

a

caminhar

sobre

penumbras,

mansamente,

meus

sonhos

surgem,

fr?geis,

leves

como

espuma...

(MEIRELES,

1973).

Note-se

que

sua

liga??o

com

o

mar

n?o

respeita,

de

modo

algum,

as

?lhas de

Acores,

local

em

que

ela,

at?

ent?o,

nunca

estivera.

A

pungencia

do

mar,

na

obra

ceciliana,

?

t?o

not?vel

quanto

a

da

terra,

do

c?u,

do ar e do

fogo.

Por entre Nunca

mais...,

Poema dos

poemas

e

Baladas

para

d-rei,

o

eu-l?rico,

de

fato,

n?o

experimenta,

58

Revista

de

Letras. S?o

Paulo,

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ainda,

um

Mar

absoluto

(1945),

nem

mesmo, aquele

mar

j?

t?o

pungente

de

Viagem,

mas

identifica,

no

entanto,

a

ess?ncia

da

Agua

no

choro,

na

n?voa,

na

chuva

-

eis

porque

Grieco

falava

em

?gua

forte,

sem

entender

essa

concentrac?o

de

Agua

em

condensa??o

por

sobre

a

Terra. Trata-se

de

apreender

a

natureza

por

meio

do

pante?smo

e

da

inicia??o

alqu?mica,

t?o-somente, isto,

o

que,

tamb?m,

n?o

responde,

como

quer

Grieco,

a

imita??es

de

Leopardi

ou

Quental,

nem

mesmo,

com

quer

Darcy

Damasceno,

a

climas

e

eventos

a?orianos.

Tanto

Nunca mais...

quanto

Baladas

para

d-r?

j?

apresentam

o

mar como

imagem

t?o bem

definida

como em e

depois

de

Viagem

a

diferen?a

?,

apenas,

de

foco,

como se

ver?,

mais

adiante,

pelo

degredo

da Terra

e

pelo

refugio

no

mar

(que

n?o

constant

dos

tres

livros

"esquecidos").

E

que

o

momento

?

de

purga??o

das

angustias

vivenciadas

sob

o

dominio

da

Tena

Note-se

que

n?o

se

trata,

apenas,

de

uma

men??o

ocasional,

a

imagem

do

mar

desempenha

um

papel importante

no

poema,

nao

sem,

antes,

respeitar

o

equilibrio

pante?sta

das

for?as

alqu?micas.

Este

poema,

de

Nunca

mais...,

nao

so

icice?a

a

nnagciii

do

mar,

como,

tamb?m,

funde

alguns

Elementais

como

testemunho do

pante?smo que se tem defendido neste artigo:

A

rrinha

princesa

branca

Estendo

os

olhos

aos mares:

ela anda

pelas

espumas...

-

Serenidades

lunares,

tristezas

suaves

de

brumas...

Ela

anda

nos

c?us

vazios,

em

brancas

noites

morosas:

mira-se na agua dos rios,

dorme

na

seda das

rosas...

Passa

em

tudo,

grave

e

mansa...

E,

do

seu

gesto

profundo,

solta-se

a

grande

esperan?a

de

coisas fora do mundo...

Por

sobre

as

almas

vagueia:

almas

santas...

Almas

boas...

E

um

palor

de

l?a

cheia,

na

agua

morta

das

lagoas...

Revista de

Letras,

S?o

Paulo,

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67,

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Quando contemplo

as

encostas,

de

alma

ansiosa

por

vence-las,

vejo-a

no

alto,

de

m?os

postas,

muda

e

coroada de

estrelas...

E

vou,

sofrendo

degredos,

a

dominar

os

espa?os...

S?

quero

beijar-lhe

os

dedos

e

adormecer-lhe

nos

bracos

(MEIRELES,

1973).

Note-se

que

o

eu-l?rico

profetiza

seu

porvir:

conhecer?

o

mar,

na

sua

plenitude,

gra?as

?

Viagem,

e,

ao mesmo

tempo,

conscientizar-se-?

de

que

sua

rela?ao

com a

Terra

propicia

sofrimento.

Ainda

assim,

antes

dessa

fuga

para

o

mar,

o

eu-l?rico

j?

revela

sua

intimidade

com

mares,

rios

e

lagoas;

pranto,

neblina

e

chuva

-

todos,

porc?es

de

Agua

O

monismo

ou

te?smo

(misto

de

espiritualismo

e

pante?smo

de

Cecilia

Meireles)

-

ainda

se

pode

considerar

como

messianismo

primitivo

-

aciona

as

mesmas

t?cnicas

simbolistas

quanto

?

colora??o

do

pathos

por

meio

de

sintagmas

cujo

adjetivo

ou

substantivo ? abstrato, mas com resultados bastante diferentes afins

?

sutileza

de

concep??es

e

de

aspira?oes.

Por

exempio,

voltando

a

Baladas,

os

componentes

do

universo

po?tico

sao,

de

fato,

amalgamados

em

elementos

abstratos,

como o

poema

Final

testifica

Eu sei

de

algu?m,

de

um

pobre algu?m

desconhecido,

Que,

em certa

noite

de imortal

deslumbramento,

H?

de

surgir

da

n?voa

pl?cida

do

olvido,

E

h?

de

me

ver,

depois

de

tanto

sofrimento,

Na

paz

de

quem,

nunca

tivesse

padecido...

Eu

sei de

algu?m,

de

um

pobre

algu?m

que

n?o

conhece

A

minha

vida,

a

minha

sorte,

o meu

destino,

E

que

nessa

noite,

num

total

d?sint?resse,

H? de fazer

chorar

por

mim,

?

alma de

um

sino,

O

largo

choro

funerario de

uma

prece...

Eu

sei de

algu?m

que,

muito

longe

ou

muito

perto,

Me

h?

de

trazer

como

presente

o

longo

cofre,

Que

todo de oiro e

panos

roxos vem coberto,

60

Revista de

Letras,

S?o

Paulo.

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E

onde

se

esquece

o

que

se

goza

e

o

que

se

sofre,

Depois

da

in?til

caminhada

no

Deserto...

Eu

sei

de

algu?m,

de

um

pobre algu?m

p?lido

e

grave,

Que,

nessa

noite

numa

semi-sonol?ncia,

Talvez,

moroso,

maquinal, paciente,

cave

O

meu

caminho

para

lora

da existencia...

O

meu

caminho

muito

acerbo

ou

muito

suave...

Eu

sei de

Algu?m

que

tinha

n'aima

eremiterios

Para o silencio dos meus extases de monge,

Que

talvez

sofra,

de olhos

tristes,

labios

serios,

Pensando

em

mim,

pensando

em

mim,

que

estou

t?o

longe,

Nas

noites brancas

em

que

h?

luar

nos

cemit?rios...

Oh

todos

vos,

?

meus

irm?os,

que,

tarde

ou

cedo,

Piedosamente haveis de vir

em

meu

socorro,

Para

que

linde

este

trist?ssimo

Degredo,

Que

a vossa morte

seja

a

Morte

de

que

morro:

Morte

sem

mal,

Morte

sem

dor,

Morte

sem

medo ...

(MEIRELES,

1973).

Percebe-se

que

as

primeiras

estrofes

det?m

a

escassa

descri?ao

de

um

universo

po?tico

j?

rarefeito. Como

j?

foi

dito,

o

referente

abstrato

caracteriza

os

elementos

paisag?sticos:

(na

primeira estrofe)

a)

"imortal

deslumbramento"

qualifica

"noite";

b)

"n?voa

pl?cida"

cerca o

"olvido";

(na

segunda

estrofe)

c)

"quem

n?o

padeceu"

?

"dono

da

paz"; (quarta estrofe) d)

"um

sino"

possui

"alma"

etc.

Tem-se

a

enuncia?ao

do

abstrato

por

meio do

termo

regente

ou

do

termo

regido.

O

pante?smo

permanece

na

totalidade

com

que

se

apreende

a

physis,

servindo-se

de

distin??es

primarias,

que

realizara

um

recorte

ling??stico

por

meio

dos

element?is

alqu?micos.

Nesse

sentido,

esses

blocos

ganham

uma

unidade n?o

fragmentaria,

ie.,

em

que

a

maneira

de

se

perceber

o

objeto

n?o

causa

fissuras

pela

an?lise do

detalhe,

pela

identifica??o

do

multifacetado

ou

pela

aferi??o

da

pkiralidade

-

o

mundo

?

plenamente

conhecido

nas

quatro

manifesta??es

b?sicas:

Terra, Ar,

Fogo

e

Agua

(mar);

alias,

a

pr?pria

harmon?a dos

Revista

de

Letras.

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Paulo,

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(;

".

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61

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elementos alqu?micos denuncia uma fragmenta??o, apenas, aparente:

o

cosmos

?

uno

e

total.

Por

exemplo,

a

"noite"

(segundo

verso)

apreende

toda

a

imensid?o

celeste;

a

kia,

as

estrelas,

o

sereno,

as

nuvens,

todos

esses

componentes

n?o

se

distinguem

entre

si;

pelo

contrario,

formam

uma

grande

massa

informe

e,

portant

o,

n?o

fragmentaria

do

c?u,

j?

que

n?o s?o

discriminados,

ou,

melhor,

nomeados. Trata-se

de

uma

compreens?o

do mundo

ligada,

intr?nsecamente,

ao

m?gico

e ao

mito,

cuja

percep??o

unificadora

-

tudo

se

ins?re

nos

quatro

element?is,

e

estes,

juntos,

representam

theos

-

estaciona

a

fragmenta??o

respons?vel

pela

amplia??o

e

pela

profundidade

do

recorte

ling??stico

e

revela,

a

todo

instante,

o

inoniin?vel,

o

estranho,

o

enigm?tico

que,

logo, integram

o

corpo

dos

quatro

gigantes

pante?stas

j?

conhecidos.

Em

seguida,

"n?voa

pl?cida

do olvido"

(terceiro verso)

parte

do

material

di?fano,

intang?vel,

para

o

superlativo

do

abstrato,

do

incognosc?vel.

O

primeiro

elemento

paisag?stico,

"noite

de

imortal

deslumbramento",

do

segundo

verso,

?cima

referido,

denuncia

a

problem?tica

do

contraste entre

a

falta de luz

{des

mais lumbre

equivale ? noite) e amaravilha (deslumbre, por extens?o), te?ricamente

opostas.

Entender

a

poesia

de

Cecilia

Meireles

por

meio

das

matrizes

configuradas

em

seus

tres

primeiros

livros,

ainda

que

suprimidos,

permite

que

se

desfa?am

os erros

de

julgamento

cr?tico

a

respeito

de

sua

est?tica

e

de

sua

posi?ao

na

literatura brasileira.

Como

herdeira

de

nosso

"1900",

a

poetisa

jamais

poderia

ser

entendida

como

part?cipe

da

segunda

gera??o

modernista:

o

fato

de

que

ela

se

encontra

alinhada

com

Drummond

e

Murrio

Mendes,

no

recorte

que

Alfredo

Bosi

inferiu

na

literatura brasileira

(BOSI,

1994,

p.

386),

?

flagelar

a

espinha

dorsal

que

organiza

o estilo de

Cecilia:

a

tradi?ao

simbolista,

ou,

mais

espec?ficamente,

decadentista

-

desvirtuando

para

o

monismo

-,

da

autora

de

Viagpn

Este livro

ser?

entendido

como marco

para

um

n?o

mais

do

que

amadurecimento

da

mesma

est?tica

j?

esbo?ada

nos

tr?s

primeiros

livros.

Este

argumento,

no

final

das

contas,

surge

como

principal

raz?o

para

n?o

se

distinguir

duas

fases,

substancialmente,

aut?nomas,

nem,

muito

menos,

desconsiderar-se

os

livros,

por

assim

dizer,

"imaturos"

(o

que

n?o

s?o),

em

favor da

recupera??o

da

obra de

fato

completa.

Viagem, de 1939, representa (e,mais urna vez, ? preciso dizer)

um

grande

salto

qualitativo

na

poesia

de

Cecilia

Meireles,

mas

n?o

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de Letras,

S?o

Paulo,

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um

desvio de estilo. ? que

o

eu-l?rico passa

a

conhecer

a

natureza

de

uma

forma

mais

intensa,

principalmente,

o

mar,

que

lhe

era um

tanto

distante.

Sua

poesia,

que

sofria

daquela

tens?o

forma-conte?do

j?

referida,

passa,

agora,

a se

apoiar

em

estruturas

mais

simples,

tanto

de

pensamento

quanto

de

ret?rica

Entretanto,

impregna-se,

com

grande

intensidade

ainda,

da

metaf?sica,

a

qual,

como em

toda

boa

poesia,

prescinde

da

organiza?ao

e

do

m?todo

cient?ficos

(at?

porque

seria

tratado,

caso

houvesse)

-fen?meno,

este,

deflagrado,

desde

os

primeiros

livros,

ao

lado do

pante?smo

como

forma

de

se

perceber

o

"em

torno". O

resultado

desse

recuo

filos?fico

e

ret?rico

se

reflete

na

recep?ao,

pois

d?

uma maior acessibilidade aos

versos,

e

na

po?tica,

pois

soluciona

os

problemas

formais

gerados

pelos

paralelismos,

como

no caso

de "Motivo":

Eu

canto

porque

o

instante

existe

e

a

minha vida

est?

completa.

N?o

sou

alegre

nem

sou

triste:

sou

poeta.

Irm?o

das

coisas

fugidias,

n?o sinto

gozo

nem tormento

Atravesso

noites

e

dias

no

vento.

Se

desmorono

ou

se

edifico,

se

permane?o

ou

me

disfa?o

c

n?o

sei,

n?o

sei.

N?o sei

se

fico

ou

passo.

Sei

que

canto.

E

a

canc?o

?

tudo.

Tem

sangue

eterno

a asa

ritmada.

E

um

dia sei

que

estarei

mudo:

-

mais nada

(MEIRELES,

?pwrfZAGURY,

1973,

p.

106-107).

Cl?ssico

poema

de Cecilia

Meireles,

obligatorio

em

qualquer

antolog?a,

por

meio

dele,

tem-se

a

confirma??o

da

mesma

vis?o de

mundo

dos

livros

anteriores:

o

pante?smo

afasta

sua

poesia

dos

credos

simbolistas ?

medida

que

se

oferece

como

terreno

f?rtil

para

a

explos?o

metaf?sica,

sob

uma

condi?ao

apenas:

a

totaliza??o

das

coisas

e,

com

efeito,

a

emana??o pura

e

sens?vel

da

for?a

teol?gica

a

partir das pr?prias coisas criadas (alquimia e pante?smo).

Revista de

Letras,

Sao

Paulo.

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Se,

em

"A chu

va

chove",

o

eu-l?rico s? conhece

o

c?u noturno,

aqui,

ele

atravessa

noites

e

dias,

le,

conhece dois

c?us:

o

azul

radiante

e o

escuro-cintilante

-

atrav?s

do

Ar.

Al?m

dessa

complexidade,

que

acompanha

o

amadurecimento do

eu-l?rico,

a

autocompreens?o

desse

sujeito

?

t?o

metaf?sica

como

antes:

"eu

canto

porque

o

instante

existe".

Outra

liga??o

entre

os

livros

at?

1925

e

Viagem (catorze

anos

depois)

aparece

no

reino

absoluto

da

Poesia

e

da

M?sica

depois

de todo

o

Caos,

entidades

que,

nesse

momento

apocal?ptico,

autonomizam-se de

toda

a

a??o

humana

("e

um

d?a

sei

que

estarei

mudo"),

exatamente,

como em

"A

chuva

chove".

De

toda

a

natureza

exuberante

e

colossal,

o

eu-l?rico

experimenta,

com

maior

profundidade,

o mar.

H?

quem possa

dizer

da

divida

com

a

biograf?a

da

autora,

que,

pouco

antes,

empreende

viagem

a

Portugal:

n?o

arrisco

nenhuma

vincula?ao

entre

vida

e

obra.

Em

todo

o

caso,

o

mar

?

tema

central

dessa

Viagem,

principalmente,

em

poemas

como

"Can??o",

que,

tamb?m,

?

antol?gico:

Pus

o

meu

sonho

num

navio

e

o

navio

em

cima

do

mar;

-

depois,

abri

o

mar

com

as

m?os,

para

o

meu

sonho

naufragar.

Minhas

mao

ainda est?o

molhadas

do azul

das

ondas

entreabertas,

e a

cor

que

escorre

dos

meus

dedos

colore

as

areias

desertas.

O

vento vem

vindo de

longe,

a noite se curva de fri?;

debaixo

da

agua

vai

morrendo

meu

sonho,

dentro

de

um

navio...

Chorarei

quanto

for

preciso,

para

fazer

com

que

o mar

cres?a,

e

o meu

navio

chegue

ao

fundo

e o

meu

sonho

desapare?a.

Depois,

tudo estar?

perfeito:

praia lisa, aguas ordenadas,

meus

olhos

secos

como

pedras

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S?o

Paulo.

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e

as

minhas duas m?os quebradas (MEIRELES, apud ZAGURY,

1973,

p.

107-108).

Percebe-se

que

o

eu-l?rico

realiza

o

contato entre

Tena

e

Agua:

"e

a

cor

que

escorre

dos

meus

dedos

/

colore

as

areias

desertas".

O

Ar

anuncia

o

car?ter ind?mito

da

natureza,

pela

imin?ncia de

uma

intemp?rie.

A

intera??o

entre

o

eu-l?rico

e

a

natureza

aparece

na

rela?ao

"sexualizada"

entre

Terra

e

Agua,

servindo

de

ve?culo

para

a

germina??o

da

Terra

pela

Agua

Desta

vez,

o

navegante

rep?e,

?

Agua,

as

gotas

de

que

se

serviu

para

molhar

a

Terra

por

meio

do

choro,

mas

n?o,

apenas, para

encher o mar, e,

sim,

de modo

aut?fago,

para

naufragar

o

seu

pr?prio

navio,

prestando,

ainda,

sob

outro

?ngulo,

servent?a

ao

Ar,

que,

primeiro,

disp?s-se

a

afundar

o

navegante.

Note-se,

portanto,

que

o

eu-l?rico

tem

a

capacidade

de

entrar

em

simbiose

com os

Elementais.

Ele, inclusive,

manipula

a

Agua

e

o

Ar

e,

numa

leitura

simb?lica,

abandona

a

Terra O

empreendimento

denuncia

a

renuncia

a

conviver

com a

Terra,

Elemental

jamais

sob

seu

dominio,

e a

escolha

pela

Agua,

muito

mais

misteriosa

e

perigosa porque

mais

distante

da

experiencia

humana

(arraigada

na

Terra).

A

decis?o

pela migra??o

da

Tetra

para

a

Agua j?

se

escond?a,

em

germe,

no

"Final" de Baladas

para

d-r?:

quando

a

T?rra

j?

representa, para

o

eu-l?rico,

solid?o,

sofrimento

e

desola??o.

As

"areias desertas"

(nono

verso)

s?o

uma

reitera?ao

da "in?til

caminhada

no

Deserto",

que,

de

certa

forma,

aparece,

sutilmente,

em

"A

chuva chove"

("em

certo

pa?o,

j?

sem

data

e

j?

sem

dono").

A

op??o pelo

mar se

confirma

no

livro

seguinte,

ratificada

j?

pelo

t?tulo

Mar

absoluto

e

outros

poemzs,

de

1945,

que,

ap?s

Vaga

m?sica,

de

1942,

abre

caminho

para

Retrato

natural,

de

1949,

e

Amor

em Leonoreta, de 1951. A

cumplicidade

do eu-l?rico com o Ar, na

ansia

autodestrutiva,

?

extremamente

intensa,

a

ponto

de dominar

-

como

o nome

indica

-

o

poema

"O

aeronauta",

de

1952,

que

divide

o

t?tulo do

mesmo

op?sculo

com

Doze

noturnos

da

Holanda,

para

os

quais,

infelizmente,

n?o

h?

espa?o para

an?lise.

De

toda

a

sua

obra

po?tica,

a

autora,

ainda,

ve

pub

lie

ados

Romancevro da

Incorfid?n?a,

em

1953,

Poemas

escritos

na

India,

sem

data

precisa,

Peque?o

oratorio

de

Santa

Clara,

de

1955,

Pist?a,

cerrit?riomilitar

brasilero,

de

1955,

Can?oes,

de

1956,

Romance

de Santa

Ced?a,

de

1957,

A

rosa,

de

1957,

Cbra

po?tica,

de

1958

(reeditada

em

1967),

Metal

rosicler,

de

1960,

Solombra,

de

1963,

e

Ou

isto

ou

aquilo,

de

1964

Revista

de

Letras,

S?o

Paulo.

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(reeditado

em

1969). S?o postumos

os

livros Cr?nica trovada da cidade

de

Sam

Sebastiam do

Rio

de]andr?

no

quarto

centenario de

sua

funda?ao pelo

captaomor

Estado de

Sa,

de

1965,

e

Poemas

italianos,

de

1968,

al?m de

diversas

antolog?as.

H?, tamb?m,

uma

separata,

n?o mencionada

na

grande

maioria

dos

estudos

cecilianos:

"Espelho

ceg?;

poema

/

Errata:

quase

s?tira

ao

'Espelho Ceg?'

dedicada

ao

editor

sem

culpa",

de

1955.

Parece,

entretanto,

que

o

artigo

cumpriu

seu

objetivo

de

demonstrar

que

as

caracter?sticas

marcantes

da obra

po?tica

dita

"completa"

de

Cecilia

Meireles,

i.e.,

a

partir

de

Viagem,

de

1939,

aparecem

com a mesma intensidade nos tres

primeiros

livros

suprimidos;

por

conseguinte, Espectros,

de

1919,

Nunca mais...

e

Poema

dos

poemas,

de

1923

e

Baladas

para

d-r?,

de

1925,

devem

constar

de

sua

poesia,

pois

fazem

parte

do

mesmo

patrimonio

deixado

pela poetisa,

como o

bem

julgou

Antonio Garlos Secchin

na

organiza?ao

da

Poes?a

completa

de

Cecilia

Meireles.

Agradecimientos:

Agrade?o

a

Deus,

por

tudo

que

tem

feito

por

mim.

CAVALCANTI,

G

The

genesis

of

Cecilia

Meireles:

holograms

of

pantheism.

Revista

de

Letras,

S?o

Paulo,

v.44, n.2,

p.

47

-

67,

2004.

ABSTRA

CT: This

is

a

study

on

the

first

publications by

Cecilia

M

ardes.

The

gjal

is

to

show the

strong

irfluence

of

rretaphysk subjectivism

inworks such

as

Nunca

nuis...

epcerm

dos

poerrus

(1923)

andBaladis

para

el-rei

(1925),

becoming

the

most

important

trend

in

M

?reles'

poetry

rom

the

publication

of

Viagem (1939).

The

article also

explains

how

pantheism

-the

organization

of

metaphysk rruterials

-

answers to thisprofound relationbetween the egoand the

cosmos

(the

latter

msinterpreted

as

theos,

as a

mythical

power

andprcn?ple of

Creation).

Melandody

interacts

in

tint

universe,

instigating

an

existential

problem,

depicting

a

love

conflict

and

stealing

he

odors

of

?

landscapes.

Since

a

high

leid

of

spirituality

is

perceied,

the

tension

between

spintualism

and

symbolism

was

not

saved,

as

the

ca?es

say,

thratgh

the

extremities,

but

through

a

new

and

distinct

spiritual

configuration

rwnism

and/or

tl?sm,

akin

to

pantheism.

KE

YWDRDS:

Brazilian

poetry;

women

s

writing

rdigosity;

spintualism

66

Revista

de

Letras. S?o

Paulo.

44

(2):

47

-

67.

2004

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