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    1I Representação, sentido e linguagemNesse capítulo, nós estaremos nos concentrando em um dos processnesse ‘circuito cultural’ (vejadu Gay, Hall et al. , 1997, e a Introdução desse volume) – as práticas derepresentação. O objetivo desse capítulo é introduz

    a esse tópico, e explicar o que ele é e porque nós damos a ele tanta inos estudos culturais.

    O conceito de representação veio ocupar um novo e importante lugda cultura. A representação conecta sentido e linguagem à cultura. Mque exatamente as pessoas querem dizer com isso? O que represena ver com cultura e sentido? Um uso senso-comum do termo é o se‘Representação signica usar a linguagem para dizer algo signicatpara representar o mundo, signicativamente, para outras pessoas’. perguntar, ‘Isso é tudo?’. Bem, sim e não. Representaçãoé uma parte essencialdo processo pelo qual o sentido é produzido e trocado entre membrcultura. Ele envolve o uso da linguagem, de signos e imagens que respopor ou representam coisas. Mas esse é um processo longe de ser simcomo você descobrirá em breve.

    Como o conceito de representação conecta sentido e linguagem à cuexplorar essa conexão melhor, nós vamos olhar para um número dediferentes sobre como a linguagem é usada para representar o munddesenharemos a distinção entre três diferentes teorias: areetiva , a intencional eaconstrucionista focam a representação. A linguagem simplesmente resentido que já existe lá fora no mundo dos objetos, pessoas e eventoreetiva )?A linguagem expressa apenas o que o falante ou escritor ou pintor qo sentido pessoalmente pretendido por ele ou ela (intencional )? Ou o sentido éconstruído na e pela linguagem (construcionista )? Você irá aprender mais emmomento sobre essas três abordagens.

    A maior parte do capítulo será gasto explorando a abordagemconstrucionista ,porque é a perspectiva que teve o impacto mais signicante nos est

    culturais nos últimos anos. Esse capítulo opta por examinar duas vamodelos principais da abordagem construcionista – a abordagemsemiótica ,fortemente inuenciado pelo grande lingüista suíço Ferdinand de Se a abordagemdiscursivo, associado ao lósofo e historiador francês MiFoucault. Capítulos posteriores nesse livro vão se dedicar a essas dude novo, dentre outras, para que vocês tenham a oportunidade de coseu entendimento delas, e para aplicá-las a diferentes áreas de análiOutros capítulos irão introduzir paradigmas teóricos que aplicam en

    1

    T H E W O R K

    O F R E P R E S E N T A T I O N - C a p í t u l o 1

    S t u a r t

    H a

    l l

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    2 construcionistas de diferentes formas à semiótica e ao Foucault. Todas, noentanto, colocam em questão a natureza da representação. Nos voltemos paraessa questão primeiro.

    I. I Fazendo sentido, representando coisasO que a palavrarepresentação realmente signica, nesse contexto? O que oprocesso da representação envolve? Como a representação funciona?

    Para responder brevemente, representação é a produção de sentido pelalinguagem. OShorter Oxford English Dictionary sugere dois sentidos relevantespara a palavra:

    1 Representar algo é descrevê-lo ou retratá-lo, trazê-lo à mente por descriçãoou retrato ou imaginação; fazer uma relação com algo que tínhamos emnossas mentes ou sentidos previamente; como, por exemplo, na sentença,‘Essa imagem representa o assassinato de Abel por Caim.’

    2 Representar também signica simbolizar, responder por, ser uma amostrade, ou substituir; como na sentença, ‘No Cristianismo, a cruz representa osofrimento e a crucicação de Cristo’.

    As guras na pintura estão no lugar de, e ao mesmo tempo, respondem por, ahistória de Caim e Abel. Similarmente, a cruz consiste simplesmente de duastábuas de madeira colocadas juntas; mas no contexto da fé e ensinamentocristão, ela empreende mais, simboliza ou vem a responder por uma gama maiorde sentidos sobre a crucicação do lho de Deus, e esse é um conceito quepodemos colocar em palavras e imagens.

    ATIVIDADE 1

    Aqui está um exercício simples sobre representação. Olhe para qualquerobjeto familiar no cômodo. Você vai imediatamente reconhecer o que é.Mas como vocêsabe o que o objeto é? O que ‘reconhecer’ signica?

    Agora, tente se fazer consciente do que está fazendo – observe o que estáacontecendo em volta enquanto você o faz. Você reconhece o que ele é

    represen

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    3 porque seus processos de pensamento decodicam sua percepçdo objeto nos termos da concepção dele que você tem na sua cIsso deve ser porque, se você parar de olhar para o objeto, vocêpode pensar nele conjurando-o, como nós dizemos, ‘no olho da mContinue – tente seguir o processo como ele acontece: Lá está e lá está o conceito na sua mente que lhe diz o que ele é, o queimagem visual delesignica .Agora, me diga o que ele é. Diga em voz alta: “É uma lâmpadamesa ou um livro ou um telefone ou qualquer coisa. O conceitpassou da sua representação mental dele para a minhavia a palavra que você acabou de usar. A palavra responde por ou representa o cpode ser usada para referenciar ou designar tanto um objeto ‘reum objeto imaginário, como anjos dançando na cabeça de um que ninguém nunca realmente viu.

    É assim que você dá sentido às coisas pela linguagem. É assim que sentido’ do mundo das pessoas, objetos e eventos, e como você se cexpressar um pensamento complexo sobre aquelas coisas para outrase comunicar a respeito delas pela linguagem por maneiras que outpoderão entender.

    Por que nós temos que ir por esse processo complexo para represenpensamentos? Se você largar um copo que estava segurando e sair

    você ainda pode pensar no copo, ainda que ele não esteja mais sicamenpresente. Na verdade, você não pode pensar com o copo. Você só pocomo conceito do copo. Como os lingüistas gostam de dizer, ‘CachorrosMas o conceito de “cachorro” não pode latir ou morder’. Você não pfalar com o copo real, também. Você só pode falar com a palavra para copo– COPO – que é o signo lingüístico que nós usamos em português preferirmos a objetos nos quais bebemos água. Aqui é onde arepresentação entra.Representação é a produção do sentido dos conceitos da nossa menlinguagem. Ela é o elo entre conceitos e linguagem que nos permite

    mundo ‘real’ dos objetos, pessoas ou eventos, assim como ao mundde objetos, pessoas e eventos ctícios.

    Então hádois processos, doissistemas de representação, envolvidos. Primeirohá o ‘sistema’ pelo qual todos os tipos de objetos, pessoas e eventoscorrelacionados a um conjunto de conceitos ourepresentações mentaisque nóscarregamos em nossas cabeças. Sem eles, nós não poderíamos intermundo signicativamente, de maneira alguma. Em primeiro lugar, e

    istemas deepresentação

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    5 mental delas.

    Agora poderia ser o caso que o mapa conceitual que eu carrego na mcabeça é totalmente diferente do seu, caso em que eu poderia interptomar um sentido do mundo de maneiras totalmente diferentes. Nósincapazes de compartilhar nossos pensamentos ou expressar ideias

    mundo um para o outro. Na realidade, cada um de nós provavelmene interpreta o mundo de um jeito único e individual. No entanto, nónos comunicar porque compartilhamos praticamente os mesmos maconceituais, e, então, tomamos sentidos ou interpretamos o mundo dgrosseiramente iguais. Isso é, de fato, o que signica quando dizem‘pertencemos à mesma cultura’. Porque nós interpretamos o mundogrosseiramente similares, nós podemos construir uma cultura compde sentidos e, então, construir um mundo social em que habitamos jIsso explica porque ‘cultura’ é por vezes denida em termos de ‘sen

    compartilhados ou mapas conceituais compartilhados’. (verdu Gay, Hall et al .,1997).

    Contudo, um mapa conceitual compartilhado não é suciente. Nós dtambém ser capazes de representar ou trocar sentidos e conceitos, esó podemos fazer isso quando também temos acesso a uma linguagcompartilhada. A linguagem é, portanto, o segundo sistema de repreenvolvido no processo global de construção de sentido. Nosso mapacompartilhado deve ser traduzido em uma linguagem comum, para

    possamos correlacionar nossos conceitos e ideias com certas palavrsons ditos ou imagens visuais. O termo geral que usamos para palavsons ou imagens que carregam sentido ésignos . Esses signos respondem porou representam os conceitos e as relações conceituais entre eles, qucarregamos em nossas cabeças e que, juntos, constroem os sistemasda nossa cultura.

    Signos são organizados em linguagens e é a existência de linguagenque nos permite traduzir nossos pensamentos (conceitos) em palavrou imagens, e depois usá-los, operando como uma linguagem, para sentidos e comunicar pensamentos a outras pessoas. Lembre que o ‘linguagem’ está sendo usado aqui de forma bem ampla e inclusivade escrita ou o sistema de fala de uma linguagem em particular são obviamente, ‘linguagens’. Mas assim também o são imagens visuaisproduzidas à mão, mecanicamente, eletronicamente, digital ou algunmeios, quando elas são usadas para expressar sentido. E assim tambsão outras coisas que não são ‘lingüísticas’ em nenhum sentido ordi‘linguagem’ das expressões faciais ou dos gestos, por exemplo, ou a

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    6 da moda, das roupas, ou das luzes do trânsito. Até a música é uma ‘linguagem’,com relações complexas entre diferentes sons e acordes, embora seja um casomuito especial, uma vez que não pode ser facilmente usada para fazer referênciaa coisas ou objetos reais no mundo (um ponto mais profundamente elaboradoemdu Gay , ed., 1997, eMackay , ed., 1997). Qualquer som, palavra, imagem ouobjeto que funciona como um signo, e é organizado com outros signos em umsistema que é capaz de carregar e expressar sentido, é, sob esse ponto de vista,‘uma linguagem’. É nesse sentido que aquele modelo de sentido que eu tenhoanalisado aqui é por vezes descrito como um ‘linguístico’; e todas as teoriasdo sentido que seguem esse modelo básico são descritas como pertencentes à‘virada linguística’ nas ciências sociais e nos estudos culturais.

    No centro do processo de signicação na cultura, então, há dois ‘sistemas derepresentação’ relacionados. O primeiro nos permite dar sentido ao mundo pelaconstrução de um conjunto de correspondências ou uma cadeia de equivalência

    entre as coisas – pessoas, objetos, eventos, ideias abstratas, etc. – e nosso sistemde conceitos, nossos mapas conceituais. O segundo depende de que se construaum conjunto de correspondências entre nosso mapa conceitual e um conjuntode signos, arranjados ou organizados em várias linguagens que respondem porou representam aqueles conceitos. A relação entre ‘coisas’, conceitos e signosrepousa no coração da produção do sentido na linguagem. O processo que ligaesses três elementos juntos é o que nós chamamos ‘representação’.

    I. 2 Linguagem e representaçãoAssim como pessoas que pertencem à mesma cultura devem compartilharum mapa conceitual amplamente similar, elas também devem compartilhara mesma forma de interpretar os signos de uma linguagem, porque só assimos sentidos podem ser efetivamente trocados entre as pessoas. Mas como nóssabemos qual conceito responde por qual coisa? Ou qual palavra efetivamenterepresenta qual conceito? Como eu sei quais sons ou imagens vão carregar,através da linguagem, o sentido dos meus conceitos e o que eu quero dizer com

    eles a você? Isso pode parecer relativamente simples no caso dos signos visuaisporque o desenho, a pintura, a imagem de câmera ou TV de uma ovelha carregaa semelhança do animal com um casal peludo pastando em um campo, sobrea qual eu quero me referir. Ainda assim, nós precisamos nos lembrar que uma versão desenhada ou pintada ou digital de uma ovelha não é exatamente igualà ovelha ‘real’. Por uma coisa, a maioria das imagens é em duas dimensões,enquanto a ovelha ‘real’ existe em três dimensões.

    Imagens e signos visuais, mesmo quando carregam uma semelhança próxima

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    às coisas que eles fazem referência, continuam sendo signos: eles csentido e, então, têm que ser interpretados. Para interpretá-los, nós dacesso aos dois sistemas de representação discutidos anteriormenteconceitual que correlaciona a ovelha no campo com o conceito de ‘sistema de linguagem, na qual a linguagem visual carrega alguma sà coisa real ou ‘parece com ela’, de alguma forma. Esse argumentoclaro se nós pensarmos em um desenho caricato ou uma pintura abs

    uma ‘ovelha’, onde nós precisamos de um sosticado sistema concelingüística compartilhada para estarmos certos de que estamos todosigno da mesma forma. Ainda assim, nós podemos nos encontrar imse é realmente a imagem de uma ovelha, no nal das contas. Na mea relação entre o signo e o seu referente se torna menos clara, o sena deslizar e escapar de nós, caminhando para a incerteza. O sentido passando transparentemente de uma pessoa à outra...

    Então, mesmo no caso da linguagem visual, onde a relação entre o csigno parece bem direta e simples, aquestão está longe de ser simples. Éainda mais difícil com a linguagemescrita ou falada, onde as palavrasnão parecem ou soam nada com ascoisas às quais elas se referem. Em

    IGURA I. IWilliam HolmanHunt, Our EnglishCoasts (‘Strayed

    heep ’), 1852.

    FIGURA I. 2P: Quando uma ovelha não é uma ovelha?R: Quando é uma obra de arte.(Damien Hirst, Away from the Flock , 1994)

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    8 parte, isso é porque existem diferentes tipos de signos. Signos visuais são o quechamamos signosicônicos . Ou seja, eles carregam, em suas formas, uma certasemelhança com o objeto, pessoa ou evento ao qual eles fazem referência. Umafotograa de uma árvore reproduz algo das reais condições da nossa percepção visual no signo visual. Signos escritos ou ditos, por outro lado, são chamadosindexicais . Eles não carregam nenhuma relação óbvia com as coisas às quaisse referem. As letras Á, R, V, O, R, E, não se parecem em nada com as árvoresna natureza, e nem a palavra ‘árvore’ em português soa como árvores ‘reais’(se é que elas fazem algum som!). A relação nesses sistemas de representaçãoentre o signo, o conceito e o objeto ao qual eles devem ser usados para fazerse referir é completamentearbitrária . Por ‘arbitrária’, nós queremos dizer que,por princípio, qualquer coleção de letras ou qualquer som em qualquer ordempoderia desempenhar o papel igualmente bem. As árvores não se importariamse nós usássemos a palavra SEROVRA – árvores escrito de trás pra frente –para representar o conceito delas. Isso é claro pelo fato de que, em francês, letrabem diferentes e um som bem diferente são usados para se referir ao que, paratodas as aparências, é a mesma coisa – uma árvore ‘real’ – e, até onde sabemos,ao mesmo conceito – uma planta grande que cresce na natureza. O francês e oinglês parecem estar usando o mesmo conceito. Mas o conceito que em inglêsé representado pela palavra ÁRVORE, é representado em francês pela palavraARBRE.

    I. 3 Compartilhando os códigosA questão, então, é: como as pessoas que pertencem à mesma cultura, quecompartilham o mesmo mapa conceitual e que falam ou escrevem a mesmalíngua (português) sabem que a combinação arbitrária de letras e sons queconstituem a palavra ÁRVORE vai responder por ou representar o conceitode ‘planta grande que cresce na natureza’? Uma possibilidade seria que osobjetos no mundo, por eles mesmos, incorporam e xam, de algum jeito, seusentido ‘verdadeiro’. Mas não ca nem um pouco claro que árvores de verdadesaibam que são árvores, e ainda menos claro que elas saibam que a palavra

    em português que representa o conceito delas é escrita ÁRVORE, enquantoem francês é escrita ARBRE! Até onde elas sabem, elas poderiam, da mesmaforma, serem escritas VACA ou VACHE ou até XYZ. O sentidonão está noobjeto ou pessoa ou coisa, e nem estána palavra. Somos nós que xamos osentido tão rmemente que, depois de um tempo, ele parece natural e inevitávelO sentido é construído pelo sistema de representação. Ele é construído e xadopelocódigo, que estabelece a correlação entre nosso sistema conceitual e nossalinguagem de maneira, cada vez que pensamos em uma árvore, o código nos diz

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    9 para usar a palavra em português ÁRVORE, ou a palavra francesa Acódigo nos diz que, na nossa cultura – isto é, nos nossos códigos code linguagem – o conceito ‘árvore’ é representado pelas letras Á, R, arranjadas em certa sequência, assim como no Código Morse, o sig(que, na Segunda Guerra Mundial, Churchill fez ‘responder por’ ou‘Vitória’) é ponto, ponto, ponto, traço, e na ‘linguagem dos semáforo vá! e vermelho = pare!Um jeito de se pensar sobre ‘cultura’, então, é nos termos desses maconceituais compartilhados, sistemas de linguagem compartilhada ecódigosque governam as relações de tradução entre eles . Os códigos xam as relações econceitos e signos. Eles estabilizam o sentido dentre diferentes lingculturas. Eles nos dizem qual linguagem devemos usar para exprimO inverso também é verdadeiro. Os códigos nos dizem quais conceiem jogo quando ouvimos ou lemos quais signos. Por xar arbitraria

    relações entre nosso sistema conceitual e nossos sistemas lingüísticse, ‘linguístico’ em um sentido amplo), os códigos nos possibilitam inteligivelmente, e estabelecer uma tradutibilidade entre nossos connossas linguagens, que permite o sentido a passar do enunciador pae ser efetivamente comunicado dentro de uma cultura. Essa tradutibé dada pela natureza ou xada por deuses. Ela é o resultado de um cde convenções sociais. Ela é xada socialmente, xada na cultura. Ifranceses ou hindus, através do tempo, e sem decisão ou escolha cocaminharam para uma concordância não-escrita, uma espécie de conão-escrito de que, em suas várias linguagens, certos signos vão resou representar certos conceitos. Isso é o que as crianças aprendem, elas se tornam não apenas indivíduos simplesmente biológicos, masculturais. Elas aprendem o sistema de convenções e representação, ode sua linguagem e cultura, o que as equipa com um ‘know-how’ cupermitindo a elas que funcionem como sujeitos culturalmente compNão porque esse conhecimento esteja impresso em seus genes, masaprendem suas convenções e, então, gradualmente se tornam ‘pesso– i.e. membros de sua cultura. Elas, inconscientemente, internalizamque as permitem expressar certos conceitos e ideias através de seusde representação – escrita, fala, gestos, visualização, e assim por diainterpretar ideias que são comunicadas a elas usando os mesmos sis

    Você pode achar mais fácil compreender, agora, porque sentido, lingrepresentação são elementos tão críticos no estudo da cultura. Pertecultura é pertencer a, grosseiramente, o mesmo universo conceitual

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    10 saber como conceitos e ideias se traduzem em diferentes linguagens, e comoa linguagem pode ser interpretada para se referir a oureferenciar o mundo.Compartilhar essas coisas é ver o mundo pelo mesmo mapa conceitual e fazersentido dele pelos mesmos sistemas de linguagem. Recentes antropólogos dalinguagem, como Sapir e Whorf, levaram essa ideia para seu extremo lógicoquando argumentaram que todos nós estamos, assim como estivemos, trancadosem nossas perspectivas culturais ou estados de mente, e que a linguagem éa melhor pista que temos para aquele universo conceitual. Essa observação,quando aplicada a todas as culturas humanas, repousa nas raízes do que hojenós pensamos comorelativismo cultural ou lingüístico.

    ATIVIDADE 2

    Você pode gostar de pensar mais além sobre essa questão de comodiferentes culturas classicam conceitualmente o mundo e quais asimplicações que isso tem para o sentido e a representação.

    Os ingleses fazem uma distinção bem simples entre granizo e neve. OsInuit (esquimós), que sobrevivem em um clima bem diferente, maisextremo e hostil, aparentemente têm várias outras palavras para neve etempo nevoeiro. Considere a lista de termos Inuit para neve, do “ScottPolar Research Institute” na Tabela 1.1. Há muito mais palavras do queem inglês, fazendo distinções bem mais nas e complexas. Os Inuittêm um complexo sistema conceitual de classicação para o tempo,se comparado aos ingleses. O romancista Peter Hoeg, por exemplo,escrevendo sobre a Groelândia em seu romance “Miss Smilla’s FeelingFor Snow” (1994, pp. 5-6), descreve gracamente o ‘gelo frazzil’, que é‘massas juntas em uma mistura espumante de um mingau de gelo, queforma gradualmente placas utuantes e panquecas de gelo, que em umahora fria, ao meio-dia de um domingo, congela-se em uma única folhasólida’. Tais distinções são muito nas e elaboradas, até para os ingleses,que estão sempre falando do tempo! A questão, no entanto, é – os Inuitrealmente experenciam a neve de uma forma diferente dos ingleses?O sistema de linguagem deles sugere que eles conceituam o tempodiferentemente. Mas quão longe nossa experiência realmente é demarcadapelo nosso universo conceitual e lingüístico?

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    Uma implicação desse argumento sobre códigos culturais é que, se o resultado, não de algo xo lá na natureza, mas das nossas convençculturais e lingüísticas, então o sentido não pode nunca ser nalmente xado.Nós todos podemos ‘concordar’ em permitir que palavras carreguemum pouco diferentes – como nós temos, por exemplo, para a palavrao uso, pelas pessoas jovens, da palavra ‘irado!’, como um termo de Obviamente, deve haveralguma xação do sentido na linguagem, ou nósnunca poderíamos nos entender uns aos outros. Nós não podemos a

    um dia e, de repente, decidir representar o conceito de ‘árvore’ comou a palavra VYXW, e esperar que as pessoas acompanhem o que edizendo. Por outro lado, não há um sentido nal ou absoluto. Convesociais e lingüísticas mudam, sim, através do tempo. Na linguagem gerencialismo moderno, o que nós costumávamos chamar ‘alunos’, ‘pacientes’ e ‘passageiros’, viraram todos ‘consumidores’. Códigos variam signicativamente entre uma língua e outra. Muitas culturaspalavras para conceitos que são normais e largamente aceitáveis pa

    snowblowing — is snowstormingfalling —

    — is falling; — is snowinglight falling — light — is fallingfirst layer of — in falldeep soft — packed — to make wather light soft — sugar — waterlogged, mushy —

    — is turning into masak

    watery — wet — wet falling — wet — is falling

    — drifting along a surface — is drifting along a surface — lying on a surfacesnowflakeis being drifted over with —

    piqtuluk piqtuluktuq

    qanik qanik

    qaniktuqqaniraq

    qaniratuqapilraun

    mauyaaniu

    aquluraqpukak masak

    masagutaqmaqayak misak

    qanikkuk qanikkuktuq

    natiruvik natiruviktuaq

    qanik apiyuaq

    ice — pan, broken — — ice water melts — to make water candle — flat — glare — piled — rough — shore — shorefast — slush — young —

    siqumniqimmiugaq

    immiuqtuaqillauyiniq

    qaimiqquasaqivunritivvuit tugiu

    tuvaqquna

    sikuliaq

    TABELA I. I Termos Inuit para neve e gelo

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    12 Palavras constantemente saem do uso comum, e novas frases são cunhadas:pense, por exemplo, no uso de ‘redução’ para representar o processo das rmasdespedindo as pessoas, deixando-as sem trabalho. Mesmo quando as palavrasreais continuam estáveis, suas conotações mudam ou elas adquirem uma novanuance. O problema é especialmente agudo nas traduções. Por exemplo, adiferença em português entresaber eentendercorresponde exatamente e capturaexatamente a mesma distinção conceitual que os franceses têm entresavoir econnaitre ? Talvez; mas podemos ter certeza?

    O principal ponto é que o sentido não é inerenteàs coisas, no mundo. Ele éconstruído, produzido. É o resultado de uma prática signicante – uma práticaque produz sentido, que faz as coisas signicarem.

    I. 4 Teorias da RepresentaçãoExistem, amplamente dizendo, três enfoques para explicar como arepresentação do sentido pela linguagem funciona. Nós devemos chamá-los deenfoques reexivo, intencional e construcionista ou construtivista. Você podepensar em cada um como uma tentativa em responder as questões, ‘de onde osentido vem?’ e ‘como nós podemos dizer o sentido “verdadeiro” de uma palavrou imagem?’

    Na abordagem reexiva , o sentido é pensado como repousando no objeto,pessoa, ideia ou evento no mundo real, e a linguagem funciona como umespelho, parareetir o sentido verdadeiro como ele já existe no mundo. Comoo poeta Gertrude Stein uma vez disse, ‘Uma rosa é uma rosa é uma rosa’. Noquarto século A.C, os gregos usaram a noção demimesis para explicar como alinguagem, e até o desenho e a pintura, espelhavam ou imitavam a natureza;eles pensaram no grande poema de Homero, Ilíadas, como ‘imitando’ uma sériede eventos heróicos. Então, a teoria de que a linguagem funciona simplesmentereetindo ou imitando a verdade que já existe e está xada no mundo, é às vezechamada ‘mimética’.

    Claro que há certa verdade óbvia nas teorias miméticas de representação elinguagem. Como nós pontuamos, signos visuais realmente carregam algumarelação com o formato e a textura dos objetos que eles representam. Mas, assimcomo também já foi pontuado antes, uma imagem visual bidimensional de umarosa é um signo – ele não deve ser confundido com a planta real com espinhose ores crescendo no jardim. Lembre-se também que existem várias palavras,sons e imagens que nós entendemos inteiramente, mas que são inteiramentectícios ou fantasia e se referem a mundos que são completamente imaginários

    abordagemreexiva oumimética

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    13 – incluindo, como muita gente agora pensa, a maior parte de Ilíadas ! É claro,podemos usar a palavra ‘rosa’ para fazer referência à planta real e verdadeiracrescendo no jardim, como dissemos antes. Mas isso é porque eu cocódigo que liga o conceito com uma palavra ou imagem particular. posso pensar ou falar oudesenhar com uma rosa verdadeira. E se alguém mdiz que não há nenhuma palavra como ‘rosa’ para uma planta em sua verdadeira planta no jardim não pode resolver a falha de comunicnós. Dentro das convenções dos diferentes códigos de linguagem quusando, nós dois estamos certos – e para que nos entendamos, um daprender o código ligando a or com a palavra para ela na cultura d

    A segunda abordagem para o sentido na representação argumenta ooposto. Ele defende que é o interlocutor, o autor, que impõe seu únicsentido no mundo, pela linguagem. As palavras signicam o que o apretende que elas devem signicar. Esse é a abordagem intencional. Mais

    uma vez, há alguma validade nesse argumento, uma vez que todos nindivíduos, realmente usamos a linguagem para convencer ou comucoisas que são especiais ou únicas para nós, para o nosso modo de vmundo. No entanto, como uma teoria geral da representação pela linabordagem intencional também é falha. Nós não podemos ser a únisentidos na linguagem, uma vez que isso signicaria que nós poderexpressar em linguagens inteiramente privadas. Mas a essência da lé a comunicação, e essa, por sua vez, depende de convenções lingüícompartilhadas e códigos compartilhados. A linguagem nunca pode jogo inteiramente privado. Nossos sentidos privadamente intencionainda que pessoais a nós, têm queentrar nas regras, códigos e convenções linguagem para serem compartilhados e entendidos. A linguagem é umsocial por completo. Isso signica que nossos pensamentos privadonegociar com todos os sentidos das palavras ou imagens que estão gna linguagem que o uso do nosso sistema de linguagem vai inevitavdesencadear.

    A terceira abordagem reconhece esse caráter público e social da lin

    Ele reconhece que nem as coisas nelas mesmas nem os usuários indlinguagem podem xar o sentido na linguagem. As coisas nãosignicam: nósconstruímos sentido, usando sistemas representacionais – conceitos e sAssim, ele é chamado deabordagem construcionista ou construtivista parao sentido na linguagem. De acordo com essa abordagem, nós não deconfundir o mundomaterial , onde as coisas e pessoas existem, e as prátiprocessossimbólicos pelos quais representação, sentido e linguagem opeConstrutivistas não negam a existência do mundo material. No enta

    bordagemntencional

    bordagemonstrucionista

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    14 o mundo material que transmite sentido: é o sistema de linguagem ou qualqueroutro sistema que nós usamos para representar nossos conceitos. São os atoressociais que usam os sistemas conceituais de sua cultura e o lingüístico e outrossistemas representacionais para construir sentido, para fazer com que o mundoseja signicativo e para comunicar sobre esse mundo, signicativamente, paraoutros.

    Claramente, signos também devem ter uma dimensão material. Os sistemasrepresentacionais consistem nos verdadeirossons que nós fazemos com nossascordas vocais, asimagens que fazemos nos papéis fotossensíveis com câmeras,asmarcas que fazemos com tinta em telas, osimpulsos digitais que transmitimoseletronicamente. A representação é uma prática, um tipo de ‘trabalho’, que usaobjetos materiais e efeitos. Mas osentido depende não da qualidade materialdo signo, mas de sua função simbólica . É devido a um som ou palavra emparticular responder por, simbolizar ou representar um conceito, que ele pode

    funcionar, na linguagem, como um signo e transportar sentido – ou, como osconstrucionistas dizem, signicar.

    I. 5 A linguagem dos semáforosO exemplo mais simples desse tópico, que é crítico para o entendimento decomo as linguagens funcionam como sistemas representacionais, é o famosoexemplo dos semáforos. Um semáforo é uma máquina que produz diferentesluzes coloridas em seqüência. O efeito de luz em diferentes comprimentos deonda no olho – que é um fenômeno material e natural – produz a sensação dediferentes cores. Agora, essas coisas certamente existem de verdade no mundomaterial. Mas é a nossa cultua que quebra o espectro de luz em diferentes coresdistinguindo as umas das outras e anexando nomes – vermelho, verde, amarelo,azul – a elas. Nós usamos um modo declassicar o espectro colorido para criarcores que são diferentes umas das outras. Nósrepresentamos ou simbolizamosas diferentes cores e as classicamos de acordo com diferentes conceitos decor. Esse é o sistema conceitual de cores da nossa cultura. Nós dizemos ‘nossacultura’ porque, claramente, outras culturas devem dividir os espectros coloridodiferentemente. E mais, eles certamente usam diferentes palavras ouletras reaispara identicar diferentes cores: o que nós chamamos ‘vermelho’, os franceseschamam ‘rouge’ e assim por diante. Esse é o código lingüístico – aquele quecorrelaciona certas palavras (signos) com certas cores (conceitos), e então nospermite comunicar sobre cores com outras pessoas, usando a ‘linguagem dascores’.

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    15 Mas como nós usamos esse sistema representacional ou simbólico po trânsito? As cores não têm nenhum sentido xo ou ‘verdadeiro’ neVermelho não signica ‘Pare’ na natural, nem verde signica ‘Siga’congurações, o vermelho pode responder por, simbolizar ou repres‘sangue’ ou ‘perigo’ ou ‘comunismo’; e verde pode representar ‘Irlacampo’ ou ‘ambientalismo’. Até esses sentidos podem mudar. Na ‘ldos plugues elétricos’, vermelho costumava signicar ‘a conexão copositiva’, mas isso, arbitrariamente e sem explicação, mudou para mentão por muitos anos os produtores de plugues tiveram que anexarde papel contando às pessoas que aquele código ou convenção havioutra forma, como eles saberiam? Vermelho e verde funcionam na ldos semáforos porque ‘pare’ e ‘siga’ são os sentidos que foram atribnossa cultura pelos códigos ou convenções que governam essa lingcódigo é amplamente conhecido e quase universalmente obedecidocultura e em culturas como a nossa – embora possamos bem imaginculturas que não possuem o código, nas quais essa linguagem seria mistério.

    Permitam-nos continuar com o exemplo por um momento, para expum pouco mais além como, de acordo com a abordagem construciopara a representação, as cores e a ‘linguagem dos semáforos’ funcioum sistema representacional ou signicante. Recordem osdoissistemasrepresentacionais de que falamos mais cedo. Primeiro, existe o mapde cores na nossa cultura – o modo com que as cores são distinguiddas outras, classicadas e arranjadas no nosso universo mental. Segexistem os modos em que palavras ou imagens são correlacionadasna nossa linguagem – nossos códigos lingüísticos de cores. Na verdumalinguagem de cores consiste em mais que apenas palavras individpara diferentes pontos no espectro de cores. Ela também depende delas funcionam na relação de umas com as outras – os tipos de coisgovernadas pela gramática ou sintaxe nas linguagens escrita ou falapermitem nos expressar idéias mais complexas. Na linguagem dos sa seqüência e posição das cores, assim como as cores mesmas, que elas carreguem sentido e então funcionem como signos.Importa quais cores nós usamos? Não, argumentam os construcioniporque o que signica não são as cores por elas mesmas, mas a) o fserem diferentes e poderem ser distinguidas umas das outras; e b) oelas serem organizadas em uma seqüência em particular – vermelho verde, com, algumas vezes, um aviso amarelo entre eles que diz, na ‘Fique pronto! As luzes estão quase mudando’. Construcionistas co

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    16 esse ponto da seguinte forma. O que signica, o que carrega sentido – elesargumentam – não é cada cor por si mesma nem o conceito ou palavra paraela. É adiferença entre vermelho e verde que signica. Esse é um princípio muitoimportante, em geral, sobre representação e sentido, e nós deveremos retornara ele em mais de uma ocasião nos capítulos que seguirão. Pense sobre issonesses termos. Se você não pudesse diferenciar entre vermelho e verde, vocênão poderia usar para signicar ‘pare’ e o outro para signicar ‘siga’. Da mesmaforma, é apenas a diferença entre as letras P e T que permitem que a palavraSHEEP seja ligada, no código da linguagem inglesa, ao conceito de ‘animalcom quatro pernas e um casaco de lã’, e a palavra SHEET a ‘o material que nósusamos para nos cobrir na cama à noite’.

    Em princípio, qualquer combinação de cores – como qualquer coleção deletras na linguagem escrita ou sons na linguagem falada – o fariam, dadoque elas fossem sucientemente diferentes para não serem confundidas.

    Os construcionistas expressam essa ideia dizendo que todos os signos são‘arbitrários’. ‘Arbitrário’ signica que não existe nenhuma relação natural entreo signo e seu sentido ou conceito. Uma vez que vermelho só signica ‘pare’porque é assim que o código funciona, em princípio, qualquer cor poderiafazê-lo, incluindo verde. É o código que xa o sentido, não a cor por si própria.Isso também tem implicações mais amplas para a teoria da representação esentido na linguagem. Isso signica que signos por eles mesmos não podemxar sentido. Em vez disso, o sentido dependeda relação entre um signo e umconceito, o que é xado por um código. Sentido, os construcionistas diriam, é‘relativo’.

    ATIVIDADE 3

    Por que não testar esse ponto sobre a natureza arbitrária do signo e aimportância do código para você? Construa um código para governar omovimento do tráco usando duas cores diferentes – Amarelo e Azul– como segue:

    Quando a luz amarela está aparecendo...

    Agora adicione uma instrução permitindo aos pedestres e ciclistas apenasatravessar, usando Rosa.

    Contando que o código nos diga claramente como ler ou interpretar cada cor, etodo mundo concorde em interpretá-las dessa forma, qualquer cor funcionaria.Elas são apenas cores, assim como a palavra SHEEP é apenas uma mistura deletras. Em francês, o mesmo animal é referido utilizando o signo lingüístico

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    17 bem diferente: MOUTON. Signos são arbitrários. Seus sentidos sãopor códigos.

    Como nós dizemos anteriormente, semáforos são máquinas, e coresmaterial das ondas de luz na retina do olho. Mas objetos – coisas – podem funcionar como signos, considerando que tenha sido atribuí

    um conceito e sentido dentro dos nossos códigos culturais e lingüísComo signos, eles funcionam simbolicamente – eles representam cosignicam. Seus efeitos, no entanto, são sentidos no mundo materiaVermelho e Verde funcionam na linguagem dos semáforos como sigeles têm reais efeitos materiais e sociais. Eles regulamentam o comsocial dos motoristas e, sem eles, haveriam muito mais acidentes deinterseções das ruas.

    I. 6 SumárioNós chegamos a um longo caminho explorando a natureza da reprehora de resumir o que nós aprendemos sobre a abordagem construca representação pela linguagem.

    Representação é a produção do sentido pela linguagem. Na represenargumentam os construcionistas, nós usamos signos, organizados emlinguagens de diferentes tipos, para nos comunicarmos signicativacom os outros. Linguagens podem usar signos para simbolizar, resppor ou referenciar objetos, pessoas e eventos no tão chamado mundMas eles também podem fazer referencia a coisas imaginárias e mufantasias ou idéias abstratas que não são, em nenhum sentido óbvionosso mundo material. Não existe uma simples relação de reexo, icorrespondência um-a-um entre a linguagem e o mundo real. O muprecisamente ou de alguma outra forma reetido no espelho da linglinguagem não funciona como um espelho. O sentido é produzido dlinguagem, nos e pelos vários sistemas representacionais que, por cnós chamamos ‘linguagens’. O sentido é produzido pela prática, o trepresentação. Ele é construído pela prática da signicação – i.e. prsentidos.

    Como isso acontece? Na verdade, depende de dois diferentes, porémrelacionados, sistemas de representação. Primeiro, os conceitos que formados na mente funcionam como um sistema de representação mque classica e organiza o mundo em signicativas categorias. Se num conceito para alguma coisa, nós podemos dizer que sabemos se

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    18 Mas nós não podemos comunicar esse sentido sem um segundo sistema derepresentação, a linguagem. A linguagem consiste em signos organizados em várias relações. Mas os signos só podem transportar sentidos se nós possuirmoscódigos que nos permitam traduzir nossos conceitos em linguagem – e vice versa, esses códigos são cruciais para o sentido e a representação. Eles sãoexistem na natureza, mas são o resultado de convenções sociais. Eles são umaparte crucial da nossa cultura – nossos ‘mapas de sentido’ compartilhados – quenós aprendemos e, inconscientemente, internalizamos quando nos tornamosmembros de nossa cultura. Essa abordagem construcionista para a linguagementão introduz o domínio simbólico da vida, onde palavras e coisas funcionamcomo signos, bem para o coração da própria vida social.

    ATIVIDADE 4

    Tudo isso pode parecer um tanto abstrato. Mas nós podemos rapidamentedemonstrar sua relevância com um exemplo de uma pintura.

    Olhe para a pintura de natureza morta do pintor espanhol Juan SanchezCotán (1521-1627), intitulada ‘Marmelo, Repolho, Melão e Pepino(gura 1.3). Aparenta como se o pintor tivesse feito todos os esforçospara usar a ‘linguagem da pintura’ precisamente para reetir esses quatroobjetos, para capturar ou ‘imitar a natureza’. É esse, então, um exemplode uma forma de representaçãoreexiva oumimética – uma pintura

    reetindo o ‘sentido verdadeiro’ do que já existia na cozinha de Cotán?Ou nós podemos achar a operação de certos códigos, a linguagem dapintura usada para produzir um certo sentido? Comece com a pergunta:o que a pintura signica para você? O que ela está ‘dizendo’? Entãocontinue e questione como ela está dizendo isso – como a representaçãofunciona nessa pintura?

    Escreva quaisquer pensamentos que lhe aparecerem enquanto olhapara a pintura. O que esses objetos dizem para você? Que sentidos elesdesencadeiam?

    LEITURA A

    Agora leia o resumo editado de uma analise da natureza morta peloteórico e crítico de arte Norman Bryson, incluída como Leitura Ano nal desse capítulo. Não se preocupe, nessa altura, se a linguagemparecer um pouco difícil e você não entender todos os termos. Selecione

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    202 O legado de SaussureA visão construcionista social da linguagem e representação que nós temosdiscutido deve muito à obra e inuência do lingüista suíço Saussure, que nasceuem Genebra em 1857, fez muito de seu trabalho em Paris, e morreu em 1913.Ele é conhecido como o ‘pai da lingüística moderna’. Para os nossos propósitossua importância reside não em seu detalhado trabalho em linguística, masna sua visão geral da representação e no modo com que seu modelo delinguagem moldou a abordagem semiótica para o problema da representaçãoem uma ampla variedade de campos culturais. Você vai reconhecer muitonos pensamentos de Saussure o que nós já havíamos dito sobre a abordagemconstrucionista .

    Para Saussure, de acordo com Jonathan Culler (1976, p.19), a produção dosentido depende da linguagem: ‘A linguagem é um sistema de sinais’. Sons,imagens, palavras escritas, pinturas, fotograas, etc. funcionam como signosdentro da linguagem ‘apenas quando eles servem para expressar ou comunicaridéias... [para] comunicar idéias, eles devem ser parte de um sistema deconvenções...’ (ibid.) Objetos materiais podem funcionar como signos ecomunicar sentido também, como nós vimos no exemplo da ‘linguagem dossemáforos’. Em um passo importante, Saussure analisou osigno em dois outroselementos. Havia, argumentou ele, a forma (a verdadeira palavra, imagem, foto,etc.) e havia aidéia ou conceito na sua cabeça com a qual a forma era associada.Saussure chamou o primeiro elemento designicante , e o segundo elemento– o conceito correspondente que ele desencadeia na sua cabeça – osignicado .Cada vez que você ouvir ou ler ou ver osignicante (e.g. a palavra ou imagem deumWalkman, por exemplo), ele é correlacionado com osignicado (o conceitode um tocador de cassete portátil na sua cabeça). Os dois são necessários paraproduzir sentido, mas é a relação entre eles, xada pelo nosso código cultural elinguístico, que sustenta a representação. Então ‘o signo é a união de uma formaque signica (signicante )... e uma idéia signicada (signicado). Embora nóspossamos dizer... como se eles fossem entidades separadas, eles existem apenascomo componentes do signo... (que é) o fato central da linguagem’ (Culler,1976, p.19).Saussure também insistiu no que, na seção 1, nós chamamos de naturezaarbitrária do signo: ‘Não há nenhuma ligação natural ou inevitável entre osignicante e o signicado’ (ibid.) Signos não possuem um sentido xo ouessencial. O que signica, de acordo com Saussure, não é VERMELHO ou aessência da ‘vermelhidão’, masa diferença entre VERMELHO e VERDE . Ossignos, argumentou Saussure, ‘são membros de um sistema e são denidos

    sign

    signicsignic

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    22 As implicações desse argumento são de largo alcance para uma teoria darepresentação e para o nosso entendimento de cultura. Se a relação entre osignicante e seu signicado é o resultado de um sistema de convenções sociaisespecíco para cada sociedade e para momentos históricos especícos – logo,todos os sentidos são produzidos dentro da história e da cultura. Eles nãopodem nunca ser nalmente xados, mas estão sempre sujeitos à mudança,ambos de um contexto cultural e de um período ao outro. Não há, portanto,um ‘verdadeiro sentido’ único, imutável, universal. ‘Por ser arbitrário, o signo étotalmente sujeito à história e a combinação, em um momento em particular,de um dado signicante e signicado é o resultado contingente do processohistórico’ (Culler, 1976, p.36). Isso abre o sentido e a representação, de umaforma radical, à história e à mudança. É verdade que o próprio Saussure focouexclusivamente no estado do sistema de linguagem em um momento do tempo,ao invés de olhar para a mudança lingüística ao longo do tempo. No entanto,para nossos propósitos, o ponto importante é a forma como esse enfoquedesprende o sentido, quebrando qualquer vínculo natural e inevitável entresignicante e signicado. Isso abre a representação para o constante ‘jogo’ dedeslizamento do sentido, para a constante produção de novos sentidos, novasinterpretações.

    Contudo, se o sentido muda, historicamente, e nunca é nalmente xado,o que se seque é que ‘captar o sentido’ deve envolver um processo ativodeinterpretação . O sentido deve ser ativamente ‘lido’ ou ‘interpretado’.Consequentemente, há uma imprecisão necessária e inevitável sobre alinguagem. O sentido que nós captamos, como espectadores, leitores oupúblicos, nunca é exatamente o sentido que foi dado pelo interlocutorou escritor ou pelos outros espectadores. E uma vez que, para dizer algosignicativo, nós devemos ‘entrar na linguagem’, onde todos os tipos de sentidoque nos antecedem já estão estocados de épocas prévias, nós nunca podemosdepurar a linguagem completamente, fazendo uma triagem de todos os outrossentidos ocultos que podem modicar ou distorcer o que nós queremos dizer.Por exemplo, nós não podemos impedir inteiramente algumas das conotaçõesnegativas da palavra PRETO de retornar à mente quando nós lemos umamanchete como ‘QUARTA-FEIRA – UM DIA PRETO NA BOLSA DEVALORES’, mesmo que essa não tenha sido a intenção. Há um constantedeslizamento de sentido em toda interpretação, uma margem – algo em excessodo que nós pretendíamos dizer – na qual outros sentidos ofuscam a armaçãoou o texto, onde outras associações são despertadas à vida, dando ao que nósdizemos uma diferente torção. Assim, a interpretação se torna um aspectoessencial do processo pelo qual o sentido é dado e tomado. Oleitoré tãoimportante quanto oescritor na produção do sentido. Todo signicante dado

    interpre

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    23 ou codicado com signicado tem que ser signicativamente interpou decodicado pelo receptor (Hall, 1980). Signos que não tenham inteligivelmente recebidos ou interpretados não são, em nenhum sen‘signicativos’.

    2. 1 A Parte social da linguagemSaussure dividiu a linguagem em duas partes. A primeira consiste ne códigos gerais do sistema lingüístico, que todos os seus usuários dcompartilhar, se é para ser usado como um meio de comunicação. Aos princípios que nós aprendemos quando aprendemos a linguagemhabilitam a usar a linguagem para dizer o que quer que queiramos. em inglês, a ordem de palavras preferida é sujeito-verbo-objeto (‘o na esteira’), enquanto em latim, o verbo normalmente vem no nal.chamou isso de estrutura de linguagem subjacente e governada por que nos permite produzir sentenças bem formadas, alangue (o sistema delinguagem). A segunda parte consiste nos atos particulares de fala odesenho, que – usando a estrutura e as regras dalangue – são produzidas por ureal interlocutor ou escritor. Ele chamou isso deparole. ‘La langue é o sistemada linguagem, a linguagem como um sistema de formas, enquanto a parole é areal fala [ou escrita], os atos de fala que só são possíveis pela lingu1976, p.29)

    Para Saussure, a estrutura subjacente de regras e códigos (langue ) era a partesocial da linguagem, a parte que poderia ser estudada com a precisãde uma ciência, devido à sua natureza fechada, limitada. Era sua preestudar a linguagem a esse nível de sua ‘estrutura profunda’, que fechamarem Saussure e seu modelo de linguagem deestruturalistas. A segundaparte da linguagem, o ato individual da fala ou do pronunciamento parole ),ele considerou como a ‘superfície’ da linguagem. Havia um númerode pronunciamentos possíveis. Assim, à parole inevitavelmente faltava essaspropriedades estruturais – formando um conjunto fechado e limitadpoderia ter nos permitido estudá-la ‘cienticamente’. O que fez o mSaussure atraente a vários estudiosos posteriores foi o fato de o carestruturado da linguagem ao nível de suas regras e leis, que, de acorSaussure, habilitou-a a ser estudada cienticamente, ser combinadocapacidade de ser livre e imprevisivelmente criativa em nossos reaiEles acreditaram que ele ofereceu a eles, anal, uma abordagem cieobjeto de pesquisa menos cientíco – a cultura.

    angue

    parole

    struturalistas

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    24 Ao separar a parte social da linguagem (langue ) do ato individual decomunicação ( parole ), Saussure quebrou com nossa noção senso-comum decomo a linguagem funciona. Nossa intuição senso-comum é que a linguagem vem de dentro de nós – do interlocutor ou escritor individual; que é o sujeitoque fala ou escreve que é o autor ou originador do sentido. Isso é o que nóschamamos, mais cedo, de modelointencional da representação. Mas de acordocom o esquema de Saussure, cada armação autorada só se torna possívelporque o ‘autor’ compartilha com outros usuários da linguagem as regras ecódigos comuns do sistema de linguagem – alangue – que permite que elesse comuniquem um com o outro signicantemente. A autora decide o que elaquer dizer. Mas ela não pode ‘decidir’ usar ou não as regras da linguagem, seela quer ser compreendida. Nós nascemos em uma linguagem, seus códigos eseus sentidos. A linguagem para Saussure é, portanto, um fenômeno social. Elanão pode ser uma questão individual, porque não pode inventar as regras dalinguagem individualmente, para nós mesmos. Sua fonte reside na sociedade, nacultura, nos nossos códigos culturais compartilhados, no sistema da linguagem– não na natureza ou no sujeito individual.

    Nós vamos passar para a seção 3 para considerar como a abordagemconstrucionista para a representação, e particularmente o modelo lingüísticode Saussure, foi aplicado para um conjunto mais amplo de objetos e práticas, eevoluiu para o métodosemiótico que tanto inuenciou o campo. Primeiro, nóstemos que levar em conta algumas das críticas feitas ao seu posicionamento.

    2. 2 Crítica do modelo de Saussure

    O grande feito de Saussure foi nos forçar a focar na linguagem mesma, comoum fato social; no processo de representação mesmo; em como a linguagemrealmente funciona e o papel que desempenha na produção do sentido. Aofazê-lo, ele salvou a linguagem do status de um mero meio transparente entrecoisas esentido. Ele mostrou, em vez disso, que a representação era uma prática.

    No entanto, em seu próprio trabalho, ele tendeu a focar, quase exclusivamente,nos dois aspectos do signo –signicante esignicado. Ele deu pouco ounenhuma atenção a como essa relação entresignicante /signicadopoderia servirao propósito ao que nós mais cedo chamamos dereferência– i.e. nos referindoao mundo das coisas, pessoas e eventos fora da linguagem, no mundo ‘real’.Lingüistas posteriores zeram uma distinção entre, digamos, o signicadoda palavra LIVRO e o uso da palavra para se referir a umlivro especíco repousando na mesa atrás de nós. O lingüista Charles Sanders Pierce, enquanto

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    25 adotava uma abordagem similar ao de Saussure, prestou maior atenrelação entre signicantes/signicados e o que ele chamou de seusreferentes . Oque o Saussure chamou de signicação realmente envolve ambos oreferência, mas ele focou principalmente na forma.

    Outro problema é que Saussure tendeu a focar nos aspectos formais dalinguagem – em como a linguagem realmente funciona. Isso tem a g vantagem de nos fazer examinar a representação como uma práticaestudo detalhado em seu próprio mérito. Isso nos força a olhar paralinguagem, e não apenas como uma vazia e transparente ‘janela no entanto, o foco de Saussure na linguagem pode ter sido exclusivo datenção aos seus aspectos formais realmente tirou a atenção das carmais interativas e dialógicas da linguagem – a linguagem como ela usada, como ela funciona em situações reais, em diálogo entre difer

    de interlocutores. Então, não é surpreendente que, para Saussure, a qpoder na linguagem – por exemplo, entre interlocutores de diferenteposições – não surgiu.

    Como foi por vezes o caso, o sonho ‘cientíco’ que residia por trás estruturalista do seu trabalho, embora inuente em nos alertar para aspectos de como a linguagem funciona, provou ser ilusório. A lingnão é um objeto que pode ser estudado com a precisão de uma ciência cleis. Teóricos culturais posteriores aprendeu com o ‘estruturalismo’ mas abandonaram sua premissa cientíca. A linguagem permanece por regras. Mas não é um sistema ‘fechado’ que pode ser reduzido aelementos formais. Uma vez que está constantemente mudando, eladenição, uma deniçãoem aberto. O sentido continua sendo produzido plinguagem em formas que não podem nunca serem previstas de antseu deslizamento, como nós descrevemos acima, não pode ser contideve ter sido tentado à visão formal porque, como um bom estruturtendia a estudar o estado do sistema de linguagem em um momentoisso fosse estático, e ele pudesse conter o uxo do intercâmbio da li Todavia, o caso é que vários daqueles que haviam sido mais inuenquebra radical de Saussure com todo o modelo reetivo e o intenciorepresentação, se apoiaram em seu trabalho, não imitando seu enfoqe ‘estruturalista’, mas aplicando seu modelo de um modo bem maisaberto – i.e. ‘pós-estruturalista’.

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    27 O argumento fundamental por trás daabordagem semiótica é que, uma vez qtodos os objetos culturais expressam see todas as práticas culturais dependem sentido, eles devem fazer uso dos signomedida que eles fazem, eles devem funcomo a linguagem funciona, e seremsuscetíveis a uma análise que basicameuso dos conceitos lingüísticos de Sauss(e.g. a distinção entre signicante/signie langue / parole , sua ideia de códigos e

    estruturas subjacentes, e a natureza arbitrária do signo). Então, quacoleção de ensaios Mitologias (1972) o crítico francês Roland Barthes est‘O mundo da luta’, ‘Sabão em pó e detergentes’, ‘A face de Greta G guias azuis para a Europa’, ele trouxe a abordagem semiótica para darem ‘ler’ a cultura popular, tratando essas atividades e objetos como uma linguagem pela qual o sentido é comunicado. Por exemplo, a mnós pensaria em uma partida de luta como um jogo ou esporte comelaborado para um lutador ganhar vitória sobre seu oponente. Barthentanto, pergunta não ‘Quem venceu?’, mas ‘Qual o sentido desse etrata isso como umtexto a serlido. Ele ‘lê’ os gestos exagerados dos lutadcomo uma linguagem grandiloqüente do que ele chama de puro espexcesso.

    LEITURA B

    Você deve agora ler o breve resumo da ‘leitura’ de Barthes de da luta’, disponibilizada como Leitura B no nal desse capítulo

    Bem da mesma forma, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss ecostumes, rituais, objetos totêmicos, designs, mitos e contos folclór

    chamados ‘primitivos’ povos do Brasil, não analisando como essas produzidas e usadas no contexto da vida diária entre os povos amazmas em termos do que eles estavam tentando ‘dizer’, quais mensagcultura eles comunicavam. Ele analisou o sentido deles, não interprseu conteúdo, mas olhando para as regras e códigos fundamentais ptais objetos ou práticas produziam sentido, e, ao fazê-lo, ele estava fum clássico ‘movimento’ Saussuriano ou estruturalista, das paroles da culturaà estrutura fundamental, sualangue . Para empreender esse tipo de trabalho

    IGURA I. 4uta como umanguagem doexcesso’.

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    28 estudando o sentido de um programa de televisão como Eastenders , porexemplo, nós teríamos que tratar as imagens na tela como signicantes, o usodo código da novela televisiva como gênero, para descobrir como cada imagemna tela fez uso dessas regras para ‘dizer algo’ (signicados) que o espectadorpudesse ‘ler’ ou interpretar dentro do quadro de um tipo particular de narrativatelevisiva (veja a discussão e análise das novelas da TV no Capítulo 6).

    Na abordagem semiótica, não apenas palavras e imagens, mas os própriosobjetos podem funcionar como signicantes na produção do sentido. Roupas,por exemplo, podem ter uma função física simples – cobrir e proteger o corpodo tempo. Mas as roupas também se dobram como signos. Elas constroemsignicado e carregam uma mensagem. Um vestido de noite deve signicar‘elegância’; uma gravata-borboleta e caudas, ‘formalidade’; jeans e camiseta,‘roupa casual’; um certo tipo de casaco na combinação certa, ‘um passeio na

    oresta longo e romântico no outono’ (Barthes, 1967). Esses signos permitemque as roupas carreguem signicado e funcionem como uma linguagem – ‘alinguagem da moda’. Como elas fazem isso?

    ATIVIDADE 5

    Olhe para o exemplo das roupas em uma revista de moda publicada(Figura 1.5). Aplique o modelo de Saussure para analisar o que as roupas

    estão ‘dizendo’. Como você decodicaria a mensagem? Em particular,quais elementos operam comosignicantes e quais conceitos –signicados– você está aplicando a eles? Não pegue apenas uma impressão geral –trabalhe detalhadamente. Como a ‘linguagem da moda’ está funcionandonesse exemplo?

    As roupas, por elas mesmas, são os signicantes. O código da moda nas culturaconsumidoras ocidentais, como a nossa, correlacionam tipos ou combinaçõesparticulares de roupas com certos conceitos (‘elegância’, ‘formalidade’,‘casualidade’, ‘romance’). Esses são ossignicados. Esses códigos convertem asroupas emsignos , que podem ser lidos como uma linguagem. Na linguagem damoda, os signicantes são arranjados em certa sequência, em certas relaçõesuns com os outros. As relações podem ser de similaridade – certos itens‘combinam’ (e.g. sapatos casuais com jeans). Diferenças também são marcadas– sem cintos de couro em vestidos de noite. Alguns signos realmente criamsentido explorando a ‘diferença’: e.g. botas Doc Marten com uma longa saiaorida. Essas peças de roupa ‘dizem alguma coisa’ – elas contêm signicado.

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    29 Obviamente, nem todo mundo lê a moda da mforma. Existem diferentes gêneros, idades, cla‘raças’. Mas todos aqueles que compartilhammesmo código de moda vão interpretar os sigde formas grosseiramente iguais. ‘Oh, jeans nparecer certo naquele evento. É uma ocasião – demanda algo mais elegante’.

    Você deve ter notado que, nesse exemplo, nósmudamos do nível lingüístico bem estreito, dnós retiramos exemplos na primeira seção, panível mais amplo, cultural. Note, também, queoperações interligadas são necessárias para co processo de representação pelo qual o senti

    produzido. Primeiro, nós precisamos de umcódigo básico que ligue uma peça material em particque é cortada e costurada em um modo partic

    (signicante ) ao nosso conceito mental dela (signicado) – digamos um corteparticular de material ao nosso conceito de ‘um vestido’ ou ‘jeans’.que apenas algumas culturas ‘leriam’ o sentido dessa forma, ou até o conceito de (i.e. ter classicado roupas como) ‘um vestido’ como a ‘jeans’.). A combinação do signicante e do signicado é o que Schamou designo. Então, tendo reconhecido o material como um vestid

    um jeans, e produzido um signo, nós podemos progredir a um segunmais amplo, que liga esses signos a mais amplos e culturais temas, ou sentidos – por exemplo, um vestido de noite a ‘formalidade’ ou ‘ jeans a ‘casualidade’. Barthes chamou o primeiro nível, descritivo, denotação : o segundo nível, de daconotação . Ambos, obviamente, requereuso de códigos.

    Denotação é o nível simples, básico, descritivo, onde o consenso é ampmaioria das pessoas concordaria no signicado (‘vestido’, ‘jeans’). nível –conotação – esses signicantes que nós fomos capazes de ‘decoem um nível simples usando nossas classicações conceituais convde vestido para ler seu signicado, entram em um segundo tipo de cmais amplo – ‘a linguagem da moda’ – que os conecta a sentidos e tmais amplos, ligando-os ao que nós devemos chamar de mais amplcampossemânticos da nossa cultura: ideias de ‘elegância’, ‘formalidade’, ‘casu‘romance’. Esse segundo e mais amplo signicado já não é um nívede interpretação óbvia. Aqui, nós estamos começando a interpretar

    IGURA I. 5Anúncio daGucci na Vogue ,

    etembro de 1995.

    denotaçãoonotação

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    30 completos, em termos dos reinos mais amplos da ideologia social – as crençasgerais, quadros conceituais e sistemas de valores da sociedade. Esse segundonível de signicação, sugere Barthes, é mais ‘geral, global e difuso...’. Ele lidacom ‘fragmentos de uma ideologia... esses signicados têm uma comunicaçãomuito próxima com a cultura, o conhecimento, a história, e é através deles,por assim dizer, que o mundo ambiental [da cultura] invade o sistema [darepresentação]’ (Barthes, 1967, pp. 91-2).

    3. 1 O mito hoje

    Nesse ensaio, ‘O mito hoje’, em Mitologias , Barthes dá outro exemplo que nosajuda a enxergar exatamente como a representação está funcionando nessesegundo e mais amplo nível cultural. Visitando os barbeiros um dia, mostraram

    a Barthes uma cópia da revista francesaParis Match, que tinha em sua capauma imagem de ‘um jovem Negro em um uniforme francês, saudando comos olhos erguidos, provavelmente xos em um rebordo tricolor’ (a bandeirafrancesa) (1972b, p.116). No primeiro nível, para captar qualquer sentido,nós temos que decodicar cada um dos signicantes da imagem em seusconceitos apropriados: e.g. um soldado, um uniforme, um braço erguido, olhoserguidos, uma bandeira francesa. Isso produz um conjunto de signos com umasimples e literal mensagem ou signicado:um soldado negro está saudando abandeira francesa (denotação). No entanto, Barthes argumenta que essa imagemtambém tem um signicado mais amplo e cultural. Se nós perguntarmos, ‘Oque aParis Match está nos dizendo usando essa imagem de um soldado negrosaudando uma bandeira francesa?’, Barthes sugere que nós iremos surgir coma mensagem: ‘Que a França é um grande império, e que todos os seus lhos, semnenhuma discriminação de cor, elmente servem sob sua bandeira, e que não hánenhuma resposta melhor aos desertores de um alegado colonialismo do que o fermostrado por esse Negro ao servir os seus tão chamados opressores’ (conotação).(IBID.)

    O que quer que você pense sobre a ‘mensagem’ real que Barthes encontra, parauma análise semiótica ideal você deve ser capaz de delinear precisamente osdiferentes passos pelos quais esse sentido mais amplo foi produzido. Barthesargumenta que, aqui, a representação acontece por dois processos separados,porém ligados. No primeiro, os signicantes (os elementos da imagem) e ossignicados (os conceitos – soldado, bandeira, e assim por diante) se unempara formar um signo com uma simples mensagem denotada:um soldado negro

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    31 está saudando a bandeira francesa . Em um segundo estágio, essa mensagemsigno completo é ligado a outro conjunto de signicados – um temaideológico sobre o colonialismo francês. O primeiro e completo sigfunciona como o signicante no segundo estágio do processo de repe quando ligado com um tema mais amplo pelo leitor, produz uma smensagem ou signicado, mais elaborado e ideologicamente enquaBarthes dá a esse segundo conceito ou tema um nome – ele o chammistura a propósito do “imperialismo francês” e do “militarismo”’. adiciona uma mensagem sobre o colonialismo francês e seus eis slhos negros. Barthes chama esse segundo nível de signicação de domito. Nessa leitura, ele adiciona, ‘O imperialismo francês é o mottrás do mito. O conceito reconstitui uma cadeia de causas e efeitos, e intenções... através do conceito... toda uma nova história... é implano mito... o conceito do imperialismo francês... está, de novo, vincutotalidade do mundo: à história geral da França, às suas aventuras csuas diculdades atuais’ (Barthes, 1972b, p.119).

    LEITURA C

    Volte ao pequeno resumo de ‘O mito hoje’ (Leitura C, no nal capítulo), e leia a conta de Barthes sobre como o mito funcionsistema de representação. Se assegure de que entende o que Badizer com ‘dois sistemas cambaleados’ e com a ideia de que o‘meta-linguagem’ (uma linguagem de segunda ordem).

    Para outro exemplo desse processo de signicação de dois estágiospodemos voltar agora a outro famoso ensaio de Barthes.

    ATIVIDADE 6

    Agora, olhe cuidadosamente para o anúncio dos produtosPanzani (Figura 1.6) e, com a análise de Barthes em mente, faça o seguexercício:

    1 Quesignicantes você consegue identicar no anúncio?

    2 O que eles signicam? Quais são seussignicados ?

    3 Agora, olhe para o anúncio como um todo, no nível do ‘mito’

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    32 sua mensagem ou tema mais amplo, cultural? Você pode construir um?

    LEITURA D

    Agora leia um segundo extrato de Barthes, no qual ele oferece umainterpretação ao anúncio daPanzani de espaguete e vegetais em umasacola de cordas como ‘mito’ sobre a cultura italiana nacional. O extratode ‘Retórica da imagem’, de ‘Imagem-Música-Texto’ (1977), está incluídocomo Leitura D no nal desse capítulo.

    Barthes sugere que nós podemos lero anúncio daPanzani como um ‘mito’ligando sua mensagem completa(essa é uma imagem de alguns pacotesde massa, uma lata, um sachê, algunstomates, cebolas, pimentas, um cogumelo,todos emergindo de uma sacola decordas semi-aberta ) com o tema ouconceito cultural da ‘Italianidade’.Então, ao nível do mito ou meta-linguagem, o anúncio da Panzani setorna uma mensagem sobre osentidoessencial de Italianidade como umacultura nacional . Commodities podemrealmente se tornar signicantespara mitos ou nacionalidade? Vocêpode pensar em anúncios, em revistasou na televisão, que funcionam damesma forma, desenhando o mito de‘Inglesidade’? Ou ‘Francesidade’? Ou‘Americanidade’? Ou ‘Indianidade’? Tente aplicar a ideia de ‘Inglesidade’ao anúncio reproduzido na Figura 1.7

    FIGURA I. 6‘Italianidade’ no anúncio daPanzani.

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    4 Discurso, poder e sujeitoO que os exemplos acima mostram é que a abordagem semiótica foum método para analisar como as representações visuais carregam Já na obra de Roland Barthes nos anos 1960, como nós vimos, o mo‘linguístico’ de Saussure é desenvolvido em sua aplicação a um cammais amplo de signos e representações (publicidade, fotograa, cult viagens, moda, etc.). Além disso, há menos preocupação com comoindividuais funcionam como signos na linguagem, e mais sobre a apmodelo de linguagem a um conjunto de práticas culturais bem maisSaussure fez a promessa de que todo o domínio do sentido poderia,ser sistematicamente mapeado. Barthes, também, tinha um ‘métodoenfoque semiótico é bem mais levemente e interpretadamente aplicem sua obra posterior (por exemplo,O Prazer do Texto, 1975), ele está maispreocupado com o ‘jogo’ de sentido e desejo pelos textos do que code xar o sentido por uma análise cientíca das regras e leis da ling

    Subsequentemente, como nós observamos, o projeto de uma ‘ciênci

    FIGURA I. 7Uma imagem da ‘Inglesidade’ - anúncio da Jaguar.

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    34 sentido’ aparecia cada vez mais insustentável. Sentido e representação pareciampertencer irrevogavelmente ao âmbito interpretativo das ciências humanase culturais, cujas questões do sujeito – sociedade, cultura, o sujeito humano– não são suscetíveis a uma abordagem positivista (i.e. um que procuradescobrir leis cientícas sobre a sociedade). Desenvolvimentos posterioresreconheceram a natureza necessariamente interpretativa da cultura e o fato deque interpretações nunca produzem um momento nal de absoluta verdade.Em vez disso, interpretações são sempre seguidas por outras interpretações, emuma cadeia innita. Como o lósofo francês Jacques Derrida colocou, escreversempre leva a escrever mais. A diferença, ele argumentou, nunca pode sertotalmente capturada dentro de sistema binário algum (Derrida, 1981). Entãoqualquer noção de um sentido nalé sempre innitamente descartada, deferida.Estudos culturais desse cunho interpretativo, como outras formas qualitativasde inquérito sociológico, são inevitavelmente envolvidos nesse ‘círculo desentido’.

    Na abordagem semiótica, a representação foi entendida na base da formacom que as palavras funcionam como signos dentro da linguagem. Mas, paraum começo, em uma cultura, o sentido frequentemente depende de unidadesmaiores de análise – narrativas, armações, grupos de imagens, discursoscompletos que operam por uma variedade de textos, áreas de conhecimentosobre um sujeito que adquiriram autoridade amplamente notória. A semióticaparecia connar o processo de representação à linguagem, e tratá-la como um

    sistema fechado, bastante estático. Desenvolvimentos posteriores se tornarammais concernidos com a representação como uma fonte para a produção doconhecimento social – um sistema mais aberto, conectado de maneiras maisíntimas às práticas sociais e às questões de poder. Na abordagem semiótica, osujeito foi retirado do centro da linguagem. Teóricos posteriores retornaramà questão do sujeito, ou ao menos ao espaço vazio que a teoria de Saussurehavia deixado; sem, obviamente, colocar ele/ela de volta ao centro, como autorou fonte ou sentido. Mesmo que a linguagem, de algum jeito, ‘falasse por nós’(como Saussure tendia a argumentar), também era importante que em certos

    momentos históricos, algumas pessoas tivessem mais poder para falar sobrecertos assuntos do que outros (médicos homens sobre as pacientes loucas no mdo século XIX, por exemplo, para pegar um dos exemplos-chave desenvolvidosna obra de Michel Foucault). Modelos de representação, argumentaram essescríticos, devem focar nesses aspectos mais amplos de conhecimento e poder.

    Foucault usou a palavra ‘representação’ em um sentido mais estreito do quenós estamos usando aqui, mas considera-se que ele tenha contribuído para

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    35 uma nova e signicativa abordagem para os problemas da represenque o preocupava era a produção de conhecimento (em vez de apenpelo que ele chamou dediscurso (em vez de apenas linguagem). Seu projdisse ele, era analisar ‘como seres humanos se entendiam em nossa e como nosso conhecimento sobre ‘os sentidos sociais, os individuaencarnados e compartilhados’ vem a ser produzida em diferentes pesua ênfase na compreensão cultural e nos sentidos compartilhados, ver que o projeto de Foucault era, ainda em algum grau, devido a SBarthes (veja Dreyfus e Rabinow, 1982, p.17), enquanto em outros cse separava radicalmente deles. A obra de Foucault é bem mais histfundamentada, mais atenta a especicidades históricas, do que a absemiótica. Como ele disse, ‘relações de poder, não relações de sentidsua preocupação principal. Os objetos particulares da atenção de Foeram as várias disciplinas do conhecimento nas ciências humanas e– o que ele chamou ‘as ciências sociais subjetivadoras’. Esses adqupapel crescentemente proeminente e inuente na cultura moderna e várias instâncias, considerados como os discursos que iriam, como tempos passados, nos dar a ‘verdade’ sobre o conhecimento.

    Nós retornaremos à obra de Foucault em alguns capítulos subseqüelivro (por exemplo, Capítulo 5). Aqui, nós queremos introduzir Fouabordagemdiscursiva para a representação, sublinhando três de suas priideias: seu conceito dediscurso; o problema do poder e conhecimento; e a questão

    do sujeito. Pode ser útil, no entanto, começar dando um gostinho geraltermos (e um pouco exagerados) do gráco de Foucault, de como eprojeto diferindo daquele da abordagem semiótica para a representase distanciou de uma abordagem como o de Saussure e Barthes, bas‘domínio da estrutura signicante’, para um baseado em analisar o chamou ‘relações de força, táticas e desenvolvimentos estratégicos’

    Aqui, eu acredito que o ponto de referência não deveria semodelo da linguagem (langue ) e signos, mas aquele da guerra ebatalha. A história que nos baseia e determina tem mais a uma guerra do que da linguagem: relações de poder, não resentido... (Foucault, 1980, pp. 11

    Rejeitando tanto o Marxismo Hegeliano (que ele chamou de ‘a dialquanto a semiótica, Foucault argumentou que:

    discurso

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    36 Nem a dialética, como uma lógica de contradições, nem asemiótica, como a estrutura da comunicação, podem dar conta dainteligibilidade intrínseca dos conitos. A ‘Dialética’ é um modo defugir da sempre aberta e perigosa realidade do conito, reduzindo-a a um esqueleto Hegeliano, e a ‘semiologia’ é um modo de evitarseu caráter violento, sangrento e letal, reduzindo-a a calma formaPlatônica da linguagem e do diálogo. (IBID.)

    4. 1 Da linguagem ao discurso

    O primeiro ponto a ser notado, então, é a troca da atenção de Foucault da‘linguagem’ para o ‘discurso’. Ele estudou não a linguagem, mas odiscurso comoum sistema de representação. Normalmente, o termo ‘diálogo’ é usado como

    um conceito lingüístico. Ele signica simplesmente passagens de escrita ou falaconectadas. Michel Foucault, no entanto, deu a ele um sentido diferente. Oque interessava a ele eram as regras e práticas que produziam pronunciamentoscom sentido e discursos regulados em diferentes períodos históricos. Por‘discurso’, Foucault entendeu ‘um grupo de pronunciamentos que permiteque a linguagem fale sobre – uma forma de representar o conhecimentosobre – um tópico particular ou um momento histórico. ... O discurso tema ver com a produção do sentido pela linguagem. Mas... uma vez que todasas práticas sociais implicamsentido,e sentidos denem e inuenciam o que

    fazemos – nossa conduta – todas as práticas tem um aspecto discursivo’ (Hall,1992, p.291). É importante notar que o conceito dediscurso nesse uso nãoé puramente um conceito ‘linguístico’. Tem a ver com linguageme prática.Ele tenta superar a tradicional distinção entre o que umdiz(linguagem) eo que um faz (prática). O discurso, argumenta Foucault, constrói o assunto.Ele dene e produz os objetos do nosso conhecimento. Ele governa a formacom que o assunto pode ser signicativamente falado e debatido. Ele tambéminuencia como ideias são postas em prática e usadas para regular a conduta dooutros. Assim como o discurso ‘rege’ certas formas de falar sobre um assunto,

    denindo um modo de falar, escrever ou se conduzir, aceitável e inteligível,então também, por denição, ele ‘exclui’, limita e restringe outros modos defalar, ou se conduzir em relação ao assunto ou ao construir conhecimento sobreele. O discurso, argumentou Foucault, nunca consiste em um pronunciamento,um texto, uma ação ou uma fonte. O mesmo discurso, característico do jeitode pensar ou do estado de conhecimento em qualquer tempo (o que Foucaultchamou deepisteme ), vai aparecer em uma gama de textos, e como formas deconduta, em um número de diferentes áreas institucionais da sociedade. No

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    37 entanto, cada vez que esses eventos discursivos ‘referem ao mesmocompartilham o mesmo estilo e... apoiam uma estratégia... em uma padrão institucional, administrativo ou político comuns’ (Cousins e 1984, pp. 84-5), então eles são ditos por Foucault como pertencenteformação discursiva .

    Sentido e práticas com sentido são, portanto, construídas dentro do Como os semioticistas, Foucault era um ‘construcionista’. No entandiferentemente deles, ele estava preocupado com a produção do cone sentido, não pela linguagem, mas pelo discurso. Existem, entretantsimilaridades, mas também substantivas diferenças entre essas duas

    A ideia de que ‘o discurso produz os objetos do conhecimento’ e deque tem sentido existe fora do discurso,é, à primeira vista, uma proposiçãodesconcertante, que parece correr contra GRAIN do pensamento secomum. É válido gastar um momento para explorar mais essa ideiaestá dizendo – como alguns de seus críticos o acusaram – quenada existe fora do discurso? Na verdade, Foucaultnãonega que as coisas possam ter umexistência real, material no mundo. O que ele realmente argumenta nadatem nenhum sentido fora do discurso’ (Foucault, 1972). Como Laclau e Moucolocaram, ‘nós usamos [o termo discurso] para enfatizar o fato de conguração socialtem sentido’ (1990, p. 100). O conceito de discurso nãosobre se as coisas existem, mas sobre de onde vem o sentido.

    LEITURA E

    Vá agora para a Leitura E, de Ernesto Laclau e Chantal Mouffepequeno extrato de Novas reexões na Revolução do nosso Tempo(1990),que nós acabamos de parafrasear, e leia-o cuidadosamente. O qeles argumentam é que objetos físicosrealmenteexistem, mas eles nãotem sentido xado; eles apenas ganham sentido e se tornam ob

    de conhecimentodentro do discurso. Certique-se de acompanhar oargumento deles antes de continuar a leitura.

    1 Nos termos do discurso sobre ‘construir uma parede’, a dientre a parte lingüística (pedindo um tijolo) e o ato físico (colotijolo no lugar) não importa. A primeira é lingüística, a segundMasambassão ‘discursivas’ – com sentido dentro do discurso.

    ormaçãodiscursiva

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    38 2 O objeto redondo de couro que você chuta é um objeto físico – umabola. Mas ela apenas se tornar uma ‘bola de futebol’ dentro do contextodas regras do jogo, que são socialmente construídas.

    3 É impossível determinar o sentido de um objeto fora de seu contexto

    de uso. Uma pedra jogada em uma briga é uma coisa diferente (‘umprojétil’) de uma pedra exposta em um museu (‘uma peça de escultura’).

    Essa ideia de que coisas e ações físicas existem, mas elas somente ganhamsentido e se tornam objetos de conhecimento dentro do discurso, está nocoração da teoriaconstrucionista sobre o sentido e a representação. Foucaultargumenta que, uma vez que nós só podemos ter conhecimento das coisas seelas tiverem sentido, é o discurso – não as coisas por elas mesmas – que produzconhecimento. Assuntos como ‘loucura’, ‘punição’ e ‘sexualidade’ só existem cosentidodentrodos discursos a respeito deles. Então, o estudo do discurso daloucura, punição ou sexualidade deveria incluir os seguintes elementos:

    enunciações sobre ‘loucura’, ‘punição’ e ‘sexualidade’, que nos dêem umcerto tipo de conhecimento sobre essas coisas;

    2 as regras que prescrevem certas formas de falar sobre esses assuntos eexcluem outras formas – que governam o que é ‘falável’ ou ‘pensável’sobre insanidade, punição ou sexualidade, em um momento históricoparticular;

    3 ‘sujeitos’ que, de algumas formas, personicam o discurso – o louco,a mulher histérica, o criminoso, o depravado, a pessoa sexualmenteperversa; com os atributos que nós poderíamos esperar que esses sujeitostivessem, dado o modo com que o conhecimento sobre o assunto foiconstruído naquele tempo;

    4 como esse conhecimento sobre o assunto adquire autoridade, um sensode incorporar a ‘verdade’ sobre ele; constituindo a ‘verdade da questão’,em um momento histórico;

    5 as práticas dentro das instituições para lidar com os sujeitos –tratamento médico para o insano, regimes de punição para o culpado,

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    39 disciplina moral para a sexualmente desviada – cujas condutasendo reguladas e organizadas de acordo com aquelas ideias;

    6 reconhecimento de que um diferente discurso ouepisteme vai surgir emum momento histórico posterior, substituindo o existente, abr

    nova formação discursiva, e produzindo, por sua vez, novas concep‘loucura’ ou ‘punição’ ou ‘sexualidade’, novos discursos comautoridade, a ‘verdade’, para regular a prática social de novas

    4. 2 Historicizando o discurso: práticas discursivas

    O principal ponto para se ater aqui é o modo com que discurso, reprconhecimento e ‘verdade’ são radicalmentehistoricizadospor Foucault, emcontraste com tendência bem ahistórica da semiótica. As coisas tinhe eram ‘verdadeiras’, ele argumentou,apenas em um contexto histórico espe.Foucault não acreditou que os mesmos fenômenos seriam achados históricos diferentes. Ele pensou que, em cada período, o discurso pformas de conhecimento, objetos, sujeitos e práticas de conhecimeneram diferiam radicalmente de período para período, sem uma nececontinuidade entre eles.

    Então, para Foucault, por exemplo, doença mental não era um fato ose manteve o mesmo em todos os períodos históricos, e tinha o mesem todas as culturas. Era apenasdentrode uma formação discursiva denique o objeto, a ‘loucura’, poderia aparecer como uma construção cointeligível. Ela era ‘constituída por tudo que foi dito, em todas as enque a mencionaram, dividiram, descreveram, explicaram, traçaram desenvolvimento, indicaram suas várias correlações, a julgaram, e pderam a ela fala ao articular, em seu nome, discursos que eram paracomo próprios dela’ (1972, p. 32). E foi apenas depois de uma certa

    de ‘loucura’ ter sido posta em prática, que o próprio sujeito – ‘o louconhecimento médico e psiquiátrico da época ‘o’ deniu – pôde apa

    Ou, tome alguns outros exemplos de práticas discursivas de sua obrhouve relações sexuais. Mas ‘sexualidade’, como um modo específalar sobre, estudar ou regular o desejo sexual, seus segredos e suas argumentou Foucault, somente apareceu nas sociedades ocidentais emomento particular da história (Foucault, 1978). Sempre deve ter h

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    40 que nós agora chamamos de formas homossexuais de comportamento. Mas‘o homossexual’ como um tipo de sujeito social especíco, foi produzido, e sópôde fazer sua aparição, dentro dos discursos, práticas e aparatos institucionaismorais, legais, médicos e psiquiátricos do m do século XXI, com as suas teoriaparticulares da perversidade sexual (Weeks, 1981, 1985). Similarmente, nãofaz sentido falar sobre a ‘mulher histérica’ fora da visão de histeria do século XXI, como uma muito difundida doença feminina. EmO Nascimento da Clínica(1973), Foucault mostrou como ‘em menos de um século, o entendimentomédico de doença foi transformado’ de uma noção clássica de que a doençaexistia separada do corpo, para a ideia moderna de que a doença surgia dentrodo corpo humano e que poderia ser diretamente mapeada pelo seu curso por ele(McNay, 1994). Essa troca discursiva mudou a prática médica. Ela deu maiorimportância ao ‘olhar’ do médico, que poderia agora ‘ler’ o curso da doençasimplesmente por um olhar poderoso ao que Foucault chamou ‘o corpo visível’do paciente – seguindo as ‘rotas... previstas em acordo com uma agora familiargeometria... o atlas anatômico’ (Foucault, 1973, pp. 3-4). Esse conhecimentomaior aumentou o poder de vigilância do médico vis-à-vis o paciente.

    O conhecimento sobre e as práticas ao redor detodosesses sujeitos, Foucaultargumentou, foram historicamente e culturalmente especícos. Eles não tinhamnem poderiam ter uma existência com sentido fora dos discursos especícos, i.efora das formas com que eles foram representados em discurso, produzidos emconhecimento e regulados pelas práticas discursivas e técnicas disciplináveis de

    uma sociedade e tempo particulares. Longe de aceitar as continuidades trans-históricas das quais os historicistas eram tão orgulhosos, Foucault acreditavaque mais signicativas eram as quebras, rupturas e descontinuidades radicais deum período para outro, entre uma formação discursiva e outra.

    4. 3 Do discurso ao poder/conhecimento

    Em sua obra posterior, Foucault se tornou ainda mais preocupado com comoo conhecimento era colocado para trabalhar nas práticas discursivas emcongurações institucionais especícas para regular a conduta dos outros.Ele focou na relação entre conhecimento e poder, e como o poder operavadentro do que ele chamouaparatoinstitucional e suastecnologias(técnicas).A concepção de Foucault doaparato da punição, por exemplo, incluía uma variedade de elementos diversos, lingüísticos e não-linguísticos – ‘discursos,instituições, disposições arquiteturais, regulações, leis, medidas administrativas,

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    41 enunciados cientícos, proposições losócas, moralidade, lantrop... O aparato é, então, sempre inscrito em um jogo de poder, mas é tasempre ligado a certas coordenadas do conhecimento. ... É nisso quconsiste: estratégias de relações de força apoiando e sendo apoiadasconhecimento’ (Foucault, 1980b, pp.194, 196).

    Esse enfoque tomou como um de seus assuntos-chave de investigaçrelações entre conhecimento, poder e o corpo na sociedade moderno conhecimento como sempre inexoravelmente envolvido em relaçpoder, porque ele estava sempre sendo aplicado à regulação da condna prática (i.e. a ‘corpos’ particulares). Essa linha de frente da relaçdiscurso, conhecimento e poder marcou um desenvolvimento signiabordagemconstrucionista para a representação, que nós temos delineadorecuperou a representação das garras de uma teoria puramente form

    ela um contexto de operação histórico, prático e ‘mundial’.

    Você pode questionar em que medida essa preocupação com discurconhecimento e poder trouxe os interesses de Foucault mais perto dteorias clássicas e sociológicas da