(cap. 26) tat conforme o modelo de bellak
TRANSCRIPT
5/6/2018 (Cap. 26) TAT Conforme o Modelo de Bellak - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/cap-26-tat-conforme-o-modelo-de-bellak 1/7
Blanca Guevara Werlang
TAT,conforme 0modelo de Bellak
Pressupostos basicos
o Teste de Apercepcao Ternatica - TAT - e uma
tecnica para a investiqacao da dina mica da
personalidade. 0 procedimento basico consis-
te em apresentar ao sujeito que esta em ava-
liacao um conjunto de imagens (laminas), in-
centivando-o a que relate historias, seguindo
o curso de sua inspiracao no momenta. Espe-
ra-se que a examinando utilize a sua reserva
de experiencia, elaborando narracoes. em que,
sem se dar conta, se identifica com os perso-
nagens da cena. Tais histories denunciarao da-
cos sabre a relacao do examinando com as fi-
guras de autoridade e outros tipos de vincu-
105, revelando tambern a funcionamento das
relacoes familiares, a natureza dos temores,
desejos, dificuldades, assim como a hierarquia
das necessidades e da estrutura das transacoes
entre id, ego e superego.
Para Murray, lembram Franca e Silva e cole-
gas (1984), a valor do TAT esta no seu poder
de evocar fantasias suscetiveis de traduzir ten-
dencias inconscientes inibidas. Em funcao dis-
so, a conceito fundamental, para a com preen-
sao e interpretacao do conteudo das histories
das laminas, eo da projecao.
Aqui, cabe lembrar que a termo projecao
foi introduzido par Freud (1986a), em 1894,
no seu artigo Neuroses de enqustie, em que, a
partir da observacao de alguns casas patoloqi-
cos, compreendeu que a psique desenvolve
uma neurose de anqustia, quando nao se sen-
te em ccndicoes de realizar a tarefa de centro-
lar a excitacao sexual que surge endogenamen-
te, comportando-se como se a tivesse projeta-
do no mundo exterior.
Posteriormente, em 1896, analisando um
caso de paranoia grave, no artigo Observecoes
adicionais sobre as neuropsicoses de defesa,
Freud (1986b) melhorou e ampliou a conceito
de projecao, postulando que este processo
consiste em atribuir 05 proprios impulsos e afe-
tos a outras pessoas ou ao mundo exterior,
como um mecanisme de defesa, que possibili-
ta ignorar os proprios fen6menos indesejaveis,
Ainda, analisando 0 caso Schroeber, Freud
(1969) passou a considerar que a projecaoe 0
mecanismo de defesa do paranoico. explican-
do que, para sujeitos com este tipo de patolo-
gia, e mais facil enfrentar um perigo externo
do que um interno. Para isso, esses individuos
utilizam tres operacoes: primeiro, reprimem 0
sentimento de amor, para depois converter 0
amor em seu contra rio (odio) e, final mente, atri-
buir esseodio ao objeto amoroso original. Nessa
defesa do paranoico, 50 nesta ultima operacao e
que se processa 0mecanisme projetivo.
Por ultimo, em 1913, no artigo Totem e
tabu, Freud (1974) generalizou mais 0 concei-
PSICODIAGNOSTICO - V 409
5/6/2018 (Cap. 26) TAT Conforme o Modelo de Bellak - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/cap-26-tat-conforme-o-modelo-de-bellak 2/7
to de projecao. Neste, Freud salientou que, nos
povos primitivos, as almas dos que morrem sao
transformadas em dem6nios, e, para se prote-
gerem da hostilidade dos mesmos, os sobrevi-
ventes recorrem a tabus, ou seja, concebem os
dem6nios como projecoes dos sentimentos
hostis que os sobreviventes abrigam em rela-
~ao aos mortos. "Este procedimento comum,
tanto na vida mental normal quanto na pate-
loqica, e conhecido com 0 nome de projecao"
(p.82).
A projecao. pois, desempenha "urn papel
muito grande na deterrninacao da forma que
toma nosso mundo exterior" (p.86). Portanto,
quando se projeta alguma coisa na realidade
externa, 0 que sucede e 0 reconhecimento de
um estado em que algo esta presente nos sen-
tides e na consciencia, junto a outre estado,
em que a mesma coisa esta latente, podendo
reaparecer. Em outras palavras, Freud afirmou
a coexistencia "da percepcao e da memoria ou,
em termos mais gerais, a existencia de proces-
50S mentais inconscientes ao lado dos cons-
cientes" (p.117).
Dessa maneira, a principal suposicao de
Freud e que as lernbrancas conscientes ou in-
conscientes influenciam na percepcao de est l-
mulos conternporaneos. Assim, a interpretacao
do TAT, segundo Bellak (1967b, 1979), baseia-
se justamente neste fundamento. Exemplifican-
do, esse autor comenta que a percepcao pas-
sada que um individuo tem de seus proprios
pais influira na percepcao das figuras paren-
tais no TAT, sendo isso uma prova valida e con-
fiavel das percepcoes habituais das figuras pa-
ternas do sujeito.
Entretanto, Bellak (1967b, 1979) considera
que 0 termo percepcao esta vinculado a umsistema da psicologia, que nao tem relacao com
o conceito de personalidade da psicologia di-
namica. Em funcao disso, prefere adotar a no-
~ao de apercepcao de Herbart (ja utilizada por
Murray), entendida como 0 processo pelo qual
uma experiencia e assimilada e transformada
pelo residue da experiencia passada, ou seja, e
a interpretacao subjetiva da percepcao, que e
apenas a interpretacao objetiva de um estirnulo.
Esta definicao de apercepcao sugere, segun-
do Franca e Silva e colegas (1984), que pode
410 JUREMA ALCIDES CUNHA
haver um processo hipotetico de apercepcao
nao interpretado (percepcao objetiva), e que
toda interpretacao subjetiva constitui uma
apercepcao, dinamicamente significante, sen-
do tambern um processo natural e comum a
todos os individuos. Desse modo, a resposta
"urn menino tocando violino" para a lamina 1
do TAT constitui uma norma de percepcao (ob-
jetiva) comum para a maioria das pessoas. En-
tretanto, a interpretacao dessa situacao como
"um menino feliz, triste, agressivo, timido ou
ambicioso" e singular para cada individuo.
Desta maneira, embora haja uma percepcao,
toda pessoa "deforma" aperceptivamente, de
acordo com seus conteudos internos, diferin-
do de uma para as outras, apenas em grau.
Bellak (1967b, 1979) distingue cinco formas
de apercepcao: a) projecao invertida; b) proje-
~ao simples; c) sensibilizacao: d) percepcao
autista; e) externalizacao.
A projecao invertida e, na realidade, 0 meca-
nismo de defesa descrito por Freud na para-
noia, podendo ser observada como uma pas-
sagem do inconsciente "eu 0 amo" para a cons-
ciencia de "eu 0 odeio". A projecao aqui en-
volve quatro passos:
"1) eu 0 amo (um objeto homossexual):
impulso do id inaceitavel pelo ego;
2) eu 0 odeio: formacao reativa;
3) a aqressao e tarnbem inaceitavel e repri-
mida;
4) final mente, ele me odeia: projecao sim-
ples" (Bellak, 1967b, p.28; 1979, p.21-22).
Como se pode observar, a projecao inverti-
da representa 0 grau maximo de distorcao aper-
ceptiva em oposicao a projecao simples, que e
uma pequena distorcao ou transferencia, pela
aprendizagem ou pela influencia de imagensprevias. Por exemplo, uma pessoa chega tarde
ao trabalho e passa a inferir incorretamente
que seu chefe 0 olha com raiva. 1550 represen-
ta, certamente, uma consciencia de culpa, ca-
racterizando, na concepcao de Bellak (1979),
uma projecao simples, dentro do contexto si-
tuacional on de foi operacionalizada.
Ja a sensibilizacao nao e a construcao de
um percepto objetivamente inexistente: e uma
percepcao mais sensivel de estimulos existen-
tes. A sensibilizacao, entao, significa que 0
5/6/2018 (Cap. 26) TAT Conforme o Modelo de Bellak - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/cap-26-tat-conforme-o-modelo-de-bellak 3/7
objeto que se "ajusta a um padrao preestabe-
lecido se percebe mais facilmente do que aque-
Ie que nao se ajusta". Um exemplo comum dis-
so pode ser observado nos problemas percep-
tuais da leitura, em que as palavras previa men-
te aprendidas se percebem com maior facili-
dade pel a sua confiquracao que pela sua orto-
grafia (Bellak, 1967b, p.29).
A percepcao autista acontece quando a
personalidade esta sob tensao au em estado
de grande necessidade. Um individuo, par
exemplo, com muita fame, passa a perceber
objetos comestfveis frente a estfmulos que
objetivamente nao representam comida. Des-
ta maneira, alcanc;:a, par meio da distorcao gra-
tificante, satisfazer seus impulsos basicos.
Par ultimo, Bellak (1979) descreve a exter-
nalizacao como uma apercepcao que, diferen-
temente dos anteriores, nao e um processo
inconsciente, e sim pre-consciente. Na lamina
Sdo TAT, uma pessoa pode contar que "se tra-
ta de uma mae que olha para dentro do quar-
to de seu filho para se certificar de que a mes-
mo terminou sua tarefa, passando a xinqa-lo
par estar demorando muito". Apes uma pe-
quena pausa, a sujeito verbaliza "era isso a que
acontecia seguidamente entre minha mae e
eu". Sem duvida, a conteudo nao era conscien-
te, enquanto essa pessoa contava a historia,
mas, em um determinado momenta, facilmen-
te se tornou consciente, passando a reconhe-
cer a episodic como parte de sua propria his-
toria pessoal (p.2S).
Anzieu (1981) sintetiza com muita clareza
como Bellak entendia a psicanalise. Ele a con-
siderava como uma teoria da aprendizagem,
relacionada com a historia de vida do sujeito:
"aquisicao da apercepcao dos estfmulos orais,
anais e genitais e das reacoes das figuras pa-
rentais a estes; interacao das apercepcoes (atos
falhos, formacao de sintomas e de traces de
carater): influencia das primeiras apercepcoes
sabre a apercepcao de estfmulos ulteriores
(mecanismos de defesa)" (p.266). A personali-
dade e vista, entao, como um sistema cornple-
xo de apercepcoes de natureza diversa, influ-
enciando a comportamento de maneira seleti-
va. Assim, existem percepcoes que levam em
conta as dificuldades da realidade (ego), ou-
tras sao ligadas a ideais de longo curso (ideal
de ego), e outras governam a conduta moral
(superego).
Sem duvida, os pressupostos basicos que
sustentam 0TAT sao de cunho psicanalitico, e
a interpretacao e a analise, propostas por Be-
lIak, fundamentam-se na teoria estrutural freu-
diana (id, ego, superego), em que 0 conceito
de determinismo psiquico tem um lugar de des-
taque. Desta maneira, como lembra Dewald
(1981), todos as fenomenos da vida e do com-
portamento sao determinados seletivamente
pel a "interacao simultanea de todas as forc;:as
e experiencias. passadas e presentes, do indi-
viduo, sejam elas conscientes, pre-conscientes
au inconscientes" (p.60-61).
ADMINISTRA<;Ao DO TAT
Ao contrario de Murray, que propunha a ad-
ministracao de 20 laminas, Bellak (1979) opta
par um procedimento reduzido, administran-
do, numa unica sessao. a nurnero maximo de
12 laminas. Justifica esta sua escolha tanto no
sentido de economizar tempo, como por en-
tender que esse numero de laminas e suficien-
te para obter material dinarnico do paciente.Contudo, considera essencial administrar 9 la-
minas, que, segundo ele, investigam todas as
relac;:6es humanas basicas. Sao elas, para os
homens, 1,2, 3RH, 4, 6RH, 7RH, 11, 12H e 13HF,
e, para as mulheres, 1, 2, 3RH, 4, 6MF, 7MF,
9MF, 11 e 12HF. Bellak inclui a lamina 3RH
para as mulheres por ter comprovado, empi-
rica mente, que ela funciona tanto em sujei-
tos do sexo masculino como do feminino,
possibilitando histories mais ricas que sua
equivalente 3MF.
Alern da idade e do sexo do examinando,
existem outros fatores que podem ser criterios
para a escolha das laminas, como a suscetibili-
dade e/ou vulnerabilidade das mesmas para
mobilizar, com maior probabilidade, determi-
nadas situacoes, problemas e/ou aspectos di-
namicos (vide Quadro 26.1).
As nove laminas basicas, deve-se acrescen-
tar, segundo Bellak, a maximo de tres lami-
nas espedficas (aquelas que sejam necessa-
PSICODIAGNOSTICO - V 411
5/6/2018 (Cap. 26) TAT Conforme o Modelo de Bellak - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/cap-26-tat-conforme-o-modelo-de-bellak 4/7
QUADRO 26.1 Laminas segundo 0aspecto mobilizador
- -
Aspecto mobilizador Laminas universais Laminas femininas
Id 4,10,11,15
Laminas masculinas
8VH, 18VH, 13HF 9MF, 12F, 13HF, 17MF,
18MF
Superego 5,15,30 3MF, 6MF, 7MF, 13HFRH, 7RH, 9RH, 13HF
Ideal de ego 1,2,16
6MF, 7MF, 12F
8RH,17RH 8MF,9MF
Depressao e suiddio 10,14,15,20
Perigo, medo 6,11,19
3MF, 6MF, 8MF, 9MF, 12F,
13HF
Relacoes familiares 5,10
Sexualidade 2,4,5,10
3RH,6RH,8RH 3MF, 8MF, 17MF
8RH, 12H, 13HF, 18RH 9MF, 13HF, 17HF
6RH, 7RH, 13R, 8RH
9RH, 12H, 13HF, 17RH,
18RH
Trabalho, profissao 1,2
13HF,18MF
9RH
Aqressao 15 12H, 13HF, 18RH
Situacao mae-filha
Situacao pai-filho
7MF, 9MF, 12F, 18MF
7RH, 12H
Situacao pai-filha 10
6RHituacao mae-filho 10
Fonte: Murray, 1975, p.20 (adaptado).
rias) para atender a situacao particular da
pessoa que esta sendo avaliada, de acordo
com os dados obtidos na hist6ria clfnica. As-
sim, por exemplo, se um paciente do sexo
masculino apresenta medos homossexuais,
podem ser inclufdas as laminas 9RH, 17RH e
18RH.
As instrucoes utilizadas por Bellak para a
administracao do teste sao praticamente as
mesmas que as propostas por Murray (1975),
exceto no fato de que Bellak omite a informa-
c;aode ser esta "uma prova de irnaqinacao, uma
forma de inteliqencia" (p.23), por considerar
isto inapropriado no contexto clfnico. 0 que
deve ser enfatizado e que serao mostradas
algumas laminas, para cada uma das quais
deve ser elaborada uma hist6ria sobre 0 que
esta ocorrendo, enfatizando que aconteci-
mentos levaram a essa situacao e qual sera 0
desfecho.
A respeito do inquerito, Bellak (1979) pro-
poe que seja realizado depois de completar
todas as hist6rias, e nao ap6s cada hist6ria,
por considerar que 0 material pre-consciente
se faria consciente, interferindo no resto dasrespostas ao teste.
41 2 JUREMA ALclDES CUNHA
INTERPRETAc;Ao E ANALISE DAS LAMINAS
DO TAT
Para Bellak (1967a, 1979), 0 TAT e um teste
projetivo que tem a capacidade de despertar 0
conteudo e a dina mica das relacoes interpes-
soais e os padroes psicodinarnicos de funcio-
namento. Em funcao disso, propoe um meto-
do interpretativo, constitufdo por dez catego-
rias de classificacao, que se relacionam, em
primeiro lugar, com estas dirnensoes e, s6 se-
cundariamente, com as caracterfsticas formais.
As dez categorias sao: 1) tema principal; 2)
her6i principal; 3) necessidades e impulsos do
her6i; 4) conceito do meio ambiente; 5) atitu-
des frente as figuras de vinculacao: 6) confli-
tos significativos; 7) natureza das ansiedades;
8) principais defesas; 9) adequacao do supere-
go; 10) inteqracao do ego.
Utilizaremos a hist6ria produzida para a la-
mina 12H, por um indivfduo do sexo masculi-
no, de 28 anos, como exemplo didatico, para
interpretar as categorias recern-rnencionadas.
L. 12H
"Bem! Parece duas pessoas, uma mulher e
um homem mais idoso. Joao e tio de Clara que
5/6/2018 (Cap. 26) TAT Conforme o Modelo de Bellak - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/cap-26-tat-conforme-o-modelo-de-bellak 5/7
T vem visitar Joao, que mora noutra cidade. Ela
tem um mal-estar e fica doente, nao e bem 0
termo, e mal-estar, e Joao esta cuidando dela
com certa preocupacao, embora seja algo pas-
sageiro. Clara esta dormindo, esta observan-
do. Vou dar um titulo: Tio Joao."
lnquerito:
- 0 que Clara fazia na casa de Joao?
- "Ela viajou e a casa de Joao era passagem
e ela tinha um certo relacionamento, nao ago-
ra, mas maior no tempo de infancia Foi rever
o tio."
- Em que pensam?
- "Clara esta dormindo, nao pensa. Joao
pensa na sobrinha que esta ali, como era pe-
quena, 0quanta cresceu (25 anos), pensa sobre
ela e sobre ele. Acha que tambern ficou velho,
50 anos. Pensa que ja teve aquela idade e 0
quanto 0 tempo passa."
- Como foi esta viagem?
- "Era para uma cidade maior, Curitiba. De
Passo Fundo foi para outra cidade e passou por
Blumenau para visitar a cidade e talvez partici-
par de algum congresso."
- Como termina?
- "Ela se recuperando e indo para Curitiba
e voltando depois para sua cidade e Joao tam-
bern. Voltando a sua rotina de vida."
o tema principal refere-se ao nucleo princi-
pal da historia. ou seja, e 0 tema basico do
enredo. Para interpreta-lo, Bellak recomenda
desmernbra-lo em quatro niveis: descritivo, in-
terpretativo, diaqnostico e sirnbolico. No nivel
descritivo, a proposta e resumir a historia rela-
tada pelo examinando numa forma mais sim-
ples. No nivel interpretativo, deve-se akancar
o significado oculto do resumo obtido no nivel
descritivo, ao passo que, no nivel diaqnostico,se procura transformar as impressocs do nivel
interpretativo numa f orrnulacao definitiva,
para, no nivel simbolico, interpretar os simbo-
los que possam existir na historia, de acordo
com as hipoteses psicanaifticas.
Deste modo, no exemplo da lamina 12H,
temos:
Nivel descritivo: Clara visita seu tio Joao,
passa mal, fica doente, dorme, nao pensa, mas
continua observando. Recupera-se e continua
sua rotina de vida.
Nivel interpretativo: Para evitar pensar, e
melhor ficar doente e/ou dormir, mas isto pode
nao ser suficiente, entao, tem que ficar atenta,
observando.
Nivel diagn6stico: Dificuldades com a se-
xualidade.
Nivel simb6lico: Dormir representando 0
controle dos desejos instintivos. Mulherversus
doenca, imagem feminina desvalorizada.
o her6i principal da historia e aquele per-
sonagem do qual se fala mais e, geralmente, e
com quem 0 examinando se identifica. E irn-
portante avaliar a auto-imagem e a adequa-
c,;aodo mesmo, 0 que certamente deixara em
evidencia as qualidades que 0 examinando
possui ou deseja possuir.
A adequacao do heroi sera observada atra-
ves da habilidade do personagem para realizar
tarefas em circunstancias de dificuldades ex-
ternas e/ou internas, de maneira que resultem
aceitaveis social, moral, intelectual e emocio-
nalmente. Por sua vez, a auto-imagem relacio-
na-se com 0 conceito de si mesmo e com 0
papel social representado.
o heroi principal do nosso exemplo e vista
como uma mulher (num personagem que e do
sexo masculino) doente ou que passa mal
(auto-imagem). Apresenta dificuldades para
enfrentar a situacao de se encontrar com seu
tio, precisando dormir (acao passiva) para evi-
tar (negar) a consurnacao do desejo de cunho
sexual incestuoso.
Identificando a acao do heroi principal,
podem-se detectar as suas necessidades, que,
do ponto de vista de Portuondo (1970a), se
expressam, subjetivamente, como impulsos,
desejos au intencoes e, objetivamente, como
traces de conduta. Uma vez identificadas asnecessidades, procura-se inferir 0 seu signifi-
cado dinarnico. As necessidades e as impulsos
do her6i podem ser categorizados seguindo 0
esquema apresentado no Quadro 26.2.
As necessidades da conduta da mulher, com
que 0 examinando se identifica, parecem ser a
de esconder os desejos sexuais, tanto no sentido
da sua identidade quanto na vinculacao com 0
outro personagem, podendo-se pressupor a pre-
senca de sentimentos de culpa. As circunstan-
cias introduzidas sao 0 estar doente e a viagem.
PSICODIAGNOSTICO - V 413
5/6/2018 (Cap. 26) TAT Conforme o Modelo de Bellak - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/cap-26-tat-conforme-o-modelo-de-bellak 6/7
rQUADRO 26.2 Principais necessidades e impulsos
do her6i
a) Necessidades da conduta do her6i (tal como
aparecem na hist6ria): _
inferencia dinarnica: _
b) Personagens, objetos ou circunstancias introduzidas:
pressupondo a necessidade de: _
c) Personagens, objetos ou circunstancias omitidos:
pressupondo necessidade de: _
Fonte: Bellak. 1979. p.SS.
A doenca pode estar pressupondo a neces-
sidade de se afastar da ideia de ser mulher,
porque isto representaria um "mal-estar", e a
viagem representaria a necessidade de voltar
para a realidade.
Quando 0 examinando inclui na historia
determinado personagem, objeto ou circuns-
tancia, que nao esta presente na lamina, ou
exclui 0 que e evidente, no estimulo, e porque
setrata de elementos que representam deter-minadas necessidades,merecendo, entao, uma
atencao especialparacompreender 0papel que
desempenham dinamicamente.
A concepceo do meio, ou seja, do mundo,
e, segundo Bellak, uma mistura deautopercep-
cao inconsciente e da apercepcao dos estimu-
los provocada pelas imagens do passado.
Quanto mais consistente aparece nas histories
a imagem do meio ambiente, mais poderemos
considera-la como parte integrante da perso-nalidade do sujeito. Dessamaneira, podem-se
encontrar referencias de meios protetores,
arneacadores, hostis, amistosos, rejeitadores,
acolhedores, exploradores, etc.
Meio. Aparentemente, acolhedor, protetor,
embora 0 heroi mantenha uma atitude de vi-
gilancia frente a situacao.
E importante fazer, tarnbern, uma analise
de como 0 heroi ve as figuras dos pais ou ou-
tras figuras de autoridade, bem como as da
suamesma faixa etaria, as mais jovens e as hi-
414 JUREMA ALCIDES CUNHA
erarquicamente abaixo dele. Domesmo modo,
e importante examinar qual e a reacao dele a
tais figuras, para poder compreender 0 tipo de
relacoes e vinculos estabelecidos e os fatores
dinarnicos basicosdas mesmas.
Atitudes frente as figuras de autoridade: Tio
visto como uma figura que relembra relacio-
namentos anteriores, sendo a reacao de pre-
caucao, observacao e controle.
o id, 0 ego e 0 superego sao forcas ou es-
truturas psfquicas que estao, ao mesmo tem-
po, na psique do individuo. Quando essasfor-
castern objetivos contraditorios, surgem situa-
coesde conflito psfquico. Nashistorias das la-
minas do TAT,e importante identificar quais as
tendencias impulsivas ou forcas que estao em
conflito, assim como e importante, tarnbern.
especificar a conduta resultante disso.
o conflito significativo do heroi da lamina
12H pareceestar relacionado com um choque
de forces provenientes do id versus as do su-
perego, tanto no que se refere a identidade do
proprio heroi principal quanto a manifestacao
de sentimentos de culpa pela proibicao do in-
cesto. Caberessaltarque 0heroi principal nes-
sahistoria, como ja foi mencionado, e do sexo
feminino, e que 0 narrador da historia e um
jovem de 28 anos. Nestecaso, a identificacaocom um heroi feminino precisaria, ainda, ser
comparada com os herois de outras histories,
para levantar e/ou confirmar a hipotese de um
problema de identidade sexual. Entretanto,
essa identificacao feminina tao convincente,
num estimulo onde aparece claramente a fi-
gura de personagens do sexomasculino, pare-
ce indicar algo significativo.
Identificadas asforcas que estao em confli-
to, deve-se determinar a natureza des ansie-
dades. Sabemosque a ansiedade pode proce-
der devariesfontes do aparelho mental. Deste
modo, como lembra Dewald (1981), a ansie-
dade instintiva e "0 resultado de uma expecta-
tiva de invasao do organismo por excessode
tensoes e estimulos oriundos de seusproprios
impulsos e relaciona-se com as primeiras ex-
periencias infantis de acurnulo de tensao com
aussncia deqratificacao" (p.41). Poroutro lado,
a ansiedade do ego surge da percepcao de
"uma situacao perigosa incorporada, que uma
5/6/2018 (Cap. 26) TAT Conforme o Modelo de Bellak - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/cap-26-tat-conforme-o-modelo-de-bellak 7/7
T\
r
rII~i
I!
)
vez foi sentida como externa, correspondente
a varias fantasias e distorcoes do pensamento
do processo prirnario. na infancia" (pA1). Em
contrapartida, a ansiedade do superego surge
da introjecao de arneacas de punicao ou perda
de amor, sustentadas nas normas morais, ex-
perienciadas pelo individuo como sentimento
de culpa.
Analisados 0 conflito psiquico e a natureza
das ansiedades, cabe identificar osmecanismos
de defesa. Estes sao operacoes efetuadas pelo
ego perante os perigos que procedem do id,
do superego e da realidade externa. Manifes-
tam-se, segundo Kusnetzoff (1982), como con-
dutas, porque "derivam de um processo de
abstracao e qeneralizacao das condutas defen-
sivas, que exprimem a ideia de um sujeito numa
situacao determinada" (p.206). Assim, cadasujeito seleciona, inconscientemente, um de-
terminado nurnero de estruturas defensivas,
que utiliza para lidar contra os perigos inter-
nos e externos em quase todos os contextos
dos quais faz parte, constituindo-se no seu es-
tilo caracteristico de agir.
Existem varias maneiras de estudar os dife-
rentes mecanismos de defesa. Bellak (1974)
ap6ia-se na classificacao de Anna Freud (1974),
que ordena os mecanismos conforme os peri-
gos, sejam internos ou externos.
o grau de severidade do superego deve ser
avaliado, analisando a relacao existente entre
o tipo de castigo e a magnitude da of en sa.
Deste modo, poder-se-a determinar se 0supe-
rego do her6i principal e severo, rigido ou in-
dulgente.
o desenlace da hist6ria possibilita compre-
ender a forc;:a do ego. Dependendo de como 0
her6i lida com os problemas, que enfrenta nas
laminas, e de acordo como maneja os impul-
50S do id, as exiqencias da realidade e as or-
dens do superego, poder-se-a compreender a
integrac;:aoau nao do ego.
A ansiedade que pode ser identificada, no
exemplo da lamina 12H, resulta do superego:
desaprovacao social. 0superego demonstra ser
severo, sendo, ate certo ponto, eficaz na sua
funcao de controlar as fantasias sexuais, suge-
rindo que assumir uma identificacao feminina
e algo "doentio", Por sua vez, 0 ego parece ser
fraqil para enfrentar a realidade do estimulo,
precisando de artiffcios at raves dos mecanis-
mos de defesa para conseguir mediar os im-
pulsos do id e do superego. Dessa maneira,
nega as implicacoes sexuais da relacao, procu-
rando projetar no tio seus pr6prios impulsos.
Parece capaz de atender as exiqencias da reali-
dade, "voltando a sua rotina de vida". A dina-
mica nao pode ser completamente inteligivel,pois, no inquerito, 0 psic61ogo deixou de exa-
minar como 0 sujeito imagina 0 que acontece-
ra imediatamente, para perguntar sobre 0pas-
sado ("Como foi esta viagem?") e sobre 0 fu-
turo ("Como termina?").
Uma vez analisada cada uma das hist6rias,
de acordo com as dez categorias, Bellak (1967a,
1979) propoe realizar um pequeno resumo dos
principais dados. Essesresumos facilitarao para
o clinico a visualizacao dos padr6es repetitivos
nas respostas do sujeito, como a orqanizacao
do informe final, onde deverao constar dados
sobre a estrutura inconsciente e necessidades
do sujeito, concepcao do meio e relacao com
as figuras significativas, assim como informa-
coes sobre as caracteristicas da personalidade.
Bellak deixa claro que, no seu entender, 0
TAT e um instrumento que auxilia muito 0
estabelecimento do diagn6stic6 dinarnico e
estrutural do examinando, mas nao e uma
prova que proprcie uma classificacao noso-
16gica.
PSICODIAGNOSTICO - V 41 5