(cap. 26) tat conforme o modelo de bellak

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Blanca Guevara Werlang

TAT,conforme 0modelo de Bellak

Pressupostos basicos

o Teste de Apercepcao Ternatica - TAT - e uma

tecnica para a investiqacao da dina mica da

personalidade. 0 procedimento basico consis-

te em apresentar ao sujeito que esta em ava-

liacao um conjunto de imagens (laminas), in-

centivando-o a que relate historias, seguindo

o curso de sua inspiracao no momenta. Espe-

ra-se que a examinando utilize a sua reserva

de experiencia, elaborando narracoes. em que,

sem se dar conta, se identifica com os perso-

nagens da cena. Tais histories denunciarao da-

cos sabre a relacao do examinando com as fi-

guras de autoridade e outros tipos de vincu-

105, revelando tambern a funcionamento das

relacoes familiares, a natureza dos temores,

desejos, dificuldades, assim como a hierarquia

das necessidades e da estrutura das transacoes

entre id, ego e superego.

Para Murray, lembram Franca e Silva e cole-

gas (1984), a valor do TAT esta no seu poder

de evocar fantasias suscetiveis de traduzir ten-

dencias inconscientes inibidas. Em funcao dis-

so, a conceito fundamental, para a com preen-

sao e interpretacao do conteudo das histories

das laminas, eo da projecao.

Aqui, cabe lembrar que a termo projecao

foi introduzido par Freud (1986a), em 1894,

no seu artigo Neuroses de enqustie, em que, a

partir da observacao de alguns casas patoloqi-

cos, compreendeu que a psique desenvolve

uma neurose de anqustia, quando nao se sen-

te em ccndicoes de realizar a tarefa de centro-

lar a excitacao sexual que surge endogenamen-

te, comportando-se como se a tivesse projeta-

do no mundo exterior.

Posteriormente, em 1896, analisando um

caso de paranoia grave, no artigo Observecoes

adicionais sobre as neuropsicoses de defesa,

Freud (1986b) melhorou e ampliou a conceito

de projecao, postulando que este processo

consiste em atribuir 05 proprios impulsos e afe-

tos a outras pessoas ou ao mundo exterior,

como um mecanisme de defesa, que possibili-

ta ignorar os proprios fen6menos indesejaveis,

Ainda, analisando 0 caso Schroeber, Freud

(1969) passou a considerar que a projecaoe 0

mecanismo de defesa do paranoico. explican-

do que, para sujeitos com este tipo de patolo-

gia, e mais facil enfrentar um perigo externo

do que um interno. Para isso, esses individuos

utilizam tres operacoes: primeiro, reprimem 0

sentimento de amor, para depois converter 0

amor em seu contra rio (odio) e, final mente, atri-

buir esseodio ao objeto amoroso original. Nessa

defesa do paranoico, 50 nesta ultima operacao e

que se processa 0mecanisme projetivo.

Por ultimo, em 1913, no artigo Totem e

tabu, Freud (1974) generalizou mais 0 concei-

PSICODIAGNOSTICO - V 409

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to de projecao. Neste, Freud salientou que, nos

povos primitivos, as almas dos que morrem sao

transformadas em dem6nios, e, para se prote-

gerem da hostilidade dos mesmos, os sobrevi-

ventes recorrem a tabus, ou seja, concebem os

dem6nios como projecoes dos sentimentos

hostis que os sobreviventes abrigam em rela-

~ao aos mortos. "Este procedimento comum,

tanto na vida mental normal quanto na pate-

loqica, e conhecido com 0 nome de projecao"

(p.82).

A projecao. pois, desempenha "urn papel

muito grande na deterrninacao da forma que

toma nosso mundo exterior" (p.86). Portanto,

quando se projeta alguma coisa na realidade

externa, 0 que sucede e 0 reconhecimento de

um estado em que algo esta presente nos sen-

tides e na consciencia, junto a outre estado,

em que a mesma coisa esta latente, podendo

reaparecer. Em outras palavras, Freud afirmou

a coexistencia "da percepcao e da memoria ou,

em termos mais gerais, a existencia de proces-

50S mentais inconscientes ao lado dos cons-

cientes" (p.117).

Dessa maneira, a principal suposicao de

Freud e que as lernbrancas conscientes ou in-

conscientes influenciam na percepcao de est l-

mulos conternporaneos. Assim, a interpretacao

do TAT, segundo Bellak (1967b, 1979), baseia-

se justamente neste fundamento. Exemplifican-

do, esse autor comenta que a percepcao pas-

sada que um individuo tem de seus proprios

pais influira na percepcao das figuras paren-

tais no TAT, sendo isso uma prova valida e con-

fiavel das percepcoes habituais das figuras pa-

ternas do sujeito.

Entretanto, Bellak (1967b, 1979) considera

que 0 termo percepcao esta vinculado a umsistema da psicologia, que nao tem relacao com

o conceito de personalidade da psicologia di-

namica. Em funcao disso, prefere adotar a no-

~ao de apercepcao de Herbart (ja utilizada por

Murray), entendida como 0 processo pelo qual

uma experiencia e assimilada e transformada

pelo residue da experiencia passada, ou seja, e

a interpretacao subjetiva da percepcao, que e

apenas a interpretacao objetiva de um estirnulo.

Esta definicao de apercepcao sugere, segun-

do Franca e Silva e colegas (1984), que pode

410 JUREMA ALCIDES CUNHA

haver um processo hipotetico de apercepcao

nao interpretado (percepcao objetiva), e que

toda interpretacao subjetiva constitui uma

apercepcao, dinamicamente significante, sen-

do tambern um processo natural e comum a

todos os individuos. Desse modo, a resposta

"urn menino tocando violino" para a lamina 1

do TAT constitui uma norma de percepcao (ob-

jetiva) comum para a maioria das pessoas. En-

tretanto, a interpretacao dessa situacao como

"um menino feliz, triste, agressivo, timido ou

ambicioso" e singular para cada individuo.

Desta maneira, embora haja uma percepcao,

toda pessoa "deforma" aperceptivamente, de

acordo com seus conteudos internos, diferin-

do de uma para as outras, apenas em grau.

Bellak (1967b, 1979) distingue cinco formas

de apercepcao: a) projecao invertida; b) proje-

~ao simples; c) sensibilizacao: d) percepcao

autista; e) externalizacao.

A projecao invertida e, na realidade, 0 meca-

nismo de defesa descrito por Freud na para-

noia, podendo ser observada como uma pas-

sagem do inconsciente "eu 0 amo" para a cons-

ciencia de "eu 0 odeio". A projecao aqui en-

volve quatro passos:

"1) eu 0 amo (um objeto homossexual):

impulso do id inaceitavel pelo ego;

2) eu 0 odeio: formacao reativa;

3) a aqressao e tarnbem inaceitavel e repri-

mida;

4) final mente, ele me odeia: projecao sim-

ples" (Bellak, 1967b, p.28; 1979, p.21-22).

Como se pode observar, a projecao inverti-

da representa 0 grau maximo de distorcao aper-

ceptiva em oposicao a projecao simples, que e

uma pequena distorcao ou transferencia, pela

aprendizagem ou pela influencia de imagensprevias. Por exemplo, uma pessoa chega tarde

ao trabalho e passa a inferir incorretamente

que seu chefe 0 olha com raiva. 1550 represen-

ta, certamente, uma consciencia de culpa, ca-

racterizando, na concepcao de Bellak (1979),

uma projecao simples, dentro do contexto si-

tuacional on de foi operacionalizada.

Ja a sensibilizacao nao e a construcao de

um percepto objetivamente inexistente: e uma

percepcao mais sensivel de estimulos existen-

tes. A sensibilizacao, entao, significa que 0

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objeto que se "ajusta a um padrao preestabe-

lecido se percebe mais facilmente do que aque-

Ie que nao se ajusta". Um exemplo comum dis-

so pode ser observado nos problemas percep-

tuais da leitura, em que as palavras previa men-

te aprendidas se percebem com maior facili-

dade pel a sua confiquracao que pela sua orto-

grafia (Bellak, 1967b, p.29).

A percepcao autista acontece quando a

personalidade esta sob tensao au em estado

de grande necessidade. Um individuo, par

exemplo, com muita fame, passa a perceber

objetos comestfveis frente a estfmulos que

objetivamente nao representam comida. Des-

ta maneira, alcanc;:a, par meio da distorcao gra-

tificante, satisfazer seus impulsos basicos.

Par ultimo, Bellak (1979) descreve a exter-

nalizacao como uma apercepcao que, diferen-

temente dos anteriores, nao e um processo

inconsciente, e sim pre-consciente. Na lamina

Sdo TAT, uma pessoa pode contar que "se tra-

ta de uma mae que olha para dentro do quar-

to de seu filho para se certificar de que a mes-

mo terminou sua tarefa, passando a xinqa-lo

par estar demorando muito". Apes uma pe-

quena pausa, a sujeito verbaliza "era isso a que

acontecia seguidamente entre minha mae e

eu". Sem duvida, a conteudo nao era conscien-

te, enquanto essa pessoa contava a historia,

mas, em um determinado momenta, facilmen-

te se tornou consciente, passando a reconhe-

cer a episodic como parte de sua propria his-

toria pessoal (p.2S).

Anzieu (1981) sintetiza com muita clareza

como Bellak entendia a psicanalise. Ele a con-

siderava como uma teoria da aprendizagem,

relacionada com a historia de vida do sujeito:

"aquisicao da apercepcao dos estfmulos orais,

anais e genitais e das reacoes das figuras pa-

rentais a estes; interacao das apercepcoes (atos

falhos, formacao de sintomas e de traces de

carater): influencia das primeiras apercepcoes

sabre a apercepcao de estfmulos ulteriores

(mecanismos de defesa)" (p.266). A personali-

dade e vista, entao, como um sistema cornple-

xo de apercepcoes de natureza diversa, influ-

enciando a comportamento de maneira seleti-

va. Assim, existem percepcoes que levam em

conta as dificuldades da realidade (ego), ou-

tras sao ligadas a ideais de longo curso (ideal

de ego), e outras governam a conduta moral

(superego).

Sem duvida, os pressupostos basicos que

sustentam 0TAT sao de cunho psicanalitico, e

a interpretacao e a analise, propostas por Be-

lIak, fundamentam-se na teoria estrutural freu-

diana (id, ego, superego), em que 0 conceito

de determinismo psiquico tem um lugar de des-

taque. Desta maneira, como lembra Dewald

(1981), todos as fenomenos da vida e do com-

portamento sao determinados seletivamente

pel a "interacao simultanea de todas as forc;:as

e experiencias. passadas e presentes, do indi-

viduo, sejam elas conscientes, pre-conscientes

au inconscientes" (p.60-61).

ADMINISTRA<;Ao DO TAT

Ao contrario de Murray, que propunha a ad-

ministracao de 20 laminas, Bellak (1979) opta

par um procedimento reduzido, administran-

do, numa unica sessao. a nurnero maximo de

12 laminas. Justifica esta sua escolha tanto no

sentido de economizar tempo, como por en-

tender que esse numero de laminas e suficien-

te para obter material dinarnico do paciente.Contudo, considera essencial administrar 9 la-

minas, que, segundo ele, investigam todas as

relac;:6es humanas basicas. Sao elas, para os

homens, 1,2, 3RH, 4, 6RH, 7RH, 11, 12H e 13HF,

e, para as mulheres, 1, 2, 3RH, 4, 6MF, 7MF,

9MF, 11 e 12HF. Bellak inclui a lamina 3RH

para as mulheres por ter comprovado, empi-

rica mente, que ela funciona tanto em sujei-

tos do sexo masculino como do feminino,

possibilitando histories mais ricas que sua

equivalente 3MF.

Alern da idade e do sexo do examinando,

existem outros fatores que podem ser criterios

para a escolha das laminas, como a suscetibili-

dade e/ou vulnerabilidade das mesmas para

mobilizar, com maior probabilidade, determi-

nadas situacoes, problemas e/ou aspectos di-

namicos (vide Quadro 26.1).

As nove laminas basicas, deve-se acrescen-

tar, segundo Bellak, a maximo de tres lami-

nas espedficas (aquelas que sejam necessa-

PSICODIAGNOSTICO - V 411

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QUADRO 26.1 Laminas segundo 0aspecto mobilizador

- -

Aspecto mobilizador Laminas universais Laminas femininas

Id 4,10,11,15

Laminas masculinas

8VH, 18VH, 13HF 9MF, 12F, 13HF, 17MF,

18MF

Superego 5,15,30 3MF, 6MF, 7MF, 13HFRH, 7RH, 9RH, 13HF

Ideal de ego 1,2,16

6MF, 7MF, 12F

8RH,17RH 8MF,9MF

Depressao e suiddio 10,14,15,20

Perigo, medo 6,11,19

3MF, 6MF, 8MF, 9MF, 12F,

13HF

Relacoes familiares 5,10

Sexualidade 2,4,5,10

3RH,6RH,8RH 3MF, 8MF, 17MF

8RH, 12H, 13HF, 18RH 9MF, 13HF, 17HF

6RH, 7RH, 13R, 8RH

9RH, 12H, 13HF, 17RH,

18RH

Trabalho, profissao 1,2

13HF,18MF

9RH

Aqressao 15 12H, 13HF, 18RH

Situacao mae-filha

Situacao pai-filho

7MF, 9MF, 12F, 18MF

7RH, 12H

Situacao pai-filha 10

6RHituacao mae-filho 10

Fonte: Murray, 1975, p.20 (adaptado).

rias) para atender a situacao particular da

pessoa que esta sendo avaliada, de acordo

com os dados obtidos na hist6ria clfnica. As-

sim, por exemplo, se um paciente do sexo

masculino apresenta medos homossexuais,

podem ser inclufdas as laminas 9RH, 17RH e

18RH.

As instrucoes utilizadas por Bellak para a

administracao do teste sao praticamente as

mesmas que as propostas por Murray (1975),

exceto no fato de que Bellak omite a informa-

c;aode ser esta "uma prova de irnaqinacao, uma

forma de inteliqencia" (p.23), por considerar

isto inapropriado no contexto clfnico. 0 que

deve ser enfatizado e que serao mostradas

algumas laminas, para cada uma das quais

deve ser elaborada uma hist6ria sobre 0 que

esta ocorrendo, enfatizando que aconteci-

mentos levaram a essa situacao e qual sera 0

desfecho.

A respeito do inquerito, Bellak (1979) pro-

poe que seja realizado depois de completar

todas as hist6rias, e nao ap6s cada hist6ria,

por considerar que 0 material pre-consciente

se faria consciente, interferindo no resto dasrespostas ao teste.

41 2 JUREMA ALclDES CUNHA

INTERPRETAc;Ao E ANALISE DAS LAMINAS

DO TAT

Para Bellak (1967a, 1979), 0 TAT e um teste

projetivo que tem a capacidade de despertar 0

conteudo e a dina mica das relacoes interpes-

soais e os padroes psicodinarnicos de funcio-

namento. Em funcao disso, propoe um meto-

do interpretativo, constitufdo por dez catego-

rias de classificacao, que se relacionam, em

primeiro lugar, com estas dirnensoes e, s6 se-

cundariamente, com as caracterfsticas formais.

As dez categorias sao: 1) tema principal; 2)

her6i principal; 3) necessidades e impulsos do

her6i; 4) conceito do meio ambiente; 5) atitu-

des frente as figuras de vinculacao: 6) confli-

tos significativos; 7) natureza das ansiedades;

8) principais defesas; 9) adequacao do supere-

go; 10) inteqracao do ego.

Utilizaremos a hist6ria produzida para a la-

mina 12H, por um indivfduo do sexo masculi-

no, de 28 anos, como exemplo didatico, para

interpretar as categorias recern-rnencionadas.

L. 12H

"Bem! Parece duas pessoas, uma mulher e

um homem mais idoso. Joao e tio de Clara que

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  T vem visitar Joao, que mora noutra cidade. Ela

tem um mal-estar e fica doente, nao e bem 0

termo, e mal-estar, e Joao esta cuidando dela

com certa preocupacao, embora seja algo pas-

sageiro. Clara esta dormindo, esta observan-

do. Vou dar um titulo: Tio Joao."

lnquerito:

- 0 que Clara fazia na casa de Joao?

- "Ela viajou e a casa de Joao era passagem

e ela tinha um certo relacionamento, nao ago-

ra, mas maior no tempo de infancia Foi rever

o tio."

- Em que pensam?

- "Clara esta dormindo, nao pensa. Joao

pensa na sobrinha que esta ali, como era pe-

quena, 0quanta cresceu (25 anos), pensa sobre

ela e sobre ele. Acha que tambern ficou velho,

50 anos. Pensa que ja teve aquela idade e 0

quanto 0 tempo passa."

- Como foi esta viagem?

- "Era para uma cidade maior, Curitiba. De

Passo Fundo foi para outra cidade e passou por

Blumenau para visitar a cidade e talvez partici-

par de algum congresso."

- Como termina?

- "Ela se recuperando e indo para Curitiba

e voltando depois para sua cidade e Joao tam-

bern. Voltando a sua rotina de vida."

o tema principal refere-se ao nucleo princi-

pal da historia. ou seja, e 0 tema basico do

enredo. Para interpreta-lo, Bellak recomenda

desmernbra-lo em quatro niveis: descritivo, in-

terpretativo, diaqnostico e sirnbolico. No nivel

descritivo, a proposta e resumir a historia rela-

tada pelo examinando numa forma mais sim-

ples. No nivel interpretativo, deve-se akancar

o significado oculto do resumo obtido no nivel

descritivo, ao passo que, no nivel diaqnostico,se procura transformar as impressocs do nivel

interpretativo numa f orrnulacao definitiva,

para, no nivel simbolico, interpretar os simbo-

los que possam existir na historia, de acordo

com as hipoteses psicanaifticas.

Deste modo, no exemplo da lamina 12H,

temos:

Nivel descritivo: Clara visita seu tio Joao,

passa mal, fica doente, dorme, nao pensa, mas

continua observando. Recupera-se e continua

sua rotina de vida.

Nivel interpretativo: Para evitar pensar, e

melhor ficar doente e/ou dormir, mas isto pode

nao ser suficiente, entao, tem que ficar atenta,

observando.

Nivel diagn6stico: Dificuldades com a se-

xualidade.

Nivel simb6lico: Dormir representando 0

controle dos desejos instintivos. Mulherversus

doenca, imagem feminina desvalorizada.

o her6i principal da historia e aquele per-

sonagem do qual se fala mais e, geralmente, e

com quem 0 examinando se identifica. E irn-

portante avaliar a auto-imagem e a adequa-

c,;aodo mesmo, 0 que certamente deixara em

evidencia as qualidades que 0 examinando

possui ou deseja possuir.

A adequacao do heroi sera observada atra-

ves da habilidade do personagem para realizar

tarefas em circunstancias de dificuldades ex-

ternas e/ou internas, de maneira que resultem

aceitaveis social, moral, intelectual e emocio-

nalmente. Por sua vez, a auto-imagem relacio-

na-se com 0 conceito de si mesmo e com 0

papel social representado.

o heroi principal do nosso exemplo e vista

como uma mulher (num personagem que e do

sexo masculino) doente ou que passa mal

(auto-imagem). Apresenta dificuldades para

enfrentar a situacao de se encontrar com seu

tio, precisando dormir (acao passiva) para evi-

tar (negar) a consurnacao do desejo de cunho

sexual incestuoso.

Identificando a acao do heroi principal,

podem-se detectar as suas necessidades, que,

do ponto de vista de Portuondo (1970a), se

expressam, subjetivamente, como impulsos,

desejos au intencoes e, objetivamente, como

traces de conduta. Uma vez identificadas asnecessidades, procura-se inferir 0 seu signifi-

cado dinarnico. As necessidades e as impulsos

do her6i podem ser categorizados seguindo 0

esquema apresentado no Quadro 26.2.

As necessidades da conduta da mulher, com

que 0 examinando se identifica, parecem ser a

de esconder os desejos sexuais, tanto no sentido

da sua identidade quanto na vinculacao com 0

outro personagem, podendo-se pressupor a pre-

senca de sentimentos de culpa. As circunstan-

cias introduzidas sao 0 estar doente e a viagem.

PSICODIAGNOSTICO - V 413

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  rQUADRO 26.2 Principais necessidades e impulsos

do her6i

a) Necessidades da conduta do her6i (tal como

aparecem na hist6ria): _

inferencia dinarnica: _

b) Personagens, objetos ou circunstancias introduzidas:

pressupondo a necessidade de: _

c) Personagens, objetos ou circunstancias omitidos:

pressupondo necessidade de: _

Fonte: Bellak. 1979. p.SS.

A doenca pode estar pressupondo a neces-

sidade de se afastar da ideia de ser mulher,

porque isto representaria um "mal-estar", e a

viagem representaria a necessidade de voltar

para a realidade.

Quando 0 examinando inclui na historia

determinado personagem, objeto ou circuns-

tancia, que nao esta presente na lamina, ou

exclui 0 que e evidente, no estimulo, e porque

setrata de elementos que representam deter-minadas necessidades,merecendo, entao, uma

atencao especialparacompreender 0papel que

desempenham dinamicamente.

A concepceo do meio, ou seja, do mundo,

e, segundo Bellak, uma mistura deautopercep-

cao inconsciente e da apercepcao dos estimu-

los provocada pelas imagens do passado.

Quanto mais consistente aparece nas histories

a imagem do meio ambiente, mais poderemos

considera-la como parte integrante da perso-nalidade do sujeito. Dessamaneira, podem-se

encontrar referencias de meios protetores,

arneacadores, hostis, amistosos, rejeitadores,

acolhedores, exploradores, etc.

Meio. Aparentemente, acolhedor, protetor,

embora 0 heroi mantenha uma atitude de vi-

gilancia frente a situacao.

E importante fazer, tarnbern, uma analise

de como 0 heroi ve as figuras dos pais ou ou-

tras figuras de autoridade, bem como as da

suamesma faixa etaria, as mais jovens e as hi-

414 JUREMA ALCIDES CUNHA

erarquicamente abaixo dele. Domesmo modo,

e importante examinar qual e a reacao dele a

tais figuras, para poder compreender 0 tipo de

relacoes e vinculos estabelecidos e os fatores

dinarnicos basicosdas mesmas.

Atitudes frente as figuras de autoridade: Tio

visto como uma figura que relembra relacio-

namentos anteriores, sendo a reacao de pre-

caucao, observacao e controle.

o id, 0 ego e 0 superego sao forcas ou es-

truturas psfquicas que estao, ao mesmo tem-

po, na psique do individuo. Quando essasfor-

castern objetivos contraditorios, surgem situa-

coesde conflito psfquico. Nashistorias das la-

minas do TAT,e importante identificar quais as

tendencias impulsivas ou forcas que estao em

conflito, assim como e importante, tarnbern.

especificar a conduta resultante disso.

o conflito significativo do heroi da lamina

12H pareceestar relacionado com um choque

de forces provenientes do id versus as do su-

perego, tanto no que se refere a identidade do

proprio heroi principal quanto a manifestacao

de sentimentos de culpa pela proibicao do in-

cesto. Caberessaltarque 0heroi principal nes-

sahistoria, como ja foi mencionado, e do sexo

feminino, e que 0 narrador da historia e um

jovem de 28 anos. Nestecaso, a identificacaocom um heroi feminino precisaria, ainda, ser

comparada com os herois de outras histories,

para levantar e/ou confirmar a hipotese de um

problema de identidade sexual. Entretanto,

essa identificacao feminina tao convincente,

num estimulo onde aparece claramente a fi-

gura de personagens do sexomasculino, pare-

ce indicar algo significativo.

Identificadas asforcas que estao em confli-

to, deve-se determinar a natureza des ansie-

dades. Sabemosque a ansiedade pode proce-

der devariesfontes do aparelho mental. Deste

modo, como lembra Dewald (1981), a ansie-

dade instintiva e "0 resultado de uma expecta-

tiva de invasao do organismo por excessode

tensoes e estimulos oriundos de seusproprios

impulsos e relaciona-se com as primeiras ex-

periencias infantis de acurnulo de tensao com

aussncia deqratificacao" (p.41). Poroutro lado,

a ansiedade do ego surge da percepcao de

"uma situacao perigosa incorporada, que uma

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  T\

r

rII~i

I!

)

vez foi sentida como externa, correspondente

a varias fantasias e distorcoes do pensamento

do processo prirnario. na infancia" (pA1). Em

contrapartida, a ansiedade do superego surge

da introjecao de arneacas de punicao ou perda

de amor, sustentadas nas normas morais, ex-

perienciadas pelo individuo como sentimento

de culpa.

Analisados 0 conflito psiquico e a natureza

das ansiedades, cabe identificar osmecanismos

de defesa. Estes sao operacoes efetuadas pelo

ego perante os perigos que procedem do id,

do superego e da realidade externa. Manifes-

tam-se, segundo Kusnetzoff (1982), como con-

dutas, porque "derivam de um processo de

abstracao e qeneralizacao das condutas defen-

sivas, que exprimem a ideia de um sujeito numa

situacao determinada" (p.206). Assim, cadasujeito seleciona, inconscientemente, um de-

terminado nurnero de estruturas defensivas,

que utiliza para lidar contra os perigos inter-

nos e externos em quase todos os contextos

dos quais faz parte, constituindo-se no seu es-

tilo caracteristico de agir.

Existem varias maneiras de estudar os dife-

rentes mecanismos de defesa. Bellak (1974)

ap6ia-se na classificacao de Anna Freud (1974),

que ordena os mecanismos conforme os peri-

gos, sejam internos ou externos.

o grau de severidade do superego deve ser

avaliado, analisando a relacao existente entre

o tipo de castigo e a magnitude da of en sa.

Deste modo, poder-se-a determinar se 0supe-

rego do her6i principal e severo, rigido ou in-

dulgente.

o desenlace da hist6ria possibilita compre-

ender a forc;:a do ego. Dependendo de como 0

her6i lida com os problemas, que enfrenta nas

laminas, e de acordo como maneja os impul-

50S do id, as exiqencias da realidade e as or-

dens do superego, poder-se-a compreender a

integrac;:aoau nao do ego.

A ansiedade que pode ser identificada, no

exemplo da lamina 12H, resulta do superego:

desaprovacao social. 0superego demonstra ser

severo, sendo, ate certo ponto, eficaz na sua

funcao de controlar as fantasias sexuais, suge-

rindo que assumir uma identificacao feminina

e algo "doentio", Por sua vez, 0 ego parece ser

fraqil para enfrentar a realidade do estimulo,

precisando de artiffcios at raves dos mecanis-

mos de defesa para conseguir mediar os im-

pulsos do id e do superego. Dessa maneira,

nega as implicacoes sexuais da relacao, procu-

rando projetar no tio seus pr6prios impulsos.

Parece capaz de atender as exiqencias da reali-

dade, "voltando a sua rotina de vida". A dina-

mica nao pode ser completamente inteligivel,pois, no inquerito, 0 psic61ogo deixou de exa-

minar como 0 sujeito imagina 0 que acontece-

ra imediatamente, para perguntar sobre 0pas-

sado ("Como foi esta viagem?") e sobre 0 fu-

turo ("Como termina?").

Uma vez analisada cada uma das hist6rias,

de acordo com as dez categorias, Bellak (1967a,

1979) propoe realizar um pequeno resumo dos

principais dados. Essesresumos facilitarao para

o clinico a visualizacao dos padr6es repetitivos

nas respostas do sujeito, como a orqanizacao

do informe final, onde deverao constar dados

sobre a estrutura inconsciente e necessidades

do sujeito, concepcao do meio e relacao com

as figuras significativas, assim como informa-

coes sobre as caracteristicas da personalidade.

Bellak deixa claro que, no seu entender, 0

TAT e um instrumento que auxilia muito 0

estabelecimento do diagn6stic6 dinarnico e

estrutural do examinando, mas nao e uma

prova que proprcie uma classificacao noso-

16gica.

PSICODIAGNOSTICO - V 41 5