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Carlos Eduardo Siqueira Colégio Magno

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Carlos Eduardo Siqueira

Colégio Magno

Correntes que fundamentam o pensamento realista

� Auguste Comte (1798 – 1875): Positivismo – a sociedade deixa seuestado metafísico, teológico e passa a se orientar pela certeza racional ecientífica. O nome deriva de positum, o que está posto, o que seobserva;

� ”fé na ciência”;� perspectiva científica implica: sistema, método, rigor, classificação etc.

Correntes que fundamentam o pensamento realista

� Charles Darwin (1809-1882) – seleção natural – A origem das espécies(1859);

� ancestral comum – o homem X animal;� seleção natural: ideia de que o mais forte prevalece sobre o mais fraco;

prevalece aquele que tiver melhores condições de sobreviver em umdeterminado ambiente.

+� Herbert Spencer (1820-1903) – Evolucionismo (darwinismo social) –

evolução das espécies – contrária à concepção religiosa;� o homem é superior devido a alterações na evolução das espécies;� a sociedade é também um organismo vivo;� inicialmente o prazer era a regra determinadora única da eleição dos atos.

Depois o egoísmo se transformou em altruísmo como regra prática maisútil para todos serem bem servidos. Fundamentalmente a ética de Spenceré a do utilitarismo. A educação prepara o homem dentro do contexto daevolução;

Correntes que fundamentam o pensamento realista

� Hipólito Taine (1828-1893): tudo está condicionado a três elementos: raça, meio e momento – Determinismo;

� o determinismo é social, biológico e geográfico;� a obra de arte passa a ser vista como algo contingente, histórico,

psicológico, social;� determinismo X livre-arbítrio.

1. Realismo e Naturalismo: revolta contra o solipsismo romântico; espírito de precisão e objetividade científica; exatidão e minúcia na descrição; culto ao fato; rigor e economia de linguagem. O Naturalismo se caracteriza pelo apego ao aparato cientificista, por suas relações com a biologia e com o determinismo de herança e do ambiente.

2. Realismo� preferência pelos fatos e tendência a encarar as coisas tal como são e não

como deveriam ser;� imitação da vida real;� objetivismo; fotografia da realidade; literatura=documento; não ao

subjetivismo;� Madame Bovary (1857), Gustave Flaubert;� vida de homens e mulheres comuns, obscuros;� aversão ao maniqueísmo;� verossimilhança;� retrato fiel de personagens – contato com a psicologia;� encara-se a vida objetivamente;� retrato da vida contemporânea;� detalhes – sua reunião constrói um sentido;� narrativa lenta (minúcia);� impressões sensíveis – linguagem mais simples, natural.

3. Naturalismo� é o Realismo acrescido do cientificismo, de uma visão absolutamente

materialista do homem;� a arte deve empregar os métodos científicos de observação da natureza;� visão científica, social do homem: meio e herança genética;� romance experimental (romance de tese): propõe-se uma análise;� Émile Zola – O Romance Experimental (1880);� Determinismo: as deliberações morais são determinadas ou são o resultado

direto de condições psicológicas e outras de natureza física;� concepção de que o homem é uma máquina regida por leis físicas e químicas,

pelo meio em que vive e pela hereditariedade;� o objetivo do autor naturalista é empreender uma transformação na sociedade

– visa à melhoria de condições sociais.

“(...) Os homens e as mulheres sofrem uma mutilação que empobrece sua existência, mesmo que suas necessidades básicas sejam satisfeitas. Porque a sua vida real, a vida verdadeira, nunca foi nem será suficiente para satisfazer os desejos humanos. E porque sem essa insatisfação vital que as mentiras da literatura, por sua vez, incitam e aplacam, jamais existe um progresso autêntico. A fantasia, da qual somos e estamos dotados, é um dom demoníaco. Está continuamente abrindo um abismo entre o que somos e o que gostaríamos de ser, entre o que temos e o que desejamos.Mas a imaginação concebeu um paliativo astuto e sutil para esse divórcio inevitável entre a nossa realidade limitada e os nossos apetites desmedidos: a ficção”. (LLOSA, Mario Vargas. A verdade das mentiras, In: A verdade das mentiras. São Paulo: Arx, 2004).

- Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís (MA), em14 de abril de 1857;

- foi caricaturista, jornalista, escritor e diplomata;- publicou a primeira obra de caráter naturalista no Brasil: O mulato

(1881);- morreu em Buenos Aires, na Argentina, onde servia como vice-cônsul

do Brasil, em 21 de janeiro de 1913.

- Tendo como cenário uma habitação coletiva, o romance difunde asteses naturalistas, que explicam o comportamento dos personagenscom base na influência do meio, da raça e do momento histórico;

- rigor científico: influência das correntes cientificistas e do naturalismodo francês Émile Zola;

- alegoria do Brasil;- romance de tese: meio, raça e história determinam o homem e o levam

à degenerescência;- por meio do romance, o autor defende que a mistura de raças em um

mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e nacompleta degradação humana;

- desigualdade social;- a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem é um dos

temas do livro. Por exemplo, de um lado, João Romão aspira à riqueza eMiranda, já rico, aspira à nobreza. Do outro, a “gentalha”, caracterizadacomo um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome.

- principais evidências do caráter naturalista da obra: animalização daspersonagens e, consequentemente, desenvolvimento de ações baseadasem instintos naturais, tais como os instintos sexuais e os desobrevivência;

- duas linhas básicas de conduta na obra: questões sociais; questõessentimentais (individuais);

- questões sociais: exemplo de João Romão, personagem que, paraascender socialmente, passa por cima de tudo e de todos;

- questões sentimentais (individuais): casamento de Jerônimo com RitaBaiana movido pelo instinto sexual, e não por amor.

O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento.Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furtopara conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, dataverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo adomingo, trabalhando sem descanso. Em oposição a João Romão, surge afigura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputaacirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar paraaumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimentoprovisório de relações entre os dois. Com inveja de Miranda, que possuicondição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passapor privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, noentanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebeo título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, énecessário também ostentar uma posição social reconhecida, frequentarambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao teatro, ler romances,ou seja, participar ativamente da vida burguesa.

No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambiçãofinanceira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo ePiedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a máinfluência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, quetem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seushábitos. A relação entre Miranda e João Romão melhora quando ocomerciante recebe o título de barão e passa a ter superioridade garantidasobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival, João Romão promovevárias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos. Ocortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado emiserável para se transformar na Vila João Romão. O dono do cortiçoaproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comercianteem casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza,que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruiros bens acumulados a seu lado. Para se ver livre da amante, que atrapalhaseus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos comoescrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada,Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamentode Romão.

- Foco narrativo em terceira pessoa;- narrador onisciente;- foco narrativo a serviço da defesa de uma tese (naturalismo);- aparência imparcial do foco narrativo X posição ideologicamente

tendenciosa.

Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda. Varria a casa, cozinhava, vendia ao balcão na taverna, quando o amigo andava ocupado lá por fora; fazia a sua quitanda durante o dia no intervalo de outros serviços, e à noite passava-se para a porta da venda, e, defronte de um fogareiro de barro, fritava fígado e frigia sardinhas, que Romão ia pela manhã, em mangas de camisa, de tamancos e sem meias, comprar à praia do Peixe. E o demônio da mulher ainda encontrava tempo para lavar e consertar, além da sua, a roupa do seu homem, que esta, valha a verdade, não era tanta.

Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam- se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dize-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.

Os sinos da vizinhanca comecaram a badalar.

E tudo era um clamor.

A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.

Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.

� Em O Cortiço, o tempo é trabalhado de maneira linear, respeitando-se a cronologia dos fatos narrados;

� a história se desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas;

� A história se passa na cidade do Rio Janeiro, então capital do país, mas dois são os espaços mais explorados na obra;

� O primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão;

� o segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem local;

� personificação do espaço: o cortiço torna-se uma espécie de personagem (organismo vivo).

E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.[...]O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.

� JOÃO ROMÃO – taverneiro português ambicioso, dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador.

� BERTOLEZA – quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina.

� MIRANDA – comerciante português. Principal opositor de JoãoRomão. Mora num sobrado aburguesado, ao lado do cortiço.

� JERÔNIMO – português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho.

� RITA BAIANA – mulata sensual e provocante que promove os pagodesno cortiço. Representa a mulher brasileira.

� PIEDADE – portuguesa que é casada com Jerônimo. Representa a mulher europeia.

� CAPOEIRA FIRMO – mulato e companheiro que se envolve com Rita Baiana.

� POMBINHA– moça discreta e educada que termina entregue àprostituição

� Tipos sociais;� constantemente, as personagens sofrem zoomorfização, isto é, a

animalização do comportamento humano, respeitando os preceitos da literatura naturalista;

� “O cortico é um romance de muitas personagens. A intenção evidente é a de mostrar que todas, com suas particularidades, fazem parte de uma grande coletividade, de um grande corpo social que se corrói e se constrói simultaneamente.” (Luiz Antônio Ferreira, Roteiro de leitura: O cortiço, de Aluísio Azevedo);

� "Desistindo de montar um enredo em função de pessoas, Aluísio atinou com a fórmula que se ajustava ao seu talento: ateve-se à sequência de descrições muito precisas, onde cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem, no conjunto, do cortiço a personagem mais convincente do nosso romance naturalista." (Alfredo Bosi).

Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese dasimpressões que ele recebeu chegando aqui. Ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas de fazenda; era o aroma quente dostrevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras, era apalmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era oveneno e era o açúcar gostoso, era o sapoti mais doce que o mel e era acastanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobraverde e traiçoeira, a lagarta viscosa, e muriçoca doida, que esvoaçavahavia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos,acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade de terra, picando-lheas artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amorsetentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, umalarva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baianae espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.

� Descrição de Rita Baiana e do fascínio que exercia sobre o português Jerônimo;

� a supervalorização do sexo, marca do determinismo biológico e do Naturalismo, conduz o autor a buscar quase todas as formas do que era considerado, na época, patologia sexual, como o "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, homossexualismo, etc.;

� Rita Baiana materializa a objetificação a que estavam sujeitas as mulheres no contexto do século XIX.

João Romão, com efeito, tão ligado vivera com a crioula e tanto se habituara a vê-la ao seu lado, que nos seus devaneios de ambição pensou em tudo, menos nela.

E agora?E malucou no caso até às duas da madrugada, sem achar furo. Só

no dia seguinte, a contemplá-la de cócoras à porta da venda, abrindo e destripando peixe, foi que, por associação de idéias, lhe acudiu esta hipótese:

– E se ela morresse?...

� A associação de ideias presente no fragmento consiste em pensar na hipótese de matar Bertoleza ao vê-la destripando peixe. Isto é, João Romão pensa em fazer com Bertoleza algo parecido com o que ela fazia com o peixe no momento;

� o trecho refere-se à ambição desmedida de João Romão, que chega ao extremo de pensar em eliminar aquela que o ajudara a enriquecer, e por isso representa um comportamento patológico da personagem.

A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com umadas mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha,olhou aterrada para eles, sem pestanejar.

Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharamos sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuoude um salto, e antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpecerteiro e fundo rasgara o ventre de lado a lodo.

E depois emborcou para a frente, rungindo e esfocinhandomoribunda numa lameira de sangue.

João Romão fugira até o canto mais escuro do armazém, tapandoo rosto com os mãos.

Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era umacomissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lherespeitosamente o diploma de sócio benemérito.

- Bertoleza materializa a objetificação a que as mulheres estavam sujeitas no contexto do século XIX.

A filha [de D. Isabel] era a flor do cortiço. Chamavam-lhePombinha. Bonita, posto que enfermiça (...); loura, muito pálida, com unsmodos de menina de boa família.

(...) era muito querida por toda aquela gente. Era quem lhesescrevia as cartas, (...) quem lia o jornal para quem quisesse ouvir.Prezavam-na com muito respeito e davam-lhe presentes.

(…)Pombinha só com três meses de cama franca, fizera-se (...) perita

no ofício [prostituição](...); a sua infeliz inteligência, nascida e criada nomodesto lodo da estalagem, medrou logo admiravelmente na lama fortedos vícios de largo fôlego; fez maravilhas na arte; parecia adivinhar todosos segredos daquela vida; seus lábios não tocavam em ninguém sem tirarsangue; sabia beber, gota a gota, pela boca do homem mais avarento, tododinheiro que a vítima pudesse dar de si.

� O Determinismo considera que o caráter do ser humano é determinado por fatores externos a ele, como o meio em que vive. Como Pombinha, apesar de sua delicadeza e generosidade, viveu no cortiço, ela acaba por transformar-se em uma prostituta gananciosa, o que revela a influência da degradação moral do ambiente sobre ela;

� Pombinha encarna a única saída, no contexto social do romance, para a independência da mulher: a prostituição.