cerrados insubmissos e comunicação compartilhada no sul global · 2019. 10. 18. · na civitas,...
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Casa das Palavras, uma escola popular
- Cerrados insubmissos e comunicação compartilhada no sul global
Nilton José dos Reis Rocha* 1
Rafaela F. Rocha*
Leôncio da Silva Neto*
Resumo:
Em quatro décadas na relação, intensa e difícil, dos movimentos sociais e
povos originários com a universidade, via esfera da comunicação, chega-se à
ideia simples e urgente: uma escola popular de comunicação compartilhada
para formar jornalistas, radialistas e cineastas que possam dar conta dos
processos de produção e circulação da informação, bens culturais e
conhecimento que interessam a seus grupos sociais.
A proposta brota na formação em-e-na rádio livre comunitária do
acampamento Dom Tomás Balduino, ao se preparar para ocupar, 2013, terra
ex-presidente do Senado, em Corumbá de Goiás. Mulheres e homens simples
(Martins,2004) percebem, no retorno ao campo, que latifúndios se sustentam,
invisíveis, na comunicação burguesa. A disputa pela terra incluirá, agora, os
embates pelas justiças cognitiva e simbólica.
Um fazer social insubmisso que articule e gestione, na ocupação da terra, uma
outra comunicação (e outro jornalismo) de matizes populares, independente e
não-hegemônico. Uma comunicação como esfera de ação política concreta.
1 Professor de jornalismo na Universidade Federal de Goiás (UFG)/ Pós-Graduando em CES-Coimbra/
Coordenador do coletivo Magnífica Mundi * Graduanda do curso de jornalismo na Universidade Federal de Goiás/Membro do coletivo Magnífica
Mundi
* Graduando do curso de jornalismo da Universidade Federal de Goiás /Membro do coletivo Magnífica
Mundi.
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Algo articulado e articulador que, evocando a morte do telos aristotélico, se
consolide como maneira, eficaz e livre, de fazer circular informação, bens
culturais e conhecimento
Inventiva social, de experiências diversas fora do estabelecido, como revisão
cuidadosa dos processos contemporâneos onde revoltas se convertem no
elemento que rompe a dinâmica das megas narrativas (Lander, 2005).
Existências e lutas atadas à defesa do território, “un lugar histórico de creación
del contenido simbólico de la cultura y de conformación secular de las práticas
de la vida” (Ceceña, 2005:85)
As quase cem micro experiências da Casa das Palavras ousam a dar corpo à
uma rede internacional de comunicação compartilhada, pela humanidade (idem).
Com outro tipo de alcance em comparação com os sistemas de transmissão
massivos (Peruzzo et al, 2011), por perseguir lógica horizontal, participativa em
todas etapas do processo de articulação e distribuição da volumosa esfera
simbólica popular.
No sul global, geográfico e/ou metafórico, esta gente dos cerrados centrais – que
co-evolui com a natureza nos últimos 18 mil anos (Barbosa, 2005) – reivindica,
do ponto de vista epistémico, o reencontro com sua civilização da reciprocidade
(Ribeiro, 2005), cujas tecnologias e saberes ancestrais são indispensáveis à
humanidade para superar a crise a que foi abatida pelo capital e suas
multinacionais do veneno, material e simbólico (Rocha e Talga, 2011).
1.Uma Introdução (mais que oportuna, com sabores conclusivos)
Os tempos, naquele instante, eram valentes. Tempos de embates intensos entre
dois projetos de sociedade: o higroagronegócio apropriador das riquezas e
responsável, em boa dose, pelo esgotamento da terra e as três mil pessoas que,
num comboio de 20 quilômetros, e na herança camponesa ocuparam o latifúndio
com 92 escrituras (algumas delas confiscadas)2 do então presidente do Senado,
2 . Conferir Indriunas, 2018: “Dono de uma fortuna de R$ 89 milhões, Eunício de Oliveira tinha 24 fazendas em 1997
e, após pressionar camponeses, agora possui 107 propriedades em Goiás”. Ainda o documentário Passarim (Freitas,
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Eunicio de Oliveira, no meio do caminho entre Goiânia e Brasília. 70% desta
gente eram mulheres; delas, 70% negras.
Ao cortar as cercas da fazenda Santa Mônica, em Corumbá de Goiás, estas
mulheres e estes homens simples (Martins, 2004) sinalizam, de início, três
coisas: a determinação do imaginário popular de retorno ao campo3; ao mesmo
tempo, o fracasso da cidade como projeto de felicidade e abundância nos
cerrados centrais; as pulsões do desejo ancestral, incontido e insurgente, do
reencontro com um mundo sem limites das cercas, sem senhora/or e gente
escravizada, tudo fôrro4, tudo livre.
E, não por acaso, as mulheres, também negras em sua maioria, cravam os
ventos desta rebeldia, na sua capacidade organizativa e como seres da
insubmissão histórica e ancestral. E, no mesmo movimento, quando as/os sem
terrinhas, em manifestação pública, marcaram, com suas mãos pequenas e tinta
guache, as paredes da secretaria de educação – ao reivindicar escola e o direito
de aprender determinadas coisas -, receberam ameaças de um processo
judicial.
A rádio comunitária local, à solicitação de espaço para programa produzido por
crianças e adolescentes do acampamento Dom Tomas Balduino, reagiu com três
argumentos, via dono emissora: 1. “Mande as notícias, que a gente lê; 2. Custa
muito ter uma rádio, aí temos que vender os espaços para as igrejas”; 3. “Tinha
a rádio antes, vendi por 1 milhão para a rede Tupi, que agora, fica lá em Águas
2003): “Ele quer boi, então destrói barraca, destrói casa, destrói fruteira, destrói a floresta. Ele não respeita a lei e a
lei não disciplina ele” (apud Indriunas, op. cit) 3 . A maioria fora mobilizada e articulada nas periferias urbanas de Anápolis e Goiânia, principalmente.
4 . O conceito vem de Mello ( Elomar Filgueira ), em Violeiro, LP Das Barrancas do Rio Gavião - 1972); “Ai cantadô já curri o mundo intêro/Já inté cantei nas portas di um castelo/Pode acriditá meu companhêro/o rei mi disse fica, eu
disse não [...}Si eu tivesse di vivê obrigado/um dia inantes dêsse dia eu morro/Deus feiz os homi e os bicho tudo fôrro/já
vi iscrito no Livro Sagrado/qui a vida nessa terra é u'a passage”
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Lindas”. Antes de se despedir, ameaçou: o pessoal da Anatel, quando vem aqui,
fica na minha casa.
Em resposta, dois dias depois, entra no ar a Rádio do Trabalhador, FM 104,9
comunitária livre, de algum lugar no grande acampamento, estabelecendo, desta
maneira, a disputa efetiva também no campo do simbólico no município, com
programação a partir das 6 manhã, sob responsabilidade exclusiva de
acampadas/os. O que remete a assentado do Oziel, em Baliza (no Rio Araguaia),
em programa na rádio comunitária: “as palavras não são pássaros, nas voam.
Temos que ajudar a fazer a reforma agrária do ar”5.
Depois, em conversa em pressa, completa sua inquietação de que, como
camponês achava que tudo se dava no chão concreto das coisas. “Agora, com
a rádio, percebo que as coisas mais importantes estão soltas no ar. É preciso
compreendê-las ainda que invisíveis”. O que leva. Dussel a precisar que “a
burguesia se especializou, antes de tudo, na apropriação da mais valia simbólica
da humanidade” e Santos de que “as coisas invisíveis justificam as visíveis”.
Ao compreender as dimensões do simbólico, nas suas vidas e nas suas lutas,
os grupos e movimentos sociais populares, além de povos originários e/ou
transportados, não só têm construído processos antecipatórios desta
radicalidade nestas esferas e estimulado , também, a urgência de compreender
a necessidade de uma plataforma simbólica capaz de articular estas narrativas
outras oriundas destes universos, para contrapor as meganarrativas da aliança
hidroagronegócio e a mídia burguesa ( ) brasileira.
O que o movimento de posseiros/as urbanas/os, em caráter antecipatório,
percebeu e construiu a partir de 1979, com as lutas urbanas em Goiânia, ao
utilizar as ocupações enquanto método e eleger, depois, o simbólico como esfera
da disputa, se imporia, nas décadas seguintes, pela conquista e uso do solo
urbano. Além da palavra, rádios livres, boletins, jornal Quatro de Outubro, teatro,
5 . cf. Rocha et al, 2014:
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poetisas-e-poetas, cantadores, tv ambulante (câmera portátil em cores), foram
as ferramentas deste embate e seus combates cotidianos
Base imaterial decisiva em Goiânia e Brasília, exemplos mais acabados e
deslumbrantes da cidade planejada para as elites letradas (Rama, ).De fato,
brotam como bases guerreiras da conquista dos cerrados e do sobre o interior
do país, reforçada pela Frente para o Oeste como primeiro passo para as bases
da revolução verde de Rockefeller a produção de alimentos para abastecer,
como prioridade, as metrópoles parasitárias (Wu Ming, ), com seu
hidroagronegocio predador e violento.
O que estimula, do ponto de vista do interesse teórico, introduzir a contradição,
radical e profunda, quanto aos direitos plenos, aqui definida
como cerradania. Afinal, Gonzalez Stephan, partindo das teses de Rama, sugere
que a invenção da cidadania, como projeto moderno, esteve sempre centrada
na civitas, seletiva e letrada, postada como de funil punitivo onde só passaria o
homem branco, católico, proprietário e heterossexual (apud Castro-Gómez,
2005: 82).
A aquisição da cidadania[1] é, então, um funil pelo qual só passarão aquelas
pessoas cujo perfil se ajuste ao tipo de sujeito requerido pelo projeto da modernidade: homem, branco, pai de família, católico, proprietário, letrado e heterossexual. Os indivíduos que não cumpram com estes requisitos (mulheres, empregados, loucos,
analfabetos, negros, hereges, escravos, índios, homossexuais, dissidentes) ficarão de fora da cidade letrada, reclusos no ‚âmbito da ilegalidade, submetidos ao castigo e à terapia por parte da mesma lei que os excluí (Gonzalez Stephan apud Castro-Gómez, 2005: 82)
[1] . “A constituição venezuelana de 1839 declara, por exemplo, que só podem ser cidadãos os homens casados, maiores de 25 anos, que saibam ler e escrever, que sejam proprietários de bens de raiz e que tenham uma profissão que gere rendas anuais não inferiores a 400 pesos (Gonzalez Stephan, 1996: 31)” (ibid.:82)
https://mail.google.com/mail/u/0/#m_-6286738468163426013__ftn1https://mail.google.com/mail/u/0/#m_-6286738468163426013__ftnref1
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Assim, neste pêndulo insurgente, que não começa hoje (Brito, 2011),
movimentos e povos atiram elementos e estímulos para, conceitual e
pragmaticamente, avançar rumo à cerradania, esta teimosia em não esperar o
Gênesis e o seu mundo criado, co-evoluir com a natureza (Porto Gonçalves, ).
Ao assumir a condição de criaturas e criadora/or (Gomes et al,2011) se bater -
de maneira incansável - garantir ou arrancar os direitos plenos à toda
humanidade e à sua natureza, nestas partes do mundo. Tudo fôrro.
2. Dos saberes e da cerradania – uma longa história
Neste contexto, de longa duração ( Burke, ), o projeto Casa das Palavras –
uma escola popular de comunicação compartilhada se (re)articula, em sua etapa
mais recente, no bojo das lutas sociais contra as monoculturas discursivas - do
ponto de vista epistémico como de suas facetas projetadas e assumidas no
hidroagronegócio-mídia brasileira (Nogueira e Bandeira, 2019) - no presente e
na trajetória histórica do país e, neste caso, dos povos e culturas dos cerrados
centrais, cerradeiras/os e savaneiras/os.
E se constitui no processo histórico-cultural e, também, do Abya Yala e de suas
epistemologias do sul (Santos e Meneses, 2011), na trajetória da/o mullier/homo
cerratensis (Beltran apud Barbosa, 2016) que, de modo específico, estimula(m),
agora com vínculos acadêmicos, projetos de sociedade e de futuro, que
carregam historicamente, e oferecem à humanidade proposta de direitos plenos
aos seres humanos, não-humanos e à natureza, a cerradania (Rocha e Costa,
2016; Barbosa, 2017).
Assim, portanto, se propõe, antes de mais nada, e partindo dos universos sociais
em que a extensão se encontra implicada e, num diálogo ousado e criativo com
a pesquisa e o ensino (formais e informais, para além de limites pré-existentes),
recriar as condições indispensáveis para reencontro com esta memória histórica,
que se inicia há 18 mil anos (Barbosa, 2005), e as tecnologias ancestrais - que
são portadoras/es - indispensáveis à humanidade, hoje, nas suas ambições de
continuidade.
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Neste reencontro – histórico, metafórico e mítico - com as sociedades da
reciprocidade (Ribeiro,2005), formar narradoras/es populares (jornalistas,
cineastas, fotógrafas/os, comunicadoras/es produtoras/es culturais,) e se
implicar no movimento por outras epistemologias e métodos libertárias/os6 e, daí,
articular rede de comunicação e conhecimento ( Martins, ; Rocha, 2011), como
contraponto às multinacionais do veneno simbólico (Rocha e Talga, 2016) e sua
arrogante monocultura discursiva ( Lander, 2005).
Casa das Palavras, então, se apresenta como plataforma extensionista
permanente - convicta e apta - às práticas, estudos, reflexão, ensino e pesquisas
em jornalismo compartilhado e como núcleo articulador da ABPcom - Associação
Brasileira de Pesquisadoras/es e Comunicadoras/es em Comunicação Popular,
Comunitária e Cidadã. Ou seja, em síntese, plataforma- também compartilhada
– no esforço por outra epistimé e, como projeto articulado, rumo à universidade
popular concreta e criativa.
2.1. Da vida e da teoria no campo popular
A proposta de uma escola popular de comunicação, nos cerrados centrais,
ganha mais corpo nas lutas sociais dos últimos 40 anos. Isso com ocupações
vitoriosas do Jardim Nova Esperança do movimento das posses urbanas e suas
escolas populares de fundo de quintal que, em caráter antecipatório - conceitual
e pragmático - percebe que, ao lado da terra, se teria que travar e ganhar
também a batalha da informação (Azevedo apud Rocha, 1987) no intenso
processo de conquista do solo urbano em Goiânia.
Ao utilizar a ocupação - enquanto método e elemento determinante da tradição
camponesa de origem - e eleger o simbólico como esfera de embate/combate,
esta mulher e este homem simples atropelam, ainda, a perspectiva elitista da
comunicação como responsabilidade de um grupo, a burguesia e seus
6 . Freire, ; Brandão, : Rancière, ; Fals Borda, ; Gutierrez, ;
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intelectuais homologados, na iniciativa da palavra pública por seus próprios
meios de comunicação e ao se vincular à mais radical esfera simbólica, as (suas)
rádios livres.
Assim, dos comunicados aos boletins; das escolas de fundo de quintal ao jornal
Quatro de Outubro, “Quem sabe, escreve; quem não sabe ainda, dita” –; do
teat(r)o popular às poetisas e poetas; dos cantadores e repentistas; da tv
ambulante, a primeira portátil e em cores da cidade, às rádios em ondas livres,
chega-se à uma aliança, crítica e criadora, com a Projornal e, depois, com o
Curso de Jornalismo e o seu programa A Outra Face, por sete anos até ao veto
na Rádio Universitária.
Trajetória compartilhada que se articula, à época, com a Rádio livre Meia Ponte,
Pirenópolis, e se espalha pelos povos e grupos sociais cerradeiros e savaneiros.
Onde se destacam, de certo modo, o TV Criança Lambança, no Pompéia; Terra
Encantada- gente miúda, direitos integrais, no Sertão, Alto Paraíso; e TV Che,
em Itaberaí; e o Bafo do Dragão, em Jorge, Alto Paraíso - bases constitutivas
ousados em educomunicação e jornalismo popular, assumidas, no caso, por
crianças e adolescentes.
Antes, entretanto, a comunicação, com bases comunitárias – que se converte
em disciplina graças a um movimento nacional dos estudantes comunicação,
1984 – contribui nas relações ativas do curso de jornalismo (UFG) com
movimentos sociais populares, na cidade e no campo. Capacidade de trabalho
compartilhado que a universidade herda da experiência e dos quadros da
Projornal- ex-cooperativa de jornalistas profissionais, que foram ou são
professoras/es do curso.
Assim, além de posseiras/os urbanas/os, os projetos, ainda que via disciplinas
curriculares, se envolveram em construções ricas com outros movimentos.
Como o negro, das prostitutas, de meninas/os em situação de rua, deficientes
físicos, visuais e mentais, escolas públicas, portadoras/es de hanseníase, de luta
pela reforma agrária, povos originários e a marcante contribuição no esforço
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simbólico, bem sucedido, do povo Calunga em barrar a hidrelétrica Foz do
Bezerra, de Furnas, pelo Plano 2010.
Práticas da comunicação - produção de informação, bens culturais e
conhecimento - nos movimentos sociais, povos e escola pública que, apesar das
dificuldades e desafios, às vezes imensos, foram os ambientes estimulantes,
enquanto possibilidade e método, que levará, a prêmios, parcerias e participação
em eventos e festivais internacionais. Ou seja, uma prática, insubmissa, que se
constitui e ganha alma na luta pela posse /vivência com terra, nos espaços da
cidade e do campo.
Alguns projetos mais recentes, a exemplo do Berra Lobo – comunicação e
conhecimento compartilhados contribuíram com esta perspectiva de que, nos
universos sociais populares, as coisas e gente se movem de maneira holística
(Coronil apud Lander, 2005) e em tempos distintos do imposto o capital
(Visvanathan, 2004). Núcleos e projetos diversos se articulam, pacientemente,
no reencontro de saberes e tecnologias ancestrais e, assim também, do buen
vivir, do teko porá, do impej (Gomes et al, op.cit ).
3. E assim foi: berra lobo como eixo articulador
O berra lobo, enquanto projeto e portal, estimulado a se deslizar e compreender
as relações e dimensões que os grupos populares, neste continuum cidade-
campo e ao assumiu atividades de educomunicação em escolas, rurais e urbana,
bem como alia o cinema como esfera de diálogo simbólico nestes grupos, com
o Cine Sereno – as estrelas de nosso caminhar, ajuda a avançar a compreensão
e o esforço de se criar, também, um circuito popular de produção e exibição de
filmes e documentários.
Processos, articulados e articuladores, que geram o complexo Magnífica Mundi
e seu coletivo gestor. Com webtv e webrádio, laboratórios e ferramentas de
radiodifusão comunitária, em FM, teatro, produção em cinema e audiovisual,
jornalismo do traço, publicações e livros, além de parcerias nacionais e
internacionais – como plataforma, simbólica e pedagógica, a Magnífica surge na
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corresponsabilidade de, no tempo e espaço, formatar, num esforço conjunto e
compartilhado, uma universidade popular nos cerrados e savanas.
A decisão recente de se pensar – e articular – escola popular de comunicação
surge nas dinâmicas e reflexões do ciclo de capacitação de jornalistas e
radialistas populares no Centro de Formação Santa Dica dos Sertões, em
Corumbá de Goiás. Isso em uma iniciativa do Núcleo de Comunicação e
Educação do Acampamento D. Tomas, do MST, e os Laboratórios Integrados
em Jornalismo Compartilhados e Coletivo Magnífica Mundi, do Curso de
Jornalismo-UFG, durante oficinas em rádio comunitária, em 2014.
Em oito encontros, tendo a Rádio livre do Trabalhador, FM, 104.8, como
laboratório e ferramenta de construção de narrativas coletivas sobre o
movimento e a disputa/ocupação de terras. Solos que, em sua maioria, estão
confiscados, segundo o movimento, por Eunício de Oliveira, entre os municípios
de Corumbá e Alexânia, depois que a emissora comunitária local se recusou.
Contrariando assim a lei, em assegurar espaço para um programa a ser
produzido e apresentado por crianças do acampamento.
Mesmo depois da ida da maioria absoluta dos acampados para Formosa ou
outros assentamentos , as demandas pela continuidade da formação de
jornalistas e radialistas populares, bem como das rádios comunitárias, em onda
ou pela web, se ampliaram para outros municípios, sobretudo dentro do Projeto
Berra Lobo e sua parceria com os Territórios da Cidadania, que envolveram,
também, as escolas família agrícola e os encontros da juventude no Médio
Araguaia, Vale do Araguaia, Norte e Estrada de Ferro.
Ao mesmo tempo, foram determinantes, como convencimento e articulação,
oficinas em comunicação compartilhada, no campus UFG-Catalão, tendo a
Associação de Docentes/UFG-Catalão, ADCAC e grupos populares e culturais
locais, agora articulados com o campo e os Atingidos pela Mineração e pelas
Barragens, assumindo as corresponsabilidades nos processos de formação e de
construção de uma rede de comunicação controlada e alimentada e co-gerida
por quem trabalha e produz, de fato.
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Nestes universos e nestes fluxos é que ganham corpo, como necessidade
estratégica , a organização e consolidação da escola popular de comunicação
que, face às urgências e como espaço para formação de jornalistas, radialistas,
fotógrafas/os e câmeras, web designers e programadoras/es, publicitárias/os e
produtoras/es e animadoras/es culturais populares, que possa(m) , ao mesmo
tempo, co-construir rede, também popular, de comunicação, bens culturais e
saberes/conhecimento.
Com a ambição, ainda, de, ao se articular com outras esferas do conhecimento
e da existência. Devolvendo a comunicação – onde o jornalismo popular
compartilhado se situa, convicto – ao cruzamento das ciências sociais e, daí,
avançar, num mergulho mais profundo, na compreensão e formulação de outras
teorias, calcadas num diálogo criativo e vivencial com a sociologia, a filosofia, a
antropologia, a história, na educação física e artes cênicas e corporais, bem
como as ciências da vida e da terra.
Ao lado de metodologias e vertentes teóricas compartilhadas que atendam –
compreendam e fortaleçam – esta dimensão da cultura. Tudo em uma sólida e
contínua construção epistêmica insubmissa, considerando que as práticas de
rádio livrismo, como esfera do midialivrismo, se vinculam ao que existe de mais
radical nos embates contra os latifúndios imateriais e as suas multinacionais do
veneno simbólico e suas retransmissoras em ondas e imagens – alienadas e
alienantes – em cada estado e cidade
Assim, a proposta germina nas urgências socioculturais e políticas, de
participação em diferentes escalas , das articulações de povos, movimentos e
grupos sociais, e, evidente, das condições objetivas advindas da revolução
tecnológica, - ou seja, a era bens comuns - e da necessidade/dever ético/moral
de se trabalhar para uma justiça material, simbólica e cognitiva nas várias
esferas do local, do nacional e do global – uma profunda distribuição de bens
materiais e imateriais em cogestão popular.
Como núcleo de formação e produção, compartilhadas, tem claro que isto só
será possível no caminhar, conjunto, movimentos sociais/povos originários e
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transportados-universidade, dentro, agora, também de um projeto de
universidade-popular com a convicção, epistêmica e metodológica, de que a
liberdade de informar e se informar no mundo contemporâneo dependerá de
arrancar das elites o monopólio de falar a grupos maiores e à distância que, se
nota , está muito além da ocupação solitária das redes sociais.
4. Da peleja pelas liberdades plenas – as rádios livres
Há exatos 40 anos, depois que Robinho Azevedo sugeriu travar e ganhar ,
também, a batalha da informação ( Rocha,op.cit ). A primeira rádio comunitária,
em cogestão de movimentos sociais populares, Noroeste FM, 87.9, fez sua
transmissão experimental consolidando, assim, a trajetória de luta do movimento
de posseiras/os urbanas/os pelo direito em distribuir , para o todo social,
conteúdos em informação, bens culturais e conhecimento , sem mediação do
capital e de suas elites locais.
Sua inauguração, em março, Morada do Sol, segue, ainda que de maneira
indireta, 7a trajetória da Rádio Alternativa, 104, FM. Rádio que, por muito tempo,
funcionou de maneira livre - e clandestina – na Nova Esperança, com
intervenção simbólica e política
no bairros da região e em outros movimentos sociais. Práticas que valeram
processo, na polícia e justiça federais 8. Pois, à época, o radiolivrismo era
7 O processo recai sobre Helio Antonio Oliveira,então presidente da Associação de Moradores da Nova
Esperança
8.Conferir, neste sentido, A Rádia é Legal ( Rocha, Ferraz e et al ,1995). Ainda Cruz (1995), Lima (1995) e
Sntos ( 1995)
9Algo bem retratado no documentário Piratas para quem? (Gomides e Peixoto, 2018)
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enquadrado na lei de segurança nacional (Matellart, op.cit; Coelho, 2002; Negri
et al, 1986).
A história das rádios livres comunitárias, em Goiás, inicia com dois polos
marcantes: Meia Ponte9, em Pirenópolis, a 125 quilômetros de Goiânia, e as
emissoras - ao lado e, às vezes, utilizando o mesmo nome da Alternativa - do
movimento pelo solo urbano. Os riscos da repressão policial-jurídico, a
inexistência da internet e altos custos de equipamentos dificultavam, ao contrário
de hoje, a construção destas rádios apesar da eficiência e forte apelo popular.
Assim, foi necessário um esconde-esconde3.
São coisas que vão acontecendo porque a cada “taca” da polícia, você tinha que discutir a próxima estratégia. A polícia pegou nós aqui... então não podemos repetir esse erro. Uma vez polícia prendeu nossas cornetas. Então não dava pra gente dar bandeira de novo com as cornetas. A polícia queria me prender uma ver com uma câmera Panasonic. Bom, se a polícia prendesse aquela câmera, pronto, acabou a TV AMBULANTE, era a única coisa que nós tínhamos. Então, em cada momento você vivia uma tática... ‘a própria forma de você toriar o pau é que o tom do machado´. A polícia vai prender as cornetas, então amarra as cornetas lá na galha do pau, porque na hora que a polícia chegar, você pega apenas o microfone com o amplificador e sai correndo. Então, a corneta vai fiar lá em cima e policial não via subir em poste para tirar corneta. Então, você vai criando fatos e condições, que vai permitindo você sobreviver. Por exemplo assim funcionava a rádio... e era uma maneira... é claro que uma corneta em cima de um fusca, ela tinha uma área de alcance, lá no poste ela tinha outro. Então, essas técnicas você via, vivendo (idem: 91)
A internet, além de permitir transmissão dois-em-um, com longo alcance – em
ondas eletromagnéticas e via web - facilita a cogestão, produção e apresentação
de programas à distância, via computador celular. Além de que, em certos casos,
ajuda driblar a vigilância e repressão policial pois os estúdios não precisam,
necessariamente, estar, como antes, junto aos transmissores. Na Nova
Esperança, a rádio mudava de endereço. Até à aliança tática com policiais, do
bairro, e dividiu muro com o posto da Polícia Militar.
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...A polícia liquidou Rádio Alice, (purchassés) condenou os programadores, seus locais foram
pilhados, mas seu trabalho revolucionário de desterritorialização persiste (persegue?) (inlassablement) até as fibras nervosas de seus persecutores. » (Guatari, 1977, apud Berardi,2011).
Assim, posseiras/os se inserem no movimento nacional de rádios livres e se
ligarem. De maneira objetiva, à vertente mundial da disputa popular pela
democracia simbólica radical (Guatari,1985; Berardi, op.cit; Dowing, op.cit; Magri
et al, op.cit.; Coelho, 2002; Rocha, o.cit.), porque efetiva, da produção e
distribuição de conteúdos imateriais, nas sociedades. As rádios, como
instrumentos específicos, e o próprio movimento, em si, acabam sendo espaços
de aprendizados e articulação.
Recebido com desconfiança no Brasil - temia-se à violenta repressão - o
movimento, portanto, pertence a quem o constrói, todas e todos – “são uma
legião “– que sabem que jamais “poderão se exprimir de maneira conveniente
nas mídias oficiais”. O esforço articulador é criar “as melhores condições de força
possíveis para os movimentos de emancipação dos jovens, das mulheres, dos
negros, dos trabalhadores, das minorias sexuais, dos ecologistas, dos pacifistas,
etc.” (Guatari apud Magri et al: ).
Para o autor, as rádios livres não são filhas fantasmagóricas da “belle époque
dos meia-oito”, segundo jornalista da Folha de S.Paulo, “trata-se, pelo contrário,
de um movimento que se instalou, nos anos 70, como reação à uma certa utopia
abstrata dos anos 60”. Representam, antes de mais nada, “uma utopia concreta,
suscetível de ajudar os movimentos de emancipação desses países a se
reinventarem” (idem ) Ao cumprir sua função mobilizadora, de embate e
combate, contribuem, portanto, na organização permanente das sociedades e
suas comunidades; uma escola popular
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Trata-se de um instrumento de experimentação de novas modalidades de democracia, de uma democracia que seja capaz não apenas de tolerar a expressão das singularidades individuais e sociais, mas também de encorajar a sua expressão, de lhes dar a devida importância no campo social global. Isso quer dizer que as rádios livres não são nada em si mesmas. Elas só tomam sentido como componentes de agenciamentos coletivos de expressão de amplitude mais ou menos grande. Elas devem se contentar em cobrir pequenos territórios; poderão pretender entrar em concorrência, através de redes, com as grandes mídias: a questão fica em aberto. O que, a meu modo de ver, a resolverá é a evolução das novas tecnologias (ibid: ).
Descentrar as redes de produção e difusão não garantirá a pluralidade dos
enfoques, para Magri. Rádio e tv, no país, são a convergência – nunca
democrática - do aparelho estatal, redes de comunicação e distribuição
simbólica, sistema publicitário e indústria fonográfico, organizados em forma de
pool. “A sociedade está excluída do monopólio que elas fabricam, pois só atua a
nível de receptora de informação, mas ela própria não pode produzir e distribuir
a informação que lhe interessa” (Magri et al, op.cit: 16)
Após a fase de dispersão, esboçou-se um processo de recomposição do movimento (palavra
também muito importante no novo vocabulário italiano: Rádio Alice é uma rádio no movimento) [...]. A originalidade de Alice era o de ultrapassar o caráter puramente “sociológico”, digamos assim, das rádios independentes, e de se assumir como projeto.Rádio Alice entrou no olho do furacão cultural – subversão da linguagem, surgimento de um jornal A/traverso. Mas ela também estava diretamente mergulhada na política e quis “transversalizar” (57
Dois projetos, portanto, passaram a cumprir este papel fundamental, segundo
Guatari, de ser “rádio no movimento” e, portanto, em movimento: a(s) Alternativa
(s) das posses urbanas10, e a Magnífica Mundi11, com laços afetivos e informais
com o curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás. Rádios livres
fechadas, pela Anatel/polícia federal. A primeira, emprestada ao Movimento de
Resgate da Cultura Popular; outra, no bairro junto ao Campus II, em parceria
com o projeto Faz Arte.
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Assim, as transmissões desta natureza se multiplicaram em assentamentos
ou acampamentos de reforma agrária, escolas da rede pública estaduais e
municipais, mulheres, sindicalistas. Algo que possível graças à aliança
movimento de posseiras/os, ex-cooperativa de jornalistas de Goiás e o núcleo
da comunitária da Universidade Federal de Goiás que, de maneira consorciada,
cogeriam o uso de transmissores que rodavam segundo as demandas de
movimentos sociais e escolas de comunicação pelo país.
Não dá para dizer, rádio livre é isso ou é aquilo outro, pelo simples fato de que qualquer um ou uns podem fazer a sua própria rádio, falar do que bem entender ou não falar, tocar música ou cânticos, fazer entrevistas com a mãe ou a vizinha, discursar contra a morte de fulano ou o barulho das beija-flores, reclamar do salário atrasado, dos políticos corruptos, da chatice das novelas da Globo e do SBT e da Manchete, propor melhorias para o bairro onde mora, candidatar-se a presidente do mundo, prometer acabar com a burrice travestida de inteligência do Jornal Nacional e dos meios de informação tradicionais, conversar com o papagaio do vizinho e entrevistar o filho recém-nascido da cunhada do irmão. Uma lista infindável. Livre é livre (Magri, op.cit: 33).
Rádio livre é, portanto, a comunicação compartilhada e postura política de recusa
aos meios de comunicação do capital, mas, sobretudo, tratar das liberdades e
dos direitos plenas/os. O que garante às crianças co-gerenciar a tecnologia,
gerar e distribuir conteúdo à cidade, em ondas eletromagnéticas. Ao tentar torná-
las invisíveis, “isto é:exterminar”, a “emissão dos meninos de rua de Goiânia é
uma conexão direta com as experiências mais significativas de rádios livres que
o mundo conheceu” (Vaz,1996: 9)68
8 . “Do ponto de vista da autonomia sobre esta questão dos meios de comunicação de massa é que cem flores desabrochem, que cem rádios transmitam....
A guerrilha da informação, a subversão organizada da circulação das informações, a ruptura da relação entre emissão e circulação de dados... situa-se no interior
da luta geral contra a organização e a dominação do trabalho…
A interrupção e a subversão dos fluxos de produção e circulação de signos emitidos pelo poder são um campo sobre o qual podemos agir diretamente.”.. (Guatari,
1986: 57).
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