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Page 1: Coment - Urantia-GAIA...doutrinas, p or n os exp ostas nesta parte. Assim como lev amos tr ^ es anos para editar a primeira parte desta Enciclop edia, esp eramos lev ar o mesmo temp

5.1 Coment�arios subordinados . . . . . . . . . . . . . . . . 766 Refuta� ~ao do agnosti ismo 837 Coment�arios �as teses 957.1 Coment�arios �as proposi� ~oes examinadas . . . . . . . . 987.2 Coment�arios �as teses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1077.3 Coment�arios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1268 Refuta� ~ao do atomismo adin^ami o 1299 Cr��ti a �a posi� ~ao de Kant 1359.1 A indubitabilidade dos universais . . . . . . . . . . . . 14810 Validez da metaf��si a geral 15710.1 Validez da metaf��si a espe ial . . . . . . . . . . . . . . 15911 Obje � ~oes kantianas respondidas 16311.1 Justi� a� ~ao dos prin ��pios . . . . . . . . . . . . . . . . 16411.2 Formas de ju��zo, segundo Kant . . . . . . . . . . . . . 16812 Teses dial�e ti as 195

ii

M�ario Ferreira dos Santos

Filoso�a Con retaTomo 1oEn i lop�edia de Ci^en iasFilos�o� as e So iaisVol. X

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Sum�ario1 Preliminares 11.1 Obras de M�ario Ferreira dos Santos . . . . . . . . . . . 21.2 �Indi e original . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51.3 Pref�a io . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Introdu� ~ao 112.1 O m�etodo desta obra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 O ponto arquim�edi o 253.1 Coment�arios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 324 Argumentos a favor da tese 374.1 Coment�arios dial�e ti os . . . . . . . . . . . . . . . . . . 534.2 Con eitos l�ogi os e on eitos ontol�ogi os . . . . . . . . 584.3 Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 594.4 Da demonstra� ~ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 625 Do valor do nosso onhe imento 73i

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4 CAP�ITULO 1. PRELIMINARES\A Arte e a Vida".\Vida n~ao �e Argumento" - 2a ed.\Certas Subtilezas Humanas" - 2a ed.\A Luta dos Contr�arios" - 2a ed.\Filoso�as da A�rma� ~ao e da Nega� ~ao".\M�etodos L�ogi as e Dial�e ti os" - 2 vols.\P�aginas V�arias".\Convite �a Filoso�a".\Convite �a Est�eti a".\Convite �a Psi ologia Pr�ati a".No prelo:\Filoso�a e Hist�oria da Cultura" - 3 vols.\Tratado De adial�e ti o de E onomia" - 2 vols.\Tem�ati a, e Problem�ati a das Ci^en ias So iais" - 2 vols.\As Tr^es Cr��ti as de Kant".\Tratado de Esquematologia".A sair:\Di ion�ario de Filoso�a e Ci^en ias A�ns" - 5 vols.\Os Versos �Aureos de Pit�agoras".\Teoria Geral das Tens~oes".\Hegel e a Dial�e ti a".\Di ion�ario de S��mbolos e Sinais".\Obras Completas de Plat~ao" - omentadas - 12 vols.\Obras Completas de Arist�oteles" - omentadas - 10 vols.Cap��tulo 1

PreliminaresM�ARIO FERREIRA DOS SANTOSFILOSOFIA CONCRETATomo 1oENCICLOP�EDIA DE CI^ENCIAS FILOS�OFICASE SOCIAISVOL. X(3.a EDIC� ~AO)

LIVRARIA E EDITORA LOGOS LTDA.Rua 15 de Novembro, 137 - 8o andar - Tel.: 35-6080S~AO PAULO1a edi� ~ao - Abril de 19512a edi� ~ao - Agosto de 19593a edi� ~ao - Setembro de 1961 1

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2 CAP�ITULO 1. PRELIMINARESADVERT^ENCIA AO LEITOR.Sem d�uvida, para a �loso�a, o vo abul�ario �e de m�axima import^an iae, sobretudo, o elemento etimol�ogi o da omposi� ~ao dos t^ermos. Como,na ortogra�a atual, s~ao dispensadas ertas onsoantes, mudas, en-tretanto, na linguagem de hoje, n�os a onservamos apenas quando ontribuem para apontar �etimos que fa ilitem a melhor ompreens~aoda forma� ~ao hist�ori a do t^ermo empregado, e apenas quando julga-mos onveniente hamar a aten� ~ao do leitor para ^eles. Fazemos estaobserva� ~ao s�omente para evitar a estranheza que possa ausar a on-serva� ~ao de tal gra�a. M�ARIO FERREIRA DOS SANTOS

1.1 Obras de M�ario Ferreira dos SantosPubli adas\Filoso�a e Cosmovis~ao" - 5a ed.\L�ogi a e Dial�e ti a" - 4a ed.\Psi ologia" - 4a ed.\Teoria do Conhe imento" (Gnosiologia e Criteriologia) -4a ed.\Ontologia e Cosmologia" - (As Ci^en ias do Ser e do Cos-mos) - 4a ed.\O Homem que foi um Campo de Batalha." - (Pr�ologo de\Vontade de Pot^en ia", de Nietzs he) - Esgotada.\Curso de Orat�oria e Ret�ori a" 8a ed.\O Homem que Nas eu P�ostumo" - 2 vols. - 2a ed.

1.1. OBRAS DE M�ARIO FERREIRA DOS SANTOS 3\Assim Falava Zaratustra" - (Texto de Nietzs he, om an�alisesimb�oli a) - 3a ed.\T�e ni a do Dis urso Moderno" - 4a ed.\Se a Es�nge Falasse . . . " - (Com o pseud^onimo de DanAndersen) - Esgotado.\Realidade do Homem" - (Com o pseud^onimo de Dan An-dersen) - Esgotado.\An�alise Dial�e ti a do Marxismo" - Esgotada.\Curso de Integra� ~ao Pessoal" - 4a ed.\Tratado de E onomia" - (ed. mimeografada) - Esgotada.\Arist�oteles e as Muta� ~oes" - (Reexposi� ~ao anal��ti o-did�ati ado texto aristot�eli o, a ompanhada da r��ti a dos mais fa-mosos omentaristas) - 2a ed.\Filoso�a da Crise" - 3a ed.\Tratado de Simb�oli a" - 2a ed.\O Homem perante o In�nito" - (Teologia) - 3a ed.\Noologia Geral" - 3a ed.\Filoso�a Con reta" - 3 vols. - 3a ed.\So iologia Fundamental e �Eti a Fundamental" - 2a ed.\Pr�ati as de Orat�oria" - 2a ed.\Assim Deus Falou aos Homens" - 2a ed.\A Casa das Paredes Geladas" - 2a ed.\O Um e o M�ultiplo de Plat~ao".\Pit�agoras e o Tema do N�umero".\Filoso�a Con reta dos Val^ores".\Es utai em Sil^en io".\A Verdade e o S��mbolo".

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8 CAP�ITULO 1. PRELIMINARES omendados, et .Queremos mais uma vez dirigir aqui o nosso profundo agrade i-mento ao apoio in onteste desse aluniado leitor brasileiro, que re-vela agora, gra� as ao nosso exemplo, uma maturidade ultural queainda dar�a seus frutos; maturidade brasileira, de pensamento nosso,aut^onoma e riadora, sem a eterna subservi^en ia ao pensamento alheio,ofus ado diante das autoridades de al�em-mar, resqu�� ios de um oloni-alismo passivo, que, felizmente, ome� a a desapare er de nossa terra.Outrossim, queremos salientar, e nun a �e demais faz^e-lo, que n~aonos �liamos a nenhum ismo de qualquer esp�e ie. Com ^este livro, expo-mos, t~ao laramente quanto �e poss��vel faz^e-lo na �loso�a, o nosso pen-samento, que �e a Filoso�a Con reta. Esta �e uma matematiza� ~ao da�loso�a (no sentido mais elevado de metamatem�ati a, que n~ao se ingeapenas ao ampo do quantitativo), fundada em ju��zos apod��ti os, uni-versalmente v�alidos, que de orrem, segundo o nosso m�etodo dial�e ti o,de fundamentos ontol�ogi os.Se algumas v^ezes nosso pensamento oin ide om o es ol�asti o, �eporque, naquele, h�a positividades que s~ao do patrim^onio ultural dahumanidade, e que s�o a ignor^an ia e a in u^en ia de uma mentalidadeburguesa, sequiosa de originalidade, que domina infelizmente o pen-samento moderno, poderia levar a esque er ou menosprezar. Essaspositividades se identi� am om as da Filoso�a Con reta, omo seidenti� am om ela as do pensamento genu��namente pitag�ori o, doso r�ati o-plat^oni o, do aristot�eli o, do plotiniano, do de Tom�as deAquino, do de Duns S ot, do de Suarez et .A Filoso�a Con reta n~ao �e uma s��n rese nem uma s��n rise do pen-samento humano. N~ao �e um a umulado de aspe tos julgados maisseguros e sistematizados numa totalidade. Ela tem sua exist^en iaaut^onoma, pois seus postulados s~ao ongruentes e rigorosamente o-nexionados uns aos outros. Se muitas v^ezes oin idem om o que h�ade a�rmativo em outros pensamentos, �e que s~ao ^eles adequados aos1.2. �INDICE ORIGINAL 5\Tem�ati a e Problem�ati a da Filoso�a Con reta" - 3 vols.\A Origem dos Grandes Erros Filos�o� os".Tradu� ~oes\Vontade de Pot^en ia" - de Nietzs he.\Al�em do Bem e do Mal" - de Nietzs he.\Aurora" - de Nietzs he.\Di�ario �Intimo" - de Amiel.\Sauda� ~ao ao Mundo" - de Walt Whitman.

1.2 �Indi e originalPref�a io 11Introdu� ~ao 15O Ponto Arquim�edi o 29Argumentos Correlatos a Favor da Tese 39Coment�arios Dial�e ti os 55Con eitos L�ogi os e Con eitos Ontol�ogi os 61Prova 63Da Demonstra� ~ao 67Do Valor do Nosso Conhe imento 77Coment�arios Subordinados 81Refuta� ~ao do Agnosti ismo, do Relativismo e do Nihilismo 87Coment�arios �as Teses 97Coment�arios �as Proposi� ~oes Examinadas 101

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6 CAP�ITULO 1. PRELIMINARESComent�arios �as Teses 111Coment�arios 131Refuta� ~ao do Atomismo Adin^ami o 135Cr��ti a �a Posi� ~ao de Kant 141A Indubitabilidade dos Universais 153Validez da Metaf��si a Geral (Ontologia) 161Validez da Metaf��si a Espe ial 163Obje � ~oes Kantianas e Respostas Correspondente 167Justi� a� ~ao dos Prin ��pios 169Quadro Combinado das Formas Puras do Ju��zo e das Categorias, Se-gundo Kant 173Teses Dial�e ti as 197

1.3 Pref�a ioDA 1a EDIC� ~AOCom a publi a� ~ao de \Filoso�a Con reta", en erra-se a primeiraparte da \En i lop�edia de Ci^en ias Filos�o� as e So iais", num totalde 10 obras j�a publi adas.Seguir-se-�a a segunda parte, ini iando om \Filoso�a Con reta dosVal^ores", onde ser~ao tratados os prin ipais temas da Axiologia mo-derna, visualizados atrav�es das positividades onquistadas pela Filo-so�a Con reta. Em seq�u^en ia a ^esse livro, ini iaremos a publi a� ~ao denossas obras de problem�ati a, al�em de o \Tratado de Est�eti a". \So- iologia Fundamental e �Eti a Fundamental"1, \Filoso�a e Hist�oria daCultura", \Tratado de Esquematologia", en errando a segunda parte1J�a publi ados.

1.3. PREF �ACIO 7 om \Tratado Geral das Tens~oes", o qual on re iona, numa totali-dade, as diversas doutrinas, por n�os expostas nesta parte.Assim omo levamos tr^es anos para editar a primeira parte destaEn i lop�edia, esperamos levar o mesmo tempo e, no m�aximo, in oanos, para dar publi idade aos restantes volumes, es ritos durantetrinta anos de devotado e silen ioso trabalho e de estudo da �loso�a.O apoio que esta obra teve do leitor brasilerio foi ineg�avelmente umfa to in�edito, n~ao s�o em nosso pa��s, omo em todo o mundo. Somam-sea mais de uma entena de milhares os exemplares vendidos no Brasil2,fa to auspi ioso que revela o grau de independ^en ia do leitor brasileiro,t~ao e tantas v^ezes a usado de indiferen� a para om os estudos maiselevados, omo a�rmam aqu^eles brasileiros que podem onhe er maisou menos bem o que se passa em outros pa��ses, mas que ignoramabsolutamente o que se d�a entre n�os.Durante o lan� amento de nossos livros, tivemos o m�aximo ui-dado de n~ao usar nenhuma provid^en ia demag�ogi a de publi idade,nenhum re urso publi it�ario, permitindo ao leitor manifestar-se es-pont^aneamente, guiado apenas por seu pr�oprio e aut^onomo ju��zo. Re- ebemos, no de orrer d^estes anos, milhares de artas, vindas de todo opa��s, e es ritas por pessoas ultas de todos os se tores da na� ~ao, muitadas quais nos autorizam publi ar suas opini~oes. Entretanto, semprenos furtamos a faz^e-lo, sem menospr^ezo aos que nos es reveram.Em ompensa� ~ao, essas artas muito nos desvane eram, e foram degrande efeito moral para levar avante o nosso plano de edi� ~oes, que sea�gurava a muitos irrealiz�avel, j�a que n~ao t��nhamos nenhum grupo de apitalistas a �nan i�a-lo.Tratava-se de obede er a uma norma que hav��amos tra� ado. Quer��-amos provar de modo indubit�avel a ertos edit^ores e livreiros, des ren-tes da possibilidade de uma tal obra, que ela, poderia obter bom ^exito,sem emprego dos ostumeiros re ursos de publi idade, nem r��ti as en-2Hoje somam a mais de seis entenas de milhares.

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12 CAP�ITULO 2. INTRODUC� ~AOEntre os gregos, predominantemente �epti os e pessimistas, a a eita-� ~ao de uma nova id�eia impunha e exigia a demonstra� ~ao. V^emo-loquando S~ao Paulo prop~oe-se ristianizar os gregos. Estes n~ao se satis-fazem om o que a�rma, e exigem-lhe demonstra� ~oes.A �loso�a na Gr�e ia, al�em de espe ulativa, o que de erto modoj�a era esot�eri amente em outras regi~oes, ara teriza-se, sobretudo,pela pro ura da apoditi idade. A �loso�a bus a demonstrar os seusprin ��pios, e om ^esse af~a atravessou os s�e ulos at�e os nossos dias.Na Ci^en ia Natural, a demonstra� ~ao �e feita em grande parte porvia experimental. Mas, se observarmos a matem�ati a, veremos que ademonstra� ~ao se pro essa dentro do maior rigor ontol�ogi o.Esta, omo i^en ia auxiliar, serve ineg�avelmente de elo entre a i^en ia experimental e a Filoso�a.Quem quer fazer �loso�a om absoluta seguran� a deve dar �a suademonstra� ~ao o rigor matem�ati o, e nun a esque er que os esquemas,que a �loso�a onstr�oi, s~ao an�alogos aos que a i^en ia examina e es-tuda.Bastam, para a f�e, os ju��zos assert�ori os; mas o verdadeiro �l�osofoexige ju��zos apod��ti os.Ao desejar-se onstruir uma Filoso�a Con reta, isto �e, uma �lo-so�a que d^e uma vis~ao unitiva, n~ao s�o das id�eias omo tamb�em dosfa tos, n~ao s�o do que perten e ao ampo pr�opriamente �los�o� o, omotamb�em ao ampo da i^en ia, deve ela ter a apa idade de penetrarnos temas trans endentais. Deve demonstrar as suas teses e postu-lados om o rigor da matem�ati a, e deve justi� ar os seus prin ��pios om a analogia dos fa tos experimentais.Porque s�o assim a �loso�a ser�a on reta, pois n~ao pairar�a apenasnum se tor da realidade, numa esfera do onhe imento, mas englobar�a,no seu pro esso, todo o ampo da a tividade epist^emi a do homem.Suas leis devem ser v�alidas para t^odas as esferas e regi~oes do saber1.3. PREF �ACIO 9da Filoso�a Con reta. O valor do pensamento exposto neste livron~ao se funda no de autoridades v�arias da �loso�a. A autoridade, e a�uni a que a eitamos, �e a dada pelo pr�oprio pensamento, quando emsi mesmo en ontra a sua validez, a sua justi� a� ~ao, pois ada umadas teses, expostas e apresentadas neste livro, �e demonstrada pelasdiversas vias pensamentais que n^ele propomos.Es lare e-se, assim, de uma vez por todas, que n~ao nos �liamosa nenhum pensamento sen~ao ao nosso, o da Filoso�a Con reta, ujavalidez est�a em si mesma e em suas demonstra� ~oes. Como onstru� ~ao�los�o� a, ela valer�a na medida que valerem essas demonstra� ~oes3.M�ARIO FERREIRA DOS SANTOSO Autor.

3^Este pref�a io perten e �a 1a edi� ~ao. Esta, que ora apresentamos, traz novas ontribui� ~oes, e muitas teses novas foram a res entadas, bem omo muitas sofre-ram novas demonstra� ~oes. Ademais, as teses foram novamente numeradas.

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10 CAP�ITULO 1. PRELIMINARESCap��tulo 2

Introdu� ~aoPara o mais riterioso pensamento �los�o� o do O idente, a �loso�an~ao �e um mero ludus, mas sim o afanar-se na obten� ~ao de um saberepist^emi o, espe ulativo, te�ori o, apaz de levar o homem ao onhe i-mento das primeiras e �ultimas ausas de t^odas as oisas.Pode a �loso�a, em m~aos pou o h�abeis, ter servido apenas paraa pesquisa desenfreada de temas v�arios, ao sabor da afe tividade eat�e da sem-raz~ao. Entretanto, o que se bus a om mais seguran� ano pensamento o idental �e a onstru� ~ao de ju��zos apod��ti os, isto �e,ne ess�arios, su� ientemente demonstrados, para justi� ar e ompro-var os postulados propostos, e permitir que o �losofar se pro esse emterreno mais seguro. Sente-se, n~ao obstante, que a �loso�a, em ertasregi~oes e em ertas �epo as, fundou-se mais em ju��zos assert�ori os, me-ras asser� ~oes de postulados a eitos, os quais re ebiam a �rme ades~aodos que n^ele viam algo adequado �as suas viv^en ias intele tuais e afe -tivas. ^Esse o motivo por que a, �loso�a, no Oriente, quase n~ao sesepara da religi~ao, e om ela at�e se onfunde, porque aquela omo estafundam-se mais em ju��zos assert�ori os, para os quais �e su� iente a f�e,que dispensa a demonstra� ~ao.

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16 CAP�ITULO 2. INTRODUC� ~AOforma� ~ao, �a sua exist^en ia e perdura� ~ao, bem omo ao seu t�ermino.Um onhe imento on reto �e um onhe imento ir ular, num sen-tido semelhante ao de Raimundo L�ulio, um onhe imento que one-xiona tudo quanto �e do obje to estudado, analogado �as leis (logoianalogantes), que o de�nem, onexionado, por sua vez, om a lei su-prema que rege a sua realidade, isto �e: um onhe imento harm^oni o,que apte os opostos analogados, subordinados �a normal e normais da-das pela totalidade a que perten em, o que n�os hamamos, em suma,a de adial�e ti a. Esta n~ao se inge apenas aos dez ampos do ra- io inar hier�arqui o, que estudamos em \L�ogi a e Dial�e ti a", masin lui tamb�em o onexionamento om a Dial�e ti a Simb�oli a e o Pen-sar Con reto, que re�une todo o saber, atrav�es dos Logoi analogantes,analogando, d^esse modo, um fa to, ou um obje to em estudo, �a tota-lidade esquem�ati a das leis universais, ontol�ogi as em suma.Um tri^angulo ^onti amente �e ^este tri^angulo. Podemos onhe ^e-losens��velmente, por que a sua �gura pode ser desenhada. Mas um onhe imento on reto do tri^angulo impli a o onhe imento da leida triangularidade, que �e a lei de propor ionalidade intr��nse a dostri^angulos, e a subordina� ~ao dessa lei �as leis da geometria, que s~aooutras tantas leis da propor ionalidade intr��nse a das �guras, que sesubordinam �as normas estabele idas por essa dis iplina. ^Este onhe- imento �e mais on reto. E o ser�a ainda mais, se on re ionarmos asleis da geometria �as leis ontol�ogi as.Como justi� a� ~ao de nossa obra, entendemos por Filoso�a Con retaaquela que bus a e justi� a os postulados de um saber ontol�ogi o,v�alido em qualquer se tor da realidade, e nas diversas esferas da re-alidade, porque as h�a e muitas, pois h�a uma realidade f��si a, umametaf��si a e ontol�ogi a, omo h�a uma psi ol�ogi a, uma hist�ori a, et ., om seus respe tivos rit�erios de verdade e de erteza.Subordinar assim um onhe imento espe ��� o �a normal dada pelasleis fundamentais da Ontologia, que s~ao manifesta� ~oes da lei suprema

13humano. Uma lei, v�alida apenas para uma regi~ao, se n~ao se subordina�as leis trans endentais, �e uma lei provis�oria. Ao estabele erem-se leise prin ��pios, devem ^estes ter validez em todos os ampos do onhe i-mento humano, porque s�o assim se onstruir�a o nexo que estru turar�ao saber epist^emi o num onjunto oordenado, no qual se d^e aqueleprin ��pio de harmonia dos pitag�ori os, que �e a adequa� ~ao dos opos-tos analogados, ujas fun� ~oes subsidi�arias est~ao subordinadas �a fun� ~aoprin ipal, uja normal �e dada pela totalidade.* * *Um r�apido estudo do pro esso �los�o� o grego, mostra-nos que, ap�osa vinda de Pit�agoras �a Magna Gr�e ia, desenvolveu-se uma tend^en iamar ante para a demonstra� ~ao dos postulados �los�o� os.E f�a il depreender que a ^ansia da apoditi idade, que se observanesse �losofar, tornado exot�eri o, deve-se, sobretudo, �a in u^en ia dosestudos matem�ati os, e, dentre ^eles, a geometria, que por exigir ons-tantemente demonstra� ~oes, fundadas no que anteriromente � ou pro-vado, desenvolveu a tend^en ia para o saber te�ori o, que s�o o �e quandofundado apod��ti amente.A �loso�a, tendendo para ^esse aminho, embora partindo do o-nhe imento emp��ri o e da doxa, tornou-se uma leg��tima epist�eme, umsaber ulto. ^Esse tender �e assim uma norma �eti a do verdadeiro �lo-sofar.Os primeiros esquemas no�eti os do �losofar grego tinham de provirda on eitua� ~ao omum, e n^eles trazer as ader^en ias da sua origem.Mas h�a uma expressiva tend^en ia a afastar-se dos pre on eitos de tipopsi ologista, e tender para o sentido da matem�ati a, omo vemos nopensamento pitag�ori o de grau mais elevado.Sabe-se que Pit�agoras foi um grande divulgador dos onhe imemosmatem�ati os, por ele adquiridos em suas viagens e estudos, embora

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14 CAP�ITULO 2. INTRODUC� ~AOalguns tenham d�uvida quanto �a sua exist^en ia hist�ori a, o que n~ao abe aqui dis utir. Mas o pitagorismo �e um fa to hist�ori o, e vemosque �e ^ele que anima o estudo da matem�ati a, e �e dentre os pitag�ori osque v~ao surgir os mais ilustres dos tempos antigos.A demonstra� ~ao separa-se da matem�ati a, e ademais esta n~ao �e ape-nas uma i^en ia auxiliar do onhe imento, um simples m�etodo, omoalguns pretendem onsiderar. Tem ela uma signi� a� ~ao ontol�ogi amuito mais profunda, e a justi� a� ~ao dessa a�rmativa n~ao aberiaainda aqui.A matematiza� ~ao da �loso�a e a �uni a maneira de afast�a-la dosperigos da est�eti a e das meras asser� ~oes. N~ao que onsideremos umdefeito a presen� a do est�eti o na �loso�a, mas o perigo est�a em oest�eti o tender a bastar-se a si mesmo, e reduzir o �losofar ao seu ampo, om o predom��nio da on eitua� ~ao, om onte�udos apenaspsi ol�ogi os, sem a depura� ~ao que a an�alise ontol�ogi a pode ofere er.E essa �e a profunda raz~ao que levava os pitag�ori os a exigir, paraos ini iados, o estudo pr�evio da matem�ati a, e a Plat~ao, ^esse grandepitag�ori o, a onsiderar impres ind��vel o onhe imento da geometriapara entrar na A ademia1.1Pro lo atribui a Pit�agoras a ria� ~ao da geometria omo i^en ia, pois, gra� asa ele, n~ao se limita ela a dar exemplos fundados em provas emp��ri as. Atribui-seaos eg��p ios a apli a� ~ao da geometria apenas para �ns pr�ati os imediatos; masPit�agoras pro ura transform�a-la numa i^en ia, o que onseguiu a�nal.Os teoremas s~ao demonstrados apod��ti ameme, pois s~ao investigados profunda-mente, gra� as ao emprego do pensamento puro, sem re orrer ao auxilio da mat�eria.Dessa forma, suas verdades sustentam-se em si mesmas, sem ne essidade dos fa tosreais, nem de sujeitos individuais s^obre os quais se apoiam.�E o que se observa na obra de Filolau, ujos fragmentos revelam ^esse desejo dospitag�ori os. No frag. 4:o, lemos:\Pois a natureza do n�umero infunde onhe imento, guia, e instrui a quem querque seja em qualquer oisa que lhe pare� a duvidosa ou des onhe ida. Se n~aoexistissem o n�umero e sua ess^en ia, nada seria laro nas oisas para ningu�em, nemem suas rela� ~oes onsigo mesmas, nem em suas rela� ~oes om outras oisas. Mas on�umero permite que t^odas as oisas postas em resson^an ia dentro da alma om as

15Quanto ao logos analogante de S�o rates e de Plat~ao, uja valideznun a �e demais salientar, sobretudo quando t~ao pou as v^ezes, na �-loso�a, houve uma n��tida ompreens~ao do verdadeiro sentido do seusigni� ado, estud�a-lo-emos mais adiante.Imp~oe-se que se revise om uidado o t^ermo on reto, uja origemetimol�ogi a vem do aumentativo um e de res ior, ser res ido.^Esse um, al�em de aumentativo, pode ser onsiderado ademais omoa preposi� ~ao om, o que indi aria o res er-se om, pois a on re� ~aoimpli a, na sua estru tura ontol�ogi a, a presen� a, n~ao s�o do que �ea�rmado omo entidade espe ��� amente determinada, mas tamb�emdas oordenadas indispens�aveis para o seu surgimento.Conv�em afastar a a ep� ~ao omum e vulgar que se tem do t^ermo on reto, omo sendo tal apenas o aptado pelos nossos sentidos.Para al an� armos a on re� ~ao de algo, pre isamos, n~ao s�o do o-nhe imento sens��vel da oisa, se �e obje to dos nossos sentidos, mastamb�em da sua lei de propor ionalidade intr��nse a, e da sua he eidade,que in lui o esquema on reto, que �e a lei (logos) da propor ionalidadeintr��nse a da sua singularidade, e, tamb�em, das leis que presidem �a suaper ep� ~oes dos sentidos, sejam ognos ��veis e orrespondam-se umas om as outras, onforme a natureza do gnomon, emprestando-lhes orporeidade, e disso iando eseparando ada uma por si em rela� ~oes entre as oisas, tanto das que limitam omodas limitadas."Em suma, �e para os pitag�ori os o n�umero que nos garante a autenti idadeimut�avel do Ser, pois aquele revela a verdade, e n~ao engana, omo n~ao leva osujeito a ilus~oes e a erros. Porque, omo diz Filolau, \a pr�opria natureza don�umero, da qual �e insepar�avel a harmonia, �e in ompat��vel om a mentira. Estan~ao abe em sua natureza. Ainda mais, a verdade �e origin�ariamente inerente einata ao on eito de n�umero".S�o o n�umero pode dar a base segura para o verdadeiro estudo ient��� o. E quempoderia negar que o progresso ient��� o en ontra no pensamento pitag�ori o a suafundamenta� ~ao e a sua base?E onsidere-se, ademais, que o n�umero (arithm�os) n~ao era, para os pitag�ori osde grau elevado, apenas quantitativo, mas qualitativo, e at�e trans endental.

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20 CAP�ITULO 2. INTRODUC� ~AO�rmemente ao ju��zo que enun iou. Quando se d�a um a to mental deades~ao, por�em n~ao �rme e om re eio de errar, estamos em fa e dadoxa, da opini~ao.Quando o a to mental n~ao �e adesivo, n~ao �e �rme, e teme-se errar,estamos em plena d�uvida.Para que a demonstra� ~ao seja satisfat�oria, deve ofere er erteza: a�rme ades~ao ao ju��zo enun iado.Na d�uvida, a ades~ao da mente est�a em suspens~ao, pois teme-se quen~ao seja verdadeiro o que �e enun iado pelo ju��zo.N~ao iremos agora examinar a longa pol^emi a s^obre o problema r��ti o que vem at�e os nossos dias, pois j�a o �zemos em \Teoria doConhe imento" e em \Noologia Geral".Antes de examinar a onveni^en ia ou n~ao dos dois ve tores, seguidospara a demonstra� ~ao das proposi� ~oes �los�o� as, pre isamos estabele- er se �e ou n~ao poss��vel ao ser humano provar apod��ti amente alguma oisa.Estabele ida esta possibilidade, deve-se ver se ela abe no ampoda �loso�a, e se, �nalmente, �e apli �avel num daqueles dois ve tores. Ese n~ao �e, que outro aminho se pode ofere er �a espe ula� ~ao �los�o� ana sua bus a de apoditi idade?Come emos, portanto, por partes. Examinemos primeiramente as,raz~oes pr�o e ontra a possibilidade da demonstra� ~ao.A posi� ~ao l�assi a ontra a possibilidade da demonstra� ~ao �e a �epti a,que estabele e que �e imposs��vel um onhe imento ient��� amente ob-je tivo e erto. Outra posi� ~ao, a ideal��sti a, estabele e que n~ao pode-mos saber o que as oisas s~ao em si; n~ao podemos inteligir o que elass~ao em si, nem poder��amos omprovar os nossos onhe imentos s^obreelas.A posi� ~ao relativista estabele e que o nosso onhe imento �e mut�avel2.1. O M�ETODO DESTA OBRA 17do ser, e onexionar o onhe imento, de modo a torn�a-lo on reto.

2.1 O m�etodo desta obraO m�etodo usado por n�os, nesta obra, para prova dos postulados funda-mentais de uma �loso�a oerente e fundada em ju��zos universalmentev�alidos, �e o seguinte:Se permane ^essemos apenas no ampo da l�ogi a formal, poderiama usar-nos de formalismo. Como o empr^ego de qualquer via demons-trativa ex lusiva pode sus itar d�uvidas quanto aos fundamentos dasteses expostas, usamos, nesta obra, t^oda a gama da demonstra� ~aoe t^odas as vias at�e agora onhe idas e manejadas pelo ser humano.Esta a raz~ao por que fazemos varias v^ezes a prova de um mesmopostulado. Notar�a o leitor que ada nova demonstra� ~ao usa umavia diferente. Preferimos as seguintes: a via formal, que nos ofere ea l�ogi a aristot�eli o-es ol�asti a, prima ialmente dedu tiva, o m�etodoindu tivo-dedu tivo e dedu tivo-indu tivo, a demonstra� ~ao a more ge-ometri o, a demonstra� ~ao pela redu tio ad absurdum, a demonstra� ~aoe onverso, a demonstra� ~ao pela dial�e ti a idealista, pela dial�e ti aso r�ati o-plat^oni a, que emprega om e� i^en ia a analogia, na atados logoi analogantes, pela dial�e ti a pitag�ori a, pelo m�etodo do pen-samento ir ular de Raimundo L�ulio e, �nalmente, pelo empr^ego denessa dial�e ti a ontol�ogi a, que in lui a metodologia da de adial�e ti a,da pentadial�e ti a e da dial�e ti a simb�oli a2.Desta forma, estamos ertos que t^odas as prin ipais teses que postu-lam os fundamentos da Filoso�a Con reta, por n�os onstru��da, omouma matematiza� ~ao (no seu genu��no sentido pitag�ori o) do pensa-mento �los�o� o, fundada em ju��zos universalmente v�alidos, s~ao de-monstradas atrav�es dos mais h�abeis meios e vias, umas orroborando2Nos diversos oment�arios aos postulados, que apresentamos su essivamente,daremos melhor vis~ao das nossas a�rmativas.

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18 CAP�ITULO 2. INTRODUC� ~AOas outras, umas ompletando o que h�a de de� iente em outras, fa-vore endo, a�nal, a robusta prova do que pretendemos realizar nestelivro.A matematiza� ~ao da �loso�a entendemo-la no genu��no sentido dePit�agoras, omo metamatem�ati a, e n~ao no sentido da matem�ati avulgar, da Logistik�e omo a hamavam os pitag�ori os, que trabalhaapenas om as abstra � ~oes de segundo grau.Um r�apido exame �e su� iente para a boa lareza do que pretende-mos realizar neste livro.Os pitag�ori os, e posteriormente Arist�oteles e os es ol�asti os, dis-tinguiam o n�umero numerante (numerus numerans) de o n�umero nu-merado (numerus numeratus). ^Este �ultimo se referia ao n�umero das oisas sens��veis, enquanto o primeiro ao n�umero abstra to, tomado emsua pureza ontol�ogi a, o n�umero absoluto.Podemos partir do emprego do n�umero em rela� ~ao as oisas sens��veis,o n�umero da aritm�eti a, o n�umero de medida e onta. Mas o tri^angulo,na geometria, �e um n�umero (arithm�os, em sentido pitag�ori o). Po-demos tornar o tri^angulo is�os eles omo um arithm�os, independente-mente da sua medida extensista, pois j�a o onsideramos em sua forma.Assim tamb�em a ir unfer^en ia, e as outras �guras geom�etri as. T^odass~ao arithmoi geometrikoi. Pela algebriza� ~ao, podemos al an� ar a um onjunto de arithmoi ainda mais formais, que n~ao s~ao meramente � - ionais, omo nos prova a apli a� ~ao da matem�ati a �a i^en ia.Al an� amos, a�nal, a Filoso�a Con reta, quando prin ipiamos atrabalhar om arithmoi de estru tura ontol�ogi a rigorosa, omo: an-terioridade e posteriorioade, depend^en ia e independ^en ia, su essivo esimult^aneo, ontol�ogi o e ^onti o, abaliedade, sub-alternidade, �nitivo,materiado (materiatum), efe t��vel, a tivo, ag��vel, opera� ~ao, operadore operado, unidade, multipli idade, ne essidade, onting^en ia, et .,desde que seus onte�udos esquem�ati os sejam rigorosamente de�nidosno ampo ontol�ogi o e no ^onti o.

2.1. O M�ETODO DESTA OBRA 19S~ao on eitos, om os quais podemos rigorosamente onstruir amatematiza� ~ao da �loso�a. Se se entendesse por tal a sua redu� ~aoa on eitos da Logistik^e (da matem�ati a de �al ulo, ou dos n�umerossens��veis), estar��amos transformando esta, que �e uma dis iplina au-xiliar, hier�arqui amente inferior aquela, em melhor m�etodo para oexame �los�o� o, quando a Filoso�a Con reta �e realmente o �api e da�loso�a, no seu af~a de saber, e possuidora, por sua vez, de um rigorontol�ogi o mais seguro, que os fa tos, em sua onti idade, servem omotestemunhos de prova.D^este modo, justi� amos, embora em linhas gerais, o que empreen-demos nesta hora.Depois de examinada a rela� ao entre sujeito e obje to3, ompreen-demos fa ilmente que as diversas provid^en ias tomadas pela �loso�a, om o intuito de al an� ar a apoditi idade, obede eram a dois ve tores,em que a a tualiza� ~ao de um pro essou-se sempre a usta da virtua-liza� ~ao do outro, e s�o em raros momentos a eitou o homem a presen� aa tual de ambos.O homem, ao �losofar, na bus a de uma erteza apod��ti a, devi-damente demonstrada, de uja verdade n~ao poderia duvidar, o pontoarquim�edi o, pro urou, ora na observa� ~ao do mundo obje tivo, ao se-guir os aminhos do empirismo em geral, ora, ante a impossibilidadede, neste ve tor, en ontrar a erteza desejada, bus �a-la, atrav�es de aminhos interiores, atrav�es da erteza de si mesmo, para s^obre elafundar todo o desenvolvimento posterior dos postulados �los�o� os.Ao examinar a adequa� ~ao entre os ju��zos e os fa tos do mundo,nem sempre se estabele eu um estado de erteza que satis�zesse aoser humano.Na erteza, en ontramos ^estes ara teres: um a to mental de ades~ao,e um a to de �rmeza sem o m��nimo temor de ^erro. O esp��rito adere3�E o que realizamos em \Filoso�a e Cosmovis~ao", \L�ogi a e Dial�e ti a", \Teoriado Conhe imento" e \Noologia Geral".

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24 CAP�ITULO 2. INTRODUC� ~AOestabele idos por Des artes:1) m�etodo: a d�uvida;2) verdade fundamental: sum ogitans, sou pensante;3) rit�erio: a per ep� ~ao lara e distinta.O m�etodo artesiano, entretanto, ofere e graves di� uldades, e temsido obje to de repulsa, porque n~ao nos leva om seguran� a a outraou outras ertezas fora de n�os. N~ao temos ne essidade de, nesta obra, riti ar tal m�etodo, mas podemos usar a d�uvida at�e do pr�oprio ogita.Poder��amos pensar que pensamos, poder��amos duvidar at�e de n�os mes-mos. O que pre isamos �e al an� ar uma erteza da qual ningu�em possaduvidar om seriedade.E h�a esta erteza.

2.1. O M�ETODO DESTA OBRA 21e relativo �as diversas fases do desenvolvimento intele tual do homem.�E omum hoje, na �loso�a, o ponto de vista de que n~ao �e poss��vela demonstra� ~ao que resolva leg��timamente, n~ao s�o o problema r��ti o, omo tamb�em o onhe imento exa to, a erteza. Vejamos as raz~oesdesta posi� ~ao.T^oda a demonstra� ~ao �e uma argumenta� ~ao leg��tima, que de orre depremissas ertas e evidentes, isto �e, ela parte de prin ��pios a eitos omo ertos. Portanto, t^oda a demonstra� ~ao sup~oe ne ess�ariamente umaverdade a eita, uja demonstra ~ao �e imposs��vel, porque, do ontr�ario,teria de ser reduzida a outra verdade, a qual deveria ser a eita semdemonstra� ~ao. Desta forma, o fundamento da demonstra� ~ao reduz-se,em �ultima an�alise, �a f�e numa verdade n~ao demonstrada.Outro argumento �e o seguinte: quem admite a demonstra� ~ao, ea exige para a �loso�a, dever�a demonstrar suas premissas, e assimsu essivamente, o que o levar�a, fatalmente, �a a eita� ~ao de uma verdadepr�evia indemonstr�avel. Foi em parte ^este o pensamento de Arist�otelesquando a�rmava que nenhuma i^en ia parti ular pode demonstrar osseus fundamentos4.Conv�em distinguir os t^ermos mostrar e demonstrar.O que se mostra faz-se imediatamente sem t^ermo m�edio; o que sedemonstra faz-se mediatamente om t^ermo m�edio.A demonstra� ~ao, portanto, impli a este t^ermo m�edio, mas ^este n~aoimpli a um outro, porque ^ele poderia ser evidente de per si, e servir omo t^ermo m�edio para as demonstra� ~oes posteriores.O meio de ombater a demonstra� ~ao �e so�sm�ati o, porque a opera� ~aodemonstrativa tem seu in�� io quando ela se realiza. Ela n~ao �e gerada4Arist�oteles quer referir-se �as i^en ias parti ulares, e n~ao �a �loso�a omo i^en iado universal, pois em \Metaf��si a", B, 2, 997 a, em diante e em Anal., post. T, 3,72b, 18-25 e T, 22, 84 a, 30-b 2, e em muitas outras passagens, mostra-nos que aimpossibilidade de demonstrar a ess^en ia de orre de que sua de�ni� ~ao seria outraque ela, diferente dela. Mas pode ser ela posta em evid^en ia pela demonstra� ~ao.

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22 CAP�ITULO 2. INTRODUC� ~AOpor uma forma que �e transmitida.A demonstra� ~ao gera-se da demonstra� ~ao, portanto n~ao se poderiapedir um ��r ulo vi ioso, omo o de demonstrar as premissas que ser-viram de ponto de partida para ela, e assim su essivamente, porqueela n~ao exige uma ausa un��vo a para ser su� iente, pois, em �ultimaan�alise, ela onsiste na ompara� ~ao que se faz entre um ju��zo e umju��zo evidente, veri� ando-se quais as semelhan� as e as diferen� as en-tre ambos.N~ao �e a demonstra� ~ao que gera a demonstra� ~ao. �E o a to intele -tual da ompara� ~ao entre o que ainda n~ao se sabe omo verdadeiro, om algo j�a dado omo verdadeiro. S�o se poderia negar validez �a de-monstra� ~ao se se provasse, om absoluta validez, que o homem nadapode provar om absoluta validez.A demonstra� ~ao n~ao al an� aria sua �nalidade se o epti ismo ab-soluto representasse a �uni a verdade gnosiol�ogi a.Vimos, ontudo, na \Teoria do Conhe imento", que o epti ismon~ao se sustenta omo posi� ~ao gnosiol�ogi a.E a demonstra� ~ao estaria justi� ada, se mostr�assemos algo de vali-dez universal, s^obre o qual n~ao pudesse pairar nenhuma d�uvida s�eria,honesta, s~a.A demonstra� ~ao impli a algo mostrado omo evidente. ^Este seria oponto arquim�edi o de um �losofar on reto. En ontrado este ponto,s^obre ^ele poder��amos onstruir t^oda a �loso�a.Em \Filoso�a e Cosmovis~ao", no ap��tulo s^obre o in ondi ionado,examinamos as diversas posi� ~oes l�assi as que propuseram um pontoarquim�edi o para o homem.Esses pontos poderiam ser lassi� ados: a) fundados no mundoobje tivo e no mundo exterior, omo pro edem os empiristas, os ma-terialistas, os sensualistas, et ., ou b) numa erteza interior, omopro edem alguns ra ionalistas, os idealistas, alguns existen ialistas,2.1. O M�ETODO DESTA OBRA 23et .Esses dois aminhos n~ao satis�zeram por n~ao ofere erem o pontoarquim�edi o desejado. A nosso ver, o defeito de todas as bus as doin ondi ionado, na �loso�a, funda-se num pre on eito �epti o, do qualos �l�osofos n~ao se libertam. Como �e o homem que �losofa, �e no homem,ou om o homem, que devemos en ontrar a erteza. Por isso, ou sebus a num obje to, que �e em parte onstru��do pelo homem, ou nomundo subje tivo, o mundo das nossas ��ntimas ertezas. Resta saberse n�os, no a to de despojamento de n�os mesmos, somos apazes deal an� ar uma evid^en ia, s^obre a qual nenhuma das posi� ~oes �los�o� aspoderia p^or uma d�uvida, depois de devidamente enun iada.Partamos da d�uvida, e ponhamos em d�uvida todos os nossos o-nhe imentos: o mundo obje tivo e o mundo subje tivo, e levemo-laat�e �a �ultima onseq�u^en ia. Deveria surgir um ponto do qual n~ao sepoderia mais duvidar.Conhe emos o pro esso artesiano da d�uvida met�odi a, em quepondo tudo em d�uvida, al an� ou a uma erteza, porque n~ao podiadeixar de re onhe er que, ao duvidar, ogitava, tendo a viv^en ia de simesmo ao ogitar, da qual n~ao podia duvidar.O ogita artesiano n~ao �e apenas uma opera� ~ao intele tual, mastamb�em afe tiva, porque signi� a sentir-se imediatamente omo uma oisa que ogita, uja exist^en ia n~ao pode duvidar. ^Este �e o seu ver-dadeiro sentido.Ora, Des artes partiu de que a verdade devia ser fundada em id�eias laras e distintas, e o que ^ele ogitava era, para ^ele, laro e distinto,portanto, verdadeira a sua exist^en ia.A id�eia lara e distinta �e aquela que �e indubit�avel, que n~ao podelevar �a d�uvida, que �e infal��vel, que n~ao pode levar ao ^erro, e que �einata (n~ao proveniente da realidade obje tiva).O ogito apresenta ^estes ara teres. Tr^es s~ao, portanto, os aminhos

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28 CAP�ITULO 3. O PONTO ARQUIM�EDICOSe n~ao h�a alguma oisa, ter��amos ent~ao a aus^en ia total de qualquer oisa que se d�a, p~oe-se. Nem se poderia dizer que o nada absolutoa onte e, porque n~ao a onte e, nem se d�a, nem se p~oe: �e a aus^en iatotal. E bastaria que algo houvesse, a presen� a de algo, para serimpro edente o nada absoluto.Podemos n~ao ser o que julgamos ser, n~ao �e poss��vel, por�em, o nadaabsoluto, a aus^en ia total e ompleta de qualquer oisa. Alguma oisah�a, a onte e, d�a-se. Em que onsiste ^esse \alguma oisa" �e o que nos abe examinar a seguir.Em \alguma oisa h�a", o sujeito se re ete ompletamente no verbo,pois fora de \alguma oisa" nada pode haver, pois o nada n~ao h�a, e ohaver �e o haver de alguma oisa. Entretanto, n~ao h�a identidade real eformal entre haver e alguma oisa, porque o haver s�o o �e quando �e dealguma oisa, pois o nada n~ao h�a.Oportunamente, provaremos por outros aminhos o que ora a�rma-mos.TESE 3 - Prova-se mostrando e n~ao s�o demonstrando.O on eito de demonstra� ~ao (de-monstrare) impli a o on eito demostrar algo para tornar evidente outra proposi� ~ao, quando ompa-rada om a primeira.A primeira erteza tem naturalmente de ser mostrada, j�a que ademonstra� ~ao impli a algo j�a dado omo absolutamente erto. Paraprovar-se a validez de algo, basta, assim, a mostra, que in lui os tr^eselementos impres ind��veis para a erteza. O axioma alguma oisa h�ae evidente de per si, e mostra a sua validez de per si, independente-mente da esquem�ati a humana, pois esta pode variar, podem variaros onte�udos esquem�ati os, mas que alguma oisa h�a �e evidente paran�os, e extra mentis (fora da nossa mente).TESE 4 - A demonstra� ~ao exige o t^ermo m�edio; a monstra� ~ao, en-tretanto, n~ao o exige.

Cap��tulo 3

O ponto arquim�edi o

H�a um ponto arquim�edi o, uja erteza ultrapassa ao nosso onhe i-mento, independe de n�os, e �e ^onti a e ontol�ogi amente verdadeira.Alguma oisa h�a . . . 1Partamos da an�alise dessa verdade in ontest�avel. Poderia n~ao sur-gir o homem, e n~ao haver um ser inteligente que aptasse pensamentos,mas h�a um pensamento real, absolutamente seguro, erto, verdadeiro:alguma oisa h�a . . .Pode n~ao haver o homem e o mundo. Tudo isso �e ontingente, epoderia n~ao ser. Mas alguma oisa h�a, pois do ontr�ario ter��amos ovazio absoluto, a aus^en ia total e absoluta de qualquer oisa, o nadaabsoluto.Ou alguma oisa h�a, ou, ent~ao, o nada absoluto.O nada absoluto seria a total aus^en ia de qualquer oisa, ab-solutum,des-ligada de qualquer oisa, o vazio absoluto e total. Neste momento,podemos ser a ilus~ao de um ser, podemos duvidar de nossa experi^en iae da do mundo exterior, por�em n~ao podemos a�rmar que nada h�a,1Empregamos alguma oisa no sentido neutro de algo.25

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26 CAP�ITULO 3. O PONTO ARQUIM�EDICOporque a pr�opria d�uvida a�rma que h�a alguma oisa, a pr�opria ilus~aoa�rma que h�a alguma oisa, e n~ao o nada absoluto.Quando dizemos h�a alguma oisa, a�rmamos a presen� a do que hamamos \ser", embora ainda n~ao saibamos o que �e ser, em que onsiste, qual a sua ess^en ia, o que d^ele podemos dizer.V^e-se, assim, que alguma oisa h�a �e ontraditado perempt�oriamentepelo nada absoluto. A�rmar que h�a o nada absoluto �e o mesmo quea�rmar que n~ao h�a qualquer oisa em absoluto. Mas, note-se, emabsoluto, porque, admitido que alguma oisa h�a, n~ao se d�a ontradi� ~aoem admitir-se que alguma oisa n~ao h�a, pois pode haver alguma oisa,esta ou aquela, e n~ao haver alguma oisa, essa ou aquela outra.Chamaremos ao primeiro nada de nada absoluto, e ao segundo denada relativo. Se ao nada absoluto ontradiz o \alguma oisa h�a", onada relativo apenas a ^ele se op~oe, n~ao o ex lui.Portanto, ambos podem dar-se, podem p^or-se, positivos ambos,embora de positividade inversa.Entre o \alguma oisa h�a", e \h�a o nada absoluto" n~ao pode havera menor d�uvida, e a a eita� ~ao do primeiro surge de um a to mental,de plena ades~ao e �rmeza, sem temor de errar.Onde poderia estar o ^erro? Se a�rmo que alguma oisa h�a, o �uni o^erro poderia estar em n~ao haver nenhuma oisa, o que �e negado at�epelo meu a to de pensar, at�e pelo mais �epti o a to de pensar, pois senada houvesse n~ao poderia ter surgido sequer a d�uvida.Portanto, a a�rmativa de alguma oisa h�a �e mostrada apod��ti amente,assim omo a impossibilidade do nada absoluto tamb�em o �e, pois sendoverdade que alguma oisa h�a, o nada absoluto absolutamente n~ao h�a;o nada absoluto �e imposs��vel de ser porque alguma oisa h�a.Portanto, est�a demonstrado de modo apod��ti o o primeiro postu-lado da \Filoso�a Con reta".

27TESE 1 - Alguma oisa h�a, e o nada absoluto n~ao h�a.TESE 2 - O nada absoluto, por ser imposs��vel, nada pode.O nada absoluto seria total e absoluta aus^en ia de ser, de poder,pois omo o que n~ao �e, o que n~ao existe, o que �e nada, poderia?Para poder �e mister ser alguma oisa. Portanto, o nada absoluto,al�em de n~ao ser, �e imposs��vel, e nada poderia fazer.Porque se pudesse fazer alguma oisa, era alguma oisa, e n~ao nadaabsoluto. Mas, j�a vimos que h�a alguma oisa e que n~ao pode havero nada absoluto; portanto, nada podemos esperar que d^ele provenha,porque n~ao �e nada.O t^ermo res, em latim ( oisa), do verbo reor, signi� a pensar ou rer. Coisa, seria assim o em que se pensa ou se r^e.E quer tal t^ermo referir-se ao ser on reto tempo-espa ial do qual ohomem tem uma intui� ~ao sens��vel, ou a tudo quanto n~ao se pode pre-di ar o nada absoluto. O t^ermo alguma, uja origem latina, �aliquid,nos revela o sentido de aliud (outro) e quid (que), outro que se distin-gue, que se n~ao onfunde, que �e \algo" (note-se a express~ao: �lho dealgo, �dalgo, que n~ao �e de qualquer, mas de algu�em que se distingue),mostra-nos, a�nal, que se entende por alguma oisa tudo quanto sep~oe, se d�a e do qual n~ao se pode dizer que �e um mero nada. Ora, onada absoluto n~ao se p~oe, n~ao se d�a, n~ao tem positividade: �e a puranega� ~ao, a aus^en ia total de alguma oisa, do qual se pode dizer que�e nada, nada.Tamb�em o t^ermo entitas, entidade, em seu logos (em sua raz~aointr��nse a), signi� a algo ao qual n~ao se pode predi ar o nada absoluto.E tudo o que n~ao �e nada absoluto �e algo (�aliquid), uma entidade(entitas).A�rmar que \alguma oisa h�a", �e a�rmar que, a tudo quanto n~aose pode dizer que �e o nada absoluto, �e algo que \a onte e", p~oe-se,d�a-se.

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32 CAP�ITULO 3. O PONTO ARQUIM�EDICOque �e. E alguma oisa que �e, deve ser existente, deve estar no plenoexer �� io de seu ser, para que torne existente o que era apenas poss��vel.Portanto, podemos al an� ar om t^oda erteza a esta on lus~ao �nal:Alguma oisa h�a, que �e, que existe.Que alguma oisa h�a, nenhuma d�uvida mais resta, omo tamb�emque alguma oisa �e. Que alguma oisa existe, que est�a no plenoexer �� io do seu ser, que n~ao �e apenas uma possibilidade, tamb�em n~aopode haver d�uvida, se examinarmos bem os seguintes argumentos:Se n~ao existisse alguma oisa no pleno exer �� io do seu ser, ter��amosapenas um ser poss��vel, isto �e, o que ainda �e nada relativo, e se tornar�a,ou n~ao, em algo no pleno exer �� io do seu ser.O que ainda �e uma possibilidade �e um ser em outro, porque o quepode �e, e, para poder, tem de estar no pleno exer �� io do seu ser, pois omo poderia fazer alguma oisa se n~ao tem poder?Portanto, alguma oisa existe, pois, se n~ao existisse, seria a possibi-lidade de alguma oisa que existe, do ontr�ario seria do nada absoluto,o que �e imposs��vel.Esta tese ser�a demonstrada por outra via mais adiante.

3.1 Coment�ariosAlguma oisa �e uma verdade ontol�ogi aNa verdade l�ogi a, sabemos, h�a a onformidade entre o intele toe a oisa, enquanto, na ontol�ogi a, h�a onformidade da oisa om ointele to. Mas a verdade ontol�ogi a �e a revela� ~ao do logos da oisa. Oju��zo alguma oisa h�a possui aquela aptid~ao e aquela apa idade. Averdade ontol�ogi a de orre da an�alise intr��nse a da oisa, que �e aptae apaz de, por si mesma, revel�a-lo ou permitir que um ser inteligente

29A demonstra� ~ao exige o t^ermo m�edio, pois �e uma opera� ~ao que onsiste em omparar o que se pretende provar a algo j�a devidamenteprovado.A mostra� ~ao segue uma via intuitiva. A evid^en ia do que se mos-tra imp~oe-se por si mesma, pois a sua n~ao a eita� ~ao levaria ao ab-surdo. Tamb�em se pode fazer uma demonstra� ~ao direta pela mera ompara� ~ao a ima itada; ou indire ta, omo a redu tio ad absurdum, omo no segundo aso.Podemos exempli� ar da seguinte forma: se alguma oisa n~ao h�a,ter��amos o nada absoluto, o que �e absurdo: logo alguma oisa h�a.Esta �e uma demonstra� ~ao indire ta de que h�a alguma oisa.TESE 5 - H�a proposi� ~oes n~ao deduzidas, intelig��veis por si de per sievidentes (axiomas).Bastaria a mera mostra, de uma para dar plena validez �a tese.Alguma oisa h�a e o nada absoluto n~ao h�a t^em tais requisitos, o quevem mostrar, portanto, que h�a realmente proposi� ~oes n~ao deduzidas(pois estas n~ao pre isam de outras para se mostrarem om evid^en ia),e que s~ao de per si evidentes, pois in luem em si mesmas o su� ientegrau de erteza, impres ind��vel ao axioma, e dispensam demonstra� ~ao,pois n~ao �e mister serem omparadas om outras para revelarem a suavalidez.Elas se eviden iam de per si, o que prova a tese.TESE 6 - Pode-se onstruir a �loso�a om ju��zos universalmentev�alidos.�E omum dizer-se que a �loso�a n~ao pode ser onstru��da om ju��zosuniversalmente v�alidos, isto �e, v�alidos para todos.No entanto, essa a�rmativa �e fa ilmente refut�avel, bastando quese estabele� a um ju��zo universalmente v�alido, s^obre o qual, on reta-mente, se possa onstruir todo um sistema de �loso�a, omo o faremos.

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30 CAP�ITULO 3. O PONTO ARQUIM�EDICOOs ju��zos, que estabele emos omo pontos de partida para a funda-menta� ~ao da Filoso�a Con reta, s~ao universalmente v�alidos.S�o um ap^elo �a lou ura, refutado pelo pr�oprio ap^elo, poderia a�rmarque h�a o nada absoluto e n~ao \alguma oisa".Esta v~a e lou a a�rmativa j�a a�rmaria que alguma oisa h�a. Po-demos duvidar de n�os, n~ao que alguma oisa h�a, pois mesmo quef^ossemos uma ilus~ao, mesmo que n�os n~ao houv�essemos, alguma oisah�a. Se para expor uma �loso�a pre isamos de n�os, se para omuni arid�eias pre isamos de n�os, n~ao pre isamos de n�os para que alguma oisahaja, pois mesmo que f^ossemos ilus~oes, ser��amos a ilus~ao de alguma oisa que h�a. Portanto, ^este postulado independe de n�os para mostrar-se omo evidente. �E um ju��zo universalmente v�alido, e �e s^obre ^ele quese fundar�a a Filoso�a Con reta.TESE 7 - O nada absoluto �e a ontradi� ~ao de alguma oisa h�a.H�a ontradi� ~ao quando se a�rma a presen� a e, simult^aneamente, aaus^en ia do mesmo aspe to no mesmo obje to. Dizer-se que alguma oisa h�a, �e ontradizer que h�a o nada absoluto, porque se h�a alguma oisa, o nada absoluto est�a ex lu��do.Dizer-se: h�a o nada absoluto �e dizer-se que n~ao h�a nenhuma oisa;isto �e, ontradizer-se que alguma oisa h�a.TESE 8 - O que h�a - �e; �e ser. O que n~ao h�a �e n~ao-ser.Do que h�a, diz-se que tem ser e �e ser. O onte�udo da palavra sern~ao �e de�n��vel, porque, para dizer o que �e ser, pre isamos de ertomodo d^esse on eito. Mas tudo quanto h�a �e. Ser, diz Suarez, �e a\aptid~ao para existir". Ser �e alguma oisa, e n~ao um mero nada (umaaus^en ia total e absoluta). S�o o ser pode, porque s�o ^ele tem aptid~aopara existir, porque o nada absoluto, por imposs��vel e impotente, n~aotem aptid~ao para oisa alguma, pois n~ao-�e.N~ao-ser �e o que n~ao h�a. O nada absoluto �e absoluto n~ao-ser.

31Se alguma oisa, esta ou aquela, n~ao h�a, n~ao a�rma um nada ab-soluto, mas apenas que esta ou aquela oisa n~ao h�a, ou seja: um nadarelativo.O nada absoluto �e um n~ao-ser absoluto.O nada relativo �e um n~ao-ser relativo.Postulado o primeiro, negar-se-ia, total e absolutamente, que al-guma oisa h�a.Postulado o segundo (o n~ao-ser relativo), n~ao se negaria, total eabsolutamente, que alguma oisa h�a, mas apenas que esta ou aquelaalguma oisa n~ao h�a.Mas, a eito que alguma oisa h�a, n~ao negamos total e ateg�ori a-mente que alguma oisa n~ao h�a, \alguma oisa h�a" e \alguma oisan~ao h�a" s~ao dois ju��zos parti ulares, sub- ontr�arios, e a verdade de umn~ao impli a ne ess�ariamente a falsidade do outro. Ambos podem serverdadeiros, omo realmente o s~ao.O nada absoluto �e imposs��vel, n~ao-pode, pois, para poder, �e-lhene ess�ario ser alguma oisa. Para que algo possa alguma oisa, �epre iso ser alguma oisa. O que h�a, a onte e, n~ao o hamamos nada,mas alguma oisa, ser. Portanto, o que n~ao h�a, n~ao �e; e s�o o que �e,h�a.N~ao sabemos ainda em que onsiste ^esse ser, mas sabemos que �e.Com o t^ermo existir entende-se o alguma oisa que �e efe tivamenteno pleno exer �� io de seu ser, pois o que pode vir-a-ser, ainda �e de erto modo, do ontr�ario seria o nada absoluto, o que �e imposs��vel.Se alguma oisa pode vir a a onte er, essa oisa que ainda n~ao sedeu, �e poss��vel. Se poss��vel, n~ao poderia vir do nada absoluto, porque^este j�a est�a afastado, mas de alguma oisa que �e, porque o nada, sendoimposs��vel e impotente, n~ao poderia produzir alguma oisa.Portanto, a exist^en ia de alguma oisa depende de alguma oisa

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36 CAP�ITULO 3. O PONTO ARQUIM�EDICO 3.1. COMENT�ARIOS 33a onhe� a. Alguma oisa h�a possui assim as ara ter��sti as, n~ao s�o deverdade l�ogi a, mas tamb�em ontol�ogi a.Alguma oisa h�a �e uma proposi� ~ao anal��ti a imediata (per se notas),quando ontol�ogi amente onsiderada, pois alguma oisa impli a, pelomenos, o haver de alguma oisa, j�a que a habitudo (a orrela� ~ao) entreo sujeito e o predi ado, �e aptada pela an�alise. Se quisermos onsider�a-la ^onti amente, seria, ent~ao, uma proposi� ~ao anal��ti a mediata (nonper se notas), ujo onhe imento de orreria da experi^en ia (da nossaexperi^en ia). Mais adiante veremos que ^este ju��zo pode ser onsideradoainda sob outros aspe tos.Tanto de um modo omo de outro, a proposi� ~ao alguma oisa h�aimp~oe-se de modo ne ess�ario, por uma ne essidade ontol�ogi a e poruma de orr^en ia ^onti a. Tais aspe tos robuste em ainda mais a apodi-ti idade da tese fundamental da Filoso�a Con reta que, por qualquervia pensamental seguida, �e sempre ne ess�ariamente evidente.O t^ermo ne ess�ario vem do latim ne esse, que, etimol�ogi amente,vem de ne e edo, do negativo ne, ne , e do verbo edere, uja ori-gem �e obs ura. Cedo signi� a ir, adiantar-se, retirar-se, afastar-se, etamb�em eder, abandonar, renun iar, fazer ess~ao. De orre, pois, queetimol�ogi amente, o t^ermo ne esse (ne essidade) indi a o onte�udo doque n~ao �e edido, do que n~ao se pode eder, do que �e imposterg�avel,do que n~ao pode deixar de ser o que �e.Quando, na dial�e ti a-ontol�ogi a se bus a o nexo de ne essidade,bus a-se o onte�udo eid�eti o que tem-de-ser, o �uni o que pode-e-deve-ser. Tem o homem apa idade de onstruir esquemas eid�eti o-no�eti osv�arios. ^Estes s~ao os eide onstru��dos por abstra � ~ao pelo nosso esp��rito(nous), atrav�es de uma opera� ~ao (noesis), e os seus onte�udos (noema)podem ou n~ao reproduzir o-que-n~ao-pode-deixar-de-ser-e-que-tem-de-ser-impres ript��velmente. Quando al an� amos a ^esse onte�udo eid�eti one ess�ario, al an� amos o onte�udo ontol�ogi o. ^Este se imp~oe inde-pendentemente da nossa mente e deve apresentar as ara ter��sti as de

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34 CAP�ITULO 3. O PONTO ARQUIM�EDICOne essidade, que ex luem ou podem ex luir a nossa esquem�ati a v�aria.A prin ipal provid^en ia da dial�e ti a-ontol�ogi a est�a, portanto, empro urar ^esse onte�udo, pondo de lado tudo quanto pode n~ao ser,at�e al an� ar o n~ao- ed��vel. Ademais o onte�udo ontol�ogi o deve de- orrer de uma an�alise que ofere� a sempre um nexo de ne essidade.Essa opera� ~ao afasta-se totalmente da opinativa, porque a opini~ao �eum assentimento da nossa mente s^obre oisas ontingentes, ou s^obre onte�udos eid�eti os-no�eti os ontingentes, ou sejam, que podem ser oupodem n~ao ser. O onte�udo ontol�ogi o s�o �e verdadeiro quando t^oda equalquer onting^en ia �e ex lu��da, e ela o �e quando dela ressalta o ab-surdo ontol�ogi o, ou pelo menos este �e poss��vel. Al an� ar os onte�udosontol�ogi os do que se examina �e, pois, a provid^en ia primordial dessadial�e ti a, e sem ela n~ao �e poss��vel atingir a meta desejada, que, emsuma, �e a onstru� ~ao de ju��zos universalmente v�alidos, por serem on-tol�ogi amente verdadeiros, o que leva ao afastamento total de t^odadoxa (opini~ao).TESE 9 - A proposi� ~ao \alguma oisa h�a" �e notada su� ientementepor si mesma.Provamos por outra via.A verdade de \alguma oisa h�a" n~ao exige, para ser notada, umamente espe ial. Ela �e notada de per si, e su� ientemente, porque asua nega� ~ao seria a�rmar o nada absoluto, que �e absurdo. Alguma oisa h�a n~ao exige de per si demonstra� ~ao, podia at�e dispens�a-la. Seajuntamos algumas, fazemo-la apenas para robuste er, de erto modo,a sua evid^en ia obje tiva. E dizemos evid^en ia obje tiva, porque n~ao�e uma verdade subje tivamente aptada por adequa� ~ao, mas de per sisu� ientemente verdadeira.A verdade l�ogi a dessa proposi� ~ao de orre do fa to de perten er opredi ado �a raz~ao do sujeito, mas �e tamb�em ontol�ogi a por ser ne- ess�aria.TESE 10 - \Alguma oisa h�a" n~ao �e apenas um ente de raz~ao, mas3.1. COMENT�ARIOS 35um ente real-real.Considera-se ente de raz~ao (ens rationis dos es ol�asti os) aqu^ele uja �uni a exist^en ia est�a na mente humana. Assim para os idealistasabsolutos ertas id�eias; o tempo e o espa� o, a esp�e ie e o g^enero paraoutros �l�osofos, et . Considera-se omo ente real, aqu^ele que tamb�emtem uma exist^en ia fora da mente humana (extra mentis). Assim esta asa, para os realistas, al�em de ter dela uma imagem a mente hu-mana, �e uma realidade fora da mente. Em suma, para todos s~ao entesde raz~ao aqueles que n~ao asseguram uma exist^en ia fora da mente hu-mana, e s~ao entes reais os que t^em essa exist^en ia. Um ente real podetamb�em ter uma orrespond^en ia existen ial na mente humana, omoa tem a imagem que formamos das oisas que omp~oem o mundo ex-terior para os realistas. \Alguma oisa h�a" pode mere er de algunsa a�rma� ~ao de que �e apenas um ente de raz~ao. Mas se alguma oisah�a �e um ente de raz~ao, assegura imediatamente que n~ao �e apenas umente de raz~ao, mas sim um ente real, porque se h�a um ente de raz~ao�e porque h�a algo que �e o sustent�a ulo do mesmo. E se alguma oisah�a �e mentado, ent~ao alguma oisa h�a realmente, porque alguma oisah�a, para que alguma oisa h�a seja mentada, o que prova, onseq�uen-temente, que �e real-real que alguma oisa h�a, o que vem robuste er,de modo apod��ti o, a tese, e provar tamb�em, apod��ti amente, que aFiloso�a pode fundar-se em uma verdade universalmente v�alida.

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40 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEEm suma, ser �e a perfei� ~ao pela qual algo �e ente. Ser n~ao �e apenaso que �e per ept��vel pelos sentidos ( omo o pretendiam que f^osse ospositivistas), o sensorialmente ognos ��vel, o que j�a mere era severas r��ti as de Plat~ao, algo que se possa to ar, sentir, prender nas m~aos.Ser trans ende a todos os ^ambitos dos on eitos, pres inde de t^odasas determina� ~oes, sem que se onfunda om o que Hegel julgava queera o ser. De ampl��ssima extens~ao, abrange tudo o que �e existente e oposs��vel.Se alguma oisa que h�a n~ao �e ser, �e nada, e, neste aso, ^esse alguma oisa n~ao h�a, n~ao a onte e, n~ao su ede, n~ao perdura, n~ao se d�a. Dizer-se que alguma oisa que h�a �e um sendo, um �etant, um seind, um ens,�e dizer que �e algum modo de ser, e n~ao mero nada. N~ao h�a lugar aquipara nenhuma outra posi� ~ao: ou alguma oisa h�a ou nehuma oisa h�a.E se o que h�a �e algo que ui, �e, ent~ao, algo que ui, uma presen� a que ui, e n~ao o nada que ui, porque o nada n~ao poderia uir, n~ao poderiapassar de um modo para outro, porque �e a aus^en ia de qualquer modoantes, durante e depois. O que ui, dura no seu uir, perdura, e umapresen� a do uir, uma presen� a uindo, �e alguma oisa, �e, e n~ao nada.�E ser, em suma.�E in�util, pois, tentar substituir o on eito de ser por outro, ounegar-lhe validez, pois n~ao se reduz apenas ao onte�udo l�ogi o. On-tol�ogi amente, o on eito de ser �e o mais ri o de onte�udo, o mais ri ode ompreens~ao, o mais perfeito, porque in lui todos os modos de ser,pois ^esses s~ao modos de ser e n~ao do nada.Ademais, ^onti amente, o ser �e o fundamento de tudo quanto h�a, omo veremos a seguir no de orrer das demonstra� ~oes. Assim se devedistinguir:Ser omo entidade l�ogi a: m�axima extens~ao e m��nima ompreens~ao.Ser omo entidade ontol�ogi a: m�axima ompreens~ao e m�axima ex-tens~ao.Ser omo entidade ^onti a: m��nima extens~ao e m��nima ompreens~aoCap��tulo 4

Argumentos orrelatos a favor dateseDepois da seguran� a observada no pensamento medieval, t~ao pou o es-tudado hoje, s^obre o que seja o ser, veri� amos que, em �l�osofos meno-res de nossos dias, mas de grande reper uss~ao, o ser passa a esvaziar-se ante seus olhos, hegando alguns a negar-lhe qualquer onte�udo.Para ^esses, �e apenas uma palavra a mais, e sem signi� a� ~ao. Al-guns prop~oem substitu��-la pelo sendo, parti ��pio presente do verboser. Substituem assim o in�nito, ou melhor, o inde�nido ser pelo par-ti ��pio presente sendo (de onde no latim ens, entis, no grego on, ontos).E a umulam diversas raz~oes em favor de sua opini~ao, raz~oes j�a refuta-das om s�e ulos de ante ed^en ia na obra dos medievalistas, mas quepare em surgir vivas, quando na realidade s~ao velhos fantasmas.Contudo, isso nos obriga a alguns reparos, que se tornam impres- ind��veis.Os argumentos edi� os s~ao sempre os mesmos. Vamos alinh�a-los,para depois respond^e-los:1) Que o ser �e algo que n~ao vemos, n~ao to amos, n~ao sentimos em37

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38 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEsuma, omo vemos a ^or e to amos uma moto i leta. Estas s~aoum sendo, mas e o ser?2) Que o t^ermo ser �e uma palavra vazia. N~ao indi a nada de efe -tivo, de apt�avel, de real, \eterno fumo de uma realidade que sevolatiliza" (Nietzs he).3) Que o t^ermo ser �e um substantivo verbal, que perten e �a fam��liaverbal do eu sou, tu �es, n�os somos, et ., e nada mais.Vejamos se h�a validez nessas a�rmativas.Para os gregos ser signi� a presen� a, estabilidade, prosist^en ia, oque tem sist^en ia pro, para a frente, physis, e tamb�em perman^en ia,o que mana atrav�es de, per. Con lui Heidegger, ao examinar o pen-samento dos gregos, que, para ^estes, existir (exist^en ia) signi� a n~aoser, porque existir �e sair de uma estabilidade surgida de si mesma, apartir de si mesma.O grande defeito que h�a em geral no pensamento moderno s^obreo signi� ado de ser est�a em onfundi-lo om o signi� ado meramentel�ogi o. Ora, o ser, onsiderado apenas logi amente, �e esvaziado de ompreens~ao, por ter a m�axima extens~ao, pois abrange tudo.Contudo, se o t^ermo ser l�ogi amente �e o de menor ompreens~ao(pois ser �e apenas ser), �e ontol�ogi amente o de m�axima ompreens~ao,porque tudo quanto h�a �e, de erto modo, e ser �e atribu��do a tudoquanto h�a, a tiva ou passivamente. Existir n~ao �e um afastar-se doser, �e um modo de ser no pleno exer �� io de ser, �e o ente fora de suas ausas. Con eber-se o on eito de ser apenas omo estabilidade, omoo que permane e sempre, e da�� on luir que o que existe (o existente)�e o que sai dessa estabilidade, portanto, �e n~ao-ser, eis uma maneiraprim�aria de ra io inar. Ser �e tamb�em estabilidade, �e uir, �e sendo,porque tudo isso n~ao pode re eber a predi a� ~ao de nada.Pretender-se uma de�ni� ~ao para o t^ermo ser �e inverter a ordem dal�ogi a. ^Esse on eito �e por n�os aptado na dial�e ti a ontol�ogi a de

39modo mais pathi o que ra ional; revela-se a n�os sem que o possamosprender dentro de esquemas, porque �e ^ele o fundamento dos esquemas,e n~ao ^estes daquele. Se ser f^osse apenas um on eito onstru��do porn�os, seria f�a il reduzi-lo a um esquema. Mas, pre isamente porque n~ao�e apenas um on eito �e que ^ele se nos es apa.Quando Suarez diz que ser �e a aptid~ao para existir n~ao o de�ne,n~ao o delimita, mas apenas d�a uma pat^en ia do seu onte�udo, porqueo que �e, de erto modo pode existir, isto �e, pode ser fora de suas ausas, poderia dar-se no pleno exer �� io de seu ser, ou modo de ser,pois s�o n~ao o pode o imposs��vel, o absurdo, o que absolutamente n~ao�e. Seria ^erro julgar que Suarez queria, om essa express~ao, de�niro ser. Era ^ele su� ientemente �l�osofo para saber que n~ao poderiareduzir o ser a outra oisa, porque outra oisa, que n~ao o ser, seria onada, e ^este n~ao poderia ser g^enero daquele, porque o ser n~ao �e umaesp�e ie de nada. Conseq�uentemente, jamais pretenderia dizer que oser onsiste em . . . isso ou aquilo, porque se isso e aquilo s~ao ser, ade�ni� ~ao ontinuaria ainda sem estar formulada, e se nenhum �e ser,seria nada, e o nada n~ao poderia de�nir o ser.E, ademais, de�nir �e delimitar, e o on eito de ser n~ao tem li-mita� ~oes, pois o que o limitaria? Se �e o ser, limitaria a si mesmo; se�e o nada, ^este ent~ao teria aptid~ao para limitar, e n~ao seria nada, masser.O ser �e o que dura, o que a�rma, o que perdura, o que fundamentatudo quanto �e sendo para os modernos. �E o fundamento de todo ente.De�nir �e reduzir algo a outros on eitos. Arist�oteles j�a estudou, ede modo de�nitivo, o que se entende por de�ni� ~ao. Os on eitos trans- endentais e os tran endentes s~ao inde�n��veis. Se ser f^osse de�n��vel, oser reduzir-se-ia a outro, e reduzir-se-ia a ser, o que seria tautol�ogi o.O que leva a alguns es ritores modernos a fazer tais onfus~oes �e a ig-nor^an ia, sem d�uvida, da longa espe ula� ~ao que s^obre o ser realizaramos medievais.

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44 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEPorque alguma oisa h�a, e o nada absoluto n~ao h�a, alguma oisaexiste. A exist^en ia de alguma oisa de orre, n~ao porque \alguma oisa h�a", mas porque o nada absoluto n~ao h�a.Portanto, \alguma oisa h�a" e \alguma oisa existe".Ademais, a raz~ao ontol�ogi a do existir impli a algo que �e, umaexist^en ia que se d�a ex, fora, omo j�a o mostramos em \Ontologia eCosmologia".A sist^en ia existe quando se d�a fora de suas ausas. Ora, o existirn~ao pode vir do nada absoluto, porque ^este j�a est�a total e absoluta-mente negado por \alguma oisa h�a". A exist^en ia de alguma oisa�e o exer �� io do ser dessa oisa, que �e uma sist^en ia ex, que se d�afora de sua ausa. Se alguma oisa n~ao existe, nada se daria fora desua ausa. Nenhuma sist^en ia se daria ex. Como o nada absoluton~ao �e qualquer oisa, alguma oisa existe, pois, do ontr�ario, haveriauma sist^en ia que n~ao se daria ex, dando-se portanto, em outro, oqual existiria. Alguma sist^en ia, que h�a, tem de existir, porque, n~aosendo ausada pelo nada absoluto, da-se ex, no pleno exer �� io de ser,pois, do ontr�ario, se daria apoiada em o nada absoluto, o que �e ab-surdo. Portanto, alguma oisa h�a que existe, alguma oisa se d�a opleno exer �� io de ser, alguma sist^en ia se d�a ex.Pode-se ainda demonstrar:\Alguma oisa h�a" �e evidente de per si, j�a o demonstramos. O queh�a, �e; �e ser. De qualquer modo �e ser.Portanto, alguma oisa h�a, que �e.\Alguma oisa h�a" n~ao se op~oe a \alguma oisa �e".\Alguma oisa existe" n~ao onduz a nenhuma ontradi� ~ao om \al-guma oisa h�a". Se alguma oisa existe, ela �e e ela h�a. Resta saber sealguma oisa h�a, �e e existe simult^aneamente.Existir �e estar no pleno exer �� io do seu ser. O alguma oisa h�a, se

41(porque �e apenas essen ial e existentemente ser, omo veremos).O primeiro �e atribu��do a todos os entes. O segundo �e a�rmado emtodos os s^eres, e refere-se a t^odas as perfei� ~oes, e o ter eiro �e o sertomado apenas enquanto ser, na sua onti idade.�E o que ressaltar�a om lareza, e sob ju��zos apod��ti os, no de orrerdas demonstra� ~oes que se seguir~ao.* * *Examina Heidegger as quatro is~oes que lhe surgem do seu exames^obre o ser: ser e devir, ser e apar^en ia, ser e pensar, ser e dever.Con lui om as seguintes palavras: \Ser nos apare eu desde o in�� io omo uma palavra vazia ou de signi� a� ~ao evanes ente. Que �e assim,tal nos apare eu omo um fa to ontest�avel entre outros. Mas, �nal-mente, revelou-se que aparentemente n~ao olo ava a quest~ao, e n~aopodia ser interrogado mais, era a oisa mais digna de pergunta. Ser ea ompreens~ao do ser n~ao s~ao dados de fa to. O ser �e o a onte imentofundamental, e �e s�omente a partir d^esse a onte imento fundamental,e �e s�omente a partir d^esse fundamento, que se en ontra onferido aoser-a�� proventual do seio do sendo em totalidade p^osto a des oberto."E prossegue mais adiante:\As indi a� ~oes dadas s^obre o emprego orrente, e, ontudo, bastantevariado, do `�e', nos onven eram do seguinte: �e totalmente err^oneofalar da indetermina� ~ao e do vazio do ser. �E o `�e' que determina asigni� a� ~ao e o onte�udo do in�nitivo `ser': e n~ao a inversa. Contudo,podemos tamb�em ompreender por que �e assim. O `�e' �e onsiderado omo �opula, omo `pequena palavra de rela� ~ao' (Kant) no seio daproposi� ~ao. Esta ont�em o `�e'. Mas omo a prop�osito, o logos adquiriu,enquanto ategoria, a jurisdi� ~ao s^obre ser, �e ela que, a partir de seu`�e', determina o ser."Ora, dizer que ser �e o indeterminado, mas que se determina ple-namente, e a�rmar que h�a a�� manifesta ontradi� ~ao, �e onfundir as

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42 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEdiversas a ep� ~oes que o on eito de determina� ~ao pode tomar.Ser, enquanto gramati almente verbo, enquanto on eito l�ogi o, �eindeterminado, �e a m�axima indetermina� ~ao. N~ao, por�em, enquanto on eito ontol�ogi o, que �e a m�axima determina� ~ao, pois o ser �e deter-minado por si mesmo e n~ao por outro, quando tomado ontol�ogi amente.A onstante onfus~ao que h�a entre o l�ogi o e o ontol�ogi o, �e que leva aoutras onfus~oes omo essa, e, �nalmente, a a�rmativa de haver on-tradi� ~ao, onde realmente n~ao h�a. O Ser n~ao ontradiz a si mesmoquando a�rmado omo plenamente ser. A determina� ~ao, aqui, n~ao �edada por outro, mas apenas �e a do seu pr�oprio per�l. O ser �e ser,determinadamente ser. Quando apli ado a heterogeneidade das oisasque s~ao, dos sendos que s~ao, �e ele indeterminado, porque aqui �e umatributo l�ogi o, enquanto antes era um onte�udo ontol�ogi o.Heidegger diz (p�ag. 88 da op. it.): \A palavra `ser' �e, portanto, in-determinada em sua signi� a� ~ao, e, ontudo, a ompreendemos de umamaneira determinada. `Ser' revela-se omo um plenamente-indetermi-nado eminentemente determinado. Segundo a l�ogi a ordin�aria, h�a,aqui, uma ontradi� ~ao manifesta. Ora, alguma oisa que se ontra-diz n~ao pode ser. N~ao h�a o ��r ulo quadrado. E, ontudo, h�a essa ontradi� ~ao: O ser on ebido omo o plenamente indeterminado que�e determinado."Na verdade, o ser l�ogi amente onsiderado �e a m�axima indeter-mina� ~ao, mas ontol�ogi amente �e a m�axima determina� ~ao real. S�ohaveria ontradi� ~ao se f^osse na mesma esfera. E a�� ser est�a tomadoem esferas diferentes. Ser, omo entidade l�ogi a, �e o sumum genus, og^enero supremo ao qual se reduzem apenas l�ogi amente t^odas as oi-sas. Mas ser, ontol�ogi amente, n~ao �e o g^enero supremo, mas a raz~aoque d�a o ser a tudo que �e, a raz~ao que d�a a a�rma� ~ao a tudo o que �e. Eo ser, ^onti amente onsiderado, n~ao �e nem determinado, nem indeter-minado, porque ultrapassa a todos os pares de ontr�arios que a mentehumana ria. �E a a�rma� ~ao plena de si mesmo, a eterna presen� a desi mesmo. �E o que a�nal iremos demonstrar no de orrer das teses, a

43�m de uma vez mais es lare er um tema que j�a f^ora es lare ido, masque, modernamente, est�a envolto, outra vez, nas sombras da onfus~ao.Quanto ao desejo bem prim�ario dos que querem tomar o ser nassuas m~aos para pes�a-lo, para ertamente determinar sua dureza, suaresist^en ia, et ., ou que desejam transform�a-lo num obje to �opti o ouauditivo, �e t~ao ing^enuo que nem pode ser levado em onsidera� ~ao.Quanto, por�em, aos que a�rmam que n~ao onhe emos o ser dire ta eimediatamente, onv�em dizer-lhes que todo onhe imento se pro essaatrav�es de uma assimila� ~ao, e depende, pois, de esquemas a omoda-dos, que assimilam o onte�udo obje tivo. Ora, o homem �e um serh��brido e de� iente, e n~ao poderia aptar dire ta e imediatamente oser em t^oda a sua pureza, e todo o seu onhe imento, pela hibridezde seus esquemas, �e, onseq�uentemente, h��brido. Mas se n~ao pode o-nhe er o ser totaliter, o que o poria em estado de beatitude ompleta,pode, no entanto, onhe ^e-lo totum, em t^odas as suas experi^en ias,porque, na heterogeneidade destas, ^ele esplende sempre, porque h�asempre uma experi^en ia de ser na heterogeneidade dos fa tos, que setorna a mat�eria bruta da sua espe ula� ~ao �los�o� a, que �e reduzida aesquemas intele tuais onstru��dos posteriormente.TESE 11 - Alguma oisa existe.Prova-se de v�arios modos: N~ao se on lui por a eitar que, se alguma oisa h�a, onseq�uentemente, alguma oisa existe.Existir n~ao �e pr�opriamente in luso no haver, pois entende-se porexistir a realidade exer itada in re, o ser real, ser em si, o ser no plenoexer �� io de ser.Ora, se alguma oisa h�a, o nada absoluto n~ao h�a. Se alguma oisaque h�a n~ao existe, n~ao seria exer itada em si, mas em outro. E ^esseoutro, n~ao podendo ser o nada absoluto, �e algum ser que existe, algumser que est�a no pleno exer �� io de ser. E se n~ao f^or ^esse, ser�a outro.De qualquer forma, alguma oisa existe para ser o portador do quen~ao existe ainda.

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48 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESE oisa em que ess^en ia e exist^en ia se identi� aram1.H�a, assim, alguma oisa em que ser e existir s~ao id^enti os.O alguma oisa, que �e, ou veio de si ou de alguma que �e. Ora,h�a alguma oisa que �e no pleno exer �� io de seu ser, e, para que seja,exige alguma oisa que existe. O existir de um novo alguma oisa, n~aopodendo vir do nada, prov�em do primeiro. Como n~ao h�a rupturas noser, porque haveria inter ala� ~ao do nada absoluto, o ser do segundoprossegue, de erto modo, o ser do primeiro alguma oisa2.O ser, que �e sustent�a ulo do existir do segundo, era no primeiro, e�e no segundo.O primeiro ser n~ao desapare eu nem tornou-se nada, pois o seusu essor ontinua o ser do primeiro, do ontr�ario haveria ruptura, ese inter alaria o nada absoluto. Ademais j�a provamos que h�a alguma oisa que �e no pleno exer �� io de ser, e no qual ser e existir se identi-� am.Ora, �e este o primeiro, sem a menor d�uvida. O segundo �e pelapresen� a do primeiro que lhe d�a o ser, pois, do ontr�ario, viria ou desi mesmo ou do nada. Se viesse de si mesmo, haveria, neste aso,dois s^eres que, n^eles, ser e existir se identi� ariam, o que mais adianteprovaremos ser imposs��vel. Vindo de outro, ent~ao ^este �e aquele emque ser e existir se identi� am.O ser do segundo a�rma a presen� a do ser do primeiro, que �e, naverdade, a a�rma� ~ao do segundo.De qualquer forma, h�a, por�em, pelo menos, um ser que existe, eque, n^ele, ser e existir se identi� am, e que, ademais, h�a sempre umser que �e, e existe. E se houver dois, em ambos h�a o ser, que �e, e1Esta prova ainda ser�a apresentada segundo outras vias demonstrativas.2Oportunamente provaremos que, al�em de n~ao haver uma solu� ~ao de ontinui-dade na perdura� ~ao do ser, pela inter ala� ~ao do nada absoluto, entre um ser-que-foie um ser-que-vem-a-ser, n~ao h�a, ademais, rupturas absolutas entre os s^eres que s~aosimult^aneamente, omo se entre ^eles se inter alasse o nada absoluto.

45n~ao existe, n~ao est�a no pleno exer �� io do ser; portanto, n~ao tendo umser no seu pleno exer �� io, est�a no exer �� io do ser de outro.^Este n~ao pode ser o nada absoluto, mas sim um ser que existe.Logo, alguma oisa h�a, que �e, e que existe simult^aneamente.Con lu��mos, apod��ti amente, que algo existe, e, omo existir im-pli a ser, hamaremos daqui em diante, de ser, alguma oisa que �e, eexiste.TESE 12 - O nada absoluto nada pode produzir.O nada absoluto nada pode produzir, porque �e imposs��vel, n~ao tempoder, n~ao tem e� �a ia para realizar alguma oisa, pois se a tivessen~ao seria nada absoluto, mas sim alguma oisa.Mas, pod^e-lo-�a o nada relativo, o n~ao-ser relativo?^Este, omo ainda n~ao est�a no pleno exer �� io do ser, tamb�em n~aopode, enquanto tal, produzir alguma oisa, pois, se o �zesse, a e� i^en ia,que revelaria ao produzir alguma oisa, a�rmaria o seu pleno exer �� iode ser, e n~ao seria, portanto, um n~ao-ser relativo, mas um ser em a to.Se o nada nada pode produzir, omo se on lui por de orr^en ial�ogi a, ontol�ogi a e dial�e ti a, omo a expusemos em \Criteriologia",do nosso livro \Teoria do Conhe imento", o prin ��pio de que ex-nihilomihil, que do nada nada surge, �e absolutamente verdadeiro, pois se denada se pudesse fazer alguma oisa, ou o nada fazer alguma oisa;autom�ati amente n~ao seria nada, mas alguma oisa, por revelar ae� �a ia de poder, e, portanto, de ser.TESE 13 - Alguma oisa sempre houve, sempre foi, sempre existiu.Se alguma oisa nem sempre houve, ela foi ante edida pelo nadaabsoluto. E se o nada absoluto ante edeu-a, de onde teria vindo ^esse\alguma oisa" que houve? Ou de si ou de outro. ^Esse outro n~ao po-deria ser o nada absoluto. Conseq�uentemente, um ser teria ante edidoao \alguma oisa" que houve. Se alguma oisa veio de outro alguma

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46 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESE oisa, est^eve sempre presente alguma oisa, por n~ao ter o nada e� �a iapara produzir algo.Conseq�uentemente, sempre houve alguma oisa. E sempre foi, por-que se sempre houve, sempre foi alguma oisa, ser.E sempre existiu, pois, alguma oisa no pleno exer �� io de seu ser.Se o que sempre houve deixou um momento de existir, deixou um mo-mento, onseq�uentemente, de haver, para tornar-se nada. E ter��amos,ent~ao, um momento em que se daria o nada absoluto, porque o alguma oisa, que havia, deixou de haver e de ser.Neste aso, omo surgiria d^esse nada absoluto outro alguma oisa,se aquele �e imposs��vel e ine� az, pois �e nada?N~ao era poss��vel, portanto, que se desse uma ruptura. Alguma oisa que houve, que era, que existiu, podia dar surgimento a algumaoutra oisa que houve, que era, que existiu, e esta a outra, e assimsu essivamente.N~ao poderia, ontudo, ter havido uma ruptura nesse haver, nesseser, nesse existir, porque, ent~ao, inter alar-se-ia o nada absoluto, enada mais poderia haver, ser, existir.Portanto, houve uma ontinuidade absoluta de haver, de ser, deexistir.Sempre houve alguma oisa, que sempre foi, que sempre existiu.E se um \alguma oisa" foi su edido por outro, ^esse outro veio doprimeiro, e est^eve ontido no poder do primeiro, pois, do ontr�ario,teria vindo do nada absoluto, o que �e imposs��vel. Ademais, o ser dossu essivos �e ainda do ser do primeiro, que perdura nestes. E alguma oisa que nestes perdura.Portanto, sempre houve, sempre foi, sempre existiu alguma oisa.E o haver, o ser e o existir perduraram atrav�es dos diversos algumas oisas; e omo �e alguma oisa, sempre houve e sempre foi e sempreexistiu alguma oisa, que era plenamente haver, ser e existir.

47TESE 14 - Alguma oisa que sempre houve, que sempre foi, quesempre existiu, ainda h�a, �e, e existe.Demonstramos que sempre houve um haver, um ser e um existir, osquais s~ao de alguma oisa, pois, ao ontr�ario, seriam do nada absoluto,o que e absurdo.Conseq�uentemente, em meio das oisas diversas que houveram, fo-ram e existiram, alguma oisa sempre houve, sempre foi, sempre exis-tiu.E se assim n~ao f^osse, haveria rupturas e inter alar-se-ia o nadaabsoluto, o que teria rompido a adeia do haver, do ser e do existir.Portanto, alguma oisa sempre plenamente houve, foi, existiu.Resta provar que sempre houve um \mesmo" alguma oisa, quesempre foi, e que foi plenamente o haver, o ser e o existir (o que nossurge intuitivamente do que foi examinado na tese anterior). E quenesse \alguma oisa" haver, ser e existir s~ao ^ele mesmo.Alguma oisa �e o que �e por algo que o apresenta omo �e. �E a suaess^en ia.Ess^en ia �e o que pelo qual uma oisa �e o que ela �e. Ora, o pelo qual�e alguma oisa, �e o ser e haver d^esse alguma oisa.E ^esse haver e ser n~ao se separam d^ele, porque se d^ele se ausentas-sem, ^este alguma oisa, sem ser nem haver, seria nada.O ser e haver de alguma oisa �e da sua ess^en ia, que sempre houve,sempre foi. Se a sua ess^en ia n~ao f^osse ele mesmo, teria ^ele vindo donada, o que �e absurdo, ou, ent~ao, de outro alguma oisa.Neste aso, alguma oisa sempre existe; portanto, a sua exist^en ia(o pleno exer �� io do seu ser) identi� a-se om a sua ess^en ia, que �epelo qual o alguma oisa �e alguma oisa, pois �e pelo ser que �e, pelo serexer itado, que �e ^ele alguma oisa. Portanto, sempre houve alguma

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52 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESETESE 17 - O Ser n~ao pode ter surgido s�ubitamente, pois semprehouve alguma oisa.Se houvesse uma pre ed^en ia do nada absoluto e, posteriormente,o surgimento do Ser, este seria ou uma possibilidade do nada absolutoou uma possibilidade de si mesmo. Se o alguma oisa f^osse uma possi-bilidade do nada absoluto ^este estaria refutado, pois o que pode fazerou permitir que se fa� a �e algo, e n~ao nada absoluto. Conseq�uente-mente, �e imposs��vel que se algum ser surge, seja ^ele uma possibilidadedo nada absoluto. N~ao poderia ser tamb�em uma possibilidade de simesmo, pois ent~ao teria um sustent�a ulo, o qual existiria antes de ser,o que �e absurdo. Em �ultimo aso, a�rmaria j�a a pr�evia exist^en ia dealgo, o que seria a�rmar o ser, e negar o nada absoluto.Como poderia surgir alguma oisa, ent~ao? Por seu pr�oprio ��mpeto�e imposs��vel; pelo nada absoluto tamb�em �e imposs��vel. Como entreo nada e o ser n~ao h�a meio t^ermo, omo nos �e revelado, s�o poderiasurgir por algo anterior, j�a que se surgisse de si mesmo a�rmaria queera anteriormente a si mesmo e existiria antes de existir, o que �e ab-surdo. N~ao podendo ser uma possibilidade, nem do nada nem de simesmo, o s�ubito su eder de alguma oisa que h�a, n~ao podendo ser pre- edido por uma aus^en ia total e absoluta de qualquer oisa, por serimposs��vel, �e inevit�avel (in ed��vel, ne ess�ario, de ne- edo), que semprehouve alguma oisa, j�a que h�a alguma oisa.Pela dial�e ti a budista, em suas quatro provid^en ias, poder��amosra io inar assim: 1) que algo h�a; 2) que absolutamente n~ao h�a algo;ou seja: o nada absoluto; 3) que algo h�a e, simult^aneamente, n~ao h�aabsolutamente nada; 4) ou, ent~ao, que nem h�a alguma oisa nem h�aabsolutamente a aus^en ia de qualquer oisa.A�rmar que absolutamente n~ao h�a alguma oisa �e a�rmar o nadaabsoluto, o que �e absurdo e apod��ti amente refutado. Que o que h�a�e algo que h�a, e, ao mesmo tempo, �e absolutamente nada, �e absurdo,porque a�rmaria a presen� a e, simult^aneamente, a aus^en ia. Resta

49existe.Prova-se ainda do seguinte modo: Se houvesse mais de um ser, emque ser e existir se identi� assem, de qualquer forma um, pelo menos,teria sempre sido e existido, o que provaria, ent~ao, a nossa tese.Admitamos dois s^eres nessas ondi� ~oes A e B. Todos os entes pos-teriores devem o seu ser e o seu existir a ^esses dois s^eres primordiais.E o ser que h�a nos su essivos �e dado por aqu^eles; pois, do ontr�ario,teria vindo do nada, o que �e absurdo.Admitamos, s�o para ra io inar, que um deles pudesse ter deixadode existir, e n~ao tivesse transmitido o ser a outro.Mas, de qualquer forma, a exist^en ia de entes prova que semprehouve, pelo menos, um que sempre existiu, um ser pelo qual �e trans-mitido o ser aos outros s^eres, pois, do ontr�ario, teria havido rupturasno ser, o que, omo j�a vimos, �e absurdo.Se temos apenas A e B, dois s^eres primordiais, um apenas poder-se-ia admitir que tivesse deixado de ser, n~ao ambos; pois, do ontr�ario,dar-se-ia o nada, e n~ao o ser, pois inter alar-se-ia o nada absoluto.Portanto, h�a alguma oisa que sempre houve, sempre foi, sempreexistiu, e que ainda h�a, �e, e existe3.TESE 15 - O alguma oisa que sempre houve, sempre foi e sempreexistiu, n~ao teve prin ��pio. Sempre foi e sempre �e.3O nada absoluto n~ao h�a; Portanto o ser de A ontinua de erto modo em B, eo ser d^este, n~ao podendo provir do nada absoluto, o ser, que ont�em, j�a estava emA. A, portanto, j�a tinha o seu pr�oprio ser e o ser de B, pois, do ontr�ario, o nadateria interferido para que B f^osse.E por n~ao haver rupturas, o ser de C, que veio de B, e o de D, que veio de C, j�aestavam, de erto modo, em A. O que h�a do ser em B, C e D �e ser do ser, que estavaem A. Portanto, algo de A est�a presente nos que d^ele de orrem. Poder-se-ia daroutro aso: que A, B, C, D fossem simult^aneos, oexistentes e que n~ao houvesse( ontra a nossa evid^en ia) su ess~ao de s^eres. De qualquer modo, o ser em A, B,C, D �e ser, e n~ao nada absoluto e, neste aso, o ser sempre houve e h�a, foi e �e,sempre existiu e existe, o que provaria tamb�em a nossa tese.

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50 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEQue algo sempre houve, sempre foi e sempre existiu �e evidente. Eque n~ao teve prin ��pio �e um orol�ario do que j�a � ou demonstrado,pois se o tivera, n~ao tendo vindo de si mesmo, nem de nenhuma outra oisa, que estaria ainda n^ele presente (pois omo veremos a ess^en iae a exist^en ia, ser e existir, n^ele se identi� am), teria vindo do nadaabsoluto, que seria, nesse aso, o prin ��pio e origem do ser4.Ora, o nada absoluto, sendo imposs��vel, n~ao poderia dar prin ��pio, aum ser. Portanto, sempre houve alguma oisa que sempre foi, alguma oisa de imprin ipiado.Alguma oisa sempre foi, a qual passaremos de�nitivamente, paraabreviar, daqui por diante, a hamar de Ser absoluto, sem aindadis utirmos quais os seus outros atributos e propriedades, o que vir�aposteriormente, numa de orr^en ia rigorosa, e a fortiori, do que at�eaqui � ou demonstrado.Sempre houve o Ser, que foi ^ele mesmo, pois, omo veremos, suaess^en ia e sua exist^en ia om ele se identi� am; um Ser que �e elemesmo no pleno exer �� io de si mesmo, ^onti amente ^ele mesmo.E ^esse Ser, que sempre foi, tamb�em sempre �e. E sempre �e, porque,do ontr�ario, tendo o Ser desapare ido, ter-se-ia dado o nada, e o queh�a de ser agora teria vindo do nada, o que �e absurdo, omo vimos.Portanto, n~ao houve rupturas nesse Ser, nem inter ala� ~oes de nada,no perdurar do Ser, que sempre foi, e que sempre �e.Restar-nos-�a saber se sempre ser�a, o que examinaremos mais adi-ante.TESE 16 - Entre ser e nada n~ao h�a meio-t^ermo.Menos que ser �e nada, porque se n~ao �e nada, �e alguma oisa; �eser. O on eito de ser, enquanto tal, �e uma perfei� ~ao que n~ao admite4E hamamos de absoluto por que est�a ab solutum (desligado) de outro anterior,e �e totalmente ser.O que de orre ontol�ogi amente d^esse desligamento, vir�a a seu tempo.

51hibridez. O on eito de nada absoluto tamb�em �e ex ludente de todoser. Menos do que nada j�a seria ser. Por isso, entre ambos, n~ao h�ameio-t^ermo.O nada relativo, isto �e, a priva� ~ao de uma propriedade, de umestado, de uma perfei� ~ao, n~ao �e uma aus^en ia absoluta de ser, masapenas a priva� ~ao, neste ou naquele ser, de tais ou quais perfei� ~oes.Conseq�uentemente, o nada relativo n~ao �e meio t^ermo entre ser enada absoluto.A partir d^este postulado, podem-se demonstrar os pri ��pios on-tol�ogi os de identidade, de n~ao- ontradi� ~ao e o do ter eiro ex lu��do,que s~ao os axiomas que servem de fundamento ao �losofar de Arist�oteles.Provado que n~ao h�a um meio-t^ermo entre o nada absoluto e o ser,que estivesse fora do nada e fora do ser (j�a que o nada relativo �e ape-nas o ser poss��vel), o que �e, portanto, �e (fundamento do prin ��pio deidentidade). Do que se diz que �e, n~ao se pode simultaneamente dizerque n~ao �e (fundamento do prin ��pio de n~ao- ontradi� ~ao), e de algo sediz que �e ou n~ao �e, n~ao abendo, onseq�uentemente, uma outra possi-bilidade, enquanto o ser f^or onsiderado formalmente (fundamento doprin ��pio de ter eiro ex lu��do).Os enun iados dial�e ti os destas leis, por n�os expostos em \L�ogi ae Dial�e ti a", n~ao ontradizem a justeza do que dissemos, pois, nade adial�e ti a (a nossa dial�e ti a dos dez ampos), s~ao ^eles apenasapli ados sob, o aspe to intensista dos entes, omo mostramos naquelaobra.Mais adiante, ao examinarmos e omentarmos outras teses, exa-minaremos om mais exaust~ao ^esses prin ��pios, que, para a Filoso�aCon reta, s~ao apenas proposi� ~oes fundadas em provas ontol�ogi as an-teriores, e n~ao prin ��pios axiom�ati os, que sirvam de ponto de partidado �losofar. ^Eles se imp~oem por a laramento e pelo rigor ontol�ogi oque os justi� a, omo ainda veremos.

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56 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEde n�os. A Filoso�a Con reta imp~oe-se de per si, independentementedo homem.Se o homem n~ao existisse, as teses impunham-se independente-mente d^ele. Elas o ante edem, o a ompanham e o su edem. O ho-mem �e apenas um instante hist�ori o do universo, mas as verdadesontol�ogi as, por n�os aptadas, fogem, alheiam-se, separam-se de t^odahistori idade. Elas s~ao alheias �a hist�oria, e, por isso, virgens das se-dimenta� ~oes de orativas do esp��rito humano atrav�es da sua histori i-dade.Os onte�udos on eituais imp~oem-se de per si. E ada onte�udo�e assim, e n~ao pode ser de outro modo, e revela-se ne ess�ariamenteassim omo �e exposto.Esta �e a fundamental raz~ao por que a Filoso�a Con reta �e umamatematiza� ~ao do onhe imento. Traz a mar a humana, apenas noelementar dos t^ermos verbais, mas os onte�udos ultrapassam o homem.A Filoso�a Con reta, d^este modo, trans ende o ampo antropol�ogi o,para revelar-se omo genu��namente ontol�ogi a.Igualmente se d�a quanto aos postulados prin ipais da matem�ati a.^Eles valem de per si. Revelam-se ao homem. E eis por que a ma-tem�ati a manifesta-se melhor atrav�es das intui� ~oes humanas, e devesuas onquistas mais aos dotados de l'espirit de �nesse, do que qual-quer outra dis iplina. O esp��rito geom�etri o (l'espirit de g�eom�etrie) onstr�oi apenas a ra ionaliza� ~ao posterior. Os grandes matem�ati osforam intuitivos apof^anti os. E intuitivos apof^anti os foram tamb�emos grandes �l�osofos, aqu^eles a quem abe um papel riador (poi�eti o)na Filoso�a.Distingue-se, assim, a matematiza� ~ao �los�o� a de \l'espirit de g�eo-m�etrie", dirigida pela raz~ao a tuando aprior��sti amente, da matema-tiza� ~ao de \l'espirit de �nesse", que �e intuitivo-apof^anti a, e que nas ede uma revela� ~ao ontol�ogi a, omo a ima dissemos.�E omum onsiderar-se que a falta de pre is~ao matem�ati a da Fi-4.1. COMENT�ARIOS DIAL�ECTICOS 53apenas, portanto, que o que h�a nem �e algo que h�a, nem �e nada abso-luto.Como n~ao h�a meio t^ermo entre ser e n~ao ser absolutamente, oque h�a h�a, e n~ao pode n~ao haver, restando, portanto, omo �uni a onseq�u^en ia absolutamente v�alida, mesmo para essa dial�e ti a: queh�a alguma oisa.V^e-se, assim, que, por t^odas as vias que se per orram, a tese alguma oisa h�a �e absolutamente verdadeira.

4.1 Coment�arios dial�e ti osN~ao se pode negar o extraordin�ario papel que abe �a intui� ~ao apof^anti a(iluminadora) na �loso�a. Os irra ionalistas s~ao positivos em suasa�rma� ~oes em favor das intui� ~oes apof^anti as e riadoras, e tamb�emo s~ao quando estabele em restri� ~oes ao papel da raz~ao, omo ela �e on ebida na �loso�a moderna pelos ra ionalistas. E fazemos essadistin� ~ao, om o intuito de evitar as onfus~oes t~ao ostumeiras, poisa rationalitas, em sentido lato, �e o entendimento, o onjunto da fa ul-dade ognos itiva intele tual, em oposi� ~ao �a sensibilidade, o que, na-turalmente, in lui a intui� ~ao apof^anti a, que n~ao �e de origem sens��vel,mas intele tual. Em sentido restrito, imp~oe-se distinguir entendimento(Verstand) de raz~ao (Vernunft), ou omo o faziam os es ol�asti os, en-tre o intelle tus (intelig^en ia), que apta imediatamente a ess^en ia, ea intele � ~ao ou penetra� ~ao intele tiva, que se onfunde om a intui� ~aointele tual e, �nalmente, a ratio, que �e a fa uldade do pensar dis ur-sivo, lassi� ador e oordenador dos on eitos, o que pr�opriamente ara teriza mais intensamente o homem.A apa idade abstrativa do nosso intele to (que �e o entendimento)realiza o pensamento que abstrai, ompara e de omp~oe; �e anal��ti a,enquanto a raz~ao �e uma fun� ~ao sintetizadora, pois onexiona, d�a uni-dade, e estru tura, em onjuntos estru turais rigorosos, o onhe i-

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54 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEmento v�ario e disperso do homem.A raz~ao de per si n~ao ria. Demonstramos em \Filoso�a e Cos-movis~ao" que o seu papel sintetizador, e eminentemente abstra to,afasta-a onstantemente da on re� ~ao, sem que a oloquemos ontraa vida, omo algo que se desse fora e ontra a vida. A raz~ao, por si s�o,n~ao �e su� iente sem a longa elabora� ~ao do entendimento e das fasesmais fundamentais da intele tualidade humana. Fundada na intui� ~aointele tual generalizadora, �e a raz~ao sintetizadora, e, ademais lhe faltao mais profundo papel poi�eti o, riador.Eis por que �e vi ioso o pensamento ra ionalista que deseja partirdo onhe imento ra ional, tomado aprior��sti amente. No entanto, araz~ao, a tuando a posteriori, depois de dado o onhe imento anal��ti o,fun ionando em seu papel ordenador, lassi� ador e sintetizador, rea-liza uma obra grandiosa. �E ^esse o pensamento de empirismo-ra ionalista,que vem desde Arist�oteles atrav�es da es ol�asti a. Aqui a raz~ao est�a olo ada em seu verdadeiro papel.�E f�a il agora ompreender porque t^odas as tentativas de matema-tiza� ~ao da �loso�a, que foram fundadas no mais ru ra ionalismo,tinham naturalmente de malograr por air em onstru� ~oes inanes, va-zias, porque a raz~ao, a tuando apenas em sua fun� ~ao abstra tora,tende, fatalmente, ao esvaziamento das heterogeneidades, a ponto deatingir o �api e do abstra tismo, que �e o nada. �E assim que a a tua� ~aomeramente ra ional tende a esvaziar os on eitos, quando ra ionali-zamos ao extremo, omo temos eviden iado de modo de�nitivo emnossos trabalhos.O m�etodo, que usamos nesta obra, evita-nos ^esses per al� os ostu-meiros, pois n~ao nos fundamos no dedu tivismo l�ogi o do ra ionalismo,nem no indu tivismo, que geram saltos de uma esfera para outra, mui-tas v^ezes perigosos, e noutras falso. Nosso m�etodo pro ura tornaro ra io ��nio a posteriori �a intui� ~ao apof^anti a, que as ondi� ~oes on-tol�ogi as ofere em. Quando al an� amos uma situa� ~ao ontol�ogi a, ela4.1. COMENT�ARIOS DIAL�ECTICOS 55exige, ne ess�ariamente, uma s�o resposta, ela �e, por si mesma, es lare- edora, ela se apresenta nua �a intui� ~ao intele tual do entendimento.�E o que se v^e em fa e das teses demonstradas. N~ao h�a pr�opriamentededu � ~ao nem indu � ~ao; h�a revela� ~ao, desnudamento, desvelamento.A ne essidade ontol�ogi a ressalta, exibe-se, e ela mesma inaugura ades oberta pelo esp��rito do homem. E o rigor ontol�ogi o, �e o logos doontos examinado, que esplende, que ilumina o que estava o ulto (ap^o-phaos). Nosso trabalho �e, ent~ao, apenasmente intuitivo-apof^anti o, ea ra ionaliza� ~ao pro essa-se a posteriori.Essa matematiza� ~ao da �loso�a n~ao �e, pois obra apenas empre-endida por uma bus a inten ionalmente mental. A matematiza� ~aoontol�ogi a imp~oe-se por si mesma ao esp��rito. Nosso m�etodo �e, pois,de des oberta e n~ao de pro ura. �E omo uma vereda que nos levasse aum prado, de onde des ortinamos o esplendor das oisas belas, porqueverdadeiras e verdadeiras porque genu��namente belas. N�os n~ao o bus- amos; n�os o a hamos, n�os n~ao for� amos a sua des oberta, ^ele se revelaexigente a n�os. A matematiza� ~ao da �loso�a, omo a empreendemos,n~ao �e uma realiza� ~ao nossa; �e apenas o resultado da ontempla� ~ao daverdade, omo ela esplende aos nossos olhos5.Atentemos daqui por diante, no exame das teses, para ^esses aspe -tos de que ora falamos. Ademais, mostraremos que a entrosagem e oordena� ~ao dos logoi n~ao s~ao produtos de uma omposi� ~ao humana,de um trabalho sintetizador do nosso esp��rito. A oordena� ~ao imp~oe-se de per si; a unidade ontol�ogi a da �loso�a on reta revela-se an�os, e �e ela que dirige o esp��rito �a ontempla� ~ao. �E um revelar-se, umdesnudar-se, um desvelar-se onstante. O nosso trabalho onsiste ape-nas em dar aos t^ermos verbais n~ao apenas um onte�udo esquem�ati ono�eti o-eid�eti o, mas o onte�udo esquem�ati o eid�eti o, independente5A metodologia que empregamos �e examinada e exposta em \M�etodos L�ogi ase Dial�e ti os", de nossa autoria. - A ontempla� ~ao impli a a le tio (li� ~ao, es o-lha), a meditatie (medita� ~ao) e a oratio (dis urso). A medita� ~ao �e, portanto,fundamental.

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60 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEimediata dos on eitos e dos fa t^ores. A mediata n~ao se manifestapor si mesma ao intele to, �e a que aptamos atrav�es do pro esso in-tele tual, pelo empr^ego de meios, omo se pro essa no ra io ��nio, naargumenta� ~ao, na demonstra� ~ao.A prova mediata �e pr�opriamente a demonstra� ~ao, a qual pode serdire ta ou indire ta. �E dire ta quando adquirimos a erteza de alguma oisa, n~ao que ela se manifeste de per si ao intele to, mas quandode orre ne ess�ariamente do que se manifesta de per si ao intele to.A indire ta �e a que usa outro pro esso, omo seja o empr^ego dasnegativas, dos ontr�arios, et .A demonstra� ~ao dire ta pode ser indu tiva e dedu tiva. �E indu -tiva, quando de algumas oisas singulares se deduz uma on lus~aouniversal, e dedu tiva quando de prin ��pios universais deduz-se algomenos universal ou, ent~ao, o singular. A demonstra� ~ao dedu tivapode, por sua vez, ser a priori, a posteriori, a on omitante e a simul-taneo. A demonstra� ~ao a priori �e a argumenta� ~ao na qual a on lus~ao�e deduzida das premissas que ont^em ausas verdadeiras ou raz~ao su�- iente delas, a qual est�a na on lus~ao. Assim, se partimos da a eita� ~aoque a alma humana �e espiritual, deduz-se a priori que ela �e intele tiva.Estabele ido o rigor ontol�ogi o de um on eito, d^ele se deduz a priorio que n^ele ontol�ogi amente est�a in lu��do. Assim, quando dizemos queante edente �e o que tem prioridade em qualquer linha, ve tor, et ., aoutro, que lhe �e onseq�uente, deduzimos a priori que ne ess�ariamenteh�a, a todo onseq�uente, um ante edente, e que a ante ed^en ia �e abso-lutamente ne ess�aria �a onseq�uen ia.A dial�e ti a ontol�ogi a, por n�os pre onizada e empregada nestaobra, usa a demonstra� ~ao dedu tiva a priori, mas sempre sujeita aorigor ontol�ogi o, e n~ao apenas ao l�ogi o, omo fa ilmente se pode ver.A demonstra� ~ao a posteriori �e aquela na qual a on lus~ao �e deduzidadas premissas, que ont^em o efeito ou propriedade da oisa que est�ana on lus~ao. Assim, da exist^en ia de oisas ontingentes e ausadas,4.1. COMENT�ARIOS DIAL�ECTICOS 57loso�a, e sobretudo da Metaf��si a, n~ao �e onseq�u^en ia da falta de umm�etodo, mas sim da pr�opria natureza da Metaf��si a, que �e um produtoda inse uritas humana, no dizer de Peter Wust, ou o produto da nossaignor^an ia na bus a das respostas �as magnas perguntas do homem noentender de outros.Embora tit^ani os os intentos feitos, t^oda a vez que o homem es- olheu um \ aminho real" (m�eth'odos) matem�ati o para a Filoso�a,essa provid^en ia terminou num grande mal^ogro. E malogrados est~ao,de antem~ao, no pensar geral, todos aqu^eles qu^e, outra vez, tentarempro urar um tal aminho.Partindo as i^en ias naturais de ertos pontos seguros, podem elas,sem al an� ar as primeiras e �ultimas ausas (e aqui empregamos ^esset^ermo no sentido aristot�eli o), estabele erem-se �rmemente, e manterem-se dentro de postulados universalmente v�alidos. Mas a Filoso�a, porter fatalmente de partir de mais distante para al an� ar o mais long��nquo,n~ao tem aquela base de seguran� a (se uritas), que a i^en ia naturalpode usufruir. A Filoso�a en ontra suas di� uldades desde o in�� io,devido �a impossibilidade radi al, para muitos, de dar uma evid^en iaapod��ti a aos seus prin ��pios fundamentais, omo o de ontradi� ~ao,o de raz~ao su� iente, o de ausalidade, et . Para a �loso�a l�assi a,tais prin ��pios eram de per si evidentes (prin ipia per se notas), e n~aosofriam os es ol�asti os om agudeza de ons i^en ia o abismo da inse- uritas, que se d�a quanto �a ratio humana na �loso�a moderna, pararepetirmos uma passagem de Wust.Aqu^ele estado feliz de ino ^en ia infantil dos es ol�asti os n~ao a temmais o homem moderno, ro��do e orro��do pelo epti ismo.�E in�util repetir aqui as a usa� ~oes ostumeiras ontra a raz~ao e on-tra as possibilidades pensamentais do homem, que todos os advers�ariosdas nossas possibilidades esgrimiram atrav�es dos tempos. Se realmentea raz~ao, de per si, n~ao �e su� iente para estabele er om se uritas o o-nhe imento metaf��si o, se a intui� ~ao, pelo seu irra ionalismo, tamb�em

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58 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEn~ao o �e, omo apontam outros, se intele tualmente, em suma, n~ao est�ao homem habilitado su� ientemente para invadir os terrenos o ultos do onhe imento, n~ao se pode, ontudo, deixar de estabele er o seguinte:h�a positividade e bom fundamento em muitas dessas a usa� ~oes. Masnenhuma delas pro ede em rela� ~ao �a Filoso�a Con reta. E a raz~ao �emuito simples; �e que o m�etodo dial�e ti o-ontol�ogi o, por n�os es olhido omo o apaz de dar ao homem a se uritas desejada, n~ao se funda naesquem�ati a que o homem onstr�oi, mas na esquem�ati a ontol�ogi a;isto �e, na ne essidade ontol�ogi a. �E mister, pois, distinguir os on ei-tos l�ogi os de os ontol�ogi os.

4.2 Con eitos l�ogi os e on eitos ontol�ogi osA diferen� a entre os on eitos l�ogi os e os ontol�ogi os onsiste emserem os primeiros produtos da abstra � ~ao fundada na experi^en iahumana, om a qual t^em muitas v^ezes apenas um nexo de adequa� ~ao.Mas os on eitos ontol�ogi os n~ao s~ao onstru��dos atrav�es da experi^en iaapenas. ^Eles surgem da ne essidade da oisa. S~ao independentementede n�os, ^eles se nos imp~oem in- ed��velmente, ne ess�ariamente.Assim in�nito �e ne ess�ariamente o que n~ao apresenta limites dequalquer esp�e ie. Este �e o on eito ontol�ogi o de in�nito6.N�os aptamos o on eito ontol�ogi o, n~ao o onstru��mos. Essa apta-� ~ao se pro essa atrav�es de opera� ~ao de nosso esp��rito, que onsiste emex luir tudo quanto �e ontingente, a idental, para al an� ar ao que �ene ess�ario. E, ontol�ogi amente, podemos falar no que �e ne ess�ario ab-solutamente simples, ou no ne ess�ario hipot�eti amente absoluto. ^Este6O on eito l�ogi o permite diversas a ep� ~oes, e o ju��zo l�ogi o �e bivalente, posi-tivo ou negativo. Ou A �e B ou A n~ao �e B. O on eito ontol�ogi o s�o admite umaa ep� ~ao, s�o pode ser isto, e n~ao aquilo; �e monovalente. A �e ne ess�ariamente A,�e o enun iado do ju��zo ontol�ogi o. S�o h�a ju��zo ontol�ogi o onde h�a monoval^en ia,ne essidade de ex lus~ao. O ju��zo ontol�ogi a �e ex lusivo e ex ludente.

4.3. PROVA 59�ultimo se ara teriza pelo ju��zo: Se A �e, ne ess�ariamente �e. O primeiro�e aqu^ele ao qual n~ao abe qualquer ondi ional, porque �e in ondi i-onado. Assim o Ser Supremo �e ne ess�ario absolutamente simpli iter, omo veremos.O homem n~ao �e ne ess�ariamente o que �e, por uma ne essidadeabsoluta-simpli iter, por que o homem �e um ser ontingente, e po-dia n~ao existir, mas se o homem existe om a forma humana �e hi-pot�eti amente ne ess�ario que seja o que �e. Mas podia haver um serinteligente, omo o �e o homem, sem ser ^este homem, mas om outranatureza. Mas poder��amos a�rmar que se �e homem, ne ess�ariamente�e o que �e: animal ra ional. Para que se distinguisse ^ele do homem, omo o homem �e, deveria ter uma diferen� a espe ��� a outra que a dehomem, que �e a ra ionalidade. V^e-se, assim, que se o homem �e, ne- ess�ariamente ^ele �e o que ^ele �e. E, d^este modo, estamos onsiderandoo homem dentro da dial�e ti a ontol�ogi a.Ademais se v^e que a doutrina aristot�eli a do g^enero e da esp�e ie,por ^ele onstru��da para a L�ogi a, tem validez ontol�ogi a segura.

4.3 ProvaChama-se de prova em geral qualquer pro esso da mente pelo qual ad-quirimos de alguma oisa uma erteza. Nesse sentido amplo, in lu��mosas esp�e ies ra ional, irra ional, et . A prova ra ional, tamb�em ha-mada intele tual, �e um pro esso da raz~ao, que de orre da experi^en iaimediata, quer interna, quer externa, atrav�es da an�alise dos t^ermos,dos prin ��pios do ra io ��nio, por meio dos quais adquirimos a ertezade algo. A prova irra ional n~ao se funda pr�opriamente em on eitosou ju��zos, mas no sentimento, na a � ~ao, na simpatia, et .A prova ra ional pode ser imediata, emediata. A imediata, �e aquelapor ujo pro esso adquirimos a erteza de alguma oisa, que se ma-nifesta por si mesma �a nossa mente, omo a que surge da an�alise

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64 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEtivo dos prin ��pios pelo esp��rito.As primeiras verdades imediatas s~ao ne ess�ariamente indemonstr�a-veis, mas evidentes de per si. As teses fundamentais da Filoso�a Con- reta, \alguma oisa h�a" e \o nada absoluto n~ao h�a" s~ao verdades evi-dentes de per si, que dispensariam demonstra� ~ao. Essa evid^en ia n~ao�e meramente subje tiva, porque, independentemente da esquem�ati ahumana, ela se imp~oe omo verdadeira.O que �e onhe ido pela i^en ia demonstrativa deve ser ne ess�ario,j�a que ne ess�ario �e o que n~ao pode ser de outro modo, diferente doque �e. Ora, uma demonstra� ~ao ne ess�aria onstitui-se a partir depremissas ne ess�arias, pois, do ontr�ario, a onseq�u^en ia n~ao poderiaser ne ess�aria.Para que a demonstra� ~ao atinja uma on lus~ao ne ess�aria, imp~oe-se que se fa� a por um meio t^ermo ne ess�ario, pois, do ontr�ario, n~aose saber�a nem por que a on lus~ao �e ne ess�aria, nem mesmo se ela o�e. S�o h�a i^en ia do universal; mas, para Arist�oteles, o universal existeno pr�oprio sens��vel; �e simplesmente a possibilidade da repeti� ~ao domesmo atributo em diversos sujeitos. S�o h�a o universal quando omesmo atributo pode ser a�rmado de sujeitos diversos. Se n~ao h�ao universal, n~ao h�a t^ermo m�edio, nem por onseguinte demonstra� ~ao.A res enta Arist�oteles que �e mister haver alguma oisa de um e id^enti o,e que seja a�rmada a multipli idade dos indiv��duos, de maneira n~aoequ��vo a. H�a prin ��pios que n~ao s~ao oisas demonstr�aveis, onhe idosimediatamente por uma intui� ~ao do \nous", ujo onhe imento da��resultante �e de natureza superior �a da demonstra� ~ao. Prova-se n~ao s�odemonstrando, mas mostrando.A demonstra� ~ao �e ora universal, ora parti ular, e, ademais, a�r-mativa e negativa. Examina Arist�oteles qual delas �e a melhor, etamb�em examina se h�a superioridade entre a demonstra� ~ao dire tae a da redu� ~ao ao imposs��vel.

4.3. PROVA 61deduz-se existir uma ausa in ausada delas.A demonstra� ~ao a on omitante, muito usada por n�os na nossadial�e ti a ontol�ogi a, �e aquela na qual a on lus~ao �e deduzida daspremissas que n~ao ont^em a ausa nem o efeito da oisa, que est�a na on lus~ao, mas tanto a oisa, que est�a na premissa, omo a que est�ana on lus~ao, est~ao insepar�avelmente onjugadas, por dependerem domesmo prin ��pio omum.A demonstra� ~ao a simultaneo, que �e onsiderada omo n~ao sendopr�opriamente uma argumenta� ~ao nem demonstra� ~ao, �e uma ogni� ~aoimediata, na qual a on lus~ao �e inferida, n~ao de outra oisa que seja ausa ou efeito dela, nem de alguma oisa que dela se distinga, segundouma raz~ao de distin� ~ao perfeita, mas de alguma oisa que, impl�� itae formalmente, j�a ont�em a on lus~ao. Assim se �e homem, �e vivente.N~ao h�a a�� pr�opriamente demonstra� ~ao, mas a expli ita� ~ao do que j�aest�a impl�� itamente no ante edente.A demonstra� ~ao indire ta �e o pro esso da raz~ao pelo qual adqui-rimos a erteza de alguma oisa, n~ao porque ela se manifeste por simesma ao intele to, nem porque tenha onex~ao positiva ou intr��nse a om alguma oisa que aptamos imediatamente, mas por de orrer doabsurdo dos ontradit�orios (ab absurdum), ou porque n~ao se provamos ontradit�orios, ou porque se deduz do que �e on edido pelo ad-vers�ario (argumentum ad hominem), ou porque a on lus~ao �e dadapor autoridades �dedignas (argumentum a testimonio).A �uni a demonstra� ~ao indire ta, por n�os usada, �e o argumento adabsurdum.As demonstra� ~oes irra ionais n~ao as aproveitamos nesta obra, salvoapenas a intui� ~ao apof^anti a, a qual �e a ompanhada de uma demons-tra� ~ao dedu tiva a priori ou a posteriori, omo fazemos no de orrerd^este trabalho.

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62 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESE4.4 Da demonstra� ~aoTodo onhe imento dado ou re ebido pela via do ra io ��nio vem deum onhe imento pr�e-existente, a�rmava Arist�oteles nos \Segundosanal��ti os".A demonstra� ~ao, para Arist�oteles, reduz-se �a dedu� ~ao silog��sti a.Possu��mos a i^en ia: a) quando remos onhe er a ausa pela quala oisa �e; b) quando sabemos que essa ausa �e a da oisa; e ) quando,ademais, n~ao �e poss��vel que a oisa seja outra do que ela �e.A ausa da oisa �e o meio t^ermo, raz~ao da on lus~ao, que �e daprimeira ondi� ~ao. A rela� ~ao entre a ausa e o efeito �e da segundae, �nalmente, a on lus~ao deve ser ne ess�aria, e imposs��vel de ser deoutro modo, que �e a ter eira ondi� ~ao, omo nos mostra Tredelenburg,que �e a por n�os preferida, sempre que poss��vel, na dial�e ti a ontol�ogi a.A�rma Arist�oteles, e om fundamentos, que dos exames por ^elefeitos, \o obje to da i^en ia, em sentido pr�oprio, �e algo que n~ao podeser outro do que �e; ou seja, o obje to da i^en ia �e o ne ess�ario."E prossegue: \Por demonstra� ~ao, onsidero o silogismo ient��� oe hamo de ient��� o um silogismo uja posse onstitui para n�os a i^en ia." Imp~oe-se, assim, partir de premissas verdadeiras, primeiras,imediatas, mais onhe idas que a on lus~ao, e anteriores a ela, e ques~ao sua ausa.S~ao anteriores e mais onhe idos de n�os os obje tos mais pr�oximosda sensa� ~ao; e anteriores e mais onhe idos de maneira absoluta osobje tos mais afastados dos sentidos.As ausas mais universais s~ao as mais afastadas dos sentidos, en-quanto as ausas parti ulares s~ao as mais aproximadas, e essas no� ~oess~ao assim opostas umas as outras. Arist�oteles identi� a premissa pri-meira e prin ��pio.Um prin ��pio de demonstra� ~ao �e uma proposi� ~ao imediata, e �e ime-4.4. DA DEMONSTRAC� ~AO 63diata aquela a qual nenhuma outra �e anterior. Uma proposi� ~ao �e umae outra parte de um enun iado, quando ela atribui um s�o predi ado aum s�o sujeito (pois a�� h�a identi� a� ~ao); ela �e dial�e ti a, se ela tomaindiferentemente qualquer parte; ela �e demonstrativa, se ela toma umaparte determinada, porque esta parte �e verdadeira.A ontradi� ~ao �e uma oposi� ~ao que n~ao admite por si nenhum inter-medi�ario.D^este modo, a parte da ontradi� ~ao que une um predi ado a umsujeito �e uma a�rma� ~ao, e a parte que retira um predi ado de umsujeito �e uma nega� ~ao.A tese �e sus ept��vel de demonstra� ~ao, ou n~ao. E quando ela setorna indispens�avel, e imp~oe seu esp��rito omo uma proposi� ~ao queenvolve a exist^en ia, ela �e um axioma. Tornar axiom�ati as, no sentidomoderno, as teses da �loso�a, foi sempre um desejo que animou o ora� ~ao dos maiores �l�osofos de todos os tempos. Hip�otese �e aquelatese que sup~oe a exist^en ia de uma oisa.Examina Arist�oteles a diverg^en ia que h�a entre os que admitem quet^odas as verdades s~ao sus ept��veis de demonstra� ~ao, e os que a�rmamo ontr�ario. Ambos pe am pelos ex essos, a�rma, e ainda demonstra afalta de fundamento que lhes �e pe uliar, pois uns a�rmariam que tudopode ser onhe ido por demonstra� ~ao, e, outros, que nada pode ser onhe ido. Esta �ultima posi� ~ao funda-se em que a demonstra� ~ao dosposteriores exige o onhe imento dos anteriores, e hegar��amos, a�nal,a prin ��pios in ognos ��veis por n~ao serem mais sus ept��veis de demons-tra� ~ao. N~ao nos seria pois poss��vel onhe er as premissas primeiras.D^este modo, as on lus~oes, que delas de orrem, n~ao onstituiriam ob-je to de uma i^en ia em sentido absoluto; o onhe imento seria apenasfundado na suposi� ~ao de serem verdadeiras as premissas. DemonstraArist�oteles que h�a proposi� ~oes imediatas, uja verdade �e al an� adaindependentemente da demonstra� ~ao. H�a, assim, um onhe imentosuperior, que �e anterior �a demonstra� ~ao, que �e o onhe imento intui-

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68 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEh�a impli a ne ess�ariamente alguma oisa. O nexo de ne essidade �eaqui patente a simultaneo, evidente, erto e verdadeiro.8A demonstra� ~ao, na l�ogi a, pode ser a priori e a posteriori, omovimos. �E a priori se as premissas ont^em a ausa da oisa. Mas, nas de-monstra� ~oes a priori, h�a ora uma raz~ao pr�opriamente dita, quando aspremissas podem ser pela raz~ao adequadamente distinguidas da on- lus~ao, ora impr�opriamente dita, quando as premissas s~ao, pela raz~ao,imperfeitamente distinguidas daquela, omo a onte e, omo veremos,quanto aos atributos do Ser Supremo.Diz-se que a argumenta� ~ao �e a posteriori quando ont�em as pre-missas, ou o efeito da oisa, que est�a na on lus~ao; isto �e, quandopartimos dos fa tos para provar uma lei (logos), quando dos fa tospodemos provar a realidade da on lus~ao, quando dizemos que A �e,sua ausa B �e.Na es ol�asti a, para as provas da exist^en ia de Deus, prevale emas demonstra� ~oes a posteriori, enquanto as demonstra� ~oes a prioris~ao em, geral desprezadas por de� ientes. Dessa forma, o hamadoargumento ontol�ogi o de Santo Anselmo �e refutado por quase todosos grandes �l�osofos, e s�o o defendem, mas om modi� a� ~oes, DunsS ot, Leibnitz, Des artes, et . Oportunamente, mostraremos que oargumento ontol�ogi o de Santo Anselmo, pelo nosso m�etodo, tem umavalidez que supera a de muitos outros argumentos.Na Teologia e na Teodi �eia, predominam os argumentos a posteri-ori, e quando se usam os a priori, usam-se os impr�opriamente ditos,ao estabele er, por exemplo, os atributos de Deus.O prin ipal fundamento para rejeitar os argumentos a priori pr�opria-mente ditos est�a em que, n~ao tendo Deus uma ausa de si mesmo, nemuma raz~ao a priori de sua exist^en ia, tal demonstra� ~ao n~ao pode serfeita. Pode haver uma raz~ao formal intr��nse a de sua exist^en ia, n~ao8Tomado l�ogi amente o on eito de alguma oisa n~ao impli a o haver, masdesde que a�rmamos a sua presen� a, o haver d^ele de orre ne ess�ariamente.

4.4. DA DEMONSTRAC� ~AO 65�A primeira vista, pare e que a demonstra� ~ao parti ular �e a melhorpelas seguintes raz~oes: �e melhor a demonstra� ~ao que nos permite o-nhe er mais, e n�os onhe emos mais uma oisa quando dela sabemospor ela mesma, do que quando dela sabemos por interm�edio de outra oisa, e exempli� a que onhe emos melhor o m�usi o Coris o, quandosabemos que Coris o �e m�usi o, do que quando sabemos que o homem�e m�usi o. A demonstra� ~ao universal prova uma oisa que n~ao o su-jeito, e n~ao pr�opriamente o sujeito. Assim, para o tri^angulo is�os eles,prova somente que �e um tri^angulo, e n~ao que o is�os eles possui talpropriedade, ou seja que o tri^angulo is�os eles tem dois ^angulos iguais.Contudo, mostra-nos Arist�oteles a superioridade da demonstra� ~aouniversal, porque o que onhe e um atributo universal, onhe e-o maispor si, que aqu^ele que onhe e o atributo parti ular.As oisas in orrupt��veis fazem parte dos universais, enquanto as oisas parti ulares s~ao mais orrupt��veis. E, para Arist�oteles, n~ao seimp~oe que se suponha o universal omo uma realidade separada das oisas parti ulares, e, ainda, se a demonstra� ~ao �e um silogismo queprova a ausa e o porqu^e, �e o universal que �e mais ausa. Conseq�uen-temente, a demonstra� ~ao universal �e superior, porque prova mais a ausa e o porqu^e, pois a demonstra� ~ao, que mostra a ausa e o porqu^e,�e sempre melhor. Por outro lado, a demonstra� ~ao, tornada parti ular, ai no ilimitado, enquanto a universal tende para o simples e para o li-mite. Enquanto ilimitadas, as oisas parti ulares n~ao s~ao ognos ��veis;s�o quando �nitas que elas o s~ao. �E, pois, enquanto universais e n~aoparti ulares, que n�os as onhe emos. Os universais s~ao onseq�uente-mente mais demonstr�aveis, e quanto mais as oisas s~ao demonstr�aveis,mais a elas se apli a a demonstra� ~ao.E orroborando a sua posi� ~ao, a�rma que se deve preferir a demons-tra� ~ao que nos faz onhe er a oisa, e uma outra oisa ainda, do quea que nos faz onhe er a oisa somente. Ora, quem possui o universal onhe e tamb�em o parti ular, enquanto que quem onhe e o parti- ular n~ao onhe e o universal. E pode-se demonstrar melhormente o

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66 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESEuniversal, porque �e ^ele demonstrado por um t^ermo m�edio, que �e maispr�oximo do prin ��pio, e o que �e mais pr�oximo �e a premissa imediata,que se onfunde om o prin ��pio. E j�a que a demonstra� ~ao, que partedo prin ��pio, �e mais rigorosa do que a que d^ele n~ao parte, a demons-tra� ~ao, que adere mais estreitamente ao prin ��pio, �e mais rigorosa quea que lhe �e menos estreitamente ligada. E sendo a demonstra� ~ao uni-versal, ara terizada por uma estreita depend^en ia ao seu prin ��pio,�e ela a melhor. Se onhe emos a proposi� ~ao anterior, onhe emos aque lhe �e posterior, pelo menos em pot^en ia. No entanto, ao onhe era posteriori n~ao onhe emos ainda de modo algum a universal, nemem pot^en ia nem em a to. E, para �nalizar, diz Arist�oteles que a de-monstra� ~ao universal �e integralmente intelig��vel, enquanto a parti ular�e onhe ida apenas, e termina pela e na sensa� ~ao.H�a ainda superioridade da demonstra� ~ao a�rmativa s^obre a nega-tiva. E sendo a a�rmativa anterior a nega� ~ao, j�a que a nega� ~ao �e onhe ida pela a�rma� ~ao, e a a�rma� ~ao �e anterior, omo o ser o �e aon~ao-ser, resulta da�� que o prin ��pio da demonstra� ~ao a�rmativa �e supe-rior ao da demonstra� ~ao negativa. Ora, a demonstra� ~ao, que empregaprin ��pios superiores, �e onseq�uentemente superior. N~ao h�a demons-tra� ~ao negativa sem que se ap�oie numa demonstra� ~ao a�rmativa.H�a superioridade ainda da demonstra� ~ao dire ta �a da redu tio adabsurdum. Se a demonstra� ~ao a�rmativa �e superior �a negativa, evi-dentemente �e superior �a redu tio ao imposs��vel7.7As fundamentais demonstra� ~oes, que usamos nesta obra, baseiam-se, sobre-tudo, nas demonstra� ~oes diretas e a�rmativas, a priori e a posteriori, e a on o-mitante. No entanto, para orroborar as provas, ora lan� amos m~ao da redu tioad absurdum, ora de demonstra� ~oes negativas de t^oda esp�e ie, sempre om ointuito de robuste er a nossa prova, seguindo todas as vias onhe idas e usadaspelo esp��rito humano.N~ao h�a ne essidade de salient�a-las e enumer�a-las todas as vezes, pois o leitorperfeitamente per ebe a qual esp�e ie ela perten e. Ademais, n~ao usamos sempret^oda a gama probativa, sobretudo quando s~ao evidentemente ressalt�aveis as provasadi ionais, que se podem opor para robuste er a demonstra� ~ao da tese.

4.4. DA DEMONSTRAC� ~AO 67* * *Ci^en ia �e um onhe imento erto, adquirido atrav�es de demons-tra� ~oes.Demonstra� ~ao �e, portanto, a argumenta� ~ao, na qual, partindo-sede premissas ertas e evidentes, deduz-se uma on lus~ao que se torna,tamb�em, erta e evidente.Uma a�rmativa �e erta quando n~ao d�a lugar a d�uvida, quando h�aassentimento da mente ao que expressa sem o menor temor de errar,e tamb�em, uja ontradi� ~ao �e onseq�uentemente falsa.Como o erto e o errado est~ao sujeitos a esquem�ati a subje tiva,bus a-se, nesta obra, al�em das demonstra� ~oes fundadas nessa esquem�a-ti a, a demonstra� ~ao que hamamos dial�e ti o-ontol�ogi a, que onsisteem estabele er premissas ertas e evidentes, dial�e ti o-ontol�ogi amentefundadas.Uma premissa �e dial�e ti o-ontol�ogi amente erta, quando essa er-teza surge da ne essidade ontol�ogi a do seu onte�udo. Assim �e on-tol�ogi amente erto que o anterior �e o que tem prioridade, o que de erto modo se d�a antes, pr�eviamente a outro da mesma esp�e ie.Assim, omo ainda veremos, o on eito de efe tivo impli a o deefeito, pois o que �e apaz de fazer algo, quando faz, faz algo. ^Esserigor ontol�ogi o, que pro uramos, �e o que permite al an� ar a meta-matematiza� ~ao da �loso�a. N~ao parte, pois, de enun iados admitidos,mas dos que n~ao podem deixar de ser admitidos omo tais. Pode-separtir de premissas hipot�eti as na l�ogi a, omo por exemplo esta: dadoque A seja B, se B �e C, A �e C. No argumentar dial�e ti o-ontol�ogi on~ao se admitem premissas dessa ordem. O que se a�rma s�o pode ser omo se a�rma, pois o ontr�ario �e falso.Assim no ju��zo alguma oisa h�a, o haver impli a alguma oisa e,alguma oisa, para ser alguma oisa, impli a o haver. Ne ess�ariamentea postula� ~ao de alguma oisa omo presente impli a que ela h�a, o que

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72 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESE omo o mostraremos ainda neste livro, o ra io ��nio anal�ogi o, quesegue as normas so r�ati o-plat^oni as, auxilia-nos a des obrir a lei (lo-gos), na qual se fundam as analogias, o que permite ofere er uma boavia para o exame das religi~oes, ligando-as �a dial�e ti a ontol�ogi a.

4.4. DA DEMONSTRAC� ~AO 69por�em uma raz~ao a priori da mesma. Mas abe fazer aqui uma impor-tante distin� ~ao. A demonstra� ~ao a priori ontol�ogi a distingue-se dademonstra� ~ao a priori l�ogi a. A de�ni� ~ao, que demos h�a pou o, a eitae expressa pelos es ol�asti os, refere-se �a esfera l�ogi a. Quanto �a esferaontol�ogi a n~ao h�a pr�opriamente a rela� ~ao de ausa e efeito.N~ao �e a demonstra� ~ao ontol�ogi a a priori fundada no onterem aspremissas as ausas da oisa. As raz~oes ontol�ogi as s~ao simult^aneas,e entre elas n~ao h�a rela� ~ao de ausa e efeito, mas sim de ne essidade.Como j�a vimos, do que �e ante edente on lui-se que �e anterior ao que�e posterior de sua esp�e ie, ou g^enero, ou ve tor, ou lasse. A anteriori-dade impli a ontol�ogi amente a posterioridade mas simult^aneamente; omo esta, aquela. O ra io ��nio dial�e ti o-ontol�ogi o desdobra em pre-missas o que se d�a simult^aneamente. A raz~ao ontol�ogi a quando pairaapenas nessa esfera, �e simult^anea �as outras, omo ainda veremos edemonstraremos. Assim, tamb�em, o haver impli a ontol�ogi amente oalguma oisa, embora l�ogi amente alguma oisa, n~ao implique o haver.Mas, ontol�ogi amente, nenhuma oisa n~ao h�a, tomado em sentido ab-soluto, �e ontol�ogi amente falso, porque alguma oisa h�a. N~ao, por�em,deixa de ser verdadeiro que alguma oisa (esta ou aquela) n~ao h�a, poispode ser verdadeiro que ^este alguma oisa n~ao h�a, omo n~ao h�a a ^orverde neste l�apis, tomado nestas oordenadas, em rela� ~ao a mim eaos meus sentidos. Ontol�ogi amente, no mundo dos s^eres ontol�ogi os, omo ainda veremos, rege a simultaneidade, e a rela� ~ao de ausa eefeito n~ao predomina, porque se h�a ne essidade da ausa para quehaja o efeito, n~ao h�a ne essidade que, por haver o ante edente, hajane ess�ariamente o onseq�uente poss��vel. No momento que o ante e-dente �e ausa, ne ess�ariamente h�a o efeito, porque n~ao pode haverum efeito sem ausa, nem algo �e ausa se n~ao produz um efeito. Mas ausa e efeito impli am su ess~ao, e h�a tal onde h�a su ess~ao. Onden~ao h�a su ess~ao, a rela� ~ao de ante edente e onseq�uente �e simult^anea,e a ante ed^en ia �e, por isso, apenas ontol�ogi a. Conseq�uentemente,n~ao �e de ne essidade ontol�ogi a que uma demonstra� ~ao dessa esp�e iea priori implique a presen� a, nas premissas, da ausa. O que se exige

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70 CAP�ITULO 4. ARGUMENTOS A FAVOR DA TESE�e que, nas premissas, haja a raz~ao ontol�ogi a do ante edente e do onseq�uente.Mais adiante essas nossas palavras ser~ao melhor orroboradas.* * *Algumas diferen� as entre o ra io inar l�ogi o e o ontol�ogi o podemser apontadas desde logo.L�ogi amente, poder-se-ia estabele er que o on eito de poss��vel ont�em o de ne ess�ario. ^Este seria uma esp�e ie de poss��vel, pois algone ess�ario, quando se deu, ou se d�a, revela que era poss��vel; pois,do ontr�ario, n~ao se daria. O ne ess�ario �e, pois, ne ess�ariamente umposs��vel. Aqui est~ao, tomados onfusamente, o ne ess�ario hipot�eti oe o ne ess�ario absolutamente simples. Aqu^ele �e um poder ser que sea tualizou de modo ne ess�ario (ne ess�ario hipot�eti o).N~ao h�a, ontudo, oin id^en ia eid�eti a entre o poss��vel e o ne- ess�ario; da�� n~ao se poder dizer que tudo que �e ne ess�ario �e poss��velnaquele sentido exposto. Ademais, o poss��vel exige o ne ess�ario, semo qual aquele n~ao seria tal. V^e-se, assim, que, ontol�ogi amente, �e one ess�ario que d�a a raz~ao (logos) de ser do poss��vel. ^Este, omo umente (ontos), tem naquele sua raz~ao de ser.Ontol�ogi amente, o ne ess�ario n~ao �e uma esp�e ie do poss��vel, nemeste uma esp�e ie daquela. Na dial�e ti a ontol�ogi a n~ao h�a rela� ~oes deg^enero e esp�e ie, no modo por que foram estabele idas por Arist�otelesno \Organon", e que permane eram na L�ogi a Formal. H�a, apenas,rela� ~oes de simultaneidade, ou melhor, de on omit^an ia, no que n�os onstru��mos, eid�eti o-no�eti amente. Nossos esquemas l�ogi os s~ao es-tru turas propor ionadas a inten ionalidade de nosso entendimento.S~ao onstitu��dos omo unidades formais, que a a tividade abstra torade nossa mente reduz a unidades separadas. Na realidade ontol�ogi a,essas estru turas n~ao se d~ao por impli a� ~oes e ompli a� ~oes id^enti as4.4. DA DEMONSTRAC� ~AO 71�a da l�ogi a. Al an� amos pela mente a distin� ~ao on eitual que surgene ess�ariamente da an�alise. Re ebemos um onhe imento primordi-almente sint�eti o, que a an�alise desdobra em on eitos v�arios. Mas oexame ontol�ogi o faz ressaltar o on reto, o que se d�a unitivamentenuma totalidade; isto �e, on omitantemente. H�a, sem d�uvida, im-pli ^an ia e ompli ^an ia, mas fundadas num nexo de ne essidade on-tol�ogi a. A dial�e ti a ontol�ogi a n~ao repele a l�ogi a, n~ao a nega, n~ao aabandona. Mas, torna-a aposterior��sti a, ou seja, s�o a eita e emprega ora io ��nio om ju��zos l�ogi os, depois de os haver devidamente fundadoontol�ogi amente. Essa provid^en ia �e a auteladora, e evita os perigosde um ra io inar meramente l�ogi o, que pode levar a erros, devidoao ar�a ter bivalente da l�ogi a formal. Desde que se al an� a o valorontol�ogi o, o ju��zo reduz-se ao enun iado \A �e ne ess�ariamente B, e s�oB". ^Esse enun iado expressa bem a diferen� a, que �e por ora su� ientepara os nossos exames nesta obra. Uma demonstra� ~ao mais abal denosso m�etodo ontol�ogi o, bem omo a exposi� ~ao pormenorizada dasprovid^en ias que se imp~oem usar, n�os o fazemos em \M�etodos L�ogi ose Dial�e ti os". A�� mostramos que h�a um ra io inar tr��pli e, um quesobe, um que des e e um que se estabiliza eq�uidistantemente daqueles.Em suma, �e o seguinte:a dial�e ti a ontol�ogi a, em bus a dos nexos de ne essidade, �e ora io inar as endente;a l�ogi a formal, om t^odas as ontribui� ~oes dos medievalistas e asda log��sti a moderna, onstitui a parte entral, estabilizada e fundadanaquela;a dial�e ti a, no sentido l�assi o, a de adial�e ti a e a pentadial�e ti a,por n�os estabele idas omo modos de pensar on reto-^onti o, ou umpensar que des e �a onti idade das oisas, e estabele e a an�alise at�e dassingularidades, onstitui um ra io inar des endente.Uma dial�e ti a simb�oli a, omo a que propomos em \Tratado deSimb�oli a", auxilia-nos a al an� ar os postulados ontol�ogi os, pois,

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76 CAP�ITULO 5. DO VALOR DO NOSSO CONHECIMENTO5.1 Coment�arios subordinadosO epti ismo sistem�ati o parte, onseq�uentemente, de uma a�rma� ~ao.O �epti o, de erto modo, a�rma; a�rma, portanto.Imaginemos que ele negue a tese do dogmatismo moderado, quediz: \por introspe � ~ao, somos ^ons ios de que em n�os existe um es-tado de erteza, ora de d�uvida, ora de opini~ao, pois n�os, ora temos erteza (alguns), ora duvidamos, ora opinamos." ^Esses estados se d~ao.Contudo, o �epti o sistem�ati o suspende seu ju��zo, onsiderando quenada pode a�rmar.Por mais sistem�ati o que seja o epti ismo, em nada ofenderia avalidez apod��ti a de nossa tese, omo passaremos a provar.Passaremos, em primeiro lugar, a dar todos os argumentos fa-vor�aveis ao dogmatismo moderado, depois a onsiderar as raz~oes dos �epti os, e, �nalmente, seguiremos o aminho da dial�e ti a ontol�ogi a.A erteza, para os dogm�ati os moderados, �e a ades~ao �rme do en-tendimento ao obje to onhe ido, fundada em um motivo evidente,que ex lui todo temor de errar.H�a verdade l�ogi a, quando h�a onformidade entre o esquema eid�eti o-no�eti o e a realidade da oisa onhe ida. E diz-se que h�a verdade me-taf��si a ou ontol�ogi a, quando a oisa onhe ida �e adequada ao nossoesquema.Ora, �a verdade l�ogi a op~oe-se a falsidade; �a verdade ontol�ogi a op~oe-se a nega� ~ao de t^oda realidade, o nada. Se algo ontol�ogi amente n~ao�e, s�o lhe podemos predi ar o nada.A verdade ontol�ogi a de um ju��zo de orre da perfeita adequa� ~ao doque se predi a ao sujeito, uja rela� ~ao ou �e ne ess�aria ou �e da pr�oprianatureza da oisa. Assim a prioridade indi a a anterioridade de algoem ve tor ou ordem ou esp�e ie a outro do mesmo ve tor ou ordemou esp�e ie, ne ess�ariamente. A anterioridade est�a ne ess�ariamenteCap��tulo 5

Do valor do nosso onhe imento

Atrav�es do m�etodo que usamos nesta obra, tendemos a onstruir umadial�e ti a ontol�ogi a que n~ao pretende substituir a l�ogi a, mas apenasdar-lhe os fundamentos ontol�ogi os que julgamos nela faltar. A vial�ogi a pode levar-nos �a verdade, mas tamb�em �a falsidade, enquanto avia ontol�ogi a, omo o provaremos, se n~ao nos leva a t^odas as verdades,pode, ontudo, evitar, om seguran� a, que resvalemos na falsidade.Ademais, demonstraremos que a via ontol�ogi a �e muito mais se-gura, e nos permite, nela fundados, reexaminar t^odas as estru turasl�ogi as, dando-lhes os onte�udos pre isos, que nosso m�etodo dial�e ti o-ontol�ogi o pode ofere er.Ao onstruirmos a \Filoso�a Con reta", dirigimo-nos aos nossossemelhantes, e se pro uramos fundar nossas primeiras teses sem aimpres indibilidade do homem, n~ao podemos negar que �e omo serhumano, que a fundamos.Poderia algu�em pre ipitadamente dizer que a verdade ontol�ogi a,por n�os a�rmada, ainda �e relativa a n�os, �e, portanto, inerente �a esferaantropol�ogi a, pois �e atrav�es de nossos meios de omuni a� ~ao e depensamento que argumentamos a favor da nossa tese.73

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74 CAP�ITULO 5. DO VALOR DO NOSSO CONHECIMENTOMas essa obje � ~ao ai fa ilmente por terra, porque �e no homem, �eno antropol�ogi o, que se d�a a omuni a� ~ao do pensamento ontol�ogi o,n~ao, por�em, seu fundamento. \Alguma oisa h�a" n~ao se funda no ho-mem, mas neste apenas a sua omuni a� ~ao. E, ademais, se se fundasseapenas no homem, a tese estaria por sua vez demonstrada, e a a�rma-tiva estaria salva, pois uma ilus~ao n~ao poderia ser um nada absoluto,mas ao ser ilus~ao, era alguma oisa, e a�rmaria, por sua vez, que \al-guma oisa h�a". Conseq�uentemente, a a�rma� ~ao tem prioridade, poiso on eito de prioridade impli a que algo �e anterior a algo, em qual-quer esfera que tomemos, e sob qualquer esp�e ie que a onsideremos.Algumas teses subordinadas de orrem das primeiras.TESE 18 - O que tem prioridade �e alguma oisa.Se a prioridade vem do que �e absolutamente nada, a prioridade est�anegada. A a�rma� ~ao �e, pois, o fundamento real da prioridade.TESE 19 - O que tem prioridade �e a�rmativo.Se o que tem prioridade �e nada absolutamente, a a�rma� ~ao est�a on-seq�uentemente negada. A prioridade, portanto, fundamenta-se numaa�rma� ~ao.TESE 20 - Se o nada absoluto tivesse prioridade n~ao seria nada ab-soluto, pois seria a�rmativo.Provado que o que tem prioridade �e a�rmativo, se o nada absolutotivesse prioridade ao ser seria a�rmativo, e n~ao se lhe poderia hamarde nada absoluto. O nada absoluto �e ontol�ogi amente imposs��vel dequalquer modo, omo j�a vimos nas outras demonstra� ~oes j�a feitas.TESE 21 - A d�uvida, humana a�rma.De qualquer forma a d�uvida humana a�rma, mesmo quando ela sedirija at�e �a pr�opria d�uvida, d�uvida da d�uvida. O a to de duvidar �ea�rmativo, porque algo duvida, algo a�rmando e a�rmante duvida.TESE 22 - A d�uvida absoluta �e imposs��vel.

75A d�uvida seria absoluta quando at�e o que duvida n~ao f^osse absoluta-mente nada. Neste aso, nada duvidaria, e a d�uvida estaria totalmentenegada. Portanto, n~ao sendo poss��vel a d�uvida absoluta, a d�uvida s�opode ser relativa e, de erto modo, fundada a�rmativamente, o que,por sua vez, a�rmaria algo, o que �e ex ludente da absoluta nega� ~ao.TESE 23 - A a�rma� ~ao tem de pre eder ne ess�ariamente �a nega� ~ao.Como ne ess�ariamente o que tem prioridade �e algo a�rmativo, aa�rma� ~ao, ontol�ogi amente, pre ede �a nega� ~ao. Ademais se provar�a,oportunamente, que a nega� ~ao �e sempre relativa, pois ao negar algo,a nega� ~ao a�rma o a�rmado. Se a nega� ~ao a�rma, ela n~ao pode serabsolutamente negativa, mas apenas relativamente negativa. Con-seq�uentemente:TESE 24 - A nega� ~ao a�rma a a�rma� ~ao.A nega� ~ao, por ser relativa, a�rma por sua vez algo. Pois negar s�opode ser a alega� ~ao que ex lui da exist^en ia, ou do ser, algo que, de erto modo, �e a tual ou poss��vel. A nega� ~ao da nega� ~ao por sua veza�rmaria a a�rma� ~ao.E da��:TESE 25 - A nega� ~ao absoluta seria, por sua vez, a�rma� ~ao de algo.Se, omo o demonstramos, a nega� ~ao relativa fundamenta-se emalgo que �e, mas que �e negado, a nega� ~ao absoluta seria a nega� ~ao dealgo que absolutamente n~ao �e. Portanto, a nega� ~ao absoluta termina-ria por a�rmar que algo �e. Conseq�uentemente:TESE 26 - A nega� ~ao �e sempre a�rmativa, seja de que modo f^or.Parta-se de onde partir, a nega� ~ao sempre a�rma, o que terminapor negar uma nega� ~ao absolutamente simples, vindo orroborar atese fundamental, que �e nosso ponto de partida: Alguma oisa h�a.

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80 CAP�ITULO 5. DO VALOR DO NOSSO CONHECIMENTOqueremos estabele eu nesse nosso intuito de matematizar no bom sen-tido a �loso�a, �e que devemos sempre submeter as premissas l�ogi as�a an�alise ontol�ogi a por n�os pre onizada, a �m de evitar os erros quea de� i^en ia humana fatalmente provo a.E aqui en ontramos ademais uma justi� a� ~ao a favor de nossaposi� ~ao �los�o� a. Chamamos a nossa �loso�a de on reta, pre isa-mente porque se funda ela no ontol�ogi o, e ^este �e a realidade �ultima da oisa, �e a realidade fundamental da oisa. N~ao surgem as estru turasontol�ogi as de elabora� ~oes mentais. Elas n~ao s~ao impostas pela nossamente, mas se lhe imp~oem. As estru turas ontol�ogi as s~ao v�alidas deper si e justi� am a sua validez, mostrando-se a n�os. O que ons-tru��mos l�ogi amente temos de demonstrar, mas o fundamento dessademonstra� ~ao est�a na mostra� ~ao da raiz ontol�ogi a. Por isso, a viadial�e ti o-ontol�ogi a �e on reta, e s�o pode levar �a onstru� ~ao de uma�loso�a on reta.N~ao seguimos, assim, o aminho usado pelos �l�osofos de todos ostempos, sem que tal impe� a que muitas das nossas a�rmativas e dasteses por n�os demonstradas oin idam om o pensamento exposto poroutros. N~ao �e, por�em, o pensamento alheio que fundamenta a nossaposi� ~ao; �e o nosso m�etodo dial�e ti o-ontol�ogi o que fundamenta osseus postulados. A Filoso�a Con reta n~ao �e, assim, uma onstru� ~aosin r�eti a do que h�a de mais seguro no �losofar. �E que o que h�a maisseguro no �losofar, atrav�es dos tempos, �e o fundamental on reto, nosentido que damos. A Filoso�a Con reta forma, assim, uma unidade,e a sua validez �e dada por si mesma. Para mostrar a diferen� a entre o�losofar submetido apenas ao l�ogi o e o �losofar dial�e ti o-ontol�ogi o,apresentamos diversas diferen� as, mas queremos ofere er outro exem-plo.N~ao devemos onfundir a g^enese no�eti a do on eito om o onte�udol�ogi o, nem om a sua estru tura ontol�ogi a. Tomemos, omo exem-plo, o on eito de in�nito.

5.1. COMENT�ARIOS SUBORDINADOS 77in lusa na estru tura ontol�ogi a da prioridade. Assim qualquer a to doesp��rito �e em si a�rmativo, porque onde h�a uma a � ~ao, h�a a�rma� ~ao,embora a a � ~ao seja negadora, que, neste aso, �e a a�rma� ~ao da n~aopresen� a, da aus^en ia de alguma oisa ou da re usa de algo, omovimos.Os dogm�ati os moderados fundam em geral sua posi� ~ao na erteza,que �e humana. E esta surge, para ^eles, apod��ti amente (apoditi idadel�ogi a), pela re ex~ao ou pela observa� ~ao subje tiva, que revela muitosa tos ps��qui os heterog^eneos, entre ^eles os representativos, nos quaisse distinguem v�arios estados, tais omo:a d�uvida - quando n~ao damos nenhuma ades~ao �rme do enten-dimento, e a mente permane e suspensa om temor de ^erro;a opini~ao, quando h�a ades~ao da mente, mas om temor de errar;a erteza, quando h�a essa ades~ao da mente sem temor de errar.Ora, a verdade l�ogi a est�a no ju��zo; a verdade ontol�ogi a est�a naess^en ia da pr�opria oisa. A erteza ontol�ogi a �e �rme. O que temprioridade �e de erto modo anterior. Se a prioridade �e ronol�ogi a,tem anterioridade no tempo; se axiol�ogi a, tem-na omo valor, et .Na erteza ontol�ogi a, h�a uma evid^en ia intr��nse a. Colo ando-nosdo ^angulo antropol�ogi o, o que engendra a erteza na mente deve serum motivo supremo, o �ultimo porqu^e de t^oda erteza. E ^esse motivosupremo deve ter as seguintes ondi� ~oes:a) Ser prim�ario na ordem ognos itiva, de maneira que n~ao suponhaoutro do qual dependa. Conseq�uentemente, ser�a indemonstr�avel,e o mais f�a il de ser onhe ido por todos.b) Ter�a de ser universal, isto �e, h�a de estender-se a todos os o-nhe imentos ertos, e deve estar in lu��do em todos os outros rit�erios.

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78 CAP�ITULO 5. DO VALOR DO NOSSO CONHECIMENTO ) H�a de ser ne ess�ario, de maneira que sem ^ele n~ao tenham valoros outros motivos de erteza.d) H�a de ser o �ultimo, no sentido de que n^ele venham �nalmenteresolver-se todos os outros.O que tem tais ondi� ~oes �e a evid^en ia obje tiva. Assim a evid^en iaobje tiva de que o todo ma rof��si o �e quantitativamente maior que ada uma de suas partes �e su� iente para obrigar qualquer mente aassentir �rmemente om a verdade que tal prin ��pio en erra.A erteza �e subje tiva, mas a evid^en ia �e obje tiva. �E a segundaque engendra a primeira. A luz da evid^en ia �e bastante para si mesma,e nada mais se poderia pedir, porque �e ela su� iente. �E a evid^en iaque en erra em si todos os requisitos anteriormente apontados. Poder-se-ia obje tar que a evid^en ia pode levar ao ^erro. Se alguns s~ao levadosao ^erro, deve-se a n~ao terem usado a verdade e a raz~ao.N~ao �e essa a evid^en ia que empregamos para assegurar a vali-dez apod��ti a de nossas teses. N~ao pre isamos aqui repetir a longapol^emi a em t^orno d^este tema, que est�a dispersa nas obras de �loso�a,porque n~ao �e dela que lan� amos m~ao, sem que por isso lhe neguemosvalidez.Se na verdade l�ogi a h�a a adequa� ~ao entre o intele to e a oisa,e, na verdade ontol�ogi a, a da oisa om o intele to, em ambas, h�a,portanto, a adequada assimila� ~ao entre o esquema no�eti o-eid�eti o ea oisa. Numa, daquele om esta; noutro, desta om aqu^ele.Mas a verdade dial�e ti o-ontol�ogi a ex lui o esquema eid�eti o-no�eti odo homem. N~ao parte d^ele, mas da raz~ao do pr�oprio ser. Quem d�a asolidez aos nossos esquemas no�eti os-eid�eti os �e a raz~ao ontol�ogi a, �eo logos do ontos.A prioridade da a�rma� ~ao �e ne ess�aria, e ela a�rma que alguma oisa h�a. Essa verdade dispensa adequa� ~ao. �E verdade em si mesma.O que onstru��mos no�eti amente vale na propor� ~ao que orresponde ao5.1. COMENT�ARIOS SUBORDINADOS 79que �e ontol�ogi amente verdadeiro. Nossa verdade �e dada pelo onte�udoontol�ogi o; por isso a L�ogi a deveria ser sempre a posteriori �a an�aliseontol�ogi a.�E o fundamento ontol�ogi o que baseia a validez do l�ogi o, e n~ao oinverso.A validez das id�eias humanas est�a na propor� ~ao em que o ontol�ogi olhes d�a onte�udo. E por essa raz~ao pode-se da�� partir para t^oda umarevis~ao dos nossos ju��zos l�ogi os, omo ainda veremos.Nossos esquemas (spe ies) onstituem o que, pelo qual (quo), �e o-nhe ido o obje to, n~ao o que �e onhe ido (spe ies est id quo obje tum ognos itur, non id quod ognos itur). Esta a�rma� ~ao es ol�asti a �ede grande valor. O esquema eid�eti o-no�eti o expressado representa oobje to omo n�os entendemos. Mas a validez de tais esquemas �e dadapela validez dial�e ti o-ontol�ogi o.Ao partirmos do l�ogi o, s�omente deduzimos o que j�a est�a nas pre-missas somente deduzimos o que nas premissas j�a pusemos. Por essaraz~ao, om o uso da l�ogi a apenas, pode o homem perder-se e al an� aro ^erro. Mas, na apta� ~ao ontol�ogi a, h�a outro modo de pro eder. Pormeio dela n~ao extra��mos o que pomos, mas o que j�a est�a na raz~aoda oisa. Desse modo, pode o ser humano errar quando usa a l�ogi a,n~ao quando usa a via dial�e ti o-ontol�ogi a. Podiam-se apresentar ar-gumentos ontra os ant��podas, porque todos os orpos pesadas aem,e se houvesse s^eres abaixo de n�os airiam, mas ontol�ogi amente nadaimpediria que houvesse ant��podas. Posteriormente, on lui-se, gra� asaos onhe imentos ient��� os, que os orpos pesados aem em dire� ~aoao entro da Terra, ( omo se d�a em nosso plan^eta), o que j�a a�rmavaTom�as de Aquino. J�a nesse enun iado, os ant��podas n~ao s~ao maisabsurdos.S~ao motivos omo tais que nos levam a a�rmar que a via dial�e ti o-ontol�ogi a supera a via l�ogi a, para al an� armos a evid^en ia, sem quese despreze o valor que aquela ofere e para o �losofar. Mas o que

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84 CAP�ITULO 6. REFUTAC� ~AO DO AGNOSTICISMOe segura de t^oda demonstra� ~ao.O defeito fundamental dessa obje � ~ao onsiste em a�rmar gratui-tametne que tudo �e demonstr�avel, e que nada poder-se-�a ter por ertoe seguro sem uma demonstra� ~ao. Como a primeira deveria ser erta esegura, e omo exige demonstra� ~ao, essa seria inde�nidamente levadaavante. Estamos no dialelo. Mas j�a eviden iamos que n~ao se provaapenas demonstrando, mas mostrando. H�a um rit�erio do evid^en iaque n~ao ne essita de, nem pode ser justi� ado por outro, e que se jus-ti� a por si mesmo: alguma oisa h�a. Esta verdade �e ontol�ogi amenteperfeita, porque a sua proposi� ~ao en erra em si a verdade. N~ao h�apossibilidade de uma � � ~ao absoluta, porque a sua mera enun ia� ~aoa�rma que alguma oisa h�a. Na proposi� ~ao alguma oisa h�a, o sujeito�e suprido perfeitamente pelo predi ado. Essa evid^en ia �e obje tiva.Se �e o homem que a pronun ia, a evid^en ia subje tiva ap�oia-se numaevid^en ia obje tiva. Alguma oisa h�a, pois, para que o homem possaa�rmar ou n~ao que alguma oisa h�a.O segundo argumento dos �epti os est�a no fa to de nos enganarmosquanto �a verdade das oisas. E porque nos enganamos algumas v^ezes, on luem que nos enganamos sempre. Quod nimis probat, nihil probat(o que prova em demasia n~ao prova) a�rmavam os es ol�asti os, e omfundamento, porque a on lus~ao d^esse argumento aposterior��sti o dos �epti os �e dogm�ati o, exageradamente dogm�ati o, al�em de estender a on lus~ao al�em das premissas.Que nos enganamos algumas v^ezes, �e pre edente a a�rmativa, masque nos enganamos sempre, �e uma a�rmativa que ex ede e refuta opr�oprio eptimsmo, pois saber��amos, ent~ao, om erteza, omo ver-dade, que sempre nos enganamos. No entanto, alguma oisa h�a refutaque nos enganamos sempre, porque o pr�oprio engano a�rmaria que\alguma oisa h�a". Nossa tese, portanto, �e v�alida tamb�em para os �epti os.O epti ismo tornar-se-ia ainda mais absurdo se negasse que alguma5.1. COMENT�ARIOS SUBORDINADOS 81Combatendo os argumentos es otistas, os suarezistas, que s~ao �l�oso-fos t~ao grandes omo aqu^eles, e t~ao grandes omo os maiores de todosos tempos, repelem a a�rmativa d^estes de que a primeira diferen� a deDeus �e onstitu��da pela in�nitude. Para estes, Deus �e o ente simpli i-ter in�nitum, absolutamente in�nito. Ora, tal n~ao pro ede, a�rmam,porque in�nito �e algo negativo, e o negativo funda-se em algo positivo.E se fundado em algo positivo, ^esse positivo seria a diferen� a primeira,e onstitutiva de Deus. O in�nito seria, pois, um a idente, e n~ao po-deria onstituir a diferen� a primeira. H�a outras obje � ~oes ainda dossuarezistas que vir~ao a seu tempo, mas enquanto a esta poder-se-ia,atrav�es de uma an�alise dial�e ti o-ontol�ogi a, responder do seguintemodo:No nosso modo de on eber, a g^enese do on eito de in�nito (eti-mol�ogi amente tomado) surge da nega� ~ao da �nitude, in-�nito. Masse, gen�eti amente, o on eito �e negativo, n~ao o �e em sua estru turaontol�ogi a, omo n~ao o �e o on eito de N~ao-eu, o de �atomo (a-tomos),porque se referem a onte�udos positivos. Mas o onte�udo positivo dein�nito �e a absoluta independ^en ia, o ser absolutamente ne ess�ario. Sea mente humana per orre um longo aminho para al an� ar o onte�udo on reto-ontol�ogi o do on eito de in�nito, o seu verdadeiro onte�udo�e o �nal, e n~ao o que �e dado nos primeiros ensaios. Neste aso, setomarmos in�nito em sentido meramente l�ogi o, o argumento dos es- otistas �e ina eit�avel, mas se tomarmos em seu onte�udo ontol�ogi o �e^ele v�alido. ^Este ponto vai mere er de n�os mais adiante outros exames,pois exige tiv�essemos al an� ado v�arios est�agios da an�alise dial�e ti o-ontol�ogi a, o que ainda n~ao �zemos.Queremos apenas mostrar, de modo su� iente por ora, omo se di-feren iam os dois pro essos: o l�ogi o e o ontol�ogi o. E se apresentamosat�e aqui algumas raz~oes em favor de nosso m�etodo, no de orrer destaobra a res entaremos outros elementos que orroborar~ao ainda maisa nossa posi� ~ao.

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82 CAP�ITULO 5. DO VALOR DO NOSSO CONHECIMENTO

Cap��tulo 6

Refuta� ~ao do agnosti ismo, dorelativismo e do nihilismo

Ontol�ogi amente, o epti ismo universal, em fa e das teses j�a demons-tradas, n~ao pro ede, pois nenhum �epti o deixaria de re onhe er avalidez apod��ti a do que expusemos, pois n~ao poderia a�rmar o nadaabsoluto. Nem tampou o pod^e-lo-iam fazer o agnosti ismo nem o re-lativismo. Caberia dis utir apenas a posi� ~ao nihilista.Veremos oportunamente que tamb�em n~ao pro edem as obje � ~oesdessa posi� ~ao �a apa idade humana de um saber verdadeiro. Porora, por�em, interessa-nos apenas o que se refere as teses expostas.O �epti o poder�a dizer que nada sabe s^obre o que h�a, mas ter�a de on ordar que h�a alguma oisa, e tamb�em o agn�osti o e o relativista,pois, para este �ultimo h�a, pelo menos, a rela� ~ao, e o ser �e relativo.Os prin ipais argumentos �epti os na Criteriologia podem ser sim-pli� ados em dois: um a priori e outro a posteriori. Aprior��sti amente,a�rma a impossibilidade de um rit�erio seguro e inapel�avel da verdadepor parte da raz~ao, porque esta ter�a de demonstrar, n~ao por si, maspor outrem, sendo imposs��vel al an� ar um primeiro rit�erio, base erta83

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88 CAP�ITULO 6. REFUTAC� ~AO DO AGNOSTICISMO(�aliquid) e o de haver (h�a). Mas que apontam tais on eitos? �Aliquiddiz-se do que tem positividade de qualquer modo, do que se p~oe, doque se d�a, do que se a�rma. Haver indi a presen� a de erto modo. Opredi ado a�rma que se pode predi ar a presen� a de algo (ser, devir,� � ~ao, n~ao importa), e que essa presen� a tem uma positividade, poisn~ao se pode predi ar a absoluta aus^en ia. Entre os on eitos de pre-sen� a e de aus^en ia total e absoluta, a mente n~ao pode va ilar, pois aa�rma� ~ao da segunda seria negada pela pr�opria a�rma� ~ao.Conseq�uentemente, prova-se ainda que �e verdadeiro o postuladoexpresso na tese abaixo:TESE 27 - �E absolutamente falsa a predi a� ~ao da aus^en ia total eabsoluta.Conseq�uentemente:TESE 28 - �E absolutamente, verdadeira a predi a� ~ao de uma pre-sen� a.Tem, assim, o �losofar um ponto arquim�edi o de partida s^obre oqual nenhuma obje � ~ao pode ser feita; ou seja: h�a um ju��zo univer-salmente v�alido e absolutamente verdadeiro, s^obre o qual se podem onstruir os fundamentos de um �losofar oerente, que era o que de-sej�avamos mostrar e demonstrar.TESE 29 - A verdade ontol�ogi a pres inde do rigor psi ol�ogi o.H�a distin� ~ao, sem d�uvida, quando n~ao h�a re ipro idade verdadeira.Entre o rigor ontol�ogi o e o rigor psi ol�ogi o, h�a distin� ~ao, emboramuitos a�rmem que n~ao h�a, reduzindo-se aqu^ele a ^este. H�a distin� ~aoporque o rigor psi ol�ogi o exige o ontol�ogi o, mas este n~ao exige aqu^ele.Uma verdade psi ol�ogi a �e tal realmente, quando ontol�ogi amente�e verdadeira, mas uma verdade ontol�ogi a pode pres indir do rigorpsi ol�ogi o.TESE 30 - O Ser, que sempre foi e sempre �e, �e plenitude absoluta de

85 oisa h�a, pois a sua nega� ~ao seria a a�rma� ~ao de que alguma oisa h�a.Gonzalez sintetiza sua obje � ~ao ao epti ismo om estas palavras, ondemostra a ontradi� ~ao fundamental que o anima: ao falar ao �epti o^ele diz: \ou sabes que n~ao sabes nada, ou n~ao o sabes. Se n~ao osabes, por que o a�rmas? E se o sabes, j�a sabes algo, e �e prova deque se pode saber alguma oisa." Repete, assim, as palavras de SantoAgostinho: \Quem pode duvidar que vive e entende, e quer, e julga?Se duvida, vive; se duvida, entende que duvida; se duvida, �e porquequer ter erteza; se duvida, pensa; se duvida, sabe que n~ao sabe; seduvida, julga que onv�em n~ao prestar um assentimento temer�ario"(De Trinitate, lib. X, ap. 10, n. 14; XV, 12).Ademais o epti ismo apli ado �a pr�ati a seria destru tivo, e torna-ria imposs��vel a vida humana, pois o �epti o, para o ser integralmente,teria de ex luir t^oda pr�ati a.Tal n~ao impede que haja um epti ismo at�e erto ponto ben�e� opara o progresso do saber humano. Se se trava aqui uma grandepol^emi a na Filoso�a, erta d�uvida met�odi a poder�a levar o homem ainvestiga� ~oes mais longas e mais profundas, o que orresponderia a umdesejo mais amplo de saber. Contudo, onviria estabele er os limitesd^esse epti ismo relativo, pois a d�uvida met�odi a de Des artes deufrutos �a idos para a �loso�a, embora n~ao f^osse essa a sua verdadeirainten� ~ao. Entre os es ol�asti os modernos, h�a muitos que a admitem, omo Sentroul, Mona o, Monnot, Maquart, Geny, Donat, Jeanni�ere,Guzzetti, Mar�e hal, Montagne, Julivet, No�el, d'Aquasparta, Kleutgen,Liberatori, Palmieri, et . Admitem-na apenas met�odi amente, em fa edo estado de epti ismo que avassala ertas amadas intele tuais, ea ne essidade de partir dela para estabele er as bases �rmes de um rit�erio gnosiol�ogi o. Para a fundamenta� ~ao de nossas teses, por�em,a pol^emi a que surge aqui em nada viria diminuir a apoditi idade danossa tese fundamental: alguma oisa h�a.A posi� ~ao agn�osti a �e fundamentalmente �epti a, e pade e dos mes-mos defeitos do epti ismo e a sua refuta� ~ao se faz pelo mesmo ami-

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86 CAP�ITULO 6. REFUTAC� ~AO DO AGNOSTICISMOnho.J�a o relativismo tem en ontrado na �epo a moderna seus ultores.Prot�agoras �e onsiderado o fundador dessa posi� ~ao, e a tese funda-mental do relativismo onsiste em a�rmar que a nossa verdade �e rela-tiva ao sujeito ognos ente. N~ao onhe emos o obje to omo ^ele o �eem si; a�rma e ainda nega possamos adequadamente distinguir entre ogni� ~ao absolutamente verdadeira e ogni� ~ao falsa, j�a que a oisa n~aopode ser aptada, sen~ao segundo as nossas medidas. Se h�a um relati-vismo absoluto, h�a, ademais, um relativismo moderado. ^Este a�rmaque nossas verdades s~ao relativas ao sujeito ognos ente, segundo oseu modo de onhe er, a eitando, portanto, que h�a um onhe imentoverdadeiro do que a oisa �e em si, mas propor ionado ao sujeito og-nos ente.Ora, tanto o agnosti ismo, omo o relativismo universal e at�e omoderado n~ao podem p^or em d�uvida a tese fundamental da �loso�a on reta, pois se o agn�osti o de lara que n~ao podemos saber o quea oisa �e em si, n~ao nega que algo h�a e, por sua vez, o relativismoa�rmaria que a rela� ~ao h�a, e a rela� ~ao n~ao �e um puro e absoluto nada.Os relativistas intele tualistas, omo os idealistas e os fenomenalis-tas, que hegam a negar a exist^en ia da oisa em si, e apenas a�rmama das nossas id�eias e representa� ~oes, n~ao negam, onseq�uentemente,que algo h�a.No fundo o relativismo �e �epti o, e s^obre ^ele ai a mesma refuta� ~ao.Pode-se, de erto modo, onsiderar o agnosti ismo ient��� o, bem omo o psi ologismo, o histori ismo, o pragmatismo omo �epti os,pois t^odas essas doutrinas se fundamentam nos mesmos postulados.Em \Teoria do Conhe imento" refutamos essas posi� ~oes �los�o� as.Agora, por�em, em fa e dos postulados fundamentais da �loso�a on- reta, o �losofar de tais �l�osofos em nada ofende os seus fundamentos,que seriam v�alidos, in lusive para ^eles.O idealismo em geral, a�rma que o obje to onhe ido �e totalmente

87imanente ao ognos ente, hegando at�e a nega� ~ao do mundo exterior, omo o idealismo a osm��sti o de alguns, que n~ao nega, portanto, quealgo h�a.Se os a osm��sti os negam a exist^en ia real do mundo orp�oreo, n~aoa�rmam uma nega� ~ao absoluta de que algo h�a, nem o fenomin��sti o,ao a�rmar que nosso �uni o onhe imento �e aparente, nem os idealistasmon��sti os, nem os pluralistas negam tal postulado. O idealismo �e, emsuma, relativismo, e, onseq�uentemente, �epti o.Em oposi� ~ao ao idealismo, poder-se-ia dizer que o intele to humano�e naturalmente ordenado a verdade, e que a verdade obje tiva existeindependentemente da ogni� ~ao humana. Mas a prova de tal postuladon~ao abe por ora, pois vir�a a seu tempo, ap�os havermos trilhado os aminhos da dial�e ti a-ontol�ogi a. O que, no entanto, � a a�rmado,ante essas posi� ~oes, �e que algo h�a.Tamb�em entre os �l�osofos anti-intele tualistas, omo Bergson, Ni-etzs he, e os existen ialistas, que a�rmam serem insu� ientes os meiosintele tuais de onhe imento, e que a realidade on reta n�os a atin-gimos atrav�es de uma experi^en ia vital e al�ogi a, apesar da fraquezados seus postulados, a eitam tamb�em que algo h�a.A fenomenologia moderna, em todos os seus aspe tos, n~ao negavalidez ao nosso postulado fundamental.Restaria apenas a posi� ~ao nihilista absoluta, que negaria termi-nantemente que algo h�a, e a�rmaria que nada absolutamente n~ao h�a.Tudo seria mera e absoluta � � ~ao. Mas tal posi� ~ao ainda a�rmariaque a � � ~ao, que �e algo, h�a, e, onseq�uentemente, que algo h�a.Portanto, sob nenhum dos aspe tos do �losofar, sob nenhum dosseus ^angulos, em nenhuma das posi� ~oes �los�o� as onsideradas em to-dos os tempos, nenhuma sequer nega validez ao postulado fundamentalda �loso�a on reta, o que prova tamb�em a sua universal validez.Poder-se-ia, ainda, dis utir a validez dos on eitos alguma oisa

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92 CAP�ITULO 6. REFUTAC� ~AO DO AGNOSTICISMO om o ser o su� iente para n~ao ontradiz^e-lo.D^este modo, o n~ao-ser relativo n~ao ofende o prin ��pio de n~ao- ontradi� ~ao, nem o prin ��pio ontol�ogi o de identidade, omo aindaveremos.A perfei� ~ao re usada �e uma erta perfei� ~ao. A re usa do que n~ao�e, do imposs��vel, in lui-se na mesma demonstra� ~ao, mas, neste aso,o que �e re usado n~ao �e positivo.Ademais o nada, onsiderado enquanto tal, n~ao �e perfei� ~ao; �e nada.TESE 33 - A a�rma� ~ao pre ede ontol�ogi amente �a nega� ~ao.Provamos agora de outro modo:A nega� ~ao impli a o negado, e ^este �e positivo, pois negar-se oque n~ao �e, retiraria da nega� ~ao a sua positividade e, neste aso, elaaniquilar-se-ia. Conseq�uentemente, para negar-se, �e pre iso que algoesteja a�rmado.A a�rma� ~ao posi iona-se e positiva-se por si mesma. N~ao pre isade outrem para ter realidade. A nega� ~ao re usa alguma oisa; impli a,portanto, algo positivo, a�rmativo.Conseq�uentemente, a tese est�a demonstrada: a a�rma� ~ao pre edeontol�ogi amente �a nega� ~ao.Ora, o ser �e a�rma� ~ao, a�rma� ~ao imediata sem determina� ~ao (in-determinada). Como a�rmativo, �e presen� a, �e o agir imanente que se olo a e possui a si mesmo.TESE 34 - O ser tem prioridade �a rela� ~ao.A rela� ~ao impli a o dual, e no m��nimo duas positividades, poisuma rela� ~ao entre t^ermos n~ao positivos deixaria autom�ati amente deser positiva.A rela� ~ao impli a anteriormente subst^an ia e oposi� ~ao, duas ate-gorias que a ante edem.

89ser.O que ontradiz o Ser que sempre foi e sempre �e, seria o nadaabsoluto, aus^en ia total e absoluta de ser. Qualquer redu� ~ao no serenquanto tal, seria nada absoluto1.O Ser, enquanto tal, �e plenamente ser. N~ao pode surgir de uma omposi� ~ao de ser e de nada absoluto, porque ^este n~ao pode ompor,porque �e imposs��vel, e o t^ermo positivo da omposi� ~ao seria plena eabsolutamente ser. Se ^este n~ao f^osse plenitude absoluta de ser serianada, o que �e imposs��vel.Portanto, Ser �e plenitude absoluta de ser. Ora, o ser, que sem-pre houve e sempre foi, se n~ao f^osse plenitude absoluta de ser, teria omposi� ~ao om o nada absoluto, o que �e absurdo.O ser do alguma oisa que sempre houve e sempre �e, e sempreexistiu, �e plenitude absoluta, sem desfale imentos, sem ruptura, num ontinum absoluto de ser, no seu pleno exer �� io, pois �e essen ial eexisten ialmente ser, omo vimos.TESE 31 - O Ser �e, pelo menos, de erto modo, absoluto e in�nito.�E absoluto o que �e ab-solutum, o que �e desligado, o que n~ao prov�emde outro, o que n~ao pre isa de outro para ser, o que se p~oe a si mesmono seu pleno exer �� io.Diz-se que um ser �e in�nito quando n~ao tem �nitude, quando n~aotem fronteiras, nem limites. Ora, o que poderia limitar ^esse ser abso-luto e primordial, enquanto primordial?O nada absoluto? Mas este n~ao �e; nem teria e� a idade de deter-1Tamb�em n~ao poderia ser um nada absoluto par ial (um vazio total de ser aolado do que �e) omo o provaremos mais adiante, nem um ser relativo, porque apositividade d^este s�o h�a, havendo o ser, por ser relativa do ser absoluto, omoveremos. Restaria apenas um n~ao-ser que orresponderia ao que ainda-n~ao-�e-mas-pode-ser, que hamamos Meon (do grego me, negativo, e on, ente), doqual trataremos oportunamente.

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90 CAP�ITULO 6. REFUTAC� ~AO DO AGNOSTICISMOminar, de dar limites; pois, se tivesse essa aptid~ao, seria ser. Portanto,n~ao poderia �nitiz�a-lo o nada, porque o ser, que sempre houve e h�a, �eab-solutum, �e absoluto e primordial, �e plenitude de ser, pois ess^en iae exist^en ia n^ele se identi� am, s~ao a mesma oisa.N~ao tendo sua origem em outro, nem dependendo de outro, ^ele �e:a) absoluto;b) independente; ) ingenerado, imprin ipiado;d) plenitude absoluta de ser, sem limites porque s�o ^ele �e plenamenteser.Conseq�uentemente, o ser absoluto �e in�nito.E mais adiante se provar�a que �e �uni o.O t^ermo in�nito pode ser tomado privativa e negativamente.O in�nito privativo onsiste na aus^en ia de uma �nitude.Neste aso, poder-se-ia dizer que o Ser absoluto n~ao tem �nitudede qualquer esp�e ie.O in�nito negativo onsiste em n~ao ter pr�opriamente limites.Tom�a-lo quantitativamente n~ao seria apli �avel ao Ser absoluto, por-que, omo veremos mais adiante, a sua in�nitude n~ao �e quantitativa.Mas se onsiderarmos os limites omo a fronteira do seu poder, aoSer absoluto n~ao se lhe antep~oem fronteiras.Portanto, ^ele �e in�nito. Surgiriam aqui diversos aspe tos a seremjusti� ados e demonstrados. Como prin ��pio, ^esse ser seria absoluto,pois �e ab-solutum, desligado de outrem.Mas h�a heterogeneidade de entidades, v�arios seres que n~ao s~ao abso-lutos, mas ligados a outros. Resta saber se o Ser, que �e imprin ipiado

91e absoluto, �e independente dos outros s^eres, o que se provar�a mais adi-ante, embora desde logo se veja que os outros, que s~ao posteriores, d^eledependem, enquanto ^ele n~ao depende de outro, pois ent~ao dependeriado nada.Resta ainda saber se a sua in�nitude �e dada enquanto visualizamoso nada absoluto, n~ao enquanto visualizamos os outros s^eres.Essa in�nitude ante os outros s^eres ser�a demonstrada, mais adiante,de modo apod��ti o.TESE 32 - O n~ao-ser relativo �e o apontar de uma aus^en ia de per-fei� ~oes determinadas.O n~ao ser relativo n~ao �e a nega� ~ao total e absoluta do ser.E se n~ao o �e, aponta a algo, a uma perfei� ~ao2, que �e do ser, e posi-tiva, ou a uma nega� ~ao de algo positivo, que est�a ausentado de algo.Nesse apontar indi a apenas a re usa da presen� a de determinada per-fei� ~ao. Portanto, o n~ao-ser relativo �e positivo, pois �e o apontar de umare usa da presen� a de algo3.A n~ao-presen� a de algo positivo d�a su� iente positividade ao n~ao-serrelativo. Compreendendo-se assim, n~ao abe mais a prim�aria onfus~aoentre n~ao-ser relativo e n~ao-ser absoluto. Ambos se ex luem absolu-tamente. E omo o n~ao-ser relativo tem positividade, ^ele se analoga2Perfei� ~ao (de per e fa tum) �e, etimol�ogi amente, o \haver hegado ao ��ntegro"(Vollkommenheit, na l��ngua alem~a). �E o efe tuado, o que se tornou a abado; ema to, portanto. Ou um ser �e j�a a abado, perfeito; ou a pou o e pou o al an� aa sua perfei� ~ao. H�a, assim, uma perfei� ~ao absoluta, que seria a do ser (que j�a �eplenamente si mesmo, sem mais nada a a res entar, omo o �e o Ser absoluto, omoveremos), e uma perfei� ~ao relativa, a que tem a possibilidade de al an� ar maiora abamento ou n~ao. D^este modo, o a to �e a perfei� ~ao da pot^en ia. O on eito deperfei� ~ao ser�a enrique ido �a propor� ~ao que examinemos outras teses.3Se se nega uma nega� ~ao, omo dizer-se que \n~ao �e verdade que algu�em sejan~ao-bom", a�rma-se uma positividade. A aus^en ia de uma aus^en ia a�rma sempreuma positividade, porque se a�rma que o que era re usado n~ao o �e mais. A aus^en ia�e sempre de algo positivo, porque aus^en ia de nada n~ao �e aus^en ia.

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96 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESs^obre a rela� ~ao. Quanto ao homem, a id�eia do ser �e a id�eia on retado on reto.O ser �e assim presen� a (a�rma� ~ao) imediata do indeterminado, doque n~ao tem determina� ~oes.Entre ser e nada absoluto h�a ontradi� ~ao; n~ao entre ser-isto, e ser-aquilo. O nada relativo �e a�rma� ~ao de algo positivo determinado, ujapresen� a �e re usada. Portanto, a �uni a nega� ~ao poss��vel �e nega� ~ao de,fun ionalmente dependente de algo positivo, que �e ser. O nada relativo�e assim positivo, e essa positividade muito nos auxiliar�a a ompreenderdiversos aspe tos da �loso�a, sobretudo a heterogeneidade, e a solu� ~aodo problema dial�e ti o entre o Um e o M�ultiplo. O ser �nito �e um omposto de ser e de n~ao-ser (de nada relativo). A demonstra� ~ao desta�ultima tese vir�a oportunamente.TESE 35 - N~ao se podem predi ar propriedades ao n~ao-ser absoluto.A atribui� ~ao de propriedades exige, pr�eviamente, que o portadordelas seja algo, pois a aus^en ia de positividade do portador negaria ada atribui� ~ao. O n~ao-ser absoluto n~ao poderia ser portador de qual-quer propriedade1.TESE 36 - O n~ao-ser relativo (nada relativo) n~ao tem propriedades.A aus^en ia de propriedades �e, no entanto, relativa e n~ao absoluta.Que o n~ao ser relativo n~ao tem propriedades de orre de n~ao ser^ele um suppositum portador delas, porque onsiste na aus^en ia dedeterminadas perfei� ~oes. O n~ao-verde d^este ente n~ao tem qualquerpropriedade.Mas, a aus^en ia de propriedades �e relativa, porque se ^este ente n~ao�e isto ou aquilo, apenas n~ao o �e enquanto �e isto ou aquilo, o que n~ao1Quando dizemos que o n~ao-ser absoluto �e, o �e n~ao perten e ao verbo sersubstantivamente onsiderado, mas apenas ao ser opulativo, que se refere �a nossaesquem�ati a no�eti a, e n~ao �a ordem do ser ^onti amente onsiderado. Em suma: �a on eitua� ~ao de n~ao-ser-absoluto pode unir-se a on eitua� ~ao de aus^en ia-total-e-absoluta-de-ser-^onti amente- onsiderado.

93Os que onsideram que ser �e expresso na �opula ser, reduzem-no auma rela� ~ao. Mas uma rela� ~ao �e rela� ~ao de qualquer oisa que �e. E,a�nal, qualquer oisa deve ser para que haja rela� ~oes. Portanto, h�aprioridade ontol�ogi a do ser �a rela� ~ao.

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94 CAP�ITULO 6. REFUTAC� ~AO DO AGNOSTICISMO

Cap��tulo 7

Coment�arios �as teses

O ser, omo a�rma� ~ao, �e presen� a. E omo a nega� ~ao n~ao poderiapre eder ontol�ogi amente �a a�rma� ~ao, o nada absoluto n~ao poderiapre eder ao ser. Para a�rmar o nada absoluto, seria ne ess�ario a�r-mar o Todo para suprimi-lo plenamente; n~ao apenas substituir estepor aqu^ele. A sua a�rma� ~ao �e, portanto, imposs��vel e ontradit�oria.Ter��amos de olo ar a nega� ~ao omo su� iente em si mesma, o que �eabsurdo.A id�eia do nada absoluto surge no homem. Mas essa id�eia �e apenasa id�eia do Todo suprimido pela id�eia. E se a id�eia do nada n~ao �e aid�eia do todo suprimido pela id�eia, ela �e nada de id�eia, uma no� ~aovazia.E nada p^or n~ao �e p^or o nada. Se o homem onstr�oi d^esse modo aid�eia de nada, por supress~ao do que �e, esvazia a id�eia, n~ao p~oe o nada,por�em.O ser olo a-se, assim, independentemente de n�os; p~oe-se ante n�os,mas independe de n�os.Ora, o ser n~ao �e uma rela� ~ao, pois, omo j�a vimos, o fundamento darela� ~ao �e o ser, e n~ao o inverso. H�a, assim, prioridade ontol�ogi a d^ele95

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100 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESse estas se a tualizam posteriormente na realidade tempo-espa ial, j�aestavam ontidas, de erto modo, na mat�eria, pois do ontr�ario viriamdo nada.Por outro lado, t^em os materialistas de admitir que a mat�eria, en-quanto tal, �e imut�avel, pois sendo simplesmente mat�eria, sua muta� ~aodar-se-ia para outro, que seria a n~ao-mat�eria, o imaterial, o que lhes ausaria alafrios.T^em ^estes de admitir que os entes singulares prov^em dela, e se taisentes s~ao isto ou aquilo, a mat�eria n~ao deixa de ser ela mesma.H�a, assim, nesta, algo que �e eterno e imut�avel. Ademais, t^em de lhedar a tualidade, pois se ela pode produzir isto ou aquilo, as possibili-dades est~ao nela omo poss��veis de vir-a-ser; mas a mat�eria, enquantotal, �e a to, pois se f^osse pot^en ia seria a pot^en ia de outro, que porsua vez estaria em a to, e n~ao seria mat�eria.Ademais, a mat�eria seria parte em a to e parte em pot^en ia. Partea tuaria s^obre parte que sofreria a a � ~ao. E levada mais longe essaan�alise, ver-se-ia que ^esse a to era puro a to, o que exigiria postularas teses das quais o materialismo tanto desejou afastar-se.E poder��amos ir al�em nesse exame, e dirigi-lo ademais a outras on ep� ~oes, e t^odas, sem ex ep� ~ao, n~ao poderiam p^or em d�uvida, porfalta de fundamento, a nenhum dos postulados at�e aqui expostos e porn�os demonstrados.H�a ainda a posi� ~ao �epti a e a agn�osti a. Estas a�rmam que pou oou nada sabem s^obre o ser, ou melhor: sabem que pou o ou nadasabem, ou sabem que n~ao sabem se o que sabem �e verdadeiro ou n~ao.Mas tais posi� ~oes, omo vimos, s~ao mais um demitir do �losofar queum �losofar. Porque qualquer �epti o, ou qualquer agn�osti o, sabe quen~ao h�a o nada absoluto, mas que h�a algo, que ambos ignoram o queseja, ou pensam ignorar.Nenhum �epti o deixar�a de admitir que o que h�a n~ao foi pre edido

97o ausenta de t^oda e qualquer perfei� ~ao. A aus^en ia �e assim relativa.O n~ao-verde, que n~ao h�a neste ente, n~ao �e um n~ao-verde absoluto,porque seria predi ar a total e absoluta aus^en ia de verde, mas apenasa aus^en ia de verde neste ente, portanto relativo a ^este ente.TESE 37 - O nada-relativo tem sempre positividade.O nada absoluto �e a aus^en ia total de ser e �e imposs��vel, omo j�ademonstramos. O nada relativo �e a aus^en ia de determinado modo deser aqui ou ali, o que lhe d�a positividade, pois o que �e ausente �e ummodo de ser, que, omo tal, �e ser, pois aus^en ia de nada n~ao �e sequeraus^en ia.Se dizemos que A n~ao �e B, re usamos em A a presen� a do predi adoB. Se B n~ao �e um ser ou modo de ser, B �e nada, e re usar nada a algo�e re usar absolutamente nada; n~ao �e, portanto, priva� ~ao.A priva� ~ao de algo impli a a positividade d^esse algo, pois ser pri-vado de nada n~ao �e are er de nada.Mais uma vez se omprova, assim, a positividade do nada-relativo.O nada-relativo �e, portanto, nada em rela� ~ao a isto ou �aquilo, e n~aonada em absoluto, o que j�a foi demonstrado.TESE 38 - Ante o ser, o n~ao-ser relativo n~ao o ontradiz, porque n~aonega absolutamente ser ao ser. O n~ao-ser relativo �e apenas a aus^en iade uma perfei� ~ao, n~ao a aus^en ia absolutamente total do ser.Portanto, o Ser se op~oe ao n~ao-ser, mas o Ser �e ontraditado peloN~ao-ser absoluto.Para postular o n~ao-ser absoluto, ter-se-ia de negar total e absolu-tamente o ser. A pr�opria postula� ~ao, omo vimos, �e a nega� ~ao formale su� iente do n~ao-ser absoluto. Basta apenas que oloquemos a suaimpossibilidade para que ele esteja total e absolutamente refutado.N~ao est�a refutado, por�em, o n~ao-ser relativo. ^Este n~ao impli a umadiminui� ~ao de poder do ser, mas apenas que uma perfei� ~ao do ser n~ao

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98 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESest�a presente neste ou naquele ente.TESE 39 - Entre o n~ao-ser relativo e o n~ao-ser absoluto, h�a a diferen� aque o primeiro �e positivo, enquanto a postula� ~ao do segundo nega todae qualquer positividade.Demonstra-se por outra via: o n~ao-ser absoluto �e aus^en ia totale absoluta de ser. E j�a o refutamos pela pr�opria postula� ~ao que opretendesse olo ar. Sua refuta� ~ao foi su� iente e total.O n~ao-ser relativo �e, portanto, o inverso do n~ao-ser absoluto.N~ao se lhe pode atribuir uma total e absoluta aus^en ia de positi-vidade, pois, do ontr�ario, estar��amos a�rmando o n~ao-ser absoluto,o que j�a est�a afastado. Portanto, o n~ao-ser relativo tem positividade,sem ser ontudo, enquanto tal, ser subsistente.�E o que nos leva a postular uma distin� ~ao fundamental entre posi-tividade e ser subsistente.A tudo quanto n~ao se pode dizer que �e nada, tem uma entidade, e�e entidade (entitas).O nada relativo n~ao �e uma entidade real, mas tem positividade porrefer^en ia.7.1 Coment�arios �as proposi� ~oes examinadasCom muita raz~ao dizia Avi ena, e posteriormente Duns S ot, que to-dos os �l�osofos est~ao de a ^ordo quanto �a exist^en ia do ser.O ser �e ineg�avelmente o primeiro obje to do onhe imento, j�a oeviden iara Arist�oteles.Se h�a �l�osofos que a�rmam nada saber s^obre ele, em que onsiste,o que �e em suma o ser (quid sit), est~ao, no entanto, de a ^ordo em,dire ta ou indire tamente, admiti-lo, pois neg�a-lo seria a�rmar o nada

7.1. COMENT�ARIOS �AS PROPOSIC� ~OES EXAMINADAS 99absoluto, o que �e absurdo.Examinamos em \Ontologia e Cosmologia", omo variam as opini~oess^obre \o que" �e o ser.Alguns o reduzem ao on eito l�ogi o, dando-lhe a m�axima extens~ao,pois in luiria t^odas as entidades apenas por serem, inibindo, virtua-lizando o heterog^eneo, e, onseq�uentemente, om a m��nima ompre-ens~ao; o ser apenas �e. Assim temos o exemplo de Hegel, que o onfunde�as v^ezes om o nada, pois o nada �e indeterminado (sem determina� ~ao),o ser, l�ogi amente onsiderado, tamb�em o �e.Mas, para Hegel, o nada surge om o deixar de ser, enquanto �e donada, omo ponto de partida, que algo vem a ser. Ora, quando algo ome� a a ser (in ipit esse) algo ome� a a ser; �e ser2.No entanto, omo j�a vimos em trabalhos anteriores, �e um ^erro doformalismo reduzir o ser ao on eito l�ogi o, porque ^este �e um on eitode lassi� a� ~ao, e aquele �e existente, on reto.E se examinarmos todos os pensamentos �los�o� os mais oerentes,veremos que todos a eitariam a validez universal dos postulados at�eaqui expostos por n�os. A on ep� ~ao mais avessa a admitir um SerSupremo seria a posi� ~ao materialista e as que lhe s~ao a�ns.No entanto, aquela, ao admitir a mat�eria, tem de admitir tais pos-tulados. Sen~ao vejamos: n~ao pode admitir o nada absoluto, porqueent~ao a mat�eria seria nada, e nada poderia dela surgir.Em segundo lugar, a mat�eria n~ao foi riada, �e in riada; �e primeirae anterior a t^odas as oisas que s~ao dela, e dela prov^em.A mat�eria deve onter todos os poderes e t^odas as perfei� ~oes, porque2Tal n~ao quer dizer que algo venha do nada, realizado por ^este, ou feito denada, omo se f^osse mat�eria de alguma oisa. Apenas quer dizer que antes de umser determinado ser ^este ser, era nada d^este ser. Esta mesa, antes de ser ela, eranada desta mesa, n~ao por�em uma ria� ~ao do nada ou feita de nada. Por isso umser ome� a a ser no pre ��puo momento em que ome� a a ser.

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104 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESO pluralismo predi aria a exist^en ia de muitos s^eres, que seriam oprin ��pio de t^odas as oisas.Ora, vimos que, no Ser absoluto, ess^en ia e exist^en ia se identi� am.N^ele se identi� am o pelo qual �e (sua ess^en ia), e o pleno exer �� io doseu ser, o existir (exist^en ia).^Ele �e plenamente, e plenamente existe. Poderia haver um outro serque plenamente f^osse, e plenamente existisse?^Esse outro ser se identi� aria ao primeiro no pleno exer �� io de ser.O ser A e o ser B seriam existen ialmente id^enti os.Ambos teriam, omo existir, uma identidade; a do pleno exer �� iode ser.O primeiro ser, omo j�a vimos, ara teriza-se por n^ele se identi� a-rem ess^en ia e exist^en ia.No segundo ou a exist^en ia e a ess^en ia se identi� ariam, ou n~ao.Se n~ao se identi� assem, a ess^en ia do segundo seria outra que a suaexist^en ia, e t^e-la-ia re ebido de outro, no qual ess^en ia e exist^en iase identi� ariam.A exist^en ia do Ser A e a do Ser B seriam id^enti as, pois vimos queexistir, neste aso, �e plenitude de ser, e �e plenamente existir.Ora, vimos que, no Ser A, ser e existir s~ao plena e absolutamenteid^enti os.Se o existir de ambos se identi� a, o do Ser A e o do Ser B, asess^en ias de ambos se identi� am, e ambos s~ao simples e puramenteser, pois j�a vimos que o Ser absoluto �e pura e simplesmente ser, sem omposi� ~oes.Portanto, os dois seriam apenas Um.E ademais n~ao poderiam deixar de ser apenas Um, pois se f^ossemdois, entre ^eles deveria haver algo que um teria, e o outro n~ao.

7.1. COMENT�ARIOS �AS PROPOSIC� ~OES EXAMINADAS 101pelo nada absoluto.E, onseq�uentemente, al an� aria os postulados j�a expostos. S�o poruma obstinada negativa, que revelaria sobretudo a pre �aria fortalezada sua mente, negaria o ser, pois a�rmaria que o nada seria apaz derealizar a d�uvida �epti a.Portanto, sua mente se analoga ao ser, e em algo ter�a uma iden-ti� a� ~ao om ^ele, pois, do ontr�ario, o pensamento humano, estandodesligado do ser, e sendo outro que o ser, seria nada.Assim, o reto pensar �e apaz de nos dar ^esse �o de Ariadna, que noslevaria a alguma erteza, e essa erteza est�a �as m~aos at�e dos �epti os,se quiserem pro ur�a-la.H�a ainda a posi� ~ao dos mobilistas. Podem ^estes, ao argumentar ontra a id�eia de ser, a�rmar que ^este �e \negado totalmente pelo uirdas oisas", pois nada �e realmente um, nenhum sujeito �e id^enti o,porque est�a em onstante uir. Nada �e em si mesmo um, nem um\algo", porque tudo sofre uma muta� ~ao onstante, devem, torna-seoutro.O ser �e ent~ao alteridade; �e sempre outro. �E in�util tentar �xar as oisas, omo tenta pro eder a nossa raz~ao, porque estas est~ao em ons-tante devir. N~ao h�a, portanto, nenhuma subst^an ia que seja portadoradessas muta� ~oes, pois tudo ambia, muda, transmuta-se.Tais a�rmativas en ontram ultores, e h�a nelas, ineg�avelmente, as-pe tos positivos. Mas se muitos a tualizam apenas a mobilidade, vir-tualizam a perman^en ia, porque a mutabilidade �e gradativa, e algoperdura enquanto muda, omo provaremos ainda por outros aminhos.Pois se somos ada instante diferentes, e outros que n�os mesmos,somos tamb�em algo que perdura, pois do ontr�ario ser��amos apenasuma passagem instant^anea, que ultrapassaria o pr�oprio tempo, poisse neste algo perdurasse, por pou o que f^osse, j�a negaria o ex esso domobilismo que, levado aos extremos, termina por tornar-se absurdo, e

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102 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESnegar at�e a pr�opria muta� ~ao. Se esta g^ota de �agua est�a em onstantemuta� ~ao, ela perdura enquanto g^ota-de-�agua.�E um grav��ssimo ^erro pensarem alguns que os grandes �l�osofos, quea eitam a presen� a do ser, n~ao tenham de tal oisa suspeitado.H�a muito de infantil nessa suposi� ~ao, pois bem sabiam ^eles que as oisas, que s~ao obje tos da nossa intui� ~ao sens��vel, est~ao em onstantemuta� ~ao. Mas, na muta� ~ao, h�a graus, pois nem tudo muda om a onstante uidez de um rio que orre veloz, pois ^este �e, antes e depois,um rio-que- orre-veloz. \Alguma oisa" mar a-lhe a �sionomia daperdura� ~ao, ao mesmo tempo que algo se muda onstantemente.A rela� ~ao formal entre o di^ametro e a ir unfer^en ia �e imut�avel,embora as ir unfer^en ias o sejam mais ou menos, e nun a al an ema sua perfei� ~ao normal.E o mesmo se d�a om o ser humano, que �e humano atrav�es das suas onstantes muta� ~oes.Jamais a�rmou Arist�oteles que a subst^an ia f^osse est�ati a, imut�avele parada. A subst^an ia �e de erto modo o que perdura, pois �e o quesustenta os a identes. Se o ser onhe e muta� ~oes, nelas ^ele ontinuasendo, e n~ao se transforma em nada absoluto.O ser �e imut�avel, porque sempre �e ser, apesar de ser ora d^este modo,ora daquele outro.Podem mudar os predi ados das oisas, mas o sentido d^esses pre-di ados permane e invariante, enquanto permane em omo tal.Se o ser se ara terizasse apenas pela alteridade, a sua muta� ~aoseria para o nada, e ter��amos um instante em que o ser deixaria deser, o que �e absurdo.Se o ser ora �e isto, ora �e aquilo, �e o ser que ora �e isto, ora �e aquilo,e n~ao o nada absoluto. Se h�a inter ala� ~oes de nada �e apenas do nadarelativo, pois o que era isto, deixou de ser isto para ser aquilo, mas7.1. COMENT�ARIOS �AS PROPOSIC� ~OES EXAMINADAS 103alguma oisa h�a, que era isto, e deixou de ser tal, para ser aquilo.Se ^esse \tal" �e um instante, �e ontudo uma realidade de ser, pois, do ontr�ario, ter��amos o nada absoluto sempre presente, o que �e absurdo.O defeito dos defensores da realidade do devir (e ^este �e a eito portodos os grandes �l�osofos) onsiste em negar que alguma oisa perdura; omo o defeito dos que a eitam a perdura� ~ao seria o de negar o devir.H�a alguma oisa que dev�em, que passa de um modo para outro, maso que onhe e e o que passa por muta� ~oes �e ser.O ser, enquanto ser, n~ao passa por muta� ~oes, porque a sua �uni amuta� ~ao s�o poder-se-ia dar para o nada, j�a que �e dada de um modopara outro modo de ser, �e apenas alguma oisa que lhe a onte eria,sem que ^ele deixasse de ser. Portanto, o que dev�em �e ser.Mas se observarmos melhor, veremos que o que dev�em �e o ser istoou aquilo, �e o ser determinado, �e o ser dependente, �e o ser �nito.O ser, na sua in�nitude, nun a deixa de ser, porque, do ontr�ario,sobreviria o nada absoluto, e nada mais poderia ser, pois aqu^ele �eimpotente e imposs��vel.E a �uni a maneira de bem ompreender o ser �e aquela que, dial�e ti- amente, se olo a afastada do unilateralismo dos defensores de umdevir absoluto e in�nito, que �e absurdo, omo o dos que a�rmam aimutabilidade indistinta do ser. A n~ao distin� ~ao entre nada relativoe nada absoluto, e a entre a to e pot^en ia, levou muitos �l�osofos aesbo� arem �loso�as pre �arias e fr�ageis em argumentos3.TESE 40 - O ser absoluto �e apenas Um e s�o pode ser Um.O dualismo �e a posi� ~ao �los�o� a que onsiste em admitir a exist^en iade dois s^eres, que seriam o prin ��pio de todos os outros.3Deixamos de tratar das doutrinas atomistas. Estas, quando se olo am omosolu� ~ao metaf��si a, s~ao pre �arias, omo provaremos mais adiante, sem que se lhesnegue erta adequa� ~ao �a esfera f��si o-qu��mi a, n~ao por�em �a da metaf��si a.

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108 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESn~ao poderia dar origem a entes reais. Ambos prin ��pios s~ao ent~aoser. S~ao ambos simples ou ompostos. Se f^ossem simples, exist^en iae ess^en ia n^eles se identi� ariam, e seriam ambos id^enti os, um s�o, omo provamos.Se ompostos, n^eles haveria, no m��nimo, dois elementos que seriamo prin ��pio de onde ^eles dependeriam. Neste aso, n~ao seriam inde-pendentes nem irredut��veis, pois reduzir-se-iam aos que os omp~oem.^Estes omponentes seriam ent~ao os primeiros prin ��pios, e teriam deser no m��nimo dois, ambos simples ou ompostos. Voltar��amos, assim,ao que j�a examinamos, e hegariamos �a on lus~ao �nal de que seriamabsolutamente um.Ademais os dois primeiros prin ��pios, sendo independentes e irre-dut��veis, n~ao poderiam a tuar um s^obre o outro, pois, do ontr�ario,ambos seriam, de erto modo, dependentes um do outro.Ambos n~ao poderiam ser in�nitos, nem quantitativa nem qualitati-vamente, omo j�a vimos. Seriam, portanto, �nitos. Mas a sua �nitude,n~ao sendo estabele ida por um ou outro, pois omo vimos s~ao inde-pendentes, s�o o nada estabele eria ^esse limite, o n~ao-ser, o que seriaabsurdo.A�nal seriam ambos de� ientes, omo j�a vimos, e a de� i^en ia n~aopodendo ser nada, mas algo positivo, seriam ^eles ompostos de ser en~ao-ser, pois o limite da sua ess^en ia e da sua exist^en ia seria dado pelaperfei� ~ao da qual are eria um, e que teria o outro, o que �e absurdo,pois ambos seriam limitados.Haveria, assim, em A t^odas as perfei� ~oes de B menos uma pelomenos, e, em B, t^odas as perfei� ~oes de A menos uma, no m��nimo.Como ambos os s^eres seriam simples, a ar^en ia dessa perfei� ~ao negariaa simpli idade, pois ambos seriam de� ientes e n~ao absolutamente ser.O que ambos teriam em omum seria em ambos id^enti o. Distingui-los-ia a posse de uma perfei� ~ao de que o outro �e privado, e tamb�em aaus^en ia de uma perfei� ~ao pelo menos.

7.1. COMENT�ARIOS �AS PROPOSIC� ~OES EXAMINADAS 105Ora, vimos que o Ser A �e plenitude absoluta de ser.O que n~ao teria ^esse ser seria apenas nada, n~ao-ser. Nesse aso, oque seria ser, no Ser B, seria nada, o que �e absurdo.O ser, no ser B, s�o poderia ser. E omo ess^en ia e exist^en ia n^eletamb�em se identi� ariam, ambos nada mais seriam que Um.Apenas haveria um ^erro de nossa parte ao a�rmar que seriam dois,sem qualquer justi� a� ~ao, omo na verdade n~ao a tem o dualismo dequalquer esp�e ie, e, onseq�uentemente, tamb�em n~ao a tem o plura-lismo.Portanto, o Ser absoluto �e apenas Um.Outra demonstra� ~ao: se houvesse dois s^eres que f^ossem prin ��piode t^odas as oisas, ambos seriam absolutamente simples, e ambos n~aose distinguiriam em existir, pois estariam no pleno exer �� io de seuser. S�o poderiam distinguir-se na ess^en ia. Neste aso, ambos seriam ompostos, ou apenas um d^eles o seria.E o que f^osse simples, e n~ao omposto, seria aqu^ele em que ess^en ia eexist^en ia se identi� am. Conseq�uentemente, h�a um s�o ser, o Ser Um.Eis, ademais, uma prova orroboradora de que h�a um Ser Primeiro,que �e Um, absolutamente Um.Se ambos o f^ossem, a impossibilidade ontol�ogi a ressalta logo, omovemos na tese seguinte.TESE 41 - Se existisse outro ser primordial, ambos seriam de� ientese o ser seria de� iente.J�a provamos que �e absurdo e ontradit�orio admitir dois seres pri-mordiais, pois seriam essen ialmente diferentes e, num, haveria o queno outro n~ao haveria; portanto, um d^eles, pelo menos, seria de� ientede uma perfei� ~ao que perten eria ao outro. E ambos seriam de� ien-tes, omo passaremos a provar.O ser A teria t^odas as perfei� ~oes menos uma pelo menos, a qual

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106 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESteria o ser B, pois, do ontr�ario, ambos seriam id^enti os e, onseq�uen-temente, o mesmo ser. Ora, a perfei� ~ao, que faltaria em A, estariaem B. Por outro lado, das perfei� ~oes de A, haveria alguma que n~aoestivesse em B, pois do ontr�ario A teria t^odas as perfei� ~oes de B me-nos uma e, neste aso, A estaria ontido em B, e haveria um s�o serprimordial B, que provaria em ontr�ario do dualismo.Para que o dualismo se desse, A deveria ter, pelo menos, uma per-fei� ~ao de que are eria B, e ^este uma perfei� ~ao ao menos de que are- eria A.Neste aso, ambos seriam de� ientes. Mas o que faltaria em A ouseria ser ou nada. Se nada, a falta de nada n~ao �e falta.O mesmo su ederia om B. Logo, o que faltaria em A e em B seriaser. Ambos seriam de� ientes num modo de ser, que n~ao seria daess^en ia de nenhum dos dois. Contudo, ambos existiriam e, omoexistentes, ambos seriam id^enti os. N~ao o seriam essen ialmente. E,neste aso, nem em A nem em B, ess^en ia e exist^en ia se identi� ariam.E ambos seriam ent~ao ompostos de ess^en ia e exist^en ia. Ora, aess^en ia de um e a ess^en ia de outro n~ao poderia ser nada. A ess^en iade ambos seria ser, mas por sua vez ompostos de ser e de um modo deser, o que reduziria tanto A omo B a um ser, que seria absolutamentesimples, e que os superaria.V^e-se desde logo que o dualismo surge apenas omo resultado deuma m�a olo a� ~ao da an�alise �los�o� a on reta, porque a eit�a-lo �ea eitar impli itamente o ser Um, que seria a fonte dos dois s^eres, quese distinguem entre si por de� i^en ias.E omo ambos seriam de� ientes, e o que lhes falta �e ser, o ser osante ederia om pro� i^en ia, que era o que se queria provar.Da�� se on lui mais uma vez, que o Ser absoluto, que �e primordial,�e apenas Um.TESE 42 - Ao Ser absoluto, por ser in�nito, repugna a admiss~ao de7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 107outro ser in�nito, ou de outro ser qualquer independente d^ele.Provamos que se houvesse mais de um ser, entre si independentes,seriam limitados. Provamos que h�a um ser absoluto, que �e in�nito,o que ex lui a possibilidade de um outro ser que lhe seja totalmenteindependente, pois air��amos no dualismo, j�a refutado.Conseq�uentemente, todo ser, outro que o Ser absoluto, �e d^este de-pendente (d^ele pende). Como dependente, seu ser prov�em do Serabsoluto, ao qual est�a ne ess�ariamente ligado, portanto limitado poraqu^ele.Mas o ser dependente n~ao limita o Ser absoluto, pois ^este �e tudo oque o ser pode ser, no grau mais intensista de ser.D^ele prov^em os outros, e s�o d^ele. Conseq�uentemente ^ele, al�em deabsoluto, por ser independente, �e in�nito, porque n~ao tem limites emser.O Ser absoluto �e ser in�nito.Provada est�a a exist^en ia do Ser in�nito, e tamb�em que s�o h�a um,e n~ao v�arios; em outras palavras, a sua absoluta uni idade. Prova-se atrav�es das seguintes provid^en ias: se houvesse mais de um Serin�nito (diversos), o seu onjunto seria mais (tanto quantitativa omoqualitativamente) do que qualquer um d^eles.Uma pluralidade de in�nitos, por ser ontradit�oria �a pr�opria no� ~aode in�nito, �e, portanto, imposs��vel.

7.2 Coment�arios �as tesesO dualismo, em suma, onsiste na a eita� ~ao de dois prin ��pios doser, independentes um do outro, imprin ipiados, e irredut��veis um aooutro. Ou ambos s~ao ser, ou apenas um d^eles o �e, e o outro serianada. Neste �ultimo aso, haveria apenas um �uni o ser, pois o nada

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112 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESnada �e o que os separaria, e nada seria a separa� ~ao. Portanto, se A eB se distinguem, �e que o entre, que se inter ala, �e outro modo de sere n~ao nada. Os limites de A e B seriam apenas os de sua natureza,mas nenhum (nada) entre se daria.e) Se o nada inter alado f^osse real, n~ao haveria uma dist^an ia in-�nita entre A e B, e o nada deixaria de ser nada, porque j�a teriaatributos, omo j�a vimos.D^este modo, o nada absoluto par ial, que �e p^osto em algumas dou-trinas, �e absurdo, pois ofende n~ao s�o os prin ��pios j�a demonstrados, omo outros que ainda passaremos a demonstrar.Ademais, ^esse nada, por ser aus^en ia total de ser, seria imposs��vel,pois n~ao poderia a tuar nem ser a tuado. N~ao se lhe poderia atribuirqualquer predi ado; seria ine� iente, nada favore endo �a solu� ~ao dosgrandes problemas e aporias, al�em de ontol�ogi amente absurdo.O nada absoluto par ial reduz-se, portanto, ao nada absoluto total,e �e t~ao absurdo omo aqu^ele. E um argumento �nal para mostrar asua impro ed^en ia poderia ser dado da seguinte maneira: se se desseum nada absoluto par ial, o ser seria limitado, pois s�o seria ser at�e oslimites d^esse nada, que o limitaria. Neste aso, o nada absoluto par ialexer eria uma a� ~ao delimitadora e estabele eria fronteiras no ser, ouseria delimitado pelo ser, sofrendo, portanto, uma limita� ~ao. E seria,portanto, alguma oisa, pois, omo poderia realizar ou sofrer algo semser algo? Ora, tal a�rma� ~ao est�a refutada por todos os postuladosj�a expostos. E se o nada �e algo, estamos em plena posi� ~ao dualista,que, por sua vez, j�a foi refutada, e ainda o ser�a om maior �opia deargumentos oportunamente5.TESE 47 - �E imposs��vel que o ser esteja, isolado pelo nada.�E imposs��vel on eber o ser omo uma subst^an ia isolada ante onada, omo uma ilha de ser num o eano de nada. Al�em das provas j�a5Na demonstra� ~ao de outras teses, voltamos a ^este tema.

7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 109Como ser e existir se identi� am na entidade absolutamente sim-ples, a perfei� ~ao de que s~ao privados, sendo ser, e existindo, identi� ar-se-ia om o que n^eles �e e existe. Conseq�uentemente, n~ao seriam priva-dos de tais perfei� ~oes, e a distin� ~ao entre ambos seria apenas ilus�oria,n~ao deixando ^eles de ser sen~ao uma e a mesma oisa.O pensamento dualista s�o surge em alguns momentos repus ularesda �loso�a, nesses instantes em que a mente humana desfale e, impo-tente para resolver as aporias que ante ela surgem, e despenha-se noabismo dualista, que n~ao lhe ofere e a solu� ~ao desejada.TESE 43 - Ao ser absoluto n~ao lhe falta oisa alguma para ser.Se alguma oisa faltasse ao Ser absoluto para ser, ^esse alguma oisaestaria em outro. Ora, o outro, que n~ao �e, seria o nada absoluto, oqual n~ao tem prioridade de qualquer esp�e ie, nem positividade, omoj�a vimos.Portanto, ao Ser absoluto nada falta para ser.J�a afastamos o dualismo, por ser fundamentalmente absurdo. Logo,ao Ser absoluto nada lhe falta para ser; �e, portanto, in�nito, orrobo-rando, assim, as provas que j�a ofere emos.TESE 44 - O nada absoluto �e homog^eneamente nada.Ao nada n~ao se pode predi ar sen~ao nada, portanto n~ao lhe abe a �opula �e em sentido substan ial, mas apenas omo um apontar, omose diss�essemos: nada = nada absoluto.E omo tal, d^ele se pode dizer que �e homog^eneamente nada.O Ser in�nito �e o ontr�ario positivo e absoluto do nada absoluto, e�e absolutamente simples, absolutamente homog^eneo.O nada n~ao tem partes, porque n~ao �e, e por n~ao se lhe poder pre-di ar oisa alguma, �e homog^eneamente sempre nada.O que podemos p^or nesse on eito negativo de nada, que �e a aus^en iatotal e absoluta de ser, orresponde inversamente ao on eito de ser,

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110 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESque �e absolutamente ser.TESE 45 - O Ser �e o poder in�nito e absoluto de ser tudo que podeser.Tudo que pode ser �e alguma oisa, e n~ao nada absoluto. Ora, oque pode ser impli a o que j�a �e, e s�o o Ser tem o poder que permiteque tudo que pode ser seja. E ^esse poder n~ao tem limites no nada,pois o nada absoluto �e absurdo, e est�a apod��ti amente refutado. Con-seq�uentemente, todo o ser �e do Ser. E �e, ^este, in�nito, porque ^ele �eabsolutamente todo ser, e absolutamente ser, j�a que n~ao h�a o que o ne-gue totalmente, pois a nega� ~ao do ser, enquanto ser, seria a a�rma� ~aodo nada absoluto, o que �e absurdo, nem tampou o h�a que o limite,e pois n~ao h�a o limitante. Conseq�uentemente, per orrendo outra viaque as anteriores, hegamos �a mesma demonstra� ~ao da tese de modoapod��ti o.TESE 46 - Al�em da impossibilidade do nada absoluto total, h�a aindaa impossibilidade de um nada absoluto par ial.Poder-se-ia olo ar o nada da seguinte maneira:o nada absoluto total, omo aus^en ia total e absoluta de qualqueresp�e ie de ser; o nada relativo, omo aus^en ia de um determinadomodo, propriedade, esp�e ie de ser, e, �nalmente, o nada absoluto par- ial, um v�a uo, um vazio de ser, que, enquanto tal, equivaleria ao nadaabsoluto, fronteiri� o ao lado do ser.Do primeiro j�a foi refutada a sua possibilidade. Quanto ao segundo,a sua postula� ~ao n~ao impli a ontradi� ~ao om o ser. O ter eiro, pas-saremos a examinar.Poder-se-ia olo ar o nada absoluto par ial da seguinte maneira.Admitindo dois s^eres, A e B, ter��amos de a�rmar que A �e A at�e ondeA �e A, e B �e B at�e onde B �e B. O nada absoluto par ial dar-se-ia onde Adeixaria de ser A, e B de ser B, inter alando-se entre ambos omo umvazio. No pensamento atomista adin^ami o, que examinaremos mais7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 111adiante, os �atomos utuariam no nada absoluto par ial, e a presen� ado Ser a�rmar-se-ia apenas por ^esses �atomos.^Esse nada absoluto par ial �e imposs��vel pelas raz~oes que passaremosa aduzir:a) Se damos a ^esse nada uma est^an ia, pois entre A e B haveria umdi�astema, mar ado pelo v�a uo absoluto, pelo nada, ^este seria totale absoluta aus^en ia de ser. Se tal f^osse admitido, ter��amos, ent~ao,uma ruptura no ser, o que ofenderia as proposi� ~oes j�a anteriormentedemonstradas, al�em de outras que surgir~ao oportunamente.b) Ademais, essa est^an ia revelaria um ar�a ter f��si o, pois seriaextensa e med��vel, e a extensidade �e um a idente de \alguma oisa",e o nada seria, ent~ao, alguma oisa e portador de um a idente, poisalgo lhe a onte eria. Vemos que ^esse ar�a ter f��si o, bem omo outros,v~ao ser atribu��dos a ^esse v�a uo, (to kenon de Dem�o rito), pelos ato-mistas, tanto antigos omo modernos (Einstein in lusive), o que lhed�a ara teres f��si os, e o torna alguma oisa e n~ao nada4. ) Se se desse uma est^an ia, e se se pretendesse ex luir, d^essev�a uo, qualquer ar�a ter f��si o, seria ^ele in�nito, e estabele eria umasepara� ~ao in�nita entre A e B, pois n~ao seria med��vel (porque se of^osse seria alguma oisa), e se tivesse uma limita� ~ao, essa seria li-mita� ~ao de alguma oisa. D^este modo, os dois t^ermos A e B jamais seen ontrariam, jamais se intera tuariam, jamais se ombinariam.d) Se n~ao h�a est^an ia, sendo ^esse entre (nada absoluto par ial) vaziototal de ser, e estando-lhe ausente qualquer propriedade, n~ao haveriadi�astema entre A e B, a n~ao ser que ^esse entre f^osse um ser outro queA e B ( omo o �eter, por exemplo). Portanto, o nada absoluto par ial,por ser nada, a�rmaria a ontig�uidade absoluta entre A e B, ujoslimites seriam n~ao s�o ont��guos, mas, em algum ponto, id^enti os, pois4Para outros, ^esse v�a uo �e o �eter, que n~ao �e um mero nada, mas um modo deser outro que o dos �atomos ou de seus elementos onstitutivos. ^Este pensamenton~ao postula o nada absoluto par ial.

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116 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESES\um" s�o todo.Todo ser, ou modo de ser, �e um; tem unidade. A estru tura on-tol�ogi a da unidade �e insepar�avel da estru tura ontol�ogi a do um. O onjunto �e um onjunto de unidades.O onjunto forma uma esp�e ie de unidade, pois a multipli idade �esempre relativa ao um, j�a que o m�ultiplo �e m�ultiplo de unidades.Onde o ser, a�� est�a a unidade; ser �e ser unidade. S�o o nada n~aoforma unidade, porque o nada n~ao-�e.TESE 53 - T^oda a realidade possui o ser da mesma maneira quepossui a unidade.Onde h�a unidade, h�a ser; onde h�a ser, h�a unidade. Conseq�uente-mente, a rela� ~ao �e evidentemente apod��ti a.Dizer-se que algo �e, �e dizer-se que algo �e um; �e dizer-se que algo �eser. A unidade �e sempre fun� ~ao do ser.TESE 54 - A unidade relativa deve ser onsiderada sobretudo omoestru tura.Se on ebemos a multipli idade apenas omo um onjunto de uni-dades, omo o faz o atomismo primitivo, o todo do onjunto �e apenasuma unidade a idental. Mas su ede que a totalidade formada nemsempre �e a idental, pois revela propriedades a tuais, que n~ao eram,nem s~ao a tuais nas partes omponentes, omo su ede om a �agua, quetem propriedades diferentes dos elementos omponentes: hidrog^enio eoxig^enio. Portanto, a �agua n~ao �e apenas um onjunto a idental deoxig^enio e hidrog^enio, pois ambos, nela, est~ao numa propor ionalidadeintr��nse a rigorosa, que forma uma lei que re�une oa tamente (num s�oa to) as partes, formando um novo ser, formalmente outro, om umaestru tura pr�opria, distinta da estru tura dos elementos omponentes.A �agua forma uma unidade que �e, em si, indivisa, distinta de outros(as suas partes omponentes), relativa a multipli idade dos elementos,7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 113feitas pelas demonstra� ~oes anteriores, podemos aduzir mais a seguinte:se tal se desse, o nada absoluto seria par ial, e o ser seria ser at�eonde �e ser, e o nada at�e onde o nada �e nada. ^Esse nada, um imensovazio, seria o onde o ser existiria, uma esp�e ie de espa� o. A eitaesta on ep� ~ao, o ser teria orporeidade. Esta �e uma atribui� ~ao deorigem prim�aria, verdadeira ader^en ia psi ol�ogi a infantil. Se o Serf^osse limitado pelo nada teria orporeidade, teria um onde o ser �eser e n~ao nada, e um onde o nada �e nada e n~ao ser. Haveria algo heio, en hendo par ialmente um vazio absoluto. Haveria, assim, um ampo unitivo absoluto, unitivo de ser, numa vastid~ao de nada. Onada seria ent~ao espa ial, omo espa ial tamb�em seria o ser, e o sern~ao seria absoluto, nem o nada, nada, pois neste a onte eria o ser, eseria alguma oisa.O Ser Supremo n~ao �e orp�oreo e n~ao tem limites de qualquer esp�e ie,foi o que demonstramos. Esta on lus~ao j�a nos mostra tamb�em a im-pro ed^en ia do nada absoluto par ial. ^Este �e, ademais, uma ontra-di tio in adje tis, pois, se par ial e limitado, n^ele a onte e algo, o queseria negar ao nada o nada, e a�rmar-lhe o ser. A a eita� ~ao d^esse nadadaria ao ser um limite. Ora, o Ser Supremo �e essen ialmente in�nitoe absoluto6. Se estivesse er ado pelo nada, haveria diferen� a entresua ess^en ia e sua exist^en ia, e negar-se-ia a sua identidade, pois aess^en ia seria in�nita e o seu existir seria �nito, limitado. Estar��amosem fa e de outro absurdo, pois o menos in luiria o mais.E ademais o ser seria omposto, o que �e absurdo, pois j�a vimosque ele �e simples, e, sendo �nito, a sua �nitude seria dada por ^elemesmo, j�a que o nada n~ao poderia a tuar. Neste aso, o ser serialimitado por si mesmo, �nito, omposto de um a to delimitante e deuma pot^en ia delimit�avel e delimitada, omposto de a to e pot^en ia,e n~ao mais absolutamente simples, o que ontradiria as demonstra� ~oesanteriormente feitas. E, por outro lado, o nada teria um espa� o, pois6Aduziremos oportunamente outras provas de que o Ser absoluto e Supremon~ao �e orp�oreo.

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114 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESES er aria o Ser, o que lhe daria um ar�a ter f��si o. O nada, portanto,fora do ser, �e nada. Ou melhor: nada h�a fora do ser, o que equivaledizer que s�o h�a o Ser.TESE 48 - O Ser absoluto �e absolutamente simples.O Ser absoluto �e apenas Um.N^ele, ess^en ia e exist^en ia se identi� am; portanto �e absolutamentesimples, porque onsiste em ser o que �e, omo j�a o provamos.E se n~ao f^osse simples seria omposto. E omposto s�o o poderiaser om o nada absoluto, que n~ao �e t^ermo positivo, que nada �e paraformar uma omposi� ~ao.Portanto, o Ser absoluto �e absolutamente simples, simpli ��ssima-mente simples, pois n^ele n~ao entra qualquer omposi� ~ao, qualqueroutro ser, que n~ao seja ^ele mesmo.Ele �e a supr^ema ipseidade (ipse = si mesmo).TESE 49 - O Ser absoluto �e su� iente e pro� iente.Por n~ao lhe faltar oisa alguma para ser, pois n~ao h�a outro forad^ele, o Ser absoluto �e su� iente para ser. E omo �e a sua pr�opriaraz~ao de ser, pois, do ontr�ario, ^ele estaria em o nada absoluto, o queseria ontradit�orio e absurdo, �e ^ele su� iente para ser.E �e pro� iente, pois todo ser �e d^ele, e s�o d^ele pode vir, pois, do ontr�ario, algo que surgisse, j�a que ^ele �e a primordialidade absoluta,viria do nada absoluto, o que �e absurdo.Portanto, tudo quanto h�a tem seu fundamento no Ser, que �e abso-lutamente pro� iente, pois t^oda pro� i^en ia vem d^ele e n~ao do nada.E esta �e absoluta e in�nita, pois n~ao tem limites, j�a que o Serabsoluto, omo o provamos, n~ao �e limitado.�E pois in�nitamente pro� iente, poderoso, porque o nada �e im-poss��vel e impotente.

7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 115D^ele, portanto, tem de provir todo o poder, primordialmente.TESE 50 - O Ser absoluto �e primordialmente absoluto. �E imprin i-piado, ingenerado, e absolutamente o primeiro.Prova-se, agora, de outro modo:O Ser absoluto, uja ess^en ia e exist^en ia se identi� am, n~ao re e-beu o ser de outro, porque ent~ao ^esse outro seria o Ser perfeito, o serque �e essen ial e existen ialmente ser.N~ao vindo do nada, omo j�a o provamos, �e in riado, �e primordial-mente absoluto. �E portanto, imprin ipiado e ingenerado, e foi, e �e,absolutamente o primeiro.TESE 51 - A nega� ~ao, onsiderada em si mesma, seria nada. Con-seq�uentemente, t^oda doutrina negativista �e falsa.A nega� ~ao �e a a�rma� ~ao da aus^en ia de um modo de ser. Se retirar-mos da nega� ~ao a refer^en ia ao modo de ser, que �e re usado, a nega� ~aose esvazia totalmente, e �e nada. Por isso as �loso�as negativistas ten-dem fatalmente a al an� ar o nada absoluto, porque se al an� am aalguma oisa, que n~ao podem negar, ter~ao de a�rm�a-la omo in ondi- ionada e absoluta, o que �e a refuta� ~ao do negativismo. Eis por queas �loso�as negativistas s~ao absurdas, omo o s~ao o agnosti ismo, o epti ismo, o nihilismo, o relativismo, et .TESE 52 - A unidade �e o ar�a ter de ser um. Todo ser �e unidade.Diz-se que �e unidade o que tem ar�a ter de ser um. O que �e umn~ao �e m�ultiplo, enquanto onsiderado em sua unidade.Em si mesmo �e um, portanto indivis��vel em si e distingue-se dosoutros (unum est indivisum in se et divisum ab alio).A unidade �e o ar�a ter do que �e um, formalmente um. Quandos~ao m�ultiplos os seus elementos omponentes, �e ela relativa, omo aunidade da �agua, ujos elementos omponentes s~ao m�ultiplos.Mas o m�ultiplo tamb�em �e relativo, porque forma ne ess�ariamente

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120 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESH�a onveni^en ia nessa distin� ~ao, e para evitar as poss��veis on-fus~oes, preferir��amos hamar de absoluta simpli iter a perfei� ~ao doprimeiro, a do Ser Supremo, e de absoluta se undum quid a dos ou-tros s^eres, aproveitando, assim, uma das mais positivas ontribui� ~oesdo aristotelismo e da es ol�asti a.TESE 60 - A uni idade pode e deve ser onsiderada de modo absolutoe de modo relativo.T^oda unidade em si �e �uni a. Entende-se por �uni o o que �e indivi-dual, mas in omuni �avel, pois esta p�agina �e esta p�agina.A individualidade, aqui, are e de outro id^enti o, pois os entes denatureza igual s~ao, no entanto, outros, omo aquelas p�aginas s~ao ou-tras que esta p�agina.Esta uni idade, que �e o ar�a ter de ser �uni o, �e uni idade de fa to,pois f�a ti amente esta p�agina aqui �e �uni a; �e ela mesma e n~ao outra.N~ao �e esta p�agina �uni a na sua esp�e ie, mas �e �uni a na sua individu-alidade. O on eito de �uni o, portanto, �e distinto de o de individua-lidade, pois uma esp�e ie, que tivesse apenas um �uni o indiv��duo, ^esteseria ne ess�ariamente �uni o na sua esp�e ie.Mas essa uni idade ainda n~ao seria absoluta, omo n~ao seria abso-luta a uni idade se a humanidade fosse apenas representada por ums�o homem, um �uni o sobrevivente de uma at�astrofe que aniquilassea todos os outros. ^Esse homem seria o �uni o representante da esp�e ie,n~ao a humanitas. Nenhum indiv��duo espe ��� o poderia a tualizar to-talmente a esp�e ie.A uni idade, para ser tal, impli aria que o ser que a representase identi� asse om a esp�e ie, e, neste aso, o indiv��duo seria total-mente, al�em da sua pr�opria forma individual, a da esp�e ie, e om elase identi� aria.N~ao poderia ^ele a tualizar simult^aneamente o indiv��duo e a esp�e ie,porque esta ont�em em si as possibilidades individuais a tualiz�aveis7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 117pois os impli a, mas apresenta uma unidade substan ialmente outra.A �agua n~ao �e apenas uma asso ia� ~ao de determinados omponentes,mas uma nova estru tura. A on ep� ~ao meramente atomista - asso- ia ionista - �e pro edente e �e positiva quanto as unidades meramentea identais, mas �e insu� iente para expli ar as unidades substan iais,que formam unum indivisum in se, que s~ao as estru turas tensionais, omo se v^e na f��si o-qu��mi a, na biologia, e em t^odas as esferas do onhe imento, o que �e de magna import^an ia para a ompreens~ao dasdiversas modalidades de se apresentarem as unidades.Aqui, on ep� ~oes omo a estru turalista, a holista (do grego holos,totalidade) e a hen�oti a (do grego henos, unidade) s~ao positivas.Na estru tura h�a uma trans end^en ia. A estru tura metaf��si a daunidade dos s^eres �nitos exige um poder unitivo que realize a unidade,a forma oa ta das partes, assumidas por uma nova forma, uma novatens~ao em suma.TESE 55 - A unidade absoluta �e absolutamente simples.A unidade �e relativa quando tem rela� ~ao om a multipli idade doselementos omponentes, omo a unidade da �agua, que �e relativa aoselementos que a omp~oem.Uma unidade absoluta n~ao �e relativa as partes, porque �e plenamenteela mesma, substan ial, formal, essen ial e existen ialmente uma, sempartes.Para que uma unidade seja simplesmente (simpli iter) absoluta temde ser ela unidade de per si, sem depend^en ia de outras. Portanto,para que uma unidade seja absoluta, tem de ser ela absolutamentesimples.O Ser absoluto �e absolutamente simples. Sua unidade, portanto, �eabsoluta.E s�o ^ele �e unidade absoluta simpli iter, porque �e total e absoluta-mente ^ele mesmo.

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118 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESTESE 56 - A ausa da unidade �e ne ess�ariamente uma.O dependente real, que �e o efeito, e que depende realmente de al-guma oisa, que �e a sua ausa, n~ao pode onter uma perfei� ~ao que n~aovenha da ausa, pois do ontr�ario essa perfei� ~ao teria surgido do nada.Ora, o que ausa a unidade, ou em t^ermos dial�e ti amente ontol�ogi osmais exa tos, a depend^en ia real da unidade, pende realmente de algoque a tenha. Conseq�uentemente, a unidade tem de pender do que �eum, pr�oxima ou remotamente. Se �e m�ultiplo o que ausa um ser um,a ausa dessa unidade deve prim�ariamente ser uma, pois o m�ultiplo,em sentido absoluto, �e absurdo, omo j�a o demonstramos. Para quesurjam unidades, h�a de haver ne ess�ariamente uma ausa uma, e quene ess�ariamente seja uma. H�a, assim, a impres riptibilidade de uma ausa uma para que alguma oisa seja uma unidade e, onseq�uen-temente, uma ausa uma primeira, ne ess�ariamente uma, por maisremota que seja, para que possa haver unidades.A tese �e apod��ti amente demonstrada, qualquer que seja a via aseguir, omo uma de orr^en ia ontol�ogi a ne ess�aria das demonstra� ~oesj�a feitas.TESE 57 - H�a ne ess�ariamente uma ausa prim�aria de t^odas as uni-dades.COROL�ARIO: A ausa uma prim�aria e ne ess�aria �e absolutamentene ess�aria.TESE 58 - A ausa uma prim�aria e absolutamente ne ess�aria �e �uni a.A uni idade absoluta da ausa uma prim�aria, absolutamente ne- ess�aria, �e rigorosamente exa ta, porque h�a ne essidade absoluta deque a primeira ausa seja uma, e s�o pode ser absolutamente uma se�uni a, j�a que �e origin�ariamente a primeira. A primeira ausa abso-lutamente ne ess�aria de t^odas as unidades tem de ser uma unidade�uni a.TESE 59 - A estru tura ontol�ogi a do \eidos" do absoluto exige que se7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 119estabele� a a distin� ~ao entre absoluto simpli iter e absoluto se undumquid.Em sua ess^en ia, �e absoluto um ser que n~ao depende de outro paraser; ujo ser est�a desligado totalmente de outro; ujo exer �� io de ser �ede per si su� iente. O t^ermo absoluto vem de ab e solutum, que querdizer, s^olto de outro, des-ligado de outro.Ora, o Ser Supremo �e, e tem em si a sua raz~ao de ser, j�a que �e umser ne ess�ario. E assim simpli iter, simplesmente absoluto.No entanto, podemos onsiderar ainda omo absolutas as perfei� ~oes,mas dentro da sua espe i� idade, omo a triangularidade �e absoluta-mente triangularidade, pois �e ela mesma e desligada de outro. Asformalidades, que a raz~ao onstr�oi, s~ao absolutas nesse sentido es-pe ��� o, pois o s~ao enquanto tais, omo o on eito ra ional de espa� o�e absoluto enquanto tal.No entanto, omo t^odas as formalidades s~ao dependentes do Ser Su-premo, o absoluto que revelam �e apenas segundo a q�uididade; s~ao, por-tanto, absolutas se undum quid, isto �e, relativamente �a esp�e ie. N~aoh�a aqui ontradi � ~ao, omo poderia pare er a primeira vista, porqueestamos onsiderando a absolutuidade apenas numa linha espe ��� a.O Ser Supremo �e absoluto absolutamente, simplesmente. Assim aperfei� ~ao do Ser Supremo �e uma perfei� ~ao simpli iter absoluta, masas perfei� ~oes das formalidades o s~ao apenas enquanto tais, isto �e, se- undum quid, segundo essa mesma q�uididade.A uni idade do Ser Supremo �e absolutamente simples, enquanto auni idade do ser �nito �e absoluta apenas na sua individualidade, quese en erra dentro de uma esp�e ie.O primeiro absoluto engloba t^odas as perfei� ~oes, enquanto o se-gundo, ao a�rmar esta, ex lui aquela. A in�nitude do Ser Supremon~ao �e a de uma esp�e ie de ser, mas a do Ser em seu grau supremo deintensidade, omo o demonstraremos a seguir.

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124 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESA uni idade �e assim a �ultima determina� ~ao formal do ser, pois oss^eres se determinam pelo g^enero, pela esp�e ie e pela individualidade,e esta onhe e a sua �ultima determina� ~ao na uni idade.Mas �e ela ainda um on eito trans endental, pois dela parti ipamtodos os s^eres e modos de ser, que s~ao �uni os, e t^odas as diferen� as deser que tamb�em s~ao �uni as.Estamos agora em fa e de uma antinomia entre a uni idade e a omunidade. Os s^eres da mesma esp�e ie t^em em omum a esp�e ie.Mas a t^em omo forma de que parti ipam ontol�ogi amente. Comoexistentes s~ao, no entanto, �uni os. A uni idade da exist^en ia provaa sua distin� ~ao da ess^en ia. E o esquema on reto de ada ente �e�uni o no sentido que �e ^este (hae ). O que n^eles se repete �e apenaso arithm�os, o n�umero no bom sentido pitag�ori o, omo a hae eitasde uma oisa �e o seu arithm�os individual. V^e-se d^este modo qu~aopositivo �e o pensamento plat^oni o, pois as oisas imitam as formas,permane endo o que elas s~ao (hae ).A on ep� ~ao plat^oni a fa ilita-nos a ompreens~ao da uni idade dahae eitas, ao lado do que se repete, do que �e omum.Os s^eres ontol�ogi amente (no logos do ente) se repetem, mas s~ao^onti amente ( omo entes) �uni os.TESE 63 - O ser a�rma-se por si mesmo.O ju��zo \ser �e ser" n~ao �e uma mera tautologia, omo pode pare er�a primeira vista.H�a aqui, l�ogi amente, distin� ~ao entre sujeito e predi ado. �E umadistin� ~ao l�ogi a; por�em n~ao se pode deixar de ompreender que opredi ado diz algo do sujeito, pois o ser �e ser, e ser �e ser.Ademais o ser �e absolutamente ^ele mesmo, sem ne essidade derela ionar-se om outro. O ser a�rma-se sem ne essidade de outro.Coisa alguma �e mister a res entar-se �a a�rma� ~ao dessa identidade,pois ela �e de per si bastante e su� iente. E tanto �e assim que dizer-se7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 121diferentemente, e um s�o indiv��duo n~ao as a tualizaria. Ademais, aesp�e ie �e uma estru tura ontol�ogi a, que n~ao poderia subje tivizar-senum indiv��duo, omo n~ao o poderia a triangularidade, aqui ou ali, masapenas tri^angulos, ^estes ou aqu^eles.Uma uni idade dessa esp�e ie ainda n~ao seria absolutamente �uni a,porque, para ser tal, seria mister que a uni idade f^osse ne ess�ariamenteimposta. Ora, tal s�o poderia, omo s�o se pode dar, om o Ser Supremo,que �e ne ess�ariamente um e �uni o.S�o ^ele al an� a uma uni idade absolutamente �uni a. Do on eitode absoluto infere-se o de uni idade, pois, omo j�a vimos, s�o o SerSupremo �e absoluto simpli iter e, portanto, s�o ^ele �e absolutamente�uni o.Nas oisas �nitas, a presen� a do absoluto manifesta-se na uni idadedos indiv��duos, pois o mundo real ronot�opi o, ou meramente existen- ial, �e formado de indiv��duos que t^em erta uni idade, isto �e, relativaa individualidade de ada um, �a sua tens~ao.Na uni idade das oisas h�a a presen� a do absoluto, e �e nela que as oisas parti ipam de uma das perfei� ~oes do Ser in�nito, embora n~ao atenham na plenitude da sua perfei� ~ao.No entanto, de erto modo, onsiderado na sua uni idade, adaindiv��duo �e absolutamente �uni o, embora o ar�a ter d^esse absolutose d^e apenas dentro do limite da sua esp�e ie, o que lhe empresta o ar�a ter de absoluto espe ��� o ou absoluto se undum quid, omo j�aestudamos.TESE 61 - Na ess^en ia l�ogi a do ser, todos os entes se univo am etamb�em se univo am na uni idade.Rejeitado o nada absoluto, e ompreendido o nada relativo, que tempositividade, omo j�a vimos, ompreende-se que o ser, em sua ess^en iae em sua exist^en ia, �e positividade, e tomado l�ogi amente, n^ele todosos s^eres se univo am.

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122 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESMas omo o Ser Supremo �e, al�em de positividade, o pleno exer �� iodo ser em sua m�axima intensidade, a univo idade dos entes �e onfusano on eito de ser omo positividade, omo \aptid~ao para existir".Pois o ser, que �e em a to, �e a to para existir, e o ser poss��vel s�o o �ese f^or apto para existir. Nessa aptid~ao para existir, que �e meramentel�ogi a, todos os s^eres se univo am.�E ela real. En ontramos, nessa aptid~ao, uma univo idade entre to-dos os s^eres. Se ela n~ao f^osse real, mas apenas ideal, seria meramente� ional. E tal n~ao se justi� a, pois, neste aso, ser n~ao seria aptid~aopara existir, o que �e absurdo. Portanto, independentemente dos esque-mas l�ogi os, os s^eres se univo am nessa aptid~ao, a qual n~ao �e apenasuma distin� ~ao realizada pela nossa gente, mas real extramentis.Por outro lado, n~ao h�a eq�uivo idade absoluta, pois, se houvera, dar-se-iam rupturas no ser, o que �e absurdo. Nem tampou o poderia haveruma univo idade absoluta entre os entes, pois todos se identi� ariam.N~ao h�a, portanto, uma univo idade nem uma eq�uivo idade absolutas,entre os s^eres. Mas, sim, s~ao ^eles, de erto modo, un��vo os e de ertomodo distintos entre si; portanto, s~ao an�alogos. A uni idade de umser n~ao �e a do outro, mas por serem �uni os, se univo am omo tais.Por isso todos os entes s~ao an�alogos, pois a analogia �e uma s��nteseda semelhan� a e da diferen� a, e onde h�a semelhan� a deve haver umponto de identi� a� ~ao formal; e onde h�a diferen� a, um ponto de dife-ren� a absoluta, porque, do ontr�ario, a diferen� a seria aparentementediferen� a, e a semelhan� a aparentemente semelhan� a7.Todos os entes formam uma unidade, e s~ao �uni os. A uni idadeimpli a uma erta irredu tibilidade de um ente a outro.A uni idade impli a uma identidade, e �e ela a mais profunda raizda identidade. Pois, ser idem �e ser si mesmo, omo um e �uni o. Essauni idade que diferen ia absolutamente ada ser de outro ser, pois7Foi o que demonstramos, em \Ontologia e Cosmologia", ao estudarmos a Ana-logia.

7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 123^este �e ^este, e apenas ^este, e n~ao aqu^ele. Portanto, o que identi� a,diferen ia. O ser �uni o se diferen ia de outro, mas ambos se identi� amem ser �uni os, porque a uni idade �e formalmente un��vo a para ambos.Na uni idade, identi� am-se os ontr�arios da identidade e da dife-ren� a absoluta, ou da alteridade. O id^enti o impli a o outro. O serid^enti o a si mesmo �e, ao mesmo tempo, o ser outro que outro.O on eito de uni idade �e um on eito genu��namente dial�e ti o e,n^ele, os extremos opostos se identi� am, sem deixar de ser o que s~ao8.^Este �e o motivo por que a raz~ao dos ra ionalistas n~ao pode ompre-ender \ra ionalmente" a uni idade, e tamb�em por que o individual eo �uni o s~ao dif�� ilmente ra ionaliz�aveis, salvo pela Filoso�a Con reta,por ser esta dial�e ti a ( omo l�ogi a on reta e do tamb�em). Temos,assim, na uni idade, o �api e, o ponto de en ontro de todos os opostos.�E tamb�em o v�erti e da pir^amide, na simb�oli a eg��p ia.TESE 62 - A uni idade �e in omuni �avel.Aquilo, por meio do qual uma oisa singular �e pre isamente esta oisa (hae , da�� hae eitas he eidade), n~ao pode omuni ar-se a outra,pois omuni ar �e terem v�arios s^eres em omum uma mesma perfei� ~ao.O que faz que A seja homem, podem t^e-los muitos, mas o que fazque seja ^este homem, s�o ^ele o tem.Essa uni idade �e simpli idade de singularidade.A uni idade d^este ser �e in omuni �avel, mas os s^eres t^em em omuma uni idade de ser ada um ^este ou aqu^ele ser.T^em em omum a uni idade formalmente, n~ao por�em a uni idade,enquanto simpli idade de singularidade. Todos os s^eres, que s~ao um,s~ao, de erto modo, �uni os, e entram na ordem da unidade, mas o quefaz que ^este seja ^este �e apenas d^ele.8A uni idade �e obje to de uma dis iplina que estatu��mos, a han�oti a, a qual �eexposta por n�os em \Problem�ati a da Singularidade".

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128 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESde partida (terminus a quo), mas omo todo o movimento �e um tran-sitar para outro lugar, exige, ademais, um ter eiro: terminus ad quem,o para onde se dirige, mas tamb�em um quarto, a via, onde se d�a omovimento, onde a oisa est�a ubiquada.Sem um t^ermo de partida, sem o de hegada, sem a via e semo m�ovel, n~ao h�a movimento. No aso do v�a uo absoluto ter��amosaus^en ia total da via, pois a dist^an ia entre os t^ermos ou seria in�nita,ou nula, porque, se �nita, o vazio n~ao seria um v�a uo absoluto, masum espa� o, e ^este om ara teres f��si os a identais, o que levaria aadmitir que era ^ele substan ial, pois omo haver a identes que n~ao osejam de alguma oisa que est�a na rela� ~ao de subst^an ia?Se in�nita, omo j�a o demonstramos, omo haver ombina� ~oes e in-tera tua� ~oes entre os �atomos? Se nula, haveria ontig�uidade e identi-� a� ~ao num ponto, ou, melhor, na superf�� ie, o que negaria a absolutasepara� ~ao entre os �atomos, o que �e fundamental na on ep� ~ao at^omi aadin^ami a, que passamos a refutar.

7.2. COMENT�ARIOS �AS TESES 125que ser n~ao �e n~ao-ser �e o mesmo que dizer que ser �e ser.Essa identidade do ser funda o prin ��pio de identidade. Nos doisju��zos: \Isto �e" e \isto �e aquilo", h�a lugar para uma distin� ~ao impor-tante.No primeiro aso, temos a id�eia trans endental de ser, porque di-zemos simplesmente que isto �e. Aqui o valor de ser �e absoluto. Nosegundo, referimo-nos a um modo de ser, portanto �e relativo.Ser isto ou aquilo n~ao �e trans endental, pois o ser, aqui, tem umaextens~ao limitada, j�a que �e a�rmado enquanto �e isto ou aquilo, o quelhe d�a o ar�a ter de relativo e n~ao de absoluto. Assim, quando se dizque Ser �e ser, ser, aqui, �e ademais tomado trans endentalmente e demodo absoluto.TESE 64 - O ser, enquanto tal, n~ao o podemos abstrair.Se tomamos um ente qualquer, podemos abstrair as suas perfei� ~oes,uma por uma. No entanto, n~ao podemos abstrair o ser, enquanto ser,porque em todo a to de abstra � ~ao, e no abstra��do, o ser est�a semprepresente, porque o abstra��do �e ser.�E assim o ser-enquanto-ser a m�axima on re� ~ao, porque sempre ^eleest�a presente.TESE 65 - O ser �e verdadeiro.O ser s�o pode ser verdadeiro, pois o ontr�ario do verdadeiro �e ofalso, e se o ser n~ao fosse verdadeiro seria o inverso de si mesmo, onada, e ^este, j�a mostramos, �e absurdo.E omo n~ao h�a meio t^ermo entre o nada e o ser, ^este �e absolutamenteverdadeiro; �e a plenitude da verdade.COROL�ARIOS:O ente n~ao pode ser expli ado pelo nada.O on eito de nada in lui ontradi� ~ao, e ex lui tanto o ser \extra-

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126 CAP�ITULO 7. COMENT�ARIOS �AS TESESintelle tum" omo o no intele to.Ente �e o que n~ao in lui ontradi� ~ao.Ente �e o que, ao qual, n~ao repugna ser.N~ao h�a propor� ~ao (proportio) entre ser e nada.O Ser Supremo �e intensistamente ser, porque �e todo em si mesmo.E �e extensistamente ser, porque s�o h�a o ser e n~ao o nada absoluto.Os on eitos (intensista e extensista) s~ao usados, aqui, anal�ogi a-mente.7.3 Coment�ariosNa �loso�a l�assi a, podia-se on eber o ser ne ess�ario l�ogi a e on-tol�ogi amente. L�ogi amente, omo o exp~oe Hellin, �e a ila� ~ao inevit�aveldas premissas; ontol�ogi amente, pode ser onsiderado em tr^es ordens:na ordem do agente, a ausa ne ess�aria, n~ao livre; na ordem dos meios,aqu^ele sem o qual n~ao se obt^em os �ns; na ordem do ente, aqu^ele quen~ao pode n~ao existir.Nesta �ultima ordem, que �e a mais importante, podemos onsider�a-loainda hipot�eti amente, que �e aqu^ele que, se �e, ne ess�ario �e; e absolu-tamente, omo aqu^ele que assim existe, absoluta e independentementede qualquer ondi� ~ao, e n~ao pode n~ao existir, uja n~ao exist^en ia im-pli a ontradi� ~ao.O ser ontingente pode ser tomado l�ogi a e ontol�ogi amente. L�ogi a-mente, o ser ontingente surge da ila� ~ao n~ao inevit�avel das premissas.Ontol�ogi amente, pode ser tomado na ordem do agente, e �e o agentelivre; na ordem dos meios, e �e o meio que n~ao �e o �uni o ne ess�ariopara o �m; e na ordem do ser, �e aquele que pode existir ou n~ao existirsem qualquer ontradi� ~ao, aqu^ele uja exist^en ia n~ao �e do on eitode ess^en ia absoluta. O ser ontingente �e aquele, ujo onstitutivo �e

7.3. COMENT�ARIOS 127nada, e de si permane eria nada. Se se torna alguma oisa, n~ao setorna por si, mas impelido por outro a ser.Em suma: o ser ontingente pode n~ao ser, sem que haja qualquer ontradi� ~ao na sua n~ao-exist^en ia, enquanto o ser ne ess�ario �e aqu^eleque n~ao pode deixar de ser; uja n~ao-exist^en ia impli aria ontradi� ~ao.Ora, o Ser Supremo, omo vimos atrav�es das demonstra� ~oes feitas,�e um ser ne ess�ario, pois sua n~ao-exist^en ia, impli aria ontradi� ~ao.N~ao al an� amos, por�em, a apoditi idade de sua exist^en ia fundado noprin ��pio de ontradi� ~ao, mas fundado no rigor ontol�ogi o das tesesdesenvolvidas. Veri� a-se, orroborando as nossas provas, que ademaisdas raz~oes ontol�ogi as apresentadas, h�a ainda a favor delas a fundadanos prin ��pios da argumenta� ~ao l�assi a.Fundado no prin ��pio de ausalidade, v^e-se que o ser ontingentene ess�ariamente �e feito, e �e feito ne ess�ariamente por outro, e tem suaraz~ao su� iente em outro. Se o ser ontingente pode n~ao ser, seu ons-titutivo n~ao �e a exist^en ia a tual. �E de si nada e de si permane erianada, perseveraria nada. Para ser algo ne essita do que �e, que �e suaraz~ao de ser.Na �loso�a l�assi a, en ontramos, sobretudo em Tom�as de Aquino,tanto na Summa ontra Gentiles omo na SummaTheologi a, o empr^egodo argumento fundado nos s^eres ontingentes para provar a exist^en iade Deus omo ser absolutamente ne ess�ario. Essa prova �e de m�aximaimport^an ia na teologia l�assi a, mas omo seu ponto de partida �eum tanto ontroverso, s�o deve ser a eita se f^or robuste ida pelo apoioontol�ogi o, omo ofere emos atrav�es da �loso�a on reta.TESE 66 - Num vazio absoluto os �atomos n~ao podederiam mover-se.Se os �atomos se movessem no vazio (v�a uo, to kenon dos atomistasadin^ami os), ^esse vazio n~ao seria um vazio (v�a uo absoluto), pois, do ontr�ario, n~ao haveria movimento por faltar um t^ermo dessa rela� ~ao.O movimento f��si o impli a quatro t^ermos reais: o m�ovel e o ponto

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132 CAP�ITULO 8. REFUTAC� ~AO DO ATOMISMO ADIN ^AMICOj�a que ^eles s~ao f��si os. E, neste aso, o nada deixaria de ser tal paraser um ser, e os �atomos estariam imersos num ser que os envolveria.^Estes argumentos de orrem das provas j�a por n�os apresentadas.E entre ^eles e ^esse ser haveria um limite. Mas tal limite s�o poderiaser formal, e n~ao absoluto, do ontr�ario, inter alar-se-ia outra vez onada-absoluto-par ial.O atomismo, d^este modo, n~ao onsegue solu ionar nenhum pro-blema ontol�ogi o. Pretendendo afastar-se da metaf��si a, �e, na ver-dade, uma doutrina metaf��si a de grau imensamente baixo, pois n~aose funda nem na experi^en ia (a qual n~ao se daria neste aso), nemem raz~oes ontol�ogi as. O atomismo puro n~ao expli a a massa, nem aextens~ao, nem o movimento, nem a quantidade, nem a qualidade, nema resist^en ia, nem a impenetrabilidade, nem qualquer dos problemasf��si os. * * *O atomismo din^ami o, que perten e �a i^en ia moderna, enquantopermane e no ampo da f��si o-qu��mi a, en ontra fundamentos, mas,ao desejar tornar-se metaf��si o, assume a mesma posi� ~ao ing^enua eprim�aria do atomismo puro. A f��si a moderna admite mi ro-estru turas,que s~ao os �atomos, uja omplexidade �e obje to de estudo de diversasdis iplinas.O �atomo moderno n~ao �e inse �avel, pois �e desintegr�avel, e os ele-mentos, que o omp~oem, podem integrar outras totalidades.O verdadeiro f��si o moderno �e aqu^ele que se dedi a ao estudo dateoria at^omi a, dentro apenas do ampo da i^en ia, restrito �a esferada f��si a. Considerar os �atomos omo prin ��pios de todas as oisas �euma a�rmativa que es apa a i^en ia, e o ientista, que, neste ponto,manifestar tal pensamento, afasta-se dela para penetrar no ampo dametaf��si a.

Cap��tulo 8

Refuta� ~ao do atomismoadin^ami oUma das on ep� ~oes que tentam expli ar o prin ��pio de t^odas as oisas�e o atomismo. Podemos onsider�a-lo omo adin^ami o (puro), e omodin^ami o. O primeiro �e o atomismo l�assi o, de Mos os, de Leu ipo,Dem�o rito, Epi uro e Lu r�e io. O segundo, o de Ba on, Des artes,Newton, Dalton, e das on ep� ~oes modernas.Para o primeiro, a mat�eria universal �e omposta de orp�us ulos, deuma ou de v�arias esp�e ies, inse �aveis, isto �e, impart��veis, �atomos.^Esses orp�us ulos n~ao t^em uma origem em outro ser. S~ao existentesde per si, de per si subsistentes, e sempre existiram. A diversidade,a heterogeneidade dos orpos, suigiria das diversas �guras que forma-riam ^estes orp�us ulos em suas m�ultiplas \ ombina� ~oes".Para o atomismo din^ami o, omo por exemplo o exposto por Prouste Dumas, a mat�eria-prima, de onde se originariam todos os �atomos,�e o hidrog^enio, e segundo as diversas ondensa� ~oes do �atomo de hi-drog^enio surgiriam os outros. Por esta doutrina, a vida intele tivae a sensitiva reduzir-se-iam �a me ^ani a. O universo seria expli �avel129

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130 CAP�ITULO 8. REFUTAC� ~AO DO ATOMISMO ADIN ^AMICOme ^ani amente. A esp�e ie seria resultado das ombina� ~oes me ^ani asdos orp�us ulos. ^Estes, por terem orporeidade, seriam extensos, re-sistentes, impenetr�aveis, om uma massa e p^eso. Todos os fen^omenosseriam expli ados pelas vibra� ~oes e ondula� ~oes dos onjuntos at^omi os.O atomismo adin^ami o, ou atomismo puro, �e ontol�ogi amente falsoe predominantemente apor�eti o, pois em vez de solu ionar as di� ul-dades, aumenta-as, multipli a-as. Em primeiro lugar, parte da impe-netrabilidade dos �atomos, isto �e, de sua solid~ao. S�ubitamente, semuma raz~ao su� iente, os �atomos p~oem-se a formar ombina� ~oes �gu-rativas, depois de passarem um tempo sem prin ��pio, mantendo-se emsuas primitivas posi� ~oes.Neste aso, ter��amos de admitir que os �atomos tinham a aptid~ao,desde todo o sempre, de se ombinarem heterog^eneamente om ou-tros, o que os tornaria h��bridos de a tualidade e poten ialidade. N~aohavendo uma ausa e� iente que os movesse �as suas ombina� ~oes, se-riam ^eles aut^onomos, espont^aneos e semoventes. Neste aso, n^eles sedistinguiria o ��mpeto para o movimento e o m�ovel, os quais se dariamn^eles mesmos.Deixariam, portanto, de ser simples para serem ompostos de a toe pot^en ia. Para aqu^eles que admitem diversas esp�e ies de �atomos,ainda ter��amos a omposi� ~ao de forma e mat�eria, pois seriam ^elesde uma mat�eria diferente da forma. E, neste aso, deixariam de serinse �aveis, ou seja, insus ept��veis de se ionamento. Se se admitira identi� a� ~ao da forma em diversas materialidades, e sendo estasespe ��� amente diferentes, seriam diversas. Mas, sendo a forma amesma, a mat�eria teria outra forma, para serem �atomos de materiali-dade diversa. Ter-se-ia, a�nal, de a�rmar uma s�o mat�eria-prima omdiversas formas, o que n~ao salvaria o postulado da sua simpli idadeabsoluta.Ademais, ^esses orp�us ulos s~ao m�oveis e, onseq�uentemente, aptosa moverem-se, a serem movidos, por si e por outros, o que impli a a

131hibridez de a to e pot^en ia. Seriam ^eles efeitos, pois todas as muta� ~oes onhe idas teriam uma ausa.Mas, esta ausa su� iente n~ao �e olo ada pelo atomismo. Ora, oa aso ou �e um ser ou �e nada. Se �e um ser, ante ederia aos �atomos, ese �e nada, nada poderia fazer1.Conseq�uentemente, o atomismo puro tem de fazer apelos ao nadapara expli ar os efeitos, o que �e uma queda pre ipitada no absurdo.Com o examinado at�e aqui, veri� a-se que o atomismo puro, nointuito de evitar as aporias �los�o� as, riou um ros�ario delas, semsolu ion�a-las.Poder-se-ia ainda argumentar que os �atomos, sendo aptos a m�ultiplas ombina� ~oes, e sendo estas ombina� ~oes n�umeros, elas, enquanto tais,seriam imut�aveis. Desta forma, os �atomos, em si imut�aveis, o que �eprin ��pio sem prova, seriam mut�aveis, n~ao s�o em suas a tualiza� ~oes, omo ao onstitu��rem ombina� ~oes num�eri as, enquanto tais, arit-mol�ogi amente onsideradas imut�aveis. Ter��amos, assim, uma ordemde realidade imut�avel, de outra de realidade mut�avel, o que, levadoat�e as suas �ultimas onseq�u^en ias, num ra io ��nio ontol�ogi amentebem en adeado, �e a refuta� ~ao ompleta da doutrina.O atomismo n~ao solu iona nenhum problema �los�o� o, apenas osdeslo a.Os �atomos, sendo simples, e inse �aveis, n~ao poderiam ser exten-sos, pois seriam divis��veis em pot^en ia. Ademais os seus limites se-riam dados pelo vazio absoluto, inter alado entre ^eles. Inter alando-seum nada, embora absoluto-par ial, a dist^an ia, o di�astema entre os�atomos, seria: ou in�nita, e as ombina� ~oes seriam imposs��veis, poisonde n~ao h�a nada n~ao poderia haver sequer ombina� ~oes, ou, ent~ao,�nita e, neste aso, o nada seria real, pois teria um atributo real. Ade-mais os �atomos, para intera tuarem-se, pre isam de um meio f��si o,1No �m d^este livro refutamos, por outro aminho, a postula� ~ao do a aso.

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136 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANTdas luzes, do Iluminismo, da Ilustra� ~ao, s�e ulo que mere eu tantosnomes pomposos atrav�es dos tempos. Realmente, h�a um progresso nosaber experimental e ient��� o do homem. Quanto ao saber �los�o� o,por�em, f^ez-se um hiato perigoso e terr��vel entre a �loso�a do passadoe as novas experi^en ias �los�o� as das quais Kant �e um perfeito repre-sentante.O iluminismo, que foi uma as en� ~ao no ampo ient��� o, terminoupor tornar-se, no ampo �los�o� o, um per��odo de trevas do onhe i-mento. N~ao era justo que ^esse hiato se prolongasse, omo se prolongouat�e nossos dias, a ponto de ser manifesta e palmar a ignor^an ia de mui-tos �l�osofos da obra dos medievalistas e at�e dos gregos.Mesmo que n~ao houvesse elementos a nosso favor, estar��amos ertosque Kant nun a leu nenhuma das grandes obras dos medievalistas, omo por exemplo Tom�as de Aquino, S ot, S~ao Boaventura e Suarez.Nem tampou o leu, sen~ao por alto, a obra de Arist�oteles e de Plat~ao,porque, talentoso omo era, n~ao poderia, de modo algum, enun iar,s^obre a Metaf��si a, as a�rmativas que en ontramos em seus trabalhos,t~ao omuns e freq�uentes em seu s�e ulo, quando essa dis iplina aira nodesfavor dos intele tuais de ent~ao, que julgavam que a obra de autoresmenores e os exageros de alguns metaf��si os de� ientes onstitu��am o�api e da Metaf��si a.Na �epo a de Kant, pro lamar-se metaf��si o era atrair s^obre si o risode todos os voltairianos de ent~ao. Kant era um homem t��mido e tre-meria dos p�es �a abe� a se o hamassem de metaf��si o. Tudo envidoupara estar no seu s�e ulo, pro urando tornar imposs��vel a Metaf��si a.E o f^ez om uma habilidade sat^ani a. Sua obra �e uma armadilhabem urdida. Caindo nela, ningu�em se salva. Cer a aparentementepor todos os lados as poss��veis sa��das em favor da tese ontr�aria.Usando de uma sof��sti a, extraordin�aria, e de argumentos aparen-temente s�olidos, onsegue enlear os desprevenidos em suas malhas.Depois da sua obra s�o poderia vir o materialismo vulgar, o � iona-lismo, o emp��rio- riti ismo, o positivismo, o relativismo �los�o� o, o

133Para a teoria ele tr^oni a moderna, o elemento mais simples e pri-mordial, f��si amente onsiderado, �e o �ele tron, que �e de arga negativa.A ^ele se op~oe o elemento nu lear, que �e o pr�oton, de arga positiva. Osprimeiros movem-se em t^orno do n�u leo, n~ao no vazio, pois inter ala-se, entre ^eles, o �eter, ujas qualidades n~ao s~ao determinadas pela f��si a,que apenas a�rma a sua uidez.O �eter �e ainda hipot�eti o para a i^en ia, e tema de estudos. Mas,de qualquer modo, entre os el�e trons e o n�u leo, n~ao se inter alar�a onada, e sim alguma oisa.Al�em dos elementos itados, a f��si a moderna onsidera outros mui-tos, segundo as diversas hip�oteses.Al�em dos argumentos por n�os expostos em ontraposi� ~ao �a solu� ~aometaf��si a do atomismo de qualquer esp�e ie, podemos a res entaroutros argumentos, que vir~ao a seu tempo, quando examinarmos amat�eria, e distinguirmos a materialidade de a orporeidade, et . Ade-mais, o atomismo tem um v�� io de origem: �e uma doutrina pluralista,que ai nas aporias do dualismo, que j�a demonstramos ser absurdo. Asolu� ~ao atomista, na verdade, n~ao �e uma solu� ~ao, pois, em vez de di-minuir as aporias, aumenta-as, multipli a-as, omo dissemos no in�� io.A validez da on ep� ~ao din^ami a inge-se apenas �a esfera f��si o-qu��mi a, e n~ao �a que a ultrapassa. Neste sentido, em nada ontradizos postulados da Filoso�a Con reta.

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134 CAP�ITULO 8. REFUTAC� ~AO DO ATOMISMO ADIN ^AMICO

Cap��tulo 9

Cr��ti a �a posi� ~ao de Kant

A �uni a oposi� ~ao s�eria, que ainda pode restar ao que empreendemosnesta obra, �e a que se funda no riti ismo kantiano. Como, para mui-tos, Kant \desterrou de uma vez para sempre a `v~a metaf��si a"', omogozosamente a�rmam alguns dedi ados ao estudo da Filoso�a, poismostrou, de \modo de�nitivo" a impossibilidade de ju��zos sint�eti osa priori, os �uni os que podem aber �a Metaf��si a, j�a que os sint�eti osa posteriori s~ao dados pela experi^en ia, julgamos de nosso dever re-produzir aqui algumas p�aginas do que es revemos em nosso \As Tr^esCr��ti as de Kant", onde examinamos a sua doutrina e justi� amosa nossa. Pedimos ao leitor que nos perdoe a longa trans ri� ~ao, mas omo �e impres ind��vel fundamentar a nossa tese, julgamos a ertadaesta provid^en ia.�E nos Proleg^omenos que Kant pro ura responder �a pergunta de omo a Metaf��si a �e poss��vel omo i^en ia. Na Cr��ti a da Raz~ao Pura,prossegue examinando o tema para on luir que a Filoso�a s�o ser�aposs��vel quando possa estabele er-se fundada em ju��zos sint�eti os apriori, o que nega ^ele tenha sido feito at�e o momento pelos metaf��si os.Kant �e ineg�avelmente um produto �nal do Aufklaerung, do s�e ulo135

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140 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANT2) e realizando, por meio de demonstra� ~oes, uma onstru � ~ao �-los�o� a rigorosamente apod��ti a, em nosso \Filoso�a Con reta".O defeito prin ipal e fundamental do �losofar de Kant �e o v�� ioinerente ao ra ionalismo, v�� io que ^ele herdou, usufruiu e empregouem t^oda sua r��ti a. Consiste ^ele no seguinte: o que �e apenas distinto,o em que apenas abe uma distin� ~ao, Kant estabele e uma separa� ~ao,um afastamento, uma di�a rise, aindo, assim, em todos os erros di-a r��ti os da raz~ao, que salientamos em nosso \Filoso�a da Crise", que�e uma an�alise da r��ti a, que onsiste na a tividade de abrir a risepor meio de di�a rises, e estabele er a s��ntese por meio de s��n rises.�E natural que Kant, depois de haver separado, tenha di� uldade ea�rme at�e a impossibilidade da s��ntese dos elementos que ^ele separouabstra tamente. Vejamos alguns pontos:Quando ^ele medita s^obre a verdade do obje to pensado, Kant des-dobra o pensamento e seu obje to omo duas entidades real-realmentedistintas, omo se elas n~ao se impli assem m�utuamente.Pro ura o nexo de liga� ~ao nos ju��zos sint�eti os a priori, mas o queprimeiramente faz �e desdobrar o ju��zo em seus elementos, esque endoque a separa� ~ao l�ogi a surge da linguagem e n~ao da id�eia. Depois �edif�� il ompreender omo �e poss��vel lig�a-los. Esque e que o nexo deliga� ~ao se d�a na natureza e n~ao na linguagem, pois o on eito-sujeito eo on eito-predi ado, se gramati almente s~ao isolados, e no enun iadoverbal s~ao ligados pela �opula, na realidade est~ao unidos, e formamuma totalidade oerente e formalmente uma.Outro aspe to �e julgar que h�a duas verdades: uma que �e a nossa,e outra que �e absoluta. Esque e que a verdade l�ogi a, a verdade ma-terial, a verdade ontol�ogi a, a verdade on reta s~ao distintas, e quesepar�a-las �e ex esso de abstra tismo.Por outro ex esso abstra tista, Kant separa o fen^omeno do n�umeno,a per ep� ~ao separada do pensamento, omo se f^osse poss��vel per ebersem pensar.

137agnosti ismo, o materialismo hist�ori o, o epti ismo moderno, o nihi-lismo de t^oda esp�e ie, o desesperismo de nossos dias, et . Kant foimenos onstrutivo na Filoso�a que destrutivo. N~ao �e de admirar quetodos aqu^eles, que pro uram destruir o trabalho �los�o� o de s�e ulos,busquem, por todos os meios, difundir sua obra sem a ompanh�a-la dane ess�aria r��ti a. Sabem muitos que o kantismo �e um meio aminhoaberto ao desesp^ero e �a destrui� ~ao da Filoso�a. N~ao �e, pois, de ad-mirar que re eba os afagos de alguns profess^ores de Filoso�a, e suapropaga� ~ao seja t~ao estimulada, sobretudo pelos que t^em inter^essesoutros, muitas v^ezes in onfess�aveis.Vejamos algumas passagens da obra itada.\A Metaf��si a, omo disposi� ~ao natural da raz~ao, �e real, mas to-mada em si �uni amente ( omo o demonstrou a solu� ~ao anal��ti a dater eira quest~ao apital), dial�e ti a e enganadora. Querer, por on-seq�u^en ia, extrair dela prin ��pios, e seguir utilizando-os, �e uma apar^en- ia natural, e, na verdade, falsa. Ela nun a poder�a produzir i^en ia,mas s�omente uma v~a arte dial�e ti a, onde uma es ola poder�a ter me-lhor ^exito que outra, sem que nenhuma possa obter uma aprova� ~aoleg��tima e dur�avel" (Proleg^omenos . . . pag. 156).- \Garanto que ningu�em, ap�os ter meditado e ompreendido osprin ��pios da r��ti a, nem que seja nestes Proleg^omenos, n~ao voltar�anun a mais a essa falsa i^en ia antiga e sof��sti a . . . " (p�ag. 158).Mas a metaf��si a que o sr. Kant onhe ia era a de Spinoza, Wolf,Leibnitz, Clarke, Newton, Mendelssohn, et . N~ao onhe ia os es- ol�asti os. Conhe ia Wolf, e bastava. N~ao era ^ele onsagrado omoo mais \profundo e ompleto onhe edor da es ol�asti a"? E a s��nteseque havia feito, na exposi� ~ao das doutrinas medievalistas, n~ao era um\monumento de �delidade"? N~ao era, pois, de admirar que Kant n~aoperdesse seu tempo a ler aqu^eles volumosos trabalhos dos medieva-listas, muitas v^ezes pou o intelig��veis. Bastava louvar-se em Wolf,e da�� por diante era f�a il o aminho. Mas, na verdade, Wolf n~ao �e

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138 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANT onsiderado um aut^enti o expositor da obra dos medievalistas. Ao ontr�ario; falsi� ou e n~ao ompreendeu muitas oisas, expondo-as fal-samente. Quanto aos outros, no ampo da Metaf��si a, foram levadospor on ep� ~oes ra ionalistas, ou ex essivamente idealistas, sem o de-vido fundamento na realidade.\T^oda arte falsa, t^oda i^en ia v~a t^em apenas um tempo, pois ter-minam por aniquilar-se a si mesmos; a �epo a de sua mais alta ultura oin ide om a de sua de ad^en ia. ^Esse momento �e agora vindo paraa Metaf��si a: e bem o prova o estado na qual ela aiu entre todos ospovos ultos, enquanto as i^en ias de todo g^enero s~ao estudadas omtanto ardor" (p�ag. 159).Mas qual foi a �epo a de m�axima as en� ~ao e, portanto, de in�� iodo de l��nio? O s�e ulo XVIII? Absolutamente n~ao. O per��odo �aureoda metaf��si a foi na �epo a de Tom�as de Aquino e S~ao Boaventura,Alberto Magno, S ot, nos s�e ulos XIII e XIV, e depois, no s�e ulo XVI om os onimbrenses e salmati enses. O per��odo de que fala Kant �epre isamente de de l��nio. Aquela Metaf��si a era mis�eria da Metaf��si a.Estava-se em pleno per��odo de re uxo da es ol�asti a, e o voltairismohavia in u��do nas ons i^en ias ing^enuas. Realmente o espet�a ulo naFiloso�a era desolador. O que havia era o meta�si ismo, forma vi iosada Metaf��si a, que Kant na verdade, ombatia. ^Ele onfundira essade ad^en ia om a as ens~ao, ou por ignorar a verdadeira Metaf��si aou por m�a-f�e. Preferimos por enquanto a primeira hip�otese, mais onsent^anea om os fa tos e om a pr�opria obra de Kant.Prossegue a�rmando que metaf��si os, em todo tempo, n~ao �zeramessa i^en ia avan� ar um passo al�em de Arist�oteles \o que resulta dessa ausa bem natural que a i^en ia n~ao existia ainda . . . "\E at�e aqui, a Metaf��si a n~ao p^ode v�alidamente demonstrar a priorinem ^esse prin ��pio (o da subst^an ia e do a idente), nem o prin ��piode raz~ao su� iente, nem ainda qualquer proposi� ~ao mais omplexa,que se re�ra, por exemplo, �a Psi ologia ou �a Cosmologia; em suma,

139nenhuma proposi� ~ao sint�eti a: assim, t^oda essa an�alise n~ao al an� ounada, nada produziu, nada f^ez avan� ar, e depois de tantas agita� ~oese ru��do, a Ci^en ia est�a ainda onde ela estava na �epo a de Arist�oteles. . . " E prossegue:\Se algu�em se a redita ofendido por isso, �e-lhe f�a il reduzir a nadaesta a usa� ~ao, limitando-se a dar uma s�o proposi� ~ao sint�eti a na Me-taf��si a, e ofere endo-se a demonstrar a priori pelo m�etodo dogm�ati o;se o �zer, mas ent~ao s�omente assim, eu on ordarei que realmente ontribuiu para o progresso da i^en ia, e que essa proposi� ~ao seja,ademais, su� ientemente on�rmada pela experi^en ia vulgar" (idemp�ag. 162).E ^ele resume a sua posi� ~ao �los�o� a nestes t^ermos: \Todo onhe- imento das oisas, tirado do entendimento puro ou da raz~ao pura, �eapenas ilus~ao; n~ao h�a verdade sen~ao na experi^en ia" (p�ag. 171).Finalmente, a�rma que abe ao defensor da Metaf��si a \provar,seguindo seu m�etodo, ou seja, omo lhe onv�em, por prin ��pios a pri-ori, uma qualquer das proposi� ~oes verdadeiramente metaf��si as queprop~oe, quer dizer, sint�eti as, onhe idas a priori por on eitos, mas,em todo aso, uma das mais indispens�aveis, por exemplo, o prin ��piode perman^en ia da subst^an ia ou da determina� ~ao ne ess�aria dos a on-te imentos do mundo por sua ausa. Se n~ao o pode, (o sil^en io �e uma on�ss~ao), deve onvir que, n~ao sendo a Metaf��si a nada sem uma er-teza apod��ti a das proposi� ~oes dessa esp�e ie, �e mister, antes de tudo,estabele er a possibilidade ou impossibilidade destas numa r��ti a daraz~ao pura, sendo depois obrigado ou a re onhe er que meus prin ��piosna Cr��ti a s~ao exatos, ou demonstrar que s~ao sem valor" (p�ag.,176).E dispensando as on ess~oes que Kant faz, resolvemos dar a res-posta, em duas partes:1) mostrando a impro ed^en ia de suas a�rmativas sintetizadas naCr��ti a, quanto �a impossibilidade da Metaf��si a;

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144 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANT ompletamente s^oltas umas das outras tamb�em n~ao poderia deixar dere onhe er que h�a entre tantas m^onadas isoladas algo que as onexi-ona algo em omum que as onexiona, que d�a lugar ao surgimento doque �e o osmos, a ordem. A realidade �e o nexo que re�une, oordena as oisas reais. Ora, tais nexos oordenadores, oordenados por sua veznum nexo universalizante, s~ao algo. Portanto, t^em um sentido, umser e, omo tais, uma ess^en ia, uma forma. H�a, assim, um logos dologos, uma ratio que os distingue uns de outros. E essas formas, a queos gregos hamavam tamb�em de ideai, id�eias, tem um nexo, que se hama idealidade. Assim, na realidade (que �e o nexo das oisas reais),h�a uma idealidade (que �e o nexo das oisas ideais, os logoi). H�a, pois,uma idealidade na realidade. E omo ^esses logoi t^em uma sist^en ia,n~ao podemos, por�em, a�rmar que tenham ex-sis-t^en ia; ou seja, quese d^eem fora de suas ausas omo s^eres subsistentes em si mesmos.Como todo ser �e ser na propor� ~ao que tem uma sist^en ia, e omo taltem uma realidade, h�a, portanto, um nexo de realidade na idealidade, omo h�a um nexo de idealidade na realidade.Por essas raz~oes, v^e-se que �a propor� ~ao que aptamos os logoi, pers- rutados por n�os na experi^en ia que temos das oisas, experi^en ia n~aos�o no sentido restrito de Kant, mas tamb�em no sentido amplo omo �e omumente onsiderada, podemos a�rmar, sem temor de ^erro e omplena ades~ao de nossa mente, que s~ao ^eles reais desde que orrespon-dam ao nexo da realidade, omo d^este nexo podemos aptar o nexode idealidade. Se nossos on eitos n~ao possuem, onte�udos su� ientespara orresponderem exaustivamente ao que se d�a na realidade, ^elespor�em, orrespondem, inten ionalmente, ao que �e fundamentalmentenas oisas.Kant, pela in u^en ia do abstra tismo ra ionalista de sua �epo a,pelos exageros do idealismo e da metaf��si a ra ionalista, que onhe ia, ujos defeitos s~ao imensos e uja fraqueza �e ineg�avel, n~ao podia om-preender essa onex~ao, e negava obje tividade ao que a nossa menteeid�eti amente onstr�oi om seguran� a, duvidando da validez de nossos

141As modi� a� ~oes do eu, ^ele as separa do eu, omo se pudessem existirindependentemente do eu, hegando �a on lus~ao que da ons i^en ia domeu pensamento n~ao posso on luir a minha exist^en ia.Separa o atributo da subst^an ia, a perfei� ~ao e o Ser Perfeito, et .Kant realiza, assim, o mais perfeito � ionalismo abstra tista que ora ionalismo vi ioso poderia onstruir. Pro ura, depois, uma s��ntesena intui� ~ao ou na experi^en ia, e al an� a apenas a uma s��n rise, omtodos os defeitos do pensamento sin r��ti o vi iado, desde o in�� io, peladi�a rise abstra tista.A �loso�a de Kant termina transformando-se numa grande arma-dilha, na qual quem n~ao est�a devidamente preparado n~ao onseguea har uma sa��da, porque lhe foram fe hadas t^odas as sa��das. Essaadmir�avel onstru� ~ao, que n~ao o ulta um erto satanismo, terminoupor onseguir uma pr^esa ineg�avelmente not�avel e famosa, ujo valor �eineg�avel, que foi Kant, prisioneiro da pr�opria armadilha que riou.^Ele a�rma que s�o admitiria fundamento na Metaf��si a se f^osse de-monstrado apod��ti amente um ju��zo sint�eti o a priori.Qual a prova apod��ti a que exige? A que �e dada pela experi^en ia.Neste aso, a experi^en ia provaria a validez do ju��zo sint�eti o a priori.Mas, a experi^en ia depende, em sua validez, das formas puras dasensibilidade, uja f^or� a �e subje tiva. Portanto, a experi^en ia n~ao podedar validez, porque n~ao a tem su� iente. Con lus~ao: a �uni a provaque admite n~ao �e prova su� iente, do que de orre, inevit�avelmente, queum ju��zo sint�eti o a priori n~ao pode ser demonstrado apod��ti amente,seguindo a linha de Kant. �E not�avel essa posi� ~ao. ^Ele desa�a que seprove pela via que ^ele a�rma que n~ao prova; desa�a que se en ontreum obje to num lugar determinado onde ele n~ao est�a, porque j�a otirou de l�a. D^esse modo, o desa�o de Kant �e uma misti� a� ~ao. Talvezo t^ermo seja um pou o forte, mas, fran amente, n~ao onhe emos outroque melhor expresse o que ^ele revela em seu desa�o.

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142 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANT* * *Todo o sistema de Kant depende da solu� ~ao que se d^e aos ju��zossint�eti as a priori.A a�rmativa da sua prioridade, impli a:a) que n~ao tem sua origem apenas na experi^en ia;b) que sua origem est�a apenas na mente.^Este �e o dilema olo ado por Kant. Mas, se n~ao tem sua origemapenas nos sentidos, n~ao se pode ainda a�rmar que tenha sua origemapenas na mente.Para que tal a�rmativa f^osse v�alida, teria Kant de provar que n~ao h�aum meio t^ermo entre a experi^en ia isolada e a mente tomada tamb�emisoladamente.Contudo, pela solu� ~ao aristot�eli a, h�a um onhe imento que par i-almente pro ede da experi^en ia e par ialmente da mente. S^obre essasolu� ~ao silen ia Kant.1As ategorias s~ao para ^ele vazias, sem obje to. A intui� ~ao da sen-sibilidade (Ans hauung), por apenas aptar os fen^omenos e n~ao a oisa em si, �e ega, nada onhe e da oisa. As intui� ~oes sens��veis s~ao,portanto, nada, porque n~ao representam nada de real em si mesmo.Como, portanto, justi� ar-se a s��ntese entre sujeito e predi ado?Nega, na Cr��ti a da Raz~ao Pura, que os prin ��pios sint�eti os a priori. . . \possam ser apli ados �as oisas em si, mas apenas aos fen^omenos"(op. it. p�ag. 257). Como o prin ��pio de ausalidade �e um prin ��piosint�eti o a priori, ^este n~ao pode ser apli ado ao n�umeno, mas apenasao fen^omeno.1Kant silen ia a solu� ~ao aristot�eli a. Ou a onhe ia ou n~ao. Se a onhe ia,n~ao deveria ter perdido a oportunidade de refut�a-la. Se n~ao a onhe ia ( omose depreende de ertas a�rma� ~oes que faz em suas obras), n~ao �e perdo�avel essaignor^an ia num �l�osofo de seu porte.

143No entanto, em outra passagem da mesma obra (p. 286), diz: \Oentendimento limita a sensibilidade . . . e adverte-se que n~ao se pre-tende apli �a-lo �as oisas em si, mas s�omente omo obje to trans en-dental, que �e a ausa do fen^omeno, e por si n~ao �e fen^omeno". Ora,esta passagem ontradiz diretamente a anterior.Outra ontradi� ~ao de Kant est�a em a�rmar que nada onhe emosdo n�umeno.Contudo, para expli ar a heterogeneidade qualitativa dos fen^omenos,a qual \resulta da oopera� ~ao dos n�umenos e das minhas fa uldades"(exempli� a om a heterogeneidade das ^ores, dos sons, et .), sup~oeque h�a alguma heterogeneidade qualitativa nos pr�oprios n�umenos, oque �e a�rmar que n~ao s~ao totalmente in ognos ��veis. Admite, por suavez, sua exist^en ia. Ora, admitir a exist^en ia �e a�rmar que n~ao s~aototalmente des onhe idos. * * *As oisas reais da nossa experi^en ia est~ao a nos a�rmar que n~aot^em em si mesmas sua raz~ao de ser. N~ao �e poss��vel (pois n~ao h�a fun-damento algum para n�os, e �e, ainda, fundamentalmente falso) a�rmarque alguma oisa �nita do mundo, que nos er a, independe de qual-quer outra, e exista aqui e agora sem depender do que quer que seja.Ainda mais: n~ao podemos admitir, por falta total de fundamentos,que qualquer ser �nito se d^e em absoluta solid~ao, totalmente desli-gado dos outros, om absolutuidade (ab solutum), s^olto de tudo omais, a�rmando a si mesmo. Sabemos que perpassa por t^odas as oi-sas; ou melhor, que h�a entre t^odas as oisas, que onstituem o mundoda nossa experi^en ia, uma lei, um logos, que as analoga umas �as ou-tras, que �e o mesmo em muitas, e um logos, que �e o mesmo em t^odas.H�a, assim, um nexo, que onexiona, que oordena t^odas as oisas,um nexo geral, totalizante, que as une numa \ronda de verdadeiroamor" na frase po�eti a de Goethe. Uma vis~ao atom��sti a de entidades

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148 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANT9.1 A indubitabilidade dos universaisA maior parte dos problemas propostos por Kant j�a estavam resolvidos om s�e ulos de ante ed^en ia. Para os que des onhe iam as solu� ~oes j�adadas, a sua obra poderia soar omo algo novo, inesperado e in�edito.Colo ou ^ele s^obre a mesa o problema dos universais, perguntando omo se poderiam dar on eitos e ju��zos universais v�alidos, quandoa experi^en ia �e on reta e singular. Ora, tal pergunta era a ons-tantemente usada pelos advers�arios do realismo na longa pol^emi amedievalista dos universais. Contudo, abe dizer que Kant olo ou oproblema sob novos aspe tos. Mas a validez dessa a�rmativa dependeapenas de que se apontem, om evid^en ia, os aspe tos novos. Se ^estess~ao apenas simples \revenants" do passado, a a�rmativa perderia asua pre ed^en ia.A tese kantiana da dubitabilidade dos universais f^ora respondidapor Arist�oteles e pelos es ol�asti os, atrav�es dos s�e ulos, pela teoria daabstra � ~ao, ujas demonstra� ~oes sintetizamos a seguir.A falsidade n~ao se d�a em si mesma, mas no ju��zo. A falsidade, ontudo, admite, de erto modo, graus. O verdadeiro prin ��pio �ultimouniversal e ne ess�ario da erteza natural �e a evid^en ia manifestadado obje to na mente; ou seja, a evid^en ia obje tivo-subje tiva. Aevid^en ia intr��nse a �e sempre ne ess�aria. Estas teses j�a foram devida-mente demonstradas em nossos livros.Finalmente: a ogni� ~ao obje tivo-metaf��si a �e poss��vel por abs-tra � ~ao formal, o que torna a Metaf��si a poss��vel omo i^en ia.A exist^en ia e o valor obje tivo da abstra � ~ao foram demonstradosvigorosamente e de modo apod��ti o pelos es ol�asti os.Provada essa tese, a Metaf��si a, omo i^en ia, ser�a poss��vel, e a tesekantiana ruir�a fragorosamente.H�a, ontudo, ertas di� uldades. Partindo-se da posi� ~ao empirista,

145ju��zos quanto a uma orrespond^en ia �a realidade fora de n�os. Foi ^ele,por sua vez, uma v��tima d^esse abstra tismo, mesmo quando o om-batia, porque n~ao se libertou da sua in u^en ia, e o seu riti ismo n~aofoi apaz de al an� ar a posi� ~ao on reta que s�o hoje o pensamentohumano est�a apto a obter. * * *Repetimos que se deve onsiderar Kant dentro de sua �epo a, soba in u^en ia da metaf��si a ra ionalista de ent~ao e ante a de ad^en iada es ol�asti a, que era evidente. Nessa fase do pro esso �los�o� o,ineg�avelmente poder-se-ia a�rmar sem re eio que a Filoso�a n~ao o-nhe ia progresso e que o pensamento humano havia, em suas espe- ula� ~oes, a��do numa esp�e ie de impasse, do qual n~ao podia livrar-se.A r��ti a de Hume tinha for� osamente de exer er grande in u^en ianum esp��rito de es ol omo o de Kant, que, embora in u��do por ^ele,teria mais dia menos dia de se libertar do famoso pensador ingl^es,sem deixar, ontudo, de pagar o tributo devido aos que nos libertamde uma posi� ~ao ou nos on edem uma autonomia que antes n~ao des-frut�avamos, permitindo-nos invadir novos terrenos inesperados. Ten-tando ombater as id�eias de seu libertador, Kant revela sempre a pro-funda in u^en ia que o pensamento de Hume exer eu s^obre ^ele, da qualjamais se libertou totalmente.Negava ^ele, e om erto fundamento (desde que nos oloquemosna posi� ~ao que julga que o modo ra ionalista de �losofar �e o �uni oque se emprega na Filoso�a) que possa haver progresso na Ci^en iase esta se fundar apenas em ju��zos anal��ti os. Nestes, o predi adonada a res enta de novo, mas apenas aponta o que j�a est�a ontidono onte�udo esquem�ati o do on eito-sujeito, omo exempli� a om oju��zo: o orpo �e extenso, ou A �e ne ess�ariamente A.J�a demonstramos que h�a ex esso na a�rmativa kantiana, porque aan�alise, omo temos mostrado, permite lareamentos, e tamb�em al- an� ar apof^anti amente (por ilumina� ~ao), aspe tos que idealmente se

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146 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANT onexionam, o que favore e a on re� ~ao sob bases seguras, bem omoexigir, para a plenitude de sua ompreens~ao, outros aspe tos ideais,que favore em a solidez do que �e examinado, omo se v^e em nossasan�alises, nas quais se notam omprova� ~oes, dadas pelo nexo da rea-lidade, su� ientes para dar obje tividade aos ju��zos onstru��dos, bem omo permitir a onstru � ~ao de ju��zos sint�eti os a priori, apod��ti os,virtualmente ontidos no on eito em exame.Tamb�em, para ^ele n~ao poderia haver progresso se a i^en ia se fun-dasse apenas em ju��zos sint�eti os a posteriori, porque, nestes, o tr^ansitoao predi ado do que n~ao est�a ontido no sujeito �e dependente subje -tivamente da experi^en ia ontingente, ujos exemplos s~ao \a pedraesquenta", \o sol ilumina", \A �e ontingentemente B". S�o pode haverprogresso quando somos apazes de realizar ju��zos sint�eti os a priori,nos quais, independentemente da experi^en ia, o tr^ansito se realiza aopredi ado que de nenhum modo est�a ontido no sujeito, omo \o solesquenta a pedra", em suma: \A �e ne ess�ariamente B".Que s~ao leg��timos tais ju��zos sint�eti os a priori na Matem�ati a ena F��si a, a eita-o Kant porque ambas se fundam nas formas purasda sensibilidade: o espa� o e o tempo. Mas a sua legitimidade naMetaf��si a n~ao tem tais fundamentos, porque os obje tos metaf��si ostrans endem a t^oda experi^en ia poss��vel, no sentido restrito que Kantd�a ao t^ermo experi^en ia2.2Quanto ao problema das i^en ias, Kant solu iona da seguinte maneira:A Matem�ati a �e poss��vel e pode onstruir ju��zos a priori, apod��ti amentev�alidos, porque a intui� ~ao do espa� o e do tempo �e a priori, s^obre os quais sefundamentam aqu^eles ju��zos, omo vimos.A F��si a �e poss��vel porque, fundada s^obre as ategorias da qualidade e da rela� ~ao,que s~ao din^ami as, pode impor leis est�aveis e ne ess�arias �a natureza sens��vel.A Metaf��si a, ao ontr�ario, n~ao �e poss��vel omo i^en ia obje tiva, porque teria defundar-se em ju��zos sint�eti os a priori, e ^estes, n~ao se fundando no fen^omeno,teriam de fundar-se no n�umeno, que �e intele tual e sens��velmente in ognos ��vel.Portanto, a Metaf��si a n~ao tem fundamentos obje tivos. V^e-se que Kant tinhauma vis~ao muito restri ta do que �e Metaf��si a.

147As suas on lus~oes, neste ponto, fundam-se nos seguintes postula-dos de sua doutrina:a) s�o por meio dos sentidos temos onta to om a realidade externa;b) o que imediatamente onhe emos �e um obje to interno (fen^omeno),em oposi� ~ao �a oisa em si (n�umeno); ) h�a uma distin� ~ao entre o intele to (entendimento = Verstand) om a sensibilidade (Aus hauung), porque aquele tem um papel a tivona onstitui� ~ao do obje to intelig��vel;d) a experi^en ia s�o nos d�a o que �e ontingente, e n~ao o que deve ser(sollen).Con lus~ao: o que �e dado pela nossa mente omo um, est�avel ene ess�ario, �e dado a priori; ou seja, ante edentemente �a experi^en ia.(Tal n~ao quer dizer que Kant n~ao soubesse que, psi ol�ogi amente, o on eito ou a id�eia de tempo e de espa� o n~ao tivessem origem numlongo pro esso da nossa mente. A�rmava apenas a sua aprioridadeem sentido l�ogi o. ^Este ponto, por�em, n~ao �e a eito por todos, e h�adiversas raz~oes ontr�arias a esta tese. Contudo, nas notas que �zemos�a tradu� ~ao da Cr��ti a da Raz~ao Pura, hamamos a aten� ~ao para aspassagens que vem em favor de uma ou outra posi� ~ao).A sensibilidade �e manifestamente passiva em rela� ~ao �a oisa emsi, e as sensa� ~oes s~ao formadas pelas formas puras da sensibilidade,o tempo e o espa� o, omo vimos. D^esse modo, as intui� ~oes sens��veispodem fundamentar ju��zos sint�eti os a posteriori, mas, por si s�os, n~aos~ao su� ientes para fundar ju��zos sint�eti os a priori, porque o obje tode tais ju��zos �e universal e ne ess�ario, o que �e apenas intelig��vel en~ao sens��vel. Essa inteligibilidade �e fundada s^obre formas a priori dointele to �as quais Kant hama de ategorias.

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152 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANTtemente, os on eitos n~ao se d~ao obje tivamente.Contudo, a imutabilidade dos on eitos, tomados formalmente, �eineg�avel, porque dois sempre foi e sempre ser�a dois.Kant �e um on eptualista moderno, pois a�rma ateg�ori amenteque os on eitos t^em sua sist^en ia total na mente humana, de ondeprov^em.Quanto a outros on eptualistas modernos, suas id�eias se onfun-dem om as dos nominalistas.Demonstrada a impro ed^en ia das posi� ~oes nominalistas, autom�ati- amente mostramos a impro ed^en ia da posi� ~ao fundamental de Kant.Teremos de demonstrar o seguinte:a) que os universais orrespondem �a representa� ~oes inten ionais( on eitos ou id�eias);b) uja sist^en ia n~ao �e meramente subje tiva, mas sim que pos-suem um valor om sist^en ia obje tiva, algo que est�a fora do sujeito ogitante e fora da a tividade ogitante.O universal subje tivamente tomado �e sempre singular.Vamos deixar de lado os exemplos que foram usados pelos �l�osofosmedievalistas, e vamos onsiderar apenas um bem moderno, bem danossa experi^en ia, que nos ofere er�a todos os elementos prin ipais deprova �a tese que por ora defendemos, a do realismo moderado, que onsiste em a�rmar que h�a uma sist^en ia obje tiva; fora da mente ogitante, para os universais.Um engenheiro re�une um grupo de t�e ni os para realizar um pro-jeto de onstru� ~ao de um autom�ovel de determinado tipo, tipo Z. Oexemplo �e pou o urial na �loso�a, mas sua familiaridade favore er�a demodo pleno a onse u� ~ao do �m que pretendemos al an� ar. Esbo� a-seo proje to. Aprovado, fazem-se os �al ulos de onstru � ~ao, es olhe-seo material a ser empregado. Equipes espe iais estudam os pormeno-9.1. A INDUBITABILIDADE DOS UNIVERSAIS 149todo onhe imento tem sua origem ou o seu in�� io nos sentidos. Ora,tal tese �e a arinhada pela es ol�asti a, sobretudo pelos tomistas e pelosque seguem a linha aristot�eli a. E ^esse problema se justi� a, porque aMetaf��si a dedi a-se tamb�em ao estudo de entidades que es apam aosmeios ognos itivos de origem meramente sens��vel, j�a que Deus, paraexempli� ar, n~ao pode ser um obje to sens��vel nem experiment�aveldo modo omo Kant entende experi^en ia. Se Deus f^osse um obje todessa experi^en ia n~ao seria Deus, e demonstrar a sua exist^en ia omoum fen^omeno, ou seja, omo um obje to da intui� ~ao sens��vel, n~ao seriademonstrar Deus, mas uma entidade meramente sens��vel. Pedir, pois,para Deus tal esp�e ie de prova �e exigir o imposs��vel, porque, omoser espiritual, a prova experimental �e simplesmente absurda. Absurdaera, por exemplo, o argumento apof�ati o (negativo) daquele irurgi~aofran ^es que, para provar a inexist^en ia da alma, dizia n~ao ha-v^e-lajamais en ontrado na ponta do seu bisturi, omo se a alma f^osse umser extenso, material, que um bisturi pudesse to ar, ortar.A Metaf��si a, omo a de�nia Arist�oteles, �e a i^en ia que espe ulas^obre o ente enquanto ente, e o que de orre d^este. A Metaf��si a,portanto, pode ser geral (a Ontologia), quando examina o ser pre isa-mente imaterial, e �e espe ial quando espe ula s^obre um ser positiva-mente imaterial, omo Deus (Teologia).A Metaf��si a �e, para a es ol�asti a, a i^en ia que perten e ao ter eirograu da abstra � ~ao.A abstra � ~ao pode dar-se s^obre aspe tos da mat�eria que n~ao podemser on ebidos omo independentes desta, omo a abstra � ~ao que sefaz da ^or de um p^essego. �E a abstra � ~ao de primeiro grau.Da mat�eria, pode-se, ainda, abstrair a quantidade (n�umero, �gura),abstra��da ainda da sua exist^en ia, omo a linha, o ponto, et . �E aabstra � ~ao de segundo grau.Pode-se ainda abstrair totalmente da mat�eria o ser, o existir, a lei, aforma, et . Tais s^eres podem ser on ebidos sem mat�eria, e onsider�a-

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150 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANTlos omo sendo independentemente de t^oda mat�eria. Essa abstra � ~ao�e a que se hama metaf��si a, ou a de ter eiro grau.Assim, de Jo~ao, abstraio homem, de homem posso abstrair a id�eiaanimal, e, desta, vivente e, desta, ente. De homem, posso ainda ons-truir uma abstra � ~ao humanidade. Reversivamente, temos: ente, hu-manidade, vivente, animal, homem, Jo~ao.Ora, as abstra � ~oes que trans endem a experi^en ia s~ao, por isso, hamadas de metaf��si as, no sentido que sempre se deu ao t^ermo me-taf��si a.Ante elas, foram tomadas as seguintes posi� ~oes:Os materialistas a�rmaram que fora da mat�eria nada h�a. Ora, taisobje tos da Metaf��si a, por serem imateriais, nada s~ao ou s~ao apenasnada.Kant nega realidade ao obje to da Metaf��si a (entes imateriais). O�uni o obje to real para ^ele �e o fen^omeno sens��vel, o qual, por sua vez,por fundamentar-se apenas subje tivamente, �e sem fundamento real.D^este modo, os obje tos metaf��si os s~ao puro v�a uo, inanidade, ilus~ao.Para os positivistas, o obje to metaf��si o �e in ognos ��vel. S�o pode-mos onhe er omo ertos os fen^omenos sens��veis, e o que os trans endes~ao enigmas insol�uveis.S~ao advers�arios, portanto, da Metaf��si a os que negam uma reali-dade obje tiva aos obje tos metaf��si os. Quanto aos que julgam que �eela apenas onstru � ~ao fala iosa de � � ~oes para expli ar os fa tos oupara expli ar o que se des onhe e, tal n~ao �e a que desejamos defenderneste nosso trabalho.Para se demonstrar a validez da Metaf��si a omo i^en ia, abe pro-var, portanto, o seguinte:a) que os obje tos metaf��si os s~ao verdadeiramente obje tivos;b) que os obje tos metaf��si os trans endem �a experi^en ia poss��vel.9.1. A INDUBITABILIDADE DOS UNIVERSAIS 151A prova de que os obje tos metaf��si os s~ao verdadeiramente obje -tivos depender�a da prova da obje tividade dos on eitos universais.A obje tividade de um universal onsiste em ser independente tantodo sujeito ognos ente omo da a tividade ognos itiva, ter seu valorin re, ser om fundamento in re, um fundamento extra-mentis (forada mente humana), que �e o seu valor obje tivo. Subje tivamente ouformalmente, o on eito �e o a to mental que a identalmente modi� ao sujeito, e que �e t^ermo da opera� ~ao ognos itiva.Em fa e do valor obje tivo dos on eitos universais, as posi� ~oes quenegam a sua validez s~ao as seguintes:Nominalistas r��gidos, que negam se d^e a representa� ~ao universal,quer de ordem sens��vel (imagem), quer de ordem supra-sens��vel (aid�eia). Negam a obje tividade total dos universais. Os on eitos s~aomeros atus vo es. Tais foram os so�stas, os epi �urios e os est�oi os daantiguidade e Ros ellinus, na Idade M�edia, et .Nominalistas mitigados: a�rmam ^estes que se d~ao representa� ~oesde algum modo universais, mas reduzem-se apenas a imagens, e muitopou o a id�eias.Temos entre ^estes os empiristas, os positivistas, os sensualistas, eentre ^eles, Hume, Berkeley, Stuart Mill, Bergson, Wundt, H~o�ding,Taine, Ribot, et .Con eptualistas. Dentro da heterogeneidade das posi� ~oes, podemossalientar os anti-realistas metaf��si os, os idealistas, os agnosti istasmetaf��si os e, espe ialmente, Kant, que �e obje to de nosso exame.O on eptualismo �e uma doutrina subje tivista. Admite que o on eito �e universalmente v�alido, mas nega qualquer elemento ujasist^en ia esteja fora da mente humana. E o universal uma onstru� ~aosubje tiva, por�em v�alida, mas uja sist^en ia est�a apenas na mente( omo Kant), ou omo O kam, que a�rma que os on eitos s~ao sinais,mas naturais, n~ao meramente arbitr�arios. Os on eitos apare em paran�os omo imut�aveis, mas fora de Deus nada h�a imut�avel; onseq�uen-

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156 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANTtum que os representa. A argumenta� ~ao pode favore er a posi� ~ao daCi^en ia, porque esta trabalha om os hamados on eitos on retos.Mas, a Metaf��si a trabalha om on eitos, que s~ao produtos de abs-tra � ~oes de ter eiro grau. E sem que provemos a obje tividade d^este,a tese kantiana ser�a, pelo menos, par ialmente verdadeira, no to antea ^este ponto.Fa� amos, pois, a resposta �a pergunta e ofere� amos uma solu� ~ao �adi� uldade. Provado, omo � ou que h�a no on eito aliquid aliud,algo outro que a mera subje tividade, e que esta, inten ionalmente,aponta para algo que se d�a fundamentalmente na oisa, provamos queh�a um valor obje tivo, uma sist^en ia extra mentis, que tal sist^en iaindepende da pr�opria on ep� ~ao ( on eito). Podem, portanto, ser ^elesapli ados a oisas outras, as quais des onhe emos, omo veremos.

9.1. A INDUBITABILIDADE DOS UNIVERSAIS 153res da fabri a� ~ao das pe� as diversas, que dever~ao obede er �a formaestatu��da no proje to. Ini ia-se, a�nal, a onstru� ~ao e o a abamento,e milhares de autos tipo Z a ham-se prontos, iguais uns aos outros,para seguirem para o mer ado de autom�oveis3.Podemos distinguir em tudo isso o seguinte:1) a id�eia primeira do auto tipo Z, elaborada pelo seu riador:2) o esb^o� o �gurativo do mesmo;3) o esb^o� o que esquematiza a propor ionalidade das partes om-ponentes do mesmo;4) a mat�eria es olhida para as diversas partes;5) a modela� ~ao da mesma, segundo os esquemas tra� ados; ou seja,de modo a ada parte orresponder fun ionalmente ao inter^esseda totalidade;6) a integra� ~ao total, �nal, que realiza o a abamento.Estamos agora em fa e dos milhares de autos tipo Z. Cada um �euma singularidade, uma totalidade singular. A mat�eria, que omp~oe3O exemplo, que damos, �e on reto, e o aproveitamos da experi^en ia do homemmoderno. Ser�a para muitos, a ostumados �a linguagem abstra ta da Filoso�a, umtanto rude, grosseiro. Contudo justi� amos a sua es olha pelas raz~oes seguintes:a) O referido exemplo �e de f�a il fundamento na experimenta� ~ao humana;b) possui todos os requisitos em favor da tese que defendemos; ) fa ilita a melhor ompreens~ao por parte de um esp��rito menos avezado �alinguagem abstra ta da Filoso�a;d) ont�em t^oda a validez desejada;e) embora grosseiro, dadas as ondi� ~oes que ofere e e a �nalidade que nos orienta,est�a justi� ado;f) ademais, a prefer^en ia aos on eitos abstra tos de orre do h�abito �los�o� o deusar on eitos de m�axima abstra � ~ao, o que provo a em muitos ertas di� uldades,o que justi� a o exemplo es olhido, pela intuitividade que ofere e.

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154 CAP�ITULO 9. CR�ITICA �A POSIC� ~AO DE KANT ada um, �e num�eri amente outra que a de outro qualquer. Contudo,h�a entre ^eles algo que t^em em omum: a mesma forma, a mesma fun- ionalidade, a mesma propor ionalidade das partes, segundo a normalda totalidade.Os t^ermos verbais auto tipo Z s~ao apenas um atus vo is? Palavrasvazias, sem qualquer refer^en ia a um onte�udo on eitual, omo oquerem os nominalistas r��gidos? N~ao apontam as palavras auto tipoZ alguma oisa outra (�aliquid aliud) do que o que �e representado namente?�E apenas uma imagem sensitiva?�E apenas a ombina� ~ao de imagens dos diversos autos tipo Z sin-gulares que se a ham a��?N~ao tem o auto tipo Z uma sist^en ia fora da nossa mente, em adaum dos autos singulares?T^odas essas perguntas re ebem respostas f�a eis. E em defesa dasrespostas, podemos argumentar da seguinte maneira:a) n~ao �e o auto tipo Z uma imagem singular, porque pode repre-sentar muitos autos, A, B, C, D . . . A imagem s�o pode representar asingularidade, a d^este auto tipo Z aqui, o ter eiro a ontar da direita;b) n~ao �e uma omposi� ~ao de imagens singulares ( ombinatio ou ompositium imaginum), porque tal omposi� ~ao seria algo utuante eindeterminado. Ora, o que se d�a na mente �e algo �xo e determinado. �Edistinta, pois, a imagem de um auto tipo Z de a id�eia de um auto tipoZ. Uma ombina� ~ao n~ao representaria pr�opriamente o que represen-tam exa t��ssimamente pela id�eia, que representa algo. Assim, tanto onominalismo r��gido omo o nominalismo mitigado est~ao refutados. ) N~ao sendo uma imagem singular, nem uma ombina� ~ao de ima-gens, �e um on eito universal, pois n~ao signi� a apenas um auto tipoZ singular, mas muitos, todos os autos tipo Z, que s~ao tal, segundo amesma raz~ao (se undum eamdem rationem), tanto A, B, C, D, et .

9.1. A INDUBITABILIDADE DOS UNIVERSAIS 155Como seria poss��vel a i^en ia sem tais on eitos?d) O on eito auto tipo Z �e predi ado un��vo amente por identidadede muitos singulares. Ora, o que se predi a un��vo amente de muitosn~ao �e um simples nome, n~ao �e apenas um on eito subje tivo; ou seja,de sist^en ia meramente subje tiva, porque auto tipo Z n~ao �e algo que�e auto tipo Z apenas na mente, porque em ada um, singularmente,h�a o que n^ele o torna tal e que se repete em ada um. Nem �e apenasuma ole� ~ao de singularidades.O que faz que ^este seja auto tipo Z e aqu^ele tamb�em, e tamb�emaqu^ele outro, e todos, �e algo real em ada, �e algo que tem sist^en iaobje tiva em ada um. ^Este autom�ovel �e um auto tipo Z, ^este outrotamb�em �e, e aqu^ele, e aqu^ele outro . . .N~ao �e um on eito subje tivo porque ^este auto tipo Z n~ao �e a minhaid�eia subje tiva de auto tipo Z.H�a algo que tem natureza real, que tem uma sist^en ia neste, naquelee naquele outro, e o que h�a em ada um d^eles �e o elemento ontol�ogi o,que orresponde ao on eito universal. H�a, em ada um, e em todos,portanto, uma lei, um logos de propor ionalidade intr��nse a, que osfaz serem auto tipo Z.O on eptualismo de Kant �e insu� iente, portanto, porque a�rmaque o on eito universal tem sua sist^en ia apenas na mente, o que apr�opria experi^en ia destr�oi.O on eito universal, que �e um em n�os, aponta inten ionalmente(intentionaliter) ao que h�a fundamentaliter, fundamentalmente na oisa.F��si amente e in re, o que h�a na oisa �e um, mas, formalmente( omo lei, logos de propor ionalidade intr��nse a), est�a em muitos.A di� uldade, que se poderia propor aqui, �e apenas a seguinte:O exemplo apontado refere-se a um on eito on reto, omo o s~aoo de Homem, Mesa, C~ao, Pedra, aos quais orrespondem um subje -

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160 CAP�ITULO 10. VALIDEZ DA METAF�ISICA GERALH�a de haver, portanto, um perfeito existente, uja erteza e apodi-ti idade �e o fundamento esquem�ati o de t^odas as provas da exist^en iade um Ser Supremo, primeiro, fonte e origem de todos os outros.Nosso onhe imento das oisas �e dependente de nossa natureza.Sabemos que nosso onhe imento �e adequado �a nossa natureza. Co-nhe emos, propor ionadamente �a nossa apa idade ognos itiva.O prin ipal valor da on ep� ~ao kantiana est�a em a�rmar que nosso onhe imento �e propor ionado �a nossa esquem�ati a. Nosso onhe- imento n~ao �e exaustivo, mas, embora total, �e apenas relativo aosesquemas que podemos a omodar para a assimila� ~ao que lhes ser�apropor ionada. Contudo, sabemos quais os nossos limites. Al an� aro limite j�a �e ultrapass�a-lo, porque ao sabermos at�e onde podemos onhe er, sabemos que algo outro (aliquid aliud) h�a al�em de nosso o-nhe imento, que n~ao �e um puro nada. Sua obje tividade �e evidente. E�e evidente, ainda, que n�os podemos onstruir on eitos que se referem�as perfei� ~oes puras, das quais parti ipam os s^eres da nossa experi^en ia.Tais on eitos referem-se ao que es apa �a nossa experi^en ia, mas s~aov�alidos porque os limites desta a�rmam, apontam a sist^en ia obje tivados mesmos.Do que h�a de imperfeito nas oisas podemos as ender, por abs-tra � ~ao, �as perfei� ~oes, sem que delas tenhamos uma intui� ~ao sens��vel,mas apenas podemos al an� �a-las atrav�es de opera� ~oes do nosso enten-dimento.Tais on eitos s~ao tamb�em atribu��veis �as oisas da nossa experi^en ia,n~ao, por�em, un��vo a, nem equ��vo amente, mas anal�ogi amente.Se se desse a univo idade, o Ser Supremo e as oisas seriam omesmo, e air��amos no antropomor�smo, ou no pante��smo.Se se desse a equivo idade, o Ser Supremo permane eria des onhe- ido totalmente e air��amos no agnosti ismo.Portanto, s�o resta a ogni� ~ao anal�ogi a.

Cap��tulo 10

Validez da metaf��si a geral(ontologia)A forma, que h�a nas oisas, omo vimos no exemplo que itamos, n~ao�e uma imagem (subje tiva), n~ao �e um obje to mera e simplesmente daexperi^en ia, pois ultrapassa de erto modo a esta. Ora, tal demonstra,de�nitivamente, que a ogni� ~ao obje tivo-metaf��si a �e poss��vel.Para que a Metaf��si a seja poss��vel, temos de mostrar a validez ob-je tiva, a sist^en ia extra mentis, o fundamento sisten ial dos on eitosuniversais e dos ju��zos universais. Dos on eitos, a prova j�a apresen-tamos. Resta, agora, mostrar a dos ju��zos universais.Os ju��zos metaf��si os surgem das ompara� ~oes realizadas entre os on eitos abstra tos.Os on eitos abstra tos de primeiro grau, omo vimos, s~ao os quese realizam atrav�es de uma abstra � ~ao total. ^Estes, por�em, n~ao trans- endem a experi^en ia poss��vel.Por essa abstra � ~ao, al an� amos os hamados on eitos on retos, omo homem, triangular, et . 157

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158 CAP�ITULO 10. VALIDEZ DA METAF�ISICA GERAL^Estes on eitos se referem a algo que tem uma mat�eria, um sub-je tum material, e que, portanto, n~ao trans endem a experi^en ia, em-bora n~ao sejam imagens experimentais, mas referem-se a oisas expe-riment�aveis. Embora tais on eitos, tomados em si, sejam imateriais,porque, do ontr�ario, se singularizariam num singular e n~ao poderiamrepetir-se em muitos, n~ao trans endem a experi^en ia. N~ao s~ao, pois,trans endentais.Contudo, h�a on eitos que trans endem a experi^en ia, omo os on- eitos de humanidade, sapi^en ia, triangularidade, eternidade, ausali-dade, et ., os quais n~ao t^em um subje tum material que os represente.Para al an� �a-los, �e ne ess�ario n~ao a abstra � ~ao total, mas uma abs-tra � ~ao formal. N~ao se referem ^eles a nenhum grau de materialidade.Poder-se-ia obje tar que s~ao tais abstra � ~oes puras � � ~oes, mas aobje � ~ao seria impro edente, porque n~ao podemos re usar-lhes umasist^en ia, omo veremos ainda.Ao ompararmos tais formas entre si, podemos predi ar algumaforma, dizer que um ou outro predi ado lhes onv�em. Assim, pode-mos onsiderar o ser enquanto ser, enquanto forma pura, ex luindoabsolutamente o n~ao-ser.Tais ju��zos trans endem a t^oda experi^en ia.Tais obje tos, pre isivamente metaf��si os, t^em uma sist^en ia, o quedemonstra que a ogni� ~ao metaf��si a, atrav�es de abstra � ~oes formais,�e poss��vel.Cabe-nos provar a obje tividade de tais abstra � ~oes, a sist^en ia detais abstra � ~oes. Tomemos o on eito onting^en ia. ^Este impli a o\ter ausa e� iente". Todo ser que tem ausa e� iente �e ontingentee a experi^en ia o omprova.Tomemos o exemplo de um on eito que aponta a uma perfei� ~aopura omo o de sapi^en ia. Sapi^en ia �e apenas sapi^en ia, sem mes lade qualquer outra oisa que n~ao seja sapi^en ia. A sapi^en ia �e in�nita-10.1. VALIDEZ DA METAF�ISICA ESPECIAL 159mente sapi^en ia, perfeit��ssimamente sapi^en ia. Contudo, nos homens,observam-se graus de sapi^en ia, mais ou menos). Como se poderia ob-servar ^esse mais ou menos de sapi^en ia de que os homens parti ipam,se sapi^en ia f^osse um mero nada? H�a, pois, uma sapi^en ia m�axima,sistente, n~ao aqui ou ali, mas da qual parti ipam todos os que t^emsapi^en ia e que n~ao s~ao sapi^en ia. Tais perfei� ~oes n~ao s~ao de nenhumser �nito, assim omo Jo~ao, que �e homem, n~ao �e humanidade, mastem humanidade, ou seja, parti ipa dela. ^Este tri^angulo �e triangular,n~ao �e, por�em, a triangularidade, apenas a tem. Essas perfei� ~oes s~aodo haver e n~ao do ser das oisas �nitas, ou melhor, seu ser parti ipadessa perfei� ~ao.

10.1 Validez da metaf��si a espe ialA sist^en ia obje tiva dos universais, que trans endem �a experi^en iaposs��vel, est�a demonstrada. Resta provar a sist^en ia obje tiva de er-tos universais, que onstituem o obje to da metaf��si a espe ial.O Ser Supremo �e um d^esses on eitos. N�os somos apazes de ons-truir, por abstra � ~ao formal, on eitos universais, que t^em sist^en iaobje tiva fora de n�os, omo j�a vimos. E entre ^esses, o das perfei� ~oessimples. Assim, da mutabilidade e da onting^en ia dos seres �nitos,que n~ao t^em em si mesmos sua raz~ao de ser, al an� amos a onting^en iado mundo, do osmos, que �e a totalidade oordenada dos s^eres �nitos,dos que n~ao t^em em si sua raz~ao de ser. Tais entes t^em uma ausa. Setodos os entes f^ossem ausados n~ao haveria a origem da pr�opria ausa.Ou teriam em si mesmos a sua ausa (e existiriam antes de existir, oque �e absurdo), ou a re eberiam de outros, que, ausados por outros,teriam, fatalmente, ne ess�ariamente, de ter uma ausa primeira; aso ontr�ario, air��amos ou no ��r ulo vi ioso ou na nega� ~ao da pr�opria ausa, porque ada um daria o ser a outro sem o ter, pois re ebendoum o ser de outro, um h�a de ser o primeiro.

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164 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASa mesma solidez, absolutamente n~ao �e verdade. Realmente, algumasaparentam maior soma de evid^en ia. As antinomias kantianas s~ao ar-ti� iosamente onstru��das e apenas de validez aparente. Entre duas ontradit�orias, uma �e ne ess�ariamente falsa, e nun a ambas evidente-mente verdadeiras.3) As in oer^en ias assinaladas no sistema kantiano podem ser or-rigidas. Conseq�uentemente, tais in oer^en ias n~ao podem refutar ^essesistema.Resposta: As in oer^en ias a identais podem ser orrigidas, masque as substan iais e fundamentais possam ser orrigidas s�o o ser~ao ontra a sua doutrina, impedindo inelut�avelmente de onserv�a-la omoverdadeira.11.1 Justi� a� ~ao dos prin ��piosSegundo a posi� ~ao l�assi a da �loso�a aristot�eli o-es ol�asti a, quandon~ao se disp~oe de uma evid^en ia imediata do ser, resta-nos a esperan� ade nos servirmos de uma evid^en ia mediata, que �e o ra io ��nio. Ora, ora io ��nio exige, na l�ogi a aristot�eli a, pelo menos uma premissa geral,pois n~ao �e poss��vel de duas parti ulares on luir v�alidamente. O velhoaforismo \Nil sequitur geminis ex parti ularibus umquam" �e uma dasregras fundamentais do silogismo.Como os ju��zos de ons i^en ia s~ao sempre ju��zos s^obre fa tos par-ti ulares, n~ao podem ^eles servir de premissas gerais. Imp~oem-se, por-tanto, para uma boa on lus~ao, premissas gerais, e a pergunta quelogo surge �e a de omo �e poss��vel al an� �a-las, j�a que todo ju��zo de ons i^en ia �e parti ular, e a experi^en ia �e sempre parti ular. Sem hegar-se a este ponto, e justi� �a-lo, ompreende-se que �e um pro-blema obter e fundamentar prin ��pios universais.Sabemos que a indu � ~ao pressup~oe tamb�em um ju��zo geral omo

10.1. VALIDEZ DA METAF�ISICA ESPECIAL 161* * *1) Um dos pressupostos falsos da doutrina kantiana est�a em onsi-derar que, por n~ao onhe ermos exaustivamente os fa tos reais, nada onhe emos deles. Ora, sabemos pela experi^en ia que, por des onhe- ermos o que � a al�em do nosso onhe imento, o que onhe emos deuma oisa n~ao �e falso por ser in ompleto. N�os mesmos nos onhe emos�a propor� ~ao que os anos su edem e su edem as nossas experi^en ias.Tal n~ao quer dizer que tudo quanto onhe emos de n�os, porque n~ao onhe emos exaustivamente a n�os mesmos, seja, por isso, falso.2) Outro pressuposto falso de Kant onsiste na distin� ~ao que fazdos ju��zos sint�eti os a priori e dos ju��zos anal��ti os. N~ao h�a apenas asduas ondi� ~oes.a) ou o predi ado j�a est�a ontido no sujeito, oub) o predi ado, de nenhum modo, est�a ontido no sujeito.H�a uma ter eira ondi� ~ao que Kant esque eu: ) o predi ado pode estar ontido virtualmente no sujeito.Essa virtualidade n~ao �e apenas a que perten e �a iman^en ia on ei-tual do sujeito, mas a que est�a orrela ionada ao mesmo, e tamb�emaos ju��zos quando omparados, omo vemos pela dial�e ti a on reta. �Epre isamente esta ter eira ondi� ~ao que �e o fundamento dessa dial�e tiea,e permite ompreender a ilumina� ~ao apof^anti a, que pode surgir pelaan�alise dial�e ti a, omo a entendemos e realizamos.A doutrina kantiana, por n~ao ter onsiderado este ponto, �e irre-medi�avelmente falsa e refutada in limine. Consideramos esta ondi� ~aoa mais importante.3) O ter eiro pressuposto falso de Kant onsiste em onsiderar quea experi^en ia se d�a apenas om os fa tos meramente ontingentes, ounos fa tos meramente ontingentes, porque aqui tamb�em se d�a umater eira hip�otese n~ao onsiderada pelo �l�osofo de Koenigsberg: a da

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162 CAP�ITULO 10. VALIDEZ DA METAF�ISICA GERALexperi^en ia s^obre entes n~ao meramente ontingentes.

Cap��tulo 11

Obje � ~oes kantianas e respostas orrespondentes

Damos algumas das famosas obje � ~oes apresentadas por Kant e peloskantianos �a Metaf��si a, a ompanhadas das respe tivas respostas.1) �E l�� ito duvidar met�odi amente da possibilidade de uma i^en iana qual n~ao h�a nenhum onsenso universal. Ora, a Metaf��si a revelan~ao haver nela nenhum onsenso universal, em fa e da variedade deopini~oes, muitas v^ezes ontr�arias que nela se revelam. Conseq�uente-mente, �e l�� ito duvidar da possibilidade da Metaf��si a.Resposta: A maior seria v�alida se o onsenso exigido n~ao se dessequanto ao seu obje to nem quanto aos seus primeiros prin ��pios. Ora,tal n~ao se d�a quanto �a Metaf��si a. Pode n~ao haver onsenso universalquanto a todos, n~ao, por�em, quanto a alguns prin ��pios e on lus~oesfundamentais.2) Na Metaf��si a s~ao demonstradas proposi� ~oes que s~ao simult^anea-mente ontradit�orias e antin^omi as.Resposta: Que possuam as proposi� ~oes ontradit�orias e antin^omi as

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168 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDAS ontradi� ~ao limitaria a omnipot^en ia divina, �e impro edente, porqueo nada absolutamente n~ao limita de modo algum, e n~ao poder Deus riar um nada absolutamente n~ao �e de� i^en ia de qualquer esp�e ie.A in ompatibilidade h�a entre a q�uididade de ente e a de n~ao-ser.Se essa q�uididade se realizou alguma vez, n~ao se pode admitir que n~aose realizou; se em alguma parte um ente existe realmente, n~ao se podeadmitir que n~ao exista ao mesmo tempo. Ora, a experi^en ia nos mos-tra que algo existe, e o prova de modo imediato. Conseq�uentemente,o prin ��pio de ontradi� ~ao tem absoluta validez ontol�ogi a1.

11.2 Quadro ombinado das formas puras doju��zo e das ategorias, segundo KantI - Quantidade dos ju��zosJu��zos universais ( ategoria: Unidade)Ju��zos parti ulares ( ategoria: Pluralidade)Ju��zos singulares ( ategoria: Totalidade)II - Qualidade dos ju��zosJu��zos a�rmativos ( ategoria: Realidade)Ju��zos negativos ( ategoria: Nega� ~ao)Ju��zos inde�nidos ( ategoria: Limita� ~ao)III - Rela� ~ao expressa nos ju��zos1O prin ��pio de ontradi� ~ao imp~oe-se por a laramento da an�alise e das im-pli ^an ias que provo am o ju��zo \alguma oisa h�a", e a validez desse prin ��pio �een ontrada atrav�es dessa mesma an�alise. N~ao parte d^ele a Filoso�a Con reta paraprovar as suas teses fundamentais, mas surge ele por de orr^en ia inevit�avel do que�e apod��ti amente demonstrado.

11.1. JUSTIFICAC� ~AO DOS PRINC�IPIOS 165prin ��pio fundamental, sem o qual, fundando-se apenas no parti ular,n~ao poder�a existir uma regra geral, sen~ao prov�avel. Para se dar, por-tanto, um progresso no onhe imento �e mister que se d^eem proposi� ~oesgerais imediatamente intelig��veis, as quais os es ol�asti os hamavam\prin ��pios".�E mister, portanto, saber o que nos poder�a dar ou forne er ju��zosimediatos.Para responder a esta pergunta, argumentam do seguinte modo oses ol�asti os de todos os tempos: h�a um prin ��pio, que �e hamado oprimeiro prin ��pio, o de ontradi� ~ao, que se pode formular pelo enun i-ado aristot�eli o: \�E imposs��vel que o mesmo onvenha e n~ao onvenhaao mesmo, ao mesmo tempo, e sob o mesmo aspe to." N~ao se entendepor \mesmo" o mesmo predi ado l�ogi o, que n~ao pode ser a�rmado enegado ao mesmo tempo do mesmo sujeito l�ogi o, mas omo a mesmapropriedade ou determina� ~ao real, que n~ao pode onvir e n~ao onvirao mesmo tempo ao mesmo obje to real. O prin ��pio de ontradi� ~aoaristot�eli o �e antes de ser l�ogi o um prin ��pio ontol�ogi o; ou seja, n~ao�e apenas um prin ��pio de pensar l�ogi o. Sabemos que, pela l�ogi a aris-tot�eli a, dois ju��zos ontradit�orios n~ao podem ser ambos verdadeiros,porque n~ao pode o mesmo obje to, ao mesmo tempo, ser e n~ao ser.Contudo, �e pre iso n~ao esque er que ^este prin ��pio ompreende duaslimita� ~oes que s~ao: \ao mesmo tempo" e \sob o mesmo aspe to", por-que em distinto tempo, e em distinto aspe to, o mesmo pode ser epode n~ao ser. Assim o n�umero 200 �e grande e n~ao grande. Grandequando se ompara a 10 e n~ao grande se �e omparado a 5.000.Kant opunha-se ao empr^ego da express~ao \ao mesmo tempo", por-que limitava o prin ��pio �as rela� ~oes temporais. Respondem os es- ol�asti os modernos que essa anota� ~ao �e impro edente, porque o prin ��-pio de ontradi� ~ao tamb�em se estende ao temporal, pois sem essa ex-press~ao seria v�alido apenas para o eterno e intemporal, omo surge naenun ia� ~ao de Parm^enides.

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166 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASOutros es ol�asti os modernos substituem o enun iado a ima peloseguinte: \o que �e, enquanto �e, n~ao pode n~ao ser", pois a express~ao\enquanto �e" ompreende \no tempo em que �e".Contudo, o prin ��pio de ontradi� ~ao teve seus obje tores que apre-sentaram raz~oes fr�ageis, quase sempre provenientes do des onhe i-mento laro do seu enun iado, e por n~ao terem devidamente ompre-endido o seu al an e. Na verdade, nenhuma obje � ~ao s�eria foi apresen-tada em qualquer tempo, a n~ao ser ontra a f�ormula de Parm^enides,que diz: \o ente �e, e �e imposs��vel que n~ao seja", que leva a postulara absoluta ne essidade do ser, e a a�rmar a imutabilidade, a inva-riabilidade e a uni idade do ente, o que desembo a, fatalmente, no\pante��smo".Stuart Mill onsidera o prin ��pio de ontradi� ~ao \ omo uma dasgeneraliza� ~oes mais primitivas e �obvias, fundadas na experi^en ia",reduzindo-o a uma ne essidade psi ol�ogi a, que nos obriga a gene-ralizar ertos \fa tos". P~oem em d�uvida alguns autores modernos ovalor ontol�ogi o d^esse prin ��pio. �E verdade que muitos argumentam om o devir, seguindo a linha de Her�a lito, mas ^esse argumento podevaler para o enun iado de Parm^enides, n~ao para o de Arist�oteles.O on eito de ser e o de n~ao-ser s~ao in ompat��veis, pois um ex- lui, l�ogi amente, o outro. Contudo, deve-se notar que o on eito de\n~ao" �e intuitivo e laro, e indi a a re usa, a pro lama� ~ao da aus^en ia.Considerando-se assim o ser, poder-se-ia dar ao lado do n~ao-ser, por-que ^este indi a apenas a falta de ser. N~ao se de�ne o n~ao ser omo in- ompat��vel ao ser, pois pode-se admitir a falta de um ente sem nega� ~aodo ser, omo a a�rma� ~ao de ser n~ao impli a a nega� ~ao do ser, a faltade um ser. Deve-se ompreender que o prin ��pio de ontradi� ~ao refere-se mais ao ente, que, pr�opriamente, ao on eito de ser. Se aqu^eles seex luem, tamb�em se ex lui a a�rma� ~ao de ente e, simult^aneamente, don~ao-ente, pois n~ao se pode predi ar ambos a mesma oisa e ao mesmotempo e sob o mesmo aspe to, porque o ente, enquanto ente, �e ente en~ao n~ao-ente. O on eito de ser �e originalmente um on eito positivo11.1. JUSTIFICAC� ~AO DOS PRINC�IPIOS 167e seu enun iado n~ao diz oposi� ~ao ao n~ao-ser, nem ^este se de�ne pelain ompatibilidade ao ser, pois, origin�ariamente, s�o diz falta de ser.N~ao se pode dizer todo ente n~ao pode n~ao ser, mas sim que, en-quanto �e, n~ao pode n~ao-ser, segundo o enun iado de Arist�oteles.D^este modo, a oposi� ~ao entre um ente e o n~ao-ser n~ao �e ne ess�aria-mente uma oposi� ~ao ontradit�oria formal, mas �e ogit�avel e poss��vel,e a �uni a oposi� ~ao que h�a na linguagem es ol�asti a �e a ontradit�oriamaterial, a que se d�a entre o subje tum habens formam e a formaoposta.Contradi� ~ao haveria entre os ju��zos \um ser h�a" e \nenhum ser h�a",entre os ju��zos fundamentais da Filoso�a Con reta \Alguma oisa h�a"e \Nenhuma oisa h�a", n~ao, por�em, entre \alguma oisa h�a" e \alguma oisa n~ao h�a", pois s~ao parti ulares e ambos podem ser verdadeiros.Cabe aqui uma ressalva: o ju��zo parti ular \alguma oisa n~ao h�a"�e tomado parti ularmente; se tomado universalmente, no sentido dedizer \n~ao h�a alguma oisa", omo querendo dizer \ oisa nenhumah�a", deixaria de ser parti ular para ser um universal negativo, e neste aso seria ontradit�orio ao \alguma oisa h�a".Alegam alguns es ol�asti os que o prin ��pio de ontradi� ~ao vale por-que Deus o quer, pois se quisesse o ontr�ario poderia ^ele sofrer res-tri � ~oes. Neste aso, n~ao teria ^ele o valor ontol�ogi o ne ess�ario que selhe d�a, e que, na verdade, tem. N�os, por�em, onsideramos o prin ��piode ontradi� ~ao, omo o �zemos em \Filoso�a Con reta", pela rela� ~aoopositiva de priva� ~ao e posse. A a�rma� ~ao indi a a posse, e a nega� ~ao apriva� ~ao. Quando se atribui um predi ado ao ser, atribui-se a presen� ado mesmo; quando se nega, re usa-se a presen� a, a�rma-se a priva� ~aodo mesmo no mesmo. Ora, olo ado o prin ��pio de ontradi� ~ao d^estemodo, se a ontradi� ~ao f^osse ontol�ogi amente poss��vel, a�rmar-se-iao nada absoluto, porque a�rmar a priva� ~ao �e a�rmar absolutamentea n~ao presen� a de qualquer predi ado, o nada absoluto. Portanto, a�uni a restri� ~ao que alguns es ol�asti os �zeram de que o prin ��pio de

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172 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDAS ompara� ~ao de on eitos s~ao anal��ti os, e ^estes s~ao os \a priori"; todosos ju��zos sint�eti os s~ao prin ��pios experimentais, s~ao \a posteriori";neste aso n~ao h�a ju��zos sint�eti os \a priori". Tomando-se a posi� ~aora ionalista, a doutrina de Kant �e ina eit�avel, porque ela a eita que h�aprin ��pios j�a ontidos no on eito do sujeito. No entanto, a es ol�asti aperfeitamente distinguia os ju��zos expli ativos de os ju��zos extensivosa priori, embora n~ao usasse as express~oes ju��zos anal��ti os e ju��zossint�eti os.Admitiam os es ol�asti os, o que �e eviden iado pela nossa experi^en iaintele tual, que a mera ompara� ~ao dos t^ermos sujeito e predi ado per-mite aptar um indi tium per se notum, que revela a f^or� a do intelle -tus prin ipiorum, o que ali�as observamos de modo pr�ati o nas an�alisese nas on re� ~oes que realiza a Filoso�a Con reta, ao omparar ju��zosentre si e on eitos entre si.O prin ��pio de ontradi� ~ao �e um exemplo de ju��zo extensivo a priori.Contudo, o prin ��pio de ontradi� ~ao n~ao traz, por si s�o, progressoao onhe imento, mas, sim, o prin ��pio de ausalidade. Pondo delado as v�arias maneiras de on eb^e-lo, n�os sabemos que o prin ��pio de ausalidade a�rma a depend^en ia real entre todo ser ontingente e aa tividade de uma ausa, do qual ^ele depende. Ora, ^este prin ��pio vaial�em da experi^en ia. E �e mister que se funde ^ele numa intelig^en ia apriori para que tenha validez.Aqui �e onde as diverg^en ias surgem na Filoso�a, e tamb�em no ampo da problem�ati a d^este tema. Arist�oteles enun iou o prin ��piode ausalidade, fundado no movimento (kinesis), no qual veri� ava quet^oda muta� ~ao de um ente requer uma ausa. N~ao on ebia Arist�otelesa varia� ~ao total de um ente ao ser ausado, mas apenas par ial; porisso, n~ao al an� ou om lareza o on eito de ria� ~ao. A �loso�a rist~aestende a ne essidade da ausa a todo ser ontingente, at�e o seu �ultimosubstra tum. Santo Agostinho hamava: \a forma invari�avel, pelaqual existe todo o vari�avel". A express~ao es ol�asti a \omne quod �thabet ausam", ou seja, tudo o que �e feito tem ausa, �e a express~ao11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 169Ju��zos ateg�ori os ( ategoria orrelativa: subst^an ia e a i-dente)Ju��zos hipot�eti os ( ategoria orrelativa: ausa e efeito)Ju��zos disjuntivos ( ategoria orrelativa: Re ipro idade)IV - Modalidade dos ju��zosJu��zos problem�ati os ( ategoria positiva e negativa: Possi-bilidade e Impossibilidade)Ju��zos assert�ori os ( ategoria positiva e negativa: Exist^en iae N~ao-Exist^en ia)Ju��zos apod��ti os ( ategoria positiva e negativa: Ne essi-dade e Conting^en ia)�E importante salientar desde in�� io a distin� ~ao lara que faziamos es ol�asti os entre ratio (ra io ��nio), intelle tus (entendimento) eintelle tus prin ipiorum.Somos apazes de obter prin ��pios imediatamente intelig��veis e devalor geral ao ompararmos entre si as ess^en ias, que nos s~ao dadaspelos on eitos abstra tos. Nossa intelig^en ia abstrai da experi^en iaas ess^en ias, mas as rela� ~oes ne ess�arias, que se d~ao entre elas pelaexperi^en ia, n�os n~ao a per ebemos pelos sentidos, mas por um a todo entendimento, que �e essen ialmente distinto da experi^en ia. N~ao �eo resultado de um dis urso, mas uma simples e imediata intelig^en iada rela� ~ao essen ial. Chamavam os es ol�asti os essa intelig^en ia, quetamb�em pode referir-se �a raz~ao enquanto �e apaz dela, de \intelle tusprin ipiorum", que orresponde ao nous de Arist�oteles.Como pode dar-se um progresso no onhe imento do ser? Res-pondem os es ol�asti os que, para haver um progresso al�em da ex-peri^en ia imediata, �e mister apli ar um prin ��pio geral aos asos par-ti ulares, exigindo-se, ainda, que o onte�udo total do on eito do su-

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170 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASjeito, em suma, do prin ��pio, veri�que-se no parti ular dado pela ex-peri^en ia. Exempli� am os es ol�asti os da seguinte maneira: dadauma �gura geom�etri a, desejando apli �a-la ao prin ��pio geral: \a somados ^angulos de um tri^angulo �e igual �a soma de dois ^angulos retos", �epre iso veri� ar que esta �gura �e um tri^angulo, segundo o que �e enten-dido no prin ��pio. D^este modo, se o on eito do sujeito, no prin ��piogeral, ont�em mais do que o que �e ognos ��vel por per ep� ~ao no entedado, n~ao pode apli ar-se ^este prin ��pio a tal ente. Em suma, se aper ep� ~ao (que �e intele tivo-sensitiva) de um ente ofere e-nos menor onhe imento do que o que est�a ontido no on eito do sujeito doprin ��pio geral, ^este prin ��pio n~ao pode ser apli ado a tal ente; assim,a uma �gura apenas de dois lados, formando um ^angulo reto, n~ao sepoderia apli ar o prin ��pio do tri^angulo, hamando-a de tri^angulo.Vejamos agora outro aso. Temos um prin ��pio geral, ujo on eitode sujeito se d�a na realidade, mas ujo predi ado n~ao indi a nadamais do que um elemento ou v�arios elementos ontidos no on eito dosujeito. Exempli� a-se om o seguinte prin ��pio: \todo paralelogramo�e um quadril�atero". ^Este prin ��pio �e de uma evid^en ia, mas in�util parao progresso do onhe imento.Pela per ep� ~ao, veri� ar-se-ia que a �gura �e um paralelogramo,porque per eb^e-la omo tal �e per eb^e-la omo quadril�atero, j�a quequadril�atero �e um elemento do paralelogramo. Neste aso, a apli a� ~aodo prin ��pio geral �a �gura dada n~ao permite nenhum onhe imentoque trans enda a per ep� ~ao, e, d^este modo, n~ao se obt�em nenhumprogresso no onhe imento.Para haver progresso �e ne ess�ario que o predi ado do prin ��pio ge-ral a res ente ao sujeito algo que n~ao est�a ontido neste. E o que �ea res entado tem de ser um outro predi ado, que n~ao �e manifestadopela per ep� ~ao no parti ular dado pela experi^en ia; ou seja, o que sea res enta ao on eito do sujeito n~ao se funda nesta experi^en ia.Como �e poss��vel tal opera� ~ao? Dizem alguns que tal se obt�em por11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 171meio de uma an�alise do onte�udo do on eito do sujeito. Entende-sepor an�alise, a opera� ~ao que onsiste em reduzir-se em suas partes, emseus elementos, o onte�udo total do on eito do sujeito. Neste aso,a an�alise s�o pode dar o que j�a est�a in lu��do n^ele. A an�alise n~ao nospode dar, portanto, o progresso desejado no onhe imento. Ne es-sitamos prin ��pios que realmente a res entem ao sujeito predi adosindependentemente da experi^en ia, o que impli aria um ultrapassarda experi^en ia.Esta an�alise j�a havia sido feita pelos es ol�asti os, Kant a retomou, olo ando omo prin ipal interroga� ~ao do seu sistema a seguinte per-gunta: omo s~ao poss��veis os ju��zos sint�eti os a priori? J�a examinamosa divis~ao dos ju��zos feita por Kant. Mas o importante est�a nos ju��zossint�eti os a priori, nos quais a adi� ~ao do predi ado se d�a independen-temente da experi^en ia.^Estes ju��zos s~ao o tema fundamental da r��ti a kantiana, omo vi-mos. At�e aqui nada olo ava ^ele em oposi� ~ao ao que os es ol�asti osj�a haviam feito. Mas, onde a diverg^en ia surge, est�a pre isamente ema�rmar ele que a uni~ao ne ess�aria do sujeito e do predi ado �e on e-bida omo independente da experi^en ia, e mais ainda, que os mesmos on eitos n~ao prov^em da experi^en ia, nem podem ser omprovados omo reais no sujeito, no ente. D^este modo, Kant subje tiva todo \apriori". Os es ol�asti os hamavam de ju��zo expli ativo, o ju��zo em queo predi ado j�a est�a ontido no on eito do sujeito, e de ju��zo exten-sivo, aqu^ele em que o predi ado a res enta uma nova propriedade ao on eito do sujeito.As express~oes a priori e a posteriori foram de uso omum. Neste aso, poder-se-ia dizer que o ju��zo, no qual o predi ado a res entaao sujeito uma propriedade ou determina� ~ao, independentemente daexperi^en ia, �e um ju��zo extensivo a priori.Os neo-es ol�asti os repeliram por muito tempo a divis~ao dos ju��zosproposta por Kant pelas seguintes raz~oes: todos os ju��zos obtidos por

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176 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASQue se entende por raz~ao? Entende-se \aquilo pelo (por o) qual" o ob-je to subsiste. E por aqui aponta ao que �e por si mesmo ou por outro.No primeiro aso temos uma rela� ~ao l�ogi a da propriedade (o pro-prium) ao on eito essen ial, omo quando dizemos que um tri^angulotem por si mesmo a soma de seus ^angulos igual a de dois ^angulos retos.No segundo aso, o por indi a a rela� ~ao real de depend^en ia ( ausa).Portanto, o que n~ao �e por si mesmo ( ontingente) �e por outro.E omo demonstrar o prin ��pio de ausalidade, se, omo diz Arist�o-teles, na Anal��ti a, um prin ��pio �e pre isamente o que n~ao abe de-monstra� ~ao por outro, pois, do ontr�ario, n~ao seria um prin ��pio?Contudo, pode-se fazer por mostra� ~ao, omo o provamos em \Filo-so�a Con reta". Se n~ao podemos do on eito ontingente al an� ar oser ausado, n~ao se pode demonstrar que o \ser ontingente e n~ao ser ausado" �e o mesmo que \ser ontingente e n~ao ser ontingente". Neste aso, o prin ��pio de ontradi� ~ao auxiliaria a demonstra� ~ao desejada.Tais demonstra� ~oes provariam que al an� amos a ju��zos extensivos apriori imediatamente intelig��veis.Comentando os argumentos de Tom�as de Aquino, es reve De Vriesestas palavras: \O modo omo faz a redu� ~ao do prin ��pio de on-tradi� ~ao demonstra que n~ao a entende omo puramente anal��ti a.Analise-se, por exemplo, \a demonstra� ~ao redu tiva", que ^ele em-prega ao expor sua primeira demonstra� ~ao da exist^en ia de Deus peloprin ��pio: \o que se move, �e movido por outro. Ver-se-a que, nesta de-monstra� ~ao, se sup~oe que s�omente pode ser reduzido algo de pot^en iaa a to por uma ausa que se a ha no a to . . . (de potentia non potestaliquid redu i in a tum, nisi per aliquod ens in a tu). Esta proposi� ~ao�e, sem d�uvida, um ju��zo extensivo. Tem-se, portanto, de on ordar om Suarez que t^oda demonstra� ~ao redu tiva, al�em de depender domesmo prin ��pio de ontradi� ~ao, depende de outro prin ��pio, ou on- edido ou intelig��vel por si, e, em on reto, sempre que se quer provarum ju��zo extensivo, depende-se de outro ju��zo extensivo, ou on edidoou imediatamente intelig��vel. O ra io ��nio (a ratio dos es ol�asti os)11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 173do prin ��pio de ausalidade.Neste enun iado, a a�rma� ~ao de que algo �e feito, �e on omitan-temente a de ser feito por outro; portanto, a pr�opria an�alise permite ompreender laramente a ausalidade. Contudo, a�rmar que todo ser ontingente �e feito, j�a mere e outro exame. Diz-se que �e ontingenteo ser que n~ao �e ne ess�ario; isto �e, o ser que pode ser e poderia n~ao ser,aqu^ele que n~ao tem em si sua plena raz~ao de ser. O on eito de on-tingente n~ao in lui, ra ional��sti amente onsiderado, o de ser ausado.�E um proprium d^este on eito ser ausado. Neste aso, estamos numju��zo extensivo \a priori".Os ra ionalistas rela ionavam o on eito de ausa om o funda-mento l�ogi o, e Spinoza hegava a igualar ausa om raz~ao. Em suasan�alises, hegava a on luir n~ao s�o que todo efeito tem ne ess�ariamenteuma ausa, mas que t^oda ausa �e uma ausa que opera ne ess�ariamente:\ex data ausa determinata ne essario sequitur e�e tus".Fundado nesta a�rmativa, a metaf��si a ra ionalista seria puramentea priori. Leibnitz admitia ^este prin ��pio de Spinoza; ontudo, n~ao on-siderava omo simplesmente equivalente raz~ao e ausa. Para ^ele, ser ausado �e um aso parti ular de ter raz~ao. A ne essidade de uma ausa, deduzia ^ele de um prin ��pio de raz~ao su� iente mais geral, for-mulado por ^ele pela primeira vez, que pode ser enun iado d^este modo:nenhum fa to pode ser verdadeiro e existente, nenhuma a�rma� ~aoleg��tima, sem que se d^e uma raz~ao su� iente de por que �e desta ma-neira e n~ao de outra." Leibnitz onsiderava ^este prin ��pio um ju��zopuramente expli ativo, um ju��zo anal��ti o no sentido de Kant. ^Este,posteriormente, op^os-se a esta on ep� ~ao, ap�os onhe er as r��ti asque o empirismo formulou, espe ialmente por Hume. Hume enun i-ava, d^este modo, o prin ��pio de ausalidade: o que ome� a a existirtem que ter uma raz~ao de sua exist^en ia. A�rmava que esta proposi� ~aon~ao �e anal��ti a, porque na representa� ~ao do efeito n~ao est�a ontida ade ausa. Hume n~ao admitia a possibilidade de um ju��zo extensivoa priori. A proposi� ~ao, portanto, tinha de fundar-se na experi^en ia.

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174 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASMas, omo ^ele repele aqui t^oda experi^en ia, l�ogi amente n~ao se podiaadmitir que se justi� asse a ne essidade de uma ausa. Para ele, �eapenas uma expli a� ~ao psi ol�ogi a, que nos �e onveniente. N�os esta-mos in linados a ver um fen^omeno depois de outro; da�� hegamos aid�eia de ausa e efeito. Kant on orda om Hume, que a proposi� ~aon~ao �e anal��ti a, mas repele a interpreta� ~ao psi ol�ogi a. Por outro lado,a�rma que apenas n~ao pode fundar-se na experi^en ia, pois h�a uma ter- eira possibilidade, que �e o ju��zo sint�eti o a priori. Para que tal ju��zose d^e, �e mister que os on eitos que o formam sejam independentes daexperi^en ia, sejam ategorias, e �e mister, ainda, que se d^e uma uni~aod^esses on eitos a priori om a intui� ~ao a priori do tempo, onforme alei do sujeito trans endental, pois os on eitos apenas nos podem darju��zos anal��ti os. O prin ��pio de ausalidade apenas diz o seguinte:que todo fen^omeno sup~oe outro do qual ^ele segue ne ess�ariamente.Como Kant distingue fen^omeno de n�umeno, a ausalidade s�o se apli aaos primeiros, salvando assim a liberdade quanto aos outros, ou sejan~ao �e apli ado �as oisas em si.N~ao se poderia apli ar tal prin ��pio ao que Kant hama as oisasem si?Examine-se o on eito de onting^en ia. Contigente �e o ser ujaess^en ia �e indiferente para ser ou n~ao ser, ou o que pode ser e tamb�empode n~ao ser (quod potest esse et non esse). O que ara teriza um ser ontingente �e o ome� ar a ser ou o deixar de ser. Um ser ontingente ome� a a ser (in ipit esse) no pre ��puo momento que ome� a a ser.S�o se pode hamar de ontingente a um ente dessa esp�e ie. Ora, seum ente ome� a a ser, ^ele n~ao �e su� iente para ser em si mesmo, pois,do ontr�ario, existiria antes de existir. E mesmo que viesse do nada,ent~ao o nada teria poder de realiz�a-lo, e do nada dependeria para ser,o que tornaria o nada sua ausa, ou, ent~ao, veio de si mesmo, o quelevaria ao absurdo que a ima apontamos. Um ser ontingente n~ao temem si su� iente poder de ser, e exige a a � ~ao de uma ausa para ser,uma ausa que o fa� a, ex-fa ere, e-� iente. E essa ausa e� iente �e11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 175algo que, por sua a tividade, determina algo a existir.O enun iado n~ao h�a efeito sem ausa �e tautol�ogi o, e a maneira on reta de enun iar a ausalidade �e a que �zemos a ima.Ademais a lei de ausalidade n~ao se apli a apenas aos s^eres mate-riais, obje to da nossa intui� ~ao sens��vel, mas a todos os entes on-tingentes, sejam de que esp�e ie forem. A lei de ausalidade ma-terial, que a�rma que \na natureza (material) todo pro esso est�aun��vo amente determinado, de maneira que a mesma ausa produzsempre ne ess�ariamente o mesmo efeito" �e um enun iado par ial e re-gional do prin ��pio de ausalidade. Kant pare e sempre referir-se a^esse enun iado quando se refere ao prin ��pio de ausalidade.O ontingente n~ao pode existir por si mesmo, pelos motivos j�a ex-postos. Conseq�uentemente, um ser que adquire a exist^en ia (seu plenoexer �� io de ser), n~ao pode adquiri-la de si mesmo. N~ao existe um ser ontingente por si mesmo, de modo algum. E se n~ao pode hegar aexistir por si mesmo, ne essita do in uxo de outro para existir, ujadepend^en ia �e real e ne ess�aria, sem a qual n~ao pode existir. Portanto,o ser ontingente s�o pode existir porque �e ausado.Mas, qual �e a evid^en ia do prin ��pio de ausalidade: uma rela� ~aoanal��ti a ou uma sint�eti a? �E um ju��zo expli ativo ou extensivo?A�rmar que um ser ontingente n~ao pode existir em virtude de suaess^en ia �e um ju��zo expli ativo (anal��ti o, para Kant) ; mas dizer-seque a determina� ~ao de sua exist^en ia s�o �e poss��vel por uma a � ~ao, �eum ju��zo extensivo (sint�eti o, para Kant). E justi� a-se isso porqueno on eito determinar-�a-exist^en ia n~ao se ont�em nada do modo emaneira omo tal su ede.O ju��zo: \o que n~ao existe por si tem que existir por outro" �eextensivo.Examinemos agora o prin ��pio de raz~ao su� iente, ujo enun iado�e o seguinte: tudo o que �e (ou todo obje to) tem uma raz~ao su� iente.

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180 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASO dilema �e sempre o mesmo: o que n~ao �e apenas dado pela ex-peri^en ia �e dado apenas pela mente. A possibilidade de uma ter eiraposi� ~ao n~ao a en ontra Kant. Todos sabem que, na l�ogi a, o dilemaquando mal onstru��do, �e fonte e origem de muitas fal�a ias.A solu� ~ao aristot�eli a, que ^ele silen ia ou des onhe e, j�a dera a res-posta ao dilema, mostrando que o onhe imento pode ter sua origempar ialmente nos sentidos, e par ialmente na mente, sendo o resultado�nal uma s��ntese dos dois.A on lus~ao de que as ategorias s~ao on eitos puros do entendi-mento, n~ao pro edentes da experi^en ia, �e uma de orr^en ia do v�� ioabstra tista do ra io inar ra ional��sti o, que ^ele tanto ombateu, masque terminou por adquirir, usando-o habitualmente.H�a um famoso exemplo que usam os kantianos para mostrar a pre-sen� a das ategorias: Duas libras (quantidade) de oxig^enio (subst^an ia)gasoso (qualidade) e uma libra (quantidade) de hidrog^enio (subst^an ia)gasoso (qualidade) produzem sempre em onjunto (modalidade: ne- essidade, repro idade) tr^es libras (quantidade) de �agua (subst^an ia)l��quida (qualidade).Mas, por si s�os as ategorias n~ao s~ao su� ientes para determinaras leis fundamentais da experi^en ia. Embora se lhes a res ente a in-tui� ~ao, �e mister ainda a res entar-se-lhes uma ter eira fonte, que �e arepresenta� ~ao, que une a intui� ~ao om o entendimento.S~ao on eitos emp��ri os os que se referem a oisas de nossa ex-peri^en ia e que t^em representantes subje tivamente subsistentes, omo asa, ~ao, �arvore, et . S~ao on eitos puros as ategorias. Conseq�uen-temente, para o kantismo, h�a esquemas emp��ri os e esquemas puros, onforme orrespondam �aqueles.Os esquemas puros s~ao riados pela representa� ~ao quando vin ulaa ategoria pura om o tempo, que �e forma da intui� ~ao. Assim, dasubstan ialidade omo on eito puro, onstr�oi nossa mente o esquemade subst^an ia, omo imagem de algo que deve subsistir no tempo. Da11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 177n~ao pode substituir a intelig^en ia imediata (o intelle tus)."Alegam ainda alguns que a \intui� ~ao das ess^en ias" tem levado amuitos erros. Realmente, tal �e pro edente. Mas ^esses erros s~ao ausade m�a apli a� ~ao dos onhe imentos l�ogi os e dial�e ti os, o que n~aorefuta de modo algum o empr^ego d^esse m�etodo, pois, quando reali-zado om seguran� a, evitam-se os erros e abusos omuns de �l�osofosmenores.O que se revelou de todo ^esse exame �e o seguinte: ser ontingenten~ao impli a o ser ausado, em seu on eito. Contudo, a a�rma� ~ao da onting^en ia leva ne ess�ariamente, por an�alise; a onsiderar que o ser ontingente n~ao d�a su� iente raz~ao �a sua exist^en ia, pois n~ao pode vira ser por si mesmo, mas por outro, o que, omparando os ju��zos, a larade�nitiva e ne ess�ariamente a ne essidade de ser ausado por outro,e a enun iar o prin ��pio de ausalidade om absoluta seguran� a. N�os,por�em, na \Filoso�a Con reta", seguimos outros aminhos, os quaisdemonstraram de modo patente que se pode hegar ao prin ��pio de ausalidade om a su� iente apoditi idade desejada.Tudo isso demonstra de modo abal que �e poss��vel ju��zos sint�eti os apriori na Metaf��si a, o que justi� a essa dis iplina de modo de�nitivo,e responde aos erros de Kant, que s~ao ompreens��veis dada a suaforma� ~ao �los�o� a e o des onhe imento que tinha do que de maiselevado j�a havia sido realizado na �loso�a medievalista. E demonstra,tamb�em, a validez dos ju��zos virtuais, que ^ele nem de leve suspeitou.O que entretanto n~ao se pode negar de positivo na obra de Kant�e o grande papel que desempenhou para o progresso dos estudos gno-siol�ogi os. Ineg�avelmente, om ^ele, a preo upa� ~ao s^obre o valor e avalidez de nossos onhe imentos passou a ser tema dos mais variadosestudos. N~ao que os resultados melhor obtidos e mais seguros viessemmodi� ar essen ialmente o que j�a haviam onquistado as espe ula� ~oesrealizadas pelos grandes �l�osofos do passado. Tal, na verdade, n~aose deu. Ao ontr�ario: as pesquisas, que se seguiram, quando robus-

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178 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASte idas pela boa an�alise e pela melhor espe ula� ~ao, vieram em abonodo que havia sido realizado. Contudo, h�a um ontingente imenso denovas ontribui� ~oes, que n~ao podem ser menosprezadas, e devem, ao ontr�ario, re eber a valoriza� ~ao que realmente mere em.Os estudos esquematol�ogi os, que preparam essa nova dis iplina que hamamos Esquematologia, e que serviram de base para realizarmosnosso \Tratado de Esquematologia", devem, sem d�uvida, a Kant umgrande impulso.O exame da estru tura de nossa mente, em suas fun� ~oes prin ipais,desde a sensibilidade, a afe tividade at�e �a intele tualidade, leva-nosa dedi armo-nos ao exame dos esquemas, indo dos mais elementarese fundamentais do sens�orio-motriz at�e os esquemas eid�eti o-no�eti osque a intele tualidade onstr�oi.Todo onhe er, desde o sens��vel at�e o mais intele tualizado, pro essa-se atrav�es de uma adapta� ~ao da esquem�ati a dada previamente, que sea omoda aos fa tos ou �as id�eias para realizar as assimila� ~oes propor i-onadas em parte a esquem�ati a j�a existente, e �a apa idade assimila-dora do ser ognos ente. D^este modo, todo onhe imento, seja de queesp�e ie f^or, �e sempre estru turado segundo esquemas pr�evios, que mo-delam os onhe imentos posteriores. Uma sensa� ~ao bruta primitiva,informe, s�o podemos on eb^e-la na rian� a em seus primeiros mo-mentos, quando a esquem�ati a, que preside a adapta� ~ao psi ol�ogi a,�e onstitu��da apenas dos primeiros esquemas do sens�orio-motriz deorigem heredit�aria. Contudo, mesmo a��, ante as pesquisas j�a realiza-das pelos mais onsp�� uos estudiosos, omo Piaget, para itar o maisimportante de nossos dias, mostram-nos que h�a, pelo menos, ertasleis, ertas ordena� ~oes, que presidem �a t^oda intui� ~ao sens��vel, e quea sensa� ~ao bruta n~ao deve ser onsiderada omo algo totalmente in-forme, porque j�a revela erta unidade, diferen ia� ~ao, et .; ou seja,um sele ionar de aspe tos que obede em n~ao s�o a normas de in-teresse do ognos ente, omo tamb�em s~ao modeladas pela estru turados pr�oprios esquemas a omodados, que s�o permitem uma assimila� ~ao11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 179propor ionada a ^eles, o que nos demonstra que o fa to sens��vel, dequalquer forma, �e sempre propor ionado a gama da esquem�ati a a o-modada. D^esse modo, n~ao h�a uma sensa� ~ao bruta, informe, amorfatotalmente, mas j�a modelada de algum modo pela esquem�atiea a o-modada.N~ao hegamos ainda muito longe nos estudos esquematol�ogi os. Ao ontr�ario, estamos dando os primeiros passos e muito temos aindaa per orrer. N~ao �e de admirar, portanto, que ainda possam surgirv�arias reviravoltas, retornos inesperados, avan� os que n~ao poder~ao ser on�rmados, va ila� ~oes que inquietar~ao os observadores. Tudo issose d�a e ainda se dar�a. Mas, o que h�a de erto �e que j�a onseguimosalguma oisa. E se pare e pou o a muitos, podemos, ontudo, estarsatisfeitos em veri� ar que nos prometem muito mais, muito maisdo que esper�avamos, o que j�a �e su� iente para nos en her de grandesatisfa� ~ao2.A leitura da obra de Kant nos mostra que des onhe ia ^ele a longaelabora� ~ao de teoria do on eito onstru��da pelos medievalistas. Caiunos mesmos erros j�a refutados, omo vimos ao tratar dos universais.Mas, abe ainda aqui algumas observa� ~oes no to ante a passagens desua obra, que mere em ser es lare idas e devidamente respondidas.As doze ategorias a�rma Kant que, de modo algum, podem serdes obertas nas sensa� ~oes. Considerando-as naturalmente omo sub-je tivamente subsistentes, a sua a�rma� ~ao nada diz de novo, porquejamais nenhum grande �l�osofo a�rmou que tiv�essemos a sensa� ~ao daquantidade ou da qualidade ou da rela� ~ao ou da modalidade, tomadas omo seres subje tivamente existentes, ou dados om subje tividade.Como n~ao s~ao dados pelas sensa� ~oes, s~ao, para ^ele, ent~ao, on eitospuros.2Em nosso \Tratado de Esquematologia" examinamos as onquistas obtidase ofere emos algumas ontribui� ~oes nossas, bem omo an�alises esquematol�ogi as,que favore em melhor ompreens~ao das id�eias de Kant e promovem novas su-gest~oes.

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184 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDAS�e um a res entamento seu e n~ao da �loso�a l�assi a, medievalista, quejamais deu �a subst^an ia �nita essa absolutuidade. Se o prin ��pio de onserva� ~ao da mat�eria, da energia, et ., foram t~ao aros �a Ci^en iamoderna, n~ao o foram para a Filoso�a, que n~ao en ontraria raz~oessu� ientes para a�rmar tais absolutuidades. O on eito kantiano desubst^an ia tem um onte�udo noem�ati o hist�ori o, pr�oprio do ra iona-lismo. Se se pro ura o onte�udo eid�eti o, ter��amos de dizer o seguinte:na observa� ~ao dos fen^omenos per ebe o homem que as varia� ~oes ob-servadas s~ao varia� ~oes de algo que perdura, e que �e sustent�a ulo detais varia� ~oes. Um ser tem uma forma e suas varia� ~oes e modi� a� ~oess~ao toleradas dentro dessa forma, do ontr�ario o ser deixa de ser o que�e, orrompe-se. O espe t�a ulo do devir nos mostra que algo dev�em;ou seja, que algo permane e por entre as modi� a� ~oes. Estas s~ao a - identais, �e algo que a onte e a alguma oisa que perdura. Subst^an ia�e, assim, a estru tura formalmente onstituida que perdura atrav�es desuas modi� a� ~oes a identais. Essa perdurabilidade, ontudo, n~ao �eabsoluta ou, pelo menos, n~ao se pode a�rmar omo absoluta.O pr�oprio Kant n~ao pode deixar de onsiderar que ara teriza ohomem essa apa idade de onstruir on eitos, nos quais, diz ^ele, n~aose en ontram os rastros da sensa� ~ao. Nem a quantidade, nem a qua-lidade, nem a rela� ~ao, nem a modalidade s~ao obje tos de intui� ~oessens��veis. S�o s~ao obje tos da intui� ~ao sens��vel os s^eres orp�oreos. Aquantidade �e abstra ta, e n~ao �e orporeidade. Os s^eres orp�oreos t^emquantidade, n~ao s~ao, por�em, quantidade. H�a uma distin� ~ao entre o sere o haver (no sentido de ter). Assim Jo~ao �e homem e tem humanidade;^ele n~ao �e humanidade, mas dela parti ipa, ou seja, h�a, n^ele, tamb�em,o logos da humanidade, sem ser humanidade.As oisas sens��veis revelam o que tem e o que s~ao, mas revelam-no�a nossa mente.N~ao h�a a quantidade em si, nem a qualidade, nem a rela� ~ao, nem amodalidade. Jamais a�rmaram outra oisa os grandes �l�osofos do pas-sado. Tamb�em n~ao a�rmaram que f^ossem apenasmente formas puras11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 181 ausalidade, forma o esquema de ausa, omo o de algo que no tempoproduz outra oisa, segundo determinada regra, et .S�o h�a, pois, experi^en ia humana quando trabalham juntas as tr^esfontes do pensamento te�ori o; a sensibilidade, o entendimento e a re-presenta� ~ao que os une.Do fun ionar onjunto d^essas tr^es fontes, surgem, ent~ao: a sensibi-lidade das formas puras da intui� ~ao, as ategorias puras (pelo enten-dimento) e, pela representa� ~ao, seus esquemas. A on u^en ia d^esseoperar produz os prin ��pios fundamentais do onhe imento te�ori o.�E poss��vel a experi^en ia, segundo o prin ��pio b�asi o kantiano, gra� as�a representa� ~ao de que todos os dados est~ao ne ess�ariamente vin ula-dos entre si.D^este prin ��pio surgem as tr^es \analogias da experi^en ia", s^obre osquais se baseia t^oda i^en ia da natureza:1) Por mais que mudem os fen^omenos, a subst^an ia subsiste e suaquantidade, na natureza, n~ao aumenta nem diminui;2) t^odas as modi� a� ~oes se produzem segundo a lei de ausa eefeito;3) t^odas as subst^an ias, enquanto podem ser per ebidas, simult^anea-mente no espa� o, a tuam umas s^obre as outras.Todos ^esses ju��zos est~ao onstitu��dos de on eitos, que n~ao revelamnenhum rastro da intui� ~ao sens��vel, a�rmam os kantianos.Repetimos que um dos pontos fundamentais dos erros de Kant on-siste no desenvolvimento da teoria da g^enese do on eito. Os nossosesquemas, ujo estudo fazemos em \Tratado de Esquematologia", s~aodin^ami os e genu��namente hist�ori os; portanto, sus ept��veis das in- u^en ias da pr�opria histori idade. D^esse modo, o on eito varia se-gundo os i los ulturais, as eras e, em suma, atrav�es das onstantes

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182 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASmuta� ~oes que sofre o homem. O que a �loso�a on reta deseja �e al- an� ar os onte�udos mais ompletos e seguros dos on eitos.Todo on eito est�a eivado de fa ti idade. Na Esquematologia, nag^enese do on eito, sabemos que a sua forma� ~ao atravessa fases dasmais omplexas, desde o ante on eito, do esquema f�a ti o singular,que �e apli ado de modo geral e tende a universalizar-se, omo se v^e na rian� a, at�e atingir os onte�udos noem�ati os mais gerais, abstra tos,mais puros, at�e �a onquista do onte�udo eid�eti o puro, que �e o �api eque deseja realizar a �losa�a on reta.Um on eito emp��ri o, omo asa, �arvore, et ., �e prenhe de fa ti i-dade e seu esquema est�a saturado das imagens onfusas dos diversosindiv��duos onhe idos. Al an� ar-se, na de�ni� ~ao l�ogi a, o onte�udoeid�eti o-no�eti o; ou seja, o eidos, que nosso nous pode onstruir, eatingir, ent~ao, a universalidade. ^Esse onte�udo atravessa graus depuri� a� ~ao eid�eti a e de afastamento onstante da fa ti idade, at�e al- an� ar o meramente eid�eti o, o que �e poss��vel de um modo muito maisefe tivo quanto aos on eitos abstra tos do que quanto aos on eitosemp��ri os.Ineg�avelmente, a mente humana trabalha om os dados da intui� ~aosens��vel, e om ^esses realiza a as ese eid�eti a, de que temos falado, quese pro essa atrav�es de uma a tividade no�eti a, que onsiste no abstrair res entemente os onte�udos eid�eti os, at�e �a forma� ~ao eid�eti a pura do on eito, omo o demonstrou Tom�as de Aquino, e o omprova a teoriada abstra � ~ao total, na Gnosiologia.H�a, sem d�uvida, leis da nossa mente que a tuam nessa opera� ~ao.Essas leis n�os j�a as estudamos no \Tratado de Esquematologia", sema ordena� ~ao das quais seria imposs��vel a forma� ~ao de on eitos. Comose poderia ompreender a a tividade humana abstra tista, no bom egenu��no sentido do t^ermo, sem a diferen ia� ~ao, sem a unidade, sem asimultaneidade, sem a su essividade, sem a orrelatividade, que s~aofundamentais no existir, e que a tuam na mente omo modeladoras11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 183do onhe imento? Realmente, h�a formas da sensibilidade e, tamb�em,do entendimento, mas essas formas s~ao pr�opriamente leis modelado-ras da a tividade ognos itiva desde seus prim�ordios at�e suas maisaltas fun� ~oes, omo o demonstramos no \Tratado de Esquematolo-gia". Certamente, h�a bastante positividade no pensamento kantiano,mas esque e-se ^ele de onsiderar a histori idade dos esquemas e suaa tua� ~ao, tamb�em hist�ori a, na forma� ~ao dos onte�udos noem�ati osat�e al an� ar aos onte�udos puramente eid�eti os, que �e o �api e do o-nhe imento humano, enquanto tal.Podemos exempli� ar at�e om a pr�opria esquem�ati a de Kant, ana-lisando os on eitos que prop~oe.Tome-se para exame o on eito de subst^an ia e veja-se omo variao seu onte�udo esquem�ati o:1) Etimol�ogi amente, signi� a o que est�a debaixo, sub, ou o quepermane e sob os fen^omenos.2) Pr�opriamente, �e o que subsiste, ou o que tem subsist^en ia pr�opria,o que tem o ser em si mesmo e n~ao em outro, o que o distinguedos a identes, que n~ao t^em o ser em si mesmos, mas em outro(inesse). Tal subsist^en ia da subst^an ia n~ao nega que seu ser sedeva a uma ausa e� iente.3) A subst^an ia �e a portadora de a identes. E uma subst^an ia, omo tal, �e uma subst^an ia �nita; portanto, sua perman^en ian~ao quer dizer que seja absoluta e sobretudo imut�avel.4) A distin� ~ao aristot�eli a de subst^an ia primeira (mat�eria da oisa,o de que a oisa �e feita) e subst^an ia segunda (a forma, o peloqual a oisa �e o que ela �e) permite que a segunda seja predi adada primeira, e onstitui o seu predi ado pr�opriamente dito.Ora, Kant restringe o on eito de subst^an ia ao tempo. Quanto aadmitir que a sua quantidade, na natureza, n~ao aumenta nem diminui

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188 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASDiz-se que at�e Cop�erni o era ren� a geral que a Terra permane iaim�ovel no entro do mundo, e que os plan^etas e as estr^elas giravam�a sua volta. Na verdade, essa era a maneira omum de onsiderar-se a astronomia. Dizemos omum, porque Tom�as de Aquino, antesde Cop�erni o, omo ainda antes os pitag�ori os, sabiam que a Terraera um plan^eta, uma esfera, que girava em t^orno do Sol. Tom�as deAquino repetidas v^ezes a�rmou isso em seus extraordin�arios trabalhos.Contudo, �e verdade, que a opini~ao omum n~ao era essa. Est�avamos a��no terreno que Tom�as de Aquino hamava de opin�avel. E exempli� ava om as estr^elas, que ertamente eram muito maiores que a Terra, masque, por falta de meios de omprova� ~ao e� azes, eram admiss��veisopini~oes ontr�arias, n~ao um saber ient��� o.Kant atribu��a �a sua obra uma verdadeira revolu� ~ao operni ana naFiloso�a. At�e ^ele - dizia - onsiderava-se a natureza omo im�ovel, e queo entendimento girava em t^orno dela e re e tia as suas leis. Por isso,a raz~ao n~ao ompreendia por que s~ao ne ess�arias as leis. Pensando-sede modo inverso, tudo se modi� a. N~ao �e a raz~ao que gira em tornoda experi^en ia e re e te suas leis, mas sim a experi^en ia que gira emredor da raz~ao, e suas leis re e tem nossa pr�opria natureza, que �e umproduto da nossa raz~ao. Portanto, �e para n�os ne ess�ario o que a nossamente ria omo ne ess�ario.As leis da natureza s~ao ria� ~oes de nossos pro essos ognos itivos,e nossas sensa� ~oes nada mais s~ao que respostas de nossa mente �asimpress~oes exteriores. Neste aso, que podemos onhe er das oisasexteriores sen~ao o que pensamos onhe er? Como s~ao as \ oisas emsi" nada podemos saber e, onseq�uentemente, t^odas as respostas daMetaf��si a perdem sua validez, e a oisa em si permane er�a para sem-pre sendo uma in �ognita para n�os. E que podemos dizer da oisa emsi? Se dizemos que existe, n~ao esque� amos que \exist^en ia" �e apenasuma ategoria, que �e uma unidade ou uma multipli idade, que �e re-gida pela ausalidade ou n~ao, que �e ne ess�aria ou ontingente, tudoisso s~ao ategorias e nada mais. Sabemos apenas que h�a o outro lado11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 185da nossa mente, mas estru turas no�eti o-eid�eti as, que tem funda-mento nas oisas sens��veis, que estavam onfusas nas oisas sens��veis,que a intelig^en ia pode aptar e distinguir. Se a experi^en ia f^osse ape-nas a sensa� ~ao bruta, seria in ompleta, e tal experi^en ia pode t^e-lao animal e a riatura em seus primeiros dias. A mente humana rea-liza, por�em, um trabalho de as ese, de distin� ~ao, de esquematiza� ~aono�eti o-eid�eti a das sensa� ~oes. A quantidade �e aquela propriedade quesepara o ser orp�oreo dos outros. E por meio dela que um orpo podedividir-se em partes indiv��duas, independentes da natureza do todo.Impli a a extens~ao, a tens~ao que se ex-tende, que tende para fora desi mesma, omo a qualidade �e a in-tens~ao, a tens~ao que tende parasi mesma. Se a extens~ao brota da riatura orp�orea n~ao se identi� a om ela, omo o queria Des artes; �e apenas uma propriedade da suaess^en ia.N~ao h�a intui� ~ao sens��vel da quantidade, tomada isoladamente, mash�a intui� ~ao sens��vel dela, tomada onfusamente nos s^eres orp�oreos.�E a mente que a abstrai do omponente sens��vel, omo abstrai a qua-lidade, a rela� ~ao e a modalidade. N~ao s~ao, pois, puras formas do en-tendimento sem qualquer fundamento real fora do entendimento. Seo entendimento onstr�oi os on eitos eid�eti o-no�eti os dessas atego-rias n~ao os faz impondo-os �as oisas orp�oreas, mas extraindo dessas,mentalmente, o que nelas est�a on retamente. ^Este ponto �e o mais im-portante de onsiderar. Tais ategorias n~ao ser~ao meras � � ~oes, masentes de raz~ao om fundamento nas oisas ( um fundamento in re).Como esquemas eid�eti o-no�eti os n~ao prov^em das intui� ~oes sens��veis,j�a estru turados omo tais. Nossa mente os estru tura, fundada napr�opria experi^en ia; ou seja, s~ao par ialmente emp��ri os e par ial-mente abstra tos.E por que �e poss��vel onstruir uma lei omo a da onserva� ~ao dasubst^an ia?Ela �e poss��vel desde o momento que a mente humana onstr�oi o

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186 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDAS on eito de regularidade das leis universais. Essa lei �e a priori, a�rmar�aum kantiano, pois omo poder��amos garantir que os fa tos su eder~aosempre obedientes a ertas normas invari�aveis, partindo apenas daexperi^en ia? �E esta a d�uvida que provo a a indu � ~ao. Como pelaobserva� ~ao dos fa tos parti ulares poderemos al an� ar a uma lei geral?A a eita� ~ao da regularidade dos fa tos, ou a obedi^en ia �a lei �e umimperativo, �e impres ind��vel para que a indu � ~ao possa ser v�alida en~ao permane er apenas no ampo da probabilidade.Ora, a mente humana n~ao �e apenas aptadora, armazenadora e o-ordenadora das imagens per ebidas. Ela �e apaz de abstrair o que ul-trapassa a singularidade, a parti ularidade dos fa tos. E tal �e poss��veldesde o momento que �e ela apaz de formar on eitos (universais);antes, n~ao. A dis uss~ao d^este ponto abe, pois, �a an�alise da validezda indu � ~ao, o que j�a foi feito e de modo de�nitivo na Filoso�a.A mente humana �e apaz de onstruir esquemas abstra tos do quen~ao est�a totalmente onstitu��do da intui� ~ao sens��vel, do que n~ao �eapenas material e orp�oreo. Essa apa idade imaterializadora im-pli a uma a tividade imaterial, porque a mat�eria n~ao �e apaz de abs-tra � ~oes, e sofre sempre determina� ~oes singulares, registrando os fa tossingularmente, e n~ao universalmente.Essa apa idade de nossa mente, da mente ra ional, inteligente,�e algo que se op~oe, fundamentalmente, �a a tividade meramente ma-terial, singularizadora por ex el^en ia. Mas, note-se que per ebemosa repeti� ~ao de fa tos, a repeti� ~ao dos mesmos aspe tos, das mesmas ondi� ~oes, que d~ao omo resultado as mesmas de orr^en ias; ou seja, dadisposi� ~ao das mesmas ondi� ~oes de orrem as mesmas onseq�uen ias.H�a, assim, uma regularidade, a presen� a de normas que aptamosda nossa experi^en ia. Os milharais d~ao sempre milho, as ma ieirassempre ma� ~as. H�a uma legalidade nos fa tos da nossa experi^en ia.Poder��amos juntar aqui exemplos sem �m da presen� a dessa legali-dade, da subordina� ~ao dos fa tos a normas gerais. O ju��zo: h�a umalegalidade dos fa tos da natureza, em que dadas as mesmas ondi� ~oes11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 187de orrem as mesmas onseq�uen ias, �e algo que a experi^en ia ajudamostrar. Ora, a forma� ~ao dos universais revela a presen� a onstantedos mesmos elementos estru turais. A id�eia de lei �e uma id�eia per-feitamente fundamentada na experi^en ia. A eit�a-la omo universalpode ser onsiderado omo uma postula� ~ao nossa que, posteriormente,pode ser demonstrada num est�agio mais alto do onhe imento hu-mano. Mas, de qualquer forma, est�a fundada na pr�opria experi^en ia.Sua prioridade nas novas observa� ~oes �e uma onseq�u^en ia do pr�opriopro eder da nossa intelig^en ia, em que as onquistas obtidas presi-dem, depois, �as novas experi^en ias, e a tuam, posteriormente, omoelementos dados aprior��sti amente. �E verdade que Kant sabia queas formas puras do entendimento eram psi ol�ogi amente onstru��dasatrav�es de uma g^enese ps��qui a do homem, mas que passavam, pos-teriormente a a tuar aprior��sti amente na oordena� ~ao das novas in-tui� ~oes sens��veis. Pois o mesmo se d�a om a on ep� ~ao de legalidade.O ra ionalismo-empirista dos tomistas, que seguem assim a linha aris-tot�eli a, fundava-se na ra ionaliza� ~ao da pr�opria experi^en ia, om oal an� ar de est�agios ada vez mais omplexos que presidiam novasexperi^en ias. O papel do nosso intele to em sua a tividade no�eti a onsiste em extrair os universais dos fa tos singulares da experi^en ia,a viv^en ia sens��vel, imprimindo em si mesmos os esquemas (spe ies),que a tuariam, posteriormente omo elementos a priori a omodadospara novas assimila� ~oes no�eti as.O prin ��pio de ausalidade n~ao e uma imposi� ~ao do esp��rito humanoa experi^en ia. E o que provamos na parte em que justi� amos osprin ��pios fundamentais da �loso�a l�assi a. A intelig^en ia humanan~ao �e algo abissalmente separado do restante do existir. O homem n~aoe um estrangeiro no mundo �osmi o, omo o kantismo pare e quererfazer ompreender, sem justi� ar de modo algum essa on ep� ~ao. Oabismo no ser n~ao se justi� a. Nem tampou o se justi� a a pretensarevolu� ~ao que Kant pensa ter operado na Filoso�a, que ^ele iguala arevolu� ~ao operni ana.

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192 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASOra, demonstrou-se apod��ti amente que o nada absoluto n~ao pode terante edido a alguma oisa, bem omo foi demonstrado que semprehouve alguma oisa. Conseq�uentemente, o haver de alguma oisa temuma ne essidade ontol�ogi a e n~ao hipot�eti a. Seria hipot�eti a se f^osseapenas um poss��vel e, neste aso, seria um poss��vel do nada absoluto(nihilum), o que �e absurdo, omo vimos. Portanto, s�o resta que sem-pre houve alguma oisa ne ess�ariamente. ^Esse haver tem, portanto, ane essidade ontol�ogi a. Porque h�a alguma oisa, o haver do ser �e on-tol�ogi amente ne ess�ario. D^este modo, en ontramos a apoditi idadeda ne essidade ontol�ogi a de alguma oisa h�a.A onseq�u^en ia, que se obt�em, �e a seguinte:h�a ne ess�ariamente alguma oisa e ne ess�ariamente �e imposs��veln~ao haver alguma oisa.Ora, tal ju��zo possui a apoditi idade que desejava Kant, e pode^ele fundar obje tivamente a Metaf��si a. Nenhuma r��ti a, nenhumaobje � ~ao, nem a do epti ismo r��gido poderia destru��-lo. E �e s^obre ^eleque se fundamenta t^oda a an�alise dial�e ti a on reta de nossa �loso�a.* * *�E o ju��zo \alguma oisa h�a" um ju��zo anal��ti o ou um ju��zo sint�eti oa priori? Ante o kantismo, a pergunta �e justi� ada e exige resposta uidadosa.Est�a ontido ou n~ao no on eito de alguma oisa o haver?L�ogi amente, n~ao; mas ontol�ogi amente sim. E por que esta dis-tin� ~ao e aparente ontradi� ~ao? �E f�a il expli ar.Alguma oisa (�aliquid), omo o mostramos, �e um on eito que ex-pressa outro que, o que se distingue.Ao dizer-se alguma oisa n~ao se diz que h�a, porque haver �e dar-se,�e positivar-se, �e a�rmar-se. Quando se diz \alguma oisa h�a" a�rma-se que se posi iona, se positiva alguma oisa (outro que) e signi� a11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 189da experi^en ia, algo que nos �e des onhe ido, n~ao, por�em, totalmentedes onhe ido para o pr�oprio Kant, que aqui se ontradiz, porque sabeque o outro lado h�a, e que �e in ognos ��vel por n�os. ^Esse ser, que es apa�a nossa experi^en ia, n~ao �e obje to, portanto, da experi^en ia, e podeser apenas pensado pelo nosso esp��rito, nous, por isso �e um n�umeno.E �e do n�umeno que se o upa a Metaf��si a.* * *H�a uma apoditi idade l�ogi a, uma apoditi idade ontol�ogi a e umaapoditi idade ^onti a.A primeira demonstra-se pelo rigor de ne essidade l�ogi a, omoo ju��zo \Deus existe" �e apod��ti amente l�ogi o, porque, na id�eia deDeus, est�a in lusa, ne ess�ariamente, a sua exist^en ia, pois �e in ed��vel,l�ogi amente, a n~ao exist^en ia de Deus. Entretanto, ontol�ogi amente,essa exist^en ia n~ao tem apoditi idade, porque da meramente l�ogi an~ao se on lui a ontol�ogi a imediatamente.Conseq�uentemente, para al an� ar a apoditi idade ontol�ogi a detal ju��zo, imp~oe-se uma demonstra� ~ao apod��ti a. A a�rma� ~ao daexist^en ia, ou seja, que a sua exist^en ia �e ne ess�aria, �e ne - ed��vel,que a sua inexist^en ia seja imposs��vel, in ed��vel tamb�em, ou, ent~ao,pela apoditi idade ^onti a. D^este modo, note-se a apoditi idade daexist^en ia impli a uma ne essidade dupla:a) ne essidade da exist^en ia;b) ne essidade da re usa da n~ao exist^en ia.Temos, aqui, a diferen� a entre a ne essidade absoluta e a ne essi-dade hipot�eti a.O ser, uja exist^en ia �e absolutamente ne ess�aria, �e o ser ao qualse n~ao pode negar nenhuma das duas ne essidades: a ne essidade deser e a impossibilidade absoluta de n~ao-ser. Ora, o on eito l�ogi ode Deus impli a, l�ogi amente, um ser que ne ess�ariamente existe,

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190 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDAS uja n~ao exist^en ia �e absolutamente imposs��vel; ou seja, re usa-se ne- ess�ariamente a sua n~ao exist^en ia. Do ontr�ario, Deus n~ao seria Deus,mas um outro ser qualquer, ao qual n~ao se poderia predi ar a divindadesuprema. No entanto, essa apoditi idade l�ogi a n~ao �e ainda ontol�ogi a(e muito menos ^onti a, pois a prova da onti idade, da exist^en ia singu-lar da Divindade, n~ao de orre da ne essidade l�ogi a do seu on eito).Um ser �nito qualquer, que existe (mesmo que f^osse ^ele � ional, omopoderia a�rmar um riti ista levado �a m�axima abstra � ~ao da �loso�ade Kant), n~ao teria em si mesmo a sua raz~ao de ser, porque seria uma� � ~ao minha, tua, vossa. Tal ser, ne ess�ariamente, exige outro queo sustente, que lhe d^e o ser, se �e � ional ou em outro, ou, ent~ao,^ele mesmo seria sua raz~ao de ser, e ne ess�ariamente existiria. Um ser ontingente, por�em, �e aqu^ele ao qual a segunda ne essidade pode sernegada, pois a � � ~ao que onstru��, se existe ne ess�ariamente, poderiatamb�em n~ao existir. Assim, o efeito de uma ausa, se existe, existene ess�ariamente a ausa de sua exist^en ia, j�a que ser ontingente �e n~aoser ne ess�ario, e �e aqu^ele, uja n~ao exist^en ia n~ao impli a ontradi� ~ao, omo o air ou n~ao este obje to que tenho nas m~aos. Sabemos que aspossibilidades das oisas ontingentes podem ser ontradit�orias, poiso que pode existir e pode n~ao existir, �e poten ialmente ontradit�orio;mas, se existe, ex lui, autom�ati amente, a n~ao exist^en ia. Assim, ^esteobje to pode ser lan� ado ou n~ao ao h~ao; posso segur�a-lo nas m~aosou deix�a-lo air, sem que tais possibilidades, que s~ao ontradit�orias,impliquem ontradi� ~ao em sentido ontol�ogi o, porque, omo ser on-tingente, pode-lhe a onte er isto ou n~ao a onte er isto. Mas, se ^esseobje to �e lan� ado ao h~ao, h�a ne ess�ariamente ausas que o levam a air e n~ao a suster-se. Essa ne essidade, que se d�a ao a to, �e hamadane essidade hipot�eti a. O ser absolutamente ne ess�ario �e aquele ujan~ao exist^en ia �e imposs��vel. A queda d^este obje to seria absoluta-mente ne ess�aria se ela f^osse ne ess�aria por uma raz~ao ontol�ogi a, oque ela n~ao tem. O Ser Supremo (Deus para as religi~oes) tem de serabsolutamente ne ess�ario, e �e imposs��vel e absurdo admitir-se a suan~ao exist^en ia.

11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 191Na Filoso�a Con reta, \alguma oisa h�a" �e um ju��zo ne ess�ariopor postula� ~ao, e que tem apoditi idade ^onti a, porque �e absoluta-mente impro edente a�rmarmos que \nenhuma oisa h�a", porque apr�opria enun ia� ~ao d^este ju��zo nega absolutamente validez ao mesmo.Mas, omo hegarmos �a ne essidade ontol�ogi a de que alguma oisane ess�ariamente h�a; ou seja, que ne ess�ariamente h�a alguma oisa?N~ao poderia dar-se o nada absoluto? Em vez de julgarmos, de pen-sarmos, de dis utirmos, de investigarmos, nos substituiria um imensovazio, um nada absoluto. J�a mostramos que em n�os tudo se rebela aessa possibilidade. �E uma a�rma� ~ao psi ol�ogi a, afe tiva em n�os, daimpossibilidade do nada absoluto, da substitui� ~ao poss��vel do ser pelonihilum, pelo nada absoluto. �E ^ele imposs��vel antes, e �e ^ele imposs��veldepois. Contudo, poderia ter sido poss��vel que nada existisse? Surge,ent~ao, a velha pergunta, que Heidegger renovou: Por que antes o serque o nada? Por que �e preferido antes o ser que o nada? Por que n~aoh�a a substitui� ~ao? Seria poss��vel a substitui� ~ao do nada pelo ser, e emvez de haver alguma oisa, n~ao haver absolutamente oisa alguma?Demonstramos em \Filoso�a Con reta" que essa pergunta revelaum pseudo-problema. Tal pergunta n~ao tem validez ontol�ogi a, masapenas uma validez psi ol�ogi a em fa e da de ep� ~ao moderna t~ao exa- erbada pelo nihilismo a tivo-negativo de nossa �epo a.Resta-nos examinar agora se o ju��zo \alguma oisa h�a" tem ambasne essidades. Uma j�a demonstramos apod��ti amente. Resta-nos aoutra: o nada poderia substituir o ser?Alguma oisa h�a tem a ne essidade ^onti a, porque �e imposs��vel quen~ao haja oisa alguma. A pr�opria postula� ~ao desse ju��zo a�rma quealguma oisa h�a. Ora, o que tem a ne essidade ontol�ogi a tem, pelomenos, uma ne essidade hipot�eti a. Mas esta ainda n~ao �e su� iente.O que pro uramos �e a ne essidade ontol�ogi a de alguma oisa h�a.Havendo alguma oisa, ou alguma oisa ome� ou a ser, depois de pre- edida pelo nada absoluto (nihilum), ou sempre houve alguma oisa.

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196 CAP�ITULO 12. TESES DIAL�ECTICASa exist^en ia do efeito n~ao depende por um tal nexo. Assim, a luz�e ondi� ~ao para que algu�em possa es rever, n~ao ausa do es rever.A a � ~ao de es rever n~ao pende da a � ~ao da luz, mas da a � ~ao does revente.A depend^en ia �e inerente ao dependente, e liga-se ao de que dependepelo nexo real do �eri, do devir. Portanto, h�a o agente, h�a o �eri e oresultado; h�a um anterior e um posterior, onseq�uentemente.O nexo de depend^en ia liga-os; mas a depend^en ia, enquanto tal, �etotalmente inerente ao posterior.TESE 69 - A depend^en ia impli a anterioridade e posterioridade.Onde h�a depend^en ia h�a o que depende; h�a o dependente, e o doqual ^este depende.^Este, ne ess�ariamente, �e anterior, e aquele �e posterior.TESE 70 - A depend^en ia impli a abaliedade e subalternidade.Abaliedade e o ar�a ter do que prov�em de outro (abalio), ou melhor: ujo ser �e dado por outro; depende de outro, de outro prov�em. Ora,o dependente n~ao tem em si a sua raz~ao de ser, nem a sua origem emsi mesmo, mas em outro.Conseq�uentemente, a depend^en ia impli a abaliedade.�E subalterno (de sub e alter, outro) o que, para ser ou existir, exigeum outro que lhe d^e o ser, a exist^en ia.Ora o dependente, sendo ordenado por outro, �e por outro, enquantoefeito tal, e de outro subordinado; portanto �e subalterno.TESE 71 - A anterioridade e a posterioridade d~ao-se na ordem ro-nol�ogi a, na ordem espa ial, na ordem l�ogi a, na ordem da emin^en ia,na ordem axiol�ogi a, na ordem ontol�ogi a e na ordem teol�ogi a.�E anterior o que pre ede, e posterior o que o su ede, e n~ao h�a estesem haver aqu^ele.

11.2. FORMAS DE JU�IZO, SEGUNDO KANT 193dizer que se re usa o n~ao haver, re usa-se o nenhuma oisa h�a, seu ontradit�orio.Por sua vez, o on eito de haver impli a alguma oisa, porque ohaver de nada n~ao �e haver. Se o haver se d�a, alguma oisa se d�a.Dizer-se \alguma oisa h�a" �e dizer-se d�a-se o haver de alguma oisa.O haver �e atribu��do ao alguma oisa. Mas alguma oisa, ontol�ogi a-mente, h�a, por que omo poderia positivar-se alguma oisa sem haver?Ontol�ogi amente, o alguma oisa impli a o haver, omo vimos, emboral�ogi amente n~ao. N~ao h�a ontradi� ~ao aqui, porque a L�ogi a dedi a-seao exame dos on eitos em sua esquematiza� ~ao, e a Ontologia exa-mina os on eitos em sua possibilidade de ser. Eis, por que a simplesdemonstra� ~ao l�ogi a n~ao impli a a demonstra� ~ao ontol�ogi a.A apoditi idade do ju��zo \alguma oisa h�a" �e ontol�ogi a e ^onti a,porque a sua postula� ~ao �e ne ess�aria de qualquer modo, pois seriav�alido mesmo que pus�essemos em d�uvida seu valor, porque duvi-dar �e provar que alguma oisa h�a. A mera dis uss~ao de sua vali-dez �e su� iente para dar-lhe a validez ^onti a apod��ti a, �e demonstrarapod��ti amente a sua validez.Resta-nos saber se tal ju��zo �e um ju��zo sint�eti o a priori.Nossa experi^en ia, mesmo no sentido kantiano, n~ao nos prova quealguma oisa h�a?Se somos apazes de espe ular s^obre o que �e poss��vel de uma expe-rimenta� ~ao poss��vel n~ao prova que alguma oisa h�a?O ju��zo alguma oisa h�a revela-se de modo exigente e positivo. N~ao�e um ju��zo anal��ti o, �e sint�eti o sem d�uvida, e omprova-se pela mais omum experi^en ia, omo o exigiu Kant. Mas, note-se, �e v�alido apos-terior��sti amente e apriorist�� amente. �E um ju��zo sint�eti o a posteri-ori, quando a experi^en ia a revela, e �e a priori, porque dispensa at�e apr�opria experi^en ia kantiana, porque dispensa a n�os mesmos, a nossaexperi^en ia, pois poder��amos n~ao ser, sem que alguma oisa h�a dei-

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194 CAP�ITULO 11. OBJECC� ~OES KANTIANAS RESPONDIDASxasse de ser verdadeiro apod��ti amente.Queremos om isso, apenas, dar mais uma demonstra� ~ao de que �eposs��vel a Metaf��si a, at�e dentro da pr�opria posi� ~ao de Kant3.

3A doutrina de Kant �e falsa em seus fundamentos, em si mesmo e em sua�nalidade.Em seus fundamentos, quanto �a teoria artesiana da per ep� ~ao externa e damaneira omo on ebe os ju��zos sint�eti os a priori; em si mesma, porque n~aodemonstra devidamente sua a�rmativa s^obre as formas puras da sensibilidade e,sobretudo, a submiss~ao total da intui� ~ao �as mesmas e, em seu t^ermo, porque on-duz, atrav�es do agnosti ismo, ao epti ismo mais absoluto, o que �e �los�o� amenteum ^erro rotundo.

Cap��tulo 12

Teses dial�e ti as

(PARA A FUNDAMENTAC� ~AO DAS DEMONSTRAC� ~OES J�AFEITAS)TESE 67 - �E anterior o que de erto modo se d�a antes de outro, quelhe �e posterior.�E primeiro o que, de erto modo, tem prioridade.Na ordem da emin^en ia, das perfei� ~oes, o ante edente �e mais per-feito que os posteriores, e o primeiro �e o mais perfeito e o mais nobre.Ao ante edente su ede o posterior.TESE 68 - O dependente, para ser, depende de um anterior.O que pende de outro, de-pende d^esse outro; exige outro do qualde orra a sua exist^en ia; outro que o faz.Essa rela� ~ao de depend^en ia tem de ser real, pois do ontr�ario elan~ao haveria, pois o ente n~ao penderia de outro.A exig^en ia desse nexo real evita as ostumeiras onfus~oes entre ausa e ondi� ~ao.Na ausa, h�a depend^en ia do efeito om nexo real; na ondi� ~ao,195

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200 CAP�ITULO 12. TESES DIAL�ECTICASe n~ao foi ausado.Um ser que pode existir por sua pr�opria for� a n~ao depende de outropara ser. E se ^ele pode existir por sua pr�opria f^or� a, ^ele teria de existirsempre, pois do ontr�ario n~ao poderia existir por sua pr�opria f^or� a,pois antes de existir seria nada.Portanto, desde o momento que aptamos um ser, que �e apaz detal, ^ele ne ess�ariamente existiu sempre.Ora, �e inevit�avel que algum ser existiu por sua pr�opria f^or� a, eexistiu sempre, pois do ontr�ario teria existido pela f^or� a de outro queo ante edeu. Como n~ao poder��amos ir ao in�nito, o ante edente seriaum ser que existiu de tal modo; logo, h�a de haver um primeiro queexistiu por sua pr�opria f^or� a, e pela qual existiram os su essivos, osposteriores. Esta prova �e apenas subsidi�aria das que j�a apresentamoss^obre o Ser In�nito.E ademais ^esse ser existiu sempre, porque do ontr�ario seria aus�avel,e tamb�em seria a sua pr�opria ausa, ausa sui, o que seria absurdo anteo que j�a examinamos.Neste aso, ^esse ser n~ao seria o primeiro, e teria vindo do nada en~ao de si mesmo, pois, omo poderia ^ele ausar a si mesmo, a n~ao serque f^osse aus�avel e, portanto, inexistente antes de ser?Tal nos levaria a um absurdo. Portanto, h�a um ser primeiro in- aus�avel e in ausado, que existe ne ess�ariamente por si mesmo, e quesempre existiu.TESE 81 - H�a um ser primeiro que em si tem a sua pr�opria raz~aosu� iente de ser.O que ne essita de algum outro n~ao �e de per si su� iente. E n~ao o�e porque exige outro para ser. Portanto, n~ao tem em si sua pr�opria esu� iente raz~ao de ser.TESE 82 - O ser �nito n~ao tem em si a sua raz~ao su� iente de ser.

197O posterior, para ser, n~ao pode pres indir do anterior, embora sepossa ompreender, sem ontradi� ~ao, o anterior, sem ne essidade dehaver o posterior.Na ordem ronol�ogi a, o que su ede �e de erto modo posterior ao an-terior. No espa� o, fala-se tamb�em em anterioridade e posterioridade,mas em sentido de medida, j�a que espa ialmente h�a simultaneidadee n~ao pr�opriamente depend^en ia, porque o espa� o medido posterior-mente n~ao �e dependente do espa� o medido anteriormente, e essa araz~ao da sua reversibilidade, pois pode-se medir de A para B, omode B para A.Na ordem l�ogi a, o g^enero ante ede �a esp�e ie, e esta n~ao �e semaquele. Na ordem da emin^en ia, o mais perfeito ante ede ao menosperfeito, omo o mais ante ede ao menos, pois do ontr�ario viria donada.Na ordem axiol�ogi a, o valor mais alto tem de ante eder ao valormenos alto, pois do ontr�ario viria aquele do nada, ou seja: o maisviria do menos, o que �e absurdo.Na ordem ontol�ogi a, o ser maior tem de pre eder ao ser menor,pelas mesmas raz~oes, sen~ao o ex edente do maior viria do nada. Naordem teol�ogi a, omo de orr^en ia rigorosa das mesmas raz~oes, o in-�nito tem de ante eder ao �nito, pois sem aqu^ele este n~ao tem raz~aode ser.Esta prova ser�a ainda robuste ida por outras.TESE 72 - O que n~ao �e posterior ao anterior n~ao �e posterior aoposterior.Esta tese �e evidente de per si. O que n~ao depende do anteriorn~ao prov�em do que �e posterior ao anterior, pois aqu^ele depende doanterior.TESE 73 - O anterior ao anterior �e anterior ao posterior.

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198 CAP�ITULO 12. TESES DIAL�ECTICAS�E uma de orr^en ia rigorosa do que at�e aqui foi estudado.TESE 74 - Causa �e o nome que se d�a �a depend^en ia real do posteriorao anterior.O posterior segue-se ne ess�ariamente ao anterior, e n~ao ao ontr�ario.Sem o anterior seria imposs��vel o posterior. Ora, ^este, quando dependedo primeiro, por natureza e ess^en ia, �e p^osto em ausa, �e a tualizadopor aqu^ele. Desta forma, o dependente �e ausado, e o de que depende�e a sua ausa.Fundado na divis~ao das ausas aristot�eli as, Duns S ot faz a se-guinte lassi� a� ~ao:o posterior do �m ( ausa �nal) �e o �nitum (�nito);o posterior da ausa material �e o materiatum (materiado);o posterior da ausa formal �e o formatum (formado);o posterior da ausa e� iente �e o e�e tivum (efe tivo);e, em suma, o posterior de uma ausa, �e o ausatum ( ausado).TESE 75 - Quanto �a natureza e �a ess^en ia, o anterior �e apto a existirsem o posterior. O inverso n~ao se d�a.N~ao h�a nenhuma ontradi� ~ao que, existindo o primeiro, n~ao existadepois o segundo. J�a o ontr�ario n~ao se pode dar. Se o posteriordepende, quanto �a natureza e a ess^en ia do primeiro, n~ao pode existirsem existir aqu^ele. O posterior ne essita do anterior, e essa ne essidade hama-se depend^en ia.TESE 76 - Um ser n~ao depende essen ialmente de si mesmo.Se um ser dependesse essen ialmente de si mesmo, seria ele anteriora si mesmo, o qual seria posterior.Neste aso, ^esse ser existiria antes de existir, o que �e absurdo. Ade-mais, se dependesse de si mesmo, sua exist^en ia seria de orrente de simesmo, o qual j�a existiria. Portanto, um ser n~ao depende essen ial-

199mente de si mesmo.TESE 77 - Um ser n~ao pode ser mais do que ele mesmo.Para que um ser pudesse ser mais que ^ele mesmo, teria de re ebersuprimento de outro. N~ao poderia re eb^e-lo de si mesmo, pois ent~aoj�a o seria. A raz~ao ontol�ogi a de que um ser n~ao pode ser mais doque ^ele mesmo est�a no seguinte: o ex edente de ser, n~ao estando nele,viria de outro, seria de outro e n~ao dele, algo que a ^ele se aderiria, n~aoalgo que f^osse d^ele mesmo. Ou ent~ao o suprimento viria do nada, oque �e absurdo.Um ser, portanto, n~ao pode ser mais do que ^ele mesmo. Esta pro-posi� ~ao ser�a demonstrada dial�e ti amente por outros meios, quando oordenada om outras proposi� ~oes que, de modo apod��ti o, demons-trar~ao que um ser �e sempre propor ionado �a sua emerg^en ia, ao quej�a �e.TESE 78 - Um ser n~ao pode existir sem si mesmo.Para um ser existir �e pre iso que exista, e imp~oe-se que haja ^elemesmo. Um ser existir sem si mesmo seria n~ao existir.TESE 79 - O ser dependente �e ne ess�ariamente �nito. O Ser in�nito�e absolutamente independente.Cara teriza o ser �nito o n~ao ser plenitude absoluta de ser, o n~aoestar na plenitude absoluta do ser; o ser privado de alguma perfei� ~ao.Se o ente �nito tivesse plenitude absoluta de ser, n~ao seria depen-dente, nem teria limites, porque a depend^en ia limita o ente.Sendo limitado, faltar-lhe-ia pelo menos a perfei� ~ao da independ^en ia.Esta perfei� ~ao �e de ser, porque o nada n~ao tem perfei� ~ao, nem �eperfei� ~ao. Portanto, a perfei� ~ao que lhe falta �e; onseq�uentemente, oser limitado �e �nito e de� iente, distinguindo-se d^este modo do Serabsoluto.TESE 80 - O que pode existir por sua pr�opria f^or� a existiu sempre,

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204 CAP�ITULO 12. TESES DIAL�ECTICASdiversos e su essivos, sem que os mesmos estejam ligados por um nexode ne essidade, de depend^en ia entre si, mas apenas om a ausa.Tal �e f�a il veri� ar-se nos fa tos f��si os: onde os efeitos n~ao depen-dem sempre uns dos outros, mas sim da ausa primordial.Quando h�a o nexo de ne essidade entre os efeitos, o anterior �e ausado posterior.O que depende essen ialmente, depende de uma ausa ou de ummais imediato efeito de alguma ausa. A primeira depend^en ia �e ab-solutamente ne ess�aria; a segunda, n~ao. Assim, se B depende de A,se A n~ao existe, n~ao existe B. Mas se B depende de A, e C tamb�emdepende de A, se B n~ao existe, n~ao de orre ne ess�ariamente que C n~aoexista.TESE 89 - Para que algo seja efe t��vel (torne-se um efeito) �e impres- ind��vel um efe tivo.O ser efe t��vel �e o que tem possibilidade de ser feito. Ora, o quetem tal possibilidade, se j�a existe, n~ao �e mais um efe t��vel, mas feito(fa to). Ora, o efe t��vel n~ao tem em si a sua raz~ao de ser, pois do ontr�ario n~ao seria efe t��vel, mas efe tivo.Para ser, imp~oe-se ne ess�ariamente um efe tivo, que lhe seja ante-rior de erto modo.Conseq�uentemente, o poss��vel n~ao o �e por si, mas por outro.TESE 90 - Todos os s^eres que su edem (em devir) s~ao poss��veis (pos-sibilia) que se a tualizam e exigem um anterior efe tivo.O devir �e o ampo da su ess~ao. O que dev�em �e o que se torna, oque passa de um modo de ser para outro modo de ser.Conseq�uentemente, o devir a�rma o efe t��vel. E omo ^este n~aopode ser tal sem um efe tivo, omo j�a o provamos, o devir impli asempre um ser efe tivo, em pleno exer �� io de seu ser, para que aqu^elese torne um efeito.

201O que pode n~ao-existir n~ao tem em si a sua raz~ao su� iente deser, e n~ao pode ser por sua pr�opria f^or� a, pois depende de outro, do ontr�ario n~ao seria um ser que pode n~ao-existir. Portanto, o ser quepode n~ao-existir, se existe, �e porque teve um prin ��pio e n~ao poderiater existido sempre, porque se existira sempre, n~ao se poderia dizerque podia n~ao existir: pois teria, em si mesmo, a f^or� a su� iente paraexistir, e existiria sempre.Ora, vimos que o ser, que tem em si a sua pr�opria raz~ao su� i-ente para existir, existiu sempre, e �e, portanto in aus�avel. O ser, quepoderia n~ao existir teve um prin ��pio ne ess�ariamente, e �e, portanto, aus�avel.O ser aus�avel �e assim uma ara ter��sti a do ser �nito; o ser in- aus�avel, porque �e o primeiro, sempre existiu: o que �e uma ara -ter��sti a da in�nitude.O ser aus�avel depende de outro para ser; o in aus�avel (Ser in�nito)n~ao depende de nenhum outro para ser; por isso sempre foi, e �e.Nas pr�oximas proposi� ~oes orroboraremos ainda mais, por outros aminhos, a apoditi idade desta tese.TESE 83 - O que n~ao se ordena a um �m n~ao �e um efeito.O efeito vem de e�e tum, o que �e e-fa tum. Portanto, para que algoseja um fa to, �e pre iso sei feito. O fazer impli a um t^ermo de partidae um t^ermo de hegada, que �e uma meta, um �m a ser al an� ado.Portanto, o que n~ao se ordena a um �m n~ao �e um efeito.Conseq�uentemente, a inversa �e verdadeira:a) O que se ordena a um �m �e um efeito.b) O que n~ao �e efeito n~ao �e um ser �nito. ) O que n~ao �e efeito n~ao �e um ser material.N~ao o �e porque um ser material (materiatum) impli a a ausa e�- iente que o faz, que determina (d�a a forma) a um ser determin�avel

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202 CAP�ITULO 12. TESES DIAL�ECTICAS(mat�eria)1.Conseq�uentemente:d) O que n~ao �e ser material (materiatum) n~ao �e um formado, poispara ser material tem de re eber uma determina� ~ao, que �e a forma.Portanto:e) O que n~ao �e um formado (formatum) n~ao �e um ser material(materiatum).S~ao in o ontribui� ~oes do pensamento de S ot, que orrespondem�as positividades da Filoso�a Con reta.TESE 84 - Alguma natureza �e ausa e� iente.O devir mostra-nos que alguma natureza �e efe tuada. Portanto,alguma natureza �e e� iente e ausa do efe tuado.E de tal n~ao h�a d�uvida, porque alguma natureza ome� a a ser(in ipit esse).TESE 85 - Todo fa to sup~oe algo que o ante ede.O t^ermo fa to vem do latim fa tum, o que foi feito, o que �e feito.O Ser Supremo n~ao �e um fa tum, porque n~ao foi feito. Con-seq�uentemente, tudo quanto �e feito sup~oe algo que o faz, o que, on-tol�ogi amente, o ante ede, o do qual depende, que �e o que hamamos ausa.TESE 86 - O que n~ao �e ausado por ausas extr��nse as n~ao �e ausadopor ausas intr��nse as.Chamamos de fa t^ores predisponentes ( ausas extr��nse as) os queante edem e a ompanham o ente. S~ao fa t^ores emergentes ( ausasintr��nse as) os que onstituem a natureza d^esse ente.Para que um ente aus�avel surja, imp~oe-se um ante edente, um1Oportunamente provaremos esta a�rmativa por outras vias.

203anterior. Do ontr�ario seria ele produzido por si mesmo, o que, j�avimos, �e imposs��vel. Portanto, um ente, para ser, n~ao �e ausado oufa torado por ausas intr��nse as. A emerg^en ia do ser n~ao �e o que o ria, pois, neste aso, seria ^ele anterior a si mesmo.Conseq�uentemente, ^ele depende de ausas extr��nse as (fa t^ores pre-disponentes) para ser; do ontr�ario, n~ao seria.Como de orr^en ia rigorosa e apod��ti a, as ausas extr��nse as (osfa t^ores predisponentes) s~ao anteriores ao ausar (in ausando) �as au-sas intr��nse as (fa t^ores emergentes), que lhe s~ao posteriores.TESE 87 - Entre duas ausas simult^aneas, uma deve ter prioridadede erta esp�e ie s^obre a outra.Se duas ausas simult^aneas n~ao t^em entre si uma prioridade de erta esp�e ie, al�em de serem da mesma esp�e ie, seriam eminentementeiguais, o que as identi� aria entre si, tornando-as apenas uma. Devemelas, de erto modo, distinguir-se, e essa distin� ~ao n~ao seria apenasnum�eri a, pois dois s^eres absolutamente id^enti os n~ao s~ao dois, masum.Se h�a, portanto, duas ausas simult^aneas, uma deve ter erta ante-rioridade �a outra em alguma esp�e ie, ou na ordem da emin^en ia, ouna ordem axiol�ogi a, ontol�ogi a, et .Comparadas entre si, uma delas ser�a pr�oxima e a outra remota emrela� ~ao ao ausado, sob alguma das ordens j�a examinadas.TESE 88 - Nem sempre o mais imediato efeito de uma ausa �e ausado mais remoto efeito da mesma ausa.Entre os efeitos de uma ausa, ^estes podem ser simult^aneos, ou umante eder o outro. Mas tal ante ed^en ia n~ao impli a ne ess�ariamenteum nexo de ausa e efeito entre ambos.Para que o posterior seja efeito do anterior, imp~oe-se a depend^en iareal, que �e o nexo de ne essidade. Uma ausa pode produzir efeitos

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208 CAP�ITULO 12. TESES DIAL�ECTICASdos os s^eres a tivos t^em um prin ��pio de a � ~ao. O pr�oprio prin ��pioespe ��� o de a � ~ao tem sua raz~ao de ser num prin ��pio gen�eri o dea � ~ao, e, ^este, num prin ��pio de a � ~ao universal, pois, do ontr�ario. Oprin ��pio de a � ~ao de t^odas as oisas penderia realmente do nada, oque �e absurdo. Conseq�uentemente, h�a ne ess�ariamente um prin ��piode a � ~ao universal, de onde pendem todos os prin ��pios de a � ~ao es-pe ��� os.

205TESE 91 - Cara teriza o efe t��vel a possibilidade de vir-a-ser (dedevir).O efe t��vel ainda n~ao est�a no pleno exer �� io de seu ser, pois se j�aestivesse seria um efeito.Mas o que �e efeito (e-fa tum) omprova a sua efe tibilidade, poisn~ao poderia ser se n~ao f^osse poss��vel de ser.Portanto, a estru tura ontol�ogi a do on eito de efe t��vel impli arigorosamente a possibilidade de vir-a-ser, de devir, de ser a tualiz�avel.Como onseq�u^en ia, o que �e poss��vel n~ao o �e por si, mas por outro.TESE 92 - Algo �e absolutamente o primeiro, e anterior a todos.Se o efe t��vel depende de um efe tivo para ser, um efe tivo h�a de sero primeiro, absolutamente o primeiro, o que j�a provamos. E prova-seainda de muitas outras maneiras. Daremos, por ora, algumas, poisoutras vir~ao oportunamente.Um efe t��vel depende de um efe tivo. ^Este pode ser um efe t��velque se efe tuou. Mas, para tal, impli aria um efe tivo anterior. Con-seq�uentemente, deve haver um efe tivo absolutamente primeiro, quen~ao �e efe t��vel. Se n~ao houvesse ^esse efe tivo primeiro, ter��amos umas�erie in�nita, um in�nito de ausas, na qual nenhuma teria por si opoder de tornar efe t��vel a outra, pois nenhuma o teria em si mesma epor si mesma. Ademais daria um in�nito num�eri o, o que �e absurdo.E a efe tividade n~ao teria prin ��pio, pois n~ao haveria um primeiroque a on edesse. N~ao vindo de algo que j�a �e, sua origem estaria emo nada, o que �e absurdo.Outras provas vir~ao para robuste er esta.TESE 93 - Na ordem ontol�ogi a, o mais pre ede ao menos, mas oinverso se d�a na ordem f��si a.A ordem �osmi a �e obediente �a ordem ontol�ogi a, pois do ontr�arioessa ordem viria do nada. N~ao se pode dar o que n~ao se tem. Ora, o

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206 CAP�ITULO 12. TESES DIAL�ECTICASSer absoluto, in�nito, pode dar tudo, porque tem tudo. O nada nadapode dar. �E uma de orr^en ia rigorosa de que provamos: que a ordem �osmi a n~ao pode ex luir-se da ordem ontol�ogi a.No entanto, se na ordem ontol�ogi a o mais pre ede ao menos, naordem f��si a o mais �e ante edido pelo menos, pois o mais �e atingidoposteriormente pelo menos, j�a que um todo f��si o, omo onjunto desuas partes, �e um mais, que �e posterior ao menos de ada parte2.A invers~ao dessas duas ordens n~ao as ex lui, porque a ordem f��si an~ao ex lui a ordem ontol�ogi a, e essa invers~ao mostra a harmoniaexistente entre ambas.TESE 94 - O que se olo a entre os extremos �e mais pr�oximo d^estes,do que os extremos entre si, onsiderados no mesmo ve tor.Se entre A e C se olo a B, ^este �e mais pr�oximo de A e de C, doque A de C ou C de A.A proximidade aqui pode ser onsiderada em qualquer via, den-tro do seu ve tor; quer na ronol�ogi a, quer na ronot�opi a, querna axiol�ogi a, quer na da emin^en ia, quer na ontol�ogi a ou quer nateol�ogi a. �E um postulado matem�ati o, v�alido em qualquer on ep� ~ao,e em qualquer ordem de realidade.TESE 95 - A idente �e o que pode estar ou faltar em um sujeito sem orromp^e-lo substan ialmente.A idente �e o que a onte e om a subst^an ia.Mas imp~oe-se que a sua presen� a, ou a sua falta, n~ao orrompa apr�opria subst^an ia, tornando-a outra.S�o nesses limites �e a idente. Assim a �agua, por ser l��mpida ousuja, n~ao deixa substan ialmente de ser �agua. Mas o hidrog^enio, na2Na ordem biol�ogi a, o todo ante ede �as partes, porque, naquele, as partes n~aos~ao a identais, mas substan ial e formalmente do todo, que lhes d�a a forma e ove tor.

207�agua, n~ao �e a idental, porque, se dela f^osse retirado, a �agua deixariaimediatamente de ser �agua. Por isso o hidrog^enio �e um elemento da�agua.TESE 96 - �E imposs��vel que um s�o e mesmo prin ��pio espe ��� o dea � ~ao (fa uldade) perten� a a subst^an ias diversas.Em todo ser h�a um prin ��pio da sua a � ~ao. A ^esse prin ��pio da a � ~ao hamavam os antigos de fa uldade. Todos os s^eres da mesma esp�e iet^em em omum o prin ��pio da a � ~ao que onv�em a essa esp�e ie. ^Esseprin ��pio n~ao �e num�eri amente o mesmo para todos os indiv��duos, masontol�ogi amente �e o mesmo. O que permite lassi� ar os indiv��duosem esp�e ies �e pre isamente a presen� a do prin ��pio da a � ~ao que elest^em em omum.Diz-se que s~ao subst^an ias diversas aquelas que perten em a esp�e iesde g^eneros diferentes. Conseq�uentemente, �e imposs��vel que um s�o emesmo prin ��pio de a � ~ao (fa uldade) perten� a a subst^an ias diversas,que era o que se queria demonstrar.TESE 97 - H�a, ontudo, um prin ��pio de a � ~ao que �e um s�o em t^odasas oisas.Na tese anterior, demonstramos que o prin ��pio de a � ~ao, que t^emem omum os s^eres da mesma esp�e ie, �e aquele que onv�em a essaesp�e ie. Assim a fa uldade dos antigos, que �e o prin ��pio dessa a � ~aoespe ��� a, �e omum aos indiv��duos da mesma esp�e ie. Da�� de orreuser imposs��vel que uma s�o e mesma fa uldade, nesse sentido espe ��� o,perten� a a subst^an ias diversas, isto �e, a g^eneros diversos.Levada, ontudo, ao extremo, essa a�rma� ~ao poderia ser impro e-dente, por dela de orrer a a�rmativa de haver rupturas no ser, o queofenderia as proposi� ~oes j�a demonstradas.Mas, se onsiderarmos ^esse prin ��pio de a � ~ao omo espe ��� o, e onveniente �a esp�e ie, tom�a-lo-emos distintamente de um prin ��pio dea � ~ao que seja omum a todos os s^eres a tivos. Ne ess�ariamente, to-