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Metodologia de análise[editar | editar código-fonte] A transcrição para notação musical em si já pode ser considerada uma forma de análise segund o Ellingson [5] apud Ribeiro [6] para quem este método já provê as informações objetivamen te quantificáveis e analisáveis, que forneceram uma base sólida para a etnomusicologia  validar-se como disciplina científica. Tomando com parâmetros as proposições de Alan Merriam (1923 - 1980) [7] a música deve se r análise do ponto de vista da etnologia (etnomusicologia) em três níveis de análise: um a concepção de música (sua estética e valor social), comportamento em relação à música (ativi e "profissional", associação à danças, êxtase religioso arte marcial e outras técnicas corpo rais) e quanto à música propriamente dita (ritmo, harmonia, etc). Segundo Mauss [8] devem ser analisadas na sua relação com as demais artes (dança, arte s plásticas, drama, canto, poesia, literatura etc), quanto aos seu elementos, que segundo ele são basicamente dois: um elemento sensorial, correspondendo às noções de rit mo, equilíbrio, contrastes e harmonia; e um elemento ideal, um elemento de teoria,  a criação e imaginação que se constata na mais simples das artes musicais (oc. p 115). Ainda segundo esse autor o sentido musical aparece repartido de forma muito desi gual segundo as sociedades. Ritmos, melodias, polifonias, variam em proporções consi deráveis de uma sociedade para outra e também numa mesma sociedade entre os sexos, a s idades, as classes: música nobre e música vulgar, música militar, música de igreja, músi ca de cinema, etc, mas constituem-se como um sistema com extrema homogeneidade n o todo apesar da distribuição variável. (oc. pg. 118) Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) é possível estabelecer um paralelo en tre a música, a linguagem e o mito. Há nítidos paralelos entre os fonemas e unidades s onoras (as notas musicais) definidas como sonemas ou tonemas, com a diferença, seg undo ele, que na linguagem humana os fonemas formam as palavras que por sua vez formam as frases, enquanto que na música não há um equivalente às palavras, dos elemento s básicos passa-se logo para as frases melódicas. Estendendo essa comparação com os mito s, observa que naqueles não há o termo equivalente à fonemas, os elementos básicos são as palavras, o que dificulta o estabelecimento de uma comparação apesar da lógica e possíve l origem tanto da música como dos mitos na linguagem com desenvolvimentos em proce sso separados com distintas direções: a música destacando os aspectos do som, já present es na linguagem e os mitos o aspecto do sentido (significado) também já profundament e presente na linguagem. [9] Campo de Estudo[editar | editar código-fonte] Apesar de estar relacionada com o campo maior de estudos sobre música (Musicologia ), e alguns programas de pós-graduação evitarem a divisão dos campos da Etnomusicologia e da Musicologia, alguns autores e pesquisadores preferem manter essa divisão. O m otivo está baseado na crença de que a principal diferença entre a musicologia (ou mais  especificamente, a musicologia histórica) e a etnomusicologia estaria no foco. En quanto a musicologia se preocupa primeiramente com o texto musical, a etnomusico logia dá ênfase ao contexto no qual a música está inserida, como forma de compreender o porquê daquela música ser da forma que é. Há, inclusive, pesquisadores que defendem uma possível etnomusicologia histórica, através da fusão de ambas as áreas de concentração. É muito comum que leigos achem que a etnomusicologia seja o estudo da "música dos po vos tradicionais". Essa é uma confusão normal, por associarem o termo "etno" com "et nia", ou seja, o estudo de músicas étnicas. Esse pensamento não é de todo errôneo, uma vez  que, como bem afirmara Blacking[10] , toda música é fruto das relações humanas, definin do música como sons humanamente organizados. Entretanto, como foi dito acima, o te rmo "etno" vem da palavra etnografia (ver artigo para melhor compreensão do termo) . Portanto, apesar de ter seu início marcado pelo estudo da música de povos não-ocidenta is por pesquisadores ocidentais, tais como a música tibetana, javanesa, africana, chinesa ou de grupos indígenas[11] , há algumas décadas a etnomusicologia passou a inc luir em seu campo de estudo as músicas ocidentais, sejam de origem ou tradicionalm

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Metodologia de análise[editar | editar código-fonte]A transcrição para notação musical em si já pode ser considerada uma forma de análise so Ellingson [5] apud Ribeiro [6] para quem este método já provê as informações objetivate quantificáveis e analisáveis, que forneceram uma base sólida para a etnomusicologia validar-se como disciplina científica.

Tomando com parâmetros as proposições de Alan Merriam (1923 - 1980) [7] a música deve sr análise do ponto de vista da etnologia (etnomusicologia) em três níveis de análise: ua concepção de música (sua estética e valor social), comportamento em relação à música e "profissional", associação à danças, êxtase religioso arte marcial e outras técnicas rais) e quanto à música propriamente dita (ritmo, harmonia, etc).

Segundo Mauss [8] devem ser analisadas na sua relação com as demais artes (dança, artes plásticas, drama, canto, poesia, literatura etc), quanto aos seu elementos, quesegundo ele são basicamente dois: um elemento sensorial, correspondendo às noções de rimo, equilíbrio, contrastes e harmonia; e um elemento ideal, um elemento de teoria, a criação e imaginação que se constata na mais simples das artes musicais (oc. p 115)Ainda segundo esse autor o sentido musical aparece repartido de forma muito desigual segundo as sociedades. Ritmos, melodias, polifonias, variam em proporções consideráveis de uma sociedade para outra e também numa mesma sociedade entre os sexos, as idades, as classes: música nobre e música vulgar, música militar, música de igreja, mca de cinema, etc, mas constituem-se como um sistema com extrema homogeneidade no todo apesar da distribuição variável. (oc. pg. 118)

Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) é possível estabelecer um paralelo etre a música, a linguagem e o mito. Há nítidos paralelos entre os fonemas e unidades sonoras (as notas musicais) definidas como sonemas ou tonemas, com a diferença, segundo ele, que na linguagem humana os fonemas formam as palavras que por sua vezformam as frases, enquanto que na música não há um equivalente às palavras, dos elements básicos passa-se logo para as frases melódicas. Estendendo essa comparação com os mits, observa que naqueles não há o termo equivalente à fonemas, os elementos básicos são palavras, o que dificulta o estabelecimento de uma comparação apesar da lógica e possívl origem tanto da música como dos mitos na linguagem com desenvolvimentos em processo separados com distintas direções: a música destacando os aspectos do som, já presenes na linguagem e os mitos o aspecto do sentido (significado) também já profundamente presente na linguagem. [9]

Campo de Estudo[editar | editar código-fonte]Apesar de estar relacionada com o campo maior de estudos sobre música (Musicologia), e alguns programas de pós-graduação evitarem a divisão dos campos da Etnomusicologiae da Musicologia, alguns autores e pesquisadores preferem manter essa divisão. O motivo está baseado na crença de que a principal diferença entre a musicologia (ou mais especificamente, a musicologia histórica) e a etnomusicologia estaria no foco. Enquanto a musicologia se preocupa primeiramente com o texto musical, a etnomusicologia dá ênfase ao contexto no qual a música está inserida, como forma de compreender oporquê daquela música ser da forma que é. Há, inclusive, pesquisadores que defendem umapossível etnomusicologia histórica, através da fusão de ambas as áreas de concentração.

É muito comum que leigos achem que a etnomusicologia seja o estudo da "música dos povos tradicionais". Essa é uma confusão normal, por associarem o termo "etno" com "et

nia", ou seja, o estudo de músicas étnicas. Esse pensamento não é de todo errôneo, uma  que, como bem afirmara Blacking[10] , toda música é fruto das relações humanas, definido música como sons humanamente organizados. Entretanto, como foi dito acima, o termo "etno" vem da palavra etnografia (ver artigo para melhor compreensão do termo).

Portanto, apesar de ter seu início marcado pelo estudo da música de povos não-ocidentais por pesquisadores ocidentais, tais como a música tibetana, javanesa, africana,chinesa ou de grupos indígenas[11] , há algumas décadas a etnomusicologia passou a incluir em seu campo de estudo as músicas ocidentais, sejam de origem ou tradicionalm

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ente ligadas ao contexto rural, tais como o maracatu, samba de roda, bandas de pífano, Taieiras[12] ou músicas de contexto urbano, tais como o Funk carioca, o samba/pagode carioca ou da Bahia[13] , ou o Heavy Metal[14] .

Ver também[editar | editar código-fonte]

Frances Densmore gravandoMusicoterapiaNotação musicalMúsica do mundoMúsica da ÍndiaMúsica da ÁfricaMúsica andinaMúsica indígenaMúsica de PortugalAssociação Gaita-de-foleAntropologia da arteMúsica e matemáticaReferênciasIr para cima ? Merriam, Alan. The Anthropology of Music Evanston. USA Northwestern University 1964.Ir para cima ? Seeger, Anthony. Ethnography of Music. In Myers, Helen. Ethnomusicoly - an introduction. Londres, The MacMillan Press, 1992Ir para cima ? Adler, Guido. "Umfang, Methode und Zeil der Musikwissenschaft. Vi

erteljahrsschrift für Musikwissenschaft I: 5-20.1885.Ir para cima ? Kunst, Jaap. Musicologica: A Study of the Nature of Ethno-Musicology, its Problems, Methods and Representative Personalities. Amsterdam: Uitgavevan het Indisch Instituut, 1950Ir para cima ? Ellingson, Ter. 1992. Notation. In Ethnomusicology  an introduction. Helen Meyers, ed. New York: W. W. Norton.Ir para cima ? Ribeiro, Hugo L. A análise musical na Etnomusicologia. Ictus 4 Ba,Periódico do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal da Bahia Dispo em pdfIr para cima ? Merriam, Alan . The Anthropology of Music, USA,Il Northwestern University Press, 1980Ir para cima ? Mauss, Marcel. Manual de etnografia. Lisboa,Pt, Pórtico, 1967Ir para cima ? Lévi-Strauss, Claude. Mito e música in: Lévi-Strauss, C. Mito e signifi

cado. Lisboa, Edições 70, 1989Ir para cima ? Blacking, John. 1973 How Musical is Man? Seattle: University of Washington.Ir para cima ? Bastos, Rafael José de Menezes. 1999. A Musicológica Kamayurá: para uma antropologia da comunicação no Alto Xingu. Florianópolis: Editora da UFSC.Ir para cima ? Ribeiro, Hugo L. 2008. As Taieiras. Aracaju: Editora da Universidade Federal de Sergipe.Ir para cima ? Leme, Mônica Neves. 2003. Que Tchan é Esse?: indústria e produção musicao Brasil dos anos 90. São Paulo: Annablume.Ir para cima ? Ribeiro, Hugo L. 2010. Da Fúria à Melancolia: a dinâmica das identidades na cena rock underground de Aracaju. Aracaju: Editora da Universidade Federalde Sergipe.Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Andrade, Mario de. 1928. Ensaio Sobre Musica Brasileira; Estética e Folclore. SP,I. Chiarato & Cia.de Cruces Villalobos, Francisco. 2001. Las culturas musicales: lecturas de etnomusicologia. Madrid, Alianza Editorial, S.A.Hood, Mantle. 1971. The Ethnomusiscologist. New York: McGraw-Hill.Myers, Helen. ed. 1992. Ethnomusicology: An Introduction. New York: Norton.Nettl, Bruno. 1983. The Study of Ethnomusicology: Twenty-Nine Issues and Concepts. Urbana: University of Illinois.Shelemay, Kay Kaufman (ed.). 1992. Ethnomusicology: History, Definitions, and Scope: A Core Collection of Scholarly Articles. Londres: Routledge.

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Musotto, Ramiro. O berimbau da Bahia, um estudo da técnica, escrita e evolução da músic tradicional e contemporânea da Bahia. Ba, HarpDan - Secretaria de Cultura, 2012