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1 APLICAÇÕES ENDODÔNTICAS DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE FEIXE CÔNICO (CONE BEAM)COM ÊNFASE NA RADIOLOGIA : RELATO DE CASO DE REIMPLANTE DENTÁRIO ENDODONTIC APPLICATIONS OF CONE BEAM COMPUTED TOMOGRAPHY: A CASE REPORT OF DENTAL REIMPLANT Andreia Bonato Parolin 1 ; Ana Claudia Galvão de Aguiar Koubik 2 1 Pós-graduanda do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR). 2 MSc, Professora Orientadora do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR). Endereço para correspondência: [email protected] RESUMO: As radiografias convencionais bidimensionais, periapicais, são as mais utilizadas na prática endodôntica. Apesar de sua ampla aplicabilidade, essas imagens não proporcionam informações em terceira dimensão e a sobreposição de estruturas prejudica a elaboração de um diagnóstico preciso e correto plano de tratamento. Para suplantar essas restrições radiográficas e fornecer imagens com maior detalhamento surgiu a tomografia computadorizada cone beam, sendo o objetivo do presente artigo uma revisão da literatura sobre a sua aplicabilidade na endodontia e relatar um caso de reimplante dentário, mostrando a importância dessa tecnologia na decisão da escolha do tratamento. Palavras-chaves: tomografia computadorizada cone beam radiografia convencional, endodontia. ABSTRACT: The conventional two-dimensional radiographs, periapical, are the most used in endodontic practice. Despite its wide applicability, these images do not provide information in the third dimension and overlay structures affect the development of an accurate diagnosis and correct treatment plan. To overcome these constraints and provide radiographic images with greater detail emerged cone beam computed tomography, and the purpose of this article to review the literature on its applicability in endodontics and report a case of tooth replantation, showing the importance of this technology in decision choice of treatment. Keywords: cone bean computed tomography, radiography, endodontics.

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1

APLICAÇÕES ENDODÔNTICAS DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZA DA DE FEIXE

CÔNICO (CONE BEAM)COM ÊNFASE NA RADIOLOGIA : RELATO DE CASO DE

REIMPLANTE DENTÁRIO

ENDODONTIC APPLICATIONS OF CONE BEAM COMPUTED TOMOG RAPHY: A

CASE REPORT OF DENTAL REIMPLANT

Andreia Bonato Parolin1; Ana Claudia Galvão de Aguiar Koubik2

1 Pós-graduanda do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).

2 MSc, Professora Orientadora do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).

Endereço para correspondência: [email protected]

RESUMO:

As radiografias convencionais bidimensionais, periapicais, são as mais utilizadas na prática endodôntica. Apesar de sua ampla aplicabilidade, essas imagens não proporcionam informações em terceira dimensão e a sobreposição de estruturas prejudica a elaboração de um diagnóstico preciso e correto plano de tratamento. Para suplantar essas restrições radiográficas e fornecer imagens com maior detalhamento surgiu a tomografia computadorizada cone beam, sendo o objetivo do presente artigo uma revisão da literatura sobre a sua aplicabilidade na endodontia e relatar um caso de reimplante dentário, mostrando a importância dessa tecnologia na decisão da escolha do tratamento. Palavras-chaves : tomografia computadorizada cone beam radiografia convencional, endodontia.

ABSTRACT:

The conventional two-dimensional radiographs, periapical, are the most used in endodontic practice. Despite its wide applicability, these images do not provide information in the third dimension and overlay structures affect the development of an accurate diagnosis and correct treatment plan. To overcome these constraints and provide radiographic images with greater detail emerged cone beam computed tomography, and the purpose of this article to review the literature on its applicability in endodontics and report a case of tooth replantation, showing the importance of this technology in decision choice of treatment. Keywords : cone bean computed tomography, radiography, endodontics.

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1 INTRODUÇÃO

O exame radiográfico em

Odontologia é essencial para um

adequado diagnóstico, plano de

tratamento e acompanhamento de casos

realizados. Entretanto, suas limitações

dimensionais trazem dificuldades, as

quais estimularam a busca de novas

tecnologias de imagem.1

Em endodontia tem se

demonstrado que nem sempre o exame

radiográfico convencional bidimensional é

suficiente para detectar, comprovar ou

monitorar tratamentos, características

anatômicas e patológicas com a

adequada precisão. Dentre as situações

endodônticas em que a visão

tridimensional se faz indispensável,

podemos destacar as periodontites

apicais, reabsorções, trincas e fraturas

radiculares e obliterações dos condutos.2

A alta resolução de imagens

tridimensionais tem revolucionado o

diagnóstico em Odontologia.3 Estudos

têm comprovado a precisão diagnóstica

da Tomografia Computadorizada Cone

Beam (CBCT) para detectar reabsorções

radiculares inflamatórias em comparação

com radiografias convencionais.4,5

O objetivo do presente trabalho foi

realizar uma breve revisão da literatura

sobre a tecnologia da tomografia

computadorizada de feixe cônico (cone

beam) e suas vantagens sobre as

radiografias convencionais

bidimensionais com ênfase na prática

endodôntica e relatar um caso de

reimplante déntario.

2 REVISÃO DA LITERATURA

A obtenção de imagens

radiográficas sempre foi essencial ao

diagnóstico e ao plano de tratamento em

endodontia. A partir do desenvolvimento

de imagens tridimensionais, obtidas pelo

uso de tomógrafos, tornou-se

interessante também a utilização destes

aparelhos em endodontia.6

Peters et al.7 (2000) inovaram em

um método para avaliar

tridimensionalmente a anatomia dental,

utilizando-se de micro tomografia

computadorizada de alta resolução. Para

tanto utilizaram 12 dentes molares

superiores humanos posicionados em um

aparato que permitiu o exato

reposicionamento dos dentes a fim de

permitir acuracidade nas diferentes

tomadas. Concluíram que o estudo

permitiu demonstrar imagens anatômicas

tridimensionais detalhadas, servindo

como base para estudos da anatomia

endodôntica.

Ao analisarem dois casos de

reabsorção externa, autores8 verificaram

que a tomografia cone beam, além de

auxiliar no diagnóstico, pode facilitar o

tratamento da lesão por permitir a

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localização exata da lesão e dimensionar

muito próxima da realidade, a lesão

presente, fato este nem sempre possível

nas radiografias convencionais.

Cotton et al.9, por sua vez, em

uma breve revisão da literatura,

demonstraram as vantagens da

tomografia cone beam em relação ao

tomógrafo médico convencional e à

radiografia convencional. Concluíram que

a tomografia cone beam auxiliou no

diagnóstico de patologias e da morfologia

do canal radicular, permitiu avaliar

fraturas radiculares e alveolares, bem

como a análise de reabsorções. Da

mesma forma, identificaram as patologias

de origem não endodôntica e avaliaram

previamente as cirurgias

paraendodônticas.

Com o intuito de diagnosticar

patologias periapicais, pesquisadores10

em 2007, compararam imagens

radiografias intraorais com imagens

tridimensionais, onde puderam observar

10% a mais de canais encontrados com a

imagem tridimensional. Da mesma forma,

pela análise radiográfica observaram

menos patologias periapicais do que nas

imagens tomográficas, salientando a

necessidade deste exame complementar

quando, em casos de necrose pulpar ou

cirurgia paraendodontica, não forem

observadas pela radiografia

convencional, imagens sugestivas de

lesão.

Sogur et al.11 (2009) objetivando

também analisar o diagóstico por imagem

de patologias periapicais, compararam

imagens radiográficas intraorais

convencionais, digitais e tomográficas

(tomografia computadorizada de feixe

cônico limitado) na detectabiliade de

lesões periapicais induzidas in vitro.

Lesões periapicais foram criadas em

mandíbulas durante 1, 1,5 hora e 2

horas. Após, os dentes foram

radiografados nas três modalidades

propostas para a comparação. Os

resultados evidenciaram a superioridade

da tomografia computadorizada de feixe

cônico limitado na detecção das lesões,

independentemente dos tempos de

criação das mesmas.

Estrela et al.6 (2009) avaliaram um

método para mensuração da reabsorção

radicular inflamatória (IRR) utilizando a

tomografia computadorizada de feixe

cônico (cone beam). Foram avaliadas 48

radiografias e tomografias de 40

pacientes. Os focos de IRR foram

classificados de acordo com o terço e a

superfície radicular em que se

encontravam, e foram mensurados nos

cortes transversal, axial e coronal. Os

resultados demonstraram que a IRR foi

detectada em 68% (83 superfícies

radiculares) das radiografias e em 100%

(154 superfícies radiculares) das

tomografias (p<.001). Os autores

concluíram que a tomografia

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computadorizada de feixe cônico foi útil

na avaliação das IRR, tendo

desempenho diagnóstico superior ao das

radiografias periapicais.

Com o objetivo de verificar o uso

da tomografia volumétrica de feixe cônico

no diagnóstico de fraturas radiculares,

Bernardes et al.12 em 2009 compararam

imagens radiográficas periapicais

convencionais e tridimensionais de 20

pacientes com suspeita de fraturas

radiculares. Os resultados revelaram

diferença estatisticamente significante

favorável para a tomografia

computadorizada de feixe cônico quando

comparada com radiografias

convencionais no diagnóstico de fraturas

radiculares.

Durak et al.13 (2011) em trabalho

ex vivo simularam reabsorções

radiculares a fim de avaliar a acuracidade

e a sensibilidade da detecção de lesões

incipientes, por meio da tomografia cone

beam, confirmando-as ao final do

experimento.

Solmaz et al.14 (2011) avaliaram a

precisão diagnóstica das radiografias

convencional e digital e da tomografia

computadorizada de feixe cônico para

detecção de fraturas radiculares verticais.

Cento e vinte dentes monorradiculares

extraídos foram selecionados e divididos

em dois grupos, sendo um grupo com

fratura radicular induzida e outro sem

fraturas. Os grupos foram submetidos às

três modalidades radiográficas propostas.

Os resultados mostraram que a

tomografia teve 94,6% de sensibilidade e

98,2% de especificidade na detecção de

fraturas, mostrando ser superior às

radiografias convencional e digital na

detecção de fraturas radiculares verticais.

Silveira et al.15 (2012) compararam

também a radiografia convencional e a

tomografia computadorizada de feixe

cônico na detecção de fraturas

radiculares verticais (VRF) em dentes

com e sem tratamento endodôntico e

pinos metálicos, além de avaliar a

influência de diferentes voxels na

tomografia computadorizada de feixe

cônico. Sessenta dentes humanos

unirradiculares extraídos foram divididos

em grupo experimental e controle. 20

dentes foram preparados e obturados

com guta percha, 20 receberam pinos

metálicos após a obturação e 20 não

receberam nenhum tipo de intervenção.

Todos os dentes foram radiografados em

diferentes ângulos horizontais e

tomografados com variação na resolução

do voxel (0.4, 0.3 e 0.2mm). Os

resultados do desempenho diagnóstico

não detectaram diferença estatística

entre as imagens para a detecção de

fraturas radiculares verticais (VRF).

Houve habilidade similar em detectar

VRFs entre radiografias convencionais e

tomografias com 0,2 e 0,3 voxels de

resolução em dentes sem pinos

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metálicos e tratamento endodôntico.

Especificidade e sensibilidade foram

similares nos voxels 0.2 e 0.3 nos dentes

não obturados. Entretanto, os autores

destacam que dentes com tratamento

endodôntico e pinos, a precisão foi maior

quando a resuloção de 0,2 voxel foi

utilizada. Dessa forma, os autores

concluíram que o exame radiográfico

com variação do ângulo horizontal pode

ser utilizado como primeiro exame

complementar para investigar a presença

das VRFs. Os autores sugerem que

quando a imagem convencional não for

capaz de fornecer informações

adequadas e houver forte suspeita de

fratura radicular, a tomografia

computadorizada de feixe cônico pode

ser indicada. Selecionar a resolução em

voxel, sendo 0,3 para dentes não

obturados e 0,2 para dentes obturados

ou com pinos pode favorecer também o

adequado diagnóstico.1

Ainda comparando imagens

radiográficas convencionais e

tridimensionais, Sogur et al.16 avaliaram

se a combinação de duas imagens

radiográficas com 10º de diferença na

angulação horizontal do feixe de radiação

poderiam resultar em melhor capacidade

de detecção de defeitos periapicais se

comparado a uma única tomada

radiográfica e se essa detectabilidade

estaria próxima à oferecida pela

tomografia computadorizada de feixe

cônico. Os resultados indicaram que a

combinação de exposições com 10º de

diferença na angulação horizontal

ofereceram um incremento, porém não

estatisticamente significativo, na

acuidade diagnóstica tanto para

radiografias convencionais quanto

digitais, comparado com apenas uma

exposição. Entretanto, a tomografia

computadorizada de feixe cônico foi

superior a qualquer outra situação.

Patel et al.17 avaliaram a detecção

de patologias periapicais por meio de

radiografias periapicais digitais e

tomografia computadorizada cone beam

em tratamentos endodônticos após 1 ano

de tratamento e acompanhamento. 123

dentes de 99 pacientes, após completar 1

ano de tratamento, foram radiografados e

tomografados e as imagens comparadas

com suas respectivas pré tratamento. A

taxa de reparo para todos os canais foi

de 92,7% utilizando radiografias

periapicais e de 73,9% para imagens

tomográficas. Os resultados levam a

concluir que o diagnóstigo tomográfico

revelou menor índice de reparação dos

canais em relação às radiografias

periapicais.

Os referidos autores17 prosseguem

ressaltando que a tomografia

computadorizada de feixe cônico – cone

beam é um sistema de imagem

especificamente designado para o

esqueleto maxilofacial. O sistema

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superou muito das limitações da

radiografia convencional pela produção

de imagens não distorcidas e

tridimensionais da área examinada, o que

é muito útil em endodontia. Segundo os

autores, podem-se obter imagens

precisas das estruturas anatômicas e

morfologia radicular, melhorar a detecção

de patologias endodônticas como

periodontites apicais, reabsorções e

fraturas radiculares. Além disso, a

tomografia cone beam opera com

reduzida quantidade de radiação quando

comparada a tomografia convencional.

3 RELATO DE CASO

Paciente L.M.P., sexo masculino,

11 anos de idade, procurou o

atendimento emergêncial do Hospital

Cajuru, Curitiba, em setembro de 2011,

com história de avulsão traumática do

dente 11. A avulsão tinha ocorrido há

cerca de três horas e o fator causal foi

um choque com outra criança durante

brincadeira em cama elástica. O dente foi

mantido seco, sem qualquer meio de

conservação.

O dente foi reimplantado, mantido

com medicação intracanal e com

contenção rígida. O paciente não

continuou o acompanhamento.

Aproximadamente 1 ano após, em

outubro de 2012, o paciente procurou a

Universidade Tuiuti do Paraná para

reavaliar o caso.

Para avaliação da atual situação

do dente 11 reimplantado foi realizada

radiografia periapical onde observou-se

atenuação de imagem em terço

médio/apical radicular mesial,

suspeitando ser reabsorção radicular

externa e perda óssea alveolar em terço

cervical (Figura 1). Para melhor

detalhamento e visualização

tridimensional optou-se pela realização

da tomografia computadorizada cone

beam. O exame tomográfico confirmou a

presença da reabsorção radicular externa

em terço médio/apical por palatal

visualizada nos cortes sagitais e por

mesial observada nos cortes coronais.

Notou-se também nos cortes sagitais e

coronais a presença de perda óssea

alveolar em terço cervical, bem como

ausência de tábua óssea vestibular

percebida nos cortes sagitais (Figuras 2-

3).

Figura 1 – Radiografia periapical realizada em

outubro de 2012

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Figura 2 – Cortes sagitais da tomografia computadorizada realizada em outubro de 2012

Figura 3 – Cortes coronais da tomografia computadorizada realizada em outubro de 2012

Decidiu-se pela endodontia.

O dente foi anestesiado com

mepivacaína 2% com epinefrina através

da técnica infiltrativa. Foi feito isolamento

absoluto e antissepsia do campo

operatório com pvpi. O curativo foi

removido com ponta diamantada esférica

#1013 e a forma de conveniência

finalizada com ponta diamantada

cilíndrica #3082.

Como líquido irrigador foi utilizado

o Hipoclorito de Sódio 1% (padrão UTP)

em seringas plásticas com pontas Endo-

Eze 1” (Ultradent, South Jordan, Utah,

USA), com irrigação abundante durante

todo o preparo. O saneamento foi

realizado com limas #15, 20 e 25 flexofile

(Dentsply, Tulsa, Oklahoma, USA), sendo

que com a lima #25 foi feita a

odontometria eletrônica com localizador

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apical Novapex (Forum Enginnering

Technologies, Rishon Lesion, Israel),

chegando-se à medida de 26,5mm para

0mm do ápice. Após radiografia de

confirmação da odontometria, o

comprimento de trabalho (CT) foi

estabelecido em 26mm.

Para o preparo do canal usou-se o

sistema rotatório Protaper (Dentsply,

Tulsa, Oklahoma, USA) até a lima F5 e

complementou-se com as limas #70 e 80

flexofile (Dentsply, Tulsa, Oklahoma,

USA).

O canal foi preenchido com

E.D.T.A. Trissódico (Biodinâmica, Ibiporé,

Pr, Brasil) por cinco minutos e então nova

irrigação com Hipoclorito de Sódio 1% foi

realizada. Seguiu-se a secagem do canal

com pontas de papel absorventes #80

(Tanari, Manaus, AM, Brasil).

O cone principal de gutapercha

selecionado foi o #80.02 (Tanari,

Manaus, AM, Brasil) e foi feita a prova do

cone.

Escolheu-se para a obturação a

técnica de condensação lateral com

pontas de gutapercha acessórias MED-

FINE 28mm (Tanari, Manaus, AM, Brasil)

e cimento endodôntico AH Plus

(Dentsply, Tulsa, Oklahoma, USA).

Após radiografia de confirmação

da obturação foi feito o corte da

gutapercha e preparo para apoio de pino

de fibra de vidro com broca largo, sem

ponta ativa, na medida de 17mm. O

dente foi selado com cimento ionômero

de vidro Vidrion R (SSWhite, Rio de

Janeiro, RJ, Brasil) .

Nova sessão foi realizada para

cimentação de pino de fibra de vidro.

Procedeu-se novamente a sequência de

anestesia, isolamento e desinfecção do

campo operatório. A restauração

provisória foi removida. Foi escolhido o

uso de um pino anatômico através de

técnica de reembasamento utilizando-se

pino Angelus. O conduto foi ligeiramente

isolado com vaselina. O pino foi imerso

em álcool 70% e depois em silano pré

ativado (Angelus, Londrina, Pr, Brasil) por

60 segundos. Foi aplicado ao redor do

pino resina composta Z100 (3M Dental

Products, St. Paul, MN, USA), cor B2 e o

pino foi levado ao conduto. Feita

polimerização por 5 segundos e remoção

do pino. Finalizou-se a polimerização por

60 segundos.

O interior do conduto foi irrigado

abundantemente com Hipoclorito de

sódio 1% para remoção da vaselina,

sendo finalizada a limpeza com aplicação

de EDTA e soro fisiológico.

Foi feito condicionamento ácido do

dente com ácido fosfórico 37% durante

15 segundos e lavado durante 30

segundos. O excesso de água foi

removido com cones de papel

absorvente.

Com auxílio de microbrush

aplicou-se Fusion Duralink Primer

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(Angelus, Londrina, Pr, Brasil) no dente

por 30 segundos e após jato de ar por 10

segundos. Em seguida foi aplicado o

Fusion Duralink Adesivo (Angelus,

Londrina, Pr, Brasil) e Fusion Duralink

Catalisador (Angelus, Londrina, Pr,

Brasil).

O cimento químico resinoso

Cement Post A3 (Angelus, Londrina, Pr,

Brasil) foi manipulado e aplicado ao

redor do pino e no interior do conduto

com broca lentulo. O pino foi inserido em

posição e feita polimerização por 60

segundos.

Com ponta diamantada cilíndrica

foi feito o corte do excesso do pino e

acabamento feito com broca esférica

carbide.

Foi feito condicionamento ácido do

dente com ácido fosfórico 37%, aplicação

de adesivo prime and bond e restauração

com resina composta Z100 (3M Dental

Products, St. Paul, MN, USA), cor B2. O

acabamento foi feito com pontas

abrasivas e pasta diamantada Diamond I

e II (FGM, Joinville, Sc, Brasil).

Para acompanhamento do caso,

em agosto de 2013 nova radiografia

periapical do dente 11 foi realizada

demonstrando conduto radicular tratado

endodônticamente, atenuação de

imagem em terço médio/apical radicular

mesial e perda óssea alveolar (Figura 4).

Figura 4 – Radiografia periapical realizada em

agosto de 2013

Na tomografia computadorizada

cone beam do dente 11 observou-se

terapia endodôntica, reabsorção

radicular externa em terço médio/apical

por palatal e por mesial, perda óssea

alveolar em terço cervical e ausência de

tábua óssea vestibular. Características

imaginológicas semelhantes as

observadas no exame tomográfico inicial,

ou seja, sem evolução. Diferentemente

do exame tomográfico incial visualizou-se

nos cortes sagitais aumento do espaço

periodontal palatal e nos cortes coronais

aumento do espaço periodontal mesial e

distal (Figuras 5 e 6).

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Figura 5 – Cortes sagitais da tomografia computadorizada realizada em agosto de 2013

Figura 6 – Cortes coronais da tomografia computadorizada realizada em agoto de 2013

4 DISCUSSÃO

O uso da imagem tomográfica em

Endodontia foi questionado inicialmente

por ter tomógrafo médico convencional

era limitado em fornecer os detalhes

necessários para a uma avaliação

endodôntica minuciosa.18 Além disso, as

deficiências para o uso em Odontologia

também incluíam altas doses de radiação

quando comparadas às radiografias

convencionais, a presença constante de

artefatos nas imagens, a pequena

resolução espacial e a dificuldade de

visualizar patologias incipientes.2

Em 1997, a tecnologia cone beam

(feixe cônico) foi adaptada para o uso

odontológico, modificando o tomógrafo

convencional para um aparelho com

capacidade de captar áreas menores

com alta resolução, além de menores

doses de radiação. As imagens, após

serem captadas, são transferidas para

um computador e reconstruídas em

planos que podem ser axial, sagital e

coronal, produzindo poucos artefatos.1

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A tomografia cone beam supera as

limitações da radiografia convencional

em diversos aspectos, tais como

individualização de raízes, não

superposição de imagens ósseas e

raízes adjacentes. Além disso, a

visualização de raízes em três dimensões

e o tamanho real de lesões periapicais

podem ser avaliadas.8,9,11,17

Demonstraram também por meio de

revisão de literatura as várias indicações

da tomografia cone beam na tomografia

endodôntica, dentre as quais a detecção

de lesões periapicais, diagnóstico e

tratamento do trauma dental, visualização

dos sítios cirúrgicos paraendodônticos,

visualização da anatomia e morfologia

dos canais radiculares, diagnóstico e

tratamento de reabsorções radiculares,

diagnóstico de fraturas radiculares

verticais e proservação de casos.18

Esse trabalho teve o objetivo de

estudar as diversas aplicações da

tomografia cone beam em endodontia,

fazendo um relato de caso clínico

endodôntico utilizando a tecnologia

descrita, da mesma forma que os autores

descreveram.8

No caso apresentado, a suspeita

de reabsorção radicular externa

apresentada na radiografia periapical foi

confirmada com a realização do exame

tomográfico. Durak et al13 (2011),

demonstraram a especificidade e a

sensibilidade da tomografia cone beam

na detecção de reabsorções radiculares

externas incipientes, sendo

significativamente superior aos

resultados obtidos na radiográfica

convencional. Uma vez confirmada a

reabsorção radicular externa substitutiva

no caso relatado, o tratamento instituído

foi tratamento obturador e restaurador,

conforme descrição.

5 CONCLUSÃO

A tomografia computadorizada

cone beam superou as limitações da

radiografia convencional bidimensional

pela produção de imagens não

distorcidas e tridimensionais da área

examinada, o que é muito útil na

endodontia, essencialmente em casos

especiais como reabsorções radiculares,

patologias periapicais, anatomia dental,

obliteração dos condutos, trincas e

fraturas radiculares.

No presente estudo a tomografia

computadorizada cone beam mostrou

com exatidão a condição da reabsorção

radicular externa, bem como a ausência

da tábua óssea vestibular, sendo a

tecnologia decisiva na escolha do

tratamento, pois forneceram informações

não alcançadas pela radiografia

convencional bidimensional.

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6 REFERÊNCIAS

1. Patel S. New Dimensions in Endodontic imagin: part 2. Cone beam computed tomography. Int Endod J 2009;42:463-75.

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