dantas, juliana. vine x instagram
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Comunicação Social
JULIANA DANTAS
VINE X INSTAGRAM:ESTUDO DE CASO COMPARATIVO SOBRE A PRODUÇÃO
AUDIOVISUAL PARA PEQUENAS MÍDIAS
NATAL – RN
2013
JULIANA DANTAS
VINE X INSTAGRAM:ESTUDO DE CASO COMPARATIVO SOBRE A PRODUÇÃO
AUDIOVISUAL PARA PEQUENAS MÍDIAS
Monografia apresentada ao Departamento de
Comunicação Social, do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
(DECOM/CCHLA/UFRN) como Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do
título de Bacharel em Comunicação Social
(Habilitação Rádio e TV).
Orientadora: Profa. Ms. SONIA REGINA SOARES DA CUNHA
NATAL – RN
2013
FOLHA DE APROVAÇÃO
JULIANA DANTAS
VINE X INSTAGRAM: ESTUDO DE CASO COMPARATIVO SOBRE A PRODUÇÃO
AUDIOVISUAL PARA PEQUENAS MÍDIAS
Monografia apresentada ao Departamento de
Comunicação Social, do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
(DECOM/CCHLA/UFRN) como Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do
título de Bacharel em Comunicação Social
(Habilitação Rádio e TV).
Aprovada em: ____/_____/_____
Comissão Examinadora:
_____________________________________________________________________
Profa. Ms. SONIA REGINA SOARES DA CUNHA (UFRN) – Orientador
_____________________________________________________________________
Prof. Ms. EMILY GONZAGA DE ARAUJO (UFRN) – Examinador
_____________________________________________________________________
Prof. Ms. BRUNO SERGIO FRANKLIN FARIAS GOMES (UFRN) – Examinador
Coordenador Pro Tempore do Curso de Comunicação Social:
Prof. Dr. ITAMAR DE MORAIS NOBRE
NATAL - RN
2013
Aos meus pais.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a família que sempre incentivou meus estudos, mesmo diante
das situações mais difíceis. À Fernanda Dantas, minha mãe e exemplo de bravura. À José
Everaldo Dantas e Ernestina Honorato Dantas, meus avós-pai e mãe, responsáveis pela minha
criação e doutores de minha educação. Aos meus tios-irmãos Fabiano Dantas, Fábio Henrique
Dantas e Fernando Dantas pois sempre tiveram paciência e proporcionaram grande aprendizado
a sua irmã caçula. E aos meus primos-sobrinhos Alexia Amanda de Almeida Dantas e Nathan
Gabriel Pereira Dantas. E agradeço também Karl Dantas pela paciência e ensinamentos
constantes.
Agradeço aos amigos por me guiarem em diversas das minhas escolhas e nunca
desvirtuarem meu caminho. Aos amigos da Rua Dr. José Francisco da Silva, em especial a
Idaliana Fagundes de Souza por estar ao meu lado desde o primeiro ano de minha vida. Aos
amigos do curso de Comunicação Social ajudantes em minha formação, são eles: Arthur
Barbalho, Davi Severiano, Hana Dourado, Isaías Bezerra e Jomar Dantas. À Deivson Mendes,
João Paulo Santos, Frank Aleixo e Thyago Cesar pela constante amizade e parceria. E um
agradecimento especial ao amigo Fábio Felipe Wanderley, meu irmão e professor, o maior
presente que o destino deu ao meu renascimento, quando ingressei no curso de Comunicação
Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2009.
Aos mestres e doutores do corpo docente do Departamento de Comunicação Social,
fundamentais para minha formação. Em especial àqueles que me estimularam a buscar
conhecimento mesmo quando eu pensava em desistir: Ao Chefe do DECOM, Sebastião
Faustino por ser um exemplo de gestor. Ao Coordenador Ary Azevedo por despertar meus
anseios para a Publicidade e Propaganda. À Ângela Pavan, responsável por aprimorar minha
sensibilidade em relação ao outro. À Ruy Rocha. Aos professores Bruno Gomes e Emily
Gonzaga por serem tão compreensíveis e solícitos com essa aluna que nem sempre se dedicou
o bastante. E agradeço especialmente a minha orientadora Sônia Regina, que me acolheu no
passo mais importante de minha graduação, segurou minha mão e me ajudou a prosseguir.
Por fim, agradeço à Rodrigo Tavares, Gustavo Mantovani, Carla Miranda e Rodrigo Ceni,
meus ídolos e amigos, por serem o constante pulsar de meu coração. Agradeço a Lucas Silveira
por ser o porta-voz do alimento que me fortalece todos os dias, a banda Fresno. Por me reerguer
de todas as minhas quedas e me fazer enfrentar meus medos dizendo que “os sonhos são
objetivos que a gente re-batiza desse jeito apenas para que pareçam inatingíveis. E o nosso salto
pode ser do tamanho que a gente conseguir imaginar. Basta que a gente perca o medo de molhar
os pés.”
A revolução não acontece quando a sociedade
adota novas ferramentas. Acontece quando a
sociedade adota novos comportamentos.
(Clay Shirky)
RESUMO
DANTAS, Juliana. VINE X INSTAGRAM: Estudo de Caso comparativo sobre a produção
audiovisual para pequenas mídias. 2013. 57p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado).
Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(DECOM/UFRN). Orientadora: Profa. MSc. Sonia Regina Soares da Cunha.
O objetivo deste estudo investigativo é registrar, descrever e analisar aspectos da micro
produção audiovisual utilizando-se os aplicativos Vine e Instagram e veiculada através do
aparelho de celular inteligente (smartphone). A metodologia escolhida foi a do estudo de caso
duplo (YIN, 2005), aliando-se também, as técnicas de revisão de literatura e documental,
entrevistas e observação participante. A investigação revelou que os sites de redes sociais (Vine
e Instagram) são plataformas de comunicação audiovisual baseadas na web e que permitem
interação entre os integrantes, devidamente cadastrados. Estes agentes sociais se reconhecem
como consumidores e ao mesmo tempo, se identificam como produtores de uma nova mídia,
cuja informação e inspiração surgem de fontes muito além da mídia hegemônica tradicional.
Palavras-Chave: Redes Sociais. Comunicação. Audiovisual.
ABSTRACT
DANTAS, Juliana. VINE x INSTAGRAM: Comparative Case Study on audiovisual production
for small media. 2013. 57p. Conclusion Paper degree. Communication Department of the
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DECOM / UFRN). Advisor: Prof. MSc. Sonia
Regina Soares da Cunha.
The objective of this study is describe and analyze aspects of micro audiovisual production
using Vine and Instagram apps and conveyed through the smartphone device. The methodology
chosen was the double case study (YIN, 2005), and literature review, interviews and participant
observation. The investigation revealed that social networking sites (Vine and Instagram) are
audiovisual media platforms, web based and allow interaction among registered members.
These social actors identify themselves as consumers and at the same time as producers of new
media, which information and inspiration come from sources beyond the traditional mainstream
media.
Keywords: Social Networks. Communication. Audiovisual.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 – Vine vs Instagram ..................................................................................... 13
Ilustração 2 – Diagrama da Rede Social .......................................................................... 24
Ilustração 3 – 6 TV De-coll/age, Wolf Vostell, 1963 ...................................................... 26
Ilustração 4 –Instagram Candidato Obama ..................................................................... 32
Ilustração 5 – Aplicativo Vine ......................................................................................... 33
Ilustração 6 – Mecanismo gravação do Vine................................................................... 34
Ilustração 7 – Mecanismo gravação do Instagram .......................................................... 34
Ilustração 8 – Tela compartilhamento do Vine e do Instagram ....................................... 41
Ilustração 9 – Tela de exploração do Vine e do Instagram ............................................. 42
Ilustração 10 – Geolocalizador do Instagram .................................................................. 43
Ilustração 11 –Cignoli gravando vídeo ............................................................................ 44
Ilustração 12 – Cignoli pergunta: "Vine ou Instagram?" ................................................ 45
Ilustração 13 – Comentários seguidos de Cignoli ........................................................... 45
Ilustração 14 – Ryle gravando vídeo ............................................................................... 46
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – "Não importa qual celular você usa. Mas, sim qual o sistema dele." ............. 16
Gráfico 2 – Visualização vídeos BR vs EUA .................................................................... 17
Gráfico 3 – Comparativo audiência vídeos pelo smartphone em 26 países ...................... 18
Gráfico 4 –Queda visualização de vídeos China e EUA 2012/2013 ................................. 19
Gráfico 5 – Atividades paralelas junto com smartphone ................................................... 21
Gráfico 6 – Difusão de smartphones ................................................................................. 22
Gráfico 7 – Uso Redes Sociais smartphone BR & EUA ................................................... 29
Gráfico 8 – Aplicativos no smartphone ............................................................................. 30
Gráfico 9 –Preferência do usuário entre smartphone e outras mídias ............................... 37
Gráfico 10 – Atividades no smartphone/semanal .............................................................. 38
Gráfico 11 – Comparativo entre links Vine vs Instagram ................................................. 39
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
1.1 De facilitador a faz tudo: o smartphone nosso de cada dia ................................. 14
2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 20
2.1. Objetivo Geral .................................................................................................... 20
2.2. Objetivos Específicos ........................................................................................ 21
3. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 22
4. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 24
4.1. Redes Sociais na Internet ................................................................................... 24
4.2. Aplicativo ........................................................................................................... 28
4.3. Instagram ............................................................................................................ 30
4.4. Vine .................................................................................................................... 33
5. METODOLOGIA .................................................................................................... 36
5.1. Estudo de Caso Comparativo sobre a micro comunicação audiovisual ............. 36
5.2. A cultura da narrativa midiática digital como lócus investigativo ..................... 36
5.3. Comparativo da Prática Social Midiática (Vine vs Instagram) ......................... 39
5.4. Diferenças entre Vine & Instagram .................................................................... 40
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 48
6.1. Propriedade Intelectual ....................................................................................... 50
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 53
ANEXOS ........................................................................................................................ 56
Anexo I – Entrevista Meagan Cignoli ............................................................................. 56
Anexo II – Entrevista Rachel Ryle .................................................................................. 57
12
1. INTRODUÇÃO
O conceito de "Indústria Cultural” formulado na Dialética do Esclarecimento:
Fragmentos Filosóficos, 1947 (Dialektik der Aufklärung – Philosophische Fragmente) por
Theodor W. Adorno e Max Horkheimer alerta sobre a dominação exercida pela mídia
hegemônica, ou seja, da imposição de certos padrões midiáticos repetitivos, despertando nos
agentes sociais as necessidades de consumo.
O preço que os homens pagam pelo aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre
o que exercem o poder. O esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador
se comporta com os homens. Este conhece-os na medida em que pode manipulá-los.
O homem de ciência conhece as coisas na medida em que pode fazê-las. É assim que
seu em-si torna para-ele. Nessa metamorfose, a essência das coisas revela-se como
sempre a mesma, como substrato da dominação. (ADORNO e HORKHEIMER, 1985,
p.18).
Porém, para Henry Jenkins (2008) há um novo processo de transformação da produção
cultural, ou seja, o consumidor não apenas consome, mas também vislumbra a possibilidade de
participar do processo de produção midiática, integrando uma "cultura participativa", que
segundo Henry Jenkins (2008) é a “cultura em que fãs e outros consumidores são convidados a
participar ativamente da criação e da circulação de novos conteúdos” (JENKINS, 2008, p. 333).
O compartilhamento do cotidiano feito através da internet, faz com que o hábito de ler
uma notícia num jornal impresso ao acordar de manhã, por exemplo, se torne obsoleto. Os
novos hábitos mostram que, entre as atividades diárias prioritárias, estão: checagem de e-mails
pessoais e profissionais; acesso às redes sociais (Facebook, Twitter etc.) para se manter
atualizado sobre as notícias do mundo, ou da própria cidade; e além disso, para obter
informações sobre a vida de pessoas próximas, ou não tão próximas, como as celebridades. E
da mesma maneira com que o agente social checa e acompanha o cotidiano das outras pessoas,
ao mesmo tempo, também compartilha flashes (em forma de textos, fotos e vídeos) dos
acontecimentos diários da própria vida. E numa cadeia contínua, o compartilhamento se
processa ad infinitum, através dos inúmeros agentes que utilizam o formato da micro
comunicação para dar sequência ao processo midiático através das redes sociais conectadas
pela internet. Para Donaton (2007) esse processo pode identificar o papel ativo assumido pelo
agente social.
A chave para entender a mudança é a transferência de poder: de quem faz e distribui
os produtos de entretenimento para quem os consome. Em outras palavras, o poder
está migrando dos estúdios de cinema, das redes de televisão, das gravadoras e das
13
agências de propaganda para o sujeito no sofá com o controle remoto, ou para a mulher
que compra uma entrada de cinema no multiplex de seu bairro, ou para o adolescente
que baixa música na internet. O consumidor ganhou poder e liberdade (DONATON,
2007 p. 25).
O poder e a liberdade que chegaram com o avanço tecnológico passam pelas pequenas
mídias e os aplicativos desenvolvidos especialmente para permitir que os usuários tenham
acesso, via internet, às redes sociais, como Twitter, Facebook, YouTube, entre outras, tanto
para receber como para enviar conteúdo. Em especial os smartphones1 são hoje, mais do que
simples aparelhos de telefone celular, são dispositivos de alta tecnologia que permitem a
execução de uma infinidade de tarefas, entre elas tirar fotos, gravar vídeos e enviar o material
para as redes sociais através da conexão pela internet.
Diante deste novo cenário de consumo da comunicação e cultura, este estudo
investigativo busca registrar, descrever e analisar a nova forma de comunicação interpessoal
audiovisual feita pelos agentes sociais, com o uso dos smartphones para gravar, editar e
compartilhar vídeos de no máximo 15 segundos, através dos aplicativos Instagram do Facebook
e Vine do Twitter, no ciberespaço.
Ilustração 1: Vine vs Instagram (Imagem: Mashable.com)
1 Segundo o Dicionário de Referências (2013, online) "smartphone é um aparelho que combina um telefone celular
(móvel) com um computador portátil, capaz de oferecer acesso à internet, arquivamento de dados (áudio e vídeo),
capacidade para trocar e-mails entre outras funções”. A palavra smartphone tem origem datada de 1995 e pode ser
traduzida como telefone inteligente. Smart = inteligente + phone = telefone. (tradução da orientadora)
14
1.1 De facilitador a faz tudo: o smartphone nosso de cada dia
No começo dos anos 2000 deu-se início a uma era que muitos acreditavam só acontecer
em filmes de ficção cientifica ou, quem sabe, daqui há algumas dezenas de anos: A nova era
digital e, dentro dela, a era dos smartphones. O termo smartphone (telefone inteligente) é
designado para aparelhos que funcionam tanto como telefone quanto como computador. Esses
aparelhos vieram com o propósito de facilitar a vida do ser pós-moderno que tem a intenção de
aproveitar os espaços de tempo entre suas atividades para fazer algo útil em relação ao seu
trabalho, estudo ou entretenimento.
Em 1992, ocorreu o primeiro ensaio sobre a nova era digital, quando a IBM lançou o
Simon, aparelho que possuía recursos como PDA (PersonalAssistantSistem) e fax, além de já
dispor de uma tela resistiva sensível ao toque. Dez anos após, a empresa Kyocera lançou o
aparelho QCP 6035 que custava na época cerca de R$ 3 mil no mercado nacional. O modelo
mesclava as funções de celular com computador através do sistema operacional Palm OS e
permitia a conexão com a internet porém o alto custo inviabilizou o consumo em massa.
Em 2002, os consumidores brasileiros tiveram acesso aos aparelhos de telefonia móvel
com tecnologia GSM (Global System for Mobile Communications) e tela colorida. O pioneiro
no mercado brasileiro foi o Communicator 9210 da Nokia, custando em torno de R$ 3,5 mil.
No mesmo ano também foi lançado o Treo 300 da Handspring, primeiro aparelho celular que
dispunha de um teclado com layout QWERT, o modelo de teclado mais utilizado em
computadores até os dias atuais. Em 2005, a operadora de telefonia móvel TIM lançou um plano
de serviços que custava cerca de R$ 400 por mês, e que permitia ao consumidor adquirir um
aparelho Blackberry, podendo receber e enviar e-mails. Depois foi a vez da HP lançar o iPac
Mobile Mensseger que tinha como o seu atrativo principal a conectividade com as redes GSM,
GPRS (General Packet Radio Service), Wi-Fi, e EDGE (Enhanced Data rates for GSM
Evolution).
Em 2007, a Apple lançou o iPhone, um aparelho multitarefas com a capacidade de
memória interna de 8 gigabyte. O iPhone possibilitava o usuário integrar as funções de celular
(com acesso à internet, busca online, Wi-Fi, emails, sistema operacional Mac OS X, adaptado
para o dispositivo móvel e hoje conhecido como iOS, e tecnologias GSM e EDGE); do iPod
(compartilhador de músicas/tocador digital da Apple); e câmera (2megapixels). Entre os
15
diferenciais estavam a duração da bateria (5h/conversação e 16h/reprodução musical) e uma
tela de 3.5 polegadas sensível ao toque dos dedos (Multitouch) equipada com teclado virtual e
com sensor de movimento que permitia a visualização das imagens em qualquer sentido
(horizontal ou vertical). Segundo Steve Jobs, diretor da Apple na época (morreu em 2011), o
iPhone tornava realidade o sonho de transformar o dedo em caneta. "Vamos usar o melhor
aparelho para selecionar itens. Nascemos com dez deles, os nossos dedos. A tela ignora toques
acidentais e entende as ordens simultâneas de diversos dedos." (JOBS apud GLOBO, 2007,
online)
O outro sistema operacional (aberto) é o Android, desenvolvido pelo Google em 2007.
Para a editora da CBS TV, Jéssica Dolcourt (2013) os aparelhos com Android mais utilizados
pelos usuários são: Motorola DroidMaxx; Samsung Galaxy Note 3; SamsungGalaxy S4;
HTCOne; GoogleNexus 5; HTC One Mini. A plataforma Android é a mais popular entre as
empresas de tecnologia devido ao baixo custo, bem como porque é personalizável. Apesar de
ter sido projetado especialmente para telefones celulares e tablets, este sistema operacional
também tem sido utilizado em televisores, jogos, câmeras digitais e outros aparelhos
eletrônicos.
Em setembro de 2013, foi lançada a mais recente versão do iOS 7 da Apple. A capacidade
de armazenamento em seus dispositivos móveis (iPhone, iPad e iPod) chega aos 64 gigabyte.
Os novos dispositivos, lançados em paralelo ao novo sistema operacional, contam com leitura
biométrica, tecnologia que pretende revolucionar o uso do cartão de crédito. Durante os últimos
anos a Apple aperfeiçoou o seu smartphone (iPhone) acrescentando outras funções para a
interface com o usuário, entre elas, GPS; câmera de vídeo com resolução de 1080p (alta
definição), 8-MP; sensor iluminado na parte de trás do aparelho que captura imagens com pouca
luz e flash que permanece ligado durante gravações de vídeo; duas câmeras de vídeo (frente e
verso); slowmotion (câmera lenta) (120 fps); identificador de rostos; fotos panorâmicas; fotos
e vídeos ao mesmo tempo usando o botão do volume para iniciar a gravação, que conta com
um giroscópio interno para estabilizar a imagem durante a captura; jogos eletrônicos; correio
de voz visual e mais de um milhão de aplicativos da Apple e de terceiros que podem ser
baixados para ativar outros serviços. (iPhone, Wikipedia, 2013, online).
Com tantos recursos técnicos e de ponta, um dos pontos mais criticados pelos usuários é
a falta de privacidade, que pode ajudar a localizar e até bloquear o aparelho no caso de perda
ou roubo, mas também, permite que agências de segurança internacionais tenham acesso aos
16
dados dos usuários (localização geográfica, notas, leituras, e-mails, mensagens etc.).
Recentemente, a mídia mundial alertou sobre a invasão de dados não só de iPhones, mas
também dos proprietários de BlackBerrys e aparelhos com o sistema Android.
Segundo dados da Gartner (2013) os smartphones com sistema Android são os mais
vendidos nos Estados Unidos. Entre os aparelhos celulares, as marcas mais vendidas em 2012
foram: 1º Samsung, 2º Nokia e 3º Apple. Entretanto, quando analisamos os números das trocas
de dados através da internet móvel, o sistema iOS da Apple vem em primeiro lugar. Para Tim
Cook (2013), diretor da Apple, "o sucesso da empresa não é medido pela venda unitária, porque
a Apple nunca conseguiu ser líder através dessa métrica, mas sim, através das estatísticas de
utilização do sistema iOS" (COOK apud GROBART, 2013, online), onde revela um gráfico
positivo.
Gráfico1: "Não importa qual celular você usa. Mas, sim qual o sistema dele." (Fonte: GARTNER, 2013)
Com tantas funções e aplicações, fica fácil para o usuário concentrar a maioria das
atividades diárias para realização através do dispositivo móvel, entre elas receber e enviar e-
mails e mensagens, e principalmente, atualizar o perfil nas redes sociais. Mas, o que este estudo
investigativo objetiva registrar e analisar é o compartilhamento e visualização de vídeos através
dos smarthphones.
Através da ferramenta Think Insights do Google, disponível em
http://thinkwithgoogle.com é possível elaborar gráficos instantâneos sobre hábitos dos usuários
17
de smartphones em 48 países. O portal Our Mobile Planet (Nosso Planeta Móvel) oferece
diversas possibilidades de pesquisa personalizadas, que podem ser baixadas gratuitamente,
entre elas, uma comparação entre Brasil e Estados, por exemplo, sobre o número de usuários
que utiliza o aparelho para ver vídeos. Em 2013, a média diária da visualização de vídeos pelos
brasileiros, através das telas dos aparelhos celulares, é quatro por cento maior do que a dos
americanos.
Gráfico 2: Visualização vídeos BR vs EUA. (Fonte: Google, 2013)
De acordo com o portal do Google (2013), dos 48 países cadastrados, apenas 24
disponibilizam informações sobre visualização de vídeos pelo celular. A base da pesquisa é de
mil entrevistados em cada país, mas na Arábia Saudita, foram 500 pessoas entrevistadas. Os
dados da pesquisa são de 2013. Para obter os resultados a seguir, foi introduzida a pergunta:
"qual é a porcentagem de usuários de smartphones que assiste vídeos diariamente?"
Abaixo podemos analisar o gráfico com o resultado total de visualização de vídeos em 26
países, bem como uma lista com algumas porcentagens, do país com maior, para o país com
menor número de usuários que assistem vídeos pelo smartphone.
28%
24%
Brasil Eua
Diariamente
18
Arábia Saudita – 64.1 %
Emirados Árabes – 55.3 %
Tailândia – 53.3 %
Vietnã – 49.2 %
México – 48.3 %
Turquia – 45.8 %
Índia – 44 %
Coréia – 43 %
Brasil – 28 %
Estados Unidos – 24 %
Gráfico 3: Comparativo audiência vídeos pelo smartphone em 26 países (Fonte: Google, 2013)
Assistir vídeos é apenas uma das atividades desenvolvidas pelos usuários de smartphones,
pois a maioria dos usuários utiliza a conexão com a internet através do aparelho para acessar a
rede social e atualizar a mensagem de status, bem como verificar mensagens ou e-mails
(Google, 2013).
14%11%
64%
29%
19%14%14%
28%
18%24%
43%
19%
55%
25%24%
39%
10%13%
28%36%
16%18%
44%48%
14%
49%
Áfr
ica
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man
ha
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dit
a
Arg
enti
na
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Hungri
a
Japão
Índia
Méx
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Rei
no U
nid
o
Vie
tnã
Frequência de visualização de vídeos pelo smartphone
2013
19
Entretanto, de acordo com o estudo realizado pelo Google (2013) a China e os Estados
Unidos apresentaram queda de 2012 para 2013; com relação ao fenômeno de assistir vídeo pelo
smartphone, enquanto os dados coletados em outros países revelam um crescimento contínuo
conforme podemos observar no gráfico a seguir.
É possível observar nos dados demonstrados pela pesquisa Google (2012/2013) que a
comunicação audiovisual, feita através de aplicativos disponibilizados aos dispositivos móveis,
aumentou em 2013. Graças a esses aplicativos os agentes sociais tornam-se cada vez mais
capazes e independentes para dar vida aos textos e fotografias, e assim compartilhar produtos
audiovisuais artísticos, bem como narrativas do cotidiano através do ciberespaço.
11%
20% 20%
13%
25%
38%
25%
17%10%11%
30% 28%
18% 24%
55%
24%18%
14%
2012 2013
Gráfico 4: Queda Visualização Vídeos China e EUA 2012/2013. (Fonte: Google, 2013)
20
2. OBJETIVOS
A chegada de redes sociais exclusivas para dispositivo móvel, como o Instagram e o Vine,
fez com que o usuário produzisse cada vez mais o seu próprio conteúdo. Esse conteúdo é
publicado através desses aplicativos, e é muito interessante para as marcas a atração de mais e
mais usuários. Com a evolução tecnológica dos dispositivos e da velocidade da internet
fornecida pelas operadores de celular além do fácil acesso a redes Wi-Fi, os usuários estão cada
vez mais visualizando vídeos em seus smartphones. Essa visualização, feita por diversas
plataformas, influencia também a produção de vídeos por parte do usuário, principalmente para
compartilhar o cotidiano.
2.1 Objetivo Geral
Investigar os novos hábitos dos agentes sociais através da produção audiovisual que vem
sendo compartilhada por usuários nos aplicativos Vine e Instagram. Perceber que um novo
modelo participativo de comunicação está sendo produzido nas redes sociais se faz necessário
nesse momento pois trata-se de um tema novo no âmbito da comunicação voltada para hábitos
socais. Esses hábitos atuais mostram que embora os usuários façam outras atividades, ele
sempre está ao alcance de seu dispositivo para registrar e compartilhar qualquer coisa que seja.
É muito comum, principalmente no Instagram, o usuário compartilhar qual livro está lendo no
momento ou qual música está ouvindo, comentar a participação de um artista num programa de
TV ou o desempenho de um determinado ator de uma série televisiva.
21
O dado acima reforça a ideia de que cada vez mais o usuário quer compartilhar suas
atividades em tempo real. Podemos ver que a maioria dos entrevistados ouve música no mesmo
momento em que utiliza o seu smartphone.
2.2 Objetivos Específicos
Definir a diferença de dois processos de comunicação que estão sendo feitos pelos
usuários de redes sociais através dos aplicativos móveis Instagram e Vine. No último ano, os
usuários passaram a compartilhar seu cotidiano e criar conteúdo através de vídeos e essa
pesquisa pretende facilitar a compreensão sobre o surgimento dessa nova forma de micro
comunicação audiovisual.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Alemanha Argentina Brasil Canadá China Emirados
Árabes
Estados
Unidos
Japão Reino
Unido
Ouve música Lê um livro Assiste TV Joga videogame Lê jornal ou revista Assiste filmes
Gráfico 5: atividades paralelas junto com smartphone (Fonte: Google, 2013)
22
3. JUSTIFICATIVA
Essas mudanças sociais e culturais criaram novas formas de pensar e agir, novos estilos
de vida e, consequentemente, novas técnicas de comunicação que buscam atingir um público
cada vez mais complexo. Atualmente, o crescimento do uso de dispositivos móveis (celulares,
smartphones, tablets) se torna cada vez mais evidente. Os usuários estão se tornando seres
participativos, e as empresas estão em busca desse usuário para que ele produza o seu próprio
conteúdo e compartilhe cada vez mais.
No gráfico abaixo (Base mil entrevistados, Google, 2013) podemos observar a
penetração de smartphones na população da Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, China,
Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos da América, Japão e Reino Unido nos anos de 2012
e 2013.
Gráfico 6: Difusão de smartphones (Fonte: Google, 2013)
No Brasil, a difusão de smartphones passou de 13,8% em 2012 para 26,3% em 2013.
Assistimos a um processo de inovação tecnológica veloz que impacta profundamente o campo
da comunicação. A inclusão digital e a facilidade do acesso à banda larga no últimos anos
influenciam o compartilhamento de informação. Os novos espaços, proporcionados e
potencializados pela internet, somados à perda de força dos meios convencionais de
29%24%
14%
33% 33%
61%
44%
20%
51%
40%
31%26%
56%
47%
74%
56%
25%
62%
Difusão de smartphones2012 2013
23
comunicação e à mudança nos perfis e hábitos dos agentes sociais permite que cada vez mais
novos conteúdos de informação sejam compartilhados através das redes sociais. Nos Estados
Unidos, 57% dos entrevistados para a pesquisa do portal do Google (2013) disseram que
utilizam a internet através do smartphone para não perder nenhuma informação quando estiver
fora de casa. 73% dos usuários do mesmo país disseram que o smartphone é um bom
passatempo em momentos de espera. No Brasil, 70% dos entrevistados utilizam a internet
através do smartphone quando não tem outro dispositivo. Isso mostra que o uso da internet
através do smartphone ainda está ligado a atividades de segundo plano. O agente social busca
estar informado e conectado com o mundo durante todo o tempo, fazendo com que o
smartphone passasse de instrumento de comunicação entre duas pessoas, para um meio de
comunicação multi tarefas em tempo real.
24
4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1. Redes Sociais na Internet
A popularização do computador e do acesso à internet na última década fez com que os
ciclos sociais construídos ao longo da vida das pessoas tivessem a necessidade de ocupar o
ciberespaço. Esse novo meio de agregar e fortalecer laços sociais através do computador foi
nomeado de “Redes Sociais”. A pesquisadora comunicacional Raquel Recuero (2009)
baseando-se em Wasserman & Faust, 1994 e Degenne & Forse, 1999, conceitua que “uma rede
social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos;
os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)" (grifos do original) (RECUERO,
2009, p.24).
Ilustração 2: Diagrama da Rede Social (Fonte: WikiMedia, 2009)
25
Assim como nos ciclos sociais offline, as redes sociais operam em diferentes tipos e
convívios. O LinkedIn, por exemplo, é uma rede social criada exclusivamente para fins
profissionais. Lá os usuários podem ampliar o networking através das conexões, bem como
pesquisar vagas de empregos, cursos, seminários, entre outras ofertas apresentadas por outros
usuários, e pelas instituições e grupos interligados pela rede. As redes sociais como o Orkut,
Facebook e Twitter, por exemplo, são sites de relacionamento em geral. No entanto, existem
aspectos que igualam as diversas redes sociais, como a troca e compartilhamento de
informações e interesses em busca de objetivos em comum dos usuários.
A criação, publicação e compartilhamento de fotos e vídeos são os objetivos mútuos das
redes sociais Vine e Instagram. Para serem agentes participativos destas redes, os usuários são
obrigados a publicar conteúdos fotográficos ou audiovisuais, com a opção do uso de um texto
de apoio. O artigo 5°, parágrafo VIII – da lei brasileira de direitos autorais define o audiovisual
como:
Tudo que resulta da fixação de imagens com ou sem som, que tenha a finalidade de
criar, por meio de sua reprodução, a impressão de movimento, independentemente
dos processos de sua captação, do suporte usado inicial ou posteriormente para fixá-
lo, bem como dos meios utilizados para sua veiculação (Lei de Direitos Autorais -nº
9.610, 1998)
São exemplos de tipos de produtos que se enquadram nessa definição: novelas, seriados,
comerciais, transmissões de qualquer tipo de eventos, filmes, videogames, reportagens,
videoclipes e curtas. Este último é o “produto-chave” utilizado na rede social Vine, e cada vez
mais no Instagram.
O uso do audiovisual como compartilhamento de cotidiano nestas duas redes faz com que
os agentes sociais produzam seus conteúdos de diversas formas. É notória a presença de estilos
característicos de produção audiovisual no Vine e no Instagram. Enquanto alguns usuários
compartilham a experiência audiovisual através de imagens diretas do próprio cotidiano, outros
tornam essa experiência mais elaborada, transformando-se num vídeo artista dentro da rede
social.
Este fato nos leva a ponderar sobre uma possível conexão com o que ocorreu no início da
era do cinema, ou seja, o desejo dos antigos cineastas era também, o de registrar em imagens
com movimento, as cenas do cotidiano, como por exemplo, a chegada do trem na estação
filmado pelos irmãos franceses Auguste Lumière e Louis Lumière, e que se tornou o primeiro
26
filme (P&B) da história do cinema, exibido em 1985, como “A Chegada do Trem na Estação”
(L'arrivée d'un Train à La Ciotat).
Michael Rush (2003, p.10) afirma que “na primeira época, era o ‘tempo real’ que
interessava aos artistas: vídeo, não-processado e não-editado, podia capturar o tempo como era
experiência, logo aqui e agora, internamente ou externamente". Com o avanço tecnológico,
ocorreu também o aperfeiçoamento da prática social cinematográfica. Em 1902, o diretor
francês Georges Méliès foi o primeiro a utilizar efeitos especiais e técnicas de edição no filme
“Viagem à Lua” (Le Voyage Dans La Lune).
Nos anos 1960 artistas e cineastas apresentaram ao mundo a videoarte, a arte em vídeo,
feita por artistas que procuravam quebrar paradigmas cinematográficos. O barateamento da
produção e a difusão do vídeo incentivaram práticas não comerciais do uso da mídia audiovisual
por artistas do mundo todo. Um dos pioneiros da videoarte foi o artista alemão Wolf Vostell,
ao lançar em 1963, o filme Sun In You Heade e a instalação artística 6 TV De-coll/age.
Ilustração 3: 6TVDe-coll/age, Wolf Vostell, 1963 (Fonte: Museu Reina Sofia, Madrid, 1965)
27
Apesar da maioria dos vídeos compartilhados nas redes sociais Vine e Instagram
seguirem uma linearidade, eles se adequam na categoria de videoarte por, em grande parte,
utilizarem elementos minimalistas e ferramentas de baixo custo e exibição não centralizada.
A preponderância da ideia, a transitoriedade dos meios e a precariedade dos materiais
utilizados, a atitude crítica frente às instituições, notadamente o museu, assim como
formas alternativas de circulação das propostas artísticas, em especial durante a
década de 1970, são algumas de suas estratégias [da arte conceitual]. (FREIRE, 2006,
p.10)
Contudo, o conteúdo da narrativa audiovisual produzida e compartilhada nestas redes
sociais é, na grande maioria, formado por storytelling, ou seja, o ato de contar (tell) histórias
(story), que segundo Scartozzoni (2011) é a forma mais antiga de entretenimento.
Provavelmente na pré-história, as pessoas se reuniam à noite, antes de dormir, em volta da
fogueira, para relatar os principais acontecimentos do dia.
Storytelling pode ser definido de várias maneiras, mas a que importa nesse caso é que
se trata de uma poderosa ferramenta para compartilhar conhecimento, utilizada pelo
homem muito antes do que qualquer mídia social. Para ser mais exato, há algo em
torno de 30 a 100 mil anos, quando acredita-se que o Homo Sapiens Sapiens
desenvolveu a linguagem. (SCARTOZZONI, 2011, s/p.)
O que muda com a evolução tecnológica é que a contação de histórias feitas oralmente
por nossos antepassados ganhou efeitos especiais com a chegada do digital, através da
combinação de imagens com a trilha sonora, que inclui voz e música. (BULL & KAJDER,
2004). Atualmente, o digital storytelling ganhou popularidade graças ao uso dessa prática pela
comunicação publicitária. Como contar histórias é parte importante da comunicação humana,
os publicitários perceberam que as empresas que comunicavam seus valores através de histórias
verdadeiras, ganhavam a confiança dos consumidores, e também, dos funcionários.
Mas, não foi só o marketing que descobriu os poderes do digital storytelling. Nos Estados
Unidos, mais precisamente na Califórnia, desde 1990, o fundador da Organização Não
Governamental Center for Digital Storytelling (CDS), Joe Lambert, capacita estudantes e
professores para a produção e compartilhamento de narrativas pessoais, e até, de narrativas de
eventos históricos, através da combinação multimidiática de gráficos, textos, vídeo, música,
áudio etc. (MILLER, 2009).
A oferta multimídia favoreceu a criação da transmedia storytelling, a contação de
histórias em transmídia, em várias plataformas de mídias. Como explica o professor Henry
Jenkins (2009) uma história transmídia representa a integração da experiência do
entretenimento através de diferentes plataformas midiáticas. Uma série como Heroes ou Lost
28
pode sair da TV para os quadrinhos, internet, jogos eletrônicos, bonecos etc., atraindo assim,
novos consumidores à medida em que vai se expandindo, e permitindo que os fãs mais
dedicados participem cada vez mais profundamente da narrativa. Pois, os fãs podem traduzir os
próprios interesses sobre a história e os personagens, em entradas para Wikipédia, fan videos,
cosplay e uma série de outras práticas participativas que ampliam a história para uma infinidade
de novas direções. (JENKINS, 2009). Em muitos casos os agentes sociais também utilizam o
digital storytelling para transitar entre diferentes redes sociais contando a mesma história de
diferentes formas (texto, foto, vídeo etc.).
As redes sociais de compartilhamento de fotos e vídeos se tornaram muito populares
nos últimos três anos. A maioria dos usuários de dispositivos móveis não dispensa o uso de um
aplicativo para compartilhar o cotidiano, seja por foto ou vídeo. Esse compartilhamento, antes
feito por texto através do Twitter ou do Facebook, se tornou complexo de acordo com o aumento
da capacidade de transmissão de dados via internet, tanto para receber como para enviar, e de
acordo com a redução dos preços dos pacotes (dados e voz) oferecidos pelas operadoras de
telecomunicações no mercado brasileiro.
4.2. Aplicativo
Para a comunicação (através de texto, imagem, áudio, vídeo) chegar ao usuário, e ser
enviada pelo usuário do smartphone, ela precisa ser feita através de aplicativos. Para navegar
pela internet (Safari, Internet Explorer, Google Chrome, Opera, Firefox etc.) o usuário precisa
instalar o aplicativo do browser no smartphone. Os smartphones possuem um software próprio
do sistema do aparelho que permite seu funcionamento, entre eles podemos citar: Windows
Phone, da Microsoft; o iOS, da Apple; e o Android, do Google. Os aplicativos atuam dentro
desses sistemas, através de programas de computação desenvolvidos especificamente para
determinadas atividades. No caso do Vine, o aplicativo serve para captação, edição e
compartilhamento de vídeos através do Twitter ou Facebook.
Um mercado em crescente expansão é o de desenvolvimento de aplicativos,
principalmente por jovens universitários que participam de concursos de
microempreendedoríssimo, feiras de tecnologia ou encontros de startups. As fabricantes de
29
smartphones estimulam o desenvolvimento de novos aplicativos de acordo com a demanda do
mercado, principalmente entre os jovens usuários, e oferecem esses produtos (muitas vezes
gratuitamente) em lojas virtuais, por exemplo: Windows Phone (Microsoft), App Store e Itunes
(Apple), Google Play (Android/Google).
Os aplicativos que permitem postar mensagens através das redes sociais (Facebook,
Twitter, entre outras) estão entre os mais populares junto ao público.
O gráfico abaixo mostra o uso das redes sociais, através dos aplicativos, disponíveis
gratuitamente.
Essa distribuição gratuita faz com que as grandes empresas possuam a maior fortuna da
nova era digital: os dados. Assim como nos mecanismos de pesquisa, os dados pessoais
fornecidos para participar das redes sociais também são valiosíssimos. Uma empresa que possui
mais de um bilhão de registros com incontáveis dados pessoais de cada usuário pode facilmente
usa-los para o fim que desejar.
Atualmente, cerca de 1 bilhão de pessoas utilizam smartphones em todo mundo e,
segundo um estudo elaborado pela empresa global de serviços financeiros Morgan Stanley
(2013), o número de usuários cresce numa taxa mundial de 42%. O gráfico abaixo mostra em
87% 89%
22%
28%
6% 6%
24%
15%
22%19%
7%11%
1%
17%
Brasil Estados Unidos
Facebook Twitter Foursquare Google+ Instagram LinkedIn Pinterest
Gráfico 7: Uso Redes Sociais smartphone BR & EUA (Fonte: Google, 2013)
30
média quantos aplicativos os consumidores possuem em seu smartphone (Google, 2013, base
mil usuários).
4.3. Instagram
Entre fevereiro e março de 2010, o brasileiro Mike Krieger e o norte-americano Kevin
Systrom criaram um aplicativo onde o usuário poderia compartilhar fotos e mensagens de status
(check in), além de uma agenda. O aplicativo nomeado de Burbn era um piloto do que mais
tarde se tornaria um dos aplicativos mais famosos do mundo da informática, o Instagram. Na
época, o Burbn possuía pouca usabilidade, ou seja, precisava ser simplificado para ser usado
por um número maior de agentes sociais.
Entretanto, como as câmeras de celular, em geral, possuíam baixa qualidade para
captura das imagens, houve grande interesse na melhora da usabilidade do aplicativo. Assim,
em outubro do mesmo ano, o aplicativo Burbn se transformou no Instagram, possibilitando ao
usuário capturar e editar imagens através do smartphone de forma fácil e rápida, além de
permitir a inserção de filtros que modificavam a cor e textura das imagens. Essas imagens
poderiam então, ser compartilhadas na linha do tempo do perfil do usuário (que para usar o
28
17 17
30
2623
33 32
36
29
Gráfico 8: Aplicativos no smartphone (Fonte: Google, 2013)
31
serviço é obrigado a se cadastrar na rede social), e consequentemente, permitir o
compartilhamento entre o seu ciclo social (amigos, familiares) através das outras redes sociais,
como Facebook e Twitter.
O aplicativo Instagram foi liberado apenas para usuários do sistema iOS. Em pouco
mais de três meses do lançamento, o Instagram atingiu a marca de um milhão de usuários. Um
ano depois o Instagram foi eleito o “app do ano” pela Apple Store, com cerca de 15 milhões de
usuários cadastrados (Huffington Post, 2011). Nesse mesmo período, a equipe desenvolvedora
do aplicativo, formada por quatro pessoas, anunciou que estava trabalhando numa versão para
o sistema Android. Em 2012, a assessoria de comunicação do então candidato à presidência dos
Estados Unidos, Barack Obama, divulgou a criação de uma conta no Instagram como parte da
campanha eleitoral.
Estamos felizes de dar as boas-vindas ao presidente Barack Obama ao Instagram!
Estamos ansiosos para ver como o presidente Obama usará o Instagram para dar aos
seguidores um aspecto visual do que acontece no dia-a-dia de um presidente dos Estados
Unidos. (SYSTROM, 2012, online).
O serviço se tornou ainda mais popular dentro do meio artístico e jornalístico pois, para
acompanhar os bastidores da campanha eleitoral do atual presidente dos Estados Unidos era
necessário estar cadastrado na rede social.
32
Em abril de 2012, foi lançada a versão do aplicativo Instagram para o sistema operacional
Android. Ao atingir a marca de trinta milhões de usuários, o aplicativo foi vendido para o
Facebook por cerca de R$ 2.5 bilhões.
Estou animado em compartilhar a notícia de que concordamos em adquirir o Instagram e
que a sua talentosa equipe vai se juntar ao Facebook. Por anos, temos focado na
construção de uma melhor experiência para compartilhar fotos com seus amigos e
familiares. Agora, seremos capazes de trabalhar ainda mais estreitamente com a equipe
do Instagram para também oferecer as melhores experiências para compartilhar fotos de
celulares com pessoas do seu interesse. (ZUCKERBERG, 2012).
Em Junho de 2013 o Instagram adicionou a possibilidade de gravação, edição e
compartilhamento de vídeos a sua plataforma, devido ao grande sucesso que o Vine vinha
fazendo desde o seu lançamento, no início do ano. No entanto, a corrida para distribuição da
micro comunicação audiovisual está só começando. Além do Vine/Twitter e do
Instagram/Facebook que analisamos neste estudo investigativo, podemos acrescentar Viddy,
que permite o compartilhamento de vídeos até 15 segundos e Cinemagram que permite a
animação de pequenas partes de um vídeo clipe e o 8mm.
Ilustração 4: Instagram Candidato Obama (Fonte: Instagram, 2013)
33
4.4. Vine
A rede social Twitter foi desenvolvida para permitir aos usuários o compartilhamento
de mensagens com até 140 caracteres. Com o lançamento do aplicativo Vine, os usuários podem
escolher entre os 140 caracteres e seis segundos de vídeo, ou ambos. Os vídeos parecem
imagens GIF2, mas com áudio. Para o criador do Twitter, Jack Dorsey, "o Vine propõe uma
nova maneira de comunicar arte para o mundo" (DORSEY apud BOSKER, 2013, s/p.).
2Sigla para Graphics Interchange Format. Segundo o dicionário de referências (2013, online) “Um conjunto de
normas em formato de arquivo para armazenamento de imagens digitais a cores e animações curtas.” (Tradução
da autora)
Ilustração 5: Aplicativo Vine (Fonte: Vine, 2013)
34
A boa usabilidade do aplicativo tornou-o rapidamente popular entre os usuários.
Entretanto, diferente do Instagram, o usuário do Vine não tem acesso a esta rede social por
completo através do computador, ou seja, o aplicativo opera apenas através do smartphone.
Para poder assistir o vídeo que ele produziu no Vine, na tela de um computador, o usuário é
obrigado a exportá-lo para uma rede social (Twitter ou Facebook) onde um link é gerado, e
possibilita o compartilhamento em outros sites.
Ilustração 7: Mecanismo de gravação do Instagram (Foto: Juliana Dantas, 2013)
Ilustração 6: Mecanismo de gravação do Vine (Foto: Juliana Dantas, 2013)
35
O usuário do Vine não tem o botão on/off para iniciar/parar a gravação do vídeo, para
proceder a esta operação o usuário deve tocar o dedo na tela do smartphone, para iniciar a
gravação, que irá parar assim que o dedo for retirado. O mecanismo de gravação ocorre da
mesma forma no Instagram, mas lá o usuário precisa pressionar um botão. Assim que o vídeo
é enviado para a rede Vine, ele se mantém automaticamente rodando, de forma contínua, em
loop. Essa dinâmica de gravação possibilita o desenvolvimento de micro produtos midiáticos
audiovisuais em stop motion com maior facilidade. Fato que tornou o aplicativo bastante
popular no ciberespaço, em virtude da criatividade de alguns usuários ao produzirem vídeos
bem humorados e interessantes. O Vine foi lançado gradativamente para o sistema operacional
Android e Windows Phone, aumentando ainda mais a popularidade na rede.
36
5. METODOLOGIA
5.1. Estudo de Caso Comparativo sobre a micro comunicação audiovisual
O objetivo deste estudo é registrar, descrever e analisar aspectos da micro produção
audiovisual através dos aplicativos Vine e Instagram. No mercado mundial, há menos de um
ano, estes aplicativos conquistaram milhões de fãs. A comprovação pode ser feita na rede social
Facebook, onde estão as páginas Best Vines, com 18 milhões de curtidas e a página oficial do
Instagram com 7 milhões de curtidas.
O método do estudo de caso comparativo foi escolhido por ser o mais apropriado
caminho para responder as questões desta pesquisa. A técnica permite ao pesquisador atuar, ao
mesmo tempo, tanto como observador como investigador.
[...] o estudo de caso é o método que contribui para a compreensão dos fenômenos
sociais complexos, sejam individuais, organizacionais, sociais ou políticos. É o estudo
das peculiaridades, das diferenças daquilo que o torna único e por essa mesma razão,
o distingue ou o aproxima dos demais fenômenos. (DUARTE, 2010)
Segundo Robert Yin (2005) um estudo de caso é uma pesquisa empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, especialmente quando as
fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidas. A investigação do
estudo de caso comparativo permite que o investigador trabalhe de forma distinta, dentro do
espaço investigativo no qual as muitas variáveis que podem encontradas, formam um campo de
dados inédito, em virtude dos poucos estudos sobre o tema. Yin (2005) esclarece que o estudo
de caso comparativo beneficia o investigador ao permitir o desenvolvimento da pesquisa a partir
das proposições teóricas que orientam a busca de dados, bem como referendam os achados. E
finalmente, Yin (2005) explica que o estudo de caso comparativo permite ao investigador
buscar múltiplas fontes de evidências, no caso deste estudo duas (Vine & Instagram), e fazer a
triangulação dos dados de forma convergente.
O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas,
mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são incluídas no
repertório de um historiador: observação direta dos acontecimentos que estão sendo
estudados e entrevistas das pessoas neles envolvidas.” (YIN, 2005, p.27)
37
5.2. A cultura da narrativa midiática digital como lócus investigativo
A internet possibilitou novas formas de interação entre as pessoas graças aos
dispositivos sociais midiáticos disponibilizados, como blogs, podcasts, videocasts, entre outros.
As salas de bate-papos e fórum de grupos especializados disputaram a atenção do público e
conquistaram a audiência no início dos anos 2000. Mais tarde, a criação de blogs de qualquer
temática, inclusive blogs pessoais, se tornou uma prática muito popular entre os conectados.
Era como escrever num diário que todo mundo poderia ler, e essa prática demonstrava que os
usuários tinham interesse em compartilhar narrativas do próprio cotidiano.
O gráfico acima mostra tanto a relação do consumidor com seu smartphone quanto
relevância do dispositivos com relação a outros meios de comunicação. Estamos transitando
numa nova era digital que faz com que os hábitos interativos e comunicacionais se moldem
mais uma vez. Com a recém chegada dos óculos inteligentes do Google (Google Glass) e
popularização dos relógios inteligentes da Sansung (Galaxy Gear), muitos afirmam que a era
dos smartphones está chegando ao fim. Assim como muitos afirmaram o fim da era do rádio,
televisão e jornal impresso. "Primeiro eles ocupavam grandes salas, depois nossas mesas,
depois nosso colo e, agora, estão na palma de nossa mão. A seguir, estarão em nosso rosto.
28% 30% 30%35%
100%
41%36% 39%
23%18% 22% 19% 22% 25% 25%17% 23%
67% 68%73%
79%73%
83%79% 81%
48%53% 53% 53% 54%
69%
50%61%
No lugar da TV No lugar do PC Smartphone p/tudo Smartphone é essencial
Gráfico 9: Preferência do usuário entre smartphone e outras mídias (Fonte: Google, 2013)
38
Eventualmente, estarão em nosso cérebro!"(CARLSON, 2012). Na verdade as relações com os
meios não são simplesmente esquecidas ou finalizadas, elas são adaptadas.
Dentro de um mesmo meio, no caso o dispositivo móvel, é possível passar uma
mensagem de diferentes formas, como uma ligação, mensagem de texto, e-mail ou uso das
redes sociais. A utilização das redes sociais, no entanto, estão se tornando a forma mais popular
da transmissão dessa mensagem. Ao menos 50% dos consumidores de smartphones dos Estados
Unidos acessaram uma rede social através do seu dispositivo na última semana. Mais de 30%
dos usuários brasileiros tirou uma foto ou fez um vídeo através do smartphone e quase 40% dos
canadenses assistiram um vídeo através de um aplicativo (Google, 2013).
Isso demonstra que o agente social está se tornando cada vez mais um ser participativo
nesse processo de produção de mensagens através de modos de produção para compartilhar o
cotidiano. Não se consome apenas conteúdo de grandes corporações midiáticas, é perceptível
uma mudança no centro gravitacional cultural. Cada vez mais o conteúdo daquele que está
próximo do consumidor é assistido e estimulado e, por isso, novos processos de produção são
criados e uma análise desses processos se faz necessária.
50%
43%
27%
58%
42%39%
60%51% 52%
42%
59%
36%
57%
47% 47%
58%
40%
53%
24%
37%
24%
38%44% 44%
38%
26% 28%
41%47%
36%
61%
51% 51%
59%
41%
61%
Aplicativo Rede Social Ver Vídeos Tirou Foto
Gráfico 10: Atividades no smartphone/semanal (Fonte: Google, 2013)
39
5.3. Comparativo da Prática Social Midiática (Vine vs Instagram)
Seis meses após o lançamento do Vine, o Instagram lançou uma atualização permitindo
o compartilhamento de vídeos através de sua plataforma. Esse fato torna perceptível que cada
vez mais as redes sociais influenciam os agentes a criarem conteúdo audiovisual. O gráfico
abaixo revela a corrida, entre maio e junho de 2013, entre as duas redes sociais, quanto ao
compartilhamento de vídeos através de links.
Tanto o Instagram/Facebook quanto o Vine/Twitter seguem prosperando no mercado
brasileiro. O Instagram, por possuir 150 milhões de usuários (GLOBO, G1, 2013), está em fase
de massificação, isto é, alcançando maioria dos usuários de dispositivos móveis – sem restrições
- não importando idade ou classe social. O Vine, embora possua apenas 40 milhões de usuários
(OLHAR DIGITAL, 2013), se destaca em todo o ciberespaço, e não apenas dentro dos
dispositivos móveis. Como exemplo, podemos citar a página do Facebook Best Vines, criada
para a divulgação de vídeos criativos e engraçados que conta com cerca de 18 milhões de
curtidas (FACEBOOK, 2013), e foi a página que cresceu de forma mais rápida na história do
Facebook. Podemos acompanhar o salto no compartilhamento de Vines após a criação da
página no gráfico anterior.
A página tem crescido, em média, a uma taxa de 110 mil 'curtidas' por dia, ou seja,
quatro vezes mais do que qualquer outra página no Facebook já registrou. Por semana,
a Best Vines totaliza, em média, 693 mil novos 'likes' (CANALTECH, 2013, online).
Gráfico 11: Comparativo entre links Vine vs Instagram (Fonte: Ag.RS, 2013)
40
Embora a prática criativa dentro das duas plataformas tenham suas diferenças, o que
distingue de fato uma rede social da outra são os hábitos de seus usuários. A maioria dos
usuários do Instagram usam da narrativa do storytelling, diferente da maioria dos usuários do
Vine que aproveitam dos desafios do aplicativo para descontruir essa narrativa. Jordan Cook,
colunista do site americano Tech Crunch, fala a respeito da diferença da linguagem audiovisual
produzida por agente sociais do Instagram e Vine “Agora, as pessoas vão apenas postar vídeos
de seus pés, cafés e animais de estimação. Ao mesmo tempo, a comunidade crescente de
criativos e designers do Vine provavelmente irá continuar a florescer, também.” (COOK apud
TECH CRUNCH, 2013).
5.4. Diferenças entre Vine e Instagram
Quanto a duração, um vídeo do Vine pode durar precisamente 6,5 segundos. Segundo o
Twitter (2013), esse é o tempo ideal para que o usuário passe sua mensagem de forma sucinta,
assim como os 140 caracteres disponíveis na rede social escrita. Ainda segundo o Twitter
(2009) privar o número de caracteres (e no caso do Vine, o tempo) força o agente social a
“pensar fora da caixa” e produzir conteúdo de forma mais direcionada.
No Instagram, o usuário transita confortavelmente pois tem a possibilidade de produzir
vídeo com até 15 segundos. Por outro lado, esse tempo se torna longo ao receptor da mensagem,
uma vez que a rapidez da troca de informação da nova era digital pede mais agilidade nesse
sentindo, principalmente se tratando da narrativa que predomina no Instagram, a fotografia.
Falando da edição, ambas as plataformas permitem gravar diversos clipes e agrupá-los
ou descartá-los no mesmo vídeo. O Vine permite até que o usuário mude a narrativa do vídeo
antes de postá-lo, podendo trocar os clipes de posição, diferente do Instagram onde os clipes
devem seguir uma ordem linear dentro do vídeo. O Instagram, porém, ganha em permitir a
importação de um vídeo do arquivo de câmera (material gravado na memória do smartphone),
enquanto o Vine obriga o usuário a produzir inteiramente através de sua plataforma. O
Instagram também conta com recursos de filtro e estabilização de imagem. O Vine, por sua vez,
é básico nesse sentido. Porém, o recurso “cinema” (permite a estabilização da imagem) que é
ativado automaticamente na plataforma do Instagram, proporcionando uma queda na qualidade
do vídeo e o usuário não tem a opção de não usá-lo.
Ambas as plataformas permitem a troca de câmera (traseira/frontal) durante a gravação
do projeto e os vídeos publicados nas duas redes sociais são salvos automaticamente no arquivo
da câmera do smartphone. Um ponto positivo para o Vine é a possibilidade de finalizar um
41
projeto e, ao voltar para criar um novo, poder reutilizar os clipes utilizados em projetos
anteriores, pois os mesmos ficam salvos. No Instagram o usuário não tem esse recurso, mas se
quiser pode continuar um projeto do ponto em que havia parado.
Os recursos de edição em ambos os aplicativos são aperfeiçoados através das
atualizações. Antes, o Vine não permitia o uso da câmera frontal, nem o corte de clipes. Isso
tornava a usabilidade mais complexa, pois um usuário que fizesse um movimento errado num
stop motion, por exemplo, era obrigado a começar o vídeo novamente. O Instagram, por sua
vez, não dava acesso ao usuário para importar um vídeo do arquivo da câmera. Esses recursos
estão sendo lançados gradativamente, com o objetivo de estimular a produção de conteúdo
audiovisual. O Instagram constantemente lança novos filtros para que o usuário realize
experimentações e o Vine está cada vez mais aprimorando as ferramentas de sua plataforma
para possibilitar que os usuários aperfeiçoem a técnica e criem cada vez mais vídeos melhores.
Ambos os aplicativos permitem o compartilhamento da produção audiovisual em outras
redes sociais. O Instagram permite que o usuário compartilhe o vídeo tanto por e-mail quanto
pelas redes sociais Twitter, Facebook, Tumblr, Mixi (japonesa) e Weibo (chinesa). Para ativar
o compartilhamento em uma das duas redes sociais asiáticas, o usuário deve mudar a
localização nas configurações do smartphone para China ou Japão. O serviço de fotos, permite
ao usuário compartilhar também no Foursquare (geolocalização) e no Flickr (site de fotos e
vídeos).
Ilustração 8: Tela Compartilhamento Vine (esq) e Instagram (dir) (Fonte: V&I, 2013)
42
O Vine permite que o usuário compartilhe os vídeos apenas no Facebook e no Twitter,
sendo que no Twitter, o vídeo fica exposto na linha do tempo do usuário, diferente do Instagram
onde o vídeo é exportado através de um link. O Vine dispõe ainda do recurso “canais”, que
permite ao usuário classificar os próprios vídeos em um dos canais disponíveis: ("Comedy,
Art& Experimental, Scary, Cats, Dogs, Family, Beauty& Fashion, Food, Health & Fitness,
Nature, News & Politics, Special FX, Sports, UrbaneWeird"), facilitando a localização do vídeo
por outros usuários. O usuário também pode usar etiquetas/categorias (tags) para identificar as
palavras-chave dos vídeos, em ambas as redes sociais, porém somente no Vine existe um
sistema de avaliação (ranking) das tags mais utilizadas. Funciona como o TrendingTopics do
Twitter.
Ilustração 9: Tela Exploração Vine (esq) e Instagram (dir) (Fonte: V&I, 2013)
O Instagram ainda não tem esse recurso mas o usuário pode acompanhar, através de um
mural, as indicações dos vídeos, fotos e tags mais acessados. As duas plataformas permitem a
marcação de outros usuários na postagem e de um serviço de geolocalização (suportados pelo
Foursquare), porém somente o Instagram dispõe de um mapa navegável.
43
No computador, o Instagram oferece uma plataforma onde o usuário pode acessar a
própria conta, curtir e comentar como se estivesse no smartphone. Embora o Vine permita a
exibição do vídeo na tela do computador (através do link gerado pelo Twitter ou Facebook) o
usuário não dispõe de uma plataforma para interagir.
Além disso, algumas diferenças são encontradas ao acessar as redes pelo computador,
ou seja, no Vine o usuário pode silenciar o vídeo, opção que não existe no Instagram. Existem
também sites como: Seenive, Vinescope, Statigr.am e o Web.stagram que incorporam os perfis
dos usuários do Vine e do Instagram e transmite a produção audiovisual e fotográfica através
do ciberspaço.
Com referência a exibição dos vídeos, o Vine se destaca em dois pontos: primeiro, os
vídeos da rede de contatos do usuário começam automaticamente na linha do tempo, sem a
necessidade de um toque para iniciá-lo (o toque é necessário caso o usuário queria pausar o
vídeo). O outro destaque é na forma de exibição do Vine, em que o vídeo fica rodando sem
parar (looping). O fato de um vídeo no Vine começar automaticamente e se repetir ad infinitum,
faz com que o vídeo tenha uma característica de GIF animado (Graphics Interchange Format -
GIF). No Instagram disponibiliza um botão tocar (play) no canto superior e o usuário tem que
tocar a tela para iniciar o vídeo. Após o vídeo iniciado, é necessário um segundo toque para
ativar o som do vídeo, que começa silenciado automaticamente. E no Instagram os vídeos
Ilustração 10: Geolocalizador do Instagram (Fonte: Instagram, 2013)
44
possuem uma linearidade de início-meio-fim na exibição, fortalecendo a narratividade proposta
pela prática storytelling.
Na relação formato x conteúdo, a batalha (Vine x Instagram) acaba no empate. Tudo
isso porque o recurso de gravar um vídeo de 6 segundos e depois loopá-lo
infinitamente permite que o espectador aproveite o vídeo ao máximo, diferente do
Instagram, onde a experiência é no formato começo-meio-fim.
Por outro lado, o Instagram permite uma captação mais livre e completa da imagem.
Nesse sentido, o recurso de vídeo do Instagram pode ser melhor pra gravar uma cena
que está acontecendo em tempo real como, por exemplo, uma cena emblemática de
um protesto.
Como o Vine só tem 6 segundos, você precisa acertar exatamente o momento que vai
dizer tudo o que você quer dizer. Você praticamente precisa fazer um mini-roteiro
antes de gravar.
O ator e videomaker, Adam Goldberg, um dos caras que mais fazem sucesso no Vine,
pensa mais ou menos assim. Ele não considera um serviço melhor que o outro, dizendo
que eles são diferentes “como maçãs e laranjas”. Mas, para Adam, a estética do Vine
é impossível de se conseguir no Instagram.
“Apenas o Vine deixa você criar estranhas cenas oníricas no estilo David Lynch".
(BAREM apud YOUPIX, 2013).
A fotógrafa americana Meagan Cignoli faz muito sucesso nas duas redes sociais.
Atualmente, possui 396 mil seguidores no Vine (Vine, 2013) e 47 mil seguidores no Instagram
(Instagram, 2013).
Em junho deste ano, a pedido do site americano Tech Crunch (2013), Meagan produziu
o mesmo vídeo (em stop motion, sua especialidade) nas duas plataformas, Vine e Instagram.
Ilustração 11: Cignoli gravando vídeo (Fonte: Instagram, 2013)
45
Depois de pronto e disponibilizado pelas redes sociais, Cignoli perguntou aos
seguidores do seu perfil nas duas redes: “Eu gravei o mesmo vídeo duas vezes, uma no Vine e
outra no Instagram. Qual dos dois vocês mais gostaram?” (Tradução da autora).
Ambas postagens de Meagan Cignoli contabilizaram cerca de três mil comentários e a
maioria preferiu o vídeo do Vine, como, por exemplo, o usuário @clingclong que afirmou: “No
Vine é melhor principalmente por causa do looping.” (Instagram, 2013) (Tradução da autora).
Outros usuários definiram os vídeos do Vine como sendo “mais suave” do que o vídeo do
Instagram, que teria ficado mais “grosseiro”.
Ilustração 7: Cignoli pergunta: "Vine ou Instagram?" (Fonte: V&I, 2013)
Ilustração 8: Comentários dos seguidores de Cignoli (Fonte: V&I, 2013)
46
De acordo com Meagan Signoli (2013) a videoarte fica melhor no Vine e a narração de
histórias do cotidiano é mais fácil no Instagram. “O Instagram cria um efeito de sonho, que é
lindo. O Vine é para rapidez, ótimo para stop motion. As câmeras são muito diferentes.”
(Tradução da autora)
Existem, nas duas redes sociais, videoartistas e usuários interessados apenas em
compartilhamento de cotidiano através do digital storytelling. Um exemplo é a ilustradora
americana Rachel Ryle, usuária (apenas) do Instagram com 192 mil seguidores
Ryle (2013) acha a produção dos videoartistas do Vine bastante criativa e divertida, mas
prefere trabalhar com o Instagram. Recentemente o perfil de Ryle, no Instagram, ficou em
primeiro lugar num levantamento feito pelo site americano BuzzFeed como “o perfil mais
criativo do Instagram em 2013” (BuzzFeed, 2013).
Para produzir os vídeos pelo Instagram, Ryle utiliza clipes pré-gravados, importados do
arquivo da câmera do smartphone, e da captura de clipes dentro do próprio aplicativo. A
ilustradora é famosa pelas animações em geral, inspiradas em cenas do cotidiano. Ryle (2013)
Ilustração 9: Ryle gravando vídeo (Fonte: Instagram, 2013)
47
explica que “olho para os itens de uso diário e imediatamente começo a me perguntar como
poderia fazê-los criar vida através da animação. Assim crio meu conceito, e começo o processo
de animação.” (Tradução da autora)
No Vine existem também diversos exemplos de perfis que objetivam o compartilhamento
do cotidiano. O perfil da socialite americana Paris Hilton e do cantor britânico Paul McCartney
são exemplos.
48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo investigativo baseou-se na metodologia do estudo de caso duplo (YIN,
2005), aliando-se as técnicas de entrevistas e observação participante. Analisamos os sites de
redes sociais (Vine e Instagram) que são plataformas de comunicação audiovisual baseadas na
web e que permitem relevante interação entre os integrantes, devidamente cadastrados. Estes
agentes sociais se reconhecem como consumidores e ao mesmo tempo, se identificam como
produtores de uma nova mídia, cuja informação e inspiração surgem de fontes muito além da
mídia hegemônica tradicional.
Escolhemos dois perfis para compor o recorte empírico deste estudo, a saber: a artista
de animação audiovisual (stop motion), Meagan Cignoli, um dos perfis mais famosos do Vine,
premiada em Cannes com o Leão Cibernético com a campanha “Fix in Six” desenvolvida no
Vine para marca Lower’s, além de ser autora de diversos filmes nos sites do Mashable e Tech
Crunch. A outra entrevistada é a ilustradora e também especialista em animação audiovisual
(stop motion), Rachel Ryle, que ganhou o título de perfil mais criativo do Instagram em 2013.
Em suas respostas (Anexos I e II) Cignoli (2013) e Ryle (2013) deixam claro que os
dois aplicativos podem e devem coexistir no ciberespaço, pois tanto o Vine como o Instagram
criam produtos audiovisuais similares, mas de maneira diferente. Enquanto Cignoli (2013,
online) sugere que "o Vine é fantástico para comédia, stop motion, para marcas e comunicação
publicitária". Ryle (2013, online) comenta que "os vídeos do Instagram são etéreos e funcionam
perfeitamente dentro de uma estética dos movimentos mais lentos, das cenas mais bonitas,
inclusive com filtros e superexposição".
Em sua página pessoal na internet "onceinaryle" (Era uma vez em Ryle, 2013) a artista
afirma que "verdade seja dita, sou uma ótima contadora de histórias, mas uma péssima escritora.
Espero que meus escritos melhorem à medida em que vou compartilhando com vocês histórias
engraçadas que acontecem em minha vida. E se isso falhar, então talvez eu transforme tudo em
um vídeo".
Nosso estudo investigativo ressalta que aí pode estar um desencadeador cultural que nos
força a produzir memórias videográficas, ou seja, precisamos do arquivo digitalizado
audiovisual porque gostamos de contar histórias, mas não gostamos de escrevê-las.
Desde a pré-história a comunicação oral sempre esteve presente, mas precisamos do
registro para comunicar a cultura, para preservar o patrimônio cultural imaterial; e o
desenvolvimento das ferramentas técnicas e dos programas de computação que possibilitam o
49
arquivamento digital do áudio (voz e música) e do vídeo (foto, imagem em movimento e texto
impresso) e, principalmente, permitem a disponibilização de todo esse material, por meio da
cultura participativa das redes sociais possibilitas pelo advento da internet, como bem conceitua
Recuero (2009, p.24) “a rede social é formada pelos atores (pessoas, instituições ou grupos) e
suas conexões."
Essa capacidade de preservar a cultura, como se através dela prolongássemos nossos
dias num mundo cada vez mais fadado à destruição, faz com que cada vez mais o ser humano
busque a evolução da técnica como uma forma de transformação.
Os novos meios e tecnologias pelos quais nos ampliamos e prolongamos constituem
vastas cirurgias coletivas levadas ao corpo social com completo desdém pelos
anestésicos. [...] Ao se operar uma sociedade com uma nova tecnologia, a área que
sofre a incisão não é mais afetada. A área da incisão e do impacto fica entorpecida. O
sistema inteiro é que muda. (MCLUHAN, 1964, p 84)
Cada animação, em vídeo stop motion no Vine ou no Instagram, é uma narrativa
particular de um momento único através do aparato tecnológico, o smartphone. Como se o
próprio homem entrasse no aparelho de celular e ganhasse vida em outra dimensão, como
definiu McLuhan (1964, p.59) “Os homens se tornam fascinados por qualquer extensão de si
mesmos em qualquer material que não seja o deles próprios”
A história da cultura cinematográfica é plena de transformações, cujas personagens
principais, os cineastas, diretores, roteiristas, produtores entre tantos que contribuíram para
revelar ao mundo as possibilidades de mudança, dentro e fora da mídia hegemônica.
Os videoartistas dos anos 1960 se tornaram exemplos concretos de como a arte pode
ajudar a desconstruir estereótipos e definições mercadológicas implementados pela indústria
cultural, ou seja, como analisaram Adorno e Horkheimer (1985) há que se estar alerta acerca
da dominação exercida pela mídia hegemônica, com padrões midiáticos repetitivos,
despertando nos agentes sociais as necessidades de consumo. “Nenhuma sociedade teve o
conhecimento suficiente de suas ações a ponto de poder desenvolver uma imunidade contra
suas novas extensões ou tecnologias. Hoje começamos a perceber que a arte pode ser capaz de
prover uma tal imunidade.” (MCLUHAN, 1964, p 84)
Essa transição de identidade ainda necessita de pesquisas científicas adequadas para
registrar o papel do consumidor/produtor e do produtor/artista dentro da cultura participativa
das redes sociais, ou cultura de convergência (JENKINS, 2005).
O agente social está sendo influenciado por essas duas plataformas (Vine e Instagram) a
conhecer e praticar linguagens audiovisuais. Embora existam usuários mais ousados, não deixa
50
de ser pertinente o fato de que num futuro próximo a maioria dos usuários (fotógrafos,
videomakers, ou não) de smartphones (pequeno dispositivo móvel antes usado apenas para fazer
e receber ligações), possuirão um conhecimento – de básico a avançado – sobre a linguagem
audiovisual.
6.1. Propriedade intelectual
Um ponto que destacamos nesta investigação é a questão da propriedade intelectual em
tempos de cultura digital participativa. As duas vídeo artistas entrevistadas, Ryle e Cignoli
afirmaram desconhecer o teor completo dos contratos que aceitaram, ao preencher o cadastro
de usuário das redes (tanto Vine como Instagram).
Em síntese as empresas afirmam que a responsabilidade sobre o conteúdo da publicação
é do usuário responsável pelo cadastro, mas em virtude do vídeo ter sido veiculado através do
site que pertence a empresa proprietária da rede social, o autor do vídeo transfere para a referida
empresa todos os direitos sobre o produto compartilhado.
Você detém seus direitos sobre qualquer conteúdo que você enviar, postar ou exibir
nos serviços ou através deles. A fim de tornar os serviços disponíveis para você e
outros usuários, o Vine precisa de uma licença de você. Ao enviar, postar ou exibir
conteúdo nos ou através dos serviços, você nos concede uma licença mundial, não-
exclusiva e isenta de royalties (com o direito de sublicenciar) para usar, copiar,
reproduzir, processar, adaptar, modificar, publicar, transmitir, exibir e distribuir tal
conteúdo em toda e qualquer mídia ou métodos de distribuição. (VINE, 2013, online)
O Instagram não reivindica a posse de qualquer conteúdo que você postar no ou
através do Serviço. Em vez disso, você decide conceder ao Instagram uma licença não
exclusiva, totalmente paga e livre de royalties, transferível, sublicenciável, uma
licença mundial para usar o conteúdo que você postar no ou através do serviço, sujeito
à política de privacidade do serviço. (INSTAGRAM, 2013, online)
Para ter acesso aos serviços oferecidos pelas operadoras de telecomunicações, os
agentes precisam antes, informar todos os dados cadastrais (pessoal/profissional), aceitar e
assinar um contrato de serviços, que lhes permitirá enviar e receber ligações, mensagens de
textos, acessar a internet, entre outras atividades que podem ser realizadas através do aparelho
de celular inteligente (smartphone).
Ao criar um cadastro online, tanto no Vine quanto no Instagram, o usuário é aconselhado
a ler os termos de serviço da rede social e depois, deverá apertar o botão que confirma a
aceitação total dos termos. Nos contratos constam informações acerca da idade mínima
51
permitida para se cadastrar na rede social, política de privacidade, restrição de conteúdo,
segurança, direitos e deveres do usuário e da empresa proprietária da rede social, entre outras.
O agente social produtor de conteúdo audiovisual para Instagram ou Vine, ao aceitar os
termos do contrato, transfere os direitos sobre sua propriedade intelectual. Em seu artigo "A
economia criativa e a cultura popular: fetichismo da propriedade intelectual em tempos de
capitalismo cultural" a pesquisadora e professora da UFRN, Regina Cunha (2013, p.1) alerta
sobre os perigos da nova economia participativa e criativa que busca o enquadramento dos
produtores culturais nas antigas leis de mercados. "A economia criativa trata da geração de
riqueza a partir de coisas intangíveis, como o conhecimento, a cultura e a criatividade. São
ofícios e manifestações culturais produzidos com saberes ancestrais, muitas vezes passados
oralmente, de geração em geração". Cunha (2013) cita Marx para destacar que estamos vivendo
um tempo de fetichismo da propriedade intelectual forçado pelo capitalismo cultural.
Estamos considerando uma situação em que o trabalhador não apenas possua o
instrumento, mas na qual esta forma do trabalhador como proprietário [...] em outras
palavras, o desenvolvimento artesanal e urbano do trabalho. Por isto, também,
encontramos aqui as matérias primas e meios de subsistência mediados como
propriedade do artesão, mediados através de seu ofício, de sua propriedade do
instrumento. [...] Resumidamente, o caráter essencial dos sistemas de guildas, ou
corporativos (trabalho artesanal como sujeito e elemento constituinte da propriedade)
é analisável em termos de uma relação com o instrumento de produção: a ferramenta
como propriedade. (MARX, 1985, p.94-95 apud CUNHA, 2013, p.5).
Contudo, um aplicativo sem usuários criativos e compartilhadores não faz sucesso e não
gera dinheiro. Contas inativas também não são interessantes para nenhuma empresa de rede
social, nem para qualquer outro tipo de empresa. Cignoli (2013) não concorda com a licença
que é obrigada a passar para o Vine, mas afirmou que aceitou os termos. Ao responder sobre a
questão da possiblidade do aplicativo Vine ter contribuído para torná-la mais conhecida do
público e inclusive com ofertas de trabalho com melhor remuneração, Cignoli (2013) afirma
que “sou grata ao Vine, estou feliz que eu o usei intensamente desde o lançamento,
conquistando uma audiência. A exposição foi muito útil para a minha carreira. Mas eu acho que
eu me esforcei para filmar todas essas horas e criar esse tipo de trabalho.”
Ryle (2013) afirma que não se preocupa com os direitos do Instagram sobre suas
produções e respondendo ao mesmo questionamento feito a Cignoli a artista informou que “o
Instagram tem colaborado para meu sucesso, proporcionando exposição da minha arte. Eu não
teria sido capaz de obter o mesmo resultado satisfatório sem o serviço do Instagram.”
52
A regra é que o usuário produza, compartilhe e coopere com a comunicação mediada
por computador (CMC) através da plataforma oferecida pela rede social. O usuário, por sua
vez, usa o serviço da plataforma para se promover, ou promover seu trabalho artístico (no caso
desta investigação o produto audiovisual).
Um pintor não compartilha os direitos da sua obra de arte com a empresa dona do pincel
ou das tintas. Da mesma forma o fotógrafo não era obrigado a compartilhar os direitos das fotos
com as indústrias produtoras das películas, como Kodak; ou ainda ceder os direitos para os
fabricantes das máquinas fotográficas, Cannon ou Nikon, por exemplo. Entretanto, novas regras
sobre a propriedade intelectual estão sendo escritas, em tempos de capitalismo na cultural
digital, e elas precisam ser discutidas por todos os agentes sociais que compartilham do
ciberespaço, quer estejam nele, ou ainda, fora dele.
.
53
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56
ANEXO I
Entrevista feita por e-mail com a fotógrafa Meagan Cignoli (2013)
57
ANEXO II
Entrevista feita por e-mail com a ilustradora Rachel Ryle (2013)