dissertacao ricardo bechara

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RICARDO BECHARA ANÁLISE DE FALHAS DE TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA SÃO PAULO 2010

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Dissertacao Ricardo Bechara

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  • RICARDO BECHARA

    ANLISE DE FALHAS DE TRANSFORMADORES DE POTNCIA

    SO PAULO 2010

  • RICARDO BECHARA

    ANLISE DE FALHAS DE TRANSFORMADORES DE POTNCIA

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Eltrica

    SO PAULO 2010

  • RICARDO BECHARA

    ANLISE DE FALHAS DE TRANSFORMADORES DE POTNCIA

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Eltrica rea de Concentrao: Sistemas de Potncia Orientador: Prof. Dr. Augusto F. Brando Jr.

    SO PAULO 2010

  • Este exemplar foi revisado e alterado em relao verso original, sob responsabilidade nica do autor e com a anuncia de seu orientador. So Paulo, 20 de maio de 2010.

    Assinatura do autor ____________________________

    Assinatura do orientador _______________________

    FICHA CATALOGRFICA

    Bechara, Ricardo Anlise de falhas em transformadores de potncia / R.

    Bechara. -- ed.rev. -- So Paulo, 2010. 102 p.

    Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade

    de So Paulo. Departamento de Engenharia de Energia e Auto-mao Eltricas.

    1. Transformadores e reatores I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Energia e Automao Eltricas II. t. Bechara, Ricardo

    Anlise de falhas de transformadores de potncia / R. Bechara. -- So Paulo, 2010.

    102 p.

  • Aos meus pais, que sempre me deram

    apoio e contriburam para a minha

    formao.

    minha esposa, pela pacincia e apoio

    durante a realizao deste estudo.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Augusto Ferreira Brando Jr., pelo auxlio e contribuio durante a

    realizao do curso de Mestrado.

  • RESUMO

    Transformadores de potncia so equipamentos essenciais no sistema eltrico

    de potncia, alterando os nveis de tenso para interligar os sistemas de gerao,

    transmisso e distribuio de energia eltrica.

    Neste trabalho so relacionados e descritos os principais modos de falha

    normalmente verificados em transformadores, associados ao levantamento

    estatstico que compe um banco de dados elaborado a partir de percias

    realizadas entre os anos de 2.000 e 2.008 para companhias seguradoras.

    apresentada e desenvolvida uma anlise de falhas verificadas em cerca de

    uma centena de transformadores com diferentes tipos de aplicao, classes de

    tenso e nveis de potncia. O objetivo do estudo contribuir com um melhor

    entendimento de causas de falhas e os tipos de transformadores mais

    suscetveis a cada uma delas.

    Palavras-chave: Transformadores de Potncia, Sistemas de Potncia, Falhas de

    transformadores.

  • ABSTRACT

    Power transformers are essential equipment in the electric system by changing

    the voltage levels in order to connect generation, transmission and distribution

    systems of electric energy.

    In this study are related and described the most common failure modes in

    transformers, associated with the statistical statement that makes up a database

    developed from expertise held between the years 2000 and 2008 for insurance

    companies.

    It is presented and developed an analysis of failures found in around a hundred

    transformers with different types of application, classes of voltage and power

    levels. The objective of the study is to contribute to a better understanding of the

    causes of failures and the transformers types most susceptible to each one.

    Keywords: Power transformers, Power systems, Transformer failures.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 2.1.: Transformador monofsico ( esquerda) e trifsico ( direita) ................................ 4

    Figura 2.2: Esquema bsico do sistema eltrico ............................................................................. 4

    Figura 2.3: Caractersticas construtivas de um transformador de potncia ............................... 5

    Figura 2.4: Transformadores monofsicos com duas colunas principais, uma ou duas colunas principais e duas de retorno ................................................................................................. 6

    Figura 2.5: Transformador trifsico com trs colunas principais .................................................. 6

    Figura 2.6: Transformador trifsico com trs colunas principais e duas de retorno .................. 6

    Figura 2.7: Esquema de enrolamentos de transformador elevador ............................................. 9

    Figura 2.8: Esquema de enrolamentos de transformador de transmisso ............................... 10

    Figura 3.1: Ilustrao dos principais componentes de uma bucha e o contexto em que a mesma se insere em um transformador ......................................................................................... 13

    Figura 3.2: Comutador sob carga tipo M, marca MR ................................................................... 14

    Figura 3.3: Exemplo do funcionamento de um comutador sob carga........................................ 15

    Figura 5.1: Transformador monofsico de 550MVA, classe de tenso 800kV em chamas ... 32

    Figura 5.2: Esforos eletrodinmicos que atuam sobre enrolamentos durante um curto-circuito. ................................................................................................................................................. 38

    Figura 5.3: Vista geral da parte ativa de transformador de 25MVA, classe de tenso 138kV 40

    Figura 5.4: Detalhe dos danos por esforos eletrodinmicos nos enrolamentos .................... 40

    Figura 5.5: Parte ativa de transformador monofsico de 155MVA, classe de tenso 550kV, com danos na regio do terminal de alta tenso........................................................................... 45

    Figura 5.6: Parte ativa de transformador trifsico de 418MVA, classe de tenso 550kV ....... 46

    Figura 5.7: Danos na regio superior da bobina de alta tenso da fase central ...................... 46

    Figura 5.8: Parte ativa de transformador de 15MVA, classe de tenso 69kV, com danos por deformao e curto-circuito entre espiras na bobina de alta tenso da fase central .............. 47

    Figura 5.9: Parte ativa de transformador de 9MVA, classe de tenso 88kV ............................ 50

    Figura 5.10: Marcas e carbonizao na regio de conexo entre contatos fixos e mveis do comutador ............................................................................................................................................ 50

  • Figura 5.11: Transformador de 60MVA, classe de tenso 138kV com danos por incndio... 51

    Figura 5.12: Chave de carga do comutador, encontrada a cerca de 50 metros do transformador, com diagnstico de danos generalizados. .......................................................... 52

    Figura 5.13: Tampa do comutador encontrada prximo chave de carga, com danos por quebra e ruptura do fusvel mecnico ............................................................................................. 52

    Figura 5.14: Transformador de 60MVA, classe de tenso 230kV .............................................. 54

    Figura 5.15: Vista parcial da parte ativa com diagnstico de contaminao por partculas carbonizadas e cacos da porcelana da bucha .............................................................................. 54

    Figura 5.16: Detalhe dos danos por curto-circuito na regio do tap capacitivo na parte inferior da bucha de alta tenso (230kV) que deu origem ao evento. ..................................................... 55

    Figura 5.17: Vista area do transformador em chamas, obtida em vdeo produzido pela Rede Globo .................................................................................................................................................... 55

    Figura 5.18: Transformador de 138kV, 33MVA com danos generalizados por incndio ........ 56

    Figura 5.19: Remanescentes das buchas de alta tenso (138kV) em separado. ................... 56

    Figura 5.20: Detalhe de um pedao da porcelana da parte superior da bucha, que foi coletada no local da ocorrncia, com marcas de arvorejamento caractersticas de descargas parciais ................................................................................................................................................. 56

    Figura 5.21: Detalhe da falha de conexo de uma das buchas de baixa tenso de um transformador ...................................................................................................................................... 58

    Figura 5.22: Transformador de 12,5MVA, classe de tenso 69kV, com danos generalizados por incndio ......................................................................................................................................... 59

    Figura 5.23: Detalhe dos danos por arco eltrico no comutador a vazio .................................. 60

    Figura 5.24: Parte ativa de transformador de 550MVA, classe de tenso 800kV ................... 61

    Figura 5.25: Capas isolantes dos tirantes de prensagem da parte ativa com marcas de carbonizao e presena de bolhas em seu interior .................................................................... 62

    Figura 5.26: Ilustrao do mecanismo de ataque do enxofre corrosivo sobre o cobre e o papel isolante que envolve o condutor............................................................................................ 63

    Figura 5.27: Vista geral da bobina de um transformador avariado em funo do ataque por enxofre corrosivo e detalhe de uma amostra de condutor coletada do enrolamento. ............ 64

    Figura 5.28: Teste de resistncia hmica realizada com um multmetro. A amostra esquerda, ntegra, tem elevada resistncia. A amostra direita, contaminada por compostos de enxofre, apresenta caractersticas condutoras indesejveis. ................................................ 64

    Figura 5.29: Padro de cores para identificao da presena de enxofre, conforme a ASTM D130 IP54 ............................................................................................................................................ 66

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 4.1: Referncias para avaliao de riscos em transformadores a partir das quantidades de gases combustveis, expressas em ppm ........................................................... 20

    Tabela 4.2: Fatores para estabelecimento dos parmetros de correlao de gases .............. 22

    Tabela 4.3: Diagnstico de transformadores a partir da correlao de gases prescrita na norma ABNT 7274 .............................................................................................................................. 22

    Tabela 4.4: Caractersticas de leos isolantes novos .................................................................. 23

    Tabela 4.5: Parmetros de propriedades fsico qumicas ............................................................ 24

    Tabela 4.6: Tabela com referncias de diagnstico para interpretao dos dados do grfico dos nveis de contaminao do leo isolante ................................................................................ 28

    Tabela 4.7: Referncias de diagnstico para interpretao dos dados do grfico dos nveis de contaminao do leo isolante ................................................................................................... 28

    Tabela 6.1: Universo de transformadores de potncia inspecionados ...................................... 68

    Tabela 6.2: Levantamento estatstico de falhas em transformadores de potncia .................. 69

    Tabela 6.3: Levantamento de danos em transformadores de subtransmisso ........................ 70

    Tabela 6.4: Levantamento de danos em transformadores elevadores...................................... 74

    Tabela 6.5: Levantamento de danos em transformadores de transmisso .............................. 77

    Tabela 6.6: Relao de falhas de equipamentos ente o 1 e 40 ano de operao ................ 83

    Tabela 6.7: Relao de falhas de equipamentos ente o 1 e 16 ano de operao ................ 85

    Tabela 6.8: Relao de falhas de equipamentos ente 11 e 40 ano de operao ................ 86

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 4.1: Concentrao tpica de gases resultantes de leo isolante superaquecido ....... 18

    Grfico 4.2: Concentrao tpica de gases resultantes de celulose superaquecida ............... 19

    Grfico 4.3: Concentrao tpica de gases resultantes de descargas parciais ........................ 19

    Grfico 4.4: Concentrao tpica de gases resultantes de arco eltrico ................................... 20

    Grfico 4.5: Grfico que apresenta referncias dos nveis de contaminao do leo isolante de transformadores, conforme Working Group 12.17 do Cigr Effect of Particles on Transformer Dielectric Strength ....................................................................................................... 27

    Grfico 4.6: Referncia para correlao entre o teor de furfuraldedo e o grau de polimerizao ...................................................................................................................................... 29

    Grfico 6.1: Relao de quantidade de falhas de transformadores de subtranmisso em funo da idade .................................................................................................................................. 71

    Grfico 6.2: Componente afetado nas falhas de transformadores de subtransmisso .......... 72

    Grfico 6.3: Natureza de danos em transformadores de subtransmisso ................................ 73

    Grfico 6.4: Relao de quantidade de falhas de transformadores de gerao em funo da idade ..................................................................................................................................................... 75

    Grfico 6.5: Componente afetado nas falhas de transformadores de gerao ........................ 75

    Grfico 6.6: Natureza de danos em transformadores de gerao ............................................. 76

    Grfico 6.7: Relao de quantidade de falhas de transformadores de transmisso em funo da idade ............................................................................................................................................... 78

    Grfico 6.8: Componente afetado nas falhas de transformadores de transmisso ................. 78

    Grfico 6.9: Natureza de danos em transformadores de transmisso ...................................... 79

    Grfico 6.10: Tipos e quantidades de falhas identificadas nos transformadores ..................... 80

    Grfico 6.11: Porcentagem de falhas em transformadores ......................................................... 81

    Grfico 6.12: Componente afetado nas falhas de transformadores ........................................... 81

    Grfico 6.13: Relao de quantidade de falhas de transformadores em funo da idade ..... 82

    Grfico 6.14: Relao entre a quantidade de falhas e o tempo de operao dos transformadores .................................................................................................................................. 84

  • Grfico 6.15: Anlise estatstica de falhas ente o 1 e 16 ano de operao dos transformadores .................................................................................................................................. 86

    Grfico 6.16: Anlise estatstica de falhas ente o 10 e 39 ano de operao dos transformadores .................................................................................................................................. 87

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ONAN - leo natural, ar natural

    ONAF - leo natural, ar forado

    OFAF - leo forado, ar forado

    ODAF - leo dirigido, ar forado

    OFWF - leo forado, gua forada

    ppm partculas por milho

    V- volt

    kV - kilo volt

    MVA - mega volt ampere

    T - tesla

    GP - grau de polimerizao

    p.u. - por unidade

    VFT - very fast transient

    GIS - gas insulated substation

    ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica

    ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ASTM American Society for Testing and Materials

    IEEE Institute of Electrical ans Electronic Engineers

    CIGR - Conseil International ds Grands Rseaux Electriques

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .............................................................................................................................. 1

    1.1 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................ 2

    1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................................... 3

    2. TRANSFORMADORES DE POTNCIA ................................................................................... 4

    2.1 Transformadores Elevadores ............................................................................................. 9

    2.2 Transformadores de Transmisso ................................................................................... 10

    2.3 Transformadores de Subtransmisso ............................................................................. 11

    2.4 Transformadores de Distribuio ..................................................................................... 11

    3. EQUIPAMENTOS ASSOCIADOS A TRANSFORMADORES ............................................ 12

    3.1 Buchas ................................................................................................................................. 12

    3.2 Comutadores ....................................................................................................................... 13

    4. DIAGNSTICO E MANUTENO PREVENTIVA ............................................................... 16

    4.1 Anlise do leo isolante ..................................................................................................... 16

    4.1.1 Anlise de gases dissolvidos .................................................................................... 17

    4.1.2 Anlise fsico qumica ................................................................................................ 23

    4.1.3 Contagem de Partculas ............................................................................................ 25

    4.1.4 Teor de Furfuraldedo ................................................................................................ 29

    4.2 Termografia ......................................................................................................................... 30

    4.3 Temperatura do leo e enrolamentos ............................................................................. 30

    4.4 Tcnicas avanadas de monitorao .............................................................................. 31

    5. FALHAS EM TRANSFORMADORES DE POTNCIA ......................................................... 32

    5.1 Coleta e anlise de dados ................................................................................................. 33

    5.2 Testes eltricos ................................................................................................................... 34

    5.3 Tipos de falhas e defeitos em transformadores............................................................. 35

    5.3.1 Deteriorao dos materiais isolantes ...................................................................... 36

    5.3.2 Deformao mecnica dos enrolamentos por esforos de curto-circuito .......... 37

  • 5.3.3 Sobretenses .............................................................................................................. 41

    a) Sobretenses Temporrias ............................................................................................... 41

    b) Sobretenses de Manobra ................................................................................................ 43

    c) Sobretenses Transitrias Muito Rpidas (Very Fast Transient - VFT) .................... 44

    d) Sobretenses de Descargas Atmosfricas .................................................................... 47

    5.3.4 Falhas de acessrios e componentes ..................................................................... 48

    5.3.5 Falha de comutadores ............................................................................................... 49

    5.3.6 Falha de buchas ......................................................................................................... 53

    5.3.7 Falha de conexes ..................................................................................................... 57

    5.3.8 Manuteno Inadequada ou Inexistente ................................................................. 58

    5.3.9 Defeitos de fabricao ............................................................................................... 60

    5.3.10 Ataque por enxofre corrosivo .................................................................................... 62

    6. LEVANTAMENTO ESTATSTICO E CORRELAES ....................................................... 68

    6.1 Transformadores de Subtransmisso ............................................................................. 70

    6.2 Transformadores de Gerao .......................................................................................... 74

    6.3 Transformadores de Transmisso ................................................................................... 77

    6.4 Anlise de Dados ............................................................................................................... 80

    6.5 Anlise Estatstica de Dados ............................................................................................ 82

    7. CONCLUSO ............................................................................................................................. 89

    REFERNCIAS .................................................................................................................................. 90

    ANEXO I............................................................................................................................................... 93

  • 1

    1. INTRODUO

    A energia eltrica essencial em todas as atividades humanas modernas. Falhas

    ou anomalias no fornecimento de energia implicam em graves desdobramentos,

    em vrios aspectos, seja de mbito econmico, quanto de segurana, de forma

    que h requisitos especficos para qualidade de energia, continuidade de

    fornecimento e disponibilidade de equipamentos para atendimento s

    necessidades do sistema eltrico, tanto nas condies normais quanto em

    contingncias.

    Os parmetros de qualidade e de continuidade operacional so estabelecidos

    pelos rgos reguladores das atividades do setor eltrico no pas, visando a

    integridade do sistema e implicando em penalidades severas em caso de

    interrupes ou m qualidade na prestao desse servio.

    Tais aspectos, associados a demandas crescentes, limitao de espao,

    economia de materiais, classes de tenso mais altas, tm influenciado de forma

    decisiva no estudo de metodologias que permitam a obteno de informaes

    precisas sobre tipos de falhas em equipamentos, suas causas, seus

    desdobramentos, fatores de deflagrao de falhas e medidas preventivas que

    possam ser tomadas no sentido de se minimizar ocorrncias futuras de mesma

    natureza.

    Transformadores de potncia so equipamentos essenciais na transmisso e

    distribuio de energia eltrica, estando amplamente integrados em usinas,

    subestaes e indstrias. Sua finalidade a converso de diferentes nveis de

    tenso, permitindo a interligao entre os centros produtores e os consumidores

    de energia eltrica, num sistema interligado, com limites de estabilidade que

    dependem da confiabilidade dos equipamentos.

    Assim, sendo o transformador equipamento essencial nos sistemas eltricos,

    muito importante entender o seu funcionamento, os tipos de falhas que podem

    ocorrer, suas causas e formas de aumentar a sua confiabilidade.

  • 2

    1.1 JUSTIFICATIVA

    Usinas e subestaes so formadas por diversos equipamentos, tais como

    disjuntores, transformadores de medio, rels, cubculos, cabos, isoladores,

    torres, geradores, reatores, transformadores, dentre outros.

    Falhas de grande monta em geradores, reatores e transformadores, que so os

    itens de maior porte e valor em uma instalao desse tipo, certamente resultam

    em ndices de indisponibilidade maiores do que os demais, uma vez que:

    - nem sempre se dispe de unidade reserva;

    - o custo de aquisio elevado;

    - os equipamentos so produzidos especificamente para uma determinada

    instalao, no sendo fabricados em srie;

    - os prazos envolvidos no reparo, fabricao e transporte so ordem de meses.

    A partir dos aspectos acima descritos, este estudo tem por objetivo:

    - possibilitar um melhor entendimento das causas e motivos pelos quais

    transformadores falham;

    - desenvolver um critrio de anlise de falhas em transformadores;

    - avaliar a suscetibilidade de tipos distintos de transformadores a determinadas

    falhas;

    - a criao de um banco de dados sobre falhas de transformadores no sistema

    eltrico brasileiro.

  • 3

    1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO

    No captulo 2 so apresentadas as principais caractersticas construtivas dos

    transformadores de potncia utilizados no sistema eltrico.

    No captulo 3 so descritos os principais equipamentos associados ao

    funcionamento de transformadores.

    No captulo 4 apresentado um panorama geral dos principais mtodos de

    diagnstico e manuteno preventiva de transformadores.

    No captulo 5 so descritos os principais modos de falhas em transformadores,

    suas caractersticas e exemplos fotogrficos de cada um.

    No captulo 6 feita uma anlise estatstica de falhas em 92 transformadores

    inspecionados pelo autor durante oito anos de trabalho para companhias

    seguradoras no sistema eltrico brasileiro.

    No captulo 7 so apresentadas as concluses deste estudo.

  • 4

    2. TRANSFORMADORES DE POTNCIA

    Transformadores de potncia so equipamentos cujo princpio bsico de

    funcionamento se d a partir da converso de diferentes nveis de tenso entre a

    fonte, ligada ao primrio, e a carga alimentada, ligada ao secundrio.

    Podem ser trifsicos ou monofsicos, dependendo das necessidades especficas

    de cada instalao, conforme ilustrado na figura 2.1.

    Figura 2.1.: Transformador monofsico ( esquerda) e trifsico ( direita)

    No sistema eltrico h diferentes tipos de transformadores, conforme ilustrado na

    figura 2.2 a seguir, que possuem caractersticas especficas quanto classe de

    tenso e potncia.

    Figura 2.2: Esquema bsico do sistema eltrico

  • 5

    Vistos externamente, conforme figura 2.3, os transformadores so formados por

    buchas de alta e baixa tenso, radiadores ou trocadores de calor, tanque

    principal, tanque de expanso, painis de controle e outros dispositivos.

    Essencialmente so equipamentos mais complexos, conforme ilustrado na figura

    2.3 e descrito a seguir, dependendo da interao de diversos componentes para

    o seu perfeito funcionamento.

    Figura 2.3: Caractersticas construtivas de um transformador de potncia [30]

    1) Ncleo: constitudo em lminas para minimizar o efeito denominado por

    Foucault, no qual a induo de campo magntico alternado sobre o ncleo

    magntico tende a dar origem a correntes eltricas parasitas que ficam

    circulando e assim gerando perdas e aquecimento localizado. Corrente de

    Foucault, ou corrente parasita, o nome dado corrente induzida em um

    condutor quando h variao do fluxo magntico que o percorre. Em alguns

    casos a corrente de Foucault pode produzir resultados indesejveis, como perdas

    em decorrncia de dissipao de energia por efeito Joule, fazendo com que a

    temperatura do material aumente. Para evitar a dissipao por efeito Joule, os

    materiais sujeitos a campos magnticos variveis so frequentemente laminados

    ou construdos com placas muito finas isoladas umas das outras. Esse arranjo

    aumenta a resistncia no trajeto da corrente que atravessa o material, resultado

  • 6

    em menor gerao de calor e consequentemente menores perdas. O ncleo

    ferromagntico configurado em colunas verticais, sendo que as principais

    abrigam blocos de bobinas e as colunas perifricas, denominadas de retorno, so

    para fechamento do circuito magntico. As figuras 2.4 a 2.6 a seguir mostram os

    tipos de ncleo utilizados em transformadores de potncia:

    Figura 2.4: Transformadores monofsicos com duas colunas principais, uma ou duas colunas

    principais e duas de retorno

    Figura 2.5: Transformador trifsico com trs colunas principais

    Figura 2.6: Transformador trifsico com trs colunas principais e duas de retorno

    2) Enrolamentos: so bobinas cilndricas formadas por condutores de cobre

    retangular convencionais ou transpostos, podendo ser isolados com papel ou

    envernizados. As bobinas apresentam um arranjo fsico que pode ser do tipo

    helicoidal, em camadas, discos contnuos ou discos entrelaados. A relao entre

    o nmero de espiras dos diversos enrolamentos do transformador define seus

    nveis de tenso de operao, havendo a possibilidade de se fazer bobinas com

    terminais intermedirios, denominados por taps, que podem ser comutados, com

    a limitao de que o transformador esteja sem tenso ou at mesmo com o

  • 7

    transformador operando sob carga mediante a utilizao de chaves comutadoras

    de caractersticas especiais (comutador sob carga).

    3) Tanque principal: trata-se do tanque de ao preenchido com leo isolante,

    onde a parte ativa, conjunto formado pelas bobinas e o ncleo, imerso. O

    tanque pode ser dotado de blindagens nas paredes internas, no sentido de

    minimizar o aumento da temperatura do ao por conta da circulao de correntes

    parasitas, resultantes do fluxo de disperso gerado na parte ativa.

    J o leo isolante tem dupla funo:

    - ser absorvido (impregnado) pelo papel isolante de forma a conferir

    caractersticas dieltricas especiais ao sistema isolante do transformador;

    - circular atravs dos enrolamentos e ncleo, superficialmente e atravs de

    reentrncias, canais feitos especialmente com essa finalidade, de forma a

    permitir a remoo do calor gerado no funcionamento normal, dissipando assim

    as perdas nos enrolamentos e no ncleo.

    4) Tanque de expanso de leo: permite a expanso do volume de leo do

    transformador por conta das variaes de temperatura a que o equipamento

    submetido. Normalmente tanque provido de uma bolsa de borracha que

    auxilia no sistema de selagem do transformador.

    5) Buchas: so dispositivos de porcelana que tm a finalidade de isolar os

    terminais das bobinas do tanque do transformador. Normalmente as buchas com

    classe de tenso superior a 13,8kV so do tipo condensivas, onde, no interior do

    corpo de porcelana, h uma envoltria de papel e filme metlico imersos em leo

    isolante, formando um capacitor.

    6) Comutador sob carga: dispositivo eletromecnico que propicia a variao dos

    nveis de tenso atravs da mudana dos terminais dos enrolamentos de

    regulao, sem que o transformador seja desligado.

    7) Acionamento do comutador sob carga: conjunto de mecanismos

    eletromecnicos que fazem a mudana da posio do comutador de acordo com

    os nveis de tenso desejados;

    8) Radiadores/Trocadores de calor: instalados na parte externa do tanque,

    fazem a circulao do leo isolante atravs de aletas que, em contato com o ar

    ambiente, diminuem a temperatura do leo. A circulao pode ser do tipo natural

    (ONAN leo natural, ar natural), com ar forado atravs de motoventiladores

    nos radiadores (ONAF leo natural, ar forado), com motobombas para

  • 8

    aumentar o fluxo de leo (OFAF leo forado, ar forado), com sistema de leo

    dirigido nas bobinas (ODAF leo dirigido, ar forado) ou mesmo com trocadores

    de calor que utilizam gua como meio refrigerante ao invs do ar ambiente

    (OFWF leo forado, gua forada).

    9) Painel de controle: o local onde esto instalados os dispositivos de interface

    que permitem o controle e a monitorao do funcionamento do transformador ao

    centro de operao da subestao, como temperatura, corrente, monitorao de

    gases, descargas parciais, etc.

    10) Secador de ar: faz a retirada de umidade do interior do transformador

    utilizando slica-gel.

    11) Termmetros: medem a temperatura dos enrolamentos e do leo do

    transformador.

    Apesar do fato de que os componentes aqui descritos se aplicam a qualquer tipo

    de transformador, cada equipamento, dependendo da aplicao a que se destina

    e de padres definidos pelo comprador, possui caractersticas construtivas

    especficas, no havendo, a menos daqueles fabricados na mesma srie,

    transformadores idnticos.

    Alm disso, h diferentes tipos de construo no que diz respeito quantidade

    de enrolamentos, sistema de comutao, refrigerao, dimenses, etc.

    A seguir so apresentados os tipos de transformadores comumente encontrados

    nos sistemas de gerao, transmisso, subtransmisso e distribuio de energia

    eltrica.

  • 9

    2.1 Transformadores Elevadores

    So transformadores utilizados no sistema de gerao para elevar o nvel de

    tenso produzida pelos geradores, normalmente dotados de dois enrolamentos,

    conforme mostra a figura 2.7:

    Figura 2.7: Esquema de enrolamentos de transformador elevador

    A bobina que recebe tenso do gerador, referenciada como baixa tenso,

    montada na parte mais interna do bloco, sendo que bobina que ligada carga

    alimentada pelo transformador, referenciada como alta tenso, fica na parte mais

    externa.

    Esse tipo de transformador opera com sistema de mudana de tap sem tenso,

    podendo ser dotado de enrolamento especfico para o sistema de regulao ou

    atravs de derivaes no enrolamento de alta tenso.

    Geralmente so encontrados no sistema eltrico com nveis de tenso primria

    de at 20kV e nvel secundrio at 550kV.

  • 10

    2.2 Transformadores de Transmisso

    So transformadores utilizados em subestaes para interligar linhas e sistemas

    em diferentes nveis de tenso. Diferentemente de transformadores elevadores,

    tm caractersticas construtivas mais complexas no que diz respeito ao sistema

    de regulao de tenso e quantidade de enrolamentos, sendo dotados de

    comutadores sob carga, geralmente na alta tenso, onde a mudana de tap

    feita durante o funcionamento normal do equipamento sem a necessidade de que

    se faa o seu desligamento.

    Tambm podem ser utilizados em conjunto com os enrolamentos principais,

    enrolamentos menores, montados em outra parte ativa, imersa no mesmo

    tanque, que so denominados por transformadores srie.

    Nesse tipo de transformador, alm do sistema de regulao sob carga, h a

    possibilidade de utilizao de um sistema de regulao a vazio, alm de

    enrolamento tercirio acessvel ou no, conforme mostra a figura 2.8:

    Figura 2.8: Esquema de enrolamentos de transformador de transmisso

    Para esse tipo de aplicao tambm podem ser utilizados autotransformadores,

    cujas caractersticas construtivas se diferenciam de transformadores a partir do

    arranjo das bobinas.

    Esses transformadores geralmente so encontrados no sistema eltrico com

    nveis de tenso primria de at 765kV, nvel secundrio at 550kV e tercirio de

    13,8 ou 69kV.

  • 11

    2.3 Transformadores de Subtransmisso

    So transformadores utilizados para rebaixar os nveis de tenso recebidos das

    linhas transmisso para alimentao do sistema de distribuio.

    Podem ser dotados de apenas dois enrolamentos (um de alta e um de baixa

    tenso) com sistema de comutao a vazio ou, de forma muito similar quela dos

    transformadores de transmisso, com a utilizao de comutadores sob carga e

    at mesmo enrolamento tercirio.

    Esses transformadores geralmente so encontrados no sistema eltrico com

    nveis de tenso primria de at 138kV, nvel secundrio at 34,5kV e tercirio de

    13,8 ou 6,9kV.

    2.4 Transformadores de Distribuio

    So transformadores de pequeno porte utilizados para rebaixar os nveis de

    tenso recebidos das linhas de distribuio para alimentao dos consumidores

    finais.

    So dotados de apenas dois enrolamentos (um de alta e um de baixa tenso)

    com sistema de comutao a vazio no lado de alta tenso.

    Esses transformadores geralmente so encontrados no sistema eltrico com

    nveis de tenso primria de at 34,5kV e nvel secundrio at 440V.

  • 12

    3. EQUIPAMENTOS ASSOCIADOS A TRANSFORMADORES

    Dentre os componentes associados ao funcionamento de transformadores de

    potncia, aqueles que merecem maior destaque em relao ocorrncia de

    falhas so as buchas e os comutadores.

    Neste captulo so descritas as principais caractersticas de cada um.

    3.1 Buchas

    Buchas so dispositivos estanques, dotados de pequenos tanques de expanso

    para permitir dilataes do volume interno de leo, sem que haja entrada de

    umidade ou gases presentes no ambiente. So componentes com distncias

    dieltricas crticas e volume de leo relativamente pequeno. Diferentemente de

    transformadores, a execuo de anlises do leo isolante para verificao de

    suas condies de conservao uma tarefa praticamente impossvel.

    Existem tipos distintos de buchas, como as de corpo no condensivo, que so

    mais simples construtivamente, formadas por um condutor envolto por uma capa

    de porcelana. So buchas geralmente utilizadas em terminais com classe de

    tenso no superior a 15kV. As buchas que merecem maior ateno quanto

    ocorrncia de falhas, dado que so as mais utilizadas em transformadores de

    potncia de grande porte, so as do tipo a leo com corpo condensivo.

    O corpo condensivo um capacitor formado por diversas camadas de filme

    metlico, envolto por papel isolante impregnado e imerso em leo isolante,

    localizado entre o elemento condutor que fica na parte central da bucha e a

    parede interna do corpo de porcelana. Tem por objetivo a equalizao do campo

    eltrico distribudo ao longo da bucha.

    A figura 3.1 a seguir representa uma bucha condensiva a leo e seus principais

    componentes.

  • 13

    Figura 3.1: Ilustrao dos principais componentes de uma bucha e o contexto em que a mesma se insere em um transformador

    3.2 Comutadores

    Comutadores so dispositivos eletromecnicos utilizados para alterar os nveis

    de tenso e fluxo de potncia em transformadores, atravs da adio ou

    subtrao de espiras que compem o enrolamento de regulao.

    H dois tipos de comutadores, conforme descrito a seguir.

    a) Comutadores de derivao sem carga.

    So os comutadores de caractersticas construtivas simples quando comparados

    aos comutadores sob carga, amplamente utilizados em aplicaes onde h

    pouca necessidade de mudana dos nveis de tenso, como no caso de

    transformadores elevadores. So comutadores cuja operao somente pode ser

    feita com o transformador desenergizado.

  • 14

    b) Comutadores de derivao sob carga.

    Comutadores de derivao sob carga, conforme mostrado na figura 3.2 a seguir,

    so comutadores de caractersticas construtivas complexas, cujas manobras so

    realizadas automaticamente, com o transformador energizado e a plena carga.

    O funcionamento desses comutadores depende da interao de componentes

    eltricos e mecnicos, que basicamente abrange os seguintes componentes:

    sistema de acionamento motorizado: montado externamente ao

    transformador, responsvel pelas operaes de troca de posio do

    comutador;

    chave de carga: dotada de resistores e conjuntos de contatos fixos e

    mveis, opera imersa em um cilindro estanque, com volume de leo

    prprio, separado do transformador. Trata-se da parte do comutador mais

    solicitada durante seu funcionamento, sendo responsvel pela mudana

    de posio de contatos, com formao de arco-eltrico limitado no

    chaveamento;

    chave seletora: composta de contatos fixos e mveis, normalmente

    compartilhando o mesmo leo isolante onde imersa a parte ativa. A

    mudana de posio dos contatos, dado o funcionamento da chave de

    carga, no gera arco-eltrico que resulte na formao de gases

    combustveis no leo do transformador.

    Figura 3.2: Comutador sob carga tipo M, marca MR [31]

  • 15

    Na figura 3.3 ilustrado o funcionamento de um comutador sob carga, em cinco

    etapas, para troca de tap do enrolamento de um transformador.

    Figura 3.3: Exemplo do funcionamento de um comutador sob carga

  • 16

    4. DIAGNSTICO E MANUTENO PREVENTIVA

    Servios de manuteno preventiva de transformadores abrangem basicamente

    a realizao de anlises do leo isolante e testes de componentes, que vo

    definir a necessidade de realizao de intervenes como o tratamento do leo,

    troca de componentes, tais como juntas de vedao e contatos de comutadores,

    pintura das partes externas, dentre outros.

    Essencialmente so servios cujo objetivo o de manter o ncleo e

    enrolamentos em condies satisfatrias de operao, dado que a ocorrncia de

    uma falha na parte ativa geralmente envolve longos prazos de reparo e custos

    elevados.

    Assim, a implementao de sistemas de monitorao e a realizao de

    diagnstico peridico em transformadores proporcionam o acompanhamento de

    suas condies de utilizao, identificando anormalidades e consequentemente

    uma rpida tomada de deciso quanto a medidas para evitar ou minimizar a

    ocorrncia de falhas.

    Existem diversos mtodos de diagnstico e uma quantidade razovel de

    equipamentos para essa finalidade, abrangendo desde funes mais simples e

    tradicionais como a medio da temperatura do leo isolante, at as tecnologias

    que permitem a monitorao dos nveis de descargas parciais com o

    transformador em funcionamento.

    Os principais mtodos de diagnstico e monitorao so apresentados a seguir.

    4.1 Anlise do leo isolante

    A anlise do leo isolante o principal e mais utilizado mtodo para avaliar a

    condio de um transformador, dado a simplicidade no procedimento de coleta, o

    baixo custo dos testes e a possibilidades de se diagnosticar vrios tipos de

  • 17

    problemas. Basicamente abrange a anlise gases dissolvidos e propriedades

    fsico qumicas do leo isolante.

    4.1.1 Anlise de gases dissolvidos

    O leo isolante gera pequenas quantidades de gases quando submetido a

    determinados tipos de fenmenos de natureza eltrica ou trmica. A composio

    dos gases produzidos depende do tipo de anormalidade apresentada, sendo que

    o diagnstico feito a partir da avaliao individual dos nveis de determinados

    gases, chamados de gases chave, da interpretao da correlao entre gases e

    sua evoluo ao longo da utilizao do transformador.

    Os principais gases identificados por esse tipo de anlise so hidrognio (H2),

    metano (CH4), etano (C2H6), acetileno (C2H2), etileno (C2H4), monxido de

    carbono (CO) e dixido de carbono (CO2).

    A anlise de gases deve ser realizada dentro de uma periodicidade razovel que

    resulte em um correto e eficaz acompanhamento do surgimento, evoluo e

    severidade de determinados problemas.

    A realizao de uma anlise de gases isoladamente no permite um correto

    diagnstico das condies do transformador, portanto necessrio que se leve

    em conta o histrico de anlises, eventuais sobrecargas e falhas anteriores, no

    sentido de se avaliar:

    o desenvolvimento de uma falha/defeito;

    a monitorao da taxa de crescimento da falha/defeito;

    a confirmao de presena de uma falha/defeito:

    a programao de quando dever ser feita retirada do equipamento de

    operao para reparo;

    monitorao do funcionamento aps a ocorrncia de alguma anormalidade

    no sistema.

    Assim, pode-se estabelecer um plano de investigao a partir das seguintes

    etapas:

  • 18

    avaliar se algum parmetro de referncia excedido, seja atravs de um gs

    chave ou mesmo das correlaes entre eles, observando-se o fato de que

    determinadas famlias de transformadores e equipamentos em servio

    normalmente apresentam concentraes de gases combustveis;

    realizar acompanhamento peridico, inclusive com a possibilidade de

    diminuio expressiva dos intervalos de coleta de meses para semanas ou

    at mesmo dias, no sentido de se determinar a taxa de crescimento e o tipo

    de falha/defeito que est sendo diagnosticado e, finalmente;

    estabelecer quais aes devem ser tomadas para extino do problema, seja

    atravs de interveno restrita em campo ou mesmo a remoo para abertura

    do equipamento e diagnstico mais detalhado em oficina especializada.

    De acordo com a norma internacional IEEE Guide for the Interpretation of Gases

    Generated in Oil-Immersed Transformers [24], os gases chave permitem a

    identificao de quatro tipos de problemas em transformadores, conforme

    descrito a seguir:

    - leo superaquecido: os produtos da decomposio do leo abrangem etileno

    (C2H4), etano (C2H6) e metano (CH4), com pequenas quantidades de hidrognio

    (H2). Se a falha for severa e envolver contatos eltricos, h possibilidade de que

    haja traos de acetileno. Gs chave: Etileno, conforme mostrado no grfico 4.1:

    Grfico 4.1: Concentrao tpica de gases resultantes de leo isolante superaquecido [24]

  • 19

    - Celulose superaquecida: dixido (CO2) e monxido de carbono (CO) so

    liberados em grande quantidade quando a celulose superaquecida. Metano

    (CH4) e etileno (C2H4) sero formados, caso a falha envolva uma estrutura

    impregnada com leo. Gs chave: Monxido de Carbono, conforme mostrado no

    grfico 4.2:

    Grfico 4.2: Concentrao tpica de gases resultantes de celulose superaquecida [24]

    - Descargas parciais: A ocorrncia de descargas eltricas de baixa energia

    produzem hidrognio (H2) e metano (CH4), com pequenas quantidades de etileno

    (C2H4) e etano (C2H6). Descargas envolvendo celulose podem produzir

    quantidades comparveis de dixido (CO2) e monxido de carbono (CO). Gs

    chave: Hidrognio, conforme mostrado no grfico 4.3:

    Grfico 4.3: Concentrao tpica de gases resultantes de descargas parciais [24]

  • 20

    - Arco eltrico: grandes quantidades de acetileno (C2H2) e hidrognio (H2) so

    produzidos, com menores quantidades de metano (CH4) e etileno (C2H4). Caso a

    falha envolva celulose, haver presena de dixido (CO2) e monxido de carbono

    (CO). Gs chave: Acetileno, conforme mostrado no grfico 4.4:

    Grfico 4.4: Concentrao tpica de gases resultantes de arco eltrico [24]

    Ainda de acordo com a norma IEEE Guide for the Interpretation of Gases

    Generated in Oil-Immersed Transformers, quando no se dispe do histrico de

    gases dissolvidos no leo isolante, possvel estabelecer um critrio para

    avaliao de riscos a partir dos parmetros de referncia indicados na tabela 4.1.

    Tabela 4.1: Referncias para avaliao de riscos em transformadores a partir das quantidades de gases combustveis, expressas em ppm [24]

    H2 CH4 C2H2 C2H4 C2H6 CO CO2 Total de Gases

    Condio 1 100 120 35 50 65 350 2500 720

    Condio 2 101-700 121-400 36-50 51-100 66-100 351-570 2500-4000 721-1920

    Condio 3 701-1800 401-1000 51-80 101-200 101-150 571-1400 5001-10000 1921-4630

    Condio 4 >1800 >1000 >80 >200 >150 >1400 >10000 >4630

    A interpretao dos dados feita conforme descrito nas condies descritas a

    seguir.

    condio 1: indica que o transformador est operando satisfatoriamente.

  • 21

    condio 2: o total de gases combustveis est acima dos valores de

    referncia, indicando a possibilidade de que haja algum tipo defeito/falha no

    transformador.

    condio 3: o total de gases combustveis indica elevado nvel de

    decomposio.

    condio 4: o total de gases combustveis deste intervalo indica excessiva

    decomposio do leo isolante, sendo que a continuidade de operao

    poder resultar em falha do transformador.

    No caso das condies 1, 2 e 3, caso haja indcios de que algum dos gases

    apresente valor razoavelmente superior queles indicados na tabela, deve-se

    proceder uma investigao adicional para identificao de sua origem, bem como

    estabelecer um plano peridico de anlises no sentido de se estabelecer qual a

    tendncia de evoluo dos gases

    Cumpre observar que as referncias da tabela 4.1 assumem que no h histrico

    de anlises de gases anteriores de um determinado transformador. Caso haja

    algum registro, o critrio deve ser reavaliado para determinar se a condio

    operacional do equipamento estvel ou instvel.

    Alm dos parmetros de referncia apresentados, existem diversos critrios de

    anlise que se baseiam na correlao entre gases combustveis para diagnstico

    de falhas e defeitos em transformadores, tais como o mtodo de Rogers,

    Doernemburg, Laborelec e o da norma brasileira ABNT NBR 7274.

    Especificamente para este estudo, descrito o procedimento prescrito na norma

    NBR 7274 que, a partir de trs correlaes entre gases dissolvidos no leo

    isolante, permite nove tipos de diagnstico.

    Cada diagnstico associado a um exemplo de falha tpica, de forma a orientar

    na pesquisa da origem de eventuais problemas com o transformador.

    Para obteno dos resultados feita a correlao das taxas de acetileno (C2H2)

    com etileno (C2H4), metano (CH4) com hidrognio (H2) e etileno (C2H4) com etano

    (C2H6), conforme indicado na tabela 4.2.

  • 22

    Tabela 4.2: Fatores para estabelecimento dos parmetros de correlao de gases [29]

    Fator R

    Relao de gases

    C2H2 C2H4

    CH4 H2

    C2H4 C2H6

    0,1 > R 0 1 0

    0,1 < R < 1 1 0 0

    1 < R < 3 1 2 1 3 < R 2 2 2

    A partir do resultado das razes entre gases deve ser feita a correo de valores

    com base no fator R, conforme exemplificado abaixo:

    a) Se C2H2/C2H4 for menor do que 0,1, o valor a ser considerado 0;

    b) Se C2H2/C2H4 estiver entre 0,1 e 3, o valor a ser considerado 1;

    c) Se C2H2/C2H4 for maior que 3, o valor a ser considerado 2.

    Esse mesmo procedimento deve ser observado para correo das razes de

    CH4/H2 e C2H4/C2H6, conforme parmetros indicados na tabela 4.2.

    A partir dos resultados corrigidos feita a anlise de valores com base na tabela

    4.3.

    Tabela 4.3: Diagnstico de transformadores a partir da correlao de gases prescrita na norma ABNT 7274 [29]

    Caso falha caracterstica

    Relao de gases

    Exemplos tpicos C2H2 C2H4

    CH4 H2

    C2H4 C2H6

    A Sem falha 0 0 0 Envelhecimento normal

    B

    Descargas parciais de pequena densidade de energia 0 1 0

    Descargas nas bolhas de gs resultantes de impregnao incompleta, de supersaturao ou de alta umidade

    C

    Descargas parciais de alta densidade de energia 1 1 0

    Como acima, porm provocando arvorejamento ou perfurao da isolao slida

    D Descargas de energia reduzida 1-2 0 1-2

    Centelhamento contnuo no leo devido a ms conexes de diferentes potenciais ou potencias flutuantes. Ruptura dieltrica do leo entre materiais slidos.

    E Descargas de alta energia 1 0 2

    Descargas de potncia. Arco. Ruptura dieltrica do leo entre enrolamentos, entre espiras ou entre espira e massa, corrente de interrupo no seletor.

    F Falha Trmica de baixa temperatura >150C 0 0 1 Aquecimento generalizado de condutor isolado.

    G

    Falha Trmica de baixa temperatura 150C - 300C 0 2 0 Sobreaquecimento local do ncleo devido

    concentraes de fluxo. Pontos quentes de temperatura crescente, desde pequenos pontos no ncleo, sobreaquecimento do cobre devido a correntes de Foucault, maus contatos (formao de carbono por pirlise) at pontos quentes devido a correntes de circulao entre ncleo de carcaa

    H

    Falha Trmica de temperatura mdia 300C - 700C 0 2 1

    I Falha Trmica de alta temperatura >700C 0 2 2

  • 23

    Trata-se de um mtodo de anlise razoavelmente simples, porm de grande

    auxlio na avaliao das condies operacionais de transformadores de potncia.

    4.1.2 Anlise fsico qumica

    leos isolantes novos para utilizao no mercado brasileiro devem atender s

    caractersticas especificadas pela Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e

    Biocombustveis, conforme tabela 4.4.

    Tabela 4.4: Caractersticas de leos isolantes novos [36]

    CARACTERSTICAS UNIDADES

    leo Naftnico

    LIMITES

    leo Parafnico

    LIMITES MTODOS

    Min. Mx Min.

    Aspecto -

    Claro, limpo, isento de material em

    suspenso ou sedimentado Visual

    Cor - - 1 - 1 NBR 14483

    Densidade a 20/4 C - 0,861 0,9 - 0,86 NBR 7148

    Viscosidade a 20 C cSt - 25 - 25

    NBR 10441

    Viscosidade a 40 C cSt - 11 - 12

    Viscosidade a 100 C cSt - 3 - 3

    Ponto de fulgor C 140 C - 140 C - NBR 11341

    Ponto de fluidez C - -39 - -12 NBR 11349

    ndice de neutralizao mg KOH/g - 0,03 - 0,03 NBR 14248

    gua mg/kg (ppm) - NBR 10710-B

    Cloretos - ausente - NBR 5779

    Sulfatos - ausente - NBR 5779

    PCB (bifenila policlorada) mg/kg (ppm) no detectvel NBR 13882 B

    Carbono aromtico % anotar ASTM D 2140

    Enxofre corrosivo - no corrosivo NBR 10505

    Enxofre total % massa - - - 0,3 ASTM D 1552

    Fator de perdas dieltricas a 25 C - 0,05 - 0,05

    NBR 12133

    Fator de perdas dieltricas a 90 C - 0,4 - 0,4

    Fator de perdas dieltricas a 100 C - 0,5 - 0,5

    Rigidez dieltrica - Eletrodo de

    disco kV 30 - 30 - NBR 6869

    Rigidez dieltrica - Eletrodo VDE kV 42 - 42 - NBR 10859

  • 24

    CARACTERSTICAS UNIDADES

    leo Naftnico

    LIMITES

    leo Parafnico

    LIMITES MTODOS

    Min. Mx Min.

    Rigidez dieltrica a impulso l/min 145 - - - ASTM D 3300

    Tendncia a evoluo de gases mN/m no especificado - - ASTM D 2300 B

    Tenso interfacial a 25 C % massa 40 - 40 - NBR 6234

    Aditivo inibidor de oxidao DBPC

    leo no inibido

    % massa

    no detectvel

    NBR 12134A

    Aditivo inibidor de oxidao DBPC

    leo inibido 0,27 0,33 0,27 0,33

    Estabilidade a oxidao leo no inibido

    NBR 10504

    ndice de neutralizao mg KOH/g - 0,4 0,4

    Borra % massa - 0,1 0,1

    Fator de perdas dieltricas a 90 C % - 20 20

    leo inibido minutos 195 - 195 - ASTM D 2112

    Trata-se da condio inicial de operao do leo novo, sendo que ao longo da

    utilizao de transformadores o leo isolante sofre alteraes de determinadas

    caractersticas, que devem ser objeto de controle de anlises peridicas para

    manuteno de propriedades aceitveis de desempenho e confiabilidade s

    quais o equipamento se destina.

    Para tanto, uma srie de anlises fsico qumicas so realizadas para mensurar

    mudanas das propriedades do leo. Os resultados devem ser utilizados para

    estabelecer procedimentos de manuteno preventiva que evita falhas

    prematuras e estendem a vida til do equipamento.

    Os parmetros de resultado de ensaios fsico qumicos so prescritos pela norma

    ABNT NBR 10576 leo mineral isolante de equipamentos eltricos Diretrizes

    para superviso e manuteno [37], conforme mostrado na tabela 4.5.

    Tabela 4.5: Parmetros de propriedades fsico qumicas [37]

    CARACTERSTICAS Mtodo de Ensaio

    Classe de tenso

    72,5kV > 72,5 242kV > 242kV

    Aparncia Visual Claro, isento de materiais em suspenso

    Rigidez dieltrica, kV Eletrodo

    calota, mnimo

    ABNT NBR IEC

    60156 40 50 60

    Teor de gua, ppm, mximo

    (corrigido para 20 C)

    ABNT NBR IEC

    10710 25 15 10

  • 25

    CARACTERSTICAS Mtodo de Ensaio

    Classe de tenso

    72,5kV > 72,5 242kV > 242kV

    Fator de dissipao, %,

    mximo

    ABNT NBR 12133

    a 25 C 0,5 0,5 -

    a 90 C 15 15 12

    Fator de potncia, %, mximo

    ABNT NBR 12133

    a 25 C 0,5 0,5 -

    a 100 C 20 20 15

    ndice de neutralizao mg,

    KOH/g, mximo ABNT NBR 14248 0,15 0,15 0,15

    Tenso interfacial, a 25 C,

    mN/m, mnima ABNT NBR 6234 22 22 25

    Ponto de fulgor C ABNT 11341 decrscimo mximo de 10 C

    Sedimentos

    nenhum sedimento ou borra precipitvel

    deve ser detectado. Resultados

    inferiores a 0,02% em massa devem ser

    desprezados

    Inibidor (DBPC) ABNT NBR 12134 reinibir quando o valor atingir 0,09%

    Para transformadores com maiores nveis de tenso, mais rgidos so os

    requisitos de suportabilidade do meio isolante, conforme se verifica pelos limites

    de rigidez dieltrica e teor de gua.

    4.3.4 Contagem de Partculas

    Para transformadores com classe de tenso igual ou superior a 230kV, o controle

    da quantidade de partculas presentes no leo isolante um parmetro

    importante para avaliao das condies do meio isolante.

    O surgimento de partculas de ferro, alumnio, cobre e fibras de celulose midas

    so inerentes ao processo de fabricao de transformadores, porm, em funo

    de suas propriedades condutoras, necessrio que as mesmas sejam removidas

    de forma a tornar o equipamento apto ao funcionamento.

  • 26

    De acordo com o estudo desenvolvido pelo Working Group 12.17 do Cigr

    Effect of Particles on Transformer Dielectric Strength de junho de 2.000, h o

    relato de falhas em dezenas de transformadores de extra alta tenso em todo o

    mundo atribudas presena de partculas.

    No que concerne origem dessas partculas, destacam-se:

    fibras de celulose de materiais isolantes;

    desgaste mecnico de componentes do sistema de refrigerao;

    xidos de ferro e silcio;

    fibras de filtros utilizados para tratamento do leo isolante;

    material carbonizado.

    De acordo com o estudo, a avaliao do grau de risco para o funcionamento de

    um transformador feito a partir da coleta de leo isolante para anlise da

    quantidade de partculas, sendo que o resultado analisado com base no grfico

    4.5 e tabelas 4.6 e 4.7 reproduzidos a seguir.

  • 27

    Grfico 4.5: Grfico que apresenta referncias dos nveis de contaminao do leo isolante de transformadores, conforme Working Group 12.17 do Cigr Effect of Particles on Transformer

    Dielectric Strength. Adaptado de [26]

    A partir dos resultados da anlise do leo, que indica a quantidade de partculas

    de diferentes tamanhos, inserem-se os dados no grfico 4.5 de forma a verificar

    se os nveis obtidos esto nos intervalos de contaminao nula, baixa, normal,

    marginal ou alta.

    Na tabela 4.6 apresentado o resultado tpico do estado de conservao do leo

    do transformador com base nos valores encontrados.

  • 28

    Tabela 4.6: Tabela com referncias de diagnstico para interpretao dos dados do grfico dos nveis de contaminao do leo isolante. Adaptado de [26]

    classe ISO

    quantidade por 100ml nvel de

    contaminao ocorrncia tpica

    5m 15m

    at 5/8

    250

    32 Nula

    requisito de limpeza IEC para recipientes de

    coleta de amostras

    6/9 a 7/10

    1.000

    130

    Baixa

    excelente nvel de limpeza encontrado em leo

    durante processo de aceitao e

    comissiontamento de um transformador

    8/11 a 12/15

    32.000

    4.000 Nomal

    nvel tpico de contaminao para

    transformadores em servio

    13/16 a 14/17

    130.000

    16.000 Marginal

    nvel de contaminao encontrado em nmero

    significativo de transformadores em servio

    15/18 e acima - - Alta

    nvel de contaminao que indica condies

    anormais de funcionamento do transformador

    As recomendaes de procedimentos a serem tomados para continuidade de

    operao do transformador, a partir da contagem de partculas e do resultado da

    rigidez dieltrica do leo isolante obtida na anlise fsico qumica, so

    apresentadas na tabela 4.7.

    Tabela 4.7: Referncias de diagnstico para interpretao dos dados do grfico dos nveis de contaminao do leo isolante. Adaptado de [26]

    nvel de

    contaminao

    rigidez

    dieltrica recomendao

    normal

    boa nenhuma ao a ser tomada

    ruim identificar o tipo de partculas

    marginal

    boa

    possivelmente celulose suja ou seca. Repetir o teste de rigidez dieltrica

    com procedimento adequado para partculas

    marginal

    identificar o tipo de partculas e teor de umidade. Considerar a possibilidade

    de filtrar o leo

    alta

    boa

    rechecar a contagem de partculas e a rigidez dieltrica com procedimento

    adequado para partculas. Investigar a fonte de partculas

    marginal filtrar ou substituir o leo

  • 29

    4.1.4 Teor de Furfuraldedo

    Alm das anlises de gases dissolvidos, fsico qumicas e de partculas,

    possvel se fazer a medio do teor de furfuraldedo presente no leo isolante, o

    que permite avaliar a deteriorao do papel e consequentemente monitorar o

    estado de conservao dos enrolamentos de um transformador.

    Trata-se de ferramenta bastante til, dado que no possvel realizar a coleta de

    amostras de papel isolante com o transformador em servio. A partir do teor de

    furfuraldedo se faz a correlao com um valor mdio do grau de polimerizao

    das bobinas.

    Uma das referncias utilizadas para este procedimento o grfico 4.6,

    desenvolvido pela Powertech Labs em conjunto com a BC Hydro.

    Grfico 4.6: Referncia para correlao entre o teor de furfuraldedo e o grau de polimerizao [25]

  • 30

    Observa-se que deve ser levado em conta o intervalo entre a realizao de

    tratamento do leo isolante do transformador e a anlise do teor de furfuraldedo,

    uma vez que o tratamento elimina os compostos resultantes da decomposio do

    material celulsico, resultando na perda de referncia do efetivo estado de

    deteriorao da isolao slida.

    Alm disso, dado que transformadores tendem a apresentar deteriorao do

    papel isolante de forma diferenciada entre as bobinas, bem como ao longo de

    uma mesma bobina, deve-se utilizar este mtodo a ttulo de referncia, uma vez

    que o resultado efetivo do estado de conservao do equipamento somente pode

    ser obtido a partir da coleta de amostras de papel isolante do ponto quente hot-

    spot, fator determinante da vida til de transformadores.

    4.2 Termografia

    O teste de termografia utilizado para verificar a temperatura da superfcie de

    determinadas partes do transformador, principalmente o sistema de refrigerao

    e pontos de conexo de terminais das buchas.

    Trata-se de teste realizado com o transformador em operao, restringindo-se

    anlise de partes externas do equipamento.

    De acordo com os ajustes do aparelho empregado no teste, pode-se verificar

    quais alteraes de temperatura so mais significativas em relao temperatura

    de referncia e se determinar um plano de ao para corrigir o problema.

    4.3 Temperatura do leo e enrolamentos

    Todos os transformadores so dotados de termmetros analgicos ou digitais

    para medio da temperatura do leo e enrolamentos, de forma a permitir que se

    faa o acompanhamento da temperatura de operao do equipamento.

  • 31

    Para o leo o sistema dotado de sensores imersos no lquido isolante, no

    apresentando limitaes para a correta leitura da temperatura.

    No caso dos enrolamentos a medio feita atravs de transformadores de

    corrente de imagem trmica que, atravs de dados de projeto, estimam a

    temperatura das bobinas. Atualmente existem sistemas mais modernos que

    utilizam fibras pticas para essa mesma finalidade, com a vantagem de

    apresentar dados reais da temperatura do enrolamento.

    4.4 Tcnicas avanadas de monitorao

    As facilidades promovidas pelo avano das tecnologias de comunicao de

    dados e desenvolvimento de sensores, permitiram a implementao de sistemas

    de monitorao das condies operacionais de transformadores de potncia e

    seus acessrios, como buchas, comutadores sob carga, motoventiladores, dentre

    outros.

    A utilizao desses sistemas tem o objetivo de minimizar a ocorrncia de falhas,

    dado que a coleta de dados e apresentao de resultados feita em tempo real,

    possibilitando a deteco e avaliao imediata de eventuais problemas, sem que

    os mesmos evoluam a uma condio de falha para que sejam identificados.

    Trata-se de sistemas de custo razoavelmente elevados, que utilizam sensores

    especiais para monitorar continuamente diversos parmetros de operao de

    transformadores, como por exemplo a presena de gases e umidade no leo

    isolante, o estgio de desgaste de contatos do comutador, fator de potncia e

    descargas parciais em buchas.

  • 32

    5. FALHAS EM TRANSFORMADORES DE POTNCIA

    A definio de falha utilizada neste estudo se refere ao momento em que ocorre

    um evento sbito, cujo resultado o desligamento do transformador atravs da

    atuao das protees automticas da subestao ou mesmo em eventos

    catastrficos onde nem mesmo as protees tm condies de extinguir a falha.

    Na figura 5.1 apresentado um exemplo de falha, cujo resultado final foi a

    exploso do tanque e incndio do transformador.

    Figura 5.1: Transformador monofsico de 550MVA, classe de tenso 800kV em chamas

    Alm da ocorrncia de falhas h situaes em que o transformador, mesmo em

    operao, apresenta condies anormais de funcionamento, tais como a

    evoluo significativa dos nveis de gases combustveis, o que motiva a

    interveno para desligamento anteriormente deflagrao de uma falha. Trata-

    se da condio aqui referenciada como defeito.

    A investigao de falhas e defeitos em transformadores de potncia uma tarefa

    que exige uma avaliao criteriosa de informaes acerca de suas condies

  • 33

    operacionais, ensaios especficos, inspeo interna e desmontagem da parte

    ativa.

    A avaliao desses dados visa definir a causa raz do problema ou, em casos

    onde no se dispe de dados suficientes para tal, identificar as causas mais

    provveis e excluir aquelas que no tm qualquer relao com o evento.

    Este captulo apresenta dados considerados essenciais no sentido de se

    estabelecer um roteiro de identificao dos principais tipos de problemas em

    transformadores, baseado na anlise de dados e dos danos efetivamente

    constatados por inspeo visual.

    5.1 Coleta e anlise de dados

    A avaliao de dados do contexto de funcionamento do transformador, histrico

    operacional e os motivos que levaram ao seu desligamento so informaes

    importantes para o trabalho de investigao pretendido.

    Assim, so relacionados a seguir documentos essenciais etapa de coleta de

    dados e o que possvel identificar em cada um deles:

    - diagrama unifilar da instalao em que o transformador se encontra:

    entendimento do contexto operacional do equipamento;

    - histrico das anlises fsico-qumicas e de gases dissolvidos no leo isolante:

    identificao de suas condies de conservao, bem como do perfil de gerao

    de gases;

    - histrico da anlise de furfuraldedo: identificar o estgio de deteriorao dos

    materiais isolantes dos enrolamentos;

    - histrico de carga do transformador: identificao de eventual operao em

    sobrecarga;

    - registro recente de operaes de energizao / desenergizao: avaliar as

    solicitaes por eventuais sobretenses de manobra;

    - histrico de manuteno de componentes (buchas, comutador sob carga, etc.),

    bem como dados relativos a intervenes feitas em campo ou em fbrica

  • 34

    (eventuais rebobinamentos, desmontagens ou retrabalho de partes): identificao

    das condies de conservao do transformador.

    Em casos onde o equipamento retirado de operao pela atuao de protees

    ou mesmo em eventos catastrficos, alm da documentao j listada, devem

    ser analisados:

    - registro e oscilografia das protees que atuaram no evento: entendimento do

    mecanismo de deflagrao da falha;

    - registro de contadores de descargas nos pra-raios de linha ligados ao

    transformador: identificao de eventuais sobretenses;

    5.2 Testes eltricos

    Exceto em caso de eventos catastrficos onde a realizao de qualquer ensaio

    invivel, devem ser executados testes com o transformador ainda em campo ou

    por ocasio do seu recebimento em oficina, dado que auxiliam no direcionamento

    da investigao a determinadas partes ou componentes do transformador. So

    eles:

    - Resistncia hmica dos enrolamentos: indica as condies dos condutores das

    bobinas e contatos de comutadores. Esse tipo de ensaio requer a utilizao de

    instrumentos capazes de medir precisamente valores de resistncia, da ordem de

    poucos a fraes de Ohms. importante ressaltar que a resistncia varia de

    acordo com a temperatura, portanto, quando feita a comparao dos resultados

    obtidos com os valores padro deve-se aplicar fator de correo para no haver

    equvocos de interpretao;

    - Relao de transformao: identifica eventual curto-circuito ou ruptura de

    condutores dos enrolamentos, bem como se houve abertura de circuito por conta

    da soltura de algum terminal ou conexo da parte ativa. O valor limite de desvio

    normalmente utilizado como referncia para esse tipo de teste o de at 0,5%

    em relao ao valor medido nos ensaios de aceitao em fbrica.

  • 35

    - Resistncia de isolamento: identifica as condies do isolamento entre

    enrolamentos e partes aterradas, indicando eventual contato entre partes

    inicialmente isoladas.

    Alm dos ensaios citados, que podem ser executados com aparelhos

    relativamente simples e portteis, h casos onde h a necessidade de utilizao

    de tcnicas mais especficas, como por exemplo o ensaio de tenso induzida

    com medio de descargas parciais.

    Trata-se de procedimento que pode ser empregado em grandes transformadores,

    cuja remoo para oficina demanda elevados custos de transporte. Antes da

    execuo desse tipo de ensaio deve-se avaliar eventuais limitaes quanto aos

    nveis de tenso e potncia exigidos para alimentao de determinados

    transformadores, os custos envolvidos na montagem do circuito de teste, e os

    nveis de interferncia presentes em determinadas instalaes.

    Para esse tipo de ensaio a deteco do problema pode ser feita a partir de

    sensores acsticos instalados no transformador, medio do nvel de descargas

    parciais atravs de instrumentos, anlises dos nveis de gases combustveis

    gerados no leo isolante ou por ambos.

    Posteriormente coleta desses dados a prxima etapa engloba o trabalho de

    inspeo das partes internas do transformador, o que ir efetivamente permitir a

    identificao do problema.

    5.3 Tipos de falhas e defeitos em transformadores

    A seguir apresentada uma descrio de falhas e defeitos tipicamente

    verificados em transformadores, sua classificao e aspectos caractersticos de

    cada um.

  • 36

    5.3.1 Deteriorao dos materiais isolantes

    O envelhecimento de transformadores diretamente associado deteriorao do

    sistema isolante, que composto por materiais slidos (papel e papelo) e

    lquidos (leo isolante). A degradao do isolamento slido fator determinante

    da vida til do equipamento, uma vez que, diferentemente do leo, que pode ser

    tratado, regenerado ou substitudo, a sua troca implica na desmontagem do

    transformador e interveno nos enrolamentos que compem a parte ativa.

    Os materiais isolantes slidos so produzidos a partir de celulose, cujos

    parmetros de avaliao se baseiam no grau de polimerizao (GP).

    Na medida em que um transformador permanece em operao h o seu natural

    aquecimento, fator que conjugado com umidade e oxignio que permanecem

    impregnados no leo isolante provocam a degradao da isolao e consequente

    diminuio do GP.

    A diminuio do grau de polimerizao est diretamente associada quebra das

    cadeias celulsicas que compem estes materiais, devido ao de fenmenos

    inerentes ao funcionamento normal de transformadores que so de natureza

    trmica (aquecimento), oxidativa (oxignio) e hidroltica (umidade).

    Procedimentos de manuteno, com secagem do leo para remoo da umidade

    nele dissolvido, instalao de dispositivos de selagem que isolem o contato do

    leo com o ar ambiente, ou a correta manuteno dos filtros de slica (para

    retirada de umidade do ar que entra em contato com o leo do transformador)

    so prticas importantes e necessrias, que associadas a baixas temperaturas

    de operao (por condies do ambiente e de regime de carga) estendem a vida

    do sistema isolante slido, porm no permitem eterniz-lo.

    A condio de conservao do transformador e a sua vida remanescente so

    determinadas atravs da anlise do grau de polimerizao de amostras de papel

    isolante coletadas no ponto mais quente das bobinas, normalmente localizado

    nas partes mais internas e na regio superior dos enrolamentos. Essas amostras

    so analisadas e os resultados so comparados com valores de referncia para

    papis isolantes novos e em final de vida til.

  • 37

    Em papis novos, aps processo de secagem, os valores mdios de referncia

    so da ordem de 1000 a 1100 e em fim de vida til de 150 a 250 [25].

    Estes valores de referncia so utilizados normalmente por fabricantes,

    empresas concessionrias de energia eltrica e entidades de pesquisa.

    Quanto mais deteriorado estiver o papel isolante, menor ser o GP.

    Consequentemente as cadeias celulsicas estaro quebradas e o papel, mais

    quebradio, ter menor capacidade de suportar esforos mecnicos,

    principalmente quando o transformador for submetido a um curto-circuito.

    5.3.2 Deformao mecnica dos enrolamentos por esforos de

    curto-circuito

    A ao de esforos mecnicos de origem eltrica sobre enrolamentos de

    transformadores so condies inerentes sua utilizao, motivo pelo qual as

    bobinas so montadas e prensadas na parte ativa de forma que apresentem

    considervel resistncia mecnica.

    Ocorre que um transformador tambm est sujeito ocorrncia de curtos-

    circuitos no sistema por ele alimentado, o que resulta na ao de esforos

    mecnicos de grande intensidade, dado que a fora que atua sobre condutores

    imersos em um campo magntico proporcional ao quadrado da corrente [28].

    A referncia quanto suportabilidade de um transformador a esse tipo de

    fenmeno definida por normas que estabelecem limites mximos de amplitude

    e durao de curtos-circuitos simtricos e assimtricos aos quais o equipamento

    pode ser submetido sem sofrer danos.

    Ocorre que na prtica esses valores podem ser excedidos em funo de

    particularidades dos tipos de protees utilizadas, caractersticas do sistema

    eltrico e at mesmo de determinadas ocorrncias.

    Assim, faz-se necessrio o entendimento da forma como se comportam os

    enrolamentos de transformadores quando submetidos ao de esforos

    resultantes de um curto-circuito.

  • 38

    Do ponto de vista mecnico, as deformaes de enrolamentos podem ser

    divididas em dois tipos:

    deformaes elsticas: so reversveis e no implicam em mudana

    estrutural das bobinas, portanto sem implicaes ao funcionamento normal

    do equipamento;

    deformaes plsticas: so mecanicamente irreversveis, provocando a

    alterao permanente da estrutura atmica dos condutores, deslocamento

    e quebra de suportes isolantes e calos. Neste caso ocorrem danos que

    implicam em necessidade de interveno na parte ativa.

    Os esforos mecnicos so resultado de:

    foras radiais, provocadas pela componente axial do campo magntico,

    que atuam na direo do raio do enrolamento;

    foras axiais, provocadas pela componente radial do campo magntico,

    que atuam na direo do eixo do enrolamento.

    A figura 5.2 e explicaes a seguir descrevem os esforos atuantes em

    enrolamentos de transformadores:

    Figura 5.2: Esforos eletrodinmicos que atuam sobre enrolamentos durante um curto-circuito.

    Adaptado de [3]

    F1 esforos de compresso axial: atuam em direo ao centro dos enrolamentos

    e provocam o deslocamento de condutores. Esse tipo de esforo maior nas

  • 39

    extremidades das bobinas, onde h ao mais intensa da componente radial do

    campo magntico.

    F2 esforos de expanso axial: atuam em direo aos elementos de prensagem

    do bloco de bobinas, provocando o deslocamento e quebra de partes. H ainda a

    possibilidade de danos ao ncleo em funo do contato dos condutores

    energizados dos enrolamentos contra o mesmo. A intensidade desses esforos

    dependente da simetria das bobinas que compem o bloco, tornando-se maiores

    quando h diferenas de tamanho ou de alinhamento entre os enrolamentos.

    F3 e F5 esforos de expanso radial: ocorrem nos enrolamentos externos do

    bloco de bobinas e atuam em direo oposta coluna do ncleo onde o

    enrolamento montado. Provocam o esticamento dos condutores da bobina,

    podendo romper a isolao ou o mesmo o condutor por completo.

    F4 e F6 esforos de compresso radial: ocorrem nos enrolamentos mais internos

    do bloco de bobinas e atuam em direo coluna do ncleo onde o enrolamento

    montado. Provocam a compresso e amassamento dos condutores da bobina,

    com desdobramento de danos aos cilindros isolantes e at mesmo coluna do

    ncleo.

    Cumpre observar que o envelhecimento do papel isolante, dada a sua fragilidade

    mecnica, aumenta significativamente a possibilidade de falhas pela ao de

    esforos eletrodinmicos que atuam sobre os enrolamentos durante um curto-

    circuito alimentado pelo transformador, ou seja, so causas interligadas.

    Nas figuras 5.3 e 5.4 a seguir apresentado um exemplo de dano dessa

    natureza, onde houve deformao dos enrolamentos, resultando na quebra de

    elementos de prensagem do bloco de bobinas, curto-circuito entre espiras e

    contato com a coluna do ncleo ferromagntico.

  • 40

    Figura 5.3: Vista geral da parte ativa de transformador de 25MVA, classe de tenso 138kV

    Figura 5.4: Detalhe dos danos por esforos eletrodinmicos nos enrolamentos

  • 41

    5.3.3 Sobretenses

    Sobretenses so fenmenos transitrios que tm grande influncia sobre o

    desempenho de transformadores, podendo, em funo da amplitude e durao,

    causar danos.

    Danos por sobretenses em transformadores podem estar associados tanto ao

    aumento da solicitao dieltrica dos materiais isolantes do enrolamento, quanto

    ao aumento generalizado de temperatura.

    Dentre os tipos de sobretenses pesquisadas, verificou-se que eventos de curta

    durao so mais difceis de ser detectados e compreendidos, uma vez que so

    muito rpidos (da ordem de poucos ou fraes de micro segundos) e dependem

    de caractersticas muito especficas de uma instalao. Os danos decorrentes

    dessas sobretenses esto diretamente associados disrupo de arco eltrico

    interno ao transformador.

    Nos eventos de longa durao os danos se manifestam atravs do aumento de

    temperatura do transformador.

    Os principais dos tipos de sobretenso podem ser dividos em:

    a) Sobretenses Temporrias

    Sobretenses temporrias so aquelas que se caracterizam pelo aumento da

    tenso fase-fase ou fase-terra de um sistema, de longa durao, geralmente da

    ordem de milissegundos a vrios segundos, sendo fracamente ou no

    amortecidas [12].

    O fator preponderante suportabilidade de transformadores a esse tipo de

    fenmeno est diretamente associado s caractersticas do ncleo

    ferromagntico, dado que este componente o responsvel pela formao e

    fechamento do circuito do magntico da parte ativa.

    Dadas as limitaes que se impem pelos custos de matria prima e mo de

    obra envolvidos na fabricao, alm de dificuldades e despesas com servios de

  • 42

    transporte, transformadores so projetados de forma a atender s caractersticas

    especificadas pelo comprador e pelas normas vigentes.

    Como o ncleo parte bastante significativa nesses fatores, natural que os

    fabricantes procurem elaborar projetos otimizados em que as condies nominais

    de operao do transformador sejam muito prximas ao limite de fluxo magntico

    do ncleo, que da ordem de 1,7 Tesla.

    Em eventos onde ocorre o aumento da tenso do sistema, dado que

    transformadores so indutores no-lineares, o ncleo tende a saturar,

    provocando indesejveis efeitos de natureza trmica.

    Dentre estes efeitos podemos citar:

    o prprio aumento da temperatura do ncleo, resultando no

    sobreaquecimento do leo isolante e materiais celulsicos. O efeito direto

    a acelerao da deteriorao dos materiais isolantes e

    consequentemente a diminuio da vida til do transformador;

    o aumento da temperatura de partes metlicas perifricas do

    transformador, como o tanque e a tampa. Nesse caso podem ocorrer

    danos pintura e degradao de juntas de vedao.

    Cumpre observar que em funo da inrcia trmica de grandes transformadores,

    dado que as massas do ncleo ferromagntico e do leo isolante so ordem de

    dezenas de toneladas, os efeitos desse tipo de fenmeno so pouco comuns,

    restando como possvel a ocorrncia somente em casos onde o equipamento

    submetido a longos perodos de operao nessa condio.

    As causas de sobretenses temporrias so atribudas a ocorrncias no sistema

    ao qual o transformador conectado, como por exemplo:

    ferroressonncia: um tipo de ressonncia que envolve indutncias no

    lineares (o prprio transformador) e capacitncias (cabos subterrneos ou

    longas linhas de transmisso, bancos de capacitores), cuja manifestao

    depende de condies especficas do sistema em que o transformador

    encontra-se em operao;

    ressonncia a uma freqncia em particular: ocorre quando as reatncias

    indutivas e capacitivas forem praticamente iguais;

    rejeio de carga: ocorre quando a retirada de grandes cargas do sistema

    alimentado pelo transformador;

  • 43

    b) Sobretenses de Manobra

    Sobretenses de manobra so resultado de operaes de chaveamento ou

    falhas no sistema eltrico, se caracterizando por possuir uma frente de onda

    muito rpida e de curta durao, com espectro de frequncia elevada.

    A magnitude e a durao desses surtos dependem de parmetros e da

    configurao do sistema ao qual o transformador ligado, bem como das

    condies do chaveamento.

    As sobretenses de manobra podem ter origem em:

    energizao e re-energizao da linha;

    ocorrncia e extino de faltas;

    manobra de cargas capacitivas, como banco de capacitores;

    manobra de cargas indutivas como transformadores e reatores;

    Tipicamente, a frente de onda dessas sobretenses pode variar de centenas

    microsegundos at poucos milisegundos, sendo que a magnitude pode atingir

    nveis de at alguns p.u.

    Os efeitos de sobretenses de manobra so substancialmente diferentes de

    sobretenses temporrias, uma vez que transformadores se comportam de forma

    complexa quando submetidos a esse tipo de fenmeno.

    Os componentes dieltricos dos enrolamentos do transformador podem ser

    solicitados eletricamente de duas formas.

    Primeiro, a distribuio de tenso ao longo da bobina no ser uniforme se o

    transitrio tiver uma frente de onda muito rpida, resultando na concentrao de

    tenso nas espiras/discos prximas entrada da bobina, havendo a

    possibilidade de ruptura do meio dieltrico entre espiras nessa regio.

    Segundo, a bobina ou parte dela pode ressonar em algum tipo de freqncia

    natural, caso a tenso transitria contenha essa componente de freqncia.

    Nesta condio, pontos especficos da bobina podem atingir nveis de tenso

    mais altos do que aquele aplicado ao terminal do enrolamento. Pode causar a

    ruptura do meio dieltrico entre partes da bobina, mesmo se o nvel de

    sobretenso estiver dentro dos limites de NBI (Nvel Bsico de Impulso) do

    transformador.

  • 44

    c) Sobretenses Transitrias Muito Rpidas (Very Fast Transient

    - VFT)

    As Sobretenses Transitrias Muito Rpidas (VFTs) so fenmenos cujas

    caractersticas principais so a ocorrncia de frentes de onda muito rpidas e

    espectro de freqncia elevada. No h padronizao das grandezas envolvidas,

    porm a anlise da bibliografia disponvel mostra que se trata de eventos com

    frentes de onda de fraes a poucos microssegundos, freqncias de dezenas

    de kHz a alguns MHz, amplitude tpica de 1,5 a 2p.u., podendo chegar at a

    2,5p.u. [12]

    Normalmente ocorrem em sistemas isolados a gs Hexafluoreto de Enxofre

    (SF6), conhecidos como Gas Insulated Substation (GIS), utilizados

    principalmente em sistemas de gerao.

    So conseqncia da propagao de tenses originadas com a formao e

    reignio de arco eltrico na zona entre os contatos de dispositivos de manobra.

    A forma de onda de um VFT formada por sucessivas refraes e reflexes

    dessas tenses ao longo GIS.

    Devido natureza de onda viajante e tempo de subida muito curto, a forma de

    onda do VFT pode ser significativamente diferente em pontos distintos da GIS,

    separados por apenas alguns metros.

    Os VFTs que chegam aos enrolamentos de transformadores so de difcil

    avaliao, dado que no dependem somente do tipo e comprimento de sua

    conexo GIS, mas tambm das caractersticas dos enrolamentos de um

    transformador.

    De uma forma geral, pode-se dizer que os enrolamentos de transformadores so

    afetados por VFTs de duas formas:

    A frente de onda impulsiva cria uma distribuio de tenso extremamente

    no linear ao longo do enrolamento de alta tenso diretamente conectado

    ao sistema de SF6. A distribuio de tenso no linear cria consider