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    A POLÊMICA COMO “INTERINCOMPREENSÃO CONSTITUTIVA”: ÉTHOS EANTI- ÉTHOS NA DIVULGAÇÃO DA FÉ.

    (The controversy as “(inter)understanding constituent”:éthos and anti-éthos indissemination of faith.)

    Sueli Maria Ramos da SILVA (Mestranda; FFLCH/USP/CAPES, Análise doDiscurso/ Semiótica).

    Orientadora: Profa. Dra. Norma Discini de Campos

    ABSTRACT: According to the objectives of examining mechanisms of meaningconstruction we propose to consider how and why we can extract two different ways of presence in the world, the style of two contrasting enunciative scenes from texts thatmaterialize the same discourse genre of “religious divulgation”.

    KEYWORDS: Religious divulgation; Catholicism; Jehovah’s Witnesses; discourse;éthos.

    1. Introdução

    Nesta análise do discurso de “divulgação religiosa”, tendo por fundamentaçãoteórica a Semiótica greimasiana e a Análise do discurso (AD) de linha francesa, propomos analisar semioticamente diferentes mecanismos de construção do sentidosegundo os quais se concretiza a “interincompreensão constitutiva” como “primado dointerdiscurso” (c.f. MAINGUENEAU, 2005), considerados os enunciados de“divulgação religiosa” das duas religiões (Católica e Testemunha de Jeová), das quais seestabeleceu o recorte textual para a presente análise.

    Dado que cabe ao analista isolar os espaços discursivos enquanto subconjuntode formações discursivas (MAINGUENEAU, 2005:37), estabelecemos como recortetextual prioritário a análise de textos (catecismos, revistas, brochuras, folhetos etratados) que materializam gêneros de “divulgação religiosa” no que concerne às duastotalidades discursivas consideradas. Dentro dos propósitos e limitações impostos a essetrabalho, estabelecemos como recorte textual a análise da Lição 11 “Crenças eCostumes que desagradam a Deus”, extraída da brochura de estudo bíblico: O que Deus Requer de Nós?,da totalidade discursiva das Testemunhas de Jeová.

    Dentro dos objetivos de se examinar mecanismos de construção do sentido,segundo os quais se concretiza a “interincompreensão constitutiva” do discurso como“primado do interdiscurso”, pode-se considerar como e porque podemos depreenderdois modos diferentes e conflitantes de presença no mundo, dois estilos, que remetem adois modos de ser, dos quais se depreendem doisethé, como duas diferentes imagens dosujeito enunciador bipartido em discurso de profissão de fé. O estilo não mais do gênerodivulgação religiosa, mas o estilo de duas cenas enunciativas contrastantes entre si, a partir de textos que materializam o mesmo gênero de divulgação religiosa.

    Dessa maneira, ao tomarmos o “espaço discursivo como uma rede de interaçãosemântica”, “um processo de interincompreensão generalizada” (MAINGUENEAU,2005:103), podemos postular a intersecção entre esses dois discursos, em que o “eu” se

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    encontra inserido no “outro”, já que o discurso segundo, da totalidade discursiva dasTestemunhas de Jeová, só existe mediante a existência do discurso primeiro,construindo-se através de sua descontinuidade, ambos em referência ao discursofundador (A Palavra Revelada) como argumento de autoridade.

    Assim, buscamos analisar a maneira como as instituições religiosas cotejadas,apesar de materializar em seus textos instrucionais gêneros de “divulgação religiosa”, eapresentar oéthos correspondente aos diferentes gêneros constituintes dessa tipologiade discurso, caracterizam duas totalidades distintas, a partir do mesmoéthos genérico: ada Testemunha de Jeová e a da Igreja Católica, doisethé, a partir da escolha da mesmatipologia de discurso.

    2. O estatuto da cenografia considerada: Brochura de Estudo Bíblico “O que Deus Requer de Nós?”

    A brochura “O que Deus Requer de Nós?”, preparada como um curso deestudo bíblico, ao constituir-se enquanto discurso de “divulgação religiosa”, configura-se como um gênero textual pertencente à esfera de circulação do discurso religioso daTestemunha de Jeová. Desse modo, o enunciado divulgador considerado configura ogênero brochura de estudo bíblico. A própria designação do gênero como brochura deestudo bíblico remete à materialidade do seu sistema de acabamento. A brochuraapresenta uma tiragem fixa, por oposição às revistas de divulgação quinzenalSentinela e Despertai, também pertencentes à totalidade discursiva das Testemunhas de Jeová. Aoobservarmos atentamente essa brochura vemos que ela apresenta publicação em 261idiomas. O exemplar consultado teve a primeira edição no ano de 1996, com a tiragemtotal de 171.195.000 exemplares e distribuição nos países da Europa, Ásia e África.

    Ao pertencer à esfera de atividades institucionalizadas da prática religiosa dasTestemunhas de Jeová, configura-se como um instrumento autorizado que contém oselementos fundamentais de sua doutrina. A brochura, preparada como um curso deestudo bíblico destina-se a todos aqueles que desejam saber mais sobre a doutrina dasTestemunhas de Jeová e obter um bom conhecimento da verdade bíblica que possa levaro fiel a cultivar a personalidade cristã. Conhecimento essencial para que se possaadquirir a vida eterna. Dirigida à população em geral apresenta-se como um curso deestudo bíblico, um manual de instrução fundamental da doutrina das Testemunhas deJeová, que abre a possibilidade para que se possa conhecer aquilo que essa instituição professa, celebra e prega na sua doutrina cotidiana.

    A Palavra Revelada é instituída como fonte primeira a esse discurso que tem por objetivo a manipulação do destinatário para que este queira e deva entrar emconjunção com o ensinamento da Sagrada Escritura.

    Na tentativa de delinearmos o modo de presença, oéthos do ator da enunciaçãoenquanto tom, voz, caráter e corporalidade da unidade (unus) considerada para análise,devemos levar em conta a totalidade (totus) da qual fazem parte as seguintes seções,dadas por meio da constituição diagramática da brochura de estudo bíblico “O que Deusrequer de nós?”.Vejamos inicialmente a composição diagramática da capa da brochurade estudo bíblico (cf. ANEXOS). Observamos que a capa da brochura consideradaapresenta o título síntese do desenvolvimento do conteúdo: “O que Deus Requer de Nós?”. Ao analisarmos a composição diagramática da contracapa da brochura de estudo

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    bíblico, observamos que a metade superior da página é ocupada por um texto injuntivosincrético “Como usar essa brochura”, pautado pelo tom injuntivo e construído por meiode modalidades deônticas, ao descrever uma série de comportamentos regrados erecorrentes de como proceder para a adequada utilização desse manual. O procedimentode argumentação pelo exemplo (PERELMAN, 2005: 413) pode ser observado por meioda presença de uma fotografia disposta no alto da página, à esquerda. O corpo do atordo enunciado é apresentado em posição frontal, com a cabeça rebaixada em posição deoração. Dessa maneira, o modo próprio de representação se associa ao relaxamento,tranqüilidade e passividade no PC. O verdadeiro cristão é disposto no alto, à esquerda,em posição de aceitação e recepção dos valores propostos. Figurativizado pela passividade é modalizado através do saber, poder e crer poder entrar em conjunção comos valores propostos. Na metade inferior da página à esquerda verificamos a presençados dados de editoração. À direita temos o sumário que resume o conteúdo da brochuracom predominância do tom injuntivo. As perguntas retóricas são predominantes. Aestratégia básica das lições, colocadas em sua maioria sob a formulação de questões,adquire a forma imperativa através da instituição de perguntas retóricas. A perguntaretórica constitui um modo indireto de dizer, por meio do qual se elabora a pergunta não para que se obtenha a resposta, mas para fazer com que o interlocutor proceda àrealização de determinadas asserções. Desse modo, ela contém em si implicitamente aresposta, sendo determinada por meio da mistura de vozes, a que pergunta e a queresponde.

    A composição da brochura em 16 lições constitui-se num “crescendum” quemodaliza o leitor para poder e saber examinar as verdades bíblicas. Assim, podemosdepreender no que concerne à enunciação a “competência discursiva do sujeito parafazer e aqui, fazer cognitivamente, ou realizar-se na performance cognitiva que é adecisão (DISCINI, 2005: 275).”. A performance cognitiva do sujeito deveria culminarem sua decisão de servir a Deus, apresentada na lição 16 intitulada “Sua decisão deservir a Deus”. Assim, o programa narrativo de base que rege este discurso pode serdescrito como se segue:

    SN = Programa narrativo de base (construção de significado pelo enunciatário por intermédio da enunciação)

    F ! [S1 ! (S2 ! Ovgraça divina)]F = fazer-saber (saber sobre o ser dos valores/ saber sobre o fazer)

    Apresentar as verdades presentes nas Sagradas Escrituras enquantotransmissão de um modelo de conduta exemplar

    S1 = narrador do livro instrucional (comentador)S2 = leitor-aprendizOv = graça divina (aceitação dos princípios da fé, moral e prática das

    Testemunhas de Jeová)

    O destinador-manipulador graças ao poder que lhe foi conferido buscaestabelecer um contrato fiduciário com o destinatário-sujeito por meio da crença na palavra revelada pela divindade (Jeová), obtida e conservada através das SagradasEscrituras por meio da religião das Testemunhas de Jeová.

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    Para procedermos à definição do discurso de divulgação considerado tomamoscomo base os desenvolvimentos de PANIER (1986) ao longo de seu estabelecimento deuma tipologia dos discursos de comentário. PANIER (1986) ao tomar como base afunção da narrativa de comentário, no que concerne ao fazer persuasivo comocomunicação do saber, estabelece uma tipologia dos discursos de comentário no que dizrespeito à posição formal desse desempenho de comunicação no modelo narrativocanônico. Desse modo, podemos definir o enunciado considerado sob a tipologia de umcomentário prescritivo. Assim, observamos que a modalização deôntica estabelece ainstauração de um programa de ação neste discurso por meio de um percurso de umdever-fazer, saber sobre o ser dos valores e saber sobre o fazer, instaurado pelodestinador ao operar com a revelação dos saberes míticos presentes nas SagradasEscrituras. O destinador-manipulador busca a adesão do destinatário-sujeito por meio damanipulação executada na ordem do dever e saber-fazer, ao apresentar a exemplaridadedo percurso desenvolvido pelo verdadeiro cristão.

    No que concerne aos recursos argumentativos empregados pelo enunciadoinstrucional para divulgar e legitimar a autoridade da cena fundante, observamos autilização de uma estratégia discursiva determinada de modo explícito por meio dautilização de lições. Assim, observamos que a ação simbólica mobilizada por essediscurso consiste em incutir valores ideológicos éticos e morais em conformidade com aformação ideológica na qual se acha instaurado.

    Desse modo, o enunciado do texto instrucional das Testemunhas de Jeová paradivulgar e legitimar a autoridade da cena fundante apresenta uma argumentação queleva o crente a querer-ser o ator do enunciado “verdadeiro cristão”, tido como modelode conduta a ser seguida. A estratégia argumentativa empregada é a argumentação peloexemplo, se tomarmos como base os procedimentos argumentativos estabelecidos porPERELMAN (2005: 413) concernentes às ligações que fundam a estrutura do real, noque diz respeito ao fundamento pelo caso particular.

    Desse modo, a cenografia considerada para análise confirma oéthos préviodado pelo gênero discurso de “divulgação religiosa”, apresentado-se como um tipotextual injuntivo com a apresentação de prescrições a serem realizadas a fim de seatingir um determinado objetivo: o conhecimento bíblico necessário para se alcançar avida eterna.

    Ao desencadear uma operação fiduciária determinada pelo crer e pelo saberapresenta sua constituição pautada através da conjunção de características do discursoreligioso e pedagógico, dado que este último, de acordo com a definição de ORLANDI(1996), também se constitui como um discurso autoritário. A aprendizagem escolar,concebida como meio de transmissão de informações e conhecimentos, pode serrelacionada com o curso de estudo bíblico preparado pela brochura“O que Deus requer de Nós?” enquanto meio de ensino e propagação das verdades bíblicas da doutrinareligiosa das Testemunhas de Jeová. A cena enunciativa de sala de aula se consolida. Os papéis enunciativos do enunciador como aquele que ensina e do enunciatário comoaquele que aprende são projetados logo na abertura. O enunciador, enquanto mediadorentre a voz divina e o enunciatário (leitor), institui-se como detentor do saber, oresponsável pela transmissão do saber sobre a divindade. Entretanto o leitor não seconfigura como uma “tábula rasa”. Ele é disposto em situação de simetria ou quasesimetria de poderes e saberes.

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    O estilo dessa brochura é baseado em uma linguagem adaptada ao público a ele pressuposto enquanto feixe de expectativas a esse discurso. Assim, apresentafundamentalmente como leitores pressupostos aqueles que querem se iniciar nosmistérios da fé das Testemunhas de Jeová e se preparar pra receber o batismo, sendo, por conseguinte, admitidos à instituição religiosa das Testemunhas de Jeová. Esta brochura, dada à estrutura que a constitui, apresenta-se adequada ao leitor adulto, desdeque um leitor que queira aprender tudo de maneira clara, que não deixe nada por dizer.Um leitor que quer a facilitação do conhecimento da Palavra de Deus; da PalavraRevelada. Um conteúdo revestido de facilitação, revestido de explicitação, que nãodeixe dúvidas. Um conteúdo que quer parecer transparente.

    3. Análise semiótica da unidade recortada: “Lição 11 – Crenças e costumes quedesagradam a Deus”

    Assim, voltamos à unidade recortada: Lição 11 “Crenças e costumes quedesagradam a Deus”, extraída da brochura de estudo bíblico: “O que Deus requer de nós?”, da totalidade discursiva das Testemunhas de Jeová.

    No que concerne à coerção genérica de sua exposição, o enunciadoconsiderado apresenta a seguinte estrutura em todas as lições que o constituem: númeroda lição; título da lição; perguntas retóricas; numeração dos parágrafos nos quais seencontra desenvolvido no texto a explanação das respostas; disposição do texto emcolunas; presença de ilustrações (fotografias) que acompanham a lição; citações bíblicascontínuas (espécie de hipertexto).

    Para que possamos proceder à análise dessa lição dada enquanto um enunciadosincrético, devemos nos ater a complementaridade mútua entre o enunciado verbal e ovisual apresentados.

    Tomamos como base a noção de que o fundamento ideológico do discurso éreconstruído pela ressemantização dos temas. Cada tema pressupõe uma determinadacategorização do mundo. Não existe uma língua específica para um discurso, masenunciados submetidos às restrições semânticas de cada ato enunciativo. Tais restriçõesfazem com que os enunciados façam parte de tal ou tal discurso, visto agora como umconjunto de temas e figuras.

    Desse modo, vejamos como se constroem os procedimentos de tematização efigurativização inerentes a brochura de estudo bíblico considerada. Tomemos como base exemplos de temas e figuras extraídos do enunciado verbal que remetem aconstruções contraditórias de mundo de modo a se configurar numa totalidade (TJ) anegação de seu contrário (Catolicismo). Assim observamos a presença da negação dosseguintes temas pertencentes ao discurso católico no enunciado instrucionalconsiderado: a necessidade de celebração da solenidade da santíssima trindade: atrindade de Deus; a necessidade de celebração do natal e da páscoa; a necessidade decelebração de aniversários natalícios; a reverência aos mortos: adoração (Finados); areverência à cruz com seu poder simbólico: exaltação da santa cruz. Desse modo,vejamos como esses temas, recebem seu revestimento figurativo, de modo a seconsiderar a presença de dois percursos figurativos conflitantes: o percurso figurativodo falso e o do verdadeiro cristão.

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    Percursos Figurativos

    O Verdadeiro Cristão

    - Jeová, o pai como “o único Deusverdadeiro”. (p.22) O pai é maior doque o filho. O espírito santo comoforça ativa de Deus.- Marco referencial natalício: 1º. Deoutubro.- Ausência de celebração da Páscoa e Natal.- Ausência de celebração deaniversários natalícios.- Ausência de exaltação da santa Cruz.- A alma morre, não continua viva apósa morte.

    O Falso Cristão

    - Trindade: Pai equivalente ao Filho eao Espírito Santo- Marco referencial natalício: 25 dedezembro- Símbolos pascais: ovos de Páscoa,Coelhos;- Aniversários natalícios;- Adoração do símbolo da cruz;- A vida é um dom de Deus e a mortenão a pode sufocar.

    A observação dos procedimentos de tematização e figurativização inerentes à brochura de estudo bíblico considerada permitiu tecermos algumas observaçõesconcernentes a “interincompreensão constitutiva”, para a qual podemos postular ainterseção entre os dois discursos: Católico e Testemunha de Jeová. A análise dosmecanismos de tematização e figurativização demonstra que a negação de seu contrárioestá contida no próprio texto. O catolicismo é dado como o discurso renegado, de talmodo que se demonstra através da argumentação verbal a não convergência entre osdogmas católicos e o enunciado adversário. Para legitimar o caráter de autoridade dotexto considerado invoca-se continuamente a autoridade da Sagrada escritura, mas elasó é aceitável no círculo do mesmo.

    Consideramos inicialmente as proposições estabelecidas por BARTHES (1984)no que concerne às funções da mensagem lingüística em relação à mensagem icônica, podendo esta designar a função de ancoragem ou etapa.

    A unidade textual recortada para análise (Lição 11) apresenta o enunciadoverbal em função de ancoragem, ao tomarmos a terminologia de BARTHES (1984). Ovisual sincretizado ao verbal no gênero brochura de divulgação religiosa da Testemunhade Jeová é discursivizado como expansão das figuras verbais, apresentando, portanto, oicônico em relação de completude como verbal, o que viabiliza a leitura linear efacilitada própria ao tom professoral que permeia a brochura de estudo bíblico.

    O entrelaçamento das formulações dado no PE por intermédio das letrasgraúdas, sincretismo verbo-visual convergente, entrelaçamento diagramático(associação das questões introdutórias com as explanações ao longo do texto, citações bíblicas como argumento de autoridade, respiro entre as colunas); remete ao tom professoral e viabilizador da leitura proposto no PC. As fotografias próprias à exaltaçãode temas e figuras pertencentes ao discurso católico (a trindade de Deus, a necessidadede celebração do Natal e da páscoa, a reverência aos mortos e a reverência à cruz comseu poder simbólico), ganham um novo sentido quando verificamos que os temas efiguras contemplados nas legendas que as acompanham remetem a construções

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    contraditórias de mundo, de modo a se configurar em uma totalidade (Testemunha deJeová) a negação de seu contrário (Catolicismo). Ao tomarmos como base as legendasque acompanham as fotografias da lição considerada, observamos, dessa forma, que aancoragem se dá em nível polêmico. As relações estabelecidas, no que concerne àhomologia entre o verbal e o visual, estabelecem no plano do conteúdo a figura central eemblemática do verdadeiro cristão dada por meio das modalidades veridictórias. Aimagem traçada para o enunciatário é a daquele que parece e é cristão. Assim, temos overdadeiro (Testemunha de Jeová) e o falso (o outro) não nomeado.

    4. Considerações finais

    Ao considerarmos o sistema de restrições semânticas que organiza cada umadas totalidades consideradas verificamos a presença do nível polêmico, da negação douniverso semântico do outro, da anulação do outro enquanto simulacro, na medida emque essa interincompreensão repousa sob dois conjuntos de semas: os positivosreivindicados e os negativos rejeitados. Desse modo, o Outro (o Catolicismo) étraduzido nas categorias do registro negativo dentro do sistema das Testemunhas deJeová. O modo próprio de polemizar se dá pela colocação do outro em erro. O outro(catolicismo), ao apresentar como positivos os semas rejeitados pela totalidadediscursiva das Testemunhas de Jeová é desqualificado enquanto adversário.

    RESUMO: Dentro dos objetivos de se examinar mecanismos de construção do sentido propomos considerar como e porque podemos depreender dois modos diferentes econflitantes de presença no mundo, o estilo de duas cenas enunciativas contrastantesentre si, a partir de textos que materializam o mesmo gênero de discurso de “divulgaçãoreligiosa”.

    PALAVRAS-CHAVE: “Divulgação religiosa”; Catolicismo; Testemunha de Jeová;discurso;éthos.

    ANEXOS

    Ilustração 1 Capa e Contracapa da brochura de estudo bíblico. O QUE DEUSREQUER DE NÓS? São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1996, p. 1-2.

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    Ilustração 2 O QUE DEUS REQUER DE NÓS? São Paulo: Sociedade Torre de Vigiade Bíblias e Tratados, 1996, p. 22- 23.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    BARBOSA, G & RABAÇA, C. Dicionário de comunicação. São Paulo: Ática, 1987.BARTHES, R. Retórica da Imagem. O óbvio e o obtuso. Lisboa: Edições 70, 1984.CANIZAL, E. & CAETANO, K.O olhar a deriva: mídia, significação e cultura. SãoPaulo: Annablume, 2004.DISCINI, N. HQ e poema: diálogo entre textos. In: LOPES, Ivã Carlos eHERNANDES, Nilton (orgs.). In: Semiótica: objetos e práticas. São Paulo: Contexto,2005.GREIMAS, A. J. Du Sens II: Essais sémiotiques. Paris : Éditions du Seuil, 1983.GREIMAS & COURTÉS, J. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Cultrix, 1989.MAINGUENEAU, D.Gênese dos Discursos. Curitiba: Criar, 2005.O QUE DEUS REQUER DE NÓS? São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias eTratados, 1996.ORLANDI, E. A Linguagem e seu funcionamento: As formas do discurso. 4ª.ed.Campinas : Pontes, 1996.PANIER, Louis. O discurso de interpretação no comentário bíblico. In: GREIMAS &LANDOWSKI. Análise do discurso em ciências sociais. São Paulo: Global, 1986.PERRELMAN, C.Tratado de Argumentação. São Paulo: Martins Fontes, 2005.