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MITOLOGIA
OREGApierre grimal
Traduo:Carlos Nelson Coutinho
1? edio 19824? edio
GRIMAL, Pierre. A mitologia grega.So Paulo: Brasiliense, 1982.
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MURAS
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Ttulo original em Francs: La Mythologie Grecque
Copyright () Presses Universitaires de France, 1953
Capa:Alfredo Aquino
Reviso:
Newton T. L. Sodr
Sonia Rangel
Editora Brasiliense S.A.
R. General Jardim, 1B0
01223 - So Paulo - SP
Fone (011) 231-1422
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NDICE
O mito no pensamento dos antigos g reg o s .................. 7
Mitos e mitologia ............................................................ 13
Os grandes mitos teognicos ......................... ................ 25
O ciclo dos olimpianos ................................................... 42
Os grandes ciclos hericos .......................................... 65
A vida das lendas ............................................................ 97
Os mitos em face da cincia m oderna ....................... 113
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O MITO NO PENSAMENTO DOSANTIGOS GREGOS
D-se o nome de mitologia grega ao conjunto derelatos maravilhosos e de lendas de todo tipo, cujos textos e monumentos figurados nos mostram que sua ocorrncia se deu nos pases, de lngua grega, entre o IX ou
VIII sculo antes de nossa era, poca qual nos reportam os poemas homricos, e o fim do paganismo, trs
ou quatro sculos depois de Cristo. Temos neles um imen
so material, muito dificilmente definvel, de origem e
caractersticas bastante diferenciadas, que desempenhou
e ainda desempenha ha histria espiritual do mundo
um papel considervel.
Todos os povos, em dado momento de sua evolu
o, criaram lendas, ou seja, relatos maravilhosos nosquais, durante um certo tempo, e pelo menos em certa
medida, acreditaram. Na maioria das vezes, as lendas
por movimentarem foras ou seres considerados superiores aos humanos pertencem ao domnio da religio.Elas se apresentam assim como um sistema, mais ou me
nos coerente, de explico do mundo: cada gesto do
heri cujas faanhas so narradas um gesto criador eimplica conseqncias que tm efeitos sobre todo o Uni
verso. Pertencem, a esse tipo os grandes poemas pico-
religiosos da literatura hindu. Em outros pases, predo
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mina o elemento pico. Decerto, os deuses no estoausentes da narrativa, onde sua ao sensvel; mas a
gnese do mundo no por isso colocada em questo.
O heri se limita a realizar grandes gestos de bravura,
inventar astcias memorveis, empreender viagens por
pases maravilhosos; e mesmo que supere a medida
humana permanece da mesma essncia que a huma
nidade. Pertencem a esse tipo, sobretudo, os ciclos len
drios dos celtas, que nos foram transmitidos, por exem
plo , pelos romanos gauleses. Em ou tros locais , os rela
tos do mito terminaram por perder quase todo carter
maravilhoso, dissimulando-se sob as aparncias da hist
ria. Os romanos, em particular, parecem ter assim inte
grado s suas mais antigas crnicas verdadeiras gestas
lendrias: o herosmo de Horcio Cocles, ao defender
a ponte do Tibre contra os invasores, no passa do lti
mo avatar de um demnio caolho, cuja esttua colo
cada nas margens do rio perdera sua significao
originria e terminara por servir para fabricar, pea por
pea, um episdio da lu ta (em parte histrica ) entre
romanos e etruscos.
Na Grcia, o mito possui todas essas caracte rsticas.
Ora colore-se de histria e serve como ttulo de nobreza
para cidades ou fam lias. Ora desenvolve-se em epopia .
Ora serve para apoiar ou explicar as crenas e os ritos
da religio. Nenhuma das funes que a lenda assume
em outros lugares estranha ao mito grego. Mas ele tambm algo bem diverso. A palavra grega que serve
pa ra design-lo s) aplica-se a qualquer histrianarrada, seja o assunto de uma tragdia ou a intriga de
uma comdia, seja o tema de uma fbula de Esopo. O
mito se ope ao logos como a fantasia razo, como a
pa lavra que narra palavra que de monstra. Log os emythos so as duas metades da linguagem, duas funesigualmente fundamentais da vida do esprito. O logos,
sendo uma argumentao, pretende convencer; implica,
no auditor, a necessidade de formular um juzo. O logos
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verdadeiro, no caso de ser justo e conorme lgica;
falso quando dissimula alguma burla secreta (um sofis-ma ). Mas o mito" tem por .finalidade apenas a si
mesmo. Acredita-se ou no nele, conforme a prpria
vontade, mediante um ato de f, caso parea belo ou
verossmil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O
mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irra
cional existente no pensamento humano; por sua prpria
natureza, aparentado arte, em todas as suas enaes. talvez seja esse o carter mais m arcante do mito gre
go: pode-se constatar sua integrao em todas as ativi
dades do esprito. No h nenhum domnio do helenis-
mo. seja a plstica ou a literatura, que no tenha cons
tantemente recorrido a . ele. Pa ra um grego, o mito no
conhece nenhuma fronteira. Insinua-se por toda parte. to essencial a seu pensamento quanto o ar ou o sol
sua prpria vida.
As primeiras epopias de lngua grega que conhe
cemos hoje, a llada e a Odissia, j so mitos no sen
tido amplo da palavra. Os heris da llada tm como
ancestrais uma ou vrias divindades e, ao mesmo tempo,
so considerados como os ancestrais de famlias nobreshistricas. Aquiles filho de Ttis, deusa do mar, e seu
destino determinado por orculos que existem eterna
mente. Helena, objeto da guerra de Tria, filha de
Zeus; e foi por vontade de Afrodite, deusa do amor, que
ela foi levada a deixar seu marido e sua filha quando o
troiano Pris veio busc-la em Esparta. Nos dois campos,combatem deuses e deusas: Apoio, protetor de Pris,
alm de ter sido ofendido na pessoa de um dos seussacerdotes, cuja filha Criseida foi raptada pelos aqueus,
espalha a peste no exrcito desses. Posseidon, Aten,
Ares intervm na luta. E ais faanhas de Aquiles teste
munham, decerto, o valor pessoal do heri, mas tam
bm a proteo divina que no lhe falta em nenhummomento.
O mesmo pode ser dito da Odissia. A descendncia
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divina de Ulisses certamente menos bem comprovada(a tradio que faz dele um filho bastardo de Autlico,
por sua vez filho de Hermes, no . a n ica co nhec ida) ;
mas a deusa Aten se converte em sua protetora, e ela, em ltima instncia, quem o salva da clera e do
rancor do deus do mar Posseidon. A essncia da epopia grega enaltecer os conflitos humanos e, atravs
do mito, ampli-los at as dimenses do universo. Seusrelatos, tomados ao p da letra, testemunham uma freligiosa: Zeus e as divindades do Olimpo intervm materialmente nas questes humanas; preciso honr-los
atravs de sacrifcios, aplacar seus ressentimentos, con
quistar sua confiana por todos os meios. Mas j a in
terpretao do mito tende a superar essa estreita materialidade. Quando Zeus pesa numa balana os desti
nos (as Moiras) de Aquiles e de Ptroc lo que se
batem em combate ind ividual sob os muros de Tr ia
, difcil admitir que os gregos da poca clssica ac reditassem realmente na gigantesca balana, um de cujos
pratos toca o cu, enquan to o ou tro imerge nas trevas
infernais; e, isso mesmo quando recordamos que Esquilo, numa tragdia perdida, acreditou ser possvel repre
sentar materialmente esse ato de pesar as almas. O mitono se limita a seus termos. Esboa uma imagem, umsmbolo, se se quiser, de uma realidade que, de outro
modo, seria inefvel. bastante provvel que, aos prprios olhos do poeta, o episdio no seja mais do que
um meio de expresso, uma forma de revelao, queajuda a conceber o mistrio do mundo, mas que no
pode ser tomado ao p da letra. .
Do mesmo modo,, os santurios erigidos s divin
dades apresentavam, em seus frontes, um episdio ca
racterstico da lenda do deus ou da deusa a que pertencia o templo. No fronto leste do Partenon, temos o
nascimento milagroso de Aten; no oeste, a disputaentre Posseidon e Aten, que reivindicavam, cada um
para si, a posse da tica. Essas imagens encarnam , de
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modo total .e melhor d que poderia faz-lo qualquer
anlise apoiada em palavras, o sentimento que os ate
nienses experimentam em face de sua cidade e de si
mesmos: Aten brotando da cabea do senhor todo-po-
deroso, nascida sem me, assim como o povo tico
surgiu do solo (autctone, como se dizia ento), mas
tambm filha da Prudncia (M tis), a quem seu pai se
unira outrora. Demter e Cor, a Terra e a Vegetao,esperam serenamente o anncio do nascimento milagro
so. E imediatamente, sobre a terra banhada pelos presentes do mar, impregnada pelo sal e pelo vento marinho de PosSeidon, a deusa far brotar a oliveira, a
mais lenta, sbia e luminosa de todas as rvores. O mito
de Aten, embora no mais se acredite em sua verda
de literal, nem por isso deixa de propor meditaes in
finitas e uma espcie de inspirao cujo poder mesmo aps tantos sculos ainda no se esgotou.
Reserva de pensamento, o mito terminou por Viver
uma vida prpria, a meio caminho entre a razo e a f
ou o jogo. Foi a fonte de toda meditao dos gregos e,
mais tarde, de seus herdeiros longnquos; foi no mito
que os poetas trgicos recolheram seus temas e os lricos, suas imagens. PrometeUj dipo, Orestes; todos fo
ram, inicilmente, heris de lenda. As imagens de Aquiles e de Ulisses, a locura de Ajax, infinitamente repro
duzidas nos vasos (nos cntaros de vinhos, nas copas,
em recipientes de todo tipo), misturavam o mito com
a vida cotidiana e tomavam-no familiar. Em casa e noteatro, suas figuras so companhias que impregnam o
pensamento, ocupam a imaginao, dominam as con
cepes morais. Nem mesmo s filsofos, quando o ra
ciocnio alcanou seu ponto extremo, deixaram de re
correr ao mito como a um modo de conhecimento ca
paz de revelar o incognoscvel. Assim, Plato no
Fdon, no Fedro, no Banquete, na Repblica e em ou
tros dilogos explicita se pensamento atravs dosmitos que inventa. No certamente excessivo afirmar
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que essa generalizao do. mito, essa liberao de suaspo tencialidades representaram uma das contribuies
fundamentais talvez mesmo a contribuio mais es
sencial do helenismo ao pensamento humano. Gra
as ao mito, o sagrado perdeu seus terrores; toda umaregio da alma abriu-se reflexo. Graas ao mito, a
poesia pde se to rnar sabedoria.
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MITOS E MITOLOGIA
O trabalho dos escritores e dos sbios antigos, queutilizaram os dados lendrios oii os recolheram por simesmos, no poderia esconder a espantosa diversidade
at mesmo a incoerncia que esses dados teste
munham. Homero, Hesodo, Pridaro, squilo, na ver
dade, do a impresso de se referirem a um sistema
mtico bem definido, no qual deuses e heris apresentam caracteres fixos de uma vez para sempre e pare
cem possuir uma lenda d episdios conhecidos. Mas
trata-se de uma impresso enganadora; ela resulta, so
bretudo, do fato de esses poetas (Hesodo, enquantoautor da Teogonia, um caso parte) se expressarem
quase s alusivamente, no expondo de modo didticoas genealogias divinas ou os relatos aos quais se refe
rem. Mas, inclusive nessas condies, uma anlise um
pouco mais atenta suficiente para revelar diferenas ou
contradies entre os autores, algumas vezes at no interior de uvn mesmo autor. A unidade s introduzida
de modo artificial e secundrio. Os mitos no nascem
como um conjunto organizado, ao modo de um sistemafilosfico, teolgico ou cientfico. CTescem ao acaso,
como as plantas; e cabe ao mitlogo descobrir famlias,
espcies e variedades.
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Sobre um ponto to essencial, aparentemente, como
o nascimento de Zeus, o maior dos deuses, existem as
mais diversas tradies. A mais conhecida situa o local
desse nascimento no monte Ida, em Creta; mas,
na mesma ilha, o monte Dict reivindicava igual honra
e, no sul do Peloponeso, ainda existe no longe de
Messnia uma fonte cham ada Clepsidra, junto qual
teria nascido o divino infante.
So santu rios variados e lendas diferentes,' que s
se tomaram contraditrios no dia em que se resolveu
identificar o Zeus cretense, demnio do Ida ou do Dict,
com o Zeus messnio do monte Itomo. A contradio
s existe no interior de uma mitologia pan-helnica.Mas evidente que a constituio de uma tal mitologiano absolutamente primitiva, resultando j de uma
reflexo sobre o mito.
Em alguns casos, as dificuldades encontradas sode soluo mais complexa, j que resultam do fato de
que a lenda desenvolveu-se em pocas e em estgios
sociais e histricos diferentes. As genealogias dos tri-
das nos falam de senhores de Micenas, de senhores de
Tirinto e de senhores de Argos: e, por vezes, difcil
distinguir entre esses reinos. Tudo se esclarece quando
lembramos que o grande desenvolvimento de Tirinto e
de Micenas no contemporneo do de Argos. Umalenda local de Micenas, que punha em ao um rei
do pas, toma-se incompreensvel numa poca em que asuserania no estava mais em Micenas, porm em Argos.
Espontaneamente, o narrador fazia a transposio ne
cessria, mas alguns elementos tip icamente locais
se mantinham e geravam a confuso. o que se passa
ainda em toda uma srie de lendas tesslicas, que tm
correspondentes no Peloponeso. Coronis, amante de
Apoio e me de Asclpio, o deus da medicina, passa
habitualmente por ser filha do tesslio Flgias. Mas, ao
mesmo tempo, somos informados de que esse Flgiasera, na realidade, um habitante de Epidauro, no Pelo-
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A MITOLOGIA GREGA 15
poneso, e que isso explica por que o culto de Asclpio
floresceu em Epidauro. Essas variantes refletem, na ver
dade, uma poca na qual o mesmo povo ocupava umterritrio que se estendia da Tesslia at Epidauro (ou,
se.se prefere, que emigrou da Tesslia para o Pelopone-
so, e as duas hipteses explicam igualmente bem os
fatos), antes de ser submergido por ondas de invasores
que o fizeram perder a conscincia da prpria unidade.Essa unidade ancestral sobreviveu apenas na comunidade
das lendas e dos nomes de lugares. similaridade do
Flgias epidurio e do Flgias tesslio corresponde a
das duas Larissas, a cidade tesslica e a cidade de
Argos.
Pode-se ver que o mito no uma realidade inde
pendente, mas algo que evoluiu segundo as condies
histricas e tnicas; e que, em alguns casos, conservatestemunhos inesperados sobre situaes que, no fosse
o mito, estariam esquecidas. Sob ss aspecto, revela-se
um precioso mei de investigao: e , . embora no se
creia mais to ingenuamente, com h um sculo ou
dois, no fato de que a lenda seja sempre uma deforma
o da histria, sabe-se hoje investig-la e, de certo modo, faz-la revelar o que conserva d tempo e do meio-
em que surgiu. Os mitogos modernos so mais sensveis que seus precedecessores antigos variante rara e
reveladora. Desconfiam dos mitos que se tomaram muito
perfeitos: a coerncia deles trai as manipulaes e o tra balho secundrio de que foram objeto.
O trabalho sobre os mitos comeou bastante cedo;
e, no mais das vezes, o que apreendemos nos textos o
resultado de uma longa evoluo. As fontes clssicas
da mitologia encontram-se geralmente nesse caso. Desdeo fim do sculo VI antes de noss f, o milsio Hecateu
escrevera quatro livros de Genealogias, dos quais possumos apenas alguns fragmentos, ms cuja doutrina pas
sou para a obra de seus sucessores. Tal doutrina do
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mina as especulaes dos primeiros . historiadores
Acusilau de Argos, Fercides de Atenas que recolheram as lendas consideradas como captulo primeiro da histria nacional. certamente a Fercides que
se deve a primeira elaborao dos mitos relativos s
origens ticas, asssim como a constituio de uma listacannica dos reis do pas, na qual se unem intima
mente velhos demnios do solo (como Erictnio e seu
duplo Ericteu) e personagens provavelmente histricas.
Mas ele no se limitou s tradies de seu pas; pode-se
constatar tambm sua preocupao em conciliar entre si
as lendas argivas, que j aparecem e com razo
como fundamentais para o conhecimento da Idade Mdia grega. Fercides, nesse particular, foi o precursor
de um outro escritor cuja importncia revelou-se consi
dervel, Helnico de Mitilene. Tambm ele debruou-sesobre as crnicas argivas; e sua Cronologia das sacerdo-
tisas de Hera (a grande deusa de Argos) recolhe tra
dies sagradas muito preciosas, a maior parte das quais,
infelizmente, desapareceu, a Helnico que cabe a hon
ra de ter falado pela primeia vez na cidade de Roma,
que ele considera uma cidade grega, fundada aps a
grande disperso que se seguiu ao retorno dos ven
cedores de Tria. A tendncia fundamental de todos
esses trabalhos e coletneas, escritos entre o sculo VI
e o fim do sculo V antes de nossa era, o desejo de
fixar uma cronologia dos eventos, tanto histricos
quanto lendrios. A distino entre as duas ordens de
fatos distino inteiramente moderna, em certo sentido, e freqentemente fugidia, j que a lenda pode no
ser mais do que uma interpretao da histria, no existindo assim nenhum critrio que permita estabelecer a
separao de modo seguro no airida percebida. Ea classificao dos eventos , sobretudo de natureza tem
poral. Trata- se de determ inar concomitncias em rela
o a pontos fixos, que se supe conhecidos, como, por
exemplo, a tomada de Tria ou a fundao dos jogos
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olmpicos. O quadro mais adotado, geralmente, o for
necido pelas geraes'; e h um esforo para niserirem tal quadro os eventos e os personagens. Surgem,
naturalmente, dificuldades. As aventuras de Hrcules, em
particular, que se processam num universo que se supo
ria vazio : a lenda, em sua forma mais antiga, no
conhece o encontro de Hrcules com nenhum dos outros
heris principais , colocam problemas de concordn
cia particularmente delicados, j que a tradio fala dosfilhos de Hrcules e os mostra envolvidos em uma ou
outra das grandes aventuras coletivas, ao mesmo tempo,por exempo, que os filhos de Teseu. Como possvel,ento, que Teseu e o grande heri argivo no se tenham
encontrado? A engenhosidade grega no esgota nunca
os seus recursos: e ir explicar esse desencontro dizendo que a atividade de Teseu teve lugar durante o cati
veiro de Hrcules na Ldi, sob as ordens de nfale, e
que, durante toda a ltima parte da vida de Hrcules,
Teseu se encontrava nos Infernos, prisioneiro de Pluto.
Assim, h episdios obrigatrios ns biografias len
drias. Esses episdios no so naturalmente primitivos;foram introduzidos para realizar as concordncias cro
nolgicas necessrias. Por vezes, so geraes inteiras de
duplos que tm de ser intercaladas para evitar sobre-
vivncias ou longevidades impossveis. A idade muito
avanada de Nestor, um ds combatentes aqueus na guer
ra de Tria, explica-se unicamente porque Nestor figuracomo comparsa no ciclo de Hrcules. Criana na poca
em que o heri combatia Neleu e seus filhos, em Pilos
de Messnia, Nestor tem de estar ainda vivo quando daexpedio aquia: por isso que lhe concedida a vida
de trs geraes humanas, o qe, ao mesmo tempo, faz
dele um ancio encancido, sbio, escutado no conse
lho, e sugere imaginao toda unia figura tornada tra
dicional. Sobre esse ponto* a cronologia foi criadora: e
pode-se capta r ao vivo o nascimento de um episdio.
Com o incio da poca clssica, os grandes quadros
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Todavia, ao lado das grandes coletneas cannicas,
cujo objetivo essencial introduzir uma unidade factcia,
encontramos outras fontes, trabalhos concebidos com umesprito absolutamente oposto e bem mais conforme s
preocupaes modernas. O mais precioso, para ns,
a Descrio da Grcia, de Pausnias, que conservou amemria de um nmero considervel de lendas locais,
excludas das grandes snteses, mas que constituem va
riantes raras que se mantiveram vivas no folclore. In
felizmente, a obra de Pausnias, tal como nos chegou smos, no cobre a totalidade dos pases gregos e, para
determinadas regies, nossa ignorncia permanece. Con
seguimos super-la, em cert medida, graas s indica
es esparsas agrupadas pelos comentadores dos poetase contidas nos esclios, que s notas acrescentadas
pelos editores antigos s obras clssicas. Esse trabalhode erudio paciente foi empreendido, sobretudo, em relao aos poemas homricos e prosseguiu depois do finr
do paganismo. Os sbios bizantinos Johannes e Isaac
Tztzes nos fornecem um manancial de fatos que remontam, algumas vezes, a uma antiguidade bem longnqua.
essa, em seu conjunto, a mitologia grega: mat
ria de origens muito diversas, fragmentos freqentemente
mal articulados em snteses artificiais, a que o lento tra
balho dos sbios, dos escritores, dos poetas acrescentou
e cortou ao sabor do capricho de cada um, mas onde
se distingue ainda, por vezes, dados primitivos da ima
ginao e da piedade populares. O sbio e o espontneo,o vivo e o artificial, esto intimamente mesclados.
mrito da cincia moderna ter empreendido uma anlise que ainda est longe de ter sido concluda, mas que
j permite compreender melhor o verdadeiro significado
e o alcance de um modo de pensamento essencial ao
esprito humano.Se consideramos agora a mitologia clssica no
mais em sua formao e evoluo, mas como um todo
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fixo, em sua forma cannica, constatamos que nem
todos os mitos que ela nos prope tm o mesmo alcance
ou a mesma forma. Uns so relatos concernentes formao do mundo e ao nascimento dos deuses. a
eles, e somente a eles, que se deveria atribuir a quali
ficao de mitos, em seu sentido mais estrito. Iremosdesign-los aqui com o nome de mitos teognicos ou
cosmognicos, conforme o caso. Esses relatos foram
reunidos sobretudo por Hesodo, mas so naturalmente
bem anteriores , e rep re sentam contribu ies que so, algumas, puramente gregas, enquanto outras provm de
religies orientais, at mesmo pr-helnicas. Seria um
erro, todavia, consider-las como dados primitivos. Sao,no mais das vezes, concepes bastante evoludas que
se formaram nos meios sacerdotais e foram progressiva
mente enriquecidas com elementos filosficos, sob a forma de smbolos pouco dissimulados. Esses mitos n
deixaram de viver mesmo em plena poca clssica e nem
mais tarde. Continuaram a servir de suporte s crenas
religiosas e, como veremos, as religies de salvao os
integraram em seus mistrios.
Ao lado dos mitos propriamente ditos, encontramosciclos divinos e hericos. Esses ciclos constituem s
ries de episdios ou de histrias cuja nica unidade fornecida pela identidade do personagem que seu heri.
Ao contrrio dos mitos, esses relatos no possuemnenhuma significao csmica. Quando Hrcules susten
ta o cu sobre os ombros, prova com isso apenas sua
fora fsica. Nem o cu nem o universo ficaram mar
cados por essa faanha. Pouco importa que o heri
desses relatos seja um deus (Hermes, Afrodite, o pr
prio Zeus) ou um m ortal semidivinizado. N em to da
lenda relativa a uma divindade assiime, somente por
isso, uma dimenso teolgica. Hermes rouba bois e os
pu xa pe lo rab o para ev itar que os ra stros revelem o es
conderijo onde os guardou. Trata-se e um tema foi-
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clrico bastante conhecido, que no apresenta nenhuma
significao religiosa particular.O carter essencial do ciclo sua fragmentao. O
ciclo no nasce inteiramente formado: o resultado de
uma longa evoluo, no curso da qual episdios origi-
nariamnte independentes se justapem, de um modo
mais ou menos articulado, e se integram em um todo. o caso, por exemplo, das aventuras de Hrcules, que
durante muito tempo no tiveram nenhuma ligao recproca. Cada um dos grandes trabalhos liga-se a um
local ou a um santurio; no mesmo certo que, orgi-
nariamente, o heri tenha sido sempre o prprio Hr
cules. provvej que este tenha confiscado em seuproveito episdios preexistentes. O leo morto por Al-
catoos, a servio do rei Megareu, lembra singularmenteo de Cteron, de que Hrcules livrou o rei Tspios. O
procedim ento evidente n caso das ampliaes ociden
tais mais recentes do ciclo de Hrcules: os viajantes gre
gos e, depois, romanos reconheceram Hrcules nos pa-
ss italianos, gauleses e at nas fronteiras da Germnia.Assim, o jogo das assimilaes com divindades, indge
nas terminou pr integrar ao ciclo elementos que, na
origem, lhe eram estranhos. E o prprio Hrcules grego
tem, desse modo, caractersticas que pertencem aos se-
mitas (ou semitizads) Gilgams e Melquarte, assim
como outros deuses, cuja recordao se perdeu em
nossos dias.
O terceiro tipo d relato lendrio por vezes designado com o nome de novela. Como o tipo anterior,
situa-se m lugares determinados; tal como ele, no as
sume valor csmico. ou simblico, mas enquanto ociclo agrupado em torno de uma nica figura a
unidade da novela puramente literria e se define
pl enredo. Assim, a guerra de Tria no nem umciclo de Helena, nem um ciclo de Aquiles, nem um ciclo
dos priamidas. a histria de uma longa aventura, de
episdios complexos e com diferentes personagens. O
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poe ma ho mrico conh ecido sob o no me de Il t da de
senvolve apenas uma pequena parte dessa aventura, pre
cisamente a que se centra em tomo da clera de Aquiles;
o resto lembrado apenas de modo alusivo: os dez anos
do stio, a pilhagem das cidades asiticas, a expedio
fracassada na primeira vez, o infeliz desembarque na
Msia, a nova expedio, os ventos que se recusam asoprar e que precisam ser aplacados com o sacrifcio de
uma virgem, e, depois d a m orte de H eitor, de . Aquiles e
de Pris, a tomada da cidade, a luta dos pressgios e dos
adivinhos. Tudo isso supera de longe o quadro da obra
literria. Nem mesmo certo que cada um desses epi
sdios tenha sido objeto de rapsdias distintas. guerra de. Tria um tema livre, ao qu al se acrescentavam
todos os prolongamentos, todas as seqncias que se
desejassem, com total fantasia. Estamos a meio caminho
entre a lenda e a criao literria. Todavia, subsiste uma
diferena essencial entre a novela lend ria e a ficode um romancista ou de um poeta: houve um momento
em que a aventura de Helena era considerada como
verdadeira. Os heris do romance jamais foram objeto
de um culto. Ora, Helena como sabemos uma
divindade decada, divindade lunar, certamente ligada
religio das popula es pr-helnicas d o , Pelopon eso.
Existia um tmulo de Helena, um tmulo de Mene-
lau, um tmulo de Aquiles, onde Alexandre, mais
tarde ofereceu sacrifcios. Aos olhos dos gregos, tudo
isso histria verdadeira, aind que a imaginao dospoetas tenh am -na om ad o com enfeites lite rrios . Os he-
is das novelas lendrias podem se prestar a todas as
fantasias, mas jamais se identificam com elas, por maior,
e mais genial que seja a obra que as utiliza.
Finalmente, se formos ainda mais. longe na anlise,encontraremos ho mais conjuntos lendrios, porm sim
ples relatos elem entares , an ed otas etiolgicas, ou seja,
destinadas a explicar algum detalhe surpreendente do
real: uma anomalia num ritual religioso, um costume, a
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A MITOLOGIA .GREGA
forma singular de. um rochedo, a consonncia de um
nome prprio. Assim, havia num templo de Chipre a
esttua de uma mulher inclinada para a frente testemunha de um rito esquecido, figurante de alguma magiasimptica da fecundidade. Pra explicar essa atitude ina-
bitual da est tua, contava-se tra tar-se do corpo metamor-
foseado em pedra de uma jovem curiosa, surpreendida
pelos deuses quando olhava pela janela; e, a partir desse
tema, construa-se uma histria de amor. Essa a lendade Anaxareta, cuja crueldade causara a morte do seuamante e que no experimentar outro sentimento alm
do desejo de ver passar, pla janela, o cortejo fnebre
da sua vtima. Corao de pedra, Anaxareta tomou-seesttua; e seu corpo, assim imortalizado, foi posto no
templo de Afrodite.Muitos relatos anlogos referem-se a nomes de lugares e fundam-se em jogos tiniolgicos. A imaginao
popular jamais fraquejou dian da tarefa de explic-los.
As variaes no nome dos rios um fenmeno bastante
conhecido pelos gegrafos, j qe todo curso dgua apre
senta vrias designaes, conforme as populaes insta
ladas em suas margens fornecem, em particular, um
material inesgotvel. E o mesmo ocorre com a figura
das constelaes, ou cm o curso de um planeta, no qual
se enxergam atraes ou dios cuja origem atribuda auma aventura ocorrida outrora com seres transforma
dos depois em estrelas.
A matria mtica, portanto, pode ser classificadaem um certo nmero de categorias que permitem tor
nar a anlise mais cmoda. Todavia, no nos devemos
enganar com semelhantes classificaes, cujas fronteiras
so incertas. O mito cosmognico pode se degradar em
ciclo ou em novela; lenda tiolgica integra-se em um
ou em outro com extrem facilidade. ma mesma lendapbde, conforme a fantasia ou as exigncias espirituais
de cada um, assumir o carter de um'romance ou de
uma revelao mstica. Essa plasticidade do mito ine-
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rente sua natureza: no uma caracterstica adquiridatardiamente, mas uma propriedade fundamental do mi
thos, ativa desde o perodo mais remoto da histria daslendas.
Como para todos os seres vivos, as dissecaes ana
tmicas no podem, fazer esquecer que a realidade ltima da mitologia reside no em membros esparsos, mas
num organismo com pulsaes e metamorfoses inces
santes.
I
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S GRANDES MITOS TEOGNICOS
Todos os povos, num determinado momento de suahistria, sentiram a necessidade de explicar o mundo.Os gregos, em busca (como tantos outros) de um prin
cpio motor no interior do Ser, acreditaram descobri-lo no
Amor. No comeo, havia a Noite (N y x ) e, a seu lado,
o rebo, seu irmo. So as duas faces das Trevas do
Mundo: Noite do alto e obscuridade dos Infernos. Essasduas entidades coexistem no seio do Caos, que o
Vazio: no o vazio inexistente negativo dos fsicos e
dos cientistas, mas um Vazi que inteiramente potn
cia e matriz do mundo, vazio por desorganizao e
no por privao, vazio por ser indescritvel e no por
ser nada. Paulatinamente, Nyx e rebo separam-se nesse
vazio. rebo desce e liberta a Noite, que por sua vezse encurva, torna-se uma imensa esfera, cujas duas me
tades se separam como um vo qe se quebra: o
nascimento de Eros (o Amor). Enquanto isso, as duasmetades da casca se convertem, um na abbada celes
te, a outra no disco, mais achatado, da Terra, O Cu e
a Terra (Urano e Gaia) possuem uma realidade mate
rial. Amor uma fora de natureza espiritual; e ele
que assegura a coeso do universo nascente. Urano se
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*
cf
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t,frp
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,r*( inclina para Gaia e essa unio d incio s geraes
divinas.
Existem outras verses dessa lenda. Dizia-se, por-
vezes, que a terra surgira diretamente do Vazio, e que
engendrara ela mesma, apenas com o auxlio de Eros,; o secundognito do Mundo, a abbada celestial. Po r
outro lado, o Caos engendraria a Noite, a qual, por suavez, daria nascimento ao ter, que a luz brilhante, o
. fogo mais puro, e ao Dia, que ilumina os mortais. Mas,5 qualquer que seja a variante, sempre Eros o animador
e o elemento motor do universo em seus incios.
A unio de Urano e de Gaia revelou-se fecunda.
Dela surgiram, inicialmente, por duas vezes, seis casais
de Tits e Titanesas. Os seis Tits eram: Oceano, Ceos,
Crios, Hiprion, Japeto e Cronos. As seis Titanesas:Tia, Ria, Tmis, Mnemsine, Febe e Ttis. So seres
divinos, mas, ao mesmo tempo, foras elementares, algumas das quais conservaram at o fim m carter qua
se exclusivamente naturalista. Oceano o mais clebre
de todos. a personificao da gua que envolve oMundo, sobre a qual flutua o disco terrestre. No uma
entidade geogrfica, mas uma fora csmica; sua con
cepo nasceu numa poca em que se pensava qe a
terra habitada era uma imensa ilha, posta no centro deum rio que a cercava. Tinha-se a impresso de encon
trar essa gua primordial no Ocidente, no pas vermelhodas Filhas da Noit, alm do que ser chamado em seguida de Colunas de Hrcules; e entre os etopes, no
m ar Eritreu, que o ra nosso Mar Vermelho, Ora o
Golfo Prsico. Podia ser encontrada tambm ao Norte,
nas curvas de Erdano, sinuosa linha de gua que, ao
norte dos pases conhecidos da Europa, levav do Orien-
] te para o Ocidente, e na qual geraes posteriores qui-
| seram reconhecer o curso do Danbio, do P, do Rda-| no e at mesmo do Re no. Mas, antes dessas determinaes
; geogrficas incertas, o Oceano existia. gua primordial,
I o pai dos rios, que so alimentados por ele graas a
!
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i....................................................
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canais subterrneos ou dele derivam de modo misterio
so, como o Nilo, cujo segredo est guardado no fundo
das areias da Etipia. Primognito dos Tits, Oceano casado com Ttis, a mais jovem das Titanesas, que
personifica a potncia feminina do M ar. No deve surpreender a presena de um duplo smbolo do M ar: toda
fecundidade dupla. Somente uma potncia feminina
pode amadurecer e chamar vida o smen do macho.
Ttis mora longe, no sentido do Oeste; s vezes brigacom Oceano, mas chega o momento da reconciliao e a
ordem do mundo salva, e despeito dos caprichos ine
rentes natureza da mulher.Ao lado da gua primordial, temos o Fogo astral:
Hiprion (cujo nome significa 0-que-vai-pa ra-cima )
une*se a Tia, a divina, e lhe d trs filhos: um varo,
Hlios, o Sol, e duas fmeas, Selene, a Lua, e Eos, a
Aurora. Depois, Hiprion e Tia desaparecem da lenda,
aps terem, de certo modo, estabelecido a ligao entre
as geraes divins. Crios, por sa vez, casa-se fora das
Ttanesas e iremos reencontr-lo na posteridade de Pon
tos. Seu irmo Ceos uniu-se a Febe, a Brilhante, e
tomou-se pai de Leto, que desempenhou um grande papel na gerao dos olimpiarios. Japeto, rompendo com
a tradio que atribua aos Tits uma Titanesa como
esposa, casou-se com Climene, uma das filhas de Oceano e de Ttis, e seus quatrp filhos Atlas, Mencio,Prometeu e Epimteu sero os intermedirios entre
os deuses e os homens. A criao dos mortais remontaindiretamente a Japeto.
Entre as Titanesas, sobretudo duas Tmis e
Mnemsine merecem ateno. A primeira a potncia por excelncia da Ordem do Muiido: Tmis a Lei,
o etemo equilbrio. Sua irm, Mnemsine, o poder do
Esprito, a Memria que garante a vitria do espritosobre a matria instantnea e funda toda inteligncia.Elas no se uniram aos Tits; foram, de certo modo,
reservadas a Zeus e gerao.dos olimpianos. que
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os Tits so foras brutais, elementares, nas quais o
espiritual pressentido ainda apenas em estado rudimen
tar. singular e significativo que as duas potncias nas
quais se prefigura o esprito sejam de natureza femi
nina, talvez porque o esprito recuse a violncia e adie
toda ao imediata; talvez porque ela seja de lenta maturao; talvez simplesmente porque temos, nessas cren
as, o reflexo de um estado social bem conhecido em
outros locais onde as mulheres so as depositrias
dos segredos e da cincia comuns tribo.
De todos os Tits, o mais importante para o desen
volvimento do mundo foi Cronos, o mais jovem, o queengendrou os olimpianos.
A unio de Urano e de Gaia no limitara seus
frutos aos Tits e s Titanesas. Depois deles vieram os
Ciclopes: Arges, Esteropes e Brontes, os quais figuram
evidentemente (como os seus nomes o provam) a luz
do relmpago, as nuvens da tempestade e o ronco do
trovo. Depois, .nasceram os Monstros de Cem-Braos
(os Hecatnquiros), gigantescos e violentos, que se cha
mavam Cotos, Briareu e Gies. Todos esses filhos inspi
ravam horror a Urano, que no lhes permitia ver a luz,
obrigando-os a permanecer imersos nas profundezas daTerra. Gaia queria libert-los e tentou articular umaconspirao com eles contra Urano. Nenhum aceitou,
com exceo do mais jovem dos Tits, Cronos, que odia
va seu pai. Gaia confiou-lhe ento uma foice de ao mui
to afiada, e quando, certa noite, Uranos se aproximou
de Gaia, abraando-a inteiramente, Cronos com um
golpe de sua foice cortou os testculos do pai e ati
rou-os longe. O sangue da ferida caiu sobre a Terra e,mais uma vez, fecundou-a. Foi assim que nasceram novos
monstros, as Ernias, os Gigntes e as Melades, que so
as Ninfas dos freixos.Desse modo, Cronos passou ser o nico a reinar
sobre um universo cujos primeiros delineamentos se iam
esboando. Mas ele era violento, alm de trazer em si
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a maldio do seu crime. Longe de libertar seus irmos
monstruosos, apressou-se depois de retir-los do
seio de sua me em mergulh-los nas trevas infer
nais, no fundo do Trtaro. Isso indisps Gaia contra
ele. E, como esta lhe dissera que ele seria um dia des
tronado por um dos seus filhos, apressou-se em devorar
todos os que ia tendo com a Titanesa Ria, com quem
se casara. Foi assim que gerou e, sucessivamente, engoliu
trs filhas Hstia, Demter e Hera e dois filhos Hades e Posseidon. Porm, quando o mais jovem
dos filhos, Zeus, estava para nascer, Ria quis lhe evi
tar o sorte dos irmos e fugiu secretamente. Com acumplicidade de Gaia, encontrou asilo em Creta, onde
deu luz. Depois, pegou uma pedra, enfaixou-a, deu-lhe
o aspecto de uma criana recm-nascida e ofereceu-aa Cronos. Iludido pela aparncia, esse devorou a coisa
que pensava ser seu filho e Zeus se salvou. O orculo
de Gaia iria agora se cumprir.
Ria protegeu a infncia d pequeno deus, escon
dendo-o numa caverna de Creta, onde o confiou s Nin
fas e aos Curetas. Os Curetas erm demnios turbulentos, que haviam inventado o uso das armas de bronze
e passavam seu tempo a danar entrechocando lanas e
escudos. Ria pensou que o tumulto que eles assim faziam
serviria para abafar os vagidos da criana e impediria
Cronos de descobrir o ardil de que fora vtima. A
criana divina bebeu o leite da cabra Amaltia e comeu
o mel que as abelhas de Ida destilaram expressamente
para ele. Quando a cabra provedora morreu, Zeus guar
dou sua pele, com a qual fez uma couraa, a gide (ou
pele de cabra), que ele agita no cu tempestuoso.
Uma vez crescido, Zeus pensou em destronar se
pai. Conseguiu, por meio da astcia, fazer Cronos beber
uma droga que o obrigava a restituir os filhos que havia
devorado. Zeus, tendo assim encontrado os irmos, de
clarou guerra a Cronos. Os Tits tomaram partido em
favor de seu irmo. A guerra durou dez anos, at o dia
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em que Gaia revelou a Zeus que ele obteria a vitria
se chamasse para seu lado os monstros que Cronos encerrara no Trtaro. Foi assim que, com a ajuda dos
Hecatnquiros e dos Gigantes, os filhos de Cronos con
seguiram destronar o pai. Cronos e os Tits foram acor
rentados e passaram a substituir no Trtaro os outros
filhos de Urano. Essa a Titanomaquia, ou Guerrados Tits, que expulsou do poder a gerao primordial
e nele instalou os primeiros olimpianos.
* * *
Vemos assim que o essencial das lendas teognicas
consiste numa srie de substituies, com uma gerao sucedendo, pela violncia, a gerao que a precedera
no poder sobre o mundo. E pode-se constatar que, por
duas vezes, foi o mais jovem dos deuses, o caula de
cada gerao, a conquistar a preeminncia: Cronos, caula dos Tits, e Zeus, caula dos Crnides. Concor
da-se geralmente em reconhecer nesse fato o trao de um
estado social no qual a sucesso pertencia ao mais jovem
dos filhos; mas nenhuma cidade helnica fornece um
exemplo comprovado de sucesso desse tipo no plano dahistria e bastante verossmil que o esquema de suces
so sobre o qual so construdos esses mitos provenha deum pas no-helnico. O carter nitidamente astral do
mito de Urano, a mutilao fecundante infligida por
Cronos a seu pai, sugerem pelo menos para esses episdios origens asiticas; mitos anlogos, conhecidos
atravs dos textos hititas de Hatusha, na natlia Cen
tral, podem ser encontrados desde a Cilcia at a Sria,
e sabe-se que ligaes estreitas sempre uniram essas re
gies bacia do Egeu. Portanto, parece que os mitos
propr iamen te gregos s comeam com o advento de
Zeus; mas e talvez seja essa a conseqncia mais impo rtante disso resu lta tambm que essa dupla suces
so das geraes divinas no representa necessariamente,como por vezes se cr, a recordao da substituio de
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crenas preexistentes por uma religio conquistadora. Isso
talvez seja verdade para Zeus em sua vitria sobre Cro
nos; mas no poderia s-lo para Cronos assassino de
Urano. A mutilao de Urano um ato ritual de fecun-didade, atravs do qal Crnos libera as fontes da vida
csmica; e foi em torno desse rito, real ou simbolizado
pela imagem, que o mito se desenvolveu. O mesm no
ocorre no caso do acesso ao poder dos olimpianos.As divindades substitudas por Zeus e seus irmos
parecem representar, numa certa medida, um sistema religioso anterior chegada na Grcia dos conquistadores
arianos. Essas divindades no foram suprimidas; con
tinuaram a viver nas lends e at mesmo, pelo menosem certos locais, a ser cultuadas. Mas aparecem como
potncias secundrias, decadas, cujo carter monstruoso
causa repugnncia ao pensamento grego. Muitos sugerem
associaes com o mar. bastante provvel que os He-
catnquiros, por exemplo, os Gigiites de Cem-Braos,
no sejam mais do que a transposio mtica dos poivos
que aparecem to freqntemente na cermica mais an
tiga do Egeu. E h mais. J sublinhamos a importncia
de Oceano entre os filhos de Urano e de Gaia. Uma
srie de lendas paralelas, mais ou menos bem articuladascom a genealogia cannicaV faz-nos conhecer um outro
filho da Terra, nascido sem interveno de nenhuma potncia masculina, e que se chama Pontos, o Fluxo marinho. Gaia uniu-se a ele e deu-lhe toda uma posteridade,
entre a qual se encontra precisamente um grande nme
ro desses demnios secundrios em qe parece legtimoreconhecer divindades anteriores chegada dos primeiros
helenos. Todas esto prximas das foras e dos fenme
nos da Natureza, o que no gerlmente o caso dos
olimpianos. Todas, ou quase todas, so seres monstruo
sos, de dupla forma, que se encontram como figurantes
nos mitos mais recentes.. O primognito de Pontos e Gi foi o V elho ' do
Mar, Nereu. Unido a Dris, uma das filhas de Oceano,
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engendrou as Nereides, filhas das ondas. Nereu ve
lho, sbio e conhece todos os segredos e todas as pro
fecias. Mas causa-lhe repugnncia revel-los e, para es
capar dos indiscretos, usa de bom grado o poder que
tem de se metamorfosear. A figura de Nersu lembra a
de Proteu, que j nos apresentada na Odissia e que
um demnio do mar situado em guas egpcias. Na poca grega clssica, ele no mais do que um servidor de
Posseidon, encarregado de guardar os rebanhos de focas
pertencentes ao gran de deus.
O segundo filho de Pontos Taumas, que se casou
com Electra, uma outra filha de Oceano, e deu-lhe filhas:
ris, a mensageira dos deuses, personificao do arco-ris,
e as Harpias, chamadas Aelo e Ocpete (a Borrasca e o
Voa-rpido), s quais por vezes se acrescenta uma ter
ceira, Celeno (a Obscura). So os gnios do Temporal,
impetuosas como o turbilho que se abate sobre o mar
e arrasta tudo sua passagem. As Harpias so essencial
mente Rapina doras. Mulheres a ladas ^ possuem garras
agudas; e sua morada situa-se no corao do mar Jnio,
nas ilhas Estrfades.
O terceiro filho de Pontos Frcis, que mora na
regio de Cefalnia, na costa ocidental da Grcia. Dele
derivam as Graias, que so as Velhas do Mar, chamadas
nio, Pefredo e Dino. Viviam no extremo Ocidente, no
pas onde jamais brilh a o sol. Eram irms das tr s Gr-
gonas Esteno, Eurale e Medusa , das quais somen
te a ltima era mortal. As Grgonas tinham uma aparncia tenebrosa. A cabea delas era rodeada de serpen
tes; estavam armadas com enormes presas, semelhantes s
do javali; suas mos eram de bronze; asas de ouro lhes
permitiam voar. Seus olhos faiscavam , e deles bro tava um
olhar to penetrante que quem o visse era transformado
em pedra. Objeto de horror, haviam sido relegadas aos
confins do mundo, noite, e ningum era suficientemen
te corajoso para abord-las. Somente Posseidon se havia
unido a Medusa e a engravidara. Os filhos dessa unio
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eram Pgaso, o Cavalo Alado, e Crisaor, o Ser da Es
pada de Ouro, que foi, por seu turno, o pai de Gerio,
o gigante de trs corpos que matar Hrcules, e da Vbo
ra, Equidina. Essa Equidina iria, mais tarde, unir-se aomais horrvel dos monstros, Tifon, que durante um certo
tempo ameaou suplantar-o prprio Zeus. Da unio, nas
ceram filhos: Ortros, o Co Monstruoso; Crbero, o Co
dos Infernos; a Hidra de Lema; e a Quimera, que foi
inimiga de Belerofonte. De Ortros e Equidina, nascerama Esfinge tebana e o Leo da Nemia. Assim, a imagina
o grega atribua uma descendncia aos seres de pesa
delo, contra os quais Hrcules iria triunfar.
O ltimo descendente de Pontos era uma mulher,Eurbia. Ela se casou com o Tit Crios e a posteridade
deles foi astral. Seu filho mais velho, Astreu, casou-secom a Aurora (Eos), que lhe deu como filhos os Ventos,a Estrela da Manh (Hesphoros) e, finalmente, todos os
Astros. Seu segundo filho foi o gigante Palas, marido de
Estige. Ele engendrou apenas potncias simblicas: Ci
me, Vitria, Potncia e Violncia. Mas o terceiro filho de
Crios e Eurbia, casando-se com Asteria, filha de Ceose de Febe, tomou-se o pai d deusa infernal, Hcate, que
tinha uma trplice forma.
A gerao pr-olimpiana ou seja, todas as divin
dades que no se ligam diretamente a Cronos, mas que
surgiram dos Tits e das outras unies de Gaia com
preende, portanto, todos os monstros que a lenda conhece
e que desempenharam um papel nos ciclos divinos e he
ricos, assim como nas novelas. Mas compreende tam
bm, e sobretudo, divindades puramente naturalistas :
o Sol, a Lua, a Aurora, os Astros, os Ventos e os gnios
de fenmenos naturais, como a Tempestade e a Borrasca.
Com efeito, a essa gerao primordial que pertencem os
Ciclopes, filhos de Urano, que devem ser cuidadosamentedistinguidos dos Ciclopes construtores, que so uma po
pulao mtca, proveniente da Lcia, que se ps a ser
vio dos reis de Argos; tribuam-se a esses Ciclopes as
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construes aparentemente sobre-humanas, feitas de blo
cos enormes, ainda, visveis em Micenas ou Tirinto . Os
Ciclopes uranianos so apenas trs: Brontes, Esteropes
e Arges; e j nos referimos relao evidente entre eles
e a Borrasca. J que Zeus era tambm um deus do cu,
ir mais tarde tom-los a seu servio: eles ser.0 encarregados de forjar os raios. H mesmo uma tradio
que diz terem sido eles a dar ao recm-chegado essasarmas, que antes Zeus no possua. Os Ciclopes sero
considerados, cada vez mais, como os fabricantes das ar
mas divinas: do arco de Apoio* da couraa de Aten etc.,que seriam por eles confeccionadas sob a direo de He-
faisto, o deus-ferreiro da nova gerao. Mas provvelque essas sejam criaes imaginrias bastante tardias, da
tando j da poca alexandrina. Nesse momento, a ativi
dade dos Ciclopes situada sob os vulces sicilianos;
o fogo de sua forja que, noite, ilumina o cume do
Stromboli ou do Etna; e o ronco de seus foles, o martelar de suas bigornas, que reboam por aquelas paragens.
Lendas mais antigas, porm, explicam diferentemente osfenmenos vulcnicos. Atribuem tais fenmenos s mani
festaes dos Gigantes imersos sob a terra depois de sua
revolta contra Zeus, no trmino da Gigantomaquia.
Pois, aps a vitria de Zeus, Gaia no ficara satis
feita-, como no o havia ficado aps a vitria de Cronos.
Estava descontente com o tratamento infligido pelo ven
cedor aos Tits, que eram seus filhos, e queri libert-los
de sua priso. Para isso, recorreu aos Gigantes, que haviam nascido dela mesma e do sangue de Urano. Esses
Gigantes no eram imortais, mas s podiam ser mortos
se os golpes de um deus se juntassem aos de um mortal.
So seres imensos, de invencvel fora e dotados de gran
de coragem. Possuem uma cabeleira e uma barba hirsu
tas, e suas pernas so serpentes. Situa-se o ocal de seunascimento na pennsula trcia de Palene. To logo sa
ram da terra, puseram-se a brandir rvores inflamadas ea cortar o cu a golpes de rochedos. Foi ento que os
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olimpianos intervieram. Zeus armou-se com o raio, Ate-
n tomou a gide e a lana, Dionsio brandiu o tirso;em suma, cada divindade interveio com sua arma favo
rita. E, como era necessrio que um mortal ajudasse os
deuses em sua luta, recorreu-se a Hrcules. Essa inter
veno de Hrcules singular, pois contraria toda cronologia, j que o nascimento de Hrcules muito posterior
criao dos homens e ao dilvio do Deucalio, que assinalou o fim da primejra gerao mortal. Isso evidencia,
certamente, o carter artificial e recente da Gigantoma-quia, a no ser que se queira considerar esse Hrcules
como ainda apenas o prottipo do heri que ser reco
lhido pela lenda posterior. De qualquer modo, travou-sea luta entre os deuses e os gigantes. Hrcules interveio
sobretudo com suas flechas, que atingem os gigantes no
momento em que um deus s abate. Os gigantes se dispersaram, e o mundo inteiro ficou coberto de destroose projteis. Assim, Encelade foi esmagado pela Sicia,
sob a qual a deus Ateri o prendeu. A ilha de Nisiron,atirada por Posseidon, esmagou Polibotes. O folclore no
teve dificuldade em atribuir esse episdio da lenda uma
grande quantidade de detalhes topogrficos, um pouco
como se faz quando no Mnt-Saint-Michel e alhures se evoca Gargntua para explicar a form a de uma
montanha ou de um curso dga.
Zeus, antes de conquistar o poder sem contestao,
tinha ainda de passar por uma prova, a luta contra Tifon
(ou Tifeu). Segundo as verses, Tifon era um filho de
Hera, que- a deusa engendrara sem a participao de nenhum ser masculino; ou ento era m filho da Terra, ique
lhe nascera do Titaro. Tifon er maior do que os gigan
tes e, com freqncia, sua cabea tocava as estrelas. Em
vez de dedos, possua nas ms cem cabeas de drago.
Da cintura at bs ps, seu corpo eira envolvido por vbo
ras. Tinha asas e seus olhos lanavam chamas. Quandoos deuses viram esse m onstro atacar , o cu, fugiram para
o Egito e se esconderam no deserto,'onde tomaram a for-
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ma de nimais. Apoio tornou-se um milhafre; Hermes, ^um bis; Ares, um peixe; Dionsio, um bode; Hefasto,um boi etc. Explica-se desse modo o culto prestado pelosegpcios a divindades simbolizadas por animais. Enquantoisso, Zeus e Aten restaram ss diante de Tifon. Zeus e
Tifon travaram um combate corpo a corpo, nos confinsdo Egito e da Arbia Ptrea. Tifon levou a melhor eapoderou-se. da harp (a foice) com a qual o deusestava armado. Cortou os tendes dos braos e das pernas de Zeus, carregou o corpo j inerte sobre os ombrose o encerrou numa caverna da Cilcia; alm disso, escondeu os nervos de Zeus numa pele de urso e confiou-aa um drago. Mas Hermes e o deus P conseguiram roubar esses tendes e recoloc-los em seu lugar, sem queTifon o soubesse. Zeus reconquistou assim sua fora e ocombate recomeou. Durou muito tempo, e seus episdiosse processaram pelo mundo inteiro, at o momento emque Zeus esmagou seu adversrio sob o Etna, na Sicflia,reduzindo-o impotncia.
Tifon foi o ltimo adversrio de Zeus. As faanhasdos .dois Alodas, gigantes filhos de Posseidon, que empilharam vrias montanhas para escalarem o Olimpo einsultaram com seu amor Artmis e Hera, no constituram um perigo real para o equilbrio do mundo. Bastoua Zeus lanar um raio para que eles se precipitassem nosInfernos. Doravante, a autoridade do Senhor dos Deuses
conservou-se incontestada. A poca dos monstros forasuperada. Os monstros que o mundo conhecer em seguida sero descendentes um pouco degenerados dos seres primordiais, filhos da Terra. S causaro temor aoshumanos: eZeus confiar a Hrcules a tarefa de abat-los.
Faltava explicar a presena dos Homens no universo. A criao deles no atribuda linhagem de Cronos,mas descendncia de um outro Tit, , Japeto, e de suamulher, a ocenide Climene. Japeto teve quatro filhos:Atlas, Mencio, Prometeu e Epimeteu. Os dois primeiros
so gigantes brutais e "desmesurados. Atlas engendrou
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A MITOLOGIA GREGA 37
demnios astrais, e a ele que remontam as duas cons
telaes das Hades e das Pliades. Ele mesmo, depois de
ter participado na Gigantomquia contra os deuses, re
cebeu um castigo severo. Recebeu a misso de sustentar
em seus ombros a abbada celeste, no local em que ela
se inclina para o Oceano, no Extremo Ocidente do mun
do. Perseu, depois de matar a Grgona Medusa, trans
formou-o em pedra ao lhe apresentar a face do monstro.Atlas tornou-se a montaiiha que limita a terra habitada,
ao sul das Colunas de Hrcules, e que marca o incio do
grnde Oceano.
Dos quatro filhos de Japeto, diz-se por vezes dePrometeu que foi ele quem criou os mortais, modelan
do-os com argila. Na verdade, essa tradio no universalmente admitida. Na Togoni de Hesodo, Prome
teu ainda considerado to-somente como o benfeitor
dos homens, em favor dos quais ele tenta vrias vezes
enganar Zeus. Isso ocorreu, pla primeira vez, no curso
de um sacrifcio solene. Ele dividira um boi em duas par
tes: de um lado, sob a pele, pusera a carne e as entranhas, cobertas pelo ventre do animal; do outro, os ossos,
despojados de toda carne, mas disfarados sob uma bela
capa de gordura branca. Depois, mandara Zeus escolhersua parte; o resto caberia aos homens. Zeus escolheu agordura branca, mas, quando percebeu que ela cobria
apenas ossos, foi tomado de grande fria contra Prome
teu e tambm contra os mortais. Para punir esses ltimos,
recusou-se a enviar-lhes o fogo. Ento, Prometeu subiu
ao cu e roubou as sementes d fogo roda do sol,
trazendo-as depois par a terra, escondidas num tronco
oco. Dessa feita, a vingana de Zeus foi exemplar. Pro
meteu foi acorrentado no Cucaso com correntes de ferro,
e uma guia, nascida de Equidina, a Vbora monstruosa,devorava-lhe o fgado, qu sempre renascia. O suplcio
durou at o dia em que Hrues, com uma flecha, aba
teu a guia e libertou o gigante de suas correntes. Mas
como Zeus jurara pela Estige que Prometeu permaneceria
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