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7 | ESPECIAL | SALVADOR, DOMINGO, 10/12/2006 6 | ESPECIAL | SALVADOR, DOMINGO, 10/12/2006 EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTO-JUVENIL EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTO-JUVENIL DIAGNÓSTICO DA CARÊNCIA Faltam pessoal e estrutura para a Derca, única delegacia especializada nesse tipo de crime na Bahia Equipe de investigadores é igual à de delegacia comum POLÍCIA CIVIL Única delegacia especializada em crimes contra criança e adolescente da Bahia, Derca possui carências estruturais Denúncias mofam em armários # 10. vezes menos: é a proporção de investigadores da Derca em relação às duas principais delegacias que investigam crimes contra o patrimônio. A Derca tem seis investigadores, enquanto as delegacias de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR) e Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV) têm 60, cada uma. 84. % mais: é o comparativo entre o volume de inquéritos instaurados pela Derca entre janeiro e setembro deste ano e a Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV). 100. vezes mais: é a proporção de termos circunstanciados instaurados no mesmo período pela Derca, em comparação à Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR). Fonte Polícia Civil ESCRIVÃES 5 9 DELEGADOS PLANTONISTAS 5 7 ASSISTENTES SOCIAIS 0 2 AGENTES 44 54 PSICÓLOGOS 0 2 VIATURA DESCARACTERIZADA 2 3 VIATURA PADRONIZADA 1 2 Fonte Departamento de Crimes Contra Vida (DCCV) da Polícia Civil QUADRO ATUAL QUADRO IDEAL QUADRO IDEAL QUADRO ATUAL QUADRO ATUAL QUADRO IDEAL QUADRO IDEAL QUADRO ATUAL QUADRO IDEAL QUADRO IDEAL QUADRO IDEAL QUADRO ATUAL QUADRO ATUAL QUADRO ATUAL KATHERINE FUNKE [email protected] Vinte e dois pedidos de investiga- ção de possíveis casos de explora- ção sexual de crianças e adoles- centes de Salvador mofam nos ar- mários de delegados da única uni- dade policial da Bahia voltada a combater crimes contra a popula- ção infanto-juvenil. Os documentos são originados por denúncias anônimas feitas pe- lo Disque 100 ou por encaminha- mentos do Ministério Público do Estado (MP). Acumuladas desde setembro do ano passado, as solicitações – e as possíveis vítimas, por conse- qüência – aguardam um minuto de atenção das cinco delegadas plan- tonistas da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e Ado- lescente (Derca). Um minuto de atenção, pelo menos, a cada qua- tro dias, que é o período de inter- valo entre os expedientes de 24 ho- ras dos plantonistas de qualquer delegacia da Polícia Civil baiana. Esses pedidos de investigação são o último item na lista de prio- ridades das delegadas plantonis- tas. Primeiro aparecem os casos de flagrante, os atendimentos diários, a tomada de depoimentos de tes- temunhas, vítimas e autores de cri- mes. Assassinatos são levados ao topo da lista, segundo a plantonis- ta Ana Crícia Macedo. "Atendemos a cidade inteira. A quantidade de trabalho é muito grande. Precisamos de outra Derca em Salvador", diz a delegada titu- lar Janice Santos Reis, que assumiu o cargo em janeiro. Todas as delegadas foram pro- curadas para falar sobre os pedi- dos de investigação parados. A re- portagem não conseguiu ouvir Claudenice Cerqueira, que entrou em férias em novembro. As outras quatro plantonistas alegaram os mesmos motivos: estrutura insufi- ciente e alta demanda diária. IRREGULARIDADE - Mesmo com a escassez de tempo e estru- tura, uma das plantonistas da uni- dade, Maria Aparecida Guedes Martins, abre um espaço em suas 24 horas de plantão para compro- missos pessoais. Durante o expe- diente, ela vai regularmente para casa, no bairro de Nazaré, para al- moçar e jantar. A TARDE flagrou Guedes Mar- tins duas vezes no trajeto, nos dias 13 e 30 de novembro. Na primeira vez, foi abordada pela reportagem e admitiu estar indo almoçar em casa. Questionada sobre o uso do veículo público para fins pessoais, disse: “Não tem problema, não. Coloco dois litros de gasolina ago- ra e à noite“. As viagens são feitas na única viatura padronizada ou nos outros dois veículos sem timbre da Derca. A viatura tem cota média de com- bustível de R$ 20 por dia e os dois outros carros, R$ 10 cada. A falta de combustível foi citada por quase todas as delegadas como obstácu- lo para possíveis investigações. Responsável por 31% dos 22 in- quéritos parados, Martins é con- duzida até sua casa por agentes que não possuem essa atividade entre suas atribuições, de acordo com o Sindicato da Polícia Civil. A delegada titular, Janice Santos Reis, analisa a situação como “to- lerável“ porque a colega não pos- sui carro próprio. Contudo, ao sa- ber do caso, a diretora do Departa- mento de Crimes contra a Vida (DCCV), Lindaiá Mustafa, prome- teu apurar o que considerou uma denúncia de irregularidade. MUDANÇA - Daqui a dois dias, a Derca passará a funcionar em nova sede, em Brotas. A mudança é con- siderada positiva pelos policiais da unidade, que esperam poder con- tar com o Sistema de Atendimento Policial (SAP), software de registro de ocorrências. Sem ele, as fichas são escritas à mão. Assistentes sociais e psicólogos, cujo auxílio a Derca não tem há dois anos, passarão a fazer parte da equipe na nova sede, segundo o delegado-chefe da Polícia Civil, Edmilson Nunes. Desde o início de 2005, a dele- gacia funciona em escritório im- provisado da Avenida ACM, próxi- mo ao Shopping Iguatemi. Na mu- dança da sede anterior para a atual, dossiês (pastas com o histó- rico de cada investigação) inicia- dos entre 1992 a 2000 foram perdi- dos pelos agentes policiais. Sobrou cerca de uma dúzia. Na sede atual, as celas têm ca- pacidade para 12 detentos, mas abrigaram, nos últimos dois me- ses, de 29 a 38 pessoas. Só em 2006, houve sete tentativas de fuga, con- forme a delegada titular. [1 e 2]: Em dia de plantão, a delegada Maria Aparecida Guedes Martins chega em casa, no bairro de Nazaré, em um dos veículos do Serviço de Investigação (SI) da Derca [3]: Duas horas depois, recebe uma revista semanal [4 e 5]: Em outro veículo da delegacia, volta ao trabalho. As fotos foram tiradas em 30 de novembro JOSÉ OLIVEIRA POLÍCIA CIVIL Delegada plantonista assume em documento enviado ao MP que a Derca não tem realizado investigações compatíveis com as necessidades Ministério Público pede explicações Faltam 60 delegados no departamento FERNANDO AMORIM Perda de dossiês ocorrida durante mudança da antiga sede para a atual, na Av. ACM: descaso com o público “Derca não era ponto primordial” QUEM É Edson Sá Rocha é secretário da Segurança Pública desde 2003 e general do Exército brasileiro. A TARDE | A repressão a crimes contra a criança e adolescente foi uma prioridade durante sua gestão na Secretaria de Segurança Pública (SSP)? ESR | Com toda certeza. Desde o início temos dado uma ênfase muito grande a todos os crimes relacionados à criança e ao adolescente. Mas é muito difícil, porque o Estado da Bahia, como todos os outros, não está estruturado para patrocinar a reinserção da criança na sociedade. O que temos feito é paliativo. Não é solução definitiva, que não vai acontecer enquanto o Estado não se estruturar para combater o problema. AT | Por que existe apenas uma Derca na Bahia? ESR | Se só existe uma é porque... A tendência natural é instalar Dercas no interior também. AT | Se essa área foi uma prioridade da sua gestão, e a SSP tem um orçamento seis vezes maior que o da Secretaria de Combate à Pobreza (Secomp) e oito vezes maior que o da Secretaria do Trabalho e Ação Social (Setras), por que já não foram criadas novas Dercas? ESR | Por questões de priorização em termos gerais de trabalho, havia que se fazer a escolha daquilo que estava sob uma pressão maior. AT | Quer dizer que não foi prioridade... ESR | A Derca já atendia à demanda existente. Não era considerada ponto primordial. Ao contrário, a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) é muito mais pressionante em termos de demanda crescente. AT | Será que a Derca tem atendido realmente à demanda, com tantas carências estruturais? ESR | Em termos de segurança pública, não existe nenhum setor que esteja sendo atendido realmente. Todos estão atendendo com falhas, com deficiências, porque a estrutura está desatualizada e não corresponde à necessidade atual. Portanto, a questão do atendimento à criança não seria diferente. Faz parte desse contexto. ENTREVISTA EDSON SÁ ROCHA Apesar de ser especializada na repressão a crimes contra criança e adolescente, a Derca tem uma equipe de investigadores equivalente à de qualquer delegacia de bairro. São apenas seis agentes no Serviço de Investigação (SI), que atendem aos pedidos de todas as equipes de plantão. A pequena quantidade de investigadores, dez vezes menor que a da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos, é citada como a principal causa da lentidão em apurar os possíveis casos de exploração sexual parados nas prateleiras. "Campana é uma coisa utópica para a gente", constata a delegada auxiliar Diana Lima. O método de observar um local por algumas horas, várias vezes seguidas, poderia ajudar a elucidar esse tipo de crime. Tornou-se uma técnica apenas conhecida; raramente aplicada. Quatro de 27 anos de serviço policial passados no SI da Derca, a investigadora Valdelice Evangelista confirma as dificuldades da equipe. "É uma angústia diária. Sabemos que há uma criança que está sofrendo e que não pode esperar", revela. Atualmente, o SI conta com o reforço de dois comissários da Infância e Juventude. Dos seis agentes, apenas quatro estavam na ativa no mês de novembro. O setor dispõe de duas viaturas comuns (descaracterizadas), cada qual com apenas R$ 10 para combustível por dia. As limitações técnicas ao trabalho de investigação desestimulam agentes e delegados. A delegada Janice Dórea diz que o principal obstáculo à elaboração de um inquérito com provas consistentes é a falta de estrutura do SI. As barreiras diárias deixam a policial de 26 anos de serviço com vontade de se aposentar e sem ânimo para cursos de atualização. “Mesmo se tivesse, não faria“, afirma. HISTÓRICO - A carência estrutural do SI não é nova e já foi pior. Em 10 de novembro de 2004, o chefe do SI, Antônio César Braga de Oliveira, desabafou em ofício para a então delegada titular, Kátia Brasil. Na ocasião, o setor estava procurando por um homem acusado de explorar sexualmente meninos do bairro Pero Vaz. Braga afirmou que a única viatura que servia ao setor apresentava constantes falhas mecânicas. Escreveu: "Some-se a isto o fato de que o signatário não conta com nenhum preposto policial em sua equipe para auxiliá-lo nas suas investigações, tão-somente temos o prestimoso auxílio de comissários de menores, os quais obviamente não possuem a qualificação e o preparo necessários para a execução de determinadas tarefas, para as quais estão, inclusive, legalmente impedidos". O suposto explorador só foi encontrado no início do ano seguinte. Delegada titular, Janice Reis: “Precisamos de outra Derca“ FERNANDO AMORIM KATHERINE FUNKE [email protected] A mesma delegada plantonista flagrada por A TARDE usando os veículos da Polícia Civil para passar algumas horas em casa du- rante o expediente usou as carên- cias estruturais da Delegacia Espe- cializada na Repressão a Crimes contra Crianças e Adolescentes (Derca) para justificar um inquéri- to incompleto. Em documento enviado ao Mi- nistério Público (MP) em julho, Maria Aparecida Guedes Martins afirmou que a delegacia não tem feito “um trabalho mais criterioso de investigação” por sofrer com “falta de recursos de toda a natu- reza, dificultando a realização de diligências, desde o simples ato de entrega de intimações a uma cam- pana com deslocamento distante ou demorada”. As afirmações eram uma res- posta ao pedido de novas diligên- cias ao Inquérito 132/2004, feito pela promotora Eliana Bloizi. Jun- to à solicitação, Bloizi escreveu um parecer explicitamente indignado com a ineficiência policial. O inquérito era baseado em de- núncia anônima sobre um pai que estaria abusando sexualmente da filha. O denunciante indicou en- dereço e nome completo da possí- vel vítima. A equipe da delegada Guedes Martins iniciou investiga- ções, mas não encontrou a rua ci- tada na denúncia. A delegada então deu seu traba- lho por encerrado, alegando ser impossível intimar o pai e a filha. Encaminhou o inquérito ao MP com sugestão de arquivamento. O que ela não esperava era que, em vez de esquecer o caso em alguma estante, a promotora questionasse seu método de trabalho. Bloizi não aceitou a justificativa da delegada, por entender que, em uma denúncia como essa, a inves- tigação não deve se basear somen- te nos depoimentos do acusado e da criança. Por isso, aconselhou a delegada que fizesse um trabalho de coleta de provas com “ação dis- creta, articulada, cuidadosa”. E alertou: “É preciso que seja re- pensada essa ação apressada e sem qualquer sensibilidade por parte dos profissionais que ali (na Derca) atuam, sob pena de es- Além da Derca, todas as outras 17 unidades especializadas ligadas ao Departamento de Crimes contra a Vida (DCCV) da Polícia Civil precisam de mais delegados, agentes, combustível, capacitação, computadores, armas, coletes e algemas. A atual diretora do DCCV, Lindaiá Mustafa, admite o cenário de necessidades urgentes. Diz que não teve orçamento e tempo hábil para realizar todas as metas em sua gestão e aponta em dossiê um conjunto de propostas para o próximo diretor, que irá assumir em janeiro. O documento contém um planejamento das ações necessárias para estancar a maior parte das demandas até 2010. Demonstra que são necessários mais 60 delegados, 71 escrivães, 295 agentes, 36 psicólogos e 36 assistentes sociais para complementar os quadros das 18 delegacias. Quanto aos armamentos, a diretora analisa faltar 355 pistolas, 32 armas longas, 154 algemas e 291 coletes. O dossiê aponta também que metade das unidades ainda não dispõe do Sistema de Atendimento Policial (SAP), software que permite gerenciar com agilidade dados das ocorrências. Sem ele, os registros são manuscritos. Mustafa sugere como meta a criação de Dercas em Ilhéus, Feira de Santana e Vitória da Conquista; três delegacias do Adolescente Infrator; 11 delegacias especializadas no Atendimento à Mulher e três outras delegacias especiais de Atendimento ao Idoso. PLANTÕES – O próximo delegado-chefe da Polícia Civil também terá um desafio pela frente: rediscutir a proposta de reorganizar o sistema de Celas superlotadas na Derca: 29 detidos onde cabem apenas 12 plantões, feita pelo atual delegado-chefe, Edemilson Nunes, no início do ano. Em vez de dividir os agentes, escrivães e delegados em equipes que trabalham 24 horas de quatro em quatro dias, Nunes sugeriu criar equipes que trabalham de segunda a sexta-feira, de 8 às 18h. Noites, madrugadas e finais de semana seriam cobertos por outras equipes de plantão centralizado em delegacias-satélite. O objetivo é agilizar investigações e evitar corrupção, mas a proposta recebeu muita resistência e não foi implantada. FERNANDO AMORIM tar a delegacia fadada a ser mais uma unidade comum de investi- gação, desatendendo a sua função especializada”. Um mês depois, Guedes Mar- tins respondeu à promotora. Além da descrição das dificuldades es- truturais, a delegada não acres- centou diligências ou dados novos ao inquérito em questão. Apenas anexou informação do site dos Correios de que não havia, em Sal- vador, uma rua com o mesmo no- me informado pelo denunciante anônimo. RISCOS – Bloizi entendeu os argu- mentos da delegada como um diagnóstico de que existem sérios riscos à proteção de crianças e adolescentes vítimas de crimes em Salvador, já que a Derca não tem ti- do estrutura adequada. Em no- vembro, encaminhou o inquérito ao procurador-geral do MP, Lidi- valdo Brito, solicitando que se questione a Secretaria da Seguran- ça Pública (SSP) sobre o assunto. O objetivo é promover mais atenção à Derca nas políticas da Secretaria da Segurança Pública. Por haver o nome completo da vítima na denúncia, Bloizi pediu também que se mandasse fazer uma busca na rede pública de en- sino para encontrar a escola onde a garota estuda, passo importante para investigar o possível crime. “Podem-se construir 200 Der- cas em Salvador, pode até faltar ti- jolo, mas de nada vai adiantar se não tiverem estrutura. Por outro lado, a limitação estrutural não justifica a falta de ação”, avalia Elia- na Bloizi, atuante na área de cri- mes contra crianças há dez anos. Os demais promotores também estão atentos ao trabalho desen- volvido pela Derca. Eles devolve- ram os três inquéritos suposta- mente referentes a casos de explo- ração sexual infanto-juvenil enca- minhados ao MP entre janeiro e outubro à delegacia, com pedido de dados, documentos e ações complementares. POLÍTICAS – A lei federal Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que todas as políticas públicas devem priorizar a popu- lação infanto-juvenil. O atual governo da Bahia, con- tudo, gastou 69 vezes mais com propaganda institucional do que com atenção a crianças e adoles- centes vítimas de violência, abuso e exploração sexual. O orçamento de 2006 e de 2007 prevê R$ 1,6 milhão por ano para esse tipo de programa, do qual 75% vêm do governo federal, enquanto foram gastos R$ 111 milhões com propaganda em 2005, segundo da- dos da Comissão de Direitos Hu- manos da Assembléia Legislativa. Já com atenção social a essa fai- xa da população (o que inclui ações de iniciação profissional, es- porte e educação) previu-se para os dois anos R$ 14 milhões, ou oito vezes menos do que o valor gasto com propaganda no ano passado. 1 - 13h02 4 - 15h35 5 - 15h35 2 - 13h02 3 - 15h00

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Page 1: E N T R E V I S TA EDSON SÁ ROCHA Denúncias mofam em ...€¦ · Em documento enviado ao Mi-nistério Público (MP) em julho, Maria Aparecida Guedes Martins afirmou que a delegacia

7| ESPECIAL |SALVADOR, DOMINGO, 10/12/20066 | ESPECIAL | SALVADOR, DOMINGO, 10/12/2006

EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTO-JUVENIL ❚ ❚ EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTO-JUVENIL

DIAGNÓSTICO DA CARÊNCIAFaltam pessoal e estrutura para a Derca, única delegacia especializada nesse tipo de crime na Bahia

Equipe de investigadores éigual à de delegacia comum

POLÍCIA CIVIL ❚ Única delegacia especializada em crimes contra criança e adolescente da Bahia, Derca possui carências estruturais

Denúncias mofam em armários

#10.vezes menos: é a proporçãode investigadores da Dercaem relação às duasprincipais delegacias queinvestigam crimes contra opatrimônio. A Derca temseis investigadores,enquanto as delegacias deRepressão a Furtos e Roubos(DRFR) e Furtos e Roubos deVeículos (DRFRV) têm 60,cada uma.

84.%mais: é o comparativo entreo volume de inquéritosinstaurados pela Dercaentre janeiro e setembrodeste ano e a Delegacia deRepressão a Furtos e Roubosde Veículos (DRFRV).

100.vezes mais: é a proporçãode termos circunstanciadosinstaurados no mesmoperíodo pela Derca, emcomparação à Delegacia deRepressão a Furtos e Roubos(DRFR).

Fonte ❚ Polícia Civil

ESCRIVÃES

5 9DELEGADOS PLANTONISTAS

5 7ASSISTENTES SOCIAIS

0 2AGENTES

44 54PSICÓLOGOS

0 2VIATURA DESCARACTERIZADA

2 3VIATURA PADRONIZADA

1 2Fonte ❚ Departamento de Crimes Contra Vida (DCCV) da Polícia Civil

QUADROAT U A L

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KATHERINE FUNKEk f u n k e @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

Vinte e dois pedidos de investiga-ção de possíveis casos de explora-ção sexual de crianças e adoles-centes de Salvador mofam nos ar-mários de delegados da única uni-dade policial da Bahia voltada acombater crimes contra a popula-ção infanto-juvenil.

Os documentos são originadospor denúncias anônimas feitas pe-lo Disque 100 ou por encaminha-mentos do Ministério Público doEstado (MP).

Acumuladas desde setembrodo ano passado, as solicitações – eas possíveis vítimas, por conse-qüência – aguardam um minuto deatenção das cinco delegadas plan-tonistas da Delegacia de Repressãoa Crimes contra a Criança e Ado-lescente (Derca). Um minuto deatenção, pelo menos, a cada qua-tro dias, que é o período de inter-valo entre os expedientes de 24 ho-ras dos plantonistas de qualquerdelegacia da Polícia Civil baiana.

Esses pedidos de investigaçãosão o último item na lista de prio-ridades das delegadas plantonis-tas. Primeiro aparecem os casos deflagrante, os atendimentos diários,a tomada de depoimentos de tes-temunhas, vítimas e autores de cri-mes. Assassinatos são levados aotopo da lista, segundo a plantonis-ta Ana Crícia Macedo.

"Atendemos a cidade inteira. Aquantidade de trabalho é muitogrande. Precisamos de outra Dercaem Salvador", diz a delegada titu-lar Janice Santos Reis, que assumiuo cargo em janeiro.

Todas as delegadas foram pro-curadas para falar sobre os pedi-dos de investigação parados. A re-portagem não conseguiu ouvirClaudenice Cerqueira, que entrouem férias em novembro. As outrasquatro plantonistas alegaram os

mesmos motivos: estrutura insufi-ciente e alta demanda diária.

IRREGULARIDADE - Me s m ocom a escassez de tempo e estru-tura, uma das plantonistas da uni-dade, Maria Aparecida GuedesMartins, abre um espaço em suas24 horas de plantão para compro-missos pessoais. Durante o expe-diente, ela vai regularmente paracasa, no bairro de Nazaré, para al-moçar e jantar.

A TARDE flagrou Guedes Mar-tins duas vezes no trajeto, nos dias13 e 30 de novembro. Na primeiravez, foi abordada pela reportageme admitiu estar indo almoçar emcasa. Questionada sobre o uso doveículo público para fins pessoais,disse: “Não tem problema, não.Coloco dois litros de gasolina ago-ra e à noite“.

As viagens são feitas na únicaviatura padronizada ou nos outrosdois veículos sem timbre da Derca.A viatura tem cota média de com-

bustível de R$ 20 por dia e os doisoutros carros, R$ 10 cada. A falta decombustível foi citada por quasetodas as delegadas como obstácu-lo para possíveis investigações.

Responsável por 31% dos 22 in-quéritos parados, Martins é con-duzida até sua casa por agentesque não possuem essa atividadeentre suas atribuições, de acordocom o Sindicato da Polícia Civil.

A delegada titular, Janice SantosReis, analisa a situação como “to-lerável“ porque a colega não pos-sui carro próprio. Contudo, ao sa-ber do caso, a diretora do Departa-mento de Crimes contra a Vida(DCCV), Lindaiá Mustafa, prome-teu apurar o que considerou umadenúncia de irregularidade.

MUDANÇA - Daqui a dois dias, aDerca passará a funcionar em novasede, em Brotas. A mudança é con-siderada positiva pelos policiais daunidade, que esperam poder con-tar com o Sistema de AtendimentoPolicial (SAP), software de registrode ocorrências. Sem ele, as fichassão escritas à mão.

Assistentes sociais e psicólogos,cujo auxílio a Derca não tem hádois anos, passarão a fazer parte daequipe na nova sede, segundo odelegado-chefe da Polícia Civil,Edmilson Nunes.

Desde o início de 2005, a dele-gacia funciona em escritório im-provisado da Avenida ACM, próxi-mo ao Shopping Iguatemi. Na mu-dança da sede anterior para aatual, dossiês (pastas com o histó-rico de cada investigação) inicia-dos entre 1992 a 2000 foram perdi-dos pelos agentes policiais. Sobroucerca de uma dúzia.

Na sede atual, as celas têm ca-pacidade para 12 detentos, masabrigaram, nos últimos dois me-ses, de 29 a 38 pessoas. Só em 2006,houve sete tentativas de fuga, con-forme a delegada titular.

[1 e 2]: Em dia de plantão,a delegada MariaAparecida Guedes Martinschega em casa, no bairrode Nazaré, em um dosveículos do Serviço deInvestigação (SI) da Derca[3]: Duas horas depois,recebe uma revista semanal[4 e 5]: Em outro veículoda delegacia, volta aotrabalho. As fotos foramtiradas em 30 de novembro

JOSÉ OLIVEIRA

POLÍCIA CIVIL ❚ Delegada plantonista assume em documento enviado ao MPque a Derca não tem realizado investigações compatíveis com as necessidades

Ministério Públicopede explicações

Faltam 60 delegados no departamento

FERNANDO AMORIM

Perda de dossiês ocorrida durante mudança da antiga sede para a atual, na Av. ACM: descaso com o público

“Derca nãoera pontopr imordial”

QUEM ÉEdson Sá Rocha ésecretário daSegurança Públicadesde 2003 egeneral doExército brasileiro.

A TARDE | A repressão acrimes contra a criança eadolescente foi umaprioridade durante sua gestãona Secretaria de SegurançaPública (SSP)?ESR | Com toda certeza. Desdeo início temos dado umaênfase muito grande a todos oscrimes relacionados à criança eao adolescente. Mas é muitodifícil, porque o Estado daBahia, como todos os outros,não está estruturado parapatrocinar a reinserção dacriança na sociedade. O quetemos feito é paliativo. Não ésolução definitiva, que não vaiacontecer enquanto o Estadonão se estruturar paracombater o problema.

AT | Por que existe apenasuma Derca na Bahia?ESR | Se só existe uma éporque... A tendência natural éinstalar Dercas no interiortambém.

AT | Se essa área foi umaprioridade da sua gestão, e aSSP tem um orçamento seisvezes maior que o daSecretaria de Combate àPobreza (Secomp) e oito vezesmaior que o da Secretaria doTrabalho e Ação Social(Setras), por que já não foramcriadas novas Dercas?ESR | Por questões depriorização em termos geraisde trabalho, havia que se fazera escolha daquilo que estavasob uma pressão maior.

AT | Quer dizer que não foipr ior idade...ESR | A Derca já atendia àdemanda existente. Não eraconsiderada ponto primordial.Ao contrário, a DelegaciaEspecializada no Atendimentoà Mulher (Deam) é muito maispressionante em termos dedemanda crescente.

AT | Será que a Derca tematendido realmente àdemanda, com tantascarências estruturais?ESR | Em termos de segurançapública, não existe nenhumsetor que esteja sendo atendidorealmente. Todos estãoatendendo com falhas, comdeficiências, porque aestrutura está desatualizada enão corresponde à necessidadeatual. Portanto, a questão doatendimento à criança nãoseria diferente. Faz parte dessec o n t e x t o.

E N T R E V I S TAEDSON SÁ ROCHA

Apesar de ser especializada narepressão a crimes contracriança e adolescente, a Dercatem uma equipe deinvestigadores equivalente à dequalquer delegacia de bairro. Sãoapenas seis agentes no Serviçode Investigação (SI), queatendem aos pedidos de todas asequipes de plantão.

A pequena quantidade deinvestigadores, dez vezes menorque a da Delegacia de Repressãoa Furtos e Roubos, é citada comoa principal causa da lentidão emapurar os possíveis casos deexploração sexual parados nasp ra t e l e i ra s.

"Campana é uma coisautópica para a gente", constata adelegada auxiliar Diana Lima. Ométodo de observar um local poralgumas horas, várias vezesseguidas, poderia ajudar aelucidar esse tipo de crime.Tornou-se uma técnica apenasconhecida; raramente aplicada.

Quatro de 27 anos de serviçopolicial passados no SI da Derca,a investigadora ValdeliceEvangelista confirma asdificuldades da equipe. "É umaangústia diária. Sabemos que háuma criança que está sofrendo eque não pode esperar", revela.

Atualmente, o SI conta com oreforço de dois comissários daInfância e Juventude. Dos seisagentes, apenas quatro estavamna ativa no mês de novembro.

O setor dispõe de duasviaturas comuns(descaracterizadas), cada qualcom apenas R$ 10 paracombustível por dia.

As limitações técnicas aotrabalho de investigaçãodesestimulam agentes edelegados. A delegada JaniceDórea diz que o principalobstáculo à elaboração de uminquérito com provasconsistentes é a falta deestrutura do SI. As barreirasdiárias deixam a policial de 26anos de serviço com vontade dese aposentar e sem ânimo paracursos de atualização. “Mesmose tivesse, não faria“, afirma.

HISTÓRICO - A carênciaestrutural do SI não é nova e jáfoi pior. Em 10 de novembro de2004, o chefe do SI, AntônioCésar Braga de Oliveira,desabafou em ofício para a entãodelegada titular, Kátia Brasil. Naocasião, o setor estavaprocurando por um homemacusado de explorar sexualmentemeninos do bairro Pero Vaz.

Braga afirmou que a únicaviatura que servia ao setorapresentava constantes falhasmecânicas. Escreveu: "Some-se aisto o fato de que o signatárionão conta com nenhumpreposto policial em sua equipepara auxiliá-lo nas suasinvestigações, tão-somentetemos o prestimoso auxílio decomissários de menores, osquais obviamente não possuema qualificação e o preparonecessários para a execução dedeterminadas tarefas, para asquais estão, inclusive, legalmenteimpedidos". O supostoexplorador só foi encontrado noinício do ano seguinte.

Delegada titular, Janice Reis:“Precisamos de outra Derca“

FERNANDO AMORIM

KATHERINE FUNKEk f u n k e @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

A mesma delegada plantonistaflagrada por A TARDE usandoos veículos da Polícia Civil parapassar algumas horas em casa du-rante o expediente usou as carên-cias estruturais da Delegacia Espe-cializada na Repressão a Crimescontra Crianças e Adolescentes(Derca) para justificar um inquéri-to incompleto.

Em documento enviado ao Mi-nistério Público (MP) em julho,Maria Aparecida Guedes Martinsafirmou que a delegacia não temfeito “um trabalho mais criteriosode investigação” por sofrer com“falta de recursos de toda a natu-reza, dificultando a realização dediligências, desde o simples ato deentrega de intimações a uma cam-pana com deslocamento distanteou demorada”.

As afirmações eram uma res-posta ao pedido de novas diligên-cias ao Inquérito 132/2004, feitopela promotora Eliana Bloizi. Jun-to à solicitação, Bloizi escreveu umparecer explicitamente indignadocom a ineficiência policial.

O inquérito era baseado em de-núncia anônima sobre um pai queestaria abusando sexualmente dafilha. O denunciante indicou en-dereço e nome completo da possí-vel vítima. A equipe da delegadaGuedes Martins iniciou investiga-ções, mas não encontrou a rua ci-tada na denúncia.

A delegada então deu seu traba-lho por encerrado, alegando serimpossível intimar o pai e a filha.Encaminhou o inquérito ao MP

com sugestão de arquivamento. Oque ela não esperava era que, emvez de esquecer o caso em algumaestante, a promotora questionasseseu método de trabalho.

Bloizi não aceitou a justificativada delegada, por entender que, emuma denúncia como essa, a inves-tigação não deve se basear somen-te nos depoimentos do acusado eda criança. Por isso, aconselhou adelegada que fizesse um trabalhode coleta de provas com “ação dis-creta, articulada, cuidadosa”.

E alertou: “É preciso que seja re-pensada essa ação apressada esem qualquer sensibilidade porparte dos profissionais que ali(na Derca) atuam, sob pena de es-

Além da Derca, todas as outras17 unidades especializadasligadas ao Departamento deCrimes contra a Vida (DCCV) daPolícia Civil precisam de maisdelegados, agentes, combustível,capacitação, computadores,armas, coletes e algemas.

A atual diretora do DCCV,Lindaiá Mustafa, admite ocenário de necessidadesurgentes. Diz que não teveorçamento e tempo hábil pararealizar todas as metas em suagestão e aponta em dossiê umconjunto de propostas para opróximo diretor, que irá assumirem janeiro.

O documento contém umplanejamento das açõesnecessárias para estancar amaior parte das demandas até2010. Demonstra que sãonecessários mais 60 delegados,71 escrivães, 295 agentes, 36psicólogos e 36 assistentessociais para complementar osquadros das 18 delegacias.

Quanto aos armamentos, adiretora analisa faltar 355pistolas, 32 armas longas, 154algemas e 291 coletes. O dossiêaponta também que metade dasunidades ainda não dispõe doSistema de Atendimento Policial(SAP), software que permite

gerenciar com agilidade dadosdas ocorrências. Sem ele, osregistros são manuscritos.

Mustafa sugere como meta acriação de Dercas em Ilhéus,Feira de Santana e Vitória daConquista; três delegacias doAdolescente Infrator; 11delegacias especializadas noAtendimento à Mulher e trêsoutras delegacias especiais deAtendimento ao Idoso.

PLANTÕES – O próximodelegado-chefe da Polícia Civiltambém terá um desafio pelafrente: rediscutir a proposta dereorganizar o sistema deCelas superlotadas na Derca: 29 detidos onde cabem apenas 12

plantões, feita pelo atualdelegado-chefe, EdemilsonNunes, no início do ano.

Em vez de dividir os agentes,escrivães e delegados emequipes que trabalham 24 horasde quatro em quatro dias, Nunessugeriu criar equipes quetrabalham de segunda asexta-feira, de 8 às 18h. Noites,madrugadas e finais de semanaseriam cobertos por outrasequipes de plantão centralizadoem delegacias-satélite. Oobjetivo é agilizar investigações eevitar corrupção, mas a propostarecebeu muita resistência e nãofoi implantada.

FERNANDO AMORIM

tar a delegacia fadada a ser maisuma unidade comum de investi-gação, desatendendo a sua funçãoe s p e c i a l i z a d a”.

Um mês depois, Guedes Mar-tins respondeu à promotora. Alémda descrição das dificuldades es-truturais, a delegada não acres-centou diligências ou dados novosao inquérito em questão. Apenas

anexou informação do site dosCorreios de que não havia, em Sal-vador, uma rua com o mesmo no-me informado pelo denunciantea n ô n i m o.

RISCOS – Bloizi entendeu os argu-mentos da delegada como umdiagnóstico de que existem sériosriscos à proteção de crianças e

adolescentes vítimas de crimes emSalvador, já que a Derca não tem ti-do estrutura adequada. Em no-vembro, encaminhou o inquéritoao procurador-geral do MP, Lidi-valdo Brito, solicitando que sequestione a Secretaria da Seguran-ça Pública (SSP) sobre o assunto.

O objetivo é promover maisatenção à Derca nas políticas daSecretaria da Segurança Pública.

Por haver o nome completo davítima na denúncia, Bloizi pediutambém que se mandasse fazeruma busca na rede pública de en-sino para encontrar a escola onde agarota estuda, passo importantepara investigar o possível crime.

“Podem-se construir 200 Der-cas em Salvador, pode até faltar ti-jolo, mas de nada vai adiantar senão tiverem estrutura. Por outrolado, a limitação estrutural nãojustifica a falta de ação”, avalia Elia-na Bloizi, atuante na área de cri-mes contra crianças há dez anos.

Os demais promotores tambémestão atentos ao trabalho desen-volvido pela Derca. Eles devolve-ram os três inquéritos suposta-mente referentes a casos de explo-ração sexual infanto-juvenil enca-minhados ao MP entre janeiro eoutubro à delegacia, com pedidode dados, documentos e açõesc o m p l e m e n t a re s.

POLÍTICAS – A lei federal Estatutoda Criança e do Adolescente (ECA)determina que todas as políticaspúblicas devem priorizar a popu-lação infanto-juvenil.

O atual governo da Bahia, con-tudo, gastou 69 vezes mais compropaganda institucional do quecom atenção a crianças e adoles-centes vítimas de violência, abusoe exploração sexual.

O orçamento de 2006 e de 2007prevê R$ 1,6 milhão por ano paraesse tipo de programa, do qual 75%vêm do governo federal, enquantoforam gastos R$ 111 milhões compropaganda em 2005, segundo da-dos da Comissão de Direitos Hu-manos da Assembléia Legislativa.

Já com atenção social a essa fai-xa da população (o que incluiações de iniciação profissional, es-porte e educação) previu-se paraos dois anos R$ 14 milhões, ou oitovezes menos do que o valor gastocom propaganda no ano passado.

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