ensino medio frigotto

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    Presidente da República Federativa do Brasil

    Luiz  Inácio Lula da SilvaMinistro de Estado da Educação

    Tarso Genro

    Secretário Executivo

    Fernando Haddad 

    Secretário de Educação Média e TecnológicaAntonio Ibanez Ruiz

    Coordenação EditorialMarise Nogueira Ramos

    RevisãoSonja Sampaio

    Programação visual e editoração eletrônicaMarisa Maass e Matheus Gorovitz

    Tiragem

    20.000 exemplares

    Ministério da Educação

    Secretaria de Educação Média e Tecnológica

    Diretoria de Ensino Médio

    Esplanada dos Ministérios, bloco L, 4o andar, CEP 70047-902

    Brasília - DF

    Tel: (61) 2104 8041 Fax: (61) 2104 9643www.mec.gov.br/semtec  - [email protected] 

    CDU 373.5

    E59e Ensino médio : ciência, cultura e trabalho. / Secretariade Educação Média e Tecnológica. _ Organizadores :

    (Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta. _ Brasília :

    MEC, SEMTEC, 2004.

    340 p.

    1. Ensino M édio. 2. Pol í tica do Ensino.

    3. Formação de Professores. I. Brasil. Ministério da

    Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica.

    http://www.mec.gov.br/semtecmailto:[email protected]:[email protected]://www.mec.gov.br/semtec

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    ensino médiociência, cultura e trabalho

    Organizadores:

    Gaudêncio Frigotto

    Maria Ciavatta

    Brasília, fevereiro de 2004

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    (Des)encontros entre os jovens e a escola

    Marília Pontes Spósito32

    Para examinar as interações entre os jovens e a escola, no

    Brasil, é preciso delimitar, inicialmente, alguns eixos em torno

    dos quais pode ser analisado um par de termos tão abrangente:

     juventude e escola.

     Não é objetivo deste artigo percorrer todos os temas

    subjacentes à discussão da juventude como momento do ciclo

    de vida. Já é reconhecido o caráter insuficiente e impreciso ex

     presso no mero recorte biológico (transformações e desenvolvi

    mento do organismo humano) ou demográfico (as faixas etárias)

     para sua definição. Por essas razões, os aportes histórico-cultu

    rais têm constituído ingredientes essenciais para uma compre

    ensão mais abrangente dessa categoria social. Tem sido recor

    rente a importância de se tomar a idéia de juventude em seu

     plural - juventudes - , em virtude da diversidade de situações

    existenciais que afetam os sujeitos. Mas, no limite, assumir so

    mente a diversidade pode levar a outras imprecisões, pois, ao

     pensar apenas sob o ângulo da heterogeneidade de modos de

    vida, não poderiamos mais tratar da juventude como categoria

    social, de modo que ela estaria totalmente diluída pelas outrasformas de vida dos suieitos na sociedade e os jovens não consti-

    32Doutora em educação, livre docente da Faculdade de Educação da USP.

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    tuiriam mais foco de atenção: seriam privilegiados seu

     pertencimento de classe, suas origens étnicas, sua condição dehomem ou mulher, etc.33 Sob o meu ponto de vista, parte dessa

    imprecisão decorre da superposição indevida entre fase de vida e

    sujeitos concretos, aspectos que, por exemplo, para os estudio

    sos da infância, não se superpõem, como afirma Attias Donfut

    (1996). Infância e crianças são noções que exprimem estatutos

    teóricos diferentes, por essas razões podemos até dizer que há

    crianças sem o direito à “infância” no Brasil. Essa operação aindanão teria sido delimitada, claramente, pelos estudiosos, profissio

    nais e demais agentes sociais que tratam da juventude, pois eles

    superpõem jovens - sujeitos - e fase de vida - juventude - como

    categorias semelhantes.

    Para efeitos de análise, Abad (2002) propõe também uma

    distinção importante entre a condição (modo como uma socieda

    de constitui e significa esse momento do ciclo de vida) e a situação

     juvenil, que traduz os diferentes percursos experimentados pela

    condição juvenil a partir dos mais diversos recortes: classe, gênero,

    regiões, vida urbana ou rural, sistemas religiosos e etnia. Em seu

     primeiro eixo - o conjunto de concepções sobre a juventude que a

    transforma muitas vezes em modelo cultural para outras idades

    (PERALVA, 1997) -, estariam radicadas as orientações dominantes que alicerçam as práticas sociais, incluindo nelas aquelas que

    emanam do poder público, da mídia e da sociedade civil organi

    zada em múltiplas formas de associação. Mas as orientações

    normativas sobre a fase de vida (LAGREE, 1999) dizem respeito

    não só ao sujeito - juventude -, mas a uma forma de interação

    33Vianna também afirma que, ao atribuirmos à juventude certas características, como

    instabilidade, fluidez, mudanças intensas e certa indefinição de rum os na trajetória existencial, estaríamos, na verdade, negando a sua especificidade. Na vida contemporânea,

    essas características acompanham a vida de todos os indivíduos, independentemente de

    sua faixa etária, e por essas razões, é preciso caracterizar o momento do ciclo de vida a

     partir de outros critérios, sem naturalizá-los (VIANNA, 1997).

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    com o mundo adulto que reflete relações de poder que se agregam

    a outras assimetrias já estabelecidas, como as sociais e culturais.34

    Assim, é preciso reter a existência de conflitos em torno dessas

    representações sobre os segmentos juvenis na sociedade, tanto no

    âmbito dos atores coletivos adultos como entre jovens, também

     protagonistas ativos dessa diversidade de orientações.

    A moderna concepção sobre a juventude, produto de lon

    gas transformações observadas a partir do século XVIII, mas con

    solidada, de modo dominante, a partir do f i m da Segunda Guer

    ra Mundial, incidiu sobre alguns focos: o alongamento da

    transição entre a infância e a vida adulta, a escolaridade como

    etapa intrínseca à condição juvenil, o retardamento da entrada

    no mundo do trabalho e o aparecimento de formas de consumo

    e de produção cultural típicas desses segmentos. As análises de

    Hobsbawm (1989) sobre a revolução cultural na segunda meta

    de do século XX estão profundamente articuladas ao apareci

    mento da moderna condição juvenil. Passerini (1996) situa esse

    segmento, nos anos 1950, como metáfora da mudança social,

    uma vez que esse período marcou o nascimento de um mundo

    adolescente e juvenil relativamente autônomo, tanto na socieda

    de como no interior da escola.

    O alongamento da transição entre a infância e a idade adul

    ta deve ser igualmente problematizado, porque se realizou em

    34 Se considerarm os que a sociedade é atravessada por um campo de relações sociais de

    natureza conflituosa, é preciso admitir que os modelos hegemônicos em torn o do que é

    ser jovem também entram em disputa com outras concepções. Nos últimos anos, os

     jovens, ao contrário de décadas anteriores, ocuparam a cena pública a pa rtir de duas

    óticas dominantes: grupo etário propenso ao consumo de bens materiais e simbólicos ou

    grupo portador de condutas que seriam problemas para a sociedade (violência, tendência

    a modos de vida marcados pelo consumo de substâncias psicoativas, desemprego, entre

    outros) (ABRAMO, 1997). A ótica oposta, ou seja, aquela que afirma a juventude como

    grupo social com direitos e capaz de ação autônoma e de participação na esfera pública,

    tem-se firmado nos últimos anos, sobretudo no campo dos movimentos sociais e dasnovas formas de ação de grupos juvenis na sociedade brasileira.

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    ritmos e modalidades diversos nas várias sociedades e, sobretu

    do, porque tornou imprecisas as marcas que definem a atual condição adulta por oposição à juvenil, restando sempre uma insi

    diosa e difícil questão: quando uma sociedade, em determinado

    momento de sua história social e cultural, considera que alguém

    é adulto? Por essas razões, muitas das pesquisas têm-se voltado

    atualmente para o tema dos “modos de entrada na vida adulta”,

    uma vez que essa passagem não se dá de uma única maneira e

    em um único tempo (GALLAND, 1996; PAIS, 1995; SINGLY,2000). Recorro apenas a um exemplo para ilustrar essa situação,

    inspirando-me em Attias-Donfut quando examina as diferenças

    entre o estatuto da autonomia e o da independência. Antes reu

    nidas - autonomia e independência - pela conquista do traba

    lho, hoje se apresentam dissociadas, pois aos jovens se reconhece

    cada vez mais a possibilidade da autonomia em um contexto de

    dependência econômica que pode se prolongar indefinidamen

    te, tendo em vista as transformações do mundo do trabalho e a

    crise da sociedade assalariada (ATTIAS-DONFUT, 2000).

    Assim, ao examinar o segundo termo da díade - a escola -,

    é importante considerar que a modernidade, ao instituir novas

    concepções sobre a infância, a adolescência e a juventude, insti

    tuiu, também, os modos de sua socialização para além da família, situando a escola como uma de suas agências privilegiadas.35

    Ocorre, para efeito de maior precisão conceituai, que a institui

    ção escolar, ao ser socializadora,36 além de ter por função a trans

    missão sistemática de parcela da cultura humana acumulada e

    350 termo educação, no entanto, recobre um campo extremamente vasto e importan te

    que não se esgota na escola, pois “os mecanismos por meio dos quais uma sociedade

    transmite a seus membros seus saberes, o saber-fazer e o saber-ser que ela estima comonecessários à sua reprodução são de uma infinita variedade” (DURU-BELLAT; VAN

    ZANTEN, 1992, p. 1).

    36Utilizo-me de uma definição ampla do termo socialização, que significa o processo

     pelo qual os indivíduos são introduzidos na vida social (BERGER, 1975).

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    das competências necessárias à sua incorporação, cumpre tam

     bém outros papéis ligados ao aprendizado do estar juntos e do

    “viver com”, muitas vezes obscurecidos no discurso pedagógico

    mas igualmente importantes.

    Como afirma Bourdieu, hoje, qualquer esforço de com

     preensão do fenômeno da reprodução social comporta a análise

    dos sistemas escolares, forma dominante de socialização das no

    vas gerações no século XX.37 Assim, o modo de reprodução da

    sociedade contempla uma dominante escolar (BOURDIEU,

    1989). Mas as mutações sociais observadas nas últimas décadas

    exigem daqueles que se debruçam sobre os fenômenos da soci

    alização contemporânea e da reprodução social um olhar amplia

    do para outros agenciamentos presentes na formação e no de

    senvolvimento das novas gerações. Ocorre o reconhecimento da

     perda do monopólio cultural da escola, e a educação escolar -

    apesar de sua especificidade e importância - tende a se transfor

    mar em uma cultura entre outras. Desse modo, os jovens percorrem vários espaços de trocas sociais para além da escola e esta

    não constitui a única possibilidade de sua presença no mundo

     para além da família.

    Duru-Bellat e Agnes Van Zanten evidenciam que a pró

     pria condição de aluno deve ser pensada como algo problemáti

    co e não natural no interior da escola: não se nasce aluno, al

    guém se torna aluno. Para que tal perspectiva seja considerada é preciso, ao menos, três pressupostos: a dissociação entre o ensi

    no e a aprendizagem que faz nascer a noção de trabalho escolar

    a ser realizado por crianças e jovens; o reconhecimento de que

    esse trabalho do aluno não se resume à resposta às exigências

    37A expressão “sociedade escolarizada”, utilizada por Heloísa Fernandes, retém a rele

    vância da escola quando afirma estar essa instituição no centro das referências

    identificatórias do mundo moderno, independentemente de nossa adesão ou crítica ( 1994).

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    explícitas inscritas nos programas e nos regulamentos oficiais, mas

    às expectativas implícitas da instituição e dos professores;38 final

    mente, a necessidade de reconhecer que o aluno é expressão tam

     bém de uma forma peculiar de sua inserção no ciclo de vida - a

    infância e a juventude -, categorias específicas e dotadas de uma

    autonomia relativa na sociedade muitas vezes não reconhecida no

    campo educacional (DURU-BELLAT; VAN ZANTEN, 1992,p.l79).

    A análise do ofício do aluno (PERRENOUD, 1994) já re

     presenta um caminho importante porque, ao reconstruir o modo pelo qual os estudantes constituem suas estratégias de ação diante

    das exigências normativas da instituição, revela uma possível

    dissociação entre as expectativas dos educadores e a prática dos

    educandos.39 Mas é ainda insuficiente para a compreensão do

    sujeito - aluno - em uma dimensão mais global - criança,

    adolescente ou jovem.

    O mesmo processo de mutação social que constitui a “so

    ciedade escolarizada”, ou seja, a educação escolar como ferra

    menta essencial para a sobrevivência do indivíduo moderno no

    mundo (habilidades, conhecimentos e saberes, competência para

    uma melhor participação na esfera pública e afirmação de sua

    autonomia como sujeito), produz uma enorme crise das possi

     bilidades de mobilidade social ascendente via escola, pela escassa

    38 Deve-se agregar o conjunto de percepções que o aluno elabora em sua socialização

    extra-escolar, na família e em outras instâncias, sendo marcantes as orientações que deri

    vam não só de sua origem social ou étnica como do fato de terem nascido homens ou

    mulheres.

    39Ao tra tar da sociologia da infância, Hélène SIROTA (2001) afirma que a sociologia do

    ofício do aluno é ao mesmo tempo um a sociologia do trabalho escolar e da organização

    educativa e se interessa pelo “avesso do cenário deixado até então na sombra, pelo sentido

    que os alunos dão ao traba lho cotidiano” (2001, p. 16). Afirma essa autora que é preciso

    também compreender como se constrói o ofício de criança, investigando as múltiplassituações nas quais esse ator se constitui como tal (idem, p. 17). Suas observações valem,

    também, para o campo da juventude, pois deveriamos indagar como se constitui o ofício

    de jovem nas formas variadas em que a condição juvenil moderna é vivida.

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    capacidade de absorção no mundo do trabalho dessa população

    escolarizada. As transformações estruturais nas últimas três dé

    cadas provocaram, entre outros efeitos, o desassalariamento e o

    desemprego. Essa crise da mobilidade social produz, para José

    de Souza Martins (1997, 2002), o aparecimento de uma nova

    desigualdade social — processos de inclusão precária e subalter

    na - observando a multiplicação de desigualdades.40

    Estariam sendo, assim, observadas diferenças substanti

    vas em relação aos processos de expansão do ensino iniciados

    nos anos 1950 nos centros urbanos brasileiros. A disseminação

    das oportunidades escolares transforma os diplomas em bens

    comuns, que perdem sua capacidade de credenciar os indivídu

    os para o mundo do trabalho, e induz a uma busca cada vez

    mais forte de novas oportunidades, configurando uma deman

    da endógena de escolaridade (BULE, 2000).

     Nos anos 1950 e 1960, sobretudo com a expansão dos gi

    násios estaduais, havia inscrita na atividade escolar uma duplafunção socializadora: o trânsito sistemático dos imaturos ao mun

    do adulto e, ao mesmo tempo, sua inserção em uma sociedade

    urbana e industrial (PEREIRA, 1976, p. 103). Nessa nova orde

    nação estava localizada a possibilidade de mobilidade social as

    cendente, ambicionada pelos alunos. Assim, apesar das tensões

    inerentes a esse processo e das características da população usuária

    da escola, de origem rural ou de migração recente, não havia,

     potencialmente, uma negação ou desconfiança dos possíveis be

    nefícios advindos da educação escolar.

     No Brasil, o movimento recente da expansão escolar, so

     bretudo o acesso ao ensino médio, convive com as orientações

    40 Para Dubet, nessa nova situação emergem tensões em torno das possibilidades de

    constituição dos sujeitos, conciliando a demanda de igualdade das sociedades dem ocráti

    cas com a possibilidade da autonomia e da liberdade (DUBET, 2001).

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    seletivas tradicionais dos sistemas de ensino e traz em seu bojo

    uma nova figura: “os excluídos de dentro” (BOURDIEU, 1998).

    Por essas razões, as dimensões mais específicas do trabalho rea

    lizado pela escola como local de transmissão de aprendizado de

    saberes continuam a ser objeto de crítica em razão da multipli

    cação das desigualdades sociais que essa nova situação aponta.

    Quase todos os estudos sobre escola e juventude estão

    centrados e, com alguma razão, como afirma Dubet, na condição

    de estudante ou de aluno diante da relevância desse momentosocializador, mas isso não “significa que os jovens não sejam mais

    definidos por suas origens sociais, mas que a posição no sistema

    escolar torna-se um dos fatores essenciais da organização das ex

     periências juvenis” (DUBET, 1996, p.28). Quando a relação do

    aluno com a instituição escolar é considerada, quase sempre é evi

    denciada a idéia do fracasso escolar como eixo forte de interesse,

    ou seja, os processos de exclusão escolar - da escola e na escola -,na acepção de Ferraro (1999). Um ponto importante de inflexão

    na pesquisa educacional e na reflexão sobre as relações entre o

    aluno e a escola se verifica na adoção da categoria estudante-tra

     balhador e o tema da escola noturna. Para grande parte da popu

    lação escolar, a categoria aluno não possibilitaria uma aproxima

    ção mais global de suas práticas escolares, interesses e modos de

    sociabilidade. Por essas razões, grande parte da atenção da pesqui

    sa e dos gestores públicos voltou-se para o exame dessas formas

    híbridas que caracterizariam a experiência educativa da maioria

    da população de origem trabalhadora da sociedade brasileira que

    está no ensino fundamental e médio, tanto em sua modalidade

    regular como supletiva. Focalizando a precariedade e a inadequação

    da escola, a investigação e as propostas pedagógicas voltaram-se

     para a experiência dos alunos trabalhadores, evidenciando a dis

    tância da escola do mundo do trabalho. Mas esse reconhecimento,

    ao se tornar reiterado em todo o período, provoca, também, certo

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    esgotamento: o trabalho afasta o aluno da escola, que, por sua vez,

    afasta o aluno trabalhador.

    Essas mutações no sistema de ensino - expansão e ausênciade novos modelos de escolaridade - , em contexto de crise de mobi

    lidade social, atualizam as discussões em torno da ação socializadora

    realizada pela escola não só a partir de sua eficácia, mas de seus

    limites. Para François Dubet (1991, 1996), um dos produtos da

    massificação do ensino francês - o intenso crescimento do acesso à

    escola observado a partir dos anos 1980 - pode ser traduzido na

    denominada “desinstitucionalização”. A instituição escolar não sónão constrói um conjunto de referências estáveis - tanto no terreno

    do conhecimento como em relação aos modelos culturais - a partir

    das quais os alunos orientam seu processo de desenvolvimento, como

    também, ao operar com uma multiplicidade de registros, muitas

    vezes contraditórios, faz que a subjetivação seja mais um esforço do

    sujeito para conviver e combinar diferentes demandas do que uma

    clara ação do mundo institucional adulto, colaborando para o de

    senvolvimento dos educandos.41

    Como afirma Sirota, a respeito das análises empreendidas

     por Dubet,

    os atores se socializam mediante essas diferentes aprendizagens e seconstituem como sujeitos na medida de sua capacidade de dominarsua experiência, de se tornarem autores de sua própria educação. Nessesentido, toda educação é uma auto-educação, ou seja, não é apenasuma inculcação, é também um trabalho sobre si mesmo” (SIROTA,

    2001, p.17).

    41É preciso distinguir, no campo da escola, o que tem sido objeto de reforma - em geral proposta pelos gestores públicos nas várias instâncias - e o campo das práticas escolarescotidianas que propõem mudanças e até mesmo inovação. O grande desafio das reformaseducativas incide sobre sua capacidade de provocar mudanças e induzir a inovação. Assim, muitas vezes, mais do que o conteúdo das reformas, é preciso considerar o modo desua implementação como fator decisivo para a constituição da mudança.

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    Esse processo evidencia suas tensões a partir de um recor

    te das classes sociais em que os menos desprovidos de recursos

    materiais e simbólicos são aqueles que constroem tanto umaexperiência dolorosa de rebaixamento da auto-estima como de

    retraimento ou de revolta.

     Nessas condições, as relações dos jovens com o saber, como

    afirma Chariot, constituem um dos aspectos centrais para se

    redefinir e propor alterações na prática pedagógica que caracte

    riza uma faceta da crise de eficácia socializadora da escola. Vale a

     pena transcrever suas observações:

    Os jovens aprenderam muitas coisas antes de entrar na escola e conti

    nuam a aprender fora da escola, ainda que freqüentem a escola (...)

    Porém, entrar na escola é um universo novo (...) Não se vai à escola

     para continuar a aprender como se aprendeu até então (CHARLOT,

    2001, p.149- 150).

    Assim, nessa relação específica com o aprender na escola,

    o sujeito jovem precisa estar implicado e construir uma relação

    significativa na dialética da ruptura e da continuidade:

     para entrar na escola no sentido simbólico do termo, é preciso gerir

    essa dinâmica continuidade/descontinuidade/especificidade: construir

    uma relação com o saber e com a escola que, ao mesmo tempo, se

    apoia nas relações com o aprender já construídas (o que permite que

    o saber e a escola tenham sentido) e se diferencia (o que permite rela

    cionar-se com o saber e com a escola em sua especificidade)

    (CHARLOT, 2001, p. 150).

    Para Chariot, existiriam três caminhos na relação entre os

    saberes da vida e os saberes escolares. O primeiro seria a comple

    ta ruptura entre os saberes, e a escolha de um caminho negaria o

    outro, prática comum quando os alunos, em geral, só encon

    tram sentido nos saberes da vida. O segundo seria a pura conti

    nuidade, ou seja, “aprender na escola, fazer aquilo que é para ser

    feito”. Seria a conduta adaptativa e de sobrevivência, em que os

    alunos seriam meros estrategistas de um jogo em que cada uma

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    das partes executa seu papel: professores pensam que ensinam e

    alunos fingem que aprendem ou apenas se conformam.42 Final

    mente, o terceiro caminho seria reter a dialética entre continui

    dade e descontinuidade, “tirar proveito das especificidades, daheterogeneidade, das tensões, para ‘aprender’ ao mesmo tempo,

    ‘na vida e ‘na escola’” (CHARLOT, 2001, p. 150).

    Mas o mais freqüente localiza-se na primeira saída, e as

    relações entre as gerações - educadores e educandos - passam a

    ser muito mais caracterizadas por uma certa noção de crise do

    que a tradicional idéia de conflito geracional (DUBET, 1987;

    BARRÈRE; MARTUCCELLI, 2000).

     Não só pela perda do monopólio no processo de forma

    ção das novas gerações, como já foi observado, mas pelas carac

    terísticas internas aos sistemas escolares atuais, incapazes de res

     ponder aos novos desafios postos por sua expansão, a reflexão

    sobre a escola tem sido acompanhada de determinado diagnós

    tico de sua crise em que a violência seria uma das expressões

    maiores (Sposito, 1998, 2001).

    O novo público que freqüenta a escola, sobretudo adoles

    cente e jovem,43 passa a constituir no seu interior um universo

    cada vez mais autônomo de interações, distanciado das referên

    cias institucionais, trazendo novamente, em sua especificidade, a

    necessidade de uma perspectiva não escolar no estudo da escola,

    a via não escolar na acepção de Barrère e Martucccelli (2000).

    Como afirmam esses autores, a autonomização de uma

    42 Para Dubet, essa conduta é muito freqüente nos alunos do ensino médio oriundosdos segmentos médios, que manteriam com a escola uma relação marcada por certaracionalidade empresarial (avaliação dos custos e benefícios) que tem por alvo “sair-se

     bem” (DUBET, 1991).

    43No Brasil, a maior presença juvenil não ocorre apenas no sistema de ensino regularmas, também, no ensino supletivo, fenômeno observado na última década, o que crianovos impasses e desafios para os sistemas de educação de jovens e adultos no país.

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    subcultura adolescente engendra para os alunos da massificação

    do ensino uma reticência ou uma oposição à ação do universo

    normativo escolar, ele mesmo em crise. A escola cessa lentamente de ser modelada somente pelos critérios da sociabilidade adulta

    e vê penetrar os critérios da sociabilidade adolescente, exigindo

    um modo peculiar de compreensão e estudo (idem, p.256).

    A “cidade dos estudantes” (RAYOU, 1998) repõe nas escolas

     públicas brasileiras antigos temores, pois, quando se trata dos esta

     belecimentos relegados, situados na periferia das grandes cidades, a presença de jovens - pobres e negros - reunidos evoca os grandes

    temores das elites brancas e oligárquicas diante do comportamento

     potencialmente disruptivo de uma maioria silenciada.

    Observa-se o reconhecimento da força de elementos exter

    nos na vida da instituição escolar modelando parte de sua crise.

    Sob o ponto de vista dos jovens e adolescentes, além da família eda mídia, a denominada força da “cultura de rua”, derivada das

    relações de amizade no bairro, passa também a ser considerada.44

    Se o entorno da escola acaba interferindo na vida escolar

    e a sua permeabilidade aos processos externos se torna mais evi

    dente, um conjunto de nexos estabelecidos deve, ao menos, ser

    submetido à pesquisa e à interrogação, sobretudo quando se considera a importância da socialização no grupo de pares.

    Como já foi observado por Antonio Cândido (1973), se a

    vida escolar é amplamente determinada pelas relações sociais a

    44 A partir de meados dos anos 1980, tem surgido uma produção importante sobre asociabilidade juvenil nas ruas, recuperando suas formas de expressão nos grupos de estiloou na formação das galeras e gangues (ABRAMO, 1994; CAIAFFA, 1985; GUIMARÃES,

    1995; DIÓGENES, 1998; TELLA, 2000; VIANNA, 1987,1997; SPÓSITO, 1994; COSTA,1993; HERSCHMANN, 2000; 1997; DAYRELL, 2001; CARRANO, 2002; MUSSOI, 2000,entre outros). No inter ior da escola, os estudos ainda são profundamente recortados pelacondição de aluno, que valoriza, sobretudo, o conjunto de relações que incide sobre os processos de ensino e aprendizagem e as interações com os professores (a esse respeito,consultar SPÓSITO, 2002).

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    ela externas, em seu interior não ocorre a mera transposição: há

    recriação, transformação ou produção de novas relações sociais.

    Por essas razões e a título de exemplo, ao menos três modalida

    des na interação entre a cultura da rua vivida pelos jovens e a

    vida escolar podem ser observadas.

    Em primeiro lugar, alguns estudos evidenciam que os me

    canismos da sociabilidade e de reconhecimento típicos da rua e

    do bairro não são necessariamente os mesmos que ocorrem no

    estabelecimento de ensino. No ambiente escolar há a criação de

    formas de convivência que podem transformar ou opor-se à pró

     pria cultura de rua.45

    Uma segunda modalidade de relação trata de uma produ

    ção acentuada, no interior da escola, de relações que tornam mais

    fortes e explícitos processos muitas vezes difusos e latentes pre

    sentes na sociedade brasileira, como o racismo, o preconceito, os

    elementos patriarcais e machistas da cultura. As possibilidades

    de trocas sociais mais contínuas e intensas na vida escolar com

    os pares do que as relações mais atomizadas e segmentadas vivi

    das no bairro ou na rua são potencialmente fomentadoras de

     práticas discriminatórias e violentas, eventualmente mais níti

    das do aquelas observadas nos processos externos à escola.46

    45Um exemplo talvez possa elucidar essa questão: nem sempre o envolvimento de al

    guns jovens com o narcotráfico ou com o crime organizado no bairro implica uma conduta delinqüente no interior da escola. Comportamentos agressivos e violentos na escolanão são decorrentes, necessariamente, de atitudes violentas nas ruas do bairro (ARAÚJO,2002). Mecanismos de segregação de grupos entre os alunos na escola não seguem necessariamente o conjunto de valores expressos no bairro e nas ruas, operando nesse caso umaação específica da cultura escolar que seleciona e identifica os maus e os bons alunos eestimula a formulação de condutas desviantes (VAN ZANTEN, 2000a).

    46Os estudos desenvolvidos em escolas públicas por NIEMEYER (1998) sobre o preconceito e o racismo consolidaram, dentre outros registros, um elenco de apelidos que adolescentes e crianças atribuíam a seus pares, a maioria de teor depreciativo e praticamentedesconhecida pelo mundo adulto da instituição.

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    Mas uma terceira modalidade de interação também se des

    vela quando consideramos que as formas tradicionais de sociali

    zação nas ruas e bairros nas cidades - e este é o caso brasileiro -

    também se transformam, implicando, em alguns casos, o

    desaparecimento de um modo de vida tradicional de nossa

    sociedade, sobretudo em decorrência da violência urbana.47

     Na ausência de experiências mediadoras entre o mundo da casa

    e o universo impessoal da esfera pública, a escola passa a ser o

    único território de interações contínuas para adolescentes e

     jovens, ainda sob certa proteção do mundo adulto, mesmo que

    este último apareça distanciado e, também, em crise.

    Por essas razões, estudos como aqueles desenvolvidos por

    Rayou (1998) são muito sugestivos. Esse autor examina a “cida

    de dos estudantes” na acepção da polis grega, onde a vida pública

    vive os dilemas da crise da representação política tradicional. Esses

    “seres incertos” ou da “falta”, porque não vivem a condição adulta - os jovens alunos, sobretudo dos liceus - , procurariam ao

    menos nessa convivência estudantil a vida boa ou feliz, na acepção

    da  polis  grega. Assim, Rayou considera que nesse mundo

    autônomo dos estudantes pode ser apreendida a noção de   philia,

    a amizade. A partir das formulações de Aristóteles, analisa na

    vida estudantil as dimensões ético-políticas das relações de ami

    zade. A amizade é uma igualdade e é capaz de propiciar experi

    ências ligadas à auto-estima, à justiça e à solidariedade (RAYOU,

    1998). Por essas razões, os jovens e os adolescentes seriam mais

    gregos do que cristãos, pois substituem em seu universo de prá-

    47 Consultar BOONEM (2000). Em seu estudo sobre uma rua em bairro violento da

    zona sul da cidade de São Paulo, observa que, cada vez mais, esse espaço deixa de ser

    experiência socializadora. As diferenças sexuais nas práticas educativas da família resul

    tam em possibilidades diversas de experiência da cultura de rua, mas, de qualquer modo,

    o crescimento da violência na cidade acaba por interferir no modo como pais possibili

    tam a vida fora de casa, no bairro, para seus filhos.

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    ticas o mandamento “ama o teu próximo como a ti mesmo” pela

    máxima “ama teu próximo como ele mesmo te ama”.

    Se as relações entre as formas de socialização se estreitame produzem nova sociabilidade, é preciso considerar que a vida

    escolar exige um conhecimento mais denso dos sujeitos - nesse

    caso, adolescentes e jovens - que ultrapasse os limites de sua vida

    na instituição. Trata-se, desse modo, de aprofundar o conheci

    mento sobre as formas e os estilos de vida experimentados pelos

     jovens em suas várias práticas, para compreendê-los e, ao mes

    mo tempo, produzir novas referências que retomem em chavedemocrática a ação socializadora da escola, na especificidade de

    seus saberes e práticas.

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    Juventude e ensino médio: de costas parao futuro?

     Nísia Trindade Lima48

    Uma “onda jovem” desafia conhecimentos estabelecidos e

    modos de olhar para a sociedade brasileira.49O termo designa uma

    das mais importantes modificações na pirâmide etária nesse iní

    cio do século XXI: a geração de 20 a 24 anos é uma das maiores de

    nossa história (MADEIRA, 1998, p. 430). Ao lado do fenômeno

    demográfico, chama a atenção o fato de apenas 37% (aproxima

    damente 4 milhões) de adolescentes, jovens na faixa etária de 15 a

    17 anos, estarem cursando o ensino médio. Considerando-se ocontingente de 1 milhão ainda cursando o ensino fundamental

    ou freqüentando cursos nas modalidades Educação de Jovens e

    Adultos e profissionais, chega-se ao número de cerca de 5 milhões

    de jovens fora da escola (documento-base Seminário “Ensino Mé

    dio: Construção Política”). Ora, a superação dessa característica

    excludente do sistema de ensino requer uma melhor compreen

    são sobre os jovens brasileiros e o papel a ser representado pela

    escola para que se assegure a todos o objetivo do ensino médio tal

    como prescrito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:

    consolidar os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental

    48Pesquisadora e diretora da Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz.

    49Para uma apresentação detalhada dos conceitos de descontinuidade demográfica e onda 

    demográfica, ver MADEIRA (1998).

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    e visar ao pleno exercício da cidadania, à preparação para o traba

    lho e ao prosseguimento dos estudos.

     Não são apenas as estatísticas que desafiam a imaginaçãode analistas e formuladores de políticas. Ao lado da refutação de

    mitos - como o que atribui o fracasso escolar às condições

    socioconômicas dos estudantes e o do reconhecimento de uma

    complementaridade possível entre trabalho e escola -, torna-se

    necessário rever muitas das representações e estereótipos sobre o

     jovem brasileiro. Considerar de forma mais ampla todas as di

    mensões de sua vida é um passo importante, e o recurso à cate

    goria  jovem  indica uma mudança de perspectiva. Em outras

     palavras, o papel social de estudante não é tomado de forma

    absoluta como se fora suficiente para a análise de contextos e a

    definição de políticas. Há uma mudança de perspectiva, mas essa

    requer a realização de novas pesquisas que focalizem também o

    universo simbólico. É necessária, por exemplo, uma indagaçãosobre a consistência da representação prevalecente, que acentua

    a ausência de bandeiras e utopias entre a juventude. Tal perspec

    tiva acaba por contribuir para a construção de um novo mito: a

    visibilidade e o protagonismo dos jovens ocorreriam apenas em

    situações especiais e de extrema individualização, seja nos casos

    de sucesso no mundo das artes ou em ações de violência.

    É significativo o fato de muitas vezes os jovens serem sim plesmente apresentados como problema, tal como se pode ver

    em um documento da Cepal: “Outro setor que merece especial

    atenção são os jovens, atualmente um  problema comum a mui

    tos países da região (Cepal, 1993, cf. MADEIRA, 1998, p. 428,

    grifo meu). Tal ponto de vista não se restringe aos países latino-

    americanos. Tanto nos Estados Unidos como na Europa, multi

     plicam-se estudos sobre os dilemas para a incorporação dos

     jovens, seja aos sistemas educacionais, seja ao mercado de traba

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    lho. Seja qual for o peso demográfico, o reconhecimento públi

    co da importância da juventude como fenômeno social e sua

    inadequada caracterização como problema político parecem ser

    hoje um fenômeno mundial.

    Muito se tem discutido o impacto das mudanças no mun

    do do trabalho, a partir da adoção de políticas econômicas

    neoliberais na década de 1990. O que se tem observado é o fato de

    essas mudanças, ainda que atingindo toda sociedade, repercuti

    rem diferentemente para adultos e jovens. Observa-se que, mes

    mo em situações de retomada de crescimento econômico, a oferta

    de empregos, ou mesmo de postos de trabalho, se dá de forma

    diferenciada, favorecendo a população adulta. Em síntese, deve-se

    reconhecer que a condição dos jovens se altera, bem como o signi

    ficado a ela atribuído, apreensível apenas quando se leva em conta

    o conjunto mais amplo de transformações na sociedade.

    Se estamos diante de um fenômeno universal, não se pode

    desconhecer que o Brasil se destaca por apresentar um quadro

     bastante negativo no que se refere à escolaridade da população

     jovem, pois apresenta índices muito inferiores a países com igual

    nível de desenvolvimento econômico. Verifica-se efetivamente

    uma exclusão educacional com repercussão na carreira dos

    indivíduos e na dinâmica social. Exclusão, como se sabe, de jo

    vens das camadas populares, que deixam de ter acesso a conheci

    mentos, a um processo de qualificação e a um espaço que

    idealmente deveriam contribuir fortemente para a formação da

    cidadania. Dadas as características do sistema educacional hoje,

    em particular do ensino médio, com a concentração de jovens

    das camadas populares nas escolas públicas, cabe, portanto, uma

     profunda reflexão sobre o papel e as necessárias mudanças nes

    sas escolas. Para tanto, torna-se necessário compreender como

    vivem, pensam e se expressam os jovens brasileiros.

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    A tentativa de esboçar uma interpretação sobre a juventude

     brasileira deve mobilizar diferentes áreas de conhecimento, a par

    tir de resultados de pesquisas realizadas e de incentivo a novasinvestigações. Proponho com esse texto algo bem mais modesto: a

    identificação de problemas e algumas constatações, fruto de uma

    leitura pessoal e certamente limitada de pesquisas realizadas na

    área de saúde coletiva. Trata-se de um levantamento não exausti

    vo de temas e questões que possam contribuir para uma definição

    de agenda de pesquisa e de políticas articuladas de juventude.

    1. Juventude ou juventudes?

     Na tradição sociológica, o significado cultural e político de

    ser jovem foi enfatizado em poucos trabalhos, dentre os quais se

    destaca o de Karl Mannheim (1956). Para o sociólogo alemão, as

    gerações deveriam ser analisadas como problema sociológico, ob

    servando que a representação usual sobre o inconformismo dos

     jovens e sua maior propensão à mudança deveria ser submetida a

    criteriosa análise, não sendo de modo algum algo inerente a uma

    fase do ciclo de vida, mas um fenômeno histórico-social.

     No estudo da sociedade brasileira, uma primeira observa

    ção refere-se à pluralidade de situações, vivências e aspirações

    encontradas na população jovem. Para alguns analistas, não só o

    termo jovem deveria ser utilizado no plural, como a própria ca

    tegoria juventude. Evidentemente essa observação é válida para

    diferentes categorias fundadas na idéia de ciclo de vida, mas, no

    caso em pauta, a diversidade de experiências traz tensões impor

    tantes para o ideal de escola única.

    Essa posição tem sido refutada por autores que conside

    ram a categoria juventude de grande valor explicativo na socie

    dade contemporânea. Nessa perspectiva, Felicia Madeira obser-

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    va que existe no plano simbólico, mesmo que em virtude de uma

    forte construção dos meios de comunicação, uma determinada

    imagem do que é ser jovem, algo com que lida a juventude brasileira no processo de construção de sua identidade (1997, p. 454).

    Ainda como argumento desfavorável à ênfase analítica nas dife

    renças entre os jovens, a mesma autora observa que os que assim

     procedem acabam por corroborar a diferenciação entre estudan

    tes das camadas populares e estudantes das camadas médias e

    altas, como se as escolas para segmentos tão diferentes necessari

    amente tivessem de adotar conteúdos e práticas pedagógicas dis

    tintos. Uma escola para pobres, outra para as camadas médias e

    altas seria o resultado perverso de tal compreensão.

    Deve-se notar que a adoção do quarto ano opcional foi abor

    dada durante o Seminário “Ensino Médio: Construção Política”

     por professores que a criticavam como um corolário dessa divi

    são: alguns jovens ingressariam na universidade; outros (os jovens

    das camadas populares) fariam o quarto ano. Não é meu propósi

    to discutir o tema específico do quarto ano, que certamente está

    sendo aprofundado por educadores e gestores do Ministério da

    Educação. A intenção foi apenas chamar atenção para o proble

    ma do modelo ideal de escola e das estratégias mobilizadas para

    enfrentar um dos mais importantes indicadores de desigualdade

    social no Brasil: a exclusão educacional. Nesse debate, o

    questionamento sobre se devemos falar em juventude ou em ju

    ventudes parece-me uma falsa questão. Ser jovem, ser jovem da

     periferia das grandes cidades; ser mulher jovem; ser jovem negro

    (ou afro-descendente); ser jovem da classe média são todas identi

    dades possíveis e relacionais, muitas vezes resultado de intensa

    competição de símbolos por parte de movimentos e grupos soci

    ais. A pergunta que se deve fazer é quando se pode pensar em uma

    categoria mais genérica como importante para a construção das

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    representações sobre a sociedade e para a ação social e em que

    contextos identidades mais segmentadas - a idéia de juventudes -

    favorece uma melhor compreensão sobre a sociedade.

    Em termos de visão sobre determinados problemas da so

    ciedade e de como a escola deveria abordá-los, algumas pesqui

    sas vêm apontando uma grande proximidade entre os jovens.

    Falar em juventudes, no que se refere a esses aspectos, seria bas

    tante infundado. Há também que se estabelecer uma distinção

    entre o que o jovem espera da escola como espaço de vivência e

    socialização - a “escola aqui e agora” - e sua percepção sobre o papel da escolaridade na vida adulta. Uma observação pertinen

    te, acentuada durante o Seminário “Ensino Médio: Construção

    Política”, é essa importância do momento presente na percepção

    dos jovens. Na minha perspectiva, mais do que ausência de uto

     pias, vista tantas vezes como um sinal de alienação, pode-se estar

    diante de interessante fenômeno sociológico: uma sensibilidade

    acurada diante de uma sociedade em mudança, na qual o futuro, como na canção de Cazuza, é simplesmente duvidoso e apa

    rentemente apartado de tudo o que se realiza hoje. Talvez esteja

    aqui uma das mais importantes características compartilhadas

     pelos jovens na sociedade contemporânea.

    De outro lado, faz todo sentido trabalharmos com uma idéia

    mais matizada para entendermos as experiências, as vivências e os

    horizontes desses jovens de inserção social tão diferente. Isso se dá

    no plano das diferenças de acesso a bens, direito à cidadania social

    e civil e experiências de socialização. Sugiro que, para a sociedade

     brasileira, dois recortes são absolutamente fundamentais e ope

    ram de forma articulada: a diferenciação social entre jovens das

    camadas populares e jovens das camadas média e alta e a diferen

    ciação de gênero, muito mais significativa para os jovens das ca

    madas populares. Não me baseio, para essas observações, em tra

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     balho próprio de pesquisa, apoiando-me em análises bem funda

    mentadas que recorreram tanto a métodos quantitativos como a

    abordagens qualitativas para analisar problemas como desempe

    nho e valor da escola entre jovens de camadas populares.

    As diferenças entre os jovens quanto à escolaridade po

    dem também ser vistas no que se refere à discriminação de base

    étnica. As pesquisas apontam para a reduzida chance dos jovens

    de cor negra e parda quando comparados a jovens brancos, dado

    que se torna mais evidente no ensino superior e que tem gerado

     políticas de ação afirmativa, como a atribuição de cotas para negros e pardos, tal como ocorreu no vestibular de 2002 nas insti

    tuições estaduais do Rio de Janeiro, gerando forte controvérsia.

    Outro importante recorte é a religião. A despeito de diferenças

    regionais, pode-se dizer que a religião é fator dos mais relevantes

    quando se pensa em juventude, seja pela adesão a um certo

    conjunto de valores, seja pelas experiências de socialização propi

    ciadas por grupos religiosos. Um fenômeno relativamenterecente na sociedade brasileira e que tem tido importantes im

     plicações para a experiência escolar dos jovens é o crescimento

    de denominações protestantes, especialmente entre adultos e jo

    vens das camadas populares. Não vou me deter nesses temas,

     pois, para a linha de argumento que venho apresentando, que

     privilegia a relação de jovens com as escolas de ensino médio, os

    dois recortes apontados - de classe social e de gênero - são, a

    meu ver, os mais significativos.

    É curioso lembrar que muitas vezes se atribui ao movi

    mento feminista no Brasil um viés elitista, mais afeito a temas de

    interesse das mulheres das camadas média e alta da sociedade.

    Entretanto, tanto as pesquisas educacionais como em outras áreas

    de atividade revelam o quanto é significativo o recorte de gênero

    nas camadas populares. Ao discutirem valorização da escola e

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    desempenho escolar, importantes estudos vêm apontando o me

    lhor desempenho das meninas e moças. Alba Zaluar e Maria

    Cristina Leal (1997) observam que o pior desempenho escolardos meninos e a importância adquirida pela rua como espaço de

    socialização podem ser explicados pela dificuldade de a escola

    oferecer modelos masculinos positivos. Do mesmo modo, o

    ambiente escolar pode ser um espaço de interesse, principalmente

     para as meninas, em virtude da maior liberdade social dos ho

    mens. Nas palavras de Felicia Madeira (1998: 66), que também

    enfatiza a diferenciação de gênero para uma mais correta com preensão da experiência escolar dos jovens, a escola tende a ser

    vivida pelas adolescentes de setores populares “como respiradou

    ro, um lugar de trocas sociais”.

    De acordo com a pesquisa realizada por Simone Monteiro

    (2002) entre jovens de Vigário Geral, favela do Rio de Janeiro que

    se tornou foco de atenção após o dramático episódio da chacina

    de jovens, tanto rapazes como moças valorizam em seu discurso aescolaridade. Segundo a autora, o valor de proteção da escolarização

    formal para o grupo está associado à possibilidade de não-exclu

    são social, “pois permite a aquisição de uma identidade (ser estu

    dante, conseguir um emprego), acesso a bens sociais (informação,

    conhecimento, domínio de leitura e escrita) e um distanciamento

    do universo da criminalidade (...)” (p. 116). Observa, entretanto,

    que, para as meninas, a escola tende a representar um espaço “maisestimulante pela possibilidade de ampliar o contato e a convivên

    cia para além do mundo privado”(p. 65).

    Uma hipótese bastante plausível é que diferenças de gêne

    ro têm significados diversos de acordo com a classe social do

     jovem. Como indica o estudo realizado por Simone Monteiro,

    uma perspectiva tradicional sobre os papéis masculinos e femi

    ninos tende a predominar nas camadas populares, para as quais,

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    como adverte a autora, a polaridade casa/rua, sugerida por

    Roberto DaMatta (1991), encontra sua plena expressão. As dife

    renças de gênero nesse caso podem ser explicadas pela característica tradicional da sociedade brasileira, na qual convivem lógi

    cas diversas. Predomina nas camadas populares a compreensão dos

     papéis masculinos como relacionados ao mundo da rua, ao espaço

     público e ao papel do provedor, enquanto para as meninas o uni

    verso predominante é o doméstico, não apenas no que se refere a

    modelos idealizados, mas a práticas muito concretas que têm início

    com o apoio ou mesmo a responsabilidade exclusiva pelas tarefasdomésticas. Os problemas que afetam os jovens - defasagem esco

    lar, perspectiva de trabalho, vulnerabilidade à violência e ao crime,

    gravidez na adolescência - não podem ser corretamente compre

    endidos sem que se recorra à importância dos sistemas de proteção

    material e simbólica e suas diferenças de acordo com o gênero.

    2. A visão sobre a escola nas camadaspopulares e média e alta

    Como muitas pesquisas já revelaram, a defasagem série/

    idade e sua relação com a estratificação social podem ser

    explicadas pela repetência escolar, cuja estimativa tem sido objeto

    de investigações importantes e de diversas políticas educacionais,

    assim como de mudanças nos objetivos e nos métodos de avaliação. A intensificação de pesquisas sobre desempenho escolar e a

    crítica à concepção do fracasso, ou à atribuição de responsabili

    dade da saída da escola pela necessidade de ingresso no mercado

    de trabalho, são um importante legado dos estudos realizados

    nas décadas de 1980 e 1990. Essas pesquisas foram fundamentais

     para uma mudança de perspectiva na análise de fenômenos como

    fracasso e evasão escolar, chamando a atenção para o atraso na

    escolaridade como o problema mais relevante e para a necessi-

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    dade de se buscar explicações na própria experiência escolar de

    adolescentes e jovens. Muito há que se investigar, ainda, no que

    diz respeito à percepção de jovens de diferentes camadas sociais

    sobre o valor e a vivência concreta na escola.

    Um estudo realizado por pesquisadores da Fundação

    Oswaldo Cruz, sob a coordenação de Maria Cecília Minayo

    (1999), apresenta importantes contribuições. A pesquisa recor

    reu a metodologias quantitativa e qualitativa, envolvendo gru

     pos focais na cidade do Rio de Janeiro, delimitados de acordo

    com matrícula em escolas públicas de áreas carentes; escolas pú

     blicas federais ou de aplicação e escolas particulares direcionadas

     para a classe média. Traz informações relevantes sobre a percep

    ção dos estudantes do ensino médio sobre a escola, o que, de

    forma bastante parcial, passo a abordar. Como se trata de pes

    quisa realizada em 1997, não se pode tomá-la como um retrato

    da atual situação educacional na cidade, mas devem-se observar

    temas e questões relevantes que aproximam e diferenciam estu

    dantes de diferentes posições sociais e experiências educacionais.

    Uma das constatações do estudo refere-se à visão crítica

    dos jovens matriculados em escolas públicas, principalmente as

    localizadas em áreas mais carentes. Em geral, esses estudantes

    apresentam muitas objeções ao sistema escolar e aos professores,

    sobretudo à precariedade das condições materiais em que se encontra a escola. Surgem também críticas ao ambiente rotineiro e

    sem maior incentivo à criatividade, que gera desinteresse pelas

    atividades educacionais. De acordo com os autores:

    Embora mais pragmáticos, os estudantes das escolas públicas em áreas

    mais pobres, quando incentivados, também expõem suas idéias sobre

    a importância de a escola ser a caixa de ressonância das suas experi

    ências de vida e de inserção social e sobre a carência de atividades nos

    seus colégios. (...) se queixam de que as atividades a que têm acessosão o futebol e o jogo de queimado; e quando existe algo mais elabo

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    rado, é antes por iniciativa de um ou outro professor, do que por

     parte do sistema escolar (p. 118).

     Nessa mesma pesquisa, os entrevistadores constataram aimportância da religiosidade entre os estudantes como fator de

    diferenciação. De acordo com suas observações, estudantes de

    orientação protestante tendem a apontar a ausência de discipli

    na como um dos mais importantes problemas e a valorizar o

     papel da direção no cotidiano escolar. Ao mesmo tempo, em al

    guns depoimentos, acentuam-se razões como distância entre pro

    fessores e alunos e, principalmente, um ambiente caracterizado pela falta de respeito mútuo:

    Os diretores têm medo dos alunos, não fortalecem a disciplina entre

    os alunos, e os alunos sentem-se maltratados e desrespeitados pelos

     professores. Eles dizem: “Não quero saber, dá seu jeito”, e apagam tudo

    do quadro, quer dizer, muitos alunos são maltratados. Aí as pessoas

    vêem isso e muitas se revoltam, só vão mesmo para bagunçar, pra

    arrebentar a sala, xingar o professor (estudantes pentecostais de esco

    la pública - zona norte do Rio de Janeiro) (MINAYO, 1999, p. 115).

     Nas escolas públicas federais e de aplicação, os autores res

    saltam a valorização, por parte dos estudantes, do bom nível de

    ensino, apesar das dificuldades e do fato de o “bom da escola pú

     blica é ter convivência com vários tipos de classe social” (p. 115).

    Já nas escolas particulares voltadas para as camadas média e alta,

    as críticas referem-se principalmente à ênfase nos conhecimen

    tos específicos e na omissão diante de assuntos e problemas atuais

    da sociedade.

     Nessa mesma pesquisa, o que mais chamou minha aten

    ção foi o fato de jovens de todos os estratos sociais terem posi

    ções muito próximas no que se refere aos temas que as escolas

    deveriam abordar, tal como pode ser observado no gráfico abaixo:

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    Temas que deveriam ser distutidos na escola,

    segundo os jovens

    I I Estratos A e B ■ ■ Estratos C, De E

    Violência 92,8% I 91,4%

    Desigualdade/discriminação social 89,4% l 86%

    Dificuldades no aprendizado 92% I 89,4%

    Namoro/sexo/DST 81,5% I 8 4 ,7

    Desemprego/mercado de trabalho 88,2% I

    Respeito/dignidade/liberdade 92,8% I l ""

    Discriminação racial 89,6% 1 88%

    Discriminação sexual 80,5% | 7,95%

    Drogas 91,9% I 93,6%

    Esporte/lazer 69% | 77,2%

    Problemas familiares 41,5% l 56,3%

    Política I I I | — 55,1%

    Fonte: Pesquisa Juventude, Violência e Cidadania no Município do Rio de Janeiro Claves/Fiocruz, Unesco, 1998.

    Diferenças expressivas quanto à indicação de temas rele-

    vantes aparecem na maior valorização, entre os jovens de cama-

    das populares (estratos C, D e E), de assuntos como esporte/

    lazer e problemas familiares e a menor importância que atribuem

    a debates sobre política. Esse quadro parece indicar que, quando

    há diferença de expectativa, isso decorre de um acesso desigual a

    certas oportunidades (lazer e esporte) e a espaços para aborda-

    gem de temas afetivos (problemas familiares). A explicação para

    o menor interesse pelo debate político deveria ser buscada em

    novas pesquisas, e possivelmente não indica simplesmente de-sinteresse, mas a compreensão de uma maior distância em rela-

    ção às instituições e decisões políticas.

    3. Juventude, violência e escola

    O tema da violência, ou melhor, de uma cultura da vio-

    lência e de fenômenos de assassinatos em massa cujos autoressão jovens estudantes do ensino médio nos Estados Unidos, é

    abordado de forma criativa e instigante no documentário Tiros

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    em Columbine, de Michael Moore. O impacto do filme é inevitá

    vel e, diante das constantes referências à violência nas escolas e à

    abordagem da mídia que associa juventude e violência, surge a pergunta: estaria a sociedade brasileira adotando também esse

    traço perverso de americanização?

     Não creio que isso ocorra. Mas há uma importante obser

    vação no filme. Não é a liberalidade na compra de armas o úni

    co fator responsável pelo número de assassinatos naquela socie

    dade, mas sim a cultura do medo e da insegurança, para a qual

    contribuiriam fortemente os meios de comunicação. A idéia deuma cidadania armada, proposta por movimentos de defesa do

    uso de armas, ao mesmo tempo que contraria valores democrá

    ticos, faz pensar de forma mais ampla nas raízes da violência e

    do medo como fenômenos fortemente relacionados a uma

    mercantilização da segurança.

    Essa digressão, aparentemente distante de nosso objeto e

    de nossa realidade, faz sentido se pensarmos na importância das

    representações sobre a violência como algo não dissociado e mes

    mo constitutivo das manifestações de violência. Torna-se neces

    sário refletirmos sobre os significados sociais do medo. Ademais,

    o medo dos professores em relação aos estudantes foi um dos

     problemas destacados durante o Seminário “Ensino Médio: Cons

    trução Política”, em diferentes falas, tanto dos expositores como

    dos demais participantes. Durante o evento, as observações deMarília Spósito sobre as formas de violência nas escolas, que pre

    cisariam ser mais conhecidas, e sobre a imagem criada pela mídia

    que associa a juventude à violência consistem em importante

     pauta para o desenvolvimento de estudos sobre o ensino médio.

     Na pesquisa abordada na seção anterior, os autores também ofe

    recem dados sobre as diferentes visões de estudantes e professo

    res sobre violência nas escolas públicas, públicas federais e parti

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    culares dirigidas para as camadas média e alta. Chamam atenção

    as acentuadas diferenças de percepção dos educadores e dos jo

    vens sobre a violência no contexto escolar. Agressões verbais e

    discussões aparecem, de todo modo, como principal manifesta

    ção de violência em todos os grupos pesquisados.

    Constata-se que os educadores consideram as escolas pú

     blicas mais violentas em todos os aspectos, desde a agressão ver

     bal à agressão física. Em contraste, os estudantes de classe média

    e alta percebem mais violência em seus colégios. Segundo os autores, uma hipótese plausível levar-nos-ia para as diferenças de

     percepção como decorrência de distintas concepções de direito e

    respeito à individualidade, além de nos remeter para o aspecto

    relacionai da violência na escola, que deve ser cotejada com a

     percepção da violência em outros espaços de socialização, prin

    cipalmente na família (MINAYO, 1999, p. 121).

     No que se refere ao papel das famílias, outro importante

     ponto que aproxima a experiência dos jovens das camadas popu

    lares, média e alta consiste na dificuldade de estabelecimento de

    diálogo entre professores e pais. Educadores de escolas públicas e

     privadas apontam os obstáculos para se encaminhar soluções con

     juntas aos pais, nos casos de alunos que cometem atos de violên

    cia. No caso das escolas públicas, a maior crítica dos educadoresrefere-se aos procedimentos, principalmente a humilhação públi

    ca dos jovens. Quanto aos educadores de escolas particulares, des

    tacam a pouca disponibilidade dos pais para comparecem à escola

    e dialogarem sobre as situações problemáticas.

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    4. Protagonismo do jovem

    Seria diferente se eu fosse mauricinho

    Criado a sustagem e leite ninho

    Colégio particular, depois faculdade

     Não, não é essa a minha realidade

    Sou caboclinho comum, com sangue no olho

    Com ódio na veia, soldado do morro.

    Soldado do morro - Mv Bill

    O tema do protagonismo do jovem brasileiro, bastanteenfatizado durante o Seminário “Ensino Médio: Construção Polí

    tica”, foi abordado predominantemente à luz de considerações so

     bre as manifestações culturais dos jovens, notadamente em fenô

    menos como o hip-hop. Muitos trabalhos acadêmicos, propostas

    de movimentos sociais e de ONGs também têm estabelecido uma

    estreita relação entre manifestações artísticas e culturais e o que

    denominam protagonismo juvenil. O que isso quer dizer?

    Em primeiro lugar, parte-se do reconhecimento da im

     portância de observar o que está motivando os jovens, certa

    mente um dado importante para o estabelecimento de políticas

    articuladas de juventude. Contudo, torna-se necessário não to

    mar como dado absoluto algumas manifestações e, como obser

    vou Creuza Pavan durante os debates do seminário, deve-se pro

     piciar aos jovens oportunidades diversificadas, não cabendo aoeducador simplesmente recolher as demandas que viriam deles,

    mas também exercer seu papel de orientador.

    É interessante, assim, observar que a proposta da criação de

    centros de ciência, arte e cultura, presente no documento-base de

    discussão, estivesse referida à formação dos professores, não sen

    do considerada tema central na análise das políticas articuladas de

     juventude. Entretanto, programas dirigidos para a iniciação cien

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    tífica no ensino médio têm despertado crescente interesse dos jo

    vens, inclusive os das camadas populares. No Estado do Rio de

    Janeiro, o Programa Jovens Talentos, da Faperj, constitui-se em

    iniciativa que deveria merecer atenção mais aprofundada, o que já

    vem ocorrendo em grupo de trabalho organizado por aquela ins

    tituição, que tem-se voltado para a análise das virtudes do progra

    ma, problemas constatados e caminhos para consolidação e aper

    feiçoamento. A proposta dos centros de ciência, arte e cultura de

    veria, do mesmo modo, ser considerada no âmbito das políticasarticuladas de juventude. É bastante sugestivo, também, que o En

    contro Anual da SBPC tenha definido como tema Ciência e

    Tecnologia para a Inclusão Social.

    As manifestações artísticas dos jovens podem também ser

    vistas para além de uma possibilidade de participação ou

     protagonismo juvenil. Refiro-me à tentativa de conhecer melhor

    o universo simbólico dos jovens e suas representações da sociedade a partir de músicas que buscam retratar sua “realidade”.

    Esse é o caso de algumas letras, como o trecho do rap de MV Bill

    que escolhi como epígrafe desta seção.

    Em texto sobre as representações do pária social, do ma

    landro, na música popular brasileira, Wanderley Guilherme dos

    Santos propõe interpretação para a mudança na representação

    desse personagem. No cancioneiro popular do século XX, o ma

    landro foi representado como alguém feliz e despreocupado, ain

    da que sem dinheiro, ou mesmo feio, magro (pele e osso sim

     plesmente...), celebrando a miséria e a vida curta (SANTOS,

    2003). Em contraste, nas letras de rap, o malandro é substituído

     pelo “soldado do morro”, que se caracteriza pela facilidade de

    acesso a bens e sucesso nas conquistas amorosas - “virou moda

    agora ser mulher de bandido” -, apesar da vida curta. O autor

    observa como nessas letras se revela uma aguda consciência so-

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     bre as extremas desigualdades na sociedade brasileira, o cami

    nho do crime como opção em decorrência das trajetórias de in

    fância e adolescência de “mauricinhos” e “soldados do morro”.

    Mais do que tudo, revela-se a consciência da morte iminente, a

    violência que, na representação estatística do problema, aparece

    como a segunda causa de morte dos homens brasileiros, atin

    gindo-os sobretudo na juventude:

    Eu tô ligado, qual é, sei qual é o final

    Um saldo negativo menos um marginal

    Pra sociedade contar, um a menos na lista

    E engordar a triste estatística

    Dos jovens como eu que desconhecem o medo

    Seduzidos pelo crime desde muito cedo

    Mesmo sabendo que não há futuro

     Naturalmente, como já foi dito, ao se falar de juventude brasileira, há que se lidar com uma diversidade de experiências,

    que não podem, em conseqüência, ser adequadamente apresen

    tadas a partir de polaridades como “mauricinho/soldado do

    morro”. De todo modo, não há como desconsiderar a magnitu

    de do problema das carreiras do crime tal como denunciam as

    letras de rap.  Principalmente, destaca-se a consciência sobre a

    falta de perspectiva - não há futuro. Ora, isso tem peso muitosignificativo em uma fase convencionalmente apresentada como

    de transição para a vida adulta.

    A escola, particularmente a de ensino médio, sempre este

    ve associada à expectativa quanto ao futuro profissional. Como

    ela pode transmitir alguma mensagem para jovens que parecem

    estar de costas para o futuro? Em outro momento desta reflexão,

    recorri à imagem do futuro “duvidoso” como uma chave para se

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     pensar a importância crescente do “aqui e agora” na experiência

    dos jovens em sociedades que passam por profundas transforma

    ções no mundo do trabalho, dos valores e das formas de sociabili

    dade, cujos rumos não estão suficientemente claros mesmo para

    os mais argutos analistas. Mais complexo ainda é lidar com a

    certeza manifestada por alguns jovens - não há futuro.

    A complexidade do tema requer políticas efetivamente

    articuladas, que ultrapassam em muito as possibilidades de ação

    dos educadores. Não se pode perder de vista, entretanto, o que já

    foi demonstrado em diversas pesquisas: existe uma representa

    ção da escola de ensino médio como um espaço de socialização e

     proteção social bastante valorizado pelos jovens em suas deman

    das. Uma escola que possa lidar de forma criativa com o tempo

     presente representa contribuição fundamental para que se ofe

    reça aos jovens a utopia que está sendo negada a muitos: a de

     poder sonhar com o próprio futuro.

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    José (Org.) Decantando a República. Rio de Janeiro: Nova

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    ZALUAR, Alba; LEAL, Maria Cristina. Gênero e educação

     pública: uma comparação entre o CIEP e a escola comum. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 78 ( 188/189/190) :

    157-94, 1997.

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    Um material de extrema importância para apolítica governamental, para as escolas, para asuniversidades e para cada pessoa envolvida com oensino médio.

     Ao decidir publicá-lo, devolvemos à sociedade, deforma sistematizada, um conhecimento por elaproduzido, cuja essência, se apropriada pelo governo,po tencializa transformações h istoricam entedesejadas.

     Antonio Ibanez Ruiz

    Secretário de Educação Média e tecnológica

    Ministério da Educação