ficha tÉcnica/ credits

17

Upload: others

Post on 02-Jul-2022

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

Page 2: FICHA TÉCNICA/ CREDITS
Page 3: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

FICHA TÉCNICA/ CREDITS

título/ titleMarvão, as Pedras e o Homem.Gentes e TerritórioMarvão, las Piedras e el Hombre. Las gentes y el territorioMarvão, Stones and Man. The people and the lands

edição/ edición/ published byMunicípio de Marvão

prólogo/ prologueJorge de Oliveira

textos/ textsMunicípio de MarvãoAngelina Caixeiro

colaboração/ colaboración/ in collaboration withJorge de Oliveira

fotografias da capa/ fotografías de la tapa/ cover photosJuan Carlos Durán, Pepe Brix

fotografia/ fotografía/ photographsPepe Brix

arquivos fotográficos/ archivos fotográficos/ photography archivesFernando Algarvio, Juan Carlos Durán,Jorge de Oliveira, Emília Mena,Angelina Caixeiro, Município de Marvão

design/ diseño gráfico/ graphic designAngelina Caixeiro

traduções/ traducciones/ translationDave Tucker (EN)Elisabete Ferreira (ES)

revisão de texto/ revisión de texto/ proofreadingJosé Augusto Guerra

tiragem/ tirada/ print run750 exemplares/ ejemplares/ copies

impressão/ impresión/ printingBizex Projetos

isbn978-989-33-2086-0

depósito legal/ legal deposit486909/21

Julho/ Julio/ July/ 2020

© Proibida a reprodução desta publicação,por qualquer meio, sem autorização prévia.

© Queda prohibida la reproducción de esta publicación,por cualquier medio, sin autorización previa.

© The reproduction of this publication by anymeans without prior authorization is prohibited.

Page 4: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

7

A MArvão, “o que eu Andei prA Aqui chegAr” Para Marvão, “Lo que yo caminé para llegar aquí”/ Marvão, "how far I walked to get here"

“O que eu andei pra aqui chegar”

assim cantava José Mário Branco e

assim foi o percurso da Humanidade

desde que no Paleolítico acampou nos

verdejantes prados do Sever para passa-

dos milénios, paulatinamente, e descan-

sando, de tempos em tempos, a meio da

encosta vir procurar refúgio no mais

apru mado dos morros da Serra de S. Ma -

mede, Marvão. Lá de cima o Homem via

sem ser visto e desafiava, confiante, os

seus pares e os outros.

Para Saramago, o nosso Nobel, “de Mar-

vão vê-se tudo” e ele viu e a vetusta hu-

manidade também viu e vê!

Em Marvão, no dizer do povo, os pássa-

ros vêem-se pelas costas. Para outros,

Marvão é um ninho de águias. Marvão

é uma vila alcandorada, na sua verda-

deira acessão, isto é, uma pedra bem lá

no cimo onde os condores e outras aves

de rapina nidificavam. De difícil acesso,

muito difícil acesso, a crista quartzítica

empina-se quase na vertical e deixa,

bem lá no alto, uma estreita plataforma,

que o Homem roubou às aves e foi am-

pliando para aí se instalar. E lá no topo

do “mundo”, de onde tudo se vê, como

dizia Saramago, o Homem acastelou-se.

Mas “pra aqui chegar” a humanidade

teve que percorrer, durante milhares de

anos, longos caminhos.

PT“How far I walked to get here”, sang

José Mário Branco. This was the journey

of humans from encampments in the

green, Palaeolithic meadows of the River

Sever for millennia, until, resting from

time to time on the hillsides, they

gradually sought refuge on the most

precipitous of the hills of Serra de S. Ma -

mede, Marvão. From on high, here men

could see without being seen and could

challenge their fellows and others with

confidence.

Our Nobel laureate Saramago proclaimed

“from Marvão, one can see all”. He too

saw this and ancient humanity also saw

it, and sees it still!

In Marvão, so people say, birds can be

seen from above. For others, Marvão is

an eagles’ nest. Marvão is a village on a

high perch, in the original meaning of

the word, a rock on high where birds of

prey nest. Difficult, very difficult to

reach, the quartzite crag rise almost

vertically, with a narrow platform atop

it which men stole from the birds and

then enlarged for their settlement.

There, on top of the world, from where,

as Saramago said, all can be seen, men

set their fortress. But “to get here”

humans had to travel a long path for

thousands of years.

EN“Lo que yo caminé para llegar aquí”

así cantaba José Mário Branco y así fue

el recorrido de la humanidad desde que

en el Paleolítico acampó en los verdes

prados del Sever para pasados milenios,

paulatinamente, y descansado, de vez

en cuando, al medio de la colina vino a

buscar refugio en el más derecho de los

cerros de la Sierra de S. Mamede, Mar-

vão. Desde lo alto el hombre veía sin ser

visto y desafiaba, confiado, sus pares y

a los demás.

Para Saramago, nuestro Nobel, “desde

Marvão se puede ver todo” y él lo vio y la

vieja humanidad también lo vio y lo ve.

En Marvão, en el dicho del pueblo, los

pájaros se ven por la espalda. Para otros,

Marvão es un nido de águilas. Marvão es

una villa acantilada, en el verdadero sen-

tido de la palabra, es decir, una piedra

en lo alto donde anidaban los cóndores

y otras aves de presa. De difícil acceso,

muy difícil acceso, la cresta de cuarcita

se empina casi en vertical y deja, bien

arriba, una estrecha plataforma, que el

hombre robó a las aves y fue ampliando

para instalarse. Y allá en la cima del

“mundo”, de donde todo se ve, como

decía Saramago, el hombre se abaluartó.

Pero “para llegar aquí” la humanidad

tuvo que recorrer, durante miles de

años, largos caminos.

ES

PrólogoPrólogo/ Prologue

Page 5: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

8

Contorce-se, cá em baixo, à volta deste

alcantilado morro, o rio Sever que ao

longo de milhões de anos foi abrindo ca-

minho por entre quartzitos, calcários,

granitos e, por fim, depois de cavar os

xistos, descarrega as águas, que entre-

tanto foi recolhendo, no grande Tejo.

Nasce este rio mais acima de Marvão,

mas em encostas mais doces e suaves,

nas faldas do Pico de S. Mamede e, estra-

nhe-se, quase enganando algumas leis da

física, corre de sul para norte, por mais

de sessenta e três quilómetros, para ir

prestar vassalagem ao grande Tejo. Foi,

contudo, nas cotas mais baixas, nas fres-

cas margens do percurso do Sever, entre

a Serra e o Tejo, onde vários microclimas

se reconhecem, que os primeiros Ho-

mens estanciaram. Souberam escolher

bem os locais para acamparem. Tinham

todo o território à sua disposição, mas só

alguns sítios interessaram aos primeiros

caçadores recoletores que por aqui

deambularam em meados do Paleolítico.

Nos depósitos de calhaus rolados que se

acumulam onde o rio mais se contorce e

a seguir se espraia e onde a flora ripícola

The River Sever winds around this

mount after making its way through

quartzite, limestone and granite over

millions of years. Finally, after digging

through shale, it discharges the waters it

has been hoarding into the great Tagus.

The source of this river is higher than

Marvão, but on softer and smoother

slopes, on the slopes of Pico de S. Mamede

and, strangely, almost disobeying the

laws of physics, it runs south to north for

more than sixty-three kilometres to

pledge allegiance to the great Tagus. It

was on its lower levels, however, that the

first men stopped, on the cool banks of

the course of the Sever, between the

mountains and the Tagus, where various

microclimates are found. They knew

how to choose the best places to set

camp. They had the whole territory to

choose from, but only a few sites inter -

ested the first hunter-gatherers who

roamed here in the mid-Palaeolithic.

We can find clear signs of these older

encampments in the piles of smoothed

pebbles that accumulate where the river

twists and turns and then expands, and

El río Sever envuelve este acantilado, que

durante millones de años se abrió paso

entre cuarcitas, calizas, granitos y, final-

mente, tras cavar los esquistos, descarga

las aguas, que mientras tanto se estaba

acumulando, en el gran Tajo. Nace este

río más arriba de Marvão, pero en pen-

dientes más dulces y suaves, en las faldas

del Pico de S. Mamede y, extrañamente,

casi engañando algunas leyes de la física,

corre de sur a norte, por más de sesenta

y tres kilómetros, para ir a prestar vasa-

llaje al gran Tajo. Sin embargo, en las

cotas más bajas, en las frescas márgenes

del recorrido del Sever, entre la Sierra y

el Tajo, donde varios microclimas se re-

conocen, los primeros hombres se detu-

vieron. Sabían elegir los lugares para

acampar. Tenían todo el territorio a su

disposición, pero solo unos pocos sitios

eran de interés para los primeros caza-

dores recolectores que deambulaban por

aquí en medio del período Paleolítico. En

los depósitos de guijarros enrollados que

se acumulan donde el río se retuerce más

y luego se extiende y donde abunda la

flora ribereña, encontramos signos evi-

Morros de Marvão e Espanhasobrevoados por aves de rapina

Colinas de Marvão y Españasobrevoladas por aves rapaces/

The hills of Marvão and Spain,overflown by birds of prey.

© pepe Brix/ cMM

Page 6: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

9

abunda encontramos evidentes sinais

desses acampamentos mais antigos. Com

os efeitos da última glaciação o ecossis-

tema altera-se e o Homem tem de acom-

panhar essa mudança. A sedentarização

ensaia-se e a domesticação generalizada

de algumas espécies substitui os grandes

armazéns de proteínas que os, agora ex-

tintos, grandes herbívoros propiciavam

às comunidades do período anterior. Esta

obrigatória sedentarização, ainda que

inicialmente sazonal, justifica-se com a

domesticação da terra. Entre a prepara-

ção do campo, a sementeira e a colheita é

necessário guardar o investimento feito e

por ali ficam os grupos humanos espe-

rando, ansiosamente, que a terra-mãe

seja generosa. Estas gentes, que agora

começaram a ter tempo, ergueram os

grandes menires, construíram as eternas

antas, onde alguns descansam e pinta-

ram grutas e gravaram nas lavadas lajes

de xisto, que no verão emergem das

águas do Sever e do Tejo, mensagens

enigmáticas para o futuro.

where riparian flora abounds. With the

effects of the end of the last age of

glaciers, the ecosystem changed and

man had to keep pace. Settlements were

tested and generalized domestication of

certain species replaced the large stores

of protein that the now extinct large

herbivores had provided to the

communities in the previous period.

This mandatory settlement, although

seasonal at first, was justified as the land

was tamed. Between preparing the

fields, sowing and harvesting, there was

a need to safeguard their investment in

the land and groups of humans

anxiously awaited the generosity of

Mother Earth. These people, who now

had more time, raised great menhirs and

built the eternal dolmens, where some of

them rested. They painted caves and

they made carvings on the weathered

slabs of schist which emerge from the

waters of Sever and the Tagus in the

summer, enigmatic messages for the

future.

dentes de estos campamentos más anti-

guos. Con los efectos del final de la última

glaciación, el ecosistema cambia y el hom-

bre tiene que mantenerse al día con este

cambio. Se está probando la sedentariza-

ción y la domesticación generalizada de

algunas especies reemplaza las grandes

reservas de proteínas que los grandes her-

bívoros ahora extintos proporcionaron a

las comunidades en el período anterior.

Esta obligatoria sedentarización, aunque

inicialmente estacional, se justifica con la

domesticación de la tierra. Entre la pre-

paración del campo, la siembra y la co-

secha es necesario guardar la inversión

hecha y por allí se quedan los grupos hu-

manos esperando ansiosamente que la tie-

rra madre sea generosa. Estas gentes, que

ahora comenzaron a tener tiempo, levan-

taron los grandes menhires, construyeron

los eternos dólmenes, donde algunos des-

cansaron y pintaron grutas y grabaron en

las lavadas losas de esquisto, que en ve-

rano emergen de las aguas de Sever y del

Tajo, mensajes enigmáticos para el futuro.

Anta do Vale da Figueira

Dolmen de Vale da Figueira/ Vale da Figueira Dolmen.

© pepe Brix/ cMM

Page 7: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

10

Quando as influências orientalizantes se

começam a fazer sentir com maior in-

tensidade e a metalurgia desponta nesta

zona da Península Ibérica, as comunida-

des que até aí se estabeleciam em habi-

tats de pouca altitude procuram agora

cotas mais altas e naturalmente protegi-

das. Os povoados adjacentes ao rio Sever

são abandonados e os cumes dos cerros

começam a ser fortificados. Desde os fi-

nais do Calcolítico até à chegada dos Ro-

manos pontos estratégicos das prin-

ci pais linhas de cumeada passam a ser

espaços de vivência humana. O Castelo

de Vidago (Vidais), o do Corregedor, o

da Crença, o Del Jardinero, os dois Cas-

telos Velhos do Sever e os das Águas

Blancas e Sr.ª da Graça testemunham

essas épocas conturbadas, que se vive-

ram nas imediações das margens do

Sever, originadas pela disputa das me-

lhores terras e zona de mineração. Uma,

ou mais linhas de muralhas, envolvem

estes habitats. Casas quadrangulares ou

redondas, outrora provavelmente, co-

bertas por giestas anexam-se umas às

When influences from the east began to

be felt with greater intensity and metal -

lurgy emerged in this area of the Iberian

Peninsula, communities that until then

had settled in low-lying habitats now

looked for higher, naturally protected

levels. The villages on the banks of the

River Sever were abandoned and the

mountain tops began to be fortified. From

the end of the Chalcolithic until the arrival

of the Romans, strategic points on the

main ridges became human living spaces.

The Castle of Vidago (Vidais) and those of

Corregedor, Crença and Del Jardinero,

the two Old Castles of Sever and those of

Águas Blancas and Sr.ª da Graça bear

witness to these troubled times for people

near the banks of the Sever, arising from

disputes over the best lands and areas for

mining. One or more lines of walls

enclose these settlements. Quadrangular

or round houses, once probably thatched

with broom, are stacked against each

other, making the best use of the paucity

of space inside the protection of the walls.

The precipitous quartzite crag that is the

foundation of Marvão today was then

occupied for the first time, albeit tem -

porarily, in these troubled times of the

first millennium before Christ. It was part

of the main type of defensive strategy that

the communities of second Iron Age

adopted in this area.

Cuando las influencias orientalizantes

empiezan a hacerse sentir con mayor in-

tensidad y la metalurgia despunta en

esta zona de la Península Ibérica las co-

munidades que hasta entonces se esta-

blecían en hábitats de poca altitud

buscan ahora cotas más altas y natural-

mente protegidas. Los pueblos adyacen-

tes al río Sever son abandonados y las

cumbres de los cerros empiezan a ser

fortificados. Desde el final del Calcolí-

tico hasta la llegada de los Romanos,

puntos estratégicos de las principales lí-

neas de cumbre pasan a ser espacios de

vivencia humana. El Castillo de Vidago

(Vidais), el del Corregedor, el de Credo,

el del Jardinero, los dos Castillos Viejos

del Sever y los de Aguas Blancas y el Sra.

de la Gracia testimonian estas épocas

turbulentas que se vivieron en las inme-

diaciones a orillas del Sever originadas

por la disputa de las mejores tierras y

zona minera. Uno o más murallas ro-

dean estos hábitats. Las casas cuadran-

gulares o redondas, que alguna vez

estuvieron cubiertas de retama, se unen

Afloramento quartzítico

É na continuação deste longorochedo que se ergue a estrutura

defensiva de Marvão.

Afloramiento de cuarcita. Es en lacontinuación de esta larga roca que se

encuentra la estructura defensiva deMarvão.

Quartzite outcrop. The defensivestructure of Marvão stands on the

continuation of this long rock.

© pepe Brix/ cMM

Page 8: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

11

outras apro veitando da melhor forma o

pouco espaço que as muralhas prote-

giam. A alcantilada crista quartzítica que

hoje sustenta Marvão terá sido, nessa al-

tura, ocupada pela primeira vez, ainda

que temporariamente, nestes tempos

conturbados do 1.º milénio antes de

Cristo, inserindo-se no tipo de estratégia

defensiva que, sobretudo, as comunida-

des da segunda Idade do Ferro adota-

ram nesta zona.

Com a chegada dos Romanos outra pá-

gina começa a ser escrita. As comunida-

des que sobreviviam nos alcantilados

montes descem de novo aos vales. Mais

pela força das armas do que por vontade

própria, como os vestígios arqueológi-

cos bem o demonstram, os habitats for-

tificados da Idade do Ferro sucumbem

e as terras com melhor aptidão agrícola

começam a ser intensamente explora-

das. Várias villae e casais agrícolas re-

desenham a paisagem entre a Serra de

S. Mamede e o Vale do Tejo. Casas agrí-

colas mais ou menos faustosas, por

vezes revestidas por mosaicos junto a

armazéns, moinhos e termas assinalam

a riqueza que os romanos souberam re-

tirar dos solos agora por eles ocupados.

No Vale da Aramenha, junto a Marvão,

em terras pesadas e férteis e onde a

água abunda, pelos inícios do século I,

os Romanos instalam uma nova cidade.

Ammaia se chamava. Mais do que um

grande centro cosmopolita, reconhece-

-se hoje que Ammaia terá sido uma ci-

dade de lazer, satélite da grande Mérida.

Aqui, construíram os emeritenses as

suas casas de veraneio. Para aqui acor-

reriam os romanos endinheirados nos

implacáveis estios, em busca da sombra

e da água, que a grande cidade do inte-

rior não propiciava. Aqui, na Ammaia,

bordejada pelo rio Sever e abastecida

por pelo menos três nascentes que os

romanos souberam conduzir até ao cen-

With the arrival of the Romans, another

page was turned. The communities that

survived on the sheer mountain tops

came back down into the valleys. More by

force of arms than willingly, as the

archaeological remains demonstrate only

too well, the fortified habitations of the

Iron Age succumbed and the land which

was most fitting for agriculture began to

be intensively exploited. Various villae

and agricultural plots redrew the

landscape between the Serra de S.

Mamede and the Tagus valley. Farm

houses, some lavish, some less so, some

covered with mosaics next to warehouses,

mills and spas, exhibit the wealth that the

Romans were able to extract from the soil

which they now occupied. The Romans

set up a new city in Vale da Aramenha,

next to Marvão, in these heavy and fertile

lands where water abounds, at the

beginning of the first century. It was

named Ammaia. More than just a large

cosmopolitan centre, Ammaia is now

entre sí aprovechando al máximo el

poco espacio que las murallas prote-

gían. La acantilada cresta cuarcítica que

hoy sostiene Marvão habrá sido ocu-

pada, en ese momento, por primera vez,

aunque sea temporalmente, en estos

tiempos turbulentos del primer milenio

antes de Cristo, insertándose en el tipo

de estrategia defensiva que, sobre todo,

las comunidades de la Segunda Edad

del Hierro adoptaron en esta zona.

Con la llegada de los Romanos otra pá-

gina comienza a ser escrita. Las comu-

nidades que sobrevivían en las colinas

acantiladas descienden de nuevo a los

valles. Más por la fuerza de las armas

que por voluntad propia, como los res-

tos arqueológicos bien lo demuestran,

los hábitats fortificados de la Edad del

Hierro sucumben y las tierras con mejor

aptitud agrícola empiezan a ser intensa-

mente explotadas. Varias Villae y case-

ríos agrícolas rediseñan el paisaje entre

la Serra de S. Mamede y el Valle del

Tajo. Casas agrícolas más o menos faus-

tosas, a veces revestidas por mosaicos

junto a almacenes, molinos y termas se-

ñalan la riqueza que los romanos supie-

ron sacar de los suelos ahora ocupados.

En el Vale da Aramenha, junto a Mar-

vão, en tierras pesadas y fértiles y donde

abunda el agua, a principios del siglo I,

los Romanos instalan una nueva ciudad.

Ammaia se llamaba. Más que un gran

centro cosmopolita, se reconoce hoy

que Ammaia habrá sido una ciudad de

ocio, satélite de la gran Mérida. Aquí,

construyeron los emeritenses sus casas

de verano. Los romanos adinerados

irían aquí en busca de la sombra y del

agua, que la gran ciudad del interior no

propiciaba. Aquí, en Ammaia, bordeada

por el río Sever y abastecida por al

menos tres nacientes que los romanos

supieron conducir hasta el centro de la

ciudad, asistían a espectáculos teniendo

Moeda romanacom escrita púnica

cunhada em Alcácer do Sal no séc. ii a.c.,proveniente do povoado da ii idade do

Ferro de vidais.

Moneda romana con escritura Púnica.Acuñada en Alcácer do Sal en el siglo II a.C.,

proveniente del Pueblo de la II Edad delHierro de Vidais.

Roman coin with Punic script. Mintedin Alcácer do Sal in 2nd century B.C.,

from the 2nd Iron Age settlement of Vidais.

Museu Municipal de Marvão© Jorge de oliveira

Page 9: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

12

tro da cidade, assistiam a espetáculos

tendo como cenário o brutal acidente

que sustenta hoje Marvão. Os influentes

e poderosos togados que veraneavam

em Ammaia rapidamente a transfor-

mam política e arquitetonicamente.

Pouco tempo depois da sua fundação,

ao tempo de Cláudio, ascende a catego-

ria de Civitas, alguns anos depois, já

com Nero senhor de Roma, constitui-se

como Municipium. O território que ad-

ministrava seria amplo. O seu limite ao

norte terminaria no Tejo, para oriente

confrontava com o de Cáceres, para oci-

dente espraiava-se até ao rio Sor e o vale

do Guadiana limitava-o a sul. Sob o

poder dum exército bem organizado o

Município Ammaiense aglutina e funde

política e administrativamente os an-

cestrais territórios, mas as culturas pró-

prias perduraram. Pelo século VI, com

a decadência da estrutura política ro-

mana, assiste-se, na área da Serra de S.

Mamede a um enxameamento de pe-

quenos núcleos habitacionais implanta-

recognized as a place of leisure, a satellite

city of the great Mérida. Here, the folk of

Mérida built their summer houses. Here,

the moneyed Romans would come to

pass the relentless summer, in search of

shade and water, which the great city

further in the interior could not provide.

Here, in Ammaia, skirted by the Sever

river and supplied by at least three springs

that the Romans had learnt to carry to the

centre of the city, they watched spectacles

with a backdrop of the dramatic geological

event that supports Marvão today. The

influential and powerful toga-clad folk

that holidayed in Ammaia quickly

brought about political and architectural

transformations. Shortly after its foun-

d ation, at the time of Claudius, it rose to

the category of Civitas; a few years later,

when Nero was ruler of Rome, it was

constituted as Municipium. Its adminis -

trative territory was wide. Its limit to the

north ended at the Tagus, to the east it

abutted that of Cáceres, to the west it

spread to the River Sor and the Guadiana

como escenario el brutal accidente que

sostiene hoy Marvão. Los influyentes y

poderosos togados que veraneaban en

Ammaia rápidamente la transforman

política y arquitectónicamente. Poco

tiempo después de su fundación, al

tiempo de Claudio, asciende la categoría

de Civitas, algunos años después, ya con

Nerón señor de Roma, se constituye

como Municipium. El territorio que ad-

ministraba sería amplio. Su límite al

norte terminaría en el Tajo, hacia el este

confrontaba con el de Cáceres, hacia el

oeste se extendía hasta el río Sor y el

valle del Guadiana lo limitaba al sur.

Bajo el poder de un ejército bien organi-

zado el Municipio Ammaiense aglutina

y funde política y administrativamente

los ancestrales territorios, pero las cul-

turas propias perduraron. Por el siglo

VI, con la decadencia de la estructura

política romana, se asiste, en la zona de

la Serra de S. Mamede, a un enjambre

de pequeños núcleos habitacionales im-

plantados en zonas bien disfrazadas en

Pequeno pedestal em mármore polido,proveniente de Ammaia

“iMp. cAeS. L. AvreLio vero Avg. divi. AnTonini. F.ponT. MAX. TriB. poT. coS. ii. p. Mvnicip. AMMAi.”

Tradução: Ao imperador césar Lúcio Aurélio veroAugusto, filho do divino Antonino, pontífice máximo,dotado do poder tribunício, cônsul pela segunda vez,

pai da pátria – os munícipes de Ammaia.

Pequeño pedestal de mármol pulido procedente de Ammaia.“…” Traducción: Al emperador César Lucio Aurelio Vero

Augusto, hijo del divino Antonino, pontífice máximo, dotadodel poder tribunicio, cónsul por segunda vez, padre de la

Patria – los munícipes de Ammaia.

Small pedestal in polished marble, from Ammaia. “…”Translation: To the Emperor Caesar Lucius Aurelius Verus

Augustus, son of the divine Antoninus, Supreme Pontiff,invested with tribunician power, twice consul, father of the

homeland – the townspeople of Ammaia.

© pepe Brix/ cMM

Page 10: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

13

dos em zonas bem disfarçadas na paisa-

gem. A instabilidade que se vive desde

o século V até, praticamente, à vulgar-

mente denominada Reconquista Cristã

terá contribuído para essa nova reorga-

nização na ocupação do território. Múl-

tiplos pequenos núcleos, mais ou menos

urbanizados, atribuíveis à Alta-Idade-

-Média, espalham-se, sobretudo por

entre os grandes afloramentos graníti-

cos. Com a desorganização da estrutura

comercial e social romana estas peque-

nas comunidades, teoricamente cristia-

nizadas, sobrevivem alicerçadas numa

economia fechada, assente na agricul-

tura e na pastorícia. Poderemos mesmo

dizer que se assiste a um regresso, de-

sordenado, da estrutura socioeconó-

mica pré-romana. Dizemos desordenado

porque agora já não encontramos po-

voados fortificados a coroar as colinas,

mas pequenos núcleos habitacionais

disfarçados entre os vales com algum

aproveitamento agrícola. Estamos em

crer que com o fim do império, pelo

menos nestas zonas mais rurais, não

existiria qualquer sistema estruturado

de organização social ou religiosa. A vul-

garmente apelidada organização paro-

valley formed its southern border. Under

the power of a well-organised army, the

municipality of Ammaia combined and

fused the ancestral territories both

politically and administratively, but its

own culture endured. In the sixth

century, with the decline of the Roman

political structure, swarms of small

groups of houses appeared, located in

well-disguised spots in the landscape.

The instability that reigned from the 5th

century practically until the so-called

Christian Reconquest contributed to this

new, reorganised occupation of the

territory. Multiple small nuclei, some-

times more, sometimes less urbanized

and attributed to the Late Middle Ages,

are spread out, especially among the

large granite outcrops. With the disor-

ganization of the Roman commercial and

social structure, these small communities,

which in theory were Christian, survived

in a closed economy, based on agriculture

and pastoralism. It could even be said

that there was a disorderly return to the

pre-Roman socio-economic structure.

Disorderly, because now we no longer

find fortified villages crowning the hills,

but small groups of houses disguised

el paisaje. La inestabilidad que se vive

desde el siglo V hasta, prácticamente, la

vulgarmente llamada Reconquista Cris-

tiana habrá contribuido a esta nueva

reorganización en la ocupación del te-

rritorio. Múltiples pequeños núcleos,

más o menos urbanizados, atribuibles a

la Alta-Edad Media, se extienden, sobre

todo entre los grandes afloramientos

graníticos. Con la desorganización de la

estructura comercial y social romana,

estas pequeñas comunidades, teórica-

mente cristianizadas, sobreviven cimen-

tadas en una economía cerrada, basada

en la agricultura y el pastoreo. Podría-

mos incluso decir que se está produ-

ciendo un retorno desordenado de la

estructura socioeconómica prerromana.

Decimos desordenado porque ahora ya

no encontramos pueblos fortificados co-

ronando las colinas, sino pequeños nú-

cleos habitacionales disfrazados entre

los valles con algún aprovechamiento

agrícola. Creemos que, con el fin del im-

perio, al menos en estas zonas más ru-

rales, no existiría ningún sistema

estructurado de organización social o

religiosa. La vulgarmente llamada orga-

nización parroquial visigótica segura-

Chafurdão da Cabeçuda (Beirã)

Chafurdon da Cabeçuda (Beirã)/“Chafurdão” from Cabeçuda(Beirã).

© emília Mena

Page 11: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

Chafurdão da Meirinha

Beirã. datado da Alta idade Média.

Chafurdon de Meirinha.Beirã. Fechado de la Alta Edad Media.

“Chafurdão” in Meirinha.Beirã. From the Late Middle Ages.

© pepe Brix/ cMM

14

Page 12: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

15

quial visigótica seguramente que aqui

não se fez sentir. A telha encontrada por

Afonso do Paço, no Monte Velho, no

concelho de Marvão, onde se pode ler

num latim e numa grafia pouco eruditos

“Hic Pax Hic Cristvs”, associada às cen-

tenas de sepulturas escavadas na rocha

que se espalham pelas encostas de Mar-

vão avisam-nos que estaremos em pre-

sença de comunidades seguidores do

rito cristão, mas nada temos que nos

prove que obedecessem a algum poder

formal e organizacional, fosse ele reli-

gioso, ou político. A islamização desta

zona da península terá sido algo que te-

remos que avaliar de uma forma muito

particular. Não poderemos falar numa

conversão generalizada e radical ao

islão. Estas comunidades dispersas por

pequenos aglomerados rurais espalha-

dos pelo interior da Serra de S. Mamede

que poucos contactos teriam com o ex-

terior terão entrado, paulatinamente,

em contacto com as novas gentes que do

Norte de África trazem outra cultura,

outra língua e outra religião, mas, igual-

mente monoteísta. A diferença entre os

dois ritos não seria assim tão grande e a

sua pressão entre os séculos VIII e XI

não terá sido muito marcante. Natural-

mente que uma nova ordem começa a

impor-se. Seguramente que novos co-

bradores de impostos teriam emergido

a troco de uma teórica proteção contra

among the valleys, with some agriculture.

It is believed that, with the end of the

empire, at least in these more rural areas,

there was no structured system of social

or religious organisation. The commonly

named Visigothic organization of parishes

certainly did not make its presence felt

here. On a tile found by Afonso do Paço

in Monte Velho in the municipality of

Marvão, the following Latin phrase (with

less than erudite spelling) can be read:

“Hic Pax Hic Cristvs”. This is associated

with hundreds of graves carved into the

rock that spread over the slopes of

Marvão and it alerts us to the presence of

Christian communities. However, we

have nothing to prove that they obeyed

any formal and organizational power,

religious or political. The Islamisation of

this part of the peninsula would have been

something that demands careful assess -

ment. There is no evidence to claim a

generalised, radical conversion to Islam.

These communities were scattered over

small rural settlements spread across the

interior of the Serra de S. Mamede and so

had little contact with the outside world.

They would gradually have come into

contact with the new people from North

Africa who brought another culture,

another language and another, equally

monotheistic religion. The difference

between the two sets of rites would not be

so great and the pressure they exerted

between the eighth and eleventh cen -

turies would not have been very marked.

Naturally, a new order started to impose

itself. New tax officials would certainly

have emerged in exchange for theoretical

protection against unknown enemies.

The old and ruined structures of the city

of Ammaia and the defendable quartzite

crag that arises by its side were not

overlooked by the followers of Allah. It is

now seen as reliable that the oldest

written reference related to Marvão is the

Chronicle of Isa Ibn Áhmad ar-Rázi,

mente no se ha sentido aquí. La teja en-

contrada por Afonso do Paço, en el

Monte Velho, en el municipio de Mar-

vão, donde se puede leer en un latín y en

una grafía poco eruditos "Hic Pax Hic

Cristvs", asociada a los cientos de tumbas

excavadas en la roca que se extienden

por las laderas de Marvão, advierten que

estaremos en presencia de comunidades

seguidores del rito cristiano, pero nada

tenemos que pruebe que obedezcan a

algún poder formal y organizacional, ya

sea religioso o político. La islamización

de esta zona de la península habrá sido

algo que tendremos que evaluar de

forma muy particular. No podemos ha-

blar de una conversión generalizada y

radical al islam. Estas comunidades dis-

persas por pequeños poblados rurales

esparcidos por el interior de la Serra de

S. Mamede que pocos contactos tendrían

con el exterior habrán entrado paulati-

namente en contacto con las nuevas gen-

tes que del Norte de África traen otra

cultura, otro idioma y otra religión, pero

igualmente monoteísta. La diferencia

entre los dos ritos no sería tan grande y

su presión entre los siglos VIII y XI no

habrá sido muy notable. Naturalmente,

un nuevo orden empieza a imponerse.

Seguramente nuevos recaudadores de

impuestos habrían surgido a cambio de

una teórica protección contra enemigos

desconocidos. Las viejas y arruinadas es-

Inscrição cristã sobre imbrex

recolhida no Monte velho(Beirã) – hoje desaparecida –hic pAX hic criSTvS(Aqui esteja a paz, aqui esteja cristo).

Inscripción Cristiana sobreimbrex. Recogida en MonteVelho (Beirã) – hoydesaparecida. “…” (Aquí esté lapaz, aquí esté Cristo).

Christian engraving on imbrex.Retrieved in Monte Velho (Beirã).Currently missing. “…” (Let herebe peace, let here be Christ).

Page 13: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

16

Planta da Praça de Marvão

Miguel Luiz Jacob, 1755.

Planta de la Plaza de Marvão.

Plan of the fortified town of Marvão.

© Arquivo Militar de Lisboa

Page 14: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

17

inimigos desconhecidos. As velhas e ar-

ruinadas estruturas da cidade de Ammaia

e a defensável crista quartzítica que junto

se ergue não foram esquecidas pelos se-

guidores de Alá. Reconhece-se hoje como

seguro que a mais antiga referência es-

crita relacionada com Marvão é a Crónica

de Isa Ibn Áhmad ar-Rázi, datável do sé-

culo X, onde se lê: “... o Monte de Amaia,

conhecido hoje por Amaia de Ibn Ma-

ruán é um monte alto e inexpugnável, a

leste da cidade de Amaia-das-Ruínas, si-

tuada sobre o Rio Sever”. Como nos diz o

seu autor, nesse mesmo texto, provavel-

mente baseado em crónicas dos finais do

século IX, sobre as atividades bélicas de

Ibn Maruán, existiria uma Fortaleza de

Ammaia-o-Monte. Esta fortaleza de que

fala a referida crónica poderia ser cono-

tada com a torre árabe que se levanta

sobre um dos torreões defensivos da porta

Nascente da cidade de Ammaia, contudo,

nem as ruínas de Ammaia estão implan-

tadas num monte, nem esta torre ofere-

ceria a capacidade defensiva que Ibn

Maruán procurava. O ambiente de confli-

tualidade gerado pelas manifestações

autonómicas do muladi Ibn Maruán,

obri gá-lo-iam a procurar refúgios com ca-

pacidades defensivas que o vale da Am-

maia não oferece. Parece, assim claro, que

o monte sobranceiro ao Sever, nas imedia-

ções da Amaia-das-Ruínas, é o que hoje

sustenta a Vila de Marvão e que recebeu o

nome daquele que aí mandou construir

uma fortaleza nos finais do século IX. Pelo

menos nessa data, e baseados, unica-

mente, na documentação escrita, poder-

-se-á afirmar que no cerro de Marvão

foram levantadas estruturas defensivas,

seguramente reaproveitando alguma

velha fortificação da Idade do Ferro e

quem sabe se reformulada pelos romanos.

Entre 1160 e 1166, Marvão terá passado

para o controlo das gentes de Afonso

Henriques. Nada nos informa se esta

dating from the 10th century, which

reads: “... Mount Amaia, known today as

Amaia de Ibn Maruán, is a high and

impregnable mountain, east of the city

of Amaia-in-Ruins, located on the River

Sever”. In that same text, probably based

on chronicles from the end of the 9th

century about the warlike activities of Ibn

Maruán, the author tells us that there

existed a Fortress of Ammaia-Mount.

This fortress mentioned in the chronicle

could be connected with the Arab tower

that rises above one of the defensive

turrets of the east gate of the city of

Ammaia; however, the ruins of Ammaia

are not located on a hill, nor would this

tower offer the defensive capacity that

Ibn Maruán sought. The conflict brought

about by the Muwallad Ibn Maruán’s bid

for autonomy compelled him to seek a

refuge that could be defended and which

the Ammaia valley did not offer. It

therefore seems clear that the hill

overlooking the Sever, in the vicinity of

Amaia-in-Ruins, is what supports the

town of Marvão today and was named

after the builder of the fortress there at

the end of the 9th century. At least on

that date, and based solely on written

documentation, it can be said that

defensive structures were erected on the

hill of Marvão, certainly reusing some old

fortifications from the Iron Age, possibly

reshaped by the Romans.

Between 1160 and 1166, Marvão came

under the control of the people of Afonso

Henriques. There is nothing to tell us

whether this transition was the result of

a siege placed by the Christians on those

faithful to Allah, living on the hilltop

perch refortified by Ibn Maruán in 877.

The followers of Muhammad probably

abandoned the site peacefully, and

shortly afterwards, Afonso Henriques

handed these lands over to the man -

agement of the monk-knights of the

tructuras de la ciudad de Ammaia y la

defendible cresta cuarcítica que junto se

erige no fueron olvidadas por los segui-

dores de Alá. Se reconoce hoy como se-

guro que la más antigua referencia

escrita relacionada con Marvão es la Cró-

nica de Isa Ibn Áhmad ar-Rázi, datable

del siglo X, donde se lee: “... el Monte de

Amaia, conocido hoy por Amaia de Ibn

Maruán es una colina alta e inexpugna-

ble, al este de la ciudad de Amaia-das-

Ruinas, situada sobre el río Sever”.

Como nos dice su autor, en ese mismo

texto, probablemente basado en crónicas

de finales del siglo IX, sobre las activida-

des bélicas de Ibn Maruán, existiría una

Fortaleza de Ammaia-o-Monte. Esta for-

taleza de la que habla la referida crónica

podría ser connotada con la torre árabe

que se levanta sobre uno de los torreones

defensivos de la puerta Naciente de la

ciudad de Ammaia, sin embargo, ni las

ruinas de Ammaia están implantadas en

un monte, ni esta torre ofrecería la capa-

cidad defensiva que Ibn Maruán bus-

caba. El entorno de conflictividad ge -

ne rado por las manifestaciones autonó-

micas del muladí Ibn Maruán le obligaría

a buscar refugios con capacidades defen-

sivas que el valle de Ammaia no ofrece.

Parece claro, pues, que el monte que do-

mina a Sever, en las inmediaciones de

Amaia-das-Ruinas, es el que hoy sos-

tiene la Villa de Marvão y que recibió el

nombre del que allí mandó construir una

fortaleza a finales del siglo IX. Al menos

en esa fecha, y basados únicamente en la

documentación escrita, se podrá afirmar

que en el cerro de Marvão se levantaron

estructuras defensivas, seguramente re-

aprovisionando alguna vieja fortificación

de la Edad del Hierro y quizás reformu-

lada por los romanos.

Entre 1160 y 1166, Marvão habrá pasado

al control de las gentes de Afonso Henri-

ques. Nada nos dice si este pasaje fue re-

Page 15: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

18

passagem resultou de um assédio por

parte dos cristãos aos que fiéis a Alá que

viviam no alcandorado morro refortifi-

cado em 877 por Ibn Maruán. Provavel-

mente os seguidores de Maomé terão

abandonado pacificamente o sítio e

pouco tempo depois, Afonso Henriques,

entrega estas terras à gestão dos mon-

ges-cavaleiros do Templo. Marvão fa-

zendo agora parte da Monarquia Por -

tuguesa, de imediato, passa a ocupar

lugar de relevo na administração militar

e política da vasta e despovoada região

a sul do Tejo. A sua importância resul-

taria, naturalmente, da posição estraté-

gica no topo de uma inacessível crista

quartzítica, mas também, de uma velha

tradição administrativa que entroncava

no vasto território tutelado pela cidade

de Ammaia, situada a escassas centenas

de metros da vila de Marvão. Embora

não conheçamos, em pormenor, os limi-

tes administrativos do “Municipium

Ammaiense”, sabemos que eles eram am-

plos e, provavelmente, vieram a refletir-

se na carta de demarcação do termo de

Marvão que lhe foi outorgado por D. San-

cho II, em 1226, simultaneamente com a

entrega da primeira Carta de Foral. O

vasto território abarcava praticamente

todo o atual distrito de Portalegre e uma

larga faixa de território da vizinha provín-

cia de Cáceres, até bem perto de Malpar-

tida de Cáceres. Terminados os conflitos

da Reconquista começam-se a demarcar

os contornos de outros municípios e a de-

finir as fronteiras entre Castela e Portugal.

Em 1267, a 16 de fevereiro, na denomi-

nada Convenção de Badajoz, sob o patro-

cínio dos reis Afonso X, de Castela,

Aragão e Andaluzia e Afonso III de Portu-

gal e sob pressão das poderosas ordens

militares que disputavam o território,

promovem-se encontros entre os ho-

mens-bons das duas terras para a demar-

cação dos limites territoriais. Esboça-se,

nesta data, a fronteira entre Marvão e Va-

Temple. Marvão, now part of the Portu -

guese monarchy, immediately assumed

a prominent place in the military and

political administration of the vast and

unpopulated region south of the Tagus.

Its importance resulted naturally from

its strategic position atop an inaccessible

quartzite crag, but also from an old,

converging administrative tradition from

the vast territory protected by the city of

Ammaia, located just a few hundred

metres from the village of Marvão.

Although we do not have detailed

knowledge of the administrative limits of

the “Municipium Ammaiense”, we do

know that they were broad and this was

probably reflected in the letter

demarcating the term of Marvão that

was granted it by King Sancho II in 1226,

when the first Charter was decreed. The

vast territory encompassed practically

the whole of the current district of

Portalegre and a wide range of territory

in the neighbouring province of Cáceres,

very close to Malpartida de Cáceres.

After the conflicts of the Reconquista

were over, the boundaries of other

municipalities began to be set and the

borders between Castile and Portugal

were defined. On February 16, 1267, in

the so-called Badajoz Convention, under

the patronage of King Alfonso X, of

Castile, Aragon and Andalusia and King

Afonso III of Portugal, and under

pressure from the powerful military

orders that disputed the territory,

meetings were held between the "Good

Men" of the two lands to define

territorial limits. On this date, the border

between Marvão and Valencia that we

know today was drawn, and was

confirmed with the Treaty of Alcañices in

1297. With this Treaty, signed on

September 12, 1297, by King Denis of

Portugal and King Ferdinand IV of

Castile, part of what is Spanish territory

today and which until then had been

sultado de un asedio por parte de los cris-

tianos a los que fieles a Alá que vivían en

el acantilado reforzado en 877 por Ibn

Maruán. Probablemente los seguidores

de Mahoma abandonaron pacíficamente

el lugar y poco tiempo después, Afonso

Henriques, entrega estas tierras a la ges-

tión de los monjes caballeros del Templo.

Marvão haciendo ahora parte de la Mo-

narquía Portuguesa, de inmediato, pasa

a ocupar lugar de relieve en la adminis-

tración militar y política de la vasta y des-

poblada región al sur del Tajo. Su im por-

tancia resultaría, naturalmente, de la po-

sición estratégica en la cima de una inac-

cesible cresta cuarcítica, pero también de

una vieja tradición administrativa que

entraba en el vasto territorio tutelado por

la ciudad de Ammaia, situada a escasos

cientos de metros del pueblo de Marvão.

Aunque no conocemos en detalle los lí-

mites administrativos del “Municipium

Ammaiense”, sabemos que eran amplios

y, probablemente, llegaron a reflejarse en

la carta de demarcación del término de

Marvão que le fue otorgado por D. San-

cho II, en 1226, simultáneamente con la

entrega de la primera Carta de Foral. El

vasto territorio abarcaba prácticamente

todo el actual distrito de Portalegre y una

amplia franja de territorio de la vecina

provincia de Cáceres, hasta muy cerca de

Malpartida de Cáceres. Finalizados los

conflictos de la Reconquista se empiezan

a delimitar los contornos de otros munici-

pios y a definir las fronteras entre Castilla

y Portugal. En 1267, el 16 de febrero, en la

denominada Convención de Badajoz, bajo

el patrocinio de los reyes Alfonso X, de

Castilla, Aragón y Andalucía y Afonso III

de Portugal y bajo presión de las podero-

sas órdenes militares que disputaban el

territorio, se promueven encuentros entre

los hombres buenos de las dos tierras

para la demarcación de los límites terri-

toriales. En esa fecha se esboza la fron-

tera entre Marvão y Valencia que hoy

Page 16: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

19

Limite do Termo Municipal de Marvãoem 1226, sobre extrato do mapa dePedro Albernaz (1602-1642)

Límite del Término Municipal deMarvão en 1226, en extracto del mapade Pedro Albernaz (1602-1642)/Demarcation of the Municipal Limits ofMarvão in 1226, extract of the map byPedro Albernaz (1602-1642).

(grafismo: Jorge de oliveira)

Page 17: FICHA TÉCNICA/ CREDITS

20

lência que hoje conhecemos e que com o

Tratado de Alcanizes, em 1297, se veio a

confirmar. Com este Tratado, assinado a

12 de setembro de 1297, pelos reis D.

Dinis, de Portugal e Fernando IV, de Cas-

tela perdeu-se, definitivamente, a parte do

território hoje espanhol, até aí incorpo-

rado no concelho de Marvão. Desse Tra-

tado resultou, igualmente, a definição da

fronteira entre Portugal e Castela que, em

grande parte, ainda hoje se mantém. Em-

bora nestas gentes o sangue que lhes cor-

ria nas veias fosse o mesmo, os senhores

do poder impuseram-lhes barreiras polí-

ticas, mas, em 1313, os homens-bons de

Marvão e Valência ratificaram o mais an-

tigo tratado de abertura de fronteiras da

Europa, que conferia liberdade de circu-

lação a pessoas e bens entre os dois mu-

nicípios. Esse Tratado perdurou ao longo

dos séculos até aos nossos dias, embora o

troar dos canhões, durante alguns tem-

pos, demasiados tempos, aliás, se fizesse

ouvir mais alto que o falar raiano em que

sempre se entenderam as gentes de Mar-

vão e Valência de Alcântara.

E tal como Saramago escrevia que “de

Marvão vê-se tudo” a quase milenar vila

continua lá de cima do penhasco quart-

zítico a vigiar o território que sempre foi

seu nas duas margens do Sever mas,

que por via de uma rocambolesca histó-

ria política, obriga a que as gentes de

um lado do rio aprendam português e

do outro castelhano, mas entre si, con-

tinuamos a entender-nos no ancestral

raiano, que sempre nos uniu neste

longo percurso e que muito nos fez

andar “pra qui chegar”, como bem can-

tava José Mário Branco.

incorporated in the municipality of

Marvão, was definitively lost. This Treaty

also resulted in the definition of the

border between Portugal and Castile,

which, to a great extent, is still main -

tained today. Although the blood that

flowed through these people’s veins was

the same, the lords of power imposed

political barriers on them. But in 1313,

the “Good Men” of Marvão and Valencia

ratified Europe's oldest open-border

treaty, giving freedom of movement for

people and goods between the two

municipalities. That treaty has persisted

over the centuries to the present day,

although the roar of the cannons which

was heard for some time, indeed too

long, was louder than the cross-border

tongue in which the people of Marvão

and Valência de Alcântara always under -

stood each other.

Just as Saramago wrote that “from

Marvão, one can see all”, this almost mil -

len nial town is still aloft on its quartzite

crag, guarding the territory that has

always been its own on the banks of

Sever, but which, due to a rocky political

history, means that people on one side of

the river learn Portuguese and on the

other Castilian. Between us, however, we

continue to understand each other in our

ancestral cross-border language, which

has always united us on this long journey

as we walked “to get here”, as José Mário

Branco sang.

conocemos y que con el Tratado de Alca-

ñices, en 1297, se ha confirmado. Con

este Tratado, firmado el 12 de septiembre

de 1297, por los reyes D. Dinis, de Portu-

gal y Fernando IV, de Castilla se ha per-

dido definitivamente la parte del territorio

hoy español, hasta allí incorporado en el

municipio de Marvão. De este Tratado se

ha derivado también la definición de la

frontera entre Portugal y Castilla que, en

gran parte, todavía se mantiene. Aunque

en estas gentes la sangre que corría por

sus venas era la misma, los señores del

poder les impusieron barreras políticas,

pero en 1313, los hombres buenos de

Marvão y Valencia ratificaron el más an-

tiguo tratado de apertura de fronteras de

Europa, que otorgaba libertad de circula-

ción a personas y bienes entre los dos

municipios. Este tratado ha perdurado a

lo largo de los siglos hasta nuestros días,

aunque el tronar de los cañones, durante

algún tiempo, durante demasiado tiempo,

por cierto, se hiciera oír más alto que el

discurso rayano en el que siempre se han

entendido las gentes de Marvão y Valen-

cia de Alcántara.

Y tal como Saramago escribía que “de

Marvão se ve todo” la casi milenaria villa

sigue desde arriba del acantilado cuarzo

vigilando el territorio que siempre fue

suyo en las dos orillas del Sever pero, por

medio de una rocambolesca historia po-

lítica, obliga a que las gentes de un lado

del río apre ndan portugués y del otro cas-

tellano, pero entre sí, seguimos enten-

diéndonos en el ancestral rayano, que

siempre nos ha unido en este largo reco-

rrido y que mucho nos ha hecho caminar

“para llegar aquí”, como bien cantaba

José Mário Branco.

Jorge de Oliveira

CHAIA – Universidade de Évora/ University of Évora