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NOVOS EMPREGOS E COMPETÊNCIAS NOS DOMÍNIOS DA SAÚDE E SERVIÇOS SOCIAIS NO CONTEXTO DO ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO Relatório Final Coordenadores: Maria Cândida Soares José António de Sousa Fialho Novembro de 2011 POAT/FSE: Gerir, Conhecer e Intervir

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NOVOS EMPREGOS E COMPETÊNCIAS NOSDOMÍNIOS DA SAÚDE E SERVIÇOS SOCIAIS NOCONTEXTO DO ENVELHECIMENTODEMOGRÁFICO

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  • NOVOS EMPREGOS E COMPETNCIAS NOS

    DOMNIOS DA SADE E SERVIOS SOCIAIS NO CONTEXTO DO ENVELHECIMENTO

    DEMOGRFICO

    Relatrio Final

    Coordenadores:

    Maria Cndida Soares

    Jos Antnio de Sousa Fialho

    Novembro de 2011

    POAT/FSE: Gerir, Conhecer e Intervir

  • 2

    ndice SUMRIO EXECUTIVO 5 I. INTRODUO 24

    II. ENQUADRAMENTO MUNDIAL 26

    III. O CONTEXTO EUROPEU 31

    IV. ENVELHECIMENTO DA POPULAO EM PORTUGAL 36 IV. 1 - Evoluo demogrfica e caracterizao da populao idosa 36 IV.2 - Os idosos no contexto das alteraes da estrutura familiar 39 IV.3 - A dependncia dos idosos 42 IV.4 - O rendimento dos idosos e sua influncia na qualidade de vida 48 IV.5 - Pessoas idosas e condio perante o trabalho 53 IV.6 - Actividade no econmica dos idosos 58

    IV.6.1 - Voluntariado ........................................................................................................................ 60 IV.6.2 - Universidades Seniores ...................................................................................................... 63 IV.6.3 - Actividades de lazer e o turismo snior ............................................................................... 65

    V. OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DOS IDOSOS 69 V.1 - Envelhecimento e suas principais consequncias 69 V.2 - O fenmeno da dependncia 71 V.3 - A prestao de cuidados aos idosos 73

    VI. O SISTEMA DE SADE E DE PROTECO SOCIAL PARA APOIO A IDOSOS: A SUA CARACTERIZAO E UTILIZAO 77

    VI.1 - O subsistema de Sade para Apoio a Idosos 77 VI.2 - O subsistema de Proteco Social para apoio a idosos 88 VI. 3 - A caracterizao dos profissionais em cada subsistema 95

    VI.3.1 - Subsistema de Sade para Apoio a Idosos ........................................................................ 95 VI.3.2 Subsistema de Proteco Social de Apoio a Idosos ........................................................ 102 VI.3.3 A oferta formativa ............................................................................................................ 104

    VI.4 - O estudo de casos e o exemplo de boa prtica 107 VI.4.1 - Estudo de casos ................................................................................................................ 107 VI.4.2 - Exemplo de boa prtica .................................................................................................... 116

    VII. A POPULAO IDOSA EM 2020 120 VII.1 - Projeces demogrficas 120 VII. 2 - Cenrios para a evoluo das estruturas dos agregados familiares 135

    VIII. AS CARACERISTICAS DO SISTEMA DE SADE E PROTECO SOCIAL PARA RESPOSTA SITUAO DOS IDOSOS 136

    IX. AS NECESSIDADES DE EMPREGO 141 IX.1 - Subsistema de Sade 141 IX.2 - Subsistema de Proteco Social 145 IX.3 - Evoluo do Emprego Total 147 IX.4 - Necessidades de Qualificao 149 IX.5 - As competncias necessrias 151

    X. CONCLUSES E RECOMENDAES 155 X.1 - Concluses 155 X.2 - Recomendaes 159

    METODOLOGIA 162 BIBLIOGRAFIA 171

    ANEXOS 175

  • 3

    ndice de Figuras Figura 1 Peso da populao idosa - 2007 ............................................................................................... 30 Figura 2 ndice de envelhecimento - 2007 ............................................................................................... 30 Figura 3 Populao Idosa na UE27, em 2010 ......................................................................................... 31 Figura 4 Populao com 65 e mais anos em 2010, por sexo .................................................................. 32 Figura 5 Indicadores de envelhecimento e de dependncia .................................................................... 33 Figura 6 Evoluo da populao total e activa com 65 e mais anos ........................................................ 36 Figura 7 Evoluo da populao idosa entre 2000 e 2010 ...................................................................... 37 Figura 8 Esperana mdia de vida nascena e aos 65 anos, Portugal, 1990 a 2006 ........................... 38 Figura 9 Tipologias de famlias clssicas ................................................................................................. 40 Figura 10 Famlias monoparentais e unipessoais .................................................................................... 40 Figura 11 Distribuio dos agregados familiares ..................................................................................... 41 Figura 12 Distribuio dos agregados familiares por dimenso e tipologia ............................................. 42 Figura 13 - ndice de dependncia de populao idosa -2009 ................................................................... 43 Figura 14 - Taxa de dependncia dos idosos - 2009 .................................................................................. 44 Figura 15 Indicadores de envelhecimento ............................................................................................... 45 Figura 16 Projeco da evoluo dos ndices de envelhecimento e dependncia, Portugal,

    2000-2050 .................................................................................................................................. 46 Figura 17 Taxa de risco de pobreza segundo o sexo e grupo etrio, Portugal, EU-SILC 2010 ............... 48 Figura 18 Taxa de risco de pobreza segundo a composio do agregado familiar, Portugal, EU-

    SILC 2010 .................................................................................................................................. 49 Figura 19 Taxa de risco de pobreza, populao total e populao pobre, com 65 anos e mais .............. 50 Figura 20 Pensionistas de velhice do regime geral da Segurana Social: total e por escalo de

    penso (em Euros) .................................................................................................................... 51 Figura 21 ndice de carncias da populao ........................................................................................... 52 Figura 22 Populao activa, empregada e desempregada em Portugal ................................................. 53 Figura 23 Estrutura da populao segundo a situao perante o trabalho, grupo etrio 55-64

    anos, 2010 ................................................................................................................................. 54 Figura 24 Populao empregada em Portugal......................................................................................... 55 Figura 25 Evoluo da estrutura da populao empregada por nvel de habilitao ............................... 55 Figura 26 Evoluo da estrutura da populao empregada por nvel de habilitao ............................... 56 Figura 27 Total de pensionistas 1990-2009 ............................................................................................. 57 Figura 28 Estrutura etria dos pensionistas ............................................................................................. 58 Figura 29 Rcio de indivduos sem amigos por grupos de idade em relao populao total

    2006 ........................................................................................................................................... 59 Figura 30 Rcio de indivduos sem ajuda por grupos de idade em relao populao total

    2006 ........................................................................................................................................... 60 Figura 31 Percentagem de voluntrios por grupos etrios segundo o tipo de instituio ........................ 61 Figura 32 Voluntariado entre as pessoas com 50 e mais anos na Europa (% por pas) .......................... 63 Figura 33 Modificaes fisiolgicas do envelhecimento .......................................................................... 69 Figura 34 Principais Problemas de Sade dos idosos ............................................................................. 71 Figura 35 Nmero de camas contratadas em funcionamento por tipo de unidades e respectiva

    estrutura at 31/12/2010 ............................................................................................................ 78 Figura 36 Evoluo do nmero de camas contratadas ............................................................................ 78 Figura 37 Evoluo dos lugares de internamento .................................................................................... 79 Figura 38 Nmero de acordos e camas por entidade prestadora ............................................................ 79 Figura 39 Nmero de camas contratadas, em funcionamento at 31/12/2010 por tipo Unidades

    para a populao de 65 e mais anos ......................................................................................... 80 Figura 40 Nmero acumulado de utentes referenciados ......................................................................... 83 Figura 41 Motivos de referenciao 2010 ................................................................................................ 84 Figura 42 Distribuio dos utentes por sexo e grupo etrio - 2010 .......................................................... 84 Figura 43 Utentes com idades acima dos 65 anos - evoluo ................................................................. 85 Figura 44 Respostas sociais direccionadas para idosos ......................................................................... 91 Figura 45 Respostas sociais para idosos e pessoas em situao de dependncia................................. 92 Figura 46 Capacidade instalada .............................................................................................................. 93 Figura 47 Taxas de cobertura 2009 ...................................................................................................... 94 Figura 48 Agrupamentos Profissionais em 2008 ..................................................................................... 96 Figura 49 Evoluo comparativa entre os Mdicos inscritos na Ordem dos Mdicos e os

    Mdicos em exerccio no SNS (2002-2007) ............................................................................... 97 Figura 50 Nmero mdicos e de habitantes por mdico segundo a especialidade ................................. 98 Figura 51 Evoluo das carreiras mdicas do SNS, entre 2002 e 2007 .................................................. 99 Figura 52 Distribuio dos mdicos por grupos etrios e sexos, Portugal, 2008 ................................... 100

  • 4

    Figura 53 Nmero de enfermeiros e respectiva estrutura por especialidades ....................................... 101 Figura 54 Profissionais de Sade na RNCCI ......................................................................................... 102 Figura 55 Trabalhadores que exercem actividade de apoio a idosos .................................................... 103 Figura 56 Distribuio do emprego segundo a antiguidade na empresa ............................................... 104 Figura 57 Cenrios para a populao residente em Portugal no ano 2020 ........................................... 121 Figura 58 -Saldo Migratrio e saldo natural .............................................................................................. 123 Figura 59 ndice Sinttico de Fecundidade 2009 ................................................................................... 124 Figura 60 Hipteses subjacentes aos Cenrios do INE ......................................................................... 125 Figura 61 Evoluo e projeces da Esperana Mdia de Vida: 1960-2059 ......................................... 125 Figura 62 Evoluo e projeces do ndice Sinttico de Fecundidade: 1960-2059 ............................... 126 Figura 63 Evoluo e projeces do Saldo Migratrio: 1960-2059 ........................................................ 127 Figura 64 Projeces da Populao Residente:2010-2060 ................................................................... 129 Figura 65 Pirmides Etrias da Populao Residente, por Gnero: 2009 e 2020 ................................. 130 Figura 66 Projeces dos grupos etrios 55-64, 65-74 e 75 anos: 2009-2060 ................................. 131 Figura 67 Variao populacional dos grupos etrios 55-64, 65-74 e 75 anos: 2009-2020 .................. 132 Figura 68 Indicadores Demogrficos e de Dependncia, 2009 ............................................................. 133 Figura 69 Alguns Indicadores Demogrficos e de Dependncia: 2020 ................................................. 134 Figura 70 - Anlise SWOT dos Sistemas de Sade e Proteco Social ................................................... 137 Figura 71 - Necessidades em recursos humanos de Tcnicos de sade no SNS em 2020 ..................... 142 Figura 72 Previso das Necessidades de Recursos Humanos na RNCCI, em 2020 Cenrio

    Baixo ........................................................................................................................................ 143 Figura 73 Previso das Necessidades de Recursos Humanos na RNCCI, em 2020 Cenrio

    Alto ........................................................................................................................................... 144 Figura 74 Tcnicos de Sade Necessrios no SNS e na RNCCI, em 2020 ......................................... 145 Figura 75 Previso das Necessidades de Recursos Humanos nos Servios de Apoio Social em

    2020 ......................................................................................................................................... 147 Figura 76 Previso das Necessidades Totais de Recursos Humanos - 2020 ....................................... 148 Figura 77 Evoluo dos Recursos Humanos nos Servios de Sade e Sociais 2009-2020 ............... 148 Figura 78 Necessidade em algumas especialidades mdicas vocacionadas para idosos, em

    2020 ......................................................................................................................................... 150

  • 5

    SUMRIO EXECUTIVO

    Segundo as concluses da Assembleia Mundial sobre Envelhecimento

    realizada, em 2002, em Madrid, sob o tema Sociedade para Todas as

    Idades, reconheceu-se que o envelhecimento da populao um

    facto fundamental que define a sociedade contempornea, gerando

    desafios em todos campos e exigindo a participao de todos.

    Destacou como prioridades o tratamento dos problemas relacionados

    com o envelhecimento, nomeadamente a relao entre pobreza e

    sade, o impacto da situao socioeconmica no envelhecimento, a

    reduo da dependncia e da descriminao em relao a todas as

    idades e a proteco social.

    Tais factos constam do artigo 14 da Declarao Poltica da Segunda

    Assembleia Mundial sobre Envelhecimento (AME) no qual abordada

    especificamente a questo da sade dos idosos ao afirmar:

    Reconhecemos a necessidade de se conseguir progressivamente a

    plena realizao do direito de todas as pessoas de desfrutar do

    mximo possvel de sade fsica e mental. O objectivo social de

    alcanar o grau mais alto possvel de sade de suma importncia em

    todo o mundo e, para que se torne realidade, preciso adoptar

    medidas em muitos sectores sociais e econmicos, fora do sector da

    sade.

    Comprometemo-nos a proporcionar aos idosos acesso universal e

    igualitrio aos cuidados mdicos e aos servios de sade fsica e

    mental. As crescentes necessidades do processo de envelhecimento

    populacional trazem a exigncia de novas polticas de cuidado e

    tratamento, promoo de meios saudveis de vida e ambientes

    propcios. Promoveremos a independncia, capacitao dos idosos e

    incentivaremos todas as possibilidades de participao plena na

    sociedade.

    Reconhecemos a contribuio dos idosos para o desenvolvimento

    atravs do desempenho do seu papel como guardies.

    Potencialidades do

    sector sade e

    cuidados sociais face

    ao envelhecimento

  • 6

    Em Portugal, entre 1960 e 2001, o fenmeno do envelhecimento

    demogrfico traduziu-se por um incremento de 140 % da populao

    idosa. A proporo da populao idosa, que representava 8,0 % do

    total da populao, em 1960, mais do que duplicou, passando para

    16,4 %, em 2001. Em valores absolutos, a populao idosa aumentou

    quase um milho de indivduos, passando de 708 570, em 1960, para

    1 702 120, em 2001, admitindo-se que em 2020 a populao de 65 e

    mais anos seja superior a 2 200 000. Segundo dados das Naes

    Unidas para 2007, Portugal o dcimo pas do mundo com maior

    percentagem de idosos e o dcimo quarto com maior ndice de

    envelhecimento.

    Tendo em conta o enquadramento europeu e os desafios de

    necessidade de criao de emprego para fazer face actual situao

    do mercado de trabalho e s perspectivas futuras, desenvolveu-se,

    para Portugal, um trabalho sistmico num sector como o da sade e

    cuidados sociais com reais potencialidades futuras de valor

    acrescentado e de criao de postos de trabalho (entre 5 e 13 % a

    participao no PIB e 20 milhes de pessoas trabalhavam, em 2006,

    nestes sectores nos Estados Membros da UE). Este estudo abrange,

    apenas, os sectores pblico e solidrio.

    O presente trabalho concentra-se na populao com 65 e mais anos,

    sem no entanto esquecer o escalo etrio dos 55-64 anos, na medida

    em que qualquer poltica pblica ou programas direccionados para

    melhorar as condies de bem-estar da populao mais velha deve

    comear por ter actuaes preventivas. Este estudo inclui, tratando-se

    de um sector com predominncia do trabalho feminino, uma

    abordagem de gnero.

    Deste modo o tema das necessidades e oportunidades criadas pela

    populao mais velha em termos de criao de postos de trabalho e

    perfis profissionais passar por uma anlise das questes relacionadas

    com a temtica do envelhecimento activo.

    Tendo em conta esta realidade complexa, vrias organizaes

    internacionais e autores tm elaborado sobre conceitos de

  • 7

    envelhecimento activo, como a OMS, OCDE, UE.

    A evoluo demogrfica em Portugal no passado recente caracterizou-

    se por uma evoluo muito gradual do crescimento da populao,

    observando-se o aumento do peso dos grupos etrios seniores e a

    reduo da populao jovem.

    O peso dos idosos e dos grandes idosos na estrutura populacional,

    tem vindo a aumentar de forma significativa, devido, por um lado,

    diminuio dos nascimentos e, por outro, ao aumento da esperana de

    vida. De salientar que os grandes idosos (mais de 80 anos) passaram

    de 340,0 milhares, em 2000, para 484,2 milhares, em 2010. Este

    aumento originado sobretudo pelo aumento da populao feminina

    desta faixa etria que teve um acrscimo de cerca de 80%.

    A esperana mdia de vida nascena dos homens e mulheres

    nascidos antes de 1990 estava entre 71 e 77 anos e ao atingir 65 anos

    tem uma esperana de vida de mais 17 a 20 anos respectivamente.

    A populao residente em Portugal, em 31 de Dezembro de 2010,

    segundo o INE, era composta por 15,2 % de jovens (com menos de 15

    anos de idade), 18,0 % de idosos (65 e mais anos de idade) e 66,8 %

    de populao em idade activa (dos 15 aos 64 anos de idade). A

    relao entre o nmero de idosos e de jovens traduziu-se, em 2010,

    num ndice de envelhecimento de 118 idosos por cada 100 jovens (112

    em 2006).

    Evoluo

    demogrfica em

    Portugal e ndice de

    envelhecimento

    Como principais transies demogrficas que afectaram a estrutura

    familiar apontam-se: i) diminuio da fertilidade e mortalidade e

    aumento da esperana de vida, ii) fim do baby-boom (1960) e

    descida das taxas de fertilidade abaixo do nvel de renovao o que se

    traduziu num baixo crescimento da populao e seu envelhecimento,

    iii) aumento das taxas de divrcio, iv) aumento substancial do nvel

    educacional das mulheres e sua participao no mercado de trabalho

    desde 1970, reforada pela necessidade de contribuir para o aumento

    Transies

    demogrficas e

    estrutura familiar

  • 8

    do rendimento familiar.

    Todos estes factores combinados conduziram a uma diversificao da

    estrutura familiar originando famlias menos numerosas, um

    crescimento no nmero de famlias monoparentais e de pessoas

    isoladas. A desinstitucionalizao da vida familiar est estritamente

    ligada com os processos de baixo crescimento da populao e

    acelerao do envelhecimento populacional.

    O ndice de dependncia um indicador relevante para o domnio dos

    cuidados aos idosos e Portugal apresentava, em 2009, uma das

    maiores taxas de dependncia na UE, com um valor de 26,3 s

    ultrapassado pela Itlia, Grcia e Sucia, com o valor de 30,6 e pela

    Alemanha com o valor de 30,9, sendo a mdia comunitria de 25,6.

    Em menos de 15 anos, o ndice de dependncia passou em Portugal

    de 22 % para 27 %. Esta situao levanta a questo de quais as

    solues mais adequadas para lhe dar resposta, levando a equacionar

    o papel das famlias, da comunidade e dos poderes pblicos numa

    perspectiva de conciliao.

    Grau de dependncia

    dos idosos

    A populao com 65 e mais anos, de acordo com fontes comunitrias,

    apresentava, para o ano de 2009, uma taxa de risco de pobreza,

    (considerado como abaixo de 60 % do rendimento mediano), de 21,0%

    depois das transferncias sociais, valor ligeiramente superior ao

    registado em 2008, de 20,1 % e superior mdia comunitria (17,8 %).

    Conforme se vai avanando nas idades dos idosos o agravamento do

    risco da pobreza maior, apresentando a populao de 75 e mais

    anos um risco de pobreza que atinge 24,4 %, sendo na UE apenas de

    20,3 %.

    Quando analisada a situao das penses por escales, tendo por

    fonte a Caixa Nacional de Penses, para 2009, observa-se que o

    nmero de pensionistas com um escalo de rendimento acima dos 500

    Euros de cerca de 20 % do total, aumento acentuado em relao a

    Rendimento dos

    idosos e qualidade de

    vida

  • 9

    2005 (12 %).

    Constata-se que a passagem de uma pessoa activa para a reforma

    conduz a uma reduo significativa de rendimento este facto poder,

    por exemplo, explicar ser Portugal o nico pas da UE em que a idade

    efectiva de sada do mercado de trabalho para os homens seja maior

    que a idade legal de sada, o que contudo no se passa para as

    mulheres o que permite concluir que o risco de pobreza aumenta

    sistematicamente com a idade fazendo diminuir a qualidade de vida

    dos idosos.

    A populao activa de 65 e mais anos (idosos), representava, em

    2010, 5,7 % do total de activos, verificando-se que se observou um

    crescimento quando comparado com 1990, ano em que essa

    populao apenas representava 3,8 % do total. Contudo, na ltima

    dcada, observou-se uma situao de quase estabilidade em termos

    relativos.

    O emprego da populao idosa no total do emprego tem vindo a

    registar um acrscimo progressivo desde 1990, ano em que

    representava 4 % do total do emprego, passando para 5,9 % em 2000

    e estabilizando em torno dos 6,3 % aps 2005. Esta evoluo est em

    consonncia com as linhas de orientao da UE, no quadro da

    Estratgia Europeia para o Emprego, atravs das quais se tem

    procurado incentivar uma maior participao e permanncia dos

    trabalhadores no mercado de trabalho.

    A populao inactiva na condio de pensionistas, entre 1990 e 2009,

    apresentou um crescimento significativo do nmero total de

    pensionistas (39,4 %), quer da Segurana Social (29,8 %), quer da

    Caixa Geral de Aposentaes (122 %). Os pensionistas com mais de

    65 anos representavam em 2009, 90,8 % do total de pensionistas e em

    2000 esse valor era de 93,7 %, traduzindo o aumento do peso das

    reformas antecipadas.

    De realar que cada vez mais o nmero de pensionistas tem tendncia

    a crescer face ao envelhecimento da populao, s reformas

    Condio perante o

    trabalho

  • 10

    antecipadas mas tambm pelo aumento da esperana de vida,

    nomeadamente, nos grupos etrios mais elevados.

    O segredo de um envelhecimento bem sucedido a forma como se

    prepara a velhice, pois os comportamentos adoptados ao longo da vida

    reflectir-se-o na fase final desta.

    No envelhecimento activo devem integrar-se actividades dos idosos

    ligadas participao social (contactos com amigos e parentes),

    aces de voluntariado, aces culturais e educativas (exemplo UTIS)

    e de lazer (exemplo programa do Turismo Snior).

    Estas prticas tm como objectivos: melhorar a qualidade de vida e o

    bem-estar da populao com 60 ou mais anos de idade; estimular a

    interaco social, enquanto factor de combate solido e excluso

    (evitando o isolamento social que tende a aumentar com a idade em

    todos os EM da UE); criar oportunidade de continuar a aprender e

    praticar novas experincias; possibilitar, populao snior, o usufruto

    de perodos de frias e lazer.

    Actividades no

    econmicas e

    participao social

    Principais problemas

    dos idosos

    Por envelhecimento entende-se um processo de deteriorao

    endgena e irreversvel das capacidades funcionais do organismo.

    Neste processo de envelhecimento h competncias afectadas,

    intelectuais, psicomotoras e perceptivas; problemas derivados de

    deficincias auditivas e visuais assim como problemas de sade oral e

    problemas resultantes de doenas degenerativas.

    Os principais problemas de sade dos idosos fazem-se sentir ao nvel

    do sistema nervoso central, aparelho locomotor, sistema

    cardiovascular, sistema respiratrio e urinrio.

    Envelhecimento e

    principais

    consequncias

    A dependncia um dos grandes problemas prementes no processo Fenmeno da

  • 11

    de envelhecimento, que como qualquer outro fenmeno desta fase da

    vida visto em primeiro lugar como o resultado de um declnio e uma

    deteriorao, com perda do funcionamento mental e fsico.

    Em Portugal subsistem dois tipos de redes de suporte a situaes de

    dependncia:

    Rede informal cuidadores informais constituda por

    elementos da rede social do idoso (familiares, amigos, vizinhos,

    colegas) que lhe prestam cuidados regulares, no

    remunerados, na ausncia de um vnculo formal. Esta rede de

    cuidados informais tem vindo a modificar-se devido a um

    conjunto de factores demogrficos com impacto na estrutura

    familiar

    Rede formal de Proteco Social inclui os servios

    disponibilizados atravs de servios e equipamentos sociais e

    que tem tendncia a aumentar em consequncia de um menor

    envolvimento das famlias e de uma maior receptividade das

    geraes mais novas em recorrer a servios pagos e a uma

    situao de institucionalizao.

    dependncia

    Actualmente, o maior recurso s respostas formais motivado pela

    reduo do nmero de familiares disponveis e com condies de

    exercer a tarefa de cuidadores. O exerccio destes depende do grau de

    dependncia do familiar e do seu estado de sade, uma vez que o

    prprio cuidador pode, tambm, padecer de uma doena crnica, de

    no ter capacidade econmica, de ter uma actividade profissional e

    recorrer, ou no, aos servios de apoio.

    Conforme j focado anteriomente foi elaborado no mbito do Plano

    Nacional de Sade 2004-2010, um Programa Nacional de Sade para

    Idosos que partia dum objectivo que apontava para Envelhecer com

    sade, autonomia e independncia, o mais tempo possvel, constitui

    assim hoje um desafio responsabilidade individual e colectiva com

    traduo significativa no desenvolvimento econmico do pas.

    No mbito da Proteco Social, as respostas que tm tido maior

    Prestao de

    cuidados e o papel do

    cuidador

  • 12

    investimento por parte do sector pblico so o Servio de Apoio

    Domicilirio, os Lares de Idosos e os Centros de Dia, que em 2009

    representavam cerca de 90 % das respostas sociais para idosos.

    O conceito de Envelhecimento Activo implica uma interveno

    multidisciplinar e interdisciplinar, mas exige igualmente da parte dos

    Servios de Sade uma adaptao especfica s novas exigncias de

    cuidados a prestar populao idosa que se prev venha a aumentar

    ainda mais a partir da presente dcada em Portugal, semelhana de

    outros pases da Europa.

    Subsistema de sade

    e envelhecimento

    activo

    O Programa Nacional para a Sade das Pessoas Idosas tem por base

    3 pilares fundamentais: promoo de um envelhecimento activo ao

    longo de toda a vida; maior adequao dos cuidados de sade s

    necessidades especficas dos idosos; promoo e desenvolvimento,

    intersectorial, de ambientes capacitadores de autonomia e

    independncia dos idosos

    Programa Nacional

    para a Sade das

    Pessoas Idosas

    Ainda, no quadro do Plano Nacional de Sade 2004-2010 insere-se a

    Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), criada

    pelo Decreto-Lei n. 101/2006, de 6 de Junho, no mbito da qual

    existem as ECCI (equipas de cuidados continuados e integrados) que

    so uma tipologia de resposta, de prestao de cuidados de sade

    primrios, competindo-lhes nomeadamente, os cuidados domicilirios

    e de reabilitao, apoio psicossocial e ocupacional e cuidados de

    necessidades bsicas.

    O nmero total de camas em funcionamento na RNCCI, em Dezembro

    de 2010, era de 4 625 o que representa um aumento de 144,6 % em

    relao a 2007 em que existiam 1 902 camas. Encontram-se previstas,

    no plano de implementao, um total de 5 386 camas. Em termos do

    nmero de camas/100 000 habitantes da populao de 65 e mais

    anos, verifica-se que apenas a 0,01% de populao lhes oferecido

    camas para cuidados paliativos e a 0,04% para convalescena face a

    Rede Nacional de

    Cuidados

    Continuados

    Integrados

  • 13

    um rcio total de 0,06.

    Em 2010, foram referenciadas para a RNCCI cerca de 24 000 pessoas

    observando-se um crescimento acentuado de 2009 para 2010 (47 %).

    Note-se que 30,8 % foram referenciados pelos Centros de Sade e

    69,2 % pelos Hospitais., tendo sido identificados como motivos de

    referenciao, em 2010, fundamentalmente a dependncia AVD,

    ensino utente/ cuidador informal, reabilitao e cuidados ps

    cirrgicos.

    Em 2010, cerca de 80 % dos utentes referenciados da RNCCI tinham

    mais de 65 anos, representando o grupo etrio com idade superior a

    80 anos. Cerca de 40 % dos utentes eram do sexo masculino e sexo f

    54 % do sexo feminino, valor idntico ao de 2009.

    Perfil dos utentes

    A interveno dos servios de sade de apoio a idosos, centra-se

    ainda demasiado no tratamento da doena e na recuperao devido

    sobretudo escassez de recursos humanos, que no permite um

    planeamento da interveno dirigida preveno primria nem uma

    abordagem integrada da sade do idoso.

    Existem, ainda, constrangimentos dos servios de sade relacionados

    com estrangulamentos na prpria RNCCI e outros com aspectos por

    vezes at externos aos prprios servios de sade como articulao

    interinstitucional, a colaborao e articulao com as famlias e as

    instituies prestadoras de cuidados relativamente aos idosos.

    No que respeita articulao entre os servios de sade e o sistema

    de cuidados continuados integrados, podem apontar-se como

    principais estrangulamentos: - alguma discrepncia ao nvel da

    referenciao entre diferentes nveis de cuidados, o que leva

    sobrelotao de algumas unidades e falta de definio dos canais de

    articulao, levando a que situaes identificadas no sejam

    referenciadas, ou o sejam tardiamente.

    Quanto articulao com entidades externas aos servios de sade os

    Principais

    estrangulamentos

  • 14

    principais problemas so: desconhecimento da possibilidade de

    articulao de e para a sade, falta de definio clara de canais de

    articulao tendo como objectivo a interveno em determinantes da

    sade do idoso que no dependem apenas, ou no dependem de

    todo, dos servios de sade.

    Deve-se, ainda, referir outros constrangimentos para os idosos

    relacionados com as dificuldades de acessibilidade aos servios de

    sade especficas dessa populao que so bem conhecidas e que se

    prendem com factores de deslocao, barreira arquitectnicas,

    atendimento, custo e informao.

    O estudo prospectivo das necessidades da populao idosa em

    matria de servios sociais e as suas implicaes ao nvel dos

    empregos e competncias futuras exige uma anlise prvia da

    situao actual, sempre que possvel, contextualizada na dinmica do

    passado recente.

    Subsistema de

    proteco social

    Servios sociais e

    necessidades da

    populao idosa

    Para a populao idosa as valncias mais estruturantes, i.e. com maior

    capacidade de resposta e nas quais tem sido realizada uma maior

    aposta em termos de investimento e de apoio pblico ao

    funcionamento, so: Servio de Apoio Domicilirio (38 %), Lar de

    Idosos (25 %), Centro de Dia (27 %), com grande representatividade

    em termos de resposta.

    Na rea de interveno das pessoas adultas em situao de

    dependncia existem trs valncias especializadas: Apoio Domicilirio

    Integrado, Unidade de Apoio Integrado e Servio de Apoio Domicilirio.

    Respostas Sociais

    No ano de 2009, as respostas sociais para idosos e pessoas em

    situao de dependncia em funcionamento em Portugal Continental

    tinham capacidade para prestar servios a cerca de 247 800 utentes.

    Os servios foram utilizados em 85 % da sua capacidade

    correspondente a 211 550 utentes. Mais de um tero dessa

    Utentes e taxas de

    cobertura

  • 15

    capacidade era disponibilizada em Servios de Apoio Domicilirio,

    seguindo-se o apoio em instituio.

    Para as respostas sociais mais representativas os nveis mdios de

    utilizao, em termos nacionais, variavam entre os 97 % nos Lares de

    Idosos e os 68 % nos Centros de Dia.

    Segundo o Relatrio da Carta Social de 2009, a capacidade existente

    nas trs principais respostas sociais (Lar de Idosos, SAD e Centro de

    Dia) e nas Residncias (cerca de 1 200 lugares) correspondia a 11,9 %

    da populao com 65 ou mais anos tendo crescido em 48 %, nos

    ltimos 11 anos.

    Por comparao a dinmica demogrfica da populao com 65 e mais

    anos foi mais baixa durante esse perodo, com um aumento global na

    ordem dos 18 %.

    A conjugao destes percursos permitiu atingir uma taxa de cobertura

    de 14,7 %, em 2009, para a populao de 65 e mais anos que no

    trabalhava.

    Neste contexto, as taxas de cobertura so de 7,6 %, 13,6 %, 6,0 % e

    de 0,8 % para os Lares de Idosos, Centros de Dia, SAD e Residncias,

    respectivamente.

    Ao nvel dos cuidados a idosos, na sua maioria prestados por

    instituies de solidariedade, a escassez de oferta uma das

    principais condicionalidades actuais, quando se considera quer os

    nveis de cobertura existentes, quer as dinmicas de envelhecimento

    que se projectam para a populao portuguesa. Ainda assim, com o

    crescimento da rede de servios e equipamentos as necessidades de

    planeamento no alargamento da oferta e na adequao das respostas

    existentes assumem outra dimenso, em especial num contexto em

    que iniciativa privada de cariz solidrio imprescindvel aliar

    sustentabilidade, flexibilidade e inovao que possibilitem que a

    qualidade na proviso de servios sociais acompanhe a evoluo e

    desenvolvimentos sociais.

    Principais

    estrangulamentos

  • 16

    Na organizao actual da Aco Social, deve-se realar igualmente a

    grande dependncia do financiamento pblico que, sendo a

    contrapartida de um princpio de diferenciao positiva das pessoas

    mais carenciadas, poder estar sujeita s inevitveis presses de

    ajustamento oramental que o pas ter de enfrentar nos prximos

    anos, o que poder comprometer as ambies de crescimento da

    oferta e/ou os padres de qualidade que se consideram desejveis.

    Neste contexto, deve considerar-se adicionalmente a estagnao ou

    perda de rendimentos dos pensionistas que contribuiro para os

    desafios de gesto das instituies, em especial num quadro em que

    se colocam exigncias em termos de recursos humanos e de

    qualificao dos mesmos.

    Sendo difcil isolar no sistema de sade, o pessoal apenas afecto

    populao idosa, procurou-se assim fazer uma identificao de todos

    os profissionais do sistema de sade e ensaiando depois identificar

    profisses e especialidades mais interligadas com a sade dos idosos.

    Em 2008, exerciam actividade no Servio Nacional de Sade (SNS)

    113 125 profissionais, verificando-se que destes 23,8 % trabalhavam

    nos Centros de Sade (SRS) e 76,2 % nos hospitais.

    Os mdicos em exerccio no SNS eram, em 2008, de 23 mil, 55 % do

    sexo feminino e 44 % com idade superior a 50 anos nos cuidados

    primrios e estavam inscritos na Ordem dos Mdicos 43,2 milhares,

    dos quais 48,3 % so do sexo feminino. O nmero de mdicos por

    100 000 habitantes era de 373.

    Quanto s especialidades, existem 68 reconhecidas pela Ordem mas

    no existe a especialidade em geriatria.

    Os enfermeiros em exerccio no SNS, em 2008, elevavam-se a 35,8

    milhares e o nmero de inscritos na Ordem dos Enfermeiros era de

    53 157 (o nmero de enfermeiros por 100 000 habitantes, de 524),

    registando-se um aumento, em 2010, para 62 566, (nmero de

    enfermeiros por 100 000 habitantes, 588), sendo 81,3 % do sexo

    feminino.

    Na RNCCI existiam, em 2009, 7 681 profissionais salientando-se nas

    Caracterizao dos

    profissionais em cada

    subsistema

    Sade

  • 17

    categorias profissionais, para alm dos mdicos e enfermeiros, as de

    auxiliares mdica/aco directa, fisioterapeutas, assistentes sociais,

    terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala e psiclogos.

    De acordo com os Quadros de Pessoal de 2009 o total de

    trabalhadores para as actividades de apoio social com alojamento e de

    apoio social sem alojamento elevava-se a 123 milhares sendo difcil de

    identificar o pessoal apenas dedicado populao idosa na medida

    em que este nmero inclui tambm o apoio a crianas, jovens e

    deficientes. Estima-se, no entanto, que o volume de emprego nas

    actividades mais directamente relacionadas com as pessoas idosas

    nomeadamente lares, residncias, centros de acolhimento temporrio

    de emergncia, acolhimento familiar e centros de noite para pessoas

    idosas, encontravam-se ao servio cerca de 81,3 milhares de

    trabalhadores, o que representava cerca de 1,4 % do emprego total,

    aumento significativo em relao a 2000 onde o valor era de cerca de

    20 000 trabalhadores. Quanto estrutura do emprego por categorias

    profissionais destacam-se: animador cultural, ajudante de aco

    directa com 45 % do total, enfermeiro, encarregado de servios gerais,

    cozinheiro, ajudante de cozinheiro, motorista, trabalhador auxiliar,

    trabalhador de lavandaria e roupas, administrativo. Predomina o

    trabalho feminino (nos lares 90 %) As habilitaes escolares do

    pessoal so baixas mas houve uma melhoria acentuada, entre 2000 e

    2008. No entanto, continua a verificar-se uma rotatividade elevada.

    Proteco social

    O objectivo era obter informao qualitativa que permita perspectivar o

    emprego, as qualificaes e as competncias para o horizonte de

    2020.

    Para esse efeito, tornou-se conveniente conhecer a opinio de

    pessoas responsveis por entidades com um papel activo, quer em

    termos de apoio social, quer em termos de sade, pelo que se

    procurou atravs do dilogo orientado, conhecer a opinio de

    responsveis por lares ou instituies de apoio a idosos com diferentes

    modalidades, responsveis por centros de sade ou hospitais, peritos

    Estudo de casos e

    exemplo de boa

    prtica

    Estudo de casos

  • 18

    nos domnios de sade e nos domnios de proteco social.

    Como aspectos mais positivos em termos de assistncia a idosos

    assinala-se a criao da RNCCI, a reforma dos cuidados de sade

    primrios, o funcionamento em rede, includo a famlia, os servios de

    proximidade e as visitas domicilirias. Em 2009, na RNCCI os doentes

    com mais de 65 anos representavam 80 % e destes 43 % tinham mais

    de 80 anos.

    As maiores carncias do sistema verificam-se no pessoal tcnico e

    pessoal de enquadramento nomeadamente mdicos, (medicina geral e

    familiar), fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, gestores de casos,

    psiclogos e nutricionistas bem como no financiamento.

    Sade

    Como aspectos mais positivos da situao actual so apontados: a

    maior proximidade da prestao de servios, a resposta do 3 sector, o

    maior envolvimento das famlias, o aumento do voluntariado e a ofertas

    diversificada das respostas sociais.

    Como aspectos mais frgeis da situao actual aponta-se, por ordem

    decrescente de importncia, a capacidade financeira instalada, a

    insuficincia de recursos humanos, a falta de

    instalaes/equipamentos e a insuficincia da oferta das respostas

    sociais.

    Proteco social

    O Estudo de Caso Envelhecimento, Insuficincia Renal Crnica

    Terminal (IRCT) e o Desenvolvimento de Competncias procurou ser

    uma reflexo sobre a evoluo da doena renal junto de uma

    populao cada vez mais envelhecida, e que poder vir a necessitar

    de entrar em programa regular de hemodilise.

    O dilogo com os profissionais desta rea permitiu concluir pela

    necessidade de se encontrar uma abordagem mais adaptada e

    imaginativa a este tratamento.

    Boa Prtica

  • 19

    Conclui-se, assim, que os profissionais da rea da hemodilise tm

    vindo a desenvolver per se, em contexto laboral, competncias

    adequadas mas exprimem, no entanto, a importncia de aprofundar

    conhecimentos e competncias, com recurso a uma formao que lhes

    permitam responder s novas necessidades e desafios, adequadas

    aos objectivos propostos pela estratgia Europa 2020.

    O estudo prospectivo das necessidades da populao em matria de

    servios sociais exige um olhar atento relativamente evoluo

    demogrfica que se projecta para Portugal, tanto ao nvel da

    intensidade do movimento populacional e da sua estruturao etria no

    mdio e longo prazo, como no plano das alteraes nas estruturas

    familiares que se vm sentindo no nosso pas.

    Populao idosa em

    2020

    Em 2009, Portugal (Continente e Regies Autnomas) tinha cerca de

    10,6 milhes habitantes. Na Unio Europeia a 27 pases (UE27)

    representvamos cerca de 2,1 % da populao total e o 11. pas com

    maior dimenso da populao residente. Considerando toda a

    dinmica da UE27, em termos demogrficos Portugal dever manter

    em 2020 a importncia relativa e posio actuais, com base nas

    projeces do INE e do Eurostat.

    Neste contexto, privilegiando o exerccio de projeco do INE, em

    2020, teremos mais cidados portugueses a residir em Portugal (+ 190

    mil, aproximadamente)

    A construo das projeces demogrficas baseia-se na formulao

    de hipteses de evoluo das seguintes variveis chave: ndice

    Sinttico de Fecundidade, Esperana Mdia de Vida, Saldo migratrio

    que no cenrio mais realista se prev queda do volume de imigrao

    anual, aumento da emigrao anual, baixos nveis de fecundidade e

    prolongamento da tendncia passada na esperana mdia de vida.

    Para o mesmo cenrio prev-se para o perodo de referncia, os anos

    2009 e 2020, o aumento da idade mdia da populao residente e o

    Projeces

    demogrficas

  • 20

    envelhecimento da populao em idade activa. Estima-se que neste

    perodo a idade mdia da populao aumentar cerca de 2,5 anos e

    que o nmero de pessoas idosas por cada 100 jovens cresa de 115

    para 152; o crescimento da populao com 65 ou mais anos rondar

    os 18 %.

    Em complemento com a anlise dos grupos populacionais dos idosos

    e muito idosos, a investigao do comportamento do grupo de pessoas

    com idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos reveste-se de

    especial importncia por se tratar de um grupo em idade activa onde

    vrios factores esto em equao, nomeadamente: proximidade com a

    idade estatutria de reforma, subida da probabilidade de desemprego

    ou inactividade e menor empregabilidade, maior probabilidade de

    necessidade de conciliar a actividade profissional com cuidados a

    ascendentes.

    No contexto europeu, o perfil de Portugal em 2009 muito similar

    mdia dos 27 pases da Unio Europeia e est prximo da situao de

    Espanha.

    A evoluo projectada para Portugal est relativamente prxima dos

    valores mdios do conjunto dos 27 pases da UE, com a diferena do

    comportamento do grupo das crianas e jovens. Neste perodo, o

    nosso Pas v reduzir o peso relativo da populao jovem e da

    populao em idade activa

    Em Portugal, em 2010, viviam ss cerca de 700 mil pessoas das quais

    57 % tinham 65 e mais anos. Esse peso relativo de idosos a viverem

    ss, resultou de um aumento de 19 % durante a ltima dcada.

    Prevendo-se at 2020 o mesmo ritmo de crescimento da populao

    idosa vivendo s, existiro cerca de 540 mil pessoas de 65 e mais

    anos a viverem ss naquele ano.

    Relativamente populao de 65 e mais anos a viverem integrados

    em famlias, admite-se que, em 2020, cerca de 1 230 000 idosos se

    encontrem nesta situao.

    Caracterizao das

    famlias

  • 21

    Os sistemas de sade e proteco social de apoio a idosos

    caracterizam-se por um conjunto de pontos fortes e oportunidades,

    pontos fracos e ameaas dos quais se destaca:

    As capacidades de desenvolvimento que ambos os sistemas

    possuem, tendo presente a existncia de procuras no

    satisfeitas, sejam elas tradicionais ou no, poder acarretar um

    crescimento em recursos humanos com qualificaes

    adequadas ao segmento da populao em causa;

    Reforo de parcerias entre o sector pblico e a sociedade civil

    em virtude do maior apoio ao idoso por parte do agregado

    familiar;

    Aposta na existncia e qualidade das equipas mistas de sade

    e servios sociais no apoio domicilirio;

    Modelos alternativos de financiamento que dotem as entidades

    de uma maior autonomia e menor dependncia face aos

    poderes pblicos essencialmente em termos financeiros;

    Falta de recursos humanos qualificados para a populao

    idosa, especialidade mdica em geriatria e enfermagem

    geritrica;

    Falta de articulao e de coordenao, no s entre os servios

    de sade e apoio social, mas tambm dentro dos prprios

    servios;

    Impacto da actual crise econmica e financeira que poder ter

    fortes reflexos nas vrias componentes do sistema de apoio

    aos idosos.

    Anlise SWOT

    Tendo em conta as premissas que deram lugar s projeces

    realizadas, tanto para o cenrio Baixo como para o cenrio Alto,

    constata-se que o volume de emprego aumenta em qualquer dos

    Necessidades de

    emprego

  • 22

    casos.

    Em qualquer dos cenrios observa-se um crescimento do emprego,

    entre 2009 e 2020, sendo de 6,2 %, cerca de 900 novos postos de

    trabalho por ano, no cenrio Baixo e de 53,6 %, aproximadamente,

    7900 postos de trabalho a criar por ano no cenrio Alto

    Salienta-se, contudo, que a dimenso do crescimento do emprego

    bastante diferente para os dois cenrios, bem como o comportamento

    do emprego no sector social que diferente do observado no da

    sade, nomeadamente no cenrio Baixo.

    Constata-se pelas anlises anteriores que no s se torna necessrio

    reforar determinadas profisses j existentes como criar novos perfis

    profissionais.

    No que respeita s competncias bsicas nas reas da sade e

    proteco social salientam-se como mais relevantes o sentido de

    responsabilidade pessoal, cvica e tica, a motivao e disponibilidade

    para a aprendizagem continua

    Relativamente s competncias chave destacam-se como mais

    importantes a capacidade de anlise e resoluo de problemas, a

    capacidade de relacionamento e de trabalho em equipa e o saber

    comunicar e a capacidade de adaptao a situaes novas e

    imprevistas.

    Quanto s competncias essencialmente ligadas ao domnio cientifico

    e tcnico podem-se identificar como mais significativas a capacidade

    de gesto e planeamento, a polivalncia, o alargamento de certas

    competncias tcnicas quer ao nvel da tecnologia quer ao nvel da

    informtica, criatividade e a capacidade de investigao, o domnio das

    reas cientificas e tcnicas apropriadas s funes desempenhadas, a

    seleco de parcerias estratgicas, o domnio dos assuntos de,

    carcter legislativo, a aquisio de e-skills e domnio de lnguas

    estrangeiras.

    Necessidades de

    qualificao e

    competncias

  • 23

  • 24

    I. INTRODUO

    Este estudo enquadra-se na iniciativa comunitria lanada em 2007 aquando da

    presidncia portuguesa do Conselho da Unio Europeia (UE) New Skills for New

    Jobs1, que procura assegurar um melhor ajustamento entre a oferta de competncias

    e a procura do mercado de trabalho e melhorar a capacidade dos Estados Membros

    (EM) para avaliar e antecipar as necessidades de qualificaes quer dos seus

    cidados, quer das empresas no horizonte de 2020.

    Neste contexto, a UE lanou um estudo sobre a sade e os servios sociais pela sua

    importncia quer em termos de participao de custos no PIB varia entre 5 % e 13 %

    a participao no PIB nos EM quer em termos de nvel de emprego (cerca de 20

    milhes de pessoas trabalhavam nestes sectores, em 2006). Com efeito entre 2000 e

    2009 foram criados cerca de 4,2 milhes de novos postos de trabalho na UE,

    prevendo-se ainda um crescimento para 2020.Estes sectores representavam, em

    2009, cerca de 10% do emprego total, valor muito superior ao observado em Portugal

    (cerca de 6 %).

    Por outro lado, em Portugal, entre 1960 e 2001, o fenmeno do envelhecimento

    demogrfico traduziu-se por um incremento de 140 % da populao idosa. A

    proporo da populao idosa, que representava 8,0 % do total da populao em

    1960, mais que duplicou, passando para 16,4 % em 2001 (Recenseamento da

    Populao2). Em valores absolutos, a populao idosa aumentou quase um milho de

    indivduos, passando de 708 570, em 1960, para 1 702 120, em 2001, admitindo-se

    que, em 2020, a populao de 65 e mais anos seja superior a 2 200 000.

    Face ao envelhecimento verificado e necessidade de focalizao nos servios de

    preveno, o sector da sade e dos servios de proteco social que anteriormente

    eram tratados separadamente, nos anos mais recentes, assiste-se a uma integrao

    crescente de ambos os sectores devido procura de servios integrados.

    Aparentemente estamos perante subsectores com caractersticas diferentes. Contudo,

    ao constatar-se as tendncias do emprego e das competncias verifica-se que existe

    homogeneidade na medida em que se caracterizam por nveis de aumentos de

    1 Council's Resolution of 15 November 2007; (2007/C 290/01).

    2 Os dados por idades do Recenseamento da Populao realizados em 2011 ainda no se encontram disponveis.

  • 25

    emprego e competncias, conforme um estudo recente da Comisso Europeia (CE),

    intitulado Comprehensive analyse of emerging competences and economic activities

    in the European Union in the health and social services sectors. Conforme este estudo

    conclui, face ao novo contexto demogrfico e introduo de novas tecnologias e

    sistemas nos domnios da sade e servios de proteco social, a generalidade dos

    EM da UE, enfrentam um forte desafio de carncias em emprego e em competncias.

    Tendo em conta o enquadramento europeu e os desafios de necessidade de criao

    de emprego para fazer face actual situao do mercado de trabalho e perspectivas

    futuras, desenvolveu-se, para Portugal, um trabalho sistmico num sector como o da

    sade e cuidados sociais com reais potencialidades futuras de valor acrescentado e

    de criao de postos de trabalho.

    Este estudo incluiu, tratando-se de um sector com predominncia do trabalho

    feminino, uma abordagem de gnero.

    Por outro lado, realizou-se uma abordagem antecipada, por sectores de actividade,

    dos futuros desenvolvimentos do mercado do trabalho, em termos quantitativos e

    qualitativos, focalizado em sectores estrategicamente importantes para a criao de

    emprego, como o caso dos sectores da sade e proteco social, garantes de

    qualidade de vida designadamente para a populao idosa.

    O presente trabalho concentra-se na populao com 65 e mais anos sem, no entanto,

    esquecer o escalo etrio dos 55-64 anos, na medida em que qualquer poltica pblica

    ou programa direccionado para melhorar as condies de bem-estar da populao

    mais velha deve comear por ter actuaes preventivas.

    Deste modo, o tema das necessidades e oportunidades criadas pela populao mais

    velha em termos de criao de postos de trabalho e perfis profissionais (objectivo

    principal do projecto) passar sempre por uma anlise das questes relacionadas com

    a temtica do envelhecimento activo.

  • 26

    II. ENQUADRAMENTO MUNDIAL

    Segundo as respectivas concluses, na Assembleia Mundial sobre Envelhecimento

    (AME) realizada, em 2002, em Madrid, sob o tema Sociedade para Todas as Idades,

    reconheceu-se que o envelhecimento da populao um facto fundamental que define

    a sociedade contempornea, gerando desafios em todos os campos e exigindo a

    participao de todos. Destacando como prioridades a que preciso atender quando

    se tratam os problemas do envelhecimento, nomeadamente a relao entre pobreza e

    sade, o impacto da situao socioeconmica no envelhecimento, a reduo da

    dependncia e da discriminao em relao a todas as idades e a proteco social.

    Tais factos constam do artigo 14 da Declarao Poltica da Segunda AME, no qual

    abordada especificamente a questo da sade dos idosos ao afirmar:

    Reconhecemos a necessidade de se conseguir progressivamente a plena realizao

    do direito de todas as pessoas de desfrutar do mximo possvel de sade fsica e

    mental. O objectivo social de alcanar o grau mais alto possvel de sade de suma

    importncia em todo o mundo e, para que se torne realidade, preciso adoptar

    medidas em muitos sectores sociais e econmicos, fora do sector da sade.

    Comprometemo-nos a proporcionar aos idosos acesso universal e igualitrio aos

    cuidados mdicos e aos servios de sade fsica e mental. As crescentes

    necessidades do processo de envelhecimento populacional trazem a exigncia de

    novas polticas de cuidado e tratamento, promoo de meios saudveis de vida e

    ambientes propcios. Promoveremos a independncia, capacitao dos idosos e

    incentivaremos todas as possibilidades de participao plena na sociedade.

    Reconhecemos a contribuio dos idosos para o desenvolvimento atravs do

    desempenho do seu papel como guardies.

    No decurso da AME foi tambm aprovado um Plano de Aco que apontava para trs

    prioridades: (i) os idosos e o processo de desenvolvimento; (ii) a promoo da sade

    e do bem-estar para todo o ciclo da vida; (iii) a criao de contextos propcios e

    favorveis, que promovam polticas orientadas para a famlia e a comunidade como

    base para um envelhecimento seguro.

    Este Plano abordou ainda a eliminao da violncia e da discriminao, a igualdade

    entre os sexos, a importncia vital da famlia, os cuidados de sade, e a proteco

    social das pessoas idosas.

  • 27

    Como disse Kofi Anam (2002): A expanso do envelhecer no um problema. sim

    uma das maiores conquistas da humanidade. O que necessrio traarem-se

    polticas ajustadas para envelhecer so, autnomo, activo e plenamente integrado. A

    no se fazerem reformas radicais, teremos em mos uma bomba relgio a explodir em

    qualquer altura.

    O envelhecimento pode ser estudado em duas perspectivas, a demogrfica e a

    individual. O envelhecimento demogrfico das populaes verifica-se na maioria dos

    pases desenvolvidos devido a diversos factores, nomeadamente diminuio da

    natalidade, fecundidade e mortalidade e ao aumento da esperana mdia de vida. O

    envelhecimento individual corresponde s modificaes biolgicas e psicossociais que

    ocorrem com o passar dos anos.

    Perante as propores que o envelhecimento populacional est a atingir, o principal

    desafio que se impe hoje s sociedades consiste em permitir que as pessoas no s

    morram o mais tardiamente possvel, como tambm desfrutem de uma velhice com

    qualidade de vida.

    Tendo em conta esta realidade complexa, vrias organizaes internacionais e

    autores tm elaborado sobre conceitos de envelhecimento activo.

    A Organizao Mundial de Sade (OMS), no final do sculo XX, substituiu o conceito

    de envelhecimento saudvel pelo de envelhecimento activo, no sentido de melhorar as

    oportunidades de sade, de participao e de segurana. Surgia, assim, um novo

    paradigma na velhice que identificava as pessoas mais velhas como membros

    integrados na sociedade em que vivem. Desta forma, o envelhecimento activo visa,

    para a populao de 65 e mais anos, a manuteno da autonomia e da

    independncia, quer ao nvel das actividades bsicas de vida diria (AVD), quer ao

    nvel das actividades instrumentais de vida diria (AIVD), a valorizao de

    competncias e o aumento da qualidade de vida e da sade.

    Assim, a OMS ao adoptar, em 1990, o termo envelhecimento activo baseado no

    reconhecimento dos direitos humanos das pessoa mais velhas e nos Princpios das

    Naes Unidas de independncia, participao, dignidade, cuidados e

    responsabilidade, introduziu uma abordagem baseada nos direitos (e no nas

    necessidades) das pessoas igualdade de oportunidades e de tratamento em todos

    os aspectos da vida medida que envelhecem.

  • 28

    Torna-se, portanto, fundamental que uma poltica de envelhecimento activo para ser

    eficaz se desenvolva numa perspectiva multissectorial, isto , tenha em conta as

    polticas de sade, de mercado de trabalho, de emprego, de educao e formao

    profissional e as politicas sociais, de uma forma integrada.

    Com esta abordagem multissectorial procura evitar-se certos riscos como mortes

    prematuras, deficincias ligadas a doenas crnicas, custos elevados relativos aos

    cuidados de sade e de servios sociais e, por outro lado, dar oportunidade a mais

    pessoas de dispor de uma vida com mais qualidade, de participar activamente em

    aspectos sociais, culturais, econmicos e polticos.

    Esta realidade encontra-se traduzida quantitativamente na proporo que a populao

    mundial com 65 ou mais anos j apresenta. Esta dimenso continua ainda a registar

    uma tendncia crescente, aumentando de 5,3 % para 6,9 % do total da populao,

    entre 1960 e 2000, e para 15,6 % em 2050, segundo projeco demogrfica realizada

    pelas Naes Unidas.

    Para a OCDE, o conceito de envelhecimento activo abrange a populao com idade

    acima dos 65 anos, mas em condies de poder ser considerada como activa, ou seja,

    continuar a participar nos assuntos cvicos, econmicos, sociais, culturais e espirituais

    da sociedade e no s ter capacidade fsica para participar em qualquer actividade ou

    no mercado de trabalho na medida em que mesmo as pessoas reformadas e com

    algumas incapacidades podem contribuir activamente quer para as suas famlias quer

    para a riqueza nacional.

    Conforme Ana Catarina Meireles afirma O envelhecimento activo um aspecto

    central, devendo ser promovido quer a nvel individual, quer a nvel colectivo.

    Individualmente, o envelhecimento activo pode ser entendido como o conjunto de

    atitudes e aces que podemos ter no sentido de prevenir ou adiar as dificuldades

    associadas ao envelhecimento. As alteraes fsicas e intelectuais que ocorrem com o

    envelhecimento variam de pessoa para pessoa e dependem das caractersticas

    genticas e hbitos tidos durante a vida. sempre oportuno salientar a alimentao

    saudvel, a prtica adequada de desporto, uma boa hidratao, repouso e exposio

    moderada ao sol, no esquecendo as consultas de seguimento do mdico assistente.

    O bem-estar psquico e intelectual (memria, raciocnio, boa disposio)

    fundamentais no envelhecimento activo e saudvel tambm se protegem e

    promovem com cuidados permanentes: leitura regular, participao activa na

  • 29

    discusso dos assuntos do quotidiano, realizao de jogos que estimulem o

    raciocnio, manuteno de actividades dentro e fora de casa (passeios, visitas,

    voluntariado), participao em tarefas de grupo ou eventos de associativismo, entre

    outros. H que assumir e transmitir que a pessoa idosa tem uma vida de trabalho,

    experincia e sabedoria, que no pode ser negligenciado e desperdiado, em

    benefcio da prpria sociedade. Por outro lado, educam-se os mais jovens para os

    afectos e valores de respeito, dignidade, solidariedade e responsabilidade para com os

    mais vulnerveis. Um dia, tambm eles sero pessoas idosas necessariamente

    diferentes! mas sempre iguais no valor de pessoa humana.

    Actualmente, reconhece-se existirem vrios factores determinantes de um

    envelhecimento activo saudvel, desde que o mesmo seja devidamente planeado e

    preparado, nomeadamente ambiente cultural, sistemas de sade numa abordagem ao

    longo da vida (promoo e preveno da sade e igualdade de acesso aos cuidados

    primrios e continuados), adopo de estilos de vida saudveis (actividade fsica,

    alimentao saudvel), nveis de educao e qualificao (educao durante a

    juventude combinada com a aprendizagem ao longo da vida pode ajudar as pessoas a

    ganhar independncia e confiana, a adaptao necessria medida que as pessoa

    envelhecem) e sistemas de proteco social adequados.

    Relacionado com os factores apontados, h que destacar os custos econmicos que a

    maioria dos Governos teme relativamente problemtica do envelhecimento activo.

    Porm, a OCDE tem demonstrado, atravs de alguns estudos, que o aumento com os

    custos da sade no esto to directamente relacionados com o envelhecimento da

    populao quanto se pudesse pensar e que os custos com os cuidados continuados

    dependem das polticas e programas de preveno e do papel dos cuidados informais

    (papel da famlia e da sua capacidade de suportar os cuidados com os idosos, papel

    da mulher - muito dependente da taxa de participao feminina no mercado de

    trabalho).

    Assim, tempo para um novo paradigma, que encare as pessoas mais velhas como

    participantes activos, no quadro de uma sociedade onde exista integrao inter-

    geracional e como contribuintes activos bem com beneficirios (OCDE, 2007).

    At 2020 estaremos perante uma populao idosa fazendo parte da gerao baby-

    boom, atingindo-se j em 2020 uma pirmide etria invertida em relao ao passado.

  • 0

    5

    10

    15

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    30%

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    200

    A populao idosa, sempre crescente, mesmo escala mundial dever cada vez mais

    ser considerada em dois grupos, sendo um

    de idosos acima de 75 ou mesmo 80 anos (muitos autores consideram

    idade).

    Numa anlise da populao idosa

    Unidas, para 2007, publicados em

    pas do mundo com maior percentagem de idosos e o dcimo quarto com maior ndice

    de envelhecimento.

    Figura

    Fonte: Naes Unidas, World Population Ageing, 2007

    Figura

    Fonte: Naes Unidas, World Population Ageing, 2007

    A populao idosa, sempre crescente, mesmo escala mundial dever cada vez mais

    is grupos, sendo um o de idosos at aos 74 anos e outro grupo

    de idosos acima de 75 ou mesmo 80 anos (muitos autores consideram

    Numa anlise da populao idosa ao nvel mundial, de acordo com dados das Naes

    publicados em World Population Ageing, Portugal

    pas do mundo com maior percentagem de idosos e o dcimo quarto com maior ndice

    Figura 1 Peso da populao idosa - 2007

    World Population Ageing, 2007

    Figura 2 ndice de envelhecimento - 2007

    Fonte: Naes Unidas, World Population Ageing, 2007

    30

    A populao idosa, sempre crescente, mesmo escala mundial dever cada vez mais

    de idosos at aos 74 anos e outro grupo

    de idosos acima de 75 ou mesmo 80 anos (muitos autores consideram-no como a 4

    rdo com dados das Naes

    Portugal o dcimo

    pas do mundo com maior percentagem de idosos e o dcimo quarto com maior ndice

  • 31

    III. O CONTEXTO EUROPEU

    O fenmeno do envelhecimento da populao uma realidade em todos os Estados

    Membros da UE pelo que ganhou prioridade ao nvel das orientaes de polticas

    comunitrias.

    Conforme se pode observar pelo quadro apresentado, existiam na UE27, em 2010,

    mais de 86 milhes de idosos, dos quais 26,8% tem 80 e mais anos (25,2% em

    Portugal).

    Figura 3 Populao Idosa na UE27, em 2010

    Fonte: EUROSTAT

  • 32

    Por outro lado, a taxa de dependncia dos idosos de 25,9%, sendo em Portugal de

    26,6% ,ou seja, o sexto pas com a taxa mais elevada.

    Esta situao, que se verifica na UE27, de tendncia para aumentar o nmero de

    idosos, induziu que o problema dos idosos fosse objecto de uma grande ateno,

    aliado ao facto de geralmente ser o grupo da populao idosa que apresenta maior

    risco de pobreza.

    Figura 4 Populao com 65 e mais anos em 2010, por sexo

    Fonte: Eurostat (dados extrados em 22.10.2011)

    A comparao internacional de Portugal com a Unio Europeia a 27 e com um

    conjunto de pases seleccionados, de acordo com os objectivos do presente estudo,

    permitiu constatar que a Holanda se destacava como o pas mais jovem e a Alemanha

    como o pas mais envelhecido. O peso relativo da populao em idade activa varia

    relativamente (3 pontos percentuais), sendo a proporo de populao idosa a que

    apresenta valores mais dspares, entre 15 % a 20 %. Apesar da proximidade na

    dimenso populacional, a situao da Holanda destaca-se de Portugal e de todos os

    demais pases, uma vez que constitui o nico pas deste conjunto que apresenta um

    peso relativo das crianas e jovens superior ao dos idosos: por cada 100 jovens tinha,

    em 2009, 85 idosos. Desde incios da dcada passada que Portugal inverteu essa

    relao e que se traduz num ndice de envelhecimento superior a 100.

    0

    2.000.000

    4.000.000

    6.000.000

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    cia

    Esp

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    Itlia

    Chi

    pre

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    nia

    Litu

    nia

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    Pa

    ses

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    nia

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    l

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    lnd

    ia

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    cia

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    no U

    nido

    Mulheres

    Homens

  • 33

    De acordo com a bateria de indicadores apresentados, o perfil de Portugal em 2009

    muito similar mdia dos 27 pases da Unio Europeia e est prximo da situao de

    Espanha, que concentra ligeiramente mais pessoas nos grupos em idade activa.

    Figura 5 Indicadores de envelhecimento e de dependncia

    Indicadores 2009 Portugal Alemanha Espanha Holanda UE27

    ndices

    Envelhecimento 115 150 112 85 110

    Dependncia dos Jovens 23 21 22 26 23

    Dependncia dos Idosos 26 31 24 22 26

    Dependncia Total 49 51 46 49 49

    Longevidade 46 42 50 45 47

    Sustentabilidade Potencial 3,8 3,3 4,1 4,5 3,9

    Distribuio populacional

    0-14 anos 15% 14% 15% 18% 16%

    15-64 anos 67% 66% 69% 67% 67%

    65 anos 18% 20% 17% 15% 17%

    Fonte: Eurostat

    Os progressos considerveis verificados nos domnios econmico, social e mdico

    facilitaram um prolongamento da esperana de vida, que juntamente com o declnio

    demogrfico e o baixo crescimento natural da populao, originou um crescimento

    acentuado do peso relativo da populao idosa na populao total e se traduziu no

    envelhecimento demogrfico dos pases da Unio Europeia e no aumento do rcio de

    dependncia da populao idosa.

    Este envelhecimento tem impactos em vrios domnios, nomeadamente na proteco

    social, no aumento das despesas pblicas e nos servios de sade.

    No contexto econmico global, o aumento das taxas de participao e de emprego dos

    trabalhadores mais velhos fundamental para garantir a plena utilizao da oferta de

    mo-de-obra, a fim de apoiar o crescimento econmico.

    Efectivamente, face ao envelhecimento e futura diminuio da populao em idade

    activa, os trabalhadores mais velhos ganham relevncia enquanto componente

    essencial da oferta de mo-de-obra e constituem um factor fundamental do

    desenvolvimento sustentvel da Unio Europeia.

    No quadro da UE, foram definidas algumas linhas de orientao com vista a responder

    s questes demogrficas, nomeadamente melhorar a conciliao entre a actividade

    profissional e a vida privada e familiar; lutar contra os preconceitos discriminatrios

  • 34

    relativos aos cidados idosos e promover uma verdadeira poltica de sade pblica

    escala europeia, aproveitando plenamente as oportunidades apresentadas pelas

    mudanas demogrficas e garantindo uma proteco social adequada.

    So, pois, fundamentais polticas que permitam manter a oferta de mo-de-obra e

    garantir a empregabilidade, mesmo em perodos de lento crescimento do emprego. As

    medidas polticas aplicadas devem ter como princpio orientador a adopo de uma

    abordagem preventiva, baseada na mobilizao do pleno potencial das pessoas de

    todas as idades, nomeadamente a populao idosa, numa perspectiva de ciclo de

    vida.

    Neste contexto, a Estratgia Europeia de Emprego e as Orientaes Gerais para as

    Polticas Econmicas procuraram responder ao desafio demogrfico, atravs de

    estratgias globais para o envelhecimento activo considerando como os principais

    factores da manuteno do emprego dos trabalhadores mais velhos os incentivos

    financeiros que desencorajem a reforma antecipada, o reforo do acesso

    aprendizagem ao longo da vida, o estimulo a boas condies de trabalho, incluindo

    regimes de trabalho flexveis e servios adequados de proteco social.

    A promoo do envelhecimento em actividade reflecte-se nas duas metas

    complementares que a UE se atribuiu, no quadro da Estratgia de Lisboa. O Conselho

    Europeu de Estocolmo, de 2001, decidiu estabelecer uma meta comunitria de elevar

    para 50 % at 2010 a taxa de emprego da populao da UE na faixa etria de 55-64

    anos. Por sua vez, em 2002, o Conselho Europeu de Barcelona concluiu que dever

    ter-se como objectivo, at 2010, um aumento gradual de cerca de 5 anos na idade

    mdia efectiva em que as pessoas deixam de trabalhar na Unio Europeia.

    A Estratgia de Lisboa Renovada, com vista a garantir a permanncia dos

    trabalhadores mais velhos na vida activa, considerou como orientaes estratgicas

    para o perodo 2007-2010: atrair e manter maior nmero de pessoas no mercado de

    trabalho , modernizar os sistemas de proteco social e contribuir para manter uma

    populao activa saudvel.

    De acordo com a Estratgia Europa 2020, aprovada em Conselho Europeu de 8 de

    Maro de 2010, entre as trs prioridades que foram aprovadas, o crescimento inclusivo

    que pretende fomentar uma economia com nveis elevados de emprego que assegure

    a coeso social, estabeleceu-se um objectivo de uma taxa global de emprego de 75 %

  • 35

    para a populao dos 20-64 anos, acompanhada de uma reduo de 20 milhes de

    pessoas sujeitas ao risco de pobreza.

    As prioridades e objectivos em questo para serem bem sucedidos tero de ter em

    conta a evoluo demogrfica da populao com todos os fenmenos a ela

    associados nomeadamente o envelhecimento da populao. De acordo com alguns

    relatrios da CE, para se enfrentar o desafio do envelhecimento ter-se- que ter em

    conta, nos prximos anos, a promoo da renovao demogrfica, do emprego, da

    produtividade e dinamismo da Europa, do acolhimento e da integrao de imigrantes e

    das finanas pblicas sustentveis. Procura-se, assim, que cada vez mais um maior

    nmero de cidados idosos possa beneficiar de uma vida mais activa, saudvel e

    participativa, o que levanta srios desafios s nossas sociedades e economias.

  • 36

    IV. ENVELHECIMENTO DA POPULAO EM PORTUGAL

    IV. 1 - EVOLUO DEMOGRFICA E CARACTERIZAO DA POPULAO IDOSA

    Portugal est a tornar-se num pas cada vez mais envelhecido. O peso dos idosos e

    dos grandes idosos3 na estrutura populacional tem vindo a aumentar de forma

    significativa, devido, por um lado, diminuio dos nascimentos e, por outro, ao

    aumento da esperana de vida.

    Esta redefinio da estrutura etria tem diferentes implicaes: exige polticas sociais

    que permitam fazer face nova realidade , onde a sade e o apoio social tero de ser

    redimensionados; em termos econmicos leva a um esforo acrescido da segurana

    social, com o pagamento de reformas e, tambm com os servios especializados

    destinados a este grupo populacional e, em termos sociais e de cidadania, exige uma

    nova forma de encarar o envelhecimento.

    A evoluo demogrfica em Portugal, no passado recente, caracterizou-se por

    evoluo muito gradual do crescimento da populao, observando-se o aumento do

    peso dos grupos etrios seniores e a reduo da populao jovem. O quadro seguinte

    retrata o relativo envelhecimento da populao portuguesa no perodo 2004 a 2010.

    Figura 6 Evoluo da populao total e activa com 65 e mais anos

    Fonte: INE, Estatsticas Demogrficas, vrios anos.

    3 Com 80 anos e mais.

  • 37

    A taxa de crescimento mdio anual da populao total foi de 0,2 %; a populao activa cresceu a 0,3 % ao ano, impulsionada pelo forte crescimento da populao activa feminina (0,8 % ao ano), em contraste com a reduo de 0,1 % da masculina

    Considerando-se uma desagregao da populao idosa, por grupos etrios, para os anos de 2000 e de 2010, constata-se que:

    - os seniores (65 + anos) apresentam aumentos significativos ao longo do perodo em anlise;

    - os grandes idosos (mais de 80 anos) na estrutura populacional, tem vindo a aumentar de forma significativa, passando de 340,1 milhares, em 2000, para 484,2 milhares, em 2010, o que originado sobretudo pelo aumento da populao feminina que teve um acrscimo de cerca de 80 %.

    Figura 7 Evoluo da populao idosa entre 2000 e 2010

    Fonte: INE, Estatsticas Demogrficas, vrios anos.

    Como consequncia, verifica-se um peso cada vez maior dos idosos na populao,

    gerando-se um desequilbrio com implicaes profundas O aumento da proporo de

    idosos, consegue-se em detrimento da percentagem da populao jovem, e/ou da

    populao em idade activa e deve-se passagem de um modelo demogrfico de

    fecundidade e mortalidade elevados para outro caracterizado por baixa fecundidade e

    mortalidade. Como resultado, verifica-se o estreitamento da base da pirmide de

    idades, com reduo dos jovens e o alargamento do topo derivado de:

    reduo da fecundidade particularmente sentida nos anos 90;

    acrscimo da esperana de vida;

    alterao dos fluxos migratrios de e para Portugal, aumentando a

    importncia da imigrao em detrimento da emigrao.

  • 38

    Conforme se pode observar no quadro que a seguir se apresenta, a esperana mdia

    de vida nascena dos homens e mulheres nascidos antes de 1990 estava entre 71 e

    77 anos. Note-se que ao atingir 65 anos tm uma esperana de vida de mais 17 a 20

    anos, consoante se trata de homens ou mulheres.

    Figura 8 Esperana mdia de vida nascena e aos 65 anos, Portugal, 1990 a 2006

    Fonte: INE, Estimativas da Populao Residente, 1990-2006

    O abrandamento do crescimento populacional no nosso pas mantm-se, assim, como

    a tendncia de envelhecimento demogrfico (como resultado do declnio da

    fecundidade e do aumento da longevidade). Segundo a mesma fonte (Estatsticas

    Demogrficas), a populao residente em Portugal a 31 de Dezembro de 2010 era

    composta por 15,2 % de jovens (com menos de 15 anos de idade), 18,0 % de idosos

    (65 e mais anos de idade) e 66,8% de populao em idade activa (dos 15 aos 64 anos

    de idade).

    A relao entre o nmero de idosos e de jovens traduziu-se, em 2010, num ndice de

    envelhecimento de 118 idosos por cada 100 jovens (112 em 2006).

    Uma anlise segundo o gnero mostra que, para as mulheres, a proporo de idosas

    ultrapassou a de jovens do mesmo sexo, em meados da dcada de 1990, enquanto

    que entre os efectivos do sexo masculino a proporo de jovens ainda se mantm

    actualmente superior de idosos.

  • 39

    A superioridade numrica das mulheres, que devida maior esperana de vida,

    aumenta, naturalmente, com o avanar na idade em 2010, para 134 300 mulheres

    existiam 65 900 homens.

    IV.2 - OS IDOSOS NO CONTEXTO DAS ALTERAES DA ESTRUTURA FAMILIAR

    A evoluo das estruturas familiares dos factores proeminentes de mudana nas

    sociedades contemporneas colocando novos desafios forma como se pensam as

    necessidades sociais e como se organizam as respostas pblicas e privadas com vista

    promoo do bem-estar individual e colectivo.

    Em Portugal este domnio assume uma relevncia especial quer pela profundidade

    das alteraes que registou quer pela velocidade a que as mesmas decorreram.

    Sendo um pas frequentemente tipificado como familiarista4 no sentido em que um

    conjunto importante de necessidades suprido em primeira instncia pelos recursos

    familiares5, a atomizao dos agregados familiares e a maior volatilidade das suas

    biografias introduziu um nvel acrescido de incerteza numa esfera que

    tradicionalmente permitia acomodar a incerteza de outros domnios importantes da

    vida como o caso do mercado de trabalho, de cuidados pessoais, entre outros.

    A evoluo das tipologias familiares a expresso da diversificao de opes

    relativas formao familiar e do aumento da volatilidade nas relaes conjugais, que

    se reflectem nas tendncias ao nvel de divrcios, coabitao, natalidade, entre outras.

    Deve-se, igualmente, salientar a importncia de dois vectores de mudana interligados

    neste domnio: a reduo da dimenso mdia das famlias e reduo da natalidade.

    No espao de duas dcadas a populao residente aumentou 6,7 % e o nmero de

    famlias clssicas cresceu 22,6 %, tendo a dimenso mdia das famlias descido de

    3,1 (1992) para 2,7 (2010).

    4 Esping-Andersen, Gsta (1999), Social Foundations of Postindustrial Economies, Oxford, Oxford University Press.

    5 Veja-se a ttulo de exemplo, a opo de permanncia em casa dos pais de muito jovens adultos at idades que rondam os 30, de forma a acomodar as volatilidades inerentes ao perodo de entrada no mercado de trabalho e de preparao para a formao de um agregado familiar autnomo, frequentemente precedido pela aquisio de habitao prpria permanente.

  • 40

    Assim, no espao de cerca de duas dcadas pode-se apreciar a subida da

    representatividade das famlias monoparentais, dos casais sem filhos e das famlias de

    uma pessoa s. Por contraponto, reduz-se o peso relativo dos casais com filhos e

    outras tipologias.

    Figura 9 Tipologias de famlias clssicas

    Fonte:INE Estatsticas Demogrficas

    Figura 10 Famlias monoparentais e unipessoais

    Fonte: INE - Estatsticas Demogrficas

    A feminizao das famlias monoparentais e a terceira idade como o espao de maior

    manifestao das famlias unipessoais so duas marcas das estruturas familiares no

    Portugal contemporneo. Relativamente a esta ltima, se no ano de 2000, dois teros

    destas famlias estavam associados a pessoas idosas, desde ento regista-se uma

    gradual recomposio etria das famlias unipessoais devido ao crescimento de

    41,5 % das famlias unipessoais com indivduos com menos de 65 anos. Ainda, assim,

    as famlias unipessoais com pessoas com 65 ou mais anos aumentaram 19 % na

    ltima dcada.

  • 41

    Nas ltimas duas dcadas as famlias monoparentais aumentaram cerca de 70 %

    (26 % na ltima dcada). Durante esse perodo a representatividade do gnero

    feminino no baixou dos 85 %.

    Para uma anlise mais detalhada da distribuio das famlias por tipologias recorre-se

    ao SILC (Statistics on Income and Living Conditions), gerido pelo Eurostat, e que

    permite conhecer estas e outras dimenses das estruturas familiares e a sua evoluo

    desde 2004 com vantagem de possibilitar uma apreciao do ponto de vista da

    comparao internacional.

    Figura 11 Distribuio dos agregados familiares

    Fonte: EU-SILC

    Em 2009, quase 2/3 dos agregados domsticos portugueses (61 %) no tinham

    crianas dependentes. Na representatividade destas tipologias observou-se no

    passado recente uma tendncia de crescimento continuado, com especial relevncia

    para os agregados com 2 adultos em que existe pelo menos um idoso.

    Um outro dado a salientar a existncia de mais agregados constitudos por 1 mulher

    adulta, do que por casais com 2 crianas dependentes, resultado a que poder no

    ser alheio a sobre vida feminina nos grupos etrios mais elevados, conjugada com a

    diminuio do nmero de nascimentos de 2 ordem ou superior.

    No que respeita seleco de pases para comparao internacional observa-se, ao

    nvel da distribuio de agregados familiares por dimenso, que Portugal e Espanha

    apresentam maior proximidade, ainda que em Espanha o peso das famlias com 4

    elementos seja superior s famlias com 3 elementos, ao contrrio do que acontece

    em Portugal. Os casos da Alemanha e da Holanda aparentam ter grande similitude,

    muito embora paradoxalmente tenhamos visto que a Alemanha o pas mais

    envelhecido e a Holanda o pas mais juvenil da seleco realizada.

  • 42

    Figura 12 Distribuio dos agregados familiares por dimenso e tipologia

    Fonte: EU-SILC

    De facto, a Holanda o pas com maior representatividade das famlias com 2 adultos

    e 3 ou mais crianas dependentes e o segundo pas com maior peso dos casais com 2

    crianas o que permite enquadrar a sua posio de pas menos envelhecido, no

    obstante a elevada proporo de agregados domsticos constitudos por 2 adultos

    (30,7 %).

    Como principais transies demogrficas que afectaram a estrutura familiar apontam-

    se: i) a diminuio da fertilidade e mortalidade e aumento da esperana de vida , ii) fim

    do baby-boom (1960) e descida das taxas de fertilidade abaixo do nvel de

    renovao o que se traduziu num baixo crescimento da populao e no seu

    envelhecimento, iii) aumento das taxas de divrcio, iv) aumento substancial do nvel

    educacional das mulheres e sua participao no mercado de trabalho, desde 1970,

    reforada pela necessidade de contribuir para o aumento rendimento familiar.

    Todos estes factores combinados conduziram a uma diversificao da estrutura

    familiar originando famlias menos numerosas, um crescimento no nmero de famlias

    monoparentais e de pessoas isoladas. A desinstitucionalizao da vida familiar est

    estritamente ligada com os processos de baixo crescimento da populao e

    acelerao do envelhecimento populacional.

    IV.3 - A DEPENDNCIA DOS IDOSOS

    O grau de dependncia dos idosos apresenta-se como um indicador relevante para se

    equacionar as iniciativas direccionadas para o domnio dos cuidados aos idosos tema

  • 43

    que se prende com o objectivo deste estudo. Analisando o ndice de dependncia,

    Portugal apresentava uma das maiores taxas de dependncia na UE.

    Figura 13 - ndice de dependncia de populao idosa -2009

    Notas: (1) Excluindo as ilhas francesas; (2) 2088 em vez de 2009. Fonte: Eurostat

    Efectivamente, de acordo com o Eurostat, verifica-se que em 2009 o ndice de

    dependncia atingia em Portugal um valor de 26,3 s ultrapassado pela Itlia, Grcia e

    Sucia com o valor de 30,6 e pela Alemanha com o valor de 30,9, sendo a mdia

    comunitria de 25,6.

  • Figura

    Fonte: Eurostat

    Como se pode verificar Portugal estava entre os 10 EM da UE com maior taxa de

    dependncia dos idosos.

    Efectuando uma anlise evolutiva, no caso do nosso pas e segundo o INE

    idosos com mais de 65 anos para os

    consta do quadro que a seguir se apresenta.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    Ale

    man

    ha

    Itl

    ia

    Gr

    cia

    Suc

    ia

    Rei

    no

    Un

    ido

    Po

    rtu

    gal

    Bl

    gica

    Figura 14 - Taxa de dependncia dos idosos - 2009

    Como se pode verificar Portugal estava entre os 10 EM da UE com maior taxa de

    Efectuando uma anlise evolutiva, no caso do nosso pas e segundo o INE

    idosos com mais de 65 anos para os ltimos 15 anos verificou-se a

    consta do quadro que a seguir se apresenta.

    u

    stri

    a

    UE

    Fran

    a

    Fin

    ln

    dia

    Bu

    lgr

    ia

    Let

    nia

    Est

    nia

    Din

    amar

    ca

    Esp

    anh

    a

    Hu

    ngr

    ia

    Eslo

    vn

    ai

    Litu

    nia

    Pa

    ses

    Bai

    xos

    Rep

    b

    lica

    Ch

    eca

    Ro

    mn

    ia

    Mal

    ta

    44

    Como se pode verificar Portugal estava entre os 10 EM da UE com maior taxa de

    Efectuando uma anlise evolutiva, no caso do nosso pas e segundo o INE, para os

    se a evoluo que

    Luxe

    mb

    urg

    o

    Po

    ln

    ia

    Ch

    ipre

    Eslo

    vq

    uia

    Irla

    nd

    a

  • 45

    Figura 15 Indica