frutos caa ting a sergipe

Upload: ricardo-brito

Post on 22-Feb-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/24/2019 Frutos Caa Ting a Sergipe

    1/7

    SCIENTIA PLENA VOL. 8, NUM. 4 2012www.scientiaplena.org.br

    049901-1

    Frutos da Caatinga de Sergipe utilizados na alimentaohumana

    T. C. Santos1; J. E. N. Jnior2; A. P. N. Prata3

    1Departamento de Agronomia, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, So Cristvo-Se, Brasil2Programa de Ps-Graduao em Biologia Vegetal, Universidade Estadual de Campinas, 13083-970,

    Campinas-SP, Brasil3Departamento de Biologia, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, So Cristvo-Se, Brasil

    (Recebido em 19 de dezembro de 2011; aceito em 21 de maro de 2012)

    Denomina-se Caatinga a vegetao semirida e rida do Nordeste brasileiro. Em Sergipe, 42 dos 75municpios possuem fragmentos desta vegetao. Ao contrrio do que se pensava, ela abriga uma grandediversidade de espcies, das quais muitas so utilizadas pela populao regional, principalmente paraalimentao, como as frutferas, por exemplo. As frutferas nativas que ocorrem na Caatinga ainda so

    pouco conhecidas, dada a falta de estudos abordando esse tema, foi realizado um levantamento dos frutosda Caatinga consumidos pela populao sergipana. A coleta de dados baseou-se na consulta aos acervosdo Herbrio da Universidade Federal de Sergipe (ASE) e no Herbrio de Xing (HX). Posteriormente,foram aplicados questionrios aos feirantes do Mercado Municipal de Aracaju e da Central deAbastecimento de Aracaju S/A (CEASA), e aos feirantes de outros seis municpios inseridos na Caatingado Estado, para verificar a procedncia das frutas l comercializadas. Foi registrada a ocorrncia de 16espcies distribudas em 12 famlias com representantes comestveis na Caatinga de Sergipe. As famliasCactaceae, Myrtaceae, Anacardiaceae e Passifloraceae apresentaram duas espcies cada, sendo que nasduas primeiras famlias, as espcies so pertencentes a gneros diferentes e as duas ltimas ao mesmognero. As famlias: Annonaceae, Apocynaceae, Arecaceae, Brassicaceae, Fabaceae, Rhamnaceae,Sapindaceae e Sapotaceae apresentaram apenas um representante comestvel.Palavras-chave: frutferas; cactaceae; semirido

    Called Caatinga semiarid and arid vegetation of brazilian Northeast. In sergipe, 42 of the 75municipalities have patches of this vegetation. Rather than commonly thought, the caatinga involves agreat diversity of species, many of which are used by regional population, mainly for food, like the fruits,for example. The native fruit that occur in the northeast are still little known. Due to lack of knowledge onthis subject, was made of a study of caatingas fruit that are consumed by the population of Sergipe. Thestudy was based on the collection of the herbal life of Universidade Federal de Sergipe (ASE) and Xingo(HX). Subsequently, questionnaires were applied to the Municipal Market stallholders of Aracaju andCentral Supply Aracaju S / A (CEASA), and six other municipalities that have this type of vegetation, toverify the origin of the fruit sold there. It was recorded the occurrence of 16 species in 12 families withedible representatives in the Caatinga of Sergipe. The Cactaceae, Myrtaceae, Anacardiaceae andPassifloraceae families had two species each. In the first two families, the species belongs to differentgenres, and the last two belong to the same genres. The families: Annonaceae, Apocynaceae, Arecaceae,Brassicaceae, Fabaceae, Rhamnaceae, Sapindaceae and Sapotaceae had only one representative edible.

    Key-words: fruit-trees; cactus; semi-arid

    1. INTRODUO

    O bioma Caatinga corresponde a vegetao semirida do nordeste e poro norte do estadode Minas Gerais. Abrange 70% da regio nordeste e 13% do territrio brasileiro [1]. EmSergipe, 42 dos 75 municpios esto totalmente ou parcialmente inseridos no bioma, totalizandouma rea de 10.899 km2 [2].

    um bioma caracterizado pelas incertezas hdricas e secas severas, situaes essasprovocadas pelas chuvas irregulares, presena de rios intermitentes (com exceo do SoFrancisco e Parnaba) e uma precipitao mdia anual, que varia entre 240 e 1500 mm. Dessa

  • 7/24/2019 Frutos Caa Ting a Sergipe

    2/7

    T. C. Santos et al., Scientia Plena 8, 049901 (2012) 2

    forma, a flora, assim como todos os seres vivos que a habitam possui algumas adaptaes parasuportarem a condio de dficit hdrico [3, 4, 5].

    A diversidade dos recursos vegetais da Caatinga possibilita a sua utilizao para diversos finspela populao regional, principalmente para a alimentao. De suas plantas podem-seaproveitar os frutos e outras partes comestveis como razes, sementes, folhas e caules [6] que,quando no so consumidos diretamente pela famlia, so comercializados em feiras livres.

    Dentre os recursos utilizados pela populao que vive nesse bioma esto as espciesfrutferas. Os frutos nativos brasileiros esto entre os mais saborosos e nutritivos do mundo,porm muitos deles so conhecidos apenas pela populao local ou aparecem sazonalmente emalgumas regies especficas [7]. Na Caatinga, apesar de muitas espcies possurem frutos queso utilizados como alimento, as frutferas nativas que ocorrem no Nordeste ainda so poucoconhecidas cientificamente [8]. Alguns frutos so comercializados, como o umbu (Spondiastuberosa Arruda), a pitomba (Talisia esculenta (Cambess.) Radlk., o murici (Byrsonimacrassifolia(L.) Kunth) e a mangaba (Hancornia speciosaGomes), porm outros so coletadosda vegetao nativa pela populao local e consumidos sem que sua produo seja registrada[9]. Ferreita et al. [7] apresentam uma lista de espcies frutferas nativas do nordeste brasileiroque apresentam potencial econmico

    Dada e escassez de estudos sobre os frutos nativos do nordeste brasileiro, e sua utilizao naalimentao humana, especialmente da Caatinga, realizou-se um levantamento dos frutos dessebioma consumidos pela populao sergipana.

    2. METODOLOGIA

    Foi realizado um levantamento das plantas que possuem frutos comestveis em reas deCaatinga do Estado de Sergipe, sendo que apenas as espcies nativas foram consideradas. Acoleta de dados iniciou-se atravs de consultas ao Herbrio da Universidade Federal de Sergipe(ASE) e ao Herbrio de Xing (HX) (no indexado).

    Para complementar os dados obtidos nos herbrios, foram visitadas feiras na capital e nointerior do estado (Tabela 1), nas quais os feirantes foram questionados sobre a comercializaode frutos provenientes da Caatinga. Escolhemos pelo menos um municpio de cada uma das seismicro-regies estaduais que tm reas de Caatinga. Os questionrios tambm foram aplicadosem duas feiras de Aracaju, municpio que no apresenta vegetao de Caatinga mas possuifeiras que vendem produtos de todo o estado.

    Tabela 1. Nmeros de questionrios aplicados em cada municpio das 6 micro-regies visitadas noestado de Sergipe, para a verificao da procedncia dos frutos comestveis oriundos da Caatinga.

    Micro-regio Municpios N de questionrios aplicados

    Alto Serto Sergipano

    Nossa Senhora da Glria 10

    Nossa Senhora de Lourdes 5

    Mdio Serto Sergipano Itabi 5

    Agreste Central Sergipano Itabaiana 10

    Centro Sul Sergipano Lagarto 20

    Baixo do So Francisco Propri 20

    Grande Aracaju Aracaju 40

    Total de questionrios 110

    Em cada feira os vendedores foram escolhidos aleatoriamente, e o nmero de questionriosaplicados por municpio (feira) foi proporcional ao seu tamanho e a diversidade de frutos l

  • 7/24/2019 Frutos Caa Ting a Sergipe

    3/7

    T. C. Santos et al., Scientia Plena 8, 049901 (2012) 3

    comercializados. Foi anotado em cada questionrio o nome das frutas comercializadas na bancae sua procedncia.

    Aps as consultas aos herbrios e a aplicao dos questionrios nas oito feiras visitadas,elaboramos uma listagem com os nomes dos frutos e o local de sua procedncia. Quando eleseram provenientes de municpios e povoados inseridos parcial ou totalmente na Caatinga deSergipe, recorremos literatura para a confirmao de sua ocorrncia nativa neste bioma.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    Foi verificada a ocorrncia de 16 espcies pertencentes a 12 famlias de frutos comestveis(Tabela 2). Aps a identificao dessas espcies em Sergipe, houve um cruzamento dasinformaes com alguns dados bibliogrficos para confirmar se os exemplares possuem frutosque so utlizados para alimentao humana, visto que, em muitos casos essa informao estavaincompleta nas etiquetas das exsicatas ou era inexistente.

    Tabela 2: Levantamento dos frutos comestveis da Caatinga de Sergipe com base nos acervos dosherbrios da Universidade Federal de Sergipe (ASE) e Herbrio de Xing (HX), consultas a feiras livres

    e reviso bibliogrfica.*Espcies endmicas da Caatinga (Giulietti et al. 2002).Famlia Espcie Nome popular

    ProcednciaHerbrio/Feira

    Anacardiaceae *Spondias tuberosaArruda umbuzeiro Herbrio/FeiraSpondias mombinL. cajazeira Feira

    Annonaceae *Annona vepretorumMart. bruteira Herbrio

    ApocynaceaeHancornia speciosa

    Gomesmangabeira Herbrio/Feira

    ArecaceaeSyagrus coronata(Mart.)

    Becc.ouricurizeiro Feira

    Capparaceae Crateva tapiaL. trapi HerbrioCactaceae Cereus jamacaruDC mandacaru Herbrio

    Epiphyllum phyllanthus(L.) Haw. pitai-rsea, pitainha Herbrio

    Fabaceae Geoffroea spinosaJacq. uma Herbrio

    MyrtaceaePsidium guajava L. goiabeira Feira

    Campomanesia aromatica(Aubl.) Griseb.

    cadeia-brava Herbrio

    Passifloraceae Passiflora cincinnataMast. maracuj-do-mato HerbrioPassiflora cf. foetidaL. maracuj-de-cheiro Herbrio

    Rhamnaceae *Ziziphus joazeiroMart. juazeiro Herbrio

    SapindaceaeTalisia esculenta(A. St.-

    Hill.) Radlk.pitombeira Feira

    SapotaceaeSideroxylon obtusifolium

    (Humb. ex Roem. &

    Schult.) T. D. Penn.

    quixaba, sapotiaba Herbrio

    Spondias tuberosa Arruda (umbuzeiro) est entre os principais representantes com frutoscomestveis da famlia Anacardiaceae que ocorrem naturalmente na Caatinga do estado deSergipe, sendo uma das rvores mais teis desse bioma. De acordo com os dados do herbrioASE, o umbu pode ser encontrado naturalmente nos municpios de Nossa Senhora da Glria,Poo Redondo, Carira e Monte Alegre. Floresce na estao seca, de novembro a dezembro. EmSergipe frutifica de fevereiro a abril, produzindo abundantes e saborosos frutos [2]. Estes frutosso globosos ou ovides, providos de polpa suculenta e sem fibras, com sabor doce-acidulado emuito agradvel. So geralmente consumidos in naturaou na forma de doces, sorvetes ou polpaindustrializada. Plantios comerciais so inexistentes e os frutos comercializados so resultantesdo extrativismo [10 e 11].De acordo com os questionrios aplicados, o umbu comercializado

    nas feiras visitadas so provenientes do municpio de Gararu, estando esse inserido parcialmenteno bioma Caatinga.

  • 7/24/2019 Frutos Caa Ting a Sergipe

    4/7

    T. C. Santos et al., Scientia Plena 8, 049901 (2012) 4

    Spondias mombinL. (cajazeira) tambm pertence a famlia Anacardiaceae e apresenta ampladistribuio geogrfica, ocorrendo desde a regio amaznica at a Mata Atlntica do Cear aoRio de Janeiro. Seus frutos so globosos ou elpticos, do tipo drupa, com polpa suculenta efibrosa com sabor doce-acidulado, consumidos frescos ou como sucos, principalmente na regionordeste, ou usados ainda para a produo de polpas, sorvetes, picols, nctares, gelias efermentado alcolico [7, 11, 12]. Apesar de ainda no ser amplamente cultivada, a cajazeiracresce em importncia econmica, especialmente para a produo de polpa na regio Nordestedo pas [7]. De acordo com os questionrios, o caj comercializado nas feiras proveniente domunicpio de Amparo de So Francisco.

    Annona vepretorum Mart. (bruteira) pertence famlia Annonaceae e possui distribuiopredominantemente tropical. H registro da ocorrncia dessa espcie no municpio de PooRedondo, que totalmente inserido no bioma Caatinga. Possui frutos que so consumidos innatura ou na forma de suco [13].

    Hancornia speciosa Gomes (mangabeira), pertence a famlia Apocynaceae. Apesar de sermais comum na restinga do que na Caatinga, esta rvore tambm ocorre em algumas reasarenosas da Caatinga [6]. Seus frutos so aromticos e saborosos, com polpa carnosa e doce.So amplamente consumidos in naturaou em forma de sucos e sorvetes. Apesar de ser bem

    aceita pelas pessoas e pela indstria, quase no existem cultivos de mangabeira, e a exploraoainda feita atravs do extrativismo em populaes silvestres, sendo seu maior produtor oestado de Sergipe [14]. De acordo com os feirantes questionados, as mangabas comercializadasso provenientes dos municpios de Japoat e Itabaiana.

    Syagrus coronata(Mart.) Becc. (ouricuri), pertence famlia Arecaceae. A espcie nativado lado leste do Rio So Francisco nos estados da Bahia, norte de Minas Gerais, Sergipe,Alagoas e Pernambuco, em reas de Caatinga. Os frutos possuem mesocarpo fibro-carnoso, desabor adocicado e so consumidos in natura [11]. Quando imaturos, os frutos possuem oendosperma lquido, que se torna slido durante o amadurecimento e d origem amndoa,tambm comestvel e bastante apreciada, alm de rica em protenas e lipdios [15]. O ouricuricomercializado nas feiras visitadas so provenientes de Japoat, Itabaiana e Nossa Senhora dasDores.

    Crateva tapiaL. (trapi) pertence a famlia Brassicaceae. Esta espcie ocorre no Nordeste eno Pantanal, sendo pouco freqente em seu habitat natural. Os frutos so do tipo baga, contendopolpa suculenta, de sabor doce e comestvel e so consumidos in natura[11 e 13]. De acordocom os dados do Herbrio ASE ocorre em Tobias Barreto.

    As Cactaceae com frutos comestveis registradas nos herbrios foram: Cereus jamacaruDC (mandacaru) e Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw. (pitai-rsea). O primeiro, um doscactos mais comuns na Caatinga, sendo raramente cultivado [11]. Possui porte arbreo, podendoalcanar at 15 m de altura. Seus frutos so globosos, vermelhos quando maduros e deicentespor um fenda longitudinal, exibindo assim sua polpa branca adocicada. A espcie encontradapor toda a Caatinga sergipana. Epiphyllum phyllanthus(L.) Haw. (pitai-rsea) uma cactaceaeepfita que ocorre nas florestas de quase todo o Brasil. Em Sergipe, sua ocorrncia foi registradaapenas para o municpio de Riacho do Dantas. Os frutos so do tipo baga, estreitos-ovides,apiculados, deiscentes por aberturas laterais, contendo polpa suculento-mucilaginosa, de saborlevemente doce, com pequenas sementes de cor preta espalhadas na polpa branca. Os frutos soconsumidos no estado natural, porm so pouco apreciados [11].

    Geoffroea spinosa Jacq. (uma) pertence a famlia Fabaceae uma rvore que ocorre naCaatinga e que possui fruto com polpa de sabor amargo, porm consumida pelas populaesrurais especialmente na estaes secas mais severas. Em Sergipe, ocorre principalmente nonoroeste do estado.

    Diversas espcies de Myrtaceae possuem frutos comestveis por humanos. Os frutos so dotipo baga, drupa, cpsula ou ncula [13]. Psidium guajava L. (goiabeira) uma das maisconhecidas comercialmente e de acordo com os questionrios das feiras, o fruto comercializado proveniente dos municpios de Itabaiana, Propri e Canind de So Francisco. J outras

    espcies no so comercializadas, sendo, ainda, apenas apreciadas como plantas silvestres oucomercializadas apenas em pequena escala, como o caso da Campomanesia aromatica(Aubl.)Griseb. (candeia brava) que ocorre em Sergipe nos municpios de Lagarto e Itabaiana.

  • 7/24/2019 Frutos Caa Ting a Sergipe

    5/7

    T. C. Santos et al., Scientia Plena 8, 049901 (2012) 5

    Passiflora cincinnata Mast. (maracuj-do-mato) abundante em seu habitat natural nasmatas de capoeira do Pantanal Mato-grossense, do Brasil Central, Mato Grosso, Par, MinasGerais, So Paulo e costa do Nordeste. Ocorre na Caatinga, Cerrado e Mata Atlntica [16]. Osfrutos de polpa suculenta de sabor doce so consumidos in natura [11]. O maracuj-de-cheiro(Passiflora cf. foetidaL.) tambm muito freqente em seu habitat natural, em quase todo oterritrio brasileiro nas mais diferentes formaes vegetais. Os frutos com polpa suculenta desabor doce so consumidos in natura [11].

    Ziziphus joazeiro Mart .(juazeiro) uma frutfera pertencente a famlia Rhamnaceae. Ocorrenaturalmente na Caatinga de Sergipe [2], podendo ser encontrada nos municpios de SimoDias, Frei Paulo e Nossa Senhora da Glria. uma das ltimas rvores a perder as folhas napoca mais seca. Os frutos so drupas oblongas e speras, com polpa carnosa e relativamentefina, de sabor adocicado e rico em vitamina C e so consumidos exclusivamente na sua formanatural [11]. Apesar de sua grande utilidade e potencial econmico, a sua explorao limita-seao extrativismo, sendo necessrio conhecimentos capazes de contribuir para sua domesticao ecultivo [17].

    Talisia esculenta(A. St.-Hill.) Radlk., conhecida popularmente como pitombeira, pertence afamlia Sapindaceae. Possui frutos do tipo baga subglobosa, com uma a duas sementes grandes

    envoltas por um arilo fino de sabor acidulado [11]. Seus frutos (pitombas) tm grande aceitaopela populao nordestina, porm, de acordo com der-Silva [8], essa frutfera no possuicultivo organizado, sendo a sua produo oriunda de quintais ou concentraes de plantas emambientes naturais. Os frutos coletados pela populao local so comercializados em feiraslivres, nas ruas e em supermercados, proporcionando assim a divulgao dessa espcie comgrande potencial econmico. A pitomba mais comum em reas relativamente midas,ocorrendo nas matas midas e secas das Caatingas de agreste [6]. As pitombas encontradas nasfeiras eram provenientes do municpio de Nossa Senhora das Dores.

    Sideroxylon obtusifolium (Humb. ex Roem. & Schult) T. D. Penn (quixabeira) pertencente famlia Sapotaceae. A quixabeira faz parte dos extratos arbustivos e arbreos da vegetao daCaatinga de Sergipe, ou seja, da Caatinga mais mida [2], podendo ser encontrada nosmunicpios de Tobias Barreto, Frei Paulo, Poo Verde, Nossa Senhora da Glria e Itabaiana. O

    seu fruto do tipo baga ou drupa, liso, com polpa suculenta, doce e consumido exclusivamentein natura [13 e 11].Dentre as frutferas da Caatinga de Sergipe listadas nesse trabalho, seis foram encontradas

    sendo comercializadas nas feiras visitadas (Tabela 2), isso mostra que ainda h espcies poucoconhecidas comercialmente. Segundo Lorenzi et al. [11], estima-se que a fruticultura comercialenvolva pouco mais de 20 espcies, esse nmero quase insignificante quando comparadoquelas ainda pouco conhecidas, de pouca ou nenhuma importncia comercial at o momento.

    Vale a pena destacar a necessidade de preservao das espcies frutferas que em razo dacoleta extensiva podem sofrer ameaas em relao ao tamanho de sua populao. De acordocom Albuquerque & Andrade [18] a Caatinga est geralmente associada ao fornecimento derecursos madeireiros e medicinais, ou at se tornarem extintas sem que se conheaprofundamente sobre seus potenciais de utilizao e sem que se tenha estudo biolgico e

    taxonmico das mesmas.Em relao s feiras visitadas, observou-se que as maiores em tamanho e tambm mais

    importantes economicamente foram menos efetivas para a obteno de informaes sobre osfrutos da Caatinga, uma vez que essas recebem frutos de outros estados do Brasil ou de projetosde fruticultura irrigada em Sergipe, como o Plat de Nepolis e o Projeto Ladeirinhas, nosmunicpios de Japoat e Pacatuba, no mostrando assim o potencial frutfero dos municpiosonde as feiras se localizam.

  • 7/24/2019 Frutos Caa Ting a Sergipe

    6/7

    T. C. Santos et al., Scientia Plena 8, 049901 (2012) 6

    Figura 1. Distribuio das espcies na Caatinga de Sergipe (a esquerda da linha negra). As letras indicamas espcies e os nmeros as cidades nas quais as feiras foram visitadas: 1. Nossa Senhora da Glria; 2.Nossa Senhora de Lourdes; 3. Itabi; 4. Itabaiana; 5. Lagarto; 6. Propri; 7. Aracaju, capital do estado.

    4. CONCLUSES

    Pde-se observar que os frutos nativos e exticos da Caatinga listados nas feiras so aquelesmais conhecidos pela populao e que j possuem valor econmico, como o umbu, caj,ouricuri, jenipapo, pitomba e a mangaba. Contudo, os resultados obtidos nos herbriosmostraram que na Caatinga de Sergipe existe a presena de frutos ainda bastante desconhecidos,porm, potencialmente comercializveis.

    A maioria das espcias frutferas encontradas nos herbrios no foram encontradas nas feiras,

    esse resultado indica que muitas frutas encontradas na Caatinga, apesar de seu potencialeconmico, ainda no so comercializadas, sendo apreciadas apenas pela populao local. Essefato est ligado, possivelmente, ao desconhecimento que os produtores, a indstria e apopulao tm das frutas nativas e seu potencial alimentcio e nutricional.

    1.

    ALVES, J. J. A. Geoecologia da Caatinga no Semi-rido do Nordeste Brasileiro. Climatologia eEstudos de Paisagens2(1): 58-71 (2007).

    2. FRANCO, E. As formaes Vegetais do Globo Terrestre: Biocenologia. v. 2. 3 ed. Aracaju:Universidade Federal de Sergipe, 1995. 247p.

    3.

    BISPO, G. M. L. Vegetao e fauna da Caatinga no cotidiano do sertanejo: Umbuzeiro do Matuto -Porto da Folha/SE. Dissertao de Mestrado do Programa de Ps-em Desenvolvimento e Meio

    Ambiente do Ncelo de Ps-Graduao e Estudos do Semi-rido da Universidade Federal deSergipe. So Cristvo, 1998. 113p.

  • 7/24/2019 Frutos Caa Ting a Sergipe

    7/7

    T. C. Santos et al., Scientia Plena 8, 049901 (2012) 7

    4.

    LEAL, I. R.; SILVA, J. M. C. da, TABARELLI, M. e LACHER JR., T. E. Mudando o curso daconservao da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil. Megadiversidade 1(1): 139-146(2005).

    5.

    GIS, A. T de M. Bioma Caatinga: Contedo analisado no livro didtico da rede municipal deItabaiana-Sergipe. So Cristvo, SE. 2007.

    6. GIULIETTI, A.M.; NETA, A.L.B.; CASTRO, A.A J.F.; GAMARRA-ROJAS, C. F.L.; SAMPAIO,

    E.V.S.B.; VIRGNIO, J.F.; QUEIROZ, L.P.de; FIQUEIREDO, M.A.; RODAL, M. de J. N.;BARBOSA, M.R. de. Diagnstico da vegetao nativa do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M.C.;TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (orgs.). Biodiversidade da Caatinga: aesprioritrias para conservao. Braslia: MMA. Universidade Federal de Pernambuco, 2004. p.47-90.

    7.

    FERREIRA, G.F.; LEMOS, E.E.P de.; SOUZA, F.X. de; LOURENO, I.P.; LEDERMAN, I.E.;BEZERRA, J.E.F.; JNIOR, J. F. da S.; BARROS, L. de M.; RUFINO, M. do S.M.; OLIVEIRA,M.E.B.; MENDONA, R.M.N.; ALVES, R.E.; ARAJO, R.R. de; SILVA, S. de M. e SOUZA,A.B. de. Frutferas.In: SAMPAIO, E. V. S. B. (ed.). Espcies da flora nordestina de importnciaeconmica potencial. Recife: Associao Plantas do Nordeste, 2005. p.49-100.

    8.

    DER-SILVA, E. Frutferas nativas do Nordeste: Qualidade fisiolgica, morfolgica ecitogentica. Dissertao de Mestrado em Agronomia do Programa de Ps-Graduao emAgronomia da Universidade Federal da Paraiba. Areia, 2006. 110p.

    9.

    GIULIETTI, A. M.; HARLEY, R. M.; QUEIROZ, L. P.; BARBOSA, M. R. V.; BOCAGE NETA,

    A. L. de; FIQUEIREDO M. A. Espcies endmicas da Caatinga. In: SAMPAIO, E. V. S. B.;GIULIETTI, A. M.; VIRGNIO, J.; GAMARRA-ROJAS, C. F. L. Vegetao e flora da Caatinga.Recife: APNE/CNIP, 2002. p.103-115.

    10.

    SANTOS, C. A. F.; NASCIMENTO, C. E. S. Relao entre caracteres quantitativos do umbuzeiro(Spondias tuberosaA. Camara).Revista Pesquisa Agropecuria Brasileira 33: 1-8 (1998).

    11.

    LORENZI, H.; BACHER, L.; LACERDA, M.E SARTORI, S. Frutas Brasileiras e ExticasCultivadas (de consumo in natura).So Paulo: Instituto Plantarum de estudos da flora, 2006. 640p.

    12.

    DIAS, D. R.; SCHWAN, R. F.; LIMA, L. C. O. Metodologia para elaborao de fermentado de caj(Spondias mombinL.). Cincia e tecnologia alimentar23: 342-350 (2003).

    13.

    SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botnica Sistemtica: Guia ilustrado das famlias de Fanergamasnativas e exticas no Barsil, baseado em APG II.Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2005. 640p.

    14.

    SOARES, F.P.; PAIVA, R.; NOGUEIRA, R.C.; OLIVEIRA, L. M. de; SILVA, D. R. G.; PAIVA,P. D. de O. Cultura da Mangabeira (Hancornia speciosa GOMES). Boletim Agropecurio

    Universidade Federal de Lavras, Lavras 67: 1-12 (2004). Boletins Tcnicos. Disponvel em:. Acesso em: 07 dez. 2011.15. CREPALDI, I. C.; ALMEIDA-MURADIAN, L. B. de; RIOS, M. D. G. PENTEADO, M. de V. C.;

    SALATINO, A. Composio nutricional do fruto de licuri (Syagrus coronata (Martius)). RevistaBrasileira de Botnica24: 155-159 (2001).

    16. CERVI, A. C.; MILWARD-DE-AZEVEDO, M. A. BERNACCI, L. C. Passifloraceae. In: Lista deEspcies da Flora do Brasil. Jardim Botnico do Rio de Janeiro. Disponvel em:. Acesso em: 07 dez. 2011.

    17. ALVES, E. U.; BRAGA JNIOR, J. M.; BRUNO, R. de L. A.; OLIVEIRA, A. P. de; CARDOSO,E. de A.; ALVES, A. U.; ALVES, A. U.; SILVA, K. B. Mtodos para quebra de dormncia deunidades de disperso deZizyphus joazeiroMart. (RHAMANACEAE).Revista rvore31: 407-415(2008).

    18.

    ALBUQUERQUE, U. P. de; ANDRADE, L. de H. C. Conhecimento Botnico Tradicional e

    Conservao Em Uma rea De Caatinga No Nordeste De Pernambuco, Nordeste Do Brasil. ActaBotnica Braslica 13: 273-285 (2001).