fulcanelli - o mistrio das catedrais (doc)(rev)

261

Click here to load reader

Upload: victor-essenio

Post on 14-Oct-2015

56 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

O Mistrio das Catedrais

O MISTRIO

DAS CATEDRAIShttp://groups.google.com/group/digitalsource

Ttulo Original: Le mystre des cathdrales( Jean-Jacques Pauvert, 1964

Traduo de Antnio Carvalho

Capa de Alceu Saldanha Coutinho

Direitos reservados para todos os pases de Lngua Portuguesa

Edies 70, Lda., Av. Duque de vila, 69, r/c. Esq. 1000 LISBOATelefs. 57 83 65/55 68 98/57 20 01Telegramas: SETENTA

Telex: TEXTOS P

Delegao no Norte: Rua da Fbrica, 38-2, sala 25 4000 PORTO

Telef. 38 22 68

Distribuidor no Brasil: LIVRARIA MARTINS FONTES

Rua Conselheiro Ramalho, 330-340 So Paulo

Esta obra esta protegida pela Lei.

No pode ser reproduzida, no todo ou em sua parte,

Qualquer que seja o modo utilizado, incluindo fotocpia

E xerocpia, sem previa autorizao do Editor.

Qualquer transgresso Lei de Direitos de Autor,

Ser passvel de procedimento judicial.FULCANELLI

O MISTRIODAS CATEDRAISE A INTERPRETAO ESOTRICA

DOS SIMBOLOS HERMTICOS

DA GRANDE OBRA

Aos irmos de HelipolisNDICE10PREFACIO DA PRIMEIRA EDIO

13PREFACIO DA SEGUNDA EDIO

27PREFCIO DA TERCEIRA EDIO

43O MISTRIO DAS CATEDRAIS

44I

48II

51III

55IV

57V

60VI

62VII

71VIII

78IX

84PARIS

85I

89II

95III

109IV

117V

178VI

184VII

196VIII

200AMIENS

219BOURGES

220I

224II

248A CRUZ CCLICA DE HENDAIA

256CONCLUSO

NDICE DE GRAVURAS125Gravura I. Notre-Dame de Confession: Virgem negra das criptas Saint-Victor, em Marselha.

126Gravura II. Notre-Dame de Paris: A Alquimia

127Gravura III. Notre-Dame de Paris:O Alquimista.

128Gravura IV. Notre-Dame de Paris: A Fonte misteriosa ao p do velho Carvalho.

129Gravura V. Notre-Dame de Paris: O Alquimista protege o Athanor

130Gravura VI. Notre-Dame de Paris: O Corvo Putrefao.

131Gravura VII. Notre-Dame de Paris: O Mercrio Filosfico.

132Gravura VIII. Notre-Dame de Paris: A Salamandra Calcinao.

133Gravura IX. Notre-Dame de Paris: Preparao do Dissolvente Universal.

134Gravura X. Notre-Dame de Paris: A Evoluo Cores e Regimes da Grande Obra.

135Gravura XI. Notre-Dame de Paris: Os quatro Elementos e as duas Naturezas.

136Gravura XII. Notre-Dame de Paris: O Athanor e a Pedra

137Gravura XIII. Notre-Dame de Paris: Contrio do Enxofre e do Mercrio.

138Gravura XIV. Notre-Dame de Paris: Os Materiais Necessrios Elaborao do Dissolvente

139Gravura XV. Notre-Dame de Paris: O Corpo Fixo

140Gravura XVI. Notre-Dame de Paris: Unio do Fixo e do Voltil.

141Gravura XVII. Notre-Dame de Paris: O Enxofre Filosfico.

142Gravura XVIII. Notre-Dame de Paris: A Coobao.

143Gravura XIX. Notre-Dame de Paris: Origem e Resultado da Pedra

144Gravura XX. Notre-Dame de Paris: O Conhecimento dos Pesos.

145Gravura XXI. Notre-Dame de Paris: A Rainha derruba o Mercrio.

146Gravura XXII. Notre-Dame de Paris. O Regime de Saturno.

147Gravura XXIII. Notre-Dame de Paris. O Sujeito dos Sbios.

148Gravura XXIV. Notre-Dame de Paris. A Entrada do Santurio.

149Gravura XXV. Notre-Dame de Paris: A Dissoluo Combate das duas Naturezas.

150Gravura XXVI. Notre-Dame De Paris: Os Metais Planetrios.

151Gravura XXVII. Notre-Dame de Paris. O Co e as Pombas.

152Gravura XXVIII. Notre-Dame de Paris: Solve et Coagula

153Gravura XXIX. Notre-Dame de Paris: O Banho dos Astros Condensao do Esprito Universal.

154Gravura XXX. Notre-Dame de Paris: O Mercrio Filosfico e a Grande Obra.

155Gravura XXXI. Capela S. Toms de Aquino. Escudo Simblico.

156Gravura XXXII. Santa Capela de Paris. O Massacre dos Inocentes.

157Gravura XXXIII. Catedral de Amiens. O Fogo de Roda.

158Gravura XXXIV. Catedral de Amiens: A Coco Filosfica.

159Gravura XXXV. Catedral de Amiens: O Galo e a Raposa.

160Gravura XXXVI. Catedral de Amiens: As Matrias-primas.

161Gravura XXXVII. Catedral de Amiens: O Orvalho dos Filsofos.

162Gravura XXXVIII. Catedral De Amiens: O Astro de Sete Raios.

163Gravura XXXIX. Bourges Palcio Jacques Coeur: A Vieira de Compostela.

164Gravura XL. Bourges Palcio Jacques Coeur: Grupo de Tristo e Isolda.

165Gravura XLI. Bourges Manso Lallemant: O Vaso da Grande Obra.

166Gravura XLII. Bourges Manso Lallemant. Lenda de S. Cristvo.

167Gravura XLIII: Bourges Manso Lallemant: O Toso de Ouro.

168Gravura XLIV: Bourges Manso Lallemant: Capitel do Pilar. Lado Direito.

169Gravura XLV. Bourges Manso Lallemant. Teto da Capela (fragmento)

170Gravura XLVI. Bourges Manso Lallemant: Enigma da Credencia.

171Gravura XLVII. HENDAIA (BAIXOS PUUNUS): Cruz Cclica.

172Gravura XLVIII. HENDAIA: Cruz Cclica. As Quatro Faces do Pedestal.

173Gravura XLIX. ARLES IGREJA SAINT-TROPHIME: Tmpanu do Prtico (Sc. XII).

PREFCIOS

PREFACIO DA PRIMEIRA EDIO tarefa ingrata e incmoda para um discpulo apresentar a obra escrita pelo seu prprio Mestre. Por isso no me proponho analisar aqui O Mistrio das Catedrais, nem sublinhar a sua beleza formal e o seu ensinamento profundo. A este respeito, confesso muito humildemente a minha incapacidade e prefiro deixar aos leitores o cuidado de o apreciarem na sua validade e aos Irmos de Helipolis o prazer de recolher esta sntese, to magistralmente exposta por um dos seus. O tempo e a verdade faro o resto.

H j muito tempo que o autor deste livro no est entre ns. Extinguiu-se o homem. S persiste a sua recordao. E eu sinto uma certa dor ao evocar a imagem do mestre laborioso e sbio, a quem tudo devo, lamentando que tenha desaparecido to cedo. Os seus numerosos amigos, irmos desconhecidos que esperavam dele a soluo do misterioso Verbum dimissum, vo chor-lo comigo.

Podia ele, tendo chegado ao ponto mais alto do Conhecimento, negar-se a obedecer s ordens do Destino? Ningum profeta na sua terra. Este velho adgio d-nos, talvez, a razo oculta da perturbao que produz a centelha da Revelao na vida solitria e estudiosa do filsofo. Sob os efeitos dessa chama diurna, o homem velho consome-se inteiramente. Nome, famlia, ptria, todas as iluses, todos os erros, todas as vaidades se desfazem em p. E, como a Fnix dos poetas, uma personalidade nova renasce das cinzas. Assim o pretende, pelo menos, a Tradio filosfica.O meu Mestre sabia-o. Desapareceu quando soou hora fatdica, quando se produziu o Sinal. E quem se atreveria a esquivar-se Lei? Eu prprio, apesar de dilacerado por uma separao dolorosa, mas inevitvel, agiria do mesmo modo, se me acontecesse hoje o feliz sucesso que obrigou o Adepto a renunciar s homenagens deste mundo.

Fulcanelli j no existe. No entanto, e isso nos consola, o seu pensamento mantm-se, ardente e vivo, encerrado para sempre nestas pginas como num santurio.

Graas a ele, a Catedral gtica revela-nos o seu segredo. E assim nos damos conta, com surpresa e emoo, de como foi talhada pelos nossos antepassados a primeira pedra dos seus alicerces, gema resplandecente, mais preciosa que o prprio ouro, sobre a qual Jesus edificou a sua Igreja. Toda a Verdade, toda a Filosofia, toda a Religio, repousam sobre esta Pedra nica e sagrada. Muitos, cheios de presuno, julgam-se capazes de model-la; e, no entanto, so to raros os eleitos cuja simplicidade, cuja sabedoria, cuja habilidade, lhes permitem alcan-lo!

Mas isso pouco importa. Basta-nos saber que as maravilhas da nossa Idade Mdia contm a mesma verdade positiva, o mesmo fundo cientfico que as pirmides do Egito, os templos da Grcia, as catacumbas romanas, as baslicas bizantinas.

Esse o alcance geral do livro de Fulcanelli.

Os hermetistas ou, pelo menos, os que so dignos desse nome descobriro nele outra coisa. Costuma dizer-se que do conflito das idias que nasce a luz; eles descobriro que, aqui, graas ao confronto do Livro com o Edifcio que se desprende o Esprito e morre a Letra. Fulcanelli fez para eles o primeiro esforo; aos hermetistas cabe fazer o ltimo. O caminho que falta percorrer curto. Mas devemos conhec-lo bem e no caminhar sem saber para onde vamos.

Quer eis que vos diga algo mais?Sei, no por t-lo descoberto por mim mesmo, mas porque o autor mo afirmou, h mais de dez anos, que a chave do arcano maior dada, sem qualquer fantasia, por uma das figuras que ornamentam a presente obra. E essa chave consiste simplesmente numa cor manifestada ao arteso desde o primeiro trabalho. Nenhum Filsofo, que eu saiba, descobriu a importncia deste ponto essencial. Ao revel-lo, cumpro as ltimas vontades de Fulcanelli e sigo os ditames da minha conscincia.

E agora que me seja permitido, em nome dos Irmos de Helipolis e em meu prprio nome, agradecer calorosamente ao artista a quem o meu mestre confiou a ilustrao da sua obra. , efetivamente, ao talento sincero e minucioso do pintor Julien Champagne que O Mistrio das Catedrais deve o envolvimento do seu esoterismo austero por um soberbo manto de figuras originais

E. CANSELIET F.C.H

Outubro de 1925 PREFACIO DA SEGUNDA EDIOQuando O Mistrio das Catedrais foi redigido, em 1922, Fulcanelli no tinha recebido O Dom de Deus mas encontrava-se to perto da Iluminao suprema que julgou necessrio esperar e guardar o anonimato, alis por ele constantemente observado, mais ainda talvez por inclinao de carter do que por questo de obedincia rigorosa regra do segredo. Porque devemos dizer que este homem de uma outra idade, pelo seu comportamento estranho, pelas suas maneiras antiquadas e pelas suas ocupaes inslitas, atraa, sem querer, a ateno dos ociosos, dos curiosos e dos tolos, muito menos, no entanto, do que a que devia alimentar, pouco mais tarde, o desaparecimento total da sua personalidade comum.

Assim, desde a reunio da primeira parte dos seus escritos, o mestre manifestou a sua vontade absoluta e sem apelo de que ficasse na sombra a sua real entidade, de que desaparecesse o seu rtulo social, definitivamente trocado pelo pseudnimo exigido pela Tradio e desde h muito familiar. Esse nome clebre est to solidamente implantado nas memrias, at s geraes futuras mais longnquas, que positivamente impossvel substitu-lo por qualquer patrnimo que seja, mesmo que aparentemente certo, o mais brilhante ou o melhor

Mas, pelo menos, devemos convencer-nos de que o pai de uma obra de to alta qualidade no a abandonou assim que foi dada a conhecer sem ter razes pertinentes, seno imperiosas, profundamente amadurecidas. Estas, num plano muito diferente, levaram-no renncia, ame mo pode deixar de exigir a nossa admirao quando os autores mais puros, entre os melhores, se mostram sempre sensveis vaidade pueril da obra impressa. Deve acrescentar-se que o caso de Fulcanelli no semelhante a nenhum outro no reino das Letras do nosso tempo, visto que depende de uma disciplina tica infinitamente superior, segundo a qual o novo Adepto concilia o seu destino com o dos seus raros antecessores, tal como ele sucessivamente aparecidos na sua poca determinada, balizando a estrada imensa, como faris de salvao e misericrdia. Filiao sem mancha, prodigiosamente mantida, a fim de ser reafirmada sem cessar, na sua dupla manifestao espiritual e cientfica, a Verdade eterna, universal e indivisvel. Tal como a maior parte dos antigos Adeptos, deitando s urtigas do fosso os despojos do homem velho, Fulcanelli s deixou no caminho o vestgio onomstico do seu fantasma, cujo altaneiro carto de visita proclama a aristocracia suprema.

*

Para quem possui algum conhecimento dos livros de alquimia do passado, impe-se como aforismo de base que o ensino oral de mestre a discpulo prevalece sobre qualquer outro. Fulcanelli recebeu a iniciao desse modo, como ns prprios a recolhemos junto dele, no sem que devamos declarar que, pela nossa parte, Cyliani nos tinha j aberto a porta do labirinto, durante a semana em que, em 1915, apareceu o seu opsculo reimpresso.

Na nossa Introduo s Douze Clefs de Ia Philosophie repetimos expressamente que Basile Valentin foi o iniciador do nosso mestre, e isso tambm para que nos fosse dada ocasio de mudar o epteto do vocbulo, ou seja, substituir por razes de exatido o adjetivo numeral primeiro pelo qualificativo verdadeiro, que tnhamos utilizado outrora no nosso prefcio das Demeures Philosophales. Nessa poca, ignorvamos a existncia da carta to comovente que reproduzimos um pouco mais adiante e que extrai toda a sua impressionante beleza do impulso de entusiasmo, do acento de fervor que inflamam de repente o autor, tornado annimo pela assinatura raspada, o mesmo acontecendo com a indicao do destinatrio devido falta de sobrescrito. Esse foi, sem dvida, o mestre de Fulcanelli, que deixou entre os seus papis a epstola reveladora, cruzada por duas listas bistres no lugar das dobras por ter estado muito tempo guardada na carteira, onde pelo menos a vinha procurar a poeira impalpvel e suja do enorme forno continuamente em atividade. Assim, o autor do Mistrio das Catedrais conservou como um talism, durante anos, a prova escrita do triunfo do seu verdadeiro iniciador, que nada nos probe de publicar hoje, sobretudo porque d uma idia poderosa e justa do domnio sublime em que se situa a Grande Obra. No cremos que nos censurem a extenso da estranha epstola da qual, sem dvida, seria pena que se suprimisse uma nica palavra:

Meu velho amigo,

Desta vez, recebestes verdadeiramente o Dom de Deus; uma grande Graa e pela primeira vez compreendo como esse favor raro. Considero, efetivamente, que no seu abismo insondvel de simplicidade o arcano no se pode encontrar apenas pela fora da razo, por subtil e exercitada que ela seja. Enfim, possuis o Tesouro dos Tesouros, demos graas Luz Divina que vos fez seu participante. Alis, mereceste-o inteiramente pela vossa f inabalvel na Verdade, pela constncia no esforo, pela perseverana no sacrifcio e tambm, no o esqueamos... pelas vossas boas obras.

Quando minha mulher me anunciou a boa nova, senti-me atordoado pela alegre surpresa e no consegui dominar-me perante tanta felicidade. De tal maneira que dizia a mim prprio: Oxal no paguemos esta hora de entusiasmo com algum terrvel despertar. Mas embora sumariamente informado acerca da questo, julguei compreender, e o que me confirma na certeza que o fogo s se apaga quando a Obra est terminada e toda a massa tintorial impregna o vidro que, de decantao em decantao, fica absolutamente saturado e se torna luminoso como o sol.

Levastes a vossa generosidade a associar-nos a esse alto e oculto conhecimento que vos pertence de pleno direito e inteiramente pessoal. Mais do que ningum, ns avaliamos o seu preo e tambm melhor do que ningum somos capazes de vos guardar eterno reconhecimento. Sabeis que as mais belas frases, os mais eloqentes protestos no valem a simplicidade comovente destas nicas palavras: sois bom e por essa grande virtude que Deus colocou na vossa cabea o diadema da verdadeira realeza. Ele sabe que fareis nobre utilizao do cetro e do inestimvel apangio que ele comporta. Ns conhecemo-vos h muito tempo como sendo o manto azul dos nossos amigos nas provaes; o manto caridoso estendeu-se de repente, porque agora todo o azul do cu e o seu grande sol que cobrem os vossos nobres ombros. Que possais gozar muito tempo dessa grande e rara felicidade para alegria e consolao dos vossos amigos e mesmo dos vossos inimigos, porque a desgraa tudo apaga e, a partir de agora, dispondes da varinha mgica que realiza todos os milagres.

Minha mulher, com essa inexplicvel intuio dos seres sensveis, teve um sonho verdadeiramente estranho. Viu um homem envolvido em todas as cores do prisma e elevado at ao sol. A sua explicao no se fez esperar. Que Maravilha! Que bela e vitoriosa resposta minha carta, no entanto cheia de dialtica e teoricamente exata; mas to distante ainda do Verdadeiro, do Real! Ah! quase pode dizer-se que aquele que saudou a estrela da manh perdeu para sempre o uso da vista e da razo porque fascinado por essa falsa luz e precipitado no abismo... A menos, como no vosso caso, que um grande golpe de sorte venha tir-lo bruscamente da beira do precipcio.

Ardo em desejos de vos ver, meu velho amigo, de vos ouvir contar-me as ltimas horas de angstias e de triunfos. Mas acreditai que nunca saberei traduzir em palavras a grande alegria que sentimos e toda a gratido que temos no fundo do corao. Aleluia!

Abraa-vos e felicita-vos o vosso velho...

Aquele que sabe fazer a Obra apenas pelo mercrio encontrou o que h de mais perfeito ou seja, recebeu a luz e cumpriu o Magistrio.*

Uma passagem ter, talvez, espantado, surpreendido ou desconcertado o leitor atento e j familiarizado com os principais dados do problema hermtico. Precisamente quando o ntimo e sbio correspondente exclama:Ah! quase pode dizer-se que aquele que saudou a estrela da manh perdeu para sempre o uso da vista e da razo porque fascinado por essa falsa luz e precipitado no abismo.

Esta frase no parece estar em contradio com o que afirmamos h mais de vinte anos num estudo sobre o Toso de Ouro, a saber, que a estrela o grande sinal da Obra, que ela autentica a matria filosofal, ensina ao alquimista que no encontrou a luz dos loucos mas sim a dos sbios; que consagra a sabedoria; e denominada estrela da manh. Notaram que precisamos resumidamente que o astro hermtico primeiramente, admirado no espalho da arte ou mercrio antes de ser descoberto no cu qumico onde alumia de maneira infinitamente mais discreta? No menos preocupado com o dever de caridade do que com a observncia do segredo, embora passssemos por entusiasta do paradoxo, teramos podido ento insistir sobre o maravilhoso arcano e, com esse fim, recopiar algumas linhas escritas num velho caderno, aps uma dessas doutas conversas de Fulcanelli, as quais, temperadas com caf aucarado e frio, faziam as nossas delcias profundas de adolescente assduo e estudioso, vido de inaprecivel saber:A nossa estrela est s e, no entanto, dupla. Sabei distinguir a sua marca real da sua imagem e notareis que ela brilha com mais intensidade luz do dia do que nas trevas da noite.

Declarao que confirma e completa a de Basile Valentin (Douze Clefs), no menos categrica e solene:

Duas estrelas foram concedidas ao homem pelos Deuses para o conduzirem grande Sabedoria; observa-as, homem! e segue com persistncia a sua claridade porque nela se encontra a Sabedoria.

Sero essas duas estrelas que nos mostra uma das pequenas pinturas alqumicas do convento franciscano de Cimiez, acompanhada da legenda latina exprimindo a virtude salvadora inerente radiao nocturna e estelar:

Cum luce salutem; com a luz, a salvao.

Em todo o caso, possuindo algum sentido filosfico e dando-se ao trabalho de meditar sobre estas palavras de Adeptos incontestveis, ter-se- a chave com a qual Cyliani abre a fechadura do templo. Mas se no se compreende, que se leiam os Fulcanelli e que se no v procurar noutro lado um ensinamento que nenhum outro livro poderia dar com tanta exatido.

H, portanto, duas estrelas que, apesar de parecer inverossmil, formam realmente uma s. A que brilha sobre a Virgem mstica simultaneamente nossa me e mar hermtico, anuncia a concepo e apenas o reflexo da outra que precede a miraculosa vinda do Filho. Porque se a Virgem celeste ainda chamada stella matutina, a estrela da manh; se lcito ver nela o esplendor de um sinal divino; se o reconhecimento dessa fonte de graas d alegria ao corao do artista, trata-se, no entanto, apenas de uma simples imagem refletida pelo espelho da Sabedoria. Apesar da sua importncia e do lugar que ocupa para os autores, essa estrela visvel, mas inatingvel, atesta a realidade da outra, da que coroou o divino Menino no seu nascimento. O sinal que conduziu os Magos para a caverna de Belm, ensina-nos S. Crisstomo, veio, antes de desaparecer, pousar-se na cabea do Salvador e rode-la de uma glria luminosa.*Insistimos neste ponto, to certos estamos de que alguns nos agradecero: trata-se verdadeiramente de um astro noturno cuja claridade irradia sem grande brilho no plo do cu hermtico. Tambm importa, sem nos deixarmos enganar pelas aparncias, instruirmo-nos acerca desse cu terrestre de que fala Vinceslas Lavinius de Moravie e a propsito do qual insistiu Jacobus Tollius:Ters compreendido o que o Cu pelo meu pequeno comentrio que se segue e pelo qual o Cu qumico ter sido aberto. Porque

Este cu imenso e reveste os campos de luz

[purprea,

Onde se reconhecem os seus astros e o seu sol.

indispensvel ponderar que o cu e a terra, embora confundidos no Caos csmico original, no so diferentes em substncia nem em essncia mas tornam-se diferentes em quantidade, em qualidade e em virtude. A terra alqumica, catica, inerte e estril, no contm, todavia, o cu filosfico? Seria ento impossvel ao artista, imitador da Natureza e da Grande Obra divina, separar no seu pequeno mundo, com a ajuda do fogo secreto e do esprito universal, as partes cristalinas, luminosas e puras, das partes densas, tenebrosas e grosseiras? Ora essa separao deve ser feita, consistindo em extrair a luz das trevas e em realizar o trabalho do primeiro dos Grandes Dias de Salomo. atravs dela que podemos conhecer o que a terra filosofal e o que os Adeptos denominaram o cu dos sbios.Filaleto que, no seu livro Entrada Aberta no Palcio Fechado do Rei, se alargou mais acerca da prtica da Obra, assinala a estrela hermtica e conclui pela magia csmica da sua apario:

o milagre do mundo, a juno das virtudes superiores nas inferiores; por isso que o Todo-Poderoso o marcou com um sinal extraordinrio. Os Sbios viram-no no Oriente, ficaram surpreendidos e souberam logo que um Rei purssimo tinha nascido no mundo.

Tu, quando tiveres visto a sua estrela, segue-a at ao Bero; a vers o belo Menino.O Adepto desvenda seguidamente a maneira de operar:

Tomem-se quatro partes do nosso drago gneo que esconde no seu ventre o nosso Ao mgico, do nosso man nove partes; misturem-se juntas por meio de Vulcano ardente, em forma de gua mineral, onde sobrenadar uma espuma que dever ser afastada. Rejeite-se a crosta, tome-se o ncleo, purifique-se trs vezes pelo fogo e pelo sal, o que ser fcil se Saturno viu a sua imagem no espelho de Marte.

Enfim, Filaleto acrescenta:E o Todo-Poderoso imprime o seu selo real nessa Obra e ornamenta-a particularmente.

*

A estrela no verdadeiramente um sinal especial do labor da Grande Obra. Podemos encontr-la numa quantidade de combinaes arqumicas, processos particulares e operaes espagricas de menor importncia. No entanto, ela oferece sempre o mesmo valor indicativo de transformao, parcial ou total, dos corpos sobre os quais se fixou. Um exemplo tpico -nos fornecido por Jean-Frdric Helvtius nesta passagem do seu Bezerro de Ouro (Vitulus Aureus) que traduzimos:

Um certo ourives de La Haye (cui nomen est Grillus), discpulo muito prtico na alquimia mas homem muito pobre segundo a natureza dessa cincia, h alguns anos( pedia ao meu maior amigo ou seja, a Jean-Gaspard Knttner, tintureiro de panos esprito de sal preparado de maneira diferente da vulgar. A Knttner, informando-se se esse esprito de sal especial seria ou no utilizado para os metais, Gril respondeu: para os metais; seguidamente, deitou esse esprito de sal em cima de chumbo que tinha colocado num recipiente de vidro utilizado para os doces ou alimentos. Ora, aps duas semanas apareceu, sobrenadando, uma muito curiosa e resplandecente Estrela prateada, como disposta com um compasso por um artista muito hbil. Da que Gril, cheio de imensa alegria, nos anunciou ter j visto a estrela visvel dos Filsofos, acerca da qual, provavelmente, se tinha instrudo em Basile (Valentin). Eu e muitos outros homens honrados olhvamos com extrema admirao essa estrela flutuante sobre o esprito de sal enquanto, no fundo, o chumbo continuava cor de cinza e inchado como uma esponja. Entretanto, com sete ou nove dias de intervalo, essa umidade do esprito de sal, absorvida pelo grande calor do ar do ms de Julho, desaparecia, a estrela atingia o fundo e pousava sobre esse chumbo esponjoso e terroso. Esse foi um resultado digno de admirao e no apenas para um pequeno nmero de testemunhas. Finalmente, Gril copelou sobre um cadinho a parte desse mesmo chumbo colhida com a estrela aderente e recolheu, de uma libra desse chumbo, doze onas de prata de cadinho e, alm disso, dessas doze onas, duas onas de ouro excelente. Esta a descrio de Helvtius. Damo-la apenas para ilustrar a presena do sinal estrelado em todas as modificaes internas de corpos tratados filosoficamente. Entretanto, no quereramos ser a causa de infrutferos e decepcionantes trabalhos empreendidos certamente por alguns leitores entusiastas, apoiando-se na reputao de Helvetius, na propriedade de testemunhas oculares e, talvez, tambm na nossa constante preocupao de sinceridade. por isso que fazemos notar, queles que desejariam retomar o processo, que faltam nesta narrativa dois dados essenciais: a composio qumica exata do cido hidroclrico e as operaes previamente executadas no metal. Nenhum qumico nos contradir se afirmarmos que o chumbo vulgar, qualquer que seja, nunca tomar o aspecto da pedras-pomes submetendo-o, a frio, ao do cido muritico. Vrias preparaes so, portanto, necessrias para provocar a dilatao do metal, separar as suas impurezas mais grosseiras e os elementos morredoiros, para o conduzir, enfim, pela fermentao requerida, ao enchimento que o obriga a tomar uma estrutura esponjosa, mole e manifestando j uma tendncia muito marcada para a transformao profunda das propriedades especficas.

Blaise de Vigenre e Naxgoras, por exemplo, dissertaram acerca da oportunidade de uma longa coco prvia. Porque se verdadeiro que o chumbo comum est morto visto que sofreu a reduo e que uma grande chama, diz Basile Valentin, devora um pequeno fogo no menos verdade que o mesmo metal, pacientemente alimentado de substncia gnea, se reanimar, retomar pouco a pouco a sua atividade abolida e, de massa qumica inerte, tornar-se- corpo filosfico vivo.*

Podero admirar-se que tenhamos tratado to abundantemente um nico ponto da Doutrina, consagrando-Ihe, inclusivamente, a maior parte deste prefcio, com o qual, conseqentemente, receamos ter ultrapassado o fim designado habitualmente aos textos do mesmo gnero. No entanto, aperceber-se-o de como era lgico que desenvolvssemos este tema que introduz, no mesmo nvel diremos ns o texto de Fulcanelli. Desde o incio, efetivamente, o nosso mestre deteve-se longamente sobre o papel capital da Estrela, sobre a Teofania mineral que anuncia, com certeza, a elucidao tangvel do grande segredo encerrado nos edifcios religiosos. O Mistrio das Catedrais, eis, precisamente, o ttulo da obra de que damos aps a tiragem de 1926, constituda apenas por 300 exemplares uma segunda edio, aumentada com trs desenhos de Julien Champagne e com notas originais de Fulcanelli, reunidas exatamente, sem o menor acrescento nem a mais pequena modificao. Estas referem-se a uma questo angustiante que ocupou durante muito tempo a pena do mestre e de que diremos algumas palavras a respeito das Demeures Philosophales.

De resto, se o mrito do Mistrio das Catedrais tivesse de ser justificado, bastaria apenas assinalar que este livro voltar a trazer para a luz a cabala fontica, cujos princpios e aplicao tinham cado no mais total esquecimento. Aps esse ensinamento detalhado e preciso, aps as breves consideraes que fizemos a propsito do centauro, do homem-cavalo de Plessis-Bourr, em Deux Logis Alchimiques, no se poder mais confundir a lngua matriz, o idioma enrgico, facilmente compreendido embora jamais falado e, sempre segundo Cyrano Bergerac, o instinto ou a voz da Natureza com as transposies, as intervenes, as substituies e os clculos no menos abstrusos do que arbitrrios da kabbala judaica. Eis porque importa diferenciar os dois vocbulos cabala e kabbala, a fim de os utilizar com conhecimento de causa: o primeiro derivando de (((((((( ou do latim caballus, cavalo; o segundo, do hebraico kabbalah, que significa tradio. Finalmente, no se dever alegar como pretexto os sentidos figurados, alargados por analogia, de conventculo, de ardil ou de intriga para recusar ao substantivo cabala o emprego que s ele capaz de assegurar e que Fulcanelli lhe confirmou magistralmente, recuperando a chave perdida da Gaia Cincia, da Lngua dos Deuses ou dos Pssaros. Essas mesmas que Jonathan Swift, o singular Deo de Saint-Patrick, conhecia a fundo e praticava sua maneira, com tanta cincia e virtuosidade.SAVIGNIES, Agosto de 1957.PREFCIO DA TERCEIRA EDIO

Mieux vault vivre soubz gros bureaux

Povre, qu'avoir este seigneur

Et pourrir soubz riches tombeaux!Qu'avoir este seigneur! Que dys? Seigneur, Ias! et ne l'est il mais? Selon les davitiques diz, Son lieu ne congnoistras jamais.

Franois Villon. Le Testament, XXXVI e XXXVII.Era necessrio e, sobretudo, do mais elementar cuidado de salubridade filosfica que O Mistrio das Catedrais reaparecesse o mais cedo possvel. Para Jean-Jacques Pauvert coisa feita da maneira que bem lhe conhecemos e que, para felicidade dos pesquisadores, satisfaz sempre dupla preocupao de ajustar no melhor sentido a perfeio profissional e o preo de venda ao leitor. Duas condies extrnsecas e capitais muito agradveis exigente Verdade que Jean-Jacques Pauvert, por acrscimo, quis aproximar bastante, ilustrando, desta vez, a primeira obra do mestre com a fotografia perfeita das esculturas desenhadas por Julien Champagne. Assim a infalibilidade da pelcula sensvel, na confrontao com o modelo original, vem proclamar a conscincia e a habilidade do excelente artista que conheceu Fulcanelli em 1905, dez anos antes de ns recebermos o mesmo inestimvel privilgio, pesado no entanto e muitas vezes invejado.*

Que a alquimia para o homem seno, verdadeiramente provenientes de um certo estado de alma que releva da graa real e eficaz, a procura e o despertar da Vida secretamente entorpecida sob o espesso invlucro do ser e a rude crosta das coisas? Nos dois planos universais, onde residem conjuntamente a matria e o esprito, o processo absoluto, consistindo numa permanente purificao at ltima perfeio.

Com este fim, nada nos fornece melhor o modo de operar do que o apotegma antigo e to preciso na sua imperativa brevidade: Solve et coagula, dissolve e coagula. A tcnica simples e linear, exigindo a sinceridade, a resoluo e a pacincia e apelando para a imaginao, ai de mim! quase totalmente abolida, na maioria, na nossa poca de agressiva e esterilizante saturao. Raros so aqueles que se aplicam idia viva, imagem frutfera, do smbolo que permanece inseparvel de toda a elaborao filosofal ou de toda a aventura potica e que se abrem pouco a pouco, em lenta progresso, em direo a maiores luz e conhecimento.

Vrios alquimistas disseram, e a Turba em particular, pela voz de Baleus, que a me sente piedade pelo seu filho mas este muito duro para com ela. O drama familiar desenrola-se, de modo positivo, no seio do microcosmos alqumico-fsico, de modo que se pode esperar, para o mundo terrestre e sua humanidade, que a Natureza perdoe, finalmente, aos homens e se acomode o melhor possvel aos tormentos que eles lhe fazem perpetuamente sofrer.*

Eis o mais grave: enquanto a Franco-Maonaria procura sempre a palavra perdida (verbum dimissum), a Igreja universal (katholik), que possui esse Verbo, est em vias de o abandonar no ecumenismo do diabo. Nada favorece mais essa falta inexpivel do que a receosa obedincia do clero, muitas vezes ignorante, ao falacioso impulso, pretensamente progressivo, recebido de foras ocultas visando apenas destruio da obra de Pedro. O mgico ritual da missa latina, profundamente alterado, perdeu o seu valor e agora caminha, a par do chapu mole e do fato completo adotados por certos padres felizes com o seu travesti, em prometedora etapa para a abolio do celibato filosfico...

De acordo com esta poltica de incessante abandono, a funesta heresia instala-se na raciocinante vaidade e no desprezo profundo das leis misteriosas. Entre estas, a inevitvel necessidade de putrefao fecunda de toda a matria, qualquer que ela seja, a fim de que a vida prossiga a, sob a enganadora aparncia do nada e da morte. Diante da fase transitria, tenebrosa e secreta que abre alquimia operativa as suas espantosas possibilidades, no ser terrvel que a Igreja consinta agora nessa atroz cremao que ela recusava de modo absoluto?

Que horizonte imenso descobre, no entanto, a parbola do gro entregue ao solo, que S. Joo relata:

Em verdade, em verdade vos digo que se o gro de trigo que cai na terra no morrer, fica s; mas, se morrer, produz muitos frutos (XII, 24).

semelhana do discpulo bem-amado, esta outra preciosa indicao do seu Mestre, a respeito de Lzaro, de que a putrefao do corpo no quereria significar a abolio total da vida:Disse Jesus: Tirai a pedra. Respondeu-lhe Marta, a irm do defunto: Senhor, ele j cheira mal porque est l h quatro dias. Disse-lhe Jesus: No te disse que se tu creres, vers a glria de Deus? (XI, 39 e 40).No seu esquecimento da Verdade hermtica que assegurou a sua fundao, a Igreja, ante a questo da incinerao dos cadveres, toma, sem esforo, a sua m razo da cincia do bem e do mal, segundo a qual a decomposio dos corpos, nos cemitrios cada vez mais numerosos, ameaaria de infeco e de epidemias os vivos que respiram ainda a atmosfera das proximidades. Argumento to capcioso que nos faz pelo menos sorrir, sobretudo quando se sabe que ele foi j citado muito a srio, h mais de um sculo, quando floria o estreito positivismo dos Comte e dos Littr! Enternecedora solicitude, enfim, que no se exerceu no nosso tempo bendito, nas duas hecatombes, grandiosas pela durao e pela multido dos mortos, em superfcies quase sempre reduzidas, em que a inumao demorava, muitas vezes bem longe do prazo e da profundidade regulamentares.

Em oposio, este o lugar de lembrar a observao, macabra e singular, a que se aplicaram no comeo do Segundo Imprio, num esprito muito diferente, com a pacincia e a determinao de uma outra idade, os clebres mdicos, tambm toxiclogos, Mathieu-Joseph Orfila e Marie-Guillaume Devergie, sobre a lenta e progressiva decomposio do corpo humano. Eis o resultado da experincia conduzida at ento no fedor e na intensa proliferao dos vibries:O odor diminui gradualmente; chega enfim um tempo em que todas as partes moles espalhadas no cho formam apenas um detrito lamacento, enegrecido e com um cheiro que tem qualquer coisa de aromtico.Quanto transformao do fedor em perfume, deve notar-se a surpreendente semelhana com o que declaram os velhos Mestres, a propsito da Grande Obra fsica e entre eles, em especial, Morien e Raymond Lulle, precisando que ao odor infecto (odor teter) da dissoluo obscura sucede o mais suave perfume, porque prprio da vida e do calor (quia et vitae proprius est et caloris).*

Depois do que acabamos de delinear, quanto no devemos recear o que, nossa volta, e no plano em que nos encontramos, podem representar o testemunho contestvel e a argumentao capciosa? Propenso deplorvel que invariavelmente mostram a inveja e a mediocridade e de que temos o dever de destruir, hoje, os desagradveis e persistentes efeitos. Isso vem a propsito de uma retificao muito objetiva do nosso mestre Fulcanelli, estudando, no Museu de Cluny, a esttua de Marcelo, bispo de Paris, que se erguia em Notre Dame, o vo do prtico de Santa Ana, antes de os arquitetos Viollet-le-Duc e Lassus o terem substitudo, cerca de 1850, por uma cpia satisfatria. Assim, o Adepto do Mistrio das Catedrais foi levado a corrigir os erros cometidos por Louis-Franois Cambriel que podia, no entanto, fornecer pormenores da escultura primitiva que permaneceu sempre na catedral desde o princpio do sculo XIV, e que escrevia ento, no reinado de Carlos X, a sua breve e fantasiosa descrio:

Este bispo leva um dedo boca para dizer queles que o contemplam e que vm tomar conhecimento do que ele representa... Se reconheceis e adivinhais o que represento por este hierglifo, calai-vos!... No digais nada! (Cours de philosophie hermtique ou d'Alchimie en dix-neuf leons, Paris, Lacour et Maistrasse, 1843).

Estas linhas, na obra de Cambriel, so acompanhadas pelo esboo desajeitado que lhes deu origem ou que elas inspiraram. Como Fulcanelli, imaginamos dificilmente que dois observadores, a saber, o escritor e o desenhador, tenham podido separadamente ser vitimas da mesma iluso. Na estampa, o santo bispo, que aparece com barba, em evidente metacronismo, tem a cabea coberta com uma mitra decorada com quatro pequenas cruzes e segura com a mo esquerda um curto bculo na concavidade do seu ombro. Imperturbvel, leva o indicador ao nvel do queixo na expresso mmica do segredo e do silncio recomendados.

A verificao fcil, conclui Fulcanelli, visto que possumos a obra original e a fraude salta aos olhos primeira vista. O nosso santo , segundo o costume medieval, completamente escanhoado; a sua mitra, muito simples, no mostra qualquer ornamento; o bculo, que segura com a mo esquerda, apia a sua extremidade inferior sobre a goela do drago. Quanto ao gesto famoso dos personagens do Mutus Liber e de Harpcrates, saiu inteiramente da imaginao excessiva de Cambriel. S. Marcelo representado abenoando, numa atitude cheia de nobreza, a testa inclinada, o ante-brao dobrado, a mo altura do ombro, o indicador e o dedo mdio levantados.

*

Como acabamos de ver, a questo estava nitidamente resolvida, constituindo na presente obra o tema de todo o pargrafo VII do captulo PARIS e de que o leitor pode desde j tomar conhecimento na sua totalidade. Todo o engano estava ento desfeito e a verdade perfeitamente estabelecida quando Emile-Jules Grillot de Givry, trs anos mais tarde, no seu Muse des Sorciers, escreveu a respeito do pilar mdio do prtico sul de Notre-Dame estas linhas:

A esttua de S. Marcelo que se encontra atualmente no portal de Notre-Dame, uma reproduo moderna que no tem valor arqueolgico; faz parte da restaurao dos arquiteto Lassus e Viollet-le-Duc. A verdadeira esttua, do sculo XIV, encontra-se atualmente relegada para um canto da grande sala das Termas do Museu de Cluny, onde a fizemos fotografar (fig. 342). Pode ver-se que o bculo do bispo mergulha na goela do drago, condio essencial para a legibilidade do hierglifo e indicao de que um raio celeste necessrio para acender o fogo do athanor. Ora, numa poca que deve ter sido os meados do sculo XVI, esta esttua antiga tinha sido retirada do portal e substituda por uma outra na qual o bculo do bispo, para contrariar os alquimistas e arruinar a sua tradio, tinha sido feito deliberadamente mais curto e j no tocava a goela do drago. Pode verse essa diferena na nossa figura 344, em que representada esta antiga esttua, tal como era antes de 1860. Viollet-le-Duc f-la retirar e substituiu-a por uma cpia bastante exata da do Museu de Cluny, restituindo assim ao portal de Notre-Dame a soa verdadeira significao alqumica.

Que confusa embrulhada esta, para no dizer mais, segundo a qual, em resumo, uma terceira esttua se teria inserido, no sc. XVI, entre a bela relquia depositada em Cluny e a cpia moderna, visvel na catedral da Cite h mais de cem anos! Dessa esttua renascentista, ausente dos arquivos e desconhecida das mais esclarecidas obras, Grillot de Givry, em apoio da sua afirmao pelo menos muito gratuita, forneceu uma fotografia de que Bemard Husson fixa deliberadamente a data e faz um daguerretipo. Eis a legenda que renova, por baixo da fotografia, a sua insustentvel justificao:FIG.344 ESTTUA DO SC. XVI SUBSTITUDA, CERCA

DE 1860, POR UMA CPIA DA EFGIE PRIMITIVA.

Portal de N.-D. de Paris.

(Coleo do Autor.)

Infelizmente para esta imagem, o pressuposto S. Marcelo no possui a vara episcopal que lhe atribui a pena de Grillot, decididamente perdido at a impossvel solicitao. Quando muito, distingue-se na mo esquerda do prelado trocista e abundantemente barbado uma espcie de grande barra desprovida, na sua extremidade superior, da voluta ornada que teria podido constituir um bculo de bispo.

Importava, evidentemente, que se induzisse do texto e da ilustrao que esta escultura do sculo XVI oportunamente inventada fosse a que Cambriel, passando um dia diante da igreja de Notre-Dame de Paris examinou com muita ateno, visto que o autor declara na prpria capa do seu Curso de Filosofia que terminou este livro em Janeiro de 1829. Desta maneira, encontravam-se acreditados a descrio e o desenho devidos ao alquimista de Saint-Paul-de-Fenouillet, que se completam no erro, enquanto esse irritante Fulcanelli, demasiado preocupado com a exatido e a sinceridade, era reconhecido culpado de ignorncia e de inconcebvel desprezo. Ora a concluso, neste sentido, no to simples; podemos constat-lo desde j na gravura de Franois Cambriel, em que o bispo portador de uma vara pastoral seguramente encurtada mas completa, com o seu baco e com a sua parte em espiral.*

No nos detenhamos na explicao de Grillot de Givry, verdadeiramente engenhosa mas um pouco elementar, do encurtamento da vara pastoral (virga pastoralis); no deixemos, pelo contrrio, de denunciar esta bizarria, que evidentemente visava, sem a nomear inocentemente, precisar Jean Reyor, pretendendo que tivesse sido de maneira fortuita a pertinente correo do Mistrio das Catedrais, da qual impossvel que um esprito to avisado e curioso como o seu no tivesse conhecimento. Com efeito, este primeiro livro de Fulcanelli tinha aparecido em Junho de 1926, quando datado de Paris, 20 de Novembro de 1928 Le Muse des Sorciers saiu em Fevereiro de 1929, uma semana aps a morte sbita do seu autor.

Nessa altura, o processo, que no nos pareceu particularmente honesto, causou-nos tanta surpresa como desgosto e desconcertou-nos profundamente. certo que nunca teramos falado disso se, depois de Marcel Clavelle alis Jean Reyor Bernard Husson no tivesse sentido recentemente a inexplicvel necessidade, a trinta e dois anos de distncia, de voltar a tocar no caso e vir em seu socorro. Daremos apenas neste lugar a presunosa opinio do primeiro no Voile d'Isis de Novembro de 1932 visto que o segundo f-la inteiramente sua, sem refletir nem sentir o menor escrpulo que gostaramos que tivesse em relao ao Adepto admirvel e ao Mestre comum:

Toda a gente partilha a virtuosa indignao de Fulcanelli. Mas o que sobretudo lamentvel a leviandade deste autor nesta circunstncia. Vamos ver que no havia motivo para acusar Cambriel de 'truque', 'fraude' e desaforo'.

Ponhamos as coisas nos seus devidos lugares: o pilar que se encontra atualmente no portal de Notre-Daine uma reproduo moderna que faz parte da restaurao dos arquitetos Lassus e Viollet-le-Duc, efetuada cerca de 1860. O pilar primitivo encontra-se desterrado no Museu de Cluny. No entanto, devemos dizer que o pilar atual reproduz bastante fielmente, no seu conjunto, o do sculo XIV, com exceo de alguns motivos do pedestal. Em todo o caso, nem um nem outro destes pilares correspondem descrio e figura dadas por Cambriel e inocentemente reproduzidas por um conhecido ocultista. E, no entanto, Cambriel no tentou de maneira nenhuma enganar os seus leitores. Descreveu e fez desenhar fielmente o pilar que todos os parisienses de 1843 podiam contemplar. que existe um terceiro pilar S. Marcelo, reproduo infiel do primitivo, e este pilar que foi substitudo, cerca de 1860, pela cpia mais honesta que vemos atualmente. Esta reproduo infiel apresenta todas as caractersticas assinaladas pelo bom Cambriel que, longe de ser um trapaceiro, foi, pelo contrrio, enganado por essa cpia pouco escrupulosa, mas a sua boa-f est absolutamente fora de causa e isso que desejaramos estabelecer.*A fim de melhor fundamentar o que dizia, Grillot de Givry o conhecido ocultista citado por Jean Reyor em Le Muse des Sorciers, apresentou, sem referncia, como vimos, uma prova fotogrfica cuja estereotipagem revela a confeco recente. Qual ser, no fundo, o valor exato deste documento que ele utilizou para reforar o seu texto e rejeitar, com toda a aparncia de irrefutabilidade, o julgamento imparcial de Fulcanelli a propsito de Franois Cambriel? Julgamento talvez severo mas seguramente fundamentado, que Grillot de Givry, sabemo-lo tambm, evitou assinalar. Ocultista em sentido absoluto, mostrou-se no menos discreto quanto provenincia da sua sensacional fotografia...

No ser, muito simplesmente, que essa imagem, que representaria a esttua retirada no ltimo sculo, durante os trabalhos de Viollet-le-Duc, foi realmente levada de outro lugar que no a Notre-Dame de Paris, se que ela no oferece o simulacro de outro personagem que no o bispo Marcellus da antiga Lutcia?...

Na iconografia crist, numerosos santos tm junto deles o drago agressivo ou submisso, entre os quais podemos nomear: Joo Evangelista, Tiago Maior, Filipe, Miguel, Jorge e Patrcio. No entanto, S. Marcelo o nico que toca com o bculo a cabea do monstro, de acordo com o respeito que pintores e escultores do passado tiveram sempre pela sua lenda. Esta rica e entre os ltimos feitos do bispo conta-se o seguinte (inter novssima ejus opera hoc annumeratur) que relatado pelo padre Grard Dubois d'Orlans (Gerardo Dubois Aurelianensi) na sua Histoire de lglise de Paris (in Historia Ecclesiae Parisiensis) e que ns resumimos, traduzindo e aproveitando o texto latino:

Certa dama, mais ilustre pela nobreza de raa do que pelos costumes e pelos rumores de boa reputao, completou o seu destino e ento, com pomposos funerais foi colocada conveniente e solenemente no tmulo. A fim de puni-la pela violao da sua cova, uma horrvel serpente avana para a sepultura da mulher e alimenta-se dos seus membros e do seu cadver, cuja alma tinha corrompido com os seus funestos silvos. No lugar de repouso no a deixou repousar. Mas, prevenidos pelo rudo, os antigos servidores da mulher ficaram extremamente aterrorizados e a multido da cidade comeou a acorrer ao espetculo e a alarmar-se com a viso do enorme animal...

O bem-aventurado prelado, prevenido, sai com o povo e ordena que os cidados sejam apenas espectadores. Ele prprio, sem receio, coloca-se diante do drago... que, como se suplicasse, se prostra junto dos joelhos do santo bispo, parece adul-lo e pedir-lhe perdo. Ento Marcelo, batendo-lhe na cabea com o seu bculo, lana sobre ele a sua estola (Tum Marcellus cuput ejus baculo percutiens, in eum orarium( injecit); conduzindo-o em crculo por duas ou trs milhas, seguido pelo povo, ele extraa (extrahebat) a sua marcha solene diante dos olhos dos cidados. Em seguida, apstrofa o animal e ordena-lhe que, para o futuro, se mantenha perpetuamente nos desertos ou que v precipitar-te no mar...Seja dito de passagem que quase no h necessidade de sublinhar aqui a alegoria hermtica na qual se distinguem as duas vias, seca e mida. Corresponde exatamente ao 50 emblema de Michel Maier no seu Atalanta Fugiens, no qual o drago enlaa uma mulher no apogeu da idade, vestida e jazendo inerte no buraco da sua cova, violada de modo semelhante.*

Mas voltemos pretensa esttua de S. Marcelo, discpulo e sucessor de Prudncio, que Grillot de Givry pretende que tenha sido colocada, cerca dos meados do sculo XVI, no tremo do portal sul em Notre-Dame, ou seja, no lugar do admirvel vestgio conservado na margem esquerda, no Museu de Cluny. Acentuemos que a efgie hermtica est atualmente guardada na torre setentrional da sua primeira morada.Para contestarmos solidamente essa afirmao destituda de qualquer fundamento, possumos o testemunho irrecusvel do senhor Esprit Gobineau de Montluisant, gentil-homem de Chartres, na sua Explication trs curieuse des Enigmes et Figures hierogliphiques, physiques, qui sont au Grand Portail de l'glise Cathedrale et Metropolitaine de Notre Dame de Paris. A nossa testemunha ocular considerando atentamente as esculturas, fornece-nos a prova de que o alto relevo transportado para a Rue du Sommerard por Viollet-le-Duc se encontrava no pilar mdio do prtico da direita na quarta-feira 20 de Maio de 1640, vspera da gloriosa ascenso do Nosso Salvador Jesus-Cristo:

No pilar que fica ao meio e que separa as duas portas deste Portal, existe ainda a figura de um Bispo cravando o seu Bculo na goela de um drago que est a seus ps e que parece sair de um banho ondulante, em cujas ondas aparece a cabea de um Rei, com tripla coroa, que parece afogar-se nas ondas e depois emergir de novo.

O relato histrico patente e decisivo no perturbou Mareei Clavelle (cujo pseudnimo Jean Reyor) que foi ento obrigado, a fim de se desenvencilhar, a remeter para o reinado de Lus XIV o nascimento da esttua, completamente desconhecida at que Grillot bruscamente a inventou, de boa ou de m-f. Igualmente incomodado pela mesma evidncia, Bernard Husson no arranjou melhor soluo do que propor, sem cerimnia, que o sculo XVI, na pgina 407 do Muse des Sorciers, seja apenas uma gralha tipogrfica felizmente retificada na legenda por sculo XVII, o que, realmente, no se descobre l, como se pde verificar mais atrs.*

E ainda mais, com desprezo de toda a exatido, no ser inconcebvel irreflexo admitir que um restaurador do perodo dos Valois, prosseguindo a sua iniciativa simultaneamente culpvel e singular, tivesse levado para um museu inexistente na poca a magnfica esttua que s se encontra a guardada, sem dvida, h um bom sculo, numa sala das Termas desenterradas junto do encantador palcio reconstrudo por Jacques d'Amboise? Como seria extravagante que, seguidamente, esse arquiteto do sculo XVI tivesse tido, em relao figura gtica e imberbe que teria substitudo, o zelo de conservao que o cuidadoso Viollet-le-Duc no devia mostrar, trezentos anos mais tarde, pelo bispo barbudo, obra do seu longnquo e annimo confrade!

Que Mareei Clavelle e Bernard Husson, um aps outro, se tenham mostrado tolamente cegos pelo intenso prazer de apanhar em erro o grande Fulcanelli, ainda passa; mas que Grillot de Givry, logo partida, no tenha visto o monumental ilogismo da sua inconseqente refutao, eis o que se mostra difcil de toda a possvel digesto.

De resto, temos de convir, sem dvida, que importava, a propsito desta terceira edio do Mistrio das Catedrais, que fosse nitidamente estabelecido o fundamento da censura de Fulcanelli dirigida contra Cambrel e que, conseqentemente, fosse dissipado de modo radical o aflitivo equvoco criado por Grillot de Givry; e, se se quiser, que fosse realmente resolvida e definitivamente encerrada uma controvrsia que sabamos tendenciosa e sem verdadeiro objeto.Savignies, Julho de 1964. Eugne CANSELIET.O MISTRIO DAS CATEDRAIS

IA mais forte impresso da nossa primeira juventude tnhamos ento sete anos , de que guardamos ainda uma viva recordao, foi emoo que provocou na nossa alma de criana a viso de uma catedral gtica. Sentimo-nos imediatamente transportado, extasiado, preso de admirao, incapaz de nos furtarmos atrao do maravilhoso, magia do esplndido, do imenso, do vertiginoso que se desprendia dessa obra mais divina que humana.

Desde ento, a viso transformou-se mas a impresso permanece. E se o hbito modificou o carter impulsivo e pattico do primeiro contacto, nunca nos pudemos defender de uma espcie de arrebatamento perante esses belos livros de imagens erguidos sobre os nossos adros e que estendem at ao cu as suas folhas de pedra esculpida.

Com que linguagem, por que meios poderamos exprimir-lhes a nossa admirao, testemunhar-lhes o nosso reconhecimento, todos os sentimentos de gratido de que o nosso corao est cheio por tudo o que nos ensinaram a apreciar, a reconhecer, a descobrir, at essas obras-primas mudas, esses mestres sem palavras e sem voz?

Sem palavras e sem voz? que dizemos! Se estes livros lapidares tm as suas letras esculpidas frases em baixos-relevos e pensamentos em ogivas, no falam menos pelo esprito imorredouro que se exala das suas pginas. Mais claros do que os seus irmos mais novos manuscritos e impressos possuem sobre eles a vantagem de traduzir apenas um sentido nico, absoluto, de expresso simples, de interpretao ingnua e pitoresca, um sentido purificado das subtilezas, das aluses, dos equvocos literrios.

A lngua de pedras que esta arte nova fala, diz com muita verdade J. F. Colfs(, simultaneamente clara e sublime. E tanto fala alma dos mais humildes como dos mais cultos. Que lngua pattica, o gtico das pedras! Uma lngua to pattica, com efeito, que os cnticos de um Orlande de Lassus ou de um Palestrina, as obras para rgo de um Haendel ou de um Frescobaldi, a orquestrao de um Beethoven ou de um Cherubini e, maior do que tudo isso, o simples e severo canto gregoriano, talvez o nico canto verdadeiro, s por acrscimo dizem algo mais do que as emoes causadas pela catedral em si prpria. Ai daqueles que no amam a arquitetura gtica ou, pelo menos, lamentemo-los como deserdados do corao.

Santurio da Tradio, da Cincia e da Arte, a catedral gtica no deve ser olhada como uma obra unicamente dedicada glria do cristianismo, mas antes como uma vasta condenao de idias, de tendncias, de f populares, um todo perfeito ao qual nos podemos referir sem receio desde que se trate de penetrar o pensamento dos ancestrais, seja qual for o domnio: religioso, laico, filosfico ou social.

As abbadas ousadas, a nobreza das naves, a amplido das propores e a beleza da execuo fazem da catedral uma obra original, de harmonia incomparvel, mas que o exerccio do culto no parece dever ocupar por inteiro.

Se o recolhimento sob a luz espectral e policroma dos altos vitrais, se o silncio convidam orao, predispem para a meditao, em compensao o aparelho, a estrutura, a ornamentao, desprendem e refletem, no seu extraordinrio poder, sensaes menos edificantes, um esprito mais laico e, digamos a palavra, quase pago. Podem a descobrir-se, alm da inspirao ardente nascida de uma f robusta, as mil preocupaes da grande alma popular, a afirmao da sua conscincia, ia sua vontade prpria, a imagem do seu pensamento no que ela tem de complexo, de abstrato, de essencial, de soberano.

Se h quem entre no edifcio para assistir aos ofcios divinos, se h quem penetre nele acompanhando cortejos fnebres ou os alegres cortejos das festas anunciadas pelo repicar de sinos, tambm h quem se rena dentro delas noutras circunstncias. Realizam-se assemblias polticas sob a presidncia do bispo; discute-se o preo do trigo ou do gado; os mercadores de panos fixam a a cotao dos seus produtos; acorre-se a esse lugar para pedir reconforto, solicitar conselho, implorar perdo. E no h corporao que no faa benzer l a obra-prima do seu novo companheiro e que no se rena uma vez por ano sob a proteo do santo padroeiro.

Outras cerimnias, especialmente atrativas para o povo, se mantiveram a durante todo o belo perodo medieval. Foi a Festa dos Loucos ou dos Sbios quermesse hermtica processional, que partia da igreja com o seu papa, os seus dignitrios, os seus entusiastas, o seu povo o povo da Idade Mdia, ruidoso, travesso, chistoso, transbordante de vitalidade, de entusiasmo e de ardor e se espalhava pela cidade... Stira hilariante de um clero ignorante, submetido autoridade da Cincia disfarada, esmagado sob o peso de uma indiscutvel superioridade. Ah! A Festa dos Loucos, com o seu carro do Triunfo de Baco conduzido por um centauro e uma mulher-centauro, nus como o prprio deus, acompanhado pelo grande Pan; carnaval obsceno tomando posse das naves ogivais! Ninfas e niades saindo do banho; divindades do Olimpo sem nuvens e sem enfeites: Juno, Diana, Vnus, La tona, reunindo-se na catedral para a ouvirem missa! E que missa! Composta pelo iniciado Pierre de Corbeil, arcebispo de Sens, segundo um ritual pago e em que as paroquianas do ano 1220 soltavam o grito de alegria das bacanais: Evoh! Evoh! E os homens do coro, em delrio, respondiam:Haec est clara dies clararum clara dierum!

Haec est festa dies festarum festa dierum(!Foi ainda a Festa do Burro, quase to faustosa como a precedente, com a entrada triunfal, sob os arcos sagrados, de mestre Aliboron, cujos cascos pisavam outrora a calada judia de Jerusalm. O nosso glorioso Christophore era a celebrado num ofcio especial em que se exaltava, aps a epstola, esse poder asinino que valeu Igreja o ouro da Arbia, o incenso e a mirra do pas de Sab. Pardia grotesca que o sacerdote, incapaz de compreender, aceitava em silncio, a cabea curvada sob o ridculo lanado s mos cheias por esses mistificadores do pas de Sab ou Caba, os cabalistas em pessoa! E o prprio cinzel dos mestres imagistas do tempo que nos confirma estes curiosos divertimentos. Com efeito, na nave de Notre-Dame de Estrasburgo, escreve Witkowski(, o baixo-relevo de um dos capitis dos grandes pilares reproduz uma procisso satrica em que se distingue um porco, portador de uma pia de gua benta, seguido de burros vestidos com hbitos sacerdotais e de macacos munidos de diversos atributos da religio, assim como uma raposa encerrada num relicrio. a Procisso da Raposa ou da Festa do Burro.Podemos acrescentar que uma cena idntica, com iluminuras, figura no folio 40 do manuscrito n. 5055 da Biblioteca Nacional.

Foram enfim estes costumes bizarros, em que transparecia um sentido hermtico por vezes muito puro, que se renovavam em cada ano e tinham por teatro a igreja gtica, como a Flagelao da Aleluia, na qual os meninos de coro expulsavam a grandes golpes de chicote os seus ruidosos sabots( para fora das naves da catedral de Langres; o Cortejo de Carnaval, a Diabrura de Chaumont; as procisses e banquetes da Infantaria de Dijon, ltimo eco da Festa dos Loucos, com a sua Me Louca, os seus diplomas rabelaisianos, o seu estandarte em que dois irmos, ps com cabea e cabea com ps, se divertiam a descobrir as ndegas; o curioso Jogo da Pelota, que se disputava na nave de Saint-Etienne, catedral de Auxerre que desapareceu cerca de 1538 etc.

II

A catedral o refgio hospitaleiro de todos os infortnios. Os doentes que vinham implorar a Deus o alvio dos seus sofrimentos em Notre-Dame de Paris permaneciam nela at a sua cura completa. Destinavam-lhes uma capela situada perto da segunda porta e iluminada por seis lamparinas. A passavam as noites. Os mdicos davam as suas consultas na prpria entrada da baslica, volta da pia da gua benta. Foi a que a Faculdade de Medicina, abandonando no sculo XIII a Universidade para viver independente, veio dar as suas sesses e se fixou at 1454, poca da sua ltima reunio, convocada por Jacques Desparts.

o asilo inviolvel das pessoas perseguidas e o sepulcro dos mortos ilustres. a cidade dentro da cidade, o ncleo intelectual e moral do aglomerado, o corao da atividade pblica, a apoteose do pensamento, do saber e da arte.

Pela abundante florao dos seus ornamentos, pela variedade dos temas e das cenas que a enfeitam, a catedral aparece como uma enciclopdia muito completa e variada, ora ingnua, ora nobre, sempre viva, de todos os conhecimentos medievais. Estas esfinges de pedra so assim educadoras, iniciadoras, em primeiro lugar. Este povo cheio de quimeras, de figuras grotescas, de figurinhas, de carrancas, de ameaadoras grgulas drages, vampiros e tarascas o guardio secular do patrimnio ancestral. A arte e a cincia, outrora concentradas nos grandes mosteiros, escapam-se da oficina, acorrem ao edifcio, agarram-se aos campanrios, aos pinculos, aos arcobotantes, suspendem-se das abbadas, povoam os nichos, transformam os vitrais em pedras preciosas, o bronze em vibraes sonoras e desdobram-se pelos portais numa alegre revoada de liberdade e de expresso. Nada mais laico do que o esoterismo deste ensinamento! Nada mais humano do que esta profuso de imagens originais, vivas, livres, movimentadas, pitorescas, por vezes desordenadas, sempre interessantes; nada mais impressionante do que estes mltiplos testemunhos da existncia quotidiana do gosto, do ideal, dos instintos dos nossos pais; nada mais cativante, sobretudo, que o simbolismo dos velhos alquimistas habilmente traduzido pelos modestos estaturios medievais. A este respeito, Notre-Dame de Paris, igreja filosofal, sem dvida um dos exemplares mais perfeitos e. como disse Victor Hugo, a sntese mais satisfatria da cincia hermtica, de que a igreja de Saint-Jacques-la-Bou-cherie era um completo hierglifo.

Os alquimistas do sculo XIV encontram-se ai, semanalmente, no dia de Saturno, no grande portal ou no portal de S. Marcelo, ou ainda na pequena Porta Vermelha, toda decorada de salamandras. Denys Zachaire informa-nos que o hbito se mantinha ainda no ano de 1539, "nos domingos e dias de festa" e Nol du Pail diz que "o grande encontro de tais acadmicos era em Notre-Dame de Paris(".

A, no deslumbramento das ogivas pintadas e douradas(, dos cordes das voltas das abbadas, dos tmpanos com figuras multicores, cada um expunha o resultado dos seus trabalhos, desenvolvia a ordem das suas pesquisas. Emitiam-se probabilidades, discutiam-se possibilidades, estudava-se no prprio local a alegoria do belo livro e a exegese abstrusa dos misteriosos smbolos no era a parte menos animada destas reunies.

Aps Gobineau de Montluisant, Cambriel e tutti quanti, vamos empreender a piedosa peregrinao, falar s pedras e interrog-las. Ai de ns! j bem tarde. O vandalismo de Soufflot destruiu em grande parte o que, no sculo XVI, o assoprador( podia admirar. E se a arte deve algum reconhecimento aos eminentes arquitetos Toussaint, Geffroy Dechaume, Boeswillwald, Viollet-le-Duc e Lassus, que restauraram a baslica, odiosamente profanada pela Escola, a Cincia nunca reencontrar o que perdeu.

Seja como for, e apesar destas lamentveis mutilaes, os motivos que subsistem ainda so bastante numerosos para que se no tenha de lamentar o tempo e o trabalho de uma visita. Ficaremos, portanto, mais satisfeitos e largamente pagos pelo nosso esforo se pudermos despertar a curiosidade do leitor, reter a ateno do observador sagaz e mostrar aos amadores do oculto que no impossvel recuperar o sentido do arcano dissimulado sob a aparncia petrificada do prodigioso engrimano.

IIIAntes, porm, devemos dizer duas palavras acerca do termo gtico aplicado arte francesa que imps as suas diretrizes a todas as produes da Idade Mdia e cuja irradiao se estende dos sculos XII a XV.

Alguns pretenderam erradamente que provinha dos Godos, antigo povo da Germnia; outros julgaram que se chamava assim a esta forma de arte, cujas originalidade e extrema singularidade provocavam escndalo nos sculos XVII e XVIII, por zombaria, atribuindo-lhe o sentido de brbaro: tal a opinio da Escola clssica, imbuda dos princpios decadentes do Renascimento.

A verdade, que sai da boca do povo, no entanto, manteve e conservou a expresso Arte gtica, apesar dos esforos da Academia para substitu-la por Arte ogival. H a uma razo obscura que deveria obrigar a refletir os nossos lingistas, sempre espreita das etimologias. Qual a razo por que to poucos lexiclogos acertaram? Simplesmente porque a explicao deve ser antes procurada na origem cabalstica da palavra, mais do que na sua raiz literal.

Alguns autores perspicazes e menos superficiais, espantados pela semelhana que existe entre gtico e gotico pensaram que devia haver uma estreita relao entre a arte gtica e a arte gotica ou mgica.

Para ns, arte gtica apenas uma deformao ortogrfica da palavra argtica cuja homofonia perfeita, de acordo com a lei fontica que rege, em todas as lnguas, sem ter em conta a ortografia, a cabala tradicional. A catedral uma obra de art goth ou de argot. Ora, os dicionrios definem o argot como sendo uma linguagem particular a todos os indivduos que tm interesse em comunicar os seus pensamentos sem serem compreendidos pelos que os rodeiam. , pois, uma cabala falada. Os argotiers, os que utilizam essa linguagem, so descendentes hermticos dos argonautas, que viajavam no navio Argo, falavam a lngua argtica a nossa lngua verde navegando em direo s margens afortunadas de Colcos para conquistarem o famoso Toso de Ouro. Ainda hoje se diz de um homem inteligente mas tambm muito astuto: ele sabe tudo, entende o argot. Todos os Iniciados se exprimiam em argot, tanto os vagabundos da Corte dos Milagres com o poeta Villon cabea como os Frimasons ou franco-maons da Idade Mdia, hospedeiros do bom Deus, que edificaram as obras-primas argticas que hoje admiramos. Eles prprios, estes nautas construtores, conheciam a rota do Jardim das Hesprides...

Ainda nos nossos dias os humildes, os miserveis, os desprezados, os insubmissos, vidos de liberdade e de independncia, os proscritos, os errantes e os nmadas falam argot, esse dialeto maldito, banido da alta sociedade, dos nobres que o so to pouco, dos burgueses satisfeitos e bem pensantes, espojados no arminho da sua ignorncia e da sua presuno. O argot permanece a linguagem de uma minoria de indivduos vivendo margem das leis estabelecidas, das convenes, dos hbitos, do protocolo, aos quais se aplica o epteto de vadios (voyous), ou seja, de videntes (voyants) e, mais expressivo ainda, de Filhos ou Descendentes do sol. A arte gtica , com efeito, a art got ou cot (Xo), a arte da Luz ou do Esprito.

Pensar-se- que so apenas simples jogos de palavras. E ns concordamos de boa vontade. O essencial que guiem a nossa f para uma certeza, para a verdade positiva e cientfica, chave do mistrio religioso, e que no a mantenham errante no labirinto caprichoso da imaginao. Aqui em baixo no existe acaso, nem coincidncia, nem relao fortuita; tudo est previsto, ordenado, regulado e no nos pertence modificar a nosso bel-prazer a vontade imprescutvel do Destino. Se o sentido usual das palavras nos no permite qualquer descoberta capaz de nos elevar, de nos instruir, de nos aproximar do Criador, o vocabulrio toma-se intil. O verbo, que assegura ao homem a incontestvel superioridade, a soberania que ele possui sobre tudo o que vive, perde a sua nobreza, a sua grandeza, a sua beleza e no mais do que uma aflitiva vaidade. Ora, a lngua, instrumento do esprito, vive por ela prpria, embora no seja mais do que o reflexo da Idia universal. Nada inventamos, nada criamos. Tudo existe em tudo. O nosso microcosmos apenas uma partcula nfima, animada, pensante, mais ou menos imperfeita, do macrocosmos. O que ns julgamos descobrir apenas pelo esforo da nossa inteligncia existe j em qualquer parte. a f que nos faz pressentir o que existe; a revelao que nos d a prova absoluta. Muitas vezes passamos ao lado do fenmeno, at mesmo do milagre, sem dar por ele, cegos e surdos. Quantas maravilhas, quantas coisas insuspeitadas descobriramos se soubssemos dissecar as palavras, quebrar-lhes a casca e libertar o esprito, divina luz que eles encerram! Jesus exprimia-se somente por parbolas; poderemos ns negar a verdade que elas ensinam? E, na conversao corrente, no sero os equvocos, os pouco mais ou menos, os trocadilhos ou assonncias que caracterizam as pessoas de esprito, felizes por escaparem tirania da letra e mostrando-se, sua maneira, cabalistas sem o saberem?

Acrescentemos, por fim, que o argot uma das formas derivadas da Lngua dos Pssaros, me e decana de todas as outras, a lngua dos filsofos e dos diplomatas. o conhecimento dela que Jesus revela aos seus apstolos, enviando-lhes o seu esprito, o Esprito Santo. ela que ensina o mistrio das coisas e desvenda as verdades mais recnditas. Os antigos Incas chamavam-na Lngua da corte porque era familiar aos diplomatas, a quem fornecia a chave de uma dupla cincia: a cincia sagrada e a cincia profana. Na Idade Mdia, qualificavam-na de Gaia cincia ou Gaio saber, Lngua dos deuses, Deusa-Garrafa(. A tradio assegura-nos que os homens falavam-na antes da edificao da torre de Babel, causa da perverso e, para a maioria, do esquecimento total desse idioma sagrado. Hoje, fora do argot, encontramos as suas caractersticas nalgumas lnguas locais como o picardo, o provenal etc. e no dialeto dos ciganos.

A mitologia pretende que o clebre adivinho Tirsias( tenha possudo perfeito conhecimento da Lngua dos Pssaros, que Minerva lhe teria ensinado, como deusa da Sabedoria. Ele partilhava-a, diz-se, com Tales de Mileto, Melampus e Apolnio de Tiana(, personagens fictcios cujos nomes falam eloqentemente na cincia que nos ocupa e bastante claramente para que tenhamos necessidade de os analisar nestas pginas.

IVCom raras excees, o plano das igrejas gticas catedrais, abadias ou colegiadas apresenta a forma de uma cruz latina estendida no solo. Ora a cruz o hierglifo alqumico do crisol que outrora se chamava cruzol, crucible e croiset (na baixa latinidade, cricibulum, crisol, tem por raiz crux, crucis, cruz, segundo Ducange).

Com efeito, no crisol que a matria-prima, como o prprio Cristo, sofre a Paixo; no crisol que ela morre, para ressuscitar em seguida, purificada, espiritualizada, j transformada. No exprime alis, o povo, guardio fiel das tradies orais, a provao humana terrestre por parbolas religiosas e semelhanas hermticas levar a sua cruz, subir o seu calvrio, passar no crisol da existncia, so outras tantas locues correntes em que reencontramos o mesmo sentido sob um mesmo simbolismo.

No esqueamos que, volta da cruz luminosa, vista em sonho por Constantino, apareceram essas palavras profticas que ele fez pintar no sem labarum: In hoc signo vinces, vencers por este sinal. Lembrai-vos tambm, alquimistas meus irmos, que a cruz tem a marca dos trs pregos que serviram para imolar o Cristo-matria, imagem das trs purificaes pelo ferro e pelo fogo. Meditai igualmente nesta clara passagem de Santo Agostinho, no seu Dilogo com Trifon (Dialogus cum Tryphone, 40): O mistrio do cordeiro que Deus tinha ordenado que se imolasse na Pscoa diz ele, era a figura de Cristo, com a qual aqueles que crem tingem as suas moradas, ou seja, eles prprios, pela f que tm nele. Ora, este cordeiro, que a lei prescrevia que se fizesse assar inteiro, era o smbolo de cruz que o Cristo devia suportar. Porque o cordeiro, para ser assado, colocado de modo a figurar urra ztjz: um dos ramos atravessa-o de lado a lado, da extremidade inferior at cabea; o outro atravessa-lhe as espduas e prendem-se nela os membros anteriores do cordeiro (em grego: as mos, (((((().

A cruz um smbolo muito antigo, usado em todas as pocas, em todas as religies, por todos os povos, e seria errado consider-lo como smbolo especial do Cristianismo, como o demonstra sobejamente o abade Ansault(. Diremos mesmo que o plano dos grandes edifcios religiosos da Idade Mdia, pela juno de uma bside semicircular ou elptica ligada ao coro, adota a forma do signo hiertico egpcio da cruz de argola, que se l ank e designa a Vida universal oculta nas coisas. Pode ver-se um exemplo no museu de Saint-Germain-en-Laye, num sarcfago cristo proveniente das criptas arlesianas de Saint-Honorat. Por outro lado, o equivalente hermtico do signo ank o emblema de Vnus ou Cypris (em grego ((((((, a impura), o cobre vulgar que alguns, para velar ainda mais o sentido, traduziram por bronze e lato. Branqueia o lato e queima os teus livros, repetem-nos todos os bons autores. (((((( a mesma palavra que (((((((, enxofre, que tem o significado de adubo, excremento, estrume, imundcie. O sbio encontrar a nossa pedra at no excremento, escreve o Cosmopolita, enquanto o ignorante no poder pensar que ela esteja no ouro.E assim que o plano do edifcio cristo nos revela as qualidades da matria-prima e a sua preparao atravs do sinal da Cruz; o que resulta, para os alquimistas, na obteno da Primeira pedra, pedra angular da Grande Obra filosofal. Foi sobre esta pedra que Jesus construiu a sua Igreja; e os franco-maons medievais seguiram simbolicamente o exemplo divino. Mas antes de ser talhada para servir de base obra de arte gtica, tal como obra de arte filosfica, atribua-se muitas vezes pedra bruta, impura, material e grosseira a imagem do diabo.

Notre-Dame de Paris possua um hierglifo semelhante, que se encontrava sob o plpito, no ngulo do termo do coro. Era uma figura de diabo abrindo uma boca enorme e na qual os fiis vinham apagar os crios; de tal modo que o bloco esculpido aparecia sujo de estearina e de negro de fumo. O povo chamava a essa imagem Maistre Pierre du Coignet, o que no deixava de embaraar os arquelogos. Ora esta figura, destinada a representar a matria inicial da Obra, humanizada sob o aspecto de Lcifer (que traz a luz, a estrela da manh) era o smbolo da nossa pedra angular, a pedra do canto, a pedra mestra do Coignet. A pedra que os construtores rejeitaram, escreve Amyraut(, foi transformada na pedra mestra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da construo; mas que pedra de embarao e pedra de escndalo, contra a qual eles se batem para sua runa. Quanto ao talhe dessa pedra angular queremos dizer, a sua preparao podemos v-lo representado num bonito baixo-relevo da poca, esculpido no exterior do edifcio, numa capela absidal do lado da rua do Clotre-Notre-Dame.

VEnquanto se reservava ao talhador de imagens a decorao das partes salientes, atribua-se ao ceramista a ornamentao do solo das catedrais. Este era normalmente lajeado ou ladrilhado com placas de terra cozida, pintadas e cobertas com esmalte plumbaginoso. Esta arte tinha adquirido na Idade Mdia perfeio bastante para assegurar aos temas historiados suficiente variedade de desenho e de colorido. Utilizavam-se, igualmente, pequenos cubos de mrmore multicores, maneira dos artistas bizantinos do mosaico. Entre os motivos mais freqentemente usados convm citar os labirintos, traados no cho, no ponto de interseco da nave com os transeptos. As igrejas de Sens, Reims, Auxerre, Saint-Quentin, Poitiers, Bayeux conservaram os seus labirintos. No de Amiens via-se ao centro uma grande laje com uma barra de ouro e um semicrculo do mesmo metal incrustados, representando o nascer do sol acima do horizonte. Mais tarde, substituiu-se o sol de ouro por um sol de cobre e este desapareceu por seu turno, sem nunca ter sido substitudo. Quanto ao labirinto de Chartres, vulgarmente chamado Ia lieue (por le lieue, o lugar) e desenhado sobre o pavimento da nave, compe se de uma srie de crculos concntricos que se enroscam uns nos outros com uma variedade infinita. No centro dessa figura via-se outrora o combate de Teseu e do Minotauro. ainda uma prova da infiltrao dos temas pagos na iconografia crist e, conseqentemente, a de um sentido mtico-hermtico evidente. No entanto, no h razo para estabelecer qualquer relao entre estas imagens e as famosas construes da Antigidade, os labirintos da Grcia e do Egito.

O labirinto das catedrais, ou labirinto de Salomo, , diz-nos Marcellin Berthelot(, uma figura cabalstica que se encontra no comeo de certos manuscritos alqumicos e que faz parte das tradies mgicas atribudas ao nome de Salomo. uma srie de crculos concntricos interrompidos em certos pontos, de maneira a formarem um trajeto bizarro e inextricvel.

A imagem do labirinto oferece-se-nos, ento, como emblemtica do trabalho completo da Obra, comas suas duas dificuldades maiores: a da via que convm seguir para atingir o centro onde se trava o rude combate das duas naturezas e a outra, a do caminho que o artista deve seguir para sair. aqui que o fio de Ariana se lhe torna necessrio, se no quer errar entre os meandros da obra sem chegar a descobrir a sada.

A nossa inteno no de escrever, como fez Batsdorff, um tratado especial para ensinar o que o fio de Ariana que permitiu a Teseu cumprir o seu desgnio. Mas, apoiando-nos na cabala, esperamos fornecer aos investigadores sagazes algumas precises acerca do valor simblico do famoso mito.

Ariana uma forma de airagne (em francs, araigne: aranha) por mettese do i. Em espanhol, pronuncia-se nh; (((((( (araigne, airagne, aranha) pode ento ler-se arahn, arahni, aranhe. No a nossa alma a aranha que tece o nosso prprio corpo? Mas esta palavra apela ainda para outras formaes. O verbo (((( significa tomar, colher, arrastar, atrair; de onde (((((, o que toma, colhe, atrai. Ento ((((( o man, a virtude encerrada no corpo que os Sbios chamam a sua magnsia. Prossigamos. Em provenal, o ferro chamado aran e iran, segundo os diferentes dialetos. o Hiram manico, o divino Carneiro, o arquiteto do Templo de Salomo. A aranha, entre os flibres, diz-se aranho e iranho, airanho; em picardo, argni. Relacionai tudo isto com o grego (((((((, ferro e man. Esta palavra possui os dois sentidos. E no tudo. O verbo (((( exprime o levantar de um astro que sai do mar; da ((((( (ariano), o astro que sai do mar, que se levanta; ((((( ou ariane ento o Oriente, por permutao de vogais. E mais, (((( possui tambm o sentido de atrair; ento (((((, tambm o man. Se agora aproximarmos (((((((, que deu o latim sidus, sideris, estrela, reconheceremos o nosso aran, iran, airan provenal, o ((((( grego, o sol nascente.

Ariana, a aranha mstica, desaparecida de Amiens, apenas deixou no pavimento do coro o traado da sua teia...

Lembremos, de passagem, que o mais clebre dos labirintos antigos, o de Cnossos, em Creta, que foi descoberto em 1902 pelo dr. Evans, de Oxford, era chamado Absolum. Ora, deve notar-se que este termo vizinho de Absoluto, que o nome pelo qual os alquimistas antigos designavam a pedra filosofal.

VI

Todas as igrejas tm a sua bside virada para sudeste e a sua fachada para noroeste, enquanto os transeptos, formando os braos da cruz, esto orientados do nordeste para o sudoeste. Trata-se de uma orientao invarivel, de tal maneira que fiis e profanos, entrando no templo pelo Ocidente, caminhem em direo ao santurio, a face voltada para o lado onde o sol se ergue, na direo do Oriente, a Palestina, bero do Cristianismo. Saem das trevas e dirigem-se para a luz.

Por causa desta disposio, uma das trs rosceas que ornamentam os transeptos e o grande portal nunca iluminada pelo sol; a roscea setentrional, que se abre na fachada do transepto esquerdo. A segunda incendeia-se com o sol do meio-dia; a roscea meridional, aberta na extremidade do transepto direito. A ltima ilumina-se com os raios coloridos do sol-pr; a grande roscea, a do portal, que ultrapassa em superfcie e em brilho as suas irms laterais. Assim se desenvolvem no fronto das catedrais gticas as cores da Obra, segundo um processo circular que vai das trevas figuradas pela ausncia de luz e pela cor negra perfeio da luz rubra, passando pela cor branca, considerada como intermdia entre o negro e o vermelho.

Na Idade Mdia, a roscea central dos portais chamava-se Rota, a roda. Ora a roda o hierglifo alqumico do tempo necessrio coco da matria filosofal e, por conseqncia, da prpria coco. O fogo constante e igual que o artista mantm dia e noite durante essa operao chamado, por essa razo, fogo de roda. No entanto, alm do calor necessrio liquefao da pedra dos filsofos, necessrio ainda um segundo agente, dito fogo secreto ou filosfico. este ltimo fogo, excitado pelo calor vulgar, que faz girar a roda e provoca os diversos fenmenos que o artista observa no seu vaso:

De ir por este caminho, e no por outro, eu te autorizo;

Nota apenas os traos da minha roda,

E para dar por toda a parte calor igual,Demasiado perto de terra e cu no subas nem baixes.

Porque, subindo demasiado, o cu queimars.

E, descendo muito baixo, a terra destruirs.

Mas se pelo meio o teu caminho ficar,

A viagem mais unida e a via mais segura(.

A rosa representa ento, s por si, a ao do fogo e a sua durao. por isso que os decoradores medievais procuraram traduzir nas suas rosceas os movimentos da matria excitada pelo fogo elementar, tal como se pode ver no portal norte da catedral de Chartres, nas rosceas de Toul (Saint Gengoult), de Saint-Antoine de Compigne etc. Na arquitetura dos sculos XIV e XV, a preponderncia do smbolo gneo, que caracteriza nitidamente o ltimo perodo da arte medieval, fez dar ao estilo dessa poca o nome de gtico flamejante.

Certas rosas, emblemticas do composto, tm um sentido particular que sublinha mais as propriedades dessa substncia que o Criador assinou com a sua prpria mo. Este sinal mgico revela ao artista que seguiu o bom caminho e que a mistura filosofal foi preparada canonicamente. uma figura radiada com seis pontas (digamma), chamada Estrela dos Magos, que radia superfcie do composto, ou seja, sobre a manjedoura onde Jesus, o Menino Rei, repousa.

Entre os edifcios que nos oferecem rosceas estreladas de seis ptalas reproduo do tradicional Selo-de-Salomo( citemos a catedral de Saint-Jean e a igreja de Saint-Bonaventure de Lyon (rosceas dos portais); a igreja de Saint-Gengoult, em Toul; as duas ros ceas de Saint-Vulfran d'Abbeville; o portal da Calenda na catedral de Rouen; a esplndida rosa azul da Sainte-Chapelle etc.

Sendo este signo do mais alto interesse para o alquimista no se trata do astro que o guia e lhe anuncia o nascimento do Salvador? reunimos aqui, de bom grado, certos textos que relatam, descrevem, explicam a sua apario. Deixaremos ao leitor o cuidado de estabelecer todas as aproximaes teis, de coordenar as verses, de isolar a verdade positiva, combinada com a alegoria lendria nestes fragmentos enigmticos.

VII

Varro, nas suas Antiquitates rerum humanaram, recorda a lenda de Enias salvando o pai e os seus penates das chamas de Tria e chegando, aps longas peregrinaes, aos campos de Laurente(, termo da sua viagem. Apresenta as seguintes razes:

Ex quo de Troja est egressus neas, Veneris eum per diem quotidie stellam vidisse, donec ad agrum Laurentum veniret, in quo eam non vidit ulterius; qua recognovit terras esse fatoles( (Desde a sua partida de Tria viu todos os dias e durante o dia, a estrela de Vnus, at que chegou aos campos Laurentinos, onde deixou de v-la pelo que conheceu que eram as terras designadas pelo Destino.)

Eis agora uma lenda extrada de uma obra que tem por ttulo Livro de Seth( e que um autor do sculo VI relata nestes termos:

Ouvi algumas pessoas falarem de uma Escritura que embora pouco certa no contrria f e , antes, agradvel de ouvir. A se l que existia um povo no Extremo-Oriente, beira do Oceano, que possua um Livro atribudo a Seth, o qual falava da apario futura dessa estrela e dos presentes que se devia levar ao Menino, predio que era considerada como transmitida pelas geraes dos Sbios, de pai para filho.

Escolheram doze de entre os mais sbios e mais apaixonados peles mistrios dos cus e prepararam-se para esperar essa estrela. Se algum deles morria, o seu filho ou o parente prximo que participava na mesma expectativa era escolhido para substitu-lo.

Chamavam-lhes, na sua lngua, Magos, porque eles glorificavam Deus em silncio e em voz baixa.

Todos os anos estes homens, aps a colheita, subiam a um monte que na sua lngua se chamava Monte da Vitria, o qual encerrava uma caverna talhada na rocha e agradvel pelos regatos e pelas rvores que o rodeavam. Chegados a esse monte, lavavam-se, oravam e louvavam a Deus em silncio durante trs dias; era o que eles praticavam durante cada gerao, sempre esperando que, por acaso, essa estrela de felicidade aparecesse durante a sua gerao. At que, por fim, ela apareceu sobre esse Monte da Vitria sob a forma de uma criana e figurando uma crus; ela falou-lhes, instruiu-os e ordenou-lhes que partissem para a Judia.

A estrela precedeu-os, assim, durante dois anos e nem o po nem a gua faltaram nas suas marchas. O que eles fizeram a seguir resumidamente narrado no Evangelho.

A forma da estrela seria diferente, segundo esta outra lenda, de poca desconhecida(:

Durante a viagem, que durou treze dias, os Magos no repousaram nem tomaram alimento; a necessidade no se faz sentir e este perodo pareceu-lhes no durar mais do que um dia. Quanto mais se aproximavam de Belm, mais a estrela brilhava; tinha a forma de uma guia voando atravs dos ares e agitando as asas; por cima era uma cruz.

A lenda seguinte, que tem por ttulo Das coisas que aconteceram na Prsia, aquando do nascimento de Cristo, atribuda a Jlio Africano, cronista do sc. III, embora no se saiba a que poca pertence realmente(:

A cena passa-se na Prsia, num templo de Juno (((((), construdo por Ciro. Um sacerdote anuncia que Juno concebeu. Todas as esttuas dos deuses danam e cantam quando ouvem esta notcia. Uma estrela desce e anuncia o nascimento de um Menino Princpio e Fim. Todas as esttuas baixam o rosto para o solo. Os Magos anunciam que essa Criana nasceu em Belm e aconselham ao rei que envie embaixador. Ento aparece Baco (((((((((), que prediz que esse Menino expulsar todos os falsos deuses. Partida dos Magos, guiados pela Estrela. Chegados a Jerusalm, anunciam aos sacerdotes o nascimento do Messias. Em Belm sadam Maria, fazem pintar, por um escravo hbil, o seu retrato com o Menino e colocam-no no seu templo principal, com esta inscrio: A Jpiter Mitra (((( ((((, ao deus sol), ao Deus grande, ao Rei Jesus, o imprio dos Persas faz esta dedicatria.

A luz desta estrela, escreve Santo Incio(, ultrapassava a de todas as outras; o seu brilho era inefvel e a novidade fazia com que aqueles que a olhavam ficassem espantados. O sol, a lua e os outros astros formavam o coro dessa estrela.

Huginus de Barma, na Prtica(, da sua obra emprega os mesmos termos para exprimir a matria da Grande Obra, sobre a qual a estrela aparece: Tomai terra verdadeira, diz ele, bem impregnada dos raios do sol, da lua e dos outros astros.

No sculo IV, o filsofo Calcidius que, como diz Mullachius, o ltimo dos seus editores, professava que era necessrio adorar os deuses da Grcia, os deuses de Roma e os deuses estrangeiros, conservou a meno da estrela dos Magos e a explicao que os sbios dela davam. Depois de ter falado de uma estrela chamada Ahc pelos Egpcios e que anuncia desgraas, acrescenta:

H uma outra histria mais santa e mais venervel que atesta que, pelo nascer de uma certa estrela foram anunciadas, no doenas e mortes, mas a vinda de um Deus venervel para a graa da conversao com o homem e para vantagem das coisas mortais. Os mais sbios dos Caldeus, tendo visto essa estrela quando viajavam de noite, e sendo homens perfeitamente exercitados na contemplao das coisas celestes, procuraram, segundo se conta, o nascimento recente de um Deus e, tendo encontrado a majestade desse Menino, renderam--lhe as homenagens que convinham a um to grande Deus. O que conheceis muito melhor do que outros(.

Diodoro de Tarso( mostra-se ainda mais positivo quando afirma que essa estrela no era uma dessas que povoam o cu, mas uma certa virtude ou fora (((((((() urano-diurna (((((((((), que tomou a forma de um astro para anunciar o nascimento do Senhor de toda a gente.Evangelho segundo S. Lucas, II, v. 1 a 7: Ora, naquela mesma regio havia uns pastores que vigiavam e se revezavam entre si nas viglias da noite para guardarem os seus rebanhos. Eis que apareceu junto deles um Anjo do Senhor e uma luz divina os cercou e sentiram grande temor. O anjo, porm, disse-lhes:

No receeis porque vos venho anunciar a Boa Nova que trar uma grande alegria a todo o povo. que hoje vos nasceu na cidade de David um Salvador que o Cristo-Senhor; e este o sinal que vos far reconhec-lo: encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.

No mesmo instante juntou-se ao Anjo uma multido da milcia celeste que louvava a Deus e dizia: Glria a Deus no mais alto dos cus e paz na terra aos homens de boa vontade.

Evangelho segundo S. Mateus, II, v. 1 a 11:

Tendo pois nascido Jesus em Belm de Jud, no tempo do rei Herodes, eis que do Oriente uns magos vieram a Jerusalm, dizendo: Onde est Aquele que nasceu, rei dos Judeus, pois vimos a sua estrela no Oriente e viemos ador-lo?

... Ento Herodes, tendo chamado secretamente os Magos, inquiriu deles, com todo o cuidado, acerca do tempo em que a estrela lhes tinha aparecido e enviando-os a Belm disse-lhes:

Ide e informai-vos bem que Menino esse e depois que o houverdes achado vinde dizer-mo para que eu possa tambm ir ador-lo.

Eles, tendo ouvido as palavras do rei, partiram e logo a estrela que tinham visto no Oriente lhes apareceu, indo adiante deles, at que chegou a se deteve sobre o lugar onde estava o Menino.

Quando eles viram a estrela foi grande a sua alegria e, entrando na casa, encontraram o Menino com Maria, sua Me e, prostrando-se, adoraram-no; depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.

A propsito de fatos to estranhos, e diante da impossibilidade de lhes atribuir a causa a algum fenmeno celeste, A. Bonnetty(, admirado com o mistrio que envolve estas narrativas, pergunta: Quem so estes Magos e que devemos pensar dessa estrela? o que se perguntam, neste momento, os crticos racionalistas e outros. difcil responder a estas questes, porque o Racionalismo e o Ontologismo antigos e modernos, recolhendo todos os seus conhecimentos em si mesmos, fizeram esquecer todos os meios pelos quais os antigos povos do Oriente conservavam as tradies primitivas.

Encontramos a primeira meno da estrela na boca de Balaam. Este, que teria nascido na cidade de Pethor, no Eufrates, vivia, diz-se, cerca do ano 1477 a.C, no meio do imprio assrio ainda nos seus comeos. Profeta ou Mago na Mesopotmia, Balaam exclama: Como poderei maldizer aquele que o seu Deus no maldiz? Ento como ameaarei aquele que Jeov