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Page 1: GLYPHOSATE (ROUND UP) - consciencia.net1].doc  · Web viewJournal of Pesticide Reform/Fall 1998- vol. 18, no. 3. Northeast Coalition for Alternatives to Pesticides. P.O. Box 1393,

Journal of Pesticide Reform/Fall 1998- vol. 18, no. 3Northeast Coalition for Alternatives to PesticidesP.O. Box 1393, Eugene, Oregon 97440 / (541) 344-5044

Herbicide Facsheet

GLYPHOSATE (ROUND UP)

Caroline CoxEditora do Journal of Pesticide Reform

Tradução: Nicoleta T.N. Sabetzki / Estação Experimental de Itajaí-Epagri

O glyphosate é um herbicida de amplo espectro, muito usado para eliminar plantas indesejáveis nos setores agrícolas e não - agrícolas. Estima-se que os EUA utilizem anualmente de 17 a 21 mil toneladas do produto. A maioria dos produtos à base de glyphosate são feitos ou usados com um surfactante, produto que auxilia o glyphosate a penetrar no tecido celular das plantas.

Os produtos à base de glyphosate são altamente tóxicos para pessoas e animais. Entre os sintomas mais comuns citam-se irritação nos olhos e pele, dor de cabeça, náuseas, entorpecimento, elevação da pressão arterial e palpitações. O surfactante usado no produto mais comum à base de glyphosate (Roundup) é mais tóxico que o glyphosate puro; a combinação dos dois fica ainda mais tóxica.

Embora a comercialização de herbicidas à base de glyphosate seja liberada, estudos laboratoriais detectaram efeitos adversos em todas as categorias de testes toxicológicos. Entre estes incluem-se toxicidade a médio prazo (lesões em glândulas salivares), toxicidade a longo prazo (inflamações nas mucosas do estômago), danos genéticos (em células sanguíneas do corpo humano), efeitos reprodutivos (redução dos espermatozóides em ratos; maior frequência de espermatozóides anormais em coelhos), e carcinogenicidade (maior frequência de tumores no fígado de ratos e câncer de tiróide em ratas).

O glyphosate foi classificado pelo US Environmental Protection Agency como “extremamente persistente”, sendo registrada uma persistência superior a cem dias nos testes de campo em Iowa e Nova Iorque. O glyphosate foi detectado nos rios depois de ter sido aplicado em florestas e áreas urbana e agrícola.

O tratamento de glyphosate tem reduzido as populações de insetos benéficos, aves e pequenos mamíferos pela destruição da vegetação essencial para sua alimentação e habitat.

Em testes laboratoriais, o glyphosate aumentou a suscetibilidade das plantas às doenças e reduziu o crescimento das bactérias fixadoras de nitrogênio.

Descritos pelos fabricantes como pesticidas de “baixa toxicidade e boa compatibilidade ambiental”, os herbicidas à base de glyphosate representam um bálsamo quanto se trata da vegetação indesejada. Por outro lado, o glyphosate oferece uma série de riscos para a saúde e meio ambiente. Este artigo fornece um sumário destes riscos.

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Glyphosate, N-(phosphonomethyl) glycine (Figura 1) é um herbicida sistêmico e não-seletivo, usado para exterminar espécies de folhas largas, gramíneas e ciperáceas2. É registrado nos EUA desde 1974 e é usado para controlar ervas daninhas em meios agrícolas, urbanos, domésticos, aquáticos, e florestais3. Muitos herbicidas à base de glyphosate utilizam o sal isopropylamine de glyphosate4.

Os produtos à base de glyphosate são fabricados no exterior pela Monsanto Company. Nos EUA, são comercializados sob vários nomes comerciais, sendo o Roundup, Rodeo e Accord os mais comuns.

Ao contrário de muitos outros herbicidas, os componentes químicos associados ao glyphosate não são herbicidas eficazes5.

Uso

Nos EUA, o glyphosate é o sétimo pesticida mais comumente usado na agricultura, o terceiro - em áreas comerciais e industriais, e o segundo - nas atividades domésticas e de jardinagem. De acordo com o U.S. Environmental Protection Agency (EPA), seu uso estimado é de 17-21 mil toneladas/ano.Na agricultura é basicamente usado na produção de soja, milho, feno e pastagem, e nos terrenos em pousio7. Hoje (1998), o uso do glyphosate aumenta a uma taxa anual de 20%, basicamente devido a recente introdução de culturas geneticamente modificadas para tolerar o herbicida8 (Ver Figura 2 ). Nos EUA, são realizadas anualmente cerca de 25 milhões de aplicações de glyphosate em jardins e gramados9 .

Modo de ação

Segundo o EPA, o modo ação do glyphosate ainda não é bem conhecido. Todavia, várias pesquisas detectaram que o glyphosate inibe uma rota enzimática, a rota do ácido shiquímico, evitando que as plantas sintetizem três aminoácidos aromáticos. Tais aminoácidos são essenciais para o crescimento e sobrevivência de muitas plantas. A principal enzima inibida pelo glyphosate é EPSP sintase.10 O glyphosate também “pode inibir ou reprimir” 4 duas outras enzimas envolvidas na síntese dos mesmos aminoácidos.4 Estas enzimas estão presentes nas plantas maiores e microorganismos, mas não nos animais.10 Dois destes três aminoácidos aromáticos são essenciais na dieta humana, uma vez que os seres humanos, como os animais, carecem da rota do ácido shiquímico, não conseguem sintetizar estes aminoácidos, e os buscam na alimentação. Nos animais um dos aminoácidos é sintetizado através de outra rota. Nas plantas o glyphosate pode afetar as enzimas não associadas à rota do ácido shiquímico. Na cana de açúcar, ele reduz a atividade de uma das enzimas envolvidas no metabolismo do açúcar12. Inibe também uma importante enzima de detoxificação nas plantas 13. Roundup afeta as enzimas encontradas nos mamíferos. Nos ratos, Roundup aumentou a atividade de duas enzimas de detoxificação no fígado e de uma enzima intestinal 14.

Ingredientes “ inertes” nos produtos à base de glyphosate

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Praticamente todos os pesticidas contém outros ingredientes além do ingrediente “ativo”, aquele que propicia a ação exterminadora. Tais ingredientes são erroneamente chamados “inertes”. Seu objetivo é facilitar o uso do produto ou torná-lo mais eficiente. Em geral os “inertes” não são identificados no rótulo do pesticida. No caso dos produtos à base de glyphosate, vários ingredientes “inertes” foram identificados. Consultar “Toxicology of ‘Inert’ Ingredients of Glyphosate-containing Products”, p.5, sobre informações básicas sobre os “inertes”. Muitos estudos toxicológicos resumidos abaixo utilizaram apenas o glyphosate, o ingrediente ativo, e outros usaram produtos comerciais contendo glyphosate + ingredientes “inertes”. Todavia, torna-se difícil avaliar os riscos de cada um quando o produto não é adequadamente testado. A seguir abordaremos os dois tipos de estudos e identificaremos, na medida do possível, qual material foi usado em cada estudo.

Toxicidade Aguda aos Animais de Laboratório

A dose média letal de uso oral do glyphosate (dose que mata 50% de uma população de animais de laboratório- DL50) para os ratos é superior a 4320 miligramas por quilo (mg/kg) de peso. Isto coloca o herbicida na Categoria Toxicológica III (Medianamente Tóxico) 4. A dose letal dermatológica (DL50 dermatológica) para ratos é superior a 2 000 mg/kg de peso, também Categoria Toxicológica III. Os herbicidas comerciais à base de glyphosate são mais tóxicos que o próprio glyphosate. A dose de Roundup (glyphosate mais surfactante POEA) necessária para exterminar ratos corresponde à 1/3 da dose do glyphosate puro.15 O Roundup é também mais tóxico que o próprio POEA.15 Os produtos à base de glyphosate são mais tóxicos se inalados que absorvidos oralmente. A inalação de Roundup pelos ratos provocou “sintomas de toxicidade em todos os grupos testados”16, mesmo sob concentrações mais baixas. Estes sintomas consistiram de falta de ar, olhos congestionados, redução da atividade17 e perda de peso16. Os pulmões ficaram vermelhos ou congestionados de sangue.17 A dose necessária para causar danos pulmonares e mortalidade após a ingestão pulmonar de dois produtos Roundup e POEA (quando forçados para dentro da traquéia, o tubo que transporta o ar para os pulmões) foi de apenas 1/10 da dose oral causadora de dano físico.15, 18

Efeitos sobre o sistema circulatório: Quando cachorros foram injetados com glyphosate, POEA, ou Roundup de modo que as concentrações sanguíneas fossem comparáveis às dosagens de pessoas que ingeriram glyphosate, o glyphosate aumentou a contratilidade do músculo cardíaco, o POEA reduziu a atividade cardíaca e a pressão arterial, e o Roundup provocou depressão cardíaca.19

Irritação dos Olhos: O NCAP pesquisou os danos provocados aos olhos, e mencionados nos manuais, de 25 produtos à base de glyphosate. Um dos produtos provoca “séria irritação”20, 4 produtos “provocam grande, porém temporária irritação aos olhos”21-24, 8 “acarretam irritação aos olhos” 25-32, 5 “podem causar irritação aos olhos “33-37, 1 “causa irritação moderada”38e 3 “são levemente irritantes”39-41Os outros três produtos exigem a adição de um surfactante (agente molhável) antes do uso42-44 , sendo que o surfactante vendido pelo fabricante para este propósito “provoca queimadura aos olhos”45

Irritação dermatológica: O glyphosate é caracterizado como levemente irritante para a pele. Roundup é “moderadamente irritante para a pele”, sendo que a recuperação pode levar até duas semanas.16

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Toxicidade Aguda para Pessoas

A toxicidade aguda do glyphosate para as pessoas foi pela primeira vez investigada por médicos japoneses que estudaram 56 tentativas de suicídio; nove foram fatais. Entre os sintomas havia dor intestinal, vômito, excesso de líquido nos pulmões, pneumonia, letargia, e destruição dos glóbulos vermelhos.66 Foi estimado que os casos fatais teriam ingerido em média cerca de 200 ml (3/4 de xícara). Acredita-se que o POEA tenha sido a causa da toxicidade do Roundup66. Recentes revisões sobre incidentes de envenenamento detectaram sintomas similares, disfunção pulmonar67-

69,erosão do trato gastrointestinal67-69, alteração ao eletrocardiograma69, queda de pressão67,69, danos ao fígado67,68,70 e à laringe71.

Pequenas doses de Roundup provocam efeitos adversos, em geral irritação na pele e olhos, associados a alguns dos sintomas mencionados acima (ver tabela 1). Por exemplo, esfregar um olho com a mão contaminada com Roundup provocou edema no olho e pálpebra, aceleração do batimento cardíaco, e elevação da pressão arterial. Enxugar o rosto depois de tocar num pulverizador com vazamento, provocou edema no rosto. Derramar acidentalmente Roundup sobre os membros inferiores provocou eczema nas mãos e braços, quadro que perdurou dois meses.68 Um derramamento resultou em tontura, febre, náusea, palpitações, e dor de garganta.

Revisão toxicológica

O glyphosate é frequentemente classificado como toxicologicamente benigno: “extensas investigações reforçam a conclusão de que o glyphosate detém um grau extremamente baixo de toxicidade”73.. Já a revisão do NCAP sobre o toxicidade do glyphosate chegou a uma conclusão diferente. Efeitos adversos foram detectados em cada categoria testada (toxicidade subcrônica, crônica, carcinogenicidade, mutagenicidade, e reprodução). Esta revisão foi questionada sob a alegação de que tais efeitos foram detectados porque o protocolo dos testes exigia a detecção de efeitos adversos sob as dosagens mais elevadas. Entretanto, as cinco secções deste artigo resumem os efeitos adversos que não resultaram desta exigência: foram detectados sob dosagem inferior à concentração mais elevada (as poucas exceções foram claramente identificadas).

Toxicidade subcrônica

Em estudos sobre toxicidade subcrônica (médio prazo), pelo National Toxicology Program (NTP) usando ratos e camundongos, foram detectadas lesões microscópicas nas glândulas salivares de todos ratos testados sob dosagens variadas (200- 3400 mg/kg por dia), e em todos os camundongos testados exceto sob dose mínima (1.000 – 12.000 mg/kg por dia) (ver Figura 3). Um estudo de acompanhamento realizado pelo NTP descobriu que o mecanismo pelo qual o glyphosate acarretava tais lesões estava associado ao hormônio adrenalina.74

O estudo do NTP também descobriu aumento em duas enzimas do fígado sob todas as dosagens exceto as duas inferiores. Outros efeitos encontrados por este estudo, sob no mínimo duas dosagens diferentes, refere-se à perda de peso em ratos e camundongos; diarréia em ratos, e alterações no peso do fígado e rim de ratos e camundongos machos 74.

Outro teste subcrônico detectou que os níveis de fósforo e potássio no sangue dos ratos aumentaram sob todas as doses testadas (60-1600 mg/kg/dia)4

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Os produtos à base de glyphosate mostraram-se mais tóxicos que o glyphosate puro nos testes subcrônicos. Em um estudo de sete dias de duração realizado com bezerros, 790 mg/kg dia de Roundup causaram pneumonia, e morte de 1/3 dos animais testados. Sob doses menores, reduziram a ingestão de alimentos e provocaram diarréia.

Toxicidade crônica

O glyphosate também mostrou-se tóxico em estudos de longo prazo. Sob todas as dosagens testadas, exceto a mais reduzida, foi constatada excessiva divisão celular no trato urinário de camundongos machos2 e inflamação das mucosas do estômago em ratos de ambos os sexos2.

Carcinogenicidade

Todos os estudos disponíveis sobre a capacidade do glyphosate provocar o cancer foram conduzidos pelo fabricante deste produto2. O primeiro estudo sobre a carcinogenicidade submetido ao EPA (1981) detectou aumento no índice de tumores testiculares em ratos machos e na incidência de cancer de tiróide em fêmeas, sob as dosagens mais elevadas. Ambos os resultados ocorreram sob a dosagem mais alta (30 mg/kg de peso por dia)75,76. O segundo estudo (1983) detectou uma crescente tendência na frequência de tumores raros no rim em camundongos machos77. Já o estudo mais recente (1990) demonstrou maior incidência de tumores no pâncreas e fígado em ratos machos e do mesmo tipo de cancer da tiróide em fêmeas, detectado em 1983.78

De acordo com o EPA, todos estes aumentos na incidência de tumores ou de cancer ”não podem ser associados ao composto”. (Isto significa que EPA não responsabilizou o glyphosate pela ocorrência dos tumores). No caso dos tumores de testículo, o EPA acatou a interpretação do patologista da indústria que afirmou que a incidência de cancer nos grupos tratados (12%) foi similar à incidência observada (4.5%) nos ratos não tratados com glyphosate. 78 Com relação ao cancer de tiróide, o EPA atestou ser impossível distinguir entre cancer e tumor da tireóide, de modo que os dois deveriam ser considerados juntos. Todavia, a combinação dos dados não é estatisticamente significante 76. No caso dos tumores de rim, o fabricante re-examinou o tecido e descobriu tumor adicional nos camundongos não-tratados, anulando a significância estatística. Isto apesar do laudo do patologista do EPA afirmando que a lesão em questão não era realmente tumor77 . Quanto aos tumores pancreáticos, o EPA declarou que não estavam relacionados às dosagens. Com referência aos tumores de fígado e tiróide, o EPA afirmou que as comparações entre animais tratados e não-tratados não foram estatisticamente significantes78

O EPA concluiu que o glyphosate deve ser classificado como Grupo E, “evidência de não- carcinogenicidade para pessoas”78 , mas que esta classificação “não deve ser interpretada como definitiva”78 Os testes de cancer deixaram muitas perguntas sem respostas. Com relação a um dos estudos sobre carcinogenicidade, um estatístico do EPA afirmou: “O ponto de vista é aspecto crítico. O nosso ponto de vista visa proteger a saúde pública quando se trata de dados suspeitos.”79 Já infelizmente o EPA não adotou o mesmo ponto de vista quando avaliou a carcinogenicidade do glyphosate.

Não existem estudos disponíveis sobre a carcinogenicidade do Roundup ou dos outros produtos à base de glyphosate.

Mutagenicidade

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Embora o fabricante do glyphosate afirme que de acordo com “uma série de estudos”80 o glyphosate não provoca danos genéticos 80, outros estudos têm demonstrado que tanto o glyphosate como os produtos à base de glyphosate são mutagênicos. Os produtos à base de glyphosate são mais potencialmente mutagênicos do que o próprio glyphosate.80 Estes estudos incluem:

Na mosca das frutas, Roundup e Pondmaster (um herbicida aquático composto de glyphosate e surfactante comercial secreto82) aumentaram a frequência de mutações letais recessivas associadas ao sexo (existem mutações normalmente visíveis apenas nos machos). Somente uma concentração foi testada neste estudo83.

Um estudo sobre linfócitos humanos (células brancas no sangue) demonstrou um aumento na frequência de trocas de cromatídeos irmãos (trocas de material genético durante a divisão celular entre membros de um par de cromossomos. Resultam de mutações pontuais) após a exposição à dose mínima testada de Roundup84 Outro estudo sobre linfócitos humanos datado de 1997 (ver Figura 4) detectou resultados similares com o Roundup (sob ambas as doses testadas) e com glyphosate (sob todas as doses testadas exceto a mínima).81

Em bactérias Salmonella, o Roundup mostrou-se levemente mutagênico sob duas concentrações. Em células das raízes da cebola, o Roundup aumentou as aberrações cromossômicas, também sob duas concentrações85.

Em camundongos injetados com Roundup, a frequência de adução de DNA ( elo das moléculas reativas ao material genético) no fígado e rim aumentou sob as três dosagens testadas86 (ver Figura 4).

Em outro estudo com camundongos injetados com glyphosate e Roundup, a frequência de danos cromossômicos e dano ao DNA aumentou no fígado, rim e medula. (Apenas uma concentração foi testada neste estudo)81.

Efeitos reprodutivos

A exposição ao glyphosate foi associada a problemas reprodutivos nos seres humanos. Um estudo em Ontario, Canadá, detectou que o uso de glyphosate pelos pais acarretou aumento no número de abortos e nascimentos prematuros nas famílias rurais.87(ver Figura 5). Além disso, um relatório da Universidade da Califórnia discutiu o caso de uma atleta que apresentava redução dos intervalos menstruais sempre que competia em raias tratadas com glyphosate88. Estudos laboratoriais também demonstraram inúmeros efeitos do glyphosate sobre a reprodução. Em ratos, o glyphosate reduziu a população espermática sob as duas concentrações maiores utilizadas (ver Figura 5). Em coelhos, o glyphosate, em concentrações de 1/10 e 1/100 de LD 50 , aumentou a incidência de espermatozóides anormais e mortos. 89

Nas coelhas o glyphosate provocou uma redução do peso fetal em todos os grupos tratados. 90

Toxicologia do Principal Metabolito do Glyphosate

Em geral, os estudos sobre a decomposição do glyphosate identificam apenas um metabolito, o ácido aminometilfosfonico (AAMF)2. Embora o AAMF apresente baixa toxicidade aguda (seu LD50 é 8300 mg/kg de peso em ratos16), causa uma série de problemas toxicológicos. Em testes subcrônicos com ratos, o AAMF provocou aumento da atividade da enzima dehydrogenase láctica, em ambos os sexos; uma redução no peso do fígado dos machos sob todas as doses testadas; e divisão celular excessiva na mucosa da bexiga de ambos os sexos. 16 O AAMF é mais resistente do que o glyphosate; estudos realizados em oito estados constataram que a meia vida no solo (tempo necessário para que metade da concentração original de um composto se decomponha e dissipe) ficou entre 119 e 958 dias2.

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Qualidade dos Testes Laboratoriais

Os testes realizados com glyphosate para satisfazer as exigências de registro têm sido associados com práticas fraudulentas.

A fraude laboratorial atingiu às manchetes pela primeira vez em 1983, quando o EPA divulgou que uma auditoria de 1976 havia detectado “sérias deficiências e impropriedades” nos estudos conduzidos pelo Industrial Biotest Laboratories (IBL)91. Entre os problemas gerados estavam “inúmeras mortes de ratos e camundongos” e “ rotina de falsificação de dados91. O IBT era um dos maiores laboratórios associados ao registro de pesticidas. O instituto realizou cerca de 30 testes com glyphosate e produtos à base de glyphosate, inclusive 11 dos 19 estudos sobre toxicologia crônica. Um exemplo concreto da péssima qualidade dos dados do IBT é a declaração de um toxicólogo do EPA que registrou: “É difícil deixar de duvidar da integridade científica de um estudo do IBT quando este afirma que retirou amostras do útero (de coelhos machos) para o exame histopatológico (grifo acrescentado).

Em 1991, o EPA afirmou que Craven Laboratories, uma companhia que realizou estudos para 262 fabricantes de pesticidas incluindo a Monsanto, havia falsificados os testes.94

Entre os “truques” utilizados pela Craven Labs estavam “anotações laboratoriais falsas” e “equipamento científico manipulado manualmente para gerar falsos relatórios”. Os estudos sobre os efeitos residuais do Roundup sobre as ameixas, uvas, e beterrabas incluíram os testes em questão.96

No ano seguinte, o proprietário e três empregados do Craven Labs foram indiciados em 20 processos jurídicos. 97 O proprietário levou 5 anos de prisão e multa de US$ 50.000,00; a Craven Labs foi multada em US$ 15.5 milhões de dólares e intimada a pagar US$ 37 000,00 dólares em restituições.95

Embora os testes de glyphosate identificados como fraudulentos tenham sido refeitos, esta fraude lança sérias suspeitas sobre todo o processo de registro dos pesticidas.

Propaganda enganosa

Em 1996, a Monsanto Co. negociou um acordo com o Secretário da Justiça de Nova York em que a empresa se comprometia a retirar certos dizeres enganosos sobre os produtos à base de glyphosate e a pagar US$ 50,000,00 em custos. 98 Dizeres como “o glyphosate é mais inofensivo que o sal de cozinha”98, é seguro para as pessoas, animais domésticos e o meio ambiente, e degrada ”logo após a aplicação”98 foram proibidos pelo Secretário de Justiça porque violavam a legislação federal sobre Pesticidas (Federal Insecticide, Fungicide and Rodenticide Act – FIFRA).98De acordo com o Secretário, a Monsanto foi autada sob a acusação de “propaganda enganosa”98

O EPA emitiu determinação similar sobre os anúncios de Roundup em 1998, afirmando que continham dizeres enganosos e violavam a legislação da FIFRA. Todavia, não tomou nenhuma medida concreta nem notificou a Monsanto sob a legação de que dois anos já haviam se passado entre a data que os anúncios foram submetidos à EPA e a data da emissão da determinação pela EPA. 99

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Exposição das pessoas ao glyphosate

As pessoas ficam expostas ao glyphosate quando usam o produto no trabalho, ingerem alimentos contaminados, entram em contato indireto com o produto após sua aplicação (pulverização), têm contato com solo contaminado, e bebem ou tomam banho em água contaminada. As cinco secções abaixo resumem informações sobre tais formas de contaminação. A terceira secção que fala sobre os efeitos da pulverização também aborda o impacto sobre as plantas.

Contaminação dos alimentos

A análise dos resíduos de glyphosate é em geral “trabalhosa, complexa e onerosa”. 2 Por esta razão não é incluída na fiscalização pública dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos.2 A única informação disponível sobre a contaminação de alimentos origina-se de estudos de pesquisa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, “um teor significativo de resíduos” tem sido identificado pelo uso do glyphosate na pré-colheita do trigo (para secagem dos grãos). O farelo contém 2 a 4 vezes mais resíduo que os grãos inteiros. Os resíduos não são destruídos com o cozimento2.

Uso no trabalho

Na Califórnia, o estado com programa de monitorização mais completo das doenças causadas por pesticidas, os herbicidas à base de glyphosate foram a terceira causa de doença mais comum reportada entre os trabalhadores agrícolas.100

Entre os que trabalhavam na manutenção paisagística, os herbicidas à base de glyphosate foram a principal causa reportada101. (Ambas as estatísticas originam-se de relatórios coletados entre 1984-1990). Mesmo quando se considera o extensivo uso do glyphosate na Califórnia e a estatística é apresentada como “número de doenças agudas relatadas por milhão de libras de peso usados na Califórnia”, o glyphosate ficou em décimo segundo lugar.100

Embora vários relatórios da Califórnia mencionem “efeitos irritantes”102, principalmente para os olhos e pele, o levantamento da NCAP sobre cerca de 100 relatórios de 1993, 1994, e 1995 detectou que cerca de metade deles citam efeitos mais sérios ; queimadura dos olhos ou pele, turvamento da visão, descamação da pele, náuseas, cefaléia, vômito, diarréia, dor abdominal, tontura, entorpecimento, queimadura dos genitais, e respiração ofegante.103

Outros sintomas ocupacionais foram observados em um processamento de linho na Grã-Bretanha. Um estudo comparou os efeitos da aspiração da poeira do linho tratado com Roundup com os efeitos da poeira do linho não-tratado. A poeira tratada provocou um diminuição da função pulmonar e intensificou a tosse e dificuldade respiratória.104

Pulverização

De modo geral, a mobilização dos pesticidas pulverizados é “inevitável”105. No caso do glyphosate, este efeito “tende a ser ainda maior e mais persistente do que no caso dos demais pesticidas”106. Isto porque o glyphosate se mobiliza rapidamente entre as plantas, fazendo com que mesmo as partes não expostas sejam afetadas. O dano às plantas perenes (quando não expostas a um teor de glyphosate suficiente para exterminá-las) é persistente, e determinados sintomas chegam a perdurar vários anos. 106 Além disso, o grau de suscetibilidade da planta varia

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substancialmente. Algumas flores silvestres são quase cem vezes mais sensíveis que outras; teores equivalentes a 1/1000 da dosagem normal são suficientes para danificá-las.107

Uma resposta simples para a pergunta, “Qual o alcance aproximado da deriva de uma pulverização de glyphosate?”- é muito difícil, dada à sua “grande variabilidade”108. Todavia, distâncias representativas vêm sendo registradas desde o estudo desenvolvido em 1997 na Califórnia, quando foi detectado o glyphosate há 800 m das aplicações aéreas e terrestres. Distâncias similares foram detectadas para os oito diferentes sistemas de pulverização testados neste estudo109.

Mais recentemente, foi mensurada a deriva de outras técnicas de aplicação como:

Aplicações terrestres: Um estudo sobre 15 plantas não - cultivadas detectaram mortalidade de plântulas (destruição de cerca de 10% na maioria das espécies testadas há 20 m a favor do vento, quando o herbicida foi aplicado com pulverizador acoplado ao trator. Plântulas de algumas espécies mais sensíveis foram mortas há 40 metros110. Um modelo de deriva previu que algumas espécies nativas seriam destruídas à distâncias de 80 m107. O fabricante de glyphosate reportou que a deriva de uma aplicação terrestre em Minnesota destruiu 10 hectares de milho111, e o Departamento da Agricultura de Washington relatou que uma aplicação terrestre de glyphosate acarretou sérios prejuízos a 12 hectares de cebola112.

Aplicações aéreas por helicóptero: Um estudo realizado no Canadá 113 mensurou os resíduos de glyphosate há 200 metros da área – alvo, após a aplicação de helicóptero sobre áreas florestais. 200 metros foi a maior distância de onde foram coletadas as amostras; o alcance real do glyphosate não é conhecido.

Aplicações aéreas por avião: Uma extensa deriva tem sido constatada após a aplicação de glyphosate através de avião. Dois estudos conduzidos em áreas florestais pela Agriculture Canadá (Ministério da Agricultura do Canadá) detectaram o glyphosate nas maiores distâncias avaliadas (300 e 400 metros)114,115. Um destes estudos concluiu que zonas intermediárias (“buffer zones”) medindo entre 75 e 1200 metros seriam necessárias para proteger a vegetação não visada. De acordo com a Monsanto, a deriva de aplicações aéreas singulares foi suficiente para destruir 1000 árvores em um caso116, 100 hectares de milho em outro117, e 60 hectares de tomates em um terceiro incidente118.

Persistência e Movimento no Solo

A persistência do glyphosate no solo varia substancialmente. O fabricante do glyphosate detectou meias-vidas (tempo necessário para que 50% do glyphosate aplicado se decomponha ou mobilize) da ordem de 3 (no Texas) a 141 dias (em Nova York)119 (ver Figura 6). A degradação (decomposição) inicial é mais rápida do que a degradação subsequente do restante120.

Os seguintes estudos detectaram grande persistência do glyphosate no solo: 55 dias em uma floresta de Oregon Coast Range121; 249 dias em áreas agrícolas da Finlândia122, entre 259 e 296 dias em oito áreas florestais da Finlândia120; 335 dias em uma área florestal de Ontário (Canadá)123; 360 dias em tres áreas florestais de British Columbia124; e, de 1 a 3 anos em onze áreas florestais da Suécia125.

O Departamento de Ecologia do EPA declarou: “Em suma, este herbicida é extremamente persistente sob condições de aplicações regulares”126. O glyphosate tende a ser adsorvido pela

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maioria dos solos, o que o torna “essencialmente imóvel”127. Isto significa que o produto em geral não contamina a água e o solo vizinhos. Entretanto esta adsorção é “reversível”. Por exemplo, um estudo detectou que o glyphosate foi imediatamente adsorvido em quatro tipos de solo diferentes; por outro lado a liberação do glyhosate das partículas do solo também ocorreu prontamente. Em um tipo de solo, 80% do glyhosate adicionado foi liberado dentro de um espaço de duas horas. O estudo concluiu que “este herbicida pode ser extensivamente móvel no solo...”128.

Contaminação da água

Quando o glyphosate é rapidamente adsorvido pelas partículas de solo, não apresenta as características químicas de um pesticida que escorre para dentro da água2. (Quando é liberado rapidamente, como foi descrito acima, a situação é diferente). Entretanto, o glyphosate pode mobilizar-se superficialmente através da água quando as partículas de solo às quais é adsorvido são carregadas para os rios e riachos4. Ainda não se sabe a frequência deste fenômeno porque nào se faz o monitoramento rotineiro do glyphosate na água.2

O Glyphosate foi detectado tanto na água superficial como subterrânea. Exemplo disso são açudes agrícolas em Ontário, Canadá, contaminados pelo escorrimento de um tratamento agrícola e de um vazamento129; o escorrimento de microbacias tratadas com Roundup durante a produção de cultivo direto de milho e festuca130; água superficial contaminada na Holanda2; sete poços nos EUA (um no Texas, seis na Virgínia) contaminados com glyphosate131; rios contaminados às margens de florestas em Oregon e Washington132,133; rios contaminados próximo a Puget Sound, Washington134; e poços contaminados abaixo de sub - estações elétricas tratadas com glyphosate135.

A persistência do glyphosate na água é mais breve que sua persistência no solo. Dois estudos canadenses constataram que o glyphosate persistiu 12-60 dias na água de açudes136,137. O glyphosate persiste por mais tempo em sedimentos de açudes (lama no fundo do açude). Por exemplo, a meia-vida em sedimentos de um estudo no Missouri foi de 120 dias; já em outro estudo no Michigan e Oregon – foi de um ano4.

Efeitos ecológicos

O glyphosate pode afetar muitos organismos não visados pelos herbicidas. As duas seccões abaixo abordam a mortalidade direta e os efeitos indiretos causados pela destruição de habitats e alimentos.

Efeitos sobre animais

Insetos benéficos: Os insetos benéficos alimentam-se de outras espécies consideradas como pragas agrícolas. A International Organization for Biological Control observou que a exposição ao Roundup exterminou cerca de 50% de três espécies benéficas de insetos: uma vespa parasitóide, um hemeróbidae (larva de libélula), e uma joaninha. Cerca de 80% de uma quarta espécie, um besouro predador, foi morta138.

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Os impactos sobre insetos benéficos também foram constatados por estudos de campo, provavelmente devido à destruição de seu habitat pelo herbicida. Em trigais da Carolina do Norte a população de besouros carabídeos declinou após o tratamento de glyphosate, só voltando a se recuperar após 28 dias139. Um estudo sobre o tratamento de Roundup em sebes no Reino Unido também demonstrou um declínio de besouros carabideos140.

Outros insetos: Um tratamento de Roundup em uma área devastada no Maine causou um declínio de 89% no número de insetos herbívoros (que se alimentam de plantas) devido à destruição da vegetação que servia de habitat e alimento. (Ver figura 7). Tais insetos servem como fontes de alimento para pássaros e pequenos mamíferos que se alimentam de insetos 141. O US Fish and Wildlife Service identificou que os herbicidas à base de glyphosate estariam ameaçando a sobrevivência do inseto “ long - horned beetle”142.

Outros artrópodes: O glyphosate e derivados exterminam uma série de outros artrópodes. Por exemplo: cerca de 50% de um ácaro predador benéfico foi exterminado pela exposição ao Roundup 138. Em outro estudo de laboratório, a exposição ao Roundup acarretou um declínio no índice de sobrevivência e peso de “woodlice”. Estes artrópodes são importantes para a produção de humus e aeração do solo143. O tratamento de Roundup em sebes reduziu a população de aranhas, provavelmente por exterminar as plantas que utilizavam para tecer suas teias140. A pulga d’agua Daphnia pulex são exterminadas com 3-25 ppm de Roundup144-146. As pulgas jovens são mais suscetíveis que as adultas145. A espécie comercial “ red swamp crawfish” foi exterminada com 47 ppm de Roundup.

Minhocas:Um estudo sobre as minhocas mais comuns na agricultura neo-zelandeza detectou que aplicações repetidas de glyphosate afetam significativamente o crescimento e sobrevivência das minhocas. Pequenas dosagens bimensais de glyphosate (1/20 das aplicações comuns) acarretaram redução de crescimento (ver Figura 8), prolongamento do período de desenvolvimento e aumento da mortalidade148.

Peixes: O glyphosate e derivados são tóxicos para os peixes. Em geral o glyphosate puro é menos tóxico que seu sub-produto, o Roundup. Os demais sub- produtos possuem toxicidade intermediária. Parte desta diferença pode ser explicada pela toxicidade do surfactante (ingrediente similar a detergente) no Roundup. Este é 20 a 70 vezes mais tóxico para os peixes do que o glyphosate propriamente dito144.

O índice de toxicidade aguda do glyphosate varia substancialmente: concentrações letais médias (LC 50

s; concentrações que matam 50% de uma população de animais testados) de 10-200 ppm têm sido reportadas, dependendo da espécie do peixe e condições dos testes2.

A toxicidade aguda (LC 50) do Roundup varia de 2- 55 ppm2. Parte desta variabilidade se deve à idade: peixes jovens são mais sensíveis ao Roundup do que os peixes mais velhos144 (ver Figura 9). A toxicidade do Rodeo (usado com o surfactante X-77, segundo recomendação do fabricante) varia entre 120-290 ppm149. Sob condições de água mole (soft water) há pouca diferença entre a toxicidade do glyphosate e Roundup150. Além disso, sempre que os peixes não

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tenham comido recentemente, a toxicidade do glyphosate (LC 50 = 2.9 ppm) é similar a do Roundup151.

A toxicidade do Roundup aumenta com a temperatura da água. Nos casos da truta arco íris e “bluegills”, a toxicidade quase dobrou entre 7 e 17oC144.O tratamento das áreas ribeirinhas com glyphosate causa aumento de temperatura da água durante vários dias após o tratamento152

porque o herbicida elimina a vegetação que produz sombra. Isto significa que o uso de glyphosate pode aumentar o nível de toxicidade para os peixes. Além disso, a temperatura mais elevada pode ser crítica para certos peixes de água fria como o salmão juvenil.

Efeitos subletais do glyphosate ocorrem sob baixas concentrações. No caso da truta arco íris e tilápia , concentrações de cerca de ½ e 1/3 do LC50 (respectivamente) alteraram o comportamento dos peixes153,154. A truta também apresentou dificuldade respiratória153. Tais efeitos aumentam o risco de consumo dos peixes, e podem afetar os hábitos de alimentação, migração e reprodução dos mesmos154 Menos de 1% do LC50 causou dano às brânquias da carpa e menos de 2% do LC50

provocou alterações na estrutura do fígado155.

Aves:O glyphosate produz impacto indireto sobre as aves. Uma vez que extermina as plantas, ele pode provocar profundas alterações na estrutura das comunidades vegetais. Isto por sua vez afeta as populações de aves, pois estas dependem das plantas para sua alimentação, habitat e instalação dos ninhos. Por exemplo: um estudo de quatro áreas desmatadas com glyphosate (e uma área – testemunha não pulverizada) em Nova Scotia constatou a redução na densidade das duas espécies mais comuns de aves (pardais de pescoço branco e de pescoço amarelo) até dois anos após o tratamento. Por volta do quarto ano após o tratamento é que as densidades destas duas espécies retornaram ao normal. Durante este período a área não tratada havia sido colonizada por novas espécies de aves (“warblers”, “vireonídeos”, e beija-flores”), que não foram encontradas nas áreas tratadas156..

Um estudo trianual anterior sobre a abundância de aves canoras após o tratamento de glyphosate em áreas devastadas das florestas do Maine demonstrou resultados similares. O volume total de aves e das três espécies mais comuns foi reduzido. A redução no volume de aves foi correlacionada com o declínio na diversidade do habitat157.

O galo silvestre preto desapareceu de áreas devastadas com glyphosate na Noruega por vários anos após o tratamento158. Pesquisadores recomendam que o herbicida não seja usado próximo a áreas de reprodução dos galos silvestres.

Mamíferos pequenos:Em estudos de campo, mamíferos pequenos foram indiretamente afetados quando o glyphosate exterminou a vegetação usada como habitat e alimento. Em áreas devastadas do Maine141, o número de musaranhos (que se alimentam de insetos) declinou durante três anos após o tratamento; o número de ratazanas (que se alimentam de plantas) declinou durante dois anos (ver Figura 7). Um segundo estudo em Maine, após tratamento de Roundup159 detectou resultados similares para as ratazanas. Em British Columbia, a população de “deer mice” reduziu 83% após o tratamento de glyphosate160. Outro estudo de British Columbia observou declínio da população de “chipmunks” (roedores americanos: o Tico e Teco de Walt Disney) após o tratamento de Roundup161. Na Noruega, houve redução substancial no uso de áreas devastadas pelo herbicida pelas lebres da montanha.162. Outros estudos não constataram impacto sobre os

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mamíferos menores165, sugerindo que as características específicas do local e aplicação de herbicida são significativas.

Animais silvestres:Uma pesquisa canadense documentou que plantas usadas como fonte de alimento para os animais silvestres são significativamente destruídas pelo glyphosate. Danos “severos” ou “muito severos” foram registrados para 46% das espécies de plantas consumidas pelo alce americano (“moose”), 34 - 40% das espécies consumidas pelo alce (“elk”), e 36% das espécies consumidas pelo veado (“mule deer”)164.

Efeitos sobre Plantas Vizinhas

Como herbicida de amplo-expectro, o glyphosate tem efeito potente e gravemente tóxico sobre a maioria das plantas. Produz também outros efeitos negativos: destrói as espécies em extinção, reduz a qualidade das sementes, reduz a capacidade de fixação de nitrogênio, aumenta a suscetibilidade às doenças das plantas, e reduz a atividade dos fungos micorrizais.

Espécies em extinção:Uma vez que muitas plantas são suscetíveis ao glyphosate, ele pode ameaçar seriamente as espécies em extinção. The US Fish and Wildlife Service identificou 74 espécies de plantas que estariam sendo ameaçadas pelo glyphosate. Esta lista baseia-se no uso do glyphosate em 9 variedades, não incluindo mais de 50 outros usos142.

Qualidade das sementes:O tratamento sub-letal do algodão com Roundup “afeta severamente a germinação das sementes, vigor e estabelecimento do stand sob condições de campo”. Sob a menor concentração de glyphosate testada, a germinação de sementes declinou de 24 a 85 % e o peso das mudas de 19 a 83% 165.

Fixação de nitrogênio:Muitos seres vivos não conseguem usar o nitrogênio em sua forma comum e em vez disso utilizam compostos mais raros como amônia e nitratos. A amônia e nitratos são criados através de processos intitulados fixação de nitrogênio e nitrificação, realizados pelas bactérias existentes no solo e nódulos das raízes de legumes e certas outras plantas166.

São vários os estudos sobre os efeitos do glyphosate sobre a fixação de nitrogênio: a uma concentração regular, e 120 dias após o tratamento, o glyphosate reduziu cerca de 70% do número de nódulos fixadores de nitrogênio no trevo167; uma concentração similar de um herbicida à base de glyphosate reduziu 27% do número de nódulos em um cultivo hidropônico de trevo168; outra concentração similar de glyphosate reduziu em torno de 20% a fixação de nitrogênio pelas bactérias do solo169 (ver Figura 10); outra aplicação de glyphosate inibiu 10-40% do desenvolvimento de bactérias fixadoras de nitrogênio na soja170; e um tratamento com a dosagem mínima testada (10 vezes a aplicação regular) de herbicida à base de glyphosate, reduziu de 68-95% o número de nódulos no trevo171.

Todos os estudos resumidos acima foram realizados em laboratório. A campo, tais efeitos são de difícil observação. Entretanto, o uso de plantas geneticamente modificadas para tolerar o

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glyphosate significa que bactérias fixadoras de nitrogênio “podem ser afetadas pelas aplicações repetidas de glyphosate”170.

O glyphosate também afeta outras partes do ciclo do nitrogênio. Um estudo canadense demonstrou que campo de gramíneas tratado com Roundup aumentou a perda de nitrato até 7 semanas após o tratamento. O aumento deveu-se provavelmente aos nutrientes liberados no solo pela vegetação morta172

Fungos micorrizas: Fungos micorrizais são fungos benéficos que habitam dentro e em torno das raízes das plantas. Ajudam as plantas a absorver nutrientes e água, e a protegê-las do frio e seca173. O Roundup mostrou-se tóxico para os fungos micorrizais em estudos de laboratório. Efeitos sobre algumas espécies associadas às coníferas foram observados sob concentrações de 1 ppm, inferior às encontradas no solo após aplicações regulares 174,175. Nas orquídeas, o tratamento com glyphosate transformou a interação mutuamente benéfica entre a orquídea e micorriza em interação parasítica (que não beneficia a planta)176.

Doenças de Plantas:O tratamento de glyphosate aumenta a suscetibidade das plantas às inúmeras doenças. Por exemplo: o glyphosate aumentou a suscetibilidade do tomate à doença da raiz e da coroa (“root and crown disease”)177; reduziu a capacidade de defesa das plantas de feijão contra a antracnose178; aumentou a incidência da doença Ophiobolus graminis (“wheat mosaic-rosette”) no solo de um campo de trigo e reduziu a proporção de fungos antagônicos ao Ophiobolus graminis 179; e aumentou as populações de dois importantes patógenos radiculares na ervilha180. Além disso, a injeção de Roundup no pinheiro “lodgepole” inibiu a resposta defensiva da árvore ao fungo da mancha azul181. Tanto a inibição das micorrizas e aumento da suscetibilidade à doença foram observadas em laboratório, e não em estudos de campo. Dadas as sérias consequências de tais efeitos, maiores pesquisas se fazem necessárias sobre o assunto.

Resistência das plantas

As plantas resistentes ao glyphosate são capazes de tolerar o tratamento sem demonstrar sinais de toxicidade. Enquanto alguns cientistas argumentam que “ervas daninhas não conseguem desenvolver resistência ao glyphosate”, 182 outros defendem que “existem algumas restrições para que as ervas desenvolvam resistência”. O segundo grupo de cientistas está aparentemente mais correto. Em 1996, um pesquisador australiano reportou que uma população anual de azevém desenvolveu resistência e tolerou cinco vezes a dosagem recomendada183.

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