greed, c. (2012) a relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros...

16
Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento urbano do transporte public e as implicacoes para a provisao de banheiros publicos. Revista Latino-Americana de Geografia e Gnero, 3 (2). pp. 61-75. ISSN 2177-2886 We recommend you cite the published version. The publisher’s URL is: http://dx.doi.org/10.5212/Rlagg.v.3.i2.061075 Refereed: No (no note) Disclaimer UWE has obtained warranties from all depositors as to their title in the material deposited and as to their right to deposit such material. UWE makes no representation or warranties of commercial utility, title, or fit- ness for a particular purpose or any other warranty, express or implied in respect of any material deposited. UWE makes no representation that the use of the materials will not infringe any patent, copyright, trademark or other property or proprietary rights. UWE accepts no liability for any infringement of intellectual property rights in any material deposited but will remove such material from public view pend- ing investigation in the event of an allegation of any such infringement. PLEASE SCROLL DOWN FOR TEXT.

Upload: hanhi

Post on 11-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento urbanodo transporte public e as implicacoes para a provisao de banheirospublicos. Revista Latino-Americana de Geografia e Gnero, 3 (2). pp.61-75. ISSN 2177-2886

We recommend you cite the published version.The publisher’s URL is:http://dx.doi.org/10.5212/Rlagg.v.3.i2.061075

Refereed: No

(no note)

Disclaimer

UWE has obtained warranties from all depositors as to their title in the materialdeposited and as to their right to deposit such material.

UWE makes no representation or warranties of commercial utility, title, or fit-ness for a particular purpose or any other warranty, express or implied in respectof any material deposited.

UWE makes no representation that the use of the materials will not infringeany patent, copyright, trademark or other property or proprietary rights.

UWE accepts no liability for any infringement of intellectual property rightsin any material deposited but will remove such material from public view pend-ing investigation in the event of an allegation of any such infringement.

PLEASE SCROLL DOWN FOR TEXT.

Page 2: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 61-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamentourbano do transporte público e as implicaçõespara a provisão de banheiros públicos*

The Gendered Relationship between Urban Land­Use TransportationPlanning and the Implications for Public Toilet Provision

Clara Henrietta GreedUniversity of the West of [email protected]

Este artigo analisa a relação entre a provisão debanheiros públicos e os sistemas de transportesterrestres urbanos, associado as ‘diferentes’necessidades das mulheres, tendo como referência oReino Unido, bem como as preocupaçõescompartilhadas internacionalmente. ‘Banheiros’ são oscomponentes de gênero finais do ambiente construídoe uma das fronteiras remanescentes da desigualdadesexual. As mulheres, historicamente, têm menosprovisões de banheiros públicos do que os homens.Embora as mulheres sejam a maioria da população(52%), suas necessidades raramente são levadas emconta na realização da política urbana. Há umanecessidade de relacionar a localização e provisão dobanheiro às questões de gênero, porque as mulheressão mais propensas a estarem fora de casa com as suasfamílias, bebês, crianças pequenas e idosos. Banheirospúblicos são o elo que falta na criação de cidadessustentáveis, acessíveis e equitativas. Se o governoquer que as pessoas abandonem seus automóveis evoltem para o transporte público, caminhem e andemde bicicleta (WDS, 2005) é essencial fornecerbanheiros públicos nas estações ferroviárias, pontos deônibus, terminais de transporte, ciclovias e centros daatividade como mercados, shopping centers e zonas deemprego. Se melhores projetos e ações foremdesenvolvidos para as mulheres, então é provável queum grande número de outros grupos de desfavorecidossejam beneficiados também, os quais compartilhamsemelhantes problemas de acesso a um banheirodecente, incluindo idosos e pessoas com deficiência.Palavras­chave: banheiros públicos; gênero;planejamento; transportes.

This paper looks at the relationship between publictoilet provision and urban land­use transportationsystems in respect of the ‘different’ needs ofwomen, with reference to the UK and tointernationally­shared concerns. ‘Toilets’ are theultimate gendered component of the builtenvironment and one of the remaining frontiers ofsexual inequality. Women, historically, have lesspublic toilet provision than men, and althoughwomen comprise the majority of the population(52%) their needs are seldom taken into account inurban policy making. There is a need to relate toiletlocation and provision to gender considerationsbecause women are more likely to be the ones outand about with their families, babies, small childrenand the elderly. Public toilets are the missing link increating sustainable, accessible and equitable cities.If the government wants to get people out of theircars and back on to public transport, walking, andcycling (WDS,2005) then it is essential to providepublic toilets in railway stations, bus stops,transport termini, and in relation to footpaths, cycletracks and centres of human activity, such asmarkets, shopping centres and employment zones.If better provision and design is developed forwomen, then it is likely to benefit a large number ofother disadvantaged groups too, who share similaraccess and provision problems, including theelderly, those with disability and everyone, male orfemale, who needs a decent toilet.Keywords: public toilets; gender; planning;transport.

Resumo Abstract

Page 3: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 62-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 62

A sustentabilidade tem sido uma força motrizessencial da política de planejamento por mais de 20anos (BRUNTLAND, 1987; DCLG, 2005). Entretanto,muitas pessoas que descobriram as supostas políticassustentáveis (especialmente as políticas preocupadascom a redução emissão de carbono pelos transportes),preocupadas com a redução do uso de carros e oaumento dos deslocamentos de transportes públicos,tornaram suas vidas diárias mais difícil e nãonecessariamente isso lhes permitiu adotar um estilo devida mais verde. Na verdade, muitas vezes, parecehaver um conflito entre a sustentabilidade ambiental ea criação de cidades acessíveis, inclusivas e justas paratodos. Isso ocorre porque as necessidades humanasmais básicas e os fatores sociais são ignorados, taiscomo a necessidade de banheiros públicos, lugarespara sentar e áreas de repouso, ambientes seguros eáreas acessíveis para pedestres. A definição original desustentabilidade na Declaração do Rio (ONU, 1992;BUCKINGHAN­HATFIELD, 2000), inclui trêscomponentes: viabilidade econômica, equidade sociale sustentabilidade ambiental (prosperidade, pessoas,lugar). Entretanto, tem havido uma ênfase exageradanos aspectos ambientais, à custa dos aspectos sociais eem detrimento de alcançar projeto urbano inclusivo.Além disso, a política de sustentabilidade éfrequentemente desenvolvida em um nível muito alto,em relação a questões ambientais estratégicas, semquaisquer ligações com as necessidades práticas locaise padrões de deslocamento de pessoas comuns(GREED, 2008).

Este trabalho vincula a provisão de banheirospúblicos com os ‘aspectos sociais de planejamento’,procurando responder à clássica pergunta da geografiaurbana: “quem recebe o quê, onde, por quê e como?”(HARVEY, 1975; MASSEY, 1984). Tais questõesestão relacionadas ao efeito das diferenças de gênerona natureza do ambiente construído (GREED, 1994a;2005a; 2005b,). Um fator determinante em dar formasàs cidades é a natureza da política de planejamento e,portanto, da perspectiva e “visão de mundo” dosurbanistas, projetistas, arquitetos, engenheiros detransporte e os próprios legisladores de políticasurbanas (GREED, 1994a). O fato de que as mulheresainda sejam minoria nessas profissões (CIC, 2009),ainda hoje há pouco reconhecimento das questões degênero nas tomadas de decisões, como demonstradopor Jarvis et al (2009).

Na primeira parte do artigo, eu explico como asmulheres estão em desvantagem pelos atuais padrõesde zoneamento urbano e pela sustentabilidade lideradapor políticas de transportes. Questiono como osdeslocamentos e atividades femininas se encaixamnessas configurações urbanas. Na segunda parte do

artigo, me concentro em um aspecto que pode tornaras cidades mais funcionais e confortáveis paramulheres e homens, sem serem impedidos pelocontrole da bexiga: a provisão de banheiros públicos(HANSON, et al, 2007). Estabeleci uma abordagempolítica estratégica para assegurar banheiros públicosadequados, explicando a necessidade de umahierarquia espacial de banheiros para atender àsnecessidades das mulheres e dos homens. Conclui­se,que tal provisão facilitaria o desenvolvimento de umacidade mais sustentável. Deve­se notar que, emborahaja grandes problemas com os banheiros públicos nomundo em desenvolvimento, este trabalho estáprincipalmente preocupado com a situação em paísesdesenvolvidos, ocidentais, em particular o ReinoUnido . No passado o Reino Unido era líder mundialem engenharia sanitária e desenvolvimento deinfraestrutura, mas atualmente tem experimentado umdeclínio nos serviços públicos e falta de investimentos,mesmo que nunca tenham atendido adequadamente asnecessidades das mulheres (GREED, 2003; ABL,2006).

O gênero para esse trabalho pode ser definidocomo os papéis e deveres culturais atribuídos amulheres e homens na sociedade, independentementedo sexo biológico. Por exemplo, as mulheres ainda sãoas principais responsáveis pelos cuidados das criançasem nossa sociedade. Entretanto, mesmo se os homensassumissem esses papéis tradicionais femininos, elestambém seriam susceptíveis a encontrar as mesmasdificuldades no ambiente construído (PANELLI,2004).

Os problemas de ‘mulheres e a cidade' já foramamplamente documentados, mas a situação poucomudou (STIMPSON, et al, 1981; MATRIX, 1984;LITTLE, et al, 1988; WHATMORE e LITTLE, 1988;ROBERTS, 1991; GREED, 1994; BOOTH, et al,1996; EUROFEM, 1998; BUCHINGHAN —HATFIELD, 2000; DARKE, et al, 2000; ANTHONY,2001; HAYDEN, 2002; REEVES, 2005; UTENG eCRESSWELL, 2008; JARVIS, et al, 2009; entreoutros). Eu escolhi as questões sanitárias para esteartigo, porque, ‘banheiro’ é o artefato cultural básicoque reúne considerações biológicas, sexuais e degênero, ou seja, diferenças fisiológicas práticas entreos usuários (GERSHENSON e PENNER, 2009;CAVANAGH, 2010) e restrições culturais. Em nossacultura são mulheres as pessoas mais prováveis deestarem acompanhados por crianças pequenas, bebês eparentes idosos. Apesar disso, as mulheres recebemmenos provisão de banheiros pelas políticas dedistribuição dominadas pelos homens (GREED, 2003;MOLOTCH e NOREN, 2010). Todos os tipos depessoas sofrem com a falta de instalações e se

Page 4: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 63-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 63

beneficiariam de uma melhor provisão, incluindo osidosos, pessoas com deficiência, sem­tetos, turistas evisitantes de fora da cidade, visto que gênero, cruza,sobrepõe e relaciona­se com todos estas outrascaracterísticas pessoais (BAGILHOLE, 2009).A natureza generificada de forma urbanae planejamento

A Estrutura das Cidades

Durante muitos anos o planejamento das cidadesfoi baseado no zoneamento e separação de usos daterra, criando distâncias desnecessárias entre a casa e otrabalho, gerando insustentáveis padrões dedeslocamento entre essas unidades de uso. Oplanejamento da reconstrução pós Segunda GuerraMundial no Reino Unido priorizou a remoção de casase a dispersão da indústria, criando áreas residenciais einstalações públicas, apoiando a baixa densidade e odesenvolvimento suburbano em torno das cidades. Issocriou extensas distâncias de deslocamentos entre áreasde trabalho e bairros residenciais, notadamente para asmulheres (ROBERTS, 1991). Os governossubsequentes favoreceram a utilização do automóvel ea ‘americanização das cidades britânicas’ (ecertamente muitas outras cidades europeias e domundo), embora as urbanistas norte­americanas jáhaviam advertido contra os problemas dedescentralização urbana, zoneamento excessivo ecidades onde os carros predominam (STIMPSON, etal, 1981). Bairros inteiros de cidades foram demolidospara dar lugar à autoestradas urbanas e aestacionamentos de carros para o predominantehabitual usuário de carros, do sexo masculino a partirda década de 1960.

Assim, uma infraestrutura urbana baseada emautomóveis e padrões dispersos de uso da terra foramdesenvolvidos, enquanto o transporte público foirelegado. Até o final do século XX uma série de ações,inclusive o desenvolvimento de shoppings centers,hipermercados, parques empresariais e de lazer fora dacidade, ao lado de autoestradas, enquanto as escolas,hospitais e serviços das autarquias locais foram todosdescentralizados em nome da eficiência, prejudicandoo processo de viabilidade dos já existentes centros dascidades e tradicionais municípios. Todas essaspolíticas dificultaram o deslocamento para fora de suaárea local e também aumentaram o congestionamentodo tráfego e os tempos de deslocamento das pessoasentre diferentes zonas da cidade para executar suastarefas diárias. Assim, possuir um automóvel é umanecessidade virtual, especialmente em cidades onde o

transporte público tem sido severamente reduzido, asdiferentes zonas da cidade muito dispersas e asinstalações essenciais como lojas e amenidades já nãoestão a curta distância.

As mulheres têm sido particularmente afetadas poressas mudanças em cidades com um padrão deorganização predominantemente masculino. Osdiferentes papéis e responsabilidades entre os gênerosmasculino e feminino geram desiguais padrões dedeslocamentos entre eles e, portanto, necessidadessingulares (COLEMAN, 2000; ANTHONY, 2001;HAYDEN, 2002). Embora as mulheres constituam amaioria da população (52% no Reino Unido, e até55% em algumas grandes cidades como Birmingham eManchester) (ONS, 2010) ainda assim, os urbanistas elegisladores de políticas urbanas concebem apopulação feminina como uma pequena minoria econtinuam a planejar as cidades para as necessidadesdo trabalhador do sexo masculino.

As mulheres são a maioria dos usuários dotransporte público no Ocidente, pois elas são a minoriano uso de automóvel privado e, portanto são as maisafetadas pelos problemas dos sistemas de transportepúblico mal projetados. Esse é problema que cresceinternacionalmente conforme a urbanização modernase acelera (KWAN, 1999).

As mulheres gastam muito do seu tempo esperandoônibus e trens, como já validados por uma extensagama de pesquisas qualitativas e quantitativas (DFT,2000; HAMILTON, et al, 2005; UTENG eCRESSWELL, 2008; JARVIS, et al, 2009; ROBERTSe ELDRIDGE, 2009). As mulheres têm sido malservidas por políticas de planejamento, que fazempouco para reconhecer as ‘diferentes’ necessidades epadrões de deslocamento entre homens e mulheres, nodesenvolvimento da política de uso da terra (DARKE,et al, 2000; REEVES, 2005). O cuidado com os filhosé de responsabilidade predominantemente feminina,bem como o trabalho doméstico e a realização decompras para abastecer a casa, embora ainda a maioriadas mulheres também trabalhe fora de casa (BOOTH,et al, 1996; REEVES, 2005; FINCHER e IVESON,2008; UTENG e CRESSWELL, 2008; ESRC, 2011) .As Diferenças nas Jornadas das Mulheres eAtividades Diárias

Devido às diferenças de ‘jornada de trabalho’ entrehomens e mulheres, elas são mais susceptíveis asmaiores complexidades e são multiusuárias emcomparação com a tradicional ideia do ininterrupto emono deslocamento (ir e voltar do trabalho), realizadopor trabalhadores de tempo integral do sexomasculino. As necessidades de uma multiusuária são

Page 5: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 64-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 64

muito mais difíceis de serem atendidas em cidadesestruturadas em torno de prioridades de zoneamentodo passado e descentralização (LENCLOS, 2002;REEVES, 2005; WARBURTON, 2009), focadas nodeslocamento único entre área residencial e detrabalho.

A cadeia complexidade de deslocamento e arealização de multitarefas são as principaiscaracterísticas de deslocamento da mulher e umresultado inevitável de tentar conciliar seus deveresdomésticos e de trabalho fora de casa(ROSENBLOOM, 1989; DOBBS, 2005; HAMILTON,et al, 2005; MCGUCKIN e MURAKAMI, 2007). Essadiferença de gênero tem sido o tema de sériainvestigação tanto por pesquisadores de transportemasculinos e femininos (KWAN, 1999; UTENG eCRESSWELL, 2008; HENSHER e REYES, 2010).

Por exemplo, a cadeia de deslocamento de umamulher pode ser a seguinte: uma mulher pode sair decasa, passar pela creche, escola ou babá para então irao trabalho. Na volta, sai do local de trabalho, passa naescola, creche ou babá e volta para casa, resultando emuma complexa cadeia de deslocamento. Este itineráriodiário é difícil de conseguir quando as áreas deempregos e residências foram separadas pelotradicional zoneamento de uso da terra, baseadas empercepções masculinas de funcionalidade espacial(HANSON e PRATT, 1995; UTENG e CRESSWELL,2008). Para as mulheres uma série de fatores entramem jogo em seu deslocamento urbano em menorproporção que para os homens, tais como segurançapessoal, vulnerabilidade a ser vítimas de assalto eestupro, iluminação pública, condições das calçadaspara acessibilidade e praticidade, pois muitas vezesestão acompanhadas de idosos ou crianças pequenas(BOOTH, et al, 1996). As jornadas de deslocamentodas mulheres são mal atendidas pelos sistemas detransporte público que foram projetados de formaradial e em tempo integral, imaginando o fluxo detrabalhadores durante os horários de pico. Assim, osserviços de transporte são mais limitados paramulheres trabalhadoras de meio expediente ou dehorários que não correspondem à jornada de trabalhopadrão. Por exemplo, antes da hora do rush começar,faxineiras já trabalharam várias horas em escritórios eas operárias de fábricas já saíram cedo e se deslocarampara fábricas na periferia da cidade (BROWNILL,2000). É claro que a má qualidade dos serviços detransporte também afetam homens, idosos e pessoascom deficiência (IMRIE e HALL, 2001; AGECONCERN, 2007; SCHOMOCKER, et al, 2010). Masas mulheres são desproporcionalmente afetadas porqueainda superam os homens como passageiras de ônibus(MCGUCKIN e MURAKAMI, 2007) e, muitos de

seus deslocamentos são feitos em cadeia (HENSHERe REYES, 2010), em horários fora de pico, em locaismenos frequentes e em trajetos inter suburbanos, quenão são priorizados pelas empresas de ônibus, maispreocupadas com deslocamentos na hora de pico e emdireção aos centros das cidades e vice­versa(HAMILTON, et al, 2005; UTENGO e CRESSWELL,2008).

Há ainda um problema particular no planejamentourbano que é ‘o horário de funcionamento da escola’.Levar os filhos para a escola pela manhã é umaatividade predominantemente feminina. Esta atividadecontribui apenas com 15% do tráfego da hora do rush,mas é amplamente condenada, por ‘tumultuar as ruas’(HAMILTON, 2000; HAMILTON, et al, 2005;DOBBS, 2005).

Claro que se pode dizer “bem, alguns homensseguem o horário de funcionamento da escola muitobem” e, sem dúvida alguma o seguem. Eles tambémexperimentam os mesmos problemas que as mulheresao fazer isso, tornando o caso ainda mais importantepara mudanças (SKINNER, 2005). Entretanto, asmulheres são a maioria nesse processo dedeslocamento para a escola, como mostrado naspesquisas de Dobbs (2005), Pickup e Whipp (1989),TUC (2002) e Hine e Grieco (2003). Muitas mulheresacham que é impossível usar o transporte público paralevar seus filhos para a escola e, em seguida, ir para otrabalho. Alegam que não há tempo para esperar porônibus pouco frequentes e, além disso, há muitostrajetos que não conectam locais escolares e detrabalho. Assim, elas usam carros, mesmo que maltenham condições para isso. Mas aquelas que usam otransporte público também podem ser acusadas de“sobrecarregar o sistema” e aglomerar os veículosdestinados aos usuários habituais (LENCLOS, 2002).Novos Problemas e Sustentabilidade

Uma nova geração de jovens planejadores detransporte verdes surgiu, jovens irritados embicicletas, que estão inflamados com ofundamentalismo ambiental. Eles justificam suasações em nome da sustentabilidade e, aparentemente,acima de qualquer censura por causa de seu zelo pelomeio ambiente e o respeito com o Planeta. Parecehaver pouca compreensão da complexa e essencialnatureza dos deslocamentos das pessoas,especialmente das mulheres e o fato de que otransporte público não fornece os trajetos, destinos ehorários que homens e mulheres necessitam.

Como resultado, muitas mulheres se deslocam emtorno das cidades — com dificuldade — usando suashabilidades de sobrevivência e conhecimento preciso

Page 6: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 65-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 65

dos horários dos ônibus locais, com tempo limitadopara realizar suas tarefas. O transporte público éinadequado, caro, pouco confiável e pouco frequente.Como Roberts e Eldridge (2009) comentam (aludindoa MASSEY, 1998, p. 163) “grande parte da vida demuitas pessoas, mesmo no coração do PrimeiroMundo, ainda consiste na espera, em um ponto deônibus com as suas compras, por um ônibus que nuncachega”. Por isso, é impraticável sugerir que todosdevem voltar para os transportes públicos, uma vezque os serviços já se deterioraram (HAMILTON,2000; WDS, 2000) e raramente atendem àsnecessidades das pessoas. Alguns grupos nuncativeram carros como prioridade, mas mesmo assim,descobrem suas necessidades deslocadas em favor defornecer instalações de 'park and ride' para usuáriospredominantemente masculinos.Provisão de banheiros públicos emrelação ao transporte

A Grande Estratégia de Banheiro da Cidade

Embora seja impossível, e além do escopo destetrabalho mudar os sistemas de transporte, nós podemospelo menos fazer recomendações. Por exemplo, aEUROFEM, uma influente rede de mulheresurbanistas da União Europeia, recomendou quedevemos avançar no desenvolvimento de alternativasde superar as cidades zoneadas, de baixa densidade.Elas recomendam o planejamento para a ‘cidade davida cotidiana’, que elas definem como a cidade decurtas distâncias, uso misto da terra urbana e múltiploscentros, tendo como o objetivo ideal localizações deinstalações que levem plenamente em conta asconsiderações de gênero (EUROFEM, 1998; FCM,2006). Tal estrutura da cidade iria beneficiar todos osgrupos sociais, reduzir a necessidade de deslocamento,criar cidades mais sustentáveis que seriam maisacessíveis, criando, ao mesmo tempo, maior qualidadedo ambiente urbano para todos. Proporcionaria maisempregos e facilidades em nível local e ajudaria arevitalizar áreas em declínio global (SKJERVEN,1993).

Entretanto, não se pode ‘por tudo abaixo e começarde novo’. Por enquanto, é preciso se dedicar às lacunasno sistema de transporte existente, procurandoadicionar o ‘elo perdido’ isto é, a provisão debanheiros. Para isso, precisamos desenvolver umplanejamento de uso de banheiros, uma estratégiaespacial para a cidade como um todo (macro), paraárea local (meso) e para áreas locais, em nível deblocos (micro). Isso foi recomendado no passado

(GREED, 2003; GERSHENSON e PENNER, 2009)campanhas foram realizadas para tornar isso possível.A provisão de banheiros é um tópico do planejamentodas cidades como qualquer outro sério e funcional usoda terra, que precisa ser planejado e organizado deforma racional, com base no levantamento da cadasituação, análise e desenvolvimento de políticas deplanejamento adequadas.Nível Macro — Cidade

Para decidir onde localizar banheiros públicos deuma forma não sexista em toda a cidade é necessáriolevar em conta a natureza diferente dos padrões dedeslocamento feminino. As mulheres são maispropensas a empreender deslocamentos em cadeia,desenvolvendo multitarefas, ao invés de monodeslocamentos. Assim como, a se deslocaremacompanhadas de filhos e outros membros da família,bem como a carregar compras e sacolas. Como ditoanteriormente, um típico deslocamento diário, emcadeia de uma mulher, pode considerar o trajeto dacasa para a babá, escola, trabalho e de volta dotrabalho, à escola, talvez ainda para o dentista, para aslojas, para comprar alimentos essenciais e depois paracasa. As mulheres que trabalham em bairros ou locaisadjacentes, ou fora nos parques industriais, são maispropensas a fazer deslocamentos mais tangenciais doque focados para o centro da cidade, criando uma redealternativa complexa de padrões de deslocamento.Tudo isso precisa ser levado em conta noplanejamento da provisão de banheiros na cidadecomo um todo e deve ser parte de um processo maisamplo de integração das considerações de gênero napolítica de planejamento urbano. Segundo Greed(2005a, b) é necessário um completo repensar sobrezoneamento, políticas locacionais e de transportes queconsiderem os diferentes padrões de deslocamentosdas mulheres.

Os deslocamentos, muitas vezes longos e comatrasos, levam a necessidade de instalações sanitáriasem redes de transporte, notadamente quando sãoinadequadas (LOTH, 2010). De fato, comomonitorado pela Organização Mundial de Banheiros,muitas extensões de prestígio dos sistemas de metrô dacapital, como a Linha Jubilee em Londres, e novasrotas em Paris, Washington e Los Angeles, nãopossuem nenhuma provisão de banheiros públicospara os passageiros.

Quantos banheiros são necessários e onde? Éimportante realizar um levantamento de todos osbanheiros ao quais o público tenha acesso tanto na ruaquanto fora da rua e os resultados devem serdesagregados de acordo com gênero (GREED, 2003;

Page 7: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 66-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 66

BTA, 2008). Muitas autoridades locais não têm umaestratégia ou plano de provisão de banheiros epossuem pequena consciência das necessidades debanheiros em vários locais, resultando em uma políticade localização fragmentada. Tais autoridades herdaramuma miscelânea de banheiros que foram construídosem épocas diferentes, por razões perdidas nas brumasdo tempo. É vital desenvolver uma hierarquia deprovisão de banheiros na cidade toda, com o maiornível de provisão nas áreas centrais, mas também embairros e áreas onde as necessidades mais concentradasexistam. Por exemplo, a estação ferroviária ourodoviária do centro da cidade é, muitas vezes, a portade entrada para o restante da cidade e, por isso, émuito importante que banheiros adequados sejamfornecidos como parte da estratégia integral detransporte para a cidade.

As mulheres são mais propensas a estarem fora decasa durante o dia, fazendo compras e realizandooutras tarefas essenciais, mas sem o benefício de umescritório ou hotel conveniente onde possam voltarrapidinho, caso precisem do banheiro enquantoestiverem longe de casa. Assim, as mulheres vão exigirum maior nível de provisão do que os homens emalguns locais. Por exemplo, em locais em que asmulheres sejam a maioria, como usuárias do transportepúblico, pedestres e compradoras. Se alguém andar porum shopping e fizer uma contagem mental, é provávelque as mulheres superem os homens em umaproporção de 20 homens para 80 mulheres. Noentanto, a provisão de banheiros para as mulheres noscentros urbanos na 'melhor das hipóteses' (em casosraros) é provável que seja em níveis ‘iguais’.Entretanto, geralmente, na proporção de provisão debanheiros é de 70 a 30, em favor dos homens. Não éde se admirar que haja longas filas para ao banheirofeminino, o que pesa no tempo diário gasto pelasmulheres.

Uma estratégia provisão de banheiros precisa levarem conta o tempo, bem como espaço urbano. Vivemosna era da cidade de 24 horas, a economia noturna emaior flexibilidade de padrões de trabalho diários. Osexismo é abundante na Inglaterra em relação aoaspecto da provisão de banheiros e as provisões desanitários públicos municipais foram fechados a umaproporção de 40% nos últimos dez anos, trazendoproblemas para mulheres que fazem compras,passageiros e todos que estão nas ruas durante o dia.

Em contraste, muitas autoridades locais têmintroduzido mictórios de rua para os beberrões do sexomasculino que têm aumento do nível de sujeira da ruadevido o consumo crescente de bebidas alcoólicas nosfinais de tarde e à noite. Mas nenhuma soluçãoalternativa é disponibilizada para as mulheres durante

o dia. Ao desafiar vários funcionários públicos sobre anatureza sexista da provisão de banheiros, foiafirmado que essa política não é discriminatória, poisesses mictórios não são banheiros públicos em si, masmecanismos que evitam a poluição da rua. O dever deigualdade de gênero (RTPI, 2003; GREED; REEVES,2005, DCLG, 2007) não é uma referência para apolítica de acesso aos mictórios que, se estivessemdisponíveis vinte e quatro horas por dia, seria umasolução melhor.Meso Nível — Distrital

O próximo nível a considerar na hierarquia deprovisão de banheiros na cidade é o nível de bairrolocal e o nível distrital, que pode ser caracterizado porsua própria rua ou local de compras, escolas, igrejas einstalações esportivas. A área pode variarconsideravelmente de acordo com o tamanho dacidade como um todo, bem como com sua densidade eidade. É preciso considerar se existe realmente umcentro local, visto que muitas cidades são cada vezmais descentralizadas e ‘americanizadas’(KUNSTLER, 1994), embora Nova York pareça sermuito mais uma cidade ‘europeia’.

Ao decidir que banheiros são necessários e onde,novamente é importante realizar um levantamento dasnecessidades dos usuários, seus padrões dedeslocamento e atividades e, ainda desagregar asinformações com base na idade. Diferentes tipos depessoas têm acesso a banheiros em diferentes tipos delocais fora das ruas. Por exemplo, os homens podemencontrar banheiros disponíveis em bares, instalaçõesdesportivas e locais industriais. As crianças vão querersanitários localizados em parques e áreas de lazer, emshoppings, mas também como um direito humanobásico nas escolas. As mulheres idosas têm­nos dito apartir da pesquisa, que elas querem banheirospróximos aos correios e bibliotecas, e que cadacemitério deveria ter banheiros acessíveis para asviúvas que visitam os túmulos de seus maridos. Oshomens mais velhos podem se sentir intimidados pormictórios públicos e querem a provisão de cubículos,que são acessíveis e privativos.

Há muito tempo as mulheres urbanistasrecomendaram a introdução de edifícios comunitários‘multiusos’ em áreas residenciais suburbanas(KUNSTLER, 1994; HAYDEN, 2002). As mães quetrabalham teriam nessa área uma série de cuidadospara com as crianças, idosos, suprimentos a seremcomprados após a escola, juntamente com adisponibilidade de banheiros públicos. O fato de que obanheiro é construído isoladamente, de formaescondida entre edifícios. Isso pode ser um reflexo da

Page 8: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 67-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 67

nossa atitude sexista e elitista em relação a banheirospúblicos, que precisam se tornar realidade. Osbanheiros devem ser vistos como elementos de direitoe da vida pública e não causadores de desordem. Épreciso colocá­los em locais visíveis, no centro depraças e ao lado de importantes edifícios e não terconstrangimentos em relação a eles. Os banheirospodem ser visíveis e ter uma arquitetura fabulosa,sendo parte do projeto urbano (ROBERTS; GREED,2001) e de cidades sustentáveis, habitáveis, acessíveis,com ruas de uso misto e vibrantes, à la Jane Jacobs(JONES, et al, 2007 ).

Todos também disseram que queriam banheiroslocalizados ao lado das principais estradas e nosestacionamentos do seu destino. Uma questãofundamental que surgiu em nossa pesquisa é anecessidade de, pelo menos, mínimas provisõesbásicas em regiões menos povoadas, periféricas erurais (GREED; DANIELS, 2002). Até mesmo locaisisolados podem, de repente, explodir em vida e, emseguida, o fator de intensidade de banheiros entra emjogo. Por exemplo, uma pequena povoação apáticapode parecer uma candidata improvável para aconstrução de um alto nível de provisão de banheiros.Mas, uma vez por semana uma feira ou mercado podeaparecer no povoado e centenas de pessoas chegamcom seus filhos e todos precisam de banheiros. Damesma forma lugares bonitos e distantes, parquesnacionais, locais à beira­mar, que são geralmentetranquilos, de repente podem ser inundados quandodez ônibus chegam ‘de uma só vez’ repletos de,predominantemente, mulheres, idosos, todos querendousar o banheiro. Tal como acontece com esgotos edefesas contra inundações é importante construirbanheiros para permitir o máximo de volume possívelde pessoas. O ‘fator intervalo’ também precisa serlevado em conta. Em locais onde haverá um monte degente querendo usar o banheiro de uma só vez, duranteum curto espaço de tempo, como nos recreiosescolares, intervalos de teatro, meio tempo de jogos,etc., então é muito importante fazer um alto nível deprovisão, especialmente para as mulheres, que acabamna fila por muito tempo e perdem toda a segundametade de atividades que estão sendo desenvolvidas.

As instalações desportivas são as piores para asmulheres. Enquanto os homens estão horrorizados coma ideia de que as mulheres deveriam ter mais banheirose, é provável que seja dito que nenhum dinheiro estádisponível, em contraste, oficialmente autorizada àsprovisões de banheiros em estádios de futebol está nabase de 90:10 ou 80:20, na melhor das hipóteses, afavor dos homens (INGLIS, 1993). Em muitos dosestádios de esportes masculinos podem acontecer umfestival pop ou uma reunião evangélica e como

resultado a composição de gênero da multidão ésusceptível de ser metade mulher, e assim não hábanheiros suficientes para o sexo feminino. Assoluções incluem uma abordagem mais flexível deconversão de banheiros masculinos em instalaçõespara mulheres, e até mesmo, como na Escandinávia, selivrar totalmente de mictórios para que as instalaçõespossam ser utilizadas por ambos os sexos.

Após anos de campanha, os requisitos de paridadesanitária na América do Norte já foram atingidos emalguns estados, mas isso levou a um granderessentimento entre os homens quando eles descobremque tem que ficar na fila também, e eles não aguentamcomo as mulheres (ANTHONY, 2001). No ReinoUnido, há pouca orientação do governo sobre os níveisde provisão de banheiros públicos, e tem sido deixadaao critério das autoridades governamentais locais. Masnovas normas foram publicadas no ano passado pelo“comitê de instalações sanitárias do Instituto dePadrões Britânicos” (British Standards Institute) (BSI,2010), como o número de banheiros que devem serfornecidos para homens e mulheres. Este novo padrãofoi produzido, depois de um processo muito longo edifícil, por um pequeno comitê de especialistas, compoucos membros do sexo feminino.

A provisão de banheiros em áreas locais deve sercuidadosamente situada de modo a torná­lo utilizávelpor todos. Os sanitários não devem estar localizadosfora da vista, pelos becos ou escondidos por arbustos.As instalações para ‘Senhoras’ e ‘Senhores’ nãodeveriam necessariamente ser localizadas ao lado dooutro, especialmente se as instalações dos homensatrair comportamentos antissociais. Os banheirosdevem ser concebidos de uma forma que sejamacessíveis, sem degraus, sem entradas estreitas e umaboa iluminação por dentro e por fora. Não hánecessidade de isolar os banheiros de outros edifícios,integrando­as com o centro turístico local, quiosque deinformações ou café pode reduzir o vandalismo eeconomizar custos.

Banheiros públicos podem ser ‘reforçados’ se elesforem alocados em forma de instalaçõescompartilhadas, com agências de correios, delegaciase bibliotecas e de fato tal arranjo pode criar ‘calma noolho da tempestade’. Colocá­los junto a cabinestelefônicas e pontos de ônibus, já vulneráveis, ondedissolutos, jovens bêbados do sexo masculino, saempara passear e podem ter problemas com a justiça.Beber na rua (e urinar) é particularmente um problemaem países do norte Europeu, como a Grã­Bretanha,onde temos a cultura baseada em beber ‘cerveja’,contra a mais refinada ‘cultura do vinho’ do Sul daEuropa ou a idade mais elevada permitida para bebernos EUA.

Page 9: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 68-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 68

Micro Nível — Detalhado

As mulheres são as principais usuárias desanitários públicos e metade dos usuários de banheirosdomésticos, mas elas raramente são consultadas sobreo projeto de banheiros, o qual é baseado no modelomasculino de necessidade, e das dimensõesergonômicas do sexo masculino. Como vimos osbanheiros das mulheres são uma reflexão tardia, umostentação cara a ser considerada depois que as ‘reais’necessidades dos homens são satisfeitas. (Por outrolado, se os urinóis são tão importantes para os homens,por que cada banheiro doméstico não tem um? Pois amaioria dos homens têm claramente dificuldade emacertar o vaso sanitário em suas próprias casas). Érecomendável que o dobro do número de banheirosseja fornecido para as mulheres, mas calculado a partirde que valor base? Há muitos debates a respeito dequantos banheiros são necessários por população. Osmembros da Associação Britânica de Sanitários têmrecomendado que “uma autoridade local deve fornecernada menos do que 1 cubículo para cada 500 mulherese crianças do sexo feminino e um cubículo e ummictório para cada 1100 homens, e não menos do queum cubículo unissex para uso de pessoas comdeficiência para cada 10.000 habitantes e não menosde uma instalação de trocador de fraldas unissex paracada 10.000 pessoas habitando na área"(CUNNINGHAN; NORTON, 1993). A ‘população’relevante em questão também deve incluir usuários detransporte público habituais, turistas e visitantes, bemcomo residentes.

Esse padrão deve ser usado no cálculo deinstalações em relação ao centro das cidades, ruascomerciais, necessidades de passageiros transporteferroviário, terminais rodoviários, estacionamentos,etc. Esta é uma possibilidade, há outras fórmulas epadrões a serem encontrados em todo o ExtremoOriente, onde tem havido uma revolução de banheiros,como manifestado nas conferências anuais daOrganização Mundial de Banheiros. Ao determinar osníveis de provisão de banheiros para mulheres ehomens, os estudos precisam ser elaborados com basena bacia de capacitação, população residente,população flutuante/visitante, idade dos usuários etodos os tipos de variáveis. Novamente, a melhorsolução é fazer um trabalho de pesquisa, descobrir oque os usuários precisam, perguntar o que as pessoasreais querem (MIYANISHI, 1996).

Tendo em conta as exigências de maiores níveis deprovisão para as mulheres, a área a ser alocada paramulheres e homens seria totalmente diferente, com obloco dos banheiros femininos parecendo

substancialmente maior do que os dos Cavalheiros.Mas isso já seria o caso se apenas a relação de 1:1 deparidade fossem atingidas, porque as mulheresprecisam ser providas de cubículos individuais, queocupam mais espaço do que os mictórios masculinos,que podem acomodar um número muito maior deusuários em um espaço pequeno. Mas a diferença deárea seria ainda mais acentuada se 2:1 de provisão, afavor das mulheres fossem dadas, como recomendadosob os novos padrões e como já é o caso nas zonasturísticas muito utilizados no Japão, onde as filas nosbanheiros femininos não existem mais. A introduçãodo Dever de Igualdade de Gênero na Grã­Bretanha(REEVES; GREED, 2005) e a recente introdução da'paridade de sanitários' em Nova York já deveriam tertido resultados, mas há muitas lacunas e armadilhas(ANTHONY, 2001). Na Grã­Bretanha as novas regrasnão são retrospectivas e poucas instalações estãosendo construídas. Mas o ‘espaço importa’: o tamanhodo bloco do sanitário e o número de cubículos reflete aestima e a posição das mulheres na sociedade. Dentrodo banheiro, o design e as dimensões do cubículosanitário é uma questão crucial, tendo em conta que asmulheres sempre usam o cubículo, enquanto oshomens podem usá­lo apenas ocasionalmente.

Também quem viaja pode ter bagagem, malas,mochilas, carrinhos e outros itens volumosos queprecisam ser levados com eles para o banheiro, a fimde evitar que sejam roubados. Portanto, nos banheirosdeve haver um espaço adequado para as pessoaslevarem seus pertences com elas. Vejamos os várioselementos. A porta é um importante componente e se aabertura é para dentro, pode reduzir área para ousuário virar e sentar no assento. Há vários exemplosde banheiros em que o ponta da porta encosta na partefrontal do sanitário, dificultando seu uso. Deve haversempre uma área razoável entre a porta e o assento,pelo menos, 450 milímetros, de preferência mais. Asportas dos banheiros dizem muito sobre a cultura deuma nação. Na América do Norte, especialmente nosEUA, geralmente há um enorme espaço debaixo daporta, provavelmente porque você não quer qualquercomportamento inadequado acontecendo entre oshomens no banheiro masculino. Isso tem sido aplicadode maneira impensada nos banheiros das mulherestambém? Em alguns países, as portas tem aberturaspara ventilação e ninguém é tão rude a ponto de olharpara dentro. Há muitos banheiros no mundo semabsolutamente nenhuma porta, especialmente empaíses onde a vida é mais comunitária e a privacidadeainda não foi inventada.

Deveria haver espaço suficiente ao redor do vasosanitário para se sentar no assento, sem se esfregarcontra as paredes. Na Grã­Bretanha, muitas vezes,

Page 10: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 69-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 69

percebemos que existe um enorme rolo de papelhigiênico na parede acima do vaso. Então, no outrolado, é provável que haja uma enorme lixeira deplástico que é para a eliminação de absorventessanitários e tampões. Isto frequentemente encosta oufica suspenso acima do assento tornando quaseimpossível sentar. A solução é um cubículo maior, comdutos de eliminação integrados na parede de trás, ousimplesmente um cordão sanitário, de 450mm ao redordo vaso, onde nada pode ser colocado.

A disposição atual dos elementos é sexista, pois sesupõe que a menstruação seja uma questão tãopequena que pode ser dispensada por uma lixeiratemporária de plástico ao invés de um componenteintegral do encanamento sanitário e eliminação deresíduos. A chegada dessas lixeiras há alguns anosatrás foi o resultado de uma legislação ambientalinapropriada que classificava os resíduos sanitários,como resíduos clínicos, necessitando de coleta em umalixeira especial. Ninguém se preocupou em resolver asimplicações de espaço desta disposição dentro de umcompartimento de banheiro já lotado.

Muitas mulheres não se sentam no vaso porqueelas têm medo de sentar no resíduo de urina daocupante anterior. Alguns banheiros públicos oferecemcoberturas automáticas de papel nos assentos, o que éreconfortante, ao passo que, muitas mulheres vão usarpapel higiênico para cobrir o assento antes de sentar,bloqueando assim os ralos. Os homens sempre deixamo assento para cima, embora eu tenha visto em meucatálogo de encomendas, ‘Coisas Úteis’, que agoravocê pode comprar um assento que desce sozinhodepois de alguém urinar!

Mas por que estamos todos sentados? Esta é umaparticularidade ocidental e o debate entre sentar ouagachar­se transcorre no âmbito da OrganizaçãoMundial de Banheiros. O agachamento éergonomicamente mais eficaz (como o parto natural).Mas o agachamento é visto hoje como algo atrasado,rural e muçulmano (e, portanto, não cristão), quandona verdade, provavelmente a maioria da populaçãomundial, particularmente nos países emdesenvolvimento se agacha ao invés de sentar. Naverdade, apenas as nações desenvolvidas usam papelhigiênico, limpar­se com água usando a mão esquerdaé comum entre os muçulmanos e em várias outrasculturas orientais. Um banheiro não sexista deveincluir a escolha de pelo menos um banheiro combacia turca e fornecimento de água no cubículo. Ondeo papel higiênico é oferecido, ele deve ser limpo efácil de pegar, não comprimido em alguma engenhocade plástico impenetrável que não vai desenrolar.Muitas mulheres usam papel higiênico para se secarapós urinar e assim ele vai tocar uma de suas áreas

mais íntimas. Não é de admirar que muitas mulherescarregam seu próprio papel e lenços de papel. Apóster usado o banheiro é importante fornecer instalaçõesdecentes de lavar e secar, com água quente e sabonete.O fornecimento de sistemas infravermelhos paraabertura e fechamento do cubículo, sistemas dedescarga e fluxo de água não é apenas não sexista,mas, mostra o respeito a todos os usuários. Ocomentário final sexista é dizer que há filas dosbanheiros femininos, porque as mulheres gastammuito tempo fazendo sua maquiagem, na verdade estanão é nem mesmo uma declaração lógica. Em muitosbanheiros públicos as mulheres teriam medo dedemorar mais do que o necessário, por causa do medode crimes e germes. Mas, é sempre mais fácil ‘culparas mulheres’ e supor que elas são culpadas pelas filasem vez de fornecer mais instalações.

O cubículo sanitário não existe no isolamento, háuma necessidade de uma área de transição entre ocubículo e a rua. Isso é importante para a paz deespírito quando formar a fila e também é um local deesperar por amigos, de deixar um carrinho de bebê, ouagir como uma barreira para alcançar um maior nívelde privacidade. As mulheres são muito cautelosas comas portas dos banheiros que se abrem diretamente paraa rua, onde você não pode ver em que está pisando, ouquem está à espreita do lado de fora. Um simples olhomágico que dá para ver quem está na porta seria útilcomo encontrado em alguns banheiros no ExtremoOriente. Deveria ter muito espaço de circulação nosbanheiros, espaço para cadeiras de rodas, bagagem,carrinhos de bebê, compras, e crianças, em nossapesquisa algumas pessoas queriam trazer seus cães ebicicletas também.

Apesar de ser preferível ter blocos de banheirosseparados para homens e mulheres (por razõesculturais e práticas), para aqueles acompanhados porcuidadores do sexo oposto é necessário que hajainstalações unissex também.

Ao invés de ter um banheiro especial paradeficientes, há muito aspectos a favor de se tercubículos sanitários maiores e integrados paraportadores de deficiência dentro do bloco principal dobanheiro. Na América do Norte, a Lei de Americanoscom Deficiências e a Lei de Barreiras Arquitetônicas(Americans with Disabilities Act and ArchitecturalBarriers Acts), juntamente com os padrões UFAS(Uniform Standards Acessibilidade Federal) garantemque um banheiro para pessoas com deficiência ‘deveser uma característica de todos os banheiros’. Muitoprogresso foi feito também em muitos paíseseuropeus, por exemplo, com as Leis contra aDiscriminação por Deficiência (DisabilityDiscrimination Acts) sendo passadas no Reino Unido

Page 11: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 70-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 70

(GOLDSMITH, 2000; IMRIE e HALL, 2001). Damesma forma deveria haver instalações adequadaspara crianças e fraldários para bebês.

Há debates ainda, quanto ao fato da necessidade dehaver instalações para amamentação dentro dosbanheiros. Em um mundo não sexista ideal,provavelmente esta seria uma atividade absolutamentenatural que deveria acontecer ao ar livre. Contudo, naatual situação cultural esta provisão tem sido discutida,para proteger as lactantes de olhares indiscretos.

Embora todos estes aspectos discutidos sejamimportantes no cotidiano, no momento, o banheiropúblico ‘pântano padrão’ continua a ser inadequadopara muitos e, fundamentalmente sexista em suaconcepção, sendo que uma abordagem mais acessíveldeve ser necessária (HANSON, et al, 2007). Todos ostipos de pessoas são ‘deficientes’ pela ênfase atual emsatisfazer as necessidades do homem jovem, saudável,de quadris estreitos que carrega apenas um jornalenrolado nas mãos. A estratégia é atender a umadiversidade de necessidades dentro das ‘mesmas’instalações, adotando uma abordagem universalistapara design de sanitários (GOLDSMITH, 2000), queinclui as necessidades de todos, resultariam emverdadeiros banheiros de palácios, que estariamabertos 24 horas com uma gama completa deinstalações localizadas em locais centrais muitousados.

Este nível de provisão não seria possível em todosos lugares, mas a estratégia é de proporcionar umahierarquia de provisão de banheiros com base nasdemandas locais, com pelo menos um nível mínimo deprovisão em cada ponto crítico/local de conflito debanheiro.

O programa atual de espaço interno parece serbaseado em um desejo de controle, redução de custos,economias, padronização das unidades para menos enunca para mais. Por exemplo, é prática comumsubstituir uma linha tradicional de banheiros por umaAPC (Automatic Public Convenience). APCs são asmelhores instalações unissex, mas não deveriam serfornecidas como a única opção disponível, pois elassão impróprias para uso intenso. Mesmo as versõesmaiores tem pouco espaço para carrinhos e ocupaçõescompartilhados (mãe e filho). A maioria das APCs nãosão gratuitas e cada vez mais tem que se pagar parausar o banheiro. Mas pode­se argumentar que asmulheres já pagam por esses serviços públicos atravésdos seus impostos locais e é hora de terem algo emretorno. Mas, as mulheres ainda são vistas como umadespesa extra e longe de fazer banheiros gratuitos paratodos, agora, vemos as catracas de volta, e todos tendoque pagar.

Conclusão: Um Bem Essencial ou umaPerda de Recursos

Devemos encarar o fato de que banheiros públicoscustam dinheiro e parafraseando Milton Friedman, emúltima análise, “não há tal coisa, como um xixigratuito” e banheiros custam dinheiro para manter.Embora, sem dúvida, já pagamos por banheiros eoutros serviços públicos, através dos nossos impostosnacionais e locais, recursos financeiros para banheirosnão estão no topo da agenda. Projetar e construir umbanheiro não sexista é apenas metade da batalha. Umbanheiro permanecerá utilizável se for bem cuidado,limpo e gerenciado. Temos argumentado a partir dapesquisa que os funcionários de banheiros sãoessenciais para reduzir o vandalismo e fornecer umapresença essencial, mantendo os olhos noestabelecimento.

Se você tiver banheiros muito frequentados, então,o projeto pode ser mais aberto e acessível, ao passoque se você tiver banheiros desocupados, então, énecessário projetar o banheiro como uma fortalezapara evitar danos. A natureza do projeto dependefundamentalmente se o bloco do banheiro éfrequentado ou não. Eu uso a palavra ‘ocupado’propositadamente como acho que é uma tendênciaperturbadora de que onde há funcionários de banheiroseles são geralmente do sexo masculino, nos banheirosfemininos, também, o que pode ser bastantedesanimador .

Os fornecedores municipais de banheiros públicosconstantemente se queixam de que não há dinheiropara investir em sanitários. Contudo, gastam odinheiro dos contribuintes em exemplos muitocriticados de arte pública, salários enormes para altosfuncionários, instalações desportivas principalmentepara os homens e várias outras iniciativasextravagantes. Eu diria que não há realmente uma faltade dinheiro, mas sim, é tudo uma questão deprioridades e, portanto, é uma questão de perspectivacultural e experiência de vida dos próprioslegisladores. Não há tal coisa de dinheiro do governo,é todo o nosso dinheiro arrecadado dos impostoslocais e nacionais. Muitos argumentariam que jápagaram por nossos banheiros públicos através dosnossos impostos e por quê devemos pagar a segundavez no ponto de entrega? Banheiros públicos são umdos poucos benefícios concretos que as mulheres,idosos e pessoas com deficiência realmente dão valore eles ficam muito angustiados ao descobrir que,apesar de aumentos enormes nos impostos locais,essas instalações tão necessárias estão sendo fechadas.Por quê isso não os deixa mais irritados? Com certezaa paciência, a confiança e a obediência aos poderes

Page 12: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 71-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 71

são os maiores pecados a partir da perspectivafeminista e nunca vão resultar em ‘igualdade urinária’.Apesar dos olhares que recebo nas filas de banheirosfemininos, eu gosto de entrar um pouco em‘evangelismo de banheiro’, falando sobre os direitosfemininos a um público cativo. Parafraseando Marx,muitas mulheres estão sofrendo de falsa consciência[de classe] sanitária.

Por quê não é um grande problema político? E,reciprocamente, por quê o governo não leva a sério osbanheiros? O que aconteceu com o orgulho cívicomanifestado em gerações anteriores? Por quê nãosomos nós ‘esplêndidos em nossas vias públicas’?Grande parte da resposta se resume ao sexismo e aofato de que muitos políticos, decisores e gestores têmmuito pouca ideia das vidas das pessoas comuns, nóssomos invisíveis para eles.

É muito importante trazer o programa desustentabilidade para o nível de vida cotidiana daspessoas comuns e certificar­se de que os banheirossejam fornecidos para permitir que todos,especialmente as mulheres, mas também os idosos,deficientes e pessoas com crianças pequenas e bebês,possam acessar e utilizar facilmente os sistemas detransportes urbanos e, portanto, serem capazes dedesempenhar as suas funções e jornadas diárias.

A provisão de banheiros públicos é, muitas vezes,visto como uma perda de recursos, um poço sem fundoem investimentos financeiros. Com vista a alcançaruma melhor provisão de banheiros é importantediscutir o negócio, quer dizer que ‘banheirossignificam negócios’ (BTA, 2008). Se existir umaprovisão adequada de banheiros então as pessoas vãoficar mais tempo na cidade, elas vão gastar maisdinheiro em compras, entretenimento e turismo. Oscidadãos serão mais saudáveis e custarão aoempregador e aos provedores de saúde menosdinheiro. O caso da sustentabilidade funciona bemtambém. Nós argumentamos a partir de nossa pesquisaque, se o governo quer que as pessoas saiam de seuscarros e voltem para os transportes públicos,caminhadas e ciclismo, então, os banheiros públicossão o elo perdido. Isto porque se as pessoas não têm oseu carro elas simplesmente não podem ir até ao postode serviço mais próximo para usar os banheiros, oudirigir ao restaurante fast food mais próximo.Banheiros são essencialmente uma instalação local quetem que estar a uma curta distância. Estes argumentossão particularmente importantes nas cidades onde háplanos para introduzir custos de congestionamento ououtras restrições sobre o transporte em automóvelparticular.

Não se pode esperar que as pessoas usem otransporte público, a menos que seja acessível e

equipado com as comodidades necessárias, incluindobanheiros e, claro, preços razoáveis. Na verdade, ‘tudose resume a banheiros em última análise’ e ‘toda avida humana está lá ‘.

__________________________* Tradução de Silvana Hilgemberg2 A Organização Mundial de Sanitários estima que

cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo têm provisõesinadequadas de banheiros, além da falta de águacorrente, eletricidade e infraestrutura moderna(MARA, 2006; GEORGE, 2008; BLACK eFAWCETT, 2008).

3 Quando a família dispõe de um automóvel, emgeral, ele fica sob a guarda e uso masculino.

4 A Pesquisa do Uso do Tempo no Reino Unido(UKTUS — The UK Time Use Survey) realizada peloInstituto Nacional de Estatística tem monitorado aquantidade exata de tempo utilizado por mulheres ehomens nos cuidados com as crianças durante váriosanos (EOC, 2005; KALENKOSKI, et al, 2005).

5 Expressão que significa um estacionamentodentro dos terminais de transporte público quefacilitam a integração entre o transporte privado(carro) e o público (trens, metrôs ou ônibus).

6 Outro exemplo de sexismo impensado.

Referências

AGE, Concern. Nowhere to go: Public provision inthe UK, London. Age Concern, 2007ANTHONY, Kathryn. Designing for diversity:Gender, race and ethnicity in the architecturalprofession. Chicago: University of Illinois Press, 2001BAGILHOLE, Barbara . Understanding equalopportunities and diversity: The socialdifferentiations and intersections of inequality. Bristol:Policy Press, 2009BLACK, Maggie; FAWCETT, Ben. The last taboo:Opening the door on the global sanitation crisis.London: Taylor and Francis and Earthscan, 2008BOOTH, C; DARKE, J; YEANDLE, Sue. ChangingPlaces: Women’s lives in the city. London: PaulChapman, 1996.

Page 13: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 72-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 72

BRUNTLAND Report . Our common future, worldcommission on environment and development.Oxford: Oxford University Press, 1987.BS1. BS 6465 Part 4: Code of practice for theprovision of public toilets. London: British StandardsInstitute, 2010.BTA. Better Public Toilets: A providers’ guide to theprovision and management of ‘away from home’toilets. Winchester: British Toilet Association, 2008.BUCKINGHAM­HATFIELD, Susan. Gender andEnvironment . London: Routledge, 2000.CAVANAGH, Sheila. Queering Bathrooms: Gender,sexuality, and the hygienic imagination. Toronto:University of Toronto Press, 2010.CIC. Gathering and reviewing data on diversitywithin the construction professions. London:Construction Industry Council, London and theUniversity of the West of England Bristol, 2009.COLEMAN, Charlotte. Women, transport and cities:an overview an agenda for research, In Women andthe City: Visibility and Voice in Urban Space(DARKE, J; LEDWITH, S; WOODS, R) Palgrave,London, pp. 83­97,2000.CUNNINGHAM, Susan; NORTON, Christine. Publicinconveniences: Suggestions for improvements.London: All Mod Cons & the Continence Foundation,1993.DARKE, Jane; LEDWITH,Sue; WOODS,Roberta.Women and the city: Visibility and voice in urbanspace. Oxford: Palgrave, 2000.DCLG. PPS1: Delivering Sustainable Development,Planning Policy Statement. London: Department ofCommunities and Local Government, 2005.DCLG. Gender equality scheme. London:Department of Communities and Local Government,2007.DFT. Public transport gender audit. London:Mobility Unit, Department of Transport, 2000.DOBBS, Lynn. Wedded to the car: women,employment and the importance of private transport.Transport Policy. v. 12, Issue 3, pp. 266­278, 2005.

EOC. Time use and childcare. London: EqualOpportunities Commission, available at Disponível em: < http://www.dad.info/b/assets /time_use.pdf>)Acesso 16 abril 2011ESRC. Britain in 2011: The state of the nation.Swindon: Economic and Social Research Council,Swindon, (research undertaken annually), 2011.EUROFEM. Gender and human settlementsconference on local and regional sustainablehuman development from a gender perspective:Conference Proceedings of the Eurofem Network(European Women in Planning). Eurofem,Hämeenlina, Finland, 1998.FCM. A city tailored to women: The role ofmunicipal governments in achieving gender equality.Montreal: Federation of Canadian Municipalitiesavailable at Disponível em :www.ville.montreal.qc.ca/femmesetville Acesso:2006.FINCHER,Ruth; IVESON, Kurt. Planning anddiversity in the city. London: Palgrave Macmillan,2008.GILROY, Rose. Places that support humanflourishing: lessons from later life, Planning Theoryand Practice, v.9, No.2, pp 145­163, 2008.GEORGE, Rose. The big necessity: Adventures in theworld of Human waste. London: Portobello, 2008.GERSHENSON, Olga; PENNER, Barbara. Ladiesand gents: Public toilets and gender. Philadelphia:Temple University Press, 2009.GLA. An urgent need: The state of London’s toilets.London: London Assembly and Greater LondonAuthority, Health and Public Services Committee,2006.GOLDSMITH, Selwyn. Universal sesign: A manualof practical guidance for architects. Oxford:Architectural Press, 2000.GREED, Clara. Women and planning: Creatinggendered realities. London: Routledge, 1994.GREED, Clara. Planning for women and otherdisenabled groups, Environment and Planning A, v.28, p. 573­588, 1996.

Page 14: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 73-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 73

GREED, Clara. Introducing planning. London:Athlone, 2000.GREED, Clara. Inclusive urban design: Publictoilets. Oxford: Architectural Press, 2003GREED, Clara. Overcoming the factors inhibiting themainstreaming of gender into spatial planning policyin the United Kingdom. Urban Studies,v 42, n 4, pp.1­31, 2005.GREED, Clara. An Investigation of the effectivenessof gender mainstreaming as a means of integrating theneeds of women and men into spatial planning in theUnited Kingdom. Progress in Planning, Manchester,vl. 64, Part 4, pp 239­321, 2005.GREED, Clara. A Place for Everyone: Report onmainstreaming gender into spatial planningManchester. Oxfam UK Poverty and RegenerationRegender.Programme, 2007GREED, Clara. Are we there yet?: Women andtransport revisited, Gendered Mobilities, Uteng,P.T.;Cresswell, T. (eds)). Aldershot: Ashgate, chapter 16,pp. 243­256, 2008.GREED,Clara; DANIELS,Isobel. User and providerperspectives on public toilet provision. NuffieldTrust funded research, Occasional Paper, University ofthe West of England, Bristol, 2002.GREED,Clara.; REEVES, Dory. Mainstreamingequality into strategic spatial policy making: are townplanners losing sight of gender? ConstructionManagement and Economics. Special Issue onDiversity and Equality in Education, v.23, No.10, pp.1059­1070, 2005.HAMILTON, Kerry. Public transport audit london.London: DETR Mobility Unit undertaken byUniversity of East London, 2000.HAMILTON, Kerry., JENKINS, Linda; HODGSON,Frances; TURNER, Jeff. Promoting gender equalityin transport. Manchester: Equal OpportunitiesCommission, Manchester, Working Paper, n 34, 2005.HAMMERSLEY, Martyn; ATKINSON, Paul.Ethnography: Principles in practice. London:Tavistock, 2002.HANSON, Susan; PRATT, Geraldine. The Friction ofdistance and gendered geographies of employment.

Gender, Work and Space. London: Routledgechapter 4 ,pp. 93­119, 1995.HANSON, Julienne; BICHARD, Jo­Anne; GREED,Clara. The accessible toilet resource manual.London: University College London, 2007.HARVEY, David. Social justice and the city.London: Arnold, 1975HAYDEN, Dolores. Redesigning the americandream. New York: Norton, 2002.HENSHER. David; REYES, April. Trip­chaining as abarrier to the propensity to use public transport,Transportation,v, 27, n.4, pp 341­361, 2010.HINE, J; GREICO, M. Scatters and clusters in timeand space: implications for delivering integrated andinclusive transport. Transport Policy, v. 10, pp 299­360, 2003.IMRIE,Robert; HALL, Petter. Inclusive Design:Designing and developing accessible environments.London: Spon, 2001.INGLIS, Simon. Toilet facilities at stadia: Planning,design and types of installation. London: SportsCouncil in association with the Football Trust, 1993.JARVIS, Hellen; KANTOR, Paula; CLOKE,Jonathan. Cities and gender, London: Routledge,2009.JONES, Peter; ROBERTS, Marion; MORRIS, Linda.Rediscovering mixed­use streets: the contribution oflocal high streets to sustainable communities. Bristol:Policy Press, 2007KALENKOSHI, Charlene; RIBAR, David;STRATTON, Leslie. Parental Child Care in SingleParent, Cohabitating, and Married­Couple Families:Time­Diary Evidence from the United Kingdom, TheAmerican Economic Review, v 95, No.2, pp 194­194, 2005.KUNSTLER, James. The Geography of Nowhere:the rise and decline of American’s man­madelandscape. New York: Touchstone,1994.KWAN, Mei­Po. Gender, the Home­Work Link, andSpace­Time Patterns of Non­Employment Activities.Economic Geography. v. 75, Issue4, pp. 370­394.October, 1999.

Page 15: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 74-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 74

LENCLOS, Marie. Inclusive design: Access toLondon transport. London: Royal College of Art,2002.LITTLE, Jo; PEAKE, Linda; RICHARDSON, Pat.Women in cities: Gender and the urban environment.London: Macmillan, 1988.LOTH, Marion. The provision of train toilets oninter­city European Union trains. Delft:Technological University of Delft, the Netherlands,2010.MARA, D.Modern engineering interventions to reducethe transmission of diseases caused by inadequatedomestic water supplies and sanitation in developingcountries. Building Services and EngineeringResearch and Technology, v 27, no 2, pp 75­84,2006.MATRIX. Making Space: Women and the man­madebuilt environment. London: Pluto, 1984.MASSEY, Doreen. Spatial divisions of labour: socialstructures and the geography of production. London:Macmillan, 1984.MASSEY, Doreen. Space, Place and Gender.Cambridge: Polity Press, 1998.MCGUCKIN, Nancy; MURAKAMI, Elaine.Examining trip­chaining behaviour: comparison oftravel by men and women. Transportation ResearchBoard of the National Academies. v, 1693, pp 79­85,2007.MIYANISHI, Yutaka. Comfortable public toilets:Design and maintenance manual. Toyama: CityPlanning Department, Japan, 1996.MOLOTCH, Harvey; NOREN, Laura . Toilet: Publicrestrooms and the politics of sharing. New York: NewYork University Press, 2010.ONS. Social trends. London: Office of NationalStatistics, 2010.PANELLI, Ruth. Social geographies: From differenceto action. London: Sage, 2004.PICKUP, Laurie; WHIPP, Richard. (eds) . Gender,transport and employment: the Impact of TravelConstraints. Aldershot: Avebury, 1989.

REEVES, Dory. Planning for diversity: Policy andplanning for a world of difference. London:Routledge,2005.ROBERTS, Marion. Living in a man­made world.London: Routledge, 1991.ROBERTS, Marion; ELDRIDGE, Adam. Planningthe night­time economy. London: Routledge, 2009.ROSENBLOOM, R. Trip chaining behaviour: andcomparative and cross­cultural analysis of the travelpatterns of working mothers. GRIECO, M., PICKUP,L., and WHIPP, R. (eds.) Gender, Transport andEmployment. Avebury: Oxford Studies in Transport,chapter 4, pp.75­87, 1989.RTPI . Gender mainstreaming toolkit (D. Reeves &C. Greed (eds.), London: Royal Town PlanningInstitute, London, Disponível em : < www.rtpi.org.uk>, 2003.SCHMOKER, Jan­Dirk; FENGMING, Su; Noland,Robert. An analysis of trip­chaining among olderLondon residents. Transportation, v 37, No.1, pp105­13, 2010.SKINNER, Christine. Coordination points: a hiddenfactor in reconciling work and family life. Journal ofSocial Policy, v. 34, pp 99­119, 2005.SKJERVEN, Randi . Manual of alternativemunicipal planning. Oslo: Ministry of Environment,1993.STIMPSON, Catharine; DIXLER, Elsa; NELSON,Martha; YATRAKIS, Kathryn. (eds.) Women and theamerican city. Chicago: University of Chicago Press,1981.TUC. Women and Work: Gender inequality in thenorth east labour market. TUC: London, 2002.UN. The Rio declaration: United conference on theenvironment at Rio de Janeiro: Conferenceproceedings. New York: United Nations, 1992.UTENG, Tanu Priya.; CRESSWELL, Tim. GenderedMobilities. Aldershot: Ashgate, ch.16, pp. 243­256,2008.WARBURTON, A. Sex and the city: A study into thegender equality duty and women and planning inurban areas of England. Leeds Metropolitan

Page 16: Greed, C. (2012) A relacao generificado entre o zonamento ... · hierarquia espacial de banheiros para atender às necessidades das mulheres e dos homens. Concluise, ... Manchester)

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 75-75, ago. / dez. 2012.

A relação generificada entre o zoneamento urbano dotransporte público e as implicações para a provisão debanheiros públicos

Clara Henrietta Greed 75

University, unpublished MA Town and RegionalPlanning Dissertation, 2009.WDS. Women and local transport plans. London:Women’s design service and see. Disponível em <www.gendersite.org >, 2000.WDS. Cycling for women. London: Women’s DesignService, 2005.WHATMORE, S; LITTLE, Jo. Gender andgeography. London: Association for CurriculumDevelopment, 1988.

Recebido em: 20 de novembro de 2011.Aceito em: 20 janeiro de 2012.