hakim bey caos panfletos do anarquismo ontologico

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CAOS: OS PANFLETOS DO ANARQUISMO ONTOLÓGICO Por Hakim Bey tradução: Daniel Pellizzari (dp) e Patrícia Décia & Renato Resende (pr). (Uma versão desse texto foi lançado unido a “Comunicados da Associação para a Anarquia Ontológica”, no livro Caos, Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares -- Conrad Editora do Brasil -- 2003, com tradução de Patricia Decia & Renato Resende. www.conradeditora.com.br ) Repertório: Caos: Os panfletos do Anarquismo Ontológico (dp) .Caos (dp) .Terrorismo Poético (dp) .Amour Fou (dp) .Crianças Selvagens (dp) .Paganismo (dp) .Sabotagem Artística (pr) .Os Assassinos (pr) .Pirotecnia (pr) .Mitos do Caos (pr) .Pornografia (pr) .Crime (pr) .Feitiçaria (pr) .Publicidade (Dedicado a Ustad Mahmud Ali Abd al-Khabir)

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  • CAOS:

    OS PANFLETOS DO ANARQUISMOONTOLGICO

    Por Hakim Bey

    traduo: Daniel Pellizzari (dp) e Patrcia Dcia & Renato Resende (pr).

    (Uma verso desse texto foi lanado unido a Comunicados da Associao para a Anarquia Ontolgica, nolivro Caos, Terrorismo Potico & Outros Crimes Exemplares -- Conrad Editora do Brasil -- 2003, comtraduo de Patricia Decia & Renato Resende. www.conradeditora.com.br)

    Repertrio:

    Caos: Os panfletos do Anarquismo Ontolgico

    (dp) .Caos(dp) .Terrorismo Potico(dp) .Amour Fou(dp) .Crianas Selvagens(dp) .Paganismo(dp) .Sabotagem Artstica(pr) .Os Assassinos(pr) .Pirotecnia(pr) .Mitos do Caos(pr) .Pornografia(pr) .Crime(pr) .Feitiaria(pr) .Publicidade

    (Dedicado a Ustad Mahmud Ali Abd al-Khabir)

  • CAOS

    O CAOS NUNCA MORREU. Bloco no-lapidado primordial, nico monstro venervel, inerte eespontneo, mais ultra-violeta do que qualquer mitologia (como as sombras frente Babilnia), aoriginal e indiferenciada unidade-do-ser ainda se irradia serena como as flmulas negras dosAssassinos1, aleatria & perpetuamente intoxicada.

    O Caos surgiu antes de todos os princpios de ordem & entropia, no nem um deus nem umverme, seus desejos insensatos circundam & definem todas as coreografias possveis, todos osteres & flogistons: suas mscaras so cristalizaes de seu prprio rosto inexistente, como nuvens.

    Tudo na natureza perfeitamente real, incluindo a conscincia; no h absolutamente nada com oque se preocupar. No apenas os grilhes da Lei foram quebrados; eles nunca existiram: demniosnunca vigiaram as estrelas, o Imprio nunca se iniciou, Eros nunca deixou a barba crescer.

    No, oua, o que aconteceu foi o seguinte: eles mentiram para ti, venderam-te idias de bem & mal,fizeram-te perder a confiana em teu prprio corpo & sentir vergonha por teus dons de profeta docaos, inventaram palavras de desprezo para teu amor molecular, te hipnotizaram com distraes, teentediaram com a civilizao & todas suas emoes usurrias.

    No h transformao, nem revoluo, nem luta, nem caminho; j s o monarca de tua prpria pele tua liberdade inviolvel espera para ser completada apenas pelo amor de outros monarcas: umapoltica de sonho, urgente como o azul do cu.

    Para desfazer todos os direitos & hesitaes ilusrios da histria, necessria a economia de umalendria Idade da Pedra: xams ao invs de padres, bardos ao invs de senhores, caadores ao invsde policiais, coletores dotados de preguia paleoltica, gentis como sangue, saindo nus por a oupintados como pssaros, equilibrados na onda da presena explcita, o agora-e-sempre atemporal.

    Agentes do caos deitam olhares flamejantes sobre qualquer coisa ou pessoa capaz de prestartestemunho sua condio, sua febre de lux et voluptas. Estou desperto apenas naquilo que amo &desejo ao ponto do terror: todo o resto apenas moblia coberta, anestesia cotidiana, merda nacabea, tdio subreptiliano de regimes totalitrios, censura banal & dor intil.

    Avatares do caos agem como espies, sabotadores, criminosos do amour fou, nem generosos nemegostas, acessveis como crianas, educados como brbaros, esfolados por obsesses,desempregados, sensualmente tresloucados, lobos angelicais, espelhos para contemplao, olhoscomo flores, piratas de todos os signos & sentidos.

    C estamos nos arrastando pelas rachaduras nos muros da igreja estado escola & fbrica, todos osmonlitos paranides. Cortados da tribo por uma nostalgia furiosa, escavamos em busca de palavrasperdidas, bombas imaginrias.

    O ltimo feito possvel aquele que define a percepo em si, um invisvel cordo dourado que nosconecta: dana ilegal nos corredores do tribunal. Se eu te beijasse aqui eles chamariam isso de atode terrorismo: vamos ento levar nossas pistolas para a cama & acordar a cidade meia-noite, comobandidos bbados celebrando com uma fuzilaria a mensagem do gosto do caos.

  • TERRORISMO POTICO (TP)

    ESTRANHAS DANAS NOS SAGUES de Bancos 24 Horas. Shows pirotcnicos noautorizados. Arte terrestre2, trabalhos telricos como bizarros artefatos aliengenas espalhados emParques Nacionais. Arrombe casas mas, ao invs de roubar, deixe objetos Potico-Terroristas. Raptealgum e faa-o feliz. Escolha algum aleatoriamente e convena-o de que ele herdeiro de umaenorme, fantstica e intil fortuna: digamos 8000 quilmetros quadrados da Antrtida, ou um velhoelefante de circo, ou um orfanato em Bomba, ou uma coleo de manuscritos alqumicos. Maistarde, ele ir dar-se conta de que acreditou por alguns poucos momentos em algo extraordinrio, &talvez, como resultado, seja levado a buscar uma forma mais intensa de viver.

    Pregue placas comemorativas de lato em locais (pblicos ou privados) onde experimentaste umarevelao ou tiveste uma experincia sexual particularmente especial, etc.

    Ande nu por a.

    Organize uma greve em sua escola ou local de trabalho, com a justificativa de que no esto sendosatisfeitas suas necessidades de indolncia & beleza espiritual.

    A Arte do grafitti emprestou alguma graa metrs horrendos & rgidos monumentos pblicos. Aarte Potico-Terrorista tambm pode ser criada para locais pblicos: poemas rabiscados embanheiros de tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte xerocadadistribuda sob limpadores de pra-brisa de carros estacionados, Slogans em Letras Grandesgrudados em muros de playgrounds, cartas annimas enviadas a destinatrios aleatrios ouescolhidos (fraude postal), transmisses piratas de rdio, cimento fresco...

    A reao da audincia ou o choque esttico produzido pelo Terrorismo Potico deve ser pelo menosto forte quanto a emoo do terror: nojo poderoso, excitao sexual, admirao supersticiosa,inspirao intuitiva repentina, angstia dadasta no importa se o Terrorismo Potico direcionado a uma ou a vrias pessoas, no importa se "assinado" ou annimo; se ele no muda avida de algum (alm da do artista), ele falhou.

    O Terrorismo Potico um ato em um Teatro de Crueldade que no tem palco, nem assentos,ingressos ou paredes. Para funcionar, o TP deve ser categoricamente divorciado de todas asestruturas convencionais de consumo de arte (galerias, publicaes, mdia). Mesmo as tticasguerrilheiras Situacionistas de teatro de rua j esto muito bem conhecidas e esperadas, atualmente.

    Uma requintada seduo levada adiante no apenas pela satisfao mtua, mas tambm como umato consciente por uma vida deliberademente mais bela: este pode ser o Terrorismo Poticodefinitivo. O Terrorista Potico comporta-se como um aproveitador barato cuja meta no dinheiro,mas MUDANA.

    No faa TP para outros artistas, faa-o para pessoas que no percebero (pelo menos por algunsmomentos) que o que acabou de fazer arte. Evite categorias artsticas reconhecidas, evite apoltica, no fique por perto para discutir, no seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos,vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faa algo que as crianas lembraro pelo resto davida mas s seja espontneo quando a Musa do TP tenha te possudo.

    Fantasia-te. Deixa um nome falso. Seja lendrio. O melhor TP contra a lei, mas no seja pego.Arte como crime; crime como arte.

  • AMOUR FOU (AF)

    O AMOUR FOU NO uma Democracia Social, no um Parlamento de Dois. As atas de suasreunies secretas lidam com significados enormssimos mas muito precisos para a prosa. No isso,no aquilo: seu Livro de Emblemas treme em tua mo.

    Naturalmente ele caga em mestres-escola & na polcia, mas do mesmo modo zomba deliberacionistas & idelogos: no uma sala limpa e bem iluminada. Um charlato topolgico dispsseus corredores & parques abandonados, seu intrincado mosaico de negro brilhante & vermelhomanaco e membranoso.

    Cada um de ns tem a metade do mapa: como dois potentados renascentistas ns definimos umanova cultura com nossa anatematizada mescla de corpos, mistura de lquidos as costurasImaginrias de nossa Cidade-Estado borra-se em nosso suor.

    O anarquismo ontolgico nunca voltou de sua primeira pescaria. Enquanto ningum delatar para oFBI, o CAOS no est nem a para o futuro da civilizao. O Amour fou nasce apenas por acidente seu objetivo primrio a ingesto da galxia. Uma tramia da transmutao.

    Sua nica preocupao com a Famlia reside na possibilidade de incesto ("Crie os seus!" "Cadahumano, um Fara!") mais sincero dos leitores, minha semelhana, meu irmo/irm! & namasturbao de uma criana ele encontra escondida (como em um intrincado brinquedo oriental) aimagem da desagregao do Estado.

    As palavras pertencem queles que as usam apenas at que outro algum roube-as de volta. OsSurrealistas se desgraaram por vender amour fou mquina-fantasma da Abstrao em suainconscincia, buscaram apenas o poder sobre os outros, & nisto seguiram de Sade (que queria"liberdade" apenas para brancos crescidos, para que pudessem eviscerar mulheres e crianas).

    O Amour fou est saturado com sua prpria esttica, enche-se at as prprias fronteiras com astrajetrias dos prprios gestos, funciona com relgios angelicais, no um destino prprio paracomissrios & lojistas. Seu ego evapora-se na mutabilidade do desejo, seu esprito comunal definha-se no egosmo da obsesso.

    O Amour fou envolve uma sexualidade incomum, da mesma forma que a feitiaria exige umaconscincia incomum. O mundo ps-Protestante anglo-saxo canaliza toda sua sexualidadesuprimida na publicidade & divide-se em bandos que se chocam: histricos pudicos versus clonespromscuos & antigos-ex-solteiros. AF no quer unir-se a nenhum dos exrcitos, no toma partidona Guerra dos Sexos, entedia-se com oportunidades iguais de trabalho (na verdade ele recusa-se atrabalhar para viver), no reclama, no explica, nunca vota & nunca paga impostos.

    AF gostaria de ver cada bastardo ("criana do amor") vir a termo e nascer AF prospera emengenhos anti-entrpicos AF adora ser molestado por crianas AF melhor que oraes,melhor que sensimlia3 AF leva sua prpria lua & suas palmeiras por onde quer que v. AFadmira o tropicalismo, a sabotagem, o break dance, Layla & Majnun4, os odores de plvora eesperma.

    O AF sempre ilegal, quer esteja disfarado como um casamento ou como uma tropa escoteira sempre embriagado, seja no vinho de suas prprias secrees ou na fumaa de suas prpriasvirtudes polimrficas. No um tresloucamento dos sentidos, mas sim sua apoteose no oresultado da liberdade, mas sim sua pr-condio. Lux et voluptas.

  • CRIANAS SELVAGENS

    O INSONDVEL CAMINHO LUMINOSO da lua cheia meia-noite em meio a Maio em algumEstado americano que comea com "I", to bidimensional que dificilmente pode-se dizer que possuialguma geografia os raios to prementes & tangveis que precisas traar as nuances para pensarcom palavras.

    Est fora de questo escrever para as Crianas Selvagens. Elas pensam em imagens para eles aprosa um cdigo ainda no completamente digerido & ossificado, assim como nunca completamente confivel para ns.

    Voc pode escrever sobre elas, para que outros que perderam a cadeia prateada possam seguiradiante. Ou escrever por elas, fazendo da ESTRIA & do EMBLEMA um processo de seduodentro de tuas prprias memrias paleolticas, um brbaro engodo para a liberdade (caos como oCAOS o entende).

    Para esta espcie do outro mundo, ou "terceiro sexo", les enfants sauvages, a fantasia & aImaginao ainda permanecem indiferenciadas. Um BRINCAR desenfreado: ao nico & mesmotempo a fonte de nossa Arte & de todos os mais raros erotismos da raa.

    Abraar a desordem como manancial de estilo & depsito voluptuoso, ponto fundamental de nossacivilizao aliengena & oculta, nossa esttica conspiratria, nossa espionagem luntica esta aao (vamos encarar os fatos) tanto de um artista de qualquer tipo como de algum de dez ou trezeanos de idade.

    Crianas cujos sentidos clarificados lhes revela uma brilhante feitiaria de lindo prazer que refletealgo ferino & obsceno na natureza da prpria realidade: anarquistas ontolgicos naturais, anjos docaos seus gestos & odores corporais espalham a seu redor uma floresta de presena, umacompleta hilia de prescincia com cobras, armas ninja, tartarugas, xamanismo futurista, incrvelbaguna, mijo, fantasmas, luz do sol, ejaculaes, ovos & ninhos de aves agresso exultantecontra os adultos ranzinzas daqueles Planos Inferiores to impotentes para englobar tanto epifaniasdestrutivas quanto criaes sob a forma de extravagncias, frgeis mas suficientemente afiados parafatiar o luar.

    E ainda assim os habitantes destas dimenses inferiores de guas revoltas realmente acreditam quecontrolam os destinos das Crianas Selvagens & aqui em baixo, tais crenas nocivasefetivamente esculpem a maior parte da substncia do cotidiano.

    Os nicos que realmente desejam compartilhar o destino daninho daqueles fugitivos selvagens ouguerrilhas menores ao invs de dit-las, os nicos que podem entender que acalentar & desatrelarso o mesmo ato estes so em sua maioria artistas, anarquistas, pervertidos, hereges, um bando parte (tanto um do outro quanto do mundo), ou capazes de se encontrar apenas como devemcrianas selvagens, cravando olhares atentos atravs de uma mesa de jantar enquanto os adultostagarelam por detrs de suas mscaras.

    Muito jovens para estarem em uma gangue de motoqueiros fracassados, danarinos de rua, poetasescassamente pubescentes de cidadezinhas planas e perdidas um milho de fagulhas caindo dosfoguetes de Rimbaud & Mogli esguios terroristas cujas bombas espalhafatosas so condensadasde amor polimrfico & dos preciosos quinhes de cultura popular pistoleiros punks sonhando emfurar suas orelhas, ciclistas animistas deslizando na penumbra de estanho atravs de ruas ponteadas

  • por flores acidentais nudistas ciganos fora de temporada, sorridentes e dissimulados ladres detotems de poder, escassos trocados & facas com lmina de pantera ns os sentimos em todos oslugares ns publicamos esta oferta para negociar a corrupo de nossa prpria lux et gaudium porsua perfeita torpeza gentil.

    Compreenda: nossa realizao e nossa liberao dependem da deles no porque nsarremedamos a Famlia, aqueles "avarentos de amor" que mantm refns para um futuro banal, nemo Estado que nos educa para afundar sob o horizonte de eventos de uma "utilidade" tediosa No mas porque ns & eles, os selvagens, somos imagens uns dos outros, unidos & confinados poraquela cadeia prateada que define o mbito da sensualidade, da transgresso & da viso.

    Dividimos os mesmos inimigos & nossos meios de fuga triunfal so tambm os mesmos: um jogodelirante e obssessivo, fortalecido pelo brilho espectral dos lobos & suas crianas.

    PAGANISMO

    CONSTELAES PELAS QUAIS orientar a barca da alma.

    "Se o muulmano entendesse o Isl ele se tornaria um idlatra" - Mahmud Shabestari

    Elegu5, horrendo abridor de portais com um gancho em sua cabea & bzios como olhos, negrocharuto de santeria & um copo de rum o mesmo que Ganesh6, gorducho garoto dos Incios, comcabea de elefante, que cavalga um rato. O rgo que sente as atrofias numinosas com os sentidos.Aqueles que no podem sentir baraka7 no podem conhecer a carcia do mundo.

    Hermes Poimandres8 ensinou a animao dos eidolons, a incorporao mgica de cones porespritos mas aqueles que no podem realizar este rito em si mesmos & em todo o tecidopalpvel do ser material herdar apenas tristeza, lixo, decadncia.

    O corpo pago torna-se uma Corte de Anjos que percebem todos este lugar este mesmo arvoredo como um paraso ("Se h um paraso, certamente aqui!" inscrio em um porto de umjardim Mughal9). Mas o anarquismo ontolgico por demais paleoltico para escatologias ascoisas so reais, a feitiaria funciona, espritos da mata unos com a Imaginao, morte como umadesagradvel impreciso a trama das Metamorfoses de Ovdio , um pico de mutabilidade. Amitologia pessoal.

    O Paganismo ainda no inventou leis apenas virtudes. Sem sacerdcio, sem teologia oumetafsica ou moral apenas um xamanismo universal onde ningum atinge a real humanidadesem uma viso. Comida dinheiro sexo sono sol areia & sensmila amor verdade paz liberdade &justia. Beleza. Dionsio o garoto bbado em uma pantera ranoso suor adolescente Phomem-bode abre caminho atravs da terra slida at sua cintura como se estivesse no mar, sua peleincrustada de musgo & lquen Eros se multiplica em uma dzia de jovens caipiras nus com psembarrados & limo de aude em suas coxas.

    Raven, o trapaceiro do potlatch10, s vezes um garoto, uma velha, pssaro que roubou a lua, agulhas

  • de pinheiro flutuando em um aude, cabea de totem Heckle/Jeckle, corvos coristas com olhos deprata danando na pilha de lenha o mesmo que Semar, o corcunda albino hermafrodita marionetede sombras, patrono da revoluo Javanesa.

    Yemanj, estrela azulada, deusa marinha & padroeira dos bichas o mesmo que Tara, aspectocinza-azulado de Kali11, colar de crnios, danando no rgido lingam12 de Shiva13, lambendonuvens de mono com sua lngua enormssima o mesmo que Loro Kidul, a deusa marinhaverde-jaspe javanesa, que concede o poder de invulnerabilidade a sultes atravs de intercursotntriko em torres & cavernas mgicas.

    Sob um ponto de vista o anarquismo ontolgico extremamente vazio, desprovido de quaisquerposses & qualidades, pobre como o prprio CAOS mas sob outro ponto de vista ele pulula com amesma beleza barroca dos Templos da Foda de Katmandu ou de um livro de emblemas alqumicos esparrama-se em seu div comendo loukoum14 & acolhendo noes herticas, uma mo dentrode suas calas frouxas.

    Os cascos de seus navios piratas so laqueados de negro, as velas triangulares so vermelhas,bandeiras negras exibindo uma ampulheta alada.

    Um imaginrio Mar do Sul Chins, prximo de uma costa coberta por uma floresta de palmeiras,apodrecidos templos dourados dedicados deuses de bestirios desconhecidos, ilha aps ilha, abirsa como mida seda amarela na pele nua, navegando por estrelas pantestas, hierofania sobrehierofania, luz sobre luz contra a escurido luminosa & catica.

    SABOTAGEM ARTSTICA (SA)

    A SABOTAGEM ARTTSTICA ESFORA-SE para ser perfeitamente exemplar mas ao mesmotempo retm um elemento de opacidade no propaganda, mas choque esttico pavorosamentedireta ainda que sutilmente direcionada ao-como-metfora.

    Sabotagem Artstica o lado escuro do Terrorismo Potico criao-atravs-da-destruio masno pode servir a nenhum Partido, a nenhum niilismo, nem mesmo propria arte. Da mesma formaque o banimento da iluso faz com que a percepo se acentue, a demolio da praga estticaadocica o ar do mundo do discurso, do Outro. A Sabotagem Artstica serve apenas conscincia, ateno, ao despertar.

    A SA vai alm da parania, alm da desconstruo a crtica definitiva ataque fsico em arteofensiva jihad esttico. A mais leve mancha de trivial ego-icidade ou mesmo de gosto pessoalarruna sua pureza & vicia sua fora. A SA no pode nunca buscar o poder apenas liber-lo.

    Trabalhos artsticos individuais (mesmo os piores) so, em sua maioria, irrelevantes a SAprocura causar danos s instituies que usam a arte para diminuir a conscincia & lucrar com ailuso. Este ou aquele poeta ou pintor no pode ser condenado por falta de viso mas as Idiasmalignas podem ser atacadas atravs dos artefatos por elas geradas. A MUZAK15 criada para

  • hipnotizar & controlar seu maquinrio pode ser esmagado.

    Queimar livros em pblico por que caipiras & funcionrios do governo devem ter o monopliodessa arma? Romances sobre crianas possudas por demnios; a lista de bestsellers do New YorkTimes; tratados feministas sobre pornografia; livros escolares (especialmente Estudos Sociais,Moral e Cvica, Sade); pilhas de New York Post, Village Voice & outros jornais de supermercado;compilaes escolhidas de editores cristos; alguns romances da Harlequin uma atmosferafestiva, garrafas de vinho & baseados passados em crculo em uma clara noite de outono.

    Jogar dinheiro fora na Bolsa de Valores foi Terrorismo Potico bastante razovel mas destruir odinheiro teria sido boa Arte Sabotagem. Atacar transmisses de TV & transmitir alguns poucosminutos pirateados de arte Caota incendiria seria um feito de TP mas simplesmente explodir atorre de transmisso seria uma Sabotagem Artstica perfeitamente adequeada. Se certas galerias &museus merecem um tijolo ocasional em suas janelas no destruio, mas uma sacudidela nacomplacncia ento o que dizer dos BANCOS? Galerias transformam a beleza em mercadoria,mas bancos transmutam a Imaginao em fezes e dvidas. No ganharia o mundo um grau de belezacom cada banco que pudesse ser estremecido... ou derrubado? Mas como? A Arte Sabotagem deveprovavelmente manter-se longe da poltica ( to entediante) mas no de bancos.

    No faa piquetes vandalize. No proteste desfigure. Quando feira, concepes pobres &desperdcios estpidos forem forados a voc, torne-se um Ludita16, jogue o sapato no mecanismo,retalie. Esmague os smbolos do Imprio em nome da nada alm do anseio do corao pela virtude.

    OS ASSASSINOS

    ATRAVESSANDO O BRILHO DO deserto & ganhando as montanhas policromadas, nuas & ocre,violeta pardo & terracota, no alto de um vale dissecado azul, os viajantes encontram um osisartificial, um castelo fortificado em estilo sarraceno, guardando um jardim escondido.

    Como convidados de Hassan-i Sabbah, o Velho da Montanha, eles sobem os degraus cortados napedra que levam at o castelo. Aqui, o Dia da Ressurreio veio & passou os do lado de dentrovivem fora do Tempo profano, que mantido a distncia com lanas & veneno.

    Por trs de torres crenuladas & de longas janelas talhadas, estudiosos & fedains velam em estreitascelas monolticas. Mapas do cu, astrolbios, destiladores & retortas, pilhas de livros abertos sob aluz da manh uma cimitarra descoberta.

    Cada um dos que entram no reino do Im-de-seu-prprio-ser transforma-se num sulto de revelaoinversa, num monarca da anulao & da apostasia. Num aposento central, entrecortado pela luz &adornado com uma tapearia de arabescos, eles se recostam em almofadas & fumam longosnarguils de haxixe perfumado com pio & mbar.

    Para eles, a hierarquia do ser compactou-se num ponto adimensional do real as correntes da Leiforam quebradas eles terminam seu jejum com vinho. Para eles, o exterior de todas as coisas ointerior delas, sua face verdadeira revela-se diretamente. Mas os portes do jardim esto camuflados

  • com terrorismo, espelhos, rumores de assassinos, trompe loeil, lendas.

    Rams, vrios tipos de amoras, caquis, a melancolia ertica dos ciprestes, rosas de Shiraz dedelicadas ptalas cor-de-rosa, jardineiras com alo & benjoim de Meca, os caules rgidos das tulipasotomanas, tapetes abertos como jardins artificiais sobre gramados verdadeiros um pavilho inteirodecorado com um mosaico de caligramas um salgueiro, um riacho repleto de agries do brejo uma fonte sob cristais geomtricos o escndalo metafsico que so as odaliscas banhando-se oscriados negros brincando de esconde-esconde, molhados, por entre a folhagem "gua, verdura,belos rostos".

    Ao cair da noite, Hassan-i Sabbah, como um lobo civilizado de turbante, debrua-se no parapeitosobre o jardim & contempla o cu, estudando pequenos asterismos de heresia no ar fresco & semrumo do deserto. verdade que nesse mito alguns discpulos aspirantes podem receber o comandode arremessarem-se do alto das muralhas para a escurido mas tambm verdade que alguns delesvo aprender a voar como feiticeiros.

    O emblema de Alamut persiste em nossas mentes, uma mandala ou circulo mgico perdido nahistria, mas entalhado ou impresso na conscincia. O Velho passa rapidamente, como umfantasma, por dentro das tendas dos reis & dos aposentos dos telogos, atravessa todas as trancas &passa por todas as sentinelas que usam tcnicas ninja/muulmanas j esquecidas, deixandopesadelos, estiletes sobre os travesseiros, subornos poderosos.

    O perfume de sua propaganda embebe-se nos sonhos criminosos do anarquismo ontolgico, aherldica de nossas obsesses exibe as lustrosas bandeiras negras dos Assassinos... todospretendentes ao trono de um Egito Imaginrio, um contnuo espao/luz oculto consumido porliberdades ainda no imaginadas.

    PIROTECNIA

    INVENTADA PELOS CHINESES, mas nunca desenvolvida para a guerra um bom exemplo deTerrorismo Potico uma arma usada para disparar choques estticos em vez de matar oschineses odiavam a guerra & costumavam entrar em luto quando os exrcitos se levantavam aplvora era mais til para espantar demnios malignos, deleitar crianas, saturar o ar com umabruma de bravura & com o cheiro de perigo.

    Rojes de terceira categoria da provncia de Kwantung, foguetes, borboletas, M-80s, girassis,"Uma Floresta na Primavera" clima de revoluo acenda seu cigarro com a espoleta chamuscadade um rojo negro imagine o ar repleto de lmures & ncubos, espritos opressores, policiaisfantasmas.

    Chame um garoto com um basto em brasa ou um fsforo aceso apstolo-xam de enredos devero de plvora estilhace a noite escura com pitadas & cascatas de estrelas infladas, arsnico &antimnio, sdio & calomelano, um corisco de magnsio & um silvo estridente de picrato depotassa.

  • Mande brasa (negro-de-fumo & salitre) a ferro & fogo ataque o banco ou a horrvel igreja de seubairro com velas romanas & foguetes prpura-dourados, de sopeto & anonimamente (talvezlanados da carroceria de uma picape em movimento).

    Construa estruturas entrelaadas com vigas de metal nos tetos dos edifcios de companhias deseguro ou escola serpente cundalini ou drago do Caos verde-brio enrolado contra um fundo deamarelo-sdio No Pise em Mim ou monstros copulando & arremessando bolas de fogo na casade velhos batistas.

    Escultura de nuvens, escultura de fumaa & bandeiras = Arte do Ar. Obras de Terra. Fontes = Arteda gua. E fogos de artifcio. No se apresente patrocinando pelos Rockefeller & com a autorizaoda polcia para uma audincia de amantes da cultura. Evanescentes bombas-mentais incendirias,mandalas assustadoras inflamando-se em esfumaadas noites suburbanas, aliengenas nuvensverdades da peste emocional detonadas por raios vajra17 azuis de orgnio18, fogos de artifcios alaser.

    Cometas que explodem com odor de haxixe & carvo radioativo demnios do pntano & fogos-ftuos assombrando os parques pblicos falso fogo-de-santelmo piscando sobre a arquitetura daburguesia correntes de pequenos fogos de artifcio caindo no cho da Assemblia Legislativa salamandras-elementais19 atacando conhecidos reformados de moral.

    Goma-laca flamejante, acar do leite, estrncio, piche, gua viscosa, fogo chins por algunsmomentos o ar puro oznio uma nuvem opala de pungente fumaa de drago/fnix seespalhando. Por um instante, o Imprio cai, seus prncipes & governadores fogem para sua podridosatnica & nebulosa, penachos de enxofre dos elfos atiradores de chamas queimando suas bundaschamuscadas, enquanto eles recuam. O Assassino-criana, psique de fogo, mantm o poder por umabreve noite escaldante da estrela Srio.

    MITOS DO CAOS

    Caos invisvel (po-te-kitea)Indomvel, intransponvel Caos da escurido absoluta Intocado & intocvel -- canto Maori

    O Caos empoleira-se numa montanha de cu: um pssaro gigantesco, como uma asa-delta amarelaou uma bola de fogo vermelha, com seis ps & quatro asas ele no tem rosto, mas dana & canta.

    Ou o Caos um co negro de plos compridos, cego & surdo, sem as cinco vsceras.

    Caos, o Abismo, anterior a tudo, depois vem a Terra/Gaia, & ento o Desejo/Eros. Desses trssurgiram dois pares rebo & Noite ancestral, ter & Luz diurna.

  • Nem Ser, nem No-serNem ar, nem terra, nem espao:o que estava escondido? onde? sob a proteo de quem?O que era a gua, profunda, insondvel?Nem morte, nem imortalidade, dia ou noite...mas o UNO soprado por si mesmo, sem vento.Nada mais. Escurido envolvendo escurido, gua no-manifesta.O UNO, escondido pelo vazio, sentiu a gerao do calor, tornou-se serna forma de Desejo, primeira semente da Mente...O que estava por cima e o que, por baixo?Existiam semeadores, existiam poderes:energia embaixo, impulso em cima.Mas quem pode ter certeza?-- Rig Veda

    Tiamat, o Oceano de Caos, expele lentamente de seu ventre Lama & Saliva, os Horizontes, o Cu &Sabedoria lquida. Esses rebentos crescem barulhentos & pretensiosos ela pensa em destru-los.

    Mas Marduk, o deus da guerra babilnico, levanta-se em rebelio contra a Velha Bruxa & seusMonstros do Caos, totens infernais o Verme, a Ogre Fmea, o Grande Leo, o Cachorro Louco, oHomem Escorpio, a Tempestade Trovejante drages vestindo suas glrias como deuses - & aprpria Tiamat uma serpente marinha gigante.

    Marduk a acusa de fazer os filhos se rebelarem contra os pais ela ama Neblina & Nuvens,princpios da desordem. Marduk ser o primeiro a reinar, a inventar o governo. Durante a batalha,ele trucida Tiamat & com o seu corpo encomenda o universo material. Inaugura o imprio daBabilnia - & ento, com os midos & as tripas sangrentas do filho incestuoso de Tiamat, ele cria araa humana para servir aos deuses para sempre & aos altos sacerdotes & reis sacramentados.

    Zeus Pai & os deuses do Olimpo travam guerra contra Me Gaia & os Tits, esses partidrios doCaos, da velhas formas de caa & coleta, das longas andanas sem destino, da androginia & dalicenciosidade das bestas.

    Amon-Ra (Ser) senta-se sozinho no Oceano do Caos primordial da MADRE masturbando-se &criando todo os outros deuses mas o Caos tambm se manifesta como o drago Apophis a quemRa deve destruir (juntamente com seu estado de glria, sua sombra & sua mgica) para que o farapossa governar com segurana um ritual de vitria recriado diariamente nos templos Imperiaispara confundir os inimigos do Estado, da Ordem csmica.

    Caos Hun Tun, Imperador do Centro. Um dia, o Mar do Sul, Imperador Shu, & o Mar do Norte,Imperador Hu (shu hu relmpago), visitaram Hun Tun, que sempre os recebeu bem. Desejandoretribuir sua gentileza, eles disseram: "Todos os seres tm sete orifcios para ver, ouvir, comer,cagar etc. mas o pobre velho Hun Tun no tem nenhuma! Vamos perfurar alguns nele!" E assimfizeram um orifcio por dia at que, no stimo dia, o Caos morreu.

    Mas... o Caos tambm um enorme ovo de galinha. Dentro dele, Pan-ku nasce & cresce por 18 milanos finalmente o ovo se abre, divide-se entre cu & terra, yin & yang. Ento Pan-ku transforma-se na coluna que sustenta o universo ou talvez se torna o universo (respirao >> vento, olhos >>sol & lua, sangue & fludos >> rios & mares, cabelo & clios >> estrelas & planetas, esperma >>prolas, medula >> jade, suas pulgas >> seres humanos etc.).

  • Ou, ainda, transforma-se no homem/monstro, Imperador Amarelo. Ou transforma-se em Lao-ts,profeta do Tao. Na verdade, o pobre velho Hun Tun o prprio Tao.

    "A msica da natureza no existe alm das coisas. As vrias aberturas, gaitas, flautas,todos os seres vivos, juntos, formam a natureza. O EU no pode produzir coisas & ascoisas no podem produzir o EU, que existe por si mesmo. As coisas so o que soespontaneamente, no por causa de alguma outra coisa. Tudo natural sem saber porque o . As 10 mil coisas tem 1o mil estados diferentes, todos em movimento como seexistisse um Senhor Verdadeiro para mov-las mas, se procuramos por evidnciasdesse Senhor, no conseguimos encontr-las." (Kuo Hsiang).

    Cada conscincia iluminada um "imperador", cuja nica forma de reinado no fazer nada parano atrapalhar a espontaneidade da natureza, o Tao. O "sbio" no o prprio Caos, mas um dosseus servidores leais uma das pulgas de Pan-ku, um pedao de carne do filho monstruoso deTiamat. "Cu Terra", diz Chuang-ts, "nasceram no mesmo momento em que eu nasci, & eu & as10 mil coisas formamos um ser nico".

    O Anarquismo Ontolgico tende a discordar apenas da total quietude do taosmo. Em nosso mundo,o Caos tem sido destitudo por jovens deuses, moralistas, falocratas, padres-banqueiros, senhoresadequados para escravos. Se a rebelio provar-se impossvel, pelo menos algum tipo de guerra santaclandestina deve ser iniciada. Que ela siga as bandeiras da guerra do drago negro anarquistas,Tiamat, Hun Tun.

    O Caos nunca morreu.

    PORNOGRAFIA

    NA PRSIA EU VI que a poesia feita para ser musicada & cantada por uma razo simples porque funciona.

    Uma combinao perfeita de imagem & melodia coloca o pblico num hal (algo entre um estado deesprito emocional/esttico & um transe de supraconscincia), exploses de choro, impulsos dedana uma mensurvel resposta fsica arte. Para ns, a ligao entre poesia & corpo morreujunto com a poca dos bardos lemos sob influncia de um gs anestesiante cartesiano.

    No norte de ndia, mesmo a recitao no-musical provoca barulho & movimento, todo bom verso aplaudido, "Bravo!" com elegantes movimentos de mos, & rpias so lanadas enquanto nsouvimos poesia como um daqueles crebros de fico cientfica em um vidro na melhor dashipteses, um sorriso amarelo ou uma careta, vestgios dos rituais smios o resto do corpo longe,em algum outro planeta.

    No Oriente, s vezes os poetas so presos uma espcie de elogio, j que sugere que o autor fezalgo to real quanto um roubo, em estupro ou uma revoluo. Aqui, os poetas podem publicarqualquer coisa que quiserem o que em si mesmo uma espcie de punio, uma priso emparedes, sem eco, sem existncia palpvel reino de sombras do mundo impresso, ou do

  • pensamento abstrato um mundo sem risco ou eros.

    A poesia est morta novamente - & mesmo que a mmia do seu cadver possua ainda algumas desuas propriedades medicinais, a auto-ressureio no uma delas.

    Se os legisladores se recusam a considerar poemas como crimes, ento algum precisa cometer oscrimes que funcionem como poesia, ou textos que possuam a ressonncia do terrorismo. Reconectara poesia ao corpo a qualquer preo. No crimes contra o corpo, mas contra Idias (& Idias-dentro-das-coisas) que sejam letais & asfixiantes. No libertinagem estpida, mas crimes exemplares,estticos, crimes por amor.

    Na Inglaterra, alguns livros pornogrficos ainda esto banidos. A pornogrfica produz um efeitofsico mensurvel em seus leitores. Como propaganda, ela s vezes muda vidas por revelar desejossecretos.

    Nossa cultura gera a maior parte de sua pornografia motivada pelo dio ao corpo mas, como emcertas obras orientais, a arte ertica em si mesma cria um veculo elevado para o aprimoramento doser/conscincia/glria. Um espcie de porn tntrico ocidental poderia ajudar a galvanizar oscadveres, faz-los brilhar com uma pitada de glamour do crime.

    Os Estados Unidos oferecem liberdade de expresso porque todas as palavras so consideradasigualmente inspidas. Apenas as imagens contam os censores amam cenas de morte & mutilao,mas horrorizam-se diante de uma criana se masturbando para eles, aparentemente, isso umainvaso de seu fundamento existencial, sua identificao com o Imprio & seus gestos mais sutis.

    Sem dvida, nem mesmo o porn mais potico faria o cadver sem rosto reviver, danar & cantar(como o pssaro do Caos chins) mas... imagine o roteiro de um filme de trs minutosambientados numa ilha mtica povoada por crianas fugitivas que moram nas runas de antigoscastelos ou em cabanas-totens & ninhos construdos com detritos uma mistura de animao,efeitos especiais, computao grfica & vdeo editado de forma compacta, como um comercial defast-food...

    ... mas inslito & nu, penas & ossos, tendas abotoadas com cristais, cachorros negros, sangue depombos vislumbres de membros cor de mbar enrolados em lenis rostos, cobertos pormscaras cheias de estrelas, beijando dobras macias de pele piratas andrginos, faces abandonadasde colombinas dormindo em altas flores brancas piadas sujas de se mijar de tanto rir, lagartos deestimao lambendo leite derramado pessoas nuas danando break banheiras vitorianas compatos de borracha & pintos cor-de-rosa Alice viajando no p...

    ... punk reggae atonal para gamelo, sintetizadores, saxofones & baterias boogies eltricoscantados por um etreo coro de crianas antolgicas canes anarquistas, um misto de Hafiz20 &Pancho Villa, Li Po21 & Bakunin, kabir22 & Tzara chame-o de "CHAOS The Rock Video".

    No... provavelmente s um sonho. Muito caro para produzir &, alm disso, quem o assistiria?No as crianas a quem ele gostaria de seduzir. A TV pirata uma fantasia ftil; o rock, outra meramercadoria esquea o gesamtkunstwerk23 malandro, ento. Inunde um playground com obscenosfolhetos inflamatrios propaganda porn, excntricos manuscritos clandestinos para libertar oDesejo dos seus grilhes.

  • CRIME

    JUSTIA NO PODE SER OBTIDA por nenhuma Lei Uma ao que est de acordo com anatureza espontnea, uma ao justa, no pode ser definida por dogmas. Os crimes defendidosnestes panfletos no podem ser cometidos contra o "si mesmo" ou o "outro", mas apenas contra amordaz cristalizao de Idias em estruturas de Tronos & Dominaes venenosas.

    isso, no crimes contra a natureza ou contra a humanidade, mas contra a ordem legal. Mais cedoou mais tarde, o descobrimento & a revelao de ser/natureza transformam uma pessoa numbandoleiro como se ela visitasse outros mundos &, ao retornar, descobrisse que foi declaradatraidora, herege, um ser exilado.

    A Lei espera at que voc tropece num modo de ser, uma alma diferente do padro de "carneapropriada para consumo" aprovado pelo Sistema de Inspeo Federal - &, assim que voc comeaa agir de acordo com a natureza, a Lei o garroteia & o estrangula portanto, no d uma de mrtirabenoado & liberal da classe mdia aceite o fato de que voc um criminoso & esteja preparadopara agir como tal.

    Paradoxo: adotar o Caos no escorregar para a entropia, mas emergir para uma energia semelhante das estrelas, um espcime de graa instantnea uma organizao orgnica espontneacompletamente diferente das pirmides sociais putrefatas dos sulto, muftis, cdis & carrascos.

    Depois do Caos, vem o Eros o princpio da ordem implcito no vazio do Uno inqualificvel. Oamor estrutura, sistema, o nico cdigo no contaminado pela escravido & pelo sono drogado.Precisamos nos tornar vigaristas & persuasivos para proteger sua beleza espiritual num bisel declandestinidade, num secreto jardim de espionagem.

    No apenas sobreviva, enquanto espera que a revoluo de algum ilumine as suas idias, no sealiste no exrcito da anorexia ou bulimia aja como se j fosse livre, calcule as probabilidades, pulefora, lembre-se das regras de duelo Fume Maconha/Coma Galinha/Tome Ch. Todo homem temsua prpria vinha & sua figueira (Circle Seven Koran, Noble Drew Ali24) carregue seu passaportemouro com orgulho, no fique parado no meio do fogo cruzado, proteja-se mas arrisque-se, danceantes que fique calcificado.

    O modelo social natural para o anarquismo ontolgico uma gangue de crianas ou um bando deladres de banco. O dinheiro uma mentira esta aventura deve ser possvel sem ele o resultadodas pilhagens & saques deve ser gasto antes que se torne p novamente. Hoje o Dia daRessurreio o dinheiro gasto com a beleza ser alquimicamente transformado num elixir. Comoo meu tio Melvin dizia, melancias roubadas so mais doces.

    O mundo j foi recriado segundo o desejo do corao mas a civilizao dona de todas aslocaes & da maioria das armas. Nossos anjos ferozes exigem que invadamos a propriedade alheia,porque se manifestam apenas em solo proibido. O Ladro de Estrada. A ioga da clandestinidade, oassalto relmpago, o desfrute do tesouro.

  • FEITIARIA

    O universo quer brincar. Aqueles que por ganncia espiritual se recusam a jogar & escolhem a puracontemplao negligenciam sua humanidade aqueles que evitam a brincadeira por causa de umaangstia tola, aqueles que hesitam, desperdiam sua oportunidade de divindade aqueles quefabricam para si mscaras cegas de Idias & vagam por a procura de uma prova para sua prpriasolidez acabam vendo o mundo atravs dos olhos de um morto.

    Feitiaria: o cultivo sistemtico de uma conscincia aprimorada ou de uma percepo incomum &sua aplicao no mundo das aes & objetos a fim de se conseguir os resultados desejados.

    O aumento da amplitude da percepo gradualmente bane os falsos eus, nossos fantasmascacofnicos a "magia negra" da inveja & da vingana volta-se contra o autor porque o Desejo nopode ser forado. Quando o nosso conhecimento da beleza harmoniza-se com o ludus naturae, afeitiaria comea.

    No, no se trata de entortar colheres ou fazer horscopos, no a "Aurora Dourada" nem umxamanismo de brincadeira, projeo astral ou uma Missa Satnica se voc quer mistificao,procure as coisas reais, bancos, poltica, cincia social no esta baboseira barata da MadameBlavatsky.

    A feitiaria funciona criando ao redor de si um espao fsico/psquico ou aberturas para um espaode expresso sem barreiras a metamorfose do lugar cotidiano numa esfera angelical. Isso envolvea manipulao de smbolos (que tambm so coisas) & de pessoas (que tambm so simblicas) os arqutipos fornecem um vocabulrio para esse processo & portanto, so tratados ao mesmotempo como reais & irreais, como as palavras. Ioga da Imagem.

    O feiticeiro um Autntico Realista: o mundo real mas a conscincia tambm o deve ser, j queseus efeitos so to tangveis. Um obtuso acha que at mesmo o vinho no tem gosto, mas ofeiticeiro pode se embriagar simplesmente olhando para a gua. A qualidade da percepo define omundo do inebriamento mas, sustent-lo & expandi-lo, para incluir os outros, exige um certo tipode atividade feitiaria. A feitiaria no infringe nenhuma lei da natureza porque no existenenhuma Lei Natural, apenas a espontaneidade da natura naturans, o Tao. A feitiaria viola as leisque procuram acorrentar esse fluxo padres, reais, hierofantes, msticos, cientistas & vendedoresconsideram a feitiaria uma inimiga porque ela representa uma ameaa ao poder de suas charadas & resistncia de sua teia ilusria.

    Um poema pode agir como um feitio & vice-versa mas a feitiaria recusa-se a ser uma metforapara uma mera literatura ela insiste que os smbolos devem provocar incidentes assim comoepifanias particulares. No uma crtica, mas um refazer. Ela rejeita toda escatologia & metafsicada remoo, tudo que apenas nostalgia turva & futurismo estridente, em favor de um paroxismoou captura da presena.

    Incenso & cristal, adaga & espada, certo, tnicas, rum, charutos, velas, ervas como sonhos secos ogaroto virgem com olhar fixo num pote de tinta vinho & haxixe, carne, iantras & rituais de prazer,o jardim de huris & sagis o feiticeiro escala essas serpentes & escadas at o momento totalmente

  • saturado por sua prpria cor, em que montanhas so montanhas & rvores so rvores, em que ocorpo torna-se eternidade & o amado torna-se vastido.

    As tticas do anarquismo ontolgico esto enraizadas nesta Arte secreta os objetivos aoanarquismo ontolgico aparecem no seu florescimento. O Caos enfeitia seus inimigos &recompensa seus devotos... este estranho panfleto amarelado, pseudonmico & manchado de p,revela tudo... passe-o adiante por um segundo de eternidade.

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    O QUE ISSO DIZ A VOC no prosa. Pode ser pendurado no quadro de avisos, mas ainda estvivo & retorcendo-se. No pretende seduzi-lo, a no ser que voc seja de extrema juventude &beleza (anexe uma foto recente).

    Hakim Bey mora num decadente hotel chins onde os proprietrios balanam a cabea de um ladopara o outro enquanto lem os jornais & escutam transmisses estridentes da pera de Pequim. Oventilador de teto gira como um dervixe indolente suor pinga sobre a pgina o cafet do poetaest encardido, seus cinzeiros derramam cinzas no tapete seus monlogos parecem desconexos &levemente sinistros por trs das janelas fechadas, o gueto desaparece entre palmeiras, o ingnuooceano azul, a filosofia do tropicalismo.

    Numa estrada em algum lugar a leste de Baltimore, voc passa por um trailer Airstream, & enxergauma grande placa plantada na grama: LEITURAS ESPIRITUAIS, com a imagem de uma rude monegra sobre um fundo vermelho. L dentro, voc encontra livros sobre sonhos & numerologia,panfletos sobre vodu & macumba, revistas de nudismo velhas & empoeiradas, um pilha de BoysLife, tratados sobre briga de galos... & este livro, Caos. Como palavras ditas num sonho,portentosas, evanescentes, transformando-se em perfumes, pssaros, cores, msica esquecida.

    Este livro se mantm a distncia por uma certa impassibilidade em sua superfcie, quase que visvelatravs de um vidro. Ele no abana o rabo & no grunhe, mas morde & estraga a moblia. Ele notem um nmero ISBN & no o quer como discpulo, mas pode seqestrar seus filhos.

    Este livro nervoso como o caf ou a malria ele cria, entre si & seus leitores, uma rede dedesertores & outsiders - mas to cara-de-pau & literal que praticamente se codifica fuma a siprprio em estupor.

    Uma mscara, uma automitologia, um mapa sem nome de lugar algum hirto como uma pinturaegpcia que, no entanto, logra acariciar o rosto de algum &, de repente, encontra-se na rua, numcorpo, envolvido em luz, andando, acordado, quase satisfeito.

    Nova York, 1 de maio a 4 de julho de 1984

  • Notas

    1 O autor refere-se aos Hassasin ou Hashisheen, membros de uma seita islmica secreta quedurante as Cruzadas emboscavam lderes cristos. Eles agiam supostamente sob a influncia dehaxixe, da seu nome. (N.T)

    2 Corrente que pretende utilizar os espaos naturais de criao artstica. Para isso, fazem coisascomo empilhar pedras, traar imensas linhas de gesso em desertos, cavar tumbas etc. (N.E.)

    3 Tipo de maconha feita a partir dos brotos e das flores da cannabis e que apresenta 7,5% deTHC, seu componente psicoativo. (N.E)

    4 Lendrios amantes do mundo rabe. Ver o livro de Nizami Laila & Majnun A ClssicaHistria de Amor da Literatura Persa, Jorge Zahar Editor. (N.E)

    5 Nome que em Cuba se d a Exu, um dos quatro orixs guerreiros da religio iorub. (N.T)

    6 Um dos deuses mais cultuados do panteo hindusta, invocado no incio de qualquer atividadecomo aquele que retira obstculos. (N.T)

    7 Conceito sufista, que significa beno, graa, a fora vital de toda criao. (N.T)

    8 Ou H. Trismegisto, mitolgico fundador do hermetismo, doutrina ligada ao gnosticismo, noEgito, no sculo I. (N.T)

    9 Imprio muulmano na ndia (1526-1857), fortemente influenciado pela esttica persa. O maisconhecido imperador mongol foi Akbar (1542-1605). (N.T)

    10 Festival de inverno celebrado pelos ndios da costa noroeste dos EUA, com distribuio e trocade presentes, e eventual dissipao dos bens do anfitrio. (N.T)

    11 No hindusmo, a forma da Me Divina em seu aspecto dissoluto e destruidor. (N.T)

    12 O mais importantes dos smbolos de Shiva, que tem a forma de um falo, e representa o aspectoimpessoal de Deus. (N.T)

    13 Nome da Realidade Suprema para o shaivismo da Caxemira; ou, no hindusmo, um dos trsdeuses principais (ao lado de Vishnu e Brahma), representando Deus em sua forma destruidora.(N.T)

    14 Doce turco. (N.T)

    15 Sistema de distribuio de msica ambiente. (N.T)

  • 16 Membro dos grupos de trabalhadores ingleses que, no incio da revoluo industrial,revoltaram-se contra o desemprego causado pelo novo maquinrio txtil, procurando destru-lo.(N.T)

    17 No budismo e no hindusmo, um raio ou arma mtica, geralmente controlado pelo deus Indra(N.E)

    18 Na teoria desenvolvida por William Reich, orgnio a energia vital, a energia a que a fonteda vida. (N.E)

    19 Desde a Antigidade, a salamandra tem sido reconhecida como a personificao do fogo, umanimal que sobreviveria ileso no fogo. (N.E)

    20 At hoje, um dos mais queridos e lidos poetas msticos da Prsia (1320-1389) (N.T)

    21 Ou Li Pai, poeta chins (701-762 a.C.) (N.T)

    22 Poeta santo cultuado tanto por muulmanos quanto por hindustas, viveu em Benares (1440-1518). (N.T)

    23 Termo alemo contemporneo que, grosso modo, implica diferentes formas simultneas de seapreciar algo, especialmente um obras de arte computacional ou uma instalao. (N.T)

    24 Lder religioso norteamericano, fundador do Templo da Cincia Islmica em 1913, emChicago. (N.T)