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INFLUÊNCIA DOS PULSOS DE MARÉ NA OCORRÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE MACROHABITATS EM UMA ZONA ESTUARINA SEMIÁRIDA (ESTUÁRIO APODI-MOSSORÓ/RN) DIEGO EMANOEL MOREIRA DA SILVA 1 DIÓGENES FÉLIX DA SILVA COSTA 2 RESUMO As Áreas Úmidas (AU) costeiras são caracterizadas como ambientes de transição entre os meios aquáticos e terrestres periodicamente alagáveis com menos de seis metros de profundidade em maré baixa. Desta forma, esses ecossistemas são altamente importantes devido aos serviços prestados para o bem-estar humano. Logo, por se tratar de ecossistemas com consideráveis relevâncias ecológica, econômica e de prestação de serviços ecossistêmicos, poucos são os estudos sobre o que diz respeito a localização, extensão e distribuição desses macrohabitats em algumas regiões do país, principalmente em regiões semiáridas (caso da área de estudo). Esse trabalho tem como objetivo investigar a influência dos pulsos de inundações na distribuição das áreas úmidas costeiras em uma zona estuarina sob clima semiárido (Rio Apodi Mossoró-RN). A área de estudo se estende desde o município de Areia Branca-RN, orientação leste, até o município de Tibau-RN, na porção oeste, localizada totalmente nas regiões geográficas intermediárias e imediatas de Mossoró. Para a identificação utilizou-se quatro etapas: levantamento bibliográfico e cartográfico prévio da área estudada; montagem da base cartográfica digital e processamento digital das imagens; classificação e quantificação das AUs encontradas na área de estudo; e pôr fim a avaliação dos tipos de pulsos de inundação que afeta as AUs. Através do mapeamento das AUs hipersalinas na zona estuarina do rio Apodi-Mossoró, foram identificados oitos ecossistemas (estuário, lagoas, laguna, salinas solares mecanizadas, salinas solares artesanais, carcinicultura, manguezais e apicuns) ocupando uma área total de 20.322,00ha. Em relação da influência dos pulsos de inundação sobre a distribuição das AUs, identificou-se que, entre os 8 macrohabitats de áreas úmidas, 5 são qualificadas como previsíveis (estuário, salinas solares, salinas solares artesanais, carcinicultura e manguezal), e as outras 3 foram classificadas como ambientes imprevisíveis (lagoas, laguna, apicum). Já em relação a frequência, 5 1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected]

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INFLUÊNCIA DOS PULSOS DE MARÉ NA OCORRÊNCIA E

DISTRIBUIÇÃO DE MACROHABITATS EM UMA ZONA ESTUARINA

SEMIÁRIDA (ESTUÁRIO APODI-MOSSORÓ/RN)

DIEGO EMANOEL MOREIRA DA SILVA1

DIÓGENES FÉLIX DA SILVA COSTA2

RESUMO

As Áreas Úmidas (AU) costeiras são caracterizadas como ambientes de transição entre os meios

aquáticos e terrestres periodicamente alagáveis com menos de seis metros de profundidade em maré

baixa. Desta forma, esses ecossistemas são altamente importantes devido aos serviços prestados para

o bem-estar humano. Logo, por se tratar de ecossistemas com consideráveis relevâncias ecológica,

econômica e de prestação de serviços ecossistêmicos, poucos são os estudos sobre o que diz respeito

a localização, extensão e distribuição desses macrohabitats em algumas regiões do país,

principalmente em regiões semiáridas (caso da área de estudo). Esse trabalho tem como objetivo

investigar a influência dos pulsos de inundações na distribuição das áreas úmidas costeiras em uma

zona estuarina sob clima semiárido (Rio Apodi Mossoró-RN). A área de estudo se estende desde o

município de Areia Branca-RN, orientação leste, até o município de Tibau-RN, na porção oeste,

localizada totalmente nas regiões geográficas intermediárias e imediatas de Mossoró. Para a

identificação utilizou-se quatro etapas: levantamento bibliográfico e cartográfico prévio da área

estudada; montagem da base cartográfica digital e processamento digital das imagens; classificação e

quantificação das AUs encontradas na área de estudo; e pôr fim a avaliação dos tipos de pulsos de

inundação que afeta as AUs. Através do mapeamento das AUs hipersalinas na zona estuarina do rio

Apodi-Mossoró, foram identificados oitos ecossistemas (estuário, lagoas, laguna, salinas solares

mecanizadas, salinas solares artesanais, carcinicultura, manguezais e apicuns) ocupando uma área

total de 20.322,00ha. Em relação da influência dos pulsos de inundação sobre a distribuição das AUs,

identificou-se que, entre os 8 macrohabitats de áreas úmidas, 5 são qualificadas como previsíveis

(estuário, salinas solares, salinas solares artesanais, carcinicultura e manguezal), e as outras 3 foram

classificadas como ambientes imprevisíveis (lagoas, laguna, apicum). Já em relação a frequência, 5

1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected]

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macrohabitats (estuário, lagoas, laguna, manguezal e apicum) se encontram sobre a frequência

polimodal, os outros 3 ecossistemas (salinas solares, salinas solares artesanais e carcinicultura),

obtiveram uma avaliação com frequência monomodal, nessa última classe as áreas úmidas abrangidas

são todas de origem antropogênica. No que concerne a avaliação de acordo com a amplitude dos

pulsos de inundação, 7 dos 8 macrohabitats apresentaram uma amplitude variável com relação aos

pulsos de maré, onde o único macrohabitat com uma amplitude desigual foi o apicum, pois o

alagamento dessas áreas ocorre apenas no período de maré alta. Conclui-se que mesmo em uma zona

semiárida a zona estuarina apresentou uma heterogeneidade quanto aos macrohabitats identificados,

os quais apresentaram diferentes tipologias influenciadas pelos regimes de pulsos de inundação de

maré.

Palavras chave: Áreas Úmidas; Pulsos de inundação; Rio Apodi-Mossoró.

ABSTRACT

Coastal Wetlands are characterized as transitional environments between periodically floodable and

terrestrial environments less than six meters deep at low tide. In this way, these ecosystems are highly

important because of the services provided for human well-being. Therefore, due to the fact that these

ecosystems are of considerable ecological, economic and ecosystem service relevance, there are few

studies on the location, extension and distribution of these macrohabitats in some regions of the country,

especially in semi-arid regions. study area). This work aims to investigate the influence of flood pulses

on the distribution of coastal wetlands in an estuarine zone under semi-arid climate (Apodi Mossoró-RN

River). The study area extends from the city of Areia Branca-RN, east direction, to the municipality of

Tibau-RN, in the western portion, located entirely in the intermediate and immediate geographical

regions of Mossoró. For the identification, four steps were used: previous bibliographical and

cartographic survey of the studied area; assembly of the digital cartographic database and digital image

processing; classification and quantification of Wetlands found in the study area; and put an end to the

evaluation of the types of flood pulses that affect Wetlands. Through the mapping of hypersaline

wetlands in the Apodi-Mossoró estuary zone, eight ecosystems (estuary, lagoons, lagoons, mechanized

solar salt, artisanal solar salt, shrimp, mangrove and apicum) were identified, occupying a total area of

20,322.00ha. In relation to the influence of flood pulses on the distribution of Wetlands, it was identified

that, among the 8 macrohabitats of humid areas, 5 are qualified as predictable (estuary, solar salt,

artisanal solar salt, shrimp and mangrove), and other 3 were classified as unpredictable environments

(lagoons, lagoon, apicum). In relation to the frequency, 5 macrohabitats (estuary, lagoons, lagoon,

mangrove and apicum) are found on polymodal frequency, the other 3 ecosystems (solar salt, artisanal

solar salt and shrimp farming) obtained a monomodal frequency evaluation the protected areas are all

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of anthropogenic origin. Regarding the evaluation according to the amplitude of the flood pulses, 7 of

the 8 macrohabitats presented a variable amplitude with respect to the tidal pulses, where the only

macrohabitat with an unequal amplitude was the apicum, since the flooding of these areas occurs only

in the high tide period. It is concluded that even in a semi-arid zone the estuarine zone presented a

heterogeneity regarding the macrohabitats identified, which presented different typologies influenced by

the regimes of tidal flood pulses.

Keywords: Wetlands; Flood pulses; Apodi-Mossoró River.

1 – Introdução

As Áreas Úmidas (AU) são ecossistemas distribuídos por toda porção do globo,

na qual suas ocorrências são dependentes principalmente dos condicionantes físicos

locais (clima, hidrologia, geomorfologia) (JUNK et al., 2014). Desta forma, as áreas

úmidas se configuram como ecossistemas diferenciados, pela sua morfometria, pelo

seu tipo de vegetação e até mesmo pelo tipo de água nela contido, podendo ser

artificial ou natural, permanente ou temporária e para os ecossistemas de zonas

costeiras, limita-se o habitat em ambientes alagáveis com no máximo 6m de

profundidade no período de maré baixa (JUNK; BAYLEY; SPARKS, 1989; RAMSAR,

2006).

Contudo, devido à importância ecológica, econômica e de prestação de

serviços por esses ecossistemas, poucos são os estudos sobre o que diz respeito a

localização, extensão e distribuição desses macrohabitats em algumas regiões do

país (caso da área de estudo desse referido trabalho), onde trabalhos de mapeamento

e classificação no país são voltados para a região amazônica e do pantanal.

(FRANÇA; SANO, 2009; GALLANT, 2015).

De certa forma, as áreas úmidas são consideradas ecossistemas poucos

estudados no Brasil. No entanto, uma deficiência é notória em estudos com relação

as áreas úmidas, no que se diz respeito a trabalhos acerca de suas estruturas, funções

e o uso sustentável desses ambientes (BURGER, 2000). A ampla diversidade de AU

hipersalina distribuída no litoral semiárido potiguar, ocorre devido a influência do clima

semiárido, ocasionado pelos fatores naturais encontrados na região (altas

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temperaturas, baixa precipitação, elevadas taxas de evaporação e disponibilidade

hídrica (mar e/ou estuário)) (SOARES; DOMINGUEZ, 2012, COSTA; DE MEDEIROS

ROCHA; CESTARO, 2014; COSTA et al., 2014; COSTA; GUEDES; SILVA, 2016).

Logo, por se tratar de ecossistemas com consideráveis relevâncias ecológica,

econômica e de prestação de serviços ecossistêmicos, poucos são os estudos sobre

o que diz respeito a localização, extensão e distribuição desses macrohabitats em

algumas regiões do país, principalmente em regiões semiáridas (caso da área de

estudo). Com base nessa problemática, esse trabalho tem como objetivo investigar a

influência dos pulsos de inundações na distribuição das áreas úmidas costeiras em

uma zona estuarina sob clima semiárido (Rio Apodi Mossoró-RN).

2 – Materiais e Métodos

2.1 – Área de estudo

O presente trabalho foi desenvolvido nas áreas úmidas hipersalinas localizadas

na zona estuarina do rio Apodi-Mossoró-RN, onde a porção se estende desde o

município de Areia Branca-RN, orientação leste, até o município de Tibau-RN, na

porção oeste (Figura 01). Está introduzida na área de estudo as salinas solares,

atividade importante para a economia do estado do Rio Grande do Norte (VITAL et

al., 2006).

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Figura 01 – Mapa de localização da área de estudo. Organizado pelos autores.

2.2 – Procedimentos metodológicos

Para analisar a influência dos pulsos de inundações na distribuição das áreas

úmidas costeiras na zona estuarina do Rio Apodi Mossoró-RN, foram divididas quatro

etapas metodológicas: 1) levantamento bibliográfico e cartográfico; 2) montagem de

uma base cartográfica digital e processamento digital das imagens; 3) classificação e

quantificação das áreas úmidas; 4) avaliação dos tipos de pulsos de inundação.

O levantamento bibliográfico foi realizado a partir de pesquisas em artigos

científicos, de classificação entre A1 e B2 de acordo com o “qualis capes”, além de

trabalhos acadêmicos e livros clássicos que fundamentaram o estudo sobre a temática

abordada, seguindo de uma revisão em acervos cartográficos disponibilizados por

instituições federais e estaduais.

Em seguida, iniciou-se o mapeamento com a montagem da base cartográfica

digital em ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG), no primeiro momento

constituiu na formação de um acervo de dados matriciais (raster), seguido do

armazenamento de dados vetoriais (vetor) no formato shapefile, que foram elaborados

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durante a identificação das áreas úmidas costeiras e dos dados quantitativos na

distribuição da variedade de ecossistemas identificados.

Para o processamento digital foram utilizadas imagens obtidas pelos satélites

CBERS 2B, através do sensor HRC com resolução espectral de 2,7m (órbita, 149 E,

ponto 105 e 106, de 30/10/2009), além de imagens com o sensor CCD de resolução

de 20m, (órbita 149, ponto 105, de 22/10/2009; órbita 149, ponto 106, de 30/10/2009),

disponibilizadas gratuitamente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Logo após foi realizado o processamento digital com o auxílio do software ENVI

4.7, onde no mesmo, foi produzida uma composição colorida em falsa cor

representada pela tonalidade RGB-321 das imagens com sensor CCD.

Posteriormente, realizou-se o georreferenciamento das imagens, onde para essa

etapa, utilizou-se o software ArcMap/ArcGIS 10.3 (Versão Acadêmica – ESRI©). Assim

sendo, o georreferenciamento foi feito na grade de coordenadas UTM (Universal

Transversa de Mercartor) e pelas cartas topográficas (formato digital) da

Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) (SB-24-X-B-IV Areia

Branca e SB-24-X-B-V Macau), em escala de 1:200.000, a partir do DATUM SIRGAS

2000.

Posteriormente ao processo de mapeamento das áreas úmidas, foram

quantificadas todas áreas úmidas identificadas, onde foi feita a tabulação e produção

de tabelas e gráficos com o uso do software Microsoft Excel 2016 (Microsoft Office®).

Logo, foi efetuado a classificação das áreas úmidas localizadas na área de estudo,

utilizando como referência a classificação proposto por Junk et al. (2014), através da

nova classificação das AU (Áreas Úmidas) brasileira.

Por fim, foi gerado a avaliação dos processos de pulsos de inundações

atuantes nas áreas úmidas, onde o procedimento se deu inicialmente através de

visitas in loco na área de estudo. Para finalizar, foi realizado a avaliação e confecção

de uma tabela sobre os pulsos de inundação de acordo com a previsibilidade,

frequência e amplitude dos pulsos, proposto por Junk et al. (2014) (Tabela 01).

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Tabela 01 – Tipos de pulsos de inundação e áreas úmidas afetadas. Junk et al. (2015, p.27).

3 – Resultados e discussões

A partir do processamento digital, pode-se constatar que a porção litorânea do

Rio Apodi-Mossoró, contém uma variedade de áreas úmidas hipersalinas: estuário,

lagoas e laguna; salinas solares, salinas solares artesanais e carcinicultura;

Manguezais e Apicuns, criando um mosaico de ecossistemas costeiros, que ocupam

uma área total de 20.322,00 ha (Figura 02).

Com base nos dados analisados, a área de estudo apresenta um ambiente

composto por uma grande variação de áreas úmidas distribuídas na zona estuarina

de uma forma heterogênea, onde a maior área mapeada foram as Salinas Solares

Mecanizadas, em oposição, tem-se a menor porção ocupada pelo o ecossistema de

manguezal.

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Figura 02 – Mosaico de áreas úmidas hipersalinas da zona estuarina do Rio Apodi-Mossoró no ano

de 2009. Organizado pelos autores.

Em estudos pioneiros sobre as áreas úmidas Neotropicais, Scott e Carbonell

(1986, p. 84) identificaram na zona estuarina do rio Apodi-Mossoró, AUs como o

próprio estuário, manguezais, salgados (apicum) e áreas salinas, classificando a área

como um grande potencial na extração do sal, sendo assim, um resultado semelhante

ao encontrado no referido trabalho.

Em seguida foi realizada a classificação dos ecossistemas hipersalinos, tendo

como referência a classificação das AUs brasileiras proposta por Junk et al. (2014)

(Quadro 01). De acordo com a classificação, os ecossistemas encontrados no

sistemas AUs costeiras são divididas em três subsistemas, áreas úmidas sujeita aos

impactos dos pulsos previsíveis de curta duração de maré, onde são os macrohabitats

de manguezais, apicuns e estuário, o segundo subsistema corresponde as AUs

separadas do mar com nível de água relativamente estáveis, que compreende o

ecossistema lagunar e o terceiro subsistema equivale, as AUs separadas do mar com

nível de água variável que inclui as lagoas costeira.

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Quadro 01 – Classificação das áreas úmidas hipersalinas da zona estuarina do rio Apodi-Mossoró.

Organizado pelos autores, adaptado de (JUNK et al., 2015).

Todavia, o sistema das AUs antropogênicas, consistem os macrohabitats das

salinas solares mecanizadas, tanto quanto das salinas solares artesanais e dos

tanques de carcinicultura, mesmo sendo localizados em áreas marinhas não são

definidos em subsistema e subclasses devido a atuação antrópica na construção

desses ecossistemas.

De modo semelhante, existem no mundo várias classificações similares sobre

áreas úmidas, onde em sua maioria tem como base a classificação de RAMSAR,

distribuídas em três grupos, marinhas e costeiras (marinhas, estuarinas,

lacustres/palustres), interiores (lóticas, lacustres, palustres, geotermais) e antrópicas

(aquicultura, agricultura, mineração de sais minerais, urbana e industrial), sendo essa

base utilizada por Junk et al. (2014).

A quarta e última etapa foi constituída na avaliação dos tipos de pulsos de

inundação que afetam e/ou preenchem as AUs hipersalinas na área de estudo. De

início, vale salientar que todos os ecossistemas classificados nessa pesquisa são

inundados pelos pulsos de maré, seja totalmente ou parcialmente (JUNK; PIEDADE,

2015). Deste modo, foram avaliados os oito tipos de ecossistemas identificados

através das categorias: Previsibilidade, Frequência e Amplitude (Quadro 02).

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Quadro 02 – Classificação das áreas úmidas, de acordo com os tipos de pulsos de inundações.

Organizado pelos autores, adaptado de (JUNK et al., 2015, p. 27).

Dos oito tipos de áreas úmidas, cinco são qualificadas como previsíveis

(estuário, salinas solares, salinas solares artesanais, carcinicultura e manguezal)

sendo todos esses localizados nas margens do rio Apodi-Mossoró. As outras três

áreas úmidas tiveram suas análises classificadas como ambientes imprevisíveis

(lagoas, laguna, apicum), de acordo com a previsibilidade do pulso, esses três últimos

ecossistemas são espalhados por toda a extensão da bacia e da faixa de escoamento

difuso, com exceção do apicum que tem sua distribuição associada com o

ecossistema de manguezal.

Ao mesmo, avaliou-se os tipos de pulsos em relação a frequência em que as

AUs são atingidas, deste modo, cinco macrohabitat (estuário, lagoas, laguna,

manguezal e apicum) se encontram sobre a frequência polimodal, os outros três

ecossistemas (salinas solares, salinas solares artesanais e carcinicultura), obtiveram

uma avaliação com frequência monomodal, logo, a classificação desses ecossistemas

artificiais na frequência monomodal, implica-se na utilização do pulso de maré por

equipamentos manipulados pelo homem em uma única etapa de captação (COSTA,

2013).

Em proposta de classificação através dos pulsos de inundação, Almeida (2013),

foca que os pulsos de inundação previsíveis, duradouros e monomodais, são

compreendidos pelas AUs localizadas sobre a planícies de inundações, resultado

semelhante ao obtido na classificação proposta nesse estudo (Quadro 2), onde as

áreas úmidas com classificação previsíveis e monomodais são as AUs

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antropogênicas. Neste caso, os pulsos de inundações curtos, previsíveis e polimodais,

são encontrados nas margens das zonas estuarinas, na qual encontrar-se o estuário

e o manguezal.

Do mesmo modo, pode-se expor que as áreas úmidas com pulsos

imprevisíveis, curtos e polimodais, implica-se naqueles fixados nas planícies de

inundação em rios de formação natural, onde mesmo na referida análise (Quadro 2),

encontra-se as lagoas, a laguna e os apicuns, condizendo-se com a metodologia de

Almeida (2013). Logo, tem-se através do sensoriamento remoto, uma ferramenta para

especificar a disseminação de inundações, dinâmicas relacionadas com a

manutenção dessas áreas úmidas costeiras (HERNÁNDEZ-GUZMÁN et al., 2016).

No que concerne a avaliação de acordo com a amplitude dos pulsos de

inundação, pode-se notar, uma soberania em sete dos oito ecossistemas, de uma

amplitude variável com relação aos pulsos de maré, o único macrohabitat com uma

amplitude desigual, foi o apicum, que na análise se encaixou na classe de amplitude

alta, pois o alagamento dessas áreas ocorre apenas no período de maré alta.

4 – Considerações Finais

A partir dos resultados alcançados no referido estudo foi possível constatar que,

a utilização da interpretação visual e do conhecimento prévio da área de estudo foi de

essencial importância para a produção do mapa com o mosaíco de todas as áreas

úmidas identificadas, principalmente na distinção dos limites de cada macrohabitat.

Através do mapeamento e das confecções gráficas, pode-se ter uma noção mais

detalhada sobre a ocupação e o crescimento das salinas solares na zona estuarina

da bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró.

Todavia, acontece uma grande escassez de pesquisas sobre a temática

abordada na área de estudo, onde, os estudos mais comuns são sobre as salinas

solares mecanizadas com o foco acerca do porte econômico, ou sobre as salinas

solares artesanais através propostas de conservação desses ambientes.

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Já em relação aos tipos de pulsos de inundação na área de estudo, em termo

de pesquisa, o material voltado para os pulsos é frequentemente caracterizado para

uso fluvial, no entanto, todas as áreas úmidas hipersalinas são atingidas por pulsos

de inundação de maré, tendo em vista essa particularidade, a pesquisa de campo,

além do conhecimento prévio da área de estudo foi fundamental para adaptação e

obtenção dos resultados sobre as dinâmicas dos pulsos.

Portanto, conclui-se que mesmo em se tratar de uma região semiárida a zona

estuarina apresentou uma heterogeneidade quanto aos macrohabitats identificados,

os quais apresentaram diferentes tipologias influenciadas pelos regimes de pulsos de

inundação de maré.

5 – Agradecimento

Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -

Brasil (CAPES), pela concessão da bolsa de mestrado vinculado ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CERES,

Caicó/RN, e ao Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Biogeografia de Ambientes

Tropicais (TRÓPIKOS), pelo apoio e suporte ao referido trabalho.

6 – Referências Bibliográfica

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