juliana clementi

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1 Juliana Augusto Clementi DIRETRIZES MOTIVACIONAIS PARA COMUNIDADES DE PRÁTICA BASEADAS NA GAMIFICAÇÃO Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Orientadora: Prof. Dra. Gertrudes Aparecida Dandolini Coorientador: Prof. Dr. Francisco Antonio Pereira Fialho Florianópolis 2014

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Tese

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  • 1

    Juliana Augusto Clementi

    DIRETRIZES MOTIVACIONAIS PARA COMUNIDADES DE

    PRTICA BASEADAS NA GAMIFICAO

    Dissertao submetida ao Programa de

    Ps-Graduao em Engenharia e

    Gesto do Conhecimento da Universidade Federal de Santa

    Catarina para a obteno do Grau de Mestre em Engenharia e Gesto do

    Conhecimento. Orientadora: Prof. Dra. Gertrudes

    Aparecida Dandolini

    Coorientador: Prof. Dr. Francisco Antonio Pereira Fialho

    Florianpolis

    2014

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    Ficha de Catalogao

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    Juliana Augusto Clementi

    DIRETRIZES MOTIVACIONAIS PARA AS COMUNIDADES DE

    PRTICA BASEADAS NA GAMIFICAO

    Esta dissertao foi julgada adequada para obteno do Ttulo de

    Mestre em Engenharia e Gesto do Conhecimento, e aprovada em sua

    forma final pelo Programa Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do

    Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Florianpolis, 28 de fevereiro de 2014

    _________________________

    Prof. Dr. Gregrio Varvakis

    Coordenador do Curso

    Banca Examinadora:

    ________________________

    Prof. Dra. Gertrudes Aparecida Dandolini

    Orientador PPEGC/UFSC

    _____________________________

    Prof. Dra. Christianne Coelho de Souza Reinisch Coelho

    Banca Examinadora PPEGC/UFSC

    _______________________________

    Prof. Dr. Jos Leomar Todesco

    Banca Examinadora PPEGC/UFSC

    _____________________________

    Prof. Dr. Rita de Cssia Romeiro Paulino.

    Banca Examinadora POSJOR/UFSC

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    Aos meu pai Ciro e minha me Ftima.

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    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar eu agradeo a Deus, esta energia onipresente

    que orienta e sustenta a vida neste planeta. Celebro minha sade e a

    oportunidade de aprender cada dia um pouco mais sobre nossa casa e

    sobre o milagre da vida, e em especial sobre a motivao humana.

    Agradeo aos mestres que surgem na minha vida, alguns mesmo

    com poucos encontros me revelam as palavras chaves necessrias para

    seguir adiante e avante!

    Em especial, algumas pessoas importantes como as amigas

    Luana, Julia, Marlia, Joana, Rachel, Andreodara, Maria, Paula, Tammy,

    Carolina e Juliana, que me trouxeram a calma e a parceria.

    Meus pais, Ciro e Ftima, que com muito carinho, amor e

    pacincia, acompanharam e apoiaram esta fase da minha vida. Meu

    irmo que desde o primeiro dia que cogitei fazer um mestrado foi o

    primeiro a me incentivar.

    Ao Reginaldo, que compartilhou comigo os momentos fceis e

    difceis deste projeto, e que me trouxe paixo, leveza e alegria para

    balancear o trabalho intelectual.

    Aos meus colegas de grupo IGTI, que me ajudaram em tanto

    momentos, principalmente Julieta, Patrcia e Maurilio, pela

    cumplicidade. Um por todos, todos por um!

    Aos especialistas que cederam seu tempo para analisar as

    diretrizes e cooperar com esta pesquisa.

    A minha professora Gertrudes, um verdadeiro exemplo de

    orientadora, dedicada, motivadora, honesta e compreensiva. Para mim,

    foi um privilgio ter sido sua orientanda, minha gratido profunda.

    Aos coordenadores e demais professores do EGC, visionrios,

    pioneiros, empreendedores e perseverantes que, tornam cada dia mais, a

    sociedade do conhecimento uma realidade.

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    "A cincia depende da dvida, ela no pode crescer sem a dvida [...] A

    religio uma dimenso diametralmente oposta. Da mesma maneira que

    na cincia a dvida o mtodo, na religio a f o mtodo. O que

    significa f? Significa que no estamos separados da existncia, que

    somos parte dela, que ela nosso lar [...].

    O homem entendido dir que a dvida tem seu prprio mundo. Voc

    pode usar a dvida como um mtodo mas ela tem suas limitaes. E

    assim tambm a f tem seu prprio mundo, mas tambm tem suas

    limitaes [...].

    Voc pode usar ambas as coisas. Eu chamo um homem capaz de usar

    ambas as coisas de homem de entendimento. Ao trabalhar num

    laboratrio cientfico, ele usa a dvida, o ceticismo, a lgica; ao rezar

    em seu templo, meditando, ele usa a f. E ele livre no limitado

    nem pela f nem pela dvida

    OSHO.

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    RESUMO

    Atualmente o conhecimento um dos principais ativos organizacionais.

    A gesto do conhecimento e da inovao so reas que vm buscando

    trazer contribuies no sentido de melhor gerir este conhecimento. A

    bibliometria destas reas de pesquisa apontou que o compartilhamento

    do conhecimento um desafio. Neste contexto, a literatura afirma que as

    comunidades de prtica promovem interao social e so reconhecidas

    como uma tcnica com benefcios organizacionais e individuais e como

    instrumento para o compartilhamento do conhecimento. As pesquisas

    mais recentes sobre essa tcnica indicam que a motivao dos membros

    um fator importante, entretanto ainda uma lacuna de pesquisa que

    precisa ser desenvolvida tanto na teoria como na prtica. Por outro lado,

    a gamificao, aplicao de mecanismos e dinmicas de jogos em

    contextos de no jogo, vem sendo explorada como uma forma de

    motivao nas organizaes. Desta forma, esta dissertao tem como

    objetivo propor diretrizes motivacionais, com base na investigao de

    como a motivao impacta as comunidades e como influncia o

    comportamento dos indivduos e por fim, como a gamificao pode ser

    utilizada para motivar os membros das CoPs. Para isso desenvolveu-se

    uma anlise bibliomtrica, seguida de reviso de literatura sobre

    comunidades de prtica, motivao e gamificao. Com base no

    objetivo desta dissertao, as reas pesquisadas foram interseccionadas

    para orientar a elaborao das diretrizes. Como resultado final, esta

    pesquisa apresenta vinte diretrizes motivacionais, organizadas de acordo

    com as cinco fases de desenvolvimento das CoPs e os quatro perfis de

    jogadores, averiguados na literatura. Por fim, com o apoio do mtodo

    Delphi, as diretrizes foram verificadas junto aos especialistas da rea de

    comunidade de prtica. As diretrizes desenvolvidas neste estudo

    avanam a teoria sobre as comunidades e beneficiam sua gesto. A

    pesquisa um reforo para destacar a importncia das CoPs e incentivar

    novas pesquisas sobre o tema. Por fim, sugere-se para pesquisas futuras

    a continuidade de estudos sobre motivao e comunidades de prtica,

    como a incluso de outras teorias da motivao e com a validao destas

    diretrizes.

    Palavras-chave:Motivao. Comunidade de Prtica. Gamificao

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  • 13

    ABSTRACT

    Currently knowledge is one of the main organizational assets, and

    knowledge and innovations management are areas that are seeking to

    bring contributions to better manage this knowledge. The bibliometrics

    of these areas of research showed that knowledge sharing is a challenge.

    In this context, the literature states that communities of practice ( CoPs )

    promote social interaction and are recognized as a technique with

    organizational and individual benefits and as a tool for knowledge

    sharing . The latest research on this technique indicate that the

    motivation of members is an important factor , however, is still a gap of

    research that needs to be developed both in theory and in prac tice. This

    paper aims to propose motivational guidelines, based on research of how

    motivation influences communities and how to influence the behavior of

    individuals and lastly, how gamification can be used to motivate CoPs

    members. For this, then it was developed a bibliometrical analysis of the

    literature review on communities of practice, motivation and

    gamification Based on the purpose of this dissertation, intersected the

    this surveyed areas to guide the development of the guidelines. As a

    final result, this research presents twenty motivational guidelines,

    organized according to the five phases of development of CoPs and the

    four player profiles, investigated in the literature. Finally, with the

    support of the Delphi method, the guidelines were checked with the

    experts from the community of practice. The guidelines developed in

    this study advance the theory on communities and benefit management.

    The research is enhanced to highlight the importance of CoPs and

    encourage further research on the topic. Finally, it is suggested for

    future research to continue their studies on motivation and communities

    of practice, such as the inclusion of other theories of motivation and

    validation of these guidelines.

    Keywords: Motivation. Community of Practice. Gamification .

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: A inter-relao dos trs elementos-chave das CoP............... 44 Figura 2: Teoria da autodeterminao ............................................. 65 Figura 3: Taxonomia da motivao humana..................................... 66 Figura 4: Cartes do programa fidelidade da TAM. .......................... 74 Figura 5: emblema do escotismo .................................................... 80 Figura 6: Ciclo de gamificao....................................................... 85 Figura 7: Modelo mecanismos de jogo 2 ......................................... 86 Figura 8: Escada de progresso ...................................................... 92 Figura 9: Tipos de diverso e motivadores....................................... 93 Figura 10: Passos para aplicao do mtodo delphi ......................... 101 Figura 11: Teoria da motivao autodeterminada no desenvolvimento

    das CoPs ................................................................................... 106 Figura 12: Resultados da 1 Rodada .............................................. 118 Figura 13: Resultados da 2 Rodada .............................................. 120 Figura 14: Diretr izes para a fase inicial ......................................... 123 Figura 15: Diretr izes para a fase de coalescncia. ........................... 124 Figura 16: Diretr izes para a fase de maturidade. ............................. 125 Figura 18: Diretr izes para a fase de manuteno. ............................ 126 Figura 19: Diretr izes para a fase de transformao. ......................... 127

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Comparao das CoPs com outras formas de organizao

    grupal ......................................................................................... 37 Quadro 2: Benefcios das CoPs ..................................................... 39 Quadro 3: Resultados das CoPs para as organizaes ........................ 41 Quadro 4: Fases de desenvolvimento das CoPs. ............................... 46 Quadro 5: reas e aspectos que influenciam o compartilhamento do

    conhecimento .............................................................................. 49 Quadro 6: Metas relacionadas s funes dos moderadores................ 53 Quadro 7: Resumo das content theories e do seus pressupostos .......... 57 Quadro 8: Resumo das process theories e do seus pressupostos.......... 58 Quadro 9: Resultados de pesquisa motivao ................................... 59 Quadro 10: Diferentes concepes das motivaes intrnsecas e

    extrnsecas .................................................................................. 61 Quadro 11: Nveis da motivao extrnseca ..................................... 68 Quadro 12: Mecanismos de jogos consolidados ................................ 74 Quadro 13: Dinmicas de jogo e Mecnicas..................................... 76 Quadro 14: Dinmica, mecanismos e elementos de jogos .................. 78 Quadro 15: Emblemas Foursquare ................................................. 82 Quadro 16: Artigos e aplicao da gamificao. ............................... 82 Quadro 17: Sistema PBL ............................................................... 84 Quadro 18: Perfis de jogadores e motivao .................................... 91 Quadro 19: Perfil dos jogadores, .................................................. 107 Quadro 20: Atividades e motivao na fase inicial .......................... 109 Quadro 21: Atividades e motivao na fase coalescncia ................. 109 Quadro 22: Atividades e motivao na fase maturidade ................... 110 Quadro 23: Atividades e motivao na fase de manuteno ............. 111 Quadro 24: Diretrizes para a fase inicial ........................................ 112 Quadro 25: Diretrizes para a fase de coalescncia ........................... 113 Quadro 26: Diretrizes para a fase de maturidade............................. 115 Quadro 27: Diretrizes para a fase de manuteno............................ 116 Quadro 28: Diretrizes para a fase de transformao ........................ 117 Quadro 29: Principais comentrios sobre a 1 Rodada ..................... 119 Quadro 30: Principais comentrios sobre a 2 Rodada ..................... 121 Quadro 31: Comentrios da primeira rodada .................................. 182

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Publicaes x Pases (corte dos dez primeiros) ................... 98 Tabela 2: Publicaes x Ano (corte dos dez primeiros). ..................... 99 Tabela 3: Publicaes x reas (corte dos dez primeiros).................... 99 Tabela 4: Artigos mais citados sobre comunidade de prtica (corte dos

    dez primeiros)............................................................................ 148 Tabela 5: Autores que mais publicaram sobre comunidade de prtica

    (corte dos dez primeiros) ............................................................. 149 Tabela 6: Pases que mais publicaram sobre comunidade de prtica

    (corte dos dez primeiros) ............................................................. 150 Tabela 7: Organizaes que mais publicaram sobre comunidade de

    prtica (corte dos dez primeiros) .................................................. 150 Tabela 8: Nmero de publicaes por ano sobre comunidade de prtica

    (corte dos dez primeiros) ............................................................. 151 Tabela 9: reas de pesquisa que mais publicaram sobre comunidade de

    prtica (corte dos dez primeiros) .................................................. 151 Tabela 10: Artigos mais citados sobre motivao (corte dos dez

    primeiros) ................................................................................. 154 Tabela 11: Autores que mais publicaram sobre motivao (corte dos dez

    primeiros) ................................................................................. 156 Tabela 12: Pases que mais publicaram sobre motivao (corte dos dez

    primeiros) ................................................................................. 156 Tabela 13: Organizaes que mais publicaram sobre motivao (corte

    dos dez primeiros) ...................................................................... 157 Tabela 14: Publicaes por ano sobre motivao (corte dos dez

    primeiros) ................................................................................. 157 Tabela 15: reas de pesquisa que mais publicaram sobre motivao

    (corte dos dez primeiros) ............................................................. 158 Tabela 16: Artigos mais citados sobre gamificao. ....................... 160 Tabela 17: Autor que mais publicou sobre gamificao. ................. 160 Tabela 18: Organizao que mais publicou sobre gamificao......... 161 Tabela 19: Pases que mais publicaram sobre gamificao. ............. 161 Tabela 20: Publicaes por ano sobre gamificao......................... 161 Tabela 21: reas de pesquisa que mais publicaram sobre gamificao.

    ................................................................................................ 162

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CoP Comunidade De Prtica

    CoPs Comunidades de Prtica

    EGC Engenharia e Gesto do Conhecimento

    GC Gesto do Conhecimento

    IGTI Ncleo de Estudo em Inovao, Gesto e Tecnologia da

    Informao

    PPEGC Programa de Ps-graduao em engenharia e Gesto do

    Conhecimento

    TICs Tecnologia da Informao e Comunicao

    USA Estados Unidos da Amrica

    Univ. Universidade

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................ 27

    1.1 PROBLEMA DE PESQUISA .................................................. 27

    1.2 OBJETIVOS .......................................................................... 29

    1.2.1 Objetivo Geral ..................................................................... 29

    1.2.2 Objetivos Especficos ........................................................... 29

    1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................... 30

    1.4 DELIMITAO DA PESQUISA ............................................. 32

    1.5 ADERENCIA DO TEMA AO PPEGC ...................................... 32

    1.6 ESTRUTURA DA DISSERTAO ......................................... 33

    2 FUNDAMENTAO TERICA ............................................... 35

    2.1 COMUNIDADE DE PRTICA ............................................... 35

    2.1.1 Elementos fundamentais ....................................................... 43

    2.1.2 Fases de desenvolvimento ..................................................... 45

    2.1.3 Moderadores das Comunidades de Prtica ............................... 50

    2.2 MOTIVAO ....................................................................... 55

    2.2.1 Teoria da autodeterminao e da integrao orgnica ................ 64

    2.3 GAMIFICAO .................................................................... 71

    2.3.1 Histrico ............................................................................. 72

    2.3.2 Conceito, dimenses e estrutura da gamificao ....................... 75

    2.3.3 Aplicaes .......................................................................... 79

    2.3.4 Gamificao e motivao de pessoas ...................................... 87

    2.3.5 Os seis passos de Werbach e Hunter (2012) ............................. 90

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ................................... 95

    3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA ..................................... 95

    3.2 BIBLIOMETRIA.................................................................... 97

    3.3 REVISO DE LITERATURA ............................................... 100

    3.4 ELABORAO DAS DIRETRIZES ...................................... 100

  • 24

    3.4 DESENVOLVIMENTO DAS CONSIDERAES FINAIS ...... 103

    4 DIRETRIZES MOTIVACIONAIS PARA AS COMUNIDADES DE PRTICA ................................................................................. 105

    4.1 INTERSECO DAS TEORIAS ........................................... 105

    4.1.1 Interseco das teorias: comunidades de prtica e motivao.... 106

    4.1.2 Interseco das teorias: motivao e comunidades de prtica.... 107

    4.1.3 Interseco das teorias: comunidades de prtica e gamificao . 108

    4.2 DIRETRIZES....................................................................... 111

    4.2.1 Diretrizes para a fase inicial................................................. 112

    4.2.2 Diretrizes para a fase coalescncia ........................................ 113

    4.2.3 Diretrizes para a fase maturidade.......................................... 114

    4.2.4 Diretrizes para a fase manuteno......................................... 116

    4.2.5 Diretrizes para a fase transformao ..................................... 117

    4.3 VERIFICAO DAS DIRETRIZES ...................................... 118

    4.4 VERSO FINAL DAS DIRETRIZES..................................... 122

    5 CONSIDERAES FINAIS .................................................... 129

    5.1 RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS........... 130

    6 REFERENCIAS...................................................................... 132

    GLOSSARIO ............................................................................ 144

    APNDICE A - Anlise Bibliomtrica: Comunidade de Prtica ....... 148

    APNDICE B - Anlise Bibliomtrica: Motivao ......................... 154

    APNDICE C - Anlise Bibliomtrica: Gamificao na Web Of Knowledge................................................................................ 160

    APNDICE D Carta Convite .................................................... 164

    APNDICE E - Questionrio da 1 Rodada .................................. 166

    APNDICE F Resultado da 1 Rodada ....................................... 182

    APNDICE G Questionrio da 2 Rodada .................................. 186

    APNDICE H Resultado da 2 Rodada ...................................... 198

  • 25

  • 26

  • 27

    1 INTRODUO

    Este captulo composto pelo problema de pesquisa, objetivo

    geral e objetivos especficos, justificativa do tema, delimitao da

    pesquisa, aderncia da dissertao ao Programa de Ps-Graduao de

    Engenharia e Gesto do Conhecimento da Universidade Federal de

    Santa Catarina - PPEGC, e estrutura da dissertao.

    1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

    O conhecimento um poderoso recurso que direciona o

    crescimento da economia e que reflete, cada vez mais, na

    competitividade das organizaes. Neste contexto, a gesto do

    conhecimento (GC) e da inovao apresentam importantes contribuies

    (CROSSAN; APAYDIN, 2009; HUANG; WEI; CHANG, 2007;

    NONAKA; TAKEUCHI, 1995).

    Em um grupo de indivduos, o conhecimento abrange as tcnicas,

    as experincias, os hbitos, os instintos e as perspectivas (HUANG;

    WEI; CHANG, 2007). A capacidade de extrair, utilizar e criar este

    conhecimento importante e, para isso, as organizaes necessitam

    providenciar um ambiente que encoraje a troca de ideias (HUANG;

    WEI; CHANG, 2007).

    As prticas de gesto do conhecimento desenvolvidas nas

    organizaes tm se voltado para a construo de uma cultura de

    compartilhamento do conhecimento (HUNG, et al., 2011). O

    compartilhamento do conhecimento se refere a uma cultura

    de interao social, envolvendo a troca de conhecimento, de

    experincias e de habilidades, atravs de todo o departamento ou

    organizao (LIN, 2007).

    A criao de um ambiente que estimule a colaborao mtua

    um dos fatores crticos de sucesso da gesto do conhecimento, as

    comunidades de prtica (CoPs) so comumente utilizadas com essa

    finalidade, elas propiciam aos envolvidos a oportunidade de

    compartilharem, de aprenderem, de discutirem e de reutilizarem as

    melhores prticas (YANG; WEI, 2010).

    O conceito de comunidades de prtica composto por um

    arcabouo conceitual que reflete sobre a aprendizagem na sua dimenso

    social (PAULINO, 2011, p.25). Em outras palavras, uma CoP pode ser

    definida como um grupo de pessoas que interagem conforme um

  • 28

    interesse comum ou campo de aplicao, a finalidade da CoP

    aprendizagem adquirida atravs destas relaes sociais.

    O desempenho da comunidade de prtica influncia no sucesso

    da gesto do conhecimento (YANG; WEI, 2010). As CoPs

    complementam as estruturas tradicionais das organizaes, que

    atualmente contam com a tcnica como fonte de inovao e resoluo de

    problemas (JEON; KIM; KOH, 2011). A finalidade compartilhar o

    conhecimento de um membro para os outros, para que possa ser

    atualizado e aprimorado num nvel necessrio para criar melhores

    produtos e servios (YANG; WEI; 2010).

    Mediante as estruturas sociais que desenvolvem, as CoPs

    promovem a interao social para o compartilhamento do conhecimento

    de forma dinmica e contribuem com a superao dos desafios

    encontrados no gerenciamento do conhecimento (WENGER;

    MCDERMOTT; SNYDER, 2002). Elas so reconhecidas como uma

    tcnica organizacional efetiva que promove o compartilhamento dos

    conhecimentos implcitos e explcitos (JEON; KIM; KOH, 2011).

    Atravs da observao e interao com especialistas e nas

    discusses com colegas as comunidades promovem um ambiente

    favorvel para os indivduos se engajarem no aprendizado (LI; et al.,

    2009). Os ambientes podem ser de interao presencial ou mediados

    pelas tecnologias de informao e comunicao (TICs), estes ltimos

    permitem que as pessoas de diferentes localizaes geogrficas, fusos

    horrios e culturas possam interagir (JEON; KIM; KOH, 2011).

    Para o desenvolvimento de uma CoP, criticamente importante

    entender que motivadores psicolgicos sociais dos membros

    influenciam o compartilhamento do conhecimento, e que a satisfao

    destes motivadores so relevantes para o seu funcionamento (JEON;

    KIM; KOH, 2011).

    As relaes pelas quais a experincia social e cultural mediada

    pela motivao uma chave para o desenvolvimento de uma teoria da

    prtica (LAVE, WENGER, 2009). As organizaes precisam prestar

    ateno s diversas dimenses motivacionais e estabelecer um sistema

    adequado de apoio que fortalea cada dimenso motivacional, para

    estimular a participao dos membros das CoPs (JEON; KIM; KOH,

    2011).

    Como motivar os participantes de grupos ou comunidades uma

    questo atual (LI; POON, 2011). Neste contexto, a catalogao dos

    motivadores individuais e a anlise de diferentes mtodos motivacionais

  • 29

    para estimular atitudes positivas diante do compartilhamento do

    conhecimento, com nfase nas comunidades de prtica, ainda

    necessitam ser explorados (JEON; KIM; KOH, 2011).

    As teorias sobre a motivao orientam a concepo de

    mecanismos de incentivo para a participao em comunidades

    (VASSILEVA, 2012). Destaca-se que a combinao de estratgias que

    estimulem as motivaes intrnsecas e extrnsecas tm maior impacto

    sobre o compartilhamento do conhecimento do que a execuo de

    prticas isoladas (GALIA, 2008).

    Neste contexto gamification, traduzida para o portugus como

    gamificao, que integra a mecnica e a dinmica de jogos para a

    contexto de no-jogo, como produtos, servios, software, marketing e

    comunidades, esta tcnica aplica-se em todos os aspectos de nossas

    atividades dirias (LAW; KASIRUN; GAN, 2011). De acordo

    Valssileva (2012), o campo de aplicao da gamificao ilimitado, tm

    o potencial para gerar experincias agradveis, e pode ser utilizada para

    motivar as pessoas a permanecerem envolvidas em diversas atividades.

    Desta forma apresenta-se a seguinte pergunta de pesquisa: como

    a gamificao pode ser utilizada para motivar os membros das

    Comunidades de Prtica?

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 Objetivo Geral

    Propor diretrizes motivacionais para as Comunidades de Prtica

    com base na gamificao.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    a) Explicitar, com base na literatura, a relevncia da motivao no mbito das Comunidades de Prtica;

    b) Apontar, com base na literatura existente, como a motivao influncia o comportamento humano;

    c) Apresentar como a gamificao pode ser aplicada para motivar os membros das Comunidades de Prtica.

    d) Verificar as diretrizes com a aplicao do mtodo Delphi.

  • 30

    1.3 JUSTIFICATIVA

    Atualmente as comunidades de prtica so integradas aos

    objetivos estratgicos de negcios e so reconhecidas como uma efetiva

    tcnica organizacional (JEON; KIM; KOH, 2011). O estabelecimento

    das comunidades contribui com o aumento do nvel do conhecimento

    organizacional e individual (HUANG; WEI; CHANG, 2007). O

    ambiente proporcionado pelas CoPs estimula os membros

    voluntariamente a criarem e a compartilharem conhecimentos explcitos

    e implcitos (JEON; KIM; KOH, 2011).

    Neste sentido, as CoPs podem ser consideradas instrumentos da

    Gesto do Conhecimento que contribuem para o compartilhamento de

    expertises e paixes, para em colaborao mtua, desenvolver uma

    prtica ou na resoluo de problemas (PAULINO, 2011).

    No inicio as CoPs eram vistas como organizaes sociais

    autnomas, isto , o surgimento e a gesto partiam dos indivduos

    envolvidos. Atualmente, as organizaes buscam estrategicamente

    apoiar as redes existentes (informais) e deliberadamente estabelecer as

    CoPs (ZBORALSKI; SALOMO; GEMUENDEN, 2006).

    As organizaes podem criar um ambiente para que as CoPs

    possam prosperar e que encoraje a participao dos membros, tanto para

    as CoPs que crescem espontaneamente como para as que so

    cuidadosamente monitoradas, em contrapartida, se nada for feito, a CoP

    poder existir mas seu potencial ser desperdiado (WENGER;

    MCDERMOTT; SNYDER, 2002).

    A rede de relaes que se desenvolve em uma CoP, a motivao

    que impulsiona a participao dos indivduos envolvidos na rede, e que

    favorece a criao de um ambiente criativo e inovador (PAULINO,

    2011). A motivao dos indivduos que participam das CoPS um fator

    importante para seu desenvolvimento (SCHMITT, 2012). Para Dorling e

    Mccaffery, (2012) motivar os indivduos um dos aspectos mais

    importantes da gesto.

    Basicamente, pode-se dizer que a motivao dirige o

    comportamento humano (COVINGTON, 2000; MURRAY, 1978,

    RYAN; DECI, 2000; VALERRAND, 2004; WERBACH; HUNTER,

    2012). A teoria sobre o tema frequentemente dividida em duas

    categorias, motivao intrnseca e extrnseca (COVINGTON, 2000;

    GUAY; VALLERAND; BLANCHARD, 2000; HARDR, 2003;

    JEON; KIM; KOH, 2011, VALERRAND, 2004).

  • 31

    Os indivduos esto intrinsecamente motivados quando sua

    satisfao reside no contedo da prpria atividade, ou seja, ela

    valorizada por si prpria, desperta sentimentos de altrusmo, diverso,

    desafio, caridade, senso de autoeficcia (HUNG; et al., 2011; JEON; KIM; KOH, 2011; CHO; LI; SU, 2007).

    Os indivduos so motivados extrinsecamente quando a

    satisfao no reside no contedo da prpria atividade, ou seja, ela

    satisfaz necessidades indiretas e instrumentais, para isso indica a

    necessidade de recompensas financeiras e sociais (AMABILE, 1997,

    LIN, 2007; CHO; LI; SU, 2007; HUNG; et al., 2011).

    A motivao a alavanca de uma mudana de comportamento

    sustentada e os jogos esto entre as ferramentas motivacionais mais

    poderosas (WERBACH; HUNTER, 2012). Os indivduos so

    confrontados na sua vida quotidiana com as atividades no

    motivacionais, a gamificao uma tcnica que promove a motivao

    individual em determinadas atividades, para isso baseia-se na aplicao

    de elementos de jogos no mundo real e em reas diversificadas para

    motivar indivduos a realizarem trabalhos srios e com foco na produo

    (SIMES; REDONDO; VILAS, 2012; NELSON, 2012).

    Organizaes utilizam a gamificao para aumentar

    produtividade, alcanar inovao, criar colaborao mtua, esta tcnica

    orienta as organizaes a aprimorar cada individuo na direo dos

    objetivos organizacionais (WERBACH; HUNTER, 2012). Nos

    prximos anos a gamificao ser uma aliada da inovao (DORLING;

    MCCAFFERY, 2012).

    A tcnica atraiu o interesse de pesquisadores como um meio em

    potencial para criar engajamento no trabalho ou facilitar a colaborao

    em massa (DETERDING; et al., 2011). As pesquisas recentes, entre

    elas, Ahola, et al., (2013), Meder, et al, (2011), Passos, et al., (2011),

    Bista, et al., (2012), Deterding, et al., (2011), indicam que a gamificao

    uma rea promissora e que deve ser aplicada nos mais diferentes

    contextos organizacionais.

    O desenvolvimento desta dissertao iniciou-se com pesquisas

    bibliogrficas sobre a gesto do conhecimento e, mais especificamente,

    sobre o compartilhamento do conhecimento. Os resultados das anlises

    destes temas apontaram que a Comunidade de Prtica propicia um

    ambiente favorvel para o compartilhamento do conhecimento, e que a

    motivao dos membros importante para obter resultados positivos.

  • 32

    Com isso, justifica-se essa pesquisa com foco na motivao dos

    membros das comunidades de prtica e que apresenta diretrizes

    motivacionais com a finalidade de preencher as lacunas da pesquisa e da

    pratica no mbito das CoPs.

    Para a construo das diretrizes, esta dissertao baseou-se na

    gamificao, que se trata de uma tcnica consolidada que propicia a

    insero de elementos dos jogos com a finalidade de motivar indivduos

    na participao de atividades ou execuo de tarefas.

    Por fim, o tema escolhido para esta dissertao, Diretrizes

    motivacionais para Comunidades de Prtica com base na gamificao

    apresenta contribuies para o avano dos temas relacionados, e seus

    resultados podem colaborar para a gesto do conhecimento e da

    inovao.

    1.4 DELIMITAO DA PESQUISA

    Esta dissertao limita sua realizao ao desenvolvimento de

    diretrizes para motivar membros das comunidades de prtica. Outros

    fatores importantes para o sucesso das CoPs ficaram fora do escopo

    desta pesquisa.

    A pesquisa sobre motivao que balizou este estudo restringe-se

    teoria das motivaes intrnsecas e extrnsecas, com nfase na teoria da

    autodeterminao. Outras abordagens tericas sobre essa temtica no

    foram utilizadas no texto.

    Com relao ao desenvolvimento das diretrizes motivacionais,

    esta dissertao norteou-se no campo de pesquisa da gamificao, que

    proporciona uma abordagem prtica para intervir na motivao dos

    indivduos. Outros campos e tcnicas com objetivos semelhantes no

    foram includos na pesquisa.

    As diretrizes elaboradas foram desenvolvidas com base na busca

    sistemtica da literatura e verificadas com o apoio do mtodo Delphi

    junto a especialistas em Comunidades de Prtica. No entanto, as

    diretrizes no foram aplicadas, sendo este um estudo futuro.

    1.5 ADERENCIA DO TEMA AO PPEGC

    O Programa de Ps-graduao em Engenharia e Gesto do

    Conhecimento (PPGEGC) tem como objeto principal o conhecimento.

  • 33

    Neste contexto, a pesquisa de tcnicas que contribuem para o

    compartilhamento do conhecimento est entre os objetivos do programa.

    Entre outras tcnicas, selecionou-se comunidade de prtica como

    foco do desenvolvimento desta pesquisa. As CoPs representam um tema

    importante dentro do PPEGC, verificou-se no banco de teses e

    dissertaes do programa 10 pesquisas nesta rea, entre elas, Schmitt

    (2012), e Paulino (2011). Alm destes, 11 estudos que no se referem

    diretamente s CoPs mas esto relacionados ao tema. Desta forma

    adere-se ao PPEGC ao aprimoramento deste campo terico.

    Tambm de responsabilidade do programa o desenvolvimento

    de pesquisas interdisciplinares que, no caso desta dissertao, compe-

    se na integrao das reas de gesto do conhecimento e inovao,

    comunidades de prtica, motivao e gamificao dentro da linha de

    pesquisa de mdia e conhecimento.

    1.6 ESTRUTURA DA DISSERTAO

    Para realizar este estudo foram elaborados seis captulos. O

    primeiro captulo introduz e problematiza os temas Comunidade de

    Prtica, Motivao e Gamificao no mbito da gesto do conhecimento

    e da inovao. Em seguida, apresenta-se a justificativa da relevncia da

    temtica, as delimitaes e a aderncia da dissertao junto ao PPEGC.

    No segundo captulo apresenta-se a reviso literatura sobre os

    temas centrais. Com relao s comunidades de prtica, destacam-se as

    informaes referentes aos seus elementos fundamentais, as diferentes

    fases de desenvolvimento e a relevncia da motivao dos membros

    para alcanar resultados positivos. A reviso sobre o segundo tema

    aponta, com base na literatura, como a motivao afeta o

    comportamento humano e enfatiza a dicotomia motivao intrnseca e

    motivao extrnseca e a teoria da motivao autodeterminada. Com

    relao gamificao, a reviso descreve seus componentes e como esta

    tcnica aplicada para motivar os indivduos.

    O captulo trs descreve a caracterizao, os procedimentos

    metodolgicos selecionados para a realizao da pesquisa, as etapas de

    desenvolvimento e os principais dados da bibliometria dos temas.

    No quarto captulo desenvolvem-se as diretrizes motivacionais

    para as comunidades de prtica. Para orientar a elaborao das

    diretrizes, baseou-se na reviso de literatura, e, principalmente, no livro

    de Wenger, McDermott e Snyder (2002) sobre comunidades de prtica,

  • 34

    Werbach e Hunter (2012) sobre gamificao, nos artigos de Ryan e Deci

    (2000) sobre motivao e na teoria sobre perfil de jogadores com base

    no pesquisador Richard Bartle.

    O capitulo cinco apresenta as consideraes finais sobre o tema e

    o desenvolvimento da dissertao e as recomendaes para trabalhos

    futuros. Por fim, no captulo seis indicam-se as referncias utilizadas

    neste estudo.

    http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Bartle
  • 35

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    Este captulo apresenta a reviso de literatura desta dissertao. A

    primeira parte refere-se ao histrico das comunidades de prtica, os

    benefcios individuais e organizacionais, os elementos fundamentais

    desta tcnica, as fases de desenvolvimento, relevncia da motivao dos

    membros e as funes dos moderadores das CoPs. Em seguida, este

    captulo introduz o tema motivao intrnseca e extrnseca, e as teorias

    complementares: autodeterminao e integrao orgnica e como elas

    norteiam o comportamento humano. Por fim, expe-se o que a

    gamificao e como aplicada em diferentes contextos para motivar os

    indivduos.

    2.1 COMUNIDADE DE PRTICA

    Toda organizao tem comunidades reconhecidas ou no, e todos

    os indivduos pertencem a comunidades de prtica, no trabalho, em casa,

    na escola, em nossos passatempos (WENGER; MCDERMOTT;

    SNYDER, 2002). Pode-se dizer que a CoPs uma ferramenta

    organizacional formada por grupos de indivduos com interesses,

    conhecimentos, preocupaes, habilidades e treinamento semelhantes,

    que se agregam em alguma situao social, como uma reunio ou

    conferncia, com o objetivo de compartilhar o que eles sabem ou o que

    desconhecem (WENGER; TRAYNER; LAAT, 2011).

    Desde a civilizao primitiva, as Comunidades de Prtica

    surgiram como as primeiras estruturas sociais baseadas em

    conhecimento, e at os dias de hoje continuam a se proliferar em todos

    os aspectos da vida humana (WENGER; MCDERMOTT; SNYDER,

    2002).

    Na Idade Media, as comunidades tinham objetivos basicamente

    sociais e mercantis, mas ainda nesta poca observa-se que o

    compartilhamento do conhecimento ocorria entre os comerciantes e os

    aprendizes que repercutiam na inovao dos produtos e dos servios.

    Atualmente o foco da CoP est no aprendizado, a mudana mais notria

    em sua estrutura na forma de agrupamento, pois antes as pessoas

    interagiam por conta prpria, agora, cada vez mais as CoPs so

    promovidas pelas de organizaes (SCHMIDT, 2012)

    Os indivduos que participam de uma CoP sentem paixo pelo

    tema do domnio, disseminam conhecimento e criam um espao social

  • 36

    em que os participantes podem descobrir e promover parcerias - formais

    ou informais - de aprendizagem relacionadas ao domnio compartilhado

    (WENGER; TRAYNER; LAAT, 2011).

    O termo organizacional comunidade de prtica relativamente

    recente e apresenta uma nova perspectiva de aprendizagem (ou

    resoluo de problemas), no contexto de interao social (LAKSOVA,

    MANNB, DAHLGREN, 2008; POPOVICIU, POPOVICIU, 2011). O

    conceito de CoP foi criado por Lave e Wenger, em 1991, que

    desenvolveram a teoria da aprendizagem situada com base nos conceitos

    de prticas compartilhadas e engajamento mtuo, e num conjunto de

    antecedentes sociolgicos e antropolgicos amplamente aceitos

    (BETTIOL; SEDITA, 2011; KLINE; BARKER 2011; LI; et al., 2009).

    O objetivo inicial era examinar como o aprendizado acontece

    entre os participantes de um ambiente social, por exemplo, nos

    encontros informais onde profissionais interagem e compartilham

    histrias e experincias e os novatos consultam abertamente os

    especialistas (LI; et al., 2009). Em seguida, passou a indicar como as

    pessoas aprendem nas organizaes e como a identidade da comunidade

    afeta a disseminao de conhecimento durante a colaborao

    interpessoal (KLINE; BARKER 2011; LI; et al., 2009).

    No segundo livro de Wenger, publicado em 1998, as CoPs so

    tratadas como entidades orientadas por trs dimenses inter-

    relacionadas: o engajamento mtuo, o empreendimento conjunto, e o

    repertrio compartilhado. Com o crescente reconhecimento das

    comunidades, o final dos anos 1990 foi marcado por uma srie de

    relatrios publicados sobre grupos intitulados Comunidade de Prtica,

    por exemplo, o estudo etnogrfico de Orr Talking about Machine

    sobre um caso da Xerox (LI; et al., 2009).

    Verifica-se que o conceito de comunidades de prtica refere-se a

    um sistema social de aprendizagem, ou seja, abrange a dimenso social

    de um processo de aprendizagem (PAULINO, 2011). Para esta pesquisa

    destaca-se o conceito de Comunidades de Prtica:

    "Comunidades de prtica so grupos de pessoas que compartilham uma preocupao, um conjunto

    de problemas, ou uma paixo sobre um tpico, e

    que aprofundam seu conhecimento e experincia nesta rea, interagindo em meios contnuos"

    (WENGER; MCDERMOTT; SNYDER, 2002, p. 4, traduo nossa).

  • 37

    O conceito de CoP pode ser usado para fornecer orientaes para

    o desenvolvimento de grupos, equipes e redes, pois implica em grupos

    de pessoas ligadas por um interesse comum e que definem suas

    identidades pelos papis que desempenham e suas relaes (LI; et al.,

    2009). Portanto, pode ser usado em qualquer grupo de pessoas que tm

    em comum: uma profisso; um conjunto de interesses e/ou

    necessidades; e / ou compartilham uma srie de objetivos especficos

    (POPOVICIU, POPOVICIU, 2011).

    Neste contexto, uma CoP, muitas vezes, refere-se a um grupo,

    autoconsciente e reconhecido externamente, grande ou pequeno,

    geograficamente situado ou no, que interage regularmente de forma

    harmoniosa para trocar conhecimentos e tratar de questes de interesse

    em comum (KLEIN; HIRSCHHEIM, 2008).

    Embora as comunidades de prtica e outros grupos

    organizacionais sejam estruturas semelhantes, importante compreender

    as principais diferenas. O Quadro 1 apresenta uma comparao entre as

    CoPs, os grupos formais, as equipes de projeto e as redes informais.

    Destacam-se as principais caractersticas de cada um com relao aos

    objetivos, aos participantes, aos aspectos comuns entre eles, e durao.

    Quadro 1: Comparao das CoPs com outras formas de organizao grupal

    Comunidade de

    Prtica

    Grupo de trabalho

    formal

    Equipe de

    projeto Rede informal

    Objetivo

    Desenvolver as

    competncias dos participantes;

    gerar e trocar conhecimentos

    Desenvolv

    er um

    produto / servio

    Realizar

    uma

    determinada tarefa

    Colher e

    transmitir

    informaes empresariais

    Partici- pantes

    Os participantes se

    autosselecionam

    Voluntrios que se

    apresentam ao

    gerente do grupo

    Pessoas

    escolhidas pelos

    gerentes

    Amigos e

    conhecidos do meio

    empresarial

    O que h em

    comum

    Paixo, compromisso e

    identificao com os conhecimentos

    especializados do

    grupo

    Requisitos

    de trabalho e metas em

    comum

    Metas e

    pontos importantes

    do projeto

    Necessidades mtuas

  • 38

    Comunidade de

    Prtica

    Grupo de

    trabalho formal

    Equipe de projeto

    Rede informal

    Durao

    Enquanto houver interesse na

    manuteno do grupo

    At a nova criao do

    produto ou servio

    At o trmino do

    projeto

    Enquanto as pessoas tiverem

    um motivo par a manter contato

    Fonte: Schmitt (2012)

    Observa-se no Quadro 1 que nas CoPs, diferentes das outras

    formas de organizao grupal, os membros desenvolvem um interesse

    pessoal e compartilhado pelo tema que promove uma participao

    voluntria e contribui com a obteno de benefcios individuais.

    Quando os indivduos participam de uma comunidade de prtica

    eles no formam apenas um grupo de pessoas, ou uma teia de interaes,

    eles desenvolvem um senso de pertencimento e compromisso mtuo e

    compartilham significados do domnio que eles praticam (LAKSOV;

    MANN; DAHLGREN, 2008).

    As CoPs propiciam a formao de grupos de pessoas qualificadas

    com as quais possvel desenvolver projetos, promover o

    compartilhamento de conhecimentos e estabelecer uma identidade

    comum nas relaes sociais (BETTIOL; SEDITA, 2011).A composio

    de uma CoP promove a forma e o contexto, bem como contedo para os

    profissionais aspirantes, que precisam no apenas adquirir o

    conhecimento explcito da comunidade, mas tambm a identidade de

    uma comunidade (DUGUID, 2005).

    As CoPs estimulam o compartilhamento do conhecimento e a

    criatividade dos indivduos (HUANG; WEI; CHANG, 2007; LI; et al.,

    2009). Nelas os indivduos desenvolvem novos conhecimentos, o

    conhecimento refletido, compartilhado e reformulado para a

    construo de prticas (ARMANIOS, 2010).

    A comunidade de prtica promove uma viso de mundo para

    desenvolvimento da prtica, com base em diferentes elementos

    compartilhados como os conhecimentos, os conceitos, as observaes,

    os valores, os significados, as suposies e as crenas (KLEIN;

    HIRSCHHEIM, 2008). Elas promovem a aprendizagem individual no

    sentido de se tornar um praticante, ou seja, vo alm do acmulo de

    conhecimento que desenvolve a capacidade de falar sobre algo -

    conhecimento explcito, para transform-lo numa prtica - conhecimento

    tcito (DUGUID, 2005).

  • 39

    Em suma, as Comunidades de Prtica podem ser traduzidas como

    uma parceria de aprendizagem entre pessoas que transitam em um

    mesmo domnio de conhecimento e reconhecem a vantagem do ato de

    compartilhar e aprender com o outro (SCHMITT, 2012).

    Verifica-se que uma das caractersticas mais importantes e

    vantajosa das CoPs o desenvolvimento de uma prtica com base nos

    conhecimentos compartilhados, ou seja, alm das redes sociais e do

    aprendizado coletivo, elas produzem resultados prticos, que abrangem

    a inovao de produtos, servios e procedimentos internos.

    As CoPs tem potencial de impactar positivamente os resultados

    das atividades individuais e organizacionais. No Quadro 2 apresenta-se

    os principais benefcios que as CoPs proporcionam para os membros e

    para as organizaes, a curto e a longo prazo.

    Quadro 2: Benefcios das CoPs

    Wenger; Mcdermott e Snyder (2002)

    Schmitt (2012)

    Ben

    ef

    cio

    s p

    ara

    a o

    rg

    an

    iza

    o

    Va

    lores

    c

    urto

    pra

    zo

    - Ambiente para resoluo de

    problemas;

    - Resposta rpida para as questes;

    - Tempo e custos reduzidos ; - Aprimorar qualidade das

    decises; - Mais perspectivas nos

    problemas;

    - Coordenao, padronizao e sinergias em todas as unidades ;

    - Pesquisas para a implementao de estratgias;

    - Garantia de qualidade reforada; - Capacidade de assumir riscos

    com o apoio da comunidade.

    - Fornecer ferramenta

    valiosa para o

    desenvolvimento, compartilhamento e

    gerenciamento de conhecimento especializado;

    - Evitar conhecimentos repetitivos;

    - Dissolver as barreiras

    departamentais e horizontais;

    - Flexibilizar a comunicao; - Gerar novos

    conhecimentos em resposta aos problemas e

    oportunidades.

    Va

    lores

    lo

    ng

    o

    pra

    zo

    - Capacidade de executar um

    plano estratgico; - Autoridade com os clientes ;

    - Aumento retenes de talentos - Capacidade para projetos de

    gesto do conhecimento;

    - Frum para benchmarking contra resto da indstria;

    - Alianas baseadas no

    - Sinalizar antecipadamente

    oportunidades e ameaas do ambiente;

    - Constituir um veculo de mudana cultural (cria uma

    cultura de compartilhamento

    do conhecimento).

  • 40

    conhecimento;

    - Surgimento de capacidades no planejadas;

    - Capacidade para desenvolver

    nova opo estratgica; - Capacidade de prever os

    desenvolvimentos tecnolgicos - Capacidade de tirar proveito das

    oportunidades de mercados emergentes.

    Ben

    ef

    cio

    s p

    ara

    os

    mem

    bro

    s d

    a c

    om

    un

    ida

    de

    Va

    lores

    c

    urto

    pra

    zo

    - Ajuda com desafios; - Acesso ao conhecimento;

    - Maior capacidade para contribuir com a equipe;

    - Confiana para sua abordagem dos problemas;

    - Diverso por interagir com os

    colegas; - Participao mais significativa;

    - Sentimento de pertena.

    - Ajudar o contato de especialistas para o

    aprendizado que auxiliam a enfrentar os desafios

    cotidianos no trabalho; - Aumentar a

    autoconscincia e

    autoconfiana sobre o conhecimento pessoal;

    - Fornecer um espao no ameaador que propicia a

    gerao de novas ideias e novos cursos de ao.

    Va

    lores

    l

    on

    go

    pra

    zo

    - Frum para a expanso habilidades e competncias;

    - Rede para se manter a par de um campo;

    - Melhor reputao profissional - Aumento da liquidez e da

    empregabilidade;

    - Forte senso de identificao profissional.

    - Aumentar o compromisso profissional;

    - Aumentar a reputao profissional dos membros .

    Fonte: elaborado pela autora.

    As CoPs apresentam vrios benefcios individuais, a curto e

    longo prazo, principalmente no que tange a autoconfiana para o

    compartilhamento do conhecimento. Destaca-se que os benefcios

    organizacionais so ainda mais numerosos, as comunidades reduzem

    tempo e custo e apresentam mais qualidade na tomada de decises e

    resoluo de problemas, longo prazo fortalece o relacionamento da

    organizao com os clientes e com os talentos internos e aumenta a

    capacidade para desenvolver estratgias de mercado pioneiras.

  • 41

    Organizaes pblicas e privadas, reconhecidas

    internacionalmente, j comprovaram alguns desses impactos positivos

    com suas CoPs. O Quadro 3 aponta os resultados obtidos com as

    algumas comunidades entre os anos de 1995 e 2001.

    Quadro 3: Resultados das CoPs para as organizaes

    Organizaes rea de atuao

    Implantao

    das CoPs/anos

    Principais resultados

    IBM Telecomunicao 1995 Mais de 60 CoPs criaram novos conhecimentos

    para a IBM

    Banco

    Mundial

    Instituio

    Financeira 1996

    Mais de 120 CoPs, com

    cerca de 2.000 membros, estavam ativas e bem

    sucedidas no banco. No entanto, o Banco Mundial

    no compreendia como suas Comunidades

    trabalhavam e nem

    porque alcanavam o sucesso.

    Andersen Consultoria

    em Educao

    Consultoria 1996

    A empresa adquiriu uma

    cultura baseada na

    colaborao e no trabalho em equipe. As CoPs

    economizaram em custos e aumentaram a

    produtividade.

    Ernest e

    Young Consultor 1997

    As CoPs proporcionaram

    respostas muito eficientes aos que as consultaram.

    As solues emergiram por meio da reutilizao

    das informaes e dos documentos criados para

    casos anteriores e

    semelhantes.

    Ford Fabricantes de

    carro Final da

    dcada de 90

    A organizao aumentou sua eficincia por meio

    das Comunidades.

  • 42

    Organizaes rea de atuao

    Implantao

    das CoPs/anos

    Principais resultados

    Open Source

    Communities Softwares

    Final da

    dcada de 90

    Os membros estavam muito motivados, e os

    softwares desenvolvidos pela empresa j eram

    fortes concorrentes para os sistemas proprietrios.

    Schumberger Servios em

    tecnologia 2000

    As comunidades

    proporcionaram a criao de uma cultura de

    compartilhamento do

    conhecimento.

    Xerox Servios de

    tecnologia 2000

    As CoPs constituram a pedra fundamental para

    a gerao do conhecimento e para a

    inicializao do processo

    de identificao das competncias centrais da

    Xerox.

    Watson Wyatt

    Consultoria 2000

    CoPs foram validas para

    o compartilhar do conhecimento entre

    diferentes ambientes da organizao.

    Departamento

    de defesa (USA)

    Administrao

    pblica 2001

    As CoPs aceleraram as

    decises corporativas,

    economizaram custos e aumentaram a

    produtividade.

    IBICT - Instituto

    Brasileiro de

    Informao e Tecnologia

    Administrao pblica

    2007

    A CoP foi criada como instrumento para a

    aprendizagem

    organizacional

    Fonte: Adaptado de Schmitt (2012)

    No Quadro 3, nota-se que as CoPs tem o potencial para serem

    aplicadas em diferentes tipos de organizaes, como: indstrias,

    empresas de consultoria, rgos pblicos, etc. A existncia das CoPs

  • 43

    gera ambientes colaborativos que apresentam resultados inclusive no

    mbito das grandes organizaes internacionais.

    Segundo Klein e Hirschheim (2008), cinco critrios indicam a

    existncia das CoPs nas organizaes:

    (1) Interao frequente entre os membros

    (2) Rotinas de interao (incluindo os padres ou ritmos de troca

    de conhecimento),

    (3) Evoluo de um grupo,

    (4) Capacidade de absorver seletivamente os recm-chegados,

    (5) Formao de fronteira porosa que os distingue de outras

    comunidades e do seu contexto circundante, que indica a cooperao

    com outras CoPs.

    Neste contexto as CoPs desenvolvem diferentes caractersticas.

    Seu tamanho oscila entre duas, trs ou milhares de pessoas, podendo tal

    associao tanto ser homognea como heterognea, no que se refere ao

    conhecimento dos membros sobre o domnio em discusso (SCHMITT,

    2012).

    Atualmente, o desenvolvimento das TICs propiciam a interao

    virtual e com isso indivduos separados geograficamente podem

    interagir em ambientes denominados Comunidades Virtuais de Prtica

    (SCHMITT, 2012; PAULINO, 2011).

    Nesta seo, verificou-se que a CoP uma tcnica com potencial

    para aumentar o compartilhamento do conhecimento. Ela pode ser

    desenvolvida em diversos contextos e possui caractersticas distintas, no

    entanto, trs elementos so fundamentais para sua existncia: domnio,

    comunidade e prtica, apresentados na seo seguinte.

    2.1.1 Elementos fundamentais

    As comunidades de prtica, apesar de apresentarem diferentes

    formas, compartilham a mesma estrutura bsica, uma combinao

    fundamental de trs elementos: um domnio do conhecimento, que

    define um conjunto de questes; uma comunidade de indivduos que se

    preocupam com o domnio; e a prtica compartilhada da rea em

    desenvolvimento referente a ele (WENGER; MCDERMOTT;

    SNYDER, 2002).

    Ainda de acordo com os autores Wenger, Mcdermott e Snyder,

    (2002):

  • 44

    Domnio: cria um campo comum e um senso de identidade. Quando bem definido, legtima a comunidade por afirmar os

    valores e os propsitos para os membros e outros grupos de

    interesse. O domnio guia o aprendizado e d sentido s aes.

    Comunidade: cria um ambiente social de aprendizado. Uma comunidade fortalecida mantm as interaes e relaes baseadas

    no respeito e confiana.

    Prtica: conjunto de frameworks, ideais, ferramentas, informaes estilos, linguagens, histrias e documentos. A prtica

    o conhecimento especfico que a comunidade desenvolve,

    compartilha e mantm.

    Conforme Kilbride; et al. (2011), o domnio, a comunidade e a

    prtica, so elementos fundamentais que se inter-relacionam (de forma

    que as pessoas se unem com foco no domnio especfico para

    desenvolver a prtica a que se refere (Figura 1).

    Figura 1: A inter-relao dos trs elementos-chave das CoP

    Fonte: Adaptado de Kilbride, et al., (2011).

    A viso compartilhada (domnio) contribui para a superao das

    dificuldades iniciais do trabalho em grupo e deve ser o ponto de partida

    da CoP. A definio do objetivo principal das aes dos indivduos,

    proporciona um entendimento comum como base para o trabalho de

    DO MNIO

    Foco, guias de aprendizado,

    significados e valores, identidade comum

    PRATICA Engajamento

    mtuo na atividade

    do domnio

    CO MUNIDADE

    Pessoas que se interessam pelo

    domnio e interagem na

    prtica

  • 45

    colaborao, assim configura-se uma comunidade com um grupo de

    indivduos que se interessam ou se preocupam com o domnio e com a

    prtica relativa e que proporciona a eles um senso de pertencimento

    diante da comunidade (KILBRIDE, et al., 2011).

    Neste contexto, a comunidade pode existir ao longo do tempo,

    apesar de uma mudana de participantes, ela desenvolve seus prprios

    mtodos de cultura e de comunicao medida que se desenvolve (LI;

    et al., 2009).

    Na prxima seo apresenta-se as diferentes fases de

    desenvolvimento das CoPs e as principais caractersticas dos trs

    elementos em cada uma delas.

    2.1.2 Fases de desenvolvimento

    Wender, McDermott e Snyder (2002) apontam cinco fases de

    desenvolvimento das CoPs: inicial, coalescncia, maturidade,

    manuteno e transformao. Destaca-se que, possvel que em uma

    comunidade, de acordo com o andamento das atividades, essas fases no

    se desenvolvam linearmente ou at mesmo que alguma delas no ocorra.

    De qualquer forma suas caractersticas obedeam uma sequencia bsica:

    1) Surgem networking dispersos, com potencial para tornarem-se mais conectados e mais importantes como parte da organizao;

    2) Em seguida, os membros se conectam e aderem a uma comunidade, a CoP cresce;

    3) Quando madura, as comunidades passam por crculos de baixa e alta atividades;

    4) Atingem a fase de manuteno dos conhecimentos e das prticas; 5) Por fim se transformam, encerrando suas atividades, ou se

    tornando clubes sociais, ou se tornando outras comunidades ou

    sendo institucionalizadas.

    No decorrer destas fases de desenvolvimento, os trs elementos

    fundamentais se transformam e norteiam o envolvimento dos membros.

    O Quadro 4 apresenta como esto inseridos os elementos fundamentais

    nas fases e as principais atividades conforme indicadas por Wenger,

    Mcdermott e Snyder, (2002).

  • 46

    Quadro 4: Fases de desenvolvimento das CoPs.

    Dimenses Principais atividades

    Inic

    ial

    Domnio: definir o escopo do domnio alinhado s

    questes organizacionais e de forma que provoca o

    interesse de membros potenciais

    Descobrir e imaginar;

    Planejar as Comunidades;

    Determinar a principal inteno da comunidade; Definir o domnio e identificar as questes envolvidas;

    Construir um caso para ao; Identificar o potencial de coordenador e lderes;

    Entrevistar membros potenciais; Conectar os membros da comunidade;

    Criar um projeto preliminar para a comunidade;

    Escolher coordenador (moderador) da comunidade.

    Comunidade: encontrar pessoas que j formam uma rede sobre o tema e ajud-los a imaginar como o

    aumento da rede e o compartilhamento de conhecimento pode ser valioso.

    Prtica: identificar as necessidades de conhecimento comuns.

    Co

    ale

    scn

    cia

    Domnio: estabelecer o valor da partilha de conhecimentos sobre esse domnio.

    Incubar e gerar valor imediato; Construir um processo de adeso;

    Lanamento de comunidade; Criar eventos e espaos comunitrios;

    Legitimar coordenadores da comunidade;

    Construir conexes entre os membros do grupo principal; Encontrar as ideias, percepes e prticas que valem a pena

    compartilhar; Identificar oportunidades para agregar valor;

    Envolver os membros.

    Comunidade: desenvolver relacionamento e

    confiana suficiente para discutir problemas genuinamente comuns da prtica.

    Prtica: descobrir especificamente o conhecimento

    que deve ser compartilhado

  • 47

    Dimenses Principais atividades

    Ma

    turid

    ad

    e

    Domnio: definir seu papel na organizao e sua

    relao com outros domnios

    Identificar lacunas no conhecimento e desenvolver uma

    agenda de aprendizagem;

    Definir o papel da comunidade na organizao; Redefinir as fronteiras da comunidade;

    Medir o valor da comunidade; Manter um foco pioneiro;

    Construir e organizar um repositrio de conhecimento; Definir um bibliotecrio para a comunidade.

    Comunidade: gerir o limite da comunidade, que j no apenas uma rede de amigos profissionais. Na

    definio de novas e mais largas fronteiras a comunidade deve garantir que no se distancie de

    seu objetivo principal.

    Prtica: neste momento muda de simplesmente

    compartilhar ideias e insights para organizar o conhecimento da comunidade e levando a

    administrao a srio.

    Ma

    nu

    ten

    o

    Domnio: manter a relevncia do domnio e para

    encontrar uma voz na organizao

    Institucionalizar a voz da comunidade;

    Rejuvenescer a comunidade; Realizar um workshop de renovao;

    Recrutar ativamente novas pessoas para o grupo central; Desenvolver uma nova liderana;

    Mentor para os novos membros;

    Procurar relacionamentos e benchmarks fora da organizao.

    Comunidade: manter o foco intelectual na

    comunidade de forma viva e envolvente

    Prtica: manter a comunidade na vanguarda

    Fonte: elaborado pela autora (2014) .

  • 48

    No Quadro 4 observa-se que embora os trs elementos

    fundamentais mantenham o mesmo objetivo (domnio, comunidade e

    pratica), eles se adequam as caractersticas e s atividades de cada fase. .

    Destaca-se que a fase de transformao no aparece no Quadro 4,

    para Wenger, Mcdermott e Snyder, (2002), nesta fase as CoPs

    simplesmente acabam, ou se tornam um clube social, ou se transformam

    em outra(s) comunidade(s), ou se institucionalizam, desta forma os

    autores no estabeleceram s atividades pertinentes. Destaca-se que

    oficializar o encerramento facilita o estabelecimento individual da

    memria e do legado da comunidade e refletir sobre as oportunidades,

    contribuies e relaes desperdiadas para ter um comportamento mais

    positivo numa prxima oportunidade (WENGER; MCDERMOTT;

    SNYDER, 2002).

    Durante o desenvolvimento das comunidades, existe uma tenso

    entre a satisfao das necessidades dos indivduos para o crescimento

    pessoal contra linha de fundo da organizao. Para superar este desafio

    necessrio construir intervenes promissoras para facilitar a interao

    dos indivduos, com base nas TICs e em outras infraestruturas

    organizacionais (LI; et al., 2009).

    A participao dos membros se refere ao processo de se tornar

    parte e tambm das relaes com os outros que refletem este processo,

    portanto sugere ao e conexo, envolve o corpo, a mente, as emoes e

    as relaes sociais num sentido de fazer, falar, pensar, sentir e pertencer

    (WENGER; MCDERMOTT; SNYDER, 2002). A diferena entre os

    membros que participam ativamente ou inativamente ainda grande, por

    isso preciso motivar os indivduos para aumentar as chances da

    comunidade se tornar sustentvel (BISTA, et. al, 2012).

    Existem formas de tentar equalizar a desigualdade das

    participaes: as organizaes devem, por exemplo, facilitar a

    participao; tornar a participao automtica; promover aes de

    edio ao invs de criao de contedo; recompensar e promover os

    melhores colaboradores (VIEIRA; et al.,2012). A implantao de

    sistemas de recompensa e de avaliao de desempenho motivam os

    membros para aprender e para compartilhar conhecimentos (HUANG; WEI; CHANG, 2007).

    O compartilhamento de experincias nas comunidades uma

    opo pessoal, ou seja, depende da motivao do indivduo, este um

    processo complexo, pois os interesses variam de pessoa para pessoa,

    como: curiosidade pelo tema, vontade de adquirir novos conhecimentos,

  • 49

    construir uma rede de contatos, ou de aumentar o status dentro da

    organizao (SCHMITT, 2012).

    Alguns aspectos podem estimular ou bloquear o ato de

    compartilhar o conhecimento. O Quadro 5 apresenta os principais

    aspectos dentro de cada rea de maior influncia para o processo.

    Quadro 5: reas e aspectos que influenciam o compartilhamento do

    conhecimento

    rea Aspectos Relativos

    Contexto organizacional

    Inclui aspectos como o apoio da gesto,

    recompensas e incentivos, estrutura organizacional, cultura e clima, caractersticas das lideranas e o

    contexto.

    Caractersticas

    interpessoais da equipe

    Abordam as caractersticas da equipe processos,

    diversidade, redes sociais e estgio de desenvolvimento do grupo.

    Caractersticas culturais

    Referente ao coletivismo (no grupo e fora do grupo) e outros contextos culturais;

    Fatores motivacionais

    Incluem crenas do conhecimento, propriedade,

    percepo dos custos e benefcios, justia, confiana, atitudes individuais, custos sociais, nvel de

    confiana e coeso da equipe.

    Caractersticas individuais

    Instruo formal e informal, experincia

    profissional, personalidade, autoeficcia, percepes (por exemplo, conhecimento como poder), avaliao

    da apreenso, gerenciamento de impresso.

    Fonte: Elaborado pela autora com base em Schmitt (2012, p.44).

    Embora os fatores motivacionais estejam destacados em uma rea

    especfica do Quadro 5, verifica-se que as demais reas tambm so

    impactadas por fatores relativos s estratgias de motivao, como

    recompensas, incentivos, redes sociais e autoeficcia.

    Pesquisas recentes (BARNETT; et al., 2012; BOOTH, 2012;

    GAIRN-SALLN; RODRGUEZ-GM; ARMENGOL-ASPAR,

    2010; GOUVA; MOTTA; SANTORO, 2006; STEPANEK; et al.,

    2013; WILBERT; BOING; DANDOLINI, 2013) apontam a importncia

    dos moderadores na gesto das CoPs, que entre suas funes, devem

    estimular a participao e o engajamento dos membros. A seo

    seguinte apresenta quais so essas funes com nfase nas tarefas para

    motivar a participao dos membros.

  • 50

    2.1.3 Moderadores das Comunidades de Prtica

    O moderador de uma CoP responsvel pelo ambiente, onde

    possvel gerar informaes , construir novos conhecimentos e promover

    sinergias que levam a transformao da realidade, ou seja, trata-se

    essencialmente de motivar e criar um clima agradvel para facilitar a

    construo do conhecimento da prtica (GAIRN-SALLN;

    RODRGUEZ-GM; ARMENGOL-ASPAR, 2010).

    O moderador importante para o funcionamento das CoP, ele

    deve cultivar o apoio tcnico, os aspectos sociais da comunidade e

    facilitar aprendizagem, ou seja, ele realiza diferentes papis em

    diferentes fases ao longo o processo que englobam funes tcnicas,

    organizacionais, sociais (GRAY, 2004). Verifica-se que moderador tem

    um papel importante, mas no central, ele deve ser um guia que mantm

    o foco e as relaes porm, no deve ficar no caminho das experincias

    dos indivduos (GAIRN-SALLN; RODRGUEZ-GMEZ;

    ARMENGOL-ASPAR, 2010).

    Ao longo do tempo, o papel do moderador evoluiu. Na dcada de

    1980 controlava os acessos, avaliava o contedo, disseminava as normas

    e viabilizava a tecnologia para a interao social, em seguida ele passou

    a promover essas relaes sociais (WILBERT; BOING;

    DANDOLINI, 2013).

    Atualmente, os moderadores exercem papel de anfitrio,

    facilitador e organizador da comunidade e devem ser responsveis por

    orientar o projeto em relao aos objetivos estabelecidos (GAIRN-

    SALLN, RODRGUEZ-GMEZ, ARMENGOL-ASPAR,2010).

    Eles tm o potencial de reconhecer as prticas, gerar o senso de

    pertencimento entre os membros e facilitar as relaes, neste sentido

    deve ter competncia, credibilidade e confiabilidade (BOOTH,2012).

    importante o moderador ser uma liderana motivadora, para

    assegurar a confiana entre os participantes e destes com a instituio

    (WILBERT; BOING; DANDOLINI, 2013). A liderana adequada

    cultiva e sustenta um ambiente de compartilhamento de conhecimento e

    facilita o desenvolvimento de confiana nas comunidades (BOOTH,

    2012).

    Para escolher um moderador preciso observar uma srie de

    caractersticas e habilidades, tais como compreenso de processos,

    habilidades tcnicas, habilidades de comunicao, conhecimento

  • 51

    especializado, autoconfiana, flexibilidade e assertividade (GAIRN-

    SALLN; RODRGUEZ-GMEZ; ARMENGOL-ASPAR, 2010).

    Outras caractersticas incluem a competncia tcnica, a

    compreenso da comunidade, a capacidade para construir e desenvolver

    as conexes sociais, para orientar a aprendizagem, e conhecimentos

    suficientes da prtica em si para demonstrar credibilidade (GRAY,

    2004).

    Por exemplo, na comunidade pesquisada por Gairn-Salln,

    Rodrguez-Gmez e Armengol-Aspar (2010) os moderadores foram

    selecionados com base nas seguintes caractersticas: capacidade de

    liderana, habilidades de comunicao, conhecimento da realidade

    institucional, participao ou influncia sobre os contextos de trabalho,

    familiaridade com ambientes tecnolgicos e compromisso com a

    melhoria profissional. Conforme os autores, depois da seleo, eles

    receberam treinamento para facilitar estratgias de conduo e

    gerenciamento e torn-los agentes de motivao de sua comunidade.

    Entre outras competncias necessrias para os moderadores,

    verifica-se (WILBERT; BOING; DANDOLINI, 2013):

    Fornecer um senso de pertencimento, de identidade;

    Reconhecer os participantes pelo compartilhamento do

    conhecimento;

    Derrubar barreiras para tornar a CoP atrativa como: falta de tempo, resistncias ao compartilhamento do conhecimento, falta

    de comprometimento;

    Incrementar a capacidade inovativa da organizao por meio do gerenciamento alinhado da CoP;

    Gerenciar conflitos e confiana entre participantes;

    Atrair os membros a participao;

    Alavancar o compartilhamento do conhecimento;

    Extrair relatrios administrativos;

    Gerenciar a restrio das informaes.

    As tarefas do moderador so desenvolvidas para melhorar a

    colaborao dos indivduos, entre elas manter as regras de engajamento

    claras e o foco, estimular as discusses, promover associaes em

    termos de funes (BARNETT; et al., 2012). Os moderadores eficazes

    tm capacidade de construir alianas, promover a confiana e encontrar

    formas inovadoras para incentivar a participao (BOOTH, 2012).

  • 52

    Algumas tarefas so: estruturar trabalho, fornecer feedback,

    aprovar mensagens de acordo com critrios estabelecidos, conduzir as

    relaes sociais e propor concluses (GAIRN-SALLN;

    RODRGUEZ-GMEZ; ARMENGOL-ASPAR, 2010). Alm destas,

    o moderador pode semear conversas usando perguntas e solicitaes que

    inspiram discusso, alm de fazer perguntas, compartilhando reaes

    nos comentrios ou ideias (STEPANEK; et al., 2013).

    A finalidade das atividades do moderador promover a criao

    de inteligncia coletiva em rede e manter a coeso, o que na prtica

    significa qualidade da interao, o nvel necessrio de cooperao e

    construo do conhecimento alcanado (GAIRN-SALLN;

    RODRGUEZ-GMEZ; ARMENGOL-ASPAR, 2010).

    No incio, as responsabilidades do moderador geralmente se

    concentram em incentivar a participao. medida que a comunidade

    cresce e se torna mais ativa, o papel do moderador se deslocar para

    monitorar a conversa e manter o foco (STEPANEK; et al., 2013).

    Gairn-Salln, Rodrguez-Gmez, Armengol-Aspar (2010)

    indicam algumas funes do moderador vinculadas s tarefas para as

    fases das comunidades de prtica:

    (1) Na fase inicial as pessoas esto com atitudes positivas em

    relao colaborao, elas se interessam em compartilhar experincias.

    O moderador nem sempre est presente, os processos so espontneos

    ou promovidos pela prpria organizao, baseados em contatos iniciais

    e exploratrios.

    (2) Na segunda fase, a comunidade de prtica est em

    desenvolvimento, a atividade do moderador se torna evidente, ele ou ela

    atua como uma referncia, informante e motivador para as trocas. A

    atividade da comunidade articulada atravs de uma variada gama de

    mecanismos e disseminao do conhecimento coletivo, que o moderador

    deve usar para reforar a coeso do grupo e para orientar uma produo

    efetiva.

    (3) A terceira fase est relacionada com a consolidao da

    comunidade de prtica, concentrando-se a atividade na qualidade da

    produo e na sua difuso e aplicao para a organizao e outras

    organizaes. A principal tarefa do moderador construir a dinmica da

    comunidade com o meio ambiente, disseminar o que foi produzido por

    toda a organizao.

    (4) Por fim, a fase madura caracterizada pelo fato de que os o

    trabalho colaborativo, a produo de conhecimento, os facilitadores

  • 53

    institucionais e os elementos de suporte externo comunidade esto

    todos integrados na cultura e nos processos internos da organizao. As

    interaes entre o moderador com os lderes institucionais so

    frequentes e concentradas no processo de institucionalizao das

    melhores prticas (GAIRN-SALLN, RODRGUEZ-GMEZ,

    ARMENGOL-ASPAR,2010).

    Contudo, o Quadro 6 seguinte apresenta as principais metas dos

    moderadores subdivididas em funes relativas quatro reas de

    abrangncia: organizacionais, intelectuais, sociais e tecnolgicas.

    Quadro 6: Metas relacionadas s funes dos moderadores

    FUNES ORGANIZACIONAIS

    - Apoiar as atividades da rede, fornecendo suas zonas de contribuies

    com materiais relevantes;

    - Garantir a relevncia e qualidade das contribuies em um esforo para

    garantir que cumpram as metas estabelecidas na rede;

    - Organizar e coordenar as interaes entre os participantes da rede de

    conhecimento;

    - Escorar debate atravs de breves recapitulaes ou resumos, a fim de

    orientar e relanar discusses.

    FUNES SOCIAIS

    - Motivar e fomentar a cultura de aprendizagem compartilhada,

    promovendo a coeso da comunidade;

    - Manter a rede conectada a outras redes relevantes

    - Contactar espreitadores em forma mais individualizada; a fim de

    incentivar a deixar esta postura e juntar-se a atividade das redes

    - Descobrir, por meio de ferramentas ou

    reas de reflexes e comentrios, sobre os problemas que surgem, a fim de ter

    um impacto neles; - Conhecer o pblico e a melhor

    maneira de captur-los e mant-los.

    FUNES INTELECTUAIS

    - Saber sobre e analisar a necessidade de debate, para descobrir os pontos

    fortes nas discusses, o tema implcito, as abordagens alternativas e/ou as

    deficincias das reflexes sobre os temas propostos;

    - Procurar as informaes e

    conhecimentos relevantes, seja na rede ou fora dela. Pesquisar, documentos de

    origem, estudos, experincias, lies de especialistas ou conseguir entrevistas

    com personalidades (famosas ou no) que quer ter conhecimento ou

    experincia nos assuntos em debate; - Entrar em contato com especialistas e

    FUNES TECNOLGICAS

    - Aprender sobre a plataforma, as suas possibilidades e ferramentas ;

    - Habilmente usar as ferramentas de trabalho dirias;

    - Fornecer informaes e apoio aos usurios da comunidade;

    - Analisar a capacidade da rede para

    lidar com a necessidade de troca dos participantes

  • 54

    FUNES INTELECTUAIS

    consultores para que eles contribuam para o debate em algum momento, seja

    diretamente ou atravs de submeter um

    documento para discusso; - Elaborar e incluir resumos e crticas

    de trabalho (livros , sites , softwares , artigos , filmes, etc).

    Fonte: Gairn-Salln, Rodrguez-Gmez, Armengol-Aspar (2010, p.308,

    traduo nossa).

    Observa-se que os moderadores realizam atividades com

    diferentes finalidades. As atividades no mbito das funes

    organizacionais se referem coordenao de redes a fim de otimizar o

    conhecimento compartilhado. Na funo intelectual o moderador deve

    qualificar o compartilhamento, ou seja, investigar fontes e

    conhecimentos e promov-los entre os membros. As funes sociais

    atribuem necessidade de conhecer os partic ipantes e os membros em

    potencial e fomentar a integrao social. Por fim, as atividades relativas

    s funes tecnolgicas requerem um conhecimento das ferramentas

    disponveis e neste sentido, disponibilidade para auxiliar os demais

    indivduos.

    Manter uma comunidade com membros motivados um desafio

    para os moderadores (GOUVA; SANTORO; MOTTA, 2006;

    PAULINO, 2011). Neste sentido, destaca-se que os moderadores de

    Comunidades de Prtica podem ser os responsveis pela implantao

    das diretrizes que sero apresentadas no final deste estudo.

    Nesta seo, conforme a reviso verificou-se que as

    Comunidades de Prtica contribuem para a criao de uma cultura de

    compartilhamento do conhecimento. As CoPs so fundamentadas em

    trs elementos: o domnio, a comunidade e a prtica. Basicamente, estes

    elementos se desenvolvem em cinco fases: inicial, coalescncia,

    maturidade, manuteno e transformao. Destacou-se que a motivao

    dos membros um fator importante para o sucesso das CoPs e que umas

    das principais funes atribudas aos moderadores motivar os

    membros.

    A seo seguinte apresenta a teoria da motivao humana, com

    nfase na dicotomia intrnseca/extrnseca e na teoria da motivao

    autodeterminada.

  • 55

    2.2 MOTIVAO

    H sculos a motivao um objeto de ateno de pesquisadores,

    principalmente entre os filsofos e os psiclogos (VALERRAND,

    2004). Atualmente, ela considerada tanto uma vantagem competitiva

    como um ativo estratgico fundamental nos ambientes de trabalho

    (TREMBLAY; TAYLOR; VILLENEUVE, 2009).

    A palavra motivao vem da palavra motivus em latin, que

    implica numa causa que serve para movimentar, ou seja, estar motivado

    (ou ser motivado) ser movido a fazer algo (WERBACH; HUNTER,

    2012). A motivao utilizada para descrever as foras internas e

    externas que lidam com iniciao, direo, intensidade e persistncia do

    comportamento humano, com isso, motivao refere-se a uma ao

    (VALERRAND, 2004).

    O estado motivacional pode existir em trs nveis de interao

    entre a pessoa, a tarefa e o ambiente (VALERRAND, 2004):

    Situacional: refere-se determinada atividade em determinado momento e provoca expectativas de recompensas e divertimento.

    Contextual: relativamente estvel, refere-se apenas s atividades que so reunidos sob um campo especfico da vida

    como estudos e esportes, e geralmente promove atitudes de

    cooperao ou colaborao.

    Global: Segue orientao geral, porque o que levado em considerao a forma de interagir num ambiente. No se limita

    a alguma atividade ou campo de vida, caracteriza um trao de

    personalidade do indivduo, como um estilo de vida adotado.

    A motivao um fenmeno complexo, no apresenta um

    conjunto de variveis controlveis, relaes simples entre as condies e

    resultados previsveis, sim conjunto de interaes entre dinmicas

    internas, externas, interpessoal e organizacional (HARDR, 2003).

    Cada nvel tem um aspecto essencial: o situacional delimita-se

    pelo momento da ao; o contextual define-se numa atividade em

    relao a um campo da vida do indivduo; por fim, o global implica no

    ambiente onde esto relacionadas a tarefa e a pessoa.

    As vrias teorias psicolgicas de motivao foram tratadas na

    comunidade acadmica com quadros tericos distintos, cada um com o

    seu prprio corpo de pesquisa (HARDR, 2003). Porm, verifica-se que

    h um consenso entre elas, de que o motivo um fator humano interno

  • 56

    que d incio (provoca), dirige e integra o comportamento de uma

    pessoa (MURRAY, 1975). Portanto, a psicologia motivacional

    normalmente refere-se aos motivos que levam as pessoas a despertarem

    para a ao (COVINGTON, 2000).

    A motivao um estado interno que instiga, dirige e mantm o

    comportamento (LEE; et al., 2010). Estar motivado significa ser movido

    para fazer alguma coisa. Quando uma pessoa est desmotivada no sente

    nenhum impulso ou inspirao para agir e quando uma pessoa est

    energizada ou ativa em direo a um fim considerado motivado

    (RYAN; DECI, 2000). Para Murray, (1973, p.39), a motivao um

    dos principais fatores determinantes de como a pessoa se comporta.

    O estudo cientfico sobre a motivao relativamente difuso,

    existem vrias concepes herdadas da filosofia e da biologia. Murray

    em 1975 classificou cinco teorias distintas e como elas norteiam o

    conceito de motivao (MURRAY, 1975):

    Teorias cognitivas: homem racional e busca satisfao dos desejos conscientes. Por exemplo, filosofias de Plato,

    Aristteles, Toms de Aquino, Descartes, Hobbes e Spinosa.

    Teorias hedonistas: formulaes filosficas de que o homem procura o prazer e evita a dor e o sofrimento. Por exemplo, o

    modelo de excitao afetiva de McClelland.

    Teorias do instinto: aes so moldadas pelo instinto humano. Por exemplo, a lista de instintos de McDougall.

    Teorias do impulso: impulso ao derivado pelo desequilbrio homeosttico ou tenses internas e causas externas. Por exemplo,

    conceito de impulso homeosttico cunhado por Clark L. Hull.

    Nos estudos de motivao para o trabalho, algumas outras teorias

    se destacam, elas podem ser distinguidas entre teorias de contedo

    (content theories) e "teorias de processo" (process theories) conforme os

    Quadros 8 e 9 (GALHANAS, 2009):

  • 57

    Quadro 7: Resumo das content theories e do seus pressupostos

    Autores Content Theories

    Maslow (1954)

    Os indivduos so motivados atravs de uma hierarquia de

    cinco tipos de necessidades sendo que as de nvel superior s so satisfeitas quando as do nvel imediatamente inferior se

    encontram satisfeitas.

    Herzberg (1966)

    Considera duas ordens de fatores associados motivao, os

    fatores higinicos e os fatores motivadores, sendo que os primeiros evitam a insatisfao enquanto os segundos

    conduzem satisfao.

    Alderfer

    (1972)

    Defende trs categorias de necessidades que conduzem motivao: existncia, relacionao e crescimento. Quando o

    indivduo no consegue satisfazer um determinado tipo de

    necessidades tende a redobrar esforos no sentido de satisfazer a categoria de necessidades inferior, o que pode conduzir a

    frustao.

    McClelland (1961)

    Postula que a motivao ocorre pela satisfao de trs tipos de

    necessidades: realizao, afiliao e poder. Todos os indivduos possuem esses trs tipos de necessidades embora com

    predominncia de uma em relao s restantes.

    Katz e

    Kahn

    (1966)

    Distinguem quatro tipos de fatores que influenciam o nvel de motivao dos indivduos: obedincia lei, satisfao

    instrumental, auto expanso e internacionalizao, e valores,

    sendo que determinados incentivos conduzem a determinados tipos de comportamento.

    McGregor

    (1960)

    Apresenta duas abordagem antagnicas, as teorias x e y, acerca

    da administrao: a teoria x considera que a natureza humana

    indolente e no gosta de trabalhar; e a teoria y prope que os seres humanos so bons e direcionados para o trabalho.

    Fonte: Galhanas (2009)

    Observa-se que as primeiras teorias motivacionais para o trabalho

    tratavam dos fatores que motivam os indivduos. Posteriormente as

    teorias se dirigiram para o estudo do processo da motivao conforme o

    Quadro 8.

  • 58

    Quadro 8: Resumo das process theories e do seus pressupostos

    Autores Process Theories

    Vroom

    (1964)

    Sugere que a motivao depende da expectativa que o indivduo

    tem em ser recompensado face ao trabalho desempenhado.

    Porter e Lawler

    (1968)

    Considera quatro variveis que condicionam a motivao: o esforo, o desempenho, as recompensas e a satisfao.

    Adams

    (1963)

    Enfatiza a percepo pessoal do individuo sobre a razoabilidade

    ou justia relativa na sua relao laboral com a organizao.

    Locke

    (1968)

    Defende que a maior fonte de motivao reside na fixao de

    objetivos especficos e difceis de atingir.

    Fonte: Galhanas (2009)

    As teorias apresentadas nos Quadros 8 e 9 representam uma parte

    das teorias existentes sobre a motivao. Lee et al. (2010), afirmam que

    no decorrer das ltimas dcadas surgiram novas teorias sobre o tema,

    entre elas: teoria da atribuio de (WEINER, 1985), teoria da

    expectativa e valor (FEATHER, 1988; WIGFIELD; ECCLES, 1992);

    teoria da autoeficcia (ZIMMERMAN, 2000); teoria das metas de

    realizao (ELLIOT, 1999; MEECE; ANDERMAN; ANDERMAN,

    2006 ) e teoria da perspectiva de tempo futuro (ELLIOT,1999;

    MEECE, ANDERMAN, & ANDERMAN, 2006).

    Na busca bibliogrfica sobre motivao, desenvolvida para esta

    dissertao, verificou-se que a dicotomia intrnseca e extrnseca est

    solidificada entre as teorias mais difundidas na rea de psicologia. Esse

    dualismo moderno baseia-se na ideia de Plato que distinguiu entre os

    motivos do corpo, tais como fome e sexo, e os da mente e da alma,

    como a curiosidade e honra (REISS, 2012). Esta abordagem til para

    desenvolvimento de recursos humanos com a finalidade de aumentar o

    desempenho dos indivduos (HARDR, 2003).

    Com isso, as motivaes intrnsecas e extrnsecas foram

    investigad