lívia godinho temponi1, flávia cristina pinto garcia2, cássia

15
ABSTRACT (Morphological diversity and life forms in Araceae from the Rio Doce State Park, Minas Gerais) The use of specialized terms for some morphological features in Araceae can cause problems in understanding for the general reader and there are not always agreements among taxonomic specialists of the correct usage of some descriptive terminologies. For a complete understanding of this morphology, specialized literature must be consulted. In an inventory of Araceae from the Rio Doce State Park (PERD) the morphology of 13 species and 8 genera was studied (including Anthurium and Philodendron). An illustrated overview of the morphology and terminology of the genera and species from the PERD is presented aiming a better understanding of the morphology and taxonomy of the family. Key-words: Araceae, morphology, life forms. RESUMO (Diversidade morfológica e formas de vida das Araceae no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais) Araceae apresenta uma morfologia e terminologia específica, que pode ocasionar dificuldades de compre- ensão. Além disso, alguns conceitos adotados para a família, são discordantes entre os especialistas do grupo. Para uma compreensão profunda de tal morfologia, bibliografias especializadas são requeridas. No levantamento das espécies de Araceae do Parque Estadual do Rio Doce (PERD) foram encontradas 13 espécies e oito gêneros (incluindo aqueles com maior diversidade específica, Anthurium e Philodendron). Uma síntese ilustrada da morfologia e terminologia dos gêneros e espécies do PERD é apresentada, visando uma melhor compreensão da morfologia e taxonomia geral da família. Palavras-chave: Araceae, morfologia, formas de vida. Artigo recebido em 09/2004. Aceito para publicação em 05/2005. 1 Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal de Viçosa, Instituto de Biologia Vegetal, 36570- 000, Viçosa, MG, Brasil. Endereço atual: Universidade de São Paulo, Departamento de Botânica, IB, Caixa Postal 11461, 05422-970, São Paulo, SP. E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal de Viçosa, Instituto de Biologia Vegetal, CEP 36.570-000, Viçosa, MG, Brasil. 3 Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo 3690, CEP 80.001-970, Maringá, PR, Brasil. DIVERSIDADE MORFOLÓGICA E FORMAS DE VIDA DAS ARACEAE NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE, MINAS GERAIS Lívia Godinho Temponi 1 , Flávia Cristina Pinto Garcia 2 , Cássia Mônica Sakuragui 3 & Rita Maria de Carvalho-Okano 2 INTRODUÇÃO Araceae pode ser caracterizada por apre- sentar inflorescência em espádice, associada a uma bráctea, a espata, flores pequenas, actinomorfas, sem bractéolas, gineceu gamocarpelar, fruto baga e a presença, até onde é conhecido, de taninos (Grayum 1990). As Araceae são mais diversas e abun- dantes em áreas tropicais úmidas, onde são encontradas em uma grande variedade de for- mas de vida. De acordo com Grayum (1990) aproximadamente 70% das espécies de Araceae são epífitas, hemi-epífitas e trepa- deiras, apesar de muitas espécies ocorrerem como terrestres ou aquáticas. Croat (1988) relatou que as plantas epífitas (incluindo as hemi-epífitas) crescem em árvores ou arbus- tos e por isso, geralmente, ocorrem em flo- restas de áreas úmidas, podendo ser indicadoras de umidade de uma determinada região; os gêneros terrestres, por outro lado, apresentam-se mais diversos ecologicamen- te, ocorrendo tanto em hábitat úmido quanto muito seco. No neotrópico, há um total de 22 gêneros estritamente terrestres e muitos des- tes são bem adaptados para se desenvolve- rem em condições extremas de baixa tempe- ratura ou seca, apresentando um período de

Upload: trinhnguyet

Post on 07-Jan-2017

215 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

ABSTRACT(Morphological diversity and life forms in Araceae from the Rio Doce State Park, Minas Gerais) The useof specialized terms for some morphological features in Araceae can cause problems in understanding forthe general reader and there are not always agreements among taxonomic specialists of the correct usage ofsome descriptive terminologies. For a complete understanding of this morphology, specialized literaturemust be consulted. In an inventory of Araceae from the Rio Doce State Park (PERD) the morphology of 13species and 8 genera was studied (including Anthurium and Philodendron). An illustrated overview of themorphology and terminology of the genera and species from the PERD is presented aiming a betterunderstanding of the morphology and taxonomy of the family.Key-words: Araceae, morphology, life forms.

RESUMO(Diversidade morfológica e formas de vida das Araceae no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais)Araceae apresenta uma morfologia e terminologia específica, que pode ocasionar dificuldades de compre-ensão. Além disso, alguns conceitos adotados para a família, são discordantes entre os especialistas dogrupo. Para uma compreensão profunda de tal morfologia, bibliografias especializadas são requeridas. Nolevantamento das espécies de Araceae do Parque Estadual do Rio Doce (PERD) foram encontradas 13espécies e oito gêneros (incluindo aqueles com maior diversidade específica, Anthurium e Philodendron).Uma síntese ilustrada da morfologia e terminologia dos gêneros e espécies do PERD é apresentada, visandouma melhor compreensão da morfologia e taxonomia geral da família.Palavras-chave: Araceae, morfologia, formas de vida.

Artigo recebido em 09/2004. Aceito para publicação em 05/2005.1Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal de Viçosa, Instituto de Biologia Vegetal, 36570-000, Viçosa, MG, Brasil. Endereço atual: Universidade de São Paulo, Departamento de Botânica, IB, Caixa Postal11461, 05422-970, São Paulo, SP. E-mail: [email protected] Federal de Viçosa, Instituto de Biologia Vegetal, CEP 36.570-000, Viçosa, MG, Brasil.3Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo 3690, CEP 80.001-970, Maringá, PR, Brasil.

DIVERSIDADE MORFOLÓGICA E FORMAS DE VIDA DAS ARACEAE NO

PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE, MINAS GERAIS

Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2,Cássia Mônica Sakuragui3 & Rita Maria de Carvalho-Okano2

INTRODUÇÃO

Araceae pode ser caracterizada por apre-sentar inflorescência em espádice, associadaa uma bráctea, a espata, flores pequenas,actinomorfas, sem bractéolas, gineceugamocarpelar, fruto baga e a presença, atéonde é conhecido, de taninos (Grayum 1990).

As Araceae são mais diversas e abun-dantes em áreas tropicais úmidas, onde sãoencontradas em uma grande variedade de for-mas de vida. De acordo com Grayum (1990)aproximadamente 70% das espécies deAraceae são epífitas, hemi-epífitas e trepa-deiras, apesar de muitas espécies ocorrerem

como terrestres ou aquáticas. Croat (1988)relatou que as plantas epífitas (incluindo ashemi-epífitas) crescem em árvores ou arbus-tos e por isso, geralmente, ocorrem em flo-restas de áreas úmidas, podendo serindicadoras de umidade de uma determinadaregião; os gêneros terrestres, por outro lado,apresentam-se mais diversos ecologicamen-te, ocorrendo tanto em hábitat úmido quantomuito seco. No neotrópico, há um total de 22gêneros estritamente terrestres e muitos des-tes são bem adaptados para se desenvolve-rem em condições extremas de baixa tempe-ratura ou seca, apresentando um período de

Page 2: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

2 Temponi, L. G., et al.

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

crescimento interrompido quando sob condi-ções severas (Croat 1988).

A circunscrição das subfamílias deAraceae tem apresentado modificações des-de Engler & Krause (1920). Nesta obra, osautores descrevem: Pothoideae,Monsteroideae, Lasioideae, Calloideae,Philodendroideae, Colocasioideae, Aroideaee Pistioideae. Posteriormente, Grayum (1990)circunscreve Pothoideae (incluindoMonsteroideae), Calloideae (incluindoPhilodendroideae) Aroideae (incluindoPistioideae) e mantém Lasioideae eColocasioideae. Trabalhos mais recentescomo a filogenia de French et al. (1995) ba-seada em dados moleculares (cpDNA) e o deMayo et al. (1997) que se baseia na utiliza-ção de 63 caracteres morfoló-gicos, incluindoanatômicos, propõem sete subfa-míliasmonofiléticas; Gymnostachydoideae,Orontioideae, Pothoideae, Monsteroideae,Lasioideae, Calloideae e Aroideae. Asubfamília Aroideae senso French et al.(1995) e Mayo et al. (1997) inclui duas ou-tras; Colocasioideae e Philodendroideae, alémde Lemnaceae, que foram tratadas como dis-tintas nos sistemas de classificação anterio-res. Os padrões de colênquima propostos porGonçalves et al. (2004) não suportam a dis-tinção de Colocasioideae, Aroideae ePhilodendroideae, corroborando com as hi-póteses de French et al. (1995). Através dacompilação de dados anatômicos Keating(2004), propõe o mais recente tratamentopara a família, descreve uma nova subfamí-lia; Schismatoglottidoideae e mantémGymnostachydoideae, Orontioideae,Pothoideae, Lasioideae, Calloideae,Philodendroideae, Lemnoideae e Aroideaecomo subfamílias distintas.

A grande plasticidade fenotípica e aheteroblastia (morfologia do caule e das fo-lhas refletindo as diferenças das fases de de-senvolvimento), são freqüentes na famíliacomo um todo. Na maioria das vezes, plantasjuvenis podem produzir folhas com formasdistintas das presentes em plantas adultas

(Croat 1988). Esta grande variabilidademorfológica e a carência de observações nocampo contribuem para gerar descrições in-completas, não abrangendo as variaçõesmorfológicas que podem ocorrer na popula-ção, ocasionando, muitas vezes, enganos naidentificação das espécies ou proliferaçãode nomes. Além disso, muitas espécies sãopouco coletadas em função do porte avan-tajado e das inflorescências carnosas, difíceisde serem tratadas para uma boa herbori-zação.

As Araceae, pela complexidade de suasistemática e pelas peculiaridadesmorfológicas de suas folhagens einflorescências, têm despertado o interesse demuitos botânicos. Entretanto, sua morfologiabastante diferenciada dos demais grupos ve-getais resulta em uma nomenclatura própria,dificultando sua compreensão. Levando-seem conta os fatores relatados, este trabalhofoi realizado com o intuito de informar sobrea morfologia de alguns gêneros da família,freqüentes na flora brasileira e ocorrentes noPERD, visando contribuir para uma melhorcompreensão da morfologia das Araceae emleituras posteriores.

MATERIAL E MÉTODOS

Durante o levantamento florístico dasAraceae do Parque Estadual do Rio Doce(Temponi 2001), a maior área de floresta tro-pical contínua de Minas Gerais (35.973 ha),representantes férteis foram coletados e pre-parados de acordo com as técnicas específi-cas para espécimes da família (Croat 1985).Posteriormente, foram incluídos no herbárioVIC (sigla segundo Holmgren et al. 1990).

As inflorescências foram fixadas emFAA 50% e conservadas em álcool 70%, paraanálise posterior e ilustrações. Mudas de to-das as espécies foram coletadas para o cul-tivo e, foram mantidas no Horto Botânico doDepartamento de Biologia Vegetal da UFV,possibilitando-nos acompanhar seu desen-volvimento e observar as variações morfoló-gicas das mesmas. Durante as coletas, tam-bém foram realizadas observações sobre a

Page 3: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

3

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

Morfologia de Araceae

morfologia, período de floração, ambiente deocorrência e sua posição no vegetal supor-te.

Para a terminologia das partesvegetativas e reprodutivas foram utilizadosos trabalhos de Madison (1977), Radford etal. (1979), Croat & Bunting (1979) e Mayo(1991). Para a lâmina foliar com extensõesem cada lado da inserção do pecíolo, esta foidividida em divisão anterior e divisões pos-teriores conforme definido por Mayo et al.(1997). Para os padrões de venação e os tiposbásicos de inflorescência adotou-se Mayo(1991) e Mayo et al. (1997).

Estas espécies foram ilustradas, visan-do elucidar a morfologia do grupo. As ilus-trações foram realizadas, a partir de materialcultivado e/ou fixado em FAA 50%, com au-xílio de estereomicroscópio, para estruturasmenores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma representativa diversidade dos ca-racteres vegetativos (Tabela 1) e reprodutivos(Tabela 2) das Araceae do Brasil pôde serverificada nas espécies encontradas no Par-que Estadual do Rio Doce (PERD), MinasGerais.

Das nove subfamílias sensu Keating(2004), seis ocorrem no Brasil. As três commaior número de gêneros e espécies ocorremna área de estudo (Tabela 1): Pothoideae (com4 gêneros no PERD), Philodendroideae (2gêneros) e Aroideae (2 gêneros). ApenasSchismatoglottidoideae, Lasioideae eLemnoideae, que geralmente são repre-sen-tadas por poucos gêneros no Brasil não fo-ram tratadas aqui. A grande diversidademorfológica apontada neste estudo, se deveao fato de que 21% dos gêneros de Araceaeque ocorrem no Brasil foram encontrados noPERD.

As Araceae podem ocorrer como hemi-epífitas, possuindo dois tipos de raízes: asalimentadoras, para a absorção de água e nu-trientes do solo, e as âncoras (grampi-formes),para fixação no vegetal suporte (Fig. 1a). O

hábito hemi-epífita pôde ser verificado emPhilodendron vargealtense (Fig. 1a), assimcomo para a maioria das espécies do PERD.São tidas como hemi-epífitas primárias ousecundárias (Croat 1988), pois podem iniciarseu desenvolvimento como terrestre, germi-nando no solo e posteriormente ocupando umvegetal suporte e perdendo conexão com ochão (hemi-epífita secundária) ou inicia seudesenvolvimento como epífita, germinandono vegetal suporte e, posteriormente, suasraízes alimentadoras projetam-se até o soloda mata (hemi-epífita primária). Uma epífitase difere tanto da hemi-epífita primária ousecundária porque esta nunca se conecta aosolo, como observado para Anthuriumscandens (Figura 1b). Esta espécie foi encon-trada apenas duas vezes no PERD e estes in-divíduos apresentavam suas raízes associa-das às de Bromeliaceae e Cactaceae, forman-do um ninho de formigas.

As epífitas e hemi-epífitas representamcerca de 80% das espécies de Araceae doPERD (Tabela 1). A grande porcentagem deespécies com estas formas de vida nos indicaque o Parque Estadual do Rio Doce é umafloresta úmida. Croat (1988) relatou que asplantas epífitas (incluindo as hemi-epífitas)crescem em árvores ou arbustos e por isso,geralmente, ocorrem em florestas de áreasúmidas, podendo ser indicadoras de umidadede uma determinada região. Embora em umaboa parte do ano a precipitação no Parque sejabaixa (Temponi 2001), possivelmente, a ocor-rência de 38 a 44 lagoas cobrindo cerca de6% da sua área total (aproximadamente 2.150ha), mantém a umidade da região.

Uma outra forma de vida marcante é ageófita, com caule tuberoso ou rizomatoso,subterrâneo, como ocorre em Asterostigmaluschnathianum (Fig. 1c). Estas plantas ge-ralmente exibem uma sazonalidade marcantecom uma fase de crescimento e outra dedormência, podendo perder sua única folha.

As espécies de Rhodospatha eXanthosoma do PERD apresentam a forma

Page 4: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

4 Temponi, L. G., et al.

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

Tabe

la 1

- C

arac

tere

s veg

etat

ivos

das

esp

écie

s de

Ara

ceae

enc

ontra

das n

o Pa

rque

Est

adua

l do

Rio

Doc

e, M

G (s

ub-fa

míli

as se

nsu

Kea

ting,

200

4).

Táxo

ns e

stud

ados

Car

acte

res v

eget

ativ

os

Form

as H

ábito

T

ipo

de

Ram

o

F

orm

ato

Padr

ão d

a d

e vi

dacr

esci

men

tofla

gelif

orm

e

d

a lâ

min

ane

rvaç

ão te

rciá

ria

P

otho

idea

eAn

thur

ium

pen

taph

yllu

m (A

ubl.)

Hem

i-epí

fita

Her

báce

o S

impo

dial

Aus

ente

Pal

mad

a R

etic

ulad

a

G.D

onAn

thur

ium

scan

dens

(Aub

l.)

Epí

fita

Her

báce

o S

impo

dial

Aus

ente

Elíp

tica

Ret

icul

ada

E

ngl.

Het

erop

sis fl

exuo

sa (K

unth

)H

emi-e

pífit

aH

erbá

ceo

Mon

opod

ial

Pre

sent

eEl

íptic

a, o

blon

ga, o

bova

da R

etic

ulad

a

G. S

. Bun

ting

Het

erop

sis sa

licifo

lia K

unth

Hem

i-epí

fita

Her

báce

oM

onop

odia

lN

ão v

isto

Elíp

tica,

obl

onga

Ret

icul

ada

Mon

stera

ada

nson

ii Sc

hott

Hem

i-epí

fita

Her

báce

o S

impo

dial

Pre

sent

e

Elíp

tica,

ova

da R

etic

ulad

aM

onste

ra p

raet

erm

issa

Hem

i-epí

fita

Her

báce

o S

impo

dial

Não

vis

to

Elíp

tica,

ova

da R

etic

ulad

a

E.G

. Gon

ç. &

Tem

poni

Rhod

ospa

tha

sp n

ov. i

ned.

H

elóf

itaA

rbus

tivo

Sim

podi

al A

usen

te

Obl

onga

Para

lelin

érni

a

P

hilo

dend

roid

eae

Aste

rosti

gma

lusc

hnat

hian

um

Geó

fita

Her

báce

o S

impo

dial

Aus

ente

Pin

atífi

da R

etic

ulad

a

Sch

ott

Philo

dend

ron

prop

inqu

umH

emi-e

pífit

aH

erbá

ceo

Sim

podi

al P

rese

nte

O

vada

Para

lelin

érni

a

Sch

ott

Philo

dend

ron

spec

iosu

mH

emi-e

pífit

aA

rbus

tivo

Sim

podi

alN

ão v

isto

Sa

gita

daPa

rale

linér

nia

S

chot

t ex.

Eng

l.Ph

ilode

ndro

n va

rgea

ltens

eH

emi-e

pífit

aH

erbá

ceo

Sim

podi

alN

ão v

isto

Sag

itada

Para

lelin

érni

a

Sak

urag

ui &

May

o

A

roid

eae

Syng

oniu

m v

ello

zianu

m S

chot

tH

emi-e

pífit

aH

erbá

ceo

Sim

podi

al P

rese

nte

T

ripar

tido-

hast

ada

Ret

icul

ada

Xant

hoso

ma

max

imili

ani S

chot

t

Hel

ófita

Arb

ustiv

o S

impo

dial

Aus

ente

S

agita

daC

oloc

asió

ide

Page 5: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

5

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

Morfologia de AraceaeTa

bela

2 -

Car

acte

res

repr

odut

ivos

das

esp

écie

s de

Ara

ceae

enc

ontra

das

no P

arqu

e Es

tadu

al d

o R

io D

oce,

MG

.

Táxo

ns e

stud

ados

Car

acte

res R

epro

dutiv

os

Inflo

resc

ênci

asE

spád

ice

Pos

ição

Dec

idui

dade

Con

stri

ção

Flor

Tép

alas

File

tes

Plac

enta

ção

Dei

scên

cia

da

espa

ta d

a es

pata

da

espa

ta e

ant

eras

da

ante

ra

Anth

uriu

m S

olitá

rias

Hom

ogên

eoRe

flexa

Pers

isten

teA

usen

te B

issex

ual

Pres

ente

s (4)

Liv

res

Axi

al-a

pica

lLo

ngitu

dina

l

pen

taph

yllu

mAn

thur

ium

scan

dens

Sol

itária

sH

omog

êneo

Refle

xaPe

rsist

ente

Aus

ente

Biss

exua

lPr

esen

tes (

4) L

ivre

sA

xial

-api

cal

Long

itudi

nal

Het

erop

sis fl

exuo

sa S

olitá

rias

Hom

ogên

eo E

reta

Dec

ídua

Aus

ente

Biss

exua

l A

usen

tes

Liv

res

Axi

al-b

asal

Long

itudi

nal

Het

erop

sis sa

licifo

lia S

olitá

rias

Hom

ogên

eo E

reta

Dec

ídua

Aus

ente

Biss

exua

l A

usen

tes

Liv

res

Axi

al-b

asal

Long

itudi

nal

Mon

stera

ada

nson

ii S

olitá

rias/

Hom

ogên

eo E

reta

Dec

ídua

Aus

ente

Biss

exua

l A

usen

tes

Liv

res

Axi

al-b

asal

Long

itudi

nal

Em si

mpó

dio

Mon

stera

pra

eter

miss

a S

olitá

rias

Hom

ogên

eo E

reta

Dec

ídua

Aus

ente

Biss

exua

l A

usen

tes

Liv

res

Axi

al-b

asal

Long

itudi

nal

Rhod

ospa

tha

Sol

itária

sH

omog

êneo

Ere

ta D

ecíd

uaA

usen

te B

issex

ual

Aus

ente

s L

ivre

s

Axi

alLo

ngitu

dina

l

sp

nov.

ined

.As

tero

stigm

a S

olitá

rias

Het

erog

êneo

Ere

taPe

rsist

ente

Aus

ente

Uni

ssex

ual

Aus

ente

s

Em

Axi

al-b

asal

Tra

nsve

rsal

l

usch

nath

ianu

msin

ândr

ioPh

ilode

ndro

n S

olitá

rias

Het

erog

êneo

Ere

taPe

rsist

ente

Aus

ente

Uni

ssex

ual

Aus

ente

s L

ivre

s

A

xial

Long

itudi

nal

p

ropi

nquu

mPh

ilode

ndro

n sp

ecio

sum

Sol

itária

sH

eter

ogên

eo E

reta

Pers

isten

tePr

esen

teU

niss

exua

l A

usen

tes

Liv

res

Axi

al-b

asal

Long

itudi

nal

Philo

dend

ron

Sim

pódi

oH

eter

ogên

eo E

reta

Pers

isten

tePr

esen

teU

niss

exua

l A

usen

tes

Liv

res

Axi

al-b

asal

Long

itudi

nal

varg

ealte

nse

Syng

oniu

m v

ello

zianu

mEm

sim

pódi

oH

eter

ogên

eo E

reta

T

ubo

Pres

ente

Uni

ssex

ual

Aus

ente

s

Em

Axi

al-b

asal

Long

itudi

nal

pers

isten

tesin

ândr

ioXa

ntho

som

a m

axim

ilian

iEm

sim

pódi

oH

eter

ogên

eo E

reta

T

ubo

Pres

ente

Uni

ssex

ual

Aus

ente

s

Em

Axi

al

Poric

ida

pers

isten

tesin

ândr

io

Page 6: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

6 Temponi, L. G., et al.

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

vida helófita como definido por Mayo et al.(1997), pois ocorrem em ambientes brejososou alagáveis, pelo menos, nos períodos demaiores precipitações.

Para alguns autores como Mayo et al.(1997), espécies maiores podem apresentar ohábito arbustivo com o eixo principal, forman-do um caule carnoso, como em Alocasia eXanthosoma (Fig. 1d), ou fibroso, como emPhilodendron (Fig. 1e). No PERD, o hábitoarbustivo foi verificado para Philodendronspeciosum, Rhodospatha sp. e Xanthosomamaximiliani (Tabela 1). Embora o padrão decrescimento em diâmetro e o porte sejammuito distintos dos verificados nas espéciesarbóreas e arbustivas de dicotiledôneas, o ter-mo arbustivo vem sendo usado para algumasespécies de Araceae, que apresentam hábitosemelhante ao arbóreo. Nesta situação pecu-liar, o caule não se ramifica e ocorre um au-mento do diâmetro devido à produção demeristemas apicais maiores em unidadessimpodiais sucessivas.

O caule, quando aéreo, é bastante variá-vel e dentro da família, ele pode ser taxo-nomicamente útil. Trabalhos clássicos comoos de Ray (1987a, 1987b) que discutem e de-finem a diversidade da organização do caulee tipos de folha na família devem ser estuda-dos para um melhor entendimento sobre estetópico. De uma forma simplificada podemosdizer que em muitos gêneros, o caule maduroé um simpódio composto de unidadessimpodiais como em Anthurium scandens(Fig. 1f). Cada unidade simpodial começacom um profilo (primeira folha), seguido deum número variável de catafilos (folhas re-duzidas) e eufilos, de acordo com o grupo e,termina com uma inflorescência (Fig. 1f) ouinflorescência abortada. Neste tipo de cres-cimento simpodial o ramo principal é substi-tuído pelo ramo lateral. O tipo de crescimen-to monopodial foi relatado para Heteropsis epara muitos representantes da tribo Potheae.O tipo de crescimento monopodial foi verifi-cado para as espécies de Heteropsis encon-tradas no PERD (Fig. 1g). Neste tipo de cres-

cimento, as inflorescências ocorrem em ra-mos laterais e o ramo principal continua seucrescimento, aparentemente, indeterminado.

Caules especializados para a reproduçãovegetativa, chamados de ramos flageliformes,têm sido observados em vários gêneros comoPhilodendron, Syngonium, Heteropsis (Mayoet al. 1997) e Monstera (Andrade & Mayo1998). Os ramos flageliformes também ocor-rem em algumas espécies de Rhodospathacomo R. latifolia Poepp. & Endl. e R.oblongata Poepp. & Endl. (ambas hemi-epífitas), mas não foram observados na espé-cie de Rhodospatha (uma helófita), que ocorreno PERD. Eles consistem de ramos nos quaisos entrenós tornam-se muito mais longos eesguios do que a parte do caule florífero e asfolhas tornam-se reduzidas em tamanho, fi-cando semelhante a catafilos ou escamas.Estes ramos crescem rapidamente e ocupamnovas árvores suporte, nas quais, posterior-mente, caules floríferos se desenvolverão.Durante o levantamento florístico dasAraceae do PERD o desenvolvimento de ra-mos flageliformes foi verificado em quatroespécies (Tabela 1): Heteropsis flexuosa,Monstera adansonii, Philodendronpropinquum e Syngonium vellozianum (Fig.1h).

O termo bainha peciolar nem sempre éutilizado para a família. Para Mayo et al.(1997) a folha é claramente diferenciada embainha peciolar, pecíolo e lâmina expandida.Porém, de acordo com a definição de Madison(1977), por ser difícil determinar os limitesde cada estrutura, a bainha e o pecíolo juntosforam tratados de pecíolo (Fig. 2a), que podeser descrito como sendo invaginado, alado(Fig. 2e), canaliculado ou com uma bainhana base. A inserção do pecíolo é normalmen-te anular, porque este envolve o entrenó,exceto em algumas espécies, como a maioriados Heteropsis, nas quais a inserção dopecíolo não chega a envolver o caule.

O tamanho e a forma da lâmina são bas-tante diversos dentro da família e nas espéci-es encontradas no PERD foi possível obser-

Page 7: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

7

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

Morfologia de Araceae

Figura 1 - Hábitos e tipos de crescimento de caule: a. Philodendron vargealtense: erva, hemi-epífita, ra=raizalimentadora e ran=raiz âncora (Temponi 223); b. epífita, raízes formando ninho de formigas, ca=Cactaceae,as=Anthurium scandens; (Temponi 193); c. Asterostigma luschnathianum: erva, geófita de caule rizomatoso,subterrâneo (Temponi 221); d. Xanthosoma maximiliani: arborescente, helófita de caule tuberoso, parcialmentesubterrâneo (Temponi 178); e. Philodendron speciosum: arborescente, hemi-epífita (Temponi 179); f. Anthuriumscandens: caule com crescimento simpodial, pr=profilo (Temponi 193); g. Heteropsis flexuosa: caule com crescimentomonopodial, rl=ramos laterais (Temponi 138); h. Syngonium vellozianum: ramo flageliforme (Temponi 224).

h

cd

gfe

ba

10 m

m

20 m

m

13 m

m

50 m

m

20 m

m

30 m

m

30 m

m

35 m

m

ra

ran

ca

as

pr

rl

Page 8: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

8 Temponi, L. G., et al.

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

var lâminas foliares de diminuta a gigante,de sim-ples obovada (Fig. 2b), elíptica (Fig.2c), ovada (Figs. 2d, g, h), sagitada (Fig. 2f),tripartido-hastada (Fig. 2j) e pinatífida (Fig.2l) a palmada (Fig. 2n).

Para a lâmina foliar que apresenta ex-tensões em cada lado da inserção do pecíolo,a terminologia proposta por Mayo (1991) temsido bastante empregada. A divisão anterioré toda a parte da lâmina que circunda anervura mediana e divisões posteriores sãoporções da lâmina que, quando presentes, seestendem basalmente em cada lado da inser-ção do pecíolo. Em folhas sagitadas como emPhilodendron speciosum (Fig. 2a),Philodendron vargealtense (Fig. 2f) eXanthosoma maximiliani, ou tripartido-hastada como em Syngonium vellozianum(Fig. 2j), ou pinatífida como em Asterostigmaluschnathianum (Fig. 2l) cada divisão poste-rior tem uma nervura basal bem desenvolvi-da, a qual executa o papel de suporte mecâni-co, como a nervura mediana da divisão ante-rior. Desta nervura basal emergem nervuraslaterais que recebem nomes específicos deacordo com o seu posicionamento na lâminafoliar; as nervuras acroscópicas emergem danervura basal em direção à margem externadas divisões posteriores e as nervurasbasioscópicas em direção à margem internadestas divisões (Fig. 2a). O número destasnervuras é um caráter importante para o re-conhecimento de muitas espécies. Em folhascordadas e cordado-sagitadas a nervura basalpode ser curta ou ausente, com as nervuraslaterais primárias surgindo, independente-mente, na base da nervura mediana.

Folhas elaboradamente perfuradas oufenestradas, por crescimento diferenciado damargem, ou por necroses de partes da lâmi-na, ou ainda a combinação de ambos os pro-cessos, ocorrem em alguns gêneros comoMonstera e pôde ser observado nas duas es-pécies encontradas no PERD: M. adansonii eM. praetermissa (Fig. 2g). Heterofilia é umaoutra característica notável e, algumas vezes,útil taxonomicamente, que está presente em

muitos gêneros como: Asterostigma,Philodendron, Monstera, Rhodospatha eSyngonium. A heterofilia ocorre tanto naontogenia como em associação com ramosflageliformes. A heterofilia pôde ser obser-vada em Syngonium vellozianum que possuifolhas sagitadas quando o indivíduo é juve-nil ou as folhas estão associadas a ramosflageliformes (Fig. 1h) e tripartido-hastadasquando adulto (Fig. 2j). Outro exemplo deheterofilia é Asterostigma luschnathianumque possui folha sagitada quando juvenil (Fig.2m) e pinatífida (Fig. 2l).

Outras estruturas foliares são a lígula eo pulvino ou genículo. A lígula foi relatadapor Engler (1878), como uma extensão dabainha, formando um apêndice livre no ápi-ce, entre a bainha e o limbo, assim como ocor-re nas Poaceae. A lígula foi verificada ape-nas em Philodendron propinquum (Fig. 2e).O genículo, de acordo com Mayo et al. (1997),é semelhante ao pulvino das Leguminosae,mas ocorre geralmente na porção distal dopecíolo, em quase todas as Pothoideae eMonsteroideae, permitindo uma reorientaçãoda folha. Algumas espécies apresentam umsegundo genículo na porção proximal dopecíolo, mas nas espécies do PERD, apenaso genículo na porção distal foi verificado emAnthurium pentaphyllum, Anthuriumscandens, Heteropsis flexuosa, Heteropsissalicifolia, Monstera adansonii, Monsterapraetermissa e Rhodospatha sp. (Fig. 2i). Ocolênquima, devido à ocorrência de célulasde paredes espessadas mas não lignificadas,é um tecido de suporte em órgãos aéreos queapresenta uma notável plasticidade. Gonçal-ves et al. (2004) apresentaram três padrõesde distribuição de colênquima para a regiãocentral do pecíolo: colênquima ausente comesclerênquima como principal tecido de su-porte; anel periférico de colênquima (padrãophilodendróide) e cordões de colênquima (pa-drão colocasióide). Para alguns gêneros quenão apresentam colênquima na região centraldo pecíolo este pode ser restrito ao genículo,como ocorre em Anthurium (Gonçalves et al.

Page 9: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

9

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

Morfologia de Araceae

Figura 2 - Morfologia foliar: a. divisões da folha sagitada, da=divisão anterior, dp=divisão posterior, pd=porção desnudada nervura basal, pe=pecíolo, pr=profilo, na=nervuras acroscópicas, nb=nervuras basioscópicas, nba=nervura basal,nlp=nervura lateral primária, np=nervura principal ou central, Philodendron speciosum (Temponi 179); b. lâmina obovada,Heteropsis flexuosa (Temponi 138); c. lâmina elíptica, Anthurium scandens (Temponi 193); d-e. Philodendronpropinquum (Temponi 181), d. lâmina ovada, e. lígula; f. lâmina sagitada, Philodendron vargealtense (Temponi 223);g. lâmina ovada, fenestrada Monstera praetermissa (Temponi 84); h-i. Rhodospatha sp. nov. ined. (Temponi 220), h.lâmina oblonga, i. genículo; j. lâmina tripartido-hastada, Syngonium vellozianum. (Temponi 192); l-m. Asterostigmaluschnathianum (Temponi 221), l. lâmina pinatífida, m. lâmina jovem sagitada; n. folha palmada, Anthurium pentaphyllum(Temponi 217); o. padrão de nervação reticulado, Anthurium scandens (Temponi 193); p. padrão peniparalelinérveo,Rhodospatha sp. nov. ined. (Temponi 220); q. padrão colocasióde, Xanthosoma maximiliani (Temponi 178).

5 cm

g

nba

np

na pd

prpe

da

dp

nlp

nb

5 cm

5 cm

5 cm

5 cm

5 cm

5 cm

5 cm

20 m

m

a

j

m

l

qpo

e

hi

n

f

dcb

20 mm

5 mm

30 mm6 mm3 mm

Page 10: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

10 Temponi, L. G., et al.

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

2004). O padrão de nervação (Figs. 2o-q) em

Araceae é bastante complexo e útil na identi-ficação de gêneros. A nervura mediana é qua-se sempre presente e desta saem as nervuraslaterais primárias que são, geralmente,pinadas e percorrem a lâmina formando, emalguns gêneros, nervuras marginais, que seanastomosam no ápice da lâmina. As nervuraslaterais secundárias, terciárias e de ordenssuperiores são reconhecidas por sua relativaespessura e/ou seu nível hierárquico de rami-ficação. As nervuras mais finas podem serreticuladas, como em Anthurium (Fig. 2o) ouparalelas às nervuras laterais primárias, comoem Philodendron e Rhodospatha (Fig. 2p).Estas últimas são referidas, geralmente, naliteratura de Araceae, como paralelas ouestriadas. Mayo et al. (1997) definem o ter-mo peniparalelinérvea, para espécies queapresentam as nervuras laterais secundáriasparalelas às nervuras laterais primárias. Taltermo distingue este padrão da nervação pa-ralela que ocorre nas gramíneas e que, emAraceae, ocorre somente em Gymnostachys.Um outro tipo de nervação é a colocasióide,que ocorre em representantes das tribosColocasieae e Caladieae, da subfamíliaAroideae de Mayo et al. (1997), ouColocasioideae de Grayum (1990) pôde serverificado em Xanthosoma (Fig. 2q), onde asnervuras mais finas ramificam-se em ânguloreto com as nervuras laterais primárias, ar-queiam-se de maneira mais ou menos sinuo-sa, em direção à margem da folha, formandouma nervura interprimária, e então, finalmen-te, fundem-se na margem, formando umanervura coletora submarginal.

As inflorescências podem formar umsimpódio floral ou ocorrerem isoladas nasaxilas foliares. A produção de inflorescências,para formar o simpódio floral, representa odesenvolvimento de unidades simpodiais cur-tas, consistindo de somente um profilo e umainflorescência. A primeira é formada na axi-la da folha e as sucessivas inflorescências, sãoformadas nas axilas dos profilos (Ray 1987a).

Isto pode ser facilmente percebido quandoentre o caule e uma única folha de lâminaexpandida, encontram-se váriasinflorescências em estádios de maturação dis-tintos, já que se desenvolvem consecutiva-mente. Simpódio floral foi observado emMonstera adansonii, Philodendronvargealtense, Syngonium vellozianum e emXanthosoma maximiliani.

Há, pelo menos, dois tipos básicos deespádice (Tabela 2): um com flores bissexuaisespiraladamente dispostas em um espádicehomogêneo, subtendido por uma espata nãoconstrita, sem distinção entre tubo e lâmina(Fig. 3a). O espádice homogêneo pode apre-sentar flores perigoniadas como emAnthurium ou aperigoniadas como emMonstera Heteropsis e Rhodospatha. O ou-tro tipo básico de inflorescência apresentaflores unissexuais, aperigoniadas, dispostasde forma organizada em um espádiceheterogêneo, onde a zona feminina é inferiore a zona masculina superior, freqüentementecom uma ou duas zonas estéreis (Fig. 3c).Neste tipo de espádice a espata pode serconstrita ou não. A espata constrita é dife-renciada em um tubo convoluto, na parte in-ferior e lâmina estendida, na porção superi-or, como pôde ser verificado emPhilodendron vargealtense, Philodendronspeciosum, Syngonium vellozianum eXanthosoma maximiliani (Figs. 3b). Espé-cies com espádice heterogêneo e espata semconstrição também foram observadas:Philodendron propinquum e Asterostigmaluschnathianum.

Flores bisexuais em Araceae podem serperigoniadas ou aperigoniadas (Tabela 2). Emflores perigoniadas (Figs. 3d, e) as tépalas,mais ou menos carnosas e fornicadasapicalmente, quando livres, são organizadasem dois verticilos. Os estames, nestas florese nas bissexuais nuas, como na maioria dasMonsteroideae, possuem filetes achatados,anteras basifixas e conectivos inconspícuos(Figs. 3f, g). Em flores unissexuais de muitastribos de Aroideae, como Philodendreae, o

Page 11: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

11

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

Morfologia de Araceae

Figura 3 - Morfologia da inflorescência, flores e frutos: a. inflorescência com flores bissexuais, p=pedúnculo, ce=espádicehomogêneo, ta=espata não constrita, Anthurium pentaphyllum (Temponi 119); b-c. Xanthosoma maximiliani (Temponi201), b. espata, tu=tubo e la=lâmina, c. espádice heterogêneo, zf=zona feminina, ze=zona masculina estéril e zm=zonamasculina; d-e. flor de A. scandens (Temponi 193), te=tépala, e=estame, g=gineceu e o=óvulo, d. vista frontal, e. cortelongitudinal; f-g. flor de Heteropsis salicifolia (Temponi 102), e=estame e g=gineceu, f. vista longitudinal, g. cortelongitidinal; h-l. Xanthosoma maximiliani (Temponi 201), h. visão longitudinal de flores femininas, re=região estilar, i.corte longitudinal da flor feminina, re=região estilar, j. sinândrio, l. poro subapical; m-o. Philodendron vargealtense(Temponi 164), m. vista longitudinal da flor masculina, n. vista longitudinal da flor masculina estéril, o. vista longitudinalda flor feminina; p. baga isolada, Anthurium scandens (Temponi 193); q-r. bagas em sincarpia, Syngonium vellozianum(Temponi 157).

m

l

r q p o

h

g

n

e

f

i

j

d

ab c

1 m

m

1 m

m1 m

m

1 m

m

1 m

m

1 m

m

15 m

m

30 m

m

15 m

m

1 m

m1

mm

10 m

m

2 m

m

1 m

m

1 mm

10 m

m

tatu

ze

re

e

zf

g

e

zm

ce

o

e

tela g

re

p

te

g

e

g

1 m

m

Page 12: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

12 Temponi, L. G., et al.

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

filete é muito curto ou ausente e há umconectivo espessado e carnoso que, prova-velmente, atua como osmóforo (Figs. 3l, m);em Caladieae, como em Xanthososmamaximiliani (Fig. 3j) e Spathicarpeae, osestames são sempre fundidos num sinândrio.As anteras são quase sempre extrorsas e asfendas longitudinais ocorrem na maioria dosgêneros de flores bissexuais e em alguns deflores unissexuais (Fig. 3m). Entretanto, fen-das curtas ou poros apicais e subapicais, ocor-rem geralmente em gêneros de floresunissexuais, como em Xanthosomamaximilianii (Figs. 3j, l), uma espécie dasubfamília Aroideae e, em representantes deLasioideae.

O gineceu usualmente varia de 1-3-locular, embora gineceu com mais de 3 lócu-los na tribo Spathicarpeae e no gêneroPhilodendron seja freqüentemente en-contrado. O tipo de placentação é muito vari-ável na família: axial-apical, axial-basal,axial, apical, basal e parietal. Foramverificadas placentação axial-apical emAnthurium pentaphyllum e Anthuriumscandens (Figura 3e), placentação axial-basalna maioria das espécies estudadas (Tabela 2),incluindo Heteropsis salicifolia (Fig. 3g) eplacentação axial em Philodendronpropinquum, Rhodospatha sp. e Xanthosomamaximilianii (Fig. 3i). Usualmente, tricomassecretores de uma substância mucilaginosasão presentes nos funículos dos óvulos dePhilodendron (Mayo et al. 1997). Nas espé-cies encontradas no PERD, foram verifica-dos apenas em Philodendron vargealtense. Oestilete, na maioria dos gêneros, é inconspícuoexternamente ou pouco mais largo que oovário como em Philodendron vargealtense(Fig. 3o) mas, muito freqüentemente, há umaregião estilar espessada entre os lóculos doovário e o estigma, como na tribo Monstereae,e em Xanthosoma maximiliani. EmMonstereae, esta região é especialmente bemdesenvolvida e com tricoesclereídes, comoverificado para Monstera praetermissa, oque parece substituir funcionalmente o

perianto, protegendo os órgãos sexuais dasflores, especialmente o ovário (Mayo et al.1997). A região estilar das flores vizinhas sãofundidas em muitas espécies de Xanthosomae isto foi verificado para X. maximiliani(Fig. 3h), a única espécie do gênero encon-trada no PERD.

A infrutescência é usualmente cilíndri-ca ou globosa, com bagas parcialmente livres(Fig. 3p) ou, conatas como em Syngoniumvellozianum (Figs. 3q, r), formando umsincarpo indeiscente. As sementes são geral-mente embebidas em polpa mucilaginosa. Emalguns gêneros o tegumento externo torna-semucilaginoso e em Anthurium a camada in-terna do pericarpo pode também sermucilaginosa.

Vários mecanismos de proteção para odesenvolvimento do fruto e da semente fo-ram discutidos por Madison (1977); emMonstera, a região estilar espessada e comtricoesclereídes, só se rompe na maturidade.Durante o estudo com as Araceae do PERDfoi verificado que em Monstera adansonii aregião estilar se rompe expondo as bagasbrancas apenas quando completamente ma-duras. Já em Anthurium scandens e Anthuriumpentaphyllum, as tépalas permanecem duranteo crescimento e desenvolvimento das bagas,tornando-se completamente exposta apenasna maturidade. Em gêneros de floresunissexuais, esta função é assumida pelaespata ou pelo tubo da espata. Nas espéciesde Philodendron encontradas no PERD aespata que é persistente, envolve o fruto atésua maturação. Quando maduro a espata sedecompõe e expõe as bagas. Em espéciescomo Xanthosoama maximilianii eSyngonium vellozianum que apresentam ape-nas o tubo persistente, envolvendo a zona deflores femininas do espádice, este se mantématé o desenvolvimento das bagas (Fig. 3q).Em Syngonium vellozianum o tubo da espataparece funcionar não apenas na proteção du-rante o desenvolvimento do fruto, mas tam-bém na atração dos dispersores, pois se tornaalaranjado quando as bagas estão maduras.

Page 13: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia

13

Rodriguésia 56 (88): 1-13. 2005

Morfologia de Araceae

AGRADECIMENTOS

As autoras agradecem aos especialistasMarcus A. Nadruz Coelho, Eduardo G. Gon-çalves e Simon J. Mayo pelo envio de biblio-grafia, valiosos esclarecimentos sobre amorfologia do grupo e sugestões na redaçãodeste texto. Ao Reinaldo Antônio Pinto pelasilustrações. À Fundação O Boticário/Macarthur Foundation pelo financiamento doprojeto e a CAPES pela bolsa de mestradoconcedia à primeira autora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Andrade, I. M. & Mayo, S. J. 1998. Dynamicshoot morphology in Monstera adansoniiSchott var. klotzchiana (Schott) Madison(Araceae). Kew Bulletin 53(2): 399-417.

Croat, T. B. 1985. Collecting and preparingspecimens of Araceae. Annals of theMissouri Botanical Garden 72: 252-258.

______. 1988. Ecology and life forms ofAraceae. Aroideana 11(3): 4-55.

Croat, T. B. & Bunting, G. S. 1979.Standardization of Anthuriumdescriptions. Aroideana 2(1): 15-25.

Engler, H. G. A. 1878. Araceae. In: Martius,C. F. P. von; Eichler, A. W. & Urban, I.(eds.). Flora brasiliensis 3(2): 26-223.

Engler, H. G. A. & Krause, K. 1920. Aroideae-Colocasioideae. In: A. Engler. DasPflanzenreich 71 (IV. 23E): 1-139.

French, J. C.; Chung, M. G. & Jur, Y. K. 1995.Chloroplast DNA phylogeny of theAriflorae. In: Rudall, P. J., Cribb, P. J.Cuttler, D. F., Humphries.Monocotyledons: systematics andevolution. pp. 255-275. Royal BotanicGardens, Kew.

Gonçalves, E. G.; Paiva, E. A. S. & Coelho,M. A. N. 2004. A preliminary survey ofpetiolar collenchyma in the Araceae.Annals of the Missouri Botanical Garden

91(3): 473-484.Grayum, M. H. 1990. Evolution and

phylogeny of Araceae. Annals of theMissouri Botanical Garden 77: 628-697.

Holmgren, P. K; Holmgren N. H. & Barnett,L. C. Index Herbariorum Part I: TheHerbaria of the World. New YorkBotanical Garden, New York, 693p.

Keating, R. C. 2004. Vegetative anatomicaldata and its relationship to a revisedclassification of the genera of Araceae.Annals of the Missouri Botanical Garden91(3): 485-494.

Madison, M. T. 1977. A revision of Monstera(Araceae). Contributions from theHerbarium Harvard University 207: 1-101.

Mayo, S. J. 1991. A revision of Philodendronsubgenus Meconostigma (Araceae). KewBulletin 46(1): 601-681.

Mayo, S. J.; Bogner, J. & Boyce, P. C. 1997.The genera of Araceae. The Trustees,Royal Botanic Gardens, Kew, 370 p.

Radford, A. E.; Dickison, W. C.; Massey, J.R. & Bell, C. R. 1979. Vascular plantsystematics. Harper & Row Publishers,New York, 891 p.

Ray, T. S. 1987a. Leaf types in the Araceae.American Journal of Botany. 74 (9):1359-1372.

______. 1987b. Diversity of shootorganization in the Araceae. AmericanJournal of Botany 74 (9): 1373-1387

Temponi, L. G. 2001. Araceae do ParqueEstadual do Rio Doce, Minas Gerais,Brasil. Dissertação de Mestrado. Univer-sidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.

Page 14: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia
Page 15: Lívia Godinho Temponi1, Flávia Cristina Pinto Garcia2, Cássia